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Sobre o caso, vale a pena uma rápida descrição. Na década de 30, as irmãs
Christina e Léa Paupin cometeram um crime hediondo causando repulsa na
sociedade francesa. Era véspera do dia 2 de fevereiro do ano de 1933 – uma
noite fria de inverno. Sem aparente explicação as duas mataram e
desfiguraram mãe e filha da casa onde trabalhavam como empregadas
domésticas. Relatos contam que as irmãs voltavam de um passeio e
encontraram a casa toda escura. O motivo: um ferro de passar roupa causara a
queda de um fusível. Porém, o técnico não foi capaz de resolver o problema, e
os custos do profissional recaíram sobre as duas. Tudo indica que o caso irritou
profundamente a patroa, que começou a agredir verbalmente Léa e Christine.
Então, num ato de fúria, elas arremessaram um jarro na cabeça da patroa,
desencadeando um frenesi incontrolável cujo resultado foi o brutal assassinato.
O homem, esse sonhador definitivo, cada dia mais desgostoso com seu
destino, a custo repara nos objetos de seu uso habitual, e que lhe vieram por
sua displicência, ou quase sempre por seu esforço, pois ele aceitou trabalhar,
ou pelo menos, não lhe repugnou tomar sua decisão [...] Esta imaginação que
não admitia limites, agora só se lhe permite atuar segundo as leis de uma
utilidade arbitrária; ela é incapaz de assumir por muito tempo esse papel
inferior, e quando chega ao vigésimo ano prefere, em geral, abandonar o
homem ao seu destino sem luz.
Porém, a relação dos surrealistas com o caso das irmãs Papin não era
unânime, e houve debates e divergências dentro do movimento sobre como
interpretar o evento. Alguns surrealistas viram as irmãs como símbolos de
resistência e libertação, enquanto outros condenaram sua violência. Ainda
assim, o caso das irmãs Papin foi emblemático para o surrealismo por trazer à
tona questões de psicologia, repressão social e irracionalidade que eram
centrais para o movimento.
Tudo que envolve a relação entre os surrealistas e as irmãs Papin gira entorno
de uma consagração da violência e da loucura. Mas, diferente daquela
violência explicita mostrada em programas policiais, há um sentido conceitual
no modo como os surrealistas o fazem. Em primeiro lugar, não é a própria
imagem obscena da brutalidade que interessa à eles, e sim as motivações que
geraram a violência. A compreensão de que os surto psicóticos são
provenientes de problemas sociais e psíquicos é muito distinta daquela
apresentada pela grande mídia que trata a criminalidade como algo moral. Os
surrealista não atribuem qualquer maldade/bondade às irmãs Papin; e mesmo
a louvação dessa personagens soa um pouco irônica, como se em
contraposição às