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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 5ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO 0722515-23.2017.8.07.0001


APELANTE(S) ANDRE DA SILVA SOARES
APELADO(S) INSTITUTO EURO AMERICANO DE EDUCACAO CIENCIA TECNOLOGIA
Relator Desembargador ANGELO PASSARELI

Acórdão Nº 1132582

EMENTA

DIREITO DO CONSUMIDOR. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS. ENSINO


SUPERIOR. DISCIPLINAS CURSADAS EM OUTRA INSTITUIÇÃO DE ENSINO.
APROVEITAMENTO DE ESTUDOS INDEFERIDO. AUTONOMIA DIDÁTICA DA
INSTITUIÇÃO. CONDENAÇÃO NA OBRIGAÇÃO DE ACEITAR AS DISCIPLINAS.
IMPROCEDÊNCIA. DEVER DE INFORMAÇÃO. DANO MORAL. OCORRÊNCIA.
SENTENÇA PARCIALMENTE REFORMADA.

1 – Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor à relação jurídica estabelecida com o fim de


prestação de serviços educacionais. Nessa relação, o estudante é destinatário final dos serviços
educacionais e a instituição de ensino é a responsável por sua prestação, enquadrando-se,
respectivamente, nos conceitos de consumidor e fornecedor previstos nos artigos 2º e 3º do CDC.

2 – A autonomia didática da instituição de ensino impede que ao Instituto Réu seja imposto o
aproveitamento de disciplinas que não atendem à sua grade curricular. É certo que o estudante, para
receber o diploma de uma determinada instituição, tem de atender às exigências curriculares daquela
instituição para tanto.

3 – Tendo o aluno pleno conhecimento de que o aproveitamento de estudos até então realizado poderia
ser revisto pela nova instituição de ensino após o recebimento, por parte desta, da documentação em
poder da antiga Faculdade Alvorada, não há que se falar em condenação do Réu na obrigação de
aceitar todas as disciplinas requeridas pelo Autor.

4 – Segundo o art. 6º, III, do CDC, o consumidor tem direito básico à “informação adequada e clara
sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem”.
Havendo falha do fornecedor de serviços educacionais em informar ao consumidor quanto à revisão do
aproveitamento de estudos e consequente necessidade de que o aluno cursasse mais onze disciplinas
para obtenção do diploma, e sendo descoberto o problema pelo discente após três anos de silêncio da
instituição, às vésperas da formatura – a qual foi frustrada –, exsurge o dever o Réu de indenizar o
Autor pelo dano moral experimentado.
Apelação Cível parcialmente provida.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, ANGELO PASSARELI - Relator, SEBASTIÃO COELHO - 1º Vogal e
SILVA LEMOS - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO, em
proferir a seguinte decisão: CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO. UNÂNIME, de acordo
com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 17 de Outubro de 2018

Desembargador ANGELO PASSARELI


Relator

RELATÓRIO

Trata-se de recurso de Apelação (Doc. Num. 5183504) interposto por ANDRÉ DA SILVA SOARES
contra a sentença (Doc. Num. 5183502) proferida pelo Juiz de Direito da Vigésima Primeira Vara
Cível de Brasília nos autos da Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais nº
0722515-23.2017.8.07.0001, ajuizada pelo Apelante em face do INSTITUTO EURO AMERICANO
DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA TECNOLOGIA, por meio da qual o MM Juiz julgou improcedentes os
pedidos formulados na petição inicial, formulados no sentido de que o Réu reconsidere “as disciplinas
que alega não terem sido abarcadas pela solicitação de aproveitamentos de estudos, devendo o
Requerente não cursá-las novamente, e, que, uma vez reconsideradas, o autorize a participar da
colação de grau especial” (Doc. Num. 5183443 - Pág. 10), “aprecie novamente a grade curricular do
curso de graduação Gestão de Segurança Pública, a fim de averiguar se o conteúdo programático se
enquadra para a dispensa das disciplinas de Direito Penal I e Direito Penal II” (Doc. Num. 5183443
- Pág. 10), bem como seja condenado ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$
20.000,00 (vinte mil reais).

O Recorrente alega, em síntese, que ao ser transferido da Faculdade Alvorada para o Unieuro, foi,
inicialmente, posicionado no 4º semestre do curso de Direito.

Aponta que, na contestação, o Apelado disse que, após o recebimento da documentação da instituição
de ensino superior de origem (Faculdade Alvorada), o Recorrido “confeccionou o documento de
revisão de estudos, id 13790628, autorizando o Apelante a permanecer no 5º semestre, devendo
então matricular-se em regime de adaptação/dependência nas disciplinas que não foram abarcadas”
(Doc. Num. 5183504 - Pág. 3). Diz que, no entanto, não lhe foi dada ciência dessa decisão acadêmica.

Nesse diapasão, aduz que “desde o seu ingresso na instituição, em momento algum a coordenação do
curso de direito o chamou para informar acerca desses documentos. Tanto é verdade que neles não
constam a assinatura do Apelante, não havendo assim comprovação de sua ciência acerca dessa
nova revisão de estudos” (Doc. Num. 5183504 - Pág. 3) e que tal fato não foi levado em consideração
pelo Magistrado a quo.

Diz que “como nunca o chamaram para informar acerca dessas pendências e na área do aluno
constava que não possuía disciplinas pendentes, o Apelante achava que estava tudo certo, que
realmente as disciplinas haviam sido aproveitadas, tanto que somente teve conhecimento dessas
pendências quando constatou que seu nome não estava na lista de alunos aptos a colar grau, tendo
que, por conta própria, procurar saber o que estava acontecendo” (Doc. Num. 5183504 - Pág. 3).

Aponta que a situação gerou no Recorrente a falsa expectativa de que não havia pendências
curriculares.

Assim, defende que haja o aproveitamento das disciplinas pendentes.

Pede que, caso esta Corte entenda que o Recorrente deve cursar novamente as matérias que não foram
abrangidas pelo aproveitamento de estudos, que se leve em consideração que ele “em nenhum
momento imaginou que teria um problema dessa proporção, deixando-o assim bastante frustrado
quando da descoberta, somente no final do curso, que algumas disciplinas não foram aproveitadas e
da omissão do Apelado ao confeccionar o documento de revisão de estudos sem lhe dar a devida
ciência” (Doc. Num. 5183504 - Pág. 4). Afirma que, caso o Apelado tivesse comunicado o Apelante
sobre as pendências, este “não teria comprometido sua vida acadêmica e hoje já estaria exercendo
sua profissão” (Doc. Num. 5183504 - Pág. 4), o que enseja a necessidade de compensação por danos
morais.

Propugna o conhecimento e o provimento do recurso, para que, reformando-se a sentença, sejam


julgados procedentes os pedidos contidos na exordial.

Sem preparo, em razão da concessão da gratuidade de Justiça ao Recorrente (Doc. Num. 5183457).

Em contrarrazões (Doc. Num. 5183507), o Apelado destaca que “o Recorrente solicitou sua
transferência assistida para o Recorrido em 08/11/2013 (ID 13790618), meses antes da entrega e
recebimento dos documentos pela Alvorada, situação na qual assinou declaração tomando ciência
inequívoca de que os documentos acadêmicos dos alunos ainda não haviam sido entregues e que o
aproveitamento de estudos seria realizado com base na documentação a ser recebida” (Doc. Num.
5183507 - Pág. 7 – destacado conforme o original).

Quanto ao dano moral, aduz que há inovação recursal.

Por fim, pede o não provimento do recurso.

É o relatório .

VOTOS

O Senhor Desembargador ANGELO PASSARELI - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Como relatado, trata-se de Apelação (Doc. Num. 5183504) interposta por ANDRÉ DA SILVA
SOARES contra a sentença (Doc. Num. 5183502) proferida pelo Juiz de Direito da Vigésima
Primeira Vara Cível de Brasília que, em Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos
Morais ajuizada pelo Apelante em face de INSTITUTO EURO AMERICANO DE EDUCAÇÃO
CIÊNCIA TECNOLOGIA, julgou improcedentes os pedidos formulados na petição inicial,
formulados no sentido de que o Réu reconsidere “as disciplinas que alega não terem sido abarcadas
pela solicitação de aproveitamentos de estudos, devendo o Requerente não cursá-las novamente, e,
que, uma vez reconsideradas, o autorize a participar da colação de grau especial” (Doc. Num.
5183443 - Pág. 10), “aprecie novamente a grade curricular do curso de graduação Gestão de
Segurança Pública, a fim de averiguar se o conteúdo programático se enquadra para a dispensa
das disciplinas de Direito Penal I e Direito Penal II” (Doc. Num. 5183443 - Pág. 10), bem como seja
condenado ao pagamento de indenização no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

Razão lhe assiste em parte.

Compulsando os autos, verifico que o Autor/Apelante cursava Direito na extinta Faculdade Alvorada,
tendo transferido o curso para a o Instituto Euro Americano (Unieuro) em 2013.

Naquela ocasião, o Recorrente assinou documento com o seguinte teor, o qual foi por ele mesmo
juntado ao Feito:

“Assunto: APROVEITAMENTO DE ESTUDOS – TRANSFERÊNCIA ASSISTIDA

Prezado(a) Secretário(a) Acadêmico(a),

Conforme análise de aproveitamento de estudos do requerente ANDRÉ DA SILVA SOARES CPD


17158, foi constatado que o discente poderá ingressar no 4º semestre do curso de Direito desta
instituição, turma 40431, sendo que a confirmação do aproveitamento definitivo das disciplinas fica
condicionada ao recebimento da documentação original que será enviada pelo MEC em data
oportuna.

Ressaltamos que o discente deverá tomar ciência desta análise, bem como deverá matricular-se em
regime de adaptação/dependência nas disciplinas pendentes dos semestres anteriores, sendo:
Direito Penal II ciente das devidas alterações na grade e também dos ônus financeiros que tais
disciplinas acarretam.

Atenciosamente,

(…)” (Doc. Num. 5183448 – grifei).

A leitura dessa comunicação permite constatar que, quando a transferência ocorreu, tanto o aluno
quanto a Instituição de Ensino estavam cientes e acordes de que a grade de “Aproveitamento de
Estudos para os semestres: 4º e 5º Grade 2012-0” (Doc. Num. 5183448) que fora elaborada pelo
Unieuro era provisória.

Desse modo, o pedido do Autor/Apelante no sentido de que o Réu/Apelado seja obrigado a aceitar o
aproveitamento de todas as disciplinas não tem amparo.

Como bem destaca o Réu em todas as suas manifestações nestes autos, o aproveitamento se dá com
base no cuidadoso cotejo das ementas das disciplinas cursadas na antiga Faculdade com as ementas
das disciplinas equivalentes no Unieuro.

Ora, a autonomia didática da Instituição de Ensino impede que ao Instituto Réu seja imposto o
aproveitamento de matérias que não atendem à sua grade curricular. É certo que o estudante, para
receber o diploma de uma determinada instituição de ensino, tem de atender às exigências curriculares
daquela instituição para tanto.

Além disso, no caso, não se pode dizer que o Unieuro criou no discente qualquer expectativa de que
todos os créditos seriam aproveitados.
Como destacado, ambas as partes sabiam que o aproveitamento era provisório e estava sujeito a
alterações posteriores.

O mesmo raciocínio se aplica às disciplinas de Direito Penal I e de Direito Penal II, que o Apelante
pretende ver aproveitadas em função de curso por ele anteriormente concluído na área de Gestão de
Segurança Pública.

Assim, nesses dois pontos – pedido de que o Réu seja compelido a aproveitar créditos cursados na
Faculdade Alvorada e pedido de que ele seja obrigado, igualmente, a aceitar disciplinas do curso de
Gestão de Segurança Pública – a sentença não merece reparos.

Como asseverado, foi nesse sentido que trilhou o ilustre Sentenciante, conforme se constata do trecho
da r. sentença que a seguir transcrevo, in verbis:

“Com efeito, a presente demanda será analisada à luz das normas do CDC, uma vez que a autora é
destinatária final dos serviços prestados pela parte ré, sendo esta fornecedora de serviços.

Feita essa observação, é importante consignar que os documentos trazidos aos autos pela requerida
demonstram que o autor teve ciência, quando de sua entrada no quadro discente da ré, da
provisoriedade da situação, já que seria necessária a avaliação as matérias até então cursadas, à
luz dos documentos que seriam posteriormente apresentados (fl. 140, 142, 172, 173).

Além disso, na ficha individual do aluno na faculdade alvorada, constam a reprovação em várias
disciplinas, e a indicação de disciplinas trancadas no decorrer do curso (fls. 143, 183/209), sendo
certo que os documentos de fls. 173 e 178 demonstram que está determinado o lançamento, desde o
ano de 2014, na ficha do autor na universidade ré, da revisão de aproveitamento de estudos.

Ressalto, ainda, que a questão da pesquisa via sitio eletrônico da ré foi especificamente
demonstrada pelos documentos por essa apresentados, atestando, pois, a impropriedade do
argumento de que não haveriam mais disciplinas remanescente para o autor (fls. 265/267).

Assim, não vejo ato ilícito atribuível à ré, sobretudo porque não há documento hábil a comprovar
que o autor efetivamente cursou e foi aprovado nas disciplinas que requer aproveitamento, não
podendo a requerida ser instada a provar fato negativo, ou ainda ser responsabilizada por
documentos dos quais não era responsável pela guarda.

Desse modo, considero que a negativa de colação de grau realizada pela ré representa exercício
regular de direito, não sendo passível, pois, afastamento judicial.” (Doc. Num. 5183502 – Pág. 2).

Além dos dois pedidos acima especificados, a Apelação contém pedido de reforma da sentença na
parte em que o Magistrado de primeiro grau afastou a indenização por danos morais pretendida pelo
Autor/Recorrente. Quanto a tal pretensão, razão assiste ao Recorrente.

No ponto, segundo narrou o Autor na petição inicial, após o aproveitamento provisório de estudos, o
curso de Direito prosseguiu e, em julho/2017, pensando o discente que iria colar grau, verificou que
seu nome não estava na lista de alunos aptos para a colação, tendo sido, então informado, de que
precisaria cursar ainda onze disciplinas que não haviam sido aproveitadas.

Disse que “em momento algum a Coordenadoria do Curso de Direito ou a Secretaria Acadêmica o
procurou para lhe informar que deveria cursar essas 11 (onze) disciplinas que não foram
abarcadas pelo aproveitamento de estudos” (Doc. Num. 5183443 - Pág. 6).
O Demandado, por sua vez, expôs em sua contestação que, somente em fevereiro/2014, por
determinação do Juiz da 5ª Vara Cível, a Faculdade Alvorada lhe entregou 612 (seiscentas e doze)
caixas de documentos, sendo que só a partir dessa documentação foi possível realizar a análise
definitiva quanto à possibilidade de aproveitamento das disciplinas já cursadas pelo ora Recorrente na
extinta instituição.

O Réu colacionou aos autos declaração assinada pelo Autor na qual se lê o seguinte trecho:

“(…)

DECLARO, ainda, que quando da recepção dos respectivos lotes de documentos, o UNIEURO
necessitará de prazo condizente para as devidas catalogações, organização, registro, realização de
aproveitamento de estudos e arquivos dos documentos recebidos, sendo que, após as devidas
regularizações acadêmicas, serei enquadrado na estrutura curricular vigente do UNIEURO à
época do meu ingresso. Nesse sentido, o UNIEURO somente poderá realizar os aproveitamentos de
disciplinas de acordo com a documentação que será transferida pelo Ministério da
Educação/ALVORADA.” (Doc. Num. 5183481 – grifei)

Do conjunto das narrativas das partes e dos trechos de documentos já transcritos neste voto, extrai-se
que o Autor transferiu-se da Alvorada para o Unieuro ciente de que, até posterior verificação da
documentação em poder da Alvorada, o aproveitamento de estudos realizado era provisório. Além
disso, da última transcrição acima, vê-se que o próprio Unieuro faria o reenquadramento do aluno na
estrutura do curso, caso isso se mostrasse necessário.

Assim, tem-se que o Unieuro assumiu a obrigação de examinar a documentação que lhe seria entregue
e cientificar o aluno caso ele fosse reenquadrado, ou seja, caso o Unieuro constatasse a
incompatibilidade de créditos já cursados com as suas próprias exigências curriculares e decidisse por
não aceitar matérias que inicialmente haviam sido incluídas na grade provisória de aproveitamento de
estudos.

Tanto é assim que há nos autos documento apresentado pelo próprio Unieuro, posterior à recepção das
caixas remetidas pela Faculdade Alvorada, cujo assunto é “REVISÃO DE APROVEITAMENTO DE
ESTUDOS – ALVORADA” (Doc. Num. 5183483). Confira-se o seu teor:

“Prezado(a) Secretário(a) Acadêmico(a),

Conforme revisão de aproveitamento de estudos do(a) requerente ANDRÉ DA SILVA SOARES


CPD 17158, foi constatado que o(a) discente poderá continuar no 5º semestre do curso de Direito
desta instituição, na turma 40531 – Asa Sul – noturno.

Ressaltamos que o(a) discente deverá tomar ciência desta análise, bem como deverá matricular-se
em regime de adaptação/dependência nas disciplinas pendentes dos semestres anteriores, sendo:
Hermenêutica e Argumentação Jurídica, Direito Civil I, Direito Penal I, Direito Constitucional I,
Metodologia Científica, Teoria Geral do Processo, Direito Penal II, Direito Civil II – Obrigações,
Direito Constitucional II, Direitos Humanos, e Ética Geral e Profissional, ciente das devidas
alterações na grade e também dos ônus financeiros que tais disciplinas acarretam.” (Doc. Num.
5183483 - Pág. 1 – grifei)
Nesse documento, há campo específico para a aposição de ciência pelo aluno. Ora, a Instituição de
Ensino sabia que tinha assumido obrigação de informar o discente quanto ao aproveitamento
definitivo e procurou atuar nesse sentido, tendo até mesmo disponibilizado campo para a ciência do
aluno.

Ocorre que o campo não está preenchido.

Há no documento assinaturas de quatro pessoas diferentes, estando ausente apenas a ciência do aluno.

Assim, conclui-se que a instituição falhou ao não informar o aluno sobre a sua decisão de não
aproveitar todas as disciplinas inicialmente incluídas na grade de aproveitamento provisório.

Registro que a relação estabelecida entre o aluno e a instituição educacional privada é regulada pelo
Código de Defesa do Consumidor. De um lado, o aluno enquadra-se no conceito de consumidor
estabelecido no art. 2º do CDC e, de outro, o Unieuro amolda-se ao conceito de fornecedor definido
no dispositivo subsequente.

Nesse sentido, colaciono os seguintes precedentes desta Corte:

“CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO MONITÓRIA. PRESTAÇÃO DE


SERVIÇOS EDUCACIONAIS. RELAÇÃO DE CONSUMO. FORO DE DOMICÍLIO DO
CONSUMIDOR. COMPETÊNCIA ABSOLUTA. 1. A instituição de ensino que presta serviços
educacionais se enquadra no conceito de fornecedor, previsto no art. 3º do Código de Defesa de
Consumidor, mostrando-se evidente a relação de consumo com o utente dos referidos serviços. 2.
Nas relações jurídicas de consumo, no caso de ser réu o consumidor, a competência do foro de seu
domicílio é absoluta, podendo ser reconhecida de ofício pelo Juízo. 3. Deve ser observada a
previsão do art. 6º, inc. VIII, do CDC, que assegura ao consumidor a facilitação da defesa de suas
legítimas pretensões, decorrentes da respectiva relação jurídica de consumo. 4. Conflito acolhido
para declarar competente o Juízo da Vara Cível, de Família e de Órfãos e Sucessões do Núcleo
Bandeirante.”

(Acórdão n.1075747, 07130708120178070000, Relator: ALVARO CIARLINI 1ª Câmara Cível, Data


de Julgamento: 20/02/2018, Publicado no DJE: 07/03/2018 – destaquei)

“CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
EDUCACIONAIS. AUSÊNCIA DE OFERTA DE DISCIPLINA INTEGRANTE DA MATRIZ
CURRICULAR. ATRASO NA CONCLUSÃO DO CURSO. DANOS MORAIS. CONFIGURAÇÃO.
SENTENÇA MANTIDA.

1 - Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor à relação jurídica estabelecida com o fim de


prestação de serviços educacionais. Nessa relação, o estudante é destinatário final dos serviços
educacionais e a instituição de ensino é a responsável por sua prestação, enquadrando-se,
respectivamente, nos conceitos de consumidor e fornecedor previstos nos artigos 2º e 3º do CDC.

2 - Infundada a alegação sobre a ocorrência de caso fortuito, consubstanciado no fato de não ter
encontrado professor capacitado para ministrar a disciplina, uma vez que a referida circunstância
integra o risco inerente da atividade exercida pela instituição de ensino.

3 - Embora a parte Ré afirme que a disciplina foi ofertada após a reprovação da Autora, não
corrobora a aludida alegação com nenhum elemento de prova colacionado aos autos, ou seja, não
se desincumbiu do ônus de comprovar a ocorrência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do
direito da Autora (inciso II do artigo 333 do CPC/73). Ainda que assim não fosse, a inexistência de
circunstância justificadora para o não oferecimento da disciplina, única restante para a conclusão
do curso pela Autora, desatende ao objeto do contrato de prestação de serviços educacionais, que é
a conclusão do curso superior. Evidenciada, portanto, a falha no serviço, dada a ilegítima
frustração de expectativa de conclusão da graduação durante o prazo previsto, a ensejar a
reparação a título de danos morais.

Apelação Cível desprovida.”

(Acórdão n.1017740, 20150110863017APC, Relator: ANGELO PASSARELI 5ª TURMA CÍVEL,


Data de Julgamento: 17/05/2017, Publicado no DJE: 29/05/2017. Pág.: 380/384 – destaquei)

Portanto, firmado contrato de prestação de serviço educacional entre o Apelante e o Apelado, é


cristalina a natureza consumerista da relação firmada entre as partes, à qual se aplicam as previsões
constantes do CDC.

Nos termos do art. 14 do CDC, a responsabilidade do prestador de serviços por danos causados aos
consumidores é, em regra, objetiva:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela


reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi fornecido.

§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de


culpa.”

No caso concreto sob exame, tem-se que o Réu/Apelado prestou serviço defeituoso no que diz
respeito ao seu dever de informar o educando quanto à revisão do aproveitamento de estudos inicial e
consequente necessidade de que ele cursasse as disciplinas que não haviam sido aproveitadas.

Com efeito, o art. 6º, III, do CDC confere ao consumidor o direito básico à “informação adequada e
clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem”.

O dever de informação visa garantir a igualdade material entre as partes. É certo que o Apelante tem
evidente déficit informacional frente à instituição de ensino, a qual, no exercício da sua autonomia
didático-científica, elabora a grade curricular e determina sua matriz regular.

De acordo com o Superior Tribunal de Justiça tem o consumidor direito à informação clara e
adequada, a qual demanda atitude positiva do fornecedor, acerca de todos componentes,
particularidades, riscos e conteúdo do contrato. Informação adequada é a apresentada
simultaneamente e de maneira completa, gratuita e útil, vedada a diluição da comunicação
efetivamente relevante pelo uso de informações soltas, redundantes ou destituídas de qualquer
serventia para o consumidor. (REsp. 586.316/MG).

O silêncio da instituição de ensino, em especial quando da documentação colacionada aos autos se


extrai que ela mesma já havia dito que informaria ao aluno a respeito da revisão do aproveitamento,
traduz verdadeira violação ao dever de informação.

Como é cediço, para que o dano moral seja configurado é necessário haver ato ilícito, dano e nexo
causal entre este e aquele.

O dano está suficientemente demonstrado, uma vez que o Autor/Apelante deixou de colar grau no
momento esperado e esse fato, causou indiscutível constrangimento psíquico e social ao Autor que,
após anos de estudo e dedicação, às vésperas da formatura de seus colegas de turma, vê frustradas as
suas justas expectativas de realização acadêmica e profissional, o que extrapola os dissabores
habitualmente vividos e esperados entre o estudante e a instituição de ensino.

É, pois, certo que “a prestação de serviços educacionais, mormente no âmbito de curso superior,
tem como fator ínsito a legítima expectativa do aluno de conclusão do seu curso, haja vista que –
ainda que eventualmente renovado o contrato a cada ano ou semestre – a contratação se dá pelo
prazo integral necessário à correspondente conclusão do curso sequencial”. (REsp 1453852/GO,
Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 27/10/2015, DJe
20/11/2015).

Sobre o dano moral por falha no dever de informação da instituição de ensino para com o consumidor,
destaco, ainda, o seguinte julgado:

“CIVIL. CONSUMIDOR. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS.


ENSINO SUPERIOR. TRANSFERÊNCIA DE UNIDADE DE ENSINO. APROVEITAMENTO
DE DISCIPLINAS CURSADAS. DIREITO À INFORMAÇÃO. VIOLAÇÃO. DANO MORAL.
CONFIGURADO.

1. Envolve relação consumerista, em função da qualificação das partes, como fornecedor


(instituição de ensino) e consumidor (aluna), respectivamente, na forma dos artigos 2º e 3º do
Código de Defesa do Consumidor, a relação jurídica decorrente do contrato de prestação de
serviços educacionais.

2. Viola o direito de informação a instituição de ensino que não esclareceu ao aluno, no ato da
contratação, acerca da unidade de ensino que deverá frequentar nem sobre as formalidades para
solicitação de transferência.

3. Aconduta ilícita da instituição de ensino, para além do mero descumprimento do contrato de


prestação de serviços educacionais, ofendeu a moral da consumidora, frustrando sua legítima
expectativa de, cumprindo com suas obrigações discentes, obter o certificado de conclusão do curso
contratado no prazo avençado, o que extrapola o parâmetro habitual considerado em relação a
aborrecimentos e dissabores cotidianos.

4. O valor da indenização por danos morais deve ser apurado mediante prudente arbítrio do Juiz,
motivado pelos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, além de observadas a gravidade
e repercussão do dano, bem como a intensidade, os efeitos do sofrimento e o grau de culpa ou dolo.
A finalidade compensatória, por sua vez, deve ter caráter didático-pedagógico, evitado o valor
excessivo ou ínfimo, mas objetivando, sempre, o desestímulo à conduta lesiva.

5. Recurso conhecido e parcialmente provido.”

(Acórdão n.1093997, 20160310184079APC, Relator: FÁTIMA RAFAEL, Relator


Designado:MARIA DE LOURDES ABREU 3ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 25/04/2018,
Publicado no DJE: 08/05/2018. Pág.: 358/363)

No caso, o documento de ID Num. 5183483 - Pág. 1 demonstra que o Unieuro revisara o


aproveitamento de estudos ainda em 2014, três anos antes da formatura, de modo que houve tempo
mais que suficiente para que o aluno tomasse ciência da decisão e cursasse as disciplinas pendentes.

O ato ilícito, por sua vez, como já registrei, ficou caracterizado pela violação do dever de informação.

Quanto ao nexo causal, não há dificuldade alguma em identificá-lo entre a conduta e o dano descritos,
estando nos termos da definição do professor Sérgio Cavalieri Filho, in verbis:

“O nexo causal é um elemento referencial entre a conduta e o resultado, sendo que através dele
podemos concluir quem foi o causador do dano, além de ser elemento indispensável em qualquer
espécie de responsabilidade civil”. (CAVALIERI. Sérgio Filho. Programa de Responsabilidade Civil.
7ª Ed. São Paulo: Atlas S.A. 2007. p. 46)

Nesse descortino, o dano comprovado nos autos tem de ser objeto de reparação moral. Ou seja,
presentes os requisitos necessários à configuração da responsabilidade civil, surge a obrigação de
indenizar os danos experimentados.

No que se refere ao quantum indenizatório, a compensação por dano moral deve ser fixada mediante
prudente arbítrio do juiz, de acordo com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade a
extensão do dano experimentado, a expressividade da relação jurídica originária, bem como a
finalidade compensatória; ao mesmo tempo, o valor não pode ensejar enriquecimento sem causa, nem
pode ser ínfimo a ponto de não coibir a reiteração da conduta.

Deve, ainda, pautar-se de forma moderada, a fim de compensar e satisfazer o ofendido pelo
sofrimento suportado, não servindo o valor arbitrado como fonte de enriquecimento indevido para a
vítima do dano, mas razoável, justo e equitativo a ponto de reduzir e impedir futuros atos atentatórios
reincidentes praticados pelo infrator.

Dessa forma, considero que deve prevalecer o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), pois condizente
com os critérios anteriormente alinhavados.

Destaco, por fim, que a alegação do Apelado de que a argumentação do Recorrente em grau recursal
quanto aos danos morais consiste em inovação recursal não tem amparo. O Recorrido nem sequer
explica qual o motivo dessa sua afirmação, a qual não se revela verdadeira quando se compara o teor
da petição inicial com o conteúdo do recurso.

Com essas considerações, dou parcial provimento ao recurso, tão somente para reformar em parte
a r. sentença para o fim de julgar parcialmente procedente o pedido inicial para condenar o Instituto
Euro Americano de Educação Ciência e Tecnologia a pagar ao Autor a importância de R$ 5.000,00
(cinco mil reais), a título de compensação pelos danos morais experimentados, devendo tal valor deve
ser acrescido de juros de mora desde a data da citação (art. 240 do Código de Processo Civil), ocorrida
em 28/11/2017 (Doc. Num. 5183460), e de correção monetária a partir do presente julgamento, ou
seja, da data do arbitramento, conforme Súmula nº 362 do STJ.

Em razão da reforma parcial da sentença, impõe-se a redistribuição da responsabilidade pelos


encargos da sucumbência, de maneira que cada uma das partes, nos termos dos artigos 85, § 5º, e 86
do Código de Processo Civil, deverá arcar com 50% (cinquenta por cento) das custas e dos honorários
advocatícios, fixados estes em 10% (dez por cento) do valor da condenação.

É como voto .

O Senhor Desembargador SEBASTIÃO COELHO - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador SILVA LEMOS - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECER. DAR PARCIAL PROVIMENTO. UNÂNIME

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