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O AUTOR

Olá, estudantes. Sou o professor Regys Rodrigues da Mota. Sou bacharel (2007)
e licenciado (2008) em Ciências Sociais e mestre em Sociologia (2011) pela
Universidade Federal de Goiás. Durante os próximos meses, estaremos juntos
realizando uma série de atividades acadêmicas para que possamos aprofundar o
conhecimento sobre alguns dos temas abordados pela disciplina de Antropologia
e Cultura oferecida pela Faculdade Araguaia.

Vamos iniciar a disciplina de Antropologia e Cultura Brasileira. Acompanhe cada


unidade e leia com atenção todos os materiais. A interação e a troca de experiências
são muito importantes para a consolidação do conhecimento, sendo assim participe
de forma intensiva dos fóruns propostos.

É muito importante que você se dedique à leitura, às atividades e se comprometa em


realizar os exercícios propostos. Lembre-se de trocar informações com o tutor(a) e
com os colegas do curso. Tenho certeza de que juntos vamos alcançar o sucesso!

Bons estudos!

Professor Mestre Regys Rodrigues da Mota

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

M917a Mota, Regys Rodrigues da


Antropologia e Cultura Brasileira / REGYS Rodrigues da
Mota – Goiânia: NUTEC, 2016.
65 p. : il. - (Educação a distância Araguaia).

Possui bibliografia.

1. Antropologia. 2. Educação a distância – Antropologia.


3. Educação superior. I. Faculdade Araguaia. II. Título.

CDU:
39(07)

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Marta Claudino de


Moraes CRB-1928

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FACULDADE ARAGUAIA - FARA
1º Edição - 2016

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio e para qualquer
fim. Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais

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SUMÁRIO

UNIDADE 4: A FORMAÇÃO ÉTNICA E A QUESTÃO DA MULTIETNICIDADE DA


SOCIEDADE BRASILEIRA ...................................................................................... 54
4.1 A fábula das 3 raças ............................................................................................ 54
4.2 Raízes do Brasil .................................................................................................. 59
Síntese da unidade ......................................................................................... 61
Atividade 4 ..................................................................................................... 63
Glossário ........................................................................................................ 64
BIBLIOGRAFIA BÁSICA DA UNIDADE .................................................................. 65
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ......................................................................... 65

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UNIDADE 4: A FORMAÇÃO ÉTNICA E A QUESTÃO DA MULTIETNICIDADE DA
SOCIEDADE BRASILEIRA

Embora a noção de diferentes raças humanas não tenha fundamento cientifico,


a ideia de raças, o pressuposto de uma superioridade entre elas, o preconceito e a
discriminação racial ainda são frequentes no Brasil. Isso ocorre porque as relações
sociais não estão pautadas apenas em conhecimento científico e sim se encontram
parcialmente pautadas no imaginário popular em um sistema classificatório marcado
pela existência de raças hierarquicamente posicionas.
Todas as sociedades têm um sistema classificatório e ele é importante para o
entendimento das relações sociais, inclusive para a apreensão dos motivos que levam
a permanência de elementos como a discriminação. Os sistemas classificatórios
existentes no Brasil, elaborados durante toda a nossa história, tanto pelas elites
quanto pela população em geral, construíram no imaginário popular a existência de
grupos sociais/raciais fechados em torno de modos próprios de agir e de compreender
a realidade que os cercam.
DaMatta critica a formação desse imaginário, pois indica a existência de um
“racismo à brasileira”, pautado em uma compreensão estática e superficial da nossa
realidade sociocultural, compreensão esta construída em torno da doutrina
determinista presente no mito das 3 raças.

4.1 A fábula das 3 raças

Para DaMatta (1987), a sociedade brasileira funda-se em mitos que falam de


raça de uma maneira superficial, presa apenas à concepção biológica de cor de pele.
Ao analisar a produção científica voltada para a análise social e cultural do país,
Roberto DaMatta acredita que tais produções se deparam com os obstáculos das
doutrinas deterministas, construindo um “racismo à brasileira” que prova a dificuldade
de pensar socialmente o Brasil.

Figura 8: Roberto DaMatta

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Fonte: Contrate Palestras (2016)

Para ele, a forma como se deu a colonização do nosso país criou um conjunto
de questionamentos sobre as “raças formadoras do Brasil” e contaminou o nosso
cenário ideológico com perguntas que buscam uma suposta confirmação científica da
“preguiça do índio”, “melancolia do negro” e a “estupidez do branco lusitano”.
DaMatta não desconsidera o fato de que a população brasileira atual é formada
a partir do contato histórico entre o nativo, o português e o negro, contato este ocorrido
por conta da colonização do Brasil por parte da metrópole portuguesa. O que o referido
autor critica é a doutrinação ideológica racista construída em torno dessa formação
populacional.
Figura 9: A fábula das 3 raças

Fonte: Blogspot1 (2016)

1Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-


9FTu0B4Arec/UTJCNyfyzcI/AAAAAAAACOE/60KJM7ms0Vg/s1600/determinismo+.jpg> Acesso em
out. 2016.
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Tais questionamentos equivocados seriam ainda hoje os fatores responsáveis
por nossa indigência cultural e da nossa necessidade de autoritarismo político tendo
por base a crença de que apenas tal autoritarismo “dará jeito nessa nação”.
É claro que o branco, o negro e o indígena foram importantes na história do
Brasil, mas há uma diferença entre o fato histórico e o seu uso como recurso
ideológico na construção da identidade social brasileira. Para DaMatta (1987), a
população brasileira admitiu e ainda hoje admite um triângulo no qual são visíveis as
hierarquias sociais. O país foi desde o início da colonização um território onde as
ideologias vigentes em Portugal vigoravam e elas eram bastante rígidas. O que
ocorreu foi um perfeito transplante de ideologias de classificação social, técnicas
jurídicas e administrativas que tornaram a estrutura social da colônia exatamente
semelhante à metrópole.
A metrópole portuguesa era um todo social altamente hierarquizado, com
muitas camadas sociais diferenciadas e complementares. A sociedade lusitana
configurava-se a partir da característica que ninguém era igual perante a lei, uma
sociedade em que, embora mercantilista e comercial, não imperava a mentalidade
burguesa, uma sociedade já familiarizada com formas de segregação social (contra
mouros e judeus). A lei não igualava os cidadãos e, ao contrário, estabelecia que cada
um tinha o seu lugar definido. Consequentemente, essas características foram
refletidas pelo Brasil colonial.
DaMatta (1987) nega que o português estava aberto a uma interação étnica
igualitária e considera ser impossível demarcar exatamente as origens das doutrinas
raciais brasileiras. No entanto, considera ser possível notar o caráter profundamente
hierarquizado que se mantinha desde o “descobrimento” do país.
O movimento da independência brasileira poderia ter sido um início de
rompimento com essa estrutura social rigidamente hierarquizada (e preconceituosa),
mas isso não ocorreu, pois foi um movimento de cima para baixo que tinha a classe
dominante do poder em seu centro.
A modificação ocasionada pela Independência residiu no fato de ter mostrado
às elites nacionais e locais a necessidade de criar suas próprias ideologias e
mecanismos para justificar as diferenças internas do país. Se antes a elite podia
colocar todo o peso dos erros e das injustiças sobre o rei e a coroa portuguesa, após

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a Independência esse peso tinha que ser carregado aqui mesmo no país pela camada
superior das hierarquias sociais.
O Brasil contava com uma série de problemas econômicos, sociais, políticos e
todos os caminhos adotados para as resoluções de tais problemas não encontravam
êxito. Por que isso continuava a acontecer mesmo após o país ter deixado a condição
de colônia?
A elite brasileira buscou responder essa pergunta com a criação da ideologia
da fábula das três raças, conciliando uma série de impulsos contraditórios de nossa
sociedade. A preguiça do indígena, a falta de habilidades do negro e a estupidez do
lusitano eram vistos como os responsáveis pela construção de uma sociedade sem
uma identidade definida ou pelo menos com uma identidade cheia de contradições.
A proclamação da república e a abolição da escravatura foram momentos
históricos que apenas aumentaram a vigência das doutrinas raciais, a partir do abalo
que causaram nas hierarquias sociais. A abolição foi encarada como uma ameaça à
construção econômica e social do país, quebrando com a ideologia católica, o
formalismo jurídico e o sistema de hierarquia vindos de Portugal.
O escravo foi liberto apenas juridicamente, pois socialmente ele ainda dependia
dos donos de terra e da classe que detinha poderes para sobreviver (se alimentar, ter
moradia, etc.). Dessa forma seu status social se manteve.
Como explicar que o escravo agora liberto não conseguia mudar sua condição
social? A explicação para tal questionamento passou longe da compreensão de que
“o liberto continuava escravo”, pois nenhuma condição foi dada a ele para mudar
realmente seu status. A explicacão foi de cunho racista ao considerar que o negro não
“desfrutava” realmente da liberdade, pois é característica da raça dele ser incapaz
para tal.
Dessa forma, as doutrinas raciais presentes na sociedade brasileira pós-
independência e que DaMatta sintetiza na fábula das três raças atuaram ao integrar
ideologicamente o Brasil mesmo com as mudanças políticas e organizacionais,
justificando de alguma forma a permanência dos status sociais. Permitiu assim que a
sociedade aceitasse e achasse normal uma configuração social altamente dividida
entre o dominado e o dominante.
O futuro do Brasil era altamente duvidoso, pois se considerava que a nação era
formada por uniões totalmente condenadas entre negros, brancos e índios, o que

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criava uma população mestiça. Acreditava-se que cada raça ocupava certo lugar na
história da humanidade e isso era algo natural, pois era resultado de diferenças
biológicas. Dentro dessa perspectiva, a mistura de raças apagava rapidamente as
melhores qualidades do branco, do negro e do índio, e deixava o produto final
indefinido e deficiente de energia física e mental.
Essa visão, além de ser extremamente racista por considerar que diferenças
biológicas explicam totalmente diferenças sociais e econômicas, era também
determinista, pois considerava que diferenças biológicas são tipos acabados e que
cada tipo está determinado em seu comportamento e mentalidade por traços
biológicos. Existiria assim um código natural que seria sempre atualizado. Para
DaMatta (1987), essas doutrinas racistas criaram uma desigualdade profunda onde
ninguém era e ninguém ainda é igual entre si ou perante a lei.
Apesar das ciências sociais não mais trabalharem com essas perspectivas, tais
doutrinas ainda se encontram presentes no senso comum da população. Uma das
manifestações dessa fábula é a crença de que no Brasil a miscigenação ocorreu de
forma natural com o passar do tempo. Essa crença é resultante da interação entre
brancos, negros e indígenas na história de formação brasileira.
No entanto, o fato do negro e o branco poderem interagir livremente na senzala
não implicava em dizer que o nosso modo de colonização fosse mais aberto ou
humanitário. O que acontecia aqui era que o branco e o negro tinham lugares bem
determinados dentro de uma hierarquização bem estabelecida. Aqui crescia a cada
dia o número de mestiços e mulatos e nosso país era visto como sem futuro porque
essas subraças eram tidas como híbridas e fracas.
Essa fábula das 3 raças ainda se faz presente, pois não percebemos que raça
é uma questão de ideologia e valores. Ainda hoje justificamos certos problemas
sociais tendo por base as supostas características provenientes da cor da pele dos
membros de determinados grupos. Não percebemos que o importante é analisarmos
as questões históricas, políticas, econômicas, sociais e culturais presentes nas
relações entre as raças.
Segundo DaMatta (1987), se o negro se encontra economicamente
marginalizado, isso não pode ser justificado simplesmente por uma doutrina racista
de que é característica da sua raça não ter habilidade para trabalhos mais
qualificados. Essa marginalização ocorre, pois histórica, econômica, social e

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culturalmente, a camada negra da população tem sido marginalizada, incutindo na
identidade nacional ideologias e valores racistas.

Os quilombos foram símbolos da resistência contra as senzalas no Brasil e, com


o tempo e o fim da escravidão, perderam sua condição original de esconderijos
de escravos fugidos do cativeiro. No entanto, a miséria e o alto nível de
desnutrição infantil presentes atualmente nos quilombos remanescentes
expõem os efeitos duradouros da escravidão. Na tentativa de alterar tal
panorama, tem-se hoje 261,5 mil quilombolas autodeclarados inscritos no
programa Bolsa Família2.

4.2 Raízes do Brasil

Sérgio Buarque de Holanda (1902 a 1982) buscou, em sua obra Raízes do


Brasil, analisar essencialmente a transição do modo rural para o urbano ocorrida nas
primeiras décadas do século XX na sociedade brasileira. O referido autor partia do
pressuposto de que o brasileiro urbano mantinha muitos aspectos e condutas do
antigo meio rural e que essas práticas remetiam ao nosso período colonial.
Figura 10: Sérgio Buarque de Holanda (1902 a 1982)

Fonte: História Hoje3 (2016).


Holanda (1995) considerava que Portugal e Espanha não faziam parte do bloco
econômico-cultural da Europa e apresentavam uma cultura muito miscigenada,

2MARTINS, Miguel. O racismo em números: A esmagadora maioria os beneficiários do Brasil sem


Miséria é de negros, comprova levantamento do governo federal. Carta Capital, número 767, Janeiro
de 2014. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/revista/767/o-racismo-em-numeros-
6063.html> Acesso em out. 2016.
3Disponível em: <http://historiahoje.com/wp-content/uploads/2015/07/sergiob.jpg>. Acesso em set.

2016.
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influenciada por diversas religiões e invasões de outros povos que não faziam parte
do bloco dos países centrais do continente europeu.
Todo esse cenário contribuiu para criar em nosso país uma cultura arcaica
marcada ainda hoje por características presentes nas relações entre a metrópole
portuguesa e o Brasil colônia.
Uma dessas características é a nossa cultura da personalidade, ou seja, o
sentimento de autonomia e independência de um indivíduo que se sobressai em
relação aos demais. Isto é tido socialmente como um “valor”, sendo desejável e
admirável. No entanto, essa valorização da superação pelo individual não permite que
possamos desenvolver uma cultura impessoal, que valorize a meritocracia racional
como forma de se almejar as conquistas.
Outro elemento presente é o do “homem cordial”. Tanto em Portugal quanto
na Espanha, o regime feudal nunca foi tão rígido e, exatamente por isso, não foi
necessário promover uma revolução como as que ocorreram na França e na
Inglaterra. O Brasil, como herdeiro dessa cultura, apresenta uma acomodação. As
revoluções que aqui acontecem, não acontecem de fato, pois as transições políticas,
econômicas, sociais e culturais sempre ocorrem de forma suave, sem rupturas
profundas.
A característica mais marcante dessa acomodação pode ser exemplificada pela
figura do “Homem Cordial”. Lembrando que a cordialidade não tem relação com modo
cortês e sim se cristaliza pelo trato maleável que o brasileiro costuma se relacionar no
seu dia a dia. Essa característica pode ser traduzida pelo famoso “jeitinho brasileiro”,
isto é, pela situação corriqueira de uma pessoa que, ao ver uma gigantesca fila
bancária, logo se apressa em procurar um conhecido que esteja mais próximo do
caixa, com o objetivo de agilizar sua vida e não é capaz de perceber que acaba por
prejudicar outras pessoas.
Esta exemplificação de situação serve para mostrar o que Sérgio Buarque
chama de conflito entre público/privado. Para ele, a presença da “cordialidade” faz
com que os indivíduos tenham dificuldade para discernir o público daquilo que é
privado. Desta maneira, as pessoas acabam por usar suas preferências particulares
no âmbito público.
Essa cordialidade não significa necessariamente boas maneiras ou bondade e
sim consiste em uma máscara social na qual a polidez é um mecanismo de defesa

60
social que oculta a sensibilidade e as emoções, e reduz assim a individualidade. As
relações do homem cordial aparentam ser muito profundas e afetivas, mas são
justamente o contrário. Trata-se de um indivíduo acomodado e expansivo que busca
levar vantagem em tudo e se utiliza da simpatia e esperteza para atingir seus
objetivos.
Holanda (1995) aponta ainda outras caraterísticas herdadas não somente pela
colonização portuguesa como também pelo “Brasil rural” do século XIX, e que ainda
se fazem presentes na nossa identidade cultural, como o coronelismo, o
patriarcalismo, o patrimonialismo e o predomínio de uma pensamento ainda
escravocrata que permeia muitas das relações. Tais características configuram-se
ainda hoje como obstáculos a uma sociedade impessoal, moderna e livre das amarras
coloniais.

A exclusão da população rural se encontra ainda hoje diretamente ligada com


a questão racial. Nos programas direcionados à população rural, a proporção
de negros atendidos é muito alta, pois a população negra no campo chega a
ser de 61%, contra apenas 48% no meio urbano. Os programas Água para
Todos e Fomento às Atividades Produtivas têm entre seus beneficiados quase
80% de negros. No caso do Bolsa Verde, que complementa a renda de quem
adota práticas sustentáveis, chega a 92%4.

SÍNTESE DA UNIDADE

A partir da compreensão dos elementos constitutivos da formação da


identidade racial é importante constatar os elementos históricos atuantes na
construção de identidade cultural brasileira.
DaMatta acredita que a sociedade brasileira ainda é muito marcada pelo
racismo em razão da ideologia determinista presente na fábula das 3 raças, ideologia
esta estruturada após o fim do colonialismo.

4MARTINS, Miguel. O racismo em números: A esmagadora maioria os beneficiários do Brasil sem


Miséria é de negros, comprova levantamento do governo federal. Carta Capital, número 767, Janeiro
de 2014. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/revista/767/o-racismo-em-numeros-
6063.html>. Acesso em out.2016.
61
Durante o período em que nossa nação ainda se encontrava na condição de
colônia de Portugal, muitos dos problemas estruturais, políticos, econômicos e sociais
eram atribuídos ao rei e a corte portuguesa.
Com a Independência do Brasil, esperava-se que mudanças acontecessem no
sentido de melhorar as condições de vida da nação brasileira. No entanto, nada
realmente mudou.
A busca por explicar essa incapacidade de mudança passou por doutrinas de
cunho racista. A perspectiva predominante era a de que a união do “índio preguiçoso”,
“do branco lusitano estúpido” e do “negro sem qualidades” só poderia resultar em uma
população fraca e incapaz de evoluir, marcada por contradições.
O futuro de um país predominantemente mestiço era visto como algo nebuloso
uma vez que diferentes raças resultariam em diferentes objetivos e diferentes
capacidades para se atingir tais objetivos.
Tratava-se de uma visão extremamente preconceituosa e determinista que
considerava que indivíduos pertencentes a determinada raça estariam
invariavelmente fadados a destinos específicos.
Para DaMatta, essa visão ainda hoje se faz presente já que temos dificuldades
de relacionar que problemas raciais não envolvem apenas a cor da pele e sim
envolvem problemas políticos, sociais e econômicos condicionados por relações entre
diferentes raças.
Sérgio Buarque de Holanda também atribui à colonização portuguesa e ao
Brasil rural determinadas características que se encontram presentes na identidade
cultural brasileira.
Em face da forma como fomos colonizados por Portugal, desenvolvemos uma
cultura presa ao patriarcalismo, ao personalismo e ao imaginário do “homem cordial”
que, na prática, em nada tem a ver com polidez, afetividade e bondade e sim se refere
ao indivíduo acomodado, esperto e expansivo.
Para Sérgio Buarque de Holanda, essa configuração de identidade nacional
tem afastado o Brasil da modernidade administrativa e evolução econômica.

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Recomendamos a leitura na íntegra do livro Relativizando: uma introdução à
antropologia social para uma melhor compreensão da fábula das 3 raças.
Nessa obra, Roberto DaMatta relata de forma muito detalhada a influência
histórica das doutrinas racistas no atual olhar brasileiro a respeito dos
problemas econômicos, sociais e culturais que permeiam a nossa sociedade.
Recomendamos também a leitura na íntegra de Raízes do Brasil. Trata-se de
um olhar rico a respeito da identidade cultural brasileira resultante da
colonização portuguesa e vida rural após a independência brasileira.

Atividade 4: Fórum de discussão

Tanto Roberto DaMatta quanto Sérgio Buarque de Holanda buscam, na forma


como o Brasil foi colonizado, explicações para determinadas características presentes
na identidade cultural brasileira. Enquanto DaMatta identifica que a

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doutrina racial na fábula das 3 raças ainda se faz parte do imaginário popular e não
permite enxergar que problemas de ordem social, política e econômica passam por
conflitos presentes nas relações entre raças, Holanda considera que o atraso no
desenvolvimento do país passa pela constituição de uma cultura ainda marcada por
elementos provenientes do período colonial e rural brasileiro. Você concorda com
essas perspectivas? Procure discutir a respeito com base nos elementos
apresentados respectivamente pelos dois autores a respeito do “racismo à brasileira”
e do “jeitinho brasileiro”.
(máximo de 20 linhas)

Para a participação no fórum é necessária a leitura da Unidade 4

Glossário da Unidade 4

Coronelismo: prática própria do meio rural que floresceu durante a Primeira-


República no Brasil (1889-1930) em que o proprietário rural controlava os meios de
produção, detendo o poder econômico, social e político local (HOLANDA, 1995).

Patriarcalismo: sociedade organizada em torno da autoridade e do prestígio do


patriarca (HOLANDA, 1995).

Patrimonialismo: a não distinção entre os limites do público e os limites privados


(HOLANDA, 1995).

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BIBLIOGRAFIA BÁSICA

DAMATTA, Roberto. Relativizando: Uma introdução à antropologia social. Rio de


Janeiro: Editora Rocco, 1987.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Editora Companhia das
Letras, 1995.

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Editora Brasiliense,


1988.

MAZZOLENI, Gilberto. O Planeta Cultural: para uma antropologia histórica. São


Paulo: Editora USP, 2008.

MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cultural: iniciação, teoria e temas.


Petrópolis: Editora Vozes, 2003.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Editora


Fontes, 2002.

FERNANDES, Florestan. Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 1991.

FORACCHI, Marialice Mencarini; MARTINS, José de Souza. Sociologia e


Sociedade: leituras e introdução à sociedade. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos Editora, 1999.

RABUSKE, Edvino A. Antropologia Filosófica: um estudo sistemático. Petrópolis:


Editora Vozes, 2003.

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