Departamento de História Disciplina: Introdução ao Estudo da História Professor: Daniel Faria Estudante: Cristiano Lucas Ferreira
Estudo sobre o livro: Eu sou Atlântica – Beatriz Nascimento
Por que Beatriz Nascimento questiona: muitos pensam que apenas estudando a escravização já entendem como é ser negro no Brasil? Por que ela procura ir além dessa questão sobre escravismo, substituindo, em suas palavras, o “tempo espetacular” da História pela “história vivida”?
As questões formuladas por Beatriz Nascimento continuam sendo extremamente
pertinentes, uma vez que o Brasil, possuindo a maior população negra do mundo, fora da África, ainda perpetua, à essa população, um lugar de inferioridade na sociedade brasileira. Beatriz Nascimento, em conjunto com outros intelectuais negros e negras, problematizam a elitização da universidade, denunciando o racismo estrutural, presente nessa instituição. Para tanto, passam a questionar também, o papel das pessoas negras, na historiografia. Até então, a maior parte dos estudos sobre os negros e negras no Brasil tinham como referência o escravismo. Como se essa população fosse apenas mão-de-obra para as lavouras e para a cidade. Ela questiona essa abordagem, nos oferecendo outra visão sobre a cultura negra brasileira. Inconformada com o fato dos estudos sobre a questão negra no Brasil, centrarem-se na questão da escravidão, ela nos oferece uma nova abordagem, a partir de seus estudos sobre os quilombos. Para além das diferenças encontradas, os quilombos no Brasil, assemelhavam-se com os quilombos africanos e mais ainda, para a autora, o quilombo é um continuum, e seus desdobramentos persistiram mesmo depois da abolição da escravatura, dessa vez, em forma de favelas nos morros do Rio de Janeiro. O quilombo, antes visto apenas como o lugar para onde negros escravizados fugiam, ele passa a ser analisado como uma sociedade complexa que, em alguns casos, eram mais poderosos economicamente que muitas cidades no Brasil colonial. Ela também aponta para o fato de que a cultura negra, mesmo sendo massacrada, recriminada violentamente e após passar por séculos de tentativas de apagamento, ainda persiste, fazendo parte indiscutivelmente dos modos de agir e pensar das pessoas do Brasil. O tema do livro, extremamente pertinente, busca superar as lacunas sobre os estudos afro-brasileiros nos cursos de história. É imprescindível que as vozes de intelectuais negros e negras sejam mais do que ouvidas; elas precisam fazer parte de nossa formação, como historiadores e historiadoras. É pelo olhar de negros e negras que os estudos sobre as questões raciais precisam ser incorporados à Universidade, sob o risco de cometermos o erro de acreditar que as ciências são neutras. Elas não são. Se ainda hoje, comemora-se o dia da abolição da escravatura, como ato benevolente da Princesa Isabel, demonstra quão distante estamos dos fatos realmente significativos no processo que desencadeou o fim da escravatura no Brasil.