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Curso: Filosofia Disciplina: Seminário de Leitura F.

Professor: Luiz Henrique Aluno: Danilo da Silva Monteiro Período: 3° semestre

Resumo: Capítulo II - A natureza do desacordo moral


contemporâneo e as pretensões do Emotivismo

MacIntyre começa o capítulo II falando da discordância moral dos tempos


atuais, com um caráter quase interminável, isto é, argumento após argumento sem
entrar em consenso de ideias. Para ilustrar esse ponto de vista, ele se utiliza de
alguns exemplos de discussões intermináveis (MacIntyre, 2021, p. 31):

1°. a) Uma guerra justa é aquela que visa um bem maior do que os males causados
pelo conflito, onde se pode fazer uma clara distinção entre combatentes e civis.
Porém, na guerra moderna, é quase impossível prever sua intensificação futura, não
sabendo, portanto, se a guerra será ou não um bem maior do que o mal causado.
Além disso, há uma grande dificuldade em saber quem é ou não combatente. Logo,
nenhuma guerra moderna pode ser justa, e todos devemos ser pacifistas.

b) Si vis pacem, para bellum (se quer paz, prepare-se para a guerra). Para ter paz,
devemos conter todos os instigadores de guerra. Para isso, é necessário sempre
estar preparados para a guerra.

c) “Guerras humanitárias” podem ser permitidas para salvar grupos que estão sendo
oprimidos. Portanto, esse tipo de combate é permitido para a felicidade e salvação
dos homens.

2°. a) Todos têm direitos sobre si mesmos e até sobre seus próprios corpos. Assim,
no estágio em que o embrião faz parte do corpo da mãe. Há a possibilidade do
aborto ser legal, em vista da liberdade tem sobre seu corpo.
b) Se eu não tenho direito de determinar, sobre mim mesmo, sobre minha morte e
vida. Logo outra pessoa, como a minha mãe não tem o direito de determinar que eu
deva morrer ou viver.

c) O assassinato é imoral, ainda mais se for a vida de um inocente. Um embrião se


diferencia de um recém nascido apenas por estar em estágios de desenvolvimento
diferentes. Logo, tirar a vida de um inocente é um crime. Então o aborto o é
também.

3°. a) Todos os cidadãos devem ter um direito igual de oportunidades de


desenvolvimento de seus talentos. No entanto, para a provisão desses talentos, há
a necessidade do acesso à saúde e à educação básica. Portanto, a justiça exige
que o governo forneça de modo igualitário a todos saúde e educação. Diante disso,
as escolas e clínicas particulares devem ser abolidas, porque todos devem ter
direitos iguais a esses serviços.

b) Todos devem ser livres para fazer os contratos que quiserem e tomar as decisões
que quiserem. Logo, os médicos e professores podem ser livres para exercer suas
profissões conforme lhes aprouver. Assim, a liberdade dá o direito à existência de
clínicas e escolas particulares.

Diante desses debates intermináveis, MacIntyre vê que essas divergências


se dividem em três tipos:

O primeiro é chamado de incomensurabilidade conceitual, que significa o


desacordo entre os argumentos, mesmo que todos sejam lógicos em si mesmos;
são tão distintos que não há algo comum entre eles que possa ser comparado.
Diante dessa incomensurabilidade conceitual, cai-se em uma dificuldade de diálogo,
causando debates intermináveis e, por fim, chegando a um tom de voz esganiçado.
Esse tom de voz mais elevado é uma consequência da falta de organização de
ideias em nosso interior, levando assim à desconfiança de nossas próprias ideias,
questionando se são racionais ou não.

Já a segunda característica dessas discussões é a aparência de um debate

racional e impessoal, mas que, muitas vezes, é apenas uma aparência, sendo

debates que se dirigem a razões pessoais ou contextuais. Para exemplificar,


MacIntyre utiliza o exemplo (MacIntyre, 2021, p. 35): se alguém manda fazer algo e

oferece apenas a razão “porque quero”, isso dará uma justificativa subjetiva e

pessoal. A pessoa que recebe o comando pode obedecer por vários motivos, como

amor, medo, respeito à autoridade ou interesse em obter algo. Mas também há

outra possibilidade de resposta: "Porque agradaria a tantas pessoas" ou "Porque é

sua obrigação". Assim, o argumento deixaria de ser pessoal e passaria a ser

impessoal. Em suma, diante de tudo, podemos ver que os debates morais

modernos são impregnados de vontades discordantes, ou seja, uma divergência

irrefletida com aparência de racionalidade.

A terceira característica dos debates morais contemporâneos é a variedade

de origens históricas de cada argumento, principalmente nas premissas dadas como

exemplo no início do texto. No primeiro argumento, vemos como base o conceito de

justiça da filosofia clássica aristotélica. No segundo argumento, vemos raízes em

pensadores como Bismarck, Clausewitz e Maquiavel, e ainda conceitos de direitos

inspirados por Locke e uma visão kantiana de universalidade, além de uma noção

de lei moral derivada de Tomás de Aquino. Já no terceiro argumento, vemos uma

argumentação marcada pelo discurso de Marx, Rousseau e Adam Smith. Diante

dessa vasta cultura histórica moral, pode-se chegar a uma ideia simplista de todo o

conjunto moral, que pode ser interpretada de maneiras diferentes, como um “diálogo

ordenado” de opiniões ou uma mistura de “fragmentos mal organizados” (MacIntyre,

2021, p. 37). Por fim, há uma mudança dos conceitos nos últimos trezentos anos.

Os conceitos que eram usados no passado não detêm o mesmo valor conceitual

que usamos hoje, por ser uma cultura e época diferentes. Diante disso, surge a

pergunta: “como devemos escrever a história de tais mudanças?” (MacIntyre, 2021,

p. 37).

O autor apresenta que uma das teorias que têm como base as opiniões

próprias é o emotivismo. Uma corrente filosófica que defende que todos os

julgamentos de valor, especialmente os morais, são simplesmente expressões de


preferências ou sentimentos pessoais. Por exemplo, quando alguém faz um

julgamento moral, está apenas mostrando sua própria opinião e emoção em relação

a algo, ao invés de fazer uma afirmação verdadeira ou falsa sobre o mundo. Logo,

os juízos morais não podem ser considerados como verdadeiros ou falsos e não

existem critérios racionais para chegar a uma verdade sobre os juízos. Em vez

disso, o acordo em questões morais é alcançado por meio de influências não

racionais ligadas às emoções ou comportamento das pessoas.

Um dos defensores do emotivismo é C.L. Stevenson. Stevenson

argumentava que, quando alguém diz “Isso é bom", está indicando algo como

“Aprovo esta ideia; você também deveria", buscando incluir a função expressiva dos

juízos morais quanto a sua capacidade de influenciar as pessoas alheias. O

emotivismo, enquanto teoria do significado, fracassa por três motivos: o primeiro é

tentar explicar o significado de certas classes de frases, tentando achar o sentido

das emoções ou pontos de vista, mas muitas vezes caem em uma circularidade; o

segundo motivo do fracasso do emotivismo é a tentativa de unificar o mesmo

sentido em expressões diferentes, como as expressões pessoais e impessoais.

Diante disso, entramos em um problema, porque as duas expressões imprimem

papéis diferentes; já o terceiro erro do emotivismo é tentar afirmar que os

enunciados morais têm a pretensão de mostrar sentimentos, confundindo assim

com seu significado. Por exemplo, se um professor irado gritar para o aluno "Sete

vezes sete é igual a quarenta e nove!" (MacIntyre, 2021, p. 41), ele estará com raiva

expressando seus sentimentos, mas isso não mudará o fato matemático que sete

vezes sete é igual a quarenta e nove.

MacIntyre agora passa a destrinchar o “intuicionismo” de G.E. Moore, teoria

que o emotivismo tentou refutar. Moore, no “Principia Ethica”, faz três afirmações

sobre questões éticas fundamentais: primeiro, ele afirma que "bom" é uma

propriedade simples e indefinível, diferente de outras características básicas, como

a cor e a dureza do objeto. Dizer que algo é “bom” é nada menos que uma “intuição”
(MacIntyre, 2021, p. 43), não passível de provas científicas. Em segundo lugar,

Moore afirma que o que define o valor moral de uma ação é justamente suas

consequências, isto é, pela quantidade de bem que aquela ação gera. Portanto,

MacIntyre afirma que Moore é um utilitarista (MacIntyre, 2021, p. 44). Em terceiro

lugar, Moore afirma que os maiores bens que podemos ter são: afeções pessoais

(amor e amizade) e satisfações estéticas (contemplação da beleza na natureza ou

na arte).

Por fim, MacIntyre afirma que as ideias de Moore são refutáveis e

independentes umas das outras. Diz que a primeira ideia do “bom” é claramente

falsa, e as outras duas estão em grande discussão (MacIntyre, 2021, p. 44-45). Ele

também afirma que os discípulos de Moore interpretaram a ideia de elocução em

Cambridge de forma equívoca, surgindo assim o emotivismo. Posteriormente, o

emotivismo foi sendo negado por vários autores, mas é possível ver quase que

implicitamente resquícios do emotivismo em autores modernos que negam o

emotivismo. Exemplos claros de autores são Nietzsche e Sartre, que negam a teoria

emotivista, mas colocam alguns pontos em suas ideias. Sartre, em sua filosofia

existencialista, enfatiza a liberdade humana e a responsabilidade pela própria

escolha. Já Nietzsche critica fortemente as bases morais tradicionais, trazendo uma

visão relativa da moral, apoiada em preferências pessoais. Portanto, parte da culpa

do declínio moral veio das ideias emotivistas.


Referências

MACINTYRE, A. Depois Da Virtude: Um Estudo Sobre Teoria Moral. São Paulo: Vide,
2021. v. 1a edição

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