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REFLEXÕES SOBRE O RACISMO – Jean-Paul Sartre.

SOUZA, Rodolfo de. 22.09.2012

O livro Reflexões sobre o Racismo do filósofo Jean-Paul Sartre é composto por dois ensaios: I-
Reflexões sobre a questão judaica; II- Orfeu negro. No primeiro texto, Sartre aborda a origem do anti-
semitismo, seu modo de pensar, de compreender o judeu, seus argumentos e os fundamentos de tal
argumentação. No segundo ele retrata a condição que o negro assumiu perante a sociedade que o descrimina e
os modos para superação dessa situação pela retomada da “negritude”.
Apesar da divisão dos temas, ambos ensaios se relacionam profundamente. A origem do ódio contra o
judeu manifesto pelo anti-semita é o primeiro tema analisado. O anti-semita possui uma postura “apaixonada”,
diz Sartre, “uma concepção de mundo”1 sustentada pela paixão que se manifesta no ódio de sua postura
impermeável a discussão racional. Opta-se, assim, por uma vida apaixonada distinta de uma vida reflexiva, a
qual despreza a razão e a dúvida que são essenciais na construção de pontos de vistas. Se a paixão é a base do
anti-semitismo, o argumento do anti-semita é uma visão reducionista e mitológica do judeu. Mas, a origem do
ódio anti-semita não resume-se ao judeu, alerta Sartre, “o judeu não é no caso senão um pretexto: em outra
parte, será utilizado o negro e, em outra, o amarelo” 2 ou mesmo o gordo, o pobre ou o gay como objeto de ódio
e discriminação.
Os mesmos preceitos discorridos sobre o anti-semita, então, se valem para o racismo contra o negro.
Mas a situação do negro não é a mesma que a do judeu. Segundo Sartre, “embora a opressão seja uma”, onde
brancos e negros são oprimidos pela sociedade capitalista, contudo, o negro sofre duplamente. Desprovido dos
meios de produção e pelo fato de ser “preto”, o negro sofre pela opressão do sistema capitalista e pela
discriminação de seus semelhantes operários “brancos”. A retomada da consciência e a construção da
identidade negra, é, antes de tudo necessária. O negro deve retomar a sua “negritude”, ou seja, não negar que
seja “negro”. Esse conceito, cita Sartre, advém da nova poesia negra que reconstrói uma nova linguagem por
sua própria desconstrução, uma retomada consciente da linguagem para além da concepção européia
predominante de mundo.
Frente essa posição, tanto o negro como o judeu não devem suprimir suas características, seus hábitos e
suas origens históricas. Acima de tudo precisam preservá-las e manifestá-las como uma identidade consciente.
Portanto, o judeu e o negro não carecem recorrer as concepções universais de ser humano para confrontar o
anti-semitismo e o racismo. Remeter-se a essa concepção universal é assumir uma “inautenticidade” do que
seja. Essa racionalização do negro e do judeu não considera o que são, mas, faz justamente o contrário, esconde
o que há de mais peculiar no próprio fato do que é ser judeu e do que é ser negro, suprime assim, suas
peculiaridades físicas, históricas e pensamento para nada por no lugar.

1
Jean-Paul Sartre, Reflexão sobre o racismo, p. 10.
2
Ibid., p. 31.
REFLEXÕES SOBRE O RACISMO – Jean-Paul Sartre.

SOUZA, Rodolfo de. 22.09.2012

O livro Reflexões sobre o Racismo do filósofo Jean-Paul Sartre é composto por dois ensaios: I-
Reflexões sobre a questão judaica; II- Orfeu negro. No primeiro texto, Sartre aborda a origem do anti-
semitismo, seu modo de pensar, de compreender o judeu, seus argumentos e os fundamentos de tal
argumentação. No segundo ele retrata a condição que o negro assumiu perante a sociedade que o descrimina e
os modos para superação dessa situação pela retomada da “negritude”.
Apesar da divisão dos temas, ambos ensaios se relacionam profundamente. A origem do ódio contra o
judeu manifesto pelo anti-semita é o primeiro tema analisado. O anti-semita possui uma postura “apaixonada”,
diz Sartre, “uma concepção de mundo”3 sustentada pela paixão que se manifesta no ódio de sua postura
impermeável a discussão racional. Opta-se, assim, por uma vida apaixonada distinta de uma vida reflexiva, a
qual despreza a razão e a dúvida que são essenciais na construção de pontos de vistas. Se a paixão é a base do
anti-semitismo, o argumento do anti-semita é uma visão reducionista e mitológica do judeu. Mas, a origem do
ódio anti-semita não resume-se ao judeu, alerta Sartre, “o judeu não é no caso senão um pretexto: em outra
parte, será utilizado o negro e, em outra, o amarelo” 4 ou mesmo o gordo, o pobre ou o gay como objeto de ódio
e discriminação.
Os mesmos preceitos discorridos sobre o anti-semita, então, se valem para o racismo contra o negro.
Mas a situação do negro não é a mesma que a do judeu. Segundo Sartre, “embora a opressão seja uma”, onde
brancos e negros são oprimidos pela sociedade capitalista, contudo, o negro sofre duplamente. Desprovido dos
meios de produção e pelo fato de ser “preto”, o negro sofre pela opressão do sistema capitalista e pela
discriminação de seus semelhantes operários “brancos”. A retomada da consciência e a construção da
identidade negra, é, antes de tudo necessária. O negro deve retomar a sua “negritude”, ou seja, não negar que
seja “negro”. Esse conceito, cita Sartre, advém da nova poesia negra que reconstrói uma nova linguagem por
sua própria desconstrução, uma retomada consciente da linguagem para além da concepção européia
predominante de mundo.
Frente essa posição, tanto o negro como o judeu não devem suprimir suas características, seus hábitos e
suas origens históricas. Acima de tudo precisam preservá-las e manifestá-las como uma identidade consciente.
Portanto, o judeu e o negro não carecem recorrer as concepções universais de ser humano para confrontar o
anti-semitismo e o racismo. Remeter-se a essa concepção universal é assumir uma “inautenticidade” do que
seja. Essa racionalização do negro e do judeu não considera o que são, mas, faz justamente o contrário, esconde
o que há de mais peculiar no próprio fato do que é ser judeu e do que é ser negro, suprime assim, suas
peculiaridades físicas, históricas e pensamento para nada por no lugar.

3
Jean-Paul Sartre, Reflexão sobre o racismo, p. 10.
4
Ibid., p. 31.

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