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Setembro amarelo num ano cinzento.

Caminhei intermináveis meses com a cabeça virada para baixo.


Os pesos que carreguei, novos e antigos, vieram à tona. Mas era previsível.
Os sinais estavam alí, tão escancarados, que, passado o temporal, me pergunto como
foi que não os percebi antes.

Amigos e amigas me alertavam que aquele maldito vídeo estava de volta.


Viralizado nos grupos de whatsapp e pelo facebook na época das eleições.
Mas, como fiz outras vezes, segui. Até que no início do ano, um pastor evangélico do
Recife, publica em seu perfil, o flamigerado vídeo.
Mais de 40.000 compartilhamentos, milhares de comentários, inúmeras ameaças pelo
Messenger.
Pirei. O gatilho havia sido dado.
Eu, que nunca havia tratado dessa e de outras feridas decorrentes dele, caí.
Estava eu ali, novamente, encarando um fantasma que me atormenta há 7 longos
anos.

Desde o início do ano, tudo em minha vida começou a desmoronar.


Ao meu redor, os escombros acabaram me sufocando.
Chegou a depressão, a ansiedade, o medo, a desesperança.
E a cada dia, tudo parecia ficar pior e meu espaço vital,
diminuído ao mínimo possível, para a minha sobrevivência.

Psiquiatra, terapia... às vezes rezava. Mas não via saída.


E por pouco, muito pouco, não perdi completamente o controle da minha vida.
E o pânico fez eu desobedecer uma das primeiras orientações da psiquiatra: "não
tome decisões! Você não está apto para isso!”
Me vi afastado do trabalho, afastado do ativismo, afastado de casa, afastado de mim.

Hoje, posso dizer que o pior já passou.


E vou reconstruindo um novo Cristiano.
Mas eu poderia não estar mais aqui.
A depressão, a ansiedade e tantas outras patologias psiquiátricas e transtornos são
doenças perigosas.
Elas agem diretamente naquilo que nos mantém vivo.
E às vezes, a morte parecia ser a saída mais plausível.

E depois de passar por uma crise tão crônica, não poderia ficar indiferente a esse mal
que atinge tanta gente.
Gente que sequer suspeita que está doente.
E essa negligência, misturada com nossa ignorância e preconceitos,
impedem que a conversa sobre suicídio seja feita de forma aberta e responsável.

Por isso, para aqueles e aquelas que estão nesse momento,


sofrendo de depressão, ansiedade, síndromes e transtornos, procurem ajuda.
A gente nem sempre consegue resolver essas paradas sozinhos ou sozinhas.
Para quem convive com pessoas adoecidas, procurem ajuda também.
Para saber como lidar e para não se adoecerem também.

Não há receitas fáceis para se cuidar da mente.


Cheguei a acreditar que minha vida seria sempre cinza.
E ver o sol surgir, sem nuvens, é um privilégio e motivo de alegria.
Ainda tenho um longo caminho pela frente.
Passei a observar melhor o que eu fiz, com o que me fizeram, e o que eu fiz, para mim
mesmo.
São pensamentos que podem vir carregados de dor, mas se não os enfrentar,
continuarei num looping infinito.

Nossa mente também tem os mecanismos para superar crises.


E quando buscamos ajuda, podemos nos surpreender com o que somos capazes.

Se você precisar de alguém para conversar, para falar mal dos bolsominions,
para fazer revolução, ou só pra dizer que hoje o dia foi difícil, estou aqui.
Nós por nós. Sempre!

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