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Fichamento e resumo

LYONS, John. As ideias de Chomsky. Tradução de Octanny Silveira da Mota e Leônidas


Hegenberg. São Paulo: Cultrix, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1973

1.1.A linguística norte-americana no séc. XX.

No início do século XX, a linguística norte-americana foi marcada pela tentativa


contínua de descoberta das línguas não catalogadas e que viriam a deixar de existir. Franz
Boas (1858-1942), antropológico, constatou a dificuldade de descrever estas línguas
“exóticas”, pois as terminologias da gramática tradicional não eram suficientes para tal, tendo
em vista a variedade e complexidade de tais línguas. Franz Boas adota, assim, um enfoque
estruturalista.

“Enfoque semelhante já havia sido adotado por Wilhelm von Humboldt (1767-1835) e por
alguns contemporâneos europeus de Boas [...]” (p. 30)

1.2.Bloomfield

Leonard Bloomfield (1887-1949), na tentativa de tornar a linguística uma ciência, no


sentido estrito de sua época, ou seja, aceitação apenas de dados empiricamente observáveis e
mensuráveis, publicou uma extensa obra, intitulando-a de Language. Bloomfield utiliza um
exemplo ‘João e Maria’ para mostrar como opera a linguagem na prática.

“Quando Bloomfield escreveu sua monumental obra Language, explicitamente, adotou o


behaviorismo como estrutura geral para a descrição linguística” (p. 32)

“(entretanto) A aceitação do behaviorismo por parte de bloomfield não exerceu efeito


apreciável sobre a sintaxe ou a fonologia em sua obra ou na de seus seguidores” [aspas
minhas] (p.33)

Posteriormente, temos Harris que alcançou ponto culminante no estudo puramente


formal da linguagem, ou seja, sua estrutura, independentemente do seu conteúdo semântico.
(p. 34-35)

“Tão preocupados estavam Os blomfield anos com assentar a linguística em termos de ciência
descritiva que transformarão em questão de princípio o não adiantar quaisquer juízos a
propósito de gramaticalidade ou correção de sentenças, a menos que tais sentenças que
passassem pelo crivo do uso no linguajar comum, e houvessem merecido inclusão no corpo
daquele material que forma a base da descrição gramatical” (p. 37)

“A língua inglesa, como todas as línguas naturais, consiste de um número de sentenças


indefinidamente grande, do qual somente reduzida fração já foi ou virá a ser enunciada” (p.
38)

“[...] a gramática gerativa é aquela que projeta qualquer dado conjunto de sentenças contra o
conjunto mais amplo, e possivelmente infinito de sentenças que constitui a língua sob
descrição, e que tal propriedade da gramática é a que reflete o aspecto criador da linguagem
humana” (p. 43)
Para explicar melhor, a gramática gerativa se quer mais ou menos como uma equação.
Dado que temos x - 2y +3z sabemos que ao darmos os valores das incógnitas com números
inteiros, x=4; y=2; z=1, ter-se-á apenas um único resultado possível: 3. Da mesma forma é a
gramática, pois ao aplicar diferentes valores à mesma “equação” se obterá sempre sentenças
gramaticais. Caso o falante pronuncie um sentença agramatical, isto se dá por erros de
desempenho.
Como objetivo da teoria linguística temos: “ A teoria linguística deve, portanto,
preocupar-se com as justificação das gramáticas” e “Pode-se esperar, quando muito, que a
teoria linguística proporcione critérios para escolher entre gramáticas alternativas” (p. 40-41).

2.1 gramática de estado finito.

“Podemos principiar definindo a linguagem descrita por uma gramática particular como o
conjunto de todas as sentenças que gera. O conjunto de sentenças pode, em princípio, ser do
número finito ou infinito” (p. 47)

Entretanto, não se pode esquecer que o número de vocábulos de uma língua é do próprio
falante é finito; assim como as operações recursivas. “Ora, Se a gramática consiste de um
conjunto finito de regras, operando sobre um vocábulo finito, e deve revelar-se capaz de gerar
um infinito conjunto de sentenças, decorre daí que pelo menos algumas das regras hão de ser
aplicáveis mais de uma vez na geração da mesma sentença” (p. 48)

Chomsky apresenta três modelos de gramática, dentre eles temos a gramática de


estado finito que baseia-se “na série de escolhas feitas da esquerda para a direita, equivalendo
isso a dizer que, após o primeiro elemento, ou elemento mais à esquerda, haver sido
selecionado, toda escolha subsequente se vê determinada pelos elementos imediatamente
precedentes” (p. 50)
Mas Chomsky considera este modelo que não abarca algumas das sentenças da língua,
como, por exemplo, as sentenças de propriedades de imagem especular. Estas características
ocorrem quando os elementos de uma sentença estão ligados às suas extremidades e seus
imediatos A+B+C... X+Y+Z ( A e Z; B e Y...).

“A demonstração de que a gramática de estado finito é inadequada pode ser encontrada em


estruturas sintáticas de Chomsky. Apóia-se no fato de que podem existir dependências
ligando palavras não adjacentes e que essas palavras interdependentes podem achar se
separadas por uma frase ou uma cláusula em que se contenha outro par de palavras
interdependentes e não adjacentes” (p. 53)

2.2 Gramática de estrutura de frase

A gramática de estrutura da frase extrapola o que chamamos de constituintes últimos,


pois “as sentenças possuem uma outra estrutura sintática além ou independentemente da
estrutura linear” (p. 55). Por isso, Chomsky, por meio de terminologia matemática, fa uma
analogia com o uso dos parênteses.

“A noção de estrutura constituinte , ou estrutura de frase para usar a terminologia de


chomsky, é comparável à noção o ‘uso de parênteses’, em matemática ou lógica simbólica”
(p. 55)

Na análise da estrutura da frase, percebe-se que “[...] dois conjuntos de elementos


podem possuir a mesma estrutura linear, diferindo, porém, com respeito à estrutura de frase; e
que a diferença de estrutura de frase pode ser semanticamente de relevância” (p. 56)

Neste modelo gramatical temos uma análise mais aprofundada das estruturas macro da
sentença e que levam, por exemplo, a fazermos representações arbóreas das orações em
questão. Por exemplo, quando no uso de um NP (sintagma nominal) tivermos o cavalo
branco temos uma parte da sentença e não três partes diferentes, ou constituintes últimos.
Podemos, é claro, depreender estes elementos, contanto que saibamos seu aspecto macro
dentro de uma parte maior que ela mesma.

2.2.1 noção de sujeito e objeto e a importância da matemática

“Contudo, essas noções e, particularmente a distinção entre o sujeito e o objeto, podem


também ser definidas, e tal como sugere chomsky nas Syntactic Structures E torna explícito
posteriormente, em termos de marcador de frase associado. O sujeito é aquele NP diretamente
dominado por Sentença e o objeto é aquele NP diretamente dominado por VP” (p. 60)
“O passo revolucionário dado por chomsky, no que diz respeito à linguística, foi o de recorrer
a esse ramo da matemática aplicando-o às línguas naturais, como o inglês, e não as línguas
artificiais [...]” (p. 63)

3.1 gramática transformativa


4.1. Gerativismo e psicologia

Chomsky difere de Bloomfield a mediada que este assume uma postura behaviorista
da aquisição da linguagem. Em 1957, ano da publicação de Syntactic Structures, o mesmo
publicou uma resenha da obra Verbal Behavior de Skinner. “ Chomsky Tem repetido seus
argumentos contra o behaviorismo em muitas ocasiões. Resumidos, montam ao seguinte. um
dos fatos notáveis acerca da linguagem é sua criatividade – A circunstância de aos 5 ou 6 anos
de idade as crianças serem capazes de produzir e entender um número indefinidamente grande
de elocuções das quais não tinham tido prévio conhecimento” (p. 83)

“A crítica dirigida pro Chomsky contra o Behaviorismo é indubitavelmente válida. Daí não
decorre, naturalmente, que nenhum aspecto da linguagem ou do uso da linguagem possa ser
razoavelmente descrito em termos de um modelo estímulo-resposta” (p. 84)

“A gramática de uma língua, nos termos concebidos por Chomsky, é uma descrição idealizada
da competência linguística dos que têm a mesma língua como língua-mãe. Qualquer modelo
psicológico da maneira como essa competência é concretizada em efetivo desempenho terá de
levar em conta numerosos outros fatos que o linguista deliberadamente ignora ao definir a
noção de gramaticalidade” (p. 84)

A linguística, para Chomsky, é uma parte da psicologia, pois o estudo da competência


acarreta em conclusões para a psicologia acerca do funcionamento da linguagem humana. O
desempenho linguístico, camada superficial, pode revelar uma estrutura profunda da língua e
da cognição. Daí decorre a importância dada às intuições por parte de Chomsky.

A partir de uma visão da gramática de estado finito temos a “hipótese de


profundidade” de Victor Yngve que afirmava que as estruturas recursivas à esquerda são mais
profundas psicologicamente que as produzidas à direita. Entretanto tal hipótese “[...] é quase
certamente incorreta, pois que se apoia na presunção de que as sentenças sejam processadas
pelos seres humanos de modo semelhante a como geradas no programa de computação em
que ele se vinha empenhando” (p. 90-91)
Ao seu modo, Chomsky acredita que a profundidade das sentenças está na aplicação
das regras de transformação. Sendo assim, a transformação de sentenças nucleares afirmativas
ativas em sentenças interrogativas passivas constitui uma maior complexidade cognitiva para
o falante que produz a sentença.
4.1. “Filosofia” gerativa

A tese gerativa da gramática universal não tem como base epistemológica o racionalismo,
diferentemente de Bloomfield que é empirista, concebendo, assim, a língua como produto do
hábito da mesma foram de o behaviorismo de Skinner.

“Tal como tivemos ocasião de ver, a linguística bloomfieldiana estava notavelmente e, por
vezes, quase ostensivamente desinteressada de questões teóricas de caráter geral. A maioria
dos linguistas norte-americanos se, a dez ou quinze anos atrás, fossem consultados a cerca de
qual seria o propósito principal da linguística teriam provavelmente respondido que era o de
“descrever língua”” (p. 97)

“ A atitude de Chomsky, tal como ele a coloca em suas publicações mais recentes, opõe se de
maneira radical à de Bloomfield. Sustenta ele que o propósito central da linguística é o de
construir uma teoria dedutiva da estrutura da linguagem humana que seja, a um tempo,
Suficientemente geral para aplicar se a todas as línguas e, concomitantemente, não tão geral
de modo a tornar-se passível de aplicação há outros sistemas de comunicação ou qualquer
outra coisa semelhante, que poderíamos não desejar chamar línguas” (p. 97-98)

Na verdade, os bloomfieldianos, para não entrarem nas tendências da gramática


tradicional, evitaram ao máximo a universalização das línguas, acentuando, dessa forma, suas
diferenças. Eles chegam à afirmação de que cada língua têm suas próprias regras que se
encerram em si mesmas. Chomsky, porém, diverge deste posicionamento ao defender que as
línguas são regidas pelos mesmo princípios universais que são biologicamente determinados.
Um fato que corrobora está ideia é de que as crianças ao nascerem não são determinadas para
aprenderem qualquer das línguas naturais, mas, ainda assim, elas aprendem qualquer língua
que seja.

“A única explicação concebível [...] é a de que os seres humanos são geneticamente dotados
de uma faculdade de linguagem altamente específica e que essa faculdade é que determina
traços universais [...]” (p. 104)

“Sustenta Chomsky que só poderemos encontrar algum sentido no processo de aprendizado


de língua se admitirmos que a criança nasce com o conhecimento dos princípios altamente
restritivos da gramática universal e com a predisposição de fazer uso desses princípios para
análise das elocuções que houve em torno de si” (p. 105)

Afirmamos que Chomsky que coloca no âmbito da epistemologia racionalista.


Entretanto, este não aceita e irredutibilidade última da separação de corpo e mente (alma).
Para ele, não pode-se fazer uma separação estanque entre ambas e até mesmo em uma
entrevista radiofônica ele afirma “todo problema de saber se há uma base física para as
estruturas mentais é um problema vazio” (p. 107). Portanto, define-se o mentalismo de
Chomsky apenas na resolução do problema da aquisição da linguagem e da semelhança das
línguas naturais, problemas estes que não são bem respondidos pelo behaviorismo.

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