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Milton Lopes dos Santos Junior

DRE: 111214891
Profº Leandro – Fotografia
Comunicação Social – UFRJ

Filho de uma colecionadora que também era integrante de uma agência de


fotografia, Roger Ballen desde muito pequeno encontrou um ambiente
propício para desenvolver seu lado artístico.. Autodidata, aos 13 anos já
fotografava e a partir dos 18 começou a se focar mais na busca da
construção de sua própria linguagem através da fotografia.

A exposição “As obras, transformações, fotografias: 1968-2012”, é a primeira


retrospectiva do trabalho de Ballen a ser exibido na América Latina, e traz
consigo alguns dos principais trabalhos do autor ao longo de sua trajetória na
fotografia. Por sempre ter trabalhado sob a estética do grotesco,, a própria
exposição não poderia ter seguido um clima diferente. Utilizando-se de
papelões para montar as paredes e lâmpadas de tungstênio colocadas
penduradas sob a cabeça do espectador com os fios que as alimentam
expostos, a exposição busca se aproximar ao máximo do ambiente sujo que
logo vemos nas fotografias que a compõem.

Por se tratar de uma exposição retrospectiva, fez-se a escolha de dispor as


fotografias em ordem cronológica. Graças à essa disposição das obras, fica
evidenciada a evolução da linguagem fotográfica que Ballen desenvolveu ao
longo de sua carreira.

No começo vemos fotos de caráter mais documental, com alguns aspectos


que se mantiveram durante toda a carreira do autor, como os títulos das
fotografias, sempre descritivos em relação a algo que está na foto para que
seja destacado ao espectador. Vemos, a principio, registros do ambiente
urbano, mas sempre buscando locais e momentos que fujam da estética do
chamado “American Way of Life”. Mas é após a morte de sua mãe, quando
Ballen começa a viajar pelo mundo que começamos a notar as mudanças em
seu modo de trabalhar as fotografias, principalmente após ele se estabelecer
no interior da África do Sul, onde desenvolveu a maior parte de seu trabalho.

Nesse momento de sua carreira Roger ainda trabalhava com um caráter


mais documental,. Vemos fotos frontais de pessoas que, por si só, já tem um
aspecto que nos causa estranhamento, mas da maneira como Ballen as
fotografias, é como se ele pegasse o estranho e conseguisse o deixar ainda
mais estranho. Isso fica claro em fotos como “Wife of Abatoir worker holding
3 puppets”, onde, pela expressão da mulher, chega até a parecer que a
mulher está prestes a comer os gatos.

Ainda nessa fase já começa-se a notar dois aspectos que a partir de então se
tornariam marcas registradas de Ballen: os fundos sujos nas fotografias e a
presença de animais com a aproximação entre homem e animal. Sendo que
essa segunda característica é clara na fotografia “Brian with pet pig”, onde o
homem que segura o porco tem por si já um aspecto que remete à imagem
do porco, sendo, inclusive, mais sujo do que o próprio porco na foto. Esses
aspectos já são fruto de uma montagem realizada por Ballen.

A partir de então começamos a notar interferências do autor nas fotos, que


ainda mantem um certo tom documental, numa mescla de ficção e realidade
que faz até que seja difícil encontrarmos o limite entre o que é natural e o que
foi montado por Ballen, como na foto “Head bellow wires”, de 1999. Na
fotografia em questão, o fundo é claramente montado, mas e a posição do
homem que está em cena? Foi natural ou Ballen pediu para que ele fizesse
aquilo?

A partir de 2000, essa mescla de realidade e ficção se intensifica, mas com


predominância maior da montagem a partir do trabalho Shadow Chambler,
onde Ballen começa a trabalhar com mais força, além da questão dos objetos
em cena, a questão das sombras. O clima a partir de então é um clima mais
melancólico, sombrio, pesado. O estranhamento aqui causado é mais agudo,
mais subjetivo do que o estranhamento direto causado pela estranheza das
figuras que ele fotografava antes. Há inclusive uma aproximação entre o
homem e a morte nas fotos, como em “Eulogy”, “Fragment” ou “Cut loose”,
onde há representações por montagem de pessoas que teriam se suicidado.

Em alguns casos é impossível determinar se partes do ambiente foram


montados ou não, em outros a montagem se faz o ponto principal da foto, as
poses distorcidas que se fazem para elas, como em “Head inside shirt”, onde
a colocação da cabeça dentro da camiseta chega a dar a impressão de que
estamos diante de uma pessoa sem cabeça.

No trabalho “Asylum”, última exposição de Ballen que a retrospectiva


abrange, vemos o auge de tudo isso que ele veio desenvolvendo ao longo do
tempo. Na fotografia “Alter Ego” vemos cada uma dessas características que
marcaram a carreira de Ballen num nível extremamente elevado. O fundo é
sujo e cheio de detalhes, a montagem é mais do que clara, há fio verticais por
toda a parte, o homem na cena usa uma saia que se olharmos bem é, na
verdade, uma coruja, o homem usa uma mascará com um rosto grotesco,
atrás da qual fica o rosto real da pessoa, dando a impressão da existência de
um outro eu por trás do eu, o que justifica o título e duas pombas se
encontram nas mãos do homem.

Ao longo do trabalho de Ballen, além da beleza das formas de suas


fotografias, é clara também a crítica à realidade social com a qual ele se
deparava, mesmo que essa crítica não fosse colocada com um
posicionamento claro. Desde sua posição contrária ao “American Way of Life”
em suas primeiras fotos até à animalização do homem que ele expõe mais
adiante. Em ambos os aspectos, tanto da construção e evolução da
linguagem de Ballen como do sentido político de seu trabalho, a exposição
tem sucesso absoluto, na medida que deixa mais do que claro o porque de
todo o renome conferido a Ballen.

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