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TÃO LONGE, TÃO PERTO

IDENTIDADES, DISCRIMINAÇÃO E ESTEREÓTIPOS


DE PRETOS E PARDOS NO BRASIL

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Copyright © by Verônica Toste Daflon, 2017

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La mulâtresse [Mulata]
Autor: Biard, Auguste François, 1798-1882
Colaborador: Riou, Edouard, 1833-1900 (il.)

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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

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“Mulato é negro? Os números do mercado de trabalho
indicam que quase é, como já se referiu; diante da este-
reotipia e da discriminação é igualmente insignificante a
distância que o separa do preto. Este, no entanto, é ape-
nas um dos termos da equação do mulato no quadro das
relações raciais brasileiras sobre a qual se debruçam, sem
aparente sucesso, os movimentos negros. Numa socieda-
de multirracial como a nossa, em que a autodefinição é
importante critério classificatório (respeitados certos li-
mites, naturalmente), o mulato é efetivamente algo di-
ferente do preto e do branco. Ou, como já observou al-
guém, é uma coisa ou outra conforme lhe interesse. Eis
um enigma que ameaça devorar a luta organizada contra
o racismo no país da democracia racial.”

Joel Rufino dos Santos, O saber do negro1

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Sumário

Apresentação 9
Agradecimentos 13
Introdução 15

PARTE I
Capítulo I — Mestiçagem, cores e “raças” 25
A mestiçagem como união de desiguais 26
A mestiçagem no mundo ibérico 28
A mestiçagem no Brasil: racialização e resistência 30

Capítulo II — A trajetória do pardo nas ciências sociais 35


Do racialismo à cultura 36
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Capítulo III — $GLVSXWDSROtWLFDVREUHDFODVVLÀFDomRUDFLDO 


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PARTE II
Capítulo IV — Discriminação racial estatística e percepção da discriminação 77
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Discriminação racial 80
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Autorrelatos de discriminação e as identidades raciais 82
As categorias de cor 83
A consistência das percepções 86
A discriminação mensurada e a discriminação relatada: uma discussão 89
Capítulo V — Características socioculturais, identitárias e de sociabilidade 97
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Capítulo VI — Estereótipos sobre o pardo 117


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Capítulo VII — Classe, cor e as percepções de discriminação 143

Capítulo VIII — Uma proposta de interpretação das discriminações raciais 157

Considerações finais 163

Referências bibliográficas 169

Anexo metodológico 180


Apresentação

Conheci o trabalho de Veronica Toste Daflon durante a defesa de sua tese


de Doutorado, que agora tenho a oportunidade de apresentar ao público brasi-
leiro em forma de livro. De leitura agradável, que o livro acentua, lembro que a
tese me fascinou pelo tema e pela forma de abordá-lo. De fato, o “pardo” não
mereceu muita reflexão entre sociólogos ou antropólogos brasileiros, e menos
ainda pesquisa sistemática e cuidadosa.
Guardo da primeira adolescência as referências constantes e inúmeras que
enchiam as páginas policiais do jornal A Tarde, de Salvador, relatando um sem-
-número de crimes perpetuados ou sofridos por “indivíduos” ou “elementos”
pardos. Ainda na infância, ouvia a leitura dessas páginas por meus avós. Cer-
tamente, ser pardo era quase sinônimo de estar exposto, como agente ou víti-
ma, ao cotidiano da violência das ruas.
Aprendi, tempos depois, que se tratava de uma designação oficial, em-
pregada pelo IBGE como termo intermediário entre o branco e o preto, ou
seja, que se tratava de uma cor. Se assim fosse, seria, portanto, uma simples
descrição objetiva de uma compleição natural no mais politicamente correto
dos mundos sociais, uma democracia que incluiria indivíduos das mais varia-
das características físicas, entre as quais, a cor da pele. Infelizmente, aprendi
durante a minha formação de sociólogo que não era assim.
Na verdade, a própria cor, o pardo, segundo o historiador Francisco Be-
thencourt, tem origem no costume racista dos colonizadores europeus de as-
sociar os traços fisionômicos dos povos colonizados e subjugados aos traços
dos animais da fauna circundante. O termo “pardo”, usado desde o século
XIV, nos ensina ele, vem da cor do pardal, “um pássaro de penas escuras,
conhecido por sua vivacidade e pequenez”, como define um dicionário portu-
guês do século XIX.
O que primeiro me encantou na tese de Verônica, e espero que o mesmo
se repita com o leitor deste livro, foi ver essa categoria censitária, agora dis-
seminada pelos mais diversos registros administrativos e pelas mais variadas
pesquisas amostrais, ser tratada de maneira cuidadosa, em separado, mas em

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comparação às outras, à procura de desvendar a sua própria lógica social, o
seu simbolismo singular, relacionado que sempre esteve a diversas nomencla-
turas de classificação racial no Brasil – moreno, mulato, mestiço, cabra, bode,
caboclo e por aí vai...
Verônica nos apresenta de cara uma realidade paradoxal: ainda que em
termos de desigualdades socioeconômicas, pardo e preto, enquanto grupos
de cor/raça do IBGE, não se diferenciem, isto é, que seja plausível supor que
indivíduos classificados nos dois grupos raciais de cor estejam expostos às
mesmas formas de discriminação e preconceitos, a percepção da discrimina-
ção é bem diferente nos dois grupos – os pardos tendendo, ao contrário dos
pretos, a se sentirem menos discriminados. A partir desse achado, Verôni-
ca encaminha a sua investigação para destrinchar o paradoxo, esmiuçando
pesquisas qualitativas e bancos de dados, introduzindo na sua análise várias
outras dimensões da vida social, tais como a classe social, o gênero, os meca-
nismos de mobilidade social, os padrões de casamento, as formas de clausura
e de abertura dos grupos.
Como a sociedade brasileira pode, a um só tempo, ser mais porosa à as-
censão social dos mulatos que dos pretos, e igualmente perversa, em termos
de desigualdades sociais, com pretos e pardos? As estatísticas que Verônica
manipula estão sempre sendo cotejadas com outras fontes, quantitativas e
qualitativas, submetidas a interpretações de outros pesquisadores, avaliadas,
cada uma delas, com o cuidado necessário, como requer o conhecimento cien-
tífico, para evitar generalizações afoitas e fáceis.
Sabemos que foi um grande avanço político a formação recente, no Brasil,
dos movimentos e organizações negras, que unificaram a luta contra as desi-
gualdades raciais de pretos e pardos, sob o guarda-chuva da designação “ne-
gro”, reivindicando para si e autonomeando-se com o primeiro termo com que
os colonizadores europeus designaram – junto com “gentio” e “infiel” - os po-
vos a que se opuseram e conquistaram. Esse grande passo político, entretanto,
longe de servir de barreira à investigação dos pormenores e dos meandros da
opressão, deve promover a pesquisa, como faz Verônica, para que a força da
união política se expresse não apenas no conjunto, mas também no detalhe.
Foram os pardos, já estabelecidos em posições de comércio e do artesanato
urbano, assim como em postos subalternos no serviço público, durante o pe-
ríodo colonial, que lideraram as primeiras lutas de libertação nacional durante
o Brasil colônia; foram também eles a liderar a luta contra a segregação racial
no serviço público e nas forças armadas. Se a sua integração à nacionalidade
e ao ideal de democracia racial conduziu muitos deles ao esquecimento das
tradições africanas e afro-brasileiras, não devemos esquecer que o mesmo se

10 APRESENTAÇÃO
passou com muitos pretos. Do mesmo modo, as tradições de luta política
e de expressão cultural afro-brasileira sempre mantiveram próximos os dois
grupos. O “pardo” – enquanto heterodesignação - sempre uniu mais coletiva-
mente que a autodesignação de ‘moreno’, me arrisco a dizer. Mas, como muito
bem nos mostra o livro de Verônica Toste Daflon, ideias como essa precisam
de elaborado processo de pesquisa e de cuidadoso exame histórico.
O leitor tem em mãos um desses livros que desafia o universo do que já
conhecemos e alimenta a nossa vontade de saber mais.

Antonio Sérgio Alfredo Guimarães


Departamento de Sociologia, USP

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Agradecimentos

Este livro não teria se tornado possível sem a ajuda, a colaboração e a ge-
nerosidade de várias pessoas e instituições. Primeiramente, gostaria de agra-
decer, pelo apoio institucional, ao Programa de Pós-graduação em Sociologia
e Antropologia (PPGSA) do IFCS-UFRJ, em cujas dependências concluí este
estudo durante meu estágio pós-doutoral. Agradeço também à CAPES, cujos
recursos financiaram esta publicação, e a André Botelho e Ângela Rocha, por
viabilizarem todo o processo com agilidade e entusiasmo. À Claudia Senra, da
Mauad Editora, pelo interesse pelo projeto e enorme incentivo. Quero expres-
sar minha gratidão ainda a João Feres Júnior, que orientou a tese de Doutora-
do que originou esta obra, e a Luiz Augusto Campos e demais pesquisadores
de Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA), que
estiveram comigo durante muitos anos. Agradeço também ao Núcleo Inter-
disciplinar de Estudos Sobre a Desigualdade (NIED) e, particularmente, aos
coordenadores Elisa Reis, Graziella Silva e Flávio Carvalhaes, pela acolhida
e oportunidades valiosas de interlocução e pesquisa. À colega Bila Sorj, com
quem dividi a sala de aula e tive muitos debates estimulantes sobre gênero
e identidades. À Fundação Ford, que financiou inúmeras pesquisas de que
tomei parte. Agradeço também aos professores e funcionários do IESP, em
particular a Carlos Antônio Ribeiro e Nelson do Valle Silva, por cederem al-
gumas das bases de dados utilizadas neste livro. Registro ainda meus agra-
decimentos aos professores Seth Racusen e William Darity, que, mesmo a
distância, foram excelentes interlocutores acadêmicos. Por fim, registro meu
imenso agradecimento à minha banca examinadora de Doutorado, composta
por André Lázaro, Antonio Sérgio Guimarães, Carlos Antônio Ribeiro e Gra-
ziella Moraes Silva, cujos comentários e sugestões até mais críticos mostraram
imenso respeito e generosidade, estimulando-me a publicar os resultados da
minha pesquisa.
Agradeço a Ana Paula Carvalho, Betina Fresneda, Frederico Abraham,
Marcia Rangel Candido e Renato Alvarenga, pela amizade sempre presente e
constante. Registro também minha enorme gratidão à minha família. Minha

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mãe, Michelle, foi desde cedo meu maior exemplo de mãe trabalhadora, que
hoje me esforço para seguir. Agradeço também à minha filha Luísa, por me
fazer sorrir e suspirar de tanto carinho e ternura. A Bruno, pelo amor e com-
panheirismo enormes. Ao meu pai, Fábio, e à minha irmã, Vivien, às minhas
avós e mulheres excepcionais, Graça e Lia, e ao meu avô Manuel, de quem
tenho sentido saudades todos os dias de minha vida. Quero agradecer, ainda,
à Delma, grande amiga e pessoa. E a todas e todos que têm me acompanhado
e sido presentes na minha vida. Um grande agradecimento a elas e eles.

14 AGRADECIMENTOS
Introdução

Em julho de 2014 André Luiz Ribeiro fazia uma corrida com seu fone de
ouvido no Balneário São José, na periferia de São Paulo, quando foi confundi-
do com um dos três assaltantes que haviam acabado de cometer um assalto
em um bar nas proximidades. O dono do estabelecimento e seu filho o agar-
raram, o acorrentaram no chão e cerca de vinte pessoas começaram a linchá-
-lo. Bombeiros, que passavam pelo local, interromperam o linchamento. Para
garantir sua integridade física, André fez o que muitos pretos e pardos fazem
cotidianamente para escapar da violência popular ou estatal no Brasil: falou
sua profissão. Contudo, isso não foi suficiente. Ainda suspeitando de sua ino-
cência, um dos bombeiros exigiu que a vítima provasse ser o que alegara –
um professor de História –, dando “uma aula” sobre a Revolução Francesa.
Aturdido, André improvisou uma explicação de três minutos sobre o evento
histórico, até, enfim, convencer o bombeiro de ser quem alegara e ser final-
mente conduzido a um hospital. Mesmo assim, André ainda ficou preso por
dois dias, pois o dono do bar assaltado continuou a sustentar em depoimento
que ele era a pessoa que roubara seu estabelecimento.
Descrito pela reportagem do jornal O Globo (2014) como “um mulato de
27 anos”, André é um dos muitos brasileiros entendidos como “pardos” ou
“mulatos” prejulgados como criminosos e associados à marginalidade e ao
desvio social. Se o discurso de brasilidade mestiça, afetuosa e cordial coloca o
“mulato” e a “mulata” no centro da representação de povo e de nação brasi-
leiras, os indivíduos reais, racializados como pardos ou mestiços, sofrem for-
mas severas de discriminação – e, como testemunhou André, frequentemente
correm risco de vida. De fato, o caráter relativamente contextual e elástico
dos códigos raciais faz com que, a depender das diferentes situações, círculos
e classes sociais, os mesmos indivíduos possam ser vistos como pretos ou
pardos e, em muitos casos, sejam alvos indistintos de discriminação racial. A
presunção comum no Brasil de que a cor da pele é um marcador de perten-
cimento de classe, por sua vez, ativa contra essas pessoas mais uma série de
preconceitos e formas de discriminação.

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A celebração da nossa “nação brasileira mestiça”, como discurso que
convenientemente dilui e invisibiliza o racismo, costuma encobrir um fato
registrado por inúmeras pesquisas: a proximidade entre pretos e pardos em
diversos índices socioeconômicos, padrões de mobilidade social, discrimina-
ção ocupacional e salarial, bem como taxas de analfabetismo, anos de estudo,
renda, mortalidade por homicídio, entre outras. Tais padrões têm chamado
a atenção dos pesquisadores brasileiros desde a década de 1970, o que leva
muitos acadêmicos que lidam com o tema das desigualdades raciais no Brasil
a alegar que o que mais caracteriza os pretos e pardos não são as diferenças
entre eles, mas a sua distância em termos socioeconômicos em relação aos
brancos (Telles e Lim, 1998; Silva, 1978; Hasenbalg, 1979; Ribeiro, 2006).
Em outras palavras, tamanha é a semelhança entre pretos e pardos em todos
esses indicadores que se tornou um grande consenso entre os pesquisadores da
desigualdade e discriminação racial que a grande clivagem racial de renda e mo-
bilidade no Brasil dá-se entre brancos e não-brancos e que os pardos não desfru-
tam de um status substancialmente mais favorecido que os pretos na sociedade
brasileira (Osório, 2009; Telles e Lim, 1998; Soares, 2008). Em razão disso,
tornou-se operação comum agrupar as categorias “preto” e “pardo” em uma
apenas para fins de pesquisa, análise de dados e também para a formulação de
políticas públicas. Em referência à soma de pretos e pardos, alguns autores ado-
tam os termos “negros”, outros “afrodescendentes”, ou ainda “não-brancos”.
Tal visão foi também encampada pelos movimentos negros no Brasil, para os
quais minimizar as diferenças entre pretos e pardos se tornou em anos recentes
uma importante estratégia política para escapar das ciladas da ideologia da mes-
tiçagem - um discurso poderoso de nação que historicamente inibiu o combate
ao racismo no Brasil ao tomar a existência de brasileiros “mestiços” como prova
de uma suposta harmonia racial no país. Como resultado, hoje se tornaram
escassos os trabalhos que estudam as especificidades da numerosa fração de
pessoas da população brasileira que se identifica como parda ou mestiça.
Contudo, se, por um lado, agrupar pretos e pardos pode ser conjuntural-
mente justificado como critério de formulação de políticas públicas, estratégia
política ou mesmo como meio de análise de algumas dimensões das desi-
gualdades, por outro, isso não é suficiente para responder uma questão que
intriga a muitos brasileiros: o que é e o que significa ser “pardo”? No que toca
à dinâmica das identidades, das relações sociais e também ao funcionamento
das discriminações no Brasil, descrever-se como “pardo” não é o mesmo que
se entender como “preto”. Dizer-se “pardo”, além disso, pode ou não admitir
uma identificação como negro. A condição “parda” em si não suscitou um dis-
curso político ou identitário expressivo, não está associada de maneira óbvia
a um repertório cultural específico, e, sobretudo, não está necessária ou obri-

16 INTRODUÇÃO
gatoriamente ligada a uma percepção aguda das discriminações raciais no Bra-
sil. De fato, a despeito das evidências de discriminação e desigualdade, quando
perguntada se alguma vez já passou por discriminação racial, a maior parte dos
pardos demonstra persistentemente uma percepção do preconceito mais baixa
que aquela reconhecida pelos pretos (Silva e Leão, 2012). Daí os pardos estarem
“tão longe, tão perto”, como sugere o título deste livro: muito próximos dos
pretos, no que toca aos seus índices socioeconômicos, chances de mobilidade
social e vitimização por diversas formas discriminação, e muito distantes em
sua percepção do preconceito e da discriminação de que são vítimas. Para esse
grupo, o nexo entre a cor e a discriminação não é óbvio ou autoevidente.
Uma explicação comum para esse fenômeno consiste em dizer que o pardo
nega sofrer discriminação racial porque isso implicaria admitir-se como negro
e, assim, abrir mão de uma identidade social embranquecida. A ideia de atribuir
uma “falsa consciência” aos brasileiros que se autoclassificam como pardos é
hoje bastante popular em meios políticos e também acadêmicos, guardando pa-
rentesco com a noção marxista de consciência de classe (Wade, 1997). Para al-
guns dos que enxergam as identidades raciais sob essa ótica, pardos nem sequer
“existem”: são “negros envergonhados”, iludidos pelo ideário da “democracia
racial” e mistificados pelas ideologias do embranquecimento e da mestiçagem.
Entretanto, se como retórica em prol da construção de uma identidade políti-
ca comum a pretos e pardos essa visão é válida e legítima, do ponto de vista
da análise social a ideia de “falsa consciência” é demasiadamente insensível a
processos sociais mais complexos e que envolvem também outros marcadores
de diferença, como classe social, origem, gênero, dentre outras, assim como a
multidimensionalidade das identidades. Ademais, ela se apoia em uma ideia,
hoje insustentável nas ciências sociais, de que existem identidades falsas ou
inautênticas – em contraste com identidades verdadeiras ou essenciais.
Por fim, as acusações cada vez mais frequentes que pairam sobre os pardos
acabam ainda por deslocar a responsabilidade pelo racismo para as próprias ví-
timas. Deixa-se assim de se considerar, por exemplo, de que modo a construção
das identidades brancas no Brasil contribuem para a racialização dos outros gru-
pos sociais, bem como de que maneira classes médias e elites majoritariamente
brancas erigem fronteiras e regulam as aspirações de ascensão social das popu-
lações não-brancas brasileiras (Sovik, 2009; Garner, 2007). Neste livro, procuro
demonstrar que a ideia de os pardos ou mestiços serem os supostos responsáveis
pela desmobilização histórica da população negra no Brasil tem a sua própria his-
tória, tendo emergido como explicação para o padrão de relações raciais no Brasil
apenas a partir de meados da década de 1970, um momento crítico de revisão
da ideologia da democracia racial no país. Pouco habituados a olhar para a cons-
trução das identidades brancas no Brasil, um tema que só tem ganhado espaço

TÃO LONGE, TÃO PERTO 17


nos últimos anos, muitos de nossos cientistas sociais associaram diretamente os
mestiços à ideologia da mestiçagem, deixando de inquirir de que maneiras di-
versos outros grupos foram e são coparticipantes na construção das identidades
raciais no Brasil. Além disso, deixou-se de se acentuar de que modo as assime-
trias de poder entre brancos, pretos e pardos impactaram esse fenômeno. Afinal,
as identidades não se constituem de maneira autônoma e desvinculada umas das
outras, e sim se relacionam a processos de inclusão e exclusão e de formação de
fronteiras entre grupos (Hofbauer, 2006; Barth, 1969).
Desse modo, sem negar as valiosas contribuições dos trabalhos que cha-
maram atenção para as semelhanças entre pretos e pardos e que colaboraram
para elucidar diversos aspectos das discriminações raciais no Brasil, é impor-
tante voltar a pesquisar os processos que dão existência social a uma cama-
da de pessoas que se reconhecem como pardas. Retornar a essas questões
não significa necessariamente subscrever ao lugar-comum do discurso sobre
a mestiçagem, entendida como um mecanismo que diluiria as fronteiras de
cor e os preconceitos raciais no Brasil. Ao contrário, sustento que a ideia am-
plamente difundida no senso comum de que a “mestiçagem” foi um processo
social que desracializou as identidades ou demoliu fronteiras raciais oculta o
fato de que a identidade “parda” é, na verdade, também uma identidade social
racializada, cujos significados que assumiu, em diferentes pontos do tempo e
espaço, ligam-se a determinados usos e formas de entendimento das outras
identidades raciais no Brasil. Contraditoriamente, ao mesmo tempo que o dis-
curso da mestiçagem remete à diluição e transgressão de fronteiras raciais, é
impossível concebê-la sem o recurso a concepções de raça.
Os “mestiços” estiveram, ao longo da história, no centro dos projetos na-
cionais e nas visões cambiantes de povo, nação e civilização brasileira. Se no
fim do século XIX eram vistos pelos proponentes do racismo científico como a
forma encarnada da “degeneração racial” do povo brasileiro, ao longo do sécu-
lo XX foram alçados à condição de representantes da brasilidade, “amálgama”
de raças, e prova física da suposta harmonia e tolerância racial nacional. Ao
fim desse processo, o pardo passou a ser definido por negação, como “nem
preto, nem branco”. Enquanto na narrativa nacionalista tradicional ele é vis-
to como uma “metarraça” ou uma “raça brasileira” que representa a suposta
irrelevância das fronteiras de cor no Brasil mediante a realidade da “miscige-
nação”, na visão condenatória dessa narrativa ele aparece como uma espécie
de resíduo, um grupo de pessoas que recusa a identidade negra motivado por
internalização do racismo ou por uma estratégia de embranquecimento. Se
esse é o caso, ele merece investigação e aprofundamento. Estudar o pardo é,
então, tirá-lo de uma situação de invisibilidade e explorar diversas nuances do
racismo e identidades raciais no Brasil.

18 INTRODUÇÃO
As diferentes dimensões do preconceito, estereótipos e discriminações ex-
ploradas neste livro apontam de que maneiras determinados processos sociais e
discursos organizados em torno da mestiçagem oportunizam formas complexas
e sofisticadas de racismo e preconceito de classe que contribuem para a sua pró-
pria invisibilidade. Ao longo dos próximos capítulos, examinarei dimensões das
desigualdades, discriminação, sociabilidade, cultura, identidade, estereótipos e a
relação entre as percepções de formas de discriminação cotidiana, a cor e a clas-
se social. O livro divide-se em duas partes. No capítulo I, introduzo a discussão
acerca da mestiçagem, entendida aqui como um processo cultural, social e político,
e a relação que ela assumiu, em diferentes tempos e espaços, com formas de hie-
rarquização de grupos humanos. Sustento que o fenômeno social da mestiçagem
presume diferença e desigualdade e que a emergência de uma camada social de
mestiços no Brasil esteve ligada a formas de gestão colonial e disputas de poder.
Contudo, longe de ser visto como agente democratizador ou apaziguador das ten-
sões raciais no Brasil, como viria a ser encarado no discurso nacionalista do século
XX, o mestiço era encarado por frações significativas das elites brasileiras no sécu-
lo XIX como uma ameaça à estrutura social, à integridade racial da nação, o que fez
com que fosse alvo de caracterizações e estereótipos negativos. Ao mesmo tempo,
os próprios sujeitos não-brancos buscaram se opor a essa visão, procurando na
mestiçagem meios de positivar suas identidades e de escapar de demarcações de
fronteiras raciais rígidas. Assim, não foram meros espectadores passivos da formu-
lação de uma ideologia nacional, mas também coparticiparam na formação social
de uma camada de pessoas pardas no Brasil e na constituição dos discursos de
nacionalidade que aludem à mestiçagem. Esses movimentos devem ser postos em
perspectiva histórica, em meio às disputas políticas que se sucederam no século
XIX, e entendidos como uma forma de recusa dos brasileiros de ascendência afri-
cana às marcas hierarquizantes que se buscava impor sobre eles.
Ao discutir a trajetória do pardo nas ciências sociais no segundo capítulo,
reexamino o lugar em que ele foi colocado em diferentes interpretações de na-
ção e da natureza das relações raciais no Brasil. Ao revisitar autores clássicos,
é possível retraçar a genealogia de algumas ideias que hoje comparecem nos
debates sobre o papel dos brasileiros mestiços em uma ordem social racializa-
da e desigual. Se no pensamento social brasileiro o pardo figurou inicialmente
como um pacificador ou assimilador de diferenças, ou mesmo como agente
de democratização racial do país, ele passou a ser apontado pelas ciências
sociais, nas décadas de 1940 a 1960, como alguém que lutava para transpor
fronteiras raciais e, ao fazê-lo, esbarrava nas contradições de uma nação que
se autoproclamava racialmente democrática, mas que erigia barreiras e dirigia
estereótipos contra pessoas não-brancas. A despeito de produzirem interpre-
tações por vezes distintas, esses autores apontaram de modo geral as reações

TÃO LONGE, TÃO PERTO 19


de incômodo, suspeita e hostilidade manifestadas contra os indivíduos “nem
pretos, nem brancos” no Brasil, organizadas em torno da ideia de que eles
eram pessoas “fora do lugar”. A partir dos anos 1970, um novo discurso a
respeito do pardo foi gestado nas ciências sociais e movimentos sociais, e ele
passou a ser responsabilizado pela dificuldade de formação de identidades ra-
ciais coletivas negras e do combate ao racismo no Brasil. A constatação de que
pretos e pardos possuem índices socioeconômicos e padrões de discriminação
estatística parecidos fez com que esse debate entrasse em relativo declínio e,
em grande medida, que eles passassem a ser estudados de forma agregada
com os pretos. No entanto, elementos dessa discussão continuam a circular
em diversas esferas, em particular na oposição entre o ideário da mestiçagem,
que tem o pardo ou mestiço como representante da mistura e do continuum
racial brasileiro, e alguns discursos dos movimentos negros, que costumam
associar o pardo à baixa consciência racial dos negros brasileiros e, por conse-
quência, às dificuldades de organização da luta antirracista no país.
No capítulo III, exploro a polissemia do termo pardo e seus sinônimos,
como mestiço, mulato e moreno, para, em seguida, tratar das diferentes formas
de classificação por cor ou raça que coexistem hoje no Brasil, bem como do
lugar ocupado pelo pardo em cada uma delas. Para tal, me debruço (1) sobre o
mito de nacionalidade brasileiro, ancorado na noção de que existem três raças
fundadoras e um processo contínuo de mestiçagem e de uma suposta diluição
das fronteiras raciais, que situa o mestiço em um lugar central, (2) ocupo-me
da classificação proposta pelos movimentos negros, que defendem a junção de
pretos e pardos em uma só categoria e rejeitam veementemente a referência à
mestiçagem ou a identidades a ela associadas, (3) trato das categorias empre-
gadas pelo Estado e órgãos estatísticos oficiais, que hoje tendem a se alinhar
à proposta de classificação dos movimentos negros e, por fim, (4) examino o
discurso popular, que oscila entre diferentes formas de classificação e está com
frequência em desalinho com as expectativas dos movimentos negros, Estado e
gestores públicos. Para concluir, discuto como os trabalhos acadêmicos se po-
sicionam hoje face à multiplicidade de formas de categorização racial no Brasil.
Em síntese, na primeira parte do livro, organizo a historiografia que discutiu
a formação de uma camada social de mestiços no Brasil, reexamino em sequência
a bibliografia de relações raciais produzida até meados da década de 1970 - que
tematizou questões relativas à identidade, discriminações e estereótipos dirigi-
dos contra os pardos - e no fim dessa seção apresento as atuais controvérsias e
as diferentes visões que recaem sobre essas pessoas e o imaginário a elas vincu-
lado. Na segunda parte, exploro surveys e dados estatísticos que procuraram cap-
turar padrões de desigualdade, discriminação, identidades e relações de sociabi-
lidade entre pretos, pardos e brancos. A partir do levantamento e análise desses

20 INTRODUÇÃO
dados, busco fundamentos para revisitar e rediscutir teorias clássicas acerca dos
padrões de recepção e assimilação dos pretos e pardos em diferentes pontos do
espectro socioeconômico brasileiro, tais como as teorias do “embranquecimen-
to” (Cardoso e Ianni, 1960) e da “válvula de escape do mulato” (Degler, 1971),
procurando, assim, uma sintetização das discussões feitas ao longo do livro.
O capítulo IV apresenta o acúmulo de evidências de discriminação estatísti-
ca contra pretos e pardos em âmbitos como educação, ocupação e mobilidade
social, que apontam, de modo global, que padrões parecidos de discriminação
os atingem. Ao mesmo tempo, aponto que as pesquisas de opinião mostram
diferenças entre esses dois grupos no que se refere à percepção da discrimina-
ção e adesão aos repertórios identitários da morenidade e da negritude. Trato
também das linguagens racista e antirracista e das maneiras como elas tendem
a silenciar sobre o pardo e contribuir para a ideia de que eles não são um grupo
racialmente discriminado. No capítulo V, discuto as identidades e formas de
sociabilidade inter-racial no Brasil, demonstrando que existe relativa coerência
entre as maneiras como as pessoas se classificam e são classificadas em termos
de cor no país e que a maior fluidez na classificação se dá entre pretos e par-
dos, e não entre pardos e brancos. Em outras palavras, mostro que, se há mais
dúvida a respeito de quem é preto ou pardo no Brasil, há relativamente pouca
controvérsia em torno de quem é branco. Aponto ainda que os pardos são mais
aceitos em interações sociais e relações de intimidade com os brancos do que os
pretos, o que pode ser um dentre os fatores que explicam uma percepção mais
baixa do preconceito racial entre pessoas desse grupo.
O capítulo VI analisa estereótipos raciais dirigidos contra pretos e pardos.
Além de olhar para a esfera da cultura e da representação, recupero pesquisas
sobre estereótipos realizadas no Brasil entre as décadas de 1950 e 1960, que
apontaram algumas especificidades das caracterizações negativas dirigidas con-
tra indivíduos pardos. Através de dados de um survey conduzido em 2002, busco
atualizar essa discussão, apontando a tendência de associação dos pardos aos
estigmas da criminalidade e malandragem. Noto ainda que, a despeito de serem
associados à pobreza e a profissões de baixo status ocupacional, os pardos não
são vistos, de modo geral, como um grupo que enfrenta falta de oportunidades.
Isso me leva a sugerir que os pardos costumam ser mais diretamente responsa-
bilizados pela sua condição social do que os pretos, despertando menos senti-
mentos de simpatia por sua situação desprivilegiada. Ao mesmo tempo, homens
e mulheres pardos são associados aos arquétipos culturais do malandro simpá-
tico e da “mulata” sexualizada, representações sociais extremamente ambíguas.
Proponho como modelo interpretativo para tal conjunto de evidências a ideia
de “racismo ambivalente”, um tipo de racismo que se baseia em estereótipos de
qualidade dúbia e que guardam em si tanto elementos de hostilidade quanto de

TÃO LONGE, TÃO PERTO 21


benevolência. Sugiro que, dada essa natureza ambígua, os estereótipos imputa-
dos aos pardos podem, ao mesmo tempo, motivar discriminação racial e também
ser imagens sedutoras para esses mesmos indivíduos, constituindo os próprios
repertórios a partir dos quais eles constroem suas identidades.
No capítulo VII, discuto o aparente paradoxo entre a “discriminação es-
tatística”, mensurada pelas pesquisas sobre renda, ocupação e educação, e a
discriminação percebida pelos indivíduos pretos e pardos. Para tal, analiso
dados de uma pesquisa que empregou perguntas sobre situações cotidianas
de discriminação que não aludem diretamente à raça ou cor dos respondentes.
A análise aponta que, com esse método, pretos e pardos de baixo status socio-
econômico apresentam níveis de percepção da discriminação mais próximos
do que até hoje foi registrado por outras pesquisas. Ou seja, diferentemente
do que tem sido alegado, os pardos pobres percebem as discriminações, ainda
que em grau pouco inferior que os pretos, mas não necessariamente interpre-
tam a motivação para a discriminação da mesma maneira. Ao mesmo tempo,
os pardos das classes mais altas praticamente não reportam sentir discrimi-
nação, enquanto os pretos dessas classes o fazem de maneira mais aguda que
todos os demais grupos de cor e classe. É essa a discussão que faço no último
capítulo, em que proponho conciliar as teorias que apontam para a existência
de fortes barreiras socioeconômicas entre brancos e não-brancos, aí reunidos
tanto pretos como pardos, com a constatação de que há uma relativa poro-
sidade das elites em relação a esses últimos. Assim, coloco as discussões e
evidências apresentadas ao longo do livro em diálogo com teorias mais gerais
sobre padrões de discriminação e estratificação racial no Brasil.
Utilizarei ao longo do texto, preferencialmente, os termos preto, pardo,
branco, amarelo e indígena, para me referir aos grupos populacionais em es-
tudo. São esses os termos empregados na maioria das pesquisas censitárias e
dos surveys de cujos dados se dispõe no Brasil. Há mais de 130 anos utilizam-
-se praticamente as mesmas categorias de cor nas pesquisas brasileiras (Pe-
truccelli, 2007). Não obstante, isso não significa ignorar a problemática da
identificação e identidade étnico-racial, que não cabe nesses termos, e tam-
pouco negligenciar o fato de que essas categorias são de natureza social, e não
biológica. Na revisão bibliográfica e citação de outros trabalhos e pesquisas,
procuro respeitar a terminologia empregada originalmente pelos autores, o
que muitas vezes significará oscilar entre diversos termos como pardo, mu-
lato, mestiço, preto, negro, dentre outros. Os significados desses termos e o
emprego de diferentes expressões para designar cor, fenótipo, status ou raça
são também objeto de investigação deste livro. Todas essas questões serão
examinadas em momento oportuno.

22 INTRODUÇÃO

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