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Rio de Janeiro
2022
INSTITUTO DE PESQUISA E MEMÓRIA PRETOS NOVOS
Pós-Graduação Lato Sensu em História do Rio de Janeiro
FOLHA DE APROVAÇÃO
Banca Examinadora
_________________________________________
Prof. Me. Pedro Henrique Nascimento de Oliveira
_________________________________________
Prof. Dr. Thiago Mantuano
RESUMO
Um olhar atento sobre os acontecimentos diários nos mostra que o Rio de Janeiro é
uma cidade racista. Pesquisas do CESeC – Centro de Estudos de Segurança e
Cidadania – mostram que o preconceito racial, além de ser um fenômeno ideológico,
está entranhado na base da sociedade e nas instituições, que tratam negros e brancos
de forma desigual em suas abordagens rotineiras. Quando a polícia demonstra
violência e discriminação contra uma pessoa negra, o que vemos é apenas a
extremidade de um sistema cujo racismo se estende pelo judiciário e pelas
penitenciárias, todas lotadas de indivíduos negros. Este trabalho sugere ações
afirmativas e outras medidas que possam alterar as relações sociais e nos livrar dessa
herança nefasta deixada por séculos de escravismo.
A close look at daily events shows us that Rio de Janeiro is a racist city. Research by
CESeC – Center for Studies on Security and Citizenship – shows that racial prejudice,
in addition to being an ideological phenomenon, is ingrained at the base of society and
institutions, which treat blacks and whites unequally in their routine approaches. When
the police demonstrate violence and discrimination against a black person, what we
see is just the extremity of a system whose racism extends through the judiciary and
penitentiaries, all crowded with black individuals. This work suggests affirmative
actions and other measures that can alter social relations and rid us of this harmful
legacy left by centuries of slavery.
Figura 1 ............................................................................................................. 12
Figura 2 ............................................................................................................. 13
Figura 3 ............................................................................................................. 13
Figura 4 ............................................................................................................. 14
Figura 5 ............................................................................................................. 23
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 7
2. A SITUAÇÃO DO NEGRO HOJE ............................................................. 10
2.1. EXCLUSÃO SOCIAL E TERRITORIAL NO RIO DE JANEIRO ........... 10
2.2. VIOLÊNCIA ............................................................................................. 14
2.3. A “DEMOCRACIA RACIAL” DÁ LUGAR À PERCEPÇÃO DE
RACISMO ........................................................................................... 15
3. O RACISMO NOS DADOS DO CENTRO DE ESTUDOS DE
SEGURANÇA E CIDADANIA ................................................................ 17
3.1. RACISMO INSTITUCIONAL .................................................................... 17
3.2. RACISMO ESTRUTURAL ....................................................................... 23
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 24
REFERÊNCIAS ...................................................................................... 26
7
1. INTRODUÇÃO
“As fazendas de café do Vale do
Paraíba, o coração escravista do Brasil no
século XIX, testemunharam um grande êxodo
nos dias seguintes à Lei Áurea de 1888.
Foram cenas de proporções bíblicas.
Milhares de homens, mulheres e crianças se
puseram em marcha, sem destino algum.
Eram os novos “libertos” brasileiros. (...) Aos
poucos, porém, a dura realidade foi se
impondo. Passadas as noites de festas e
danças, os ex-escravos perceberam que não
havia para onde ir. Ninguém lhes daria
trabalho. Grupos famintos e esfarrapados
continuaram a perambular, a esmolar de casa
em casa, de fazenda em fazenda, em busca
de comida e amparo. Outros se dirigiam aos
centros de cidades e vilarejos, tentando
encontrar algum amparo das autoridades – o
que não aconteceu em lugar algum.”
(Laurentino Gomes, 2022)
O fim da escravidão no Brasil, ocorrido no Império, não foi seguido por uma
política que inserisse os negros recém-libertos na sociedade, nem que lhes garantisse
trabalho ou condições sociais e culturais. O processo histórico que resultou na
abolição da escravatura não foi um ato benevolente da princesa Isabel, mas o
resultado das correntes que transformavam a sociedade brasileira.
Para os intelectuais da época, a escravidão representava um atraso, enquanto
a abolição abria uma porta para a modernização capitalista que se expandia
rapidamente no Brasil. A abolição por parte do Estado Imperial, portanto, não foi
pensada para melhorar as condições de vida, nem vislumbrava um projeto pós-
abolição para o sujeito negro. Ao contrário, a República recém-implantada ignorou a
população negra, invisibilizando-a, de modo a justificar sua exclusão.
A Lei Áurea, marco da abolição da escravidão no Brasil, tinha só dois artigos:
“Art. 1°: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Art. 2°:
Revogam-se as disposições em contrário.” E não contemplava políticas públicas sobre
saúde, educação, trabalho, emprego ou qualquer outro direito básico.
A Constituição do Império de 1824 determinava que a educação era um direito
de todos os cidadãos, mas a escola era vetada para pessoas negras escravizadas. A
cidadania se estendia aos portugueses e aos nascidos em solo brasileiro, inclusive
negros libertos, porém esses direitos estavam condicionados a posses e a
rendimentos, impossibilitando desse modo aos libertos o acesso à educação.
(RIBEIRO, 2019)
Os incentivos para imigrantes compunham uma política oficial de
branqueamento da população baseada na crença do racismo biológico de que negros
representavam o atraso. Essa perspectiva marcou nossa história com a valorização
de culturas europeias em detrimento da cultura negra, segregando os negros de
diversas formas. Tais dispositivos legais, estabelecidos durante e após a escravidão,
contribuíram para a manutenção da mentalidade “casa-grande e senzala”. (RIBEIRO,
2019)
O racismo no Brasil difere de experiências como o nazismo, o apartheid sul-
africano ou a situação da população negra nos EUA na primeira metade do século
XX, nas quais o racismo era explícito e institucionalizado por leis e práticas oficiais.
Talvez em decorrência disso, o Brasil não reconhece as violências ocorridas durante
o período escravista, e prevalece a ideia de que a escravidão aqui foi mais branda que
9
em outros lugares, ideia já refutada por Lilia Schwarcz e outros historiadores, que
alegam que ela não passa de um mito desmentido por vários fatos históricos.
A abolição não pôs fim à exploração do negro e nem ofereceu condições para
que os ex-escravizados pudessem ser inseridos na esfera produtiva que se criava
com a expansão do capitalismo e a consequente urbanização que modificaram de
forma profunda as relações sociais e raciais.
O pensamento corrente era que o negro não combinava com a sociedade de
modelo europeu que se formava. O decreto nº 528, de 28 de junho de 1890, outro
dispositivo legal da época, regularizava a entrada de imigrantes no país, concedendo
entrada nos portos da República aos indivíduos aptos ao trabalho livre, desde que a
origem dos estrangeiros não fosse a Ásia ou a África (CURY, 2018). Ao excluir o negro
dos processos de trabalho, a política imigratória visava a erradicar a raça negra da
população brasileira.
A República associava o progresso ao branqueamento da população. As
críticas à escravidão não diziam respeito ao absurdo e à crueldade em si, mas à ideia
de que ela representava um obstáculo à modernização econômica e ao incentivo da
imigração europeia. (CURY, 2018)
Os 388 anos de escravismo fizeram de nossa sociedade uma poderosa fábrica
de preconceitos de todos os tipos, com destaque para o racial. A construção da
desigualdade racial originada no contexto colonial instaurou-se em todas as esferas
da sociedade notadamente no Estado brasileiro.
Outro entrave para qualquer avanço foi o surgimento do mito da democracia
racial (conceito que nega a existência de racismo no Brasil) que durante muito tempo
vigorou no país, ressaltando como qualidade nacional a miscigenação, a convivência
cordial e a paz social entre os povos que aqui habitavam, como vemos em “Casa
Grande & Senzala” publicado por Gilberto Freyre em 1933, uma das obras que ajudou
a disseminar a ideia da miscigenação e do convívio harmônico entre as raças. O
problema dessa ideologia era que, não havendo preconceito e discriminação raciais,
deveriam existir oportunidades econômicas e sociais iguais para negros e brancos, o
que não acontecia. E, uma vez que as desigualdades raciais não eram percebidas
como uma questão a ser enfrentada pelo Estado, as políticas públicas não
incorporavam o fator racial em suas elaborações.
A naturalização da desigualdade entre brancos e negros promovida pela
República resultou num projeto de nação que aprofundou ainda mais o racismo no
10
ordem”. Por trás desse comportamento havia teorias racistas que atribuíam aos
negros “defeitos” inerentes à sua “natureza”. (CHALLOUB, 1996)
No fim da década de 1870, o poder público proibiu a construção de cortiços nas
freguesias centrais da cidade, assim como a reconstrução dos que já existiam, numa
política de expulsão das “classes pobres/perigosas” para a periferia. O pensamento
reinante buscava separar o passado colonial do futuro de civilização, aproximando o
país da prosperidade de outros países considerados mais evoluídos. A desigualdade
na formação do espaço urbano da Cidade afetou as classes mais pobres, e essas
classes têm predominantemente a cor negra. (VEIGA, 2015)
Em 1948 o primeiro censo de favelas no Rio de Janeiro revelou
estatisticamente 105 favelas, quase metade delas situadas nos subúrbios, com
predominância de negros e migrantes vindos de outros estados. De acordo com o
IBGE, o último censo (2010), identificou a população total do estado do Rio de Janeiro
como 15.989.929 habitantes, sendo que 12,6% moravam em favelas. Comparado a
outras grandes cidades brasileiras, o município do Rio de Janeiro tem os maiores
crescimentos populacionais de moradores de favelas, segundo aquele instituto.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2015 apontam que o
Brasil tem o quarto maior índice de desigualdade da América Latina e o décimo do
mundo, sendo o Coeficiente de Gini de 0,56. A desigualdade está presente em todas
as regiões em diferentes escalas, sendo que no Rio de Janeiro o Coeficiente de Gini
passou de 0,60 em 1991 para 0,62 em 2010. Esses dados sobre a evolução da
desigualdade de renda num município considerado desenvolvido mostra o
desinteresse do Estado em buscar soluções para esses problemas. (TOLEDO, 2017)
As favelas concentram grande parte da população da cidade, apresentando
contrastes e riscos sociais, sem contar a desigualdade no acesso a bens e aos
serviços por parte dessa população privada de condições materiais básicas. É uma
massa de excluídos, marginalizados, sem participação no sistema econômico e com
acesso somente a subempregos. Tantas privações fazem com que essa população
acredite que suas vidas possam valer menos que as outras.
Há uma violência que vem de cima, praticada pela elite por meio do Estado. A
polícia protege a classe dominante e a afasta das classes perigosas, ou seja, das
classes pobres. Somada à segregação racial, essa política promove a dualização da
cidade e a marginalização do pobre. Nesse contexto, a representação social que
vincula a negritude e a pobreza à criminalidade faz nascerem políticas racistas de
12
Figura 1: Distribuição racial na capital do estado do Rio de Janeiro: 52% de brancos, 37% de pardos
e 11% de pretos (fonte: site da BBC Brasil. 2015)
13
Figura 2: Distribuição racial no Morro do Cantagalo, favela situada na zona sul da capital carioca: 32%
de brancos, 49% de pardos e 19% de pretos (fonte: site da BBC Brasil. 2015)
Figura 3: Distribuição racial em bairros da zona sul da cidade do RJ (Copacabana, Leme, Ipanema,
Leblon, Gávea, Jardim Botânico e Lagoa): brancos são 83% da população, pardos, 13% e pretos, 4%
(fonte: site da BBC Brasil. 2015)
14
Figura 4: No bairro da Lagoa, um dos mais elitistas da zona sul carioca: brancos são 91%, pardos, 7%
e pretos, 2% da população (fonte: site da BBC Brasil. 2015)
2.2. VIOLÊNCIA
“Todo camburão tem um pouco de navio
negreiro.”
(Marcelo Yuka)
Segundo CURY (2018), os dados do ISP-RJ (Instituto de Segurança Pública do
Rio de Janeiro), autarquia vinculada diretamente à Secretaria de Estado de Segurança
Pública, revelam a guerra social que vive o estado do Rio de Janeiro e quem são as
maiores vítimas. Segundo os dados de 2016, em todo o estado do Rio de Janeiro
foram registradas 5.337 mortes violentas. A missão do ISP-RJ é produzir informações
e disseminar pesquisas e análises para subsidiar a implementação de políticas
públicas de segurança, assegurando a participação social na construção dessas
políticas. Ainda de acordo com o ISP-RJ (2016), os homicídios registrados como
consequência da oposição à intervenção policial foram maiores na Capital (463 casos)
do que em qualquer outra região do estado.
Quando buscamos no site o perfil das vítimas que morrem por se opor à
intervenção policial, observamos que são pretos e pardos, do gênero masculino, faixa
etária entre 18 e 29 anos. A pesquisa mostra que jovens negros do sexo masculino
são exterminados diariamente por ações violentas da polícia. De acordo com Simas
15
(2013, apud CURY, 2018) a cidade do Rio de Janeiro “possui uma das polícias que
mais mata no mundo, com cifras superiores a muitos países em guerra ”.
Na maior parte das vezes, o Judiciário é uma extensão da viatura policial: não
se exige uma investigação detalhada nem se admite o contraditório para quem é
acusado pela seletividade do sistema. No entanto, mesmo com tantos casos
comprovados de abuso policial, que resultam em prisões injustas, a naturalização
dessa violência levou o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a ter como súmula —
isto é, uma decisão que de tantas vezes proferida se torna um entendimento
cristalizado — admitir como elemento suficiente para a condenação apenas a palavra
dos policiais que efetuaram a prisão (RIBEIRO, 2019).
Segundo um estudo da Defensoria Pública do Rio de Janeiro e da Secretaria
Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) do Ministério da Justiça, entre março de
2016 e janeiro de 2018 os policiais foram as únicas testemunhas em 71,14% dos
processos envolvendo tráfico. Não que nenhum policial seja digno de crédito, mas um
julgamento não pode se pautar única e exclusivamente pela palavra de quem prendeu.
(RIBEIRO, 2019)
Historicamente, o sistema penal foi usado para promover um controle social,
marginalizando grupos considerados “indesejados” por aqueles que definem o que é
crime e quem é o criminoso. No Brasil, tivemos várias leis com o intuito de criminalizar
a população negra, como a Lei de Vadiagem, de 1941, que perseguia quem estivesse
na rua sem uma ocupação clara justamente numa época de alta taxa de desemprego
entre homens negros. (RIBEIRO, 2019)
1
Frase de Emicida sobre o caso do músico Evaldo Rosa, fuzilado por soldados do Exército na Zona
Norte do Rio no fim da intervenção militar no estado, em abril de 2019.
18
2
RAMOS, Silvia; MUSUMECI, Leonarda. Elemento suspeito: Abordagem policial e discriminação na
cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. (Coleção Segurança e Cidadania,
2)
19
decorrentes de ação policial no estado, recorde superado no ano seguinte, com Jair
Bolsonaro na Presidência da República e Wilson Witzel no governo do Estado.
Policiais do estado mataram 1.814 pessoas em 2019.
Em 2020, ano do início da pandemia do coronavírus, o STF decretou nova
intervenção na segurança do Rio, determinando o controle e a redução de operações
policiais em favelas durante a pandemia, medida que não foi respeitada. O governo
de Cláudio Castro, sucessor de Witzel, retomou a política de operações violentas e
alta letalidade com as chacinas do Jacarezinho e do Salgueiro, em maio e outubro de
2021, respectivamente.
Observando o perfil dos abordados pela polícia, vemos que existe uma
discrepância em termos de representatividade da população: são mais homens que
mulheres, mais negros que brancos, mais pobres, mais jovens e mais moradores de
favelas e bairros de periferia do que a média da cidade. A distribuição de idade, cor,
gênero e local de moradia de quem foi parado mais de 10 vezes revela claramente as
características do “elemento suspeito” do ponto de vista policial: 94% eram homens,
66% negros, 50% tinham até 40 anos, 35% moravam em favelas, 33% moravam em
bairros da periferia e 58% ganhavam menos de três salários mínimos.
Esses dados dizem ainda mais sobre o racismo policial quando vemos a
distribuição de cor dos abordados segundo as modalidades de abordagem: a
população carioca é formada por 48% de negros. Apesar disso, eram negros 74% dos
indivíduos parados em vans ou Kombis, 71% dos parados no transporte público, e
68% dos parados a pé ou dirigindo moto. Tal discrepância confirma que muitas
pessoas nunca foram paradas e algumas foram paradas uma ou poucas vezes.
Enquanto isso, os jovens negros do gênero masculino são abordados inúmeras vezes
quando circulam a pé na rua, em transporte público ou em motos.
Dentre as pessoas abordadas nas ruas do Rio, 50% foram revistadas na última
abordagem - destas, 84% eram homens, 69% eram negros (lembrando que apenas
48% da população são negros), e 70% eram moradoras de favelas e bairros da
periferia. Uma experiência comum é ter uma arma apontada para si. Vários jovens
relatam já terem sido tratados com agressões verbais pelos policiais, com o uso de
termos desrespeitosos e humilhantes: “Neguinho”, “Negão”, “Meliante”, “Elemento”,
“Escurinho”, “Favelado” e “Moleque”, entre outros. Também relatam ter tido o celular
invadido em busca de fotos e mensagens de WhatsApp com eventual conteúdo ligado
21
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados nos levam a concluir que o racismo está presente na estrutura social
brasileira, particularmente no Rio de Janeiro. As evidências apontam que, apesar de
algumas conquistas e do posicionamento mais forte da nova geração, o corpo negro
segue sendo o elemento suspeito. Apesar da luta pela redemocratização do país a
partir dos anos 1980, da elaboração da nova Constituição que afirma em seu texto
que racismo é crime inafiançável, as marcas do processo de escravização
permanecem até os dias de hoje. Nas palavras de um dos entrevistados, “o negro
nunca deixou de ser escravo. A liberdade só acontece para quem conhece seus
direitos e deveres”.
Vivemos um momento em que o debate do racismo estrutural ganha visibilidade, mas
o preconceito racial entranhado nas estruturas brasileiras não cede com facilidade. A
polícia é a parte visível do sistema que sustenta o racismo, a ponta da engrenagem
do sistema de justiça criminal, formado por policiais, defensoria, ministério público,
justiça e sistema penitenciário. Os agentes policiais que atuam nas ruas exercendo a
prática fardada e armada da produção de suspeição, acusação e condenação
3
palavra russa que significa "causar estragos, destruir violentamente". Historicamente, o termo refere-
se aos violentos ataques físicos da população em geral contra os judeus, tanto na Rússia como em
outros países.
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Há muito a fazer para mudar isso, como discutir relações raciais em sala de
aula (GOMES, 2012), implementar ações afirmativas voltadas para o povo negro
(GOMES, 2005) e adotar um ensino de pluralidade cultural, que valorize as várias
existências e que referencie positivamente a população negra.
Com esse propósito foi promulgada em 2003 a lei 10.639, que tornou
obrigatória a inclusão da história e da cultura afro-brasileiras na grade curricular do
ensino fundamental e médio. Ao permitir o conhecimento de histórias africanas e
promover outra construção da subjetividade de pessoas negras, o que se pretende é
beneficiar toda a sociedade, rompendo a visão hierarquizada que pessoas brancas
têm da cultura negra (RIBEIRO, 2019).
Abdias do Nascimento, em O genocídio do negro brasileiro, afirma que
genocídio é toda forma de aniquilação de um povo, seja moral, cultural ou
epistemológica, sendo epistemicídio o apagamento sistemático de produções e
saberes produzidos por grupos oprimidos. O privilégio social resulta no privilégio
epistêmico, que deve ser confrontado para que a história não seja contada apenas
pelo ponto de vista do poder.
REFERÊNCIAS
SILVA, P.P. da. Não debater raça é racismo. Racismo e abordagem policial no Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro: CESeC, 2021.
SILVA, P.P. da. Sem desvio: notas sobre a polícia como instituição racista. Negro
trauma: racismo e abordagem policial no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: CESeC,
2022.
TOLEDO, B.B. A formação das favelas no Rio de Janeiro: uma análise baseada
na segregação populacional e exclusão social. Vitória, UFES, 2018.