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2.1 Generalidades
Estas vozes críticas tornaram-se importantes para o debate posterior sobre o tipo
de educação em África. Duas delas interessaram-nos as vozes de James Africanus
Horton e as the Wilmot Blyden, pois equacionam a educação formal ocidental a partir
de perspectivas diferentes.
Quanto ao currículo, ele abria a mão para que os alunos, para além de
aprenderem a ler, escrever e contar, também tivessem algumas matérias ou mesmo
disciplinas que se julgassem adequadas às condições regionais (para a Gâmbia, por
exemplo, ele admitia o ensino em árabe para facilitar a comunicação).
Para Horton, o ensino geral deveria ser combinado e complementado pelo ensino
técnico profissional e por possibilidades de formação em agricultura. Este não devia, no
entanto, perder de vista o mercado internacional. Desta forma, queria que houvesse uma
Industrial School para formar mecânicos, carpinteiros, sapateiros, pintores, construtores
e mesmo construtores de barcos que iriam melhorar as canoas. Na agricultura, ele
insistia no melhoramento da cultura para exportações.
Blyden, via na educação não um fim em si, mas um instrumento importante que
foi usado pelo colonialismo para transmitir o sentimento de inferioridade no africano,
mas também simultaneamente um instrumento de libertação do negro.
Souza (2020), atesta que Blyden compreendia que, para que este processo fosse
possível, seria necessária a formação de um Estado negro africano forte, materializado
na Libéria, como forma de garantir a emancipação e o exercício político da população
negra, assim como organizar a expansão do processo de regeneração para o interior da
África.
Por isso, Edward Blyden concebia um projeto político-histórico cujo objetivo era
garantir a elevação da raça negra, a construção de uma nacionalidade africana e a
redenção da África. Na sua perspectiva, estes processos ocorreriam de forma simbiótica
e seriam resultado do cumprimento do destino providencial da raça negra (Henry, 2000
como citado em Souza, 2020).
Segundo Castiano e Ngoenha (2013), Blyden negava, assim, que existisse raças
superiores a outras. No seu entender, todas as graças e culturas teriam o mesmo valor,
mas não as mesmas características, ou seja: às teorias racistas baseadas em estudos
científicos antropológicos que defendiam a superioridade da raça branca, ele negava que
houvesse tal hierarquia, mas mantinha a ideia da existência de diferenças básicas de
caráter entre as raças.
As diferenças entre as culturas são assumidas por Blyden não como algo
acidentais, mas como desígnios divinos para que as culturas possam ser complementar:
o que uma cultura precisar, poderá encontrar numa outra, no entanto, há uma espécie de
unidade essencial de todas as culturas, e Deus é o obreiro desta cultura Universal. Mas
se todas as culturas são uma e a mesma coisa, isso não significa que todas as raças
contribuem da mesma forma e com os mesmos elementos para a cultura Universal, ou
que todas elas devem usar os mesmos métodos e as mesmas instituições para contribuir
para aquela cultura.
O resultado daquela educação era uma criança que, na óptica de Blyden, era
metade europeia e metade africana, uma criança em dois mundos. Isto contraria o
objetivo mais sagrado de qualquer educação que é o de formar nas pessoas aquelas
qualidades que lhes permitam mais tarde uma óptima inserção na sua própria sociedade
e cultura.
Blyden via na historia, uma forma de defender a cultura africana contra a ideia
de que a África não teria história e nem cultura, assim, ele insistia que os programas
escolares deveriam enfatizar mais a história da antiguidade assim como as línguas
clássicas porque aí não há nenhuma intencionalidade discriminatória para com os
africanos.
Nestas circunstâncias, dois passos seriam tomados por Blyden, primeiro trata-se
de uma inovação de Blyden no âmbito do currículo, foi introduzir o árabe e algumas
línguas africanas no ensino. O segundo passo seria o de secularizar o ensino. Com a
introdução destas línguas ele pretendia estimular uma comunicação inteligente com
milhões de pessoas vivendo no interior e aprender mais das culturas africanas.
Para Blyden não bastava pensar na dimensão dos conteúdos e ensinar nas
escolas. Ele achava que seria necessário fundar um novo tipo de instituições ou
estabelecimentos escolares, isto é, que fossem não só secularizados mas também e
sobretudo mais africanizados.
Neste contexto, ele opunha-se, por exemplo, a que os africanos fossem estudar na
Europa por várias razões: as diferenças de temperatura poderiam afetar a saúde e
desempenho, os estragos que essa saída poderia trazer para a alma do negro ao receber
uma educação estranha etc.
Mas, entre outras consequências, ele destacava a de aquela educação não ir ao
encontro das necessidades das sociedades africanas. Por isso é que ele numa série de
artigos publicados defendia a fortemente a fundação de instituições do ensino superior,
nomeadamente uma universidade da África ocidental na Serra-Leoa e um instituto
industrial em Lagos
A raça negra deve evitar a cópia do modo de ser dos europeus e achar um modelo
próprio que expresse tal contribuição, Dirigindo-se aos africanos cristãos e de costumes
ocidentais. Blyden argumenta que a primeira dívida que os africanos deve cumprir é
serem “eles mesmos”, admitir que são africanos e não que são europeus, para contribuir
com o completo desenvolvimento e bem-estar da humanidade.
O africano deve estar sempre em comunicação com seu povo para manter sua cultura,
pois ela não emana simplesmente da raça. Blyden insistia nos levantamos das
instituições porque acreditava que o critério chava deveria ser que a civilização da
população, não tocada pela influência estrangeira, que ainda não foi afetada por hábitos
europeus, não deve-se ser organizada segundo padrões estrangeiros, mas sim de acordo
com a natureza do povo e do país.
Blyden nos faz perceber que nós africanos não precisanos do que nos desnacionaliza ou
individualiza mas sim daquilo que nos identifica como africano, começando por criar
nossos próprios modos de ensino, nossas próprias instituições que leve a nossa cultura.
Temos recebido uma educação e uma civilização que instala em nós um sentimento de
dúvida a respeito da nossa capacidade e destino, isso porque as vezes não valorizamos a
nossa educação, a nossa cultura e nos achamos incapazes de produzir algo totalmente
africano, dessa forma, valorizando e imitando a cultura europeia ou qualquer outra.
De acordo com Blyden, diz que essa educaçao de critérios “ copiosos e imitadores” não
somente é incompatível como também é destruidora do negro por si só. A Raça negra,
ou qualquer outra, não poderia avançar com os métodos de outra raça senão com os
próprios e isso é o que devia fazer o africano, Inclusive, determinadas coisas que
produziram um grande avanço na Europa podiam ser negativas para os africanos.
Referencias Bibliográficas
Castiano
Ferreira dos Santos, L. C. (2022). Filosofia africana da educação: por uma cartografia
da encruzilhada [PDF]. Cuadernos de Filosofía Latinoamericana, 43(126).
https://doi.org/10.15332/25005375