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Curso: Filosofia Disciplina: História da Filosofia Medieval


Professor: Saulo Brito Aluno: Danilo da Silva Monteiro Período: 1º ano

Protocolo correspondente às aulas dos dias: 06 e 13 de outubro.


Severino Boécio

1. Vida e Obras
Santo Anício Mânlio Torquato Severino Boécio foi o último filósofo do império
romano, nasceu por volta do ano 480, em Roma. Ele viveu o fim do império romano,
no reinado dos ostrogodos, ocupando cargos magisteriais, sendo o responsável por
dar e manter a cultura e filosofia greco-romana. Diante da invasão dos bárbaros,
Boécio viu como solução primeira a educação, para depois mudar a política
(REALE; ANTISERI, 2017).
Tem ascendência de uma família importante: os Anícios, consequentemente
pertencendo à nobreza. Seu pai era o senador Flávio Mânlio Boécio. Foi educado
por Símaco, um amigo da família e seu sogro, a quem ele admirava profundamente
ao longo de sua vida. Boécio possuía um vasto conhecimento cultural, sendo fluente
nas línguas grega e latina. Ele dedicou-se ao estudo e à tradução de importantes
obras de Platão e Aristóteles do grego para o latim. Foi filósofo, poeta, escritor,
estadista e teólogo romano (SCHEINEIDER; FLACH, 2019).
Na época em que Teodorico o Grande reinava, ingressou na vida política
assumindo cargos importantes na Itália. Em 510, recebeu o título de cônsul e
tornou-se membro do senado. Segundo relatos, desfrutou de dias plenos e felizes,
confiando na aprovação do rei e sendo bem-visto por figuras proeminentes daquela
época, como o escritor Cassidoro e o gramático Priscinano. Em 522, foi acusado de
traição. A acusação incluía a tentativa de restauração da república com o apoio de
Justino I, imperador bizantino e cristão ortodoxo. Ele também foi acusado de
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escrever cartas subversivas e praticar magia. Durante seu tempo na prisão,


escreveu "De Consolatione Philosophiae" ("A Consolação da Filosofia"), abordando
diversos temas, entre outros (SCHEINEIDER; FLACH, 2019).

2. Concepção filosófica
Para Boécio a filosofia é comportada em: especulativa (teorética), prática e
lógica. Dentro da filosofia especulativa temos três tipos de seres investigados: os
intelectíveis que são seres incorpóreos, isto é, puramente espirituais, como: Deus,
os anjos e os homens. Os inteligíveis são os homens constituídos de corpo e alma.
E os naturais que são aqueles que possuem matéria mas não aspectos intelectíveis.
Já a filosofia prática é dividida em três aspectos: primeiro as práticas e normas a
serem seguidas no âmbito particular. Segundo são as virtudes dispostas no âmbito
civil, como: prudência, justiça, fortaleza e temperança. Terceiro são as virtudes
necessárias para governar.

3. Cassiodoro
Cassiodoro nasceu no ano 490 na Sicília, que fica no sul da península itálica,
foi senador e funcionário do rei Teodorico, também foi amigo de Boécio. Vendo o
grande tradutor que foi Boécio, Cassiodoro foi responsável por introduzir a tradição
dos monges copistas nos mosteiros. Diante da barbárie dos ostrogodos, Cassiodoro
deu a ideia de copiar e guardar textos antigos para preservar a cultura
grego-romana. Em sua vida escreveu várias obras sendo duas de grande
importância: “De anima” que discursa sobre a existência da alma, esse tratado teve
grande influência de Santo Agostinho. E “Institutiones divinarum et saecularium
litterarum” que versa sobre a separação dos estudos de teologia.

4. Pessoa em Boécio
Severino fala propriamente sobre “pessoa” por conta da heresia de Êutiques
e Nestório nos Concílios de Éfeso (431) e de Calcedônia em (451). Êutiques e
Nestório foram dois bispos orientais que produziram, respectivamente, as heresias
do monofisismo e do nestorianismo. A primeira, defendida por Êutiques, afirma que
Cristo possuiria apenas uma natureza e uma pessoa, enquanto a segunda confessa
que ele seria formado por duas naturezas e duas pessoas. Portanto, Boécio para
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refutar as heresias em questão, começa a estudar sobre “pessoa” (“Monofisismo: a


grande heresia – Acadêmíco Arautos”, [s.d.]).
Para entender o conceito de pessoa em Boécio é necessário descobrir o
significado da etimologia da palavra “pessoa”. Faitanin nos dá uma clara definição
do termo:
Apesar de pessoa derivar de persona, esta palavra latina não comporta, em
seu uso primeiro, tal sentido que atribuímos, hoje em dia, à noção de
pessoa. Uma tese afirma que a palavra latina persona foi originalmente
estabelecida em língua latina, por uma justaposição gramatical da
preposição per [advérbio de meio] e do substantivo [sonus] no caso ablativo
sona = resultando per+sona persona. Outra tese estabeleceu que ela
derivasse do verbo personare, de sua forma verbal gerúndio personando;
outra, ainda, a fez derivar da expressão per se una, enquanto designa una
por si. Tanto em um caso quanto em outro, a palavra persona serviu para
significar o mesmo que se significa a palavra grega πρόσωπov com a
palavra grega [prósopon]: máscara e personagem (SCHEINEIDER; FLACH
apud FAITANIN, 2006, p. 48, grifo do autor).

Nos primeiros séculos, a palavra “persona” passa a significar: “subsistência,


honra e dignidade espiritual", em referência a Cristo. Neste contexto, persona não
condiz mais com o sentido original da palavra grega (máscara), passando a
representar semanticamente a palavra grega hypostásis [hipóstase]
(SCHEINEIDER; FLACH, 2019). A partir desse entendimento sobre a etimologia
podemos prosseguir no pensamento sobre a pessoa em Boécio.
Assim o “sentido de pessoa como ‘máscara’ é só um ponto de partida para
entender o significado último de ‘pessoa’ na linguagem filosófica e teológica”
(MORA, 2001, p. 2263).
Boécio chega à verdade do termo “pessoa” usando a lógica. Sendo a
natureza tudo o que pode ser apreendido pela razão, seja material ou incorpóreo,
portanto, a natureza pode ser compreendida nos acidentes. Mas Severino procura a
definição de “pessoa” entre as substâncias, que podem ser particulares e universais.
Entrando no sujeito particular vê o conceito de pessoa. Que só pode ser um
indivíduo, só se chama indivíduo aquele que tem razão, isso é, não se pode chamar
um animal ou uma pedra de indivíduo. Portanto, “pessoa” designa: substância
individual de natureza racional. Diante de tudo, o termo “pessoa” tem o seu
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verdadeiro sentido em "hypostasis", e não mais em “persona” (personagem/


máscara) .

5. O bem e o mal
O problema do mal em Boécio é bem solucionado por Maurício Medeiros
Vieira em sua pesquisa de doutorado: Boécio, em diálogo com a “Filosofia”, explora
temas como a verdadeira felicidade, a existência do mal, a providência divina e o
livre-arbítrio. Ele argumenta que Deus, o Sumo Bem, é a verdadeira felicidade e que
o mal não existe no sentido ontológico, mas apenas no âmbito moral devido ao
livre-arbítrio. Boécio também discute a questão da impunidade dos maus e do
sofrimento dos bons, sugerindo que essa é uma visão limitada que não compreende
a totalidade do saber divino. Para entender os argumentos de Boécio, sugere-se a
necessidade de considerar as obras de Agostinho e Platão, que influenciaram
diretamente seu pensamento. Agostinho também negou a existência ontológica do
mal, enquanto Platão argumentou que cometer uma injustiça é pior do que sofrer
uma. Conclui destacando a importância desses autores para a resposta final de
Boécio: a negação do mal ontológico, a garantia de que os bons não estão à mercê
da fortuna e a afirmação de que a providência divina é justa e pune os maus
(VIEIRA, 2020).

6. A consolação da Filosofia
Preso em Pávia, Boécio escreve a “Consolação da Filosofia”. No início do
livro ele transcreve que se vê velho e abatido pela idade. Mais adiante diz que
sonhou com uma mulher de beleza admirável, que é a própria filosofia, que o
consola por meio da lembrança da verdadeira finalidade do universo, que é o sumo
bem (Boécio, 1998).
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Referências

REALE, G.; ANTISERI, D. Filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo:


Paulus, 2017. v. 1

FAITANIN, P. Acepção Teológica de ‘pessoa’ em Tomás de Aquino. Revista


Aquinate, n.3, 2006.

SCHEINEIDER, R.; FLACH, H. DEFINIÇÃO DE PESSOA NA PERSPECTIVA DE


BOÉCIO | Frontistés - Revista Eletrônica de Filosofia e Teologia. Disponível em:
<http://revistas.fapas.edu.br/index.php/frontistes/article/view/22>. Acesso em: 16
out. 2023.

MORA, J. Ferrater. Dicionário de filosofia. Tradução de Maria Stela Gonçalves et


al. 4. Tomos. São Paulo: Loyola, 2001.

Monofisismo: a grande heresia – Acadêmico Arautos. Disponível em:


<https://academico.arautos.org/2013/09/monofisismo-a-grande-heresia/>. Acesso
em: 16 out. 2023.

Vieira, Maurício Medeiros. O problema do mal em Boécio : o sofrimento dos


bons e a impunidade dos maus no de Consolatione Philosophiae. — Pelotas,
2020. Disponível em: <https://guaiaca.ufpel.edu.br/handle/prefix/7567>. Acesso em:
16 out. 2023.

Boécio. A Consolação da Filosofia. Trad. do latim por Willian Li. São Paulo:
Martins Fontes, 1998.

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