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TRAVESSIA

FESTAS AROUQUENSES
NO RIO DE JANEIRO
REINVENTANDO TRADIÇÕES
A r tu r N u nes G om es*

ste trabalho examina, a partir do nominação sugere a estratégia da associa­ cas com a sociedade brasileira.
estudo de festas religiosas e ção de ampliar seus fronteiras simbólicas A participação de brasileiros na asso­
temporais, a reinvenção de tra­ para além da “comunidade” portuguesa, ciação reforça a etnicidade portuguesa,
dições culturais, segundo a con­ buscando, como nos disse um de seus di­ acentuando a retórica da irmandade4, isto
cepção de Hobsbawn, para quem essas tra­ retores, “não ficar fechada entre quatro é, a crença de que Brasil e Portugal são
dições reinventadas são “um conjunto de paredes falando de fado enquanto a mo­ pátrias-irmãs, com culturas que, ao longo
práticas de natureza ritual ou simbólica, cidade quer dançar rock”. Além disso, ao de suas histórias, se fundem numa só: a
que visam inculcar certos valores e fo r­ incentivarem a entrada de jovens em seus luso-brasileira5.
mas de comportamento através da repeti­ quadros, promovem a transmissão de va­ Ao mesmo tempo, o Arouca fortalece
ção que implica, automaticamente, uma lores culturais através de diferentes gera­ suas relações com a sociedade de origem
continuidade em relação ao passado" ções. ao oferecer honrarias, como títulos de só­
(Hobsbawn, 1984: 9). O corpo social do clube é formado por cio honorário, a figuras notáveis de Portu­
Essas festas são realizadas por mem­ portugueses de situação econômica privi­ gal. Entre os que receberam esta homena­
bros de uma associação regional portugue­ legiada, em geral grandes comerciantes e gem, destacamos Mário Soares, Presiden­
sa1do Rio de Janeiro, o Arouca Barra Clu­ industriais e seus descendentes, notándo­ te de Portugal, Dra. Maria Manuela Aguiar
be, em referência ao local de mesmo nome, se a presença maciça de representantes do Moreira, vice-presidente da Assembléia da
que é um Concelho do distrito de Aveiro, ramo de panificação entre os associados. República Portuguesa, Dr. Leonardo
no norte de Portugal. Sua área é de 327 Ao estereótipo do português burro, sujo, Mathias, embaixador de Portugal no Bra­
Km2e tem como principal atividade a agri­ usando tamancos e servindo seus fregue­ sil, Dr. Antônio Gomes da Costa, presiden­
cultura, em especial a cultura do vinho. ses no bar com uma caneta presa à orelha, te da “Federação” e do “Real Gabinete”,
A idéia da “criação de uma Casa na contrapõem a imagem do empresário bem Prof. Augusto Gomes dos Santos, presi­
cidade capaz de perpetuar as tradições sucedido, criador de empregos, empreen­ dente da Federação de Folclore Português
arouquenses em terras brasileiras", sur­ dedor de progresso3. e Prof. Zeferino Duarte Brandão, presiden­
giu na década de 1960, quando um grupo Embora em sua maioria sejam prove­ te da Câmara Municipal de Arouca. Estas
de arouquenses passou a se reunir anual­ nientes da região de Portugal que dá nome concessões de honrarias mostram a preo­
mente, no dia 7 de setembro2, dia de Nos­ ao clube, não podemos deixar de dar ênfa­ cupação do Arouca em estabelecer rela­
sa Senhora da Mó (que, como veremos se ao fato de que há muitos associados que ções de reciprocidade, tanto com o Estado
adiante, é festejada pela instituição), em vieram de outras regiões de Portugal, as­ Português - em nível mais amplo, com a
almoços e jantares de confraternização, sim como muitos brasileiros. Presidência da República e, na esfera re­
primeiro em churrascarias e posteriormente A estratégia de arregimentar brasilei­ gional, com a Câmara Municipal - como
na Casa da Vila da Feira e Terras de Santa ros tem relação com a erradicação da imi­ com outras associações portuguesas.
Maria. Ressalte-se que a prática de reci­ gração portuguesa para o B rasil, Mas, sem dúvida, o que evidencia acen­
procidade, através de trocas de gentilezas notadamente na duas últimas décadas, o tuadamente a expressão da memória cole­
e ritos (Mauss, 1974: 45) entre seus mem­ que tornou imperativa a necessidade de tiva pelos membros desta associação são
bros é uma das características marcantes renovação do quadro de associados para a as diversas festividades que reinventam a
das associações portuguesas do Rio de Ja­ sobrevivência da instituição. Isto sugere vida social da aldeia de origem6. Nesta
neiro. que o critério de pertença a esta associa­ reinvenção, valorizam-se o ethos campo­
Em 1969, inaugurou-se a primeira sede ção não passa exclusivamente pela origem nês e a religião católica, características da
própria da associação, na Tijuca, de onde regional e nacional do associado, mas pela vida social da aldeia. Veremos, assim,
se transferiu, em 1973, para um condomí­ posição social de seus membros e pela como esta instituição recria traços que
nio na Barra da Tijuca, próximo à Lagoa vontade de “manter e divulgar as tradi­ acentuam localismos diferenciados, privi­
do Jacarepaguá, na Zona Oeste, passando ções arouquenses ” assim como evidencia legiam a imagem de um Portugal do pas­
a chamar-se Arouca Barra Clube. Esta de­ uma série de relações políticas e econômi­ sado, em detrimento do Portugal contem­

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porâneo. Acrescente-se que a exaltação do Além destes eventos que evocam a vida podem ser classificadas em dois tipos bá­
mundo rural português foi um dos instru­ social da aldeia de origem, um setor da sicos: o traje de campo, que simboliza os
mentos utilizados pela política salazarista associação se destaca no papel de trabalhadores rurais, pessoas de baixo po­
na sua relação com os emigrantes. “mantenedor das tradições arouquenses der aquisitivo; o traje de domingar e das
o rancho folclórico. A análise das lavradeiras ricas, usado pelas pessoas mais
AS FESTAS reinvenções culturais do rancho e, princi­ abastadas, “quando iam às romarias e às
palmente, das suas digressões, é fundamen­ missas
O Arouca promove uma série de festas tal para o entendimento do papel de medi­ As danças apresentadas pelo Rancho
que classificamos em duas categorias7: as ador cultural que esta associação desem­ são, em geral, executadas em rodas, caden­
de convívio social, que visam a confrater­ penha. A partir da descrição dos eventos ciadas, “valseadas”, cujos cantares fazem
nização dos seus associados, e as da tra­ produzidos pelo rancho é possível perce­ alusão às tradições culturais de Arouca.
dição, em que se observa a atualização de ber a articulação entre Arouca e a socie­ Entre elas, destacamos:
práticas sociais oriundas da sociedade de dade abrangente não só no tocante à inser­ * Cana Real - representa as moças -
origem. É importante salientar que a pre­ ção de brasileiros em seus quadros, mas que ficam no meio da roda - cobiçadas
sença de brasileiros é marcante nestas fes­ também no que diz respeito à perpetuação pelos rapazes da aldeia, que lhes dirigiam
tas. da imagem de uma cultura luso-brasileira. gal anteios.
Aí festas de convívio social reforçam N este caso, a construção da luso- * Dança do Senhor da Pedra - repre­
os laços de convivência entre os associa­ brasilidade não está centrada na cultura senta as romarias à Capela do Senhor da
dos e, dentre elas destacamos: o Baile de erudita, mas baseada na reprodução de uma Pedra, outro m arco da religiosidade
Debutantes, o Festival de Galeto e Chopp, cultura popular tida como autêntica. arouquense, nas quais as pessoas iam can­
o Almoço Dançante e o Churrasco dos tando e dançando.
O RANCHO FOLCLÓRICO * Dança das Rusgas -E um desafio de
Aniversariantes do mês e, em especial, o
Almoço das Quintas, o Chá de Convívio Fundado em 1968, o Rancho Folclóri­ rimas, parecido com o dos “repentistas” do
Social e a Festa do Dias das Mães. co tem como principal objetivo “perpetu­ Nordeste brasileiro, no qual, ao som de
Das festas da tradição, ressaltamos as aras tradições arouquenses em terras bra­ uma viola ou de uma concertina, “uma
do ciclo agrícola e as religiosas. sileiras ” ou, como nas palavras de seu di­ rima vai puxando a outra até chegar o f i ­
As principais festas agrícolas são: a) a retor, “desenvolver o folclore puro e au­ nal", simbolizando as brigas decorrentes
festa das Vindimas, que rememora a épo­ têntico de sua região ”. O rancho conta com do assédio dos rapazes de uma aldeia a
ca da colheita das uvas na região de aproximadamente cinquenta componentes, moças de outra.
Arouca. Nesse evento, o Rancho Folclóri­ dentre os quais um m arcador, um * O Malhão - refere-se aos homens que
co do clube apresenta-se com danças alu­ ensaiador, um diretor e quatro cantadeiras, se deslocam para os trabalhos sazonais -
sivas à agricultura local8; b) a festa das (sendo uma prir cipal) que fazem o solo. A os malhões - quando “malham” o trigo e o
Cerejas, tradicional festividade do calen­ orquestra, denominada tocata, é formada centeio, cereais produzidos na região. O
dário da associação, que relembra a colhei­ por dez músicos. termo malhão é alusivo ao malho, instru­
ta da “rainha das frutas” - a cereja. Seus trajes, danças e cantos procuram mento de trabalho utilizado na prática agrí­
Entre as festas religiosas destacamos: reproduzir o “modo de vida dos antepas­ cola.
a) a Festa de Páscoa, em que se realiza, sados na hora do lazer e nos trabalhos do * Vira das Trempes - lembram o rigor
após a missa, a cerimônia do Beija-Cruz, campo”. Quando se referem aos antepas­ do inverno da região, quando as pessoas
também realizada no mesmo período em sados, os membros do rancho fazem uso se aqueciam em torno das trempes (espé­
Portugal. Logo após, os presentes saem em de expressões tais como “naquele tempo”, cie de “aranha” em ferro, sobre a qual se
procissão pelas dependências do clube e, “no tempo dos antigos”, recordando a “me­ colocava a panela na fogueira).
com muita emoção, relembram o domin­ mória de um tempo parado” (Pinto, 1993). Contudo, para nossa investigação, as
go pascal arouquense, inclusive o tradici­ Este tempo permanece até hoje, pois, como atividades do rancho que mais ilustram
onal almoço em que são servidos pratos expressa o diretor do rancho, “nós temos nossa argumentação são os festivais de
típicos da região; b) a Festa em Honra da que preservar a mesma cultura até hoje, folclore e as digressões.
Rainha Santa Mafalda, que rememora os porque foram os primeiros homens que a
festejos realizados anualmente em Arouca desenvolveram e isso vai passando de ge­ OS FESTIVAIS
em louvor da Rainha Santa Mafalda, pa­ ração em geração e nós temos que ter o DE FOLCLORE
droeira de Arouca9; a Festa de Nossa Se­ cuidado de quando fo r adquirir este co­
nhora da Mó, realizada anualmente a 7 de nhecimento, não puxar o conhecimento de O Rancho Folclórico do Arouca Barra
setembro, dia do aniversário da associa­ uma pessoa que já deturpou, porque isso Clube foi o primeiro de uma associação
ção10, que relembra as romarias em louvor é muito problemático". portuguesa radicada no Brasil a ser aceito
à santa cujo templo se localiza no ponto Os trajes usados pelos componentes do na Federação do Folclore Português, ór­
mais alto do Concelho de Arouca, a Serra rancho evidenciam a diferenciação social gão centralizador das atividades dos diver­
da Mó, ou Alto da Senhora da Mó. e econômica no meio rural português e sos ranchos folclóricos portugueses difun-

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didos pelo mundo11. Ao ingressar na Fe­ gal, o Rancho do Arouca apresenta núme­ origem, reatualizando em festas seculares
deração do Folclore Portugués, o rancho ros de “folclore brasileiro”, com danças e rituais religiosos a memória de uma vida
deve promover anualmente um festival. O regionais, como as do Norte, “como uma social passada que identifica seus membros
Arouca realiza esses festivais regularmen­ autêntica índia da Amazônia; do Nordes­ como pertencentes a uma determinada re­
te desde 1991, convidando para participar te, com dançarinos de frevo e baianas típi­ gião, diferenciando-se dos demais portu­
ranchos pertencentes a diversas associa­ cas; do Centro-Oeste, com dançarinos de gueses do Brasil. Neste caso, os membros
ções portuguesas, tanto do Rio de Janeiro maculelê; do Sul, com gaúchos em seus destas associações marcam sua pertença a
quanto de outros estados. Ranchos de Por­ trajes típicos e do Sudeste, com uma pe­ um grupo étnico de maneira semelhante aos
tugal também são convidados. Os requisi­ quena exibição de samba, apresentada com poetas imigrantes portugueses nos Estados
tos necessários para a aceitação de novos bateristas, passistas e destaques. Unidos, mencionados por Graça Capinha
filiados à Federação do Folclore Portu­ Assim, os membros dessas associações em seu trabalho intitulado “Literatura e
guês são: a) trajes “altamente típicos”, sem transitam não só física como simbolica­ Emigração”, em que “o universo simbó­
estilização; o diretor do rancho do Arouca mente pelas fronteiras das duas socieda­ lico dos indivíduos do grupo específica­
afirma que, em seu grupo, “tudo é cópia des em que se inserem; a de origem (por­ mente em questão (os imigrantes) resulta,
fie l”. O argumento de autenticidade é uma tuguesa) e a receptora (brasileira). na esmagadora maioria dos casos, de um
fonte de acusações entre os ranchos, apon­ processo de enculturação a nível local ou
Neste sentido, é de grande significação
tando para o estabelecimento de um “cam­ regional, relacionado, por isso, não tanto
a inserção no rancho Folclórico de seu atual
po de luta concorrencial” (Bourdieu, 1990) com a nação, mas, antes, com a ilha, ou
diretor, brasileiro que desempenha esta
entre as diferentes associações na disputa com uma zona específica do país, ou com
função há 18 anos. Na escola, quando fa­
pelo reconhecimento da comunidade como a própriafreguesia" (Capinha, 1993:519).
zia o curso médio, travou conhecimento
“legítimos”; b) músicas “realmente folcló­ A reconstrução de identidades locais e
com as “tradições portuguesas” nas “Se­
ricas”, retiradas do “cancioneiro” da região regionais no contexto da imigração portu­
manas de Folclore” que o colégio promo­
e ensinadas pelos mais velhos às gerações guesa nos Estados Unidos também apare­
via. Interessou-se pelo folclore português
seguintes. O diretor do rancho do Arouca ce no trabalho de Bela Feldman-Bianco
e foi levado por um amigo ao Rancho
exclui as “músicas de brinquedo”, ensina­ (1993), que demonstra como os açorianos
Tricanas de Ovar, no qual ingressou como
das nas escolas; c) coreografia correta das de New Bedford reinventam “múltiplas
componente, passando posteriormente a
danças, “dançando como nos anos anteri­ camadas de tempos e espaços em um coti­
ocupar os postos de marcador e ensaiador,
ores se dançava”. diano americano". Mesmo trabalhando
quando se transferiu para o Arouca, sendo
logo promovido a diretor. como operários na idústria têxtil da região,
AS DIGRESSÕES esses imigrantes, em seu tempo livre,
Neste caso, verifica-se a adesão a uma
reelaboram antigas práticas sociais como
outra cultura e, parece-nos, a “irmandade”
Uma das atividades mais importantes o plantio de hortas, reforçando a dimen­
vai além da retórica. Em situações como
dos ranchos folclóricos das associações são regional da construção de sua identi­
essa, ela parece existir de fato. Uma coisa
portuguesas são as digressões, que consis­ dade.
é a retórica nas relações políticas, outra nas
tem em visitas a Portugal para exibições E interessante notar, contudo, que nos
relações pessoais. Acrescente-se que seu
de canto e dança. Essa atividade explicita, casos acima referidos são imigrantes por­
sobrinho, também brasileiro, segue os
mais uma vez, a ambiguidade que perpas­ tugueses que recriam tradições e recons-
mesmos passos e hoje exerce a função de
sa as relações entre os dois grupos aqui troem identidades na sociedade receptora.
ensaiador do rancho.
focalizados. Ao ir a Portugal “levar o ver­ No caso do Arouca, a ambivalência apa­
dadeiro fole lore português (arouquense)", Embora represente a cultura popular rece no fato de grande número de brasilei­
este grupo realiza um processo de inver­ portuguesa, essa associação reproduz a ros exercerem o papel de “mantenedores
são, pois, indivíduos de outra nacionali­ “retórica da irmandade”, utilizada pelos da cultura arouquense”.
dade, no caso, brasileiros, tomam para si o representantes da cultura oficial, fazendo, Desta forma, não podemos deixar de
papel de porta-vozes de uma outra cultu­ por exemplo, com que o samba e o vira apontar para o aspecto de reelaboração
ral nacional. sejam apresentados como símbolos de uma constante de categorias diferenciais que se
O Rancho de Arouca já se apresentou só cultura: a luso-brasileira. E, ao incor­ articulam no interior de um mesmo grupo
em diversas ocasiões em Portugal. A pri­ porar brasileiros a suas instâncias de po­ social, reforçando a ambiguidade na co­
meira ida aconteceu em 1986. Uma ques­ der - como na Direção do Rancho Folcló­ munidade emigrante e também na comu­
tão interessante para se pensar as relações rico - reforça os laços com a sociedade nidade brasileira. Assim, português,
entre estas associações, a sociedade por­ receptora, laços estes constantemente rea­ arouquense e “português no Brasil" não
tuguesa e a brasileira, é o fato de que estes firmados pela “retórica da irmandade”. são apenas categorias exclusivas, mas
grupos, nas digressões, não mostram ape­ Como se percebe, o Arouca Barra Clu­ também “identidades” acionadas situa-
nas o “folclore português”, mas também o be tem como premissa básica a manuten­ cionalmente na experiência de imigração
brasileiro. ção e reinvenção constante de práticas cul­ vivenciada por estes portugueses.12
Quando das apresentações em Portu­ turais que evocam a sociedade local de Neste sentido, o texto de João Arrisca-

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do Nunes (1995) é de grande importância NOTAS BIBLIOGRAFIA
para a compreensão da construção de iden­ 1 - A s s o c ia ç ã o p o r t u g u e s a é a c a t e g o r ia e m p r e ­
A R O N S O N , D a n . R .

g a d a p e lo s p o r t u g u e s e s d o R io d e J a n e ir o p a r a
tidades em um contexto imigratório. Para “ d e s i g n a r s e u s o r g a n i s m o s s o c i a i s c r i a d o s , d i r i g i ­
( 1 9 7 6 ) “ E t h n ic it y a s a c u lt u r a l s y s t e m : a n

in tr o d u c to r y e s s a y ” in E t h n i c i t y i n t h e A m e r i c a s .

este autor, os imigrantes articulam e nego­ d o s e m a n t i d o s p o r p o r t u g u e s e s e q u e t ê m u m a


M o u to n P u b lis h e r s .

ciam híbridas e heterogêneas configura­ s e d e , u m a d i r e t o r i a a d m i n i s t r a t i v a , u m q u a d r o d e


B A R T H , F r e d e r ic k

ções culturais, acionando repertórios cul­ a

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( 1 9 6 9 ) “ In t r o d u c t io n ” in E t h n i c G r o u p s a n d

turais de diferentes origens (Nunes, z a r a f i n a l i d a d e p r o p o s t a ” (L im a , 1 9 7 3 : 2 9 - 3 0 ) . O


B o u n d a i r e s . L o n d o n , G e o r g e A lle n & U n w in .

B O U R D IE U , P ie r r e
1995:2). No caso aqui observado, perce­ s is t e m a c la s s if ic a t ó r io d a s a s s o c ia ç õ e s p o r t u g u e ­
( 1 9 9 0 ) P o d e r S i m b ó l i c o . R io d e J a n e i r o ,
s a s é b a s t a n t e a m p lo . E m g e r a l, r e f e r e m - s e à s
be-se a articulação de diferentes configu­ c a s a s r e g io n a is - a q u e la s q u e p r o c u r a m r e p r o d u ­
B e r tr a n d .

rações identitárias no espaço português do z ir a s t r a d iç õ e s d a s p r o v ín c ia s e a ld e ia s p o r t u g u e ­


C A P I N H A , G r a ç a

Rio de Janeiro, onde portugueses aqui fi­ s a s - e a o s c lu b e s p o r t u g u e s e s - e m p e n h a d o s n a ( 1 9 9 3 ) “ L i t e r a t u r a e I m i g r a ç ã o : p o e t a s

d iv e r s ã o e n o la z e r d e s e u s a s s o c ia d o s - c o m o e m ig r a n t e s n o s E s t a d o s d e M a s s a c h u s s e t t s e
xados acionam distintas identidades de a s s o c ia ç õ e s r e c r e a t iv a s . J á a s e s c o la s e b ib lio te ­ R h o d e Is l a n d ” in S A N T O S , B o a v e n t u r a d e

acordo com a situação em que se encon­ c a s c o n s t r u íd a s e m a n t id a s p e la “c o m u n id a d e " s ã o S o u z a ( o r g .) . P o r t u g a l : u m r e t r a t o s i n g u l a r .

tram. c la s s if ic a d a s c o m o a s s o c ia ç õ e s c u ltu r a is . H á , a in ­ P o r t o , E d . A f r o n t a m e n t o /C e n t r o d e E s t u d o s

S o c ia is .
Desta maneira, no processo de recria­ d a ,

t u a ,
a s

c u jo
a s s o c ia ç õ e s

o b je t iv o é
f ila n t r ó p ic a s

p r e s t a r a s s is t ê n c ia
e d e a ju d a

a im ig r a n ­
m ú ­

C U N H A , M a n u e la C a r n e ir o d a

ção de um “novo” Portugal no Brasil, a t e s e m s i t u a ç ã o f i n a n c e i r a e d e s a ú d e ( 1 9 8 7 ) “ E t n ic id a d e : d a c u lt u r a r e s id u a l m a s

cultura, em suas diferentes expressões, atua d e s p r iv ile g ia d a . ir r e d u t ív e l” in A t r o p o l o g i a d o B r a s i l : m i t o , h i s t ó r i a

como instrumento de interesses políticos 2 - É in t e r e s s a n t e r e s s a lt a r q u e e s t a a s s o c ia ç ã o e e t n i c i d a d e . S ã o P a u lo , B r a s ilie n s e , 2 * e d .

fo i f u n d a d a n o d ia 1 0 d e ju n h o d e 1 9 6 7 , “ D ia d e F E L D M A N - B IA N C O , B e la
e econômicos tanto do Estado Português P o r t u g a l” . C o n t u d o , a d a t a m a is s ig n if ic a t iv a n a
(1 993) “M ú ltip la s c a m a d a s d e t e m p o e e s p a ç o :

quanto da elite econômica e cultural da v id a d a in s titu iç ã o é o 7 d e s e t e m b r o , c u r io s a m e n t e


( r e ) c o n s t r u ç ã o d e c la s s e , d a e t n ic id a d e e d o

“comunidade portuguesa” do Rio de Ja­ o D ia d a In d e p e n d ê n c ia d o B r a s il.


n a c io n a lis m o e n t r e im ig r a n t e s p o r t u g u e s e s ” .

3 - S e g u n d o K á tia P u e n te - M u n iz ( 1 9 9 6 ) , e s te p r o c e s ­
neiro. s o d e v a lo r iz a ç ã o d a a u to -im a g e m t a m b é m s e v e r ifi­
R e v i s t a C r í t i c a d e C i ê n c i a s S o c i a i s , v o l.

t e m á t i c o n 8 3 8 , D e s c o b r i m e n t o s /

Podemos, então, afirmar que o Arouca c a e n tr e o s e s p a n h ó is d o R io d e J a n e ir o , e s p e c ia l­ E n c o b r im e n t o s , d e z e m b r o , C o im b r a , p p .1 9 3 -

Barra Clube: a) constitui-se em agência m e n t e o s g a le g o s , fr e q u e n te m e n te c o n fu n d id o s c o m 2 2 4 .

o s p o r tu g u e s e s n o im a g in á r io p o p u la r c a r io c a .
étnica por excelência, pois demarca fron­ G O M E S , A r t u r N u n e s

4 - E s t a n o ç ã o é r e c o r r e n t e e m a u t o r e s c o n s a g r a ­

teiras simbólicas (Barth, 1969) entre por­ d o s n o p e n s a m e n t o s o c ia l b r a s ile ir o , c o m o G ilb e r to


( 1 9 9 8 )

c o n f i g u r a
S

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tugueses e b rasileiro s, m ediante a F r e y r e ( 1 9 8 0 ) , c o m id é ia d e lu s o t r o p ic a lis m o .


d o R i o d e J a n e i r o . D is s e r t a ç ã o d e M e s t r a d o .

reelaboração de símbolos diacríticos (Cu­ 5 - S o b r e o u s o d a “ r e t ó r i c a d a i r m a n d a d e " p e lo s U n iv e r s id a d e d e C a m p in a s .

m e m b r o s d a s a s s o c ia ç õ e s p o r t u g u e s a s n o R io d e
nha, 1987); b) exerce o papel de “empre­ J a n e ir o , v e r G o m e s ( 1 9 9 8 ) .
H O B S B A W N , E r ic

( 1 9 8 4 ) “ I n t r o d u ç ã o ” in H o b s b a w n , E . & R a n g e r ,

sários étn ico s” (A ronson, 1976) da 6 - C a b e s a lie n t a r q u e B o a v e n t u r a d e S o u z a S a n ­ T . A I n v e n ç ã o d a T r a d i ç ã o . R io d e J a n e ir o , P a z

portugalidade no Rio de Janeiro, to s ( 1 9 9 3 : 3 4 ) d e f in e a c u ltu r a p o r t u g u e s a c o m o e T e r r a .

intermediando o embate político entre a u m

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L IM A , M a r ia H e le n a B e o z z o d e

sociedade de origem e a receptora; c) pro­ e a n a c io n a lid a d e é a f ir m a d a p e lo lo c a lis m o .


( 1 9 7 3 ) A M i s s ã o H e r d a d a : U m e s t u d o s o b r e a

i n s e r ç ã o d o i m i g r a n t e p o r t u g u ê s . D is s e r t a ç ã o

duz simbolicamente a “nação portuguesa” 7 - A d e s c r iç ã o a q u i a p r e s e n t a d a r e f e r e - s e à s o b ­


d e M e s t r a d o . R io d e J a n e ir o , M u s e u N a c io n a l/

a partir de três noções complementares: s e r v a ç õ e s r e a l i z a d a . e n t r e s e t e m b r o d e 1 9 9 3 e


U F R J .

f e v e r e ir o d e 1 9 9 5 .

nacional (p o rtuguês), regional 8 - A d e s c r iç ã o d a s d a n ç a s s e r á f e it a n a p a r t e r e ­


M A U S S , M a r c e i

( 1 9 7 4 ) “ E n s a io s o b r e a d á d iv a ” in S o c i o l o g i a e

(arouquense), e transnacional (“no Brasil”) f e r e n t e a o R a n c h o F o lc ló r ic o , c u ja p r e s e n ç a le g i­


A n t r o p o l o g i a , v o l. II, S ã o P a u lo , E D U S P .

- como prolongamento da nação portugue­ tim a a s f e s t iv id a d e s lig a d a s à t r a d iç ã o a r o u q u e n s e .


N U N E S , J o ã o A r r is c a d o

sa; d) ao reafirmar a retórica da irmanda­ 9 - D . M a f a ld a e r a filh a d e D . S a n c h o I e n e t a d e


( 1 9 9 5 ) “ B o u n d a r ie s , m a r g in s a n d m ig r a n t s : o n
D . A f o n s o H e n r iq u e s , fu n d a d o r d a p r im e ir a d in a s ­

de, reforça a ambiguidade das relações tia p o r t u g u e s a . In g r e s s o u n a v id a r e lig io s a e , d e ­


p a r a d ig m s h if t s , h e t e r o g e n e it y a n d c u lt u r e

w a r s ” . O f i c i n a , n 8 5 5 , a g o s t o .

entre Brasil e Portugal, funcionando como p o is d e s u a m o r te , fo i- lh e a t r ib u íd o o d o m d a s a n ­


P IN T O , M a r ia D in a N o g u e ir a

instrumento da política atual de negocia­ t id a d e , r e f o r ç a d o p e la le n d a d e q u e s e u c o r p o e s ­


( 1 9 9 3 ) A t r a v é s d o s e s p a ç o s , e m b u s c a d o

t a v a in t a c t o q u a n d o fo i a b e r t a a s e p u lt u r a a n o s

ção, também identitária, dos estados bra­ a p ó s s u a m o r t e . F o i d e c la r a d a s a n t a p e lo P a p a


t e m p o : u m e s t u d o d e i m i g r a n t e s p o r t u g u e s e s

n o R i o d e J a n e i r o , (m im e o ) .
sileiro e português. P io V I e s e u tú m u lo , e m é b a n o e o r n a d o p e la C o ­
P U E N T E - M U N I Z , K a t ia C r is tia n

Pelo exposto, concluímos que, mais r o a e A r m a s d e P o r t u g a l e m p r a t a e b r o n z e , ó o b ­


( 1 9 9 6 ) O s f i l h o s d e S a n t i a g o e m t e r r a c a r i o c a :
je t o d e v e n e r a ç ã o e m A r o u c a .

que uma atividade lúdica voltada para o 1 0 - E s t a f e s t a t e m s u a r e a liz a ç ã o p r e v is t a n o E s ­


a c o n s t r u ç ã o d a i d e n t i d a d e e s p a n h o l a .

D is s e r t a ç ã o d e M e s t r a d o , U F R J .
congraçamento de membros de uma deter­ ta t u t o d a in s tit u iç ã o .
S A N T O S , B o a v e n t u r a d e S o u z a

minada instituição, as festas aqui focaliza­ 1 1 - A t u a lm e n t e f a z e m p a r t e d a F e d e r a ç ã o d e F o l­


( 1 9 9 3 ) “ M o d e r n id a d e , Id e n t id a d e e a C u lt u r a
c lo r e P o r t u g u ê s , t a m b é m o R a n c h o F o lc ló r ic o d a
das constituem-se em espaço privilegiado C a s a d e V is e u e o R a n c h o F o lc ló r ic o d o A r o u c a
d e F r o n t e i r a ” . R e v i s t a C r í t i c a d e C i ê n c i a s

de reinvenção de tradições em que a S ã o P a u lo C lu b e .


S o c i a i s , n 8 3 8 , d e z e m b r o .

ambiguidade que marca as relações entre 1 2 - C a b e a q u i le m b r a r a s p a la v r a s d e S e y f e r t h


S E Y F E R T H , G ir a ld a

( 1 9 8 7 ) “ G r u p o É tn ic o ” ( v e r b e t e ) in D i c i o n á r i o

Brasil e Portugal emergem com grande ( 1 9 8 7 : 5 3 0 ) : “ u m a d e f i n i ç ã o d e g r u p o é t n i c o d e v e

d e C i ê n c i a s S o c i a i s . R io d e J a n e ir o , F u n d a ç ã o
i n c l u i r d o i s a s p e c t o s i m p o r t a n t e s : é u m g r u p o c u j o s

nitidez. m e m b r o s p o s s u e m u m a i d e n t i d a d e d i s t i n t i v a a t r i ­
G e t ú lio V a r g a s /M E C .

R E V IS T A C o m e m o r a t iv a d o s 2 5 a n o s d o A r o u c a
b u í d a , e s u a d i s t i n t i v i d a d e c o m o g r u p o t e m q u a s e

* Artur Nunes Gomes é Mestre em Antropo- s e m p r e p o r b a s e u m a c u l t u r a , o r i g e m e h i s t ó r i a


B a r r a C lu b e

logiaJUNICAMP. c o m u n s " . ( 1 9 9 2 ) R io d e J a n e ir o , M a lt a E d it o r a .

Travessia / M aio - A gosto / 98 - 25

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