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IGUALDADE
RACIAL
NO BRASIL
REFLEXÕES NO ANO
INTERNACIONAL DOS
AFRODESCENDENTES
ISBN 978-85-7811-168-7
CDD 305.800981
As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não
exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ou da
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções
para fins comerciais são proibidas.
APRESENTAÇÃO.....................................................................................................................7
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................9
ANEXOS ............................................................................................................................171
1 INTRODUÇÃO
Uma das questões estruturais relacionadas à forma de assimilação e incorporação
das culturas africanas no Brasil, que continua a merecer investigação e conhecimento,
diz respeito aos aspectos geográficos da África e suas relações com a formação do
território brasileiro. Nessa direção, configura-se a necessidade de recuperação, res-
gate e divulgação das informações e referências que possam permitir a construção
de um perfil do continente africano e da população brasileira com ascendência na
África. Um primeiro ponto de partida é o estabelecimento e reconhecimento de
outras perspectivas que permitam uma compreensão da diáspora, da geopolítica do
sistema escravista e das tecnologias africanas como elementos formadores e estrutu-
radores da configuração do mundo contemporâneo. Este estudo preconiza que essas
questões estruturais são fundamentais para se compreender, respeitar e valorizar as
diferenciações étnicas e culturais existentes no Brasil contemporâneo.
O esquecimento proposital das comunidades e dos territórios descendentes
de antigos quilombos, sítios geográficos estratégicos onde se agrupavam, prin-
cipalmente, povos de referência africana, mas, também, índios e europeus ex-
cluídos da sociedade, que se rebelavam contra o sistema escravista da época e
formavam comunidades livres, autossustentáveis e com forte organização territorial,
constitui uma das questões emergenciais e estruturais da sociedade brasileira atual.
É inconcebível a realização de leituras do território do país, de dimensões conti-
nentais, sem contemplar a geografia dos quilombos e dos espaços estrutrados no
“Brasil Colonial” sobrevivente.
* O autor agradece aos geógrafos da equipe Ciga, Rodrigo Vilela e Guilherme Carvalho, assim como a Washington
Oliveira e Isabela Souza pelo apoio na sistematização dos dados e construção da documentação cartográfica. Agra-
dece, também, às populações e lideranças quilombolas, que direta e indiretamente contribuíram para a realização dos
estudos do Projeto Geoafro. Finalmente, o autor agradece a todos os anjos e a todos os orixás africanos.
** Autor e coordenador do Projeto Geografia Afrobrasileira: Educação & Planejamento do Território (Projeto Geoafro).
Diretor do Centro de Cartografia Aplicada e Informação Geográfica (Ciga) e Professor Associado do Departamento de
Geografia (GEA) da Universidade de Brasília (UnB). E-mail: cartografia@unb.br. Site: www.ciga.unb.br
FIGURA 1
Modelagem gráfica das mercadorias e o fluxo econômico-comercial triangular
na dinâmica da diáspora África-América-Europa – séculos XVI-XVII-XVIII-XIX
(Geog. Rafael Sanzio Araújo dos Anjos)
Outras partes do mundo envolvidas indiretamente com a diáspora (do Oriente chegavam para a Região da fronteira religiosa ortodoxa e católica/línguas europeias dominantes no
Europa, louças, especiarias e tecidos). processo territorial (processos diferenciados da sobrevivência e da manutenção das
religiões oriundas da África vão ser definidos em função desta fronteira estrutural).
Continente com forte desestruturação territorial-demográfica social e na exploração dos recursos da
natureza (seres humanos escravizados constituíam a “mercadoria” propulsora do crescimento dos Um conjunto amplo de ‘’colônias’’ se configuram no ‘’novo mundo’’ para produzir e
produtos da colônia para a Europa e para as trocas na África. estimular o capitalismo primitivo (os principais produtos exportados eram: açúcar,
Um grande número de grupos étnicos, com matrizes culturais e tecnológicas tabaco, couro, ouro, diamantes, aguardente, madeiras, coquilohos, farinha de mandioca
distintas, foram transportados para a formação territorial da América e derivados da baleia, principalmente azeite e barbas. Portugal importava africanos
2- Fluxo África-América-África
(apesar da tentativa de não possibilitar a organização das sociedades africanas, escravizados).
várias expressões e manifestações de resistência vão ser
registradas nos quatro séculos de diáspora). Estados da ‘’nova’’ Europa principais dinamizadores do comércio traingular (exportava
O fluxo de produtos dinamizará os sucessivos e concomitantes ciclos farinha de trigo, azeite, sal, queijos, vinhos, bacalhau, e vários produtos manufaturados).
3- Fluxo América-Europa econômicos coloniais, tendo sempre como suporte o sistema escravista Os produtos oriundos da Europa, trocados na África por seres
(este modelo vai possibilitar o acúmulo de riquezas e enrriquecimento dos 1- Fluxo Europa-África-Europa humanos, serão a matriz do capitalismo primitivo e a base da
Estados da Europa moderna). Revolução Industrial (estes componetes possibilitarão a expansão
territorial do Estado).
FIGURA 2
Referências da dinâmica da diáspora africana para o Brasil e as fronteiras atuais
(Geog. Rafael Sanzio Araújo dos Anjos)
Século XVIII
Século XIX
Século XVII
Século XVI
FIGURA 3
Fonte: Acervo da Biblioteca Real da Bélgica. Seção de Cartografia e Manuscritos. Código. CP IV 237.
Obs.: Imagem cujos leiaute e textos não puderam ser padronizados e revisados em virtude das condições técnicas dos originais disponibilizados
pelos autores para publicação (nota do Editorial).
FIGURA 4
Brasil: principais zonas e sítios de quilombos e movimentos sociais das populações
africanas e seus descendentes no território brasileiro – séculos XVI-XIX
(Geog. Rafael Sanzio Araújo dos Anjos)
FIGURA 5
Brasil: distribuição aproximada dos sítios dos territórios quilombolas – Projeto
Geoafro (2012)
(Geog. Rafael Sanzio Araújo dos Anjos)
GRÁFICO 1
Brasil: registros municipais dos territórios quilombolas por Unidade da Federação:
cadastro Projeto Geoafro (2012)
(Número de registro dos territórios)
1.550
1.500
1.350
1.200
1.050
921
900
750 712
595
600
450
300 252 226
124 187
120 106 127 124 109
150 97 56 88 61 65 82 56 54
6 1 13 0 47
0 0 Unidade da
Federação
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