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‘GLICOS” da Peleandlise. t8m-escolhido uma linha mas independente do superego, ampliar seu campo de percepsiio 6 expandir sua onganizaco, dé mancira a poder astahorearse de novas partes do id Onde estava o i, ali staré 0 ego. yma obra de cultura — nfo diferente da drenagem do Zuider Zee, mai 4 (Freud dissera alga semelhante no sltimo capitulo de O Ego ¢ 0 4, Eido Standard Brats, Vol. XIX, pig. 723, IMAGO Edo, 102 CONFERENCIA XXXII , ANSIEDADE E VIDA INSTINTUAL SENHORAS E SENHORES: Nao se surpreenderdo ao saberem que tenho muitas novi- dades a relatar-Ihes a respeito de nossa concepcao [Auffassung) Ga ansiedade ¢ dos instintos bésicos da vida mental; no se surpreenderio ao verificar que nenhuma dessas novidades pode pretender oferecer uma solugdo definitiva para esses problemas hao solucionados, Tenho um motivo especial para usar a palavra “econcepsio", aqui, Estes. sio: os, problemas mais dificeis que’ se nos apreseriam, mas sua dificuldade nao,esta:em:algoma:insu- ficiGneia de observacdes; © que nos propSem esses enigmas slo realmenie’os:fendmenos mais comuns e mais conhecidos. Nem 2 dificuldade se situa na natureza recondita das especulacdes a que eles dio drigem; a reflexdo especulativa desempenha uma parte insignificante nessa esfera. E, contudo, verdadeiramente lima questio de concepsoes — isto é, de introduzir as idéias alas corretas, cuja_aplicag gio nele produziré ordem e clareza. Dediquei uma conferéncia (a vigésima quinta), em minha série anterior, a ansiedade; € preciso recapitular rapidamente {© que ali disse. Descrevemos a ansiedade como um estado afe- tivo — isto & uma combinacéo de determinados sentimentos ida série prazer-desprazer, com as correspondentes inervacbes de descarga, e uma percepifo dos mesmo, mas, provavelmene também ‘como um presipitado de um determinado evento im- portante, incorporado, por heranga — algo que pode, por con- Seguinte, ser assemelhado a um utaque histérico individualmente ‘adquitido.: © evento que consideramos como tendo deixado TICE a desctigto, mais clara, em Conferéncies Introdut6rias, XV, ice undrd Brera, Vo. XV ple 4602, IMAGO Editora, 1976 103 atrés de si uma marca dessa espécie € 0 processo do nascimento, ocasiiio em que os efeitos sobre a ago do coragio ¢ sobre a respiraglo, caracteristcos da ansiedade, foram efeitos adequados. ‘Assim a primeira ansiedade teria sido uma ansiedade*téxica. Dai partimos para uma distingao entre ansiedade realistica e ansie- dade neurdtica, sendo aquela uma reacio, que nos parecia compreensivel, face a um petigo — isto é reacio a um dano esperado, de fora —, ao passo que esta, a ansiedade neurética, era completamente enigmitica, e parccia despropositada. Em uma anilise da ansiedade-realistica, reduzimo-la 20 estado de atengao sensorial e tensio motora aumentadas, que descrevemos como ‘estado de preparacio para a ansiedade’. E disto que se desenvolve a reacdo de ansiedade, Aqui, dois resultados so possiveis.fOu a geragao da ansiedade — repeti- io da antiga experiéncia traumética — limita-se a um sinal, €as0 em que o restante da reacéo pode adaptar-se,i nova si. ‘tuago de perigo e pode resultar em fuga ou defesa;(pu a antiga situago pode continuar mantendo 0 dominio, e a reacio tolal pode consistir em nada mais que geracio de ansiedade, caso fem que 0 estado afetivo se torna paralisante ¢ seri inadequado. ara 0s propésitos atuais, Passamos depois & ansiedarle-neuréticae assinalamos que a observamos sob trés condicées, SMipmimpimanimgn:” encontra- mo-la na forma livremente flutuante, um estado de apreensio difusa, pronta a vincular-se temporariamente, sob a forma do que se conhece como ‘ansiedade expectante’, a qualquer pos- sibilidade que de imediato possa surgir — como acontece, por exemplo, numa neurose de angtstia tipica, encontramo-le firmemente vinculada @ determinadas idéias, nas chamadas ‘foblas', em que ainda € possivel reconhecer uma relagio com um perigo externo, nas quais, porém, devemos considerar_que ‘0° medo € exagerado, desproporcionado; Bammy sereninaseOhOIURAAH encontramos a ansi¢dade na histeria ¢ em outras formas de neurose grave, onde ou ela acompanha 9 sintomas, ou surge independentemente como ataque, ou como estado mais persistente, mas sempre sem’ qualquer. base. visivelem ni perigo-externo. Fazemo-nos, entdo, duas per- guntas: “O que as pessoas temem na ansiedade neurdtica?® © Como. podemos,relacioné-la com a_ansiedade realistica’sentida em face de perigos externos?” Nossas investigacdes de modo algum ficaram infrutiferas: chegamos a algumas conclusdes importantes. Com referéncia & expectativa ansiosa, a experiéncia clinica revelou que ela pos- suia regularmente uma conexio com a economia libidinal da vida sexual. A causa mais comum da neurose de angistia € a excitagio no consumada. A excitacao libidinal € despertada mas ndo satisfeita, nfo utilizada; 0 estado de apteensio surge, € entio, no lugar dessa libido que foi desviada de sua utilizagio. Até pensei estar justificado a0 dizer que essa libido insatsteita era ansformada di ievem_ansiedade, Essa oplnilo en- ontrou apoio em algumas fobias de criangas pequenas, de ocor- réncia bastante freqliente. Muitas dessas fobias sfo deveras enigméticas para nds; contudo, outras, tais como o medo de estar $6 e o medo de estranhos, podem ser explicadas de forma _ convincente. A solidio, assim como um rosto estranho, desper- tam na crignga um anelo por sua mae, a quem conhece tio bem; a crianga € incapaz de controlar sua excitacdo libidinal, | niio ‘consegue manté-Ia em suspenso e transforma-a em ansi- ( dade, Essa_ansiedade infantil deve, pois, ser_considerada_nio, ‘como pertencente ao ipo realstico, « sim, neurdiica. As Tobias” infantis ¢ a expectaliva ansiosa da neurose dé @ngistia nos oferecem dois exemplos da mancira como se origina a ansie- ( dade neurética: transformasio direta da libido. Logo»viremos.| a-conhecer um segundo mecanismo, que,se revelard no muito_) diferente do. prj Etec OPM Te Ss Fe cea ansiedade. nay histetia-evemsoutras:neuroses:, Acreditamos que € possivel fornecer disto uma’eseri¢fo mais completa do que anteriormente, se separarmos 0 que acontece 2 idéla, que tem de set teprimida, daquilo que acontece & quota. de libido’ vin culada @ ela, B-a idéia-que.€ submetida & repressio,-c.que:pode, ser deformada-a-ponto de ficar irreconhecivel;, sua quote'de. afeto, porém,.¢ xegularmente, transtormada em-“ansiedade —ie {sto € assim, qualquer que possa sera natureza-do-afetoy=seja. elendeyagressividadevowdesamor. Nao faz, pois, nenhuma di- ferenga esstncial por que razio uma quota de libido se tornou nio-utilizavel: se € por causa da debilidade infantil do ego, 105 cote nas fobias de criancas, ow se 6 por causa de processos sométicos da vida sexual, como na neurose de angistia, ous devido a represtio, como na, histeria, ASsiti, "Ha Tealidade, os dois mecanismos que produzei ansiedade neuréti¢a coincidem. | No curso dessas investigagdes, nossa atenglo foi atraida para uma relacio altamente significativa entre a geraclo da ansiedade e a formacio dos sintomas — ou seja, verificamos que essas duas se representam e se substituem uma & outra, Por exemplo, um paciente agorafobico pode iniciar sua doenga com um acesso de ansiedade na rua, Isto se repetiria cada vez que fosse A rua novamente, Desenvolvera entio o sintoma da agorafobia: este também pode ser qualificado como inibi¢io, como restrigo do funcionamento do ego, e, por meio dele, 0 paciente se poupa dos ataques de ansiedade. Podemos eviden- iar 0 inverso disto, se interferimos na formag3o dos sintomas, como € possivel, por exemplo, com as obsessbes. Se impedimos tum paciente de executar seu ritual de ablugoes, ele cai num estado de ansiedade que acha diticl suportar e do qual, evi- dentemente, se tinha protegido por meio de seu sintoma, SERRE smegeptom efelto, que-a geragio dav ansiedade"é-o que surgi (primeiro, e a formacéo- dos sintomas, o.que.veio. depois, como Se 8 sintomas fossem criados a fim de évilar a irrupgio do i estado-de-ansiedade. Isto € confirmado também pelo fato de f ‘que as primeiras neuroses da infancia sio as fobies — estados ‘Ros quais vemos t4o claramente como uma geragio inicial de ansiedade € substituida pela formacio subseqliente de um sin- toma; temos?a itnpegssio-de que .€. dessas.inter-relacbes, que / melhor obteremios.acesso. a compreensio da ansiedade neurdtica Fea mesmo tempo) também conseguimos tesponder 8 ques-” tao de saber que coisa a pessoa teme na ansiedade neurdtica, ¢ assim estabelecer a conexio entre a ansiedade neurstica € realistica cla teme é, evidentemente i WA diferenga entre essa situagdo e a da ansiedade realistica Teside em dois pontos: que perigo € um perigo interno, a0 i invés de externo, ¢ que esse perigo ndo € conscientemente. reconhecido. ‘Nas fobias, é muito facil verificar a forma como esse perigo interno € transformado num perigo extero — ou seja, como uma ansiedade neurotica é mudada em ansiedade aparentemente r hip. ani. b 106 “de nos realistica. Com wistas-® simplificat o que muitas vezes constitui um assunto muito complicado, suponhamos que o paciente a er tema iavaravelmente sentiments de temagHo” que aoe caepociar vr essere peach TUN. eget jizaele-um. deslocamentoe-dai vem diante teme uma ‘situagao- Wee eat ts 0 ae cle gaake ¢, obviamsen, pensar abe pode Proteger-se melhor dessa forma, Uma pessoa pode pro- Pee det usm perigo exter pela Toga, fugie de Um pevgo interno é um empreendimento dificil. No final de minha conferéncia exprésiti a opinifo de que, embora essas diferentes descoberta Tivestigago nfo” fossem ‘mutiamente contraditorias, -Ge-alguma forma elas ndo se ajustavam umas 4s ouiras. Parece~ “qué a ansiedade, na medida em que constitui um estado afe- Se eer ticee co am ovente antigo que represeiou oma / tos riyerger a ensidade serve a0 proposto de. auio-( ae cecal de um novo perigg surge da libido que) Decora woe soa Geemarc Sejkamettoencegrcssso; € substiuida’pela Tormagio de um | “SHama C dgamos assim, psiquicamente vinculada — tem-se } aeereisdy de due cml com faltendo algo qos jmtara 1053) soot pees et 18 rior, sobre _ansiedadk mei Senhoras ¢ senhores, a disseceio da personalidade mental ‘em um superego, um ego ¢ um id, que Ihes apresentei na minha liltima conferéncia, obrigou-nos a refazer nossa. orientagdo tam- bém no problema da ansiedade. Com a tese de que 0 ego é a tinica sede da ansiedade' — de que apenas 0 ego pode produzir ¢ sentir ansiedade — estabelecemos uma posigio nova € estivel, 4 partic da qual numerosas coisas assumem um novo aspecto. E, verdadeiramente, é dificil verificar que sentido haveria em [isto foi enunciado, pela primeira vez, em palavras ligeiramente diferentes, quase no fim 40 Ego eo Id (19236), Esigio Standard Brasileira, Vol. XIX, pég- 74 IMAGO Ealitora, 1975. Foi diseutido, em iverson pontos, em Inibipdes, Sinzomas e Ansiedade (1926d), ibid Vol XX pass 164, 185, etc, IMAGO Editora, 1976, A maior parte do us se segue, a respeito do assunto ansiedade, deriva-se do timo tra batho) 107 falar em ‘ansiedade do id’ ou em atribuir ao superego capaci dade para sentit um estado de apreensio. PorvouttO Tid, te mo¥"Verificacio"de Bom grado um desejével-elemento-de-corres: wpondéricit nofato dé que as trés principals espécies de ansie- date TERNStICG, "A HeuFOLCR ea” moral,~podem-=-comtanta faotlidade ser correlacionadas com as trés relagdes dependentes qué 0 ego mantém — com o mundo extemno, com 0 ide com OraUperERO"[pAg"99}o"AC mesmo tempo que essa nova visio, em especial a funcdo da ansiedade como sinal que anuncia uma situagao de perigo (uma nogio, alids, no desconhecida nos- sa),' assume proemingncia, perde interesse a questo de saber qual é 0 material de que é Teita a ansiedade, e as relacdes entre ansiedade realistica © neurdtica se tornaram supreendentemente claras © simples. Também de observar que, agora, aqueles esos aparentemente.complexos de geracio. de ansiedade, .n6s os.compreendemos melhor do que aqueles que gram conside- rados. simples. 2 Isto porque recentemente estivemos examinando a forma como a ansiedade € gerada em determinadas fobias, que clas- sificamos como histeria de angistia, © escolhemos ‘casos nos ‘quais estévamos lidando com. a tipica repressio de_impulsos pleios de desejos oriundos do complexo de Edipo. Era de se) = esperar que encontrdssemos uma catexia libidinal referente & Tibco tal, eeclitn a como oOiets,» aia, car cou-( seqiléncia da repressio, se teria modado em ansiedade © agora cemergia expressa em termos de sintomas, vinculada a um sub ttuto de seu pai, No posso moatrarthes os pastos setae de uma investigagéo como esta; seri sitfciente dizer que resultado surpreendente foi 0 oposto daquilo que esperdvamos. Nio-era_a repressio que cri mnsiedade; a_ansiedade ji. "S T {CE qumerosas referéacias no inicio da Introducio do Faltor 1, Simomas ¢ Ansiedade, Edigio Standard Brasileira, Vol. XX, pags. 101-2, IMAGO Editora, 1976. Essa idéia aparece em Conferéncihs Inirodutérias, XXN, ibid, Vol. XVI, pigs. 460-1 © 472, IMAGO. Eslvora, 1976.) SICK. Capitulo IV de Inibicdes, Sintomas e Ansiedade, Eaigso Standard Brasileira, Vol. XX, pags. 130-1, IMAGO ‘Editora, 1976. ‘Os tas0s ali examinacs slo os do"Little Hass’ ¢ do “Homem dos Lobos.] 108 tanto, que tipo de ansiedade pode ter sido? Somente-ansiedade fem face de uma ameaga de perigo extemo — ou seja, ansie- dade realistica, & verdade que o menino sentia ansiedade em face de uma exigéncia feita por sua libido — nesse as0,,an- siedade por estar apaixonado por sua mie; assim, era, de fato, tum caso de ansiedade neurética. Mas este estar apaixonado 36 The aparecia como um perigo intemo, o qual devia. evitar, Fenunciando ao objeto, porque este suscitava uma situagéo externa de perigo. E, em todos os casos que examinamos, gbte-/~ mos 0 mesmo resullado, Deve set confessado que nao estiva-_\ mos preparados para constatar qué 0, petigo instintual inferno “SE rovelara ator determinants © preparagao para ume siuseto~ | extern e “Ate agora, contudo nio fizemos absolutamente qualquer mengao de qual o perigo real que o menino teme, como con- seqiiéncia de estar apaixonado por sua mie. O»perigo é-a pu" / nigdo de ser castrado, de perder seu érgio genital, Ossenhores objetardo que, afinal de contas, isso nio € um perigo’ reals Nossos. meninos no sio castrados porque esto apaixonados por suas mies, durante a fase do complexo de Edipo. © pro- blema nfo pode ser eliminado de forma tao simples. Antes de mais nada, nfo se trata de a castragao ser ou nflo ser realmente efetuada; © que € decisivo € que o perigo ameaca de fora e a Grianga acredita nele. Tem alguns motivos para isso, pois as pessoas ameagam, muito freqiientemente, cortar fora o pénis da crianga durante a fase félica,’ na época do inicio da mas- furbagao, ¢ insinuagSes desse castigo devem encontrar com regularidade um reforco filogenético no menino. Suspeitamos que, durante 0 periodo primevo da fam(lia humana, a castragao costumava ser usada, realmente, por um pai civmento ¢ cruel, hos meninos em crescimento, e que a circuncisio, que tio fre- Gqiientemente desempentia um papel nos ritos da puberdade en- ‘tre povos primitivos, é um vestigio claramente identificavel desse fato. Estamos conscientes de que nisto divergimo: amplamente da opinigo geral; mas devemos reafirmar a opinigo, de que 0 7 (Essa fase exposta mais adiante, nesta conferéncia, pis. 123 € wee] 109 temor de castra¢io é um dos motivos mais comuns ¢ mais fortes para a repressio ¢, portanto, para a formacdo das. neuroses. A anilise de casos em que a circuncisio, embora nio a cas- taco, na verdade foi executada em meninos como cura ou castigo para a masturbagio (essa ocorréncia nfo € nada rara na sociedade anglo-americana), conferiu & nossa convicsio 0 maximo grau de certeza. Nesse ponto, sentimo-nos. muito ten- tados a nos aprofundar no complexo de castragio; porém, ater- mei ao nosso assumto, ‘Ovtemor de'eastragao ‘nao é, naturalmente, 0 tinico motivo pata “Tepresstor na” verdade;”"nao~ sucede~nias ~aratheFes, “Pois, ‘embora tenkani elas um eomplexo de castragio, nfo podem Yer medo- de serem castradas. Emsew sexo, 0 que sucede é 0 {eitor a perda do amor," 0 que & evidentemente, um prolon- gamento posterior da ansiedade da crianga quando constata a'austneiademie, Os senhores perceberio quio teal é a si- tuaco de petigo indicada por essa ansiedade. Se uma mie esti “Busenle ou Tetirou seu amor ¢ iho, este ais “We que suas necessidades serio s Exposto aos mals angustiantes sent . Jetem WT idea Ge que esses fatores determinanies de ensicdade *possimy "nd firid6, “repetir.a_situacdo, de, ansiedade~originaly ocorrida no nascimento, que, de fato, também representow uma separagio’ damier Realmente, se os senhores acompanharem uma seqiéncia de idéias sugeridas por Ferenczi {1925}, podem acrescentar a essa série 0 temor de castragio, pois a perda do ‘rgio masculino resulta na incapacidade de unir-se novamente A mie (ou a uma substituta dela) no ato sexual, Posso dizer- Ihes, alids, que a to freqiente fantasia de retornar ao iitero ‘materno é um sucediineo desse desejo de copular.* Haveria, nesse ponto, muitas coisas interessantes ¢ correlagdes surpreen- dentes para referir aos senhores; porém, nao posso afastar-me do exquema de uma introdugo a psicanilise. Apenas chamarei TICK Iniblcdes, Sinomas ¢ Ansiedade, Edigio Standard Brasileira, Vol. XX, pig. 166, IMAGO Fditora, 1976) (Cl. Inibicdes, Sintomas © Ansicdade, ibid, pig. 163.) ‘a atengio dos senhores para o fato de que, aqui, as pesquisas a oc manages Ser rane GK a quem + PACaTATSE deve mutes contibu- Goes Cheletce tamer temo mento de haver expresamente acentuado a importincia do ato do nascimento ¢ da separacao sera tRank 1924), Todavie, achamos de odo inpossiel Nee ere icbes exvemun que. nets. dese JAE, GH aeiay i isons das neuroses e, mesmo, a0 iatamento andliio. See Jeoa cara de ques expenitncia de ansiedade no mento € 0 modelo de todas as RE Sia sa Ser ee contron pronto’ oe lier OmM PergD dele touagden de perio, podemo® diner que, de aly Para cada estidio do desenvolvimento esti reservado, a adequate ssenvclvimenlgl um- especial faror— Satarees acim No decorrer do desenvolvimento, 0s ant zbos fatores determinantes de ansiedade deveriam sumir, pois as Situagdes de perigo correspondentes a cles perderam sua impor- tancia devido'ao fortalecimento do ego, Isto, contudo, 6° 0cor se de forma muito incompleta. Muitas pessoas: so incapazes de superar 0 temor da perda do amor;:nunea se tornam sufi- ientemente independentes do amor de outras pessoas e, nesse ‘aspecto, comportam-se como’ criangas. O temor ao superego normalmente jamais deve cessar, pois, sob a forma de ansie- pelo Editor Inglés, aas Conferencias Introdutcrias, XX, Edigdo Standard Inlbgtes,Sinomat’e Ansiedade, Wid, Vol. XX, pags. 159-60 © 1746, IMAGO Editora, 1976.) it Tem hay, tba on 2 dade moral, € indispensavel nas relagSes sociais, somente em 408 muito raros pode um individuo tornar-se independente da Sociedade humana, Algumas das antigas situacdes de perigo também conseguem sobreviver em periodos posteriores, fazen- do modificagées concomitantes nos fatores determinantes de ansiedade. Assim, por exemplo, 0 perigo de castragio persiste sob @ marca da fobia a sffilis. # verdade que, como adulto, se sabe que a castragio no mais faz parte do costume de pus nit excessos de desejos sexuais, mas, por outro lado, verifica. Se que a Liberdade instintual desse tipo é ameacada por graves doengas, Nio-hé divide ‘de que as pessoas que qualificamos ‘comorneuréticas, permanécem infantis em sua atitude relativa souperigo © nio venceram as obsoletas causas' determinantes de"atigiedade. Podemos tomar isto como contribuigio conereta Para’a caracteriza¢io dos neuthticos; no 6 muito féci) dizer porque'istovtem de ser assim. (Jit ya) 1) 9 Lor ih-o Mice Espero que nao tenham perdido a visio de conjunto dlisto: que estou dizendo e-se'lembrem de que estamos investi= gando’s.telagses.entre_ansiedade e repressdo. E nisto apren mos duas coisas novas: primeiro, que a ansiedade’faz a re- Pressiove no, conforme costumévamos pensar, © dposto; ¢ > [segundo], que a situacao instintual:temida remonta.basica- mente a> uma situagio de perigo externa. A questio seguinte ri: como imaginamos agora o processo de uma repressio sob a influéncia da ansiedade? A resposta sera, segundo. penso, 8 que se segue. O ego percebe que a satistago de uma exigén- sla instintual emergente recriaria uma situagiio de perigo ainda viva na lembranga, Essa catexia_instintual deve, portanto, set de algum modo suptimida, paralisada, inativada, Sebemos. que © ego consegue realizar tal tarefa, se & forte e se attaiu im- pulso instintual em questo para a sua organ:zagio, Mas o que Sucede no caso da represso é o impulso instintual ainda per. fencer ao id, ¢ que 0 ego se sente fraco, Entio o ego se serve de uma técnica no fundo idéntica a0 pensar normal. © pensar € um ato experimental executado com pequenas quantidades de energia, do mesmo modo como um general muda pequenas figuras num mapa antes de colocar em movimento seus gran- 2 e des corpos de tropas.” Assim, o ego antecipa a satisfacéo do impulso instintual suspeito © permite efetuar-se a reprodugao dos. sentimentos desprazerosos no inicio da situagio de perigo temida, Com isto, 0 automatismo do principio de prazer-des- prazer € posto em agdo e agora executa a repressao do impulso instintual_perigoso, mais acompanhar o seahor nessas coisas!’ Tém toda a razio; devo acrescentar alguma coisa mais, antes de poder tornar-me inteligivel para os senhores. Primeiro, devo admitir que tentei traduzir para a linguagem de nosso pensar normal aquilo que de fato deve ser um processo que nfo é consciente, nem pré- consciente, reslizando-se entre quantidades de energia em algum substrato inimagindvel. Esta, porém, nfio € uma objecio solida, pois no se pode expressar essas coisas de outra maneira, Mais importante € que deviamos distinguir claramente 0 que acon- tece no ego ¢ 0 que acontece no id, quando existe uma re- pressio, Acabamos de dizer 0 que faz 0 ego: faz uso de uma catexia experimental e desperia 0 automatismo do prazer-des- prazer por meio de um sinal de ansiedade. Depois disso, diver- Gitima oe (pag. 97) como uma das piney is fungdes do ego. ope sss a decsiem amisal ng (uns oe lees cat see es We a Sea ct Totbtoaa Serie Vso nconsccne Ust3e)s Tid, VOL SAV, pe Tt rey eee eee Ha Nase cae itt °K te Reece tca ens Same, fuse Narn Mee Btu sce Fane is oe pashan u3 sas reagSes so possiveis, ou surge uma combinacao delas, em Proporgées varidveis, Ou o ataque de ansiedade desenvolve-se completamente e 0 ego se afasta inteiramente da excitagio cen- surével; ou, em lugar da catexia experimental, 0 ego opie a excitagio uma anticateria, e esta se combina com a energia do impulso reprimido para formar um sintoma; ou a anticate- xia € assimilada no ego como formacio reativa, como intensi- ficagio de determinadas disposigdes do ego, como alteragao permanente deste. “moivas ‘Quanto mais a/geragdo da ansiedade pode limitar-se a um ero sinal, tanto half) o ego gasta em agbes defensivas que imporiamem vincular psiquicamente 0 [impulso] reprimido, elo mais o processo se aproxima de uma §upedelaboragio™ normal, embora, por certo sem alcancé-la. Allids, aqui esta um ponto em que podemos deter-nos por uum momento, Os senhores mesmos sem divida supunham que aguilo que se conhece como ‘earéter’, coisa tao dificil de detinir, deve set atribuido inteiramente 20 ego. Um pouco disso que cria o cardter jd compreendemos. Primeiramente e acima de tudo, existe a incorporagio, sob a forma de superego, da anterior instncia parental, que 6, indubitayelmente, a sua parte mais importante ¢ decisiva; ¢, ademais, identificacdes com ambos os pais do periodo subseqilente e com outras figuras de influéncia, © as identificagées semelhantes formadas como remanescentes de relagdes objetais a que se renunciou (ef. pags. 83-84). E po- 1 [fa idéia €2 uma modiicagio do ego como conseaiéncia de uma antieatexa ja pode Ser encontrada em alguns dos primeitos esis de Freud, eg. no segundo artigo sobre “The Neuro Paychoses of Detence (18960), Standord Ed, 3, 183, Havin surgi Inibigdes, Sintomas ¢ ‘Ansiedade (19264), Esigho Sianderd reales, Vol. XX, pig. 181, IMAGO Editors, 1976, ¢ vria a set dsculida mais Jongametie nas Seyies I e Ve artigo to posterior como “Anslse Termingvel ¢ Iatermindvel’ (1937e).] 2 {0 conceito de superelaboragio, como método normal. de_tidar om um even mena devagradive. mag, conc, de Feud sim, na conteréneia sobre hinteca,proferida na época da "Comunica G0 Preliminac’ de Breuer e Freud, este diz’ “Allis: om mecanismo Falquco sadio tem outros mstodos de lidar com o efeito de um tauma Psiquco =. ol sea, superelaborando-o associaivamente,." (18931), Standard Ei, 3,371 4 ‘demos agora actescentat como contribuigdes A construgio do cariter, que nunca esto ausentes, as formagées reativas que 10 ego adguire — no inicio, executando suas repressGes e, de- pois, por um método mais normal, quando rejeita impulsos instintuais indesejaveis.* Retornemos, agora, © passemos ao id. Néo ¢ facil saber © que ocorze, durante a repressio, em relagio ao impulso ins- tintual que ésté sendo combatido. A. prine:pal questio que nosso interesse levanta é saber 0 que acontece & energia, @ ¢ar- ‘0 libidinal dessa excitagio — como é ela utilizada. Os senho= tes recordam-se de que a hip6tese inicial era ser ela justamente Taquilo g reptessiio, em ansiedade* Nao mais nos sentimos capazes de dizer isso, A modesta resposta “zerf, anes, que aquilo que acontece a essa energia niio é, pro- vavelmente, sempre a mesma coisa, Provavelmente ha uma correspondéncia intima, a respeito da qual deverfamos obter conhecimento, entre 0 que entdo ocorre, no ego e no id, com relagdo a0 impulso reprimido, Pois, desde que decidimos que © principio de prazer-desprazer, posto em aco pelo sinal da ansiedade, desempenha um papel na repressio, devemos mo- dificar nossa perspectiva. Esse principio exerce um dominio inteiramente irrestrito sobre @ que acontece no id. Podemos ter certeza de que efetua modificagdes bastante profundas no impulso instintual em questi, “Bstamosapreparadoseparasrisy Em alguns casos, 0 impulso institi- tual reprimido pode conservar sua catexia libidinal, e pode TIA parle inicial desso parigrafo deriva-se de uma explanagio contida no’ comego do Capitulo Ill de O Ego eo Id (19236), Edicto Standard Brasileira, Vol. XIX, pig. 42 © segs. IMAGO Editors, 1976. ‘A ouitra parte basciase no Capitulo X1 (A) de Inibigdes, Sintomas ‘Ansiedade, Wid, Vol. XX, pags. 181-2, IMAGO Editors, 1976, Si0 Gadas releréncias a slgumas discusses peévias sobre cariter numa nota {de rodapé screscentada pelo Editor Inglés a ‘Character and Anal Erotism’ (19086), Standard Ed, 9, 175.) 2 [Ct, 0 artigo metapsicoldgico sobre ‘Repressio’ (1915d), Fdigio Stpdard rasa, Vo. XW, pgs 175 6 sega IMAGO Editor, 197, fe Conferinelas Introdutéries, XXN, Vol. XV1, pig. 470, IMAGO Edi tora, 1976.) 11s persistir inalterado no id, embora sujeito a constante pressio do ego. Em outros casos, parece suceder que ele é totalmente destruido, enquanto sua libido € desviada, permanentemente, por outras, vias, Expressei_meu ponto de vista de que € i que ocorre quando 0 complexo de Edipo € manejado normal- “mente — um caso como € de se descjar, portanto, nfo sendo “Fimplesmente reprimido, mas destraido noi. “A experiencia — clinica também nos mosirou que, em muitos casos, em lugar do habitual resultado da repressio, dé-se uma degradacio da libido — uma regressio da organizacio libidinal a um estédio anterior. Isto, maturalmente, s6 pode ocorrer no id, ¢, se ‘ocorrer, seri sob a influéncia do mesmo conflito que se fez anunciar pelo sinal da ansiedade, O exemplo mais claro dessa espécie € dado pela neurose obsessiva, na qual atuam conjunta- mente a regressio ¢ a repressio, Senhoras ¢ senhores, receio que achario essa exposicio ificil de acompanhar, e sabem que ainda nao est completa. Lamento ter provocado sua insatisfagio, Nao posso, contudo, propor-me nenhum outro objetivo além daquele de dar-Ihes ‘uma impressio referente @ natureza de nossos achados e as dificuldades envolvidas na sua elucidagio. Quanto mais nos aprofundamos no estudo dos processos_mentais, ‘ahecemos sua abundinclae complenidade. Muitas Spl ae, de also, pCi Peesncher houses necieidaden ‘posteriormente vieram a sé revelar inadequadas. No nos can- anot Or modict as ¢ ape ererter a ala atetacia sobre a teoria dos sonhos (a primeira da presente série], mos- trei-thes ‘uma regiio na qual, durante quinze anos, pratica- mente no houye uma descoberta nova. Aqui, onde estamos tratando da ansiedade, os senhores véem tudo em um estado de fluidez © modificacio. Essas inovagdes, ademais, ainda no foram elaboradas totalmente, ¢ talvez isto também se some is” dificuldades de demonstré-las. Tenham paciéncia, no entanto! Em breve conseguiremos deixar o tema da ansiedade, No posso prometer que teré sido resolvido a contento nosso, 2 (CE. "A Dissolueio do Complexo de Edipo' (1924d),_Edigdo ‘Standard Brasileira, Vol. XIX, pips. 221-2, IMAGO Editora, 1974.) 116 mas € de se esperar que teremos feito um pequeno progresso, E nesse interim, temos feito todo o tipo de descobertas novas. ‘Agora, por exemplo, nosso estudo da ansiedade leva-nos a acrescentar um novo aspecto A nossa descrigéo do ego. Disse- mos que 0 ego € fraco, se comparado com o id; que 6 um servo leal deste, pronto executar suas ordens e cumprir suas exigéncias. N&o tencionamos retirar essa afirmacio. Mas, por outro lado, esse mesmo ego € a parte mais bem orgat zada do id, com sua face voltada para a realidade, N&o devemos exagerar demasiadamente a separagio entre 0s dois fe no devemos mos surpreender se 0 ego, de seu lado, pode aplicar essa influéncia sobre os processos do id, Acredito que ‘0 ego exerce essa influéncia colocando em acio © quase todo-poderoso principio de prazer-desprazer por meio do sinal da ansiedade, Por outro lado, mostra sua debilidade de novo, imediatamente apés, de vez que, pelo ato da repressio, renuncia a parte de sua organizagéo e tem de convir em que o impulso instintual reprimido se mantenha permanentemente afastado de sua influéncia, ‘Agora, apenas mais um comenthrio 2 respeito do proble- ma da ansiedade, A ansiedade neurética, em nossa forma de consideré-la, transformou-se em ansiedade realstica, ‘em temior 2 determinadas. situagdes de perigo. Contudo no podemos Parar ai, devemos dar mais um pasto — embora seja um asso atrés. Perguntamo-nos o que é que realmente € perigoso _ temido em uma situagto de_perigo. dessa espécie. Por certo que a6 E 0 Gand a0 sujelto, objetivamente considérado, pois ‘Fae dang pode ito ter nenhum importinci, ent “WS Tera algo eletwado por ele na mente, Por exemplo, o Fucinents, tosio modelo de esado de ansiedade, afinal, Gilmente pode ser considerado em si mesmo causa de dano, embora possa implicar um/perigo)de danos. O essencial no ascimento, assim como em“toda situaciio de perigo, ¢ que ele imprime & experiéncia mental um estado de excitagéo marcada- mente intensa, que sentida como desprazer e que nfo € possivel dominar descarregando-a Um estado desse tipo, ante © qual os esforcos do principio de prazer malogram, chame- uy mo-lo de momento ‘traumético’. Entio, se colocarmos numa série a ansiedade neurotica, a ansiedade realistica ¢ a situagio ide perigo, chegamos a essa proposigo simples: o que 6 temido, © que € 0 objeto da ansicdade, ¢ invariavelmente a. emergéacia de um momento traumitico, que néo pode ser artostadejeom ™ ce ee. 8s. regras normais do principio de prazer, DE fendemos que, dotados do principio de prazer, no nos geran- ‘timos contra danos objetivos, mas sim apenas contra determi Rado dano a ‘nossa economia psiquica. Vai uma grande distincia desde © principio de prazer ao instinto de auto. Preseryagdor As intencSes de ambos estio longe de coincidir” ‘desde 0 inicio. Vemos, porém, ainda mais uma coisa; talved seja_a solugdo que estamos procurando. Ou seja, tudo isso € uma questo de quantidades relativas. £ apenas # magnitude da soma de excitagio que transforma uma impressé momento traumético, paralisa a fungdo do principio de prazer © confere a situagio de perigo a sua importincia. E, sendo assim as coisas, podendo esses enigmas serem solucionados tio prosaicamente, ‘pergunta-se por que nfo seria possivel que ‘momentos traumAticos semethantes surjam na vida mental sem referéncia a hipotéticas situagies de perigo — momentos traumaticos, pois,"nos quais a ansiedade nao € despertada como um sinal, mas sim gerada de novo, por um motivo novo. A experiéncia clinica evidencia abertameate que, de fato, este 0 caso. Séo apenas as represses posteriores que mostram © mecanismo que descrevemos, no qual a ansiedade € desper. ‘ada como sinal de uma situagéo de perigo prévia, As represses Primeiras © originais surgem diretamente de momentos trau- méticos,-quando © ego enfrenta uma exigéncia libidinal excessivamente grande; clas formam de novo a sua ansiedade, ‘embora, na verdade, a partir do modelo do nascimento, © mesmo pode aplicar-se a geragio da ansiedade na neurose de any ida a _prejuieo ‘Somatico causado a fungio sexual. ‘mais Sustentaremos ser a libido que € transformada em ansie~ a3, {Esta expresso, wm eco dé Charcot, remonta as primeiras expli eagées de Freud sobre histerid: Ver, por excmplo, seu primeiro, srteo sobre “The \Neuro-Psychoses of Defence’ (18542), Siendard Ed. 3°36) vi > dade, ¢m tais_ casos," No entanto, no posso.ver como objetar “conira @ exisincia de uma, como conseqiiéncia direta do momento anon ( ‘outra, como, sinal que ameaga com uma be ae 2 ace roclamarei que nela tenhamos feito grandes avancos, de mo ine ‘os senhores, trangiiilamente, podem poupar-se a qualqi . fio enti iiticas, magnificos em sua impre- mento popular lida com os instintos. As pees ae ” particular, ¢, depois, os dispensam novamente. Scenes 26 08 iimpOs a suspeita de que, por tras de todos esses peq) T [Bm Tires, Sitomas ¢ Andie, Freud andy, sutentann, so enon como posidade, que) ta, neirse de, angiain, 9, aut onus dear na seacto da aovcdae ¢precamene 9 eredene Mh ido nap uizada™(Eagio Standard Brat, Vol 3X pi, 165, IMAGO Editors, 1976). Com cise frqse de agora, vestigio da antiga teria} 1g VC\O\ Fvimos a conhecer instintos ad hoc, escondia-se algo sétio ¢ poderoso, Rostariamos de 0s aproximar com’ cauiela, Nosso.primeiro ppasso foi muito modesto, Dissemos a nés mesmos que provad velmente nao iriamos perder 0 rumo, se comecdssemos por) separat dois principais instintos, ou duas classes de instintos, ou dois grupos de instintos, em consonfincia com as duas) grandes necessidades — fome e amor. Por mais’ ciosamente jue'‘em geral_ defendamos a independéncia_da_psicologia, de toda outra ciéncia, aqui se nos impde o fato Bolégico inamo- vvivel de que 0 organismo individual vivo esta sob 0 dominio dev duas intencdes, a autopreservacio ¢ a preservacio” dal espécie, que parecem ser independentes uma da outca, que,| jinteresses:-muitas”-vezes--estio em conflitona_ vida animal, até onde por ora sabemos, nfo t8m origem comum, cujos) mx Realmente, aguilo a cujo tespeito estamos falando agora é ‘sobre a psicologia biolégica; estamos estudando os concomi- tantes psiquicos dos processos biolégicos. Foi representando poses ema go hy ede emer sexuais’ foram introduzidos na_psicandlise instintos do ego incluimos tudo o que tinha relagéo com iopresrasio, Yt tana eapcaecinss ce intivteoaus arta eae tivemos de~ atribuig a diversidade necessdria & vida’ sexual iafandl © Perego Geriatax Ieemiaaie itor: 10 como o poder limitante e repressor, ¢ ee esas caer Oe sani rome eaaT ca do; acreditévamos, pois, que tinhamos)claras-provas" nfo. sé diferemercnire os dois grupos de instintos,“mas~também lito entre 5. O primeiro objeto Oss0 estudo era ‘36°05 instinfos sextais, cuja energia denomindvamos ‘libido’. Foi em relagio a eles que procuramos clarear nossas idéias a respeito do que € um instinto e do que se devia atribuir-lhe. Aqui temos a teoria da libic ‘Um instinto, por conseguinte, dstingue-se de um estimulo pelo fato de surgir de fontes de estimulagio situadas dentro do corpo, de atuar como forca constante, e de a pestoa nfo poder evité-lo pela fuga, como é possivel fazer com um estimulo ‘externo. Em_um_instis demos distinguir sua origem,. iota fnalidada. Sua ongets-€ tas erste te erataeso ‘docorpo, sua finalidade & a remoyio des 120 1 DA dee nye 4 ‘camittho que vai desde sua origem até sua finalidade, o instinto forna-se atuante psiquicamente. Imaginamo-lo como uma determinada quantidade de energia que faz presséo em det minada diregio, E dessa pressfio que deriva seu nome lidade passiva, ‘no corpo da propria pessoa; via de regra, inclui-se um objeto externo, com relagio a0 qual o instinto atinge sua finalidade externa; sua finalidade interna permanece sendo a modificagéo corporal que é sentida como satisfagao. Néo ficou claro para 1nés se a relagio do instinto para com sua origem somética conferethe uma qualidade especifica, ¢, em caso afirmativo, qual seria esta, A evidéncia da experiéncia analitica mostra como fato indubitavel que os impulsos instintuais provenientes de uma fonte ligam-se Aqueles que provém de outras fontes fe compartitham de suas vicissitudes, e que, de modo geral, ‘uma satisfagdo instintual pode ser substituida por outra Deve-se admitit, contudo, que mio entendemos isto muito bem. ‘As relagSes de um instinto com a sua finalidade e com o seu objeto também so passiveis de modificagdes; -ambos..podem ser--trocados por outros embora sia relaggo com seu. objeto seja, no obstanie, a que cede mais facilmente, Um determi- nado tipo de modificacio da finalidade e de mudanga do objeto, na qual se levam em conta nossos valores sociais, 6 descrito por nés como (UBINRHRNRiNly Ademais, temos motives para diferengar instintos que slo ‘jaihitiosseanmsuaiaaidet? — impulsos.instintuais oriundos de fontes bem conhecidas nossas, com uma finalidade inequivoca, os quais, porém, sofrem uma parada no caminho rumo a satistagéo, de mancira que se efetua uma duradoura catexia objetal ¢ se estabelece uma permanente tendéncia (de sentimento]. Tal, por exemplo, 6 @ 7 [teraimente, “impulsfo, propuisio'. A palavra alemi freqlente- mente & tradurida assim, mas por motivos explicados na Introdugto Ge fal,n0 Volume 1, ‘instito' tem sido a palavra usada em toda a Edigho ( Standard} 124 relagio do sentimento de ternura que, sem dvida, se origina das fontes da necessidade sexual e invariavelmente renuncia a sua satistacao.* Qs senhores constatam quantas caracteristicas e vicissi- tudes dos instintos ainda fogem 4 nossa compreensio. Aqui se deve mencionar mais uma diferenga que aparece entre os instintos sexuais ¢ os de autopreservagio ¢ que seria da maior importancia tedrica se se aplicasse aos grupos como um todo. Os instintos sexuais fazem-se notar por sua plasticidade, sua eapacidade de alterar suas finalidades, sua capacidade de se Substituirem, que permite uma satisfagao instintual ser substi tuida por outra; e por sua possibilidade de se submeterem a adiamentos, do que acabamos de dar um exemplo adequado ‘os instintos inibidos em suas finalidades. Agradar-nos-ia negar essas caracteristicas aos instintos de autopreservagéo, dizer que estes sio inflexiveis, no admitem atrasos, sio imperiosos num sentido muito diverso ¢ tém uma relagdo bem diferente com 8 fepressio © a ansiedade, Mas uma breve reflexio nos diz que essa posigio excepcional se aplica nfo a todos of instintos do ego, mas apenas & fome ¢ a sede, © evidentemente se bbaseia numa caracteristica peculiar das fontes desses instintos. ¢.{Uma boa parte da impressio de confusio causada por tudo isso se deve ao fato de que néo consideramos em separado as alteragbes que a influéncia do ego organizado efetua nos impulsos instintuais que originalmente pertenciam ao id. Encontramo-nos em solo mais firme quando investiga mos a maneira como a vida dos instintos serve a fungo sexual, Nesse pomto, temos adquirido conhecimentos bem definidos, com os quais também os senhores jé estio familiarizados. Nao 6 que reconhesamos, pois, um instinto sexual que seja desde © inicio o veiculo de uma corrente dirigida para a finalidade da fungio sexual — a unio das duas células sexuais. O que vemos é um grande némero de instintos componentes que surgem de diferentes areas © regides do corpo, que se empe- 1 {0 contetdo desse pardgrafo é, na sua grande maior, repetigio ‘da primeira parte de ‘Os Insintos © sas Vieitsitides’ (191Se), Edigao Siandard Brasileca, Vol. XIV, pags. 138-46, IMAGO. Editora, 1974) 122 ‘nham por obter satisfagio muito independentemente ‘uns dos outros e encontram essa. satisfagiio em algo que podemos chamar de ‘prazer do drgio'* Os genitais constituem a dliima ddessas ‘zonas er6genas’, € 0 nome prazet ‘sexual’ nfo’ pode ser abstraido do respective prazer do érgio, Esses impulsos que buscam 0 prazer niio sio todos agrupados na organizacio final da fungdo sexual. Muitos deles sio postos de lado como serviveis, pela repress4o ou por outros meios; alguns deles so desviados de sua finalidade pela maneira extraordindria que mencionei [pig. 121-2), e usados para reforgar outros im- pulsos; e ainda outros subsistem em papsis secundérios e servem execugio de atos introdut6rios, a producio de pré-prazer Os senhores j4 sabem como, no decorrer desse desenvolvi mento prolongado, podem set reconhecidas diversas fases da organizagio primitiva, e também sabem como essa histéria da fungo sexual explica suas aberrages e atrofias. A primeira dessasfases. ‘pré-genitais’ € conhecida como fase oral, porque, de conformidade com a maneira como um lactente € alimentado, a zona erégena da boca domina o que se pode denominar de atividade sexual desse perfodo da vida, Numa etapa seguinte, passam a primeiro plano os impulsos sddicos © anais, sem divida em conexto com o aparecimento dos dentes, 0 fortalecimento do aparelho muscular ¢ o controle das fungSes esfincterianas. Aprendemos numerosos detalhes inte- ressantes a respeito desse estidio notdvel do desenvolvimento, em particular.* Em terceiro lugar, vem a fase félica na qual, fem ambos os sexos, 0 drgio masculino (e © que corresponde Primaria de rodapé acrescentada pelo Editor Inglés a0 livro sobre ae ee ies wou) 123 8) assume uma importincia que néo pode ligenciada.* Reservamos 0 nome de fase genital para a organizacdo sexual definitive, que se estabelece apés 2 Puberdade e ma qual 0 Srgfo geil feminino, pela princi guréo muito tempo antes," ° “> assino Navin ‘Até aqui, tudo isso & repetigéo cediga, FE nfo dev seahores Sopot que as mmitss coisas que nfo mension! desta vez, nto tenham mais validade, Essa repeticio fez-se necessria, de ‘modo que eu pudesse utilizé-la como ponto de partida ara um relato dos progressos em nossos conhecimentos. Podemos orgulhar-nos de haver aprendido muita coisa nova especialmente acerca das primeiras organizages da libido, ¢ Pogenceeat ia wal ered ear es tancia daquilo que € antigo; e para demonstrar isto dar-Ihes-i pelo menos alguns exemplos, Abraham mostrou, em 1924, que so pode distinguir dois estédios na fase sédico-anal, O primeiro desses estidios*é dominado tivas de-destruir © de perder, ¢-o sepiodo ext clas afetuosas para’ cmt os objetos — tendénc Ee a des fase, porate, que = cosdearo yparece, pela. primeira vez, como’ precursora,-de tama catexia erstica ‘ulterior. Da:mesma forma’ estamos =| a0__fazer. uma subdivisio semethante ma primeira fase, a. fase-oral,,No primeiro subestédio, 0 que esti em questo é Somente a incorporacio oral, néo hé absoltuamente ambiva= Héneix® em relagio 20 objeto — 0 seio materio, O segundo ”) Gstidio, caracterizado pelo surgishento! da atividade de morder, / pode ser descrito como estédio ‘oral-sidico’; este mostra, pela ) Primeira vez, os fendmenos da ambivaléncia, que se tornam | {80 mais claros, posteriormente, na fase sédico-anal. O valor” dessas novas distingdes pode ser verificado especialmente se procuramos os pontos disposicionais na evolugo da libido em Aeterminadas neuroses, tais como a neurose obsessiva ou 4 Wer “A Organicaglo Genksl Enfant” (1923¢),] 124 melancolia.* Aqui os senhores devem recordar o que ja temos apreendido acerea da correlagdo entre fixacio da libido, dispo- Sido € regressio. Nossa atitude para com as fases da organizacio da libido ‘modificou-se um pouco, de um modo geral. Ao passo que, anteriormente, enfatizivamos principalmente a forma como cada fase transcorria antes da fase. seguinte, ‘nossaviatensio, agora, dirige-se 20s fatos que nos’*mostram quanto de-cada fase anterior persiste junto a configuragdes subseqiientes, © depois delas, © obtém uma representacio permanente na eco- nomia Ubidinal @ no cariter da pessoa, Tornaram-se ainda mais interessantes $ estudos que nos ensinaram com que freqiéncia, sob condigdes patol6gicas, .ocorrem regressies a fases anteriores, e que determinadas ‘regressées sfo caracte- tisticas de determinadas formas de doenga.* Néo posso, contudo, entrar nesse assunto, aqui; ele faz parte da psicologia especializada das neuroses. Temos conseguido estudar as transformagies do instinto fe processos similares, especialmente’ no erotismo anal, as txcitagdes que surgem das fontes da zona erdgena anal; © ‘causou-nos surpresa a multiplicidade de usos a que esses impul- $08 instintuais sio destinados, Talvez nao possa ser fécil livrar tessa zona especifica daquele menosprezo em que cait. no curso a evolugio, Deixemos, pois, que Abraham nos lembre que, fembriologicamente, o Anus corresponde & boca primitiva que ‘migrou para baixo, para a parte terminal do intestino.* Temos constaiado, ainda, que, depois que as fezes, os excrementos de uma pessoa, perderam seu valor para essa pessoa, esse teresse intestinal, derivado da origem anal, transfere-se 7 [isto & os pontos da evolupio libidinal em que uma fixagio deter mina vina dioposigao para, alguma deierminada neurose. Cf. °A Dispo. Tglo 2 Neurose Obseisiva’” (19131). expressio ‘ponto, disposicional Seorre om analise de Scbreber (1911c), Edigio Standard Brasileira, Vol aL pag, 84, IMAGO Editors, 1976] 2 [Nas Conferéncias Iniroduidrias, XI) 4 {Esta é certamente mais uma referéncia & importante publicagio de Abcanam, em 1924.) (Abraham, 1924; tradupto inglesa, pig, 500.) para objetos que podem ser dados como dédivas. E isto é exatamente assim, pois as fezes foram a primeira dédiva que luma crianca pide dar, algo que ela péde entregar por amor 4 quem estivesse cuidando dela. Depois disso, correspondendo exatamente a mudangas andlogas de significado que ocorrem nna evolucao lingilistica, esse antigo interesse pelas fezes trans- forma-se no grande valor concedido 20 ouro © a0 dinheiro, mas também contribui para a catexia afetiva de bebé e de énis. Enice as criangas, as quais por longo tempo conservam a teoria da cloaca, constitui convicedo universal que os bebés nnascem do intestino como o excremento:* a defecagio € 0 modelo do ato do nascimento, No entanto, também o pénis tem o seu precursor na coluna fecal que enche e estimula a membrana mucosa do intestino. Quando uma crianca, muito a contragosto, vem a perceber que hé criaturas humanas que no possuem pénis, este aparece-the como algo destacdvel do compo € se torna inequivocamente anélogo a0 excremento, que foi a primeira peca de material corporal a que teve de renunciar. ‘Assim, uma grande parte do erotismo anal 6 transporiada para a catexia do pénis. O Interesse por essa parte do corpo tem, contudo, além de sua origem anal-erética, uma origem oral, que talvez seja ainda mais poderosa: pois quando a succdo chega 20 fim, 0 pénis também se tora herdeiro do mamilo 0 Scio materno. Se ‘nflo. se esti cénscio dessas conexdes _profundas, é impossivel orientar-se nas fantasias dos seres humanos, nas Suas associagdes, que sio tio influenciadas pelo inconsciente, "e-na-sua linguagem sintomiética. Fezes — dinheiro — dédiva — ‘beb§ — pénis so af tratados como se significassem a mesma coisa, ¢ representados, também, pelos mesmos simbolos. E nao devem esquecer que apenas pude dar-thes informagses muito incompletas. Rapidamente posso acrescentar, talvez, que 0 intetesse pela vagina, que desperta ma’s tarde, também é essen- ialmente de origem anal-erética, Isto nfo € de causar adm ago, de vez que a vagina, para tomar emprestada uma 2 ICE. © artigo anterior de Freud sobre “The Sexusl ‘Theories of Children’ (1908), Siandard Ed, 9, 219.20) 126 expresso adequada de Lou Andreas-Salomé [1916], é ‘alugada’ do reto:' na vida dos homossexuais, que fracassaram na complementaso duma parte do desenvolvimento sexual normal, a vagina € representada pelo reto. Nos sonhos, muitas veres, aparece um local que era anteriormente um s6 compar- timento, mas que agora esté dividido em dois, por meio de uma patede, ou vice-versa. Isto sempre significa a relagio entre vagina ¢ intestino.? Também ¢ fécil compreender como, nas meninas, aquilo que é inteiramente um desejo nada feminino de possuir um pénis, normalmente se transforma no desejo de ter um bebé, e, portanto, no desejo de ter um homem, detentor do pénis e doador do bebé; de modo que nisto podemos ver, também, como uma parte do que originalmente era interesse anal-erético obtSm acesso 4 organizagio genital subseqiient Durante nossos estudos das fases pré-genitais da libido, também adquitimos novas compreensies internas (insights) da formacio do cardter. Verificamos existir uma triade de tragos de cardter que se encontram juntos, com grande regularidade: ordem, parciménia e obstinagao; e da andlise de pessoas que mostcam esses tragos, inferimos que estes se originaram do seu erotismo anal, que foi absorvido e utilizado de maneira diferente. Por conseguinte. falamos de um ‘cardter anal’ no ‘qual encontramos essa notével contribuigao e assinalamos um determinado contraste entre 0 cardter anal © 0 erotismo anal inalterado.* Descobrimos, ademais, uma vinculagio semelhante, contudo talver ainda mais definida, entre ambigdo e erotismo 20 artigo de Lou Andreas Salomé foi resumido por Freud_em luma nota de rodapé acressentada em 1920 a0 seguodo dos seus Trés Enscior (9084), Edigho Standard. Brasileira, Vol. Vil, pig. 192 nu IMAGO Editors, 1972) 3 [Esse exemplo fora acrescentado, em 1919, a0 Capitulo VI (E) de A Interpretagio de Sonkos (1900a), Edisio Standard Brasileira, Vol. V. pigs. 378, IMAGO Editors, 1972.) [A maior parte dos dois dltimos pardgrafos deriva de ‘As Trans. formagies do. lnstinto’ (1917c); aqui, porém, ii alguns pontos.adicio: nals. Ti fora feita uma alusio ao assunto nas Conferéncias Introduiérias, XX, Edigho Standard Brasileira, Vol. XVI, pig. 368, IMAGO Editors, 1976) a ' [Essas correlagées tinham sido realmente indicadas em um artigo bastante inicial de Freud, ‘Character and Anal Erotism’ (15085),] 127 Uuretral. Uma notivel alusio a essa correlagio pode ser obser- vada na lenda segundo a qual Alexandre Magno asceu,na mesma noite em que certo Meréstrato atcou fogo 20 venctado Templo de Artémis, em Eleso, por simples desejo. de obter fama, Assim pareoeria que os anligos nao desconheciam essa correlagdo. Os senhores naturalmente sabem quanto 0 urinar tem a ver com fogo e com extinguir fogo." Por certo esperamos que também outros tracos de cardter Yenham a revelarse, de Modo semelhante, como crstalizagio ou formagées.reativas relacionadas a determinadas siruturas libidinals pré-genitais; ‘mas ainda no conseguimos demonstsar esse fato, ‘ B, agora, no entanto, a ocasiéo de eu voltar atré na hisioria, como no mew tena, ¢ novamente abordar os ro. blemas mais gerais da vida instintual. Novinitio;’a oposido atte os" instintos'do-ego-¢.os-instintos-sexuais jazia'na base de: nossa :teoria..da- libido. Quando,” mais tarde, comegamos. a ‘studar mais: detidamente 0 ego:propriamente:ditoe-chegamos a eoncepeio” do narcisismo, essa’ distingio como tal perdeu ySua:raziondersery Em casos raros, pode-se observar que 0 eg Se tomou a si mesmo como objeto © se comporia como se estivesse apaixonado por si proprio. Dai o termo narcisismo, tomado do mito grego.* No entanto, isso é apenas um exagero. extremo de uma situagio normal. Chegamos..acompreender ) ‘ae0-¢g0. ¢. sempre. o_ principal. reservatério.de libido, do qual ( emanam catexias libidinais de objeto e ao qual elas setor- | ‘nam, “enquanto a maior parte dessa libido’ mantém-se perma-.) nentemente-no- ego,’ Assim, a libido do ego esta sendo cons 4 (Bem fotco tempo antes, Freud dedicara um breve artigo a es faono (19320), alto to resale lume. pg 3 ana ¢ ali se poderd encontrar uma lista muito completa de outras ref ci ‘fa Nota do Editor Inglés.} on ae 4 [Ds Narciso, que extava spaitonido por si mesmo.) 8 {osavia, cfm afirmagio ta pig, 98 we sens, acim, segundo a qual ‘actttag tei proce at euginlat fxinoalh do i Ver s th, p16, slants Todo coe tema ¢ acu iniinamens no ice H do Ealir ingles 8 O Epo e o Id (19238), balgho Simla Brana, Vol. XIX, pig. 40's te IMAGO ‘Ediors, 1986) 128 m bjetal, © a Iibido objetal, em libido do ego, Mas, nese, caso, clas nfo podiam ser iferentes em sua natureza, ¢ Ho podia haver sentido em distinguir a energia de um da sputro; poderlamos ‘ou eliminar 0 termo ‘libido’ ou empregé-lo como sindnimo de energia psfquica em geral. Nio mantivemos muito tempo essa posigio, Nossa intuigho de haver um antagonismo na vida instintual encontrou, fm pouco tempo, uma outra expresso mais nitida, Nao € meu desejo, todavia, expor aos senhores origem dessa inovaclo xa teoria dos instintos; fostra-la-ei aos senhores como um \ nee jo. Nossa h'pétese reside em que existem essen- cialmente duas classes diferentes de instintos: os instintos sexuais, compreendidos no mais amplo sentido — Eros, so preferem esse nome —, © o8 instintos agressivos, cuja finali- dade € a destruigio. Quando isto é, assim, posto diante dos senhores, dificilmente 0 considerariio novidade, Parece uma tentativa de transf‘guragio tedrica da comum oposigio entre amar e odiar, que coincide, quem sabe, com a outra polaridade, atragio e repulsio, que a fisica supSe existir no mundo inorginico. Contudo, deve-se observar que essa hipétese, nfo obstante, é sentida por muitas pessoas como inovagio ©, na verdade, como inovasio das mais indesejéveis, que deveria ser climinada to depressa quanto possivel. Suponho que nessa rejeigéo est em jogo um poderoso fator afetivo. Por que necessitamos de tempo tio longo para nos decidirmos a reco- nhecer um instinto agressivo? Por que hesitamos em utilizar- nos, em beneficio de nossa teoria, de fatos que eram Gbvios ¢ familiares a todos? Terfamos, provavelmente, encontrado pouca resisténcia, se quiséssemos atr.buir a animais um instinto com uma tal finalidade, Todavia, parece sacrilego inclu‘-lo na constituigéo humana; contradiz muitissimas suposigies religio- sas e convenc6es sociais. Nio; naturalmente, o homem deve ser bom, ou, a0 menos, de boa fndole, Se, ocasionalmente, se mostra brutal, violento ou cruel, isto so apenas pertur- bagées transit6rias de sua vida emocional, na sua maior parte provocadas, ou, talvez, apenas conseqiincias das regras sociais inadequadas que ele, até entio, impds a si mesmo, 129 J elaga0-modelo)— que todo impulso instintual que pudermos mesmos temos experimentado, ndo fala nesse sentido, mas, (perio Coa cpe op arctnllied gg suteons pole antes, justifica a conclusio de que a crenga na ‘bondade’ da ccategorias de instintos. Naturalmente, essas fusdes far-se-iam natureza humana é uma dessas perniciosas ilusBes com as quais nas mais variadas proporgdes. Assim, 08 instintos eréticos a humanidade espera seja sua vida embelezada e facilitada, introduziriam a multiplicidade de seus fins sexuais na fusio, fenquanto, na realidade, s6°causam prejuizo. Nao temos por fenquanto os outros apenas admitiriam alenuagSes ou gradagbes que prosseguir nessa controvérsa, pois temos argumentade fem sua tendéncia uniforme. Essa hipdtese abre-nos a perspec- favor de um instinto agressivo e destrutivo nos homens, nio j tiva de investigacdes que um dia poderio ser de grande impor- Por causa dos ensinamentos da historia, ou da nossa experién- tincia para a compreensdo de processos patolégicos. "sso cia de vida, mas com base em razes gerais, as quais fomos Porque as fusdes. também podem desfazer-se,) e podemos supor Jevados a0 examinar 9s fenémenos'daysadismo.e do masoquismo. j, | que 0 funcionaitento serdafetado deforma muito grave Conforme sabem, denominamos sadismo aquela situagio em por desfusdes dessa espécie, Essas concepgdes, porém, ainda que 0 sujeito, para obter satisfagao sexual, depende da con- , sio demasiado novas; ninguém ainda tentou’aplicé-tas, em digo de 0 seu objeto sofrer dor, maus tratos c humilhagdes; nosso. trabalho.* © masoquismo, a situagio em que o sujeito sente necessidade Retornemos a0 problema especial que 0 masoquismo nos de ser ele mesmo 0 objeto maltratado, Conforme todos sabem, apresentou. Se,..Por,-Um.-momento, -colocamos -de--lado-seus uma determinada mistura dessas duas tendéncias esta incluida compontentes” eréticos, ele-nos-dé~a=certeza'daexistenciar de nas relagées sexuais normais, e falamos em perversGes quando uma. tendéncia. que: tem.comoobjetivo:-a” autodestruigio. Se, estas deslocam para o plano secundério os fim sexuais e os também no que diz respeito ao instinto de destruigio © a substituem por seus proprios fins.t E dificilmente os senhores libido, corresponde a verdade que o ego — porém aqui quere- terdo deixado de perceber que 0 sadismo esté mais intimamente mos mos referit preferentemente a0 id, A pessoa total? — relacionado 4 masculinidade, e 0 masoquismo, a feminilidade, riginalmente inclui todos os impulsos instintuais, somiosiileva~ como se houvesse a presenga de um parentesco secreto; todavia, / dos a pensar que © masoquismo é mais antigo do que o* evo acrescentar que no temos feito progresso nessa érca, | siidismo-e-que'este; 0 sadismo, € o instinto: destrutivo dirigide ‘Ambos 0s fendmenos, tanto o sadismo como o masoquismo, ( ara fora, adquirindo assim a caracteristica de. agressividade. Sontudo muito especialmente © masoquismo, apresentam um \ Uma determinada quantidade do instinto destrutivo original problema verdadeiramente enigmético para a tcoria da libido, pode ainda permanecer no seu interior. Parece que apenas © qual sera equacionado apenas se 0 que constituiu uma oy! podemos percebé-lo sob duas condigses:t-se™ esta combinadg Infelizmente, 0 que a Histéria nos conta 'e 0 que nds ‘no-caminho-de uma teoria, puder tornarse a pedra angular com ThilintOs €rSticos no masoduisma, ou Se — com um acrés- da teoria que a substitui, “eimo érdtico maior ou menor — esti dirigido contra o mundo nossa opinifo, portanto, que no sadismo e no maso- externo, sob forma de agressividade. Ey com isso, acode-nos quismo temos diante de nés dois excelentes exemplos de uma so petnmeng’ x importinci dx: possbiiade de que a apes yi, mistura das duas classes de instinto, de Eros e de agressi- sividade pode nao’ conseguir encontrar satisfacio no mundo % vidade; © formulamos a hipdtese de que essa relagio € uma exten Porque se defronta com obstéculos reais. Se visto acontece, talvez ela se retraia e aumente a quantidade de 1 [Para esse t6pico, ver Conferéncias Introduisrias, XX e XXI, est “ sete edo Standard rapa, Wolo SVL pics HS AS 7 (Quanto a essa questfo, ver Capitulo TV de O Ego ¢ o Id (1923b),] Eaitora, 1976.) 8 [C6 nota de rodapé 3, pig. 128.) / “A i, 130 “A, Gas iba bedode 131 Aa utodestrutividade reinante no interior, Veremos como € que de fato isto ocorre, e como € importante esse processo. "Al agressividade tolhida parece implicar um grave dano, Real Mente, parece necessério que destruamos alguma outra coi jou pessoa, a fim de ndo nos destruirmos a nés mesmos, a fim de nos protegermos contra a impulsio de autodestruigo, Real- mente, uma triste descoberta para o moralistal © moralista, contudo, se consolaré, por muito tempo, pensando na improbabilidade de nossas especulacées, Realmen- te, estranho instinto 6 este, que se volta para a destruicio de sua propria morada orginica essenciall £ verdade que os oetas falam dessas coisas; mas os poetas so pessoas irres- ponsiveis e gozam do privilégio da licenca poética. Alids, essas idéias ndo sGo estranhas nem a fisiologia; atentem para a -idéia,. por exemplo, da membrana mucosa do estOmago dige- “Findo.a.sipripria, Deve-se admitir, contudo, que nosso instinto “fo” se-pode-arriscar-comtima ipotese de t85 Targo aleance, wutodestruftivo exifa--apoio numa base mais ampla, Afinal, é simplesmenté-porque uns pobres Toucor-uniranr-sur-eastacto ~sexilal a condigdes~peculiarés. Acrédito. que um estudo 1 “profundo dos~instintos-1ios proporcionaré aquilo de que neces- sitamos. (Nio.S oderemos julgar, senfo mais tarde, se se trata de uma caracteristica geral dos instintos.) O fato € que eles revelam _itaa,propensio a restaurar una Gago anietor. Podemas ) suport que, desde O-momento-em-que unin situacas, tendo sido ( uma vez alcancada, é desfeita, surge um instinto para crié-la ( novamente e ocasiona fendmenos que podemos descrever como? —uuma_‘compulsio a repeticio’. Assim, toda a embriologia 6 um exemplo da compulsfo a repeticfo. Uma capacidade de rege- necar Srgios perdidos estende-se amplamente a0 reino animal, 0 instinto de recuperacio, a0 qual, 20 lado da ajuda terapéu- tica, devemos nossas curas, deve ser o remanescente dessa capacidade tio extraordinariamente ) nio-corrigidas, em prejuizo delas proprias, assim como. hi / ‘outa’ pessoas que parecem perseguidas por um destino implax ( ‘cdvel, emborn uma investigao mais atenta nos mostre que tais / ‘pessoas, sem se aperceberem, causam a si mesmas esse destino: Em tais casos, atribuimos um carter ‘demonfaco’ & compulsto a repetiglo, ‘Como essa caracteristica conservadora dos instintos pode, contudo, auxiliar-nos a entender nossa autodestrutividade? Gilt? situagio anterior. um. instinto, desses. quer restaurar? Bema resposta, nfo & tho dificil encontré-la, e ela abre ampias:pers+ ectivas” Se é verdade que — em alguma época incomensura- velmente remota e numa forma que nfo podemos imaginar — a vida se originou da matéria inorginica, entio, de acordo com nossa suposigio, deve ter surgido um instinto que pro- curou climinar a vida novamente e restabelecer o estado inorginico. Se reconhecemos nesse instinto a autodestrut dade de nossa hipdtese, podemos considerar a autodestrutivi- dade expressio de um ‘instinto de morte’ que nfo pode deixar de estar presente em todo processo vital, Ora, os instintos, 7 nos quais acreditamos, dividem-se em dois grupos — os ( instintos eréticos, que buscam combinar cada vez mais subs- ) tincia viva em unidades cada vez maiores, ¢ os instintos de | morte, que se opdem a essa tendéncia e levam o que esti) 1 (Cinstinkr, no original; “Zriebe’, duas linbss adiante.) 133 Mable Ae pescu & We pik L price 4. Objet vivo de volta ‘a’um estado inorginico, Da agio concorrente e Antagbnica destes dois procedem 0s fendmenos da, vida. que chegam ao seu fim com a morte, Talvez o$ senhores venham a sacudir os ombros e dizer: ‘Isto néo € ciéncia natural, é filosofia de Schopenhauer!’ Mas, seahoras ¢ senhores, por que um pensador ousado no poderia ter entrevisto algo que depois se confirma por intermédio de uma pesquisa séria e laboriosa? Ademais, no hé nada que 4 no tenha sido dito, ¢ coisas parecidas tinham sido ditas por muitas pessoas, antes de Schopenhauer. E mais, 0 que | estamos dizendo no ¢ nem mesmo Schopenhauer autémticc > auténtico. ‘Néo estamos afirmando que a morte € 0 iinico objetivo d vida; ndo estamos desprezando o fato de que existe vida, assim Gomo existe motte, Reconhecemos dois instintos bésicos, ¢ atribufmos a cada um deles a sua prépria finalidade. Como os dois se mesclam no processo de viver, como 0 instinto de morte 6 posto a servigo dos propésitos de Eros, especialmente sendo voltado para fora na forma de agressividade — estas sio tarefas reservadas 2 investigacio futura, Nao fomos além do Ponto em que essa perspectiva est aberta para nés, Também {a questo de saber se 0 cardter conservador nao poderia per- tencer a todos os instintos, sem exceeo; se também os instintos ceréticos no poderiam estar buscando reconstituir uma situagio prévia, ao se empenharem por efetuar uma sintese de coisas vivas em unidades sempre maiores — também essas questoes/ devemos deixar sein resposta.* Desviamo-nos bastante de nossa base. Relatarthes-ci, num retrospecto, 0 ponto de partida dessas reflexdes sobre a teoria dos instinios. Foi o mesmo que nos levou a rever a relagao entre 0 ego eo inconsciente — a impressfo, decorrente do trabalho analitco, de que 0 paciente, que opée uma resisténcia, muitas vezes no se apercebe dessa resisténcia. Todavia, nio Sin GASES ih © cia poe eh SS ee Ceara eres a a Cas cee era soars ws acs ar © Wea St cue 134 4 dpb s6 0 fato da resistincia the € inconsciente, como também 0 slo 08 seus motivos. Fomos obrigados a investigar os motives, fou 0 motivo, ¢, para nossa surpresa, encontramo-los numa pro- funda necessidade de punigéo, que s6 podiamos classificar como: desejo masoquista) A importancia pritica déssa descoberia_ no ‘menor do gue sta imporlincia tebrica, de vee que a necessi Galen punithe €o pir inilgo de nosio wabalho terapbutco: Ela obtém satisfagio n0 sofrimento que ests vinculado &— neurose, ¢ por essa razio aferra-se a condigdo de estar doente Parece que esse fato, uma necessidade inconsciente de punislo, faz parte de toda doenga neurética. E aqui sio inteiramente convincentes aqueles casos nos quais o sofrimento neurético pode ser substituido por sofrimento de outra espécie. Referiret uuma experigncia desse tipo. Certa vez, consegui livar uma senhora, ainda soltera, jé io tio jovem, do complexo de sintomas que a tinham conde- ado, por uns quinze anos, a uma existéncia de tormento, hhavende-a excluido de qualquer participacio na vida. Sentindo, entio, que estaya bem, langou-se a uma intensa atividade, « fim de desenvolver seu talento, que nao era pequeno, © de obter um pouco de reconhecimento, prezer ¢ éxito, embora 0 momento fosse um pouco tardio, Cada um dos seus intentos, porém, terminava quando as pessoas a faziam reconhecer, ou fla propria reconhecia, que jé possuia demasiada idade para realizar alguma coisa naquela Area. Depois de cada desfecho essa espécie, uma recaiéa na doenga teria sido a coi tvidente; porém, ela nfo conseguia mais efetuar esse fato B, no jugar disso, em cada oportunidade, ela se envolvia num acidente, que a colocava fora de a¢do, por um tempo, © The causava sofrimento, Caia e softia enforse do tornozelo, ou contiidia © joelho, ou feria a mao em alguma coisa que estava fazendo. Quando tomou consciéncia de quio grande podia ser sua participagdo nesses aparentes acidentes, ela, por assim dizer: mydou de técnice, Em vez de acidentes, surgiram indis- posigdes com as mesmas causas — restriados, amigdalites, fstados gripais, afecgies reuméticas —, até que, por fim, resolveu Fentinciar as suas tentativas, e toda 2 agitagfo findou. Pensamos néo existir dividas quanto a origem dessa necessidade inconsciente de punigao, Comporta-se como uma 135 parcela de consciéncia, como um prolongamento de nossa cons- ciéncia para dentro do inconsciente; ¢ deve ter a mesma origem que a consciéncia e corresponde, pois, a uma parcela de agres- sividade que foi internalizada ¢ assumida pelo superego. Aqui nos bastatia ordenar adequadamente as palavras para que se justificasse, para todos os fins préticos, chamé-la de ‘sentimento inconsciente de culpa’. Teoficamente;:com-efeito,-temos:diivides qiantovase devemos'sbpor que 1oda a agresividadequeretor ‘now do ‘Hithdevextemoé ligada. pelonsuperegoscy=por conse- Buinte, voltada. contra o ego; ou se devemos: supor que mma ‘parte da mesma est exercendo sua atividade muda e sinistra, sob-forma ‘de instinto destrativo. livre, no ego e no id: Uma distribuigfo segundo a dltima forma citada ¢ # mais provivel; porém, nfo sabemos nada mais a esse respeito, Sem davida, ‘quando o superego foi instituido pela primeira vez, paca equipar essa instincia, fez-se uso da parcela de agressividade infantil ditigida contra os pais, pelo que Ihe foi imposs(vel efetuar uma descarga para fora, devido a sua fixacdo erttica, bem como em virtude de dificuldades externas; jeporyesse’ motivo, a severi- dade do superego no corresponde necessariamente & rigidez da criaglo da crianga-{ver pig. 81, acima]. E bem possivel que, quando hé, subseqiientemente, ocasiéo para suprimir a agressividade, 0 instinto possa tomar o mesmo caminho que Ihe esteve aberto naquele momento decisivo, ‘As pessoas, nas quais esse sentimento inconsciente de culpa € excessivamente forte, manifestam-se no tratamento analitico pela reagio teraptutica negativa, que € tio desagr davel do ponto de vista prognéstico. Quando se Ihes propor- cigna a solugio de um sintoma, que pelo menos deveria acom- panhar-se do desaparccimento deste, o que essas pessoas apresentam 6, ao invés, uma exacerbagdo do sintoma ¢ da doenge. Muitas vezes, basta elogiar tais pacientes por sua conduta no tratamento, ou dizer-lhes umas palavras de espe- Tanga a respeito do progresso da andlise, para causar uma 3 [Ver uma extensa nota de rodapé no Capitulo V de O Ego ¢ o Id (19230), Bdigdo Standard Brasileira, Vol. XIX, pigs. 667, IMAGO Ealiora,'1976.] 136 inequivoca piora de sua condigo, Um néo-analista diria que a ‘vontade de se recuperar’ estava ausente. Se seguirem a maneira analitica de pensar, verdo nesse comportamento uma mani- festacio do sentimento inconsciente de culpa, para o qual estar doente, com seus sofrimentos ¢ limitagSes, é exatamente (© que se deseja. Os problemas que o sentimento inconsciente de culpa desvendou, suas conexdes. com. a moralidade,. a ‘educagéo, o citime ¢ a delinqiiéncia so, atualmente, o campo de trabalho preferido pelos psicanalistas.: E aqui, num ponto inesperado, emergimos do subterrtneo psfquico para a plens Juz do dia, No posso levi-los mais longe, mas, antes de despedir-me dos senhores, por hoje, devo reté-los com mais ‘uma seqiiéncia de idéias, Tornou-se hébito nosso dizer que nossa civilizago foi construida & custa das tendéncias sexuais que, sendo inibidas pela sociedade, sio, com efeito, em parte repri- ‘em parte, tomaram-se utilizéveis em outros fins. Também temos admitido que, a despeito de todo 0 nosso orgulho por nossas conquistas culturais, nfo nos 6 fécil satis- fazer os requisitos dessa civilizaco e sentir-nos & vontade nela, Porque a9 restrigSes instintuais impostas a nés constituem uma pesada carga psiquica. Pois bem, o que vimos acerca dos instintos sexuais aplica-se igualmente, ¢ talvez ainda mais, a outros instintos, os instintos agressivos, Slo estes, acima de tudo, que tornam dificil a vida do homem em comunidade fe ameacam sua sobrevivencia, A restrigfo & agressividade do individuo € o primeiro e talvez o mais severo sacrificio que dele exige a sociedade. Temos verificado de que maneira simplista se conseguiu domar essa coisa indomével, A instituigho do superego, que toma conta dos impulsos agressivos perigosos, introduz um destacamento armado, por assim dizer, nas regides inclinadas A rebeliic. Mas, por outro Iado, se x encaramos exclusivamente do ponto de vista psicolégico, devemos reco- nhecer,que 0 ego nfo se sente feliz ao ser assim sacrificado as 7 TAs principals discussdes sobre o sentimento de culpa serio encon- ttadas no Capitulo V de O Ego ¢ 0 Jd (19236), em ‘O Problema Eco. dmico do Masoquismo’ (1924e) ¢ nos Capitulos VII e VIII de O Me Estar na Civilizapdo (1930a),} 137 necessidades da sociedade, ao ter que se submeter as tendéncias destrutivas da agressividade, que ele teria tido a satisfagio de empregar contra os outros. E como que um prolongamento, na esfera mental, do dilema ‘comet ou ser comido’ que domina © mundo orginico animado, Felizmente, os instintos agressivos nunca estio sozinhos, mas sempre amalgamados aos eréticos. Estes, 05 instintos eréticos, tém muita coisa a atenuar e muita coisa a obviar sob as condigdes da civilizacdo que a human dade criou. ds on, ein © detroit, do misuse expostos por Freud, um pouco antey em 0” MalEstr nu Chicago (iBi0e), especialmente not Capos V e Vi, ea histor de sus Ponts Sew sobre o sno ei dined na Totus do Eo Ings 4 ewe" abatho, Ean Standard” Bras, Vol" XX), plese 7 IMAGO Editors, 1974.) Wee 138 CONFERENCIA XXXII FEMINILIDADE* SenHoRAS F SENHORES: Durante todo esse tempo em que me estou preparando para falarcthes, luto com uma dificuldade interna, Nao tenho erteza, por assim dizer, da extensio daquilo que me € permi- tido. F verdade que, no decurso de quinze anos de trabalho, a psicandlise modificou-se ¢ se tornou mais rica; apesar disso, ‘uma introdugo & psicanélise poderia ter ficado sem alteragio ‘ou suplemento, Esté constantemente em meu pensamento que estas conferéncias nfo tém uma raison ’étre. Para analistas estou dizendo muito pouca coisa ¢ nfo estou absolutamente dizendo algo novo; mas, para os senhores, estou dizendo mui- tissimo, dizendo coisas que os senhores no esto preparados para entender, coisas que ndo estio no seu campo de atividade. Procurei desculpas ¢ tentei justificar eada conferéncia, isoladamente, com base em motivos diferentes. A. primeira, sobre a teoria dos sonhos, assim se supds, reconduziu-os, novamente ¢ sem delongas, & atmosfera analitica ¢ mostrou-Ihes como nossos pontos de vista se revelaram duriveis. Passei, depois, & segunda conferéncia, que abrangeu desde os sonhos até o chamado ocultismo, aproveitando a oportunidade de, sem restrigées, dizer que penso acerca de uma rea de trabalho, na qual, atualmente, expectativas preconceituosas Tutam contra resisténcias acirradas, ¢ eu —podia esperar que o discer- nimento dos senhores, instruidos para serem tolerantes, tendo (Fssa conferéacia baseia-se principalmente em dois artigos anterio res: ‘Algumas, Conseqiéncias Psiguicas da Distingio AnatOmica entre 0s Senos! (1925)) © “Sesualidade Feminina’ (19315). A’ dltima parte, fontado, que trata da mulher na vida adulta, contém material novo. Freud tetornou a esse assunto, novamente, no Capitulo VI da obra péstuma Esbogo de Puicandlise (1940a [(1938]).1 139

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