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Apostila Gestão Financeira
Apostila Gestão Financeira
Inclui bibliografia
ABERTURA DA DISCIPLINA............................................................................................................5
Mensagem do professor.......................................................................................................5
Introdução...............................................................................................................................6
Objetivos.................................................................................................................................7
Resumo...................................................................................................................................4 6
Resumo...................................................................................................................................7 3
Resumo...................................................................................................................................9 4
MÓDULO 4: GESTÃO DO CAPITAL DE GIRO.................................................................................9 6
Resumo................................................................................................................................ 115
Caro(a) aluno(a),
A disciplina Gestão Financeira foi elaborada considerando os desafios dos profissionais, se-
jam do mercado financeiro, das áreas de finanças das empresas ou de outros setores, no
que diz respeito à tomada de decisão em finanças corporativas. O objetivo aqui é oferecer o
conhecimento necessário para a elaboração de análises de projetos de investimento, defini-
ções de fontes de financiamento e gerenciamento das finanças de curto prazo.
Ao longo dos módulos, serão explicados os principais conceitos que envolvem as finanças
corporativas, como orçamento de capital para análise e escolha de projetos de investimen-
to, risco e retorno, estrutura de capital e gestão de capital de giro. Também serão vistos
exemplos aplicados desses conceitos, por meio de estudos de caso, que podem contemplar
desafios com os quais você já lidou ou terá de lidar em sua atividade profissional.
Esperamos que este material o ajude a enfrentar situações cotidianas que exijam o conheci-
mento das técnicas e dos assuntos expostos.
Bons estudos!
O ambiente de negócios tem passado por mudanças significativas nos últimos anos. Com a
globalização, muitas organizações redefinem suas fronteiras, fortalecendo suas competên-
cias e integrando seus canais de relacionamento com clientes e fornecedores. A competição
se desloca das empresas para as grandes redes de suprimentos.
O mundo passou por grandes transformações nas últimas duas décadas. A globalização
permitiu maior acesso à informação e à tecnologia. É fato que esse desenvolvimento trouxe
facilidades, mas também aumentou o risco e o grau de complexidade dos mercados. Em um
contexto em que a competitividade nunca esteve tão acirrada, é fundamental que empresas
e instituições possuam uma gestão financeira eficiente, que ajude na consecução de suas
estratégias corporativas.
O objetivo central desta disciplina é, portanto, apresentar uma visão técnica e ampla do pro-
cesso de gestão financeira de empresas, aplicável e útil aos profissionais dos mais diversos
tipos de corporações.
OBJETIVOS
Após concluir o estudo do curso Gestão Financeira, você será capaz de:
ORÇAMENTODECAPITAL
INTRODUÇÃO DO MÓDULO
Neste módulo, será abordado um conjunto de técnicas utilizadas pelas corporações para
análise e escolha de projetos de investimento, nomeado nos textos acadêmicos de finanças
como orçamento de capital. O processo de análise se inicia com a projeção de fluxos de cai-
xa futuros do empreendimento e a definição do custo de capital associado ao seu risco. De
posse dessas informações, são aplicadas métricas que permitem verificar a viabilidade dos
projetos e auxiliar na definição de quais empreendimentos devem ser priorizados, conside-
rando que na, maior parte das vezes, as empresas convivem com restrições orçamentárias
para investir.
OBJETIVOS DO MÓDULO
ESTRUTURA DO MÓDULO
Para melhor compreensão das questões que envolvem o orçamento de capital, este módulo
está dividido em:
UNIDADE 1
O QUE É ORÇAMENTO DE CAPITAL
Fonte: Shutterstock
De tal modo, o orçamento de capital descreve o planejamento de longo prazo para avaliar,
escolher os investimentos a realizar e monitorar os desembolsos de capital dos projetos ou
programas da companhia (HORNGREN; SUNDEM; STRATTON, 2004).
12 GESTÃO FINANCEIRA
Projeto de investimento
De forma abrangente, entende-se que projeto de investimento é qualquer ação empresarial
que envolva o uso de recursos corporativos na intenção de promover benefícios futuros.
Eventualmente, os projetos podem apresentar, exclusivamente, um cunho social, não tendo
como objetivo principal a geração de valor ou lucro. Só que, de modo mais frequente, os
projetos são notadamente capitalistas, devendo pagar os recursos neles investidos e ainda
gerar algum retorno aos acionistas.
Os projetos podem ser classificados de diversas maneiras. Uma delas diz respeito a como
determinado projeto afetará outras iniciativas que a empresa está analisando e consideran-
do. Alguns são independentes da análise de quaisquer projetos, já outros são mutuamente
excludentes, isto é, assumir um representará a rejeição dos demais. Outra forma de classifi-
cá-los seria avaliar sua capacidade de gerar receitas ou reduzir custos. Em ambos os casos,
procura-se analisar se os investimentos efetuados no projeto resultam em fluxos de caixa
incrementais suficientes para o adequado retorno dos capitais investidos.
Em geral, há mais de uma opção de projeto a ser levada adiante. Contudo, a escassez de
recursos dificilmente permitirá que todos sejam implementados.
Priorização de projetos
Para essas decisões de aprovação e escolha, as técnicas de avaliação são aplicadas nos flu-
xos de caixa futuros projetados para o decorrer da vida do projeto. Estes são descontados
para a data atual, utilizando-se uma taxa de juros compostos, que deve refletir o custo de
capital da empresa. As técnicas mais comumente usadas na avaliação de projetos são:
■■ o payback;
Todas essas técnicas buscam responder as questões que mais inquietam os investidores e
os gestores corporativos:
Qual é a rentabilidade esperada e quanto o projeto deixará mais ricos os detentores do pa-
trimônio líquido?
Custo de capital
Fonte: Shutterstock
Adicionalmente à estimativa dos fluxos de caixa do projeto, é fundamental ter uma correta
definição do custo de capital associado ao seu risco, visto que este indicará a rentabilidade
periódica esperada que deixaria os investidores minimamente satisfeitos, em função do
risco do empreendimento. O custo de capital é também chamado de custo de oportunidade
do dinheiro, taxa mínima de atratividade (TMA) ou taxa de desconto.
No decorrer do texto, o custo de capital que será utilizado em diversas equações será cha-
mado de taxa K, ou simplesmente K.
14 GESTÃO FINANCEIRA
Devido à sua relevância, não somente nas decisões de investimento, mas, basicamente, em
todos os tipos de decisões em finanças corporativas, o Módulo 2 da disciplina será total-
mente voltado à taxa K. Neste primeiro momento, é fundamental somente compreender os
principais componentes presentes nessa taxa: o prêmio pela espera e o prêmio pelo risco.
Cabe observar que cada tipo de projeto terá sua própria taxa K em virtude do grau de risco
envolvido em seus fluxos de caixa futuros, ou seja, pela possibilidade de que os fluxos não
se materializem conforme o esperado.
SAIBA MAIS
Os títulos do governo dos Estados Unidos são considerados os mais seguros do mun-
do, funcionando como base para medir o prêmio de risco. Já o Brasil está na lista dos
países que oscilam entre períodos mais e menos confiáveis na percepção dos investi-
dores globais.
15 GESTÃO FINANCEIRA
UNIDADE 2
ESTIMATIVA DE FLUXOS DE CAIXA DO PROJETO
Fonte: Shutterstock
Nas corporações, principalmente as que possuem níveis mais elevados de governança cor-
porativa, o uso de técnicas de avaliação é um pré-requisito para a tomada de decisão em
projetos de investimento. Além do habitual uso em projetos que envolvem investimentos
em ativos fixos – como compra de máquinas e de imóveis e construção de fábricas –, as
técnicas de avaliação atualmente são utilizadas em tomadas de decisões a respeito de lan-
çamento de novos produtos, entrada em novos mercados e terceirização de atividades.
O conhecimento das técnicas de avaliação deve ser entendido como um pilar intelectual,
que auxilia e norteia as decisões dos gestores e executivos de empresas, seja da área finan-
ceira ou de qualquer outra envolvida na criação de valor de uma empresa.
Conceitualmente, o fluxo de caixa de longo prazo não difere do fluxo de caixa de curto prazo
utilizado pelas empresas. Entretanto, na elaboração do fluxo de caixa de longo prazo, devem
ser consideradas algumas regras e princípios básicos, como:
Além dos princípios citados anteriormente, outro conceito de fundamental importância para
a correta avaliação de projetos – em especial no caso de projetos de expansão de unidades
existentes ou de construção de novas unidades em empresas que já seriam operacionais – é
a apuração de fluxos de caixa em bases marginais.
Fluxo de caixa marginal é o fluxo de caixa que o projeto cria para a empresa, não consi-
derando custos já ocorridos (custos afundados) ou mesmo custos preexistentes, os quais
ocorreriam no futuro, independentemente da sua implementação. Um exemplo de custos
afundados é o investimento em pesquisa e desenvolvimento que já tenha sido efetuado
independentemente da aceitação ou não do projeto e, portanto, não poderia mais ser recu-
perado. Esse custo não deve, por conseguinte, ser incluído na análise.
Fonte: Shutterstock
17 GESTÃO FINANCEIRA
Para efetuar a projeção dos fluxos de caixa de um projeto, um analista deverá buscar res-
postas para uma série de questões, entre as quais, destacam-se:
■■ Qual será o crescimento das receitas do ativo no decorrer dos próximos anos?
■■ Qual deve ser o valor das despesas operacionais da empresa (ou projeto)?
As respostas para tais perguntas serão a base para o estabelecimento das premissas dos
fluxos de caixa futuros gerados pelo ativo e dos fluxos da taxa de desconto (taxa K) utilizada
para desconto desses.
Fonte: Shutterstock
18 GESTÃO FINANCEIRA
Receitas brutas
Receitas brutas
É possível observar que o que diferencia os dois fluxos de caixa é a ausência, no fluxo de caixa
da empresa, dos juros e das entradas e saídas de recursos provenientes do endividamento
com terceiros. De tal modo, a análise do fluxo de caixa da empresa adota o custo médio pon-
derado de capital, que inclui tanto a parcela do custo de capital próprio quanto o custo de
capital dos credores. Nos exemplos e exercícios propostos no decorrer da apostila, serão utili-
zados somente o fluxo de caixa do acionista. No entanto, você conhecerá as situações em que
os projetos seriam financiados exclusivamente por recursos provenientes do capital próprio,
caso em que o fluxo de caixa do acionista seria coincidente com o fluxo de caixa da empresa.
Fonte: Shutterstock
A OMX deseja avaliar um projeto de expansão de suas operações e para tanto necessita co-
nhecer o fluxo de caixa incremental do empreendimento. O investimento inicial (desembol-
so de capital) estimado para sua montagem é de $ 15 milhões, os quais serão depreciados
ao longo dos 10 anos de vida útil de seus ativos, não sendo necessários reinvestimentos no
decorrer desse período. O projeto será financiado integralmente por recursos dos sócios
da OMX, e o valor residual dos ativos depreciados ao término do período é considerado
irrelevante. As receitas líquidas anuais (receitas brutas deduzidas de impostos sobre o fa-
turamento) projetadas para os 10 anos do empreendimento são de $ 22,5 milhões. Os cus-
tos variáveis são estimados em 60% das receitas e as despesas operacionais incrementais
decorrentes de sua implantação deverão se situar em $ 3,5 milhões ao ano. A alíquota de
impostos sobre o resultado é de 34%. Estima-se que o projeto não afete a necessidade de
capital de giro da empresa.
20 GESTÃO FINANCEIRA
- Depreciação e
-1.500 -1.500 .... -1.500
amortização
- Juros -0 -0 .... -0
+ Depreciação e
+1.500 +1.500 .... +1.500
amortização
- Desembolso de
- 15.000 -0 -0 .... -0
capital
- Variação de
-0 -0 .... -0
capital de giro
Como pode ser visto na tabela anterior, não ocorre pagamento de dívidas porque a OMX
utilizou apenas recursos próprios para execução do projeto. Conforme dito anteriormente,
o fluxo de caixa do acionista será coincidente com o fluxo de caixa da empresa.
do projeto, um valor terminal que representa entradas de caixa relacionadas com o desinves-
timento, como receita da venda dos equipamentos adquiridos no início do projeto e, também,
entradas de caixa relacionadas com o retorno dos investimentos em capital de giro.
No entanto, alguns projetos não são considerados finitos. Nesse sentido, segundo Damo-
daran (1998), o valor de uma anuidade que dura para sempre é chamado de perpetuidade,
que pode crescer a uma taxa constante chamada de g (inicial da palavra em inglês growth).
UNIDADE 3
Fonte: Shutterstock
22 GESTÃO FINANCEIRA
Essas três dúvidas podem ser respondidas, respectivamente, pelas três métricas mais popu-
larmente utilizadas na avaliação de projetos: o payback, a TIR e o VPL.
O payback
O payback de um projeto é o tempo necessário para que o investimento inicialmente efe-
tuado seja recuperado ou, em outras palavras, o período em que o projeto “se paga”. Em
virtude da sua simplicidade, esse método é bastante popular e comumente utilizado em
associação a outras metodologias, como a TIR e o VPL.
Payback simples – utiliza os fluxos de caixa do projeto sem qualquer tipo de ajuste.
Payback descontado – trabalha com fluxos de caixa atualizados, trazidos a valor presente,
pelo custo de capital do projeto.
O payback simples desconsidera o “custo do dinheiro” em sua análise e, por isso, não é capaz
de apontar a viabilidade de um projeto. No caso do payback descontado, para que o proje-
to seja considerado viável é necessário que o prazo de retorno dos recursos seja inferior à
duração do projeto; ou seja, se o payback descontado for inferior à vida útil do projeto, este
poderá ser considerado viável.
Em indústrias com alto grau de inovação tecnológica, os paybacks limites para projetos de-
vem ser mais curtos do que em indústrias com baixo grau de inovação.
23 GESTÃO FINANCEIRA
0 -15.000 -15.000
1 4.140 -10.860
2 4.140 -6.720
3 4.140 -2.580
4 4.140
Tabela 1.2 Payback simples do projeto de expansão da OMX.
Como se pode observar na coluna “Saldo”, ao término do terceiro ano faltaria retornar $
2,58 milhões. Considerando que no decorrer do quarto ano o projeto produziria um fluxo
de caixa de $ 4,14 milhões, adicionalmente aos três anos, a OMX necessitaria de 0,62 anos
(aproximadamente sete meses e meio) para obter o retorno dos recursos investidos no pro-
jeto. Dessa forma, o payback simples do projeto de expansão seria de 3,62 anos (três anos
e sete meses e meio).
Como é possível observar na coluna “Saldo”, ao término do quinto ano faltaria retornar $
1,12 milhão. Considerando que, no decorrer do sexto ano, o projeto produziria um fluxo de
caixa descontado de $ 1,79 milhão, adicionalmente, aos cinco anos, a OMX necessitaria de
0,63 ano (aproximadamente sete meses e meio) para obter o retorno dos recursos investi-
dos no projeto. Dessa forma, o payback descontado do projeto de expansão seria de 5,63
anos (cinco anos e sete meses e meio), o que sugeriria sua viabilidade, considerando que os
recursos investidos no empreendimento retornariam capitalizados pelo custo de oportuni-
dade antes do término da vida do projeto.
Em que:
Io = investimento inicial
K = custo de capital
■■ Se projeto viável.
Justificativa – o projeto cria valor para empresa, ou seja, deixa os seus investidores
mais ricos.
■■ Se projeto inviável.
Justificativa – o projeto destrói valor para empresa, ou seja, deixa os seus investidores
menos ricos.
Fonte: Shutterstock
26 GESTÃO FINANCEIRA
O cálculo da VPL pode ser efetuado utilizando a função VPL (ou NPV em inglês) no software
Excel ou pela calculadora HP12C. Os passos na HP12C são:
Com base nos fluxos estimados, o valor criado pelo projeto (VPL) seria de $ 5,78 milhões, o
que sugeriria sua viabilidade, considerando que o empreendimento aumentaria a riqueza
dos acionistas da OMX.
TOME NOTA
No Excel, a função VPL não inclui a parcela inicial (data 0). Para obter o valor presente
líquido, incluindo a parcela inicial, é necessário adicioná-la ou subtraí-la, conforme o
caso (fluxo positivo ou negativo).
27 GESTÃO FINANCEIRA
Em que:
Io = investimento inicial
Para análise de projetos convencionais, que possuem fluxos de caixa positivos no decorrer
de sua vida após o aporte inicial (Io), a regra de decisão para viabilidade de projetos utilizan-
do a TIR é trivial:
■■ se projeto viável.
■■ se projeto inviável.
O cálculo da TIR pode ser efetuado utilizando a função TIR (ou IRR em inglês) no software
Excel ou pela calculadora HP12C. Os passos na HP12C são:
Fonte: Shutterstock
projeto os valores dos fluxos de caixa positivos, corrigidos pelo K, e para o início do projeto
todos os fluxos negativos, também atualizados pelo K, e, então, recalcular a TIR com os dois
fluxos decorrentes (um de investimento no início e um de retorno no fim do período).
A regra de decisão para MTIR é similar à da TIR tradicional para fluxos convencionais:
A figura a seguir demonstra a técnica para a obtenção dos fluxos para cálculo da MTIR.
Em que:
No entanto, é possível que um projeto apresente diversos fluxos de caixa negativos sem a
ocorrência de múltiplas TIR, pois o surgimento de mais de uma TIR está condicionado ao
tamanho/relevância dos fluxos de caixa negativos. Caso esses fluxos sejam proporcional-
mente pequenos em relação aos positivos, é provável que não surjam múltiplas TIR.
Na HP12C, é possível efetuar um procedimento para a obtenção do valor das múltiplas TIR.
Para tanto, é necessário auxiliar a calculadora “convidando” taxas para que a HP inicie a bus-
ca em suas imediações. Após o surgimento da mensagem ERROR 3 no visor da calculadora,
deve-se efetuar a seguinte sequência de passos:
2. “ x” i ------------> Sugerir uma nova taxa x% para a HP12C buscar da primeira TIR.
Do mesmo modo, para obter a segunda TIR é necessário repetir o procedimento substi-
tuindo, porém, a taxa “convidada” e, assim por diante, conforme a quantidade de fluxos
negativos.
2. “ x” i ------------> Sugerir uma nova taxa x% para a HP12C buscar da segunda TIR.
UNIDADE 4
ESTUDOS DE CASO
Fonte: Shutterstock
Esta unidade é dedicada exclusivamente à aplicação dos conceitos e fórmulas estudadas até
agora. Para isso, serão vistos três estudos de caso.
que esse nicho de mercado está em franca expansão e que nos próximos cinco anos haverá
um crescimento substancial da demanda, chegando à maturidade após esse período (acom-
panhando o crescimento da população).
b. a manutenção da empresa após o quinto ano, com o crescimento das vendas acompa-
nhando o crescimento da população (1% ao ano).
Lembre-se de que este primeiro estudo de caso envolve os conceitos de orçamento de capi-
tal, vistos na Unidade 1 deste módulo.
Dados financeiros
Investimentos:
■■ Data 0 – $ 1.000.000,00
■■ Data 2 – $ 500.000,00
■■ Data 4 – $ 500.000,00
■■ Data 5 – $ 500.000,00
Receitas:
Outros dados:
Solução
a. A tabela a seguir apresenta o fluxo de caixa projetado para os cinco anos de vida do
projeto da Muito Bom Ltda.
(em milhares $) 0 1 2 3 4 5
- Depreciação e
100 100 150 150 200
amortização
- Juros -0 -0 -0 -0 -0
+ Depreciação e
+100 +100 +150 +150 +200
amortização
- Desembolso de
-1000 -0 -500 -0 -500 -500
capital
- Variação de
-375 -188 -169 -146 -88
capital de giro
+/- Dívidas -0 -0 -0 -0 -0
(=) Fluxo
de caixa do -1000 63 406 1528 1563 1941
acionista
Tabela 1.4 Fluxo de caixa do acionista biscoitos Muito Bom Ltda.
Memória de cálculo:
34 GESTÃO FINANCEIRA
■■ Receita:
■■ Custos:
■■ Impostos:
■■ Var. CDG ano 1 = CDG ano 1 – CDG ano 0 = (15% Rec.ano 1) – (15% Rec.ano 0)
■■ Var. CDG ano 1 = (15% x 2.500) – (15% x 0) = 375 – 0 = 375
■■ Var. CDG ano 2 = CDG ano 2 – CDG ano 1 = (15% Rec.ano 2) – (15% Rec.ano 1)
■■ Var. CDG ano 2 = (15% x 3.750) – (15% x 2.500) = 563 – 375 = 188
■■ Var. CDG ano 3 = (15% x 4.875) – (15% x 3.750) = 169
■■ Var. CDG ano 4 = (15% x 5.850) – (15% x 4.875) = 146
■■ Var. CDG ano 5 = (15% x 6.435) – (15% x 5.850) = 88
No caso de paralisação da fábrica ao final do ano 5, supõe-se que os ativos imobilizados, fru-
to dos desembolsos de capital efetuados nos períodos de 0 a 5, seriam vendidos pelo valor
contábil depreciado (valor investido menos a depreciação acumulada no período):
Ou, alternativamente:
Os valores de venda do imobilizado e da volta do CDG, que juntos totalizaram $ 2.765,00, se-
rão somados ao fluxo de caixa do ano 5 para o cálculo dos indicadores de análise do projeto.
Considerando o fluxo de caixa estimado para o projeto, o valor terminal estimado para o
ano 5 e o custo de capital adequado ao risco do empreendimento (taxa K) de 13%, será ana-
lisado o projeto da fábrica de biscoitos saudáveis Muito Bom Ltda. utilizando os indicadores
payback, TIR e VPL. A tabela seguinte demonstra a evolução do saldo de entradas e saídas
dos fluxos de caixa do projeto.
36 GESTÃO FINANCEIRA
0 -1.000 -1.000
1 63 -937
2 406 -531
3 1.528
Tabela 1.5 Payback simples do projeto fábrica de biscoitos Muito Bom Ltda.
É possível observar que na coluna “Saldo”, ao término do ano 2, faltaria retornar $ 531 mil.
Considerando que no decorrer do ano 3 o projeto produziria um fluxo de caixa de $ 1.528,00,
seriam necessários, adicionalmente aos dois anos, 0,35 anos (aproximadamente quatro me-
ses) para a obtenção do retorno dos recursos investidos. Dessa forma, o payback desconta-
do do projeto de expansão seria de 2,35 anos (dois anos e quatro meses).
A tabela a seguir demonstra a evolução do saldo de entradas e saídas dos fluxos de caixa
atualizados do projeto da fábrica de biscoitos Muito Bom Ltda.
Fluxo de caixa
Período Fluxo de caixa Fator de desconto Saldo
descontado
0 -1.000 1,00 -1.000 -1.000
1 63 1,13 56 -944
Como se pode verificar na coluna “Saldo”, ao término do ano 2 faltaria retornar $ 626 mil.
Considerando que no decorrer do ano 3 o projeto produziria um fluxo de caixa descontado
de $ 1.059,00, seriam necessários, adicionalmente aos dois anos, 0,59 anos (aproximada-
mente sete meses) para a obtenção do retorno dos recursos investidos. Dessa forma, o
payback descontado do projeto de expansão seria de 2,59 anos (dois anos e sete meses), o
que sugeriria sua viabilidade, considerando que os recursos investidos no empreendimento
retornariam capitalizados pelo custo de oportunidade antes do término da vida do projeto.
Considerando os fluxos de caixa estimados para o projeto da fábrica de biscoitos Muito Bom
Ltda. o cálculo do VPL pode ser efetuado pela fórmula:
Cabe lembrar que, ao considerar o valor terminal da fábrica ao final do quinto ano, no caso
de paralização da fábrica, o cálculo do VPL é efetuado pela fórmula:
Alternativamente, o VPL do projeto pode ser calculado em conjunto com a TIR pela calcula-
dora HP12C, efetuando os seguintes passos:
Com base nos fluxos estimados e com o fim da fábrica ao final do ano 5, o valor criado pelo
projeto (VPL) seria de $ 3.945,00 e a rentabilidade anual esperada (TIR) seria de 70,3%, o que
sugeriria sua viabilidade, considerando que o empreendimento aumentaria a riqueza dos
acionistas e a rentabilidade esperada seria superior ao seu custo de oportunidade (K) de 13%.
Para análise da continuidade do projeto da fábrica de biscoitos Muito Bom Ltda., será utiliza-
do o mesmo fluxo de caixa estimado para os primeiros cinco anos do projeto. A diferença na
avaliação se encontra, especificamente, no valor terminal do empreendimento. No caso em
questão, soma ao valor do fluxo de caixa do ano 5 o valor de uma perpetuidade estimada
com base no fluxo projetado para o ano 6 da empresa, considerando um crescimento de 1%
38 GESTÃO FINANCEIRA
ao ano. Para projeção do fluxo de caixa do ano 6, será considerado um aumento no valor
das receitas de 1% em relação ao ano anterior e um reinvestimento (desembolso de capital)
similar à depreciação, garantindo a manutenção do ativo imobilizado da companhia. Os de-
mais cálculos são similares aos apresentados na memória de cálculo usada para projeção
dos fluxos dos cinco anos anteriores. A tabela 1.7 apresenta a projeção do fluxo de caixa do
ano 6 da fábrica de biscoitos Muito Bom Ltda.
- Despesas -1.200
- Custos -1.950
- Juros -0
- Impostos -775
+/- Dívidas -0
Tabela 1.7 Fluxo de caixa do ano 6 da fábrica de biscoitos Muito Bom Ltda.
Com base nos fluxos estimados, o valor criado pelo projeto (VPL) seria de $ 12.915,00 e a
rentabilidade anual esperada (TIR) seria de 104%, o que sugeriria sua viabilidade, conside-
rando que o empreendimento aumentaria a riqueza dos acionistas e a rentabilidade espera-
da seria superior ao seu custo de oportunidade (K) de 13%. Tanto o payback simples quanto
o descontado seriam idênticos ao do caso da paralisação no ano 5 do projeto.
Dados financeiros
Solução
F REG; 1000 CHS G Cfo; 800 G Cfj; 1000 G Cfj; 1300 G Cfj; 2200 CHS G CFJ; F IRR
O resultado obtido após a introdução dos dados na calculadora será a mensagem ERROR 3,
o que em termos práticos significa a presença de mais de uma solução para a TIR, ou seja, o
fluxo de caixa em questão possui múltiplas TIR. Esse fenômeno ocorre em situações em que
se encontram fluxos de caixa não convencionais, nos quais, além do investimento inicial,
outros fluxos de caixa negativos no decorrer da vida do projeto são esperados.
No entanto, é possível que um projeto apresente diversos fluxos de caixa negativos sem a
ocorrência de múltiplas TIR, pois o surgimento de mais de uma TIR está condicionado ao
tamanho/relevância dos fluxos de caixa negativos. Caso esses fluxos sejam proporcional-
mente pequenos em relação aos fluxos positivos, é provável que não surjam múltiplas TIR.
Na HP12C, é possível efetuar um procedimento para a obtenção do valor das múltiplas TIR.
Para tanto, é necessário auxiliar a calculadora “convidando” taxas para que a HP inicie a bus-
ca em suas imediações. Após o surgimento da mensagem ERROR 3 no visor da calculadora,
efetua-se a seguinte sequência de passos:
O valor encontrado após o procedimento foi 6,60%. Para a obtenção da segunda TIR é ne-
cessário repetir o procedimento substituindo, porém, o “convidado”:
Supondo que o K do projeto fosse de 5%, este seria viável? A referência da regra de decisão
para o caso de uma única TIR nos sugeriria que sim, pois, se as duas TIR são maiores que
K, o projeto deveria ser viável. No entanto, curiosamente, a resposta correta seria: projeto
inviável.
Ocorre que, na presença de duas TIR, para que o projeto seja viável, o K apropriado ao risco
do empreendimento deverá se situar no intervalo entre as duas TIR. Logo, na presença de
duas TIR, supondo que , tem-se que:
se projeto viável;
se ou projeto inviável.
No caso em questão, qualquer taxa K entre 6,60% e 36,55% implicaria na viabilidade do pro-
jeto, enquanto taxas K inferiores a 6,60% e superiores a 36,55% implicariam em sua inviabi-
lidade. Para um melhor entendimento desse fenômeno, é analisado o resultado do VPL do
projeto, considerando diferentes patamares de taxa K, conforme demonstrado na tabela e
na figura seguintes.
K VPL
0,00% ($100,00)
5,00% ($18,02)
42 GESTÃO FINANCEIRA
6,60% $ 0,00
10,00% $ 27,80
20,00% $ 52,47
30,00% $ 28,54
35,00% $ 7,31
36,55% ($ 0,00)
40,00% ($ 17,28)
Tabela 1.8 Sensibilidade do VPL em relação ao K no caso do fluxo de caixa não convencional.
Figura 1.2 Sensibilidade do VPL em relação ao K no caso do fluxo de caixa não convencional.
Mesmo sendo possível construir uma regra de decisão para projetos não convencionais, fica
evidente a dificuldade em explicá-la aos interessados na análise de viabilidade do projeto. Se
a situação é complicada na presença de duas TIR, imagine no caso de três ou mais, quando
teria que calcular faixas de taxa K em que o projeto seria viável, sendo intercaladas por ou-
tras faixas em que o projeto seria inviável.
No intuito de simplificar a análise, é possível utilizar uma técnica conhecida como TIR mo-
dificada (MTIR). Tal técnica consiste em transportar os valores dos fluxos de caixa positivos,
corrigidos pelo K, para o fim da vida do projeto e para o início, todos os fluxos negativos,
também atualizados pelo K, e, então, recalcular a TIR com os dois fluxos decorrentes (um de
investimento no início e um de retorno no final do período).
43 GESTÃO FINANCEIRA
A regra de decisão para MTIR é similar à da TIR tradicional para fluxos de caixa convencio-
nais: projeto viável e projeto inviável.
A tabela a seguir apresenta a conversão do fluxo de caixa do caso base, supondo uma taxa
K de 20%.
0 -1.000 -2.060,96
1 800 0
2 1.000 0
3 1.300 0
4 -2.200 4.382,40
Tabela 1.9 Conversão do fluxo de caixa não convencional em fluxo modificado para o cálculo da MTIR.
O resultado obtido para MTIR é 20,76%, superior à taxa K de 20%, o que implica na viabilida-
de do projeto, concordando com o resultado revelado pelo VPL positivo ($ 52,47) apresen-
tado na tabela 1.8.
K MTIR VPL
Dados financeiros
Considere os fluxos de caixa dos projetos excludentes Alpha e Beta apresentados na tabela
a seguir.
0 -1.000 -1.000
1 200 800
2 400 800
3 800 400
4 1.600 400
Tabela 1.11 Fluxos de caixa dos projetos Alpha e Beta.
Supondo uma taxa K de 16%, verifica-se a viabilidade do projeto e se define qual deve ser es-
colhido. O cálculo do VPL e da TIR de ambos os projetos pode ser efetuado pela calculadora
HP12C, executando o procedimento sugerido na sequência:
■■ Projeto Alpha:
45 GESTÃO FINANCEIRA
F REG; 1000 CHS G Cfo; 200 G Cfj; 400 G Cfj; 800 G Cfj; 1600 G Cfj; 16 i F NPV; F IRR
■■ Projeto Beta:
F REG; 1000 CHS G Cfo; 800 G Cfj; 800 G Cfj; 400 G Cfj; 400 G Cfj; 16 i F NPV; F IRR
Os resultados obtidos, considerando a taxa K de 16%, podem ser conferidos na tabela 1.12.
Tabela 1.12 Resultados do VPL e TIR dos projetos Alpha e Beta, considerando K=16%.
Os resultados apresentados na tabela 1.12 permitem concluir que os projetos seriam vi-
áveis, pois ambos possuem TIR>K e VPL>0. No entanto, considerando que os projetos são
excludentes, o Alpha deveria ser escolhido pelo fato de possuir VPL superior ao do projeto
Beta. Cabe observar que o fato de a TIR de Beta ser superior à de Alpha não interfere no
processo decisório, considerando que esse indicador não é adequado para priorização de
investimentos. Outro aspecto que merece uma análise mais aprofundada é a possibilidade
de mudança na priorização de projetos por causa de diferentes taxas de desconto (K). Con-
forme observado na tabela 1.13, o projeto alpha apresenta VPL superior ao projeto Beta se
a taxa K for menor ou igual a 22,10%, ocorrendo o inverso desse patamar em diante, ou seja,
Beta apresenta VPL superior no caso de K ser superior a 22,10%.
Tabela 1.13 Sensibilidade do VPL dos projetos Alpha e Beta em relação à taxa K.
46 GESTÃO FINANCEIRA
RESUMO
No Módulo 1, foram apresentados os principais aspectos relacionados à análise de projetos
de investimentos, denominado orçamento de capital. Apontou-se, também, que o primeiro
passo para a análise é a projeção dos fluxos de caixa futuros do empreendimento e do seu
custo de oportunidade (taxa K).
Adicionalmente, verificou-se que, no caso de projetos não convencionais, ou seja, com flu-
xos de caixa negativos adicionais ao investimento inicial, é possível se deparar com o surgi-
mento do inconveniente matemático das múltiplas TIR. Para esses casos, é recomendado o
uso da TIR modificada (MTIR).
Por fim, foi visto que, na comparação de projetos excludentes ou na presença de restrição
orçamentária, a técnica sugerida para priorização de projetos é o VPL. O objetivo no orça-
mento de capital é a maximização do VPL, que equivale à maximização da riqueza dos inves-
tidores, que, por sua vez, é o objetivo primordial das finanças corporativas.
Módulo 2
RISCO, RETORNO E
ORÇAMENTO DE CAPITAL
INTRODUÇÃO DO MÓDULO
Neste módulo, será dado foco na relação risco, retorno e orçamento de capital. A grande
maioria dos investidores evita risco quando isso não representa prejudicar sua rentabili-
dade. No entanto, boa parte das decisões financeiras de investimentos é tomada em um
contexto de incerteza com relação aos resultados e estão diretamente associadas ao grau
de aversão a risco do investidor.
Diz-se que a decisão envolve riscos quando os diversos cenários possíveis podem ser quan-
tificados por uma associação direta entre fatores de incertezas e suas respectivas probabi-
lidades. As possíveis mudanças nos cenários e parâmetros sobre os quais se baseiam uma
decisão, portanto, estão associadas aos riscos do investimento.
Estes podem ser gerenciados e minimizados, mas dificilmente eliminados por completo. A
quantificação dos possíveis desvios associados às probabilidades conhecidas e ao estabele-
cimento do grau de confiança de uma decisão de investimento é, justamente, a análise de
riscos.
Inicialmente, pretende se discutir o conceito de risco e as principais medidas para sua men-
suração. Em seguida, serão apresentados o modelo capital asset pricing model (CAPM) e
sua aplicação para estimar a taxa de desconto utilizada como o custo do capital próprio (Ke)
para o cálculo do VPL de um projeto, com base no fluxo de caixa livre do acionista.
E, ao fim deste módulo, você conhecerá mais sobre o custo do capital de terceiros (Kd), que
se refere ao custo de captação de dívidas e o modelo do weighted average cost of capital
(WACC) e sua aplicação para ponderar o custo do capital próprio (Ke) e o custo do capital de
terceiros (Kd).
OBJETIVOS DO MÓDULO
ESTRUTURA DO MÓDULO
Para melhor compreensão das questões que envolvem risco, retorno e orçamento de capi-
tal, este módulo está dividido em:
UNIDADE 1
RISCO EM FINANÇAS
A aversão ao risco é um conceito essencial em finanças, pois grande parte dos modelos (in-
cluindo o famoso CAPM) parte do princípio de que quanto maior o risco de um investimento,
maior deve ser o retorno proporcionado pelo mesmo.
■■ é lançada uma moeda honesta, ou seja, com probabilidades iguais de cara e coroa;
Fonte: Shutterstock
51 GESTÃO FINANCEIRA
Em suma, o jogador pode receber R$ 100 com 50% de probabilidade ou não receber nada
com outros 50% de probabilidade. Pode-se dizer, então, que o apostador pode esperar ga-
nhar em média R$ 50 (R$ 100 x 50% + R$ 0 x 50%). E se, ainda, é dado o direito ao jogador
“A” de participar gratuitamente. Suponha que outra pessoa (jogador “B”) deseje participar
e, para isso, esteja disposta a oferecer uma quantia em dinheiro para comprar o direito do
jogador “A”. Tem, então, três possibilidades quanto ao comportamento do jogador “A”:
Já na possibilidade 3, o jogador “A” troca R$ 50 incertos (ou arriscados) por mais que R$ 50
com certeza (ou livres de risco). Este comportamento é dito propenso ao risco.
Na prática, é possível citar um princípio financeiro que diz que um real certo vale mais do um
real com risco. A grande maioria dos investidores evita o risco quando o podem fazer sem
sacrificar a rentabilidade desejada.
Para ilustrar um dos pilares de finanças: a taxa de troca entre risco e retorno, imagine que
existam dois ativos: um ativo “arriscado”, cujo retorno médio previsto seja de 10% e um ativo
livre de risco com retorno médio esperado de 5%. Se o investidor optar pelo primeiro ativo
para buscar o retorno superior (10%), ele incorrerá em um risco maior.
Outra opção seria a de uma carteira composta. Nesta, se o investimento for metade em cada
ativo, o retorno médio cairá para 7,5% e o risco também será reduzido.
52 GESTÃO FINANCEIRA
Assim sendo, da mesma forma que um indivíduo faz a escolha entre uma atividade arrisca-
da (loteria/jogo) e uma livre de risco, investidores também podem optar por investimentos
mais ou menos arriscados. Em finanças, os títulos públicos são considerados ativos livres
de risco, dada a pequena probabilidade de quebra/calote/default por parte do governo em
horizontes curtos e médios de tempo.
TOME NOTA
■■ Aversão – estará disposto a pagar por uma opção mais segura de investimento.
■■ Neutralidade e propensão – estará disposto a pagar por uma opção mais arris-
cada de investimento.
Inicialmente, a análise será pautada tomando por base duas medidas: retorno esperado e
variância.
53 GESTÃO FINANCEIRA
Retorno esperado
O retorno de um investimento ou de um ativo pode ser medido a partir dos fluxos de caixa
gerados por ele ao longo do período de investimento. E pode ser expresso em termos abso-
lutos pela soma dos fluxos de caixa gerados. Nesse caso, o retorno de um ativo no período
t pode ser definido segundo a expressão:
Em que;
De posse de uma série histórica de retornos, obtém-se o retorno médio, conforme descrito
na equação a seguir:
A tabela 2.1 mostra como os retornos do fundo A podem variar de acordo com os diferentes
cenários da economia. Como seria calculado o retorno esperado desse fundo?
Solução - como tem cinco cenários, logo n = 5. Aplicando a fórmula para retorno esperado,
obtém uma média ponderada de resultados por meio da soma dos resultados da multipli-
cação de cada retorno por sua probabilidade:
Fonte: Shutterstock
O risco associado a um investimento (ou ativo) corresponde à incerteza de seu retorno fu-
turo. Em outras palavras, quanto maior a incerteza acerca do retorno futuro de um ativo,
maior será a sua variabilidade.
A variância pode ser também calculada a partir do retorno esperado por meio da expressão:
Assim, o desvio padrão indica a média ponderada dos desvios do valor esperado. Utilizando
como exemplo o fundo A citado anteriormente na tabela 2.1, o cálculo do desvio padrão
seria feito da seguinte forma:
Efeito da diversificação
Fonte: Shutterstock
É possível que você já deva ter escutado a expressão “Não ponha todos os ovos em uma
mesma cesta!”. Basicamente, ela diz para não alocar todos os recursos em um único ativo,
ou seja, que deve diversificar. A teoria moderna da carteira parte justamente do princípio da
56 GESTÃO FINANCEIRA
Se pensar em uma representação gráfica da relação risco-retorno por meio de um eixo car-
tesiano, têm-se algo como a figura 2.1:
Nota-se que a relação crescente entre risco e retorno dos ativos listados pode ser facilmente
identificada com essa representação. Os pontos destacados por “X” representam carteiras
100% alocadas nos ativos citados (títulos públicos, ações e opções). Entretanto, caso fosse
57 GESTÃO FINANCEIRA
montada uma carteira com proporções iguais de títulos públicos e ações, a mesma estaria
localizada no quadrante destacado pela letra “A”. Já uma carteira composta por pesos iguais
de ações e opções estaria localizada no quadrante de letra “B”. Esse conceito de composição
de carteira e localização da mesma no eixo de risco-retorno permite, a partir de algoritmos,
determinar todas as ponderações possíveis entre ativos arriscados e livres de risco (dada
a restrição monetária ou dotação inicial). É importante ressaltar que a mesma análise feita
com ativos financeiros pode ser replicada para uma carteira de projetos.
TOME NOTA
A curva formada por todas as combinações de alocações possíveis de uma carteira é a fron-
teira eficiente, que pode ser observada na figura 2.2:
O risco total de uma carteira é formado pelo risco sistemático ou conjuntural (que afeta os
ativos de forma geral – ligado às questões macroeconômicas) e o risco individual de cada
ativo que está mais relacionado às questões microeconômicas. Pode-se dizer, então, que o
risco total é igual à soma do risco sistemático e do risco não sistemático. Como o risco sis-
temático afeta todos os ativos de modo generalizado, o mesmo não pode ser reduzido por
diversificação ou outras medidas. Para facilitar o entendimento, a decomposição do risco
total da carteira pode ser observada na figura 2.3:
SAIBA MAIS
Você já ouviu falar da TV Financeira que faz parte do site da BMFBovespa? É uma
iniciativa para divulgar conhecimento e informações sobre investimentos, finanças
pessoais e conceitos econômicos.
Beta (β)
Quando se pensa em uma carteira de títulos ou de projetos, sabe-se que o investidor se
preocupa com a contribuição de cada ativo ao retorno esperado e ao risco da mesma. Nessa
situação, nem a variância nem o desvio padrão dos retornos do ativo são medidas apro-
priadas da contribuição daquele ativo ao risco de uma carteira. A contribuição é medida de
forma mais adequada pelo beta.
Ao retomar os eixos do gráfico que relaciona risco e retorno, é possível verificar que o ativo
livre de risco estaria localizado sobre o eixo vertical, uma vez que possui retornos positivos
e risco nulo, conforme mostra a figura 2.4:
Ao traçar uma reta que passe pelo ativo livre de risco, observa-se algumas propriedades
trigonométricas relacionadas à relação risco-retorno:
A tangente do ângulo β é dada pela relação do cateto oposto (retorno) sobre o cateto ad-
jacente (risco), ou seja, a tangente do ângulo β é justamente a relação retorno/risco. Ao
aumentar o ângulo β, portanto, maximiza a relação retorno-risco – justamente o maior ob-
jetivo na otimização de carteiras. Entretanto, não se deve aumentar o ângulo β indiscri-
minadamente, pois há restrições na alocação de recursos (dotação, limites de risco etc.).
Lembre-se de que a fronteira eficiente nos fornece todas as alocações de ativos possíveis na
carteira. Em outras palavras, o β é utilizado para medir a parcela de risco não diversificável
(sistemático).
Na prática, para conhecer a contribuição de um ativo individual para o risco de uma carteira,
não é possível fazê-lo pensando apenas no risco isolado desse ativo, mas sim no seu risco
de mercado, que nada mais é do que a sua sensibilidade em relação aos movimentos de um
índice de mercado (exemplo: Ibovespa). Portanto, essa sensibilidade da rentabilidade de um
ativo às variações de um índice ou carteira de mercado é dada pelo seu beta.
O significado do beta pode ser mais bem compreendido com o auxílio da figura 2.6 apresen-
tada a seguir. A inclinação da reta mostra a relação entre os retornos do ativo e a carteira de
mercado. No exemplo, verifica-se que o ativo não é tão sensível aos movimentos do merca-
do. Cada aumento adicional de 1% do mercado gera um crescimento de 0,5% no ativo, ou
seja, este possui um beta igual a 0,5.
61 GESTÃO FINANCEIRA
É importante ressaltar que o β da carteira de mercado é igual a 1. Para ativos com β igual
zero, sabe-se que o risco é nulo e, portanto, seu retorno esperado será dado pela taxa livre
de risco. Uma carteira com beta de 0,5 tem risco inferior à média do risco de mercado. A
alteração de um ponto percentual na rentabilidade do mercado implica em uma variação de
meio ponto na rentabilidade desse ativo.
SAIBA MAIS
O famoso livro do Max Gunther, “Os axiomas de Zurique”, traz uma interessante (e
divertida) abordagem sobre o ‘apetite’ a risco dos investidores ou uma ampla diversi-
ficação, que minimizará os riscos, mas também os ganhos.
62 GESTÃO FINANCEIRA
UNIDADE 2
RISCO DE INADIMPLÊNCIA E ANÁLISE DE RATING
Risco de inadimplência
O risco de inadimplência de uma empresa está relacionado à sua capacidade de gerar resul-
tado e caixa operacional e ao nível de desembolsos com encargos financeiros e amortização
do principal de dívidas. Quanto maior for a geração de resultado e caixa operacional em
relação às obrigações da empresa, menor o risco de inadimplência. Da mesma maneira,
quanto mais estáveis forem esses resultados, menor o risco.
Segundo Brealey, Myers e Allen (2010), “a qualidade relativa da maioria das obrigações pode
ser apreciada a partir das avaliações de risco (ratings)”.
As principais medidas usadas para calcular o risco de inadimplência das agências de rating
são os índices de cobertura de juros (ICJ), podendo ser definidos como EBITDA/juros. Outro
indicador utilizado é a dívida líquida/EBITDA.
Além destes, também analisam os índices como o retorno de capital %, margem de lucro
bruto %; dívida total/capital (BREALEY; MYERS; ALLEN, 2010).
TOME NOTA
SAIBA MAIS
UNIDADE 3
CAPM E O CUSTO DO CAPITAL PRÓPRIO
Fonte: Shutterstock
65 GESTÃO FINANCEIRA
A metodologia mais utilizada pelo mercado para calcular o custo do capital dos acionistas
(Ke) é o modelo CAPM (capital asset pricing model). Este relaciona o custo de capital de um
ativo ao nível da taxa de juros livre de risco e ao prêmio de risco que o mercado atribui por
investimentos em renda variável, ponderando este último pelo índice beta. A estimativa de
custo de capital dos acionistas (Ke) é dada pela fórmula a seguir:
Em que:
Ke = custo do capital dos acionistas (sendo “e” a inicial da palavra equity, que em inglês sig-
nifica “patrimônio líquido”)
Em que:
Beta setorial
Uma alternativa ao cálculo do índice beta obtido pelo retorno histórico do ativo e do mer-
cado é o uso do beta setorial. Essa técnica é útil em situações em que não seria possível o
cálculo do beta pela regressão (quando as ações da empresa não são negociadas em bolsa,
por exemplo) ou quando o risco da atividade, do segmento ou do setor de atuação em que
a empresa está inserida é um parâmetro melhor de sensibilidade de risco do investimento
que o próprio beta da regressão.
Os outros parâmetros utilizados pelo modelo CAPM são as taxas livre de risco (Rf) e o prêmio
de risco da carteira de mercado [E(RM) – Rf] apresentados a seguir.
Fonte: Shutterstock
67 GESTÃO FINANCEIRA
O prêmio de risco da carteira de mercado [E(RM) – Rf] é o prêmio que o investidor espera
receber por aplicar em ativos de renda variável (ações), que são naturalmente mais arrisca-
dos que os de renda fixa. A maior exigência de retorno para investimentos em ações se dá
por causa da aversão ao risco dos investidores. Habitualmente, analistas recorrem a médias
históricas dos prêmios (diferença entre retornos de mercado e ativos livres de risco) para
estimar o prêmio de risco de mercado.
E no Brasil? Qual deve ser a taxa livre de risco e o índice de mercado que serão considerados
em nossas análises?
Há uma ampla discussão sobre qual seria a taxa livre de risco mais adequada ao mercado
brasileiro. As mais utilizadas são: Selic, DI e taxa de juros de longo prazo (TJLP). Entretanto,
a utilização das taxas listadas é controversa, com argumentos favoráveis e contrários a
todas. Como forma de ampliar a análise de determinado investimento, pode-se realizar
análise de sensibilidade com cada uma delas, verificando a variação dos resultados da
avaliação em cada um dos cenários. Ao longo do estudo, será adotada a taxa Selic como
sendo a mais indicada.
No que tange ao índice de mercado, existe um consenso de que o índice Ibovespa é a me-
lhor opção. Este é o mais importante indicador do desempenho médio das cotações do
mercado de ações brasileiro.
Vale destacar que muitas críticas são feitas ao modelo CAPM desde seu surgimento, em
1964. Porém, sua simplicidade e praticidade o tornaram um padrão de mercado. Outros
modelos mais modernos, criados com base nos questionamentos e críticas feitas ao CAPM,
acabaram por não vingar em função da dificuldade de uso e entendimento.
CAPM dentro da versão globalizada adiciona um prêmio de risco país (CRP ou country risk
premium) ajustado para renda variável. A fórmula ajustada segue a seguir:
Em que:
SAIBA MAIS
UNIDADE 4
CUSTO DE CAPITAL DE TERCEIROS E ESTIMATIVA DO CUSTO MÉ-
DIO PONDERADO DE CAPITAL (WACC)
A utilização de capital de terceiros gera benefícios fiscais para a empresa, aumentando seu
valor. Contudo, a utilização desse artifício não é ilimitada, já que quanto maior a dívida, maior
serão suas obrigações com pagamento de juros e amortização. É fato que organizações mui-
to alavancadas tendem a ser classificadas pelo mercado como sendo mais arriscadas no que
diz respeito a risco de crédito. Esses benefícios fiscais serão abordados no módulo 4.
recursos totais da empresa, sejam eles o peso do patrimônio líquido da empresa (e, para o
qual usa em inglês o termo equity) ou o peso das dívidas da empresa (D, para o qual usa em
inglês o termo debt), ambos identificados no balanço patrimonial das companhias.
Em que:
Kd = custo da dívida
T = alíquota de impostos
D = dívida
V = valor da empresa (V = D + E)
Cabe destacar que o valor da empresa (V), refere-se à soma dos valores do patrimônio líqui-
do (E ou equity) e da dívida (D ou debt).
É muito importante enfatizar que o analista deve estar atento quanto ao uso do WACC
nominal e do WACC real. Para transformar as taxas nominais em taxas reais, deve-se usar a
seguinte fórmula:
71 GESTÃO FINANCEIRA
Solução
Para efetuar o cálculo do WACC, é necessário ter em mãos os valores do custo de capital de
terceiros, do custo do capital próprio e dos seus respectivos pesos.
Ke = Rf + β (E(RM)- Rf)
SAIBA MAIS
Veja outro exemplo de cálculo do WACC no vídeo “What is the Weighted Average Cost
of Capital, WACC?”, disponível na internet pelo seguinte link: <http://www.youtube.
com/watch?v=Xu_sLZIiDc4>.
RESUMO
Somos programados para, constantemente, avaliarmos relações de risco-retorno em nos-
sas vidas. Devemos atravessar a rua com o sinal aberto e economizar tempo ou aguardar
mais um pouco e arriscar menos? Diariamente, realizamos esse tipo de cálculo, quase que
de forma instintiva, para tomarmos decisões. Em finanças, apesar do arcabouço mais traba-
lhado, o conceito é o mesmo: busca-se o maior retorno com o menor nível de risco possível.
Também foi visto neste módulo o modelo CAPM, ferramenta poderosa e de simples utiliza-
ção, que relaciona o custo de capital de um ativo ao nível corrente das taxas de juros e ao
prêmio de risco, ponderando este último pelo índice beta. O beta representa uma importan-
te medida que reflete a sensibilidade da variação dos retornos de um ativo à variação dos
retornos da carteira de mercado.
Ao final do módulo, discutiu-se o custo das dívidas e o custo médio ponderado de capital
(WACC), a partir da apresentação da especificidade de cada conceito.
Módulo 3
ESTRUTURADECAPITAL
INTRODUÇÃO DO MÓDULO
Essa decisão deve ser baseada, principalmente, na análise dos custos das alternativas de
financiamento e no efeito da alavancagem financeira e tem como principal objetivo mini-
mizar o custo médio ponderado de capital (WACC) da empresa. É importante ressaltar que
minimizando o WACC, aumenta-se o valor da empresa e, por conseguinte, o dos acionistas.
Por anos, tem-se discutido se o custo de capital de uma firma varia conforme a composição
da sua estrutura. Segundo Ehrhardt e Brigham (2012), empresas de setores de econômicos,
como as farmacêuticas ou companhias aéreas, costumam ter estrutura de capital bastante
diferente. Modigliani e Miller (1958) foram os primeiros a discutir o assunto. Embora se saiba
que a dívida tem a habilidade de reduzir o volume de impostos e possa estimular a eficiên-
cia gerencial das empresas, a alavancagem financeira aumenta o risco de falência, podendo
impor redução de flexibilidade às companhias e, consequentemente, gerar conflitos entre
acionistas e credores.
ESTRUTURA DO MÓDULO
Para melhor compreensão das questões que envolvem o tema estrutura de capital, este
módulo está dividido em:
UNIDADE 1
O QUE É ESTRUTURA DE CAPITAL
Cabe ao gestor financeiro encontrar a melhor composição entre capital próprio e de ter-
ceiros a fim de reduzir o risco e alavancar os resultados e o valor da empresa. Em outras
palavras, a escolha desse mix é uma decisão estratégica de grande importância, pois caso
seu resultado não seja positivo, a organização poderá sofrer grandes perdas. De uma for-
ma simplificada, pode-se assumir que o valor de uma empresa é consequência da soma do
valor de mercado tanto da sua dívida quanto de suas ações.
Esta questão pode ser mais bem respondida a partir do exemplo da empresa WA S.A. a seguir.
Capital de terceiros 0 50 50 50
É importante ressaltar que neste quadro é feito o ajuste na proporção de capital próprio já
que os valores da dívida e da empresa já estão definidos.
Deve-se considerar que serão pagos dividendos no valor de $ 50 (100 ações x $ 0,50). Entre-
tanto, haverá também redução no valor das ações em todos os casos.
Dividendos 50 50 50
Conforme discutido anteriormente, o mundo real é repleto de incertezas. Por essa razão,
não é possível afirmar qual dos três cenários ocorrerá. É importante levar em consideração
79 GESTÃO FINANCEIRA
SAIBA MAIS
UNIDADE 2
BENEFÍCIOS E CUSTOS DA DÍVIDA
Fonte: Shutterstock
O nível de endividamento das empresas (ou a alavancagem) é analisado por meio de índices,
calculados a partir do balanço patrimonial das empresas, inclusive para avaliar se a concen-
tração da dívida está em curto prazo ou em longo prazo. Mas é possível dizer que o endivi-
damento precisa ser evitado? Qual é o efeito deste no custo das fontes de financiamento da
empresa (dívida e capital próprio) e no WACC da empresa? Quais seriam os benefícios e os
malefícios do endividamento?
Vantagens tributárias
Em perpetuidade à
O efeito do benefício fiscal gerado pelo endividamento pode ser mais bem visualizado na ta-
bela a seguir. Nela, tem duas empresas: A, que não possui dívidas (desalavancada) e B, com
endividamento a 10% (alavancada). Por conta do benefício fiscal, observa-se que a carga fis-
cal da empresa alavancada é menor se comparada à outra que se encontra desalavancada.
Esse ganho fiscal propicia um maior ganho para os credores e os acionistas da empresa B ($
69,40 contra $ 66,00).
82 GESTÃO FINANCEIRA
Efeito do endividamento
Empresa A sem dívida ($) Empresa B com dívida ($)
no resultado das empresas
O resultado líquido para os credores e acionistas é a soma dos seguintes itens: juros pagos (10%), resultado
líquido para os acionistas e benefício fiscal (TxD).
■■ empresas com excessivo caixa livre poderiam ter eficiência administrativa reduzida
pela possibilidade de encobrir eventuais erros cometidos.
83 GESTÃO FINANCEIRA
Fonte: Shutterstock
Fonte: Shutterstock
Perda de flexibilidade
SAIBA MAIS
O REF é uma publicação semestral destinada a apresentar, com foco no risco sistêmi-
co, os principais resultados das análises sobre o Sistema Financeiro Nacional, dispo-
nível no site do BC.
UNIDADE 3
FONTES DE FINANCIAMENTO PARA EMPRESAS
Fonte: Shutterstock
86 GESTÃO FINANCEIRA
Muitas vezes, mesmo dispondo de recursos em caixa ou podendo recorrer aos sócios, os
gestores optam pelo financiamento quando pensam em um novo projeto ou quando adqui-
rem máquinas, veículos ou outros tipos de investimento corporativo.
Isso é explicado pelo fato de o custo da dívida com terceiros ser normalmente mais baixo
quando comparado ao custo do capital próprio ou pelas considerações explicadas no Mó-
dulo 3 sobre benefícios da dívida.
Para financiamento de operações de curto prazo, os bancos oferecem a seus clientes cor-
porativos: adiantamento de receitas por intermédio do desconto de duplicatas, limites de
crédito automático como conta garantida ou hotmoney e outros tipos de empréstimos
para capital de giro. Ou as empresas podem emitir notas promissórias (NP).
Para aquisição de ativos permanentes, como a compra de máquinas, imóveis e outros tipos
de projetos corporativos, as organizações também contam com linhas de financiamento de
longo prazo específicas, nas quais os bancos podem assumir diretamente o risco da opera-
ção ou atuarem como repassadores de instituições de fomento.
Para financiamento de operações de longo prazo, as empresas podem recorrer aos bancos
para obterem empréstimos diretos, ou para que intermedeiem captações junto a bancos de
fomento como o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou emitir
títulos de dívida privada chamados debêntures.
Nesta unidade, será dada atenção especial aos instrumentos debêntures, tendo em vista
que desde 2015 são também incentivadas pelos bancos de fomento.
87 GESTÃO FINANCEIRA
SAIBA MAIS
Debêntures
Fonte: Shutterstock
Debêntures são títulos de dívida de médio ou longo prazo, emitidos por empresas, de ca-
pital aberto ou fechado, que não sejam sociedades de crédito imobiliário ou bancos que
recebam depósito do público. Segundo a BM&FBOVESPA, as debêntures rendem juros, fixos
ou variáveis, e são títulos de longo prazo, nominativos, negociáveis, por meio dos quais os
debenturistas se tornam credores da empresa.
88 GESTÃO FINANCEIRA
■■ possuírem custo de captação atraente, dado que uma única operação de emissão de
debêntures gera custos menores do que os custos de várias operações de mútuos
bancários;
■■ Permutáveis – podem ser convertidas em ações de outra empresa, que não a compa-
nhia emissora, de acordo com as regras definidas na escritura de emissão.
TOME NOTA
política econômica do governo federal ou no cenário internacional. Além disso, como títulos
privados, embutem em sua rentabilidade um prêmio associado ao risco de crédito da em-
presa emissora.
Outro fator para o qual o investidor também deve estar atento é o risco de liquidez do título.
Este, que é inerente a todos os ativos negociados no mercado financeiro e que se traduz na
dificuldade de comprar ou vender um título pelo preço desejado no momento oportuno, é
bastante característico do mercado de debêntures no Brasil, considerado pouco líquido.
SAIBA MAIS
Bancos de fomento
■■ taxa fixa;
As solicitações de financiamento podem ser feitas de forma direta, indireta ou mista, depen-
dendo da modalidade de apoio utilizada:
■■ Operação mista – combina a forma direta com a forma indireta não automática.
SAIBA MAIS
O BNDES possui uma vasta carteira de produtos de repasse. Consulte o site por meio
do link <http://www.bndes.gov.br/> para se informar melhor sobre o banco.
Além do custo financeiro aplicado, o site publica uma tabela de tarifas cobradas pelo
BNDES.
UNIDADE 4
ESTRUTURA ÓTIMA DE CAPITAL
Foi visto anteriormente que mudanças na estrutura de capital beneficiam o acionista se, e
somente se, o valor da empresa aumentar. Entretanto, resta ainda uma questão a ser res-
pondida: é possível determinar uma estrutura específica de capital que maximize valor para
a organização?
92 GESTÃO FINANCEIRA
Embora verificado que a dívida pode reduzir o volume de impostos e estimular a eficiência
gerencial das empresas, discutiu-se que a alavancagem financeira aumenta o risco de falên-
cia, impondo redução de flexibilidade e gerando conflitos entre acionistas e credores. Esse
trade-off entre custos e benefícios da dívida exige a elaboração de um mix ótimo de dívida e
capital próprio para a empresa.
■■ A composição da estrutura de capital de uma empresa não afeta o seu valor, ou seja, o
valor da empresa alavancada (VL) é igual ao da empresa desalavancada (VU).
■■ O custo do capital próprio sobe à proporção que a empresa se endivida, fazendo com
que o seu WACC se torne inalterado com a alavancagem financeira. O custo da dívida,
nesse caso, seria invariável em relação à alavancagem financeira.
De uma forma geral, pode-se dizer que à medida que a dívida de uma empresa cresce,
tem-se mais benefício fiscal, mas é importante lembrar que também aumenta o custo de
falência. O ponto ótimo para a relação valor da empresa versus endividamento (D/E ótima)
ocorre quando o valor presente dos custos de falência se iguala ao valor presente do bene-
fício fiscal. A partir desse ponto, os custos de falência aumentam mais rapidamente do que
o benefício fiscal, fazendo com que o valor da organização comece a cair conforme a parcela
de capital de terceiros aumenta.
Analogamente, é possível realizar a mesma análise para encontrar o ponto ótimo referente
ao custo de capital de terceiros e o WACC.
93 GESTÃO FINANCEIRA
K
K
e
D/E D/E
Ótima
WACC mínimo
Figura 3.1 WACC mínimo.
Assim como na análise com o valor da empresa, no ponto ótimo tem o menor WACC possí-
vel. Entretanto, à medida que a parcela de capital de terceiros aumenta, aumenta também
o temor por parte do mercado de um possível problema financeiro em virtude do elevado
grau de alavancagem. Essa preocupação faz com que o mercado passe a exigir um prêmio de
risco maior o que, naturalmente, eleva o custo de captação da empresa para novas dívidas.
Endividamento x alavancagem
Diversas pesquisas vêm sendo feitas na tentativa de analisar como aspectos ligados às van-
tagens e às desvantagens do endividamento, por exemplo, alíquotas de impostos, volatilida-
de do resultado operacional e custos de falência, influenciam a alavancagem financeira das
empresas e, consequentemente, a sua estrutura de capital. Seguem alguns exemplos:
Artigo acadêmico no qual os autores abordam a estrutura ótima de capital. Eles observaram
que empresas com resultados operacionais voláteis e predominância de ativos intangíveis
teriam menor alavancagem financeira. Acesse o artigo por meio do link: <http://www.jstor.
org/stable/2327950?pq-origsite=summon&seq=1#page_scan_tab_contents>.
94 GESTÃO FINANCEIRA
Após avaliarem 6.780 empresas no período de 1963 e 1993, os autores concluíram que as
oportunidades de investimento determinariam o índice de endividamento das empresas.
Organizações com melhores oportunidades de investimento seriam menos alavancadas. Veja
mais pelo link:<http://www.jstor.org/stable/41948238?seq=14#page_scan_tab_contents>.
Outro teste para análise da hipótese da estrutura ótima de capital seria examinar a reação
dos preços das ações em relação a medidas tomadas pelas empresas para aumentar ou
reduzir a alavancagem. Esse último teste deve ser acompanhado por uma série de conside-
rações na tentativa de verificar se o real motivo seria a condução para a D/E ótima, como as
razões pelas quais as empresas alteraram sua estrutura.
Os conceitos aqui apresentados são bastante sólidos e, até o momento, têm fundamentado
todas as análises realizadas pelo mercado. No entanto, com base no que foi discutido, fica
evidente que ainda não existe um consenso a respeito de como se obter o ponto ótimo para
a estrutura de capital de uma empresa, sendo fundamental o equilíbrio entre as iniciativas.
RESUMO
Quando uma empresa pensa em se financiar, ela tem à sua disposição uma gama de op-
ções. De forma geral, a origem dos financiamentos pode ser via capital próprio (patrimônio
líquido ou equity) ou capital de terceiros (dívida ou debt). O resultado da combinação (mix)
entre capital de terceiros e capital próprio de uma empresa é conhecido como estrutura de
capital.
Cada organização pode optar pela estrutura de capital que julgar ser a mais adequada. En-
tretanto, é importante ter em mente que o maior desafio de um gestor é encontrar a melhor
composição entre capital próprio e de terceiros, a fim de reduzir o risco e alavancar os resul-
tados e o valor da empresa, pois somente assim os acionistas terão sua riqueza aumentada.
Além disso, foi visto que, de uma forma simplificada, pode-se assumir que o valor de uma
empresa é consequência da soma do valor de mercado tanto da sua dívida quanto de suas
ações.
Na unidade seguinte, o foco será a discussão sobre o efeito do endividamento para uma
empresa, apresentando seus benefícios e malefícios.
95 GESTÃO FINANCEIRA
Por fim, foi visto que a existência de uma estrutura de capital ótima maximiza o valor da em-
presa. Este assunto ainda é amplamente discutido e, embora os primeiros trabalhos realiza-
dos apontem que a dívida tenha a habilidade de reduzir o volume de impostos e estimular a
eficiência gerencial das empresas, sabe-se que a alavancagem financeira também aumenta
o seu risco de falência. Esse trade-off entre custos e benefícios da dívida possibilita a obten-
ção de um mix ótimo de dívida e capital próprio para a empresa.
Módulo 4
Neste módulo, será abordado um conjunto de técnicas utilizadas pelas corporações para
análise e gestão financeira de curto prazo nomeado nos textos acadêmicos de finanças
como gestão do capital de giro.
Nas próximas páginas, você verá que a gestão das finanças de curto prazo nas empresas
possui relação direta com decisões tomadas em outras áreas das corporações, como a aqui-
sição de materiais e mercadorias pelas áreas de compras e suprimentos, a definição de polí-
ticas e prazos de vendas pelas áreas comerciais e de marketing e as políticas operacionais e
de estoques definidas pela área de produção. Essas decisões e políticas têm impacto direto
nos ciclos operacional e financeiro e, por conseguinte, serão determinantes do montante
necessário de capital de giro para as organizações.
Por sua vez, o capital de giro pode ter como fontes de financiamento tanto recursos de sócios
quanto de terceiros – ambos onerosos, ou seja, cobram remuneração – o que implica um custo
para as corporações. O quanto desses recursos onerosos é tomado em cada fonte e o prazo são
aspectos fundamentais na análise do risco financeiro e liquidez das companhias.
.
OBJETIVOS DO MÓDULO
ESTRUTURA DO MÓDULO
Para melhor compreensão das questões que envolvem a gestão do capital de giro, este mó-
dulo está dividido em:
UNIDADE 1
O QUE É CAPITAL DE GIRO
Para melhor explicar os conceitos envolvidos na definição de capital de giro, veja um caso
hipotético: a empresa ABC.
ATIVO PASSIVO
Total do AC 300
Ao analisar a tabela, vê-se que a ABC possui o seu ativo circulante (AC) equitativamente
distribuído em três partes: disponibilidades, clientes e estoques. As disponibilidades são os
recursos que a empresa possui investidos em seu caixa e em depósitos bancários ou, ainda,
em aplicações financeiras de curto prazo. Em geral, as organizações mantêm recursos dis-
poníveis por algumas razões, entre elas:
■■ Precaução – quando consideram haver incerteza nos recebimentos que têm direito a
efetuar e possuem pagamentos a honrar no mesmo período.
Fonte: Shutterstock
Por sua vez, os recursos que a empresa possui investidos em suas contas clientes e estoques
do balanço decorrem do perfil de suas atividades operacionais. é curta a lista de tipos de ne-
gócios que não necessitam ofertar prazo de pagamento aos clientes e manter mercadorias
e produtos estocados. Estabelecimentos comerciais e indústrias concedem crédito aos seus
compradores com o intuito de alavancar as vendas.
Empresas do setor de serviços, em geral, recebem pelo menos parte do valor que auferem
pelos seus préstimos posteriormente à execução de suas atividades. Para a maior parte
das atividades comerciais – tanto no varejo quanto no caso de atacadistas – existe a neces-
sidade de estoque de mercadorias para pronto suprimento da demanda. As companhias
industriais, além de matérias-primas estocadas para manutenção do seu fluxo de produção,
possuem recursos investidos em estoques de produtos, em processamento e produtos aca-
bados. Adicionalmente, algumas empresas precisam financiar seus fornecedores adiantan-
do recursos, ou manter créditos tributários que esperam aproveitar em um futuro próximo,
os quais, entre outros, constituem-se também de contas integrantes do AC.
101 GESTÃO FINANCEIRA
Esse conjunto de recursos investidos em ativos circulantes não disponíveis pode ser deno-
minado de ativo operacional de curto prazo (AOCP). No caso da ABC, o volume de recursos
investidos em AOCP totaliza $ 200. Completando a análise do ativo da ABC, observa-se que
a empresa possui também recursos investidos em ativos de longo prazo – mais especifica-
mente nos grupos RLP e AP – que totalizam um montante de $ 400.
Analisando o passivo da ABC, é possível dividi-lo em três parcelas distintas: recursos não
onerosos, recursos onerosos de curto prazo e recursos onerosos de longo prazo.
■■ Recursos não onerosos se constituem de passivos de curto prazo, fruto das atividades
operacionais da empresa, sobre as quais não incidem juros ou qualquer outro tipo de
remuneração adicional, desde que estes sejam honrados dentro do prazo estipulado.
Típicos passivos não onerosos são as contas: fornecedores, contas a pagar, impostos
a pagar e salários a pagar. Por serem frutos da atividade das corporações, os recursos
não onerosos encontrados no PC podem ser denominados de passivos operacionais
de curto prazo (POCP) e constituem uma importante fonte de financiamento do AOCP.
ATIVO PASSIVO
Como observado na tabela 4.2, o montante de recursos provenientes do POCP seria sufi-
ciente para o financiamento parcial do AOCP. O restante do AOCP necessitaria então de
financiamento de recursos onerosos, denominado de necessidade de capital de giro (NCG).
102 GESTÃO FINANCEIRA
Fonte: Shutterstock
Necessidade de capital de giro (NCG) é quanto uma empresa demanda de recursos onero-
sos para o financiamento de suas atividades operacionais de curto prazo. O cálculo do NCG
pode ser feito trivialmente pela equação:
NCGABC = 50 .
Dessa forma, observa-se que 75% do AOCP da ABC é financiado pelo crédito concedido pe-
los fornecedores, contas a pagar, salários e impostos da empresa, enquanto os 25% restan-
tes são oriundos de empréstimos, financiamentos e dinheiro proveniente de sócios.
103 GESTÃO FINANCEIRA
UNIDADE 2
RELAÇÃO ENTRE NECESSIDADE DE CAPITAL DEGIRO E
CICLO FINANCEIRO
O ciclo financeiro (CF) é o período em que a empresa fica com seu fluxo de caixa operacional
descasado, ou seja, são os dias entre o momento em que paga seus fornecedores, mas ain-
da não recebeu de seus clientes.
Pode-se dizer que o ciclo financeiro é calculado pelo ciclo operacional menos o prazo médio
de pagamentos (PMP) aos fornecedores.
Fonte: Shutterstock
tação dos índices deve ser feita de forma conjunta, pois, isoladamente, eles não refletem
a situação real da empresa. Os indicadores de prazos médios mais utilizados são o prazo
médio de estoques (PME), o prazo médio de recebimentos (PMR) e o prazo médio de paga-
mentos (PMP).
O ciclo operacional (CO) é o período que a empresa leva desde a chegada ao estoque da
matéria-prima (no caso de uma indústria) ou mercadoria (no caso de uma atividade comer-
cial) até o momento em que efetua o recebimento das vendas de seus clientes. Ou, simples-
mente, é a soma dos prazos médios de estoque e recebimento, conforme demonstrado na
equação a seguir.
CO = PME + PMR
Em que:
CO = ciclo operacional
CO
PME PMR
Chegada da Entrega da Recebimento
matéria-prima mercadoria do cliente
PMP
Pagamento
ao fornecedor
CF
CF = CO – PMP
Em que:
CF = ciclo financeiro
CO = ciclo operacional
Afirmar que o NCG tem uma relação direta com o volume de operações (receita anual) da
companhia e com o tamanho de seu ciclo financeiro (CF), equivale a dizer que:
■■ para determinado CF positivo, quanto maior a receita anual de uma empresa, maior
será sua NCG;
Uma abordagem simples e objetiva para a estimativa dos componentes do CF e para a ob-
tenção de uma relação direta com os componentes da NCG pode ser efetuada pelo conjunto
de formulações apresentadas a seguir.
Cabe observar que existem outras abordagens, inclusive mais corriqueiras do que essa pro-
posta, para o cálculo do CF. Entende-se, porém, que a metodologia sugerida – cálculo do ci-
clo financeiro em dias de receita líquida – tem como vantagens a simplicidade e o relacio-
namento com os componentes do NCG, sendo adequada aos propósitos da nossa disciplina.
Manipulando os termos da equação do CF, é possível provar a proposição que o NCG tem
uma relação direta com o volume de operações (receita anual) da companhia e com o tama-
nho de seu ciclo financeiro (CF), conforme pode observar a seguir.
360
106 GESTÃO FINANCEIRA
Para melhor entendimento do método de cálculo do CF, volta-se ao caso da empresa ABC,
apresentado na Unidade 1 deste módulo, supondo que a empresa em 20X1 tenha obtido
uma receita líquida anual de $ 1.200. Nesse caso, pode-se calcular o valor do seu ciclo finan-
ceiro da seguinte forma:
CFABC = 60 – 45 = 15 dias
ou
TOME NOTA
UNIDADE 3
FINANCIAMENTO DA NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO
Conforme verificado na Unidade 2 deste Módulo, a necessidade de capital de giro (NCG) con-
siste em quanto uma empresa necessita de recursos onerosos para o financiamento de suas
operações de curto prazo. Por sua vez, esses recursos onerosos podem ser provenientes de
fontes de curto ou longo prazo. Analisar a proveniência do financiamento corporativo para
NCG é relevante para o entendimento da saúde financeira de uma companhia. Empresas
que demandam constantemente uma grande necessidade de capital de giro, em geral, de-
vem buscar financiá-lo com recursos de longo prazo.
Fonte: Shutterstock
Do ponto de vista financeiro, ter uma parcela relativamente pequena da NCG financiada por
recursos onerosos de curto prazo, na maior parte dos casos, não deve ser encarada como
uma situação preocupante. No entanto, uma forte dependência de recursos de curto prazo
para financiamento da NCG pode implicar em risco de continuidade para uma corporação.
Para o entendimento desse risco, a dependência de recursos de curto prazo deve ser ana-
lisada com a capacidade de financiamento de curto prazo da empresa, ou seja, quanto a
companhia consegue obter de crédito de curto prazo no mercado financeiro. Para efetuar
essa análise, é interessante considerar dois novos indicadores: o capital de giro líquido (CGL)
e o saldo de tesouraria (ST).
108 GESTÃO FINANCEIRA
CGL = AC – PC
ST = CGL – NCG
Fonte: Shutterstock
O ST corresponde a quanto o CGL supera a NCG, ou seja, quanto a empresa possui de recursos
onerosos de longo prazo além de sua necessidade de capital de giro. Quando o ST é positivo,
significa que a organização não depende de dívida onerosa de curto prazo para o financiamen-
to do NCG, o que implica em uma boa situação financeira. Por outro lado, quando a empresa
apresenta ST negativo, significa que há necessidade de recursos onerosos de curto prazo para
o financiamento do NCG. Um alto saldo negativo pode indicar vulnerabilidade financeira, consi-
derando a grande dependência da manutenção de linhas de crédito de curto prazo com institui-
ções financeiras para o prosseguimento de suas atividades operacionais.
109 GESTÃO FINANCEIRA
ATIVO PASSIVO
Dessa forma, subtraindo dos recursos onerosos de longo prazo o investimento de longo
prazo, restaria um montante de $ 100 para o financiamento da NCG, denominado de CGL,
conforme equação a seguir:
CGLABC= 100
Considerando que a NCG da ABC seria de $ 50, conclui-se pelo cálculo do ST que a empresa
não necessita de recursos onerosos de curto prazo para o financiamento do NCG.
STABC = 100 – 50
STABC = 50
110 GESTÃO FINANCEIRA
Para demonstrar a afirmação anterior, é trivial verificar, utilizando uma forma alternativa de
calcular o ST, que os empréstimos e financiamentos de curto prazo da ABC ($ 50) poderiam
ser totalmente quitados com os recursos investidos em disponibilidades.
ST = 100 – 50
ST = 50
Supõe-se, agora, uma nova situação para a empresa ABC, conforme demonstrada na tabela
seguinte.
ATIVO PASSIVO
Com base nas novas informações, será calculada a NCG, o CGL e o ST da ABC e avaliada sua
situação financeira no ano 20X2.
Conforme observado, em 20X2, de forma diversa ao que ocorre em 20X1, a NCG da ABC
supera sua CGL, denotando um ST negativo, o que implica em dependência de recursos
onerosos de curto prazo para financiamento das atividades operacionais da empresa. Não
é possível, no entanto, avaliar se a ABC se encontra em uma situação financeira ruim, pois,
como visto anteriormente, para uma correta avaliação, seria necessário conhecer a capaci-
dade da organização de tomar crédito de curto prazo no mercado financeiro.
111 GESTÃO FINANCEIRA
UNIDADE 4
ESTUDO DE CASO
Nesta unidade, será visto o estudo de caso da empresa CBX, com a aplicação dos conceitos vis-
tos nas unidades anteriores. A CBX Ltda. é uma indústria do setor de embalagens metálicas, que
durante uma década atuou como monopolista em sua região. No ano de 20X2, duas empresas
estrangeiras atuantes no mesmo setor montaram plantas de produção na região da CBX, o que
acirrou a competição e, consequentemente, afetou sua performance econômica.
Fonte: Shutterstock
Isso ocorreu no momento em que a CBX investia no aumento de sua capacidade produtiva,
tendo acabado de tomar recursos com sócios e credores para financiá-los. Adicionalmente
aos efeitos econômicos, a empresa também sofreu impactos em suas finanças de curto
prazo, como será possível avaliar pela análise dos prazos médios, ciclos e capital de giro,
utilizando os dados financeiros de 20X1 e 20X2 apresentados nas tabelas 4.5 e 4.6.
563 393
257 159
563 393
20X2 20X1
Receita Bruta de Vendas 369 337
Lucro Bruto 29 40
Lucro Operacional 1 18
Lucro antes do IR 7 18
IR (2) (6)
Lucro antes do IR 5 12
Tabela 4.13 Resumo dos indicadores financeiros da CBX nos anos de 20X1 e 20X2.
Apesar do aumento observado no CGL no período – aumento nas fontes de recursos de longo
prazo para financiamento do NCG – observa-se uma deterioração do saldo de tesouraria, o que
implica em uma maior dependência de dívida de curto prazo para financiamento do NCG.
115 GESTÃO FINANCEIRA
RESUMO
No Módulo 4, foram apresentados os principais aspectos relacionados à análise da gestão
financeira de curto prazo de empresas, denominado de gestão do capital de giro. Definiu-se
que o capital de giro de uma empresa consiste em quanto uma companhia demanda de re-
cursos onerosos – empréstimos e financiamentos e recursos de sócios – para financiamento
de suas atividades operacionais de curto prazo, como estoques, clientes e outros ativos cir-
culantes, exceto as disponibilidades.
Na sequência, foi demonstrada a relação entre a necessidade de capital de giro (NCG) e o ci-
clo financeiro (CF) e o volume de vendas da empresa, que nos permite entender a influência
do ciclo operacional (CO) e do prazo médio de pagamentos na administração do capital de firo.
Por fim, foram abordados os conceitos de capital de giro Líquido (CGL) e saldo de tesouraria
(ST) e ainda o risco da dependência de financiamento oneroso de curto prazo para a NCG.
116 GESTÃO FINANCEIRA
REFERÊNCIAS
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