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restaurantes-ao-ar-livre-para-se-adaptar-ao-novo-normal-25109289

Saiba como Nova York


está mudando os
restaurantes ao ar livre
para se adaptar ao 'novo
normal'
Projeto que permite mesas nas calçadas e nas ruas foi criado durante a pandemia,
mas deve ser mantido
Pete Wells/2021/The New York Times
11/08/2021 - 17:20 / Atualizado em 11/08/2021 - 17:21
Casa La Femme: cidade criou programa para manter restaurantes abertos Foto: CLAY
WILLIAMS / NYT
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Em setembro do ano passado, um par de cabines surgiu no West


Village em frente ao restaurante ítalo-americano Don Angie. Seu
piso era do mesmo linóleo xadrez usado no chão da sala interna.
Cada uma tinha três paredes com grandes janelas, cujos cantos
arredondados reproduziam as da fachada do restaurante. Através
delas, podiam ser vistas mesas privadas separadas por divisórias
transparentes do chão ao teto.

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Naquela época, o programa Restaurantes Abertos, que


rapidamente autorizava milhares de restaurantes a montar mesas
na rua e na calçada, tinha alguns meses de idade. Os nova-
iorquinos já haviam se acostumado com uma primeira onda de
áreas de jantar na rua delimitadas por cones de trânsito,
jardineiras e outros itens de loja de ferragens. As cabines do Don
Angie eram diferentes. Elas foram precursoras da segunda onda –
projetadas com premeditação e construídas para durar além do
verão. O mais interessante de tudo foi que o restaurante estava
consciente de sua responsabilidade de dar aos passeadores de cães
e ciclistas do bairro um momento de alegria visual em troca do
privilégio de ocupar terras públicas.

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Agora, uma terceira onda de arquitetura gastronômica de calçada


está a caminho, e é hora de os nova-iorquinos pensarem no que
querem dos restaurantes em troca de deixá-los operar nas ruas.

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A Prefeitura está trabalhando no complicado processo de tornar
permanente o programa Restaurantes Abertos e um programa
irmão chamado Ruas Abertas, que transforma temporariamente
trechos de vias em zonas livres de carros. Os estabelecimentos
ainda têm de seguir as regulamentações determinadas pelo
Departamento de Saúde, pelo Departamento de Edificações e por
outras agências, mas as novas regras do Departamento de
Transporte estabelecerão padrões para o jantar ao ar livre. À
medida que a crise da Covid-19 e a ameaça que ela representou
para um pilar da economia da cidade se tornam menos urgentes, a
cidade tem uma nova lógica para permitir que mesas e cadeiras
ocupem mais de oito mil vagas para estacionar o carro.

— Temos a oportunidade de fazer uma mudança permanente e


positiva na qualidade de vida da cidade de Nova York. O programa
pode ter começado como uma medida de emergência para salvar
restaurantes, mas o que descobrimos no processo é que os nova-
iorquinos gostam de jantar ao ar livre — disse Henry Gutman,
comissário do Departamento de Transportes, que supervisiona o
Restaurantes Abertos e outras iniciativas que transformaram as
vagas de carros nas ruas em algo que a cidade acredita que vai
beneficiar mais pessoas.

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Dolly Varden Foto: CLAY WILLIAMS / NYT
 

Tornar a cidade um lugar mais agradável para viver e visitar e, ao


mesmo tempo, proteger os comensais do trânsito é, de certa
forma, uma tarefa burocrática mais simples do que combater um
vírus aéreo ou evitar a ruína financeira das empresas locais. Mas
regulamentos bem planejados podem garantir que a criatividade
exuberante do ano passado continue; normas excessivamente
rigorosas podem impor uma mesmice sem graça.

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Taxas baixas e formulários simples podem ajudar os restaurantes


que oferecem refeições ao ar livre a criar raízes em áreas onde as
pessoas têm menos dinheiro e menos experiência em lidar com a
burocracia. Esses espaços podem ser restritos à alimentação e à
bebida, ou podem ser abertos a atividades culturais, educacionais
ou comunitárias. Os proprietários de empresas poderiam usar
ruas e calçadas para receber seus vizinhos ou para se isolar deles.

Para incentivar os tipos de projeto e de colaboração que tornarão


a cidade um lugar mais interessante para viver e visitar, três
grupos sem fins lucrativos que defendem o melhor uso das ruas e
de outros espaços públicos estão realizando um novo concurso, o
Alfresco Awards.

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— Queremos promover os projetos bons e bonitos e as parcerias


comunitárias, as que realmente se encaixam com segurança e
mobilidade nas ruas — declarou uma das organizadoras da
premiação, Kate Slevin, vice-presidente executiva da Associação
de Planos Regionais, sem fins lucrativos.
Muitos projetos são lúdicos. Alguns transformam a cidade em
uma floresta tropical frondosa ou em um oásis no deserto. Outros,
como o mural que um grupo de voluntários chamado
Neighborhood Curbside Canvas Project organizou para o
restaurante Square Diner em TriBeCa, transformam quilômetros
de muros e barreiras recém-construídos ao redor da cidade em
instalações artísticas.

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Há os que têm uma mensagem. O Peaches Kitchen & Bar,


restaurante sulista em Bedford-Stuyvesant, no Brooklyn, participa
com suas "Cabanas da Amizade", cujas paredes são feitas de
milhares de garrafas de plástico transparente entrelaçadas. Cada
garrafa tem menos de 12 centímetros, mas as paredes que formam
são fortes o suficiente para resistir a ventos de até 168 km/h.
Durante o dia, elas deixam o sol entrar, e à noite refratam a luz de
faróis e lanternas traseiras dos carros que passam,
transformando-as em padrões caleidoscópicos de vermelho e
branco.

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Don Angie Foto: CLAY WILLIAMS / NYT
 

Além de acomodar seis pessoas cada, as cabines do Peaches são


propagandas de uma ideia, segundo Josh Draper, que as projetou
como uma extensão de seu trabalho como pesquisador no Centro
de Arquitetura, Ciência e Ecologia do Instituto Politécnico
Rensselaer. Os suprimentos levados para áreas atingidas por
furacões ou terremotos normalmente incluem milhares de
garrafas plásticas de água. Uma vez vazias, elas viram um
problema ambiental; mas, de acordo com Draper, se forem usadas
no design entrelaçado do Peaches, podem ser imediatamente
reaproveitadas para a construção de abrigos de emergência.

Slevin disse que, depois do Alfresco Awards, seu grupo e seus


parceiros no programa, o Design Trust for Public Space e a Tri-
State Transportation Campaign, vão elaborar um conjunto de
diretrizes de design para estruturas acessíveis e duráveis de
restaurantes de rua. Essas diretrizes serão apresentadas ao
Departamento de Transportes e aos proprietários de empresas. Os
grupos também planejam doar subsídios de US$ 10 mil para
ajudar pequenas empresas e organizações comunitárias a
aproveitar o Restaurantes Abertos e o Ruas Abertas em partes da
cidade que foram mais atingidas pela Covid-19.

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tempos de Covid-19

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Embora as áreas de jantar na rua e na calçada pareçam estar em


todos os lugares, não estão. O Restaurantes Abertos permitiu que
cerca de 12 mil bares e restaurantes operassem ao ar livre, muito
mais do que o complicado processo de permissão de mesas de café
na calçada que substituiu. Contudo, os locais de jantar ao ar livre
são escassos em Staten Island, no leste do Queens e no Bronx,
onde menos de 700 pedidos foram aprovados, o menor total nos
cinco distritos.

Casa La
Femme Foto: CLAY WILLIAMS / NYT
 
Em um relatório de setembro passado, a controladoria do estado
observou que o programa Restaurantes Abertos havia autorizado
mais da metade de todos os restaurantes em vários bairros
estendidos de Manhattan a colocar mesas na rua ou na calçada.
Em três grandes faixas do Bronx, em comparação, a taxa foi
inferior a 25 por cento.

Slevin informou que a Associação do Plano Regional pretende


pressionar a cidade para ajudar a financiar grupos e empresas que
não foram capazes de acessar o Ruas Abertas e o Restaurantes
Abertos até agora.

O Departamento de Transportes já fornece algum apoio financeiro


a grupos locais que gerenciam alguns programas do Ruas Abertas.
Quanto a dar dinheiro a restaurantes, "não tenho certeza se isso
foi considerado neste momento, mas ajudá-los a facilitar a
participação está claramente em nossa lista de tarefas", comentou
Gutman.

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Ele acha provável que a cidade comece a cobrar alguma taxa pelo
uso de ruas e calçadas.

— Mas nosso foco será a acessibilidade. Portanto, se de fato uma


estrutura de taxas for imposta, a prioridade será que ela não
impeça participações.
Don Angie
Foto: CLAY WILLIAMS / NYT
 

Os entraves que já existem estão sendo solucionados por vários


esforços voluntários. Desde março passado, o Design Advocates,
grupo sem fins lucrativos de cerca de 250 empresas de
arquitetura, oferece orientação e assistência para ajudar
restaurantes e organizações comunitárias a lidar com a pandemia
e as regras que regem as estruturas ao ar livre.

Antes da pandemia, quase todos os restaurantes de Nova York


operavam inteiramente em espaço interno de propriedade
privada. A grande mudança para o espaço público ao ar livre exige
uma mudança de paradigma na forma como os estabelecimentos
se veem.

Eles já são hábeis em criar ambientes privados que fazem com que
os clientes pagantes se sintam sortudos por estar entre suas
quatro paredes. Agora, precisam criar ambientes que façam com
que os não clientes se sintam sortudos por ser seus vizinhos.

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