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Monarquia- VIII a.C./VI a.C.

(753-509)
Generalidades:
Não existem fontes certas para a origem de Roma, encontrando-se esta na mitologia, em
que Rómulo é que funda a cidade de Roma.

Neste período, no topo da hierarquia estava o Rex. Este concentrava em si todos os poderes
políticos, religiosos, militares e judiciais.

A sociedade estava dividida entre plebeus e patrícios. Havia 3 tribos, com 10 cúrias por cada
uma.

Em 510 a.C. é derrubado o último Rex de Roma, Tarquínio já que este era despótico e não
tinha sido eleito pela forma tradicional.

Existiam dois momentos, o faz (propícios) e o nefas (não propícios). O direito nasce para
gerir estes dois momentos.

Definições
Auctoritas- autoridade no sentido de conhecimento prático da vida

Mores maiorum- tradições dos antigos (como os antigos viviam a vida e solucionavam os
problemas)

Órgãos do governo
Órgãos principais:
- rex
- senado
- comitia curiata
- sacerdotes

Rex
Este era o órgão central do governo.

Tinha três tipos de poderes:


- imperium militae: capacidade de chefiar o exército; penalizar os crimes públicos
Ao abrigo deste, o Rex podia delegar poderes ao magíster populi (chefiar o exército),
ao magíster equitum (capacidade de comandar a cavalaria), ou ao questor parricidii
(perseguir e reprimir os crimes mais graves).

- imperium domi: poder de gestão administrativa da cidade


Este permitia ao rex resolver litígios entre as pessoas, através da aplicação das leges
regiae (conjunto de regras consuetudinárias e de rituais religiosos que o rei utilizava
para governar a cidade).

Ius papirianum- primeira coletânea escrita das leges regiae; não é a solução do caso
concreto, mas soluções que o Rex encontrava para gerir a cidade
- poder de mediação divina: o Rex tinha as capacidades te interpretação dos auspicia

Escolha do rei
Com a morte do rei, abre se o momento de interregnum, onde o senado passa a ser o órgão
principal, pois todos os poderes do Rex vão para este.

O senado tinha de nomear um grupo mais estrito de senadores, que, por sua vez, um deles
(interrex) tinha de indicar uma pessoa, em 5 dias, segundo a vontade dos deuses, através de
sinais, como o voo das aves.
No caso de no final dos 5 dias, não fosse indicado ninguém, então escolhia-se outro senador
para escolher.

Designatio- quando uma pessoa era indicada rei pelo interrex

Esta pessoa tinha de passar pelos comitia curiata, que dariam a aprovação (creatio). Isto
acontecia através da lex curiata de imperium (não é uma lei, mas um costume).

Inauguratio- sacerdote com mais poderes, numa celebração publica, dava a sua bênção à
pessoa que tinha sido escolhida e aprovada; aqui o Rex passava a ter os poderes

Senado
O senado era o órgão que representava os patrícios.

O senado tinhas os seguintes poderes:


- poder de interregnum: passava a ser o órgão principal, já que os poderes do Rex passavam
para este
- com a sua auctoritas, ratificava as decisões da plebe tomadas nas Comitia Curiata
- aconselhava e auxiliava o rei

Comitia curiata
Estes eram agrupamentos do povo, divididos em três tribos (latinos, etruscos, sabinos).
Cada tribo tinhas 10 centúrias, que eram grupos mais pequenos com a funcionalidade do
exército.

Durante a monarquia, a participação nas decisões políticas ou jurídicas por parte dos
Comitia Curiata não passava de um ato de adesão ou rejeição a uma pergunta feita por um
magistrado.

Estes tinham os seguintes poderes:


- lex curiata de imperium: poder de aprovar a pessoa escolhida pelo interrex para ser o
futuro rei
- aprovavam ou rejeitavam o conteúdo de uma solução dada por um magistrado
- formulavam regras dos mores maiorum no que diz respeito às relações intersubjetivas
- as decisões que incidiam sobre a estrutura familiar eram discutidas nas comitia
Colégios sacerdotais
Não podem ser considerados um órgão do governo, mas era uma instituição com poder de
influência nas decisões políticas do Rex, pois eram a expressão da vontade divina.

Os colégios mais importantes eram os colégios dos auguras e o colégio dos pontífices.

Colégio dos pontífices


Estes, através da religião, acabavam por limitar o poder político do rei. Isto acontecia, pois
protegiam os interesses das famílias patrícias nos confrontos com o rex.

Auguria vs. Auspicia


Os romanos procuravam encontrar a expressão da vontade divina, e para isso recorriam
aos:
- auspicia (legitimidade: reis): sinais no voo das aves; os auspicia favoráveis ou não
favoráveis diziam ao rei como e quando agir (efetivação de uma determinada ação)
- auguria (legitimidade: augures): todo o tipo de acontecimentos que indiciavam essa
vontade; permitia impedir que decisões nefastas fossem tomadas

Transição para a República- VI a.C./IV a.C. (509- 367)


Generalidades:
Estabelece-se uma espécie de República aristocrata, dominada pelo Senado e pelos Comitia
Curiata.

O rex é mantido, mas apenas para questões religiosas, denominado Rex Sacrorum.

No plano político e militar, o Rex é substituído por magistrados, os cônsules e os pretores.

Os romanos, nos finais do século VI, passam a ser governados por dois cônsules. Porém,
estes não tinham um cargo vitalício, de forma a evitar ter todos os poderes concentrados
numa só pessoa.

Há um momento de tensão, pois a Etrúria queria mais colónias para comercializar com mais
povos, mas acabam por ser derrotados. Isto fez com que a possibilidade de comércio que os
plebeus até então tinham ficasse limitada.

Retorna-se a uma estrutura de poder baseada na propriedade fundiária, algo que os


patrícios ansiavam.

Os plebeus, com medo de voltarem a um estágio inferior, revoltam-se contra os patrícios,


começando por exigir que houvesse uma igualdade de leis, escritas, entre estes dois
(aequatio iuris). Porém, os patrícios não queriam, aumentando esta luta.

494 a.C.- 1ª secessão do Aventino: a plebe divide-se do resto da cidade e fica isolada no
monte Aventino, e recusa-se a obedecer
Os patrícios não podiam fazer nada, pois a plebe fazia parte do exército.

Roma não podia ter a sociedade dividida, então, em 451 a.C., as magistraturas ordinárias
são suspensas e o poder é dado a um grupo decemvirato (grupo de 10 homens), com o
objetivo de escreverem regras para toda a sociedade. Porem, ao final de um ano estes ainda
não tinham escrito, logo foi escolhido outro grupo.

No segundo decemvirato as regras são finalmente escritas e as leis das XII tabuas são
publicadas (lex duodecim tabularum), em 449 a.C.

As leis das XII tábuas não eram uma inovação normativa, apenas eram os mores maiorum
escritos. Isto acaba com o secretismo do processo judiciário, dando uma maior segurança.

Leges Valeriae Horatiae


Os mesmos consules que publicam estas leis, publicam também as leges valeriae horatiae (3
leis, com o nome dos consules que as publicam: provocatione, peblescitis, tribunícia
potestate)

Lex Valeriae Horatiae de Provocatione


A partir de uma da lex valeriae horatiae de provocatione, temos a constituição do instituto
da provocatio ad populum.

Provacatio ad populum- este instituto serve como uma segunda instância; um magistrado
aplicava uma pena de morte a um crime grave; existem duas fases: 1) o magistrado explica
os factos e porque é um crime, 2) a assembleia aceita a decisão do magistrado ou não

De início, quando a assembleia dava o seu parecer, o magistrado não estava vinculado a
observar essa deliberação dos comitia.

Este instituto faz com que haja uma maior atenção para com a plebe, uma maior proteção,
pois maior parte das vezes quem era reu era um plebeu.

Leges Valeriae Horatiae de Plebiscitis


Os plebiscitos, criados pela plebe, ganham força normativa.

Leges Valeriae Horatiae de Tribunícia Potestate


Inviolabilidade da pessoa dos tribunos.

Esta estabelece o princípio da sacrossantidade dos tribunos da plebe.

Tribuno Militum
O exercício do imperium estava ligado à capacidade de auspicium.

Há a abolição do dever de casar dentro do seu grupo, permitindo os casamentos entre


plebeus e patrícios.
Com a entrada dos plebeus na vida familiar dos patrícios, participando nos sacra, há a
possibilidade da abertura dos auspicia aos plebeus.

Podendo os plebeus se integrarem nas magistraturas, mas também por serem uma parte
essencial no exército, estes eram integrados no tribuno militum.

Até ao início da República havia uma alternância do governo da cidade entre os cônsules e o
tribuno militum.
Estes tinham poderes idênticos, não podendo, o tribuno militum, exercer poderes que
resultassem da titularidade do auspicium (não podia nomear o ditador; nomear um colega
que exercesse as funções com ele; etc.).

Leges Licinae Sextiae


Em 367 a.C são aprovadas as Leges Licinae Sextiae.

Estas eram, entre outras:


- os devedores podiam descontar no valor a pagar os juros elevados já pagos; dividirem o
montante em três prestações pagas anualmente
- limite de apropriação de terras publicas; nenhum pater famílias podia ter mais de 500
jeiras de terra
- possibilidade dos plebeus poderem ascender ao consulado; um dos cargos de cônsul era
reservado a um plebeu

República- IV a.C./I a.C. (367-27)


Generalidades
Após as Leges Licinae Sextiae, é possível dividir e hierarquizar as magistraturas.

O poder político é entregue a magistrados com imperium; o senado, dotado de auctoritas


patrum, é o órgão de conselho e consulta das magistraturas; o populus expressa as suas
posições através de deliberações nas suas assembleias.

Assembleias do Populus
Principais assembleias:
- comitia curiata
- comitia centuriata
- comitia tributa
- concilia plebis

Comita curiata
Após o fim da monarquia, estas passam a ter um poder limitado a questões de direito sacro.

A investidura dos magistrados eleitos mostra que, mesmo com a separação da religião do
direito, ainda há uma relevância sacral na tomada de posse de um eleito para exercer
imperium.

Estes entram em decadência.


Comitia centuriata
Estas tinham como competências:
- aprovar as declarações de guerra
- eleger cônsules, pretores, ditadores e censores
- aprovar leis propostas pelos magistrados
- formalizar declarações de guerra e tratados de paz
- dar veredictos sobre a vida ou morte dos acusados

Comitia tributa
Estes eram organizados por tribos e tinham poderes de natureza civil.

As suas competências eram:


- votação de leis de menor importância
- eleições de magistrados menores e dos tribuni militum
- fixação de penas pecuniárias

Concilia plebis
Esta era uma assembleia que somente integrava plebeus, também sendo somente
convocados por magistrados plebeus.

As suas competências eram:


- eleger os magistrados plebeus
- votarem os plebiscita
- exercem o iudicium (julgamento) para os crimes puníveis com multa

Magistraturas
O cursus honorum tinha os seguintes pressupostos: dois titulares por magistratura (tendo
poder de intercessio sobre o outro); responsabilização dos titulares; impossibilidade de se
repetir o cargo; temporalidade (máximo um ano); pluralidade de magistraturas (o poder
estava dividido)

Os magistrados eram eleitos nas assembleias populares.

Cursus Honorum
Magistraturas ordinárias
Magistraturas maiores (imperium e potestas):
- Cônsul
- Pretor
Magistraturas menores (potestas):
- Edil
- Questor

- Censor

Magistraturas extraordinárias (poder de intercessio sobre os atos dos magistrados


ordinários)
- Ditador
- Tribuno da Plebe (não tem imperium)

Cônsul
O imperium do cônsul correspondia ao do rei (imperium domi; imperium militae), mas não
era ilimitado como o deste, já que estava sujeito à anualidade do cargo, colegialidade,
divisão de poderes com outras magistraturas; à provocatio ad populum.

No caso de haver problemas de relacionamento político, eram utilizados 3 expedientes:


- estabelecimento de turnos
- sorteio para se exercerem certas competências
- exercício geograficamente dividido

Em caso de bloqueio, o senado intervinha, fixando as competências de cada um.

No âmbito do seu imperium militae:


Acusava, julgava e executava as sentenças sem obrigação de seguir o consilium por ele
convocado.

No âmbito do seu imperium domi:


Convoca as assembleias populares e o Senado; iniciativa legislativa, podendo apresentar
propostas de lei aos comícios, onde eram votadas.

Alem destas, ainda exercias as competências residuais, que não cabiam expressamente aos
outros magistrados.

Sendo que as outras magistraturas, tirando o pretor, não tinham imperium, estas tinham de
recorrer ao cônsul para efetivar as suas ordens.

Pretor
O imperium do pretor era idêntico ao do Cônsul, mas a sua potestas era de menor
amplitude.

Funções:
- aplicava a justiça
- convocava os comícios para a eleição de magistrados menores
- apresentava propostas de lei, que eram votadas nos comícios

Em 242 a.C., ao pretor urbano (tratava de conflitos entre cidadãos romanos) junta-se o
pretor peregrino (resolvia problemas entre cidadãos e estrangeiros)

Edil
As suas funções eram:
- Guarda de arquivos
- gestão do tesouro
- Organizavam festas
- atentos a questões comerciais, podiam gerir situações de litígios no comercio
Questor
Magistratura encarregada de administrar o dinheiro publico, tendo uma função mais fiscal.

Tinham um poder de instrução, tratando os processos criminais que tinham como sanção a
pena de morte.

Censor
O censor tem um papel estratégico, sendo a polícia da moral (confere-lhe poderes de
fiscalização dos mores maiorum).

Além disso, a censura tem a finalidade do censo, contando quantas pessoas integravam a
população e quantas propriedades cada um tinha (estas faziam a sua colocação no exército).

Este não tinha imperium; era eleito nos comitia centuriais; exercia as suas funções durante
18 meses.

Ditador
Este era nomeado por um cônsul, tendo um mandato de 6 meses, no máximo, em situações
de emergência.

Os seus poderes eram:


- imperium militae: comando militar e o seu poder coercitivo
- convocar e presidir os órgãos colegiais
- imperium domi: praticar atos coercitivos, fazendo-se obedecer pelos cidadãos e
magistrados menores
- fazer publicar os seus editos

Não estava sujeito à provocatio ad populum, nem tinha de responder pelas suas ações no
final do seu mandato.

Tribuno da Plebe
Esta tinha como objetivo garantir os interesses da plebe.

Tinha imunidade absoluta, pois era sacrossanta.

Podia se opor às decisões dos outros magistrados, intercessionando os seus atos.

Inicialmente eram eleitos pelos comitia tributa, mas depois passam a ser eleitos pelos
concilia plebis.

No seculo III a.C. passam a poder presidir ao Senado.

Senado
O senado garantia a Roma estabilidade, continuidade institucional e conhecimentos
suficientes para orientar as magistraturas.
Para exercer os seus poderes tinha:
- Auctoritas patrum: confirmar as deliberações das assembleias (a partir da lex publilia
philonis, em 339 a.C., este passa a ser prévio às deliberações dos comícios em relação às
propostas legislativas)
- senatus consultum; consulta dada pelo Senado a um magistrado, a pedido deste
- interregnum: evitava o vazio de poder (por morte ou ausência do cônsul), garantindo
continuidade ao imperium

Principado- I a.C./III d.C. (27 a.C-285)


Generalidades:
Surgem novas realidades, que fazem com que a República se torne insuficiente, como o
alargamento de Roma, sucessivas guerras civis.

O fim da República dá-se com a morte de Júlio César.

O povo acredita que César Augusto era o único capaz de recuperar a paz, a justiça.

É criado um regime de monarquia absoluta, mas sem se desprezar as estruturas


republicanas. Contudo, estas funcionavam sem qualquer poder de intervenção real.
Por isto, diz-se que o Principado foi uma tentativa de concretizar no governo de Roma uma
síntese entre as instituições republicanas e outras de pendor monárquico.

As consequências são:
- os poderes separados em Roma perdem a independência, pois é concentrada no Prínceps
- a liberdade de iniciativa dos magistrados acaba
- a decisão judicial torna-se condicionada através da lei feita como expressão da vontade do
prínceps
- há um enfraquecimento dos órgãos de republica
- fim da independência dos jurisprudentes e dos pretores, estando subordinados ao
prínceps

Sucessão do prínceps
O prínceps escolhe um filho adotivo, para que este passe a aprender as atribuições de
prínceps. Assim, este filho tem reconhecida pelo Senado a auctoritas, confirmando o novo
prínceps.

Decadência dos órgãos constitucionais


Comícios
Os comícios tornam-se um órgão sem qualquer criatividade, iniciativa ou importância.

As reuniões em assembleia tornam-se atos de adoração ao prínceps, sem qualquer


conteúdo ou significado político.

Há um controlo dos comícios pelo prínceps, já que controlava as propostas, manipulava as


votações, etc.
Há cada vez mais menos representação do populus nos comícios.

As competências legislativas dos comícios passam para o Senado, pois este era controlado
pelo prínceps.

A competência para eleger magistrados passa para o prínceps.


Os comícios apenas votavam nas listas apresentadas pelo prínceps, eram respostas de sim
ou não.

Senado
O prínceps, formalmente, estende os poderes do Senado, retirando-os do populus.
Contudo, na prática quem os exercia era o prínceps.

O Senado perde importância, pois passa a ser controlado pelo prínceps.

Este passa a poder legislar através do senatusconsultos. Porém, a iniciativa legislativa vinha
do prínceps, que anunciava e publicava as suas decisões no Senado.

Intervenção do Senado através do poder legislativo:


- autoritas patrum: poder de ratificar ou não a proposta do magistrado, aprovada na
assembleia popular
- senatusconsulta: parecer do Senado, a pedido de um magistrado, sobre uma decisão ou
proposta

Magistraturas
Estas foram o órgão que mais sofreu, pois o prínceps concentra em si todos os poderes dos
magistrados, tendo primazia sobre todos eles.

Estes perdem a iniciativa política e a capacidade de intervenção.

Cônsules
Subordinados pelo prínceps, sendo que, na prática, é o prínceps que exerce a magistratura
do consulado.

Pretor
Este não foi logo substituído, pois a sua atividade exigia um elevado conhecimento dos
mecanismos processuais e das regras aplicadas na resolução de litígios.
Contudo, esta acaba por desaparecer.

Tribuno da plebe
Esta foi a magistratura que mais sofreu, pois o prínceps assumiu a tribunitia potestas.
O tribuno da plebe manteve o seu poder de intercessio, menos contra o prínceps.
Prínceps
Poderes:
- tribunícia potestas: poder de intercessio sobre todos os atos dos magistrados e do Senado
- imperium proconsulare maius: um comando militar supremo, podendo fazer guerra ou
paz.

Formalmente, César Augusto não tinha poderes originários, mas um poder derivado, pois os
seus poderes eram concedidos pelos órgãos políticos, nomeadamente o Senado.

O objetivo do prínceps era extinguir todas as magistraturas e dos outros órgãos, de forma a
concentrar em si todos os poderes.

Funcionalismo público burocrático


O prínceps controla a vida política através de um corpo burocrático de funcionários, como
magistrados, senadores, jurisprudentes.

Estes funcionários eram designados, por nomeação a tempo indeterminado, pelo prínceps
para fazer cumprir leis.

Os funcionários exerciam funções numa estrutura hierarquizada, com o prínceps no topo.

O cursos honorum é substituído pela carreira civil do funcionário imperial.

Fim do principado
Havia uma relação difícil entre o prínceps e os órgãos da república.

Há uma perda da importância de Roma no seio do império, pois as províncias já não viviam
em função e por causa de Roma. Assim, a figura do prínceps é enfraquecida.

O facto de o império ser grande faz com que haja uma incapacidade de se manter os
vínculos institucionais. Logo, há uma progressiva autonomia política das províncias.

A difusão do cristianismo ameaça e põe em causa a adoração do imperador, e


consequentemente as suas leis, às quais os cristãos não obedeciam.

Dominado- III a.C.- IV a.C. (284/395)


Generalidades:
Antes da subida de Diocleciano ao poder, em 284, existem vários problemas:
- lutas internas, por problemas na sucessão dos imperadores e das províncias se quererem
equiparar a Roma
- conflitos entre o império romano e o Cristianismo
- infiltração dos bárbaros
- demasiada extensão do império
Diocleciano inaugura um novo regime, um absolutismo à maneira oriental. Este intitula-se
deus, em que o seu poder não de uma lex curiata de império, mas de uma investidura
divina.

O cristianismo tenta destruir o mito da divindade do imperador. Isto faz com que
Diocleciano ordenasse uma perseguição aos cristãos.

Diocleciano reconhece que há uma impossibilidade de se manter todo o império sob um


único comando.
Assim, estabelece-se a primeira divisão do império, com Diocleciano no oriente e
Maximiano no ocidente. Cada um deste era colaborado por um césar, que seria o seu
sucessor.

Constantino consegue unir o império, mas por pouco tempo.

Teodósio reúne, pela última vez, o império. Porém, antes de morrer divide-o e entrega cada
parte aos seus filhos.
Este ainda reconhece o cristianismo como religião oficial.

A queda do império romano do ocidente acontece em 476.


A queda do império romano do oriente acontece em 1453.

Fontes
Generalidades:
- da monarquia à república: marcada pela interpretatio dos pontífices, leis das XII tábuas,
Leges Liciniae Sextiae

- república: ius civile, ius gentium, ius honorarium, jurisprudentes

- principado: atividade legislativa do Senado (senatusconsulta) e do prínceps, prestigio da


jurisprudência

- dominado: falta de lierdade dos jurisprudentes, ius publicum controlado pelo poder
político

Mores Maiorum
Os Mores Maiorum eram a tradição de uma comprovada moralidade, tendo o seu
fundamento no facto de os cidadãos, tacitamente, respeitarem estas regras de forma
voluntária, dando-lhes juridicidade.

Eram os pontífices que guardavam os segredos dos mores, permitindo a manipulação das
soluções. Eram estes que tinham a tarefa de os interpretar.

Os mores maiorum são tradição e não costume.


Lei das XII tábuas (450 a.C.)
Os cidadãos romanos obedeciam a um conjunto de regras não escritas, acreditando que
estas correspondiam ao que era querido pelos deuses que os protegiam.

A Lei das XII Tábuas foi redigida pelo decenvirato na sequência da reivindicação dos plebeus
que o Direito vigente estivesse escrito. Esta tinha como principais fontes os mores maiorum
e o ius papirianum.

A Lei das XII Tábuas possibilitou a superação do binómio norma/interpretação para passar a
haver uma busca argumentada da solução justo do caso concreto.
Ultrapassa-se a oralidade incerta para os jurisprudentes interpretarem as regras escritas,
aplicando-as nos casos concretos.

A Lei das XII Tábuas foram uma tentativa de positivar as regras mais importantes do ius
vigente e fazer aplicar de forma universal e igualitárias as regras a patrícios e plebeus
(aequatio iuris).

Jurisprudência
A jurisprudência é o conjunto de respostas dadas pelos jurisprudentes para solucionar
litígios.

Interpretava as regras de direito no sentido de encontrar a solução justa para o caso


concreto.

O jurisprudente tem auctoritas, pois era um símbolo do saber socialmente reconhecido dos
mores maiorum.

O jurisprudente não era apenas conhecedor, mas também criador do Direito. Tinha as
seguintes funções:
- Agere: aconselhamento processual; dava assistência às partes no processo (qual forma
empregar, que palavras utilizar, etc.)
- Respondere: resolver os casos que lhe eram encaminhados (normalmente, por particulares
ou magistrados), dando um parecer
- Cavere: aconselhamento na feitura do negócio jurídico

Características da jurisprudência:
- gratuitidade: os pareceres e conselhos não eram renumerados, mas uma forma de
acumular honras
- publicidade: as respostas dadas eram públicas e argumentadas, contrastando com o
secretismo que rodeava a atividade dos pontífices antes da laicização da jurisprudência

Periodização da jurisprudência
Época arcaica- Monarquia
A jurisprudência pertencia aos sacerdotes, que a reservavam, não a divulgando ao povo.
Estes elaboravam um calendário com os dias fastos e nefastos para a decisão de conflitos
entre as pessoas.
Com a Lei das XII Tábuas implementa-se a base concetualizadora do ius civile, positivando as
regras principais; abre-se o colégio dos pontífices aos plebeus, que faz com que Tibério
Coruncânio torne publico o modo de proceder à interpretatio das regras do Ius Civile;
ensino público do Direito a jurisprudência passa a desenvolver-se com bases
racionais, e uma atividade das mais nobres que se podia aspirar.

Época pré-classica- República


Com a expansão territorial juntam-se ao ius civile o ius honorarium e o ius gentium.

Ius honorarium- conjunto de normas criadas a partir da ação do pretor urbano de adaptação
do ius civile às alterações da vida

Ius gentium- normas criadas pelo pretor peregrino destinadas a regular as relações entre os
romanos e os estrangeiros

A jurisprudência começa a ser mais sistematizada e organizada. Substitui-se uma atividade


pratica por uma atividade mais teórica.

Época clássica- Principado


Além destes três, a atividade legislativa do Senado, do Prínceps e do Pretor torna se intensa.

O poder político tenta controlar a jurisprudência a partir do ius publice respondendi, ou


seja, a responsa dos jurisprudentes que recebessem este benefício eram levadas como se
tivessem sido dadas pelo próprio prínceps. Isto fazia com que a sua opinião vinculasse o juiz
à decisão do caso.

A atividade independente da jurisprudência está a acabar.

Na época clássica podemos compreender que os elementos de liberdade, responsabilidade,


opinião e justiça na criação e aplicação do Direito são substituídos pela certeza, segurança,
formalismo.

Época pós-clássica- Dominado


Há uma total falta de liberdade criadora por parte da jurisprudência.

A expressão jurisprudencial passa a ser só escrita e referente ao passado, enquanto o ius é


só a lex.

Há uma cristalização do ius em códigos feitos por jurisprudentes escolhidos pelo imperador.

Formas de criar ius no método jurisprudencial


Tópica
Regras construídas pelos jurisprudentes a partir de casos concretos.

Permite escolher as razões que levam a decidir num certo sentido, mas apresentando as
várias soluções.
Regulae
Instrumentos para resolver casos concretos, tendo como base os precedentes.

Definitiones
Explicações do significado de um termo que se destinam a auxiliar a interpretatio dos textos
normativos.

Auctoritas prudentium- permite aos jurisprudentes interpretar regras existentes visando a


sua aplicação a casos concretos, criar novas regras a partir de soluções idênticas dadas a
casos semelhantes

Evolução histórica da jurisprudência


O processo de laicização da jurisprudência tem 3 etapas:
- a lei das XII tábuas positivou, pela primeira vez, o direito

- o ius Flavianum com Cneu flávio a dar conhecimento publico dos dias fastos e nefastos
A lei das XII tábuas formulou regras escritas e publicou-as, mas não tornou publicas
as formas de exercer o direito contido nessas regras.

Isto fez com que os patrícios continuassem com os privilégios que tinham antes da
lei das XII tábuas, pois continuavam um segredo as formas de interpretar e aplicá-las.

Foi então que Gneu Flávio, escriba de Ápio Claúdio, divulgou o “código das ações”
(legis actiones). Assim, a lei das XII tábuas passa a ter um instrumento processual
para serem aplicadas, sem segredos.

A partir do ius Flavianum a solução de um conflito deixa de ser explicada pela


intervenção divina, através de fórmulas e procedimentos secretos, passando a ser
explicada com argumentação fundamentada.

- Tibério Coruncânio, um plebeu, respondeu oralmente e em publico, na qualidade de


pontifex maximus, às questões jurídicas colocadas pelas partes.
Perante todos fundamentou as decisões que tomou, dando origem ao procedimento de
responsa por parte dos jurisprudentes, mas também um caminho no sentido do ensino
publico do direito sem um controlo pontifical (252 a.C.)

Lex Rogata
Esta era a proposta feita pelos magistrados ao comitia.

Processo de formação
-promulgatio: afixação do texto a apresentar à assembleia pelo magistrado; era afixado num
local público, para toda a gente ver
-conciones: reuniões, em lugar publico, para haver uma discussão acerca do projeto
- rogatio: o magistrado pedia aos comitia que aprovasse a lei
- votação: numa primeira fase, a votação era feita oralmente; numa segunda fase, o voto
passa a ser escrito e secreto
- aprovação: a aprovação era feita pelo Senado, através da auctoritas patrum; com a lex
publilia philonis, em 339 a.C., a provação do Senado passa a ser feita antes da rogatio
- afixação: quando eram aprovadas, as leis eram afixadas publicamente

Esta era dividida em 3 partes:


- praescriptio: apresentação dos elementos identificadores da lei; género de introdução
- rogattio: texto da lei, onde se explica a norma apresentada
- sanctio: parte final da lei, que afroma e respeita o disposto dos mores maiorum

A lex rogata entra em decadência, dando lugar aos senatusconsultos.

Plebiscitos
Estes eram deliberações da plebe, que reunida em assembleia, aprovava, ou não, uma
proposta do tribuno da plebe.

Estes defendiam os direitos da plebe.

Com a lex valeria horatia de plebiscitis, em 449 a.C., alguns dos plebiscitos passam a ser
vinculativos para todo o populus.
Somente com a lex hortensia de plebiscitis, em 266 a.C., é que os plebiscitos são
equiparados às leis comiciais, tendo como destinatários também os patrícios.

Ius praetorium
O pretor, além de interprete da lex, também é o defensor do ius e da justiça, interpretando
o ius civile, integrando as suas lacunas.

A atividade do pretor era orientada pelos três princípios de Ulpiano:


- não abusar dos seus poderes
- não prejudicar ninguém
- atribuir a cada um o que é seu

Fases da atividade do pretor


- o pretor tinha a função de administrar a justiça, fundada no ius civile; toda a inovação que
este pretendesse fazer no ius civile tinha de ser sob pretexto de o estar a interpretar

- baseando-se no seu poder de imperium, usa expedientes próprios para criar direito, mas
de uma forma indireta, pois, conforme era justo ou não, ele podia aplicar ou desaplicar o ius
civile

- com a lex aebutia de formulis, em 130 a.C., baseado na sua iurisdictio, passa a criar direito
de uma forma direta, usando expedientes, em que os casos que não estão previstos no ius
civile, o pretor procede a uma actio própria

Editos do pretor
Este interpretava, integrava e corrigia o ius civile.
A sua atividade podia ser controlada por:
- ius intercessionis dos cônsules
- por quem tivesse tribunitia potestas
-provocatio ad populum
- pela critica dos jurisprudentes

Formas utilizadas na concessão dos seus expedientes:


- decreto: resolvia imperativamente um caso particular
- edicto: anunciava ao publico, com antecedência, a um programa geral das suas atividades
Este podia ser: -anuais, que eram dados pelo pretor no inicio da sua magistratura,
contendo os vários critérios que iria seguir durante a sua atividade naquele ano
-repentina: atos proferidos em qualquer altura do ano, para resolver situações
novas, que nem o ius civile nem o edito prepetum solucionavam

- tralaticia: permanecem iguais de um ano para o outro


- nova: disposições que o pretor acrescenta ao edito tralaticio

Expedientes do pretor baseados no seu imperium


- stipulationes: constitui-se uma obrigação para o devedor e uma actio para o credor, que
faz com que este exija ao devedor o cumprimento da sua obrigação
- restitutiones in integrum: para evitar uma aplicação injusta do direito, o pretor obriga as
partes a desvincularem-se da stipulatio anterior; há uma restituição integral da situação
anterior à stipulatio
- missiones in possessionem: ordem dada pelo pretor, que autorizava a uma pessoa a deter
certos bens de outra pessoa, surante um determinado período de tempo; utilizado quando
uma pessoa não cumpria com a sentença que lhe tinha sido dada
- interdicta: o pretor dava uma ordem, tomando apenas como fundamento uma aparência
jurídica para proteger uma certa situação que carece dela

Expedientes baseados no seu poder de iurisdictio


Até 130 a.C., o processo romano, com o sistema das legis actiones, tinha de se acomodar ao
que estava escrito nas leges.
O pretor presidia à fase in iure, em que a sua posição era simples e apagada, tendo de
conceder ou não uma actio.

Porém, com a lex aebutia de formulis, o sistema passa a ser de agere per formulas, em que
o pretor dá uma ordem escrita ao iudex para condenar ou absolver.

Para evitar uma aplicação injusta de uma actio civilis, o pretor tem à sua disposição várias
actiones praetoriae:
- actiones in factum conceptae: se o pretor vir que uma certa situação merece proteção
jurídica e não a tem do ius civile, este concede uma actio para que se faça justiça
- actiones ficticciae: para aplicar justiça, o pretor finge como existente alguma coisa ou um
facto
- actiones utiles: o pretor aplica por analogia actiones civiles a casos diferentes
- actiones adiecticiae qualitatis: actiones que responsabilizam o paterfamilias, total ou
parcialmente, pelas dividas de um dos seus filius
Edictum perpetum de Adriano
Com o desenvolvimento do ius praetorium, os pretores deixam de fazer alterações aos
editos dos seus antecessores, tornando-se geral o fenómeno dos tralaticia.

Com isto, Adriano manda que codifiquem todos os editos pretórios num só.

Senatusconsultos
Cronologia
- até ao principado, os senatusconsulto eram meros pareceres do Senado ao rei e
magistrados, quando estes o consultavam; os senadores concediam, ou não, auctoritas
patrum às leis comiciais

- após o inicio do principado, estes passam a ser fonte imediata de direito, tendo a atividade
legislativa, apesar de ser em colaboração com o prínceps

Constituições imperiais
Evolução
- até Adriano: transforma-se a atividade legislativa do senado em uma mera formalidade, e
esgota-se as outras fontes de direito

- depois de Adriano: o edito perpetum retira ao pretor a atividade inovadora, havendo uma
maior intervenção do prínceps

- dominado: só o imperador é o legislador

Espécies de constituições imperiais:


- edicta: não eram inovações legislativas, mas uma sistematização das práticas já observadas
- decreta: sentenças do imperador; eram validas para situações análogas posteriores
- rescriptum: respostas a consultas jurídicas, por parte de magistrados, funcionários ou
particulares
Podem ser:
- epistulae: respostas dadas a consultas feitas ao imperador por uma entidade
oficial; incidem, somente, em matéria de direito
- subscriptiones: respostas dadas a consultas feitas ao imperador por particulares;
incidem, somente em matéria de direito, apreciadas pelos colaboradores do
prínceps, e o imperador só diz sim ou não
- mandata: instruções do imperador em matéria administrativa

Partes de uma constituição imperial


- inscriptio: nome do imperador
- corpus: disposição da matéria/conteúdo da constituição
- subscriptio: data e lugar
Literaturas jurisprudenciais
Inicia-se uma literatura jurisprudencial, que com publicação das responsa dos
jurisprudentes, consolida-se o direito como um exercício humano e racional, com soluções
visando a justiça do caso concreto.

Tipologia das literaturas jurisprudenciais:


- institutiones: manuais elementares para o ensino do direito, escritos num estilo simples,
destinados a jovens que iniciavam o seu estudo do Direito; ao contrário das responsa, o
autor explica, com desenvolvimento e ordem, os argumentos que fundamentam as suas
opiniões e os motivos que o levam a tomar a sua decisão; conjuga a interpretação das regras
com a disposição de leis e opiniões de outros jurisprudentes
- epistolae: coletâneas de pareceres apresentadas sobre a forma de carta
- digesta: obras com alguma extensão onde eram reunidos pareceres próprios e de outros
jurisprudentes sobre todas as matérias; eram como uma enciclopédia do direito vigente,
incluindo regras, princípios, procedimentos, etc., apresentada através da resolução de casos
práticos; estes também eram sistemáticos, seguindo o edito do pretor
- tratados: o seu conteúdo resumia-se em comentários de obras já publicadas por outros
jurisprudentes, podendo apresentar algumas inovações

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