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revista da associação brasileira de colite ulcerativa e doença de crohn Ano XIX | no 68 | 2019 - www.abcd.org.

br

música e saúde
ATIVIDADES MUSICAIS MELHORAM O HUMOR E AUXILIAM NA RECUPERAÇÃO DE DOENTES

Espiritualidade como A importância da Conheça os benefícios


complemento ao microbiota para uma da dieta de exclusão
tratamento médico vida mais saudável na doença de Crohn
Novas
Receitas

Agora é a O que você acha de compartilhar com a gente uma


receita que você faz no dia a dia?
sua vez! Sabemos que pessoas que têm Doença Inflamatória Intestinal (DII) devem ter
um controle bem direitinho da alimentação e, por isso, gostaríamos de saber
de você qual é a sua receita preferida no dia a dia.
Compartilhe com Encaminhe até o dia 31/01/2020 a receita que você gostaria de sugerir para
a gente a receita o e-mail falecom@nestle.com.br, com o assunto “RECEITA DII: EU FAÇO”,
ou leia o QR code para abrir o e-mail imediatamente.
que você come As receitas sugeridas serão avaliadas e elaboradas com ingredientes
sem medo. adequados para a dieta da pessoa que tem DII, com apoio da ABCD e da
Cozinha Nestlé. As 10 receitas mais pedidas ficarão disponíveis no site
www.nestlehealthscience.com.br e no próximo livro de receitas da Nestlé.

Quem sabe a sua receita possa servir de inspiração para seus colegas?
Vamos juntos pensar na melhor nutrição!

Você sabia ?
Além de fórmulas nutricionais, como Modulen®, que ajudam na recuperação do estado
nutricional, nos casos de DII, o amor e a criatividade também são importantes para
tornar o dia a dia mais saboroso. Afinal, não é só de ciência que se faz uma
boa nutrição.

Consulte sempre o seu nutricionista ou médico, inclusive para orientar sobre a sua alimentação.
Este material é informativo e não substitui a orientação do médico e/ou nutricionista.
NHS680519

Apoio:
Editorial

Sem a música, a
vida seria um erro.

Friedrich Nietzsche

Dra. Marta Brenner Machado I Presidente da ABCD

Muitas atividades para 2020!


Em poucos dias começaremos a diminuir o ritmo para festejar o Natal e o Réveillon com nossos familiares e amigos,
mas teremos pouco tempo de descanso porque 2020 promete chegar repleto de atividades. Este ano que chega ao fim foi
muito importante para a ABCD e, consequentemente, para a doença inflamatória intestinal no Brasil. Encerramos mais
um ciclo à frente da presidência com muitas iniciativas importantes, participações em congressos e apoio a diferentes
ações, sempre com o foco na união de forças para beneficiar os pacientes com DII.
Depois de realizarmos o I Fórum Brasileiro de Pacientes com Doença Inflamatória Intestinal (FOPADII) em Brasília,
em março deste ano, a ABCD chegou exatamente onde queria: no Ministério da Saúde. O colega e ministro Dr. Luiz
Henrique Mandetta nos recebeu em outubro e nos ouviu atentamente, entendeu as nossas demandas e se comprometeu
a ser um parceiro para a disseminação da informação e do treinamento em doenças inflamatórias intestinais, dirigidos
aos médicos que fazem o atendimento básico nas unidades de saúde espalhadas por esse imenso Brasil.
E como nosso País é mesmo continental, o FOPADII também gerou frutos e, em 2020, teremos três edições regionais.
A primeira será em Fortaleza, em março, e pretendemos receber participantes de toda a região Norte e Nordeste. Em
junho será a vez do Centro-Oeste com o FOPADII em Goiânia e, por fim, São Paulo será a sede do encontro das regiões
Sul e Sudeste, em setembro. Estamos muito animados com esses encontros regionais, que serão oportunidades de troca
de experiências e que possibilitarão aos médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde, assim como pacientes,
familiares e representantes de associações, ampliarem o conhecimento sobre as últimas novidades em DII, além de
trazerem discussões à luz das necessidades e dificuldades de lidar com essas enfermidades.
Acredito muito que a união faz a força e que somente com um trabalho maduro e conjunto – e que priorize os nossos
pacientes – é que será possível mudar a realidade das doenças inflamatórias intestinais. Sabemos que a tarefa é árdua,
mas é na troca de energia e no entusiasmo permanente que acreditamos, muito, nas potencialidades de promover as
mudanças críticas relacionadas ao atendimento e ao tratamento das DII. Contamos com a ajuda de cada um de vocês
para atingir todos os nossos objetivos, de forma correta, transparente e prioritária. A ABCD tem um mesmo propósito:
cuidar melhor de todos os pacientes com doenças inflamatórias intestinais. Boas Festas e que venha 2020!
Um abraço.

Dezembro de 2019 l Edição 68 l 3


Sumário

Depositphotos/ammza12
Casos reais 05
revista da associação brasileira de colite ulcerativa e doença de crohn Ano XIX | no 68 | 2019 - www.abcd.org.br

Eder Batista encontrou no esporte o apoio que precisava para conviver com a doença de Crohn

Entrevista

Divulgação
06
O professor doutor Frederico Camelo Leão, do Instituto de Psiquiatria
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, afirma que
centenas de estudos confirmam que a espiritualidade e a religiosidade
música e saúde
ATIVIDADES MUSICAIS MELHORAM O HUMOR E AUXILIAM NA RECUPERAÇÃO DE DOENTES

podem afetar a saúde humana, principalmente de forma positiva Espiritualidade como


complemento ao
A importância da
microbiota para uma
Conheça os benefícios
da dieta da exclusão
tratamento médico vida mais saudável na doença de Crohn

Associação Brasileira de Colite


08 Ulcerativa e Doença de Crohn
Al. Lorena, 1304, Cj 802

Vida Saudável
São Paulo – SP – CEP 01424-001
Tel./Fax: (55 11) 3064-2992
www.abcd.org.br
A música pode melhorar significativamente o secretaria@abcd.org.br
funcionamento psíquico, provocando estados alterados de
consciência, atenção, orientação e senso-percepção, e tem
Presidente
a capacidade de auxiliar na recuperação de doentes
Marta Brenner Machado

Parceria 13 Vice-presidente
Andrea Vieira
Presidente da ABCD se reúne com o ministro da Saúde para falar das demandas da DII no Brasil
1o Secretário
14 Fábio Vieira Teixeira

Saúde 2o Secretário
Juliano Coelho Ludvig
Cada vez mais estudos em todo o mundo comprovam a
importância da microbiota intestinal para ajudar na prevenção 1o Tesoureiro
de uma infinidade de doenças, inclusive neurológicas e Maria Izabel L. de Vasconcelos
autoimunes, e para manter o equilíbrio do organismo
2o Tesoureiro
Artigo 18 Marco Antonio Zerôncio
A nutricionista Maria Izabel Lamounier de Vasconcelos explica como funciona a dieta da exclusão Revista ABCD em FOCO
Coordenação editorial e textos
Momento Gediib 20 Adenilde Bringel (Mtb 16.649)
GEDIIB organiza a 1ª Semana Brasileira da Doença Inflamatória Intestinal, que será em março de 2020 Diagramação

Curtas 21 Companhia de Imprensa


Divisão Publicações – 11-4432-4000
■ O médico Flavio Steinwurz explica as metas da PANCCO para a gestão 2019-2021
Designer Gráfico
■ Especialistas se reúnem em Zurique, na Suíça, para discutir as DII nos diferentes países Silmara Falcão
■ Exposição Cicatrizes do Invisível revela a história de luta e de superação de pacientes com DII
Colaboração
■ SUS incorpora dois medicamentos biológicos para pacientes com retocolite ulcerativa
Ana Célia Araujo (ABCD)
DIREITOS RESERVADOS
A Revista ABCD em FOCO é uma publicação semestral dirigida a pacientes, familiares, médicos, profissionais da saúde e parceiros. Impressão
É proibida a reprodução total ou parcial sem prévia autorização da ABCD. Ao adotar os conceitos emitidos nas matérias desta AR Fernandes – (11) 3274-2780
edição, leve em consideração suas condições físicas e a opinião do seu médico.

4 I Edição 68 I Dezembro de 2019


Casos reais

Sempre pronto para o combate


Eder Batista, de 38 anos, ao banheiro várias vezes ao dia e a presença de

Fotos: Arquivo pessoal


sangue nas fezes. Em 2011, descobri o motivo
superou todas as dificuldades de todos aqueles sintomas: eu tinha doença de
do Crohn e, hoje, o esporte Crohn, diagnóstico que só recebi depois do pri-
meiro procedimento cirúrgico.
e a doença formam uma dupla Foram dias de muito sofrimento e tive de
que se cuidam mutuamente usar morfina para controlar a dor. Fiz nova ci-
rurgia e retiraram um pedaço inflamado do meu
intestino. Tive problemas de circulação, fizeram

S
ou de uma família de cinco traqueostomia, induziram coma e resisti a qua-
irmãos e minha infância foi tro paradas cardíacas. Fiquei 19 dias na UTI, tive
sensacional. Com 16 anos necrose dos dedos do pé até a panturrilha e, em
comecei a namorar e, neste mesmo ano, aconte- janeiro de 2012, passei pela amputação de oito
ceu a primeira tristeza na minha vida: perdi meu dedos dos pés. Vivi momentos de negação, não
pai. Minha mãe, sempre guerreira, trabalhou queria aceitar a minha condição, mas a médica
e educou toda a família. Sempre fui muito bem me disse umas verdades e decidi encarar o desa-
de saúde, genética boa e corpo legal. Quando fio. Em dezembro daquele mesmo ano, participei
completei 18 anos, comprei uma moto. Queria da Volta Internacional da Pampulha, uma tradi-
namorar e curtir com os amigos ao mesmo tem- cional corrida de 18km na capital mineira.
po, e isso gerava muitos desentendimentos com Minha relação com o esporte começou bem
minha namorada. E foi durante essas brigas que antes do diagnóstico e quando dei entrada no
passei a sentir fortes dores na barriga. Depois de hospital para fazer a cirurgia estava muito bem
algum tempo decidimos acabar com o namoro de fisicamente, por isso, tenho certeza de que a ati-
nove anos e passei a ter uma vida mais livre com a vidade me ajudou muito durante todo o proces-
companhia de bebidas, churrasco e cigarro. so. Hoje, faço da doença e do esporte uma dupla
Comecei a ter algumas diarreias, mas pensava em que um cuida do outro, porque entendi que,
que fossem em decorrência da minha vida desre- com o corpo saudável, minha doença fica contro-
grada, pois não tinha horário para me alimentar e lada. Durante toda essa trajetória, minha maior
não dormia direito. Eu procurava o posto de saú- dificuldade foi conviver em sociedade, pelo fato
de, fazia exames e nunca aparecia nada de anor- de a doença ser pouco conhecida. E, embora a
mal. Mas começaram os vômitos e fui perdendo adaptação da ostomia não tenha sido fácil no iní-
peso muito rápido. No começo, pensei que fosse cio, hoje entendo que a bolsa ‘salva vidas’.
estresse devido ao término do relacionamento Participar da exposição Cicatrizes do Invisí­
e pelo fato de ter ficado desempregado. Algum vel, promovida pela ALEMDII, foi uma experiên­
tempo depois comecei a ter desmaios repentinos. cia­tremenda e me arrependo de não ter mostra-
Procurei um laboratório e fiz todos os exames, in- do minhas cicatrizes e contado minha história
clusive HIV, mas só apareceu uma anemia. antes. Sei que não é fácil descobrir uma DII e pas-
Comecei a fazer exercícios, corria na Lagoa da sar por todas as dificuldades, mas creio que Deus
Pampulha, em Belo Horizonte, me alimentava não nos dá um fardo que não possamos carregar.
bem e voltei ao peso normal, mas a diarreia e a Embora seja uma doença crônica, existe trata-
falta de controle de segurar a evacuação persis- mento. Por isso, sugiro não esconder o diagnósti-
tiam. Algumas vezes, saía para correr ou para ir co – pois ninguém vive sozinho –, tratar a doença
a festas e voltava sujo para casa. Tristeza e vergo- como uma companheira e viver intensamente. O
nha! Era 2010, o ano do nascimento da minha fi- melhor da vida é olhar para trás e ver que conse-
lha Camille Fernanda. Estava trabalhando e bem guimos superar vários obstáculos,
fisicamente, mas a dor na barriga permanecia. além de saber que sempre estare-
Até que começaram as diarreias diárias, as idas mos prontos para o combate.
Entrevista - Frederico Camelo Leão

Espiritualidade é aliada uma ferramenta para promover a saúde. Fizemos uma pesquisa

C
entenas de estudos científicos já conseguiram demons-
trar que a espiritualidade e a religiosidade afetam a com psiquiatras do País usando o banco de dados da Associação
Brasileira de Psiquiatria, e perguntamos se acreditavam e se con-
saúde humana, principalmente de forma positiva. Tan-
versavam com os pacientes sobre o tema. O estudo mostrou que
to é verdade que a espiritualidade já é disciplina em muitos
a maior parte dos psiquiatras acredita, porém, a maioria não fala
cursos de Medicina, embora a maioria dos médicos ainda re-
com seus pacientes sobre espiritualidade. E essa é uma barreira
lute em abordar o tema nas consultas. Segundo o professor
no acolhimento. As crenças religiosas deveriam ser abordadas
doutor Frederico Camelo Leão, pesquisador do Instituto de nas consultas, assim como se aborda alimentação, exercícios fí-
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medici- sicos, medicamentos e outros procedimentos que ajudam a ame-
na da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP) e coorde- nizar o sofrimento. O estudo foi publicado no British Journal of
nador do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade Psychiatry, uma das principais revistas internacionais de Psiquia-
(ProSER) da Instituição, espiritualidade e religiosidade não tria, cuja sede fica na Inglaterra.
devem ser vistas como alternativa ao tratamento médico, mas
como uma maneira complementar de cuidar dos pacientes. O O senhor acredita que as práticas religiosas, de meditação
professor lembra que práticas como meditação, orações ou a e oração podem influenciar o sistema imune?
dedicação a uma denominação religiosa podem estar associa- Esses são estudos interessantes, porque o tema está inserido no
das a melhoras na defesa imunológica e na longevidade. desenvolvimento da neurociência. A questão da espiritualidade é
muito subjetiva, mas é importante buscar respostas em termos
objetivos, por meio de metodologia científica, para conhecer es-
Como a espiritualidade pode influenciar a s­ aúde humana? ses padrões. Cientistas começaram a estudar, por exemplo, as
É milenar o conhecimento de que a espiritualidade tem influência neuroimagens e os marcadores. Colocaram pessoas expostas a
no ser humano. Segundo o filósofo Mircea Eliade, somos homo determinadas práticas comparadas com o grupo controle que não
religiosus e não homo sapiens, o que nos qualifica como seres hu- pratica religiosidade, e as imagens e os marcadores mostravam
manos. Quando perguntamos aos pacientes se eles têm alguma que o cérebro funcionava de forma diferente. O neurocientista
crença, a maior parte responde que sim e as estatísticas mostram norte-americano Andrew Newberg também comparou medita-
que as pessoas são religiosas, espiritualizadas e fazem conexão dores com indivíduos que fazem orações e com pessoas que culti-
entre o seu sofrimento e a sua cultura religiosa. Nos Estados vam pensamentos positivos, mesmo que não tenham uma crença
Unidos, Harold G. Koenig, um psiquiatra da Universidade de religiosa, e verificou que há uma mudança em determinadas re-
Duke, fez um levantamento de 100 anos de estudos mostrando giões cerebrais e de marcadores importantes.
evidências científicas de que a espiritualidade e a religiosidade
afetam a saúde, principalmente de forma positiva. O resultado Valores positivos, como otimismo, bom humor, esperança
desse estudo resultou no livro Religion and Health, publicado ini- e resiliência também ajudam a enfrentar o sofrimento?
cialmente na década de 1980. Na edição mais recente, o pesqui- Com certeza. Esse estudo do Newberg aponta exatamente isso:
sador mostra que as pessoas ganham mais tempo de vida quan- pessoas muito religiosas e que fazem as orações, e meditadores,
do frequentam templos religiosos, leem textos religiosos, fazem independentemente de seguirem tradições religiosas, têm as
orações ou meditam, e que essas práticas transformam vidas. A mesmas regiões do cérebro ativadas de forma muito semelhante.
partir desses resultados, pesquisadores do mundo inteiro come- A espiritualidade e o desenvolvimento de valores positivos aju-
çaram a ter interesse no tema. Desde então, estudos conseguiram dam as pessoas a desenvolverem uma capacidade simbólica. E,
mostrar, por exemplo, que pacientes com problemas cardíacos quando têm essa capacidade de simbolizar, conseguem ter uma
que recebiam uma prece intercessória frequentavam menos o vida iluminada, uma vida que faz sentido. Quando a pessoa não
médico, tomavam menos medicação, tinham menos crises e iam tem esse repertório de simbolizar vai levar uma vida estranha,
menos ao pronto-socorro, se comparado com o grupo que não em que os acontecimentos não fazem sentido.
recebia a prece, mostrando uma influência desse campo da exis-
tência humana na saúde dos indivíduos. A ciência já sabe o mecanismo que ocorre na mente quando
alguém medita ou faz uma oração?
Os médicos, independentemente das crenças pessoais, sa- A ciência ainda busca conhecer os mecanismos, embora já saiba
bem lidar com essa dimensão espiritual dos seus p ­ acientes? que essas práticas influenciam de forma bastante abrangente a
Não. Muitos médicos não conversam sobre isso e alegam que não vida e, logo, influenciam tanto a causa de doenças quanto a su-
querem extrapolar o escopo do treinamento que receberam na peração. Existe uma tendência de atribuir a mecanismos mais
formação. Entretanto, quando um médico conhece o perfil re- psicológicos, mais sociais, e há aqueles pensadores que buscam
ligioso e espiritual do paciente pode ajudá-lo, porque tem mais uma influência ontológica (ramo da filosofia que estuda a nature-

6 I Edição 68 I Dezembro de 2019


da saúde
za do ser, da existência e da própria realidade), da espiritualidade
influenciando diretamente não só pelo ganho secundário – que
também é bem-vindo –, mas por algo que vai além. A ciência já
conhece as regiões do cérebro que sofrem essa influência, como
a parietal e a frontal, que se desenvolvem melhor com essas prá-
ticas. A oração e a meditação também inibem outras áreas como,
por exemplo, as amígdalas, região do cérebro que faz com que as
pessoas tenham uma visão negativa da vida. Já está demonstra-
do que um meditador controla melhor as amígdalas e desenvolve
melhor as regiões parietal e frontal. A capacidade psíquica de foco
e de concentração também muda com a meditação, porque a nos-
sa mente é muito dispersa, uma mente tagarela, que fica igual um
macaquinho pulando de um assunto para o outro. Um indivíduo
que tem a mente muito dispersa tende a ser mais ansioso, e a
ansiedade vai gerar mais receptividade ao estresse e uma série
de doenças que decorrem disso. Quem consegue controlar essa
ansiedade, consequentemente, tem um foco maior e consegue
aquietar-se, fazendo um tratamento na origem desses problemas.

Qual é o momento certo para um médico abordar a espiri-


tualidade com o paciente?
Divulgação

O momento do primeiro contato. Temos uma tendência na for-


mação médica, principalmente os especialistas, de ir direto ao
ponto em que temos treinamento. Mas não podemos esquecer
que tratamos seres humanos e que o adoecer e o estar em so-
Em qualquer leitura é possível encontrar inspirações. Penso ser
frimento é uma categoria de conjunto. Se o indivíduo tem um
interessante ler um pouco os clássicos gregos – Sócrates, Platão –
problema gastrointestinal, por exemplo, e o médico fica olhando
para inspirar-se nessa possibilidade de algo maior.
só para o sistema digestivo, dando medicações e fazendo pro-
cedimentos sem perceber que aquela pessoa tem sentimentos e
Inspiração poderia ser o caminho para uma qualidade de
valores, perde oportunidade de oferecer uma ajuda mais signifi-
vida melhor?
cativa, porque não está levando em consideração outras questões
Acredito que sim. O que faz com que o indivíduo invista mais
que são tão importantes quanto o problema que está abordan-
na sua qualidade de vida é ser capaz de ver o sentido da vida,
do. Depois que o médico faz o diagnóstico tem de perguntar se
ter objetivos maiores para a vida. Na medida em que tem esses
o paciente tem crença, se quer conversar para, então, fazer os
objetivos, que consegue representá-los, olhar para aquilo e ver
encaminhamentos. O especialista não precisa ter a competência
como um caminho possível – o que chamo de inspirar – é que vai
de resolver o problema, mas é importante alertar o paciente que
ajudar-se nessa passagem de sofrimento. As doenças crônicas são
essa dimensão também é importante na vida. Às vezes, o que o
uma insistência de que algo não está bem e o indivíduo precisa
paciente mais precisa é de que o médico acolha suas crenças e
se abrir para uma mudança, para uma transformação. Penso que
seus valores.
a cura é isso: uma capacidade de transformação. Muitas vezes,
como médicos, queremos transformar com procedimentos, com
O senhor tem alguma sugestão de leitura para que as pes- medicamentos, mas a pessoa precisa receber estímulos. Sabe-
soas possam buscar o caminho da espiritualidade? mos, por exemplo, que nos nutrimos pelo que absorvemos, não
Não há uma sugestão específica, pois depende muito do interesse pelo alimento que comemos; e podemos comer qualquer coisa,
de cada pessoa. O importante é ler qualquer texto, mas tentar tomar qualquer remédio e não absorvê-los, assim como podemos
aprofundar-se, fazer com que aquele conteúdo estimule a capaci- ter contato com algum conhecimento e não absorvê-lo... E aí não
dade de simbolizar. A espiritualidade está lidando com algo sobre haverá transformação e vamos repetir os mesmos modelos. Para
o que não temos recursos de acesso direto, o recurso que temos que haja mudança é preciso absorver! É preciso desenvolver a
é simbólico, é de narrativas. Por exemplo, as histórias místicas sensibilidade do estímulo estético, do estímulo ético, das condu-
são narrativas para nos lembrar de que existe algo maior, e tanto tas, do estímulo do conhecimento, enfim, há muitos caminhos
faz se o indivíduo lê a Bíblia, os Evangelhos, o Alcorão, a Torá... para isso.

Dezembro de 2019 l Edição 68 l 7


Matéria de capa

MÚSICA como terapia


Estudos confirmam

Fotos: Arquivo pessoal


que as atividades
musicais melhoram o
humor, afetam o estado
psíquico e ajudam na
recuperação de doentes

A
frase 'Quem canta seus males
espanta', imortalizada há qua-
tro séculos pelo escritor Miguel
de Cervan­tes por meio do personagem
Dom Quixote de La Mancha, ganhou
comprovações científicas ao longo das
últimas décadas que comprovam os be- A musicoterapeuta Diana da Silva Teixeira ressalta O professor José Carlos Neves da Cunha Areias:
a capacidade terapêutica para tratar doentes importância da música nas relações humanas
nefícios da música para o bem-estar e
a saúde. Graças a esses estudos, desen- do estresse relacionados à doença e con- música é própria do ser humano. Onde
volvidos em várias partes do mundo, é tribuindo para o retorno do organismo houver uma pessoa adoecida, indepen-
possível afirmar que as atividades musi- ao equilíbrio. dentemente do nível de adoecimento
cais melhoram o humor, potencializam Estudos têm comprovado efeitos ou do nome que se dá a essa condição, a
a expressão e favorecem o aprendizado. positivos relacionados ao uso da músi- música pode ser utilizada com finalida-
Devido ao seu potencial transformador, ca no tratamento de doenças cardíacas, des terapêuticas para auxiliar na recu-
e dependendo da experiência musical, câncer, doença renal crônica, depressão peração”, argumenta a musicoterapeuta
pode afetar de forma significativa o fun- e demências, entre outras. Além disso, Diana da Silva Teixeira, coordenadora
cionamento psíquico, provocando esta- tem sido usada para tratar indivíduos externa do projeto de extensão Imple-
dos alterados de consciência, atenção, com deficiências cognitivas, a exem- mentação da Musicoterapia na Liga de
orientação e senso-percepção. A música plo de síndrome de Down e paralisia Hipertensão Arterial da Universidade
também tem a capacidade de auxiliar cerebral, auxiliando na aquisição de Federal de Goiás (UFG), que também
na recuperação de doentes por exercer habilidades motoras e cognitivas, con- atua na condução do Coro Terapêutico
influência sobre alguns marcadores fi- tribuindo para o aprendizado e a memo- para Idosos da Associação dos Funcio-
siológicos como a frequência cardíaca, rização, facilitando o desenvolvimento nários do Fisco de Goiás (AFFEGO).
a respiração, o ciclo de sono e vigília, o da linguagem e a socialização e, ainda, O organismo humano apresenta res­
tônus muscular e a pressão sanguínea, estimulando o movimento e a melhora postas complexas aos estímulos mu­si­
favorecendo a redução da ansiedade e da consciência corporal. “Na verdade, a cais, que envolvem alterações químicas

CAPACIDADE DE AJUDAR NO CONTROLE DA DOR, DA ANSIEDADE E DO ESTRESSE


Na literatura são encontradas referências da música no alívio da dor por lucidez e melhora a qualidade de vida dos doentes – quando comparada com
ser capaz de induzir a liberação de opioides no cérebro, uma espécie de a farmacoterapia –, evitando sedação excessiva, náuseas ou perturbações
morfina natural, além de ter o poder de redirecionar a atenção para longe intestinais. “A música aumenta o relaxamento, ajuda e estimula a expressão
dos incômodos. Na área de cuidados intensivos e Oncologia, por exemplo, do doente e facilita a comunicação com os outros, podendo trazer alguma
a música reduz a dor, a ansiedade e o estresse, e tem sido fundamental ‘calma’ ao sofrimento, diminuindo a ansiedade, o medo e outros comporta-
na neurorreabilitação e em condições incapacitantes, como a epilepsia ou mentos negativos”, enumera o professor José Carlos Neves da Cunha Areias.
alterações genéticas. No manuseio da dor em cuidados paliativos, ajuda na No artigo ‘Efeitos da música e da musicoterapia na pressão arterial: uma

8 I Edição 68 I Dezembro de 2019


do bem-estar
relacionadas ao centro emocional (sistema límbico), que controla os batimentos
cardíacos, a respiração e a tensão muscular, entre outras funções fisiológicas. A
musicoterapeuta, que é doutoranda do Programa de Ciências da Saúde da UFG,
enfatiza que a audição musical e as experiências musicais interativas estabele-
cem conexão direta com as emoções e a afetividade e, por isso, podem induzir
a produção de dopamina, endorfina e serotonina, substâncias relacionadas
ao prazer, bem-estar, relaxamento e melhor estado de humor. “Nosso cére-
bro organiza os sons e cria um sistema de significados inteiramente parti-
cular, por isso, a conexão entre emoções, memórias e sentidos é variável
entre os indivíduos, o que justifica as diferentes preferências musicais.
As músicas favoritas são frequentemente dependentes do contexto e as
preferências duradouras ocorrem principalmente devido a uma ligação
emocional com uma memória associada à canção”, explica.
O conhecimento de que a música afeta a saúde e o bem-estar já
existia na Grécia antiga, no tempo de Aristóteles e Platão (384-322
a.C.), e foram os gregos que estabeleceram as bases para a cultura
musical do Ocidente. Entretanto, somente em meados do século

Depositphotos/Elnur_
19 foi possível estabelecer uma relação entre música e recupera-
ção dos doentes. Uma das maiores experiências aconteceu no
final da Segunda Guerra, quando foi solicitado a vários músicos
que tocassem em hospitais como forma de tratamento e para
acalmar os feridos. A iniciativa teve resultados tão positivos
que as autoridades dos Estados Unidos resolveram profissio-
nalizar a área para utilizar a música como terapia. Assim,
em 1944 foi criado o primeiro curso de Musicoterapia na
Universidade Estadual de Michigan. “A música é uma for-
ma de expressão inerente ao ser humano, suscetível de
partilha de emoções ou afetos. A interação que promove
fortalece as relações humanas, aumentando a empatia
e o prazer. Além disso, favorece a evocação de memó-
rias emocionais”, acentua o cardiologista pediátrico
José Carlos Neves da Cunha Areias, professor ca-
tedrático de Pediatria da Faculdade de Medicina
da Universidade do Porto, em Portugal, e autor do
artigo ‘A música, a saúde e o bem-estar’, publicado na
revista Nascer e Crescer (vol.25 no.1 - março/2016).

revisão de literatura’, a musicoterapeuta Diana da Silva Teixeira demonstra ças autonômicas e neuroendócrinas na contratilidade cardíaca e na resistên-
o potencial terapêutico da música em ambiente hospitalar, ao contribuir não cia vascular periférica, provocando a diminuição ou o aumento dos valores
apenas para a redução da pressão arterial, mas também para a melhora da pressóricos. A música também pode auxiliar no alívio de sintomas como
frequência cardíaca e respiratória, alívio da ansiedade e da dor, aumento ansiedade e depressão, além de favorecer a expressão e ressignificação de
dos níveis de sedação e relaxamento antes, durante ou após procedimentos sentimentos relacionados à doença e à terminalidade da vida. “No entanto,
clínicos ou cirúrgicos. Esses efeitos ocorrem porque a música, ao produzir recomendamos fortemente que a utilização da música nesse ambiente seja
uma emoção, pode induzir alterações fisiológicas que resultam em mudan- feita por um musicoterapeuta, a fim de evitar efeitos indesejáveis”, enfatiza.

Dezembro de 2019 l Edição 67 l 9


Matéria de capa

Benefícios começam na gestação


A musicoterapia abrange vários campos de

Arquivo pessoal
ordem física e mental, e pode ser utilizada em
todas as idades, desde o feto até a geriatria. O
professor de Pediatria José Carlos Neves da
Cunha Areias ressalta que o feto desenvolve
a audição na terceira semana de gravidez, no
entanto, a música só consegue um efeito fun-
cional a partir da semana 16 e o feto pode ouvir
e apreciar os sons a partir da semana 24. Como o
estresse elevado das mães pode ter efeito negativo
no desenvolvimento fetal, a música ganha impor-
tância para dar tranquilidade, contribuindo para o
desenvolvimento saudável até o final da gestação.
“Ouvir música desenvolve o cérebro, porque a me-
lodia facilita as conexões neuronais, patrocinando
O psicólogo Alexandre Gonzaga dos Anjos afirma que os
o crescimento de diferentes estruturas cerebrais.
efeitos da música na primeira infância são bem conhecidos
A música durante a gestação permite à criança
uma recordação do que ouviu até perto dos saudável”, orienta. A terapia musical também tem
quatro meses, facilitando o desenvolvimen- sido uma experiência importante nas unidades de
to e o bem-estar em todo o período neonatal cuidados intensivos neonatais, reduzindo o tempo
e em parte da primeira infância”, ensina. de internação e contribuindo para o neurodesen-
A musicoterapeuta Diana da Silva Teixeira volvimento de crianças prematuras. Algumas pu-
concorda que o fato de músicas provoca- blicações científicas enfatizam vários benefícios
rem um estado de bem-estar e relaxa- para essas crianças, como a redução do ritmo car-
mento nas gestantes acaba be- díaco e respiratório, a melhoria do sono e a apetên-
neficiando também o feto em cia para melhor alimentação, o que também contri-
desenvolvimento, dependen­do bui para reduzir a ansiedade das mães.
mais das preferências musicais Estudos comparativos com placebo mostram,
da mãe do que dos ritmos escolhi- ainda, efeitos muito positivos nas crianças sujeitas
dos. “Acredita-se, ainda, que a música à musicoterapia na interação social, nas perícias
exerça uma influência sobre o ritmo de comunicação não verbal e no comportamento.
cardíaco e a atividade cerebral do feto. Atividades musicais também podem ser importan-
Por isso, colocar canções que sejam tes aliadas nos primeiros anos de vida e, entre os
agradáveis para o bebê ouvir, ainda no benefícios, estão melhora da coordenação motora
ventre da mãe, é uma atitude muito e do desenvolvimento da fala, aumento da percep-

EFEITO POSITIVO EM CRIANÇAS ESPECIAIS


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A terapia musical também tem sido aplicada, desde a década de 1940, em Se a intenção é melhorar a comunicação e interação entre as crianças e
crianças com transtorno do espectro autista e, nesses casos, o efeito posi- seus pais, a sessão é estruturada para que todos participem e adquire caráter
tivo é devido à intrínseca expressão e comunicação. O psicólogo Alexandre lúdico e expressivo. No caso da síndrome de Down, como há perda do tônus
Gonzaga dos Anjos afirma que a música ajuda de inúmeras formas, inclu- muscular, as intervenções precoces sugerem que as crianças sejam postas
sive porque existem diferentes tipos de intervenção e diferentes objetivos a engatinhar com mais frequência e mais cedo. Em tarefas assim, a músi-
terapêuticos, geralmente elencados em função das áreas mais atingidas por ca pode funcionar como um estímulo facilitador, levando a criança a buscar
essas condições. Quando o foco é a coordenação motora, as intervenções a fonte sonora. “Certas crianças e adolescentes com incapacidades físicas
costumam ser mais estruturadas, ocorrendo apenas com o musicoterapeu- ou mentais desde a nascença, como na síndrome de Down, são bastante
ta e a criança. Assim, pode-se desenvolver um programa de aprendizagem receptivos à escuta ou à atividade musical. Assim, a musicoterapia, nestes
com instrumentos de percussão, indo de estruturas rítmicas mais simples e casos, facilita a comunicação, a competência social, a regulação emocional e
avançando para as mais complexas, conforme o desenvolvimento da criança. a perícia motora”, acrescenta o professor José Carlos Neves da Cunha Areias.

10 I Edição 68 I Dezembro de 2019


ção corporal, desenvolvimento da criatividade
e melhora das funções cognitivas, como aten-
ção, concentração e memória. O mestre em
Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendi-
zagem e doutorando do Programa em Psico-
biologia da Universidade de São Paulo (USP),
campus de Ribeirão Preto, Alexandre Gonzaga
dos Anjos, salienta que os efeitos do contato
com a música já na primeira infância são mais
bem conhecidos do que na vida intrauterina.
Nesse caso, a estimulação musical deve co-
meçar o mais cedo possível, favorecendo tan-
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to o desenvolvimento inicial das atividades


cognitivas e motoras – como sincronização do

Transformações em
bater de palmas e marchar ao ritmo da músi-
ca – quanto a própria facilidade da aprendiza-
gem musical. “As mudanças morfológicas no

processos mentais
sistema nervoso têm forte correlação não só
com o tempo de exposição às aulas de música,
mas com o período em que essa exposição co-
meçou. Além disso, a melhora das capacidades
cognitivas, para ser mais substancial e dura- Quando o indivíduo está engajado em uma atividade, o sistema nervo-
doura, demanda uma prática ativa em relação so realiza inúmeros processos a fim de fazer com que se adapte à tarefa, e
à música, ou seja, é recomendável estudar e uma das evidências são as alterações das frequências das ondas cerebrais
praticar algum instrumento ou canto, tentan- possíveis de serem avaliadas por eletroencefalografia. Neste sentido, a
do fazer disso um hábito ao longo da vida”, música funciona como um tipo privilegiado de estimulação das alterações
acentua. fisiológicas e psíquicas, que são moduladas pelo nível de engajamento de
Também existem estudos que evidenciam cada pessoa. Segundo o psicólogo Alexandre Gonzaga dos Anjos, quando
a correlação entre treinamento musical for- esse contato é prolongado e de cunho pedagógico é capaz de promover
mal e habilidades linguísticas, espaciais e ma- transformações em nível morfológico em várias regiões do sistema nervo-
temáticas. Além disso, há indícios de que a boa so. Como a música melhora o estado emocional, por consequência melhora
discriminação de altura e ritmo em música também os processos cognitivos. “Além disso, as modificações morfológi-
possa contribuir para o desenvolvimento pre- cas de regiões do sistema nervoso induzidas pela aprendizagem sistemá-
coce da leitura. Autor do artigo ‘Musicoterapia tica da música têm implicações para o processamento cognitivo em outras
como estratégia de intervenção psicológica tarefas, com fortes indícios de que favorecem o raciocínio lógico, verbal
com crianças: uma revisão da literatura’, o psi- e motor. Esse conjunto de transformações tem um impacto naquilo que
cólogo afirma que o treinamento musical con- chamamos de saúde mental”, acentua.
tínuo pode até mesmo impactar os níveis da Musicistas experientes, por exemplo, apresentam maior dimensão da
inteligência geral em testes de QI. “É preciso região anterior do corpo caloso que integra os hemisférios cerebrais, faci-
ressaltar que o efeito não é muito expressivo, litando o processamento de informações por diferentes sítios; apresentam
mas é duradouro. Embora ninguém se torne maior volume de substância cinzenta no córtex motor; maior representa-
um gênio só por se dedicar ao estudo musical, ção neurológica da mão dominante – que implica em maior sensibilidade
provavelmente estará com as funções cogniti- tátil e destreza –; maior volume de massa cinzenta na região somatossen-
vas sempre afiadas. A música favorece, ainda, sorial, no córtex auditivo, visuoespacial e na cápsula interna; e maior den-
a interação social entre os jovens por identifi- sidade do hipocampo, estrutura relacionada aos processos mnemônicos
cação a um determinado estilo, facilitando as (conjunto de técnicas utilizadas para auxiliar o processo de memorização).
conversas ou acompanhando outros eventos “Analisando o que compositores famosos alegavam sobre sua experiên-
esportivos e artísticos”, ressalta. cia criativa, o pesquisador búlgaro Mihaly Csikszentmihalyi verificou que 
Dezembro de 2019 l Edição 68 l 11
Matéria de capa

Freepik/prostooleh
 muitos afirmavam entrar em um estado
de êxtase, no qual a percepção da pró-
que incluem desde alterações emocio-
nais momentâneas – podendo acalmar
víduos diagnosticados com Alzheimer
têm evidenciado que, embora haja perda
pria existência parecia temporariamen- ou deixar em um estado mais contem- da capacidade de reconhecer emoções
te suspensa. O que esses compositores plativo – a mudanças neuroanatômicas em expressões faciais, a capacidade de
parecem experimentar é um estado se- e funcionais implicadas na melhora de reconhecê-las na voz e na música perma-
melhante ao que meditadores de nível processos cognitivos, como atenção, me- nece. Isso abre caminho para interven-
avançado experimentam”, argumenta, mória e até mesmo equilíbrio”, explica o ções por meio da música”, sinaliza.
ao ressaltar que todos que têm algum psicólogo Alexandre Gonzaga dos Anjos.
contato com a música podem experi- A recuperação pode se dar por dife- ESTILOS
mentar algo semelhante por meio de rentes formas, seja indireta, porque a A música clássica tem sido a mais
uma escuta contemplativa. pessoa tem uma melhora no seu estado utilizada na musicoterapia nos países do
A musicoterapia é um processo sis- emocional e, por consequência, suporta Ocidente, por ser harmônica, rítmica,
temático de intervenção em que o tera- melhor as adversidades não só da doen- com padrões estruturados que ajudam
peuta ajuda o doente a promover a saú- ça como do próprio tratamento; como nos estados alterados de consciência,
de, usando experiências musicais como pode ser mais incidente, porque o conta- sendo reconhecida pelo seu valor te-
forças dinâmicas de mudança física ou to com a música atua diretamente no de- rapêutico. Segundo o professor da Fa-
mental. O professor José Carlos Neves senvolvimento de determinadas regiões culdade de Medicina da Universidade
da Cunha Areias lembra que há, essen- do sistema nervoso e das capacidades do Porto, José Carlos Neves da Cunha
cialmente, quatro métodos diferentes cognitivas subjacentes em que a doença Areias, já está descrita a sua eficácia na
para o uso da música: improvisar, ouvir, se manifesta. Pacientes com distúrbios condução para o relaxamento e sossego,
recriar e compor. Improvisar facilita a da fala, por exemplo, podem se benefi- sobrepondo-se às preferências musicais
comunicação e expressão emocional; ou- ciar de um tipo de terapia chamada de dos diferentes doentes. Apesar dessas
vir ajuda a tornar o indivíduo mais ativo Terapia de Entonação Melódica (MIT – evidências, não existe um estilo musical
ou mais relaxado, estimulando o autoco- do inglês Melodic Intonation Therapy), específico para determinada doença e o
nhecimento ou evocando memórias ou que tenta transpor ensinamentos do tratamento musicoterapêutico sempre
fantasias. Recriar diz respeito ao uso de canto à fala. O psicólogo conta que mu- envolve um repertório que parte do pró-
músicas existentes que a pessoa gosta de danças comportamentais foram percebi- prio paciente, porque é possível que as
tocar ou cantar, enquanto na composi- das em estudos sobre este tipo de inter- pessoas tenham reações diferentes dian-
ção o terapeuta ajuda o paciente a criar venção, assim como se constatou uma te de um mesmo estímulo musical. “A re-
música própria instrumental ou can- melhora da conexão entre as regiões de lação do paciente com a música é tão im-
tada. “A dimensão e a forma do efeito Broca (parte do cérebro responsável pela portante quanto a própria música. Caso
que a música provoca variam conforme expressão da linguagem que contém os a escolha do repertório musical seja feita
a atividade e dependem da relação que programas motores da fala) e Wernicke de forma descuidada, o resultado pode
o indivíduo estabelece. Essas alterações (parte do córtex cerebral que está ligada ser antiterapêutico”, alerta a musicote-
participam de uma cascata de eventos, à fala). “Algumas pesquisas com indi- rapeuta Diana da Silva Teixeira.

12 I Edição 68 I Dezembro de 2019


Parceria

Ação conjunta em favor da DII


Presidente da ABCD se
reúne com o ministro da
Saúde para abordar as
dificuldades e a realidade
da doença inflamatória
intestinal no Brasil

A
doutora Marta Brenner Ma-
chado, presidente da ABCD, vi-
sitou o Ministério da Saúde no
dia 8 de outubro, a convite do ministro
Luiz Henrique Mandetta, para apre-
sentar o cenário dos problemas relacio-
nados aos pacientes que convivem com
doença inflamatória intestinal no Bra-
sil. No encontro, algumas estratégias Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recebeu a presidente da ABCD, Dra. Marta Brenner Machado, e
foram definidas para serem enfrenta- ouviu atentamente as estratégias que objetivam melhorar o atendimento e tratamento dos pacientes com DII

das a partir de 2020 com objetivo de


melhorar o atendimento. Uma delas é possíveis gargalos da doença que não deste: em Fortaleza, dias 13 e 14 de
desenvolver programas de atualização estão sendo atendidos e, principalmen- março; Centro Oeste: em Goiânia, dias
médica sobre doença inflamatória in- te, ensinar os sinais de alerta para que 19 e 20 de junho; Sul e Sudeste: em São
testinal em todo o Brasil. todos os pacientes tenham direito a Paulo, dias 18 e 19 de setembro – todas
O médico Eduardo Vilela, vice-pre­ um diagnóstico precoce e, consequen- com o apoio do Ministério da Saúde, o
sidente do Grupo de Estudos da Doen- temente, a um tratamento adequado”, que é inédito.
ça Inflamatória Intestinal do Brasil afirma a médica.
(GEDIIB), acompanhou a visita e en-
tregou ao ministro o dossiê sobre me- SENSIBILIZAÇÃO
dicamentos elaborado pelo grupo para Médico e conhecedor das DII, o mi-
a Comissão Nacional de Incorporação nistro Luiz Henrique Mandetta ouviu
de Tecnologias no SUS (CONITEC). atentamente as argumentações e se
“Nosso especial agradecimento para mostrou muito receptivo para a reali-
a advogada Juliana Carla Freitas, que zação de uma ação conjunta que permi-
trabalha diretamente com o ministro ta criar novas estratégicas para a abor-
da Saúde e nos ajudou muito para a dagem da doença crônica no Brasil. “O
realização desse encontro”, acentua a ministro tem uma visão ampla da saú-
presidente da ABCD. de, entendeu o problema e se mostrou
A proposta da ABCD é promover 100% disposto a nos ajudar”, come-
atualização para todos os médicos da mora a presidente da ABCD. Para dar
rede básica de saúde, para que no pri- andamento a essas iniciativas, já estão
meiro atendimento, ainda no posto planejadas várias reuniões no decorrer
dos bairros, possam suspeitar ou iden- de 2020. Além disso, a ABCD terá três
tificar a doença inflamatória intestinal edições regionais do Fórum Brasileiro O médico Eduardo Vilela, vice-pre­sidente do
e encaminhar esses pacientes para um de Pacientes com Doença Inflamatória GEDIIB, foi convidado para acompanhar a visita
especialista. “Precisamos identificar os Intestinal (FOPADII) – Norte e Nor- no Ministério da Saúde, em Brasília

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Saúde

Conheça a importância
Cada vez mais estudos comprovam o importante papel das bactérias
intestinais para prevenir doenças e manter o equilíbrio do organismo

C
onhecida há séculos pela ciência,

Fotos: Divulgação
a microbiota intestinal tem re-
cebido cada vez mais atenção de
pesquisadores devido ao recente desen-
volvimento de metodologias de análise e
sequenciamento genético que permitem
medir a quantidade, qualidade e função
desse ambiente ecológico formado por
100 trilhões de microrganismos, princi-
palmente bactérias, de mais de 3 mil es-
pécies. Não é à toa que o intestino é cha-
mado de segundo cérebro: o órgão possui
um sistema nervoso próprio (sistema
nervoso entérico) com 100 milhões de
neurônios conectados através de sinap-
ses que produzem vários neurotransmis-
sores que regulam as funções intestinais O professor Claudio Fiocchi explica que o campo O médico Dan Waitzberg afirma que o conhecimento
de estudos com mais evidências é o da imunidade do microbioma vai ajudar a prevenir e tratar doenças
de absorção, secreção, excreção e sensibi-
lidade, principalmente à dor. Além disso, O próximo passo será estabelecer as rela- experimentais, mostram claramente que
95% de toda a serotonina do organismo ções de causalidade entre as espécies mi- o desenvolvimento imunológico de um
é produzida na região intestinal, o que crobianas e as doenças e, principalmen- animal cuja dieta é muito limitada sofre
explica a influência do órgão no com- te, entender como se dá essa relação: se muitíssimo, o sistema imunológico não
portamento, no humor e na saciedade, por efeito molecular (metagenômico) se desenvolve adequadamente, e o ani-
e aproximadamente 80% das células do ou por influência na expressão de genes mal fica com imunodeficiência. Assim
sistema imune estão concentradas no (epigenético). que se restabelece uma dieta normal, o
intestino. “Na verdade, não sabemos se a micro- sistema imunológico se desenvolve.
Os avanços no estudo da composi- biota alterada causa a doença ou a doen- O professor lembra que o mesmo
ção da microbiota intestinal nos últimos ça causa a alteração da microbiota, e isso ocorre com as crianças. Os bebês nascem
anos permitiram associar diferentes as- é um ponto fundamental. Uma vez que com pouquíssima imunidade e, a partir
sinaturas microbiológicas a muitos esta- uma enfermidade se estabelece, princi­ do parto – o natural é o mais fisiológico
dos de saúde e de doença, com destaque palmente uma doença inflamatória, devido à carga microbiana que a criança
para diversas enfermidades sistêmicas, altera uma série de fatores, inclusive a recebe da mãe ao passar pelo canal vagi-
entre as quais síndrome metabólica, obe- microbiota, o que justifica o interesse na nal – passam a receber uma importante
sidade, doenças autoimunes e até mes- investigação desse microscópico ecossis- carga microbiana, complementada pos-
mo transtornos mentais, como ansieda- tema”, afirma o professor doutor Claudio teriormente pelo leite da mãe (incluindo
de, depressão e autismo. Embora ainda Fiocchi, da Cleveland Clinic Foundation anticorpos) e fatores ambientais. Na me-
não seja possível afirmar que há uma – Lerner Research Institute, nos Esta- dida em que a criança recebe outros ali-
relação de causa e efeito, já se sabe que dos Unidos. O campo de estudos com a mentos, o sistema imunológico se desen-
quase todas as doenças, principalmente maior quantidade de evidências da in- volve. Por esse motivo, é fundamental a
as que afetam a imunidade, como cân- fluência da microbiota é o da imunidade. amamentação – preferencialmente até
cer, doenças autoimunes e enfermidades Várias pesquisas, que começaram mui- seis meses de vida – e uma dieta saudável
crônicas, têm alterações da microbiota. tos anos atrás com estudos em modelos desde a infância para criar um sistema

14 I Edição 68 I Dezembro de 2019


da MICROBIOTA
imunológico saudável, pois já está estabelecido na equilibrada –, porque existe discreta translocação
literatura científica que uma alimentação deficiente microbiana da mãe para o ambiente intraute-
na infância cria uma microbiota deficiente e, conse- rino, o que significa que o bebê no útero
quentemente, um sistema imunológico deficiente. não é completamente estéril como se
O médico cirurgião Dan Waitzberg, professor pensava até pouco tempo. “Sabemos
associado do Departamento de Gastroenterolo- que mães que têm doenças crônicas,
gia da Faculdade de Medicina da Universidade de como diabetes ou obesidade, têm
São Paulo (FMUSP), coordenador do Laboratório problemas com a gravidez e com o
de Metabologia e Nutrição em Cirurgia Digestiva parto, e as crianças são mais sus-
­(Metanutri) e da Comissão de Nutrologia do Com- cetíveis a problemas depois do
plexo Hospitalar Hospital das Clínicas, ambos da nascimento. Ainda não se sabe,
FMUSP, e diretor-pre­ sidente do Ganep Nutrição por exemplo, se a mãe obesa
Humana, ressalta que um estudo recente confirmou terá uma criança com risco
que a microbiota do bebê nascido por cesariana se de diabetes por causa de de-
assemelha à do ambiente hospitalar, com várias es- terminada bactéria intesti-
pécies de bactérias oportunistas e algumas, inclusi- nal. Assim, a única reco-
ve, resistentes a antibióticos. “Em um país onde a mendação que podemos
grande maioria dos nascimentos se faz por cesaria- dar para as gestantes é
na, este fato merece importante reflexão. O aleita- tentarem ter uma mi-
mento materno também traz benefícios ao bebê em crobiota sistêmica nor-
relação ao uso de fórmulas lácteas alimentares. Por mal e equilibrada, baseada
fim, o contato com diversos ambientes ecológicos em um comportamento pessoal
contribui para o desenvolvimento de microbiota saudável”, argumenta o pro-
saudável, que vai se estabelecer por volta dos 36 me- fessor Claudio Fiocchi, ao
ses de idade”, reitera. completar que comer em
excesso, ingerir gorduras
CUIDADOS NA GESTAÇÃO e viver estressado são
A recomendação para mulheres grávidas ou que fatores que interferem
desejam engravidar é ficarem muito atentas aos negativamente na mi-
hábitos saudáveis de vida – que incluem uma dieta crobiota intestinal.

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COMO AS BACTÉRIAS INTESTINAIS INTERFEREM NA DII
A ciência ainda não sabe exatamente quanto e existem diferentes fatores trabalhando con- maior conhecimento do microbioma venha a
a microbiota influencia nas doenças inflamató- comitantemente para o seu aparecimento. “A ser crítico para prevenir e tratar diversas doen-
rias intestinais (DII), mas existem assinaturas verdade é que, uma vez que existe uma infla- ças neurológicas, psiquiátricas, respiratórias,
microbiológicas diferentes na retocolite ulcera- mação, de qualquer tipo, haverá uma mudança cardiovasculares, gastrointestinais, hepáticas,
tiva e na doença de Crohn, embora ainda não se na microbio­ta. O grande problema está em res- autoimunes, metabólicas e oncológicas nos pró-
possa afirmar que há uma relação de causali- ponder se a microbiota que está alterada causa ximos anos. “Sabemos que 80% dos microrga-
dade. Uma das razões para os cientistas terem a doença inflamatória intestinal ou se, uma vez nismos que habitam o corpo humano ficam no
muito interesse na DII justifica-se porque, se a que há a inflamação, a microbiota fica alterada”, trato gastrointestinal, principalmente no cólon.
microbiota está alterada e há uma inflamação analisa. Portanto, é impossível dissociar a microbiota da
intestinal, pode ser que a inflamação ocorra O professor Dan Waitzberg ressalta que o DII”, complementa o professor Claudio Fiocchi.
porque a microbiota não é normal. Apesar de microbioma humano contém exponencialmen- Entretanto, por ser muito diversificada e abun-
parecer um raciocínio lógico, o professor Clau- te mais genes do que a quantidade de genes dante, não é possível quantificar ou qualificar
dio Fiocchi lembra que são doenças complexas humanos e, por isso, é muito provável que o esse ecossistema sem ver quais genes são

Dezembro de 2019 l Edição 68 l 15
Saúde

Alimentação saudável interfere na


Já está bem estabelecido que a die- de exercícios moderados; evitar álcool e mentam ou diminuem dependendo do
ta é fator fundamental para determi- jamais fumar também fazem parte das padrão alimentar de cada população.
nar o perfil da microbiota intestinal, orientações. O professor Claudio Fioc- Por exemplo, indivíduos que ingerem
e a maioria das doenças da atualida- chi lembra que, desde a revolução in- muita gordura orientam as bactérias
de pode ter uma relação direta com o dustrial, os seres humanos começaram intestinais de uma maneira que facilita
padrão alimentar. Por isso, a melhor a se afastar cada vez mais da maneira a utilização de energia e ficam cada vez
forma de manter uma microbiota in- natural de viver e comer, e boa parte mais gordos. “Se comemos o alimento
testinal saudável é por meio de uma ali- da população mundial consome muitos que a natureza produziu, é claro que
mentação equilibrada, rica em frutas, produtos processados. a tendência é formar uma microbio-
legumes e vegetais, e pobre em gordura Embora as espécies bacterianas ta saudável. Mas, uma vez que intro-
saturada e carne vermelha. Adicionar intestinais sejam as mesmas em todo duzimos alimentos processados com
um bom estilo de vida, com a prática o mundo, certos grupos au- aditivos, isso muda a composição das
bactérias. Adoçantes artificiais, por
exemplo, alteram a composição da mi-
crobiota intestinal de forma dramática,
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do ponto de vista negativo”, alerta.


O professor Dan Waitzberg acres-
centa que a dieta rica em fibras propi-
cia a formação de uma microbiota tipo
sacarolítica, enquanto o consumo exa-
gerado de carne vermelha propicia a do
tipo putrefativa. “Cada qual tem produ-
tos fermentativos distintos, sendo que
a primeira está associada a áci-
dos graxos de cadeia curta, por
exemplo, o butirato,
muito benéfico para
os colonócitos, que
são as células perten-
centes ao c­ólon. Já a
segunda se associa à pro-
dução de certas aminas, que têm sido

 COMO AS BACTÉRIAS INTESTINAIS INTERFEREM NA DII


expressados pelos microrganismos, que tipos de cepas específicas de probióticos e prebióti- COMPROVAÇÕES
de proteínas essas bactérias produzem, como cos. “Também vai auxiliar os médicos e nutri- Depois de uma década de estudos sobre mi-
é esse metabolismo e muitas outras questões. cionistas a reforçar a necessidade da mudança crobiomas, pesquisadores do Departamento de
Uma novidade na área é o mapeamento do de hábitos e estilo de vida dos pacientes. Essa Gastroenterologia do Vall d’Hebron Research
microbioma, já disponível em vários laborató- atitude inclui forçosamente a dieta, que poderá Institute, em Barcelona, vincularam a DII a uma
rios específicos – inclusive no Brasil. Segundo ser reforçada com a inclusão de nutrientes es- alteração na comunidade microbiana intesti-
o professor Dan Waitzberg, diretor científico pecíficos para buscar o equilíbrio da microbiota nal de indivíduos geneticamente predispostos.
da ­Bioma4me (que faz esse mapeamento), co- intestinal”, argumenta. Os professores concor- No estudo ‘A microbial signature for Crohn’s
nhecer a composição da microbiota intestinal dam que, a cada ano, a Medicina se aproxima ­disease’, os cientistas compararam o microbio-
na saúde e na doença permite a prevenção e das condições para ser mais personalizada, e ma fecal de pacientes com doença de Crohn e
o tratamento de algumas enfermidades e dis- considerar as diferenças genéticas em termos retocolite ulcerativa e indivíduos sem DII, em um
túrbios de saúde, assim como intervenções de polimorfismos e epigenética será um dos ca- estudo longitudinal com 2.045 amostras fecais
mais seguras a partir de indicação adequada minhos para prevenir e tratar doenças. de pacientes com DII de quatro países (Espanha,

16 I Edição 68 I Dezembro de 2019


população microbiana
associadas com a promoção do câncer antibióticos – altera de maneira signi- to têm eficácia e tudo isso depende da
de cólon”, explica. No caso de paciente ficativa a microbiota intestinal e pode microbiota. Por isso, ter uma microbio-
com doença inflamatória intestinal, es- levar a quadros de desconforto abdo- ta saudável ajuda, em caso de doença,
tudos desenvolvidos nos últimos cinco minal, diarreia ou constipação. Mais a gerar os metabólitos eficazes para
anos mostram que algumas dietas mais recentemente, os cientistas passaram a combater o problema. Dos milhares de
restritivas – chamadas de dieta de ex- investigar até que ponto o sucesso do remédios utilizados no mundo inteiro,
clusão – podem ser recomendadas (leia tratamento medicamentoso pode de- a eficácia é de apenas 40% para a po-
mais na página 18). pender da presença de determinadas pulação em geral. Por isso que muitos
A esperança é que os resultados po- bactérias para uma resposta mais efe- remédios não fazem efeito nenhum”,
sitivos dos estudos com restrição de tiva. “É o caso de certos imunossupres- enfatiza.
alguns alimentos, como açúcar, carne sores em melanoma, em que a presen- Estudos experimentais com ani-
vermelha e gordura – feitos inicial- ça da bactéria Ackermansia m ­ uciniphila mais tentam definir o papel de algumas
mente com crianças – sejam transfe- pode aumentar a taxa de resposta bactérias intestinais na metabolização
ridos para a população adulta. Para o anticâncer. Isso ocorre porque essas de medicamentos, mas é algo difícil
professor Claudio Fiocchi, entretanto, bactérias impedem a proteção que cer- de estabelecer, uma vez que a mesma
isso dependerá muito da capacidade tos tipos de câncer podem ter contra a bactéria em pessoas diferentes pode
do médico em convencer o paciente de atuação desses medicamentos”, explica ajudar ou ter um efeito negativo. Isso
que a mudança de dieta para o padrão o professor Dan Waitzberg. porque cada pessoa é tão individuali-
não inflamatório realmente vai ajudar. Todos os medicamentos têm de ser zada, do ponto de vista genético e de
“Na medida em que os estudos mostra- metabolizados pelo organismo e esse aspectos sociais, que os efeitos dos me-
rem evidências objetivas, os médicos processo de quebrar, metabolizar e ge- dicamentos e as composições das bac-
terão mais argumentos para orientar rar os princípios ativos de todas as me- térias nunca serão iguais. “Não existem
o paciente a eliminar alguns alimen- dicações depende essencialmente da duas pessoas no mundo que tenham a
tos e ter uma dieta mais saudável. Nos microbiota. O professor Claudio Fioc- mesma composição bacteriana, mesmo
próximos 20 anos, a implementação de chi acentua que, tendo uma microbiota os gêmeos univitelinos. Há vários estu-
dietas para tratamento deverá ser uma saudável, esse processo deve gerar prin- dos mostrando que gêmeos idênticos
forte demanda para a classe médica”, cípios ativos eficazes. Entretanto, se a têm o mesmo DNA, no entanto, assim
acredita. microbiota estiver alterada, o remédio que nascem cada um tem um compor-
poderá não ter a eficácia esperada. “As tamento diferente e uma microbiota
MEDICAMENTOS pessoas pensam que o medicamento diferente. Por esse motivo, essas análi-
Já está comprovado que o uso de em si faz o efeito, mas não é assim. Só ses são tão complicadas”, argumenta o
alguns medicamentos – especialmente alguns componentes do medicamen- professor Claudio Fiocchi.

Bélgica, Reino Unido e Alemanha). Os resultados cos está mais associada à doença de Crohn do dância relativa de Faecalibacterium em pacien-
apontaram que, embora compartilhem muitas que o ganho de mais bactérias patogênicas. En- tes com Crohn, e também mostram que esse
características epidemiológicas, imunológi- tre os microrganismos benéficos encontrados gênero não está ausente em pacientes com
cas, terapêuticas e clínicas, Crohn e retocolite nas amostras havia alguns envolvidos na pro- retocolite ulcerativa, tornando-o um marcador
são dois subtipos distintos de DII no nível do dução de butirato – um ácido graxo de cadeia útil para determinar a DII. As espécies bacteria-
­microbioma. curta (AGCC) produzido por bactérias localiza- nas Christensenellaceae, Methanobrevibacter
A disbiose intestinal – desequilíbrio da mi- das no cólon por meio da fermentação de amido e ­Oscillospira também foram correlacionadas
crobiota que afeta a digestão e o sistema imu- resistente, fibras dietéticas e outros polissacarí- com indivíduos com baixo índice de massa cor-
nológico – foi maior nos pacientes com Crohn deos pouco digeríveis, como ­Faecalibacterium, poral (IMC <25). Os cientistas encontraram, ain-
em relação à retocolite, com menor diversidade Christensenellaceae, Methanobrevibacter e da, microrganismos patogênicos potenciais, de-
microbiana e um estado mais instável da comu- ­Oscillospira. nominados patobiontes, como Fusobacterium e
nidade microbiana. Os cientistas descobriram, As conclusões confirmam os resultados de Escherichia – o primeiro associado a infecções
ainda, que a perda de microrganismos benéfi- muitos outros estudos que relatam menor abun- e câncer colorretal e o último com DII.

Dezembro de 2019 l Edição 68 l 17


Artigo

DIETA DE EXCLUSÃO no tratamento da


S
abe-se que alguns pacientes não disbiose é frequentemente associada à
Ilton Barbosa

respondem adequadamente à perda de diversidade microbiana, com


te­­rapia medicamentosa, e a taxa estreitamento do perfil de espécies. Tan-
de remissão com os biológicos varia mui- to alterações quantitativas e qualitativas
to, como também com os corticoides e no microbioma quanto desvios na sua
imunossupressores. A pergunta que fica atividade metabólica, imunológica, en-
é por que não se consegue controlar a dócrina e neuronal podem acontecer e,
doença em muitos pacientes com essas dessa maneira, desencadear efeitos noci-
drogas, ao longo do tempo? Alguns pes- vos, como redução da diversidade e dis-
quisadores tentam responder com cer- biose, baixa produção de butirato, perda
tas indagações: a progressão da doença da barreira da mucosa, camada de muco
ocorre apesar da redução da inflamação fina, presença de biofilme bacteriano,
porque as drogas são menos efetivas que translocação bacteriana e inflamação.
a expectativa ou porque cada biológico O microbioma exibe uma grande
controla somente um caminho da doen- plasticidade e pode facilmente se ajus-
ça, sendo que outros caminhos apare- tar a uma grande variedade de estímulos
Dra. Maria Izabel Lamounier de Vasconcelos cem conduzindo à progressão da doença ambientais e de estilo de vida. Entre es-
Nutricionista da ABCD ou, ainda, porque não estamos tratando tes fatores, a dieta é considerada um dos
os fatores que conduzem à inflamação, mais críticos que moldam as estruturas
permitindo a progressão da doença? microbianas intestinais, podendo repre-
A doença de Crohn e a retocolite ul- sentar um grande impacto na composi-
cerativa encontram-se no grupo das ção microbiana. A dieta pode afetar não
doenças inflamatórias intestinais imu- apenas a abundância relativa e absoluta
nomediadas, com evolução heterogênea de bactérias intestinais, mas também
e imprevisível. Entre os diferentes fato- sua cinética de crescimento. Constituin-
res envolvidos para o estabelecimento e tes dietéticos podem perturbar as fun-
a manutenção do processo inflamatório ções protetoras da barreira intestinal de
– predisposição genética, imunológica maneira que poderiam afetar a interface
e ambiental –, reconhece-se a impor- hospedeiro-microbioma e desencadear a
tância da participação de componentes disbiose.
da microbiota intestinal, representados A dieta ocidental tem como carac-
por bactérias, fungos e vírus, na res- terísticas baixa quantidade de fibra e é
posta imunoinflamatória do intestino rica em gordura, proteína animal, ácidos
a antígenos luminais. Isso fez crescer a graxos poli-insaturados e açúcares re-
opinião de que as bactérias comensais finados, o que resulta em disbiose com
da microbiota do intestino pudessem ter aumento da permeabilidade intestinal
um papel importante na etiopatogenia e causa inflamação. Podemos ressaltar
das DII, particularmente em condições sete pontos significantes do risco de alte-
que favorecessem sua virulência. rar a microbiota: dieta rica em gordura,
Estudos demonstram que o desbalan- emulsificantes, glúten, baixo conteúdo
ço estrutural e funcional da microbiota de fibra, maltodextrina, carragenanas e
do intestino, com decréscimo de micror- alto teor de carne vermelha e/ou proces-
ganismos com poder anti-inflamatório sada. A Nutrição Enteral Exclusiva tem
e proliferação daqueles com caracterís- sido utilizada para crianças e adolescen-
ticas pró-inflamatórias, mais do que a tes com intuito de ser uma terapia alta-
ação de um patógeno específico, está as- mente efetiva para indução da remissão
sociado com uma resposta imunológica na doença de Crohn. A estratégia é am-
desregulada, fato que ocorre nas DII. A plamente utilizada como primeira linha

18 I Edição 68 I Dezembro de 2019


doença de CROHN
de tratamento para induzir a remissão Fase 1 – Seis semanas de dieta de ex-
Resultados
nesses pacientes com doença na fase clusão (50% das necessidades calóricas)
ativa, por ter taxas de remissão entre + Modulen® (50% das necessidades A dieta de exclusão induziu a remissão na
60% e 80%. ­calóricas). doença leve a moderada e reduziu a ­inflamação;­
Na tentativa de buscar uma alter- Fase 2 – Também de seis semanas de A reexposição à dieta aumenta a inflamação
e reduz a remissão sustentada;
nativa para aumentar os resultados dieta de exclusão (75% das necessida-
Os fatores nutricionais levam à inflamação
de controle da inflamação e corrigir a des calóricas) + Modulen® (25% das ne-
na doença de Crohn e a redução destes pode
disbiose foi proposta uma dieta balan- cessidades calóricas) + reintrodução de reduzir a inflamação;
ceada, sem os alimentos que desenca- carne vermelha, frutas e vegetais. A inflamação é induzida pela disbiose com
deiam a disbiose e associada ao suple- Fase 3 – De manutenção, pode variar aumento de Proteobacteria e ocorre por um
mento Modulen®. A dieta de exclusão de nove meses a 2-3 anos e envolve die- declínio de Proteobacteria e com aumento de
tem como princípio retirar todos os ta de exclusão (75% das necessidades Firmicutes;
alimentos que desencadeiam a disbio- calóricas) + Modulen® (25% das ne- A perda da remissão ocorre com retorno rápi-
se: gordura, carne vermelha, produtos cessidades calóricas) + reintrodução de do da disbiose após a exposição aos alimentos.
industrializados com maltodextrina, alimentos restritos e uma refeição livre Assim, a dieta de exclusão associada ao
emulsificantes e glúten, além de au- com sobremesa. A última fase também ­Modulen®, por 12 semanas, funcionou como
mentar a ingestão de fibras. O protoco- inclui estilo de vida sem regime específi- terapia de primeira linha para doença de Crohn
ativa, de leve a moderada.
lo proposto inclui três fases: co, apenas com as restrições ­individuais.
Momento GEDIIB

Semana brasileira da DII e


o fortalecimento do GEDIIB
O
Grupo de Estudos da Doença

Divulgação
Inflamatória Intestinal no Bra-
sil (GEDIIB) está organizando
a 1a Semana Brasileira da Doença In-
flamatória Intestinal, que será entre
os dias 25 e 29 de março de 2020 em
Campinas, São Paulo. Para isso, além de
todo o envolvimento da diretoria e das
comissões na organização, contará com
a parceria e o apoio da ABCD, DII Bra-
sil e Pan American Crohn’s and Colitis
Organisation (PANCCO). As atividades
deverão incluir o 3o Congresso Brasilei-
ro de DII, o 1o Congresso Sul-America­
no de DII e cursos pré-congresso de
enfermagem, gastropediatria, endos-
copia, cirurgia, nutrição, ultrassono-
grafia e interpretação de imagens em
DII. Uma atividade junto às associa-
ções de pacientes será organizada em
conjunto com a ABCD por meio da pre- em todos os aspectos que envolvem a Cadastro Nacional de Pacientes, dois
sidente da entidade, a gastroenterolo- DII e participado ativamente na to- estudos multicêntricos em andamento,
gista Marta Brenner Machado, e a DII mada de decisões, posicionamentos e curso de ultrassom em DII e fortale­
Brasil, visando ampliar as discussões, participação em todas as esferas gover- cimento das ações das comissões
ações e parcerias em prol da doença in- namentais”, acentua, ao ressaltar que multidis­ciplinares (Nutrição, Enferma-
flamatória intestinal. Além disso, está o GEDIIB vem crescendo a cada gestão gem, Cirurgia, Radiologia e Gastrope-
sendo organizado o 2o Fórum Latino- e isso tem proporcionado um forta- diatria), com elaboração de consensos
a­mericano de DII, em conjunto com a lecimento e uma melhor organização e material científico. “Também temos
PANCCO e com suporte de seu presi- enquanto sociedade médica. Ao longo uma nova plataforma e um novo site,
dente, o médico Flavio Steinwurz. de 10 meses da gestão 2019/2020, por ampliamos as atividades nas redes so-
Segundo o médico gastroenterolo- exemplo, já houve a criação e organiza- ciais e fizemos mudanças no estatuto,
gista Rogério Saad Hossne, presidente ção das comissões, reuniões conjuntas ampliando para novas categorias de
do GEDIIB, o Brasil vive um aumento entre as mesmas e, juntamente com a sócios e reorganizando a comissão de
na incidência e prevalência das doenças descentralização, o resultado foi uma admissão. Além disso, fizemos um le-
inflamatórias intestinais, e ainda há maior estruturação administrativa e vantamento nacional sobre os médicos
muitas dificuldades no diagnóstico pre- um engrandecimento do grupo. que atuam em DII, curso de capacitação
coce e no acesso ao tratamento e aos es- Como resultado dessa reorganiza- para a rede básica, diretrizes em reto-
pecialistas. “Porém, a atuação e a orga­ ção, novos objetivos, metas e projetos colite ulcerativa, curso de biotecnolo-
nização de GEDIIB, ABCD, DII Brasil e foram e estão sendo alcançados, como gia e biossimilares e, ainda, dossiês e
Biored Brasil, muitas vezes trabalhan- a ampliação do número e da organiza- assessoria junto à Comissão Nacional
do de forma conjunta e em parceria, ção dos mutirões de colonoscopia, reu­ de Incorporação de Tecnologias no
tem sido fundamental nas mudanças niões semanais virtuais da Comissão SUS (CONITEC), Secretarias de Saúde
deste cenário. Essas organizações têm de Pesquisa (antiga Jovem Pesquisa- e Agência Nacional de Vigilância Sani-
atuado de forma exaustiva e brilhante dor), finalização e implementação do tária (ANVISA)”, ­enumera.

20 I Edição 68 I Dezembro de 2019


Curtas

Novas metas para a PANCCO


Presidente eleito para a gestão

Divulgação
2019-2021, o gastroenterologista
Flavio Steinwurz planeja uma série
de novidades para a entidade,
que incluem o 3o Congresso, em
2021, com participação da ABCD

A
Pan American Crohn’s and Colitis ­Organisation
(PANCCO) foi constituída em 2014 para reu-
nir gastroenterologistas de vários países da
América Latina, dos Estados Unidos e do Canadá com
objetivo de combinar esforços para a consolidação Nova diretoria da entidade foi empossada em abril e tem projetos ambiciosos
acadêmica e científica na área de doença inflamatória
intestinal (DII). O presidente emérito e fundador da
ABCD, médico Flavio Steinwurz, assumiu a presidên-
cia da PANCCO em abril e, além de dar continuidade
ao trabalho que já vem sendo desenvolvido, tem ou-
tras metas ambiciosas para a organização.
“Um dos nossos objetivos é ampliar a participação
de profissionais brasileiros na ­PANCCO, que ainda é
pequena e não reflete a importância e o conhecimento
do Brasil e dos especialistas do nosso País sobre DII”,
afirma. Outra meta é desenvolver cursos virtuais so-
bre DII para profissionais de países membros nos idio-
mas português e inglês – o espanhol é a língua oficial
da entidade –, assim como incrementar e indexar os
artigos sobre doença inflamatória intestinal na revista
IBD Reviews. No próximo ano, a PANCCO vai realizar o
novo consenso pan-americano de manejo e tratamen-
to de doença inflamatória intestinal, que deverá envol-
ver profissionais da saúde de toda a América Latina.
O objetivo é orientar sobre como prevenir, medicar e
proceder diante dos casos de DII.
Para 2021, o trabalho estará focado na realização
do 3o Congresso PANCCO, que será realizado na Re-
pública Dominicana e deverá reunir mais de 500 es-
pecialistas em DII. “Uma das nossas metas também é
aumentar o número de profissionais brasileiros nes-
te importante encontro, tanto para ministrar aulas
quanto para fazer apresentações de trabalhos científi-
cos”, detalha o médico Flavio Steinwurz. A presidente
da ABCD, doutora Marta Brenner Machado, vai apre-
sentar os dados da Jornada do Paciente no evento.

Dezembro de 2019 l Edição 68 l 21


Curtas

ABCD participa de evento na SUÍÇA


Divulgação

Arquivo pessoal
A médica Maria das Graças Pimenta Sanna (à direita) representou a ABCD no evento que reuniu especialistas em Zurique

A
doença Inflamatória intestinal foi tema de debates de diagnóstico, disponibilidade de ferramentas para o diag-
em um encontro realizado em Zurique, na Suíça, em nóstico, acesso terapêutico, novas tecnologias e qualidade de
outubro. Nomeado como Advisory Board (Conselho vida do paciente. Durante o evento, cada representante mos-
Consultivo), participaram diversas lideranças mundiais em trou um pouco da realidade de seu país, o perfil dos pacientes,
DII com objetivo de mostrarem a realidade de cada país em re- as facilidades e os desafios individuais e coletivos em relação à
lação a essas enfermidades. A ABCD foi representada pela mé- doença inflamatória intestinal.
dica Maria das Graças Pimenta Sanna, de Belo Horizonte, que “Neste bloco tivemos a oportunidade de perceber inúme-
apresentou as diversas facetas da DII no Brasil e o rico traba- ras questões bem semelhantes, independentemente do grau
lho epidemiológico desenvolvido sobre a Jornada do Paciente de disponibilidade econômica do país, como também as dis-
pela Associação. “Também apresentei a mostra Cicatrizes do crepâncias e limitações com as quais lidamos no dia a dia”,
Invisível, desenvolvida pela Associação do Leste Mineiro de acentua a médica. No segundo dia, diversos aspectos foram
Doenças Inflamatórias Intestinais (ALEMDII), que provocou discutidos em várias dinâmicas e os especialistas avaliaram
grande comoção de todos os presentes”, conta a e­ specialista. algumas possibilidades de soluções. Este encontro foi o pri-
Antes do encontro, os participantes passaram por um pe- meiro de um projeto que objetiva realizar reuniões periódicas
ríodo preparatório desenvolvido por meio de pesquisa sobre on-line com os membros do Advisory Board. O evento foi orga-
diversos aspectos envolvendo o contexto da DII, desde tempo nizado pelo laboratório Roche.

SUS disponibilizará dois novos biológicos


O Ministério da Saúde publicou uma portaria) para disponibilizar os medi- possam alterar o resultado da recente
portaria, no dia 22 de outubro, incor- camentos para os pacientes, limitados análise.
porando os medicamentos biológicos ao custo do tratamento com inflixima- Segundo relatório da CONITEC,
infliximabe e vedolizumabe para tra- be. Embora os biológicos adalimuma- a evidência disponível sobre eficácia
tamento de retocolite ulcerativa mode- be e golimumabe não tenham sido in- e segurança comparativa entre medi-
rada a grave, conforme Protocolo Clí- corporados, o Ministério informa que camentos biológicos para retocolite
nico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) a inclusão poderá ser reavaliada pela moderada a grave é oriunda de meta-
no âmbito do Sistema Único de Saúde Comissão Nacional de Incorporação de nálises indiretas mostrando que, em
(SUS). As áreas técnicas do Ministério Tecnologias no SUS (CONITEC), caso pacientes que não fizeram uso prévio
têm 180 dias (a contar da publicação da sejam apresentados fatos novos que de biológicos, o infliximabe e o vedo-

22 I Edição 68 I Dezembro de 2019


Divulgação
Serviços

• A Associação Brasileira de
Colite Ulcerativa e Doença
de Crohn (ABCD) vem
realizando parcerias com
instituições renomadas no
sentido de proporcionar
benefícios para seus
associados. Para receber o
desconto, basta informar ao
atendente que é associado
da ABCD. Os percentuais

CICATRIZES do Invisível
de desconto, tipos de
exames ou serviços variam
de acordo com a entidade
conveniada. Consulte a lista
atualizada no site

P
ara mostrar que aparência nem O evento recebeu profissionais de saú-
sempre reflete o que se passa com de, estudantes, pacientes e familiares, que www.abcd.org.br.
um indivíduo com doença de Crohn participaram de mesas-redondas sobre o
e retocolite ulcerativa, a Associação do Leste assunto. A médica Marta Brenner Macha- • A ABCD também mantém
Mineiro de Doenças Inflamatórias Intesti- do, presidente da ABCD, participou do en- o projeto Mantenedor Revista
nais (ALEMDII) realizou uma exposição fo- contro e destacou a importância de divulgar ABCD em FOCO, com
tográfica com o propósito de mostrar a face as DII para todos os profissionais da saúde, objetivo de dar continuidade
e as cicatrizes de nove pacientes com DII. pois, assim, será possível oferecer um diag- às publicações da revista
As fotos foram expostas separadamente: nóstico correto e o tratamento adequado que, desde 1999, alcançam
as faces foram acompanhadas do nome do em todas as partes do Brasil. A professora pessoas carentes de
paciente e tempo de diagnóstico, enquanto doutora da Universidade Federal de Minas informações sobre essas
nas fotos das cicatrizes foi contada apenas a Gerais (UFMG), Maria de Lourdes de Abreu enfermidades em diversas
história de superação de cada um, sem iden- Ferrari, responsável pelo Ambulatório de regiões do Brasil. Atualmente,
tificá-los. A Exposição Cicatrizes do Invi­ Gastroenterologia no Hospital das Clínicas a ABCD em FOCO tem duas
sível foi lançada durante o WorkDII e o IV da Instituição, abordou a importância de publicações anuais (junho
Congresso da ALEMDII, realizados em ou- manter uma boa relação médico-paciente e dezembro) e também a
tubro na cidade de Caratinga, Minas Gerais. por se tratar de doenças crônicas. versão on-line com acesso
gratuito.

RETOCOLITE
• A revista é distribuída para

para pacientes, clínicas, hospitais,


laboratórios, médicos e
outros profissionais da
lizumabe são os mais bem classifica- área da saúde envolvidos
dos para induzir a remissão clínica e a com doenças inflamatórias
cicatrização da mucosa. As evidências intestinais. O objetivo é
sugerem, ainda, que o infliximabe apre- alcançar todas as cidades do
senta um desempenho melhor do que Brasil! Quem desejar ter a
o adalimumabe e o golimumabe. O re- sua empresa como apoiadora
latório sobre o tema está disponível no deste projeto pode entrar
endereço eletrônico http://conitec.gov. em contato pelo telefone
Freepik/jcomp

br/images/Relatorios/2019/Relatorio_­ (11) 3064-2992 ou e-mail


Biologicos_Colite_Ulcerativa.pdf. secretaria@abcd.org.br.

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