Você está na página 1de 1

A porta aberta de meu quarto

Toda criança antiga era uma artesã.


Eu, por exemplo, inventava os meus brinquedos. Não tinha videogame, computador, celular. Os jogos custavam caro.
Brincava no pátio, nunca dentro de casa. A minha porta do quarto sempre esteve aberta: não havia necessidade de
bater, não havia ninguém dentro.
Com o meu amigo Zé, fiel ombro até hoje,fazíamos luta medieval com a tampa do lixo servindo de escudo e a vassoura
como lança. Passávamos horas entretidos em armaduras imaginárias.
Também gostávamos de fazer pontes para as formigas com os palitos que sobravam dos raros picolés de domingo.
Abrimos uma transamazônica do abacateiro até a ameixeira.
As formigas continuam nos cumprimentando pela construção, jamais fomos picados por elas. Nutrem um imenso
respeito pelo nosso trabalho.
Com as folhas que meu pai jogava fora de sua máquina de escrever ( os poemas que não davam certo) aproveitávamos
para montar aviãozinho. Nossa diversão se valia dos rascunhos. Dobrávamos os papéis com perfeição, criando caças e jatos
supersônicos. Quando descobrimos que as dobras inversas nas pontas tornavam os nossos modelos imbatíveis, gritamos aos
céus palavrões proibidos pela escola, com uma liberdade sem tamanho.
Os aviõezinhos permaneciam por quinze segundos planando. Enxergávamos anjos partindo de nossas mãos.
Subíamos ao telhado da residência para realizar os testes de lançamento. Nossa meta de Nasa consistia em atingir a
janela da Bete, vizinha e colega. Por duas vezes, conseguimos entrar pelas suas vidraças com recados amorosos. Nem eu nem
ele namoramos com ela, mas a esperança pelo seu beijo ocupou boa parte do nosso Ensino Fundamental.
Nos dias de chuva (tempestade não nos assustava), armávamos barquinhos, arremessados pela correnteza do meio-fio.
Quem atingisse o'bueiro' mais distante ganhava a corrida.
Não servimos ao Exército, mas merecíamos uma medalha de honra ao mérito por tanta cabeça de papel projetada em
nossas rondas pelos terrenos baldios do bairro.
Minha infância e de Zé foi feita da riqueza das sobras. Nunca sobrava tempo para o tédio.
Fabrício Carpinejar

1 -Como é caracterizada a infância pelo ponto de vista do autor?


2 -Segundo o texto, e com base no que você já sabia, o que diferencia a infância de hoje com a de antigamente?
3 – Por que o autor afirma, no terceiro parágrafo, que ele era a coleta seletiva da família?
4 -Segundo o texto, o que o pai do autor fazia?
5 – O Autor encerra o texto dizendo que “Nunca sobrava tempo para o tédio.” Você concorda com esta afirmação? E
Hoje, como é, há tédio na infância das crianças? Argumente.
6 -Descreva como foi sua infância:
7 -Reescreva o primeiro parágrafo do texto substituindo as palavras ‘antiga’ e ‘artesã” por sinônimos:
8 – Reescreva O 1º período do 2º parágrafo, substituindo a 1ª pessoa do singular ( EU ) pela 1ª pessoa do plural
(NÓS ):
9 -Retire do texto:
a) dois substantivos comuns:
b) dois substantivos próprios:
c) um substantivo composto:
d) um substantivo no grau diminutivo:
e) um substantivo no grau aumentativo:
f) um adjetivo:
g) uma frase com artigo definido:
h) um numeral cardinal:
i) duas locuções adjetivas :
j) uma palavra com prefixo:
k) uma palavra com sufixo:
l) uma palavra oxítona:
m) uma palavra paroxítona:
n) uma palavra proparoxítona:

Você também pode gostar