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Universidade Federal de Pelotas – UFPEL

Centro de Letras e Comunicação – CLC


Teorias e Práticas de Leitura
Profa. Jorama de Quadros Stein

A Gatinha Saudosa

Camille Quintana Campos


Mikaéla Lemos da Silva
Theodoro Camargo Jalil

Em uma casinha no subúrbio de Pelotas, num dia frio e ensolarado de julho, uma gatinha
andava impacientemente de um lado para o outro por sua sala de estar, enquanto seu amigo
Relógio a observava atentamente. Tic-tac, tic-tac, tic-tac e a pequena não aguentava mais os
segundos que pareciam eternos.
“Sr. Relógio, você acha que minha família irá demorar muito?”, indagou a peluda entre
miados manhosos. “Sinto muito, mas não tenho a resposta. Não sei sobre nada que se passa
além dos limites desta casa, minha função é apenas administrar o tempo, assim como sua
função é apenas esperar.”, respondeu o Relógio, de forma muito prática e, como sempre,
franca.
A gatinha se entristeceu, mas sabia que ele estava correto. A rotina da pequena era comer,
dormir e esperar por sua família. Todos os dias, de todas as semanas, de todos os meses e anos
ela estava no mesmo lugar, aguardando por chamegos e atenção de seus humanos.
Quando sua família chegava era uma festa que só! A bolinha de pelos se esfregava entre as
pernas de seus donos e ronronava de felicidade. “Miau, miau, miau”, na língua dos humanos
se traduz como: “Senti tanto sua falta!” O dia passou, anoiteceu e nada de sua companhia
chegar, ela se sentiu apreensiva e preocupou-se, pois, sua comidinha estava escassa, sua água
muito gelada e seus brinquedos com aparência tão tediosa, ou seja, a peluda necessitava com
urgência de seus queridos humanos.
A gatinha adormeceu profundamente esperando por sua família, esta que nunca retornou para
casa. O porquê? É um mistério, nem o Relógio pôde responder esta questão, entretanto, pela
primeira vez em sua vida ele desejou algo além de cumprir sua função, desejou bracinhos e
pernas para consolar a amiga que desfalecia em tristeza. Em um impulso nada polido, que não
era do feitio do Relógio, ele declarou: “E se você for a procura de seus donos?”. A gatinha
antes tão desanimada, vê um fecho de esperança. Ela sai pela janela e vai em busca de seus
familiares.
A pequena rondou o bairro incansavelmente durante a luz do dia, mas ao anoitecer suas
patinhas não funcionavam mais, sua boca estava seca e seus olhos mordiscando as comidas
expostas em vitrines de padarias. Ela desistiu e resolveu alinhar-se em meio a um gramado
verdinho de uma casa desconhecida. De repente, uma luz na varanda se acendeu e uma
menininha cruzou a porta, a gatinha se assustou e tentou se esconder em uma tentativa falha,
pois a menina aproximou-se rapidamente. “Oi, fofinha, qual seu nome?”, diz a criança. “Você
é tãão bonitinha! Meu nome é Rebecca, você se perdeu da sua família? Te abandonaram?”, a
menina indagava sem dar tempo de a gatinha raciocinar. “Não se preocupe, eu também fui
abandonada, posso cuidar de você, ou melhor, podemos cuidar uma da outra.”
A bolinha de pelos, ainda muito acanhada, esfregou seu corpinho nas pernas da menina e
cedeu seu peso para que Rebecca a pegasse no colo. Assim, sua jornada foi encerrada ao lado
da menininha, ela estava disposta a recomeçar sua vida ao lado da criança, mesmo que em seu
coração as memórias com sua família ainda fossem vívidas.

Referências:

BOJUNGA, Lygia. Tchau. In: Tchau. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2005, p. 19-39.

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