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Aula 33 04/01/2022

Celebrar aquilo que a gente inventa. Ter um desprezo ao humano no sentido de


ter um amor pela destruição de tudo o que rebaixa o humano. Desprezar com um
grande desprezo, para isso precisa ter grande amor a uma visão que possa libertar
nossas forças. Um combate entre as nossas forças que se tornam cúmplices do meio
que fralda a existência.
A existência é problemática. O fato da existência ser problemática não é o
problema. O fato de a existência ser problemática é justamente a sua função, existir é
estar num meio que provoca a potência, no caso a vida que é um modo da potência a
se diferenciar.
A zona de passagem, o plano da existência é um plano onde necessariamente
nós nos diferenciamos, seja por nós mesmos ou por forças exteriores de modo
ordinário. Existir é criar ou ser criado. Existir é diferenciar, portanto não há
diferenciação sem problematização. O elemento problemático é o seu elemento
afirmativo e não obstáculo. Apreender a gostar do problema.
A máquina social quer fazer da vida função de algo que a rebaixa. Há muitas
razões para vida se rebaixar. Necessidade de provocar outras maneiras de existir e
colocar o problema da existência, o problema da vida. As psi. Estão a serviço de uma
máquina de rebaixar a vida, e de adequar a vida a certas formas de normalização que
operam na produção de peças de reposição dessa máquina social. Tornar a vida
função de um poder soberano que não a contempla completamente como autônomo, a
torna dependente, refém.
Existir é problemático, contudo não é um problema o fato da existência ser um
problemática, mas existe problema no fato de existir de modo rebaixado. Uma crítica
ao modo de se colocar na existência que acopla a uma ilusão, consolo. Uma crítica ao
modo de falsear o problema da existência, ligando a vida a falsos problemas.
Desfazer os falsos problemas que a vida está enroscada. A 1° fonte de falsos
problemas é a 1º queda, buraco, devido ao mal uso daquilo que nos acontece. A 2º
grande fonte é o empoderamneto, a vontade de poder que geralmente se torna a 1° a
máquina social com a sua forma de soberania, é a 1° a instigar a seduzir, coagir,
acoplar a vida em falsos problemas.
Todo problema é um falso problema da condição humana, que está nessa
dupla captura. O combate não é contra, o combate é entre, para destruir os mal jeitos,
os mal usos daquilo que nos acontece, e as falsas saídas das nossas impotências. Para
isso serve os operadores e dispositivos clínicos. Um dispositivo é uma visão, e um
operador é uma ferramenta que destrói aquilo que rebaixa a vida.
Fazer da 3° passagem a única passagem, um único plano de imanência,
conquistando a potencia de se diferenciar, que faz com que a própria 3° passagem seja
fonte de novos valores ou da criação das diferenças. A 4° passagem vai coincidir com
a 3° passagem, a 3° passagem é a zona de acontecimento. A 4° passagem é a visão de
que essa zona de acontecimento é uma zona criadora. Ao desconstruir as duas 1°
capturas, emerge a 3° passagem e a 4° passagem quase um desdobramento.
Apreender a colocar o problema da existência a partir do ponto de vista da 3°
passagem em direção a 4° passagem. A 3° passagem é o imediato da existência. A
existência se manifesta em várias dimensões, por ex: a do corpo. O corpo é uma
dimensão da existência, movimento, pensamento, variação do campo afetivo. Essa
realidade se mostra de várias maneiras. Qual seria o imediato do movimento? Qual o
lugar do movimento? Onde o desejo se apresenta de modo imediato? Qual é o lugar
do pensamento? E o quando do pensamento, ele se apresenta de modo imediato? Qual
o lugar, o quando do desejo que se apresenta como uma potência em ato na existência.
Esse ato se atualiza no corpo, na mente, no desejo de modo imediato ou de
modo mediato. De modo mediato é pelas nossas representações corporais ou
sensíveis, sejam afetivas ou passionais, sejam mentais ou linguísticas. Quando
reencontramos a superfície esse imediato se manifesta. O desejo se manifesta
imediatamente no corpo, na mente e no seu campo afetivo, ao mesmo tempo nas
conexões que ele faz e nas maneiras como ele faz essas conexões.
Isso é um modo de reencontrar o imediato. A 3° zona é o reencontro com o
imediato. O imediato é uma vida em acontecimento, na medida em que encontra o
imediato, e a potência é restabelecida como uma potência em acontecimento e não
uma potência refém do que aconteceu. A potência em acontecimento se torna também
potência de criar, 4° passagem. É a criação, não há criação de futuro sem abertura da
passagem, na passagem do presente. A superfície é presente, a presentificação da
passagem, o ser da passagem é o comum.
Há uma realidade da 1° captura que pode se multiplicar em sub-capturas, na
segunda captura também pode se multiplicar em sub capturas. Há uma passagem
necessária para queda do desejo. Nossa vida é um processo de queda e levantamento.
O problema é que caímos de intensidade. Não adianta se empoderar. Não adianta
resolver uma maneira equivocada de apreender o problema com uma resposta ainda
mais equivocada que seria o empoderamneto.
O processo de queda é a queda da intensidade. A vida fica separada do que
pode. A vida que é uma vida em acontecimento, agora acontece de modo retardado,
focado no acontecido que toma mais importância, pois uma força que determinou essa
vida de fora, lançou a numa parcialização que a aprisiona, cuja importância cresce em
dor ou prazer.
A dor e o prazer como forças reativas que se tornam super-valorizadas na
medida que estamos separados do que podemos. 1° valorizadas por nós, dor demais,
piedade. Prazer em abundância, empoderamneto. Já é um modo de fraudar a
colocação do problema. O esquizoanalista precisa ser um artista na arte de colocar
problemas. Bergson, a arte de colocar o problema é mais importante do que a arte de
soluciona-lo. A verdade do problema é mais importante do que a verdade da solução.
A verdade da solução é uma consequência.
Como colocar o problema? O problema da vida é de uma evolução criadora. A
vida sempre está em processo evolutivo, mas a sua evolução é criadora ou adaptativa?
Fazer a lição de casa. A minha linha é de uma evolução criadora? Estou criando a
mim mesmo na medida em que aconteço?
Para que a vida se torne afirmativa, precisa encontrar o horizonte da
afirmação, a afirmação está no horizonte da zona de passagem, o ser da passagem,
que faz passar, afirmação da diferenciação, afirmação do acontecimento, o
acontecimento quer acontecer. Encontrar aquilo que quer em mim, amar a fatalidade,
a vida quer acontecer e vai acontecer.
Os dispositivos envolvem uma maneira integral que contempla tanto o corpo,
quanto o pensamento, quanto o campo afetivo, quanto as maneiras de existir. Tem
uma coexistência de maneiras do corpo, pensamento, dos afetos e do modo de vida.
Os dispositivos fazem coexistir o modo de vida com o campo afetivo, com o modo do
corpo, com o modo do pensamento. O dispositivo opera ao mesmo tempo em todos
esses meios, corporal, mental, afetivo e no relacional.
O operador é localizado, opera ou no corpo, ou na mente, ou no campo afetivo,
ou nas conexões e maneiras de ser. Os operadores são ferramentas aplicadas em cada
meio da nossa existência, meio corporal, mental, afetivo, relacional, social.
O dispositivo contempla esses quatro horizontes ao mesmo tempo, ao mesmo
tempo em que algo acontece em um, tem implicação no outro. Ex: Foucault aprende
dispositivos que são fábricas de indevidos, sujeitos, mentes, relações de máquinas
sociais. Ex: o dispositivo da prisão (segurança), da escola (educação), hospitalar
(saúde). São dispositivos que operam no corpo, mente, nos gestos, sensibilidade, nas
mentalidades, nos meios onde a coisa se efetua,na fábrica, prisão e escola.
Deleuze e Guattari vão chamar os dispositivos de agenciamento. O
agenciamento tem quatro cabeças e dois eixos. O método cartográfico pode ser
chamado de dispositivo. A zona de indeterminação de Bergson, posso chamar de um
dispositivo, pois a zona de indeterminação envolve tudo.
A atenção é um polo de tenção, onde a presença está na zona de passagem,
zona de passagem que indetermina essa indeterminação, pode ser vista como
dispositivo, pois coexiste no corpo, no pensamento, no campo afetivo e nas maneira
de se relacionar. Posso indeterminar as maneiras de se relacionar, os costumes, os
hábitos, os comportamentos físicos do corpo, posso indeterminar a moral,
pensamento. Um principio que disponibiliza uma variação. O dispositivo é um meio
de disponibilizar um campo de variação. A zona de indeterminação é um meio de
disponibilizar a variação do movimento, do tempo, afetos, relações.
Cartografar não é encontrar o desejo do lado de fora, é encontrar o desejo
operante. O desejo que está traçando linhas de existência, traçar uma carta geográfica
é traçar fronteiras. O desejo está traçando essas linhas fronteiriças que está do lado de
fora e do lado de dentro do desejo, essa curvatura do desejo é onde ele está.
O desejo está fazendo sempre traços, linhas de existência. Faz traços a partir
de traçados já pré estabelecidos pela máquina social, moral religiões, narrativas,
linguagens, comportamentos (corpo). tem os sulcos já traçados no coração do desejo
que assim segue. Também é possível encontrar um desejo problemático ou
problematiza-dor que quer responder de modo diferente, as vezes cai.
Encontrar o desejo onde ele está é uma visão de algo que está se diferenciando
de uma potência ali presente. O desejo é algo em vias de diferenciação e
existencialização. Algo que vem a existência e se concretiza através das palavras que
falamos, ouvimos, lemos, escrevemos, movimentos, sensações, percepções, imagens,
memórias, registros, retomadas de nós mesmos. São concretizações do desejo.
Encontrar o desejo enquanto agrimensor quando conduzido de fora, ver o
motivo pelo qual está sendo conduzido, por que se deixa conduzir? O desejo separado
do que pode, exposa elos, correntes, ligações que o engatam em direção ao
empoderamento. Onde está o meu desejo aqui e agora? Qual é o aqui do meu desejo?
O aqui do desejo é onde ele se fisicaliza, onde ele se torna sensação, percepção, ação,
se materializa. Como está se conectando e de que maneira?
Tem um dispositivo da máquina social que determina o desejo e se efetua no
corpo, pensamento e no seu campo afetivo e nas relações de sociabilidade, e que vai
premiar esse desejo, recompensar o que se torna eficiente, moral, competente que se
se torna padrão. Vai gostar disso.
Provoca-lo. Prefiro não. Espreitar é um dispositivo, tem a espreita do corpo,
pensamento, desejo, acontecimento, espreitar é se apresentar sem agir
extensivamente, sem fazer barulho. Espera, o vazio do movimento, o silêncio do
tempo e a distância da solidão. Investir no esvaziamento das formas no corpo, no
silenciamento das formas de tagarelice linguística e mental. E criar distância para o
desejo.
O vazio é a condição para que o movimento intensivo se torne dominante. O
silêncio é a condição da afirmação do pensamento, é o sim do acontecimento. O
pensamento é um anteconhecimento da potência. Quando a potência acontece também
ganha voz. Por ex: Alguém começa a se justificar, ao silenciar se é possível pensar
mais, e investir na multiplicidade das causas. Cessar essa vontade de já encontrar uma
razão. Quebrar a cadeia de signos, significantes com o silêncio. Quebrar a cadeia de
hábitos e de comportamentos mecânicos no corpo e o uso do vazio.
Quebrar a cadeia de signos é o uso afirmativo do silêncio. Criar distância é
quebrar a cadeia das afecções ou dos afetos passivos. Essas cadeias geram os extratos
ou camadas. Usar os operadores silêncio, vazio e distância. A distância como
composição, ex: o ressentimento é uma intoxicação, um acontecido que vai ser a lente
interpretante do desejo, criar distância ao tocar numa zona comum. Há um elemento
comum no mal que acontece, o comum jamais é uma negação. A partir do comum que
crio distância.
O dispositivo é um horizonte que envolve todos os meios ao mesmo tempo,
fazem com que esses meios entrem em pressuposição reciproca, um implica no outro.
Ex: uma mudança no corpo produz uma invasão no pensamento ou na
linguagem. Uma mudança na linguagem produz uma variação no corpo, não por
que um cause o outro. Mas por que ambos atingem a potência e a potência se
exprime em cada um desses meios. A porta de entrada pode ser a linguagem, ou
o corpo, ou o campo afetivo, algo se passa. O dispositivo precisa detectar a mudança
em todos os seus vários níveis. O operador opera numa dimensão só.
O agenciamento no inicio tem dois eixos, ao mesmo tempo, quatro cabeças,
seguinte outro ponto de vista o agenciamento quatro cabeças. Um dos eixos é o seu
polo concreto. O outro é o seu polo abstrato. A máquina abstrata é a parte do
agenciamento que é pura potência. A máquina concreta é quando essa potência ganha
uma forma no corpo, forma de conteúdo, é um regime de luz, ganha uma forma no
pensamento, regime de signos como forma de expressão.
Criam substancias de conteúdo ex: a prisão de conteúdo, os corpos que
ocupam a prisão são substâncias de conteúdo. Substancias é uma matéria formada. O
corpo do prisioneiro é uma substância de expressão, o corpo do carcereiro, do
delegado são substâncias de conteúdo. O presidio, a escola, o hospital são formas de
conteúdo, o regime de movimento que é estabelecido ali. A forma de expressão é a
maneira como a linguagem ganha sua formalização ali.
Substância de expressão, forma de expressão. Substância de conteúdo, forma
de conteúdo. São as quatro cabeças do agenciamento. Substancia de expressão, forma
de expressão é o modo como a matéria intensiva da expressão se formaliza e se
substancializa ou se estratifica.
Substancia de conteúdo e forma de conteúdo é a maneira como a matéria do
conteúdo que é matéria intensiva do movimento se formaliza num estrato orgânico.
Substância e forma de conteúdo nas formações capitalistas, constituem o estrato do
organismo. Substancia e forma de expressão constituem um duplo regime de signos, o
regime subjetivo de signos, regime significante. Uma dupla estratificação semiótica e
uma estratificação orgânica corporal. É um exemplo concreto do agenciamento,
fabrica a realidade fabricando corpos, indivíduos, sujeitos, objetos de enunciação e de
movimento, formas de expressão e de conteúdo, onde o movimento se produz e se
consome. O agenciamento tem esse aspecto voltado para o existencial concreto que se
formaliza, se aprisiona em formas.
Tem aspecto abstrato voltado para linha de fuga, onde se desformaliza, se
desteritorializa, se descodifica. Teritorialização é uma formalização de matéria,
descolar o desejo da forma que tomou. Descodificar é desformatar, tirar daquele modo
de produzir, distribuir e consumir movimento e sentidos. Descodificar a expressão
que pode que pode se tornar matéria de literatura, encontrar as vozes de um CSO.
O corpo é inseparável do semiótica que é inseparável do afetivo, que é
inseparável do social. Não é forma e conteúdo, as dobras são mais sutis e plurais.
Dispositivo judiciário - segurança. O dispositivo é integral, produz corpo, mente. Ex:
o ladrão anuncia sequestro no avião, tudo muda de viajantes a sequestrados, de
locomoção para cativeiro. É um operador. A licença poética é outro exemplo, quebra
a linguagem.
Precisamos criar operadores que quebram as cadeias significantes,
subjetivantes, de movimento, de uma sensibilidade habitual para aumentar a zona de
indeterminação. Tudo o que existe, existe na zona de passagem, é o apagamento das
formas. A eternidade tem a ver com aquilo que retorna sobre a potência e modifica. A
morte não existe, o que existe é a variação da potência.
Fabricar eternidade na existência através de mim, uma diferença emerge ali.
Diferença é uma realidade que pode afetar e ser afetada sem perder sua
natureza. O desejo está naquilo que a pessoa está fazendo, pensando, imaginando,
sentindo, delirando. A expressão verbal e corporal, gestual. Precisa ter receptividade e
não criar vínculo, o vínculo é efeito não da transferência.
O desejo se manifesta, tem um retorno, um circuito. Encontrar aquilo que
acontece ao desejo no retorno, e como está se servindo disso que acontece a ele. Aí
encontro as cumplicidades. O que tem nesse desejo as presenças. Forma de
interromper. Investir no vazio, o vazio é a suspensão da resposta. Na medida em que
cria um intervalo entre a demanda de um outro corpo e que meu corpo responde,
simplesmente não responder, o silêncio desvincula da cadeia significante.
O analisando tem que confiar que na medida em que desinveste a forma, a
energia fica só para ele. O pensamento para criar sentido. O movimento do corpo para
criar outra corporeidade. Deixar de ganhar recompensas de um corpo eficiente, ganha
liberdade de movimento intensivo. Investir nos interruptores que interromperem a sua
cumplicidade.
Entre o movimento que obrigaria o meu corpo a responder crio um hiato, nesse
hiato o corpo pode começar a se diferenciar, a se experimentar no corpo, pensamento,
desejo. Crio condição da experimentação. A espreita envolve corpo, pensamento,
desejo e relação social, a duração nos leva ao tempo próprio. Singularização,
experimentar não é ganhar experiência, experimentar é produzir a si.
O tempo próprio implica em encontrar o ritmo entre a existência e o ato. Cada
tempo é uma sequência do ritmo, não tem frequência constante. É o circuito
necessário entre uma volta da potência em ato e do ato a potência. Investir nisso,
sentir o retorno. O cansaço é gerado pela tentativa frustrada da boa intenção. Não
investir na possibilidade, mas criar o possível.
O ideal é sintoma de um desejo separado do que pode. Os operadores estão a
serviço dos dispositivos. Devir é o que acontece a potência na medida que se
relaciona com algo segundo certa maneira.

Aula 34 15/02/2022
O vazio é um operador que atua no corpo e no uso do movimento. O silêncio é
um operador que atua na mente, pensamento e no uso da linguagem. A solidão é um
operador que atua criando distancias como razão de composição. Já a espreita está
mais para dispositivo.
O corpo não precisa da mente para se guiar, o corpo tem uma orientação
própria, um modo de se efetuar, ao corpo não falta ideia, assim como para a ideia não
falta corpo. Há uma formalidade própria da ideia, mente e pensamento. E uma
formalidade própria do corpo e no entanto eles não são dicotômicos. A formalidade
própria da ideia entra em pressuposição reciproca com a formalidade própria do
corpo.
Uma intervém na outra, uma atravessa na outra, mas uma não causa a outra.
Há uma autonomia do corpo, assim como há uma autonomia do pensamento, ambos
dizem respeito a potência, por isso não tem dicotomia. Eles se comunicam através da
potência, e não como causa e efeito um do outro.
A mente ao se efetuar está efetuando e diferenciando a potência, gera
modificação no movimento, não por que a mente atua direto no corpo, mas por que
devido ao modo que a potência se modifica através da mente afeta também o corpo. E
vice versa. Para haver relação entre linguagem e corpo, é preciso que ambos toquem
a potência diretamente, é a potencia que faz com que ambos se atravessam. Para
Deleuze e Guattari forma de conteúdo e de expressão, para Spinoza extensão e
pensamento que se atribui ao desejo.
No fundo de tudo tem o desejo. Desejo tem uma dimensão sem forma, a
dimensão virtual, esse aspecto do desejo é que remete para máquina abstrata que é o
outro polo do agenciamento. O dispositivo envolve a efetuação em todos os meios ao
mesmo tempo. Enquanto o operador atua no corpo ou na mente, ou no campo afetivo,
ou nas maneiras de ser. Dispositivo atua em todos os campos ao mesmo tempo. O
dispositivo envolve o modo de vida. O operador é uma intervenção pontual: corporal,
linguístico ou afetivo.
O desejo é agrimensor de si mesmo. Usar os operadores para encontrar o
desejo. Ex. Prefiro não. Prefiro não fazer, diz respeito ao corpo. Prefiro não pensar
diz respeito a mente. Prefiro não sentir ou desejar diz respeito ao campo afetivo.
Prefiro não, leva para a distância, silêncio e vazio. Ambos tem como condição a
espreita, uma suspensão atenta. Envolve um engajamento, não na ação ou reação, mas
na presença, duração.
A indeterminação no pensamento, linguagem, o indiscernível que fomenta o
ambíguo, uma pluralidade de sentidos antes de ter determinação de um significado.
Toda existência é problemática, o elemento problemático da existência é positivo. O
problema no pior dos casos é uma provocação para a diferenciação.
Criar as condições para recolocar o problema, pois o problema do ponto de
vista parcial, individual, subjetivo vai ser mal colocado. Encontrar o desejo onde ele
se separa do que pode, por sua cumplicidade, aí vou poder colocar o problema do
ponto de vista da evolução criadora da vida.
Olhar para o desejo sob o ponto de vista da diferenciação da potência, que o
faz existir no pensamento, corpo etc... encontrar as tendências, as linhas de efetuação
do desejo a partir da potência que faz existir. Ao estar separado do que pode se
diferencia a partir de clichês, narrativas, hábitos. Não larga devido a cumplicidade.
A máquina social investe nos papeis e funções. Investe nos tipos e não nesse
ou aquele rosto. Este ou aquele rosto vão ser o resultado da tipificação da fabricação
de subjetividade, individualidade. Encontro com a matéria real de uma vida vai dar a
aquele rosto. O tipo de rosto é mais importante do que o rosto. Chegar na linha de
singularização.
A análise da linha de singularização ressoa sobre todos. Extrair singularidade
que faz saltar o elemento singular e comum que atravessa a pessoa. Sair do pessoal,
do individual. Ter a visão do duplo aspecto que ultrapassa o ideal, transcendente, a
verdade universal, lei, moral, pessoal, individual, privado, coletivo. O desejo tem
elemento paradoxal, mas não tem contradição.
Investir nas linhas tipológicas da máquina social para desconstruir os tipos e
chegar na singularidade de cada potência capturada. Como extrair singularidade e a
dimensão comunal de um caso particular? Encontrar a inocência do desejo na linha de
singularização. A inocência do desejo vai ressoar com o desejo dos demais implicados
no grupo. Vai contagiar para que cada um encontre o seu ponto de vista onde o desejo
é inocente, não sujeito ao enquadramento. O trabalho de um caso já inspira a
investigação dos outros casos também, até uma auto análise.
As vezes é bom ficar em silêncio. Afirmar até uma voz aparecer. As vezes o
silêncio cala o verbo, mas não cala a imaginação. Provocar a tagarelice mental a se
exprimir, ou permanecer calada. Discorrer sobre a virtude do silêncio de um silêncio
que cessa o encadeamento mental das imagens e signos.
Sempre tem uma necessidade de efetuação. O silêncio também é um modo de
se efetuar. Quando o silêncio se efetua a ponto de cessar a tagarelice mental, algo se
passa no pensamento. Aí até o sistema do juízo é questionado. O quanto que alguém
que está em silêncio não está julgando? Julgando com os olhos, ouvidos, com a pele,
com o corpo, olfato. O juízo está no nosso corpo, estamos tomados por um organismo
que captura o corpo. Os órgãos apreendem a atender as demandas de um corpo social.
E o corpo de potência fica em segundo plano.
Não existe formula pronta, o que existe é uma presença. Criar interruptores das
cadeias que capturam o desejo e investem na estratificação. A representação não entra
para dominar o mundo próprio, o mundo próprio tem uma territorialidade expressiva
que diferencia a potência e produz algo inédito. Incentivar o aspecto positivo da
paranoia. Toda potência é desligada do que pode, quando passa estar a serviço de
outra coisa que não da o retorno integral no efeito que ela produz, retorno de um
resíduo de intensidade.
Viver de modo tal a preencher de intensidade uma ampliação do real. Tudo o
que leva a investir em interruptores que desligam a vida da subserviência e da
escravidão pode dispor da potencia para se singularizar e não se subjetivar. Silêncio
interrompe a cadeia significante, a mente separada do que pode busca uma
determinação do pensamento. Desligar o signo do signo, ligar o signo ao sentido.
Ligar a afecção a um afeto e não a afecção.
Só da para ter silêncio na medida em que a potência é estimulada a aparecer,
precisa de uma oportunidade. O silêncio pressupõem a potência, e a potência
pressupõem o silêncio. Como o sim da criança, e o não do leão. O sim da criança não
aparece sem o não do leão, mas o não do leão é efeito do sim da criança, mas o sim da
criança não estava evidente, mas estava agindo de modo virtual com esse sim sem
formula que consigo dizer um não que não é ressentido, pressupõem a afirmação.
O pensamento afirmativo encontra afirmação no próprio acontecimento que já
acontece antes dele acontecer enquanto pessoa. Criação de distância, não temos que
ser reconhecidos pela máquina social, pois estaríamos sujeitos a um principio de
organização. Criar distância para retomar o tempo próprio, aprendo a minha variação
continua no campo do movimento.
Experiência não é adquirir conhecimento, é modificar-se a si, aumentando a
potência. Encontrar não é encontrar um outro eu, mas uma potência em
acontecimento. Há algo de comum entre a força que me faz existir e a força que me
faz adoecer. A força que fez adoecer enquanto força é necessária. Em cada ponto de
vista tem um horizonte absoluto que é a zona de passagem. A causa da dor é sempre
um ente imaginário, mesmo que tenha uma relação real com aquele que está
ocasionando a dor. Continua pois não imagina as forças que tem.
O comum não é uma formula, mas zona de passagem. Ex: devir orquídea e a
abelha. O singular é uma potência de acontecer que quando acontece modifica a si
impedindo que esse retorno a si seja o retorno ao mesmo. A distância no desejo é a
oxigenação do afeto, deixar o afeto na sua variação própria e não na imagem da
variação que seria um sentimento, paixão. Julgar é ignorar o pensamento.
Nem todas as velocidades se compõem a qualquer tempo e movimento. A
distância implica em além de encontrar o elemento comum a percepção de que não é a
qualquer momento, em qualquer condição de movimento que consigo me compor, as
vezes em certo tempo, lugar, não tem como se compor. Mas sempre tem uma razão
potencial de composição, precisa de distância. O presente tem uma multiplicidade de
dimensão e todos os seres de tempo que nos constituem podem se apresentar.
No grupo, sair do sujeito e sua subjetividade, pessoalidade. Se existe uma
unidade em nós, é a unidade da variação contínua. O que nos faz ser um, mas não
enquanto eu, mas um enquanto singular, único é o modo de estar em variação.
Não há uma unidade em nós que fica sendida esquizofrênico, psicótica. A
psicose é sempre uma produção social a partir de um rebaixamento da vida. Não
adianta atribuir a psicose como uma doença da pessoa. Não é uma personologia nem
estruturalismo. O que preenche o desejo não é um objeto, mas um acontecimento. O
desejo está sempre preenchido, as vezes é daquilo que está separando do que ele pode.
Encontro o desejo nas suas tendências de efetuação a partir do que acontece ao
desejo, no agora, com que lugar e com que elementos se conecta. O que está
acontecendo com aquele desejo. E o que está fazendo com o que está se passando com
ele. A linha de singularização não é pessoal nem subjetiva. É única. Ao extrair a
singularidade do caso pessoal essa linha vai ressoar, provocar as outras subjetividades
aprisionadas.
Máquina social é feita de desejos e crenças, nossa cumplicidade é uma
máquina de tipificação. Opera por esburracamento e opacidade. Potência de acontecer
reduzindo ao acontecido. Preso num estado que impede de apreender a zona de
passagem de si mesmo. O ideal está inscrito nessa opacidade. Possível é um passado
já vivido projetado de modo idealizado.
Máquina joga fora, e inclui só que inclui num nível rebaixado. Não vamos
excluir os negros, só uma categoria inferior. Se cria gradações, Platão analogia de
proporções, é a comparação de verdade que uma coisa tem, se mede a proporção de
verdade pelo grau de semelhança ao modelo. Ninguém alcança, o máximo que se
pode é se aproximar.
Sequestra se para produzir uma subjetividade que pode fazer parte da máquina
social. A diferença entre nome próprio e nome comum. O que é comum a todos não é
o bem, mas a zona de passagem.
O depressivo é um idealista que se frustrou, cansou. Precisa desistir de tentar,
sair do campo do possível. Encontrar a santidade do depressivo. A depressão se cura
na medida em que se consegue lidar com a zoa de acontecimento na existência.
Não desejamos sem surpresas, quem deseja é o acontecimento em nós, o eu
mata as surpresas. A moral não é questão de verdade, mas de mal gosto. Prudência,
vou até onde posso retomar a minha potência.
Bergson, a percepção vem do isolamento de uma parte do meu corpo que vira
uma potência sensorial. A potência sensorial sente antes, apreende a ação possível, vai
ter mais tempo de preparo, vai ver mais.

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