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Marcus Yinicius Lunguinho

Mariana Santos de Resenes


Esmeralda Vailati Negrão

Introdução

Neste artigo apresentamos os passos básicos para a condução


de urna pesquisa em Sintaxe Gerativa. O objetivo é introduzir o leitor,
futuro pesquisador, nessa promissora área de investigação, que tem
contribuído muito para aumentar o nosso conhecimento sobre as
propriedades da linguagem humana e das línguas do mundo. Como
veremos, na perspectiva gerativa, a linguagem é entendida como um
objeto biológico e, por conta dessa concepção de linguagem, resul-
tam urna maneira diferente de encarar os fatos Iinguísticos, uma II
maneira peculiar de oferecer-lhes um tratamento, bem como uma

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maneira própria de formular as perguntas que a pesquisa nesse campd\ A adoção de uma perspectiva biolinguística,' ou seja, a as-
visa a responder.
sumpção de que a linguagem é parte da genética humana, acarreta a
O artigo se organiza da seguinte maneira. Primeiramente: reintrodução, nos estudos Iinguísticos da busca de propriedades
apresentamos a perspectiva biológica para a linguagem que se inicia? universais: apesar de haver inúmeras línguas no mundo, superficial-
com a Teoria Gerativa e descrevemos como é a arquitetura da ..' mente diferentes entre si, todas elas devem ser, em um nível mais
gramática proposta pela teoria. Depois, mostramos a metodologia?: profundo de análise, bastante aparentadas, pois surgiram a partir da
para obtençã? dos dados linguísticos nessa abordagem te6rica. Na' mesma base biológica. Dito de outra maneira, apesar das diferenças
constatadas observacionalmente, todas as línguas humanas, por hi-
sequência, apresentamos em linhas gerais a Teoria de Princípios e
pótese, devem partilhar propriedades comuns. Além disso, de,:,ido ao
Parâmetros, quadro teórico que embasa a pesquisa em Sintaxe Gera- .:
fato de o locus da linguagem ser a mente humana, estamos lidando
tiva, Por fim, dedicamos um espaço para a discussão de fatos empí-
com uma perspectiva intemalista: a linguagem está centrada na
ricos sob uma perspectiva intralinguística. Com isso, mostramos mente e não fora dela.'
como os diversos m6dulos da Teoria de Princípios e Parâmetros
Como dissemos, a Faculdade da Linguagem é entendida como um
podem ser mobilizados para a explicação desses fenômenos.
órgão que se desenvolve a partir de um estágio inicial, comum à espécie
numana e invariante. Esse estágio comum é a Gramática Universal. A
criança, na época de aquisição de língua, em contato com os dados
A Teoria Gerativa: uma perspectiva biolingufstica, linguísticos do ambiente, desenvolve um sistema de conhecimento linguís-
universalista e interna lista para o estudo da linguagem tico, ou seja, um conhecimento gramatical de uma das possíveis organiza-
ções da Gramática Universal, que corresponde a uma língua tal como
entendida no senso comum: português, inglês, karitiana ...
A Teoria Gerativa trata a capacidade para a linguagem como
uma característica dos seres humanos, parte integrante de sua biolo- Um dos argumentos para comprovar a existência dessa estru-
turainata, humana e universal é o argumento da pobreza do estimulo.
gia. Essa capacidade de desenvolver língua se deve à existência de
Esse argumento está intimamente ligado ao processo de aquisição de
uma Faculdade da Linguagem, um componente da mente/cérebro
língua pela criança e pode ser formulado como a seguir. As crianças,
dedicado exclusivamente à linguagem (Chomsky 1986, 1998). Essa
quando em fase de aquisição de língua, estão expostas a um ambiente
faculdade é ainda caracterizada como sendo "restrita à espécie hu- linguístico composto por estímulos pobres, tais como fragmentos de
mana e comum aos membros da espécie" (Chomsky 1988, p. 35). semeaças, pensamentos incompletos, erros de desempenho, misturas
Conceber a Faculdade da Linguagem dessa maneira implica dizer de estruturas, frases malformadas, sentenças artificialmente simpli-
que apenas os seres humanos são capazes de adquirir o conhecimento ficadas. A despeito de esse ser o caráter do estímulo recebido pelas
de uma língua e que o processo de aquisição de língua não é crianças, elas desenvolvem muito rapidamente um sistema de conhe-
influenciado por distinções de etnia, gênero, classe ou qualquer outra cimento rico e complexo sobre sua língua, conhecimento esse que se
variável social ou geográfica, ou seja, desde que esteja exposta a um
ambiente linguístico apropriado,qualquer criança (salvo casos pato-
1, Para uma discussão da abordagem biolinguística, consultar Jenkins (2000).
lógicos) pode adquirir (a gramática de) uma língua. 2. Em Chomsky (2000), o leitor encontrará uma discussão sobre a perspectiva
intemalísta no estudo da linguagem.

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revela quando essas crianças passam a produzir sentenças nurca determinando as perguntas a serem respondidas pela investigação. A
antes ouvidas em seu ambiente linguístico. Como explicar esse fan? perspectiva biolinguística, a universalidade e o intemalismo no estu-
A única maneira de explicar satisfatoriamente a aquisição da Iíngia do da linguagem trouxeram à luz a questão do lugar do componente
pela criança é supor que já exista algo na sua mente, a Faculdade da linguístico e de sua relação com os demais componentes na arquite-
Linguagem, uma espécie de planta arquitetõnica biológica que opera tura da mente humana.
sobre dados primários limitados e constrói um sistema de conheci- Entender e explicar como certa combinação de sons em
mento linguístíco, altamente organizado e distinto desses dacbs palavras, e de palavras em sentenças, é capaz de gerar sentidos, foi
iniciais, tantb em quantidade quanto em qualidade (Chomsky 1986). sempre uma questão central para os estudos linguísticos. Para a
Face às perspectivas teóricas adotadas, o grande projeto de Teoria Gerativa, a mente humana é modular, ou seja, diferentes
investigação gerativista é descrever e explicar as propriedades dessa componentes são responsáveis por diferentes capacidades cogniti-
Gramática Universal. Qual é a natureza desse conhecimento inao vasoA resposta que essa teoria modular deu à questão sobre a relação
que nos habilita a desenvolver uma língua humana? Mesmo quando entre som e sentido é a de que os cotnponentes externos à Faculdade
estamos analisando aspectos da gramática de uma língua particular, da Linguagem, quais sejam, o componente articulatório-perceptual,
digamos, o português, o nosso principal foco é descrever essa língra responsável por dar à linguagem sua expressão externa (sonora,
pensando em como ela pode nos apresentar traços da Gramãtíaa gestual), e o componente conceptual-intencional, responsável por lhe
Universal. A perspectiva universalista fez com que a pesquisa se dar sua face conceitual, são mediados pela sintaxe, entendida como
transformasse em um grande projeto coletivo, com um grande Cal- . um componente computacional. Esse componente computacional,
junto de línguas sendo estudadas, pois quanto mais línguas são responsável pela combinação dos itens lexicais em sentenças, envia
descritas, maiores são as chances de manter ou refutar hipóteses solre material para ser "lido" tanto pelo componente articulatõrio-
a natureza da Gramática Universal. A adoção dessas novas hipóteses perceptual quanto pelo componente conceptual-intencional. O pro-
pelo programa de pesquisa gerativo instaura, nos estudos sobre a duto gerado pelo componente computacional, portanto, precisa
sintaxe, uma nova ótica. Por outro lado, o forte engajamento tO conter todas e somente as informações possíveis de serem interpre-
projeto gerativista por parte de linguistas interessados na descrição tadas pelos componentes que lhe fazem interface. Dessa maneira,
das mais diferentes línguas naturais teve um grande impacto nos podemos dizer que os princípios integrantes do componente compu-
estudos sobre a sintaxe, especialmente porque ela tem um lugar tacional são apropriados para satisfazer as exigências das ínterfaces.
central nessa teoria. A investigação da sintaxe das línguas naturais, Sendo assim, para fazer pesquisa em sintaxe dentro do projeto
portanto, muito se beneficiou com o desenvolvimento das pesquisas gerativista, é necessário construir, a partir de material empírico
dentro do projeto gerativista. adequado, um modelo do que seja esse componente computacional,
ou seja, um modelo de gramática composto por um conjunto de
princípios capaz de explicar o conhecimento linguístico contido na
A linguagem e a mente humana: as interfaces mente de cada falante, que lhe permite produzir e compreender as
sentenças possíveis e distingui-ias das sentenças impossíveis de sua
Teorias são lentes que nos permitem enxergar fenômenos não língua.
observáveis a olho nu, mas que, ao mesmo tempo, formatam os
objetos a serem analisados a partir das perspectivas assumidas,

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Metodologia de geração de dados
língua seja sua língua materna. Ele mesmo vai gerar os dados que
servirão de base a sua análise e essa análise vai refletir seus julga-
Qual a natureza dos dados que o sintaticista gerativista usa na mentos. Em geral, sempre se consultam outros falantes nativos, com
sua pesquisa? Para responder a essa questão, tomemos como nonto ... /.:: vistas a averiguar se há uniformidade ou não em relação aos julga-
de partida os dados a seguir: mentos. Além da consulta a outros falantes nativos, dados de corpus
também são às vezes utilizados na línguística brasileira como fonte
(1) a. A Maria leu o livro na cama. para controlar possíveis vieses de dados introspectivos. S No entanto;
b. *A leu Maria na livro cama o. devemos ter em mente que um corpus sempre é limitado e fragmen-
tado, porque ele consiste em manifestações de uma capacidade para
a linguagem, capacidade esta que é o objeto de estudo desta teoria.
Se perguntarmos a falantes de português o que eles acham das
Nem sempre todas as estruturas possíveis de uma língua estarão
sentenças acima, certamente eles serão unânimes em dizer que elas
presentes em uma dada amostra. Por exemplo, às vezes um determi-
têm estatuto diferenciado. Enquanto a sentença (ta) é uma sentença
nado fenômeno não é muito usual, mas, mesmo assim, é um fenôme-
normal do português, a sentença (1b) não é, apesar de conter as
no da língua. Se formos a um corpus e não encontrarmos dados que
mesmas palavras que (Ia). Introduzindo um pouco de terminologia,
mostrem esse fenômeno, o que diremos? Que ele não faz parte da
dizemos que (Ia) é uma sentença gramatical e (lb) é uma sentença
língua? Não! A frequência de um dado pode não ser alta em um
agramatical, ou seja, uma sentença que não se conforma aos princí-
pios constitutivos das sentenças do português,' corpus, mas isso não implica que ele não seja gerado pela gramática
da língua em estudo e, consequentemente, considerado possível por
O que fizemos foi um experimento simples denominado juízo seus falantes. Além do mais, em um estudo sintático, sentenças
de gramaticalidade. Esse tipo de experimento nos revela que os
agramaticais podem nos ensinar muito sobre um dado fenômeno
falantes têm um conhecimento inconsciente sobre o que é gramatical
linguístico. Se nossa análise for baseada unicamente em amostras de
ou não em sua língua (independentemente de instrução ou escolari- dados da língua atestados em um corpus, essas sentenças jamais
dade). Esse saber é o que chamamos de competência linguístíca."
aparecerão e nada poderemos dizer sobre elas. Com os julgamentos
Grande parte da pesquisa em sintaxe parte desse tipo de experimento de gramaticalidade, uma sequência de palavras é gramatical, ou
no qual testamos diferentes combinações de palavras com base na
agramatical e/ou marginal. Vejamos um exemplo que testa a grama-
intuição de um falante. Essa metodologia só é possível quando há tícalidade de certas orações reduzidas de partícípio."
falantes nativos de uma língua para compartilharem com o pesquisa-
dor os seus julgamentos de gramaticalidade. Imaginemos o caso de
(2) a. Chegada a encomenda, a Maria ficou feliz.
um estudo sobre o português brasileiro (doravante PB). Nesse cená-
b. Chegados os convidados, a Maria ficou feliz.
rio, o próprio pesquisador pode ser o informante, desde que essa
c. ?Chegado o João, a Maria ficou feliz.
d. *Trabalhado o João, a Maria ficou feliz.
3. Sentenças agramaticais são sinalizadas na escrita por meio do asterisco.
Voltamos a esses exemplos posteriormente.
5. Perini e Othero (2010) trazem uma discussão sobre o papel da intuição e do
4. Sobre a competência linguística, conferir Lobato (1986), Raposo (1992),
Negrão, Scher e Viotti (2002). corpus na pesquisa linguística,
6. Esses dados serão retomados em seções posteriores.

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gularidades parciais em padrões observados. Mas não existem
Os juízos de gramaticalidade são claros em relação às combi-
técnicas para tentar descobrir informações que poderiam ser
nações (2a-b) e (2d): os falantes serão unânimes em dizer que esta ~
pertinentes para responder perguntas, teoreticamente determi-
uma sentença agramatical, enquanto aquelas serão tidas como gra"
nadas, sobre a natureza da linguagem. Esse é um ato criativo.
maticais. Os julgamentos vão flutuar em relação à sentença (2c), que"
para alguns será gramatical, enquanto que para outros será agrama-
tica1 ou marginal.'
A gramática e a pesquisa na perspectiva de Princfpíos
Aspectos sintáticos também podem ser abordados em uma,
e Parâmetros: variação paramétrica e microparamétrica
dimensão díacrôníca," Nesse caso, não poderemos contar com o
auxílio dos falantes nativos para julgar os dados. Nesse tipo de,
pesquisa, a análise de um corpus é essencial, uma vez que a única" Tendo apresentado a nossa concepção de linguagem, o lugar
maneira de acessarmos a gramática de uma fase mais afastada de uma a partir do qual pesquisamos o fenômeno linguístico, bem como a
língua é por meio dos documentos escritos; eles são, os únicos nossa metodologia de obtenção de dados, nosso objetivo nesta seção
testemunhos dessa fase e vai ser com base nesses documentos que é mostrar aspectos da teoria que servem de base para a exemplifica-
pesquisa vai ser desenvolvida. Mesmo nesse caso, devemos estar ção do fazer analítico na perspectiva teórica desenvolvida neste
atentos para as limitações do corpus: as afirmações feitas devem ser artigo: a Teoria de Princípios e Parâmetros.
sempre relativizadas e consideradas a partir do universo desse corpus A Teoria de Princípios e Parâmetros surge no começo dos
selecionado para a análise. anos oitenta com uma visão totalmente nova para a arquitetura da
Para fechar essa seção referente ao tipo de dados empregados gramática, que é encarada como a combinação de um conjunto
na pesquisa em sintaxe, apresentamos uma citação de Chomsky modular e finito de princípios e parâmetros. Os principios são trata-
(2006, pp. 157-158, cortes nossos): dos como leis gerais a que toda língua humana deve obedecer. Seu
uso como entidade teórica nos possibilita captar a uniformidade entre
São as experiências que pesam, e as bem projetadas são as' as línguas humanas: apesar da diferenciação superficial. todas elas
que se ajustam a uma teoria sensata, são aquelas que forne- compartilham algo, os princípios. Os parãmetros, por sua vez, são
cem as informações que têm importância, não as que você entendidos como opções restritas que são acionadas com base na
simplesmente encontra por acidente. Até bem recentemente, interação da criança com os dados linguísticos primários presentes
não era assim que se praticava a linguística, Quando eu era no seu ambiente linguístico. Nessa perspectiva, os parâmetros são o
estudante, a ideia geral era conseguir um corpus e tentar lugar de variação entre as línguas," Clarifiquemos como atuam os
erganízã-lo, para fornecer uma descrição estrutural dele. O princípios e parâmetros por meio de um exemplo.
corpus podia ser modificado perifericamente por procedi-
Entre os princípios propostos, existe um denominadoPrind-
mentos metodológicos de campo - "técnicas de elícítação"
pio de Projeção Estendido, 10 segundo o qual "todas as sentenças das
projetadas, basicamente, para determinar o alcance das re-

7. Sentenças marginais são marcadas na escrita com o sinal de interrogação. 9. Kato (2002) é um texto que detalha a história da noção de parâmetros dentro
8. O livro organizado por Roberts e Kato (1993) traz artigos que ilustram da Teoria Gerativa.
pesquisas díacrônicas utilizando o arcabouço da Teoria Gerativa. 10. Também conhecido pela sigla EPP. do inglês Extended Projection Principle.

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(.

línguas têm uma posição de sujeito". Com a postulação desse prin- de pesquisa, que Kayne (1996) denominou de perspectiva micropa-
cípio, damos um passo em direção à caracterização das propriedades' ramétrica. Enquanto a abordagem macroparamétrica se volta para
da Gramática Universal. Sabemos, porém, que as línguas apresentam discutir semelhanças e diferenças entre línguas geneticamente rela-
variações quanto à realização de constituintes nessa posição, COm() cionadas ou não, a abordagem microparamétrica se volta para discu-
podemos ver nos exemplos abaixo, extraídos de Roberts e Holmberg tir semelhanças e diferenças entre línguas próximas e geneticamente
(2010, p. 4): relacionadas. Esse tipo de investigação tem impulsionado, no Brasil,
pesquisas que buscam caracterizar as diferenças entre a sintaxe do
(3) a. Habla espaãol, (espanhol) PB e a do português europeu (daqui em diante, PElo Os resultados
b. Milla ellinika. (grego) têm mostrado que, apesar de haver certa semelhança superficial entre
c. ParIa italiano. (italiano) essas línguas, suas gramáticas diferem em um. grande conjunto de
d. *Parle français. (francês) propriedades sintãtícas." Um exemplo dessa diferença tem a ver com
e. *Speaks English. (inglês) o modo como elas se filiam ao Parâmetro do Sujeito Nulo. Uma
sentença como (4), com sujeito não realizado abertamente, tem
ocorrência restrita no PB falado, em contraste com sua ampla acei-
Os dados em (3) nos trazem mais uma informação: a de
tação no PE. Já a sentença (5) é frequente em ambas as línguas:
algumas línguas podem omitir o sujeito (espanhol, grego e italiano)
enquanto outras não podem (inglês e francês). Essa diferença super-:
ficíal entre as línguas motivou a formulação de um conjunto de (4) Fala português.
propriedades que ficou conhecido como um parâmetro: o Parâmetro •... (5) O Paulo disse [que fala português].
do Sujeito Nulo. I I
Como dissemos acima, a noção de parâmetro trouxe uma nova No entanto, PB e PE diferem quanto às possibilidades inter-
forma de explicar a variação entre as línguas (variação translínguís- pretativas do sujeito nulo encaixado, subordinado, como em (5). No
PE, esse sujeito é interpretado como sendo [o Paulo] ou outro
tica). Ao considerar como foco de interesse a descrição de proprie-
referente dado discursivamente. Assim, (5) pode ser interpretada
dades mais abstratas que se manifestam na superfície, os parâmetros,
como: a) "o Paulo disse que ele mesmo fala português" ou b) "o Paulo
abriu-se um novo campo de pesquisa dentro da Sintaxe Gerativa: o
disse que a Ana/o João fala português". Já em PB, o referente do
da linguística comparativa/tipológica. Utilizando o exemplo acima,
sujeito nulo de (5) só pode ser [o Paulo]. Como podemos ver, as
o Parâmetro do Sujeito Nulo permite que se distribuam as línguas do possibilidades de realização do sujeito nulo no PB são mais restritas,
mundo entre dois pólos: as línguas de sujeito nulo ou línguas pro- tanto em termos de sua ocorrência (ele ocorre mais livremente em
drop (espanhol, grego e italiano) e as línguas de sujeito não-nulo ou contextos encaixados) quanto em relação a sua interpretação (ele
línguas não-pro-drop (inglês e francês). deve ser correferencial ao sujeito da sentença matriz).
Essa perspectiva comparativa é chamada de perspectiva ma-
croparamétrica do estudo da sintaxe. Dela deriva uma nova subárea

12. Sobre as pesquisas desenvolvidas em Sintaxe Gerativa no Brasil, consultar


11. Ver Chomsky (1981,1986), Rizzi (1982) e Jaeggli e Safir (1989). Kato e Ramos (1999) e Kato (1999).

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Um fato, no entanto, deve ser ressaltado. Não são todos os é a análise de aspectos gramaticais de línguas particulares. Somente
tipos de sujeitos nulos que têm ocorrência restrita no PB. Sujeitos a partir dessa análise é que podemos comparar línguas. A análise de
como os de (6) não sofrem restrições: um fato gramatical de uma língua particular se chama análise intra-
linguística e é um passo importante para o nosso objetivo maior de
(6) a. Choveu muito no feriado.
entender as propriedades da Gramática Universal. Nesta seção, apre-
b. Tinha várias pessoas na festa.
sentaremos dois exemplos de pesquisa intralinguística. Abordaremos
c. Não tá mais contratando gente nessa empresa.
dois fatos sintáticos do PB, um do domínio verbal com repercussões no
d. Telefonou aí da Telefônica para você.
domínio gramatical e um conjunto de fenômenos que afeta o chamado
Por ainda conservar um tipo específico de sujeito nulo, não domínio discursivo da sentença. A partir desses exemplos, tentaremos
podemos dizer que o PB se alinha nem às línguas de sujeito nulo mostrar como os diversos m6dulos da Teoria de Princípios e Parâmetros
prototípicas (como o PE, espanhol, italiano) nem às línguas de sujeito podem ser mobilizados para a explicação desses fenômenos. Antes de
não-nulo genuínas (inglês, francês). Em virtude disso, tem-se classi- abordarmos esses fatos, apresentamos uma noção muito importante para
ficado essa língua entre as línguas de sujeito nulo parcíal." a pesquisa em sintaxe: a noção de constituinte.
A perspectiva paramétrica não só possibilitou que propriedades
nunca antes percebidas tenham agora reconhecido o seu papel funda-
A análise em constituintes imediatos:
mental na sintaxe das línguas naturais, como também que a correlação
a noção de estrutura segundo a Teoria X-barra
de feixes de propriedades nunca antes caracterizadas como ínterdepen-
dentes seja agora estabelecida. Assim, a mudança em uma dessas
o estudo da sintaxe nos permite entender como as línguas
características desencadeia a mudança no conjunto de propriedades a
naturais estruturam/organizam suas sentenças, visando, com isso, a
ela associadas, com consequências para todo o sistema. descrever e explicar o conhecimento linguístico inato de todo falante,
bem como a dar conta das gramáticas das línguas particulares. Como
Um exemplo de análise intralingu(stica: vimos nos dados em (1), renumerados aqui como (7), não é qualquer
a interação entre os módulos da gramática sequência de itens lexicais que pode formar uma sentença:

Na seção anterior, pudemos ver como o sujeito nulo se mani- (7) a. A Maria leu o livro na cama.
festa na dimensão paramétrica e na dimensão microparamétrica. Um b. *A leu Maria na livro cama o.
requisito essencial para a discussão de parâmetros e rnicroparâmetros
A agramaticalidade de (7b) nos mostra que a competência
linguística do falante de português impõe condições às possibilidades
13. Sobre o sujeito nulo doPB há uma vasta literatura. Para saber mais, sugerimos de combinação dos itens lexicais. Esses itens têm que ser combinados
a leitura dos seguintes trabalhos: Negrão (1986), Duarte (1995), Figueiredo de uma determinada maneira, formando em constituintes menores,
Silva (1996), Ferreira (2000), Modesto (2000), Rodrigues (2004) e Barbosa,
também chamados de sintagmas, que, por sua vez, se articulam uns
Duarte e Kato (2005). Os artigos contidos no livro organizado por Kato e
Negrão (2000) são todos voltados à descrição e análise do PB sob a ótica do
com os outros, segundo uma estrutura hierárquica bem definida, para
Parâmetro do Sujeito Nulo. formar a sentença. Sentenças ambíguas têm sido frequentemente

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utilizadas na literatura gerativista como evidência para sustentar essa Outro exemplo em que podemos atestar a presença de uma
hipótese de organização hierárquica. Manipulações sintáticas como fé estrutura hierárquica regulando a combinação dos constituintes de
o deslocamento (por meio da topicalização de constituintes, e da . uma sentença é mostrado em (10):
apassivação), a clivagem e a substituição de constituintes por pró-
formas (pronomínalização) explicitam, de maneira inequívoca, quais (10) a. O João disse que ele vai chegar atrasado.
sequências de itens lexicais de uma sentença formam um constituinte b. Ele disse que o João vai chegar atrasado.
e quais não. Para ilustrar, tomemos uma sentença ambígua clássica
como (8): Apenas quando o constituinte [o João] ocupa uma posição
hierarquicamente superior ao pronome [ele], como em (lOa), este
(8) O juiz julgou a ré culpada. último pode ser correferente com aquele. Por outro lado, em (lOb),
[ele] deve fazer referência a outro indivíduo diferente de [o João],
A ambiguidade dessa sentença advém da possibilidade de ela ou seja, por estar em urna posição hierarquicamente inferior, o
estruturar seus constituintes de duas maneiras diferentese, assim, representar constituinte [o João], nesse caso, não está acessível para funcionar
duas estruturas sintáticas distintas. Uma é aquela em que [a ré culpada] como antecedente do pronome [ele].
forma um ünico constituinte, tendo a interpretação de que o juiz julgou Para dar conta, em um modelo formal, do fato de que as
a ré que era culpada. Já a outra é a aquela em que [a re1 e [culpada] sentenças das línguas são compostas por constituintes relacionados
formam dois constituintes disjuntos, tendo a interpretação de que o juiz segundo certa hierarquia e de que esses mesmos constituintes têm
julgou que a ré era culpada. Portanto, o que interpretamos é, crucialmen- uma estrutura interna própria, a Teoria Gerativa propôs um arcabou-
te, uma estrutura. Daí a relação entre som e sentido não ser direta, mas ço geral abstrato que explicita tal organização, denominado esquema
mediada pela sintaxe. Para explicitar essas duas possibilidades de estru- X-barra. A Teoria X-barra, como ficou conhecida, é, portanto, o
turação sintática e, consequentemente, as leituras associadas a cada uma modulo da gramática que estrutura hierarquicamente os constituintes
delas, exemplificamos com uma das manipulações mencionadas acima, e as sentenças sob um mesmo esqueleto, esqueleto esse comum a
a clívagem;" todas as línguas. Com a Teoria X-Barra, a sintaxe das línguas é
fundamentalmente uniforme, e as diferenças entre elas ficam resu-
(9) Clivagem midas ao léxico, à morfología e a opções paramétricas que resultam,
a. Foi [a ré culpada] que o juizjulgou ~ constituinte: por exemplo, em operações de movimento sintático.
[a ré culpada] Os objetivos da Teoria X-barra são explicitar a natureza e a
b. Foi [a ré] que o juiz julgou [culpada] ~ constituinte: estrutura interna dos constituintes, as relações que eles podem esta-
[a re1 belecer uns com os outros e a organização hierárquica que há entre
eles, segundo o esquema abstrato representado em (11):15

14. O leitor encontrará em Mioto, Figueiredo Silva e Lopes (2004) e em Franchi,


Negrão e MUller (2006 a e b) mais exemplos de como utilizar testes para 16. Na estrutura X-barra em (li), YP simboliza a posição de complemento, ZP a
detecção de constituintes. de especificador e WP a de adjunto.

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(11) A um sistema recursivo, o que lhe permite gerar um número ilimitado

AWP de sentenças. A recursividade se dá, nesse modelo, via encaixamento


de uma projeção máxima como constituinte de outra projeção mãxi-
ma e assim sucessivamente. O fato de as relações entre os constituiu-
ZP x' tes serem locais acarreta um princípio de economia muito importante

A
XO YP
para regular a computação das expressões linguísticas, dada essa
natureza recursiva das línguas. Portanto, a explicação de como um
mecanismo finito, formalizado de uma maneira "enxuta", pode dar
De acordo com a Teoria Xbarra, todo constituinte tem uma i;; conta de uma infinidade de expressões linguísticas é, sem dúvida,
estrutura interna comum, independentemente de sua natureza categorial,:'" uma grande contribuição que o estudo linguístico em um modelo
o que implica que qualquer núcleo pode projetar e formar um constituinte ,', formal, como o da Teoria Gerativa, trouxe para os estudos sintáticos.
com a mesma estruturação: x.o
em (11), acima, pode ser N (nome),'V ,
Nessa busca por mecanismos, é importante também mencio-
(verbo), A (adjetivo), P (preposição), D (detenninante), T (tempo), c .i
narmos que, na perspectiva da Teoria de Princípios e Parâmetros, não
(complementizador) etc." Outra característica do esquema X-barra é sua atribuímos estatuto teórico à noção de construção gramatical. Sendo
composição em três níveis de projeção sintática: como podemos observar assim, não existem mecanismos específicos que geram construções
em (11), todo constituinte é formado por um nível mínimo (o núcleo), específicas - o que acarretaria um modelo menos econômico para a
também chamado de nível zero (X), por um nível intennediário ou linha gramática. O que denominamos construção, na realidade, é o resul-
(X') e por um nível máximo (o xp).17 Quanto às relações entre os
tado da atuação de certas propriedades dos itens lexicais com os
constituintes, elas são muito reduzidas (mínimas) e locais: um sintagma
princípios de cada subteoria ou módulo da Teoria de Princípios e
pode funcionar ou como argumento ou como adjunto. Ele é argumento se Parâmetros. Denominações como "sentença ativa", "construção pas-
selecionado por um núcleo; caso contrário, s6lhe resta ser adjunto. siva", "oração relativa", entre outras são termos descritivos, sem
Como podemos ver no esquema acima, a ramificação da estatuto teórico algum. Usamos' essas denominações apenas por
árvore é sempre binária. Essa ramificação é fruto de uma hipótese, a comodidade, sem a elas atribuir nenhum estatuto teórico .. Nossa
Hipótese da Ramificação Binária, segundo a qual um constituinte é tarefa é definir como, a partir da atuação dos princípios de certas
sempre o resultado direto da combinação de dois outros constituin- subteorias e de sua interação, chegamos a um resultado que podemos
tes." Esse modo de organização captura uma propriedade importante denominar "construção passiva" ou "oração relativa".
da linguagem humana: a recursividade. O conhecimento linguístico
que todo falante de uma língua natural tem, sua gramática interna, é
Analisando o domFnio verbal e o domFnio
gramatical: os verbos monoetgumentei«
16. A condição de todo sintagma ser sempre projeção do seu próprio núcleo ficou
conhecida como o Principio de Endocentricidade. Já dissemos que, para a Teoria Gerativa, a sintaxe atua como
17. A letra P vem do inglês phrase (Síntagma). um sistema computacional que serve para combinar as palavras em
18. É claro que essa árvore não está propriamente na mente do falante. Ela é um constituintes e estes em constituintes maiores, as sentenças. Além do
gráfico abstrato para formalizar as relações entre constituintes, estas sim, parte sistema computacional, a gramática contém um léxico, que é o lugar
do conhecimento linguístico do falante.

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onde os itens lexicais estão armazenados para, depois de seleciona- Além da informação sobre a natureza categorial, o léxico
dos, serem usados pelo sistema computacional. O léxico organiza os também informa, para cada item lexical, o número e o tipo de
itens lexicais em termos de dois grupos de categorias: as categorias argumentos que esse item pode selecionar para com ele formar um
funcionais e as categorias lexicais. As categorias funcionais são constituinte. O conteúdo extralinguístico que as categorias lexicais
aquelas cujo inventário é restrito e que apresentam apenas conteúdo trazem para uma sentença se relaciona com a noção intuitiva de cena
linguístico, significado gramatical. São elas: os determinantes (arti- que a sentença descreve." Quando um núcleo lexical seleciona um
gos, possessivos, demonstrativos), a flexão verbal, os complementí- dado argumento para com ele compor uma cena, essa seleção é
zadores (conjunções), as preposições" e o aspecto. As categorias determinada pelo tipo de relação semântica que se estabelece entre
lexicais são as classes abertas, portadoras de informaçãoextralin- o núcleo e o(s) seu(s) argumentoís), Essa relação semântica vai
guística, e capazes de selecionar semanticamente outros constituintes determinar o tipo de papel semântico que o argumento desempenhará
com os quais se combinam para a formação das sentenças. São elas: nessa cena, um papel temâtico. Com a introdução da noção de papel
os nomes, os verbos, os adjetivos e os advérbios. temático, a Teoria de Princípios e Parâmetros passa a contar com
Vejamos como se dá a interação entre o léxico e a sintaxe a mais um módulo: a Teoria dos Papéis Temâtloos (ou Teoria Teta).
partir de um estudo de caso de uma das categorias, o verbo. As Ela assegura a construção de sentenças gramaticais por conter um
gramáticas tradicionais entendem o verbo como uma categoria que, princípio que estabelece que as sentenças devam conter todos e só os
sintaticamente, se distribui entre três classes: verbos transitivos, argumentos previstos pela semântica de um núcleo lexical. Nos
verbos intransitivos e verbos de ligação. Os verbos transitivos e os exemplos acima, os verbos selecionam de zero a três participantes e
intransitivos podem constituir núcleos de predicado, ao passo que os seus padrões de seleção semântica são apresentados abaixo:"
verbos de ligação não. Focalizemos mais nossa atenção nos verbos
transitivos e intransitivos dos exemplos abaixo: (13) a. chover: nenhum argumento
(12) a. A Maria lavou a roupa. b. lavar, gostar: dois argumentos - agente/experiencia-
(verbo transitivo direto) dor e tema/paciente
b. As crianças gostam de chocolate. c. dar: três argumentos - agente, tema/paciente
(verbo transitivo indireto) ealvo/meta
c. O carteiro deu o pacote para a Ana. d. chegar: wn argumento - tema/paciente
(verbo transitivo direto e indireto) e. trabalhar: um argumento - agente
d. A encomenda chegou.
(verbo intransitivo)
e. O João trabalhou.
(verbo intransitivo) 20. Para saber mais sobre essa noção intuitiva de cena e seu papel na seleção
f. Choveu muito ontem. argumental por parte de outros tipos de categorias lexicais, ver Negrão, Scher
(verbo intransitivo) e Viotti (2003).
21. Para uma discussão e uma tipologia dos papéis temãticos, consultar Raposo
(1992), Haegeman (1994), Cançado (2003), Mioto, Figueiredo Silva e Lopes
19. SalIes (1992), Mioto (1998) e Berg (2009) tratam do estatuto das preposições em PB. (2004) e Soares e Menuzzi (2010).

136 137
Agora voltemos nossa atenção aos verbos intransitivos mo- mente, que no caso de um verbo transitivo é ocupada por um
noargumentais. Apesar de eles compartilharem a propriedade de constituinte que, por sua relação semântica mais próxima com o
selecionarem um único argumento, eles diferem em outros aspecto' verbo, é chamado de argumento interno (Al), e uma posição de
Por exemplo, em termos do tipo de papel temático de seus argumel13 cspecificador, ocupada por um constituinte chamado de argumento
tos, esses verbos se diferenciam, uma vez que há verbos monoargu- ' . externo (AE).22 Nesse caso, a posição de complemento de lavar é
mentais como chegar (morrer, nascer, crescer, cair, murchar, ocupada pelo argumento interno [a roupa], que recebe o papel temático
desabar, sair, aparecer, entre outros), que selecionam um argumento ' de tema/paciente; já a posição de especificador é ocupada pelo argumen-
23
tema/paciente, ehá verbos como trabalhar (gritar, cantar, pulare to externo [aMaria), que recebe o papel temático de agente.
pescar, rir, dançar; estudar assoviar, entre outros), que selecionatrt;. Agora estendamos aos verbos monoargumentais, a análise
um argumento agente. feita para os verbos transitivos, segundo a qual argumentos aos quais
Comparando o tipo de papel temático que o argumento dos i.i se associa o papel temático de tema/paciente vão ocupar a posição
verbos monoargumentais pode exibir com os papéis temáticos geral- ." de complemento no esqueleto estrutural gerado pelos princípios da
mente exigidos pelos argumentos de um verbo transitivo (agente, Teoria X-Barra, ao passo que argumentos aos quais se associa o papel
para o argumento em posição de sujeito e tema/paciente para o temãtico de agente vão ocupar a posição de especificador. Retoman-
argumento em posição de complemento), percebemos uma assime- do os resultados de nossa comparação entre os papéis temáticos
tria. Com verbos como chegar, o papel temático de seu único atribuídos por verbos como chegar e trabalhar a seus únicos argu-
argumento se alinha com o papeltemático do complemento do verbo mentos, chegamos à hipótese de que os verbos intransitivos monoar-
transitivo; já com verbos do tipo de trabalhar, o papel temâtico do gumentais se distribuem em duas classes: uma delas é composta por
seu único argumento se alinha com o papel temático do argumento
sujeito do verbo transitivo. 22. Isso pode ser comprovado pela ocorrência das expressões idiomáticas que, lias
Podemos formalizar essa nossa intuição utilizando a Teoria línguas naturais, são sempre construidas pelo verbo com o seu complemento
(conferir chutar o balde, pintar o sete, bater as botas, enfiar a faca, quebrar
X-Barra, apresentada na seção anterior. Comecemos por representar
o pau etc.), Por isso é mais apropriado dizer que o especificador é selecionado
a estrutura de um verbo transitivo: não só pelo verbo, mas pela combinação do verbo com o seu complemento, já
que o papel temático que ele recebe depende diretamente. do resultado
(14) combioatório desses dois elementos, como em (i):

Á'
AMaria V'
(i) a. A Maria tomou um café;
b. A Maria tomou o ônibus;
c. A Maria tomou uma chuva;

A V a roupa
d. A Maria tomou uma surra;
e. A Maria tomou uma decisão.
23. No modelo de gramática aqui apresentado, relações semânticas entre núcleos
lavar
lexícaís e seus argumentos na composição de uma cena não determinam as
relações sintáticas contraidas entre constituintes, uma vez que relações sintáticas
Conforme previsto pelo esquema X-Barra apresentado acima, são construidas a partir da configuração estrutural gerada pelos princípios da
o núcleo de um constituinte verbal projeta uma posição de comple- Teoria X-Barra. Para captar essa dissociação dizemos que um detenninado
constituinte ocupa uma posição sintática gerada pelo esquema X-Barra.

139
138
verbos ?o tipo de chegar, que selecionam um único argumento 119
Assim, os constituintes [o gato], [a carta] e [apedra] , quando
qual atribuem ~apel temático de tema/paciente, e esse único arguL.
selecionados como argumentos externos dos verbos em (16), geram
mento será projetado na posição de argumento interno; a outra é a d~'
ugramaticalidade, pois esses verbos exigem que esse argumento
ve~bos como trabalhar, que selecionam um único argumento ao qu~i
apresente propriedades semânticas compatíveis com um agente
atribuem papel temático de agente, que será projetado na posição db
prototípico, no caso, o traço [+humano], como o contido em [o João),
argumento externo. Suas representações são dadas a seguir: .
em (16a). Já para o constituinte selecionado como o argumento
interno dos verbos em (17) não pesam fortes restrições selecionais,
(15) a. verbos do tipo de trabalhar b. verbos do tipo de rh.,"o",j,\,,/) uma vez que esses verbos admitem síntagmas portadores de
VP VP diferentes traços semânticos como [+/-humano] e [+/-animado).

D(~' I V'
Outra evidência para a hipótese de que os verbos monoargu-
mentais não integram uma classe homogênea é o comportamento
I V V
/~ DP
diferenciado que exibem quando são nominalizados com o sufixo
agentivo _or.24 Sendo esse um sufixo agentivo, o resultado esperado
.: ..'
é que as nominalizações possíveis sejam apenas aquelas formadas a
. O trabalho de pesquisa em sintaxe realizado dentro do quadrO" .... partir de verbos do tipo de trabalhar, já que esses verbos exigem um
te6nco adotado neste artigo exige a apresentação de evidências que/,i argumento ao qual esteja associado o papel temático de agente. A
t?rnem essa hipótese plausível. Observemos o comportamento sintá- hipótese também prevê que as nominalizações formadas a partir de
tico des~es verbos frente a certos diagn6sticos. O primeiro consiste verbos do tipo de chegar gerem agramaticalidade. É justamente isso
em manípuíar os traços semânticos contidos no argumento selecio- que obtemos:
nado por cada subclasse de verbo monoargumental. Se atentannos
para as sentenças em (16-17) abaixo, perceberemos que apenas sobre (18) a. trabalhar - trabalhador; cantar - cantor; nadar-
o argu~e.n~o de ver~s como trabalhar pesam fortes restrições de nadador; correr - corredor.
compatibtlidade semantica: b. chegar - *chegador; cair - *caidor; nascer - *nascedor;
morrer - *morredor.
(16) a. O João trabalhou/pescou/cantouldançou/riu.
b. *0 gato/*a carta/*a pedra trabalhou/pescou/ Construções reduzidas de particípio também são um diagnós-
cantou/dançou/riu. tico revelador da cisão dos verbos monoargumentais em duas classes.
Mais ainda; essas construções corroboram a análise de que podemos
(17) a. O João/a encomenda/a carta/a crise/a torta chegou. atribuir duas estruturações diferentes a essas duas classes de verbos,
b. O João quadro/a pedra/o orvalho preço do dólar/ tal com em (15). Começando pela formação de reduzidas a partir de
a inflação caiu.

24. Esse teste e o próximo (comportamento dos verbos no contexto das orações
reduzidas de particípio) foram propostos para o português por Elíseu (1984).

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141
verbos transitivos, verificamos que essas construções só são
ti VOS. Se a classe dos verbos monoargumentais fosse homogênea, não
veis se construídas com seu argumento interno:
deveria haver esse contraste.
Um último diagnóstico, referente à ordem entre os constituin-
(19) a. A Maria lavou a roupa.
tes, corrobora nossa análise:
b. Lavada a roupa, a Maria\deitou e donniu.
c. *Lavada a Maria, ela deitou e dormiu.
(22) a. O inverno chegou. I Chegou o inverno.
b. As flores murcharam. ! Murcharam as flores.
Aplicando esse diagnóstico a nossas duas classes de c. O bebê nasceu ./ Nasceu o bebê.
monoargumentais, orações reduzidas de particípio só serão gr<lmé~tF
cais com verbos do tipo de chegar e não com verbos como trabajfhar:, (23) a. O João trabalhou.! *Trabalhou o João.
b, A plateia riu alto. / *Riu alto a plateia.
(20) a. O momento chegou. ~ Chegado o momento (certo )1, c. A Maria nadou. I *Nadou a Maria.
eles se casaram.
b. Os gêmeos nasceram. ~ Nascidos os gêmeos, os O argumento de verbos monoargumentais como trabalhar
se separaram. tem comportamento mais rígido com relação à posição em que pode
ocorrer na sentença. O argumento de verbos como chegar, por sua
(21) a. O João trabalhou. ~ *Trabalhado o João, o chefe vez, pode ocorrer tanto em posição pré-verbal quanto pós-verbal.
elogiou.
Agora que comprovamos a existência de duas subclasses
b. A Maria nadou. ~ *Nadada a Maria, todos nadaram. dentro da classe dos verbos intransitivos monoargumentais, podemos
caracterizar essa diferença chamando os verbos do tipo de chegar de
Como previmos, somente as sentenças em (20) são bem-for- inacusativos e os verbos do tipo de trabalhar, de inergatívos."
madas. Sendo assim, podemos comprovar a as simetria entre as duas Tendo apresentado argumentos para sustentar uma análise
classes de verbos monoargumentais e concluir que o único argumen- intralinguística que subdivide os verbos intransitivos monoargumen-
to dos verbos da classe de chegar deve ser projetado na posição de tais em duas classes, recorreremos, agora, a uma análise comparativa
complemento uma vez que ele apresenta comportamento semelhante que evidenciará que essa cisão não é um fato isolado do português,
ao dos constituintes que ocupam a posição de complemento dos mas é também observada em um conjunto-de línguas. Trazemos para
verbos transitivos (ver 19 a e b). Por outro lado, uma vez que as consideração outras línguas em que o reconhecimento dessas duas
construções reduzidas de particípio com verbos monoargumentais da classes advém de resultados sintáticos robustos: o italiano, o francês
classe de trabalhar geram agramaticalidade,25 tal como no caso dos e o alemão. Nessas línguas, o passado composto é formado sistema-
verbos transitivos em (19c), concluímos que esse único argumento ticamente com o uso de auxiliares, cuja seleção varia em função do
ocupa a mesma posição que o argumento externo dos verbos transi- tipo de verbo empregado: se o verbo lexical for um inergativo, o

25. Essa mesma explicação vale para os contrastes em (2).


26. A motivação para essa denominação será dada mais adiante.

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auxiliar usado é um equivalente de nosso ter/haver - avere (italiano) ..
Se o único argumento dos verbos inacusativos é um argumen-
avoir (francês) e haben (alemão);" se o verbo lexical for um inacu-
to interno, por que esse argumento não é realizado na posição de
~ativo, o a~xiliar é um equivalente de nosso ser - essere (italiano),
complemento, funcionando como o objeto direto? A resposta vem de
etre (frances) e sein (alemão). Em (24) fornecemos alguns dados
dessas línguas:" \ .: outro modulo da teoria que vai ser apresentado.
Como vimos, no português e nas línguas naturais, de maneira
geral, não podemos associar de maneira unívoca a posição ocupada
(24) Italiano
pelos constituintes na sentença (nem mesmo sua função sintática) com
e
a. Gianni *ha I arrivato. ('O João chegou')
o papel temãtico a eles associado por sua relação com o verbo. As línguas
b. Gianni ha/*ê lavorato. ('O João trabalhou')
do mundo utilizam diferentes mecanismos para tomar visível o papel
Francês semântico de cada constituinte integrante da cena descrita pela sentença:
c. Jean *a I est arrivé. ('O João chegou') umas utilizam meios morfológicos e outras, a sintaxe. Para tratar de uma
d. Jean a /*est travaiJlé. ('O João trabalhou') maneira geral e comum essa diversidade de mecanismos, a teoria
estabeleceu um conjunto de princípios integrantes de mais um dos
Alemão
módulos componentes do modelo de gramática gerativo: a Teoria do
e. Hans *hat / ist angekommen. ('O Hans chegou') Caso. De acordo com um dos princípios integrantes dessa subteoria, os
f. Hans hat I *ist gearbeitet. ('O Hans trabalhou') constituintes nominais precisam ser licenciados para poderem aparecer
na sentença e assim terem o seu papel semântico Interpretado. Isso se
Esses fatos dão suporte à cisão na classe dos intransitivos i faz por meio da atribuição de um Caso Abstrato a cada um desses
monoargumentais e mostram que essa cisão não é s6 um fato isolado) .... constituintes. Na proposta de Princípios e Parâmetros, três categorias
do português. ...
podem atribuir Caso aos sintagmas nominais: a categoria Tempo atribui
_ Uma pergunta fica no ar. Se os verbos monoargumentai~i Caso Nominativo, o verbo atribui Caso Acusativo e as preposições
constituem duas classes distintas, por que as sentenças que eles. atribuem Caso Oblíquo.
formam apresentam-se de forma idêntica, conforme atestam (12d) e Cabe ressaltar que a noção de Caso Abstrato deve ser distinguida
(12e)? Retomamos aqui as sentenças mencionadas como (25) para da noção de caso motfolôgico. Assume-se que todos os constituintes
conveniência do leitor: . nominais de todas as línguas naturais precisam ser portadores de Caso
Abstrato, ao passo que só em algumas línguas os constituintes nominais
(25) a. A encomenda chegou. exibem marcas de caso morfológico. Em latim, por exemplo, todos os
b. O João trabalhou. sintagmas nominais recebem um conjunto de sufixos conhecidos como
marcas morfol6gicas de caso, como em (26):

27. o auxiliar usado com verbos transitivos é o mesmo que se usa com os verbos (26) a. Petrus amat Mariam.
inergativos, já que ambos selecionam um argumento externo.
28. Os dados do italiano foram retirados de Figueiredo Silva e Mioto (2001), os
b. Mariam amat Petrus.
do francês foram extraídos de Mioto e Figueiredo Silva (2007) e os dados do c. Amat Petrus Mariam.
alemão provêm de McFadden (2007). 'O Pedro ama a Maria'

144
145
Em (26) vemos que os nomes variam em sua terminação, Essa' Voltemos, então, à questão que originou nossa discussão
variação é devida às diferentes desinências de caso presentes nas sobre a Teoria do Caso: se o único argumento dos verbos inacusativos
palavras latinas, mecanismo esse responsável por explicitar a funçãoj' é um argumento interno, por que esse argumento não é realizado na
gramatical de cada constituinte na sentença. Para a palavra Petrus, posição de complemento, funcionando como o objeto do verbo? Mais
essa desinência é -us (desinêncía de Caso Nominativo.sujeíto) e, para ..•.... ainda: o argumento interno dos inacusativos é licenciado pelo verbo
a palavra Maria, é -m (desínência de Caso Acusativo, objeto direto). ou pelo Tempo? Se compararmos o que acontece com o argumento
Independentemente da ordem dos constituintes na sentença latina, interno dos transitivos, que é licenciado pelo verbo, tenderíamos a
são as marcas de caso que evidenciam sua função sintática e, por pensar que é o próprio verbo inacusati vo que licencia o seu argumen-
conseguinte,permitem que realizemos a interpretação dos papéis to interno. Apesar de ser plausível, não é isso o que ocorre. Atentando
semânticos associados a esses constituintes. para as sentenças com verbos inacusativos, observamos que o seu
O português, ao contrário do latim, não dispõe de um sistema único argumento aparece realizado na posição de sujeito, concordan-
de marcação morfolõgica de Caso que explicite a marcação do Caso do com o verbo, o que demonstra que o seu lícenciamento é feito pela
Abstrato de seus constítuíntes," Por isso, a posição que os constituin- flexão (Tempo). Essa observação nos leva à caracterização de outra
tes ocupam na sentença é crucial para o reconhecimento do Caso propriedade que está na base da distinção entre as duas classes de
Abstrato que recebem. Ambas as línguas são iguais em relação à verbos monoargumentais, qual seja, a de que os verbos inacusativos
são incapazes de atribuir Caso Acusativo ao seu argumento interno,
exigência de atribuição de Caso Abstrato aos nominais para eles
daí a motivação para o nome que lhe foi atribuído." Essa incapaci-
poderem ser licenciados; elas diferem, contudo, quanto à expressão
dade acarreta que, para a sentença não violar o princípio de licencia-
morfológica do Caso. Com isso, concluímos que a expressão do Caso
mento de síntagmas nominais via Caso, o argumento dos verbos
Abstrato por meios morfológicos é outro parâmetro de variação
translinguística. inacusativos, gerado internamente, tenha que se deslocar para uma
posição em que ele possa ser marcado com Caso. Tal posição é a
Independente de como o reconhecimento do Caso de um mesma para qual se movem os argumentos externos de verbos
argumento' (ou "dos nominais") ocorre nas línguas, a atribuição transitivos e inergativos: a posição de sujeito da sentença, na qual os
casual proposta pela teoria é uniforme: no caso dos verbos transitivos constituintes recebem Caso Nominativo da categoria Tempo. Essa
diretos, duas categorias vão entrar em jogo para o licenciamento dos diferença pode ser atestada quando tentamos substituir um argumen-
argumentos: o próprio verbo licencia o Caso do argumento interno to interno por um pronome na forma acusativa. Fazendo a devida
como Acusativo, e o Tempo licencia o Caso do argumento externo substituição na sentença em (27a), cujo verbo é transitivo; e em (27b),
como Nominativo. cujo verbo é inacusativo, verificamos prontamente o contraste:
No caso dos verbos monoargumentais inergativos, seu único
(27) a. A Maria lavou [a roupa] ? A Maria a lavou.
argumento é licenciado por Tempo com Caso Nominativo, toman-
b. [A encomenda] chegou? *A chegou
do-se, assim, o sujeito da sentença.

30. Esses verbos tambémjã foram chamados de verbos ergativos. Os verbos que
29. Em português há apenas resquícios de marcação de caso morfológico no compõem a outra classe de intransitivos monoargumentais, por não terem as
sistema de pronomes: eu, tu (Nominativo); me. te (Acusativo); mim. ti propriedades de um verbo ergativo, foram classificados como inergativos, ou
(Oblíquo).
seja, não ergativos.

146
147
A proforma com resquício de marca de Caso Acusativo é sintática do sujeito da sentença. Com a introdução de Tempo como
barrada com verbos inacusativos, o que serve como evidência para a um núcleo sintático, as sentenças passam a ter dois níveis na sua
postulação de que esses verbos são incapazes de atribuir Caso Acu- representação estrutural: um nível temático que se estrutura ao redor
sativo para o seu argumento interno. Também por essa característica, da categoria lexical verbo e seus argumentos, o VP, e um nível
os verbos inacusativos se diferenciam dos inergatívos, uma vez que funcional, responsável pelos processos de concordância e atribuição
esses últimos têm a capacidade de atribuir Caso Acusativo, embora de Caso Nominativo.
não a utilizem. Essa capacidade, no entanto, fica visível se resgatar- Mas se o verbo projeta o VP e está mais abaixo na árvore,
mos os objetos cognatos que esses verbos admitem, como em (28): como ele acaba recebendo os traços de tempo e os traços flexionais
que, como dissemos, se encontram em T? Nesse caso, dizemos
(28) a. O João correu [uma corrida longa]. metaforicamente que o verbo faz um movimento sintático, ou seja,
b. A Rosa sorriu [um sorriso amarelo]. ele se desloca de sua posição no VP para o núcleo 'ti. Nessa posição,
ele completa parte de sua morfologia, uma vez que se associa com
A observação sistemática do comportamento desses verbos os traços de tempo que são necessários para ele poder expressar sua
frente aos demais levou Burzio (1986) a uma generalização, que ficou denotação em um dado momento temporal.
conhecida na literatura gerativista como a Generalização de Burzio, O que dizer dos traços de pessoa e número? , Como o verbo os
segundo a qual um verbo atribui um papel temático externo (isto é, recebe? O verbo recebe tais traços por meio de uma relação abstrata
seleciona um argumento externo) se e somente se atribui Caso denominada concordância. Resgatando a intuição da gramática tradicional
Acusativo ao seu argumento interno. Ou, dito de outro modo, se um de concordância entre o verbo e o seu sujeito, vamos dizer que a relação
verbo não atribui um papel temático externo, então não atribui Caso de concordância se dá entre o núcleo Tempo e o argumento com o qual
Acusativo. O fato de tanto o argumento interno dos inacusativos ele concorda (o argumento externo no caso dos verbos transitivos e
quanto o argumento externo dos inergativos serem licenciados via inergativos e o argumento interno no caso dos inacusativos). O resultado
flexão verbal (Tempo) toma as sentenças por eles constituídas super- dessa relação tem impacto tanto no verbo quanto no nominal com o qual
ficialmente idênticas, o que fez com que a gramática tradicional os ele concorda. Os traços de número e pessoa do nominal passam para T e
classificasse como uma única classe verbal, a dos intransitivos. se realizam no verbo (como os morfernas número-pessoais) e os nominais
Nos parágrafos acima, apenas dissemos que a categoria Tem- recebem Caso Nominativo. Ainda com relação aos nominais, no caso do
po licencia os sujeitos, atribuindo a eles Caso Nominativo, mas ainda português, eles geralmente se movem para a posição de especificador de
não apresentamos essa categoria nem o porquê de sua postulação no T (em satisfação ao EPP, que exige que toda sentença tenha uma posição
modelo. É o que passamos a fazer. O núcleo Tempo (To) traz para a de sujeito). Estando nessa posição, eles se comportam como os sujeitos da
sentença a informação temporal e a informação flexional (pessoa e sentença. Sendo assim, temos dois tipos de movimentos em uma sentença:
número), informações essas que vão se realizar no verbo. É impor- um movimento de núcleo para núcleo (o do verbo, que se move de
tante salientar que as marcas de tempo não pertencem ao verbo, não yo-para- 1'), e o movimento de um argumento para especificador de TP.31
são inerentes a ele, mas são marcas da sentença, já que localizam O esquema desses movimentos é mostrado a seguir:
temporalmente todo o evento denotado por ela. O sintagma Temporal
(TP) toma o VP como complemento e o seu especificador é a posição
31. Eis mais dois parâmetros: tanto o movimento do verbo quanto o de um

l48 l49
(29)
r-.
a Maria
TP

T'
(ou melhor, pelo resultado da combinação do verbo com o seu
complemento), recebendo dele um papel temático. Sujeito, por sua
vez, passa a ser uma noção definida estruturalmente, como uma

T
A VP
função estritamente sintática, desempenhada por um constituinte que
ocupa uma posição específica no arcabouço estrutural da sentença:
A
->.
o especificador de TP. O constituinte ocupando essa posição é aquele
lav-ou
marcado com Caso Nomínatívo."
a-MitI'ie v'
Até aqui nós vimos, com base em um único fenômeno, como o
trabalho de pesquisa em sintaxe, fundamentado teoricamente pelos
V a roupa
ta..... princípios que compõem a Teoria Gerativa, se realiza. O desenvolvi-
mento da análise de um fenômeno empírico, o das propriedades grama-
ticais dos verbos monoargumentais, demonstrou como essas
Como vemos, primeiro construímos o domínio lexical, proje- propriedades podem ser explicadas pela articulação dos diversos mõdu-
tando as propriedades lexicais do verbo (a sua seleção) no esqueleto,' Ios da teoria (Teoria X-Barra, Teoria Temática e Teoria do Caso), bem
estrutural fornecido pelo esquema X-Barra. O verbo atribui Caso como pelo delineamento de dois domínios que integram a arquitetura
Acusativo ao seu argumento interno [a roupa], licenciando-o. A sentencial: o domínio temático (aqui exemplificado pelo VP) e o domí-
introdução de T faz com que o verbo em português se mova para esse?? nio dos fenômenos gramaticais (o TP). Nossa seção seguinte vai abordar
núcleo. Assim, o verbo sai do domínio do VP e se desloca para T. O o terceiro e último domínio sintático, o domínio discursivo: o CP.
sujeito se desloca para o especificador de TP e lá concorda com T,
atribuindo a esse núcleo os traços de pessoa e número. Nessa concor-
Integrando os fen6menos discursivos à sintaxe:
dância. a flexão (Tempo) atribui Caso Nominativo ao nominal [a
o sintagma complementizador
Maria], licenciando-o. Dessa forma, todos os nominais são licencia-
dos, em concordância com a Teoria do Caso. Os verbos inergatívos
Como já observado, entender e explicar como uma certa
e os inacusativos têm seu único argumento licenciado por meio d~(,
concordância com Tempo. . . combinação de sons em palavras e palavras em sentenças, é capaz de

Uma contribuição do tratamento aqui apresentado é a. de •.


32. Que tal separação seja necessária é comprovado pelo fato de que não só o
fornecer um tratamento separado para papéis semânticos (temáticos)
argumento externo, mas também o argumento interno e sintagmas adjuntos
dos argumentos e suas funções sintáticas (ao contrário do que faz a podem ser o sujeito da sentença, como mostram as sentenças em (i), em que a
gramática tradicional). Assim, por exemplo, sujeito e argumento concordância verbal evidencia que o constituinte destacado é o sujeito:
externo não são a mesma coisa, embora possam coincidir muitas (i) a. A(s) casais) foi(-ram) reformada(s);
vezes. O argumento externo é o constituinte selecionado pelo verbo b. O(s) meninois} morreu(-ram);
c. O(s) tijolots} caiu(-íram) na cabeça da Maria;
d. O(s)juro(s) aumento#(-ram);
e. O(s) carro(s) furou (-aram) o pneu;
argumento para a posição de especificador de TP estão sujeitos à variação' f. Aquele(s) carrots} cabe(m) muita gente;
paramétrica entre as línguas. g. Essets) apartamento(s) bate(m) sol; h. Aqui é quente.

150 151
gerar sentidos sempre foi uma questão central para os estudos lin- marca o tempo da sentença (e outras flexõespor concordância) e sua
guísticos, em especial para o estudo da sintaxe das línguas naturais; posição de especificador abriga o sujeito gramatical. Por fim. o
Se, como vimos, a gramática oferece mecanismos pelos quais pode- sintagma complementizador (CP), a camada mais alta, é a responsá-
mos interpretar o papel semântico de cada constituinte na cena vel pela articulação da sentença com o discurso: ela determina a força
descrita pela sentença, ela também dispõe de mecanismos pata ilocucionária da sentença (declarativa, interrogativa, imperativa, ex-
marcar informações discursivas associadas a certos constituintes; É" clamativa) e o seu tipo sintático (matriz, encaixada"), conectando-a
para captar também essas relações discursivas que uma sentença, na" com o domínio sintático hierarquicamente superior. Se a sentença for
perspectiva gerativista, é composta por três "camadas" sintáticas' encaixada, seu CP a conecta com a oração matriz; se for matriz, a
básicas, cada qual estruturada segundo o mesmo esqueleto em (11) conexão é feita com o discurso prévio."
mostrado acima. Assim, a árvore sintática de uma sentença básica do
Para exemplificar o papel da sintaxe na marcação de certas
. português com um verbo transitivo direto (e sem adjuntos), por
exemplo, está representada em (30): funções discursivas, consideremos as sentenças em (31), exemplos
de interrogativas de constituintes:

(30~omr"i. discurslvo
(31) a. Quem a Maria beijou?
(/ ~, b.
c.
A Maria beijou quem?
Quem que a Maria beijou?
d. *Que a Maria beijou quem?
C TP domínio gramatical (concordância e posição de sujeito)

A T'
Nenhum falante tem dúvidas em interpretar o sintagma
[quem] em (31a) como aquele que expressa o papel semântico de
tema/paciente do ato de beijar. Como podemos associar essa inter-
~I"r.''''i"r pretação própria de argumentos internos de verbos transitivos a esse
constituinte que ocupa a posição inicial da sentença? Mais unia vez
AE v' a teoria vai usar a metáfora de movimento. O sintagma quem, gerado
A
V AI
na posição de argumento interno do verbo beijar (posição esta em

33. Para uma aproximação com a terminologia tradicional, sentenças encaixadas


Como podemos observar, a representação acima, construída
podem ser entendidas como orações subordinadas e sentenças matrizes, como
pelo esquema X-barra, faz a "anatomia" da sentença. O VP é o
orações principais. Não se trata, porém, de uma mera variação terminológica.
constituinte que abriga os elementos com o conteúdo lexical da Os termos qualificativos "encaixadas" e "matrizes" explicitam a propriedade
sentença. É nele que o evento é determinado, com o tipo de verbo, o da recursividade, já abordada, uma vez que fazem alusão ao processo de
número de argumentos que ele seleciona, suas categorias e seus construção das sentenças naturais que se dá pelo encaixamento de sentenças
papéis temáticos. O TP, por sua vez, éo constituinte responsável por em outras sentenças.
34. Recomendamos a leitura de Mioto (2001) para um maior aprofundamento
parte da informação funcional/gramatical da sentença: seu núcleo
sobre as propriedades do sistema CP em PB.

152 153
que recebe Caso Acusativo, que toma visível seu papel semântico cias desse verbo. No caso de (32a), o verbo matriz perguntar sele-
tema), se desloca dessa posição para uma posição no domínio do C ciona uma sentença interrogativa. Para satisfazer essa exigência, a
responsável por marcar essa função discursiva de foco da Interrogá posição de especificador do CP encaixado deve ser preenchida com
ção. A relação estabelecida entre a posição de origem a partir da qu .. um sintagma interrogativo. Se apenas o núcleo do CP encaixado for
o constituinte se desloca e a sua posição final é responsável pe] preenchido; esse CP se iguala ao de uma declarativa e, como pode-
recuperação de duas informações semânticas, de naturezas difereti* mos atestar, com base nos contrastes entre (32) e (33), sentenças
tes, associadas ao mesmo constituinte, quaís sejam, o seu papel interrogativas encaixadas são bem diferentes de sentenças declara-
temático de tema/paciente da cena representada por beijar e o seq tivas encaixadas:
papel informacional de foco da pergunta. A interrogativa em (3lb
mostra que, no português (ao contrário do inglês, por exemplo), (33) a. *0 Pedro disse quem (que) a Maria beijou.
deslocamento do foco da interrogação não é obrigatório. O portugu b. O Pedro disse que a Maria beijou o João.
permite que o sintagma interrogativo fique na posição em que foi gerad()~
com a condição de que o núcleo C seja vazio. Uma vez preenchido-o' Aqui podemos dizer que estamos diante de um caso de homo-
núcleo C, como em (31c), o movimento do sintagma interrogativo pas~:; nímia: em (31c) e (32a) temos o que que preenche um C [+interro-
a ser obrigatório, como evidenciado pela agramaticalidade de (31d). gativo], já em (33b),0 que é o complementizador declarativo." É
Voltando-nos, agora, para as interrogativas de constituintes en-:· interessante notar que, enquanto o que que preenche o núcleo C
caixadas, elas se assemelham às matrizes quanto à opcionalidade no (+interrogativo] (seja em sentenças matrizes, seja em encaixadas) é
preenchimento do núcleo C, como pode ser observado pela boa forma, opcional em PB, o que complementizador declarativo é obrigatório
ção das duas opções exemplificadas em (32a), mas se diferenciam por para introduzir sentenças encaixadas desenvolvidas:
não tolerar que o sintagma interrogativo não se mova de sua posição
origem, como evidenciado pela agramaticalidade de (32b);3s
(34) *0 Pedro disse a Maria beijou o João.
(32) a. O Pedro perguntou quem (que) a Maria beijou.
b. *0 Pedro perguntou (que) a Maria beijou quem. Por último, gostaríamos de encerrar nossa breve discussão
envolvendo o domínio CP com alguns dados de sentenças interroga-
Como já apontado, sendo a recursividade uma propriedade tivas de constituintes, escolhidas por trazerem evidência substancial
das línguas naturais, sentenças inteiras podem funcionar como cons- para a hipótese inatista da linguagem. Consideremos as sentenças
tituintes de outras sentenças, ou seja, unia sentença pode ser o abaixo, em que o síntagma interrogativo movido (sobre o qual incide
complemento de um verbo da sentença matriz, atendendo às exigên-

35. Há, ainda, as ínterrogativas do tipo sim/não, que, se sentenças matrizes, não 36. A homonímia se estende também para o que pronome relativo e o que pronome
. preenchem a camada CP, (exemplo (i» e, se encaixadas, preenchem apenas o interrogativo, que aparecem, respectivamente nos exemplos (i) e (íi):
núcleo C com o compleinentizador se (exemplo (ii»: (i) A Maria me contou o motivo por que o João saiu correndo;
(i) A Maria beijou o João? (ii) A Maria perguntou por que (que) ele saiu correndo.
(íí) A Ana sabe se a Maria beijou o João. Não discutiremos esses casos por limitações de espaço.

154 155
a pergunta) deve ser interpretado na sua posição de origem, dentro . tiva, OU seja, não somos expostos aos dados agramaticais, tampouco
da sentença encaixada, posição essa marcada por "_,,:37 recebemos instruções sobre essa agramaticalidade, como explicar,
face à boa-formação de perguntas como (35b, d, e), o (re)conheci-
(35) a. O João disse que a Maria encontrou o Pedro. mento da impossibilidade de (36b,d), (37b,c) e (38b,c)? Se o nosso
b. Quem o João disse que a Maria encontrou _? conhecimento linguístico não contasse com princípios universais e
c. O João disse que a Maria encontrou o Pedro na praia; comuns a todas as línguas humanas, a Gramática Universal, ficaria
d. Onde o João disse que a Maria encontrou o Pedro _1' muito difícil explicar a uniformidade entre os falantes quanto aos
e. Quem o João disse que a Ana acha que a Maria julgamentos das sentenças, tal como visto nos dados acima.
encontrou _?

(36) a. A Maria perguntou onde o João comprou o ,..••1,,,1,,,.'1 Considerações finais


b. ??O que a Maria perguntou onde o João comprou
c. A Maria perguntou o que o João comprou no shopping? Ap6s esse breve percurso sobre nossa área de investigação, a
d. *Onde a Maria perguntou o que o João comprou _? •. sintaxe na perspectiva da Teoria Gerativa, esperamos ter esclarecido
(37) a. O João saiu quando a Maria encontrou o Pedro na festa.) os pressupostos teóricos a partir dos quais a pesquisa é conduzida,
b. *Quem o João saiu quando a Maria encontrou _? bem como ter criado as condições necessárias para que nossos
c. *Onde o João saiu quando a Maria encontrou o Pedro j leitores possam experienciar, através da reconstrução dos passos da
análise de fenômenos de uma língua particular (o PB), o fazer
(38) a.OJoãoconheceuamoçaquenamorouoPedronocarnaval:/ pesquisa nessa área. Como em qualquer teoria, um recorte é feito. No
b. *Quem o João conheceu a moça que namorou _ no . caso da Teoria Gerativa, o seu objeto de investigação é a língua
carnaval? tratada como um objeto mental, inato e isso, necessariamente, {de)li-
c. *Quando o João conheceu a moça que namorou o mita os objetivos de nossa pesquisa, os fatos para os quais nos
Pedro_? voltamos, as questões que nos colocamos e que propomos investigar.
É claro que há muitos fenômenos envolvidos na linguagem humana
Sem entrarmos na parte técnica da explicação que a teoria dá que não são apreendidos dentro da perspectiva gerativista, No entan-
para a (a)gramaticalidade das sentenças acima, é fato que qualquer to, as (dejlimitações e a formalização da teoria são claras para que se
falante nativo de português tem exatamente os mesmcsjutgamenrosj, entenda sua área de atuação, sua abrangência e suas críticas.
quanto a elas. A pergunta inescapável é: Como uma teoria linguística
dá conta disso? Sabendo que, crucíalmente, não há evidência nega~(
Referências bibliográficas

37. Queremos ressaltar que, para os propósitos da nossa argumentação, estamos' BARBOSA, P.; DUARTE, M. E. L. e KATO, M. A. (2005). "Null
considerando apenas a leitura na qual o pronome interrogatívo se refere .
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verbo encaixado, subordinado. Nessa leitura, a sentença é agramatical.
esse pronome se refere ao verbo da oração matriz, a sentença é gramatical, Portuguese Linguistics 4, n," 2, pp. 11-52.
não é o caso que estamos considerando.

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