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RESENHA VAN LINDEN

Segundo o autor, os primeiros estudos sobre trabalhadores eram eurocêntricos, voltados para
o leste europeu, e no século XXI começaram a se tornar globais. Os primeiros trabalhadores
estudados, no século XIX, eram livres para escolher onde trabalhar e não possuíam capital,
enquanto suas famílias tinham função apenas consumidora e reprodutiva. O foco dos estudos
eram greves e protestos de fundo político. No século XX, estudos menos eurocêntricos
incluíam trabalhadores da África, Ásia, América Latina e Caribe, numa visão mais global.

Na Europa os movimentos operários eram estudados no século XIX como se o ocorrido em


uma nação fosse se repetir nas outras, de modo que estudá-los era antecipar o futuro. Anos
mais tarde, concluiu-se que essa abordagem de estudar os países que estavam à frente dos
acontecimentos era menos útil do que se supunha para a vida política de um país. Era preciso
estudar também os países menos desenvolvidos pertencentes às mesmas áreas culturais, a fim
de comprovar que as hipóteses elaboradas estavam de fato corretas.

As organizações internacionais trabalhistas eram vistas como vínculos de colaboração entre


trabalhadores de vários países, e ao estudar-se as migrações internacionais de trabalhadores,
os migrantes eram vistos como pessoas que conservavam a cultura do país de origem ou que
eram assimilados pela cultura do país de destino.

Nas últimas décadas, a ideia de que só povos pertencentes à mesma área cultural podem ser
comparados foi questionada, enquanto o Estado-nação foi sendo relativizado. A
descolonização resultou na criação de novos países independentes na África e Ásia, e a história
social dessa periferia não poderia ser escrita sem referência à história da metrópole. Surgiram
comunidades continentais imaginadas, como o pan-africanismo.

Ao pesquisar as migrações, os historiadores perceberam que os migrantes muitas vezes vivem


de modo transcultural. Identificaram-se culturas fronteiriças não condizentes com a visão
monadológica adotada antes. O mesmo acontecia com ciclos transnacionais de protestos de
trabalhadores. Esses desdobramentos, aliados a um convívio maior entre historiadores de
diversas partes do mundo, apontaram controvérsias decorrentes de ciladas do eurocentrismo
e do nacionalismo metodológico característicos da história do trabalho convencional.

Para van der Linden, no que diz respeito à metodologia o termo História Global do Trabalho é
uma área de interesse, considerando-se a pluralidade e o antagonismo das opiniões. Já quanto
aos temas, História Global do Trabalho abrange o estudo transnacional das relações de
trabalho (trabalho remunerado ou não, de trabalhadores livres ou não) e dos movimentos
sociais trabalhistas (atividades formais e informais).

A HGT não limita os períodos de tempo estudados, embora a ênfase costume estar nos
movimentos de trabalhadores surgidos com a expansão do mercado mundial depois do século
XIV. Teorias e interpretações tradicionais desse estudo resultam nas duas principais ciladas
mencionadas anteriormente. Van der Linden afirma que os nacionalistas metodológicos
consideram o Estado-nação a unidade básica de pesquisa, de modo que o período de tempo
anterior seria a “pré-história” do Estado-nação, e o que ocorre fora da fronteira seria um
desvio do modelo. Além disso, eles misturam os conceitos de sociedade, Estado e território
nacional, quando na verdade as sociedades não são unitárias, mas se sobrepõem e
entrecruzam.
O autor menciona três formas de eurocentrismo: 1) a indiferença, quando se estuda uma parte
do mundo sem dar atenção às demais; 2) o preconceito, quando os historiadores estudam
vários países, mas usam Europa, Australásia e América do Norte como parâmetros; 3)
pressupostos explícitos que orientam a pesquisa – muitas vezes uma visão eurocêntrica que é
enfaticamente negada.

Van de Linden sustenta o desejo de contribuir para um estudo da HGT livre do eurocentrismo e
do nacionalismo metodológico, valendo-se para isso de literatura de diversas regiões, épocas e
disciplinas, com o objetivo de integrar a história da escravidão e dos desdobramentos
divergentes ocorridos em várias partes do mundo. Neste capítulo do livro, o autor não
pretende oferecer respostas definitivas, apenas apontar a direção para pesquisas.

O livro preconiza uma definição inclusiva de trabalhadores, já que aqueles assalariados e livres,
priorizados por Marx, representam apenas uma das muitas formas de transformar o trabalho
em mercadoria. A ideia de van der Linden é que, no futuro, os limites entre as historiografias
da escravidão e do trabalho assalariado sejam menos nítidas.

Para van der Linden, ação coletiva dos trabalhadores é uma ação mais ou menos coordenada
visando a um objetivo que o trabalhador não conseguiria atingir individualmente, e não se
refere apenas a conflitos políticos, mas também a eventos sociais, por exemplo.
Reconhecendo que o campo é bastante amplo, o autor opta por focar as ações coletivas
referentes a questões econômicas, e os trabalhadores serão aqueles que desfrutam de
autonomia.

O autor reconhece a dificuldade de comparação com os dados sobre trabalhadores não livres
da Ásia nos séculos XVII e XVIII, já que dispomos de muito mais informações sobre
trabalhadores livres da Europa e América do Norte nos séculos XIX e XX; no entanto, ainda
assim gostaria de incentivar novas pesquisas sob novas perspectivas.

O conceito de classe trabalhadora surgido na Europa no século XIX atualmente é questionado,


pois as diferenças entre trabalho assalariado livre, trabalho autônomo e trabalho não livre,
assim como entre trabalho urbano e rural, não são tão rígidas.

O autor baseia-se em Marx para definir o conceito de classe trabalhadora por achar que,
apesar dos pontos críticos, ainda é a melhor análise disponível. Marx via no modo de produção
capitalista o resultado da mercantilização da força de trabalho, dos meios de produção e das
matérias-primas e dos produtos do trabalho. Para Marx, a força de trabalho só se torna
mercadoria por meio do trabalho assalariado livre. O trabalhador livre dispõe de sua força de
trabalho como mercadoria e a coloca à venda. Essa restrita ideia de classe trabalhadora de
Marx comporta questionamentos, como: por que a força de trabalho não pode ser vendida por
outra pessoa que não o portador? Por que não se pode colocar à venda força de trabalho junto
com meios de produção?

Temos força de trabalho autônoma, quando o portador e o possuidor são a mesma pessoa, e
heterônoma, quando o portador não é o possuidor, o que nos permite entre outras as
seguintes possibilidades:

Autônoma Heterônoma
Portador vende sua própria Trabalho assalariado (Marx) Trabalho assalariado
força de trabalho Meação ou parceria executado por escravos
Trabalho de artesãos
autônomos
Portador não vende sua Trabalho assalariado Trabalho escravo
própria força de trabalho subcontratado Trabalho assalariado infantil

A ortodoxia marxista distinguia no capitalismo cinco classes principais ou semiclasses


subalternas: trabalhadores assalariados livres (só têm sua força de trabalho, que vendem);
pequena burguesia (pequenos produtores ou distribuidores de bens que empregam poucos
trabalhadores); trabalhadores autônomos (proprietários da força de trabalho e dos meios de
produção, vendem produtos ou serviços resultantes desse trabalho); escravos (não possuem
nada, são vendidos) e lumpemproletariado (totalmente excluído do mercado de trabalho
legalizado). Considera-se que a luta de classes ocorre principalmente entre capitalistas,
proprietários de terras e assalariados, sendo as outras classes historicamente menos
importantes.

Dito isso, o autor questiona se as definições de Marx estão de fato corretas, e opina que tais
definições lhe parecem menos rígidas e mais fluidas, sendo o capitalismo uma variedade quase
infinita de tipos de produtores que contempla formas intermediárias entre as categorias
citadas acima. Existem assalariados que exercem trabalhos forçados e cujos salários são
entregues a terceiros. O autor cita exemplos de escravos que exerciam trabalho assalariado
em benefícios de seus senhores.

O autor também menciona trabalhadores assalariados impedidos de se demitir: servidão por


dívida ou por contrato; certificados de dispensa, sem os quais o trabalhador não pode ser
admitido em outro emprego; compulsão física, podendo chegar ao encarceramento; oferta de
seguridade social e outros benefícios; ligações sociais ou econômicas entre empregador e
empregado, externas à relação de emprego.

Uma forma intermediária entre trabalho assalariado e autônomo é quando o trabalhador,


além da força de trabalho, é dono das ferramentas que utiliza. Ele também pode pegar
emprestado do empregador os meios de produção que utiliza, ou o empregado pode ficar com
uma parte do produto do seu trabalho/da sua produção. Também existem diversas gradações
entre trabalho escravo e trabalho autônomo, entre trabalho assalariado, escravidão, trabalho
autônomo e lumpemproletariado.

O autor prossegue afirmando que o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de
dinheiro, que usa para adquirir bens e reproduzir sua força de trabalho, para então novamente
vendê-la ao empregador. Para isso, porém, é necessário um trabalho de subsistência e
cooperação, como o realizado pelas mulheres da família no âmbito doméstico, ou por
trabalhadores domésticos assalariados.

Van der Linden acrescenta que, além do dinheiro pago em troca da força de trabalho, há
outros vínculos que ligam empregador e trabalhador, como acomodações fornecidas pelo
primeiro ao segundo. Em alguns casos, pode acontecer de esse vínculo não ser econômico,
mas sim de parentesco ou religioso. O autor chama a atenção para o fato de que o trabalhador
pode ter mais de um emprego ou fonte de renda. Ou um empregador pode contratar vários
trabalhadores, diretamente ou por meio de um subempreiteiro.

Segundo o esquema apresentado pelo autor, o ciclo se quebra se o trabalhador para de


trabalhar, deixando de pôr à venda sua força de trabalho. As greves são, portanto, uma ação
coletiva associada aos trabalhadores associados livres, a única ação de protesto possível. No
entanto, trabalhadores subalternos também fazem greve, como vimos no passado.
Assim, o autor conclui que na sociedade capitalista são tênues os limites entre trabalhadores
assalariados livres e outros trabalhadores subalternos, uma vez que existem categorias
intermediárias e quase todos os trabalhadores subalternos pertencem a famílias que exercem
diversos modos de trabalho, além de, individualmente, poderem acumular diferentes formas
de trabalho.

Na sociedade capitalista a classe dos trabalhadores subalternos (escravos, meeiros, artesãos e


assalariados, entre outros), formada por grande número de pessoas, mercantiliza sua força de
trabalho de muitas formas diferentes. Para van der Linden, essa dinâmica deve ser analisada
mais a fundo pelos historiadores. Ao buscar entender o que essa classe tem em comum, o que
a distingue, o autor reforça o argumento de pensadores segundo o qual não é a falta de meios
de produção que confere a condição de proletário, mas o fato de que o proletário precisa
vender sua força de trabalho para obter seu meio de vida. O que todos os trabalhadores
subalternos têm em comum é a forçosa mercantilização de sua força de trabalho.

Para diferenciar internamente a classe subalterna, é preciso estudar a relação entre o


trabalhador e sua força de trabalho, a relação entre o trabalhador e os meios de produção e a
relação entre o trabalhador e o produto de seu trabalho. Adicionalmente, é necessário avaliar
a relação entre o trabalhador subalterno e os demais membros de sua família, a dependência
social e econômica existente entre eles; a vinculação entre o trabalhador e o empregador fora
do processo produtivo; e a relação/tipos de dependência social e econômica que existem entre
o trabalhador e seus colegas na relação de trabalho. Em geral, as mulheres têm menos
autonomia que os homens, enquanto os trabalhadores assalariados têm autonomia maior que
a de escravos, porém menor que a de trabalhadores autônomos.

Van der Linden entende que não se devem estudar isoladamente os tipos de trabalhadores
subalternos, dada a ligação entre eles, e que ao estudá-los é essencial refletir que fazem parte
de famílias e de outras redes sociais e culturais. Também não parece correto ao autor analisar
tais trabalhadores do ponto de vista de suas nacionalidades, que devem ser consideradas em
contexto.

RESENHAS

Contribuição da antropologia para entender a HGT?

https://www.ufrgs.br/memoriasdotrabalho/2018/08/30/horizontes-antropologicos-39-
antropologia-do-trabalho/

Quando comecei a dar cursos na pós-graduação do Museu Nacional a nova ementa que
introduzi tinha por título “Antropologia da Classe Operária”, para marcar a quase-
novidade do estudo antropológico inusual dos trabalhadores industriais. O assunto era
então hegemonizado pela Sociologia do Trabalho (etiqueta bem estabelecida) e pela
História do Trabalho. O mesmo título foi usado num GT (Grupo de Trabalho) que
ajudamos a organizar no âmbito da Associação Brasileira de Antropologia nos anos ´80.
O emprego industrial no Brasil tinha atingido então o seu cume, assim como o
movimento dos metalúrgicos, dentre várias outras categorias de trabalhadores, havia
eclodido naqueles anos, contribuindo fortemente para a redemocratização depois de
mais de 15 anos de ditadura militar. Mas o fato de observar os trabalhadores industriais
a partir da periferia brasileira, no Nordeste, com operários originários do campesinato,
dificultava a percepção da relevância de uma perspectiva etnográfica de grupos de
trabalhadores delimitados diante dos cânones de estudos macrossociológicos, de
preferência nos setores tecnologicamente modernos das regiões industrializadas (como
São Paulo) e com modelos de pesquisa assentados em resultados de questionários. A
perspectiva etnográfica e cultural tendo sido adotada também por historiadores do
tempo presente e por sociólogos sensíveis à observação direta prolongada in situ fez
constituir-se progressivamente uma profícua rede interdisciplinar voltada para o estudo
do trabalho. Aliás o tema do trabalho foi se tornando um campo de experimentação
espontâneo onde se davam cooperações não necessariamente intencionais entre
pesquisadores de formação histórica, sociológica ou antropológica de vários países. As
transformações do mundo do trabalho, que se tornaram intensas já a partir dos anos ´80
nos países centrais e a partir dos ´90 na América Latina e no Brasil, foram minando a
anterior centralidade dos trabalhadores industriais e seu protagonismo nos movimentos
sociais. Se o trabalho deixou de ser tema da moda abrindo caminho para o estudo de
outras dimensões importantes da vida 3 Cf. A tecelagem dos conflitos de classe na
‘cidade das chaminés’, São Paulo/Brasília: Marco Zero/Editora da UnB, 1988. Cf.
também o documentário Tecido Memória, Sergio Leite Lopes, Rosilene Alvim e Celso
Brandão, 2008. https://www.youtube.com/watch?v=JnssLrAZpY&feature=youtu.be
(legendas em espanhol) social, por outro lado havia que se debruçar sobre tais
transformações elas próprias. Nesse momento a experiência dos pesquisadores que
haviam estudado as trajetórias de trabalhadores de origem rural e nas suas idas e voltas
entre o campo e a cidade pôde conjugar-se com a experiência dos pesquisadores do
campesinato e do mundo rural também em acelerada transformação, qualificando-se
mutuamente para contribuir no desvendamento das relações complexas entre as novas
dimensões do trabalho articuladas com outras esferas da vida social. Pude fazer parte
dessas redes de pesquisadores e ajudar na sua materialização em encontros e trocas de
experiência. Um desses pontos de encontro se deu nos GTs da ABA agora denominados
de “Antropologia do Trabalho”, nos anos 2000, refletindo essa gama mais ampla de
pesquisas cruzando o rural com o industrial, o campo com a cidade e onde o trabalho é
uma das dimensões da vida social sob forte interação com outras4 . Também foi
importante o estímulo provocado por contatos mais intensificados com pesquisadores da
América Latina, em especial os das novas gerações da Argentina já organizados em
torno da perspectiva mais ampla de uma antropologia do trabalho. E muito há a se
pesquisar nesse domínio, desafio para o qual a recente iniciativa da Revista
Latinoamericana de Antropologia del Trabajo é para nós um novo alento.

Regime escravo até hoje – razões

https://www.antropologiasocial.com.br/em-4-anos-nenhum-acusado-por-trabalho-
escravo-no-brasil-foi-condenado/

Como os movimentos dos trabalhadores ocorridos em diferentes partes do mundo podem ser semelhantes
e estarem conectados? Na obra Trabalhadores do mundo: Ensaios para uma história global do trabalho,
o pesquisador Marcel van der Linden apresenta argumentos e ferramentas que respondem a essas e a
outras perguntas em busca de uma interpretação diferente da história do trabalho.

Pesquisador sênior no Instituto Internacional de História Social, em Amsterdã, Linden dedica-se a


pesquisas direcionadas à história social e ao trabalho no mundo, sendo reconhecido nesse campo por suas
diversas contribuições. Em seu livro, traduzido do inglês, o autor reúne ensaios que foram escritos
seguindo seu desejo de evidenciar que a escravidão e outros tipos de exploração devem fazer parte dos
estudos sobre a classe trabalhadora, visto que influenciaram na formação desse grupo.

Outra contribuição da obra é sua abordagem metodológica, que visa expor a necessidade de compreender
essas análises sem a interferência do eurocentrismo e do nacionalismo metodológico, capazes de distorcer
algumas visões do mundo trabalhista e da sua história. Linden afirma que, quando surgiu, a história do
trabalho foi rapidamente relacionada a essas duas correntes que foram responsáveis não só por fundir
sociedade com Estado, mas também por abordar os diferentes estados-nação como “mônadas
leibnitizianas”. Essa abordagem afirma que os movimentos trabalhistas ocorridos na França, por exemplo,
devem ser analisados como acontecimentos separados dos que ocorreram nos Estados Unidos e Grã-
Bretanha. Assim como evidencia que a visão eurocêntrica era estabelecida quando os movimentos
ocorridos na América Latina deveriam ser compreendidos conforme os esquemas do Atlântico Norte, por
essa última região ser vista como um exemplo de futuro para países menos desenvolvidos. Dessa forma,
uma nação era tida como mais avançada em comparação à outra, limitando os estudos desenvolvidos a
partir de 1840, e também nas próximas gerações, por estimular um grande interesse em entender o
funcionamento dos povos vistos como “altamente desenvolvidos”.

Na obra, o autor ressalta que essa visão foi sendo modificada, principalmente após a Segunda Guerra
Mundial, momento em que a “monadologia eurocêntrica” passou a ser questionada por completo,
resultando em uma nova compreensão da “História Global do Trabalho”. Para o autor, essa temática é
uma área de interesse que pode gerar diferentes pontos de análise, não restringindo as experiências do
indivíduo a espaços de tempo. Com capítulos independentes, mas conectados por um assunto em comum,
o foco dos ensaios é apresentar um estudo transcontinental, realizando comparações entre diferentes
países, como Estados Unidos, Brasil, África do Sul, e investigando as suas interações.

Na “Introdução”, são apresentadas as mudanças nas pesquisas sobre os trabalhadores e seus movimentos.
Desde a década de 1840, os historiadores partiam de uma visão eurocêntrica, buscando compreender
apenas o funcionamento de países capitalistas desenvolvidos. Assim, os objetos desse estudo eram, em
primeiro lugar, o trabalhador do sexo masculino que trabalhava em ferrovias, minas, agricultura e que era
visto como um indivíduo livre, no sentido marxista, para escolher seu empregador. Em segundo lugar, era
observada a família desse empregado, que teria como única função o consumo e a reprodução, uma vez
que nela “eram gastos os salários, e nela eram criados os filhos”. Os pesquisadores davam destaque a
greves e a outras atividades realizadas como formas de protestos pelos trabalhadores.

Apesar de não ter havido grandes modificações nessa perspectiva – o descaso com as famílias e com o
trabalho doméstico permanecia, bem como o foco em greves e partidos políticos –, a partir da década de
1950, começaram a surgir trabalhos com enfoques menos eurocêntricos, como os dos historiadores
Charles van Onselen e Ranajit Das Gupta. Linden afirma que foi a partir de 1996 que os estudos se
tornaram globais, resultando em diversas conferências e associações realizadas internacionalmente, como
a rede de historiadores “Mundos do Trabalho” pertencente à Associação Nacional de História (Anpuh),
no Brasil, e a fundação da Associação Indiana dos Historiadores do Trabalho, na África do Sul.

Partindo de uma visão ampla das pesquisas sobre o trabalho, a primeira parte do livro, denominada
“Conceituações”, aborda o conceito de “classe trabalhadora”, o motivo de ter sido criada para diferenciar
os trabalhadores “respeitáveis” de outros grupos, como os escravos, os trabalhadores não livres, os
trabalhadores autônomos e o lumpemproletariado, evidenciando suas relações na formação de cada grupo.
O capítulo um, “Quem são os trabalhadores?”, parte da análise de mercadoria na concepção de Karl
Marx, que via “o modo de produção capitalista como resultado da mercantilização da força de trabalho,
dos meios de produção e das matérias-primas e dos produtos de trabalho”. Os outros dois capítulos são
orientados por questionamentos sobre o trabalho assalariado livre, que buscam compreender o motivo de
esse tipo de atividade se tornar predominante, mesmo não tendo existido em outras épocas e regiões,
enquanto a escravidão perdeu intensidade no decorrer dos anos, embora tenha continuado existindo na
maioria dos países.

“Variações do mutualismo” é a segunda parte do livro. Nela são examinadas ações, como mutirões de
trabalho, em que “os membros da coletividade se reúnem uma ou diversas vezes, para trabalhar juntos na
produção de um bem do qual todos, ao final, esperam se beneficiar”. São apresentadas também questões
sobre os seguros e sobre cooperativas de consumidores e de produtores.

A terceira parte, denominada “Formas de resistência”, mostra como os trabalhadores subalternos podem
lutar contra seus empregadores e representantes em busca de melhorias, seja em questão salarial ou
trabalhista. Como todo o livro, esse capítulo é repleto de exemplos de diferentes partes do mundo que
contextualizam cada forma de resistência, sejam greves, protestos de consumidores, a formação de
sindicatos ou o internacionalismo operário. Um exemplo de resistência trabalhista que o autor traz é a
“operação tartaruga”, em que os mineiros chineses que trabalhavam em regime de servidão por contrato
na mina de North Randfontein, Transvaal, realizaram por três dias um protesto em que cavaram menos
que o esperado pelos seus empregadores. Essa operação foi realizada com o propósito de garantir
emprego para mais trabalhadores e aumentar o preço por peça.

Por fim, “Contribuições de disciplinas adjacentes”, a quarta parte do livro, tem como foco apresentar
outras disciplinas que enriquecem o estudo sobre a história global do trabalho. Nessa seção, o autor
questiona as abordagens dos sistemas-mundo e a “Escola Bielefeld”, chegando até aos estudos
etnológicos, como a experiência Iatmul, um povo da Papua-Nova Guiné, sobre o qual Linden diz que:

“os historiadores do trabalho teriam muito a lucrar se ‘descentrassem’ seu enfoque tradicional fazendo
uso dos estudos etnológicos. […] A combinação de diferentes trabalhos pode lançar luz sobre os
desdobramentos de longo prazo – principalmente quando o material etnológico é complementado pela
história oral, por memórias escritas por funcionários do governo preocupados com a questão e pela
pesquisa nos arquivos coloniais, nas organizações missionárias etc”.

Trabalhadores do mundo: Ensaios para uma história global do trabalho oferece importantes reflexões
para os estudiosos do campo da Ciência Social de diferentes culturas e regiões, buscando incentivar a
realização de pesquisas sobre os contextos menos estudados dos trabalhadores subalternos.

van der Linden, Marcel. Trabalhadores do mundo: ensaios para uma história global
do trabalho

Fernando Teixeira da Silva

Departamento de História, Universidade Estadual de Campinas


(Unicamp). ftdsilva@gmail.com

Campinas (SP): Ed. Unicamp, 2013. 520p.

No Congo belga do final do século XIX, em sua viagem pelo coração das trevas do
"homem moderno", Joseph Conrad encontrou bacongos mortos de tanto trabalhar no
assentamento dos trilhos da ferrovia do rei Leopoldo, assim como assistiu à fuga dos que
se recusavam a ser recrutados. Em pleno século XXI, na República Democrática do
Congo, uma matéria do New York Times constata que 90% dos mineiros trabalham em
condições análogas à de escravo, para extrair tungstênio e estanho usados em aparelhos
eletrônicos consumidos em diferentes partes do globo. Lamentavelmente, eles não
constituem exceção. Min Min, pseudônimo usado para evitar retaliações, foi recrutado aos
19 anos em sua terra natal, Miamar, para trabalhar em barcos pesqueiros na vizinha
Tailândia, na esperança de encontrar dias melhores, conforme seu "agenciador" lhe havia
prometido. Ao chegar às docas, ele lhe disse: "sou seu dono". Min Min se viu forçado a
trabalhar até 20 horas por dia, de domingo a domingo, sem receber qualquer
remuneração. Ao tentar fugir, foi capturado e torturado com anzóis. A boa notícia é que,
após 9 anos de pesadelos, Min Min conseguiu escapar e retornar para sua casa. "Eu me
senti livre", disse ele (Potenza, 2014). Não teve a mesma sorte a maioria dos cerca de 30
milhões de trabalhadores submetidos à "escravidão contemporânea" em mais de 160
países, segundo levantamento de um relatório sobre trabalho compulsório no mundo atual
(Global Slavery Index, s.d., p.7).

Bem sabemos que, do Congo da época de Conrad aos barcos de pesca da Tailândia de
nossos dias, a escravidão "moderna", que vicejou das Grandes Navegações ao século
XIX, tornou-se proibida por lei. Mais do que isso, qualquer trabalho que não seja
considerado "livre" é moralmente censurável. Entretanto, a escravidão continua presente.
É como se algo tivesse saído diferente do combinado, mas essa impressão logo se desfaz
quando percebemos que a história do capitalismo, desde a expansão do mercado mundial
no século XIV, foi sempre a história do trabalho compulsório, por compulsão tanto física
quanto econômica. Tal constatação constitui a essência de Trabalhadores do mundo, livro
que Marcel van der Linden publicou originalmente em inglês, em 2008, e que acaba de ser
lançado em português pela Editora da Unicamp.

Dono de extraordinária erudição, diretor por vários anos do prestigioso Instituto


Internacional de História Social (IIHS), de Amsterdã, e conhecedor de diversas línguas, o
autor encontra-se muito bem posicionado para propor uma "história global do trabalho",
termo que, segundo ele, foi cunhado pelo próprio IIHS. Van der Linden logo alerta que não
se trata de um novo paradigma, uma escola historiográfica ou outra Grande Teoria. Em
termos concisos, tal história é uma "área de interesse". Em primeiro lugar, está o interesse
em produzir uma história transnacional e transcontinental, que seja capaz de romper as
barreiras historiográficas confortavelmente fincadas nas fronteiras dos Estados-nação,
muitas vezes naturalizadas. Em um contexto expandido de processos históricos, podem-se
examinar combinações e fluxos materiais e simbólicos que atravessam diferentes
dimensões geográficas, bem como elaborar comparações para testar hipóteses antes
elaboradas no interior dos quadros nacionais.

Igualmente importante é o interesse em desafiar definições reducionistas de "classe


trabalhadora", tão ao gosto das perspectivas deterministas e evolucionistas de estudos
empreendidos no chamado Atlântico Norte, para os quais os países periféricos
acompanhariam os "estágios" de desenvolvimento do centro do capitalismo, onde teriam
predominado os trabalhadores assalariados em estado "puro". Um arraigado pensamento
teleológico crê que a escravidão, a servidão por contrato, o trabalho autônomo, doméstico,
infantil e de subsistência seriam formas residuais de exploração do trabalhador, não
subordinadas à lógica da mercantilização capitalista e, portanto, fadadas ao
desaparecimento. Se o campo de visão se amplia para uma escala global, pode-se
observar que todas essas formas de trabalho são coexistentes e, muitas vezes,
complementares. Para van der Linden, "a base de classe comum a todos os trabalhadores
subalternos é a mercantilização coagida de sua força de trabalho" (p.41, grifo do autor).
Por isso, importa inventariar os motivos que levam ao uso desta ou daquela modalidade de
exploração da força de trabalho, ou o impedem. Seria o trabalho escravo menos eficiente
porque "uma pessoa incapaz de adquirir propriedades não pode ter outro interesse que
não comer o máximo possível e trabalhar o mínimo possível", como pontificava Adam
Smith (p.75)? São questões como esta que o autor busca deslindar, não apenas do ponto
de vista dos cálculos econômicos, mas também a partir de considerações sobre normas
comportamentais, legais, políticas e morais.

Essa síntese recobre a primeira e mais instigante parte do livro. Em seguida, pouco mais
da metade do estudo é dedicado a analisar as expressões de ação coletiva dos
"trabalhadores subalternos" contra a dominação do capital. Num verdadeiro tour de force,
com exemplos extraídos sobretudo de vastíssima literatura secundária produzida nos cinco
continentes, van der Linden apresenta, na segunda parte da obra, extensa taxonomia de
organizações de trabalhadores (sociedades de auxílio mútuo e cooperativas) e, na
terceira, formas de resistência, como greves e internacionalismo operário (os sindicatos
curiosamente integram esta última parte, talvez reproduzindo teses que demarcam e
hierarquizam as fronteiras entre mutualismo e sindicalismo, embora os limites entre ambos
sejam muitas vezes fluidos e mal definidos). Por meio de descrições infatigáveis, o afã
tipológico da obra ordena, categoriza e define fenômenos comuns, ao mesmo tempo em
que estabelece semelhanças e diferenças entre eles. As mais de duas centenas de
páginas que catalogam espécimes extraídos de distintos tempos e lugares buscam
regularidades, tendências, frequências e comparações que colocam à prova e controlam
generalizações tentadoras. O leitor pode se servir de diversas formas desse impulso
classificatório, como ler os capítulos separadamente, conforme interesses específicos
(como o próprio autor sugere na Introdução), e utilizar as informações de fôlego
enciclopédico como referência para eventuais consultas.

A última parte é um apelo ao diálogo interdisciplinar, em particular com a economia, a


sociologia e a antropologia. Merece destaque o capítulo sobre a teoria do sistema-mundo,
em grande parte inspirado em Immanuel Wallerstein e nas reações às suas reflexões. Tal
teoria considera que, desde o século XVI, o capitalismo expandiu-se mundialmente,
configurando um sistema que se caracteriza "por uma única divisão internacional do
trabalho e múltiplos territórios políticos (Estados) organizados numa
totalidade interdependente formada por um centro de trocas desiguais no comércio
internacional, e por uma semiperiferia economicamente situada a meio caminho entre o
centro e a periferia" (p.320, grifos do autor). Van der Linden reconhece que o conceito
apresenta limites, embora possa contribuir para a construção de uma história global do
trabalho, o que o leva a retomar as questões centrais da primeira parte do livro.
Reexamina agora os variados e, via de regra, simultâneos "modos de controle do
trabalho", assim como as estratégias de resistência das classes subalternas na medida em
que o conflito capital-trabalho encontra-se no centro do desenvolvimento do sistema-
mundo. De especial interesse são os capítulos 13 e 14, respectivamente dedicados ao
estudo da interdependência entre trabalho de subsistência e de produção de mercadorias
e ao impacto da incorporação de uma etnia de Papua-Nova Guiné, na Oceania, ao
capitalismo e, em particular, ao trabalho assalariado.

Os grandes contornos que Marcel van der Linden oferece para a configuração de uma
história global do trabalho revelam as muitas potencialidades dessa "área de interesse",
mas também convidam a refletir sobre seus riscos e desafios. Trabalhadores do mundo se
encerra com uma observação de E. P Thompson: "cada acontecimento histórico é único.
Mas muitos acontecimentos, separados entre si por vastas distâncias de tempo e espaço,
revelam, quando colocados em relação mútua, regularidades de processos" (citado na
p.413). A assertiva justifica muito do que van der Linden desenvolveu durante a maior
parte do livro, mas também chama a atenção para a própria noção de processo que uma
descrição tipológica pode colocar à deriva. A justaposição de exemplos sacados de
diferentes tempos e espaços tende a sacrificar a própria historicidade dos fenômenos
analisados e a percepção da mudança histórica. Riscos como esses são, felizmente,
evitados no sugestivo capítulo sobre "internacionalismo operário".

Assim como a ampliação do conceito de classe trabalhadora deve estar no cerne de


qualquer história global do trabalho, parece fundamental alargar também o que se entende
por formas de ação e organização coletivas dos trabalhadores. Elas, certamente, não se
reduzem às instituições formais. Celebrações, rituais, lazer, esporte e "pequenas lutas"
nos locais de trabalho são fenômenos que também podem ser examinados em escala
global, pois constituem expressões culturais e políticas que, em diversos momentos, se
interconectam em âmbito transnacional, o que obviamente van der Linden não ignora,
embora tenha escolhido tratar, sobretudo, de um universo institucional mais conhecido e
documentado.

Como "globalizar" a história do trabalho sem desconsiderar devidamente as características


dos Estados-nação? Para lidar com essa questão, é elucidativo o estudo de Leon Fink
sobre os marinheiros ingleses e norte-americanos dos séculos XIX e XX. Talvez não haja
categoria de trabalhadores mais "propícia" a estudos transnacionais que os marítimos,
envolvidos diretamente na "economia-mundo" e exercendo papel de relevo no transporte e
no mercado global de mercadorias. Eles singram mares e oceanos que perpassam os
mais diferentes territórios nacionais e trabalham em uma indústria altamente competitiva
que desafia nações e impérios inteiros que queiram regular em escala internacional seus
negócios e, principalmente, as relações de trabalho. Esforços regulatórios via de regra
fracassaram, e os trabalhadores permaneceram por longo período submetidos a maus-
tratos físicos e impedidos de abandonar o trabalho, sob o risco de condenação por
deserção, motivo pelo qual foram frequentemente comparados a escravos. Fink
acompanha os debates parlamentares, as disputas políticas, a legislação, os embates
coletivos e os sindicatos empenhados, entre outros aspectos, em criar um mercado
mundial de trabalho mais uniforme e, assim, capaz de equalizar salários e condições de
trabalho assentadas em divisões étnicas e raciais. Para dar conta de uma história da luta
pela regulamentação do trabalho dos marinheiros na "longa duração" e nos dois lados do
Atlântico, o autor precisou contextualizar justamente a "cultura política" dos dois países
nos mais diversos períodos abarcados pela obra, assim como as diferentes tradições
políticas, institucionais e legais de ambos os Estados-nação (Fink, 2011). Em suma,
descrições taxonômicas podem transformar as especificidades dos Estados nacionais em
epifenômenos.

Por outro lado, a depender do problema, do objeto de estudo e da abordagem,


principalmente quando o intento é analisar longos processos históricos, como o da
regulação internacional do trabalho, o que se perde é a "experiência vivida" dos
trabalhadores. Importa, então, perguntar se é da "natureza" da história global do trabalho,
ocupada com teorias como a de "sistema-mundo", enfatizar os aspectos "estruturais" em
detrimento da história "vista de baixo". Como van der Linden assinalou, não foram poucos
os que viram aquela teoria como determinista, eurocêntrica, fechada e avessa a incorporar
os trabalhadores, assim como muitos que a abraçaram defendem que as ações coletivas
dos subalternos se interconectam em escala planetária em razão da divisão internacional
do trabalho, cabendo aos trabalhadores o papel de protagonistas (capítulo 12).

Estamos diante do complexo problema dos "jogos de escala". Seja como for, há bons
exemplos que mostram a possibilidade de se articular as dimensões, por assim dizer,
"macro e micro", sem que se caia nas falsas dicotomias ainda em voga entre "totalização"
e "fragmentação", "estrutura" e "agência", "poder" e "resistência". Mais uma vez, histórias
de marinheiros podem ser invocadas em nosso auxílio. Para Peter Linebaugh e Marcus
Rediker, em estudo já consagrado (2008), os navios, nos séculos XVII e XVIII, foram tanto
um espaço de dominação, tirania, insegurança e monotonia, quanto um meio de produção
e ponto de convergência do radicalismo proletário do Atlântico Norte durante a formação
do capitalismo. Náufragos, escravos, servos irlandeses, piratas, marinheiros, assalariados,
quilombolas, ameríndios e plebeus de toda ordem interconectaram-se (para usar
expressão cara a van der Linden) e fizeram circular experiências transcontinentais. Eles
protagonizaram motins, revoltas e ondas revolucionárias, como foi o caso da revolução de
São Domingos, cujo impacto, por razões que não cabem aqui elucidar, resultou na
"nacionalização" dos grupos que formavam aquela "multidão" atlântica ("o que daí resultou
foi nacional e parcial: a classe trabalhadora inglesa, os negros haitianos e a
diáspora irlandesa", p.300). Nessa obra merecidamente incensada, a abrangência do
conceito de "classe trabalhadora" é ainda mais expandida, os processos transnacionais
são historicamente contextualizados, a periodização acompanha grandes mudanças do
capitalismo e do Estado marítimo britânico – tudo isso sem perder de vista a perspectiva
dos "de baixo".

Por fim, é preciso levar em conta que uma história global, sobretudo esta que se propõe a
combater o eurocentrismo, requer também o desenvolvimento da internacionalização da
história do trabalho em todos os quadrantes. Por um lado, muito já se tem feito nessa
perspectiva, a começar pelos frequentes congressos internacionais para debater e publicar
pesquisas afinadas com a proposta, tendo Marcel van der Linden e o IIHS como uns de
seus principais animadores. Por outro, parafraseando o subtítulo de um texto influente de
Carlo Ginzburg, as trocas são desiguais no mercado historiográfico. Nem sempre os
protagonistas da história global conhecem o que está sendo realizado em todos os
lugares. É evidente que se esforçam para isso, mas há limitações de ordem orçamentária,
como as impostas até mesmo pelos Estados-nação do Atlântico Norte após a crise de
2008, os quais cortaram recursos para programas e instituições dos países do "capitalismo
central" e limitaram ou mesmo inviabilizaram projetos em parceria entre Norte e Sul.

O mais importante, contudo, é ter em mente que, como bem observou van der Linden ao
se referir ao idioma alemão, há línguas "ilegíveis". Não seria o caso de reivindicar aqui
pioneirismos nacionalistas nem listar com imodéstia as numerosas pesquisas – diversas
em escala transnacional – que ampliaram o conceito de classe trabalhadora, rompendo,
por exemplo, com as tradicionais narrativas da transição do trabalho escravo para o
trabalho livre no Brasil. Pretendo apenas assinalar que é muito oportuna a publicação do
livro em português, não apenas por suas propostas, mas igualmente pelo debate que pode
provocar, de modo a levar os historiadores no Brasil a pensar sobre o quanto já foi feito e
ainda pode ser percorrido na direção de uma história global do trabalho, mesmo que nem
sempre com esse rótulo.

Resenha recebida em 23 de abril de 2014.

Aprovada em 19 de maio de 2014.

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