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Maria da Conceigao Tavares (Organizadora) Francisco de Oliveira ~ José Luts Fiori ~ Juarez Guimaraes Maria Regina Nabuco ~ Tania Bacelar ~ Wilson Cano Celso Furtado e o Brasil Prof? Julia Andrade Regional do Brasil I - SUL Aula / 4 2, Copias a oh entronsFunDAGKOPERSEL ABRAMG A “questao regional”e a “questo nordestina” convite para participar lar com o professor ‘a questio regional no nos: Combinei como professor Wilson Cano para que, na medida do possivel, as duas intervengBes se ‘complementassem. ‘A minba intervengdo sobre a questo regional sera desenvolvida ‘com uma visio a partir do Nordeste, ¢aidéia é que a discutissemos regional do pais. E, eno, examinar se esta sendo redefinida a questio Qf regionals mo ¢ ee on A questo regina? e a "questéonordestinat Tania Baca | ~Sacmestonowesing ia Bacalar ee A génese da “questdo regional” Quer dizer, essa mudanga é muito importante, deixa-se de ser win arquipélago e passa-se a const Comesarei dizendo como se tem tabalbado com a questio questa surge, de fato, no sécul +a fez, na minha opinio, uma imagem mu que as articulagdes que eram predominantemente para fora passain a se vile desea eho H] dase predominantemente dentro do pais. Nesse momento, a diversas s durante todo 0 perfodo do Br ilhas do Brasil comegam a se articular entre si, a estabelecer relages ira fase da formagdo do - cada vez mais intensas entre elas ‘searticulavam muito mais, 1s, © € quando comesa a su bea Sym ‘chamada “questio regional” Nomomento em queessas ira vai peroeber que a s. Enid; acho que esta colocagie é 0 primeiro ponto imps thas danossa discussio. - Nessa fase, tradicionalmente, distingo dois grandes momentos, of com base na literatura sobre a questo reyional brasileira. Costumo pg {empo, com o Nordeste indo muito mal, porque 9? age are mo ko nl, org o at fazer um primeito corte que iri dos anos 20 20s anos 70 mais ou me mercado extemo, Quer dizer, as condigées doe | QW meteadoestemo€ que definiam oon Be conclbes dot nos. O que & que teria predominado nesse momento, nestes "brace Ae eng omporamento da diniea das "has ‘que jd tém essas caracteristicas das quais falei? Sao anos et ‘exonerate. As igagtcs ene cas ram mais eae doe domina a tendéncia a concentragao, Entao, s20 50 anos em ‘mica regional tem comando da producio fo industrial que tendeu a se localizar, comm 6 eles do pas, sep Sudeste,sobrodo no , oF Wison Cho, natin sty aed pea NS Ene etloquese jem imporante mudancanavidado pani |” Wilsn Cano naminhao iam Sarna cone era peniioenporae pasate pun coe | ‘ne noses ima AiusialimperiinteE sobreiudo, 0 mereado intemo pace ace” | «eae Mostra, "nuns dininescotnicado pac Fae mulaggo. No é mais o mercado exierno: a do grande marco desse mor mando, 0 mercado 'intemo ¢ agora essa varidvel, Talvez tenha sido ¢: i ‘sso T Paulo. Porisso, comeceidizen Iadanea-mais profunda que se operou no pais no séeulo XS. Essa + Ine pensa o Brasil, po intemal ds ass decomsndn.deartvlgioch serge ee Palen Tiered i {ue Sto Paulo ea 0B oa aie aes | que Wilson Cano o bmiadocombweccmanninsing A eT |__ sso se dou naquele estado, entre as déealas de 19104 nacional regionalmentelcalzada” Eston oy seré uma das matrizes do que se vai chamar, posteriorme Estourepetino, aqui, to regional” brasileira. Em u rorecente* , Evaldo Cal is" A Tauestéo regional « a “questo novdostina® estudao Brasil is écadas do século xtx, com foco napoliticn agricola e na de infraestrutura, para ver se nesias poftcas exitem ermes desse processo de conceniragfo. Econcli que sim, Os germes inciais da concentracto estavam plantados. Mas Wilson Cano tem ra. “Ho. As decisbes de maior forgaestéo nas primeiras décadas do século 22% Porat época estariam langadas as bases mais fortes da ‘questo regional” brasileira a Por sua vez, a tese de Leonarclo Guimaries Neto sobre o Nordes- \e? faz uma petiodizagéo que acho muito importante. Guimaries Neto lags entras diversas yp sticulago comercial”. As comegama se articular, mas, coma SdH va centrada no Sudeste, e sobretudo em So Paulo, a: natureza “ I das relagdes econdmicas desse pélo din&mico com as outras Juma relagdo de natureza tipicamente comercial roducao se faz no polo egies. Entio, o autor chama esse graride memento de” Tania Bacelar arcane sno clap acetic dos 00s 70450, segunfo names ct! deed a ad 80 a ions tae rs 6, a pals também se desconcentra, ara compreender este momento, a tese de Leonardo ‘Neto é muito interessante, porque define essa 6poca cor e Lent lag comercial gional, afirma ele. 7 ‘A questao regional” o a “questéo nordestina® ‘Tania Bacelar Anweste regional’ @a*avestéonordesting’ eM Tin Bacar ante. No sé porque se interrompe aquele fantéstico movimento uo e se passa para um processo de desconcentragio, que a outage 220 tenderia a atenuar a questo regional, na medida em que {0,011 seja, os optantes eram também os investidores lifundidlas, pelas diversas regi6es do pais, as bases produtivas ‘Togo em seguida o artigo 18, do 11 Plano Dire ‘huito concentradas. Esse fendmeno remodelaria a prépria cén- ‘Para sistema de incentivo apresentava um projeto A Sudene, era apro- ist-regional. E muitos estudos que se faziam no Nordeste 6 vado, ¢ esse optante fazia uma filial da sua indstria no Nordest. os guna iso Vise porexenplo, quo nove (0 seroinalai stone ee tae Nt mas sim tendo em vista o mercado do Br Por exempio, e const patrocinaram 0 processo de industrializacdo do seu estado, Fortalece- tam-se intemnamentee, fortes, conseguiram derrubar a oligarquia e se tomnaram hegemOnicos no estado. Conseguiram fazer o que Celso Fur- tado sonhou. Quer dizer, os empresérios urbanos ficaram relativamente| teal poderors epuderambater na olgarquiacom mais fogs, tomar o sAlnz das e- poder no estado © manter esse poder ao longo de tanto tempo, ME 6 Ceardé uma excegio. Quando se olha para.a Bahia nfo é assim, quando sc olha para Pemmambucondo é assim, porque atendéncia mais forte foi ‘outta, foi ade transferir para o Nordestefrapées do capital industrial ‘que estavam na regio mais industriali2ada do pais, Mas nao foi s6 no Nordeste estou dizendo isso porque deste, rocesso anélogo ocorret, Franca de Manaus. Quer dize ou a impontr muito fo txt ew exportar muito india para o mereadonotdestnn a aa © mercado braisiv,lcalizada no Nowdeste, _ p #4 fimtva de Francis de Ove saps nacional regionalmente Ioclizads, mas 4): essa € uma mudanga muito importante que as dévadas de 1970 ede 1980, Iso Furtado para a Sudene, por exemplo, no se entrais da proposta de industrializaglo'do \"T rg rareomercado doNondests,omempre- 44 ay pone, so perdendo para Sto Paul, Enti, tata se de um peocesso de te, Um dos sonhos de Furtado era criar no, Nordest Qe" peso que muda a dindimica da regia e tem representatividade em mbi- wlustrial que pudesse estrategicamente se confrontar, gi*! to nacional. Essa passagem ¢ essencialmente produzida pelo Estado v 14° go" S0 brasileiro. Nio foram as iniciativas do setorprivade que fizeram essa wane ma = se v8 por que ind ‘mostravam essa intenglo rmudanga. Quando se Taz um exame ¢ se v8 por que foi possivel fazer os nsentivos.Enegociou quando da Q) 288 proceso, enconra-se com nitidez ports dele policas regions Secrets perane Dinetor da Sudene. 8°“ GY” expliias trabalhando naguela diresd0. Os inentivor por exemplor a0 © empresrio Que apresentava oprojeio A uma delas. Nao teria havido Zona Franca de Manaus sem os grandes Podia sero mesmo optante pelo nfo-pagamento do Impos- incentivos que foram direcionados para aquela regio. Nao teriamos gis © a Renda. Quer dizer, o investidor tina gue ser uma figura tido o tamanho da indstria que se fez.no Nordeste se no fossem 03, ‘eda figura do optante, O que Furtado queria com isso? Na ver- incentivos do 34-18/Finor eas isengoes do Imposto de Renda. Enfim, as 28 que 0. investidor.fosse.empresdrio do. Nordeste. Queria economias desses espagos regionais nfo teriam tido a dindmica que. 1a regio, uma burguesia industal que pedese vara a no foes as polos ‘er forga diante do peso fantéstico da oligarqua rural, {Tielerminagio de enfentar 78 ‘This * 68. gama A ‘questo regional a ‘questo nordestina” 2). gO Teve também papel importa Oden Pa oj a atenuagio das diferengas regi dos comesavam a dese «das resis, podendo a tax a Nordeste afunda, Quando a 10 Real, adinimica do Nordeste lade de se dizer o que se dizia I. A dindmica das regives foi ? ma dina nacio se homogeneizaram, Tem-se, ainda, uma ‘maiornum espago que em outo, resulten- Mas a dindmnica geral 6a mesma, Hi uma alenuagto das desigualdades e uma soldagem da dindmica das d- \ yp. vera texisescomoumreutad imponante os oe 'presenea relafiva de um do em algumas diferenci retudo no caso do Nor. arrestando a dindmica do ‘oposta & légica do mereado para en- NE Eo tele tgs aie. #0 Bs Ne cam va NE oa Tania Bacelar Furtado reexami a “questo nordestina”” ‘anos da ditadura, eem um dde Engenharia do Rio de Ja pponto de vista do Nordeste, quando diz que es {que a imagem do Brasil se reflete com brutal n Sudene tina sido demotada com 0 golpe de 1964, Todo ‘eformista da proposta da Sudene tinha sido engavetado, izagdo ganhara tanta hegemonia e que o Finor lidade,¢ nfo cram as pegas-chave da propost zona da mata, © sonho do GTD} idades ao lado da cana: 1 ficado mais hegeménica >-em vez de Perna pliara, mas uma modemizagdo conservadora ST , A ‘questo regional" ¢ a “questéo nordestina” Por sua vee, estado do Maranhio, que Celso Furtado trouxe para Nordeste para resolver o problema do semi-érido, havia seguido ca- © contrrio 20 que le tinha proposto, © Maranho no fazia parte jordeste, o Maranhao era Meio-Norte nas clasificagdes anteriores, io da Sudene, Furtado o tinha trazido para a regio Nordeste ante da “regio plano” da Sudene. Outra virude de Celso a coragem de dizer nos anos $0 que o semi-érido no Nor- o densamente pavaal Eno € facil dizer uma verdade lo do Nordesteé que 0. 0 grande para acapacidade de _ jordestinos na diego da fronteira maranhense, ¢ para que # puxava-se 0 Maranhio para a regitio Nordeste ~ para (eda fronteira Centro-Oeste do Bra- ‘como niio era para fazer reforma im esse processode adentramento nge 0 caste do Nordeste. Entio, 0 lado oeste do Sto 1am subido naquela direcdo, luzido na fronteira a estratura Furado percebe com muita clareza o que ocorree nesse nto faz. uma autocritica. E € muito dificil encontrar intelectuais ' porte que tenham coragem de fazer a autocritica que ele fez a0 82 awe oN sana Bact vamos que com o investimento se resolvera a questéo regional. Quer ize, or dento da proposta da Sudene exsta uma pressuposiglo, ade ).9que se a economia do Nordestefosse dinamizada, seo fluxo de evasiio jf" de capitais se invertesse, se se conseguisse jogar capitais no Nordeste, cstariaenfrentada a questio regional. De, foi atenuada a questio regional, mas nfo se resolveu o drama da ‘efile, sua grav social, Nese sentido, Furtado tra uma do Nordeste, no chegando o resulta- nao chess la populacko da regito, Ed A dinmica regional recente ‘Vou chegar, agora, aos anos 90.Com tudo oque aconteceu, mudaram A a bases padri da questi regional, O que acontece na fase mais recente, para chegar & segunda parte de minha intervensiio? Acho que uma primeira mudanga fundamental, que € a crise do setor pi \descendo para hoje, em uma isdaesfera piblica do ‘Uma crise que se instala ao nivel da Unido e dep« as esferas dos estados munic{pios, crise financeira generalizada dos diversos 83 Aquestéo regional” ¢ 2 “questo nordestina® “Tania Bacelar pafs. Esse quadeo de crise muda anatureza da presenca do setorpibl- ‘conas duas décadas recentes. O Estado desenvolvimentista, superavitério, patrocinador ou da ‘desconcentrago, ou da concentracao, dependendo do momento, per- ‘de essa capacidade. Endividado, 0 Estado brasileiro ¢ hoje refém dos seus credores e muda a natureza da sua presenga na cena nacional. E assim, em vez de patrocinar 0 desenvolvimento das forgas prodati- ‘vas, ou concentradas em So Paulo, ou desconcentradas em outras YP, resides, éhoje, de fato, gt? camulagio dos agentes esontmicos na brasileira, distorcendo inclusive i Ento, esse novo papel assumido pelo Estado muda a temitica, porque ndo se tem mais esse ator relevante na cena das p do, ¢ um padrio de reformas que segu financeira, Reforma comandada pelo défie Ins teses liberais. Reformas pressionadas pelos ap ‘dema ter uma natureza que nfo tem nada a ver com an a questio regional, Estio sendofeitas para atender a: sd tedesenhando a hegemonia dos grupos econdmicos proceso de reforma do Estado. Esse processa de reforma jca, que nao tem nada a ver com o tema que se esta disc tindo aqui, Por outro lado, outros processos importantes, como a politica de abertura da economia do pafs, a abertura financeirae a abertura comer- cial, &m impactos regionais diferentes. Ha um trabalho muito interes- sante do professor Jofo Policarpo Lima, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), em que ele estucla a politica comercial das anos 90, 84 faz uma andlise a partir de uma perspectiva regional e mostra comoem relagio ao Nordeste a politica de abertura tem impactos dierenciados” ‘Com dados macros mostra que a paticipagdo do Nordeste nas exporta ‘Ges brasileiras era atéo final da década de 1970 de quase 15%, ¢ hoje <édemenos de 10%. Q Nordeste perdeu tnais de cinco pontos percentuais UY «quando o Brasil sbria 0 mercado extemo, As exporagdesnordest- 3) yf ‘nas nfo eram as mais competitivas e & regio perdeu importancia relati- WY vvano valor das exportacées do pais. Policarpo faz também uma anélise detalhada em relagao as aliquotas e mostra, por exemplo, como o regi me automotive preserva um grau de protegao para 0 Sudeste, onde esse segmento esti fortemente instalado, No Nordeste, a maioria dos setores ‘fo tem forea para assegurar uma protesio maior, enfrenta forte queda de aliquotas e termina por softer impacto mais forte da pressio compe- titiva que se instala com a politica de abertura Apesarda integragio ocorride na fase anterior, continuamos ater frente a mudanga do paradigma tecnolégico, em alguns casos mul importantes. Enquanto isso ocorre, 0 grau de competitividade mé aparelho produtivo do Nordeste é mais baixo. Em muitos lugares espago nacional, inimeras empresas desapareceram nos anos recentes HA mudangas que estfo vindo em decorréncia de novos arranjos tecnolégicos e organizacionais na esfera produtiva, determinando a va. lorizago de novos fatores de localizagiio, O professor Clélio Campolina Diniz, da URMG, tem trabalhado muito bem essa questio e est4 identi 85 RARRARRARRRRRRARE CER ‘cando 0s novos fatores de localizagdo desses novos paradigmas e pro- srando examinar como é que estKo se expressando regionalmente, rando que esses novos fatores nilo esto distribuidos ‘no terrt6rio brasileiro, Genté quaificada, boa oferta de aces Tentando acompanhar essa mi iando aatengto, também, para a dinfmica das cidades " © hd.uma mudanga recente também no interior, nas diver jortante, Néo € mais a mega Sto Paulo que a brasileira. E um conjunto de cidades médias, no de dotagiio desses novos elementos req nol6gico e produtivo, lem-se que levar em consideragdo a natureza da acional. Acho que para a questo regional, que é natureza. Claro que 0 Brasil sem= + duc, na sua maioria, sto investimentos em infra-estrutura. E 86 = 5

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