Da curiosidade humana originam-se os questionamentos, as perguntas
incessantes, a necessidade de investigar o mundo e a própria humanidade. É quase uma urgência, um modo que a humanidade precisou desenvolver para sair de sua fase primitiva (submetida às forças da natureza) a fim de atingir um nível de inteligência e raciocínio capazes de fazer as pessoas aprenderem, a transmitirem o que aprenderam, para enfim, dominar a natureza, adaptando-se à ela. E a partir desse domínio da natureza, nós, seres humanos, tornamos as sociedades e seus modos de vida, cada vez mais complexos, que passaram a exigir novas respostas às questões de ordem prática e filosófica que foram surgindo. Dessa forma, é preciso definir a curiosidade como elemento fundamental para respondermos à questão central desse trabalho, qual seja; Como sei avaliar se uma pergunta é boa? Ao centralizar este trabalho na noção de curiosidade e como ela afeta o desenvolvimento cognitivo, traçarei um paralelo com os conceitos de aprendizagem, desenvolvidos por Vygotsky, uma vez que ele estabelece como fundamento, as relações entre aprendizagem e interações sociais. Desde o nascimento, a interação da criança com o mundo, a instiga a querer descobrir o que são e para que servem cada um dos objetos que os sentidos lhes apresenta. Os cheiros, cores, movimentos, sons, gostos e sabores são a base desse conhecimento inicial, fortemente ancorado nos sentidos. Quando mais a criança se desenvolve, sua mente é capaz de expandir o conhecimento, permitindo a compreensão de símbolos e signos. Ela passa a entender sentidos mais abstratos. A partir da fala, a criança passa a perguntar. E cada pergunta vai estimulando ainda mais sua curiosidade. E essa capacidade de perguntar, ao se tornar-se mais complexa, permite-nos compreender que são as perguntas que movem a humanidade, desde os seus primórdios, que nos instiga a desvelar o mundo, que faz avançar (e não raro, retroagir) as sociedades. Somos movidos pelas perguntas. Entretanto, é preciso estabelecer parâmetros éticos, em nossos questionamentos. Nem todas as perguntas são boas e muito menos, neutras. Cada pergunta carrega também ideologias variadas e as respostas partem sempre de um ponto, nem sempre, convergentes. Nesse sentido, buscarei compreender o papel da curiosidade humana em seu processo de desenvolvimento cognitivo, capaz de gerar inúmeras perguntas, boas ou não. Curiosidade. O “motor” da aprendizagem.
Já ao nascer, estamos expostos num universo a ser explorado. E logo quando
aprendemos a falar, começamos a perguntar. Buscamos compreender o mundo que nos cerca, a entender os significados das coisas, o porquê delas existirem. E cada vez, essa necessidade vai se consolidando. A curiosidade é assim, um elemento primordial para que possamos dar sentido a nós mesmos, às outras pessoas e o mundo. O nosso processo evolutivo está intimamente ligado às perguntas. Graças à capacidade de cognição e de transmissão do conhecimento, por meio da fala, os seres humanos foram capazes de lidar com as adversidades causadas pela natureza. Na busca pela sobrevivência, a humanidade foi sendo capaz de avaliar as situações e analisar as variáveis para buscar respostas objetivas. Ao observar que das sementes, surgiam novas plantas, o ser humano foi capaz de aprender com a natureza, para enfim, dominá-la. Evidentemente que esse tipo de pensamento, fundamentado na objetividade da vida, teve inúmeros obstáculos. Sem condições de compreender plenamente as forças da natureza, a humanidade esteve sempre de braços dados com o fracasso. Nesse jogo de acertos e fracassos é que conseguimos avançar o conhecimento. Os erros também impulsionaram às pessoas a conhecerem melhor o mundo. Aquele ponto de interrogação, no final de uma frase, abre inúmeras possibilidades de respostas. E cada uma delas é expressão do desenvolvimento cognitivo humano. Por isso, nenhuma pergunta está definitivamente respondida, pronta e acabada. Elas vão sendo respondidas de acordo com as condições materiais, sociais, culturais e históricas, ancoradas no tempo e no espaço. Durante sua evolução, a humanidade desenvolveu uma série de mecanismos (biológicos e sociais) que permitiram que pudéssemos pensar, refletir e agir. São esses mecanismos que serão apresentados a seguir.