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ARTIGO

As transformações da atuação do Estado


e as políticas sociais contemporâneas

Transformations of State actions and policies of contemporary social

Wagner Barbosa MATIAS 1


Fernando MASCARENHAS2

Resumo: Este estudo discute as características e a passagem do Estado de Bem Estar Social para o
Estado Schumpeteriano, com a reestruturação do capitalismo em meados da década de 1970. Desde
então, o Estado diminuiu sua atuação no atendimento das necessidades humanas e amplia seu papel
na organização e sustentação da acumulação capitalista. Nesse sentido, o fundo público é canalizado
para o atendimento das necessidades do capital e as políticas sociais assumem um caráter de amorte-
cedor das tensões sociais, promovendo a coesão social e, por outro lado, atuam como moeda, que
impulsiona o crescimento econômico e os lucros dos membros da burguesia.
Palavras Chave: Welfare State. Estado Schumpeteriano. Políticas Sociais.

Abstract:This study discusses the characteristics and the passage of the Welfare State to Social State
Schumpeterian, with the restructuring of capitalism in the mid-1970s. Since then, the state reduced its
role in human needs and expands its role in the organization and support of capitalist accumulation.
In this sense, the public fund is channeled to meet the needs of capital and social policies assume a
character buffer of social tensions, promoting social cohesion and on the other hand, act as currency,
which boosts economic growth and profits members of the bourgeoisie.
Keywords: Welfare State. State Schumpeteria. Social Policies.

Submetido em: 10/2/2013. Aceito em: 27/3/2013.

1 Mestre em Educação Física pela Universidade de Brasília (UnB), servidor do Ministério do Esporte
(ME) e da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Brasil. Bolsista do CNPq – Brasil. E-mail:
<wagner.matias@outlook.com>.
2 Doutor em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), docente da Facul-

dade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB), Brasil. Bolsista do CNPq, Brasil.
E-mail: <fernando.masca@uol.com.br>.
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As transformações da atuação do Estado e as políticas sociais contemporâneas

Introdução

P
ara compreendermos a atuação O Welfare State e as políticas de
do Estado na contemporaneida- antivalor
de, é preciso identificar as trans-
formações sociais produzidas pelas Nas primeiras décadas do século XX,
lutas de classe e frações de classe ao percebemos uma intensificação dos
longo do desenvolvimento da socieda- conflitos entre as classes sociais e, co-
de regida pelo capital. mo consequência, a conquista de direi-
tos políticos e sociais pela classe traba-
Neste estudo nos propomos, à luz da lhadora. Na época borbulhavam na
teoria marxista, apresentar as caracte- Europa levantes dos trabalhadores e o
rísticas que o Estado adquiriu com a espectro comunista rondava o mundo
reestruturação do capitalismo ocorrida capitalista. Além disso, ocorrem o crack
a partir de meados de 1970, bem como ou crise de 19293 e a queda nos níveis
seus impactos para as políticas sociais. de acumulação de capital.
Inicialmente, por meio da revisão da
literatura, abordamos o Welfare State e Como resultado, após a segunda guer-
as políticas de antivalor; na sequência, a ra mundial a burguesia altera o modo
passagem do ‚Estado Social‛ para o de regulação social. Nesse sentido,
‚Estado antissocial‛ e, por fim, a confi- surge o Welfare State, ‚aquele modelo
guração das atuais políticas sociais. estatal de intervenção na economia de
mercado que, ao contrário do modelo
Nesse percurso não abrimos mão das liberal que o antecedeu, fortaleceu e
categorias contradição, totalidade e expandiu o setor público e implantou e
mediação, pois essas nos possibilitam geriu sistemas de proteção social‛
compreender as relações sociais cons- (PEREIRA, 2011a, p. 23).
truídas para além da aparência do ob-
jeto estudado. Assim, não partimos Observa-se que pela primeira vez os
daquilo ‚que os homens dizem, imagi- membros da burguesia passaram a
nam ou se representam, e também dos pagar impostos, especialmente com o
anos narrados, pensados, imaginados, mecanismo de progressividade sobre a
representados, para daí se chegar aos renda e as posses; os trabalhadores e os
homens de carne e osso; parte-se dos pobres em situação de pauperização se
homens realmente ativos, e com base beneficiaram com serviços públicos e
no seu processo real de vida *...+‛
(MARX; ENGELS, 2009, p. 31).
3 A crise de 1929 que se arrastou até o fim da
segunda guerra mundial em diversos países é
marcada pela superprodução, retração do
consumo, aumento do desemprego, das taxas
de juros, queda das ações da bolsa de valores
etc.
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com os programas de transferência de para corrigir as distorções do mercado.


renda. Como exemplos, temos Alemanha,
Inglaterra e França; 3) O distributivo,
Salvador (2010) sintetiza esse processo universalizador, característico dos paí-
da seguinte forma: ses nórdicos.

Em resumo, consolidou-se uma nova es- Esping-Andersen (apud FIORI, 1991)


trutura secundária (fundo público) de classifica os regimes de bem estar em
redistribuição da renda, que veio a se
três tipos: 1) Liberal, somente para os
sobrepor à já existente estrutura distri-
butiva primária constituída pela própria pobres, com poucos elementos de uni-
dinâmica capitalista. Enquanto os ricos versalização, como o caso dos EUA,
passaram a ser tributados considera- Austrália e Canadá; 2) Conservador ou
velmente (impostos sobre renda, patri- corporativista, que mantém as diferen-
mônio e herança), foi possível formar
ças de status, com a baixa redistribui-
fundos públicos capazes de financiar a
transferência de renda para a população ção, com os direitos ligados à classe e
de menor rendimento, permitindo redu- ao status, como os modelos da França,
zir a pobreza, o desemprego e a desi- Alemanha, Itália e Áustria; 3) Social-
gualdade social no centro do capitalismo democrata, que possui como caracterís-
mundial (SALVADOR, 2010, p. 616).
tica o universalismo e a desmercantili-
zação. É o caso dos países escandina-
Portanto, o Welfare State acoplado às
vos.
políticas keynesianas/fordistas não se
resumiu em disponibilizar serviços
Se não tivemos apenas um Welfare State
públicos e garantir renda aos pobres,
no mundo, não resta dúvida de que foi
‚mas tratou principalmente de retirar
durante sua vigência - após a segunda
das forças do mercado o monopólio da
guerra mundial até meados da década
expansão econômica e da gestão sobre
de 1970- a primeira vez em que o fun-
a força de trabalho‛ (SALVADOR,
do público esteve tão ‚*...+ abrangente,
2010, p. 616).
estável e marcado por regras assenti-
das pelos principais grupos sociais e
Mas esse modelo se diferenciou con-
políticos‛ (OLIVEIRA, 1998, p. 21), na
forme o contexto cultural, econômico e
reprodução da força de trabalho e na
sócio- histórico da luta de classes dos
acumulação de capital.
países. A mais antiga classificação é a
de Titmus (apud FIORI, 1991), nos
Com efeito, as políticas sociais, antes
anos 1960. Para ele, tivemos três tipos
restritas a grupos fora do mercado de
de estados de bem estar: 1) Intervenção
trabalho ou ‚inv{lidos‛, foram univer-
residual, temporária nos grupos inca-
salizadas em diversos países, especi-
pazes de trabalhar para adquirir a sub-
almente, naqueles do norte da Europa
sistência, como é o caso do modelo
que tinham governos social-demo-
norte americano; 2) O meritocrático-
particularista, quando o Estado atua
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cratas ou de partidos alinhados aos des humanas básicas e intermediarias5


princípios do socialismo. como um direito, sem a obrigação de
ofertar contrapartidas. Os trabalhado-
As políticas sociais do Welfare State, na res recebiam, na forma de serviços pú-
vertente mais progressista, foram pau- blicos, parte da mais-valia extraída
tadas pelo princípio da desmercadoriza- pelos capitalistas no processo de pro-
ção, que consiste na ‚possibilidade de a dução.
política social permitir aos cidadãos o
atendimento de suas necessidades por Todavia, as políticas sociais devem ser
uma questão de direito social, e não de compreendidas como um complexo
mérito individual, vinculado ao traba- contraditório, resultado da luta e tam-
lho‛ (PEREIRA, 2009, p.191). bém da concessão. Paiva e Ouriques
(2006) apresentam uma síntese da rela-
Os gastos sociais do Estado com os ção entre classes sociais e políticas so-
serviços de saúde, educação, previdên- ciais:
cia, esporte etc., traduziram o reconhe-
cimento a direitos, considerados como Cabe pensar as políticas sociais para
um antivalor, uma antimercaroria social além do horizonte da mera estratégia de
acomodação de conflitos ou caridade so-
‚[...] pois sua finalidade não era a de
cial. O que requer referenciá-las no pro-
gerar lucros, nem mediante sua ação cesso de disputa política pelo excedente
dá-se a extração da mais valia‛ (OLI- econômico real pelas massas historica-
VEIRA, 1998, p. 29). Ou seja, as políti- mente expropriadas, de maneira que as
cas sociais, que concretizam direitos de políticas sociais não possibilitem somen-
te reduzir as manifestações agudas da
cidadania em si não geravam valor,
pobreza, através da ampliação dos ser-
pois se caracterizavam como um salá- viços sociais básicos e do seu acesso
rio indireto que atendia (parcialmente) (PAIVA; OURIQUES, 2006, p.171).
às necessidades humanas e não origi-
nava acúmulo. Assim, mesmo nos momentos de crise,
de pressão dos trabalhadores, a con-
As políticas de antivalor na sua forma quista destes pode representar uma
original garantiam à classe que vive do concessão da burguesia que altera mi-
trabalho4 o atendimento as necessida- nimamente seu poder de acumulação.
Ocorre que o apoio à implementação
4 A expressão classe-que-vive-do-trabalho, cu-
de ações assistenciais e protecionistas
nhada por Antunes (1999), procura dar valida- nem sempre fica confinado aos despro-
de contemporânea à noção de classe trabalha- tegidos, ‚[...] os patrões têm por vezes
dora, englobando todos aqueles que vendem concordado em que medidas sociais
sua força de trabalho. Incorpora desde o prole-
podem contribuir para a eficiência e
tariado industrial, os trabalhadores rurais, os
assalariados sem carteira, os trabalhadores por
conta própria, os prestadores de serviços etc., lação e dos juros, os pequenos empresários e a
até os desempregados, excluindo-se os gesto- pequena burguesia proprietária.
res e altos funcionários de grandes empresas, 5 Para o debate sobre necessidades humanas

os detentores de capital que vivem da especu- ver Pereira (2011b).


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para o controle social‛ (BARBALET, que produziu uma massa salarial que
1989, p. 97). impulsionava a produção e o consumo
Se o sistema de proteção social do Wel- de bens em grande volume; segundo, a
fare State garantia, na sua fase mais subordinação das finanças às necessi-
progressista, o atendimento das neces- dades da indústria e à manutenção das
sidades humanas, apesar da coexistên- taxas de câmbio fixo; terceiro, a pre-
cia de pauperização relativa e bolsões sença de instituições fortes nos Estados
de pobreza, especialmente, na periferia para disciplinar os movimentos do
do capitalismo, do lado do capital capital privado, tanto para suprir as
também não faltavam benesses (OLI- deficiências setoriais de investimentos
VEIRA, 1998). como para fortalecer a demanda
(CHESNAIS, 1996).
Em nenhum momento o Estado deixou
de exercer seu papel de classe, além Entretanto, em meados da década de
disso, a exploração do trabalhador con- 1970, o capital rompe as amarras e
tinuava a existir por meio da extração combate duramente o fordismo e os
de mais-valia relativa ou da mais-valia princípios econômico-sociais Keynesi-
absoluta. Na verdade, isso somente anos que sustentavam o Welfare State.
deixará de existir quando o capital for Desde então, assistimos à intensifica-
superado em todas as relações que são ção da exploração do capital sobre o
estabelecidas a partir dele. trabalho.

Em suma, o Welfare State atacava os De acordo com Behring (2007), a onda


sintomas da acumulação de capital e longa de depressão ou de estagnação
em nenhum momento esse ataque foi iniciada nos anos 1970, que continua
nas causas, ou seja, não questionou a até hoje, resultou da convergência de:
organização e a divisão social do traba-
lho. Porém, apesar das contradições [Crises] clássicas de superprodução, li-
existentes, o período em que ele vigo- mitadas pela expansão do crédito, que
vem perdendo eficácia, em cada peque-
rou foi o mais próspero para os traba-
no ciclo; contenção brusca dos rendi-
lhadores. mentos tecnológicos (poucas e marginais
invenções novas); crise do sistema impe-
A reestruturação do capitalismo e o rialista (mesmo da dominação indireta
“Estado Antissocial” dos países coloniais e semi- industriali-
zados) crise social e política nos países
O padrão de financiamento do Welfare imperialistas, com ascensão das lutas
State e o regime de produção fordista operárias, em função das políticas de
garantiram por pelo menos vinte e cin- austeridade; e, por fim, crise de credibi-
co anos de estabilidade e expansão da lidade do capitalismo, enquanto sistema
acumulação capitalista. Isso somente que possa garantir o nível de vida, o
pleno emprego e as liberdades democrá-
foi possível por causa de três fatores:
ticas (BEHRING, 2007, p. 159).
primeiro, a política de pleno emprego

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Além disso, poderíamos citar as duas blico financiando políticas sociais. Elas
crises mundiais do petróleo, o rompi- podem acontecer desde que atendam
mento do acordo de Bretton Woods6 e as necessidades de reprodução do ca-
a intensificação da internacionalização pital.
das empresas. A conjunção destes ele-
mentos dilacerou o ‚Estado social‛. É claro, portanto, que o objetivo real do
capital monopolista não é a ‘diminuição’
do Estado, mas a diminuição das fun-
É importante ressaltar que as críticas
ções estatais coesivas, precisamente aque-
de liberais ou neoliberais ao Welfare las que respondem à satisfação de direi-
State, ao seu possível papel ‚interven- tos sociais. Na verdade, ao proclamar a
cionista‛, ao seu tamanho e aos valores necessidade de um ‘Estado mínimo’, o
gastos com políticas sociais existiam que pretendem os monopólios e seus
representantes nada mais é do que um
desde o seu surgimento. Para intelec- Estado mínimo para o trabalho e má-
tuais como Hayek7 o modo de regula- ximo para o capital (NETTO; BRAZ,
ção e produção existente levava os in- 2009, p. 227, grifo do autor).
divíduos à servidão e à paralisia do
desenvolvimento da sociedade. As medidas para setores como inova-
ção tecnológica, formação de mão de
Na verdade, eles tentam ‚[...] destruir obra flexível e barata e políticas focali-
a relação do fundo público com a es- zadas de coesão social sempre foram
trutura de salários, com a correção das amplamente incentivadas pelo bloco
desigualdades e dos bolsões de pobre- no poder.
za‛ (OLIVEIRA, 1998, p. 46), deixando
a população de baixa renda relegada à Porém, o novo regime que se instala a
caridade pública ou a uma ação estatal partir de 1970 altera completamente a
evasiva e eventual. sociabilidade humana, a organização
política, econômica, cultural; a forma
O combate ao Welfare State não signifi- de lidar com a natureza, com a cons-
ca que seja uma luta de frações da bur- trução de conhecimento e o modo de
guesia contra a presença do fundo pú- atender as necessidades humanas e do
capital. Esse novo projeto da burgue-
6 O acordo de Bretton Woods definiu regras e a sia, mascarado ‚por muita retórica
criação de instituições e procedimentos para
sobre liberdade individual, autonomia,
regular a política econômica internacional.
Cada país devia adotar uma política monetária
responsabilidade pessoal e as virtudes
que mantivesse a taxa de câmbio de suas moe- da privatização, livre-mercado e livre-
das dentro de um determinado valor indexado comércio, legitimou políticas draconi-
ao dólar que, por sua vez, estaria ligado ao anas destinadas a restaurar e consoli-
ouro. Ao Fundo Monentário Internacional
dar o poder da classe capitalista‛
(FMI) coube emprestar recursos para os países
suportarem as crises. Em 1971, os EUA cance-
(HARVEY, 2011, p. 16).
laram a conversibilidade direta do dólar em
ouro. O capitalismo contemporâneo privile-
7 F. Hayek foi um dos principais pensadores
gia o atendimento das necessidades do
liberais do século XX.
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capital. Para tanto, assenta-se na livre No que tange ao mundo do trabalho,


concorrência; na privatização; na livre estabelece-se o ‚pós-fordismo‛, um
circulação de capital; na flexibilidade e regime flexível da produção, desterri-
desterritorialização da produção, na torializado, com produção direcionada
inovação tecnológica, na formação de pela necessidade criada, com lucro
um estilo de vida consumista, hedonis- obtido por meio de incentivos fiscais
ta e imediatista, na destituição de direi- do Estado ou por meio de forte inves-
tos sociais de cidadania e no uso do timento em tecnologia e com mão de
fundo público como mecanismo de obra polivalente e qualificada em com-
geração de valor e coesão social. binação com os não qualificados, espo-
liados ao máximo.
Chenais (1996) descreve da seguinte
forma o regime atual: Para reduzir os custos da produção
ainda mais, as empresas buscam as
O modo de produção dominante mostra regiões do mundo que possuem legis-
à luz do dia, de forma cotidiana, sua in-
lação trabalhista flexível, com impostos
capacidade de gerir a existência do tra-
balho assalariado como forma predomi- reduzidos e que ofereçam incentivos
nante de inserção social e de acesso à fiscais. Desse modo, cresce a desprote-
renda. Depois de ter destruído o campe- ção social, aumenta a informalidade e a
sinato e a boa parte dos artesãos urba- migração de trabalhadores.
nos, desertificado regiões inteiras, ape-
lado para o exército industrial de reser-
As populações excedentes não estão
va dos trabalhadores imigrantes, criado
mais ancoradas em um lugar, assim co-
concentrações urbanas desumanas e
mo não está o capital. Elas fluem para
inadministráveis, ele condena milhões
todos os lugares em busca de oportuni-
de assalariados e jovens ao desemprego
dades ou emprego, apesar das barreiras
estrutural, isto é, à marginalização, pas-
à imigração por vezes colocadas pelos
sando facilmente à decadência social.
Estados-nação. A força de trabalho cati-
[...] Em segundo lugar, o sistema, pela
va dos trabalhadores domésticos, gru-
primeira vez em toda a história, confiou
pos de trabalhadores migrantes na cons-
completamente aos mercados o destino
trução e trabalhadores rurais disputam
da moeda e das finanças. Os governos e
com as populações e os indivíduos lo-
as elites que dirigem os principais países
cais, que se deslocam em busca de me-
capitalistas adiantados deixaram que o
lhores chances de vida (HARVEY, 2011,
capital-dinheiro se tornasse incontrolá-
p. 122).
vel, que se ergue em total impunidade
‚diante do crescimento mundial‛. Por
fim, os Estados viram sua capacidade de As empresas inovadoras8 ganham ter-
intervenção reduzida a bem pouco, pela reno no mercado cada vez mais ‚des-
crise fiscal, e os fundamentos de suas trutivo‛ e, para sobreviverem, necessi-
instituições solapados a ponto de torná-
los quase incapazes de impor qualquer
coisa ao capital privado (CHENAIS, 8 De acordo com Schumpeter (1997) são as
1996, p. 301).
inovações que impulsionam o crescimento
econômico, elevando o padrão de competitivi-
dades das empresas e indivíduos.
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tam investir em inovação (comercial, javam gastar cerca de cinco trilhões de


tecnológica e organizacional), além de dólares em pacotes, que incluíam ajuda
dependerem de renúncias fiscais, imó- a empresas privadas, disponibilização
veis, empréstimos de baixo custo dos de crédito para investidores e consu-
governos e infraestrutura. midores, cortes de impostos e investi-
mentos em infraestrutura (O QUE JÁ...,
Assim, a função central do Estado atu- 2008).
al, denominado por Jessop (1998) de
Schumpeteriano9, é financiar políticas O Estado atual não apenas oferece as
que garantam a estabilidade econômi- condições para a competitividade capi-
ca, criando um ambiente favorável aos talista, ‚mas prioriza *...+ estratégias
investimentos e à competitividade que criem, reestruturem ou reforcem
(ARIENTE, 2003). vantagens competitivas de seu territó-
rio, de sua população, de seu ambiente
Conforme Mészáros (2011) o Estado: de suas instituições sociais e de seus
agentes econômicos‛ (PEREIRA, 2009,
[...] permanece com seu papel de classe p. 225).
de ‚garantir a propriedade‛ e pôr o po-
bre estritamente a trabalhar. A diferença
radical é visível no fato de que o Estado Nesse sentido, as cidades concorrem
capitalista precisa agora assumir um entre si para atrair empresas e pessoas
papel intervencionista direto em todos do tipo certo. Para tanto, intensificam a
os planos da vida social, promovendo e oferta de condições fiscais, trabalhistas,
dirigindo ativamente o consumo destru-
logísticas e de segurança (HARVEY,
tivo e a dissipação da riqueza social em
escala monumental. Sem esta interven- 2006).
ção direta no processo sócio- metabólico,
que age não mais apenas em situações A competição interurbana, interregional
de emergência, mas em base contínua, e internacional por parte dos aparatos
torna-se impossível manter em funcio- estatais por investimento de capital tem
namento a extrema perdularidade do um papel importante aqui. O Estado (lo-
sistema capitalista contemporâneo cal, regional ou nacional) se torna res-
(MÉSZÁROS, 2011, p. 700). ponsável por garantir força de trabalho
em quantidades e qualidades adequadas
As benesses ao setor privado são práti- (incluindo formação profissional, trei-
namento e docilidade política) em rela-
cas do Estado Schumpeteriano e, nos ção a demanda de trabalho corporativo.
momentos de crise, essa atuação é mais Embora o aparelho do Estado possa pas-
clara. Em 2008, para conter mais uma sar a seguir a agenda das empresas em
tensão do modo de produção capitalis- da agenda de trabalho, há ainda um
ta, governos de diversas nações plane- grande interesse em localidades que in-
vestem em oportunidades educacionais
de alta qualidade ( universidades e esco-
9 Jessop (1998) considera que da mesma forma las técnicas), pois isso poderá ajudar a
que o Welfare State buscou em Keynes um refe- atrair a indústria de alta tecnologia que
rencial teórico para sustentar as ações adota- irá contribuir mais para a base tributa-
das, o Estado atual está assentado sob os escri- ria da localidade (HARVEY, 2011, p. 60).
tos de Joseh Schumpeter.
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quem dá as cartas é a fração financeira.


Com efeito, os governantes das cidades Ela controla e limita a atuação dos es-
devem ser conhecedores em gestão ou tados nacionais.
empresários com larga experiência e
com resultados positivos no mercado. Da crescente fusão entre indústrias,
O povo pode escolher e referendar, bancos e capital industrial com insti-
mas não tem condições de governar tuições financeiras (bancos, segurado-
(SCHUMPETER, 1984). ras e fundos de pensão) deu origem a
oligarquias financeiras transnacionais que
Os especialistas no comando dos go- determinam a política econômica e
vernos possuem como estratégias: a) social dos países. Os novos oligarcas
parcerias público-privadas10 (PPPs); b) ganham muito dinheiro com as espe-
o empreendedorismo tanto na gestão culações, com os empréstimos do Es-
como na ideologia de formação do su- tado, ou seja, com as tentativas de re-
jeito; c) o ataque ao fundo público para duzir a fórmula geral do capital para
manutenção da financerização da eco- ‘D-D’11. Contudo, encoberta pelo feti-
nomia, para sustentar a competitivida- chismo financeiro, encontra-se a ex-
de das empresas nacionais e atrair in- propriação de mais-valia dos trabalha-
vestimentos estrangeiros; d) a privati- dores, inclusive a futura.
zação das empresas estatais; e) a publi-
cização dos serviços. No estágio atual do modo de produção
capitalista assistimos à radicalização
São essas as medidas adotadas para do capital na sua contínua luta pela
conter as crises e manter elevados os multiplicação do lucro e da acumula-
índices de produção e acumulação de ção. Tudo é levado ao mercado e o Es-
capital, o que nos permite dizer que o tado administra a crise canalizando o
texto constitucional é apenas um jo- fundo público e criando regras em fa-
guete na mão do bloco no poder que vor do capital. A solução encontrada
manuseia conforme as necessidades pela burguesia para substituir o Welfare
das frações da burguesia. State foi a constituição de um Estado
descentralizado, ‚enxuto‛ para o soci-
Nesse contexto, não temos dúvidas de al.
que nesses últimos anos, as frações das
classes populares estão no bloco de
poder, cooptadas ou sem poder de
decisão. Por outro lado, parece claro 11Trata-se do processo em que o capital passa a
que, em matéria de poder e lucro, privilegiar as atividades centrais, ou seja, aque-
las que geram uma maior transferência de
valor para seus capitais, na valorização na
10 No contexto brasileiro, as PPPs foram regu- esfera financeira. Isso ocorre, por exemplo,
lamentadas pela Lei nº 11.079 de 30 de dezem- quando um indivíduo de posse de seu exce-
bro de 2004. Elas estão espalhadas no país, em dente passa a emprestá-lo a juros, visando um
diversos setores. lucro maior.
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Jessop (1998, p. 33) considera que, ape- dos empregos) e mobiliza milhares de
sar de o Estado continuar com algumas voluntários12.
de suas típicas funções capitalistas, de
apoio à acumulação e de hegemonia Como alerta Pereira (2009), o Estado
política e controle social, existe no ce- não é um invólucro isolado das rela-
nário atual um deslocamento de poder ções de classe. Não foi ele por si só que
do Estado em três direções: a) ‚para colocou como prioridade a primazia da
cima‛, em direção aos organismos in- acumulação de capital, hoje hipertrofi-
ternacionais, grupos dos países ricos ada em detrimento do atendimento
que acabam controlando e ditando a das necessidades humanas.
circulação de capitais e mercadorias; b) A reconfiguração das políticas sociais
‚para baixo‛, do Executivo federal pa-
ra as esferas regionais e locais; c) ‚para Diante dessas constatações, cabe a se-
fora‛, que são as redes horizontais de guinte questão para se avançar na re-
poder - internacional, regional e entre flexão: quem sofre as consequências
governos e o ‚terceiro setor‛. com o Estado a serviço da acumulação
de capital? A resposta parece óbvia.
A presença de instituições supraesta- No caso brasileiro, como na maioria
tais como o Fundo Monetário Interna- dos países, recai justamente em quem
cional, o Banco Mundial, os grupos de financia as medidas de acúmulo de
países do G8 e G20 desempenha cada capital: os trabalhadores.
vez mais influência no direcionamento
dos fluxos de capital e na proteção da O Estado, ao diminuir os recursos para
acumulação de capital (HARVEY, as políticas sociais, destitui direitos
2011). sociais e o atendimento (parcial) das
necessidades humanas, antes garanti-
Cabe destacar, também, o papel que das pelo fundo público, agora são sa-
vem sendo exercido pelas entidades do tisfeitas no mercado. Mas se as políti-
chamado ‚Terceiro Setor‛ que, com a cas neoliberais ‚[...] provocaram au-
contrarreforma do Estado, passou a mento do desemprego, destruição de
desenvolver funções típicas da admi- postos de trabalho não-qualificados,
nistração pública. O mundo das Orga- redução dos salários devido ao aumen-
nizações Não Governamentais (ONGs) to da oferta de mão-de-obra e redução
movimenta mais de US$ 1 trilhão por de gastos com políticas sociais‛
ano, aproximadamente 8% do PIB do (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 127),
planeta. No Brasil, ele reúne mais de como fazer isso?
200 mil organizações e representa cerca
de R$ 10,9 bilhões anuais, empregando O salário, que antes era liberado para
cerca de 1,2 milhão de pessoas (2,2% o consumo de bens, agora custeia as

12Dados referentes ao período de fevereiro de


2003 a janeiro de 2004 (O PERFIL..., fev.2003-
jan.2004).
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Wagner Barbosa MATIAS; Fernando MASCARENHAS

necessidades fisiológicas dos seres As necessidades humanas são rebaixa-


humanos e, quando sobra, destina-se à das ao mínimo13, para diminuir os gas-
obtenção dos bem-estares satisfadores- tos sociais e aumentar o investimento
histórico-culturais. A destituição das em setores de acumulação capitalista
políticas de antivalor para atender às (PEREIRA; STEIN, 2010). A atuação do
emergências do capital vem agravando Estado se dá nos casos críticos, ameni-
a situação da população que depende zando a situação de indigência e pre-
do trabalho para sobreviver. parando os indivíduos para vender sua
força de trabalho no mercado de traba-
No contexto contemporâneo, as políti- lho precário.
cas sociais ocorrem em dois sentidos:
por um lado servem como amortece- A redução da política social ao concei-
dores das tensões sociais, promovendo to de política de combate à pobreza
a coesão social; por outro atuam como destitui todas as ações que garantem
moedas, como um mecanismo para direitos e provoca uma metamorfose: a
impulsionar o crescimento econômico prestação de serviços públicos foi subs-
e os lucros dos membros da burguesia. tituída pela monetarização de benefí-
cios.
O discurso neoliberal de autorrespon-
sabilização das pessoas pela satisfação Tem-se aqui uma alteração da materiali-
de suas necessidades está impregnado zação das políticas sociais. Ela se torna
ao mesmo tempo apoio ao beneficiário e
nas consciências que estigmatizam investimento na circulação de mercado-
qualquer ação social caso não tenham rias. A aplicação do benefício se dá no
dispêndio de força física dos necessita- mercado e, pela incidência de impostos
dos. Isso se afirma com a substituição regressivos nas mercadorias (quem me-
do Estado democrático de direito (Es- nos tem, paga mais), uma parte do bene-
fício retorna ao Estado na forma de taxa-
tado de bem estar social) pelo Estado
ções. Uma das mãos estende e a outra
meritocrático (Estado antissocial), para recolhe. Portanto, a monetarização da
o qual os cidadãos se tornam devedores política social tende a ser mais uma polí-
sociais. tica econômica com efeito social pela
ampliação das condições de consumo. O
gerenciamento de políticas monetárias é
O Banco Mundial e outros organismos similar ao da gerência financeira. A rela-
internacionais, nos últimos anos, esta- ção direta entre o agente institucional e
beleceram como parâmetro para os o requerente se dá no momento de pre-
países as políticas de manejo social do
risco (STEIN, 2006). O pessoal do Esta- 13 Em 2011 o governo rebaixou a linha limite de
do atua no mapeamento dos mais extrema pobreza para R$ 70 per capita por
mês. O valor é muito próximo do recomendá-
‚precarizados‛ e na criação de formas
vel pela Organização das Nações Unidas
de "melhoria social" ou redução da (ONU) nos objetivos do milênio: U$ 1,25 dólar
indigência. por dia, já imaginou passar um dia com pouco
mais de dois reais, ou seja, quatro ou cinco
pães.
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As transformações da atuação do Estado e as políticas sociais contemporâneas

encher cadastros e apresentar documen- Considerações finais


tos. A partir daí, a gestão de cadastros, o
banco de dados, a seleção para inclusão
E qual é o resultado de tudo isso? Qual
e controle de resultados ou condiciona-
lidades ocorrem por ferramentas infor- alternativa? Perante o assalto do orça-
matizadas e cartões plásticos (SPOSATI, mento social crescem os ‚holocaustos
2011, p.5). sociais‛ e, consequentemente, assisti-
mos na primeira década do século XXI,
A monetarização e a inserção das polí- às convulsões sociais, que colocam a
ticas sociais na lógica da acumulação sociedade política em rota de colisão
de capital geram para a burguesia mais com os sindicatos (os poucos combati-
pessoas para consumir seus produtos, vos que existem) e grupos populacio-
mais pagadores de impostos e mais nais (estudantes, imigrantes, idosos)
endividados com os empréstimos e que dependem dele para provisão de
cartões de crédito. Sem contar na mão suas necessidades básicas (HARVEY,
de obra barata e flexível, ofertada pelos 2011).
treinamentos de ativação para o mer-
cado realizado pelos governos e par- Como saída ‚*...+ governos do mundo
ceiros. inteiro se inspiram de novo, explicita-
mente nos ensinamentos de Keynes.
O que se observa é o rompimento do Muitos observadores falam de um ‘re-
neoliberalismo com os pilares econô- torno de Keynes’ *...+‛ (GAZIER, 2011,
mico-sociais do Welfare State, a política p. 87).
de pleno emprego e o princípio da
universalidade da proteção social. Em Entretanto, Netto (2012) alerta que este
suma, o foco da política social migrou ciclo já se fechou, não existem possibi-
de uma ação de antivalor, que atendia lidades de retorno, a ordem do capital
às necessidades dos seres humanos, já ofereceu aquilo que poderia dar de
para o atendimento das necessidades melhor para a humanidade.
do capital. Se antes, especialmente no
período de predominância do Welfare Em todos os níveis da vida social, a or-
State, as políticas sociais caracteriza- dem tardia do capital não tem mais con-
vam-se como um antivalor ou uma an- dições de propiciar quaisquer alternati-
vas progressistas para a massa dos tra-
timercadoria, tratadas como direito de
balhadores e para a humanidade. [...]
cidadania, objeto de financiamento para atestar que esta ordem só tem a
público da reprodução da força de tra- oferecer, contemporaneamente, soluções
balho, que incrementava a produtivi- barbarizantes para a vida social. Poder-
dade e preservava o salário direto para se-iam arrolar vários desses fenômenos,
da financerização especulativa e parasi-
o consumo em massa, atualmente tais taria do tardio-capitalismo e sua econo-
políticas estão diretamente subordina- mia do desperdício e da obsolescência
das à lógica de produção e reprodução programada, passando pelas tentativas
de capital, satisfazendo as necessida- de centralização monopolista da biodi-
des do lucro da burguesia. versidade e pelos crimes ambientais al-

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cançando a esfera da cultura [...] (NET- a contrapartida disso, é que várias de-
TO, 2012, p. 217). zenas de Estados nacionais foram
obrigados a renunciar a qualquer pre-
O processo cíclico de reestruturação do
tensão à soberania, tornando-se verda-
modo de produção capitalista parece
deiros Estados-anões‛ (NETTO; BRAZ,
chegar numa nova e definitiva encruzi-
2009, p. 238).
lhada, as crises não são mais cíclicas,
mas estruturais, pois, além do acirra-
Sem dúvida, estamos vivendo numa
mento dos conflitos sociais pelo mun-
época sombria, com um progresso tec-
do, a situação de exploração da huma-
nológico extraordinário e com um en-
nidade se agrava e os recursos naturais
riquecimento de grupos e determina-
são cada vez mais minguados14.
das frações da burguesia, em paralelo,
um empobrecimento e embrutecimen-
Um retorno ao keynesianismo parece
to humano como nunca visto. Parece
mais uma farsa15. A realidade de hoje é
que retornamos com os primórdios da
bem diferente dos anos 1930, há uma
exploração capitalista, só que de forma
interdependência e entrelaçamento
mais agressiva. A ação do Estado se
entre capitais bem maiores, bem como
assemelha cada vez mais àquele da
uma coordenação na política entre os
época relatado nos primeiros escritos
bancos centrais de todo o mundo. Na-
de Marx.
quela época os países tinham mais au-
tonomia para realizar medidas prote-
A focalização das políticas sociais, a
cionistas, hoje isso parece impossível
monetarização e as ações de ativamen-
com a lógica da mundialização de capi-
to dos trabalhadores servem para am-
tais.
pliar a acumulação de capital e aliviar
a situação de miséria social, seja no
No mundo contemporâneo, as mega-
centro ou na periferia do capitalismo.
corporações dividem entre si a propri-
edade de setores estratégicos no plane-
Diante do car{ter ‚destrutivo‛ do capi-
ta, como: biotecnologia; produtos far-
talismo atual, do atendimento das ne-
macêuticos; produtos veterinários;
cessidades do capital em detrimento
alimentos e bebidas; sementes etc, ‚*...+
das necessidades humanas, só nos res-
ta concordar com Mészáros (2012), ao
14 Conforme relatório apresentado pela rede
WWF a demanda humana por recursos natu- afirmar que o século XXI deverá ser do
rais chega a 50% do que o planeta pode supor- ‚socialismo ou a barb{rie‛, não tendo
tar e se continuarmos neste ritmo, em 2030 uma terceira via.
vamos precisar de uma capacidade produtiva
equivalente a dois planetas para satisfazer os
Referências
níveis anuais de nossa demanda (RECUR-
SOS..., 2010).
15 Alusão a celebre frase de Karl Marx ‚A his- ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do
tória se repete, a primeira vez como tragédia e trabalho: ensaios sobre a afirmação e
a segunda como farsa‛.
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