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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA

Campus Anchieta – Direito

MAURÍCIO BULCÃO FERNANDES – A950JC4

DIREITOS POLÍTICOS FUNDAMENTAIS DO PRESO

Trabalho acadêmico apresentado para


composição da nota de Tópicos
Constitucionais, referente ao décimo
semestre, do curso de Direito da UNIP –
período matutino, DR0B39.

SÃO PAULO
2016
DIREITOS POLÍTICOS FUNDAMENTAIS DO PRESO

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem o intuito de demonstrar ao leitor como se dá a


suspenção dos direitos políticos mediante sentença penal transitada em julgado, e
como o preso cautelar, ou seja, o preso provisório, sem sentença condenatória
transitada em julgado, terá o direito de voto, conforme a visão Constitucional e do
TSE, quais medidas a serem adotadas para tal procedimento, além de traçar tais
nortes relacionando-os com a cidadania e com o princípio da dignidade da pessoa
humana. Direitos fundamentais são apresentados de forma clara em relação ao
direito que tem os presos conforme o dispositivo constitucional do artigo 5º da Carta
Magna.

1. CONCEITUAÇÃO E ANÁLISE INICIAL

Em ano de eleições, sempre surge a pergunta: “Será que os presos votam?”


Depende de quais presos. Os presos cautelares, ou seja, aqueles que ainda não
foram condenados, por força constitucional não podem ser considerados “culpados”.
Assim, diante da não existência de sentença condenatória, os direitos políticos
destes presos continuam com força e validade, devendo estes participar da
democracia e usar de seus direitos democráticos e republicanos para votar.
Quando há votação destes presos, que geralmente se encontram nas
delegacias ou em centros de detenção provisórias, são enviadas urnas para tais
locais, com fiscalização, para que os presos cautelares participem do processo.
Dentro das delegacias, eles recebem as informações dos candidatos e de seus
projetos, além, é claro, de terem acesso as suas visitas, que informam o que
acontece em meio social.
Os direitos políticos são tidos como direitos fundamentais, direitos de 1ª
geração, assim como os direitos civis, pois, através destes direitos é que se define
como se dará a organização do Estado e a eleição dos representantes. Tanto é que
os direitos políticos são a chave para a prática de reclamação frente ao poder
público, como por exemplo, um requisito obrigatório para que seja dada a
legitimidade de parte para a propositura de ação popular, ou até participar de um
referendo de consulta popular sobre a divisão de um Estado em dois.
Outro ponto tido como controverso é oriundo do clamor social quanto à
periculosidade do agente e da “agressividade” do acusado de cometer
crime/contravenção, tendo a sociedade o desconhecimento de como a Lei irá agir
diante desses casos concretos, e se os direitos políticos de presos cautelares que
cometeram delitos incluídos nesses clamores, como estupro e pedofilia, são
recebidos pelo Estado frente a seus direitos políticos com igualdade.
Diante de todo esse contexto e das condições para os presos participarem
do processo de escolha dos representantes, cumpre salientar da necessidade de
análise dos direitos políticos do preso e de como o Brasil age diante da égide dos
Direitos fundamentais adotados pelo Estado.

2. O BRASIL E A DEFESA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

A República Federativa do Brasil classifica-se em Estado Democrático de


Direito, isso quer dizer que o povo terá participação direta nos assuntos do Estado,
poderá eleger (direitos políticos ativos) e ser eleito (direitos políticos passivos) e
todos, até mesmo os próprios legisladores, deverão submeter-se às normas
Estatais. Dessa forma, tem-se então que os direitos políticos se estabelecem no
direito de nacionalidade e de cidadania. A cidadania é o ato de um indivíduo tornar-
se cidadão e exercer seus direitos políticos frente a democracia brasileira. Para
Magalhães (1997), “democracia não é somente votar, mas participar do processo de
construção do Estado e da sociedade, através de canais amplos de comunicação
entre os cidadãos e as diversas instituições privadas ou estatais”. Cidadania porém,
pode ter diversos conceitos diferentes: para uns, a cidadania é o direito de se alistar,
de votar e de ser votado; para outros, além de tais direitos, são os direitos políticos e
a garantia de participar junto com os representantes do povo frente a organização do
Estado nas relações sociais do mesmo. Quanto à nacionalidade, segundo os
ensinamentos de Alexandre de Morais, citando Pontes de Miranda, “nacionalidade é
o vínculo jurídico-político de Direito Público interno, que faz da pessoa um dos
elementos componentes da dimensão pessoal do Estado” (p. 176). Direitos políticos
são garantidos a todos os brasileiros natos e naturalizados, conforme a CF/88. Tais
direitos darão ao povo todo poder, haja vista, que logo no artigo 1º parágrafo único
da Lei Maior, é dito que “todo poder emana do povo”, e tal poder, a chamada
“soberania popular”, será exercida pelo sufrágio universal. Segundo José Afonso da
Silva (1997, p. 336), o sufrágio universal é aquele em que todo nacional terá o direito
de votar sem distinção de qualquer natureza.
Direitos fundamentais são todos aqueles direitos que buscam assegurar
dignidade a vida humana, estão traçados pelo Artigo 5º da CF/88. Porém, existem
mais direitos fundamentais fora deste artigo, por exemplo, os direitos políticos. Não
obstante ser direito fundamental, não se trata de direito absoluto. Assevera João
Trindade Cavalcante Filho, citando Gonet Branco, trás que “(...) os direitos
fundamentais podem ser objeto de limitações, não sendo, pois, absolutos. (...) Até o
elementar direito à vida tem limitação explícita no inciso XLVII, a, do art. 5º, em que
se contempla a pena de morte em caso de guerra formalmente declarada” (p. 07).
Assim, os direitos políticos poderão ser suspensos, ou o indivíduo poderá sofrer a
perda dos mesmos, dependendo da situação, pela qual, através do judiciário, o
Estado-juiz irá analisar e prolatar sua sentença. A própria Constituição tratará da
perda e suspensão dos direitos políticos, assim como também permite que Lei
complementar aumente o rol de motivos para que ocorram tais sansões.

3. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO PRESO

Os presos possuem direitos constitucionais estabelecidos, evitando-se assim


tratamentos desumanos e maus-tratos, além de garantir uma melhor ressocialização
ao mesmo. Alguns dos direitos infraconstitucionais dos presos estão regulados em
leis complementares, um deles é o direito de ter a auxilio-detenção ao preso que, até
a data de sua prisão, estava em dias com suas obrigações previdenciárias. Dentre
os direitos dos presos mais famosos estão o direito ao silêncio (LXIII do Artigo 5º da
CF/88), o direito a sua integridade física e moral (XLIX do Artigo 5º da CF/88), direito
a informação de seus direitos (LXIII do Artigo 5º da CF/88), direito a defesa (LXIII do
Artigo 5º da CF/88), direito de comunicação de sua prisão ao juiz e a sua família
(LXII do Artigo 5º da CF/88), tendo a mulher grávida direito a prisão domiciliar na
gravidez de risco ou depois do 7º mês de gestação, e a lactante direito a local
especial onde poderá amamentar sua criança.
O artigo 5º da CF/88 traz que todo preso terá que ser considerado inocente
até sentença transitada em julgado. Este é o princípio da presunção de inocência
(Art. 5º, LVII da CF): enquanto estiver no tempo ou usando do seu direito de defesa,
não será considerado culpado. Esse princípio assegura alguns outros princípios,
como o da ampla defesa e do contraditório (Art. 5º, LV da CF), tornando válidos
outros princípios, o do devido processo legal (Art. 5º, LIV da CF) e o do direito do
acesso ao judiciário (Art. 5º, XXXV da CF)
Tendo garantias constitucionais de acesso à Justiça e, portanto, à defesa, e
estabelecida a presunção de inocência antes de sentença transitada em julgado,
não há suspensão dos direitos políticos dos presos provisórios, haja visto que os
mesmos, antes da condenação transitada em julgado, são considerados inocentes,
não podendo assim, serem penalizados com perda ou suspensão de direitos
políticos.

4. DA PERDA E DA SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS,


E DO VOTO DO PRESO PROVISÓRIO

O preso só terá suspenso ou perderá seus direitos políticos depois de


transitada em julgado decisão judicial, mediante o rol traçado no artigo 15 da CF/88,
nas quais a perda da nacionalidade por decisão judicial produz perda dos direitos
políticos, e nos demais casos apresentados no artigo, a suspensão, decorrente de
perda da capacidade civil absoluta, sentença penal transitado em julgado, recusa de
cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º,
VIII, ou improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º. Lei complementar
poderá trazer novos meios de suspensão dos direitos políticos, como a chamada Lei
da Ficha Limpa (LC. nº 135) que, em algumas de suas novas condições de
elegibilidade, diz que todo candidato que tiver condenação criminal, crimes de
responsabilidade ou por improbidade administrativa, terão seus direitos políticos
suspensos. Como citado anteriormente, não há perda ou suspensão dos direitos
políticos do preso sem ter sentença que o condene. Até eventual condenação, será
este inocente, então gozará de seus direitos políticos como qualquer outro cidadão.
Sendo assim, o preso cautelar, ou seja, o preso que está nesta condição através de
prisão temporária (Lei nº 7.960/89), flagrante (arts. 301 a 309 do CPP) ou prisão
preventiva (arts. 311 a 316 do CPP) e em alguns casos excepcionais, prisão
domiciliar (no curso do processo), casos de prisão que ocorrem no curso do
processo por medidas de prevenir a interferência no processo, nos meios de prova,
proteger testemunhas ou partes, etc. Nesta senda, discorre o Ministro do TSE
Henrique Neves:
“[...] Enquanto não há uma condenação definitiva, a pessoa tem o
direito de votar. Na situação da pessoa estar presa, foram criados
diversos mecanismos pela Justiça Eleitoral para que, por meio de
seções, de zonas eleitorais nos próprios presídios, esse direito
constitucional ao voto não seja impedido.” (NEVES - TSE - 02/03/10 -
Site: tse.jus.br/noticias-tse).

5. VOTO E ALISTAMENTO - OBRIGATORIEDADE E FACULTATIVIDADE


DOS MESMOS

A Constituição Federal de 1988 em seu Art. 14, traz que “a soberania


popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo, III -
iniciativa popular”. Garantido o direito de votar a todos brasileiros, o alistamento se
faz necessário. Através do alistamento eleitoral, o indivíduo adquire seus direitos
políticos. A Carta Magna Brasileira preceitua que o voto e o alistamento serão
obrigatório e facultativo nos seguintes termos: segundo o Artigo 14, § 1º, I serão
obrigatórios o alistamento e o voto para os maiores de dezoito anos; o mesmo
artigo, no mesmo parágrafo, no inciso II, traz que o voto e alistamento serão
facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de
dezesseis e menores de dezoito anos. Para os estrangeiros, serão vedados o
alistamento e o voto. Porém, aqueles que conseguirem a nacionalidade brasileira
gozarão deste direito, haja visto que, segundo o Artigo 12 da CF/88 são brasileiros
os natos e os naturalizados.

CONCLUSÃO

Percebe-se, então, que os direitos políticos são direitos fundamentais e que


estes devem ser respeitados pelo Estado, não só devido a sua importância, mas
também por que o Brasil se constitui Estado Democrático de Direito, o que significa
dizer que até mesmo o Estado deverá respeitar suas próprias normas. Note-se que
os direitos políticos são requisitos para brasileiros natos e naturalizados, e que a
condição de não ter nenhuma dessas gera a nulidade do alistamento. A perda de
nacionalidade brasileira por sentença gera a perda dos direitos políticos, bem como
poderá haver suspensão dos direitos políticos conforme vimos estabelecido na
CF/88.
As normas internacionais sobre direitos humanos influenciam o Brasil a se
fortalecer como Estado Democrático de Direito. Porém, percebe-se a necessidade
de que se obtenha maior aparato do Estado, sendo este responsável por garantir os
direitos de todos. O MP poderia ter mais participação, haja visto que, segundo a
própria CF, é fiscal da lei e quem promove a luta pela segurança jurídica e dos
direitos difusos e coletivos.
É importante salientar o fato de o preso cautelar ter o direito ao voto, assim
como o jovem infrator, conforme a CF/88, sendo que tal direito só será suspenso
depois de sentença penal condenatória transitada em julgado, fazendo prevalecer o
princípio constitucional da presunção de inocência, gerando assim, o direito do
devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
BIBLIOGRAFIA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL, Brasil: Editora do Senado - Brasília, 1988.

CAVALCANTE FILHO, Jorge Trindade. (ARTIGO) Teoria Geral dos Direitos


Fundamentais – FONTE (folha do STF):
http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/
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COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 5ª.


ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2007.

DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria Geral dos Direitos


Fundamentais. São Paulo: RT, 2007.

FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004

MAGALHÃES. José Luiz Quadros de. Poder municipal: paradigmas para o


estado constitucional brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 1997.

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SALGADO, Joaquim Carlos. Os direitos fundamentais. Revista Brasileira de


Estudos Políticos. Imprensa Universitária, 1996. n.2

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