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O AUTOR
Olá, estudantes. Sou o professor Regys Rodrigues da Mota. Sou bacharel (2007)
e licenciado (2008) em Ciências Sociais e mestre em Sociologia (2011) pela
Universidade Federal de Goiás. Durante os próximos meses, estaremos juntos
realizando uma série de atividades acadêmicas para que possamos aprofundar o
conhecimento sobre alguns dos temas abordados pela disciplina de Antropologia
e Cultura oferecida pela Faculdade Araguaia.
Bons estudos!
Possui bibliografia.
CDU:
39(07)
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FACULDADE ARAGUAIA - FARA
1º Edição - 2016
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SUMÁRIO
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UNIDADE 4: A FORMAÇÃO ÉTNICA E A QUESTÃO DA MULTIETNICIDADE DA
SOCIEDADE BRASILEIRA
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Fonte: Contrate Palestras (2016)
Para ele, a forma como se deu a colonização do nosso país criou um conjunto
de questionamentos sobre as “raças formadoras do Brasil” e contaminou o nosso
cenário ideológico com perguntas que buscam uma suposta confirmação científica da
“preguiça do índio”, “melancolia do negro” e a “estupidez do branco lusitano”.
DaMatta não desconsidera o fato de que a população brasileira atual é formada
a partir do contato histórico entre o nativo, o português e o negro, contato este ocorrido
por conta da colonização do Brasil por parte da metrópole portuguesa. O que o referido
autor critica é a doutrinação ideológica racista construída em torno dessa formação
populacional.
Figura 9: A fábula das 3 raças
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a Independência esse peso tinha que ser carregado aqui mesmo no país pela camada
superior das hierarquias sociais.
O Brasil contava com uma série de problemas econômicos, sociais, políticos e
todos os caminhos adotados para as resoluções de tais problemas não encontravam
êxito. Por que isso continuava a acontecer mesmo após o país ter deixado a condição
de colônia?
A elite brasileira buscou responder essa pergunta com a criação da ideologia
da fábula das três raças, conciliando uma série de impulsos contraditórios de nossa
sociedade. A preguiça do indígena, a falta de habilidades do negro e a estupidez do
lusitano eram vistos como os responsáveis pela construção de uma sociedade sem
uma identidade definida ou pelo menos com uma identidade cheia de contradições.
A proclamação da república e a abolição da escravatura foram momentos
históricos que apenas aumentaram a vigência das doutrinas raciais, a partir do abalo
que causaram nas hierarquias sociais. A abolição foi encarada como uma ameaça à
construção econômica e social do país, quebrando com a ideologia católica, o
formalismo jurídico e o sistema de hierarquia vindos de Portugal.
O escravo foi liberto apenas juridicamente, pois socialmente ele ainda dependia
dos donos de terra e da classe que detinha poderes para sobreviver (se alimentar, ter
moradia, etc.). Dessa forma seu status social se manteve.
Como explicar que o escravo agora liberto não conseguia mudar sua condição
social? A explicação para tal questionamento passou longe da compreensão de que
“o liberto continuava escravo”, pois nenhuma condição foi dada a ele para mudar
realmente seu status. A explicacão foi de cunho racista ao considerar que o negro não
“desfrutava” realmente da liberdade, pois é característica da raça dele ser incapaz
para tal.
Dessa forma, as doutrinas raciais presentes na sociedade brasileira pós-
independência e que DaMatta sintetiza na fábula das três raças atuaram ao integrar
ideologicamente o Brasil mesmo com as mudanças políticas e organizacionais,
justificando de alguma forma a permanência dos status sociais. Permitiu assim que a
sociedade aceitasse e achasse normal uma configuração social altamente dividida
entre o dominado e o dominante.
O futuro do Brasil era altamente duvidoso, pois se considerava que a nação era
formada por uniões totalmente condenadas entre negros, brancos e índios, o que
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criava uma população mestiça. Acreditava-se que cada raça ocupava certo lugar na
história da humanidade e isso era algo natural, pois era resultado de diferenças
biológicas. Dentro dessa perspectiva, a mistura de raças apagava rapidamente as
melhores qualidades do branco, do negro e do índio, e deixava o produto final
indefinido e deficiente de energia física e mental.
Essa visão, além de ser extremamente racista por considerar que diferenças
biológicas explicam totalmente diferenças sociais e econômicas, era também
determinista, pois considerava que diferenças biológicas são tipos acabados e que
cada tipo está determinado em seu comportamento e mentalidade por traços
biológicos. Existiria assim um código natural que seria sempre atualizado. Para
DaMatta (1987), essas doutrinas racistas criaram uma desigualdade profunda onde
ninguém era e ninguém ainda é igual entre si ou perante a lei.
Apesar das ciências sociais não mais trabalharem com essas perspectivas, tais
doutrinas ainda se encontram presentes no senso comum da população. Uma das
manifestações dessa fábula é a crença de que no Brasil a miscigenação ocorreu de
forma natural com o passar do tempo. Essa crença é resultante da interação entre
brancos, negros e indígenas na história de formação brasileira.
No entanto, o fato do negro e o branco poderem interagir livremente na senzala
não implicava em dizer que o nosso modo de colonização fosse mais aberto ou
humanitário. O que acontecia aqui era que o branco e o negro tinham lugares bem
determinados dentro de uma hierarquização bem estabelecida. Aqui crescia a cada
dia o número de mestiços e mulatos e nosso país era visto como sem futuro porque
essas subraças eram tidas como híbridas e fracas.
Essa fábula das 3 raças ainda se faz presente, pois não percebemos que raça
é uma questão de ideologia e valores. Ainda hoje justificamos certos problemas
sociais tendo por base as supostas características provenientes da cor da pele dos
membros de determinados grupos. Não percebemos que o importante é analisarmos
as questões históricas, políticas, econômicas, sociais e culturais presentes nas
relações entre as raças.
Segundo DaMatta (1987), se o negro se encontra economicamente
marginalizado, isso não pode ser justificado simplesmente por uma doutrina racista
de que é característica da sua raça não ter habilidade para trabalhos mais
qualificados. Essa marginalização ocorre, pois histórica, econômica, social e
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culturalmente, a camada negra da população tem sido marginalizada, incutindo na
identidade nacional ideologias e valores racistas.
2016.
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influenciada por diversas religiões e invasões de outros povos que não faziam parte
do bloco dos países centrais do continente europeu.
Todo esse cenário contribuiu para criar em nosso país uma cultura arcaica
marcada ainda hoje por características presentes nas relações entre a metrópole
portuguesa e o Brasil colônia.
Uma dessas características é a nossa cultura da personalidade, ou seja, o
sentimento de autonomia e independência de um indivíduo que se sobressai em
relação aos demais. Isto é tido socialmente como um “valor”, sendo desejável e
admirável. No entanto, essa valorização da superação pelo individual não permite que
possamos desenvolver uma cultura impessoal, que valorize a meritocracia racional
como forma de se almejar as conquistas.
Outro elemento presente é o do “homem cordial”. Tanto em Portugal quanto
na Espanha, o regime feudal nunca foi tão rígido e, exatamente por isso, não foi
necessário promover uma revolução como as que ocorreram na França e na
Inglaterra. O Brasil, como herdeiro dessa cultura, apresenta uma acomodação. As
revoluções que aqui acontecem, não acontecem de fato, pois as transições políticas,
econômicas, sociais e culturais sempre ocorrem de forma suave, sem rupturas
profundas.
A característica mais marcante dessa acomodação pode ser exemplificada pela
figura do “Homem Cordial”. Lembrando que a cordialidade não tem relação com modo
cortês e sim se cristaliza pelo trato maleável que o brasileiro costuma se relacionar no
seu dia a dia. Essa característica pode ser traduzida pelo famoso “jeitinho brasileiro”,
isto é, pela situação corriqueira de uma pessoa que, ao ver uma gigantesca fila
bancária, logo se apressa em procurar um conhecido que esteja mais próximo do
caixa, com o objetivo de agilizar sua vida e não é capaz de perceber que acaba por
prejudicar outras pessoas.
Esta exemplificação de situação serve para mostrar o que Sérgio Buarque
chama de conflito entre público/privado. Para ele, a presença da “cordialidade” faz
com que os indivíduos tenham dificuldade para discernir o público daquilo que é
privado. Desta maneira, as pessoas acabam por usar suas preferências particulares
no âmbito público.
Essa cordialidade não significa necessariamente boas maneiras ou bondade e
sim consiste em uma máscara social na qual a polidez é um mecanismo de defesa
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social que oculta a sensibilidade e as emoções, e reduz assim a individualidade. As
relações do homem cordial aparentam ser muito profundas e afetivas, mas são
justamente o contrário. Trata-se de um indivíduo acomodado e expansivo que busca
levar vantagem em tudo e se utiliza da simpatia e esperteza para atingir seus
objetivos.
Holanda (1995) aponta ainda outras caraterísticas herdadas não somente pela
colonização portuguesa como também pelo “Brasil rural” do século XIX, e que ainda
se fazem presentes na nossa identidade cultural, como o coronelismo, o
patriarcalismo, o patrimonialismo e o predomínio de uma pensamento ainda
escravocrata que permeia muitas das relações. Tais características configuram-se
ainda hoje como obstáculos a uma sociedade impessoal, moderna e livre das amarras
coloniais.
SÍNTESE DA UNIDADE
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Recomendamos a leitura na íntegra do livro Relativizando: uma introdução à
antropologia social para uma melhor compreensão da fábula das 3 raças.
Nessa obra, Roberto DaMatta relata de forma muito detalhada a influência
histórica das doutrinas racistas no atual olhar brasileiro a respeito dos
problemas econômicos, sociais e culturais que permeiam a nossa sociedade.
Recomendamos também a leitura na íntegra de Raízes do Brasil. Trata-se de
um olhar rico a respeito da identidade cultural brasileira resultante da
colonização portuguesa e vida rural após a independência brasileira.
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doutrina racial na fábula das 3 raças ainda se faz parte do imaginário popular e não
permite enxergar que problemas de ordem social, política e econômica passam por
conflitos presentes nas relações entre raças, Holanda considera que o atraso no
desenvolvimento do país passa pela constituição de uma cultura ainda marcada por
elementos provenientes do período colonial e rural brasileiro. Você concorda com
essas perspectivas? Procure discutir a respeito com base nos elementos
apresentados respectivamente pelos dois autores a respeito do “racismo à brasileira”
e do “jeitinho brasileiro”.
(máximo de 20 linhas)
Glossário da Unidade 4
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BIBLIOGRAFIA BÁSICA
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Editora Companhia das
Letras, 1995.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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