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Forno Rotativo Tubular Laboratorial - Estudo de Perfil Térmico
Forno Rotativo Tubular Laboratorial - Estudo de Perfil Térmico
Resumo: Neste trabalho são apresentados os resultados da realizado por meio de queimadores, utilizando-se
avaliação do perfil térmico de um forno rotativo tubular de combustíveis sólidos e/ou líquidos. O combustível é
laboratório com sistema de controle microprocessado, em atomizado sob alta pressão no bico do queimador em
função de condições de calcinação pré-estabelecidas. pequenas partículas e é injetado no forno junto com o ar
primário. Os gases quentes circulam em sentido inverso ao
O forno é utilizado pelos Laboratórios de Materiais de
avanço do material e o fluxo dos gases é forçado mediante
Construção Civil (LMCC) e Metalurgia e Materiais
sistema de aspiração, que mantém todo o forno com pressão
Cerâmicos (LMMC) do IPT, para execução de calcinação de
inferior à atmosférica [1].
materiais (minérios e matérias-primas para fabricação de
cimento, cal virgem e pozolanas) em regime contínuo de
produção.
Portanto, são apresentados resultados da influência de
condições de operação do forno no perfil de temperatura,
por meio de variação da rotação e inclinação do tubo, da
temperatura e do fluxo de gases, além de simular a
calcinação com um material inerte.
A
A avaliação do perfil térmico do forno, conduzida pelo C D
B
Laboratório de Metrologia Mecânica (LMM) do IPT,
E
consistiu na distribuição de vários sensores de temperatura,
do tipo S e B, ao longo da região em que os materiais
trafegam durante o processo no tubo rotativo.
Considera-se que os resultados das medições de temperatura
efetuadas foram satisfatórios para o tipo de forno tubular
rotativo avaliado, possibilitando inferir uma correlação
linear entre a temperatura de patamar e a indicação do Fig.1. Exemplo do perfil térmico de forno rotativo industrial:
controlador. Observou-se que a inserção de carga e injeção reações de fase do clínquer em sistema forno c/ pré-aquecedor [1]
de ar em contra-fluxo alteram o perfil térmico do forno.
Palavras chave: temperatura, medição, forno rotativo O próprio processo termodinâmico permite que o material
tubular, processo. seja transportado e aquecido a velocidades variáveis e
revoluções constantes, pelas várias zonas térmicas ao longo
de sua extensão, a saber:
1. INFORMAÇÕES BÁSICAS
• zona de calcinação, a qual depende da existência ou não de
No IPT são executados esporadicamente calcinações de pré-aquecedor e pré-calcinador no sistema (Fig. 1 – final de
minérios e matérias-primas industriais em regime contínuo A e B);
de produção.
• zona de transição, na qual começa a se formar a fase
Particularmente, o LMCC tem aplicado o forno rotativo liquida (Fig. 1 – B);
tubular para a produção de clínquer de cimento Portland, cal
virgem e calcinação de argilas, visando simular as condições • zona da fase líquida, na qual ocorre a nodulização e inicia-
de produção industrial e obter material em quantidade se a formação da alita (C3S) (Fig. 1 – C);
suficiente para executar ensaios de caracterização.
• zona de queima, no interior da chama, na qual se
No caso da produção de clínquer de cimento Portland, intensifica a formação e crescimento das partículas
adotado como exemplo e prática para este trabalho, o individuais de alita (C3S) e sua sinterização (Fig. 1 – D), e;
aquecimento dos fornos rotativos industriais (Fig. 1) é
• zona de resfriamento, na qual o material perde calor e se capacidade de girar a uma rotação de até 5rpm. O corpo
aglomera devido à solidificação da fase líquida (Fig. 1 – E). principal do forno está apoiado sobre uma mesa, cuja
inclinação pode ser regulada até 10º (aproximadamente
O forno rotativo laboratorial, apesar da escala ser diferente, 17%, em relação ao eixo horizontal) por meio de um
pode ser utilizado de forma semelhante, se aplicadas elevador de rosca. A câmara de aquecimento promove a
modificações e as adaptações necessárias. elevação de temperatura na porção do tubo situada entre
No processo de operação de fornos rotativos é importante 20 cm e 120 cm, sendo a zona quente (trecho do tubo onde a
que se estabeleçam parâmetros operacionais e de controle. temperatura mínima corresponde pelo menos 90% da
Dentre os parâmetros operacionais destacam-se: temperatura máxima) programável para até 1650ºC e situada
entre 40 cm e 100 cm, dependendo da temperatura máxima.
• comprimento do forno (L), em m;
• constante do formato do tubo (Θ), em graus (º);
• inclinação (p), em graus (º) ou %;
• diâmetro do tubo (d), em m;
• rotação (r), em rpm;
• Fator de estrangulamento do forno (F), adimensional.
A partir desses parâmetros é possível estimar tempo de
residência (t) do material dentro do forno, pela seguinte
equação [2]:
Fig.2. Forno tubular rotativo piloto
1,77 . L . Θ . F (1)
t= A avaliação do perfil térmico do forno tubular rotativo foi
p.d .r
conduzida pelo LMM do IPT, monitorando a temperatura do
Quanto ao regime de temperatura, no caso do clínquer interior do tubo, por meio da distribuição de sete (07)
Portland produzido em laboratório, procura-se calcinar o sensores de temperatura de 25 em 25 cm, sendo seis (06)
material cru controlando os seguintes parâmetros: termopares tipo S e um (01) tipo B, ao longo do tubo
conforme a Figura 3.
• taxa de pré-aquecimento e/ou pré-calcinação (Vi) de Os sensores foram introduzidos no interior do tubo do forno
temperatura ambiente até 900ºC, em ºC/min; rotativo através de orifícios já existentes nas suas
• taxa de aquecimento (Va) de 900ºC até a temperatura extremidades.
máxima (de patamar), em ºC/min;
• temperatura máxima ou de patamar (Tp), em ºC;
• tempo de patamar (tp), em min;
• taxa de primeiro resfriamento (VR 1), entre a temperatura
máxima e 1300ºC, em ºC; Entrada Saída
• taxa de segundo resfriamento (VR 2), entre 1300ºC e
ambiente, em ºC.
De acordo com resultados obtidos em estudos de produção
em forno estático [3] e forno piloto e, segundo medidas de
temperatura realizadas ao longo do comprimento do tubo,
constatou-se que ocorre variação do perfil térmico de acordo
com os parâmetros de processo adotados.
0 25 50 75 100 125 150
Portanto, para atender os objetivos propostos, estabeleceu-se Posição dos termopares (cm)
um plano experimental junto ao Laboratório de Metrologia
Mecânica (LMM) do IPT, que utilizou diversos sensores
dispostos dentro do tubo, capazes de suportar o movimento Fig. 3: Vistas lateral e superior do forno tubular, ilustrando a
e a inclinação do tubo, além da injeção de ar em contra- disposição dos termopares (representados por pontos negros)
fluxo aplicado durante o processo.
Os sensores foram interligados a um sistema de aquisição
que armazenou automaticamente todos os dados durante as
2. METODOLOGIA EXPERIMENTAL medições. O sistema de medição foi calibrado no LMM do
IPT, que é acreditado pela RBC. O controlador do forno foi
O meio térmico avaliado refere-se a um forno tubular regulado para cada temperatura de ensaio. As medições
rotativo (Fig. 2), constituído de um tubo de alumina com foram realizadas nas condições conforme a Tabela 1.
7 cm de diâmetro, 150 cm de comprimento e com
Tabela 1. Parâmetros e condições de ensaio gaussiana, o que era esperado devido à característica de
construção do forno (distância, posição, tipo, potência e
Condição Temperatura Rotação Inclinação Fluxo
gradiente de dissipação térmica da resistência) além de
(ºC) (rpm) (º) de ar
(l/min) outras características correlatas a isolação térmica.
1 1350 0,7 0 0 Para efeito prático da aplicação, tornou-se necessário:
2 1400 0,7 0 0
3 1450 0,7 0 0 • determinar o segmento do tubo que reflete uma condição
de "patamar isotérmico", estimando-se a temperatura de
4 1450 0,7 0 12
patamar e sua incerteza pela média dos três pontos centrais
5 1450 0,7 1º 34´ 0 (50, 75 e 100) cm e a soma quadrática das suas incertezas;
6 1450 5 0 0
7 1450 5 1º 34´ 12 • adotar tendência parabólica para os seguintes conjuntos de
pontos: (0, 25 e 50) cm; (50, 75 e 100) cm; (100, 125 e
150) cm.
Excepcionalmente, a condição 7 foi executada alimentando-
se o forno tubular com alumina granulada, por meio de um A Figura 4 apresenta a comparação entre as temperaturas
alimentador vibratório regulado para taxa de alimentação em indicadas pelo controlador e as respectivas temperaturas de
torno de 0,6 kg/h. Nessas condições, estima-se que: o patamar, demonstrando a satisfatória correlação entre
transporte do material no forno foi de 31 minutos, dado que ambas.
na equação (1) F = 1 (diâmetro constante), e, portanto, Θ = 1500
40º [2]; a velocidade do material (adotando condição ideal
Temperatura do patamar (ºC)
de não-aderência do material no interior do tubo) é de 1450
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fig. 4. Correlação entre as temperaturas indicadas no controlador e
A Tabela 2 apresenta os valores médios de temperaturas e as respectivas temperaturas de patamar
respectivas incertezas, obtidos nas medições do forno
tubular em períodos de aquisição de dados de 120 min (para Com isso tornou-se possível cruzar as curvas e limites dos
as condições de 1 a 6) e 60 min (para a condição 7), patamares para estimar, por meio das equações, os pontos do
adotando-se taxa de aquisição de 2 medições/min. tubo que estão a 900ºC (P900) durante o aquecimento, que
iniciam (Pe) e terminam (Ps) o "patamar isotérmico" e que
Tabela 2. Valores de temperatura e incerteza em função da posição estão a 1300ºC (P1300) durante o resfriamento. As Tabelas 3
dos termopares e das condições de ensaio e 4 apresentam os resultados estimados.
Posição dos termopares (cm)
Condição
1000 1500
Temperatura
C
Temperatura (ºC)
____
1350ºC
1000
500 ---- 1400ºC Temperatura
- - - 1450ºC
____
sem inclinação
0 500 - - - com inclinação
01 2
25 3
50 4
75 5
100 6
125 7
150
Posição no tubo (cm)
Posição geométrica
0
1350º
01 2
3
25
50 4
75 5
100 6
125 7
150
C Posição no tubo (cm)
Posição geométrica
Perfis térmicos
0
1000
Temperatura
01 2
25 3
50 4
75 5
100 6
125 7
150
Posição
Posição geométrica no tubo (cm)
____
sem ar Fig. 8. Perfis térmicos do tubo com baixa e alta rotação –
500 - - - com ar controlador em 1450ºC