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Adalberto Cardoso - Classes Médias e Política No Brasil 1922-2016 - FGV, 2020
Adalberto Cardoso - Classes Médias e Política No Brasil 1922-2016 - FGV, 2020
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Dedicatória
Agradecimentos
Introdução
Uma política de classe?
Sobre a definição de classes médias
Uma palavra sobre as fontes e o método
Capítulo 1 | A política das classes médias
“O radicalismo das classes médias”35
Capítulo 2 | O longo ciclo de Vargas
Introdução
Os “tenentes” em marcha
Em busca de distinção
As classes médias contra Getúlio Vargas
O “presidente bossa-nova”
O moralismo das classes médias em chave popular
Às voltas com o espectro de Vargas
Capítulo 3 | As classes médias encaram (e enfrentam) a ditadura
Introdução
Estudantes em marcha
Um espírito de época
Cem mil nas ruas do Rio
As classes médias em armas
O “milagre” brasileiro e a aquiescência das classes médias
Contra ditadores, eleições
Classes médias e a “distensão”
A classe média estudantil, de novo
Coda
Capítulo 4 | Classes médias e o golpe parlamentar de 2016
Introdução
Breve crônica de um golpe anunciado
Uma hipótese de trabalho
Classes médias em pugna
Antecedentes
Distinção
A matriz discursiva
Matriz discursiva e identidade de classe
Identidades excludentes
Coda
Conclusão
Fontes primárias consultadas
Acervos de jornais e revistas
Pesquisas de opinião
Referências
Lista de tabelas, gráficos e figuras
Agradecimentos
A primeira grande mobilização data de 2003, com a “Revolta do Buzu” em Salvador. Em 2006 o
movimento realizou sua terceira plenária nacional, com participação de representantes de 10 cidades.
O MPL se define como horizontal, apartidário e independente. Ver http://tarifazero.org/mpl/
(acessado em novembro de 2017).
3 Dentre as tentativas de atribuir significado aos protestos destaco Singer (2013), Domingues (2013),
Maricato et al. (2013), Moraes et al. (2014), Bringel e Pleyers (2015) e Alonso e Mische (2015).
Minha contribuição é Cardoso (2013).
4 Estou de acordo com a fina análise de Wanderley Guilherme dos Santos (2017), para quem o
impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe de Estado perpetrado por um parlamento hostil a seu
governo. O afastamento de Collor de Mello seguiu rito semelhante, embora neste caso o presidente
estivesse pessoalmente implicado nos escândalos de corrupção.
5 Essa concepção está também em Weffort (1980) e nas formulações teóricas de Nicos Poulantzas
(1974), referência de Décio Saes, e Erik Olin Wright (1985).
6 Contribuição sem dúvida mais influente é Souza (2017). Não dialogarei com esse texto aqui, menos
ainda com o livro mais recente, Souza (2018). A pretexto de expor a “verdade nua” sobre as classes
médias no Brasil, e não obstante ocasionais e interessantes reflexões sobre o tema, Souza expõe o
leitor mais exigente a uma série infindável de argumentos e afirmações sem nenhum lastro empírico
ou teórico.
7 Destaco aqui o estudo pioneiro de Halbwachs (1939). Estudos alemães e britânicos serão analisados
no capítulo seguinte.
8 Ver também o igualmente clássico Dahrendorf (1962), que se debruça longamente sobre as novas
classes médias e seu estatuto teórico. No Brasil, Bresser-Pereira (1962) é estudo pioneiro, que
também toma as classes médias a partir de sua posição na divisão do trabalho de nosso capitalismo
industrial emergente.
9 Ver Milanovic e Shlomo (2002); Neri (2010); Bussolo et al. (2014); Wietzke e Sumner (2014);
brasileira. No pico do período de industrialização (1980), 16% dos ocupados eram operários
industriais (se incluirmos a construção civil chegava-se a 25%), e a partir daí a proporção caiu
constantemente, chegando a 11% em 2010. Depois cresceu lentamente, tendo chegado a 12,3% em
2014 (21,5% incluindo-se a construção civil). Fonte dos dados: IBGE (2003), para o dado de 1980, e
tabulações do Censo de 2010 e da PNAD 2014 para este estudo.
11 Tema central nos estudos sobre as classes médias latino-americanas, como em López-Calva et al.
(2014), Franco et al. (2010) e Birdsall et al. (2000), neste último caso analisando também outros
países emergentes.
12 Tema de grande saliência nas literaturas francesa e americana, como em Chauvel (2006), Maurin
(2009), Peugny (2009), Sullivan et al. (2001), Pressman (2007), e também no Brasil, como em Grün
(1998) e Diniz (1998). Diniz contesta a tese da proletarização dos profissionais de classe média, mas
o importante é que ela se coloca a questão clássica proposta por Mills. Interessante best-seller dos
anos 1980 sobre o tema nos EUA é Ehrenreich (1994).
13 Que se tornou tema específico de investigação na tradição de estudos de mobilidade social.
16 Como na vasta literatura sobre estrutura de classes e mobilidade social, com exemplos expoentes
em Erikson y Golthorpe (1992) e Wright (1985), e no Brasil, Pastore e Silva (2000), Scalon (1999),
Ribeiro (2009), Santos (2002), dentre muitos outros.
17 Como no importante artigo de Eder (2001) e nos estudos sobre a primavera árabe e os movimentos
de 2013 no Brasil, de que são exemplos Vainer et al. (2013) e Castells (2013).
18 Ver uma vez mais o estudo pioneiro de Bresser-Pereira (1962).
20 Durante a pesquisa realizada por algum tempo pela internet, o computador do AEL, onde o acervo
de Belo Horizonte.
CAPÍTULO 1
É verdade que esse mal não seria exclusivo da classe média, mas
acometeria toda a sociedade norte-americana, com exceção dos muito
mobilizados por lealdades partidárias ou por sentimento de revolta. Mas na
massa da nova classe média ele seria muito mais evidente e “natural”. As
causas seriam muitas: os estupefacientes meios de comunicação de massa e
a cultura por eles moldada, a prosperidade econômica de todas as classes, a
pequena importância atribuída à política e a desconfiança do público em
relação aos políticos etc. Em consequência, nem a classe média como um
todo,
nem qualquer de seus setores, dispõe de símbolos comuns de fidelidade, exigência ou esperança.
[…] Não há nada em suas experiências profissionais diretas que incite os colarinhos-brancos a
formar organizações políticas autônomas […], falta-lhes até a consciência mais rudimentar de
seus interesses econômicos e políticos: eles não se dão conta de qualquer crise profunda e
específica de sua camada social (idem:369).
E ele acrescenta:
Contrariamente à imagem de uma sociedade de pessoas extremamente individualizadas distintas
umas das outras e envolvidas em demarcar tais distinções, defenderemos a imagem de uma
sociedade organizada em torno da tentativa de refazer-se, de tal modo que a exclusão dos meios
de produção não mais seja o critério dicotomizante. A dicotomia social que é inventada e em
última instância defendida é uma na qual o critério dominante é a exclusão de uma sociedade que
permite a identidade e o individualismo expressivo. A cultura dos novos movimentos sociais
contém um elemento de dicotomização da realidade social, a saber, a ideia de exclusão dos meios
sociais de realização de identidade [idem:13].
O radicalismo das classes médias já não teria a ver com a ansiedade com
que procura se distanciar das classes subalternas, associada à frustração por
não conseguir atingir a posição de classe dominante (como em Parkin,
1968), mas sim com o controle dos meios sociais de realização de
identidade e com a demarcação de espaços identitários de exclusão dos
outros, que podem ser segmentos das próprias classes médias que não
compartilhem interesses, normas e valores daquele coletivo assim
constituído. Resulta disso uma estrutura de identidades culturais
referenciadas umas nas outras, irredutíveis entre si e dispostas
hierarquicamente, já que as diferenças de poder “se referem ao modo como
a oportunidade de realizar identidade é definida e seus ativos são
desigualmente distribuídos” (idem:18).
Eder, nessa construção, coloca as classes médias no centro da dinâmica
social contemporânea, atribuindo a elas o poder de democratizar as relações
sociais (em razão da proeminência das “relações sociais consensuais” e,
nestas, da centralidade da comunicação) e, de maneira mais ampla,
transformar a realidade. É verdade que o argumento é, por vezes,
tautológico. Ele afirma, por exemplo, que “[o]s novos movimentos sociais
preocupados com a realização de uma existência ‘identitária’ são, portanto,
aqueles que alimentam a construção de novas relações de classe. Nesse
sentido a classe tem importância nos novos movimentos sociais” (idem,
ibidem). A classe tem importância por ser definicional, isto é, ela é parte do
conceito de novos movimentos sociais, que, se não alimentarem novas
relações de classe, embora sejam ação coletiva, não podem ser nomeados
movimentos sociais. Ainda assim, é louvável o esforço de recolocar a classe
de volta no debate sobre esses movimentos, e de ressaltar a centralidade das
classes médias neles.
A construção de identidade dessas classes interessará de perto a esta
investigação, muito particularmente no capítulo IV, no qual analiso a
conjuntura de 2013-2016 como processo de construção de classe. Estão lá
as mobilizações coletivas e as reivindicações identitárias típicas de
processos classistas, mas veremos que, contrariamente ao que queria Eder,
os conteúdos foram fornecidos pela disputa política em torno do controle do
poder de Estado, recolocando um tema que, como pretendo mostrar daqui
por diante, esteve sempre na agenda das classes médias brasileiras, sendo
constitutivo de seus processos de construção de identidade ao longo da
história.
24 A referência aqui é Montagne, citado em Tocqueville (1977:401).
25 Tocqueville via na grande indústria o germe da emergência de nova aristocracia, agora capitalista.
Seus poderes econômico e político punham em risco a marcha da igualdade. O tema da nova
aristocracia industrial está também no Durkheim de A Divisão do Trabalho Social.
26 Escreve Mill em sua autobiografia: “It is the character of the British people, or at least of the higher
and middle classes who pass muster for the British people, that to induce them to approve of any
change it is necessary that they should look upon it as a middle course: they think every proposal
extreme and violent unless they hear of some other proposal going still farther, upon which their
antipathy to extreme views may discharge itself” (Mill, 1981:280).
27 As duas formas de se referir à sociedade capitalista estão nas versões em inglês e francês de A
guerra civil na França, de Marx, ambas encontráveis em vários sítios na internet. Consultei a versão
em inglês em https://www.marxists.org/archive/marx/works/1871/civil-war-france/ch05.htm e a
francesa em http://classiques.uqac.ca/classiques/Marx_karl/guerre_civile_france/guerre_civile_franc
e.html, em novembro de 2018. Na versão em português disponível nas obras escolhidas de Marx e
Engels, da Alfa Ômega, cuja origem é a edição russa, essa distinção não aparece, é sempre da
sociedade burguesa que se trata.
28 Embora a oposição central em O Capital de Marx seja entre a “classe dos capitalistas” e a “classe
operária”, expressões mais comuns nos três volumes, há variações, sendo “burguesia industrial” e
“classe dos assalariados” os termos alternativos mais recorrentes. Entre esses polos aparece, com
alguma frequência, a “pequena classe média”, que na Seção VIII do Livro I sobre a “acumulação
primitiva” é descrita como sendo composta de vendedores, pequenos comerciantes, artesãos e
pequenos camponeses, enquanto na Seção IV do mesmo Livro I (nota 239) ele agrega as “jovens
mulheres de serviço”. No Livro III aparecem os trabalhadores comerciais que pertencem à “classe
dos assalariados bem pagos, que fazem serviço qualificado superior ao trabalho médio”; uma classe
de “agentes comerciais diretos do capitalista produtor, como compradores, vendedores, viajantes”; e
uma “classe cada vez mais numerosa de diretores industriais e comerciais”, isto é, a gerência das
fábricas. Estratos médios, pois, que podem perfeitamente ser hierarquizados em classes médias baixa,
média e alta, compostas pela “nova classe média” e por estratos da pequena burguesia urbana. E no
Capítulo VI, inédito, a extensa discussão sobre trabalho improdutivo tem como alvo o trabalho
assalariado dessas classes médias, incluindo intelectuais, professores e administradores a serviço do
capitalista etc.
29 Ver tb. Abercrombie e Urry (1983, cap. 4).
30 Nesses mesmos termos o problema já aparece em Kautski (1899), por exemplo, e também na já
citada “Introdução” de Engels, de 1895.
31 Klingender se baseia, frequentemente, em documentos produzidos por sindicatos de trabalhadores
de escritório, mas sua tese da “desqualificação” desses trabalhadores na época Vitoriana foi
corroborada pelo historiador Gregory Anderson (1976). Mais tarde a interpretação de ambos foi
criticada e nuançada pelo também historiador Michael Heller (2011).
32 Dois trabalhos de Speier estão listados entre as fontes consultadas por Mills.
33 Flavio Pierucci, em sua tradução de A Ética protestante... de Weber (edição de 2004 pela
Companhia das Letras), reivindica essa solução como mais adequada e rente ao texto original, em
lugar da “jaula de ferro” proposta por Talcott Parsons ao traduzir o texto para o inglês em 1930.
34 Przeworski e Limongi (1997:156) afirmam que o argumento de Lipset (1959) deu origem “ao
36 Depois do trabalho de Wright Mills, o crescimento das classes médias foi ainda objeto de pelo
menos dois outros estudos clássicos. Bell (1960) chama a atenção para a mudança na estrutura de
classes no capitalismo avançado, com o enxugamento do operariado industrial e o crescimento
vertiginoso dos empregos nos serviços, razão pela qual ele decreta o “fim das ideologias”. E
Lockwood (1959) está entre os que descartam a ideia de proletarização da nova classe média de
escritório.
37 Ver a coletânea também clássica de Crouch e Pizzorno (1978), que tem o sugestivo título de O
40 Sobre a radicalidade da crítica feminista à democracia burguesa e às teorias sobre a democracia, ver
Introdução
O historiador Hélio Silva define as primeiras revoltas tenentistas de 1922
como o início do “ciclo de Vargas”. Ele tem razão, pois os tenentes que se
bateram contra a ordem oligárquica no Forte de Copacabana e em outras
partes do Brasil vocalizaram interesses e disposições que, num crescendo,
desembocariam na Revolução de 1930, que traduziu em políticas públicas
muitos dos anseios tenentistas quanto à industrialização e à autonomia do
país no contexto geopolítico da época. Os “tenentes” foram artífices
incontestes do primeiro governo Vargas, que mudaria por completo a face
da nação ao iniciar a construção de um projeto que, depois, ficou conhecido
como nacional-desenvolvimentismo.
A Revolução de 1930 não foi, obviamente, uma revolução burguesa em
sentido estrito. Os chefes revolucionários, incluindo Getúlio Vargas, eram
oriundos de oligarquias agrárias respaldadas pela classe média militar e
segmentos das classes médias urbanas, e tinham contra si as oligarquias
agrárias tradicionais e parte das classes industriais para quem as políticas de
valorização do café, principalmente a política cambial, favoreciam os
produtores internos de mercadorias, ao tornar dispendiosas as importações;
e também as classes médias tradicionais, cujas posições dependiam de suas
estreitas relações com as oligarquias agrárias que haviam dominado o poder
central e nas províncias durante a Primeira República. Essas classes médias
ocupavam posições de comando no aparelho de Estado nos três níveis de
governo, e gozavam de privilégios que lograram proteger por meio de
legislação e relações de patronagem, e se opuseram vivamente ao
lentíssimo, mas persistente processo de modernização da administração
pública iniciada por Vargas. A Revolução, pois, sofreu oposição de
industriais e das classes médias superiores, mas os projetos dos tenentes,
por exemplo expressos em documentos do Clube 3 de Outubro
mencionados mais adiante, eram claramente industrializantes e
desenvolvimentistas, atribuindo ao Estado a tarefa de guiar o
desenvolvimento por meio do financiamento às indústrias de base, de bens
de capital, transportes e produção de energia, que teriam como
consequência a ampliação das bases de reprodução de novas classes médias
urbanas, além, é claro, de um novo e crescente operariado. A vasta
literatura a respeito não diverge na interpretação de que o golpe oligárquico
de 1930 deve ser lido como Revolução porque, com ele, o Brasil de fato
mudou o rumo de seu desenvolvimento econômico, tornando-se, a passo,
mas irrecorrivelmente, menos dependente dos capitais agrários e comerciais
para o financiamento do próprio Estado e da acumulação. A
industrialização se completaria fora do “ciclo de Vargas” em sentido estrito,
já que parte substancial das indústrias de bens de consumo durável se
instalou nos anos seguintes ao suicídio do presidente. Mas assim como os
tenentes prenunciaram aquele ciclo, os governos que o sucederam até o
golpe de 1964 viveram sob a moldura institucional e o projeto
industrializante costurados por Vargas (Santos, 2006, cap. 1). Por isso a
ideia do “longo ciclo de Vargas”, abrangendo do tenentismo ao golpe
militar, ou cerca de 40 anos de nossa história recente. Utilizarei,
alternativamente, a fórmula mais consagrada “Era Vargas” para me referir
ao período.
As classes médias, em seus distintos e heterogêneos segmentos, foram
decisivas nos momentos cruciais desse momento histórico, como mostrou,
pioneiramente, Décio Saes (1984). O que elas pensaram e o modo como
agiram (ou deixaram de agir) foram aspectos inarredáveis das dinâmicas
políticas e seus desdobramentos, tendo em vista as restrições à participação
política das classes subalternas (como a proibição do voto dos analfabetos e
a repressão à organização operária autônoma) e a proximidade dos
segmentos superiores das classes médias dos círculos de poder. A lenta, mas
persistente abertura dos canais de participação política, sobretudo depois de
1945, configura-se, aqui, na principal chave de interpretação das
metamorfoses da ação política das classes médias no longo ciclo de Vargas.
Não é meu objetivo propor análise exaustiva das sucessivas conjunturas.
Este não é um trabalho de historiografia. O que apresento em seguida é uma
sociologia historicamente informada, em contribuição à literatura existente.
Tomo o ponto de vista das classes médias, tendo como âncora os dados
empíricos mencionados na introdução a este livro, dados que só muito
recentemente têm encontrado guarida nas interpretações sociológicas e
reconstruções históricas sobre o período41. Contudo, pretendo oferecer
interpretações e evidências empíricas originais (e muitas vezes divergentes
de consensos estabelecidos) sobre momentos decisivos das dinâmicas sob
escrutínio.
Os “tenentes” em marcha
As classes médias estiveram em tensa relação com a democracia no Brasil
no longo ciclo de Vargas. Lemos em Santa Rosa (1963[1933]), Carone
(1972), Forjaz (1977) e Saes (1984)42, que o tenentismo, para eles expressão
do descontentamento das classes médias urbanas, foi decisivo na dinâmica
política da Primeira República, tendo contribuído mais do que qualquer
outra camada social para trazer abaixo a ordem oligárquica. Mas Weffort
(1980) é bem menos assertivo. Para ele os movimentos das classes médias
foram “pouco audazes”, embora tenham representado “a primeira fissura
importante no equilíbrio liberal-oligárquico e o começo de sua decadência
como ordem política” (p. 117). Indo além, Fausto (1986[1970]) constrói
longo argumento historiográfico e teórico para negar a associação direta
entre o tenentismo, principal fração média a lutar contra as oligarquias
tradicionais, e os interesses e a ideologia das classes médias urbanas.
O escrutínio da alentada literatura sobre o tenentismo (incluindo a
importante objeção de Boris Fausto) dá razão aos quatro primeiros autores,
e levará necessariamente à conclusão de que o movimento, expressão
saliente de insatisfação ao mesmo tempo estritamente militar mas também
de classe média, embora não necessariamente representativa das classes
médias em geral, de fato desempenhou papel desestabilizador daquela
ordem, tanto como corrente de opinião antioligárquica e anticorrupção num
emergente mundo urbano marcado por agudas clivagens e opressão de
classe, quanto como movimento armado propriamente dito que, num
crescendo, engrossou a corrente de lava que desaguou na Revolução de
1930. Os tenentes queriam “republicanizar a república” (Owensby,
1999:152), afastar do poder as oligarquias corruptas, sanear a competição
política das fraudes eleitorais, ampliar e moralizar o sistema eleitoral,
construir o Brasil para os brasileiros (Silva, 2004 e 2005). Essas, pelo
menos, eram as demandas dos revoltosos de 1922 no Rio de Janeiro e 1924
em São Paulo, e também da Coluna Prestes43, embora o tenentismo que
chegou ao poder com Vargas tivesse nítido pendor autoritário (Fausto,
1986[1970]).
Não é ociosa a discussão sobre ser o tenentismo um movimento das
classes médias ou não. A relação entre as classes sociais e os indivíduos ou
grupos que dizem representar seus interesses na esfera pública e na arena
política está no cerne das teorias da representação, e tratar do tema
específico do tenentismo ajudará a elucidar aspectos do modo de inserção
das classes médias na dinâmica política do país. Para dizer desde logo, as
classes médias não eram “um saco de batatas”, e sua identidade não era
dada apenas pelos que diziam representá-las, embora isso fosse sem dúvida
importante44. Elas estavam na retaguarda dos movimentos da vanguarda
militar que trouxeram ao chão a parcela dominante das elites oligárquicas, e
que colocaram no poder estratos das parcelas oligárquicas dissidentes, por
elas apoiadas com fervor. No retrovisor da ação das classes médias e seus
representantes, estava o temor do levante popular45, e em seu horizonte, um
projeto autoritário de construção da nação que, se estava ciente do que se
deveria destruir, não sabia muito bem o que pôr no lugar. Mas ter claro o
que não se queria era em si um projeto político importante, num ambiente
no qual o poder dos oligarcas agrários parecia inexpugnável.
O radicalismo dos tenentes tinha como pano de fundo as muitas tensões
decorrentes do início da desestruturação de uma ordem social cindida,
historicamente, entre massas rurais miseráveis e oligarquias agrárias muito
poderosas e encasteladas no poder estatal, cujas posições estavam vedadas
às outras classes. Ainda que o país se urbanizasse muito lentamente, na
alvorada da terceira década do século XX as cidades já abrigavam massas
expressivas dos nacionais. Em 1920, segundo dados do Censo
Demográfico, viviam nas capitais dos estados federados nada menos do que
3,5 milhões de pessoas, ou mais de 11% de uma população total de 30,6
milhões. Daquelas, 1,16 milhão viviam no Distrito Federal (cidade do Rio
de Janeiro), e 580 mil na cidade de São Paulo. Números portentosos para
uma ordem social dominada com mão de ferro por oligarquias agrárias.
Em algumas capitais, parte expressiva dos habitantes era composta de
operários fabris. Nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro a proporção de
operários entre os ocupados ultrapassava os 27% em 192046. As duas
cidades viram a agitação operária escalar na década de 1910 até explodir
numa onda de greves que estarreceu as classes médias e dominantes entre
1917 e 1919, o rastilho da revolta se espalhando por outras cidades do
interior desses estados e também a Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul
(Fausto, 1977; Pinheiro, 1991). A partir de então o temor da “agitação
bolchevique” assombraria as elites dirigentes e fustigaria os brios e os
temores das classes médias urbanas, presentes também em grande número.
Com efeito, as administrações pública e privada (ocupações de escritório)
e as profissões liberais, ou seja, os loci que acolhiam o grosso das novas
classes médias urbanas, respondiam por 314 mil postos de trabalho no
Brasil em 1920, sendo 66,5 mil no Rio de Janeiro, 23,2 mil em São Paulo.
Se incluirmos o comércio e o setor financeiro, teremos outros 500 mil
postos de classe média (88 mil no Rio e 30,6 mil em São Paulo), já que
parte dos comerciários e bancários eram, nos anos 1920, camada
indiscutivelmente intermediária, melhor posicionada do que o operariado
fabril, a massa urbana desempregada e subempregada e os trabalhadores
dos campos. Em termos relativos a participação das camadas médias não
era pequena: chegava 14,4% dos ocupados no mundo urbano, ultrapassando
os 21% na cidade de São Paulo e atingindo 31% no Rio de Janeiro, contra
36,6% de operários em São Paulo, 27,2% no Rio e 19% no Brasil47. E seu
peso numérico no mundo urbano não era negligenciável, contrariamente ao
que sustenta conhecimento convencional sobre o período48.
Ainda assim, Boris Fausto, em seu influente clássico de 1970, não crê que
o tenentismo tenha sido um movimento dessas classes médias emergentes.
Para ele as revoltas de 1922, 1924 e 1926 tiveram nítido componente
militar, não de classe, e a Revolução de 1930 teve viés multiclassista,
agregando a oligarquia não ligada ao café e os militares, “com apoio das
classes médias e com a presença difusa das massas populares” (Fausto,
1986[1970]:103). E embora ele concorde que a origem social da maioria
das lideranças tenentistas era nitidamente de classe média, sobretudo média
baixa, não encontra correspondência entre a ideologia tenentista, “elitista” e
“centralizadora”, e a ideologia das classes médias, defensoras do
regionalismo e, em muitos casos, das elites agrárias locais, de quem
dependiam para seus empregos e segurança. O radicalismo de algumas
posições tenentistas seria francamente avesso ao apreço das camadas
médias por soluções “pelo meio”, ou de compromisso.
O argumento de Fausto é ambíguo. Para sustentar a tese de que os tenentes
não representavam as classes médias, incorre num reducionismo movediço.
Para ele os tenentes “eram e não eram” membros das classes médias. Como
parte das Forças Armadas “participam de uma categoria específica –
parcela do aparelho de Estado – que não é diretamente determinada pelo
critério de classe”, critério que ele, de resto, não explicita49. E prossegue:
“Mas a vinculação de classe não é indiferente e introduz uma variável
importante na compreensão do comportamento tenentista, ao possibilitar
um certo tipo de ação e ideologia cujo exemplo mais claro são as
formulações desenvolvimentistas” (Fausto, 1986[1970]:81). Ou seja, eles
não são classe, e sim um estamento militar. Mas estão vinculados às classes
médias por sua origem social, o que explica parte de sua ação e sua
ideologia desenvolvimentista. O problema é que, para o autor, essa
ideologia seria, sim, cara à pequena burguesia urbana, juntamente com a
demanda por plena realização da democracia formal através do voto secreto
(p. 83), aspiração do tenentismo liberal dos levantes de 1922, 1924 e, em
menor medida, 192650. Logo, não eram apenas “elitismo” e “centralização”
que caracterizavam a ideologia tenentista (tal como afirmado nas pp. 63 e
ss.).
Por outras palavras, no texto a ideologia dos tenentes expressa a ideologia
das classes médias nas páginas 81 e seguintes, ao passo que aquela
apresentada nas vinte páginas anteriores é usada para mostrar que as duas
camadas estavam apartadas ideologicamente. O argumento é inconsistente.
Ademais, se os tenentes estavam vinculados às classes médias por sua
origem, então é possível qualificar o movimento como de membros de uma
fração dessas classes. Se o exército treinava e reeducava os cadetes, criando
interesses e visões de mundo exclusivamente militares, ainda assim os
tenentes tinham vida doméstica com padrão de classe média, e viviam as
vicissitudes dessas classes quanto à carestia de vida, os problemas de
habitação, educação dos filhos etc. Mais ainda, para Fausto a Revolução de
1930 seria impossível “sem a sua [das classes médias] larga adesão, tendo-
se em vista o caráter muito limitado da intervenção do proletariado”
(idem:82). O “policlassismo” tinha, portanto, protagonismo das classes
médias. Por fim, toda a argumentação não deixa dúvidas de que, se os
tenentes não tinham, por óbvio, “delegação” das classes médias para agir
(eles não eram um partido político, mas um movimento), estas, ou parte
expressiva delas, se sentiram representadas na ação dos tenentes contra a
oligarquia agrária que, além de autoritária51, sufocava as outras classes com
sua política de controle do câmbio para salvar o café (a “socialização das
perdas”, na conhecida interpretação de Celso Furtado) e a si mesma, o que
encarecia os bens importados que abasteciam todas as classes, como mostra
o mesmo Boris Fausto. O “medo da proletarização” assombrava as classes
médias, inclusive o estamento militar, que via seu padrão de vida cair ano a
ano corroído pela inflação (Fausto, 1986[1970]:94; Saes, 1984:16).
Nessa ordem de razões, Forjaz (1977) argumenta, a meu ver corretamente,
que o tenentismo foi ao mesmo tempo um movimento militar, com os
tenentes se insurgindo também contra a cúpula das Forças Armadas
aderente à oligarquia agrária; e um movimento que, sobretudo depois dos
levantes de 1924, se alimentou do descontentamento das classes médias,
que afetava também os militares enquanto classe. Os tenentes
representaram (e eu acrescentaria, interpretaram) os interesses das classes
médias urbanas por mais democracia e pelo fim da dominação oligárquica52.
De todo modo, Décio Saes, Boris Fausto e Maria Cecília Forjaz deixam
claro que o tenentismo teve pelo menos três vertentes: a liberal democrata
dos levantes iniciais, inclusive a Coluna Prestes, o autoritarismo
conservador do pós-1930, e o radicalismo de esquerda cuja expressão mais
saliente foi a Aliança Nacional Libertadora.
O medo da proletarização como um dos esteios da ação política
circunscreve a potência e também os limites dessa ação. Ele sugere que
parcelas importantes das classes médias emergentes estavam em posição
vulnerável no mundo urbano, e como tal dispostas a apoiar saídas extremas
para a crise, até mesmo uma revolução. Mas não uma revolução proletária
tal como a ensaiada nas greves de 1917 a 1919, que ameaçasse suas
posições, ainda que vulneráveis. O medo da proletarização, na verdade,
impedia que as classes médias, em processo de ascensão social ou em luta
para manter suas posições, se identificassem com as classes abaixo delas.
Seu “representante” eram os tenentes, com seu reformismo elitista,
centralizador e moralizante que, em aliança com as oligarquias dissidentes,
pareciam anteparo sólido contra as pressões do operariado emergente, tendo
ao mesmo tempo um projeto de nação com pilares no mundo urbano. Nesse
sentido, o tenentismo pareceu expressar os anseios do citadino médio,
mesmo que este visse no movimento apenas uma tábua de salvação para sua
vulnerabilidade, não estando disposto, por exemplo, a perfilar-se com os
“heróis” nas batalhas que travaram.
O tenentismo, como afirmei, não era um só. Seu higienismo político (era
preciso sanear a república) travestido de republicanismo e nacionalismo não
era toda a história. Virgínio Santa Rosa, por exemplo, lamentava os
pendores democráticos dos tenentes (mas nem todos o tinham), já que a
democracia havia servido, até ali, para manter no poder oligarquias agrárias
corruptas e opressoras, que faziam do Estado comitê executivo de seus
interesses, em detrimento de todas as outras classes e muito particularmente
da “pequena burguesia”, termo mais comumente empregado por ele para
referir-se à nova classe média urbana. Mas Santa Rosa viu mais democracia
do que de fato havia. Os tenentes se julgavam portadores do interesse
genuíno da nação, e, se estavam com Getúlio Vargas na revolta armada que
pôs fim à Primeira República, sendo decisivos no suporte ao novo regime, a
democracia não era propriamente o forte de parcela expressiva desse grupo.
Diante, por exemplo, da pressão da dissidência oligárquica que apoiara a
Revolução para o restabelecimento das eleições e a convocação de uma
assembleia constituinte, os tenentes fundaram o Clube 3 de Outubro em
1931, defendendo a prorrogação do Governo Provisório (que Santa Rosa,
Martins de Almeida e seus contemporâneos qualificavam de ditatorial) e o
adiamento da constitucionalização do país. O Clube foi muito influente por
alguns anos, tendo intermediado a nomeação de vários tenentes como
interventores federais nos Estados, e veria boa parte de seu programa
divulgado em 1932 ser adotado por Vargas depois de 1937, sob a ditadura
do Estado Novo (Silva, 1966; Fausto, 1986[1970]; Tavares de Almeida,
1978). Dentre os pontos centrais do programa estava a construção de um
estado forte e centralizado, em contraposição ao federalismo oligárquico; a
intervenção estatal na economia para industrializá-la e modernizá-la (estava
na pauta a construção de infraestrutura siderúrgica, por exemplo); a defesa
da representação corporativa de categorias profissionais reconhecidas pelo
Estado, ao lado da representação parlamentar clássica (medida que seria
adotada na Constituinte de 1934); eliminação do latifúndio; instituição de
conselhos consultivos e técnicos de auxílio à administração pública;
nacionalização de alguns setores estratégicos, como a exploração hídrica e
mineral e muito mais, temas que de fato figuraram entre as principais
políticas do longo ciclo de Vargas, que, nesse sentido, pode mesmo ser
pensado, ao menos em parte, como triunfo do projeto desse segmento das
classes médias. Mas, sabemos, Vargas, ao dar passagem a partes do
programa do Clube 3 de Outubro, não elegeu as classes médias como base
de sustentação de seu projeto político53.
Virgínio Santa Rosa execrava a democracia oligárquica, visão que
contaminava sua percepção da democracia em geral. Tal como boa parte
dos tenentes depois de 1930, ele preferia um governo de sábios escolhidos
entre elites ilustradas, liderando uma “ditadura nacional, forte e enérgica,
apta a transformar a sociedade brasileira com a decretação de reformas
profundas e radicais, para assegurar o domínio mais ou menos duradouro
das classes médias urbanas e rurais” (Santa Rosa, 1963[1933]:115). Para
ele, Vargas, com sua atitude hesitante e conciliatória com as oligarquias,
estava longe de ser a liderança adequada para tarefa tão hercúlea e urgente.
Essa inclinação animava também Plínio Salgado, mentor de outro
importante movimento das classes médias nos anos 1930, a Ação
Integralista Brasileira (AIB). Salgado era filho de pai farmacêutico e mãe
professora, autêntico representante das novas classes médias urbanas, e
achava, como Santa Rosa, que o liberalismo democrático levava à “negação
de si mesmo, pela hipertrofia oligárquica e o domínio dos mais fortes”
(Salgado, 1955[1934]:73). A AIB, ramificação do tenentismo, foi além ao
lograr a mobilização de vastas camadas médias em favor de seu
totalitarismo tropical. Apesar da simbologia que evocava o nazismo (como
o sigma, símbolo do “ser integral” bordado na manga do uniforme verde, a
saudação com o braço estendido e o “anauê” substituto do “heil Hitler”), em
seus fundamentos o integralismo esteve mais próximo do fascismo italiano,
além de manter relações estreitas com seus congêneres português e
espanhol (Bertonha, 2011). Foi o primeiro movimento a apelar diretamente
às classes médias urbanas (Trindade, 1979), conseguindo de fato atraí-las
em grande número. Fundada em 1932, em 1937 a AIB dizia contar com 400
mil adeptos em todo o país, ainda que Robert Levine sustente que o
montante não devia ultrapassar metade disso (Levine, 1970:83). Ainda
assim o número era expressivo, permitindo qualificar o Integralismo como
o primeiro movimento de massa das classes médias urbanas no Brasil.
O caráter massivo da AIB é indicador da atração de segmentos das classes
médias pelo autoritarismo como solução: para os dilemas da nação; para
seus próprios temores, entre eles o comunismo e o medo da proletarização;
e para seus anseios e aspirações, entre eles os de ascensão social e bem-
estar para si e para suas famílias. Vale chamar a atenção para o fato de que a
maioria dos habitantes do país era composta de brasileiros natos, isto é,
pessoas e famílias que haviam construído entre nós suas trajetórias de vida,
suas aspirações e sua ação política. Mesmo nos dois maiores municípios
receptores de imigrantes a partir de meados do século XIX, Rio de Janeiro e
São Paulo, em 1920, respectivamente 80% e 65% de seus moradores
haviam nascido no país. Nos anos 1930 as proporções eram ainda maiores.
A maioria dos habitantes, pois, se havia confrontado, por gerações, com
rígida ordem senhorial privada, cujos interesses e ação política a muitos
pareciam, por sua própria experiência pessoal, inexpugnáveis. Isso incluía
as classes médias, que, no Rio, tinham não mais que 33% de estrangeiros
em suas hostes em 1920, segundo o Censo Demográfico. Como pensavam
Santa Rosa e tantos outros intelectuais de classe média como ele, tal
ordenamento só poderia ser dobrado com mão de ferro. A democracia não
parecia uma saída, dentre outras coisas porque não estava no passado (ou na
tradição), e seu presente era opressivo e excludente. Nesse quadro, a
alternativa militar, ou a “revolução”, palavra que era moeda corrente nos
círculos antioligárquicos, civis ou militares, estava na experiência cotidiana
dos nacionais como caminho possível para a superação de suas mazelas.
Deve-se enquadrar nessa perspectiva outra vertente importante do
tenentismo, igualmente autoritária, que desaguaria na militância de
esquerda, como o Partido Comunista do Brasil (PCB)54 e, muito
particularmente, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), movimento
efêmero, mas cujas ações seriam decisivas para o desfecho do primeiro
período Vargas. A ANL foi a maior organização de massas do país até
então, suplantando a AIB. Fundada em março de 1935, atraiu a militância
de pessoas das classes média, operária e populares, com numerosos adeptos
no interior das forças armadas (Levine, 1970). Em três meses estava
organizada em todo o território nacional, tendo no Rio de Janeiro parte
substancial de seus núcleos. A organização reivindicou para si, como a AIB
antes dela, a herança dos levantes tenentistas de 1922, 1924 e, obviamente,
da Coluna Prestes e da Revolução de 1930, que teria sido traída por Vargas,
que não teria enfrentado o latifúndio e o domínio das oligarquias rurais
(Vianna, 2007).
A ANL foi fechada em julho de 1935 pelo governo Vargas, alarmado com
seu radicalismo e enorme popularidade. Atuando a partir de então na
clandestinidade, em novembro a organização patrocinou, sob liderança de
Luís Carlos Prestes, levantes em quartéis do Rio de Janeiro, Natal e Recife,
que foram esmagados por militares legalistas. Em resposta ao que passaria
para a história como a “intentona comunista”55, em 3 de dezembro o
governo criou a Comissão de Repressão ao Comunismo, sob chefia de
Filinto Miller, que colocaria na cadeia, torturaria e mataria comunistas,
democratas e opositores do regime de todas as colorações políticas e
ideológicas. A violenta reação dos militares e do governo Vargas à
“intentona” deitou raízes profundas nas estratégias das elites dominantes
dali por diante. Para os trabalhadores de todos os matizes, incluindo os
setores sindicalmente organizados das classes médias urbanas, o Estado
Novo começou em 1935, como assinalou Werneck Vianna (1999[1976]).
Lembre-se que o Partido Comunista havia sido proscrito pouco depois de
criado em 1922, mas quando Vargas editou a primeira de suas leis de
ordenamento sindical em 193156, os comunistas estavam no comando de
vários sindicatos importantes no Distrito Federal e em São Paulo. O novo
regime foi implacável contra o sindicalismo de esquerda, mas a
obrigatoriedade de registro dos sindicatos no recém-criado Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio instituiu mecanismo nem sempre eficaz de
controle sobre o surgimento de novas agremiações no mundo urbano em
crescimento (Gomes, 1988). E a repressão pura e simples aos sindicatos de
trabalhadores tornou-se menos atrativa num regime que caminhava para a
normalização constitucional. A Constituinte de 1934, afinal, contou com
representantes classistas eleitos nos e pelos sindicatos de patrões e
empregados, que legislaram ao lado dos representantes eleitos pelo voto
popular, e a nova Constituição consagrou a liberdade sindical57. Nada disso
sobreviveu a novembro de 1935, momento inaugural da ditadura do Estado
Novo, que só se institucionalizaria em 1937.
O golpe de 1937, que instaurou o Estado Novo, foi perpetrado em nome
da governabilidade. Em sua “Proclamação ao povo brasileiro”, de 10 de
novembro de 1937, Vargas falou contra a ordem constitucional de 1934,
liberal e “antedatada em relação ao espírito do tempo” (Vargas, 1938:23),
contra os partidos políticos, a paralisia decisória do Congresso e o caos
político que as perigosamente próximas eleições de 1938 já estariam
provocando na nação. Ecoou, nesse sentido, os anseios dos segmentos
autoritários dos tenentes e seus apoiadores em todas as classes, muito
particularmente os segmentos médios, que não viam nas eleições
mecanismos eficazes de representação política de seus interesses58. Tudo
indicava que se caminhava, nas eleições de 1938 agora suspensas por
Vargas, para uma repetição das disputas intraoligárquicas anteriores a 1930,
que as classes médias se haviam mobilizado para pôr abaixo. Para muitas de
suas frações, o golpe de 1937, que fechou o Congresso, baniu os partidos
políticos e manietou o judiciário sem sofrer resistência, veio finalmente
cumprir o projeto da Revolução de 1930. Com o Estado Novo, os
segmentos mais mobilizados das classes médias pareciam estar, finalmente,
representados no poder. Mas era mera aparência, que a história cuidaria de
desmistificar.
Em busca de distinção
Cabe aqui um parêntese. A militância autoritária de esquerda ou direita não
exaure as formas de inscrição das classes médias na emergente ordem
burguesa brasileira. Parte substancial de suas hostes aderiu ao status quo
oligárquico, por razões que variaram ao longo do tempo. Nas primeiras
décadas da República, o “adesismo” de suas camadas superiores decorria do
fato de elas serem, em boa medida, oriundas das classes agrárias
dominantes. “O bacharelismo é uma das opções encontradas pelos
fazendeiros para seus filhos”, escreveu Edgard Carone (1972:177), e estes
se formavam em direito, medicina ou engenharia para ocupar as principais
posições na burocracia estatal, às quais acediam por indicação de algum
mandatário oligárquico. O acesso a tais posições não exigia o diploma,
obviamente, o sistema de preenchimento de cargos por meio de relações
pessoais e de patronagem era a norma. O indicado não precisava de outra
qualificação além da de ser apadrinhado por alguém suficientemente
poderoso. É verdade que a instituição de concursos públicos para
preenchimento de vagas na burocracia federal é obra do primeiro governo
Vargas. A regulamentação das profissões liberais tem início em 1939. Mas
Miceli (1979:137 e ss.) afirma que os concursos públicos serviam apenas
para prover as posições médias e inferiores do funcionalismo. A indicação
política para cargos superiores continuou a norma, e em 1939 havia quase
1.200 cargos comissionados no governo federal (idem:138, nota 5)59.
Ainda assim, o diploma era almejado, pois granjeava a seu possuidor
posições também no mercado privado e protegido das carreiras
profissionais, que eram reguladas, primeiro, pelas organizações
profissionais autônomas (como o Instituto dos Advogados do Brasil, no
caso dos advogados), e mais tarde, pelo Estado por meio da regulamentação
pública das profissões. Esta última, que levou ao efetivo fechamento de
mercado para os portadores de diploma superior de um sem número de
carreiras, teve atuação decisiva das classes médias lotadas nas posições de
poder do aparelho de Estado (Bonelli, 2002).
Não se deve negligenciar a importância política desses movimentos no
âmbito do aparelho de Estado para blindar algumas posições de classe
média da competição aberta no mercado de trabalho (no que concordo com
Coelho, 1999). Menos ainda a gradativa construção de privilégios
propriamente estamentais pelas várias carreiras do serviço público com
acesso aos mecanismos decisórios oligárquicos nos executivos ou nos
parlamentos nacional e estaduais, como regimes próprios de aposentadorias
e pensões, estabilidade no emprego, planos de carreira, seguros saúde e
outros (e aqui estou de acordo com Miceli, 1979). Os dois movimentos
devem ser lidos como resultado da ação política coordenada de segmentos
médios para garantir, em lei, sua distinção de classe conseguida por
mecanismos clientelistas; e a segurança estatutária de que seus padrões de
vida seriam resguardados da disputa fratricida no mercado de trabalho.
Por outras palavras, enquanto estratos mais mobilizados das classes
médias vinham à praça pública combater poderosas oligarquias em nome de
projetos mais ou menos republicanos, mais ou menos democráticos, mais
ou menos autoritários, e estavam dispostos a morrer por isso, as camadas
aderentes dessas classes construíam posições de poder econômico e social
que as transformavam em estamentos protegidos contra as intempéries das
conturbadas conjunturas políticas, impedindo, com isso, que
experimentassem a vulnerabilidade e a pobreza das camadas subalternas.
Parte da atuação política das classes médias, então, foi quase invisível, pois
ocorrida nos parlamentos e na burocracia estatal. Mas foi altamente
eficiente em assegurar privilégios estatutários que estabeleceram fortes e
permanentes linhas de demarcação entre suas posições e as da maioria da
população.
Fonte: IPEADATA
Jango, não estava à venda. Era, em si mesmo, a fonte do poder dos donos de
terra que, ao exigir pagamento em dinheiro, sabiam que tornariam
inexequível a compra pelo Estado em crise fiscal. Ao apoiar a compra em
dinheiro, a maioria das classes médias, no fundo, acabava defendendo os
interesses dos segmentos contrários à reforma. Não deixa de ser irônico que
uma das primeiras medidas do governo Castelo Branco tenha sido a emenda
constitucional No 10, regulamentando a reforma agrária, que permitia
indenizações com títulos públicos no caso dos latifúndios sem benfeitorias.
Medida inócua, claro, a radicalização da ditadura impediria a efetividade da
nova norma constitucional, como veremos.
O governo Jango pretendia, ainda, estatizar os serviços de utilidade
pública (luz, gás, telefone, transporte público), e nisso ele parecia ter o
apoio de todas as classes, incluindo as classes médias. Nas mesmas quinze
cidades pesquisadas em julho de 1963, diante da pergunta se as empresas
que prestam serviços públicos deviam ser estatais ou poderiam ser
particulares, 45% ou mais das classes médias e superiores de renda
(chegando a 61% na Guanabara), e 50% ou mais das classes C e D
(chegando a 68% na classe C da Guanabara) achavam que elas deveriam ser
estatais147.
Contudo, a intenção de Jango de estender aos analfabetos o direito de
votar contribuiu para manter longe dele parcelas expressivas dos setores
médios da nação. O jornal O Globo, que estivera na trincheira contra a
medida desde sua primeira manifestação em 1957, com a emenda Falcão,
voltou à carga na edição de 17 de janeiro de 1964, transcrevendo um
protesto de Elmano Cardim, membro da Academia Brasileira de Letras,
contra o projeto do governo concedendo aquele direito. Na manchete da
página 2 da edição matutina lia-se: “O que ao Estado cumpre não é fazer do
analfabeto um eleitor, mas dar-lhe os meios para deixar de ser analfabeto”,
mesmo argumento de Carlos Lacerda durante a polêmica de 1957. O
acadêmico protestava porque achava que o analfabeto tinha o direito de sair
“das trevas da ignorância”, e considerava criminosa a “evasão do Estado”
do dever de alfabetizar a população. O direito de voto seria um “prêmio ao
analfabetismo”148. É provável que boa parte das classes médias, tal como
em 1957, continuasse contrária ao voto dessas pessoas, sobretudo porque o
argumento do dever do Estado de alfabetizar a população se difundira no
debate público. Às portas do golpe militar-civil (entre 20 e 30 de março),
pesquisa do Ibope em São Paulo encontrou que 55% das classes A/B
(somadas no relatório da pesquisa) eram contrários ao voto dos analfabetos.
Em junho de 1964, pesquisa do mesmo instituto no estado da Guanabara
encontrou que 57% das mesmas classes eram contrários, embora 78%
fossem favoráveis ao voto dos sargentos, como queria Jango149.
Mas em pelo menos dois temas centrais do projeto de reformas do
governo Jango havia nítido apoio de parcela expressiva das classes médias
urbanas. Isso explica, ao menos em parte, o fato de que sua administração
tenha sido julgada, majoritariamente, como de “regular” para “boa” por
parcelas majoritárias das classes médias na mesma pesquisa do Ibope. A
intensa crise do ano de 1963, com aumento de inflação, grande onda
grevista, bombardeio diuturno da imprensa contra as reformas de base,
denúncias de que Jango pretendia fundar aqui uma “república sindicalista”
em aliança com Juan Domingo Perón, tudo isso afetou a avaliação do
governo, mas não a ponto de as classes médias julgarem-no inteiramente
mal.
Se isso é plausível tendo em vista o retrato parcial proporcionado pelas
pesquisas (repita-se, restritas quase sempre às capitais dos estados, vez por
outra incluindo o interior das unidades mais abastadas da federação), boa
parte das classes médias parecia não o querer no poder. Perguntadas se
votariam em João Goulart se ele pudesse se candidatar à presidência, em
apenas três de quinze cidades pesquisadas pelo Ibope em julho de 1963 o
presidente atingiu 45% ou mais das intenções de voto das classes A e B.
Nas demais cidades a proporção que votaria nele era igual ou inferior a um
terço, sendo que na maioria era inferior a um quarto. Note-se, pela tabela 5,
a clara dimensão de classe da aprovação do presidente, se considerarmos
que a intenção de votar nele era medida mais apropriada de
aprovação/desaprovação do que o mero julgamento de ser o governo
considerado bom ou mal. Na classe D, a mais pobre, com três exceções, ele
teria votos suficientes para vencer essa eleição fictícia. Em Belém e Belo
Horizonte ele foi mal avaliado por todas as classes, inclusive a mais pobre,
enquanto em Caxias do Sul a quebra na dimensão de classe da intenção de
voto decorre da grande proporção de pessoas da classe D que se disseram
indecisas. Nos demais casos, quanto mais pobre a classe, maior a proporção
dos que votariam em Jango se ele pudesse se candidatar, chegando a 71%
na classe D de Porto Alegre. João Goulart tinha clara aprovação dos mais
pobres, e forte rejeição das classes médias nos principais centros urbanos,
com exceção de Porto Alegre.
Tabela 5: Proporção que votaria em Goulart se ele pudesse se candidatar a presidente, em
cada estrato de renda das cidades pesquisadas em julho de 1963 (em %)
Classe
Cidade
A/B C D
Porto Alegre 49 63 71
Vitória da Conquista 46 71 63
Caxias do Sul 45 51 26
Curitiba 33 57 64
Salvador 30 40 56
São Paulo 28 33 41
Fortaleza 23 32 39
Guanabara 23 41 46
Belo Horizonte 22 28 31
Recife 22 35 57
Ribeirão Preto 19 42 44
Niterói 16 32 39
Belém 15 27 28
Uberaba 15 36 40
Juiz de Fora 11 35 50
Fonte: Arquivo Ibope “ibope_opp_pe_053_mr_0275” do AEL
está no pé da página de créditos da edição. Contudo, a ficha catalográfica traz a data de 1984, por
isso a adoto nesta publicação.
43 Entre os muitos desdobramentos da mobilização tenentista encontra-se a Coluna Prestes, que
correu o vasto território nacional durante dois anos. Importante testemunha ocular e analista dos fatos
afirmou, talvez com certo exagero, que sem ela “o Brasil ainda seria uma colcha de retalhos, dividido
em domínios das oligarquias, submergido em uma servidão humana que não tinha sido possível
sacudir em nenhuma das revoltas periodicamente dominadas” (Silva, 2005:26-27).
44 A referência aqui, obviamente, é o Marx de O 18 de Brumário e sua análise dos camponeses como
uma classe incapaz de consciência de classe, portanto incapaz de construir projeto político próprio,
com o que eles precisavam ser representados por outros, no caso, Napoleão III.
45 “Façamos a revolução antes que o povo a faça”, teria dito o presidente de Minas Gerais Antônio
Carlos de Andrada, um dos líderes da Aliança Liberal que levou Vargas ao poder.
46 Os homens eram maioria entre os/as operários/as, com exceção das indústrias têxtil e do vestuário,
nas quais as mulheres compunham cerca de 60% dos/as ocupados/as. Para o cálculo das proporções
de classe, ver nota seguinte.
47 As proporções foram calculadas com base no Censo Demográfico de 1920, disponível na
Biblioteca virtual do IBGE (https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv6478.pdf), acessado
em janeiro de 2019. Trata-se de valores aproximados. O censo distribui a população total por 48
“profissões”, mas numa delas lê-se “Profissão não declarada e sem profissão”. O item compreendia
68% da população recenseada do Brasil, o que permite supor que a maior parte desse contingente era,
na verdade, composta de pessoas fora da População Economicamente Ativa (PEA). Nesse total a
publicação distinguiu pessoas de 0 a 14 anos de idade, 15 a 20 e mais de 20 anos. No país como um
todo, a maior parte (60%) estava na primeira faixa etária (em São Paulo atingia 56%, 55% no Rio).
Ainda que o trabalho infantil ou adolescente fosse corrente nos anos 1920, ele era mais comum no
mundo agrário. O emprego urbano era escasso, e uma das principais ações do movimento operário de
então visava limitar ou proibir o trabalho de menores de 14 anos, justamente para reduzir a
competição no mercado de trabalho, além de preservar a vida dos próprios filhos (segundo o Censo
Industrial do mesmo ano, entre os operários jornaleiros, apenas 8,6% eram menores de 14 anos).
Ademais, mesmo que jovens de 14 anos trabalhassem, a maioria estava na faixa de 0 a 10 anos de
idade. Isso leva à suposição de que a maior parte dessas pessoas, na verdade, não trabalhava. É
bastante plausível sustentar, também, que a maioria das mulheres de 21 anos ou mais não trabalhasse.
Isso porque, na faixa de 0 a 14 anos, a razão entre homens e mulheres listados na categoria “Profissão
não declarada e sem profissão” era próxima à razão entre os sexos na população total, ao passo que,
na faixa de 21 anos ou mais, as mulheres eram 5,5 milhões, contra apenas 193 mil homens. Ou seja,
entre eles é maior a probabilidade de que a profissão não tenha sido declarada, enquanto entre elas é
mais provável que a maioria estivesse fora da PEA. Note-se que essa categoria (Profissão não
declarada e sem profissão) correspondia a 90% do total da população feminina (77% no Rio). Com
isso, as proporções apresentadas no texto são construídas somando-se o total das ocupações típicas de
classe média, mais os trabalhadores do comércio e finanças, divididos pelo total da população, da
qual se excluiu o grupo de pessoas 0 a 14 anos sem informação e as mulheres maiores de 21 anos
dessa categoria. Isso quer dizer que a participação das classes médias no total do emprego pode estar
levemente superestimada, mas o erro não deve superar os dois pontos percentuais. O comentário vale
para a proporção de operários.
48 Nem Boris Fausto (1986[1970]) nem Paulo Sergio Pinheiro (1978), que também mobilizam os
dados do Censo Demográfico, realizam a operação por mim sugerida, de modo que suas estimativas
(acatadas, por exemplo, por Saes, 1984:5, nota 4) subestimam fortemente a presença relativa das
classes médias no Brasil de então.
49 Sem citar Boris Fausto, Coelho (1976) também argumenta que o tenentismo foi um movimento
militar, devendo ser explicado exclusivamente a partir das injunções internas às forças armadas. Nun
(1970) é bastante persuasivo ao associar, sem hesitação, a sedição militar na América Latina à
insatisfação das classes médias.
50 A esse propósito, ver Forjaz (1977).
51 Na república oligárquica a proporção da população apta a votar variou muito pouco em torno de
5%, e o comparecimento às urnas não ultrapassou os 3% ao longo das décadas. Pará, Paraná e Rio
Grande do Sul foram os únicos estados em que os aptos a votar superaram os 7% da população em
1910, por exemplo. Os demais ficaram quase sempre abaixo de 4% (dados em IBGE, 1916:228). As
classes médias estavam entre os eleitores, mas seu voto não tinha validade, pois as eleições eram
invariavelmente fraudadas em favor do candidato ungido pela elite dominante. A frustração eleitoral
era um dos motivos do ressentimento das classes médias em relação às oligarquias agrárias. Ver
Nicolau (2002).
52 Ver também Jaguaribe (1969:173-74) e Sodré (2010[1965]:313 e ss.).
53 Em seu discurso de posse Vargas foi enfático na defesa da reforma agrária, elemento central do
projeto dos tenentes e também do Clube 3 de Outubro, mas ele nunca enfrentou o poderio dos
grandes proprietários de terra. Ver Gomes (1988) e Cardoso (2019).
54 Em 1929, antes portanto das eleições de 1930, Luís Carlos Prestes lançou um manifesto no qual
afirmava que não se mudaria o Brasil pelo voto, e que só a revolução socialista e a “ditadura
democrática do proletariado” poderiam salvar o país. Juarez Távora, até ali aliado e amigo fraterno
de Prestes, rompeu com o agora comunista, levando com ele boa parte dos tenentes que haviam
marchado na Coluna Prestes. O manifesto de Prestes e a resposta de Távora podem ser encontrados
em Silva (1972:417-426).
55 É obra dos militares a qualificação dessas quarteladas como levantes comunistas. Prestes
reconheceria, mais tarde e talvez retoricamente, que em 1935 ele era um tenente, não um marxista ou
comunista. E tanto a rebelião espontânea de Natal quanto a mais organizada de Recife foram sedições
típicas dos tenentes, com forte componente de insatisfação das camadas militares médias com suas
condições de vida e serviço. Ver Vianna (2007).
56 Trata-se do Decreto No 19.770, de 19 de março de 1931, disponível em http://www2.camara.leg.br/
legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19770-19-marco-1931-526722-publicacaooriginal-1-pe.html,
acessado em setembro de 2017.
57 “Art. 120. Os syndicatos e as associacções profissionaes serão reconhecidos de conformidade com
a lei. Paragrapho unico. A lei assegurará a pluralidade syndical e a completa autonomia dos
syndicatos,” Constituição Federal de 1934, disponível em http://www2.camara.leg.br/legin/fed/const
i/1930-1939/constituicao-1934-16-julho-1934-365196-publicacaooriginal-1-pl.html, acessada em
setembro de 2017.
58 Críticas à política partidária e à corrupção publicadas em órgãos de imprensa voltados para as
classes médias, bem como em clubes profissionais (como o de Engenharia do Rio de Janeiro),
sindicatos e associações de classe média, podem ser encontradas em Owensby (1999:151 e ss.).
59 Ver tb. Coelho (1999).
60 Ver, dentre outros, Weffort (1972b); Gomes (1988), French (1995); Werneck Vianna (1999[1976]);
e Santana (2001).
61 As pesquisas do Ibope estão disponíveis no Arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp, no link http
“ibope_opp_pe_009_mr_0256” do AEL.
65 Esses dados foram calculados a partir do censo industrial e do censo do comércio e dos serviços de
1950 (disponíveis da biblioteca virtual do IBGE), dividindo-se o total de salários pagos pelo total do
pessoal ocupado em cada categoria ocupacional, tal como declarados pelas empresas de cada setor.
Os censos trazem informação sobre salários pagos ao longo de todo o ano de 1949. No caso do censo
industrial há informação para os mesmos “Chefes de serviços e categorias superiores”, “Operários” e
“Outros empregados”, dos quais é possível separar o “Pessoal de escritório”, ou segmentos inferiores
das classes médias de renda, já referida no texto.
66 A pesquisa em questão está nas páginas 48 e ss. no arquivo de nome
“ibope_opp_pe_004_mr_0254”, no AEL. Ver também Cardoso (2019, Cap. IV).
67 Ver arquivo “ibope_opp_pe_011_mr_0257”:354, no AEL. Como afirmei na Introdução a este livro,
total do governo Vargas caíram de 15,1% em 1952 para 11,8% em 1954, ainda que em proporção do
PIB a queda tenha sido bem menor, de 2,6% para 2,3% entre 1953 e 1954 (idem:137).
70 Entre os líderes do movimento dos coronéis estava Golbery do Couto e Silva, que teria papel
demagógico” de “dois estancieiros”, Vargas e Jango, que teria como consequência a quebra de
empresas, desemprego e convulsão social. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.
aspx?bib=089842_06&pasta=ano%20195&pesq=. O jornal O Globo colocou na boca de outros a
manchete de primeira página do dia 3 de maio: “Preparando a catástrofe que o arrastará consigo”,
frase sobre Vargas atribuída ao deputado Raul Pilla. Nas outras três páginas de cobertura são ouvidas
apenas opiniões contrárias ao aumento. Ver http://acervo.oglobo.globo.com/busca/?tipoConteudo=pa
gina&ordenacaoData=relevancia&allwords=sal%C3%A1rio+m%C3%ADnimo&anyword=&noword
=&exactword=&decadaSelecionada=1950&anoSelecionado=1954&mesSelecionado=5&diaSelecion
ado=3 (Ambas as páginas foram acessadas em novembro de 2017). A reação de O Estado de S.
Paulo está em Silva (2004:164). É bom sublinhar que, na imprensa em geral, Jango era tratado, nesse
momento, como um político radical, estreitamente ligado aos comunistas. Essa percepção teria
consequências no desenrolar da conjuntura anterior ao golpe de 1964.
74 A atribuição de autoria decorre, dentre outras coisas, da equivalência nas interpretações do golpe
contra Vargas em 1954 encontrável nesse texto e em Jaguaribe (1969). O golpe militar que levaria
Vargas ao suicídio teria sido perpetrado pela aliança entre a burguesia comercial, a burguesia
latifundiária e a pequena burguesia radical, “esta última, como sempre, inserida nas forças armadas”
(idem:179). Além disso, Jaguaribe usava “tática” e “estratégia” como chaves analíticas para
compreender a ação das classes sociais e dos governantes, termos empregados nos dois textos. Por
fim, um dos aspectos estruturais do que ele entendia por “inautenticidade” do governo Vargas era o
“estado cartorial”, conhecido conceito cunhado por ele e igualmente empregado nos dois textos. Ver
tb. Schwartzman (1981).
75 Detalhes da disputa entre Assis Chateaubriand e o que ele imaginava fosse um projeto de Vargas de
criar conglomerado midiático concorrente aos Diários Associados, que terminou por vitimar Vargas,
podem ser encontrados em Morais (1994:549-556).
76 A empresa Diários Associados contava, em 1954, com pelo menos 19 jornais, 11 emissoras de
rádio, a popularíssima revista O Cruzeiro e a TV Tupi, monopolista e que transmitia para Rio de
Janeiro e São Paulo. Dados em https://pt.wikipedia.org/wiki/Diários_Associados, acessado em
outubro de 2017.
77 Tentativa recente e detalhada de esclarecer o episódio, que levou ao fim do governo Vargas, é Neto
81 Ver Nicolau (2012:129). O gráfico, bem como o da p. 97 do mesmo livro de Jairo Nicolau, está
com as legendas invertidas, o correto é que a linha superior indica os inscritos e a inferior os que
compareceram para votar.
82 Ver Cardoso (2019), que revê e amplia o conceito de Santos (1979).
83 Reis Filho (2007:87) sustenta que os comunistas apoiaram “ostensivamente” a chapa de Juscelino
86 A exceção, na pesquisa em tela, foi Belo Horizonte, onde Juscelino, ex-governador do estado de
Minas Gerais, tinha mais da metade das intenções de voto em todas as classes de renda, e venceu
todos os outros candidatos por larga margem de votos. É provável que as cidades de Minas Gerais
tenham seguido o padrão de sua capital.
87 As classes proprietárias eram amplamente minoritárias no Brasil, e dificilmente figurariam nas
pesquisas de opinião. Nas enquetes em questão, na confecção das amostras o Ibope empregou uma
classificação com 5 categorias: A, B1, B2, B3 e C, sendo que os resultados foram apresentados para
o agregado da classe B. As pesquisas estão no arquivo “ibope_opp_pe_019_mr_0261” do AEL,
iniciando na p. 87.
88 Idem, ibidem.
89 A literatura sobre JK é, obviamente, imensa. Sugiro Benevides (1976), Gomes (1991), Lafer (2002)
e Cohen (2005) para abordagens iniciais sobre temas que discutirei aqui.
90 A pesquisa está no arquivo “ibope_opp_pe_022_mr_0264” do AEL, p. 7 e ss.
91 Idem:22.
93 Idem:560.
94 Essas perguntas foram feitas também no Rio, mas as páginas respectivas não constam do relatório
96 Jornal O Globo, 03/09/1957, edição matutina, p. 2, disponível no acervo digital do jornal. Nessa
edição havia duas opiniões contrárias (do ex-presidente Dutra e de Rodrigo Otávio Filho) e duas
favoráveis (de Odilon Andrade, político mineiro, e do jurista Sobral Pinto). Em 05/07/1957 a
manchete da p. 2 da edição matutina do jornal era “Total condenação ao voto do analfabeto”.
97 Jornal O Globo, 03/11/1958, edição vespertina, p. 7.
99 Arquivo “ibope_opp_pe_022_mr_0264” do AEL, p. 598 para os dados do Rio e p. 600 para São
Paulo.
100 A emenda Falcão, de No 15, não teve sucesso. Em 1961, Fernando Ferrari e outros deputados
(2003).
102 Arquivo “ibope_opp_pe_025_mr_0265” do AEL, p. 3-7.
104 Para perspectivas muito distintas sobre a construção de Brasília, ver Moreira (1998), Santos
(2002), Ribeiro (2008) e muito particularmente Holston (1989). Mais recentemente, Lynch (2017).
105 Arquivo “ibope_opp_pe_032_mr_0270” do AEL, p. 112. A pesquisa é representativa da
cidade do Rio de Janeiro, 112 greves no período de 1956-1960. O balanço das greves no período,
para todo o Brasil, ainda carece de pesquisa histórica rigorosa.
108 Dados sobre inflação em IPEADATA, citado na nota 106. Para detalhes sobre as greves mais
nload/28428 (acessado em maio de 2018). A base oferece 13 valores diferentes do Gini para aquele
ano, citando diferentes autores. O Banco considera o de Fields (1989) o mais aceitável.
p. 156.
113 Arquivo “ibope_opp_pe_032_mr_0270” do AEL. A pesquisa em 10 estados começa na p. 228, e a
Rio de Janeiro.
118 Idem:197 e ss., sendo representativa do estado da Guanabara.
119 Ver Lavareda (1991:137) para a relação entre identificação partidária e voto em 1964 nas
1964, que o nomeia civil-militar, para chamar a atenção para a participação da elite oligárquica civil
no golpe e na condução do regime. De meu ponto de vista, como veremos no capítulo seguinte, o
golpe foi mais militar do que civil, e o regime foi se militarizando com o tempo, com os civis que
serviram o (e se serviram do) governo sendo inteiramente submetidos aos comandos militares.
122 Sobre o caráter moderno dos direitos sociais, ver Bobbio (1992:70-73).
123 O PTB registrou seu Plano de Ação Política no TSE em 1959, em preparação para a eleição de
1960. O direito de voto dos analfabetos “e a todas as classes sociais” figurou no topo da lista de 12
itens programáticos. Ver D’Araujo (1996:126-127).
124 Sobre o conceito de populismo no Brasil, ver os artigos de Angela de Castro Gomes, Jorge
Ferreira, Fernando Teixeira da Silva e Hélio da Costa, e particularmente o de Daniel Aarão Reis
Filho em Ferreira (2010). Weffort foi, de longe, o pensador mais importante sobre o tema, e seus
muitos artigos publicados a partir de meados dos anos 1960 gravaram fundo no debate sobre o
pré-1964 no Brasil a conexão teórica entre o nacionalismo como ideologia e o populismo como
prática política de massas. Os principais textos foram reunidos mais tarde em Weffort (1980). Ver
ainda Ianni (1971) e Saes (1984). Já o termo trabalhismo como categoria analítica das relações de
classe no Brasil foi proposto pela primeira vez por Fausto (1977), a propósito das relações entre
sindicatos e partidos no Rio de Janeiro no início do século XX, e ganhou densidade conceitual e
inteligibilidade histórica em Gomes (1988). A coletânea de Ferreira (2010) é uma defesa desse
legado. Volto a isso em seguida.
125 Sobre a imprensa no período, ver Abreu (2006).
126 Prefiro essa denominação à proposta por Daniel Aarão Reis Filho, “nacional-estatismo” (por
exemplo, em Reis Filho, 2014b). O desenvolvimentismo sempre foi “estatista”, no sentido de que viu
e vê no Estado agente central do desenvolvimento econômico e da redistribuição de renda.
127 O termo serviu para nomear a relação entre massas populares urbanas e líderes políticos em toda a
América Latina a partir dos anos 1930. Estrutura, por exemplo, o importante argumento de Collier e
Collier (1991), dentre muitos textos clássicos sobre a incorporação dos trabalhadores na dinâmica
política do continente.
128 Todos os cálculos a seguir, exceto quando indicado, foram feitos a partir das tabelas de população
com os 7,4 milhões de inscritos compondo 80,9% daqueles. Mas o dado do TSE refere-se ao Censo
Demográfico de 1940, sem o ajuste que proponho aqui. Considero meus cálculos mais rentes aos
fatos.
131 Os cálculos foram feitos a partir do censo demográfico de 1960, https://biblioteca.ibge.gov.br/bibli
equivocadas. Pelo censo demográfico de 1940, eram 31% os brasileiros residentes nas cidades e não
15,1%, como aparece na p. 382 do artigo em tela.
134 Nicolau (2012:96) mostrou que a taxa de inscritos sobre a população adulta caiu 9 pontos
percentuais entre 1954 e 1958, em razão do recadastramento eleitoral realizado a partir de 1956.
Além disso, até 1955 não havia cédula oficial de votação. O eleitor levava consigo a cédula eleitoral
já preenchida e a colocava num envelope oficial, que era depositado na urna. O autor sustenta que as
eleições foram mais limpas na segunda década da República de 46 (p. 102-103), mas não oferece
evidências. Ver ainda Limongi (2015b).
135 Sobre o caráter demofóbico da legislação trabalhista legada por Vargas, em razão dos controles
oficiais a partir de 1952 e, mais intensamente, depois da Declaração de Março de 1958. Em Cardoso
(2016, cap. 3) chamo a atenção para a importância do fim do atestado de ideologia em 1952 para o
aumento da competição no campo sindical, fato pouco atentado pela literatura.
138 A literatura sobre o governo Jango é também imensa. Ver os clássicos Bandeira (2001[1978]),
Santos (2003), que retoma sua tese de doutorado e estudos dos anos 1960 e inícios da década de
1970, Dreyfus (1987) e Soares (1973). Este último foi reeditado em 2001com o nome de A
democracia interrompida, e teve todos os seus capítulos reescritos pelo autor, mantendo, porém, a
essência dos argumentos. Mais recentemente, merecem menção a biografia de Jango por Ferreira
(2011) e o importante estudo de Ferreira e Gomes (2014).
139 Em pesquisa Ibope de 1961 em São Paulo, 46% da classe A de renda e 53% da classe B
declararam ler a revista regularmente. Na classe C a proporção foi de 44%, e 19% na D. Arquivo
ibope_opp_pe_035_mr_0271.pdf no AEL.
140 Com exceção dos órgãos de imprensa mais conservadores (como o Estado de S.Paulo, os Diários
Associados, O Globo e outros), a imprensa “esperou para ver” onde Jango estava disposto a levar o
país. Isso vale para veículos importantes como o Jornal do Brasil, o muito lido e respeitado Correio
da Manhã e, em menor medida, Folha de S.Paulo e Última Hora. Ver Abreu (2006), Ferreira e
Gomes (2014).
141 Ver Ferreira e Gomes (2014:159).
142 Payne (1994:34) oferece números diferentes, 154 greves em 1962 e 302 em 1963, totalizando 457
greves apenas nesses dois anos. De todo modo, está clara a escalada do movimento grevista em 1963.
143 O mundo agrário se juntara às mobilizações grevistas de 1963, com destaque para Pernambuco
(Sigaud, 1979; Stein, 2008). Sobre as mobilizações das Ligas Camponesas, ver Bastos (1984).
144 A pesquisa está no arquivo “ibope_opp_pe_053_mr_0275” do AEL.
nsti/1940-1949/constituicao-1946-18-julho-1946-365199-publicacaooriginal-1-pl.html (acessado em
outubro de 2017).
146 O dado é de 1967. Ver Silva (1978:41).
150 A centralidade do IPÊS (Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais), dirigido por Golbery do
Introdução
O Golpe militar-civil de 1964 respondeu às aspirações de amplo conjunto
de forças, incluindo a quase totalidade da imprensa (Abreu, 2006) e,
certamente, a maioria das classes médias, que não se sentiam representadas
no trabalhismo, visto por elas como cada vez mais radicalizado, ainda que
Jango tivesse apresentado a agenda das reformas, em seu longo discurso no
Comício da Central, como futuros projetos de leis e emendas
constitucionais a serem enviados ao Congresso Nacional155. E as classes
médias parecem ter apoiado inclusive a escalada autoritária do novo regime.
Assim, no início de maio de 1964, pouco mais de um mês após o golpe,
pesquisa do Ibope em São Paulo encontrou que 73% das classes A/B
(somadas no relatório disponível) achavam que a deposição do presidente
fora benéfica para o país. Uma vez mais deixando claro o viés de classe das
opiniões, as proporções foram de 55% na classe C e 31% na D. Além disso,
78% da mesma classe A/B achavam que a situação do país tendia a
melhorar, e 81% achavam que a prisão de sindicalistas ligados aos
comunistas tinha sido acertada. No fim de maio, na mesma capital paulista,
nada menos do que 69% das classes A/B, 57% da classe C e 42% da classe
D se declararam favoráveis “à supressão de direitos políticos em geral”,
embora apenas 37% das classes A/B fossem favoráveis à cassação dos
direitos de JK (30% não tinham opinião), sendo que as outras classes de
renda eram majoritariamente contrárias. Mais ainda, 64% das classes A/B
consideraram que a maior parte das cassações até ali (última semana de
maio de 1964) tinha sido justa, contra 50% e 38% dos outros dois
estratos156. Claramente, ainda que as demais classes de renda também
apoiassem algumas dimensões do golpe de estado, segmentos majoritários
das classes médias estavam indiscutivelmente na vanguarda da defesa dos
expurgos e medidas autoritárias adotadas contra a ordem anterior, ao menos
em São Paulo e na Guanabara, locais mais frequentemente pesquisados pelo
Ibope.
De fato, é provável que o apoio fosse menor no Rio Grande do Sul, reduto
sólido do projeto varguista (Love, 1971), e nos estados do Nordeste nos
quais Jango tivera ampla votação em 1961. Medida aproximada do último
ponto é a baixa penetração de Carlos Lacerda no Nordeste, ele que era o
principal governador a pregar, diuturnamente, o golpe militar. Em 26 março
de 1964, portanto às portas do golpe, ele tinha 17% das intenções de voto
para presidente (eleição prevista para 1965) em Recife e Salvador e 16%
em Fortaleza, contra 33% no Rio de Janeiro (Lavareda, 1991:154). E a
preferência tinha nítido perfil de classe. Em maio de 1965, a intenção de
voto em Lacerda foi de 37% na classe A/B no estado de Pernambuco,
contra 29% na classe C e 17% na D. No Rio Grande do Norte, 32%, 19% e
18%. Na Guanabara, onde as classes médias eram mais claramente
lacerdistas, em setembro de 1965 (portanto às portas da prevista eleição de
outubro), 53% da classe A/B e 42% da classe C, contra apenas 28% da
classe D, pretendiam votar em Lacerda para presidente. Em São Paulo, no
mesmo mês, a preferência de classe também era clara, embora as intenções
fossem bem menores (24% 20% e 10% respectivamente). Os paulistas de
todas as classes de renda preferiam Carvalho Pinto157.
Embora apoiassem, em proporção elevada, os expurgos, cassações de
mandatos parlamentares nos três níveis de governo e também de membros
dos executivos estaduais, além de direitos políticos de personalidades da
vida pública sempre que considerados “comunistas”, título genérico para as
esquerdas em geral, as classes médias não tardariam a se decepcionar com o
governo militar-civil. Em abril de 1966, dois anos após o golpe, cerca de
70% dos paulistanos (de todas as classes) se diziam pouco ou nada
satisfeitos com a administração Castelo Branco158. Em Curitiba as
proporções segundo as classes eram de 66%, 61% e 53%, semelhantes às
encontradas em Santos159. A explicação não parecia estar apenas no
progressivo endurecimento do regime (que, por meio do Ato Institucional
No 2, de outubro de 1965, extinguira os partidos então existentes, criara o
sistema bipartidário, adiara as eleições presidenciais e decretara que o
presidente seria eleito pelo Congresso e não pelo voto direto160), mas
também em seu desempenho na economia. Ao menos no estado da
Guanabara, em outubro de 1966, 70% dos entrevistados de todas as classes
consideravam o aumento do custo da alimentação como o principal
problema do país161. Uma vez mais o fantasma da inflação, que corroía o
poder de compra dos salários e rebaixava o padrão de vida de todos,
comandava o julgamento do desempenho dos governos.
Isso não queria dizer que as classes médias nutrissem qualquer nostalgia
em relação ao governo Jango. Em abril de 1966 o Ibope entrevistou 1.400
eleitores no estado de São Paulo, e perguntou qual dos dois últimos
presidentes o eleitor considerava melhor, Castelo Branco ou João Goulart.
Castelo teve 60% das preferências da classe A/B, contra 43% da classe C e
34% da classe D. Jango teve 19%, 31% e 35% respectivamente162. Em
quatro cidades de Pernambuco pesquisadas em julho e agosto do mesmo
ano, as proporções a favor de Castelo Branco foram de 76%, 58% e 52%
respectivamente163. Vê-se, novamente, clara estruturação das preferências
do eleitorado pelas classes de renda em São Paulo, e talvez um pouco
menos em Pernambuco164.
Se a proporção majoritária das classes médias parecia apoiar o regime,
mesmo com a progressiva destruição das prerrogativas democráticas, e
ainda que desaprovasse o governo Castelo Branco por seu desempenho na
economia, parcelas daquelas classes que não apoiavam o golpe se
mostraram dispostas a resistir, se necessário com as armas. O foco
prioritário de repressão da ditadura, em seus inícios, foram os sindicatos
urbanos e rurais, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), nas mãos dos
comunistas, as ligas camponesas, as lideranças comunistas em geral, o PTB
e os políticos de um modo ou de outro taxados de “comunistas”, quase
todos agrupados na Frente de Mobilização Popular que organizara o
Comício da Central. A eficiência e rapidez da ação repressora mostrou que
os dispersos serviços de inteligência das Forças Armadas vinham
monitorando há tempos as redes “comunistas”, a maior parte delas
desmantelada nos primeiros dias do golpe. Entre os alvos prioritários da
repressão estava o movimento estudantil de classe média e os partidos e
movimentos cujos membros eram majoritariamente dessas classes.
Estudantes em marcha
O movimento estudantil, interlocutor privilegiado de Jango quando este
abraçou de forma mais decidida as reformas de base, foi proscrito em 1964,
tendo sido a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE) incendiada no
dia 1o de abril por partidários de Carlos Lacerda (Sanfelice, 2008). Mas a
UNE continuou atuando na (quase sempre ruidosa) clandestinidade até seu
desbaratamento em 1968, no XXX Congresso “clandestino” de Ibiúna165.
Vale a pena olhar um pouco mais de perto a atuação da UNE e do
movimento estudantil, pois os universitários eram, em sua maioria, filhos
das classes médias, e a dura repressão por eles sofrida contribuiu para voltar
parte dessas classes contra a ditadura.
Antes de prosseguir, cabe rápida discussão sobre o caráter de classe dos
estudantes universitários do período. Em seu clássico de 1965, relatando
pesquisa de campo com estudantes da USP realizada em 1963, Marialice
Foracchi não tem dúvidas em situar o estudantado na “pequena burguesia
urbana”. Eles seriam predominantemente filhos da “nova classe média
assalariada” em busca de ascensão social, e sua identidade seria dada,
sobretudo, por seu projeto de carreira, que era deles e também de seus pais.
Para Foracchi a pequena burguesia vivia uma situação ambígua de classe.
Se sua condição assalariada “a vincula, positivamente, às camadas
populares, fazendo-a, não raro, compartilhar das suas reivindicações”, essa
mesma condição “vincula-a, em termos de dependência e subordinação, à
experiência acumulada e visão histórica das camadas dominantes,
incapacitando-a para qualquer efetiva tomada de posição que exija ruptura
desses vínculos”. Contudo, para a autora, é nessas mesmas condições que
repousam os “requisitos essenciais para que, no comportamento de rebelião
que a singulariza como classe, esteja incubado o germe de uma atuação
radical que se polarizará em algum dos extremos que delimitam a opção
política na sociedade brasileira do presente” (Foracchi, 1965:222). É isso
que explicaria a “singular radicalização do comportamento político da
pequena-burguesia brasileira” (idem:222-223), tanto à direita quanto à
esquerda.
A radicalidade do movimento estudantil seria, então, decorrência direta de
sua extração de classe: o comportamento político do estudante seria o
produto revolucionário da frustração das aspirações da classe média,
acrescida, em alguns casos mais radicais, da ilusão de que, como
estudantes, estariam, tal como os intelectuais, descolados das determinações
de classe (idem:290-291). Para Foracchi, pois, os estudantes não fariam
mais do que responder a automatismos estruturais, e suas escolhas e sua
ação estariam determinadas de antemão por sua condição pequeno-
burguesa.
Outro importante estudioso do movimento estudantil que também atribui
os universitários à classe média no período é João Roberto Martins Filho
(1987). Na mesma chave de Foracchi, e lançando mão do hoje clássico
estudo de Cunha (1983), sustenta que a enorme expansão do número de
matrículas nas universidades, que saltaram de pouco mais de 27 mil em
1945 para mais de 140 mil em 1964, com crescimento anual de 12,5%,
deveu-se à entrada massiva dos filhos (e filhas em menor proporção) das
novas classes médias lotadas nas burocracias do capitalismo urbano em
crescimento e dos serviços públicos igualmente em expansão. O autor não
compartilha com Foracchi a ideia dos determinantes estruturais sendo
traduzidos em ação necessária de classe, estando mais próximo da
concepção de Décio Saes (1984), para quem a classe média pode, em
conjunturas específicas, agir em aliança com um ou outro polo do que ele
qualifica como “conflito principal” do capitalismo, aquele que opõe
burguesia e proletariado. Mas não tem dúvidas de que os universitários
eram membros das novas classes médias urbanas.
Contraponto a esse argumento, mais propriamente conceitual do que
analítico, pode ser encontrado em Ridenti (2010). Analisando outro estudo
de Foracchi (1982), que encontrou 59% de estudantes da USP trabalhando
em 1963, enquanto 33% frequentavam o turno da noite, o autor argumenta
que esses dados
põem em questão a tese de Foracchi sobre a origem estudantil de classe média, pois a efetiva
classe média tem condições de manter os filhos com dedicação exclusiva à universidade. Parece
que Foracchi sinonimiza classe média a estratos médios, quando talvez fosse mais correto ver nos
“estratos médios”, de onde vem a maioria dos universitários, diversos componentes de classe,
inclusive o de uma efetiva classe média [Ridenti, 2010:143-144]166.
Estratos de renda
Capitais Situação
A/B C D
Melhorou 65 58 52
Belém
Piorou 33 40 47
Melhorou 71 51 46
Fortaleza
Piorou 28 49 51
Melhorou 57 46 50
Recife
Piorou 33 40 43
Melhorou 45 42 46
Salvador
Piorou 42 47 46
Brasília Melhorou 23 26 34
Piorou 75 72 63
Melhorou 16 9 13
Belo Horizonte
Piorou 83 90 86
Melhorou 39 52 49
Guanabara
Piorou 57 44 46
Melhorou 47 45 42
São Paulo
Piorou 46 45 44
Melhorou 54 38 37
Curitiba
Piorou 39 58 56
Melhorou 57 47 29
Porto Alegre
Piorou 32 33 50
Obs: São Paulo e Guanabara, 500 entrevistas; Brasília, 300; demais cidades, 350.
Fonte: Arquivos Ibope no AEL citados em nota
Um espírito de época
Difícil aquilatar até que ponto o movimento dos estudantes brasileiros
antecipou ou se colocou em sintonia com certo espírito de época que
desembocou no maio de 1968 francês e nas revoltas estudantis por todo o
mundo. Como mencionado no capítulo I, na Europa e nos Estados Unidos a
revolta teve, entre seus motores centrais, semelhante embora não idêntica
frustração de expectativas dos filhos das classes médias diante da
inesperada realidade do ensino superior. Não havia por lá o problema dos
excedentes, claro, mas o autoritarismo das estruturas universitárias era
igualmente surpreendente, e alimentou as demandas por participação
estudantil nos processos decisórios sobre a vida coletiva universitária.
Além disso, os universitários brasileiros, jovens como seus congêneres de
outros países, viviam num mundo que começava a massificar padrões
culturais sob hegemonia da indústria cultural norte-americana. A juventude
contestava a cultura e o comportamento herdados das gerações anteriores
desde pelo menos meados dos anos 1950, e nos anos 1960 o rosto de suas
manifestações culturais e políticas era libertário em boa parte do mundo,
incluindo a América Latina (Albuquerque, 1977). Os referentes identitários
eram a revolução cubana, a revolução cultural chinesa, a contracultura e
tudo o mais que se parecesse com algum tipo de contestação ao capitalismo.
Nos Estados Unidos estavam ativíssimos o movimento feminista, o
movimento pelos direitos civis, que lutava pelo fim do racismo, os
movimentos pacifistas e a sociedade em geral, que exigiam o fim da guerra
do Vietnã (bandeira dos estudantes também no Brasil). A contracultura
ganhava expressão no movimento hippie, nas drogas e no rock’n roll, a
pílula anticoncepcional promovia enorme onda de liberação sexual. O
momento era de afirmação da liberdade juvenil nas múltiplas frentes de sua
existência222.
No Brasil o cinema, a música popular, o teatro e as artes plásticas também
compartilhavam valores e comportamentos afinados com seu tempo.
Cinema Novo, festivais da canção com músicas de protesto, teatros Oficina
e Opinião, artistas performáticos como Hélio Oiticica, Lygia Pape e Lygia
Clark, literatos como Antônio Callado e seu Kuarup, são apenas alguns
exemplos de uma cena cultural altamente transgressora. O espírito do tempo
era de esquerda, as novas gerações tinham certeza de poder mudar o
mundo, e isso significava, para boa parte delas, pôr fim ao capitalismo223.
Pesquisa do Ibope já citada, realizada em 1966, mostra que alguns desses
valores tinham penetração na massa estudantil, apesar da divergência de
opiniões em alguns temas-chave, e da diferença marcante entre Rio e São
Paulo e entre homens e mulheres quanto ao comportamento sexual. Os
estudantes de classe média preferiam o cinema (53% deles) e o teatro (33%)
à televisão (12%)224. Estavam, portanto, bastante expostos à cultura de
massa veiculada pelo cinema norte-americano, e também ao Cinema Novo
e sua crítica social, além do cinema europeu “transgressor”, sobretudo
francês e italiano. E estavam expostos à cultura de elite representada pelo
teatro, onde imperavam comunistas como Oduvaldo Vianna Filho e Dias
Gomes.
Em termos comportamentais, 77% dos homens e 92% das mulheres das
duas cidades disseram não ser verdade que eles eram mais inteligentes do
que elas225. No Rio, 59% dos homens e 79% das mulheres consideravam
que estas eram capazes de seguir as mesmas carreiras que os homens, com
as mesmas possibilidades de sucesso. Em São Paulo as proporções eram
menores, 49% e 68% respectivamente226. De qualquer modo, na soma das
duas cidades, metade dos estudantes homens achava que as mulheres
deviam seguir carreiras “mais de acordo com suas características”, contra
apenas 30% delas. Os homens estavam mais dispostos a aceitar a
segregação de gênero no mercado de trabalho, vendo as mulheres mais
aptas ao magistério e aos serviços domésticos do que a engenharia,
medicina ou direito por exemplo.
O estudantado em geral e o feminino em particular eram bem mais
conservadores em São Paulo do que no Rio. À pergunta se “a moça
moderna deve gozar da mesma liberdade sexual que os moços da sua
idade”, 53% dos homens e 44% das mulheres do Rio responderam que sim,
mas 58% dos homens e 68% das mulheres paulistas disseram que não
(pesquisa citada na nota 224:169). No Rio, 43% dos homens e 45% das
mulheres achavam mais importante que a mulher chegasse virgem ao
casamento do que com experiência sexual anterior, enquanto em São Paulo
57% dos estudantes de ambos os sexos preferiam a virgindade (idem:171-
172). Ter experiência sexual anterior atraía apenas 25% das estudantes
paulistas, contra 46% das cariocas. Considerando que a pílula
anticoncepcional era uma invenção recente, e que o Brasil era um país
majoritariamente católico e conservador (embora apenas 60% dos
estudantes da pesquisa se tenham declarado católicos, a maioria não
praticante), a abertura de proporção tão grande de homens e mulheres para
o sexo antes do casamento é digna de nota, especialmente no Rio de
Janeiro. E 40% ou mais de homens e mulheres do Rio e de São Paulo
concordavam que a pílula deveria ser cada vez mais difundida, embora
outro tanto considerasse que seu uso deveria ser limitado (46% delas no Rio
e 37% em São Paulo) ou mesmo proibido (12% deles no Rio e 13% em São
Paulo). Por fim, 83% das estudantes do Rio e 50% das de São Paulo
achavam que deveria ter divórcio no Brasil (contra 79% deles no Rio e 67%
em São Paulo).
As diferenças marcantes entre Rio de Janeiro e São Paulo impedem a
generalização para o país de temas como liberação sexual dos/as estudantes
e adesão a relações de gênero e valores familiares mais abertos. Mas eles
certamente estavam adiante da geração anterior, que 60% ou mais
consideravam mais autoritária e mais conservadora do que a sua, segundo a
mesma pesquisa. E nunca é demais lembrar que a implosão dos costumes
ocorreria mais adiante, tendo em 1968 importante ponto de ruptura.
De qualquer modo, os dados sugerem que proporção significativa dos
estudantes das duas cidades mais importantes do país estava antenada com
seu tempo em termos comportamentais, e o radicalismo demonstrado pela
vanguarda do movimento estudantil nas manifestações que se seguiram ao
assassinato de Edson Luís não destoava do que se viu no mundo a partir de
maio de 1968.
Classes de renda
Estado de São Paulo
A/B C D
Ótimo 65 53 44
Bom 25 32 36
Regular 7 10 10
Fonte: Arquivo ibope_opp_pe_125_mr_0298 do AEL, p. 9
Mas o viés de classe fica mais evidente na queda das avaliações “Ótimo”
da classe A/B para a D, e no aumento da proporção de “Bom”. Na classe
A/B, que agregava a maioria das classes médias urbanas, “Ótimo”, com
65% das respostas, suplantou todas as outras opções somadas, mas na classe
D, a mais pobre, a soma de “Regular” e “Bom” suplantou “Ótimo” por dois
pontos percentuais. Esse padrão se repetiu em abril, julho e outubro do
mesmo ano, quando o Ibope fez a mesma pergunta a eleitores de Campinas,
Guarulhos, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e sete outras
cidades importantes do interior Paulista, além de Joinville e Blumenau, em
Santa Catarina. As classes médias estiveram, sempre, muito mais inclinadas
a considerar ótimo o governo Médici, a diferença da classe A/B para a D
podendo ultrapassar os trinta pontos percentuais258.
A boa avaliação do governo se refletia também na preferência partidária
dos paulistas de classe média. No interior do estado, 52% dos membros das
classes A e B pretendiam votar na Arena nas eleições para prefeito,
previstas para outubro de 1972. Na classe D a proporção foi bem menor, de
37% apenas. Na Região Metropolitana de São Paulo as proporções foram
46% e 36% respectivamente. Em ambas as regiões a proporção de pessoas
que não sabia em qual partido votaria era muito alta, estando acima de 40%
na RMSP. Ainda assim, a adesão à Arena não era desprezível, e a
alternativa “MDB” perdia de longe para os que não tinham opinião. E em
novembro de 1973, no auge do “milagre brasileiro”, mesmo no estado mais
tradicionalmente oposicionista, palco das maiores manifestações estudantis
de 1966 a 1968, 41% dos membros da classe A/B pretendiam votar na
Arena nas eleições para o Senado, previstas para 1974, contra 36% que
pretendiam votar no MDB. Na classe D as proporções foram de 29% e 56%
respectivamente259. A adesão ao regime, expressa na preferência partidária e
na avaliação do governo Médici, tinha evidente viés de classe, e eram as
classes médias as mais aderentes260.
Ainda assim, a adesão não era completa. Na mesma pesquisa de agosto de
1972, que avaliou o governo Médici, perguntados se, depois da
“Revolução”, o Brasil havia melhorado muito, pouco ou nada em áreas
como educação, saúde, habitação etc., na maioria dos temas relacionados
com infraestrutura econômica (energia, transportes, estradas e
comunicações) 80% ou mais dos paulistas consideraram que havia
melhorado muito, independentemente da classe de renda. Mas no quesito
“custo de vida”, 62% da classe A/B, 77% da classe C e 79% da classe D
consideraram que o país havia melhorado “pouco ou nada”. A inflação, que
Delfim Netto considerava um mal menor diante do desafio do
desenvolvimento (Macarini, 2005:68), continuava a fustigar as condições
de vida da população, e o repúdio a ela irmanava todos os estratos de renda,
sendo mais intenso entre os mais pobres.
Por fim, lembre-se que em 1970 foram renovados dois terços do Senado,
enquanto em 1966 e 1974 estava em jogo apenas um terço das cadeiras. O
eleitorado “alienou-se” no momento crucial de definição da maioria naquela
casa, numa circunstância em que o voto de cada qual talvez tivesse mais
chance de “vencer”, ou ser eficaz, já que seriam eleitos dois senadores. Isso
quer dizer que, se a Arena obteve “vitória esmagadora” entre os que
votaram, o regime foi obviamente derrotado, já que mais de dois terços dos
brasileiros se recusaram a participar da farsa eleitoral. Fenômeno
semelhante parece ter ocorrido em 1972, quando o partido da ditadura
obteve vitória avassaladora nas eleições municipais, conquistando mais que
o dobro dos votos do MDB e elegendo 90% dos prefeitos do país e
proporção semelhante de vereadores265. Ambas as vitórias, porém, foram
maculadas pelo descrédito da maior parte do eleitorado nas eleições, num
regime no qual estas eram a única forma permitida de participação política.
Participar não fazia pouca ou nenhuma diferença nos destinos de cada qual,
naquilo que eles dependiam das decisões políticas do regime, que eram
totalmente indiferentes aos “eleitos”.
Essa interpretação exige que se leia cum grano salis o argumento corrente
segundo o qual o MDB foi “fragorosamente derrotado” nessas eleições (e.g.
Kinzo, 1988:133 e ss.). A vitória eleitoral do regime (e consequente derrota
eleitoral do MDB), mais claramente no Senado, mas também na Câmara
Federal, na qual, como vimos, a taxa de alienação ultrapassou os 45% (com
a Arena arrebanhando 72% das 310 cadeiras), trouxe com ela inequívoco
sabor de derrota política. As eleições tinham sido mais propriamente um
teatro farsesco, incapaz de cumprir a função que o regime dela esperava:
sua legitimação como uma “democracia”.
Seja como for, as classes médias jogaram o jogo da ditadura em maior
proporção que as outras classes, ao menos no estado de São Paulo. Como já
visto, era muito maior entre elas a propensão em votar na Arena nas
eleições de 1972. Mas também entre elas era grande a parcela que não sabia
em quem votaria, enquanto porção minoritária pensava em votar no MDB.
Também aqui, a heterogeneidade interna a essas classes impede que se as
trate como um ator coletivo coeso ou homogêneo.
Falta de Instalações e
Cursos não adaptados ao
Capitais professores equipamentos
mercado de trabalho
competentes inadequados
Recife 26,7 27,5 30,8
Salvador 19,2 25,9 41,9
Rio de
18,5 22,0 48,2
Janeiro
São
24,9 18,2 42,5
Paulo
Curitiba 31,4 18,0 42,1
Porto
27,4 19,8 43,1
Alegre
Total 24,7 21,9 41,4
Fonte: pesquisa Ibope no AEL, arquivo ibope_opp_pe_140_mr_0303.pdf, várias páginas
A insatisfação com o sistema universitário levava os estudantes a construir
perspectiva bastante realista sobre suas oportunidades de emprego e renda.
Às perguntas “Na sua opinião, o atual nível de desenvolvimento do Brasil
está permitindo aos profissionais universitários iguais possibilidades de
emprego” e “...iguais possibilidades de remuneração”, cujas alternativas de
resposta eram “Para todos”, “Para a maioria” e “Apenas para alguns deles”,
55% apontaram esta última no caso do emprego, e 64% no caso da
remuneração. Se, para a maioria, a universidade estava desconectada do
mercado de trabalho, este, por outro lado, era visto como recompensando
desigualmente as qualificações.
Isto não seria necessariamente um problema, tendo em vista o etos de
classe que valoriza a recompensa ao mérito, mecanismo de produção e
justificação das desigualdades sociais. Etos, aliás, que aflorou na pesquisa
em tela, mas não de forma unívoca. O Ibope fez a seguinte pergunta aos
estudantes das seis capitais: “Na sua opinião, o atual nível de
desenvolvimento econômico do país deveria permitir iguais possibilidades
de remuneração para todas as carreiras?” Quarenta e oito por cento dos
entrevistados responderam que não, as menores proporções ocorrendo em
Recife e Salvador (45%) e as maiores no Rio de Janeiro e em Curitiba
(51%). Os mais “igualitaristas” foram os estudantes das ciências humanas
(em torno de 56% responderam que as possibilidades de remuneração
deveriam ser iguais), e os menos igualitaristas os das áreas tecnológicas
(53% responderam que não deveriam). Ainda assim, é digno de nota que
cerca de metade da classe média estudantil das seis capitais mais
importantes do país (Belo Horizonte ficou de fora da enquete) considerasse
que o Brasil deveria dar possibilidades iguais de remuneração para todas as
carreiras universitárias.
Frustração de expectativas no presente em razão das percebidas
deficiências do ensino superior; perspectivas frustrantes quanto ao futuro
profissional tendo em vista o nível atual de desenvolvimento econômico do
país; visão de mundo ainda informada por projetos de superação das
desigualdades, possível combustível da militância política de esquerda: tudo
indicava que o espírito de 1968 continuava a rondar a vida universitária,
alimentando o mal-estar de segmentos da classe média estudantil no
momento em que o regime avançava, muito lentamente, em seu projeto de
abertura política. O assassinato de Vlado, que fora professor da Escola de
Comunicações e Artes (ECA) da USP, acendeu o estopim, o de Manuel Fiel
Filho lançou o combustível.
Em março de 1976 estudantes da USP reconstruíram seu DCE, dando a
ele o nome de Alexandre Vannucchi Leme, estudante de geologia ligado à
ALN morto sob tortura pela ditadura em 1973. As tendências políticas mais
e menos à esquerda “Refazendo” (com origem no MR-8, na Ação Popular
Marxista Leninista (APML) e na ALN, “Caminhando” (ligada ao PCdoB),
“Liberdade e Luta” (trotskista), “Organizar a Luta” e “Alternativa” (ambas
com origem na POLOP e no Movimento de Emancipação do Proletariado,
MEP) disputaram a direção, vencida pela chapa “Refazendo”, num pleito
que mobilizou mais de 12 mil alunos da USP (Müller, 2016:104-123). As
correntes de esquerda derrotadas na luta armada voltavam novamente suas
energias para o movimento estudantil, e encontravam nele novos militantes
críticos tanto da ação pelas armas quanto do “pacifismo” do PCB que, nesse
momento, considerava que a resistência aberta ao regime poderia provocar
reação incontrolável da repressão e penalizar desnecessariamente a
militância estudantil que sobrevivera aos expurgos (Cancian, 2010:51-53).
Sob olhares atentos de agentes do SNI, das Assessorias Especiais de
Segurança e Informação do Ministério da Educação e Cultura (MEC-Aesi)28
9, dos Dops estaduais e de segmentos do próprio estudantado fieis à
Coda
Entre a criação da UNE em 1979 e a deposição de Dilma Rousseff por um
golpe parlamentar em 2016, analisado no próximo capítulo, as classes
médias protagonizariam ou se aliaram a outras classes em dois outros
importantes momentos da história do país: a campanha pelas eleições
diretas de 1984 e o impeachment de Fernando Collor de Mello em 1992. A
campanha das diretas foi mais propriamente um movimento policlassista303,
mas as classes médias também se mobilizaram. Já vimos que em todas as
pesquisas do Ibope feitas durante a ditadura, entre 80% e 90% dessas
classes prefeririam que a troca dos ocupantes do poder se desse por eleições
diretas, sempre frustradas pelos militares. Não foi diferente no caso da
campanha das “Diretas Já”. Em novembro de 1983, com a Emenda Dante
de Oliveira ainda tramitando no Congresso304, o Ibope ouviu 2.000 eleitores
em sete estados (SP, MG, RJ, BA, PE, RS e PR). Na classe A os que
apoiavam as diretas eram 77%, e 83% na classe B305. Mas não há dúvidas de
que, nos 33 comícios organizados pelo Comitê Pró-Diretas entre janeiro e
abril de 1984, alguns deles contando com mais de um milhão de
manifestantes, a audiência era policlassista e não majoritariamente de classe
média (Eugênio, 1995).
O caso do golpe parlamentar contra Fernando Collor de Mello foi
diferente. As denúncias de corrupção atiçaram uma vez mais o moralismo
das classes médias, particularmente o estudantado secundarista e
universitário, os “caras-pintadas”, além de associações profissionais das
classes médias tradicionais, e as grandes manifestações que tomaram conta
do país foram nitidamente de classe média (Weyland, 1993). Contudo, a
análise detalhada desse evento precisará esperar outra oportunidade. A
literatura sobre ele é extensa e, a meu juízo, o golpe contra Dilma Rousseff
obrigará à revisão das interpretações correntes (como a importante
contribuição de Sallum Jr., 2015). É nele que me detenho no próximo
capítulo.
155 Ver Ferreira e Gomes (2014:284-289).
156 As pesquisas estão no arquivo “ibope_opp_pe_061_mr_0277” do AEL, pp. 284, 289, 330 e outras.
157 As pesquisas estão no arquivo “ibope_opp_pe_063_mr_0278” do AEL.
164 Digo “talvez” porque as pesquisas não são estritamente comparáveis. Em Pernambuco os eleitores
foram perguntados quem era o melhor presidente, Castelo Branco “ou o presidente anterior”, sem
mencionar o nome de Goulart, enquanto em São Paulo este foi explicitado.
165 A cobertura, pela Folha de S.Paulo, das prisões de centenas de estudantes presentes no congresso
realizada em maio e junho de 1966 encontrou que metade dos alunos das escolas públicas estava
trabalhando, contra 45% dos que frequentavam escolas privadas. Não há informação sobre o desenho
da amostra, então não é possível saber se as proporções são representativas do universo. A pesquisa
está no acervo do Ibope no AEL, arquivo Ibope_opp_pe_068_mr_0279, p. 112.
167 Sobre a JUC, ver Souza (1984). Em 1963 membros mais engajados da JUC, juntamente com
grupos estudantis de outras tradições, intelectuais, políticos e dirigentes da UNE, fundaram a Ação
Popular (AP), cujos militantes venceriam todas as eleições na UNE até sua dissolução em 1973. A
trajetória da AP está, entre outros, em Lima e Arantes (1984) e Ridenti (2007a).
168 A Declaração da Bahia pode ser lida na íntegra em Fávero (1995, Anexo I).
169 Cf. Poerner (1995:183-184); Sanfelice (2008:49 e 54); Santana (2014:99); Martins Filho (1987:54-
57). Este autor se equivoca ao situar em maio o início da greve. A UNE definiu 1o de junho como
data limite para a adoção da regra de um terço, e nesse dia foi decretada a greve. V. tb. Fávero
(1995:42).
170 A questão dos excedentes, isto é, alunos que obtinham nota suficiente para entrar na universidade,
mas não o conseguiam por falta de vagas, foi candente na conjuntura e também no pós-1964. Análise
detalhada do problema está em Santana (2014).
171 Exemplos de estudos sobre a diversidade do movimento estudantil no período são Silva (1989),
Zachariadhes (2009) e os capítulos da coletânea organizada por Martins Filho (1998) sobre o
movimento de 1968 em alguns estados da federação. Ver também Mattos (2013).
172 A informação está em Dreifuss (1981:283-284).
173 Cobertura sobre o atentado pode ser encontrada na primeira página do jornal Correio da Manhã de
7 de janeiro de 1962.
174 Ridenti (2010:28) chama a atenção para o fato de que a AP, em 1964, tentava construir alternativa
mil pessoas teriam sido presas nos primeiros meses do regime, incluindo sindicalistas, trabalhadores,
estudantes, intelectuais, artistas, militantes partidários e políticos. Isso para não falar dos milhares de
trabalhadores demitidos por sua associação ao “sindicalismo comunista”. Apenas no sindicato dos
metalúrgicos de São Paulo, dirigido por sindicalistas ligados ao PCB, mil e oitocentos delegados de
base foram demitidos nas primeiras semanas do golpe. Ver Cardoso (1999).
176 A íntegra do manifesto da UNE, no qual ela recusa o diálogo proposto pelo governo Costa e Silva
para servir de assessoria ao ministro. Era constituído pelos reitores de todas as universidades, pelo
Diretor de Ensino Superior e um representante da UNE, depois substituído pelo presidente do
Diretório Nacional dos Estudantes (DNE), órgão criado pela ditadura após a proscrição da UNE. A
informação está em Cunha (1983).
178 Para outros discursos no mesmo sentido, ver Sanfelice (2008:88-93).
179 Martins Filho (1987:87-88) informa que as eleições para UEEs e DNE eram indiretas, com os DAs
elegendo a direção das UEEs e estas elegendo a direção do DNE. Mas a lei é confusa quanto às
eleições para os DCEs e DEEs. O art. 7o reza que “O Diretório Estadual de Estudantes será
constituído de representantes de cada Diretório Acadêmico ou grupos de Diretórios Acadêmicos
existentes no Estado, havendo um máximo de vinte representantes”. Denota, pois, um processo
restrito de escolha das direções. Já no art. seguinte lê-se que “A eleição para o Diretório Central de
Estudantes e para o Diretório Estadual de Estudantes será regulada nos respectivos regimentos,
atendidas, no que couber, as normas previstas no art. 6o e seu parágrafo único”. Ora, o art. 6o regula o
processo de eleição direta para os DAs. Por fim, o art. 11o reza que “Aplicam-se ao Diretório
Estadual de Estudantes, ao Diretório Central de Estudantes e ao Diretório Nacional de Estudantes as
normas estabelecidas no art. 5o e seus parágrafos desta Lei”. O art. 5o determina voto obrigatório na
eleição direta pelos estudantes regularmente matriculados. A lei pode ser encontrada em https://presr
epublica.jusbrasil.com.br/legislacao/128637/lei-4464-64 (acessado em fevereiro de 2018).
180 Declaração do ministro Suplicy de Lacerda a O Estado de S. Paulo, apud Martins Filho (1987:87).
181 Poerner (1995:240) dá a cifra de 92,5% contra a lei, mas Martins Filho (1987:95-96, nota 39)
considera essa proporção “bastante improvável”, embora não justifique sua avaliação. No Rio, um
terço dos universitários foi às urnas, sendo 81,3% contrários à lei. Segundo depoimento de Altino
Dantas em 1978 (em Santos, 1980:33), o plebiscito teve início em São Paulo, espalhando-se “por
quase todo o Brasil”.
182 A reportagem está disponível no acervo do jornal no site da Biblioteca Nacional: http://memoria.b
n.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_07&pasta=ano%20196&pesq=Congresso%20da%20U
NE (acessado em fevereiro de 2018).
183 Martins Filho (1987) chama a atenção para o fato de que setores do estudantado que haviam
apoiado o golpe, que ele qualifica de “liberais elitistas”, já estavam, em 1965, na oposição aos
militares. Eles também teriam sido contrários à Lei Suplicy de Lacerda. Ver também Poerner
(1995:235 e ss.).
184 Nenhum dos trabalhos utilizados nesta reconstituição lança mão desses dados. Logo, esta é uma
186 Idem:65.
187 Idem:58.
189 Ver a declaração do ministro nesse sentido ao jornal Correio da Manhã de 28 de agosto de 1964,
192 Em Sampaio (1991:17), lê-se que eram 180 mil os matriculados no ensino superior em 1966, dos
quais 81 mil estavam em estabelecimentos privados. Daí o número aproximado de 100 mil no ensino
superior público.
193 Ver o depoimento de Aldo Arantes em Santos (1980).
196 Finalizada três dias antes do fechamento do Congresso pela ditatura, ocorrido em 20 de outubro de
1966, pesquisa do Ibope no estado de São Paulo, representativa do eleitorado, encontrou que 48%
não sabiam em candidatos de qual partido, Arena ou MDB, votariam para deputado federal ou
estadual. Na classe D de renda o percentual foi de 60%. Ver arquivo ibope_opp_pe_071_mr_0280 no
AEL, p. 272.
197 Arquivo ibope_opp_pe_068_mr_0279 no AEL, p. 131, 138 e 141.
198 Idem:165.
199 Gaspari (2002a:240-243) lembra que, enquanto a cúpula da AP realizava o XXVIII Congresso da
UNE, facção minoritária tentava assassinar Costa e Silva. Uma bomba foi deixada no aeroporto de
Guararapes em Recife, e detonou às 8h:50, vinte minutos depois da chegada esperada do ditador.
Matou um almirante da reserva e um jornalista. Quinze pessoas se feriram. Outras duas bombas
explodiram no mesmo dia, uma no consulado dos Estados Unidos e outra na sede da UEE, então em
mãos da oposição à UNE. Gorender (2003:134 e ss.) descreve as primeiras tentativas de luta armada
no país, incluindo a malograda guerrilha da Serra do Caparaó, em Minas Gerais, iniciada em
novembro do mesmo ano de 1966. A resistência armada à ditadura começou cedo, e uma fração
radicalizada dos estudantes de classe média, a AP, estava na vanguarda.
200 Os sórdidos detalhes da invasão e destruição da Faculdade de Medicina estão em Poerner
(1995:254-255).
201 O texto completo do AI-2 pode ser encontrado em http://www.planalto.gov.br//CCIVIL_03/AIT/ai
204 Idem:191.
206 Idem:42.
207 Idem:13.
208 Baseio-me no verbete “Frente Ampla” do CPDOC, de autoria de Sergio Lamarão e disponível em
movimento estudantil que já optara, com a campanha do voto nulo em [19]66, pelos métodos não
convencionais de luta política” (Cruz e Martins, 1983:33).
210 Lacerda esperava ser candidato a presidente em outubro de 1965, mas Castelo Branco adiou as
eleições para o ano seguinte. Foi o que motivou o movimento de Lacerda em direção aos militares da
linha dura, para garantir o pleito e sua candidatura (Cruz e Martins, 1983:25), gesto classificado por
esses autores como ingênuo. E Lacerda seria derrotado ainda outra vez. Embora tenha adiado as
eleições presidenciais de 1965 para 1966, Castelo Branco manteve os pleitos para os governos
estaduais e o parlamento. Nas eleições para o governo da Guanabara os candidatos de Lacerda e da
ditadura a governador e vice, Flecha Ribeiro e Danilo Nunes, ambos da UDN, perderam para a dupla
Negrão de Lima/Rubens Berardo, da opositora coligação PSD/PTB. Isso acendeu a luz amarela em
certos círculos militares, pois parecia que o espectro “populista” estava vivo. A UDN perdeu também
em Minas Gerais para o PSD de Israel Pinheiro.
211 Motta (2014b) revela que os militares reconheciam os limites e deficiências das universidades
públicas.
212 Como lembra Wanderley G. dos Santos (1999:115), “[o] sonho mais caro do autoritarismo [é]
reduzir a imprevisibilidade social a zero”, sonho obviamente irrealizável, mas que alimenta medidas
repressivas por vezes muito violentas.
213 A distinção, prenhe de consequências analíticas, entre “militares como instituição” e “militares
como governo” está em Stepan (1975, cap. 12). Coelho (1976) também explora o tema.
214 A lista de mobilizações do ME no período pode ser encontrada nas p. 151 e ss. do mesmo livro,
elaborado por um “misterioso personagem” (no dizer de Poerner, 1995:220) de nome Rudolph Atcon,
de nacionalidade norte-americana que, reconhecendo que os universitários seriam a elite da nação,
prescrevia um modelo universitário sem participação estudantil nos órgãos colegiados, transformação
das universidades públicas em fundações privadas, cobrança de mensalidades de modo a torná-las
rentáveis, com foco na formação de “capital humano” para o mercado de trabalho de elite etc. A
reforma universitária da ditadura, realizada em 1968, levou em conta essas diretrizes, mas a cobrança
de mensalidades nas universidades públicas não vingaria. Ver Fávero (2006).
216 Em diferentes fontes somos informados que o estudante teria 16, 17 ou 18 anos. Poerner
(1995:270) talvez seja fonte mais segura ao relatar que o estudante completara 18 anos em 24 de
fevereiro de 1968.
217 Outra testemunha ocular, o então líder estudantil Vladimir Palmeira, fala em 50 mil pessoas no
cortejo. Ver Dirceu e Palmeira (1998:85 e ss.). Tanto Poerner quanto Palmeira, citados, são relatos
detalhados dos antecedentes e desdobramentos do assassinato. Mas o estudo mais minucioso é Valle
(2008).
218 O questionário tinha 70 perguntas, e o relatório para cada capital tem mais de 100 páginas. Os
oposição ao regime, sobre a “violência nunca vista” empregada pela PM. Em editorial do mesmo
jornal lia-se que a polícia “caçava pelas ruas estudantes, intelectuais e homens do povo, como se
fossem representantes de uma nação inimiga” (idem:58).
221 Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_07&pasta=ano%201
223 Para uma excelente análise da efervescência cultural no período, no Brasil e no mundo, e sua
relação com o movimento estudantil, ver Langland (2013). A autora oferece importante perspectiva
de gênero na análise do ME, e está atenta à enorme diversidade política que caracterizava o
movimento.
224 Arquivo Ibope_opp_pe_068_mr_0279 do AEL, p. 198.
225 Idem:155.
226 Idem:157.
227 As greves de Contagem e Osasco foram analisadas por Weffort (1972). Gorender (2003) critica a
análise que viu nelas movimentos espontâneos. Weffort não teria tido olhos para ver a ação de
partidos de esquerda nos sindicatos de metalúrgicos das duas cidades, e seu importante trabalho de
organização. Ver também Ridenti (2007b).
228 É curioso que a literatura sobre as greves de 1968 nunca mencione as greves bancárias aludidas
por Saes (1984), mas consta que foram duramente reprimidas em Belo Horizonte e Fortaleza. Este é
um tema ainda carente de estudos.
229 A estimativa do número de mortos é de Luís Raul Machado, então vice-presidente da UNE, e está
em Santos (1980:60). Vladimir Palmeira fala em 17 mortos, talvez “muitos mais” (em Dirceu e
Palmeira, 1998:132).
230 No dia 26 o jornal estampara em sua primeira página a manchete: “Governo autoriza passeata.
Polícia ficará nos quartéis”, com isso estimulando a participação popular. O cálculo do número de
participantes está em Correio da Manhã, 27/06/1968:15, disponível em http://memoria.bn.br/DocRea
der/docreader.aspx?bib=089842_07&pasta=ano%20196&pesq=100%20mil (acessado em fevereiro
de 2018). Vladimir Palmeira declarou que, se a passeata teve apenas 100 mil pessoas, então o
comício das Diretas, de 1984, alegadamente agregando um milhão de pessoas, não teria passado de
120 mil (Dirceu e Palmeira, 1998:140).
231 Boa análise do movimento estudantil na Bahia, importante centro formador de lideranças para a
233 Idem:63.
234 José Dirceu alerta para certo maniqueísmo na interpretação da batalha, que levou à demonização
de todo o estudantado do Mackenzie. Como ele assevera, a maioria dos centros acadêmicos da
universidade participava da UEE e da UNE. Apenas quatro CAs davam sustentação ao Comando de
Caça aos Comunistas (CCC), um dos agentes responsáveis pela violência naqueles dois dias. Ver
Dirceu e Palmeira (1998:150).
235 Jean Marc von der Weid, que presidiria a UNE no ano seguinte, e alguns poucos conseguiram
escapar ao cerco de Ibiúna, mas a maioria seria presa mais tarde. José Travassos, presidente da UNE
em 1968, José Dirceu, presidente da UEE paulista (e candidato a presidente naquele congresso) e
Vladimir Palmeira da UME, presos em Ibiúna, estariam na lista de 15 militantes de esquerda trocados
pelo embaixador norte-americano em 1969. Elio Gaspari (2002a, legenda da foto superior esquerda
da 4ª página de fotos iniciada após a p. 256) estima em três mil o número de estudantes presos em
1968. Ele fala em doze pessoas mortas nas manifestações de rua em 1968, mas no balanço de Valle
(2008), teriam sido 28 apenas na “sexta-feira sangrenta”, como vimos.
236 Honestino Guimarães foi dado como desaparecido em 1973, e em 1996 o Estado liberou seu
atestado de óbito, que não trazia a causa mortis. Em 20 de setembro de 2013, a Comissão Nacional
da Verdade aprovou a anistia post-mortem de Honestino. Na certidão de óbito passaria a constar que
ele foi morto “nas mãos da ditadura militar”. Jornal O Globo de 21/09/2013:8 (o acervo do jornal está
disponível na internet, em http://acervo.oglobo.globo.com).
237 Leitura que Martins Filho (1987:138, nota 32) atribui a Fernando Henrique Cardoso (1972:77 e
ss.). Este autor, contudo, está longe de ter escrito o que se lhe atribui. Tampouco Cruz e Martins
(1983), também citado por Martins Filho na mesma nota. Ambos os textos deixam claro que houve
mútua radicalização, e que o AI-5 foi uma derrota da parte mais fraca. Marcelo Ridenti, no posfácio
da segunda edição de seu clássico publicada em 2010, também ressalta a mútua alimentação dos
radicalismos de esquerda e direita na escalada da violência no período.
238 Como fez Martins Filho (1987:138 e ss.).
239 Sobre a cizânia na cúpula militar, ver Martins Filho (1993:158 e ss.).
240 A clivagem na esquerda estudantil e, depois, armada, entre os que queriam a revolução socialista e
242 O ano de 1968, na verdade, foi o primeiro do “milagre brasileiro”: o crescimento chegou perto de
10%, marca repetida em 1969 e ultrapassada nos três anos seguintes. Dados em
www.IPEADATA.gov.br.
243 O discurso pode ser encontrado em https://www.youtube.com/watch?v=F2Gs_ZrU-bY (acessado
de tiro. Afinal, sabíamos que estávamos nos encaminhando para a luta armada”. Depoimento de José
Dirceu, em Dirceu e Palmeira (1998:110). Ele complementa que muitos membros da Dissidência
paulista, da qual ele era militante, foram ou para a Aliança Libertadora Nacional (ALN) ou para a
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
245 Daniel Aarão Reis Filho (1989) foi pioneiro na análise desses dados, mas a análise de Ridenti é
mais detalhada.
246 Um apanhado dos mais de 200 títulos surgidos depois da publicação da primeira edição de seu
clássico de 1993 pode ser encontrado em Ridenti (2010, posfácio). Ele menciona, por exemplo, mais
de 30 livros de memórias ou depoimentos de combatentes, além de teses e dissertações por todo o
Brasil. A Comissão Nacional da Verdade, cujos trabalhos se encerraram em 2014, parece ter
originado nova onda de estudos por todo o país, já que arquivos dos aparelhos de repressão foram
abertos em cidades pelo Brasil inteiro, em instituições públicas e privadas. Pesquisa no banco de
teses da Capes com as palavras-chave “Ditadura Militar” retornou mais de 9,3 mil títulos de teses de
doutorado e dissertações de mestrado. Pouco mais da metade (4,8 mil) foi defendida entre 2010 e
2016, sendo perto de mil apenas neste último ano. Muitos dos trabalhos não se referem à ditadura
iniciada em 1964, porém mais da metade sim. Pesquisa com as palavras “ALN ditadura militar”
retornou quase duas mil teses de doutorado... Esse campo de estudos é, hoje, destinado a
especialistas.
247 As composições internas dessas organizações, suas dissidências, alianças, recomposições etc., são
detalhadamente apresentadas, dentre outros, por Gorender (2003[1987]), Reis Filho (1989) e Ridenti
(2010). O organograma completo e minucioso das muitas dissidências do PCB está em Reis Filho
(1989). Sales (2015) traz novos estudos sobre diferentes regiões do país. E Maciel (2009) é
competente diagnóstico da esquerda militar entre 1961 e 1974.
248 A cooperação entre Argentina, Brasil e Chile na repressão à dissidência já ocorria desde 1974. A
Operação Condor foi formalizada em 1975 numa reunião secreta no Chile, entre Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, “para a realização de atividades coordenadas, de forma clandestina
e à margem da lei, com o objetivo de vigiar, sequestrar, torturar, assassinar e fazer desaparecer
militantes políticos que faziam oposição, armada ou não, aos regimes militares da região”. Citado de
http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/index.php/2-uncategorised/417-operacao-condor-e-a-ditadura-n
o-brasil-analise-de-documentos-desclassificados (acessado em fevereiro de 2018). O site da CNV
disponibiliza vários documentos do departamento de Estado norte-americano, da CIA, do exército
brasileiro e até da Itaipu Binacional, este sobre “subversivos paraguaios em Foz do Iguaçu”.
249 São conhecidas as ações da ditadura argentina de lançar ao mar, de aviões e ainda vivos,
dissidentes do regime. O último presidente da UNE Honestino Guimarães pode ter sido vítima de ato
semelhante. Carlos Eugênio Paz, no seu Nas trilhas da ALN, narra casos das vítimas dos métodos de
tortura do sinistro chefe do Deops paulista e comandante do Esquadrão da Morte, Sergio P. Fleury,
dentre elas o Bacuri (Eduardo Colem Leite), fundador da Resistência Democrática (REDE) que
depois se fundiria com a ALN. O jovem militante foi torturado por cerca de 100 dias, e empalado ao
final com um bastão com ranhuras de aço na ponta, especialmente projetado para dilacerar as
entranhas das vítimas. As coisas não eram diferentes no Rio de Janeiro. Caso aberrante foi o de
Aurora Maria Nascimento Furtado, cuja trajetória na guerrilha foi narrada em forma de romance por
seu cunhado Renato Tapajós (1977). A advogada de presos políticos Eny Moreira, que desobedeceu a
ordem dos assassinos e liberou o corpo da guerrilheira no IML paulista, descreve seu estado de
destruição resultante das doentias torturas, fruto de sanha vingativa dos torturadores, em https://pt.wi
kipedia.org/wiki/Aurora_Maria_Nascimento_Furtado (acessado em maio de 2018).
250 Relato semelhante está em Tapajós (1977).
251 A censura à imprensa no Rio de Janeiro é estudada por Acselrad (2015). V. tb. Marconi (1980),
Dassin (1982), Araújo (2000), Fico (2002) e Kushnir (2004), dentre muitos outros. Em 1970 a
ditadura inseriu um parágrafo na Constituição de 1967 tornando legal (constitucional) a censura
prévia à imprensa e às manifestações culturais em geral. Geisel, que iniciou seu governo falando em
“distensão” e fim da censura, realizou o primeiro concurso público para censores. Naquela quadra da
história (1974) o país contava com 220 desses profissionais. Ver Kushnir (2014).
252 Ver o interessante estudo de Oliveira (2014) sobre a publicidade na revista Veja, inspirada na
propaganda da AERP.
253 As capas de Veja foram consultadas em http://oespiritoqueanda-tudohqparavoce.blogspot.com.br/2
gov.br. Singer (1972) talvez tenha sido o primeiro a demonstrar que o arrocho salarial foi decisivo
para o “milagre” brasileiro. Ver também Oliveira (1972) e Luna e Klein (2014).
255 Os microdados da PNAD 1973 foram tabulados especialmente para este estudo. A informação
sobre a renda não é boa, pois vem em intervalos em lugar da renda nominal das pessoas. A renda foi
informada por semana ou por mês, dependendo do caso. Tirei a média dos dois valores de cada
intervalo, o que é metodologicamente factível porque os intervalos são bastante estreitos. Por
exemplo, o segundo intervalo da renda semanal vai de Cr$3,93 a Cr$7,84. Neste caso, atribuí a média
de Cr$5,89 à renda declarada neste intervalo. Para chegar à renda mensal, multipliquei esse valor por
52 (número de semanas do ano) e dividi por 12 (número de meses do ano). Isso porque, em média,
cada mês tem 4,33 semanas. Isso tornou comparável a renda dos que informaram por mês com a dos
que informaram por semana. A distribuição de renda é, portanto, aproximada, e subestima a
apropriação da renda pelos muito ricos, já que o último intervalo da renda semanal, por exemplo, é
aberto à direita (“Cr$1.888,61 ou mais”). Qualquer média atribuída a esse intervalo será arbitrária.
Na renda semanal usei a média de Cr$3.000,00 e na mensal, Cr$10.000,00 (neste caso o último
intervalo é de Cr$8.064,01 ou mais). Agradeço a Carlos Antônio Costa Ribeiro por ter me cedido os
microdados da PNAD 1973.
256 Décio Saes (1984:180 e 223) contesta os argumentos de que as novas classes médias teriam
aquiescido ao regime militar por se terem corrompido pelo consumo e o bem-estar material. Para ele
a natureza das ocupações da nova classe média, de comando na empresa capitalista, tornaria
“natural” a percepção de que, tanto quanto a racionalidade empresarial exige hierarquia de comando,
disciplina e autoritarismo organizacional, o desenvolvimento de um país também o exigiria. Ou seja,
para ele aquelas classes apoiavam o autoritarismo por serem elas mesmas autoritárias. O argumento é
de evidente determinismo tecnológico, e deixa nas sombras as novas classes médias que não
exerciam posições de comando para o capital, tanto no setor privado quanto no público, e apoiavam
igualmente o regime, assim como aquelas que, mesmo em posições de mando na empresa capitalista,
ansiavam pela volta da democracia.
257 A desigualdade e a pobreza resultantes do crescimento econômico foram destacadas em Brant e
Singer (1976), livro que teve grande repercussão ao ser lançado, sendo imediatamente rechaçado pela
ditadura como obra de “comunistas”. Tb. Bresser-Pereira (1977). A censura à cultura é longamente
analisada por Ortiz (1987).
258 A fonte dos dados é a mesma da tabela 8.
262 Não custa lembrar que Lula chegou pela primeira vez à direção do Sindicato dos Metalúrgicos de
São Bernardo do Campo em 1969, sendo eleito secretário em 1972 e presidente em 1975. Muitos dos
dirigentes que liderariam o “novo sindicalismo” a partir de 1978 foram eleitos sob o AI-5 e o jugo do
“atestado de ideologia”.
263 O projeto Brasil Nunca Mais estima que 4,7 mil pessoas (entre civis e militares) tiveram seus
1945. Os cálculos para os valores que apresento foram feitos a partir das planilhas originais
encontráveis em http://www.tse.jus.br/eleitor-e-eleicoes/estatisticas/repositorio-de-dados-eleitorais-1/
repositorio-de-dados-eleitorais (acessado em fevereiro de 2018).
265 A informação está em http://memorialdademocracia.com.br/card/eleicao-silenciada-da-vitoria-a-ar
Grosso, Pará e Piauí. Com exceção da Bahia, todos de diminuta expressão eleitoral.
267 Infelizmente não há, nos arquivos do Ibope disponíveis no AEL, pesquisas sobre intenção de voto
269 Como vimos no capítulo I, essa predisposição foi identificada tanto na apatia das classes médias
norte-americanas quanto na adesão ao fascismo e ao nazismo europeu, bem como às ditaduras latino-
americanas.
270 Como já foi dito, a literatura sobre a ditadura tem adotado, de forma quase unânime, o
qualificativo “civil-militar” para deixar claro que os civis foram parte ativa tanto no golpe de 1964
quanto na dinâmica geral do regime. Prefiro utilizar militar-civil, já que, até o fim do AI-5 em
outubro de 1978, a lógica militar (hierarquia, coesão e disciplina) presidiu a dinâmica política mais
geral.
271 Como vimos anteriormente, Foracchi (1965) atribui a isso o radicalismo das classes médias na
encontrados em http://www.r7.com/r7/media/2014/20140331-info-ditadura/20140331-info-ditadura.h
tml (acessado em fevereiro de 2018).
273 Em sua primeira reunião ministerial, Geisel afirmou que o AI-5 seria mantido como salvaguarda
do projeto da “revolução”. A distensão “lenta, gradual e segura” não dispensaria seu cão de guarda
institucional. Ver http://atlas.fgv.br/verbete/2304 (Verbete sobre Geisel no Atlas Histórico do Brasil
do CPDOC-FGV, acessado em fevereiro de 2018). Nessa mesma reunião o ditador apelou à
“imaginação criadora” dos políticos para que o ajudassem a superar os instrumentos excepcionais do
regime (Figueiredo e Cheibub, 1982:30).
274 É límpida, nesse sentido, a opção política de um jornalista como Marcos Sá Correa, então repórter
de Veja: “você tinha duas linhas, realmente, de ação, quer dizer, quem não era governo, no Brasil,
mas também não era oposição da luta armada, não tinha outra oposição a fazer senão apostar na linha
mais branda do governo, você apostava em alas do governo que supunha que fossem contra o regime,
que indicassem a tendência de abrandamento do regime” (Gazzoti, 1998, página não identificada no
arquivo virtual). A mesma opinião é manifestada por Mino Carta, então diretor de redação da revista.
275 Ver Gaspari (2003:234 e ss. e passim). D’Araujo, Soares e Castro (1994) deixam claro, em sua
introdução aos depoimentos de militares sobre a repressão, que havia linhas de comando
responsáveis, claramente identificáveis que, diante dos “excessos”, não agiram para coibi-los. Os
autores não chegam a mencionar Geisel e a cúpula do governo, mas não eximem os ministros
militares comandantes das três forças armadas aos quais os órgãos de repressão estavam
subordinados, e os ministros respondiam, por óbvio, ao presidente, Comandante em Chefe das Forças
Armadas.
276 O memorando encaminhado ao Secretário de Estado Henry Kissinger pelo diretor da CIA W. E.
Brasil aparece como categoria analítica importante em D’Araújo, Soares e Castro (1994).
278 Ver Reis Filho (1989).
279 Há muita coisa escrita sobre a vida e o assassinato de Vlado Herzog. Dentre os trabalhos mais
importantes estão Jordão (1979), Markun (2005) e Dantas (2012). Ver também Gaspari (2014).
280 Depoimento ao Instituto Vladimir Herzog, disponível em http://vladimirherzog.org/quem-era-vlad
1991) foi um importante tabloide humorístico carioca, famoso pelas charges de Henfil, Claudius,
Millôr, Ziraldo e Jaguar, pelas longas e polêmicas entrevistas com figuras culturais expoentes e pelos
textos mordazes de Tarso de Castro, Sergio Cabral, Paulo Francis, Ivan Lessa e outros. No auge de
seu sucesso chegou a vender 200 mil exemplares por semana (mais do que a revista Veja), sendo lido
por mais de um milhão de pessoas em todo o país. Ver Braga (1991) e Buzalaf (2009).
282 A informação está na coluna dominical de Alberto Dines na p. 6 da Folha de S.Paulo de 9 de
militantes de POLOP, Colina, ALN, AP e outros, assim como Versus era ligado ao clandestino
Partido Socialista dos Trabalhadores (Kucinski, 2001). Sobre os jornais Versus e Em Tempo, ver
também Araújo (2000).
285 A matéria pode ser encontrada em https://acervo.folha.com.br/leitor.do?
numero=5650&keyword=Herzog&anchor=4634575&origem=busca&pd=8def152821da449778bb88
c5d2bdefe5 (acessado em abril de 2018).
286 A notícia sobre o manifesto está na dedicatória do livro de Jordão (1979).
287 O mesmo Zuenir Ventura, a propósito da atmosfera de distensão trazida pelo fim da censura em
1978, reconhece que o pior problema para os jornalistas foi a introjeção da paranoia, da censura. Não
era necessário ninguém do lado para coibir ou reprimir o trabalho nas redações. A censura estava
introjetada. Ver Ventura (1999:130).
288 Cancian (2010:80-86) sistematizou as mobilizações estudantis ocorridas entre 1974 e 1979,
usando como fonte as “Apreciações Sumárias” do SNI, encontráveis no Arquivo Ernesto Geisel do
CPDOC. Estas são, provavelmente, as fontes mais confiáveis para um levantamento sistemático
desse tipo, já que os serviços de informação estavam infiltrados na universidade em todo o país e a
imprensa estava sob censura.
289 Criadas a partir de janeiro de 1971, as Aesi “exerceram tarefas de vigilância, censura,
Estudantil, dirigido pelo Partido Comunista Brasileiro, e apoiado por outros setores da esquerda,
caminha para a primeira vitória neste ano de 1976”.
291 A mesma Folha de S.Paulo já havia publicado, em fins de janeiro, um manifesto com mais de mil
censura no ano de 1977 ao rádio e à televisão. Dentre as 20 proibições (que incluíam notícias ou
comentários sobre as relações Brasil x Estados Unidos, o acordo nuclear brasileiro, manifestos de
jornalistas e intelectuais pronunciados em duas oportunidades, o desabamento de um edifício no
Estácio, Rio de Janeiro, dentre outros temas), duas se referiam ao ME: a referida no texto e a
proibição de qualquer notícia ou comentário sobre os estudantes da UnB, em 25 de julho, analisada
em seguida.
293 A PUC de São Paulo acolhera a 29ª Reunião Anual da SBPC em julho de 1977, reunião que fora
com longas transcrições de entrevistas do coronel Erasmo Dias, além de trechos de seu relatório
sobre a invasão. Nele fica clara a associação, no discurso do secretário de Segurança, entre os
estudantes e a Igreja Católica progressista para desestabilizar o governo. No JB o coronel não
menciona o PCB, e sim as tendências da esquerda do ME, como a Libelu.
295 Em 1o de novembro de 1977, a Folha de S.Paulo, p. 12, noticiou nova invasão do campus da UnB,
considerada pelos estudantes, em carta aberta à população, “a mais violenta de todas” até ali,
objetivando reprimir as reuniões para a construção do DCE-Livre. Em 14 de janeiro de 1978 o Jornal
do Brasil noticiou na p. 7 o protesto do DCE da UFRGS contra o Dops e a Brigada Militar, que
ficharam estudantes que distribuíam o jornal da entidade. São apenas dois exemplos da ação reiterada
da repressão a ameaças de mobilização estudantil.
296 O Movimento de Oposição Sindical ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, conhecido como
MOMSP, é longamente analisado em Cardoso (1999).
297 A Folha de S.Paulo dedicou duas páginas de sua edição de 29 de março de 1978 aos atos pelo
país, e o Jornal do Brasil uma página inteira. Nos dois periódicos os protestos foram a manchete
principal da primeira página.
298 Ver também Müller (2016:175 e ss.).
299 Folha de S.Paulo, 04/10/1978, p. 20; Jornal do Brasil, mesmo dia, p. 16. A folha colocou pequena
chamada sobre a reportagem na primeira página, mas o JB não. Sinal dos tempos: o ME não
mobilizava mais a repressão, e com isso deixava as manchetes principais.
300 Ver Velasco e Cruz e Martins (1983), Skidmore (1988).
301 Cf. matéria da revista IstoÉ (ano 2, n. 94:11) com o título “Estudantes, acreditem: eles se reuniram
referência são Maroni (1982), Antunes (1988), Santana (1998), Abramo (1999) e Rodrigues (1999).
Dentre minhas contribuições destaco Cardoso e Comin (1997) e Cardoso (2015b).
303 Ver, dentre outros, Kotscho (1984); Meyer e Montes (1985); Rodrigues (2003); e Bertoncelo
(2009).
304 O deputado Dante de Oliveira, então do PMDB de Mato Grosso, apresentou em abril de 1983 a
Introdução306
Como em conjunturas anteriores, o Brasil viveu momento de intensa
polarização política durante o processo que resultou no golpe parlamentar que
destituiu Dilma Rousseff do poder em agosto de 2016307. Como mostrarei
mais adiante, é possível recuar a cadeia causal dos eventos que levaram a esse
desfecho pelo menos a 2005, quando o escândalo do “mensalão” afastou
parcelas das classes médias das bases eleitorais do Partido dos Trabalhadores
(PT). Mas foi a partir de 2013 que as mobilizações mencionadas na
introdução a este livro mostraram que os mecanismos de inclusão social dos
mais pobres pelo mercado e pelo consumo haviam esgotado seu potencial de
coesão social e de apoio ao projeto político liderado pelo PT, que alguns
denominaram “lulismo”308. Depois da repressão feroz ao Movimento pelo
Passe Livre (MPL) pela Polícia Militar paulista e da prisão de centenas de
manifestantes no início daquele mês, as ruas foram tomadas por jovens em
sua maioria de classe média indignados, dentre muitas outras coisas, com as
más condições de transporte, saúde, educação, moradia e com as mazelas da
vida urbana, que em seguida foram ressignificadas contra o pano de fundo das
obras para a Copa do Mundo de 2014, nas quais as exigências quanto à
qualidade dos estádios e condições de infraestrutura urbana por parte da FIFA
a muitos pareceram desproporcionais e fora da realidade do país. Dentre as
centenas de demandas, cobrava-se “educação e saúde padrão FIFA”, como
lemos em Singer (2013). E de forma crescente ao longo do mês de junho, a
grita contra a corrupção foi ganhando o centro dos protestos (Tatagiba, 2017).
É claro que os gastos com os estádios “padrão FIFA” previstos para os
quatro anos do projeto de construção ou reestruturação das arenas esportivas
(entre R$ 10 e R$ 15 bilhões) representavam uma fração diminuta do que se
gastava no Brasil em saúde e educação (mais de R$ 160 bilhões anuais309),
mas isso era irrelevante do ponto de vista do que estava em jogo. As frações
das classes médias que foram às ruas em junho de 2013 não eram, em sua
maioria, usuárias da saúde e da educação públicas. Como chamei a atenção na
Introdução a este livro ao citar André Singer (2013), a base da pirâmide não
esteve presente nos protestos senão de forma minoritária.
À primeira vista, a indignação da juventude de classe média pareceu movida
por critérios de justiça distributiva, já que via nos estádios (cujas obras
sofreram desde o início denúncias de superfaturamento e corrupção) enorme
desperdício de dinheiro, que deveria, ao contrário, financiar políticas públicas
que beneficiassem os mais pobres. É indiferente que os estádios não
estivessem sendo construídos pelos governos locais, e sim por consórcios que
envolviam o poder público em associação com capitais privados. Não importa
se eram projetos com potencial de exploração lucrativa por agentes privados
ou públicos, e não investimentos públicos diretos, embora utilizassem
empréstimos do BNDES a juros subsidiados. E importa menos ainda que os
recursos desse banco não proviessem do tesouro, mas sim do Fundo de
Amparo ao Trabalhador (FAT), um fundo privado gerido pelo banco, o que
quer dizer que os recursos para a Copa do Mundo não competiam com o
orçamento constitucionalmente destinado à saúde e à educação. A aparência
de justiça distributiva da indignação da juventude que foi às ruas tinha, na
verdade, fundo moral: um país pobre não deveria sediar um circo esportivo
percebido, obviamente com razão, como perdulário, elitista e corrupto310. E
essa indignação se voltou contra os partidos políticos, principalmente os de
esquerda, os sindicatos, os movimentos sociais organizados, todos vistos
como artífices da política tradicional, sem representatividade e alheia aos
interesses da maioria. Os gastos para a Copa do Mundo acabaram levando à
condenação da política de um modo geral, e as manifestações de 2013 em
diante tiveram forte caráter de repúdio à institucionalidade democrática como
um todo.
Em março de 2013, meses antes das manifestações, a popularidade da
presidenta empossada em 2011 estava na casa dos 60% (soma de avaliações
“ótimo” e “bom” nas pesquisas citadas em nota). Na semana seguinte às
manifestações havia caído para a casa dos 30%, só retornando a 40% durante
a campanha eleitoral de 2014, apenas para voltar a cair, vertiginosamente,
quando novas manifestações tomaram as ruas a partir de março de 2015
pedindo seu impeachment, até atingir 10% às vésperas do golpe
parlamentar311. A mobilização das classes médias, incendiando as ruas, teve
papel central nesse desfecho.
da campanha, elegeu como seu adversário não a candidata Dilma, mas o PT,
que teria um “projeto de poder” totalitário, corrupto e criminoso, enquanto
Aécio seria o candidato não de um partido, o PSDB, mas de todos os
brasileiros. Como ele afirmaria em peça de propaganda de 22 de outubro de
2014, “pessoas” (de referente indeterminado) que, na campanha do primeiro
turno, haviam atacado os candidatos Marina Silva e Eduardo Campos,
agora se voltam contra mim, e se voltarão contra qualquer um que ameace a permanência do PT no
poder […]. Hoje, em função de tantas mentiras, milhões de brasileiros estão com medo. Mas eu
digo a vocês, nós não precisamos ter medo do PT. Eu não tenho medo do PT […]. O Brasil que vai
nascer das urnas no próximo domingo não pode ser o Brasil do terrorismo, do medo, da chantagem,
do ódio, da mentira. Nós não merecemos isso. Nós queremos libertar o Brasil no medo [Aécio
Neves, no programa eleitoral noturno do dia 22 de outubro de 2014]317.
Antecedentes
Em 2009, num texto bastante influente, André Singer afirmou que, na eleição
de 2006, teria ocorrido importante “realinhamento eleitoral” da população. O
“subproletariado”, que, segundo ele, sempre se mantivera distante de Lula,
“aderiu em bloco à sua candidatura depois do primeiro mandato, ao mesmo
tempo em que a classe média se afastou dela” (Singer, 2009:83, grifo meu). O
autor transcreve pesquisas do Ibope de 2006, nas quais, segundo ele, seria
nítido o viés “de classe” do voto em Lula: no primeiro turno, 55% dos
eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos (o
“subproletariado”) pretendiam votar nele, contra 29% dos eleitores com renda
familiar superior a dez salários mínimos (a “classe média”) (idem:85). No
segundo turno, 64% e 36% respectivamente.
Estranhamente, Singer não oferece os dados da eleição de 2002 para
sustentar o argumento do “realinhamento eleitoral” da população. Em lugar
disso, recorre a outro momento do que ele denominou “polarização por renda”
das intenções de voto, a eleição de 1989, na qual Lula aparecia com 41% das
preferências no segundo turno entre os com renda de até dois salários
mínimos, e 52% entre os com renda de mais de dez salários, segundo o
mesmo Ibope, enquanto as intenções de voto em Collor de Mello eram de
51% e 40% respectivamente. Em 1989 Lula era mais preferido entre eleitores
das classes médias do que entre os mais pobres, algo que se teria invertido em
2006.
Se tivesse oferecido ao leitor os dados disponíveis para 2002, Singer se veria
obrigado a matizar suas conclusões sobre o realinhamento ocorrido em 2006.
Ocorre que, segundo o mesmo Ibope, às vésperas do primeiro turno de 2002,
Lula tinha menos de 43% das intenções de voto dos eleitores com renda
familiar de até dois salários mínimos, mesma proporção encontrada entre
eleitores com renda de mais de dez salários. Portanto, em 2002 a proporção de
pessoas com renda mais alta disposta a votar em Lula era 10 pontos
percentuais inferior à encontrada em 1989. E a proporção de intenção de voto
entre os mais pobres era equivalente, pouco superior a 41%. Ou seja, o
realinhamento eleitoral da “classe média” se expressou já em 2002. Ele se
aprofundaria em 2006, quando apenas 30% dos eleitores com renda de mais
de dez salários pretendia votar no candidato petista, contra 55% dos com
renda de até dois mínimos. Entre 2002 e 2006, pois, doze pontos percentuais
dos votos dos mais ricos abandonaram o “lulismo”, enquanto doze pontos
percentuais dos votos dos mais pobres migraram para Lula.
Esse deslocamento, se de fato expressa um realinhamento eleitoral, não é
suficiente para sustentar o argumento de que “a classe média” (no singular) se
teria afastado do “lulismo”. A afirmação é uma generalização que não
encontra suporte nos dados oferecidos pelo autor. Lula teve a intenção de voto
de 30% das pessoas de renda mais alta, e 45% dos de renda mais baixa não
pretendiam votar nele. Logo, o mais correto seria dizer que uma parcela
minoritária das classes melhor remuneradas abandonou o “lulismo”, parcela
correspondente a menos de um terço desses eleitores: eles eram em torno de
42% em 2002, caindo para 30% em 2006. Isso quer dizer que 70% dos
eleitores melhor remunerados, muitos deles pertencentes às classes médias,
permaneceram com Lula apesar do escândalo do “mensalão”, principal
“causa” apontada por Singer para a revoada da “classe média” das hostes do
“lulismo”. E o “subproletariado” não aderiu “em bloco”, como afirma o autor,
já que 45% dos mais pobres não pretendiam votar em Lula no primeiro turno.
Dizendo de outra maneira: ao contrário do que quer Singer e muitos outros
analistas que seguiram seus passos, parcela expressiva das classes médias
permaneceu com Lula mesmo diante do bombardeio que se abateu sobre sua
administração, em função do escândalo do “mensalão”. Generalizações sobre
o “afastamento da classe média” e a “adesão em bloco do subproletariado”
estão simplesmente equivocadas, porque não consideram que apenas 43% dos
mais bem remunerados parecem ter votado em Lula em 2002 (o que estava
longe de configurar adesão generalizada das classes médias a ele então), e que
45% dos mais pobres não pretendiam votar nele em 2006 (o que também está
longe de configurar adesão generalizada dos mais pobres ao “lulismo” em
2006). Entre 2002 e 2006 Lula parece ter perdido apoio de 30% do eleitorado
de classe média que esteve com ele no primeiro instante, mas reteve 70%
desse mesmo eleitorado.
Em 2010, ainda segundo o mesmo Ibope, as intenções de voto em Dilma
Rousseff na véspera do primeiro turno eram praticamente as mesmas: 30%
entre os com renda superior a dez mínimos, e 52% entre os com renda de até
dois mínimos. O cenário só mudaria em 2014, quando 25% dos eleitores
melhor remunerados (acima de 10 salários mínimos) pretendiam votar na
candidata do PT no primeiro turno, mantidos os mesmos 52% de intenções de
voto entre os mais pobres. O “lulismo”, pois, perdeu outros 5 pontos
percentuais entre as classes médias melhor remuneradas, mas ainda assim
estamos falando de uma perda de 40% em relação a 2002 (25%/42%), e não
de um “afastamento geral” das classes médias das bases eleitorais do PT348.
O processo de radicalização política da conjuntura de 2013-2016 só pode ser
compreendido se levarmos em conta que as classes médias se dividiram ao
longo do processo, com uma parcela antes aderente ao PT se lançando na
oposição (à direita e à esquerda, é bom ressaltar) às administrações lideradas
pelo partido, enquanto outra parcela se colocou na trincheira em defesa dessas
administrações. E uma parcela não desprezível, majoritária já em 2002,
nunca sufragou Lula. Nem André Singer nem os partidários da tese do
“realinhamento eleitoral” de 2006 estão atentos a esse último aspecto. Ele
quer dizer o seguinte: (i) uma parcela das classes médias manteve sua lealdade
ao PT, apesar dos escândalos de corrupção. Essa parcela era equivalente a
60% das hostes originais dessas classes que antes (2002) tinham votado no
partido. Esse contingente pode ser compreendido como mais “petista” do que
“lulista”349; (ii) o partido ampliou suas bases de sustentação para incluir
eleitores mais pobres, atraídos em função das políticas públicas de promoção
social que ganharam o rosto do “lulismo”. Esse contingente foi mais “lulista”
do que “petista”, no sentido de que respondeu mais pragmaticamente ao bem-
estar econômico vivido nos dois primeiros governos Lula. Parte substancial
das novas classes médias, que viveram processo de ascensão social no
período, tal como identificado em Cardoso e Préteceille (2020), deve ser
enquadrada nesse contingente. Foi ele quem sofreu os efeitos da crise
econômica latente em 2013 e profunda a partir do segundo semestre de 2014,
vivendo processo de frustração de expectativas de tipo tocquevilliano; (iii)
parcela majoritária das classes médias nunca votou no PT, e foi engrossada
pelos segmentos médios que abandonaram o “petismo” em 2006 e novamente
em 2014.
Em suma, o afastamento de parcelas distintas das classes médias das bases
eleitorais do PT é inegável, e teve início antes do “mensalão”, tendo se
ampliado em razão do escândalo e se aprofundado em 2014 em meio à maré
montante de novas denúncias, apurações, prisões e a generalizada
criminalização das administrações petistas pelos meios de comunicação de
massa e o sistema de justiça como um todo. As razões para essas tomadas de
posição não podem ser apreendidas por generalizações simplificadoras.
Sigamos, pois, a passo.
Distinção
Em Cardoso e Préteceille (2020) revelamos incontestável hierarquização da
sociedade brasileira segundo a estrutura de classes ali proposta. E as classes
médias e superiores revelaram dinâmica populacional e educacional muito
distinta das classes urbanas mais baixas, para não falar das classes rurais.
Migraram menos, ou seja, construíram suas redes sociais e oportunidades de
vida de forma bastante menos desterritorializada do que as outras classes,
sobretudo na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. E sua hierarquia interna
mostrou-se claramente estruturada segundo linhas de gênero, raça e geração,
que não encontramos nas outras classes urbanas. Isso sugere que as barreiras à
entrada nas posições de classe média reproduzem, de forma mais intensa do
que nas outras classes, as linhas de força que estruturam a sociabilidade
desigual no país de um modo geral. É como se essas classes, contrariamente
ao que seria de se esperar, não estivessem no controle dos mecanismos de sua
reprodução, já que sujeitas, em sua hierarquia interna, a automatismos
estruturais e culturais, como o racismo e as discriminações geracional e de
gênero. Nossa análise sugeriu que a hierarquia presente nas classes médias e
superiores é tão fortemente estruturada por aqueles automatismos porque as
posições de classe média, sobretudo as das classes médias “média” e alta, são
protegidas contra o avanço de jovens, mulheres e não brancos/as em suas
hostes. As mulheres estão muito presentes apenas na classe média baixa. Uma
das barreiras de proteção é, justamente, a escolaridade. Mas ela não é a única,
já que as mulheres têm, no Brasil de hoje, mais anos de estudos do que os
homens, e estão em menor proporção nas posições que exigem diploma
superior; e os não brancos chegam às posições superiores em proporção muito
menor do que sua presença na população, mesmo quando mais escolarizados.
Logo, parece haver outras barreiras, nem sempre explícitas, associadas a
gênero e raça. No caso da idade, a hierarquia parece ordenar o ciclo de vida
das pessoas, e tudo indica que a ascensão social seja condicionada, nas classes
médias e superiores, também à experiência na força de trabalho, além da
escolaridade.
Ou seja, indivíduos e famílias das classes médias estão ordenados em sólida
hierarquia de posições, claramente distinta das demais classes urbanas. Isso
pode estar associado a alguma estabilidade e exclusividade de estilos de vida,
o que, por seu lado, pode estar por trás da violenta reação desses segmentos
diante da ascensão social, pela renda, das classes mais baixas ao longo dos
governos da coalisão liderada pelo PT, sobretudo no período 2003-2014,
incluindo as classes médias baixas identificadas em Cardoso e Préteceille
(2019). A inclusão de partes dessas classes nos ambientes de consumo e
sociabilidade antes exclusivos das frações mais altas das classes médias e das
classes superiores foi vivido como espécime tropical de invasões bárbaras.
Algumas das políticas sociais dos governos liderados pelo PT tocaram em
pontos muito sensíveis da identidade social e dos valores das frações médias e
superiores das classes médias. Em Cardoso e Préteceille (2020, cap. IV)
mostrou-se que o investimento na educação dos filhos é um dos principais
mecanismos de transmissão de suas posições de classe, ou de realização,
neles, do sonho de ascensão social que não foi possível a pais e mães das
classes médias baixas, em razão da pequena oferta de ensino superior no
passado. E o acesso ao ensino superior de qualidade, característico da
universidade pública, continua sendo garantia de reprodução da hierarquia de
posições: a posse de um diploma universitário colocava a pessoa, homem ou
mulher, numa posição pelo menos de classe média “média” em 76% dos casos
em 2014, como já dito350. Trata-se de inequívoco ativo nos mercados de
trabalho, que dá aos portadores de diploma condições mais vantajosas do que
aos não portadores. E as classes médias brasileiras nasceram e cresceram num
ordenamento social que limitou, e muito, o acesso dos mais pobres a esse
nível educacional (Beltrão e Teixeira, 2005).
Esse ordenamento isolou de muitas maneiras os estilos de vida das classes
médias e superiores das demais, em especial nos grandes centros urbanos.
Proporção considerável habita “comunidades fechadas” (Caldeira, 2003)351,
condomínios protegidos e por vezes dotados de infraestrutura tal que insula
parte substancial da sociabilidade de seus habitantes, reduzindo as
oportunidades de contatos sociais com o outro de classe social inferior. E
quando o contato ocorre, frequentemente é na forma da prestação de serviços
pessoais, como o emprego doméstico, portanto na forma de relações de
subalternidade e hierarquia. Os filhos frequentarão escolas privadas desde a
mais tenra idade, e também nesse momento crucial da construção da
personalidade e da identidade individual e coletiva o contato com crianças de
outras classes é limitado. A verdadeira alteridade é rara, todos transitam a
maior parte do tempo entre iguais em termos de classe. E permanecerá assim
até o momento da escolha da carreira e a entrada, ou na universidade pública,
que, até a adoção de políticas de promoção social pelos governos Lula e
Dilma, era mais provável para os que tinham estudado nos ensinos
fundamental e médio privados; ou numa das poucas universidades privadas de
qualidade.
Como reflexo disso, em 2003 os brancos eram 49,5% da população do país,
mas respondiam por 73,8% das matrículas no ensino superior, e 80% das
matrículas de mestrado e doutorado (Schwartzman, 2005:188).
As universidades tornaram-se ambientes bem mais inclusivos nos anos
recentes. Durante os governos Lula, várias políticas de incentivo à adoção de
cotas raciais e sociais por parte das universidades públicas redundaram na
criação, mais ou menos voluntária por instituições de todo o país, de medidas
de ação afirmativa, que permitiram que filhos das classes médias baixas e
populares, particularmente os negros, tivessem acesso a elas (Feres Jr. et al.,
2012). Em 2012 o governo Dilma Rousseff propôs e o Congresso aprovou
uma lei que reserva metade das vagas das universidades federais a egressos de
escolas públicas do ensino médio. Parte dessas vagas deve ser destinada a
pretos, pardos e indígenas na proporção em que figurem na população de cada
estado da federação, tal como medida pelo Censo Demográfico do IBGE.
Além disso, o ProUni e o Fies aumentaram sobremaneira as chances de acesso
dos mais pobres ao ensino superior privado352.
Como consequência, pretos, pardos e indígenas já eram maioria nas
universidades federais em 2017, estando próximos de sua presença na
população: 53% nas universidades, contra 55,5% na população em 2016,
segundo a PNAD-Contínua353. É verdade que os negros e demais beneficiados
pelas políticas de ação afirmativa continuam sub-representados nas carreiras
de maior prestígio, como medicina, engenharias, arquitetura, design e direito,
estando muito mais presentes nas carreiras que configuram ocupações de
classe média “média” e baixa, como o serviço social e a licenciatura em
letras354. Ainda assim, o fenômeno recente da convivência entre classes
distintas nos ambientes universitários antes exclusivos das classes médias
“médias” e superiores não pode ser negligenciado quando tratamos do medo
da desclassificação desses estratos, algo que foi largamente estudado por
Pierre Bourdieu nos anos 1970 e está na importante obra de Roberto Grün
sobre o Brasil (1994, 1996 e 1998)355.
Deve-se colocar nessa mesma chave interpretativa a reação aos “rolezinhos”
ocorridos em várias partes do Brasil a partir das primeiras manifestações em
São Paulo, em dezembro de 2013 e janeiro de 2014356. Tratou-se, inicialmente,
de manifestação de jovens das periferias paulistanas que, por meio das redes
sociais, se organizaram para “dar um rolê” em shopping centers da capital,
iniciando por um localizado em Itaquera, bairro periférico. A administração
do shopping chamou a polícia com medo do que a ela pareceu um “arrastão”,
houve tumulto e violência e a cobertura da imprensa criminalizou a prática,
que foi proibida por alguns estabelecimentos comerciais, o que gerou ações na
justiça em torno do direito de ir e vir, além de intenso debate público. Os
rolezinhos se multiplicaram pelas capitais brasileiras nos dois anos seguintes,
como mostra Stangl (2016), e a polêmica prosseguiu.
O rolezinho é uma manifestação cultural estreitamente associada ao funk
ostentação, movimento juvenil que tem entre suas práticas a circulação pelos
espaços da cidade (Caldeira, 2014; Trotta, 2016). Nesse aspecto, não
representaria novidade, já que os jovens que ocuparam os shoppings são os
mesmos que ocupavam praças, ruas e espaços públicos para ouvir música e se
divertir, às vezes com violência. Se São Paulo é uma metrópole fortemente
segregada, com as classes sociais mais abastadas vivendo em bairros com
diminuta presença de classes mais baixas (Préteceille e Cardoso, 2008), o rolê
dos jovens é uma forma de romper ou fluidificar as barreiras simbólicas e
físicas da segregação espacial. A novidade, no caso desses rolezinhos, estava
no espaço escolhido para a festa: shopping centers “de elite”, espaços das
classes médias que foram “invadidos” por jovens de maioria negra, ou, nos
termos de Caldeira (2014), afrodescendente, e de classes populares.
Tereza Caldeira sustenta que o rolezinho é expressão, ainda, de mudanças
nos hábitos de consumo das classes populares, de um padrão mais coletivo e
familiar, restrito aos espaços periféricos e em grande medida voltado para a
autoconstrução da casa própria e seu posterior aprimoramento, para um
padrão mais individualizado, com os filhos não compartilhando com os pais
os compromissos com a estabilidade habitacional. A individualização dos
hábitos de consumo, a melhoria de renda das classes populares e a tradição
cultural da juventude periférica de ocupar os espaços da cidade, resultaram na
eleição dos shoppings centers como óbvios alvos de lazer e consumo, agora
mais acessíveis a esses jovens.
A “invasão”, então, desafiou a histórica divisão, nas metrópoles brasileiras e
muito particularmente a paulista, entre os espaços de consumo das classes
médias e superiores e os das demais. A reação contrária de alguns segmentos
mais elitizados daquelas ganhou a forma, nas redes sociais e na imprensa, de
evidente preconceito racial e de classe (como mapeia Stangl, 2016).
As reações ao rolezinho não foram eventos isolados. Quatro anos antes um
conhecido colunista do jornal Folha de S.Paulo escreveu que detestava
aeroportos “e classes sociais recém-chegadas a aeroportos, com sua alegria de
praças de alimentação. Viajar, hoje, é quase sempre como ser obrigado a
frequentar um churrasco na laje”357. Preconceito de classe em sentido puro, o
lamento do colunista pranteia um mundo perdido, no qual aeroportos eram
ambientes de sociabilidade de “iguais”. É difícil aquilatar até que ponto ele
vocaliza opinião apenas pessoal, ou expressa um sentimento mais geral das
classes médias suas leitoras. Se considerarmos que a Folha, como qualquer
outro veículo da mídia empresarial, produz informação para público por ela
muito bem conhecido358, é provável que o lamento do colunista fosse
compartilhado por larga audiência de classe média.
Mas, como venho sugerindo aqui, as classes médias são heterogêneas, e
segmentos distintos disputaram o significado da prática cultural da juventude
negra. Outro colunista, igualmente conhecido dos paulistanos, criticando o
ponto de vista acima, sugeriu que as classes médias estavam sofrendo de
“aporofobia”, uma espécie de “intranquilidade em relação à manutenção
daquilo que é tido como privilégio próprio de uma classe”. E foi além:
Os aporofóbicos temem sobretudo uma “contaminação” de seu mundo por essa legião de pobres
alçados, de uma hora para outra, à categoria de “consumidores” dos mesmíssimos bens outrora
reservados à “velha” classe média. Os aeroportos tumultuados e o excesso de carros nas grandes
cidades parecem ter se tornado os elementos simbólicos dessa guerra359.
Fonte: Datafolha
Identidades excludentes
A polarização nas redes sociais refletiu e alimentou a radicalidade assumida
pelas manifestações contrárias e favoráveis ao governo em 2015 e 2016.
Ribeiro et al. (2016), por exemplo, a partir de estudo minucioso das
interações, no Facebook, das pessoas que manifestaram a intenção de
participar dos protestos de 13 e 18 de março de 2016 (410 mil no caso dos
pró-impeachment e 24 mil no caso dos pró-governo, respectivamente) e seu
padrão de acesso a páginas selecionadas provedoras de informação,
mostraram que, enquanto os antigovernistas leram mais Veja, Folha de
S.Paulo e O Estado de S. Paulo, veículos que apoiaram decididamente o
golpe, os pró-governo acessaram mais G1, UOL, BBC e R7, portais que
funcionam mais propriamente como agências de notícias sem clara linha
editorial. A divisão é nítida também no que respeita às páginas de
comentaristas políticos e blogueiros. Enquanto os antigovernistas visitavam e
curtiam as páginas de Kim Kataguiri (líder do MBL), Danilo Gentili, Marco
Antônio Vila e Reinaldo Azevedo (comentaristas de direita), os pró-Dilma
visitavam os blogs de Socialista Morena, Tico Santa Cruz e Leonardo
Sakamoto (comentaristas de esquerda). Assim também no caso de páginas
institucionais de movimentos e ONGs: manifestantes pró-governo visitaram
Não me Khalo e Feminismo Sem Demagogia (coletivos feministas), Não
Fechem Minha Escola (que dá voz a movimentos estudantis), Geledés (ONG
ligada a movimentos negros) MST, MTST (Sem-Terra e Sem-Teto). Contra o
governo: Anti-PT, Vem Pra Rua, MBL, Revoltados On Line, estes últimos
tendo sido os organizadores dos primeiros protestos contra o governo em
2015. Idem quanto a páginas de políticos: Lula, Jean Willys, Dilma, Suplicy,
Haddad; do outro lado, Ronaldo Caiado, Jair Bolsonaro, Aécio Neves,
Fernando Henrique Cardoso. Quanto aos partidos, PT e PSOL de um lado,
PSDB e Partido Novo do outro. E não se tratou apenas de escolha de um lado
da disputa, visitado majoritariamente pelos manifestantes. Tratou-se de
posições excludentes. Um exemplo da não intersecção entre as preferências
dos dois grupos pode ser visto na figura 1.
A figura é emblemática da relação inteiramente extrínseca dos circuitos de
identificação dos dois grupos. Com raríssimas exceções, quem “curtiu” um
movimento ou página do Facebook situado num dos polos de oposição não
curtiu nenhum outro que ocupasse o polo oposto. Não “curtir” não quer
necessariamente dizer que a pessoa não visitou alguma das páginas prediletas
dos adversários, mas é grande a probabilidade de que visitas sorrateiras não
tenham ocorrido (a legenda do gráfico indica a manifestação de 13 de março
contra o governo, colunas mais escuras à direita, e 18 de março a favor do
governo, colunas mais claras à esquerda).
Figura 1: Páginas mais populares de movimentos e/ou campanhas, visitadas por pessoas que
manifestaram interesse em participar das manifestações pró e contra o governo em 13 e 18
de março de 2016
Fonte: Ribeiro et al. (2016:8)
A evidência mais forte nessa direção está na figura 2, que reproduz análise
de França et al. (2018) e apresenta a interação entre posts no Twitter durante o
período de discussão da admissibilidade do impeachment pela Câmara (abril
de 2016). Trata-se de uma amostra do total de posts analisados pelos autores,
composta por pessoas que se retuitaram entre si pelo menos três vezes, o que
configurava, segundo a análise, debate político. Os pontos da nuvem esquerda
indicam as interações entre pessoas favoráveis à saída de Dilma, e os da
nuvem direita, as contrárias. Ao centro, em tom mais claro, aparecem as
mídias das quais cada grupo extraiu os conteúdos reverberados nos tuítes
(como os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo) além de
jornalistas blogueiros (como Ricardo Noblat). As interações mostram que o
polo direito foi muito mais coeso, no sentido de que as mídias utilizadas para
a extração da informação objeto da comunicação entre pares eram mais
exclusivas, e a informação nunca circulou para além das fronteiras do próprio
grupo. O polo esquerdo bebeu de forma levemente mais pluralista nas fontes
noticiosas disponíveis, em alguns casos replicando notícias de noticiosos
próximos ao polo oposto. Mas ainda assim sua interação teve grande grau de
exclusividade, com duas fontes noticiosas respondendo pela maioria dos
tuítes371.
Figura 2: Rede de usuários com interações frequentes de retuítes, formando padrões de 2 e 3
usuários que sistematicamente se retuítam
Coda
A polarização que tomou conta das ruas e do debate público nos últimos anos
cobertos pela análise, tendo como objeto de referência os governos liderados
pelo PT, operou uma simplificação artificial e reducionista tanto à esquerda
quanto à direita. O campo “petralha” não continha apenas petistas. Incluía
segmentos de várias classes sociais, dentre elas frações das classes médias,
muitas das quais críticas a aspectos centrais das administrações petistas, como
o “reformismo fraco” (Singer, 2012), a conciliação de classes e a corrupção
(Coggiola, 2016), a “acomodação com a política tradicional” (Miguel, 2017),
estando, portanto, mais à esquerda do espectro ideológico. Sendo contrárias
ao impeachment, visto como golpe de Estado, não eram propriamente pró-
governo. O campo “coxinha” tampouco era todo pró-impeachment (não
encarado pela maioria como golpe). Sendo críticas ao governo e querendo sua
deposição, frações das classes médias que foram às ruas queriam eleições
antecipadas como solução para a crise política, com isso distanciando-se dos
segmentos mais conservadores que viam na deposição de Dilma a solução
para a corrupção e o projeto “comunista” do PT.
A crise política favoreceu a polarização, mas esta se agravou, em grande
medida, em função da reação, por parte dos “petralhas”, à campanha de
criminalização do partido e suas administrações e lideranças, tanto pela
imprensa quanto pelas frações conservadoras das classes médias que foram às
ruas a partir de 2013, para não falar no sistema de justiça do país. Mas a
posição defensiva do polo “petralha” foi tudo menos passiva. Os dois campos
inundaram o mundo virtual com manifestações mútuas de raiva e ódio,
ensimesmando-se em “câmaras de eco” e “bolhas” que amplificaram a
sensação de pertencimento a comunidades coesas.
Por isso é possível tratar a dinâmica política iniciada em 2013 como um
processo de formação de classe, no qual segmentos distintos das classes
médias se reconheceram em projetos também distintos de ordenamento social
e econômico, e agiram coletivamente em sua defesa. O fato de terem sido os
governos do PT o centro dos processos de identificação (a favor e contra), ao
tempo em que contribuiu para tornar explícitas posições que raramente
vinham à esfera pública enquanto elementos de um projeto político excludente
e elitista (como o preconceito de classe, o racismo, a homofobia, a
demofobia), escamoteou, por outro lado, as nuanças desse projeto, e também
dos elementos de identificação mais à esquerda, como a maior ou menor
radicalidade da crítica ao capitalismo, à exploração e à injustiça social. O que
importa, porém, é que segmentos das classes médias se viram e se
identificaram como partícipes desses dois campos, indo às ruas e se
congraçando ao bater-se por eles contra o campo oposto, visto pelo que se
imaginava que ele representava, ainda que de forma estereotipada e
reducionista. Mais ainda, ao ir às ruas, as frações mobilizadas das classes
médias propuseram sistemas de signos e palavras de ordem que convocaram o
engajamento dos outros setores da sociedade, seja por ação ou por omissão,
com isso contribuindo decisivamente para dar forma ao campo das disputas
políticas no país. As classes médias foram centrais, portanto, na configuração
do político enquanto campo de disputa pelos destinos da nação e pelos
significados da ação pública. Não foi a primeira vez na história, como tentei
mostrar ao longo da análise, mas as novas tecnologias de informação e as
múltiplas possibilidades de acesso a interesses, desejos, ações, mobilizações
coletivas, interpretações sobre elas, cobertura da mídia etc., trouxeram à
superfície da arena pública o que, nas conjunturas anteriores, esteve, muitas
vezes, inacessível mesmo ao observador mais atento.
Quando afirmo que a conjuntura de 2013-2016 configurou processo típico
de formação de classe, não quero dizer que os coletivos assim constituídos o
foram de uma vez por todas. A luta de classes é constitutiva do capitalismo, e
os projetos políticos são revistos, repostos, redefinidos diante de conjunturas
sempre em transformação, assim como são redefinidos os atores e as coalisões
entre eles. Mas parece-me que esse curto período explicitou, de forma para
mim inconteste e radicalizada, a clivagem central que animou a ação política
das classes médias ao longo da história: o apoio ou o repúdio a políticas de
promoção social das classes subalternas, que ganhou expressão, como tentei
mostrar aqui, em projetos antagônicos de ordenamento da sociedade,
sumariamente nomeados de liberalismo autoritário e desenvolvimentismo
democrático com inclusão social, polos de um contínuo recheado de nuanças
ideológicas, valorativas, morais e práticas.
A eleição de 2018 confirmou a força estruturante dos termos dessa
polarização, sobretudo o “antipetismo” e sua eficaz redução das esquerdas ao
“petismo”372. Depois de longo e tortuoso caminho traçado pelo PT na tentativa
de fazer de Lula o candidato do partido à presidência, no final de agosto
daquele ano o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgou-o inelegível com base
na Lei da Ficha Limpa. Fernando Haddad, candidato a vice-presidente na
possível chapa encabeçada por Lula, só teve sua candidatura oficialmente
registrada pelo PT no dia 11 de setembro, menos de um mês antes do primeiro
turno da eleição.
No dia 10 de setembro o Ibope registrou 8% de intenção de voto no até ali
apenas possível candidato Haddad. Anunciado como concorrente oficial do
PT, pesquisa do mesmo instituto em 13 e 14 de setembro registrou 13% de
intenção de voto nele, e 19% na enquete dos dias 16 a 18. Mais quatro dias e
22% dos brasileiros declararam que votariam no candidato petista no primeiro
turno, percentual que se manteve até às vésperas da eleição nas pesquisas
tanto do Ibope quanto do Datafolha373.
Vale lembrar que em 21 de agosto de 2018, última enquete do Datafolha em
que Lula figurou entre os candidatos à presidência, 39% dos brasileiros
haviam declarado intenção de sufragá-lo em outubro374. A expectativa do PT e
aliados era a de que esse manancial eleitoral se transferisse para seu
substituto, como ocorrera nas duas eleições de Dilma Rousseff. Isso de fato
aconteceu, mas em proporção muito menor do que o esperado. O “lulismo”
sem Lula mostrou-se bem menos solidamente arraigado: às vésperas do
primeiro turno da eleição, segundo o Datafolha, apenas 33% dos eleitores com
renda familiar de até dois salários mínimos pretendiam votar em Haddad.
Entre os com renda de dez mínimos ou mais a proporção não passou de 13%,
e 14% entre os com renda entre cinco e dez mínimos375. O PT continuou
perdendo eleitores nas classes mais altas de renda, e perdeu um terço do
eleitorado mais pobre.
Todos os candidatos ao Palácio do Planalto elegeram Haddad como o
inimigo a combater, e a arma utilizada foi, justamente, o antipetismo e os
significados a ele associados desde a crise do “mensalão” em 2005, ampliados
na conjuntura 2013-2016. Estiveram presentes as pechas de “comunismo” (em
sua caótica polissemia), “organização criminosa”, “corrupção”, além de um
adendo importante: “o PT quebrou o Brasil”, referência à profunda crise
econômica dos anos 2015-2016. Jair Bolsonaro, sobretudo, elegeu unicamente
o PT como adversário em sua campanha eleitoral no primeiro turno,
apostando todas as fichas no antipetismo das parcelas majoritárias das classes
médias e de crescentes segmentos das classes populares, que viveram a crise
econômica como frustração de expectativas de seus sonhos de melhoria de
vida. Pessoas que teriam eventualmente votado em Lula, mas que rejeitaram o
candidato do PT.
O antipetismo, com os significados que assumiu em anos recentes, é criação
genuína das parcelas mais conservadoras das classes médias, que tiveram na
imprensa empresarial aliado decisivo e nas redes sociais o elemento onde
pôde vicejar e se radicalizar376. A condenação à corrupção, de fundo moral ou
racional (respaldada em valores meritocráticos), parece ter impedido que o
candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, alvo ele também de denúncias,
ocupasse o lugar sempre destinado ao PSDB, desde 2002, de opção eleitoral
ao PT. Com isso, o antipetismo radicalizado (e por vezes irracional) de
parcelas expressivas das classes médias mostrou-se disponível a nova
aventura antidemocrática: o candidato Jair Bolsonaro tinha, na véspera do
segundo turno da eleição de 2018, 58% das intenções de voto dos/as
brasileiros/as com ensino superior completo, e mais de 62% entre aqueles com
renda familiar acima de dez salários mínimos, segundo o Datafolha, 63% dos
com renda entre cinco e dez salários377. Isso incluía boa parte dos segmentos
médios e superiores das classes médias. E, desta vez, proporção diminuta
destes figurou entre as bases do “petismo”, para muitos sinônimo de
“comunismo” e “corrupção”.
306 Versão distinta deste capítulo é parte do livro Classes médias no Brasil: estrutura, perfil,
oportunidades de vida, mobilidade social e ação política, escrito em coautoria com Edmond Préteceille.
Como a versão aqui publicada foi escrita exclusivamente por mim, sendo anterior à nossa coautoria no
livro citado, achei por bem não o responsabilizar por minhas interpretações.
307 Estou de acordo com a fina análise de Wanderley Guilherme dos Santos sobre o processo de
destituição de Dilma Rousseff, tratado por ele como golpe parlamentar. Ver Santos (2017). Ver também
Avritzer (2017) e Domingues (2017).
308 O termo ganhou popularidade na imprensa e também entre analistas políticos, como é o caso de
legislativos/bol26 (acessado em março de 2018). A receita líquida da união naquele ano, em valores
nominais, foi de R$ 991 bilhões, sendo de 16,4% a participação de saúde e educação nos gastos federais.
No ano seguinte o valor subiria para 18,6%.
310 As denúncias de corrupção contra agentes da FIFA e da CBF na escolha do Brasil como sede da copa
de 2014, que resultaram na prisão do então presidente da entidade, Joseph Blatter, e de outros altos
dirigentes, dão razão à indignação da juventude em 2013 e 2014, no emblemático movimento “Não vai
ter Copa”, que procurou mobilizar a população para impedir a realização da competição. Dentre os
muitos estudos disponíveis sobre o movimento, destaco Prudencio e Kleina (2017).
311 As cifras são das pesquisas CNI/Ibope e referem-se à proporção de pessoas que considerava o
empatados no limite da margem de erro, com Dilma com 52% das intenções de voto e Aécio, 48%. Ver
http://datafolha.folha.uol.com.br/eleicoes/2014/10/1538369-dilma-52-e-aecio-48-chegam-empatados-ao
-dia-da-eleicao.shtml (acessado em abril de 2018).
314 Ver, por exemplo, Souza (2015). Sobre a polarização durante o processo de impeachment que
americana de 2016.
316 Por exemplo, https://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/10/aecio-usa-medo-comunismo-contra-
dilma.html, no qual aparece o “Godzilla Cubano” entre os “monstros de Dilma”, postagem do PSDB no
Facebook (acessado em março de 2018).
317 O vídeo da campanha está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=KwdHuHzg1DU
abril de 2018).
319 Aécio Neves governou Minas Gerais por dois mandatos consecutivos, mas perdeu para Dilma no
abril de 2018).
321 O TSE só julgou a ação do PSDB em junho de 2017, dando ganho de causa à chapa Dilma/Temer por
quatro votos a três. O voto de desempate foi do mesmo Gilmar Mendes, em favor da chapa vencedora
das eleições. Ver https://g1.globo.com/politica/noticia/por-4-votos-a-3-tse-rejeita-cassacao-da-chapa-dil
ma-temer-na-eleicao-de-2014.ghtml (acessado em abril de 2018).
322 Ver https://www.efe.com/efe/brasil/brasil/brasil-registra-em-2014-primeiro-deficit-contas-publicas-de
pesquisadores de todo o mundo. São inúmeros os estudos de especialistas nas novas mídias e em análise
de discurso e imagens, no Brasil e no mundo. Exemplos salientes são van Dijk (2017), Meneguelli e
Ferré-Pavia (2016) e Malini et al. (2017).
328 A estimativa é do Datafolha. Ver http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2015/
08/1671765-manifestacao-de-movimentos-sociais-reune-37-mil-na-capital-paulista.shtml (acessado em
abril de 2018).
329 Dados em http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/08/manifestantes-protestam-favor-do-governo-dil
em abril de 2018).
332 Transcrito de https://oglobo.globo.com/brasil/em-convencao-aecio-diz-que-dilma-nao-concluira-man
esteve a redução da carga tributária das empresas, cujo ponto principal e mais polêmico foi a redução da
contribuição previdenciária patronal, que, até então, correspondia a 11% do salário pago ao trabalhador,
e foi convertida em 1% do faturamento das empresas de alguns setores selecionados. Segundo cálculos
do próprio governo, a renúncia fiscal seria de 25% a 30% da contribuição previdenciária total. As
estimativas podem ser lidas em http://www.receita.fazenda.gov.br/publico/arre/RenunciaFiscal/Desonera
caodafolha.pdf (acessado em fevereiro de 2017).
334 Ver http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/08/1664711-saiba-o-que-sao-as-pautas-bomba-nas-
que os juristas a corrigissem. Foi reapresentada no dia 17 com as correções sugeridas por Cunha. Ver htt
p://politica.estadao.com.br/noticias/geral,miguel-reale-jr-e-helio-bicudo-protocolam-pedido-reformulado
-de-impeachment,1764110 (acessado em abril de 2018).
336 Ver https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/10/13/cunha-e-denunciado-ao-conselho-
os organizadores dos protestos diziam ter ido às ruas. A PM, como vimos, computou metade desse total.
Ainda assim tratou-se de manifestação monumental, às portas da votação da admissibilidade do
impeachment pela Câmara. http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,manifestacoes-em-todos-os-esta
dos-superam-as-de-marco-do-ano-passado,10000021047 (acessado em abril de 2018).
343 Imagens e palavras de ordem estão em http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/03/manifestacoes-co
INSTAURACAO-DE-PROCESSO-DE-IMPEACHMENT-DE-DILMA-COM-367-VOTOS-A-FAVOR-
E-137-CONTRA.html (acessado em abril de 2018).
346 Em Cardoso (2017) ofereço interpretação mais estrutural sobre o processo de impeachment de Dilma
Rousseff.
347 A referência aqui é o clássico de Korpi (1983) sobre a social-democracia sueca.
349 Para essa distinção, ver Singer (2012). Uma crítica é Maciel e Ventura (2017).
350 Dados da PNAD tabulados para este estudo. Se a pessoa tinha um diploma universitário, tinha 32%
de chance de estar na classe média “média”, 27,1% de estar na classe média alta, e 16,2% de estar nas
classes superiores urbanas.
351 Aspecto de modo algum exclusivo do Brasil. Para o caso argentino, ver Svampa (2001).
352 O ProUni foi criado no primeiro mandato de Lula, para financiar o acesso ao ensino privado por parte
de egressos do ensino médio que não conseguissem passar no vestibular das universidades públicas, ou
não conseguissem acesso a ela pelo ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Dependendo da renda
familiar do estudante a bolsa pode corresponder a 100% do valor da mensalidade. O Fies é um
mecanismo de financiamento ao estudante por meio de empréstimo da Caixa Econômica Federal, a ser
restituído após a formatura. Ver Feres Jr. et al. (2012).
353 Os microdados da PNAD contínua, do IBGE, foram tabulados especialmente para este estudo.
354 A esse respeito ver a sistematização dos dados do Censo da Educação Superior do INEP, de 2017,
disponível em https://www.nexojornal.com.br/grafico/2017/12/13/Gênero-e-raça-de-estudantes-do-ensin
o-superior-no-Brasil-por-curso-e-área (acessado em março de 2018).
355 Ver também Velho (1973), Salem (1986), Diniz (1998) e Barbosa (1998).
356 A atenção das ciências sociais foi atraída pelos rolezinhos. Ver, dentre muitos outros, Caldeira (2014),
políticos e eleitorais, realiza pesquisas de mercado para aferir a aceitação do jornal e ajustar sua linha
editorial, que, como se lia na propaganda do jornal nos anos 1990, estava “de rabo preso com o leitor”.
359 Marcos Guterman no jornal O Estado de S. Paulo de 10/12/2010, disponível em http://politica.estad
ao.com.br/blogs/marcos-guterman/o-governo-lula-e-a-aporofobia/ (acessado em março de 2018).
360 A detalhada cronologia da AP 470 e sua cobertura por veículos das Organizações Globo estão em htt
p://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/mensalao/acao-penal-470.htm (acessado
em março de 2018). A melhor e mais profunda análise da AP 470 é Santos (2017).
361 A operação já é objeto de dezenas de estudos, em várias áreas do conhecimento. Um eficiente resumo
368 “A corrupção da esquerda governamental não é uma decorrência ‘natural’ da corrupção geral, nem
uma manifestação de uma desonestidade peculiar da esquerda do país, mas uma evidência da integração
dessa esquerda ao Estado burguês, cuja estrutura é inseparável da corrupção, assim como o crime é
inseparável do capitalismo, sendo uma fonte de lucros para o capital (através da indústria do seguro, da
segurança etc.)” (Coggiola, 2016:68).
369 Para a simbologia dos protestos no período em apreço, ver Tatagiba (2017:88).
370 Petralha é corruptela de petista com Metralha, sobrenome de uma conhecida gangue de irmãos
larápios das histórias em quadrinho. Alguns atribuem a origem do termo ao livro de Azevedo (2008).
371 Ortellado e Ribeiro (2018) apresentam grafos com informações mais detalhadas sobre o acirramento
crescente da polarização nas redes sociais, comparando o padrão de antes de 2013 com o que aconteceu
até 2016. São analisadas as interações de 12 milhões de pessoas com interesse em política. Os dois polos
estão claramente delimitados, sendo que as nuanças têm a ver com a construção mais complexa (em
termos de temas de interesse dos grupos de esquerda e direita) das duas tipologias polares.
372 Sobre o petismo e o antipetismo como estruturantes das disputas políticas no Brasil pós-autoritário,
s://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/eleicao-em-numeros/noticia/2018/10/01/pesquisas-ibope-e-dataf
olha-comparativo-da-evolucao-de-intencao-de-votos-para-presidente.ghtml (consultado em dezembro de
2018).
374 Ver https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/eleicao-em-numeros/noticia/2018/08/22/pesquisa-dat
estruturam as disputas eleitorais no Brasil, nos diversos níveis de governo, desde os anos 1980. O que
estou sugerindo é que os significados adquiridos na conjuntura recente são produto do processo de
construção de identidade das parcelas radicalizadas das classes médias.
377 Dados tabulados a partir dos microdados da pesquisa n. 04578 do acervo do CESOP-Unicamp,
Pesquisas de opinião
Pesquisas do Ibope de meados dos anos 1940 até fins da década de 1970,
disponíveis no acervo do Arquivo Edgard Leuenroth, da Universidade de
Campinas (Unicamp).
Pesquisas do Ibope disponíveis no sítio da internet do instituto, cobrindo o
período de 2002 a 2016.
Pesquisas do Datafolha disponíveis no sítio da internet do instituto,
cobrindo o período de 2002 a 2016.
Bancos de dados das pesquisas do Datafolha e do Ibope disponíveis no
acervo do Cesop-Unicamp.
Os demais sítios na internet foram citados em notas de rodapé ao longo do
texto. Destaco a Biblioteca Virtual do IBGE (https://biblioteca.ibge.gov.br/)
e a hemeroteca da Biblioteca Nacional (://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-di
gital/).
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Lista de tabelas, gráficos e figuras
Figuras
Figura 1:Páginas mais populares de movimentos e/ou campanhas, visitadas
por pessoas que manifestaram interesse em participar das
manifestações pró e contra o governo em 13 e 18 de março de
2016.
Figura 2:Rede de usuários com interações frequentes de retuítes, formando
padrões de 2 e 3 usuários que sistematicamente se retuítam.
Gráficos
Gráfico 1:Evolução mensal do salário mínimo real (em reais de mar/2018)
nos governos Vargas e JK.
Gráfico 2:Evolução da menção ao principal problema do país. Brasil,
2011-2015.
Tabelas
Tabela 1:Classes médias segundo estratos de renda nominal. Minas Gerais,
1960 (em %)
Tabela 2:Proporção dos que eram contrários e favoráveis (valores entre
parênteses) à mudança da capital para Brasília, segundo as classes
de renda em algumas capitais. Janeiro de 1958 (em %)
Tabela 3:Distribuição de renda no Brasil, 1960
Tabela 4:Intenção de voto em João Goulart, 1960
Tabela 5:Proporção que votaria em Goulart se ele pudesse se candidatar a
presidente, em cada estrato de renda das cidades pesquisadas em
julho de 1963 (em %)
Tabela 6:Avaliação sobre a situação do país em 1967, comparando com os
anos anteriores
Tabela 7:Distribuição da renda do trabalho em 1973
Tabela 8:Como classifica o governo Médici (ago. 1972)
Tabela 9:Taxa de alienação eleitoral nas eleições para o Senado Federal.
Brasil, 1966, 1970 e 1974
Tabela 10:O ensino superior está à altura das necessidades do país? Seis
capitais, 1976
Tabela 11:Principais falhas do ensino superior brasileiro, segundo os
universitários. Seis capitais, 1976
Tabela 12:Perfil dos manifestantes contra e a favor do governo da
presidenta Dilma Rousseff em 2015 e 2016, na Cidade de São
Paulo (em %)
Tabela 13:Principais notícias lembradas pelo/a entrevistado/a veiculadas
“nas semanas anteriores”, segundo faixas de renda familiar mensal
(em salários mínimos). Brasil, dez/2014.
Tabela 14:Proporção de pessoas que acreditam que a maioria dos políticos
do partido está envolvida com corrupção (em % segundo
escolaridade e renda familiar mensal). Brasil, dez/2015.
Table of Contents
1. Capa
2. Folha de Rosto
3. Créditos
4. Dedicatória
5. Sumário
6. Agradecimentos
7. Introdução
1. Uma política de classe?
2. Sobre a definição de classes médias
3. Uma palavra sobre as fontes e o método
8. Capítulo 1 | A política das classes médias
1. “O radicalismo das classes médias”35
9. Capítulo 2 | O longo ciclo de Vargas
1. Introdução
2. Os “tenentes” em marcha
3. Em busca de distinção
4. As classes médias contra Getúlio Vargas
5. O “presidente bossa-nova”
6. O moralismo das classes médias em chave popular
7. Às voltas com o espectro de Vargas
10. Capítulo 3 | As classes médias encaram (e enfrentam) a ditadura
1. Introdução
2. Estudantes em marcha
3. Um espírito de época
4. Cem mil nas ruas do Rio
5. As classes médias em armas
6. O “milagre” brasileiro e a aquiescência das classes médias
7. Contra ditadores, eleições
8. Classes médias e a “distensão”
9. A classe média estudantil, de novo
10. Coda
11. Capítulo 4 | Classes médias e o golpe parlamentar de 2016
1. Introdução
2. Breve crônica de um golpe anunciado
3. Uma hipótese de trabalho
4. Classes médias em pugna
1. Antecedentes
2. Distinção
3. A matriz discursiva
4. Matriz discursiva e identidade de classe
5. Identidades excludentes
6. Coda
12. Conclusão
13. Fontes primárias consultadas
1. Acervos de jornais e revistas
2. Pesquisas de opinião
14. Referências
15. Lista de tabelas, gráficos e figuras