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A Construcao Do Meio Ambiente Cultural R
A Construcao Do Meio Ambiente Cultural R
Erika M. Robrahn-González
RESUMO
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a conformação do Meio Ambiente Cultural
(em sua definição jurídica estabelecida pelo Ministério Público Federal do Brasil, 4ª. Câmara
Técnica) através da abordagem da Gestão de Território. Neste cenário, o conjunto de
manifestações físicas e culturais de uma paisagem reflete a somatória de ativos intangíveis (os
conhecimentos e práticas tradicionais das comunidades que ali vivem e viveram) e seus
resultados tangíveis (incluindo desde sítios arqueológicos milenares, formas de manejo
ambiental, edificações históricas, entre tantos outros). Este cenário é analisado como um
processo sócio natural de longa duração, resultando em múltiplos níveis de identidade cultural
hoje apresentada pela população brasileira. Todavia, o desenvolvimento de Programas de
Pesquisa dentro da abordagem do Meio Ambiente Cultural e da Gestão de Território constitui
ainda um desafio metodológico, especialmente na aplicação destes conceitos junto às
comunidades envolvidas e na obtenção de resultados capazes de alavancar ações sustentáveis do
ponto de vista não apenas social e cultural, mas, também, econômico e político. À luz deste
desafio, o presente artigo apresenta diretrizes estratégicas que vêm sendo aplicadas em
Programas de Pesquisa no Brasil, voltadas à prática de uma Ciência Aplicada e tendo como
meta final de seus esforços a inclusão social e o fortalecimento de identidade cultural.
Este cenário tem sido abordado pelo Ministério Público brasileiro (e, em especial, pela
sua 4ª. Câmara Técnica) dentro do conceito de Meio Ambiente Cultural, integrado ao conceito
do Meio Ambiente Natural. O Meio Ambiente Cultural constitui a soma do ambiente físico em
sua constituição geológica, geomorfológica, vegetacional, hidrológica e faunística às paisagens
culturalmente construídas pelos diferentes grupos culturais que se desenvolveram na região, ao
longo do tempo, através de um processo de longa duração. Esta somatória de fatores dá
significado e bases para uma estruturação socioeconômica e ritual ao ambiente físico. Deste
ponto de vista, cultura e ambiente são indissociáveis e integram processos sócio naturais
formados pelo conjunto de manifestações físicas e culturais de uma paisagem. Refletem,
portanto, a somatória de ativos intangíveis (os conhecimentos e práticas tradicionais das
comunidades que ali vivem e viveram) e seus resultados tangíveis (incluindo desde sítios
arqueológicos milenares, formas de manejo ambiental, edificações históricas, entre tantos
outros).
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 já previa a proteção do meio ambiente
cultural nacional, delegando ao Poder Público atividades como registros, desapropriações,
vigilância e tombamentos. O último termo refere-se a uma medida administrativa que pode ser
realizada pelo IPHAN (Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), de competência federal ou
por órgãos dos municípios. Ainda de acordo com a Constituição do Brasil, todo o conjunto de
obras e bens de valores culturais dentro do meio ambiente faz parte da competência comum, ou
seja, pertence a todos os habitantes legais da federação. Assim, a partir da Constituição Federal
de 1988 o meio ambiente passou a ser tido como um bem tutelado juridicamente.
Na abordagem e tratamento do Meio Ambiente Cultural, a perspectiva da Gestão de
Território tem-se mostrado adequada e eficaz, uma vez que abrange as combinações possíveis
entre a ação do homem com a natureza e sua modificação, incluindo aquelas de patrimônio
documental ou arquivístico; patrimônio cultural imaterial (formas de expressão, modos de criar,
fazer e viver) e sítios arqueológicos e entorno de bens culturais (seguindo em aderência com a
definição de Patrimônio Cultural pelo MPF, 4a. Câmara Técnica).
A Gestão de Território é uma metodologia que propõe o envolvimento de todos nas
transformações do território. Analisa o território de maneira integrada, organizando suas
características e ações de forma convergente. Essa proposta considera que todos, sejam
sociedades do presente como do passado, tem contribuições e olhares diferenciados sobre o
tema, proporcionando uma visão mais ampla dos dilemas diante das mudanças.
Valorizar as culturas locais é um dos fundamentos desse método, porque as
comunidades somam aos debates elementos que escapam das análises técnicas e especializadas.
Assim, a Gestão de Território se baseia na construção de uma rede social empreendedora
formada pela sociedade civil organizada, por lideranças comunitárias, proprietários de terra,
governos locais estaduais e empresas. Busca conceber o conhecimento e valorizar outros
saberes que pareciam alheios ao universo científico.
Para tanto, deve-se investigar a paisagem atual em sua constante transformação. É
fundamental refletir sobre a construção humana da paisagem até o presente momento, e
perceber como as culturas participaram e participam deste processo. É como transformar o
ambiente em material histórico, a ser desvendado.
Um desses mecanismos de ampliar as formas de participação da comunidade são as
plataformas na internet que convergem os registros de várias ações e a possibilidade de
fomentar fóruns de debate. Esse tipo de instrumento deve ser entendido como uma oportunidade
de registro das informações coletadas, mas, sobretudo, é a oportunidade de que sejamos co-
criadores desses conteúdos produzidos. Se nosso foco é estimular a participação humana, para
além das técnicas, as plataformas e equipamentos virtuais centralizam as diversas demandas dos
setores envolvidos.
Linha Programática
Abrange a conceituação teórico-metodológica no tratamento científico aos patrimônios
envolvidos (patrimônio arqueológico, histórico, cultural e paisagístico) apoiado nas seguintes
• Planejamento estratégico;
aprimoramento constante. Este campo é formado pela sinergia das seguintes variáveis:
• Legislação Aplicável;
desenvolvimento sustentável. São aqui, assim, considerados os seguintes elementos:
• Programa de Sócioeconomia;
• Programa de Meio Físico;
• Programa de Meio Biótico;
• Planos de Gestão e Sustentabilidade.
Índices de Qualidade
Para avaliação do grau de metas cumpridas pelo Programa, os Índices de Qualidade se baseiam
no atendimento às recomendações e práticas da UNESCO, IFC (International Finance
Corporation), IAIA (International Association for Impact Assesment) e Ministério da
Cultura/IPHAN. E, ainda, nos diversos documentos e cartas internacionais dos quais o Brasil é
signatário. Na implementação destas práticas é utilizado o Programa de Gestão Adaptive
Management (desenvolvido por preservacionistas da Universidade de Berkeley, California/EUA
e que tem como meta a gestão de projetos científicos) e a ferramenta Quality Companion. Para
• Envolvimento da comunidade;
que este atendimento são contemplados os seguintes itens:
• Modos de vida;
• Aplicação e resultados;
• Gestão do conhecimento;
• Índices de Resiliência.
Sustentabilidade
As práticas e ferramentas desenvolvidas que visam apoiar ações sustentáveis são
apresentadas mais adiante (Item 5. Ferramentas de Interação).
4. DIRETRIZES CIENTÍFICAS
5. FERRAMENTAS DE INTERAÇÃO
contemporâneo do tratamento das questões patrimoniais culturais:
Democratizar as práticas para o reconhecimento e identificação do patrimônio
cultural, observando as diversas possibilidades de visão e interpretação a respeito deste.
Ampliar as possibilidades morfológicas que norteiam o reconhecimento do
patrimônio, respeitando as singularidades das experiências históricas de cada cultura e de cada
grupo social.
Desenvolver práticas de identificação, proteção, recuperação e fomento dos
patrimônios que sejam compartilhadas entre os grupos científicos e as comunidades, atuando
de modo coordenado e solidário.
Compreender o patrimônio cultural como algo vivo e integrado às sociedades,
como elementos fundamentais na manutenção da coesão social e da preservação das
culturas.
Adotar o princípio de que somente com o envolvimento da sociedade, sobretudo
das comunidades locais (inclusive atuando como parceiros e observadores dos demais
atores sociais), é possível uma política patrimonial que seja durável e sustentável.
Para o atingimento destes objetivos, os Programas de Pesquisa que vimos
desenvolvendo compreendem a realização de diversas atividades presenciais com as
comunidades locais, incluindo Oficinas Culturais, Circuitos Culturais, Museus de Território,
Ateliers de Cultura, a implantação de Centros de Inclusão Cultural, programas de capacitação
em gestão cultural, entre outros, para atendimento permanente dos interessados.
Adicionalmente são empregados canais de comunicação direta com todos os
envolvidos, as chamadas “mídias sociais”, as quais promovem, além da interação com as
pesquisas, a democratização da informação e a criação de redes colaborativas que envolvem
cientistas, a comunidade local e interessados em geral. Foram assim criadas e se encontram em
pleno desenvolvimento as seguintes ferramentas (vide www.arqueologiapublica.com):
Arqueo Parque
Museu Virtual
Ensino à Distância
Blog das Comunidades
Fale Conosco
Cartilhas Patrimoniais
Divulgação Científica, incluindo ferramenta de E-Science
Estas ferramentas vêm sendo adotadas com sucesso nos mais variados projetos de
pesquisa no Brasil, ao longo dos anos. Para consulta em contexto similar (Porto de Santos/SP)
sugerimos navegar pelo endereço eletrônico http://documentoculturalsantos.ning.com, a partir
do qual se tem acesso também às plataformas de Museu Virtual, cartilha patrimonial eletrônica,
publicação científica em formato E-Book e outros. Da mesma forma pode-se acessar o endereço
http://documentoculturaljirau.ning.com, referente a pesquisas e resultados obtidos com um
Programa de Pesquisa na região amazônica do médio vale do rio Madeira, estado de Rondônia.
Já para um Programa desenvolvido junto a comunidades indígenas da região do Xingu,
e que teve como um de seus resultados o reconhecimento, pelo governo federal brasileiro, de
duas áreas sagradas onde foi aplicada a figura do tombamento, vide o endereço eletrônico
http://oficinaxingu.ning.com.
Por estes canais é mantido o diálogo contínuo com todos os parceiros, de um modo
transparente e democrático. Para consolidar essa rede de trabalho (consulta, comunicação,
cooperação) criou-se este conjunto de ferramentas para internet que visa dialogar nas mais
diversas formas de linguagem, com os mais diversos públicos e responder aos seus anseios e
expectativas. Com isso, o tratamento proposto para o relacionamento entre os parceiros busca
continuamente se manter alinhado com as tendências globais no que tange à comunicação,
à participação da comunidade, à proteção e gestão do patrimônio, à sustentabilidade e ao
desenvolvimento humano como meta final dos esforços.
7.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esta análise, é possível sintetizar que o principal risco que o patrimônio cultural
está exposto em países colonizados e com alto índice de desenvolvimento, como o Brasil, é a
falta de integração e envolvimento dos diversos stakeholders participantes incluindo a
comunidade local, a comunidade institucional e a comunidade científica.
O tratamento do patrimônio cultural necessita estar, portanto, aderente às tendências que
moldarão o futuro, quando a sociedade ganhará maior peso na participação, análise e
contribuição em pesquisas científicas, identificando prioridades, acompanhando as boas práticas
de tratamento e definindo formas de apropriação de seus resultados. Voltamos, assim, a um
conceito mencionado no início desta apresentação, e sintetizado em duas palavras: Ciência
Aplicada.
Devem ser identificadas, portanto, situações e oportunidades para aumentar a
comunicação com as partes interessadas, buscando o envolvimento das comunidades locais sob
cujo patrimônio arqueológico, histórico e cultural se compartilha uma responsabilidade social,
econômica ou legal.
Em síntese, o entendimento do design apresentado pela paisagem cultural, formado por
diferentes assinaturas antrópicas deixadas pelas comunidades ao longo do tempo e resultando
em um conjunto único, indissociável e em perpétua evolução, necessita de uma abordagem
integrada e transdisciplinar, aderente aos pressupostos da Conciliência, que constitui a
capacidade de atuar transversalmente entre as disciplinas e as comunidades envolvidas,
resultando na “Ciência da Vida”. Assim, o estudo do patrimônio arqueológico, histórico,
cultural e paisagístico busca, em essência, os pontos de interação entre as disciplinas, a
complementaridade entre ciência e tradição, o reconhecimento da Ecologia dos Saberes. Desta
forma busca-se contribuir com o fortalecimento dos aspectos culturais das comunidades como
ferramenta ao seu desenvolvimento social, cultural, econômico e político.
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