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E-BOOK VITAFOR

MANEJO DA DIARREIA NA
PRÁTICA HOSPITALAR
COMO EU FAÇO?

SAÚDE & INFORMAÇÃO


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Observa-se que na internação hospitalar, a diarreia, é uma condição extremamente


prevalente na prática clínica. Dados da literatura reportam que a sua prevalência
pode variar de 30 a 72% nos ambientes hospitalares (ELPERN et al, 2004). Essa
elevada prevalência observada, muitas vezes, é resultante em virtude da dificuldade
em se padronizar um consenso sobre a definição de diarreia, assim como também,
na implementação de eventuais ações corretivas para essa sintomatologia.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, define-se diarreia, pelo aumento


do conteúdo de água fecal, com consequente aumento no número de evacuações
(> 3 vezes / 24h) ou, então, de volume (> 300g - 250 ml / 24h) (WHO, 2005, Whelan K, et
al, 2001).

Na prática clínica, sabe-se que a etiologia da diarreia é multifatorial podendo estar


relacionada a diferentes fatores pertinentes à clínica do paciente, muitas vezes, não
estando relacionada a nutrição enteral, especificamente. Dentre os fatores
etiológicos da diarreia, fazem parte (Chang, et al, 2013).

01 02 03 04
MEDICAÇÕES
DESNUTRIÇÃO E
INFECÇÕES (PROCINÉTICOS, ANTIBIOTICOTERAPIA
HIPOALBUMINEMIA
SORBITOL)

Na desnutrição proteica calórica grave, pode ocorrer diminuição absortiva intestinal


por redução da microvilosidade intestinal e diminuição das enzimas da borda em
escova. Associada a esse processo, a hipoalbuminemia, componente da
desnutrição, também se correlaciona com a diminuição da absorção intestinal. Na
deficiência de albumina ocorre a retenção de líquidos na luz intestinal, favorecendo
a quadros diarreicos.

Destaca-se, na prática clínica, a diarreia associada à antibioticoterapia (DAA).


Dados literários reportam que a 70% dos pacientes hospitalizados recebem
antibióticos no manejo terapêutico (VICENT et al, 2009). E, desses, frequentemente,
38% desenvolvem o quadro diarreico (TIRLAPUR et al, 2016). Em adição, é
importante reportar que a DAA pode acontecer no início até dois meses após o
término do tratamento (MC FARLAND 1998).

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A cada 7 pacientes, 3,8 apresentam


diarreia associada à antibioticoterapia (DAA).

Os antibióticos, principalmente, de amplo espectro (aminopenicilinas,


cefalosporinas e clindamicinas), quando administrados, resultam em alterações na
microbiota intestinal, tanto em termos qualitativos, quanto quantitativos (figura 01)
(FLINT, 2012).

Figura 01 – Efeitos na composição da microbiota intestinal após antibioticoterapia

Antes dos Antibióticos Depois dos Antibióticos Antes dos Antibióticos Depois dos Antibióticos

bactéria
intestinal

célula
Intestinal
epitelial

INTESTINO DELGADO INTESTINO GROSSO

Assim, observa-se que há uma disruptura da integridade intestinal, favorecendo ao


hiper crescimento de microorganismos patogênicos (SIBO) (KEENEY, 2014). Essa
alteração na microbiota intestinal, traz efeitos deletérios, como alterações na
motilidade intestinal, bem como, aumenta a probabilidade de quadros infecciosos,
dentre eles por Clostridium difficile (CROSWELL et al, 2009; JERNBERG et al, 2007).
Esse consiste em um microrganismo anaeróbico, o qual produz enterotoxina
associada à colite e a diarreia intensa.

E, uma vez presente, na prática hospitalar, a DAA resulta em complicações clínicas,


das quais fazem parte: inadequação nutricional, aumento do tempo de
hospitalização e impacto na economicidade, uma vez que aumenta os custos em
saúde (WISTROM et al, 2001). Assim, adotar medidas terapêuticas, que visem a
prevenção e/ou auxiliem no manejo da diarreia na prática hospitalar, é uma conduta
que corrobora para os melhores resultados clínicos.

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A utilização de probióticos é uma conduta terapêutica


efetiva para prevenção e/ou manejo das alterações na
motilidade do trato gastrointestinal, como a diarreia!

L i te ra ri a m e n te , te m - s e u m a d e fi n i ç ã o cl á s s i c a p a ra o s p ro b i ó t i co s :
“microorganismos vivos que quando administrados em quantidades adequadas,
conferem benefícios à saúde do hospedeiro” (WHO, 2001). E, dentre eles a
contribuição para prevenção ou manejo do quadro diarreico. Afinal, dentro das
principais funcionalidades dos probióticos, destaca-se o reestabelecimento da
microbiota intestinal, a qual foi comprometida na utilização de antibióticos, por
exemplo (HILL et al, 2014). Aliás, é importante destacar, que não só a
antibioticoterapia corrobora para essa alteração na composição microbiana
intestinal. Mas, diversos fatores inerentes à clínica do paciente, assim como também,
terapêuticos, que isolados ou associados, irão resultar na alteração da microbiota,
predispondo, assim, às alterações na motilidade do trato gastrointestinal, como a
diarreia. E, ainda, os probióticos apresentam como funcionalidades, a inibição de
proliferação de microorganismos patogênicos bem como a produção de
substâncias antimicrobianas. Essas auxiliam para a integridade do meio, reduzindo,
a entrada de substâncias patogênicas e de quadros infecciosos.

É consensual na prática clínica e nas evidências científicas que a utilização dos


probióticos reduz os quadros diarreicos. Mas, muitas vezes, nos deparamos com
alguns questionamentos, na prática assistencial: quais cepas utilizar e como
administrar? Via de regra, os gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium são os mais
elucidados e evidenciados, principalmente, para o manejo do quadro diarreico. Gao
e colaboradores (2010), observaram efeitos positivos da utilização dos probióticos
em quadros diarreicos associados à antibioticoterapia. Em estudo clínico, os autores
selecionaram 255 pacientes, os quais foram randomizaram em três grupos: * Grupo
Placebo (n = 84); Grupo Probiótico (n = 86), que recebeu duas doses de

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probióticos/dia; Grupo Probiótico (n=85), que recebeu uma dose de probiótico/dia.


Os autores concluíram que os grupos tratados com antibióticos apresentam, com
significância estatística da incidência da diarreia. E, ainda percebem, que o efeito
terapêutico é maior, quando se administram, duas doses de probióticos ao dia
(figura 02).

Figura 02 – Efeito da probioticoterapia na redução da incidência da DAA

50%

45% 44,1%

40%
P<0.001
% Incidência de DAA

35%

30% 28,2%

25%

20%
P=0,02 15,5%
15%

10% P=0,02

5%

0%
Placebo 1 Und 2 Und
probiótico/dia probiótico/dia

A probioticoterapia associada ou não aos prebióticos


pode ser utilizada tanto para profilaxia ou como
conduta adjuvante da diarreia na prática hospitalar!

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Paciente em TNE com > 3 evacuações líquidas


ou 300g/250ml em 24 horas

Checar Terapia Nutricional

Colocar dieta Reduzir taxa de Prescrever Probióticos


Medicações rica em fibras infusão (<50%) (1 a 2 und/dia)* e Prebióticos
(1 a 2 und/dia)

Desordens Apresentou
hidroeletrolíticas melhora?

Não Sim

Mantém conduta
Alterar fórmula
até total controle
para hidrolisada
da diarreia

*QUANTO À PRESCRIÇÃO DO PROBIÓTICO PARA MANEJO DA DIARREIA:

Tempo terapêutico: Mínimo de 7 dias ou enquanto durar o quadro diarreico;

Doentes críticos: imunossuprimidos; pós-operatório recente de anastomose


intestinal; isquemia intestinal, portadores de doenças hematológicas e
reumatológicas e curta estada na UTI.

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Referências bibliográficas

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