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Pérgola.

Assim como o vinho chama Pérgola e me desce como doce rio


e açúcar tinto, pinto-me de rosa as bochechas quando troco
lábios com você. E assim como sou uma intrusa introvertida das
multidões do seu coração, tento gritar para que me ouça mesmo
que meu grito seja mais um sussurro, uma pena nos ouvidos.
O mar quase me afoga, em segundos, me lança na areia. Fui
com tudo na inocência de querer me molhar. Me molhar inteira e
sem deixar um rastro seco de pele. Pessoas cuidadosas como
você, ficam no raso. Onde a pedra toca a água e é visível.
Onde se vê o que há embaixo de você.
O açúcar tinto é desconhecido ao meu paladar, sempre
soube que tu carregastes encanto nas íris, porém não me
ocorrera até este momento que me enxergaria vítima. Tenho
sede, quero descobrir se o açúcar lhe desce formigando como a
mim. Deixe-me beber de tua fonte e saciar do que matou o gato,
a curiosidade da língua tua instiga (tantos outros lábios) os
astros lá de cima, também desceriam para tentar um gole teu.
Terias piedade de mim caso eu viesse a ser incômodo? Ai!
Meu coração cadáver, é nele que penso, Pérgola. Se meu canto
que chega a ti é tormento e descarado, a isto não me comove.
Se o pranto é gasto a ti, pouco me importa, a infelicidade foi
tua ao envenenar-me com a palavra. Com tanta ternura me fiz
vulgar, frágil e vulnerável, ai de meu coração, que mal
sustenta a ti. Ai de mim… amante cadáver… para te amar com o
afinco d’alma somente se infinita fosse. Como a maré,
persistente, que recusa a despedida ao solo, faça-nos um
perpétuo beijo arenoso.
Me viva assim, Pérgola, sempre nos lábios teus. E eu,
morrerei adocicada e terna. Corpo amante, tinto e branco. Me
torno alvorada de sua noite febril. Ah, Pérgola, és minha
sina.

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