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Apropriação Cultural, considerações finais.

Diante do que foi exposto, falando sobre a definição do que vem a ser apropriação cultural, suas
consequências e conjecturas, além da exemplificação do “Black Face” como uma dessas
apropriações, podemos dizer também que, essa discussão não é, como possa aparentar, uma
evocação à um “purismo cultural” onde só possam usufruir de objetos ou signos produzidos por
uma cultura aqueles que dessa cultura façam parte.

A questão, é muito mais ampla e complexa, pois, trata-se da relação entre grupos hegemônicos e
marginalizados, historicamente marcada por etnocentrismo, preconceito e exclusão. Assim sendo, a
apropriação por esses grupos hegemônicos de elementos culturais, sacros, identitários, etc, de
grupos subalternizados, inferiorizados, aparece como sendo uma nova especificidade dessa
experiência histórica de dominação.

Não devemos encarar a ideia de apropriação cultural de forma individualizada , mas como uma
questão estrutural que tem relação com a sociedade de forma sistêmica. A problemática que se
coloca é que a utilização de forma irresponsável ou massificada de determinados elementos
culturais fora de seu contexto ou tirando o protagonismo de quem o pertence de fato, é
desrespeitoso com aquele grupo social, ou a imitação pode soar pejorativa, caricata, ridícula.

Outra reflexão que geralmente é feita, é o fato de que algumas culturas não são bem aceitas ou são
tentadas ao cancelamento por um grupo cultural tido como dominante, no entanto, em casos que
essa apropriação acontece, traços dessas culturas se tornam toleráveis àqueles que rejeitam seu
grupo originário, tão somente por estarem sendo utilizados por pessoas diferentes àquele grupo.

De forma positiva, há possibilidade de se apontar que algumas situações de apropriação cultural


possibilitam a discussão sobre o tema com aqueles que não estão familiarizados ou nunca ouviram
falar. Muitas pessoas praticam apropriação cultural sem a menor noção ou consciência do que estão
fazendo, apenas por imitação ou achar que é moda, por isso essa discussão não deve se limitar ao
campo das relações individuais, muito menos ser norteada pela “política do cancelamento”, mas
tratada com cautela, observando as devidas proporções de cada situação para não ser intransigente
ou promover a desagregação.

Desse modo, é uma excelente oportunidade para se praticar o respeito à diversidade, para dar
ouvidos à grupos que se sentem constrangidos e repensar práticas que possam parecer inofensivas,
mas que para outros são desconfortáveis, constrangedoras, e também para o “letramento racial”, ou
seja, buscar estudar e compreender os signos de determinadas etnias e/ou grupos sociais aos quais
você não faz parte, no entanto deseja se aproximar e consumir daquela cultura. O conhecimento da
história e significado do objeto promove aproximação e abre possibilidade para uma cooperação
com aquele grupo de diversas maneiras, como por exemplo, a prática do antirracismo.

E um exemplo negativo, podemos citar quando elementos culturais diversos não brancos são
retratados de maneira caricata e estereótipos são reforçados, exagerados, acontece a perpetuação do
racismo e o esvaziamento de todo o potencial político, histórico, cultural, etc, quando esses
elementos são reduzidos para fins comerciais. Se um estilista quer valorizar e dar visibilidade à
cultura Negra, por exemplo, em vez de colocar modelos brancas de peruca Black Power na
passarela, coloquem modelos pretas com maxicolares, roupas feitas de tecidos africanos, etc, se
querem fazer o mesmo com a cultura indígena, chame os povos originários para serem
protagonistas no projeto e revertam lucros para que os mesmos também possam usufruir das
benesses, isto se chama justiça social e valorização cultural.

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