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Vera Malaguti Batista

O mToo NA CIDADE
"Neste livro, Malaguti náo se limi-
DO RrO DE IANETRO
ta a delinear, para pesquisadores, Dois tempos de uma história
uma agende estimulante para uma
sociologia histórica e compâ!âtivâ
do ruedo do onttu ne socied^de l.Í-
bana da América Larina e para
além. Ela também permite âos ci-
dadãos que o quiserem se apropriar
dos meios para compreendcr como
a violência criminal se transfor-
mou em obsessão dos nossos tem-
pos e por que as polítices punitivâs
concebidas para domesticá-lâ estão
' fadadas ao fracasso, no Rio de Ja-
neiro não menos do que em outras
cidáes globais."

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ISBN 35-?106-293-5

tililtiilililililil1 "ra#R"r,atffi'
E
I-sre liv.o o, ere"d...loÕr r .l;Êisiô
do *"do do da clesordem paLa
",o" "
detonar estratégias de neutralização e
disciplinamenro das massas empo- MJ"
brecidas, a parth da hegemonia conser-
vadora. Pardndo dos medos urbanos
contemporâneos, busca-se analisar os
Ir/
discursos sobre segurança na conjuntu-
ra de pânico no Rio deJaneiLo na déca-
da de 90 do século )C( através de uma
abordagem histórica. Paralelamente,
procura-se dissecar os rnedos cariocas
do séculoXX, principalmente em tor-
no da rcbelião escrava muçulmana na
Búia em 1835, conhecida corno a Re-
volra dos Mal&, pâra observaÍ ruptu-
ras e pelnmências em relaçáo aos me-
dos de hoje.
Investigando lonres primárias e se-
cundárias, a pesquisa histúrica anaiisa
os discursos do medo do ponro devista
polírico, jur.Ídico-pena1, médico e Da
imprensa local, demonstrando como
uma abordagem clue hiperboliza o pe-
rigo das "classes perigosâs" lem conse-
qüênciâs concretâs na cidade. Os dis-
cursos apartadores abrem caminho para
polÍcicas de segurança excerminadoras,
em que os inimigos consrruÍdos sáo
desumanizados. Cria*e enráo umâ vio-
lêrcia naturalizada Do cotidiâno que
rem conseqüênciâs estéticâs, criâ mo-
numenros, hierarquiza a carrogrúr da
---

Vera Malaguti Batista

O MEDo NA CIDADE
DO IUO DE IANETRO
Dois teopos de uma história

a
Editora RevaÍl
Copyíght O 200J by Vera MihgutiBatúta

Todc B diEic rÊs.rhd6 no Bnlil p<h Ednoh Rcv.n t d.. N.nhúm. parrr
d.stapublicísio podcá s.r rcp,oduzidr, *i,po.m.ios h.câni.ô3, cl.kônicos ou
viâ cópiâ rcrcg.á6cá, $m . álrorizasâo péviâdâ Ediror.,

Sumário

Pfttácio dc lric lvacqüaDr .--......----.

2. O MEDO EO METODO................,..,. ,.-,...-41

h,pea. aab.nc"to
{Em l)rp.l oII-d 7ts, rúí p4sinr§ío cloL{nio, ú ri!6 El.g.c mnd B'I. cAtbcrtui
Mcdium,lll13)

3. pÂNrco No PAR Íso................,. 75

O m.do n. <id.dc ô Xio d. ,.rcno: doi. tcnpG dG un. h;ú.iá


/ltn M.lasúti B.ú58. - Àio d. ,e..ió: AMn, 2003

272p.

tsEN 85-7106-293-5 ,r. o rMPÉRro Do MEDo r23

5. O LIYRINHO M/[-Ê 231


^NEXO:
PreÍácio

Raízes do medo do outro na sociedade urbânâ

(-
\-om cxuJo originrl c mcticuloso dos discursos da e sobre a
csrc
inscgrraoça oo lüo dc frnciro do século XIX, Vcra M:rlaguti dá uma
contÍibuiFo destacida n5o sópama hisroriogmfia do conrmlc social nâ
''cidadc maravilhos:r", na rrâdiçío innugurxd:r pclo volumc clíssicode
'l homas Hollowny, Polr'a)tg Rio de Jancitat,mas ombém pâ
trôsáreâs
,lifcrcnrcs da invcstigação socir I, q ue ch cxplom prcienr emen rc c inter-
rchcionr dc modo frutífcro no crso bnsilciro.
Aprimcirc é a da história cultuml do medo e seu impicto ditusor
rn vida socialc políticr. O historirdor)ean Delumeau mostrou que o
rlcdo dituso, Ílimcntado pelo tÍaumr dc gucrÍâs feudais inccssanrcs,
(t)idcmiís de príga, conílitos religiosos virulentos c pcla insegurança
ílsica predomiDante, moldou profun<lanrcnte a socicdade c a cultura
(uropéiâs no começo da cra modema. Eque, durant€o Rcnascimento,
l lgrcir h:rbilmente mrnipuloo e crnalizou os mcdos populrres para
)rsol;dar e csrender o scu poder político e simbdlico, mcsmo quan-
rlo r rcvoluçío rncntal seculrr levrd:r r cabo peh burguesiâ cstívâgâ-
nlrrndo Íàlcgor. Ánalog.mcnte, Vcm Mrkguti mostra quc o medo
tolcLivo - de tumultos populíres, ítividades cÍiminosrs alimentadas
;:ch pobrcza, insuÚeiçôcs de escrirvos, c o seu correlato repugnante, a
"Iliicanização" da fição nisccnte - dcsempenhou um plpclcenúal

rroLrOWAY, Thomú, Poli<i"8 Rk de lnÉiô: Rep@tbn.nd Rerisla"ce in a ,9Ih


(ixÍlry Cny, Smndíord, CA: Sr.ndíoÍd UnlveÉlty Pres, 1993, Pollcia ho Rio de laneno:
n,rÍcsáo e rer,íêo.,a runa c/dade do Sécu/o l/X Rio de Jinei.o: FGV, 1972,
l)ttUMÊ^U,lan, ta Pêu. en O.cider(, XrvorcxwÍêne riêcrês. Parit: Fáy.d, 1974.
nâ formãção dâ sociedâde urbana do Brasil após a Indepcndôncia. isso, patológica e muito perigosa" que sc aglutinava na cidade. Â
Ápoiando+e numa multiplicidadc de fontes, cla revela como o mcdo prtologizísão do coryo negro legitimâvâ o tÍâramenlo blural sofrjdo
"se transfigura em sentimento, cm aíeto, em política econômica, cm pclos aíro-brasileiros no Rio de laneiro, onde escravos agonizantes, "mais
projctos de lei, cm fragmentot discursivos, em 6enários, em polÍticas nrâltrâtâdos do que cavâlos e mulas", eram jogados nls ruas como se
saniúrias"; ou, numa pâlâvra, como ele invadiu e infectou todas as foxcm rcÍugos humanos. E sua aliança com a criminologia posirivistã
frestas e canros da vida carioca. Ela cvidenciacomo novas representâ- forneceu a licença pseudocientífica necessáÍiâ ão exercício de umâ re-
çóes de temor e perigo, enraizadas em dcsigualdader sociais proÍun- prcssão pcnâl cxrrcmrsobrcos grupos localizados nas regi6cs inÊriores
das e nas refinadas íantrsias raciais da ordem escravista agrária, sc do cspaço socialc urbano, independentemente da coÍ dâ srrà pêle,con,
cstenderam e se projetaram pela cidadc, a panir de onde ditundiram- tribuindo coflscqüent€menie pâa normalizar nívcis imoderadamente
se para os €ampos político, jurÍdico, médi.o e jornalísrico. E assim altos d€ violênciâ contra Âs clases baixas. Malaguri sugcrc que o policia-
como nâ Europâ no pâssado e hoj€, esses discursos íoÍâm e são âdor- mcnto sclctivo, o viésjudicial manitesto baseado cm clísse e cor, o rrâta-
nrdos, amplificados e dirigidos contra certos alvos pelas elites urba- mcnro crucl de infratorcs, o dcsrespeiro rorinciro a dircitos fundamcn-
nas, pâra salvaguardar e expâ ndir scu dominio num período de insur- tais ea indifcrcnça ao consumo de corpos negros quc cârncreriza hoje
reição sociâl dramárica. o funcionamento da justiçâ criminal na metrópole brâsileira têm sua
Asegundaárea que este livroenriqueceé a da sociologia histó- origem no conturbrdo perÍodo imperiÂl, quando o positivismo, o
ric, dâ êscÍâddão e seus efcitoscolaterais no meio urbano e nas forma- parrimonialismo c o racismo se enconríâÍ.m e se fu,rdirâm na
çõesdeconhecimentoehierârquiís sociais queêste mcioancor:. Como i,ullieattia c no apaÍato do estado carioca.
a escravidão foi principalmentc uma instituição rumleâgráíiâ nas Âmé- Isto nos tÍrz âo tcrcciro domínio a quc o prcsentc volume ofe-
ricas, o estudo da sua evolusão ê do seu impâcro na cidade do Novo rcce novos materiais: a antropologia dacontenção mârcÍial esimbóli,
Mundo tem sido relativamente negligenciado. Es.nvos c seus dcscen- ca das classes baixas na cidâde, com destaquc sobÍc o prpel ccnrral aí
dentes dirciôs têm sidovistos, tipicamente, como anomalias lro cenáÍio dcsempcnhado pcla criminologia e pelas políticas crimiDais. A origi-
urbanos. Áinda no século XIX, o Rio de laneiro não licíva apcnas à nrlidade primordial dr cxperiência carioca a cssc rrspeito é que, em
extensa sombradârlarralor;Â cidâdc âbrigava â maior população de vez de constituir técnicâs alternativas de gesrío dos despossuídos e
oriçm africana da Àmérica do Sul c da América do Nortc. Assim, a desconsiderados, como ocorreu na Europr no proccsso dc industriali-
escravidão, como stâtus sócioJcgal imposto à força a estí populâção, zação, com r clifcrcnciaçãograduâl das quesróes sociÂlc criminal, âqui
não se limitou a modelar profundamcnte a demogtafia, agcogtalia e a a medicalização e r penalização trabalharâm junrâs, amilgâmândo-
arquitetura da cidrde Lrasileira. Ela também exerceu uma inÍluência §e com a rc ciâlizrçi:o parâ levar a cabo a domesticação brutal das clas-
decisiva sobre a organização, os discursos e âs pÍáticas dc instituiçócs ses pobrcs. A dcmonização di "ràlé" que se dcsvinculou do campo é
tão centmis quanto a mcdicina e a srúde pública, a imprensa eâ políti- aqui inseparável da criminalização d:r "multidio urbâítâ", â que vâi
câ,€, porúltimo, mâs não d€ someoos importância, a criminologia e o se somar à patologizâçio dos escravos c dc sua dcscendênciar.
conÚole dr criminalidadc. Na cstcira da Revolta dos Mâlês na Bahiâ,
em I835, a mcdicina carioc;r sc viu fcscinada e concenúou sua rtenção r PâÍôdâleiiis cmpaErirct que aponteó ôr iôÍigâ.re, íâmili.nd.dê5 e diÍêrençs o{Íe
no quc ela descrevia como "uma população mestiça edeçnerada c, por o! país d. LiUna, o 5úl do, tnado, Unidos e a auop., v.r MnílD t«i{ly
Slâwry to vagancf i. Btazil: Ctihe ãód Seial Cónnol nl tltc Íhnl
^mdi.r
r\úAgiís, tront
wo|ld (New B.uniwi.k, Nl: Rurses Uni!.Áity Pre$, t9B4), Dôvid M. Oshinsky, woÀe
I veÍ Onândo Pattereon, S/âvêry a d Soc,a/ Dealh (CaôbÍlds€, MÁ: Hâryad UniveÉily than slavety: PaKhitah ratm and the ardeal al lin Cbw lust ce (Novi lo(ruc: Free
PÍess, 1932)) uma exceção prc.oce a êsta undência é Richard C. Wâde,s/avery d úe PÍês, 1996)) ê Paier Linêbãúgh, fhe Londôi Hahqed: Oi e tnd Civ,/ Socaly nr rlE
C ies: Ihe Joudr, 1820.1860, Nova lo'q!e: OÍoÍd univeÉliy PÍest 1967. IIEÍreerú Cênr!,y (Londrcs: va6o,2r êd.2003)
Os esqucmas dc pcrccpção c apreciíç:io forjÍdos durânle â tur- rcm se Âpropr;âr dos meios para compreendercomo a vjolência crimi-
bulcnta década de 1830 Lôm, dcsde então, orientndo o cstabelecimcn- lral se transformou cm obsessão dos nossos tcmpos c por que as polí
to dc fronteiras Íisicas, sociã is c meotãis dentro da cidade. E elcs con- ticrs punitivas conccbidas prrx domcsricá-h csrão fadâdas ao fÍÂcas-
tinuím a informar - ou:r dctormrr- o dcbrtc público contemporâ- so, no Rio delanei.o nio mcnos do que em outras cidadcsglobais.
ncocí Ícspostí colctiví à questão d:t violêncií urbana. tusim, "a opo-
siçâo cntrc üma ordcm pública virtuosa c o caos infracional, a matriz Loic rrVacqua nt '
do combate ao cimc Ícito como cruzada, o extermíniocomo método, 30 dejulho de 2003
r tortur.r como princípio, o clôEio d. deh(ão c:r cxccuçio como cspc-
tículo" são produtos das lu!âs polÍticis c das disputas programáticas
dc meados do século XIX, quc continuam a opcmr oo Rio de hoie.
Entío como agorr, âs foíç.s da ordem são cncárrcgadis dâ missão dc
"in'pirârconfinn$ à' clitcs c intundirrerror nos morÍos". Onrem,€omo
hojc, o "ou tro" assustador, sobre quem se dcsara a violência 6sica e sim-
l.:ólica concentradr do Estado, é uma massa enxameada c sem rosto de
mcrgi»ri. dc p, lc c<cum, quc JcrcrctL:,tr.lr monocromJrrLrmentc,
'cr
como ir:imigos dirbólicos da nação, violadorcs congênitos daqr-relcs
códigos nror.is, como consigÍÂdos pel, lei criorinal, para que possa
scÍ scgurâmente desconsidcrada como exprcssáo viva das míis pro-
fundis contradiçôes sociíis dr nrção - como Íevelaçâo e âcusâsão
cncírnl]dísdi tÍ:risíod! socicdíde, dosprincípiosliberais democráti-
cos que eh mesma proícss:r.
Ào desenrÍânhârsu:rs ríízes e revelrr seus mecnnismos rcgula-
dorcs no século XIX, Vcra Mrlaguti nos pcrurite compÍeender mc-
lhor tanto r ârÍação como as limitaçõcs dos discursos do mcdo quc
cobrem com um manto fúncbreâ mcúópolc brasileira no alvoreccrdo
sóculo XXI c, paÍticulíÍmcntc, discernir com clíreza o espectro dr
cscmvidáo e das (di)visôcs racixlizadÍs que cngcndroÜ e abre os bra-
ços sobrc o Iüo dc Janciro pós-industrial, como unr Crisiô Redentor
mrlóvolo. Arsim, nestc livro, M.laguti nio sc limito n delinear, para
pêsquisâdores, umn lgcndr cstinui.nte pLrrr umí sociologii hisróri-
c: c comparativí do,,,c/o /a oaao na socicdrdc urbana da Amirica
L:tina c pam além5. Eh trmbém perrnitc aos cidadãos quc o quisc-

! A nríariva do medoedJ viôlêncii uÍbanos nàVenezuelá, Colômhia,México ê BÍâsilé


àpÍêsent diemváriosdepoi erltos em Susaôa Ro*er, Cirizêni oÍfear Ubanviolence
in LatinÀnre/,ca (Naw Bfuswick, NJ: RutgeG Urlvesily Prc$,2002)
r Tnduçàod.RenaroAsliir,
õEà

Jã9
E.s É

dõ.
Agradecinrentos

NI
I \ iotcrirs:doposrívcJ c"creverrs,ernL,.lhoseJoel Bi,m3n nio rives.
se me acolhido no seupr oÍicu o proceso de oricntação. Na vanguardn da

encruzilhnda entre históriae subjctividade, |oel rerüzâ como ninguém â


empreitada de revestir a psicanálise daquilo querengendrou: comome-
táfora da modeÍnidade, na sua caprcidade de contribuirpara a oposiçãoà
brrbárie, ou o excesso dc civiJização, como dirir Marildo Menegât, â prr-
rirdeMarx. O fato ó quc muito desta tese surgiu drsreuniôes na UER) e
noconsukório dclocl,onde uma numerosa fr:rtria trocava idéias, consti-
tuindo-se prcpriâmente num movimento intelectual e político muito rico.
Âprendi muito com meus colegx. Obrigada, Margaridâ CâvJcânti, Márcia
Arán,Naira Sâmpaio, Anâ Be.úizLimâ d:r CÍuz, Leila Ripoll, Eduardo
kâl Cunha, Mrrir SrleLe S:rlles, Cristiana Facchinetti,Ana Paula Feffz
Limâ e tintos ouúos que, por falta dc espaço e nomes completos, náo
posso declinar. À orientrção de |oel permitiu tambóm que eu pudesse
dialogarcom os discursos sediciosos do Espaço Brasileiro de Estudos Psi-
canalítico§. Obrigidâ, Eliltna Schueler Reis, pcla interlocução propiciada
pelo deb::te dos nossos medos de cadi diÍ,. Obigída, Regina Néri, por
apostarmos juntas ni interdisciplinrridrde r:dicd.
Arivés Benihon Bezeffa pude tambóm panicipt de uma li1ln.rosa
de
e vital discussão sobrc a tessitura da nâratividâde eoliâme entre â psicaÂá-

lise, a subjetividade e a hist6riâ. ComxconduçãodeBenilton,Fania Izhalti,


Ângela Crneiro,Tânia Pereirn e euformamososeminário deinquietudes

e metodologias comuns, e tâmbém deamizrde.


Com Helena Bocâyuvâ mmlenho uma espécie de 16rum pcr-
manente de camaradagcm, solidariedade, militânci:r polític e intcnsn
discussão acâdêmicâ. Esre trabalho 6 todo discutido, visto e rcvisto por
essa qucrida companheira. Salve â amiz:rdel
Qucro agradeccr ro inesquecivel C.!los Magno Nazlrcrl,
Atexandre Moura Dumans foi urn parceiro ímprr nrquilo quc
Ccrqucira, quc inspirou todr â tmjetória de minha rcsc. Sua docc c
Bârrttâ dcnominou dc d'lr ica da rcatidade da à"eik Pel;al. Obrigada, amigo
Ílmc figura, sua isteligênciâ sensível, sua lida c sua,norte, nossos
Sidney Chalhoub inspirou estc úâbxlho de várias manciras:
!)nhos de dies melhorcs c mais jusros esrão em roclas as linhas quc
seu olhar machadiano, suâ interprct,ção de Debrer c, principalrrren-
.screvi. Rosr .tel Olmo c Alcssandro B:rratta também se Iorani, mas
te, a arrc do seu ofício de bistoriador'
csrao prcsenrcs e dcram vxl;osíssinias contritruições para a minha in-
Àtalentosa historiedora Alinnic Silvcstre me âiudou igarünPâr
rÚfrcração dos medos câriocas. Nio losso urilizaroutra palavra para
os fragmentos dos cliscu rsos d o medo nos .rrquivos da vida Foiela quem
,clarianc à àrrção que fàj tê-los conhecido tão de perro.
descobriu o livrinho mâlê, chave de tantas descoberrâs Parâ nós'
Agrâdcço às queihs amigas LucíliâÀlmcida Elias e Tinr Ha(iy
Mohrmmcd El-Haji tmduziu e intcrpretou os escritos árâbe§ e liouqucttc pclo caÍhho e pel. scnsibilidadc intcligente com que
descortiDou este mundo muçulmano que tanto admiro. Agradeço ta m-
irrtcrcambirmos saber c rmizade. AL,dias do Nâscnneüro e Elisâ Larkiil
bém â Eliâna FuÍtado dc Mendonça quc, carinhosa ecompctentemcn-
i:rzen panc da minha históri. edr histórixdessrs luns queespero esrar
te, me orientou nos primciro§ levantamentos. RcnatoAguiar, tradutor/
:Ltudando a conrar. Foiurn sr.Ddc privjlégio ranlbóm pârâ mim desiiu-
criminólogo crítico âssessoro,l-mc generosamcnte nas traduções de in-
riL tr prcduçno e dx inrerlocução com uo dos maiorcs intelecruais lati,
glês. Obrigada, Renatol
r r}rmericenos, ltaú l Zaífa roni. [,u, hü mjldcmcnrc, só posso agradecer
O Institutodc Medicira Socixl foiunr espaço de acolhimento e
,;rLr grinde corrriL,uição rcórica às formulâçóes criminológicas conrcm-
intensa aprendizagem multidisciplinar. Éum lugar esrratógico no Rio
lrrrilreas clLre incorporci. Agradcço especialmentc a gcntilczâ c ã âren-
de fancno para a crítica deste capitrlismo tardio, náo §ó pcla organi-
,rin) com que Fr.ncisco Ortcgr leu o neu rmbelho Cecílir CoimbÍr,
zação e excclênci.r âcadêmicr, como pela polissemia de sabercs que ( :, islirta Râuter c NrÍariâ Lívia do NrscimcDro tizcm partc
dc um cole-
rli conr ivcm r:o .rgr rdjr"l
e produtir,tmet,tc.
tivo militentc c acadêmico do qualusuliuí inrensamentc.
Agradeço a CarlosAlberto Plastino pelas contribuiçóes críticas
EIizâbeth Drntâs, lvÍioko Ohtani, Cristinr Ilcydr c Iiloah
e pela paciênci.r cgenerosidade com quc Participou de minha qualifi-
lrsr.ves dx Itochâ âssessoraram os trabalhos de corpo e alma. Lconel
câção c de meu doutoftmento.
lill.s dc À,{cnczes iez parte dr administração dos meus mcdos e da
Eu ií disse a Ioel Rurno dos Srntos c1ue, quando eu crescer, vou
,,,,,íactno .le estratógiâs prrâ o seu combarc.
cscrever um livto co»ro a srl^ Aôica de indonúueit detíiot. AgÂàeço
Robson Thvircs é unt dos pilares dcstc rabalho. Não só pormais
muito a sua crÍtica do corceito de cxclusão, a sua fLna iftcrPretâçáo hist6-
,L i),, vcz,ne.rjuducom â maldita máquinr, mas pela su! scnsibilidâ.le e
rica <las violêncins dc hoie, e por ter-me fcito lembrar em Marc Bloch o
,r, i.,.. i..4,1"...\n",li. t /.-q"..t nprl-t1
scntido da hntór;.r. É um privilégio tê-locomo leitordcste rrâbâlho.
.L1r,io irrtstimÍvcl. Lygia Mal.gxd dc SouzxWeglinsl<i, miDha mãc, mais
Marildo Mcnesat contribuiu enormementc Parâ o esclarecimcn-
a sua rcvisão rmorosa dos mcus originais.
to áa exprcssio batbtui., cora suas qualidades de filósofo e cientista
Mcrs fi1hos a»ados (Luccs, Gutc, Dâdá, João Paulo e Paulinho)
político. Sur leiturâ de Marx e nossâs coif,cidênciâs idcológicas pro-
, rr.,,, :icntpre entranli"dos em rodos os novelos de minha vida. O que
àuziram um diálogo riquíssimo na militância iunto aos colegas do .,,i., Llc minr scn clcsl
direito penal. Poucos entenderam, como Marildo, as conscqüências
À4es, tudo isso quc escrevi, p.lâlra poÍ pâlâvrâ, é pâra o N;lo.
dos discursos sobre o crime nos dias de hojc.
(tm I Pre"enç' inrentâ l',i,, ,.1., por clc, com ele, dele, através delc. Só a cnergi:r mígicá quc
Gizlcne Ncder c Cisi.ro Cerlucrri 'io ,, ,i,,(i,, noss.rs mesrs, nô Deio de rodos os nossos lilros, nossus lurxs,
neste trâbalho. Tudo o queescrevem e produzem é Pormim incorpo-
,,.!,r,l.scios,équejusrificaestelivro.PaÍavoc€,Nilo,scnrpc,corn
rado como a mâis interessante e instigante cÍim inologia produzida no
t, 1,, r, rn,or quc houver nessa rida.
Brasil. Tiato de estar sempre seguindo a luz destc farol.
I
I hI
,
l. lntrodução

I I Às véspcras dc um proccsso clcitoral, no limiardo ano 2000,


z'io conscÍvadoÍâ (com o auxílio luxuoso da mídia) am.âsâ a nÂção
â coâli-

(lu.rnto à vit6Ji das "foíçâs do cio§". "O Bmsil n;io vai nunca eleger o

»rrJ c:ros", afirma o presidentc Fcrnaldo Henrique; "Eu rcprcscnto a es-


t rr l:ilid rde, a orga nização , o ptogte$o" UoD]al do Braril, 6 de junho de

1998, p.2). Oscxratcgistasc marqucteiros, responsáveis porsua cam-


l,rnhí à Íccleisãoa6rmâm quc nos próximos dirs traba lha ráo a disse-

"cfl I
It
minaçáo do mcdo do caos. Estc mcdo rcm sido trabalhado a cada
rn,caça dc chcgida ao podcr pelas forças populares.Asim íoi em 1964,
rssi'n foi cm 199{.4 históÍiâ continuâ.
A rdóia dc trrb.rlhrro mcdo no Rio de )rneiro rparcccu a partir
rlx cxpcriencia vivida nâ cdmi istràção de uma conjunturâ de pânico
ll cidrdc durantc o nno dc 1994. Num âno eleitornl, em que um pro-
jlrlr-r hcgemônico "global" usâvâ todrs as suas ârmas para aprofundar
ro Brasil um morlclo radical dc mcrcado com qucAdam Smhh ncm

ibtl
e,"híra, oRio dc lancirovivcu uma onda de medo gcrada pcla Íabri-
(x(:io dc umr "crilc dc scgurança pública". Em 1993, um lrrastão,
unm corcografia" rcrlizada poriovens pretos c polrrcs no caminho para

ll os rlcsírutes da Zona Suté lcvada aoar, p:ra todo oBrasil,conro indi-


crtlorda implantaçãodo caos, dogovcrnoda dcsordcm nôcoÍação do
país. Nio foi por mcrr coi»cidê»cia q'.r,: naquela clcição municipal a
, It c,rndidata dogrupo popularpc«lcu paraas forças dr "lcie d:r ordem".
r
lbi o "arrâstão d. Bcícditi". No o scguintc o rncdo do caos §cm-
o, . [ipci''o úilizêdá pêlo Cêl- CelG Mngno Nazrerh CcÍq@na, 6É0 S@êláno dê
[(rdo da P.M. pâÍ. d6asn.. o q@ à@nlei. @lmnle naquelê eráo.

I
19
prc associido às fi,rças populaÍcs) pÍoduziu u,nâ viróÍiâ eleiror.lquc
o ltio de lânciro, cipitâl da rcbcldiâ nrcioD.l, nu»ca vira. O crmpo (l.quclx.rividadc), mas, prnrcipalmcnrc, propicirdo argumcnros para
conscrvador tornou a prcliitrrrx, o golerno do [.stado e rcccbcu uma ú,,,. folíticr pcrnlrDcn(c de gcrocidio e viohçio dos dirc;tos hüná-
crxurraih dc votos pan o Covcrno Ftdc l. Naqucla conjuDruro,6 ,,,r cnüc.s clx$cs vuhcrákis: sjrm dn jovoN ncgros c pobrcs das
crriocrs rotaram corn mcdo. irvclxs do Itio dc IiDciro, scjum crrrrponescs colornb;anos ou imigrân-
Votaranr cor:r nrcdo porclue um cspct:iculo dc horror havia sido (.s indcscjivcis no hcmisLrio norrc.
arrlilosamcnrc construído, coridianantcnrc'ncdido cnt ccnlimctrigerÍ No Brrsil :r (lilisio do ,ncdo (lo caos e dx Jcsordem tem scm-
dc manchctcs dc jonllll, ern minutos dc notici.irios tctevisivos que, a l)rcscrv o p.radctonârcstrâtari.s dcDcurrâlizâçãoc dis.;plin!mcnro
despeitod.scstâtísticâs,preparav.Dr ocspíÍirodosconrunr orcspara l,lrrcjado drs mrss,rs cnrpobÍccidas. O ordcn.mento introduzido pela
o ato final, a romada das irvcl:rs pelas Forçrs Armadas c a vitória clci ,,sc,xvid:o na tuúrâçio sóc;o ccoDôDr;ca sofrc divcÍsos nbâlos x quil-
toral. O medô corrói a alma. {1,,cr âmcaçr dc n,suúciçio. O iim da escravidão e a implantaçâo da
Luis Eduarclo Soarcs', nr sur frsc rcrdôrrica, analisi estlt con- L t,uL,lr,., (f"r,,}..cr:o, qu.'\. . o, . o ,.rJ,rr...\ rjo ,ôr,l'(rJrn iJu,.ri,
iunrum, rrâbilhrndo í 'teitralid..lc dr or.lem discursiva"s, analisan ,,iu l, ô,,1,,,.,,,,(,,ro. Nrrrr l" p"rrru Jc vi'r.r s".ru c,"nJnri... nrn,
do â "cultura do mcdo" c â cârgr siDrbólicâ políricâ e ücológic.t dos ,k, culturxl. D.í as consccurivrs ordrs dc mcdo da Ícbclião rcgÍâ, da
fatos que culrninartrm nr Opcração Rio e naqucle .lesfecho clcnoral, ,lcscidr dos rnorros. Ehs sio neccssírias para a implantação de políti
eletuâdo através do p.cto siniúo cntrc.s tirças conscÍvâdoris e a ers dc lci e ordcm. A mrssa ncgr., cscrâva ou libcÍrâ, sc úânsformâ
grandc níd;r ro ltio dc IâDciro. O resultrdo concreto.lâ virória do rrurn gigrntcsco Zurnbi cluc rssombrr a cirilização; dos cluilombos ro
pacto sinistro é uma política cconômica dc cxclusãoq Gcscmp.ego, .rlr.stáo ôas pr]irs cxíioc:rsro.
fim dc direitos trrbrlhistas etc.) e uma polírica dc scgurançr pública Aprcscntaclo o problcma, pretcndo trabrlhá-Io ruma pcrspcc
que iàz corar os srudosistrs dos anos sctc»tâ: cxtenninio, opressão riv. dircrônici.'lrrl,ilhar cor do;s tcr»pos: ul»â ltistóriâ (lc nrcrlo nn
policiâl conlra mxrsin.tliza.los do tipo caniclôs e Ílanclinhas, pcrc- r rrtc irrpcrirle umr onrla contcmporânea de pânico na cidedc. Quais

guiçáo a corsumidorcs dc drogas ctc. Em mil1l]a disseÍtição de mes- rio rs rupturâs obscrv.das nas durs conjunturas? Qutris sio rs peí-
trado, trâbrlh{ndo drosas c criniinalizaçio da juvcnrude pobre do l{io ,u.nôücirs que.té liojc prcsidem o nrrginário cariocal
dc lâDcirc, já havi. analis.do conro o frôccsso dc dcn,oniz,çio do No nrpério tfubrllurci r ambiê»cia na corrc do ]lio dc JânciÍo
trífico <le drogrs havir fortrlecnlo os sistcmrs de controle social, rLo pcríorlo cm qrrc ocorrcu a Revolu dos Malês na Bahia, em torno de
aprofuDdâ»do scu câriitcÍgcDoc;dr, desde â sâídâ da ditrdura militar. 1815. No sóculo XX rribulhríci r conjunrurâ r pârrir d.rs cintpxnhâs
O niercrrlo dc rJrogas ilícitas havia propiciado uma .on..ntr.çao de clcirorais dc 92191, rs políricrs dc scgurança c os discursos do mcdo
ilvcstimcuos no sistcna pcnâl (tcm como â conccnlraçío dos lucros l), (:§clltcs nrs n.trrtivr§ cotid;xnis.
Qucro conrprccndcr, tlo ca'nl,o simL,ólico, os discursos, mcD-
SOARES, Luis Eduardo e. a//i lorss.l. Violén.ir e pol/trca no 8io de /a,ero Rio de \.Lljcft c reprcsentrçôes (alcgorirs) c suas funções ideológicas c políti
lancnor Relume Dumará, 1996, p,109 ,.,s. l.l so campo simbólico c n! içio frolongâdJ dc inculcaçáo quc se
Cí M U N lZ, J.quelinê. Or dnetror doj olkoJ e oútor dnen6. ln: SOARES, Lúis Edladô ,krcrrvoli,cm rcl.çócs dc .onc.rrrênci,r pclo monopólio do exercício
et a/n iOrAs.). violéncà epol]r,.a ro Rio delareno, op. cil.
Usamos aqula expÍe$ão ex.lu5áo€nlendefdca.omo uma,nclusio exc/usiva, squndo
lrxÍimo d:r violônciir simbólicn. A proposlâ dcsrc trabalho É explicar
â cÍnicâ d€*nvôlv.la póÍ lôêl Ruiho dos s:nros. Parà ele, a idéià de eíerizaçro,ere de
moÍrÊ o .ô.c.iro d€ erc usáô âô 8êÍar un ouiÍo ripo de ma s vâliâ, r màis vr ir (:í VASCONCELLOS, C Lbedo i-elsbeío. O /lnr.ip€ da nroedà. RlodeJaneno: E5p4o
espela.uosistJ. Ou seja, as mâ$as empobÍ{idas eírriJnr €\cluid.s da srúd€, educa- rTrnrBr,199/,p./5.Orul.Í5ereÍereaocnemadeClauberRô.hâ,âo.âdônibléêin
ção e oll.os dneibs, mas eíariam in. uidis peo espetáculo do medo, do qu. sâo os Rog{Í 3ríide eàÍiBuradeZunrLi.ô'nô Gviv!dêna.âôdôâimpônrnclâdo,lrJns.
{o ú êlenrento 'no dâ.i!ilzaçio
íú danrênlJlao.o.he.inrênro brâsilêi.a, Íel ràndo.lhro
{inrleúdo p.loló3co de hÍr, deJnonrJllJ Êde ou.urà".

20
).1
não apcnas o quc cstcs discu6os,,ncnsrgens e reprcscntações proclr- ccptívcis pam Íi ,Í)rioria"rr. É an.rlisrndo as falas concretas, o quc nc-
mam, mas principrlmcntc o quc cscondcmir. Lr, c. r,, urulro, rrrL.rlh.rnJu o' scu s d, rriros. quc crprrrcmo' os
'inr
i'
Segunclo Nilo l};uista, na viradâ do século XIX, pcríodo dc tur- quc dcsvclcm o objcro dc nosa pcsquisa. Descorrinâr o medo, reve-
bulentas lotas sindicris,I burgucsi;r prccisava cquiparo sistemx jur! hndo o quc elc escondc. Assim, prcrendo cstar contÍibuindo pâÍâ
clico penrl com mcdirl:rs quc punisscm além tto crime. É aí quc nas-
qucstionâr o cxrítcr âutoritÍrio clas cstratégi.rs de controle social no
ccm as mcdidas de scgurança. llrasil, ainda hoje.
Ahipótescccnrrâ1 dcstc rr.rb.rlho ódcque a hegcmoni. conser-
"Dr pdcebft com antcdprção tem-
mcsora 1"oan., criminalistas podcm
ranorr na nossa Iàrm.rçío social trubalhr a difusão do mcdo como
pos sonrbriôs, porquc dispomos dc umâ antena muiio sensívcl: a de-
nccanismo induror c iustificâdor dc polÍticas âutoritárias de controle
nr.ndi de reprcssão peD!1. O emprego iD0àciônáriodo sisicma pcnalé
soci:rl. O rlcdo tornr-se taror dc tom.d.s de posição esúâIégicas scja
o sinal guc nos rdvcrtc prra uma intânqüilidade, um meclo social no campo cconômico, polírico ou soci:rl. Historicamente, cstc medo
que, eN nosso caso é conseqütncix iôe!itiívcl da pdupcrizaçío vcm scndo trabalhado dcvlc â visão .olonizrdora d;r América, na in-
margiôâliz.dora dc isrcnsos co.ringcnrcs humaoos que a hcgcmonia coryoração do norlclo colonial cscmvista e na formação de uura Re-
neoliberal cstá acrercodo a scus Iesítimos ânreccssorcs dcsdc o públicn que incorpora cxcluindo, com forte viés âutoritário.
escravisno colon iil. Da mcsmi 1ôrúâ quc, ná ocasião histórica de sua Na noitc dc 24 dc ianciro dc l835, rlgurnas centenas de africa-
âsceosio, à trulaucsir brxsilcira niio ag[davam as íariodol.s dos c.pci- ros ocuparam as rurs de S:rlvador, nâ Bâliii, enfrcntando as tropas
r.s (cr;niôàliz.dàs pclo Código Pcn.l de 1890), o'medo braqco de amadas. Lidcr:rdo por tnalês (xlr;crnos muçulmano$, o conflito
hoje tem nas associlsócs criminris sua rccorrência míicâ prcd;lcta. r..rdiu no 27 .li: Jo R",n-.1;, o ,,,is Jo ici-m, o rnomcnto m.ri' im-
No sú.ulo XIX a políticr üimiorl curopéia, após breve e inccndiada portantc do calcnclírio muçuLrrno. Estc dia, o 27" do ma do icjun,
lüa de mcl coú o priôcípiô dd lcsilid.dc (.qucl. iúcsquecílel misturu éconhccido como a Ícst;r rlo Lrilat al-Qadr, ou Noitc da Giória.
di vâdiigcm com a crnnio.iizâçÍo d! grcve), se davâ conta de qúc à
ordem burgueso-Írd ustric I podi! cxpor-se  peÍigos scm quc (ou anres "l{evclamos o AlcoÍÍo Dâ Nonc d! Glórir
qu.)um üi,nc lossc conrdidori invcoçilo,no fin.l daqucle século, da Quiscrâ soubcsscnr vocês.omo é r Noite da Glórial
pcriculosid,de criDriDile de sua reqosta -as medidas de scgutança Mclho..lúc mil.rcses é r NoiLc dà G1ór;.
scril a úclhôr .lcrtoôstriçâo dc 11uc, pad os mcdos bursueses, existe
1,\cssr no;rc os injos c o Espírito têm
liccnçr Scnhor para dcsccr com Scrs dccrcros.
üimc,lémd! lci (I'criculosidrdc & Mcd idas tilcra,n loDga vidâ, c iirl rJo

d! rcccntcmcD(e cr.Dr, cntrc nós, o carnuÍlado eixo tcóÍi.o dô Lràta- Éssr noirc é dc prz, rté roftpcr o dii."
(Alcorio, Sura 97)Ll
mcntodccrinnç$cadólcsccnrcs'cmsnuiçnoirrcgular')'r:.

Ánclisarcste imrgináriorlo mcdo é o nosso desafio Dcsic traba- N.r vcrdadc a rcbelião h.rviâ sidogestâdi âo {im doano dc 1834
lho.l'ara produzir um cnsaio sobrc o nedo no ltio dc I:tneiro rrrba- com a dcslruição pclâs forças dr ordcm da mesquita improvisada por
lharei, além dos discürsos e rcsistros olicixis, com os "indícios imper- ri,icanos no bairro da Vit6ri., e pch prisão e humilhação pública rlc
dois lídcrcs muçulmrnos: o alufí I'jacílico Licutan e o mcsrrcAhuon.

BoURDIEU, Plerc.Á e.o,omia das lrocas s,Dbó]rcâr.5ão Páulor Pe6pecl và, 1974. ,, C]NZBURG, Carlo. Ji,raÀ, ,aizes,1e u DYatliflna indiciátio. ln: Milot Inrlllnru .
EATISTA, Nllo, Um oponlno ertudo pa/a lc,rpoJ rônú/,or.ln: Dtuc!6os sediciosor - sma,r, Sáô Pâúlo: Conrpinhiadas Lêhs, r939.
qiúe, direito e sacieda.lc, r'2. Rio dejânêiói lnsliluto c.riocà de CÍimino osia, I996,
' CÍ. REls,loão Josédos. neôei,ão êJ.rava 8.4r,/, São Pru o: B.adlieníe, 1r0Ó
"o

2)
Nu,na década dc intcnsâ xgirrção socialc de recesãô prolun- iirsscrn desarticutados quasc quc imcdi.rtâmente. As íorç.s da lci c da
da a Bahia era palcode succssivos rnotinse rebelióes. SeguÍdo Rcis, o i»dcm sDfrcram poucrs brix:rs, novc no total (quârro muhros, um
âümenro nâs importaçôcs dc xfricanos, x inrensificação do trabrlho e on,ulo'7e quatro mcmbros da Gurrd.r Nrcional). Do ourro lado as
o clima de divisão enrÍe os tr:balhadorcs livres favoreciam o surgi l)rixrs foram enoíncs, 70 africanos monos e mais dc 500 punidos
mento dessas rcvoltas. lr,srcriormcnte com pcnas dc dcfornção, moÍre, prisão c rçoiramcDro.
Àcidrdc de Salvâdor erâ ccÍcadâ de quilombos e reÍreiros rcli- ( )s proccssos a quc 1àÍânt submcr;dos os rcvolrosos primaram pela

giosos, numx épocã cn quc as rcligiôes ercravas cram ilegais. O ,|l,itraricdade e pelo crrátercxcmplrr. O mestre malê P.cífico Licurân,
islamismo era espccirlmcnte ameaçador. "O islã tinhâ tâmbém o po- l,rcso ântes d. rebeliío c portânto scm cnvolvimcDto direro nos côn,
tenciâl de unir vários grupos étoicos(...) Não representou apenas a lliros, íoi conden:rdo r 1.000 açoircs. Os:rdvogados de defesa dos afri-
idcologia dc uma clase(...) rcvcl.tvi-se paÍâ o scnhor hrasileiro como , .rrroseram ccrcados dc amerçrs da turba linc|adora.
o retrato do outro de corpo intciro, nio dividido. Nâ Bâhià, o islã Êmbora a vitória tcrha sido rípidr, óbvia e total,ltcvolta dos a
cono outras exprcssões religiosas rfricanas só por existir sLrbvertiâ, N.l:,1es foi um mar.o Do imaginírio do nedo naqucla épocx. Àpós a
no ntínimo, â ordcm sinibólica dominrnte"r5. Na Bahia o hlá era r.volt., um climâ de histcria tomou conrr de Srlvâdor. Ocspccrroda
mobilizadore cm meados de 30 cÍcscia. constituia+e numa relirên- ln vo[,ção Haiti.nâ já âssombmva as mcntcs scnhoriais dcsde a pri-
cia fundamental da comunidade negra. Os textos do Coráo falavam ,,,c;x rcbeljão liderad. por Mackandal, cscravo muçulmaoo, posterior-
para o homcm perseguido, discrirrinado. Extremamenre democÍáti- ,,r'rrtc condenado à loguciír cm l798.Asuâ hisróÍi.r pcrcorrcrr ocon-
co, o islã pcrmiria a panicipação plena dos inici.rdos nasprcccs coleti- ri,,.nrc, j,i quc corria . lcnda de que havia cscapado mâgicamente da
vas. Os mcstres reuniam a conunidade africana para orar e também {,1irreirar3. Estc medo determinou um feroz conrrolc sobrc. movi-
para ensinar a lcr e : cscrcvcr. "Foi duro para uma sociedade ondc a ",,,rtação dos cscravos na Bâh;l. O dccreto d. 14 dc dczcmbro de
ctnia dominantc,os brancos, continuâvâ predominantcmcnte ânal1ã- Itli0I esclrreccdor:
beta, aceitrr que os cscraios aliicanos possuam meios sofisticarlos dc
"Eíibcle.c.s medidrs policiris, rluc n. l,iovírci. di Brh;n sc de,
Àuma hora da nradrugada do dia 25 dejaneno explode a rcbc- vcm iomarcoDt rclnção aos cscÚvos, e aos prcros for.os rlricrnos:
l,io gc'rJdr por um L,Jo nr upres..ro ,lo crt.vciro c tor oJ,ro n., p(,! P- Ncnhum escr.vo, cujo Scnhor lor morador na cidade, rillrs
pcctiva militantc c cârrcgrdâ dc idcntidade étnicâ do islã. Calcula+e ^rt.pvorçôcs, cvivà.m conrpanhii destc;c bcm issim nenhum escr.
ou
que 400 x 500 pessoâs pârticiparam do movimento. Naqucle ano esti- vo, qu. residir em }àzcndâ ou pÍédio rúsri.o de qu.lquG d.sômiDâ-
rnava+c cm 65.500 os hrbitânres de Salvador. Os rebeldes oprâÍâm por §:joqueseja, podcri s.hir nquclle d! cidade, vilhs ôú polorções,eeste
om entrentamento clássico contra as forças rrmrdrs organizadas. Em (li t,rzcnda ou prédio rúsr;co,.m 9uc habitar, scm coÀsigo lcvrr uma
nenhum momcnto houveviolênci.r conrra uoidades residenciais, nem cldula drtrdà, c asisolda por scu scnhor, administrador, Íinor, ou
incêndios, nem sâques. Era um movimento organ;zado e dirigido gucm suasvezcs Íizcr,cm r qurlse indiquem o nomc c a naturalida-
Pouco tcmpo dcpois (às 6h2tm) o movimento esrâva dcrrota- rlc do escrâvo, scus tuan srlienres sign.is;o Iugarpara onde se enc.,
do. Adesigualdadc numérica e dc armar fez com quc aqueles homens ,,,i,,h ic ô tcmpo, pelo quxld.!a valcr. referirl. céduh.
vestidos de brancoque pcrcorrerarn hcroicamente as ruâs de Sàlvâdor

t rogro nascido no 3Íâsil.


'rn'lor
RElS,loáolosé dor, Op. . r., p. r]& '' 1 I I A ejo. o sÍrndÊ Ês.rirôr cubano.ont eíã lend. em El Rer,o dc eíe
RÉls,loáo José dôr. op. . i., p. r23 ^ltl'LNÍltR,
I lrlana] LetÍas Cubanas,1934.
^r,![)

24 25
An. 2' - O <s«aro, tlue sc achar fom dos ltrgrres design.rdos scm . tir politica, cultural, racial c sirubólica da naç5o- Os malôs c o scu
sobrctlitr círlula,soí immcdi tarnctric prcí, c rcmetridoa scu rcs- pcrsonilic:rvam r lur] cntrc í civilizaçÍo e a barbiric. O islã
pccrivo scnhôr prtu o ..st;gir, rurÍdrdi i modcnsáo devidr. ''rrrnrlo
rr»crçava também cstcticímcntc, conduzindo a "uma cruzada
Arr. 3r - Ncrlhum prero, ou pruta, lorros africanos potlerí srir dr ci- ,,rtivisI. c cristá dos cid.dãos brasilciros contra bárbaros ininigos es-
dxdc, vill.s, povoxçócs, ou f"zcDd c pridio, cm que fo.dôttticiliírio r.flrgciros(...) Os govcíníntcs bí;rDôs cuidavam p.r quc o rribunal
à rítulo dc ncgócio ou por ouLlo qulhuo môtivo, scnr passltortc tlc lli35 rcprcscntassc um tribuurldc nnrm:rção da supcrioridrdc útni-
quc dcvgí ol,tcÍ do iu;z criNinil, ou dc l'iz do lusrr(...) mrs Lam- cr. nacionalc dc cl.rssc sobrc os.rllicrnos"?1.
bém sc d.s;sn"rá o tcmpo t;orquc rJevror duraros duos plssrportcsi Na Conc iorpcrial os clliros dr insurrcição rnalê sc lizcmm
porqurtrto lú rodr â plcsuNpç:io c rurpcit! dc qúe tâcs pr.tos sío os scntiÍ i,rcdiata'rcntc. Scgu»do Flávio dos Santos Gomcs, "0 décida
incitrrlorcr c lrovoradorcs.lc runrukos ü commo(&s. quc rc t(rtr <lc 30 do século XIX foi marcaria por um terror pânico. O dc I815
rbrlarçrtloos <1uc cxistcar oi tscrívidão. "no
c os quc a cle imcdirtrmcnte sc scguiram foram pcríodos dccisivos na
Alt. {ú - Os pr.Ior ou prctxs, Ibros rír;cnos, quc rÍansgrcdircnt o rraicrórií do medo, n.o só nol{io dc }anciro mas rambóm nís provin-
dctcrntinado no presentc rrtiso, scrío immcdiatamentc prcsos c rc- cias"'::. Scgundo o:uror, a ltcvolt.r dos Mrlês cra o principal rnotivo
iri vcz,
nretidos às i utorid.dcs rcrriroriu is pí rr lhcs impor, pe la primc da onda dc nrcdo quc sacurliu o Inrpério.
r pcn! dc o;io dias dc pris:io, os qu.is sr multiplicario pclls Á succs"iu Je borrus c runrorcs.lc lcrrnrc. c a' rc'pccrivcr pro.
rcincirlcncirs 'r'. ,,idôDcias porparf do covcrno sc rcpctcm. Em dczcmbro dc 1835 o
prcsidcntc d.r provnrci:r do Il.io dc ,rnciro tc,t ví acalmrÍ âs rtori-
A Írígil xrncrçr ao podcr incontcstc das l'orças impcriais nÍo r.latlcs impcriais dirnrc da cscalatla rlc bortos, rumorcs c dcnúncias.
combiníví com I mrsnificaçãodo rcrror.'l':rlvcz o mundo do isll rni- "Iiodrigucs 'forrcs <lizir quc os rumorcs cram cxagcrados, posto se-
litantc, dcnrocrítico, imprcgnado dc um orgulho ótnico fossc o quc íc fruros dc dcnúnciÍs quc prrcci.rm nimiamcnre rinras (om r cor
míis âpivorissc íselitcs baiinis. Socicdâdcs íssombrad:rs prod uzcm do mcdo"?r. Mas r consciêncir do cmgcro dos rümores não clirninui-
políricas histíricns rle pcrscguição c aniquihmento. Nos dias scguin- ria a intensidrdc da rcprcssío. P{ra Oomcs, o mcdo ganhava torma
à rctJchio, rumorcs Jc orrro' conlli«'s fizcrrm com quc civis .,r- concrctâ c sua cor crx ncgrâ. Qunlqucr reuniÍo de âtricÍnos cri rlvo
'cs
mados saísscm às ruâs itirando x cs»o nos ncsros. Qualqucr ol.:jcto dc reprcssÍo sistcrnár;cr. I,olíticrs de csquadrinhamento cmm lcva-
rcligioso dcrcLnrinavo suspcição c prisiio, O controlc da movimcôta- dâs â câbo na cidade. "Do govcrno imperial paniam ordcns, inclusivc
ção dos ncgÍos na cidadc âtingiu nívcis rbsuÍdos. Uma armosÍcra dc parâ qucosjuizes dc prz das frcgucsias circunvizinhas da cone fizes-
dcnunchmotorna conta da cidadc. Qualqucr a fricano que escrevcssc scnr orgrnizarum rnapa cornplctodc homcnsdccordc scus rcspccti-
ár:rbc cra dctido como suspcito. "Os c:irccrcs ficnram ráo chcios quc vos distritos",'. As rutoridadcs fi cav:rm cspccialmente assustadas quan-
scus administradorcs mnnifcstaranr a inpossibilidade dc alimcntar do papúis cscritoscrarn cnconrírdos. A perspectiva de lidrrcom scdi-
todos os prisionciros com os recursos dc quc dispunh:rm'':". ciosot quc liam ccscrcvirm abal.rva sobrcmancira osistcma impcrirl.
PiÍn llcis, a rc.rção à rcbcliio siLuc-sc naqucla coDjuDturx ini-
cial dc lormnsão do Dst.rclo nrcion.rlbrrsilciro, na luta pcla hcgcmo-
Ir REIS, Joâolosédos. Op..il., p. 250.
,: OOMÉS, Élrvio dos sãd6. H iu&ia, prctesto e cultuÍa politicà no 8/aiil e(ravina, lnl
" Oúeto lei de 14dedezmbD de r3l0 - têi! e dEitó€, do OoEr@ 1830, Arquivo Escadla oí1ci6 e liberdàde, Rio de Jr@iú, Pút i.o do !íàdo <to Rio de
Público .lo Eíndo do Rio d€ làmio. cí. C^vÂLCANll BRANDÂo, Becnie Ei a/ii. ^Íq!lvô
polki. e a k\ça polkial tb Rio dê ,,neno. Rio de l.n€iÍo: PUC, I93r - ^ :r COMI5, Êlávio dc 5úro5- Op. cn,, p. ,2.
- REls, loJo lo+ d6. or. cir., p- 243. :r COMI5, Flávio dc súro§. oD. cn,, D. 7t.

26 27
.-

cas dc internrmrnto produziírm enião uma "paisagcm do imagi§á-


Flávio Gomcs aponta conrrídisão cxistenre enrre o medoquc
a
rio" funcionando comograndc mcmória do que se pensavâ "nis som-
as a utoridades e fazcndciros scn riam e sua ccrtezada impossibilidâde
bras". O intcrnamcnto pcrmitiÍ um preesso dc Í€shtência do imagi-
concreta de umâ insuírcição ncgra cm gíânde escala. Á rcvolta
nário. Âexclüsâo c o aprrtamcnto 6sico detonam fantasias dc tcrror c
quilombola de 1838 cm Vassouras, liderada por Manoel Congo, scr-
viu dc mecanismo rcafirmadordo mcdo que se alastrava-
Na verdadc, é no nívcl do imagináÍio que se desenvolvcm as
E intcressante obscrvar quc no debate sobre as consêqüências principais batallus pcla hegcmonia políricâ. ,4. conquista da América
e mcdidas r scrcnr tomadâs dixnrc da persp€criva dc uma graode re-
iá tundâvâ umâ gnndc pugna cnre duas menmlidades. A importán-
belião cscrava, não âparccc quâlqucíconcessão ou demandr por mu- cia do mundo simbólico jí cclava Íindo nocoÍaçãoe na alma dc Conez
danças naquela sociedadc violentrmcntc hierarquizada. Ásocic&de
quando começou, cm 1525, â demolição sjsremática dos tcmplos no
imperial nem sequcr se qucsrionou sobre  irsriruiçâo da cscrâvidão. vale do México. Os frrnciscanos confiscaram todas as pinturas que
Âs denúncirs de uma nrticulnçao inrcrnâcional envolvendo malês, pâreciÂm contráÍiâs à [ér "todo lo que es ceremoniático y sospcchoso
haitianos e abolicionistas inglesesr5tratavam dc dclimirar claramcnte qucmamos"'â. Todo o scntido e a intcrpretaçáo de umâ socicdâde, a
pata fora da socicdadc irnpcrialas causas das sublevaçóes, Delimitaro
sua âpreensão dâ rcrlidadc quc foi objeto de um consenso implÍcito,
inimigo como alguim de fora, como o outro, e trarar de estabelcccr encontrava-se nocaminho de uma "cruzadâ" de conquisra. Naquclcs
estratégias de con úolê durÍssimrs foram as medidastomadas. Quesrio-
idos de 1 itos indígcnas m exicânos, rorados de pân ico, decid i-
53 0 m u
nâÍ â escrãvidão, jãmiis. q
ram destruirsuas pinturas para esaparda violenrâ e cspcrâcularp€Í-
Essasmedidcs dccsqurdrinhamcntodos focospossíveis dc re- scguisão que os cspinhóis cmprccndiam.
belião, de mapcamcnto c conrrolc sobre a movimenraçãodos negros na
Ao trabalhar no Méxicodo século XVI os encontros dc dois sim-
cidade nos Íem€re ao grandc medo a quc Foucuk se rcfcre com retaçâo
bolhmos do podcr, Scrgc Gruzinski cnfoca as implicaçôes lârcnrcs c
à loucura noséculo XVIII na Europa. Com as políricâs de inrcroâmento
mudas da conquista cspa nhola no impactosobreas memóriâs. N. con-
"o mal que s€ tinha .cntado excluir com o internamento reâparccc pâÍr quista daAmérica, inaugurando â "modernidadc" da Espanha, o Esta-
mâiore,spanto do público, sob unr aspecto fantásrico"r6. doeâ Igrcj sc Iânçavâm "a la colosal emprcsa de someter poblaciones
E no tcrrcno do Íanrísrico quc a loucura se propagaric, na considerâblcs ã una'policia', a un géncro de vida uniÍorme",,.
"r€ativâção imaginária", Para Foucaulr as polfticâs violentas dc Um mcsmo movimcnto da cconomia, da política e dâ rcligiâo dc
internação despcrtârâm íant.lsias no imâginário. "Esres sãoos sonho§ uma sociedadc criava um prisma com suas lógicas explícilas e implíci-
âtrâvÉs dos quais a morâI, cm cumplicidâde com a medicina, rentâ Las,"sus evidencias mudas, su orgrnizacióflinconsciente". Os espanhóis
dcfender-se contra os pcrigos contidos mas muito mal enc$rados no diss€minavím cntrc os indGcnâs â seísaçáo € a compreensão arerrado-
internamcnto. Esscs mcsmos perigos, ao mesmo tempo, fascinam a ra da naturezá daquclc processo civilizatório. O alcancc daquele
imaginaçâoc os dcseios. À moral tcnta conjuá-los, mas algo existe no genocídiojá é conhecido. A popuhção indígenâ do México, que cra de
homem que s€ obstina cm sonhrrvivê-los, ou pclo m€nosâpmximar-sc 25,2 milho€s nâ época da dcscoberrâ, chega a 2,6 milhôes €m 1568s.
delcs e libertãrseus fanusmal O horrorque agora cerca as fortatezas
do internamcnto também cxcrcc uma arração iresisrível"r,. Ás políti-
n CRUzrNsKr, Sê.8ê. tá Coio,,tació, del lnaginaíio: socie.lar! tâdtgênàt y
<*ci.hdalización q êl Me,ico Erp.M, sbhs xyt Xw,r. Méxtoi fondo de Cultu,a
t@núnki,1991,p.2!-
GO^aEs, rllvio do, Sân16. Op. cn., p, 73. , GRUzrNsKl, Sd8ê. Op, .it r r, 77,
rOUC^UlÍ, Mi.n.l. H/Jtó,iá d: ,oü@rá. São Pãulo: peEpectivi, Í97a, p. 154. CÂUZINSK, Ssge. Op, cit,, p. !5.
"
FoUCÁU|T, Mióel.Op, cit,, p, i57.
Acvangclizíçãô crí osuportc supcrcsrru ru ral da conquistaJ atrâ- l,,srórix dodiscursocolctivosobrc n monc úntaÍiaentãodo incons€ien-
vis da pcdâgogia do pcciclo, dr morte e da culprbilizâçáo; eÍr o uni- rr. "l.irrÍim, podc-sc tlizcr quc i époci contcmporánea, a pârtir do fim
verso pcnitcncia I q ue tratavr tlc scr inreriorizado ind ivid u almentc a rra- ,1,, ró.ulo XVIII, cstí nlirc.rJn pcla prolilcrâção do discurso lircrário
!és da cxpcriênci. subjdivo. rrl,rt ,r monc. Sob nrúltiphs iormis, rté na mÍdia atuâl o discuÍso taz
A socicdâdc inrpcrial cscravocrata bÍasiteirâ, rí{idâ c , r1,l,rlir o qur<lro tr:rJicionrlc'n quc, rté cntio, se exprimir o imagi-
hicrarquizarla como a coloniíI, pÍccisâvx tamt ú'n dc um mcdo dcs-
propoÍcionãl à rcalidrdc par:r mnnrcr violcntas potíricas de conrrotc Irabrlhandocrn pcrspcctivâ as represcntações coletivâs sobre â
sobrcaquclcs sctorcsquc csr:rvrm potcnci:rlmcnrc í pontodc rcbchr- rr,,l1c durânte ciDco s{culos, Vovcllc afirma que o discurso dí igrcjí
se e implântar a "dcso«lcm c o cnos", ramxnlri a cscat:r de oprcssão (1,,;rsc não muda tú mcados do século XIX. Nr épocâ contcmporâ-
cm quc se cnconrravanr. rrcrr o imaginário colctivo se libem dos quadros tradicionais, dissemi-
,{o csrudrr a dirirs:io mxr':rinl d,. iür,rEc'rs cri,rjs Da.onquistlr rr.rrrdo mensagcnr de rnonc. Os filósofos do século XVIII jí haviam
espanhola drÁmórica, G ru ziDski disscca x cxry!' cotcriva e individuat $rlbclccido o sistcm, dc exploÍíçíoda mone: "sistema econômico (o
das imrgcns que scrvianr <lc suportc idcotógico ao crisrianismo. O tourórcio das missas c das indulgênciâs), sktcmâ polírico (as rccom-
controlc dcssas imagc»s, collm instrumcntos dc dominaçjo, p,rssava
trnsxs e ôs ct§rigos do âlém, como garantia de ordcm na terra)"r5. O
pclas ordcns mcndicllnrcs (conhccidrs como,,potícir cristã") que sc rcr n po da orga nização do ccrilron ial cspctacular da mone tratâ a morie
c»cancgavam dc íamiliariar os indígcnxs com âs obrigaçôes, riros c .o,Do "garânti.r dâ ordcm e d.r hicrarcluia social".
dcvosôcs do calolicismo. Ensinrr a "morir bicn". O que Cruzinski vê
lcan Dclumcau já havia dissccado c história do mcdo no oci-
na imposisão do crisriânisnro "cxprcsa Ia inrcriorización profunda dc rltnrc ao mcrgulh:rr nos mcdos escatológicos e no nascimenlo do
unarclaci6nconelsantoquccnrcalidadrccubrcuniÍclaciónespccí- nrunrlo rnodcrno, num pcríodo ondc i cultuÍa cristã se scntií âmeâ-
fica con cl tiempo, con h mueÍre, con lo sobrcnatural y con la
\rda pcla Pcstc Ncgra, pch Gucrra dos Ccm Anos, pelo âvâ nço tuÍco,
socicdâd"r'. Cisma, pclas cruzadas ctcÍ.
lrlo
O medo da morrc, bcm como a instituição da morte, é, segundo ni conquista da AmCricâ,
Tzvcta n 'lbdo rovl' dcscrcvcu como,
Baudrillard, "uma conquis* trrdia do racionalismo político das cas- o cncoltro da civilizaçio curopiia con o "outro" exterior sc dá no
tas dos prdres e das Igrcjâs: é na gesrío desra csÍcrâ do i,nâgin:írio da nromcnto crn quc .r Dspanha rcpudia scu "outro" ioterior, na vit6rii
mortc queoscrisúos ÍunrJam scu poder',. Foiatravésdcsta hcgcmo- sobrcos mouros c oa cxPulsro dosjudcus. O genocídio da população
nia do i'nâgináÍio crisrão quc sc nnpôs o racion:lismo do EÍxdo, so- x'nericâna c a libcr:rçÍo total da crucldadc obedecem a um duplo
bre o podcr abstrato rla mortc sccularizada, transcendida do social. rnovimcnto dc dcsqunli ficaçáo do "outío" c di suboÍdi nâsão dc todos
Párr BíudÍillird. é no sÍculo XVI. ú ,écuto dr conqui:ta. que sc gc- os vrlorcs aodcscjo dc cnriqucccr, §ímbolo dâ modernidnde, o íctiche
neraliza a ligura modcrna dl morte. rlo ouro. Na Europa Ocident.rl o alvo das campanhas c políticas de
Michel Vovclic, ao rrxllrr dr histdria da mortc, trara da mortc cxclusão e conrrolc sío os grupos minoritários e nâAméricâ o proc€s-
sofrida, vividr e dos discursos sobrc a morterr. I,ara ete há momcnro, so dc cxclusão é gcncÍâlizãdo à populasão Dâtivâ. Com a descoberta
históricos cm que se exaccrb:rn os scnrimcnros do rncdo da morte. Â
u B^UDR|IIARD. ,ê.tr. Op. cil., p.15.
r1 CRUZIN§kI, s€Ígê. Op. cit., p-
2a6 I' VOvÉLlÉ, Michel, Op..ii., p,21,
rr BAUORILLARD, leatr. l'tclá,sc Synrbo/ique el /á Moí. paü: Càt ina,i, !. OE LUMEAU, leàn, l,iíó,,,
1976, p, 221, dô nlado no acidehte (13a0-t aoq. 5áo Pâu lo: Coúpônhii
n \OVELLE, M:(hel À h+tó,d do! ho1,êht ro e.p"tho /r n.ode. tn: Á n@4e nc /ddoe
Méd,a, S5o Pàulo: EdusD, 1196 r' ÍODOROV, Tzverôô, A conqlirtá d, Á,rérica.5âo Pãulo: Manins ronles, 1992.

30 3l
diAméricâ,.r Europa cxpulsr.r hcrcÍogcneidâdc c a introduz irreme-
diavc|nentcr'. A pulsão do domírio c o scntimento de superioÍidâde As sociedades.utoritárias c dcsiguais, fundadas n:r violc,rrr
procluzcm doutrinrs clc clcsigurldade. hicrarcluização, nío suportâm o encont.o com o outro. Como nr
Socicdrdcs rigidamcntc hierarquizâdâs precisâm do ccrimo- r.ünodinâmica do século XIX, as mudançâs levariam à mofte rérmi,
ni.rl d.r mortc cono cspct,iculo dc lci e ordern. Gizlenc Ncdcrafirma- |r. Scm a ordem, o caos Í a nro«e. Na produção de subierividâdc, a
va quc cm nossa formação sócio cconômi.a d.senvolvemos fantasias r,,l.rância lcvaria à desorlem c à enrrada do caos como portador da
r p,r(ir da cultura juÍídico-política da Pc-
de c.,nlrole socirl âbsoluro ,l.slruiç:1o.
nÍrsula Ibúricr. 'À visão dc Dundo tomistâ, esprâiadâ nâ Perínsula Prra comprccndermos cste acordo cntrc o passado e o prescnte
pcla prática política c idcológicr dos jcsuítas, sustcnta!â uma concep- rir tnnção do medo para a irnplarrâção c perperÍação dc uma Repú-
L)licr excludente c aurorirrírii, reremos que nos dcrer nâ quesrão dâ
ção dc socicdadc rigidamcntc iricmrquizada, produzindo efeitos cle
permânêncirs cultuÍuis (lc longr duraçâo, com fortes desdobramen- trodução da subjerividade. Guarrari aponrâ como BakÀrin corrrapôc
tos prra os rlitos e as cmoçócs dc Iôrmrçõcs hirtóricas"r'. !,i vi5aoplur.le polilônicr dr sübjetivid.dedo l'ato às dcrcrminações
l.rabalhardo r hisrória ideológicâ do corrrolc social no Brasil rrrccânicas dccorrcntes dâ infra csúururâ mareÍiâ1. Com a nas ne-
dc hojc, Nederapontr o rrbírrio drs liflr.rsirs absolutisras de controle /u/, r iírupção dc farorcs subjcrivos estaria no primciro plano da aru-
social policial absoluto no imaginário brasilciro, a partirdas suas ma- ,rliclade hGtórica. Às transfornraçócs tccnológicÂs e o controle da in-
úizcs (no scntido dc uma pcrmrnência cultural) ibéricas. rlústriâ da mídir resultariam numr rendência à homogcneização
Aprnirdr rcIôrmr pombrlina da scSxrda mctadedoséculoXVIII rrnivcrsalizanrc c rcducionistr da subjctividaderr. É por isso que a6r-
cm Ib,rugrl. rnniurJ.,c uru trocc\o,lc mo,l"rriz.f;o que."njurJ d rrrrrnos que grandc polí!ictr sociâlda contcmporaneidade neoliberal
a

incorporaçÍo rlc novos prcsupostos rcóricos c idcológicos cuidardo de (i r polír;ca pe»ul. Á qualquer diminuição de seu poder os mcios de
quc a basc dc sustcntação dâ hieÍurquizrção não làsse afetarla. Esta am- .o,núDicaç:ro de massa se cncarregam de difundircampanhas de lei e
bigúidrde rcvch-sc no dcsdotrrâDcoro dcstc processo par: o Br:rsil. A ,,.,1"m q-e rt"rronz.rm r p.prrl.rç.io. r1 roveir:ru pJri,e kíq-ipJr
dkcussíocm tornoda relàrm:r docódigopcnal de 1810 aniculavao libc- 1,rre os 'irovos tempos". Os nrcios dc comunic.ção de maxa, princi-
ralismo dc Becc,ria coor as Íôrmas decontrole e punição da escravirlão. t,:rlmcnte â tclcvisão, são hojc lundrmeotais para o exercício dô poder
No Riodelaneiro do sicLrlo XIX,ochcÊ de políciã Eusébio de Llc todo o sistema penal, scja.rrã!és dos novos seriãdos, scjâ arrâvés
Quciroz apontava r escrrvidio conro limitação à adoção de políricas
rh i.rbricrçÍo dc rcrlidade prr.r produção dc indignâçâo morâI, seja
mais modcrnasdc polici.r me n to urbano. Propóe então D confinamcnto ;rla fabricação dc estercótipo do cr;miDoso.
dos escravos nas íazcndas c o rígido conúolc de scus deslocamentos'r'. Suely Rolnik rcto,nâ cssas crrtografias da existência humana
Para Ncdcr, ncm o lim dr escraritlão c ncm a República romperãm .:rn Güâitari para afirmâr que qualquer mudança eletiva no campo
com o legado da fantâsia âbsolurista do co trole sociâI, dâ obediênciâ social hojc dependcrir de uma nlurâçáo dll subjetividade quc dirigc o
cadâ!érica. A â r uâsio da polícir nas favelas cariocrs nos diasde hoje é lincion.mentodc nossas socicd.dcs. Usando a evolução da fís;câcoDo
, ,u.Lti,,. Rulnik rnrl,.J n mo,lclo cLsi, o mccanjc,sta (tue imp(,",,
a prova viva destc lcgado.
rxquela ciência aré o século XIX; nestc modclo não há lugar parx x
i,rstrbilidade. Com a termodinâmica, o sécuioXIX reconhccc a insr,r-
r{ TODOROV, Tzveran. Op. cir., p. 47.
l,ilicl.rde, comprecndcndo que a coexistência dos corpos não po(lc scl
re NEDER, Clz ênÊ. Á6§ó/!r6,no € ,un,çáo. In: DÂ.uEos rdrcbsos - .rime
n c urra, ocoffcndo turbu lôncias c translôrmaçôes irrcvcrsívcis. As n la;l s
so.,edade, n! r. Rlo de la enô: lns uto CaÍ oca de CÍiminolosia. Relume

io CÍ. NEDER, Cizlêiê. Op..ir. I CUÂÍTARI, Fe ix. Cr.rhô5e, uo noyo parâd,amá enéri@. Riodelân(rú. [rlitrri

)2
de oÍdcm c cquilíbrio lcv:rriam à lci dx cntropia: âs mudançâs leviíirm Es(:l quesúo pcrmeou, coric imperial âpós â ltevolta ttos M:rl<\
à mortc térrnica. Tcmos o caos como avcsso da ordcm. A corrcspon- c,n 18.15, msombrou nação.rpós í at otjção dr escravidão c a pft,cti,
dência destc pensarncnto na sul,jeri!idsdc do homcm moderno lcva- D,.§io dr Repúl,licâ. Vrgou n.s íguxs da Revolução de 30, Dô 5ui.nl;,,
ria ao entcndimcnto do caos como ponadorda destruiçãoc o encon- c Gcrúlio, Dogolpc dc 6{. nrs.ooiunruras eleiroÍais de
t99í c i998.
rro com o ouúo como fitor dc pc«l:r d:r ori.lem. O suicito modcrno O grandc historiidor ÀÍarc Bloch falara dâ necesictrttr rtc

seria tutclaclo cntão pclo tcrror ao csirÂnho.'rEste homem construirá omprccndero passado pclo prcscntc. ,.Ncsra 1àculdadc de xprcrnsiio
um scriPronde estarão Drarcados tanto os lugares dc simesmo, quan- ,L (tu( é vi\o i quc rc,i,l(. rrirv.rn)(rrrL.,, qudlidJd( rundJmcr,ril (1,,
to os lugarcs do outro, assim como a rclcção entre elcs, arma que o l,i.rorirdor"r'. E por rsro quc r rnjlisc dr rrrnsiçJo da dnJJurJ pJrJ
x
hornem modcrno usará 1xr.r protcgcr-sc do ourro"r'l. dcmocÍaciâ (1978-1988) telou à pcrcepçáo do dcslo.amento
do ini
Na fisica conttmporâncaas transformações nãosão portado.as migo intcrno prra o crinrinoso comum que pc.mitiu quc se mínri_
de destruição mas sim dc um.r conrplcxificação cada vez maior do rc\\c ulJctJ.r c"rrurun dc conrrolc c mri, invcsrimentos rr.r
mundo. "Não há »adr no Universo quc possâ ser rpÍccndido como ''1uta contra o crimc". As camprnhrs "ocirt
mâciçãs dcpânico socinlprorlu-
uma ordcm cm si, não hí nâdir quc oío csrejâ cocxistinrlo com um zrÍam unr âvanço sc,r prcccdcntcs na inrelracionalização do auto-
ou(ro c quc, purrânro, não cstcia soticrrdo, ncccsrriamcntc, um pro. rirâíismo. Em insriS:rnrc trabrlho, Cizlene r.\cdcr se reícre
à prodü,
cesso de difcrenci:rção"rr. Cuaftari va cn!ío o mundo como máquina ç-iu im:lEáic" Jo rcír(r. (;ue, on,rrtir.rlcgnrir: arrriés dc rmJgens pJra
produtora dc "hctcrol;ôncse", uma obra rle ane quc sc Íaz permancn- ú'lU§ru üc nr.do r rcríor',. F..2, nJô urn,r inrcítxcrl§Ju.rnJlógj.tl
cn.
tcmcntc, coDtra a lisío dc homogênrsc rlo homem clissico c sua idÍia trc os cfciros <Ic "inLcrnaliz.çio idcolóEica d. rcanalirJade do porlcr,,
de ollcm. l'rru t Ir, crosmo,c scÍir J iminêflcr:r cnrrc o cJos e J corn- nrs pruças públicrs. rrruvrr d:rs furos Jc corpor muril,dos nas
bJncrs
plcxidadc. À'Ías o homcÍn contemporinco ainda vive a transiçâo da rJc lornal. r o iuros-Jc ft di Inquisiçro, o tcxto
expttrra o papct
subjetividadc tcrmodinimicr, assusrado pelo efeito penurbador da d,sciplinidorJ+ri pro(tuçjo dc iurrgcn, do tcrror. di,gidx,,o;";E-
alteridadc. mcntos ó(Dico cuhurais mais !ulncrívcis.
Ás in:agcns dc monc e dc Ícrror vieram com a bagagem dr No Brâsil, a piÍir do rcgin)c cscravocÍârâ, afticulâm_sc histc
Inquisisão iM.icâ, rÍabâlhrndo um coniunro de âlcgoriâs do podcÍ ri.rmcn tc o dnciro pcnalpúbticocodircnopenal privâdo na imptxo,
!qur v,ncaÍam o proccsso rJc ideologiz.rgãoe grrantir:rm umao,gJni- rJ(io (lc um 5ií(mJ t'tn.,lS(nocrd.,. cúmphcc Ji, ràincir.
Jo E5ti(t,,
zâção sociâl rígida e hierarquizada; ncsta organização, as classcs su- Imfcíirl . L-mcrJrr Do procc.r",Jc Iro,n;rí,tio. muril.rs.io c runurx
balternas mais quc comprcendcÍ, â »ír'cl dlt râzão, foram (e segucn: da populaçio allo-brrsilcirar,.
ni cstrutura social"lr. Â pro-
sendo) Icvadar a ver c a scntirscu lugrr Lanâ Lagc dc t_im.,i, ío rrabrlhar a rcbcl<lia negra, cncrm
dução irnagórica do tcrÍor cumpÍc cntão um pâpcl disciplinador
l
violêocia comoelcmcnro constitutivo das formas cspecíficasdrs
Ícli-
emergcncial. A ocupàçâo dos espaços públicos pelas clâsses subak€r- çôes dc produçáo na cscrcvidão moderna e rambémdas relaçõcs pcs_
nas protluz lantasias dc pânico do "€ros soc;âI", quc se rncoram Dos
nldt ize! cotlsriuri!)a! h trosa formaçio idcológica.
a BIOCH, Màtc- hlÍoduçáo à BÀló.jn. Lirbo.: publiGçóe,
Éuíop!.AnÉôG, ..rt , I,.4t
{ NfDER, Gizlm. fn ,o,De de ,á,Etor, nÍeror
r' RoLNrx, suely. Jubr'êrivdade e Hiitód. Inr Rev,ía do Núl@ de Criatividade - n Nit,io no St,tlt t.\t
do JirleDá pêa

NUOICÂI, n! r. camDin.sr Unicâmo r995. I BÀl5TA \itu-ra8De{o.dcund,\-!or.d,(,o.o.tn:Dr..x^.r.i,Jj.j!,,,..ri.,


ri ROLNlK, Suely. Op..il,, p, 54. RrodÊ,rn" o.t.\r.rLroCd,io,"dpí,inr,.[,n,./kr' r1ct,.r.,,,,
aa NEDER, Girlene, ED nôDe de Iâdaroi, aipedor do riíema penitenciáÍia no BÍàsil,ln:
C.de.nos doCEUIP, n! l. Rio dê lânÊno: l99l, r.9. r! LlMd t&à Lasê dê, Aebe/dà nes,i e a»/ic,o,ie. Rio de l.nrnôr hi.x í, rI
I I
^,

34
quc é visccralmente tcmi.ló. O mcdo, csrc móvel nmaÍso c
soais íntimas. LuizTàrlci dcÁragÃo ícla da eficácia simbólica da vio- irconÍessírel dos suieitos hjsróricos, pode scr ião elüciditn'o dc rl-
lência como troca nas relações sociais brasilciras" guns momcntos, ou até de longos pcrÍodos históricos, quantooestu'
O projetode consiru§ão d a ordcm burSuesa no paÍs se deparou dodu ucuN ul.ção de capirii, ou aÀálise das mud.nç.s nos processos
quc
scmpre càm o medo da rebeldia negra. Essa venente âuroritária de prôdusâo,oü oshooóronos dcbatcs dcntrc do âmb;to doconccito
sc imÉ€ Íro mimctismo cultural do libcralismobrasileiÍo Propõe, con- dc rnodo dc produçío"':.
quc 8a-
tra os abolicionistas radicais, uma monarquia constitucional
Írntc a €xclüsáodâs mâssass. Gizlcne Ncderapono o "grande mcdo" Essc mcdo branco que aumenta com o fim da es.ravidão e da
our oeroassava aselitesqucadministravam a crise do omplexo agro- monarquia produz una República excludcntc, intoleÍântc e úuculentâ
*,"g,na, ^ctrdc,lo século XIX Dcsde a abdica5io do com um proieto político autoritário. Essa foi sempÍe a síndrom€ do
"*po.rà-
primeiro P€dÍo a âgiiâ§áo dí mÂlt.r Produzia pânico nã cortccom su- libcralis mo oligárquico brasileiro, qu. fuôdaa nossâ R€públicâ cârre-
ccssivas rebeliaes. in'urrciçõcs, lcvantcs c revoltas Mas o
que muda
gando dcntro d€ si o princípio da dcsigualdadc legítima que herdara
pro-
ná cortc cntre 1830 e 1870 é o quc Sidncy Chalhoub denomina da cscrâvidão. É por isso que, segundo Ncder, "a eficácia das institui-
o llio dc fa-
ccsso d€ formação dâ cidâdc ncgír5r. No ccnso de 1849, çôes dc controlc social se fundr na capacidadc de intimidação que
nciro tem maiorpopulação cscrava urbcna dasAméricas Apreocu-
a esras são capÂzcs de cxercer sobre as classcs subalternas"5r.
pÂção com â seguíânçâ §c tra<luz em todos os níveis- O medo branco Chalhoub,ao estud ar as "opcraç6es policiais" travadas prra eli-
iz co* qr" o t -"'a insuÍíci§ão scia mâis sólidoqucâ PróPria Pcrs- minasão das hrbitâçócs coietivas êdas epidemiís na cone impcrial na
occtiva d. insu(eiç5o. scgunda mctade doséculo XIX, afirma quc é nessa época qüe ponti-
Mas o rlisciplinamento da cidadc cscravista torna+e mris dili- fica o conccito dc classcs pcrigosas. Perigosas porque pobres, por de-
cil na segunda metade do século XIX. Para Chalhoub, esta cidrdc safiarcm as políticas de controlc socia I no mcio urbano c também por
imorevkivel dá medo, produz o temor da mobiliza§ão conrínua c es scrcm considcndas propagadoras de docnças'r,
quc
cstiatégirs de surpciçio generalizada. É rtravés dcsrâ( e§Úaré8ias O processo violentode dcspcjo c dcmolisão dc umcélebrccots
o medã branco engendra a cidatle-armadiLha com sua Pâranóiâ dâ tiço, o Cabcçâ-de-porco, levadâ . cnbo ôum vcrdadeira operação de
deícsa da propriedade, princip.rlmcntc a partir da grânde in§urreição guc rrr, apÍcsenra um scntido dc " rorrurantc con rcmporáneidâde". cii-
negra do Haiti e da Revolm dos Mclês. lorosanrcntc aclamado pela imprensr, a dcstruição do "valhacouto
tle dcsordciros" é um dos nrarcos inicrris r.lc umr concep(âo quc se
"No casô dos polrrico§ impcriai§, inclu;ndo aqueles qúc oPonunã' Íundava para a gestão das diÊrençrs sociÂis na cidade; construía-se a
mentc virârâm rcpubliclnos, a 'fala' por:co edificanrc sohrc os libcr- noção dc quc as classcs pobrcs cram perigosas, e de que a cidade po-
nías protundas sobrc o mcdo' csta
tos dcita tcrm téÍtil, dimcn$o dcria scr gcridr 'tccn;camente" ou "cientific.mcnte". Para Chalhoub,
6ultá d. históriã. Dimcnsno oculta'porquc as pcss
estas duas cÍenças têm conúibuído hisroricamcnte pam a inibição do
têm comgem dc admitir simplcsmcntc que têm medo, rcconcndo r
a

aryum.nros lógicôs sofsticrr.los para dcsquali6car c coml»tcr aquilo :' CMLHOUB, SiüEt Medo ôrà'@ de àldas ,.riari
eJcrã@i /ibeÍo, e rcpúblkand hd
ci.hde d. Rio de )akano. h: Ditcútet çdici.@: ctine,
dneno e ro.êdade, r, Rb í'
lníiruro C.ída
de lanênor de CnminolosirRêlume OumôÍá, 1996, p, 185,
e Luiz TaÍlêi d€. Mr ê prcu, Íhtezà bânca ln: Cltnica do reiál 5ào
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cHALnoUB, Sidnêv. VÀóes da /ibedadê. sáo PauLoi compãnhià das letÍÚ' 1990'

36
cxcrcício da cidadinii c até pâíâ fundâmcntar políticas genocidas de metaíIsica dosemelhantec dodissemelhante, douno c do múltiplo"'.
Só assim o pesquisador rcâliza a análise hisrórica da subictividade:
Na vcrdadc, o conccito dc classe pcrigosa dava o fundamento comprccndendo e nãojulgando. Entendendo a Hisrória como análise
rcórico para o grande dcbítc pís-âbolição. Á rclasão trabalho/ociosi- c não como reproduçâo.
dadc/criminalidadc cnriquccia o debate parlamcntar por uma Ici de Rcccnremente falccido, o grandehistoriadoriraliano Renzo de
repr€ssão à ociosidadc. Estavam presentes nessc dcbatc os mcsmos Felicc dizia que o debate histórico não pode serjudicial, e que a única
tundâmcntos tcóricos dll esrrâiégiâ de âtuasão d:r políciâ pârâ âs pri- rcgrâ segura parâ o historiador é duvidar de tudo,,. Tiabalhando os
meiras décadas do século XX. A preocupâsão principal de garantir ind ícios, as representaçócs e as a lcgorias do medo branco na cidade do
que,com a aboliçãodr cscÍÂvidão.os negros continuãsse m suieitosao Rio dc faneiro, pretendcmos contÍibuiÍ pârâ a análise do principal
trabalho, criou a cstratcgia da suspcição gcneralizada, com os afro- ârgumcnto pâra a construção dc uma República que incorpoÍa excluin-
brasileiros vistos como suspciros preferenciai. 'Scm ter mâis a pro- do, dc manciÍâ âutoritária e cxtcrminadora.
pricdade dircta do Íabílhador, o sistema prccisava criar umaestrâté-
gia de Íepressão contínua fora dos limitcs dr unidade produtiva. Âs-
sim, a manutcnção dâ ordcm prssa a serprerrogativa do poderpúbli-
co e de suas instituiçócs"55.
Metodologicamcntc, prctcndo realizar a dcsmontagem ou análise
a que se refere Cisílio Ccrqucira: "análise significa rratar de desfazer os
laços dos fios, dc libcmr os váÍios elementos da rotalidade em que signi-
ficam". Utiliz-ando por um lado o prcssuposto de umâ ânáfise marxista e
da psicmálise, Cerqucira trara as Êormaç6es discursivas envolvendo re-
preientasõ€s ao nívcl do conscicnrc mas também do incons.iênteí.
A tarefr de analisaras rupturas e permanências de histórias de
medo na cidadc do Rio dc )anciro sc dará na trincheira dos arquivos.
Pretendo trabalharjornais da época, lireratu ra, discursos na Câmaru e
imagens paraanalisaras reprcs.nrasócs contid.s nos discursos e men-
sagens. Tiabalhando com vestíAios e indícios, como fez G inzburg'? na
consrrusâo dos mccanismos idcológicos quc pcimitiram a pcrscgui-
ção da fcitiçaria na Europa, poderemos extrair a riqucza simbólica
das alegorias do mcdo branco.
O método crítico cm Mrrc Bloch pcrmitc quc criemos umc
lógica de crítica do tcstcmunho qu€ "sc apóia numâ insiintivr

,t BÀÍlsÍA, verã Mã âBuri. Clidrdo: 6 hisietrÀrar 6tão vo/&ndol ln: 0À.!,56 Fd,cioro,
- c.,m, d,eno e reiedáô io 2, Rio de lôreno: lÔíilúo Cii6ã dê cÍimimlo3in,
1996.
s CERQUIIRA FltHO, Oirálio. ÁnJIiE rdi, da i&olo8à. Se Pàulo: EPU, r gaa- 8LOCH, Màrc. Op. cir, p. 1ol.

' GINZBURC, Càrlo. liirró.iá .orurna. 5ão Paulo: Compà.hi. dõ Ld.õ, | 99r . OE fEUCE, Rao. Epllú o Íã('rno- li5tE, tdiçrõ€j 70, t 976.

38
--

irste^ol$$# 2,Ontedoeométodo

ry!u+it,w 2.1 Memória c mcdo


Em Íecentê Ícscnha, Pcter Fry sc rcfcrc à admissâo de Mâry
Douglas na Ântmpologia dc Oxford: ao scr instada a optar entrc

ldUar1fuÁt,
fiandciros (grupo dc pessoas que coletam o matcrial bruro, o fio, o
dl,l fâto) e tecelóes (recem o Í:rto cm teoriâs), clí se declarâ recelã. Salva
por Evans-Pritchard, cla cntra na universidadc, mas declara: "Esse
pcqueno e maravilhoso cxcmplo me faz pcnsarquc scria ridículoobri-

l,t'Hy,w garalguém a escolhcrentrc csscs dois caminhos"o. Fry esú resenhando


o livro de Picrre Vergcr No tat nbre o uho dot Oi*rs c VoduLç, e recor-
dandoque um elemento dâ rcligiãoafÍo-bÍasilci.âcomo o transe podc
nos dizcrmuito mais doqueespcramos sobre asviolenrâs rel,çóes dc
alrcridade no Brasil c sobrc as perturbaçócs nc "ordcm cristã" intro-

'frffi
duzidas pela presença africana no Brasil.
O trabalho de lean Dclu metlt Á Hittótia do Mcdo ro Ociden-
rc inscrevc-se naqúcla linha de hisrória das mcntalidades proposrcs
pcl^ E.ol. d.t A Dalct,cuia dcfini(ão maiorenconrra-sc na tntrodu-
ção à História do grandc Marc Blch. Para clcotcmpo hisróÍico nio
é a medida, mas rcalidadc viva c concrcta. O hisroriãdôr rcÍir quc
lutar constantemente contn dois dcmônios: a obsessão pela origem c
a mania de lulgar. O historiador teria quc captar a mudança,
rcconstituindo os vêsúgios apígados, csboçando um método €rírico,
já que atéo policiâlmâis ingônuosâbe quc ncm tudo o qucdizcm as
tcstcmunhas é verdadciro. Só a luta com os documentos podc pro-

e fRY, PeLr ô púr€A,iro dd Oritás, l[ ,-a, de Âêrênhle, fo,ha de 5,o í,i!/o. t 0 d!


,ulhodê r999, n!52, p. 1.

4t
poÍcionâr surpresãs, "€xtorquir os esclarccimcntos quc eles não preien- dono "dos costumes mais prolundarnente enr:rizados no inconscicnte
coletivo". Um desses costumcs era o culto à morte personalizrda. A
Delumeau divide sua história do medo em dois grândes blo- mcdicina acreditavaquco abatimcnto moral eo medo prcdispunharn
cos: os mcdos da maioriâ e dr cultura dirigente. No primôiro bloco no contágio. Analisa,rdo quadros c dourrinas módicas em guias práti-
trabalha, através de exausrivas fontcs primárias e secundíri:rs, â cos. Dclumcau descÍeveuma sim u ltancidede de visôes id-anricrs: "cvi-
oniprcsença do medo. tarcmos mclhor a peste sc não ccdermos âo pavor".
Nâ Europa do começo da Idade Moderna o medo est:rriâ em [rabalhando com anedotase artesplásticas, Delumeau analisa
todâ â partc, scndo que o mar seria a imagem e o espaço do medo, âs "cvocaçôes dâ liolên.ia, do sadismo, dx demência e do Dracabro".
"Incontáveis são os malcs trazidos pela imensidão líquida: a Peste As projeções icoDográÍicâs, espécie dc cxorcismo do flâgelo, coosriruem,
Negrâ, está claro, mâs tanbém as invâsões normandas e sarracenar, com a fuga e a agrcssividade, reaçóes habituaú diante de um medo
mais tarde as incursôes dos berbercy'67. O medo do passado c das tre- que se transforma em angústia65. Para comprcender a psicologia de
vas se transfigura no medo dos fanrasrnas e da noire. Vâlendo-se do uma popuhção atormcn(âda pelâ pesre, o autordestâcâ umâ quesrão
Tané su les alparition dcs ap,,rs, publ;cado cm 1746 e escrito por essencial, a "dksolução do homcrn mediano". Foi o devoramcnto dos
Augustin Câlmet, o autor en umera diversos fatos que aponram para a câpuchinhos durantc as pesres em Paris, dc I580 a I581, que fez com
sobrevivôncia de uma concepção da mone própria das 'tociedades que jamais tivessem enÊcntado a hostilidade que sofrcram os mem-
arcaicas". Á noite era a grande cúmplice dos inimigos do homem. bros dâ Companhia dc lcsus, parcciros na Rcl'orma Carólicâ.
"Erâ o Iugar onde os inimigos do homem namavam sua perdâ, no A visão da peste como puniçáo rrouxe, como.ontrapartida, a
físico e no moral"6r. Utilizando fontes quc variam da Bíblia aos poetas nome:]ção de culpados: lcprosos, judeus, cstrangeiros, marginaliza-
do corncço dr Idrdc Modcrna, Dclumeau trata de descrevercomo era dos. Na cscalad.r acusadora a idenrificação dos culpados passa a ser
vivida a noitc, as rclaçôcs sirnbólicas com o sol, com a lua, com a luz, buscâdâ n:r própria comunid.rdc. Á caça aos feiriceiros e feniceiras
cstá nessa quadrarura. Seja cm GcnelrÍâ em 1530 c cm i567, em
O autor faz também umlr tipologia dos comportâmentos cole- Faucigny em l57l ou cm Milão em 1630.
tivos em tcmpo de pesre, duranrc os quatro séculos, de 1348 â 1720, Pxra os mlrles dâ pesre, a medicina da religião. A religião rccei-
trabalhando a representação mental das cpidemiâs, âssociâdas a dois tÍ a mortc sem medo, manirizada, ou â penirência conrrâ â
outros "Ílagclos tradicionaiJ': r íome e a gucrra. Por trás dos flagelos, culpâbilizâção das massas. Carólicos c protcstantes falaram a mesma
âpJÍcce i imrScm dc um Dcus cncolcr;zrdo. rnrerior ro cristirnis- linguagcm c ministraram a rcrapêurica do arependimcnto. Criam*e
mo. Rccusando-se a acrcditar na aproximação da pesre "consrâra-se c€rimôniâs pcuitcnciâis onde populaçócs inteiras confessam e pcdcm
no tempo e no espaço, uma cspócic de unânimidâde na rccusa dc pa- perdão. "O clero crnrliza € controlâ mrnifesrâçóes expiatórias que,
lavras vistas como tabus. Ev;trvâ-sc pronünciá-las... Nomear o mal no tempo da Pestc Ncgrr, tinhrm dado lugaràs hisréricas e sangrcn-
tcria sido atrrí-lo e demolir a última rnuralha que o mantinha à dis- tas vagucâçôes dos nagclanres" (procissôes dos séculos XVI-XVIII)úí.
tância"6r. Otempo da peste cra também o rcmpo da solidão e do aban, Pârâ Dclumcâu â procissão contra a pesre é muralha e exorcismo,
fundada em ritos muito antigos de circum-ambulaçáo pâÍa proteção
B LOCH, Marc. ht/odução à Hirórà, Lislioa: Plbli.ãçõês t!Íópa-^mé ca, sd,, p. 31 .
DELUME,{U, lean, HÀtó,ia do nedo nô Oci<lente Q 3oa-t 3oO- São Pâulo: compânhia

42
4:l
r\Ias o scntimcnto de insegurança também provém de "uma
da dcscobcrta doscu negativo c dccxpulsálo. Uma csolada dc cris-
mão-dc-obm constíntcmcntcamcaçada pclo dcscmprcgo c pela fome",
pcÍisíoc cxcesso consrituiria o quc Dclumcau chamou dc "mcntali-
corporificada nrs cruzad:rs de 'pobrcs" c dc "pastorzinhos" enre 1096
dade obsidional". Na verdade, a obscssíoda Íeitiçaria nacultura diri-
c 1320 em Anvcrr, ou nas scdiçõcs n EuÍopâ dos séculos XIV a XVIII,
gentcda llcnascença tundava-se nl formação arisrorélica dos homcns
quc cram rcaçõcs dcfcnsiv:rs. O mcdo dc morrcrde fomeeraum mcclo
da Igrcja c da Justiça, os detentoÍc' dí hcgcmonia política, O univcrso
bcm concrcLo lr lluropa, quc sc agudiza a partirclo sóculo XVI. Em
ricional aristotélico, aprofund.rdo por Tomas de Aquino, propiciava
t{orna, na pcnúrir <lc l5r0-1591, o prpr Crcgório XIV já não sai dc
uma loucurâ persecutórir brscada num sisrcmâ demonológico
seu palácio prÍa nno cnlicntaros clamorcs do povo. Àdcbilidade dos
maniqucísti. Juízcs e homcns dr tgrcjâ, defensorcs dc um mcsmo
rcndimcntos agrícolas c da rclísão cntÍc produçãoe dernografia enca-
podcr, dctcntores de um mcsmo sabere usuários de uma mcsm. lin-
recco prcçodos ccrcais c cnche dc mcdo os pobrcs na Europa.Aré nâ
guagem, foram os grandes íciponsáveis pclo monumcnial sistcma
Rcvolução Frnnccsí ocorrcm rcbcliócs dc íomc, como :rs de Roucn,
peÍsccutório e inquisitoíial dr ldarle Moderna. O mcdo scntido pcla
Amicns c Saint-Gcrmrin-en-Lrye, cm 1795.
cukuradirigentecriou umamcntalidndcobsidionil,cuja lógicn intcr-
Dclumcau cstuda trmbém os rumorcs surgidos sobrc inquic-
na de suspcitâ superd.:rmâtizr c dcmoniza tudo o quc não faz partc
riçõcs rcumul das. As projcçócs pâírnóicÍrs làzcm com que rumorcs
do sagrado oficial. Um dos clcmc n tos co nstitutivos desse tipodcrncn-
tcndam a nragnilicaros poderes do iuinrigo, situando-os numa trama
talidade é a idíia de que o traidor dc dentro é pior quc o inimigo de
diabólicr. L assin que o auror rxplica os mlrssacres do diâ de São
fora, além de estarao alcancc da rnÍo.
Banolomcu cm l 572, pcla certcza co lcrivr dc u rn complô pmrcsranrc.
A "ofcnsiva múnica" propicirva ocomb;rtesem trógua ca ncccs-
Nos primciros rnos da Ilcvolução Frin€csí o c,ardc M.do foi púa
sidadc dc uma polícia dun da rcligiáo com uma "açáo tenaz c mu kiforme
Irfcbvre "uma gigântcsca notíci.r lilsa", constituindo umâ epidcmia
para cristirnizara vida cotidiinâ l)cla viâ íutoíitáriâ e opcríva dc mr-
ncira radical a necessária scp!Íaçio entrc sâgmdo e pÍofino"í7.
Àscgunda partc rlo Iivro lÍ.rta dis rclíçócs cntrca cultura diri-
É na ópoca das reformas quc r Europa Ocidentat implcrtrenta
gcntc c o mcdo. Dclumcau mcrgulhr nos mcdos €scarológicos e no
com vigor a política do "compclle inrrârc" Âtravés da vigilânciÍ, do
nascimcnto do munclo norlcrno, num pcríodocm quc a cultura cristã
csquadrinhamento c do cnqurdrâ,ncntoít. Â necesidadc dc ordcm
sc scntia amcaçrda pel:r l,esteNcgra, pcla Gucrm dos CemAnos, pelo
fcz com que a modernidade curopaia dcssacrâlizasse â loucura, insti-
rvcnço turco, pclo Cisrna, pclas cruzadar ctc.
tuindo â pârtirdo século XIV tambérn o medo dos pobrcs (numa con-
Dclumcau chama a arcnçÍo pârx o p;rpcldos meios dedilusáo
dos mcdos scia através da imprcnsa, do turrro rcligioso, das gravuras luntura de dcsemprego, monopólio da tcra ctc.). O medo explicr a
âçáo pcÍscc'rtóÍia conduzida pclo poder político-relisioso. Âs tõímu-
ou da pregação nas Igrcjas.l'arâ clc hí unu ícl.rsíoentre âsondísde
las de confinamcnto 'saneiam as cidídc§", diminucm os "pcrigos dc
difusáo c as camprnhas de reprcssío c pcrslxuição. Ássim, na tdadc
contágio", têm âlcance moral. O scntido gcral dcstã estÍâtégiâé disci-
Modern:r e nío na Idídc Média, o inÍcnro rnonopolizou o imâginá-
plinar populaçóes, produzindo alinhamentos. Tirdo isto para dcsco-
rio. Pârâ o Ocidcntc "sitirdo" o impúrio do dirbo i muito mais vasto
briÍ-seâo finâl do século XVIÍ urn crro parcialde diagnóstico. O mcdo
do quc imaginavlrn. É poristo quc hri umâ coincic.lência cronológica
6ra maiorque a ameaça.
cnrrc . cisr :rs Iciticcirâs c r lur! n.r ArnÍric corrrr o paganismo.
O nrcrlo do inimigo interno (lcprosos, bruxa$ e externo (mu-
çulminor,iudcu, €Íiara a'fortrlez.r da troadourrina" na Espanhado
, OEtl.lMEAU, JM, Op. cil., p- 407.
século XVt, quc prra tomar conhccimcnro <lc si pÍópÍia necessirava
a cl. rOUC,\UtÍ, MktEl. visi epsnii Pêlópolii: v@6. 1972 p. I L Ni anóllítqu.
Íd d6 riíma diripliIlG quê indud 'm dercrno úm eíado ôn*l$ld ú tsnnü
n6r. da viribilidáde q@ a5*Bú6 o Íúncion.@nlo íulonúlico do pqlcl.,

44
4'i
2.2 Indícios e vestígios observação"'2o. A leitura dos cnsâios de Morelli Íepresenta pan Freud
Carlo Ginzburg jí
hari.r ennciado, rc livro Mitos, enblena' "â propostr de um método interprctativo ccntrado sobre os rcsíduos,
s;nai - nbifolash e hi!órri, a cmcrçncia do modelo epistemológico sobrc os dados marginais considcrados reveladoreí'.
no Íinal do sóculo XlX, nâs ciências humân.s. Aânáiise desse modê' Axim, Morelli, Holmes e Frcud âpresenrâm métodos análo-
lo ou paracligmr poderia avrnçar para alén das conrradiçócs entre gos. Ginzburg chama de pistas (sintomas cm Frcud, indícios em
racionalismo c irracionalismoú'. Sherlock Hol:rcs e signos picróÍ,cos em Morelli), e âs vê nâ história
É na história da arte, mais prccisamcnrc entrc 1874 e 1876, que do homem, caçador por milênios, quc aprcDdcu a reconsrruir as for-
Ginzburg rctoma o mótodo pârmtribuição de quadros antlgos pro- mas e os movimentos das presas invisíveis, f:,rcjândo, registrando, in-
posto poí Giovânni Morclli cm anigos publicados sobre pintura irâlia- tcrpretando e classificando pequenas pistas. Para Ginzburg, talvez a
na. Estc método cons titui u-se numa técnica de verificação dc autcnti- própria idéia da narração tenhr nascido a partir da experiência da
cidade que, ao invós dc basear'se nrs "câr'âcterísticas mais vistosas" dccifração das pistas numa sociedade de caçadores. À decifÍâção dÂs
das obras, dcvc investigrros detrlhes mais "negligenciávcis" c menos pistas seriam metíforas, con dcn saçóes verba is de processos hisróricos
inÍtuenciados pcla cscola â quc pcrtcncir o pinror. Foi descrevendo dc longr du13çio quc lcv"r.rm :r invcnslo dr c'crjta.
lóbuIos dc orclh as, dcdos e unhrs qucMorelli descobriu ccatalogou a Para Ginzburga hirtória se mânleve como ciênciâ social "irrc-
orclha em Botticelli e Cosmê Turâ. Esre mérodo moÍelliâno é urilizâ, mediâvelmente ligâdâ âo concreto", sendo o conhecimenro hisró.ico
do âIé hoje por historiadorcs da arte, tendo identificado rutorias nos "ifldirero, indiciário e conjcrural". A quesrão dã centralidade maior
principais muscus da Europa. Mas 1bi criticado pcla arrogânciâ com ou mcnorda individualidade levrria a dois caminhos: sacrificar o conhe,
que erâ proposto, c julgado conro mecânico e pôsirivisra. Um dos cri cimento do individual pelâ genemlizâção ou procurar clabomr um
t;cos dc Morclli, E. wiD(1, !i. no mólodo "uma exâcerbâção do cuiro paradigma fundado no conhccinrc nro cicn tífico do indivirlua). A par,
pcla imcd;âticidadc", caracrcÍísricx do seu conrâro com oscírculos ro- tir do século X\4II dá*e umr murLnçr com a ofensiva cuhural da
mânticos bcrlinenscs. W;nd âÍirma quc âs ilustrações de dedos e ore- burgucsia que se apropria dos saberes (indiciários e rão-indiciáriô,
lhas de Morclli são câíncrcrisr,cls dos rcgisrros criminais. É por isso de ârlesãos e campon€ses, intensificando um gigantesco proccsso de
quc Castclnuovo retoma o método indicionário de Morelli para aculturação que já hâvia sido iniciado pela Conúa-Reformâ. A
aproximá-lo dc um contemporânco, Ánhur Conan Doyle, criador de Encyclopédie seria o sínbolo c o instÍumenro cenrral dessa ofcnsiva.
SheÍlockHolmes. O hútoriador da arte, como o deretive, se corccn- Cada sociedade necessit.r identificar e distinguir seus compo-
traria nos indícios imperceptívcis para a maioria. Como na psicolodâ nentes. Duranteséculos as sociedrdes euÍopéil§ prescindiram dc mé-
rnoderna, "a pcrsonalidadc dcvc scrprocurada onde o esforço pessoal rodos dr âveriguação dâ identidrde. \,Íãs com o nâscimenro dâ indús-
é menos intcnso". Freud se refcre a Morelli (pseudônimo I*rmolieff), tria e suâ conseqüenrc mobilidade geográfica e social as condiçõcs
no ensaio "O Moisós dc Michclangelo" de 1914, destacando a substi- mndam, fazcndo com que nos últimos anos dosóculo XIX apaÍesam
Iuiçâo dâ impressãogcral c dos rraços tundrmentais pela irnporrância vários novos sistemas de idenrificação. As relações de produção capi,
dos detalhcs sccund:íÍios, dâs p.rticul.rid.dcs insignificantes. Freud tâlistâs criâvam um novo conce;to burguês de propriedade quc au-
diz que esse método é inálogo à psicanílise, que "também tem por mentava o número de delitos puníveis c o valor drs penrs. À
hábito penctrar cm coisâs concretrs e ocultâs através dc clementos criminalizasão dâ lula de classes concretizou a arquitctura carccrária
pouco notados ou desapercebidos, dos dctriros ou Íetugos da nossa fundâdâ na privâção dâ libcrdade. O problema da identificação dos

6! GTNZBURC, Carlo. M,ros, eDble"\as,sit1aÉ MotÍólôsia e Histótia

46
a convergônciados tcstcmunhos propiciou delineâros "elos intcrmc-
projcto de con_
reincidentcs começâ â sc colocâr, trân§forma ndo-se em diários" dc uma "antiquíssima circulôção de mitos e ritos ligãdos âo
em
úole social. A ânálisc cicntíÍica dxs imPre§§ões digitais iniciada êxtâse"7',^ fusáo dcsscs ritos conr a imcgem dc seita hostil íoi projcta-
oculta
l82J DrocuÍ4. nas linhas imprcs:rs nrs ponrrs dos tlcdos, a senha da sobrc iudeus, lcprosos e bruxas. É daí que surgc o sabá, como
rornava-se possívcl
an inài,ia,,,iia"A. C'"ças ls impressaes digitris 'formaçáo culruml dc compromisso", ditundidr a partir dos Âlpcs c
reconhcccrc controlar q u atqucr habitantedo 'rndo' solidificado no início<to séculox! graças aos sermócs de Bernardino
controlc
Mas o p".adigmri i nd iciário utilizldo nâs PolíIicâs de dc Siena. Durante dois séculos, fenômcnos ânálogos sc rcpetiam pcla
soci"l poclcria, p"rabinzbvg,disolucr at úuoas rla idcologia O'.m'
Europa ilimêntando. intcnsificaçãodi caça às bÍuxas.
p"n,nic t .o-i,"."a.' o cxisttncix dc umi concxão profundr com r A cxpressáo simbólica dcsse cstcrcótipo personificou o iemo.
lxplic.çao dosienamcnos superficiais Sc a rerlidadc é opícâ'
exis-
do mundo desconhetido e amençidor quc existia além dos limitesda
L"à zonas ori,ileqi,d"s-sinris, inJícios-quc permitcm dcciÍrá-la'r'
cristandade. O que na vcrdade seria um rccido denso dc trocas cultu-
profun-
Ou rcin. dcrrlhes-mínimos 1:odcm rlcsvel'rr lcnômcnus m'ris riis e sociais ent.e comulidadcs rcligiosas, Íoi transformado cm coh-
a". ..occssos mris "s-".ciíis. A qursrio 'lo rigor ci(nrífico no méto- fissôcs uÍlifôrmes nos pÍocessos inquisitoriais. A reconstruçáo dos
a" i,iai"il,io t ."is c:rndcnrc a pr«i.lo dilcma posto prra as mec:nismos ideológicos que pcrmiiram a perseguiçâo da fcitiçaria
";na"
ciências humrnas com aoricnração quanritativa e anti-antroPocêntricâ
na Europa demonstra comoasvítimasda pereguição modificam seus
das ciênciâs Daturais dcpois dc Grlilcu'
depoimcntos e incorporim o estcrcótipo do sabá, de acordo com as
É usrnrlo o rigoi0cxívcl do mótodo indiciário que Ginzburg
IeP'o- cxpectativas dos juízcs. E rÀ riquczâ simbólica das conÍissões que se
esturla ocnrcrlo em quc, durante meio sóculo, a peí§egui§áode
centrados nosabá detecta a imaçm do sabá elaborad:r pclos percegüidores, a paÍtir dc
sos.luclcus sc.onvcrt cm proccssos inquisnórios
um conÍlito entre a cultura folclórica c a erudia. É reconsúuindoessã
diabilico, crn sua íJrrró ia Noumü dcciÍa'io o ra'á O estcreótipo
cultura folclórica atrnvés dos frrgmc» tos cncontrados nos depoimen-
do sâbí, Íorjado nosAlPes Ocidcnlais no §éculo Xrytraria
clementos
;estra"hos à imagcm inquisitorial" e espalhados em várias tos dasvítimasque Ginzburganalisâ â cÍise econômica, social, políti-
Íolc ló.icos
é fcita pela ca e religiosa do século XIV na Europa. A inscguransa cstimulâdâ
árcas rla Duropa. Â crÍtica aos historiadorcs da feitiçaria
uma vez quc ba- pelâ cÍisc produz uma hostilidâdc crcsccnre em fâcc dos marginaliza-
-"n"iro "omo ig.o-m "sscs clcmcntos folclóricos, dos dos, na busca compulsiva dc lxdes expiatórios. É na confluênciâ dí
scavam suas pcsquisrs a partir drs calcgoria§ intcrpÍerarivâs
juízes Estudando ântropologiâ eda hist6ria, cnrre a "profundidade absrrâta dâ estÍutu-
d"monólogos, das te§tcrnunh⧠de icu§âçâo e dos
descobre râ eaconcretude supcÍticial do cvento" quc Ginzburganalisa a emer-
alguns pro"cessos inqLrisitoriais dr rcgi:io do Friul, Gin zburg
indeciírávet do sabá" gência do sabá como momento de intcraçáo entr€ os estereótipos
"uma fenrla na crosta cspcssa e rparcntcmenre
a pÍo- inquisitoriais e a cultura folclórica, na criscda socicdadc eurofia do
Ás raÍzes do sabá na cultura folclórica §áo cstudâdas Pânirdâs
Os homens mas século Xl$ com surs pcstes, srcstirs e seus programas maciços dc
cissócs dos mor(os e drs batallus pcla fcrtilidade
segregasão e inquisição,
sobrctudo as mulheres quc pa*ic\:ararn desscs cultos sc declara-
-
vam em ôxtase e se autodci amcomob andanti' A iddir de trabalhar o medo na cidade do Rio dc lanciro sc

Panindo da docu mentaç 1o \obÍc os b' anda ti, x h.isri'íia no' ancora no papel constitutivo dessc scntimeÂto, dcsse afcto, nr formn-

turna aproxima dcpoimcntos sobre mitos, cíença§ e ritos'


A escasscz ção social brasileira.
conjeturâl do trâbâlho' mâ§
de documcntaçeo Jeterminou a naturczn

" CINZBURG, CaÍlo, Hirtórlá rDlurnã - decillando o Jabá. Sáo P.ulor Comllshh dN

4r)
48
quc se pcrpctursseÍn arÍavés da nossa currâ hisrórir os processos dc
Para Íalarde memória, quero semprc me remetern MarcBloch .r*,miliçao ou escravizâç5o. Prra Silvirno Srnrirgot o que íconrec€u
c à legitimiclatte da históris no dcb;rte sobrc a civiliza§ão ocidmtal tài que o meio dc co urricrção escolhido c imposto pelos portuguc_
que, drli rcnlc dc ourr.s culturis contr scmPre com 3 su'r mcmorrl' scs aos Índios foi o sestuil; nío h.rvià Iínguâs,,,apagam,se inúreis as
pela sur hcr.rnça cristi c cntiCu. prlos Povot hi\roíiogrjficos
quc etam
vozcs" c implanta-sc a'rcalidade brutal da cotonização',77.
osg.ego,eos lntiros. Os livrossagrados cristáoscram livíos dc histó- Áo falar do inrcrdito como Ícprcsenração do âbismo, na fÍon-
.ioleÀ.h ut"ntn prr" o' pcrigos da "histórií mâlenrcndida" Nocstá- teira do incesro e do homicídio, Gisálio Cerqucirâ o vê cravado nâ
sio Ja conscitDciJ, a pcrgunri (luc 'c dcvc Írz'r é sc inrcrrog'mos cstéticâ pclà rragédia grc ga.'kagédia, <Jc ttagos,cânro do bode, inrro_
plcno
Écm o pas.".lo C"pr.r o cco csl,onrin'o rJa rrrquicração' cm duzin<lo prru scmprc o figui. do bodc cxpiàrório. para Crrqucna, a
<lrama, e o quc fcz aquelc hi§to.iador, em ,unho de 40, na
cntradi dos tmgédra dc Edipo serià á rccn(cniçio hisróri.., scu cÍeiro espccular
alemles em l'aris. "Será quc â históri:r nos cng'nout" Marc Bloch
sc
na subjctividade, constituindo,sc cm fábula sobre a viotência política
p"ra não cham:rr a si os
rccusa a pcrJir dcsculpas, pcdc indulgência ancestralda Grécia dcscrita na Ilíada dc HomeroT!.
"€rros do dc§rino"7r' O g€nocídio inicia l, presenrc no primeiro enconrro entrê os dois
Suâ outÍa lição é dc quc a hisrória í movimento, uma ciência mundos na Ámérica, é ÍccoÍÍente na históÍiâ do Brasit- O nosso
"em marchr" procunn<lo desvcntl;rr alím dos firos da supcrlicie O genocídiodiário, rrabalhado através do medo como mcra-mercãdoria,
objeto da histària ,í o homcm, ou mclhor, os homens: é r ciôocia
da
nos obriga a rranscendcr, pela hisrórií, â potírica e o imaginário no
divcrsidadc,do plurÂl. "Obo,n h istori.rdor, cssc âsscmelha-sc ao mons- prcsentc. O medo do caos é trabalhado a cada ameaça de chegada ao
ro da lenda. Ondc í.rcjar ccrne hum;rna é que e§tá â sur crçâ"'r' O poder das forças populares. Foi assim cm 64 e cm 94. A difusão
do
historiador pcnsr o hunrano:rtravés dr catcgoria dã durâ§io O 'cm- medo é mecanismo iodtrror e iusrificadoÍ de políricas auroÍitáriâs d€
po d. histórií ó ondc sc brnhrm os lcnôrncoos", ó "lugar dâ sua
inteligibilidarlc". O tcml;o vcrclrrdciro I contínuo ou drscontínuo na  pârtir da dccisão de rrabrthar o problema numâ perspectivâ
gcnealogiLr íoucaultiana'!, é ctcrnr rutlrtnça' diacrônica, uma história de medo na corte imperi"l e a orrà,.ont"m_
" O primcno en.mtro, no BÍrsil, do Ocidcntc corn o grrnde Ôu- porâncadc pânicona cidade, tento cnrcnderas mpturâs ep€rmân6n_
úo deu-se no sisrcmâ de Dumrr "cspécic dc imâgem cs- cias desses pracssos. Como disse anreÍiormenre, quero comprecndcr
'nodclizaçio, nio
oecuhr. cuiâs círutur,!§ fundrmenLíis 'lo snulrr'las, mrs trans- no campo simbólico os dkcurso§, mensâgens e repres€n raçôes (âlego-
'-"
hrmoJr' cm o,trr. J" sinrl nc;rr ito Doi' universos sc dcprrunr e rias) e suas funçóes idcológicas e potíticas. É nocampo simbólicoc nâ
secoofrontam e, segundoVlsco da Camr, a rcnura e a châcinx dcvcn âção prolongadâ de inculcaçio que se desenvotvem retações de con-
cstarsempre ao rlcancc <.la Por um idcrl suPêÍio'quc
rudo lcgi- (oÍên(iâ pclo mônopólio do cxe,cÍcio tesíimo da viotêncra simbóL_
'nÍo' de Todorov, que Íala da
tima. Pclàso trabalha aqui com o PârrdiSmâ caF. O imponrnrc rqui nio é o quc os d,scu6os, mcnsJgens r reprc-
já quc o
América "como lugar dc um cncontro quc não se rcalizou", sentaçôcs proclâmam, mâs princ;palmente o que escondem..Tudo
o
não recorhccimento dÀ Âllcridade no momento do encontro Íez corn que nos aprescnrâ no mundo social-históricocstá indissociâvelmcDrc

, cí atocH. M.r m s Int@<luçrro à HÀr&iá. Col€êo 5âbêÍ, n'59' ÚSoâ: Publi'a' ) cí S^NTr^cO, s'luúo Jo6,e dero, equ/r@§ e ,mr tzta_ tn. (Àda@ ôêiÀ, .
ç&t Euopa.AméÍiGi s.d. ldnàt .^. qrasil. Rio de taneú, 7 de a8ono de 1999, p. /.
?, CERQUEIR^
FtLt lO, Cisálio, ldi,m ê e,.e$oj ,eíexóes sobre lei e potlütá. poío Ateg.or
?! Fouc l.l LT. Michel. Mi.rcÍlricá do pod.r. Rio de l.neiro; crel, 1 982' 5érBio^ntônio FabÍi5 tdiroí, 2002.

'. Pttoso- silvam. O.mio ê a ,8


,órà: h,qô,ia e uropia no aiiiátio pÓPrlaí bÍatilel' " BoUROIEU, Pierc. Á Êon@ia da, tro6 rnnôd/icâr. São pauloi pe6peclivô, t974,
á §áo Pâúlo: 1996. o- 19- 'm
^rio,
Íit
50
ent.elâçado com o sinlLrólico"3'. Para Enriquez, a racionalidadc posi-
tiva da ciência a partirdas luzes;nstitu;u um fetich ismo gencralizado prccisam do cerimo»iâl da moíte como espetácuto de tei c ordcrn. O
"num mundo despedrçado". O quc nos interesr é o que é e»cobcrto mcdo é a porra de cntrada prra polític:rs gcnocidas de conrrole sociat.
Irara Zygmunt Bauman, numa civitização quc escolheu li,ni-
Intercssa tamlróm comprceDdcr â dilusão de imagcns do terror t.tra liberdadc cm nooc da scgurança,a busca por mais ordem signi-
n. produçío de politicâs violentas dc controlc social. O nosso dia-a- 6ca mais oal-estrr35. No binômio ordcm/dcsoLdem, a noção de pure-
Jia pucmo.l.rno. o cl,cticul" dc ..rnguc..ru vivo e r corc. i. nr v, r zr ocupa IugarfundarncntaLArmericana Cynthia Ozicki6afirmrquc
dadc, um conjunto de :rlcgoÍi:rs do podcr, imagcns de morte e terror a chamada solução Ílnal rlemã c.
um projcro esrérico conrrâ a dcsor-
que,á vieram com a tagagcm da inquis;ção moderna ibérica c, rcpe dem, a não-h.rDoniâ, "o caos movediço',. para Bâuman, a puÍeza ó
timos, "quc vincarâm o proccsso de idcologização c garaDtiram umâ uma visão dc ordem contn:rs coisas móvcis .,que trocam de tugar por
orgâíiz:rção sociâl rígida e hierarquizadr; nesta orgânizâção âs clâs- suâ livrc vonrâde", que cruzam rs fronteir;rs. As preocupaçóes higie-
ses subalternas, mais que comprec»der, a nivel dr razao, for.rm (e nistas com a purcza dizen rcspciro à sujeir. da desordem. pârâ Mary
seguem sendo) lcvadas a vcrc r scntirseu lusârnâ estrutura soc;41"r'. Douglas, o modeioe padrão nteal de purczr corresponde às difercntes
E$as alesorirs, esses discursos, cxas imagcns produzem um culturas c scur univcrsos tempor.ris.
aLranjo cstótico, cm quc a ocupâção dos espâços públicos pclas clar E é na vcnentc conremporânea dr crne dos paradigmas mero-
scs subaltcrnas (pclos pobrcs dc tío prctos, ou os preros dc tío po- dológicos, no olhâr multidisciplirar, que se pretcnde descoDsrruir o
b..s) produz frntâsi.rs dc pânico do "caos social". Aparece a cnl:rde mcdo, nosoobjcto. Sociologia, hisrória,subjerividade,criminotogia,
como jrrdim, mctáíom fundrdora dis "utopiâs url:anas rctrógra- etnogratia. Dissccaro coridiano, no dir.r dia, cm queosârranios esré_
dav'Nr, a ncccssitrr dc Iimpczr dc pngas, dc crvas-daninhas. Con- rrcos tnrrum p..lo' ollro.*.,c ltrr,"i, rJrn. se nJruritizam, rc c,iÍrti
llui para à cxflic.ç1o LIcssc rnrnjo cstótico o tliscurso higicnisra c zâm. Àgncs Hcllcrrfirma quc, para â maioria da humanidade, a vida
raci.l quc a incorlx,rido no Ilr:rsil pi,rltcpúblicr "pam dcsiizcr as @tidi:rnâ é a "muda unidadc vimlde panicutaridade egenericidâde,,Nr.
ilu'õ"" Jc igu.,lJJJ( t "lrri, inro..r,l.r ,,., | ,i,n.i,.,.o,,.uruis:o rc E na assim;lação dâ mrDipuhçio das coisrs que se asimilam as rcla_
püblicânx, mirâ do.r'cconomix aLnic.'d. populiçío como desâfio çócs sociais, ou rcja o homcm rprende em grupo o eleme»ro tta
chave de análisc"11. cotiJrrnciJrJc. Nr,ur rrdr (oriJi.,nJ o hunrcrn re Jpropn:r. a \cu
No Brâsil, â difusão do mcdo do caos c dr dcsordcm tem scm- modo, cla rcalidarle, impondo a eh r marca da sua cxistência. É por
prc scrvido para detonarcstrâtégiis de neurÍrlização c dhciplinamento isto quc a conduçâo cla vida Íornr-sc represcnrativa e é objcro <to his-
phnejado do povo brasilciro. Socicdadcs rigidrmenre hicmrquizxdâs toriador, porrransfornrar a própriir ordenâção da cotidiâneidade numâ
ação normal e política. O objetivo do historiador do cotidiano é res-
e CAsToRrADrs, Corne ius. Á institúiçào inÀEináÍiâ da tocietlade. Rio dejâneno: Pàz e tringir o obiero para desconsrruí-lo no passâdo, não é ..âponrar o ex-
cepcional, mas descobrir o quc até então era inâringívcl por estar
ENRTQUÉZ, Eusêne, Da Horda ao Està<lot Pticanálisa.lovÍn ulo soc,a/. Riodelane rol
'' reer.
JoÍse Z.har EdiroÍ,
& NEDER, cizlene.Im nome de Iá^aror, arpe.rôJ do rÀrema pe nnenciátio no gàsil. ln: CÍ. E^UMAN, Zysmunt. o nD/ríar dá póJrno.teu r,/,re, Rio delafê ro: tolse zrhaÍ
Cadernos do CtUrP, n, r, Riôdelaneko:19a3, p 9.
3r Cí NEDER, Cizlêne, na cítica ao Li!Ío Cidade pâíidâ, de Zuennvênlúra €m Cidade,
,d€nrdáde e erc/usáo socà/. ln: RevÀta Íe,rpo, vol, 2, n! l. Rlô dê la»eiro: Relume ExpEssào úil:ada por Mâc|ado dêAsis.
Cí. HÉLLER, AB G. O coridiarô e n H,Jrórir. Rio delaneim: paz e TerJ, 1972,
sMrCELr,SéÍBio.Oe,is,üdâDeíiçasenr.ln:/ornaldeReienhas Folhà.1e t. ):t
são Paula, ÉnFndêraúddcor Jkrd\ono"'nloc-r J-dÊ! G ddoJí,uL, od"es.,,,,,i.,,t".
I dê maiÕ de 1999, p.3. Ê n. \idd(oldrJ'."queuho1'e n.-d'opr
-. " ."u 1,orto. J"..Jt.,J,,L. ;,1.,,,rt,, [,",
ma.ca dâ súa perconaldade,

52
Ássim, :r memória estariâ na construçÍo hirtórico-temporal do
e do estilhaçamcnto
submeíso-N' Eludidos os Perigos dâ fragmcntâçáo
novas footes para
da rcalidade, os estudos Jo coddiâno introduziÍam Birmrn mrÍcr o ino dc 1891, em que Freud afirm:r que o
fontes Policiii§r ocoÍ-
tcccr a tramr da história:'legislação repressiva, psiquisÍno seria um aparclho dc linguagem, paradigma para a análise
pro"",tot-".1rn", açõcs de divórcio, aré canções' provérbios' li-
,in.ir", da subjctividadc. No accso no mundo das rcminiscências propiciado
esque€€ra§ corres_
rcrâüra, cronistas, mcmoíialist⧠e folciorisrâs, scm pela falaestrria o cernc dr cura do ps(uismo, Criticandoo cientifitismo
p.ràir"l,t, -"nr-l,it, nranifcstos, diários e materiais inconográfi coJ's médico, Frcud pôdc enunciarn visão dc quc toda doençâ está nocâm-
po da subjetividade, scndo:r firln o ncio dc acesso ao sofrimento dos
2.3 Cultura c mcdo
pÍcchamos
Para cntendcr o medo e §u⧠históri⧠nâ cidâde' Freud torna ainda mais complcxo su:r lcitura sobre o psiquismo,
daouilo ouc locl Birmcn viu ri r Ícl'§io cntrc Ps;crnálisc e litcrrtura' quando diz quc o aparclho dc linguagcm é pcrmcado por intensida-
que os ruÍdor
na rcntativr tle dizcr o indizivcl: po'sibiltrrndo então dt", por umr cconomia. O rpxíclho psíquico seri:r, porunro, um
pelatessitura diur- aparelho de linguagem com r possibilidídê de sonhar, delirar e
inarticulados do mundo noturno possam serditos
m i" p"f-* O conceito da sublimâção' nâ §egunda alucinar justamcntc porque scria atravcssado por intensidades e ex-
""*'"raa"'r. paradigma da ciên-
formuàção de Frcud, marcaria uma ruprura com o cessos"T. Esta economia está scmprc associnda a uma erótica, um ero-
arte PâÍa Birmân' nâ
cia, em ãircçáo ao paradigma da literârurâ e da tismo presentc paraoricntara intcrprctaçãoda cconomia do psiquismo,
r"i-rlf i"" *lri"al. busca dominar, dor desdno ao horror origi- quc acaba por transformar-sc cnr "invariívcl constiruinte do
" de singulari-
qu' o suieito sc investe
le.io rto,"iciro. E,l no sublime psiquismo"T . Eó'ro rcgisrro dos alitos quc FreurJ concebe o psiquismo.
 oposiçâo cntrc a
<ladc, pcla incorporaçio do scu desccniÍamênto  linguagem em Frcud cstá assocúdr à litcIârura c náo à lingüísrica,
pclas ma«as da
","a"Ii. *,Íti.". *i"1,"
c'raria caracrerizada constituindo entno umapoàrn, cm quc o aparclho psíquico funcionâriâ
" "il"nrífica
sob'c ís PÍcrensõ'\ universalistas dr for-
li.*rri'i,r,a" PoÍ pela mcdiaçío da ficção. Assim, 'lodcr-sc-ia conccber a psicâúlisc como
mulicío cicn tífici uma modal;dadc dc csrilística d.r cxktincia, na mcdida êm que â práti-
Aoc§.rr da sur lôrmaçno naturaLsLa, Frcud bi'eiâ
t'ri conc'p- ca inrcrprctativa da psicanrlisc scril urna rnodalidadc dc poiesn"e.
uodc oiicrnálisc noparadism' drs ciêncies dJ cultuÍ'á 4lingurgcm Como no mótodo indiciririodc Ginzburg, o caminho da inter-
ii.*in.;o ,:" a*' *nta do regi+ro psíq'ico e da subjerividrde' pr€ração passâ prlo íâstreamento dc signos, do patente para o latentc,
Se. oor um lacto, Frcud invocrvc r-rm drrwrnismo evolucionktã ao tra- scm que hoj. uma hicrârquizasão cntrc os dois momcntos. O pâtent€
oiio p'iq,i'-o como suPeÍPosição de camrdcs de difcrcntcs c o latcnte seriam durs míncircs dc oÍgflnizflção do problema. Usan-
,"-oor"tidra"r.ou. ou,ro se rerel:nr no prr'rdigma di in(crPreI3ção' do pressupostos da teoria litcrária, Frcud nos lala da cena, da narrati-
com origcns na ieologi.r c na hisróri! do si' ulo
XIX O psiquismo va, uma 'tramr Írcgmcntárii dc dctalhcs". Suas narrativas clínicas

'*i" *.-r"rao i"t, t'i"ória, ligrndo-r à subjcrividrdc contra rs in- tinham a forma de rom:rnccs. O proccsso de explicâção não sstarin
t"rpr"mça", nrtur"lirtrt.biológicrsdr psicologiae da psicopatologia nas causas de umr doençâ, mis nà nirrativr doproccsso descjínte do
sujeiro e na versão da su. história.

. ctÂu' no 5 sào
rvrT]ros, *,,. ,.'u. *ntos Na ú,mâ do rn:
'oridia'o 'âds'6
BIRM N,J@|, Op. cit., p.62.
r M^Tos, MôÍla lzildâ s 16. opril., p. 20.
B|RM N,l@l_ Op. cit., p. 62.
t' ,06B do tidiztvel - tninilirhde ' o tuôl'm' @h 'nÚ'Ú'a
e
srr^.r N- lel Á
^ e ftFr'u'á' Rio & riÉiú: Rêrúmê B|RM N, r@1. Op. .Í-, p 64,
#;il1;.iõ;,ô;iu; r"*,. clor»izà(e
Outurá, 1999, P, 76.

54
Par. Birman, seriâ no rcgistro do poético e do ficcional, no de- Âpsicanílisc desenvolvcu uma maneira própria dc inrcrprcta-
vaneio, quc cstaria o disposidvo anâlítico de composição da históriâ ção que Frcud dcnominou dcciíranrcnto. Estc concciro §€ rransfor-
cujâ matéria-primr seriâ o dcscjo. É neste nível quc Êeud trata da mou, na obra dc Frcud, passando dr rcnrariva dc tornar €onscienre o
noção dc vcrdadc, Na verdade científicl, o sujcito não cnxergnÍia o inconscicntc pnra a tentarivâ dc colocar em pâlâvrâsaqúlo que aí»da
obscuro objeto do desejo. O discurso da ciência nÍo dá conta do in- não oa da a,dr l àa liryuagear. Assim, ao invés dc trabrlhar cotr
consciente, mâs dâ reâlidâdc matcÍial. O delírio c o dcvancio do dis- sigo ificânrcs oÍdcnâdos, a psic:rnÍlise úabâlhâÍia com srg""s. É ncssc
curso lircrárioéquc aportariam uma vcrdadc a quc a ciônciâ nãô tem .ampo que o sinisrro úansfoflna-sc êm signo rcvelador, ao indicar
acesso. Nestc rcgistro, o dcscjo r a história do snlcho é que estariam uma quebra de frontciras dos tcffitórios, transitando cntÍc a Íamiliari-
no primeiro plano. dade e a não familiaridade: a cstranhez:r. Este desconc«ro consrirui-
A psicanálise inscrcveu, assim, a "fantasia no centro do ria o'território sem frontcim da fcminilidadc", transgredindo a or-
psiquismo",com uma lenum dc positividadc qucsc opõc àvisão clás- dem do belo c cnunciando a ordcrn do sublime
sica da subjctividadc, cm quc a fantasia tcnhí conotrção ncgxtiva, Neste m€smo registro, foel Rufino dos Santos rrabalha o
oposta à racionalidadc. Foi com r cnrcrgência d:r cstÉtica no século qucstionâmcnio da Hisrória porintcrmédiodr lircratum edo quc cle
XVIII quc os scntimcnros c r imrginâção aparcccm na filosofia c na chtma de dclírio. A psicanálisc rrmbém trabalha â vcrdade do não-
psicotogia. A fantasia prssn . scr umí possibilidade psíquica pela dito, do dclírio, Desconficndo com Marc Bloch do sabeí histórico,
quat o sujcito podcria sc auto-cxprcssâr e rcvcLrr significrçôes quc loel Rufino entcnrle a serventií da Hisrória ni sua cnpacidadc de di-
u!trapassariam cm muito as vcrdrdcs:rutorizadas pclas funçôcs vertir, entrnndo na pclc dos homcns, pcrmirindo vivcrourros rcmpos,
cognitivas"'5. No século XIX, o llomantismo foi o ccnário da Íantasia outÍâs expcÍiênciâs€ oürros lugarcs através da narrntiva liieríria.,,Nos
c da imaginagão na filosofia c na litcratura. Àmos Oz, em recente domínios do Grío-turco só sÍo rcais os indomívcis delírios"e.
cntrevistâ, afirma que â tolcráncia c accitação do cstranho, do outro, É nesta concepção rle psicanálisc como paradigmí d.s ciências
depcnde da nossa capacidadc dc imaginar. da cultura que qucÍemos âproximar n história e a sociologia. Carl
I'ara Birmen, a fantasia frcudiana aparecc como registro fun- SchoÍske, ao trabrlhir políticn c cultura na Vienalz -de+iêcte, fata dt
dâmeDtâldo priquismo, reprcscntando o lugar cstratégico de costura mone da história, do reembrulhamcntodo eu, qr.re intercssaa historiado-
cntrc os p,ólos da linguaçm c da pulsão. Ássim, â fanrasia seria a res e psicanalistas 'na protunda ruptura de um laço com o passado".
mâtériâ-pÍimâ da cscritâ psic.nllític!. "SeÍia pclã mediaçáo dâquclâ Dizele que "í tÍansformação histórica, rlémde obrigar o indivíduo I
que a6gura doanalista podcria atravessara massa opaca das palavras busqruma novr idcntidadc, tâmbCm impo€ a gÍupos intciros a tarcfi
e a barreira do silêncio, para podcr apreender o crotismo em estado de rever ou substituir sisremas dc crcnsxs iá mortoj'e3. O hisrorindor,
nascente, na sua ordenação como descjo. O sentido desejante do su- diânte dâ crisc de pâradigmas do "rnodernismo", a partirde Nicrzschc,
jeito scria apÍecndido nâ sui crÍâncir e nâs suas linhas dc fuga pclos âfirmâ â neccssidâde de íegisrraro dcsenvolvimcnro hisrórico dc cn{ln
pcrcursos incspcrados da fantasia"*. Através dr fanhsiâ, na psicaná- venente da cultura moderna (pcnsrmcnto social, arquitctum, liloro
lise e na lircratura, o sujeito procura dizero indizívcl, taÍcfa impossí- fia,literatura), sem perderdc visra n pluralidade quc sc crcondc rnr
vcl de ser realizada pelodiscursoda ciôncia, presa que está ao registro "defi niçõ.s homogeneizadoras".
da realidade material.
!' SANÍOS, loel Ruílno dos, Cró niü de h.lar1Ávejt íJehios, Aio do Jllolíoj tl ( i o, I le r,
r AnM^N,l@1. Op. cil.. p. 72. r SCLloRsKE, Cà,I E- vi€na r,,JÊsi&,ê - pol,ticâ ê @llurn. §ôo Pírld (i {t rnúntr tír
* BIRMAN, Jel. Op, .iL, p. 7f. '

56
"Mas ohistoriâdornão pârti1h3 iôtdlmenre do ob,ctivo do analista de
bólico, que as representaçóes fazem as lezes "de um processo dcca,r-
Lcxtos ni árcâ dc huDanis. Estc vis! o míximo de elucidâçÍo dc un
tado de cnraizamento do simbólico no chão da experiência social".
prodüro cultural, reh.ionando todôs os pr;ncípios de análise com o
Pâra Bourdieu, é someDte nrs condiçóes sociais de sua produção quc
\eu.ont-üdor-nicLlJr. Jjn l.i'ro,iJ lo. p,ô.u,í \.ru-Íei Le.prctir
ãs propriedades formais das obras desvelam seu sentido.
Lcôponlúcntc o.íctito,,turn campo oDdc sc cruzam duds linhâs.
Tiabrlha ndo o papcl das metáforas na Iinguagcm comum, l,akoff
Uma é verti.al, ou diacrônica, .om a quil clc.stabclccc a rclação de
eJohnson reflctcm sobre as poxibilidades de dilerenciâção entre cul-
um t.xro ou urn sistcmà dc pcnsimcnro com expressões !oterior€s
tuÍas que u(ilizavâm metátàras deguerrâ para a argumentação e cul-
no mesmo ramo rle atividade cuhurrl fuinturr, polírica, crc.). A ou-
tuÍâs que viam o argumento como dançâ'o'?. Numâ ouúâ vertente,
lláé horizônta1, ou sincrôn;ci;coin cl., o hisLor;âdor.valir a relsção
Holstein e Gubrum propôem â etnomerodologia como análise
do conteúdo do objcto intclcctuxl com as outras coisas qüe !êm suÊ
fenomenológica para a compreensão dâ produção de senrido e de iden-
gindo, simuhrncaúcôle, crn ôuúos rànros ou aspectos de uma cul-
tidade no mundo pós-modern o. Àgrega ríâmos âqui, en tão, na conver-
tura. O fiodiacrônico,Í r urdidúrr. e os;rcrôn;cô{ â Íama do tecido
gência multidisciplinar, a aeÍrâmeniâ ânrrôpológica da etnografia, na
dr hisióri. cultural. O h;storirdor é o tccclão, mas a qurlidade do
observâção do cotidiano, na formação do que Bourdieu denominou
tecido dcpeode da lirnczr e cor dos {lô§"".
á4,';,6, e no que isto deÍiva como lutr pela hegemonia das represen,
tâçóes. Como disse Geertz, a rntropologia inrerpretativa propõe uma
Cârl Schorslic associa ess{ .rproxim.ção à cultura e à psica-
Se
virada para o sentido, paÍâ â produção de sentido, de onde um obser,
nálisc com umâ crGc dc pcssimismo (c dc pâradigmt) nitelligcttsia
vâdor s;tuado utiliza insúumcntos cspeculârivos conrr:t os modelôes
do pós-sucrrâ nâ DuÍopâ, Sergio À{iccli, no câmpo da sociologia, si-
pan-óticos dométodosociológicor0r.
tuâ â análisc sociológica de Bourdicu sobre as práticas dc produção e
Bcnilton Bezerrâ l. nos fah do papel Iundamenral da narrâ-
consumo cultu ral dos :r nos 70 como um desenvolv;mento do maÍxismo
tividâde "que permite tecer a multiflicidade de sentidos, impressóes e
culturalista (em LuMcs, Adorno, Coldman, Gramsci etc.) na direção
âíctaçó.s cstésica§, em umâ redc que emoldura o tempo, o cspaço e as
de um obieto próprio no câmpo dâ sociologia da cuirurâr@.Tiâbalhando
vivênciâs num perspectiva singuhr"'úr. É n:r historização radical, na
na conÍluência da história socirl da arte, d. sociologia dr cultura, da
"desd ivinização ' do sujeito e dx Iinsürgem, em infinitos jogos dc Iin-
história social e do interacionis mo simbólico, Bou rdieu revitatiza linhas
guâgem "wittgenstein ianos ' quc se cria o mundo v€rd.deirâmente
de inteÍpretâção dâs interxções enrre os níveis microssociÂis e âs de-
humano, o universodos sentidos, d.s significâçóes, da exisrência mc-
terminaçócs estruturâis. SegundoMiceli, Bourdieu rcalizâa "cmprei-
diada pela palavra"105.
tada de desbastar o discurso namralizador sôbre o poder aurônomo
Cercamos €ntáo o objeio histórico, o medo colporificado cm
das palavraJ', ao analisarâ imposisío do trrDcês sobre os dialcros re-
políticâs âtrâvés de discursos hcgenrônicos da realidade brasilcira, na
gionais e a construção dos "sisrcmas de disposições sociair dos diver-
sos grupos c classcs cm seu mancjo dr língur como partc dc um do-
mínio paniculare rJistintivo do corpo c dc tudo que se associ:r à compe- r0, LAKOFF &IOHNSON. Mêráp1)ó6 wê rive by, Chicago: Chicago UniveBily PÍos, l9{11,
ror CEERTZ,
tôncia corporal"r0r. É na confluênciado rratcrial, dopolítico edo sim- CliÍÍoÍd, Paisasem e acidenle. ln: Câdeno MâÀ/ rolha da sao Pí(10/ 10 rl'J

Ior 8ÉZÉRRA
lR., Benihon. Nanatividade e canntução da eÍpe/êrcla u[]úivn, ll
,'g SCHORS(E, CarlÊ, Op. cir., p. 14. MARZÂ6ÃO, Luh Robe oêráiii (ôÍcs,). Ps,caná/Àee uâiversdade, tÍI, Prsor, il00{r,
rd CÍ. MlCELl, SéÍaio. No texlo "A sôcioo8ir
i.z senlido". n,Á eonoDia da5 trocai /in
T05BEZERRAIR.,Bêniltôn.Ápai,ãodalinluagê"r proceiror de !!b/cr/ynq,lu ( trxo rl I r,1
sü6li.as,dêPieÍreBouÍdieu.5àoPruLo:Edlsp, 1996.
neôí: una leiturã de clãtica Lispec.oi. Tê* dê DoúroEdo.m srúdo (.l,rlvr l{1,' {li
'!r BOUROIEU, Pieíe. Op, cir,, p. 13.
lâneio: lníiluto de Medicina sociâl/UERl, 1996, p.3.
barroco,do ncoclassicismo, dorom.rntismo, do .aturalismo até o som
confluêncir dâ histórir coD a anúopologix, i
sociologia, a psicanáli- brio pós-morlernismo dos dias dc hojc. A mone tla borboleta prcta,
se. Con cstc cerco prctcndc-se câpr:rr o quc crrra pelos olhos e pelos atingida num "rcpeliio rle ncrvos" ('hmbém por que diabo .ão cra
ouvidos, tornardo-sc subjctividadc atrxvís dos discursos c dos rrran- cia azul"; "crcio quc para ch cra rnclhor tcr nascido azul") é, para
jos estéticos quc se Ícllizam no cotidiano.
ScLwârz, metáfora do scDrimcDro histór;co da crueldade cm N{acha-
do de Ássis, do sadismo da ordcm socjal. 'A recorrênci. suL,jerivx di
2.4 Contraponto mâchadiano bírtrírie é o prcço da rcrsserção clo arbítrio escravista c clicnicliso crn
Machado dc r\sis, o mais rrguto observador do que entrou plenoséculo libcral, reâsscrçilo por outro lxdo quc nâda rcm de exrÍâ-
pclos olhos e pclos ouvidos do col;diano brasile;o, situa-sc historica- odin:írio e fâz partc da Dcccssidrdc e rotiDx da vida br"sileira"r'.
mcntc no ccntro das durs cofljunturâs cm quc o medo está sendo Àlfrcdo Bosi nos làla do papcl dr linguagcm nr*ifórica em
cstudâdo. Corno o prcto quc conscguiu cntrâí nx sala e scntar-se à N'Íachrdo deAssis e no olhrrrnóvclrlo romrncnta. "O movimcnto do
rncsa dc uma socicdrdc burgucsacrriocr rsccndentc, clchnça o olh:rr olh"r m_.n hrJrrno. quL or., §c .lirxn(,., J., p..onJõ.n,. orJ J t,c,,c-
ntiis ácido, âIÍavés dr condição dc sua invisibiliclade. Seus livros são t rr"L^'. f con, c.Lc ojh"r ttuc c, n, j' .sc.rl-, l,i, rjrrlri, rs..l,.L,,i
crnográficos, dcscriçócs minuciosxs dos xÍranjos, dos afctos, dos figu- ",,.,n
xo pârâ cimâ, "olhos policiris'. F:rlalldo dr percepção do social mídio
rinos, cnfim, do cotidirno dcssr socicdade cntre i escrâvidão e o em Machado, llosi âlirmr quc "o quc se podcrá inltrir do romance é
assalariamcnto, cntrco Império ca l{cpúblicr. Para l}ezcrra, a ourivc- rtuc cstc social médio rr.zir em si gcrmcs de vioiêncir quc podcrial1r
saria clc À,lachado trata rlas "6ligrrnrs, os dcsvãos dos sentimcntos c Do limitc,lelarà morte o indivídüo quc não sc conformxssc inrcgrat,
alitos <1uc os pcrsonagcns vivcm scm expressar dirctamcnte, e tor- nrcntc com o seu padráo". Essc scria o ncxo sccrcto quc Schrvarz ch:r,
Dam-sc pcrccptívcis.ro lcitor pcl.r prcvisio minimâlistâ com que a rnrra dc scnrido hisrórico dx crucld.dc.
rarrariva os dcixr cntLcvcr"rlM. Alóm do olhâr, Bosi ch;rma arensão para o tonr que "rege I
liot crto Schw.rz rcxlizâ m críticr dr obr.r de Machado dcÀs mclodia interior do tcxto liccional", quc "rcvch o sentimcnro domi-
sis r rnálisc dos inclic.rrivos rlc um" "làín. pcrvc6r dc progresso", n.nte".ScriaoqueMarxdizd.buscâdiilum;nrçãogcralqucmodi,
nrs rliqr.rridrdcs cntrc a socicdrLlc brrsilcirr cscrâvist. e rs idóirs do nc.r tonrlidades cspccíficrs, ou o quc Schorkc cntrcvê n:r cor dos 6os
liber.lis,no curopcu. Nx obrr dc Schwrrz, os romances dc Machado para tcccr a histórii, no sincrôDico, no recclio hisroriador, compÍo-
desvendam o scntido hisrórico d. crucldidc dx proJução cscravista, metido com a qualidaclc do tec;do. Sio csras mxrcâs quc, na conllu-
íundada nr violéncir e na disciplin.r milimr, Osú,ricos pontos de luga ência drs crises dc parâdigrna, busc.rmos nos registrosda hisrória prri
dis rclxções sociâis cnlrc a cscraridão c o rssal.triamenlo serirll) as desvcndar noso objeto: "qucm diz olhâr diz, implicitamentc, tanLo
relaçõcs dc íavor O autor de»ontinr o arbítrio prescntc n. nâtureza intcligência quanto scntimcrro"l0'. Para Bosi, Machado Dão só dcs-
do fivor, nas ccrirrônias da superioridrdc soci.rl. As dis.ussócs libc- creve ("nrcdi.nIc a perccpção de palavrâs, pcnsamen tos, obras c silên
rais c rcpublicanes, no último bisrião da cscravatura no plancta, de- cioí) o Rio de |aneno rlo Sesundo Império, como râmbém o rrx,,s-
nunci.rv:,m as contíxdiçôcsdas "idóias f'on dc lugar", di "composição cendc, no pulsâr unilersaliz.Dtc dc scus personâgens: proprietírios,
rrlcqurnrl . Jo Jcs.rcorJu rnrrc.s !(pr(*r,,Jrõcs ( \cu conr(rru, nJr funcionários, agregados e cscrrvos.
disparidatlcs cntrc os ccnários rcoclíssicos característicos das cidadcs
curolii.rs c r. .cnz.rh'. pcl"urinl,".. r.r rciroi: no e'toici,nro do l,ri r"7 SCHWARZ, Rob€ o. O Je,tido histótica ú ct\eldade en Mac[ãdo /c /íÀ. 1 ) . [ ,
1úndio que, ircólumc, obscrva as mudançrs dos arranjos estéricos do '

'ú ct BOSI, Alnedo. Machado de A$4 o erig,â do oiha,. Sao Pàú[): t9!r, r, r)
'ts 3Osl,Aíodô. Op, cit., p.43. ^ti.,r,
1ú BEZERRÂJR., Benilon Op. cil., p.60.

l,I
60
Vâmos â ele. A Mâchado.Dois tÍechos de E aú c lac,i ex1Íes'
burgucsia brasilcira, Estas rclâçóes esr.riam prcsentes nos fundarnentos
sam afetivida dcs dessa hicrarquia soci,rl, nn conjuntura entreofimda
clo processo de socialização das elires bÉsilci.as. Ao complcxo med;
cscravidioe a proclamação da República, no período c€ntral cntrê âs
rcrÍâncoda mãecomopurc?â, rcnúncia c doíção sesornaria aviolên-
duas histórias de mcdo que buscamos cntendcr.
ciacontm a mulheÍescravicâ quesrâo cukuÍâ I decorrenrc do scntido
O primeiro trccho tem o rítulo "Tudo o quc restrinjo", e é um
dc propricdadc na socicdade brasilcira. A figura da mãe no Brxsil se
daqueles pequenos capítulos machadi.rnos: um contíâponto Fala da
dccomporia em duar figuras, a de um,r mãe biológicâ, â cujo corpo
afetividade, dos scntimenlos dâs âmas-dc-lcite, dâs prctas que davam
não sc tcm accsso mâs que é socjâlmcntc reconhecida - c uma mãe
às crianças brancas o que os seios brancos se negivâm â €ntregâL A
prera, à quâl se tem âcesso mas quc não é socialmcntc rcconhccida't'.
limitasão do comenrário, suaspoucas linhas, refletem cxplÍcitâ e mc-
O quc impoÍta à Í€flcxío é o quc aconteceu com os fithos das
taforicamen.eâs poucas linhas dedicadas àquelas mulh€Ícs na hist6-
mães-pretâs € babás quecnrrcgâvam seu lchc, scus corpos para o d€s-
frute da infância brancâ. Estes toram e scgucm sendo um cstorvo, no
mundo cscmvo c no mundo assalariado. Povoaram a roda dos expos-
'r{optÉçãodcdcsmamãrpódia làz-crse cm meia linha, masc lásti-
tos, vagam ç,ela cidadc rcalizando pcqucnosganhos, trabathando em
masdas amas, as dcspedidas, as bichas de oum quc a mãc d.u a.áda
"soldadas", nas varas dc órÍàos, nas bocas de fumo, Sam's c Funabens
uma delas,comoum prcsentc find, tudoi$oe,i8ia uma boePígina
da vida, Vão cumprindo assim sur profccia de alimento ao frti.ídio
oü mais. Poucas linhâsbasr.riam pàríâs amas-sêcas, PoÍquarto não
olisárquico.
dirir se cr.m lltas ncm baixâ§, fci.s ou bonitas. Eíam m.nsâs, zelo-
No outro dcgrau da rÍgida hicmrquiâ social brâsilcirâ, rrmbénl
sas do ofí.iq amig.! um, daoutrâ. Cavalinhot
dos pêqu.aos, c loso
em EMú c laeó, reÍnos o comcrciantc d: rua do Catetc quc se depara
dc páú,bândeirclas,reatrosdc bon.cor,baretines c tamboB, toda n
com â proclamâçáo dâ ltcpúblicâ c'n 'Tíbulcta Nova". Esse outro
quinquilharia dr inhncia ocupnrix muito m!i' quc o lugÚ dc
'eus cont.iponto rraz à tona as al)içôes dessal»r//ü órgucn antpliada,
em sua cscalada social e no scu medo dr qucda. Traz também a ácida
visão machadiana dcssa ltcpúbiica em quc nâd, muda. "Nnda se
Àém do sentido históÍico da crucldade, da prcscnçâ da ideolo-
mudari:r; o regime, sim, era possível, mas também se mudr de roupa
gia do favor, expressa nas'bichas dcouro" como'prescnrc final", apa-
sem tro€a dc pele. Comércio é preciso. Os bancos são indispensáveis.
recc aqui também uma invisibilidrde exposta por Machado,
No sábado, ou quando muho na regundr-fcira, tudo vohorir ao quc
iovisibilid.de compuk6ria, inventãda para eclipsar a enorme imPoÍ-
cra nâ véspcrâ, mcnos a consriruição"r'r.
tância daquelas mulhcrcs, dâqucle tnbâlho, que só rendiâ Poucas li-
Mas a sensaçÍo de Custódio, em "Trbulcta Nova", é dc mcdo. É
nh:s; "toda a quinquilharia dâ inlàncià ocupâriâ muito ma;s que o
um mcdocalculado nas pcrdrs que a h;potéric, deiordem rcpublicana
lugar de scus nomes".
pode infligir às economirs dc um comcrcilnrc na virada do século.
Em Ma, ?rcrd, ttit.*, bratca, Luiz'tarlei dc tuagâo fala da
O problcma é quc Custddio possuín uma padaria na rua do
eficácia simbólica daviolênciacomo troca nas relasóe§ brâtileiÍâs. El€
Catete, a Coniêitãria dolmpério, esucedcu que investira somâ consi-
descrevc a violência social presentc nâs relâções com a mie Pretâ, a
dcrávcl dc scus ganhos na confecção dc urna tabulera novâ. Pcdirã
ama de leite e a babá, pr€sentes âté hojc nos arranjos familiares dã

"' cÍ tuiz Túlei de. Mãê pÊt4 ,iíezâ ó.ae. lt ROtNtL Sucly (o,s ), Ádvl1.
^Pú\GÀO,
rá .ro Nú./@ deOs@voivim,toda Criativídade - Subidieidaíb e HÀtó'à, n! L Crm.
,r'^SS|S, Mâchãdo de, Esàú e l&ó. l.: Ô6.a Con p/€lã. Rio de rzneió: losé A8!ilâ., 1959, piÉr: U.lcâú!,1995.
"r Assls, Machadode. Op.cii,, p,959.

62
6l
prcss. ao pintor, mas ao Ícccber.rs notícixs ("crcu quc lhc diziam r
hisroriadores a lireÍrturâ é, enllrn, testeÍnunho histórico"LLr, p,,rqn(
ve«lade os que alirmavrn r rcvolução c vagnmenre a República")"r constrói a sua relação com os movimcntos dr socicdadc cm rcdcs ,k
da l{cpública, scviu romado dc Ítedo,.llição epcrplexidade. "P.rc no
intcrlocução social.
dl" ordcnou ao pintor. À{rs jÍ crr trrrJe. Corrcu para pcdir conseiho N{etodologicâmente, o rütoÍ iníica a buscâ da lógica socialdo
.ro .q.ires. Scu prot lcna cra dccidir o seguinte ernbarrço: pcrder "o
texto, ou seja, aralisara cspcciiicidadc do rcstcmunho hisrórico arravós
clinhciro quc gasrei" ou corrcr o risco dc "sc ficar Inpório, vcnhâm
dâs suâs con.lições de proJução, promovcndo as intençócs do sujeito
qucbÍrÍ-Inc rs vidraç.s". ltme piDtarContiilrria da RepúL,lici e rudo na sua rcp..scDrâção do rcãl- O que importâ é.r inserção dc .ütores c
mu.lâr dc !ovo. E o invcstistcnro fcito, pcr.lcr de novo o capital cm
suas oL,r.ts em proccssos históricos dcterminados.
patidol Elc, Custódio, ctuc sclnfÍc frocurârr rro respeiro de todos, Nesse ripo dc fontc históricâ, a litcrtrtura, o hisroriâdor buscx
não qucrendo charrriÍ a.rtcnção de ncnhun dos dois regimes..., te, dcsvc»dar o "sentimento íntimo" do sujcito "na arena das polêmicas
mcroso quc puscssc cm pcrigo os scus p.stéis dc Santâ Clâra, r:lcnos e conllitos cle sue contcmpor.Dcidâdc, são sujeitos e pe.sonagens dâs
anrda a vida do proprictirio e dos cmprcg?dos (...) EÍa um simplcs hisrórias quc contam"rr5. Clrrlhoub no§ 1à1. do passâdo não como
fâbricantc e lcndcdor dc doccs, esrimrdo, alrcguesado, respeitado, c "agregrdo dc histórias sepamdas", mas numa rcdc colcrivâr ern
principalmcntc rcspcitarJor rJa ordem pública". movimento, pclas açõcs dos sujcitos, que vi\,er â história no seu
Bosi diz quc "â originalkl.rde dc ÀÍrchado cstá cm vcrpordcn- cotid i.Do, ,1cssc .cgisrro dâ i!rdeterrninação c ôocontexto do scu tcmpo.
tro o quc o lrtur:lismo rcria rtc Íàra"; o cinismo c â hipocrisiâ d:rs É nesse qurclro que Chaltloub tccc scus "diilogos políricos cr,
cstruturas sociris assiDóiÍicâs, r vrcil.çio.Dtcs d. rcndição ao inre- Machado deÂssis", rrabalhando as políLicrs clc doninação dâ so.iedadc
rcssc, a xrgil.t nrolc da consciônci:r, tudo subordin&lo à nccessidade
fatcrn.rlista br.rsilcira do século XIX. Unta dâs imlgens mais
dc alàüarsc âo corrimio dr cscaila no dcgrau alcÀnçido nâ cruel hic, nrrcantes dcssa domiração Í a da "inviolabilidade da vontadc
nr{luir sociil Lrr.silcn.. O consclhciro AiÍcs rcconhcce no medo do senhorirl". l']x Ía ele cssa socicdrclc prterne)istr rcprcscrrava o rnundo
conlcitciro 'quc o tcÍror ir com â .rvarcza". I,or isso propõc, prm não (até hojc rcprcscntai) no "topo dc umâ püâlnnlc imagináLia". furandir
pcrdcr â tintâ cmprcgada, a rcutilizrçáo dâ prlxvn Império, para no Frei.c Cosrâ ji
dcnunciarr o pLocesso pclo qual a idcntkl.rcle negLa
mcar a prd.riâ "rmpério drs Lcis". Mrchado busca no nho da sub, âpârccia, na realidade brasilena, corú udi afê,xli.e do dcscjo e d.
misío ao universal jurídico a saícla prra o soliido oporrlrnismo
P.ixvra do t r.ncoLr.
siruncionistâ de Custódio. Na ,ncmóÍir vivlt d:rqucla burguesia brasi-
lcira evocava+e "o Tirror", Icmbrrnças das barricâdrs dâ ltelolução "O prrernalismo, cônro qurlqucr oulrx políica dc domiDio, pos$í.,
Ir.ancesâ, mcdodo caos c dx dcsordcm, dr v;xd. súbna na rigidcz das um. tccnologi. própria, pcrúrenre âo poderexercido s
assimcúi,s sociais. Enqu.nto as.mas dclcitc choram, invisíveis, as riru!is il€ âÍirmaSio, fÍític.s dc dissi,úulaçro, cstrâLígirs,lr
su.rs pcrd.s, a asccndcnte burguesir llunincnsc s. prcpâra para os cstignutizxçio dc alrcrsirios socian e polí(icos, eufemismor c,,í,!ii
pcrigos da "»ovr ordcm". FIu,nincnscs, Í,ris urn es1àrço se qucrcis menLe, um lo.ibulário solistic.do para sustcntar e cxfr.§rr r,rhr
es,s,riv rdt\"i17.
l'ara Sidney Chrlhoub, os historiadorcs sociais são profxnadolcs
por uLri;,,çiD dc nn.io: hi,rori,izrr .r lir. ririr trcsút'õc umJ
"Lr.r 'li CHÁLl.lOUB, Sidn.yiPERE RA, LcomÍdoAM. GnSi.). Á HÀrótiacartrlt t, t'ltrn.,l.
análhe rratcrialista queseantcpócà tr. nscc'rdêrrcill da litenrura. "Para Histótia sacialÍla lneíatúa üo Bár,/. Rlo delaneno: Nova Érontclr.r, r1r1,1t,l, /

" COsÍA,lurandn Fre re. v,o/ê,r,a. pJicà,J/,re. Rlodehnc tur (iL l,,irrr
r, CHÂLHOUB, SidneyjPEREIRA, LêonàÍdoA.M. «ner ), C)t,. ( it, t, ')\
Diânte de umâ descrição tão total desta arena de conflitos, Chalhoub inscrcve essa década dc 30 na conjr:ntura
da âbotição
Chalhoub analisa o Brasil oitocen tistr no olhrr de Machado: a pobreza legr I do uáfico de cscravos e do(onseqüenre in(rcmenrodoconrrabando,
como defeito moral, a tonuÍâ Íotine;ía dos csrãvos corno "castigo iusto", do ráfico ilegal c seu contuio com as autoridadcs c potíücas
púbtias
a verticalizaçÀo da "Ârribuição c íolmulâção de consciênciã de lugâres íqualquer semelhrn§â à crrnificina promovrdr pcla "grcrra
às'rJrog:i.
socilis" e hicrârquia, auroridadc e dcpendência, bcm como o.ultamento de holc, senâ muiro mris que coincidênciJ, já que
â meÍcrdori;do
de scndmenlos e consciências horizontâis. tusim, "o p,ternalismo é "trilrco- do sócuto XIX cram homen" vivos). Escrcvendo
na década dc
apenas o mundo idealizado pclos senbores, a socicdadc im aginária que /usobrcâ dé.âdJdc 50, como derdobrr m en ro do nlcdo clos.]0.
Mrclrado
eles sonhav:m realizar no cotidiano". A hor;zontÂlidade do cotidiano sráriâ rraç3ndo Lrmámpto painct das mudrnças hisróricas
doperíodo-,
(da vida coocreta, de tÍÂbalho, de relidão) não podiâ constituirae comô demonstrando a ransiroricdade da idcologrl senhoricl, -invençacs
drtadas,
altcridade, como autonomia, mâs como co&essôes, favorer senhoriais. surgidascm processos históricor específims,e ponanro
prssíveis dc crÍricâ
Tudo o que não entravâ ncstc registío era rcvolta, cram discursos € loSo de desnârumtização e supcrxsão. Submerida
à.,írica, a i,l..togi"
sediciosos a precisaÍ de pulso fortc, de políiicâs criminais com paternalista é como o mcdo, ,um preconceito
dos n.rror,.
derramamento de sangterrs. preconccio desfaz.se;basta â simples reflcxno.,,,
comodissc Hetenarn- ",,i-
O problema dos senhores é quc esta alteridadc '
rÍocâs cotidiânâs entre dominrdores c dominados. Para Chalhoub, 2.5 O discurso do outro
llachado foi um "intérprete incansávcl do disctrrso político possível Bík]'L;n, hisroriador e fitólogo. em seu dcgrcdo siberiano
do
âos dominâdos em tais situaçôes"r''. Numa sociedade tão desigual, os começo do,icr:lo. in.titui a iingu.gem n:r suJ rct.§ão drrlérica com
â
diálogos, as trocas acontecêm numa arcnã bikhtiniena dos conÍliros soc rdâJe,-vã loriz, ndo-l a ravér da Íala,
r vcndo a pÂtãvm como.ârcna
de chsse cm jogos de palavr.rs. E íssim quc o auror inscrcvc os n:con:x,oda lutr de cra:ses, associada §emprcà idcorosia
pelsonagen§ depeodcntes (mulheres, cscravos, agregado$,apostando ,o:.:f i:o'.
do corrdrâno. rnscritr num procc\jo permrDenre oe,.,,rf",^"§ã".
nâ ân€ ârriscâda 'qu€ Íarificâva â idcologia patcrnalista naaparência, Apãgândo.s fronreiras cnrre a gramárica r a es(ilísrica,
Brkhrin as
mesmo quando roíalhc os aliccrces[u. O discurso dos dominadosentão srtua no processo his16lco.
produzira um contrâtcxto Das entrelinhas", na âmbivâlência das Ena.Malznnlo e fla,afu da lngturseln (t929_1930),
BâLtrrin
pâlâvras,íâ cmbigüidideda intenção. reflexão metodotósica sobrc os problemas da
Como no avesso do riso bakhtiniâno, Chalhoub rê no humor, :-ll_.:"d.,i1
rngursÍci que rtuminíram muitcs obras na sociologir, na hi§róriâ,
nã ironia e no chistc dos personagens de meados do século XIX, no na comu ni€ção. Ele está diaiogando com
vários in t"riocutor., a" s"u
Rio dc Janeiro, as marcas da repressão dâs turbulênciâs sociâis da tempo (Freud, Saussure, Vosslcr), mas esrá râmbém
sofrcndo na
década de 30, do pcrÍodo rcgenciâl âté os idos dc 40, na conjuntura da própriã cârne os ef€iros tcóricos e prátjcos do ,.mârcrialismo
mecanicista
Revolta Mâlê da Bahia. A ideologir senhorial, na década de 50, pré-dialético". Para ele,,todos os domínios
dâ ciência das ideologias
construía a imagem de paz e prosperidade para a memóriã políticâ do 3chàm-sc. rruâlms,e. âinda dominrdos petr
crrcgorià da crusitid;Ltc
segundo reinado, fcita sobrc os escombros das inúmeras rebeliões mesnicista ',r. Como na psicologia, na sociotogia e na criminotogir,
populares que assombraram o Brasil naquelas décâdas de medo. "percistc ainda a_conccpçâo positivisra do
empirismo", r,
ate hote operando no prmdigma etioJógico. ""j, ""tr,;,,_
'lr Cí 8AÍ|SI^, Nilo- Pollicá od:aal @n deaattunento de nsrte. ln: ReÀtr Bdri,ei.a
de C,é,.,a, C,i-iru,r, .e 20- sio P.ulo: TBCCRTM/R*isra dc TÍibumis, r 997.

r:) CÍ. 8AkHllN, M lkhàit. Máã isha e tijólalia da ti^eúaeú. Slo pâu tor Hú.trú., I ,,,, i,

66
67
-
em Frcudr". "Iodo signo ideológico exterior banhâ-s€ nos siglos
Seu trabalho precursor enteode o PaP€l estrâtégico da lilosofia interiores, na consciência. Ele nascc dcsteoceanode signos interiorcsc
da linguagem para uma visão mâíxista do mundo, já que, paÉ ele, â por um processo sempre renovado de compreensão, de emoção, dc
filosofia burguesa contemporânea está sedcsenvolvendo sob o signoda âssimilação, isto é, porumâ intcgíâçío rcheradâ flocontexto interioi'L:5.
palavra, Toda a sua pesquisa se centra no nâtuÍ€za
prpelprodutivo e nâ
A-ssim, as unidades do discurso interior, as impressões globais dc
sociâlda cnunciação. Bakhtin siua a linguagcm no conjuntodeprodutos
enunciasão, não se sucedem pelas Icis grâmaricais mâs pclâ
idcológicos que fazem pâÍre Je u'na Ícalidrde concrcta, (omo signo convcrgência apreciativa, pelos diálogos, pclas condições históricas c
quc"também Ícfletc umaourra realidadequc lheéextcrior". Para ele concretas de existência.
â consciênciâ só se afirma como concrcta a Pârtir da .ncârnaçáo É por i""" q".."mpreendcro medo nosécülo XIX passa pcla
matcrial em signos- e pela tÍadoçío daquele livro deoraçôcs
análise dos discursos o6ciâis
Bakhtin está dialogando com a psicologia biológica e
muçulmanrs preso ao pcscoço do cscravo malê morto na insureição
bchaviorista e se contrapondo à análisc da linguagem como fenômeno nr Brhir. A pahvra revela-se. no momcnrodc sua express;o. como o
da naturcza, Pâra ele, "a palavra é fcnômcno ideológico porexcelência", produto dâ in(erâção viva das forças sociais".
eéna comunicação da vidâ cotidianâ, nâ idcologia do cotidiano que a É nessa veia histórica, contrapondo-se à idóia de língua como
palavra sc transíorma em materialprivilcgi:rdo dc comunicação Isso sistcma de signos a.bitrários e convencionais, na racionalidadc
detcrminou o papel da palavra como matcLiai scmi6tico davida interior, iluminisu dos filósofos do século XVIII, que Bakhtin discorda dc
dâ consciôncie (discurso interior). Iodas as manifesta§óe§ dâ criação Saussure, ou da escola sociológica dc Durkheim, criticândo as tescs
ideológica banham*e no discurso, nos diz Bakhtin. Mas, é "na do subicúvismo individualista c as anírcses do o§ctivismo absrrato.
supcrlicic, na troca, no marer;.I", no gesto, no ato, que sc 'itua a A lingüística apareceaqu; como âlimentada pelos.adáveres das línguas
comunicaçio. ou scia, â pâlavra, a cnuncia§ãoc odiscurm moldam' escritas mortas, âpoiâda em "enunciaçó€s consrirurivâs de mooólogos
sc, banham-se, constituem{e nos conn;tos e na hierãrquizâção dos fcchados". Bakhtin analisa a hisrória das escritas sâsradâs, rcdisidas
homens no scu dia-a-dia, na idcolosia do cotidiano. Embora várias semprc numa língua estrangeira c portanto incompreensível sem a
clarses soci!is sirvâm .( (lc um.r ró lnr5tr,r. "J \i8Íro se rorn:r â iÍen:r mediação dos sacerdores-lingüistas, ou o imenso papel hist6rico da
onde sc descnvolve â luta de classcs". ll:rtlrr ítlo da tÍâmâ §ocial, o signo palavra estrangeira no proccsso dc formação dns civilizaçóes. Não é
morrc.'Amemória da história d.t humu,ridrdc cslá chcia destc§ §iEno§ por acaso que Todorov descreve a dcrrota dn civiljzação âstecâ pcla
idcol6gicos dcÍunros. incap:rzes Jc rotrrriruiÍ u,nr rrcna para o €omunicaçáo de força da barbárie esprnhola, analisando o papel da
coníronto dos vâloÍes sociâis vivo§. Somcntc »l rnedida em que o i ntérprcte Malinche (palavra que é incorporada pela Iingu espalhola
filólogo e o historiador conservâm x §ur mcmória é que subsistem com o significado de tmidora), ornando-sc dechiva navitóriaeuropéia.
ainda nclcs alguns lampejos de vida"':r' l'ara Bakhtin, o esforço das Embora muitas vezes o invasor seja tomado por uma "cuhura quc
classes dominânt€s é ocultar a luta que há por trás do§ signot Para €ntão c§.Íâviz3, por assim dizerdo scu túmulo, a constiência ideológica
rôrnáJos mooovalcntes. do povo invasor", a palavra csrrangcira entra para a consciência
A subietividadc estanr na frontcirr cDrre o orgânismo e o
histórica dos povoscomopodcr, Íorça, santid ade, verdade. A pa_l:rvr:r é
mundo: é aíquc situa o signo em Bakhtin Estc terriróÍio comum é
se
concrcto € significântc. Não se Pode dcix.lr dc pcrceber uma analogia
aqui entrc o €nredamento dialético da mcmóri, individual c coletiva ':i Cí. BIRMAN,loeL, Pi,caoá/Àe, hqatividadq hete@Bêneo: @no a pricarí/Êc podd Ír
óíá.ulà para a barbár,ê. ln: cáderaoe dê Pricaná/Àe, vol. 15, nc 18, Rto do linotÍor
Sociedade dé Pricaná ise da Cidàde do Rio deJánêno,1999,
Irr EÀ(HTlN, Mikhâil. Op, cir, p. s7-

(rrl
viva, é histórica, édialéticâ, é polissêI11icâ;§eu scntido sóé aprcendido entendendo o florescer d tro com a burguesia
ascendente. Àimprensa sc encaÍegr da difusão dcsse gênero que aai
Bakhtin ânalha âs mudânças do discurso na hisrória: do íclcgJndo. n,r.çào épica ro rcrenr do rrcrico. E e"r. noro gtncro
racioí,âiismo ao neoclassicismo e ao romantismô Nessc Percurso â de comunicação, â informação difundida pela imprensa, qr-re
palavra nãotem dono, é território comum do locutor e do interlocutor translorma a transmissão longínqua em informâções relârivas às
Assim, o discureo da fomc proíerido pelos camponeses isolados será p.eocupaçóes imediatâs. Qúanto mais o ouvinte se esquece de si
distinto dâ fome proferidâ porumâ coletividâde unida. À ideologia do mcsmo, mãis ele intcrnaliza proíundamcnte o que escuta.
individualismo só seriê possivel âtrâvós da âtividade mental do nós Se essas transtormações Iitcrárias se dão ao loogo do tempo
burguês. É nesse quarlro que cle ãnelisâ o "Pârã si" de Tolsroi como histórico, elas carregam mudanças nas idéias de erernidade c
uma concepção sociâ1do ouvinte. É Da cristalização da ideologia do conseqücntemente da mortc. Pâra Benjâmin, a mortevai perdendosua
cotidiano quc se tundâm os sistemas científicos, uoraü e religiosos de onipresença e sua força plástica na consciênciâ colcriva. A moÍte visíve1
uma épocâ. Nos dicursos menorcs da vida cotidiânã, na fricção da§ nâ ârtedâ ldadeMédia, aquela que legitiÍnâva o discursodo narrador,
palavras é que se nutrem c sc configurâm os estereótipos. vai scndo retirada de cen: na modernidadc.
Éassim queBakhtin chega a suaanálisedo "d iscurso do ouúo" Os cronistas, comoprecursores da hisróriâ, narram o a.oflrecido
Dâ línguâ russa, na alemã e nâ francesa, âoâlisândo historicamentc as sem a premência de uma explicâção, baserdo nos desígn1os divinos.
mudançâs nâ enunciação do narrador. Examinando as lormas man O historiador precisa explicar as mudançns. O nãrrador é o cronisrâ
importantcs de transmissão do discurso do ouúo, Bakhtin procura secularizado. "Le ch roniqu eur avec son inrcrprération providenrielle,
encontrâros indício§ (rctomâdos na obra de GinzburC sobre discurso§ lc narrateuravec son interprétation prolane"r,6. memória universal
dâs vítimâs da inquisição) "quc mostram como a língua, numa ou ê oL. p.rmiriu que o c.pír ito épi. o cnrr.nLr"sc.r m"rre. É - m-ndrir

noutra épocadescu descnvolvirnento, apreende apalavra de outrem e que estabelece ã transmissão das rrâdições nô rempo. A narrâção é
a personalidadc do falante". complcr.m(nr.;nspiradJ nJ memoria. O romJnce, nào.
WalterBenjamin cscreve em 1936 o seu texto sobre o nartador, O rcnance rccolhe seu mãrerial numâ sucessão dclembrançâs
inspirado na obra de Nicolâs Lcskov Emborâ não cite Balútin, sua melancólicas, ao redor do sentido da vida. O senrido dâ vidâ seriâ o
pcrspectiva esrá prenhe daqüelâ conccpção histórica que circulava pela eixo ccntrai do romance em oposição à moral da hist6riana narração. É
Europa dos vencidos. Como em Bâklitin, Benjamin constrói seu âtrâvés davida dos persônagens que o leirorde romancecapta um sentido
narrador na experiência côncretâ da úansm issão orâl Háuma rrâdiçáo à sua vidâ, nuDla analogiâ entre a morrc e o fim (lo romance, como
narrâtivâ oricntada pelâ vidâ prática cotidiana, que conta uma h istória. mortevinual. O ocaso dasgrandes narlativas é também urn afastamento
É paxagem d" t.-po que o narrador sai do domínio da p:tavra das raízes populares, drs classes ancsa nais que engen.lrí râm a narração,
",
viva para o confinamento Litcrário através dâ trânsmissão de hisrórirs drris. O Ílm do narrrdor é o fim de
O primciro indíciodo proccso de queda danarração teriâsido uma relação estreirâ entre a alma. o olho, c r mÍo. "O narrador é â
o desenvolvimento do romance na modcrnidade; se o narradorconta imagem nâ qual o justo se reencontra a si mcsro".
uma experiência comunicada, o romance se elabora nas profundezas Clifford Geenz analisa sua üajctória c sux conscieDrizaçáo
do homem solitáÍio. Ou seja, o romance nasce e se descnvolve no acerca dâ crise dâ "Iísica socialde Ieis ecrusas"c do fortalecimento do
desenvolvimento do individu:lkmo possessivo, naqrelenó! b ryê'a
que se rcferia Balútin. Benjamio entendc a mudança das formas épicas
no conjunto de úansfoÍmaçôes históÍicas ao longo dos séculos, r:ó BÉNlAMlN, Waller, Le Na.ra.eur, h É.r,rJ rrança,i. PiÍis: Édirions caltimârd,t99r,

71
--

.â rccomeçar em outras direções. "Crminhos sinuosos e improvisâdos


cruzâ mento entle frâqueza que um connoisseurtem pclo deralhc e
um cxegeta pel compara ção", ou sêjâ da história. Mârc Bloch iá d iziâ onde o rcsultado aparecc onde tem que aparecer". Enâm, em vez de
que é na história, no tempoi que s. bânhâm os fcnômenos. Â física uma tese so€iológicã a ser comprovada pcla Íisica social de leis e causas,
social e seu inscparável parâdigma €tiológico iá não dão contâ, c temos aqui ensaios cntíccÍuzados, narrâtivas (à Schcrazade dc
"qualquer proposta dc uma teoria geral' a respeito dc quãlquer€oi§â Benjamin) sobre o discurso do medo no Brasil, do século XIX e do
social soâ câdâ vcz mais vazia, e âquele quc professa ter tâl reoria é século XX.Algoda ordem do tecido artesannl da memória, buscando
considerado megalomanÍaco"i'7.4s teorias gerais sucumbem como os indÍcios desse Brasil profundo e silenciâdo, como a oÍação musulmânâ
grandcs narrado.cs. É porisso que a grandeza dos Sr,'rãrr d€ Euclidcs no pescoço do escravo malêrr.
não sucumbe ao ânacronismo de suas idéias sociológicâs, mas revivc
nâ narrativa, na descriçâo dos senócs.

"O cisco positivista sai dos olhos, iluminãndo+c nas fogüciras'de§-


truidorãsd. uma crensa íoÍtc', comodas nolhcRsp«fcrindô se lan-
çarnelacom os Glhos a se rcodcrà R.púhlica.'Os Scftôcs'é um livrc
escrito poÍ uma compúlsão rcligiosa. Mais do quc um (estemunho
do holocausto dc quem oáo suportou .sistir a seus úhimos dias, é
unr servivo soprado poressa crcnga imbatíveldo scr cm insurreição

Alma, olho c mío. Âs formas do saber são semprc c


inevitavelmente locais, inscparáveisdc suavida concrcta, d€ suâ históriâ
Geerrz âtribui a adaptâção da antropologia na modcrnidadc à
qualidadc a.tesânâl do seu métia. D quânto mâis artesanâI, mâis
próxima da memória coletiva dos povos em questão. iqbândonar a
tcotativa de explicâr ícnômenos sociâis âtÍâvés de umâ m€todologia quc
os tccc em redes gigântescas de causas c eíeitq e, em vc? disso, lentar
explicá-tos colocando-os em estruturâs locâis de sâber, é trocârumã séne
de dificuldades bem mapeadas, por outras diÍiculdades quase
desconhecidas"r'. Nada de estradas rctas (sempre fcchadas, segundo
Wittçnstein), mas desvios, trilhas, atalhos, ensaios. Para Geetz o
cnsaio permitc começaÍ numâ dircção e, diante do insucesso,

'r, cEtRlZ, Cliiford. O ráóer /oal: M @sabs en ánçopologla lnldpêtátjv2- PelíóPG

nrM RÍrNÉz coRRE^, JGé cele. ln: cadem Màie, folhâ dê sáo P.olq 23 de jmio de r. 1 ivrinho M.ta' .n.onlddo rc p"no(ôde um neBo moío nr nvdh Já t03r, nr
2001. Brhid (docuenio m áôbe, .ncoat'ddo o p€scuiE no rGrituro Hiíónro. C.otdtt.
r:, GÉERTZ, CliilÕd. Op, cil,,
P, 13.

72 l:l
3, Pânico no paraíso

i
\ 3.1 Êsretização radical

"É tal a lorya da solidariedadedrs épocas queos Iaços dc


'ntet;gibilidâde
enúe elâs se te.em lerdadciraoente nos dois seotidos"rrL.

O final do século XX ilumina o nosso olhar sobre o século XIX.


No limiar enúe o XX e o XXI, o medo não é só umâ conseqüênciâ
deplorável da radicalização daordem econômica, o medo é um projc-
to estético, que entra pelos olhos, pclos ouvidos e pelo coração.
Itelcrimo-nos anteriormente ao que GizleneNcdcr denominou pro-
dução imagótica do terror, em que as bancas de jornais e â telã da
relevisão reproduzem o que foi a praça pública para os autos-de-fé.

Irl llI Terry Eagieton afirma que é íundamental prra o pensâmento


moderno a categoria do estético "(...) porque frlândo de arte ela fala
'^*, também dcssas outrês questócs, que seencontrâm no centro da luta da

tÉ classe média pela hegemoniâ política. A construção da noção moderna

tl
It
do esrédco é âssim inseparávcl da construção das formas ideológicas
dominântes dâ sociedade de clases modernas, e na verdade, de todo
a
tn
um novo formato de subjetividade apropriada a esta ordem social"rs'.

w, d
(Lt âb O autorrelaciona a emergêncir da burguesia, a partirdo século
XVIII, com o papcl que rlEUn' conceir05 cstóticos comcç.m r cxcrcer
na constituiçáo da hegemonia ideológicr.

? BLOCH, Marc. rnÍod,çáo à Hktó,b. Lisboâ: Públicâçóês EuÍopa - AméÍicâ, s.d., p,42.
'''
rr) EAGLEÍON, TeÍ.y. Á ideolosia da eÍéIr.a. Riodelaneiro:lolseZahaíEdilor, 1993, p. a.

75
Eaglcton rclaciona a tendência PaÍa i estéticâ o㧠qu€stões do podcÍoso pâri se reproduzií Se nr ordcm econômica os sujeitos sío
absolutismo, numa estratégir dc "rcligâro coÍPo com tcmas políticos .rutônomos c ant:|gôni(os. no.srórico clcs sc h.r-onizrm. É lógico
mais tradicionais como o Estado, I luta de clísseseomodode produ- que o Estado burguês tem seus apar:rtos de coerção para o caso dos
ção, usando a categoria dâ estótica como m€diâçâo"r3r' sentimentos falharcm, e é lógico rilmbím que por isso a vimrdc c os
Scu trabalho .tuãlizâ umâ visão mrrxistn numa socicdade "cuja progrâm:rs rousseâuniânos dc cducaçio c transl'ormação moÍàl trâns-
metâ não { simplesmcn te combatcr ns idéias radicâis - isto seriã nâtlr- lormam as Érnilcs cas Heloíses, estnbclcccndo um ânimo pcdâgógico
ral rsptrar- mas apagartoda a mcmória viva dessâs idéiâ§: criarum ã consrruir novâs subjetividadcs. Cit.rndo Althusscr, Eagleton al'irma
condição amnésica na qual essas noçôcs pareçam iãmâis terexistido, que "â taref! dâ hcgemoniâ polític,lé píxluzirâs formas de sujciçío
colocá-las num espíço para além dc nossos poderes deconcepÇo"rrr. quc formarío a lxse dc unidadc políticr", c é na estét;ca que se dâíá
Pârâ clc â estética é uma categoria burguesa criada e mantida pclo cssâ unidâdc.Aestéticâ, assim, inscrc o potlcr social o mais profunda-
Iluminismo, articulada âo Proccsso matcrial de âutonomiza§ão dâ mente no corpo daqueles a quem subjugx, xruxlizando a hcgcmonia
produção cu kural. Essa autonomia é quc mu n icia a classc méd ia com política nccexária à asccnsío buÍBücsa. Mírs a cstéticâé rambém "um
um modclo de subjetividade à mcdida para suas oPerações materiâi§. espaço ambíguoe per;goso: hí.rlgurnrcois:r no corpoqucpodc rcvoL-
Pârâ Eagleton, ã estíiica nrsccu como discur§o do corpo, como rar-sc con o poderque a inscrcvc"rJN.
no grcSo4,rrerlr, rudo o que diz rcsPeito à PercePçáo e à sensação, e é O modernismo do finrl do século XIX ser;a hcrrnsâ mdicâl
no século XVIII que o tcrmo esrCtica sc situâ entre o maÍcrial e o dcssa csrctizasão, com a âcclcraçãoda translormação da artc cD) mcr-
imâtcÍiâl: "tu.-lo âquilo co6m quc sc cnraíza no olhare nas vÍceras c cadoria, Assiste*c à postcrior dcrrota da vanguarda (através das dcr-
tudo o quc emcrgc de noss, hanâl inscrsão biológica no rnundo"'r5, rotas políticas). Com o descnvolvi rncnto do capital ismo de consumo,
scotida nocotidiano, no mundo-da-vida, nrs sensaçóes. Ecsta vireda ã cultura é r.mbém estctizada. Nào sc contÍapõe mâis â cultura à so-
era poliricamentc neccssária na tíansisão do drae, Íég;nt ena inst^' ciedade civil. Como nos qurdros tle Mrgrntc, o pé e o râpito sío â
lrção da imagem da classe média como suicito universal, que "quc- mesma coisa, o simbólico ê o econômico se colâram: "o cconômico
brou as tíbuas da lei para reinscrevcr a lci na sua pr6pria carne"116. pencrra profundamente no reino do sirnbólico e o corpo libidinal é
Acontec€, cntão, um processo dc cstetizãçãodo r€gime.Aobc- atrclado aos impcrativos do lucro"rr'.
diÊncia tr leivem agora do interior do sujcito, fixada âtrâvés de "háb! Acstetização radical, quc acompanha ã ascensão burgucsa até
tos, dcvosócs, senlimentos e â[etos" O podcr agora se instatâ nas o capitalismo tardio que vivemos, rprÍccc como insrrumcnto dc hc-
'minúcias da cxperiência subietiva"; o novo suieito é modclado no gcmonia política, como reprodutor rlc uma ordem e de umâ hicÍâr-
objeio estético. Ánovidadeé que :r ordcm socialéagora "domínioda quia social.
prárica costumeira e da deyôçáo instintivâ, mais Ílcxível e elástica do
queos d ircitos âbstÍatos, e ondc as cncrgias vivas e os atctos dos sulci- 3.2 ContÍotê sociâl pârâ o novo milênro
tos estão investidos"rrT. Áburguesia, assim, dcsmantclâ o rPâíãto Po- Apa*it do Mal-crrat Da l»odem idade, publicado por FÍcud em
lítico centralizatlor do absolutismo c locrliza um sentido d. unidâdc Vienr cm I 93 0, Zygm unt tsaunran a nrlúa os desâÍios que o tcxto trou-
xe ao folclore da modernidrdc modclando a reltexão sobre as consc-
qüências dâ aventuÍâ modcrna. Pensando que só a sociedadc modcr-

!!7 Ca EÀGIÉTON, TeÍry. Op. cil, p. 23.

76 77
na pensâ em si como cultuÍa ou €ivilizâçáo, Bauman trâtâ das rclâ- tos da históriâ essc úrbâlho de ordcnamcnto e purificâção rÍrnsfoÊ

çôcs cntr€ cultura, belezâ,limpezâ e ordcm. Àciv;lizãção seria êntão


ma+e em tareía conscicnre e intcncionrl. Quando o cuidado com a
uma oÍdcm impostâ â umâ humânidade niturílnente desordênâdâ ordem significa â inrrodução de uma nora ordcm aniÍiciÂl que reprc-
Freud, ao utilizar os termos compulsão, rcgul:rção, renúncia, csta.ia scntâ um novo começo configura-sc urnr grave mudança. À
sc rcfcrindo ao mal-esta r dccorrenre do "exccsso deordem", na estÍu- modcrnidadc podcriâscrcntío delinidx conro répocaem qucacolo-
rura de umâ civilizâsáoque escolheu limirara liberdadeem nomc da caçao em ordcm dcpende do desrnanrclanrcnro da ordcm "rradicio-
§eSurançâ. nal". Este "novo começo" permrncnr(, c:rr:rcrcrísrico da pós-
Bauman aÍirma quc apesardo reinado da libetdade individual, modcrnidade, constituindo+c em morlclo tlc purcza que, no combate
a modernidâde não âbândonou seus ideais dc bcleza, pureza e ordcm à metÍssujeira, tem quc estarmudando rapidrr»cn1c, dá a scnsâção que

que limitam a busca do prâzcr. Entre essts idêàis, a visão de purcza já nada parece seguro.
ocupa posição privilcgiada entre aquclas idéias que "quase nunca  "colocâç5o cm ordem" tcm qu( (lr..otr(i dxs '
podcm serabraçadas scm que os dentes re dcscubram e os punhais sc malidades", tratando dc id(nrili.rr, rrxçnr c cÍirr conssrntcmenrc Íron-
agucem"rr0. Ele cira Cynüia Ozick, para qucm r solução final alemã tcirrs para os 'novos csúinhoi'. O ciÍírcr rrcrrorizantc dos novos
seria um. soluçâo estÍtica, ao aniquilara impurcza, a mancha causa- estranhos faz com que eles se transiôrmcnr no ccnúo dâs prcocupa-
dora da dcsarmonia, A pureza estaria associrda à idéia de ordem, dc çõcs com a organizasão. Num mcrcrdo totrlmente organizado cm
coisas ccnas em Iugarcsccnos, tu coisrs fora dc lugar ou móveis âmeaçâ- rorno da procura do consumidor e, nunra sociedade intercssada cnr
riam a ordem e produziriam o efeito de embaralhar frontciras. nrrntc, cssa procura pcrnrancntcmcnrc insatisfcita, os consunrirlorcs
 pureza c a higicnc sio o oposto da sujcira e da desordcm' e, falhos são os novos irnpuros, jí que o novo crirério de purezr, ou dc
pâÍâ MâryDouglâscada época ccadacultura tcriam um padráo idcâl rcordcnamenro,éa aptidãoeacâpacidadcdcconsumo.
de pureza a sermantido"'. Bauman chama a atcnção para a significa- Esta nova ordcm rraz esrrnrégias dc privârização e desÍcgula-
meniação junto à "prcsclvação da purcza da yida coosumista", pro-
ção polÍtica e social da buscâ de purcza e da grívidade de suas conse-
qüências nas so,:iedades modünas, já quc, cm âlguns momentos d:r duzindo exigências políticâs conrraditóri:rs porém complcmeDrares:
história, seres humanos lorarn concebidos como um obsúcülo à hiSic- por um lado, â cxigêDcia dc incrcmcnro das libcrdadcs do consumi-
nc, e conseqüentemente à ordem. O aurorfaladc um mundo em qu€ dor e, poroutro, o discurso de "lei eordem" para as vírimâs do proc€s-
muitos âspccros são t5o óbvios quc ii n:io sio conscientemenre notâ_ so dc privatizâção c dcsÍcgulâmcnrâção, os consum;dores Íalhos. O
dos. O lugar do ncgÍo nâ sociedade brâsilcüa é um exemplo dcste ideal de pureza da pós-modernidarlc passa pcla criminrlizasâo do§
proccsso, em que umâ rígida hicrarquizaçâo social é natüralizadâ â problcmas sociaisrrr.
ponto de se tornar impcrceptível. 'A busca da pureza moderna exprcssou+e diariamcntc com a
'Íudo isto diz rcrycito à relâção com o outro, e é por isso que â .ição punitiva contrâ âs classcs pcrigosas; a buscr da pureza pós-mo-
chcgada de um "estranho" cstremece â scgurâtsa cotidiâna. O csúa- dernr expresa-se diariamcntr com a agão puniriva contra morâdores
Dho scria â sínrese da "suieira" automíticâ, autolocomotorâ c das ruas pobres c das áreas urlxnas proibid.rs, os vagâbundos e indo-
aurocondutora. É por isso que as sociedâdcs lutam porclassificar, sc- lentes"'1r. Ás políticas dc scgurânça "rolcrândx zero" e suas vcrsôe§
parar, confinar, exilarou âniquilâros e§rranhos. Em âlgun§ momcn-
r{ Cí WÀCQU^NT, Lon. Á ârce,çêo do E ra.b Pehal rcs EUA-I : DiscuroJ rediciosor -
'! ÍIAUM^N, zysnrunr, O na/+í dapórnodenidade. Rio de Jâneiú:JoÍ8ê Zaha. Êdi cíine, dneno e saciedade, ana 7,n! I1. Rto de laneiror Instiruto Caiocr de Cim noto

''.' lx)UCL^S, Mary. P,rcza e perigo. Lhboâ: Ed çó6 70. rd. 'r' BAUM^N, Zy8hunr.Op. cil., p.26

7ú 79
iniciada por Rcagan, comcça nos EUA uma popularizaçáo de
.rtare,
miméticas rupiniquins t:o prova viva disso, nabusca da ordcm urba- med;das policiais e iurídicas que insraura uma "caça aos pobres" e
na contra a impurcza dos camclôs, flanelinhas e mendigos. um processo de penalizaçio da prccaricdadcrr'.
Os cstranhos "nío se encaixam no mapa cognnivo! moral ou Neste mundo ondc, por princípio, nenhum emprego égaranti-
estético do mundo", elcs "poluem a alegria com a an8úÍiâ", cmbâ- do, onde não exisrem posiçôcs ondc o5 laços de vizinhança e
ralham as Írontciras c por isso produzem mal-estare insegurança. Na 'egurís,
de famíliâ sedes;nteArâm, o mcdocorrói.r alm:r,os meiosdecomuni-
guerra contÍa os cstrânhos âpre§entam-se düas estrarógiasr uma é 6ãçã() pÂssâm uma mensagem dc malcabilidadc c indeterminação e
antropoÍágica, que ao devorar assimila, a outra é antropoêmica, quc ümâ noção de identidâdc dc palimpsesto que se ajustâ às condições
ao vomitar exclui. Para Bauman esta scria a difeÍenciasão entrê os mutrnLcs rprimomndo a rnc Jo csquccimcnro. numa incc,'anre auro.
projctos liberal e racista-nâcioralistâ O cârátet conservador do libe- obliteraçãorI.
ralismo brâsilçiro talvez torne mais tênuc a diferenciação entre os do,§ Ncss: crisc pcrmancntc de idcntldcde, o homem contemporâ-
neo enfrenta o estmnho como o viscoso enr Sârtre ("o visgo é como
ô Estado moderno produziu uma destruição criâtiva ao cm- um líquido visto nurr: pcsadclo, cm quc todrs as suas propriedades
pÍeender a aniquilrçío cultural e Íisicr dos estranhos, dcmolindo c são animadas por uma espécie de vitl:r, e voltr-sc contra mim)$. O
consiruindo âo mcsmo tcmpo. Esteprocessode ordem loi cons!jturivo estranho, ou viscoso, é tcmido pcla sur clasticidade, pcla sua capaci-
dâ nasão, da estíuturasão r.io Estado onde os csÚ,nhôsvivcram §cm- dade de comprorneter, pclo scu podcr dc arrísrar c desagregar, pela
pre num cstado dc cxtinç:o conriJàrrí. Ao huscâÍ coníruir a novâ or- cncarnação que traz do mcdo da dissolução da ordcm.
dem,o Estado modcrno destituira os poderes intcrmed iá Íios do§ con-
sumidoÍcs c trâdisões, prometendo libcrrar o indivíduo da idenrida- "E o Flder políri.o otcr..crÍ sur hrbitualpartilha deoporrunidades
de herdada, cntcndcndo a idenddrde como proieto dc vida.Âacclc- p., í o.úrro..ir.uiro do\ t'ólo5: pIru pruLrSCÍ luJ próprií cm,oc'pí.
râçío dâs mud.nçâs c o colapso dcsse processo idendiário tíânsfor- d! scdusío, os t)róxin)o, do píimeiro Élo procumrão o
são atí.vés
môu â inccÍtcza em condiçâo permancnre e irredurívcl do mundo Jomínio pclô mcdo sobrc os do lru Àdo pólo, xiudàâdo e Íâvore.cÍr,
pós-moderno, criando uma atmosíera de mcdo ambienral do, assim, sur indú§(ril subLrrbrnr dc horores rto
Anovâordcm mundinl podc screntendida à luzdoconceitodc
"barbarização sccundária", âccrca do imprcto da metrópole na pcrife- Esta nova ordem prevê a magrificnção do sistema penal e o
ria do m ndo. A libcrdadc irrcsüiri do capital iin:rnceiro despedaçou as
u
€onscqücntc aumcrto vcrriginoso dAs tírâs de cncarceramento, bem
redcs de scgurança societárias, dctonando um processo de polarização como d:r indústrir carceríria (políciu, tribunais, advogados, fornece-
que nío podc mais scr contido pelâs cstruturâs legaisdotuclàrc ltatc, dores de equipamcntos prisionais).
criando condiçócs dc desigualtlade assustadoras. 'A projeçáo genocida Bauman alirma quc cssl viscosidide do estraDho em rclação à
dc um recno-colonialismo correspondcnte à última revolu§ão Gccno- política de exclusão origin.r+c dc unr lógicr dc polarização, tipo "duas
científica) fariaempalidecera crucl históriâdoscoloniâli§mosanterio-
res''rr6. t itWâ€quânlâfirmâ que, com o desmanrclamettodowclfatc
listion de la'Ial&án@ Zéa", ?aÍir: 1999, c.p. 22,
r{ Cí NIOER, Gizlênê. DÀcu6o iwidi@ e oÍdsn buryuda áo 8âr,l Podo séAio ^gone,
^l€eÉ:
Anroô io FabÍir Editor, I 995. '{ c,. BAUMÀN, ZyBm0nl. Op- cil-
Cl oENCHTMOL, laims- PerêÉ Pas56, un Haussnann ti.|)iaL Rio dê laneio: SEÉ I! Cí 8AUMAN, Zygmunl. Op. cir. Nol! s .lo (àpítub n cÍiâção e a anulação dôs enÍà
''5
uÍia Mlnicip.l dê Culturá, 1990. oh6', ondê o rúlor e reÍeÍê àf.i,g ánd Nod,i,Cne$ de ,e,FPaul sadrc.
''ízAÍÍ^RONl. EuEEnio R, fD ôltca dar p€"ás peíddât. Rio delaneio: Rnân, r991,
p, 122,
naçóes', onde à nâção oprimida "foram negados os recursos de cons- Bâuman rctomr o que Delumeau denominou ,.mcnralidade
truçãoda idenridade e, assim (portodas as intençóes eproPó§itos Prá- obsidional" para trabalharâ p.oduçío de fanrasiâ dos pcrigos que amea-
ticos) todos os instrumentos da cidadrnia"r5r. çâm ã idcntidâdc dc todo tipo de ordem social. Â ameaça seria uma
Parâ wâcquânr, a destruição deliberâda do E§tado Social e â pro;eção da âmbivalêncii interna dr socicdâde sobre scus próprios
hipertrofia crescente do Estado t'cnal nos últimos 25 ânos são Proces- rccursos-A mcntrlidade obsidional êm Delumeâu é a fonalcza sitia-
sos concomirantes c complemcntares'5'l. Tanro Bauman como da em Bauman. Pâm o scgundo áutorâ inccÍrezâ é condição perma-
Wacquant associam as tâxas dc cncrrcemrnento a e§tá forma contcm- ncnre e iffedutíveldos nossos rcmpos.
porânea de encarar o social. Wacquant faz um paralelo entre os in imi- Sc o demônio que acossava a Idâde Modcíoâ cra a Revolu-
gos cômodos, criados pelas ondas dc criminalizâção naÂmórica (cn- çãor", o dcmônio contcmpoÍâneo csrariâ condcnsâdo nos discursos
t.. os neg."$ e na Eu.opa (imigrantes do terceiro mundo)r'r' do au»cfito da crininaliladc. Para Bauman esse processo de
últimos 25 anos âumcn er constantemente a população dc
Se nos oiminalização é o próprio produto da socicdade de consumidores. A
encarccrados e a inÍra-estrutura prisional, aumenta tâmbém o número sedução do mercado a, simult:rneamente, a grandc igualarlora c:r gran-
dc trabalhadores sem cmprcgo, cxcluídos do consumo e conseqüentc- de divisora. rnultiplicasão do com p orrâmento classitjcad o como cri-
mente davida social. Pairâ no aruma sensação difusa de insegurança minoso não scria problema para a socicdade consumidora, mâs scu
Para Bauman, esta angústia, cste medo sofre uma protunda altcração pré-requisito. Os consumidores falhos são os novos demônios, isola-
com a "fleibilização" do cmprego.Âinseguranç no trabalho produz! dos em gucros criminalizados e ciientcs potenciais do podcr da "in,
Íia cntão pouco espâço para a vida vivida como um projeto. O canão dc dústriâ dÀ prisão" de Nils Christie'%. Os efeitos dcste proccsso de
cÉdito seria umâ esPécie dc mctífora do scntimento antes cvocado pcla incriminâçío dâ pobrcza podcm ser dctccrados em todo o mundo
cadcrneta dc poupança. Com os projcros de desmantelamento da prcvi- 'globalizado".
áência,do uelfarc aac,oquc cÉ cntendido ânieriormente como dirci-
todo cidadáo, como rcdc dc scgurança coletiva, passa a serinterprctado "Na opinião públici c nos meios de conrrnicasio d
comocaridade, csúgmll dos incapazcsc imprcvidentcs: "difamadoscomo crimes se caracrcrizam por um. distribu;ção dos pâpéis da
scndo um sorvedouro do 'dinhciro dos contribuinteJ, associâdos no 'esulsr
vítima c do rsrcsor, rcspectivi mcnrc enrre os grüpos sociais.privite-
entendimento público a parasitismo, negligência censurívei, promis- giadol e'rcspcitívciC c eore osgrupos marginalizados c,pcrjgosoí
cuidade sexual ou abuso de drogas - eles se tornam cada vez mais a (csúangciro§, tóxico dependcnrcs, pobres, pcssors scm f mÍtii, de-
versão conremporâneâ da rcconpensa do pecado, e recompensa do pe-
\ mprcgldo( ou scm qú-hfic,rcro !,.
.rofi-ronrl)"
cado que nós, não só já não podemos custear, como para a qual nío
existe Íazão morâl Por quc dcvcrÍimos tentar fâzô-lo"ra. Náo há ma s
No Brasil a "gucffa conrra as drogas" rem sido um rccrutador
seguro coletivo conrra os Íi§cos: €§ta tarefa toi Privâtizada'

r 5l BAUMÀN, zy8Eunl OP. cil., P. ,18. rrr Cí Rud., c@rg6. dúlrdlo na Hiitóíia: eautlo .\.t movimnto, p@uta@ aa tÉnça
r52 Cíw CQUANÍ, Loit À a@rlo líad, Petral Doc fuÁ. Op cit'
do ena tn9latêú - t 7^30,8,t8_ Rto d.te.io. Crmpu\, t99t.Oêhlg, O"tt. Owto-á
cónoór - ett á,8e,ms e nisan@ ns uitõêt dô de*ê er inro,À - áuroànJ tt\r ítã nodünútrdp àpós o tàúha de
r5l cí. WACQUAÚT, torc ln,migoe da iúho dê t gas
tuopa. h, bn@,;ot tednidot - cr,me dteno e r@€dáde. àm 4, n' 9/1O Rio &
en Páú. Sôo Paulo: Companhi. dú relÉt I 999.
lan;a rnslilulo CnÍi6 de C,im,mlosirFeila! 8ôíos, 20oo; e P^VAR|N|, Ma$im'2' 'rÍcí BAUMÁN, Zygmunl, Op.cil,, pp.2ts7.
ô iútutiwi@ halhÉ ht Dis.rlos ÉdÉi.@ -.tinq Ü@:noetr,â&de,er, lt? B{RÁn4. AlelendÍo. DÉ/er" do. dleno, huDJrúr epolÍi,ã aiqnàt.tÍ Discuros
Rio dehnêió: lnstituto CaÍio.â de CÍiminolqia, 1999. .ed(@ror - crh.. dne o e rajedrde. 2, n! t. R'o deJcneiÍo:
"no tní ruo Cano.J dê
r54 BÁUMÀN, zygmúnl. OP. cil, P. 52 CiminoloÊia, 1992, p. s9.

a2 83
pena|s3 4 pro-
clicâz de clientcla para â lctalidade do nos§o sistema mediáveis,suâslronrcirasdisoluiâs (âs mercadoriaspodenvlâjrrpelo
Jrç.'o de pánico, ,, nJ )ucicd-de ocidcnml Jo que
Pcrpct-:'çin mLrndoglotal, os homens, não... principalmcnte os que pretendem ir
n"i'-e,u . t a" mcnralid JuoL'idlon-llcvrmrPen'J qLec*J
,m.r do sul para o norte, da África para a Er.rropa)161.
entcrrJi-
n., m"nentc liL,ri..,(io de c'r, kórrp ^ de inr rigo' Petmire o Delumeaü já hâviâ dcscrito o cvangelismo do medo, na insis-
LmJ rnro irâ J" tência do mâcâbro como visão do mundo forâ do ascet;smo, com â
-...a",",a","rn",,"rinLcrprr''c;oJ.lr'lid:Jcmo'lico'ri'ri'
ollrar o m..rndo, unrr e rcricr Ir(íultir i civiliTr(lo cu$a como Íiocondutordâ salvação da alma. Á lição moral c rcligiosa
exércno de
Bauman nos faLa que a pobrez:r, que não é mâis dcsliza prrâ o prazcr sádico, pam o espetácuio do soírimeflto como
sem destitlo' preci- expiação. Ou seja, produz uma estórica. Não é à ro:t que Alessandro
reserva dc mão-de-oi,ra, iornou-se unra Pobrezâ
sanclo serisolada, neutralizada e rlcstituída de
podciDsses Íesultâdos Baratta identifica na magnilicxção do mcdo urbano contemporâneo
da incriminação da
seriam alcançâdos âü és da"estratégia bifurcada essa mancira de interprctÂr a realidade. Bauman diz que a
uobrezr e d,"l,rut"liz.rç:o ,lo' p.br' O: noto' inimiso" 'tr
o"lcn modemidade transformr a mortc do próximo c querido em algo se-
ôütJlic- (onrcn, terrori',r', hojc trrllcrnresr 'lo submetrdo' creto e privado, e a mortc humanr cm cqretículo cotidiano, como â
àlr,u-"..n,.:o c,pct,, ulo PenJI :'s\i oc' Je t' ÍúÍ do' morin5 qu" r
danse nncabrc àoim <h. i.drdc rnódia, anc pcla artc.Ássim "âs pessoas
nênitcnciiÍro. r do. coneJorcs dr muír' N:io c coincid;ncr I que morrem como moscas, em banrlos, subtr:rcm o fcrrão do horror
;ohica criminal d",loss heg' mônic' no plrncr; '' d:riia ro' po' da cena da morte"ru'.
i.'-.toU,i. ina i*,;,ni",,,.1,-e.rt"' *jr- clc' i"" n l"rr"l"do' nolüo' No Rio de Ianenodosiculo XlX, as clircs bmncas lklam coridia-
. ,-í,,** a, Colóml,i: ou rmigrunre' tndesc
jr' :is no hemi' ; io namente como o mcdo da insuLreição ncgm c com os dcsdobramentos
nortc. Pârâ Bâumân.1 combinação de cstrâtégiâs de exclu§ão' do fim da cscravidão no seu coridiâno. Sidncy Clialhoub, cm rccentc
criminalizaçijo c brutelizâção do§ Pobrcs imPcde a condcnsaçáo
cle cursode hist6ria para mestrandos cm Criminologirr úrilizou gravurâs e
u,' scllti.rcDtu .lc i"justiçâ câP!z dc rebclar§c contra o sisrcma' Às descÍiçõcs literárias pâra descrevero que reprcscntara prra a clite bran'
políticâs públicas sc convertcm cm "rdninisrração tec ocráticâdade ca do século XIX a perspectiva do fim da escravidão ncgrr. Nurla dcs
sigr-r:rldade c dos riscos'r5' sas gravurâs em quc um africanorír abana uma branca, o scntimento
per-
Dnten.lcndo a modcrnidrde como a impo§sibilidade dc prcdominante cios proprietários brasileiros cm mcados do sóculo XX
mrnecer Íixo, Baum;rn instaura xí a qüe§tão dâ identidáde' Com essa seriâ similâÍà indignâção diante da iminência do lim dr brisr.
.n'o. i,\io. ., r mod, rno i;n,li'r.rrtmmuvim'nro'r'irontei6 Sc o medo oa Europa do século XIX era o mcdo da rcvoiução,
.:oln"X il.t;.o', Í viscosidade do outro'ú0' no Brasil e na América Lâtina esse temoÍ erâ acrcscido pclo fim da
""rn"nrândo de
O câráter trágico da cukurr pórmoderna produz a rnistura
"
escrâvidão, oáo só pelo limda brisa, mas tamblm pelas trrtasias acer
e medo, com scu espctáculo de horror, su⧠ambivalênciâs krc- ca do desfecho brutal dacscravatura. O F{aiti, a tra n sfigu ração vodu c
descjo
a volta dos mortos-vivos passervâm pclos corâçôcs proprietár;os dei
p'oaê
i*l.*.
- l,;,",," t. " *,r.u"",.r/' er e"n\oi ü q'. d alt ctu'q ruÚ'poü'10 (TÀ \rro rle a tenra iníância.
i- i"l.* ã. i. c" oi, a" c, .,.oc "^"''. zoo I & B{r
';õ).i;.,;;;:;-;;ú.:"r.ne..odc...Bvc.t..D.scu,.o.*d,,o,o!-,4nc.d,e'o
"
!-'..*i,i". ,' nLo de lânen;: lníiruto cârioca de cÍiminolqi'Freirâs
"i.1, "u. '6' No épico
ulr.âmodêrno de sàlman Rurhdê, rs íronteitrs entÍea, rcâ idâdeslàmbém 5e
,re.Í BARAÍÍA, ALe$ânrlrc. Ln: El CohcePto dc sesÚÍidad v las Palilicãs
de Prevención en .mbarâ htrm eo châoque ela pi5a âbrêse âos seus pé5 enr Eíomotos € catàc ismâs lcl.
RUSHDLÉ, Salmân. O.lão quê €la pisâ. 5ão Paulo: CÕnrpanhià da5 Lelês, 1999).
tà i.ô.onia Alobalnada '
Ria de lâne ror mirneo UC_AM' 2000'

'ú (.,rc d ô,e,Ião Jrs xon.-trd, . l" U n,n"l 2,Çro oJ' I t.d!o" .'r''À5IRO'' ÔlJ op, cil,, p 213.
P'a ê o' :PdàdP'
;;, ;;... rn: o'.. r''o';orjó o' " :t P d:Bdr''
i;;:,""J. ;,;;;.
'n'" -,. 'd secúndôC zlêne Neder, aré as pÍimê râs décâdrs do séc. XX ô, ÍeshtÍos criminah aludiâm
-""'i .;o à I *i,. r" . - o.J ro J o'''in 'ro'o8 J-€1ó' '1es7' 'roãf câno', à ôÍiÊe6 geôaráficâ do peEonagenr.

n4
Chalhoub já dcscrcver:r a cidade esconderi jo, a cidadc-armadi- drogas. A psiquiatria e a medicina as ofcrccem em larga cscala, num
lha e as estratégias de embaralhamcnto dos cscravos e dos cativos pe- processo dc medicalização do sofrimcnto que tâmbém atinge os
las ruas da cidade. Quanto mais difusas as fronteiras, maior o medo. circuitos subterrâncos das drogas ilegais. Para tsirman, medicalizaro
walterBcniâmin nos fâla da íantasmagoria das barricadas em Paris c mâl-estâ. é cmpÍeêndcr âti!âmcnre o trabâlhodo esquecimcnto, pela
da hausnanr inrion, da tne dc dcmolir, do "embclczamento estntégi- rccusa do desamparoe seus significa.los'@. A recusa aoesquccimento
co" da urlrs contra o medoda rcvoluçao.ParaBenirmin a modernidade podcria se conrraporà "lógica diabólica da homogen€izaçâo subjetivâ"
é o mundo dominado por suas fantasmasgorias'6r. . à €ulturã do narcisismo e do individuilismo triunfânr€.
focl Bnman trabalha o mal-estar na atualidadc c o mal-estar na Á mcdiação psicofarmacológica, bem como as drogas ilegai§, é
psicanálise através do desamparo conrcmporâneo na cultura do narcisismo quc conforta esse novo sujeito. À nccess idadc disseminada, paralela à
e na socicdadc do espetácu lo, Neste noso mundo, com a "auto-exaltação criminalização, inscrcve â produçâo € dktribuição das drogas no cir-
dcsmesumda da individualidade" ou o individu:rlismo possessivo'6', a im- cuitodo conércio c das finanças intcrnâcionâis. 'Enfim, as drogas se
possibilidadc de sc dcrcntrâr de si implica na impossibilidade dc cnxcr- dcslocaram docampo regulado pcla econom ia dos signos paÍa o câm-
gar o ouúo. É neste contexto, ondc o lobo do homem hobbesiano po da cconomiâ políticâ"'4. Enfim, nr gco-polírica da exclusâo glo-
hegemoniza o mundo globalizado (na verdade, uma ilha cercada de bal, meninos pobrcs vendem drogas ilegâis pârâ neninos ricos. En-
africanos, chineses, hindus, amcricanos do sul e muçulrnano$, que se quânto anestesiám-sc u,rs, metra)ham-sc outros; mas arübos os gru-
intensificam as rclaçóes sado-mísoquistas, rclaçócs dc servidão. Para pos (os ricos e os pobre$ eÍão conúolâdos. Controlesocial no 6m do
Birman,nâ pâssâgem dâ modernidadepara a pós-modcrnidade "algo da
ordem do sujcito c do deseio sc úansrormou radic.!mcnre"'6.
Trâbâlhândo memória c Íeminiscência, Birman afirma que só "No iní.io d. sua vid., oWilhêlm M.irterd. Go.drc dcscobriu quc
o reconhccimento do frac.rso levi à assunçío dcscjantc no prescnte e sônent. os iovcns lristocratas porlcm confiar cm scr tomrdos pelo
a umâ hisrória dirigida ao futuro. O dcsejo é sempre âlgo qüe só sc quc são; iodos os ouLrôs seriam rlrliitlos ou condc,rrdos pclo que
realizá no firturo'67. Pârr Birmân, estâ pós-modcrnidadc tem como
maior mcúfora o desampâro no scu sentido mâis âmplo. "Odesamparo
se impôe como sintomâ e como fonte permanentc de produçáo de Chegou o tempocm quc os outros sío condcnâdos pcloquc sáo.
peÍtuÍbasõcs psíquicas, na mcdida em quea dorque revela contraria
todas Ís pretensões da modcrnidade, aquclas cm que o suieito 3.3 Psicopatologia da pós-nrorlcrnidade
promctcico domiraria o mundo de uma mancira absoluta c Desdeâ sua insrxlasão noc,rnpo rh r»cdicina, no fim do século
indiscutívcl"'ô. É neste cenário quc surge a dcmanda e â ofertâ por VIII, comcço do século XIX, a psirlui,rrri;r acrcditou ter conseguido o
suposto reconhccimento dr loucura cor:ro doença mental, cxtraindo-
a doconl'uso universo cm que sc nristurJva com a ralá "desviantc" do
'qBENIAM|N, WâLte. É./,8 fr,âí,ir. PâÍis: CãllimaÍd,1991, p.309.
'É cl MACPHE RsON, c B, A rúia
polh:É do individualisdo po$6sivo - de Hoóàs á antigo Íegime nos Hospitais Gcra is. A r(cém-nâscida medicina mental
rdtê. Rio de láreió: Pe e Teía, 1979,
,6 B|*M^N,
l@1. Mài+srâ, ná !!!.rldade. Rio de laneno: Cirilizaçào 8Í*ileiÍâ, 1999.
tt? srRMÁN,
Joel. Pi,canilire, negÁtividade e hr,.ero9êoeô: como a pranálBe pode !êr 'ô, CÍ, BIRMAN, lel. Prcánllhe ne9àtilidade c hcteíoeêúea: .ano a psiühálise pade 3e.
obttácalo pata a baÍbátie? l CàdehosdePs,caááine,!ol,15, n! 13. Riodelanerol abttÁculo paí! d baíbÁtiet l Càde."or de Psicirl/Àê, vol. r5, n! 10. Riodelaneno:
SPCRJ r999.
,"" BIRMAN, loel. ra Pry./ra".l4h et la Ctirique de lâ Maderrné, ln: Oü o, eí lã à BIRMÀN,loel. Op. clt,, p,222
Pty.h a n rl yse? Psychanalyse et Í lqoÂs de la Modenté , ?ô.ist Édil ions t ét, 2000. » R^UMAN, zygmuôr, O ha/.6tar <là pós-ntodehidàde. Op. cír., p. 94.

86 a7
sonhrvâ com a paridadc estrâtégica com â medicina somática, a ser modalidadc dc íuncionamenro biológico. Se o sujeito cxiste, ele tem
experimentada nos asilos psiquiáuicos para alicnados mcntaisrT'?
Es.e movimento r€m a ver com â atuàl Psicopâtologia fundada Em primciro lugar, Birman c níatiza a utilização da drogacomo
nas neurociências, na genética e na p§icofârmacologia. Operândo fcrramenta terapêurica dc uma psiquiatria massificante,
scmpre no pâÍâdigma ctiológico, a expli.ação das docnças mentais instrumcntalizadã parr (ou contra) as classes popularcs socialmenrc
mudaria o foco das lesócs nas estruturâs anâIômicas e histológicas do mrrgioalizâdas. O aprruto assistcncial arcnde massivamente scm
corpo para as microJesócs funcionais e bioquímicas produzidas pelo permitir âos pacientcs o direito à sua singularidade. O objctivo dos
organismo, no rcgistro das ílterâsócs genéticas, rncdicamcntos é regular as síndromes e sintomas, constitui o-sc,
No câpitalismo tardio da virâdr do milênio, âs pcsqunas nos cn tão, em estrâtégias dc
controle social. Lucília Elias, em reccntcartigo
Estados Unidos irão subordinar a política científica de outros Pâíscs analisa os tratamentos disponívcis para as toxicornanias, manu:is dc
(como â política econômica e cultural), dentro do marco geral da nu(o-classificação, cm quc a história do suiciro não enlrâ em cena,
privrtizaçío do genomr e di cnsênhííir g.néri.i. mas sim um apagamcnto da memória para a construção de uma novâ

Joel Birmân denomina de psicopatologia da modcrnidâde


csse klentidadc; cu sou um drogado, c como tal mc inscrevo no cotidiãno
projcto psiquiátrico, político e epistemol6gico. Do ponto de vista do meu mundo. Eu sou drogado, mas tenhodc funcionarr?r.
mctodológico, um tuncionxlismo utilitaíis6, n Ádam Smith, torna Para Birmrn, o uso privilcgiarJo do meJrc:rrncnto nioé ingênuo,

hcgcmônica uma visân cqracialc ponturl d:rs docnças humanas, cm clc visâ â ânülação c o silênciô dí histórix de uma cxistôncia c,
oposição a trma âpÍoxiD)âção !cmporâ1. E§sc Processo exciui â conscqüentcmente, â eliminação da sinsulxridlde do sujciLo, reduziclo
subietividadcda análisc rio mal-estar, nãocabendo mais a análisc nem à Íi,ncionalidade orgânica. Funcionrlidade quc se transforma cm
dr história da doença, nem dos dcstinos do §ujeito.Âpsicanálise entra m..ca indclélel dr psicopatologi:r dâ modcrnidâdc, Íazcndo do
cm baixa e a.onstrução psicopârológica da pós-modcrnidade se rendimcnto â conseqüôncir dircta cla funcionalidrde bioquímica do
estâbelecc enÍâizâdâ nos holofotcs da socicdade do e§Petáculo e na
cultura do nrrcisismo. A períormrnce como ideal regulador dirige o Eu mc atreveria a dizerquc, nâs iostiruisões deârendimentoaos
olhar das pesquisas para as deprcssôcs, as síndromes de Pâni.o c âs dcsviantes (os consumidorcs tilhor, o ânol3mcnto dos indícios dâ
toxicomanias, Na mcsma perspcctiva da rcligio§idadc cvâogélicâ singularidadc c do desejo indicam para os "terapeutas" o agravamento
pcntecostal "de resultados", €m quc se Deus existe tem de funcionar' do estado do pacientc. Em rcccnrc trabalho sobrc adolescenres pobres
os suieitos lânç.dos à própria sorrc no jogo do individualismo criminalizados por díogas, detecto cstc olhardos operadôrcs do sisr€ma
possessivo rambém têm que tuncionar' penal c suas conseqü6n.iâs.
Um outro caminho de crítica ao "triunfalismo psiquiátrico"
dirige-se ao que Birmao denomior "fé ãbsolutí nâ dÍoga" como "O lctor de psiquiatria cooc.nrm s.us diagnósri.o5 o
instrumento r€rapêutico. Os novos naturalisras dcscartam os num constituído sobre pÍcconccitos. A funçío dc criar'corpôs dó-
argum cntos subjetivos c disparam rcspostas eficazes e imedirta§ contrâ ceis ip.rccc scmpÍc qu€ há iinxl dc rebeldia. Mâ.O.B,, moradordo
os sintomas. const'uindo umaengcnharia e uma tàcnocracia do espírito ivÍotro de Sno Ccrlos, detido cm 78.ôn 4,53g. de maconha, rccebc
h umano. Destitu ído do dcsejo c da libudadc o sujeiro sc reduza uma do Scrviço dc Libcrdrdc Àssis(idr o s€gujntc Relaió.io psicossocinl:

,r c" BIRM^\,loel. Per,,zando to. Daoas. ta P!,op1@taqll en tà Patdadetnidã.].


'1: ,r Cí. ELIAS, Lucllia. Ps,.aná/iie e rorico.ranla, i: Dsc!í$ ,ed,.iosos - cnhe. dÍ.iro.r
Ptsit - RqÉu de ?tiblaslà y C,'4;ir HuDJ'rr'
ano 2, 2. B'm A'6: rrruhdd r@iedade, ano 4, no 9-i 0. Riô d! lanelrc: lníirdo Cârifta de Cíiminolosrà/trutrâ, B$
d. ciscis Húmnae - UnivêGidad oieso Pôdalês, 2000
'!

88
püicú losidade .ão hâvia cessado, o que lhegaranre mais um aoo de
'Projeta suas dificuldades e deficiênciás no meio ambiente, disso re-
prisâoc depois ma;s dois anos de liberdrde assistida. Difíceisgánhôs
sulLândo idóias dc que é prejudicadoe injustiçldo. O ideal seria que
esieoeno.continuase o tr.trnento porlongo Pcríodo, em face das
cafucrernricasdepersooalid"de.muiror:-etne.' r reinciJanci:' )
Os psicol'ármâcos urilizâdos n:rs "panes de funcionamenfo dos
O relâto médico-psiqu;átrico da Funabem analisa WS.L., 17 anos,
preto, morador da Cidade de Deus, preso pôr tráficô dc maconha e
coÍpos (e dâs menrer" pâra rcâjusrâro sisremâ inrroduzcm mediadores
neuroquímicos cujâ urilização condnua provoca âheraçóes primáriâs
côcaína cm 1988: 'Possu; porte a lrivo, cateçâ ersuida, ândar tranqüi-
,râ ârenção, ,ro pensrme. ro, afeundo a mcnlória, silenciando âs mârcas
lo, seguro desi.Tôdocle su$re súà Àuroconfiançâ.(...)O soffiso que
históricas e singulares da subjetividade. Este trabalho de apagamcnto
por vezes aÍlora é mais como um reforso de expressão cô.po.âl dô
é â ântítese da psicanálise, onde o mal-estare seus sinromâs pôem em
que áfetividade(...) jàmàis deftonstrou submissão, e 'de fato! náo é
cvidênciâ a dimensão trágica do sujeito, propondo um destino para
csse mal-estar. No proccsso analítico, o reconhecimenro do desejo é
Arevolú com scu destino aparece para a psicóloga como'projeçãô de
que cria a responsabilidade peloseu destino, scndo a memóriaêúni.â
su dil'lculdodes edefi.iêociaf e tem côóo indicação
porlongo períôdo'ehÍâcc das 'caracrÚísticas da personilidâde mui-
instânciâ a rompercom a lógicâ homogeneizânre da civitização,77. E
essa retomada se dá no enrrelaçamenro da hisróriâ, da memória
to suscetíveis a reincidências'. A mensuragão dâ subúissão pelo ôu-
tro 'cspccialisra' é í.ira pclo 'portc altivo', pclo dpo de sorriso, pela
individual com â memóriâ coleriva, na consrÍução de um futuro
'autoconfiança'. O caso de F.A.S., l6 anos, pârdô, môrado.dâ falel.
desejânte, dc umâ utopia possível fündadâ no desejo.
Barros Fillro é ábsolutámenle chocanre. Preso por tráÂco em 1978,
O que a psiquiatria l,iológica empreeode, na reatidade, é a
dc.consúuç-:o do regisrro simbolito. umJ vcz que.s.,ngúrri3s.áo
ele !âi pârâ o Instnüto Muniz Sôd.é, dô sisremá pcíiten.iário xduho
(DESIPE);.pós dois anos dc prisío, o promotorpede um exame de "momentos privilesiâdos da crise da ordem simbólica na subjerividade,
dcvendo serrcconhecida como tal para poderserrestaurada"rTs. Biman
.essàçáo de periculôsjdadc. O laudo da psicóloga revelà: 'O menor
reconhcce â produção eleriva da iarrogênese, legitimando ou cxcluindo
ainda se sente atraído por umi vida de ganhos íáceis. Esta vida é
opçôes teóricas pârâ tomar dccisócs terâpêuricas.
iinda scnrid. como umâ coisâ boâ, razcndo com quc os olhos br;
lhem ao referir+e ro que fazia com o dinhe;ro conseguido. À faota-
Como na astúcia da razão ;mperiâlisrâ dc Wacquânt e Bour-
siá de poder tue.ter un status', um grâúde güardá rôupâ êm plenl
di€u"', a prescrição dos psicofármrcos é feita em escata internacional
por psiquiatras e módicos no cotidiano dos consuhórios, contra os
moda, cercâHe de guloseimâs e garoÉs tronitas, não se coaduoam
com r vida quc ó possÍvcl sc lcvar com um salário nínimo(...) Sua
sintomas do mal-esrâr Se pensarmos na forma nrdeíesa com que as
massas pobres recebcm essâ medicação, podemos acrescenrá,la aos
declrraçao de que quer mudar de vida Íicou bem pouco aceitável
po.s cjr i Í..r" de mineirJ mui.o pouco sincerJ. como se eÍ^ese
rpeoas dizendo o que era esperadô süe dissesse, tcntandô dissimulÚ
para os peritos suas verdadeiras idéiaí. o
brilho no olhai, o desejo r CÍ. B RMAN. lôe . Py, dn"r,r - ceàtt, toddc hct-t1gáneo: . atna à p.,tuadise pode .-r
dp p.i
"n.' \ot. \nq.B.RioôôJdnpiro.
de 'status' e de adquirir coisas 'que nãô se côâdunam côm à vidâ de ab<áLulopàtà à Labát,e. tn:c ê.
'uqnui
Sociedãde de Ps cânálise da Cidâde do R o delànei.o, r9!5,
salírio mínino', atestam parà o esp.cialista em quesrão que . ,n BTRMAN, Joel. Re/anzado /or Dad6: la PsicopatólaEia en tã pashodemidad, tn: pnxjs
Revista.la Psicôlósia y Cien.is Hlma,ar, anô 2, n!2, BuenosAires: FâcutladdeCienctas
HuôanaÍUnive6idâd Oie8oPoíiles,2OOO, p. 7l
r7r 3AT|5TA, Vên MalaAuti. Diíl.eis Eanhos láceit - Ílíagas e juvemú.le pobte no Rio de
l'aoRDllJ.D,p,F.t\ACO(ANT,-on.Or,rh.Cur.n,nSorrnpet,dttrRcàsóntn:t\po,r,
/a,eiro. Riodelaneto: lníilulo Carioca de CrinrinoloBirRwaf, 2003,
r75 Cll!rc ardsôc,el/, vol. t6. Lôndres 1999.
ôAÍlSÍ^, VeraMâlasuli. Op, cil.

9l
Pouco se irlou, na bibiiografia existente sobre o uso que Frcud
fatores queBaumrn analisa, nacombinaçãode estratégiâs decontrole,
fez da cocaina, acerca da relação enrre â invenção dâ psicanálise e o
criminaliz.rção e bru talizâção dos pobres, para imped ir a cond ensação
scu rbandono do uso da drôgr, através da comprccnsão da dimensão
de um scrtimento de injuúiçâ câPaz de rebelarse conür o sistemars0.
do gozo que a substância promovc. Sua anâlogiâ enrre drogâs e
Abandonando o paradigma c um saber possível accrca da
sexualidade indicou que rmbas produziriam possibilidades de
singularidade, rpslcopatologia da pórmodernidade se aprcsenta cada
sâtisÍaçáo, podcndo indicâr â fiIlitude dâ psicanálise dando lugâr âos
vez mris como engenharia do otganismo, tundada na sofisticação
tratâmenlos por medicamentrlização. Mas o que 6ca do discurso
tecnológica e no apagamenro da palavrâ e da subjerividadc do doente.
treudiano sobre a regra da abstinência é que para que a experiência
A busca de práticas alternativâs da medicinâ somática se dcsenvolve
psicanalítica funcione não pode hxver satis fação da demanda de amor
como reristência a ess.r homogeneização e tecnificaçâo
do pâciente, este teria quc claborar esta den:rndâ num proccsso dc
UtilizandoetrWeberaaniculaçãodosdiscureosreligiososcont
simbolização. Ou seja, estn experiônciâ dc um cerro mâl-esrâr, de
o contexro histórico dr pós-modernidade, Bnman analisa a diÍusáo
alsumâ ângústia é que mot;va o sujeiro nâ direção dâ simbolizaçãodo
massiva da literatura de :ruto-ajuda como fórmula pâra a salvâção do
seu sintoma, da suâ doi À subúâção toral da angústia anularia a
sujeiro num Írundo descncanrado, permeado por uma racionalidade
câpacidâ.le simbolizadorâ do sujeiro pãÍ! rranstormá-la ern destino,
cicnrífica que não rcconhece simbolicamenre o suieito, âfundado num
em utopiâ fundâdr no desejo. Digânos que o fim do mal,estar seria
crescente mal-estar que não pode sel levado em colta. E um processo
algo asim corno o fim da história.
dc dcsconstruçâo sistenítici da singulâridâde que làz com que ese
À suspensão do desfrtrte da cocaína indicou parâ Freud â
sujcito fiquc reduzido às abstraçôesdo discurso médico contemporâneo.
"prcscnça inqrietante da sexualidade nr subjetividade e as relaçócs
Esta medicin promeleica buscou controlar â morre e o
pâmdoxais destas nos processôs de simbolização"'3'. A psicopatologi.r
sofrimcnto, como se os homens fossem dcuses Não é à toa que os
pós-modcrna, com suâs esrrarégias de apagamento do mâl-esrar
mitos constitutivos dessâ modcrnidade sejam, além de Prometeu,
impediria a caprcidadc foucauhirna de transformar loucu ra crn obra,
Fausto e Frankensrein. Ésta medicinâ e csta ciência enunciaram um
dc construir um prescnte e um futuro d€sejante, no entrelaçamenro
d iscurso antropocêntrico, em que a ciêociâ ôcupa Posição e§tratégica
a
da memória singular e na memória coletiva da grar:dc avcntur.r
antes ocupada porDcus. Neste discurso, a srlvação do homem estâria
na abolição cienrífica dr dore dr morte, no fim do mal-estàr dâ firirude
da vida. através dâ indústria supmnâcional dâ engenharia genécica e
3.4 O gloho dâ morte
nas clonagens à Ia B/adeRtirrrer.
Às velas acesas dr camprnha "I3asta", rnagistralmcure com-
Afé nâs drogas se inscreve ncste coniunto de miros modernos,
paradas às velas da Candc em 1964 pclo hist()liâdor |ocl Rufino dos
na merlida em que as substâncias alteradoras da consciênciâ
Santos'8r, fazem parte do quc Zygmunt Brunr.n dcnominou "tesrivais
âpresentâm poderes mágicos frente ao tcrror e ao desamparo do sujeito
de compâixão e car;dadc, <1uc sc altcrnanr corn eclosões de agressâo
lânçado à própria sorte. Pârx Birman,os medicamentos transformam-
acumulada co.rra um inimigo público rccóm-dcscoberto, ou recém-
se ern verdadeiro fetiche pirâ a proteção contra â do! de existir dos
inventado"ls'. O autor cstá Íí,bâlhrndo trqui. individualização do
"pobres ânimâis sinbólicos marcados radicalmente pelo desampâro e
Iinitudc", impulsionados que somos pelo clesejo encarnado na
üI BIRMÁN,lôel. Op, cil., p.77
l-rrgilidade de noxo corpo.
r.? Releêsê ã a{lcô publicado
noloÍnaldo 3Ítrsil, cm 2000, em queloel RuÍino dos Sanlos
critlcâ a campanha publciráÍla 'Baía'de nrob lização contraaviolênlc u.bànâ.
rúr 8AUMÀN, Zrcmunt. tm b!s., dâ po/irica, Rb
delaneno: loEe Zahar Édltor,2ooo.
rr^llM^N, zy8munr. poliÍicã. Rio de laôenoi joÍse zahaÍ Ed tÔr,2000.
" Em busca da

g3
t2
público e â suâ desúuiçâo como destino parâ o desamparo colctivo. poder políticoe econômico. O discurso corporarivo deve ser enúo fun-

Scgundo Castoriadis, o âspecto mais notável da ãtividâde políricâ cional, mas também tcm que sercrível do ponto dc vista cultural.
contemporânea seria a suâ insignificância. A questâo criminâl € a âdministração do perigosismo social
náúl ZaÍIaÍoni, cm rccênte cuÍso de cíiminologia, afirma quc passam aseralvodc intensâ dispurâ â partirdâcriaeão e âuronomizâção
o medo é o eixo de todos os dbcursos criminológicos. Para ele r pri- dâs corpoÍrções no século XVIU. É por isso que o discurso iurídico-
meirâ privâr;zação dc scgurança aconrcccu com o surgimento do po- penal se âdapu âo discurso biológico, quando o social.darwinismo
der punitivo modcrno, quíndoo Estado delesou aos homens adultos passa a sero discurso hcgcmônico. Odkcursocriminológico eÍÍ scm-
o cootrole das mulhcres. Na tentativa de eliminar da cukura os ele- pre no marco histórico do podcr mundial, scja na revoluçâo mercan-
metrtos pasãos anárq u icos ou d isíuncionâis, â Inquisição dirigiu suas til, seja oa revolução i ndu strial, c dcpois n. rcc,ológicã exercidrcomo
batcrias contra as mulhcres perigosas; perigosas porque clcmcntos- globalização. Para Zaffaroni, o <liscurso criminológico médico-policial
chave na transmissão dc cultura. Pâra Zâffâroni, a tareta deprivatiza- denatur€zâ biol6gico do sóculo XlXpcrmrncccu hegernônicoatC hojc
na Europa, nos Estados Unidos e prircipahnente nâ América Lâtina.
ção da segurança das mulheres deve ter tido bastânle àito, porquc
"nos cinco sécu tos posteriorcs, âcrintinologiâ só trâtou dos homens'rs. Historicamente, âAméricâ Latiní foi (como colônia) uma cspíciê dc
O Estado administrador da mortevai se transformando no Es- instituição tota| apareccu como seqúesrro instirlrcionalizado de rni-
tado administrador da vidr, a partir do século XVIIL Segundo lhôes de scres humanosr!ó. Assim, a prisio nas colôriâs scri:r umá ins-
Foucault, o Estado passir I sc ocupir de um novo sujeito coletivo, o tituiçãode s€qüestro menor, dcnrro rle outm muho maioÍ,úrapotheid
coniuntodc súditos sc trlnsfon»;r cm sujcito colctivor35. Esreprocesso criminológico natural. Em nossa rcgião o sisrema pcnal arlquirc ca-
de âdministraçio da vidr cri.r a nccessidrde de distribuir âs tunçóes, racrerísticas genocidas dc conrenção, diferentes das caractcrísticas
centralizadas antcs n:r Inquisiçío, cnúc âgênciâs especializadas. Es- disciplinâdorâs dos pâGcs cenrrah. Mâs, hisroricamenre, a ÁméÍicâ
tas burocracias rcgulatórias e adnriuistrativas passam histor;camcnte laúna tem semprc "adaprado" os concêiros e récnicas que os cspccia-
por um processo dc autononriz.ação c hicrarquização, dando lugar a listas dos paíscs hegcmônicos impõcm. O preço tem sido altor,.
umag:ma dc coÍporâç6cs pÍofiss;onais que disputâm pode. O fim do século XX assisrc âo declínio do podeÍ pôlírico € à
Se para ZrfÍrronio risco da criminologia é ser'tabere arte dc âscensâô do pod€Í €conômico Úansnacionalizado. O poder polírico
despejar perigos discursivos", cstc poder corporarivo autonomizado nacional é drasticamente reduzido c nao dá conta da conÍlitividadc
dcscnvolvc discu rsos cicntífi cos. Sc o perigosismo cicntíÍico da fullda- gerada pela cxciusão e dcsamporo danova ordem econômica plancrá-
ção da criminologir é constituído pclos dkcursos médico e jurídico ria. Para Zaffaroni, a rcvolução tccool6gica do século XX abrc cami-
(que Evaristo dc Mor.ris denominou "medicina-policial"), ele i nho "a urna nova ctapa de podcr mundial (a globalizaçâo) cm que
complementado posteriormente por ou tros discursos (psicológicos, so- condutas tradicionalmentc crim in ilizadâs rcndem n sermonopoliza-
ciológicos, antropol69icos, políticos etc.) nâ lutâ pelahegemoniâ des- das pclo podereconômico e pclas agências polídcas nacionah". O po-
sâ espéciede "ciência dc ídministrar mcdol'. Oautoranalisa o recur- der político em queda não dispõe de um discurso criminológico hegc-
so da lragmentação arbitríria tl.r rcalidadc pelos diíerentes discuÍsos mônico. E um podcr político "quc não pode reduzira violência que a
coÍporârivos a partir, principalmcntc, das rcvoluçóes cienríficas. O sua impotênciagcra". Essc podcr precisa maisdo que um discurso, prc-
poder corporativo é sempÍÊ propoÍcionÂl à suâ Íüncionalidade para o cisa de "um libreto para scu cspetáculo". EsrâBos lalandoda discussso

rÍ cí. zÂrF RONI, Eu8enio Raú|. Oo- cn. e rd búr@ dãs p€nú pêrddár. Rio de heno:
'" Z^FFÂRONI, Eusenio Ràú|. Cu6o dê c/inrnD/o8à, Rio de laíeio: mim@. 2000.
!6 Cr. ZÁFf^RONI, Éugênio Raú|. Op. .n. r- Cl Ot 'tO, Re del. Áoe.i6 Latiaa y su Gini@loiia. Méti@: sislo XXt, t 901 ,

94
deste novo aror social, a mÍdir c as agências dc comunic'ção §ociâl A A fragmcntação e a dispersão do desampâro fazem com que o
luta pcla hegcmonia do discurso criminológico se dá na csfcra das co- esprçopúblicosejacoosrruídosobrcodiscursodomedo.Asolu;ãôé
municaçõ.', o que s. observr é r subordinação do discurso político
e encontrar um inimigo comum e ..unir forças num ato
de atrocidade
às agências de comunicação. Os políticos não pautâm, são pâurâdos' comunirádâ". O qu€ não pode constâr no scripré.âlguma
pessoâ que
É n.'tecontexto que Brumrn parte cm buscada polftica, nüm náo queira "panicipar do ctêmorpúblico e cuja Íecusa
lance dúviàas
marco em que "nío há lugar para a cidadania fora do consumismo"' sobrc a coreção eiusreza do aro,'. Nilo Bâristâ
aÍirma quc, oas carâs e
Prra LoicWâcquanI, da mcsmx forma qüc no sóculo Pas§ído o índio bocas dos âncorasdos noticiários policialcscos globakiá
pode p€r_ se
bon cra o índio mono,obom Pobre hoje é âquele que é invisível, que cebcr o esrrânho deleire quc rcm mízes na execüção comunharia
da
não reivindica, qr.re sofrc em silêncio. pena de morte, a bastões ou pedras, de tantas sociedadcs
antigas, pas_
Pâra Bauman, "o mat siDistro c doloroso dos problcmâs con- sândo pelas ofensas Íisicas imposrâs por popular"" pra"ãn,. ar-
rcmporâneos podc ser mais bcm entcndido soba rulvica Unsicherheit' "o
rantc o présrito inquisiroriat c quc chegou às maniÍcsraçô€s
de iúbilo
tcrmo alemão cluc funde experiências par.r as qu:]is outrrs Iíngras ois,cxccuçoes modcrnà\ em sua frse pública. ,,Tirar uma
casquinhã-
podcm €xigir rniis palavrâs - inccrteza, inscgurânçr e fâ1ta de garân- podc ter átgo í vercom a pena dc csfolamcnro.
ria"o'. Com , rctirâdâ do PodtÍ da Potíticr essa ansicdadc difusa e O mal.estar de Frcud é, 70 Jnos depois, .,â segurançâ que se
dispersa é dcslocada para ü'n único elemcnto- a segürançí No§ ior-
^
sâ(r,hca drariímenrc no âhâr da tibc,dâde individuat
em expansão,,.
nnis, ns páginas d€ polític:r se conrenem em páginas dc polícir' Éste Na pós-modernidade, a incerrcza é um estilo de vida. como
o meao e
campo dá vnibilidrde, djlui I inccrtcza mas no mesmo tcmPo divide, esrétrcr pâr3 BarJtta. Se r: prcvis6* aponrrm prrr
quc apcnas 20%
semcir â descos Íiâ nça mútu:r, iso la e separa. PataBaumân oqueâcon- dJ lorçâ dc rríbâlho do mundo possam movcr a cconomir,
o quc Ía_
tcce hoieé a desrcgulamentnçÍo cn Privât;zação dâ i nsegu rin§â PâÍâ zcr com os 80% dc economic.mcnrc supúr0uos..) Eíc
movimenro
Mcnegat, a bubríric não é apcnas produzid:r pela lógic.r do capiralis- lJz com que â vidi conr.mporâneí rcnhí um cãrárer
de pl.rsricidrdc,v,,
mo trrdio, cla é necessárir ro seu fonalecimcntorô'!. faz com que as idcntidades scjrm rrânsitóriâs, € faz
com que rodos sc
Tànto Bauman qr-ranto Wacquântfílam d⧠íunçõc§ desemPt- sirtâm, de uma íormx ou de outra, deslocador ou excluídos,
estejam
nhadas pelos crimcs sexuais, cm especinl a pedoÍilia, para "dar uma de que ladoestivcrcm dasgradcs urbanas. Estc quarlm
faz com que a
.câlitlâdc corpóícr q uc poucos mcdos possuem: mcsmosem srr visto, segurança rja a rnaior reivindicaç:o potíri.a, e o principal anúioto
clc (o pedófilo) ainda pode sercon§Iruido como um objcto s6lido, que contra r "meríinccricza". O ,.discurso forrc,, do neolibeialismo
des_
podc ser manuseado, rmassado, trancado, ncu!rrlizâdo, âté úói âs esrruturâs coletivas, íazcndo com quc os empregados
desem-
dcstruído..."r{ Bauman dcsfib rs históriasdos políticos contempoÍâ- pcnhcm otrdicntcmcnrc as su,rs rarc[as, num.r coniunrurâ
pcrmanente
ncos que pcÍlernm elciçóes Por sc contÍ:rPorcm à pena dc morte, c a d. mcdo e inceÍrcza.
disputa da hcgcmonia do compromisso com a penâ dc moÍe en(re conccitos de família c nação foram soluçóes colctivas para
Se os

três candidaros ao governo do Tcxas. Na Crlifórniâ, um cândidâto é r mole indrr idurl, na modeÍniJrde o despcd!çamenro dessas roiati-
Íotografado na entrada dc uma moderníssima câmara de gás e gaba- drdcs tornr á moÍrc plenã e scm scntido.
sc de rercolocado 42 criminosos no corredor da mortc. Nesse desâmparo, conccntrar o medo numa pane
da popula-
çãoquc pode ser nomeada, recoDhecidâ e localizada é absolutamente
i BAUMÀN,zy8nrunl Op. cil., P, 13,
cslrâtégico. Parecc não havcr ahernativa na administração
do meclo
'!r MÉNÊCAÍ, Marildo. ..,É ilâ dlodcrnidade ê a Óarb.l.e
lí: Pávr', - RevÀt'á de JáÚde
^ lúÊno: rníiluto dê Medicina seiãUUERl,2O0o
ColÊriva vol, l. Rio d€ '!' zv§,nmr oq. , i, sesundo xenneú ,. cêíaên .a @sri,ui(áo do ro.Jr
:lLlillMTr, J.
'' 8A[JMAN, Zwmund. OP. cil., P, lA.

96 97
privatizado quc leve às suascâusâs reâis, quc sãoditusascglobalizadas' "venro punitivo que assol:r rÂmórica"r', trouxe conscqüências funcs-
É po. i'to que pâra Bâuman âs comunidadcs "de gancho" - tas para os pobres demuitas cidades. Em São Pauto,algum mais afoito
'rrg.-
"um grupo que se reúnc Por enconúâr um Sancho ondc pendurar preparou uma Operação Tolerância Zcro, prendendo  populaçâo dc
*"rlos dc muitos indivíduos"Esses ganchos rua. Flouvc um mcndigoquc, ao ser prcso pela rerceiraycz no mesmo
"i-ultrnca*"nt. "" .riminosos sexuâis, rlgum colarinho
podem seracidentes ecológicos, dia, perguntou se a operação não poderiâ mânrerum arquivo de fotos
L."'co que caiu rede, O imponrntc é que canalizcm a raiva e o para quc parassem dc molcstáJor,,. Mais importânte, porém, do quc
"" passageiros e frusrrantes que nunca sâii§Ia-
medo . lcrcm quadros os resultados concretos e duvidosos do projeto é a divulgação da im-
coletiva Atrans-
çam as verdadeiras e reais demandas Por scgurança portância da política do árg rr,.,t conl.a a desordem urbâna.
ierência das inscguranças globais para o campoda segurança privada Sca incerteza gencralizadí é produzida porentidades ditusas,
(em a vântagem de tornâr as amea§as à segurança em seres palpáveis, empresas extra-tcffitoriais, o pedófilo ou o traÊcantecsúo ali mesmo
co.poriÍicrdos. É i'to que faz €om quc s.jam muho mak concrcta§ ao alcancc da mão. Intcressa à clÍrsc poliricã desviar a atenção dâs
hoje as reivindicaçóes políricas por lci c ordem do que as reivindica- causas mais profundas da inccrteza. I-stas classes pollticas pouco po-
çóes por segurânçâ no cmprego
ou pela manutenção das leis traba- dem fazer contra elas. Mas contra os dcsocupados, os imigrantes in-
lhistâs. Comoos me€an ismos d€ fabÍicâ§áo des,âs inceítczasestáo no
deseiávcis, os criminosos, ainda há urn rcrreno fértil dc captação de
nívelglobal, são inaccssívcis para a classe polftio qu€ €stá aruândo no
votos. "Chegou a hora dc mediar o mcdo fabricrdo, que já é uma
nível iocrl: só re«am os discuÍsos dc lei e ordem contra os sinâis visí- med;âção-â hora de mcdiá,lo com os incvitáveh terrorcs individuris
veis do caos c da dcsordcm: camelôs, llanclinhas, prostitutrs, corruP- classificados na rubrica da incerteza, da insegurançâ e dâ insrabilidâ-
tos, drogados, pedófilos ctc. de,todos a proclamar (emváriosgrausc níveisde franqueza) o podcr
Tudo pode scr cstigmatizado comocrime; há uma tendência a dcsumano do medo criado pelo homem{'.
criminalizar a precariedadc, deslocando tudo o que é Público pâÍa o Sc as prisóes do século XVIII € XIX íonm projeradas como
penal e reinstitucion alizando o direito pcnal pósmoderno na estraté' fábricas dc disciplina, hojc sáo phncjadas como fábricas de exclusão.
gia da purificação e do sâcrifício Os Projetos de'1oterância zero" sáo "O que importa é que 6quem ali""ó. Eduardo Galeaoo cnunciou âs
exemplos dcssâ polírica âo criminalizaros pcquenos delitos geralmentc grândes qucstõ€s dãs políticas criminais conrcmporâncas: se a socie-
associados à pobrezar". Os Primeiros cfeitos desta Políticâ em Novâ dade industrial euÍopéia pÍolerârizou os campon€ses c impôs nâs ci-
York fizeram com que cm um só kimcstrc de 1994 §ubissc em 387o o dadesâ disciplinâ do rrabalho, como podc imporagora a disciplina do
número dc prisôes de mendigos, bêbados, e limpadorcs de pára-bÍi- desemprcgol Quais são as técnicâs de obediêrciâ obrigatória que po-
sâs. A pârtirda conslxtasáo de qu€ â segurançâ pública tcm um
senti-
dem luncionarcontra as mukidóes crcsccnres que não rêm e rlão r€-
domaisâmplo,os republicanos,ao invésde favorecercm intervençócs
rão emprcgo lte Á respostâ está nâ fabÍicâsáo de medostangíveis e na
urbanas conrra a pobrcza, pÍomov€Íâm um colossâlarâstão Punitivo constíução de um gigantcsco sistema pcnal. Só nos Estados Unidos,
contÉ â Prostituição, a mcndicânciâ, as fe§tas de rua, os Ílanelinhas'
O proj€to prcvê um esfoÍçoespecial quanto às pessoas com distúrbios
Dr Éxprc$áo
emocionaisparaaceleraçãodeseuencaminhamentoaiuÍz€s,Promo- W.cqú.nt.
uliLizada por Loit
!e B^ÍISTÀ vea Malá8úli. Op. cn., 2I 7.
tores e psiquiauas do sistema penal. O poder mercadológico dessc Ê
'* B^UM N, Zrtsmunt op- cn., p.61.
',: cr. B^Í|STA, vê'á Mdldsr', I htaleáhté det t au , ptoP.sdndd é â àlúa ílo nPEó';o' tn: 'T BAUMAN, Zy8nu.t. Clôóãlizaçiô, at conteqüalcias huha,ar. Rio dê lareío: lorse
ói*ro eo.,** - ámc d,Eno e oriedàde ãno z no4'RiodeJinero lnsrilJro li'CÂLEANO, Eduardo. De perras pb at - A escala do nuhdo áo ave$ô, Rio delaneirc;
C.n6a de C.iminolo8ia/Êrcilás Baíos, 1998

98 99
n" de uma sociedade inclusi!â de estabilidade e homogcneidade para
remo\ hoh ceÍcJ de ilois milhôes de prcso' Ape'rrd'e'rabrLd;dc
,li.,dã de 90. da inciJéncia ,:riminrl rcomo fenômeno nacionrl' c n:o urna sociedade exclusiva de mudânçâ e fragmentação. Pâra elc, â ex-
lieado ,o pIno emprego a cr rro t'rror dcnrogrifico
e clusâo se dá em três níveis: no cconômico, pelo mercadode trabalho,
'ovrorourno. tolerànciazcro )' no social e no nível criminâl com â nagDiiicâção brutal das rtivida-
,i*, a.."."'..,,.."ro náo pJrou dc crneí E r popuLçóc'
"tn,n,o,r,o'.oii'^U.m<lisLinro'dre"t-Iiccd" des d c exclusão dâ jus tiça crimi oai e da segu rança privrda Youngse
pelos discursos refere tambóm às mudrnçâs culturais do capitâlismo tardio com â
carcerárias se multiplicam globalmcnte, alimenradas
oolrticos de leic ordcm
institucionâlizâção do individuâlisno, à linguagem naturalizadora
M:simo Irvrrini rercre-'c ro in'rrutivo cu:o italrrno c à ma do mercado quc desafiou n metânarrativâ dâ democracia social e ao
sistemâ Penâl intenso debate sobre crimc, 1ei c ordem. Nada disso seriâ pensável
ncira como a "Operação Mãos Limpas" Íelegitimou o
sem o precioso csforço dr profecia realizada da aldeiaglobalda comu-
-ussolinian": "na ItáIi,, rJurante muito tempo e diferentemente do
oue re « Lr\trou em ourrat re,,rdrde' nacionai' o' 'cntimenro'
col"' nicação. E, no caso do Brasil, o global não é só metáfora, é o nome do
como dcmanda politicr Império.
,i,o, a. ii',.g,rc"ç, p,,lcrJm "€ mrnrfÀrJÍ
.- arr.rri' de umr pârr,cjPa(io Jemocritica m ri' inhn- Essas mudanças transform:lmm n cxistôncia cotidiânâ em uma

*-'".^rd"nc,
o Íc,;tL:d.forum con"enro dilu'o por repr.'são .. P--a
(âdJ série de "encontros de riscoí', em mcdo e apreensão. "Nós nos senti-
corruPro' mos materialmente inscguros e ontologicamentc precários"'?o1 Passa-
mafiorc prcrc, ccm iovcns drogrdictos e para cada politico
pob*s na carlcia' As taxas de encarceramento subi- nros um bom tempo da nossa vida cingidos pcln rnart'tnedia na sua
c.m imig.antcs
pcrcen- discussão central sobre diferença, dificuldadc, risco c leis. Os contor-
râm na Iráliâ como nunca hrvirrn subido, com incrementos
dá com novos nos normativos da sociedade são discutidos detalhâdâmente. Nuncâ
tuais clc 507o ao ano. É lógico que esse crcscimento sc
"M penalidade, como mais moralidade' é sabemos se, em nossas pcquenas trânsgressôes diárias, teremos algu-
cÍitórios dc sclctivi.lâdc. s
r"' \r Iü' ma câmara escondida, dâquilo quc Nilo Bâtisrã denunciou como a
o urri.o, ouiro.o d,ru L crrrzrda conrIr r' rimira ill:d'
iSiJo por Virr'rio Fcltri rex-diretor Jo 'ornal maior delegacia dc polícia do Brasil, o |ornalNacionaP"r.
lià, o-F,n,i L,rr-. -,1i,
publicou uma Numa conjunruÍâ ârrncada como exa, dificuldades devem ser
cla família Berlusconi e da revista fascista Borglese) '00
por crimes sexuais; uma deputada' nera de cvitâdâs, diferenças mantidâs à distânciâ. Young denuncia â forma
lisrâ de condenados
inalizâção co[ro a precarização matcrial e ontológicâ é rerreno ftrtil para proje-
MussoIirli, já Propuserâ â pena de castração química Á crim
d" gr"".. á,r"diog.-, quetanto indignavaos iuristas
Libcrais' e§tá â ç6es e moralismos. Em Sr ilú Osc de'fcüy Lagleton, Oscar Wilde
p"",1, substituida porumcirco dos horrores que é afirmava que: "Nunca entendi o sentido do termo moralidade, a náo
*Ãi"lo ao*u'.u
de pé' ser como um meio de opressão"?oi. Metáforas da culpa e da recrimina-
sucesso de bilhetcriâ, com o globo da mone aplaudido
Nâ introdução .le scu iivro sobre a sociedade excludente' lock ção social ricochereiam a estrutura social e diversos sctores vuloeráveis
de mudança no rrabalho e a ascensão do passam a serdemonizados.Àmídiâ surpreendcpelas nôúciâs do âtípico,
Yo,ng os
""alis. i-cessos do que podc perturbar a "normalidadc" (motoboys, chupa-cabras,
ln,liàuali,mo ri moaernidade tardia' Para ele há um movimento
['sse movimento vâi pedó6lor. Pàra o pânico morâl surgem katamentos e pânâcéiãs mo-
de erosão da <titerença na políticâ e no Pri\'àdo
rrs que vari"m .l.rs cestrrçõc. qúÍmicà< )s (hrcinrs 5angrentrs.

- r;;^- d,o.J%1ó. h': Di L- os ed' -o'a - :n1P' dirto


*;a; " ei,o' .:r.rô(- 'd"c imtr oroBi'/R"'-n "oJmd" '' YoUN6,lock. A sôciedáde erclrílanre: exclúsâo social, ctininali.lade e diÍeença na
"""-.rc,,,rao. Éerle, CaÍi@deCÍlminolosia/Ed. Re!ân,2002
",Jlij,j"l.i.'.'; ,noderniadade R odêlanêló: Lnsl tuto
,o: CÍ. BATISTA, Nilo. O ie,z,nho n! e cru, Rio delaneiÍo: o Fio dâ HirtóÍia, ?001,
)d NÉTO, Araújo.Itá/,a /âdi.ali a lúta antipe.lalilia'1Í laúal do Rrasil' 24 aBo'' p rI u Cf. VERíSS|MO, Luú Femando, \lilde doi5, h: a clabÕ,2 de dezeúbÍo de 2000, p. 7.

101
100
3.5 Desaparecidos dc nascença cârátergenocida dos "regimes democrático§", nas políricâs de contro-
E impossível compreender o quadro gcral dos direitos huma- lc social formal e inÍormal, na vnada do século. Um projeto de ani-
nos noBrãsil sem pÍecisar historicamente a aniculagãodo direito pe- quilâção cultuÍal e lisicâ cstá em andamento.
nal público a um direito pcnal privadq a partir do regime escmvocrata, Aaalisando o processo de criminalizaçãoda iuventude por dro-
na implântaçáodc um sistcma pcnalgenocida, cúmplice das agências gâs no Rio de Jân€iro, constatâmos como, na transiçáo da diradura
do Estado imperialburocrâtã no proccsso de homicídio, mutilação e prra a democracia { 1978-88), permitiu+c quc sc mânriverJe inracrâ a
tortura da população afro-brasileira. As matrizcs do extermínio e da cstrutura de controle social, com mais e mais invcstimentos nâ "luta
dcsqualificação jurídica fiutificàm na implânração da ordem burgue- contrâ ocrime". E,o que épior,com ascâmpânhâs mâciçâs depânico
sa no final do século XIX e na recepção da doutrina de segrrança social, permiciu-se um avanso sem precedenles na inrernalização do
nacional no século XX, nas políticas urbanas de apartação e nas câm- âurorirarismo. Podemos âfiÍmâr sêm mêdo de errar que a ideologia
panhas de Iei e ordem. É ncstcquadroque seestabclece a concepção do extcrmínio é hoie muito mais maciça e introietada do que nos anos
Jc cid,drniâ negÂtivâ, cnunciada por Nilo Batista, que se rcsr ringc ao imcdiatamente posteriorcs ao fim da ditadura.
conhcci mento e excrcício dos limiccs formais à intcrvenção €oercitiv, Os efeitos desta política criminal contra as drogas são sentidos
do Estado. Esses setoresvulneráveis, ontem escÍavos, hoie mãssas mar- nos discursos dos opcradorcs do sistema pcülpârâ jovens (médicos,
ginais urbanrs, só conhcccm a cidadania pelo avcsso, na "trincheira psicólogos, pcdagogos c assistentes sociais), imprcgnados de metáfo-
auto-defcnsiva" cla oprcssío dos organismos do sistema penal. ras do darwinismo social cmpregadas para o d iagnóstico destâs ilcgâ-
Trabalhandoos conccitos urilizados porDaÍcy Ribeiro (âtuâli- lidadcs populares. Todos os lapsos, metáforas, mctorímias, todas âs
z:rsio históricâ e âccleÍíçío cvolutivâ), Zaffãroni descreve o sktcma rcprcsêntâçôes dâ juventude pobrecomosuja, imoral,vadia e perigo-
de controlc social daArnérica L,arina como produto dâ rÍansculruraçáô sa formam o controle social no Brasil de hoie e iníormamo imasiná-
prot.tgon izada primeiro pcla rcvot ução tecno-cicntíficá. O marco des- rio social para as explicações dâ questãô dr violênciâ urbanâ?e.
sa tÍansculturâeão e dessc sistcmã de controle social tem sido, século Não é à toa qu€ o marco dcsse sistema pcnal tem sido o exter-
âpós século, o gcnocídio. Na atual conjuntura d revolução tecno- mínio. Nâo fâltâm ârgumenros dârwinisiâs sociâis que pâssâm do
cicntífica observamos o en[raquecimcnro do Esrado com o colapso diagnóstico às terapêuticas curativas.rrÁssim por cxcmplo, quando a
das políticas públicâs, o aumcnrodo desemprego e dô subemprego, o políciâ mensâlmeote êxccu!â (...) um número constante de pessoas,
rebaixamento dos salírios c da rcnda per capita. Todo esse quadro verificando-se ademais quc cssas p€ssoas têm a mesma extrâÉo sociâ|,
neolibcral aringe niveis ainda mais dramáticos na marginalização pro- fâixâ etáriâ e etda, oáo sc pode deixâr de Íêconhccer que a política
funda das classcs urbanas. Esras massas urbanas cmpobrecidas num criminal formulada para c por essa polícia con(cmplâ o extermínio
quadro de redução da classe operária, de pobrczâ absoluta, sem um como úticâdeâterrorizrção e controle do grupo social vitimizado":0'.
projeto educacional, scm condiçóes sanitárias, sem moÍadia, são â clien- Não ó suÍpresa entâo que assistamos, no caso dss drogas, à passagem
tela de um sisr€ma p€nâl que reprime âtrâvés do aumento de presos do modelo sanitário ao modclo bélico, pâra compor o que Batista dc-
scmcondenâção,dosfuzilamentossemprocesso,daa!uâçáoconstân- nominou "política criminal com derramamcnto de sangue". O elc-
te dos grupos de extermínio.
É i-po.trrt t.rzcr para o debatc as concxóes hisróricas do
momento político drs ditaduras militares da década de setenta na ú vê6 Málàguri. Diti@is Banhos íá@is: ÍiÍoeas e iu@.lude pobre ,o R@ &
Cí. B^I5TA,

Ámérica Latina,suas rupturasesuas perma nências. ÁIinâl de contas,


,.@ib. lmio: lóínúo CaÍida dê CÍiminoloSirRdü. 2001.
Rio de
s BAÍIST,NiloPo,Íiac,in,azl.@ demnahenb da sosre,lnr Reviíâ8ráribriade
o fim do "ciclo do autoritari smo mi li tar" traz um aproíundamento do Ciéncà5 Cr,m,aair, ano 5, nr 20, outubrc-dêzembÍo de 199r, Sào Paulo: IBCCRIW
R€!irra dos TribunâG, 1997, p. 129.

102 103
de Janeiro, em 1997, foÉm mortos doze suspcitos por âpenâs um
mento bélico âcompânhado do cãÍáter religioso € moral dâ 'ruzâda
batalháo da Polícia Militar do lüo delaneiro.A mÍdia monopoliza-
contrâ âs drosâs peÍmite que esra Políticâ criminal náo tenha limites,
d: manteve fora das manchctcs esse massacre silencioso e consenti-
n€m restriçôcs, n€m Pâdóes regulativos. O modelo bélico traz mar-
inimi- do, como o fez recentementc na bárbârâ seqüência de cxecuçôes dos
cas no judic;ário quE, ao tratar o suspeito ou condcnadocomo
conrra rs 8a- r"r/.roJ do câso'nm Lopc5. As limcnrâçóes giraram mais cm torno
go. tolera violaç6es dc direitos e rcifica os prcconceiro§
dâs preocupações com a "qucima de arquivo" do quc com âs execu-
ranriâs constitucionais
O processo de dcmonização do tráfico dc dÍogas fortaleccÚ os
A diíusão de imâgcns do tcrror produz políticas violentas de
sistemasde controlc social aproíundando seu carátcrletâl O Íúm€ro
nosso pro-
coítrolc social-As estÍuturírs iuríd;co-pôlidris fündadas no
de monos na "guerra do ríáfico- €stá cm todas,s bancas' A violência
vítima é um suPosto tmficânt€' civilizâtóno nu ncí sedcscsrÍuruíâm, nem se at"nrrrn. É."-"'.
cesso
policial é imediaramcntclegitimadase a
a mcmória do medo, milimctricamcnte tmbalhxdx, construísse uma
ô *.t""do d€ droSls ilícitâs propiciou uma concentraçáo dc arquirctura penal genocida cuja clicntcla-alvo sc Íossc mctamorfoseando
invcstimentos no sistema penal, umr conceniraçâo dos lucíos
infinitamente entre índios, prctôs, pobres c insr,rg"nr"*. É .nrno r.
decorrentcs do tráfico c, principalmente, propiciou ârgumentos pâra
torrurâdorcs eslives§€m semPrc a Postos, pronto§ Para cnlrarem cenr
uma política Permanente dc violâção dos direitos humanos contra as
e limpar o jardim.
classcs sociaisvulncrávei§r seiam eles jovens negÍos c pobres das favelas
Nilo Barista, trabnlhando algumas matrizes ibúricas do sistc-
do Rio de lanêiro, scinm camponeses colombianos, seiam imigranrês
ma penal brasileiro, nos fala de como a execuçâo do hcrcge comogran-
indcseláveis no Hemisfério None.
dc cspctáculo do sistema penal canônico sobreviveu entÍc nós, assim
As questõcs políticas colocadas hoie na Ámérica Latina são
como o discurso que o fundamcnta:
qucstôes dc política cÍiminal,dâ politizâçãod' violênciâ, €nu nciâdas
Aviolência naturalizada, as cítc-
forGaleanoem scu último livro'zG.
àras do medo, a confecção de inimigos sob medidâ §e ligam às técni-
"No homcnlo em que cstc.sftdoé encermdo, â lorturâ - pelâConr-
funcionâÍcontrâ âs multi- tituiçãodaRepúblicadc 1988àssimiledáÀclàsscheréticados'crimes
câs de obediência obrigâtóriâ que Poderão
hcdiondos', nascidí de um! quizila estúpidâ eotlc dcputádôs apá-
dôes em desemprego. Para os novos impuros, o discurso e as Políticas
Í€ntemcote antlgônicos, porúm csscncialmeÀte .cord.s na polírica
de "Lei e ordem", a nova cruzada a justiiicar torturas e execuçõcs
de
.rimioll á ionrr. é o único ent.e todos ot '.rimcs hcdiondd' ao
qurlã IriÍa.ui'r progíerrio dc rcgimc pcnncnciá.io,scm impoacomo
A .riminâlidâdc é o rema central dos discurcos de todos os can-
aos demair, .xecr,ção intcgolda penã cm ÍêgimÊ Í.chrdo. Semcm-
didâtos políticos nâ Ámérica l-atina e na África. Aqui no Brasil, este
brrAo de ílsumis dcci(ócs que, invocando o r.itirtrcnto coníitu.;o-
discuÍso é responsÍvcl Pela volta daqueles gcnerais, ontem to*urado-
nal isooômico, tcnta(m cxpandir tal beneÍiciô na dircção de rodos
rcs c assassinos dc presos Político§, hoje comândantes dos esquadr6es
os outros 'crimes hediondos', o privilégio da tortura prevaleceú na
oficiais de execLrçãà dc pretos e pobres nas favelas, com o aplauso clo
jurisprudê..ia brâsilcni. Ou seja, o tonuradorquc, porazarou de-
público e da mídia. Scgundo a America's Watch, o número de civis
lâsio lemeráriâ de ilgumâ vítim!, sejâ.ondeoado podcrá eventuâl-
mortos pela potÍcia militâr aumentoü de 3,2 ao mês, para 20,55 du-
panirdc mâio de 95' Somentc mcntc, ultrapasadas cautchs dc apãrtágio prisionâ1, c
rante a gestão do GeDcml Cerqueira a
duranJa operação limpeza efetuada durante a visita do Papa ao Rio

"' Cí 8AÍlÍÀ, veâ Malãgull & oUMANS, M@.à, ,t s!.ela dá oqtê. h:


r cALEÁNo, Edúàrdo. De pEn at ptu a. - z @!. (to nundo eo avess Rio de
2s de dereíbb de 2002, p,^lêEúÍe
ldôal do Aâsil,
'anaÍo: ^-5.

105
104
neoliberal tem "dc um poder punitivo onipr€senree capilarizado, para
cadeia com os hediordos hereges que ânteriormente tolturou, po-
o controle penal dos conringentes humanos que cle mesmo margina-
Ícm,iir: de la ,nuito cores deles 3.
']
lizâ'1i0. t por n.o que os discuro, que I"grim,m â .rençJ nJ penr
como ita $gtudo da de cotlÍtita! são esrimutados e incorpora-
Ao implantar o primeiro Cenrro Comunitário de Defesa da 'olryãa
àos àmasa argunentatiua dos ediroriais e crônicâs de jôrnal.
Cidadania na comunidade de Vila Aliança, zona ocste do Rio de Ja-
neiro em 1994, tivemos, entre os primeiros atendimentos, uma joveD Eses processos sincrônicos estãotodos impregnados dô medo.
mãe que vinhâ registrar o seu filho e ao mesmo tcmpo fazer o seu De ummedo que é insegurança globalizada, mas que sedesdobra em
p,óp,io ,eÊi.üo ci!il. lsses milhões de bra'ilerro\, no! cJmpo. e na< um medo cotidiano muiro concrerô. Esses processos se transtormam
cidâdes, não rêm regisrro; logo não têm identidade, náo constituem assim em discursos, em reorias criminológicas bâseâdãs num senso
memóriâ.Noseu cont'iontocom o sistema penal, que reprimeatravés comum, mas que revigoram â odc ao cxteÍmílio e pectem por políti-
do aumcntode presos sem condenação, dos fuzilamentos semproc€s- cas criminais com dcrramamenco de sanguc,LL.

sô, da atuaçãô dôs grupos de extermíniô, eles oão são nem desapâreci- turâlisemos alguns dcsscs discursos c comcccmos pelas ques-
dos. |á que não cxistem juridicamente, não podcm nem desaparecer: tóes estéticas. No dia 4 de âgosto dc 2000, o Movimenro dosTrâbâlha-
são desaparccidos de nascença. dorcs Sem-Gto (MTST), integrado por momdorcs rtc ocupaçõcs la
Bâixâda Fluminense e nâ Zona Ocste, "invadirnm,,um shoppiDg, uma
3,6 Confronto inevitável espéciede templo do consumonoRio defanelro, o Iio Sul. Nr vcrda-
Ressaltamos nos capítulos anteriores alguns processos contem- de erâ umâ invâsão esréricâ,jáque o objerivo erâ passearnoshopping,
poúneos ligâdos âo câpitâiismo târdio quegôstâÍíâr1os de resumir. Pri- e não tomá-lo.As âuroridades da Segurança Públ ica no Rio dc |;rrciro
meiro, uma estetização radical da cLrltura, coLando o simbólico no eco- souberãm dâ idciariva e tomaram precauçóes (lembram-sc rlo dccrc-
nôm;co, produzindo uma realidade cotidiana, que entra pelos othos, to de 1830 na Bahiaf)r os ônibus em que estavam os scm-tco Í-oram
que naturaliza uma rígida e hierarquizante ordem social. Segündo, â parados naAvenida Brasil e impcdidos de prosseguir por trtta dc do,
luta pela ordem, contra o caos, que passa hoje pela criminalização e cumeDtos. Ossem-tero seguirâm em ônibus comuns c cnconr.a.arrl o
desqualificaçáo da pobreza, dos não-consumidorcs, dos novos impu Rio Sul guardado por40 policiais. Adona de casa Elizabcth da Silva,
ros. Têrceiro, clue esses processos, noBrasil, sereforçam coma herança 36 anos, do acampamento Araguaia, chorou ao vcr policiais: ..Nós os
escravocrata na implantação dc um sistema penal quc tem tradição não vamos mexer em nada,?or que issol",',
gcnocid.r. selctivr e hnrarqu.zcdora. for fim, prru pcrpctuJr um ,i'Le A prrrir dr enrr,:oa no shoppinB as reJçóc" cün\ cBcm pirâ um
mâ penal de extermínio, é necessáÍio um.discurso moral sobre o crime. sentimesto dc discriminâção por um lado (,'já imâginâvâ que iam
Uma importante caracterísrica dos sistemas penais do capita- rrâlâr agenre âssim como lixo humano),ts e poroutro ladopara uma
lismo krdio é suâ vinculaçío com a mídiâ. Nilo Bâdsrâ afirmâ que, indigoação de cunhoestérico ("âqui não é lug.rdc scm,rcto, €tcs rêm
no presenrc, assistimos à ultrapassagcm da sua função comunicativa que fazermanifestações na zona deles. Os freqüentadorcs do shopping
pâra ã {rcxecutivizâçáo dcms agôncias dc comuoicação social do sis- são diferenres deles e isto causâ má imprcssão"). Estc depoimento de
rema penal"'0'. Eie aponta a necessidade que o empreendimento

4! BATTSTA, Nilo. Mari,zei ibérÉas da dneib penalbâsileno l. RiodeJânên.: rnstilltô ,rr CÍ. BATIST, Nilo. Poliricacriminal cah
ddamanento de sangue. rn:Rev,rlaB.ári/e,á
CaÍiôca dê CrimlnôlôBirFreitãs Baíos, 2000. de cjê,.iár C,ioinaÀ, a.o s, nq 20. sãô Pau o: tBccRtrrRevaG dos Tribunaij, i997,
Ú BÁÍ|STÀ Nilo. Midia e sÀtena penal no capnalnno tadio, Texto aperentado no ü 1'.
lóÍnal do Brasil, s de agosto de 2ooo, cadeÍno Cida./e, p. I 0,
Fórum LatincAúe.icano de Políri.a CÍiniôal: ÁJ váràr Íacei do cr,me, Ís izadô pÊlô
'11 Jónal
da Basil, op- ctr-
lBccRlM. Rib€iÍio Preto, 16 de maio dê 2002.

106 107
deslocâmcntos, essa impureza autolocomotora dá medo: "agente
Lmr senhoÍr iposen(ídx re(ume I csl!rnheza com que os "diferenle( esscs

sio rcccbidos, forã dc suâ zon., É como r houve§s. um zoncâmento tcm medo do que possa aconteccr", "meu Dcus,vou pârâ câsâ",.quân-
do vi tomei um susto", "ncm no shoppingtemos mais paz". Essa que-
invisível, in€onsc;cntê, cm quc os dcslocamcntos humano§ câusassclrr
bra doencanto proporcionâdo pelo píojcto estérico consumista causa
mal-estar e perplexidade, "câusa má impÍessão". Como nas meúforas
profundo mal-estar, causa angústiar cilusa apreensâo: "Pâra mim é
de Mary Douglas ou de Bauman, os diíerente§ seriam sÍnte§e da §u-
jeira autolocomotora, obstáculo à higiene, à IinPezâ e à oÍdem, úês umâ situâção nola. Àndâ cstou sem condiçôes dc fazer uma avalia-
princípios fundamcntais dâ estérici do shopPing, ou mclhor, da con- çãodissotudo. Mas confcsso, cstou constÍãngidô". É como se a ilus:o
momentânea produzidâ pclo estar no shopping sc auebrassequando
figrrâçâo urbanã do câpiralismo tardio
Pcra Baum:rn os,onsumrdorc' lalhos, os novos rmpuro'. são aquela pobrcza entrou dc roldão.
Menos âtônito e mais incisivo que o Custódio machadiano do
obstáculos parâ o tnsídodas frootciras e do ordenâmento. Assim' os
depoimcntos atônitos dos frequcntadores do shopPings€ sucedem: Ímperio no dia da Proclamação da l{cpública, o diretor do Rio Sul
dcclarou quc iri:r entrar com umâ âçío crulclar, atrnvés daAsso!iaçáo
Brasileira de Shopping Ccntcr§, para proibi. csse tipo de Ínov;mcnto
"É brincadeirn, n"m no sLopPins tcmos mais paz" di§c uÍn iorcm
nôs centros comeíciâis. "O que se viu hoje, apesardc scrtudo pacífi-
.ntre amigos. i{ gcnte tcm medo do quc posa acontccer' náo sàbc-
mos quais os obictivos dclcí', .fima unà subscreorc. Outm iovcm' co, é quc isto atrapalha o comércio"nt.
que alnoçava, sai rapidamcotc dã mcsá e diz'tudo tcm seu lugar e Mas um <los Iíderes do movimento afirmou quc aquelc dir de
Icm scu limitc, shopping nIo é local Píra §e fazer manifestaçôes" lura náo er:r importânte pcla moradir, mas pel: auto-estima; "a dis-
Uma comcrciínÍccxclâma: Acho nelhorvolta.Pâra casa. Náo sci o
crirainação da sociedadc é muito pioràs vezcs do que as condiçõcs cm
<1ue Tcn quanras pcssoas aqui ncsmol
pode aconteccr por aqui
Ccml Meu D.us, vou par! casx''. Oüira jovem tánbém se a§su§ta: Quando trabalhci cm minha clisscnação de mestrado sobre
drogâs e climinalizâção da juventudc pobre, observci que a visão que
"Quándo vi, tomci un susto. Fiquci sem sabero qu. cstâvâ aconte-
ccndo. Acho quc o shopping não é lugnr ap.opriado Pará manifc§la-
os opcradorcs do sistema pcnal tinhim dâs fâv.lâs revelavam as
d. estruturas inconscienrcs dc um apatthcid social que só se consolida.
ção-. Uma csrudíntc de dircito, tambam iovêú: 'A.ho o.úrrc
cidnde mais opropriado pma csse tipo de proterto, Aqui dentro do Uma assistentc social do lnstituto Padre Severino afirna em scu
§hopp;ng não. 'fen um pcssoál com o câbelo esqui§ito" o industÍial
rclrtório de cstudo de caso, em I9B8(l): "O local oldc reside - rrea
dc m€iâ idad. sc surprccndcr "P.á mim é umâ s;tua§ío nová. Mas
Íavclada - propicia seu envolvimento com pessoâs perniciosas à sua
conícso, estou mcio constn ng;do". Umí l,álconista dccl,m: "htou formação moral". Ourro crso de 1988 em que a assistcnte social do
àssustâda. Ninguém nos dissc o quc csrá acontecendo"rLr.
ll']SfaladaÍavclaemsuasÍltescin6rrnativa:"Rcsidcemáreafavclada,
num ambienLc propício à mrrgiraliz são". Um olicial de justiçâ,
Esscs discursos se reíercm àstÍontcirls tênue§ ("tudo tem scu também em I 988, justifica â não €ntrcgr de umâ inrimaçâo: "AÍeâ de
lúgârc tem scü Iimhe"), às inrpropriações estéticas ("o shoppingnão diícil accsso e que por ccrto poíí cm risco tantos quantos ãli
é lugar âpropriâdo pârâ manifcstação", "eles têm que fazer mânifcs-
pcnctrarem, povoada dc malfcitorcs, todos altamcnte temidos pelos
tâção na zooadeles; âqui não é lugrr para scm_teto",'1cm um pessoal moradores da localidadeaú. Dm 1978, no rcsumo da situâção sociâl
com câbelo esquisito"). Mâs o quc marca mesmo os discursos é quc
,,! O Clobo, s de âeostô de 2000, p, 13.
,,i ,,r.al do A.dü or. cit e O 6lobo, p :r. BAÍlSÍ^, Vê.a Málasuri, Diílceh gan/r6lácén, Op,.il., p,1l5,
5 de ãsoío de 2000, EÇão Rio, l 3,

't
09
t08
deÀ.S.H.N., sua "conduta dcve-sc a que segundo declaraçóes da máe, de subsidiaro equívoco do conceito dc cidade partida, reÍtetido na no+
o pai sempre viveu em péssimo ambiente" (Morro de São Cârlor. E talgia conservadora devenrura'?r'. GizleneNeder chamoü esrâ visão de
vejamm o quc revelâ a síntese diagnóstica: "Interno oriundo de lar utopiâs urbanas retrógradas, "frcqüentcmentc consubsranciadas em
ilcgalmente consiiruído, tendô sido autuado por práticas anti-sociais, lamentaçóes repetitivâs de um passado edênico idealizado, que
ocorridas em conscq üência de ter-se ligado a más companhias quando retornâm nas fal:rs dos contemporâneos sobre a cidide, como se esti-
ia encontrar-se com o pai no À,Iorro de São Carlos"'?1?. vessem permânentemente a negarJhe o próprio preserte"z'?o.

No limiar do milêoio, nadâ mudou. Nâ pesquisâ sobre mídiâ Áfavela aparecc nos cditoriais como /orr do male dissolutora
rcrlizrd.r por Sónir wanJerl.l:r'. nr grrndc imprcnsr cariocr cntrc
1992 e 1996, , historiadora : n alisa a produção de senrido pârâ o con,
ceito de violência dilundido pelos grandes jornsis, pâra â criação de "O crime organizado exnovls! seu cãmpo de aturção c x parrir dali
iDvâde rodos os bâi.ros dr.idàde" - ('Desâfio oos morros",lonalào
um consenso sobre o tcma, quc propicia desdobramentos de força, ou
sejâ, queexigem intelvençóes urbanas com derramamento de saogue ,,6/1,4 iúnhô de 1993).
de
1\s elites, a classe médir, os polÍricos ainda nãô acordarão para a

Não existe cidade panida, os delensores dessâ divisão conceituâl rcÍílel banrlizaEão da violência, na ilusão de quc ela coútinuará r.s-

(mesmo os incauto$ estão contrapondo favela e aslafto como civiliza- rrira aos morros" (A iiusãô dôs moros", /onal do Br*it, 12 ée
scrcmbro de i9931. Se contiiuâ$e restrita esÉria tudo bem?
ç;o e brrbirie, c'uio rc;nsLiruindo tcoric:rmenre o zon.ámenrD incon.
cicnte. Wanderley nabalhou comeditoriais em que osdiscursos sobre a
'À vésperas da nova eleição, ã populâção dô lâ.lo da lesalidade exise

favela se repetem. Listcmos primeiro os títuios dos editoriais: dos politicos dcfiniçãô pàra o problema atual do Rio. Nas ruâs da
ôuÍa .idade, a que está no mapa, â população ôrdeirà desapâreceu

Confronto inevitável dr ruas (...) submetida ao mcdo. Oscidàdãosque moram nâ cidade


- quc esrá no mapa já !ão suportam submerer-s€ à ourrâ populàção,
Império do telor
armada, em contínua cxpansio, acasaladasob oguarda-chuva pro-
- O seqüestro da lci recionhtâ dos t.aficantes, dos bicheiros e dospolíricôs popúlisras" -
- Desafio nos monos Btait,
CA ãmeaça das favelas", /oú1at do 5 àe fe!úeno àe t994).
-A ilusão dos motros
Subindo o morro
No editorial "Subindo o morro" Uan aldo BÍllsil,l4 de sôtem-
-Império do caos
No calor dos combates bro de 1992) temos os seguintes trechos: "os cidadãos conúibuinres
são os cat;vos do caos", "manter a sociedade sob o signo da lei e da
-Á âmeâça dâs favelâs
ordem", ou no editorial Favelas em íocor "impcra nos morros uma
Esses títulos falam mais por si do que qualquerânálise de dis-
anarqu;a desafiadora da ordem pública".
curso, mas observcmos os conreúdo§: '.4. cidade parece dividida em
Ésta idéia de caos, da favcla como vivciro de monstros (tírulo
duas partes. Numa vigorâ â lei". "Há um muro da vergonha virtual de um outro editorial dc 4 dc junho de 1992) evocâ âção: "Pâra que â

§epâÍândo a cidade legalmente esrâbelecida". Esres rrechos não deixâm sociedade carioca enfrente a barbáric que se apossou do espaço públi-

':r'cf.zUENl& Vêntura. Cdáde partda,5ão Paulor Companhiâ dd lerÍas, 1994.


?iú
CÍ, WANDÉRLÉY, sônia. yioléncia na inpÉnsà inprcnsariolanla, dêJaneio: insri- "' Cí NEOER, Cizlene, Cdade identidade e exclúsào \o.ial, tn: Reviíâ le,po, vô|, 2, nr
L .t-. 9q7. p. I
Rio
1. N. e'ó': Depàíàme-b dp Hi)Iól d - I
tlro CaÍiôca de Criminolosiâ, mime, r999,

110 111
co (...) processo de dcsagrcFção que comcçou â corroer suâs enira- gucto ligou-se por uma Íelcção €srreita de simbiosc estrurural e dc
nhas".Ou: "iânspo!â fronteira dãna!ão Paralclâ. , comoespécies dc supltncia funcional". A prisâo, como ô guero, scria um.r insr;ruiÇ5o
naçóes claodestinas onde só a bnndeimdocrimê tremula"' ou: "fave- cspccirl opaz de conlinar os membros mais visíveis das muftidões
las (...) valhacouto privilcgiado das grandes contravenções". "perigosas'- O paralclo do gueto negro com a frvcla carioca salta âos
A idéiada mancha bárbara a enodoar a ordem, a limpeza, a se olhos e é nâ penosa hisrório da cscmvidão no conti'rcnte ame,icano
cspraiarpara além dos I imites permitidos à visão da pobreza tem con- que podcmos comprccndêlo. Essesdiscursos dn favcla como /oa,r do
scqüê ncias. Vejím os essc trecho do editorial ('A ameaça das favelal') ' mal produzem algrns desdobÍamentos fundamcntrris para uma cul-
tura do medo. Como nos diz Sônia Wanderlcy, crLa maDcira de olhar
"Dcs favelas de ordc se csprâiam os accnos da márginal;záção íJ o problema da violêacia urbana produz um cstado rlc alena.
Tirottios, guc.râs d( quadrilhõ, bxiles funkJ,liro tançâdo para bai- O loaar do mal acaba porse consolidarconro problcrna dc nr-
xo. inv,sio drs.csc.vas ÍloÍé.tais, d6rcspcito à Propíiedade PaÍricu- turcza: surgem aías mctáÍoras biológicâs c cienrÍficas. Em artigo so-
lãí..4s 545|i'vclxs (...) uNo cidade qucnãocstá no mâpà,com tuas brc a gênese institucional dogcnocídio, )crn-l,icrrc Ilaud afirma quc,
lck (ou [iki dc lc;) PróPriis... Os fívclldo§ scíão m.ioria,sc o Íluxo para queâconteçâ ôgcnocídio, é necessáÍio um sistcma de legalidadc
de frvelizíçro dÍo Íor dctido". científicâ dominâdo por uma teologia e quc cssa polÍtica do mundo
cicnílico seja apresentada para defendero "scr colcrivo",,a. Cada vcz
Essa idéia da favch como /o.rr do mal com os perigos dccor- que sc designa um fcnômcno social como doença,csrá sendo urilizr-
rcntcs do úânsbord:r mcn to das suas l-mnteiras ("de dclrtro dosmorros da inconscieotemente a idéiâ centÍâi do nazismo, â utilizaçãodo con-
prra fora irradia+c nova óticâ,de sângue e violê ncia", editorial"Vaci- ccito de doença para definir o quc amcaça o scr coleúvo. É este con-
lou, darçon",lonat do Brar,/, 18 de fev.rciÍo dÊ 1994) se vincula à ccito quc, na ioterseção do jurídico com o cienrífico, pode ter dado
função da mídia dc dirccionrr o Público Para um í:rlso consensor' lugar ao surgimento do sistema institucional dogenocídio.
No caso dâ conjuntura cm quc se inserem os cditoriais (1992-1994), As meráforas biológicas s:o conseqütucia direta da visão dc
r'o
Sôniâ wanderley constrói um quadro semiótico em que Percurso íavcla como lugarnatural do mal: "Elas (favelâ, deixaram de serum
considc rado legítimo é aquele que abandona as práticas considcradas tumor ingênuo... todos os vÍcios da civilização se abrigaram nos mor-
d€mâgógicas ou populistâs e, âceitândo â iNcrvcnçâo milir
e â re-
ros e nos loteamenros clandcatinos", do cdjtoriâl ',4. ameaça das fave-
moção das favelas, tem como ponto de chegada a cidade onde vigo-
lâr", oui "Rio (...) vítima dâ favelizáÉo nãoconrida no limirc hisróíi-
ram a ordem e a legalidade, qualidade sem asquais não poderia haver co, reproduzindo-se como ameba e se expandindo como cogumelo"
(do cditorial "Vacilou, dançou"). Vejamos como ourros serores rcper-
LoIc Wâ.quant, trabalhando a substituição do Estado cutcm a biologizaçáo domal:
Previdenciário pelo Êstâdo l'cnal nos Esrados Unidos, fala da prisão
como substitutodo guctorrr, O novo complcxo institucional seria "com_ "Estes violentos bândidos se âoimâlizaram (...). Eles são ánimais,
po§to porvesrígios dô gueto Dcgro e pelo rparato carcerário, ao qual o Náo poden ser cohprccndidos de our,â man.ir.ã. Por isso os con-
frontos não podcm scrciviliador. E§. getrre nío rcm quescÍrrara-
Âl@nd.o. f ibsolo & úna úinittolosir .ítía. tn: Míüa e riolêÉi. da civiliadamcnr.. Têm qúe*riralldos como animais" (Maí.ello
'r, Cl B^RATI ,
,rbaoâ. Rio de laeúo: Fu.üaÍão de Ampa.ô à Pe{uio do Rio de laneiÓ, I994
,:, wANoERtEY, só.ria. op, cil., p. l9
ITWACQUÀM, Lon, Ponnor pobé anovaCstáa ddnisétia noi Eíadd U"'do,' Rio
delânêno: lnsr tutô Crriocá dé Cr minolosirRevan, 2003 'r' 3AUo, J€an-Pjeíe, Cenêse lnrtnur,oral/e du Cénocde lni OLIF-NAIHAN,lo5ia@ (OrBJ.
l.! Scien@ rcu§ /e I@isiênE Rekh, Paris:seuil, 1993.

112 113
Alencâr, Gôlernador do Éstàdo do nio de,ánciro, em rede nàcional "Os traficantes, locês já
se dc.ãm cônrà, são os cupins de nossa soci-

de T{ prograna }ornal rla Maochete, TV Ma,'/''rc, 1l dc maio de cd.de. Eles ionsumidores de drogis.Ad;fcrcnça é que ô cupin-
e os

1995). .o.sumidorrói o próprio osô, depôh de rocro p.óp.ioe alheiotrot-


"O Govcrnodoesrado e§Límontándo umà mesa telelônicá, com cem so. Os cupinetraficanLes estão !í e!tuniados em colônias, nas fáve-
ramais, para arcnder às re<les de inÍofmantes das comunidades' Im- lâs, c sàem em formaçâo mitirârparâ grandes bâtâllrâs. E nisto, con-
pLanratsse-á um sisrcnu de denúncias remunerad'§ F'm vez de os firmaD as caracrerísticas genúticâs da espécic" (Affonso Romano de
policiais escalarcm norros a €smo, atrás debaldidos, Pode'ão, ácio- Sa.t'Anna, poetâ e di.etordã Biblioreca Nacioúil, no jóíí lO Glo-
íâdo o sisremâ, ; direto aos insetos" (Zózinro Barroso do Amaral, áo,2 de jaíeno de 1996, Segundo Cadcrno, p.2),
colunista sôcial, Dojornâl O Gl,áo, 12 de maio de 1995)' "Os animais que mararâú por esporte, nâ scn., dois jovcns nô bâr
.De.de rllâdo. quando o§ oon r$J 'ino' (. ) lô m\ilo§numâ Bodega, âssim como aquelcs quc cxccutarrm outro gâroro no dia
áreà coohecidâ comô Pedreirâ dos rrinéis, â polícia acreditavà que seguinte, na portà da cãsa da Damoradà, sío vcneno scm ânrídoro.
eles esuvam encurraladose poderiam ser presos a qualqrer momen- Nenhum preídiô modelo, desscs ctuc xgcnk §6 vê cN Íilme, porque
to. (...) O Comanrlante do Bôpe, coronel Humberto Mauro Ramos, aqui não existem, recupcr.ria répteis dessa naturcza prra o convívio
diz qúea est!âtégia é §emelhante à de caçâdas:o càçador aguarda os social. E i vontade que qualquer pcssoa normal tem é rle cnfiar o
àninaisnos caminhosque nóÍmâlmente utilizam" (lôÍíal O Glabo' caío do revólver oa boca dcssâ süb{aEa e mandir !cr" (B barâ
29 de novembro de 1995, p 18). Caacia, calúisÍa .ld Foha n. Sõo Paulo, 14 dc de 1996, p. 32).
^gósro
'PM(1!lemrr"rrê.ã$,l,Jnre' Un r '' rl'ô (... ' trrmiíou "n p' tue- 'JícsLá úaisdo que na horadc oossâs auroridades se mobiliz.rem e,
(.. ), numâ caçàdâ que do-
súiçío aosbrndidos pelas ru* doblirro com o apoio da sociedade, providenci.rem à rcnoção dê falela. (...)
bilizôu 50 pol;ciais e.cabou com três bandidos -ortos e um PM Sc as iutoridades, por dernagogia, dcsinrercsse ou sucurnbindo às
íeÁào" (külal O Cloba,14 dc dezembro de i995, P.29)' prcssõcs das ONGt defcnsôras dos marginais nrdâ fizerco, a situa-
"Históriâs coúo c$a dcmonsuam que traficaotes, a exemplo de ção tende . piord. 1.\ão qLieremos uma reedição da ficçâo, comô nô
seqücsüadorcs, Dáo têm a meDor considcração m direitos hudà fi lme'I'].rque
dos Dinossxú.os", onde cercas elcúifi cãdas separavam

nos, compoítãddo{e cÔmo animais selvagcns que não mereccm seres humlnos dc bcstas. O finâl do filme nós já sabemos" (Carlos
qualquer consideração" lüd;toÍial do lanol àn Bn';l, t5 áe da' F,íbio Penna,l;itorde O c/,áo,Cartâs dos lf,irores, l0 de jâneüode
zcnbro de 1995). 1998, P. 6).
.I$o
"Parecc-me unagrande injustiçà comPsrar un ãninal selvagem, ir- (excesos ocoiridos na Oper!ção Rio) nãô deveria excluira pôe

racional, livendo uma lida insiintila, que só mata Para se alimcniar, sibilidad.de umaprrricipação milirâr mÂsapenas cercá la de naio-
eque úcrece monstrosqueusãú
tôdâ a nossa consideração,.Ôm estes res cuidados.Ató porquc dissemiração dc rrúamenro degue.rá e o
a

demodo tãô perlerso aq uilo que os distinguedos rnimais: aativida' contrôle teritorial por pffrc dc bândos ârmados é uda quesrão de
de nenral. Nãô fâçam coN a .ômpâração esta afronta aos ánimâis" defesa nacional. EIcs precisam scr ncurralizados mili
sobÍe o ediÍoíial
0osé Cândido Bâstos, leitor do lolnal da Bralil, calt^ redutos ocupâdos de forma pcrmânenre e seus esquemas de recepsão
de I5 de dezeobro de 1995. tohal da Btú;l,30 ne dezenhío de 1995)' e reposiçâo de equip.úenro bélico descobüros e eliDinados. Esses
.A PEQUENA FERA AGORÀ ]URA. INOCÊNCI,d D€tido NO objetivos p.essupõem uma.çãodcc;didã com os meiosmiliráres ne-
Instituto Padrc Severinô, menoí acusadô de atirâr em tÔrcedoles cessáriose, sobrcrudo, um exceleote sistema de inteligência (...) Não
do Saotos desmente seu próprio depoimento" (/o/'al A Gtobo' 3l há justificativâ, por exemplo, em sc d,nrer a maioridrde crimioai
de dezenb.o de 1995. naochcre da p.23). em l8 anos, se temos o direito ao voto aos 16. P.ecisa haver uma

114 115
Folla dc Poulo, aítilo "Repórrer magoa mclhor amigo da
S,eo
@rrcspondência cntíc dir.itos, dev.res c ícspoftabilidàd's tu p'-
coluoista", crderno Cotidiano, l4 de janeÍo dc 1998, p.3).
ms rclativa, á posser cômércio oú us dc âÍmâmcnto de guerra dc-
"O cxércitoêút.a limpo nâ sucra sujâ ontm o.riÍnc orsánizado. A
vem serdraconirnrs; é urgcnre ampli.ro trúmcrodc Pcoiren'iárias c
populaçio dos norÍot apoia as opecsó$ dc limPeza" (EditoÍiJ
estâbclc.imcnto§ dc dcIeDEão de ahâ scgunnçâ, dc pr€fêÉíciâ
'm "Goera s$a" ,lonal do B tur,7, 25 d. novembro d. I 994).
unidadcs mcnores, de mais rácil controlc (J Como no combâtc à
"Vai louge tcmpocm que as favelas podiam sercumràdâs com sim-
o
A.ls,as monoloipias flacá$am e sefaz neccssária umãconbirâção
pltia... os favelâdos, quc se hâtitua.an â iosâr Iixo parr baixo (...)
de úediclmeDtos ditcrcf,tes Pâra imPcdir á mukidicãção do vírus"
agora jogamcadávcrcs.ofavclismodesâliearudoeatodoí' (Edito-
(AlÍredo Sirkis, prcsidcnte do Pv-R|, anigo "Politeapias contn a Éo
riál "Fav€las cm foco", /4,, at áo BB;1,2z dc dc 1994).
lôncii", O C/oáo,30 d. novembrc dc 1996, p.9). ^bíil
"Num organismo cial, prccedc-sc o rugrtc das paícs vitáis não
atingidas pela .onstitui§:io dc um oúclco dc anricorPs .tivos, que
O discurso que ânimaliza o mal recorrc a duas figüràs: cxt€r- estabclece um cordsosanhrno M defcsã do sadio ítrtcs de deferir o
mínio ou limpeza, mas tânto umaqüânto a oútÍâ têm o mesmo senti-
golpe mortal sobre as pancs nccrosdáJ'(ustificítiva à formãçáo dc
do, eliminâção, Os discursos higiênicos conduzem ao exermínio Á guera nar favclrs, e.lirorial "O Rio
uma milícia miLiarizada prru a
pureza e â higicne são o oposto da sujcira e dr desordem Como nos
quer resulmdos", /o,,,al /a ,,rl.,1, 5 de maio de 1995).
diss€ Bâüman, a noção de purezr está entrc as idéias que, ao serenr
rbraçadas. descobrcm denres e aguçam punhais,
Cecítia Coimhra,ao analisaros discursos de scgu rança públi-
vejamos os discuÍsos de limpezâ:
ca na coniuntura da Operação Rio, denuncia a iús.iÍicaçãodâ5 cha-
cinas ni mídia impressa c nas declaraçóes eugen istas dc "sâ ncãmento
''O quc coôsidcío gríve, no ent.nto, é qué csscs l@ais âtÉem o que
c limpezâ""'.
chamo dc liro humano São os rcntledorcs c consumidôrs d. dro-
Nilo Bâtist examinou as origens hist6ricâs do discurso do di-
gas, prostiturls ctc." 0uíza de Dnciro Dcnise Frossard, em palestra
reito peníl dâ intervenção moral, queconduz â políticâs criminâis de
para rlunosdo prnrciro período dc u mí Fâcu klflde de Direito, tr(n§"
conrcúdo exterminador: "o opcrador judiciário é agÍicultor prevideo-
crito no io'n.lOrrir, l8 de outubro dc 1995).
te, cuja enxada dcve extirpar a má sementc ou mâtâr â vlbora; ou é
"Raptalnm o primeiro filho dê Lindl,crgh, um bebê' em 1932.
ciÍuÍgião diligente, quc dcve ampütâro m€mbÍo apodrecido parâ evi-
Lindbergh cír ávjador fanôso. (..) DcPois dc rno' de inv€stisâ§ão,
tara infecção; praps no campo e epidemiâs nâscidadcs resultarão de
foi prcso Bruno Hâúptmaa. Iulsado, foi clcÚocutadô. Ant s da quâlqu€r úânsigência com os inimigos dâ oÍdem virtuosâ"'::ó.
€leúocussão, rcqücrtío .m Íoti!â nos EUÀ. Depois' diminuiu à
A polifonia dos discursos monis, dos discuísos higiênicos, dos
ineristência. Nas palavrasbem escolhida§ d. Têlmo lltanino, chaci-
discursos quclocalizam o mâl convergcm pâra um único€grande obie-
na ou íaxinal' (Paulo Frâncis, Diário da Cottc, o Globo,T d. de'
iivo:â eliminação dô mal, do sujo, doestranho, do portadordo caos.
zembro dc 1995, Segundo Caderno, P 5),
"Ergrâçado. A lci proÍbe meu higiêoico c pàcífico Pecheco, da
pcLrgenr livrc dÊ pulgas, dãoíe ira dc vâcin!§io rrsoo\imcn((.m
dia e da rírão imponàda, de feqü.nur a orlã. lvÍas deiM que.ssa
:,r Cí COIMBR^, Cdil,a. ln. Ope.açáo Rô: o mito ór c/asêe pê.i8os. Rio dê Jmio:
ofi.ina do 2001.
farofada pornográfica emporolhc Pnias iotoêdas até Poú.os aoo' rr B^TrSlô Nilo.
^úro./lniê.ieío,
Mariu s ib&(õ do thttu $nal búilei@ - l. Riô de lôeio: híndo
aútu,.omo São P.dro,Ipomngá, Mârcsi⧠ctc. et ." (Barb.m Gânciâ' C.ridâ & Cnmi.ologÂ4ad.n, 2m2, Ê 240.

117
116
"Os úâ.ginais estabeleceram guera subversiva que fose aos manu- balhadon Eram seis bandidos p.ocutâdos Pelâ Polícia lsso é nô.-
ais e lem de s.r enfreltada com métodos duros os mesmos, por mal" (Andtony Garotiohô, Folha àe Sõo Paulo,5 àejateno de 2000)
sinal, que os nrarginais utilizamcnrre si qDando se trata de elimioar
rivais, l;mpar o (cÍrcno, queimar.rquivos - sem conremplasão" (Edi- CarlosAlberro Plastino se referc â subjedvidade nãrcísica, ame-
Iorial "Territó.io de D ingué n' ,lo1t1al da B,ail, 16 de nuço de I 995). drontada pela ferocidade do dârwinis,no sociâl que Íege âs relações
'Alutacontraos trailcentes é una "gueüasujâ"r nMs qucm csrabcle- sociâis contemporâocas. Parr ele, o aumento do dcsemprego, da
ccu o srau de sujeÍa íor.m os úarsinâis" (Editorial "Guerra suja", marginalizaçáo, dâ solidão, da desassi§tênci'1 não é aPenâs um troPc-
queíazparâlelo àsmortcs dc militâorespela reprc$ão drs diraduras ço dos âjustes cconômicos, mas intcgra o morlclo da racionalidade
doConeSnl-lô al da BtBl,25 dc noveúbrô de 199.1). neolibcral "ao qLral acompânha pôr todx pxrtc como umâ sombrâ{'.
"O chefe de políciâ c;!il, delegado HÉlio Luz, disse onrem que as 2 0l O câpitalismo tardio que, atravós docDrPrccndimcnto neolibeÍâl
pesoâs norr.s entre janeiro dc 95 c fevereirô deste aoo pela Polícia cridnaliza a pobrezâ, trÂbalhando-a como rctusos do mcrcado (como
Militar nãó cram cidadãos comuns. Para o delegado, as vírimas pcr- disse wacquânr), precisâ do medo para Icv;rr a cabo suxs políricâs de
deEm sua cidadxdia no momenlo em qu. porrarâm a controle social: nas llavclas ou n.rs prisócs. Os quc sobraraot, os novos
rorizaçÁô lesEl e desafiârân á àuroridáde públicâ em riroreios" 0ol- impuros, têm de ser neutralizados ou aniquilados Gc não tàr no coF
dl ào Btutil , l0 d. abÍ;l àe 1996, p. 23) . po, pclo mcnos na::lma). No Brasil, que é parte da imensâ inslituição
''O secretã rio esriduâl de Sesurança, generãl Nílron C€rq u€ira, disse de seqüestro cm que se rornou a Américâ Lârinâ (Zâfrâ!oni), e§sâ
quc assistir ã unr ãssassinâLo é ríô dificil quanto lcerrar nr lorcia- realidade só âprofunda a herança escrâvocrata. O olhar cotidiano in-
'Estou no Rio dcsde 1940, há 56 anos, c nuncâ r;!e esre privilésio. É dilerente à miséria e às torturas e mones violenras dos pobres (de Lão
umachance em milhões"'(/ô idl do Bn'it,14 deàcz.nhÍo àe 1996, negros, ou tãoflegros de táo pobrc, precisadcum discurso queexpli-
P.22). que c nr.urr)ize o macabío est.Licúlo globrl. É por que ese'
"Nâs fàvelâs, em geral, os ba.didôs rentam convivercom idsdruiçõcs
'*o
discursos do medo se difundem pelâs telas, pelas bâncâs.
e espaços que prestâm beneÍícios à comunidàde. O s.upo de bandi- ComodiriaMarildoMencgat,"acivilizâçãodocãPital,porsua
dos que íez isso está ferindo até essâ ética. E eu nâo lamenmriá se lósica internâ, é incâpaz de supemrem definitivo o olho da barbárie,
ouúo grupo, com um mÍnimo de escrúpulos, jusriçasse esses bárbã- que a espreita desde os primórdios sob a forma de consciência
ros afirnou Chico. coisilicada""3. O capiralismo tardio depende da aceirâçáo c da natu-
- Fizesse o quê? Assassinato? - perguntou orcpónerl Íâtizaçáo da barbárie.
uh grupô jüsdsasse esses bândidos'
Sim. Eu nãô lâmeoraria se LoicWacquantc Pierre Bourdieujá tr3tarâm dâ asúcia da !a-
(Chico Aleocar, candidâro do Pr à prefeitura do Rio, náAssociação zão imperialista na neutrâlização do conrexto histórico resultânte da
Comercial, jornâl O 61010,6 de igosro de 1996, p.l). circulâção internacionâl de texros que produzem uma falsa
"O candidato petista ) Preteiturâ do ltio, Chico Alencar, ficou rôdo universalização, um tipo de axioma tização fictícia ícitâ Pârâ produzir
prosa ontem. Dcpois de seu discurso na Assôciaçáo Comercial, ou- a ilusão de gênesc pura. O senso comum da novâ vulgata global é
viu ràsgâdôs elosios do vice-prcsidente da entidade, Álvârc Carão,
que definiu o petisra como 'squerda arejada"' (Danuz
^Leão,lonat ?,' PLÁST|NO, canos Albero, G hatizontes de Ptameteu: consi.lenções paú una qitica
do Btdlil, 6 àe t9ósÍo àe 1996, Cad&nô B, p. 3 ).
da nodenidade. t Physis Revtra dê saúd," Coletiva,vô.6, nq 1_2. Rodelanêlrô:
"Não houve chacina. Houve ã morte de seis bândidos pro.uredôs lnr'rrro dP Med !'nc 5à;l/ulFl, loa6.
pela polícia. É difereote quando moffe uma pessoa de bêm, um tm- ,:3 MEN EGÁÍ, MâÍildo. civilizaráo em exceiJo. ln: sÍntete - Rerista de F ilasolia, w| 2a,
no 10, 8elô HôÍizonie 2001, p, 127,

118 119
repetido interminâvelment€ pela mídia (quem não âcompâflha o no- dade de quem brinca deguera, criândo üma situação de pânico em
ticiário policial do fornal Nacionall) uansformando em íé universal o toda a orla dâ zonâ sul".
que não pode ter história"'. A ".id,de para alguns", do projeto liberal-conservador pelmanece
No princípio deste capítulo mencionou-se o esforço contem- incólume, com suá estratégia ucludente e autoritária:r:. A nova ey
porâneo de apagamento do pensamento radical, de celras idéiâs, de tratqia dc côntrole social erisida nos zo.eamenros urbanos do co,
certos pcnsameotos que, seja na vo,. do Cust6dio machadiano, seja na meçô do século,se âprofunda nas.uínas do póererl, na simbioseda
dogerentedo shopping, nãosãoboflsparâo comércio. E é no altardo mídia con o Estado, na b.utalizâçâo dos .elcsados do projeto do
capital que o neoliberalismo periférico depositâ seus incontáveis mor- !ídeo-capital noanccirô,Jr.
tor: negros, índios, pobres em geral.
E é no retorno aos traços da memória que Birman lança o su-
jeito contra o trãbâlho de morre e âpâgâmento produzido pela civili-
zação, pelo discurso da ciência, pela razãô instrumental. ôu seja, é a
memóriâ que rompe com a l6sica homogeneizante da civilização. Â
retomada do heterogêneo se daria no 'letorno desejânte do sujeito âo
tecido da memória"zr". E esta retomada se dá no entrelaçamento da
história, da memória individual com a memória coletiva.
Pârâ Íomper o silêncio, desnaturalizar o extermínio dos pobres,
dcsbonalizar o olhar dos nosss rcmpos. remos que ÍecoÍreí I memó-
riâ, à hist6riâ de nossâ cidade. Como disse Mitton Santos, a cidade é
produtora de sentidos'?s'. E é na memória vivâ dessa cidade que pre-
tendemos entender o presente pelo passado. Antcs de passarmos ao
século XIX, uma última metáfora em forma de editorial intitulado
"Pâoico no paraiso" dolomal da Bta:il óe2A de ontubro de I992 (uma
conjuntura eleitoral) :

"Perplexa e assustada, a opinião públi.a aguarda com natural expec-


tâtiva umà respôsta convincentc das rutoridades policiais sobre os
lamentáveis fatos ocoridos no dômingô, quândo grupos de delin-
qiientes em fú.iâ, vindos dos subú rbios e dos municípios da Baiuda,
agrediram e assaltaran baohistas À vôntáde nâs práias, com a facili-

,,, SANTOS, Mikon. O novo iécula das lu2es.ln: Cadeho Maisl, Folha .1ê Sáo Paulo, t4 de
janenô de 2001, p, 14,
1r0 Cl BIRMÂN, JoeL, Pircarál,5e, ãegÀtividade, hetêrcsêneo: cmo a psicanálne pode seÍ :r: CÍ CERQUEIRA FlLHo, Ckállo & NÉOER, ci2lêne. EDoÇáo e polrrica. (.)venún
e
abstâcula paâ a bal/rétie.l^: Ca./e/nor de Pícaná/ise, vol, 15, n 13. Rio de laneio: inaEinãçào 5aciol6qi.a paâ o sécúlo Xll, ponô AlegÍe: SéÍsio Anronio Fabrk Ediror,
Sôc êdade de PsicânáliÉ da Cidade do Rio delanei.o, 1999,
,rrSANÍOs,Mhon.Ono@iéculadaslü2es,t Cadêno Maisl, Folha de Sàa Paula,14 de :rr cf, VASCONCÉLLOS, Cilbêrto Felisbeno,O p ncipe da naeda, &iodelaneirc: Espâço
janeiÍodê2001,p.14. e Tempq I 997, e Ás rüInás do pórlea/ . Riô de JaneiD: Éspaco ê Íempo, I 999.

'120 121
4.1Àvontsde senhorial
O pcríodo pós-cmancipaçÍo no Br. sil é m.rcado poÍ profun-
drs inquietrçócs. A iídcpcndôncin inspiÍava vários projctos para a
mç,aa quc Iutavam por hegcmon;â. principal qucstáo a scr âdminis-
tra da, ideológica c polhicamcntccrr a convivôncja dolibcralisnrocom
o sisremr impcriil-cscravista.
Para entendcrcst:r conjunturr, os problcmas do liberalismo no
Brasil?I, gostaríamos dc Ícflerir sobrc o que G;zlcnc NcdeÍ dcnomi-
nou "iluminismo jurídico-pcnrl luso brasilciro"'lr'. A autom trabalha
as tÍânsformiçócs do Brasil colônil cm ImpéÍio Luso-Bíâsildro, â
prrtir das RcÍorlnas I']ombxlinrs cm Portugâl na pâssigcm do século
XVIII parâ o XIX. Comprccndcndo quc os atores no podeíeram bâ-
charéis, el;r trabalha a inflrêncir d:' rcformí de Coimbra cm 1772 e a
(íi;tçío dos cursos iurídicos no Brasil cm 1827.
A idéia ccntral de sua tcsc cstí bâseâda nas pcrmanências hk-
róico-culttlríis de uma maneira dc incorporaro libcralismo europcu
scm rupturâs com o to,n;smo, o militÍrrismo e í religiosidade de nos-
sas matrizcs ibóricâs. Assim, buscr-sc scmprc uma fórmula jurídica-
idcológica que assim ile uma h icr.r rq u iz.§ão xbsolu thtn, quc preserve
rs esuatógias de suspciçáo c cutpr rlo dircito canônico c quc mantc-
nhà vivos oarbítrio c as fantxsiís rbsolutistas de controlc total.

']ir RobenschwrE an.lisando Mâchado de Àsh rrobalha o libeBli5mo no BÍasilcomoás

)r! NtoE& Gizlere, /!D,rtdo iu.idi@penl hÉo.Üaihirc: ot*diéí,.ie e tuô,,iriáo. tiú


dê hnênô: hlíuro Càrieâ de GiminoloSirÍÍêirn, Bií6, 2000.

123
ÁheÍânçaiurí.lico+cn.lda inquisiçio ibérim é uma dâs mats trazia para olmpério Brasilciroo controlesocial pcn: I "realizado den-
cas de um nodclo dc Estado quc !inci x histórii do Bms;l até os dia§ tro rir u..id.rclc dc proJuçio : 'rrunr "pu.lcr puniriro q-e ,c crcrce
de hojc. "O dGcureo do dircito penrl, que tem a prctensão de exerccr sobre o corpo de sua clicnrcla"'ro.
se como locução lcgítimâ, numr língua oficiil, está Permanentemen- A conjuntura pós-cmancipação ó mrrcadr pelo lim do p:rcto
te produzindo sentidos que vi:rbilizcm â expÀnsão do sistema pcoal, colo,rial. Dcsdc 1808, com a inst.làçno dx Corte no ltio comcça a ob-
exp:rnsão que ri,nbóm se oricnm nr dircção d::s rnentrlidades e da servar-sca monragcrn "de um aparclhogovcmaLivo no Bmsilan. Sur-
gcnl no luo de Jxneno bibliotccas, jornflis c a ;lssinatura dc tratados
Ncsta heÍâoç,, o dogmatismo legal sccontrapóe ro PLuralismo com r Inglaterm, a mclhoriados portos, a rcvogâçío dn lci queproibiâ
jurídico, o difcrcnte é crirrinalizado, há r.rma coercitividadc do con- manulaturas rr:nsformam á c;dídc'ira capital dc umgrandc império
senso e uma manipulação dos scntimentos ativarlos Pelo episódio iu- âúântico base.do na produção dc.rnigos tropicais c no comércio de
clicial']r7. Para Batista, csses mcc:rnismos sobrcvivem e sc agudizam
em dctcrminadas coojunturas Polític.rs, rcproduzindo o traramento l'ríâ Caio PrâdoJúnior, instala-sc tambórn ncssc rDon1cDto um
dispcnsado ao hercge: o princípio d! oPos;ção entíe uma odem iurr desequilíbrio da vida financcira quc riria r consolidâr-sc nr hjstóriâ
dica viÍtuosa e o câos infracion;ll;â mrrriz do combitc:ro crimcé feita cconômica do Br;rsil7'r. A depcndência do capital cstra»gciro, o au-
como cruzâda, com o cxtcrmínio con1o mótodo contra o injusto que mcnto do. gr.tor p-bl,cos com r nront,,sem d" rprr-ro gorcrncrivo c
ameaça;é produzido um dircito pcnrldc inrervcnção moralbaseado â ruínâ dâ produção locrl produzia instabilidadc social c se somavam
na confissio oral e no dogma da pcua. Essa ordemjurídica intoleran- às agitaçõcs dc rua que marcaram a conturbrda décadade30do sécu-
tc e exciudcntc nio tolen limitcs, transfoma+c num sisrcma penal lo XIX no Bmsil.
scm frontcirâs, com I tortun como pr;ncípio, o elogio da delâçâo c a Aabdicação dc l,cdro l cm favorde seu filho Pedro deAlcântara,
cxccução como cspcrículo. inaugura o período regencirl mrrc.rdo porrcvoLtas populares e tropâs
Prra comprcc»dcr mcdos dc hoic, é importantc trabalhar as
os amotinadas. rrês tcndôrcias disputam o poder politico: à direirâ res-
pcrmanôncirs histórico-culturris das làntasias de controle total do ÍwrÀ(lorcs o! catuiúu'u:, à csquerda os liberais r^dicals,ÍaD.aüpi tu!
absoiutismo português quc dcscmbocamcrr práticas pedrgógicas, ju- otitliub* c no ccorro os modeados ou a/:irralsor,r'. A profundi'
rídicas c relisiosas quc inculcam uma detcrminadi visão sobre direi- dadcdrs rclôrmrs libemis cstâvâ em questão.Já hâviaum movimento
tos, disciplina c orilcmtrs Estas pcrmanôncias produzcm, prra Neder, republicano, inspirado nas idéias libenárias da ll.evolução FÍâncesâ e
implicações jurítJi«s, políticrs c idcológicas dr: rmã visão soci'lreoló- d.r Indcpendência estiduoidense. Os modcrados c os radicais luta-
gic.r,:rristocrítica e rigidrmcntc hicrarquizada com uma períor vam pcl: descentralização por uma mriorautonomia das provincias.
e
mativid:rdc políricx e alcSoricr quc imprcgna a vida cotidirnâ do B râsil' As clites já tinh.m se.ssustado com os acontecimentos do Haiti c
Como crn l"rrugrl. r. .l,rcr br$ilcirrs inrorpor rm prJgmJr;camcnre
alguns aspcctos da modcrnidrde nras gârantindo pcrmânê»ciâs do
aurorirarismo absolutistâ. O lcgado do pcriodo colonirl mcrcantilista
rre NE DER, Cizlene. /iuminÀDo jútÍ.|ica-penal lúso.bn\ilenÕ. Op. cit., p. 1A2
)r'BAÍS-rA, N lo, Or sisteDar pera,r b.ái,lenôr, Op. cit,, p, Z,
LIIMONTE]RO, Haôrilrcn dê Marros nr llNHAltES, Md à Yeda lóe.|, HistóÍia geÍaldó
! AATI> A, \iio OJ ".ren, r pL Lr' brdrteró . \-" in- r8-nl do' (uFo' oa Unir'q' dc Bntil:.la cÕlari2açáo Danrq csa, nlade ii.lale aútatitátia. Rio delanenor Campus,
o( (ú d.Jo MenJP', pro e'iJ. ê n I d. n J'(o oc /001 R o tl",Jêio'
BATI5TA, Nilo. Makizei ibéi.as dó sistena Pdldl bíasilenÔ vo/
_ Rio de ladêno:
'? '' :rr PRADOIÍ., Caio. HiJrória ê.ond»ica dó Aráril. Sãô Pâ!lo: BÍasiilênee,
liúrituro Cãriocn de Crimim ogirFÍÊirâs Baíos, 2000.
,r{ CÍ- NEDER,6izlene. Op. cit, :rl Cl. MONTE RO, Hâmillon dêMruos. Op..il.

124 125
com a tcntativâ de cstabclccimcnto da rcpública em 1824, em Per- Manucl Maurício de Albuqucrque châmou a atenção para os
nambuco. "Era ogr.rnde mcdo suscirido pelâ s:rngrenrn revolução em movimentos popularcs de caqroncscs, escravos fugidos e remanes-
Sío Domingos, onde os ncg.ôs não só hav;am se rcbelado contra a centes i.discnâs. "Oscabanos clc Pcrnambuco,cuja mobilidade espa-
escÍâvidão na última dicad. do século XVIII e proclamaclo sua inde- cialcoincidiu em p:rrte com ll área antes domin!da pclos quilombolas
pcndência em 1804, como também - sob a dircção dc Touxaint Jc P.rlm.rrc.. ocuprvrm 1'ropn.drdc,, li:crr,,".,m .scr.rror..n.inr
Louvcrture colocaram em prática os grandes princÍpios da Revolu- vam arividades agrícolas cm regime comunitário"'2r'. O historiador,
xssissinado pcla ditadura nilitar »r déc.rdr de setenta do século XX,
ção FrÀncesâ, o que ac,rrÍctou tÍanslornos [atais prra muitos senhorcs
de escrâvos, suâs fânilias e propried.rdes"'?rr. fala da l.cuna na compreeflsão dr rrricuhção entre a Cabanada c o
Âpós a abdicação, multiplicam-sc portodo o paG discureosse- Movimenro Messiânico do Reino Encantado em I,ernâmbuco, de 1836.
diciosos e revoltas popularcs. A r:idicrl;zâção do liberalismo, o fim da "Este conflito íural, orgrnizâdo sob dominância da idcologia
escravidáo, a utopia de urna n.çío mcsriça, a cidadania para todos sebâstiânistâ, que or;entava príricas sociais de râdicâlismo exr.emo,
sâcudiâ o pâís. "Quem é o poro? Pretos e cabrasl Essa a circulstância iniciou{e sob a chcila dc uÍ, ílto)lirtto,Iolo Antônio dos Santos,
brasilcira, o scu árias, cluc torna antiérico qualquer movimento que promeriâ â ressurrcição do rci D. ScbÂstião c â conscqücnrc dis-
libenário que os inclua""6. AIém dos nossos malês nn Bâhiâ, a ltevo- tribu ição das riquczas cntre seus scgu idorcs"r'". Movimcn tôs libcrtí rios
lução Farroupilha, rcpublicana c igualitária tomava o sul em 1835. e mágicos produziam medo nos proprictários quc, ilóm dc lidarcoü

No nordeste, Pernâmbuco e Cerrá se rebelam contra aordcm impcrial. as alegorias, tinham que sc vcr com a I'aha tlc braços nrs Íizcndrs.

No l'ará, a Cabanagen,lcvante dc índios, escravos e pôbres resistiâ Enfim, mulriplicrrxm-se os levantcs urbanos, tropas amotina-
heroicamcnte de l83l r 1836. Os movimcntos rcvolucionários conti- J-., mor ncnLo. c:mponc*s.rnc*i"nico.. As rrop,r.(orri"m p.,rrl
nuaram.té 1850 (Sabinrda, Brlaiarh e Praieira), pcríodo cm quc a repressÍo aosFarroupilhrs do Sul eexplodia a I{cvolta dos Malês. Um
base agrário-cscravista do sudcstc brasilciro "pac;ficou" oImpérioatra- grande tcmor dominava o coração dos proprietários de norte a sul do
vés da hcgcmonia de um3 ali.nçx conseÍ!Âdora que viria a controlar país. As oligarquias temiam prircipalmcnte as orgarizaçôes
o âpârelho do Estado c massacrar as rcvoltas populares. Só nâ abolicionistas. A Itcgência Trina I'ermrnenre hrvia abolido o trálico
Cabanagem morreram 40.000, numll população de aproximadamcn- de cscravos em 1831, produzindo uma conrradição jurídicâ que se
te 100.000 habirantes'lrT. "Éxa impropricdade do nosso pcnsâmento, estenderia por todo o período que se segue rté â âboLiçâo: se o trálico
que não ó acaso, como sc verá, toi de fâto umi presença assídua, atra- foi tornado ilcgal, a cnormc rnassa dc cscravos trazida clandcstina-
vesando e desequilibrando, aré no dctxlhc, À vida ideol6gica do Se- mcnrc rtrir umv-rrrs -iu hom:n; lirrt,. Os morimunros ií,'urrecion"n
gundo lieinado... Por uma mem presençã o escravismo indicava a sc voltaram contra uma csrrutura cconômica que não se modificara
impropricdâde d.rs idéirs libcr"is'{. com a Independênci, e por umâ conccpção de nâção e de cidadania
que incluísseos índios,os ncgros e ospobrcs,cttfim, o povobrasileiro,
"O rcsultado íundamentâl dos três séculos de colonização e dos su-
,rrAZEVÉoO, Célia MaÍia Marinho de. O,da,e8rã,,nedo brânco: o neEtó no inaqihÁtio cessivos projetos de viabiliz:ção econômica do Brasil foi a constitui-
das €/nes - #cu/o X/1. Rio de Janenó: Pâz ê T€ía, 1932, p. 35. ção dessa população - 5 milhõcs de habitântes, umâ drs mâis nume-
,'. SANTOS, loel Rúí no dos. Crónica denrdomáven delr,oJ, Op. cit., p,56. rosas dâsÂméricas de cntão, com â simultânca aculturação e trans-
rliÁNDERsON, Rolrin L. rna
inte'pÍetaçáo da lúía de râças e c/a$es na
A Calrana]eni:
Ahazônia (1335-1336)- lÍ
RevÀta do /díituro HÀrórico e ceoarálico Snsileno,vol.
Ti'!ALBUQUERQUE, MaôoelMau.iciô de. Pcqde,a ],rló/,a da ló naçáo racialbâsilêia.
307. Rio delãneno: Depàdam€ntôdê lmprensã Nacionà|, 1926,
Rio dê lànÊnô: GÍaa, l9Al, p.l6l.
"! SCHWARZ, Robeílô. Ás idéi,§ iorâ do /usai rnr SCHWÁRZ, R. Áo vêncedor ar /ratatãs.
5ão Pâulo: Duas Cidrdes, 1977, pp, l5 16.
2r0 AlbúqueÍ.lue, ManoelMrudcio de. O!. cil.,0.362.

126 127
fisuração érnicr dâs suâs divcrsas matrizes constitutivãs. Àré I850, só nhão ou a de Manuel Congo em Pati do Alíeres. Durante as décadas
o México (7,7 r:rilhócs) tinha mrior populâção quc o Brasil (7,2 mi- seguintcs â memória dos proprierá.ios da rcgjão estaria âssombrada
lhõer. O produro reãl do proccsso dc colonização já era, naqucla al- por aquelas imâgens que punham em pcrigo as fantasias de
rura, a formação do povo brasileiro c sua incorporação a umâ nacio- inviolâbilidâde da vontadc scnhori:rl dcscrita por Chalhoub,5,.
n:rlirhde étnica e cconomicamente integrada"r5r. Era este povo que Nas cidâdes, a siruação rambém não cra fíc il pâri as oligarquias.
autria osntoirhos degutal g,r/ dos ciclos cconômicos da incorpora- "Câpocira s, soldâdos mercenários, cr;xciros, vrd ios c muirosoutros ho-
mcns sent qualidadc, alé» de uma quantidrdc insuspcira dÕ mendigos,
çeo peritéric.r à metrópole'l5'].
IlmarRohloffde Mattos tL.tbrlha a década dc 30 do século XIX misturavam*e aos olbos dotcidadõas atiuot nt prodr_rção dc uma aoar-
no Rio de lâneiro, como um período intensoe de inquierâção e pavor, quia. O elemcnro potuguôs aparecia muims vczcs como caralúador
com agiraçí,es da naka nas cidades c lutlrs peLâ posse da terra. E1e dcssa anarquia. Os gritos de "mâtâ mâriihciro', c .,morra ponuguêj'
trâbalhâ o pânico drs insuÍreiçôes escÍâvas e a construção dâs figurâs eflchiam âs ruas, preccdendo as rcivindicaçõcs dc »acionatização do
t\os himígos írconciliárs; "nos processos dc construção do Estâdo comórcio a retalho"zrr. Em 1830 o Brasil tinha aproxim.ldamcnre 5 mi,
Imperiale da consrituição dâ cl.rsse scnhorial, nos termos de uma rc- Ihões de habirantes,56 e o Rio dc Janciro cm rorno dc 125.000. Os dados
esrruturação e de uma cxpansão"25r. t'>rra ele hrvia um proccsso eco- disponíveis demonstram quc em 18j4 pelo meros 44,1% da população
nômico subjacente de rar uração dos naos colorian na coDsolidãção total era de escravoi5T. Desdc a chegrdâ da corte em IB08 a demancla
do capitalismo pcriíérico no Brasil. por escravos parâ rrab.rlhos t raçâis e doméslicos era crescenre. Ern t82l
Ào trabalhar "o tempo saquarcma", Mattos analisâ o na.iona- â população escrava havia cLescido mais que seu dobro. Começou a
lismo e a âvcrsão âo Pr,lugu& conetcioxc no ttstro da crisc do siste- constituir-§e no pcrÍodo a cidade rfricana,:o mesmo tempo em que
ma colonial do finrl do século XVIII, quc virir a constituir-se "nâ começ-m J ,nulipl,crr o.tl âo"ln.,dores i.\r.. n..ion"is c.r ngeiro..
condição subjctiva tundamcntrl do procersode emancipação", ouseja, O geógraIo Maurício Abreu descreve a conftitividade gerada
as contradiçõcs políticrs, cconómicas c sociais entre colonizâdores e pcl: convivência entreduas lógicas distinras (a cscrâvisrâe a câpitâlis-
colonizrdos. Aclassc scnhorial luta com várias irrentes: levanies urbâ- tr) e seus reflcxos no espaço urbano,53. A ocupação espâcial
nos contra o monopólio do comircio var.jista pelos portugueses, in- hierârquizâda jí se impunhr na concentração popütacionat de fre
surreiçócs cscravâse a luta pcla posse das terras nas áreas dc"lronteira guesias disponívcis "a uma população sem poder de mobilidade, trâ-
abcrta"da expansão câleeirâ. bâlhâdorcs livres e escrâvos de ganho que precisavam estar próximos
Mattos ressaha a intcnsificação da rcbeldia negra, principal- ao centro, ondc o trabalho cra buscado diariamente",5,.
mcnte na região de agricultura mcrcântil-cscÍavista. Elc cita Edson
Carnciro pim mosrrar como, na primeira mctade do século XIX ãs :,i CHALHOUB, Sidrêy. À /riíóÍiàcantada aphulas de história sújal.la liteÉtuíã nô
reâções pcssoais como fugxs, crimes conrra ícitores e suicídios, vão
sendo superadas pelas reâçõcs coletivÂs, viando â tomada do poder, ']3rMAÍTOS,l m& Rohloííde. op..it,, p. zs.
como a Rcvolta dos Malês na Bahia. a de Manucl Balaio no Mara- r,lNSÍITUTO BRASLLE RO OÉ CEoCRAF|Â É ÉsÍAIÍSTt(i{,
Dados hhtóti.o, dó..pn.n.
estinativas da popúlaçáaissa,,d7o). D spônivetem: www,ibse*ocbr, Dala de acê$

rrr RLBEIRO, Drcy. opovôbraiibnat a lomaçáo e o se.tido tlo 3r,5il. Sio Paulo: Compa 'r'/KÀRASCH, Mary C, Á vida dos esqavú na Ria de laneho (t6OA ,s50). sio pauto:
nhir dâs Letrrs, 1995. côúpanhià das Lslrâs, 2ooo
15!
:5:Cí RLBE RO, Oarcy. Op. cit. o cúh vo ê comercializaçáo da cocainâ §êriâ o mo nho de ÁBREU, Máuricio de A me dr. A evolúçàa ú'|ana da Rio de /anerc, Rio .te Janeno:
sríâr sente, do cap rÀliíno lârdlo.
?i MÁTTOS,lLnlar RôhloíÍde O le,rpo :reAaREU, MauíciodeAmêda, Op. cit., p.19,
sa quá remá, São Pàulo: Hucllec,l937, p.2,

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Os habiranres do tuo levavam uura vidr inseguraui, numa "ci- çóes cm cureo, contE as cxpectativas de uma cidad ania completa, que
dadc fcia, que pouco difcria da scde colonirl. As ruas ainda eram es- a coroa centraliza o papel de gestor dot i,teresses doniuues, ntma
treitas, escuras e imundas. Como n:rs dcmais cidadcs do ImPério, a esÍaÍégia dc d€lqrclüalçãa dd polhica e un j.earcc da ação adniistta-
remoção do lixo, das coisâs podres e dos excreo)cntos humânos era rraa. E nesse sentido rie unidâde c de conrinuidade que se constrói a
leita em pipas ou barris, carregados às cabeças do relação entre o Estado imperial e a constituiçâo da ciaxe senhorial?6r.
No comenrário L,iográticô dc Debret, Patrick Stmumann lala I
l']asscmos enrão a an.rlisar maneira como a indivisibitidarle e:
da chcgada ao Rio do pintor, nomcado prol"exor cla Acadcmia Real de tcrritorialidade de latifúndio do Império são construídas, como disse
CiênciÂs, Artcs e Oíícios em 1816 para fornccer "âo poder a carga Ch.lhoub, à imâgem da iDviotatrilidade da vonrâde senhoriât.
siDrbólica que senná de base ao projcto"r'r. Str::urrrann diz que ao
entrar na baía de Guanabara, Debretcncontra "uma cid;rde febril, de 4.2 O império ilJs leir e as leis do tmpdrio
duros contrastcs, rigidamentc hierarquizada, com ruasmalpavimcn- Scriâ importâDre asrcs de pasarmos a análise da construção
tadas repletas de vendcdorcs ambulrDtes, curandciros, enfim uma ci- do aparato de controle soc;alna conjuntura rcferirl:r, enquadrarmos o
dade africana. Fala também do "pâradoxo íundâdor que imPregnou quc Neder dcnominou "visócs h;perbólicas sobre as clases perigo,
com sua marca a história do B rasil indcpendcnre", c do traço de Debret, no período de formaçâo de um scr potírico muiro parricular, a
sas":65
invocativo da oscilação entre à digê cia da ciuitização e t rcalida,le classe senhorial bmsilcira, na hcgcmonia dop:rrernalümo eclas,!otí-
,.opícal, pÍotlluzindo imagens-met:iiroras da socicdade imperial- ticas de domínio bascâdis na irnagcm d:r inviolabitidadc dc rrm:r von-
,JJc
É ncsse cenário quc sc impunlu o Imfório contra as ameaças
"cnl,"ri.l Lcn+olcrrtc,;uc 1,crm:nccc f,:licin,ol( In,,.,.,csrf
como meio de prescrvrr a subordinlçio dc cscrnvos c trabathrdores
republicanas, e €sta idéia de Império cstarir âssôc;âda à garÀntia de livres depcndentes',,6. O pcrson.rgcm mrchrdirro a quc Cha ,oul,
unidade e continuidadc, scgundo Ilmrrl{ohlollde Mittos. Pâra clc, a se reícrc, Brás, se imagina como,,controlrdor dc uma economia de
quesrão dâ tcrritorialidídc conduzia às noçóes de nrcionalidade e ci- conccsó,. c ft'orc.. roJ.,,do poÍ um,. lcbr.io Je. cruvo, c outror rrir
dadania, incluídrs na Constituição do Império à luz da Revolusão dos". P.rr:r Brás, a eliminação dâs difcrcnç,s políricas c cutrurais se
Frâncesâ. Esta âssociação já trrziâ em si a contradição fundamcntâl rclacionan a uma ccrta ordcm e a um cerro equilíbdo. No mundo
do liberalismo no Bras;1. enire a cidadania e a escrâvidío, a senhorial, tudo c rodos cxistem para sirisf.zer d r,.d,a tude.Brás é,
territorialidade e o acesso à terra. âssin, conscienrc dxs dimcnsões sinrbólic.s do poder, foi criado ..in
Prrâ Mattos, a idéia de unid;rde c indivisibilidade do Impório dre rrt ofperforming powe.', nâquilo que Schwarz dcnominou de
esbârrava na "associâção de todos os brasileiros", na rcProdução dâs "ccrimônia dc supcrioridade social, vrliosa cm si mesmad. Heiena
hierarquixs, no esboçodo que serir opovo bras ileiro, neste amálgama Boc.yuvâ ânâlisa cm cill,erro Freyre a concepção do paúiarcâlismo
difícil entre "brancos, mulatos, prctos livres e escravos, índios etc. em como ordcnadorda sociedâde brâsilcim. EIa trabâtha o poderdc ctas-
um corposólido e polftico..."'6r, nas palavr:rs delosé Bonifácio. Eé na
dcfesa dessa indivisibilidãde do Império, conúa 3§ revoltase insurrei-
16r
Ct MATTOS, llmir Roh oÍf de. op cir., p. 91.
rós NÊOER,
,a CÍ. MATTOS, llmaÍ Rohloíde. Op. cn., p, 77. Cizlene, Cd.de rde,r,./ade eeÍc/lrroíc,ât. tn: ReviJta Íenpo, vôt.2, n! 3.
RlôdêJânelro: DepanamentodêHislóÍia,UFF/RctuheOumârá, i997,
,ír MÂTÍOS,lLmâí RohloÍde. Op. cit.
?óí
CHALHOU B, sidnêy. rvlar Á Íe N6as lon paLenlãtien, Sacial DarwDih an Áace s.,ence
?& STMUMAN N, paÍi.k 1ô'!.). R,o de /â,eno, cdâde hen,çá: nascimenlo da idásê- de in Machà.la de Ash. tn: )oúna ot Lrt n Aôe.ican cuJlúratSlldies, vôt. lO, n! 2,2oot.
und ndíão. Sào Páulô: compd'hiJ dd Leú .5, 200r. p. a. Caíax Públhhin8, p. 172.
ar Apud MATIos, lmaÍ Roh oÍf de, Op. .it. p. 3s. :.7 SCHWARZ, Rohêno.
Op. cil., p. 19.

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sc do mcnino dc engenho e §eus "mórbidos dclciteí' ou brincâdeiras A Revoltâ dos Mnlês, nâ visão de Gonçalves, foi um dos moti
scmprc /r,rra,l, hicrarquizadâs'2d. vos de acirramento dcssls estratédâs' §cja Palx at nosfera de rccêio!'
Márciâ dcAlmcidí Gonçalve§ trâbalhou o medocomo'Prêciosa scja pelo incremento das discussôes sobÍe o trífico ea €sc6vidão. Mas,
cluvc de lcitura" para a compÍecnsão da conscrvaçáo c expansáo dos o problemâ que se coloca píÍa as elites cra como darcontinuidâde às
monopólios tundâdorcs dos interesscs da clis§c scnhorial':6' Para ela cruéis relrçócs escÍÂvistâs €om o controlc dns insurÍeições. 'A PaniÍ
os)êrtatovàoÍ.!\ crl'm-sc dí -nome.çío d€ tc mores específicos c fun- da id€ntifi.âção dc perigosâs âmeaças e da nomcasão de medo§ coÍÍe-
rlamentais para a expansão do Projeto conscívador no momento in- latos, jusrificar-se-iÀ a m:rior interfetênciâ do E§tado na salvaguarda
ccrto das Regências':?" O i{io de faneiro, mLrnicípio dâ coÍte, centro do principal monopólio da boa sociedude»n
dc podcr do Império scria o loctsptiuílegiado daconflitividade coiidi- Â autorâ âríibui â vitória conscrvadora nas eleiçóes de 1836 à
anr da socicdade da época. Ela trabalha as rurs ameaçadoras à áoa cíiâção d€ uma imâgcm tÍabalhada do Í»cdo dâ dcsordem para "rc-
acidadc,a exclosío oas iímrndades rclisio§as (santos que PÍotegiam compor umã mística do tronocomo instrumento cmblemático dc sus-
â uns e náo â outror, c írl:r dc uma difusão dc medos quc iam da tcntação do governo do Estado" contíir âs âmea§âs do nuado do rra-
pâssã8cm do €omela às rcpcrcussô€s da revoltâ cscrava do Haiti, cn-
lim, "o rcceio latcntc quc permeava a manutcn§ão dâs rclaçóes Ao analisar o movimento roolucionírio da Cabanagem no Pâ rá,
cscravocrataí'. Eram conspiraçóes, rebelióes' scdiçôcs e insurreiçócs Renato Guimârãcs produz o que ele chana de "artcsan:lto de r€§tâu_
nas fazcndas, e na cidadc ríricana que a cscr.rvidão ia consrruiodo, rrsão" contra umâ visão "catostrófico-bcstial" com quc as clâ§sc§ (lo_
cíim ruas domiradas por cscÍâvos e prccos forro§. minantes se Íefcrcm às "coisas de ralé", prflr trutaÍ dc mrrcâr na his_
Conçalvcs aponta a compreensão do mcdo como virtude e de tóriâ âs iosurreiçõcs popularcs como cxpl<xÍo ic bandíivno e anar-
como está relaçãosc cncontrou no eixo ccntraldas estrategiâs conscr- quia")?J. Para cle, a Crb:rnigcm constitui-sc rum c;rso único dc chc'
varlons no pcríodo:?r' Eracom esta idéia quc scconciliava progresso e gada ao podcr dc movimcnto PoPulãr c ttrml,únr "mrrco singuhr dc
conscrvasão, dcntro dxquch visãode Schwirrz dc um liberalismo quc fcrocidadc";a derrota do movimenro dcu-se :r trnvés do extcrmínio dc
não sc podia praricar, scnLlo ao mesmo tcmpo indc§cârtável A manu- um quinto da população dr Amazônia, incluindo aí o m⧧âcrc do§
tenção dâs lelaçôcs escír!ist s, a conccntrcçlo dr propriedade 'Ja tcr- indígenas quc participaram do movimcnto:7r.
ra c a consolidação da unidade imperi.rl cram os dilemas dos liberais Guimarães aponta a conjuntura do 30 comocspecial poraprc-
na década de 30 do século XtX. sentaÍ umâ cisão no intcrior das classes dominante§, a paÍrir dâ crisc
rcgencial e pelas cxpcctativas das classes trabalhado.as na rcaoluçdo
da i»dePo Alcia qrc pcdia pasagcn. "Os dc cima não coflseguiâm
ú BOCAYLTVA, Helena, trori,nô à bTariletai o ex.etso sexuá/ n a obn de CilbÊ,lo Ft've míis govcrnar como antes e os de brixo náo consegriam mais viver
Rio de lane or CaÍarcnd,2001
como antes"z7t. O que Guimarác§ aPoniâ ó quc a estrutura de podcr
a CONCA-vl\,Md(iàoe^'n.o, /i,j-o.re-o'ro5 u'nà'el"rãdo r'edo"o''àr'5na
.-e Ào rcnpo as,ece« Te." dê me..'rrô ên hisrú' a. N re'o : -'er" d"de F _
militar e policial, hcrdada pclo Estado indcpendentc dâ colônia, se
dérál Flumineniê, 1995.
",
rD 6ONçALVE5. MáÍcia de Op. cit., p r 2-
:'r ^imeidn. cmo vinodê é ,') CONçALVÉ5, Márcia de Aftn€idr. OP. cil-. p. I 21,
É inlgsÍíe nor.r que. quà* doG *.alos dêp.it a idéia do nedo
Íuftion.l dÊ ouxc ;rG de elnaÉsid .onrerurdordt O livó de Cdvin Bd ks (viíu_ ,,r GUIM^ÍÁEs, Rênâlo. OoÀ Brudot pá.a a mão 6gúa&. Rio .le Jãmire: Rdaí, 2000.
dee do m;do: lndn de árcdà que,o\ p,ole8Pr, dJ eiolé"'i' RE & lrmiÓ Rd'o ,r Cí 6LrlM RiIs, Ren.lo. Op. <n., p. 63, e cibÍ D.Gv Ribêio qúe rel a o mó5*É
i999 rÉra o rcdó c6o don, lálá de uhà a.admà de p,êviráo dêÉn@lvid' Por É reBiào do Íap.jóii éú 1 320 hdh ênúe 30 e 40 mil Indios em I464 ap€Ée
(ompoíàmedrl'dP um JBerle lôdiBeÉ
ôj.ójofô tuluDn, m"ao',nl,es'@ànr r,jstu _é rorse procurddo p'lr poxcri
do
3.000.
igterl.mo sr'"q-e, na in erepn.'" do aPdo me 0o
qu. nio serpÍocuado Por n n3uéh'.
,r GUIMARÀES, Renâro. Op, cir,, p,23.

133
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bascava nr unidadc políricâ das eliies quc sc esgirçava na dcposição idéia dr "construçáo dc um arcabouço ideológico eafctivo dc sustcn-
dc D. Pcdro I. tâção dâ Íunção parental rcpousada numa auroridade capaz dc subs-
Eram as classcs dominantcs quc orprizâvrm as milíciãs qu€ tituiÍ cst,r figura tão abrâ ngcntc to p.t t.Ífat"í liai"».
tratavam dc submclcr â,"1áxo trãbilho, O podcr ccnrrâl não dispu-
lá nos rcfcrimos anteriormcntc is marcas da Inquisisão c suas
nhr dc Íorçr milit.t. própria que pudcssc drr conta das rebcliócs po- dcla! ! guÍait lobrc delitor ircer.ro.r,rÍ quc aré hoje pontuâm os noriciá-
pularcs que estouravam no B.Nil dc nonc rr sul, na csreira das expcc- rior sobre crime no Brâsil também os coraçócs c mentes da direita e
e
titivxs rcvolucionáÍias da épocr. E é por isso que o Império contrâ- úctqrcda pntitiu'1st. As dcmrnd:rs por terocidade pcnâ1, â sclctivi
ataca... Aquclc controlc sociil pcn.l dc»tro da unidadc de produção dade da clicntela do sistcma pcnalsão pcrmânências hisróricâs. Mas,
do sistcma colonial mcrantilhra ií nío dava conta do recado. a partir das contrâdisôes quc surgem entre o sisrema colonial-
No proccssoque intitulam ác hitórit da prcgan,açaocÍi,,1i a- mcrcântilistn e o opimlismo industrial que se confgurave iá na se-
liza . Do Btuil,Batista cãÍüroni mosrram comoos usos punirivos gunda metadc do sóculo XVllI, vai-se eslmçando uma outr: conjun-
do mcrcantilismo praticados no corpo do suspcito ou condenado no ruÍ4, Nobojoda Independêncir, a Consdruiçãode 1824 pÍoduzâlgu-
âmbito pr;vâdo vão dando sinâis de xnícronismô dcpois da indepen- mls íupt$ías, na Dan tol,lo, que frzcm parte do rrliteuo lib.tal Dô
dônciã e na coDstiruição do capitalnmo no Brasil. Ar permânênciâs, conjunto das idéiasfon do /rrgar da modcrnização à brasilcira. Sur-
no entânto, são muius: r'a alçada crimi»rl rbrangia a pena de morte gem:rs tah garantiâs individuais: "liberdade de mânifêst.rção do pcn"
natural inc lusivc cm cscravos, gcn tios c pcócs hom€ns livres, sem apc- samcnto, proscriçâo de pcrscguiç6cs rcliSios.s,í libcrdadc dc locorno-
lrção nc'n ígÍxvo, salvo q uanto às pc*oat b nwqtnlídadc,gaandosc
çío, a inviolabilidade do dom icílio c d.r corrcspondôncir, s Íornmlkh-
rcstringirin a dcgrcdo pordcz anos c nrulta até ccm cÍuzâdo§"r?6. Elcs dcs cxigidas para a prisão, a rcscrvr lcg.rl, o dcvido pÍo.csso, n :rboli(ío
citam Cillxno Frcyrc que cstuda, nos rnúncios sobrcescravos na im- dís pcn!s cÍ\,éis e da roíura, a inrn nsrl issibilidrdc <lrs pc nrs, o d ircito
prensa do século XIX, a sol,rcvivôncia dns prá.icas de mâr.aro rosro dc pctiçio, a abolição de privilégiosc íoro privilcgiado"à']. Í:.lógicoquc
dos cscravos com fogo ou lacrc ardcn tc. C ic.rtrizcs de açoites c dc fcrro rudo isto não podcria colidir corn o "rJircito dc propricrhdc r:m toda I
quente, dcntcs Iimados, fcr;das c qucirnaduras na bâÍrigâ pontuam os sui plcnitude" quc, mânlidâ i cscrividão nr letm da lci, instiLuirir r
clâssifi crdos drAcrrd drquelcs rempos, cilcdr da cidrdrnir noBr.sil, digâmos.r erlída,'a que poDrua rÍó hojc
Do po»to dc vista jurídico, clo irnpório das leis, as Ordenaçócs os discursos do libcralismo d:r dircita à tcrceira via no Br:rsil.
Filipinas, quc constituí^m o eixo dt pbg'I úção.it»haliza tc do É ncste rnarco dc rcfcrôncia quc o Código Criminal do Impé-
Bnsil-colônid, rcge,r,m o dircito pcn:rl ató a promulgâção do.ódigo rio dc 1830 é p.omülgado, ní estcir.r do m€do das insurreiçóes, nas
crimin:rl rtc lli30. E irnponantc li'isar quc no direito privâdo váÍias expectativas dc que à naçio indcpcndcntc de 1822, sobrevicsscm os
dirposiçóes das Ordcnrçócs Filipinas rcgcrâm ató l9l7!r?? No marco dircitos plcnos de seu povo mestiço, nas contradiçôcs entre liberalis-
da "questão do podcrc dâ disciplina sobrc r fimíl;a, instituição-chavc moccscíividão, nâ necessididc dc uninüção teÍitoria! e centraliza-
no lcquc das práticas dc conrÍolc c disciplimmcnto social, na passa-
ção dos podeÍcs impcriais.
gem à modcrnidrdc"':T*, Ncdcrc Ccrqucira Filho, cstão ú,balhândo â

"" Cf, BÁT]ST , Nilo & ZAFFARONI, Eusenió Ràú|, Dneiro pená/ brarleno - l. Rlo de re SATISIA, Nllo & ZÁFFÁRONl, El8efio Raú], Op,.it,

,-Cí. 'r'Cl KAR^M, Marià Lúcir. erquêrda punr't,h. ln. Otr.úÍsos sed,c,oror - ..,ne di4ilo ê
BÁT,STÀ, N'lo& ZÂÍ FARO\ 1, l Jsp.io Ràú|. Op. c,r qiedár/e, n! l, I 996. Rio^ delareiro: lôíilulo Câi@ d€ Cnninolosir'Rdumê Dlmará,
"'NEOER, Gi2lenê & CERQUEIRÀ É|LHO, 6ieálio, Or /ir,6 dn /ei. ln: Reviía arasilei., d. r196.
Cl1tE át sdàit, rc|, r ô f
as. 5áo Pàulo: ANPOCS, 2ml, p. I ] f- nr EAIISÍ^, Nilo & zAfrARONl. Eu86ao iaú|. Op. cÍ., p. 19.

't34 't 35
passaportcs descritos no dccrcto dc l4 dc dczcmbro dc 1B30 na Bahia,
Para Zahidé Machado Neto as discussões em torno do Código
têm longâ duração e irão inspimr as fronteiras erigiàts entre a ortlent e
dc 30 giram em torno de umâ conccpção de cidadania do homem
a desoxlent elisclplinando o dcslocamento e a sociabilid:de urbana na
proprierário í/c,.r,r os esüavos, mulhcres e não-proprietár;os, condu-
virada do XIX para o XX, c rté os dias rle hoje:N7. Os lundus, batu-
zidos por deputados desde 1826, que tinham sua cxúação sociâl entre
ques e algazarras também scriim pun;dos com prisão. Em l86i u,n
senhores de terra, militarcs c lctrados, graduados na Europa e na Fa-
aviso mioisterirl prcconiza a graduaçáo dos açoites "conforme a ida-
culdade dc Medicina e Cirurgix da BrhiÂ, mâgistrados e senadores.A
de e robustez do réu", alugar uma crsr.r escraros dava oito dias de
composição do l'}ârlâmcnto que aprova o Código em 1830 é de: ll
prisão. PrÍâ Bâtistá e Zâlhrcni, é nessr conjuniurâ históricâ que se
militáres, 6 bâchâíéis, l5 sacerdotes, 2 médicos, I advogado,3 douto-
enraízam as matrizcs do autoritarismo policial c do vigilantismo bra-
reis. ?ara NÍachado Neto, o liberrlismo que tentâ romper con as
sileiÍo, do sentido históÍico da crr-rclchclc de um conjunto de leis libe-
fitsu,"( j-rídic.rs e normr" penris inqusrtoriri, nio rompe com aJ
rais que permitiâm "o íctoorr-r ro poLlcr clc umr senhora, de uma es'
bãrreilas sócio-econômicas de uma sociedadc agrária, patriarcal e
crava achada com a //,,g,u tairtu con o tábio infaioi'1"".
escravista dc uma cconomia dependcnte e periférica.
Pâra Bxtisct e ZaIIxroni, a Icgalidadc que deveria acontecerpela
No liberalismo à brasilcirr, n pcnr tlc mortc tcm "cscabrosa
facilitação proccssuâl para róus cscrrvos .tuc compcte com á
Consrituição de i824 no artigo I'do Código Criminal, não se deu.
invulnerabilidadc a cla dos scnhorcs")i'. Nrs palavrâs do,lãtis!a, nos-
Na esteira do medo branco das insurreiçôes escravas, col 1835 é editâ-
so segundo sistem:r pcn.rl, nr sur grosscira co{rorrlidxdc, expunha
Ja uma 1ei de pena de moÍte p:ra qualquer delito escrâvo contra o
ambigüidadcs íundamentais. "O escravo cra coisa pcrxDtc i totnlidâ-
senhor.o fcitorou seus íamiliares.'AconLurbâda década dc30resulta
de do orden:mcnto jurídico (scu scqücsrro corrcspondia a um Íurto),
no retrocesso processual dc 1841-1842, que transfere pârâ â políc,â
mas era pessoa peraDte o direito penal":'o. 1\{as mesmo corn surs cilr-
poderes da magistratura's. A lei n'9 dc 13 de maio de 1835, da
das e ambigüidadcs o Código Criminal do Império inllucnciou mui-
tusembléia Legislativa da Bahia previa que africanos libcrtos que re-
tas legislações latino'amcric.nas e m.is dircrimente o código penal
grcssassem à província depois de expulsos, fosscm processados por
espanhol de 1848"1.
insurreição. "Tàl lei - elaborada sob a influência da recente revolta
mâlê promovia aí uma equiparâção monsrruosa, e em seu ârtigo 21
4.3 O Impório contra-ataca
eleva âs penâs estabelecidas por um direito imperial; em ambos os
A classe senhorial tinha que contrâpor aos seus medos a impo
casos, o princípio da reserva legrl virava pó":35.
sição de suas voltadcs quc, já sabemos, são acompanhadas de suas
À circulxçio c movimentaçáo dos cscravos e pretos forros era
fantasiasdeinviolabil :rde.Assim, nadécadade30dosóculoXIX,as
punívcl (l3atista e Zrfíarcni tros làlxm dc uma postura municipal de
elites têm que lid,.com uma profunda instrbilidrde social,quetinha
1870 que puniâ com multa ou quatro dias de prisão os donos de raz-
como pano dc iundo "o scntido histórico dr crucldade" das relaçóes
das, botequh ot tauernat que "pc.miLisscm cm seus estabelecimentos
escravistâs c âs expcctati\$ q.uc a pow l»asibno nantinhã com relâ-
a denoru de escrauos por nuis tt»tpo qrc o neccsaítío pata u conprus,
com a cláu|]a tespordetldo a'aDtas Pelas car er zr»M. Aqueles ção à Indcp.ndôncia, d. sua corstituição como Nrgaa. Aufderhcide
'enp.e
a' NEDER, CizIên€. Cidade, idenldac/e e er./usáô ió.à/, Op. cit,
ETO, Zah dé, Dir-"nô peral e eítururâ Jm,a 1: comentátio socialógico
'ilr Cl MÂcHADo N
SATISTA, Nilo &ZAFrARONI, EuSenio Râú, Op..i1,, p. a2.
aa Côdlso Cininalde 1330.5áo Paulor USP/ SâÍâi!a, 1977. ':33
:,, BÂTLSTÁ, Nilô &ZAFFARONI, EUBênio Raú. Op. cl., p 53.
ru BÁT|9TÁ, NiLo, OJ snlenar pena^ brasi/enoi. Op. c 1., p, rl. ,s Op..ir., p. 13.
BATISTA, Niio. Or riite,nas pena,r brari/enos.
"5 BÁÍISTA, Nllô & ZAFFARONI, Éusenio Râú|. Op. cit. p.,11. r'' BAÍI5TA, Nilô &ZÁFFÁRONl, Eusenio Rrú1. op. clt., p.53.
,6 B^TlsTA, Nilo &ZÁFFARON|, EuSeniô Raú|, sobrc â lesklaçáodâ Píôvlnciâda 8ahia.

177
136
sustenrâ quc a "poltuim de indcpcndênci:r do Bra si I foi comprada pelo vcrgência das forçâs policiak, militares c pârlmilitares e a dcnsidade
prcço dâ minurcnção das rel:tçôcs soc;ais colon;âis""'7 da rcprcssaa a Co,xe,nrmâ sociedade "reprcscntada ideolôgicamenre

Os âutorcs quc construírm, nr cdi6crção da ordcm impeÍiâ1, como Ii[,cra], civilizad a e âré humanirária, issistcncial ecristã",e. para
as categorias dc Mu ntlo tlo Gouno e Mu do do 7i abalho traba Ih am a os âutores,a teori.l daqucla atuação policirlnunca cra posta em práti-
açío da polícia naqucla conjuntura ordcnrndo o M, ado da Caüma, cx, afinrl "o que inrcressrva, cm úhim.r instância era reprimir,,rm.
o rganiz,n<\o o M u o do Tlzlal/o c co»stctrrdo u m Mu nào da Desot' O Império conrra-ataca cnrão reprimindo, carregando para o
daa, quc "lhe impunha a ncccssidadc dc conhccê-lo, de modo a mc- futuro as marcas dc um sistcma penâl público/privrdo, com o poder
Ihor circunscrcvcr aquelc conjunto formado pclos homens livres c punitivo incidindo sobre os corpos ncgros/índios/pobres, com a
pobres, qurse scmprc classifi crdos como zalror":'r. À cscravidão intâcta dcsquJlin, i\io iu,íJicr invcnriJ. pclJ cco,,omii cscrJvisra, com a
na nova N.rção era una rmerçx adicional à ordem Aufderhe;de afir- i1t i11 i dade a n eà o r tada do )egado inquisitorial0r.
ma also tão comum e tão presente até hoje: "Pâri a polícia do Rio de
Nr nova configuraçáo iurÍd;c. .ôr.cspond.nic às mudanças ecooô-
|aneiro, r visão de uma pesso.r de cor pamda nLrma csquina à noite
era sulLcientc para suspeitas dc roubo, furto ou assalto""l. tui.as em curso e.oam s;n.is do absoturisfto na sua indifcren.iaçáo
O pr"..s.o dc ccnrruh...rçio Jo lnrpÍrio que con, retizari" a enúe religião, mori I c prin.ípios jurÍd i.ôs. conÍoles minúdentes pâra

dominação d a cla sc scnhorialrtrrvÍs da consolidrção do eixo cenrro- um âb.rcâhento toril, à misrura cxplosiva de crime c pecado, o sen-
sul e da rrticulÂção de uma unidadc nrcional, são marcos do período tido crpirtório das pcras, o Êstrdo corno gurrdião do sagradoe, prin-
rcgcncial:i5. Para r unidadc nacionrl requcr-se uma midade de ot,tcnt cipalmcnr€ o carár« dutorlário d. priíxis jurídic.r0r.
queclâma poriDsúuiçõcsdccontrolc quc dclimitem"o espâço Possí-
vcl dr cidrdania ncstr socicdadc""6. Est:r idéia da .ididania Passiuel é E é nâ história da políc;a, csrr instiru;ção em que, como dizia
tÍo introictadr noscorâçõcsc ncntcs di época, quc v ores como hottta Benjamin: "numa misrura qtrrse alucinantc, as duas espécies dcvio-

c /í,d3ll! rio ârraigados nos cÍimcs c Procc§sos dâ época, não eram


léncia (fund.rdora cconservadorâ) se encontram presentcs no coração
destâ inslituição do Estâdo moderno{ú. Para cle, â polícia inrervem
valorcs disponívcis para os crimcs dc cscruvos, que não podiam de-
llcldcr-sc atr.rvós rlcsscs "símbolos dc rcspcitrbilirladc{' Nem a ci- Paru ganntia seguança, em oruitos casos cm que a siruâçáo jurídicâ
dadania ncm os scrtimcntos craur lcgírimos para todos. não está cl:rra. À solta, nr práxis do rlir,a-dia, ela se op;".o aireito
Assim, a construção do Estado Nacionrl rtravós dos seus reg- quc "nâ /sar,, onde o lugar c o rempo são dererminados, rcconhece
nê"ta' lociai! hegaüônícor tinhi quc lidar com d»rr?t! haizantais e umâ carcgoriâ mctafísicâ...úc. Talvcz sejr por isso, que a hisróriâ da
a,]"aç$ uêtÍiei"N.Nct1cr, Naro c Wcrncck da Silva rnalisam a con- polícia no Rio deJâneiro rcúna miis claramcnre:rs crractcrís ricas des-

)!'1NEDER,
,er ÀUFDERHEIOE, PãtÍcir Ann. Orderrnd v,ol€n.er 5ocà1DcvD,.ê and Soc,alCodÍô/,n cizlenêer a/i,. Op. cit., p. t70 - no liben hmoo volunG.iado e âs parceÍja3 se
Bíazil ( t78ar 810)-I6e de Ílou\oÍâdô. Minnesota: lJniveBjry ôíMinnesoh, 1976, p. 2. êncãÍe8irlàm dê'hunanizar' os efeirôs peryersos dã pôlÍiica econôm ca.
!n CAVÁLCÁNT| BRAN DÀO, gereni.ê€talli. A polic,a e a lorça Palicialno Rio dc l\neno. rm NEDER, Gizlene ei alii.
Op. cir., p. l30.
Rio d€ lâneno: PUC,1931, r0r Ct BATISIÀ Niô. Or sÀleDaspena6 brarileros. op. cir,, p, B
,!r AUFDERHÉlOE, Pâtí.iaAnn. Op. cil,, p. 99 rr Cí MACHADO NEIO, Zahidé. Op. cit.
r,'cf. RODR|OUEs,Anronio Edrilson MarliN el a/ii, Á Cuarda NrcianalnoRiaíle laneno r0r sENJÂMlN, Wâher. clil,q!e de /a y,o/er.e. n: Oeuy,es /, pãÍis: côlliúârd,2oot,
í,43, ,9í3). Rio del.Deno: PUC, l9al. p. 221, Nào éà roa quê, êm 1902, um decÍelo úuloGava à auto dàde potica aribui,
r!6 RODR16L-lÉS, Anroniô Edrnilsof Maí ns êt alii. Op. cil, p.4 çóespâÍâ"providenci.rconirâàs'nerelÍiz€sdrÍoínãquerulsuemmakcônveôieôteao
,,'Ci RODRcuEs, Antono Ed'n Gon Manl.s. Op. cil, bem eíarda popu ação eà mo.alldJdepública,, CÍ, NEDER, cizteóe, Discú6o irtÍdico
ê ôrdeo blGuesa,o srasi/. Op, cit., p.30,
:,'NEDER, cizlene. Á policia,a ca eeno Di\lna FetleíalO33,-,930). Rlodelâneno:
ror aEN]AMlN, Wdler. Op. cit., p.224,
PUC, r931.

139
ções pâra â scguransâ p€ssoale colctivâ: ordem
pública, vigilância da
ra nossí socicdâdc quc sc modeÍniza sem âbrir mão do arsenal de
populaçáo, irvestigrçáo dc crimes e caprura dos criminosos. Um
maldadcs do absolutismo e dâ cscr.vidão.
Thomís Hollowây analisi o paPel hisrórico dâ Polícia no Rio inrendente dccidia sobrc comportrmcntoscriminosos e Puni§ôes a paÍ-
tir da auroridadc do monarca ibsolu(o qu. concenrrava poderes
delanciro, utilizando rambém fontes literárias, pan contrâporas idéias
legislativos, cxecurivos c iudiciÍrios. O dccrero que criou a Intendên-
dc consenso c lcgitimidadc com âs dc ordem e disciplina#. Ele fala
cia outorgar,: à autoridadc judicial dccrcrar a prisão 'no remPo que
de um sistcma policial quc enfrcno o ambicntc das rcvoltas da pri-
julgar necessário"L. Holloway cira relrtos de viajantes, no período,
mcira mctadc do século XIX, mns queâtua bâsicâm eore nas afatsat à
en6m sobre os confiscos dc casas para instalara Corte e seus súditos, e tam-
o td en t p ti b t i ca : v adiagcm, mcndicânc;:t, eml,riasuez, cãpoêiras,
burguês-indu§rrial trâtariâ dc bóm sobre o tratamento dispcnsãdo aos susPeitos por furto Um in-
aquelcs ircômotlos quc a ordem
as medidas de scgu- glês que denunciavâ um crime espântou_se com â tortura utilizâdâ
criminrlizar, invcntando, já no finâl do século,
p:ra a confissão e com â âu§ôncia de rÊtorno dos seus documentos
rança: para os mcrlos burgueses existiria crime além da leir06'
desaparecidos. Era, como é lltd hoie, uma ação Policial em que a tor-
tusim, associanrlo lrr à àondade c ilegalidade à kúúlidadê, a
rura era o objetivo e não o método.
incipientc estrutura policial cn[rcnta a popu lação escravâ nrs ruás As
informrções ccns;rírias §obrc o Rio de laneiro entre 1799 e 18?2'ape'
A panir dc 1809 é criada r Guarda Real de Políciâ, iá como
uma força policial dc tcmpo integral, orgrnizada militârmentc, 5ú-
sarde omitir€m o númcro rô(âl dc cscravos, r.velam um aumcnto da
bordinada à lntcndência c cncarrcgl a dc mantcr a ordcm c pcrsc-
populaçío dc cativos c um aumento do número proporcionrl de afri-
guircriminosos. Hollowiy Íchü o tcríorc a !Íuculôncia dc scus mé-
canos entrc l82l até 1848, qu:rndo as políticas de imigríção eu ropéia
para o branqucamcnto da mão-de-obra começam a diminuir o mdos, na figura do scu scguodo co,)irndanrc, Nligucl NuncsVidigal,
percentual cscravo na poPutaçío do Rio deJáneirôrÚ?'
Írmosoporsuas ceirsdcc.míÍ5o qutconsisri.mcmsurÍârsusPci-
tos na rua, fazcndoeom quc su:rs camcs descâscasscm. Ocastigo lisi-
A.ídadc y ito,übada sc irÂp|l.nha àcidadc curu?éia com olegado
co em público é uma ccnâ cotidiani Prcscnte até o§ dias dc hoiei enca-
colonial dc uma vigilância rudi mcntar, levada a cabo porgüârdat civis
ramos com umr cefta natuülidâdc â violênciâ ffsica policialdirigirla
desa rm«los con trlrrador pclo conselho municipâ1, Pclos quadrilheiros
s€letivamentc aos n€gíosc pobrcs no Brasil "Em vez do sabre militar
ou inryctorcs <l: bairro, com um podcr delcAdo, sem âutoridâd€ No§
comum, oequipamento normal deVidigal e seus granadeiros era t m
momcntosdc pcíuÀâsioda ordcm, o cxército (como corPorâção), as
chicote de hrste longâ c Pêsnda, com câccte ou chibâta, Depois da
milícirs (formadas por rrr<.rrlldorc$ c as ordenanças (compostas por
membros livLc, cntrllvam crn ação, rpcsar de não serem lorças dc
suna apiicada pcrversa c indiscriminadimentc em escrâvos livrcs €
no momento da prisão,os cscravos eram dcvolvidos à custodia de seus
combrre. U nr drs Pcin nêrc i.§ dc§tc legâd o colon ial é a identific:rção
proprierários ou levâdos âo intcndcnte ou a §cus assistentes, os juízes
dessas forças ria ortlcm conr o rcgimc e scus grupos hegemônicosx'rr'
do crime para julgamento"rr"
A paltir dc 1808, com a vinda dã f:rmília reâI, criâ-se a Intcn-
Em ação dcsde i809, VidigÍl só sâi de cenà em 1824, aposenta-
dên.ir Ccríl da l'olícia da Co«c c do Estado do Brasil €om Âtribui-
do com honras d< marcchrl-dc-campo Sua permanência tão longa
no comando da Cuarda l{crl dc l'olícia Íoi marcada pelos assaltos a
s HoLLOWAY, Íhúas H. ,o/kia m Â,o de rarero: ,@éláro e Étislé"ia nu@ 'id'de
do sécu,o xrx. Riodêl.neió: FGv, 1977,
! C,. B^ÍlSÍÀ Nilo, Ua opoíúro €nu.lo páta l@pot ffÚ.iot. Op cil'
G Alsun\dedi*uM pun Mi doi no$sknrBrnlem muirJno't lsir d6\P pêriodo
, K ftÀSCH, MaÍy C. vida dol 5«av@ no Rkt dr laneitu: ta$- I a50 SãÔ P'uloi CoG
o d,wrc. na nrpan* aeGloú PeÍe/, d€purddo lo+ cercíno. ourGque rrn
"iãe
peante sims rupe(utlto midiíica.
de SBnde
&t t lt8, 2000.
panhia ^ P. 108
rlo
r cí HoLrow^Y, Thôtus tl. oo..il. HOtlOwÁY, Íhomú H- Op..il,, P. 49.

141
quilombos. Holloway descrcve a dcsrruisão dc um quiloml,o cm Sânta severrs: tlc 100 a 300 rçoitcs por pequenor crirncs. Em novembro de
Tcreza em l9 de setcmbro de 1823 e a enrrada rriunÍal na cidade do i821, âpós unl.r tcntativa dc mudança dc política, a comissão militar ã
Intcndcntc com 200 prisioneiros scmirus;homcns, mulheres ecrian- cargo da scguralça no ltioafirma quc "o:rçoitc,... crí â única Punição
ças. O rccrutamento dos seus homens crâ fciro nas clâsses pobres, es- capaz de intimidar c inÍirndir rcrror n.quclcs quc comclcm seme-
colhidospcla frmr dc violência c brutalidadc,uma espécic dc Ícquisi- lhantcs agrcssócs Íisicas c homicidios"rl'.
Io pira o controie social do cscrívismo. Com disciplinâ militâÍ e O ano dc I821, antcrior à lndcpcndência, é um ano de mani-
hicrarquizada combatiam os inimigos do seu tempo com toque dc fcstaçócs popul:rrcs na Conc, quc comcç:r n colstituií-sc em Palco,
rccolhcr, castigo corporal reílizrdo no parrulhamento e ctc. Sua mcta coração político <lo Brasil. Ncstc âno, cm mxio, sai um decrcto que
cra rcpÍimir, subiugar, "inÍu nd ir tcrror nos coraçóes dos miosos, vadios rcgulamcnta as práricas iudiciris e policiris: prisío só com mandado
c cscmvos recâlcirranres"rrr, cm nomc da ordem imperial.
iudi€iil, âcusâsócs formais 48 horas xpós i pÍisão, não Podcria haveÍ
Com rclação âos psdrôcs dc dcrcnsão, âs pesquisas de l8l0 a prisio scm condcnâsão portribunal aberto, náo sc usaÍiÂm mâi§ gri-
I82l dcmonstram ocriLório dí coí Sio pouquíssimos osbrãncos pre- lhões e corÍertct. Apcnas um dctalhc: as mudançâ5 scriâm só Para ôs
sos. No l{io de fanciro da época (quasc mcrade dâ populaião era nc- c;àadãos, or scjr homcnVbrancos/proprictírios. É o nâscjmento da
gra), 80 7o dos julgados emm cscrâvos, 95% nascidos na Áfricâ, l9% ciladrnia no Brlsil. Á ncccssidadc dc controlar as ruas dâ cidade ne-
cx-escravos e somente l% livrcsrrr. No sistema pcnal dirigido à escra- gra é maior do quc o zclo libcral, mas as auroridades passam aregrlar
vidão, ôs principais morivos prru a prkío errm fuga de escravos ou
â intensididc e r foími dc punir- A Constitui§:io de 1824 menciona o
prítica dc capocirâ (Hollowíy nrrru prisórs poí"rssoviar como capoei-
estâbelccimcnto do sistcma cletivo clc juízes de pÂz (só viriam â seÍ
r:").Às ofcnsas à ordcm somadas à fuga consrituíam 60% das dercn-
elchos cm 1830). "Em junho dc 1827, Bcrnardo Pcreira dcVasconce-
§õcs c 30% por luno dê roupas e alimcntos, que o auroratribuià po- los, figurí ccntral dogíupo rcíormista libcralc dctcnsordo novo car-
l,rcza dâ cscmvidão. Como no rrífico dc dross de hoie, os capo€iris
go iudicial, afirrnou no I'arlamcnto quc era dcseio dc todos criar um
a tcrrorizavam os bmncos pela dcmarcaçáo de tcrritórios e pclas ca ractc-
juiz a q'rc cha marci depoà.ial e quc, cmbori o nomc oão lhc Parcc€§-
rÍsticas de atividade grtrpal. Só muitos aoos mais tarde, a categoria de
se muiro aproprindo, clc prcfcria <lcixíJo :rssinr", l'rra Vasconcclos
cinê orystl;zado seÍ;â ctirda pcla Escolr dc Chicago para quali6car
esta nova Íigura trabalharia cvnanrlo o criruc: rrdl dc purir s6 depois
os cíim.s dot oubo' l.^rcnmnnos, arnarclos, cucarachas ctc.)rrr.
que o crimc fosse coDrctidol
Á atuação policial concentrava seus eslôrços na captura dc es-
As contradiçócs do liMrlllis»o no llrusilsc nprofundrm na prá-
cmvos, impcdindo rcuniócs. Chalhoub rr'.rbrlha o período que vai de
1830a l8T0comodcinstituiçiodlcidntlcncgra,comumâpopulaçâo tica, n, sobeÍâni:r purn dr polícia cm {çÍo, nll mcdirlr crn quc as ruas
se movimentâm. O dccrcto dc novembro tlc 1825 quc €riou os cargos
incansívclem tranÍàrmí-lr co, cscondcrijo: a cidadcque esconde é a
cirhtlc quc I ibertr. Contra isso, o ImpÍrio comra-arâca côm as esrúté- dc comissírio lhc atribuírn): impedir íjunttlmcntos, rcprimira vadia-
gias dc suspcição gcncraliz.tL rrt. As penrrs corporais erãm bÍuralment€ gem, cadastrar os capitãcs-do-maro, crradicaros quilombos e a§oirar
cm locais públicos. É com csscs fundimcntos que vai-sc criando a
lrr HOIIOWAY, IIúms H. Op. dt., p, 50. arquiretuÍâ lcgal c institucional da polícia no Rio dc laneiro, c conse-
rrr HOLTOW^Y, Thm.s H. oD..ir.,
D,52.
qlientemcntc no Brasil.
,rr Cí ZAFF^RoNr, Eucenio RJúl- -Oin e @Baniza$. umâ catesdi,açáo
ítu 6da. t^l A rcfolna policial precedc a rcforma carccrária, Só em 1830 é
Ori.uBor redtioer c.inre dre,to c rô6,edade, n! L Rio de làneno: ln tlllo Carea construÍdc a Casa dc Corrcção (só Yilix r lilncionâÍ cm 1850) A^tes
de CÍnhinolosh/R€lúme Dumàrá, I 996,
)rr Cf, CHALHOUB, Sidn€y. y,\oer
d! /iberdade. Sáo Pâulor companhia de LetEs, l99O e
pârâ obsedâra§ permânênclrs rD 8ɧ lconrempodne, VeÉ MâtaguriBaristà, Ditlcê,r
sariB /áceis. oD. cit.

142 141
disso os presos (comovimos 80% escravo, ficavam noCalabouço, em Àdécada de mcdo que se inst.lou a partirde 1830 erâ tâmbém

insrâlaçócs milirâres ârtigas ou em bxrcos ancorâdos (a Pârtir dâ dé- ., JJ.onq,u!;o Jx


qu ircru,r in.rirucion!l dc repÍes;o pJrâ o' no.
vos tcmpos. O novo Código dc Processo Penal de 18j2 traçava nm
cada de 90 do século XX, a idéia de isolar em barcos volta à cena nas
palavras dos govcrnadores À'Íarcello Alcncar e Garotinho). A§ condi-
conjunto dc diretrizes modernas c libe rais. Apa recc a figura do Cheíe
superlotação, péssimas de Polícia, Eusébio de Queiroz, recém saído da Faculdade de Direito
çóes dos prcsos erâm as nesmissimas de hojc:
de Itecife, enr 1832;só em I841 a tigura do Chefe de Polícia investiu-
condr,uc, dc vid:. r lrr ovr dc mortcljdrde utc.
sc de poderes, algrns dos quais subtraídos dos magistrados.
Apa*irda década de30, c já com um novoCódigo Ciminal, a
Ém 1833 é criada a Secretaria de Polícia que abrange a Guarda
nta.leüiizaçao ó^ polícia se dá na pcrspectiva da ampliação do controle
Nacionai, a Polícia Militar e as instáncias judiciâis, estruturas que,
do Esrâdo sobre â população escrava. Estí sc configurando um siste-
scgundo Holloway, se sobrepõem. É interessante notar que a figura
ma de disciplinamento socialencarregrdo de mantcra população em
do Iuiz de Paz é subordinada ao Chcfc dc Polícia.
ordem, dando scgurança e protcção à propricdaclee aos ProPrictários'
Num período em que o crescimento da cultura do café vai in-
Nos âçoit.s públicos c na atuâCão cotidiâra dâ Políci: as elites bran-
troduzindo cnormes contingentcs de atr;canos na cidade vão se refi-
cas vão naturalizando, d eixlndo Ítte eúe Prlas o/Àos a estética da es-
n.,ndo J, rr.n;(.' oc rcprc$"o. O si"rcma pcn.l .iri se dr(locrndo do
privado para o público, controtando escravos, africanos livres, pobrcs
Holloway afirnrr que a p aftiÍ de l83t começa o nncia da ce"' sem pâtrão, cigânos, mendigos, vâdios e criÍnçâs abandonadas para
,atização coneruudot4lto ezaricic, do podu 1olic;a/. As agitaçóes em que as ruas da cidadc possam servir às crcsccntes atividadcs do co-
tomodaabdicaçãoiamdemotinspoliciaisateljeliõe§popularcs iôstâ- méício e dâ indústrix. "Como dissc um minisrro dn justiçr, o proble-
la-se um amplo proceso de criminalizrção e de oÍganizâção policiâI, ma docontrole dos escravos na ckladc cra quecsta propricdadc não se
com rÍ\a rcsPoltn rcPrcsiua, rcgular e efetitu Em agosto de l83I é guarda, anda pclcs ruar'I?. Nr décrdr dc 40 cm dirnte âcontece â
criada a Guarda Nrcional, miLitarizâda com atribuiçáo nacional de institucionalizaçáo do sistcma de vigilincia sot rc o comportamcnto
lôrça armarl:r daclasse de proprietários c com funcionamento cotidia- público dos pobres sem patrão e dos escravos. Contra as formas dc
no loc.rl. Em or-rtubro dc l83l é criado o Corpo de Guardas Munici- resistênciâ da população ÍecÍudescem âs detençóes porcomportamen-
pais l'ermrncntcs (Corpo Militar de l'olíci:l dâ Corte em 1866 e Polí- tos ilegais e tâmbém por côn1portrmcntos inâceitáveis. Em 1850, âs
ciaMilitar a partirdc 1920). prisóes peímâneciam superlotadas, com tcrrívcis condiçóes, de po-
Enfim, povo tra rua, Luas dc mcdo. i'oucauLtnos falava de como, brcs c cscravos (657o das dctenções eran por ofensâs à ordeÍn públicr
â pâr(ir do século XVIII na iiurop.r, as cerimôiias de execução públ; e não cr;mer. O âsoite s:ri dâs ruâs e vÀi pâra a prisão, agora em doses
ca tornam-se pcrigosas; a solidrriccladc popular com os delinqüentes rcguladas. Esrc processo de regulação, modernização e pâdronizâçâo

abre caminho para os rclàrrnadores dos séculos XVIII e XIX' Umâ do. i{.mJ d" rep,esiú vài k dpr imo,Jndo c, junto.om r importaçio
novâ esiratésia é criâdâ para o poderdc castigarc seus objetivos prin- de mão-de-obra européia vai cmbranquecendo a cidade negra e pre-
cipair são: fazer das puniçócs c dr rcPre§sáo umâ função íegular, não parando-a para o mais loogo processo de emancipâção dâ escravidão.
punir menos mas mclhor, irrtrojcLan<1o no coniunto dâ socicdade o Estava-se criando o a rtcfa to-âôtídoto co otra a abol içã,o, rma náquina
poder dc pLrnilL'. O rcgentc Fcijó tcm comprccnsáo deste Proce§so: a naÍ|ífetut)i de reüot contra a râlé livre.
brutâLidade excessiva compromcte I ordcm que se qüer manrei
j7 HOLLOWAY,Íhomas H. Op. cit., p. 115.
r[ A exprc$áo máqli,a môíilera, para d4i8naÍ o sôlema penâ|, é de Gháliô cêÍ.ruêiíâ
Vózes, l97Z Fiho e Cizl-"ne Nedêr.
''6 FOUCAULÍ,.Michel. Vig,ãr epurir. PokópolÊ:

145
4.4 O Império nos coÍpos sc dirigc à ampuração dcsrc "scrcoletivo,,r,,. para Bâud, nâ inquisiçâo
Âtú o final do sdculo XIX o discurso juridico-policial e o discur- mcdicvãl c dcpois no nazi,mo. scmprc que
"e
crirr um mecanismo
so médico se entrelaçarinm prra criar a criminologia, novâ "ciência" instiruciona! para csra "cnrpuração rcmpêurica do ser coletivo', estão
cujo risco scrnprc Íoi scr "sabcrc ancdcdcspcjarperigosdiscursivoss''. sendo cÍirdas as condiçõcs pan ogcnocídio: um sistema de legalida-
Àiás, piÉ Zaff.roni:r €rininologiâ nascc cm I48'l com o Ma.telo das dc científica dominado por uma teologia e quccssí política do mun-
Feiriceiras, "como cxposiçio da ctiologia do mal, dentro de um sistc- do scia aprcsenrada para dcfendcro..scr coletivo',.
ma iDrcgrcdo: criminologia pcnrl, proccsso penal c crimin a lística como l,nra Zatlaroni a primcira e a mais massiva privatizâção da sc-
é o Mallcus, elaborado cor:r tcrrívcl linr.rra, com um:r cnorme finurâ gurança (dosservlçospoliciais e da justiçr punitiva) surgiu junto com
discursiví, com uma ar(ific iosid.rdc discu rsivr quc rcalmentc ó muito o podcrpunitivo modcrno "quandoo scnhor(Estâdo) detegou â seu§
superior ao posnivismo dc "100 r »os dcpois, q uc chega às mcsmas con- homcns idultos o conirole das mulhcrcs. Â inquisição dirigiu seu potter
clusócs, com outra linguagcm"r"'. A partir dos lvÍanuais dos contra as mulhcres r'r,rsorar or deuiat)as, reafirmando o poder dos
Inquisidorcs da inquisigio mcdicvalcourcçam a estabclccer-se r diF homcns í o I ivrá-los dc qurlqucr mulherque pudcsse rebetar-se con-
posição c os dispositivos dc cura contra os hcregcs. Ainda que a cura I
tra cles, das quc não sc resignasscm scr somenrc csposâs e mâcs
submissas"rÀ. Prrecc quc é ncsrc momcnro qoc comcça a esboçar-sc
 criminologin, quc aparccc como trl lo fim do século XIX um processo que sc consolklxíii no sécülo XIX, o l,iopodcr
rcumula rliscursos duranr,: 500 anos; cliscursos quc têm como drio Comcccmosporcnrcndcr quilo que provocou uma rcmpcsrx"
irrpaÁrao scnpre o mcr1o, como nos Lliz Zallaro»i. E, para elc, essc dc no século XVIII: a crLrarigir episrcnrológica dr Iircyctítpéttie: \tlnrl
lut pclâs corpomçõos por cstc sabcr/podcr do
eixo é construído n.r neccssidadc dcdividirc cl.rssificaros Ícnô,ncnos quc iam ..muiro ílénr
nrcdo. O discurso médico c a suí corporisio é um dcsscs cixos. Não dosarquivosdepolícia"r,,.Apergunraqucsefazia quando foi trnça<h
esqucçrmos dâ importânci.r do médico-cirurgiao píra í locãlizaçio cra: "Ern elr (.-.) ríabâlho de rclcrinch ol nachhc d9
suqr!_t:.M. .
no corpo; é no corpo lisico que esse podcr é cxercido. Na Inquisição, Concça aí um proccsso em quc a clrssilicrção rorna-se um exercício
os jüízes cclcsiásticos prccisam dc um cirurgião pÂrâ i dcscoberiâ do de podcr: .r6Drl "um inimigo dclinido como menos do que humano
puattut diaboliam. Abruxaria aprrccc como Ícalidaclc corporal, a podc scr a n iqu iiado"r,ó. Darnron nor fntí dÍ açáo sociíl que Ítuiarz-
scr toÍurrd. parâ confiímar pela boca o quc havia sido provado no t é' dc tL ,cnü dct.t,t ítúdas pot .'ttrcna, de cblriÍ«rçao. Assin, as
corpo. Colaborandocom o trabâlhodos iuízes, ôs médicos setransÍor- rcprcscntaçôes d:rs írcas frontciriças clo corpo (/as4 wi o otga isnosc
mem n:r rutorid rdc quc c'riri i [entc dc umi nov:r rcprcs.io inru- lenuna pata o nundo n ardlr'rl: cibclos, unhâs cortarlas e fezes, pre-
gurada no réculo XVI pclo médico Ícan Wier, que identificaria a Íci- sc,tcs Drs poçõcs m:ígicar) alcnam p".a o perigo dcssas fro»rcirâs
tisaÍir com âs docnsas mcntxis. O trabrlho do lurista Bodin que, dcsprotcgidas, iqúcm a entrnd.r do caos. ..Estalxlecercaregori-
(Dé»ouontiedcs Sott;el) ind;câ, com scu vocabulário, â vitóriâ módi- as c policiíJff é, portanto, assunro sÍrio"r,7.
ca. Um sóculo depois a r/átrc aDknie 4 lnx das í,rbricas clássicas da
nosologia psiquiátrica, uponrndo uma nova Icga tid adc c ientilica, que
'^Cr. BitrD.,eda p."-ê. cu,.ô.e !.r,ruru.cJrc .lu
Jd"oL,de..-: OLFF-N A Ll,{N, ,os.Jne
(o_8 ). lá Soea(p ru! /e toirü,eRe,./r PJ,a:Sluit, t99t.
rzr
r,! zAfrARONl, Éusenio R,Cr6o de o,-,,olo8iâ. Rio de l.n€no: UC^M, mime, 2000.
Z^FFARONT, tu8enio *àú1, tl Cn@detÀCíúnkologia,Op..it..p,1i. _ -
q Cí
T.ZAFFARONI, Euseniú R. Co,nefncia. tn: Capitulo Ctininob,i.oi R€vôía de là5 D,r!
DARNTON, Rô!en. O sdnde ors.re de Bad. Riô dejáeiD: c@l; I9ss, p. 24 7.
plinas.!el Connol social, wl,27, n! 3, Zular lnnilubdec.iminoLos a- Unive,idãd del

rI Ci BATLSTA, Nilo. Maüizer,bCricar dô iÀlLrnâ pená/ brirleirc.,, OP..it.

'146
147
Darnton afirnra que foi no sÍculo XVI que o debate sobre o Ccorge Rosen situa no período enúe 1750 e 1830 âs fundâçóes
»itodo diposição colrta nâ organizrsão do conhecimcnto come-
e a do ÍBqvimcnto sâniúrio do siculo XIX, "cra de iluminismo c rcvolu-
ça a acontecer, impondo
u ma Ícodôoci't n,apear dclitcar c cpcíalizat çãô;'!'].'Elc cirâ â im poÍú ncia ú Eaeyclopâlie m nedidna, seus vários
^
cgncntos do a»hccir»to. Diderot c D Alembert, a paÍir dã áÍvore do anigos sobrc duíãçáo dâ vida, hospitrl, mortrlidade infanril, crescimen-
conhecimento dc Ba.o?, e Chanbas, apimoram a vcnão iluminista da to ou declínio da população crc. A Revolução Francesâ instiruÍr o Grz,-
cnciclopédia ou "relato sistemático da o rdern e concâ teDâçáo do con he- de Medo,o ncno da mrltidãoi,, e também um grandc interesse pelos
cimento humano". D'Alemben descreveria a enciclopédia como z,ra dircitos e pclc situação do homcm. As fa mosas condifôes objcrivâs tâm-
cspécü dc n,apa do »tmdo. Os aurorcs da enciclopédia submeteram a bém mudavam acelemdanrcntecoma Revoluçio Indusúal c a acumu-
religiáo à filosofia, Íoium processo dc dcsÊr;tian ização. lAs prcmissâs laçào Je ri<luczas provenienrcs do mcrcantilismo. É o surgimcnro da
soavam devotas, mas a conclusão tinha um sabor de heresia, porquc burgucsia como classe, com umí novâvisão de mundo quc"sccaracte-
pareciâ subordinârâ tcologiâ à razão,o que elesdescreviam demaneira rizâvâ pelc iÍrsistência na ordcm, na eficiência e nã disciplinâ c pcla
lockcana, como sc alguém pudessc chcgar ao conhecimento de Dcus preocupação com a condisSo humânâ". Dcssc contexto emergc uma
construiÍdo com scnsações idéias câda vcz mâis complexas e abstra- " kotia dc ação locial ?aru a taúdc" , concebi<h .omo palícia nédica paÍa

râs"Jr3. Para Da.nton, numa dsturâ dt étic.r com utililarismo' do hG' um controle racional esistcmático. Rosen chama atenção pâra o noúvel
mem hcbbesianocm seu estadonatural, "DÁlembcrt tomara umã rola e rápido aumentodapopulcção na Europa em toÍno de 1750, com taxas

lockcana para um Dcus cartesiano"r)'. Numaépoca dc cmbatcs filosó- xltíssimrs clc mormlidade infantil, decorrcntcs das condiçôes cruéis de
ficos entre as linguagcns cscolásticâs, cârtêsiânâs e lockeânas, seu dis- vida quc a Itevolução Industriíl impunha aos trabâlhador.s.
cuno deslizava dc umr linÊuâgcm parí outrã- E ncstc rnomcnto que surgem publicaçóes sobre cuidados in-
Os ÂlósoÍos, paÍâ D'Âlembert, ânrlisâriam a narureza, redüzi fântis: um cnsaio sobre âmamenração c o manejo de crianças de
riâm seus fcnômenos âos seus princípios, rccoosrruindo-os sisrcmâti_ Cadogan, cm | 748, ou Lrôthopcdic ot I'AÍ, dc Pré,ai 4 dc Corriger
camenre. Tiâbâlhavâ :rssim as ciências cronologicamcnte passando pela dan let Etfan* tes Detfonnir.â du Coryr dc Audty, em 1741, ou, já em
história, gramática, gcograÍia etc. ató construir a ltuorc atciclopédica: 1760,oTuitl de l'Educatiór Coryoteltc en Bas-agc, or Réfêxio t Ptot;-
umâ visãogeÍal, rotílizante. O cmprccndimento cnciclopédico, "a mo- quct pour ht Moyeu dc h ocutu une Meillcurc Coatitution aur Citoyets,
dcrna Summa, morlclava o conhccimcnto dc tal mancira que o tirava de Essartz, ou mesmoÉari/a dc Rousscau, publicaóoen 1762.
do clcro c colocava-o rras mãos dc iDtclcctuâis compromctidos com o Surgcm também açôcs c instituiçõcs: dccrctos quc cnviavam
Iluminismo"rr". l'ara Drrnton, é no século XIX que esta cstratégia triuo- crianças ao campo para a ímimcntaç5o, cxmpínhas conúâ as mortes
ía, cour o sugirncno das modclrlls d;§ciPlinâs escolares c a seculari- iníantk, cLiação do primciro Dispcnsário para Crianças Pobres em
zâçáo da cducâção. M s parâ o rutor, ogrande embatc deu-sc na dé- 1765, em Londrcs, até o clccrcto da Convenç5o Nacional Francesa de
cada de l750, "qurnrlo os enciclopcdistrs reconhcccram que conheci- l79l sobrc o bcm'tstar da saúde das crianças e mulheres grávidas, a
mcnto crâ podcr c, mapcando o univcrso do saber, paítiÍâm PaÍa sua Fundasão do Hospitâl BÍi!ânico de Pârtos cm 1749 e os proictos de
prevcnção da febre pucrpcral.
A coosrituição da classe operárir dcmnndâvâ prêocupaçóes
quanto à saúde e as docnças dos trabalhadorcs. Surgem portoda Eu-

TD ROSEN,
Gdae U@ hiíória ú raúde púb,i.â. São Paúlo: Un6p/Hucire, 1994.
rr ci. GEORCES, Rudé. À -uhiüo oa hxrúia, estodot dot hovinentú pwulnÉ nã
França e tnilateiia, t73Gta40. Rio dê lane o: Campus, 1991.

148 149
ropã pul,licâçócs e trat alhos dirigidos às docnças coletivas. Â associa- 17 69 oMádccin de LEsptn, sublinh.rndo:rs c:rusas Íisic!s relâcionadâs

ção entre pobrezã e doençâ ensâiarâ seus primenos passos. O estudo à moral e à hercditrricdrdc. I']âra Pcssotri é estr medicina fraDcesa
das cond;çócs das prisõcs inglesas de Howard que publicou, em 1777, "r1o espirito" quc prcpara o nascimcnto d.r psiquiatria do século XIX,
o famoso relatórioÀfiala da! púõet anÍecipa aspteocupaçóes sanitá- o século dos mânicômios.
rias que surgniam já no século XVIII. Já em 1825 é publicado o Essai É o trabalho dc Pinel que nr viradr do sóculo XVIII sustentâ a
Historfirc et. Moral stu la Pa'L,itÍl ús Natia t le FadeÉ e em 1829 origcm passional ou moral da loucura. O seu Ttaitá Mádico-
edna{c um pcriódico dirigido à saúdc públicar,4nn.ztet d'Llygiàne et Phik»oplique *r I'tllihtat;o" Me"tttc de 1809 aprcscntã novidades:
"a clasilicrção nosogrática dr rlicnrção c a rcvrlorização das paixões
E neste momento quc surgem também as reformas quanto ao como fatorcs da loucura'r!'. P:rra ele, a loucura sc manifestâ âlrâvés
traumento d:do à loucura. A Loucura, antes atribuída ao pecado e às dos s in tom:rs no comporta mc nro, . crcm
s obse rvâdos cuid adosa men-
ativid.des do diabo, era trancafiada cm prisõcs, casas decorreção, asi- tc. A Ioucura ("como compromctimcnro ou lcsão fundamentâl do in-
lo c hospícios. As contribuiçôcs tcóricas do sóculo XVIII, que para telecto e da vontrdc") podcrir scr tratarL com um método para botar
Pessotti constitüírm umn incipiente ps;copitologiâ clínicâ, resultâ- ordcm no cros dos sintomas. ÀobservreÍo dos pÂcicntcs ó que permi-
rJm dc o1,., do con'1o.L.mcrrro Jo' intcrno\ nJs rn\utuisõc. tirá a coníccçÍo dc diignósticos c classific.ções: a loucur:r deixa de ser
^Jçó.\
âsilares âtravés das doutrinas médicas hcgcmônicas (introquímica, rmt cordiçáo estática, ircueniucl,anatôntica pzta scr "um desequilí-
pneumática c inrromccânicr) do século XVII. O século XViII não brio, uma disrorção ra naturcza do liomcm a ser corrigida",6. Caos,
aprescnta uma sistcmatlzação do p.nsamenro médico sobre a loucu- desordcm, descqr-rilíbrio, é assiln quc ã docnça é vi§li, devendo ser
ra, que colcilia critórios ncurofisiológicos com registros de aspcctos agor: vigiada, classificrda, ordcnadr c equilibrada.
compoÍtament.tis. À formação médica não dispunha de regulamenta- Pcssoni associa a obr: de l']incl à Itcvolução Francesa, "uma
ção rigorosa. afirmação dc valor superior, absoluto dr figura humana, Da linhi do
Osveoios da clâssificâção enciclopédica influcnciam de Sauvages humanismo iluminisu". Ele atribui à visáo de Pinel de loucura "o
que, em 1767, claborauma classificação d loucura, "conformeo méto- fim da exclusão do inscnsâto", Não i.írmos rão longe,c prcferiríamos
do dos naturalistas". Erhard, em 1794, c Vrlcnji, em 1796, trâbâlhâm trabalhar com a idéia de c1r-rc surge uma intcrvcnção terapêüticâ que
ramLjm com o.isrcmr dc cL*iíicrça"' dc umr lormr -brungcnrc. E csprcitlr seu paciclte, classifica-o numr c.rtcgoLia tcórica c atua pra
Cullen quem, em 1782, exclui di IoucüÍx o quc nÍo implique na noção firzêlo voltar à ordcm. Âs desctiçõcs c chssjficaçócs nosogríficas de-
dc 1erao. ?ara cle, o dclírio ó crro dc julgancnto, remetendo, segundo vcm ser fcitas como as do rrundo naturaljrT, n.r obscrvação dos sinto-
Pessotti, xo enconko do,nalhn nal$canm da;nquisição modernâ,
admnindo ainda a influência de bruxos e demônios.A loucura, então, jr PEsSOÍÍr,lsaias, Op. c1., p.69.
deixa de serdcsrrranjo mecânico, humorrlou pneumático para serde- ,. pESSOTn, tsaias, OD. c 1.,0.72.
lírio, erro dc juízo, problemas na imâginação ou na memória. x'Eu8en'oR.zaiÍaón.onlou,nocuÁodeCÍrnnôlósirdâunileridadeCandidoMên_
des, em 2000, quêalndã teve iulasrlc.ri'ni'roLos â nr Lti iâ, em Rebibbia, nâ décadâ de
Tambim em 1782, ;nnucncirdo por Locke, surge â clâssiÍica-
60dôséculoXX.omoDroÍcslrÍ 1àiànocpositlvínBeúlgnodeTuliô,Eeconlâcomo
ção deÀrnold que funda umâ "genuínx patologir mentâI, com criré- ãsau às, noafÍitealrod, univd6ldJdê, erâm dtrdis com um ".Íiminoso nalo'seftàdo no
rios de diagnóstico e de clâssificação indepeDdenres dos quc regcm a m€io do cícu o. O pÍôíe$or Bcnisro explcava suar leoÍi,s cienlÍÍicas e,.om uma 5ê
sunda vo: d gia{.âô "ano,ni/" persunlado lheâ13ôconro: porquevocê ôalou? E
patologia gcral"Ir. Outro scguidor dc Locke, Lc Canus publica em ena se8unda vó2, â voz doespeciilisl.{lue espreír, obseNã, inleÍo8a e inl€ryém.olG
cando ordem, qu€ eÍá. marÍ z lô, srl'oÍ€s dh.ip in.íesdos séculos xvlll€ x x, incor
porando o leíoí inquhiroÍiâ, a rxrnidade asunada àr uzes do huma",smo que se
irr PESSOTÍI,lsias impunha. Alirs não há nJdâ nr.is.soc álelâo b ôpôdêÍdoqleo humaniróo, ô sover
Op..il, p. 93

150 'l5l
mâs, da loquâc;dade, do apetitc, dos vícios, da vida sexual, do com- curso cicnrífico que abririr o caminho pâra dispositivos jurídicos de
Portâmento em gcrâ|. l'rr r corÍeção do5 hábitos ê vícios morais o dcmarcisio r .limin.ção do mal.
tcrâPcutã precisa de tcmpo, de apropriâsão de ânos de vidâ pâÍa o E por is§o que o 'tÍatâmento moral" dccorrentc das Luzes,
esquadrinha mcnto dos mínimos detalhes. É su rprccndente constatãr aqucle que se coloca "como mundod leidi.nrc d
as permanências desseolhar nos laudos com quc trabalhei em minha tra podcres nos médicos e nos 6pá.ü/rirr quc hÍ o dc s'.trg;x gannti-
pcsquisa soble drogas no sé€ulo XX. Pessotli rcproduz um trecho do dotcr da orde»t, depoitát ios da nonta social. l,cssotri afirmâ que â es-
tratado de Pinel (180, II, 83): "o olhar é feroz, a postura é sombria e tratégiâ básicâ dot.atâmcnto moralé a "dc tornrrinsustenrávelopen-
silenciosa... tem píesscntinrcnros sinisrros sobrc o futuro". Vejamos o samcnto dclirante". Elc cita o caso de um pacicntc rtuc pcnsâva não rer
lâudo médico psiquiítrico quc aparcce no cap. l1I desre rrabalho cabcça, Sua pena, seu castigo, seu trârâmenro consisri:r cm scr forçado a
(Psicoparologia da pós-nodcrnidade). O rclato dos especialistas era andar com um chapéu dc chuorbo, para lcnrbrí-lo, trlvcz, do peso do
dc 1988! É uma obscÍvísio como a do comcço do iécülo XIX: 'pos- seu dclírio. Já citei acima, as pcÍmanências dcssas récnicas no pensa-
sui pone altivo", a revolti "como projeçio dc suas di6culdades e de- mcnto correcional do século XX, nos lxudos dos "cspccialisus" para a
ficiências; são olhos que brilham, cabcças crguidas, :,ndâr trânqüilo, r.cu?c,oção dos )ole.rs infratorcs. O olhar moralc periculosisra cum-
cxpressão corporâ1". Os sintomas no corpo dcvcm serobservados por prc sempre seu dcstino violcntamente seletivo. Os tratâmenros pârâ
longo rcmpo p.rra scrcm dc'cr.tos dctilhrdimcntc p.rã umr intcF as cordutopatías,nriam t1âs pancadas nâ pÍisão, aos clctrochoques nos

vcnção morâl e curâtiva. sânrtórios, àsinternÂçõcs prolongadas e até a incorpomção irrâvés do


Estabelecidâs âs câusâs morais, a diagnose da exacerbação das alistamento militarou, no caso das meninas, do cÀsamcrrto!}o
píixôes (€nríe elas â do mcdo) passa-se à ação: tcrapêuricr motzl, a Foucault nos fala dc um medo que surgc no meio do século
recducaçáo pclo ríatamcntoDora/. Pessotri nio deixâ dc registrâr que, XVIII, Í'ormulado em tcínos médicos mâs ânimrdo por um tundo
no tempo de Pincl, csscs vícios norair, como as doenças lisicas, conccn- noral. Í-ste medo, neráfot a do assonbn do horrot medieval, vem das
travam-se nas classcs pobrcs, inculiâs. Embora Pincl acreditâsse no "po- íantasias geradas pelas casrs dc intcrnamcnro. "Bem anres de formu,
deretiológico das paixócs" clc rcconhcce também a importância do or- hr-sc o problema de sabcr cm que medida o dcsatino é patológico
gânico nadocnça mcntal. Ou sejr, â "I€são d:rs tunsões mentâis podem tinha-se constiruído no esprço do iDternamento e por umâ alquimia
§cÍ orgânicâs ou morais. Esta etiologia rcqucr que a cura se dê pela quc lhe era própria, uma misturr entre o horror do desârino e as vc-
rccducâção moíal rcpícsstua, pelo rc:tabclce intcttro da oien. lhas assombraçôes da doença""'. É cste mcdo quc conduzirá ao apa-
É n.""" trorrrn"nto -orol, qucscclaborn cieotincamcnte com rccirr€nto de, §egundo Foucault, um dos grandcs tcmores do século
um método ânÍlogo ío d:rs ciên€iâs natuÍâis, quc podemos tnçar as XlX, t degorraçao.
pistas das relaçócs entrc rnodcrnidadc c holoc:rustdr8. Estã tentativa Tiabalhando as grn míticas do crorismo na históriâ dâ psicâná-
de mrpear, esqurdrinlu chssilicar através d:r obscrvação, mensurasão
r, Iisc, |ocl Birman íala do prnsarncnto mídico do século XIX e das
c compÂraçócs, virin â sc cristtlizar nafrcnalagia larte de mcdiro ca- dúvidas reinantes entrc umr intcrprctaçío patológica ou sexualda hú-
ráterpelas medidís do crij[iol c afsiôyônÍ,"ia (mediro caráterpela tcria. Elc demarca esta discussáo no cixo di idcntidadc Íeminina, no
aparência taciai), quc abriria camin ho para a criminologia Iombrosiana rcgistro da reprodução biológicr c d.r rcprodução social. Elc rabalha
ddcrdas mais tardc. O quc aísc gestava nr ciôncia, seguia as pegadas
da observação dos hcrcgcs, das Íàiticciras, da construçáo de um dis-
!'Cí Xâírzá.ihdô poÍ Pnhlri, op, dr., p. r27.
rx Cf: sAuMAN, Zycnud, Môdernidade e Áol6.uío. Rio de lâÉno: bÍse Zâhar Ediror,
x Cl BAÍ|SÍ4, Vea M.lãsúli. O,Í/.eÀ Bànhos ,ácê,5. Op. cit., p.l 20.
)Jr FOUC^ULI Mi.hel. H,Jró.ia.L /ôu.u,a. op..ir., p.155,
Í993- cap.3, Modernidádê, rô.ismo e exlerminio l, p,83,

152 153
Foucault, ao trâbãlhrr a güerr.r como "gxbrrito de inteligi-
o cncontro cntÍe as concePçócs de scxualidâde e âs rcorirs da hisreria
bilidrde dos processos histó.icos", afirmr que um dos fenômenos fun-
com a rcvolução demográíjcx do século XVIII e o surgimento do
damcntais do sóculo XIX foi . "assunção d.r vidã pclo podcr", uma
Lriopodcr "pclo qual â prcocuPNçãocom a Produção da vidâ foi articu-
"cstatização dobiológico quc sc clilercncia dassobcranias artcriorcs:
l..la ro projcto cstratógico dc riqucz. dr§ naçóes"}'. Ele atribui à
sc o sobcrano excrcia seu podcrpclo direito.lc m.trr, umn drs revolu-
mcdicalização cm largr csc;rla pronovida pch nova medicina socirl e
çõcs do dirciro político rlo século XIX scrir "o podcr dc fazcr viver e
à procluçío dc novrs qurlidadcs dc vida no ânrbito das políticas públi-
de deix.r morrera{.
cJs, u,ni novr vi.io Jr "crrrl:Jrrle cJ , l,i'teri.r'
t.\os séculos XVII c XVIII aparcccor as tócnicas c dispositivos
O projcLo az,gâ,ro do biopodcr, obm de artc do naznmo e da
de poder ccntmdos no corpo. nx tccnôlogiâ d;sciplinârquc instituíâ â
medicinâ gcnéricâ do caPitalismo târdio, Íecolhc sur Íorça das políti-
"distribuição cspacial dos corpos i»dividuais" (postos sob vigilância
crs dc saúrte dc rlassi, n.r rcsul.ção das "lirgilidades e anomalias
asilar, penitcnciária, médica ctc.) para enquadrá-los e hierarquiz,i-
biol6sical' pela mcdicina e higicnc social. O problcma dã loucura 'o
losr apârccc, análogâ à visão módic., umavisão jurídica, a do contrato
século XIX cra como ca r nma PitolaS;a quc não se câracteri-
^ctcÍizar sociâl constituído em podcr sobcrano, íorç[lo pe]o "perigo ou pelx
za porlcsôcs anatômicas. Uma clrs saídas poxívcis íoi a incorporação
ncccssidadc" para protcgcÍ a vid.r. Foucault rirma quc na scguoda
dis idói,s que inúoduzirim nas ciência§ Drtur:ris dc origem c evo-
sc
metâde do século XVIII súryc um. oum tecnologia cle poder que nâo
lução: "ambas sc inscrcvcm nr cPisrcnic di rrrd, r'a que sc destacou,
dcstitui a anterior mas que a incorpora c amplia. E)a sc dirige ao Io-
como dissc Foucault, como o modclo forjador dr r:rodernidade"i'r'
ntenúrpécie, não mais ao honrcnt-co4to tttas à multiplicidade
Assim, junto.om as mulhcres,:rs crianças c os primitivos, cstariam os ^penas
dos corpos individuais quc derem scr "vigiador, treinrdos, utilizados,
loncos, formando o quadro gcnl àos inuoltíàos: tiguras a serem me-
cvcnrurlmcnte punidos"}'. Se a primcin rom:rdr de poderfoi ícita so-
lhorrdrs, corrisidxs, apcrfciçordis Prra o bcnl do Progrcsso D;rmãn
brc a individualização do corpo, ch agon é dirig r .t um.r m:rssa glo-
perccbe aí, no comcço do sócülo XIX, na mediâção dr ciênciã e da
bal: o procesoquecladcnomini "biopolitica" dr ospócic humam, "trata-
tccnologia pam o :rpcrfciçoamcnto do homem, o solo eP,stêmico das
se de um conjunto dc procc$os como a proporçio dc n.rscimcltos e
conccpçõcs dc biopoder e bioh;stórir, nrs quris se inscreve I medici-
dos óbitos, a trxr de reproduçro, à Íccurdidrdc dc uma popuhção
na com su contribuição ao pLocessodc rcurnul:rção socialde riqucza
etc... pr;mciros objetos dc srbcrc os primciros xlvos dc controlc dcssa
neccssária à Rcvolução Industri:rl.
biopolírica"rr'; a doença aparccc como fcnômcno de população.
É n:r catcgoria dr dcgcnerâção, constiruída Peh ciência dos sé-
Estc proccsso produz as prcocupaçõcs com r higiene pública,
culos XVIII e XIX, quc Birman vê a articulação entre "os reghúos
com â cenrrâlizrçíodff inlormaçócs, su. normâl;2.ção e coordenação,
diíerenci.rdos do biológico c do civilizrtóíio num graDde círculo in-
com as pcdagogirs da hig;cne c com â mcdiciliz:rção. l'roduz também
rcrprctativo, mediado Peli§ pcrturbrções do somáticoe do cércbro, de
â prcocupirção com os r'l/.,tpr:e.r, cour o "indivíduoque cai para fora do
mxneirâ r possibiliuÍ umr hicr:rrquia nâtural dos seres e um grande
campo dc arividâdc: os incapazes, poLtrdorcr clc .rrtornalias vão criar a
projeto dc aperireiçoamenro civilizatório dcstcs, pelas vias dâ mcdici-
nccc$id.,lc Jc inniruiçi." Jçr'.i riuci" c J.'rnccr,,i'mos mui o m-i"
na somática e da medicina mor:rl, agcocirrl:rs pelas instâncias dâ terâ-
' sutis, cconomicâmclte muito mais rrc;onris do que a grande assis-
Pcuucr c d. p'evençJo
rr5 FOUCÁULT, Mr.hêI, auLa de 17 de nraÍço de 1976. In: Enr delera .la sacie.la.le
i,) slRMÁN,lôeL. Cranrál,cãr./o erorúmo. R o de lane @; civi izaçào BÍãsilelra,2001, p Paulô: M.nim Fontes, 2000,
91.
"" FOUC,AULT, MicheL. Op. c 1., p.231.
r,r BIRMAN,loeL, op. cit., p, 109.
TTTFOUCAULT, Mi.hel. OD. c 1., p.290.
Ir slRMAN,lôel. op. cil., p. 113.

154
tênciÍr, a um só tempo massivâ c lxcunar, que era csscncialmente vin- É o racismo que pcrmitirá decidir qucm morre e quem !ive. O
culâda à Igreja"r18. quc morre faz com que o bom viva mah puro c mais sãdio âtÍâvés dc
A medicina, como a teoria do dircito, tcrá que lidar com um umi rcl!§áo biológicí, dc climinrção dc pcíigo, inteÍnos e exreÍnos:
"novo corpo", múltiplo; a populaçáo como problcma políúco, bioló- ''é â condisio p,ra quc se possa cxcrcer o tlircito de matar-. É aíque
gico c cicrrrífico. Esta biopolftici imphorr novos mcc.n;imos, pcosa- Foucault compreendc o víncu lo cntre a tcorir biológica do sécu lo XÍX
dos n:r categoria do tcmpo, da duração, cm sóric: previsócs, estatÍsti- c o discurso do podcr com relaçáo à scxualidcdc, à criminalidade, à
cas, mcdiações. Esses mcc.rnismos visrm a ,,rr,) ecxt,ai- loucura, inlância etc.
à
'liíar íorcat
lar não mais na perspectiv,r soncntc do corpo individual mas nosrlra- Joel Rufino dos Santos trabalhr, com hmcs Baldwin, o racis-
.lot globai de cquilbtio, dc rcgularização do corpo-espécie; âsscgu- mo baseâdo no medor "quando o racista branco se dcpara com um
íando não só uma discilnina, nras uma rcgul.rmcntaçáo quc pode ncgro não é um indivíduo humano quc clc v6, mâs umâ cÍiâção dc
incidir sobrc a mtrltidio urbrnr rrabalh,rndo sua cspâcialidâde, sua sua mcntcr um pê§adclo..."]i'. Santos esti rctomando em Cuerreiro
poupansa, sua vclhicc, sr.rr higicne, sua scxualidad€. E Foucaült trâ- Ramos os documcntos da't6cio-antropologiâ do negro" no Brasil a
balha r scxualidrdc na cncruzilhada do corpo c di populâção. scrcm consideradas como "m.rr€riris clínicos".
São as inBuências cicntificas nos p roccssos biológicos e orgânf O importante para nós agora é com p rccndcr estes proccssos no
cos que tornirrão a lncdicinâ umâ'\écnica políticâ de intervenção, quadro dâ âtuâlizrsão dn incoÍporação pcriférica no procetso
com cicitos dc podcr pÍóprios", que incidirío sobre o corpo e â poPu- civilizatórior5i. Para Foucí!lt, â colonizaçÃo íoi o primeiro dcsenvol-
l.rçio, sobrc organismos e os proc.ssos biológicos. Ê, como a scxu-
os vimento do râcismo, o gcnocídio colonizador. |á citamos acima como
alidade, o conceito dc dcgcocÍescência âpâícccíí também nã .rticulâ- ZaÍlàron i reacivou o conc ciro dc i$ti çdo dc r.qiiêirm à Ârnéíi€a Lâti-
çáo do disciplinâr e do Ícgulãmcnt dor, n{ cncruzilhadâ do corpo c nâ como um todo, um! cspÉcie de grande laboratório para â observasão
da populâsão. das patologias das raças inícriorcs. O que a mcdicina brasileirado sócu-
É na comprecnsío do a.t ce::o do bíopodo tobrc o dieíto obcru- lo XIX entrentavacra cnr:io a ameâçadorâ configlraçáo de uma popu-
»o, nessa tecnologia de podet que tent conto objeto c cano objeriuo a lâção ncgra, índia, mrjoritariâmente mestiçr, c portanto infcriorizada,
aila, quc o poderda mortc scrá cxercido atravis dr noção dâ râsa c do dcgenerada, patologizada c petigosa. Como cgdreúJa?
'
racismo. Para Foucault, foi a cmergência do l.:iopodcr que inseriu o
racismonosmecanismosdoEstado;oracismocomoumcortcentÍco 4.5 Construindo o biopoder na pcriÍc'ia
quc dcve vivere o que dcvc morrei "No contínuo biológico da espé- Ao percorrcr a hktoriografia sobrc r mcdicina no Império c a
cic humana,o aparecimcnto das raças, â disrinção drs raças,a hicrar- orgânizaçáo dos disposiiivos de podcr sobrc os corpos no Brasil do
quia das raças, a qualificaçiodc ccnas raças comoboas e de outrns, ao século XIX, uma lrasc chamou minhâ:rtcnçno na otrra de Lycurgo
contrário, como inferiorcs, tudo isso vâi scr umâ mâneirâ de incum- Sântos Filho. Tiabalhando uma categorização da mcdicina do século
Lrir;uma maneirr de dcfcsâ, no intcriordn populrção, uosgrupos em XVIII no Bíâsil, clc diz o seguinte: "Medicina âlricana ou negra -
rclação aos outros"rr'. onde se veriÍicará qr:e a mais importantc contribuição consisriu no
aumento do quadro nosológico americano, i ntrod utores que foram os

r ÍOUCÂULI, Michel, Op. cil,, p. 29r câbê mltar âqui umâ fi8u.a úblemâi@
d.qelÀ onjunruô, lê@y 6ênüani um mirto de €coomisra úilnaÍi5ta, iúriíô, eí&
ttr S^NÍOt,@l Rufi@ dor. O h.t.to ÍoN lusaL l C@dêib Ran6: tnd,tuçâo ohiú
ríslico, invenloÍdo Panóplico, ldminislí.dor. an,im um intelecluâ I o rsln ico do biopodê. à siolo8à ôÊriLrâ. Riod.l.neno: Ed. & UFRI,199l, p,2a.
CÍ. ROSÉN, c€oEê. Op, clt, r'r RIBÉIRO, oarcy. O proce$o clvili2arótia Estrdos dê an]Jopoloík da civilizaçào. ?e
,o rOUCAULÍ, Michel. Op, cir,, p.304, tópolh: Vozs, 1937,

156 157
ncgros dc docnças rcinântcs no condncntc dc origem. E ivâli.r-sc-á Pimcfta estudou, no começo do súculo XIX, os golpcs c contragolpes
que, dís noçócs sôbÍc a artc dccurar, imprcsn,dasdc mâgia c feitisr- cnrrc umâ medicinl quc sc instituc;onílizí nô sentido das ciências
rií, âpcnas rcstou, cotrc r populaçno incuhr, o l;rdo sobren*uÍal"],r. ilum;nistas, c o cotidiano dos tcrapcuras popuhres que atendiam a
Alnálise cmblcmirici do autorrcvcla, com seu conieúdo Íacisrâ, ro- populaçío}r. Ela aponta uma rnudança significativâ. O preto forrc
dos oscoüponcntcs dc um discurso nédico qucsc impôs, no quâl os Ádão atend;r na SÍntr Casa c cm l8l5 foi apoiado por um abaixo-
afro-brasilciros dcsmcinr pclo scu pcso pãtológico. Est€ d iscu rso do
sc asinado dc moradorcs pclo rccon hcci mcnto oficial do seu saber ("pârâ
século XIX pcrmitiria quc, n;] !irrda para o XX, o ex-escravo brasi- que elepudcsse livrcmcntc sangrar nossas famíias eenalgumas doen-
lciro t'ossc transÍormadodc objctodc rrabalho em objcto da ciênciar5r. ças levcs cnsinar-nos alguns rcnrédios c tnmbém t rar dentesa'). Os
Trabalhrndo:r Írcdicina no Brasildo séculoX\4II, tubeiro lan- médicos da épocâ o iutoÍizrm.r prâticarns suas mezinhas, rcnovan-
do a sua licença até 1822. O mcsmo não âconteceíir em 1856 com â já
çr rm olhar inspirrdo crn Ginzburg para rramr dos "aspccros excluí-
dos pelos vcrtcntcs rsscntadas cxclusivamcntc sob o domínio do irra- estabclccida Acadcmia Impcriul dc Mcdicina. Scus membros reagi-
cionrl"r". El.r rll:rlisa o imagínírio, :rs rcsisrôncias e as trocas cultu- ram indignadamente à autorizaçío para que o curandeiro africano
rais cntrc a nrcclicinr c o rDundo dr mâgir, o erudiro e o sâbcrpopular. Minoel atendesse às vitimâs de cólcri no Hospital da Marioha do
Aprrccc rqui o dilcma cnrrc a rcprcssão das auroridades médico-sa- llcciíc.
nitáriâs contra n "conccpç:io dc um mundo regido por forças nrági- Tânia Piorcnta utilizou osarquivosda Fis icatura- mor, rcsporr-
caí' no contcxto das luzcs Õm Porrugrl. À demanda por modcrniza- sávclpcla Ícgulí'ncntasÍoc fisc,rliz:rçio dc ativirhdcs médicas cm Ibr-
ção cnfrcntnvl as rcsistêrtcixs dosisrcmÍ coloniil, quc ííô pcrm;tia a
tügil e no Brasil dcsdc l8l0 xtÍ llt28.'lirbill'xndo com os oÍicios
tormago médicá no Brasil, prr:' nío íl-rcuxaros nós dâ depcndência rcgistrados nx Fisi.nturr no conrcço do sr'culo, cirurfi;io, sangÍrdoÍ,
acadêni€a com rclíçío à mctrópolc, nu'n proiero mais cmplo dc do- bot;cár;o, paÍtcira, cüradordc ntídico, curandciros c outros,
'rtorlii{,
minnsão cconômicí c cuhurrl. cla anrlisa csta conjuntura crn quc "os m{dicos, cirurgiôcs c lmti«irir»
Itibciro nàrra o tcr»or quc o cncontro enrre teras e culturas consideranoseu sabcr supcrior ao dos tcrapcr.rtas populrres, nus nio
desconhecidas produzia, a parrirdas mazclâs rÍâzidas dâ Ál'ricí os derqualilicam rourlmcntc"J5'.
'rovis Como no controle social iurídico-pcnrl, é na década de 1830
c da Europa prra o Novo Mundo. Àcolônia sofria de escassczdc rcmé-
dios curopcus, oque favorccia as rcrapias baseadas nos saberes módicos quc sc inicia, com o discurso r1.r modcrnizaçio, uma mudança nas
indígcrr.rs c rlicanos. Ncstcconrcxro das rocas cultuÍais, Rjbciro rssi- rcJações entre a mcdicinr populrr c r rcrdômica, no contexto do pro-
n.lí »undo dc srbcres da colôniâ à medicina do
lls conuibuisócs dcstc cesso á e " n edíca I ização da s ocí ul u rl c". Ató cnrr,o, a historiadora aÍirma

rcino, conlirindo'hovos contornos à mcdicinr rradicionnl". scrcm astcrapias popularcsrs rnris dilundidrs nx sociedade, exercidas
Dc íornr rDrlógicn à história do Diíciro no Br:rsil, a llcforma porescravos, íonos e livrcs pobrcr. As trocas ocorriam de lorma inten-
da Univcrsidrdc tlc Coirnbm cm 1772 dcrcmina transl'ormasõcs da sa, com os médicos acadônricos utilizilDdo nrcdicamenlos pÍeconiza-
mcdicina cm Portug.rl.tuc tcrão ccos nr mcdicina da colôria. Tânia dos pela mcdicina populrr c vicc-vcrsa. Ás clitcs locais também sc
v:rliamdas mezinhrs c tcrnpirs popuhrcs. Gostaria dechamara aten-

" SANÍOS rlLHO, LycurBo de Cà!r,o. ÊiJrórii seral dr medi.ir'â brõil.i.a, vol, 1. 5áo
rri PrMtNTd Tâíia Sal8ido. aáú.nos, sanc,a.lores e c!íand.ias no BÍail (1aoa-1A2q,
Prulo: Hucile</tdurp, r9r9, p, 10,
rr'! CÍ, Mlcatl, sélsio. ln: Reviía Hindr,á. CrÁEi.r, srúde, vol. 2. Rio dê làneno: Mâô8linhos, julhcr'olúbo
O r",s,n. dã rnen,qásêd. In: ,oma, de Âee@fiâr /.olh. .ic 5lo dê 199a, pp. f49-372.
Paulo, I de maio .le 1999,
re RrBlrRO, MáÍcia Moisé!. ciàtcia dot tÍópi.os: a ane ne.lica M Bratil do sécúlo xvll.
sio Paülo: Hqcilft, I 9,r.^

158 159
ção pãra esta contigúidâdc, csta convivência intensa entre o mundo dc sâúde no Brasil do século XIX e â rupruÍâ com o scntido quc poÍ-
curopeue o mundo popularno 13rasil, qr:caporece de forma tãoclara tava no pcrÍodo colonial, kto implicaria num sabcr médico que se
na mcdicina do começo do séculô XIX. insdrucionâlizâ c qu€ "intervém na vida socirl, decidindo, plânejan-
 sangria, táo difundida na Europa desde o século XVI, era do e executando mcdidas ao mesmo rempô médicas c políticas""'.
basicamcnte cxercida pelos aíÍicanos (64%) no Brasil do Oitoccntos: Suqge então umâ mcdicina que investe na idéia dn higiene pública e
os sangradores eram rambém barbciros.1\lém disso eram os músicos que tem como alvo pÍincipâlmenre â popülaçío das cidades, como
da cidcdc, c cm suas barhearias, cxistirm scmpre instÍum.nros musi- eeoúe,nü,,alizado" Iudanenal do gouctLto nodenoid.
cais,em çral suspcnsos num arco parâ sc.cm vendidos ou para cntre- Âvinda da Cortê ponuguesâ pârâ o Rio dclanciÍo, no comcço
tcnimcnto dos fregüeses das chsses m:ris elevad:rs e, às vczcs até, para do XIX, produz um cnfrentamento com uma cid adc doartc c ncrriço.
aliviar as dores de uma pacicntc que o barbeüo csrivesse tratando"r58. Como foivisto na históriagcral da medicina, ocorrc uma rransforma-
Tânia Pimenta analisou cartas dc alíordr conscsuidas pelos sangradores,
ção do objcto da mcdicina da doença prra a saúde, rrânsformando o
tratando dos indícios dc rclasõcs t cm próximâs cntre esses escrâvos c hospiral, dc 6rgão de assistência aospobres, em "máquina dc curar"B.
seus senhores, íavoreccndo umr licqüênciÍr importante de alÍorrias. Estâ medicin:r sociil sc irxcreve no processo maisgeral de formaçãoe
É lrnpo*"nt" notn'qr" l'orça dc rcpressãopelâ construçãode ccntralização do Dsrado no Impúrio, cluc concrcrizaria n dominíção
"
um processo de medic.rlização, quc irá se insrâlâr a partir da década da classe scnhorial. Mrchâdo cira a Cârt. RCgia dc 25 dc junho dc
de j0, vai no scntido propo.cionâlà força desta mediciaa populare ao 1812, quc crio! o Curso dc Agricuhuri r Bnhix, conm sjnaldcrsrr-
scu proíundo enraizamento no cotidiíno da vida brasileira. Estc temor bclecimento do controlc c csquadrinhrmcnto rla rcÍrn bÍ.rs;tcirí. Tiâ-
e esta âtÍâeão vão sc corporificar na 6gura dc Ninâ Roddgues, quc no tír a tcÍn, trâtaía gcnre.
final do sóculo na Bahia sedcbatiâ cotÍc scu projeto depatologizâç5o Comcça a circular, no mcsmo pcríodo, a idóia c a
dos africanos e o scu Íascínio pelos ritos do candomblêe. 'rcccssididc
de urna polícia sanitárií. E'n 1809 é criado o caÍgo dc Provedor-mor
Tiabalhar rupturas cm pÍoccssos de long. duraçío exigc scm- de Saúdc da Costa e Lstados do Brasil. Nos moldes da polícia médi-
pre o rigor Ilexível a que sc rcfcrc M:rrc Bloch. Mas podc-se afirmar câ européia, csto novô podcr que se arma trabalha basicâmentc €m
<pe o processo de mcdicalizaçâo da sociedade, quando "a medicina duas lrentcs: un:a associada à idéia de saneamcnto e urbanizasão, e
investe sobre â cidâde disputando um lugarentre as instâncias dc con- outra dirigidâ âo cxcrcÍcio da medicinâ, à hcgcmonia do poder de
trole soci.rl r'0,.rconrcceu ni mcsmJ conjunrurã cm que se crigiâ a curâr. A IDtendônci Ceral de Polícla, criadc em ab l de 1808, já
ordem jurídico-penal, São proccssos concom,tânres e análogos, clue conjugav o policiamcntoerr. si corr, ozelo pela la'idê da fo?ulação;a
§e intensificâm no pós-Indcpcndência para darconta do controlc des- guarda real sc cncarrcgava de tarefas relativas a atcrros, calçamentos,
u nova c puianre categorir: o povo brasileiro.
Na análise da história da mcdicina social e da constituiçIo da A Fisicatura-mor amplia suas tunções no sentido do controle
psiquiatria no Brasil, Machadoanalisa as transformaçõcs doconceito do exercício da medicina c na diÍeçãoda criação das cscolas de medi-
cinâ, proibidâs antcs pelâ polÍrica colonial. Em 1808 é criada uma
Escola dc Cirurgia na ISahií c surge umâ câdeira dc mcdicina clínia
r5, Raúl ZáílaÍoíi sempÍe te reÍere & etpanro câur.do por umà criminolo8ia
ldb@s,âúfrelê Íô.ith invenrad. na Brhiá nês.a. ÊÍ, cojusnção enrc uma Srande
pÍôxim idadê ê um alã$ãmenio prcdurido politi.o e idmlosi.areôtê é carc.lêri«i.o da
iormaçáo socià bGsiLenâ.
!@ MACHADO, Roberro eí a/ii, Oanaçáo da nomd: t nedicina sacial e a conltltuiçáo da 16'CÍMACHAOO, Robedo et a/ii, Op, cil., p.33.
psig!iak,a,o sraril, Rio deJane ro; G.aa,1973, p, 13.

160
l6l
no Hospital Militar e Marinhâ Em 1809 ín Bâhia nomeia-se um
da no, do econômico e do populacionri. No Scrr:anáíio de Saúde Púbii-
Cirurgião-mor parâ "inÍrução fâcultativa, teórica e práticâ", e em 18i 0 câ n" l, de li de jâneiro de l83l (órsÍo dâ Sociedade Brâsileira de
saem do Rio al,.rnos da Escola dc CÍurgia para estudarem Edimbur Mcdicrn- quc circulou cnrrc I 831 c l8Jl, rchrmo, um arLigo inriru-
go, com o objctivo de formarquadros para:r dircçãodas escolas brasi- lado "Medicina Políticã" que tratâva dâs relaçóesenúe criminalidâde
leiral6'. Enfim, um coojunto de medidas, dccretos, ordens-régias vão e o grau de inrtrução. "Enrrerâtrro (dn-sc-há) he â clase mais ínfimâ
disscminando a estrutura cducacional mé11ic.r até a cr;âção das Esco- dâ socicdadô que enche as prisôcsl Sem dúlida, mas não he ellâ mais
Iâs ou Faculdades dcMedi.ina em 1832 numerosã que a cla$e rical Além do que esta tem mil maneiras de
Áimplantaçãodeumaesrruturainstilucionâldeensinomédi- couter+e nos limircs do justo, que a dos pobres não tem". Velhos pre-
co comcça a confrontar-se com os limites da velhâ arquitetura médi- conceitos aliados a novas estatísticas. Dcvemos fica' arenros parâ os
co-institucional, a Fisicatura. Em I826 o ensino médico autonomiza- sentidos que a expressão ,nedicina política enfcna e seus vínculos com
se da Fisicatura, que desaPrrccc em 1828. No regulamento de 1828 a a idóia dc biopoderem FoucaulL Enfim, engendravam-sc, a pâÍtirde
saúde passa a figurarjá nosenddo da hisicne Pública, como "governo um movimcnro mais global, as estratégirs do biopoder na periíeria
policial e econômico da terra", Promovcndo "rrânqüilidade, seguran- onde, de uma certa formâ, vigoram idéiâs (ainda não científicâ, de
um, população-problemâ, meráfora de corrâminâção.
É.'.'t" ."-."to q"" o discuÍso jurídico Penal e o médico §e Em 1829 surge â Socied.de dc Medic;nâ e Cirurgia do Rio de
eocor)tram pari um controle regular, eÍetivo e científico que rrâosita- lâneiro, baseâdâ no modclo francês e com uma visão abrangente de
rá pelo século XIX até se transtormar num discurso específico: a cri- saúde, dnigida ao corpo social e à ordem urbana. De acordo comMa,
minologia. Unidos agora pcla polícia, o mundo jurídico e o mundo chado, os debrtes médicos da Sociedadc de Medicinâ se ocupâvam
médico voltarão â se dividir, se cspecializar e se enclausurar nos scus dos disrúrbiôs políricos e urbanos, da saúde pública (atravós da higie-
dogmas.Ás duas corporrçóes ainda bão de lutar no terrirório sombrio ne pública) e da defesa da medicini como ciência. A cidade malsã,
da medicina-lcgal para disputar poder de polícia, que acabará por se com seus vapores pérfidos, suas ruas de escr:rvos e de mcdo, seus dejetos
constitltir num outro mundo, num outro discurso Mas isso já serão a dcriva. sua começr I con.ri.urrsc em preocuprç;o peÍ,nr-
"ujcirr.
conas do sóculo XX. ncnre. O medodas muh;dócs, insraurado â pârrirdo GrandeMedode
Nos meados de 30 do sóculo XIX. o discurso médico sc de§tâ- 1790, da Revolução Franccsa, se esprâix no Império Brasiieno de for-
cará no combate à desordem urbana,quando as que§róes dacontami ma mais difusa, mais vâgx e mâis insidiosa. No censo dc 1849, o Rio
nação transbordarão do araos humanos, principalmcnte os humanos dcJaneiro tem a maior população cscr.,vr negra dasAméricas. O medo
africanos. É neste momento que, segundo Machado, imPôe-seâ;déia dos miasmas se soma ro medo da aíricânizrçio.
de umâ mcdicina social que "5e cârâctcrizâ por uma â§ão Positivâ,
transformadora, recupcradora que instituindo, normâs, imPõe exigên- ''Larsai ao escravo n Iiberdade e vercis a .lcso.dem de seus vícios ía-
cias â umâ realidâdcvista corno hostil c diferente.Tcm, em suma, um zer medonha explosro, ainda que menos viol.nrã dô qüe âquella
objetivo de normrlização"r66. As PostuÍ⧠l'oliciâis do Regulamento que se manilista nasclasses que elle r.presenra, porque não mitirâm
de 1828 abransiam, oo confronro com a desordefr, a gesrão do urbâ- aqu; outras condiçõcs, quc já mencionamos, e que promôv€m a ex,
trcma licençs da populaçio. Dcsre sorie a numerosâ quanridade de
africanos, que nestr capitrl vivem subordinados âô dônínio de seus
racÍ. MACHÁDO, Rob€nô et âlli. Op cil.
senhores, scndo uma causa fecundâ dâ dcpravagão de costumes, é
*5 CÍ. MÀCHADO, Robeío er a/ii. op. cit., p.lar,
todavia uma das cenas abonináveis, que fazem o terordas cidades
r& MÂCHADO, Robedo êt a/i,. Op. cit., p. 130.

162 163
Os âfricânos sâo tão perigosos quanto os miasmâs. Diversos
de pLimcna ordem;ecstabonsóçàqueas nos§âs paixõesaretàm não ârtigos e tcscs da épocâ xpontam para a obses§ão em demarcâr fron-
í scnâo comô um simptônta Drorral de um. {ebre intcstina, oü o teirâs contrâ estes inimigos Ião internos, táo intensos, tão contiguos
torporo que annuocia protunda lcsão oos cennos de ionervação. Os Umã das m.iores metáÍbras dcsra vertiginosa proximidade é a ques-
nossos a.tíficcs! oPeríÍios, ,nrriolas, airs, rmas, Iàmulos e cia, não tão da rmâmenrrção. tnúmcros art;gos tíatâm de dar conta dos peri-
escaodàl;z.m, é ÍcÍdadc, i t!,nqüilid.de Públi.i; Porém é por que, gos do hábito de entregrr irs amas'dc-lcite as tarefas de alcitamento
scndo pela miior Par!c cscravos, §:io contidos pelo remor do
azomgue{d.
'A! €scravâs sío.s.mis de oorsos Êlhôs e no leite com que os ali
Foucâult ânalis(,u r rrrcdicin.l urbana 03 EuroPa do século mcnranr lhes iostilàm (si.)rrr.lmiogérmeD da .ôrrupção que, sem-
X\qr corna üt apuÍckoanutro t)o uqwna político'ntédbo da qaa' pre d€báiiodô cxcnrplo, mais tardc lrutiiicüí, sc uma educaçáocui
,"rrcm qüc Linha sido rc.rlizâdo no llnal dâ tdade Médiar63. No Bra- drdo:â não cony;Jc r{i,t1.lo. c.cíÁr" rio r\ lm,Êis. as comPa_
sil, cssc proccsso sc consolida no XIX quanclo, a Pârtir dâ Sociedâde nheirasda môcidadc do scu scxot^.n'xqucll.s iâmlliisemqueãau§te-
rlc Mcdicinr c dc suas Comissócs IJcrmancnrcs, a mcdicina social se ridãdc dos costumes é consirleradr couo un:a tyrannir, ( cntno .ar
capila riza. 'A comissão dc Molistias tlcinanres pcrcore hospitais, or-
ganizando primcnas tabclas demográfico+anitírias e os prirneiros
as Estâ extrcma proxinidâde écombatida nos tcxtos rlaquclacon-
quadros nccrológicos. A est!tística médiclt registra não só vida mâs â juntura, já aparecendo como â rcsponsável pelâ /És, nerercêncíat " C^s'
própria morre"J". Êntram em ccna as comissóes devâcina, de consul- tas matronâs, vós estaes penalisaris de ver filhos degeneradosl Não
ras gmtuitas, de sâlubridade geral erc. Esta última já incotpora higie- leveis a mal que se vô-lo rliga, quc por vossa culpa: cra necesírio
ne c medicina lcgal tratando dc realizar um esquadrinhamento com- transmitirlhc com vosso leite â pureza dc vossos costumes e a força de
pleto, um coutrole minudcnte que vai do funcionamento de boticas vossa constituição"171.
âo tratâmenro de águas e esgotos, à elimiração dos cemitérios nas Pelo pcito das negms as crianças brancas sugavam todo tipo de
igrcjas, à assistôncia aos loucos, à pÍeocuPaçãô com os hospitais' uícios, de «ordo com a irrellige»sia métlict em tormaçãor "Não para-
Éste movimento trabalh: também na defesa da mcdicina como ,:,o Jqui o' m .lc'. dc.tue poJcm 'cí t icrim.< os innocellres meninos.
ciência, na Iuta contra as tcraPias Populares Pâra dar suporte a este con6ados a cuidados, a que preside quasi sempre a estupidez, a pre-
conbare ideológico sursem iornâis de mcdicina O Primeiro, o gr-riçr, a indolôncia, e para cumulo de miséria, em alguns casos de
hopagador dat Ciêncitts Mé,licas é criâdo cm 1827, sendo §eguido Por mâlignidade"r?'?. TLdo o quc restringe, como dissc Machado deAssis,
outros como oSraurrárb de S tlde Pública (\831-1833),aRe'ituMéài' "toda a quinquilharia da infância ocuparia muito mais que o lugar
ca Frunkeue 1t833-181t), o Di,iio dc Saide ot Ephenetidct das Ciên' dos seus nomes", dos nomcs das amas-delcite do século XIX.
ciat Métticas cNatuaetdo Arazl (1835-1836) Exes iôrnais fazem cir- Àquela intimidâde .ssustâda, dcscrit. porNilo Batista como prá-
culardiscursos que trabalhãm a mcntalidâdc obsidional a que se refe- ticâ inquisitoriâl presente »as Ordcnrções Filipinas, é revigorada pelo
riu Delumeau, conjurando inimigos assustadoramenrc Próximos, tão
dissemirados, tão contâminânies
,o CU N HA, Ànronio dot Saô(ôs- op. cil., p. I 5.
i''sRETAs,AsoíinhoJozéFêireÍa.DksenaçioinausurâsobreaulilidadêdoalleilàmentÔ
16, cuNHA. Anrônio dós sântos, Dirseflrcão sôbre poíituiçào, €m particu aÍ nâ cidàde do nrâterno e os incônvêni€nles que Íesuháododesprezodestedever. Riodelanelror Tvpe
Riô delaneno, Riô delanenô: TyposÍaiia Lmper rlde FÍaôchco de Paulâ Bíilo' L, del, cÍêmlêÍê, 1a33, p. 14.
ÍrcÍ FOUCAULÍ,Michel. Mi.roiBica dopôder. RiodeJãnelro:CÍaâ, 1942,p 32 r7: ERETAS, A. Op. cit,, p,21,
16,M^CHÀDo, Robeno el ã/i,. Op. cit, P. 137.

165
164
melo da P,o rituidadc dcvido numercsa de cscrâvos dentío
à Presençâ Na Raiu Médica Flunú,r,,Jr, DÍ. Dc Simoni impreca conrra a
de casa. As gravuras dc Debret c Ruçndas apontam pâra üm cotidiano remessa dos aÍricânos novos da Casa dc Coreçáo para a da MisericóÍ-
de convívio intcnso entrc escravos € senhoÍcs na intimidâdedomésrica' dia, aponra ndo os inconv cnicntes raúdc do poao dc'ra capnal-. "Exis-
lurandir Freire Costa trabalha, nesu coniuntura, a transformação da tem muiras condiqõcs dc infccçio ^c uhbtidad<,mui'o máis poÍ serem
irlóia dc coníono com a prcsença da es.Íavidáo, em ameaça de docn- osditos atricânos qu3se todosaffectrdosdc moléstias epidêmicâs e con-
do escravo acompanhava as râgiosâ§, taes como a dyscntcrii, bcxiga (vâríol.), ophihalmia, erc"r,.
çar7r. l'ara elc esta vcrsáo médico-política
mudanças cconômicas.'A medi.ina redefiniu o poder negro, fazendo- Como disse furandir Freire Costa, o escravo alinhava+e aos
o ponadorclc uma Íorça incoercívei, a forçr dr doençr e da irnoralidade D,iasnat, i$ebt, lakt atc! c
M ! lóbio!, apíesenrâdo pelâ medicinâ
Àcasa branca viu-se, de rcpcntc, invadidâ Por um inimigo dc cujà Pn- como Íonte de doenças orgânicas c momis. Para ele, esre araque à 6gura
sença jamais suspcitara O escravo Promíscuo tornou-se seu esPantâ- do escravo era importanÍc nat húnobvr dct pod$ mdico. "Enfim, os
lho"r7i. O mcclo do cnvenenamento é um dos f.nrâsmas da escravidío escravos emgeral, homcns c mulhcres foram manipulados de modo a
criar na famÍlia repulsa à sua própria casa, que de lugar de abrigo e
"Fcz-tc vcr, durinrc a discussSo, quc naosãoraros os eovcncnámcnto§ proteção tornou-sc, com â higiene, local de medo e suspeiçâo"r7N.
d'cllcs no ltio dc laneirq principalmenre de escr'vo§ conÍí scu§ sc- Aquclc medo da viscosidadc, do desbord;rmento das fronteiras, prin-
nhorcs; cqu.ntoà f,ha de lcis Póliciais adequÂdls' bcm como quasi cipal perigo a scr conjurrdo pcla lrodcrnidrde, sc r€vcsria dc gÍt'ndc
'
o.flbuma prctcção c apoio dx Par.€ dos mrsisú'do5' i
puohioíilôn' iatcnsidade no Rio dc Janciro do s6culo XIX: â cidade lircralmcrrrc
cio !o médico,inda mesmo quando este tcnh, hoas ozôct paru sus' dormia com o inimigo.
nciur o cri'nc, pdr qu( ncnhum, s.gu6nsr
r'm contra a vinganga
"Nio8uém ignorá .r dcsoílcns domésricás quc fíeqü.nrcmcnrc sus,
Paniculaí"J".
cita uma cscíali. Quaoros homcns hí por ahi que dcixám o lenô
Aqucla frasc de Lycurgo Santos Filho, a que nos rcfcri- núpcial pârâ ircm conspurcar-sc nas imund.sseszalas oodedormc a

mos no comcço do capÍtulo, poniifica neste discurso médico quc tra_ escÍrva,quc é picfcridâ à uma «pon tcrna eamávell"r,
ta, por um lado, de cclipsaro poder médico-curativô dos africanos e,
por outro, de configurá-los como vetores de coDtrminação Contra este inimigo insidioso que conramina pordentro da casa,
da família, estando as ruâs iá romadâs, vâi-se esrabelecendo o poder
"syphilisr { uma molóstia cuia cau§r a;oda não é conhccidâ Como médico arrâvés deste saberda mcdicina socialquc se impóe. Á Socie-
apprrccco clh': Qucm foio lIm(iÍo Por ella rLu'Jdol Nio o sabc- dade de Mcdicina, quc luta pcla uniformizâção do sabermédico cicn-
mos. Quc prrccc rrr provinJo d, Árricr nio no' prrccc duvidoso tifico conra as práticas populares de cura, depara-se com um ântigo
Boubas, trâscid! no mcio das r,lcntes árcas da Áírica, nas marg€n! obstáculo: a inexistôncia dc Faculdades de Medicina. E éjustamenrc na
do Scncg.l, c no imPuro dr Guiné, elta é o tlistc
.r dos conjuntura de 1830 c I83l que um. comissão remporária da sociedade
'Patrágio
nccros habitantcs dr zonr tórridr"r'ú. elabora o projeto que as cria}r'. A partir de 1832 ficâ proihido por lci

,'!COsÍ luÍôndn ÍeiÉ. Orden médid e noÍma ,,m,iú- Rio de h@io: Crel, 1999'
,'cosÍÀ ', Reista Média Ílunin@ta, \o|. 1 - nr 1 2, m.ço de I8t6, pp- ,rs.
luGídit FÉie. OP. dl., P. 126.
» cosl Júê^dn rêiê. Op,.it., p.l2l.
r" PevbtÀMénk Ftún\inane.1' kçáo. Riodel@io: 16dêiultEdé 1016' ,
D CUNH,\ A, onio d6 s.nlG. Op. .it., p, 23,
r- MOR E5 E V L!4, À,la@l rúana de. cosidsaçóê, só@ 2 me'dicidt'iê
'!
Â; & /aero. Rio dêl@ió: oí6er
Tvp. do ^lsvúát 6BilêiD, del' l Moêi6' 1846' p. ll' r M^cH^oo, Rob.rro el .1,i. op. <it.. o r 92.

166 167
c't)ar Pütejat ol í?t botica sem o título das Faculdades de Medicinâ nô dc vi:jantcs, o mótodovaidos horrorcs dàs punições íísicas ercesivas
Bmsil, que pâssam a rcalizâr a vigilânciâ do exercício da profissão. à moradia, vestuário inadcquado, exccsso dc trabalhô, desnutrição,
Trabalhando o grande projeto dc normalização em curso no arendimento médico inrdcquado etc. "ôs castigos cÍuéis e excessivos
século XIX, Machado revelà as novas corelaçóes entre medicina c eram usualmente os moriros que os abolicionistas davam para a alta
crime, educnção, môral, famíliâ na conjunrurâ da décâdâ de 30. iq. mortalidade dos escravos, mas eu diria quc o simplcs dcscaso desem-
séric dc cpidemias a p;rrtir de 1832 dcvc tambóm ter influído. Além penhava um papel mais significativo do rluc a crueldâde diretâ"r3r.
disso, a medicinâ carâctcrizâ-se pelo seu discurso de ordem: discurso O cspctáculo dos horrorcs comuns c a csróiicâ da escravidão pon-
propício no momenro, po; I835 é ano de grande violência da ruam o cotidiano da cidâdc. ':Á!lsuns scnhorcs que dcspejavam lixo nas
Cabanâgem, do iníciodaguerra dos Farrapos, da eleição pârâ regenre ruas cpraças também não tinham escrúpulos cm jogr r íon seus escravos
uno. Caractcriza-sc nâo só por ser discürso dâ ordem, mas por ser agonizanres, ent un estada de pafcíta nulcz. Qu;lr'do visitou a cidlde cm
umâ práric:t de ordenação, de documenraçâo, de registÍo"r". Eflfim, 18t4 Schillilrcerfi cou horroriz,atlo aotcr ta ntot uuauos ntoios a fl.t"lN'.
clesenvolve-se no sentido do conrrole sociâl dis populâçóes, no senri- Talvcz a permanência dc uma ccrta n ruralizaçio dcstc quadro se ob-
do do biopoder. O discurso médico eofronha-se na construção do Es- se.ve nos corpos negros .montoados nrs lixcirrs dr cidade do Rio de
tâdo Imperial articulando o homem com o clima, com a moral, coma Ianeno nos dia s de hoje: os ralicantcs-lavclados aprcscntados ao dclci-
higiene pública através dos saberes da mcdicina social que enfrentâ- tc da mídia fazem parte do ccnário vivo do tcatro dr csoavidão.
rão :,s metáíoras do pântâno: as cidades e suâs populâçóes devem ser
4.6 Discursos que mâtâm: medos impressos
Nesta perspcctiva, a concen rrâção de populxção af.icana na ci- As âgitaçócs do pcríodo pórem a nc ipação anu nciavam dilêren-
dade absorverá os contornos da metáfora do pâ ntano, produzirá o medo luuvrm por hegernonia. Nelson Wcrneck
tes desejos de nação que
dâ conraminação. O escravo, ncsta coniunrura, se transÍormâ em obs- Sodrí,.ü\ sM Hirtóia dainpte»au Rtail, aceotua as contrâdiçóes
ráculo à higicnc c à "criação de umâ fâmíliâ brasileira sadia"r3'7, seja entre ifldependência e libe«lade, que nós uaduziríamos como as con-
pelas "pâtologias introduzidas', pcla amamentação, pela degrâdâção tradições cntrc libcralismo e o sistcma imperiel escravista. Como na
dos costumes, pela prostituição ou pela moral. Deste momcDto em mcdicioae no dircito, a rclxção coloniil impedir urna irnprcnsa,ru.','-
diaote vri ser delincÂdo o discurso científico que tentârá crâvâr mâis /er'ra. Antcs da Independênci: circulavam no Brasil periódicos como a
inrernamentc a ideolôgia senhorial na formaçáo social brasileirarsr. Gareía do Rio dêJa\êito e a ldadc dc Ouo do Bra:il, rípicos cxcmplares
ftmos dc analisar as condições dc srúdedos escra do que Sodré dcnominor de it»prcnsa áulica, dnigidx por porrugue-
altíssilnos íodices dc mofl.lidadc À luz dc uma vidarcb o açoite,en- ses336. Em 1821 circulr pel:r primeirâ vez o Rerétberc Carstiütcional
tendendo a questão dos maus-trÂtos numa perspectivâ mais âmpla. Fluntketv,"i'rgã,o àortriníriô dâ Indepcndênciâ brasilcira" que du-
I(arasch entendc o tràt.mento dos cscravos de uma forma mais rou treze meses e era dirigido por brasilcnosrN'/. Em 1821 surge râm-
úrangenre: nnis ntalttatalos do qrc caualos e nnrlar segundo relatos bém n: Bahia o Dü,ro Co"$iluciandl,libertlrio cono A Sentinela da
Liberdade àe Cipriano Bartt.

}IMACHÁDO, Robeno er a/ii. Op. cil,, p. 216.


T.TMACHADO, Robeno êr a/ri, Op, cir., p,154,
r3r cí KARASCH, Màry C. vida dor ercravos.o R,ô de /arê,ro: 1303-7350. Sào Pau o:
^ .,pitú ô 5 ("Sôboiçolle").
Companhia das LelÉs, 2000,
rECLMlCELl,séÍslo.oeni8Dad,Dêí,çâse,,.J.Ínâ.leR.!eôhai.FolhadeSáoPaulo,s rlr KARÀsCH, Mrry. Op. cit., p. 190.
de maio de 1999 & CHALI-IOUB, S dnêy. WIâ. Árê Nô§.s lol? Pàrehalkh, Sô.ial
r.i SODRá, Nekon W€rneck. HisróÍia da inpensa na srasil- Rio de lanenor Cràal, r977.
DaruinÀm ,dd Race Science ," ,/achado de Á$À. loumal foí Lalin Ame.ican cultuE
Studies, vol. 10, n! 2. Cní Publislriíg 2001. i.'isODRÉ, NeLson WeÍneck. Op. cil., p.62

r68 169
Áimprensa reproduziu os embates ôntre Iiberaise conservado- alguns jornalhtas lilxrtários da ópoca: FelipeÂlberto Patroni, que di-
res na ârenâ política. Oriáio do Rio rle la"eh o, q\e começa a circular rige O Paraense em Belém ("â suâ linguigem ârerrou os dominadorcs
em 1822, ficou conhecido como A Md,teiga, pot cstampar preços do da província, que desde logo emprcgavam todosos meios para íazêJo
Icitc e da manteiga todas âs manhãs. Este jornal, que circulou âré emudecer")r'0; Cipriano Darata, que, como diz Sodré, "iniciava a sua
1878, t;nha um câráicrtáo "âpolítico" e informativo do comércio que curiosa série de Sentinclaí'r'L em Pcrnambuco: preso em novembro
náo noticiou â Proclâmâção da Indepcndônciars'. JâA MalagueÍa,f\tn- de 1822, tez ci rcular a Sr úiiela di Libe ade a Gwràa de Penanbu-
dâda em 1821, situâvaae à esquer.lx e pôsicionava+e pela Indepcn- co A,acada e PEla a Fortaleza do B»un por oúetn da Fotça Atnada
dência claramente. À esquerda e à dircita da conjuntura vão-se so- Rraala. Republicano, fundou o primeiro iornâl r€publicano do Bra-
mândo novos jornaisr O Espelho (t821), o Atfaiar.e Contiucíonat sil, a Gazeta Penantbucana. Outra figura cxtraordinária desa conjun-
(1821\, O Coldl;tdü da lt4atarhda (1821) eÍc. tura é Frei Joaquim do Àmor Divino Caneca que, em 1823, lança o
As Iutas regionais ensej:rvam novâs publicaçócs comoaAuloru primeiro número do Tirr Pentanbacano. Liherrário, rcbeldc, sedicio'
Pennnbrcana (clesaparecida cm l82l), a Scsl?,.,sa (desaparecido em so, apostava na radicalização di Independênciâ e das idéias liberais:
1823), o Relatot Vedpdeílo que ciículoü Do Recife entre l82l € 1822. "já está à portâ o tempo dc muito nos honrarmos do sangue aÍrica-
O conservadoismo também âparccia com suas publicações, como o no"r". Perseguido, preso ío cárcere dâ Relação, foi dos homcns "que
Sabaúla Fanilíoj do! Atlligo! da Bcn CoDuua, cujo intuito cra "for- transformaram os cárcercs da rclação numr crola di ahas e:tdo!, Íttl
mar cidâdãos úreis à Ignja, à párria e à humanidadc", o! o D*pena- promiscuid:rde dos escravos quc ali iam rcccbcrcastigos dc açoites, às
darB 'ilic\É qne só rítou um númeÍo, em 1821. vezes 500, à noite alumiados por magro candcciro de ólco de balcia,
A I'roclamação dâ Independência produziu novos embates: acorrentados"r'r. Foi fuzilado no dir l5 de jrnciro de I825. l:staria
porventura nascendo um comando vermclhol Âgcocalogia da cons-
'As forças preseotes no prlcô dr polftica bnsileira no alvorecer da trução midiática do ComandoVermelho no período da ditadura mili-
existencia âutônoma, assim comô sc hàvirm unido na repulsa ao re- tar (profecia au to+calizávcl) aponta para o medo dâs iflnuências Íecí-
gimc dc monopólio de comércio, lermaoeccriam ünidas quanro ao prcc^s entre pftaor ca ln e prcsot polhícotq.
pÂpel do príocipe D. Pcdro, aclamado ioperador. Mas divergiam A conjuntura imcdiatamente âpós a Independênciâ represen-
qu,nto à Consriluinte:á dúeitá.olô.ava osovernante acima da Ae tou um golpe na nascente imprensa brasilcira c perscguiu implaca-
seôbléia, que er! o poder popul. r; a csq uerda colocàvà a Assembléiâ velmente os periódicos de oposição: "para encontrlrjornâis tivres era
rcima do govonrnLe"}'. prcciso viver nas íreas rebelde§, como em Irernambuco dô 1824{s.
Em âgosro de 1827, circo anos dcpois, a censura é abolidâ e â impÍen-
Àcoíorção de D. Pcd.o, cm dczcmbro dc 1822, representou a sa floresce e se muttiplicâ âÍticulâd:r às âiividadcs políticas, divididas
âscensão do conservadorismo e, ernbora o ano da Independência te-
nhâ.se câractcriz.do pclo aparccirnenro de rnuiros jornâis nâ Cofte e
rs SODRÉ, Nelsôô weÍnêck. op. cit, p.76.
no interior, começa ali o ccrceamcnto à imprensa e à rcprodução do r,'soDRÉ, Nelsonwem*k.Op, cit., p. /7.
absolurismo português na nova naçao. É digna de nota a miiitância de r,r Apud SOORÉ, Nehoô wêrn(k. Op. ci., p. l04.

ilr O c minallslâ Aucusto Thoúpson afnmou,.edâ oGiiso, que a dil€@.ça eôt.e


Brânde
* CHÁGÀS, Cârlos, O Braii/ien tetoque ta0a-1961: a Hktótia contada pot jóthdis e ctin inos6 6nuns e úininó3ór polir,cor é quê or .rnnnroros comuns §o polti.o§,
tbrrâlÀtar. Riô dê janenoi RecoÍ], 2001,
TUSOORÉ, NelsonW€rneck. op. cit., p.69.

170 171
cntre dircit. conservrdoía, di rcitn liberal e esquerda liberal.'Pouco a
pouco, no tcmpoJ mas accntuadamcnte, quantoàs posisões, a imprcnsa ciondmcrte a ukimas, no caso dê esistcocia, com áçoites; e
esras

dcfiniria o quadro de agitâçócs que culminaria cm l83l"r'6. aqucllas com âs penas da Iei".
Procuramos analisar os discursos do medo â pârtir desta con-
Ao conúário d a crônica c ontcmptânea da utopia rctnigmda3'\,
iuntur,1. U,n dôs ioÍnâis pcsquisados é o,4arrra F/r tfll inenle, jotí\àl da
dircita libcral que pregava a monarquia constitucional em oposigáo que imaginava um tuo anrigo scrcno e buc6lico, ,á se tcmia a movi-
âos órgíos dí csquerda libcral. Uma notícia do,4 u'ora Flu,nincüê dc menrxsno dc homcns armcdos. com cspecial arens5o paÍa ncgÍos .F
l82ScomcEa a dar conrr dos rncdos na.idrde: mados, com açoites para uns e pâra ouros, as penas da lei. ôcomen-
tário do jornrl ,o cdital é sinceÍo e âtcsra os limites do liberalismo
"Domingo t0 do coffcDtc, formio o Quilôóbo, quc
os negros, que
cxistc nas montaahas das larangeiras (sic), d$ão muiros úos
d'cspins!.dá: hum negro, quc se prcÂdcu ncstâ noite e oã Gcàsiáo "lsto llc tanto riis para tcmcr tro no$o pâiz cm 6zno desi gcnt€, a
cm quc lcvava umavacca, qüefflbãÍãdc funr,oqu.l tamben cía quem o carado dr esc..vidão faz com que oos olhe
socio do quilonl,o, dissc qúÉ ôs tircs erno ch honÍa da reúnião do úatúracs inimigos, eque pcla mcsmí situasão,.mqüc scíchio, sáo

scu q uilonbo com outro. Corrcqueo Snr.Intcndcntc Gcral da Poli


impellidos por páixóes ÍcÍoz.s".
ciu cxigirádoScnado d! Cám.râlrumalisIa dos C. ppitães do M.rro,
anr dc co,nl,inrcom cllcs húm atiquegerrl contrâ os quilombos, Invocando a "deÍeza da l'áuia c dr Ordcm l'úblic:r" chml-sc
qu. coÍspiran bem Íundados rcccios a todos ôi propricrarios pcla "severa puí:ição daqüclcs <1uc torcrn rch:rdos
cncumvkinhos"Y?. prohibidas, c com especialidadc os cscravos". O mâis irtcÍcssrnrc do
contexto dcsses úcchos de iornal é quc muitos escravos lôr.m rrnrà-
A5 notícias coiidianas vão írzendo a crônica da mic'ofídcâ do dos por scus scnhores, na ocasião em qu€ mcrccnírios do cxércno
poder c dos interstícios do mcdo: tiror€ios no morro das Laranjeiras, (prinLiprlmcntc nlandescs e ilemic, promovemm c invr'ôcs
'aqucs
africanos ponando armas já âssustívam "os proprietários" naquelc
tempo. "Cousas futuras",diria a cartomaatede Mâchâdo deAssiscm
üaú c lacó. O Áuoru Fh,,,,.,rr dc 18 dê iu hode 1828 (p.230) "Muito sc rcm íallado sobrc as con*quências dc sc armarem nô dia
publicava o scguinte cdiial: ll algú cscravor . pretor cm dcÍeza dá.id.d. amcaçãda;nós tâm-
'rs
b.m lcmosâ pêlle bnnca, c .lgu'n. cousa,que pcrdcr; nãod€sejâí-
"Fuço sallcr a todos os qu. o prcscnlc Edhal viremr que o mesmo amos <1uc sc désse alento a brutcza dos prctos, c sc cstimúlássc o seu

Augusto Senhor, pôr Aviso, cluc rcabo dc rcccbcr neste momcnto, furor com o rspccto do sanguc rJcmnudo"3".
mc dttcrmina; que tu mrrdc aÍIxar irnnrcdigtamcnle Editac§,
prohibisdo quc aodc'. pcsrols do Povo trmad$ po. csta cidadc; Embor: aameaça àcidadc rcnha sido exccutada porgEnte "tãm-
princifilmcnre ekmvoii por rcÍcm iá ccsrdo quácrqüer d.ios,qu. bém dc pelle branca, o mcdo latcntc édos esc,avos,scmprc potcnci-
podc'scm desulpar scm(lhante mcdida; caíigando-sê corrê- almente peÍigosos: seja pelo "estado da escrãvidão" sciâ pela suâ

rú NEDER, cizlene. Cidade, idênridade e excllrro iocá/, h: ÂevÀla Tenrpo, vô,2, nq 3.


,,^úryâ f/ufln!êne, o. I3. Rio de híêic l8 dê í€vsêko de 13r3, p. ,l . Nil€dl: UFF,/Relume Oum.rá. 1997.
i, rluoirenre, nr 59- Rio dê lanêno, 25 dé iúnho dê 1328, p. 242,
^úrm
172
'173
O cotidiano dcsta cidâde nesra e scus mcdos brancos evocâm dos pretos (dequem se desconfia cspeci.lmenre, como nas Prisões por
as causus fúua! qüe poltuam o Rio dc laneiro de hoje: atiú.les sulpêitd' 150 anos depoisror), r diicrenciação discursiva entrc
os nago,es a os c;dtl.lão! Picírtco! e, frn lncnÍe' o apelo às troPas nos
"Hí .e(o tempo â est. p..te, ôs ne|ros capoeir.s que costu úão exeF qüârtéis se â políciâ não der contâ. As salvâSuardas eÊcazes, do policia-
cer o scu barbaro valor, esíaqu.rôdó-se huns aos ouros, rcm mento àguerrâ, são os reforços do autoritarismo recorrente. Este zelo
.ôm netido va ri.s dcsordens e asrssinios, divididos em magotes por com â movimentaçáo dos escrâvos pelâs ruas da cidade aparece em
âlsumas rüas dá.id,de, e a abriqo d. cs.uridão. Asu, êroc;dâde se v;Íi-. noticias, ma" é no âno de I8l0 tuc JIr.re(em o' Irrirnc,ros 'i-
Íiz
notàvel nâ ooite de Sãoloão, em cluechcgárão a l-c.ir e marar3 a nais de umâ preocupaçáo que já podcmos irtitu]m àe bío?olíticat o
1 pessoas brancas. Já hum mês xnrcs, cbr outra noire, elles rinhãô medo de que a proporção desequilibradr cnúc brâncos e negros pro-
prâ.ticado iguaes actos de Larbaridrdc, e nxolência. He preciso que duza o caos, a instabitidade eâ desúuição do mundo dos senhores,da
i poli.ià tê.hâ mais algumí aciividàde, para prevcnir seúelhanres cidadc européia a que se rctcrc Gizlcne Ncdelor.
desgraças, o que oâo h. mu;ro dificil, persisrindoeft apalpar os pre-
tos, de qucm se desconfia, domingos e dias san- 'As providencias do noÍo prcsidcorc c ComandanLc Mil;t.rdi Bahia
l)rircipalúcnre aos
Ios, cm que são mais usuâcs as cooicndrs, c dcsrlos dos capoeiras. pozerâo ternô aôs rcccios, quc sc üohnosuschxdo; â rcsPeitódehun
Ell€s sáo dcmais disso bcnr conhccidos, quer pelos sesros, e cütos nolole!aoreda escravãtura. Aquclâ proviocia tcm sido conLi, uâmeo-
disrintivôs cn que alzcm gúbô, querpelás armis, dc que usão parâ te ameâçadà dc scmelhante flãsclo, e cm dilícrentes ePocâs se
sc bltcrem. Não basta que por 7 ou 8 dirs, em quanro durâ à lem- erpcrimentárão cat!strophcs p.rci.es dcsta natureza, neste ou naquclle
brinçâ de alguDa de suascampanhas, se rccoÚa a esta providcncia, pooto. A râzro de hum tal pÀeoomenô acháae nâ maior honô-
de sercoodnrada, para iDrredn âs rcincidcnci!s, e amiudados desas- gencidrdeda populaçãoprera d. Bihia, e nasqu.lidades prcprias dos
tres. Sc ô corpo d. Polícia nãô he suficienre par. hanter a ordemi Níinas (Naçãoque allipela maiôrprftcpcÍrencem os esmvôs) os quaes
náô lÂta ahiúopâ ôosqu!rteisr quc Ihc póde prestar âuxitio, áfiô de de rodos osÁfr;canôs, que se transplaotáráô no Bras;I, sào cenameote

fazqcessarhum flagclo, que ameaça, vid. dos cidâdãos pacíficos,e os que possucm ma is deseovohimenro intellectual, e húna certa íorça

que priva asíamilirs de prssearem iivrcmcnre de ooite com remor de dc câratergue nüito ôs disringue das outras raças de negroí'a0r.

quc sc repirão scenas rio rrisres. Mais algum zelo, e renmidade em


fazer observar âs medidas de poticiâ prelentiva ácerca dos escavosi Preocupaçôes étnicas, râciais, neccssidades de classificaçáo e
os capoeiras desappfteceríô, e com elles .ró r dúrã necessidade de hierarquização começam a atravessar os discursos sobre o controle
procedera castigos deshumanos, e qucoÍIeodem a decencir, nâs prâ- so.ial da escrâvidão e o medo dos levantes e rebelióes Começâm a
Íormu)ar-se argumentos de nça para o àiagtóttbo da siaação.
ças publicas do Rjo de lan*o"r0.
O Áuroru do dia ll de agosto de 1830 (primena página) explicita
melhor essa prcocupação de poder sobre a áarr01:
lunto à preocupâção com o desâpâreciÍnento dos €apoeirâs e
ao reconhecimeflto de uma necessidâde de câsrigos desumânos, esra
notícia revela várias idéias-força prescntes até hoje nos discursos do roL
TÍabâlhei .om a expÍessão 'ârhude suspeita' ao aialhar prdesos envolvêndo adoles
medo: a mâioÍ iDportância dada a morte de brancos, as esrrarégias de cêntês deiidos po. dogas to Rio de laneiro conÉmporâneo (Cí BAÍISÍÀ, Ve6 Malasuti
polícia preventivâ que consistem em atuar seletivamente nâ Íevistâ D,lÍ.eis sanàos ÍáceÀ. op. cn.),
{, CÍ NEDER, cizlene, Cidadê, ide,rdade e exc/uráo soc,,/. Op. cit.
mr Áurorâ íuminetue, r,338. Rlo dêlaneno, l7 de maio del330, p. 1421,
{r FoUCAU LT, Michel. Em delesa da bciedãde. op. cil.
an A!rce fluninense, n' 2O7 Rio de Jâfênoi } de jutho dê 1329, pp,86ê86i.

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mais salubr., esta Íaça hc de todas a mais prolifica - cono hc poh
"Ponhamos portaoto fora de quesúô rôdrs .s condisóes dejustiça,e
que hão de ser improliC.o. no B,-"ii os rc,moi qLe nÕ , onrineore
de humanidadc, parccc-mc que sóa prudencia commum basta para
opposto tem multiplic,do, a pooro que dous seculos de oppressãô
pcrsu.d;r. groseira politica impor-
de ausmentartodos os diascom
europea Dão rem sido cxprzes de diniÂuir sua populasáol He ab-
Huma igual
taçóes nô Brasil a dcsproporçío enrre bnncos, e pretôs.
surdo até sLrpol-o.
imprudeoci! foi a que produzio cn S. Domingos aquellla guerra
A diminuiçiio pois, quc
sc obscrva na populaçãodos escravos do Brâsil
sc.vil, qúe ncm â actividade de Bon,parte, nem â habilidadc, e
prov€m dâ immoralidadc e devassidão dos cosrumes, e dos inp€di-
eÍperienciâ dos seüs melhores sene.ács podcrâo extinsu;".
meotosi que a crueza c a cobiçx dôs seDhorês dos seus escravos. Se
estes.buzôs Iorem refornridos,c os meios dc correcção bem conheci-
Os ecos da Revolução Francesa nâs colôniâs dcspertavam nôvos
dos, e candidàntcntc pôs1os cnr prucrica, este eÍIeito, que os plantadorcs
temoÍes. Se â multidão passa a ser problema depois das bafficadas de
Paris, nas colônias ela tinge o medo com outrãs cores. O poder na peri-
aotccipão, e aprchcndcm, scrá cvnddo, c! proúiaçaodos escravos coo-
tinurrá â ío..cc.r x scús donos a scgurrnça do capital, que nisso tenr
feria cxigia o controle através de umâ clâssificâção e uma hicrarquização
rãcial. No câpítúLo ânterior citamos Foucault na aula de l7 de ma4o de
empregado, e a cenezc dc que o scrviço não h:Ide lrár pô. fazer"{ú.

l97o'i'. Ele diz que r cmcrgincia do biopodcr, que in.eÍiu o íac,smo


Mas as conas começam a seprecipitarna cenapolítica em 1830
nos mccanismos do Estado, decicliu quem deve morre5 por ser hierar-
cm direção ao Sete de Âbril. 'A arregimenração liberal era evidente:
quicamcnte descartávcl, e iâmbém quem deve viver. Como dissemos
djreitã c csqucrda tcndirm à unidade, isolândo â área conservadora",
rnreriurmcnrc: o quc moíe ÍJz com quc o l,om \ ivr mat pu,o e mJis
diâgnostica Werneck Sodróro7. As ruas csquenram tâmbém. Molins,
sadio, atravós dc uma relação biológica de eliminrção dos perigos inter-
saques, rebeliôes, (poeiras, batuques: a multidão pulsa. A rcvolução
nos c externos. Lembrcmo-nos dc quc Darwin realizâvâ nessâ conjun-
nâ FraÍrça é comemorada nas ruas, cm sctcmbro, porestudantespaulistas,
tura, naÁmérica do Sul, r sua expcd içâo cicntífica de busca do elo pet-
duramente reprimidos. Esta participação política potencializa a impren-
dido (rcreditou tê-lo achado na l'atagônic). Su.r teoria dâ evoluçáo só
sã;os lorDâis se mulddicam. De acordo com Sodré, pasam, de 12 a 13
comcça a circularvinte anos depois, nos anos cinqücnta do século XIX.
impressos em 1827, â 5l qwsaent à hnno hnpétio em 1830. Eles edi-
Mrs os discursos dâ época já gestavam o ovo da serp€nte quc irá tÍans-
tam tambóm discursos sediciosos como os de João Bâústâ Queiroz,que
formâr-sc mesmo cm dncu rso cientifico no fim do século. Tiânsbrma-
ataca a "canalha recolonizadora", denunciando a escravidáo e deÍen-
se em otrm no n:rzi-fascismo: repctindo Bãumân, ogenocídio é dcfini-
dcndo r igurldade d. J;rc:roi '. Cunll;ro',-ri,/',/a.. anriponugucrc..
tivâmenie um projeto de modernidade e, para Foucault, a colonizâção
agudizrm-sc, o Iibcralismo conccnra lorças no Parlamento contra a
foi o prineío desenvolvimcnto do racismo como genocídio coloniza-
direita conservadora idcntiiicada com o Imperador, cadadiaDais iso-
dor. A cmancipação brâsilenâ prccisava desscs discursos bioPolíricos Para
lado. Em abri), quarróis também sc rebelam, a malta ganha as ruas e
mantcra ordem no Império tro pical. Tra u-se de estabelccer fronteiras
no dia Sete deÀbril D. Pedro abdica.
argumcntativâs, limites discursivos:
Apóso Sete deÂbril"o Brasil conhcceu um regime republ;cano
nâ prítica: o legente elcito pelo voto direto, a primâzia do Irgislâtivo, â
"O Bràsilhe notalcl peli sua ferlilidade, ôseu clima he o mais analogo
íqucllc, ronde os p,etos Dascem, c se üiio, só com a differença do ser

'r. auroà fhlminense, nq 373- Rio de,afeno, I I de agoío de 1330, p. l.


r0!cl ACAMBE N, i]ioÍciô. Hon,o5acêr- /ê Poúv"ir Souve,ain €I /á V@ Núe. Parh, seli, 'o,sODRÉ, NelsónWernek, Op..it., p. 13r.
2000. A8amben retomâ â ÍêÍexàô loucâulliãnã sobÍe o biopodêÍ, âiuallzando a dÊcus t!' Op cil, p. 136.
são sob@ o pa.adôro da democBcia no libeÍalirno oclde.tâl.

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âmpla liberdâde de imprcn§a, â rcfoÍmâ política e âdmini§úativa"' Rodrigucs Vcrcirc foi môtu com hum! punhelada. Segoros dâ
Foi cssa uma fase de intensa luta polÍtica de que resultou, pelo triunfo Íiàqucsâd.s Iêis, e conratrdo com quasiccrta impunidade, os perver-
conservador, a fisionomia do país na scgunda metadedo século XIX"10'' sos sc dcrramôo pctas ruas, áprovcirão o csrido dc.stupor em que se
Os discursos do medo na Imprensa vão preparando as almas para o acha a populaçâo, de continuo áme!çadâ com dcso.dcns, motiu e
trabalho suio esangrento da Pacificaçâo. O argumento biopolítico co- rurgâs, c prâricãq mal qocvem as sómbras dl noh., toda a casta dc
mcçâ â gestâr-se na Íet6Íica impressa, umbim pelâs folhâs dadireitâ viol.nciâ'. Áquêlcs que oão rcfr ofliciodcqu. vivão ou qüe abando,
libcral. náíío dcrrrdciram.nt os ru' mcste.cs, sc agrcaão .nrigc s.ct.Ed6,
O início da décrda dc 30 era fénil no imagináriodo medo. Em- honco. cxp..imeDtados no crimÉ, quc clpitháo po. todâ a panê â
bora sd tcnha chegado ao Brasil cm 1835 €m Belóm, foi neste período deestâçáo . o mcdo. Debatd€ ás rcndas cÍuzio as ruás; ou seie ir.uria
quc â epidcmiâ da cólera instala-sc como paÀemia globalizada' dc alguns rüb.heinos, in.,pacidad. numcric. drs praçâs quc com-
transmigrando da Europa para o continente americâno Associâda à põ. o corpo dc polic;á, ou ourrá quatqucr!,2ão com quc atinávâtuo§
crises políricâs e âgirâções PoPulares, ela chegr ao contioenre cm ainda, nío sc sxbc que hum só dos issassinos ou roubãdores renha
1832a1r'. Márcia de Almeida Gonsàlvcs toma umâ exPres§ão dã im- sido prezor párecc que máo invisivcl fcrc, c sâquc. a capricho, ora
prcnsa para dar nome à leitura dos medos sociais àa Co"tet â)tiflla§ ncsre, orâ nâqucitc ponto dí cidàd.. Dxqui, c dxs vozcs cspathâdas
tc,l,orator. Lta tÍaz o artiga do ional O Eraltdo' àe 29 de setembro dc porasrutos tc ôrisr.snás.ea prralizrçio dc rodr iorlustri!, cspccial-
1831, quc rclrra o atrrrmcnto Produzido Pela notíciã de um comcta m.ôrc doco,rérc;o, r osusro <tue rciri n, orrn,r p.nc dos.idadãos,,.
para o ano de 1832.
Parccc que há 170 arcs os ustot dos cidala-or provin harn da_
'Nâo nos âssusr.n pônanto os boatos atemdorcs do cocontro do steles qtc não tên o.ficio, pcüenos attrc a damnan p.ta, ruat.paíee
comet. de 12.oú o plãncra quc habir.mos,.sses hoâros são ião ridí- também quc nas socicdades tão inlustas e dcsiguris, como nâ CoÍr€
culorconôs,o ridícúlos r.mbóm oíhoaro'de innuênciâ da R.Púl,li- escravocrara, a polícir é scmpre pou(a para protegcr o comércio e a
c. so Hairi no Rio de Janciro, bortos cspalhrdos de propórito para indústria. Em 1831, com a âbolisio do rrífico dc escrÂvos, umâ novâ
in.utirmedô em !oss. g.nt. rúíticá"rr' contradição pcrmci a concepçãode direito edc direitos do liberalismo
tropical: abolido Iegalmenre, foi tolerado c continuou â ser âtividâde
Medo da cólera, medo do cometa, mcdo dos escravos, capoci- lucrarirr aú 1850. introduzindo enúe ourras qucsrócs o quesrionamenro
râs "âos magoreJ'pelas ruÀs, enfim, â décadÀde30doséculo XIX cra do e'roruto de escravos prrr rrazidos dcpois da proibiç;o. ,.
os africanos
rJc protunda iaquietação das elitcs; nada pa rec;' "estar em ordem" Â O assunto passa a freqücntâí a5 páginâs d. jornal:
Aaloru Flunina,'e dc5 dc junho de 1831 (p. 2080) descreve a dcsor-
dem e o medo do crimc: "O cotrtrabândodc eícovos imponados da Costa d ÁÊica, ontinua
com hum.,cendalo que a impunidid. a8gnv. rodos os dias{i. São
'Vírios ter;mcnor c roubos tem sido perpctrados cstas
âssassínios, rcpctidos os aDnun.io' d€ vcídas de prcto,, principatm.ntc em tei_
nôires uhimás: cotle outros.o coítâdordo th$ôoío Publico loão Jos'

{'r CÍ C}iALHOUB, Sidíey.


Wáar Arc Nase, ídt.., Op, cit,,p,17j,

do medo lÔ: Phvsn - " \orêse cono s-rseoê.ovo à erprc:qo jf,"Lnididê, pàrcceq-êjá íâ2.à pdne do - é.i-
'rí SANTOS, Lliz Antôôio Caíro, LJn iéculo de cólqa: nineúrio co <lé d. e'rn- .omo dn'a \ to Bá isld, pci"ace à um aden.l teó .o mr,rô ,^Õ .,F
RevbIá de saúde Cô/eriva, !o . 4, ir I Riodelâneno; Êdueri,1994. pFlende ánãrirá. à pÍobrend n d b1{ e:,. à tu dr ídxa de penã,
apo,b"d; ;; ;;;
r" Apud coNçALvEs, Márciade Almeidà. oP cll, p,34.

t7a 179
lão, aondc se achão até por menor sômma do qúe cusrâvão, anres da pôliLicô. Quc. bandcirà portuguesi sirva para proteger hum trafico
abôlição do traficô; as fazendàs cham.das dã Costa e que não tem odiozo edeescravidão; he iso natural, mas quanto repugna que as
cxúacçáo senão parâ aqúell.s portos despâchâo{e tôdos os dias na praias de humâ rerrá ronde tudo aspira liberdade, prestem aindà
âlíandega, e oáô tcm descido dc prcço"rrr. para fâvo.e.er a esúaviz.ção de homens, e o commercio de caroe

Começa a delinear-se nesse ponto, no discurso do liberalismo


conscrvador, o que vamos châmar dc "abol;cionismo de rcsultados", Este editorial transcreve a ambigüidade de um discurso
ou sejâ, começam â âparecerargumentos antie§cravidão, ou ântitráfico humanista e abolicionista mas que na vcrdade tene a afr;canização,
através do seu caráter de ilegalidadc, mrs que, na verdade, pugnam trâtando os cscravos como bárbaros que se conuapõem à nossâ civili-
por supÍemacia étnica, são argumentos biopolí;cos: zação. Á argumentação b;ol6,ica, o caw o dd eraaratula q\e am"-asa
o cotpo polhico desliza \no senrido do dcslizc) entre o escravo como
.No entânto, Dinsúcm ignora hoje que o termo desse commercio patológico eâ crtuica dâ escrâvidão, umâ noção ligada à outrâ. Reivin-
vergonhosos hc hum lilegívell reclamrdo tanto peia humanidadc dica-se mais legilação crúninal, cotraponro da itnptn;dade. O
comôpela melho!poliricâ, que nas nosas circuDstanc;âs nadâ nos
e humanismo éapenas elegánciâ rerórica e o âbolicionismo que sequer
pode ser mais íunesto do que os csforços p*a alr'rczruzr o Brasil. A nâo tem nâda a vcr com exigências da cidadania revolucionária, mas
nôssá civ;lizasáô, e aperieiçoamenio moralse retàrda com â inrodu- com os estorvos que os negros pâssam â representar: eis o ãbôlicionismo
c estimular ô
ção coDtínuã destes barbaros, que vem ànimera ioer.ià
desporismo e a dcpravaçáo de tnhores justos.
Iá o illustre Parriota, o Sr Deputâdo Odôrico Meodás, requer€o na 'i\ insolencia dos escravos, quc sc.osüm! desigoarcon o none de
Cámara que se .ecommendasse ao gove.no ligilancia §ôbrc seme' capadocios, tem chegado ao seu auge nô Rió de làneiro. A csre res-
lhante es.ândalo, mas húmà Iâl medids não nos Pârece sufÍiciente, peito nunca esteve peior à poli.i. da cidâder elles insultáo já os br.n-
po.qüe, como bem dissc o S t. C^.neno Leão, catecenot dc lcg;naçãa .ôsic pr;r;palmcnrc .os domingos e dias santos se accumulâo nos
.r-,i,a, â tâl rcspeito, único meio de se pôr embâraço effectivo a caotos, e nos largos, aonde âlgumas dc suas convesâçó€s são bem
humr fraudeque nos hedeshonros. â mais dc hum titúlô. Nós esPe- significârivÀs. Nós despertamos a visiláncia da autoridade sobre este
ramos que a augusta Camara se ocupc com este objecto que he de objecroquehcd"m"io, mont.rdoqueparecea:lsunr.\p,,,rospÍe.
iorere$e muito rrânscendente, Iôgo que hsja oPportunidâde ,edidos. Nós que nâo trememos só de ouvir fallrr na virgem de
Seguodo nosa0irmão, vinrc e taD!âs embarcâsôcs, côbcftas quasi todas Lampadosa, mas receamos quc cssà gente nos !eohâ a da. se.ios cui-
côú baodeiras porruguesa, nrveSío d'AIricx pârâ esLà Corte no Rio dados, porque entrc clles mu;ro acintemente se prômovc â insuboP
de laneirô, ionde d€semb.rcão quisipublicam.nre os infelizcs que dinação, e sc dcrramâo idéas, que oún.á tiverão até agora. Cunpre
roúbrrão ao ícu paiz a liberdadc nâlural. He isio tã rambem que passe com b.evidádc a lcique veiodo Senadô, vedando
sàbido qüc iá nem se pnrccc estr..hal o, como se à!;olâ§ão dôs tra- po. mcios penaes o commercio da câr.e huúrân,, o qual alem dc
tâdos e a continuaçâo de hum ibuso qüe rcpugna á humanidâde, outr.r conridetu!óe. d" ph:linrÍopi.. de\e olháI..e como a imPonr-
.e o P"d.$e
pode"."m ser.ot-: iroilÍercnt". como 'rr o cmpe;o- ção de bâris de polvora que se €sião amonrorndo eo úEa miúa.
ramcnto dqse canao da «az,arr,? que aúcasâ todô o no$o corpo frlvez Íàsse urila idéa de se lànçrrji hum imposro ánnualsobre os

r'Álrora fluminen5e, n" 439, Rio dêJãneno:22 de maio de 183r, pp p.2069,


'rr A!ror. f/uminenrê, ô"439 Op..ir.,

180 181
cs.Éros m.chos, que houvtr.m na§ gdnd.s .idãdet, até par. ver- dâmnoqu. podcm.àúza. inrÍisas tâo peÍo iciozas em um paiz como o
mos s. há meôor desperdÍcio dc br.ços e §c começão â adoPlâr-se nosô. Dirá talves a Malagrcrd, que âctuâlmcnte se PÍcndem homens
machines qú. os supÍem a muitô mcnorprc9o"rl6. de .ô( c poÍ v.ntun não tç Píendcm tamMm bmocosl Quando hc
que sc nÍo p!.ndco dc huni e d. outíosl H, alguna rêcom.odação,
A polícia scmpre é pouca nas socitdades violentamcnte rls{ma ordem sccrcta pàÍ. que aquclles §eião exclusivâmenre Prezos I
A ma's. dc homcn' pârdos, po' su, m6ma pcisão e apcsr da
hierarquizada s e vertica is, principalmcn te quando idéiâ5 nunca anres 'ocial,
pensadas começam a sc derramtr.Noabolicíotinto de rcsultador, além viveza . txlento quc lhcs doou a nâturíza, são por oln tôdo§ Pouco
da filântropia csrá o tcmordos brrris de póhora e o utilirãri5mo êco- ilusÍados; muilos dell€s, pcúen.êndo á clrs§ês inferiorcs da sociêdà-
nômico que calcula soluçôes ârravés dc irnpostos ou, na antcvisáo da de € harcndoGcl,ido uma edu.asío meno' d.purada, vem a drr ne-
âltomâção, brâços são mais caros quc máquinasi'?, No discurso da cessÚiamenre mais continse.ie de réos cm quas. todos os crimes
imprcnsa, como nojurÍd;co, o cscnvo é sempre coisa, nunca é sujeito. policiacs. Isto, s.rvatis, $rvandis, h. o mesmo qúe acontccc em todd
No panorama da imprcnsa dc l83l destaca-se a Proliferação os paizcs do mundo. Está cal.ul.don. e't.tistica dàs Prizô€s dâ Súíss.
dos pasquins. Só no ldo dc faneiro ciÍc\ilamt O Bulca4, § Doutot ê daBclgio,quc o numcro deprezos que não sâbem ler, em rclação ao
Ii'atêin'a',o Nouo Conàl;odot,Os Doir ConPadr4 Libúan, O Uclho daqucllcs que tivcrío qualquer iDstru.ção Pámaria, hc como dc 3 paÍI

Casantnteno, O Médico dos Malrcos, o Mnthoca - Va dadciro Filho da l. Por vcntua os governos dcssas tcrra! ordctrío quc ,cjão .prch.ndidos
lLna, O Vc adciro tutríotu etc. Em 32 surgem O Martêlo,Tronbêtu de prcÍcrência rquclles qut ôâ inlíncia ono fieqúctrhrío !s c§col*l
Náo; mas dã ignóranci!, . r'tnz. cnro dcsrxr cli§cr, tsuka o cÍfcito
dos Fanoryilhas,OCaijó etc"8. Neste ano tambdm cômcçâ a âPâr€cer
naturaldc se cchar cntrc cllas màiorsommJ dc dclictos. FIc tambcm o
na crônica da imprensa a qucstão da.or e â discussão sobre o lugar
que s dá no Bítzil. Âl itrstig4ó{s .tc .sc.ift6 taês com o a MAaFud,
«xial dos paúos. O Anora Fluntio.ttê,.m março de 1832, teÍia umâ
quecstão tôdos os dicsincendi.ndo J riv.lidide, sío timbém ouza dc
discussão com o jornalá Mahgreta qte se esrcnderiâ pelos anos se-
que o fanaLismo politico sc dcname cntre homens qoe tem menós
guintcs, envolvendo a quesúo "de cor".
insrrucçioe luz.si ahimsc< rm p3íc,o cntrcgârem'r. a vingrn§A c
desordcns quc os rrrâsÉo às crsas de detcnçáo e ca 8o"'t'.
"CeÍn vczes tcm dho a homeN d€ côr,
Mcà3raa quc rc pcrseguc os
quc há hum plano systematico fôrmado contd os homcns de côr; quc
Á discussáo prosseguc em 1833, com a,4xr?r, faz€ndo a defesa
! caball. do governo tráta dc proscrcver os nossoshomcns decôr Quaes
do sistema. Fala de uma intriga forjrda por um discurso que que§tio-
sno porcm ôs f.ior que citã,.m
ahono de huma acui!çáo tão grâ!ê?
na a§ ÍeÍriçõ€s "dc cor" quc imperavâm no Pâí§.
At hoic o.nhum. Ten-se-lhc pcdido quc o fasa, quc provc o qu.
afirmr com rrnta scgumnç. , potêín a Maldgleta, seg!;"do o scu cami-
"Duas são as nrmas que cmprcg!; d pr;meira he vozeâr eD tcrmo§
nho tonoozo c mirtico, continua . rcperi. a mcs,úe idéâ por.itas ou
Bríecs quc os pados s5o pc6.8üidosi quc ogov.rno nro emPr.ga os
âqúclhs prl.vras,5em quc lhe importe oem o prcço da verdadc, ncmo
pardo§;qucellcs estãÕcomo ilotcs, priudos dr sua poçãodcinÍluen-
cia no corpo socirl..."uo
4'6,,\urcra Flumi,enre, n! 524, Rio de laneno, It de ag6lo de i33i, p.2205,
.,, suÉido em 1828, A Má/âcuerà é diÍiBidã poÍ losé dã silvâ Llshoa, sob ã Ío.ma de
'i'Al8u^s diruEôs mrtêôroÉneos Eoíôm de lÍabalhar neslê diapasão Íêniáó dar lrâlâ_
renlo.dêôêtu/ici, pe denu.ciar ã ÊL& nolihêál não pêkE tu h.re,
mú pe(elo libêiàl t 6q@d: do Áurola- Em aspío de I629, *u .€&ld Lult Mãv
por coníirú,ÍêF* em pésimos n.sÚ.ios. Muiló, cnminólo8p' dê ho,. propóeú penar aorê brulnl .86rá0 oÉndô PÍol6l6 do, libêai!. Áu@a F/um,rmc, ÍP^!8!ro696. Rio dê
alrernalilar mm o, mesmos alsumêilosdG âboli.,orÀllt de /êsu/ladôs do sé.ulo XlX. laneiú,l6de ma4o de 1332, p,2s73.
.! SOORÉ, Nelrcn w€.nck. ôp- cil., p. l5o- rr^udaí!úrenre,n,724,RiôdelanêiÍo, 21 deianelode1333, pp 1093'3094.

182 183
Os pardos irrompem como força política que o conservadorismo "Nós, ôs pardos, com â exclusão dos ]ibe*os da Cuarda Nacional, jí
esperâ não Íâdicâlizâr. O A rcH tcntx âpÀziguar os ânimos e o fic,mos rcdusidos â não podermos perrcncerlhe senão aquelles
questionamento às rcformas constitucionais dc ]832, convencendo o d'cntre nós 9ue oascerâo livrcs..."',r
lcitorde que as reformas não pretendem "csbulharos homens de côrde
seus direitos políticos assemelhando-os cm condição a que peza sobre Nr ourri ponrJ o,4r,0r, conremporiz::
os pardos e pretos livres nos Esrâdos Unidos dxAmérica doNorte"a'zl.
Os pasquins seguem mu hiplicanclo-se em t83j:OTotto àa Ar- "Nósjí scparamos da q uesrâo rudoôqucrem de odiozo essâs dkrin-
tilharía,O Cidadão Soldado,O Grito das Otrinidas,O Etnrito,O Car- çôes de côres, com quc prôcurlo incendiar perigozas rivalidades os
?núeno José erc. Aparccem tanbón osparqnks étnícos: O Honen de mesmos, que porellas podem scr abrazados...a,,
Co/,OM ato,O Bruilêi]o Pa a,OCtia hlto,O íAe ada Bns;l It
etc. |osé Ramos Tinhorão nos Íil,r do aparccimento do primeiro jor- A imprensa vai rcÍietindo o âcirrâmento dos ânimos, â ârÍegi,
naL carnavalesco, surgido râmbém ncsrc x o, oLl)?úodeCncLa \Íefe- mcnrâeão popular na bu sca de seüs dircnos uiluari. Esta movimenta,
rência ro pequeno globo dc ccra chcio dc água pcrfumada, quc os ção detona medosem todosos níveis: o quilombo éumgrandcfantas-
folióes atiravam uns nos outros nurnr clivcrrida batalha carnavalesca ma que assombra a cidade nas suas franjas, anrecipando po1íticas ur-
de nlolhação)'t'11. A q\asrÍo racixl cstij nxs páginas, com o povo brasi- banas que tentârão disciplin:r, nr virada do século, a concentrâção
leno buscando cspaço juno ii csquc«k libcral. O Mllata de oüt\$ro dos pretos e pobres cm geral,
noticia:r pÍisão dc um homcm chamado LaÍucnrc:
"Para se cxúnguirem csrcs quiloúrbos, he neccssaÍio lràcxrrodos, !o
"...sc o Sr Latucnte não tivcsse a pe.ha de ser mülato, único notivo mesmo d;a c hora, .om ba$!nte glnle p.Íâ sc fizG ú
que deo origem á sua prisão, pois ío; feiti Ào d;a em q pleto: os capiriics dô mato e pedesrres dcvcft acômmetêl-os de ma-

çiô ap"re.cô tratatrdo-o de bode, farroupilha etc. He desta sorte, ó ne;à qu€ a proporção que s. aprôxiqr!rem dos quilombos, ô cerco
caros compâtrioras, quc os braz;lciros, nossos irmãos... arropclão os vá estreitindo de tôdos os lados, nos rios de,e haver pequenás cm-
homens de corl... Nós somos homens como vós, somos livres, somos ba.caçóes e pouca disránci. humâs das ourras, pari rgâdarôs negros
exaltados, somos brasileiros, nâo seremos !o$os escra que quizercm prssà.â nado. Adestruiçio completa destes coitos de
despôtisúôs práti.ados em home.s sódr nossÀcor, não nos alterará quilômbol
')
nio deve \eÍ inJim,"nr. hc Jnre. mui nc. csJ ir-
i1, e
e vós senrircis i;ndi x noss. íalt. na ocrsião nais arriscadâ1",r teressa ao bcm gerzl daquelles polos. Não he rambem operação mu;
to difficil ou dispendiosi: os câpitã€s do marro c pedeíres, serão
É a voz dos pardos, dos mulatos, dos homens de corque co-diuvJdo. 1ô. lrgJ.e' ôclo GurÍd-s N.'.iônrc,.eporouúo. muiros
ecoa, denunciando discriminaçóes e restrições, denunciando en6m, cidadãos, que porccno se prestrrão de boa vonradeipois ô inrere$e
as contradiçóes da llegência. O jonal O Brasileúo Potdo, tamhém de proprio ôs dcve movera isso. E se nâo româÍea alsumas providencias,
outubro, questiona tratâmento aos pardos depois do Sete de Abril: denno em pouco tcmpo, o numero dos qu;lombolâs chcsará a se.
t.l, qüc áraquem âs povoaçôes c rorncm inr.àdsiráveis aquelles lu-
sares; trisres consequencias do desieixo qu. he necessário aralhar

Ramôs. Á , nlprcnsa canlaralesca na Bâsil, São Pêllor HedÍa,2ooo,


')ÍrNHoRÃO,losé 1l O Bra§,/êro Párdo, no L Rio delaneim, 21 dê ôúubo de 1833,
45 Aúrce rluninense, n, a31.
'rr O /úu/ato ou O r,o"ren de Cor, n! ,1. R o de lãneiÍo, 23 de oütubo de 1a33. Rio deJaneno,2s de ourubÍÕ dê 1313.

184 185
Íl

qu.nto antesl iuthori(hdes tenitoriacs perccern cristir em um medo branco nas cidades :rliicrnas do Brasil, principalmente Rio dc
^sa scmclhante respeito, c só ôrdcns do governo bem
profundo sonno, Janci.o c Bâhiâ. O r,"/i.àúsno de rcshadot é o dis.urso que renrâ
rermin.ntes e rcciLrdns consesu;ió qu. sc cxt;Àgão de hunta rez dar conta da africaolzação dâs ruas, das genres e dâs âlmâs. Os ã.gu-
aqucllcs ajuDctrmcn(.s dc rriseriven que a mcsma ncccss;dxdcobriga mentos contra o tránco dc cscrâvos §ão utilitaristas: a escravidão não é
r sercm ladrões c rrrli'cilorcs. ]1tr nro sc â.ud; àó màI, Iogo no co- lucrâlivâ, é perigosa, .ontaminr a populaçio. 'A ir)a.tividâdc do espí,
qurnb r[o 9u. ]àzcr hutu quilooibo de nesros em
meço, srbc-sc rito, como observa Mr Sa), he consequenc;a da do corpo: com o chi-
Per.ambuco, dc|oi' d. xcrbrda a guera corn os hol.ndczes, c os cotc nâ mão, podc-se dispensar a inrclligcncia"r':r. Enfim, parece que
.tul,aràços cnr (tur 1,!i. rc vem os.olonos inslezes da Jamaica, com agora a escLavidão faz mxl aos proprierários.
1.,..t .. .,, , ro-d. O ano de 1835 é um rno chave. É dcnomnrado pela h;srorio,
scmprc c,tr x.ri!iJr(le Loprs LcgularcJ'1rÚ. grafia como marco do regrcsso co servâdor;o Rcgentc Feijó rcaniculâria
a dircita liberale conservador. cgârantiÍiâ â suâ Í,)aioria nas câmaras.
O rrtc(lo (lx {lci,(lc,n {lisprm cntrc os conservador.s a retóicâ Ainsurrciçãomuçulnana na Bahia é um r contccimento que desper
da rcstriçIo tlc direitos c th inluriltdt. ivkntcr â escravidão bcm ta mcdos c dctonr o gatilho do rctrocesso polírico. Âqucla noire de 24
compor tach irnplier rrr rdcsio rrc vcllru Jogma ir)quisiioriâl quc tcm dc janeiro de 1835, no 27! dia do 1(.madi, nr listâ do Li;l.r al-Qadr,
D.1,r,, a soluçio r):rm coiniros sô.;ris. No prsquin O Bmsilen.o Par em que os,'maler tor)arll rs rurs dc Srl!:ldor, dcspcriou f.nrxsiâs dc
/o, de outülrru dc I8l3 (l).3), ur), rr(igo contrâ u râ história dc,/,p,- tcrror: scja pcla organizrç.o c qurnriJ..lc (lc cscÍ.rvos crrvolvnlos, pclo
aZ,u/r: urr prcto cscnvo anrado dc ràca tora cnconrrado por capi ,,JÍ ..o d,.i-..1..r., .,1.r. ,,,ilir.,r. .,
úcs-.lo Dr.to; o ju;z dc prz manda prendê-lo. O jornal lastima que propriedides privadar, seja pch crprc;drdc dc lciturr c rrricuhçio
prssados xlguns dias o rvr)tilro da J íiça enÍA c:rso quesrionando
^o dos seus protagonistas, sejr pclos ccos da licvolução Lli;riâox, scnrprc
a frisão c csrabclcccndo um dilcrra: "que sc soltase o negro, ou con-
a Icmhrâr quc a Revoluçío Frincesa podcrix rcr conscqüêncixs dra-
tinua$c o proccso". O juiz continuou o processo: "tomou testemu-
máticas prra a ordem escravocram.
nhas; e por fim sentenciou o prcto à penâ de 50 assoute§; e a trazer,
Os jomais pânflerár;os, pascluins, continuam a aparccer: "O se-
porespâço de um mez, um terro no pescoso". Diânte de um ofício do
toí nüis importinte dr imprcnsa da época viíia â set com âs rebeliões,
mini.tr- l,crJo,ndo r 1,c t,-. O B'a,tle.;o Pa do 1re'riont:
o que cstÍ ligndo nas provínciâs, aos movimentôs que nelas surgiãm-
Guardandocad.r un crracLcrísticas regionais ou locaisr rcvelâvâmcom
"PerÂuDtai, Ieitores, si esta i»prridadc, müi ácinrosa e prepo-
o trrçogcral a resistêllcia ao Ícgresso conservrdo.'r:'. No Rio dcIíncno
ieoteme.t€ promovida poraguele ministro,... nío é nrdício dr imo
a impensa conservr<1oLa dcstaca os econrccimcntos nâ Bahia, tribuin,
r.lnl.dc, corrupção e venalidrde d'aquelle ministio asnn como di-
do-os à burlâ d, lcghlação â niitri fico | "EstÍo entulhando o paiz dc afri-
zenr dos desemb!rsidores pela nrpaailala que lhc atLribuirern?"
c.rnos birbaros, b.ris dc pólvora todos os dias ajunt:rdos à mioal"rr0

A p.ecipitação das coisâs nâ dócâda dc l0 acomp.nha os aconte- Un dos elemcntos inquietantcs para os scnJrorcs proprietáric,s
ci,,,.,,,o' r' , LuÍop.: "o pJfl,do h p"Lli..no quc ,( m poro cm mur i. eram os papéis cscritos c indccifÍiveis que orsanizaram a Revolta dos
mcnto â classe numcros. dos ârtistas e obreiros. Leâo e Pâris tem sido o
drcarro dc sccnas sa nguinozas 'r'?. O mcdo da llultidão que pulsa é o

':3 Aurora r/!D,,eoJe, n,960. Rio delarcnô,24 de ser.ôrbro dr 1334, pp. 391,4 rs
dêlanênô,21 dê jai.n. de lsl:r.
L Cí. SODRÉ, Nekon weÍneck. op. c t., p- rs0.
'h AútuÍa f lunn\an\a, n' 775. R o
au Aoroâ FlunnÉhy\ nt 1O16. Rio de Jàne ro, l6 de setembÍo de 1335, pp.1959 60.
r'11
Aúíotd Flúninênse, nq 922. R o delâneiro,20 de junho de 133,{, p.3953.

186 147
"Tnhão-lhc, ultima o.uírcncií, ch.gado a conservar rclasó.i
nesta cm qractcrcs ÂÍabicos, poÍém nós não o podcmos rcrcditar tcndo
cstrcirá c corrcspoídênc;a, por mcio dc caractercs descoahecidos, cm considerasáo a localidad. dos Nágôs da Costa D'^Írica, disrenrÊ
soubcrão por largo cspaço de tcmpo gra«lrr o scgredo de huma d'Arubia, cremos que mais dc 600 lcsuas cm linha diagonâ|, pclos
cmpr€zí quc nccess.riamcnte devcra tcrsido confiadaa muiros"rrr, gr.nd.s dcz€rtos,guc se csrcndem quize du Côítâde Leste, ão Mar
I{oxo; e apenas perto das montanhas - Àdis - se .dconrão !lsuns
O jornal O Pão d'Assucar, que circulo! no ltio de Iâneiro entre lasos,.ujâs bôrdâs são habirrdàs porpequenàs ho.das dcsccndcnrcs
1834 e 1836, também menciona a corcspond0ncia cntre escrâvos, "No dos ântigosArabes, quc cstcndcrão o Cord,o Conqu isÉdoÍ d'csdc a
dia 25 docorÍcnte api.eceo nesta cidadadc huma insurreição de plctos, Azia aré a EuÍopa e ocupárao o l,odug,l, À Hcspanhâ 6. C., c dc.âo
que felizmenre f.rlhou. Conheceu-se entãoque os Nagôs rrabalhavão à origem a e$as Naçô€s quc lubitãod'<sdc a ponradc Ccurar até pcíro
muito tcmpo nclla, pois que se achou uma cazâ dc rcunião, ondc do Nilo dtntm dô Meditelranco. Ora, cistiodo eses atrtigos Ar.b.s,
apprchendco-sc grande quantidadc dc livros c ourros p.péis escriptos c quase prolimos .o Âdas, c Arabcs, que pela longa idadc dc sua
por elles com cãÍactercs âmbicos, dos quncs por falta de tradutorignora- corquista dcve ter formâdo huma nova lingoa, novo6 cãra.rcrcs
se o contheudo"{3'. Medo do descon hecido, rlc coisas suspeitas, o íato é d'rscripta; e bem assim dcirandoos negros NaEôs 9001.8oá, ío Sül
que descobrir que os rfricanos sccomuDic.vam aúavés de pâpéis escri- d.s !âç.s ,rabica§, c tcndo fllcm dos<lczcnos ao No*c, muitas outns
tos slrrprecndc os senlorcs incrédulos d.r crp.rcidade dos africanosr Nações de pretos, quc crda hurü! d'cllas í.lla fum{ liúsoa paÍricu-
lar, não podcm rres cscril,ros scrqn rmçrdoscnr caract(LcsAribicos,
"Por humr outm canr... soubcmos quc r sublcvaçáo dos pretos quc a sin filhos d'n,"ú it,.tçio quc istroíroroi'r'r.
rli tivcm lugrr crn a noite dc 25 do mcsoto i.nciro 6.a reertida dc
circunsrâtrciâs pondcrozas; e que coníomc sc pôdc deobrir o plano Todr digresão hnúrico-geográfica atcsra um írcímmcnro
essa
d'aquclln Rcvolta, elle pãre.co não scr rra§.do por máo dc pr.ios diantc d'ht»ta ;nrê»çao que igtorunos, h uu contbnnça-o.ltgc,thoza
africanos;c mesmo porque, scgundo o merhodode áftâ€.quan.i§, qüc iao cabc naíÍaqu.za do ru.iockío iÍncaro.
corpos dc gúrrda. rnrcndio cm hum ponto, pipcis c"criptos com Os sinais militârcs a.rcsccm novos medos:
carrctercs dc invensão panicular, c trigcs de hum só uniformc.
divizas, Íhra necessâÍio re.prcccdido humn combinâção engenhoza, "Vinhno elcsvestidos uoilormemcnte, de cabeças rapadas, alguns com
c combinação tálqúe úo.ábc n! Íraqucz, do râciocÍnio af.icáno, á insignias, certosprpcis quc scsupóc Procl.mâçócs, pâruás, trazcndo
frltâ dc culture dê idéása!. pordiriã hum a.golio de prao oo dedo poleg.r d, máo
todos cs
qucndr, e tcndo por armas cspidrs... EsrG divididos cnt grupos mar-
No Pão d'Asucar de27 de jâneiro encontÍamôs oüúos ecos do ch.río ã aira.à. iódas a5 Cu..das, e QúaÍ€is da Cidàdc, dc ..rró
csPanto quanto âos PaP6s malês:
pam apoderarem{. do amramcnio, . nisro eÍ.vê rod, a no$a fclici-
dadc, porque os soldados pr.venidos podeéo rcsisrir-lhcs com pou-
"Em norso úhimo n" nós tôcâmos aos ncgros nisrâ uhim. rcnrarivã
da Bahia, brao achados muitos papcis,quc alguem crê serem cscriptos
Entrctanto, apezar do pcqucno numero, e da desigualdadc das ar-
mas, r!ançerãô côm til
intrcpidez, e podetãosusteotar-sc tãnto, qu.
comcçândo o attaque is durs horas dn noite houv. fogo,ré dia cla-

'rr O Páo d',t$(a., ni ll.,omal poliú.o c liGráÍio. Rio dê jaeio, 10 dê Í@êÉao dê


r315, Caià paíi.ulàr, p. 3.
u O Pao dir$6ai Rio dê,aneiÍo,27 de Íweeio dê
n1 O Pão ÜAssu.aL .i 12. Rio d. lâftio, I I de í4eió de 133s, p. r. 1815.

188 189
ro... Nãô he posível dcsoever o encarnecimento côm qoe àttácava â "Posto que não se tiveseú rciterado as insurreiçóes de Africânos,
ral canalhâ... Doze pretos tiv€rão ã âudacia de airacar o Quart€l de todavia o receioduravaainda noespírilodr populasão e continuávão
Cavâllâ.ia pel,s 8 horàs da manLâ, e morrerão brigândô sem redrar r tomar-se medidás.ôít.r esre flrgello que póde íacilmente exPor ã
hum homen só...q$ Bahia a hum horrivel espectaculo de carnagem"'r'.
n recente insureição de Mricanos, que âssallou csta caPitâI, foi oo
Esta combinação de táricas militâres, papéis escritos, enfim de mesmo momenro dissipada, mâs eUà fcz hüm. profunda sensaçãô
urnâ orgânizâção queos senhores nâo supunham afraqlteza do raci- doespirito publicô, e incurio tcrrores, que parecem mais nascidos da
och;o af.ian érn natco no imaginário do medo na década de 30. prevkão do futuro, que do perigo prcscnte"ar0.
Estâ combinâçâo explosiva é denominada de.lariarimo e revela vá-
Esses discursos do medo exigem medidâs d rásticas; exigem pÍe-
visões pâra o futuro, âtÍâvés desses perigos presentes:
"Forão suspensas as garantias pelaÀssemLléiâ Provincial do Rio de
laneiro em liftude da ex;stôncia do Ha;Iianismo, qüe, segondo â "Medo cono meio degovemo é admissívcl;por algurn tempo com-
Mensasem da mesma Assenbléia,.ontâ â tôdos (mcnos a nós)e que prime;nrasé de natureza que o terorcontiouado ccsse por tm, que
âs doürrinas haitianas são aqui apregoidas con ;ura,tidaàr13ó; qae a força compressiva afrouxe e a reasão seja terÍvcl: o medo é Pois
há na Corre sociedades sccretas neÍc scntido; c que rem cofres para pcngoro recu60 ".
os qu.cs conúibuegr.ndc numcro rle sócios decor,livres e câptivôs..."
"Nada crernos mai$ pc.nicioso quc a prôpalação des.s idéias de Pois esre pcrigoso recurso clâmâ poÍ lci e ordem:
haitiànismo..."
"Tialavá â So.iedàdc Dcfcnsorã sobre medidis relativamente aoPa'á. "Senhor, ô crimc nâo dormei e este he de ral natureza que cumPre
quaúdo aparccco hum Socio requerendo, que na Circular ás mâis que nunca que o soverno o esmague, e não se deixe prenderPor
Provincias se fallase oo haitiroisoo...Valha-nos Dcus com tanto acanhadas considerações de desp€za, óu dc polidca. O Brazilânea-
çado rcclamâ justiça e encrgia"lI.

As elites brâncâs dâ Regência maldavam conta da Cabanagem Vâmos então às medidâs eúrgicas,sent acanhaàas cansideruções
no Pará e o haitianismo, rcvolta organizada, ir produzindo terror:

'Aval;a asora poraqui ô riscô quc.orcmoscom semelh ante gente... "Em 21 de fevereiro o Chefe de Policia por hum editãI, dcclarou que
o pôvo, nátu.almenre espaÀtadiso nestas crizes, asusta-sc â cada rodo o escravo en.ônLràdo na rua, sem €scÍipro de seu senhor,,ônde
momento de qualquer coisa, e poc tudo em confusão..."'rg se aponte o morivo da sua sahidâ, até que horas, o lúgârda habitaçâo,
ctc., será íecolhido á Câdcâ, e iocorrerí nâ pcna de 50 âçoites, não
ir cartã pâíicllar, in O Pãô dâ$úcar, Rio de laneÍô, r0 dê fevereiro de 1335, p,3.
'r. Sobrc á rDpunidade como iéx,co da dtê,tâ cf. BATISÍ4, N ilo, PÉzada sehho1 viéBàs: o
ántep/o/ero de /eto/nr no s6tema de penar. ln: DÀcudoi red,ciatos - ctine, dneib e is AurcnFlunihense, n' 1o2s-RiodeJaneno,5demarçode1815,p 3797.
so.redâdq nq 910. Rio de Janei.o: lnstilub Ca.ioca d-" Criminôlo8iâ/Ed. FÍeltas 3aío5,
rio Àúrorá Fluminense, nq 1030, Riôd€laneno,20de marçôde 1335, pp 3alz-18
PáodÁf"crr. Riode lr ê o,7deábn dp .3r. p L ir,Aúrora fluminenie, nq 2a- Rio de laneno, l3 de julho de 1323.
" O
, o p"o d7..u. d . R'o Jp
ld'e' o, 0 de Íe\?'ei'o dc r81<. 41 A!rcâ fluninqte, $ 1032- Rio de laôeio, 27 dê ma'ço de 1435, pp 3324_2s.

r90 191
saindo scm quc o scnhor jusifique o dominio, i§(nsão dô.Íimc, Ê
ça às elites e que aor arra tos infunda tcrror? Parccc que esse discurso
Pagüe r ca!c.rí8€n"trr. sc faz obra, ncssc scnrido da efici€ncia: confiança pârâ anr e rclroÍ

Esscs clâmores adviodos do pânico cobrím scmprco seu preço


no corpo dos oprimidos e trânsformam-se rapidrmente em discursos
"... muitoscapanha nesa tcrm, ma, r.pala quc só6 prctos.6.riou-
lo, há dcstcs que batem mas náo há brános quc epaoh
momtntos chcgo a p.Nr quc cssa é a screotia da cor: assioalarat.
''Nâ B.hil conrinuío os rcccios de io'urrciçõo dc Africátrôs: temo3
ouvido quc ultimamenlc houvc!â hum:evantc oo Enscnho do,eso-
Esse padrâo de policiamênto Íequer m€didâs quc esquadri-
ci,ntc Siqucjrs, e gue fôri comprjmido com grindc mortandade de
nhem, que âpêrt€m a vigilância, quc punâm suspeiros e que produ-
ncgros, porêor rsíolh.s quc r.ccbemos, nldxdizcm ncsserespeito4rr.
zam um vasto proccsso de criminalizaçâo.4,4/roro Flsnineftc de27
dc mârço de lE35 publicâ um pÍojêto dc I.i âprorado pclâ Áss€mbléiâ
Comonosdiasde hojc.r mortr ndr dc tlc n cgros nnoocupe nas
Provincial quc prevê a suspensão dc garantias "contrr rodos os indiví-
Íolhas esprço significativo, nessc c:rso, ncnhúm csprço. Oquepulula
duos sobre qucm rccahirem iodícios vehementes dê quê tcntão per-
nâs folhâs são noúc;âs de insum içüs, tliruros r,:ivoso' que remem
petrar o crime dc insurreisão, € por estc cíime somentc". O prcjeto
adcrrocada dn o«lcm cscrnvocrn:r. Vcjrnros corno esscs discursos pro-
prcvê â punição como cúmplices "dos quc €screveíêm c que publi€a-
duziram un padrio quc prrnrDCcc.rté os dias de hoje:
rem proclamações e quâsquer ourros papeis Íssim impressos como
manuscriptos, oü pÍofcrirem discursos dirccamente tcndcntesa pro-
"Isk, t'cm ntcrli dô [r lkvoll] dos Mxlôs] nos delc.ssaz hororizâr
mover insuÍreição". Por seu ertigo 2r o pÍesideDre da Província 6ca
pxÍ. q!c n.o,cj.mos tiio arouxos e descüidldos como âtéagorã t(m
autorizado a deporur "os esrÍan8ciÍos dc cor"! quc scrão prcsos para
sido, enr tomar a este outrô isurl lompimenlo nío nos apanhc dc
tal fim. Os anigos 5! e 6q proíbcm as sociedades secrcras e todas âs
improviso. Parece que as mris obvias e inrmcdi as que se devem
rcuniôes sêcretas "onde for encontrado algum estrangeiro dc cor, en-
tomar, hc cs tabelecer primcira mente humr Policir rctivâ e vigilaotc,
trando nessa classc os afícanos libertos que 6carão dcclarados crimi-
quc obscrv. com cuidÀdo todos os prssos que os Âliicanos dcrcm,
nosos", os quc paniciparcm "serâo rcputados como âchad$ em âro
tlue p,rcçio cn.àm,nhrF\c.'.onju'r!õA,ontn í nossr elsrenciJ,
dc t€ntâtiva de insuÍrcição". Á süspcnsão de gârànüs c â capilâriação
pam quc a tcmpo se prcviríô, cmpres,ndo p.ra cssc fim todos os
do controle, cm todos os sentidos é uma ÍêcoÍrência na noss: forma-
mcios quc mais coovcnicDtcs forem para sc dcscubrirem tençôes tão
palorozas: sesuodo, rc,rot hu",a ía'ço onmda ruíÍcnnk, q c são. Parece que as matrizes ibéricas daquele controlc minudenre, do
?cta
âbsolutismo sêmpre Íenovado, ancoram as "salvaguardas eficazes" a
nra dirciplka, garc ercorhitla dc qac .o"|pozct o' nxpire a,fd"ça,
'c que se rcferiu umgcncral brasilci ro, ccnto e cinqücnta anos depoh#7.
c aot eoatot ntfu o teno*"\t\ .
Digamos cntão quc esses discursos impressos na década de 30
do século XIX proclamãm por soluçôes para os m€dos rangív€is; pro-
Scrin essa a marriz dis.ursíua ú ruórica la nnpunidaàe e das
exôrtações i umâ elern!,o,a Polída) Uúa polícir gue inspire confiân-
{. SÀNTOs, loel RuÍnô dos. Cróhica de lhdonáveh delttios. Rio de lanêlrcr Roeo, 1 991 ,
r"i ,4urorá f/unlinenJe, nr r 030. Op, cir.
{r rrluminê *, ne 1030. Op. .ir. '' Nâ mjunlúB dllroE nililrr br.iilei.., e fim dG &s ,q o scn@l João
dá nída da
us ^u,ôra
Aârisra riaEiÉdo
- <m6r- a 1tunçáo den@,1j6. ÍalM d3 .ehegE dõ eí@
O Páo d'^$ucat nc 2/. F.io de JaneiÍo, 7deâlril dê I33s. E , ou *ji dilporitiq.uioriúriordêiEd6 p.ra r lEirê a$í.iú.

191
Dõ€m uma cerLa ordem quc pãssâ Poíchssificrçóes
c hierrquizrçócs' subôrdináção c obcdiÊncia: e Patta"to fai o objccto do naiar
quc aqucllcs üra.lo' ti".rdo srntpl. .tn nín o à. nao p.t-
ãúid".; *t"' "-.í *ige rimàs";tu"is nas movimenrâ§ões Pcla nrpo*acia,
cidadc, invesre alguns de boas qualidrdes ao metmo
remPo em que ,i* qk @ Áficanot .n tmpo olgu,h 3. pod.s.ú lcnbw dc qu. hsn
por ycAon;mf ti.
ú",irtir" .r".".-n ..g"raop nestc mundo só pode scr exercida día podaiao

7À" i*píu a uns e i{unü tamr a outros A


""ti,i^ "". "-i'nça políticas con- Esta preocupação com a memória da rcsistência, não permitir quc
ênf"ri n."t"-r..,i, dc políciâ e de scgüírn§r Produziu
to"i, t, turprecnrlentemente prcsentcs e nêturâlizadas os africanos selembrassem deque um dia poderirm predominar,condensa
"r-.Àa. "ont..l. o scntido da memória com odcsejo deumouuo futuro. Os dois, a mem6-
noBrasilcontemPorânco.
propostas na
Mas o pior é que náo eram as únicas soluçóes ria e os desejos de fucuro, devem ser combatidos ao mesmo tempo.
âÍticu- Em março dc 1 835, o,4aroru Fluninatc, diantc do perigo imi-
éooca: no que chamrmos de o "rbolicionismo dc Íesulbdos '
li+.r^" i".*uhça" "ponunisrr quc através dc alguns argumcntos nente, propó€ u m imposto sobre a escÍav;dão pârâ "animar o trabalho
q""t,i..rt, não Pclârur ontologia' mas pclos dos homens livres tornando-o mais lucrãtivo que o dos escravos". Essa
".-.9 " queela começa
oroblimas
"§crâvidão,
a acarretar a panirda consciêocir do peri- rclâeão custo-bencfÍcio, êsse utilitârismo Íemete-se diretamente à
qÚe os coisifiração do escravo. Observemos o segrndo rrgumento para o im-
so da insurrc;çao: ,lc quc surjrm rcivindicaçõ$ dc cidadania
dirrnar dr llevolusso Francesa' postor "afácilarrecadação.,,, pois mDito custozo scrii subtraiÍ a qúantiâ
---''
ã"e'o' -,"o
e"',.na",,rn
n-rir.l" 1835. o JrÊumcnto bioPolÍtico rcluz nrr folhas do dcvida huma vez quc os esctavos são objêtos aií!ê,r, que não se po-
dos
Imo{rio,'como no a«igo intirul'do nefl"xaes sobÍe â sublevação dcm ocultar facilmentc aos olhos dos collcctorcs '{r'.
ncaros úic,.o, q,re romPeu na non( de 24 PaÍa 25 do corrente": 'Iàmbem em março, um iuizde paz daVilx dc SalvâdoÍdosCam-
pos, "a maisopulenta da Píovíncia", coÍnunica o'cspíínode insurÍci-
r drs coisas' semc-
'âquem não dcsconh4§ a nâturez' humâna,
' §ão em âlgnns esc.lvos que se fizeráo notar pelo uso de um topc no
Ihante àccomecim.nto não Pód€ márlvilhar; cllc o dcvia â{tct pr'- chapóu (característico dos mulçumanos)"'í. O jornal tcmea propaga-
ê tencridadc dc
ver como consêqucnciã necessária a imPÍudcnci' ção das insurÍeisôes no Rio de Ianeiro "já pelo número desproporcional
grandc corja de escrâvosAfricanosi e d' sc âvaliârem pÔuco dc cscravos que emprcga cm sua extensa e opulcnta lavoura e já pela
accumular
ou impolítica misrurc de rfricano\ livrc\ quc cntÍc nós se conrrvio 'rr.
o perigo, quc nos Podc Provir do seu crescido numero'do Poucô
n*r,.i- a- r.ito dest' ren nescido a O traficante de escravos, antes tolerado, passa a ser entendido
"pr.ç",
!* 'ircunstenciâ,
ksuridade em qu. rmprt considcrado pao úo tomar
nó5 temos como "o traficânte de carnc humana, o introdutorda barMric no mcio
Ín-* t"t,qu. Pod.m ob!i'r iublcvá§ôes dc tJl n'tÚ- da nossa civilizrção rctardada... o nosso pâiz é inundadosem mcdida
","-po","rut
r*,, ".t"s t"rmos por u^a céga e firncsta prcvcnção prefcrindo a dc gente grosseira e estúpida, cujo número existente deveria seriâ-
a. U*Urtot X'icanos á dc branco Europeos' recceando mente assustar-nos"15'?. Começa â projetâr-s€, ncste abolicionismo prá-
"^lg*ça. int..duçe. co." rival quc nos rem aruinar e fazcr-nos tico, um humânitaÍismo, uma filantropia quc é toda feita de cálculor
arc ã s,"
Âssim tcmoí P€lo Íiosso comPortamcnto imPolítico
não
iôteliz€s; .
ú crp.lido LuroP.os... tivess'mos í'8Úido a lih€ml ' lumiío§â
'c
pord;â d6 E. U;idos d' Àm"ica do NoÍc' tcÍiemos ausm'nt'do 4 A!úa Ílunituo*. tt 1019. Rio ê ,a.eio, 2l de ÍeeElo dê 1at5, pp. ,771-72.
as violcncias 4 m..@ de 1815, pp.3317-r8.
muiro a oose população banca, parr mclhor rcbatcr íudirenre, nr 1030. Rio de laEiÍq 20 dê
.e ^úda
Eorão cstts v§ído crc'c'r r PoPuls§áo dc côr opP6ra' A!ÍoÀ rluniEnç, nt 1012. l..eio, dâ4o d. 183J,
Rio de 27 de pp. 1a2{-25.
.iôs
^fri.ano3. )imit's da Attót. tluhinense, op, cit,
desistÍão dc romPcrcm tâ.s excê$os, ' sc conlerião tros "1
', F/uminenre, nr 140, Rio de Ja.eió,14 de mâlo dê 1829, p.162.
^u/orâ

194 r95
que um se convene cm lci, produzindo dcsdobnmentos bem concre-
"Não no3 dêmoÍârcmos âqui oos dêtalh6 horÍoús', rcl'tivot 'os
tos. O proieto de lei de Christovão Pêssoâ dâ Silvr Filho, de 2 de mar-
soírimênto3 dcsta discflel geDt no treiccto d'Africâ Parâ o Brázil'
anonro.dos Í'.s .mbâÍcaçóes, como sc fo''en volumcs dc íaz'nda; ço de 1835 (publicado no Pão d'A$rcar dc l0 dc abril de 1835), da
quc muitoG vicrimãs' Assembléia kgislativa dâ Bahia, pÍeviâ â deportâçáo dos âfri.ânos
prcrêímos a ind.8.(ío das aúo.idadcs dê
'ão Iibenos (qualquerque seja a sua nação, idade eocupação) para "fora
até dcniro do rc.into da nos sa cúlta.àpitlL Ma'hitd'aduca!,stg'it"
do Império". À exclusão geográficâ, o banimento, pâssa a pontuâro§
a mil cnfcrmidadcs, ccifadas á cada passo pela foice dâ mortc, §cm-
discursos e soluçóes par: a conjuntura agitada. O projeto prevê o re-
prc cmbrutccidos Peloscomcsmo estâdo! os escravd não podcm §cr
colhimenro dos indivíduos "ao lugarde scgurânça que fordesignado
sc nno \m inP.tfcití$ino i1Étrulnento P^í^ o adiântâúcnlo dâ nolsâ
pelo luiz de Direito CheÍc dc Polícia". No artigo 4"Iê-se:
lavoura. são todo§ inuteis Pará as artes,e P'ra ocosieiode quâlqucr
manufactura Caphacs immensos emPres'dos eÍn f,cgros são todos
"Fica livre e hc permitido porcsta lei posuírcm ou disporem delles,
os ann6 scPultedos dcbaixo dâ re.ra, ou antrúlâdos pclasdocnçar,c
vendendo-os no p.iz, ou commut.ndo-os po! obj.iG d. comne.cio,
pclà vclhic.: no cntânto â ficilidád. de âchârá mão c§ras machine§
independcnte dos dircitos ou impostos à quc .stão suieitos senê-
já f€has, impcd. quc sc lanccm 6 olhos p'rã tântos m'lhoram'ntos'
lhaotes rrâDsasócs'.
introduzidos P€lâ scrividadc do espirio Europeo nos proccsos da
industria, c quê P.ocúÉmo' Pârá o BÉzil uEá Povoação mclhor{''
No anigo 7ó proposta a institucionalizaçãodos "filhos dc racs
libenos e que tiverem nascidos no tcrrit6rio do tmpéÍio". Nâs táticas
Obictos visÍvcis, zracáàar cadu cor, n,ryafcnkino iattruncnto'
do biopoder as crianças negías "scráo pclo GovêÍnodâ PÍovínciâ pro-
o escravo é nomeado com o coisa; Par^ tm ?ouoaúo ncl|oí oBrzsil
porcionalmente distribuídas e entregucs nos Arscnacs da Marinha e
prccisa do "cspírito euroPc u": coirâ r'.Bzr e§Pírito Em outro númcro
Guerra, para serem aplicados a oÍficios ou artes". o ImÉrio reuniâ
ào,4zrora (6dc novembro de l8J5),'dianre dâ nrcessidade imperiosa
o ãssim, duâs estrãtégias que se cstabcleceÍão pâra â inÍància pobÍ€ nâ
e urgentc dc limitar o seÍviço dâ escirvâtura e exriÍPar lentamentc
pátria", colunista República: o alistamenro milirare o tamigerado 'ensino proÍissiona-
câncro âfri€âno quê há muito coÍroe as efluânhâs dâ o

prostegue com sêus cálculosde lucro:


Na Bahia dos malês, a Á:s.mbléiâ Legislativa sâncioff ê pu-
blica a lei d 9 de 13 de mâio dc l83t (não foi só um 13 de maio no
'tuponhâac quc hum homeÍn servido por dois escíavos' podc sêJo
o Brasill), transcrira no jornâl O Pão d'Á$rcar, n'48, de 23 de junho de
âinda melhor Por hum criâdo O preço dáquelles (vendidos Para
c' a- 1835. Pela lei, fica o sovcrno autorizado a fazer sair da província
úãbalho forçâdo dâ lâvoura) posto na Caixa Econômicâ, dará
"quaesquu Áfricanos Forros de hum c dc outro sexo, que se fizerem
mcntc a rcnd. Prcci§â Para á despezada soldada, ficando o scnhordr
suspeitos de promover, de algum modo, â insurreição deescravos". O
scgurâ Poss. dc hum câPital que tinha a grande risco; c cconomiz'n-
paci' artigo 3! prevê: 'A declarâção dâ suspehâ, qu€ ocorrcr, será feita não
do alcm dc riguma dcspcza de curâtivos e ve§tidos, roda a sua
só no passaportc, quc os suspcitos dcvcráo levar, mas também no da
êrcia ê trmqüilid:dê dc csPÍrito"'
embârcâção, que os rransportar". O artigo 9 prevê o pagamento de
recompensa de "cem mil réis" pârâ os âfricâno§ quc "mo§tÉ!€m te!
Essc mêdo, mâtematicãmentc câl€ulado, E§sâ cconomia dê dc6_
pcsas c dc tranquilidadcs, dcscmboca em doh proietos dc lci,
scndo
q Cí. 8^nsr . vêr. Mâlàgqri- Oiírceir Aaahor /áeir, Op. .i1., p. :'...o ensim
píolissiomliaÍe ÍE@ sà lnie àlleruliv. pàn . ju*nlude pot .E ãspiã à inte8E
Éo po. ôàno rc rucdo dÉ lah.lho é â únie Êdp&riva pGível'.
d flúori@*. OP. dt
^úo..
'197
':96
Í

dcnunciado algum projero de insurÍeição... sendo escrâvos serão logo provecho en Fernando Poo, pues debenos re.ordar que coD
delincuentes formó Inslaterrà làs magníficâs coloniâs que pos.e
A lei propõe um registro, "hum arrolarnento ou matrícula ge-
ral de todos os dnos Africanos, por ordem numérica". Os controles se
apertam: o artigo 15 prcvô para "o AfricaDo libcÍro que se subtrair ao
E por âí vâi o programa, irstando aos que não rêm meios de
arrolamento" penas que vão de dois a seis mescs a até "prizão com subsistôncia, oficio ou profissãoâ serem enviâdos a servirnaMarinha
trabalho porquanto tempo bâste parx sâtislàçio do dobro da multa". de Gueffa, criando fundos para emisração \,ôlLrntária etc. Mâs este
Como no cíclico proceso de dcsaproprirção cJo parrin1ônio dc júdcus, scntimento generâlizâdo que o mcdo despertou com relâção à
nuçulmanos e hereges nâ Eutupâ ocidcnt.l, o artigo 17 proíbe "ao escravidão ("mâs quc pesado encârgo não será pâra nós se semprenos
AÊicano liheúo a acquisição dc bcrs dc r,riz, por qualquertítulo que virmos obrigados â estârmos em coDtínuos cuidados pela massa de
seja, e os contratos a respcito cclcbrrdos scrão nullor'. No art(o I8 escravos, se não paniciparmos, desdejá â temerosa mulridão que nos
licâprôibido a qualqucr proprictírÍiâlugârou arrcndarcasas a cscra- âmeaça quase sempre alenai")156 começa a desenhar um curioso
vos. O arrigo l9 insra "os sc horcs dc AÍiicrnos buçacs... a pelos mei- projeto, nruito parecido com o que surge 30 ânos mais tarde em Cuba:
os licitos, instrui kis nos Mi,ristlrios (lx licligião Chrisrã c bâptiza-
Io',p,cvcnJo,,,u1'.,,1 q,,,,,;l,,i.f.,,.,.,,J.,scr.,vopJt-o. "O que nós ocoÍc hc r gradu.l Iibcrtr(io.los mcwnos ptuvcDdo.o
os jorna;s rcpcrcutcn <,s mcdos c as mcdidas. Parâ cnccrrar mesno tempo huüi colô,rir prÍr rcccLrcr «rs crsúavos),
cssa polisscmir dc discursos clc terror que servem para aterrorizar "os "-ÁLi.n
medida csra qúc os âmcricanos do no,tc julsa,io ,Dúno neccssar;a
o,.rtros", dctcnhemo nos num projcto quc tcve uma sig[ificação con- para suâ pró!ria segurcnsa; ourrr nio ôrcÍos ellicâz tror cumprc to-
t;t\ctltil. Estc .tbolicia r into dc muLaàos, prodtor de rn cálculo fk* mrrpâra queosAíiicrnos não se ,lôiiem nuis a nos accom,ndtÚ, hc
,úrràa apxrcccu em vá rios ârdgos dc jornais após os acontccimcntos na procurarmos aun.ntar r nossa população Lrraocã, ânimando a cmi
Bahi, em I 83 5. lvÍorct Hcmández, ao trabalhar o controle pen.rl sobre a
srâçiô dc csrr.Dge;ros da Europa con pârtidôs vàdrajosos, tàcilitan-
popul.rção escrav:r de Cuba, debruçou*e sobre um programa clabora- do. suâ naturalizâção, e igüahndô-ôs cm direitos ros nascjdoscomo
do por Josc Antonio Saco, cm 1864, invocândo â suprema lei de salva- prsticío os Estâdos Unidos dc Ànerica do Nortc,
çío do Estado'55. O programa propunha o embranquecimento da ilha, Rcpublicas do Sul".
num prenúncio do higienismo racial clue se consolidâriâ décâdâs mâis
, târde. O primeiro ponto do programâ é câtcgórico: "Quc ningún Âinda que historiadores dogmáticos digam que estas idéias
individuo de raza a fricana, varón o hembrr, libre o esclavo, que saliere sáo próprias àquela conjuntura, o contraste entre a coisi6cação c ex-
de Cuba por ningún motivo, jamás pudiesc volvcr â €Ua". A padr clusão lisicâ dos âfricanos c o acolhimento à cidadania (igualando-os
deste ponto, Sico organiza várias estratégias para expulsão de africa- em direito$ dos imigrantes europeus salta aos olhos e destrói os ali-
nos da ilhr. dc'de quc njo p,cjudiqu.m o. Íresó.io,:
cerccs do liberalismo que se pcnsa cstar construindo na moderniza-
ção "à brâsilcira".
"...que rodo delin.uent€ de râ2" AÍiicanâ libre... pursase su pena no A referênc;,a à nedida que os Anuicanor do Norre julsardm fle'
cn Cubi, sioo cn los prcsidios dc Espaõa y Áfri.a y ac.so côn más rrslrra, aparecc também noAuotu Fhninerse,n' 1016, de 16 dc fe-
vereiro de 1835:
155
MORET HERNÁN DEZ, Osc& Lu s. lar Prac.i.as Pun,livrr ên e/ Si9lo Xlxcubana: Contíol
Penal Sobrc la Población Esclavã DÉseÍaçio de nreírado em Cíiminoogiâ e Dieilo
Penâ. Riodelãneno: UniveEidâdeCandrdoMendes, 200l,p. 130. 1* oPão diAsucar nr2l. Riô de lareno, 7 de abri de 1315.

198 199
Os comentários dô ,orna I O Pão d'A$ucar de l0 dc abril dc 1835 sobrc
"Se lilesscmos s.8uido a libÚnl e lumitrosÀ polÍtica do' E' U'idos
o projeto de lci da Assembldia Legislativa da Bahia que previa o
d'Am€riú do Nolrc, tdamos augm.nt,do muito n nosta PoPuh§áo
banimento dos libertos, desvclam, nestc cÍuzamenro de proicto
branca, pam mclhor rcbate. â! Yiolcnci's dos Âfriclnos - E lcvando
biopolítico de embranquecimento com abolicionismo de resultados,
mais longc o scu alvo para se dcsembaraçarem dc hosP€dcs úo
âÍgumcntos "humanistxs" para lcgitimar uma colônia brasilcira na
perigozos, fundárío huma colonia na Áfricr, para mundaros africa-
nos que fossem libcrt.odô. N.da tcm .s'ap'do â cstí sabiã, e Provi
Áfi.",
d.nre Nãção, PaÍa coD'eÍvar-sc scaura, independcntc, c progredir em
i{ssim, con.ordando nó' som o Prdccro dr Bâ[iâ na pane rclarivá
oppulen iá; mascotrc nós tudo accontecc pelo âvÊsso, não PBimos
âobanimcnto dos AIricánor libcrtos, lembnmos hum m.iô quc Í106
o f,tr-,.^rcgam"-."" .ô mcio dos Peíigos mâis imincnt's á todâ
parccc fundadô em justiça, philanrropia, c intcrcsse... Quc antcs dc
rcguridadc, dormindo socesád.mcntc sobre uÍn solo minedo, quc
ter Iugír o lranimenro dos alricânos liberros, sc dlvâ êsràbeleccr humâ
qüâlqucr dia Póde rebenrai',
Colonia.m Africe, para ondc sciãocondúzidd os m*nos libcrtos...
lá havia adcptos, no século XIX, dâs teoÍiâs enÍÍcguistâs do Quê Ê,tabclecid. . Coloria scjão loso r.movidos pam ali os ra.! li-
contcmpoáneo Jumcy Magâlhãcs, o qüe eÍa bom PaÍa os E§tâdos be.ros, pod. o mesmo scícm p!.! lá mandádos os d.síãdâdos d.
Unidos já podiâ serbom para o Bosil mais gralcr c0lpas".

ó,,.gr-ento,"ugcnittas"dccmbranquecimento"coprojeto
dasábia epÃridattc mçao que encantaram os senhorcí brasileiros dê No mcsmo jornâl dc l3 dc novcmbro dc 1835 prossegue o dis-
então íoi posrocm PÍática pelos E§irdosUnidos dAmeíi'â doNorrel c!Ísõ hmtunitat "PoíÍaíto, busquc-se hum mcio pnra onde mandc-
se *,em lúr"sdos libc Ítos' os a mericanos do norte de- mos esses homens já pcrvenidos, mas com scgurança, e humanida-
"rra "Íricanos
liai,urn po, ,,,
."put'i"çao prm r África. Pam trl fim, Íundaram em de". Esscs al»licionistas flaút't?icor ,ÚÍi^m s\"s boar h,cn$ct e cn-
l8l6 a Sãciedade Âmcricana dc Colonização, obra dc "fi|ântropoJ'e gcnhosos cálculos; eram também cmpreendedorcs:
abolicionisras prlticos como os daqui. Comprarom tcrra§ num reÍri-
rório enrr€ Serrâ Lcoâ. Guiné e Costa do Marfim' Â Partir dc 1820, "Esta nova colôoia que lcmbrlmos pode dârêm rcaúkado doirgr,r-
.omcçâÍam ã embar.ar africanos prra lí, fundandocm 1822 uma novâ des pmvcitos, o primeitu. mais rclevlnte hc aqucllcda ráôslàdâção
colônia, q.. passa e sc chamar Libéria em 1824 O mais fanústico dos libcrros, c oalfeiroresi c o s.gundo,. ú7,72r'r quc nos podc d.-
desta nova colônia ó quc sui âdmini§Eação foi entrcgue aos bran€os rivard'csrc novo csrábclccimcno, aonde pcla fcrtilidade dô tcrrêno,
dâ sociedâde Amcricana de Colonizâção, RepÍoduzindo â opre§são, e medjantc huna boa àdmini,rriç:io, Àe fácil elevír-se e abrir hum
a Daítir dr indepcndêncÁ en l8+7, os ft r tê (libenos emericàno' novo commcrcio de ghndc importância. Muitas considcúções podião
.Á- o. 'ini.o' ".r"rcera cidadanir, submetendoa PoPUIâçãoautór- kí equi aprssenradls accÍca d'csic obicro; mâr não hc ccazino. Náo
tonc a trabalho forgdolr?. No escudo da Rcpública da Libéria reluz
a
nos pr.... imp.ati.ável o cstab.lccimcnro di colôniá tra Cosra
segrintc tuAset Th; loac of libcrry hought ut here lo âmoÍ à lib€ÍdÂdc d'Africr: os Insl.zes, os IànuSucscs,os Holándczc! e conpanhia ali
nos rrouxe âqui)l rem suascolôtrias; cassim irc possívcl quc o Brazillá renlra hum scu
Esse proje@ dc colonizâ§áo tem mão duPlâ: uírs que sâem Pâra esr.belc.imcnro".
nãotcrâcesso ã dircitot e outro§ que c ntram Pârâ ter accs§o â direitos'
Circulava assim um sonho impcrialista cmrc nossosengcnho-
4, EtkLAédia Mna&. latqlaciMâI. 5ão P.!lo: E S'iLmiG Bãil R! sos e fil'ntópicos abolicionistas dc resultados. Mas a colônia nunca
'r'l'páedia 'lo
blicçõ.s Ltda.,198!, P 6777.

201
200
saiu dop,pclc a cnrÍadr <le europcus atrrvés dc políticas de govcrno murirão sinistro, feiro de âçoitos c crücidâdes. O csperáculo dc
dc imigraçio c colonização só k dá no fim do Império, a partir da nçoitamcnto de 700 preros pelas csrradas era o rcsuhâdo concrcto dns
década dc 70, intcnsiÍicrndo-sc quanto mais ccrta seria â âbolição da mcdidrs cni.gi(ís clamÂdis pctos rornr,s dí ipoci.
escrrvâruÍa. Sc cm 1886 cnúaram 30.000 curopcus, no ano de 1888
làmm 113.000, m{di quc sc manrcria ató o lim do séculor53. Mas cssa 4.7 arquitetura do medo c a estéti€â da êscravidío
é umx outru I)ist6rii: cstórias rcpublicanas cm quc as clites, para sal- Tríb.rlhrra cspacialidadc Lrrt:ana, a violência e o r»crlo cquiva-
v.trsc dos.fricanos, cíix outros mcdos,os mcdosdos socixlisrâs, ânàr- Icr trabalhnra concreruded.r criminologir e th políricâ crimiDíi. Se
quisrJs e siDJic:rli'hs. O rr.brlhJJor li\ re rril rcJrrcrcr ourro' pcrigos criminologiã, como nos diz Zaftaroniií,,, é o saber e artc dc dcspcjrr
c novas oodas dc criminaiizição. Cousâs futuris. pcrigos discursivos, e sr é o discurso, romo arena de confljtos cm
Enqurnro náo iam os brãços aíricanos c nío vinham os braços Bakhri n{', q ue «igc as políricas crim inais q ue configura rão â {spâciâ _
curopcus, rccorÍiimac i'os velhos métodos do libcralismoà brâsileira: lidade urbrnr, procuramos entcndcro mcdoatmvés da naturatizrção
do scu discu rso e suas conseq üônciis cs(éticxs, no
9!e cnh a peto! olho!
''Espalbio-scboatos<le insurreiçóesdc íliicíDosi ccstesboatosparc- no coti<1iano da cidade. Assim, prcrcndcmos inatisarcomo os discur,
ccrio bcm lirnd.do5 pcl.s nôticins dc c srigos sevéros oos €scrâvo§ sos do mcdo têm conseqüências cstóricâs, criirm monu,ncnros! rrâns,
dos propricrÍrios, D«l...dos pelos Iuizcs dc l'.2 dos Municípios dc
Íór.. Em frcc dc rrntas e rio repcddas noticiàs de rres casrigos! oós Ao trabrlhcr a virada do XIX pira o XX no Rio de líncirc,
no\ inclin.'v,,nrus .r .rc(dirJÍ n1 tloiccrrJr ;n\un.iÍio: c .oD,o quc Gizlcnc Ncdcr derém*c no controlc do csplço na cidadero. Cosrâría-
íolgavxmos .om rs píovid€Dcirs, c cruÍclhs das aurhoridado da tÍôs dc tÍâzc. parâ a dé.âda dc 30 do sículo XIX algumas das idéiis
PrcvinciJ. Mrs xconkendo<tuc fos*mG lhs, os dàs Sãítcdo Nat,l da autora. Ela trata dos momenros hisróricos de criscs e mudanças
a algum.s trgoas distinksda Cortc, nós licamos como que suspcosos instnucionais e do surgimento dc vários ..projeros de cidãdc". Ncsses
portudoqu ntorliv;mos,eouvinros;clrc.mrisqucbuscassemobi.r momcnrus rcnro5, po, um hdo, rumcnro Jc cxpecrrrivrs e, por or.rtro.
rlguotc coiz! d. po,nivô qu. xúthorizlssc as suspeitâs,.ada cn.oo- medo c prcocupação com o conrrol€ socixl c a disciptina. ,A saída dc
tràúos' co ôrnis.tuclimos làrão.§ojlcsc crucklidcs. Em hum único situasõcs políricâs auroíitárias cst:rMlcce condições para a cmcrgên,
disrrictod'humx ftcgucsir, m.is dc 700 frcLos hâ!iÃosidôâLrozúcntc cia dc visócs hip€rbólicass obrc xs ctur$! pa iga!a!'r@. Giztene retrabatha

àçoitndos cnr moirõcs, ou pcloirinhos, m,ndrdos lcyintar nas eslrâ- as rcÍlcxõcs entre história e mcmória em
facqucs Le Gofl.pam com_
dis por ordc dos ,uizcs dc IJ.z...- A pctru dc morte a asoircr, hc o prccndcr a cidade "como um cspaço privilcgiado dc construsão da
m.is cÍucl dc todos os suplicios; c rol,rcrtodo hc rcplgôânt. a mcmória colctiva"r6, tomando â ciilíde como,,o, wcnru,t, sinal do
conducm Ílos pcdest.cs, os qúacs, scgundo nos dizeo,lãngâvio pú' pâssâdo. É assim que a aurora analisarí os pta nos e rcfoÍÍnas urbanís-
nhados dc arcia sobre as Íeridas morivaths pclos açones"'1 ric,s na Rcpública, no embarc cnr.c pro,.ros de conrrolc so€iâl que
dcfiniram a .ção dâ polícia, as posturas urb.rnas e a sociabilidarte no
Os mcrlc,s irnprcssos vão s. constituindo, nssim, em discursos
que fcrcm c r:ratam. As rcpercussóes.lâ IDsurrcição Malê nâ Bâhia
'mZ^FFARONI, Eus€nio Raú1. O.!ao da qrnino/o8ia. RiodeJanenoi mineo,2OOO.
produzircm uma on,J.r rl( suspcirlrs quc scrviu prrâ concrcrizrr um *'aAKHTTN, Mikhai . MaÂÀm o e titosotiá da tihl,dgen,_Sáopauto: Húcile,1999,
{? NEOER, 6Dlúe, Cdde, de,ridadê.
erlurlo r(ül h: Rêvnta leDpo, @t. 2, n! 3
Rio !e lnnêúo: Uáiv€Eidadê fêdeínt FtllninenrrRrlore OúmâÍt, I992.
rícÍ PR Do lR-. Càio. r,irr&iá eoÂôm,iê do 8rár,, 5lo Pôulo: Basilio*, 1973.
{t NtDaR, Cizleôq Op. .ir-, p. I OZ.
O Páo d'A$tr àt,.ta 5 dê júeió € NÉotR, Gizl6e. Op-.i1, p. r09.
'e -P,:@da láneió, dê 1616.

202
espâço urbâno, dc6nindoo lugar pamen to étnico-culturât
de câda gr u mo, cada lug:rcstri scmpre mudando de significação, graças ao tuo-
/àu social na cartogmfi.r da hierarquização. Eh v ai se rcfern à cidade vimcnrosocirl:. c.da insmnte ,s 1ia9ód d. socicdade que lhe câbem
cunpéia conÍftste à cid"dê qútot ladr, aqucla cidâde africana
cn nâo são as mesnMs.
const;tuíd.t â pârtir dos anos 30 do século XIX no Rio dc laneiro' Nío.oníundir localização e lugar O lugrr pode ser o mesmo, as
inter-
Iá »os rclcri»ros antcriormentc ao quc Cizle»e Neder localizaçõcs mudlm. E lusar é o otrieto ou conjúdro dc objetos.
prctou como o conjunto de alcgorirsdo poder c a produção imagética localizâçãoé um feixe de forças sociais sc cxcrccndo em um Iugar"i'N.^
ào tcrror impondo disciplinx nâ cidade e levindo os pobres da cidadc
r, nan quc conptecblet d úuel àa nzão,seten leuado! a 'et e a rekt;r PdrJ Sdnror. Jprccndcr c-cfcixc delotçat n ian, c*t con,t"n'
ret lrgat ,,i esrlúrttd rocidLlt5. tc atteíaçõo na' implicâ então n! compreensão dx dimen-
Durantc os capítulos antcriorcs temos abordado várias ques- 'ígnif'@Çõ6,
são temporal na concepçáo do espaço. Caracterizando o comporta-
tóes que dizem ícspcito a essc arrrnjo estéticor os monumentos à toÍ- me nto dos subespaços da pcriferia como dereÍminação das necessirla-
turâ dir cscravidão (pelouriDlios, rroncos etc.), as cenas de truculênciâ dcs do podcr central, entenderemos os ecos do período da I{cvolução
nas ruas da cirlailc, os controles da rnovimentação dos escr':vos, a ci- Industrial na Europa, entre 1750 e 1870. 'A noção de espâço é assim
dade rfricana a quc sc referiu Debret, enlim os arra»jos estéticos' a inseparávcl da idéia de sistemas dc tcmpo"r6'.
mernória clo rnedo cravada nr cidadc; discursos do medo feitos obra' Michel Foucâuh analisa, a partirdâ segunda metâde do século
O cenário imposto pclo Lnpério às amerças republicanas tra- XVIII n:r Europa, o problema da unificação rlo poderurbano do pon-
tara de garantir a unidade e a qucstão da IerÍitorialidadc |á se dcse- to de vistâ econômico e político. )í tratrmos anteriormente do apare-
nhrva rli um dos ernbrte s rh cidadani,t noBtasil: a questão do âcesso cimcnto do proletariado, suâs rcvolt.s e motins, que haviam criado
à terra. Esta arcluitctura do ,ncdo, eÍigidâ pÍil)ciPrlmente a pârti' dâs
um novo protagonista; a multidão. Se no século XVII o perigo vinha
rcbeliõcs da dícâda de 30 do sécLIlo XlX, reformavâm a configuração
do câmpo, no século XVIII ele csrí na cidadc. "Dâí â necessidade de
no 13rasil <la gçar rrsra nú;tu;Cão de lcqiienial,Í: Ílos aiag:rdos, íavelas
um poder político câpaz dc csquadrinh.rr essa população urbana"r'iri
e vilas-n1isérir aos círccrcs apinbados e campos fértcis e imProduri'
[,le âfirmâ quc ó nessa conjüntura, pÍincipalmente no linal do sóculo
vos ccrcados c guarchclos contrâ o§ sem-terra.
XVIII, que sursem medos c angústias tlianre da cidade. É o medo
Estaríâmos entáo nos remete ndo lambérn a uma questão espa-
cial. O grandee srudoso geógrafo br:rsilciro, lr'Íilton Sântos, trâbâ lhou
"o csprço como urna instânciâ dâ socicdade, âo mesmo título que a
"...mcdo das oncinas c Í:ibricas que cstão se coDsüu;ndo, do amontoa
iostância econômica e :r instâncin cultunl-idcológicâ"46'z E'Ie anali§â
mentoda populâção, discrsas alt.sdcútr;s,da popülâção . umeros,
a essência <lo cspaço como socirl, definindo-ocomo soma da configu-
dc,nâisj medo, trml,(:m, dis cpi<lemirs urbanas, dos ccor;térios que
rlrção gcogrífica, dâ Pâisagem com a socicdrde: as formas geográficas
se tornam càda vcz ma is numerosos c invxdcm pouco a Pouco ã cidx
sc Í;arn ent \o fanus- co r 1 e ú.1o.
de; mcdo dos esgotos, das cavcs sobre as quâis sáo construíd.s as

casas que €stão scmPrc corrcndo o perigo dc dcsmoronar"l'r.


"Cad. lo.alizasio ó, Pok, unr momcnto do iúcnso môvimeDrÔ do
mundo, aprccndido cú um ponto geográÍico, um lugar' Porisso meÍ

165
Cf. NEOtR, C zlene.ln: ED non,edê Iárâlor' Op. cit. {'!SANTOS, Milton.Op. cit., pp.2l 21.

'úzAÉFÂRoNl, E!8enio Raúl fm b!J.a da, penas perddâ,. op.cii'


.'o Devo indicaçào d€se t{ho de roucaull à cômpanh€kà Helena Bocrru!â.
. cl
ií7 SANTOS, Millon. tJpãço e Dérodo. 5àô Paulor NobêI, 1992, p' 2 e sANTOs, MiltÔn' FOUCAULÍ, Mi.h€|. M,cron,ca do poder. Rio de lrneno: Ccai, 1982.
"' FOUC,aULT, Mi.hÊl.Op. cil., p.37.

205
No câpítulo em quc rrabclhamos a medicina constituindo o nà rcprcscnhndoo lirndode um! bâ.ia, cncund d, Porlasta cadeia

biopoder na Europa e no Brasil tropical, obscrvâmos como passa a dc clcvJJrs ,crrr., mJn.r.,,d in, rh.,urivci5 de coPiosissima. rsur'.

consliruiÍ-seío Riodc Jâncirodo séculoXIX um poder normatizador jrz cdilicàdn cnhdc do Itio de,!neirc. seu solo ó l,Aixo, clcvândo-
n

e fiscalizador sobrc a higicne das cidades. Mostramos como â €on.ep- sc oos lug.rrcsmris ihos a I I prlmos apenss nciml das ma.és alràs,
humido c p.rfcitimenle imprean o d'r8u.; suü itmosphcr. não
ção dc polícix ia da vigilâncir dos csgotos à circulação dos aíricanos
pclas ruas. Pcnsemos tamb(m quc no século XIX, com a âcelcrâção a consDnrrmcnrc srtundn dc vcporcs r(tuô$s, miJ\más
'cnorl,l.
das mudanç;ts decorrcntcs do impacto da Rcvolução Indusrial e da palutlosas, hydrogenio carbuíerado, c de munôs prnriPios dclcttrios.

vindâ da CoÍte parâoBrasil,o Rio dc lanciro, que porsuía cerca de 60 Os morÍos d. S. Bcnro, Concciçao c S. Diogo,quc.orrcm na Linha
mil habirantes, passa a tcr mais dc 500 mil no final do século. l,ense- dc Lértc I Nordésrc, Nonc e Norocstc; c os tcntor vc'pc,tino.,
mos também quc no mesmo pcríodo há umâ importâção sâciçâ dc mrrciros, nuis lotus, qucsôpraodosul,!uduéstc e ruéstc, sc cmbatem
cscravos, sendo o Rio de lanciro o grande porto destc comércio huma- em os moíos do Casrelo, Santo Antonio e a cordilhcira dc SânIâ
'fhcrcza. O clima itrdennivel, eslasões confundindo-sc sem se
no; um viâjânte ! dcscrcvcra como cidadc africana.
A geógrafa Lysia Dcrnardcs dcmonstrou como a expansâo da extrenircm constante de tempemturá, tlcsccndo ou subindo o
cidâdc no século XVIII dcvcu+e à conquista do pânrano'?'?. O pánta- rbcrmomcrro cm poucrs horas oiro ! dcz gríos, não nbiixándo ma;s
no é a grande metáfora dos mcdos urbanos no periodo; Bernardes contudo álém d. s.ssentisráos.As rüas estrcnxs, scSuindo a dire.çro,
trãtir a questão como "a cidadc velha e a lura conrra o brejo". A urba- as pr;ncipncs dc Léstc r Oéste, baohadcs de ÍnánhÍ. dc r!rd. Pelo
nizâção do Rio der-§e "à custa dc Írduos esforços, sendo os charcos sol,.rus.d.s por ccoos dr essoto, múitís iinmundissimn, com pc

progressivamcnte entupidos c drcnados, e as lagoâs atcÍrâdas"'7r. É qucna ou tum uma clcvrçíoacima do niveldo mar' Casasde peque'
assim que desapaÍcccm as lagoas da Pavuna cm 1725, da Panela c dr nas hcnrcs, g.!ndcr fuodos, nrdr vcnrilid.s, c Íormigaddo de
Lâ mpsdosa .m I m-sc os grandes pa ntanais de Pedro Dias e
79 | , se6a
habiradorcs. Pruias imnlundis5imrr. Templos atúlh,di5!imos de
do Campo de Santana cm 1796 para a abcnura das atuais ruas dos
Arcos, do Lavradio, dos Inválidos e do Resende171. Rcsuk, poh quc a itmosphera impresnadâ dc principios dclctériôs,
Os trópicos condensav.rm dc forma intensa a metáfora do pân- dc gâzcs locivos, ô ar dcgcncr.do, niio pódc sc pr.srlr con-
tânor seus miâsmâs, suss contiminrçócs, suâ viscosidade, scus peri- vinhavclmente á respiração, e qüe a heúárosc í impcrfcita, c o srn-
gos i nvisiveis. À conquistâ dos brcjos c âlagados do século XVIII pcr- guc ,.Jcprupcrado de priocipios lilific.dores. A grardc quinr;dade

mhiu que o século XIX fussc a úpocâ das grandcs transformasó€s da d'âguí quc sob r forma de vapores satuú á atmosfhcm, que não
paisâgem urbãnã no Rio dc l.rnciro. Mrs o pântano estaw lá: achaodo csgoto pelo oenhum dcclivc do solo sc hí clrporado, con-
ccnt.ádo c rctcndo os raios calorileros produz uml tcmPcntura
"Situadoquasi dcbrixodotropicodoC.píico.nioepíoriúóa.rcâ' elev.disrim., quc cnlnngüecc os.orpos, cntorpccc as Íuncçócs pelo
qrrcmo suorconsr.trr. e exc.$iva excihsio do syÍcm. cutanco. Os
paÊsc á zona rorrida, cm a cxtcmidrde d. una qrênrísima ca mpi-
pulmôcs não pcrmcados perÍ€itamçnt€ pclo.a visto rcu pcso scÍ me
oor pcla grandc mrcfacçâo armospheric!, c por clusa dor vaporca
"'C[ SGRN^RDIS, Lyn, M. c. feoluçáo da paiss.n uóa@ .h Rio dê la@ió até o iil.io aquosos, sáo ãoormllmcDte Êx.it dôs pclo brusco abaixamcnto d.
do récllo lX, ln: AaREU, Mâ!Ílc o (olg ). NatuTêza e lm,êdàde .ó Rio de /ane,o. Rio tcmpcrarura, quc condcmnsando mais o rratmosphcticoobriga-os a
delâneio:SecdaÍiàMunicipaldeCuh!8,ÍurümoeErpodês,1992,(ColeçáoBibliolê
uma rcspir.ção for. e eorique.ida de oxjgcnio làzcrdo cooveÍgir
para rhias forças vnacs, quc o dcmasiadocalorc da humidade iazem

207
206
"É assim quc cade dir crcsccogandc m.nxnc;alde causas morbífics
prcdôminaros sistemas muscul.r e as fors!s digesdv.s, emPobreceÍ-
que assolain est, cidade, como se aindr não bastassem para à dcn
Jo o ,y"trm, r,,,,iJlc pr.do,nrnJndv u v.,,o:o, mrxime r vciâ Porrc
truição dc seus hrl,itantcs cssLs pâúrànos quc cxistcm no seiodela, e
Gic), on.lc a cxr.sis congestiva do srôgue predispõc ôü àntcsdetermi- qJe. nLi. in.iJi^,o, dô qr- qJJlsud oJro ,nim,Àô i
n. a d;sposição hemóúhoid.ria.As em!naçõcs n;asmáticas cxhàlâdas
vcrsodhosamcnr. c pr.ruiçosamcnrc tolerado"rr'.
dos p.ntinos cx;stcDtes mâl ât.rrndos, c.s que !€m acd.rctadas Pelos
vcolos terues, produzc,n.s allec§óes iotcrn:kcnres tam abundàntes
Este lragmento d;§cursivo traduz tr mcrifor:r do pântano: cstc
Aconst;tuiçio physica dos hrbitrdores d eso aliás bcllissimâ cidadc
insidioso inimigo interno que destrói seus habiantes. Já hâvíâmos
não údc pcrnr.Àeccr reÍiact,ria a icção morbincâ dc âgcntes iam
ch,maJo, rr.n5-" p,rr a. rn,lu;ia' rn trc or e'rr.to' e o' rniJ'mJ',
dcsorg.n;zadores. Seu physico e seu moral são, permitÉ{e-nos a
mostÍandocomoos ârrigose teses dâ conjunrurâ insisriam cm demâr-
phrrse, entorpccidos por ccusas tam clangucscentes. O t€mpcrameoto
car fÍoDteiÍas conrra j D imigos Iáo io ternos, in te nsos e con tíguos, como
Iimphutico, nervosoe mclancol;co sâoôs predomin.ntcs; eâs affecçóes
os pântânos. Mostramos, com Jurandn Freire Costa, como o escrâvo
curan.às, as inteflnittenres, as pülrnoÀares, soLrre tôdàs r tisicai sim,
nesra conjunlurâ transforrna'se em amcaçâ dc docnçâ quc invade a
a tisica,essâ cDlcrmidadc dcvastadon písa sobÍc nós, teíi!el cômo a
casa branca, tornando-se seu espantalhorTs.
ira do scnhor, e lcsâda como üm rnrdremade exrerminio de gerâsão
Asdescriçôes médicâs dâs senzâlâs no séculoXlXevocam tâm-
ageração. dccímr os FIu rn inenses, encarncccndo dos esforços descs-
bém a Âgura do pântano: malsãs, im u ndas, proprgidorâ s de doençâs,
pG.dos da scie!.ia,dcsdnim. ôdo os mris incànsivcis med icos, 9üe
c
contâminadoÍxs do xr.
âmerccando-sc da human;dadc, .úbàldc se esforç3m à làzer para
'A habitâção cxistcntc ó não só insalubrc, mas scndo local de
csrc Ílagello horrivcl, quc r crda momento enluta rs lamilias, rou-
amonroamento, é esprço de desconhecimento porpártc do senhoÍ, de
bandoJhcs prendas mais crras"r?5.
tlevassidão e rebcldi:. Se,rdo âssim, âs ,ncdidas propost,s parã que a
habiração deixe de ser causa de doença e revolta são: em primeiro
lvÍárcia de Almcidr Gonçalvcs, em rua prcciosa dissertâção dc
lusâr, fxzer âs construções em locais secos e ârejâdos, lcvantados do
mestrado sobre os mcdos na Corte, evoca o pcr;go dos pântanos nos
chão; tâmbém parâ cv;târ a umidadc, não se dcve cobrir as senzalas
discursos médicos: ela citâ os relatórios do Ministério dos Negócios
com sapê. Em segunrlo lug:r, estabelccer dormirórios comuns, obcdc-
do Império, órgão rcsponsávelpcla srúdc pública:
cendo a dcrcrminadas condiçócs de vigilância e higiene..."'?'. E era
nos pântânos tâmbém que osescravosse refugiavam, nos pântanos da
''Os pâ.tanos dos terenós b.ixos enr lorno dâ b.ía dessa cidadc, c
Cidade Novar30.
quc se estcndcú aié aos C,mpos dosCoitacazes! s,ocàusr de febr€s
O pântxno estií dixmetrâlnrente oposro à figuÍa do jârdim. O
monilcras, que !orvezcs sc tôm.Presentado, c neste ano comgran-
surpreendente livro rle Moralcs de los ldos nos traz um olharsenhorial
dc íorça em Irajr, Pil.r c c ircu Dvizinhançis 'r'i.
do Rio dc Janciro impcrial. Apcsar de cscrcvêJo em l9'í6, sua visão,

É dc Conçalves também a citrção dc um trecho do Semãnário


de Saúde Pública dc 1832: rrrApud CoNÇALVE5, MáÍciadeAmeidã. Op. cit., p.33 SemanáÍio de Saúde Pú6 i.a.
-
Exempla.n! I01, maiode 1a32, pp,313 340.
"" COST^, JuÍandn FÍenê. ordêD,nédi.a e no,na /,mi/ial. op. cil., p. 126.
'' HEREDIA DÉ SÁ, MiSuel Antonlo. Áisln6
reíleíôer rolre a cópüla, o ohahitno . rli Cl MACHADO, Rôbêno et â/,i. Op..it, p.363.
pÍostiLúiçàonoRiode)aneia(ÍheF) Riodelanenô: TYP univeGal dê LâêmmeÍt, 134s. s KARASCH, Mary C. A vda dos es.ravos no R,o de /anerci 308 , d50. 5ão Paulô: côm-
7
cil., P.37 - RelaúÍiÔ
"76Apud CoNç-ALVES, MlÍciadeA meida, Ániôd teDoratos Op. pànhia das LeÍas, 2000.
do mln isÍo Nicolau PereiÉ de Campos V€GUeno, 133 2, p l 3.

2ÍJ9
208
I
I

como diz AlbcÍto da Co§ta e Silva no P'efácio, ó d'a uh curopcizadz Mary Karasch nos desenha o cootrastc entÍc oPaç
dos jar- tÍo e símbolo do poder colonirl pomrguês, e o Campo de sânbnâ,
do século XIX. Scgundo Monles,'ogrande desenvolvimcnto
dins ocoÍeu dcpois de 1830, isto é, quando, sercnâdas e§ co'rvulsóes "uma árca desregrada da cidadc,onde os escravos, cscâpando de seus
políticas da Independênciâ, a aristocrâciâ imPerialse afirmava e o re- donos nas tardes de domingo, podiarn dançar ao som de sua própria
quinr. ,e impunha"" Scu olhar senhorirl dcscrcvc jardins música"'8r. Num contraponto pcrverso, era ali também que ficava o
'ocial ci-
andaluze, .,le phnícic, .nIre outrosl dcscreve a consrrução desra pelourinho, pâra introietâr nr mcmóíia fesriva âs liçócs das punições
dade curopéia, bíân€a e senhoriâI. Qulndofâlâ da populaçáo escrava públias. Elâ diz qüe várias outras praças tinham c ssc catátcr tuplo de
a6rmr: "Mas em rcgra gerâl, â vidâ dos negÍos escrâvizados não pas- pelourinho e local de encontro dc escravos. Na praça Timdentes, a
E os mais imponânie, hâvia uma conccntrâ!ão cotidiâna dc cscravos quc
sâva a ser, âqui, dc todo má. Gozavam, até, de cena liberdade-
quc tinhâm ;poítu nidâde de fugir não o faziam peta simplcs razáode dançavam em procissões religiosas no funeral de scus mortos.
que t..iom d" riu.r à sua próPriâ custa, resolvendo por si todos Aquestãodos mortos era, aliás, umproblcmaque remontava a
"r"inr
os problem"" de uma vida eotidiana. E, porta nto, proíundamente prc- "pequenos pânicos que âtravcssaram avida urbana dasgrandes cida-
cáiia. Nao dnham clcs o patrão que rudo lhes dlval Claro
é que des do século XVIU, especialmcntc de Paris"r". Foucaultexemplifica
Para esses' com o caso do ünia+ío dor lrcccntcs,localizado no centro de Pâris c
ncm tôdos oses.râvo§ crambons, ncm bem comportados'
que recebia os corpos de pessoas que não podiâm prgar um túmulo
os castiSos eÍam scvcro§ e, oão poucas vczes, desumanos'{t'?'
do Rio, descrita porum escravocrata do século
ãst, paisagem individual.
XX, contrasta em muito com a vida dos escravos no Rio de Janeiro
"O amonroam.nto no intcrior do cemitério.ía tal que G câdáv.!.3
scgundo Mary Krrasch Para ela, o Riodelaneiro dos cscravos, "era
uÃa cidade de fronteiras, de limitaçócs à liberdade Àlguns desses
* empilhavam acima do muro do claustrc ccaÍam do lâdo d. fon.
Em torno do claustrc, ondc rinham sidô onsttúÍdãs cas.s, e pr.ssão
limires podiam scr cruzados com rclativa tacilidade c uns poucos
devida ao amootoamcnro dc cadávtres foi tão grande que as casss
através àe pôrtôcs cstreito§, mas outros cram mutos imPenetráveis '
dcsmoronaram e os csquclctos se espalharãm êm suas caud pro\o-
Os limites estavam por toda a pane' exceto nas Ílorestas das monta_
pre- cando pânico e talvez mesmodoetrças. Em todocaso, oo cspírirodas
nhasem rorno da cidade,onde os fugitivosviviam em liberdade
pcssoas d. ép«a, a infecçáo causâda pelocêmhério€ra rão fonc quc,

cla descrcve os segundo clas, por causadr píoximidade dos moÍtor, o l.iiê Blh.v.
No senguia oaato da cidadc do Río dc lancno
mon- imcdiaramcore, a ígoá apodrccia,.tc. Esr. pânico uóaoo é cârâctê-
limires fisicos da cidade, a§ paÍ,óquiâs ccntrais 'ercâdas por fones,
cida- rístico dcstc cuidádó, dcstâ inqui«udc polfti.o+aniúria qu. r< Íor-
tanhas, prédios epraias. Os fortes, skuados estrategicamentc Pelâ
ma à mcdida que se descnvolvc o tecido urbano"1r6,
dc. iuntà com as rcrrÍvci'píLócs de escíavo\, os quartéis e dclegacias'
indicrvam um csfor§o concreto c planciido p'ra cvitar as rebelió<s' O mundo mosâico-cristáo ocidcnral não sabc morrer. Na in-
Dcntro da cidadc, as paÍóquiâs ou fÍeguesias onde viviam os negros tÍoduÉo destc tÍabâlho, vimos com Baudrillard como a Igreja fundou
e Santa
cram principalmentc Sacramcntoda Sé, São losé, Candelária scu poder nâ gcstáo do imaginário da moner'. Michcl Vovclle traba-
Rita. iuas ilrejas eram construídas longe dos rentros scnhoriais'

rs( RAscH, Mary, op, c t,, p, ror.


MôR^LES DÊ LOS RIOS FILHO, Adollo, O Âio dê /âne,io idpqia/, Rio
s, de lânei'Ô'
Íoph@kç, 2000, P 161
d FOUCÁULT, Michê|. MicoíÀ ica do poder. Op, .it,, p. Ar.
eMoR LEs Dt los RlO6 FlLHo, AdolÍo. op. .ir, p 65' - folJc^ulÍ,Michê|. o9, or., p. r 7.
sX R SCH, MâÍy. Á vd..lor 6íaúJ no Âiode/andio. OP. cit.,
p.99- .' AAUORIIL^iO, ,6n. t'tóâncp jfmôoliq@ er la Mdr. Op. .ll,

210 211
lhn com os momcnms históricoscm que sc exactrbam os sentimentos ridrde entre vivos e mortos, na convivência cotidiana dos moradores
rlo nrerlo rh mortel'}. Gruz-inski rnrlisou a diíusão materirl das ima- com scus mortos entcírados nis igrcjrs mais prórimas, com â gestão
da América Ele disscca a carga cclcs;ástica sobrc os rituais funcrários. Ela susrcnta que a medicina
scns cristás oâ conquisrr espanhola
ao
colctiva c individual das imagcns que davam suporte idcológico social e scu discurso higicnizador vcncer;a essa batalhâ â pâ.tir de
cmprecndimcnto colonizarlor AtravÚs do controlc dessas imagens, as 1850. As cpidcmi.s dc cólcra e febre arnarcla rcelcram â proibição dos
orrlcns mc"rlicant"' conhc.ilas conoPolíêia crit'' úâta"âm dc ensi- cntcrros eclcsiásticos e impõem-sc os cemirérios púl,licos. Como vi-
n:rr os indígcras a »,o,i, Drit, coisa que os euroPcus Íc'lmcntc não mos nocâpítulo anrerior, operíodo d, l,acific.çío venccu vá riâ s bârâ,
de
sabi"m. Mrs, ao i-po. aquelc formato de cristianismo, rratavam lhrs, estabelcccndo um pndrio d. tnlpúrioquc sc espraiaria até a Re-
DrssJr Lrn,J oulrJ reLçio com o rernpo. r moa(! o sobrcnrturJl
ea pública: a idéia de uma nação asséptica, com seu p oro interror degene-
rcicrl:rde rlc urnr Íurmr n:ris:mpla'i'. ,"do sob cosúole, d3 v;da aré a morrc,
Âqucrtão ílos €ntcrros n:rs cidades virou uma qutrtáo Poliiica As lut.rs popularcs rla décâda dc 30 no século XIX elocâm os
no Rio de Jinciro do saculo XlX. Comovimos "" tr"hÔ ciÍâdo âcimâ' combrtcs pcto imaginííio c pcla cooquisra de espaços Íisicos nr cida-
cla tcsc cle MiguelAotonio HcLedia tlc Si, de lit45, ao Íalarda
atmosfera dc. Na Brhiâ mâlê houvc um episódio cm 1836 quc ficou conhecido
de
rla cidade, clc diz: "Tcmplos âtulhrdí§§imos dc câdáveres". Márcia como Ce nlitenda, magisrr.rlmcnte narrado pcla;:cni de loão losé Reis,
Gonçalvcs aponta a luta do discurso mÍdico-higicnista para o cronista da Rebelião À,Íalê]'r. À revolta deu-senodia scguinre à proi-
Almeida
imporo controlc sobrc os mortos da cidrde. El:r €itâ a proposta da Co- brçio, por Ici, dos cnrcrros nrs rgrcjrs c d:r conccssio. r uma compa-
que
miisão de Srlubridadc Gcral paru o Código dc l'o§turas dc 1831 nhia privada, do monopólio dos cntcrroscm Salvâdor por trintâ anos.
proíbc a prcscnça de ccrni(órios dcnúo das cid'rdcs, vilas ou aldeias Scgundojornais da época, mais dc mil pcssors dcpredarâm âs instâlâ-
pârí náo rÍanrmitir "emanaçóes dos corpos, proibindo também que §õcs dô escÍitório "com uma linda tcbulcta quc indicavâ â es.rituÍa dô
nasvizinharças cxisram Poços de quc sc tirc ígur parabebcrou cozi- Ccmitér;o ou da Socicdade'']'r. Os mrnifestantcs cram basicamente
nhar"+'. Gonçrlves mostra também conro a Revistr Módica mulheres ligâdas às irmandadcs. Scgundo o rclato de um major do
!'lumincnsc, em 1839, saúdr o novo cemitéÍio no Caju: "um grânde Exército: cra umâ mulridSo de pcsoas, 'sendo : maior partc delas
âcontccimcnto acabadc tcrlugarcntrc nós, a hr'rmanidadc c a ciência mulcques, prctosdc pés no chío, c ncgr]5, quc todos eles reunidos em
acabam de obter um grandc triunfo""r' número maiorde mil dcstruiÍrm rqucle editício c o deitararn por ter-
Ao lidar com a sccularizição das atitudes diante da moÍtc no ra"1'5. Mulqucr cram os ncgíos jovcns e llcis châmâ â atcnsão pâra a
lüo de lanciÍo oito.entista, Cláudir ltodrigucs irJcntifi ca''o surgimefl to cxpressão "Prcta' de Pé! no.hdo", qrc c\oca a prcrcDça de escravos, "iá

dc mudanças na sensibilidrdc dr população dr Cortccom rclaçãoaos quc usar sâpalos cra um sínbolo dc libcrdadc". O autor mostíâ tâm-
scus morros, na primcira mctadc tlo século"r" Scgundo cla' nâs
pri- búrn quc o frígil equilíbrio polírico pós-Revofta dos Malês íez com
mciras décrtlas teria prcdominarlouma tradição fun€rária de fâmilia- quc as autoridades retroccdcssem, c cm 2 de maio dc 1837 a lei ns 57
rcvog:rva o rnonopólio dos cnterros.
ãro*t.rl.*,. do' homeru no erperho dr rtod€' ln: A mo4e nâ idadé Ograndc problcmr a qucvcio s€ som,. o medo dâs emânzçõcs
^*0,,â
média. Sào Pâulo: Edlsp. <los corpos mortos era quc, pa:t os prctot de pé no chão, os uleq&€s c
rleGRUZINS(|, serae. ta Colonizacióó del nnaeihaio OP .n'
1! MOR^LEs oE ros RrOS fILBO Op cil', p' a0'
^dolio Op' .,, RE|S,loão lôté d6, Á N
{' ^pud MORALES oÉ LoS RrOS FILHO,
Apud ' p a r -ô{e é una le.à: tnot lúnebÊt e @otta populú Arasil .lõ
^dolío. 'il-, dc!,ôXll.SãoPaulo:CompiôhiãdâsLêras, 1991.
i,r RODRIOUES, Cláúdia. Á FCuluizaço des atnúes diante
dz none no Rio de )aneno
r! Apud RÉ15,loáo losé dos. A nióíe é uma lcír. Op. cir., p. ls.
.i*",i.i,.i., o"*"- *a.ioror - crire, dneno e rociedadq ano 4' n{ 7-3 Rio de
CÍimlôolo8i,l€ilns Bâno'§, 1999' Apud Rí15, loào losé dor, Op. cir., p.329.
laôêro: lníirulo CaÍiôci de '$

212 213
I

os libertos, a morte era uma fcstal I'a.a Reis, âo longo do sé.ulo XtX,
môniâs cxtólicas no interiore fcsra aÍricanr no cxterior. Rcis aponta tam-
as âlitudcs diant€ da mortc e dos mortos toma novos scntidos.ÂPE -
bim para os pcrigos dcs.s ceÍnnônias. Elc fâla dos medos imprcssos no
c paçãa ca 1 nú
boa noúe l"bri b;cn) ensejrvâ roda umâ série de
Co»cia Matantil dc 1836, arravés do Íchto do funcr:rl dc um negro
questóes, Íitos: "moviment.vnm-se dcvoçóes e ncgócios"r'Ú. Á cidade
nagô axistido por "mris dc duzenros prctos com selrs archorci,i,i.
rfricânr cvocrva trmbém âssuisúidiçóes fúncbrcs, suas relaçóes com
Asinr cÍ:r ra,nbém no Itjo dc frn ciro: .,cid:de vasra c populosa,
os espíritos anccstrais quc guiavaur o cotidiano dos vivos c lhcsgarao-
ondc cncontrarcis aninhados promisctrnmente ricos c pobres, doutos
tiam urna boa morte. Os monos africanos eram despachados conÍor-
c indoutos, bons c rnaus; onde o potido do correzão se acha mcsclado
mc a transmissão dc uma úadisâo oral rccriada na pÍimeirâ metâde
à grosseira fimiliaridadcatricana; ondc ocncontro doscostumes ame,
do século XlXr'?.
ricanos, europcus c afíic.rnos, quc sc chocão e se repclem, constitui
Sua conversão compulsória ao catolicismo não impedia que os
um todo iuformc; onde a hererogeneidadc se rornou homogênea e
escrâlos iDlcstissem ãs ceriDrô»iis c.tólicxs de suâs característicâs
arro8ou-se o título dc nlrcional"r,,.
âfricân.s. O câioli.ismo birroco c suâ carn,valiz"§ão cstótica comb;-
Ho»togcneizat csra hctengc»cila/e é o csforço dc formação de
sua cosmogonia. "Em suas irmandades elcs
uma sociabilidade urbana numa pcrspccriva de o,d", n ceioitidad. qtc
rfricanizaranr o carolicismo, cclebra ndo sa ntos patronos com masca-
na verdrdc traduzirirm 'um projero dc podcre um esrito de dominâ,
radâs, â pcrcussão dos rtâbâqucs, drnças chciâs dc energia corporal,
cançõcs caotadâs cm língua$ nativàs c a clcição llctícia d€ rcis e rái- çã o" que viria m r "csrctizâr o corid iâ no, impor um a ordem minuciosa
que regulasse rodas as esfcras dr cxistência e forjar o dccoÍo públi
co"5o. Pechman anrlisâ â ntexarí"et ubatizaçtlo da capital do impé_
Nr urbc curopeizadr comcçava-sc a realizara cmprcitada quc
iriâ tratnr da apÍopÍiação da morte como rito sccularizado, irem dc
Íio no sütido da a
toli%ção dos aídigot dc ttando c dc obcdiência.
polí!icas higicnistas. Os ccnli!(rios longe de€ns:t cstabeleceriam uma O scnrido dc nacionalidadc construído pclo Inpcrio Brãsiteiro
implicavâ na criação dc,»onunwtot tigtdos à constiruição dâ memó-
maior distância c produziria um csrranhamento cntre o mundo dos
ria e da preservaçio da história n:rcion.rl: rm 1838 é criâdo o A.quivo
vivos e o nuntlo dos mortos. Estc í um nó cstratégico porque, se dc
um lâdo â trrd;ção âflicana lizia dos rhuris 1únebrcs a consâgrâção Público e o Instiruro Histórico c GcogrÍfico Brasileiro, cm 1842 o
hist6rica da anccsrralidadc, a modearidade cstaria aprofundando seu Museu Impcri.l, cm 1837 o Colúgio l,cdro II c ern 1842 é recsrÍuruÍâda
a Escola Nacion.rlde BclasArrcs "como o lugarde produçâo dc umâ
proiero dc rrriqu;hmcnto Jr LiíóilJ o.Jl prrJ impor a luJ narrarirr
da históri:r oÍicirl. Org:rnizâç5o, ía.ionalizxçío, asscpsias, cemitéÍios,
rrtc nacionâf, ou scia, de rmacíética b,arit.i.a"at.
Parrick Straumann, trarandoda qucsrio do nascimcnto da ima_
tcstâmcntos, convites impÍessos pâra cnterros, cnfim, cerimôniâs so-
ciais civilizadís tentârâm drr fim à ícsra.
gem nacional no Rio dc Janeiro mcsriçoJ peÍcorre com três aurores
(G ruzinski, Âlc»erstro e Monóncmbo) obm dc Debretem sua longa
Rcis cvidcncia a relação fcstivâ que os brÂsilciros tir) ham com os
funerais. Elc pcncrutr algr.rns dcscnhos de Debrcr dc cnterros de ilus'
c.,p.,ronrdJ e,'iJi no Itodc IJnriro (nrú- r8J4 ). tmpclido nctos venr;,
tres africanos: danças, palmas, atabaques, foguctório e acrobâtas cer-
cam as irrnandadcs negras, insrituindoo/e,r,ú c o forc da lgÍqa: ccrí- i' RErs, lôáo JGé dot, Op. .ir., p r 22.

' MORAES E VALLE, Manuet M rÍiã de, Abtntas cansideÂçóe! sobrc


a úehdi.idade no
,6 RErs,loàolosé dos. o.oridiano dà nb e no BÀsil oitôcehtilta. h: Históia da vida Rio de /ãnerô. Rio de Janeno: Typ. do Oíensor Brãsilekô, del.l. MoreiÉ, js46. Op.
pÍiva.la nó Basil: tÃpéÍia.le.nando Môr.is (coo.d.), Lui, Felipe de AlencanÍô (oG.).
\üo P"ulo' Corpànhir d a lê'Íd., 1997. p 96. rmPtCdM{\. CaüÉ M6e..CjdàocrrJrê/á4,enre!iEjàd4.oderp,neeourbrndd.Rrc
r!, Rtls, loào deJãnenô: CJ!a.là PàlavrJ,20o2, p 15.
José dôr. o.olrdiãno. Op.. r., p.99.
a, PECHMAN, RôDeí Mo*r, Op. cit., p.30.

214
215
I
escrava: "encarrcgada da maç:nte tarefa de cnxotar âs moscas € os
iponâ no Brasil.com a Mi§são Anísticâ
da Restauraç5o francesa, ele mosquitos... dá aqui ao europeu o exemplo dc um acréscimo de infe-
nio de lane;ro
ii,^).* ,":,à, o.o r,*,'nç" a' f''nitl" r""l no pâÍ'
''"*:i;""." a Pâlâvral) trà-
licidade do scu cativciro pelo espetáculo doloroso da máscara de lata
à";m urilizar outro scntidoao me§mo temPo em
que cobrc o rosto dessa vítima: sinistro indício da decisão que romarã
-- a. , ;-S c otrcial do línPÜ;o de sc dcixar morrcr, comendo tera"a. Elc desenha também o arsenal
;,il,".arri' as contradições e embares
do
:',1: á"*": p,'"
" t"ros de maldadcs e as cenas públicas de castigo: chibatas, troncos e orrms
ü;,*,,.. i"i i",t o t';ro'iaao' r"ai'iário: "o início '€Íá
L1ialli". engcnharias ústi<as dc oÍtuÍa. Seus deÉnhos mostmm os escnvos pelas
e scu uso
obscrvar pcla pluma seu âsPe«o " ruas, ama nados pelo pescoço, acorcntados, os ga lés que abasrecem de
""^' iil l"aia" a, oreciosidadc analitica desu iconografiâ
csú
águâ as fortalezas c as oficinas dogoverno. O medo e o terror impostos
(.; J^bém foi um cronista dc suã éPocâ) rercÍen- pelo crucl sistema penal permiria mantersubmctida a tração huma,
".,"',;;'.o;;;.
lI;;;;;::'r,"'ado para o rcatro da cone Por ocasião
da
na, aenergia viva daquela econom ia: a mão-de-obra cscrava. Os dese-
coroaiio de D. Pedro l. em t822: nhos dc Dcbrct mo«ram os ncgros abasteccndo dc águâ, Ievando os
dejeto§, câÍregando as liteiras, serrando madeiras manualmente em
pano' cuio esboço rcpre-
"Piitor do leàiro, rui cac'rrcsado do novo detrimeDto do trâbâlho mecânico, movendo cana com seu corpo. En-
âo govüno
,."tr," " *' o' **o- gcrál da PoPulação b'asileira fim, com Darci Ribeiro afirmamos qü€ o moinho de gastargente do
J"onoà sombíadc uma ricrtàP'§rna eí'n-
;;,;i'."'"d".. ciclo econômico imperial precisava de um sistema dc conrrole formal
lii, '.ilir",,.t^ *' 'omPo3i{io roi submeddr )sobrívãçóês
e informal c de uma arquitctura do medo quc posribilirasse a consa-
gontÍácio'quc à trprÔvoú El' aPcn'i mc
i. ';^"i--*i";.,. f"'t gração da cstética da escrâvidão. E o mais impÍcssionanre é que na-
;.#; ;;;;,",''; ""!rmcins niruríis por um môrivo arqu! quele momento, como hoje, âs elites é quc ind.vâm assustadas.
l.i",.l ,.*",,,'- "f" r nda id'éiz dc 'rado «tusd"q'. Na cidadccomo palco, co mo arena,a àz, aruÍgia ainda cíaaa

embâte Primoíd;al noccnário


poruar.r quândo n seu Ênsaio
úês jovens estudanes pul.:licara nbr
Scu dcDoimenio nosdáconi'r do d tftgédio na Rcuirta da Socíedadê Philonótico, em junho de 183350'.
que tão den§âmentc a hrbita'
a".ia"l"
"" ''".s.i;;;;;;;".'.a
"*'-a", " "lvâgcm da vida dos pretos
Ribeiro, Rocha e Quirosx introduziÍam assim o debate entre o
átão à cotidiano
"uer classichmo e o romantismo revolucionário na Europa; sua adesão ao
di,'im'rl'i"""1 ".T: 1'.',y;::i1,1**:'i
na cidade, mar ::: classicismo é si n tomática deste conjunto de n finidades elerivas entre a
-".á^.nm oue seu rrabilho â8íadrssc ros elitc e a estética do conrervadorismo. Um deles, Iustiniano Iosé da
âo
o gozo da mulher do sapateiro Portugucs
,* *".., i,"" a'*'" a escala hierár-
Roch., râdicâ-se no Rio e vai dcsenvolver as primcirâs críticas teatrais
,."i"lul** à" *'"tória num operário rscravo;
público (o senhot na
no jonal O Cmnista, em I 836. É neste âno quc João Caetano monta-
a. O,'*a ,i'"t'ccl de um funcionário va Alexandrc Dumas e Vicror Hugo, impondo o drama romântico
""i." atríse' ao finalda 6la' osescra-
i*.". -ulheres logo
'*notes scmprc num "momcnto dc efervescência caractcrizado pcla dispura de dois
"r*..i'"""
lii .'i"'i",."i"'" à vkta' o b'utal 'colar dc Ícrro'
teatros"m: o'Ibatro Constitucionâl e o Tcítro d, Praia de D. Manucl.
rudo desraca
l-.,"" 1'*.. f,"ia.§" Seu olhrr machrdiÂno' queproraSonrtmo Em 1838, Manins Pcna encena a primcim de suas comédias ligeiras:
"".
ai«.-,r,, t*'" uma visita cntre senho.s
Se o

::lH'ilHi;il"t'"'"'
"tr""J. g"au'r','' 't" a's,za no deurhe' à u oEBRET, J, 8., apud, STMUM NN, Patick. Op, cit,, pp, 88-89.
FARIA, João iôbeío. ldé,as tearíais. a
'' T,APESP,2OOI.
5é@lo XIX no BÀnl. São Paulo: Pe6psriva/

meíiÇ! op I0'
--í^.ua
sr*^ur^.,u t.u R'Io de /"êiú' c'dádê 'ir'p' s rARlA, Joào Robêno, Op.cli., p.26,
'*
ITRAUTú^NN Pavick Op cn"
p 10
5i o;BRET,l. s., apid'

217
216
O juiz dr pi,
d.t,aça. S\rs coDrédias dc costumes retrâúvânl o cotidia- estilo rcflctia â econornir: "o monopólio da rcrra br:rsileira, dos me ios
Do drs faDrílias médias c rbrsudas, dos bmncos emgeral. Só nâ décadâ
deprodução, dadircção polírica c cconômica, formaçãocultural... tuclo
tão zclosamcnre scgu ro nâs máos dâs classes d ir;gentes dcorigcrn bran-
de 50 sury;iâ um ronanrismo nacionalist.r que clcgcu o indirnismo
roniâ.dco e pasteur;zrdo, crn rJctrimcnto do Bmsil africano.
I'jar.r Jcan Carvrlho Franç:, ó.r ptrrtií dc 1830 que os negros e
Ncutralizrdo no seü protagonismo, caprurarlo pet:r sua reprc-
cscravos comcçr,Ír r suígiÍ no ccnírn,litcrí,io. Ele tmbrlha corn uma scDtâsão dcsconstruída csrcricxmcnrc. Flora Sussckind analisa o nc,

tipologiâ ,prcscDtada n. produçio literírir o cscravo melancólico c sto camo drleq"in, com''uma másca.a brancâ que se cola ao rosto, ao
stúosct,c' kga o e alofd, a nac Dqla, a bela »tulata5"1. corpo c à irl{ do nc8ro". N;nguóm enccnou esta hisrória dc pÍolifer. -
'.,fre,lor çaD de imãgcos do negro, este scqücstro cstirico, como Spike Lee Do
Na década de í0, o ncgLo pissx â apâreccr nâ prosa de licção urbrna.
A paÍirdos i0 já.rpâÍcccm os pcrsonageos pacificrdos com a socicda- õl.ne Ba baazLd,intcícss, nrcmen re rndu zido para o português como
Jc dn1.tJ: odet-ri.in tLt ..li-; -rn"hqr tu ituiga;: rnucJmJs.. n,n\.
dc-lene, cocheiros, dâmas dc conip,nhi.. Os Íiccionistâs do oiroccn- EDtre;rs pugnas Llo pcríodo havia à do conrrolc das imagcns,
dos ccnÍrios, d.s rcprcscnrrções, dr simbologiar a lura pelc, coticliano.
tos gostavam dc anrcpor as mulhercs c lrorrcns braDcos (elas scnsí
vcis, elcs rrzoí!ei, rrrureza a »al dataça negru, sua sensuaiidade
à
pdn ptisagen qtc uxa palar allor c sc nrturaliza no imâgiDário cole-
cxrrcmada, o cxccso scxual, cono dcscrito por Ficyrc através de tivo se clava nas ruas da cidrde; r elas er.m cn) gr:rnde pxrre dos aíri-
8.. ..) uv.,' '. s;o ,r,,,1 , ,n d..cr:,o. como in,r.ivei. ( imprLt i'ivcrs cm canos e scus dcscendentcs no Rio dc l.nciro. N,Irry IGras.lr .fiona
scu rcmpcnmcntos"; car.ctcríticas assusrâdoÍ:rs... quc, apesrr da prcsença do pclourinho, das tropas ras praças e das
Frrnç. ânxlnr as cenâs com os pcrsonagens negrosabrindo por- lortrlczas, "os cscravos conuolrvam muites ruas, pí.rç.s c mcrcados,
ras, accndcndo cherutos, scrvindo mcsrs, hvando roupa c ató cx;b;n-
ondc domin:rv;rm Ma partc do comírcio dc rua"'L'. Eles aproveita,
do drnças cxóricas p:ra conv;dados. Elc i-ala dr ambigúidxde dos sen-
vâm xs horas mais qucn(cs do dia (e.quaDro seus donos dormiam)
timcnros de io.lispcnslbil rde prrâ mrntcÍ r o,dea, dos scrviços se- para sua vid.r social e para scus "dilicc;s sxnhos íáceil': !rividrdcs
nhoriris e dc suspcição pcla sua proíunda pcnetmção no universo do- econômicrs, pcqucnos comércios .luc prÂlicrvâm pelrs ruás da cida-
móstico, na vidr íntinra. Os llccionistas clcscrcvcm rambém o cscravo d..4.., r",., Ji/ qu, o..qLcJ,,,o .. run, a. i. fr.,iJ\ c os ,io..,dm
como portador da dcsord cn: os nucuntbciot, os ttnidas aqoe;tas, os
prrtc integrantc da virl.r rlos escravos, quc podiam assim celebrar
dcgndants barbciLos, osltgitiuat a ta.eitu! ctc. Calungr, o occano ou Icmanjá, I divind.dc iorubr. Ela diz que rs
Érootciras prra os cscravos nr c;dedc iam provocar expc riêD ciâs amar-
Somcnrc um século dcpois, em l911, Ábdias do Nascimcnto
gâs r quem Icnrassc rr:rnspass.r os seus limircs. Não pensemos que
iria Lcvolucionrr r ccrrr c íilodo oTedho EÍpeil»e,tdl àa Ncgtu, rÍàr\s-
lormando os papéis rcservrdos prrr os ncgros: exóticos, grotcscos ou esta sociabiiidrde urbrna en libcrdadc: "Ircch.rdos em armazéos, ofi-

subalternos. ALrdirs clenuncia r làn:ra como a litcratura drâmática ig- cinâs, lojas, c tát ricâs, lrbur:ivim lonsâs homs cm pródios sem jane,
norx i Íorça líicâ dos atricrnos desprczanrlo "o potencirl dramático las, que erarn os limites dr sua vüa. À noite, eram trancados para
por clcs cuhivados em séculos dc sofí;nrenro c libor criativo; séculos dormir amontoados no clrio, às vezes acoúcnt:ldos. As p.rrerles errm
tambéra dc rcvokas, insuneições e fus.rs n:r busca da libcrdrde". O bancims visÍveis quc os seprravam dos cscravos de fôra"',. El" l'ala

r'f NASCIME NÍO, Àbdias, O


Í'rRÁNçA, )ean M. C"rvJlhô. o,esrono r,,a,.e oilo.e,tÀta.l Estudos anea\iáticos, BenacÍdia do negL bratilen : pnceso de ún ncisn)o has
cnrado. Rio de Jaionô: Paz e Tem, 1924, pp. t62-t61.
n! ro. Riô dclanênó: coniu.ro Unlve6lláíio Candido Mendes, dezê'nbÍôde 1996.
idCÍ. ír KARASCH, Mary.4 vida dú eJ.7avor. Op. cit., p, l02.
BOCAYUVA, llel€nr. Erornnro à brari/eira, Op..i1.
5 I KARASCH, MÍy. Op.
b FRANÇA,le.n M. Carynlho. Op. cll., p, r02.
cit., p. 104.

214
Í'

também das cscrâvas domósticis, pâr:' is qu.is rs câsas e os quintâis Aquestãoé que â enrrada mrciça dc africanos na cidadc, cntÍc
c.am "frcqücntcmcnte os limitcs da sua existênciã"'tr. as dócâdrs de l0e 50, trânsformou a nú lcal c hct óica àdad. do Riodc
É por isso que a movimennção dcssí mistura indeciírável dc /aaar)a num palco dc vigorosos cmbatesem todos os nívcis, evocando
cativos e libcrtos nn c/ade-esconda.ijo5" q.uc os akicânos vão inventan- medos, suspeiras, violências c Ícsistênci:rs. Líbâno Soares fala cla "vi-
do, assusta tanto crTale-erroplü5r5. Kararch iirzalusão à comidâ quentc
a gorosa cultura africana urban.r do capitaldo Império brasileiro que
vendida pclas africanas no porto e nos distritos com€rciais. Erâ o angu, domi»cra orgulhosa as ruas da Cortc durante décadas"5':o.
cujo forç crigiriâ as í6rr le angu ou ca:os dc znngu, que tanto trabalho Nao é r roí que, nos dicionírios brísilciros. os rcrmos angu ou
dariam às autoridrdes da époa"'. Líbrno Soâres trabalha as casrs dc zuoSu apresentem senlidos pcjorâtivosr dcsordcm, sujei.ã, esconde-
rngu c â "pcrccpsão do medo dí Politizasão dns camadas máis baixâs riio. O angu rlimcnto consritui-sc lambém cm "metáÍoÍa da cukurâ
dasociedadc na década dc 1830, um problcma patentecm todo o ImÉ- popular dc origem negra-atíicnna: hctcrogênca, confusa, díspar..."'l
rio""?. Elc dcmonstra o dcslocrmento das vendedoras de angu para Dcsordcm c perigoparauns, rcconsrr ução de laços comuna is c anccs-
casas fechadas dcnominadascall:r dc angu c dcpois popularmente dc-
nominadasaugrs. Romper a cultura e a arquiicrurâ do medo pressupó€ transfor-
Em torno da memória da alimcntação, do angu, celebrava+c mar loucura em obra, descjar um futuro a partirdc uma mcmória que
uma sociabilidrde ativi. Como as císas de quiloml,o e âs câsas de se entrclnça no singular e no colcti!'o. A corsÚução da uropia está
feit;ç.riâ, os zungus, câsas de angu emprccndidas porafricanos liber- viÍcíalmcnrc l,E.dr I H;srórirt'/). Nós rcssu\c;rr
tos, to,nâvam-sc ccnlÍos dc cmbarclhamcnto, lugares de acolhida c
ícgisrrârcmos as asõss c os scus r.rstros, porque , Dotâremos tudo num
passigcm, intcrscção e'ltre a cidade e a fuga pr ra os quilombos rurais,
livro lúcido",como dizia o Livr;nho Malê"r. Conrrâporuma narrâr!
escondcriios. Como diz Châlhoub, r cidâd€ quê escondc é a cidadc
va comunnári. ão discurso apanador do medo pÍessupõe, como diz
quc libcna. É por isso que L'bano Soircs anrmi que m,ior PârÍe
" Mohammcd Elhajji, umr cxisrência no que J rnraiza no
das invcstigaçôcsda potícia napíimcim mctade do século cra dirigida 'n5cr.vcr
passado, pÍojetando-a no futuro; na dcmoliçáo da "cidadc para al-
aos angus, "quc cram considcrados sislcmíti«mente como refúgio
gu nJ' do projeto libent-conservlrdo r: "Ó Sen hor nosso, rirâ-nos dcsrâ
dc escravos c covis dc dcscrtores, vagabundos e receptores de obietos
roubadosúü, Nos zungüs, já no firâl do século, a imporrân€ia das cidadc, cujos habitantes são oprcssorcs"5r'.
mulheres rcforça a "unidadc simbólica c lingüística construída pclos
ÁÍricr banto na cxpcriência dc cscravidão no Brasil"sr', A
da
"'c.rvos
prova dirso, ch nos di rtrãvrs dx rcprcss5o aos zungui qu. morivou
D LíBANO SO^Rtt ctulc E. op-.n., p, 106.
uma novirladc nas cstatísticas di Câsa dc Dctensão em l88l:76% dos rn LiB,lNo so^Rtt caí16 op. cir., p. lr,
E.
presos cÍrm homens e 24% mulheres. !r BlRrvr N,lel. A,@á,,F, nesativilad., h.te@géh@: @o a ptkaoálúe podê rs oô'
tá.ub paâ a batbárie. tn: Cadznoí de Pricaná,iJe, vol, 1s, ár a. Rio dê lanênorSdiêdá.
5I de de P3i(análise da Odade do Rio d€ ,.nêno, 1995.
KÂRÂSCH, Miry, Op. cil., p. 105.
r'1CÍ. CHALHOUB, Sidn€y, Op, cit,
5,r Ll! nho Milé, documento em áabe rêdêscobeno p€la hisroÍiadoa Alinni€ SiltíÉ eh
no$ psqúii no hÍnúo h istóico e Geog.áÍico BÉribi@ e tEduzidô pàÍa o poíl8uêÉ
srs Cl NEDER,Gizlené, Op, cil. pelo Prcí, Dr. Mohamúed Elhaiii, que sb.eele produziu intere$antêtexto (Niralivas
.omunirr as -ocãs mãlê, e,ôeo),
'ó cl LIB^No soARES, caÍlô§ Eusênio. z!trglr runo. de frlira5 vozer. Rio deJân€no:
§1 Cl, CERQUÊ|RA
1993, frLHo, ckálio & NEOER, 6izlene, tmoção e polilia: le)ventua e
n, ^.q!ivoPúhlicodoRiodêlaneiro,
LÍBANO SOdtEt CaÍto,E. OD.rir., p.29. iúaginàçáo sÉialóEica paía o século xxr. Pono AlegÍ€: séEio Antônio Fabrit Editor,
!. tíBÀNo SoARat cánc L cb-.n., p. 4z
ír tíMNo so^Rrt cul6 r. op. €i1., p. 99,

221
220
4.8 Epílogo duzem a prccc ritual e logo cntcndc aúio pouco conh.ccn . rcli-
O úoico discu.sovivo dcslc grandc ourro! o africâno, o pÍcro, o gião, quc o j.jum doRamadi é impcrfeiramtnte obs.'vado, quc be-
bcm ,lcool c quc súas mulhcrcs',âz.m o quc qucon como as nru-
cscrâvo, o libcno nâ €idade quc csconde e abr;gâ, é o papelzinho, o
livrinho mrlô, í orâção muçullnrnâ encoDtrada no pescoço de um lhses dos curo|eur (rzlr). Assim, consente po.lim o Imãêm llcár
ncsro morto nâ rcvokx dc l83t na Bahia. Escriros ârábicos desperta- c.trc clcs e insLrualos no Islii. No cnmnto, isso dcvia scr íciio
vam su§peitrs c csrranhâmentos. Como um código, uma m.nsã8crí secretrmcntc, cos negros suplicamJhe quedeixe de usat o n^ieLla,D

cií'aJr. J orJ(io gucrcirJ nc((i,tuvn trudusio, intcíprcraç5o, (omo para que rÍc não os denúnci.sc"'r'.

numa metáfora sobreo decif.ãmcnto d:r hisiór;a dos ycncidos,conta-


da pelos vcnccdorcs. As hisrórias ncgras aparecem como relaros de Esseprccioso trabalhoda hisroria dora alemâ rcvela os esforços,
terceiros em crônicas parciâis e policiâis, ondc dificilmente apareccm rÍinrâ ânosdepois,pârâ reconstrução dâs Irâdições m uçulmana s diantc
como vítimis. Qucm tem ncdo dc qucm? Afinal, o sistema penal em do dcsbaratamcnto produzido nío só pela escravidão, mas também
coostrução dirigc-se contra a população africana na Corte. O talismã pclâ brural rcprcssâo à Revolta da tsahia.
maometâno suígc cntro como indício, vestígio dc um univcrso Mas o faroó que o nosso Livrinho Malê apresentava+e com o
oblitendo pclo tcrror da cscravidio. scnrido invcrso à cscritâ árabc, da csqucrda à dircita. Elhajii afirma
O Livrinho Mâlê cncontrado cm nossas pcsquisas foi traduzi- ser a grafia ou flrar utilizada nnghibi,perrenceme ao Magrebe, parte

do pam o porLuguês. Soubernos clc outras traduçõcs dc documentos ocidental nortc do Átrica. Segundo cle, até hojc css mcsma grâfia
cm árabedaquela conjuntura, scndo o su rpreendcrrtc trabalho de Nina continua scodo usada.- toda ÁÍrica Ocidental, inclusive pelos
llo<lrigucs a mais importanre dchs, em 1900516. hrussás, iorubrs islamizados e outros povos da regiâo. Elhaiji destaca
Ás 102 páginãsdo Livri'rho Malê (a trad ução com plcta consta a boa qualidadc da onogra6a, denota ndo o domín io da língua árabce

rlos anexos dcstc trabalho) foram cscritas e orgrnizadas ao cootrário o alto nívcl dc instrução dos autorcs.
do alf.rbeto ámbc, qr-re se escrcve da direita à esquerda. Isto pode nos O rcfio escriro é qu,se todo umr recomposiçio tcmiricâ 3 PâF
filar das apropri.rçócs da Iíngua, dos ritos e dos costu,ncs muçulma- rir do texto do Alcorão; uma rcfi8urâção textuâl (§egundo o conceito
nos desenvolvidos por escravos ,r frica nos quc iam pcrdendo scus vín- de Paul Ricoeur) do livro sagrarlo5z'.
cutos com as tradiçóes vividas no continente africano. Rosemarie
"Ou scia, Alco!ãoem fünçãode umã irãdi'
são rrcchos escolhidos do
Quiring-Zochc nos contâ uma história de sercmbro dc 1865, quãndo
Àbd al-Rahman Elcndi parte dc Istambul como Imã, líder religioso são trmíicr..iruácionrl quc, l,Jo' nr noÚ ,c.ohPo5i(rô c nôvr or-
muçulmano5r'. l,or problemas dc pcrcureo c obre rlo dcstino seu navio denaçno, prodúzcm uma nlrratila àtuilizáda que §irua um hto rc-

píra no nio de Janciro. cial dsdo (no caso, o episódio histórico dâ prescn§n mrlê nô Brasil)
nuúá pcrspcctivâ úÍi.a.iurl,
nr quâlaexperiênciâ políticte social
'Aquialgun, malês procuíao os rccém-chcgidos., nio falindoára- $ torna um dcsdobramento rtualizádor'recontclrualizado das estó-
be, dío-rc ! conhe@r.omo musulmrnos atnvésda padi.ipa!áo dâ rias bíblicas c dos ensina mcnros"'r.

s/,r. Ití!iro scôsibil;zado, !ê o Ini gDão deficicnrcmcotc eles con-


RoEmaÍie, Op, cll., p.233,
'TQUTRINCZOCHE,
iri 'i' Elhajji se ÍeíeÍe aqui ao LivÍo de Páu RicoêuÍ, le co"i/,i des lnle/p/êrations. E55ai5
ROORIOUES, Nina. Os âÍricanos no srasil, 5âo Pauloi €d, Na.ional IBÍaílial, ed dá
UniveEid.de de B..ília, r942. d'He,mé,elrique. Parisr sêuil, 1969.
!:'cl. R@G.ie. Lut. elieiota @ luta politka? '. Iodc 6 tre.h6 eô arpâs sáo de àuloriô do Pbí o.. Mohâómed Élh.jji, e ,&êm pâ.l€
QU TRTNGZOCHE, O lavaote dos nalês na
do iexlo que ele prcduiu p.a análi* do Lavíi.ho Malê. Fo êlê lí.duu idô.
aàhia sgundo uú túte il/;,nica. rn: Íe 19'20. Riô de lâreio, 1997.
^írô;Jia,
223
222
Elhrjji ressaltâ a função protetora do livrinho como ralismã,
dc signos, mctáforas, miros, metonímias e riros âpropriados", íazcndo
poder sol.:rcnatural intrínseco à própria palavra corânica. O profeta
com que sua dimensão simbólicâ hrndrmentc uma,,consciênciâ
Maomé Ícccbe â Ícvclâção divina materializada no texto corânico. O
islámica". Esta rcfiguração cstaria prcscnte no Livri n ho Mâlê; cste epi-
ÁlcoÍão scriâ â "falactcÍnre incriada deDcus", transmitida de forma
sódio de escravos aÍricanos no Brasil se aprescntaria como'arualiza-
l;teralpcloArcanjo Gnbriel (lcmbremo-nos dos csforços de transmis-
são âtemporal de um. virtualidade prcgnanre existcntcdcsdc scmpre
são da alccstralidadc através da história oral, nascerimônias lnnebrcs
nos planos divinos". Essa coNciôncii dc um. justiça infinitâ exorrâ à
aíricanas a que nos rcfcrimos no úkimo.âpitulo). À Íevclaçáo seria,
luta c à resistência como rtode fé.
assim, um "marco divino queestabelcceu o ato de nascimcnto de uma
A rrídição comunitárix da organização social islârnica inspirâ
comunidade indefcctÍvcl, univcísal e ârcmporâl ( Untna), crja natu-
umâ declamÂsão coleriva rlo AlcorÍo. Um dos csropins dâ rcbclião
rezâ é ao mcsmo t€mpo políiicã, juríd;cã, organizâcionâ1, cspirituâl c
escrava na Bahia, segundo ltcis, Íoi a dcstruição dc uma mcsquita
filosólicâ".
improvisada no teÍreno dc um proprictÍrio, ondc os fiéis se reuniam
OAlcorão esr:rria inscrito num. relâçáo com o princípio da his-
para intcrprctara palavra c também para "meditar, íeÍletire lcgirimâÍ
tória dâ nâsão islâmicâ e com a formulação dc um outro futuro.Atrâ-
a esperançr na condição humrnâ e na jusriçâ finâ1,..;ao povoaro imâ-
vós de um discurso mítico desvela-sc um praT'ero ro cial aniu?Ílal a par-
ginário muçulmano dc rcprcsenraçõcs simbólicas e míricâs, elâ âcâb3
tir dâ imponân€iâ do componcnte histórico fatual. Na Revolta dos elabomndo mccanismos mentaisde rcsistência às veleidades invasivrs
Malês na Bahia, ou no Orienie Madiodos dirs dê hoje, o livro "serviu c
da razão instrumental e do obietivismo m:ueriatista, Íazendo triunfar
cond n ua scrvindo dc mtâlisador rcvolucionário e libertário tanto subje-
â visão imagi ativâ e úrns-hisróricâ sobrc â »etrÍisica râcionâlista
tivocomo táúco-estratégico" para lil.:crtação do colonialismo, do impe-
.ialismo ou dâ slobalizaçío neolibeBl. O LivÍo Srgrado constirui-sc
Essâ Íâzâo subictivâ csrãria no cixo dc rodos os medos provca-
em rcÍercncial Iingü ístico supremo, "um falar local submerso, nummar
dos pelo desvclamento dcsse mundo, dessa capacidade de resistência,
dc vernáculos regionâis", "bâse grlmaricâl e liDgüística do quadro dc
imaginação c intcrprctaçáo rcvelada pclos malês nâ suâ rcbctiãô. É
reprcscntaçãosimbolic"" que ogcrou. Elhajji ciu Cliflord Geertz5r' para porisso tâmbémqueos epiúdios dâ B.hia iosriruíam novostfmores:
cxplior antropologicamcnte adificuldâde dedifcrcnciaro quc é espc- carâctcrcs indcciírávcis, conhccimcntos insuspcitados, oÍgánizaçõ€s
cificamente árabe do que é islâmico.Ânarrâriva corânica adquire entáo
horizontais, histórias com projctos dc fururo.
uma d imcnsão u n ivcrsal e atemporal, principalmente pela fbrma como Nina llodrigues arrigo intiolado Ot ncgrot
o texto foi organizado. Os c,pítulos do AlcôÍ5o são 4prêsentados lem »taonctanot w Brusil,noJotnaldo Conmcrcio do Rio dc lancno de2
seqüência cronológica. Esrâ dcscontextuâlizâgío é que pcrmitiria sua dc novembro dc l900,em que se referc à rebeliãoescrava na Bahia de
cteroa rcintc.pretaçâo, suase»iotc itfúa. Stra. esrórias 'te desfizeram
1835'r'. O scu surprccndcnrc rrabalho rcvela â proíundâ ambigüidade
(oIâlmcntc de sua â ncorâgem scq üencial hist6rica facrual para adquirir
da sua produção inrelectual: 1ôi ele quem fundou, ao lado da Medici-
uma s;ncÍonicidadc absoluta qüe os to.trã contcmpoÍâocos". nr'trgal e da Anrropologir bmsilciía, , cl(olr posirivisrâ, com suas
Pâri Elhaiii,6 o dêstacamcntodo texto corânico dc suas condi- traduções incorpomçócs do loml,rosianismo c do social-darwinnmo.
e
çóes iniciais de protlução que permiiirá seu uso comoâmulcto ou como
No entanto, tinha uma cspécic de curiosidade apâixonada pcla vida
modclo político e social. O Alcorão é, assim, "um universo coerentc africana noBrasil. Sua tra;ctóriâ reÍlere um pouco csta grande contra-

s' cEERTz, Cliffod. lslafl Oóreded; Âel,8iour Devêlopme ,n Mate.o and tndonesia. TiTROORICUÉS,
Nina, Os arica"or no Rraril, Sào Pãuto: Ed, Nâcionatj tBÉrítiàlrEd, Uni-
chie8o: Íhe UnivêÁiry oí Chi.aso Prctr 1971.
vecidade dê BÉrlia, r932.

224
225
d ição brasileira com rehsáoâ suâ âfricanidade: p€rceber intcnsamcn- rixm dá mortr, d€ ondc vcm cnconrnr-sc nos co.pos nonos grãndc
te a sua prcscnça c sua força, trataodo sempre dc dominá-h. No scu porçao deditos c oas vcíimcDras ricls c esquisitasqu€ ngunm pcÊ
cãso, tralrâlhândo a tcoriâ dâ hieÍarquizaçío dãs râç3§, êíigmârizan- tcn..r âos . hefcs . íôíí m ,chados cm alsu mas buscas"s'.
do a'mç3 nc8ra" para que o 6m da escravidão cm sinão represenras-
se umâ ruptuÍ0 socirl. O conrrolc sociãl e ã oPrcssão se jus(ificaÍiârÍ) Á polícia sc inqüictavc €ntâo com o sentido religioso, a organi-
cntáo pclo discurso cicnrífico. zaçáocm "plaDosupcriorao qucdcvíamos esperarde suabrutalidade
Mas o làto ó quc Nina Rodrigues cstudou o levante dos mâlês e ignorâncii", í capacidade dc lcr e escrever e o mistério dos papéis
apaixonadamcntc. Esse scu tcxto rem várias pass.gens onde aparece que os livrar;am da morte. Nina Rodrigucs ressalra â imporrânciã dâ
uma prolunda adrniraçio pclo cpisódio. Ele;rnalisa o islamismo na "propaganda e rlo ensino mnornct. o". EIc cita duas ca nas do Conde
Âfrica, a história dc sur rcccpção no pâís c rrâbalhr o encontro cntrc da Pontc dc 1807. Numa dclas, o govcrnrdor se refere a "cenas com-
os iorubrnos c os Íulís c hausás maometanos no Brasildo XIX NaT- posiçóes supcÍsticiosâs c scu uso:r quc chamavam mrndingas, com
râ tâmbém os vírios movinrcntos dos haussás ni Brhia desdc l{t071 quc sc supôem invulncrávcis c !o rbrigo de qualquerdorou ofensa".
insu úc içócs cscrâvas lidcr.das por hrussís âconrcccm cm I 807, I 809, Etc t rJ ra o' lcvrntcr rnílis religios.rmcnrc, comoT)7rzl. E bom c'cláre.
l8l l, 1816. Movimcnros libenários nrgôs deram-se em 1826, 1827 c cer que tânto Nina Rodrigucs como muitos "combârenres conúâ o
1828, todos dcsc ritos dctalh adamen te em se u ârrigo. A r€volta dc I 83 5 eixo do mal", tal como proposto pclo iovcm Bush nos dias de hoje,
é pcsquisada nos âíquivos, nos processos e tam6ém com desccndcn- distorcem os scntidos da 1>:rlavr:r7ilal, quc significacnpenho ot csfor
tcs dos sobreviventcs no finrl do século. Ele aprcscntr documentos ço, dandoJhe o sentido dc Cte»a Sa*t. rl.iátr Abu Thlib denuncia
hisróricos irnportantcs, comoâ cllrtâ do Chcfe de Polícir da Bahia, Dr. qüe, na vrrdadc, Gr/.,u Srrra foi r cxprcssío urilizada pelos cruza-
Francnco Gonç:rlrts Mrnins (íuturoVis.onde de Sáo Íiurcnço) :'o dos quândo invrdir.m o Oricntc''. Para Qúiog-Zoche, jihad é o
prcsidcntc da l>rovírci:r cm 25 dc ianciro de 1835: esfor(o do crcntc cm l'avor dc sua rcligiáo. O dcscjo de farna, honra ou
gânhos mrl€riris porii em pcrigo o guêrreiro dotll, ad ou n4jihadi; a
.Tcm sido d.dls
lror min as providencias ncccsáriis para scrcnt luta devc scr leita com purczr dc cspírilo. "Umâ guerra sem objetivo
corriL.hstodus rs casas rlc rlÍ;clnos sem disliDsão âlsüma. o rcsulti- religioso é, todâvia, proibirla ao mugulnano, dc modo que toda grer-
do serí prcscnre r V )ix". cm tcmpo cohpcrcntc, podcndo dcsdc já ra cstá,sob o pontodevistr rcligioso, indissoluvelmente iigada à poli
rssr\crur J dú,,,v,Ll,i!cl. d.o,ixo dc um plJn" \Jpcro, "o quc tica, e deve scr uma guern justa"5r5.
'(In
dclcríiDros cspcrar dc sua trrutâ)idadc c isnorância. Em gcral vão Mâs Ninr RodriSucs âdmiÍx "r grandeza mor.l de quc, em
qursc torlos sabcndo lcr c cscrcvcr e,n cÂracieres desconhecidos qu. face do perigo e da moúr, dcrrm norável cxcmplo alguns dos
se asemclhrm âo árabc, usrdô cntrc quc figuram tcr hojc
os ussis, insurgidoJ'5rí. Frh também dn "csfcrâ de âção e influência da cscola
combinndo coln os À,gôs. Esta nação, en outro tempo, Íbi a quc sc do at{á ot onruba Dandarí. O haussá libcno Elesbão do Carmo, em
iflsurgiu ncstí frovíncia por vírids lczcs, scndo depois substitúídâ suâ reÍrra Dandará, mor.va no Grnvrtá, mas Iinha alu$do uma câsi-
pclos nagôs. Eristiaor mestÍes que davrm li!ões e trata!ím d. orgâ-
ôizir á ;nsurlcição na gual cnmv.m munos fo.íos africanos c até
rI RODRIGUES, Nina. Op. cit., p. 241,
ricos. Têm sido cncontrídos mui.or livros, alsúns dos qu,is dizcm i! Prlesh pÍoíeÍida pôÍ Háidar Talib, pÍ6idênle da s€i€dade 8ereÍi.ente Moçuloà
s.,cm prc.citos .( 1,8,o\ü\ rrudu" Jc mi'ruo dc renir, principrlmcn. ^b! dê 1997 @ rnsiiruro dê Geo8,ana ê Histó.ia Mil[a.
n. do Rio de làmi,o, ê6 novembÍo
(c dôAl.orão. O.eno é que r..lisiio iinhá súa p.nc na sublcvasao
,J QUrRlNc-zOCHt, Ror@ie 09. (n., p, 216.
c os chcfcs faziam pcrsoadi.los miscráveis que c.ltor papéisos livrâ-
" ROORICUIS, Ninâ.Op..i|., p. a2,

226 227
nha no Beco dos lnoeiros na cidade brixr. Ali crigiu cle a sua tenda p.rpeldobr.rdo con: as tais letras c o mcsmo ncgro Pacíficoou Licutan
dc comércio, :r sua igrcjâ de catequese muçulm.rna e a sua escola dc pôs-scalcrcachorar".
propâgânda rcvolucioníria"'ri. Rodrigucs dcstaca como "a justiça, o Lsta dupltr nomelção, e pÍincipalmenre o scntido da palavra
governoe o cleÍo não chcgaram a compreendcro cspíritodâ insurrci- paríy'ro, portr perturbaçóes: o escr:,vo nÍo é o nome que Ihe é imposto
ção", e como os lídercs espirituais ocuparam Iugar secundário na re- pclo brtismo; clc rcsistc com ouro nomc e com outra identidrcle que
prcxão: "admirível a coragcm, a nobrc leakladc com que se portârâm Dioé nxd.r rDíaly'."; â de xl ufá, líder políico e espiritual dz Bahia malê.
os mais influcntcs"5ri. F.la trmbúm do tubb»c hcroísnto do Msõ As lágrinas âmargas dc Licutan sáo írutodasua dolorosa sensação de
Hcnrique que, com tótaro, 48 horas lrnrcs dc morer foi interrogado, derrotr, mas a luta quecle encrmou dcpositou noimagináriodo mcdo
e já corn "violcntas contraturas" não denunciou ninguóm: "qu. ele do século XIX as narcas das poss ibilidadcs dc vitória deste outro nome,
nãoconhecia os negros quc o haviam convid.tdo c qu€ não diziâ mâis deste outro mundo, deste outroim.ginÍrio.
nâda, porque não é gcnlc de dizer duxs coisas. O que disse esrá dito, Quning-Zochc, cou |olo fosó Rcis c outros, questiona o cará-
rcr puramcnre rcligioso cDte»dido por Nina Rodrigucs. Ela cna o re-
Á imporrância da rebclião malê nr Ilahia se inscreve, assim, lato dc al-Baghdadi, o lídermuçulmano que pasou pelo Rioem 1862
náo só pcla su. configüração política c militar, m:rs pclas inquietudes e que afirmr, rtr:rvés dosdepoimentos rloscscravos muçulmanos, que

que passam a circular no nível do imagináÍio das elites nâ época. Um o levante nunca tcvccaractcrística dcTrlad, mas dc Iuta contra a escra-
fato, narmdo por Nina llodrigues, d:i conta do impacto, da vidão. "O levantc de 1835 não Íài uma Gud,r, Srrra. mâs sim unra
rcccptividadc do nlovimcnto n.r Bàhia. Não Íoi Possívcl para as auto- luta dos aíricanos, cspccialmcnte dos nagôs, contra odomínio dos se-
ridadcs da época encontrar qucm se dispusesse a cnforcar os negros rrL-r* L,r.rnco. Ji c. r,'o.. ,,r ,.tL:.lu I,li cnr, ou iomo um i,nportrn-
condenados à mortc âtr.vés de um dos maiorcs processos coDtra es- tc íator intcgrarivo c organizador"5ro. Êssr Iuta orgânica, política, so-
cravos da história d.rs Antéricâs. Assim, su:r execução não pôde seÍ ci.rl e milit;rr, enfim um.r luta revolucionÍria pelo poder, mexeu com
como z,tos crnn inasor da ópoca: foram fuzihdos como soldados. Con- as mcntilidrdcs scDhoriâis dc sur época c ccoou pclo paír como um
sel{uiram morrcr bcm. todo.Areprcssão que eh rletonou atingiu também os símbolos mâlês,
Ncsre inusitado trebrlho do principrl ideólogo do racismo no pcmcguidos como as rorlar'larpa,ra; quc dctcrmiuaram mcdos c mcdi-
Brasil, esrá â tradução que Rodrigucs mandr fazer em I'aris de al- das pcnâis nas visitas da Inquisiçio5''. Segundo relato dc Abd al-
guns dospijrri, mandingas ou amuletos de sua coleçáo Própria. Rahman Efcndi, em 1862: "Os muçulmanos inclusive negam sua re-
Ele narra tâmbém como o alufií Licutan, barizado ?âcífico, c cscra- li;iju .rr,: mc.rno hujc. por r.mor Jo pcrigo,l. que o' c,;5rioi, 'e,,otâ-
vo do Dr. Varcla, era visitado c rcvcrcnciado na prisão, Pxr. onde foi rem quc rlguóm scguc o Isl.,I.lvcz o Dr.rcDr, o dcpoftem ou o encar-
conduzi<lo rneses antcs do lcvante que visava rambém libcrtálo. Ele cercm para o rcsto ila vidr'r'.
cita o dcpoimcnto do liberto mina I'jaulo Dates,y'dl de cddeia: "Do- Porém o quc mais tcmorcausr é que csas idéias nãodesapare-
mingo (dia scguinte ao dr insurrciçáo), PacíÍico deitou â câbeçâ e nâo cem. Câmrr.r Cascudo rponta dilers.rs permânências muçulmanâs
lcvrntou mais, muito apaixonado e chorando, quando, pela manhã, ou mouras no Brasil íalrdo \"pa*ar a ntao »a cabeça",'iotbn e ágd
entrâvâm prcsos os outros negros, dos quais um lhc deu um livro ou 1"r.lr ", entre ourms expressóer:

!o QUIRING ZOCHE, RosemJÍie. Op. cit., p.233,


5r? RODRCUE5, Nina. Op..ii., p.56. !'Cl. BÂÍLSTA, Nilô. Or rÀrenDJpe.âÀ b/rrilenóJ. L.: ANDRADE, VeÍa (oG.). ve6o e
ROORICUES, Nina. Op.cit., p.57. /everso do conllo/epe"al. FlorlJnópo h: Fundrçio Boiteux,2002, p. 150.
" !,QUrRrNC ZOCHÉ, RosemaÍie. Op. cil., p.234.
5re ROORIGUES, Ninâ. Op..il., p. 53.

229
''Ficaram resislindo os furrdâmentos da nentalidâde ahbicnial, r
scnsibilidâde da população, como ccrt.s ilhis occânicas são
§uperyivências de contincdtcs submcrsos. Como os rochedos de S.
Pcdro e S.I'}.ulo sio testemünhas dr Arlânrid..
Posirilo e rerlé.]üe o môüío ó D'na Pqtüatu]tê Da eÍoografia bras;

5. Anexo: O Livrinho Malê


m.rnenrc trmL,cm toi o mcdo dr in,unriçàu cscrava nr ron-
Per
Tr.d!çáo do Píof. Dr. Mohlmmêd Elhiiil
turbada década dc 30 do sécuio XIX no Rio de lâneiro c no Brasil. ( €ncontBdo no pescoço de um negro mono ni r€vol6 dê I 8l5, nã Bâhia)
Merlo <la revolta, do IsLã e sur capacidadc intcgrativa e organizadoÍâ
entre os escravos. Enquarto isso, a população negra ia reinventando
rur" rrrJ,se surs Iurr',solro;ugodr cscrrrrd5o c com o revigurrmento
da rcprexão advindo do medo das rebeliões. Nas ruas do Irio de Ja-
neiro eles erâm hortclâos, caçadorcs, crrrcgrdores, almocreves, bar- Páginx 102: Tiarâ-se do começo dr 36'!arare" do Alcorão:
queiros, rnarinhciros, operários fabris, trab;rlhadores crn pcdreiras, Em norne dc Dcus, o Clcmentc, o Misericordioso [fórmula sa-
acrnJedurcs dc hrnpijo, vrrrcdorc. dc ru.r. rne.do.. músicos,.rrris- grâdâ que;niciâ câdâ suÍârel.
tas, vendcdorcs ambulantes, oiados, pequenos proprietários5$. A rc- l. Yá, Sin. lcxprcssão náo idiomática, considerada como um
centc historiogrrfix brâsileira tratr de recupcraras lutas que as popu- mistéÍio semântico e lingüístico nx exegese islâmicâl
l:rçôes escrâvâs trâvavâm, no cotidiano, par. Íef:rzer seus vínculos ía- 2. I'clo Alcorão da Sabcdoria.
milixres, suâ memória, sua línguã, sua r.ligiosidâde. 3. Que tu és dos mensageiros,

É *'i- q". Robert Slenes desfez a ir:rprcssão de Charles 4. Numa scnda rctr.

Ribeyrotles, €onremporânco do pcríodo escravocrata, que alirmara: 5. É um.r revelação do Podcroso, Misericordiosíssimo.

"Nos cubículos dos negros, jamais vi umlr (loÍ: é que lá não existem 6. l>ara quc admocstcs um povo [o sexto v€rsículo se encontrâ
nem esperânças nem rccordaçócs "r5. Slcoes rccompõe esrâs esperan- inacabado. Devem, provavelmente, faltrr p:íginasl

ças e recordaçõcs. O Livrinho Mâlê é umâ dessirs florcs, um artcíato


dc mcmória, pre«es a des:rbrochrr ou cxplodir cm algum lugar do Da página 101 a 75: [Fim do vcrsículo 10 e conrinuâção]
que os âdmoestes ou nío;jamais cr€rão.
I L Admocstarás somente quem scguir a Mcnsagem e temer
intimamcnre oClcmcntc;aDuncia aeste, pois, umâ indulgência€ umâ
generosa recompen§â.
12. Nós rcssuscirarcmos os mortos, c registraremos âs suas açôes
e os seus râsrros, porque anotarcmos tudo num Livro lúcido.
lj. E lcmbra-lhes a parábola dos moradoresda cidadc, quando
s'r CASCUDO, Lu G da cámarà. Mouros, irarceres e iudeus. sãô Pâulo: C lob.l, 2001 , p. 39,
se lhes apresentar:rm os mensageiros.
rri CÍ ( RASCH, Mâry. À vid. dor erravor no Âio de /aneiD. CâpÍtulo 7i CarEgadoÉr e
p/opr,êdadêi iuç,te5 14. Enviamos-lhcs dois (mensrgeno$, e os desmenriram; c,
do5 esc,avor no Riô de /â,êió. op. cit., p. 259.
5rr 5LENÉS. Roh€n W. Na ie,zálâ, ún1a Ílot espennçns e ÍecoÍdaçóes nà lo nzçáo da então, forâm Íeforçados com o envio dc um rercciro; (os mensagenos)
Ía ilia esctava, Bâsilsl.lestê, sé.úlo xrx. Rio de JaneiÍo: Nova FÍônteiÍâ,1999. disscraralhcs: Ficai sabcndo que fomos cnviados a vós.

230 211
Disseram:Não so;s senão seres como nós, sendo quc o CI€-
15. 3j, Um sinal, para eles, é â terrx ír;dr;rcâvivâmo-la c produzi-
nrenrc nâda rcvela quc rcja dessa cspécie; não fazeis mâis do que mos nela o grão com que sc alimentam.
34. Nclr produzimos, pomnresde tamrrciras evideirâs, em quc
16. DisseÍâm-lhes: Nosso Senhor be,n sabe que somos cnvia- broram maDanciais.
t5. I',rr qur r ,lim nr.m dos reu' lruto'. coir qu" s m;o'
'ur
17. E nada nos compete, seoão r proclamação da lúcid:r Men- não podcriam fâzcr. Não âgrâdccerãol
36. Glor;ficadoscja Quen criouprresde todÂs ascspécics, tanto

18. Disseram: Auguramos a vossâ desgraçâ e, sc não dcsistirdcs, naquilo que a tcrra produz como no clue cles mesmos geram, e ainda
ma;§ o que ignorâm.
rpcJrcirr ros , mor c vo. ,nnisircmo. um Joloroso c,.riso.
37. E raurbém é sinal, para cles, a noitc, dr qu.rl retiramos o
19. Responderam'lhes: Que vosso âusúÍio vos acompanhc!
dir, e ei-los mergLrlh.rclos nas trevasl
Maltratar-noreis, acaso, porque fostes admocstaclosi Sois, certàmen-
38. E o sol, que segue o seu curso rré um local dcterminado.
te, um povo transgrcssorl
Ial é o dccrcro do Oniscicnrc, Iàderosíssimo.
20. E um hornem, que âcudiu da partc mais afastada da cida-
39. D i lui, cujo curso :rssinalamos cm fascs, aIé que sc apre'
de, disse: Ó povo meu, segui os mensrgenos!
sente como um r.no seco de tamarcim.
21. Segui aquelcs que não vos exigem recompens.r alguma e
40. Náo é dado ao sol alcrrçar a lua; cada qu:rl girx em sua
são cncaminhâdosl
órbitâ;nem a noite, ulLrlprssrro tlir.
22. D poÍ que não teÍiâ eu de adorar Quem »c criou ca Qucm 41. Trmbérn ó um sinal, pera clcs, o faro dc termos lcvado os
seus concidadãos na arca carregada.
21. Devcrei, ac.rso, adorar outros dcuses em vez d'Elcl Sc o
42. E lhcs criamos similrres a cla, para navegarem.
Clemente quiscsse prcjudicar-mc, dc »adr valcriam as suas interccs- 4j. E, se cluiséssemos, tê-1os-írmos ifogrda, enãotcrianr qucm
sóes, ocm poderinm srlvar-me. ouvisse os scus gritos, ncm scriam salvos,
21. (Sc cu os adorase), estaria em evidente eÍro. 4e. A n.iu \ür.unr., Dú..., mi{urirurJir. (omo pro!,sio. pôr
25. Em vcrdadc, crcio cn vosso Senhor, cscutaime pois! algurn rempo.
26. Ser-lhc-á dito: ÉDtrâ no Pâraísol Dirá então: Oxalá meu 45. E qurndo lhes é dito: Tcmci o que está ântcs dc vós e o que
virÍ depois de vós, trllcz rcccbcrcis miscricórdia, (<le cnhrm-no)
27. Quc mcu Scnhormc perdoou e me contou entre os honrados ! 46. Não lhcs íorrm rprescntrdos qurisqucr dos vcBículos do
28. E depois delc náo cnviarnos a scu povo hoste celeste algu- seu Scnhor, sern quc os dcsdcnhrseml
ma, nem nuncâ envirremos. 47. Equandolhcsé rlito: Frzei crrkhde drquilo com quc Dcus
29. Foisó um estrondo, ee;los;nertesl, feiro cinzâs, prostrados vos asrrciou!, os incÍédulos dizcm aos fióis: Havcmos n6s de alimen-
trr alguém a qucm, sc Dcus quiscsse, poderi.r fazê-lot CcÍÍâmcntc
30. Ai dos (Meus) servosl Não lhes foi aprescntado mensâseiro estais cm evidcntc crro.
algurn sem que o cscarncccsscm! 48. E dizem (mris): Quando sc cumprirá esa promessal Dizei-
31. Não rep.ríâm, acaso, cm quantas gcraçócs,antes deles, ani- nolo, sc cstivcrdcs ccnos.
quilamos? N;o retornrr.lo r elcs. 49. Não espemn) nad., a não scr um estron.lo que os fulmine
32. Todos, uuanimcmente, compâíecerâo ânte Nós. cnqu.nto estão disPutando.

2f2 233
50. E nío r€río opoÍtunidnde de dcixaÍ t€s.amcnto, nem dc I Pá,sinas. 68-65: = 73-70

51. E â rrombeta será soada, e ei-los que sairâo dos seus sepul- Pâgtnzs: 65-64: = 70-69
cros e se npres§:lrão pârâ o scu Scnhor
52. Dirio: Ai de nós! Quem nos despertou do nosso repousol Páginas 64-61: lfinal do vcrsículo 285 e conriÍruaçâo] Disse-
(Scr-lhes-á ícspondido): tsro foi o que prometeu o Clcmente, e os ram: Ercutamos e obedecemos. Só anelamos a Iüa indulgência, ó
mensageiros disscram a verdade. Senhor nosso! A'I1 seÍá o retoÍno!
53. Bast.Íá üm só ioquc (dê trombeta), e cis que todos compa- 286. Dcus nâo impôe â nenhumâ almâ umâ cârga sup€Íioràs
suas forças. Bcncficirrse-á com o b.m quem o river fcito e soÍreá
54, Hojc nenhumâ almâ scrá defrâudada, ncm sereis retribui- mal qucm o tivcr cometido. Ó Senhor nosso, não nos condenes, sc
dos, senáo pclo que houvcrdes feito. nos esquecermos ou nos cquivocârmos! ó Senhor nosso, nao nos
55. Em vcrdade, hoje os dil€tos do Pâníso estaí5o êm júbilo. imponhas carga, como a que impuscsrcr nossos antcpassados! ó Se-
56. Com seus consoÍtes, csbr:io à sombra, âcomodados sobÍe nhor nosso, não nos sobrecarregucs com o que não podcmos supor-
almofadar. tar! Tolera-nosl Perdoa-nos! Tim misericórdia de nós, Tü és nosso
57. Áí têrão frutos € rudo quanto pedirem, Protetor! Conccdc-nos a virória sobrc os incrédulosl
58, Pazi Eis como seráo snudados por um Scnhor Misericor-
diosíssimo. Páginas 60.59: Sr,?rÉ "AAL'IMMN" (3)
59. E vós, ó pccadores, afastai-vos, agora, dos fiéis!
60. PoÍvcntúra não vos prcscrcvi.... ções, depoisdc nos teresiluminado, c aAÍacia-nos com a Tua Miseri-
córd;a, porquc Tu és o Munificientc por er<celência.
Página 74: Totalmente ilcgÍvcl 9. O Senhor nosso, Tu consrgrarís os humanos para um dir
indubitável, E Dcus não faltarí com a promessa.
Da páginr 73-70: Em nome de Deu§, o Clcment€, o Miser!
cordioso. Quc a paz c a Mnção de Dcus esteiam com nosso $nhoÍ Páginas 59-58:
Mromé c toda a sua cstirpe c scus companhciros. [fóÍmula sâgrâda 16. Quc dizem: ó Senhor nosso, cremos! PcÍdoa os nossos
que prccede as oraçõesl. Scgucm dois versículos da scgunda írrar, pecados epreserva-nos do rormcnto inÊÍnã|.

128. ó Scnhor nosso, pcrmite que nos submetamos â Ti c quc Página 57; Final do vcrsÍculo l{7. S€nhor nosso, perdoâ-nos
surja, da nossa descendência, uma nrção submissa à Tua vontade. por nossos pccados e por nossos .xccssos; firma os nossos passos e
Ensina-oos os oossos riros c absolve-nos, pois Tü é o Remissório, o concede-nos a vitória sobre os incrédulos!
Misericordiosí$imo,
129. Ó Scnhor nosso, fazc surgir, denúe um M€nsagciÍo,
elc§, Página 56:
que lhes transmita as Tuas lcis e lh€s ensine o Livro, ê a sab€doria, e l9l. tfinalJ ó Senhornosso, nâo criâsre islo cm vão. Glorifica-
os purifiquc, pois Tu és o Podcroso, o Prudentíssimo. do sejasl Preserva-nos do rormcnro infcrnall

P á sin 7 0-69 | i Icgí üe l. Págioas í5-54:


^s

234 235
Ó Scrhor nosso, ouvimos um pregoeiro que
193. a7. Ifinâll ó Senhor nosso, não nos junies com os iníquo§.
:r fi Jrzcndo: Crcdu cm roso S"nhor: E crcmos. ó Scnhor no*o,
pcrdoa as noxas faltas, rcdime-nos drs nossrs más açôese âcolhe-nos Página 48:
38. tfinall Ó Sen hor nuso, eis aq u i aqueles que no§desviâram;
lql. Ó Scnhor noso. conccdc-nos o quc promeresre, por inrer- duplica-lhes o castigo infernall Ele lhes diíá: o dobro será para todos;
médio dos rcus »rcnsrgeiros,e nÍoaviltes no Dia da Rcssurrcição.Tu porém, vós o ignor:ris.
jâmiis qucbras n promessa.
PÁgim47:
Pígina 53: 89. tfinall Ó Senhor nosso, dccide com cqüidade entre nós e o
75. Ifinrll Ó senhor nosso,
rira-nos desra cidade, cujos habi- nosso povo, porquc Tu és o mais equânimc dos juízes.
t.ntes sío opressores. Designa-nos, de Tila p.rtc, um protctor e um

126. tfinêll Ó Senhornosso, concede-nos Paciência e faze com


Pig;nt 52l que morramos muçulmanos!
77. tfinâll Ó Scnhornosso, por que nos prcscreves a luta? Por
quc não nos concedcs um pouco mais dc trégual DizeJhes: O gozo Páginâ 45: SrTdrr "YUNIS" (10")
terrcno é transitório; em verdade, o da outra vida é preícrívcl para o 88. tfinall tens conccdido ao Farró e aos seus chefes csplendo-
rcmcnrc: s.,bci que niú frustrrdos. no mruimo que res e riquezas na vida terrenâ eâssim, ó Senhornosso Pudeíâm de§viar
'crci. "ejJ.
os Jemaisdr Turcn,l:r. O Senhor no.so, rrrc'a a' surs riquezrs e
Irásinâs 51-50r sr,"k 1ÀL MÁIDA' (5) oprimc os seus coraçóe§, porquc não crerão âté verem o dolorosô
114. fcsus,filho dc IvÍaria, disseró Deus, Senhornoso, envia- castigo.
nos do c.1r umr mc'r .crv;dil Quc ..j. um l,rnqucrc pJ,d o primei,o
e último dc n<is. con.rituindo^c DUm .inil ]i u: âgr.ci.. nos. porque
Tu és o melhor dos rgraciadores, 85. tfinall Ó Senhornosso, não peÍmitas qoe fiquemos ateitos
à fúria dos iníquos;
l,ágina 49:Samte'ALAN AM" (6')
128. tfinall ó ScnhoÍ nosso, util;zamo-nos muruamenre; po-
róm, agora, alcançrmos o término que nos fixaste, Então, scr-lhcs-á Página 44: Sarare 'AT TÁHNM" (66')
diro: O Íoto \cri r vo». morrda. ondc pcrmrnccereis erernâmenre. ifinall e livra-me do Fara6 e das suas açóes, e salvâ'me dos
salvo para quem Deus quiser livmr disso. reu Senhor é Prudente, iníquosl
Sâpientíssimo.
Págin "IBRAHIN{" (I4)
43-42t Suvte
Página 48: &azzr 'AIIAILA.F" (7i) 37. ó Senhor nosso, estabclcci prÍre dâ minhâ descendência
cm um vale inculto p€rto da Tua S.rgrada Casa para que, ó Senhor
23. Lfinrll Ó scnhor nosso, nós mesmos nos cond nosso, observem a oração;faze com que os coÍâ§ôe§ de alguns humanos
náo nos pcrdoares a T! apied.res de nós, seremos desventurados! os apreciem, e agracia-os com os fruios, a fim de quc Te agradeçam

236
I

Pásinã 4l-39: 106. [...J Exchmarão: ó Scnhor nosso, nossos descjos nos
3s. Ó Senhor noxo, Tu sabes tudo quanto ocuhamos e tudo dominam, e íomos um povoextrâviadol
quanto manifestamos, porquc nada se oculta a Deus, tínto nâ term i07. Ó Senhor nosso, tira-nos daquil E se reincidirmos, €ntão

39. lruvâdo sejã Deus que, ,a minha velhicc, m€ agrâciou 109. t...1 ó Senhor nosso, cremosl PeÍdoa-nos, pois, e icm
com Ismaele Isaac! Como o meu SenhoÍ é Exoávêl! picdade de nós, poÍque
40. ó Senhormeu, fszc-mc obseÍvânte dâ onsáo, assim como Tu és o melhordos misericordiosos!
à minha prolcló Senhor nosso, escuta a minha súplical
41. O Scnhor nosso, pcrdor-me a mim, aos meus peis e aos Pâsina 33. S nk"N,FURCAN" (25)
fiéis, no Dia da prestação dc contasl 21. [Íinal] eles se ensoberbcccram e excederam em muitol

Páginâ 39-38: Páginâ 33-32r


4.{. [final] e os iníquos dirão: ó Senhor nosso, poupa-nos poÍ 65. tfinall ó Senhornosro, aíasta de nóso suplÍciodo inferno,
mais um pouco. Obedcccrcmos ao Teu apclo e seguiremos os
Porqueo seu tormento é angustiantc.
mensrgcnosl(ScrJhes-á respondido): M+ nao juraícs antrs que não 66. Quc péssima e"úncia e o lugrrde repouso!
seríeis aniquiladosl 7a. [finall O Scnhor nosso, fazc com que as nossas esposrs e â
nossa prole scjam onosso consolo, c dcsigna-nos rizrrrrr dos devotos,
Pígina 38-37: Sa;zrr'!\N NÁHr (16)
8ó. [finall diráo: O Scnhor nosso,eisos nossos ídolos, aosquais
{7. lfinall Ó Scnhor nosso, por que nio nor enviâsres um
implorávamos, em vez de a Ti! E os ídolos contêstâÍáo: Sois uns
mensageiro, pam quc següíssemos os Tcus vcrsículos c nos contáss€mos

Página 37: Surate "AI CAHF" (18')


61. tfinall ó Senhor nosso, sio esres os quc cxtrâvirmos;
10. [fio31] Ó Senhor nosso, concede-nos Tue misericórdia, e
extÍaviamo-los, como fomos exrraviados; isentamo-nos dcles na Tüa
reserva-nos um bom êrito em nossâ empresal
Presençâ, Posto que não nos adomvam.
Pígina 36: &irata "TAH.{ (20')
Página 30: &rrat'AS SAfDA' (32')
45. tfinall Ó Senhor nosso, tememos que ele nos imponha um
12. ó
tfinall Senhornosso, agora temos olhos para vcreouvidos
castiso ou qu€ trânssrida (a lci)l
pârâ ouv;rl Fâzê-nos retornar ao mundo, que pralicírcmo§ o bem,
porque agora estamos penuadidos!
Página 36:§zzc AL ANBIYÁ" (21')
89. [final] ô Senhormcu, não medeixes sem prole, nãoobstântc
seres Tu o mclhordos herdcirosl Pá,sna 29: Surure "N- }\ÍíZ.AE (33"1
67. tfinâlló S€nhornosso, cm vcrdade, obedecíamos aos nossos

Página 35-341 Sutu,ê'i\L CASSAS" (28) chefes, os quais nos desviaram da (verdrdeira) senda.
a7. tfinalló Senhor nosso, poÍ que não nos cnviastes um 68, Ó Scnhor nosso, redobra-lhes o câstigo e âmâldiçoa-os
mensagciro, para que seguísscmos os TLus versÍculos [...]

238 239
Página 28:.§a,?ra "SÀBÁ" (34") Pígina 22:&,"rá "FÚSSIIÁT" (+l)
19. [final] O Se»hornosso, prolongir disrânc;a cntrcos nossos 29.tfinall ó Senhor nosso, mosrra-nos os gênios e humanos
eslígios dc viâgcml E sc condcnrr.m. Enráo os convertemos em lentâ quc vo, exrrur i:rrrn: , oloc.;-lo*cmo, .ob Dr no,so. pi§. tiÍx que ,c
G rr narr :r) paÍâ os povos c os dispcrsamos por todas as partes contem entrc os mâis vis!
Nisto hí sinais para todo o perscverantc, agradccido.
Página 2l:
Pásinâ 27: sr,?rd'AN NÁHL' (16") 30. Dm rerdadc, quanto àqueles que dizem: Nosso Senhor é
86. tfinâll Ó Scnhor nosso, eis os nossos ídolos, ,tos quais Deus, e se firrnam, os :rnjos descerio sobÍe eles, os quiis thcs dirão:
implor:ívamos, em vcz dc a Til Não remais, nem vos arribuleis; outrossim, regozijâi-vos com o Paraíso
lscm ponruação/scp:rraçiol Srr"rá "l-ÁTEIt' (35"): que vos estí promctidol
31. lllnrll Louvado scF Dcus, que nos tem Iivrâdo da aÍIiçãol
O \o-" Scnh"r é Com1,cn.rJor. Indul6cnri"imo. Páginâ 20: &,"k "CAF" (50")
27. tfinall Ó senhü nosso, eu nâo o 62 rrânssredir; porém, ele
Páginx 26, é que csrâva em um erro profundo.
37. tfioâll Ó Senhor nosso, tira-nos dâqui, que agnemos de
um:r torma dilcrcntc da que agíimosl Acrso, não vos prolongamos as P;ígina 19: &rmt 'AL HAXR'(59")
vidas, para que, quem quisessc reflctir, pudesse fazê-lo, e não vos 10. tfinall Ó Senhor nosso, perdoa-nos, assim como também
chegou o admocsradori âos nossos irmãos, que nosprccedcrxm na fó, e não infundas em nossos
.oraçõcs r3ncor âlsum pclos fiéis. Ó Senhor noso, cerrãmente Tü és
PágiDa 25r S,,?rs "SÀD" (38") Contpissivo, NÍisericordiosíssnÍo.
16. t6nall Ó Senhor nosso, aprcssa-nos â nossâ sentença, antes
do D;a d. Rendição de Conras! Página l8: &aat "AL MUMIAHANA'(60)
[Scm pontuação/seprr:rção] 61. tfinrll Ó Senhor nosso, àqueles 4. tfinrll Ó Scnhü n6so, a Ti Dos encomcndamos e â Ti nos
<1ue nos induziram a isto, duplicr-lhes o castigo no fogo inf«nall voltamos contritos, porquc prra Ti será o rcrorrro;

Pásina 24: sr/dre"GHÁFER' (40") PÍginâ r8-l 7: &r,r,r "GHÁFER' (40")


7. t...1 Ó Senhor nosso, Tu, Quc envolves tudo com â tua 7. Ifinâll Ó SeDhor nosso, Tu, Que envolves rudo com a tua
misericórdia c a Tüa ciêncir, [...] miser;córdia c a Tirâ ciência, perdoa os arrependidos que scguem Tuâ
8. Ó Scnhor noso, introduze-os nos hrdins do Édcn que lhes scnda, e preserva-os do suplício da làguciral
prwmcrcíc.35sim { omo u' r ifluusor dcrúíc os pais, a' sue' espo'"s
'.u'
c a sua prole, porque és o l']odcroso, o Prudentíssimol Páginâ l7: S!,ard 'AL MUMTAHANÂ' (60)
5. ó Senhor noso, não fâças rle nós um cscarmento para os
Págini 23: incrédulos c peÍdoâ-nos, ó Scnhor nosso, porque és o Poderoso, o
I 1. tÂnall Ó Senhor nosso, fizcste-nos morrer d uas vczcs c duas
vezes nos dcstc a vida. Reconheccmos, pois, os nossos pecados!Havcrá
algum meio de nos Iivrarmos diso? Págin l7 | SuM,e "A'f 'f AHRIM" (66")

240 241
I

8. [final] ó Scnhor nosso, complcta-nos a nossa luz c perdo+


nos, poÍquc Tu és OniPotcnte!

Página 17- 16: Sâlomão . Davi são ciados dezeoas de vczcr no


ÁlcoÍão, mes cs!. oÍâção em panicular não localizada no Alcorão.
Com a pcrmissáo dc Deus, cxaluda s§a Sua Majesude c por
Dcus o sucesso, foi cscrito Por Salomáo filho de Davi graças a Deus ó. tontes consultadas
Senhor do univerco.

Página l5t Sunte "AN-'IMMN" (31


16. [final] Dcus (Formulâção diferente do texto corânico)
Bibliorcca Nacional
Perdoa os nossos pecados c pÍescrva_Íros do tormento infernal
SeCão dc Mânuscriros
Seção de Periódicos
Página l4: Dc* Pc oa'not nosos pecedos c a todot ot
Ánais dr Bibliotcca Nacional
muçalmanos c at muçuhnanat c os ctcatcs ar ocntcs... (ilcgfvcl\.

ü ü Dc* Aryain Nacional


Pâgina 13: Mao»É t »cwagcim Dau. tuz c Bcnçõo
Arrao,oBoülier
Documenrâção cm Códices

Árquiw Gcml th Cidoü do Rio dc Jancin (AGCRI:


SêçÂo dc mânusaÍilos

Atquiuo Púbüa do Estado do Rio dc Jan ;ro (ÀPERI


Série Presidôncia da ProvÍncia do Rio dc )aneiro (PP): (gó-
pria coleçâo)
Série DiretoÍia da Fazenda da Província (DFP):
Fundo SecÍetâriâ dc PolÍcia Provincial (SPP)
série [uizcs dc Paz (fP)

Iwrituta Hitóico c CrogrÁJíco Bntihito

Aqdro Mtsa! Irn?criat

MUSEU IMPERIAL Arquivo Hisrórico. "Catálogo de manus-


critos relativos à escravidão.' Peúópolis: Fundagão PÍ,úmcmória, 1990.

242 243
fábricr de Pólvora. Av 28 de abril, Rcs, 23 Maio l82I (Coll. Nab.); e
Ref: I-PoB - [1826/828] -PI. B c.
cm todas âs repârtiçõe§. Prt. l",20 âbril l82t (Coll. Nab.);e na Intcn-
"Cartâ deÀ. P E., lcm drtâ, â D. Pedro I, Ícclamandoao desca-
dôncia da Marinha. Av. 17 de agosto de 1830 (Coll. Cit. - Vid. Rcs.
so quc o govêrno vem tratando a província da Bâhia, no tocantc âo
lcvantc de negros, €m lVl2 [ 182í828] - Dizcndo que se o Impera- lunho 1831, inÍra.
doÍ oÍdenÍÍ â publicâção no Diário verá ograode númcro deescravos
+ que aprescnt rcm priça em lugar dc pessoas livres, não dc-
vcm ser de menores qualidrdes física e morais. PoÍt. 29, 30 marso
fugidos." I folha dupla.
1824, (Repcrt, Cunh, Mat. Verb. Escrâvos, n." 2),

Biblioteca do ltanantY + fugidos: providêDcias na Corte derim-se, c quais, sobre mêi-


I - Plântâ do Rio de Jãneiro- Lith. Do A-rchivo Militar, 1828' os de suâ apÍeensão. Port.24 dezembro 1824. (Coll. Nab.).

cmléguas. I6xl6 cm. Á5 freguesias cstáo âssiüâlâdas â tin- podiam ser apalpados de diâ ou de noitc pâÍa veriÍicâr-se, §i
Esc. Gráí =
ta. Ref.: 777 -499 - la28 cstavam armados, parfurafo.4; scndo encontrados de noite depois do
2 - Planta do Rio de lineiro. F. dc la Mi.hcllcÍie delL Rio d€ toquedesioosque pcnas tinham, par. T;os tabcrneirosque lhescom-
faneiro. Lithg, De Stcimmrnn &Ciâ.,1831.34x45cm
l folhâ CóPia prassem objetos funados como eram punidos, pâr. 9. Edit. 3 ianeiro
fotostática do exemplarque pcnenccu ao Sr. Marques dos Reis, oíerc- 1825. (coll. Nabuco)
cidâ pelo Ministro loaquim de Souza-Leão Filho. No topo: Acapital -+ dcvirm os comiJsáÍios dc policir obscrvar os seus ajunta-
do Brasil. Ácompanha-a uma folha denominâda: "Estadsticada cida- mentos, pâi l; presos por fugidos ou em quilombos que desrino ti-
de do Rio de faneiro. Typ.Imp. D€ E. S€ignot-Planchcr, agosro, 1831' nham, pâÍ. I l; suas aprcensõcs por quem eram feitas e como panici-
tris do Império: padas, par. 12; os prcsos cm desordcns ou com armãs, ou cometendo
cÍimc§ @mo erâm casrigÍdos, paí 13. Instíu. Ánêxâs á PoÍt.2',{ no-
"Repenório Geral ou índice alphabético das Ixis do Império vembro 1825. (Coll. Nab.)
do Brasil, publicadas dcsde o começo doÁnno dc I80E até o presentc + Destruií scus quitombos incumbc ao juiz de paz, c provi-
Manuel
08501 em seguimento ao rcPertdrio geral do Dcs€mbargador dcnciarquesenãoformem.Lci I5outubro I87,arr,5,p Í.6iLei261,
Fernâdes Thomaz. Comprchendendo Todos os Alvarás, Apostilas,
3 dczembro 1841, ârt. 9l; Reg. 120,31 janciro l842,art,65, par.5,
Âsscntos, Ávisos, Cârtas de Lei, Cartas Regias, Condições, Conven- + EscÍâvos: rctidos em prisão c dcpósitos se consideram do
çôcs, D€cÍetos, Editaes, Estatutos,
InstÍuc§ões' Lêis' Obrigâçô€s'
evento quando seus donos o§ náo procuÍam, c quc destino devcm têí
ôÍficio", ord."s, PortâÍias, Provisõ€§, Rcgimcntos, Regulamentos,
-videÂv.28 ianeiro 1828. (Coll. Nab.)
Resoluçócs e Tiatados. Ordcnâdo por Frâncisco Mariâ de Souzâ Fur- + na Bahia saindo drs vilas, c C., dcviam levarcédüla de seu§
tado dc Mendonça (Doutor cm Sciências Jurídicas c Sociais, e lente scnhorcs, ecom quc formrlidade. Dec.2",20 margo 1829. (Coll. Nab.)
dâ Àcâdemia de Sáo Pâulo). Rio de laneiro: Livraria Universal dos
+ conrlcnados á morte por homicídio de seus senhores ordc-
Editorcs Eduardo e Hcnrique Lacmmert, l8í0."
nou-se que fossem logo cxccutados sem rccurso degraça. Dec. 1l abril
1829, mândâdo observar porÂv 26 feverciro 1834,
l,calizâsão: IHCB reí': 77.5.t6'18.
= Polícia a lcspciro dcl€s na B.hii foi recomendada e como,
,s âutoridades civis € militares. Res. 14 dezcmbro 1830.
Êscravos:

trâbâlhândo nas Í€Pârtiçóes nâo podcm teíos empregados = O mâl que consistir no casrigo aplicâdo por seus s€ohore§,
ou o que delc rcsultar é iustificivel. Cod. Ctim., ân. 14, par.6,
com vencimento Íro arscnal do exército e torralcza da Conceição c

245
244
+ Que penassofrcm,c quais se comutam,ecomo. Cod. Crim.
manaldeve+e publicaroutra gcraltodos os meses aos recolhidos c não
recl:mados, e como orgaDizada, e p.rrâ quc fins. Av l2 agosto 1834.
= Que cometcrem insurreiçãocomo são punidos. Cod. Crim. (taxâ dor: pâgão os das ol.riis, e chrrque:rdas dcntro dos
Arts. llla l15. =
limitcs de decima, e os que nos mcsr»o lugares residirem, iinda que
+ Éscravos:providências motivadâs pclo Íeceio de sublevação cmprcg:rtlos em scrviço forã da vil., confoÍme os ârts. 3 . 5; Reg 13
nos limircs de S. Paulo e Rio de lanciro. Av 20 maio l83l (Cô11. Nâb.); dczcrnbro. Oft 28 rgosto 183'1;Circ. l5 janciro, Ord. l4 abril 1835.
cm ltaguahy, Av 3l dito (Coll. C;t.); em orltro logâr, Porr.3', 8 junho + [.§cÍrvos suspciros dc rcvoltosos nr B;rhir ordenou*c não
l83l (Coll. Cit.); cm Minas, l'on. l5 dito (Coll. Cit.); nâ Cortc, Port. saôscm das prisõcs scm ordcns do prcsidcnrc, obrig.ndo o promotor
l6 julho 1831 (Coll. Cir.). ros scnhores a axinarcrn tcrmo de scgurançl. OÍI 4 março 1835.
:+ nío podcm scr adniitidos como operários e servestes nâs ã Escravos que mat.rrem, envcnenarcm, ferirem gravemente
estições púl,licâs enquânto houvcr ingcnuos ou libertos qLr€ nelâs ou ofcndcrcm Fisicancotc os senhorcs ascendenres c dcsccndentes
desejem empregar+e;en) os cmfregados púl,licos, c ou tra pessoas com dcles, .rdministradores, feitorcs, c suas mulheres, como e quando são
exercício nos arsenais podcm tcro! seus em ttris estabclecimcntos. Rcs. punidos com açoutes e morte, por qucm processados e julgados, com
25 junho 183I, aqrliado a todas as províncias. Res.20 selembro 1831. quc rccuÍso, e conto exccutados. Lci 1", l0 junho 1835.
+ Escravos parados cm vcndas ou outros lugares flâo dever)
= em que circunsrâncirs são ad,nilidos Das ilfândegâs pârâ
na Corte rs rondas de perm:rnentes consentiÍ. I nstr. 24 julho 1831, ârt. conduçâo e ârruDração dc mercadori.ts. Reg.22 junho i836,.rt.56.
7 (Coll. Ncb.);Instru. 29 novembro 1831, art. 15. (Coi1. Planch.)
prcsos na Cone são conduzidos prm o crhbouço. Âv 2", l7 +.lechÍou-se, conÍbrnrc o art.4, Lei 10 junho 1835, Dão ti-
= nhâm rccurso á visr. da Rcs. 11 abril 1829. Av 1l julho l8j6; conde-
agosro llt31 (Coll. Nab.).
+. pelasquantias adiantadrspclascâmaraspara assaltode seüs naclos á morte em virtude da Lci 10 junho 183t tem recurso de graça.

quilomtos não é responsí\'el o juiz, mas deve deferü os rcqucrimcn- Av I I agosto 1836; não dcvcm executÂr-se scm rccuroo ao poder mo-
tos do procurador para cobra-1as dos senhoÍes dos escravos. l'ort. 30 derrdor, Av 3 fcveÍeiro 1837; Au 17 dito; e com que declaraçócs c
abril lÍJ32. Iimitaçóes, Dec. 9 março 1837; e como cnviadas as sentenças ao go-
+ nãosão ad»itidas suas dcrunciascontra os senhores. Cod. verno, Av 26 âgoÍo 1837.
dcclârou-sc qual a m.tnenx de curnprir-sc a votação nos di-
Proc., art.75, pur 2je nâo podem scrtestcmunhas sim informantes, e =
vcrsos graus dc culp;r e penas, confonnc a lci l0 juDho 1835, ârts. I c 4,
como inquiri'los, c C., arr. 89.
Cod. Proc. ârI.ll2, e Res. 22 .gosro 1833. Av 4 outubro 1837.
+ Escnvos (taxa do,: rcsidcnrcs nas cidades e vilas foi
como sc dcvir proceder com os que os rc-
cstabclccida prgando crda solteiro 2 $, e c.rsado 5$ rs., e como. Lci59, = Detcrm;Dou-se
beldes do liio Grandc do Sul tcm .rrmrdo, e hostilizado as forças im-
8 outubÍo 1833, aÍr. 5, par. 5; nrandou*c arccadar do I" janeiro 1834
pcri.is. Áv l9 Novembro 1838. (forn. 73)
em diante, c guard.rr em separado. ôrrl. 5 dczcmbro 1833 (Man.
Collcct.); executad:r a Lei por Inst. l3 dczcmbro 1833. - Vide Reg. 6
l0 junho I83i não tem recurso
= Coodcnados conforme iLeiLci261, 3 dezembro 1841, art. 80
algum, ncm mesmo o dc rcvista.
dezcmbro IÍ131. infra.
+ (raxâ dor: parâ colrrânça dcvcm os coletores fazer a matri
cula pessoalmente. Pon. 9 julho 1834.
+ Bírbâros nío sío co,nprecndidos nâ lei sobre contractos d€
=+ Escravos recolhidos ao calxbouço nâ CoÍte: gâlé, da lisra se- ser!iços. Lei t3/09/t830, tL7.

246 247
+ LivÍes: nâ Bahiaordenou-s. que nãopudersem sairdaspo- Calabouços c cadeias:
voasócsou fâzcndÍs,em que tossem domiciliários, por quâlqucr mo- + Disúibuição de prcsos. Ods- 28 abril 1821, e C.
tivo, scm passãpoÍtc dojuiz€riminâl ou dc pâzdo lugâr, com certos e + Como nclcs sc câsrig Pon, 13âbril 182{.
determinados requisitos, c sob cert:rs pcnâs íos infratorcs. Res. l4 /12l + Sobrc dcsrino dos cscravos scm donos conhecidos providc n-
1830, arts.3 e,1. cias. Âv l', 13,/04/1831 Coll. Nab.).
+ inúoduzidos por contrâb:rndo fic:lm livrcs, excetuados: lo
os m.tricul:dos em cmbirca€ões do pâís que admita escravos; 2'os Áçoircs:
que fug'Ícm do rcrirório cm rmbarcição csrrangeiÍr, os qu:'is scrão +
Sofrc o cscravo quc incorrcr em pcn,s que não seiam a dc
entrcgues r seus senhorcs. Lei 7 novcmbro 1831, arts. I € 2. morte ou galós. Cod. Crim., iÍ,
60; e como. Áv 3 íevcrciro 1836.
=) suspcitos de revoltâ dâ Bahia mandam-se deportâr do Im- +
soÍicm os cscravos quc fizcrcm insurrcisão, não sendo os
pério, Av 4 março 1835. cabcçâs. Cod. Crim., a!t. 113,
=l Africanos livrcs: foi permitidr r Ârremâtâção dc seus servi- +
solrem os cscravos quc ofcnderem ou fcrirem física e lcvc-
ços para fora da capital da província do Rio de [anciro, segundo os par mente seus scnhores feitores, c C.. t*i n." 4, l0 iunho l8lt, ãrt. l.
I c l2 das insrruçócs que âcomp,nharam o Dcc. 19 novcmbÍo 1835, +
nãopodcm os iuizcs dc pnz mandardarcm es€ravos algum
devendo deduzir-se as despcsas feitas com cles das multas pela Lci 7 scm o haverem processado, com audiência dc scu senhol Àv l0 ju-
novcmbro 1831 imposta aos infratorcs, c do da arrem.tíçío dos servi- nho 1837, rcvog:rdo porAv 3 outubro 1837.
ços na forma do pan 9 das ditas instruçócs. Av. l7 março 1836.
:+ ãpreend;dos no município dâ Conc Ícmeteram-sc para â Ajuntamcntos:
Casa de Correção. Avl l5 dczembro 1836 c 16 rbril 1841. (CoÍrcio
= De quê se possam oÍigi nar dcsordens, quer de diâ, qucr dc
OÍI, n.'81). noite, edc quaisqucr indivíduos, comperir no cxrintos comissários dc
+ aurorizou-sc â transÍerencia dc alguns na forma das instru- policia coibü c prevcnií lístr. 4 novcmbro 1825, :rrr. I â 5; hojc aos
çôcs,29 ourubro l834.Av'3l dczembro lti36. juizes de prz, Lci l5 ourubro 1827, rn. 5, par.3; Lci n.'261,3 dcz.cln-
+ ordenou-sc quc os dispensados ,Jas obras publicas do mi- bÍo 1841, aÍr. 9l; Rcg. N." 120, 3l janeiro 1842, nft.2,?xt.5 ;65.
nistério do imfrio na Cortc fossem ent.cgues trão á Casa de Corre- + Ilícitos como são punidos. Cod. Crim., an. 285 e 294.
çáo, mas ao iuiz de órÍàos. Àv 17 e 20 rbíil 1837.
= clcvaram-se as penas cstabelccidas no Cod. Crim.I*i 6 ju-
:+Africanos livrcsencontrados nasembarcaçõescostcirassem nho 1831, arts. I c 2.
passaportc ordenou-sc quc íossem remctidos ao chefc de policia para +Até que numero dc possoas, e em quc circünstânciis são
lhcs drr dcsr;no. Av 22 abril 1837. permitidos, c como os devem as rondas observar, Decr. 29 Novcmbro
Sobre â.remitâção de seus scrviços se deram providcncias. 1831, âÍts.4 e 5.
=
Av. 22 abril 1839. (JoÍn. N." 95), e 14 fevcreiro 1840 (lorn. N." 7t). policii, dclcgados, subdelcgados eiuizcs mu-
Áos chcfes de
=
Foi proibirJa a sur admisúo como trabalhadores na fabrica de ni€ipiis incumbc obsrarnos seus distrnos, de dir ou dc noite, havcn-
= do por tais os especificados no Cod. Crim., art 285, e art. 2 da l.ci 6
fiarc tcceralgodão na Corte. tus. n.'347,30 novembro 1841, an.2, par.2.
=+Africanos livres: âinda quevío cm compânhia de seus amôs junho l8Sl,cslciÍrm ou não armndos os indivíduos rcunidos, procedendo
são obrigados â âprcscntar passaportc, salvo certos câsos. Reg. N.ô scgundo o Cod. Crim., ans.282 r 284; Dccr 29 mrrso 1833, ân.2; lli n.'
120,31 janeiro I842, arts.68 c 70, em vinude da I-ei n." 261,3 dczem- 261, 3dezembÍo 1841, ãns- 4, par. 3; 5, 17, par. 2; Iicg N." 120, 3 I i.neiÍo
bro l8{1, ârt. 12. l8{2, arts. 58, par.7. 59,62,par.1;63,par t;$,129, 130, 185, par. 8.

248 249
Castigo
+Moderado devia o senhorinfringirao escravo que fosse acha-
do fora da sua residência sem cédula. Res. 14 dezembro 1830, an. 2,
que foi executado provisoriamente pelo Decr. 20 março 1829. (Coll.
Nab.).
+ É jusrificável o mâl cometido no câstigo moderado aplicado
pelo senhor ro escravo, ou o que dele resultar. Cod. Crim., :rn. 14, pâr. 6. 7. Bibliografia

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