Estudo

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Título I

Delimitação da ordem jurídica

Ordem social e normatividade


Ser e dever ser
Ser: descrito, serve-se de uma linguagem descritiva; pertence ao domínio da razão teórica;
existente
Dever ser: prescrito, serve-se de uma linguagem prescritiva; pertence ao domínio da razão
prática; vigente (vigora no âmbito de uma ordem normativa)

O dever ser não pode ser considerado como verdadeiro ou falso, mas sim como válido ou
inválido.
Este ainda pode ser violado ou respeitado, enquanto não se pode falar em observância ou
violação no ser.
Este exige um querer, algo deve ser, porque alguém assim o quis, mas não se resume a este,
como as experiências históricas totalitárias já nos demonstraram.

Ordens normativas
Ordem moral: carater intrasubjetivo (tem a ver com o nosso interior); esta orienta a
conduta humana para a realização de um bem; esta regula aspetos relacionados com o
decoro, decência; esta pode ser relevante para a ordem jurídica (280 nº2).

Ordem do trato social: carater intersubjetivo (tem a ver com uma relação entre as pessoas);
trata dos convencionalismos sociais, como a boa educação; podem ter expressão sanções
baseadas na reprovação social

Ordem jurídica: carater intersubjetivo (tem a ver com uma relação entre as pessoas);
constituída por regras jurídicas; é a mais relevante das ordens normativas, pois é a única
cuja violação determina a aplicação de sanções que podem ser impostas pela força

Ordem jurídica e direito


Funções do direito
Função constitutiva: o direito constitui uma realidade que não existe sem ele (sem leis
penais não há crime); este cria conceitos jurídicos (ex.: dever, culpa, diligência); o direito é
constituído por regras com uma dupla função, o que se deve fazer ou não fazer e como se
deve julgar

Função política: este organiza o poder político e coloca limites ao seu exercício

Função social: o direito define os comportamentos que são proibidos, permitidos e


obrigatórios, tornando-os mais previsíveis e expectáveis; divide-se em dois planos:
- relação entre os indivíduos: relação horizontal; o
direito cria regras que permitem, obrigam ou proíbem
- relação entre a sociedade e os indivíduos: relação
vertical; regula a contribuição da sociedade para os
indivíduos (área da educação, da saúde), e da
contribuição dos indivíduos para a sociedade
(pagamento de impostos)

Função pacificadora: disciplina a violência de qualquer sociedade, determina os modos de


solução dos conflitos de interesses e aplica sanções decorrentes da violação das suas regras.

Modalidades da justiça
Justiça distributiva: opera nas relações verticais e orienta-se para a distribuição dos bens;
assenta numa ótica de igualdade, esperando-se que os bens sejam distribuídos de uma
forma igual aos iguais, e os desiguais de forma desigual

Justiça comutativa: pensada na ótica nas relações entre indivíduos; damos algo e a outra
pessoa algo de volta

Justiça legal: orienta a realização de um bem comum pelos indivíduos; esta orienta-se por
um princípio de proporcionalidade, em que quem tem mais dê mais

Justiça geral: aquela em que o bem comum coincide com o interesse individual de cada um
de nós

Justiça social: rege as relações entre o Estado e os particulares; é a conjugação entre a


justiça distributiva e legal

Justiça material: justiça adequada ao caso concreto; equidade

Direito e Estado
Temos de ter em atenção se estamos perante um Estado absolutista ou um Estado de
direito democrático.

Estado absolutista- o Estado prevalece sobre o direito


Estado de direito democrático- o direito prevalece sobre o Estado, pois este tem limitações
(separação de poderes, atribuição de direitos, liberdades e garantias aos cidadãos, etc.)

Ordem jurídica e imperatividade


Normas imperativas- têm mesmo de ser cumpridas; no caso de uma violação destas o
Estado tem de reagir; pode ter duas formas:
- desvalor do ato jurídico que incumpre a norma
- sanção aplicada ao autor do incumprimento

Coação- poder impor sanções

Coercibilidade- impor a aplicação das normas através da força

Imperatividade- há um dever ser, normas que têm mesmo de ser cumpridas, pois caso
contrário o estado tem de reagir (sanção aplicada ao autor/ atribuir um desvalor ao ato que
incumpre a norma)
Desvalores jurídicos
- ilegalidade: algo contrário à lei
- inexistência: forma mais grave; o vício é tão grande, que é como se não tivesse existido
- invalidade: - nulidade (286): ato é nulo; é mais grave; não produz efeitos jurídicos
- anulabilidade (287): ato é anulável
- ineficácia: decorre de uma irregularidade verificada no processo de formação

Sanções jurídicas
As regras sancionatórias têm uma previsão (regra de conduta) e uma estatuição (sanção).

As sanções podem prosseguir as seguintes finalidades:


- preventiva: procuram colocar um obstáculo à violação do direito
- repressiva: visam impor uma pena aos infratores
- reparadora: visam reconstituir a situação que existia antes da violação da regra

Tipos de sanções:
- sanções preventivas: visam prevenir a violação da regra jurídica
- sanção compulsória: levam o infrator a adotar a conduta devida
- sanção reconstitutiva: procuram recriar a situação que existiria se o agente não tivesse
violado a regra
Natural- reconstruir em espécie
Execução especifica- obter, através do recurso ao tribunal, a prestação a que o
devedor está obrigado
- sanções compensatórias: quando as reconstitutivas não são possíveis, procura-se uma
solução equivalente à que existiria se não se tivesse verificado o evento lesivo
A indemnização é feita em dinheiro, pois a reconstituição natural não é possível, não
repara integralmente os danos, ou quando é demasiado onerosa para o devedor
- sanções punitivas: reprimem um sujeito que atuou de modo ilícito
Penais- penas de multa ou prisão
Contraordenacionais- coima
Civis- valem no domínio do direito privado
Disciplinar- por parte das organizações em que o sujeito está integrado

Ordem jurídica e tutela jurídica


Legitima defesa (337)
Pressupostos:
- agressão (se for por um animal, só se considera legitima defesa se for instigada por um
humano)
- atualidade (também pressupõe a eminência)
- impossibilidade de o fazer por meios normais
- princípio da proporcionalidade: - dos meios que tenho ao dispor tenho de usar o menos
gravoso, se não entra-se em excesso
- temos o bem jurídico que está em causa com a agressão
e o bem jurídico do outro
Excesso de legitima defesa:
- asténico, com medo
- esténico, com raiva

Erro- 388º

Estado de necessidade (339)


O agente sacrifica uma coisa alheia, com o fim de afastar um perigo manifestamente
superior ao que o agente vai sacrificar.

Pressupostos:
- perigo do dano
- atualidade
- relativamente à pessoa ou a terceiro
- princípio da proporcionalidade

Estado de necessidade agressivo- o agente destrói ou danifica coisa alheia para remover um
perigo
Estado de necessidade defensivo- o agente destrói a própria coisa que cria o perigo

Se os pressupostos forem cumpridos, não há como utilizar a legitima defesa contra o Estado
de necessidade.

Se o perigo for por culpa exclusiva do agente, este é obrigado a indemnizar.

338º- a doutrina acha que deve-se incluir o Estado de necessidade no erro

Ação direta (336)


Tipos de ação direta:
- apropriação de coisa alheia
- destruição ou deterioração de coisa alheia
- eliminação da resistência irregularmente imposta pelo exercício do direito

Pressupostos:
- agressão ou violação do direito que já tenha sido consumada
- existência de um direito próprio que se pretende acautelar
- ser o único meio possível
- proporcionalidade

Não existe obrigação de indemnizar, com três exceções:


- não se verificarem os pressupostos
- 336 nº3
- 338

Título II
Regime das Fontes do Direito
Sistemas de Direito
Sistema romano-germânico: a principal fonte de direito é a lei

Sistema da Common Law: a principal fonte de direito é a jurisprudência, ou seja, quando o


tribunal toma uma decisão isso constitui um precedente, que vincula os outros tribunais a
tomarem essa mesma decisão num caso análogo

Delimitação das fontes do Direito


Fontes do direito- modos de formação e revelação de regras jurídicas

Fontes intencionais- quando a assembleia ou o governo fazem leis


Fontes não intencionais- algo que, sem a intenção de alguém, se transforma em algo
juridicamente composto (ex.: costume)

Fontes imediatas- aquelas que o são por si mesmas


Fontes mediatas- aquelas a que a lei atribui a qualidade de fonte

Fontes internas- origem no nosso próprio ordenamento jurídico


Fontes externas- fontes que têm origem externa

Fontes simples- há a formação de uma fonte e depois a fonte (ex.: lei)


Fontes complexas- composta por um facto originário e por um facto posterior à produção
da fonte

O que não é fonte de direito:


- doutrina
- jurisprudência
Jurisprudência constante- 8º nº3, apesar de não se aplicar a regra do precedente, os
tribunais têm de ter em conta os casos análogos, para que haja uma previsibilidade
das decisões dos tribunais, aumentando a confiança no sistema jurídico

Jurisprudência uniformizada- fixada pelos tribunais supremos, de forma a evitar um


conflito de jurisprudência acerca da mesma questão de direito; esta não é
vinculativa

Modalidades das fontes do Direito


Fontes externas
Direito europeu: originário- tratados
Derivado- legislação; regulamentos e diretivas

Direito internacional publico: comum- consuetudinário


Convencional- convenções entre os Estados

Fontes internas
Imediatas: lei (enunciado linguístico que contém regras jurídicas)- sentido material (leis em
sentido material nem sempre são leis em sentido formal, como os regulamentos); sentido
formal, que provem de um órgão com competência legislativa (leis em sentido formal são
sempre em sentido material); são gerais e abstratas
Normas corporativas- ditadas pelos organismos representativos das diferentes
categorias profissionais, culturais económicas, etc.
Costume- prática social reiterada (elemento fáctico) com a convicção da sua
juridicidade (elemento normativo); pode ser:
- secundum legem: quando a regra consuetudinária
coincide coma regra legal; o costume tem apenas uma
função declarativa
- praeter legem: complementa a lei
- contra legem: costume contrário à lei; implica a
cessação da vigência da lei

Mediatas: usos (3º nº3)- é que é habitual fazer-se, não há convicção da sua juridicidade
Jurisprudência normativa- acórdãos com força obrigatória geral do TC e dos
tribunais administrativos
Fontes de direito privado- resultam da autonomia privada; quando as regras
possam ser invocadas por terceiros

Vicissitudes do direito
Desvalores dos atos normativos
Os atos normativos também podem ser:
- inexistentes: 137º CRP
- inválidos: comporta as modalidades de nulidade (ex.: inconstitucionalidade) e
anulabilidade
- ineficazes: não produz quaisquer efeitos; 119 nº2

Publicação das fontes


Para que a lei se torne obrigatória tem de ser publicada no jornal oficial (5º nº1).

A publicação pode ser retificada, nos termos do artigo 5º da lei formularia.

Entrada em vigor da lei


A entrada em vigor da lei nunca pode ser no próprio dia, pois seria inconstitucional.

A lei entra em vigor no dia que fixar ou depois do prazo supletivo.

A contagem dos prazos dá-se segundo o artigo 279 do CC.

Uma situação que tenha acontecido entre o dia da publicação e o dia da entrada me vigor
de uma lei não pode ser abrangida por uma lei que ainda não vigorava.
Contudo, se a situação for no âmbito da responsabilidade penal, contraordenacional ou
disciplinar, aplica-se o princípio da aplicação retroativa da lei de conteúdo mais favorável ao
arguido.
Vicissitudes da vigência da lei
Impedimento à vigência da lei
Antes da lei entrar em vigor, é publicada uma outra lei sobre a mesma matéria, que entra
em vigor antes ou ao mesmo tempo que a primeira lei. Como a segunda lei tem a última
posição do legislador, esta impede a vigência da primeira.

Suspensão da vigência
Quando se considera inconveniente a continuação da vigência de uma lei, mas que ainda é
justificada, podendo voltar a entrar em vigor num momento posterior, suspende-se a
vigência dessa mesma lei.

Pode ser:
Temporária: suspensa durante um determinado tempo
Indefinida: não se define um prazo de suspensão

Cessação da vigência
- caducidade: quando a lei se destina a ter uma vigência temporária, pois tem um prazo, ou
podem desparecer os seus pressupostos
- revogação: cessação da vigência de uma lei determinada por outra lei; as suas modalidades
são:
- expressa ou tácita
- simples ou substitutiva
- global (um ramo do direito ou um instituto jurídico) ou individualizada (só uma lei, ou
algumas regras jurídicas de uma lei)
- parcial ou total
- retroativa ou não retroativa

A revogação da lei revogatória não implica a repristinação da lei revogada pela


primeira.
Isto não se aplica nos casos de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força
obrigatória geral

Hierarquia das fontes do direito


-Direito internacional publico/direito europeu
Atos legislativos
- constituição
- lei de valor reforçado
- leis da assembleia da republica/ decretos-lei do Governo
- decretos legislativos regionais

Atos regulamentares
- regulamentos de forma mais solene; produzidos por órgãos superiores; emanados
de órgãos com competências mais vastas
- regulamentos de forma menos solene; produzidos por órgãos inferiores; emanados
de órgãos com competências mais restritas
- decretos regulamentares
- decretos simples
- portarias
- despachos normativos

Título III
Regras e proposições jurídicas
Caracterização da regra jurídica
A regra jurídica não é um ponto de partida, mas um ponto de chegada, pois primeiro tem de
acontecer a interpretação.

Nem todas as regras jurídicas regulam condutas, existem regras que regulam poderes, ou
são sobre efeitos (ex.: invalidades).

Regra jurídica vs. proporção jurídica


A regra jurídica é extraída de uma lei, o seu valor é de validade ou invalidade.
Esta é feita por alguém com competência para impor prescrições a outrem, o legislador.

A proporção jurídica acontece quando alguém enuncia uma regra jurídica, podendo esta ser
verdadeira ou falsa.
Esta é feita por qualquer falante.

Estrutura da regra jurídica


A regra jurídica comporta dois elementos:
- previsão
Esta tem dois elementos: elemento subjetivo (destinatário) e o elemento objetivo
(facto ou situação que constitui o pressuposto da aplicação da regra jurídica)

A previsão pode ser aberta ou fechada.

A previsão tem duas funções:


- representativa: representa uma realidade imaginada como possível, mas que pode
nunca vir a verificar-se
- constitutiva: uma realidade apresentada na previsão torna-se uma realidade com
relevância jurídica

Se a regra não comportar nenhuma previsão, chama-se uma regra categórica.

- estatuição
Dentro desta existem dois elementos: operador deôntico (permissão, obrigação ou
proibição) e o objeto
Modalidades de regras jurídicas
Objeto
Regras primárias- regulam condutas, poderes ou efeitos; podem ser:
- regulatórias: respeitantes a
condutas e poderes, podendo ser
violadas
- constitutivas: respeitantes a
efeitos, não podem ser violadas
(ex.: aquisição da maioridade)

Regras secundárias- regras sobre outras regras (ex.: regras revogatórias, regras
interpretativas)

Âmbito
Regras gerais
Regras específicas- definem um regime próprio para situações diferentes das que estão ao
abrigo da regra geral; têm um âmbito de aplicação mais limitado

Estas podem ser:


- especiais: adaptam o regime geral; critério material (regulam uma certa situação
que se insere numa situação prevista na regra geral, como punição do infanticídio
perante a punição de homicídio); critério pessoal (as regras podem ser comuns ou
particulares); critério territorial (podem ser nacionais, regionais ou locais)
- excecionais: definem um regime jurídico contrário ao que se encontra na regra
geral; sistémicos (seguem princípios diferentes, como a não exigência de forma na
generalidade dos atos jurídicos, com exceção da compra e venda imóveis, por razões
de confiança) e pragmáticos (ex.: estacionamento proibido, menos aos sábados e
domingos)

Disponibilidade
Regras injuntivas- aplicadas, mesmo que haja uma manifestação de vontade contrária dos
seus destinatários
Regras supletivas- aplicadas apenas na falta de regulação da matéria pelos seus interessados

Vinculação
Regras de resultado- definem um resultado que deve ser alcançado ou evitado; não deixam
ao destinatário nenhuma opção de conduta
Regras técnicas- definem o meio que deve ser utilizado para obter determinado resultado

Espécies de regras
Regras definitórias- explicação de uma palavra ou enunciado; estas mostram quando algo
deve ser considerado uma realidade jurídica

Regras de remissão- equiparam duas situações análogas, aplicando a uma delas o regime
jurídico da outra

Regras de presunção- ilações que a lei tira de um facto conhecido para firmar um facto
desconhecido; podem ser:
- ilidíveis: podem ser refutadas caso prova em contrario
- inilidíveis: não podem ser afastadas
Ficções legais- o legislador ficciona que duas realidades destintas são idênticas, de forma a
permitir que a aplicação a ambas a regra que regula uma destas realidades

Regras de conflitos- destinam-se a resolver conflitos no:


- espaço: determina qual a regra, de entre vários
ordenamentos jurídicos, se aplica numa situação
plurilocalizada
- tempo: determinam, entre a regra nova e a velha,
qual a aplicável

Regras autorreferenciais: referem-se a elas próprias (ex.: artigo 9º)

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