António Torrado escreveu e Cristina Malaquias ilustrou
Era o mais pequeno da escola e chamavam-lhe Polegarzinho. Ele, que era
Paulo de nome, não gostava. Com razão. E, sempre que podia, repontava: - Sou Paulo, ouviram, seus idiotas? Isto era dito com cara de poucos amigos. Na verdade, não tinha nenhum. Os mais altos e os menos altos e birravam com ele, porque se dizia que o Paulo Polegarzinho tinha mau feitio. Claro que se fossem eles a ser alcunhados de Polegarzinho, Minorca, Meia Leca, não haviam de gostar. Até que apareceu na escola um outro menino do tamanho do Paulo, se não mais pequeno ainda. A professora perguntou-lhe: - Como te chamas? - Mindinho, minha senhora - respondeu o moço, a rir. Toda a aula se riu com ele. Até a professora. O Mindinho, que também se chamava Pedro, era um miúdo feliz. À sua volta, espalhava alegria. Só de olhar para ele, um pitorrinho remexido e sempre risonho, ficava uma pessoa bem-disposta. Nem se reparava se era ou não o mais curto da aula. O Paulo Polegarzinho que, a princípio, o achava uma migalha insignificante, ainda mais baixo do que ele, começou a chegar-se ao recém-vindo, com uma invencível curiosidade, daquelas de carregar o sobrolho. - Tu não te importas de ser Mindinho? - perguntou-lhe o Polegarzinho. Estava à vista que não se importava. Até tirava partido. - Sou o Mindinho - dizia ele -, mas estou a estudar para fura-bolos. E tu, ó Polegarzinho, não queres vir a ser o Meu Vizinho? O Paulo Polegar queria, mas acanhou-se. Ainda esteve um tempo a observar o parceiro, a avaliar-lhe os dons que o tornavam o mais popular da aula. Acabou por alinhar no jogo. Quando um dos altarrões lhe perguntava: - Como é que se está aí em baixo, Polegarzinho? - Mal, muito mal - respondia ele. - Porquê? - Porque, aqui em baixo, sei que cheiras mal dos pés e tu, aí em cima, não dás por isso. Com estas e outras saídas, foi desarmando os mais matulões. E, se havia bulha, fintava-os com mais ligeireza do que muitos pesos-pesados. Mindinho e Polegarzinho cresceram, mas o pulo que o Polegarzinho deu dele para fora, esse é que foi importante. Graças ao exemplo do Mindinho, descobriu que, a rir, conseguimos sempre saltar por cima de nós próprios.