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AgRg no RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 143990 - PR (2021/0075062-1)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ


AGRAVANTE : CLEUNIR JOSE BONDAN
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS


CORPUS. PROCESSUAL PENAL. DESCAMINHO E CONTRABANDO. TESE
DE NULIDADE DA CITAÇÃO POR WHATSAPP. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA
AÇÃO PENAL, INCLUSIVE COM APRESENTAÇÃO DE RESPOSTA À
ACUSAÇÃO PELA DEFESA DO RECORRENTE. VALIDADE DO ATO.
PREJUÍZO NÃO CONFIGURADO. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Consoante entendimento da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
embora não haja óbice à citação por WhatsApp, é necessária a certeza de que o
receptor das mensagens se trata do Citando(a).
2. Na hipótese, foram observadas todas as diretrizes previstas em lei para a
prática do ato processual em questão, pois as informações consignadas pelo
serventuário da Justiça – dotadas de fé pública – e a análise dos demais elementos do
caso permitem concluir que o Agravante teve inequívoca ciência da ação penal
contra si em curso.
3. Ademais, não houve qualquer prejuízo processual demonstrado pelo Réu
que importe em nulidade do ato de citação por meio eletrônico, tendo em vista que
foi apresentada defesa prévia no prazo legal, apresentados documentos pela
Defensoria, realizado interrogatório, apresentadas alegações finais e, ainda, recurso
de apelação.
4. Agravo desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os
Ministros da SEXTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 28/02/2023
a 06/03/2023, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz, Antonio Saldanha
Palheiro e Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT) votaram com a Sra. Ministra
Relatora.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz.

Brasília, 06 de março de 2023.

Ministra LAURITA VAZ


Relatora
Superior Tribunal de Justiça
AgRg no RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 143.990 - PR (2021/0075062-1)

RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ


AGRAVANTE : CLEUNIR JOSE BONDAN
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Trata-se de agravo regimental interposto por CLEUNIR JOSE BONDAN
contra decisão de minha lavra, na qual neguei provimento ao recurso ordinário em habeas
corpus, nos termos da seguinte ementa (fl. 103):

"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL


PENAL. DESCAMINHO E CONTRABANDO. TESE DE NULIDADE DA
CITAÇÃO POR WHATSAPP. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA AÇÃO PENAL,
INCLUSIVE COM APRESENTAÇÃO DE RESPOSTA À ACUSAÇÃO PELA
DEFESA DO RECORRENTE. VALIDADE DO ATO. PREJUÍZO NÃO
CONFIGURADO. RECURSO DESPROVIDO."

Consta nos autos que o Recorrente, ora Agravante, foi denunciado como incurso
nos arts. 334, § 1.º, inciso IV, e 334-A, ambos do Código Penal. A denúncia foi recebida em
31/08/2020 e o Recorrente foi citado por "WhatsApp".
A Defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal de origem, tendo sido
indeferido liminarmente a petição inicial.
Foi interposto agravo regimental, o qual foi desprovido pelo Tribunal de origem.
Nas razões recursais, a Defesa sustentou a nulidade da citação, pois a utilização
do "WhatsApp" para tal fim "não tem albergue legal e não pode servir, no processo penal,
como ferramenta jurisdicional para formalização de um ato fundamental do processo, que é a
citação" (fl. 71).
No agravo regimental, a Defesa reitera as alegações do recurso ordinário.
Requer a reconsideração da decisão agravada ou a submissão do agravo ao
colegiado competente.
É o relatório.
Superior Tribunal de Justiça
AgRg no RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 143.990 - PR (2021/0075062-1)

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM


HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. DESCAMINHO E
CONTRABANDO. TESE DE NULIDADE DA CITAÇÃO POR
WHATSAPP. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA AÇÃO PENAL, INCLUSIVE
COM APRESENTAÇÃO DE RESPOSTA À ACUSAÇÃO PELA DEFESA
DO RECORRENTE. VALIDADE DO ATO. PREJUÍZO NÃO
CONFIGURADO. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Consoante entendimento da Sexta Turma do Superior Tribunal de
Justiça, embora não haja óbice à citação por WhatsApp, é necessária a certeza de
que o receptor das mensagens se trata do Citando(a).
2. Na hipótese, foram observadas todas as diretrizes previstas em lei
para a prática do ato processual em questão, pois as informações consignadas
pelo serventuário da Justiça – dotadas de fé pública – e a análise dos demais
elementos do caso permitem concluir que o Agravante teve inequívoca ciência
da ação penal contra si em curso.
3. Ademais, não houve qualquer prejuízo processual demonstrado pelo
Réu que importe em nulidade do ato de citação por meio eletrônico, tendo em
vista que foi apresentada defesa prévia no prazo legal, apresentados documentos
pela Defensoria, realizado interrogatório, apresentadas alegações finais e, ainda,
recurso de apelação.
4. Agravo desprovido.

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):


O inconformismo não prospera.
Consoante destacado na decisão agravada, embora não haja óbice à citação por
WhatsApp, é necessária a certeza de que o receptor das mensagens se trata do Citando(a),
conforme já concluiu a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça. Menciono, nesse
contexto, o seguinte julgado:

"HABEAS CORPUS. AMEAÇA NO CONTEXTO DE VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA. AÇÃO PENAL. RÉU SOLTO. CITAÇÃO POR MANDADO.
COMUNICAÇÃO POR APLICATIVO DE MENSAGEM (WHATSAPP).
INEXISTÊNCIA DE ÓBICE OBJETIVO. DECLARAÇÃO DE NULIDADE
LIMITADA AOS CASOS EM QUE VERIFICADO PREJUÍZO CONCRETO
NO PROCEDIMENTO ADOTADO PELO SERVENTUÁRIO. ART. 563 DO
CPP. PRECEDENTES DESTA CORTE. CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO
QUE INDICAM A NECESSIDADE DE RENOVAÇÃO DA DILIGÊNCIA.
1. Em se tratando de denunciado solto - quanto ao réu preso, há
determinação legal de que a citação seja efetivada de forma pessoal (art. 360
do CPP) -, não há óbice objetivo a que Oficial de Justiça, no cumprimento do
Superior Tribunal de Justiça
mandado de citação expedido pelo Juízo (art. 351 do CPP), dê ciência remota
ao citando da imputação penal, inclusive por intermédio de diálogo mantido em
aplicativo de mensagem, desde que o procedimento adotado pelo serventuário
seja apto a atestar, com suficiente grau de certeza, a identidade do citando e
que sejam observadas as diretrizes estabelecidas no art. 357 do CPP, de forma
a afastar a existência de prejuízo concreto à defesa.
2. No caso, o contexto verificado recomenda a renovação da
diligência, pois a citação por aplicativo de mensagem (whatsapp) foi efetivada
sem nenhuma cautela por parte do serventuário (Oficial de Justiça), apta a
atestar, com o grau de certeza necessário, a identidade do citando, nem mesmo
subsequentemente, sendo que, cumprida a diligência, o citando não subscreveu
procuração ao defensor de sua confiança, circunstância essa que ensejou a
nomeação de Defensor Público, que arguiu a nulidade do ato oportunamente.
3. O andamento processual, obtido em consulta ao portal eletrônico
do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, indica que ainda
não foi designada audiência de instrução em julgamento, ou seja, o réu ainda
não compareceu pessoalmente ao Juízo, circunstância que, caso verificada,
poderia ensejar a aplicação do art. 563 do CPP.
4. Ordem concedida para declarar a nulidade do ato de citação e
aqueles subsequentes, devendo a diligência (citação por mandado) ser
renovada mediante adoção de procedimentos aptos a atestar, com suficiente
grau de certeza, a identidade do citando e com observância das diretrizes
previstas no art. 357 do CPP." (HC 652.068/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021.)

No caso dos autos, o Tribunal de origem asseverou, in verbis (fls. 56-60; grifos
diversos do original):

"Por ocasião da decisão recorrida (ev. 2), assim se manifestou o


Desembargador Leandro Paulsen:

1. Trata-se de habeas corpus, com pretensão liminar,


impetrado pela Defensoria Pública da União em favor de CLEUNIR
JOSE BONDAN, nascido em 08-11-1963, em face do Juízo da 4ª
Vara Federal de Cascavel, objetivando seja declarada a nulidade do ato
de citação do réu.
O Ministério Público ofereceu denúncia em desfavor do
paciente, imputando-lhe a prática dos crimes de descaminho e
contrabando, tendo a peça incoativa sido recebida em 31-08-2020.
Determinada a citação do acusado, o oficial de justiça
certificou que (ev. 13):

(...) no dia 14/09/20, através do aplicativo


WhatsApp, contato com o número 45 99849-8500, conforme
orientação 5129720 do TRF 4, bem como as resoluções 313,
314 e 318 do CNJ, que disciplinam o cumprimento de
mandados durante a pandemia Covid-19, CITEI,
CIENTIFIQUEI, INTIMEI e NOTIFIQUEI CLEUNIR
JOSE BONDAN (928.373.529-34) de todo o conteúdo do
presente mandado, o qual aceitou receber a intimação
virtualmente e ficou ciente de todo o teor.
Superior Tribunal de Justiça
Mensagens abaixo.
OBS: O réu declarou que não tem condições
financeiras de contratar advogado. Declarou que aceita
receber futuras intimações por aplicativos de mensagens.
14/09/2020 17:20 - As mensagens e as chamadas
são protegidas com a criptografia de ponta a ponta e ficam
somente entre você e os participantes desta conversa. Nem
mesmo o WhatsApp pode ler ou ouvi- las. Toque para saber
mais.
14/09/2020 17:20 - Você está conversando com uma
conta comercial. Toque para mais informações.
14/09/2020 17:21 - Elias: Olá.
14/09/2020 17:22 - Elias: CLEUNIR JOSE
BONDAN. Boa tarde. Elias Oficial de Justiça aqui da
Justiça Federal. É sobre intimação/citação para você.
14/09/2020 17:22 - Cleunir Reu: Opa
14/09/2020 17:23 - Cleunir Reu: Tô em casa
14/09/2020 17:23 - Elias: Devido ao problema da
pandemia, estamos fazendo pelo Whatsapp. Aceita receber
por este meio?
14/09/2020 17:23 - Cleunir Reu: Sim
(...) (transcrição do mandado de citação e da
denúncia)
14/09/2020 17:28 - Elias: Ai está Cleunir. Dê uma
olhada. É sobre um novo processo sobre este fato do
mandado. Para que vc faça defesa, através de advogado.
Você irá constituir um advogado ou necessita da nomeação
da Defensoria Pública?
14/09/2020 17:29 - Cleunir Reu: Defensoria
pública
14/09/2020 17:30 - Elias: Tudo bem. Vou informar
em minha certidão.
14/09/2020 17:30 - Cleunir Reu: Ok
14/09/2020 17:31 - Elias: Aceita receber as futuras
intimações pelo Whatsapp?
14/09/2020 17:31 - Cleunir Reu: Sim
14/09/2020 17:31 - Elias: É isso então. Boa tarde.
14/09/2020 17:31 - Cleunir Reu: Boa tarde
14/09/2020 17:32 - Cleunir Reu: Fico no aguardo
14/09/2020 17:32 - Elias: Na oportunidade, fica
informado que a Defensoria Pública da União, está
localizada Rua Sete de Setembro, 3443, Centro, CEP
85803-790, Cascavel/PR; e via chamada telefônica no
número (45) 3324-5433 e/ou via aplicativo whatsapp nos
números (45)99950-0060, (45)98814-0729, (45) 3224-6140,
(45) 3227-8843, (45) 3324-2473 e (45)99950-0049;
14/09/2020 17:32 - Elias: Esse é o telefone da
Defensoria em Cascavel, caso queira fazer contato.
14/09/2020 17:33 - Cleunir Reu: ??

[...]
Dito isso, verifico que, no caso dos autos, o writ foi impetrado com o
Superior Tribunal de Justiça
objetivo de ver declarada a nulidade da citação do réu, realizada por meio do
aplicativo WhatsApp.
Pois bem.
A autoridade impetrada assim se manifestou sobre a questão (ev. 26):

1.1 Preliminarmente: Da nulidade da citação por meio de


whatsapp Ao contrário do que sustenta a defesa, não há nulidade a ser
declarada quanto à forma como efetivada a citação do réu, tendo em
vista que todos os requisitos previstos no Provimento n. 86/2019, na
Recomendação n. 5169736, ambos da Corregedoria Regional da
Justiça Federal da 4ª Região e na PORTARIA Nº 624/2020 desta
Vara, foram atendidos, mormente a necessidade da escolha do método
(como medida para conter a propagação da COVID-19).
Ademais, além de não ter havido falta de notificação, sequer
houve sua deficiência, pois a ré ficou evidentemente ciente de seus
termos, tendo a DPU apresentado resposta à acusação, que ora se
analisa, não havendo nenhum prejuízo demonstrado, o que atrairia
ainda, se nulidade houvesse, o artigo 563 do CPP (pas de nullité sans
grief).
Afasto a preliminar.

Não vislumbro flagrante ilegalidade a autorizar o excepcional


cabimento da presente ação constitucional.
O artigo 563 do Código de Processo Penal assim dispõe:
Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar
prejuízo para a acusação ou para a defesa.

Na espécie, observa-se que o oficial de justiça, autorizado por atos


normativos da Corregedoria da Justiça Federal da 4ª Região (Provimento nº
86/2019 e Recomendação nº 5169736) e do próprio juízo a quo (Portaria nº
624/2020), entrou em contato com o réu para saber se este aceitaria ser citado
por meio do aplicativo WhatsApp e, diante da sua concordância, enviou-lhe o
mandado de citação, juntamente com a cópia da denúncia, obtendo o seu
ciente, tudo certificado conforme documento anexado no evento 13 dos autos
originários.
Percebe-se, portanto, que o referido ato cumpriu com a sua finalidade,
qual seja, a de dar ciência ao acusado da denúncia contra si oferecida, a fim de
que pudesse se defender, tendo havido, ademais, efetiva comunicação entre os
interlocutores acerca da necessidade de constituição de advogado, tendo o réu
manifestado expressamente sua vontade de se ver assistido pela Defensoria
Pública.
Não obstante a previsão legal de que a citação do réu deva se dar
pessoalmente, não se pode olvidar que a atual situação de enfrentamento ao
coronavírus exige sejam tomadas medidas para a manutenção do
distanciamento social, como a adoção de formas alternativas de comunicação
com os sujeitos processuais, desde que não causem prejuízo às partes, como na
espécie.
Por fim, não há falar em prejuízo para o paciente, que está sendo
devidamente representado por aquele órgão técnico federal, que possui plenas
condições de entrar em contato com o acusado - cujo número de telefone
celular está indicado na certidão lavrada pelo oficial de justiça - para uma
comunicação direta e imediata, razão pela qual não há violação ao princípio
Superior Tribunal de Justiça
da ampla defesa.
Em suma, não verificando flagrante ilegalidade na citação e no
prosseguimento da ação penal, e inexistindo violação ou ameaça iminente ao
direito de liberdade do paciente, que se encontra solto, tenho por
manifestamente incabível a presente impetração.
Isso posto, indefiro liminarmente o habeas corpus, forte no artigo 148
do Regimento Interno desta Corte.
[...]
Com efeito, a despeito da existência ou não de previsão legal para a
citação do réu por meio do aplicativo WhatsApp, o fato é que existe ato
normativo da Corregedoria da Justiça Federal da 4ª Região (Provimento nº
86/2019 e Recomendação nº 5169736) e da própria vara (Portaria nº
624/2020) autorizando a sua utilização, sobretudo em razão da atual situação
de enfrentamento ao coronavírus, desde que haja concordância do acusado.
Dessa forma, tendo o paciente consentido em ser citado por meio
digital e não havendo prejuízo demostrado para a sua defesa, não há falar em
nulidade do ato.
Em comunhão de ideias, o órgão ministerial atuante nesta instância
afirmou (ev. 14):

(...) cabe ressaltar que a alegada nulidade quanto à forma de


citação, a justificar o conhecimento da impetração, não está presente,
tendo em vista que todos os requisitos previstos no Provimento n.
86/2019, na Recomendação n. 5169736, ambos da Corregedoria
Regional da Justiça Federal da 4ª Região e na PORTARIA Nº
624/2020 desta Vara, foram atendidos, mormente a necessidade da
escolha do método (como medida para conter a propagação da
COVID-19) e a aceitação do destinatário (réu), conforme se verificados
documentos anexados ao evento 13.
Ao contrário do alegado pela defesa, não se verifica, de
pronto, que ela tenha sido prejudicada, tanto que veio aos autos exercer
sua defesa. Com efeito, cumpre destacar o teor do art. 563 do CPP,
neste sentido: “Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não
resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa”. A forma não se
constitui de privilégio a ser mantido em qualquer hipótese, sobretudo
quando o ato alcançou sua finalidade, como no presente caso.
(...) Percebe-se, portanto, que o referido ato cumpriu com a
sua finalidade, qual seja, de dar ciência ao acusado da imputação que
lhe está sendo feita, a fim de que este possa se defender. Ou seja,
apesar de irresignação manifestada pela defesa, o ato, em que pese
praticado de forma diferenciada, terminou por atingir seu objetivo, que
era o de dar ciência ao acusado da propositura da ação penal.

Assim, mantenho o entendimento adotado na decisão que indeferiu


liminarmente o writ, que ora submeto à apreciação do colegiado, por seus
próprios fundamentos."

Como se percebe, as instâncias ordinárias ressaltaram que a citação é válida, pois


o ora Agravante teria efetivamente tomado ciência da denúncia, sendo devidamente
identificado pelo Oficial de Justiça, e aceitou receber comunicações pelo WhatsApp,
Superior Tribunal de Justiça
informando, ainda, que necessitaria de nomeação da Defensoria Pública.
Ademais, em consulta ao endereço eletrônico do Tribunal de origem, constatei
que já foi proferida sentença em desfavor do Agravante, na qual consta que, durante a
instrução, foi tomado o interrogatório do réu, a demonstrar que ele efetivamente tomou ciência
da acusação.
Dessa forma, observo que foram observadas todas as diretrizes previstas em lei
para a prática do ato processual em questão, pois as informações consignadas pelo serventuário
da Justiça – dotadas de fé pública – e a análise dos demais elementos do caso permitem
concluir que o Agravante teve inequívoca ciência da ação penal contra si em curso.
Ademais, não houve qualquer prejuízo processual demonstrado pelo Réu que
importe em nulidade do ato de citação por meio eletrônico, tendo em vista que foi apresentada
defesa prévia no prazo legal, apresentados documentos pela Defensoria, realizado
interrogatório, apresentadas alegações finais e, ainda, recurso de apelação.
Corroborando tal entendimento, destaco:

"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM


HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. AMEAÇA E VIAS DE
FATO. CITAÇÃO POR MEIO ELETRÔNICO. APLICATIVO DE CELULAR
'WHATSAPP'. EXCEPCIONALIDADE. ESTADO PANDÊMICO. ADOÇÃO
DE MEDIDAS PARA A PROTEÇÃO DO CIDADÃO E PARA O ACESSO
AO JUDICIÁRIO. PROSSEGUIMENTO DOS ATOS PROCESSUAIS DE
FORMA ELETRÔNICA. REGULAMENTAÇÃO PELO TRIBUNAL A QUO.
CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO RÉU. INDICAÇÃO DE TODO O
PROCEDIMENTO PARA IDENTIFICAÇÃO DO AGRAVANTE. CITAÇÃO
VÁLIDA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. Desde a deflagração do estado pandêmico global causado pelo
coronavírus SARS-CoV-2, o poder público adotou inúmeras medidas restritivas
visando a proteção da população em geral e a manutenção dos serviços
públicos.
2. Os atos processuais prosseguiram de forma eletrônica, pois a
proteção à vida do cidadão e dos servidores públicos teve que ser ponderada
com princípios constitucionais já sedimentados, como o acesso à Justiça, por
exemplo.
3. Os Tribunais passaram a regulamentar inúmeras situações para
promover a adaptação da prestação jurisdicional eficiente e tempestiva. O
Tribunal de origem possui regramento acerca do tema (Provimento n. 86/2019,
na Recomendação n. 5169736, ambos da Corregedoria Regional da Justiça
Federal da 4ª Região e na Portaria n. 624/2020 da Vara), autorizando a
utilização de meios eletrônicos para a comunicação dos atos processuais
durante o regime especial de trabalho instituído em razão da pandemia da
covid-19.
4. Esta Corte Superior de Justiça já se manifestou no sentido de que
é válida a citação pelo aplicativo WhatsApp desde que contenha elementos
indutivos da autenticidade do destinatário, como número do telefone,
Superior Tribunal de Justiça
confirmação escrita e foto individual, e só tem declarado a nulidade quando
verificado prejuízo concreto ao réu. Precedentes.
5. O Tribunal de origem deixou bem registrado que o oficial de justiça
diligenciou para obter o número do telefone celular do agravante, entrou em
contato com ele para saber se aceitaria ser citado por meio do aplicativo do
WhatsApp e, diante da sua concordância, enviou-lhe o mandado de citação,
juntamente com a cópia da denúncia, obtendo o seu ciente, bem como o pedido
de representação pela Defensoria Pública da União, tudo certificado conforme
documentos anexados ao processo.
6. Ora, fica cristalino que foi indicado com precisão todo o
procedimento adotado para identificar o citando e atestar a sua identidade, o
que garante a higidez das diretrizes previstas no artigo 357 do Código de
Processo Penal. Destaque-se que, no mencionado dispositivo, não há
exigência do encontro físico do citando com o oficial de justiça. Verificada a
identidade, e cumpridas as diretrizes previstas na norma procedimental, ainda
que de forma remota, a citação é válida.
7. Ademais, o Código de Processo Penal, em seu art. 563, agasalha o
princípio de que nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar
prejuízo para a acusação ou para a defesa.
8. Agravo regimental desprovido." (AgRg no RHC 140.383/PR, Rel.
Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado
em 08/02/2022, DJe 15/02/2022; sem grifos no original.)

"HABEAS CORPUS. PROCESSUAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.


AMEAÇA E VIAS DE FATO. CITAÇÃO POR MEIO ELETRÔNICO.
APLICATIVO DE CELULAR 'WHATSAPP'. PANDEMIA. SITUAÇÃO
EXCEPCIONAL. PREVISÃO EM NORMA DO TRIBUNAL A QUO.
CIÊNCIA INEQUÍVOCA DO RÉU ACERCA DOS TERMOS DA
ACUSAÇÃO. PREVISÃO LEGAL. NULIDADE RELATIVA. AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. ORDEM
DENEGADA.
1. A citação por meio eletrônico, quando atinge a sua finalidade e
demonstra a ciência inequívoca pelo réu da ação penal, não pode ser
simplesmente rechaçada, de plano, por mera inobservância da
instrumentalidade das formas.
2. No caso concreto, ponderado o contexto excepcional de pandemia,
havendo ainda norma do Tribunal a quo para regulamentar a citação em
situações excepcionais (Portaria GC 155, de 9/9/2020, do TJDFT), nota-se que
não houve prejuízo processual objetivamente demonstrado que importe em
nulidade do ato de citação por meio eletrônico (via conversa pelo aplicativo de
celular 'whatsapp'), uma vez que os elementos necessários para o
conhecimento da denúncia foram devidamente encaminhados ao denunciado
e não há dúvidas quanto à sua ciência do ato da citação e do teor da
acusação que recai contra si.
3. A lei processual penal em vigor adota o princípio pas de nullité sans
grief (art. 563 do CPP), segundo o qual somente se declara a nulidade caso,
alegada oportunamente, haja demonstração ou comprovação de efetivo
prejuízo à parte.
4. Habeas Corpus denegado." (HC 644.543/DF, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 09/03/2021, DJe 15/03/2021; sem
grifos no original.)
Superior Tribunal de Justiça

Dessa forma, na ausência de argumento relevante que infirme as razões


consideradas no julgado ora agravado, deve ser mantida a decisão por seus próprios
fundamentos.
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo regimental.
É como voto.
TERMO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
AgRg no RHC 143.990 / PR
Número Registro: 2021/0075062-1 PROCESSO ELETRÔNICO
MATÉRIA CRIMINAL
Número de Origem:
50061899020204047005 50600842920204040000

Sessão Virtual de 28/02/2023 a 06/03/2023

Relator do AgRg
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ

Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ

Secretário
Bela. GISLAYNE LUSTOSA RODRIGUES

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : CLEUNIR JOSE BONDAN


ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

ASSUNTO : DIREITO PENAL - CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO EM GERAL - CONTRABANDO OU DESCAMINHO

AGRAVO REGIMENTAL

AGRAVANTE : CLEUNIR JOSE BONDAN


ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

TERMO

A SEXTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, em sessão virtual de 28/02/2023 a 06/03


/2023, por unanimidade, decidiu negar provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra. Ministra
Relatora.
Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz, Antonio Saldanha Palheiro e
Jesuíno Rissato (Desembargador Convocado do TJDFT) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz.

Brasília, 08 de março de 2023

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