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”Club Litterário” da Villa de Afogados da Ingazeira:

Letras e Sociabilidades.

Alexsandro Acioly (CPDOC/PAJEÚ)


Dr. Augusto César Acioly (AESA/CESA)

O sertão do Pajeú é reconhecido em todo o território nacional pela poesia que aflora em
suas terras, pesquisando por esses dias no site da Biblioteca Nacional, encontramos um conjunto
de artigos que noticiam a instalação na então vila de Afogados, aquela altura pertencente a
Ingazeira, de um club literário, no final do século XIX, mais precisamente o ano de 1880. Esta
Sociedade Literária, que teve os seus trabalhos iniciados numa sessão pública, na câmara
municipal da vila no dia 10 de Outubro de 1880, fornece um conjunto de questões que podem
colaborar para pensar a história local e regional, principalmente, ao que tange à formação de
espaços de sociabilidades que teriam como finalidade construir “Ares de Civilização” para
então vila.

A seção de instalação se deu no Paço da Câmara Municipal onde compareceram vários


sócios do “club”, um aspecto que é interessante de observar que mesmo com a quase
integralidade dos membros sendo homens, é possível encontrar a participação de algumas
mulheres, que ficariam responsáveis pela administração de uma escola para meninas, um dos
objetivos do referido club, além de classes voltadas para o ensino de meninos e adultos. Além
do ensino, o club tinha como preocupação a difusão do conhecimento, através da promoção de
conferências sobre direito constitucional e História.

Fazendo uma analise rápida dos personagens que teriam animado esta iniciativa, é
possível destacar a presença dos segmentos médios da então vila, composta por religiosos,
representantes da administração pública, justiça e segurança. Segmentos que possuíam construir
uma sensibilidade local, que criasse mesmo que distante dos grandes centros do Império, que
pretendia superar as imagens de atraso sob o qual eram representadas as regiões dos “sertões
profundos” do Brasil, que careciam, em grande medida, de equipamentos culturais e de
convivência que estabelecessem uma lógica que os integrassem a ideia de civilização,
experiência que muitos destes personagens já haviam usufruído e que pretendiam disseminar no
local.

O discurso inaugural ficou a cargo do presidente da sociedade, o senhor João Gonzaga


Bacellar que era juiz de direito da vila. Também subiram a tribuna os Drs. Argemiro Martiniano
da Cunha Galvão e José Theodoro Cordeiro, Juiz Municipal e Promotor Público,
respectivamente.
Além dos três já citados, essa sociedade literária era composta por outros membros,
dentre eles, o senhor José Matheus Coimbra Campos e a senhora Francisca Joaquina de
Oliveira, professores, sócios do “Club” e pais do escritor, jornalista, teatrólogo, poeta e membro
da APL – Academia Pernambucana de Letras, o Afogadense - Manoel Arão de Oliveira
Campos.

Ainda, não possuímos dados que demonstrem o período de atividade desta sociedade,
mas é possível localizar na documentação encontrada, a sua atividade cerca de 08 meses após a
sua fundação, através da nomeação de órgãos de imprensa de várias províncias do Brasil.
Dentre elas a do jornal Maçônico, a Família Maçônica, órgão de imprensa carioca que existia
desde meados da década de 70 do século XIX, e contavam como um grande espaço de
divulgação daquela entidade. Tal questão abre uma perspectiva interessante, que se constitui
como uma hipótese indiciaria a de que alguns dos membros desta instituição provavelmente
fossem maçons, até pelo fato de que a maçonaria incentivar entre os seus membros a
constituição de espaços de socialização que tivessem como objetivo a propagação da ciência e
educação, com relação a este último aspecto, é reconhecida através da historiografia
especializada de estudos acadêmicos sobre a maçonaria, o papel que esta instituição
desempenhou como estratégia de atuação política, o incentivo da educação e formação de
leitores.

Além deste periódico, a apresentação do Club literário da Vila de Afogados da


Ingazeira, foi partilhado em outros meios de circulação ao longo dos meses finais de 1880, seja
de órgãos de imprensa locais, de grande circulação como o Diário de Pernambuco, e de outras
províncias como o Espirito Santo e o Rio de Janeiro, sede da corte, espaço importante do poder
e das letras no Brasil Império.

Diante da descoberta deste espaço de promoção da Cultura e Letras, representado pelo


Club Literário da vila de Afogados da Ingazeira, pode nos ajudar a reconstruir a história local de
um momento de instituições que de alguma forma colaboraram no processo de desenvolvimento
da vila e, posterior luta pelo seu processo de emancipação através da criação do município que
aconteceu nas décadas iniciais da República, mas ai já é outra História!

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