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Mia Sheridan
Dedicatória
Este livro é dedicado a Maegan, a minha prima favorita e a mãe mais incrível
que eu conheço.
A lenda de Aquário
“Eu tirei a névoa de seus olhos, que até agora estava ali, de modo que
você pode muito bem reconhecer o Deus e o mortal.”
Homero, A Ilíada
Fui agredida pelo cheiro de lixo de escapamento rançoso assim que pisei
fora do ônibus. Meu estômago revirou, e me movi para a esquerda para evitar
ter que andar muito perto das latas de lixo transbordando alguns metros à
minha frente.
— Você não tem nenhuma bagagem, baby. O que há com isso? Você tem
um lugar para ficar? — Ele estendeu a mão e tirou o meu cabelo do meu rosto e
eu me encolhi em resposta pelo seu toque. Continuei andando, ainda mais
rápido agora. O medo corria em minhas veias, meu estômago vazio rolando com
náuseas.
— Droga, cabelos como fios de ouro. Rosto de anjo. Você parece uma
princesa. Alguém já te disse isso?
— Tire as mãos de cima dela, Eli — Disse uma voz profunda atrás de nós.
Girei minha cabeça ao mesmo tempo em que Eli, que capturou a visão de um
homem enorme em pé ocasionalmente com as mãos penduradas ao seu lado,
com uma expressão aparentemente entediada em seu rosto. Meus olhos se
arregalaram quando notei todos os desenhos e cores rodopiando até o lado
esquerdo do pescoço - parando sob o queixo - e os braços musculosos coberto
com a mesma arte complexa.
— O inferno que não é. Quando vejo uma barata, eu a esmago sob minha
bota. Baratas me ofendem. Você é uma barata, Eli. Deixe-a ir, ou vou acabar
com você aqui na rodoviária para todas as outras baratas verem. — Paul
manteve os olhos treinados sobre nós, mas a cabeça de Eli deslocava para a
direita, e eu segui seu olhar para um grupo de homens vestidos de forma
semelhante a Eli que estavam sentados casualmente em um banco na frente da
estação, olhando em nossa direção e rindo.
Eli se virou para Paul e eu senti seu poder sobre mim afrouxar um pouco.
Ele soltou um som de nojo e me empurrou mais ou menos na direção de Paul. —
Tenho muitas cadelas na folha de pagamento como ela é. Leve-a — Depois ele se
virou e caminhou na direção que viera.
Saímos pela porta e mais uma vez, o mundo exterior intenso me fez
apertar os olhos. Paul soltou meu pulso e virou-se para mim. — Você uma
fugitiva?
— Qual o seu nome? — Ele perguntou com uma gentileza agora em sua
voz.
— São apenas mais ou menos dez quadras daqui. Vou lhe dizer como
chegar lá, mas, então, você não volta para cá, está me ouvindo? Este não é o
lugar para uma jovem que está sozinha. Acho que você entendeu isso, certo?
A mulher soltou uma maldição. Ela era bonita e bem cuidada: elegante
em um terno cinza escuro, cabelo penteado para cima graciosamente e seu rosto
deslumbrante com a maquiagem perfeitamente aplicada. Eu encolhi diante dela.
Eu sabia o que era. Eu estava vestindo roupas roubadas de um varal de alguém
que era, obviamente, um pouco maior do que eu. Eu não tomava banho por três
dias e meu cabelo caía solto e liso ao redor do meu rosto e pelas minhas costas
um pouco acima do meu traseiro – muito longe de ser elegante. A mulher me
olhou de cima a baixo.
Ela colocou as mãos nos quadris e olhou para o medalhão, para o meu
rosto e de volta para o medalhão. Ela o tirou de minha mão em concha e
segurou-o contra a luz. Então ela olhou para mim. — Bem, sorte sua, isso é ouro.
Provavelmente vai cobrir o valor do vaso — Ela ficou olhando para ele, virando-
o em suas mãos bem cuidadas. — Porém não tem nenhum jeito de dar-lhe
alguma informação sobre ele, nenhuma gravação ou personalização — Ela olhou
por cima do ombro para um homem que tinha acabado de atender um cliente e
estava saindo de trás do balcão. Ela apontou para o cristal no chão e disse: —
Phillip, será que você limpa isso enquanto eu cuido dessa... Garota?
Eu segui a mulher até o balcão. — Espere aqui enquanto peso isso. Você
não tem a corrente que vai com ele?
Olhei para trás de mim, onde a mulher tinha entrado em uma porta na
parte de trás da loja e a vi conversando com um homem mais velho através do
vidro. Ele franziu a testa quando olhou para mim e acenou com a cabeça, seus
olhos prolongaram por um momento antes que ele olhasse para o que ele tinha
na mão. A mulher virou-se e caminhou de volta pela porta e atrás do balcão
onde eu estava. — Podemos dar-lhe mil e duzentos dólares pelo medalhão, que é
muito abaixo do que custa o vaso, mas estamos dispostos a dar um desconto
para que assim o assunto seja resolvido.
— Eu realmente sinto muito, mas não há nada que eu possa fazer. O vaso
tem que ser pago. Nós não podemos apenas arcar com esse custo. Temos um
negócio aqui.
— Por favor! — Eu disse novamente, desta vez mais alto, levando minhas
mãos ao balcão com um tapa barulhento. A mulher se assustou e apertou os
lábios, inclinando-se em minha direção, para que eu me inclinasse para trás.
Algo que eu pensei que poderia ser simpatia brilhou nos olhos da mulher,
mas ela se inclinou para trás, cruzou os braços sobre o peito, e disse: — Sinto
muito, não há nada que eu possa fazer. Há um abrigo na Elm Street. O edifício
mil e quatrocentos. Passei por lá várias vezes. Agora eu vou ter que pedir-lhe
para deixar a nossa loja.
Andei pelas ruas da cidade por um tempo, horas talvez, eu não tinha
certeza de quanto tempo. Eu fui ficando mais fraca; meus passos ficando mais
lentos. Eu vi um banco à frente, parei e afundei-me nele, puxando meus braços
em volta de mim. A noite se estabeleceu ao meu redor e o ar estava ainda mais
frio, minha jaqueta era muito leve para me manter aquecida.
Mas agora ele não estava aqui. Onde posso encontrar a minha força
agora?
— Este lugar é só para homens — Disse ele. — Mas uma garota bonita
como você provavelmente poderia fazer um bom dinheiro no beco lá atrás — Ele
inclinou a cabeça para trás e, em seguida, olhou de soslaio para mim e
gargalhou.
Ele está esperando por mim, na primavera, sob o sol quente. Eu vou
esperar por você. Mas eu espero que não seja por muito tempo.
Em seguida, isso clicou. Ele era o homem por trás da porta de vidro com
quem a vendedora tinha falado. O proprietário. Ah, não, ele tinha decidido que
eu devia mais dinheiro pelo vaso? Será que ele chamaria a polícia agora? Eu não
podia ir à polícia. Eu não podia.
Levantei-me rapidamente. Consegui dar dois passos antes que o mundo
inclinasse e caísse.
LIVRO UM
Acadia
Homero, A Ilíada
CAPÍTULO UM
Eu não a vi depois disso. Ela morava na casa principal com Hector. Ela
era a abençoada - noiva que estaria ao seu lado, enquanto nós, seu povo, fomos
acolhidos pelos deuses para o Fields of Elysium, o paraíso mais glorioso nos
céus.
E todos nós queríamos vê-la. Todo mundo estava curioso com a mulher
que foi prenunciada, que junto com Hector, nos guiaria na vida após a morte,
quando essas grandes inundações viessem e o fim do mundo estivesse sobre
nós. Eu imaginei que ela era como se fosse o nosso bilhete.
E então, no dia em que foi dito que seria finalmente introduzida era um
negócio muito grande. Todos nós lançamos rapidamente nossas roupas de
trabalho sujas, calças de cordão para os meninos e homens, e saias longas para
as meninas e mulheres, com camisas soltas. E claro, era tão quente no Arizona
no verão que eu geralmente pegava minha camisa e amarrava um pedaço de
qualquer material que tivesse à mão em volta do meu pescoço, para que eu
pudesse limpar o suor do meu rosto enquanto trabalhava. O material artesanal
dava principalmente coceira, mas era melhor do que deixar o suor salgado
gotejar nos meus olhos. Alguns dos outros meninos faziam a mesma coisa agora
e agiam como se fosse ideia deles, o que estava bem pra mim. Não era como se
fosse a invenção mais grandiosa do mundo.
Depois que eu estava vestido com uma calça e camisa limpa, eu corri
saindo, pela porta da frente da nossa pequena cabana de madeira de dois
quartos, quando a minha mãe gritou atrás de mim: — Esteja na hora, Calder!
Sasha mordeu o lábio, olhando como se ela tentasse não rir. Foi quando
Xander passou tranquilamente por ela, agarrando o meu braço, então eu fui
forçado a sair correndo atrás dele.
— Que diabos? — Eu bufei enquanto nós percorríamos os caminhos de
terra e acabamos deixando para trás a velha Mãe Willa com suas ervas
empilhadas na carroça sendo puxada atrás dela.
Ela gritou alguma coisa para nós, mas ela sempre foi um pouco difícil de
entender por conta do fato de que tinha perdido muitos dentes. Imaginei que
simplesmente não havia uma erva para isso.
Xander me empurrou pela trilha, virou-se e olhou para mim. Olhei para
ele interrogativamente com a minha boca muito cheia de açúcar para falar. — O
quê? — Eu murmurei, encolhendo os ombros.
— Nossa, Calder. Que há de errado com você, afinal? Você não sabe como
saborear algo? Quando é a próxima vez que vai conseguir açúcar, e você acabou
de devorar os dois, e eles se foram em um instante? Idiota — Então ele me
empurrou para que eu tropeçasse de costas, tentando não rir e derrubar algum
açúcar da minha boca.
Comecei a rir tanto que tive que dobrar-me para que eu não caísse.
— Ouvi dizer que ela tem o rosto de um anjo e o corpo de uma deusa —
Disse Xander com reverência.
— Eu aposto que ela parece com uma daquelas senhoras dos Academic
Awards — Xander supôs. Apertando os olhos para cima, como se imaginando a
revista People que ele roubou alguns meses atrás, aquela que tínhamos visto
juntos, nos escondendo atrás de sua cabana, com todas as fotos das senhoras
pintadas em vestidos coloridos brilhantes e longos segurando pequenas estátuas
douradas em forma de pessoa.
Xander revirou os olhos. — Sim, eu sei disso. O que eu quis dizer, você
sabe é ter uma com aqueles rostos bonitos e vesti-la em algo parecido com o que
a Mãe Miriam usa.
Xander olhou para o chão, onde ainda estava usando o pedaço de pau
para desenhar formas na poeira. — Eu só quero saber... Porque eles têm açúcar
sempre que quiserem, mas nós temos que... Emprestar do Posto Florestal?
Xander riu. — Vai ser o dia. Se alguém é inteligente o suficiente para ser
escolhido para o conselho, serei eu.
Eu pensei sobre isso por um minuto e não achei que soava tão bem.
Poderia ser bom no início, mas depois de um tempo, você provavelmente ficaria
doente de tanto caramelo e caramelo deixava... Tudo pegajoso, e então você
estaria preso em um lugar feito de caramelo por toda a eternidade e...
Minha mãe sorriu e acenou para mim quando me viu entrar no Templo.
Assenti para Xander quando ele foi até onde sua família estava um pouco à
direita da minha. Meu pai me puxou para a frente dele e colocou os braços em
volta dos meus ombros para que suas mãos estivessem na frente do meu peito e
ocupasse o mínimo de espaço possível. Eu inalei o cheiro de sabão que vinha da
pele do meu pai e me recostei contra ele, sentindo-me seguro. Eu olhei ao nosso
lado para a minha mãe, que estava com a minha irmã, Maya, na mesma posição.
Maya tinha nascido com uma perna que não funcionava muito bem, e portanto,
embora ela fosse um membro da nossa família e naturalmente ajudava com as
tarefas que envolvia regar a terra, tendo a certeza que nosso povo sempre teria
uma fonte de energia limpa de água potável, mas por causa do seu defeito de
nascença, ela não poderia fazer o trabalho físico. Em vez disso, ela ajudava as
mulheres que costuravam as roupas e a roupa de cama e, bem, eu não tinha
certeza do que mais precisava ser costurado. Imaginei que se eu olhasse ao
redor, haveria uma abundância de coisas, mas eu não dei muita atenção ao
pensamento. Maya era um ano mais velha do que eu, mas era um muito menor
e mentalmente mais jovem por causa de algo chamado de síndrome de Down.
Meus pais me disseram que significava que Maya tinha nascido com um
cromossomo extra. Eu olhei para ela e ela sorriu para mim, franzindo o nariz.
Eu sorri de volta para ela e agarrei sua mão e apertei-a três vezes, e seu sorriso
ficou maior quando ela apertou a minha mão de volta três vezes também.
Alguns meses atrás, depois que ela gritou atrás de mim quando eu estava
saindo da casa “Eu te amo, Calder!” na frente de todos os meus amigos, e eles
começaram a rir, então eu tinha caminhado de volta para ela e lhe disse que
estava velho demais para isso, e assim como ela também. Eu tinha dito a ela
para dar um tempo. Ela parecia esmagada e eu imediatamente me senti
culpado, então depois eu disse a ela que ainda poderia dizer isso, só precisava
ser mais secreta. Desde então, nós apertamos a mão do outro três vezes, para
dizer “eu te amo”. Era o nosso código secreto.
Eu olhei para a frente quando Hector tomou seu lugar atrás do pódio na
frente como o conselho, todos os quatro deles, tomaram seus lugares atrás de si.
Ele olhou para nós com uma expressão no rosto que me fez ficar de pé mais alto
em orgulho. Senti meu pai atrás de mim fazer o mesmo. Um dia, eu iria me
sentar naquele pódio atrás de Hector e tomar o lugar de um dos membros do
conselho. Eu senti o propósito fluindo em mim.
Algum instinto estranho me dizia para correr atrás dela e pegar a sua
mão. De repente, eu percebi que ainda estava segurando Maya e meu punho
tinha apertado tanto, que ela estava olhando para mim. Eu afrouxei-o e sorri,
me desculpando com ela e depois olhei para a garota que agora estava ao lado de
Hector no pódio.
Eu fiz uma careta, meio confuso e olhei para cima e para trás, meu pai e,
em seguida, sobre os rostos da minha mãe e ambos tinham olhares
correspondentes de puro prazer. Eu imitei o deles, mas menor, aceitando
sorrisos e me virei para onde Hector e a menina, a Abençoada, Eden, estava.
Evidentemente, eu era a única pessoa na minha família pensando que era uma
interessante mudança de rumo.
— Antes que ela chegasse aqui, Teresa levou uma vida perversa — Disse
Hector, balançando a cabeça com o que parecia ser uma tristeza insuportável. —
Eu a encontrei em um beco, se oferecendo para fazer atos sexuais depravados
por dinheiro — Teresa parecia encolher-se diante de nós, ainda mais quando
várias pessoas fizeram sons de desaprovação e outros suspiraram e balançaram
a cabeça. — Ela estava se prostituindo por drogas desde que tinha 16 anos de
idade. Ela tem trinta e seis agora.
Hector foi por trás dela, elevando-se sobre ela quando ele agarrou um dos
seus ombros ossudos de uma maneira paternal. Em seguida, ele soltou e passou
por ela ao lado do palco onde vários vasos de flores estavam em pedestais. Ele
cuidadosamente arrancou um perfeito e branco lírio de um buquê e caminhou
de volta para Teresa com ele.
Meus olhos se moveram para Eden, para vê-la seguindo cada movimento
de Hector. Suas mãos ainda repousavam graciosamente em seu colo e seu
tremor parecia ter parado.
Uma única lágrima escorreu pelo rosto de Teresa e ela mordeu o lábio
com os olhos lançados para baixo novamente.
Até eu, que tinha dez anos, entendi que era uma metáfora. Eu sabia que
Teresa era usada como o lírio, e vi que ela também sabia disso. E ninguém nesse
mundo realmente queria ser um lírio estragado, apesar do seu comportamento
contrário, ou pelo menos era o que a minha mãe me explicou, quando eu
perguntei a ela pela primeira vez sobre todo esse negócio.
E essa foi a nossa deixa. — Você pode, Pai! E nós podemos, Pai! — Todos
disseram alegremente.
Eu amava essa parte e sempre fazia um frio estranho correr pela minha
espinha. Era como uma reviravolta na história, aquela que se apoderava de
outra história, e isso fazia o seu coração saltar e você precisava falar com alguém
de imediato. Somente quando Hector levava alguém novo no pódio, a
reviravolta na história fazia parte de sua vida e era boa, e elas geralmente
choravam e seguiam em frente e falavam sobre isso.
Naturalmente.
Hector olhou para a plateia em minha direção e eu sabia que era a minha
deixa para levar a água.
Meu pai retirou os braços que estava ao redor dos meus ombros e eu fui
em direção à fonte de mármore de água na parte de trás do templo. Eu enchi o
copo pequeno que estava ao lado dela e caminhei pelo corredor central para
Hector.
Ela dizia que os deuses levavam Hector para eles, mas era a escolha deles
seguirem.
Apesar de ter sido uma caminhada difícil, eu amava este ritual de duas
vezes por semana sair para coletar a água purificada que eu levava e servia no
templo. Eu fazia o meu caminho pela trilha o mais rápido possível, praticamente
correndo em alguns pontos, para que eu pudesse passar mais tempo na
nascente. De vez em quando, Hector me acompanhava e dizia uma bênção sobre
a água, embora na verdade, os deuses que forneciam a água de cura para nós,
para que ficássemos puros e limpos quando o dilúvio viesse. Era essa
purificação que equilibrava nossos sistemas e ajudava a afastar o mal e a
tentação.
Sempre que alguém ficava ferido ou doente, eu buscava uma dose extra
de água para eles, já que a doença era principalmente um estado enorme de
desequilíbrio, assim Hector dizia. Hector também disse que, embora os deuses
dessem a água para nós, e que ajudaria com a situação, em última análise, tinha
que ser levado em conta se a vontade dos deuses era pela cura ou não. Às vezes,
eles consideravam que ocorresse a cicatrização, e às vezes, Hector dizia que não
era vontade deles, e nós tínhamos que aceitar isso e não questionar os motivos.
Não era para nós sabermos, pelo menos, não ainda.
Esse foi o caso com Maya. Meus pais tinham me dito que quando eles
viram a deformidade da sua perna e o fato que seus traços eram diferentes,
tinham pingado as águas curativas dentro da boca pequena do bebê, mas,
aparentemente, os deuses tinham suas razões para mantê-la do jeito que ela era,
porque naquele momento, a água não funcionou.
Eu tinha certeza de que a água era mágica, porque toda vez que eu bebia,
uma sensação de paz e felicidade fluía em mim, e eu me sentia limpo e
fortalecido.
Mas Eden... Ela não brincava com as outras crianças que viviam no
alojamento com ela? Os filhos dos membros do Conselho? Ou ela era proibida
por algum motivo? Eu já tinha visto a forma como os meus amigos olhavam
para ela enquanto ela caminhava para a frente do Templo mês após mês - ainda
com algum interesse - mas era evidente que ela era diferente do que o resto de
nós. Separada... E vista com certa desconfiança, provavelmente até ciúme.
Eu observei Eden mais de perto depois daquele dia, mais curioso sobre
ela agora, o que ela fazia, como ela vivia. Ela estava tão perto e ainda assim
parecia tão longe do resto de nós.
De repente, notei uma cabeça loira espreitando por detrás de uma árvore
um pouco longe. Eu fingi não vê-la e não parei de brincar, de vez em quando
olhando por cima, onde agora conseguia ver Eden posicionada entre o pequeno
bosque de árvores de acácia, bem à direita da área aberta.
Eden puxou os ombros para trás e olhou ao redor, seus olhos demorando
em mim quando ela sussurrou: — Eu estava me perguntando se poderia
participar do seu jogo.
Todo mundo se afastou dela um pouco, olhando de um para o outro com
incredulidade. Nenhum dos filhos dos outros membros do conselho pediu para
brincar com a gente, nunca, nem uma vez.
Eden parou e virou-se para mim quando várias crianças saíram do campo
para ver o que estava acontecendo e o porquê da demora do jogo.
Fui até Eden e dei a volta ao redor dela em um círculo lento enquanto ela
ainda estava de pé, virando a cabeça para me observar. — Você sabe alguma
coisa sobre as glórias da manhã? — Eu sorri quando olhei em seus olhos azuis
profundos. Ela era apenas uma criança, mas eu não pude deixar de notar que
certamente ela era bonita.
Olhei para os meus amigos que estavam ao redor. — O ponto é você não
tem que ser apenas uma flor ou uma erva daninha. Pode ser os dois — Encolhi
os ombros. — Eu acho que algumas pessoas são ambos — Olhei para os meus
amigos e sorri para eles, levantando as sobrancelhas.
— Ah, Deus, Calder, eu juro que às vezes você faz as coisas por algumas
razões — Xander zombou. — Tudo bem, flor, erva daninha, qualquer que seja,
vamos jogar. Eden pode ficar na sua equipe.
Todos correram para entrar em suas posições. Olhei para Eden quando
um sorriso lento se espalhou em seu rosto, e ela riu alto quando olhou para
mim.
Nós jogamos naquele sol quente por pelo menos uma hora antes da Mãe
Miriam descer espreitando do pavilhão principal parecendo irritada. — Eden! —
Ela gritou. Eden correu para fora do campo passando por mim, seu cabelo longo
e loiro pesado estava voando atrás dela. Ela tinha jogado com mais entusiasmo
do que ninguém no campo e dentro de meia hora ou algo assim, todo mundo
estava tratando-a como um das comuns “ervas daninhas”. Eu achei que o
sorriso não deixou seu rosto o tempo todo que ela estava com a gente.
Eden, sim, ela era definitivamente uma glória da manhã: tão bonita
quanto uma flor e com a força de uma erva daninha.
Ela olhou para trás quando foi embora com Miriam e embora eu pudesse
dizer que Miriam já estava lhe dando uma bronca, Eden me deu um sorriso
como se quisesse dizer que valeu a pena, completamente valeu à pena. Eu sorri
de volta.
Olhei para a minha mão e, lentamente, abri os dedos. Dentro tinha uma
bala de caramelo.
Eden
Através dos anos, esse era o nosso jogo, de Calder e meu. Ele, de alguma
forma sorrateiramente deixava glórias da manhã em lugares onde eu iria
encontrá-los. Principalmente no Templo, ao redor do meu assento, que
qualquer pessoa pensaria que era apenas uma flor que tinha voado para lá.
Alguns meses eu encontrava vários, e outros meses nenhum.
Ele ficou alto e forte, e sua pele era bronzeada e lisa. Ele ficava
constantemente sem camisa no verão, mantendo apenas um pequeno pedaço de
tecido pendurado frouxamente ao redor do seu pescoço para que ele pudesse
limpar a testa enquanto trabalhava. Meus olhos vagavam sem pudor em seus
braços musculosos e seu plano estômago marcado. Para mim, ele parecia um
deus que tinha vindo direto do Elysium.
Era pecaminoso observar a sua nudez, eu sabia, mas algo em mim era
ruim e eu não conseguia parar.
Seus olhos eram ligeiramente inclinados de forma que ele parecia exótico
e seu cabelo castanho escuro era espesso e brilhante. E o seu sorriso... Seu
sorriso iluminava o meu mundo, mesmo de longe.
Em todo caso, era assim que eu conseguia deixar os pequenos doces para
ele. Eu voltava do “banheiro” um pouco suada e um pouco tonta, e tinha certeza
que Mãe Miriam, que era amante de Hector e minha professora de piano,
perguntava o que exatamente foi que eu fiz lá.
— Pai — Eu disse olhando para baixo e apenas olhando para ele com os
olhos virados para cima. Mordi o lábio nervosamente.
Ele suspirou e tirou alguns dos meus longos cabelos colocando-os atrás
do ombro. Olhei nervosamente os dedos ao lado do meu rosto.
— Eden, você fica mais bonita a cada dia. Os deuses, em suas infinitas
sabedorias, escolheram um anjo para nos levar aos anjos — Ele sorriu e tirou a
mão e a respiração que eu estava segurando saiu em um suspiro forte. Hector
não pareceu notar.
— Eu tenho que ir embora por um tempo, meu amor — Ele se virou para
mim totalmente. — Mãe Miriam vai se juntar a mim na minha busca neste
momento. Os deuses falaram e me disseram onde precisam de mim. Vou sentir
falta de minha princesinha. Mas você vai estar em boas mãos. Mãe Hailey estará
a cargo de cuidar de você e se certificar da prática do piano, e de que você faça
suas lições como deve.
Ele pareceu perplexo por apenas um segundo, mas então sua expressão
foi apagada. — Nossa família está fora de equilíbrio. Eu sinto isso, então tenho
que garantir que isso seja colocado de novo em harmonia. Vou conhecer uma
pessoa, um membro do conselho, acho — Ele olhou para o nada por um segundo
e depois pareceu subitamente sair disso. Sua frase continuou como se ele nunca
tivesse pausado nada. — E quando eu encontrá-los, assim como a encontrei
uma vez, minha princesa - a menina para me trazer paz e equilíbrio, para nos
trazer toda a paz e equilíbrio - vou trazê-los para cá.
Ele fez uma pausa novamente. — O mundo inteiro está fora de equilíbrio,
Eden. Desequilíbrio não traz nada além de pecado e ganância... Dor. Devo
proteger Acadia disso.
Eu olhei para os meus pés, realmente não sabia o que ele queria dizer. —
Eu vou sentir sua falta, é claro, Pai — E eu achei que iria, pelo menos um pouco.
Afinal, ele era o único pai que eu tinha.
Hector ficou em silêncio por um minuto. Então ele andou atrás de mim e
colocou as duas mãos sobre meus ombros. Ele mexeu no meu cabelo na parte de
trás do meu pescoço e eu congelei quando senti sua respiração quente na minha
pele diante dos seus lábios pressionados contra mim. Eu tremi, me forçando a
ficar parada no sofá.
— Não vai demorar muito agora que vamos nos casar e vou tê-la como
minha esposa. E o prenúncio realmente vai acontecer.
Mãe Miriam nunca foi abençoada com filhos e, então, agora eu tinha
barulho e risos de crianças ao redor para me trazer felicidade.
Mas ela apertou minhas mãos nas dela e parecia entender o que eu estava
pedindo, mesmo que eu não o tivesse feito. — Eu sempre quis uma menina. Eu
amo meus filhos, mas, também, ter uma menina seria adorável — Ela se
levantou e bateu palmas. — Bem, agora, isso é motivo de celebração.
Ela olhou para mim. — Sim, Eden, ele é um homem bom se você for
obediente.
Eu balancei a cabeça. Sim, eu entendia. Era para a única coisa que eu fui
educada desde o dia que deixei minha casa com Hector. Isso e minha música.
Mas no meu quarto sozinha, eu sonhava. Eu permitia que minha mente vagasse
de maneiras que estavam longe de ser obediente.
Meus dias depois foram preenchidos com a primeira felicidade
verdadeira que eu conheci desde que tinha chegado. Passava a manhã brincando
com Jason, Frineu, Simon e o bebê Myles e as tardes com a leitura do Livro
Sagrado - uma compilação dos ensinamentos e prenúncio dos deuses, como
falado para Hector. Então eu praticava piano no início da noite, enquanto
continuava o meu verdadeiro trabalho em tempo integral, que era sonhando
com Calder Raynes.
Agora era mais fácil para sair de fininho e deixar as balas de caramelo
para ele, e então eu aumentava meus esforços. Calder tinha a barriga cheia de
açúcar naquelas primeiras semanas.
Ela disse alguma coisa e olhou para ele, e ele inclinou a cabeça para trás e
riu como se fosse a coisa mais engraçada que alguém já tivesse dito na história
de toda a vida na Terra.
A ânsia percorreu meu corpo, tão poderosa que eu realmente tremi onde
estava. Meu rosto estava quente e eu estava um pouco tonta, mas não conseguia
desviar o olhar.
Quando eu cheguei lá, bati a porta atrás de mim e me encostei contra ela,
tentando recuperar o fôlego e acalmar a minha corrida, com o coração doendo.
Eu nunca o teria. Ele nunca seria meu - nem mesmo seu riso.
Calder
Este era o meu décimo sétimo ano. Eu faria dezoito em breve e estava
quase na hora da minha cerimônia de purificação de água. Eu não sabia se isso
aconteceria bem no meu aniversário ou não, já que Hector tinha ido para outra
peregrinação. Se ele não estivesse de volta até lá, isso teria que esperar até que
ele voltasse.
Minha mãe me disse que eu tinha uma forma ruim de justificar as coisas
a meu favor, que eu admitia provavelmente ser verdade. Só que a vida parecia
muito cheia de tantos prazeres. Eu me perguntava por que cada um deles tinha
que ser pecado. Eu não conseguia deixar de imaginar os deuses em Elysium com
rostos tensos e expressões constantemente descontentes, e isso não parecia
muito bom, se eu fosse honesto. Mas eu supunha que de forma alguma eu ficaria
decepcionado com Elysium. Afinal de contas, era o paraíso.
Meu pai disse que só tinha que provar a nós mesmos aqui, com todas as
tentações que os deuses colocavam diante de nós, e as recompensas para o
nosso sacrifício se derramaria sobre nós na vida após a morte. Apesar de que,
provavelmente, não teria Coca-Cola em Elysium, e esse era um pensamento
verdadeiramente deprimente.
Eu estive lá algumas vezes ao longo dos anos, mas eu sabia que não era
Eden. Seus brinquedos estavam do mesmo jeito e as poucas vezes que entrei,
não havia nenhum sinal de qualquer presença humana.
Eu fiz o meu caminho através das rochas até a área aberta onde a
nascente estava à vista, e foi então que eu a vi. Ela estava de costas para mim e
estava de frente para a grande rocha que ficava na borda traseira da nascente.
Suas mãos estavam em punhos em seus lados e um derramamento glorioso de
ondas loiras claras em cascata pelas costas, cobrindo a maior parte dela. Mas
suas pernas estavam descobertas, assim como os ombros e eu pisquei para a sua
nudez. De costas para mim, permiti que meus olhos se movessem lentamente
pelo corpo dela - dos ombros delicados à sua cintura fina, seus quadris
levemente arredondados, descendo para suas pernas magras e voltando para
cima novamente. Meu corpo se mexeu, tensionou e o sangue martelava em
meus ouvidos. Eu engoli com dificuldade, incapaz de me mover, enraizado no
lugar enquanto eu a observava.
Eden pôs as mãos ao lado do corpo novamente e então ficou parada por
um bom tempo, parecendo estar tentando decidir o que fazer. Eu esperei,
encantado por ela; não havia outra palavra para isso. Eu me assustei um pouco
quando ela disparou de repente para a água e nadou em frente à piscina rasa até
os ombros. Isso era o único modo de atravessar as grandes pedras que estavam
em ambos os lados daquela pequena nascente. A única rocha acessível era a que
a cobra atualmente estava ocupando. Eden emergiu da água e marchou até a
pequena praia ao lado da pedra. Ela subiu na pedra enquanto eu a observava,
encantado, quando ela pegou a cobra e a jogou além na folhagem. Em seguida,
ela limpou as mãos e se jogou para baixo, depois de ter expulsado a cobra com
uma rapidez que eu, com certeza, não esperava.
Eu não consegui evitar isso. Eu comecei a rir alto. Eu achava que nunca
tinha visto um espetáculo como esse antes.
Eu fiquei sério, agora que o controle do desejo inicial tinha tomado conta
de mim ao vê-la. Enquanto eu olhava para ela, uma sensação estranha tomou
conta de mim, quase como uma espécie de déjà vu, como se esse momento fosse
uma lembrança, não uma que estivesse em minha mente, mas no meu sangue,
na fibra do que eu era. Parecia algum tipo de lembrança, ou talvez uma visão.
Ou talvez um sonho nebuloso há muito esquecido, se tornando realidade.
Ela apenas olhou para mim por várias batidas antes que se endireitasse e
dissesse: — Oi, Bala de Caramelo.
Seus olhos corriam aos meus e suas bochechas ficaram num belo tom de
rosa. — Eu... Eu odeio cobras — Ela disse com os lábios tremendo. — Tipo,
realmente, realmente as odeio.
Olhei para ela por alguns segundos. — É claro que não foi isso que
pareceu para mim. Eu acho que para a cobra também — Eu sorri para ela.
Eu estava quase certo. Seus olhos eram da cor de uma glória da manhã
escura. Só de perto, vi manchas douradas ao longo da borda exterior. Eles eram
da cor de uma glória da manhã azul, banhada em uma brilhante luz solar do
amanhecer.
Ela olhou para seu colo e disse calmamente: — É que eu não estive aqui
há algum tempo, e estava realmente ansiosa por isso. Era tudo o que eu queria.
Só nadar na nascente e me sentar nesta mesma rocha, a única no sol. E então eu
vi a cobra, e eu... Eu nunca consigo o que quero — Seus olhos voaram para os
meus novamente. — E eu sei que é egoísta. Não deveria apenas pensar em mim.
É só que... Isso me deixou tão irritada — Ela parou.
Ela se virou para mim mais plenamente. — Como é que você as colocava
no quarto? — Ela perguntou, com os olhos arregalados.
Eu olhava para Eden acima de mim, fechando um dos olhos contra o sol.
Ela se virou e estava olhando para mim, esperando pela minha resposta.
Eden sorriu e inclinou a cabeça. — Bem, agora vou ter que entregar duas
balas de caramelo. Eu não sabia que você tinha um funcionário — Ela sorriu
para mim e eu ri. Deus, ela era tão bonita. Ela me deslumbrava com seu cabelo
loiro claro e aqueles grandes olhos azuis escuros, que pareciam ter todo um
mundo por trás deles, um mundo que de repente eu queria conhecer, explorar.
Fiquei surpreso. Ela parecia mais jovem e eu sempre tinha assumido que
era. Para mim, a idade estava diretamente ligada ao prenúncio das grandes
inundações. Eu balancei a cabeça, fazendo as contas e, de repente sentindo-me
mais ansioso do que antes. Deixei isso de lado.
— A marca.
Cheguei mais perto e apertei os olhos para ver o que parecia ser uma
marca de nascença pequena, perto de seu ombro que era suposto ser um eclipse.
Ela deu um pequeno sorriso. — Na igreja que eu fui antes de chegar aqui,
eu acho que tinha uma história sobre o primeiro homem e a primeira mulher em
um lugar que imagino que se pareça com esse — Ela acenou com o braço em
volta nas rochas altas e a nascente bem a nossa frente, brilhando à luz do sol.
Seu sorriso se alargou. — Tinha até uma cobra! — Ela riu e eu não pude deixar
de sorrir também.
— Não, quero dizer, me fale sobre o lugar que você viveu antes. Conte-me
sobre a sua casa e seu carro, e a cidade que vivia.
De repente, ela olhou para mim. — Você vai me dizer o que está
construindo na beira do rio no seu tempo livre?
Ela olhou para mim e deu um riso pequeno também, mas depois ficou
séria. — Sim, é claro — Ela olhou para baixo e depois de volta para mim. — E eu
vejo você, às vezes — Ela sussurrou e depois desviou o olhar. — Eu sinto muito.
É muito rude... Tipo eu... Observei-o.
Seu rosto pareceu cair um pouco, mas ela se conteve e sorriu. — Tudo
bem — Ela sussurrou.
Fiz uma pausa, sabendo que eu deveria dizer a ela que não estaria de
volta, mas de alguma forma, não fui capaz. Estar em sua presença depois de
todo esse tempo me fez sentir muito bem e parecia que a ideia de passar o
tempo com ela me trouxe felicidade, também. — Então, adeus, por enquanto —
Eu sorri e me virei, voltando para a nascente onde eu juntei a água necessária na
cabana de parto.
Eden
Eu queria falar com ele durante todo o dia, para ouvir aquela profunda
risada gutural que tomava conta de minha pele e me fazia tremer. Sua voz soava
como a chuva quente de primavera caindo em uma estrada de cascalho.
— Certo. Bem, obrigado por nos permitir compartilhar o seu oásis hoje.
Eu não tinha ideia de que isto estava aqui. Quando Calder me contou sobre a
nascente, eu achava que era apenas um pequeno buraco de água com algumas
pedras ao redor. Você estava escondendo isso de mim, Calder — Ele piscou e eu
sorri, olhando de volta para Calder, encontrando-o olhando para mim com uma
expressão estranha no rosto. Ele pareceu sair de um transe e seu rosto abriu-se
num sorriso, também, quando cutucou Xander.
Xander deixou escapar um suspiro. — Bem, você sabe que tenho tanto
entusiasmo quanto isso pode, o que é uma caminhada ao torno do perímetro de
Acadia mil vezes por dia.
Houve silêncio por um minuto e quando olhei para cima, ambos, Xander
e Calder tinham olhares correspondentes de surpresa em seus rostos.
Calder olhou para baixo e começou a traçar algo sobre a rocha, quase
como se ele estivesse inconscientemente desenhando.
— Nada com você — Calder disse, sorrindo de uma forma que me deixou
quente. — Você deu àquele desenho na terra um monte de pensamento.
— Oh, não, Eden, eu só estava brincando com você. Uh, vamos ver... Sinto
muito, não me lembro o que eu poderia ter desenhado.
Calder deu de ombros. — Todos nós temos os nossos empregos. Meu pai
diz que todos são igualmente importantes — Ele ficou em silêncio por um
instante e depois continuou. — Todos eles equilibram a comunidade.
— Oh, ei, ei, ei — Disse Xander colocando as mãos para cima, como se
fosse para afastar a ideia muito, muito ruim de Calder. — Ainda pior do que eu
pensava. Isso é simplesmente estar pedindo para ter problemas, Calder.
— Olha quem está falando — Calder disse, sem tirar os olhos de mim.
Calder sorriu para mim. — Ok — Ele disse suavemente, sem tirar os olhos
dos meus.
Mordi o lábio, não tão certa agora. O porão era um espaço muito grande e
cavernoso sob o pavilhão principal, onde Hector levava os duzentos ou mais de
nós, pelo menos uma vez por ano para um exercício de treinamento para nos
preparar para quando as grandes inundações viessem. Eu tremia só com o
pensamento de ficar no porão com todos aqueles corpos pressionados juntos,
sentindo-me doente, com medo e claustrofóbica.
Tinha também uma pequena sala lá em baixo com uma porta pesada de
metal utilizada raras vezes, quando alguém fazia algo que ia contra Hector ou os
deuses. Eles seriam presos pela quantidade de tempo que levava para que eles se
arrependessem e depois eram trazidos de volta e ficavam sentados ao lado do
pódio, onde Hector dava seus sermões. Eles tinham que se ajoelhar em um
pedaço de metal com pequenas protuberâncias sobre ele desde o início do culto
no Templo até o fim. Aquilo não perfuraria a pele, mas o olhar no rosto daqueles
que tinham sido punidos dessa forma, me indicava com certeza como se sentia
depois de ficar ajoelhado sobre ele por duas horas.
Seu rosto abriu um sorriso com seus dentes alinhados aparecendo. Seu
sorriso transformava seu rosto, tornando-o incrivelmente, ainda mais bonito.
Borboletas bateram suas asas em minha barriga. Eu o tinha visto usar seu
sorriso com os outros, mas ser o beneficiário disso foi emocionante. — Amanhã?
— Perguntou ele.
— Era tudo que eu poderia pegar sem deixar isso óbvio — Eu expliquei
quando ele estava olhando para os itens.
Ele olhou para mim. — Isso é muito mais do que suficiente. Obrigado,
Eden — Ele parecia como se quisesse dizer mais, mas estava meio perdido. Ele
esfregou as mãos nas coxas e disse: — Então, por qual lição deveríamos começar
hoje?
Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas depois fechou-a e começou
de novo. — Tem certeza disso?
Eu ri. — Sim.
Calder riu. — Tudo bem. Ei, que tal isso? Que tal fazer as duas coisas ao
mesmo tempo? Eu vou desenhar e dar uma lição ao mesmo tempo. Posso fazer
multitarefas. E sinta-se livre para fazer qualquer pergunta que queira.
Inclinei a cabeça. — Ok, se você tem certeza que não vai distraí-lo.
Depois de uma hora ou algo assim, Calder colocou seu bloco para baixo.
— Você vai saber tudo em pouco tempo — Disse ele.
— Por que exatamente você está fazendo isso? — Fiz um gesto com a mão
para o papel. — Quero dizer, com exceção da troca? Hector não aprovaria isso, e
nós poderíamos ser punidos. Porque você está correndo esse risco?
— Ele conversa?
Calder assentiu. — Ele fez amizade com alguns deles. Quando éramos
crianças, costumávamos roubar a estação. Ou melhor, Xander fazia o roubo, eu
só sabia, de qualquer forma, há alguns anos atrás ele foi pego em flagrante. Só
que em vez de entregá-lo, a mulher que o pegou perguntou o que ele mais
gostava de todas as coisas que ele estava levando. Ele disse a ela, e agora, às
vezes, ela traz doces e outras coisas apenas por bondade — Ele desviou o olhar
de novo, pensando. — Eu não acho que todas as pessoas na grande sociedade
são perversas e más, Eden. Talvez alguns sejam, talvez mais. Não sei. Mas, a
questão é que eu não acho que Hector esteja completamente certo sobre isso —
Ele deu de ombros. — E se ele não está certo sobre isso, talvez não esteja certo
sobre algumas outras coisas também, como o fato de que você não deve ter uma
educação. Sei que os deuses falam com ele, mas ele também é humano.
— Você confia em mim — Eu disse, sabendo que ele não me disse que o
fazia, mas esse não era o caso.
— Eu acho que meu pai fazia algum tipo de trabalho com o dinheiro de
outras pessoas. E a minha mãe, ela não trabalhava, pelo menos não que eu me
lembre. Morávamos em Cincinnati, eu sei disso — Dei de ombros. — Eu sei que
eles eram bons amigos de Hector. Lembro-me de ele estar em nossa casa.
Lembro-me da minha mãe me dizendo que iríamos morar com ele. Aqui,
presumo. Mas então... Eles se foram, e ficamos só Hector e eu em uma casa
diferente por um longo tempo, talvez anos. É isso. Eu tentei muito me lembrar
mais depois disso, mas isso simplesmente não vem. E eu era muito nova, acho.
— O quê? — Eu perguntei.
Tive a sensação de que ele estava prestes a dizer alguma coisa, mas não o
fez. Eu balancei a cabeça de qualquer maneira e disse: — Obrigada.
Ele olhou para ele. — Oh. Sim, com certeza — Ele deu a volta e minha
respiração ficou presa.
Ele tinha esboçado a nossa - de repente, era isso, nossa - nascente. Ele só
tinha usado lápis carvão, mas de alguma forma era exuberante e bela, as
sombras e os destaques insinuando a profundidade de cor na água, as rochas, a
grama e o céu. Era... De tirar o fôlego.
— Calder. Você é... Nunca vi nada tão bom. Você nunca teve aula?
Nós caminhamos até a trilha e quando chegamos perto do topo, ele parou
e acenou para que eu passasse a frente dele para não sairmos juntos.
Calder
Imaginei Eden reclinada ali com o vestido delineando sua forma elegante,
a blusa moldando os seios pequenos e redondos, então meu sangue aqueceu.
Não, pensamentos como esse sobre Eden era uma ideia muito ruim. Ela
estava fora dos limites da maior maneira possível, e eu precisava me lembrar
disso. Seria melhor se eu tivesse terminado a nossa troca e nunca mais olhasse
para ela novamente. Mas o desejo de estar perto dela era muito forte para
resistir. Eu poderia ser punido severamente, mas talvez valesse a pena. Eu me
esforcei para ter pensamentos puros perto dela, mas sua beleza... Pare, Calder.
Não pense em sexo quando ela está prestes a chegar.
Glória da Manhã. Tão bonita quanto uma flor, tão forte como uma erva
daninha.
Eu amava o nosso jogo ao longo dos anos. Para mim, era uma aventura,
um segredo. Eu até tinha usado algumas sementes de glória da manhã para
plantar um pequeno arbusto na borda do campo, onde eu trabalhava. Era
verdade o que eu disse sobre a glória da manhã ser mais forte do que parecia.
Aquele arbusto funcionou para colher, mas eu a mantive pequena e contida,
porém grande o suficiente para fornecer-me as flores azuis que eu deixava para
Eden tão regularmente quanto possível.
— Oh, vocês definitivamente sabe o que faz. Estou mais preocupada é que
eu realmente pareça uma abóbora e seu retrato habilidoso confirmará isso.
Oh, Eden, não faça isso. Não me mostre que você quer ser beijada.
Meu lápis continuou se movendo. Depois que comecei, era quase como se
minha mão assumisse. Eu mal tinha que pensar no que estava desenhando.
— Ok, vamos falar sobre isso hoje e tudo o mais que me lembro desde o
primeiro ano de ciências. Imagino... Bem, acho que qualquer coisa que eu não
consiga me lembrar, provavelmente não seja tão importante. Ou, pelo menos,
não é aplicável para a vida — Eu ri baixinho e ela sorriu para mim, mas depois
ficou séria e suspirou.
Levantei-me, fui até ela e arrumei seu cabelo de novo para que uma parte
ficasse na luz do sol onde brilhava como ouro. Havia algo cintilante nela, uma
incandescência exuberante. Não era à toa que ela foi a escolhida para nos
guiar através da escuridão, pensei. Ela brilha.
— Eu... — Ela olhou para baixo, quando um tom rosa subiu por seu
pescoço. Então seus olhos bravamente encontraram com os meus. Ela se
inclinou para a frente e colocou seus lábios nos meus. Eu me assustei um pouco,
e meus olhos permaneceram abertos, enquanto seus lábios simplesmente
pressionavam contra os meus, firme, mas macios com seus olhos fechados. Eu
sabia que deveria me mover - eu sabia que deveria - mas eu estava preso ao
chão, imóvel, incapaz de ter um pensamento racional. E então sua língua saiu
timidamente e antes mesmo que eu percebesse, a minha também. Seu sabor
doce e delicioso me cercou quando nossas línguas se encontraram e se tocaram
suavemente, testando, experimentando. Eden suspirou, suas mãos agarraram
meus ombros e ela me puxou para mais perto. Ela inclinou a cabeça e sua língua
molhada deslizou mais profundamente em minha boca.
Quando me virei para ela, seu rosto estava corado e ela piscou para mim
com seu rubor se aprofundando. — Eu sinto muito — Disse ela em voz baixa. —
Eu só queria... Beijá-lo. Só uma vez. Mesmo se você não quisesse muito — Ela
balançou a cabeça ligeiramente com uma expressão feroz em seu rosto, porém
vulnerável e repleta de uma força cautelosa que me fez sentir intimidado ao
estar na presença dela. Desde a primeira vez que eu tinha falado com ela,
quando ela pediu para se juntar ao nosso jogo, senti uma determinada força
sobre ela. Ela parecia mansa, gentil, suave. Contudo, a profundidade da sua
força era evidente, algo que eu nunca tinha visto em mais ninguém que eu
conhecia. — Se eu tiver que viver em Elysium o resto da vida com alguém que eu
não amo, pensei que talvez um beijo seu, mesmo que apenas um, tornaria isso
suportável — Seus olhos subiram para os meus e eu a encarava.
Suas palavras agitaram meu interior. Eu tinha vivido a minha vida com o
conhecimento de que um grande dilúvio viria e nossa comunidade, as pessoas
de Hector, iriam para a terra prometida. Eu tinha sonhado que Elysium seria
semelhante, o cheiro, a sensação. Eu tinha secretamente até mesmo temido, me
perguntando se eventualmente era tudo o que Hector dizia. Afinal de contas, ele
nunca realmente esteve lá. Mas eu nunca tinha considerado que Eden pudesse
temer algo - ter seus próprios sonhos nunca cumpridos por causa de seu papel
no prenúncio. Eu até tinha percebido que ela olhava para seu papel como um
dom, como foi ensinado para o resto de nós. Mas, claramente, que não era o
caso.
E, no entanto... Os deuses sabiam mais. Ou será que não?
— Eu sinto muito. Isso — Ela balançou a cabeça. — Isso foi muito, muito
errado da minha parte. Sinto muito por colocá-lo nessa situação.
Eu coloquei minha mão em seu braço; sua pele era quente e macia. Tirei
minha mão rapidamente. — Não, eu quero te beijar de novo, e quero fazer isso
melhor. Mais do que estou disposto a pensar.
Os olhos de Eden se arregalaram. — Então... Por quê? Por que não pode?
— Seus olhos estavam cheios de mágoa.
— Eden... — Eu disse, mas não sabia para onde ir a partir daí. Corri os
dedos pelo meu cabelo de novo e dei um passo para trás quando ela puxou o
vestido arrumando-o e começou a recolher suas coisas.
Assim como a coragem que ela tinha demonstrado naquele dia no campo
de jogo.
Tão bela como uma flor. Tão forte como uma erva daninha.
E algo dentro de mim parecia que tinha mudado, porque eu tinha sonhos
também. Naquele momento, naquele lugar, eu admiti para mim mesmo que eu
ansiava por mais para a minha vida e talvez esses sonhos fossem bonitos,
também. Admiráveis. Eu sempre tinha empurrado o desejo para longe, tinha
vergonha dele, pensando que era pecado, egoísta.
Mas talvez, apenas talvez, os meus sonhos não eram tão pecadores como
eu sempre pensei que fosse... De algum modo.
Mais tarde naquela noite, depois que eu tinha entregado a água potável
do dia seguinte pelas cabanas, vi Xander fazer uma passagem pelo perímetro da
nossa terra e corri para onde estava. Quando eu abrandei para uma caminhada e
me juntei a ele, ele se assustou um pouco.
— Hey.
— Ei, eu vejo que você seria muito útil em um ataque — Eu brinquei com
ele.
Ele bufou. — Perdido em meus pensamentos. Você está certo. Todos são
alvos muito fáceis comigo aqui fora.
— Você está errado — Ele interrompeu. — Você não sabe o que vou dizer.
Isto tem a ver com Eden de uma forma indireta, mas não como você está
pensando — Ele passou a mão pelo cabelo preto e liso. — Eu estive pensando
isso por um tempo, e nunca disse nada, porque, bem, tenho tentado superar os
meus próprios pensamentos pecaminosos... Eu acho. Minha cabeça está toda
bagunçada a maior parte do tempo — Ele olhou em volta. — Mas eu — Ele olhou
em volta rapidamente e depois para mim. — Questiono as coisas, Calder.
Questiono Hector — Ele parecia triste.
— Por que você não me disse nada antes? Falamos sobre tudo.
Ele desviou o olhar por cima do meu ombro. — Sim, eu sei. Eu estava
tentando dar sentido a isso... Ou superar... Ou algo assim. Eu juro, Calder, eu
não sei mesmo.
Sasha era vários anos mais velha do que nós e casada com outro
trabalhador. Mas junto com a gente, ela estava entre os que haviam nascido aqui
ou chegou a Acadia quando bebê. Nós não tínhamos escolhido esta vida. Isso
nos escolheu.
Xander balançou a cabeça. — Não, Sash é feliz. Ela gosta da sua vida.
Acho que ela realmente ama Aaron. Ela nunca parecia inquieta.
— Mas continuamos a não ter nada nosso — Xander fez uma careta e
olhou para longe, murmurando: — Mesmo dizer isso parece errado.
Eu franzi minha testa. Nos sempre foi ensinado a não querer nada para
nós mesmos, em vez de o grupo como um todo, era pecaminoso e egoísta. Não
era uma ideia fácil esquecer também. E talvez isso fosse uma coisa boa. Tudo era
tão terrivelmente confuso.
Ele acenou com a cabeça. — Sim... Ela é... — Ele fez uma pausa, olhando
como se estivesse tentando chegar a palavra certa para essa misteriosa Kristi. —
Amável.
Alguém bateu a porta de uma cabana, e mesmo que isso não estivesse
muito perto de onde estávamos, ambos nos assustamos. Baixei a voz ainda mais
quando disse: — Não vamos falar sobre isso novamente, a menos que saibamos
que estamos em algum lugar onde ninguém está por perto.
Ele fez uma pausa. — Você tem sentimentos por ela, não é?
Xander assentiu uma vez. — A coisa é, Calder, nem sempre é uma escolha
por quem se desenvolve sentimentos. Você está brincando com fogo em mais do
que uma maneira. Qualquer tolo pode ver o jeito que vocês se olham. Quanto
mais tempo passam juntos...
Eden
O resto da tarde passou a passo de caracol quando esperei para que ela
ficasse escura e para que Hailey fosse para a cama.
Uma vez que o pavilhão principal estava tranquilo e o céu à noite era
profundo e negro, apenas o pedaço da lua nova era exibido, desci as escadas e
passei pela porta da frente, fechando-a silenciosamente atrás de mim. Uma vez
que eu tinha passado pelo pavilhão principal, coloquei a capa e todo o meu
cabelo dentro, puxando o capuz baixo sobre o meu rosto. Então caminhei
rapidamente em direção às cabanas dos trabalhadores onde várias fogueiras
estavam acesas a noite.
Em uma das fogueiras, um homem estava cantando baixinho, sua voz era
tão grave e melódica que fez todos ao redor se sentarem calmamente e
escutarem. Eu parei por um segundo embalada pelo som calmo da sua voz
baixa, desejando que pudesse tocar piano enquanto ele cantava. Senti as teclas
sob meus dedos, encontrando as notas que acompanhavam a melodia que ele
cantava.
— Você vai ver — Eu podia ver seu sorriso suave, porém travesso no
brilho ofuscante de uma fogueira nas proximidades e sua beleza me atingiu.
Meu coração deu um salto. Eu queria gemer e levantar o rosto para os deuses,
gritando: — Por quê? Por que vocês o fizeram tão lindo para mim se eu nunca
poderia ficar com ele, por quê? Por quê? Por quê?
— Nossa lição do dia. Vamos — Ele pegou minha mão na sua de novo e
nós caminhamos através das fragrâncias das árvores enluaradas. Os perfumes
da terra – o solo, a grama e o aroma suavemente do ar – nos cercava. A mão de
Calder mantinha a minha - segurando firmemente e espalhando calor pelo meu
corpo.
Isso. Isso era Elysium - não algum lugar longínquo, insondável. Isso.
Eu balancei a cabeça, olhando para ele. A luz das estrelas era suave,
apenas o suficiente para que eu pudesse ver Calder, apenas em sombras e
destaques, porém o suficiente para perceber sua expressão.
Ele fez uma pausa e eu prendi a respiração. — Você quer dizer sobre o
beijo? — Eu ouvi o sorriso em sua voz. — Eu mal pensei nisso.
Calder riu, virando o rosto para mim. Virei o rosto em direção ao dele e
nós olhamos um para o outro. Uma expressão divertida ainda estava em seu
rosto antes de ele ficar sério. — Posso ser honesto com você, Eden?
Eu gemi, olhando de volta para o céu. — Isso vai ficar pior, não é?
Calder riu. — Não — Ele suspirou e ficou em silêncio por algumas batidas.
— Em poucos dias, a vida parece ter se tornado complexa. A parte simples é esta
— Eu olhei para ele, e ele olhou para os meus lábios e, em seguida, pareceu se
segurar quando seus olhos dispararam de volta para os meus. Ele limpou a
garganta. — Se eu fosse apenas um garoto, e você apenas uma garota, eu não
teria beijado uma vez como você pediu — Ele fez uma pausa e meu coração caiu.
Oh.
— Está tudo bem. Sou obediente. Gosto de pensar que sou obediente aos
deuses, mesmo que Hector seja propenso aos mesmos erros ou más
interpretações que qualquer ser humano poderia ser. Gosto de pensar que sou
obediente a esta comunidade, as necessidades e felicidades dos outros aqui. Que
iria acontecer, não só para mim, mas para esta comunidade, se soubessem que
eu estava brincando com a futura esposa de Hector?
— Brincando? Você faz isso parecer tão ruim — Hector frequentemente
usava essa palavra. Ele disse que as ações pecaminosas eram como brincavam
com o diabo.
— Seria errado. Apenas nos encontrar assim... É o mais longe que isso
pode chegar.
Calder se virou para mim. — Meu ponto em ser honesto com você sobre
minha atração é que eu acho que é melhor se estiver às claras, por assim dizer.
Precisamos agir com cuidado. Eu quero ser seu amigo. Mas não em detrimento
de toda a nossa comunidade e não em detrimento dos nossos corações... E dos
nossos sonhos.
Na verdade, meu coração já foi rompido por ele, e quebrado estava, mas
eu balancei a cabeça, de qualquer maneira. Eu sabia que ele tinha sonhos para
sua vida. E estava arriscando aquilo apenas por me encontrar como estava
fazendo, certamente por me ensinar coisas. E isso, fez a minha admiração por
ele mais forte. Como eu poderia pedir-lhe mais?
Eu me segurei de fazer uma careta. Se era para ter alguma chance disso
dar certo, ele não podia flertar comigo.
Ele pareceu ler minha mente quando sua expressão se tornou séria,
limpou a garganta e deitou-se. — Então, falando de abóboras, nossa lição de
hoje vai ser sobre as estrelas.
Calder riu. — Ok, talvez não haja Squasharius — Ele ficou em silêncio por
um minuto. — Você sabia que quando está olhando para as estrelas, na verdade
você está olhando para trás no tempo?
— Porque a luz de uma estrela leva milhões de anos para chegar à Terra.
Assim, por exemplo — Ele apontou para cima novamente, para uma pequena
estrela piscando — Na verdade, aquela pode ser vista há milhares de anos atrás.
Algo nisso parecia mágico para mim e eu decidi não tentar envolver
minha mente em torno da ciência. — É como se eu pudesse imaginar os deuses
lá em cima, em algum lugar por trás de todas essas estrelas, olhando para nós
agora — Fiz uma pausa. — Posso te contar um segredo? — Eu trouxe a minha
voz até um sussurro.
— Qualquer coisa.
— Eu só rezo para um deles — Corei, mesmo que ele não pudesse ver meu
rosto. Dizer isso em voz alta, apesar do fato de eu ler horas e horas do Livro
Sagrado todas as doze divindades a cada dia, parecia uma blasfêmia.
— O Deus da Misericórdia.
— Eu não vou ser capaz de vê-la amanhã para indicá-la — Ele sorriu.
— Hmmm, acho que as estrelas nos ensinam coisas, mesmo que seja de
mil anos atrás.
Parei por um segundo. — Que algumas coisas são vistas de forma mais
clara na luz... E algumas coisas são vistas de forma mais clara na escuridão.
Levantei-me e me limpei. Eu achei que a sua família saberia que ele não
tinha ido para a cama, uma vez que só tinham dois quartos.
Calder olhou para mim e sorriu. — Talvez nós façamos isso novamente.
Eu olhei para cima para ver Clive Richter, meu conselheiro favorito, pelo
menos, um homem com olhos astutos que usava muito produto de cabelo. Eu
pensei que se isso encaixa em sua personalidade gordurosa. Por que Hector o
considerava santo o suficiente para ser um dos líderes de seu povo, eu não tinha
a menor ideia.
— Eles são um bando de degenerados, sabe. Você tem sorte de não ser
estuprada por um grupo deles.
— Sim, mas eles estão aqui porque querem ser purificados — Eu disse.
— Muito linda — Ele cantarolava. — Você tem quase dezoito anos, não é,
Eden?
— Hmm. Posso imaginar que Hector está impaciente para o dia que você
se tornará dele — Ele se inclinou mais perto para que eu pudesse sentir seu
hálito rançoso. — Você vai ser uma boa esposa, não vai, Eden? Tão adorável.
Tão obediente.
Calder
Em vez disso, dois longos dias. Depois de ter ficado com Eden sob as
estrelas, eu estava na porta da nossa pequena cabana escura e olhava em direção
a onde eu sabia que era o quarto de Eden, no segundo andar. Ele estava cheio de
luz e eu me perguntei o que ela estava fazendo lá em cima enquanto eu estava
aqui em baixo. Ela estava sozinha? Entediada? Imaginei que estivesse. Eu me
imaginei colocando uma escada contra essa janela, subindo para ela, e em
seguida, pegando-lhe a mão enquanto nós corremos através da chuva quente,
com o cheiro de maçãs farejando o ar, o vestido agarrado a ela, revelando sua
pele rosa por baixo. Eu gemi. Esta linha de pensamento não era produtiva. Eu
tinha dito a ela que não podia beijá-la, que não poderia ser mais do que amigo.
Mas metade da minha mente e meu corpo - certamente meu corpo - não parecia
estar de acordo com esse plano. Na verdade, parecia haver um motim completo
com o plano, já que meus pensamentos constantemente se voltavam para Eden,
deixando meu sangue em chamas. Várias vezes eu sucumbi à tentação, subindo
para as colinas e me recostando contra uma rocha, e eu me acariciava até que a
liberação atravessasse meu corpo, potente e intensa. Eu sabia que era pecado,
mas momentos antes, isso parecia necessário, vital para a minha sobrevivência.
Essa cerimônia de purificação de água teria o seu trabalho cortado, até onde eu
estava preocupado.
— Você quer alguma coisa para fazer, eu tenho uma centena de latas que
precisam ser preenchidas com tomate — Minha mãe disse, olhando por cima do
ombro onde ela estava na mesa. Latas estavam alinhadas ordenadamente na
frente dela assim como uma panela grande de tomates descascados e
arrefecidos. Ela estava ajudando a fazer estoques de comida para os meses de
inverno. Não era muito frio aqui no deserto, mesmo no inverno, mas tudo tinha
uma temporada e tomates só cresciam em Novembro.
— Sim, mas é evidente que Hector não faz essas mesmas concessões. Por
quê? Alguém já perguntou a ele? Talvez os deuses ordenassem assim? É isso?
— Calder — Minha mãe sussurrou. Eu nunca tinha falado com ela dessa
maneira e de repente eu estava envergonhado.
Ela acenou com a mão na frente dela. — É a chuva. Isso fica sob a pele.
Esta cabana é pequena para quatro pessoas. Amanhã irá limpar, e seu humor vai
melhorar. Você vai ver — Ela sorriu para mim e acariciou minha bochecha. Eu
fiz o meu melhor para sorrir de volta.
— Não.
Minha mãe estreitou os olhos para mim e soltou a panela que estava em
suas mãos. — O que deu em você?
Seus olhos foram para a pequena janela ao lado dela por um minuto.
Finalmente, ela olhou para mim. — Nós nunca teremos todas as respostas para
todas as perguntas, Calder. Mas Hector é bom e Hector tem os nossos melhores
interesses no coração. Isto é tudo que eu preciso saber, e isso é tudo que você
precisa saber. O diabo está testando sua fé e você deve vencê-lo — Ela pegou a
colher e começou a trabalhar novamente, antes de continuar. — Você sabe, se
não fosse por Hector, você nem estaria aqui. Ele salvou minha vida, Calder, e
salvou a vida do seu pai, também. Ele nos deu uma família, um propósito.
Minha mãe acenou com a mão ao redor da nossa pequena cabana. — Isso
pode não parecer muito, mas há paz aqui. Há ordem aqui. Há fé e propósito.
Estamos todos muito felizes. Abençoados. Sei que às vezes a simplicidade da
vida aqui parece difícil. Mas há paz na simplicidade. A grande sociedade está
repleta de caos, incerteza e dor. Acredite em mim, eu sei. — Ela me olhou com o
canto do olho. — Você teve uma vida boa, Calder?
Ela balançou a cabeça como se ela soubesse qual seria a minha resposta.
— Então você tem que agradecer Hector por isso.
Minha mãe parecia que estava prestes a dizer algo mais, quando meu pai
e Maya vieram rindo para a sala do quarto onde estavam fazendo a leitura do
Livro Sagrado, com seus cabelos vermelhos iguais brilhando na luz do sol que
vinha através da janela da cozinha. Minha mãe tinha o cabelo vermelho
também. Minha mãe disse que eu tinha chegado a minha coloração escura do
“perto irlandês” nos nossos genes.
Meu pai sentou Maya na cadeira ao meu lado e eu coloquei meu braço em
volta de seus pequenos ombros arredondados, agarrando-lhe as costelas com a
outra mão. Maya tinha dezenove anos agora, mas ela ainda tinha a mente de
uma criança – uma criança doce e angelical.
Ela riu e terminou em um ataque de tosse. Ela tinha tido essa mesma
tosse por dias e dias, e eu estava um pouco preocupado com ela. Quando ela
finalmente limpou a garganta, disse: — Calder. Leve-me para fora na chuva em
suas costas! Quero ficar molhada!
Eu ri para ela, pensando que ela precisava ficar aqui nesta cabana,
provavelmente sob um cobertor quente. — Não. Pode saber por quê?
— Bem, você é tão doce como os cubos de açúcar. Você fica mais doce
todos os dias. E se eu levá-la para fora na chuva, você vai derreter, assim como o
açúcar.
Ela olhou para mim com a luz solar atingindo seu rosto, fazendo com que
as gotas de água brilhassem e dançassem em sua pele. Seu cabelo, ainda
molhado, era de um dourado que lançava um halo em volta do seu belo e
delicado rosto. Ela parecia um anjo ou uma sereia - uma criatura mítica e
mágica. Eu tirei uma foto mental dela, ou seja, para desenhá-la mais tarde,
simples assim.
Ela fez uma pausa, olhando para mim por um segundo e depois balançou
a cabeça. — Venha aqui então. A água está agradável — Era quase inverno, mas
a temperatura ainda estava por volta dos vinte e dois graus. Eu apostava que
aquilo estava bom.
Eu hesitei. Isso parecia perigoso de maneira que não tinham nada a ver
com afogamento ou arrancar meu dedo do pé em uma rocha sob a água. No
entanto, tirei minha camisa e entrei na água vestindo calça. Movi-me para o
outro lado da nascente, respeitando Eden. Eu percebi que ela estava totalmente
submersa, mas ainda estava usando seu vestido longo, modesto. Apesar de ser
menos modesto agora que estaria aderindo a sua pele. Luxuria cravou em meu
corpo, deixando um desejo feroz em seu rastro.
— E a música — Ela continuou. — São números. Não sei por que Hector
nunca me ensinou matemática. Eu poderia ser uma pianista ainda melhor do
sou.
Olhei para ela. Ela era cativante, incrível. E os deuses que me ajudassem,
mas a semente do amor que tinha criado raízes, a semente que eu tinha jurado
não nutrir, começou a crescer de qualquer maneira. Eu jurei que podia sentir os
tentáculos aveludados em movimento dentro de mim, envolvendo as partes
vitais de quem eu era. Eu estava impotente para deter isso. Ela havia me
invadido. Eu era o campo e ela a glória da manhã. Eu fui vencido. Simples
assim. Ou talvez não exatamente assim. Talvez isso estivesse crescendo há anos.
Mas naquele momento, eu reconheci o que aquilo era.
Ela não é sua, eu sussurrei duramente para mim mesmo. Mas algo
dentro de mim rebelava contra as palavras, como se o próprio pensamento fosse
um vírus para o meu sistema.
Ainda assim, eu não tinha agido de acordo com meus sentimentos, minha
atração. Eu tinha sacrificado antes, de uma forma ou de outra. Eu certamente
poderia fazer isso agora.
— Calder? Você está bem? — Meus olhos estavam focados em Eden e ela
estava olhando para mim de forma estranha. — Você está bem?
— Quarenta e nove.
— Setenta e dois.
Eu ri alto, não sendo capaz de evitar o sorriso que se espalhava pelo meu
rosto. — Você sabe.
— Eu acredito em você.
— Eu só não quero que você pense que seu tempo está sendo
desperdiçado aqui.
Eu pensei que poderia ser uma ideia decente, considerando que era um
momento ruim para eu sair da água no momento.
— O quê? — Eu perguntei.
Ela olhou para cima, mordendo seu lábio inferior. — Você acha que...
Bem, você acha que quando a grande inundação vier, não haverá nenhuma
chance de sobrevivência?
Olhei para ela por alguns minutos. Esta menina iria tentar sobreviver ao
fim do mundo? — De onde você tira a sua força, Glória da Manhã? — Eu
perguntei em voz baixa.
Ela riu e balançou a cabeça como se eu fosse louco. Ela inclinou a cabeça.
— Você pode se aproximar, sabe. Você realmente não tem que se preocupar
comigo.
Ela arregalou os olhos e nos olhamos um para o outro sobre a água por
alguns minutos, com o único som do respingo tranquilo da pequena cachoeira
batendo na água da nascente.
Ela olhou para baixo por algumas batidas, observando sua própria mão se
mover de um lado para o outro na água. — Talvez eu prefira ter minhas próprias
chances. Talvez eu prefira não acabar em Elysium com Hector.
— Eden...
Ela não esperou para ouvir o que eu ia dizer, o que foi bom, porque,
sinceramente, eu não sabia, de qualquer maneira. Ela se inclinou para trás e
levou seu corpo para cima, na tentativa de flutuar e prontamente afundado. Ela
acabou num afogamento caótico. Movi-me rapidamente até ela. — Uau, você
está bem? Aqui, vou segurá-la até conseguir sentir isso, e então eu vou soltá-la.
Eu coloquei minhas mãos debaixo das suas costas, apenas tocando-a com
meus dedos. Ela ajeitou o corpo para fora, inclinou a cabeça para trás e fechou
os olhos com um sorriso pequeno e calmo em seu rosto. Olhei para ela,
absorvendo suas características e seus cabelos dourados flutuando ao redor do
rosto. E então meus olhos amotinados vagavam para baixo, depois do rosto para
seu corpo, seu vestido pressionado e se agarrando em suas curvas delicadas.
Engoli em seco e meus olhos se detiveram quando chegaram aos mamilos
endurecidos. Em seguida, eles se desceram lentamente para sua barriga lisa e
ainda mais, para seu pequeno e misterioso montículo feminino. Meu sangue
parecia estar fervendo no meu corpo. Eu nunca tinha me sentido assim antes,
até mesmo naqueles momentos em que eu me toquei por pura necessidade. E
agora, eu estava prestes a desmaiar com um envenenamento de testosterona e
as únicas partes minha que a tocavam eram a ponta dos dedos. Ah, não, isso não
era bom. Isto era um desastre escrito. Mesmo se eu pudesse me controlar com
sucesso com Eden, isso seria desastroso para mim.
— Eu estou flutuando — Disse ela sem abrir os olhos com uma aparência
serena no rosto.
Ela permaneceu imóvel com os cantos dos seus lábios cheios e rosado
subindo muito ligeiramente.
— Posso ensinar-lhe uma maneira ainda melhor para não gastar energia
na água?
Ela deu um aceno quase imperceptível com sua cabeça e então eu dei um
passo à frente de novo e coloquei minhas mãos em ambos os braços. — Vou
virar-lhe mais. Respire fundo e deixe-se flutuar de modo que a parte de trás da
sua cabeça fique um pouco acima da água. Apenas deixe a água apoiá-la. Então,
quando eu tocar em seus braços, deixe-os flutuar em direção à superfície, com
os cotovelos dobrados. Você se lembra até agora?
— Ok, bom. Então, quando você estiver pronta, pressione para baixo na
água com suas as mãos até sua boca absorver a água. Expire rapidamente e
então inale. E em seguida volte para baixo. Você pode ficar na água o dia todo
fazendo isso se precisasse. Mesmo que o mundo inteiro estivesse debaixo
d'água.
Eden pegou um grande fôlego e então eu virei seu corpo lentamente até
que ela estava de bruços na água. Removi minhas mãos e a deixei flutuar por um
minuto até que eu soube que ela tinha isso, e então eu toquei seus braços e ela
os deixou flutuar para cima até que seus cotovelos estavam dobrados e as mãos
dela estavam acima dos ombros. Ela impulsionou para baixo suavemente e sua
boca veio acima da água e eu a ouvi expirar e depois inspirar antes de ela se
deixasse flutuar de volta para baixo.
Ela riu. — Eu vou — Ela soltou meu pescoço e eu senti a falta dela quando
ela se virou e começou a andar através da água para a pedra grande e plana.
Levantou-se e, em seguida deitou-se. — Nós não temos muito tempo para ficar
secos — Ela disse. — É melhor ficar aqui no sol.
Eden
Ele era bondoso – cru e bondade desprotegida. Isso brilhava nele. Era
impossível não querer se afogar nesse tipo de beleza... Em sentir como se eu
pudesse alegremente me envolver ao redor dos seus ossos e sufocar em sua pele.
A medida que relaxávamos na nossa nascente dia após dia, Calder não só
me contava as coisas que se lembrava de cada ano de sua escolaridade, mas me
dizia as coisas que ele aprendeu com os outros habitantes da nossa comunidade
que antes viviam na grande sociedade. Ele tinha aprendido o jogo de um homem
que tinha vindo para fazer parte da nossa família cinco anos antes. Ele disse a
Calder, que trabalhou ao lado dele, que ele tinha um verdadeiro problema em ir
a cassinos grandes, lugares onde os jogos adultos eram feitos para o dinheiro. Se
você ganhasse, iria para casa com mais dinheiro, e se perdesse, iria para casa
sem nada. Ele tinha perdido muito mais do que ganhou e, no final, ele perdeu
tudo: sua esposa, seus filhos, seu trabalho e seus amigos. Ninguém o queria. Foi
quando Hector apareceu. E Hector o queria.
Nós não nos encontramos novamente à noite. Clive Richter ia para casa à
noite e sempre parecia estar prestando atenção em mim. Era mais seguro
manter as nossas lições durante o dia. Eu não colocaria isso em risco.
— Ouch.
Revirei os olhos. — Mas eu, tudo que tenho é o que você me dá. Não há,
literalmente, nada mais.
— Bem, então, coisa boa que sou mais inteligente do que uma pessoa
comum — Ele piscou. — Eu acho que, mesmo tendo um quarto do que eu
aprendi, é melhor do que um idiota comum.
— Você não se lembra? Por que não? Isso é tão romântico. Você se
lembra exatamente qual a porcentagem de tempo que um pinguim gasta de sua
vida na água — Eu joguei as minhas mãos com impaciência. — E como baratas
podem sobreviver, mas você não se lembra qual presente um pinguim macho dá
a sua companheira quando propõe a ela? Isso é ridículo — Eu balancei a cabeça,
exasperada.
Ele estava olhando para mim, pensativo. O que ele pensava quando
olhava para mim desse jeito? — Não, eu não posso nem pensar nisso. A única
coisa que eu consigo pensar agora é conseguir um lugar no conselho e sair para
o mundo.
— Oi — Eu disse, levantando-me.
— Hey, Eden. Calder não pode vir hoje. Eu quis vir até aqui e dizer-lhe
para não se preocupar — Ele passou a mão pelo cabelo negro quando se
aproximou de mim.
Eu não tinha visto Xander há vários meses e ele parecia maior para mim,
também. Parecia que os dois rapazes cresceram vários centímetros em meio
ano.
— Sim, ele está bem. Apesar de que sua irmã não está indo tão bem. Ela
tem uma tosse muito ruim eternamente se assemelha, e melhora depois piora,
então melhora. Agora ela está pior.
Percebi, então, que eu não tinha visto Maya em semanas. Mas eu só tinha
percebido que não havia muito a ser remendado no pavilhão principal. Por que
Calder não me disse? Era por isso que ele parecia tão abatido recentemente?
Isso me atingiu e percebi como separadas nossas vidas realmente eram. Magoa
encheu meu peito, mas eu a empurrei para longe e foquei em Xander.
Eu olhei para ele. Eu abri minha boca para dizer algo, decidi que eu não
sabia o que, em seguida, a fechei. Eu sabia que Calder tinha sentimentos por
mim? Sim. Eu não tinha certeza o que esses sentimentos poderiam ser além de
uma grande amizade, mas só de saber que Xander podia ver Calder se
preocupando comigo, fez meu coração bater mais rápido. Isso deixou tudo pior.
E tudo melhor.
— O que quer que seus sentimentos signifiquem, ele não vai fazer nada
sobre isso, Xander — Eu não sabia se ele estava à procura de confirmação, mas
percebi que ele provavelmente estava. Seu destino seria afetado por nossas
decisões, também, depois de tudo.
— Não, eu não acho que ele vai — Ele não parecia exatamente feliz com
isso. Ele esfregou seus olhos e soltou um suspiro. — Quer sentar-se por um
minuto? — Ele finalmente disse, indicando o pequeno pedaço de grama com
uma grande rocha atrás dele onde Calder geralmente esboçava.
Eu balancei minha cabeça. — Não, a Mãe Hailey recebe cartas dele, mas
ele não escreve para mim. Ela me disse que ele está vivendo com algumas
pessoas que acredita que os deuses querem que façam parte da nossa família.
Ele ficou em silêncio por um segundo, e depois acenou com a cabeça uma
vez e disse: — Calder falou com você sobre seus planos de entrar para o
conselho?
— Eu não sei se há muito que possamos fazer. Calder vai fazer o que ele
acha que precisa — Ele pegou distraidamente a grama ao lado dele por um
minuto. — Calder, ele quebra as regras de vez em quando, mas nunca faria
qualquer coisa que pensasse que machucaria alguém. Ele é tão malditamente
honrado.
Xander riu. — Eu tenho que voltar. Vou levar um pouco de água sagrada
para Maya — Ele se levantou e eu também
— Ok, obrigada. E obrigada por ter vindo até aqui para me informar
sobre Maya.
— De nada.
Eu pensei que ele iria se virar e fosse embora, mas ele olhou para o céu
azul claro por várias batidas antes que seus olhos encontrassem os meus e ele
dissesse: — Há uma tempestade chegando, Eden.
Eu balancei a cabeça, sem olhar para cima. — Sim — Eu disse
simplesmente. Ele franziu a testa e balançou a cabeça, e então se virou e me
deixou ali, sozinha.
Eu vi Calder no Templo, mas Maya não estava com sua família e mesmo
de longe, ele parecia tão curvado e cansado. Dei-lhe um sorriso discreto, e ele
sorriu de volta, mas parecia que fez isso com esforço. Eu estava gritando por
dentro enquanto, em silêncio, fazia obedientemente os meus deveres religiosos.
Eu não respondi, mas me mexi para colocar meu vestido de renda, o que
ele gostava. Era um pouco apertado em mim agora, como se eu não tivesse
alterado em seis meses desde que ele se foi. Não tinha sido simplesmente
porque eu não via necessidade. Eu desprezava esse vestido. Era um símbolo de
tudo o que eu odiava em minha própria vida.
— Não, mas os deuses não podem enviar todos os detalhes, imagino. Isso
não seria prático.
Ela ficou em silêncio por vários segundos, mas eu jurei que vi a tristeza
em seus olhos. — O sacrifício é o que nos torna pessoas abençoadas dos deuses
— Respondeu ela. — É de natureza humana ser egoísta, mas devemos lutar
contra o pecado. É o que nos diferencia dos povos da grande comunidade —
Deixei escapar um suspiro. Ela estava simplesmente parafraseando o Livro
Sagrado de Hector.
Ela inclinou a cabeça e respirou fundo, estendeu a mão para trazer o meu
cabelo sobre o ombro. — Hector faz muitos sacrifícios. Sua vida é vivida com
todos nós em mente. Tudo que ele faz é para nós. Nada disso é para ele. Há mais
de 20 anos, ele construiu Acadia, construiu a nossa família, nos manteve forte e
equilibrado.
Ela estreitou os olhos para mim. Ela era mais esperta que isso. — Aonde
você vai enquanto estou ensinando os meninos? Eu sei que você sai do pavilhão.
— Eden, sua música está ainda mais bonita do que era antes de eu sair.
Deve ter sido praticado com muito afinco.
— Eden, você deve me chamar de Hector agora — Disse ele. Ele correu
um dedo na lateral do meu rosto. Eu continuei olhando para a frente. — Nós
vamos nos casar em breve. Eu já não serei mais seu pai.
Eu não falei, não conseguia falar. Hector continuou olhando para o meu
perfil. Finalmente, depois do que pareceram horas, ele soltou um suspiro e disse
baixinho: — Tão doce. Exatamente o que eu precisava — E então se levantou.
Eu olhei para cima para ver Hailey ainda sentada com os olhos baixos.
— Eles estão com Monica — Disse ela. Monica era uma das esposas do
membro do conselho que ajudava Hailey com os garotos de vez em quando.
Calder
Eu alisei o cabelo do seu rosto e ela sorriu para mim. — Existem mais
balas de caramelo?
Ela franziu a testa ligeiramente. — Talvez Eden vá deixar mais para mim
hoje.
— Eu sei, mas quando eu chegar lá... Bem, vou ficar bonita como Eden? —
Ela olhou para mim com seu simples e confiante olhar.
Meu coração se apertou quando olhei para aquele rosto amado. — Você já
é linda, Maya.
Maya sorriu suavemente para isso. — Então vou ficar igual à Eden, e vou
ser capaz de correr mais rápido que um guepardo.
Eu não pude deixar de sorrir. O coração de Maya era uma das coisas mais
doces e mais maravilhosas da minha vida. Quem mais iria querer essas coisas?
Eu poderia continuar com isso. — Ok, então, vou ser tão forte quanto uma
centena de bois e vou ser capaz de voar.
Ela acenou, mas não abriu os olhos. Eu podia ouvir os roncos tranquilos
enquanto me abaixei saindo da cabana da cura, uma grande “sala” perto do
Templo. A tosse de Maya estava notavelmente melhorando desta vez, após a
água sagrada eu fiz uma oração silenciosa de agradecimento aos deuses, mais
especificamente o Deus da Misericórdia. Eu sorri para mim mesmo.
Fiz uma viagem rápida para o rio, troquei minha camisa, e então usei
minhas mãos para levar água sobre minha cabeça e peito, em seguida, esfreguei
meu rosto. Eu usei a minha camisa para me secar tão bem quanto podia, e em
seguida, coloquei-a em volta do meu pescoço. Sentindo-me um pouco mais
refrescado, eu voltei para a minha cabana para tomar café da manhã.
Olhar para o pavilhão principal trouxe uma dor aguda no meu peito. Eu
teria dado qualquer coisa para caminhar até lá, passar pela porta da frente e ir
até o quarto de Eden. Eu queria envolvê-la em meus braços. Eu queria seu
cheiro limpo e sua voz suave para me acalmar. Eu a queria.
Xander acenou uma vez. — Eu fui até a nascente e sai com Eden um
pouco ontem. Foi bom tê-la para mim por um tempo. Estou realmente
esperando que a frase que usamos “O que eu tenho, você tem a metade” aplica-
se a ela também.
Xander franziu os lábios e toda diversão fugiu de seu rosto. — Eu não sei,
Calder. Eu gostaria de saber.
— Por que você fez isso? — Eu exigi, meu peito ainda subindo e descendo
com meu batimento cardíaco mais lento. Eu estava pronto para socá-lo.
Olhei para ele, tentando manter algum tipo de raiva, até mesmo algum
incômodo, mas, finalmente, meus ombros caíram em derrota. — Eu já tinha
admitido isso para mim mesmo. Eu só não queria dizer isso em voz alta.
Qualquer coisa, menos isso — Miséria passou por mim.
Ele deu um passo para a frente e colocou a mão no meu ombro. — Ah,
Deus, Calder, eu não queria piorar o seu estado. Juro que não queria — Ele me
estudou por um minuto. — Mas isso é o que é, apesar de tudo. E... Aconteça o
que acontecer... Irmãos — Disse ele, solenemente e pôs o punho para fora.
Deixei escapar um suspiro e bati meu punho contra o seu.
— Irmãos.
Quando voltei para a nossa cabana, fui direto para o quarto onde eu
dormia e comecei a pegar a minha outra camisa, limpa. Eu fiquei pensando o
que Xander agora colocou na minha cabeça.
Meus pais já estavam nos campos, mas eles não estavam me esperando.
Eles sabiam que eu estava reunido com Hector. Meus pais não necessariamente
concordavam com as minhas ambições, mas não havia nada que pudesse fazer
sobre isso. Meu pai não era muito de falar, de qualquer maneira, e ele parecia
perfeitamente contente com a vida que levava. Sua crença em Hector era
inabalável. Nunca iria confiar-lhe as minhas ambições resultadas de um desejo
de mais da vida em geral, e não apenas mais da vida em nossa pequena
comunidade. Ele não entenderia. Para ser perfeitamente honesto, eu não
entendia isso também. O que havia em mim que me fazia querer mais? O que
me fazia ficar no nosso portal, noite após noite, olhando para as luzes distantes
da cidade, com medo, sim, mas também com uma ânsia estranha nas minhas
entranhas? Talvez eu pudesse comparar isso com a maneira que me senti
quando olhei para Eden — aterrorizada e eletrificada, tudo de uma vez. Este
lugar no conselho poderia significar mais do que apenas um meio de sair de
Acadia...
Espero que Maya esteja tendo um dia melhor hoje. Eu estive pensando
nela sem parar e gostaria de alguma forma poder visitá-la. Espero que a bala
tenha colocado um pequeno sorriso em seu rosto, mesmo que seja apenas por
um minuto.
Eu poderia ter dado esta carta para Xander, juntamente com as balas
para você e Maya, mas eu meio que queria deixá-la para você — para
relembrar os velhos tempos, eu acho.
A nascente tem sido tranquila sem você lá, embora os dias não têm sido
sem uma pequena sensação de excitação. Ontem, chegou ao meu conhecimento
que a pequena cobra que eu atirei há meses atrás na rocha é na verdade a
prole de uma de seis metros, (duzentos e quarenta centímetros quando
convertido — presto atenção flagrante no meu professor de matemática)
serpente de duas cabeças que estufava em fúria venenosa (literalmente) desde
os maus-tratos de seu amado filho ou filha. (Como você distinguiu um do
outro? Acho que é uma lição para outro dia.) Quando confrontada, eu fui
forçada a domar a fera escorregadia. Como se vê, o réptil (vertebrados de
sangue frio) é processado pelas fracas palavras verbais e algébricas. Apesar
da matemática gritada (eu) e enfraquecimento subsequente (cobra), ainda
havia muita luta física e assobios (em ambas as partes), mas no final, eu fui
vitoriosa. A rocha permanece em nosso domínio (ou é dominante?). Tudo em
um dia de trabalho.
Eu sinto sua falta. Talvez eu não deveria dizer isso, mas é verdade. Na
verdade, os meus dias tem se arrastado por pelo menos mil vezes e uma hora
eu penso em algo que quero te dizer ou perguntar-lhe. Eu tenho escrito porque
eu não quero esquecer, e porque me faz sentir mais perto de você.
Eu estarei esperando.
Sua, Eden
Sua. Minha. Eu gostaria de poder ir até ela, abraçá-la, dizer-lhe que eu
amava os nossos momentos juntos e que sentia falta dela também. Mas qual
seria o ponto? Sua. Minha. Eu coloquei esses pensamentos de lado. Mas eu
ainda estava ali sorrindo para o bilhete como um maldito idiota por mais tempo
do que eu tinha. Eu tinha negócios a tratar hoje e precisava do meu foco para
estar lá.
Hector olhou para mim de novo, mas acenou. — Eu sempre tenho tempo
para o meu carregador de água — Disse ele com sua expressão se aquecendo.
Eu fiz uma careta para baixo, para os ramos. — Sim, Pai. Eu fazia isso no
meu tempo livre, depois que meu trabalho terminava.
Hector ficou em silêncio por um minuto. — Qual era o seu objetivo aqui?
Hector estreitou os olhos e olhou para mim por um longo tempo. — Tente
mais. Há caminhos mais duros do que o que estou lhe oferecendo. Odiaria vê-lo
escolher o caminho errado — Ele olhou para o meu sistema de irrigação e, em
seguida, de novo para mim, olhando-me com tal desprezo que eu queria desviar
o olhar, mas me mantive firme, segurando o contato com os olhos. Algo nisso
me fez sentir falta de respeito, mas era quase como se eu respondesse por
instinto, de um homem para outro. Finalmente, Hector foi o quem olhou para
longe, de volta para o meu sistema.
— Foi preciso muita força para construir isso — Disse ele, quase como se
para si mesmo. — Mas a força bruta por si só não leva a lugar nenhum a longo
prazo. Em qualquer grande empreendimento, o poder da mente é a sua maior
ferramenta. Planejamento, elaboração de estratégias. Por exemplo, você pode,
obviamente, levantar pedra e escavar árvores, mas o problema é que algo como
isto não tema estrutura completamente sólida, pois nenhum pensamento entrou
em sua construção.
Ele balançou a cabeça, como se o que eu tivesse dito não era nada mais do
que uma mentira deslavada e então levantou um pé e chutou a seção na frente
dele violentamente.
— Veja meu filho? Quando você construir algo a partir do zero, tem que
construí-lo de tal forma que nenhum homem pode arruiná-lo. Ele não pode ser
frágil e fácil de destruir. Porque, se fosse esse o caso, qualquer um poderia
derrubá-lo, tomar o que é seu, como se tivessem esse direito. Quando na
verdade, eles deveriam saber que seria um pensamento e ação desastrosos da
sua parte. Estou certo? — Seus olhos perfuraram os meus, deixando seu ponto
muito claro.
Meus pés começaram a se mover antes que meu cérebro tivesse a chance
de detê-los. Não havia pensamentos em minha cabeça, apenas um chiado alto.
Eu nem sequer me lembrava do caminho de terra desde o rio até a borda da
trilha que levava até a nascente, mas de repente eu estava lá. Eu fiz desci,
minhas panturrilhas esticadas, poeira nublando meus pés enquanto eu
praticamente corria pela ladeira íngreme.
Beijei-a com tudo o que tinha e tudo o que valia a pena, que, muito
provavelmente, não estava muito certo.
— Por favor, não lamente — Ela suspirou, com a cabeça ainda para trás.
— Qualquer coisa, menos isso. Por favor, não se desculpe. Nunca vou me
arrepender. Se este é o último pedaço do céu antes de eu ser arrastada para o
inferno, então vou aceitá-lo com prazer.
— Faça amor comigo — Ela sussurrou. — Eu quero tanto que sinto dor —
Eu congelei, exceto as partes entre as minhas pernas. As partes avançaram com
atenção, aparentemente sob a impressão de que agora seus serviços eram
necessários.
— Eu sou sua. Eu sempre fui. Serei sua aqui na terra, em Elysium. Vou
lutar contra os deuses, se for preciso. Vou estar diante deles e declarar isso.
Deixei escapar uma pequena risada e sorri para ela. — De onde você tira a
sua força, Glória da Manhã?
Eu respirava. — Eu não sei. No entanto, algo. Algo tem que ser feito.
Ela assentiu. — Por que você me beijou hoje? O que fez você fazer isso?
Eu dei um passo para trás, segurei sua mão e levei-a para a pedra menor,
onde nos sentamos juntos. — Eu sei. É parte da razão e não vejo como ele está
diferente, também, mas... Vejo isso claramente agora. Que eu nunca ia
conseguir uma vaga no conselho. Era um sonho.
— Isso muda tudo, você sabe. Nós não podemos voltar atrás. Nós não
podemos fingir que isso não aconteceu. Eu não posso fingir que isso não
aconteceu.
Olhei para ela por um minuto, em seguida, puxei-a para o meu peito,
segurando-a com força contra mim. Ela colocou seu ouvido sobre o meu coração
e apenas ficamos assim por longos minutos. Poderíamos? Poderíamos sair
daqui? Minha família? Meus amigos? Nossas vidas? O nosso destino? — Só
porque nós precisamos — Eu finalmente disse.
CAPÍTULO ONZE
Eden
Eden,
Eu perguntei a uma garota com quem tive aulas e você estava certa.
Que foi, naturalmente, a parte que ela se lembrava.
Eu sinto seus lábios em mim, Eden. Quando fecho meus olhos, quando
estou acordado. Eu sinto seu gosto. Você é a minha primeira respiração, e a
minha última. Eu sinto você, e espero que ainda me sinta também. Eu preciso
ver você. Você pode me encontrar em nossa nascente? Deixe uma nota para
Xander e ele vai trazê-la para mim. Até então, vai parecer como mil anos.
Seu Calder.
Seu. Eu fiquei lá segurando o bilhete de Calder em meu peito com um
sorriso tonto no meu rosto. Eu era de alguém. Eu era de Calder. Eu pertencia a
ele. E ele me pertencia. Parecia tão simples, mas para nós, claro, era tudo menos
isso.
Virei mais o bilhete e soltei uma gargalhada quando vi que toda a parte
de trás do papel estava preenchida com um esboço de um pinguim farejando
uma pedra pequena e brilhante ao longo do chão coberto de neve em direção a
outro pinguim sentado ereto em um ninho, a cabeça dela afastada da dele. Em
um esboço rápido, ele conseguiu colocar um olhar de pura esperança no rosto
do garoto pinguim, e uma indiferença arrogante no rosto da garota pinguim,
enquanto ela esperava para ficar impressionada. Eu ri novamente, baixinho.
Calder,
Eu sinto seus lábios nos meus, também. Eu sinto seu gosto. Eu respiro
você. Anseio por você como nunca ansiei nada na minha vida.
Ele inclinou a cabeça e nosso beijo ficou mais profundo, nossas línguas
duelando com cuidado. O raspar do seu maxilar áspero contra a minha
bochecha era tão perfeitamente masculino. Isso me inflamou e eu gemi de novo,
pressionando meu corpo para mais perto dele.
Calder fez uma pausa, deslizando seus lábios mais uma vez em toda a
minha garganta antes de responder. — Sim — Eu o senti sorrir contra a minha
pele. — Por que você acha que eles fizeram isso?
Ele parecia tenso, mas em conflito. — Por favor, não pare — Eu disse,
inclinando-me e beijando seus lábios de novo suavemente.
— Eu tenho medo que se eu não o fizer agora, não vou ser capaz de parar
mais tarde — Ele disse com a voz ainda mais rouca do que normalmente era.
Eu queria dizer a ele para não parar agora, ou mais tarde, mas senti as
palavras descaradas, muito ousadas, mesmo em minha mente. Minhas ações
teriam que falar por mim.
Eu abri minha camisa para expor o simples sutiã branco por baixo e
encolhi os ombros deixando-a cair dos meus ombros. Estiquei os braços nas
minhas costas, retirando meu sutiã, e deixei-o deslizar para baixo dos braços e
cair em meu colo. Um gemido veio dos lábios entreabertos de Calder, seus olhos
treinados em meus seios. Meus mamilos endureceram sob seu olhar e eu abaixei
meus olhos. Eu nunca estive nua na frente de ninguém.
— Por favor, não pare — Disse ele, repetindo as minhas palavras, poucos
minutos antes.
Eu sorri com meus olhos ainda observando meus dedos à medida que
arrastavam ainda mais para baixo em seu estômago. — Não, você está vivendo.
Nós estamos vivendo. Bem aqui, juntos. Foi sugerido que a morte nos separaria
para sempre, e eu me recuso a deixar você ir — Nossos olhos se encontraram e
então algo pareceu despertar entre nós, algo como uma faísca, antes dele se
inclinar para a frente e tomar minha boca novamente, sua língua empurrando
devagar e sem pressa. Movi-me ainda mais perto para que eu pudesse sentir sua
pele nua contra a minha. Êxtase.
Eu estava sendo ousada agora, mas este momento era nosso, de mais
ninguém. Nunca em toda a minha vida me foi perguntado o que eu queria, nem
mesmo perguntado o que poderia ser, então eu estava fazendo isso. Bem aqui
sob os deuses, na nossa nascente, eu iria pegar o que queria para mim. E eu
queria Calder. E ele me queria. E isso não poderia ser errado, poderia?
Esfreguei meus mamilos doloridos contra seu peito duro e gemi em sua
boca com a deliciosa sensação. Nada, nunca me fez sentir tão bem e eu queria
mais. Eu teci meus dedos pelo seu cabelo curto e macio na parte de trás do seu
pescoço e emaranhei minha língua com a dele, exaltando o sabor e cheiro dele:
água limpa e pele masculina.
Calder ficou em silêncio por alguns segundos e eu olhei para o seu rosto.
Ele estava olhando para mim, um olhar que parecia ser uma mistura de
surpresa e desejo.
Mergulhei meus dedos abaixo do cós solto e movi minha mão mais
abaixo, através dos pelos duros e grossos, buscando aquela parte dele que era
um mistério para mim. Seu peito subia e descia e a protuberância em sua calça
crescia cada vez mais. Uma sensação inebriante de poder surgiu em meu
sangue, me fortalecendo ainda mais.
Sentei-me e coloquei outra mão sobre a rocha perto de mim. Olhei para
Calder, mas seu braço estava jogado sobre seus olhos, e então eu não podia ver
bem sua expressão, só que seus lábios estavam entreabertos e seu maxilar tenso.
Olhei para a minha mão circundando-o e usei meu polegar para esfregar
a gota de fluido em um círculo, fascinada por ele, pela forma como seu corpo era
diferente do meu. Ele gemeu como se estivesse torturando-o.
— Mostre-me — Eu sussurrei.
Ele hesitou por um breve segundo, mas, em seguida, levou a própria mão
e a colocou em cima da minha, usando-a para deslizar para cima e para baixo
em seu comprimento.
Depois de um minuto, ele soltou e me deixou fazer isso sozinha. Eu
continuei a acariciá-lo como tinha me mostrado. Seus gemidos e respirações me
disseram que eu estava fazendo a coisa certa e assim continuei, hipnotizada pela
forma como a pele se movia sob meus dedos e a maneira como ele crescia ainda
mais na minha mão.
Seu corpo ficou tenso e então congelou quando um líquido branco saiu
rapidamente dele. Eu respirei fundo, meus olhos arregalados enquanto ele
gemia, suspirava e então relaxou, seu corpo amolecendo sob minha mão.
Olhei para ele, que tinha abaixado o braço e estava olhando para mim
com os olhos semicerrados, com uma expressão de felicidade sonolenta. Isso fez
o meu corpo aumentar com a beleza daquele olhar. Inclinei-me e beijei-o, e ele
levantou as duas mãos e segurou meu queixo enquanto me beijou de volta,
profundamente. Nós nos beijamos por longos minutos, lentamente,
especialistas na boca um do outro agora. Calder me rolou de costas, enquanto
sua língua continuava a dançar com a minha.
— Isso foi... Eu não posso nem colocar em palavras o que foi — Disse,
olhando para mim.
Poderia ser errado ser tão feliz? Simplesmente eu não podia acreditar
que fosse.
Gemi em sua boca quando seu peito nu novamente esfregou sobre meus
mamilos endurecidos. Meu corpo estava de repente inflamado novamente e
meus dedos cravaram em seu bíceps, onde eu o estava segurando, esfregando
em cima e embaixo nos músculos rígidos de seus braços. Eu adorava a sensação
do seu corpo grande e duro pairando sobre o meu, o seu perfume masculino que
me cercava, o conhecimento que ele era tão impotente em resistir a mim, como
eu era em resistir a ele.
Calder beijou e chupou meu pescoço, enviando arrepios pelo meu torso.
Isso era tão bom. Sua voz estava grossa quando disse: — Eu a quero tanto.
E então, seu dedo agora molhado, voltou para aquele lugar mágico e
todos os pensamentos desapareceram quando me submeti ao prazer.
Ele moveu o dedo para dentro e para fora devagar e depois mais rápido
enquanto eu ofegava e movia minha cabeça de um lado para o outro, sem saber
se eu poderia lidar com a coisa que eu sentia que rodava em mim, pronta para
me arrastar para baixo.
Ele se inclinou e me beijou com ternura. — Isso foi lindo — Disse ele,
inclinando-se para cima.
Ele não falou por um minuto, franzindo os lábios. — Eu sei. Eu não quero
mandá-la de volta. Se houvesse alguma outra maneira...
Ele enfiou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e enxugou uma
lágrima do meu rosto. — Nós precisamos sair daqui. Simplesmente não há outra
maneira. Está pronta para isso?
Calder sorriu e então caiu para trás de costas. — Você faz isso parecer
fácil, Glória da Manhã, mas não vai ser fácil. Hector nos deixou completamente
despreparados. Eu não sei se isso foi proposital ou... — Ele olhou para mim. —
Em todo caso, é preciso certificar-se de que temos uma chance.
— Eu confio em você.
Calder
Calder,
P.S. Acho que minhas lições acadêmicas acabaram por agora. Eu tenho
que dizer que gosto muito do novo currículo, E.
Eu sorri para ele. — É isso que você faz todos os dias? Não é de admirar
que você na maior parte do tempo é um louco.
Ele olhou para ela e depois de volta para a estrada. — É uma caixa
elétrica. Abriga alguns fios ou algo que traz energia para o pavilhão principal.
Suspirei e passei a mão pelo meu cabelo. — Hector diria que é garantir a
segurança.
Xander soltou uma risada sem humor. — Mais como a forma como são
assegurados os escravos.
— Não é o que nós somos? Não trabalhamos aqui o dia todo sem
remuneração?
Eu olhei para a estrada por vários minutos sem saber exatamente como
responder a isso.
Xander não pareceu surpreso, mas ele me estudou por alguns segundos
antes de responder. — Sim, você precisa.
Xander olhou para o sol. — Vamos tentar — Ele se virou para mim. —
Mas, escute, eu vou ser honesto, tem muita coisa contra nós aqui. Hector nos
educou apenas porque o Estado teria cancelado se ele não o fizesse. Mas vamos
ser como peixe fora d'água lá fora — Ele acenou com o braço na direção dos
quilômetros da cidade além de nós, talvez para todo o mundo além de nós. —
Quero dizer, nós somos homens com dezoito anos de idade, e não temos
nenhuma outra habilidade a não ser a agricultura e caminhar por aí horas por
dia — Ele riu, mas era vazio.
Fiquei quieto por um minuto. — Eu estive pensando — Eu massageei a
parte de trás do meu pescoço por um segundo. — Aquela mulher do sistema
escolar veio aqui todos os meses para olhar nossos planos de aula.
Franzi minha testa e soltei um suspiro, não tendo qualquer ideia do que
fazer com isso. — Você acha que Kristi iria nos ajudar? Eu nem sei por onde
começar.
Xander assentiu. — Eu acho que sim. Deixe-me falar com ela e lhe direi o
que ela diz.
Poucos dias depois que conversei com Xander nos limites da Acadia, eu
estava voltando para casa depois do meu trabalho nos campos, quando, de uma
certa distância, eu vi Eden entrar no Templo. Eu estava longe, mas ela não podia
ser confundida com aquele longo cabelo dourado. Mãe Miriam parou na frente e
sentou-se no pequeno banco de pedra ao lado da porta quando Eden
desapareceu lá dentro.
— Talvez você não esteja ouvindo bem de perto — Ela levantou uma
sobrancelha delicada. Ela estava me provocando.
Deixei escapar um suspiro e uma risadinha. — Será que ela vai entrar? —
Eu perguntei, apontando para a porta da frente, onde Mãe Miriam estava
sentada lá fora.
Com a língua enrolada o redor da minha, ela estendeu a mão entre nossos
corpos e esfregou-me através da minha calça. Oh santo inferno. Prazer pulsava
através de mim e eu apertei meus olhos, colocando as minhas mãos em seu
rosto enquanto minha língua ia mais profundo. Eu estava tonto com a luxúria,
com o gosto dela na minha boca e seu cheiro - flores de maçã e primavera - me
rodeando.
Empurrei-me para sua mão e senti seu corpo bater em algo atrás dela. O
pódio de Hector. Graças aos deuses que estava anexado ao chão e não caiu.
Coloquei o meu rosto nos cachos loiros, macios e inalei. Calor pulsava
pelo meu corpo, acompanhado por pensamentos e visões: instintos que me
diziam para me empurrar para dentro dela, plantar minha semente dentro dela,
protegê-la, colocar uma recompensa de comida a seus pés. Deus do céu. O
cheiro dela tinha me transformado em um homem das cavernas.
Mas quando abri meus olhos e olhei para cima - cheios de ternura - foi o
meu coração que inchou e apertou. Ela tinha cada parte minha. Eu era dela.
Virei o rosto para ela e passei a língua no vinco de seu sexo. — Oh! — Ela
engasgou, apertando-se em mim. Eu não pude evitar o gemido que surgiu em
minha garganta também. Minha língua encontrou aquele pequeno pedaço de
carne que fez Eden gemer e pulsar e eu circulei com a minha língua. Ela tinha
um gosto tão bom, doce e almiscarado - como uma versão mais intensa da sua
pele. Eu adorei isso. Eu a amava. Suas mãos agarraram meu cabelo e eu sorri
contra ela. Eu deslizava a minha língua e rodava e rodava ao redor daquele
pequeno ponto até que Eden estava gritando e se esfregando no meu rosto. Eu
me senti animalesco, carente, como se eu quisesse devorá-la, marcá-la e tomá-la
como minha.
Seus olhos se arregalaram e ela olhou para si mesma, sua saia branca
coberta com marcas de sujeira onde minhas mãos estavam. Parecia que um cão
sujo tinha apalpado-a. De repente me senti envergonhado pela minha sujeira
em comparação com a sua pureza. Será que ela estava pensando a mesma coisa?
— Sério — Eu ri. — Isso não é engraçado. Como é que você vai sair daqui?
Ela se virou para mim. — Você precisa ir. Eles não vão me deixar vir aqui
novamente depois do que estou prestes a fazer, mas valeu a pena — Ela riu
suavemente. — Eu vou procurar por você no festival.
Eu balancei a cabeça. — Ok — Embora eu estivesse preocupado e não
queria deixá-la. — Tem certeza de que vai ficar bem?
— Sim, eu prometo — Ela se inclinou e beijou mais uma vez meus lábios e
se afastou, sorrindo.
Eu deixei meus olhos vaguearem sobre seu belo rosto e para baixo, para a
saia, onde havia uma quantidade extra de manchas de sujeira diretamente entre
as pernas. Eu senti o calor subir pelo meu rosto e ri baixinho. — Tchau, Glória
da Manhã.
— Sinto muito! — Ouvi Eden chorar. — As cinzas! Não foi minha culpa.
Elas caíram e...
— Maya...
— É de manhã. Você ainda não precisa ter pressa — Brincou ela, sorrindo.
Ao vê-la, de repente senti muita raiva que minha irmã tinha que jogar
água fria na cabeça na manhã fria, quando as pessoas no pavilhão principal
acordavam com um chuveiro quente e água encanada.
Ela olhou para mim. — Sim. É a minha casa — Disse ela. — Eu gosto de
qualquer lugar que você, mamãe e papai estão.
Eu balancei a cabeça, olhando para a piscina de água nas rochas aos meus
pés. — Você sabe que se algum dia eu sair daqui, eu voltaria para você, certo?
Maya olhou para mim. — Por que você sairia daqui? Se você fizer, você
não poderia ir a Elysium conosco. Estaria perdido no grande dilúvio com o resto
dos pecadores. Por favor, nunca saia daqui, Calder.
Eu vacilei. — Ok, Maya. Enfim, hoje não é o dia para falar sobre isso — Eu
a peguei, que gritou e depois riu. — É o festival da primavera e eu vou ganhar o
que você quiser.
— Então é isso que você vai ter — Eu ri e a levei de volta para a nossa
cabana.
Minha mãe e meu pai estavam acordados, então todos nós começamos o
dia. Mamãe fez o café da manhã, papai colocou a pequena carroça à nossa porta
com os assados que minha mãe vinha preparando durante toda a semana.
Eu tiraria Eden daqui, sim, porque não havia outra opção, mas eu
perderia alguma coisa? Era tudo que eu conhecia. Eu iria quebrar o coração da
minha mãe e do meu pai. E Maya... Eu iria voltar para ela. Eu precisaria. Depois
que eu e Eden estivéssemos estabelecidos, eu voltaria para ela.
Eu entrei por trás de outra barraca e quando saí, Eden estava olhando
para mim e começou a “tossir” em sua mão novamente. Eu andei junto com ela
assim por alguns minutos, amando que eu estava fazendo-a sorrir.
A barraca do jogo era uma série de três plataformas, uma próxima, uma
mais distante, e a terceira até a parede do fundo. Havia três sacos pesados de
feijão em cada plataforma e o objetivo era lançar um saco maior com força
suficiente e apenas o posicionamento certo derrubaria toda as três.
Hector olhou para Eden e depois para mim, e seus olhos me acolheram
friamente. — Qual deles você gostaria, amor? — Hector perguntou em voz alta.
Eden se assustou e olhou para a barraca, hesitante e depois apontando para
uma coroa de rosas e flores silvestres amarelas, penduradas com longas fitas cor
de rosa. — Então isso será seu — Disse ele.
Eu senti todos os olhos se voltarem para mim, mas o meu foco manteve-
se em Hector.
Fui até a terceira e olhei de novo para o Eden. Hector tinha se movido
para trás dela e tinha as duas mãos em seus ombros e estava apertando-a
levemente. Meu sangue aqueceu e meu maxilar cerrou. Eden arregalou os olhos
e abriu a boca como se quisesse dizer algo, mas não o fez.
Eu peguei dela e me virei. Eden estava parada com a mão sobre a boca e
os olhos brilhando de riso e alegria. E Hector estava atrás dela, seu rosto uma
máscara vermelha de raiva.
Entreguei a coroa para Eden lentamente, e ela pegou da minha mão, sua
pele roçando a minha enquanto seus olhos se arregalaram e ela piscou para
mim. Eu rasguei meus olhos para longe dela e olhei para Hector. — Pai — Eu
disse, curvando a cabeça me afastando. Eu me movi passando a barraca, onde
dois homens já estavam colocando a parte de trás da parede, indo para o meio
da multidão. Xander correu para o meu lado e caminhou comigo em silêncio até
que chegamos a minha cabana, onde coloquei minhas mãos em meus quadris e
andei na frente dele.
Xander se aproximou, seu rosto bem na frente do meu. — Sim, ele estava.
Ele planeja se casar com ela. Ele planeja ter as mãos sobre ela... Sempre. E você
tem que parar de agir como um idiota arrogante arruinando qualquer chance
que poderia ter de sair daqui com qualquer facilidade.
Nós dois ficamos em silêncio por alguns minutos antes de Xander falar
novamente. — Eu conversei com Kristi. Ela disse que precisamos de dinheiro
suficiente para durar três meses ou então, apenas o suficiente para conseguir
um emprego. Ela estima três mil.
Ergui a cabeça e olhei para ele, incrédulo. — Três mil dólares? — Eu ri. —
Onde é que vamos conseguir três mil dólares?
— Roubar de novo.
Xander ficou em silêncio por um minuto. — Será que Eden sabe contar
dinheiro?
— Eu mal sei como contar dinheiro. Quer dizer, eu sei na teoria, mas,
obviamente, não na prática.
Xander assentiu. — Eu não sei se podemos arriscar trazendo alguém de
Acadia para isso.
Bob, Tina e Melissa Castle era uma família que tinha vindo morar com a
gente há vários anos e, em seguida, um dia, no meio da noite, eles pegaram as
suas coisas e foram embora, logo após Bob Castle ter sido punido por Hector
por insolência. Eu nunca soube o que era exatamente a “insolência”, mas Hector
falou sobre aqueles que nunca se sentiriam confortáveis em Acadia, e seria
atraído de volta para a sociedade pecaminosa, como tinha acontecido com a
família Castle. Mas eu queria saber se a família Castle teria outra história para
contar. Quem sabia se poderia mesmo confiar neles? Meu cérebro estava todo
embaralhado a maior parte do tempo nos dias de hoje. As únicas pessoas que eu
conhecia, com certeza que eu poderia confiar com a minha própria vida eram
Eden e Xander.
— Sim. Okay.
Meu maxilar tencionou só de imaginar sua boca perto dos lábios de Eden
novamente. Mas Xander estava certo. Se eu quisesse levá-la para longe dele, eu
precisava jogar isso com mais inteligência.
Por fim, eu não precisei ir até Hector por conta própria oferecer um
pedido de desculpas. Na manhã seguinte, ele me chamou para o pavilhão
principal.
CAPÍTULO TREZE
Eden
Hailey balançou a cabeça, abriu meu armário e tirou minha roupa. Ela
colocou minha saia no final da minha cama e, em seguida, sentou-se. Apoiei
meus travesseiros atrás de mim, então eu estava sentada, também.
Hailey olhou para mim e seu rosto ficou rosa. Antes que ela olhasse para
longe, eu pensei que vi um flash de angústia em seus olhos.
— Uma mulher não gosta dessas coisas, Eden, mas uma amante ou uma
esposa as executa de qualquer maneira. Você entende?
Hailey olhou para mim e franziu os lábios. Ela pegou uma das minhas
mãos na dela e disse: — Nem sempre é desagradável, e você não deve temê-lo.
Mas só uma mulher promíscua e impura tem prazer. Você deve se concentrar
apenas no seu marido.
Franzi minha testa. Eu era promíscua e impura? Eu deveria ser, porque
eu tinha prazeres da carne com Calder. Na verdade, desfrutar poderia ser um
eufemismo.
— Ele, então quer que você o toque com a sua mão e com a sua boca — A
última palavra saiu como um guincho e meus olhos se arregalaram.
Hailey limpou a garganta. — Então, uh, então ele vai colocar sua
masculinidade endurecida entre as pernas e entrar em seu corpo. Da primeira
vez vai doer e você vai sangrar, mas depois disso vai ficar bem. Você entende? —
Parecia que Hailey queria fugir.
— Por favor — Ele acenou para Calder. — Sente-se. Eden, você pode ficar
de pé — A voz de Hector estava fria e um arrepio subiu pela minha espinha. Eu
apertei minhas mãos na minha frente e fiquei parada, esperando para ver o que
ia acontecer.
Calder ficou de pé, olhando firme quando endireitou seu corpo magro,
porém musculoso. Eu resisti à vontade de arrastar os meus olhos para cima e
para baixo dele. Baixei a cabeça.
Hector acenou com a mão. — Se você quiser. Não há qualquer lugar para
armazenar qualquer coisa no quarto dos fundos, mas traga o que gostar.
Fiquei de boca aberta. O quarto dos fundos era o lugar que ficava as
máquinas da lavanderia e onde os cães dormiam. Eu fechei meus lábios e olhei
para baixo, de modo a não mostrar qualquer emoção no rosto.
Hector olhou para ele. — Sim. O sacrifício dos meus trabalhadores é mais
agradável.
— Sim, Pai — Calder virou-se e foi em direção à porta, mas não antes de
fazer contato visual comigo. Segurei-o até que ele me passou e, em seguida,
olhei para Hector que estava arrumando as coisas sobre a mesa novamente.
— Eden, você sabe por que eu te chamei aqui, enquanto falava com o meu
novo servidor?
— Bom — Hector veio até mim, segurou meu rosto em suas mãos, e olhou
nos meus olhos enquanto se elevava sobre mim. — Minha princesa, eu esperei
tanto tempo por você. Nada deve ficar no caminho. Satanás vai tentar mais
agora que a nossa união está tão próxima. Você deve ignorar todas as tentações.
— Sim, Pai.
Hector acenou com a cabeça. — Bom, isso é bom. Breve, muito em breve.
Sinto-me como se eu tivesse esperado a vida inteira por você, meu amor. Se
apenas o prenúncio... — Ele franziu a testa, olhando para longe por um
momento. — Mas, é preciso seguir as instruções dos deuses, não o nosso próprio
egoísmo — Ele olhou para mim por um longo momento e depois soltou meu
rosto. — Você pode ir, Eden. E eu quero que você aumente a sua leitura do Livro
Sagrado, especialmente a seção sobre a tentação e sacrifício.
Quando olhei para baixo, algo azul chamou minha atenção e eu movi a
minha cabeça um pouco para olhar apenas sob o meu assento, onde havia uma
glória da manhã solitária. Mordi meus lábios para não sorrir. Eu movi meus
olhos sobre Calder e vi que ele estava se virando um pouco em minha direção e
ele viu a glória da manhã, também. Ele parecia um pouco confuso. Eu vi quando
ele se virou para o público e olhou para onde Xander estava de pé. Xander
piscou para ele e, em seguida, abaixou a cabeça e fechou os olhos, também.
Hector se virou e andou por um minuto com o dedo sobre os lábios como
se estivesse perdido em pensamentos. Finalmente, ele parou e olhou para cima.
— Os deuses nos amam, assim como eu te amo. Mas devemos lembrar que
embora os deuses nos tragam o rio que flui suavemente, eles nos trazem a
violenta tempestade que agita as águas do mar — Hector fez uma pausa,
olhando ao redor. — A tempestade pode ser violenta, a tempestade pode causar
destroços, mas em última análise — Hector parou novamente girando em seu pé
para virar e olhar para o outro lado da sala. — Em última análise, o ponto da
tempestade é mostrar-lhe onde você errou e direcioná-lo mais uma vez para
águas tranquilas.
Hector fez um sinal para Calder dar um passo adiante, e Calder fez,
levantando-se em toda sua altura e caminhando até onde estava Hector na
frente da banheira. Hector era um homem alto, mas Calder era apenas alguns
centímetros ou algo assim mais alto. Algo dentro de mim ficou satisfeito com
isso. Talvez fosse o conhecimento de que Calder era melhor que Hector não
apenas em qualidades interiores, mas literalmente em altura também.
— Calder Raynes, você vai viver de tal maneira para que cada dia seja
agradável aos deuses, e sempre atendê-los antes de si mesmo? ANTES DE SI
MESMO? — Ele repetiu em voz alta.
Hector caminhou para o lado de Calder, olhou para ele e pareceu hesitar
um pouco, mas recuperou o equilíbrio. Sua voz parecia apenas uma nota mais
fraca do que tinha quando ele olhou para Calder, um olhar que era uma mistura
entre raiva e confusão.
— Você ABANDONA Satanás? — Ele esbravejou.
— Eu abandono, Pai.
— Eu prometo, Pai.
Meus pés giraram para fora da cama antes que minha mente pudesse
tomar uma decisão. Aparentemente, meu corpo sabia o que queria, mesmo que
o meu cérebro não tivesse certeza que era uma ideia tão sábia.
Fui até a cozinha vazia pelo corredor traseiro, até que eu estava fora da
lavanderia. Tudo estava absolutamente tranquilo agora.
Ele colocou um dedo sobre os lábios, olhando com ternura nos olhos. —
Eu estava bem. Vou lutar se precisar, eu prometo. Mas você tem que confiar que
eu vou saber quando isso é necessário e quando não é, tudo bem?
Calder riu. — Então se tornou mais claro para mim que precisamos sair
daqui o mais rápido possível. E por isso... — Ele beijou meus lábios suavemente.
— ... Você não pode estar aqui.
— Shh, Eden — Disse, alisando meu cabelo. — Eu não estou tomando sua
virgindade quando tem alguma coisa a ver com Hector. E se Hector nos fizesse
sair hoje, nós teríamos que voltar implorando pela manhã — Seu maxilar
tensionou. — Quando formos embora, tem que ser para sempre.
Calder parou por alguns segundos, olhando para mim. — Eu vou fazer
uma vida para nós lá fora. Um lugar para você e para mim. E até lá, sim, vou
acreditar que existe.
— Sim — Ele concordou. O olhar em seu rosto era tão sério quando ele
empurrou uma mecha de cabelo fora de meu rosto. — Eu te amo, Eden.
Calder soltou um suspiro. — Está tudo bem. Ele está me usando para
provar um ponto para o resto das pessoas. Enquanto eu sei que você é forte,
posso fazer o seu jogo. Tenho que saber que você não está se preocupando
comigo, ok?
Eu joguei as cobertas para trás, tirei a colcha e entrei. Nem dois segundos
depois, a porta se abriu com a luz do corredor inundando. Eu abri um olho,
apenas o suficiente para ver a silhueta de Hector de pé na minha porta, me
olhando. Eu continuei fingindo dormir. Depois de um longo minuto, minha
porta se fechou e eu ouvi seus passos se afastando. Rolei de costas, tentando
fazer meu coração selvagem se controlar.
Calder
Eu fui para o rio, onde Hector ainda insistia para que eu tomasse banho.
Ajoelhei-me no banco, joguei água no meu rosto, e deixei escapar um grande
suspiro, fazendo com que as gotas de água voassem para longe de mim em todas
as direções, caindo de volta na água com uma centena de pequenos salpicos.
Inclinei-me e usei a mão para trazer a água sobre a minha cabeça e por trás do
meu pescoço e depois balancei a cabeça como um cachorro, enviando as gotas
de água no ar para pousar de volta na água, mais uma vez. Eu peguei minha
camisa para secar o restante da água do meu rosto e pescoço e, em seguida,
dirigi-me para o banheiro na parte de trás, onde as cabanas dos trabalhadores
ficavam cerca de quatrocentos metros de distância. Fiz uma pausa e olhei de
volta para o pavilhão principal atrás de mim. Ninguém estaria de pé por aqui
por pelo menos uma hora. Pelas regras de Hector, eu caminharia e voltaria para
o banheiro desde que eu me mudei para o pavilhão principal, mas quem saberia
se eu usasse o pequeno banheiro na parte de trás da casa?
Enquanto eu estava lá, percebi o que sair para a grande comunidade seria
para mim. Se eu estava incrédulo pelo funcionamento de um vaso sanitário e
pia, como seria quando eu visse todas as coisas novas e avassaladoras de uma
vez? Não seria o mesmo para Eden - ela tinha vivido com água encanada e
eletricidade, no mínimo, em toda a sua vida. E ia ser o meu trabalho cuidar dela,
protegê-la. Eu provavelmente iria parecer um idiota desastrado. A raiva corria
através de mim quando percebi o quão despreparado Hector nos tinha deixado
para fazer qualquer escolha para a nossa vida além de viver aqui, em Acadia,
para o resto de nossos dias.
Clive riu ironicamente. — Você pode voltar para o seu próprio... Banheiro
e cuidar das suas emergências lá.
Eu agarrei o braço dele e girei em volta dele, dobrando-o atrás das costas
como Xander e eu brincávamos de luta quando éramos crianças, só que eu não
estava brincando neste momento. Ele sufocou um som de dor e eu me inclinei
para falar diretamente contra seu ouvido. — Não faça isso. Nunca. Toque-me —
Inclinei-me ainda mais perto. — Nunca. Mais. Faça. Isso. Novamente.
Clive soltou um pequeno riso de dor, então eu dobrei seu braço um pouco
mais e ele gritou: — Ok, ok, deixe-me ir.
Empurrei-o mais ou menos longe de mim e quando ele se virou, seu rosto
estava vermelho de raiva. — Você vai se arrepender por tentar me fazer parecer
um idiota — Ele esbravejou.
Procurei por Eden, mas não a vi em qualquer lugar. Talvez ela já tivesse
saído do alojamento. Fui para a porta quando a voz de Hector trovejou: —
Calder Raynes.
Voltei para onde ele estava, as pessoas passando por mim quando a
última delas saiu pela porta, uma menina chorando nos braços da mãe.
— Você pode esperar aqui até que tenha certeza de que todos tenham
saído com segurança — Disse ele. — Eu preciso ir e tranquilizar minha futura
esposa. Ela deve estar com medo. Ela não gosta de espaços pequenos.
Eu fiz uma expressão vazia e não disse nada. Como se ele soubesse de
alguma uma coisa sobre Eden. Ele não sabia nada. Para ele, ela era só o que ele
queria que ela fosse: uma posse.
Ouvi passos fora da porta e girei. Duke, o maior dos dois vira-latas veio
trotando na sala, choramingando na minha mão por carinho. Eu exalei. — Hey
boy — Eu cocei sua cabeça por um minuto, esperando minha frequência
cardíaca voltar ao normal.
Eu fui ousado no meu roubo, mas precisávamos sair deste lugar o mais
rápido possível. Eu estava disposto a arriscar alguém questionando a falta de
dinheiro se isso significasse que Eden, Xander e eu pudéssemos sair muito mais
cedo. Ninguém poderia provar que fui eu.
— Em seu escritório?
Rodney olhou da palma da mão para os meus olhos e acenou com uma
inclinação de cabeça rápida. — Vá em frente. Estarei atrás de você — Tenho
certeza que não vai estar, maldito covarde.
Este espaço foi construído para que pudéssemos estar todos juntos
quando vierem as inundações para que nenhum de nós fosse levado pela água.
Nós todos daríamos as mãos quando a água finalmente rompesse o teto e
começasse a encher as salas abaixo do solo. Não deveríamos ter medo - o
paraíso nos esperava. Nós seríamos levados a Elysium por Hector e Eden, onde
todos nós olharíamos para baixo na terra assim que começasse de novo,
governados por novos seres humanos.
E eu não podia fazer nada agora, exceto esperar que tudo fosse uma
grande mentira. E mesmo assim, o pensamento disso não trouxe apenas
esperança, mas tristeza e raiva, também. Eu tinha acreditado uma vez, não
tinha? E agora a mentira cruel parecia intencional, destinada a prejudicar-me e
roubar-me uma vida.
Eu era mais alto do que a maioria das pessoas ao meu redor, então
quando estiquei o pescoço, ela me viu e sorriu, olhando rapidamente por cima
na direção de Hector. Segui seu olhar e vi que Hector estava olhando para ela e
depois olhou para mim quando Eden o fez. Nós dois rapidamente desviamos o
olhar, e quando olhei de volta para Hector alguns minutos mais tarde, o seu
rosto de pedra ainda estava focado na minha direção.
Olhei em volta para minha família, mas não podia vê-los no meio da
multidão. Isso não poderia ser bom para a saúde de Maya. Eu esperava, no
mínimo, que ela não estivesse com medo. Eu sempre estive ao lado dela durante
esses exercícios no passado, apertando sua mão por três vezes depois dela
apertar a minha.
Poucos minutos depois, Hector entrou com Eden em seu braço. Eu fiquei
tenso ao vê-lo tocá-la, repetindo na minha cabeça, não por muito tempo agora,
não muito tempo agora, de novo e de novo até que pudesse relaxar, imaginando
o dinheiro sob a rocha em frente ao pavilhão principal.
Hector andou com Eden para sua cadeira e ela sentou-se, e então ele
caminhou até o pódio, onde esperou até que todos houvessem entrado no
Templo.
Hector olhou para baixo. — Não, não, não é. Será que todos nos sentimos
seguros aqui quando há uma pessoa indisciplinada vivendo entre nós?
— Não, Pai.
— Sim, Pai.
— Sim, é verdade. E por isso me dói, parte o meu coração, mas Calder
deve ajoelhar-se no tapete de castigo pelo resto do meu sermão e depois ele deve
servir um dia na prisão subterrânea por suas transgressões. Isto me dói tanto
quanto vai doer em você, meu filho, meu Portador da Água, uma vez confiável.
Eden
Meu corpo se inclinou para a frente, querendo ir até ele por conta
própria, mas seus olhos me avisaram para ficar quieta. Eu apertei minhas mãos
no colo e desviei o olhar miseravelmente. Sua mensagem era clara: se eu
dissesse qualquer coisa, só iria piorar as coisas para ele e para mim. Eu estava
impotente. Eu queria gritar.
Hector fez uma pausa. — Muito bem. Você pode se levantar e enfrentar
sua família. Por favor, oferecer-lhes um pedido de desculpas.
Olhei para trás uma vez quando subi na carruagem que trazia a mim e
Hector para o Templo a cada semana e vi Calder andando pelo corredor, suas
pernas um borrão de vermelho, olhando para frente, como eu tinha feito.
Uma hora antes do jantar, houve uma batida suave na minha porta e eu
me levantei para atender. Era Hailey.
— Eu vejo a maneira como você olha para ele, Eden. Todo mundo vê.
— Eu não pude evitar. Não havia nada que eu pudesse fazer para parar.
— E o resto de nós?
— Eu não quero governar com os deuses, se isso significa que tenho que
fazê-lo sem Calder. Prefiro queimar no inferno — Eu gritei.
Hailey parecia derrotada quando seus ombros caíram e ela olhou para a
minha esquerda, pela minha janela.
— Isto é em parte culpa minha. Eu lhe dei liberdade demais e olha o que
aconteceu.
Ela balançou a cabeça. — Isso vai. Hector, ele... Sabe das coisas. Seu
casamento com você e o prenúncio da inundação é a única coisa que nunca
mudou. Ele tem muita certeza e eu também.
Olhei para o chão, as lágrimas ainda rolando pelo meu rosto. — Sinto
muito — Eu não sabia mais o que dizer. Eu olhei de volta para ela. — Por favor,
por favor, não diga a Hector o que eu disse.
— Eu vou dizer a todos que você não está se sentindo bem e não vai estar
no jantar de hoje. Acho que é melhor assim — Disse ela.
— Tudo bem — Eu resmunguei, sabendo que ela estava dizendo que não
queria mais olhar para mim naquele dia.
Um pouco mais tarde, olhei pela janela para ver Xander caminhando
longe do pavilhão principal, olhando para trás por cima do ombro.
Eden,
Eu acho que você vai concordar, que depois do que aconteceu hoje,
precisamos sair daqui o mais rápido possível. Dois meses a partir de hoje, o
mais tardar. Quando você ouvir o apelo de uma coruja três vezes consecutivas,
pausa, e então duas vezes, você saberá que é hora de ir nos encontrar e na
nascente. Certifique-se de que ninguém a siga.
Eu não coloquei essa carta com as outras que Calder tinha me dado, as
que eu não conseguia me separar. Em vez disso, eu acendi uma vela em minha
cômoda e segurei o papel pela borda enquanto queimava. Quando era apenas
uma pequena ponta queimada, eu a deixei cair no grande recipiente de vidro
que a vela estava. Eu soprei isso e voltei para a janela, fiquei simplesmente
olhando para fora, pensando em Calder e tentando nos imaginar longe, muito
longe.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Calder
Ela fez um som de impaciência, acenando com a mão para indicar que eu
deveria ficar sentado. Eu afundei de volta.
Ela abriu uma grande bolsa de crochê que tinha pendurada no ombro e
começou a tirar pequenas bolsas de tecido, e uma pequena tigela que parecia
que foi uma pedra de algum tipo. Então misturou vários itens, juntamente com
uma pequena quantidade de água em sua tigela e um cheiro herbal forte subiu
ao meu redor. Ela começou a esmagá-los e misturá-los até que fosse uma pasta
verde escura. Ela se aproximou de mim e colocou-a enquanto examinava
minhas pernas, fazendo sons de tsk tsk usando as mãos suavemente para
colocá-la em vários lugares.
— Os deuses não tiveram nada a ver com isso — Disse ela, quase como se
para si mesma. — Aqui, tome isso. Vai ajudar com a dor — Ela me entregou um
pequeno pacote de pó e um jarro de madeira que ela tinha aberto. — Beba tudo.
— Eu... Acho que o ameacei, desafiei-o — Eu disse com meus olhos ainda
fechados. Minha cabeça estava começando a flutuar, mas de um jeito bom.
Ela ficou em silêncio por um bom tempo. — Você deve ir embora logo. As
coisas só vão piorar para você.
Ela assentiu, tirando uma pilha de tiras de linho branco. — Ainda mais
uma razão para você partir. Assim que for liberado daqui, comece a andar, e não
pare até que você esteja muito longe.
Mãe Willa suspirou alto. — Você fez o seu sacrifício nesta vida, Calder
Raynes — Ela aplicou uma tira de tecido em meu joelho e amarrou-o por trás —
Quer você saiba disso ou não.
Mãe Willa riu e balançou a cabeça. — Sim. Maya, sim. Não você, Calder.
Você não nasceu aqui. Mas você pertence a Hector mesmo assim. E agora você
cruzou com ele, ameaçou-o, e ele não vai acatar isso. Então, se você quer
proteger as pessoas que ama, saia daqui, está me ouvindo?
— Acho que sim — Ela disse, parecendo um pouco confusa antes que sua
expressão desfizesse novamente. Ela assentiu. — Se certas coisas... Sim.
Eu não tinha ideia do que ela estava falando, mas não me importei. Nada
parecia importar, exceto o calor em minhas veias e a ausência de dor. Fechei os
olhos novamente.
Franzi minha testa, uma nova onda de calor correndo através do meu
sangue. — Qual é o preço de se refugiar aqui, Mãe?
Ela parou o que estava fazendo e olhou para mim, seus olhos claros
brilhando. — A morte — Disse ela tão simplesmente a palavra que quase não
entendi. — Muita morte.
O quarto pulsava ao meu redor. Tudo o que eu queria fazer era dormir. —
E se sairmos daqui? — Perguntei.
Depois do que pareceram alguns minutos, ela deu um tapinha no meu pé.
— Tudo feito. Isto irá manter a infecção longe. Mantenha-os, mesmo que eles
cocem - pelo menos enquanto você estiver aqui - então remova as bandagens,
limpe e reaplique. Se molharem, aplique outras novas e secas.
No dia seguinte, quando minha cabeça estava limpa das ervas que Mãe
Willa tinha me dado, Mãe Miriam também entregou uma cópia do Livro
Sagrado e colocou no chão junto com a minha refeição. Coloquei-o no banco,
mas nunca o abri.
— Hector diz que você deve ir direto para os campos, depois que estiver
limpo.
Quando passei por uma das cabanas, uma mão estendeu, me agarrou e
me puxou de costas por trás dela. Eu tropecei, xingando baixinho e depois olhei
para a expressão intensa de Xander.
— Desculpe. Temos apenas alguns minutos. Não quero que ninguém nos
veja.
— Por que não? Somos amigos. Não seria estranho nos verem
conversando.
Xander fez uma pausa. — Você provavelmente está certo. Eu só acho que
é melhor se não chamar a atenção para esse fato. Vai torná-lo mais fácil as
pessoas não me observarem. Eles já estão de olho em você e não há como voltar
atrás nisso.
Eu balancei a cabeça. — Então você acha que vai demorar alguns meses
para estarmos prontos para sair?
— Sim, mas não mais do que isso. As coisas só vão piorar para você, e
para Eden. Além disso, os preparativos do casamento já começaram com os
trabalhadores. Eden terá dezoito anos em o que, três meses?
Xander ficou em silêncio por um minuto. — Ok, então você pega o que
puder sem ser apanhado. Joias, dinheiro, tudo o que dê para vender. Quanto
mais tempo tivermos para encontrar um trabalho, melhor, porque nós vamos
ter que usar o nosso dinheiro para comer, até então — Ele olhou para mim. — E
não chegue perto de Eden. Nós não podemos arriscar.
— Eu já contei. Espero que ela possa ter uma maneira de entrar no quarto
de Hector e ver o que pode encontrar lá de valor.
Eu apertei meu queixo, olhando para a frente. — Eu não a quero em
qualquer lugar perto do quarto de Hector.
Xander ficou sério. — Eu vou fazer isso três vezes seguida, pausa, e então
duas vezes.
— Sim.
Hesitei. — Xander, você acha que pode me ajudar com alguma coisa?
Preciso ver Eden uma última vez antes que eu não a veja durante alguns meses.
Xander bufou. — Não, Calder. Você precisa ficar longe de Eden. Nem
sequer olhe em sua direção...
— Eu sei. Eu vou. Apenas uma vez. Por favor. Isso será difícil nos
próximos meses. Prometo.
Xander olhou para baixo, claramente não estando feliz com o meu
pedido. — Tudo bem. Vamos fazê-la praticar uma única vez se esgueirando do
quarto e ir nos encontrar na nascente.
Eu sorri. — Obrigado.
Xander era meu amigo há tanto tempo. Eu não podia imaginar a vida sem
ele. O nosso plano tinha que funcionar; tínhamos que sair daqui. A dor nas
pernas não era nada comparada ao do meu coração quando eu considerava ser
separado de Eden por mais alguns meses. O nosso plano tinha que dar certo,
isso tinha que funcionar.
CAPÍTULO DEZESSETE
Eden
Era um jogo que eu tinha feito com uma pergunta ou outra desde que eu
era jovem. Era imaturo, eu sabia, mas eu estava entediada.
Mãe Miriam assentiu. — A menina que trouxe, me pediu para lhe dizer
que o laço na parte inferior pode parecer pesado, mas é só porque pedras extras
foram usadas na ornamentação. Ela repetiu seis ou sete vezes. Acho que ela está
preocupada que você vai reclamar — Disse ela, revirando os olhos e balançando
a cabeça como se tivesse sofrido algum evento torturante em ter que ter uma
conversa com ela. Eu me encolhi um pouco. Eu daria qualquer coisa para falar
com Maya por apenas alguns momentos, conhecer a garota que amava Calder
tão ferozmente.
— Obrigada — Eu disse simplesmente, movendo-me para o final da cama
e brincando com o material delicado.
Mãe Miriam virou o rosto para mim de novo com pouca expressão em seu
rosto. — Perdão?
Olhei para o véu por mais alguns segundos, e então peguei e comecei a
mover os dedos ao longo da bainha, sentindo a renda e as joias, até que me
deparei com um lugar onde não havia pedras costuradas no exterior, mas um
nódulo duro que indicava que algo estava costurado entre a renda. Meu coração
acelerou. Parecia plana e dura e o tamanho de uma moeda. Eu coloquei meus
dentes no laço e rasguei. O que me importa? Era lindo, mas eu nunca usaria a
coisa.
Eu enfiei meu dedo no pequeno rasgo e abri mais. Meus dedos tocaram
algo suave e então virei o pedaço da barra de cabeça para baixo e uma pequena
pedra lisa do rio caiu no meu colo, quase perfeitamente redonda e lisa como
qualquer uma das pérolas que Maya tinha usado no meu véu. Eu respirei fundo
e trouxe a minha mão sobre a boca.
Ele peneira através de todas as pedras até que encontra a mais lisa que
consegue e dá a sua fêmea escolhida. Em seguida, ele apresenta a ela como um
símbolo de seu amor.
O segundo pedaço de papel era ainda menor e dizia: — Abra com cuidado
— Do lado de fora em letras minúsculas. Eu fiz e quando desdobrei o canto final,
eu vi uma pequena pilha de pó branco. Escrito por baixo estavam três “Zs” — Pó
para dormir? Para Hector?
Eu faria o que fosse necessário. Eu faria qualquer coisa para ver Calder.
Ouvi passos pesados à minha esquerda e fiquei congelada até que a porta
da frente abriu e fechou. Respirei profundamente e corri rapidamente em toda a
área aberta para o bosque de árvores que levava para o caminho até a nascente.
Levantei-me e congelei.
Eu ergui meus olhos para ele e nós dois nos movemos de uma vez,
correndo em direção ao outro, até que ele me pegou e me girou. Eu inclinei
minha cabeça para trás e ri com o céu claro quando Calder enterrou seu rosto no
meu pescoço, seu sorriso crescendo contra a minha pele.
Depois de um minuto ele me colocou em pé. Calder levou a mão até meu
rosto quando eu me inclinei para ele, fechando os olhos.
Eu dei uma pequena meia risada, meio soluço. — Eu sinto sua falta,
também. Muito. Pensei que iria morrer vendo você sofrer.
Calder se inclinou para a frente e pegou meu rosto em suas mãos. — Shh,
acabou agora.
Eu balancei minha cabeça. — Olhe para mim. Eu não sou tão forte.
Calder sorriu. — Sim, você é. Você é mais forte do que qualquer homem
que eu já conheci. Na verdade — Ele levantou uma sobrancelha, a diversão
dançando em seus olhos — Talvez você realmente seja um homem.
Ele sorriu, mas seus olhos se moviam sobre o meu rosto. — Espere, não,
você é muito bonita para ser um homem. Mas talvez eu precise investigar mais
essa teoria — Ele se inclinou e me beijou suavemente, deslizando a língua pelos
meus lábios. — Mmm... E gosto muito doce para ser um homem — Ele
sussurrou, inclinando-se para longe de mim com seus olhos escurecendo.
Calder sorriu contra a minha pele. — Você provavelmente está certa sobre
isso — Ele murmurou.
Eu não pude evitar a tristeza que passou por mim novamente. — A dor...
Eu sorri e então fiquei séria. — Será que alguém está vigiando você?
Ele balançou a cabeça. — Não, por enquanto, acho que não. Estou
dormindo na cabana da cura e Xander trocou de lugar comigo esta noite. No
escuro, ninguém será capaz de dizer, mesmo se eles procurarem por mim.
Franzi minha testa. Nós estávamos arriscando tanto por esta noite. —
Tudo bem.
Eu floresci sob seu toque como uma flor bebendo sob o sol quente, meus
mamilos franziram, minha coxas apertando e meu sexo começando a latejar.
— Faça amor comigo, Calder — Olhei para cima e disse: — Bem aqui, no
lugar que é só nosso. Sob esta lua.
Eu sorri de volta para ele. — E seus votos? Quais são seus votos?
Ele pegou minhas mãos. Acima, a lua lançou seu brilho dourado em tudo
ao nosso redor, e o ar quente acariciava o meu rosto. Na minha frente estava o
homem mais bonito que eu já vi, o homem que eu amava tanto tempo quanto
conseguia lembrar, aquele que me amava de volta. Tudo ao meu redor, a noite
brilhava com milagres, grandes e pequenos.
Calder sorriu para mim com ternura, inclinou-se e beijou meus lábios
suavemente, e então me puxou para ele, envolvendo os braços em volta da
minha cintura e me levantando a sua altura. Eu ri e beijei-o uma e outra vez,
plantando pequenos beijos por todo o seu rosto enquanto ele ria também.
— Mostre-me.
Fui até a bolsa de lona que eu tinha largado na entrada da pedra e trouxe-
a para a pequena área gramada. Abri-a e puxei o cobertor grande, branco, que
estava mantido no meu baú de casamento. Ele havia sido costurado
especialmente para minha noite de núpcias: uma bela combinação de lã,
algodão e linho com fios de prata tecidos por toda parte. Ele brilhava sob a luz
do luar. Eu espalhei-o na grama e, em seguida, olhei para Calder que se
aproximou de mim.
Notei as bandagens ainda envoltas ao redor das suas pernas, mas não
disse nada. Eu sabia que ele não iria querer.
Calder olhou para o cobertor ao lado de nós e eu deslizei sobre ele, até
que fui capaz de deitar-me. Ele olhou para mim por apenas um segundo antes
de se mover em cima de mim e nós continuarmos nos beijando, sua pele
queimando a minha. Entre as minhas pernas, eu estava molhada, necessitada e
dolorida. — Calder — Eu gemi. — Eu preciso de você.
Eu inclinei minha cabeça para trás e arqueei as costas enquanto sua boca
quente se fechou sobre meu mamilo, sugando-o com cuidado. Eu senti o pulsar
do prazer entre as minhas pernas, enquanto lambia o pico endurecido e passava
a língua ao redor dele e, em seguida, mudou-se para o outro, onde a deliciosa
tortura continuou. Eu ofegava seu nome e envolvi minhas pernas ao redor dos
seus quadris, pressionando-me para cima, para o calor de sua dureza. Ele trouxe
sua boca até meu seio e arqueou o pescoço para trás, gemendo.
Calder rolou para o lado para que o seu peso estivesse no cobertor e levou
uma mão para baixo, separando minhas coxas. Eu gemi de novo, me abrindo
para ele, e quando o dedo mergulhou dentro de mim, uma faísca de prazer
atravessou meu sexo. — Oh! — Eu ofeguei, arqueando no cobertor. Calder
colocou sua boca de volta no meu seio e me explorou com os dedos, finalmente,
circulando o ponto que me fez gritar seu nome e mover minha cabeça de um
lado para o outro com um delicioso êxtase pulsando em mim.
Ele circulou o dedo ali até que a sensação era tão intensa que assumiu o
comando e mergulhei em um abismo de prazer luminoso. Quando meu corpo se
esticou e estremeceu, eu abri meus olhos e olhei para as estrelas, seu brilho
queimando nos meus olhos e a sensação de êxtase queimando em minha pele.
Isso iluminou de dentro para fora, de uma maneira que me fez sentir
transformada para sempre, como se, de alguma forma, um segundo ofuscante
de luz intensa tivesse chamuscado minhas próprias células.
Eu pisquei para Calder quando ele levantou a cabeça e beijou meus lábios
suavemente, movendo-se em cima de mim mais uma vez. Quando ele se afastou,
o olhar tenso em seu rosto era tão intenso que eu inclinei meus quadris para
cima, oferecendo-me a ele.
Meu coração se apertou com o amor. Nessa noite, eu estava dando a ele o
meu corpo, mas ele já possuía o meu coração e alma. Eu queria pertencer a este
belo homem em meus braços de todas as maneiras possíveis. E eu queria que ele
me pertencesse.
Eu sabia que a coisa extasiante que tomou conta de mim quando ele me
tocou com os dedos não ia acontecer de novo, mas eu exultava com a sensação
dos seus músculos flexionando e o olhar de prazer em sua expressão. Ele
começou a se mover mais rapidamente e com menos delicadeza. Eu vi a guerra
em seu rosto entre ser gentil comigo e mover-se como o seu corpo estava lhe
dizendo. Eu estava inebriada com o conhecimento que estava fazendo isso com
ele; ele tinha perdido todo o controle por minha causa. Eu incentivei-o,
agarrando suas costas e empurrando-o para dentro de mim, no ritmo que eu
poderia dizer que ele mal estava se mantendo. Seus olhos estavam queimando e
depois se fecharam e eu envolvi minhas pernas em sua cintura, levando minhas
mãos até os braços para sentir os músculos flexionando enquanto ele segurava
seu peso sobre mim.
Calder se inclinou para a frente, trouxe sua boca na minha e moveu sua
língua na minha boca no mesmo ritmo que nossos corpos se moviam juntos.
Senti uma pequena faísca quando seu peito roçou meus mamilos e relaxei
completamente, gemendo em sua boca. Calder gemeu de volta e, em seguida,
suas estocadas ficaram espasmódicas enquanto ele soltava uma exalação de ar
com cada uma. E, de repente, ele saiu de mim e eu gritei baixinho com a perda
inesperada dele.
Corri minhas mãos para cima e para baixo em suas costas enquanto nos
deitamos ali, satisfeitos naquele momento, eu e ele, nossos membros
entrelaçados, nossos corações batendo como um só. Era tudo que sonhei e
muito mais. Um pico de simpatia percorreu-me por Hailey, por qualquer
mulher que não experimentou a beleza que eu tinha acabado de experimentar
com Calder.
Ele jogou o peso para o cobertor ao meu lado e inclinou-se para cima e
olhou para meu rosto. — Você é tão linda — Ele murmurou, inclinando-se e
beijando ambas as pálpebras, e depois o meu nariz, e, finalmente, os meus
lábios enquanto eu sorria e suspirava em felicidade.
Calder rolou para o lado e nós dois ficamos ali, olhando para o céu, a
brisa quente soprando em toda a nossa pele e a umidade na minha barriga
escorrendo fria.
Abaixei minha mão e toquei a substância pegajosa e depois me inclinei
para olhar, esfregando-a entre meus dedos.
— Eu não quero que você fique grávida — Disse Calder. — Pelo menos
não aqui, não agora.
Eu comecei a rolar em direção a ele que ficou de costas. Deitei meu corpo
sobre o dele, enterrando meu rosto em seu pescoço e passando os braços para
cima e ao redor de seu pescoço. Ficamos deitados assim por alguns minutos até
que ele colocou as mãos até minha bunda e apertou suavemente. Eu ri e me
contorci em cima dele e ele gemeu baixinho.
Inclinei-me para cima e olhei para ele com diversão. — Vamos nos limpar
— Eu disse, rolando dele e ajoelhando-me. Olhei para o cobertor onde estive
deitada e calor subiu no meu rosto. Havia manchas de sangue estragando o
tecido branco perfeito. Olhei para Calder e ele estava olhando para o sangue,
também, com algo que parecia orgulho em sua expressão. Seus olhos
encontraram os meus, e ele piscou, parecendo perceber o que deveria estar em
seu rosto, enquanto as maçãs do meu rosto assumiam um tom de rosa, ele
estendeu a mão para mim. Segurei-a em silêncio e nós andamos de mãos dadas
até a nascente, onde entramos.
— O quê? — Eu sussurrei.
— Isso vai passar tão lentamente — Disse eu, sentindo o peso do que seria
a nossa separação.
Movi-me para mais perto dele e levantei-me na ponta dos pés para beijar
sua boca enquanto minha mão continuava a deslizar sobre ele, logo abaixo da
superfície.
— Mmm — Eu suspirei.
Ele puxou sua boca da minha e sussurrou: — Estou indo devagar desta
vez. Nós vamos gravar cada beijo, cada toque e cada movimento em nossa pele
para até quando voltarmos, isso, então, será apenas passageiro. E enquanto
estivermos separados, vamos continuar mantendo isso aquecido — Ele sorriu
contra a minha boca e eu dei uma risada.
— Mmm — Eu murmurei.
— Eu amo isso. Eu amo você, amo essa sensação, seu cheiro, somente
você — Calder ofegou. Eu sorri. Eu amei que as palavras começavam a derramar
da sua boca, várias vezes quando estávamos fisicamente íntimos. Era outra
maneira dele perder o controle e eu adorava. Empurrei para cima e suspirei de
felicidade.
Quando abri os olhos, ele estava olhando para mim com olhos pesados de
paixão e lábios ligeiramente entreabertos. Eu o vi quando suas pálpebras se
fecharam e sua expressão tornou-se tensa com a luxúria mal controlada. Em
seguida, seus golpes aceleraram e ele empurrou para dentro de mim várias vezes
antes que saísse - a substância quente, pegajosa transbordando em minha
barriga de novo - seu rosto parecendo quase aflito, mas maravilhosamente bem.
Ele baixou a cabeça na curva do meu pescoço, gemeu, e depois soltou uma das
minhas mãos e segurou seu pênis enquanto esfregava a cabeça na minha
barriga, suspirando.
Eu soltei a outra mão e coloquei meus braços ao redor das suas costas,
raspando minhas unhas por seus braços. Ele se inclinou para cima e sorriu para
mim, seus olhos ainda sonolentos e beijou meus lábios docemente.
Eu ri quando Calder rolou de cima de mim e me levou com ele. Nós dois
estávamos ainda um pouco úmidos da água, e agora estávamos pegajosos e
suados de novo, mas eu não me importei. Eu ficaria deitada com ele nessa
bagunça durante toda a noite.
— Sim, eu sei. Vejo o que as pessoas chegam aqui vestindo. Vou descobrir
tudo isso. É por isso que precisamos de um pouco de tempo.
Calder assentiu. — Sim. E talvez seja. Mas — Ele passou a mão pelo
cabelo, olhando de volta para o céu. — Há coisas gloriosas bem aqui na terra,
também, e eu acho que elas foram feitas para serem apreciadas. Nós não fomos
criados para não notá-las... Nossos corações não foram feitos para não ter
alegria nas coisas que nos foram dadas aqui mesmo.
E eu acreditei nele.
Calder inclinou meu queixo para cima com o dedo e olhou nos meus
olhos. — Minha menina corajosa — Ele sorriu. — Eu não vou me preocupar com
você, porque você é muito forte. Vou saber que você está bem.
Eu sorri contra seu peito e nós nos abraçamos por mais um minuto, até
que me afastei e comecei a colocar minhas roupas de volta.
Depois que eu estava vestida e o cobertor colocado de volta na bolsa, eu
quase o coloquei sobre meu ombro, mas pensei melhor e coloquei-o atrás de
mim entre as rochas, onde o bloco de notas ainda estava. Não havia nenhuma
razão para levá-lo comigo de volta até a árvore e por todo o telhado. Virei-me
para Calder e sorri para ele. — Eu vou vê-lo aqui em breve, muito em breve —
Eu sussurrei.
— Sim — Ele disse. — Muito em breve — Ele pegou meu rosto entre as
mãos e beijou meus lábios suavemente e, em seguida, esfregou o nariz ao longo
do meu com ternura. Beijei-o uma última vez e me virei para sair. Abaixei
através da abertura nas rochas e subi a trilha, sabendo que Calder estaria atrás
de mim em poucos minutos. Eu me perguntei se ele deixaria as velas apagadas
onde estavam ou as levaria de volta com ele. Eu imaginei alguém tropeçando em
nossa pequena nascente daqui a muitos anos, quando estivéssemos muito longe,
e se perguntando o que havia acontecido ali, o que tudo aquilo significava. Não
pude deixar de sorrir para mim. Só ele e eu conhecíamos a história. Era apenas
nossa.
Calder
Na manhã depois que fiz amor com Eden em nossa nascente, sentei-me
ao lado de Xander na sala de jantar da comunidade.
Eu dei um riso sem humor. — Eu não sei ainda. Não é como se ele me
deixasse comer no salão principal, de qualquer maneira.
— Sim, eu não posso imaginar por que. Talvez porque eu virei na cama
durante toda a noite na cabana da cura, à espera de ser pego por me fazer passar
por você.
Xander sorriu. — Sim, você me deve por cerca de uma centena de vidas.
Tenho feito a contagem. Você ainda estará pagando a sua dívida para mim em
Elysium.
Eu sorri. — Felizmente.
Eu senti calor subir no meu rosto. — Eu sei — Disse. Nós dois ficamos em
silêncio por um minuto.
Xander exalou, fazendo contato visual comigo. Ele passou a mão pelo
cabelo que caiu em sua testa. — Eu sei. Droga, este lugar — Ele balançou a
cabeça. — Eu sei. Estou cansado.
— Sim, eu sei. Vamos tentar obter dois mil. Inferno, vamos tentar obter
cada centavo que pudermos. Mas isso é o mínimo. Com isso, nós temos pelo
menos um mês. Nós só precisamos que um de nós tenha um emprego. Mesmo
que seja Eden.
Eu balancei minha cabeça. — Não, não Eden. Quero ver as coisas antes de
mandá-la para qualquer lugar sozinha.
Xander tomou um gole do seu café. — Você não pode mantê-la trancada
em algum lugar do mundo exterior como se ela estivesse trancada aqui.
Xander acenou de volta. — Tudo bem, então pegue dinheiro sempre que
puder, quanto puder.
Eu sorri. — Bom para nós — Eu falei sério. — Sério, você vai dizer o
quanto nós apreciamos isso?
— Sim. Vou trabalhar os detalhes com Kristi, uma vez que estivermos
perto de ter o que você precisa.
Xander revirou os olhos. — Ela é louca e senil, Calder. Eu não iria perder
muito tempo tentando interpretar suas divagações — Ele olhou para cima
quando a porta se abriu. — Seu pai está caminhando para cá.
Olhei para trás para ver meu pai andando rapidamente em direção à
mesa onde eu estava sentado com Xander.
— Calder, Maya teve algum tipo de convulsão. Ela está na cabana da cura.
— Ela parecia estar bem esta manhã, apenas a mesma tosse — Meu pai
disse. — Ela teve uma convulsão... E então...
Minha mãe concordou, mas foi meu pai que saiu do quarto para ir buscar
Mãe Willa.
Quinze minutos mais tarde, Mãe Willa entrou no pequeno quarto onde
todos nós esperávamos; eu ainda estava segurando a mão de Maya. Ela moveu-
se para o lado da cama e ficou ali, simplesmente olhando para Maya, a tristeza
em seu rosto.
— Essa criança não ficará muito tempo neste mundo — Ela disse
finalmente.
— O que é que isso quer dizer? — Eu exigi. — Nós não precisamos das
suas previsões; precisamos da sua ajuda. O que você pode fazer por ela?
Mãe Willa encontrou meus olhos. — Não há nada que eu possa fazer por
ela, rapaz. Seu coração está fraco. Ele sempre foi. Você tem sorte que teve esse
tempo com ela.
Mãe Willa colocou a mão em seu peito e olhou para cima quando
respirou. Em seguida, ela colocou a mão sobre o peito de Maya. — Não há ar
suficiente — Ela finalmente disse. — Por causa do coração. Ela simplesmente vai
cair no sono.
— É como eu disse. Seu coração é fraco. Ele está falhando. Logo não será
capaz de fornecer oxigênio suficiente e ela vai cair no sono. Ela não vai acordar.
— Sim. Vejo. Quando as coisas são iminentes, elas ficam muito claras —
Ela colocou a mão no meu braço. — Eu sinto muito. Eu vejo o seu amor por ela,
também. É como uma borboleta de cor viva.
Eu estudei seu rosto velho, aqueles olhos sem idade, sem saber o que
pensar, e depois me livrei do seu braço e caminhei de volta para Maya para me
sentar do outro lado da cama.
Eu apertei sua mão na minha e me sentei com ela enquanto minha mãe e
meu pai oravam. Enquanto ouvia as palavras do Livro Sagrado de Hector, o
quarto parecia balançar e borrar tudo ao meu redor. Quando pisquei, percebi
que era porque eu estava chorando. Endireitei as costas e olhei pela janela. Eu
não ia chorar. Maya ainda estava aqui, sua mão quente segurando a minha e um
pequeno sorriso, sereno no rosto.
Franzi a testa, sem entender o que ela quis dizer. Ela encontrou meus
olhos novamente e sua mão apertou a minha com tanta delicadeza, três vezes.
Eu. Amo. Você. Eu apertei sua mão e seu sorriso alargou ainda mais. — Eu sei —
Ela sussurrou. E então fechou os olhos, um pequeno sopro de ar escapando da
sua boca, sua mão escorregando da minha.
— Maya? — Engasguei, colocando as duas mãos em seus ombros e
sacudindo-a um pouco. Ela permaneceu imóvel, os olhos fechados, o sorriso
ainda em seus lábios. Minha mãe começou a chorar e meu pai baixou a cabeça.
Olhei para cima e vi Mãe Willa em pé, parada no canto, com os olhos baixos,
enquanto seus lábios se moviam silenciosamente em algum tipo de oração.
Meu pai pegou o pulso de Maya e colocou o dedo em seu pulso e todos
vimos quando a dor atravessou seu rosto. Depois de um minuto, ele abaixou o
braço suavemente. — Ela se foi — Ele disse calmamente.
Eu olhei para longe dele, me soltei de mãe Willa e sai pela porta, meus
pés liderando o caminho, até que me encontrei na nascente minha e de Eden.
Eu fiquei ali olhando ao redor desorientadamente no local que só tinha me
trazido felicidade e alegria. Naquele momento, eu precisava estar lá. A tristeza
me envolvia. Como eu poderia continuar sem Maya? Eu a amava
profundamente. Eu nunca estive separado dela por um dia em toda a minha
vida. Eu caí de joelhos na grama e coloquei minha cabeça nas mãos e solucei,
deixando as lágrimas caírem por minha irmã mais velha.
Fiquei ainda mais desesperado para deixar Acadia. Não havia nada para
mim aqui. Minha mãe e meu pai não iriam entender, mas eu tinha que viver
minha própria vida. E eles tinham um ao outro. Eles tiveram a vida que tinham
escolhido. Eles tinham Elysium.
Eden
Hailey não tinha falado comigo desde a nossa conversa sobre eu estar
apaixonada por Calder. Isso instalou-se pesado no meu coração; tinha perdido
ela também. Apesar do que ela acreditava, eu a amava. Não totalmente como
uma mãe, mas como uma irmã mais velha ou uma tia e sua rejeição doeu.
Olhei para baixo. — Sim, meu véu está completo. É adorável. É claro, e
significa muito por eu ter algo feito à mão por Maya Raynes.
Eu pisquei para ele, tristeza e raiva crescendo em meu peito. — Não via
Maya como um erro — Eu disse. — Ela era uma menina bonita, talentosa.
Você não sabe nada sobre mim, pensei. Você é cego a quem eu sou.
— Bom. Agora falando de Maya Raynes, tenho algumas boas notícias. Seu
irmão, Calder Raynes vai se casar no Templo um pouco mais de um mês a partir
de agora. Iria planejar isso mais cedo, mas os trabalhadores precisam de um
pouco de tempo para preparar um bom casamento.
Meu coração caiu em meus pés e meus olhos voaram para Hector. — O
quê? — Murmurei.
Hector olhou para a esquerda, para fora da janela grande. — Você vai ser
minha esposa, Eden, nesta vida e aquela depois. Como o líder de Acadia, não
busco seu conselho. Mas é permitido a você saber as minhas razões, e,
especialmente, sobre este assunto, acho prudente que você o faça.
Eu mal conseguia andar. Mal podia respirar. Precisava falar com Calder
para saber o que ele estava pensando. Será que ele ainda me amava? Me
queria? Será que ele estava de alguma forma se culpando pela morte de Maya?
Oh, Calder. Eu preciso de você.
Hector olhou para mim com um olhar de conhecimento vindo dos seus
olhos. — Sim, é claro que você vai. Vá descansar. Reequilibrar-se. Vejo você no
café da manhã amanhã de manhã.
Eu pulei o jantar e fui para a cama cedo, tão emocionalmente exausta que
mal conseguia ficar de pé. Surpreendentemente, o sono me pegou facilmente e
afundei com gratidão em seu vazio escuro.
A próxima coisa que me dei conta foi o tamborilar suave da chuva que
estava acertando a minha janela. Rolei e tentei voltar a dormir, mas um ping
particularmente forte de uma gota em certa superfície me impediu de cair de
volta para o meu sonho. Gemi e coloquei o travesseiro sobre minha cabeça, mas
o pingo continuou de poucos em poucos segundos.
Ping!
Fiquei na cama por alguns minutos, ouvindo. O ping não parou, então
chutei meus cobertores, coloquei meus pés no chão, esfregando os olhos e fiquei
olhando para fora da janela. Assustei-me e apertei as mãos sobre minha boca
quando vi uma pessoa lá fora, olhando para mim. Quando meus olhos se
arregalaram, vi que era Calder. Pelo amor dos deuses!
Calder exalou. — Eu sei, mas Eden, depois de hoje, tinha que te ver. Você
sabe que eu não tinha escolha.
— Com cento e poucos dólares? Nem sequer conheço a garota que vai nos
ajudar — Ele se aproximou e segurou meu rosto em suas mãos. — Eu não posso
deixá-la aqui, Eden. Fiz o que tinha que fazer para ficar perto de você. E talvez
desta maneira — Ele desviou o olhar por um segundo e, em seguida, voltou para
mim. — A atenção de Hector se afaste de nós ainda mais. Eu fiz parecer como se
isso fosse uma boa ideia.
Calder inclinou meu queixo para cima com o dedo indicador. — Então me
pergunte, Glória da Manhã. Tudo o que você tem a fazer é perguntar-me.
Meu coração sacudiu quando olhei para a beleza escura de seus olhos
com aqueles cílios ridiculamente longos. — Você gostaria de saber como seria
estar com outra mulher? — Perguntei.
— Não — Ele disse. — Eu nunca quis ninguém além de você. Nem por um
segundo, nunca.
Franzi minha testa. — Como você vai evitar isso? Podemos partir mais
cedo?
Ele ergueu a mão e massageou a parte de trás do seu pescoço. — Se for
preciso, sim. Não me faz sentir muito seguro em nosso plano. Mas sim, se for
preciso.
Mordi o lábio. — Ele verificou-me uma vez, mas não acho que ele vem
mais. Hector colocou um cadeado do lado de fora da minha porta há alguns
dias. Não sei por que.
Calder sorriu. — Acho que ele simplesmente acredita que nós chamamos
a atenção um do outro, nada mais.
Assenti, mas não mencionei como tinha confiado em Hailey. Isso não foi
inteligente. Tinha apenas pensado que, por um breve momento, ela poderia nos
ajudar. Mas ela não o fez.
Calder me olhou sério. — Só o fato de que olhei para você o deixou louco,
Eden. Isto — Ele moveu seus os olhos em volta do meu quarto, indicando onde
estava. — É realmente estúpido. Eu simplesmente não podia suportar você não
saber o que eu estava pensando. Estava me matando.
— Sim, eu poderia. Teria sido mais inteligente — Ele olhou para mim,
seus olhos vagando sobre meu rosto como se tivesse esquecido como eu me
parecia no último mês.
Quando me inclinei, Calder disse: — Foi tão repentino. Não tive tempo
para me preparar — Ele se recostou. — Ainda não parece real. Gostaria de saber
se os deuses estavam me punindo pelo que fizemos.
Calder suspirou. — Eu não penso assim, mas não tenho nenhuma prova.
Deixei escapar um suspiro e olhei para o meu colo coberto pela camisola.
— Quando sairmos daqui, encontrarei a prova. Vou estudar cada pedaço de
informação disponível até encontrá-la.
Calder sorriu. — Muito mais do que vou estar vestindo quando dormir
com você — Disse ele, sorrindo e inclinando-se para beijar meu pescoço. Eu
inclinei minha cabeça para trás, gemendo baixinho.
— Calder... — Comecei, olhando para trás na minha porta. — Nós
prometemos que seríamos cuidadosos até que possamos sair... Sacrifício será
tudo...
— Eu prometo.
Calder
Não falei mais com os deuses. Em vez disso, conversei com Maya na
minha cabeça, dizendo-lhe sobre tudo o que tinha acontecido desde que ela
morreu. Disse a ela tudo sobre Eden, e as coisas que nunca tinha chegado a
dizer quando era viva: ela e Xander sempre foram meus melhores amigos,
estava tão orgulhoso dela e sentia falta dela todos os dias.
Ele guardou tudo sob o chão do assoalho em sua casa, tudo pronto para
agarrar, junto com as roupas que ele havia guardado.
Santo inferno.
Ninguém disse uma palavra. Você poderia ter ouvido um alfinete cair no
outro lado da sala.
— Ninguém? — Hector perguntou. Ele se inclinou para a frente no pódio
e esperou, olhando em volta mais uma vez, seus olhos pousaram em mim e
ficaram lá por várias batidas. Por fim, ele desviou o olhar.
Meu corpo todo ficou tenso e fúria correu pela minha espinha. Vi Hannah
na minha visão periférica olhando para mim, mas não olhei de volta.
Abri minha boca para dizer algo, mas depois fechei de novo. Se dissesse
algo, provavelmente faria isso pior para nós três. Todos os músculos do meu
corpo estavam tensos para a luta, e meu cérebro começou a elaborar um modo
em que eu pegaria Eden e como rapidamente eu poderia chegar lá.
Ah, não.
O que pareceu ser uma vida mais tarde, mas na realidade eram
provavelmente, apenas 20 minutos mais ou menos, Hector começou a oração
final. Quando todos nós ignoramos, notei as pessoas olhando uns aos outros
com as expressões interrogativas em seus rostos. Todo mundo sabia que algo
estava acontecendo em Acadia que ninguém conseguia explicar exatamente. E
todo mundo estava inquieto.
Clive levou o chicote para trás e deixou voar novamente e desta vez assisti
bater nas costas nuas de Xander, abrindo sua pele em uma linha, muito
vermelha. Xander se sacudiu, mas permaneceu em silêncio. Oh, Xander. Meu
irmão, meu amigo. Eu fiz uma careta, fechando os olhos por alguns instantes.
Mais duas vezes o chicote voou e mais duas vezes Xander se sacudiu, mas
não emitiu nenhum som.
Hector assentiu para Garrett e Ken. — Deixe-o ir. Acho que isso serviu
como uma lição para ele, também. Você pode acompanhar o seu amigo para a
cabana da cura — Ouvi mulheres chorando perto de mim, mas não me virei para
olhar para alguém na multidão.
Meus braços foram soltos e corri direto para Xander, ajoelhando no chão
ao lado dele. — Ei, irmão — Eu disse suavemente. — Vamos sair daqui.
— Está certo — Levantei Xander até seus pés, peguei em seu braço e
coloquei-o em meus ombros, para que ele pudesse se apoiar em mim para
andar.
— Ele tem o nosso dinheiro. Cada centavo dele — Disse Xander, a voz oca.
— A única coisa que fui capaz de empurrar para fora do caminho, quando me
aproximei, foi o saco de roupas. Disse a ele que havia um ninho de cobras que
viviam sob a nossa casa e que não conseguia lembrar-me que tábua do assoalho
era. Essa foi a única razão pela qual ele não se aproximou. Covarde. E hipócrita,
ele enfiou o resto do dinheiro no bolso. Duvido que ele vá mencioná-lo a Hector.
Meu coração caiu com a notícia de que o nosso dinheiro se foi. Mas falar
sobre isso era a última coisa que Xander precisava. — Existe um ninho de cobras
vivendo abaixo da sua casa? — Eu perguntei, tentando distraí-lo enquanto
fazíamos o nosso caminho para a cabana da cura.
Xander olhou para mim. — Não, Há alguns ratos, mas graças aos deuses
eles estavam se movendo ao redor quando Clive estava lá ou então ele teria
chegado a nossas roupas, também.
Eu não poderia evitar, eu ri. — O que vamos fazer com as roupas, sem o
dinheiro?
Chegamos a cabana da cura e ajudei Xander chegar até uma cama limpa e
ele deitou de bruços. Havia um pequeno armário que eu conhecia por ter estado
lá com Maya ao longo dos anos que tinha curativos e suprimentos. Esperava que
Mãe Willa chegasse em breve com o medicamento de dor que ela tinha me dado
para as minhas pernas, mas por agora, tinha que fazer o que podia por Xander.
Eu ri baixinho, levando o pano para suas costas. Ele fez uma careta.
— Assim que você estiver pronto para sair da cabana da cura — Eu disse.
— Você pode fazer aquela chamada de pássaro estúpida e vamos encontrar Eden
na nascente. Nós vamos ter que improvisar — Medo correu na minha espinha
por não ser capaz de garantir que poderia manter Eden segura e alimentada.
Quando passei por ela, Mãe Willa agarrou meu braço. Seus olhos
pareciam enevoados, sem foco, e algo neles enviaram medo rodando na minha
barriga.
— Vá para longe, muito longe — Disse ela.
Quando estava inclinado até meu ombro, minha mão atingiu o tecido e eu
agarrei-o e puxei-o. Era uma bolsa de lona, amarrado na parte superior com
uma corda, e, obviamente, cheio do que seria a nossa roupa de fuga. Não me
preocupei em colocar a tábua do assoalho de volta no lugar. Em vez disso,
mergulhei para fora da cabana com a bolsa por cima do ombro e caminhei
propositadamente em direção à cabana da cura. Quando eu estava quase lá,
alguém agarrou meu braço, deixando cair a bolsa, me virei, pronto para lutar
contra quem quer que fosse que estava em cima de mim.
Era Hannah. Ela parou na minha frente torcendo as mãos. Parecia que
estava chorando. — Hannah — Respirei.
— Calder, foi horrível — Ela deixou escapar um pequeno grito. — Por que
Xander fez isso? Ele está bem?
Peguei a bolsa e considerei responder. — Ele vai ficar bem. Preciso voltar
para vê-lo. Vá para casa, tudo bem?
Fiz uma pausa, sem saber o que dizer a ela. Preocupava-me com Hannah.
Tinha crescido com ela. Tínhamos jogado juntos quando crianças. Eu não a
amava, não desse jeito. — Hannah, ouça, se alguma coisa... Acontecer comigo,
há, bem, você tem escolhas. Você não tem que viver aqui toda a sua vida se não
quiser.
Seus olhos se arregalaram. — Eu quero. Quero casar com você, Calder.
Quero ir para Elysium com você.
Mas então ouvi o som que deveria ter me acordado pela primeira vez —
Um grito distante - somente isso era estranho e imperfeito, e na voz de uma
mulher. Eden.
Eden
Deixei cair a bolsa de lona que felizmente fui capaz de agarrar quando
escapei, e passei meus braços em volta de mim, esfregando as mãos para cima e
para baixo da minha pele arrepiada.
Calder saiu do meio do mato, seus olhos selvagens, ofegante, Xander por
cima do ombro. Alarme me encheu. — Ele está bem?
— Shh, Eden, está tudo bem. Estou aqui. Conte-me o que aconteceu. Que
aconteceu, Glória da Manhã? O que ele fez com você? — Ele me segurou firme e
passou a mão na parte de trás do meu cabelo, sussurrando palavras suaves em
meu ouvido.
Fiz uma careta, olhando para Calder por algumas batidas. Duvidava que
ele estivesse realmente bem. Eu tinha visto sua pele aberta e o olhar em seu
rosto quando aquele chicote fez contato. Mas ele foi tão corajoso. Ele não havia
feito um único som. Mordi o lábio e ajeitei minha coluna. — Ajudei Hailey
colocar os meninos na cama e depois voltei para o meu quarto e ele estava lá,
sentado na minha cama lendo suas cartas — Arrepio encheu meu peito de novo,
exatamente como tinha quando eu entrei no meu quarto.
— Não, ele só ficava dizendo, “Ele queima por você? Ele queima por você?
Vou lhe mostrar como ele queima por você” — Sufoquei um soluço,
estremecendo com a memória. — Ele queria matá-lo — Eu sussurrei. — E talvez
eu também.
— Eu não tive escolha — Eu disse. — Era isso ou... Quem sabe o que.
Alguma coisa ruim — Olhei para Calder. — Sinto muito que temos que partir
antes que estejamos realmente prontos.
— Não, você fez a escolha certa, fez a coisa certa. E nós teríamos que
partir logo, de qualquer maneira. Supõe-se que meu casamento com Hannah se
realize na próxima semana — Calder levantou as mãos ao meu rosto, inclinando
meu rosto e olhando nos meus olhos. — E depois de hoje, Xander e eu já
tínhamos decidido partir mais cedo — Ele me estudou. — Você foi muito
corajosa.
— Pelo amor dos deuses. Ela é pior do que você — Disse Calder, olhando
para Xander.
Calder riu e olhou para mim com seus olhos escuros cheios de calor. —
Oh, eu a encontrei nesta bonita nascente uma vez...
Calder parou de rir. — Claro que não — Disse ele. — Foi muito perigoso —
Ele soltou um suspiro, um lado do seu lábio curvando-se. — Mas, uma vez que
está feito, estou feliz por isso.
— Não tenho ideia de quanto essas outras coisas poderiam valer — Disse
Calder, segurando um anel de ouro com uma pedra vermelha nele, talvez um
rubi. — Mas tem que valer alguma coisa, especialmente se é ouro verdadeiro.
— Então, agora a única coisa que temos a fazer é nos trocar e sair daqui —
Disse Calder. — Eden, você vai ter que me ajudar a trocar Xander.
Balancei a cabeça e, em seguida, fiz uma careta. — Se ele não pode vestir-
se, como é que vai andar?
— Nós íamos esperar Kristi para dar-lhe alguma coisa — Disse ele. —
Então, você vai ter que ir usando o que está vestindo agora. Esperamos que com
nós vestidos normalmente, você vai misturar-se.
Eu acenei com a cabeça. Não havia outra escolha. — Então, o que vamos
fazer?
— Acho que é uma boa ideia manter a área deserta tanto quanto possível,
uma vez que Hector provavelmente enviou alguém, ou muitos, atrás de você —
Um calafrio percorreu minha espinha e considerei que estava reservado para
nós quando Calder pegou Xander devagar, suas coxas fortes flexionando através
de seu jeans quando ele se levantou e novamente coloco-o por cima do ombro.
— Beba água, tanto quanto possível — Calder instruiu. — Não temos nada
para transportá-la e pode demorar horas até que possamos encontrar mais. Dei
à Xander um pouco de água antes de ouvir a sua chamada, por isso ele deve
estar bem, especialmente porque vai ser o único que não vai se esforçar — Seus
lábios ficaram em uma linha sombria.
Eu iria querer um quarto com uma enorme janela como aquela atrás do
pavilhão que dava para uma bela vista. Não do deserto, já que estaríamos longe,
mas talvez com água, árvores, ou uma floresta de algum tipo. Teria uma grande
cozinha para fazer o jantar para Calder todas as noites. Eu não tinha aprendido
a cozinhar, mas tinha visto Hailey na cozinha, tomando nota em minha mente
em como ela fazia pão que crescia perfeitamente e derretia na boca. Sabia todos
os fundamentos, não porque alguém me ensinou, mas porque eu tinha prestado
atenção. Sim, minha cozinha seria o coração da nossa casa.
E haveria bebês. Queria dez bebês e queria que cada um deles se
parecesse com Calder.
Calder olhou para mim e para Xander, e depois voltou para verificar a
minha expressão. Será que eu parecia com olhos sonhadores? Não pude evitar o
rubor que subiu em meu rosto e ampliei meus olhos para ele. Lá estava eu,
planejando toda a sua vida para ele em detalhes enquanto subíamos para longe
do perigo. Certamente, esse não era o foco adequado no momento. Mas não
podia deixar de sonhar. Foi-me negado sonhar por tanto tempo, com muito
medo de deixar os detalhes entrarem em foco, com muito medo que eles seriam
arrancados de mim. Mas agora, a cada passo, a cada posição, os meus sonhos
chegaram muito mais perto de tornar-se realidade. O mundo parecia quase
totalmente aberto para mim agora. Queria levantar os braços e rir para o céu.
Calder olhou para mim novamente e quando me chamou a atenção, desta vez,
ele sorriu e eu sorri de volta. Finalmente havia um vislumbre de esperança.
Podia ver que ele sentia isso também.
Nós andamos por horas, o caminho nos forneceu uma maior cobertura,
mesmo que isso significasse caminhar em uma espécie de ziguezague
novamente. Cobertura era mais importante do que tempo, embora o tempo
fosse importante também. Vimos carros passando na estrada duas vezes, mas
sempre fomos alertados antes do tempo por causa do deserto preto da noite, e o
barulho do motor. Cada vez nos escondíamos atrás de pedras com segurança
enquanto os carros passavam lentamente.
— Preciso de água — Eu finalmente disse horas mais tarde, com sede e
incapaz de manter silêncio sobre a minha necessidade de saciar minha sede.
Calder parou de andar, parecendo tão sedento quanto eu.
Cerca de dez minutos depois, fomos capazes de ver que, de fato, Calder
estava certo. Vimos algumas pequenas casas distantes umas das outras, e
estabelecidas fora da estrada. Segui Calder enquanto caminhava tranquilamente
para a casa, perto da lateral. Havia uma mangueira lá, enrolada contra a casa,
conectada a uma torneira. Eu respirei de alívio, praticamente capaz de provar a
umidade na minha boca seca e senti-la em meus lábios rachados. Calder olhou
em volta, parecendo nervoso. Estava com muita sede para estar nervosa.
Uma vez que tivemos tanto quanto o necessário, Calder desligou a água e
ficou olhando para Xander novamente antes que ele o pegou de volta,
colocando-o por cima do ombro. Ele tinha que estar com dor. À medida que
começamos a caminhar até a frente da casa de novo, algo grande e escuro, de
repente se lançou para nós e eu gritei, tropeçando para trás contra Calder.
— Corre — Disse Calder, tão baixo que eu quase não o ouvi. Ele puxou
minha mão e cambaleei atrás dele. Um tiro de espingarda soou atrás de nós e
deixei escapar um pequeno grito de novo e continuei correndo, segurando a mão
de Calder como se minha vida dependesse disso. Ouvi Xander pronunciar em
voz alta: “Que diabos?” enquanto corríamos. Quando tínhamos chegado a um
bosque de árvores, longe suficiente para saber que não estávamos sendo
seguidos paramos e eu coloquei minhas mãos em minhas coxas, respirando
pesadamente. Calder colocou Xander no chão e Xander se sentou lentamente,
esfregando uma mão sobre o rosto e olhando em volta confuso.
Balancei a cabeça. — Eu estou bem. Meus pés estão destruídos, mas fora
isso... Sim, estou bem — Suguei o ar, também tentando controlar meu coração
batendo rapidamente e meus pulmões queimando.
— Sim — Disse Calder olhando para ele. — Você teria feito o mesmo por
mim.
Mais uma vez, nos esgueiramos pelas áreas ao lado da estrada que
fornecia a maior parte da cobertura. Felizmente, embora as grandes pedras
fossem poucas e distantes entre si agora, a vegetação aumentou, então nos
movemos entre bosques de árvores e atrás do matagal onde podíamos.
Xander riu. — Ela está certa, Calder. Sente-se. Vou usar isso para anexar
a sola no seu pé para que possa andar. Nós estamos tão perto.
Eu sorri. — Bem, tenho saia o suficiente para andar pelo mundo a fora, se
precisarmos de mais.
— Oh não, você não — Disse Calder, com um lado dos seus lábios se
curvando para cima. Ele pegou minha mão e começamos a andar novamente.
Dar as mãos, não foi algo que podíamos fazer antes desse momento. Deixou a
sensação de liberdade muito mais doce.
Depois de mais meia hora mais ou menos, Calder apontou. — Ali — Disse
ele. Eu segui o seu dedo para uma placa que dizia: “Holiday Inn” e a palavra
“Hotel” abaixo. Queria chorar de alívio e felicidade.
Xander deu de ombros com o rosto pálido. — Soa como um plano tão
bom quanto outro qualquer.
Virei a cabeça para o lado até que meu rosto estava descansando contra
sua camisa. — Você acha que ele está procurando por nós?
Calder ficou em silêncio por alguns segundos. — Eu não sei. Mas não
importa. Ele não vai encontrar-nos. Esta é uma grande cidade, e amanhã, vamos
ser apenas pessoas comuns, com roupas comuns, fazendo coisas comuns.
Dei uma respiração profunda quando Calder se inclinou para trás e pegou
minha mão. — Fique um pouco atrás de mim e não faça contato visual com
ninguém. Mas não pareça nervosa também — Ele instruiu quando começamos a
caminhar.
Xander riu. — Você pode pegar as escadas amanhã — Ele apontou para
uma placa que dizia: “Escadas”.
Calder assentiu. — Eu vou — Ele olhou para a placa. — Pelo menos está
tudo etiquetado no mundo exterior — Inclinei a cabeça para Calder e ri
baixinho, levantando as sobrancelhas.
Seguimos mais placas para chegar até a porta com o número do cartão de
Xander, em seguida, levou alguns minutos para descobrir que abriríamos a
porta usando o cartão. Era como uma espécie de chave eletrônica.
— Bem, obrigado por nada. Fui eu quem nos trouxe até aqui com meu
charme fácil e sorriso vencedor — Xander resmungou enquanto caminhava para
a cama perto da parede mais distante e colocando a bolsa que nós tínhamos
revezado carregando, uma vez que Xander podia andar.
Calder me pôs no chão e nós dois nos aproximamos dele. Puxei sua
camisa para que pudéssemos todos nos abraçar, embora Calder e eu fossemos
cuidadoso para não tocar em suas costas enquanto ele ria e dava um tapinha em
nossos ombros. — Fizemos isso, parceiros — Ele disse.
Depois que ele fechou a porta, me virei para Calder. — Vocês já usaram
algum alívio para dor? Como Tylenol?
Calder suspirou e passou a mão pelo cabelo. — Isso vai ter que esperar até
amanhã. Acho que todos nós precisamos descansar mais do que Xander precisa
de alívio para dor. Especialmente desde que ele passou a vida toda sem isso.
Eu fiz uma careta. — Não sei. Leve algum dinheiro caso precise.
Deveria ter ido com ele buscar gelo. Teria me mantido acordada. Deixei o
quarto de hotel e sai para o corredor olhando para os dois lados. O andar estava
tranquilo, nem uma pessoa a vista. Virei a esquina e vi uma placa “gelo” e dei
um sorriso. Tudo era etiquetado no mundo exterior, felizmente. Segui a placa e
quando virei a esquina, vi Calder em pé na frente de uma máquina grande de
Coca-Cola. Ele virou e se assustou quando me viu e, em seguida, por alguma
razão, parecia envergonhado. — Eu consegui um pouco de comida para nós —
Disse ele, olhando para a máquina apenas um pouco abaixo do corredor.
Deixei escapar uma risada ofegante. — Você meio que se mudou — Fiquei
quieta por um segundo, pensando. — Eu sei como você se sente. Eu sei que
experimentei mais no pavilhão principal, mas ainda tenho muito a descobrir,
também — Estendi minha mão. — Vamos descobrir isso juntos, ok?
Calder sorriu gentilmente para mim. — Sim — Ele segurou minha mão,
levou até seus lábios, beijou-a e depois roçou seus lábios suavemente.
Borboletas esvoaçavam entre as minhas costelas.
Viramos no corredor para o pequeno nicho com outra placa para o gelo.
Havia alguns recipientes pequenos próximos, Calder pegou um e começou a
enchê-lo com gelo. Olhei para trás e vi a pequena máquina na parede fixada com
Tylenol, Advil, produtos de proteção feminina e me aproximei, lendo o último
produto, preservativos Trojan. Não sabia o que eram e por isso olhei de esguelha
para o pequeno pacote. — Contraceptivo Ultrafino — Eu li.
Olhei para minha saia rasgada, e os meus pés sujos, mal contidos nas
sandálias arrebentadas e suspirei. Passei a mão pelo meu cabelo emaranhado. —
Essas meninas provavelmente pensam que você me resgatou de alguma sarjeta,
como algumas das mulheres que chegam a Acadia.
— Ei, Glória da Manhã — Ele disse baixinho, me puxando para seu peito.
— O que há de errado?
Balancei minha cabeça, um novo lote de lágrimas rolando pelo meu rosto.
— Nem mesmo sei — Eu chiei. — Só percebi que nunca verei Hailey
novamente... Nunca mais verei nossa nascente... Nós nos apaixonamos lá —
Olhei para ele com tristeza.
Calder estudou meu rosto por alguns segundos. — Eu vou cuidar de você,
Glória da Manhã.
Uma vez que todo o xampu foi enxaguado do seu cabelo, peguei o
sabonete e disse: — Vire-se.
Trabalhei meu caminho de volta até a frente das suas pernas, beijando a
curada, mas escoriada pele coberta de pelo escuro. Eu lentamente massageei
suas coxas musculosas e movi meus olhos para cima lentamente. Logo acima
das minhas mãos, ele estava duro e rígido, e quando inclinei minha cabeça para
trás e olhei para seu rosto, seus olhos estavam semicerrados e cheios de luxúria.
Engoli em seco, lentamente ficando em pé.
— Desculpe — Ele disse em voz baixa. — Não posso fazer nada. Suas mãos
me fazem sentir tão bem.
Ensaboei minhas mãos mais uma vez e deslizei sobre seu peito, os
músculos ficaram tensos sob o meu toque. Corri minhas mãos sobre os seus
braços e então puxei cada mão, limpando entre seus dedos lentamente. Seu
peito subia e descia enquanto sua respiração aumentava. Meu batimento
cardíaco acelerou também.
De repente, ele retirou o dedo da minha boca e pegou meu rosto em suas
mãos, trazendo sua boca para a minha. Ele mergulhou sua língua e eu o
encontrei com a minha, rodopiando e degustando, levantando meus braços
acima e ao redor de seu pescoço. Pressionei meu corpo molhado ao seu e ele
gemeu baixinho ao sentir meus mamilos esfregando contra o seu peito. Ao
nosso redor o vapor e a água espirravam contra o azulejo, bloqueando todos os
outros sons, exceto nossa respiração misturada e gemidos suaves.
Calder beijou meu pescoço quando pressionou aquela parte quente, dura
na minha barriga, movendo-a em círculos lentos. Inclinei minha cabeça para
trás e suspirei. A sensação de formigamento cresceu entre as minhas pernas e
meu coração começou a bater num ritmo lento e constante em meu interior. —
Eu quero você dentro de mim — Eu sussurrei. Esta era a nossa recompensa por
aquilo que tínhamos acabado de suportar. Merecemos isso, precisávamos disso.
A boca de Calder voltou para a minha enquanto ele andou comigo alguns
passos para trás até que eu estava pressionada contra a parede do chuveiro.
Coloquei uma perna em cima da pequena borda do canto da banheira e Calder
dobrou suas pernas e guiou-se na minha abertura. Nós rimos suavemente
quando ele levou várias tentativas para obter as coisas alinhadas corretamente.
Mas, finalmente, ele empurrou para dentro de mim e nós dois suspiramos de
felicidade. Calder se movia lentamente e deliberadamente. Tirei meus braços
que estavam em volta dele e usei minhas mãos atrás de mim para me manter
estável e fazer com que a minha pele parasse de bater no azulejo
— Você é tão gostosa, tão apertada — Calder arfou contra meu pescoço,
empurrando firmemente dentro de mim. Para mim, desta vez sentia-me muito
melhor do que a primeira vez e relaxei contra ele, gemendo baixinho quando eu
agarrei-o profundamente dentro de mim.
Calder usou a toalha para secar meu cabelo, até que ficou apenas
levemente úmido. Vesti o robe da parte de trás da porta e Calder amarrou uma
toalha na cintura.
Glória da Manhã,
Eu te amo. C.
Eu sorri e coloquei o bilhete de volta para baixo, percebendo que ele tinha
deixado um saco de amendoins e a Coca-Cola ainda fechados sobre a mesa para
mim, também. Sua reflexão me fez sorrir. Estiquei-me e saí da cama. Depois de
usar o banheiro e refrescar-me, comi o saco de amendoins e bebi uma garrafa de
água que o hotel fornecia.
Calder
Nós andamos pelos corredores. Quando olhei para Xander, sua boca
estava aberta e seus olhos estavam cheios de temor. Eu tinha certeza que tinha o
mesmo olhar no meu rosto. Havia muito de... Tudo. E era tudo tão... Colorido.
Uma parte da loja tinha roupas e sapatos, e outra tinha sabonetes e produtos de
beleza, e uma seção enorme tinha até mesmo comida, todas embaladas com
imagens brilhantes nas caixas.
— Você já viu esse tipo de coisa? — Perguntei para Xander.
— Sim, alguns no Posto Florestal, mas nunca tantos assim — Ele olhou
em volta, maravilhado.
Eu ri.
Xander olhou para a botina de couro marrom em seu pé. — Essas não são
sandálias.
Eu ri.
— Sim, vou tentar mais tarde. Ela sai do Posto Florestal às oito horas.
Acho que ela vai estar em casa por volta das nove... Espero.
— Pequeno.
Peguei um par de sandálias que não tinha faixa atrás. Pensei que seria
mais complacente de tamanho, mesmo que estivesse um pouco fora.
Virei-me e uma menina com uma camisa vermelha estava atrás de mim.
Olhei para baixo e seu crachá dizia, “Ashleigh.” Seus olhos se arregalaram e ela
piscou para mim. Imaginei que eu parecia muito ruim. Não tinha feito a barba
em dois dias. Limpei a garganta.
— Oi, Ashleigh, uh, sim, preciso de alguma coisa para a minha namorada
e nunca escolhi roupas para garotas antes.
— Algo casual.
Voltamos para a frente da loja, onde tinha visto pessoas pagando as suas
compras e seguimos atrás de uma mãe com dois filhos sentados em seu
carrinho. Vimos que ela colocou tudo sobre o balcão e, em seguida, o balcão
moveu suas coisas direito para as mãos da funcionária.
Xander pegou a peça de joia que ele tirou do bolso e colocou em cima do
balcão. — Eu quero vender isso.
Eu não era tão estúpido para não ver que estávamos prestes a ser
enganados. — Quanto? — Perguntei.
— Quinhentos dólares.
O cara acenou e foi para o fundo. Quando ele voltou, contou cinco notas
de cem dólares e colocou no balcão. — Foi um prazer negociar com vocês,
rapazes — Disse ele, olhando para o lado e arrotou.
Fiz uma careta e puxei o braço de Xander quando ele pegou o dinheiro.
Ele colocou-o no bolso e caminhamos até a porta. Continuei tendo a sensação de
que alguém ia chegar e nos puxar para trás, de modo que quando deixamos a
porta atrás de nós, soltei uma respiração de alívio.
Estando na cidade com carros correndo entre nós, ruídos repentinos com
que eu não estava familiarizado, grito de pessoas que eu não conhecia, olhos de
estranhos em mim, causou uma breve saudade de Acadia e tudo o que eu estava
acostumado. Era confuso, já que eu queria tanto conhecer o mundo lá fora e
agora aqui estava fazendo isso. Mas por dentro, ansiava pelas coisas e ambientes
familiares que me faziam sentir confiante e no controle, pelo modo de vida que
eu entendia.
Larguei todas as bolsas das minhas mãos sobre a cama com a minha
frequência cardíaca começando a aumentar.
Olhei para Xander e ele estava olhando para Eden também, um pequeno
sorriso em seu rosto. — Uau — Disse ele. Quando ele me viu olhando para ele, o
sorriso desapareceu. — É verdade... Brilhante, isso é tudo.
Olhei para Eden e ela começou a rir primeiro, e não consegui evitar em
me juntar a ela.
— Eu vou tentar ligar para Kristi agora — Disse Xander. — Eden, você vai
me ajudar com esta coisa de telefone?
Eden veio e colocou os braços em volta de mim por trás e esfregou seu
rosto em minhas costas. Virei-me e apertei-a em meus braços, beijando o topo a
sua cabeça enquanto ouvia Xander dar a Kristi um breve resumo sobre o que
tinha acontecido desde ontem. Será que foi apenas ontem? Parecia
incompreensível que a vida tinha mudado tanto em 24 horas.
— Sim — Disse Xander. — Tudo bem... Certo. Meia hora? Ok, sim.
— Kristi, estes são Calder e Eden — Xander disse, abrindo a porta de trás
para que pudéssemos entrar.
Todos nós entramos no carro, e Kristi se virou e nos instruiu sobre como
fixar o cinto de segurança. Agarrei a mão de Eden.
Xander riu no banco da frente. — Sim, nós meio que fomos forçados a
isso.
Kristi olhou para ele e franziu a testa. — Você fez a coisa certa, Xander.
— Certo — Ele olhou por cima do ombro para Eden e eu. — Esqueci de
mencionar a vocês, na grande sociedade, as pessoas oram a um Deus, no
singular. Não há Deuses no plural como em Acadia.
— Sim... Acho que me lembro — Eden disse. Seus olhos ficaram grandes.
— Qual deles? — Ela perguntou, sentando-se para a frente. Sorri para ela. Sabia
qual era aquele que ela estava esperando.
— Sim — Xander disse. — Não acho que o lugar que fomos hoje era muito
respeitável.
Kristi olhou para Xander um pouco confusa e riu baixinho. — Você vai ter
que me contar sobre isso — Ela virou em um estacionamento, desligou o carro e
saiu. Seguimos com nossos escassos bens.
Kristi fechou a porta atrás de nós e todos nós olhamos em volta para o
apartamento. Além das grandes peças de mobília, havia caixas empilhadas
contra uma parede.
Sabia que era rude, mas não conseguia falar com o meu riso, e Xander,
aparentemente também não, nenhum dos dois conseguiu evitar se dobrar,
segurando os nossos estômagos. Era quase como se o estresse dos últimos dias
desintegrasse o nosso autocontrole.
Kristi sorriu também, revirando os olhos. — Ok, então, você vai ficar
muito animado com isso. Calder e Eden, tem um quarto inteiro para vocês aqui.
Xander, você fica no sofá.
— A história da minha vida — Disse Xander, jogando nossas coisas sobre
o grande pedaço marrom de mobília. Eu ri e empurrei-o um pouco, que levou
com bom humor.
— Portanto pessoal, sei que ainda é cedo — Disse Kristi. — Mas já vou,
porque eu tenho aula muito cedo e amanhã é o meu último dia de trabalho no
Posto Florestal — Ela bocejou. — Sirvam-se de qualquer coisa da cozinha e
vamos conversar mais amanhã sobre os seus planos. Uma coisa que vocês vão
precisar é identidade. Mas, vamos discutir isso. Além disso, Xander, deixe o
resto das joias na mesa de centro ali. Vou pegá-las na parte da manhã e parar
em uma loja de joias no caminho para o trabalho.
Ela sorriu para Xander e Eden, que agradeceram também, e tudo o que
disse foi boa noite.
Peguei Eden pela mão e puxei-a para dentro do quarto que Kristi tinha
nos apontado. Não havia nada, exceto uma cama feita com lençóis e um
cobertor dobrado no final.
Pensei nisso por um segundo, tomando meu lábio inferior sob meus
dentes. — Sim, acho que sim.
— Seus pais... — Ela disse, olhando para mim com aqueles olhos azuis
cheios de confiança.
Meu peito se apertou e eu suspirei. — Algum dia... Talvez nós vamos
voltar... Por agora, tenho uma vida para construir para nós. Isso é o meu foco,
meu único foco.
— Ok.
Quando voltei para o quarto, Eden já estava debaixo das cobertas, meio
dormindo. Tirei minha roupa e me juntei a ela, pegando-a em meus braços,
sentindo seu calor me envolver, seu cheiro doce me cercar. Nossas mãos
começaram a percorrer, mas deveríamos estar muito cansados porque a
próxima coisa que notei, foram que os primeiros raios de sol estavam
atravessando as bordas das sombras nas janelas e ouvi os sons fracos de
pássaros cantando do lado de fora do vidro.
— Bem aqui — Ela falou em voz baixa. Eu não a tinha visto deitada em
uma cadeira do lado oposto do sofá com livros espalhados ao seu redor.
Um sorriso se espalhou pelo meu rosto, apesar do fato de que não tinha
notícias muito boas para lhe dar. Senti falta dela e me permiti sentir falta dela.
Nunca tinha feito isso antes, nunca estive seguro pra fazer isso, mas agora...
Agora tudo era diferente.
— Ok, vamos sair daqui a pouco — Falei, fechando a porta atrás de nós.
Eden se virou para mim, levantando minha camiseta. — Opa, oi — Eu ri,
deixando-a puxar minha camiseta para cima, sobre a cabeça. Ela sorriu para
mim e depois ficou para trás, olhando para o meu peito.
— Você tem um corpo bonito, Calder. É... Tão viril, e... — Ela passou as
mãos subindo no meu peito. — Sexy — Ela se inclinou e beijou minha pele,
arrastando a língua ao redor de um mamilo.
Ela inclinou-se para trás e olhou para mim. — Estive lendo — Suspirou,
olhando em algum lugar atrás de mim. — Histórias bonitas de amor sobre
pessoas destinadas a ficarem juntas.
Ela puxou meu zíper para baixo, arrastado minhas calças para baixo do
meu quadril e deixando cair no chão. Chutei de lado e seus olhos foram para a
minha ereção, e pareciam crescer ainda mais quando ela estendeu a mão e
acariciou-me uma vez. Respirei fundo.
Inclinei-me para a frente, peguei o rosto dela entre as mãos e beijei seus
lábios. Ela imediatamente os separou e nossas línguas se encontraram, o doce
sabor fresco em toda a minha língua, enchendo minha boca. Ela gemeu e meu
corpo todo, meu coração, minha mente, eles estavam focados em uma coisa e
apenas uma coisa: Eden. Ela me beijou como se não tivesse me visto há décadas.
Ela me beijou como se eu tivesse acabado de chegar em casa da guerra,
inesperadamente vivo e ileso. Tudo o que eu tinha que fazer para manter essa
garota me beijando assim todos os dias da minha vida, eu faria, meu cérebro
enevoado com luxúria de alguma forma se controlou.
Eu andei de costas até a cama e nós dois fomos para baixo sobre ela,
minha boca saindo da dela enquanto ela ria. Eu sorri, também, e, em seguida,
comecei a beijar a pele perfumada e suave do seu pescoço, inalando flores de
maçã e primavera.
— Conte-me sobre o livro que você leu hoje — Eu disse com a minha voz
rouca. Estava pensando que, assim que encontrasse um emprego e estivesse
fazendo algum dinheiro, iria racionar minha comida para lhe comprar mais
desses livros.
Eden levantou-se e rapidamente tirou a roupa enquanto eu a observava.
Comecei a me sentar para que pudesse tocá-la, mas ela me empurrou para trás
suavemente. — Lawrence, senhor nobre e corajoso, forte, assim como você, com
cabelos escuros — Disse ela, enquanto subia em cima de mim e me pegava em
sua mão novamente. Caí de costas na cama, minha ereção pulsando em sua
mão.
— Eden... — Eu gemia.
— Eu sei — Ela disse. — Quero você, também. Quis você o dia todo. Estive
febril por isso, desde que o Senhor Darkhaven tirou a virgindade de Lady Elinor
na mesa da cozinha da casa de campo do criado.
— Virgindade? — Eu gemia.
Ela parou um pouco e me guiou para sua abertura. Minha visão ficou
embaçada enquanto observava a ponta do meu pênis entrar lentamente. Ela
parou de se mexer e eu gemi, um som de desespero e necessidade.
Tentei lembrar sobre o que estávamos falando, quem era “ele”, mas meus
pensamentos estavam todos embaçados, minhas células cerebrais não
funcionando corretamente.
Ela subia e descia em mim um pouco mais rápido, e cada vez que descia,
deixava escapar um pequeno suspiro de prazer. Ela estendeu suas mãos para
cima e tocou seus mamilos e eu tive que fechar meus olhos por um segundo para
não chegar ao clímax naquele momento. — Eden — Eu gemi. — Não posso...
Você está...
— Tudo é bom para mim, Eden. Neste momento, qualquer coisa que você
faz é bom. Mova-se do jeito que você gosta.
— Só um segundo... Oh você me faz sentir tão bem, também — Ela
suspirou. — Lady Elinor estava certa. Isto é muito bom — Minha visão ficou
turva ainda mais e senti meu clímax rodar em meu abdômen. Eu o prendi de
volta, rangendo os dentes. Então, graças aos Deuses, Eden começou a se mover
mais rápido, gritando o meu nome. Ela caiu para a frente em cima de mim,
ofegando uma última vez quando gemeu e se pressionou em mim.
Ela soltou um suspiro e sorriu para mim quando mais lágrimas desciam
pelo seu rosto. Eu estava completamente sem saber o que dizer para a linda
garota debaixo de mim, a quem eu amava imensamente e ainda estava
completamente confuso. Talvez houvesse uma boa razão para que Hector tivesse
proibido livros de ficção há tanto tempo.
— Sei que é apenas uma história — Disse Eden, limpando seu rosto. —
Mas isso me fez acreditar que as coisas podem acabar bem no final. Mesmo que
quando tudo parece ser uma bagunça e você não tem certeza de como ou por
que ou para onde ir, que com amor, tudo vai ficar bem, que nós estaremos bem.
Isso me deu esperança.
Deixei escapar um suspiro e sorri para ela. — Glória da Manhã — Eu
murmurei. — De onde você tira a sua força?
Deixei escapar um suspiro. — Sem sorte hoje. Parece não haver qualquer
registro dos nossos nascimentos. Kristi pensou que poderia haver, já que fomos
registrados na escola, mas, evidentemente, após o nosso nascimento em Acadia,
certidões de nascimento não foram obtidas. Não temos certeza de como tudo
funciona, estamos tentando descobrir isso. Mas até lá, não conseguiremos
trabalhar em qualquer lugar que exija a identidade, por isso não conseguiremos
em restaurantes ou lojas. Xander e eu temos algumas ideias, então quero que
você não se preocupe tudo bem?
Eden deu um sorriso gentil. — Não estou preocupada. Sei que as coisas
irão ficar bem.
Eu ri. — Não sei o que uma “forma libertina” é exatamente, mas se meu
cabelo crescer e tivermos mais do que acabamos de fazer, então...
Eden riu. — Acho que sim — Ela colocou a cabeça de volta para baixo no
meu peito e eu a senti sorrindo contra a minha pele. Eu quase saltei com a onda
de protecionismo que senti quando levei a minha mão para correr pelo meu
cabelo. Às vezes meu amor por ela era quase muito para mim; isso me fazia
sentir que estava sangrando por dentro. Minha linda garota, eu dizia na minha
cabeça. Vou proteger o seu coração doce e esperançoso. Eu me comprometo a
protegê-la de qualquer coisa horrível neste mundo, e ser sempre o seu abrigo
na tempestade.
Eu sorri novamente. Eu gostei de como ela tinha ficado com fome por
estar muito emotiva. — Então vamos pegar um pouco de comida. Kristi deve
estar em casa em breve, também. Espero que ela tenha conseguido vender o
nosso ouro — Fiz uma pausa. — Me sinto como um pirata cada vez que digo isso.
Eden riu. — Acho que Kristi tinha um livro de pirata lá fora. Essa vai ser a
minha próxima leitura da lista.
— Não.
Eden sorriu. — Eu acho que nós vamos ficar bem, Senhor Darkhaven.
Olhei para trás. Não havia nada, exceto, uma parede de concreto sólida.
Eden
— Bem, infelizmente, filho, Hector é o tutor dela e ela não tem escolha —
Ele olhou para mim, descansando a mão sobre a arma em sua cintura, assim
como o outro policial. — Você, no entanto. Você é livre para fazer o que quiser.
Você tem dezoito anos. Hector não quer você de volta, de qualquer maneira.
— Você sabe que o homem para o qual você a está levando de volta é um
líder de culto? — Kristi disse, elevando a voz.
O outro policial baixou os óculos e olhou para ela. — Você chama isso de
culto, ele chama de religião — Disse ele. — E de qualquer maneira, ele ainda é
seu tutor.
— Você tem sorte que não prendemos você por abrigar uma fugitiva —
Disse ele e depois cuspiu no chão ao lado dele. — E nós realmente não queremos
atirar em você, mas vamos, se for preciso — Ele riu e tocou a arma novamente.
Eu não tinha ideia do que era engraçado.
Calder olhou para Xander, arregalou os olhos e Xander acenou uma vez.
Então Calder fez um movimento brusco, atirando-se na minha frente e de frente
para o oficial. Calder me empurrou para trás para Xander, que pegou minha
mão e começou a correr. Gritei, olhando para trás, quando o oficial mergulhou
em Calder.
Xander correu para a porta do carro, mas Clive o deteve. — Ele não quer
você — Disse Clive.
Clive deu a volta e abriu a porta para nós e eu saí, o som da voz de Hector
me rodeando. Virei-me em um círculo lento e vi que eram apenas os alto-
falantes com o volume máximo, explodindo através de Acadia.
Clive empurrou Calder e ele soltou minha mão e deu um passo para trás,
Um olhar de raiva surgiu nos olhos de Calder enquanto olhava a arma presa ao
cinto de Clive. Clive se esticou em sua estatura total com um brilho de diversão
fria em seus olhos. — Experimente Portador da Água — Ele riu com um som
estridente.
Foi quando vi Hector, saindo da casa com Hailey ao lado dele, correndo
para acompanhá-lo.
O cabelo de Hector estava longo, a maneira como ele costumava usá-lo
quando eu era uma garotinha. Mas não estava puxado para trás agora. Estava
selvagem e pegajoso, e deixava mais evidente o quanto de cabelo que ele tinha
perdido no topo da sua cabeça. Ele havia perdido muito peso e seu rosto estava
magro, oco. E o olhar em seus olhos... O olhar em seus olhos quando ele se
aproximou. Era exatamente como na noite em que eu tinha fugido... Apenas...
Pior. Será que eu fugi apenas dois dias atrás? Hector parecia que tinha
envelhecido anos desde então.
Hector respirou fundo e sorriu. — Estou tão feliz por ter você de volta,
meu amor — Disse ele para mim.
Os olhos de Hailey correram até ele, para mim, e depois de volta para
baixo. Três homens que eu não conhecia saíram do pavilhão principal e ficaram
atrás de Hector, olhando para nós com os olhos estreitados.
Hector levantou a cabeça para olhar para Calder. Senti sua respiração
quente no meu ouvido e sentia o fedor da urina nele. Ele pressionou a faca para
a minha pele novamente e eu gritei.
A faca saiu da minha pele e ouvi Hector dar uma respiração profunda do
que parecia ser de satisfação. — Leve-o para o porão. Prendam-no — Disse ele.
Ele foi de boa vontade com os três homens, um deles agora sangrando
muito no rosto.
— O prenúncio vai acontecer, meu amor. Não tenho ilusões de que isso
não acontecerá. E se você fizer qualquer coisa para tentar parar isso, eu vou
matá-lo. Você entende?
Fechei a porta atrás de mim e ouvi colocarem a trava do outro lado. Olhei
através do quarto para a janela. Pesas barras de metal foram instaladas. Eu era
uma prisioneira em todos os sentidos da palavra. Deitei-me na cama e chorei.
Onde havia luz e esperança poucas horas antes, agora só havia escuridão e
desespero.
Não sabia como Calder estava e isso me enchia de terror absoluto. Eles
estavam alimentando-o? Ele estava bem? Jurei ser a sua forte glória da manhã.
Jurei não desmoronar.
Corri para ela e me joguei aos seus pés, abraçando as pernas dela e
soluçando. Suas mãos acariciaram meu cabelo. Quando olhei para ela, havia
lágrimas em seus olhos.
— Por favor, nos ajude — Eu implorei.
Ela balançou a cabeça. — Não há nada que eu possa fazer. Meus meninos.
Tenho quatro rapazes... Ele... Ele vai... — Ela chorou baixinho por um minuto.
— Ele está vivo — Disse ela. — Ele está sendo alimentado e está tomando
água. Não tenho mais nenhum jeito de saber mais do que isso.
Lágrimas corriam pelo meu rosto. — Se eu casar com Hector hoje, nós
vamos embora amanhã — Eu sussurrei.
Hailey balançou a cabeça. — Ele não vai deixar você. Ele nunca vai deixar
você sair antes do prenúncio acontecer.
Ela olhou para mim por um longo momento, mas depois acenou. Dei um
suspiro de alívio. Eu iria planejar algo. Eu pegaria Calder e nós iríamos fugir, e
desta vez, não seríamos pego.
— Hailey? — Ela parou e olhou para mim. — Você pode colher algumas
flores azuis que crescem em um arbusto pequeno, no lado oeste do campo? Eu
sempre quis usá-las no meu cabelo no dia do meu casamento.
Hailey parecia confusa, mas assentiu e fechou a porta atrás dela.
Uma hora mais tarde, fui ao Templo na carruagem ao lado de Hector. Ele
usava um terno de cor branca, e eu usava o longo e esvoaçante vestido de
casamento que alguém tinha feito para mim. As glórias da manhã enfeitando
meu cabelo. A dor tomou conta do meu coração.
— A festa foi montada para vocês na sala de jantar principal. Por favor,
comam. Alegrai-vos. Este é um dia feito para alegria e celebração!
Ele pegou minha mão e me levou até o corredor e de volta para fora na
carruagem que ele agarrou as rédeas e começou a voltar para o pavilhão
principal.
Hector veio atrás de mim. Senti seu hálito quente no meu pescoço
enquanto ele puxou meu zíper para baixo lentamente. Eu me afastei dele e um
olhar de advertência entrou em seus olhos quando me virei para ele. — Por
favor, deixe-me despir para você — Eu disse, olhando para ele através dos meus
cílios.
Deslizei meus sapatos e desci meu vestido pelos meus ombros, deixando-
o cair em uma poça aos meus pés. Não usava nada por baixo. Eu estava diante
de Hector, nua, com a pequena ondulação da minha barriga completamente à
mostra.
Passei a mão para baixo com as mãos trêmulas. Isso só tinha se tornado
evidente nas últimas duas semanas, e ainda porque tinha perdido peso devido à
falta de alimentos na Acadia. No meu quarto sozinha, enquanto Calder ficava no
porão não mais do que 100 metros de mim, eu tinha descoberto um pequeno e
lindo segredo. Estava carregando um filho dele. Eu tinha concebido na nossa
nascente, na primeira vez que ele fez amor comigo, quase três meses antes. Eu
sabia que não seria capaz de esconder isso de Hector quando estivesse nua na
frene dele. Não tinha escolha a não ser implorar pelas nossas vidas.
— Ele maculou você — Ele disse a questão quase com total naturalidade.
A esperança cresceu dentro de mim. Ele ia me fazer desistir agora?
Balancei a cabeça, implorando-lhe com meus olhos. — Sim, Hector. Eu
queria ser maculada. Deixe-nos ir. Você não me quer. Por Favor, deixo-nos ir.
Vamos fazer uma vida juntos. Estou grávida do seu filho. Estamos apaixonados.
Isso é tudo. É tão simples. Por favor — Eu caí de joelhos na frente dele. — Por
favor, deixe-nos ir — Implorei. — Tenha misericórdia.
— Não, Eden, por favor — Ela disse, com a voz rouca. — Não há muita
comida, me desculpe. Nossa estabilidade é testada agora — Ela colocou a
bandeja na minha mesa de cabeceira e saiu, fechando a porta silenciosamente
atrás dela. Meu coração se apertou no peito.
Peguei meu chá e tomei um gole quando considerei do que poderia ser
feito. Hector tinha me rejeitado como sua esposa. Isso tinha que ser bom. Não
poderia desempenhar o papel em seu prenúncio agora. Era o fim. Ainda assim,
um calafrio percorreu minha espinha apesar do calor do líquido fazendo o seu
caminho para o meu corpo. Hector não ia desistir de mim. Eu sabia que ele não
ia. Eu tinha só algum tempo. E se meus instintos estivessem certos, não havia
muito tempo. Terminei meu chá e levantei da cama. Bati na minha porta e
alguns minutos mais tarde, Mãe Miriam veio e atendeu, usei o banheiro
enquanto ela esperava lá fora.
Quando abri a porta do banheiro, uma dor aguda veio do meu abdômen e
me dobrei, gritando com a intensidade repentina da cãibra.
— O que foi isso? — Mãe Miriam perguntou, vindo para o meu lado.
Mãe Miriam recuou com o choque registrado em seu rosto. — Não — Ela
disse simplesmente.
— Tinha que ser eliminado — Disse ele atrás de mim. — O que foi predito
não pode ser apagado ou desfeito, nem mesmo por Satanás.
— Você me odeia — Eu soluçava. — Você fez isso. Você fez isso, também!
— Bati levemente em seu braço, em volta da minha cintura, mas não tinha
energia para fazer qualquer coisa, apenas suportar a dor e doença.
Ouvi meu nome em algum lugar muito longe e até mesmo no meu estado
delirante, eu sabia que era Calder. — Calder — Eu gritei. — Calder! — Minha voz
se quebrou em seu nome quando chamei uma segunda vez e, em seguida, dobrei
em um grito de gelar o sangue de novo, mais umidade pegajosa descia pela
minha perna. Tentei andar na direção de onde ele estava me chamando, mas
Mãe Miriam me puxou de volta. — Eu tenho que levá-la para a cabana da cura —
Disse ela. — Se você quer viver, tenho que chegar lá.
Eu fiquei mole em seus braços, quando outra dor rasgou através de mim,
não tinha forças nem para gritar neste momento.
Perdi a noção do tempo quando tudo entrava e saia de foco ao meu redor,
a luz do sol da manhã oblíqua através da janela em um segundo, e depois o céu
do início do crepúsculo da noite me cumprimentando. Durante todo aquele dia,
chorei e me contorcia, suportei a dor enquanto Mãe Miriam vinha e ia, cuidando
do meu corpo de maneira que não conseguia nem me concentrar.
Ela ficou em silêncio por um minuto. — Sim, Eden, sinto muito. Seu bebê
se foi.
Se foi? Para onde? Onde estava o meu bebê agora? O pequeno ser que eu
estava simplesmente começando a amar tão ferozmente. O que faço com
aquele amor agora?
— Não, isso não é culpa sua. E você vai ver o seu bebê novamente em
Elysium.
— Ele lutou como um guerreiro para chegar até você, filha — Disse ela em
voz baixa, esfregando uma toalha fria na minha testa. — Mas no final... Havia
muitos deles.
Mas entendi que ele poderia não estar por muito tempo. — Eles enviaram
a Mãe Willa para cuidar dele?
Mãe Miriam sacudiu a cabeça. — Mãe Willa morreu ontem à noite — Ela
disse simplesmente.
— Então vá para Elysium sozinha. Não nos faça ir com você — Eu gritei
quando outra cãibra forte de repente me fez apertar minha barriga e estremecer.
Virei-me na cama e chorei. Tanta dor. Física. Emocional. Isto era uma
agonia. Eu não sabia se poderia suportar isso. Calder estou tentando ser a sua
Glória da Manhã forte, mas acho que não posso fazer isso sem você.
Era um eclipse.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Calder
De repente, havia chaves na porta. Uma vez que estava abrindo, pulei
para trás e, em seguida, corri para a frente, uma vez que se abriu. Afastei-me
quando vi Clive Richter ali com uma arma apontada para mim. Poderia
sobreviver a um tiro? Poderia correr antes que ele tivesse uma chance de atirar?
Eu não tinha ideia de como as armas funcionavam. Não tinha ideia do que fazer
quando confrontado com uma. Adrenalina passou por mim, mas não seria bom
para Eden se eu estivesse morto.
Recuei um pouco, levantando as mãos para que ele soubesse que não eu
lutaria, não ainda, de qualquer maneira. Ele zombou de mim. — Vire-se e
coloque as mãos atrás das costas.
Olharam para o céu quando escureceu mais. — Hector disse que ele
estava fora do prenúncio. Os deuses não disseram dois meses, seis dias. Eles
disseram dois dias, seis horas. Um desses equívocos lamentáveis — E então eles
começaram a rir como hienas de uma piada, que eu não tinha certeza se
entendia.
Quando voltei a mim, tinha destruído uma enorme parte disso e Clive,
Garrett, e Ken estavam de pé atrás rindo de mim. Fiquei ali, respirando com
dificuldade, cada parte do meu corpo doendo, do meu rosto até meus pés.
— Porque você está agindo como a porra de um animal que é, por isso.
Clive sorriu. — Você não pode pegar Eden, seu tolo. Eden pertence a
Hector. Você não conseguiu nada além da sua liberdade. E você é sortudo por
isso.
Se pudesse pelo menos ter isso, poderia voltar para buscar Eden. Poderia
vir com um plano. Poderia pedir ajuda... Alguma coisa. Se não fosse livre, não
havia esperança. — Deixe-me ir, então. Vou sair daqui.
Clive riu. — Hector quer dizer adeus a você primeiro — Ele zombou.
Chegamos a um dos grandes postes de madeira que sustentavam um alto-
falante na parte superior. Clive instruiu Garrett para soltar as algemas e colocá-
los de volta uma vez que eu estivesse de costas contra o poste e meus braços
estavam ao redor disso por trás. Pânico passou por mim. Ah, não. Eu não iria
ser amarrado em um poste. Não. Algo ruim estava acontecendo. Não sabia o
que, mas não era bom. Eu levei a minha cabeça para a frente e bati no rosto de
Garrett, seu nariz esmagou novamente e sangue jorrou enquanto ele soltava um
som agudo e estridente de agonia. Trouxe meu joelho para cima e acertei a sua
virilha. Ele fez outro som que se assemelhava a um porco guinchando e se
dobrou.
— Você pensou que era mais forte do que eu, Satanás? — A voz de Hector
estava muito perto. — Você acha que conseguiria fazer o seu caminho para a
minha comunidade com a sua beleza? Você enganou-me uma vez, há muito
tempo, mas de novo não. NUNCA MAIS!
Senti algo batendo no meu pé, mas não olhei para cima. A voz de Hector
andava ao meu redor e, em seguida, parou na minha frente. Eu olhei para ele.
Ele era uma grande sombra negra contra o céu escuro.
— Pai, não. Por favor, não — Eu implorei. — Por favor, vou sair daqui.
Não vou voltar — Eu menti. — Você nunca vai me ver de novo. Por favor, não
faça isso. É assassinato, Pai. É um pecado. Você me ensinou isso. Você me
ensinou que tirar uma vida é um pecado contra os Deuses.
— Ajude-me, por favor — Gritei, olhando para ele através do meu olho
bom, minha voz tão rouca que mal conseguia sair minhas palavras.
Clive fez o mesmo que Ken, ele parecia confuso, mas animado. Seus olhos
brilhantes se lançaram de um lado para o outro entre Hector e eu.
Quando olhei para cima novamente, Eden estava tentando correr para
mim, mas sendo segurada pela Mãe Miriam, que usava um olhar triste no rosto
delineado. Eden parecia muito fraca para lutar. Ela caiu contra Mãe Miriam e
soluçou. Eden, Eden, oh Eden, meu amor, a minha Glória da Manhã.
— Acenda o fogo, Abe — Hector pediu. Minha cabeça girou. Pânico e bile
subiram pela minha garganta quando meu pai caminhou lentamente para mim,
com uma caixa de fósforos na mão. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e suas
mãos tremiam.
Ouvi Eden gemer e foquei meu olho embaçado nela. — Eden — Eu gritei,
tentando fazer minha voz mais forte possível. — Eden!
Olhei para o meu pai e sua agitação era tanta que ele deixou cair o
primeiro fósforo, apagado, no chão e se curvou para pegá-lo.
O segundo fósforo acendeu e meu pai gritou quando ele o deixou cair na
pilha de lenha próxima aos meus pés. Um pequeno fogo. Olhei de volta para
Eden.
— Por favor, Glória da Manhã. Por favor, não posso suportar saber que
você vai ficar com esta visão. Vou inalar a fumaça. Não vou sentir as chamas.
Mas tenho que saber que você olhou para outro lado. Por favor.
O fogo cresceu, saltando para outra pilha de paus. Senti o calor na parte
inferior do meu corpo.
— Eu não sei o que vai acontecer depois disso, Eden, mas seja o que for,
seja corajosa, Glória da Manhã. E sei que há uma nascente em algum lugar em
Elysium. E eu estarei esperando por você, Eden. Estarei deitado em uma rocha
na água. Me imagine lá, sob a luz do sol. E quando chegar a hora, venha me
encontrar. Estarei esperando. Esperarei por muito tempo, Eden, mas saiba que
vou estar lá. Estarei te esperando, Glória da Manhã.
Eden jogou a cabeça para trás. Parecia que ela não tinha mais voz para
gritar. O rosto dela - seu lindo rosto. Ver a sua agonia desesperada me rasgou.
Senti-me impotente enquanto eu observava seu tormento e sofrimento. Todos.
Minha culpa. Enquanto as chamas saltaram, ela chorou em silêncio e virou a
cabeça. A fumaça começou a subir e me preparei para inalar grandes partes
disso. Medo, horror e raiva, e sim, amor - cada parte de quem era, naquele
momento, rodou como um furacão dentro de mim, movendo-se mais rápido,
ganhando velocidade, ganhando algum tipo de poder.
Não era uma chuva que começou devagar, de repente, era chuva
torrencial que imediatamente caiam em lâminas. O fogo se apagou.
Hector virou-se para Clive, que estava de pé atrás dele. — Solte-o e jogue
de volta na cela
— Ah, Jesus Cristo — Clive gritou. — É isso. Esta é a última coisa que faço
aqui.
Eden estava sendo arrastada para o porão. Meu coração batia forte no
peito quando Clive abriu minhas algemas e me empurrou longe do poste.
Tropecei, minha perna direita se dobrando abaixo de mim. Caí de joelhos nos
paus que foram espalhados em volta de mim e vi o buraco na minha coxa, o
sangue escorrendo lentamente. Levei um tiro? — Levante-se — Disse Clive
friamente.
— Eden — Eu disse fraco, rastejando na lama para ela o melhor que podia
com apenas uma perna e um braço ajudando.
Fui arrastado para baixo nas escadas, outras pessoas correndo atrás de
mim e fui jogado de volta na cela onde caí no chão. O mundo começou a
esmorecer e lutei para ficar consciente. — Eden — Engasguei fracamente. —
Eden — Então tudo ficou escuro.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
Eden
Quando Hector levou sua mão para me manobrar para o canto do porão,
eu me inclinei para o lado e a mordi. Forte. Ele rugiu, e o gosto metálico do
sangue dele encheu minha boca. Eu cuspi isso no rosto dele.
Havia luz apenas o suficiente entrando por baixo da porta para ver o
quarto. Era principalmente uma sombra fraca. Eu podia ver as prateleiras
vazias, sem comida sobre elas agora e até o teto. Era um pouco maior aqui, uma
vez que sentei sob uma parte do pavilhão principal, enquanto as outras partes
do porão tinham apenas terra por cima. Não havia janelas, nem saída. Deslizei
para baixo enrolada em uma bola. Chorei. Sem esperanças. Calder já poderia
estar morto, ou no mínimo, morrendo. Não havia mais nada. Mais nada pelo
que esperar.
Quando a água chegou até meu queixo de novo, a luz por baixo da porta
apagou e os gritos viraram sussurros e soluços... A morte cuspindo. Eu soluçava
em silêncio até que a pulsação do meu coração batendo no peito me iludiu com
alguma espécie de calma vazia. Estava totalmente escuro e silencioso agora,
exceto pelo som da chuva, ainda caindo. O mundo inteiro estava debaixo
d'água? Os pinguins estavam flutuando? Observando como os céus escureceram
e o planeta tornou-se um vasto oceano sem fim? A água subiu mais no meu
nariz e eu fechei os olhos.
Posso ensinar-lhe uma maneira ainda melhor para não gastar energia
na água?
Meus olhos se abriram. Jurei que tinha ouvido a sua voz sussurrar no
meu ouvido.
Deixei a água levar o meu corpo com ela, uma vez que subi mais alto no
quarto. Respire fundo e deixe-se flutuar de modo que a parte de trás da sua
cabeça fique um pouco acima da água. Apenas deixe a água apoiá-la. Então,
quando eu tocar em seus braços, deixe-os flutuar em direção à superfície, com
os cotovelos dobrados. Você se lembra até agora?
Eu flutuava no topo da água e fiz o que me foi ensinado a fazer, uma vez
sob a luz do sol, na água de uma nascente onde eu tinha me apaixonado com o
garoto mais bonito do mundo. E onde ele havia me amado de volta.
Eu flutuava, somente isso, até que percebi que a água tinha parado de
subir. Senti que acima de mim tinha cerca de oito centímetros de ar na parte
superior do teto mais alto, oito centímetros que me mantinha viva. O resto do
porão tinha ficado completamente debaixo d’agua cerca de meia hora antes,
quando os gritos tinham parado. Estavam todos mortos. Todos, exceto eu, a
única que eles queriam levar com eles.
Tinha ouvido dizer que quando você morre, sua vida passa diante de seus
olhos, cada momento dela. Mas, para mim, só havia Calder. Havia apenas ele.
Porque ele era a minha vida. Eu vi seu sorriso quando me virei para ele na nossa
nascente. Eu vi nós dois deitados sob as estrelas. Eu vi a expressão feroz de
Calder quando ele pegou meu rosto em suas mãos e colocou seus lábios nos
meus. Eu vi o prazer em seu rosto quando ele fez amor comigo. Eu vi o seu
sorriso repentino, como o sol, quando a água do chuveiro caiu em sua cabeça.
Cada momento feliz com ele flutuou pela minha mente em detalhes vívidos.
Fechei meus olhos e revivi cada momento, deixei me embalar, me confortar, me
trazer paz.
E eu flutuava. Durante toda aquela noite fria, sombria, escura como breu
com a chuva caindo suavemente sendo o único som que me rodeava. Eu flutuava
e vivia. E em algum momento, a água começou a recuar e a parte superior da
prateleira bateu no meu pé. Eu estava sobre ela, meio acordada, meio em um
lugar no fundo de minha mente onde tinha ido quando flutuava, em estado de
choque, sem acreditar, no sofrimento indizível.
O porão entrou em foco quando pisquei e levei a minha mão até a boca
com o horror varrendo meu corpo. Corpos flutuando em todos os lugares.
Homens, mulheres e crianças. O filho da Hailey, Myles, flutuava, virei a cabeça e
chorei em silêncio, cobrindo meu rosto.
Calder
— Tenho que agarrar seu braço — Ouvi Xander dizer. E eu gritei. — Sinto
muito, irmão. Sinto muito pra caralho — Por que ele estava chorando? Não era
para ter lágrimas em Elysium.
— Shh — Disse Xander. — Não fale. Estou com você. Você sabia que eu ia
voltar para você, certo? — Ele sufocou o que soou como um soluço. — Sinto
muito que era muito tarde.
— Isso vai doer. Sinto muito, irmão — Xander engasgou mais uma vez,
mas não entendia o por quê.
Amor e gratidão ao meu marido por sua paciência com este processo e
por ser compreensivo durante toda noite por três meses, incluído o enredo da
conversa. Você fez tudo isso divertido - fez tudo isso possível.