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Direito Publico
São apresentados três critérios para fazer a distinção:
- critério do interesse prosseguido pelas normas
Se as normas prosseguirem interesses de carácter geral são de direito publico
(educação, segurança, saúde, etc.)
Este é falível, pois pode haver um ente publico que se comporta como um privado.
Exemplo: por vezes o Estado comporta-se como um privado quando alguém que não
tem herdeiros deixa a herança o Estado fica com ela.
No ponto de vista da professora Maria Palma Ramalho para se saber se é direito privado ou
publico conjugasse o primeiro e o último critério, utilizando-se o primeiro como critério de
prevalência.
Ideias chave do direito privado: igualdade e liberdade (podem fazer tudo o que não seja
proibido)
Ideias chave do direito publico: autoridade (ente publico não está ao mesmo nível que o
privado) e competência (os entes públicos só podem fazer aquilo que a lei lhes permite)
Situações jurídicas
Na concessão da professora Maria Palma Ramalho as situações jurídicas substituem o
conceito clássico de relação jurídica.
O conceito de situação jurídica é mais amplo que o de relação jurídica, pois não exige que A
tenha uma relação com B.
- situações absolutas: só por si, independente de qualquer outra, não exigindo uma relação
com outra pessoa
- situações relativas: pressupõe uma situação jurídica de sentido inverso
- situações patrimoniais: aquela que tem conteúdo económico, que é avaliada em dinheiro
- situações não patrimoniais: aquelas que não têm conteúdo económico
- situações ativas: aquelas que conferem ao seu titular uma situação de vantagem
- situações passivas: o titular tem se suportar um encargo, estando numa situação de
desvantagem
Situações ativas
Direito subjetivo
Direito subjetivo- permissão normativa especifica de aproveitamento de um bem
- direitos subjetivos patrimoniais: incidem sobre bens com valores económicos; podem ser
bens materiais ou imateriais (prestação)
- direitos subjetivos não patrimoniais
- faculdades
Corresponde a um conjunto de poderes, ou de outras posições ativas, unificados
numa designação comum (Menezes Cordeiro)
- proteções reflexas
Técnica que faz incidir normas de comportamento que acabam por acautelar
interesses.
Aos deveres impostos a terceiros, protegem-se interesses.
- expectativas
Posição do sujeito inserido na sequência que irá conduzir a um verdadeiro direito,
mas antes de este surgir. Estas podem ser: factos simples de produção instantânea-
depende de um só facto (ocupação- 1318); factos de produção complexa- depende
de vários factos (herança).
- poderes funcionais
Poderes que estão instrumentalizados em prol de algo.
Exemplo: poderes dos pais em relação aos filhos, que na realidade são deveres
- exceções
Situações jurídicas através das quais uma pessoa que esteja adstrita a um dever
pode, de forma lícita, recusar a efetivação da pretensão correspondente (428)
Vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à
realização de uma prestação (conteúdo de uma obrigação).
- dever
O espelho são os poderes.
- sujeições
O espelho é o direito potestativo.
Está numa situação de sujeição a pessoa que possa ter a sua posição jurídica alterada
por outrem, unilateralmente, não podendo fazer nada em relação a isso.
- ónus/ encargo
Comportamento que uma pessoa deve realizar caso pretender obter um
determinado efeito.
Não chega a ser um dever, pois tem uma estrutura condicional (se, então).
Menezes cordeiro defende que o ónus pertence ao direito processual, logo fala em
encargo.
Encargo- dever que proporciona vantagens a outras pessoas, mas essas não podem
exigir o seu cumprimento
- deveres genéricos
O espelho são os direitos absolutos.
- deveres funcionais
O espelho são os poderes funcionais.
Pessoas singulares
Personalidade
A pessoa em si não é um instituto jurídico, mas um dado pré-jurídico, pois o direito é feito
pelas pessoas para as pessoas. É um titular de situações jurídicas.
Direitos de personalidade
Direitos inerentes à esfera pessoal de cada um, que têm a ver com a própria pessoa.
Características:
- privados: inerentes à qualidade da pessoa enquanto individuo, e não a outras qualidades
que possa ter
- gerais: assistem a todas as pessoas, pelo facto de serem pessoas; não podem ser limitados
- absolutos: impõem-se universalmente, não necessitando de uma situação jurídica de
sentido contrário
- não patrimoniais: não são avaliáveis em dinheiro (mas se forem violados exigem uma
indemnização)
- inatos e perpétuos: decorrem diretamente do nascimento (inatos) e mantêm-se até à
morte do titular (perpétuos)
- intransmissíveis: não se podem transmitir
Artigo 70º- norma geral; conceito amplo de personalidade (física ou moral); protege os
indivíduos em caso de ofensa ilícita, mas também de ameaças de ofensa ilícita
Artigo 71º- alguns autores pensam que a personalidade tem um prolongamento depois da
morte; a professora Maria Palma Ramalho acha que são os herdeiros que têm o direito à
preservação da memória do falecido
Artigo 81º- a lei admite que os próprios titulares dos direitos de personalidade os possam
limitar; existem restrições:
- tem de ser voluntária
- não pode ser contrária aos principio da ordem publica
- se revogar tem de indemnizar os prejuízos causados
Estão no CC
- direito ao nome
- inviolabilidade de correspondência
- imagem
Personalidade jurídica- suscetibilidade de ser titular de situações jurídicas (não diz quantas)
Capacidade jurídica (67)- medida concreta das situações ativas e passivas de que uma
pessoa é titular
A doutrine distingue em dois tipos de capacidade:
- capacidade de gozo- titularidade das situações jurídicas, e os direitos inerentes às
situações jurídicas
Há direitos, que pela sua natureza, só pessoas singulares ou coletivas podem
ser titulares.
O nado morto não adquire personalidade jurídica. Os bebés que nascem e depois morrem,
adquirem a personalidade jurídica para depois a perderem.
Nascituros- em sentido estrito, aqueles que não nasceram, mas foram concebidos; em
sentido amplo, aqueles não nasceram nem foram concebidos (conseturos)
Quando ocorre o momento do óbito? Segundo a medicina, acontece com a morte cerebral.
Cadáver- não é uma pessoa nem uma coisa, é uma coisa intermédia
Capacidade jurídica
Divide-se me dois tipos:
- capacidade de gozo
- capacidade de exercício
Regras gerais:
- capacidade das pessoas singulares é plena (não podem ver restringida a sua capacidade)
- capacidade é irrenunciável (artigo 69)
Legitimidade- não é tratado pelo código; posição de uma pessoa perante uma certa situação
que lhe permita agir sobre ela
Esfera jurídica
Identifica o conjunto de situações ativas e passivas de que a pessoa é titular em cada
momento.
Domicílio
Domicílio- sede jurídica da pessoa; o local que para efeitos jurídicos a pessoa é encontrada
Domicílio geral- aquele que nos dá a regra geral relativamente ao paradeiro das pessoas
Domicílio especial- para efeitos jurídicos específicos
Domicílio especial:
- profissional
- eletivo: tem de haver uma determinação por escrito
- determinados pela lei (85, 87 e 88): para certos efeitos, o domicilio é aquele (menores e
maiores acompanhados; dos trabalhadores públicos; dos agentes diplomáticos)
Ausência
Requisitos (89):
- necessário que tenha desaparecido§1212321§1qa
- sem que dele se saiba parte
- não haver um representante legal ou voluntário da pessoa
- haver necessidade de prover à administração dos bens de quem desapareceu4588
É necessário os requisitos, mas também que tenha sido requerido por quem tem
legitimidade (91).
- curadoria definitiva
- morte presumida
Os requisitos são os requisitos gerais da ausência, mas também terem decorrido dez
anos desde a ausência, ou 5, se o ausente tiver, entretanto, completado 80 anos.
A declaração de morte presumida não pode ser feita antes de terem decorrido 5
anos sobre a data que o ausente atingiria a maioridade.
115- a morte presumida tem os efeitos da morte, mas não dissolve o casamento; no
caso do cônjuge se casar outra vez, então se o ausente voltar considera-se o
primeiro matrimonio dissolvido na data da declaração da morte presumida.
Incapacidades
Há situações, em que as pessoas, apesar de serem titulares de direitos, não os podem
exercer de forma livre e pessoal.
Tendo em conta a natureza, podemos ter uma incapacidade estável, mas também há a
incapacidade acidental (257; eventual, passageira).
Menoridade
122º- menor é quem não tiver completado 18 anos
Meios de suprimento:
- poder paternal/ responsabilidades paternais: cabe aos dois progenitor ou progenitor com a
guarda do menor; acordo dos pais; irrenunciável; envolve deveres importantes, como
alimentação, vestuário, etc.; 1877 ss.
- tutela
- administração de bens: a administração de um determinado bem ser subtraído do poder
paternal e entregue a outra pessoa
Forma de suprimento:
- representação legal
126º- Menezes cordeiro: os herdeiros (ficam na mesma situação que o menor estava) e os
representantes não podem
Maria Palma Ramalho: herdeiros não podem, mas os representantes podem (o objetivo é
proteger o menor)
Maior acompanhado
Os maiores acompanhados são indivíduos que sofrem de limitações, logo é lhes imposto um
regime especial (138).
Nos termos do nº1 do artigo 144º os ascendentes, o cônjuge e os descendentes têm o dever
de aceitarem ser acompanhantes, não podendo escusar-se ou ser exonerados.
Os descendentes podem, ao fim de 5 anos, ser exonerados, no caso de existirem outros
descendentes adequados (nº2).
Os restantes só podem pedir escusa com as justificações do artigo 1934º, ou serem
substituídos ao fim de cinco anos.
Nos termos do artigo 142º o acompanhamento pode ser requerido dentro do ano anterior à
maioridade, produzindo efeitos a partir desta.
Fim do acompanhamento
O fim do acompanhamento dá-se quando houver uma decisão judicial que considere que as
causas que o iniciaram já não existem ou foram modificadas (149). As pessoas enumeradas
no nº1 do artigo 141º também podem pedir a modificação ou cessação do
acompanhamento.
Atos do acompanhado
No artigo 147º nº1 é permitido o exercício de direitos pessoais e a celebração de negócios
da vida corrente.
Existe uma lacuna em relação ao prazo e a quem tem legitimidade para requerer a
anulabilidade dos atos praticados pelo acompanhado (a única informação que temos, no
artigo 154 nº2, é que o prazo do pedido de anulação começa no dia do registo da sentença).
Assim existem duas soluções. A primeira solução é aplicar o regime geral da anulabilidade,
presente no artigo 287º do CC (pedro pais Vasconcelos); a segunda é aplicar por analogia o
regime da menoridade, 125 (Mafalda Miranda barbosa).
Pessoas coletivas
Na parte das pessoas coletivas não estão previstas as sociedades (980 ss.).
Aquisição da personalidade jurídica- há entes que têm e outros que não têm
- elemento patrimonial
Nem sempre este é o mais importante.
É o mais importante nas sociedades de capitais, nas fundações.
- elemento teleológico
Tem que ter um fim.
O fim das pessoas coletivas pode ser muito diferente (as sociedades têm um fim
lucrativo, as fundações não têm).
280- o fim não pode ser contrário à ordem publica, ofensivo dos bons costumes,
contrário à lei
É importante, pois é caso de extinção da pessoa coletiva, se esse fim não conseguir
ser atingido, se for ilícito, ou se já tiver sido atingido.
Desde que a pessoa coletiva se constitua pela forma indicada pela lei.
As fundações têm de ser reconhecidas desta forma, por terem de ter um património
suficiente, mas também porque o fim, alem de ter de ser lícito, tem de ter um
interesse social.
Associações
As associações têm um sentido amplo, mas dentro deste podemos distinguir dois tipos:
- associações sem fim lucrativo: associações em sentido estrito
- com fins lucrativos: sociedades
A constituição é livre.
Há uma autonomia patrimonial perfeita, pois o património dos associados nunca responde.
Sociedades
As sociedades podem ser:
- comercial: se prosseguem um objeto comercial
- civis: prosseguem outro tipo de objeto
A lei admite que estas tomem a forma de sociedade comercial.
A vantagem é que as sociedades comerciais têm uma maior proteção na divisão
entre o património da sociedade e dos sócios.
A constituição é livre.
A autonomia patrimonial das sociedades civis não é completa, pois o património dos sócios
pode ser chamado a responder.
Fundações
Aquisição da personalidade- 158 nº2
Constituição: - instituição: negócio jurídico unilateral, pelo qual uma pessoa afeta um
património a uma pessoa coletiva a criar
- elaboração dos estatutos: 186 nº2 e 187
- reconhecimento: 185 nº2 e 188
Doutrina diz que há um princípio da especialidade, em que só pode ser titular dos direitos e
deveres necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins. Assim teria uma
capacidade de gozo especifica, ao contrário das pessoas singulares.
Porém, a doutrina mais recente não concorda, dizendo que a capacidade é genérica, tirando
as exceções do nº2.
Maria Paula Ramalho: a capacidade é ampla, mas não é completamente livre
Pais de Vasconcelos: o artigo 160 nº2 refere-se à legitimidade que a pessoa coletiva tem
para praticar um certo ato, e não se tem titularidade desse direito