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Sinopse

Há um lugar na moderna América, sem eletricidade, sem esgoto e sem as


conveniências modernas. Neste lugar, não há espaço para os sonhos, não há
espaço para a autoexpressão e nenhuma tolerância para a ambição.

Neste lugar, há um garoto com o corpo de um deus e coração de um


guerreiro. Ele é forte e fiel, e serve sua família com honra. Mas ele se atreve a
sonhar com mais.

Neste local, há uma menina com o rosto de um anjo e um coração cheio


de coragem. Para sua família, ela é a visão da perfeição obediente. Mas ela se
atreve a querer aquilo que lhe foi dito que nunca pode ser dela.

Becoming Calder é a história do bem contra o mal, o medo em relação a


bravura, e a verdade que a luz do amor sempre encontrou o seu caminho para
até mesmo o mais escuro dos lugares... Desde o início dos tempos, até o fim do
mundo.
Becoming Calder

A Sign of Love Novel

Mia Sheridan
Dedicatória

Este livro é dedicado a Maegan, a minha prima favorita e a mãe mais incrível
que eu conheço.
A lenda de Aquário

A lenda grega conta a história de Ganymede, excepcionalmente belo e o


jovem rapaz de Troy. Ele foi descoberto por Zeus, que imediatamente decidiu
que daria um perfeito copeiro. Zeus, disfarçado como uma águia, raptou-o
ainda jovem e levou-o para a casa dos deuses para servir como seu escravo.

Eventualmente, Ganymede teve o bastante, e em um ato de rebeldia, ele


derramou todo o vinho, ambrosia e água dos deuses, recusando-se a continuar
copeiro de Zeus por mais tempo. Toda a água caiu para a Terra, causando
chuvas que inundaram dias e dias, o que criou uma inundação enorme que
deixou todo o mundo submerso.

Com o tempo, Ganymede foi glorificado como Aquarius, Deus da Chuva


e colocado entre as estrelas.
PRÓLOGO

“Eu tirei a névoa de seus olhos, que até agora estava ali, de modo que
você pode muito bem reconhecer o Deus e o mortal.”

Homero, A Ilíada

Fui agredida pelo cheiro de lixo de escapamento rançoso assim que pisei
fora do ônibus. Meu estômago revirou, e me movi para a esquerda para evitar
ter que andar muito perto das latas de lixo transbordando alguns metros à
minha frente.

O hambúrguer meio comido no topo da pilha chamou minha atenção e


meus instintos quase me fizeram agarrá-lo e enfiá-lo na minha boca, mas eu
cerrei os punhos e continuei andando. Eu estava com tanta fome,
dolorosamente com fome, mas não estava no ponto onde comeria lixo, pelo
menos não ainda.

Abri as portas da estação e olhei ao redor do interior escuro para as


placas do guichê. Eu precisaria de instruções para chegar onde estava indo.

Pelo menos tudo é sinalizado no mundo exterior. Quando recordei


aquelas palavras, senti uma forte onda de tristeza. Endireitei minhas costas e
entrei.

Avistei o balcão e fui em direção através da multidão que caminhavam


em uma confusão, esperando o próximo ônibus. Fiz breve contato visual com
um jovem com calças largas e um moletom grande. Seus olhos se arregalaram
um pouco e ele correu mais e começou a andar ao meu lado.

— Hey, baby, você está perdida. Posso ajudar?

Eu balancei minha cabeça, sentindo o cheiro estranho flutuando e saindo


dele - algo ligeiramente amargo e herbal. Olhei para o rosto rapidamente e notei
que de perto, seus olhos estavam vermelhos e as pálpebras pesadas. Pela minha
visão periférica, eu o vi olhar para mim e mover a cabeça para cima e para baixo,
absorvendo meu corpo.
Eu aumentei o meu ritmo. Eu sabia que parecia desesperada. Eu estava
desesperada. Assustada, perdida, agoniada, a angústia indizível estava logo
abaixo da superfície da minha pele. Eu precisava de ajuda. Eu não era
cosmopolita - eu sabia disso claramente. Mas eu não era ingênua o suficiente
para acreditar que o homem andando ao meu lado era o tipo útil.

— Você não tem nenhuma bagagem, baby. O que há com isso? Você tem
um lugar para ficar? — Ele estendeu a mão e tirou o meu cabelo do meu rosto e
eu me encolhi em resposta pelo seu toque. Continuei andando, ainda mais
rápido agora. O medo corria em minhas veias, meu estômago vazio rolando com
náuseas.

— Droga, cabelos como fios de ouro. Rosto de anjo. Você parece uma
princesa. Alguém já te disse isso?

Um pequeno meio-riso e meio soluço borbulhou na minha garganta e eu


ofegava em uma áspera respiração para não deixar isso escapar. Meu batimento
cardíaco aumentou um nível quando o homem começou a se dirigir para mim,
então eu fui forçada a ir para a esquerda, para não colidir com ele. Olhei para o
lado e vi que ele estava tentando me orientar para um corredor escuro, que
parecia que levava a um armário de manutenção de algum tipo. Procurei em
volta freneticamente por alguém que pudesse me ajudar, por algum lugar que eu
pudesse correr, quando a mão do homem apertou o cerco contra o meu braço.
Eu olhei em seus olhos semicerrados, o queixo duro e agora tenso. Ele se
inclinou e cochichou para mim: — Ouça-me, princesa. Uma garota como você
tem muito para oferecer. E eu sou um homem de negócios. Quer ouvir sobre o
meu negócio, princesa?

Eu balancei a cabeça de novo, vigorosamente, pesando minhas opções


para escapar. Eu poderia gritar. Certamente havia pelo menos uma pessoa
decente nas imediações que iria me ajudar. Eu poderia tentar lutar contra ele,
mas tão fraca e cansada como eu estava, ele me dominaria rapidamente. Foi
quando senti a picada de algo imprenso forte em mim através da minha leve
jaqueta e o fino algodão da minha camiseta. Oh Deus, tem uma faca na minha
lateral. Olhei para sua mão segurando a pequena lâmina prata contra o meu
corpo e, em seguida, de volta para seus olhos, agora brilhando com algo que
parecia determinação misturada com emoção.

— Você vem comigo, princesa, e não terei a necessidade de usar isso em


você. Você vai gostar da minha oferta, eu prometo. Ela envolve todos os tipos de
dinheiro para você. Gosta de dinheiro, princesa? Quem não gosta de dinheiro,
certo?

— Tire as mãos de cima dela, Eli — Disse uma voz profunda atrás de nós.
Girei minha cabeça ao mesmo tempo em que Eli, que capturou a visão de um
homem enorme em pé ocasionalmente com as mãos penduradas ao seu lado,
com uma expressão aparentemente entediada em seu rosto. Meus olhos se
arregalaram quando notei todos os desenhos e cores rodopiando até o lado
esquerdo do pescoço - parando sob o queixo - e os braços musculosos coberto
com a mesma arte complexa.

— Isso não é problema seu Paul. — Eli cuspiu.

— O inferno que não é. Quando vejo uma barata, eu a esmago sob minha
bota. Baratas me ofendem. Você é uma barata, Eli. Deixe-a ir, ou vou acabar
com você aqui na rodoviária para todas as outras baratas verem. — Paul
manteve os olhos treinados sobre nós, mas a cabeça de Eli deslocava para a
direita, e eu segui seu olhar para um grupo de homens vestidos de forma
semelhante a Eli que estavam sentados casualmente em um banco na frente da
estação, olhando em nossa direção e rindo.

Eli se virou para Paul e eu senti seu poder sobre mim afrouxar um pouco.
Ele soltou um som de nojo e me empurrou mais ou menos na direção de Paul. —
Tenho muitas cadelas na folha de pagamento como ela é. Leve-a — Depois ele se
virou e caminhou na direção que viera.

A mão de Paul apertou o cerco contra meu pulso, e eu deixei escapar um


ruído de espanto quando ele se virou e me puxou para trás, me puxando de volta
para a entrada. Eu puxei contra ele, mas ele era construído como um urso e
minhas tentativas nem sequer abrandaram. — Por favor — Eu disse. — Por
favor, me deixe ir — Havia histeria na minha voz.

Saímos pela porta e mais uma vez, o mundo exterior intenso me fez
apertar os olhos. Paul soltou meu pulso e virou-se para mim. — Você uma
fugitiva?

Eu recuei até que senti a parede da estação de ônibus contra meus


calcanhares. — Uma fugitiva? — Eu repeti.

Paul me estudou por um minuto. — Sim, você está em fuga? Alguém


procurando por você?

Eu balancei minha cabeça lentamente, sua pergunta causando uma


pequena angústia mal contida que se infiltrava através dos meus poros. — Não.
Ninguém está me procurando. Por favor, eu só quero sair daqui.

— Qual o seu nome? — Ele perguntou com uma gentileza agora em sua
voz.

Eu pestanejei para ele. — Eden — Eu sussurrei.

Paul estreitou os olhos. — Aonde você vai, Eden?


Olhei para ele, vendo que, apesar de sua aparência rude, havia
preocupação em seus olhos. Deixei escapar uma respiração irregular. — Grant e
Rothford Company.

— Grant e Rothford Company? Joalheria?

Eu balancei a cabeça. — Sim. Poderia me dizer como chegar lá?

— São apenas mais ou menos dez quadras daqui. Vou lhe dizer como
chegar lá, mas, então, você não volta para cá, está me ouvindo? Este não é o
lugar para uma jovem que está sozinha. Acho que você entendeu isso, certo?

Mordi o lábio e assenti. — Eu não vou voltar — Se tudo corresse como


planejado, eu estaria dormindo em um quarto de hotel esta noite. Teria comida
na minha barriga e finalmente estaria segura para chorar.

Paul apontou o dedo descendo o quarteirão. — Caminhe nessa direção até


chegar à rua principal, vire à direita e siga por cerca de seis quarteirões para
baixo. Você vai vê-la à sua direita.

Deixei escapar um suspiro. — Obrigada, Paul. Muito Obrigada. E


obrigada por me salvar da barata — Reuni um pequeno sorriso e então me virei
e comecei a caminhar na direção que ele me apontou.

Quando comecei a virar a esquina, Paul chamou meu nome e eu parei e


me virei, olhando para ele interrogativamente. — Há mais botas esmagadoras
do que baratas neste mundo.

Eu considerei isso um minuto, inclinando a cabeça. — O problema, Paul


— Eu disse suavemente, encontrando seus olhos. — É que as baratas podem
sobreviver ao fim do mundo.

Paul me deu um pequeno sorriso confuso, logo antes de eu me virar e ir


embora.

Quando olhei para a rua e vi a placa que eu estava procurando, minha


mão fria alcançou automaticamente o meu bolso da calça jeans e enrolou ao
redor do medalhão de ouro pesado que estava ali - um que tinha o nome de
Grant e Rothford Company atrás - a única coisa de valor que eu tinha no meu
nome. Eu completei o resto do quarteirão lentamente, fome, frio e cansaço me
oprimindo.
Eu abri a porta e fui recebida pelo calor reconfortante da loja aquecida.
Por um segundo eu fiquei ali e respirei, tão aliviada por ter encontrado o meu
destino, como pelo calor penetrando na minha pele gelada. Eu fui em direção ao
balcão de vendas. Mas quando passei pela prateleira de exposição à minha
direita, avistei uma caixa de joias de vidro com flores prensadas entre os
painéis, criando a ilusão de que elas estavam flutuando sobre o interior de
veludo. Parei, olhando mais de perto, meus olhos se arregalaram e lágrimas
imediatamente borraram a minha visão, quando eu, instintivamente, estendi a
mão para ela. Elas eram glórias da manhã. Eu deveria saber, eu tinha cinquenta
e duas delas, cuidadosamente pressionadas e preservadas em um saco plástico
no bolso interno da jaqueta. O medalhão, as flores e uma pequena pedra
redonda eram as únicas coisas que eu tinha pegado antes de escapar. Eram as
únicas lembranças que eu tinha dele. Eu tinha deixado tudo o que eu tinha
conhecido para trás. Um nó se formou na minha garganta e a dor tomou conta
de mim, tão intensa que pensei que isso poderia me derrubar. Estendi a mão
para tocar o vidro, um dedo traçando as profundas pétalas azuis da flor com que
eu estava tão bem familiarizada. Mas meu corpo estava desgastado, cansado,
com fome e minha mão empurrou desajeitadamente e bateu em um vaso de
cristal na prateleira ao lado da caixa de joias. Como se estivesse em câmera
lenta, ele cambaleou e caiu, apesar da minha tentativa frustrada de agarrá-lo.
Ele caiu no chão e quebrou aos meus pés. Eu dei um suspiro alto e empurrei
minha cabeça para cima quando uma mulher veio correndo em minha direção,
dizendo: — Oh, não! Não o Waterford! — Ela levou as mãos ao rosto e franziu os
lábios quando parou na frente de uma pilha de cacos de vidro.

— Eu sinto muito — Eu engasguei. — Foi apenas um acidente.

A mulher soltou uma maldição. Ela era bonita e bem cuidada: elegante
em um terno cinza escuro, cabelo penteado para cima graciosamente e seu rosto
deslumbrante com a maquiagem perfeitamente aplicada. Eu encolhi diante dela.
Eu sabia o que era. Eu estava vestindo roupas roubadas de um varal de alguém
que era, obviamente, um pouco maior do que eu. Eu não tomava banho por três
dias e meu cabelo caía solto e liso ao redor do meu rosto e pelas minhas costas
um pouco acima do meu traseiro – muito longe de ser elegante. A mulher me
olhou de cima a baixo.

— Bem, acidente ou não, isso terá que ser pago.

Meus ombros caíram. — Eu não tenho nenhum dinheiro — Eu sussurrei,


olhando em volta com as minhas bochechas aquecidas para os poucos clientes
perambulando pela loja, então desviei o olhar, desconfortável. Eu estava quase
surpresa ao descobrir que eu ainda tinha um pouco de orgulho restante.

Eu tirei o medalhão de ouro do meu bolso. — Eu estava esperando para


vender isso e conseguir algumas informações sobre ele, também — Eu disse,
implorando para mulher me ajudar. Por favor, me ajude. Estou com tanto
medo. Estou com muita dor. Eu estou quebrada de tantas formas.

Ela colocou as mãos nos quadris e olhou para o medalhão, para o meu
rosto e de volta para o medalhão. Ela o tirou de minha mão em concha e
segurou-o contra a luz. Então ela olhou para mim. — Bem, sorte sua, isso é ouro.
Provavelmente vai cobrir o valor do vaso — Ela ficou olhando para ele, virando-
o em suas mãos bem cuidadas. — Porém não tem nenhum jeito de dar-lhe
alguma informação sobre ele, nenhuma gravação ou personalização — Ela olhou
por cima do ombro para um homem que tinha acabado de atender um cliente e
estava saindo de trás do balcão. Ela apontou para o cristal no chão e disse: —
Phillip, será que você limpa isso enquanto eu cuido dessa... Garota?

— É claro — Disse Phillip, olhando-me com curiosidade.

Eu segui a mulher até o balcão. — Espere aqui enquanto peso isso. Você
não tem a corrente que vai com ele?

Eu balancei minha cabeça. — Não, apenas o medalhão.

Eu estava no balcão com as minhas mãos descansando sobre o vidro na


minha frente. Quando percebi que elas estavam visivelmente tremulas, eu puxei
de volta e esfreguei-as juntas, tentando parar o meu corpo com a mente no
problema. Meu coração batia vazio no meu peito. O medo e a desesperança
ergueram-se na minha garganta, o que deixava difícil engolir.

Olhei para trás de mim, onde a mulher tinha entrado em uma porta na
parte de trás da loja e a vi conversando com um homem mais velho através do
vidro. Ele franziu a testa quando olhou para mim e acenou com a cabeça, seus
olhos prolongaram por um momento antes que ele olhasse para o que ele tinha
na mão. A mulher virou-se e caminhou de volta pela porta e atrás do balcão
onde eu estava. — Podemos dar-lhe mil e duzentos dólares pelo medalhão, que é
muito abaixo do que custa o vaso, mas estamos dispostos a dar um desconto
para que assim o assunto seja resolvido.

Vômito subiu pela minha garganta. — Por favor, eu preciso desse


dinheiro — Eu disse, levantando a voz. — É tudo o que tenho.

— Eu realmente sinto muito, mas não há nada que eu possa fazer. O vaso
tem que ser pago. Nós não podemos apenas arcar com esse custo. Temos um
negócio aqui.

— Por favor! — Eu disse novamente, desta vez mais alto, levando minhas
mãos ao balcão com um tapa barulhento. A mulher se assustou e apertou os
lábios, inclinando-se em minha direção, para que eu me inclinasse para trás.

— Eu preciso chamar a polícia, senhorita? — Ela perguntou em um


sussurro rouco, quase sem mover a boca.
Terror correu em minhas veias e eu balancei um pouco antes de ficar em
pé. Eu balancei a cabeça vigorosamente. — Não — Eu falei alto. Eu respirei
fundo. — Por favor, eu só... Eu não tenho nenhum dinheiro além do medalhão...

Dei outra respiração, recusando-me a chorar na frente de uma mulher, na


frente de todos os clientes que estavam fingindo perambular por ali, mas
estavam realmente ouvindo o intercâmbio entre nós. — Esse medalhão é tudo
que eu tenho. Preciso do dinheiro dele para encontrar um lugar para dormir
esta noite. Por favor — Eu acabei pateticamente.

Algo que eu pensei que poderia ser simpatia brilhou nos olhos da mulher,
mas ela se inclinou para trás, cruzou os braços sobre o peito, e disse: — Sinto
muito, não há nada que eu possa fazer. Há um abrigo na Elm Street. O edifício
mil e quatrocentos. Passei por lá várias vezes. Agora eu vou ter que pedir-lhe
para deixar a nossa loja.

Baixei a cabeça, muito doente, cansada e com o coração partido para me


colocar em uma discussão. Como eu tinha conseguido desperdiçar a minha
única chance possível de conseguir dinheiro e segurança? Agora eu literalmente
não tinha nada de valor em meu nome. De fato nada, exceto as roupas roubadas
nas minhas costas, as flores prensadas e a pedrinha no meu bolso. Virei-me e saí
da loja como se estivesse em transe, completamente esgotada de cada gota de
esperança.

Andei pelas ruas da cidade por um tempo, horas talvez, eu não tinha
certeza de quanto tempo. Eu fui ficando mais fraca; meus passos ficando mais
lentos. Eu vi um banco à frente, parei e afundei-me nele, puxando meus braços
em volta de mim. A noite se estabeleceu ao meu redor e o ar estava ainda mais
frio, minha jaqueta era muito leve para me manter aquecida.

De onde você tira a sua força, Glória da Manhã? Ele me perguntou.

De você, eu disse sorrindo e puxando-o para perto.

Mas agora ele não estava aqui. Onde posso encontrar a minha força
agora?

Eu olhei para a placa da esquina da rua a minha direita. Elm Street.


Deixei escapar um suspiro pesado. Será que tenho em mim para seguir em
frente um pouco mais? Sim, eu pensei que poderia - por uma cama quente e
uma refeição - mesmo que fosse a um abrigo. Eu tinha que fazer isso através da
noite e então eu conseguiria algum tipo de plano. Talvez alguém no abrigo
pudesse me dizer onde encontrar um emprego... Alguma coisa.

Eu me levantei e caminhei até Elm Street e depois de decidir que eu


precisava seguir direto para o edifício mil e quatrocentos, e partir. Meus dentes
batiam e eu puxei meus braços em volta de mim novamente enquanto
caminhava, colocando minha cabeça contra o vento.
A fila estava formada à frente e eu estiquei o pescoço para ver se era do
abrigo, de pé na ponta dos pés para ver todas as pessoas.

— Você está procurando um lugar para dormir? — Um homem mais


velho no fim da fila com um casaco longo, sujo e a cabeça de cabelos brancos,
perguntou.

Eu balancei a cabeça, meus dentes batendo mais forte.

— Este lugar é só para homens — Disse ele. — Mas uma garota bonita
como você provavelmente poderia fazer um bom dinheiro no beco lá atrás — Ele
inclinou a cabeça para trás e, em seguida, olhou de soslaio para mim e
gargalhou.

Então, lá estava ele de novo - sexo. Evidentemente, eu tinha algo de valor.


Eu gostaria de dizer que não considerei isso por alguns breves segundos. Eu
estava com tanta fome, desesperadamente com fome e muito frio. A lista de
coisas que eu não faria para parar a dor do estômago vazio e do frio que tinha
feito seu caminho até os meus ossos, estava ficando cada vez mais curta.

Reuni o último pingo do meu orgulho e me afastei.

Ele está esperando por mim, na primavera, sob o sol quente. Eu vou
esperar por você. Mas eu espero que não seja por muito tempo.

Eu tinha caminhado por mais ou menos um quarteirão antes de as


lágrimas começarem a cair pelo meu rosto. Pânico surgiu dentro de mim. Oh
não, oh não. Você não pode chorar. Se você chorar, vai perder o controle. Esse
pensamento trouxe o terror com a situação que eu teria que lidar. Eu precisava
de alguém. Qualquer um. Havia muitas pessoas caminhando, mas eu não
pertencia a nenhuma delas e nenhuma delas me pertencia. Eles não me viam.
Eles não se importavam. Com carência, veio a esmagadora tristeza. Sentei-me
depois de alguns passos, coloquei minha cabeça em meus joelhos e chorei.

— Senhorita? — Eu empurrei minha cabeça para cima e olhei através da


visão turva de lágrimas para um homem mais velho de terno. Suguei as minhas
lágrimas, tanto quanto possível, limpei a umidade dos meus olhos e dei um
suspiro profundo e trêmulo, tentando me recompor.

— Eu sou proprietário da Grant e Rothford Company — Disse ele em voz


baixa, parecendo desconfortável.

Em seguida, isso clicou. Ele era o homem por trás da porta de vidro com
quem a vendedora tinha falado. O proprietário. Ah, não, ele tinha decidido que
eu devia mais dinheiro pelo vaso? Será que ele chamaria a polícia agora? Eu não
podia ir à polícia. Eu não podia.
Levantei-me rapidamente. Consegui dar dois passos antes que o mundo
inclinasse e caísse.
LIVRO UM

Acadia

“Tudo é mais bonito porque estamos condenados.

Você nunca vai ser mais bonito do que está agora.

Nós nunca estaremos aqui novamente.”

Homero, A Ilíada
CAPÍTULO UM

Calder - dez anos de idade

Era uma terça-feira, o dia em que ela apareceu. Lembro-me, porque


estávamos regando a plantação de feijão, e a plantação de feijão só dava para
regar no terceiro dia de cada semana. Eu ouvi o jipe branco antes de vê-lo, e
quando olhei para cima, ele estava alcançando perto da curva da estrada,
levantando poeira atrás dele enquanto dirigia em direção de onde estávamos
nos campos. Eu estiquei meus olhos e pude ver Hector Bias no banco do
motorista e uma cabeça loira no banco do passageiro ao lado dele. Eu apoiei
minha mão na minha cabeça como um visor e olhei pelo brilhante sol do
deserto, tentando ver melhor o interior do veículo, mas o brilho do vidro da
janela me impediu de conseguir uma boa visão e a distância era grande demais
para deixar isso melhor.

— Hector voltou! — Eu gritei.

— Shh, Calder — Minha mãe me repreendeu. — Hector ficará feliz em vê-


lo trabalhando duro — Mas um sorriso cruzou seu rosto quando ela olhou para o
jipe se aproximando, e depois voltou ao seu trabalho. Revirei os olhos e coloquei
minha língua para fora pelas costas dela, mas eu me inclinei de volta para baixo
ao lado dela e continuei dando aqueles feijões os mililitros de água que eles
gostavam para crescerem grandes, altos e fortes o suficiente para alimentar
todos os cento e vinte de nós.

Eu não a vi depois disso. Ela morava na casa principal com Hector. Ela
era a abençoada - noiva que estaria ao seu lado, enquanto nós, seu povo, fomos
acolhidos pelos deuses para o Fields of Elysium, o paraíso mais glorioso nos
céus.

E todos nós queríamos vê-la. Todo mundo estava curioso com a mulher
que foi prenunciada, que junto com Hector, nos guiaria na vida após a morte,
quando essas grandes inundações viessem e o fim do mundo estivesse sobre
nós. Eu imaginei que ela era como se fosse o nosso bilhete.

A notícia de que ele a tinha encontrado em uma de suas peregrinações


tinha chegado até nós através da Mãe Miriam, sua primeira amante. Mas o
Hector tinha vivido longe de nós por um longo tempo, quase dois anos, só
voltando para visitar duas vezes por mês ou algo assim, enquanto ele organizava
a educação de sua noiva, e fazia com que ela estivesse pronta para a sua posição
dentro da nossa família. Ela tinha uma grande tarefa poderosa pela frente.

E então, no dia em que foi dito que seria finalmente introduzida era um
negócio muito grande. Todos nós lançamos rapidamente nossas roupas de
trabalho sujas, calças de cordão para os meninos e homens, e saias longas para
as meninas e mulheres, com camisas soltas. E claro, era tão quente no Arizona
no verão que eu geralmente pegava minha camisa e amarrava um pedaço de
qualquer material que tivesse à mão em volta do meu pescoço, para que eu
pudesse limpar o suor do meu rosto enquanto trabalhava. O material artesanal
dava principalmente coceira, mas era melhor do que deixar o suor salgado
gotejar nos meus olhos. Alguns dos outros meninos faziam a mesma coisa agora
e agiam como se fosse ideia deles, o que estava bem pra mim. Não era como se
fosse a invenção mais grandiosa do mundo.

Depois que eu estava vestido com uma calça e camisa limpa, eu corri
saindo, pela porta da frente da nossa pequena cabana de madeira de dois
quartos, quando a minha mãe gritou atrás de mim: — Esteja na hora, Calder!

— Eu estarei! — Eu gritei de volta, limpando a garganta, enquanto fazia o


meu caminho entre as outras cabanas. Eu sabia que minha voz tinha um tom
rouco, com uma característica áspera e às vezes gritar machucava a minha
garganta. Minha mãe havia me dito, quando eu tinha cerca de três anos de
idade, que eu chorei e chorei por um longo tempo, e isso tinha desordenado
minha garganta um pouco ou algo parecido. Ela disse que não se lembrava do
que havia causado a maratona de choro, mas um dia, era como se eu
simplesmente decidisse que não seria mais infeliz e isso foi tudo. Ela disse que
não era da minha natureza carregar tristeza. Imaginei que era verdade, porque
eu com certeza não me sentia mais triste.

Bati na porta dos fundos de Xander e sua irmã de dezesseis anos de


idade, Sasha, abriu-a, seus longos cabelos castanhos fluíam livremente pelas
costas. Eu deslizei meus olhos sobre ela e, em seguida, olhei para o seu rosto. —
Ei, Sash — Eu disse, levantando as sobrancelhas, e me esticando tanto para que
pudesse tentar ficar com a sua altura.

Sasha revirou os olhos e olhou por cima do ombro. — Xander — Ela


chamou. — Seu amiguinho está aqui.

— Amiguinho? — Eu insisti, insultado. — Eu quero que você saiba, que


cresci oito centímetros neste verão. Meu pai marcou isso na parede.

Sasha mordeu o lábio, olhando como se ela tentasse não rir. Foi quando
Xander passou tranquilamente por ela, agarrando o meu braço, então eu fui
forçado a sair correndo atrás dele.
— Que diabos? — Eu bufei enquanto nós percorríamos os caminhos de
terra e acabamos deixando para trás a velha Mãe Willa com suas ervas
empilhadas na carroça sendo puxada atrás dela.

Ela gritou alguma coisa para nós, mas ela sempre foi um pouco difícil de
entender por conta do fato de que tinha perdido muitos dentes. Imaginei que
simplesmente não havia uma erva para isso.

Xander chegou a parar e quando eu o alcancei, dei um soco no ombro.


Ele riu, desviando meu próximo soco. — Uau, você vai querer ser bom para mim
— Ele olhou ao redor, então se inclinou para perto e sussurrou: — Olha o que eu
roubei — Ele abriu a mão para me mostrar quatro, perfeitos cubos de açúcar.

— Posto Florestal? — Eu perguntei, olhando em volta também, e, em


seguida, estendi a mão quando Xander colocou dois na palma da minha mão.
Joguei os dois para trás e mastiguei-os em meus dentes, fechando os olhos e
gemendo quando a doçura encheu minha boca e explodiu em toda a minha
língua.

Xander me empurrou pela trilha, virou-se e olhou para mim. Olhei para
ele interrogativamente com a minha boca muito cheia de açúcar para falar. — O
quê? — Eu murmurei, encolhendo os ombros.

— Nossa, Calder. Que há de errado com você, afinal? Você não sabe como
saborear algo? Quando é a próxima vez que vai conseguir açúcar, e você acabou
de devorar os dois, e eles se foram em um instante? Idiota — Então ele me
empurrou para que eu tropeçasse de costas, tentando não rir e derrubar algum
açúcar da minha boca.

Xander pegou um cubo entre o dedo polegar e o indicador e lambeu-o


delicadamente, e então o moveu para longe de sua boca para que pudesse falar.
— Veja, Calder, quando você tem algo bom, tem que fazer isso durar — Ele
instruiu, prolongando a última palavra. E então, antes que ele pudesse levá-lo
de novo à boca, dois dos cães selvagens que corriam nos arredores da nossa
terra correu atrás dele, impulsionando-o para a frente de forma que ele tropeçou
e deixou cair o açúcar da sua mão sobre a terra. Os cães atropelaram os dois,
moendo-os na terra enquanto fugiram latindo.

Por um segundo eu só olhava para o açúcar esmagado no chão de terra


aos nossos pés, e depois para o seu rosto chocado, com a boca entreaberta.

Comecei a rir tanto que tive que dobrar-me para que eu não caísse.

Eu olhei para Xander e o olhar de choque foi substituído por uma


pequena inclinação de um lado dos seus lábios, logo antes de ele começar a rir
também, nós dois uivando sob o brilhante sol de fim de tarde.
Isso era uma coisa sobre o meu amigo Xander - ele sabia rir de si mesmo,
uma característica que eu descobri que a maioria dos adultos ainda precisava
trabalhar.

— Ah, vamos lá, hálito doce — Disse Xander, decolando em direção ao


pavilhão principal, onde nós tínhamos planejado nos sentar para conseguir uma
boa posição da noiva que todos queriam tanto ver.

— Ouvi dizer que ela tem o rosto de um anjo e o corpo de uma deusa —
Disse Xander com reverência.

Eu balancei a cabeça. — Isso foi o que o prenúncio disse.

— Eu aposto que ela parece com uma daquelas senhoras dos Academic
Awards — Xander supôs. Apertando os olhos para cima, como se imaginando a
revista People que ele roubou alguns meses atrás, aquela que tínhamos visto
juntos, nos escondendo atrás de sua cabana, com todas as fotos das senhoras
pintadas em vestidos coloridos brilhantes e longos segurando pequenas estátuas
douradas em forma de pessoa.

Encolhi os ombros. — Não, Hector não se casaria com uma delas — Eu


disse. — Elas são muito — Fiz uma pausa, tentando pensar no que elas eram
muito para a nossa família. — Coloridas — Eu decidi. Embora elas devessem ser
muito inteligentes para terem ganhado um grande prêmio acadêmico.

Xander revirou os olhos. — Sim, eu sei disso. O que eu quis dizer, você
sabe é ter uma com aqueles rostos bonitos e vesti-la em algo parecido com o que
a Mãe Miriam usa.

Ficamos em silêncio por um minuto. Eu estava imaginando a monótona


velha Mãe Miriam com a cara feia em seu rosto e o vestido solto, cinza. Quando
eu olhei para Xander, ele franziu o rosto e eu imaginei que ele estava
imaginando-a também, e encontrou desprovida a comparação.

— De qualquer forma — Disse ele, perdendo a cara feia. — Saberemos em


um minuto.

O sol batia em nossas cabeças quando nos agachamos na poeira contra o


tronco de tapume do pavilhão principal, onde o conselho vivia. Nós achávamos
que tínhamos a melhor vista de quando eles saíssem do prédio para fazerem o
caminho para o nosso Templo, onde a abençoada de Hector seria introduzida.

Xander pegou um pedaço de pau e começou a cavar na poeira aos nossos


pés calçados em sandálias. Depois de um minuto, ele olhou para mim e
sussurrou: — Aposto que eu poderia esgueirar-me para lá e roubar alguns doces
de caramelo. Eu olhei na janela. Eles mantêm os pratos deles por ali, como se
não fosse nada.
Eu lhe dei o meu melhor olhar de desaprovação e disse: — Seria um
pecado roubar do conselho... De Hector. Ele fornece para nós.

Xander olhou para o chão, onde ainda estava usando o pedaço de pau
para desenhar formas na poeira. — Eu só quero saber... Porque eles têm açúcar
sempre que quiserem, mas nós temos que... Emprestar do Posto Florestal?

Eu peguei um pedaço de pau por perto e comecei a desenhar na poeira


também. Eu realmente não tinha uma resposta para a pergunta de Xander,
então fiquei quieto. Eu também não queria lembrar-lhe que não estava
emprestando quando você nunca tinha a intenção de devolver.

Xander fazia parte do grupo de trabalhadores que mantinha nossa família


segura, e sempre que podia, ele se esgueirava para o Posto Florestal que ficava n
parque estadual, uns quilômetros abaixo da estrada. Ele encontrava todos os
tipos de coisas boas lá, desde cubos de açúcar até revistas, uma vez Coca-Cola.
Eu ainda pensava e ansiava por outra lata do doce refrigerante que tínhamos
virado, engolindo atrás de algumas árvores perto dos nossos cultivos. Eu tive
sorte que ele compartilhava tudo o que encontrava comigo. Eu sabia que não era
certo. Mas eu achava que não era um pecado suficiente para que nós tivéssemos
que ficar para trás quando os deuses descessem para escoltar as pessoas de
Hector para Elysium. Fazia questão de trabalhar um pouco mais do que antes, a
fim de compensar o menor roubo de Xander e que eu muitas vezes estava
envolvido.

— Quando eu for escolhido para ser um membro do conselho e para a


grande comunidade e trabalhar, vou ter um barril inteiro de balas de caramelo
no meu escritório — Eu disse rindo. — Eu vou trazer para você.

Xander riu. — Vai ser o dia. Se alguém é inteligente o suficiente para ser
escolhido para o conselho, serei eu.

Eu bufei. — Se esse é o plano, é melhor esperarmos chegar a Elysium em


breve e que os deuses tenham caramelo.

O rosto de Xander ficou sonhador e recostou-se contra a madeira atrás de


nós. — Eu aposto que Elysium é feito de caramelo.

Eu pensei sobre isso por um minuto e não achei que soava tão bem.
Poderia ser bom no início, mas depois de um tempo, você provavelmente ficaria
doente de tanto caramelo e caramelo deixava... Tudo pegajoso, e então você
estaria preso em um lugar feito de caramelo por toda a eternidade e...

A voz de Xander, que tinha sido monótona, interrompeu meus


pensamentos enquanto eu continuava a usar o pedaço de pau para esboçar na
sujeira. — Nuvens de caramelo, flores de caramelo, casas de caramelo e móveis
de caramelo...
De repente, ouvimos o que soava como uma risada infantil macia e
giramos a cabeça para trás e para cima e vimos uma cabeça loira inclinando-se
rapidamente para longe da janela, provavelmente o filho de um membro do
conselho. Olhei para Xander, que tinha um olhar confuso em seu rosto e de
repente ouvimos chamadas de voz de uma mulher. — Quem está aí? — E a
janela de cima desceu se fechando.

Xander e eu olhamos um para o outro por um segundo com os olhos


arregalados e depois levantamos e corremos.

O grande Templo de madeira já estava lotado, assim como nós sabíamos


que seria. Como éramos trabalhadores, Xander e eu tivemos que nos sentar na
parte de trás, e resmungamos sobre a má sorte de sermos pegos fora do
alojamento. Agora nós não teríamos a visão de perto da princesa antes que
fizemos o nosso caminho para a construção cheia de coisas. A fim de visualizar a
plataforma na frente, onde o conselho ficava e Hector pregava, agora teríamos
de esticar nossos pescoços.

Na maioria das vezes, os grupos de trabalhadores ficavam juntos no


Templo: os plantadores e os responsáveis pela água, os cuidadores de animais, e
os observadores (aqueles que cuidaram de nossa segurança) no lado esquerdo, e
os professores, tecelões, costureiros, e construtores do lado direito. Entre os
grupos, mantínhamos nossa comunidade de quatrocentos hectares alimentados,
seguros, equipados, educados e abrigados.

Hector tinha nomeado o local de Acadia, que significava “Lugar da


Fartura”. E era verdade, porque tínhamos tudo o que precisávamos, bem,
menos Coca-Cola. Mas eu supunha que não era tecnicamente uma necessidade,
e de qualquer maneira, não era como se eu pudesse falar sobre isso.

Minha mãe sorriu e acenou para mim quando me viu entrar no Templo.
Assenti para Xander quando ele foi até onde sua família estava um pouco à
direita da minha. Meu pai me puxou para a frente dele e colocou os braços em
volta dos meus ombros para que suas mãos estivessem na frente do meu peito e
ocupasse o mínimo de espaço possível. Eu inalei o cheiro de sabão que vinha da
pele do meu pai e me recostei contra ele, sentindo-me seguro. Eu olhei ao nosso
lado para a minha mãe, que estava com a minha irmã, Maya, na mesma posição.
Maya tinha nascido com uma perna que não funcionava muito bem, e portanto,
embora ela fosse um membro da nossa família e naturalmente ajudava com as
tarefas que envolvia regar a terra, tendo a certeza que nosso povo sempre teria
uma fonte de energia limpa de água potável, mas por causa do seu defeito de
nascença, ela não poderia fazer o trabalho físico. Em vez disso, ela ajudava as
mulheres que costuravam as roupas e a roupa de cama e, bem, eu não tinha
certeza do que mais precisava ser costurado. Imaginei que se eu olhasse ao
redor, haveria uma abundância de coisas, mas eu não dei muita atenção ao
pensamento. Maya era um ano mais velha do que eu, mas era um muito menor
e mentalmente mais jovem por causa de algo chamado de síndrome de Down.
Meus pais me disseram que significava que Maya tinha nascido com um
cromossomo extra. Eu olhei para ela e ela sorriu para mim, franzindo o nariz.
Eu sorri de volta para ela e agarrei sua mão e apertei-a três vezes, e seu sorriso
ficou maior quando ela apertou a minha mão de volta três vezes também.

Alguns meses atrás, depois que ela gritou atrás de mim quando eu estava
saindo da casa “Eu te amo, Calder!” na frente de todos os meus amigos, e eles
começaram a rir, então eu tinha caminhado de volta para ela e lhe disse que
estava velho demais para isso, e assim como ela também. Eu tinha dito a ela
para dar um tempo. Ela parecia esmagada e eu imediatamente me senti
culpado, então depois eu disse a ela que ainda poderia dizer isso, só precisava
ser mais secreta. Desde então, nós apertamos a mão do outro três vezes, para
dizer “eu te amo”. Era o nosso código secreto.

A coisa sobre Maya era como se o cromossomo extra fosse carregado de


amor. Então transbordava e constantemente vazava dela e de alguma forma
gritava e ela simplesmente não conseguia manter isso dentro dela. Isso tinha
que sair de alguma maneira, forma ou condição. Mas eu imaginava que quando
se amava alguém, você atura todos os seus defeitos, especialmente os mais
barulhentos.

Um silêncio caiu sobre a multidão quando as portas atrás de nós se


abriram, e Hector Bias começou a andar propositalmente pelo corredor central
com o conselho atrás dele. Hector era alto, um homem de aparência forte que se
mantinha como o líder que ele era. Ele tinha os cabelos loiros dourados que
usava longo e, por vezes, fazia um rabo de cavalo na parte de trás do seu
pescoço. Seus olhos eram de um brilhante azul cristalino que parecia ser capaz
de ver através de você. As poucas vezes que ele tinha falado diretamente comigo,
eu tinha que me esforçar para manter contato visual com ele. Algo sobre aqueles
olhos fazia você se sentir indigno - como se não fosse bom o suficiente para
olhar muito tempo para algo tão bonito.

As portas atrás de si fecharam-se e eu fiz uma careta de decepção. Será


que não conheceria a sua nova esposa hoje?

Eu olhei para a frente quando Hector tomou seu lugar atrás do pódio na
frente como o conselho, todos os quatro deles, tomaram seus lugares atrás de si.
Ele olhou para nós com uma expressão no rosto que me fez ficar de pé mais alto
em orgulho. Senti meu pai atrás de mim fazer o mesmo. Um dia, eu iria me
sentar naquele pódio atrás de Hector e tomar o lugar de um dos membros do
conselho. Eu senti o propósito fluindo em mim.

Hector levantou os braços, como se estivesse em câmera lenta, e sua voz


ecoou: — Eis a Abençoada. Minha noiva e mãe de vocês. Eden!

Dois dos membros do conselho se levantaram e caminharam de volta até


o longo corredor central e cada um abriu uma das grandes portas de madeira,
dando um passo para o lado e mantendo-as abertas. A multidão pareceu se calar
ainda mais quando viramos em uníssono, e um sentimento que eu não poderia
explicar passou por mim, algo que parecia uma mistura de medo e felicidade.

Tudo estava absolutamente imóvel.

De repente, uma brisa soprou, trazendo consigo um rodar de folhas secas


que dançavam pelo corredor e foram parar no chão. Ao mesmo tempo, os sinos
de vento que pendiam na frente do templo começaram a tilintar, como se, até
aquele momento, o mundo inteiro estivesse segurando a respiração. Estiquei o
pescoço para ver o que todo mundo estava olhando e foi aí que eu a vi - a
menina, ainda menor do que Maya, caminhando lentamente pelo corredor com
um olhar de terror no rosto. Meus olhos se arregalaram quando eu a olhei. Ela
estava usando um vestido branco de renda - como uma pequena noiva - seu
cabelo loiro claro caiando sobre os ombros e costas. E seu rosto... Senti meu
coração dar uma guinada no meu peito com a beleza daquele pequeno rosto.
Seus lábios eram cheios e rosa, e eu pude ver que eles estavam tremendo
ligeiramente enquanto seus olhos corriam ao redor. De repente, caíram em mim
e minha respiração parou quando nossos olhares se encontraram e ela o
segurou, piscando e me olhando. Eu não podia ver a cor dos seus olhos de onde
eu estava, mas algo neles me manteve cativo. E então ela olhou para o lado e o
feitiço foi quebrado. Deixei escapar um grande suspiro de ar enquanto ela se
movia descendo pelo corredor, e eu só conseguia ver a pequena de costas.

Algum instinto estranho me dizia para correr atrás dela e pegar a sua
mão. De repente, eu percebi que ainda estava segurando Maya e meu punho
tinha apertado tanto, que ela estava olhando para mim. Eu afrouxei-o e sorri,
me desculpando com ela e depois olhei para a garota que agora estava ao lado de
Hector no pódio.

— Meus queridos — Disse Hector, sorrindo para nós e levantando os


braços novamente. — Hoje é um dia magnífico. Hoje é um dia cheio da glória
dos deuses — Ele olhou para cada um de nós novamente. — Hoje é o dia em que
todos conheceram Eden — Ele colocou as mãos sobre os pequenos ombros da
garota ao lado dele e mudou-se ficando atrás dela.

Eu fiz uma careta, meio confuso e olhei para cima e para trás, meu pai e,
em seguida, sobre os rostos da minha mãe e ambos tinham olhares
correspondentes de puro prazer. Eu imitei o deles, mas menor, aceitando
sorrisos e me virei para onde Hector e a menina, a Abençoada, Eden, estava.
Evidentemente, eu era a única pessoa na minha família pensando que era uma
interessante mudança de rumo.

Hector continuou: — Eu sei que vocês provavelmente estão surpresos ao


verem que sua mãe é tão pequena; tão jovem. Mas assim que coloquei os meus
olhos sobre ela e vi que ela tinha a marca — Ele virou Eden, que estava olhando
ao redor do Templo com os olhos arregalados, e a dirigiu para uma cadeira no
centro dos assentos disponíveis do conselho. Ela sentou-se recatadamente com
as mãos cruzadas no colo, talvez tremendo ligeiramente - embora fosse difícil
ver de onde eu estava de pé - seu vestido de renda agrupando no chão.

Quando Hector virou-se para nós e começou a falar de novo, eu tirei


meus olhos longe de Eden com esforço. Hector voltou para trás do seu pódio,
olhando pensativo. — Os caminhos dos deuses nem sempre são claros - nem
sempre para nós, são previsíveis ou de fácil compreensão. Ainda assim, os
deuses são sempre mais sábios, não é?

— Sim, Pai — Dissemos em uníssono.

Hector balançou a cabeça e se inclinou para frente casualmente,


descansando seus antebraços no pódio e entrelaçando os dedos. — Sim, os
deuses sabem sempre mais, e os deuses sempre proporcionam. Assim, o dia em
que vi Eden e reconheci a marca em seu ombro que predizia a identidade da
Abençoada - meu perfeito equilíbrio e harmonia - eu voltei para a casa de onde
estava hospedado e orei aos deuses. Como poderia ser isso? Como poderia a
Abençoada, minha noiva, minha esposa, a única a levar-nos a Elysium, como ela
poderia ser nada mais do que uma criança? Meus amados, eu tive as mesmas
perguntas que tenho certeza que vocês têm também.

Hector levantou os braços ligeiramente e os abaixou de novo no pódio,


assustando-nos. Erguendo a voz, continuou ele: — Essa noite eu rezei aos
deuses. Por favor, me orientem! Não me permita deixar o meu povo abatido!
Meus amados, o meu povo é a razão da minha existência! — Ele baixou a cabeça
um pouco, parecendo devastado pela emoção. Quando ele levantou a cabeça,
seus olhos estavam brilhando.

— Eu chorei e rezei a noite toda. E, finalmente... Finalmente, nas


primeiras horas da madrugada, os deuses me falaram em um sussurro — Hector
olhou ao redor do lugar e eu prendi a respiração, à espera de ouvir o que os
deuses lhe disseram. Tinha que ser bom.

— “É ela”. Eles disseram — O nome dela é Eden, e ela é a única.

Ele fez uma pausa e olhou em volta novamente e, em seguida, virou-se e


estendeu um braço para Eden, como se estivesse apresentando-a mais uma vez
antes de se virar para nós.
— E então ela passou a morar conosco, uma criança que antes era órfã,
sozinha no mundo. E quando ela atingir o seu décimo oitavo ano, ela se tornará
a minha amada, minha primeira e única esposa. E como o prenúncio dito.
Vamos viver juntos como marido e mulher por dois meses e seis dias, antes da
poderosa inundação que virá e destruirá a terra e todas as pessoas e animais, e
nós, o povo abençoado dos deuses, seremos escoltados para os campos gloriosos
de Elysium onde não há mais dor, não há mais lutas, e nunca, nunca haverá
lágrima.

Senti um calafrio através de mim, como sempre fazia quando Hector


falava da grande inundação e nossa jornada para Elysium. Então agora nós
tínhamos um prazo e, agora, nós sabíamos que o grande dilúvio estava a anos e
anos de distância - Eden não poderia ter mais que oito anos... Provavelmente
mais perto de sete. Ela era tão pequena. Senti meus ombros relaxarem.

— Eden vai se sentar em seu lugar de honra durante todas as reuniões do


Templo, e vai ser encarada com honra e amor. Por favor, recebam-na com a
adoração que ela merece.

Todos nós caímos de joelhos e inclinamos a cabeça, minha mãe pegando


Maya no colo, já que Maya não conseguia dobrar a perna. Nós nos ajoelhamos
assim por vários minutos até que Hector disse: — Levantem-se — E nós o
fizemos. Eu olhei de volta para Eden e ela estava olhando em volta, uma
aparência mais curiosa aparecia em seu rosto agora, quando ela nos observava.

Eu me perguntava como era de onde ela tinha vindo. Eu me perguntava


se ela tinha vivido em uma casa ou talvez apartamento. Eu me perguntava se ela
tinha comido cubos de açúcar e bebido Coca-Cola. Eu gostaria de poder falar
com ela e fazer-lhe todos os tipos de perguntas. Mas, claro, isso não era possível.

Percebi que Hector começou a falar novamente enquanto minha mente


se afastava para cubos de açúcar e Coca-Cola. — Como se a presença de Eden
não fosse uma surpresa suficiente, eu tenho mais uma para vocês neste dia
glorioso — Ele fez uma pausa. — Em minhas viagens, eu também me deparei
com Teresa. Teresa, querida, subirá até aqui, por favor?

Uma mulher magra com cabelos castanhos e bochechas fundas se


levantou e começou a andar para onde Hector estava, todo poderoso. Teresa se
juntou a ele e olhou constrangida para a multidão, quando, finalmente, inclinou
a cabeça fitando o chão.

— Antes que ela chegasse aqui, Teresa levou uma vida perversa — Disse
Hector, balançando a cabeça com o que parecia ser uma tristeza insuportável. —
Eu a encontrei em um beco, se oferecendo para fazer atos sexuais depravados
por dinheiro — Teresa parecia encolher-se diante de nós, ainda mais quando
várias pessoas fizeram sons de desaprovação e outros suspiraram e balançaram
a cabeça. — Ela estava se prostituindo por drogas desde que tinha 16 anos de
idade. Ela tem trinta e seis agora.

Hector foi por trás dela, elevando-se sobre ela quando ele agarrou um dos
seus ombros ossudos de uma maneira paternal. Em seguida, ele soltou e passou
por ela ao lado do palco onde vários vasos de flores estavam em pedestais. Ele
cuidadosamente arrancou um perfeito e branco lírio de um buquê e caminhou
de volta para Teresa com ele.

Meus olhos se moveram para Eden, para vê-la seguindo cada movimento
de Hector. Suas mãos ainda repousavam graciosamente em seu colo e seu
tremor parecia ter parado.

Hector ficou na frente de todos nós, observando a perfeição do lírio antes


de levá-lo com cuidado até o nariz, inalando profundamente. Ele fechou os
olhos e inclinou a cabeça para trás.

Ele simplesmente ficou assim durante várias batidas antes de abrir os


olhos e andar para a frente, para Jeffrey Parker na fila da frente, onde ele
entregou o lírio para ele e balançou a cabeça. Jeffrey concordou com a cabeça
para de volta e, em seguida, passou o lírio para outro homem bem atrás dele.

Estávamos todos calados enquanto víamos o lírio ser passado ao redor do


Templo, de um homem para outro e, finalmente, de volta para a frente, onde
Hector foi até Boris Friedman na primeira fila para recuperá-lo.

Hector olhou para o lírio tristemente. Agora ele estava dobrado e


machucado, uma de suas pétalas penduradas para baixo, pronta para cair a
qualquer momento, uma visão verdadeiramente triste de se ver. Ele trouxe-o ao
nariz e inalou novamente e depois franziu o cenho para o lírio como se o doce
aroma não estivesse mais lá.

Ele olhou de volta intencionalmente para Teresa e depois para o lírio. —


Quem iria querer este lírio agora? — Ele perguntou com sua voz diminuindo. —
Quem poderia amar uma coisa tão estragada, usada por aí como está flor? — Ele
empurrou o lírio na frente dele e olhou para nós interrogativamente.

Uma única lágrima escorreu pelo rosto de Teresa e ela mordeu o lábio
com os olhos lançados para baixo novamente.

Até eu, que tinha dez anos, entendi que era uma metáfora. Eu sabia que
Teresa era usada como o lírio, e vi que ela também sabia disso. E ninguém nesse
mundo realmente queria ser um lírio estragado, apesar do seu comportamento
contrário, ou pelo menos era o que a minha mãe me explicou, quando eu
perguntei a ela pela primeira vez sobre todo esse negócio.

— QUEM PODERIA QUERER UMA FLOR COMO ESTA? QUEM


PODERIA ENCONTRAR QUALQUER COISA DE BELO EM ALGO SUJO E
ARRUINADO ASSIM? — Hector explodiu, a saliva voando de sua boca
enquanto todos nós olhávamos fixamente, capturados por sua intensidade.

Teresa soltou um pequeno grito. Mas eu testemunhei este mesmo


discurso antes e por isso, embora eu fosse tão cativado como estava toda vez que
vi, eu só esperava, assim como o resto de nós.

— Quem? — Hector nos perguntou mais calmo. — Quem?

E essa foi a nossa deixa. — Você pode, Pai! E nós podemos, Pai! — Todos
disseram alegremente.

A cabeça de Teresa se levantou e ela parecia perplexa quando olhou ao


redor, sua boca se abriu e seus olhos voaram para Hector, enquanto ele
caminhava em sua direção.

— É isso mesmo, meus irmãos. Eu posso. Nós podemos. Podemos todos


amá-la, nossa flor, refazê-la com o amor, com a família, com um propósito,
sendo parte — E então ele tirou o lírio de trás das costas, e estava tão perfeito
como foi quando ele arrancou-o do vaso. Novo, fresco e muito bonito.

Eu amava essa parte e sempre fazia um frio estranho correr pela minha
espinha. Era como uma reviravolta na história, aquela que se apoderava de
outra história, e isso fazia o seu coração saltar e você precisava falar com alguém
de imediato. Somente quando Hector levava alguém novo no pódio, a
reviravolta na história fazia parte de sua vida e era boa, e elas geralmente
choravam e seguiam em frente e falavam sobre isso.

Naturalmente.

Teresa engasgou e eu podia ver que ela sentia da mesma maneira, e as


lágrimas começaram a fluir ainda mais fortes quando ela soluçou. Hector
passou os braços ao redor dela, segurando-a contra seu corpo, repetindo: — Eu
posso, nós podemos, eu posso, meu amor.

Hector olhou para a plateia em minha direção e eu sabia que era a minha
deixa para levar a água.

Meu pai retirou os braços que estava ao redor dos meus ombros e eu fui
em direção à fonte de mármore de água na parte de trás do templo. Eu enchi o
copo pequeno que estava ao lado dela e caminhei pelo corredor central para
Hector.

— Meu portador de água — Disse Hector, sorrindo para mim. Eu sorri de


volta com orgulho e entreguei-lhe o copo e, em seguida, fiquei ao lado com a
cabeça baixa e as mãos entrelaçadas.

Quando Hector deu a Teresa uma bebida da água purificadora, eu


mantive minha cabeça baixa, mas movi os meus olhos para olhar para Eden à
minha direita, tentando secretamente dar um olhar mais atento à ela. Meus
olhos encontraram os dela, que olhou para mim sem pestanejar. Eu desviei o
olhar, mas não consegui evitar o pequeno sorriso que curvou meus lábios e
quando me atrevi a olhar para ela, ela estava sorrindo um pouquinho, um
sorriso tímido também.

Obriguei-me a curvar minha cabeça novamente quando Hector abraçou


Teresa, puxando-a para ele e, em seguida, entregou o copo de volta para mim.
Então, ele a apresentou a todos nós com apenas um aceno da sua mão quando
ela sorriu para a plateia, limpando as lágrimas do rosto.

E com isso, Teresa renasceu e poderia juntar-se à nossa família, assim


como muitos tinham feito antes dela. E, apesar de Maya e eu termos nascidos
nessa comunidade, minha mãe disse que havia algo muito especial naqueles que
escolheram isso por conta própria.

Ela dizia que os deuses levavam Hector para eles, mas era a escolha deles
seguirem.

Voltei para minha família, e todos nós saímos do Templo em silêncio,


prontos para começarmos a preparar a refeição da noite. Eu olhei para trás
enquanto caminhava atrás dos meus pais, e apesar das outras pessoas que se
deslocavam atrás de mim, principalmente bloqueando minha visão, eu fiz
contato visual com Eden várias vezes, e eu me perguntava, se era possível que
ela estivesse me observando sair.
CAPÍTULO DOIS

Calder - Doze anos de idade

A empoeirada trilha para o desfiladeiro era íngreme e estreita, mas agora


que eu quase cheguei ao fundo do vale onde os raios agressivos do sol não
poderiam alcançar, eu suspirei de alívio ao sentir o ar mais frio. Era janeiro e o
tempo durante o dia estava com cerca de 20 graus, mas a sombra ainda parecia
boa enquanto eu estava me movendo tão rapidamente.

Apesar de ter sido uma caminhada difícil, eu amava este ritual de duas
vezes por semana sair para coletar a água purificada que eu levava e servia no
templo. Eu fazia o meu caminho pela trilha o mais rápido possível, praticamente
correndo em alguns pontos, para que eu pudesse passar mais tempo na
nascente. De vez em quando, Hector me acompanhava e dizia uma bênção sobre
a água, embora na verdade, os deuses que forneciam a água de cura para nós,
para que ficássemos puros e limpos quando o dilúvio viesse. Era essa
purificação que equilibrava nossos sistemas e ajudava a afastar o mal e a
tentação.

Sempre que alguém ficava ferido ou doente, eu buscava uma dose extra
de água para eles, já que a doença era principalmente um estado enorme de
desequilíbrio, assim Hector dizia. Hector também disse que, embora os deuses
dessem a água para nós, e que ajudaria com a situação, em última análise, tinha
que ser levado em conta se a vontade dos deuses era pela cura ou não. Às vezes,
eles consideravam que ocorresse a cicatrização, e às vezes, Hector dizia que não
era vontade deles, e nós tínhamos que aceitar isso e não questionar os motivos.
Não era para nós sabermos, pelo menos, não ainda.

Esse foi o caso com Maya. Meus pais tinham me dito que quando eles
viram a deformidade da sua perna e o fato que seus traços eram diferentes,
tinham pingado as águas curativas dentro da boca pequena do bebê, mas,
aparentemente, os deuses tinham suas razões para mantê-la do jeito que ela era,
porque naquele momento, a água não funcionou.

Mas, então, no verão passado, quando eu tinha servido água para


Franklin Massey que se dobrava com uma agonizante dor de estômago, mais
tarde no mesmo dia, de repente ele se levantou e estava curado, e você não
imaginaria isso.
Achei que era verdade que você nunca poderia saber as razões dos
deuses, porque daquilo que eu tinha visto, Franklin Massey era um velho
ranzinza que andava por ai com aquela expressão em seu rosto todos os dias da
sua longa vida. E Maya, bem, ela era como um pequeno raio de sol. Não era
como se eu tivesse alguma autoridade acima de Elysium, isso era certo. Embora
eu imaginasse que era um ponto discutível, de qualquer maneira, porque não
havia nenhuma doença em Elysium. Maya iria correr pelos campos em duas
pernas perfeitamente boas e sua mente funcionaria como todos os outros. Eu
tinha que sorrir com a cena.

Eu tinha certeza de que a água era mágica, porque toda vez que eu bebia,
uma sensação de paz e felicidade fluía em mim, e eu me sentia limpo e
fortalecido.

Eu fiz uma curva acentuada e a nascente apareceu. A água era cristalina


azul e espumante, e tinha plantas verdes que floresciam ao redor dela. Ela
sempre me pareceu um pequeno paraíso e eu ficava simplesmente admirando-a
por alguns minutos.

Pousei a bolsa de lona que continha os recipientes de água e cai para a


grama de costas entrelaçando os dedos atrás da minha cabeça para que eu
pudesse olhar para o céu claro, azul, cercado pelas paredes enormes do
desfiladeiro. Tudo ao meu redor era grande, bonito e cheio de cor e luz. Eu me
perguntava como Elysium poderia ser mais bonito do que o que os deuses já
tinham criado aqui na terra.

Enquanto eu estava lá, meus olhos pousaram em um arbusto que parecia


de um jeito estranho que eu não tinha notado antes. Eu fiz uma careta em
curiosidade, me levantei e caminhei até a estranha coisa e vi uma pequena
abertura. Havia uma abertura entre as rochas que eu nunca tinha visto por
causa da vegetação que estava em frente a ela.

Olhei para dentro um pouco nervoso, e depois fui entrando e não


conseguia ver nada de onde eu estava. Mas no outro lado, de repente se abriu, e
eu estava de pé e caminhava através do espaço, em sua maioria composto de
terra, rocha, e algumas manchas esparsas de grama do deserto. Mas enquanto
eu caminhava mais longe, ouvi água corrente e notei mais vegetação. Movendo-
me através de outra abertura do tamanho de uma porta – eu me encontrei em
outra nascente! Eu ri alto, olhando ao redor com espanto para a piscina
escondida de água. Como pude não saber sobre isso? Eu passei mais tempo do
que qualquer um descendo para a nascente de cura. Esta era ainda maior do que
a outra - igualmente muito clara e azul - com plantas crescendo em todos os
lugares. Havia até uma pequena cachoeira, um gotejamento constante de
verdade, que corria entre duas das rochas maiores.
Algo me chamou a atenção a minha direita entre duas rochas. Quando
cheguei mais perto, vi que alguém tinha escrito na terra e havia vários
brinquedos que estavam ordenadamente em um pequeno cobertor onde as duas
rochas se encontravam, criando uma pequena alcova.

Inclinei a cabeça, prestando atenção a isso. Duas bonecas, um conjunto


de chá de plástico e um pequeno cavalo rosa. Estranho.

Meus olhos se moveram para a terra na frente dos brinquedos e eu vi


“Eden” formado em pequenos pedaços de paus quebrados.

Eu franzi o rosto em confusão. Era aqui que ela brincava? Os itens


pareciam velhos. Será que ela brincava aqui desde que chegou? Fiquei olhando
curioso para os brinquedos por um minuto, querendo tocá-los, mas não o fiz. As
crianças dos membros do conselho recebiam brinquedos e os filhos dos
trabalhadores não eram crianças. Mesmo assim, eu mantive minhas mãos para
mim. Algo sobre os brinquedos ali me pareceu muito, muito triste e enfraqueceu
o meu desejo de pegá-los e estudá-los um por um. Eu pensei, nos muitos amigos
que eu tinha e como brincávamos juntos todas as tardes – as diferentes
brincadeiras após o nosso trabalho que nossos pais nos ensinavam, como
esconde-esconde, peg... Pela minha experiência, nunca sentia falta de ninguém
para me divertir em Acadia. Por uma questão de fato, você tinha que fazer um
esforço para encontrar algum momento de silêncio se ficasse cheio das pessoas
conversando com você do nascer do sol até o anoitecer.

Mas Eden... Ela não brincava com as outras crianças que viviam no
alojamento com ela? Os filhos dos membros do Conselho? Ou ela era proibida
por algum motivo? Eu já tinha visto a forma como os meus amigos olhavam
para ela enquanto ela caminhava para a frente do Templo mês após mês - ainda
com algum interesse - mas era evidente que ela era diferente do que o resto de
nós. Separada... E vista com certa desconfiança, provavelmente até ciúme.

Imaginei que poderia ser o mesmo com os filhos dos membros do


Conselho também. Ela era separada deles também, e não apenas mais uma
garota comum e nem como uma mulher - tipo uma estranha mistura de ambos -
e não a de uma “nós”.

Levantei-me lentamente e mordi meu lábio por alguns minutos pensei


em Eden, imaginando-a brincando neste lugar que eu tinha encontrado.
Sozinha.

Eu fui sacudido dos meus pensamentos pelo grito alto de um falcão e


caminhei de volta para a nossa nascente, para encher meus recipientes de água.
Minha mãe estaria me procurando se eu não estivesse em casa em breve.

Eu caminhei de volta pelo meio dos arbustos entre as duas rochas e


arrumei tudo, então isso não era perceptível neste momento. Esperava que Eden
se lembrasse de fazer o mesmo. Por alguma razão, eu não queria que mais
ninguém descobrisse sobre a nascente secreta através da passagem escondida.

Eu observei Eden mais de perto depois daquele dia, mais curioso sobre
ela agora, o que ela fazia, como ela vivia. Ela estava tão perto e ainda assim
parecia tão longe do resto de nós.

Eu olhei para o pavilhão principal, brilhante com sua eletricidade no


meio da escuridão das nossas pequenas cabanas, onde tínhamos apenas à luz de
velas à noite.

Vi-a de vez em quando, também espreitando quando estávamos


brincando na grande área de terra no pequeno caminho até o pavilhão principal,
um pouco depois da primeira dos pequenos lares de trabalhadores.

Num dia quente no final de maio, nós estávamos brincando de derrubar a


lata. Só que neste caso, a nossa “lata” era um pequeno pedaço de madeira que eu
tinha recuperado do rio que corria atrás de nossa terra - nossa fonte de água
limpa, potável. Eu tentei manter minha cabeça direcionada ao jogo “derrubar a
madeira”, porque pensar em uma lata me fazia pensar em Coca-Cola, e homem,
aquilo tinha um ótimo gosto naquele momento, suado e com sede sob o sol do
meio-dia.

De repente, notei uma cabeça loira espreitando por detrás de uma árvore
um pouco longe. Eu fingi não vê-la e não parei de brincar, de vez em quando
olhando por cima, onde agora conseguia ver Eden posicionada entre o pequeno
bosque de árvores de acácia, bem à direita da área aberta.

Durante os próximos 15 minutos, ela se aproximou mais e mais perto da


nossa área de jogo, até que ela estava bem na borda com alguns dos outros
jogadores que já tinham saído.

Quando ela chegou perto, uma pequena menina morena chamada


Hannah olhou para ela com os olhos arregalados e deixou escapar
nervosamente: — Você deveria estar aqui?

Eden puxou os ombros para trás e olhou ao redor, seus olhos demorando
em mim quando ela sussurrou: — Eu estava me perguntando se poderia
participar do seu jogo.
Todo mundo se afastou dela um pouco, olhando de um para o outro com
incredulidade. Nenhum dos filhos dos outros membros do conselho pediu para
brincar com a gente, nunca, nem uma vez.

Finalmente Aaron Swift declarou: — Não. Uh uh. Volte para o seu


palácio, princesa. Você não é uma de nós — Mas, então, ele suavizou sua
rejeição, dizendo: — Você é uma flor, nós somos as ervas daninhas. Ou você é
um ou o outro. Você precisa brincar com as outras flores — E ele deu um
pequeno sorriso um pouco nervoso para ela.

O resto das crianças que estava ao nosso redor assentiu enquanto as


bochechas de Eden ficaram vermelhas. Ela olhou para baixo e respirou trêmula,
dispensada. Percebi, então, que ela poderia estar criando coragem de nos
perguntar se ela poderia brincar com a gente por semanas, talvez meses.

Pensei naqueles brinquedos escondidos no desfiladeiro da nascente e


percebi que os filhos dos conselheiros não brincavam com ela também. Ela era
uma pessoa de fora nos dois grupos. Eu não sabia por que, exatamente, porque
eu não sabia o que acontecia no pavilhão principal, eu só sabia o que acontecia
com ela. Assim que ela começou a se virar, e antes mesmo que eu pensasse
muito sobre isso, eu soltei: — Isso não é verdade.

Eden parou e virou-se para mim quando várias crianças saíram do campo
para ver o que estava acontecendo e o porquê da demora do jogo.

Fui até Eden e dei a volta ao redor dela em um círculo lento enquanto ela
ainda estava de pé, virando a cabeça para me observar. — Você sabe alguma
coisa sobre as glórias da manhã? — Eu sorri quando olhei em seus olhos azuis
profundos. Ela era apenas uma criança, mas eu não pude deixar de notar que
certamente ela era bonita.

Ela franziu o cenho e mordeu o lábio, quando balançou a cabeça,


negando.

Eu estava na frente dela e cruzei os braços sobre o peito. — A glória da


manhã é uma bela flor, do tipo delicada. Azul, assim como seus olhos — Fiz uma
pausa e voltei a sorrir. — Mas a coisa sobre a glória de manhã? — Inclinei-me
mais perto e assim ela o fez com os olhos cheios de curiosidade. — A coisa sobre
a glória da manhã é que se você deixá-la pra lá, vai demorar muito a colheita,
porque não é apenas uma flor. Também é uma erva daninha, totalmente
invasiva. Mais forte do que parece.

Olhei para os meus amigos que estavam ao redor. — O ponto é você não
tem que ser apenas uma flor ou uma erva daninha. Pode ser os dois — Encolhi
os ombros. — Eu acho que algumas pessoas são ambos — Olhei para os meus
amigos e sorri para eles, levantando as sobrancelhas.
— Ah, Deus, Calder, eu juro que às vezes você faz as coisas por algumas
razões — Xander zombou. — Tudo bem, flor, erva daninha, qualquer que seja,
vamos jogar. Eden pode ficar na sua equipe.

Todos correram para entrar em suas posições. Olhei para Eden quando
um sorriso lento se espalhou em seu rosto, e ela riu alto quando olhou para
mim.

Seu sorriso era contagiante, supus, porque percebi que eu estava


sorrindo, também, enquanto eu corria para a minha posição.

O que eu tinha dito, no entanto, era verdade. Glórias da manhã eram


flores e ervas daninhas, pelo menos aqui no Arizona. Eu deveria saber. Eu tinha
ajudado a arrancar muitas delas que tentavam sugar toda a água de nossas
colheitas.

Nós jogamos naquele sol quente por pelo menos uma hora antes da Mãe
Miriam descer espreitando do pavilhão principal parecendo irritada. — Eden! —
Ela gritou. Eden correu para fora do campo passando por mim, seu cabelo longo
e loiro pesado estava voando atrás dela. Ela tinha jogado com mais entusiasmo
do que ninguém no campo e dentro de meia hora ou algo assim, todo mundo
estava tratando-a como um das comuns “ervas daninhas”. Eu achei que o
sorriso não deixou seu rosto o tempo todo que ela estava com a gente.

Eden, sim, ela era definitivamente uma glória da manhã: tão bonita
quanto uma flor e com a força de uma erva daninha.

Ela olhou para trás quando foi embora com Miriam e embora eu pudesse
dizer que Miriam já estava lhe dando uma bronca, Eden me deu um sorriso
como se quisesse dizer que valeu a pena, completamente valeu à pena. Eu sorri
de volta.

De repente, Eden se soltou da Mãe Miriam e voltou correndo para mim


quando mãe Miriam gritou o nome dela. Ela parou na minha frente, respirando
com dificuldade e colocou a mão em um pequeno bolso na lateral da saia. Ela
pegou minha mão pendurada ao meu lado e colocou a mão sobre a palma da
minha mão aberta, e depois fechou meus dedos ao redor de algo pequeno e
duro. Nós dois olhamos para cima ao mesmo tempo e nossos olhos se
encontraram durante vários segundos. Então ela sorriu para mim e saiu
correndo de volta para Miriam que a agarrou pelo braço e começou a andar
ainda mais rápido do que antes, praticamente arrastando Eden atrás dela.

Olhei para a minha mão e, lentamente, abri os dedos. Dentro tinha uma
bala de caramelo.

Eu ri e levantei a cabeça, olhando para as costas de Eden. Era ela naquele


dia, ouvindo Xander e eu falando de balas de caramelo de baixo da sua janela
aberta. Eden e Mãe Miriam chegaram ao pavilhão principal e desapareceram lá
dentro. Desembrulhei a bala de caramelo e coloquei na minha boca, tentando
não sorrir com a boca cheia com aquele doce delicioso.
CAPÍTULO TRÊS

Cinco anos depois

Eden

Através dos anos, esse era o nosso jogo, de Calder e meu. Ele, de alguma
forma sorrateiramente deixava glórias da manhã em lugares onde eu iria
encontrá-los. Principalmente no Templo, ao redor do meu assento, que
qualquer pessoa pensaria que era apenas uma flor que tinha voado para lá.
Alguns meses eu encontrava vários, e outros meses nenhum.

Após o segundo ano, porém, comecei a encontrá-los no meu quarto, e eu


dava um suspiro chocado e apertava minha mão sobre a boca para não rir alto.
Como ele se esgueirava lá dentro, eu não tinha ideia e eu queria tanto perguntar
a ele. Mas depois do dia que Mãe Miriam me pegou jogando com os filhos dos
trabalhadores, ela manteve um olhar mais atento em mim. Eu não fui capaz de
voltar para minha nascente secreta que eu encontrei quando fui lá pela primeira
vez. Eles me faziam praticar piano durante todo o dia e não havia nenhuma
maneira de escapar disso. O silêncio poderia me levar para longe. Eu amava o
piano, apesar de tudo. Era uma grande fuga da minha mente. Eu sentava e
pensava em Calder quando a música flutuava ao meu redor.

Eu o via da minha janela no segundo andar. Eu tinha uma boa visão do


caminho que ele pegava para levar a água do rio para as cabanas dos
trabalhadores. Via o jeito que ele estava sempre sorrindo e rindo, e como as
outras pessoas, sempre que estavam ao redor dele, pareciam sorrir também. Era
como se ele apenas transpirasse alegria e bondade. Eu sabia por experiência
própria que ele era gentil, mas eu também observava a maneira como ele correu
para ajudar uma mulher cujo carrinho de legumes tinha virado, quando ele
poderia ter se virado e ido embora, e a maneira como ele levava sua irmã por
toda parte nas costas, virando a cabeça para rir a algo que ela dizia.

Ele estava trabalhando em algo, também, e eu não sabia o que era.


Passava horas depois que terminava seu trabalho regular à beira do rio
escavando as valas e conectando-as. Eu olhava o máximo que conseguia,
tentando ver o que ele estava fazendo, mas eu não tinha a menor ideia. Tudo o
que eu sabia era que ele deveria ser inteligente e trabalhador.

Talvez eu tivesse construído um Calder Raynes na minha mente


apaixonada alguém que ele não era. Eu não tinha certeza. Fazia anos que eu
realmente tinha falado com ele. Mas os olhares que compartilhávamos no
Templo, quando eu me inclinava para pegar uma de suas flores, fazia o meu
estômago se apertar e meu coração disparar. E encontrar uma delas me deixava
flutuando por dias e dias.

E ele era lindo. Era isso.

Ele ficou alto e forte, e sua pele era bronzeada e lisa. Ele ficava
constantemente sem camisa no verão, mantendo apenas um pequeno pedaço de
tecido pendurado frouxamente ao redor do seu pescoço para que ele pudesse
limpar a testa enquanto trabalhava. Meus olhos vagavam sem pudor em seus
braços musculosos e seu plano estômago marcado. Para mim, ele parecia um
deus que tinha vindo direto do Elysium.

Era pecaminoso observar a sua nudez, eu sabia, mas algo em mim era
ruim e eu não conseguia parar.

Seus olhos eram ligeiramente inclinados de forma que ele parecia exótico
e seu cabelo castanho escuro era espesso e brilhante. E o seu sorriso... Seu
sorriso iluminava o meu mundo, mesmo de longe.

Ele era perfeito. E eu o amava. Eu o amava desesperadamente.

E estava destinada a casar com Hector. Ou assim me disseram. Só que o


destino não tinha me perguntado antes. Se o tivesse, eu teria dito a ele que eu
tinha certeza que Calder Raynes era o meu destino - ou pelo menos eu teria
implorado para que assim fosse feito.

Em vez disso, eu lhe dava balas de caramelo.

Foi difícil no começo. Eu nunca tinha permissão para sair do pavilhão


para nada, e por outro, eu não me misturava, verdadeiramente.

Mas, felizmente, os trabalhadores em Acadia mantinham um calendário


específico e eu sempre sabia onde ele estaria e quando. E assim, eu fingia que
tinha que ir ao banheiro quando eu sabia que Calder e sua família estavam
trabalhando, e eu me esgueirava pela porta dos fundos e corria o mais rápido
que conseguia para sua pequena cabana e colocava uma bala de caramelo em
algum lugar entre a sua cama ou as coisas dele. Eu poderia ter cheirado o
travesseiro uma ou duas vezes, ou, bem, toda vez. Eu fechava os olhos e inalava
o cheiro do sexo masculino limpo, imaginando o seu estômago, sua pele em
contraste do dourado com os lençóis brancos, seus braços musculosos
envolvidos ao redor daquele travesseiro, seu rosto pressionado nele enquanto
dormia. E um bando de borboletas levantava um voo emocionante na minha
caixa torácica.

Em todo caso, era assim que eu conseguia deixar os pequenos doces para
ele. Eu voltava do “banheiro” um pouco suada e um pouco tonta, e tinha certeza
que Mãe Miriam, que era amante de Hector e minha professora de piano,
perguntava o que exatamente foi que eu fiz lá.

Tudo mudou para mim em um fim de tarde quando Hector me chamou


em seu escritório no primeiro andar.

— Eden, meu amor — Hector sorriu quando me sentei no pequeno sofá à


direita da lareira.

— Pai — Eu disse olhando para baixo e apenas olhando para ele com os
olhos virados para cima. Mordi o lábio nervosamente.

Hector sentou-se ao meu lado e eu sentia o peso do seu olhar enquanto


eu me concentrava em minhas mãos no meu colo. Eu admirava Hector, mas ele
me assustava um pouco, também. Não só porque um dia eu seria sua mulher, e
isso era confuso para mim e não estava exatamente de acordo com os meus
desejos pessoais, mas porque ele era um homem corpulento, com uma presença
intensa. Ele sempre parecia uma torre em cima de mim, e não apenas no físico,
mas no espírito, de alguma forma, também. Imaginei sua grande sombra me
seguindo por toda parte, certificando-se de que eu estava agindo de maneira
condizente tanto como sua esposa como sua abençoada. Eu entendia por que
todas as pessoas do Acadia olhavam para ele como se fosse um deus.

Ele suspirou e tirou alguns dos meus longos cabelos colocando-os atrás
do ombro. Olhei nervosamente os dedos ao lado do meu rosto.

— Eden, você fica mais bonita a cada dia. Os deuses, em suas infinitas
sabedorias, escolheram um anjo para nos levar aos anjos — Ele sorriu e tirou a
mão e a respiração que eu estava segurando saiu em um suspiro forte. Hector
não pareceu notar.

Ele se levantou e caminhou uns poucos passos até a lareira e estendeu as


mãos para aquecê-las, mesmo que não estivesse frio em seu escritório. Ele
endireitou as ferramentas da lareira, franzindo o cenho como se elas o
desagradassem. Fiquei quieta e simplesmente o observei.

— Eu tenho que ir embora por um tempo, meu amor — Ele se virou para
mim totalmente. — Mãe Miriam vai se juntar a mim na minha busca neste
momento. Os deuses falaram e me disseram onde precisam de mim. Vou sentir
falta de minha princesinha. Mas você vai estar em boas mãos. Mãe Hailey estará
a cargo de cuidar de você e se certificar da prática do piano, e de que você faça
suas lições como deve.

Eu balancei a cabeça com entusiasmo. Eu gostava muito da Mãe Hailey,


muito mais do que da amarga Mãe Miriam, e no momento, eu tinha pouca
interação com a Mãe Hailey e seus quatro meninos. Eles moravam na ala oposta
da casa com os outros membros do conselho, e nossos caminhos não se
cruzavam muitas vezes, exceto durante as refeições.
Quando eu percebi que poderia parecer feliz com a viagem iminente de
Hector, abaixei minha cabeça novamente e fiz com que a minha expressão fosse
devidamente deprimida.

— Quanto tempo você vai ficar fora, Pai?

— Eu não tenho certeza ainda. Os deuses vão me dizer quando minha


missão estiver completa — Eu balancei a cabeça. Hector foi para diversas
missões desde que eu tinha vindo morar com ele. Ele geralmente trazia alguém
novo de volta com ele, duas vezes um membro do conselho, mais
frequentemente uma família ou pessoa para viver entre os trabalhadores.

Ele pareceu perplexo por apenas um segundo, mas então sua expressão
foi apagada. — Nossa família está fora de equilíbrio. Eu sinto isso, então tenho
que garantir que isso seja colocado de novo em harmonia. Vou conhecer uma
pessoa, um membro do conselho, acho — Ele olhou para o nada por um segundo
e depois pareceu subitamente sair disso. Sua frase continuou como se ele nunca
tivesse pausado nada. — E quando eu encontrá-los, assim como a encontrei
uma vez, minha princesa - a menina para me trazer paz e equilíbrio, para nos
trazer toda a paz e equilíbrio - vou trazê-los para cá.

Ele fez uma pausa novamente. — O mundo inteiro está fora de equilíbrio,
Eden. Desequilíbrio não traz nada além de pecado e ganância... Dor. Devo
proteger Acadia disso.

Eu olhei para os meus pés, realmente não sabia o que ele queria dizer. —
Eu vou sentir sua falta, é claro, Pai — E eu achei que iria, pelo menos um pouco.
Afinal, ele era o único pai que eu tinha.

Hector ficou em silêncio por um minuto. Então ele andou atrás de mim e
colocou as duas mãos sobre meus ombros. Ele mexeu no meu cabelo na parte de
trás do meu pescoço e eu congelei quando senti sua respiração quente na minha
pele diante dos seus lábios pressionados contra mim. Eu tremi, me forçando a
ficar parada no sofá.

Eu senti Hector ficar em pé novamente e tirar as duas mãos dos meus


ombros. Meu coração bateu no peito e tudo dentro de mim pediu-me para fugir.
Mas não o fiz.

— Não vai demorar muito agora que vamos nos casar e vou tê-la como
minha esposa. E o prenúncio realmente vai acontecer.

O temor corria em minhas veias. De repente, um ano e algumas semanas


parecia muito próximo. O prenúncio tinha dito que eu seria sua única esposa e
que isso não poderia ser feito até eu fosse maior de idade. Dezoito anos parecia
como uma sentença de morte, literal e figurativamente.
Um flash do rosto de Calder correu pela minha mente e eu me
perguntava se momentaneamente eu teria que vê-lo se casar também.
Provavelmente. O desespero fez meu peito doer. Eu teria que suportar a dor,
isoladamente, como fiz com toda a minha tristeza.

— Sim, Pai — Eu sussurrei.

Hector e Mãe Miriam saíram na semana seguinte, e então, Mãe Hailey e


seus quatro filhos se mudaram para a nossa ala do pavilhão principal.

Mãe Miriam nunca foi abençoada com filhos e, então, agora eu tinha
barulho e risos de crianças ao redor para me trazer felicidade.

Mãe Hailey era do tipo meio calma e eu adorava simplesmente estar


perto dela. Embora eu não tivesse permissão para cozinhar ou limpar como as
amantes de Hector, Mãe Hailey não parecia importar-se que eu me sentava com
ela enquanto preparava refeições e lavava roupa.

A primeira semana que eles estavam lá, eu a vi fazer um jogo de jacks no


chão quando seu filho mais novo ria e corria atrás da pequena bola de borracha
sempre que pulava para longe de alguém.

De pé ao lado, observando-os de trás de uma grande coluna, senti uma


profunda tristeza e uma lembrança que eu escolhi não explorar, patinou ao
redor das bordas da minha mente.

Uma vez, uma vez quando eu fui amada.

As lágrimas começaram a cair e então peguei minha saia longa e


caminhei calmamente até as escadas para o meu quarto onde fiquei sentada na
minha cama olhando pela janela para as luzes da cidade muito, muito longe. Eu
tinha vindo de luzes como aquelas, de outro mundo, um mundo quase tão
distante quanto as luzes das estrelas acima.

De repente, a porta rangeu se abrindo e Mãe Hailey estava ali, sorrindo


gentilmente para mim. Ela colocou seus longos cabelos castanhos claros atrás de
seu ombro.

Enxuguei as lágrimas do meu rosto, e a Mãe Hailey veio e se sentou na


cama ao meu lado e pegou minhas mãos nas dela. — Você está triste o tempo
todo. Porque, Eden? — Seus olhos azuis delicados me observavam com
preocupação.
Eu funguei quando outra lágrima fez o seu caminho pelo meu rosto. — Eu
vejo você brincar com seus meninos e eu... — Olhei para o seu amável rosto
bonito. — Eu acho que estava pensando, com tantos meninos, se talvez você...
Poderia precisar de uma garota? — Minha última palavra saiu em um guincho e
minhas bochechas aqueceram. Eu sabia que estava velha demais para ser útil
como filho de alguém. Eu nem sequer sabia realmente o que eu estava pedindo a
ela. Senti a solidão que eu tinha vivido há tanto tempo me consumir.

Mas ela apertou minhas mãos nas dela e parecia entender o que eu estava
pedindo, mesmo que eu não o tivesse feito. — Eu sempre quis uma menina. Eu
amo meus filhos, mas, também, ter uma menina seria adorável — Ela se
levantou e bateu palmas. — Bem, agora, isso é motivo de celebração.

Eu sorri para ela e senti alívio e felicidade.

Ela pegou minha mão e fomos lá embaixo e eu a observei enquanto ela


preparava o jantar, e, pela primeira vez desde que eu era uma garotinha, eu
senti o amor da família ao meu redor. Eu absorvi isso como uma esponja
excessivamente seca que de repente mergulhou em uma pia cheia de água.
Hailey e os quatro meninos de Hector estavam pela grande cozinha, rindo e
brincando, e Hailey cantarolava enquanto trabalhava, disparando sorrisos para
mim de vez em quando.

Enquanto ela descasava as batatas, perguntei-lhe: — Mãe Hailey, você


gosta de estar com Hector?

Ela olhou para mim. — Sim, Eden, ele é um homem bom se você for
obediente.

— E se você não for obediente? — Eu perguntei com as minhas bochechas


aquecendo enquanto eu estudava Hailey. Não era que eu planejasse ser
desobediente, era só que tinha muitas esperanças e sonhos, e não sabia o que eu
faria com aqueles que certa vez conheci, com certeza eles não poderiam mais se
tornar realidade. Eu poderia simplesmente embalá-los em minha mente, como
roupas velhas destinadas a serem passadas para outra pessoa? Será que Hailey
tinha esperanças e sonhos que eram dela, também?

Hailey parou de descascar e olhou para mim, um olhar preocupado


substituindo o gentil que estava ali um momento antes. — Eden, você deve
sempre ser obediente. Você, de todo o nosso povo. Você tem uma família inteira
dependendo de você. O prenúncio é a chave para a nossa salvação e você está no
centro de tudo. Eu sei que você entende isso.

Eu balancei a cabeça. Sim, eu entendia. Era para a única coisa que eu fui
educada desde o dia que deixei minha casa com Hector. Isso e minha música.
Mas no meu quarto sozinha, eu sonhava. Eu permitia que minha mente vagasse
de maneiras que estavam longe de ser obediente.
Meus dias depois foram preenchidos com a primeira felicidade
verdadeira que eu conheci desde que tinha chegado. Passava a manhã brincando
com Jason, Frineu, Simon e o bebê Myles e as tardes com a leitura do Livro
Sagrado - uma compilação dos ensinamentos e prenúncio dos deuses, como
falado para Hector. Então eu praticava piano no início da noite, enquanto
continuava o meu verdadeiro trabalho em tempo integral, que era sonhando
com Calder Raynes.

Agora era mais fácil para sair de fininho e deixar as balas de caramelo
para ele, e então eu aumentava meus esforços. Calder tinha a barriga cheia de
açúcar naquelas primeiras semanas.

Mas foi no meu caminho de volta para o alojamento, bem ao lado do


campo onde Calder tinha me chamado pela primeira vez de “Glória da manhã”,
que eu o vi debruçado sobre uma menina para ajudá-la com alguma coisa na
mesa de madeira onde ela estava sentada.

Ela disse alguma coisa e olhou para ele, e ele inclinou a cabeça para trás e
riu como se fosse a coisa mais engraçada que alguém já tivesse dito na história
de toda a vida na Terra.

O ciúme foi cravado em brasa na minha espinha e eu parei no caminho e


simplesmente olhei quando meu coração se apertou com a dor.

A ânsia percorreu meu corpo, tão poderosa que eu realmente tremi onde
estava. Meu rosto estava quente e eu estava um pouco tonta, mas não conseguia
desviar o olhar.

A menina também riu, olhando por cima do ombro dele e dando de


ombros inocentemente.

Calder se endireitou, e a menina virou-se, e foi quando ambos me


avistaram ali de pé como um grande peixe idiota com a minha boca em um O, e
meu rosto queimando, boquiaberta rudemente para eles.

Constrangimento me dominou quando me virei e corri o mais rápido que


poderia voltar para o pavilhão principal.

Quando eu cheguei lá, bati a porta atrás de mim e me encostei contra ela,
tentando recuperar o fôlego e acalmar a minha corrida, com o coração doendo.
Eu nunca o teria. Ele nunca seria meu - nem mesmo seu riso.

A Mãe Hailey entrou no quarto e me viu. — Eden, estive procurando por


você. Saiu do pavilhão?

Eu simplesmente olhava para ela, incapaz de formar palavras naquele


momento. — Uh...
Mãe Hailey franziu os lábios e então suspirou. — Eden, você não deve
deixar o pavilhão principal. Hector proíbe. Eu a checo muitas vezes durante o
dia — Ela fez uma pausa. — É claro que tenho que dar aos meninos suas lições
de meio-dia às duas todos os dias, e é fácil se distrair com os quatro, isso é certo
— Então ela piscou para mim e saiu do quarto.

Eu fiquei lá por um minuto para digerir o significado daquilo, e, apesar


de que angústia ainda arranhava meu coração, eu deixei escapar um suspiro
surpreso. Era a primeira sugestão de liberdade que eu tive em mais de cinco
anos.
CAPÍTULO QUATRO

Calder

A pequena quantidade de água no fundo dos jarros em meus ombros


salpicava quando fiz o meu caminho descendo da encosta íngreme. Eu
costumava carregar os recipientes menores em uma mochila, mas hoje eu
precisava de um extra. Helen Whitney estava em trabalho de parto e as parteiras
precisavam de muita água sagrada na cabana de parto para ajudar em um parto
saudável.

Eu andei o mais rápido possível, perdido em meus próprios


pensamentos. Era uma paz que eu desejava, estando longe dos demais por um
pouco de tempo. Esses dias, eu sempre desejava estar longe do barulho
incessante de Acadia, longe dos meus pais, que estavam sempre discutindo os
sermões de Hector até tarde da noite. E acima de tudo, longe daqueles
minúsculos dois quartos da cabana da nossa família que eu havia crescido literal
e figurativamente, anos antes.

Este era o meu décimo sétimo ano. Eu faria dezoito em breve e estava
quase na hora da minha cerimônia de purificação de água. Eu não sabia se isso
aconteceria bem no meu aniversário ou não, já que Hector tinha ido para outra
peregrinação. Se ele não estivesse de volta até lá, isso teria que esperar até que
ele voltasse.

Ser purificado significava que eu seria lavado de todos os meus pecados


de infância e seria oficialmente parte do Templo. Eu seria responsável por
minhas próprias escolhas, e colheria as consequências se eu pecasse.

Enquanto eu caminhava, considerei o que isso queria dizer. Primeiro de


tudo, isso significava não mais desfrutar dos benefícios das viagens de Xander
até a estação do vigia. Isso, por sua vez, significava não mais Coca-Cola para
mim e quando ele trouxesse teria que levar de volta - para a salvação de sua
própria alma, eu esperava que ele não o fizesse. Ele teria dezoito anos em alguns
meses, também.

Eu gemia em desespero. A Coca-Cola seria o pior de tudo.

Poder-se-ia argumentar que eu estava usando uma brecha, agindo como


se estivesse ok com o pecado quando eu sabia que era um pecado, “criança” ou
não. Ainda assim, aquilo limpo era parte do acordo obtido que era realmente
tentador em conseguir o máximo de coisas boas, enquanto eu ainda podia. Sim,
eu sabia que não deveria funcionar assim, mas eu era apenas humano, afinal.

Minha mãe me disse que eu tinha uma forma ruim de justificar as coisas
a meu favor, que eu admitia provavelmente ser verdade. Só que a vida parecia
muito cheia de tantos prazeres. Eu me perguntava por que cada um deles tinha
que ser pecado. Eu não conseguia deixar de imaginar os deuses em Elysium com
rostos tensos e expressões constantemente descontentes, e isso não parecia
muito bom, se eu fosse honesto. Mas eu supunha que de forma alguma eu ficaria
decepcionado com Elysium. Afinal de contas, era o paraíso.

Meu pai disse que só tinha que provar a nós mesmos aqui, com todas as
tentações que os deuses colocavam diante de nós, e as recompensas para o
nosso sacrifício se derramaria sobre nós na vida após a morte. Apesar de que,
provavelmente, não teria Coca-Cola em Elysium, e esse era um pensamento
verdadeiramente deprimente.

Então, eu precisava parar de pensar em Coca-Cola. E eu realmente


precisava parar de pensar em sexo. Meu corpo se apertava somente com o
pensamento da palavra, que falava por si só, tanto quanto eu precisava da
purificação. Eu não sabia se a cerimônia em si ajudaria redirecionar meus
pensamentos para algum lugar mais apropriado, para algum lugar mais
condizente com um membro do conselho, mas tinha certeza que esperava que
sim.

Eu estava trabalhando no meu sistema de irrigação por mais de dois


anos, e tinha certeza que isso iria funcionar como eu tinha planejado e utilizava
apenas os materiais disponíveis para nós da terra. Eu também esperava
fervorosamente que seria isso a convencer Hector de que eu merecia um lugar
no conselho, e eu seria capaz de ir para a grande comunidade e trabalhar como
alguns dos outros membros faziam.

Hector dizia que deveríamos usar apenas as ferramentas e materiais da


terra que os deuses haviam concedido a nós, em vez dos instrumentos perversos
da sociedade, onde as leis e regras eram todas baseadas na ganância, no pecado
e no egoísmo. Agradava os deuses que os trabalhadores utilizassem somente
aquilo que era fornecido por eles. Isso nos fazia um povo mais sagrado.

Eu não poderia evitar em me perguntar, porém, por que muitas dessas


ferramentas e instrumentos pareciam estar em uso no pavilhão principal. Eu via
a minha mãe esfregar a roupa no rio em uma rocha lisa de lá, e pelo que me
dizia Maya, havia uma grande máquina que fazia esse trabalho no pavilhão
principal – somente jogava um monte de roupas lá dentro, apertava um botão e
todas saíam brilhantes e limpas, ela dizia. Imaginei que Maya estivesse
exagerando, mas não tinha como negar que a vida era muito mais fácil para
Hector e os membros do conselho.
Eu tentava não pensar muito sobre isso, porque um sentimento
pecaminoso de raiva, e mais perguntas do que eu queria considerar,
borbulhavam dentro de mim, e eu sabia que aquilo era errado.

Eu cheguei à nascente e coloquei os recipientes com água sobre a grama.


Notei imediatamente que as plantas e o arbusto foram movidos de lado e a
fenda na rocha que levava à nascente maior era visível.

Eu estive lá algumas vezes ao longo dos anos, mas eu sabia que não era
Eden. Seus brinquedos estavam do mesmo jeito e as poucas vezes que entrei,
não havia nenhum sinal de qualquer presença humana.

Eu fiz o meu caminho através das rochas até a área aberta onde a
nascente estava à vista, e foi então que eu a vi. Ela estava de costas para mim e
estava de frente para a grande rocha que ficava na borda traseira da nascente.
Suas mãos estavam em punhos em seus lados e um derramamento glorioso de
ondas loiras claras em cascata pelas costas, cobrindo a maior parte dela. Mas
suas pernas estavam descobertas, assim como os ombros e eu pisquei para a sua
nudez. De costas para mim, permiti que meus olhos se movessem lentamente
pelo corpo dela - dos ombros delicados à sua cintura fina, seus quadris
levemente arredondados, descendo para suas pernas magras e voltando para
cima novamente. Meu corpo se mexeu, tensionou e o sangue martelava em
meus ouvidos. Eu engoli com dificuldade, incapaz de me mover, enraizado no
lugar enquanto eu a observava.

Ela, Eden, colocou as mãos na cintura e fez um som irritado


estrangulado. Inclinei-me mais para ter uma visão melhor do que ela estava com
tanta raiva, e vi a pequena cobra tomando banho de sol sobre a rocha, como se
fosse a dona do lugar. Aparentemente, Eden queria que ela fosse embora e
esperava que seus sons de raiva a obrigaria a seguir em frente. Eu quase ri, mas
a parte segura em mim, antes mesmo que eu fizesse algum som me mandava ir
embora.

Eden pôs as mãos ao lado do corpo novamente e então ficou parada por
um bom tempo, parecendo estar tentando decidir o que fazer. Eu esperei,
encantado por ela; não havia outra palavra para isso. Eu me assustei um pouco
quando ela disparou de repente para a água e nadou em frente à piscina rasa até
os ombros. Isso era o único modo de atravessar as grandes pedras que estavam
em ambos os lados daquela pequena nascente. A única rocha acessível era a que
a cobra atualmente estava ocupando. Eden emergiu da água e marchou até a
pequena praia ao lado da pedra. Ela subiu na pedra enquanto eu a observava,
encantado, quando ela pegou a cobra e a jogou além na folhagem. Em seguida,
ela limpou as mãos e se jogou para baixo, depois de ter expulsado a cobra com
uma rapidez que eu, com certeza, não esperava.
Eu não consegui evitar isso. Eu comecei a rir alto. Eu achava que nunca
tinha visto um espetáculo como esse antes.

Quando eu finalmente abri meus olhos e controlei minha risada, olhei


para cima e Eden estava sentada em nada além da sua pele molhada, olhando
para mim com os olhos arregalados e os lábios entreabertos na mesma forma de
O que estiveram quando ela me viu conversando com Hannah Jacobson.

Eu fiquei sério, agora que o controle do desejo inicial tinha tomado conta
de mim ao vê-la. Enquanto eu olhava para ela, uma sensação estranha tomou
conta de mim, quase como uma espécie de déjà vu, como se esse momento fosse
uma lembrança, não uma que estivesse em minha mente, mas no meu sangue,
na fibra do que eu era. Parecia algum tipo de lembrança, ou talvez uma visão.
Ou talvez um sonho nebuloso há muito esquecido, se tornando realidade.

— Oi, Glória da Manhã — Eu finalmente falei.

Ela apenas olhou para mim por várias batidas antes que se endireitasse e
dissesse: — Oi, Bala de Caramelo.

Limpei a garganta, quando Eden parecia lembrar-se que ela estava


seminua e cobriu-se com os braços. — Será que você... Você poderia — Ela
apontou para as roupas descartadas na grama ao lado da nascente. — Trazer-me
isso?

Fui até lá e as reuni, entrei na nascente e a atravessei, só até meu peito e


entreguei as roupas a ela quando me levantei sobre a rocha. Ela as colocou
rapidamente quando desviei o olhar. Quando olhei de volta, ela estava
prendendo o último dos botões da frente de sua camisa, e eu vi que suas mãos
tremiam.

— Você está bem? — Eu perguntei.

Seus olhos corriam aos meus e suas bochechas ficaram num belo tom de
rosa. — Eu... Eu odeio cobras — Ela disse com os lábios tremendo. — Tipo,
realmente, realmente as odeio.

Olhei para ela por alguns segundos. — É claro que não foi isso que
pareceu para mim. Eu acho que para a cobra também — Eu sorri para ela.

Ela deixou escapar um grande suspiro e sorriu timidamente para mim.

Eu estava quase certo. Seus olhos eram da cor de uma glória da manhã
escura. Só de perto, vi manchas douradas ao longo da borda exterior. Eles eram
da cor de uma glória da manhã azul, banhada em uma brilhante luz solar do
amanhecer.

Ela olhou para seu colo e disse calmamente: — É que eu não estive aqui
há algum tempo, e estava realmente ansiosa por isso. Era tudo o que eu queria.
Só nadar na nascente e me sentar nesta mesma rocha, a única no sol. E então eu
vi a cobra, e eu... Eu nunca consigo o que quero — Seus olhos voaram para os
meus novamente. — E eu sei que é egoísta. Não deveria apenas pensar em mim.
É só que... Isso me deixou tão irritada — Ela parou.

— Eu entendo — Eu disse, pegando sua mão na minha. Algo correu em


todo o interior da minha pele quando as nossas mãos se tocaram e me afastei
rapidamente.

Nossos olhos se encontraram novamente, e Eden deixou escapar: — Eu


guardei todas as glórias da manhã. Todas quarenta e seis.

Eu sorri. — Eu comi todas as balas de caramelo. Todas... Bem, eu perdi a


conta, mas todas elas — Sorri mais e assim ela o fez.

Ela se virou para mim mais plenamente. — Como é que você as colocava
no quarto? — Ela perguntou, com os olhos arregalados.

Eu me deitei de costas na grande rocha e entrelacei os dedos atrás da


cabeça. Eu estava todo molhado, mas o sol estava brilhando, e eu estaria seco
logo.

Eu olhava para Eden acima de mim, fechando um dos olhos contra o sol.
Ela se virou e estava olhando para mim, esperando pela minha resposta.

— Minha irmã entrega as coisas. Então eu as enviava com ela quando


tinha uma entrega no pavilhão principal.

Eden acenou com a cabeça vigorosamente. — Sim. A menina que... — Ela


fez uma pausa e eu fiquei tenso, esperando que ela se lembrasse do estado
mental de Maya.

— Costura tão lindamente.

Eu relaxei e sorri, acenando com a cabeça. — Sim, é ela.

Eden sorriu e inclinou a cabeça. — Bem, agora vou ter que entregar duas
balas de caramelo. Eu não sabia que você tinha um funcionário — Ela sorriu
para mim e eu ri. Deus, ela era tão bonita. Ela me deslumbrava com seu cabelo
loiro claro e aqueles grandes olhos azuis escuros, que pareciam ter todo um
mundo por trás deles, um mundo que de repente eu queria conhecer, explorar.

— Quantos anos você tem, Eden? — Eu perguntei. — Hector nunca


mencionou...

— Eu tenho dezesseis anos.

Fiquei surpreso. Ela parecia mais jovem e eu sempre tinha assumido que
era. Para mim, a idade estava diretamente ligada ao prenúncio das grandes
inundações. Eu balancei a cabeça, fazendo as contas e, de repente sentindo-me
mais ansioso do que antes. Deixei isso de lado.

— Posso ver? — Eu perguntei por fim.

— O quê? — Disse ela, com um olhar de confusão em seu rosto.

— A marca.

— Oh, sim, a marca — Ela hesitou por um breve segundo, mas, em


seguida, virou-se e tirou seu cabelo do seu ombro esquerdo e colocou a blusa
para baixo para descobrir aquilo.

Cheguei mais perto e apertei os olhos para ver o que parecia ser uma
marca de nascença pequena, perto de seu ombro que era suposto ser um eclipse.

— E a lua deve mover-se em frente ao sol, quando as águas subirem e


cobrirem a terra — Eu sussurrei, citando o Livro Sagrado de Hector.

Eu senti Eden se arrepiar levemente quando tracei a marca nas suas


costas. Imaginei que aquilo parecia com um eclipse, tanto quanto qualquer
marca de nascença poderia.

Eden puxou a camisa de volta e se virou para mim novamente.

De repente, ela parecia tímida e eu me perguntei o que ela estava


pensando. Eu a observei, esperando para ver o que ela me diria.

Ela deu um pequeno sorriso. — Na igreja que eu fui antes de chegar aqui,
eu acho que tinha uma história sobre o primeiro homem e a primeira mulher em
um lugar que imagino que se pareça com esse — Ela acenou com o braço em
volta nas rochas altas e a nascente bem a nossa frente, brilhando à luz do sol.
Seu sorriso se alargou. — Tinha até uma cobra! — Ela riu e eu não pude deixar
de sorrir também.

— Lembro-me porque meu nome estava nele de alguma forma... — Ela


desviou o olhar como se estivesse tentando se lembrar.

Inclinei a cabeça, apertando os olhos novamente. — Conte-me mais.

Seu sorriso desapareceu. — Bem, eu gostaria de lembrar mais da história.


Eu não acho que terminou muito bem para eles — Ela olhou para cima,
considerando. — Ou talvez fosse o resto das pessoas que não se saíram tão bem.

— Não, quero dizer, me fale sobre o lugar que você viveu antes. Conte-me
sobre a sua casa e seu carro, e a cidade que vivia.

A tristeza alterou sua expressão. — Eu não me lembro de muita coisa,


principalmente das sensações. As imagens em minha mente são tão embaçadas.
E quando tento lembrar-me disso, minha cabeça começa a doer — Ela esfregou
a palma da mão sobre a testa como se estivesse sofrendo, olhando ao longe atrás
de mim.

Eu a estudei por um minuto, querendo fazer-lhe mais perguntas, mas


também querendo que aquele olhar de tristeza desaparecesse dos seus olhos.

De repente, ela olhou para mim. — Você vai me dizer o que está
construindo na beira do rio no seu tempo livre?

Eu levantei uma sobrancelha. — Você está me observado, Glória da


Manhã? — Eu sorri, mas seus olhos se arregalaram e ela olhou para baixo, como
se tivesse acabado de ser pega. Eu ri. — Eden, estou brincando. Está tudo bem
se eu te chamar de Eden?

Ela olhou para mim e deu um riso pequeno também, mas depois ficou
séria. — Sim, é claro — Ela olhou para baixo e depois de volta para mim. — E eu
vejo você, às vezes — Ela sussurrou e depois desviou o olhar. — Eu sinto muito.
É muito rude... Tipo eu... Observei-o.

Meu coração fez uma coisa estranha no peito e eu simplesmente olhei


para ela por um minuto. Esta linda, menina tranquila - A Abençoada - esteve me
observando? Eu não sabia o que dizer a ela, por isso optei por simplesmente
explicar o meu projeto. Limpei a garganta. — Uh, estou construindo um sistema
de irrigação. Toda esta água que transporto em jarras e recipientes parecem
realmente... Demorado quando poderia haver uma maneira mais fácil — Eu me
sentei. — Na verdade, eu li sobre isso em um livro de ficção que não me lembro
do nome agora. Quer dizer, você sabe, antes de Hector proibir os livros de
ficção. Mas não era como se isso viesse com instruções ou qualquer coisa, por
isso é uma questão de entender. Então eu acho que compreendi. E se funcionar,
poderia regar todas as plantações na metade do tempo. Espero que isso
signifique um ponto para mim no conselho.

Eden pareceu surpresa. — Você quer estar no conselho?

— Sim. Eu quero ir para a comunidade e trabalhar.

Eden assentiu. — Que tipo de trabalho?

— Eu não sei. Pelo que ouvi, os membros do conselho trabalham em


empresas - eu tenho certeza que Hector ou um deles poderiam encontrar um
lugar para mim, você sabe, se eu provar que posso.

— Então você viveria no pavilhão principal?

Eu balancei a cabeça. — Esse é o plano.

Os olhos de Eden se arregalaram e ela olhou para a minha boca, como se


estivesse pensando em me beijar. Eu desviei o olhar. Mesmo que tivesse sentido
muito mais isso.
Levantei-me e Eden sacudiu ligeiramente. — É melhor eu ir. Estão me
esperando voltar com um pouco de água sagrada.

— Oh, sim — Disse ela, levantando-se também. — Estou aqui todos os


dias do meio-dia às duas — Ela deu de ombros, parecendo envergonhada. —
Você sabe, se quiser almoçar aqui em vez de com os seus amigos... Ou, quero
dizer, não que você faria, mas... Se você quiser, ou... — Ela balançou a cabeça,
rindo baixinho. — Por que você iria querer?

Aquela sensação estranha entrou em meu peito novamente. — Seria uma


honra almoçar com a princesa de Hector.

Seu rosto pareceu cair um pouco, mas ela se conteve e sorriu. — Tudo
bem — Ela sussurrou.

Estudei-a por um segundo novamente. — Falando de Hector,


provavelmente isso não estaria ok para ele, você sabe — Eu disse.

— Eu sei — Ela respondeu e eu não conseguia ler a expressão em seu


rosto.

Fiz uma pausa, sabendo que eu deveria dizer a ela que não estaria de
volta, mas de alguma forma, não fui capaz. Estar em sua presença depois de
todo esse tempo me fez sentir muito bem e parecia que a ideia de passar o
tempo com ela me trouxe felicidade, também. — Então, adeus, por enquanto —
Eu sorri e me virei, voltando para a nascente onde eu juntei a água necessária na
cabana de parto.

Eu cheguei tarde demais. Quando voltei, Helen Whitney estava


segurando um menino saudável.
CAPÍTULO CINCO

Eden

No dia seguinte, eu fiquei na nascente com meu coração batendo três


vezes mais rápido e cheia de esperança de que Calder se juntasse a mim. Mas ele
nunca o fez e eu voltei para o pavilhão principal, com o meu estado de espírito
melancólico, solitário e desiludido.

Parecia que eu o amava há muito tempo. Mas falando com ele,


conhecendo-o um pouco fez com que o amor parecesse bobo e juvenil -
decidido. Ele ainda fazia meu coração bater fora do meu próprio peito e sua
beleza me hipnotizava, mas agora o desejo de conhecer quem ele realmente era
preenchia meus pensamentos.

Eu queria falar com ele durante todo o dia, para ouvir aquela profunda
risada gutural que tomava conta de minha pele e me fazia tremer. Sua voz soava
como a chuva quente de primavera caindo em uma estrada de cascalho.

Ele não apareceu no dia seguinte também, e assim no terceiro dia,


quando fiquei na minha pedra, sem a cobra, graças aos deuses, eu não esperava
mais que ele aparecesse. E então, quando de repente ele apareceu na rocha da
entrada da nascente, eu ofeguei em voz alta.

Calder sorriu, e outro rapaz de cabelos pretos apareceu atrás dele,


empurrando-o, então ele tropeçou e riu.

O menino atrás dele se curvou e colocou as mãos sobre os joelhos e ficou


ali por um minuto, obviamente, tentando recuperar o fôlego.

Calder cutucou e disse: — Fraco — Então ele nadou através da água e se


empurrou facilmente para cima da grande pedra. Eu deslizei para abrir espaço
para eles.

— O que há para o almoço? — Ele perguntou, levantando uma


sobrancelha.

— Almoço? — Eu coloquei minha mão sobre a boca e, em seguida, a


coloquei longe. — Oh não! Eu disse para você me encontrar para almoçar e eu
não trouxe nada — Eu gemi e minhas bochechas aqueceram. — Eu sinto muito.
Que rude.
Calder riu. — Estou brincando com você, Glória da Manhã. Nós já
comemos — Ele acenou com a cabeça em direção ao menino de cabelos negros
agora atravessando a água em nossa direção. Ele não era tão alto como Calder,
mas a água ainda não chegava perto dos seus ombros como se fazia comigo.

O menino chegou a rocha e se levantou sobre ela com esforço. Calder e eu


nos movemos enquanto ele subia, recuperando o fôlego novamente e
massageando seu lado como se tivesse um ponto.

Calder riu. — Eden, esta pessoa muito fora-de-forma é Xander Garen.

— Fora de forma? Quem está fora de forma? Ando quilômetros todos os


dias. Só não corro direto em declive com recipientes de água pesada em meus
ombros. Ridículo — Xander virou para mim. — É um prazer ser seu amigo,
Eden. Joguei chuta a lata com você uma vez anos atrás. Você provavelmente se
lembra de mim. Eu era a estrela do jogo. Não que eu me lembre particularmente
desse jogo, mas eu era sempre a estrela, por isso, pode seguramente ser
deduzido eu era naquele dia também.

Eu ri. — Eu me lembro daquele jogo, Xander, porque foi o único que eu já


joguei, e sim, você jogou muito bem, e assim o fez Calder. — Corei quando olhei
para Calder, porque, bem, ele era tão bonito, e eu queria olhar para ele, e do
jeito que ele estava olhando para mim, me fez sentir como se ele pudesse ler
minha mente. Xander estreitou os olhos, olhando entre nós e depois desviou o
olhar.

— Certo. Bem, obrigado por nos permitir compartilhar o seu oásis hoje.
Eu não tinha ideia de que isto estava aqui. Quando Calder me contou sobre a
nascente, eu achava que era apenas um pequeno buraco de água com algumas
pedras ao redor. Você estava escondendo isso de mim, Calder — Ele piscou e eu
sorri, olhando de volta para Calder, encontrando-o olhando para mim com uma
expressão estranha no rosto. Ele pareceu sair de um transe e seu rosto abriu-se
num sorriso, também, quando cutucou Xander.

— Não, eu nunca esconderia isso de você. Você nunca pareceu


interessado.

Xander deixou escapar um suspiro. — Bem, você sabe que tenho tanto
entusiasmo quanto isso pode, o que é uma caminhada ao torno do perímetro de
Acadia mil vezes por dia.

— É um trabalho importante, assim como todos os trabalhos aqui —


Disse Calder, mas não havia nenhuma emoção na voz. Ficamos ali por um
minuto em silêncio até que Calder limpou a garganta e continuou: — De
qualquer forma, eu durmo melhor à noite sabendo que um grande homem forte,
viril como você, é responsável por minha segurança — Calder sorriu para
Xander e Xander riu.
— Quem não faz, Garoto Lindo?

Eu ri, me deleitando com suas brincadeiras. Fazia tanto tempo que eu


não ria e senti a leveza da amizade. Eu me perguntava se eu já tinha
experimentado isso... Antes.

— Então, Eden, o que é que você faz todos os dias?

Corei e olhei para baixo. — Eu não estou autorizada a fazer muito,


realmente. Pratico minha música e estudo o Livro Sagrado — Dei de ombros. —
Isso é a extensão do mesmo — Deixei escapar uma pequena risada
desconfortável. — O que faz caminhar ao redor do perímetro do Acadia mil
vezes por dia soar melhor, hein? Você deve achar que sou a pessoa mais patética
da terra.

Houve silêncio por um minuto e quando olhei para cima, ambos, Xander
e Calder tinham olhares correspondentes de surpresa em seus rostos.

— Você não pode — Calder disse finalmente. — Xander já detém esse


título.

— Muito engraçado — Disse Xander quando ri novamente. Ele deu uma


cotovelada em Calder. — Nós nunca pensaríamos isso de você, Eden. Você é a
pessoa abençoada.

Senti meu rosto esquentar um pouco com a lembrança que eu era


diferente deles, e limpei minha garganta, sem saber o que dizer.

— Sério, você não vai para a escola? — Xander perguntou depois de um


momento de constrangimento.

Eu balancei minha cabeça. — Não, Hector diz que como Abençoada, a


única coisa que se espera de mim é de ser bem versada em seu Livro Sagrado.

— Bem, isso é verdade, eu acho — Disse Xander lentamente, o


espaçamento entre as palavras era como se várias coisas pudessem ser inseridas
entre elas.

Calder olhou para baixo e começou a traçar algo sobre a rocha, quase
como se ele estivesse inconscientemente desenhando.

— Oh, eu sempre quis te perguntar isso — Eu disse. — Naquele dia, você e


Xander estavam falando sobre a bala de caramelo debaixo da minha janela, o
que você estava desenhando na terra? Estava feito somente metade. Olhei para
ela durante dias, tentando descobrir se era uma menina, ou um cavalo, ou...
Pensei que poderia ser um rio por alguns dias, mas então, eu tinha certeza que
era a...

Parei de falar quando Calder começou a rir.


— O quê? — Eu exigi, olhando para Xander, que estava sorrindo também.

— Nada com você — Calder disse, sorrindo de uma forma que me deixou
quente. — Você deu àquele desenho na terra um monte de pensamento.

Deixei escapar um pequeno sorriso em uma respiração. — Eu disse a


você, os meus dias são muito chatos.

— Oh, não, Eden, eu só estava brincando com você. Uh, vamos ver... Sinto
muito, não me lembro o que eu poderia ter desenhado.

— Calder está constantemente esboçando — Xander falou. — É a


amargura da existência. Qualquer momento que o nosso professor o deixa perto
de um instrumento de escrita, é como se os deuses o possuíssem para desenhar.

Inclinei a cabeça. — E ainda assim ele não tem permissão? — Eu


perguntei.

Os dois balançaram a cabeça. — Os trabalhadores não estão autorizados a


participar nas artes. Isso é apenas para os membros do conselho e suas famílias.

— Por quê? — Eu soltei, pensando em todos os instrumentos, tintas,


carvão vegetal e papel mantidos no pavilhão principal. Hector era ótimo com as
artes. Ele estava constantemente insistindo para praticar, praticar, praticar e
que as artes agradavam aos deuses. Eu não estava ciente das muitas regras das
quais os trabalhadores viviam, porque a nossa vida sempre foi mantida muito
separado. Eu já tinha visto o fato de que eles não tinham eletricidade, como nós
no pavilhão principal, mas eu pensei que, diferente das nossas condições de
vida, e como cuidavam das obras em nossa comunidade, que participavam de
praticamente as mesmas coisas. Claro, sem contar o Livro Sagrado, eu não era
educada em outra coisa que não as artes, mas isso era só comigo. Os filhos dos
membros do Conselho eram educados nas disciplinas habituais, assim como os
trabalhadores. De repente, tudo parecia muito confuso.

Calder deu de ombros. — Todos nós temos os nossos empregos. Meu pai
diz que todos são igualmente importantes — Ele ficou em silêncio por um
instante e depois continuou. — Todos eles equilibram a comunidade.

Eu concordei e Xander desviou antes de olhar para Calder mais sério. —


Devemos voltar — Ele disse.

Calder balançou a cabeça, seus olhos se demorando em mim. Seus cílios


eram ridiculamente grossos, os olhos de um rico marrom escuro. Ele inclinou a
cabeça e apertou os lábios como se estivesse pensando algo.

— Eu tenho uma ideia.

— Oh, não — Disse Xander. — Nada de bom pode vir disso.


Calder olhou para Xander. — Você não ouviu a minha ideia.

— Eu mantenho a minha declaração.

Calder revirou os olhos e se concentrou em mim novamente. — O que


você diria se eu me oferecesse para lhe ensinar os assuntos no qual você não está
sendo ensinada em troca de alguns papeis de arte e tintas?

— Oh, ei, ei, ei — Disse Xander colocando as mãos para cima, como se
fosse para afastar a ideia muito, muito ruim de Calder. — Ainda pior do que eu
pensava. Isso é simplesmente estar pedindo para ter problemas, Calder.

— Olha quem está falando — Calder disse, sem tirar os olhos de mim.

— Sim — Eu disparei. Eu queria aprender. Eu estava com fome disso.


Mas a verdade era que eu queria passar mais tempo com Calder e estava
disposta a fazer qualquer coisa que pudesse para que isso acontecesse. Embora
eu tivesse me surpreendido com meu desabafo. Eu raramente interagia com
outras pessoas além de Hailey e seus meninos, e, ocasionalmente, Hector, então
por que eu conseguia falar tudo que vinha a minha mente com Calder? Talvez
fosse porque eu tinha passado muito tempo com ele em minha mente.

Calder sorriu para mim. — Ok — Ele disse suavemente, sem tirar os olhos
dos meus.

Xander se levantou. — Tudo bem, bem, vocês dois podem se divertir no


porão.

Calder finalmente olhou para ele. — O porão valeria a pena para


finalmente começar a desenhar em um pedaço grande de papel branco — Ele
falou sobre o papel como se fosse uma deliciosa refeição que mal podia esperar
para devorar.

Mordi o lábio, não tão certa agora. O porão era um espaço muito grande e
cavernoso sob o pavilhão principal, onde Hector levava os duzentos ou mais de
nós, pelo menos uma vez por ano para um exercício de treinamento para nos
preparar para quando as grandes inundações viessem. Eu tremia só com o
pensamento de ficar no porão com todos aqueles corpos pressionados juntos,
sentindo-me doente, com medo e claustrofóbica.

Tinha também uma pequena sala lá em baixo com uma porta pesada de
metal utilizada raras vezes, quando alguém fazia algo que ia contra Hector ou os
deuses. Eles seriam presos pela quantidade de tempo que levava para que eles se
arrependessem e depois eram trazidos de volta e ficavam sentados ao lado do
pódio, onde Hector dava seus sermões. Eles tinham que se ajoelhar em um
pedaço de metal com pequenas protuberâncias sobre ele desde o início do culto
no Templo até o fim. Aquilo não perfuraria a pele, mas o olhar no rosto daqueles
que tinham sido punidos dessa forma, me indicava com certeza como se sentia
depois de ficar ajoelhado sobre ele por duas horas.

Eu nunca soube exatamente quais eram as transgressões, mas eu


observava essas pessoas - três, desde que eu vivia em Acadia - e silenciosamente
enviei-lhes força enquanto eu estava sentada atrás de Hector. Jurei que meus
joelhos doíam enquanto eu caminhava de volta para o corredor, longe deles.

Voltei para o presente e Calder ainda estava olhando para mim,


esperando pela minha resposta.

— Eu só... Talvez Xander esteja certo... O porão parece... — Minha voz


desapareceu quando o rosto de Calder caiu. — Ok — Eu disse de forma rápida e
balancei a cabeça, não querendo desapontá-lo. — Eu concordo. Quando? — Eu
dei uma respiração profunda. — Quero dizer, quando deveríamos nos
encontrar?

Seu rosto abriu um sorriso com seus dentes alinhados aparecendo. Seu
sorriso transformava seu rosto, tornando-o incrivelmente, ainda mais bonito.
Borboletas bateram suas asas em minha barriga. Eu o tinha visto usar seu
sorriso com os outros, mas ser o beneficiário disso foi emocionante. — Amanhã?
— Perguntou ele.

Eu balancei a cabeça, sorrindo também, provavelmente, parecendo um


pouco tonta. — Ok, amanhã — Eu queria vê-lo amanhã, e cada amanhã depois
disso.

— Ok — Ele me estudou por um minuto e eu me perguntei o que ele


estava pensando. — Vejo você depois.

— Tchau, Eden — Disse Xander, e pulou da pedra para a água. Calder


seguiu atrás dele. Eles atravessaram a água e, em seguida, caminharam até a
pequena elevação. Meus olhos vagaram descendo no traseiro musculoso de
Calder, claramente definido na calça de linho molhado agarrada a ele. Eu me
contive e desviei o olhar, mas antes que eu pudesse reunir qualquer vergonha,
meus olhos estavam se movendo de volta. Pouco antes de passar pela abertura
na pedra, Calder olhou para mim e sorriu mais uma vez. Fiquei feliz que ele não
conseguia ver meu rubor de onde eu estava.
No dia seguinte, quando eu apareci na nascente, Calder já estava deitado
na grama, com as mãos atrás da cabeça. Eu não conseguia evitar a vertigem que
senti ao vê-lo esperando por mim.

— Oi — Eu disse quando me aproximei dele, e ele sentou-se. Peguei a


bolsa grande de lona que eu tinha trazido no meu ombro e a coloquei na grama
em frente a ele. Ele imediatamente puxou o bloco grande de papel para fora e
olhou para mim com um olhar de pura felicidade. Meu coração começou a bater
três vezes mais rápido em meu peito ao ver a expressão de alegria no rosto
bonito. Ele continuou a vasculhar a bolsa, enquanto puxava os itens e os
colocava na grama em frente a ele. Havia vários recipientes de tinta, quatro
pincéis e um conjunto de lápis de carvão.

— Era tudo que eu poderia pegar sem deixar isso óbvio — Eu expliquei
quando ele estava olhando para os itens.

Ele olhou para mim. — Isso é muito mais do que suficiente. Obrigado,
Eden — Ele parecia como se quisesse dizer mais, mas estava meio perdido. Ele
esfregou as mãos nas coxas e disse: — Então, por qual lição deveríamos começar
hoje?

— Por que você não desenha algo primeiro?

Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas depois fechou-a e começou
de novo. — Tem certeza disso?

Eu ri. — Sim.

Calder riu. — Tudo bem. Ei, que tal isso? Que tal fazer as duas coisas ao
mesmo tempo? Eu vou desenhar e dar uma lição ao mesmo tempo. Posso fazer
multitarefas. E sinta-se livre para fazer qualquer pergunta que queira.

Inclinei a cabeça. — Ok, se você tem certeza que não vai distraí-lo.

Ele balançou a cabeça. — Não. Lembre-se, estou acostumado a desenhar


sob minha mesa ao ouvir o sermão.

Eu ri. — Tudo bem, então.

Ele se colocou rapidamente com as costas contra uma rocha e onde


estava quase na sombra, e se inclinou para a frente para pegar os lápis carvão e
o bloco de papel. Em seguida, ele puxou os joelhos e inclinou o bloco de papel
contra eles.

— Primeiro me diga o que você sabe.

Eu sei que eu te amo e você é o garoto mais bonito que já vi.


Olhei para baixo, envergonhada, eu não sabia muito. Limpei a garganta.
— Eu sei ler. E isso é realmente tudo.

Olhei para cima para encontrar o lápis parado e vê-lo me estudando. —


Nada de matemática? Nada de ciências?

Eu balancei minha cabeça novamente, fazendo manobras para trás assim


que eu estava encostada a uma rocha, também.

Calder começou a desenhar novamente. — Tudo bem. Então, vamos


começar com o básico.

E então nós ficamos lá enquanto ele esboçava, e ele me ensinou o básico


de matemática, adição e subtração. Eu peguei rapidamente. Em algum lugar na
minha memória, eu sabia que tinha começado a aprender isso antes. Era vago e
pouco claro, como todas as minhas lembranças antes de este lugar. Se eu
fechasse os olhos, lembrava-me de um cheiro - semelhante a produtos de
limpeza e giz - e lembrei-me de ser feliz naquele lugar, uma escola,
provavelmente. Mas isso era tudo que eu conseguia reunir.

Depois de uma hora ou algo assim, Calder colocou seu bloco para baixo.
— Você vai saber tudo em pouco tempo — Disse ele.

— Por que exatamente você está fazendo isso? — Fiz um gesto com a mão
para o papel. — Quero dizer, com exceção da troca? Hector não aprovaria isso, e
nós poderíamos ser punidos. Porque você está correndo esse risco?

Calder me estudou por alguns segundos e, em seguida, olhou para longe,


para fora na nascente. Ele mordeu o lábio inferior cheio e sua testa franziu.
Finalmente, ele olhou para mim e disse: — Xander conversa com os guardas
florestais na entrada para o parque estadual a poucos quilômetros daqui.

Fiquei surpresa. Éramos encorajados a não nos envolver com os outros


membros da “grande sociedade” onde injustiça, maldade e desequilíbrio
prevaleciam. Exceto os membros do conselho que trabalhavam, e Hector que
saía em peregrinação quando os deuses ordenavam a ele, ninguém mais tinha
qualquer razão ou desejo de se aventurar de Acadia. Além do pavilhão principal,
que era totalmente autossuficiente, não dependia de ninguém além de nós
mesmos.

— Ele conversa?

Calder assentiu. — Ele fez amizade com alguns deles. Quando éramos
crianças, costumávamos roubar a estação. Ou melhor, Xander fazia o roubo, eu
só sabia, de qualquer forma, há alguns anos atrás ele foi pego em flagrante. Só
que em vez de entregá-lo, a mulher que o pegou perguntou o que ele mais
gostava de todas as coisas que ele estava levando. Ele disse a ela, e agora, às
vezes, ela traz doces e outras coisas apenas por bondade — Ele desviou o olhar
de novo, pensando. — Eu não acho que todas as pessoas na grande sociedade
são perversas e más, Eden. Talvez alguns sejam, talvez mais. Não sei. Mas, a
questão é que eu não acho que Hector esteja completamente certo sobre isso —
Ele deu de ombros. — E se ele não está certo sobre isso, talvez não esteja certo
sobre algumas outras coisas também, como o fato de que você não deve ter uma
educação. Sei que os deuses falam com ele, mas ele também é humano.

Ficamos ali sentados, olhando um para o outro em silêncio. A pequena


cachoeira ao nosso lado fornecia sons suaves de salpicos, e em algum lugar
distante, um cão latiu.

— É por isso que eu tenho que conseguir um lugar no conselho — Ele


disse calmamente. — Eu tenho que ver o que está lá fora, Eden. Não importa
quanto tempo temos antes das inundações, eu só tenho que saber.

Meu coração estava batendo rápido, não apenas por causa da


proximidade de Calder, mas porque falar assim simplesmente não podia, pelo
menos até onde eu sabia. Algo agitou dentro de mim, parecendo vir à vida.

— Você confia em mim — Eu disse, sabendo que ele não me disse que o
fazia, mas esse não era o caso.

Ele acenou com a cabeça uma vez. — Eu comecei a confiar em você há


muito tempo.

O calor, e uma sensação feroz de orgulho encheu meu peito. Ser da


confiança de Calder Raynes me fez sentir mais especial do que já fiz em toda a
minha vida. — Meus pais eram amáveis — Eu disse. — Lembro-me muito pouco
deles, mas isso é uma coisa que eu sei. Eles eram gentis.

— Você vai me contar sobre eles? — Calder perguntou, muito


suavemente.

Suspirei, lutando para me lembrar. — Ambos eram loiros — Peguei uma


mecha do cabelo entre os dedos e, em seguida, os deixei cair. — Surpreendente,
não é? — Eu sorri e assim o fez Calder. — E um, minha mãe cheirava a flores —
Fechei os olhos e inalei enquanto minha mente conjurou seu aroma doce e
delicado. Quando abri os olhos um minuto depois, a cabeça de Calder estava
inclinada enquanto ele me olhava, e seus olhos pareciam mais escuros de
alguma forma. Engoli em seco.

— O que mais? — Ele sussurrou.

— Eu acho que meu pai fazia algum tipo de trabalho com o dinheiro de
outras pessoas. E a minha mãe, ela não trabalhava, pelo menos não que eu me
lembre. Morávamos em Cincinnati, eu sei disso — Dei de ombros. — Eu sei que
eles eram bons amigos de Hector. Lembro-me de ele estar em nossa casa.
Lembro-me da minha mãe me dizendo que iríamos morar com ele. Aqui,
presumo. Mas então... Eles se foram, e ficamos só Hector e eu em uma casa
diferente por um longo tempo, talvez anos. É isso. Eu tentei muito me lembrar
mais depois disso, mas isso simplesmente não vem. E eu era muito nova, acho.

— Você sabe como seus pais morreram?

— Foi um acidente de carro. Isso é tudo que eu sei.

Calder tinha o lábio inferior entre os dentes novamente, daquela forma


que ele fazia quando estava pensando muito em algo.

— O quê? — Eu perguntei.

Ele soltou o lábio, lambendo ao longo dele com a língua antes de


responder. — Nada. Só lamento que você tenha perdido seus pais, é tudo.

Tive a sensação de que ele estava prestes a dizer alguma coisa, mas não o
fez. Eu balancei a cabeça de qualquer maneira e disse: — Obrigada.

— Então — Disse ele, começando a se levantar. — Amanhã? Mesma hora?


Mesmo lugar?

Eu me levantei também, e concordei com entusiasmo. — Sim. Hum — Eu


balancei a cabeça em direção ao bloco em suas mãos. — Eu posso ver o seu
desenho?

Ele olhou para ele. — Oh. Sim, com certeza — Ele deu a volta e minha
respiração ficou presa.

Ele tinha esboçado a nossa - de repente, era isso, nossa - nascente. Ele só
tinha usado lápis carvão, mas de alguma forma era exuberante e bela, as
sombras e os destaques insinuando a profundidade de cor na água, as rochas, a
grama e o céu. Era... De tirar o fôlego.

— Calder. Você é... Nunca vi nada tão bom. Você nunca teve aula?

Ele balançou a cabeça, me observando de perto como se importasse


muito para ele o que eu pensava.

— Você é talentoso, então. Muito, muito talentoso — Eu fiquei


impressionada com seu talento e tinha certeza que isso deveria aparecer na
minha expressão.

Ele estendeu-a para mim. — É para você.

Eu sorri, aceitando-a. — Obrigada. Hoje, aqui com você, foi um presente


de aniversário maravilhoso — Comecei a rolar cuidadosamente o esboço para
que eu pudesse levá-lo comigo.

Sua expressão assumiu surpresa. — É o seu aniversário?


Eu balancei minha cabeça. — Amanhã. Farei dezessete anos. Mas este
aqui — Eu abracei o papel enrolado no peito delicadamente. — É o melhor
presente que eu poderia ter pedido.

— De jeito nenhum. Se eu soubesse que era seu aniversário, teria


esboçado um seu. Um retrato — Ele sorriu. — Amanhã. No dia verdadeiro.

Eu sorri de volta. — Ok — Eu levantei a bolsa de lona com todas as coisas


nela. — Devemos esconder isso em algum lugar?

Calder olhou ao redor e, em seguida, pegou a bolsa de mim e levou-a a


um grupo de rochas à direita, colocando-a entre duas rochas em um ângulo, de
modo que era como uma mini caverna. Ele pegou uma pedra ao lado disso e a
colocou em frente à abertura, de modo que não podia ser visto.

Nós caminhamos até a trilha e quando chegamos perto do topo, ele parou
e acenou para que eu passasse a frente dele para não sairmos juntos.

Quando voltei para o pavilhão principal, subi calmamente para o andar


de cima e desenrolei o esboço da nossa fonte, olhando para ele por vários
minutos antes de enrolar novamente. Escondi no canto debaixo da minha cama,
e guardei meu tempo com Calder em um canto tranquilo e privado do meu
coração.

Eu não estava completamente certa se Calder voltaria hoje, se ele


decidisse que era arriscado demais, ou se decidisse que não estava interessado.
Mas ele ainda estava. Sua paciência era infinita quando me ensinou matemática
básica. Eu não me sentia estúpida ou envergonhada quando comecei a entender
que essas coisas deveriam ser elementares para ele. Era bom aprender, alongar
minha mente além de seus limites normais. E quando fui para a cama naquela
noite, meu coração parecia completo.
CAPÍTULO SEIS

Calder

Enquanto esperava a aniversariante, olhei em volta para localizar o


retrato perfeito, finalmente decidi por uma grande rocha logo à esquerda da
nascente. Era levemente malhada pelo sol, principalmente à sombra nas rochas
maiores. Seria perfeito para ela deitar-se enquanto eu a esboçava.

Imaginei Eden reclinada ali com o vestido delineando sua forma elegante,
a blusa moldando os seios pequenos e redondos, então meu sangue aqueceu.

Não, Calder. Nem sequer pense sobre isso.

Não, pensamentos como esse sobre Eden era uma ideia muito ruim. Ela
estava fora dos limites da maior maneira possível, e eu precisava me lembrar
disso. Seria melhor se eu tivesse terminado a nossa troca e nunca mais olhasse
para ela novamente. Mas o desejo de estar perto dela era muito forte para
resistir. Eu poderia ser punido severamente, mas talvez valesse a pena. Eu me
esforcei para ter pensamentos puros perto dela, mas sua beleza... Pare, Calder.
Não pense em sexo quando ela está prestes a chegar.

Peguei o pequeno buquê de flores que eu trouxe para ela e o coloquei


sobre a rocha, pensando naquele dia há tanto tempo atrás, quando ela tinha
marchado bravamente para o nosso campo de jogo com a esperança em seus
olhos.

Glória da Manhã. Tão bonita quanto uma flor, tão forte como uma erva
daninha.

Eu amava o nosso jogo ao longo dos anos. Para mim, era uma aventura,
um segredo. Eu até tinha usado algumas sementes de glória da manhã para
plantar um pequeno arbusto na borda do campo, onde eu trabalhava. Era
verdade o que eu disse sobre a glória da manhã ser mais forte do que parecia.
Aquele arbusto funcionou para colher, mas eu a mantive pequena e contida,
porém grande o suficiente para fornecer-me as flores azuis que eu deixava para
Eden tão regularmente quanto possível.

— Oi — Eu ouvi por detrás de mim e sorri antes que eu tivesse totalmente


me virado.
— Feliz aniversário — Eu disse, andando até ela e pegando sua mão
enquanto ela sorria e me seguia.

— O meu retrato? — Perguntou ela. — Estou um pouco nervosa. Um dos


meninos da Mãe Hailey me desenhou na semana passada e eu parecia uma
abóbora com olhos — Ela riu.

— Eu gostaria de pensar que minhas habilidades superam as dele — Eu


pisquei.

— Oh, vocês definitivamente sabe o que faz. Estou mais preocupada é que
eu realmente pareça uma abóbora e seu retrato habilidoso confirmará isso.

Eu ri quando coloquei as duas mãos em seus ombros e a virei para que


ela ficasse recostada contra a rocha. — Você? Uma abóbora? — Ela se inclinou
de costas e agora eu estava em cima dela. Eu andei mais perto e coloquei seu
cabelo do jeito que eu queria. Nossos olhos se encontraram e de repente nós
dois ficamos sérios. — Nem de perto — Eu sussurrei.

Ela permaneceu imóvel, seus lábios se separaram quando seus olhos


foram para a minha boca como ela tinha feito outro dia.

Oh, Eden, não faça isso. Não me mostre que você quer ser beijada.

Inclinei-me rapidamente e me virei para o meu material.

— Você está confortável? — Eu perguntei, sem me virar, limpando a


garganta. Eu respirei fundo e desejei que meu corpo se calmasse, também.

— Sim, eu estou bem.

Sentei-me em uma pedra a poucos metros de distância, coloquei o meu


bloco de desenho no colo e comecei a traçar o seu contorno. Pensamentos
primitivos e insistentes corriam por mim enquanto meus olhos se moviam entre
o seu corpo e de volta para o meu lápis. Parei e respirei. Se controle.

— Então, qual é a nossa lição de hoje? — Ela perguntou em voz baixa.

— Nossa lição? Oh, lição, certo. Uh, mais matemática.

— Não, vou continuar a trabalhar na adição e subtração no meu quarto à


noite. Que tal um pouco de ciências hoje?

Meu lápis continuou se movendo. Depois que comecei, era quase como se
minha mão assumisse. Eu mal tinha que pensar no que estava desenhando.

Tentei lembrar-me de novo o que eu tinha aprendido quando tinha oito


anos, idade que Eden tinha quando chegou. — Você conhece os estados da
matéria?
— Não.

— Ok, vamos falar sobre isso hoje e tudo o mais que me lembro desde o
primeiro ano de ciências. Imagino... Bem, acho que qualquer coisa que eu não
consiga me lembrar, provavelmente não seja tão importante. Ou, pelo menos,
não é aplicável para a vida — Eu ri baixinho e ela sorriu para mim, mas depois
ficou séria e suspirou.

— O que é aplicável à vida, Calder? Talvez Hector esteja certo. Se todos


nós vamos para Elysium em breve, por que eu deveria me preocupar em
aprender sobre este mundo e como ele funciona?

Meu lápis continuou trabalhando enquanto eu pensava sobre isso. —


Lembra-se do que eu disse sobre a glória da manhã naquele dia? — Olhei para
cima e ela acenou para mim. — Eu aprendi sobre elas em um campo agrícola
que a classe de trabalhadores teve que pegar — Olhei para ela, meus olhos
apreciando a forma dos seus lábios entreabertos como eu os coloquei no papel.
Meu batimento cardíaco acelerou. Eu imaginei que era o meu dedo, e não o lápis
traçando aqueles lábios perfeitos. Parecia íntimo e pessoal. Limpei a garganta.
— Enfim, e se eu não tivesse conhecido esse detalhe daquele dia? Esse
conhecimento resultou em anos de bala de caramelo para mim — Eu olhei para
ela e pisquei, e ela riu baixinho com um rubor subindo em seu rosto.

Eu olhei para o meu papel de novo e desenhei em silêncio por um


minuto. — Meu ponto é, você nunca sabe quando um pequeno pedaço de
conhecimento vai ser útil ou talvez... Talvez até mesmo mudar a sua vida. Acho
que você deveria tentar absorver o máximo disso possível. Ninguém deve
impedi-la de adquirir conhecimento, se você quiser.

Ela ficou em silêncio por um minuto. — Obrigada, Calder.

— Pelo quê? Isso é ainda um comércio. Estou me beneficiando também.

— Você está se arriscando, também.

Eu olhei para ela, concentrando-me nas delicadas maçãs do seu rosto e,


em seguida, de volta para o meu papel. — De algum modo... Parece que isso vale
o risco.

Levantei-me, fui até ela e arrumei seu cabelo de novo para que uma parte
ficasse na luz do sol onde brilhava como ouro. Havia algo cintilante nela, uma
incandescência exuberante. Não era à toa que ela foi a escolhida para nos
guiar através da escuridão, pensei. Ela brilha.

Quando a minha mão se moveu através da seda pesada do seu cabelo,


nossos olhos se encontraram.

— Calder... — Ela começou.


— Sim? — Eu perguntei com a minha voz ainda mais rouca do que
normalmente era. O tempo parecia ter parado, ela e eu éramos os únicos a nos
mover, o mundo que nos rodeava estava congelado neste momento. Seus lábios
cheios e cor de rosa se separaram e eu quase gemi.

— Eu... — Ela olhou para baixo, quando um tom rosa subiu por seu
pescoço. Então seus olhos bravamente encontraram com os meus. Ela se
inclinou para a frente e colocou seus lábios nos meus. Eu me assustei um pouco,
e meus olhos permaneceram abertos, enquanto seus lábios simplesmente
pressionavam contra os meus, firme, mas macios com seus olhos fechados. Eu
sabia que deveria me mover - eu sabia que deveria - mas eu estava preso ao
chão, imóvel, incapaz de ter um pensamento racional. E então sua língua saiu
timidamente e antes mesmo que eu percebesse, a minha também. Seu sabor
doce e delicioso me cercou quando nossas línguas se encontraram e se tocaram
suavemente, testando, experimentando. Eden suspirou, suas mãos agarraram
meus ombros e ela me puxou para mais perto. Ela inclinou a cabeça e sua língua
molhada deslizou mais profundamente em minha boca.

O poder da necessidade de acasalar, duro e vigorosamente, me chocou.


Eu a queria. Eu não conhecia essa atração antes de hoje, mas agora a conhecia.
Eu a queria desesperadamente, mas me afastei, me virando e tentando esfriar o
meu sangue em fúria.

Quando me virei para ela, seu rosto estava corado e ela piscou para mim
com seu rubor se aprofundando. — Eu sinto muito — Disse ela em voz baixa. —
Eu só queria... Beijá-lo. Só uma vez. Mesmo se você não quisesse muito — Ela
balançou a cabeça ligeiramente com uma expressão feroz em seu rosto, porém
vulnerável e repleta de uma força cautelosa que me fez sentir intimidado ao
estar na presença dela. Desde a primeira vez que eu tinha falado com ela,
quando ela pediu para se juntar ao nosso jogo, senti uma determinada força
sobre ela. Ela parecia mansa, gentil, suave. Contudo, a profundidade da sua
força era evidente, algo que eu nunca tinha visto em mais ninguém que eu
conhecia. — Se eu tiver que viver em Elysium o resto da vida com alguém que eu
não amo, pensei que talvez um beijo seu, mesmo que apenas um, tornaria isso
suportável — Seus olhos subiram para os meus e eu a encarava.

Suas palavras agitaram meu interior. Eu tinha vivido a minha vida com o
conhecimento de que um grande dilúvio viria e nossa comunidade, as pessoas
de Hector, iriam para a terra prometida. Eu tinha sonhado que Elysium seria
semelhante, o cheiro, a sensação. Eu tinha secretamente até mesmo temido, me
perguntando se eventualmente era tudo o que Hector dizia. Afinal de contas, ele
nunca realmente esteve lá. Mas eu nunca tinha considerado que Eden pudesse
temer algo - ter seus próprios sonhos nunca cumpridos por causa de seu papel
no prenúncio. Eu até tinha percebido que ela olhava para seu papel como um
dom, como foi ensinado para o resto de nós. Mas, claramente, que não era o
caso.
E, no entanto... Os deuses sabiam mais. Ou será que não?

— Isso não pode acontecer de novo, Eden — Eu recuei um pouco. O rosto


de Eden caiu e o rubor parecia aprofundar ainda mais. Ela lambeu os lábios, os
lábios que eu tinha acabado de provar, e eu quase gemi, mas me segurei.

— Eu sinto muito. Isso — Ela balançou a cabeça. — Isso foi muito, muito
errado da minha parte. Sinto muito por colocá-lo nessa situação.

Eu coloquei minha mão em seu braço; sua pele era quente e macia. Tirei
minha mão rapidamente. — Não, eu quero te beijar de novo, e quero fazer isso
melhor. Mais do que estou disposto a pensar.

Os olhos de Eden se arregalaram. — Então... Por quê? Por que não pode?
— Seus olhos estavam cheios de mágoa.

— Porque, você vai ser a mulher de Hector, Eden, e todos os nossos


destinos estão ligados a isso. Eu não sei como Elysium vai ser. Não sei um
monte de coisas — Eu passei minha mão no meu cabelo e segurei um punhado
antes de abaixar a minha mão e continuar. — Mas o que eu sei é que você vai ser
a mulher dele daqui um ano. Vai lhe pertencer. Ele nunca a teria de outra
maneira — Você nunca vai me pertencer.

Ela apertou os lábios e se sentou e eu tropecei um pouco para trás. —


Sim. Eu sei. Conto os dias. Eu conto os dias da minha liberdade, que é uma
pobre desculpa para a liberdade, a propósito. Mas é preferível a aquilo que vou
ter que aguentar contra a minha vontade, para sempre! — Ela trouxe os ombros
para trás e endireitou as costas. — Pode ser Elysium para todos vocês, mas para
mim, soa como o inferno.

— Eden... — Eu disse, mas não sabia para onde ir a partir daí. Corri os
dedos pelo meu cabelo de novo e dei um passo para trás quando ela puxou o
vestido arrumando-o e começou a recolher suas coisas.

— Por favor, não vá.

Seus olhos se lançaram para baixo. — Eu acho que eu deveria. Sinto


muito. Eu me humilhei e disse coisas que não deveria ter dito e...

— Você pode sempre ser honesta comigo.

Ela finalmente levantou a cabeça e olhou para mim. — Eu não quero


parar os nossos encontros aqui. Ou colocar um fim as nossas... Sessões. Mas,
hoje, eu preciso ir — Ela deu um pequeno sorriso trêmulo. — Amanhã?

Eu balancei a cabeça. — Sim, amanhã — Eu sabia que estávamos


brincando com fogo, antes disso, mas agora... Estava ainda mais claro que seria
melhor para todos os envolvidos, se colocássemos um fim às nossas sessões,
aqui e agora.
Mas por mais que eu tentasse, não poderia me fazer dizer essas palavras.
Na verdade, de repente, o meu desejo de vê-la, de estar perto dela era
esmagador. Sua bravura me surpreendeu e me deslumbrou. Ela se atreveu a
sonhar além do que alguém tinha ordenado ser o seu destino, além do que até
mesmo os deuses a tinham destinado. E em vez de olhar como blasfêmia ou
simplesmente estúpido, algo sobre isso parecia poderoso, bonito e corajoso.

Assim como a coragem que ela tinha demonstrado naquele dia no campo
de jogo.

Tão bela como uma flor. Tão forte como uma erva daninha.

E algo dentro de mim parecia que tinha mudado, porque eu tinha sonhos
também. Naquele momento, naquele lugar, eu admiti para mim mesmo que eu
ansiava por mais para a minha vida e talvez esses sonhos fossem bonitos,
também. Admiráveis. Eu sempre tinha empurrado o desejo para longe, tinha
vergonha dele, pensando que era pecado, egoísta.

Mas talvez, apenas talvez, os meus sonhos não eram tão pecadores como
eu sempre pensei que fosse... De algum modo.

Eu a observei em silêncio enquanto ela se retirava. E em algum lugar lá


no fundo, em algum lugar onde não havia regras e nem limites, em algum lugar
onde só as batidas do meu próprio coração podiam ser ouvidas, o amor criou
raízes.

— Glória da Manhã — Eu chamei quando ela começou a atravessar as


rochas. Ela virou-se. Eu andei até ela e entreguei-lhe o retrato enrolado. Ele não
estava completamente terminado, mas perto o suficiente. — Feliz Aniversário —
Eu sorri. E, em seguida, contra a minha própria vontade, dei um passo à frente e
passei meus braços ao redor dela, inclinei-me e beijei-lhe a testa. O cheiro doce
de maçãs frescas nublou meu cérebro e eu me afastei um pouco atordoado.
Eden piscou para mim e suspirou, dando-me um pequeno sorriso de volta. E
então ela se foi e meus braços ficaram vazios.

Mais tarde naquela noite, depois que eu tinha entregado a água potável
do dia seguinte pelas cabanas, vi Xander fazer uma passagem pelo perímetro da
nossa terra e corri para onde estava. Quando eu abrandei para uma caminhada e
me juntei a ele, ele se assustou um pouco.

— Hey.
— Ei, eu vejo que você seria muito útil em um ataque — Eu brinquei com
ele.

Ele bufou. — Perdido em meus pensamentos. Você está certo. Todos são
alvos muito fáceis comigo aqui fora.

Eu olhei para ele de lado. — O que está em sua mente?

Ele suspirou e parou de andar. — Você realmente quer saber?

Parei também, e franzi o cenho.

Xander olhou para baixo. — Eu tenho um monte de tempo para pensar


andando por aí — Ele fez uma pausa. — Provavelmente, muito tempo.

— Hey, cuspa isso, Xander — Olhei em volta para me certificar de que


ninguém estava por perto. Eu não tinha certeza do porquê.

Ele fez uma pausa novamente. — Essa coisa com Eden...

Franzi minha testa. — Não tente me convencer do contrário, Xander. Sei


que tudo o que você vai dizer e eu...

— Você está errado — Ele interrompeu. — Você não sabe o que vou dizer.
Isto tem a ver com Eden de uma forma indireta, mas não como você está
pensando — Ele passou a mão pelo cabelo preto e liso. — Eu estive pensando
isso por um tempo, e nunca disse nada, porque, bem, tenho tentado superar os
meus próprios pensamentos pecaminosos... Eu acho. Minha cabeça está toda
bagunçada a maior parte do tempo — Ele olhou em volta. — Mas eu — Ele olhou
em volta rapidamente e depois para mim. — Questiono as coisas, Calder.
Questiono Hector — Ele parecia triste.

Meu corpo estava tenso e eu o deixei relaxar lentamente enquanto


considerava Xander.

— Eu vou e volto por ai e minha mente para aqui — Disse Xander. — Eu


trabalho nisso como um quebra-cabeça, e não faz sentido. Tantas coisas...

Desviei o olhar, na direção de nossa nascente, minha e de Eden, e disse


baixinho: — Não, eu questiono as coisas, também.

Xander soltou um suspiro que soava como se ele tivesse vindo


acumulando ar por horas, anos, talvez uma vida inteira.

— A ironia é, eu ando fora do perímetro da Acadia uma centena de vezes


por dia, e me sinto como um maldito animal enjaulado

— Por que você não me disse nada antes? Falamos sobre tudo.
Ele desviou o olhar por cima do meu ombro. — Sim, eu sei. Eu estava
tentando dar sentido a isso... Ou superar... Ou algo assim. Eu juro, Calder, eu
não sei mesmo.

Permaneci em silêncio enquanto ele corria as mãos pelo cabelo,


deixando-o parecendo como se tivesse viajado através de um vendaval.

— Eu acho que quando eu te vi com Eden, quando percebi o risco que


você estaria disposto a correr para ser amigo dela, pensei que talvez você
pudesse ter algumas perguntas ou dúvidas, também.

Fiz uma pausa. — Você já falou com Sasha sobre isso?

Sasha era vários anos mais velha do que nós e casada com outro
trabalhador. Mas junto com a gente, ela estava entre os que haviam nascido aqui
ou chegou a Acadia quando bebê. Nós não tínhamos escolhido esta vida. Isso
nos escolheu.

Xander balançou a cabeça. — Não, Sash é feliz. Ela gosta da sua vida.
Acho que ela realmente ama Aaron. Ela nunca parecia inquieta.

Eu balancei a cabeça. — Escute, Xander, o melhor que podemos fazer é


conseguir um lugar no conselho. Podemos sair para a grande comunidade dessa
forma. Nós não somos estúpidos. Podemos aprender as coisas. Nós vamos ter
mais opções lá... Mais oportunidades para encontrar respostas.

— Mas continuamos a não ter nada nosso — Xander fez uma careta e
olhou para longe, murmurando: — Mesmo dizer isso parece errado.

Eu franzi minha testa. Nos sempre foi ensinado a não querer nada para
nós mesmos, em vez de o grupo como um todo, era pecaminoso e egoísta. Não
era uma ideia fácil esquecer também. E talvez isso fosse uma coisa boa. Tudo era
tão terrivelmente confuso.

— Não temos muito tempo, Xander. Precisamos conseguir um lugar no


conselho, mesmo que seja apenas para um de nós antes que as inundações
cheguem.

Xander olhou para seus pés e, finalmente, disse em voz baixa: — E se


Hector estiver errado sobre isso também?

Algo que parecia uma mistura de medo e esperança percorreu o meu


sangue. E se.

Os olhos de Xander encontraram os meus, e foram preenchidos com o


que parecia ser a mesma coisa que eu estava sentindo. — Kristi, do Posto
Florestal me disse que muitos dos chamados profetas predisseram o fim do
mundo, e nenhum deles se tornou realidade... Obviamente.
— Hector diria que Kristi é uma mentirosa blasfema que está fazendo o
trabalho para o diabo — Eu disse.

Xander praguejou sob a respiração. — Sim. Eu sei.

— Eu não sabia que você e Kristi conversavam muito.

Ele acenou com a cabeça. — Sim... Ela é... — Ele fez uma pausa, olhando
como se estivesse tentando chegar a palavra certa para essa misteriosa Kristi. —
Amável.

— Quantos anos Kristi têm? — Eu perguntei, só por curiosidade.

— Um pouco mais velha do que nós. Ela completou dois anos na


faculdade da comunidade. E está se transferindo para uma universidade em
breve.

Alguém bateu a porta de uma cabana, e mesmo que isso não estivesse
muito perto de onde estávamos, ambos nos assustamos. Baixei a voz ainda mais
quando disse: — Não vamos falar sobre isso novamente, a menos que saibamos
que estamos em algum lugar onde ninguém está por perto.

Xander assentiu. — É realmente seguro discutir esse tipo de coisa perto


de Eden?

Eu pensei sobre isso por um segundo, a certeza enchendo meu peito. —


Sim. Sim, eu acredito que sim.

Ele fez uma pausa. — Você tem sentimentos por ela, não é?

Eu pensei sobre isso por um segundo e simplesmente decidi. — Eu não


seria tão estúpido.

Xander assentiu uma vez. — A coisa é, Calder, nem sempre é uma escolha
por quem se desenvolve sentimentos. Você está brincando com fogo em mais do
que uma maneira. Qualquer tolo pode ver o jeito que vocês se olham. Quanto
mais tempo passam juntos...

— Nós temos uma história, Xander. Estamos gostando um do outro.

— Gostando um do outro? — Ele bufou. — Eu gosto da sua mãe, e de


pores do sol. Você está “apaixonado” por Eden, confie em mim.

Eu sorri. — Ok, “apaixonado” vai um pouco além. Eu estou bem,


prometo. Você não precisa se preocupar comigo.

Xander estudou o meu rosto e depois balançou a cabeça novamente. —


Tudo bem, irmão — Ele começou a se afastar. — Tenha uma boa noite — E então
ele se virou e foi embora, deixando-me retornar para casa, e minha mente
passava por mais e mais do que havíamos discutido. E se Xander estivesse certo
e Hector errado? E se não teria uma grande inundação... E se eu tivesse a opção
de deixar Acadia?
CAPÍTULO SETE

Eden

No dia seguinte, Calder não apareceu na nascente e a tristeza e


humilhação me encheram enquanto eu caminhava de volta para o pavilhão
principal. Eu tinha arruinado tudo. Eu tinha agido como uma tola - a estúpida
tola honesta. Eu tinha que fugir para lamber minhas feridas. E agora, tinha
perdido meu único... Amigo. Ou eu achava que ele era meu amigo. Eu gemia em
desespero e coloquei minhas mãos sobre meu rosto quando me inclinei de
costas na parte interna da porta do meu quarto. Bom trabalho, Eden, eu pensei
amargamente.

Passei a maior parte do dia perdida na minha música - meu único


refúgio, meu único conforto.

Mais tarde naquela noite depois de eu ter ajudado a banhar os meninos


de Hailey e deixá-los vestidos com seus pijamas, eu caminhava de volta pela sala
principal para as escadas. Vi Maya, irmã de Calder, com uma pilha de roupas
dobradas em suas mãos abrindo a porta da frente para sair e parei no caminho.
Eu sorri para ela, mas ela corou, baixou os olhos e saiu pela porta antes que eu
pudesse dizer alguma coisa para ela. Meu Deus! Calder não contou a ela sobre
ontem, certo?

Eu subi as escadas devagar com meu coração pesado.

Quando entrei no meu quarto, vi imediatamente as roupas escuras


colocadas no final da minha cama. Eu parei confusa. Peguei-a e, em seguida,
olhei para trás por cima do meu ombro nervosamente, então fechei a porta. Eu
levantei a capa com capuz e simplesmente olhei para ela por alguns minutos,
mordendo meu lábio. Eu já tinha visto que os trabalhadores vestiam casacos
como estes, à noite, às vezes.

Era para eu usá-las? O capuz certamente me esconderia, especialmente


se estivesse escuro. Eu poderia usar isso e ousar a sair entre os trabalhadores?
Eu me sentia exultante. Maya tinha deixado isso para mim. Calder teria enviado
isso por ela? Eu respirei fundo. Talvez ele não estivesse com raiva de mim. Meu
coração acelerou e eu levei a capa para o meu peito, segurando-a firmemente
como um lento sorriso no meu rosto e deixei escapar um pequeno grito.

O resto da tarde passou a passo de caracol quando esperei para que ela
ficasse escura e para que Hailey fosse para a cama.
Uma vez que o pavilhão principal estava tranquilo e o céu à noite era
profundo e negro, apenas o pedaço da lua nova era exibido, desci as escadas e
passei pela porta da frente, fechando-a silenciosamente atrás de mim. Uma vez
que eu tinha passado pelo pavilhão principal, coloquei a capa e todo o meu
cabelo dentro, puxando o capuz baixo sobre o meu rosto. Então caminhei
rapidamente em direção às cabanas dos trabalhadores onde várias fogueiras
estavam acesas a noite.

Enquanto eu caminhava despercebida pela primeira vez desde que


cheguei aqui, absorvi toda a visão e sons ao meu redor. As pessoas estavam ao
redor de três fogueiras principais na grande área aberta no centro de todas as
cabanas. Havia risos suaves e conversas, e ouvi pequenas partes de histórias que
as pessoas estavam dizendo enquanto eu passava. Eu gostaria de ter coragem de
me sentar com eles e ouvir, mas não queria correr o risco de alguém me notar.
Bastava caminhar por ai como estava fazendo - me sentindo livre e anônima -
era emocionante. Eu dei uma respiração funda do ar fresco, levemente
esfumaçado.

Em uma das fogueiras, um homem estava cantando baixinho, sua voz era
tão grave e melódica que fez todos ao redor se sentarem calmamente e
escutarem. Eu parei por um segundo embalada pelo som calmo da sua voz
baixa, desejando que pudesse tocar piano enquanto ele cantava. Senti as teclas
sob meus dedos, encontrando as notas que acompanhavam a melodia que ele
cantava.

De repente, uma mão agarrou-me, e eu quase soltei um grito quando a


pessoa começou a andar e eu fui forçada a me mover com ele, tropeçando um
pouco.

— Shh, sou eu — Eu ouvi a voz de Calder dizer. Meu coração disparou. Eu


reconheceria essa voz em qualquer lugar. Eu conheceria essa voz no meio de
milhares de símbolos ressoando ou na escuridão profunda de uma caverna sem
fim. Isso movia dentro de mim.

Deixei escapar um suspiro e peguei o seu ritmo. — Para onde vamos?

— Você vai ver — Eu podia ver seu sorriso suave, porém travesso no
brilho ofuscante de uma fogueira nas proximidades e sua beleza me atingiu.
Meu coração deu um salto. Eu queria gemer e levantar o rosto para os deuses,
gritando: — Por quê? Por que vocês o fizeram tão lindo para mim se eu nunca
poderia ficar com ele, por quê? Por quê? Por quê?

Calder aumentou o ritmo e logo estávamos correndo com a brisa


soprando em nossos rostos enquanto eu ria alto, sentindo a alegria selvagem do
momento. Meus lábios estiveram nos dele, e provavelmente nunca aconteceria
novamente. Mas eu tinha vivido isso, mesmo que apenas uma vez, e se isso
fosse tudo que eu teria, eu iria guardá-lo bem, lá no fundo, onde ninguém mais
poderia tirar isso de mim.

Paramos com a respiração saindo duramente enquanto estávamos na


escuridão. Olhei em volta e vi que estávamos à beira do pomar.

— Por que estamos aqui?

— Nossa lição do dia. Vamos — Ele pegou minha mão na sua de novo e
nós caminhamos através das fragrâncias das árvores enluaradas. Os perfumes
da terra – o solo, a grama e o aroma suavemente do ar – nos cercava. A mão de
Calder mantinha a minha - segurando firmemente e espalhando calor pelo meu
corpo.

Isso. Isso era Elysium - não algum lugar longínquo, insondável. Isso.

Quando chegamos a uma pequena clareira entre as árvores, Calder se


sentou na grama e eu o segui. Ele deitou-se e apontou para cima. — Olhe.

Deitei-me, também, e respirei fundo quando vi as estrelas claras e


brilhantes no céu escuro da noite, cintilando acima de mim. — Elas são tão
brilhantes — Eu sussurrei.

Eu senti Calder acenar ao meu lado. — Aqui é suficientemente longe da


eletricidade do pavilhão principal e longe o suficiente das nossas fogueiras.
Além disso, é uma lua nova...

Ficamos deitados em silêncio por alguns minutos, olhando para o céu


cheio de estrelas brilhantes. Limpei a garganta. — Você vai me ensinar sobre as
constelações? — Eu perguntei.

— Sim. O que eu sei, de qualquer maneira.

Eu balancei a cabeça, olhando para ele. A luz das estrelas era suave,
apenas o suficiente para que eu pudesse ver Calder, apenas em sombras e
destaques, porém o suficiente para perceber sua expressão.

— Então... Você não está se sentindo estranho por ontem? — Eu


perguntei em voz baixa.

Ele fez uma pausa e eu prendi a respiração. — Você quer dizer sobre o
beijo? — Eu ouvi o sorriso em sua voz. — Eu mal pensei nisso.

Eu bufei. — Bem, Deus, isso me faz sentir muito melhor.

Calder riu, virando o rosto para mim. Virei o rosto em direção ao dele e
nós olhamos um para o outro. Uma expressão divertida ainda estava em seu
rosto antes de ele ficar sério. — Posso ser honesto com você, Eden?

Eu gemi, olhando de volta para o céu. — Isso vai ficar pior, não é?
Calder riu. — Não — Ele suspirou e ficou em silêncio por algumas batidas.
— Em poucos dias, a vida parece ter se tornado complexa. A parte simples é esta
— Eu olhei para ele, e ele olhou para os meus lábios e, em seguida, pareceu se
segurar quando seus olhos dispararam de volta para os meus. Ele limpou a
garganta. — Se eu fosse apenas um garoto, e você apenas uma garota, eu não
teria beijado uma vez como você pediu — Ele fez uma pausa e meu coração caiu.
Oh.

— Eden, eu a beijaria por muito tempo, e beijaria muitas vezes.

Oh. Oh. Eu pisquei e me sentei. — Isso deveria me fazer sentir melhor?

Calder soltou um riso em uma respiração, sentando-se também. — Não,


mas quero que fique claro com o que estamos lidando aqui. Nós estamos
atraídos um pelo outro. Admiro você, e gosto de estar com você. Eu quero ser
seu amigo. Mas, Eden, nunca pode acontecer nada entre nós. É simplesmente
do jeito que é.

Eu me senti magoada, com raiva e amarga, a alegria que estava sentindo


apenas alguns minutos antes, desapareceu. — Meu destino — Eu disse.

Calder fez uma pausa, franzindo a testa e correndo um dedo


distraidamente sobre o lábio inferior. — Eu não sei nada sobre isso. Só sei sobre
a vida que nós conhecemos e isso poderia ser mais para nós, se permitíssemos.

— Certo. Obrigada por ser honesto comigo. Admiro você, também,


Calder. É muito... Obediente — Eu senti raiva. Irritada com Calder? Irritada com
os deuses por me trazerem aqui e me colocar à distância deste garoto incrível?
Por quê?

Calder franziu a testa e, em seguida, limpou a garganta quando desviou o


olhar. De repente, me senti culpada. Eu quis dizer isso como um insulto, e ele
tinha tomado a minha declaração da mesma forma que havia sido dito. Na
verdade, eu estava ferida e cheia de amargura com a injustiça da minha
situação. E aqui estava Calder um garoto, praticamente um homem, tentando o
seu melhor para ser honesto, ser meu amigo, meu único amigo.

— Sinto muito — Eu disse. — Isso foi injusto.

— Está tudo bem. Sou obediente. Gosto de pensar que sou obediente aos
deuses, mesmo que Hector seja propenso aos mesmos erros ou más
interpretações que qualquer ser humano poderia ser. Gosto de pensar que sou
obediente a esta comunidade, as necessidades e felicidades dos outros aqui. Que
iria acontecer, não só para mim, mas para esta comunidade, se soubessem que
eu estava brincando com a futura esposa de Hector?
— Brincando? Você faz isso parecer tão ruim — Hector frequentemente
usava essa palavra. Ele disse que as ações pecaminosas eram como brincavam
com o diabo.

— Seria errado. Apenas nos encontrar assim... É o mais longe que isso
pode chegar.

Fiquei em silêncio por um bom minuto, ponderando sobre isso em minha


mente. Como no dia anterior, quando eu o tinha beijado, tudo o que eu queria
fazer era ir embora, correr. Ele sabe como me sinto sobre ele. Ele está apenas
sendo gentil aqui para evitar ferir meus sentimentos? — Sim, acho que você
está certo — Eu disse, sentindo-me derrotada.

Calder se virou para mim. — Meu ponto em ser honesto com você sobre
minha atração é que eu acho que é melhor se estiver às claras, por assim dizer.
Precisamos agir com cuidado. Eu quero ser seu amigo. Mas não em detrimento
de toda a nossa comunidade e não em detrimento dos nossos corações... E dos
nossos sonhos.

Na verdade, meu coração já foi rompido por ele, e quebrado estava, mas
eu balancei a cabeça, de qualquer maneira. Eu sabia que ele tinha sonhos para
sua vida. E estava arriscando aquilo apenas por me encontrar como estava
fazendo, certamente por me ensinar coisas. E isso, fez a minha admiração por
ele mais forte. Como eu poderia pedir-lhe mais?

Ficamos em silêncio por um momento. Calder me observava no escuro. —


O retrato é lindo — Eu finalmente disse. — Nada como cara de abóbora para
mim — Eu tinha desenrolado o papel na noite anterior e minha respiração
pegou na garganta com a beleza absoluta da imagem. Será que eu realmente era
assim? Hector tinha me dito que eu era uma criança linda e angelical. Mas algo
na maneira com que Calder tinha desenhado, me fez parecer poderosa e forte, o
olhar no rosto com certeza era confiante, sereno, mesmo quando olhei para
cima.

Calder riu. — Se você fosse um pouco mais como uma abóbora, eu


suportaria toda essa situação mais facilmente.

Eu me segurei de fazer uma careta. Se era para ter alguma chance disso
dar certo, ele não podia flertar comigo.

Ele pareceu ler minha mente quando sua expressão se tornou séria,
limpou a garganta e deitou-se. — Então, falando de abóboras, nossa lição de
hoje vai ser sobre as estrelas.

Eu levantei uma sobrancelha. — O que abóbora tem a ver com estrelas?

— Oh, você nunca ouviu falar da constelação, Squasharius?


Eu ri e me senti bem. — Eu juro, Calder Raynes, se você está me
ensinando todos os tipos de coisas, terei que desaprender mais tarde, senão não
serei feliz.

Calder riu. — Ok, talvez não haja Squasharius — Ele ficou em silêncio por
um minuto. — Você sabia que quando está olhando para as estrelas, na verdade
você está olhando para trás no tempo?

— Como assim? — Eu sussurrei.

— Porque a luz de uma estrela leva milhões de anos para chegar à Terra.
Assim, por exemplo — Ele apontou para cima novamente, para uma pequena
estrela piscando — Na verdade, aquela pode ser vista há milhares de anos atrás.

Algo nisso parecia mágico para mim e eu decidi não tentar envolver
minha mente em torno da ciência. — É como se eu pudesse imaginar os deuses
lá em cima, em algum lugar por trás de todas essas estrelas, olhando para nós
agora — Fiz uma pausa. — Posso te contar um segredo? — Eu trouxe a minha
voz até um sussurro.

— Qualquer coisa.

— Eu só rezo para um deles — Corei, mesmo que ele não pudesse ver meu
rosto. Dizer isso em voz alta, apesar do fato de eu ler horas e horas do Livro
Sagrado todas as doze divindades a cada dia, parecia uma blasfêmia.

Calder se virou para mim. — Qual? — Ele perguntou com a surpresa em


sua voz.

— O Deus da Misericórdia.

— Por que ele? — O tom da sua voz era suave.

Eu considerei a sua pergunta por um minuto. — Porque sim... Acabei de


descobrir que não há muito que a graça e a misericórdia não possam consertar.
E eu acho que ele... Ele se importa mais com o que nos acontece. Ou talvez ele
seja capaz de nos amar apesar de quanto erramos, o quão imperfeitos somos, e
quanto nós queremos o que não se deve querer — Eu terminei em silêncio.

Nós dois ficamos em silêncio por alguns minutos.

— Então, ele tem o trabalho mais difícil.

Eu soltei uma pequena risada. — Sim. Eu sempre imagino que quando eu


chegar a Elysium, vou encontrá-lo pela primeira vez.

Depois de um minuto, Calder perguntou: — Quais são seus sonhos, Eden,


quero dizer, se não fosse o seu destino se casar com Hector?

Você. Você é meu sonho.


— Eu não sei. Ver o mundo, como você, eu acho. Saber o que poderia ter
lá fora para mim. Qualquer coisa.

— Você tem orgulho de ser escolhida? — Ele perguntou baixinho.

Eu pensei sobre isso por um minuto. — Não há sentimento de satisfação


em algo que você não fez nada para conseguir — Eu respondi.

Calder se virou para mim. — Mas, obviamente, os deuses veem alguma


coisa em você, talvez você nem veja isso. Você foi escolhida por eles porque tem
um coração bonito, corajoso.

Eu ri baixinho. — Não, não pode ser isso.

— Por que não?

— Porque é o meu coração que me faz querer negar o chamado do meu


destino.

É o meu coração que quer que você seja o meu destino.

Calder permaneceu quieto, parecendo pensar na minha resposta.

— Qual é aquela a direita? — Eu perguntei, apontando para uma estrela


brilhante sozinha na borda do céu.

Calder virou-se de costas e olhou para onde eu estava apontando. — Eu


não sei.

— Talvez você possa perguntar a alguém amanhã.

— Eu não vou ser capaz de vê-la amanhã para indicá-la — Ele sorriu.

— Hmmm, acho que as estrelas nos ensinam coisas, mesmo que seja de
mil anos atrás.

— O que as estrelas nos ensinam?

Parei por um segundo. — Que algumas coisas são vistas de forma mais
clara na luz... E algumas coisas são vistas de forma mais clara na escuridão.

Calder virou o rosto para o meu, parecendo estudar meu rosto na


penumbra. Sua expressão parecia melancólica. Ele não disse nada, mas depois
de um momento, segurou minha mão na sua, e ambos nos viramos para olhar o
céu.

Nós conversamos sobre as estrelas, sua bela voz ligeiramente rouca,


enchendo o ar da noite.
Enquanto eu estava perto dele, sentia o calor do seu corpo junto ao meu,
e o ouvia falar. Eu me senti contente algo que eu não tinha conhecido antes.
Fechei os olhos por um segundo.

O que pareceram momentos mais tarde, alguém me sacudiu. — Hey —


Ouvi a voz de Calder e olhei em volta, desorientada. O cheiro doce das árvores
frutíferas despertaram meus sentidos e meus olhos se abriram lentamente. —
Eu tenho que levá-la de volta — Disse Calder. — Nós dois caímos no sono.

— Ninguém sabe que eu saí — Eu disse sonolenta.

— Eu vou estar perdido, no entanto — Disse ele, levantando-se e


estendendo a mão para mim.

Levantei-me e me limpei. Eu achei que a sua família saberia que ele não
tinha ido para a cama, uma vez que só tinham dois quartos.

Começamos a andar e Calder agarrou a minha mão. Pegamos o caminho


mais longo do perímetro externo das cabanas, andando o mais silenciosamente
possível, sem falar.

As fogueiras estavam todas apenas em brasa agora, morrendo, e a


maioria das pessoas já tinha entrado.

Eu andei o mais lentamente possível, desejando que pudesse ficar a noite


toda fora, apenas perambulando por aí fazendo o que quisesse. Com Calder. Eu
suspirei.

Calder olhou para mim. — Encontre-me na nascente amanhã?

Eu balancei a cabeça. Estava mais claro agora que a eletricidade do


pavilhão principal atingia o caminho que nós estávamos andando.

— Obrigada por isso — Eu disse, olhando para ele e me sentindo tímida.


— É difícil explicar o que isso significava para mim, mas obrigada.

Calder olhou para mim e sorriu. — Talvez nós façamos isso novamente.

Esperança encheu-me e eu assenti, sorrindo de volta para ele e


removendo a capa que me tinha fornecido anonimato e a devolvi.

Ele me deixou no local onde as cabanas terminavam, e o grande pátio


entre as casas dos trabalhadores e pavilhão principal começava. Eu olhei para
trás várias vezes para vê-lo em pé, onde ele me deixou enquanto ele me
observava andar o resto do caminho. Suas mãos estavam nos bolsos e quando os
meus passos nos separaram, ele se tornou nada mais do que uma sombra.
Quando a nossa distância cresceu, assim também o fez a solidão em meu
coração. Eu já sentia falta dele.
Quando entrei no pavilhão, alguém agarrou meu pulso e eu gritei em
surpresa.

Eu olhei para cima para ver Clive Richter, meu conselheiro favorito, pelo
menos, um homem com olhos astutos que usava muito produto de cabelo. Eu
pensei que se isso encaixa em sua personalidade gordurosa. Por que Hector o
considerava santo o suficiente para ser um dos líderes de seu povo, eu não tinha
a menor ideia.

— Você não deveria sair do pavilhão, não é? Especialmente à noite.

Meu coração começou a correr e eu engoli. Se Clive soubesse que eu


estava saindo do pavilhão para algo que Hector não tinha aprovado, tudo estaria
acabado. Não haveria mais aulas. Não teria mais Calder. Eu lancei meus olhos
para baixo, tentando parecer o mais obediente possível.

— Eu só queria ver o que os trabalhadores faziam à noite — Eu menti. —


Eu andei através do seu campo uma vez. Só isso. Como posso conduzir as
pessoas se não as entendo? Se eles não pensam que eu me importo com quem
são? — Meus olhos permaneceram baixos enquanto eu o esperava responder.

— Eles são um bando de degenerados, sabe. Você tem sorte de não ser
estuprada por um grupo deles.

— Degenerados? — Eu perguntei com meus olhos passando para os dele.

— Sim, degenerados. Você ouviu suas histórias — Disse ele, referindo-se a


informação que Hector nos deu sobre suas vidas quando eles se juntaram a
nossa família no Templo.

— Sim, mas eles estão aqui porque querem ser purificados — Eu disse.

Clive bufou. — O ponto é não vá caminhando pelo campo novamente,


Eden. Vou observar todas as noites para me certificar de que você está aqui. Não
faça isso novamente, ou terei que falar isso para Hector.

Eu balancei a cabeça ainda abaixada. Quando eu finalmente olhei para


cima, encontrei seus olhos deslizando sobre o meu corpo, com um brilho escuro
neles. Ele se concentrou em meus seios por tanto tempo que eu quase coloquei
meus braços para cobri-los sob seu escrutínio, mas eu me mantive parada. A
princesa perfeita.
— Hmm hmm — Disse ele, levantando finalmente os olhos para o meu
rosto. Ele empurrou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e eu mordi
minha língua para me impedir de cuspir nele.

— Muito linda — Ele cantarolava. — Você tem quase dezoito anos, não é,
Eden?

— Não, apenas dezessete anos.

— Hmm. Posso imaginar que Hector está impaciente para o dia que você
se tornará dele — Ele se inclinou mais perto para que eu pudesse sentir seu
hálito rançoso. — Você vai ser uma boa esposa, não vai, Eden? Tão adorável.
Tão obediente.

— Eu dificilmente terei tempo para ser uma boa esposa, certo? As


inundações virão e tudo vai acabar.

Clive se inclinou para trás e sorriu. — Não, apenas começando, minha


linda. Apenas começando — Ele riu e acariciou minha bochecha mais uma vez e,
em seguida, virou-se e foi embora. Estremeci ao vê-lo recuar, sem entender o
que ele quis dizer com sua afirmação. Corri para o meu quarto, onde
rapidamente me despi e fiquei na cama.

Meus sonhos estavam cheios de Calder banhado na luz das estrelas.


CAPÍTULO OITO

Calder

Choveu durante os próximos dois dias, então eu não fui capaz de


encontrar Eden na nossa nascente. Na verdade, eu não fui capaz de sair de jeito
nenhum. Eu achei que os deuses tinham decidido que eu precisava de uma
miniférias e foram fiscalizar o meu trabalho para mim.

Em vez disso, dois longos dias. Depois de ter ficado com Eden sob as
estrelas, eu estava na porta da nossa pequena cabana escura e olhava em direção
a onde eu sabia que era o quarto de Eden, no segundo andar. Ele estava cheio de
luz e eu me perguntei o que ela estava fazendo lá em cima enquanto eu estava
aqui em baixo. Ela estava sozinha? Entediada? Imaginei que estivesse. Eu me
imaginei colocando uma escada contra essa janela, subindo para ela, e em
seguida, pegando-lhe a mão enquanto nós corremos através da chuva quente,
com o cheiro de maçãs farejando o ar, o vestido agarrado a ela, revelando sua
pele rosa por baixo. Eu gemi. Esta linha de pensamento não era produtiva. Eu
tinha dito a ela que não podia beijá-la, que não poderia ser mais do que amigo.
Mas metade da minha mente e meu corpo - certamente meu corpo - não parecia
estar de acordo com esse plano. Na verdade, parecia haver um motim completo
com o plano, já que meus pensamentos constantemente se voltavam para Eden,
deixando meu sangue em chamas. Várias vezes eu sucumbi à tentação, subindo
para as colinas e me recostando contra uma rocha, e eu me acariciava até que a
liberação atravessasse meu corpo, potente e intensa. Eu sabia que era pecado,
mas momentos antes, isso parecia necessário, vital para a minha sobrevivência.
Essa cerimônia de purificação de água teria o seu trabalho cortado, até onde eu
estava preocupado.

— Vá passear. Você é como um animal enjaulado — Minha mãe me


importunava.

Eu suspirei baixinho, me lembrando de Xander usando as mesmas


palavras alguns dias antes, quando tínhamos conversado.

— Essa maldita chuva — Eu murmurei, enfiando a cabeça para fora da


porta, coberta por uma pequena saliência de madeira.

— Você quer alguma coisa para fazer, eu tenho uma centena de latas que
precisam ser preenchidas com tomate — Minha mãe disse, olhando por cima do
ombro onde ela estava na mesa. Latas estavam alinhadas ordenadamente na
frente dela assim como uma panela grande de tomates descascados e
arrefecidos. Ela estava ajudando a fazer estoques de comida para os meses de
inverno. Não era muito frio aqui no deserto, mesmo no inverno, mas tudo tinha
uma temporada e tomates só cresciam em Novembro.

Eu respirei, e relutantemente fui ajudar com a produção de conservas.


Depois de alguns minutos, eu disse: — Latas não são fornecidas pela natureza.

— O quê? — Minha mãe olhou para cima.

— Hector sempre diz que devemos usar os instrumentos e os materiais


que os deuses tenham fornecido naturalmente para nós, que usando as
ferramentas perversas da grande sociedade só corrompe a nossa pureza.

Minha mãe não me respondeu por alguns minutos, apenas continuou a


colocar os tomates nas latas. Depois de um tempinho, ela disse: — Nós usamos
tão pouco quanto possível das coisas da grande sociedade. Algumas coisas
simplesmente não podem ser feitas de rocha, terra e galhos de árvores.

— Oh, eu vejo. Então, quando é conveniente, nós usamos o que os deuses


deram. Eu não tenho a versão atualizada do Livro Sagrado. Talvez isso esteja na
nova edição — Eu disse sarcasticamente.

Minha mãe olhou para cima bruscamente. — Calder! Você está


blasfemando — Sua voz era um sussurro, como se alguém estivesse ouvindo - os
próprios deuses talvez - embora você não conseguisse esconder nada dos
deuses.

— Nós fazemos muitos, muitos sacrifícios, como povo de Hector — Ela


acenou com a mão ao redor da cabana. — Não há água corrente, nem
eletricidade.

— Sim, mas é evidente que Hector não faz essas mesmas concessões. Por
quê? Alguém já perguntou a ele? Talvez os deuses ordenassem assim? É isso?

— Calder — Minha mãe sussurrou. Eu nunca tinha falado com ela dessa
maneira e de repente eu estava envergonhado.

— Sinto muito, mamãe. Eu não deveria ter dito nada disso.

Ela acenou com a mão na frente dela. — É a chuva. Isso fica sob a pele.
Esta cabana é pequena para quatro pessoas. Amanhã irá limpar, e seu humor vai
melhorar. Você vai ver — Ela sorriu para mim e acariciou minha bochecha. Eu
fiz o meu melhor para sorrir de volta.

Ficamos em silêncio no nosso trabalho por um minuto. — Você vai ser


capaz de se casar em breve, se desejar. Assim que você tiver sua purificação de
água — Disse ela. — Alguma das meninas chamou sua atenção?
Sim, como uma questão de fato. Tem uma história engraçada, no
entanto...

— Não.

Minha mãe deixou escapar um suspiro. — Oh, Calder, certamente tem —


Ela hesitou em suas conservas, olhando para cima, como se estivesse pensando.
— Vamos ver, existem quatro meninas aqui na sua idade. Lucie Jennings,
Hannah Jacobson, Leah Perez, Sadie Campbell...

— O que importa, afinal? As grandes inundações se aproximam a cada dia


— Eu interrompi.

Minha mãe parou seu trabalho e olhou para mim. — Sim, e é


precisamente por isso que você quer ter uma esposa. Assim, você pode levá-la
para Elysium com você.

Eu ri sem humor. — Talvez eu devesse esperar até eu chegar lá. E se lá as


opções forem melhores?

Minha mãe estreitou os olhos para mim e soltou a panela que estava em
suas mãos. — O que deu em você?

Deixei escapar um suspiro. — Eu só... Você nunca questiona as coisas,


mamãe? Você nunca tem perguntas que gostaria que alguém que não fosse
Hector respondesse?

Seus olhos foram para a pequena janela ao lado dela por um minuto.
Finalmente, ela olhou para mim. — Nós nunca teremos todas as respostas para
todas as perguntas, Calder. Mas Hector é bom e Hector tem os nossos melhores
interesses no coração. Isto é tudo que eu preciso saber, e isso é tudo que você
precisa saber. O diabo está testando sua fé e você deve vencê-lo — Ela pegou a
colher e começou a trabalhar novamente, antes de continuar. — Você sabe, se
não fosse por Hector, você nem estaria aqui. Ele salvou minha vida, Calder, e
salvou a vida do seu pai, também. Ele nos deu uma família, um propósito.

— Eu sei, mãe — Eu respondi. Ela me contou a história muitas vezes, de


como ela e meu pai tinham crescido em casas sem amor onde espancamentos
severos era uma ocorrência diária. Eles conheceram Hector, quando ambos
tinham dezoito anos, quando ele estava em uma de suas missões. Minha mãe
estava grávida de Maya e eles não tinham para onde ir. Hector mostrou-lhes a
bondade que nunca tinham conhecido, e eles ficaram felizes em saber que foram
escolhidos para serem do seu povo, e um dos primeiros a viverem em Acadia.
Era a primeira vez que eles sentiram que a suas vidas tinham significado.

Minha mãe acenou com a mão ao redor da nossa pequena cabana. — Isso
pode não parecer muito, mas há paz aqui. Há ordem aqui. Há fé e propósito.
Estamos todos muito felizes. Abençoados. Sei que às vezes a simplicidade da
vida aqui parece difícil. Mas há paz na simplicidade. A grande sociedade está
repleta de caos, incerteza e dor. Acredite em mim, eu sei. — Ela me olhou com o
canto do olho. — Você teve uma vida boa, Calder?

Eu a olhava. — Sim, mamãe — Mas eu quero mais.

Ela balançou a cabeça como se ela soubesse qual seria a minha resposta.
— Então você tem que agradecer Hector por isso.

— Eu tenho que lhe agradecer por isso.

Minha mãe parecia que estava prestes a dizer algo mais, quando meu pai
e Maya vieram rindo para a sala do quarto onde estavam fazendo a leitura do
Livro Sagrado, com seus cabelos vermelhos iguais brilhando na luz do sol que
vinha através da janela da cozinha. Minha mãe tinha o cabelo vermelho
também. Minha mãe disse que eu tinha chegado a minha coloração escura do
“perto irlandês” nos nossos genes.

Meu pai sentou Maya na cadeira ao meu lado e eu coloquei meu braço em
volta de seus pequenos ombros arredondados, agarrando-lhe as costelas com a
outra mão. Maya tinha dezenove anos agora, mas ela ainda tinha a mente de
uma criança – uma criança doce e angelical.

Ela riu e terminou em um ataque de tosse. Ela tinha tido essa mesma
tosse por dias e dias, e eu estava um pouco preocupado com ela. Quando ela
finalmente limpou a garganta, disse: — Calder. Leve-me para fora na chuva em
suas costas! Quero ficar molhada!

Eu ri para ela, pensando que ela precisava ficar aqui nesta cabana,
provavelmente sob um cobertor quente. — Não. Pode saber por quê?

Ela olhou para mim e balançou a cabeça, seus olhos curiosos.

Inclinei-me e sussurrei em seu ouvido. — Você sabe os cubos de açúcar


que eu lhe trago, às vezes? — Eu me inclinei para cima e coloquei o dedo sobre a
minha boca para indicar que era o nosso segredo. Olhei para o meu pai e minha
mãe e eles estavam conversando baixinho sobre outras conservas que
precisavam ser feitas. Na verdade, nem era mesmo o nosso trabalho, mas na
chuva, precisávamos de tudo para nos ocupar, então todos nós ajudávamos com
tudo o que havia de trabalho para ser feito na parte interna.

— Bem, você é tão doce como os cubos de açúcar. Você fica mais doce
todos os dias. E se eu levá-la para fora na chuva, você vai derreter, assim como o
açúcar.

Ela arregalou os olhos, mas depois riu. — Isso não é verdade!


Eu pisquei. — Bem, a parte sobre você ser tão doce quanto o açúcar é.
Vamos sair, se você se agasalhar podemos sentar debaixo da varanda e eu vou
desenhar algo no chão.

— Posso adivinhar o que é? — Ela bateu palmas.

— Sim. Eu não vou lhe dizer.

Eu a ajudei a colocar um suéter e meias quentes, e depois nos reunimos


sob o beiral do telhado enquanto eu desenhava pequenos quadros no chão e ela
adivinhava que eram.

Quando olhei para o quarto de Eden, vi seu contorno na janela. E jurei


que, apesar da distância e da chuva, por um breve segundo, nossos olhos se
encontraram.

A chuva parou no dia seguinte. Eu descia a trilha, ainda mais rápido do


que costumava ir, os músculos da minha panturrilha queimavam com o esforço.
Eu tinha uma estranha sensação que eu não conseguia nem explicar girando
através de mim de não ver Eden nos últimos dias. Era protecionismo? Talvez.
Eu queria saber que ela estava bem. Eu queria saber que estava sendo cuidada,
feliz. Eram esses sentimentos, certo? Só que eu nunca tinha sentido nada
remotamente semelhante com Xander. Então, empurrei isso de lado.

Quando eu me apertei através das rochas, no começo eu não achava que


ela estivesse lá. Decepção, rápida e forte, me atingiu. Mas, então, vi sua cabeça
vindo à tona na nascente e ela tomou em um grande sopro de ar.

Ela me viu e sorriu.

— O que você está fazendo?

— Nadando — Ela respondeu, sorrindo alegremente.

Eu andei mais perto até que estava na beira da nascente.

— Bem, sim, eu posso ver isso. Por que exatamente?

Ela olhou para mim com a luz solar atingindo seu rosto, fazendo com que
as gotas de água brilhassem e dançassem em sua pele. Seu cabelo, ainda
molhado, era de um dourado que lançava um halo em volta do seu belo e
delicado rosto. Ela parecia um anjo ou uma sereia - uma criatura mítica e
mágica. Eu tirei uma foto mental dela, ou seja, para desenhá-la mais tarde,
simples assim.

— Bem, eu decidi — Ela acenou com a mão ao redor, indicando a nossa


nascente e as rochas ao redor — É a minha escola. E significa que quero
aprender cada pequena coisa que posso enquanto estiver aqui. Quero dizer,
absorver cada pedaço de conhecimento possível. E eu não sabia nadar. E agora
eu sei. Mais ou menos.

Eu levantei uma sobrancelha. — Você se ensinou a nadar recentemente —


Eu olhei para o céu para ver o quão longe do meio-dia era, quando eu presumi
que ela tivesse chegado. — Em 15 minutos?

Ela assentiu com a cabeça, inclinando-se e pegando um pouco de água na


boca e depois a cuspindo. Algo nisso fez meu corpo mexer de forma que, mais
uma vez, não parecia amigável.

— Você sabe nadar? — Ela perguntou.

Eu balancei a cabeça, desejando que o meu corpo cooperasse. — Sim. Eu


tomo banho no rio. Nós, filhos de trabalhadores, sabemos nadar desde que
éramos pequenos.

Ela fez uma pausa, olhando para mim por um segundo e depois balançou
a cabeça. — Venha aqui então. A água está agradável — Era quase inverno, mas
a temperatura ainda estava por volta dos vinte e dois graus. Eu apostava que
aquilo estava bom.

Eu hesitei. Isso parecia perigoso de maneira que não tinham nada a ver
com afogamento ou arrancar meu dedo do pé em uma rocha sob a água. No
entanto, tirei minha camisa e entrei na água vestindo calça. Movi-me para o
outro lado da nascente, respeitando Eden. Eu percebi que ela estava totalmente
submersa, mas ainda estava usando seu vestido longo, modesto. Apesar de ser
menos modesto agora que estaria aderindo a sua pele. Luxuria cravou em meu
corpo, deixando um desejo feroz em seu rastro.

Afastei-me um pouco mais longe e Eden revirou os olhos. — Você não


tem que ter medo de mim, Calder. Amigos lembra? E, na verdade, eu fiquei no
meu quarto pensando sobre isso esses dias chuvosos e você está certo. É melhor
assim. Não apenas para a comunidade como um todo, mas para mim também.
Estive muito obcecada por você nesses últimos anos. Louca, realmente. Quer
dizer, acho que de todas as coisas que eu poderia ter aprendido se eu tivesse
tido um foco diferente. Há conhecimento em toda parte! E em vez disso, eu
desperdicei tempo olhando para os seus músculos — Ela riu. Eu fiz uma careta.

— Bem, eu não diria que é um completo desperdício de tempo — Eu


murmurei.
Eden riu novamente, mas depois ficou séria. A curva dos seus seios mal
aparecia sobre a superfície da água. — Não, mas realmente... — Ela rodou o
braço do outro lado da água, fazendo uma ondulação. Eu vi quando as
ondulações se afastaram dela, vindo em minha direção como se quisesse cobrir
a distância entre nós, utilizando a água como uma extensão dela. Quando a
primeira pequena onda atingiu minha barriga nua, quase gemi como se fosse a
sua mão acariciando a minha pele. Oh, pelo amor dos deuses, o que há de
errado comigo? — Quando a chuva bateu na minha janela, embaçou. Lembrei-
me da sua aula sobre os estados da matéria, e eu fui capaz de descobrir que a
janela embaçava por causa da diferente temperatura do vidro no interior e no
exterior — Seus olhos se iluminaram, como se ela tivesse acabado de resolver o
mistério do universo. Eu não pude deixar de sorrir.

— E a música — Ela continuou. — São números. Não sei por que Hector
nunca me ensinou matemática. Eu poderia ser uma pianista ainda melhor do
sou.

Seus olhos se arregalaram. — Na noite passada eu escapei para a cozinha


e li algumas receitas. Há muita matemática naquilo também... Algumas que
você ainda tem que me ensinar — Ela riu suavemente, franzindo os lábios e
pegando água em sua boca novamente e então a cuspindo. Eu gemi baixinho,
mas ela pareceu não ouvir. — De qualquer forma, meu ponto é, você me ensinou
algumas coisas, e eu fui capaz de aplicá-las a outras coisas. E agora eu quero
mais. Quero aprender tudo o que você tem para me ensinar. E quero aprender
sozinha também, tanto quanto possível — Ela ficou pensativa por um minuto. —
É uma espécie de liberdade para mim, Calder. E talvez seja difícil entender.
Mas... A maior parte da minha vida, eu tinha tantas perguntas e nenhuma
resposta. E agora... Bem, eu posso não ter todas as respostas, mas tenho
algumas, e minha vida parece mais completa. E eu posso guardar todo esse
conhecimento dentro de mim e ninguém mais pode tirá-lo. Isso é meu. Isso
pertence a mim — Ela baixou os olhos brevemente e, em seguida, os levantou de
volta para os meus. — Obrigada.

Olhei para ela. Ela era cativante, incrível. E os deuses que me ajudassem,
mas a semente do amor que tinha criado raízes, a semente que eu tinha jurado
não nutrir, começou a crescer de qualquer maneira. Eu jurei que podia sentir os
tentáculos aveludados em movimento dentro de mim, envolvendo as partes
vitais de quem eu era. Eu estava impotente para deter isso. Ela havia me
invadido. Eu era o campo e ela a glória da manhã. Eu fui vencido. Simples
assim. Ou talvez não exatamente assim. Talvez isso estivesse crescendo há anos.
Mas naquele momento, eu reconheci o que aquilo era.

Ela não é sua, eu sussurrei duramente para mim mesmo. Mas algo
dentro de mim rebelava contra as palavras, como se o próprio pensamento fosse
um vírus para o meu sistema.
Ainda assim, eu não tinha agido de acordo com meus sentimentos, minha
atração. Eu tinha sacrificado antes, de uma forma ou de outra. Eu certamente
poderia fazer isso agora.

— Calder? Você está bem? — Meus olhos estavam focados em Eden e ela
estava olhando para mim de forma estranha. — Você está bem?

— Uhh... — Limpei a garganta, me sentindo chocado, fora de equilíbrio.


— Sim, estou bem. Então, uh, falando de todo o conhecimento que você precisa
absorver, o que devemos começar a fazer hoje?

— Oh. Okay. Mas primeiro, pergunte-me as tabuadas.

— Oh, uh, sete vezes set...

— Quarenta e nove.

Eu ri baixinho. — Ok, nove vezes oi...

— Setenta e dois.

Eu ri alto, não sendo capaz de evitar o sorriso que se espalhava pelo meu
rosto. — Você sabe.

— Não, sério, eu sei todas elas.

— Eu acredito em você.

— Eu só não quero que você pense que seu tempo está sendo
desperdiçado aqui.

— Eu não acho isso, Eden, nem mesmo perto.

Olhamos um para o outro através da água por alguns segundos.


Finalmente, ela olhou para o lado e disse: — Tudo bem. Bem, minha matemática
básica está bem. Que tal praticar um pouco de natação hoje?

Eu pensei que poderia ser uma ideia decente, considerando que era um
momento ruim para eu sair da água no momento.

Eden olhou para baixo por um minuto e parecia estar pensando em


alguma coisa.

— O quê? — Eu perguntei.

Ela olhou para cima, mordendo seu lábio inferior. — Você acha que...
Bem, você acha que quando a grande inundação vier, não haverá nenhuma
chance de sobrevivência?

Eu balancei minha cabeça lentamente. — Isso não é o que o prenúncio


diz.
Ela baixou os olhos. — Eu sei. É só... Como você disse, Hector é apenas
humano, e, bem, talvez ele tenha interpretado mal alguma coisa? Isso é
possível?

Parei por várias batidas. — Eu suponho que seja, Eden.

Ela assentiu com a cabeça rapidamente e soltou um suspiro. — Então eu


gostaria de aprender a flutuar. Gostaria de aprender a não me afogar.

Olhei para ela por alguns minutos. Esta menina iria tentar sobreviver ao
fim do mundo? — De onde você tira a sua força, Glória da Manhã? — Eu
perguntei em voz baixa.

Ela riu e balançou a cabeça como se eu fosse louco. Ela inclinou a cabeça.
— Você pode se aproximar, sabe. Você realmente não tem que se preocupar
comigo.

— Eu não estou preocupado com você. Estou preocupado comigo — Eu


soltei.

Ela arregalou os olhos e nos olhamos um para o outro sobre a água por
alguns minutos, com o único som do respingo tranquilo da pequena cachoeira
batendo na água da nascente.

— Você, se você estiver com Hector, você não precisa se preocupar em


não sobreviver. Vamos todos ser levados a Elysium.

Ela olhou para baixo por algumas batidas, observando sua própria mão se
mover de um lado para o outro na água. — Talvez eu prefira ter minhas próprias
chances. Talvez eu prefira não acabar em Elysium com Hector.

— Eden...

Ela não esperou para ouvir o que eu ia dizer, o que foi bom, porque,
sinceramente, eu não sabia, de qualquer maneira. Ela se inclinou para trás e
levou seu corpo para cima, na tentativa de flutuar e prontamente afundado. Ela
acabou num afogamento caótico. Movi-me rapidamente até ela. — Uau, você
está bem? Aqui, vou segurá-la até conseguir sentir isso, e então eu vou soltá-la.

Eu coloquei minhas mãos debaixo das suas costas, apenas tocando-a com
meus dedos. Ela ajeitou o corpo para fora, inclinou a cabeça para trás e fechou
os olhos com um sorriso pequeno e calmo em seu rosto. Olhei para ela,
absorvendo suas características e seus cabelos dourados flutuando ao redor do
rosto. E então meus olhos amotinados vagavam para baixo, depois do rosto para
seu corpo, seu vestido pressionado e se agarrando em suas curvas delicadas.
Engoli em seco e meus olhos se detiveram quando chegaram aos mamilos
endurecidos. Em seguida, eles se desceram lentamente para sua barriga lisa e
ainda mais, para seu pequeno e misterioso montículo feminino. Meu sangue
parecia estar fervendo no meu corpo. Eu nunca tinha me sentido assim antes,
até mesmo naqueles momentos em que eu me toquei por pura necessidade. E
agora, eu estava prestes a desmaiar com um envenenamento de testosterona e
as únicas partes minha que a tocavam eram a ponta dos dedos. Ah, não, isso não
era bom. Isto era um desastre escrito. Mesmo se eu pudesse me controlar com
sucesso com Eden, isso seria desastroso para mim.

E, no entanto. E, no entanto, eu não conseguia parar. Olhando para ela,


senti uma onda de calor, mas também uma onda de ternura.

— Eu estou flutuando — Disse ela sem abrir os olhos com uma aparência
serena no rosto.

— Ainda não — Eu sussurrei e muito lentamente tirei meus dedos da


parte superior e inferior das suas costas. Eu dei um pequeno passo para trás. —
Agora você está flutuando.

Ela permaneceu imóvel com os cantos dos seus lábios cheios e rosado
subindo muito ligeiramente.

— Posso ensinar-lhe uma maneira ainda melhor para não gastar energia
na água?

Ela deu um aceno quase imperceptível com sua cabeça e então eu dei um
passo à frente de novo e coloquei minhas mãos em ambos os braços. — Vou
virar-lhe mais. Respire fundo e deixe-se flutuar de modo que a parte de trás da
sua cabeça fique um pouco acima da água. Apenas deixe a água apoiá-la. Então,
quando eu tocar em seus braços, deixe-os flutuar em direção à superfície, com
os cotovelos dobrados. Você se lembra até agora?

Outro pequeno aceno de cabeça.

— Ok, bom. Então, quando você estiver pronta, pressione para baixo na
água com suas as mãos até sua boca absorver a água. Expire rapidamente e
então inale. E em seguida volte para baixo. Você pode ficar na água o dia todo
fazendo isso se precisasse. Mesmo que o mundo inteiro estivesse debaixo
d'água.

Eden pegou um grande fôlego e então eu virei seu corpo lentamente até
que ela estava de bruços na água. Removi minhas mãos e a deixei flutuar por um
minuto até que eu soube que ela tinha isso, e então eu toquei seus braços e ela
os deixou flutuar para cima até que seus cotovelos estavam dobrados e as mãos
dela estavam acima dos ombros. Ela impulsionou para baixo suavemente e sua
boca veio acima da água e eu a ouvi expirar e depois inspirar antes de ela se
deixasse flutuar de volta para baixo.

Eu sorri e ela levantou a cabeça e colocou seus pés no fundo da nascente,


ficando de pé. Ela soltou um risinho triunfante e jogou os braços em volta do
meu pescoço. Eu congelei. Cada parte dela estava pressionada contra cada parte
minha. Eu fiquei imediatamente duro, meu corpo pulsando de desejo, e rezei
para que ela não notasse. Ela inclinou a cabeça para trás e olhou para mim com
aquele sorriso triunfante no rosto. Eu soltei a respiração e sorri para ela. —
Adicione flutuar em sua lista de realizações — Eu disse.

Ela riu. — Eu vou — Ela soltou meu pescoço e eu senti a falta dela quando
ela se virou e começou a andar através da água para a pedra grande e plana.
Levantou-se e, em seguida deitou-se. — Nós não temos muito tempo para ficar
secos — Ela disse. — É melhor ficar aqui no sol.

Esperei um minuto até que meu corpo se acalmasse, e então andei na


direção dela e subi na rocha também. Deitei-me e virei minha cabeça para olhar
para ela. Sua cabeça já estava virada, olhando para mim também. — Obrigada
por me ensinar coisas, Calder — Ela disse.

— Você me ensina coisas, também, Eden — Eu disse de volta.

Ela me olhou em silêncio por um minuto e depois simplesmente sorriu


em resposta.

Em seguida, ambos inclinamos nossa cabeça em direção ao sol.


CAPÍTULO NOVE

Eden

Ao longo dos próximos meses, eu encontrava Calder quase todos os dias


para as minhas aulas. Alguns dias não nos víamos quando suas tarefas ficavam
no caminho, ou quando havia muitos membros do conselho no pavilhão
principal. Esses dias eram os mais difíceis. Mas os dias que nos encontrávamos,
Calder se reclinava preguiçosamente contra uma rocha e desenhava uma coisa
ou outra, enquanto ele me ensinava matemática, ciências, e as regras que eu não
sabia sobre o idioma Inglês. Muitas vezes, ele tinha que parar e passar por cima
de alguma coisa no caderno que preenchi com tudo o que ele falava. Mas,
principalmente, eu só tomava notas, e em seguida, no dia seguinte, ele me
perguntava um pouco. Eu era uma excelente aluna. Claro, eu conhecia o valor
do conhecimento, tendo sido privada disso por tanto tempo.

Eu não apenas aprendia as matérias acadêmicas que Calder me ensinava,


aprendia do seu ponto de vista específico. Não apenas a informação que ele se
lembrava, mas a maneira como ele via o mundo. Quando nos deitávamos na
grama e olhávamos para o céu e falávamos sobre o espectro de cores, ele me
contou sobre o arco-íris que tinha visto uma vez que regou as plantações de
tomate nos campos, depois de uma boa chuva curta. Era como se cada vez que
um arco-íris aparecesse, que o rico cheiro de terra voltava para ele, e Elysium e a
terra se juntavam apenas naquele momento, mesmo que apenas em sua própria
mente. Tínhamos ficado um pouco sonolentos ali, e ele estava meditando
quando disse isso e quase parecia envergonhado quando percebeu que ele
estava falando em voz alta. Mas eu amava esses momentos - quando só por um
segundo, eu era uma parte da mente mais profunda de Calder. Isso me relaxou e
me aqueceu, como se por um momento, eu tivesse entrado em um raio de sol.

Ele era bondoso – cru e bondade desprotegida. Isso brilhava nele. Era
impossível não querer se afogar nesse tipo de beleza... Em sentir como se eu
pudesse alegremente me envolver ao redor dos seus ossos e sufocar em sua pele.

Isso me assustava e me consolava.

A medida que relaxávamos na nossa nascente dia após dia, Calder não só
me contava as coisas que se lembrava de cada ano de sua escolaridade, mas me
dizia as coisas que ele aprendeu com os outros habitantes da nossa comunidade
que antes viviam na grande sociedade. Ele tinha aprendido o jogo de um homem
que tinha vindo para fazer parte da nossa família cinco anos antes. Ele disse a
Calder, que trabalhou ao lado dele, que ele tinha um verdadeiro problema em ir
a cassinos grandes, lugares onde os jogos adultos eram feitos para o dinheiro. Se
você ganhasse, iria para casa com mais dinheiro, e se perdesse, iria para casa
sem nada. Ele tinha perdido muito mais do que ganhou e, no final, ele perdeu
tudo: sua esposa, seus filhos, seu trabalho e seus amigos. Ninguém o queria. Foi
quando Hector apareceu. E Hector o queria.

Havia muitas dessas histórias, e eu ouvia atentamente a todas elas.

Fisicamente, Calder manteve distância de mim, estremecendo quando eu


chegava muito perto, me observando como um falcão. Eu não era tão ingênua
que não entendia que ele estava tendo um momento difícil com a nossa
proximidade, e eu estava dizendo a verdade quando eu disse que derramaria
todo o meu foco na aprendizagem, mas ainda doía. E a injustiça disso me
deixava com raiva.

Sim, a minha paixão infantil tinha desaparecido, mas eu o conhecia


agora. Eu conhecia a sua bondade e natureza protetora. Eu conhecia o seu
espírito paciente e seu humor afiado. Eu, simplesmente, estava apaixonada por
ele. Como se o meu amor por Calder pudesse ser simples.

Encontrá-lo em nossa nascente por uma hora e meia, todas as tardes,


como meu amigo e meu tutor, não era tudo. Mas tinha de ser suficiente.

Nós não nos encontramos novamente à noite. Clive Richter ia para casa à
noite e sempre parecia estar prestando atenção em mim. Era mais seguro
manter as nossas lições durante o dia. Eu não colocaria isso em risco.

Um dia nós conversávamos sobre os nomes para grupos de animais. —


Gorilas vêm em bandos, gafanhotos vêm em nuvem, porcos vêm em vara —
Disse ele enquanto eu escrevia na lista. Ele falou mais alguns e depois não
conseguia se lembrar de mais nada. Eu suspirei.

— Desculpe — Ele disse, rindo um pouco. — Eu te disse, eu só podia falar


o que eu me lembro.

— O problema é — Eu disse, batendo o lápis no meu queixo. — Se for


perguntado isso a você ou escolha alguns, você poderia provavelmente se
lembrar de muito mais do que pensa. Está em algum lugar aí dentro — Eu bati
meu lápis na sua cabeça.

— Ouch.

Revirei os olhos. — Mas eu, tudo que tenho é o que você me dá. Não há,
literalmente, nada mais.
— Bem, então, coisa boa que sou mais inteligente do que uma pessoa
comum — Ele piscou. — Eu acho que, mesmo tendo um quarto do que eu
aprendi, é melhor do que um idiota comum.

— Haha. Bem, é tão reconfortante eu estar acima de um idiota comum.

Calder sorriu. — Os pinguins vêm em colônia.

Eu escrevi isso também.

Ele ficou pensativo, como fazia quando estava tentando se lembrar de


algo específico que ele aprendeu sobre um determinado tema. — Pinguins
passam setenta e cinco por cento de suas vidas na água. Gostaria de saber se eles
vão sobreviver ao dilúvio. Como não poderiam?

Nós dois calmamente ponderamos isso por fim.

— Tivemos baratas em nossa cabana no ano passado. Minha mãe disse


que na grande comunidade, a piada é que as baratas podem sobreviver a
qualquer coisa.

— Mesmo ao fim do mundo? — Eu perguntei em voz baixa.

Calder olhou para mim e deu de ombros. — Talvez — Ele ficou em


silêncio por um minuto. — Mas isso é provavelmente uma boa coisa. Quem quer
baratas em Elysium, afinal? — Ele sorriu. — Deixe-as ficar.

Deixei escapar uma pequena risada, imaginando a grande inundação


finalmente se afastando e as baratas saindo de seus buracos na terra.

Calder virou-se para mim e apoiou a cabeça na mão. — Enfim, de volta


aos pinguins, há uma certa espécie que propõe a sua companheira dando-lhe
uma coisa ou outra.

Olhei para ele com interesse. — Sério? O que ele dá a ela?

— Eu não me lembro. Talvez uma pena, um pedaço de pau ou algo assim.

— Você não se lembra? Por que não? Isso é tão romântico. Você se
lembra exatamente qual a porcentagem de tempo que um pinguim gasta de sua
vida na água — Eu joguei as minhas mãos com impaciência. — E como baratas
podem sobreviver, mas você não se lembra qual presente um pinguim macho dá
a sua companheira quando propõe a ela? Isso é ridículo — Eu balancei a cabeça,
exasperada.

Calder riu. — Por que eu deveria me importar? Eu não sou um pinguim.


Isso não é exatamente a informação que viria a calhar quando eu propuser a
minha companheira.
Meu rosto caiu. Eu não consegui evitar. Eu olhei para longe dele, para a
água da nascente brilhando ao sol.

— Você planeja escolher uma companheira? — Eu nunca perguntei a ele,


mas eu me perguntava. Por que não deveria? Não era como se ele pudesse me
ter, mesmo se quisesse. Mas, certamente, ele deveria querer uma. Ele era um
homem agora, com o corpo de um homem. Ele deveria ter... Precisar. Eu já
tinha visto as outras meninas o olharem com interesse. Com elas, ele não teria
que esconder. Voltei a olhar para ele com meu coração apertado.

Ele estava olhando para mim, pensativo. O que ele pensava quando
olhava para mim desse jeito? — Não, eu não posso nem pensar nisso. A única
coisa que eu consigo pensar agora é conseguir um lugar no conselho e sair para
o mundo.

Eu balancei a cabeça, apreciando seu belo rosto. Sua beleza masculina


roubava o fôlego. Calder teria dezoito anos em janeiro e parecia no espaço de
um ano que ele havia crescido ainda mais e ficou com os ombros mais largos.
Ele era magro, mas duro em todos os lugares e eu não conseguia evitar em
deixar meus olhos vaguearem sobre ele enquanto seus olhos estavam focados
em seu bloco de papel. Às vezes, ele aparecia com uma sombra de barba escura
em seu maxilar. Esse era o meu favorito, que seria como ele teria ficado se eu
tivesse tido a oportunidade de acordar ao lado dele. Ele parecia mais cansado
esses dias também, mas quando eu lhe perguntei o que estava errado, ele
simplesmente me disse que não tinha dormido muito bem.

Um dia, enquanto eu estava sentada esperando Calder com meu rosto


inclinado em direção ao céu, fiquei surpresa quando olhei para o som dele vindo
através das rochas e vi Xander, ao invés dele.

— Oi — Eu disse, levantando-me.

— Hey, Eden. Calder não pode vir hoje. Eu quis vir até aqui e dizer-lhe
para não se preocupar — Ele passou a mão pelo cabelo negro quando se
aproximou de mim.

Eu não tinha visto Xander há vários meses e ele parecia maior para mim,
também. Parecia que os dois rapazes cresceram vários centímetros em meio
ano.

— Oh, tudo bem. Ele está bem?

— Sim, ele está bem. Apesar de que sua irmã não está indo tão bem. Ela
tem uma tosse muito ruim eternamente se assemelha, e melhora depois piora,
então melhora. Agora ela está pior.

Percebi, então, que eu não tinha visto Maya em semanas. Mas eu só tinha
percebido que não havia muito a ser remendado no pavilhão principal. Por que
Calder não me disse? Era por isso que ele parecia tão abatido recentemente?
Isso me atingiu e percebi como separadas nossas vidas realmente eram. Magoa
encheu meu peito, mas eu a empurrei para longe e foquei em Xander.

— Por que ele não me contou?

Xander me estudou por um minuto. — Conhecendo Calder, ele


simplesmente não quis sobrecarregá-la. Ele estava esperançoso. Ele está sempre
tão malditamente esperançoso — Ele olhou para trás de mim por um segundo, e
então olhou para mim. — Você sabe que ele tem sentimentos por você, certo?

Eu olhei para ele. Eu abri minha boca para dizer algo, decidi que eu não
sabia o que, em seguida, a fechei. Eu sabia que Calder tinha sentimentos por
mim? Sim. Eu não tinha certeza o que esses sentimentos poderiam ser além de
uma grande amizade, mas só de saber que Xander podia ver Calder se
preocupando comigo, fez meu coração bater mais rápido. Isso deixou tudo pior.
E tudo melhor.

— O que quer que seus sentimentos signifiquem, ele não vai fazer nada
sobre isso, Xander — Eu não sabia se ele estava à procura de confirmação, mas
percebi que ele provavelmente estava. Seu destino seria afetado por nossas
decisões, também, depois de tudo.

— Não, eu não acho que ele vai — Ele não parecia exatamente feliz com
isso. Ele esfregou seus olhos e soltou um suspiro. — Quer sentar-se por um
minuto? — Ele finalmente disse, indicando o pequeno pedaço de grama com
uma grande rocha atrás dele onde Calder geralmente esboçava.

Eu balancei a cabeça e caminhei os poucos passos até ele e me sentei de


joelhos. Eu me senti estranha, e a sensação estranha neste lugar me fez perceber
o quão confortável eu tinha ficado com Calder. E o quanto eu sentia falta dele,
mesmo que eu o tivesse visto ontem.

Xander se sentou ao meu lado, dobrou os joelhos e passou os braços ao


redor deles livremente. — Qualquer notícia de quando Hector vai voltar?

Eu balancei minha cabeça. — Não, a Mãe Hailey recebe cartas dele, mas
ele não escreve para mim. Ela me disse que ele está vivendo com algumas
pessoas que acredita que os deuses querem que façam parte da nossa família.

Ele ficou em silêncio por um segundo, e depois acenou com a cabeça uma
vez e disse: — Calder falou com você sobre seus planos de entrar para o
conselho?

Eu suspirei. — Sim — Fiquei quieta por um tempo antes de acrescentar:


— Eu não sei qual é a probabilidade disso.
Xander deslizou para trás de modo que ele estava encostado na rocha que
Calder normalmente usava. — Sim, eu também não. Diga-me por que você fala
isso.

Deixei escapar um suspiro. — É apenas... Pelos outros membros do


conselho... Eles são diferentes de Calder. Não vejo Calder se encaixando ali. Ele
é também...

— Bom — Xander terminou.

Eu balancei a cabeça e baixei os olhos. — Sim.

Ambos ficamos em silêncio por alguns minutos até que Xander


finalmente disse: — Ele vai tentar que Hector o receba o mais rapidamente
possível, sabe. E eu não vejo isso dando certo para ele.

— Então, o que vamos fazer? — Eu sussurrei.

— Eu não sei se há muito que possamos fazer. Calder vai fazer o que ele
acha que precisa — Ele pegou distraidamente a grama ao lado dele por um
minuto. — Calder, ele quebra as regras de vez em quando, mas nunca faria
qualquer coisa que pensasse que machucaria alguém. Ele é tão malditamente
honrado.

— Sim, eu que o diga — Eu disse.

Xander riu. — Eu tenho que voltar. Vou levar um pouco de água sagrada
para Maya — Ele se levantou e eu também

— O que posso fazer?

— Não muito, Eden. Apenas ore por ela.

Eu balancei a cabeça. — Xander, se eu deixar alguns doces para ela sob o


mato do lado direito da varanda do pavilhão principal, você os pegaria e levaria
para Maya para mim?

Xander sorriu. — Claro.

— Ok, obrigada. E obrigada por ter vindo até aqui para me informar
sobre Maya.

— De nada.

Eu pensei que ele iria se virar e fosse embora, mas ele olhou para o céu
azul claro por várias batidas antes que seus olhos encontrassem os meus e ele
dissesse: — Há uma tempestade chegando, Eden.
Eu balancei a cabeça, sem olhar para cima. — Sim — Eu disse
simplesmente. Ele franziu a testa e balançou a cabeça, e então se virou e me
deixou ali, sozinha.

Calder não apareceu em nossa nascente pelos próximos dias. Deixei o


doce na varanda da frente de forma diligente, e fiz questão de ver se ele tinha
ido embora. Sempre foi. Xander estava fazendo o trabalho que eu tinha pedido a
ele para fazer.

Eu vi Calder no Templo, mas Maya não estava com sua família e mesmo
de longe, ele parecia tão curvado e cansado. Dei-lhe um sorriso discreto, e ele
sorriu de volta, mas parecia que fez isso com esforço. Eu estava gritando por
dentro enquanto, em silêncio, fazia obedientemente os meus deveres religiosos.

Eu queria desesperadamente perguntar a alguém se Maya estava bem, se


ela estava melhorando, mas para quem eu poderia fazer isso? Hector não estava
aqui. E se eu fosse até a pequena cabana de Calder e batesse na porta?

Atirei-me para trás na minha cama e gemi. Alguém, provavelmente um


dos membros do conselho, iria me arrastar de volta em cerca de sete segundos,
com certeza. E então eles começariam a me observar como um falcão de novo e
eu não seria capaz de encontrar Calder na nascente. Eu não podia arriscar para
nenhum de nós.

Fiquei ali pensando no que eu poderia fazer quando de repente ouvi o


som distante de um motor na estrada. Isso não era muito incomum. Todos os
membros do conselho tinham veículos que usavam para viajar para ir e voltar
para o trabalho na grande comunidade. Mas por alguma razão, eu me sentei de
qualquer jeito e fui para a janela para olhar para fora. Eu esforcei meus olhos
para ver que tipo de carro que se aproximava. Era um jipe preto. Eu continuei
olhando, incrédula por alguns minutos, mas como ele se aproximou, era
inconfundível. Hector tinha retornado. Ele tinha saído há quase seis meses, e
agora estava de volta. Tristeza e ansiedade de repente me encheram. Meu acesso
à nascente, à Calder, agora seria praticamente inexistente. Todos esses meses
que o temor aparecia, agora era realidade.
A Mãe Hailey correu para o meu quarto, dizendo: — Depressa, Eden,
fique apresentável. Hector voltou. Ele vai querer vê-la imediatamente.

Eu não respondi, mas me mexi para colocar meu vestido de renda, o que
ele gostava. Era um pouco apertado em mim agora, como se eu não tivesse
alterado em seis meses desde que ele se foi. Não tinha sido simplesmente
porque eu não via necessidade. Eu desprezava esse vestido. Era um símbolo de
tudo o que eu odiava em minha própria vida.

Ainda assim, eu o coloquei e, em seguida, Mãe Hailey escovou meu


cabelo e colocou uma fita ao redor dele. Eu parecia uma criança.

— Mãe Hailey — Eu murmurei enquanto passava as mãos pelo meu


cabelo. — Eu ainda posso te chamar de mãe?

Ela ficou em silêncio por um momento antes de dizer suavemente: —


Não, Eden. Você vai ser minha mãe em poucos meses. Você deve simplesmente
me chamar de Hailey.

Lágrimas reuniram em meus olhos e Hailey me virou para ela e me levou


para a cama, onde nós duas nos sentamos e ela segurou minhas mãos nas dela.
— Eden, você não precisa ter medo. Hector é um marido muito gentil. E se você
tiver sorte, vai ficar grávida de Hector antes das grandes inundações chegarem.
Eu imagino isso agora, vocês dois levando todos nós para Elysium com um filho
abençoado em seu ventre — Ela sorriu calorosamente, apertando minhas mãos
nas dela.

— A criança não fazia parte da profecia — Eu murmurei.

— Não, mas os deuses não podem enviar todos os detalhes, imagino. Isso
não seria prático.

Eu não tentei imaginar como tudo poderia funcionar, mas o pensamento


de fazer uma criança com Hector me encheu de medo. E isso fez a realidade do
que seria esperado que eu fizesse com ele ainda mais vivo. Eu não tinha certeza
do que “aquilo” era precisamente, mas eu sabia que envolvia coisas que eu não
tinha nenhum desejo de fazer com Hector. Ele havia me criado, para todos os
intentos e propósitos. Eu pensava nele como meu pai. Tentei engolir a bile que
se subia na minha garganta.

— Hailey — Eu finalmente consegui, mantendo meus olhos para baixo. —


Você está feliz? Você nunca quer alguém só para você? — Eu levei meus olhos
para os dela.

Ela ficou em silêncio por vários segundos, mas eu jurei que vi a tristeza
em seus olhos. — O sacrifício é o que nos torna pessoas abençoadas dos deuses
— Respondeu ela. — É de natureza humana ser egoísta, mas devemos lutar
contra o pecado. É o que nos diferencia dos povos da grande comunidade —
Deixei escapar um suspiro. Ela estava simplesmente parafraseando o Livro
Sagrado de Hector.

— Que sacrifícios Hector faz? — Eu perguntei corajosamente.

Ela inclinou a cabeça e respirou fundo, estendeu a mão para trazer o meu
cabelo sobre o ombro. — Hector faz muitos sacrifícios. Sua vida é vivida com
todos nós em mente. Tudo que ele faz é para nós. Nada disso é para ele. Há mais
de 20 anos, ele construiu Acadia, construiu a nossa família, nos manteve forte e
equilibrado.

— E se... Se eu amasse alguém que não fosse Hector? E se eu quisesse me


casar com outra pessoa? — Eu perguntei em voz baixa.

Hailey soltou a minha mão e colocou um dedo embaixo do meu queixo,


inclinando meu rosto para que ela estivesse olhando nos meus olhos.

— Isso não é o que o prenúncio diz, Eden. Você deve obedecer ao


prenúncio.

Eu desviei o olhar. — Os deuses não podem enviar todos os detalhes,


imagino — Eu repeti, imaginando Calder estourando o Templo para
interromper meu casamento com Hector, me pegando e me levando embora.
Para onde? Esse era o problema.

— Eden... — Hailey começou com um som de aviso em sua voz.

— Não se preocupe, Hailey — Eu interrompi. — Eu sou sempre muito


obediente.

Ela estreitou os olhos para mim. Ela era mais esperta que isso. — Aonde
você vai enquanto estou ensinando os meninos? Eu sei que você sai do pavilhão.

Levantei-me e fui estudar meu cabelo no espelho, fingindo alisá-lo no


lugar. A verdade era que eu não poderia me importar menos com o que meu
cabelo parecia. — Só para as montanhas para me deitar ao sol — Virei-me para
ela. — Toda a minha vida, eu me senti como uma boneca de porcelana parada
em uma prateleira empoeirada. A luz do sol me faz sentir meio viva.

Hailey me estudou por um minuto. — Eden, mudei-me para o pavilhão


principal com Hector quando eu tinha 19 anos de idade. Ele é o único homem
com quem já estive. Ele me deu quatro meninos e uma vida de paz. Tenho um
papel também. Se uma vida significativa é uma medida de felicidade, então sim,
estou feliz — Disse ela, respondendo a minha pergunta anterior.

— Mas quem julga se sua vida tem sentido? — Eu perguntei


corajosamente. — Você ou Hector? — Eu nunca tinha perguntado a Hailey como
sua vida tinha sido antes de morar em Acadia e ela nunca tinha oferecido essa
informação.
A porta bateu abaixo, e Hailey sorriu e levantou-se. — Ele está aqui.
Venha, coloque um sorriso em seu rosto e desça para cumprimentá-lo. Todas as
suas dúvidas vão derreter quando você vir a adoração em seu rosto — Hailey
sorriu tranquilizadora e pegou minha mão, e juntas descemos a escada
principal. Se Hailey sentia algo diferente de adoração, ela não mostrou isso.

Nós entramos no grande hall de entrada de dois andares e lá estava ele.


Virou-se para nós, e embora ainda fosse o mesmo homem grande, de ombros
largos que sempre foi, algo nele parecia mais velho, mais abatido do que quando
ele saiu. E eu notei que ele parecia mais cheio no tronco, com a camisa esticada
sobre uma pequena barriga. Porém quando nos viu, seu sorriso era radiante.

— Eden, Hailey, meus amores — Ele cumprimentou-nos, abrindo os


braços e andando em nossa direção.

— Hector... — Disse Hailey.

— Pai... — Eu disse ao mesmo tempo.

Olhamos uma para a outra e sorrimos.

Nós caminhamos para o abraço de Hector e ele beijou o topo de nossas


cabeças.

— Minhas meninas — Disse ele. — Agora eu finalmente me sinto em casa.


Eden, por favor, toque alguma coisa para mim. Isso vai fazer bem para o meu
coração.

Eu balancei a cabeça e corri para o piano. Enquanto eu tocava, me


imaginei na nascente, deitada na grama com Calder com as nossas mãos
agarradas e o sol do meio-dia acima de nós, aquecendo nossos corpos. Eu deixei
a melodia cercar a visão de nós em minha mente com as notas dançando sobre a
nossa pele.

Quando a última nota foi tocada e eu voltei a mim, a sala estava


tranquila. Eu olhei para cima para ver Hector e Hailey olhando para mim.

— Eden, sua música está ainda mais bonita do que era antes de eu sair.
Deve ter sido praticado com muito afinco.

— Sim, Pai — Eu disse.

Hector levantou-se e veio sentar-se ao meu lado no banco do piano. Eu


deslizei todo o caminho até a borda para dar espaço para ele.

— Eden, você deve me chamar de Hector agora — Disse ele. Ele correu
um dedo na lateral do meu rosto. Eu continuei olhando para a frente. — Nós
vamos nos casar em breve. Eu já não serei mais seu pai.
Eu não falei, não conseguia falar. Hector continuou olhando para o meu
perfil. Finalmente, depois do que pareceram horas, ele soltou um suspiro e disse
baixinho: — Tão doce. Exatamente o que eu precisava — E então se levantou.

Eu olhei para cima para ver Hailey ainda sentada com os olhos baixos.

— Onde estão os meninos? — Perguntou Hector.

— Eles estão com Monica — Disse ela. Monica era uma das esposas do
membro do conselho que ajudava Hailey com os garotos de vez em quando.

— Bom — Disse Hector. — Venha comigo até o meu quarto. Gostaria de


algum tempo com você. Mãe Miriam vai estar em casa mais tarde hoje e ela
pode me ajudar a desfazer as malas.

— Sim, Hector — Disse Hailey.

Os dois se viraram e me deixaram ali parada. Eu não lamentava a solidão.


Voltei para o meu quarto e peguei meu caderno que estava embaixo da minha
cama e enchi minha cabeça com a álgebra que eu estava aprendendo com
Calder.
CAPÍTULO DEZ

Calder

— Melhor? — Perguntei a Maya, removendo o copo de água de seus lábios


e colocando-o sobre a mesa ao lado dela. Ela acenou, seus olhos sonolentos. —
Bom.

Eu alisei o cabelo do seu rosto e ela sorriu para mim. — Existem mais
balas de caramelo?

Eu sorri para ela. — Não, você comeu todas eles.

Ela franziu a testa ligeiramente. — Talvez Eden vá deixar mais para mim
hoje.

— Talvez. Lembre-se de que é o nosso segredo, certo? Eden irá ficar em


apuros se alguém souber que ela estava lhe dando balas.

Ela assentiu com a cabeça. — Eu sei. Posso guardar um segredo.

— Eu sei que você pode.

Maya fechou os olhos por um minuto e, em seguida, os abriu. — Quando


eu chegar ao Elysium, Calder...

— Maya, você não vai para Elysium tão cedo.

— Eu sei, mas quando eu chegar lá... Bem, vou ficar bonita como Eden? —
Ela olhou para mim com seu simples e confiante olhar.

Meu coração se apertou quando olhei para aquele rosto amado. — Você já
é linda, Maya.

Ela balançou a cabeça e apertou os lábios como se eu estivesse


propositadamente sendo difícil. — Vou ser bonita como Eden?

Eu sabia o que ela estava me perguntando e isso quebrou meu maldito


coração.

Fiquei quieto por um momento. — Acho que em Elysium, nós vamos


chegar a ser o que queremos ser, qualquer coisa que nossos corações desejarem.

Maya sorriu suavemente para isso. — Então vou ficar igual à Eden, e vou
ser capaz de correr mais rápido que um guepardo.
Eu não pude deixar de sorrir. O coração de Maya era uma das coisas mais
doces e mais maravilhosas da minha vida. Quem mais iria querer essas coisas?
Eu poderia continuar com isso. — Ok, então, vou ser tão forte quanto uma
centena de bois e vou ser capaz de voar.

Maya riu baixinho, mas depois se transformou em uma tosse. Às vezes


parecia que ela não conseguia recuperar o fôlego. Eu dei-lhe um gole de água e
ela recostou-se no travesseiro, sorrindo. — Eu acho que em Elysium vai ser
maravilhoso.

Eu balancei a cabeça. — Contanto que estejamos juntos, será.

Maya sorriu novamente e, em seguida, fechou os olhos. — Vá dormir um


pouco — Eu disse baixinho. — Eu vou estar de volta em algumas horas.

Ela acenou, mas não abriu os olhos. Eu podia ouvir os roncos tranquilos
enquanto me abaixei saindo da cabana da cura, uma grande “sala” perto do
Templo. A tosse de Maya estava notavelmente melhorando desta vez, após a
água sagrada eu fiz uma oração silenciosa de agradecimento aos deuses, mais
especificamente o Deus da Misericórdia. Eu sorri para mim mesmo.

Meus pais e eu estávamos revezando ficando ao lado dela, noite após


noite, para que ela não ficasse sozinha, mas eles eram mais velhos do que eu e
ficar a noite toda tinha seus efeitos sobre eles, por isso a maioria das noites eu
me oferecia. Como resultado, durante o dia eu me sentia como morto-vivo. Eu
odiava perder meu momento com Eden, mas se eu fosse não ia ser nada bom
para Maya, eu precisava dormir durante a minha pausa do meio-dia. Maya não
gostava do escuro e eu nunca iria deixá-la ficar sozinha naquele pequeno espaço
sem iluminação à noite e durante a noite. Ela dormia bem comigo lá. Mas ela
estava dormindo um pouco durante o dia agora também, então ela deveria
precisar de descanso extra.

Fiz uma viagem rápida para o rio, troquei minha camisa, e então usei
minhas mãos para levar água sobre minha cabeça e peito, em seguida, esfreguei
meu rosto. Eu usei a minha camisa para me secar tão bem quanto podia, e em
seguida, coloquei-a em volta do meu pescoço. Sentindo-me um pouco mais
refrescado, eu voltei para a minha cabana para tomar café da manhã.

Olhar para o pavilhão principal trouxe uma dor aguda no meu peito. Eu
teria dado qualquer coisa para caminhar até lá, passar pela porta da frente e ir
até o quarto de Eden. Eu queria envolvê-la em meus braços. Eu queria seu
cheiro limpo e sua voz suave para me acalmar. Eu a queria.

Mas Hector estava de volta agora e eu não podia arriscar. Eu tinha


caminhado até o pavilhão principal ontem e marquei uma entrevista com
Hector para mais tarde esta manhã. Eu precisava mostrar-lhe o meu sistema de
irrigação. Felizmente, Hector estava sempre aberto para reuniões e consultas de
trabalhadores. Eu precisava agir direito, já que um ponto para o conselho estava
em risco. O resto da minha vida estava em jogo.

Xander movimentou-se ao meu lado e eu olhei para ele, surpreso.

— Desculpe, não queria assustá-lo.

Eu balancei minha cabeça. — Não, está tudo bem.

— Como está Maya?

— Melhor esta manhã.

Xander acenou uma vez. — Eu fui até a nascente e sai com Eden um
pouco ontem. Foi bom tê-la para mim por um tempo. Estou realmente
esperando que a frase que usamos “O que eu tenho, você tem a metade” aplica-
se a ela também.

Eu congelei. Raiva, calor e selvageria passaram por mim, transformando


o mundo em vermelho. A próxima coisa que percebi é que eu tinha Xander
contra a lateral de uma cabana de trabalhador. — Você estava sozinho com
Eden? — Eu esbravejei.

Xander colocou as mãos para cima contra a cabana, um sorriso enorme


se espalhando lentamente pelo rosto. — Whoa, é ainda pior do que eu pensava
— Disse ele, seu sorriso, impossivelmente crescendo.

— O que é pior do que você pensou? — Eu perguntei, estreitando os olhos


para ele e empurrando-o com mais força contra a parede.

— Você. Você está apaixonado, conquistador. Profundamente.

Eu o soltei e afastei-me rapidamente, minha respiração saindo irregular.


Eu não podia negar. Eu tentei negar. Eu queria negar. Em vez disso atei meus
dedos por trás do meu pescoço e olhei para o céu. Andei em um círculo lento,
colocando minha respiração sob controle. Finalmente, eu parei e apenas olhei
para Xander. — O que vou fazer? Que diabo vou fazer?

Xander franziu os lábios e toda diversão fugiu de seu rosto. — Eu não sei,
Calder. Eu gostaria de saber.

— Por que você fez isso? — Eu exigi, meu peito ainda subindo e descendo
com meu batimento cardíaco mais lento. Eu estava pronto para socá-lo.

— Porque era tempo de você admitir isso a si mesmo.

Olhei para ele, tentando manter algum tipo de raiva, até mesmo algum
incômodo, mas, finalmente, meus ombros caíram em derrota. — Eu já tinha
admitido isso para mim mesmo. Eu só não queria dizer isso em voz alta.
Qualquer coisa, menos isso — Miséria passou por mim.
Ele deu um passo para a frente e colocou a mão no meu ombro. — Ah,
Deus, Calder, eu não queria piorar o seu estado. Juro que não queria — Ele me
estudou por um minuto. — Mas isso é o que é, apesar de tudo. E... Aconteça o
que acontecer... Irmãos — Disse ele, solenemente e pôs o punho para fora.
Deixei escapar um suspiro e bati meu punho contra o seu.

— Irmãos.

Quando voltei para a nossa cabana, fui direto para o quarto onde eu
dormia e comecei a pegar a minha outra camisa, limpa. Eu fiquei pensando o
que Xander agora colocou na minha cabeça.

Meus pais já estavam nos campos, mas eles não estavam me esperando.
Eles sabiam que eu estava reunido com Hector. Meus pais não necessariamente
concordavam com as minhas ambições, mas não havia nada que pudesse fazer
sobre isso. Meu pai não era muito de falar, de qualquer maneira, e ele parecia
perfeitamente contente com a vida que levava. Sua crença em Hector era
inabalável. Nunca iria confiar-lhe as minhas ambições resultadas de um desejo
de mais da vida em geral, e não apenas mais da vida em nossa pequena
comunidade. Ele não entenderia. Para ser perfeitamente honesto, eu não
entendia isso também. O que havia em mim que me fazia querer mais? O que
me fazia ficar no nosso portal, noite após noite, olhando para as luzes distantes
da cidade, com medo, sim, mas também com uma ânsia estranha nas minhas
entranhas? Talvez eu pudesse comparar isso com a maneira que me senti
quando olhei para Eden — aterrorizada e eletrificada, tudo de uma vez. Este
lugar no conselho poderia significar mais do que apenas um meio de sair de
Acadia...

Você está apaixonado, conquistador. Profundamente.

Eu vi o que parecia ser o canto de um pedaço de papel saindo debaixo da


minha cama e franzi a testa. Peguei o travesseiro irregular e havia um bilhete
dobrado com duas balas de caramelo por cima. Eu sorri. Desembrulhei uma
rapidamente e coloquei na minha boca, com a familiarizada doçura
amanteigada estourando em toda a minha língua.

Eu desdobrei o bilhete e li a pequena letra sucinta de Eden:


Calder,

Espero que Maya esteja tendo um dia melhor hoje. Eu estive pensando
nela sem parar e gostaria de alguma forma poder visitá-la. Espero que a bala
tenha colocado um pequeno sorriso em seu rosto, mesmo que seja apenas por
um minuto.

Eu poderia ter dado esta carta para Xander, juntamente com as balas
para você e Maya, mas eu meio que queria deixá-la para você — para
relembrar os velhos tempos, eu acho.

A nascente tem sido tranquila sem você lá, embora os dias não têm sido
sem uma pequena sensação de excitação. Ontem, chegou ao meu conhecimento
que a pequena cobra que eu atirei há meses atrás na rocha é na verdade a
prole de uma de seis metros, (duzentos e quarenta centímetros quando
convertido — presto atenção flagrante no meu professor de matemática)
serpente de duas cabeças que estufava em fúria venenosa (literalmente) desde
os maus-tratos de seu amado filho ou filha. (Como você distinguiu um do
outro? Acho que é uma lição para outro dia.) Quando confrontada, eu fui
forçada a domar a fera escorregadia. Como se vê, o réptil (vertebrados de
sangue frio) é processado pelas fracas palavras verbais e algébricas. Apesar
da matemática gritada (eu) e enfraquecimento subsequente (cobra), ainda
havia muita luta física e assobios (em ambas as partes), mas no final, eu fui
vitoriosa. A rocha permanece em nosso domínio (ou é dominante?). Tudo em
um dia de trabalho.

E você tinha razão sobre o conhecimento. Você nunca sabe quando um


pouco disso vai vir a calhar na hora certa, e salvar sua vida (e seu
domínio/dominante da rocha, como nesse caso).

Eu sinto sua falta. Talvez eu não deveria dizer isso, mas é verdade. Na
verdade, os meus dias tem se arrastado por pelo menos mil vezes e uma hora
eu penso em algo que quero te dizer ou perguntar-lhe. Eu tenho escrito porque
eu não quero esquecer, e porque me faz sentir mais perto de você.

Hoje, Hector tem uma reunião com o conselho ao meio-dia. Eu posso te


encontrar em nossa nascente se você for conseguir? A partir de agora vai ser
mais difícil eu encontrá-lo e por isso espero que você possa ir. Eu não quero
pensar que nosso tempo terminou, mas, pelo menos, isso não vai mais ser
regular. Esse pensamento me traz uma imensa tristeza, que não posso nem
mesmo dizer-lhe. Eu sempre vou considerar que naquele lugar foi onde a
minha vida começou.

Eu estarei esperando.

Sua, Eden
Sua. Minha. Eu gostaria de poder ir até ela, abraçá-la, dizer-lhe que eu
amava os nossos momentos juntos e que sentia falta dela também. Mas qual
seria o ponto? Sua. Minha. Eu coloquei esses pensamentos de lado. Mas eu
ainda estava ali sorrindo para o bilhete como um maldito idiota por mais tempo
do que eu tinha. Eu tinha negócios a tratar hoje e precisava do meu foco para
estar lá.

Você está apaixonado, conquistador. Profundamente.

Dobrei o bilhete e o coloquei debaixo do travesseiro para que eu pudesse


lê-lo novamente mais tarde.

Uma hora depois, eu estava andando até o pavilhão principal, bem


barbeado e banhado minuciosamente. Eu senti a energia fluindo através das
minhas veias. Isso tinha que ajudar.

Quando eu pisei em cima da grande varanda, eu ouvi o piano tocando e


hesitei em bater. Poderia ser Eden? Ela falou sobre sua música, muitas vezes,
mas ela era tão boa? A música flutuando para fora da janela aberta ao lado da
porta fez meu coração apertar no peito com sua beleza e maestria. Eu andei
mais para o lado da varanda e me movi para um conjunto aberto de portas
francesas. Lá estava ela, sentada em um grande piano preto com os olhos
fechados enquanto seus dedos voavam sobre as teclas. Minha respiração parou.
Ela era hipnotizante. Graciosamente bonita. Etérea. Minha. Essa era a garota
que eu escolhi. Minha, minha mente insistiu. E, desta vez, eu não me corrigi. Eu
inclinei meu quadril e ombro contra a porta e coloquei minhas mãos soltas nos
bolsos enquanto eu a observava. Eu estava perdido em tudo, exceto minha linda
Eden e a melodia que flutuava para fora dos seus dedos. Nada mais existia. Em
meu peito, eu senti... Orgulho. Eu fiquei muito orgulhoso dela. Eu assisti até a
última nota ser tocada e ela abriu os olhos. Eles encontraram os meus. Ela abriu
a boca como se quisesse dizer alguma coisa, mas nós dois sabíamos o nosso
lugar. Senti a eletricidade cantando no ar entre nós. Um pequeno sorriso
brincou nos lábios de Eden e seus olhos se encheram com uma bela expressão
de carinho. Para mim.

De repente, os cabelos na parte de trás do meu pescoço se levantaram e


uma frieza estranha moveu pela minha espinha. Eu girei, como se alguém
tivesse me atingido por trás, e Hector estava lá assistindo a troca silenciosa
entre Eden e eu. Fechei os olhos brevemente e respirei fundo.

— Pai — Eu disse, tentando soar muito mais confiante do que me sentia


por dentro. — Sua... Eden é uma bonita pianista. Eu não sabia que ela era tão
talentosa.

Os olhos de Hector, que estavam estreitados em mim, pareceram clarear


um pouco. Apertou-se ligeiramente como se sacudindo uma ideia que encontrou
de mau gosto. — Portador da Água.
Eu tenho um nome. Meu nome é Calder.

Ele caminhou em minha direção e deu um tapinha de leve nas minhas


costas. — Sim, Eden é muito talentosa. Os deuses a abençoaram com muitos
dons. Ser o homem que foi escolhido para... Aproveitar esses dons é humilhante,
de fato — Ele olhou para mim de lado, mas eu empurrei meus pensamentos
dessa declaração de lado. Foco.

— Você tem um propósito para marcar uma reunião comigo, eu presumo


— Disse Hector quando dei um passo ao lado dele.

— Sim, Pai. Eu gostaria de mostrar uma coisa, se você me permite.

Hector olhou para mim de novo, mas acenou. — Eu sempre tenho tempo
para o meu carregador de água — Disse ele com sua expressão se aquecendo.

Deixei escapar um suspiro. — Obrigado.

Nós andamos a distância entre o pavilhão principal e a margem do rio,


em silêncio. Quando chegamos à margem do rio, Hector seguiu minha liderança
no curto caminho ao longo da costa de seixos até que chegamos ao início do meu
sistema de irrigação.

Era principalmente uma série de ocos ramos grossos amarrados e


elevados, necessário para manter sempre a água correndo ladeira abaixo até a
borda das plantações, que eram cerca de trezentos metros de onde estávamos.
Já tínhamos utilizado um desses nos últimos três meses ou mais e isso fez nosso
trabalho muito mais fácil e mais rápido. Nós já não tínhamos que fazer viagens
de ida e volta para o rio durante horas por dia. Nós simplesmente fizemos uma
viagem para o sistema das barragens e, em seguida, passava cerca de um quarto
do tempo que tínhamos antes de encher recipientes que estavam ali na entrada
da área, que irrigávamos.

— O que é isso? — Perguntou Hector.

— É um sistema de irrigação, Pai — Eu disse. E então expliquei a


simplicidade de como funcionava. — Com a sua aprovação, eu gostaria de
construir mais alguns destes. Acho que podemos reduzir o tempo que leva para
regar as plantações ainda mais... Talvez até mesmo plantar um pouco mais, uma
vez que temos os meios para jogar água em todas elas.

Hector ficou ali olhando para o sistema por um minuto e, em seguida,


olhou para mim, seus olhos se movendo para os meus braços.

— Você sozinho escavou os ramos?

Eu fiz uma careta para baixo, para os ramos. — Sim, Pai. Eu fazia isso no
meu tempo livre, depois que meu trabalho terminava.
Hector ficou em silêncio por um minuto. — Qual era o seu objetivo aqui?

— Meu objetivo final? — Limpei a garganta. — Bem, Pai, eu estava


esperando para ser de utilidade para a comunidade em geral, é claro, mas
também que você, eventualmente, considerasse uma posição no conselho para
mim. Há um lugar vazio desde que Pai Nagle faleceu, e eu iria trabalhar duro
para você. Eu iria ser diligente e...

— Oh, Portador da Água — Hector interrompeu, e depois apertou os


lábios. — Filho, você tem certeza que isso não tem a ver mais com a vontade de
viver no salão principal? — Ele ergueu as sobrancelhas para mim. — Você
sempre deve ser honesto sobre suas motivações se está esperando agradar aos
deuses.

Eu considerei-o por um minuto, sentindo como se eu estivesse prestes a


entrar em algum tipo de armadilha, não importando o movimento que eu
fizesse.

— Com toda a honestidade, Pai, a minha motivação é oferecer meus


serviços para a nossa família de uma maneira melhor. Sinto-me chamado para
servir como mais do que um Portador da Água, não só para mim, mas também
para a nossa comunidade como um todo. Sei que não é o meu lugar determinar
quem faz o trabalho aqui, tudo o que posso lhe dizer é...

— No grande esquema das coisas, cada trabalho aqui é importante. Você


desempenha um papel em manter nossa família alimentada. Acha que o Deus
da Guerra se sente mais nobre do que o Deus do Grão? Ele pode ser um
poderoso soldado, mas sem o Deus do Grão, ele morreria de fome, como fariam
todos os seus homens. Nenhum trabalho aqui é menos importante. Eu sou o
profeta e você é um trabalhador. Os deuses fizeram assim e você deve aprender
a aceitar e prosperar em seu papel. Se você está tendo problemas com isso,
posso lhe dar algumas leituras, e peço que você comece a ir ao Templo todos os
dias.

Eu respirei fundo, tentando acalmar minha crescente raiva e frustração.


Senti minhas esperanças em ruínas ao meu redor.

— E se eu não for capaz de aceitar o que os deuses tenham ordenado, Pai?

Hector estreitou os olhos e olhou para mim por um longo tempo. — Tente
mais. Há caminhos mais duros do que o que estou lhe oferecendo. Odiaria vê-lo
escolher o caminho errado — Ele olhou para o meu sistema de irrigação e, em
seguida, de novo para mim, olhando-me com tal desprezo que eu queria desviar
o olhar, mas me mantive firme, segurando o contato com os olhos. Algo nisso
me fez sentir falta de respeito, mas era quase como se eu respondesse por
instinto, de um homem para outro. Finalmente, Hector foi o quem olhou para
longe, de volta para o meu sistema.
— Foi preciso muita força para construir isso — Disse ele, quase como se
para si mesmo. — Mas a força bruta por si só não leva a lugar nenhum a longo
prazo. Em qualquer grande empreendimento, o poder da mente é a sua maior
ferramenta. Planejamento, elaboração de estratégias. Por exemplo, você pode,
obviamente, levantar pedra e escavar árvores, mas o problema é que algo como
isto não tema estrutura completamente sólida, pois nenhum pensamento entrou
em sua construção.

Franzi minha testa, uma corrente de raiva zumbido constante no meu


sistema. — Com todo o respeito, Pai, é a estrutura é extremamente sólida. Eu
imaginei a coisa toda na minha mente por muito tempo antes de começar a
construção. Nós temos usado isso durante meses, até mesmo através de várias
tempestades. Tem sido uma grande ajuda para os trabalhadores, não só para as
plantações, mas para outras necessidades de água também — Eu estava falando,
mas senti como se meu maxilar não estivesse se movendo e as minhas palavras
saíram cortadas.

Ele balançou a cabeça, como se o que eu tivesse dito não era nada mais do
que uma mentira deslavada e então levantou um pé e chutou a seção na frente
dele violentamente.

Eu me assustei, incapaz de compreender por alguns breves segundos


exatamente o que ele estava fazendo.

— Não — Ele disse, balançando a cabeça de novo. — A estrutura não


parece. Praticamente qualquer coisa pode derrubar isso — Ele chutou de novo e
de novo, e várias seções além da que tinham levado o golpe, caíram no chão. Eu
estava congelado, incrédulo. Ele estava destruindo tudo o que eu tinha
trabalhado tanto. De propósito.

— Pai... — Eu comecei, dando um passo a frente.

— Veja meu filho? Quando você construir algo a partir do zero, tem que
construí-lo de tal forma que nenhum homem pode arruiná-lo. Ele não pode ser
frágil e fácil de destruir. Porque, se fosse esse o caso, qualquer um poderia
derrubá-lo, tomar o que é seu, como se tivessem esse direito. Quando na
verdade, eles deveriam saber que seria um pensamento e ação desastrosos da
sua parte. Estou certo? — Seus olhos perfuraram os meus, deixando seu ponto
muito claro.

Enquanto eu olhava para ele, sentia raiva. Sentia-me fervendo, minha


pele se arrepiou, e minhas mãos automaticamente se fecharam em punhos.

— Me desculpe, eu tenho que terminar esta pequena reunião, agora sou


esperado pelo conselho. Lembre-se que eu disse Portador da Água — Disse ele
quando começou a ir embora, chutando outras seções do sistema enquanto ele
caminhava para longe de mim. — Nunca tentamos ter algo diferente do que os
deuses tenham ordenado.

Eu fiquei ali, observando-o ir embora, o mundo cintilante ao meu redor


como se preenchido com o calor. O que tinha acontecido?

Meus pés começaram a se mover antes que meu cérebro tivesse a chance
de detê-los. Não havia pensamentos em minha cabeça, apenas um chiado alto.
Eu nem sequer me lembrava do caminho de terra desde o rio até a borda da
trilha que levava até a nascente, mas de repente eu estava lá. Eu fiz desci,
minhas panturrilhas esticadas, poeira nublando meus pés enquanto eu
praticamente corria pela ladeira íngreme.

A raiva zumbia através de mim, mas abaixo do que profundamente


ferido. Eu tinha confiado em Hector. Eu tinha confiado o seu respeito, no
mínimo, por mim, por todo o seu povo. Toda a minha vida, eu tinha confiado
em Hector. E em um instante, isso tinha ido embora.

Movi o corpo de lado, mais ou menos, praticamente batendo através da


pequena abertura para a nossa nascente. Quando sai para o outro lado, lá estava
ela, apenas virando-se para mim do outro lado da grama, uma grande pedra
atrás dela.

— Calder — Ela suspirou, começando a sorrir. Seu cabelo loiro claro


brilhava ao sol e os olhos suaves piscaram e se arregalaram quando ela me
acolheu. Ela era muito linda. — Eu não sabia se você conseguiria vir.

Caminhei em direção a ela e quando viu minha expressão, seu sorriso


vacilou. — Calder, o que você... — Suas palavras morreram quando eu me
aproximei dela, ainda respirando com dificuldade da minha descida rápida pela
trilha. Peguei seu rosto em minhas mãos, olhei para seus lábios, e então de volta
para seus olhos. Eles arregalaram ainda mais e ela suspirou. — Ohhh — A
compreensão de repente preencheu aquelas belas piscinas azuis. E então minha
boca estava sobre a dela com a minha língua mergulhando no fruto proibido.
Forte. Exigente. Apesar da minha dureza, sua boca se abriu sob a minha e ela
soltou um suspiro ofegante e embrulhou seus braços em volta do meu pescoço.
Eu empurrei minha língua mais fundo em sua boca sem sutileza alguma,
querendo saber se ela se afastaria, mas ela não recuou. Ela encontrou minha
língua sondando com dela e chupou levemente a minha. Um rugido subiu pela
minha garganta como se eu fosse um selvagem. Eu estava pegando fogo em
todos os lugares, não de raiva, mas por ela, do seu gosto, da forma suave que ela
estava respondendo a mim. Ela tomou tudo o que tinha e dei mais em troca.

E, assim de repente, o mundo era um lugar que eu não mais reconhecia.

Limpei meus sentidos e nosso beijo diminuiu. De repente, a única coisa


que eu estava focando era Eden: a forma como suas mãos estavam agarrando o
cabelo na minha nuca, a forma como sua pele cheirava a flores de maçã, a forma
como sua boca tinha gosto da primeira primavera. Este foi seu primeiro beijo de
verdade, e eu a tinha praticamente atacado. Vergonha me atingiu em ondas.
Mas eu não conseguia parar. Era o meu primeiro beijo de verdade, também.

Beijei-a com tudo o que tinha e tudo o que valia a pena, que, muito
provavelmente, não estava muito certo.

Nós nos beijamos, provamos, chupamos e mordiscamos a boca, lábios e


línguas do outro, até que estávamos sem fôlego e tive que me afastar. Ela
choramingou e sua cabeça caiu para trás quando eu arrastei meus lábios para
baixo da pele acetinada de sua garganta. Ela colocou uma perna ao redor dos
meus quadris. Eu coloquei minhas mãos sob as nádegas e levantei-a para que
estivéssemos no mesmo nível. Eu dei alguns passos e apertei-a contra a pedra
plana atrás dela, com as pernas circulando os meus quadris. Minha ereção
quente e pulsante estava pressionada em seu núcleo e nós dois gememos juntos.
Era tão abençoadamente bom, tão certo.

Quando eu belisquei a pele no pescoço, palavras vieram fluindo para fora


da minha boca, sem serem convidadas. Eu mal sabia o que estava dizendo. Era
como se uma barragem de emoção abrisse e eu era incapaz de parar. — Eu quis
você por tanto tempo. Tanto tempo. Cada minuto de vigília, nos meus sonhos,
também. Quero me enterrar em você, me afogar em você e nunca ter que parar.
Eu quero que você seja minha e só minha. Sinto muito, Eden, então desculpe...

— Por favor, não lamente — Ela suspirou, com a cabeça ainda para trás.
— Qualquer coisa, menos isso. Por favor, não se desculpe. Nunca vou me
arrepender. Se este é o último pedaço do céu antes de eu ser arrastada para o
inferno, então vou aceitá-lo com prazer.

Eu gemia, separando a miséria do desejo esmagador. — Não diga isso,


Eden — Coloquei meus lábios na pulsação forte da sua garganta, e usando a
minha língua arrastei ao redor dela. Eden pressionou seu corpo no meu,
gemendo também. Eu estava perverso e asqueroso. Isso era errado. Mas se
fosse, então por que eu me sentia como se morreria sem isso? Por que o toque
de Eden, de repente era necessário para minha existência?

E então eu continuei a beijá-la, apesar de saber que era certo e contra


toda razão, exceto por aquilo que falou comigo através de cada batimento
cardíaco.

— Devemos parar — Eu disse, sem convencer totalmente, já que a minha


boca encontrou a dela e eu deslizei minha língua para dentro para prová-la
novamente. Sua língua se juntou com a minha e nos beijamos por longos
minutos, luxuriosos, completamente perdidos um no outro. Isso. Isto era
Elysium. Esta linda garota em meus braços. Eu ansiei por abraçá-la por tanto
tempo. Ela era tão suave, tão bonita.
Ela se separou, puxando ar e olhando nos meus olhos. Seus lábios
estavam inchados e vermelhos, o rosto corado, e seus olhos pesados de desejo.
Naquele momento, eu sabia que nunca iria ver nada tão bonito quanto o rosto
de Eden depois que ela foi beijada.

— Faça amor comigo — Ela sussurrou. — Eu quero tanto que sinto dor —
Eu congelei, exceto as partes entre as minhas pernas. As partes avançaram com
atenção, aparentemente sob a impressão de que agora seus serviços eram
necessários.

Eu usei todos os fragmentos de força de vontade que eu tinha para


acalmar o meu sangue em fúria. Eu me inclinei para a frente, para que nossas
testas estivessem se tocando e a coloquei com cuidado no chão. Respiramos
juntos por um minuto, os nossos corações abrandando. — Eu não posso. Aqui
não. Não desse jeito.

Ela olhou para baixo, magoada.

— Eu quero, acredite em mim, eu quero - mais do que eu quis algo na


minha vida — Peguei suas mãos nas minhas e as trouxe ao meu coração. Ela
olhou para mim. — Mas eu tenho que saber que você é minha...

— Eu sou sua. Eu sempre fui. Serei sua aqui na terra, em Elysium. Vou
lutar contra os deuses, se for preciso. Vou estar diante deles e declarar isso.

Deixei escapar uma pequena risada e sorri para ela. — De onde você tira a
sua força, Glória da Manhã?

Ela me deu um pequeno sorriso em troca. — De você — Sussurrou, seu


olhar direto e cheio de confiança. — O que vamos fazer?

Eu respirava. — Eu não sei. No entanto, algo. Algo tem que ser feito.

Ela assentiu. — Por que você me beijou hoje? O que fez você fazer isso?

Eu hesitei. — Hector rejeitou o meu plano. Ele chutou meu sistema de


irrigação — Eu balancei minha cabeça, as humilhações me agarrando por um
minuto. Eu encontrei os olhos de Eden novamente e respirei fundo. — Esse foi o
catalisador. Mas eu juro a você, Eden, juro a você com cada parte minha, é
porque eu queria beijá-la por tanto tempo que isso estava se formando dentro
de mim como uma tempestade fora de controle. Lamento que começou com
raiva. Você merecia coisa melhor do que isso.

Eden me olhou por um minuto e depois sorriu. — Eu não me arrependo.


Não me importa como começou. Só que aconteceu — Ela fez uma pausa. — E
que isso vai acontecer novamente — Ela piscou para mim.

Inclinei-me e beijei-lhe os lábios novamente, mordendo o inferior com os


dentes até que ela sorriu contra a minha boca.
Eu me inclinei para trás. Ela ergueu uma mão e a colocou na minha
bochecha, sua expressão cheia de carinho e bondade. Inclinei-me para ela. — Eu
sinto muito que Hector fez isso — Ela fez uma pausa. — Eu o ouvi falando com
Clive Richter. Algo deu errado para ele na peregrinação em que ele estava em
causa. Eu não sei o que, mas algo... Algo está diferente nele. E, também, ele o vê
como uma ameaça, e com razão. Ele nos viu hoje.

Eu dei um passo para trás, segurei sua mão e levei-a para a pedra menor,
onde nos sentamos juntos. — Eu sei. É parte da razão e não vejo como ele está
diferente, também, mas... Vejo isso claramente agora. Que eu nunca ia
conseguir uma vaga no conselho. Era um sonho.

— Eu sinto muito — Ela sussurrou.

Eu olhei para a nascente por um minuto, e o entendimento não me


deixou nada surpreso. Eu me virei para ela e coloquei um pedaço de cabelo solto
atrás da orelha, deixando meu olhar vagar sobre seu belo rosto. Ela parecia uma
deusa sentada aqui, com os cabelos em cascata sobre seus ombros e sua pele
clara brilhando à luz do sol. Por apenas um segundo, eu queria cair de joelhos a
seus pés e adorar em seu santuário.

— Isso muda tudo, você sabe. Nós não podemos voltar atrás. Nós não
podemos fingir que isso não aconteceu. Eu não posso fingir que isso não
aconteceu.

Ela assentiu, deixando escapar um suspiro. — Sim, eu sei.

Eu balancei a cabeça, franzindo a testa. — Eu não sei exatamente o que


fazer, mas vou pensar em algo. Confia em mim, certo?

— Com a minha vida.

Meu peito se apertou e eu me inclinei para frente e beijei-a novamente. —


Tudo bem. Precisamos voltar agora. Vai terminar a reunião de Hector. Não vá
mais a minha cabana, tudo bem? Se você precisar entrar em contato comigo,
deixe um bilhete no mato para Xander. Vou pedir a ele para checar todo dia.

Ela assentiu com a cabeça, mordendo o lábio inferior. Eu queria beijá-la


novamente, mas não havia tempo. Eu queria beijá-la de novo e de novo para o
resto da eternidade e nunca parar. — Vamos sair daqui? — Ela perguntou com
seus olhos implorando por algum tipo de confirmação.

Olhei para ela por um minuto, em seguida, puxei-a para o meu peito,
segurando-a com força contra mim. Ela colocou seu ouvido sobre o meu coração
e apenas ficamos assim por longos minutos. Poderíamos? Poderíamos sair
daqui? Minha família? Meus amigos? Nossas vidas? O nosso destino? — Só
porque nós precisamos — Eu finalmente disse.
CAPÍTULO ONZE

Eden

Eu estava andando no ar. As coisas estavam acontecendo ao meu redor,


eu supunha, mas tudo estava distante, meio sonhador. Eu estava perdida na
minha própria cabeça, em nossa nascente, os lábios de Calder nos meus, sua
língua alegando minha boca, seu corpo pressionado duramente contra mim. Eu
tremia só de me lembrar da sensação dele - esmagador, delicioso, bonito — tudo
que eu sempre sonhei e muito mais.

Poucos dias depois de Calder me beijar, eu coloquei um punhado de balas


de caramelo no mato em frente à guarita para Xander levar para Maya e minha
mão tocou um pedaço de papel dobrado. Agarrei-o e enfiei-o no bolso da minha
saia, olhei em volta, e voltei rapidamente para o meu quarto.

Sentei-me na minha cama e o abri com os dedos trêmulos. Eu reconheci o


papel grosso. Era um pedaço do bloco que deixamos na nascente, rasgado ao
meio para torná-lo menor.

Eden,

Uma pedrinha. Essa é a resposta para a pergunta que você fez um


tempo atrás sobre o que o pinguim macho usa para propor à pinguim fêmea.
Ele peneira através de todas as pedras até que encontra a mais lisa que
consegue, e dá a sua fêmea escolhida. Em seguida, ele apresenta a ela como
um símbolo de seu amor. Se ela aceita a pedra e a coloca em seu ninho, isso
significa que ela o aceita como seu companheiro.

Eu perguntei a uma garota com quem tive aulas e você estava certa.
Que foi, naturalmente, a parte que ela se lembrava.

Eu sinto seus lábios em mim, Eden. Quando fecho meus olhos, quando
estou acordado. Eu sinto seu gosto. Você é a minha primeira respiração, e a
minha última. Eu sinto você, e espero que ainda me sinta também. Eu preciso
ver você. Você pode me encontrar em nossa nascente? Deixe uma nota para
Xander e ele vai trazê-la para mim. Até então, vai parecer como mil anos.

Seu Calder.
Seu. Eu fiquei lá segurando o bilhete de Calder em meu peito com um
sorriso tonto no meu rosto. Eu era de alguém. Eu era de Calder. Eu pertencia a
ele. E ele me pertencia. Parecia tão simples, mas para nós, claro, era tudo menos
isso.

Virei mais o bilhete e soltei uma gargalhada quando vi que toda a parte
de trás do papel estava preenchida com um esboço de um pinguim farejando
uma pedra pequena e brilhante ao longo do chão coberto de neve em direção a
outro pinguim sentado ereto em um ninho, a cabeça dela afastada da dele. Em
um esboço rápido, ele conseguiu colocar um olhar de pura esperança no rosto
do garoto pinguim, e uma indiferença arrogante no rosto da garota pinguim,
enquanto ela esperava para ficar impressionada. Eu ri novamente, baixinho.

Olhei ao redor do meu quarto para pegar um pedaço de papel, mas


percebi que não tinha nenhum. Havia alguns lá embaixo. Olhei para o Livro
Sagrado de Hector na minha mesa de cabeceira e mordi o lábio. Então, peguei e
abri devagar, hesitando. Rapidamente virei a parte de trás e arranquei uma
página. Meus olhos se arregalaram em descrença com o meu pequeno ato de
rebelião. Mas sentei-me na minha cama e usei a capa como uma superfície dura
para escrever o meu bilhete.

Eu usei as margens vazia da página, e tinha que mantê-lo curto, com o


espaço vazio limitado.

Calder,

Quem poderia imaginar que os pinguins são tão românticos? Este


mundo realmente está cheio de amor nos lugares mais surpreendentes, não é?

Eu sinto seus lábios nos meus, também. Eu sinto seu gosto. Eu respiro
você. Anseio por você como nunca ansiei nada na minha vida.

Encontre-me na nossa nascente no domingo, após o Templo? Hector


tem outra reunião do conselho e eu vou dizer a Mãe Miriam que estou doente,
então não tenho que participar da refeição de domingo.

Sempre sua, Eden


Eu andei o mais rápido que pude com as minhas sandálias e saia pela
trilha. Meu coração batia duramente no peito, e não apenas por causa do
esforço, mas pela emoção de saber que eu ia ver Calder em questão de minutos.

Abaixei através da abertura e me endireitei. Lá estava ele, reclinado sobre


a nossa rocha, com os braços atrás da cabeça, as roupas molhadas agarradas a
ele. Eu fiquei lá por um minuto, simplesmente olhando para ele. Ele se sentou e
sua camisa molhada mostrou seus músculos do estômago debaixo do tecido. Ele
sorriu para mim e eu rapidamente me movi para a borda da nascente.

Eu vagueei através dela e Calder me ofereceu uma mão, me puxando para


cima sobre a rocha. Deitei-me ao lado dele. Nós ficamos lá por um minuto ou
dois, a nossa respiração e os salpicos da água sendo os únicos sons que nos
rodeavam. Em seguida, nos movemos de uma vez, nos virando um para o outro,
Calder pegando minha cabeça entre as mãos e tecendo os dedos pelo meu
cabelo. Ele parou por apenas um segundo, enquanto olhava em meus olhos, os
seus dilatados e escurecidos, com fome. Um formigamento começou entre
minhas pernas e eu apertei-as juntas para saborear a sensação. E então sua boca
encontrou a minha e o gosto dele era tudo que eu conhecia. Eu gemi, uma
confissão sem palavras do meu desejo e vontade completa.

Ele inclinou a cabeça e nosso beijo ficou mais profundo, nossas línguas
duelando com cuidado. O raspar do seu maxilar áspero contra a minha
bochecha era tão perfeitamente masculino. Isso me inflamou e eu gemi de novo,
pressionando meu corpo para mais perto dele.

Quando Calder se afastou suavemente trilhando seus lábios na minha


garganta, eu suspirei, inclinando a cabeça para trás para lhe dar melhor acesso a
minha pele. Olhei para o céu azul com as nuvens flutuando preguiçosamente.

— Os deuses criaram este lugar para nós — Eu sussurrei, sorrindo com ar


sonhador.

Calder fez uma pausa, deslizando seus lábios mais uma vez em toda a
minha garganta antes de responder. — Sim — Eu o senti sorrir contra a minha
pele. — Por que você acha que eles fizeram isso?

— Então, nós teríamos um lugar para nos apaixonar.

Calder levantou a cabeça com sua expressão cheia de intensidade. — Você


é minha, Eden. Você sempre foi, desde o momento em que eu a vi.

Eu balancei a cabeça. Parecia a verdade mais simples que o mundo já


conheceu.

Nossos lábios se encontraram novamente. Calder me beijou de uma


maneira que me fez acreditar que tinha sido não só sempre dele, mas eu seria
sua para sempre. Nesta vida ou em qualquer outra. Em seu beijo estava a
promessa de que onde quer que ele e eu existíssemos, nós pertenceríamos um
ao outro.

Depois de vários minutos, Calder se separou ofegante quando olhou para


mim com os olhos de pálpebras pesadas.

Ele parecia tenso, mas em conflito. — Por favor, não pare — Eu disse,
inclinando-me e beijando seus lábios de novo suavemente.

— Eu tenho medo que se eu não o fizer agora, não vou ser capaz de parar
mais tarde — Ele disse com a voz ainda mais rouca do que normalmente era.

Eu queria dizer a ele para não parar agora, ou mais tarde, mas senti as
palavras descaradas, muito ousadas, mesmo em minha mente. Minhas ações
teriam que falar por mim.

Coloquei meus dedos sobre o botão de cima da minha camisa e comecei


lentamente a desabotoar um a um. Seus olhos saltaram entre meus dedos e meu
rosto, parecendo escurecer quando cada botão se abria. Eu observei o
movimento de sua garganta quando ele engoliu em seco.

Eu abri minha camisa para expor o simples sutiã branco por baixo e
encolhi os ombros deixando-a cair dos meus ombros. Estiquei os braços nas
minhas costas, retirando meu sutiã, e deixei-o deslizar para baixo dos braços e
cair em meu colo. Um gemido veio dos lábios entreabertos de Calder, seus olhos
treinados em meus seios. Meus mamilos endureceram sob seu olhar e eu abaixei
meus olhos. Eu nunca estive nua na frente de ninguém.

— Eden — Calder sussurrou reverentemente. — Você é tão bonita.

E então, em um movimento rápido, ele tirou a própria camisa molhada e


sentou-se com o peito nu na minha frente. Meus olhos percorriam sua pele
bronzeada e seus músculos elegantes com arrepios aparecendo após meu olhar.
Estendi a mão para tocá-lo e as coisas pareciam abrandar. Nós dois movemos
nossos corpos mais perto e minha mão alcançou a pele quente e suave do seu
peito. A respiração escapou dele e os meus olhos corriam em seu rosto. Eu já
tinha visto Calder sem camisa antes, mas nunca sonhei que um dia iria chegar a
tocá-lo, sentir os músculos fortes que eu tinha admirado por tanto tempo.
Sentia-o tão firme, tão masculino, sua pele suave e quente. Eu mal podia
acreditar que aquilo era real.

— Por favor, não pare — Disse ele, repetindo as minhas palavras, poucos
minutos antes.

Eu soltei um suspiro e deixei meus dedos continuarem a sua viagem


sobre seu peitoral, até um de seus mamilos, onde eu usei o meu dedo indicador
para contornar suavemente.
— Eden — Calder engasgou. — Você está me matando. Estou morrendo.

Eu sorri com meus olhos ainda observando meus dedos à medida que
arrastavam ainda mais para baixo em seu estômago. — Não, você está vivendo.
Nós estamos vivendo. Bem aqui, juntos. Foi sugerido que a morte nos separaria
para sempre, e eu me recuso a deixar você ir — Nossos olhos se encontraram e
então algo pareceu despertar entre nós, algo como uma faísca, antes dele se
inclinar para a frente e tomar minha boca novamente, sua língua empurrando
devagar e sem pressa. Movi-me ainda mais perto para que eu pudesse sentir sua
pele nua contra a minha. Êxtase.

Eu estava sendo ousada agora, mas este momento era nosso, de mais
ninguém. Nunca em toda a minha vida me foi perguntado o que eu queria, nem
mesmo perguntado o que poderia ser, então eu estava fazendo isso. Bem aqui
sob os deuses, na nossa nascente, eu iria pegar o que queria para mim. E eu
queria Calder. E ele me queria. E isso não poderia ser errado, poderia?

Esfreguei meus mamilos doloridos contra seu peito duro e gemi em sua
boca com a deliciosa sensação. Nada, nunca me fez sentir tão bem e eu queria
mais. Eu teci meus dedos pelo seu cabelo curto e macio na parte de trás do seu
pescoço e emaranhei minha língua com a dele, exaltando o sabor e cheiro dele:
água limpa e pele masculina.

Deitamos juntos, não quebrando o contato de nossas bocas. Parecia que


meu coração estava batendo furiosamente e houve uma intensa sensação de
formigamento entre as pernas. Eu não sabia o que precisava, mas estava
desesperada para conseguir tudo o que pudesse. Eu rompi com sua boca. —
Você é...? Não é...? — Eu perguntei sem fôlego, sem saber como verbalizar o que
meu corpo estava pedindo.

— Sim — Ele disse, parecendo saber. — Sim.

Eu deixei meus olhos se moverem para baixo e corajosamente segurei a


protuberância na parte da frente da calça solta. Mantendo meus olhos focados
ali, eu disse: — Eu aprendo as coisas. Ensine-me, Calder — Minhas bochechas
aqueceram e eu esperava que ele dissesse alguma coisa.

Calder ficou em silêncio por alguns segundos e eu olhei para o seu rosto.
Ele estava olhando para mim, um olhar que parecia ser uma mistura de
surpresa e desejo.

Calder gemeu e caiu de costas sobre a rocha, cobrindo o rosto com as


mãos. — Como é que vou sobreviver a você? — Perguntou.

Eu sorri, colocando meu corpo em cima dele e beijando seu pescoço. —


Eu sou a menor das suas preocupações.
Ele riu, um som sem humor. — Não, você é de longe a maior das minhas
preocupações — Mas ele olhou para mim com tanta ternura que meu coração
apertou.

Sorri novamente e coloquei meu rosto em seu peito e depois de um


minuto, deixei minha mão se mover para baixo nos músculos de seu estômago,
levando um momento para traçar os entalhes e os cumes. Ele respirou fundo e
minha mão parou, mas quando ele não se opôs, eu continuei. Cheguei até o cós
da calça de linho, onde um pequeno rastro de pelos desaparecia e ele pareceu
congelar, a protuberância bem debaixo da minha mão tremendo.

Mergulhei meus dedos abaixo do cós solto e movi minha mão mais
abaixo, através dos pelos duros e grossos, buscando aquela parte dele que era
um mistério para mim. Seu peito subia e descia e a protuberância em sua calça
crescia cada vez mais. Uma sensação inebriante de poder surgiu em meu
sangue, me fortalecendo ainda mais.

Minha mão atingiu o que eu estava procurando. Eu passei meus dedos ao


redor do seu comprimento duro, sedoso. Ele gemeu profundamente,
empurrando em direção a minha mão em um apelo sem palavras para
continuar.

Eu parei por um segundo e um gemido escapou dele, mas eu precisava


abaixar mais o seu cós para que pudesse ver o que estava fazendo. Ele ergueu a
parte traseira para que eu pudesse atingir meu objetivo, e quando puxei a calça
mais baixa, ele saltou livre. Eu passei minha mão ao redor dele novamente com
meus olhos arregalados quando peguei no órgão pardo, a cabeça vermelha
escura com uma gota brilhante fluindo na ponta. Eu sabia como eram os
meninos - eu ajudava Hailey banhar seus filhos. Mas eu nunca tinha visto um
homem antes. Era tão... Grande e se projetava para mim tão rigidamente. Por
um minuto, eu simplesmente olhei para ele.

Sentei-me e coloquei outra mão sobre a rocha perto de mim. Olhei para
Calder, mas seu braço estava jogado sobre seus olhos, e então eu não podia ver
bem sua expressão, só que seus lábios estavam entreabertos e seu maxilar tenso.

— Eden, Eden... — Ele respirou, parecendo desesperado.

Olhei para a minha mão circundando-o e usei meu polegar para esfregar
a gota de fluido em um círculo, fascinada por ele, pela forma como seu corpo era
diferente do meu. Ele gemeu como se estivesse torturando-o.

— Mostre-me — Eu sussurrei.

Ele hesitou por um breve segundo, mas, em seguida, levou a própria mão
e a colocou em cima da minha, usando-a para deslizar para cima e para baixo
em seu comprimento.
Depois de um minuto, ele soltou e me deixou fazer isso sozinha. Eu
continuei a acariciá-lo como tinha me mostrado. Seus gemidos e respirações me
disseram que eu estava fazendo a coisa certa e assim continuei, hipnotizada pela
forma como a pele se movia sob meus dedos e a maneira como ele crescia ainda
mais na minha mão.

Depois de alguns minutos, sua respiração tornou-se ainda mais irregular


e ele começou a empurrar os quadris para cima na minha mão. Enquanto ouvia
seus gemidos e respirações ofegantes, a pressão entre as minhas pernas se
intensificou e eu senti a umidade escorrendo em minha coxa.

Seu corpo ficou tenso e então congelou quando um líquido branco saiu
rapidamente dele. Eu respirei fundo, meus olhos arregalados enquanto ele
gemia, suspirava e então relaxou, seu corpo amolecendo sob minha mão.

Olhei para ele, que tinha abaixado o braço e estava olhando para mim
com os olhos semicerrados, com uma expressão de felicidade sonolenta. Isso fez
o meu corpo aumentar com a beleza daquele olhar. Inclinei-me e beijei-o, e ele
levantou as duas mãos e segurou meu queixo enquanto me beijou de volta,
profundamente. Nós nos beijamos por longos minutos, lentamente,
especialistas na boca um do outro agora. Calder me rolou de costas, enquanto
sua língua continuava a dançar com a minha.

— Isso foi... Eu não posso nem colocar em palavras o que foi — Disse,
olhando para mim.

Eu não sei se o que estávamos fazendo era certo ou errado. Em toda


minha vida tinham-me dito que a impureza sexual era pecado. Mas isso me fez
sentir o mais distante de qualquer pecado que uma pessoa poderia obter. Como
isso poderia ser um pecado, quando meu coração estava repleto de amor por
este forte, garoto incrível - aquele que me ensinou todas as coisas belas e
corajosas? Como isso poderia ser um pecado, quando foi o momento mais feliz
de toda a minha vida?

Poderia ser errado ser tão feliz? Simplesmente eu não podia acreditar
que fosse.

Gemi em sua boca quando seu peito nu novamente esfregou sobre meus
mamilos endurecidos. Meu corpo estava de repente inflamado novamente e
meus dedos cravaram em seu bíceps, onde eu o estava segurando, esfregando
em cima e embaixo nos músculos rígidos de seus braços. Eu adorava a sensação
do seu corpo grande e duro pairando sobre o meu, o seu perfume masculino que
me cercava, o conhecimento que ele era tão impotente em resistir a mim, como
eu era em resistir a ele.

Ele se afastou da minha boca e inclinou a cabeça e, de repente, seus lábios


estavam no meu seio e ele estava beijando meu mamilo. Meus olhos se abriram
e um som de prazer surpreso escapou da minha boca. Oh, isso é
abençoadamente bom. Ele esfregou seu rosto contra meus seios e lambeu ao
redor dos botões sensíveis por vários minutos até que eu estava ofegante e tonta
de desejo.

Eu forcei a minha parte dolorida para cima, em sua virilidade, e ele


gemeu e levantou a cabeça. Nossos olhos se encontraram e ele olhou para mim
com a mesma ternura, pouco antes de se inclinar e arrastar seus lábios até
minha garganta. Antes que eu percebesse, eu senti sua mão debaixo da minha
saia, arrastando-a em minha coxa. Eu congelei, só sendo capaz de me
concentrar na mão áspera se movendo para cima, em direção a minha mais
secreta parte privada. Engoli pesadamente e inclinei a cabeça para trás, abrindo
meus olhos para olhar descaradamente para cima em direção aos deuses e o céu.
Vocês estavam errados, eu disse a eles na minha cabeça. Este é o meu destino.

Os dedos de Calder arrastavam sobre a minha pele e, em seguida, chegou


ao cós da minha calcinha. Assim como ele tinha feito para mim, eu levantei meu
traseiro para permitir-lhe espaço para puxar minha calcinha para baixo. Sua
mão se moveu timidamente ao longo dos cachos macios cobrindo meu sexo e
um de seus dedos deslizou, avançou e tocou um ponto baixo que me fez gritar de
prazer. Sua mão parou, mas então ele continuou a usar um dedo para me tocar
lá, explorar. Eu gemia e apertei-me em sua mão, superada com a felicidade que
ele estava me dando. — Calder — Eu respirei. — Por favor, não pare.

Seu dedo continuou a circular por alguns minutos, enquanto o prazer


crescia mais e mais. Ele parou momentaneamente. Eu fiz um som de perda e
forcei descaradamente na sua mão novamente. Ele moveu a mão mais abaixo e
mergulhou um dedo na minha abertura, me senti tão bem que gritei de novo,
implorando por mais. Ele gemeu, também, e empurrou seu dedo mais fundo,
me enchendo.

Calder beijou e chupou meu pescoço, enviando arrepios pelo meu torso.
Isso era tão bom. Sua voz estava grossa quando disse: — Eu a quero tanto.

— Sim, sim — Respondi.

— Minha Glória da Manhã — Disse ele.

E então, seu dedo agora molhado, voltou para aquele lugar mágico e
todos os pensamentos desapareceram quando me submeti ao prazer.

— Isso é... Mostre-me se não está... — Calder disse, parecendo incerto.

— Não, isso é perfeito. Isso é... Ohhhh, Calder — Eu gemi.

Ele moveu o dedo para dentro e para fora devagar e depois mais rápido
enquanto eu ofegava e movia minha cabeça de um lado para o outro, sem saber
se eu poderia lidar com a coisa que eu sentia que rodava em mim, pronta para
me arrastar para baixo.

E então, de repente, quando o pensamento veio, um prazer incrivelmente


intenso me atravessou quando eu gritei, todos os músculos do meu corpo
contraíram tão deliciosamente que eu pensei que poderia morrer por causa
disso.

O prazer lentamente desapareceu e eu suspirei, relaxando. Abri os olhos e


Calder estava olhando para mim com o rosto cheio de algo que parecia amor.

Ele se inclinou e me beijou com ternura. — Isso foi lindo — Disse ele,
inclinando-se para cima.

Eu balancei a cabeça, horrorizada por tudo que tinha acabado de


acontecer e não era capaz de formar palavras. Calder sorriu para mim e então eu
segui seu exemplo, nós tiramos nossas roupas íntimas ainda úmidas e a lavamos
na nossa nascente.

Seguramos nossas roupas sobre as nossas cabeças quando cruzamos para


o outro lado e depois sentamos no banco.

Colocamos nossas roupas íntimas na grama, deixando-as para secar em


uma rocha.

— Eu não quero voltar — Eu disse com meus olhos subitamente cheios de


lágrimas.

Ele não falou por um minuto, franzindo os lábios. — Eu sei. Eu não quero
mandá-la de volta. Se houvesse alguma outra maneira...

— Por favor, pense em alguma coisa — Eu implorei.

Ele enfiou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e enxugou uma
lágrima do meu rosto. — Nós precisamos sair daqui. Simplesmente não há outra
maneira. Está pronta para isso?

Eu balancei a cabeça. — Sim. Quero ir embora.

Calder parecia preocupado. — Vai levar alguma preparação. Vamos


precisar de dinheiro... E um lugar para ficar. Vou precisar descobrir algumas
coisas de como a grande comunidade opera antes que eu saiba como ser capaz
de mantê-la segura, manter você.

— Eu não preciso de muito — Eu sussurrei. — Só você.

Calder sorriu e então caiu para trás de costas. — Você faz isso parecer
fácil, Glória da Manhã, mas não vai ser fácil. Hector nos deixou completamente
despreparados. Eu não sei se isso foi proposital ou... — Ele olhou para mim. —
Em todo caso, é preciso certificar-se de que temos uma chance.

— Eu confio em você.

Calder me estudou por um minuto e depois sorriu, mas seu sorriso


parecia mais preocupado do que qualquer coisa. — Eu sei que você confia —
Disse ele muito sério. Então me pegou e me segurou contra o peito, enquanto as
nuvens se moviam lentamente acima de nós e o sol quente secava nossas
roupas.

Quando estávamos secos e vestidos, Calder ficou olhando para mim e


depois se inclinou e beijou meus lábios suavemente. De repente, senti-me um
pouco tímida, ali de pé depois que tínhamos acabado de nos tocar de uma forma
tão íntima.

— Deixe outro bilhete para mim quando você puder me encontrar de


novo — Ele disse.

Eu balancei a cabeça e, em seguida, caminhamos de mãos dadas para a


base da trilha onde ele me beijou mais uma vez antes de eu o deixar subir
sozinho. Senti-me viva. Revigorada. Esperançosa. Eu nunca mais queria me
sentir diferente novamente. Podemos fazer nossos sonhos se tornarem
realidade? Poderíamos ir embora?
CAPÍTULO DOZE

Calder

Calder,

Meus pensamentos são somente você. Há seiscentos e setenta e sete


passos entre a minha porta da frente e a sua. Eu tenho certeza disso. Eu já
contei. Eu ando-os em minha mente. Eu saio da minha porta da frente e vou
para você no meio da noite. Eu escorrego em sua cama e seu calor queima
dentro de mim quando nos tocamos em silêncio. Sua boca encontra a minha na
escuridão e o seu gosto faz com que cada parte minha doa de desejo - meu
corpo, minha pele e meu coração. Eu conheço você no escuro, assim como o
conheço debaixo do sol durante o dia brilhante. Eu o reconhecerei em Elysium,
e em qualquer outro lugar que os deuses consideram enviar-me por te amar.
Eu não tenho medo. Mas sinto sua falta, e eu não quero que haja qualquer
distância entre nós. Eu quero a minha cama para ser a sua, e quero o seu calor
à noite para estar dentro do alcance dos braços. Todas as noites antes de
dormir, eu oro para que esse dia chegue rapidamente.

Sua sempre e para sempre, Eden

P.S. Acho que minhas lições acadêmicas acabaram por agora. Eu tenho
que dizer que gosto muito do novo currículo, E.

Eu sorri para o papel e, em seguida, o escondi debaixo do meu colchão


com o outro bilhete que Eden tinha escrito para mim. Eu deixei-me cair na
cama, que era nada mais do que um colchão recheado de palha e um cobertor de
lã, e fiquei ali tentando esfriar meu corpo. Provavelmente seria aconselhável
pular no rio rapidamente antes de voltar aos campos. O bilhete de Eden fez o
sangue correr pelo meu corpo e as imagens de nós juntos na cama encheu
minha mente. Eu gemi e coloquei um braço sobre os olhos, tentando em vão
esvaziar meu cérebro.

Depois de um minuto, eu sentei e desdobrei o pedaço de papel em branco


que Eden tinha fornecido junto com o seu bilhete.
Eden,

Meus pensamentos são só seus. Quando tomo banho de manhã, a água


que corre pela minha pele é a ponta dos seus dedos me tocando em todos os
lugares. Quando eu trabalho nos campos, a sensação da planta aveludada me
faz lembrar da sua pele. Quando estou na minha porta, olhando em direção ao
pavilhão principal procurando por você, o céu azul profundo do crepúsculo
são seus olhos. Eu queimo por você de forma tão intensa que sinto que eu
poderia acender todas as cabanas dos trabalhadores, todas as cinquenta
delas, e já não precisaríamos de luz de velas. Vou levá-la para longe daqui,
para um lugar onde minha cama seja sua cama, e minha casa seja a sua. E
nesse lugar, eu nunca vou estar mais do que ao alcance do seu braço, minha
linda e corajosa Glória da Manhã.

O planejamento do festival da primavera está em andamento para os


trabalhadores e eu tenho ajudado sempre que necessário. Não serei permitido
chegar perto de você durante o festival, mas eu a verei, e saberei que você me
verá, também.

Seu sempre e para sempre, Calder.

Virei o papel e fiz um rápido esboço de mim mesmo, de pé na porta da


nossa cabana, olhando em direção ao pavilhão principal. Eu desenhei a luz que
emanava da minha pele e lançava um brilho sobre todas as cabanas vizinhas e a
minha. Eu sorri enquanto dobrava-o.

Saí da cabana e caminhei oitocentos metros para a beira do campo onde


Xander estava de pé, encostado a algum tipo de caixa de luz verde ao lado da
estrada de terra.

Xander se virou quando ouviu meus passos e levantou uma sobrancelha.


— Decidiu ver onde toda a ação está? — Ele riu.

Eu sorri para ele. — É isso que você faz todos os dias? Não é de admirar
que você na maior parte do tempo é um louco.

Ele bufou. — Eu discordo de você, mas...

Eu sorri e me encostei à caixa ao lado dele. Bati com a minha mão. — O


que é isso, afinal?

Ele olhou para ela e depois de volta para a estrada. — É uma caixa
elétrica. Abriga alguns fios ou algo que traz energia para o pavilhão principal.

Eu balancei a cabeça, franzindo a testa. — Então você não deveria estar


andando por aí ou algo assim?
— Qual é o ponto, Calder?

Suspirei e passei a mão pelo meu cabelo. — Hector diria que é garantir a
segurança.

Xander soltou uma risada sem humor. — Mais como a forma como são
assegurados os escravos.

Eu olhei para ele. — Os escravos?

— Não é o que nós somos? Não trabalhamos aqui o dia todo sem
remuneração?

Eu olhei para a estrada por vários minutos sem saber exatamente como
responder a isso.

Xander se virou para mim, aparentemente lendo minha mente. — Hector


diria que trabalhamos para a nossa família, mas Calder, se as enchentes não
vierem, e se Hector estiver errado com isso, então vamos acabar ficando velhos
aqui.

Eu balancei minha cabeça. — Eu queria falar com você sobre isso —


Deixei escapar um suspiro profundo e me virei para Xander. — Eu preciso ir
embora. Não é mais seguro aqui para mim. Preciso levar Eden comigo e ir
embora — Olhei em volta para me certificar de que não havia uma alma à vista.

Xander não pareceu surpreso, mas ele me estudou por alguns segundos
antes de responder. — Sim, você precisa.

Deixei escapar outro suspiro. — Eu preciso de ajuda.

Xander riu suavemente. — Sim, você precisa.

— Você vem com a gente?

Xander assentiu. — Sim.

Alívio inundou-me. — Sério? Então, nós iremos realmente fazer isso?

Xander olhou para o sol. — Vamos tentar — Ele se virou para mim. —
Mas, escute, eu vou ser honesto, tem muita coisa contra nós aqui. Hector nos
educou apenas porque o Estado teria cancelado se ele não o fizesse. Mas vamos
ser como peixe fora d'água lá fora — Ele acenou com o braço na direção dos
quilômetros da cidade além de nós, talvez para todo o mundo além de nós. —
Quero dizer, nós somos homens com dezoito anos de idade, e não temos
nenhuma outra habilidade a não ser a agricultura e caminhar por aí horas por
dia — Ele riu, mas era vazio.
Fiquei quieto por um minuto. — Eu estive pensando — Eu massageei a
parte de trás do meu pescoço por um segundo. — Aquela mulher do sistema
escolar veio aqui todos os meses para olhar nossos planos de aula.

— Sim, eu me lembro dela — Disse Xander. — Isso é o que eu quis dizer


sobre Hector nos educar por causa das leis do Estado.

Eu balancei a cabeça. — Certo. Então, por que ninguém nunca verificou


Eden? Como Hector escapou de não educá-la?

Xander olhou para a estrada e depois deu de ombros. — Eu não tenho


ideia. Talvez por ele ser seu tutor, pode fazer o que quiser?

Franzi minha testa e soltei um suspiro, não tendo qualquer ideia do que
fazer com isso. — Você acha que Kristi iria nos ajudar? Eu nem sei por onde
começar.

Xander assentiu. — Eu acho que sim. Deixe-me falar com ela e lhe direi o
que ela diz.

— Ok — Eu olhei para ele. — Obrigado.

Ele estendeu a mão. Segurei-a. — Tudo o que eu tenho, você tem a


metade.

Deixei escapar um suspiro, sentindo a emoção se arrastar por mim. — O


mesmo vale para você, irmão — Eu respondi solenemente.

Olhei de volta para a estrada, me preparando para o que poderia estar


por vir.

Poucos dias depois que conversei com Xander nos limites da Acadia, eu
estava voltando para casa depois do meu trabalho nos campos, quando, de uma
certa distância, eu vi Eden entrar no Templo. Eu estava longe, mas ela não podia
ser confundida com aquele longo cabelo dourado. Mãe Miriam parou na frente e
sentou-se no pequeno banco de pedra ao lado da porta quando Eden
desapareceu lá dentro.

Virei-me rapidamente e fiz meu caminho para o outro lado do campo,


onde eu era capaz de andar direto para a parte de trás do Templo sem ser visto
tanta pela frente como pelos lados. Olhei em volta e quando eu não vi ninguém
por perto, tentei a porta dos fundos, encontrei o desbloqueio e rapidamente
entrei, trancando-a atrás de mim. Em Acadia, havia pouca razão para trancar
portas. Nossa segurança ficava no perímetro, então nos sentíamos seguros de
que as únicas pessoas lá dentro eram da família.

Fiquei ouvindo por um minuto e então eu olhei em volta da porta aberta


que dava diretamente para a frente do palco. Avistei Eden sozinha, ajoelhada
em oração na frente das doze velas na parede esquerda, cada uma
representando um dos nossos deuses. Seus olhos estavam fechados e seus lábios
se moviam levemente.

Eu andei para frente, meus passos não faziam nenhum barulho, e


encostei meu quadril no pódio de Hector.

— Eu pensei que você só rezava para um — Eu disse suavemente.

Eden assustou-se, com os olhos abrindo rapidamente quando ela levou a


mão até o peito. Ela simplesmente olhou para mim por um instante e depois seu
rosto se abriu em um sorriso deslumbrante.

— Na minha mente, eu faço. Os outros por acaso estão representados


aqui.

Inclinei a cabeça, estudando-a. — Será que ele nunca te responde? — Eu


perguntei, levantando os olhos para o céu.

Eden deu de ombros, enquanto seus olhos encontraram os meus. — Se


você quer dizer que ele fala comigo como Hector diz que os deuses falam com
ele, não — Ela balançou a cabeça. — Mas de vez em quando... — Ela se levantou
e à luz fraca das velas atrás dela na sala sem janelas delineou sua forma sob a
blusa e saia branca. Meu corpo se mexeu. — De vez em quando eu ouço alguma
coisa... Algo entre um sentimento e um sussurro — Ela começou a caminhar em
minha direção, um pequeno sorriso em seu rosto. Deuses, ela era belíssima. Às
vezes ela parecia irreal para mim - uma visão. Realmente eu a tinha tocado tão
intimamente? Como aquilo não podia ter sido um sonho? — Você já ouviu os
sussurros? — Ela perguntou em um sorriso.

— Não — Eu disse, ficando em linha reta e caminhando em direção a ela


quando se aproximava de mim.

— Talvez você não esteja ouvindo bem de perto — Ela levantou uma
sobrancelha delicada. Ela estava me provocando.

Meus lábios se levantaram em um pequeno sorriso. Ela era tão linda,


senti algo parecido com medo olhando para ela - não importa o que eu fiz, não
importa o quanto tentei, eu nunca tinha o suficiente dela. Nunca resistiria a ela.
Mas eu não tinha vontade de resistir mais. — Talvez.
Eden deu um sorriso travesso e levantou as mãos e as colocou em volta
do meu pescoço. — Talvez eles me dissessem para vir aqui hoje — Disse ela
suavemente. — Talvez a sensação de claustrofobia que me dominou no meu
quarto e me fez dizer a Mãe Miriam que eu estava me sentindo devota, foram
realmente os deuses sussurrando para mim, avisando-me que sua saída dos
campos seria perfeitamente cronometrada.

Deixei escapar um suspiro e uma risadinha. — Será que ela vai entrar? —
Eu perguntei, apontando para a porta da frente, onde Mãe Miriam estava
sentada lá fora.

Eden balançou a cabeça. — Como posso dizer corretamente as Doze


Petições se eu for interrompida? Então elas têm que ser iniciadas novamente...

Olhei para ela e seus lábios entreabertos. Eu gemi, me inclinei e tomei


sua boca doce, minha língua empurrando entre os lábios para obter acesso. Eu
endureci e instintivamente me pressionei contra ela, gemendo novamente. Ela
deixou escapar um pequeno suspiro e me puxou para mais perto. Oh, Glória da
Manhã.

Com a língua enrolada o redor da minha, ela estendeu a mão entre nossos
corpos e esfregou-me através da minha calça. Oh santo inferno. Prazer pulsava
através de mim e eu apertei meus olhos, colocando as minhas mãos em seu
rosto enquanto minha língua ia mais profundo. Eu estava tonto com a luxúria,
com o gosto dela na minha boca e seu cheiro - flores de maçã e primavera - me
rodeando.

Empurrei-me para sua mão e senti seu corpo bater em algo atrás dela. O
pódio de Hector. Graças aos deuses que estava anexado ao chão e não caiu.

Eden continuou a me esfregar através da minha calça, inclinando-se


ligeiramente para trás contra o pódio. Fiquei de joelhos na frente dela, e olhei
para seu rosto bonito, adorando-a. Adorando no altar de Eden. Ela sorriu
gentilmente para mim e passou a mão pelo meu cabelo curto.

De repente, eu precisava prová-la, mais do que precisava respirar. Eu


levantei sua saia e coloquei meu rosto contra seu montículo macio. Eden
respirou fundo e gemeu baixinho, me acendendo. Sua outra mão veio até meu
cabelo e ela correu os dedos por ele.

Eu abaixei sua calcinha em seus quadris e ouvi sua respiração parar. —


Calder — Ela gemeu, mas não disse mais.

Coloquei o meu rosto nos cachos loiros, macios e inalei. Calor pulsava
pelo meu corpo, acompanhado por pensamentos e visões: instintos que me
diziam para me empurrar para dentro dela, plantar minha semente dentro dela,
protegê-la, colocar uma recompensa de comida a seus pés. Deus do céu. O
cheiro dela tinha me transformado em um homem das cavernas.
Mas quando abri meus olhos e olhei para cima - cheios de ternura - foi o
meu coração que inchou e apertou. Ela tinha cada parte minha. Eu era dela.

Virei o rosto para ela e passei a língua no vinco de seu sexo. — Oh! — Ela
engasgou, apertando-se em mim. Eu não pude evitar o gemido que surgiu em
minha garganta também. Minha língua encontrou aquele pequeno pedaço de
carne que fez Eden gemer e pulsar e eu circulei com a minha língua. Ela tinha
um gosto tão bom, doce e almiscarado - como uma versão mais intensa da sua
pele. Eu adorei isso. Eu a amava. Suas mãos agarraram meu cabelo e eu sorri
contra ela. Eu deslizava a minha língua e rodava e rodava ao redor daquele
pequeno ponto até que Eden estava gritando e se esfregando no meu rosto. Eu
me senti animalesco, carente, como se eu quisesse devorá-la, marcá-la e tomá-la
como minha.

Eden congelou. Eu gemi quando ela se esticou, estremeceu e ofegou com


seu clímax contra a minha boca. Foi à coisa mais intensa que eu experimentei
em toda a minha vida. Eu não seria capaz de me levantar agora se tentasse ir
embora. Eu estava duro como pedra. Pulsando com a minha necessidade de
liberação.

Depois de alguns segundos ainda respirando contra ela, eu puxei a


calcinha de volta e desci a saia. Meus olhos se arregalaram com o que vi. — Oh,
não. Eden, eu... Sinto muito. Eu nem sequer considerei que eu...

Ela inclinou a cabeça, ainda um pouco atordoada com um olhar confuso


em seu rosto.

Eu levantei minhas mãos ainda manchadas com a sujeira dos campos. Eu


tinha esquecido e, aparentemente, ela não tinha notado as minhas mãos na sala
escura.

Seus olhos se arregalaram e ela olhou para si mesma, sua saia branca
coberta com marcas de sujeira onde minhas mãos estavam. Parecia que um cão
sujo tinha apalpado-a. De repente me senti envergonhado pela minha sujeira
em comparação com a sua pureza. Será que ela estava pensando a mesma coisa?

Ela olhou para a terra por um minuto e, em seguida, começou a rir,


agarrando seu estômago e encostando-se ao pódio de Hector. Eu comecei a rir
também, isso levou vários minutos antes de finalmente nós recompormos.

— Sério — Eu ri. — Isso não é engraçado. Como é que você vai sair daqui?

Eden enxugou os olhos. Ela olhou ao redor, seus olhos finalmente


encontrando as cinzas ao lado das doze velas.

Ela se virou para mim. — Você precisa ir. Eles não vão me deixar vir aqui
novamente depois do que estou prestes a fazer, mas valeu a pena — Ela riu
suavemente. — Eu vou procurar por você no festival.
Eu balancei a cabeça. — Ok — Embora eu estivesse preocupado e não
queria deixá-la. — Tem certeza de que vai ficar bem?

— Sim, eu prometo — Ela se inclinou e beijou mais uma vez meus lábios e
se afastou, sorrindo.

Eu deixei meus olhos vaguearem sobre seu belo rosto e para baixo, para a
saia, onde havia uma quantidade extra de manchas de sujeira diretamente entre
as pernas. Eu senti o calor subir pelo meu rosto e ri baixinho. — Tchau, Glória
da Manhã.

— Tchau, Bala de Caramelo.

Eu me virei e escapei de volta na parte de trás do Templo, ficando em pé


contra a parede por um minuto, até que eu tinha certeza que não ouvi ninguém
caminhando nas proximidades.

Quando me mudei para a lateral do prédio, ouvi Eden soltar um grito e,


em seguida, um minuto depois, as portas da frente do Templo batendo abertas.
A voz de Mãe Miriam veio rapidamente: — O que você fez? — Ela gritou.

— Sinto muito! — Ouvi Eden chorar. — As cinzas! Não foi minha culpa.
Elas caíram e...

— Em cima de você? — Mãe Miriam perguntou asperamente. — Você


sempre foi uma coisa desajeitada. Vamos. Você precisa de um banho. Tem sorte
de eu não levar isso para Hector.

Eu sorri e recostei-me na parede do Templo. Eu deveria estar sentindo


vergonha, deveria, mas eu simplesmente não sentia. — Glória da Manhã —
Murmurei, sorrindo. Eu comecei a minha caminhada até o rio onde eu lavaria a
sujeira do meu corpo, triste com a remoção de sua essência da minha língua,
sorrindo para mim quando imaginei Eden e toda a impressão da minha mão
suja sobre ela.

Em Acadia, os trabalhadores organizavam um festival em Abril. Era uma


festa de final de inverno onde as safras da primavera estavam estourando com a
vida novamente. Ninguém trabalhava nesse dia, e todos se dividiam entre
cozinhar para as diferentes barracas e preparar os jogos. Geralmente,
celebrávamos as bênçãos que os deuses haviam concedido a nós, a paz e sucesso
da nossa comunidade.
Antes, eu sempre gostava. Era uma chance para um dia de lazer e para os
meus amigos e eu competirmos nas diferentes barracas.

Mas na manhã do festival eu rolei para fora da cama de madrugada,


sentindo-me impaciente com a frustração reprimida, embora o sono ainda
estivesse agarrado a mim. Eu caminhei até a porta da nossa cabana e saí com a
minha cabeça girando automaticamente em direção ao pavilhão principal. A
janela de Eden estava escura. Ela ainda estava dormindo. Imaginei-a deitada em
sua cama com os olhos fechados e o cabelo dourado derramando sobre seu
travesseiro enquanto seus seios subiam e desciam. Eu passei a mão pelo meu
rosto e fechei a porta, não muito discretamente, e comecei a minha caminhada
até o rio.

— Espere-me, Calder — Eu ouvi Maya chamar atrás de mim.

Eu parei e me virei, inclinando-me para pegá-la quando me aproximei


dela.

— Não, não me carregue. Eu quero andar — Disse ela em seu discurso um


pouco arrastado por uma pequena tosse.

— Maya...

— É de manhã. Você ainda não precisa ter pressa — Brincou ela, sorrindo.

Eu sorri de volta. — Não, eu acho que não. Vamos — E peguei em sua


mão.

Depois de termos visitado o banheiro, fizemos o nosso caminho para o


rio. Tirei minha camisa e entrei na água devagar, me acostumando com a água
fria. Maya ficou mais perto da margem, enquanto ela jogava água em seu rosto e
cabelo, tossia mais no ar frio.

Praguejei sob a minha respiração. Sua tosse havia melhorado um pouco,


mas agora estava de volta. E isso não parecia bom.

Ao vê-la, de repente senti muita raiva que minha irmã tinha que jogar
água fria na cabeça na manhã fria, quando as pessoas no pavilhão principal
acordavam com um chuveiro quente e água encanada.

Tinham-me ensinado toda a minha vida que o nosso sacrifício agradava


aos deuses e fazia-nos mais sagrados para viver com o conforto que só a eles
eram oferecidos. Mas, de repente, ali de pé, me enfurecia que Maya deveria ter
que se sacrificar e não as crianças e os membros do conselho.

Eu freei minha emoção e mergulhei na água, chegando a uma curta


distância e sacudindo a água do meu cabelo. Ouvi Maya rir atrás de mim. —
Você é como um peixe — Ela disse.
Eu ri e mergulhei de volta sob a água, vindo do mesmo jeito. Maya riu de
novo e bateu palmas. Ela imitou lançar um carretel de pesca e eu fingia ser pego,
me debatendo na água e tentando fazer uma fuga. Maya riu mais alto e começou
a “puxar-me”. Eu fingia lutar e resistir quando Maya cambaleou em direção à
costa, onde eu finalmente capotei e cai no chão, criando uma morte dramática
de peixe. Maya manteve-se rindo e, finalmente, eu abri um olho e sorri de volta.

Levantei-me e joguei um pouco de água nos lugares que eu tinha


colocado areia em mim e, em seguida, Maya me entregou um pedaço de tecido,
e eu usei-o para secar a água do meu peito e cabelo.

— Você gosta daqui, Maya? — Perguntei.

Ela olhou para mim. — Sim. É a minha casa — Disse ela. — Eu gosto de
qualquer lugar que você, mamãe e papai estão.

Eu balancei a cabeça, olhando para a piscina de água nas rochas aos meus
pés. — Você sabe que se algum dia eu sair daqui, eu voltaria para você, certo?

Maya olhou para mim. — Por que você sairia daqui? Se você fizer, você
não poderia ir a Elysium conosco. Estaria perdido no grande dilúvio com o resto
dos pecadores. Por favor, nunca saia daqui, Calder.

Eu vacilei. — Ok, Maya. Enfim, hoje não é o dia para falar sobre isso — Eu
a peguei, que gritou e depois riu. — É o festival da primavera e eu vou ganhar o
que você quiser.

— Eu quero uma coroa de flores para o meu cabelo.

— Então é isso que você vai ter — Eu ri e a levei de volta para a nossa
cabana.

Minha mãe e meu pai estavam acordados, então todos nós começamos o
dia. Mamãe fez o café da manhã, papai colocou a pequena carroça à nossa porta
com os assados que minha mãe vinha preparando durante toda a semana.

Para o festival, aqueles que cozinhavam recebiam um saco de açúcar para


utilização como ingrediente e Xander e eu costumávamos ir entre as barracas,
pegando as guloseimas, deixando-nos doentes até ao final do dia. Por alguma
razão, o pensamento de açúcar não me encheu com o entusiasmo habitual.

Eu estava na porta novamente, precisando de ar, quando nós quatro


subimos no pequeno espaço. Sempre parecia lotado em nossa cabana, mas
agora parecia minúsculo, claustrofóbico e eu mal podia respirar. Se eu não
estivesse dormindo ou trabalhando, passava a maior parte do meu tempo nesses
dias na pequena varanda.

— Seja útil e ajude o seu pai — Minha mãe mandou.


Eu respirei fundo, fui e peguei uns pratos de sobremesas da mesa.

Ao meio-dia, a instalação estava terminada e eu andei através das linhas


de barracas lentamente, verificando os vários itens: bolos, biscoitos, cupcakes,
coroas de flores de cabelo, buquês de flores silvestres, sabonetes com cheiro de
ervas diferentes, velas perfumadas feitas de cera de abelha, frascos de mel de
trevo. Embora os trabalhadores tivessem feito ou recolhido os itens, tudo o que
estava era um presente de Hector, e éramos incentivados a pegar o que
precisávamos. Todo mundo parecia feliz, cheios de emoção, mas todo o festival,
de repente pareceu-me como um pequeno pedaço que Hector jogava para nós,
trabalhadores, para manter-nos felizes, quando ele vivia assim todos os dias do
ano, aceitando os mimos e luxos que sempre desejou.

Eu tiraria Eden daqui, sim, porque não havia outra opção, mas eu
perderia alguma coisa? Era tudo que eu conhecia. Eu iria quebrar o coração da
minha mãe e do meu pai. E Maya... Eu iria voltar para ela. Eu precisaria. Depois
que eu e Eden estivéssemos estabelecidos, eu voltaria para ela.

Eu massageei a parte de trás do meu pescoço. Pareceu-me tão incerto. E


Xander estava certo - eu estava totalmente despreparado para o mundo lá fora.
Eu não temia tanto como Hector nos tinha ensinado. Eu não tinha certeza
exatamente por isso que... Talvez fosse o povo que Xander tinha encontrado no
Posto Florestal... Talvez essas estrelas de cinema felizes que estavam nas
revistas que roubamos e escondemos sob o assoalho da cabana de Xander.
Nenhum deles parecia mal ou cruel. Eu esperava que tivesse razão em ser
otimista sobre a forma como outras pessoas viviam e agiam fora de Acadia,
porque eu tinha certeza de uma coisa. Não haveria como voltar para cá uma vez
que saíssemos.

Fui interrompido dos meus pensamentos pelo som de vozes crescentes e


alguns gritando, e olhei para trás para ver a pequena carroça puxada por um
cavalo, envolta em tecidos brilhantes, que Hector costumava andar pelo festival
com as pessoas acenando para ele. Eden estava sentada ao lado dele, solene no
vestido de renda branca que ela usava sempre no Templo e eventos especiais.
Hector se inclinou e sussurrou algo em seu ouvido e uma expressão de
desconforto passou sobre suas características antes de ela sorrir timidamente e
acenar para ele. A raiva e o ciúme cravaram em mim quando me inclinei contra
uma árvore na beira da clareira, onde todas as barracas estavam montadas. Ele
não tinha direito a ela. Se pudesse, eu a teria tirado da estúpida carroça
pomposa ali mesmo e partido com ela. Mas para onde? E com o quê? Ela estaria
com fome na hora do jantar e eu não teria nada para alimentá-la? Ela não
poderia saber de todas as minhas dúvidas. Ela estava contando comigo e eu não
a deixaria. Mas por dentro, eu estava nervoso, confuso, cheio de perguntas que
não tinha como responder. Senti-me com raiva e frustrado.
Eu caminhei de volta ao redor do pequeno bosque de árvores e
ziguezagueava através das barracas até que eu estava ao lado da carroça, cerca
de cem metros ao seu lado. Eu caminhava no mesmo ritmo, abaixando-me atrás
das barracas aqui e ali. Por fim, Eden virou a cabeça e me viu. Eu sorri para ela e
seus olhos se arregalaram quando ela tossiu em sua mão, escondendo seu
sorriso.

Eu entrei por trás de outra barraca e quando saí, Eden estava olhando
para mim e começou a “tossir” em sua mão novamente. Eu andei junto com ela
assim por alguns minutos, amando que eu estava fazendo-a sorrir.

Quando a carroça chegou à primeira das barracas de jogo, Hector desceu


e, em seguida, estendeu a mão para Eden que a pegou e desceu também.
Cheguei mais perto, misturando-me com o resto das pessoas que agora se
aglomeravam ao redor da barraca.

A barraca do jogo era uma série de três plataformas, uma próxima, uma
mais distante, e a terceira até a parede do fundo. Havia três sacos pesados de
feijão em cada plataforma e o objetivo era lançar um saco maior com força
suficiente e apenas o posicionamento certo derrubaria toda as três.

Hector se inclinou para Eden novamente, apontando para cima, para a


variedade de flores de grinaldas de cabeça. Aproximei-me e Eden percebeu
minha movimentação e olhou para mim e logo em seguida para baixo,
obviamente esquecendo que Hector tinha acabado de lhe fazer uma pergunta.

Hector olhou para Eden e depois para mim, e seus olhos me acolheram
friamente. — Qual deles você gostaria, amor? — Hector perguntou em voz alta.
Eden se assustou e olhou para a barraca, hesitante e depois apontando para
uma coroa de rosas e flores silvestres amarelas, penduradas com longas fitas cor
de rosa. — Então isso será seu — Disse ele.

Ele pegou o saco de feijão da menina trabalhando lá e jogou-o na


primeira plataforma, derrubando facilmente os três sacos menores. A multidão
aplaudiu como se tivesse acabado de bater uma pedra de dez toneladas com as
próprias mãos. Ele se virou para Eden pegou sua mão e beijou-a, roçando seus
lábios através de sua articulação. Meu estômago apertou e eu senti uma
necessidade de arrancá-la para longe dele.

Ele se virou e Eden olhou para mim, mordendo o lábio e depois me


dando um pequeno sorriso.

Ele jogou o saco de feijão na segunda plataforma e derrubou-os também,


a multidão ficou selvagem.

De repente, Xander estava ao meu lado. Ele se inclinou. — Relaxe. É tudo


um show. Ela quer estar perto de você tanto quanto você quer estar ao lado dela.
Eu respirei e relaxei minhas mãos, que estavam fechadas em punhos.

Hector levou o saquinho na mão novamente e hesitou quando apontou


para a plataforma mais distante. Ele fez o seu lance e dois dos três sacos
menores deslizaram facilmente fora, mas o terceiro permaneceu. Hector sorriu,
deixando escapar um suspiro exagerado e levantando as duas mãos em um
gesto de “oh bem”.

— Eu vou ganhar um para a princesa — Eu soltei em voz alta.

Eu senti todos os olhos se voltarem para mim, mas o meu foco manteve-
se em Hector.

— Seu idiota — Eu ouvi Xander murmurar, mas meu orgulho governou o


dia e eu dei um passo adiante.

— Aqui, Calder — A menina na barraca disse, sorrindo para mim e


mostrando uma grande lacuna onde ambos os dentes da frente estavam
faltando. Peguei o saco de feijão dela e vi quando ela arrumou as três
plataformas novamente.

— Tudo pronto — Ela disse. Eu joguei o primeiro e limpei a plataforma


facilmente. A multidão aplaudiu, embora não tão exuberante como tinham para
Hector. Eu joguei o segundo e derrubei facilmente e a multidão aplaudiu um
pouco mais alto.

Fui até a terceira e olhei de novo para o Eden. Hector tinha se movido
para trás dela e tinha as duas mãos em seus ombros e estava apertando-a
levemente. Meu sangue aqueceu e meu maxilar cerrou. Eden arregalou os olhos
e abriu a boca como se quisesse dizer algo, mas não o fez.

Eu me virei de costas e mirei na terceira plataforma, toda a raiva no meu


corpo parecendo amontoar-se na minha mão quando joguei o saco tão forte
quanto podia. O silêncio me cercou quando o saco fez contato com os três sacos
menores e todos eles voaram em direções diferentes, o maior saco de feijão voou
através deles e bateu na parede de trás. Houve um segundo de silêncio antes que
um rangido alto viesse da madeira da parede da barraca e tremeu enquanto
meus olhos se arregalaram, logo antes de cair para trás, pousando no chão com
um baque forte.

Eu estava congelado por alguns segundos, e então a menina na minha


frente, cuja boca estava aberta, moveu-se lentamente para a coroa que Eden
havia solicitado e, silenciosamente, levou-a para baixo e estendeu-a para mim.

Eu peguei dela e me virei. Eden estava parada com a mão sobre a boca e
os olhos brilhando de riso e alegria. E Hector estava atrás dela, seu rosto uma
máscara vermelha de raiva.
Entreguei a coroa para Eden lentamente, e ela pegou da minha mão, sua
pele roçando a minha enquanto seus olhos se arregalaram e ela piscou para
mim. Eu rasguei meus olhos para longe dela e olhei para Hector. — Pai — Eu
disse, curvando a cabeça me afastando. Eu me movi passando a barraca, onde
dois homens já estavam colocando a parte de trás da parede, indo para o meio
da multidão. Xander correu para o meu lado e caminhou comigo em silêncio até
que chegamos a minha cabana, onde coloquei minhas mãos em meus quadris e
andei na frente dele.

— Seu tolo impulsivo — Disse Xander, olhando para mim. — Chamando a


atenção para si e Eden, quando estamos planejando ir embora? Você é
estúpido? Agora, você provavelmente só deixou isso muito mais difícil. Viu o
olhar em seu rosto? Você o ameaçou.

— Ele estava com as mãos sobre ela — Eu gritei.

Xander se aproximou, seu rosto bem na frente do meu. — Sim, ele estava.
Ele planeja se casar com ela. Ele planeja ter as mãos sobre ela... Sempre. E você
tem que parar de agir como um idiota arrogante arruinando qualquer chance
que poderia ter de sair daqui com qualquer facilidade.

Eu soltei minha respiração e esfreguei minha mão pelo meu rosto. —


Você está certo. Eu sei que está certo. Eu sou um tolo — Sentei-me à frente,
abaixei a cabeça e entrelacei os dedos atrás do meu pescoço. Uns segundos
depois, senti Xander se sentar ao meu lado.

Nós dois ficamos em silêncio por alguns minutos antes de Xander falar
novamente. — Eu conversei com Kristi. Ela disse que precisamos de dinheiro
suficiente para durar três meses ou então, apenas o suficiente para conseguir
um emprego. Ela estima três mil.

Ergui a cabeça e olhei para ele, incrédulo. — Três mil dólares? — Eu ri. —
Onde é que vamos conseguir três mil dólares?

Xander deu de ombros. — Eu acho que é aí que Eden entra. Certamente,


os membros do conselho mantém algum dinheiro com eles. Ela poderia começar
a pegar apenas um pouco, para que eles não percebam quando ela fizer isso.

— Roubar de novo.

Xander soltou um suspiro irritado. — Você tem uma ideia melhor?

Eu balancei a cabeça e olhei para o céu. — Não.

Xander ficou em silêncio por um minuto. — Será que Eden sabe contar
dinheiro?

— Eu mal sei como contar dinheiro. Quer dizer, eu sei na teoria, mas,
obviamente, não na prática.
Xander assentiu. — Eu não sei se podemos arriscar trazendo alguém de
Acadia para isso.

— Não, não podemos — Eu pensei por um minuto. — E a família Castle?


Acha que haveria alguma maneira de entrar em contato com eles?

— Ah caramba, eu não sei — Disse Xander, passando a mão pelo cabelo.

Bob, Tina e Melissa Castle era uma família que tinha vindo morar com a
gente há vários anos e, em seguida, um dia, no meio da noite, eles pegaram as
suas coisas e foram embora, logo após Bob Castle ter sido punido por Hector
por insolência. Eu nunca soube o que era exatamente a “insolência”, mas Hector
falou sobre aqueles que nunca se sentiriam confortáveis em Acadia, e seria
atraído de volta para a sociedade pecaminosa, como tinha acontecido com a
família Castle. Mas eu queria saber se a família Castle teria outra história para
contar. Quem sabia se poderia mesmo confiar neles? Meu cérebro estava todo
embaralhado a maior parte do tempo nos dias de hoje. As únicas pessoas que eu
conhecia, com certeza que eu poderia confiar com a minha própria vida eram
Eden e Xander.

— De qualquer forma eles não podem ajudar — Eu disse. — Eu nunca os


conheci muito bem.

Xander suspirou. — Vamos ver o que Eden diz sobre a situação do


dinheiro no pavilhão principal. Um passo de cada vez, ok?

— Sim. Okay.

— E não seja mais movido por estúpidas testosteronas com Hector. Na


verdade, você poderia ser sábio, se desculpando com ele.

Eu fiz uma careta. — Eu não peço desculpas.

— Tudo bem. Mas, pelo menos finja que você pede.

Meu maxilar tencionou só de imaginar sua boca perto dos lábios de Eden
novamente. Mas Xander estava certo. Se eu quisesse levá-la para longe dele, eu
precisava jogar isso com mais inteligência.

Por fim, eu não precisei ir até Hector por conta própria oferecer um
pedido de desculpas. Na manhã seguinte, ele me chamou para o pavilhão
principal.
CAPÍTULO TREZE

Eden

Na manhã seguinte ao festival, Hailey me acordou cedo e me disse que


Hector queria me ver depois do almoço. Sentei-me na cama, esfregando os
olhos, sentindo uma vibração nervosa na minha barriga. — Ele disse por quê? —
Perguntei sonolenta.

Hailey balançou a cabeça, abriu meu armário e tirou minha roupa. Ela
colocou minha saia no final da minha cama e, em seguida, sentou-se. Apoiei
meus travesseiros atrás de mim, então eu estava sentada, também.

Hailey me estudou por alguns segundos e, em seguida, olhou para suas


mãos. — Seu casamento está se aproximando, Eden — Ela fez uma pausa e eu
franzi a testa. — Hector gostaria que eu a educasse sobre os detalhes de seus
deveres de esposa. Ele me instruiu a fazê-lo o mais rápido possível.

Eu congelei com o significado imediatamente claro e um sentimento de


pavor correu pela minha espinha. Eu tomei uma respiração profunda. Nunca me
casaria com Hector. Calder ia me tirar daqui antes que isso pudesse acontecer.

Mas eu poderia usar a lição, não poderia? Eu queria saber todas as


formas de agradar um homem. Eu queria saber todas as maneiras de agradar
Calder, sem ele ter que me mostrar por si mesmo.

— Por favor — Eu disse suavemente.

Hailey olhou para mim e seu rosto ficou rosa. Antes que ela olhasse para
longe, eu pensei que vi um flash de angústia em seus olhos.

— Uma mulher não gosta dessas coisas, Eden, mas uma amante ou uma
esposa as executa de qualquer maneira. Você entende?

Eu balancei minha cabeça. — Não — Eu sussurrei. —Hector não lhe traz


prazer? — Eu senti meu rosto encher de calor e sabia que minhas bochechas
estavam vermelhas, também.

Hailey olhou para mim e franziu os lábios. Ela pegou uma das minhas
mãos na dela e disse: — Nem sempre é desagradável, e você não deve temê-lo.
Mas só uma mulher promíscua e impura tem prazer. Você deve se concentrar
apenas no seu marido.
Franzi minha testa. Eu era promíscua e impura? Eu deveria ser, porque
eu tinha prazeres da carne com Calder. Na verdade, desfrutar poderia ser um
eufemismo.

Hailey respirou fundo. — As coisas acontecem com um homem quando


ele está excitado. Saberá ele quer você na cama quando... Endurece.

Olhei para baixo. Eu já sabia disso. E o pensamento disso sozinho, de


Calder... Endurecido, enviou um raio de eletricidade entre as minhas pernas.
Engoli em seco.

— Ele, então quer que você o toque com a sua mão e com a sua boca — A
última palavra saiu como um guincho e meus olhos se arregalaram.

— Com minha boca? — Eu sussurrei, incrédula. Calder usou sua boca em


mim, mas era esperado eu usar a minha boca nele, também? — O que eu faço
com isso? — Perguntei.

Hailey soltou uma pequena risada histérica, seu rubor se aprofundando.


— Bem, você colocá-lo em sua boca e você... Uh — Ela soltou outro risinho. —
Chupa-o.

— Oh — Eu sussurrei. Eu gostei quando Calder usou sua boca em mim,


então, ele iria gostar se eu usasse a minha boca nele? Comecei a sentir um
formigamento apenas de imaginar. Eu queria me contorcer com a sensação, mas
eu ainda me segurei.

— Eu sei que parece absolutamente terrível e horrível, mas você vai se


acostumar com isso.

— Oh, hum, sim, horrível — Eu sussurrei de novo.

Hailey limpou a garganta. — Então, uh, então ele vai colocar sua
masculinidade endurecida entre as pernas e entrar em seu corpo. Da primeira
vez vai doer e você vai sangrar, mas depois disso vai ficar bem. Você entende? —
Parecia que Hailey queria fugir.

Eu ficava imaginando Calder nu comigo - seus músculos duros e sua


beleza masculina em minha mente. Engoli em seco novamente, corei, e tornei-
me molhada entre minhas pernas. Sim, eu entendi. E eu queria isso. Eu queria
isso agora, nesse segundo. Eu queria Calder, na minha cama, colocando sua
masculinidade entre as minhas pernas. Certamente eu era promíscua e impura.
E não me importei. Eu balancei a cabeça.

Hailey levantou-se e deu um suspiro profundo e trêmulo. — Vamos


discutir mais isso, antes da sua noite de núpcias, claro. E se você tiver dúvidas...
Bem...

— Obrigada, Hailey — Eu disse. — Você tem sido muito útil.


Eu tinha pedido a Calder para fazer amor comigo, sem saber exatamente
o que era. Mas agora eu sofria por isso. Sentia-me tonta com o desejo.

Eu estava sob o jato quente do chuveiro, pensando no que Hailey tinha


me dito. Quando Calder fizer amor comigo, ele irá entrar no meu corpo.
Arrepios irromperam em minha pele com o pensamento. Eu me lavei
lentamente, limpando entre as minhas pernas, e enquanto eu fazia isso,
coloquei a ponta do meu dedo dentro da minha abertura como Calder tinha
feito. Calor floresceu em mim, meus mamilos enrugaram. Senti-me confortável
com meu dedo e apertei. Como é que a masculinidade de Calder... Encaixaria?
Ouvi vozes e passos fora da porta do banheiro, assim terminei meu banho
rapidamente e depois me vesti. Eu tomei café e fui para o escritório de Hector
como ele tinha pedido, e acenei timidamente para ele, quando abriu a porta e
me conduziu. Minha mente estava muito focada na masculinidade de Calder
para estar nervosa sobre a razão de Hector poder querer me ver, e então quando
entrei e vi Calder em pé na frente da lareira, não escondi minha expressão
brevemente. Os olhos de Calder se arregalaram em alerta e eu assustei-me,
percebendo que um sorriso bobo estava estampado em meu rosto. Fiquei séria,
mas não antes de Hector virar-se da porta e me pegar olhando alegremente para
Calder. Baixei a cabeça e mordi o lábio. Quando olhei para cima, uma
tempestade passou pelo rosto de Hector e ele também disfarçou sua expressão
quando se aproximou de sua mesa e se pôs atrás dela.

— Por favor — Ele acenou para Calder. — Sente-se. Eden, você pode ficar
de pé — A voz de Hector estava fria e um arrepio subiu pela minha espinha. Eu
apertei minhas mãos na minha frente e fiquei parada, esperando para ver o que
ia acontecer.

Calder moveu-se cautelosamente para a cadeira em frente à mesa de


Hector e se sentou.

Hector balançou a cabeça. — Não, eu quis dizer sentar-se no chão, não na


cadeira.

Calder pareceu confuso e olhou incerto para a cadeira em frente a ele. —


Me desculpe Pai, eu não...

— Ajoelhe-se no chão, Portador da Água. Você vai entender quando eu


explicar isso para você — Hector ordenou com sua expressão irritada.

Calder estreitou os olhos. Suas mãos se abrindo e fechando, flexionando.


Mas ele olhou para mim rapidamente e, em seguida, fez uma pausa antes de
empurrar a cadeira de lado e ajoelhando-se no chão em frente à mesa de Hector.
Minha barriga apertou com medo, mas eu levantei meu queixo e olhei com
firmeza em Calder. Hector estava querendo humilhá-lo na minha frente e eu
não ficaria envergonhada. Compreendi que isto era sobre o festival. Isto era
sobre Calder aparecer mais que Hector na frente de seu povo.
Hector focou nos objetos sobre a mesa, parecendo perceber de repente,
algo angustiante com eles. Ele reorganizou-os e depois franziu a testa,
colocando-os de volta do jeito que estava. Em seguida, ele franziu a testa
novamente, ajeitou todos eles, usando o braço para alinhá-los perfeitamente.

Calder e eu nos olhamos e, em seguida, de volta para Hector. Hector de


repente franziu as sobrancelhas e pegou um dos objetos, uma estátua de vidro
de uma mulher, e jogou-a na lareira que quebrou com um barulho alto. Engoli
em seco e os olhos de Calder viraram para mim, alarmados.

Hector sentou-se, seus lábios apontando em um pequeno sorriso. Ele


respirou fundo e olhou para Calder, continuando como se nada de estranho
tivesse acontecido.

— Eu vejo que você já reparou como bonita é a minha abençoada — Ele


disse lentamente. Calder simplesmente olhou-o por várias segundos.

— Sim Pai, o senhor é um homem de sorte.

Hector estreitou os olhos. — Sim, eu sou um homem de sorte. Tenho os


deuses para agradecer por isso. Tenho os deuses para agradecer por Eden.

Calder esperou, parecendo não mover um músculo. Olhei entre os dois.

Finalmente, Hector continuou: — É compreensível que você tenha notado


a beleza de Eden. Mas as coisas não irão bem para você se acha que pode ir mais
longe do que isso. Estou sendo claro?

— Sim, claro Pai — Disse Calder.

Hector estudou-o, parecendo considerar sua sinceridade antes de


prosseguir. — Bom, isso é bom. Agora, Portador da Água, eu posso dizer que
você é um rapaz ambicioso. Sua... — Ele acenou com a mão em desdém —
...Coisa do sistema, não agradou aos deuses, mas... — Ele sentou-se em sua
cadeira de couro grande, preta. — ...Você sempre me serviu bem como meu
copeiro, meu servidor — Ele olhou para Calder, pensativo. — Eu posso ver uma
promoção que sua capacidade poderia nos servir muito bem. Então a partir de
hoje, você vai ser meu copeiro pessoal, servindo não apenas o Templo, mas a
mim também.

A expressão de Calder não mudou. — Obrigado, pai. O Que é esperado


para eu fazer nesta função?

Hector recostou-se na cadeira, estralando os dedos. — Você vai me servir


quando eu exigir. Se eu precisar de alguma coisa, você vai buscar. E vai se
ajoelhar diante de mim para fazê-lo.

Os olhos de Calder brilharam para Hector e eu vacilei. Por vários


segundos, eles olharam um para o outro. Finalmente, Calder disse devagar, sem
quebrar o contato visual. — Obrigado por sua fé em mim, pai. Será um prazer
atendê-lo.

Hector bateu os dedos juntos, olhando-o. — Sim. Os deuses vão ficar


satisfeitos com o seu sacrifício, assim como eu. Isso servirá para torná-lo mais
sagrado, para lavar ainda mais o pecado de sua alma. Você pode se levantar.

Calder ficou de pé, olhando firme quando endireitou seu corpo magro,
porém musculoso. Eu resisti à vontade de arrastar os meus olhos para cima e
para baixo dele. Baixei a cabeça.

— A fim de melhor servir a mim, você vai precisar se deslocar para o


pavilhão principal — Disse Hector, de pé também. Calder pareceu chocado por
um segundo antes de responder: — Claro pai. Devo arrumar minhas coisas?

— Que coisas seriam essas?

Calder balançou levemente a cabeça. — Eu acho que nada de mais. Uma


troca de roupa.

Hector acenou com a mão. — Se você quiser. Não há qualquer lugar para
armazenar qualquer coisa no quarto dos fundos, mas traga o que gostar.

Fiquei de boca aberta. O quarto dos fundos era o lugar que ficava as
máquinas da lavanderia e onde os cães dormiam. Eu fechei meus lábios e olhei
para baixo, de modo a não mostrar qualquer emoção no rosto.

— Não há cama, também. Espero que você possa fazer — Hector


continuou.

Um flash de confusão passou pelo rosto de Calder, mas ele disse


simplesmente: — Eu estou acostumado a fazer.

Hector olhou para ele. — Sim. O sacrifício dos meus trabalhadores é mais
agradável.

Calder não respondeu.

Hector acenou com a mão em direção à porta. — Você está dispensado.


Reúna suas coisas e volte aqui. Você vai me seguir e atender aos meus pedidos, a
partir de hoje.

— Sim, Pai — Calder virou-se e foi em direção à porta, mas não antes de
fazer contato visual comigo. Segurei-o até que ele me passou e, em seguida,
olhei para Hector que estava arrumando as coisas sobre a mesa novamente.

— Eden, você sabe por que eu te chamei aqui, enquanto falava com o meu
novo servidor?

Eu balancei minha cabeça. — Não, pai.


— Porque, Eden, é meu trabalho ajudar esse menino. Eu quero que você
entenda a ordem dos deuses. Há trabalhadores e há líderes. Eu sou um líder,
assim como você. Devemos confiar nos deuses em sua sabedoria suprema, e não
tentar mudar o que foi profetizado. Satanás tenta mudar de curso, desviando
nossa atenção dos caminhos dos deuses. Mas não devemos ouvir.
Consequências terríveis farão chover se formos seduzidos. Você entende?

— Sim, Pai — Eu disse.

— Bom — Hector veio até mim, segurou meu rosto em suas mãos, e olhou
nos meus olhos enquanto se elevava sobre mim. — Minha princesa, eu esperei
tanto tempo por você. Nada deve ficar no caminho. Satanás vai tentar mais
agora que a nossa união está tão próxima. Você deve ignorar todas as tentações.

— Sim, Pai.

Hector soltou um suspiro e depois se inclinou para a frente e colocou seus


lábios nos meus. Eu congelei, pressionando meus lábios. Depois de um minuto,
Hector recuou. — Hailey tem falado com você?

— Sobre o quê, Pai? — Respondi.

— Sobre o leito conjugal.

Limpei a garganta. — Um pouco — Eu disse, desviando os olhos.

Hector acenou com a cabeça. — Bom, isso é bom. Breve, muito em breve.
Sinto-me como se eu tivesse esperado a vida inteira por você, meu amor. Se
apenas o prenúncio... — Ele franziu a testa, olhando para longe por um
momento. — Mas, é preciso seguir as instruções dos deuses, não o nosso próprio
egoísmo — Ele olhou para mim por um longo momento e depois soltou meu
rosto. — Você pode ir, Eden. E eu quero que você aumente a sua leitura do Livro
Sagrado, especialmente a seção sobre a tentação e sacrifício.

— Sim, Pai — Eu repeti, afastando-me em direção à porta. Quando eu


estava quase lá, me virei e saí rapidamente, fechando a porta atrás de mim,
soltando a respiração que eu estava segurando por muito tempo.

Calder estava se mudando para o pavilhão principal. E tudo que eu podia


sentir era medo. As palavras de Xander voltaram para mim. A tempestade está
chegando.
No dia seguinte no Templo, eu entrei com os outros membros do
conselho e me sentei na minha cadeira de costume. Calder caminhou atrás de
Hector, nomeado escravo de Hector. Ele não usou a palavra, mas era óbvio que
era: um método para humilhar Calder. A raiva e rebeldia lutaram dentro de
mim com o medo do que Hector faria para tornar nossa vida mais insuportável
antes que pudéssemos sair. Precisava jogar pelo seguro, eu sabia disso, e estava
bem praticando esse papel. Mas vendo Calder ser degradado por Hector me deu
vontade de me levantar e declarar meu amor por Calder bem no Templo, bem
na frente de todos. Meu amor por Calder serviria como uma poderosa espada
contra Hector. Não havia nada que ele pudesse fazer para combater isso, nada
que ele pudesse fazer para escravizar isso. Era verdade e intocável. Isso era
nosso.

Hector sinalizou para Calder e Calder manteve seu rosto em branco


quando se ajoelhou no chão à esquerda do último membro do conselho. Baixei a
cabeça quando Hector tomou seu lugar no pódio e se inclinou para a frente,
esperando que as pessoas se acalmassem. Os membros do conselho inclinaram
suas cabeças e fecharam os olhos.

Quando olhei para baixo, algo azul chamou minha atenção e eu movi a
minha cabeça um pouco para olhar apenas sob o meu assento, onde havia uma
glória da manhã solitária. Mordi meus lábios para não sorrir. Eu movi meus
olhos sobre Calder e vi que ele estava se virando um pouco em minha direção e
ele viu a glória da manhã, também. Ele parecia um pouco confuso. Eu vi quando
ele se virou para o público e olhou para onde Xander estava de pé. Xander
piscou para ele e, em seguida, abaixou a cabeça e fechou os olhos, também.

Olhei para Calder e ele me deu um pequeno sorriso secreto antes de


também, inclinar a cabeça.

— Meu povo — Disse Hector, sua voz de barítono profunda comandando


atenção. Ele saiu de trás de seu pódio e ficou em silêncio na frente da
congregação por um bom minuto antes de falar novamente. — Hoje, eu vou falar
sobre a desobediência, e então vou fazer a purificação da água de um dos meus
amados trabalhadores, o garoto que serviu como meu copeiro desde que ele era
velho o suficiente para seguir as instruções. Calder Raynes.

Meus olhos dispararam para Calder e seu rosto mostrou um breve


momento de surpresa, antes de ele franzir a testa ligeiramente. Eu olhei de volta
para as pessoas, todos os olhos agora em Calder.

Hector se virou e andou por um minuto com o dedo sobre os lábios como
se estivesse perdido em pensamentos. Finalmente, ele parou e olhou para cima.
— Os deuses nos amam, assim como eu te amo. Mas devemos lembrar que
embora os deuses nos tragam o rio que flui suavemente, eles nos trazem a
violenta tempestade que agita as águas do mar — Hector fez uma pausa,
olhando ao redor. — A tempestade pode ser violenta, a tempestade pode causar
destroços, mas em última análise — Hector parou novamente girando em seu pé
para virar e olhar para o outro lado da sala. — Em última análise, o ponto da
tempestade é mostrar-lhe onde você errou e direcioná-lo mais uma vez para
águas tranquilas.

As portas do Templo se abriram e dois rapazes mais jovens trabalhadores


carregavam uma grande banheira branca pelo corredor principal e a colocou
suavemente no chão. Calder sempre foi parte do ritual de encher a banheira
batismal no passado. Eu não reconheci os dois meninos que faziam isso agora,
mas eles deviam conhecer Calder, uma vez que olharam para ele com
admiração. Depois de várias viagens com grandes jarros, à banheira estava
quase totalmente cheia.

Hector fez um sinal para Calder dar um passo adiante, e Calder fez,
levantando-se em toda sua altura e caminhando até onde estava Hector na
frente da banheira. Hector era um homem alto, mas Calder era apenas alguns
centímetros ou algo assim mais alto. Algo dentro de mim ficou satisfeito com
isso. Talvez fosse o conhecimento de que Calder era melhor que Hector não
apenas em qualidades interiores, mas literalmente em altura também.

— Ajoelhe-se — Hector disse friamente. Um arrepio passou pela minha


espinha, apesar da temperatura quente no Templo.

Calder caiu de joelhos na frente da banheira e inclinou a cabeça sobre a


água.

— Deuses amados! — Hector ressoou, levantando as mãos. — Aqueles que


acreditam na sua bondade e seu poder sem fim serão salvos e purificados de
seus pecados! — Ele pegou um pedaço do cabelo na parte de trás da cabeça de
Calder. — Calder Raynes, você foi educado nos caminhos e verdades dos deuses,
e instruído em obediência à eles. Através de sua vida, você vai evitar o mal,
reconhecer a sua fé, e cumprir a promessa de servir sempre os deuses, e
somente os deuses. Quando você é purificado pela água, então seu coração e
alma são purificados de tudo o que é desagradável para os deuses.

Hector empurrou grosseiramente na cabeça de Calder e mergulhou o


rosto na água e segurou-o lá.

— Calder Raynes, você deseja alcançar a vida eterna em Elysium,


servindo entre os deuses?

Esperei que Hector levantasse a cabeça de Calder acima da água, mas


quando ele não o fez, meu coração pegou em velocidade e olhei em volta.
Ninguém mais parecia estar se perguntando o que estava acontecendo. Olhei
para Calder, um sentimento de nervosismo estabelecendo-se em meu peito.
— Calder Raynes, você se compromete a amar os deuses com todo o seu
coração, mente e alma? — Ele fez uma pausa, mais uma vez não levantando a
cabeça de Calder.

Olhei para o quadro de Calder de joelhos, meus olhos arregalados, minha


mão apertando a outra em meu colo.

— Calder Raynes, você vai viver de tal maneira para que cada dia seja
agradável aos deuses, e sempre atendê-los antes de si mesmo? ANTES DE SI
MESMO? — Ele repetiu em voz alta.

Meus nervos se transformaram em asas batendo de medo no meu peito


enquanto Hector ainda segurava a cabeça de Calder submerso na água.

— Calder Raynes — Ele fez uma pausa, olhando em volta, ainda


segurando o cabelo de Calder. — Não é promessa de arrematar os poderes das
trevas que, muitas vezes, procuram orientá-lo da verdade e da sabedoria dos
deuses?

Eu movi para a borda da minha cadeira, um caroço subindo na minha


garganta. Quanto tempo alguém poderia prender a respiração debaixo d’água?
Pânico estabeleceu-se dentro de mim. Se Calder lutasse, Hector puxaria-o para
cima? Por que ele não estava lutando? Se ele tivesse se afogado em silêncio?

— Oremos! — Hector rugiu.

Ele abaixou a cabeça, assim como o resto da congregação. Se eles


notaram que Calder estava submerso por tanto tempo, ninguém disse uma
palavra.

— Deus bane todo pecado, egoísmo e maldade deste menino. Pegue a


escuridão de seu coração e entregue de graça a justiça em sua alma. Deixe a
água purificá-lo hoje e sempre, para que esse menino possa se tornar um
homem — Ele manteve a cabeça baixa, olhos fechados. Meu corpo estava
flexionado para se levantar e gritar, todos os músculos preparados para atacar
Hector antes de Calder se afogar debaixo d’água na nossa frente.

Mas, assim que comecei a me mover, Hector levantou sua mão,


levantando a cabeça de Calder para fora da água, gotículas espirrando em todas
as direções. Eu podia ver o rosto de Calder quando ele deu um enorme suspiro,
ajoelhando-se para cima, um belo sorriso se espalhando por todo o rosto. Eu
congelei.

Hector caminhou para o lado de Calder, olhou para ele e pareceu hesitar
um pouco, mas recuperou o equilíbrio. Sua voz parecia apenas uma nota mais
fraca do que tinha quando ele olhou para Calder, um olhar que era uma mistura
entre raiva e confusão.
— Você ABANDONA Satanás? — Ele esbravejou.

— Eu abandono, Pai — Disse Calder, sua voz forte e clara.

— E toda a imoralidade? Todas as suas tentações?

— Eu abandono, Pai.

— Você renuncia os desejos perversos da carne e dos olhos?

— Eu renuncio os desejos perversos da carne e dos olhos, Pai.

— Você promete amar o caminho sagrado dos deuses?

— Eu prometo, Pai.

Eu vi como a água escorria do cabelo e rosto de Calder e, as gotículas


molhando a camisa e fazendo com que se apegassem em seus músculos. Havia
algo feroz e feliz em seu rosto e eu não podia adivinhar o que ele estava
pensando. Era como se a água fosse seu elemento e ela não só o tivesse limpado,
mas também lhe desse poder. Senti-me confusa, ainda com medo, mas
orgulhosa.

— Então eu o declaro purificado, renovado. Você está forte e limpo. Parta


em paz. Siga em frente abençoado.

Calder levantou-se lentamente, sorrindo para a congregação quando eles


sorriram de volta para ele. Ele caminhou de volta para o lugar ao lado do último
membro do conselho, onde se ajoelhou novamente.

Quando os dois meninos trabalhadores jovens vieram para retirar a


banheira, eu não pude deixar de notar como o de cabelo preto e olhos azuis
faziam Calder parecer como se ele fosse o próprio Deus.

Naquela noite, eu estava deitada na minha cama imaginando Calder lá


embaixo deitado naquele pequeno quarto, partilhando a cama com os cães da
casa. Tentei me concentrar na minha raiva contra a injustiça da situação, mas
minha mente continuava voltando para a imagem dele, deitado, sem camisa, o
luar brilhando em sua pele dourada. Ele estava tão perto.

Eu queria perguntar-lhe sobre isso mais cedo naquele dia. Eu queria


perguntar-lhe o que tinha acontecido durante a sua purificação da água, o que
ele estava pensando, se ficou tão assustado quanto eu. Ele era meu melhor
amigo e eu gostaria de falar com ele.

Eu me revirei na cama por mais um tempo. O plano de Hector era manter


Calder perto para que pudesse monitorar todos os seus movimentos. Mas será
que ele esperava que eu fosse tão ousada e o procurasse no meio da noite,
especialmente depois que ele tinha acabado de ser purificado? Eu sabia que
Hailey estava no quarto de Hector esta noite. Talvez ela o mantivesse ocupado.

Meus pés giraram para fora da cama antes que minha mente pudesse
tomar uma decisão. Aparentemente, meu corpo sabia o que queria, mesmo que
o meu cérebro não tivesse certeza que era uma ideia tão sábia.

Eu coloquei o cobertor do final da minha cama debaixo da minha colcha e


arrumei em uma forma semi-humana e, em seguida, fui na ponta dos pés até a
porta e a abri silenciosamente. Olhei para o corredor e quando vi que ninguém
estava lá, escapei e fechei a porta atrás de mim. Eu tive que passar pela porta de
Hector para chegar a grande escada e quando cheguei lá, parei e escutei. Eu ouvi
um grunhido masculino e o barulho muito suave do que parecia ser tapa de pele
contra pele. Corri passando para o topo da escada.

Em algum lugar na ala seguinte ouvi vozes suaves. Movi-me rapidamente


para baixo da escada e em toda a grande extensão da sala de estar de dois
andares.

Fui até a cozinha vazia pelo corredor traseiro, até que eu estava fora da
lavanderia. Tudo estava absolutamente tranquilo agora.

Eu coloquei minha mão na maçaneta da porta e girei-a muito lentamente


e abrindo em um pequeno guincho. Eu congelei e esperei, e quando nenhum
outro som veio de qualquer lugar da casa, abri a porta e entrei. Uma mão foi até
minha boca e um braço em volta da minha cintura. Os olhos de Calder se
estreitaram para mim. Ele soltou um suspiro e puxei sua mão da minha boca.

— Você está louca? — Ele sussurrou.

Eu joguei meus braços ao redor do seu pescoço e enterrei meu rosto em


sua garganta e inalei seu perfume delicioso, a calma agarrando sobre mim. Eu
balancei minha cabeça em um sim para responder a sua pergunta.

Ele soltou um suspiro e levantou seus braços ao meu redor. Eu me


inclinei para trás e sussurrei: — Você está tão perto. Eu não conseguia dormir.
Eu... — Sua boca desceu sobre a minha e ele me beijou apaixonadamente, como
se quisesse me dizer que estava se sentindo da mesma maneira.

Depois de alguns minutos, ele se afastou dos meus lábios e colocou a


testa na minha, respirando com dificuldade. — Eden, não podemos arriscar.
Hector... Não sei, quando falamos, ele está diferente. Eu não sei se é só o que ele
viu entre nós, algo que aconteceu em sua peregrinação ou algo mais. Mas se nós
vamos sair daqui, temos que ter muito cuidado.

— Eu sei. Calder, que aconteceu hoje? Eu estava tão preocupada com


você. Pensei que você iria se afogar. Eu não sabia o que fazer.

Ele colocou um dedo sobre os lábios, olhando com ternura nos olhos. —
Eu estava bem. Vou lutar se precisar, eu prometo. Mas você tem que confiar que
eu vou saber quando isso é necessário e quando não é, tudo bem?

Eu balancei a cabeça. — Está bem.

Ele sorriu novamente. — Ok — Ele olhou por cima do ombro por um


minuto e depois para mim. — Hoje Eden, quando minha cabeça estava sob a
água e eu só conseguia distinguir as palavras de Hector, eu... — Ele parou por
um minuto, parecendo juntar os seus pensamentos. — Eu não sei, uma sensação
de paz me encheu, como se estivesse sendo dito que tudo ia ficar bem. Era como
se os deuses não fossem cruéis ou julgadores como Hector nos faz crer. Senti
uma sensação de aceitação. Senti como se eles estivessem oferecendo-me forças
para sair daqui, para fazer uma vida para nós. E difícil explicar. Minha voz
estava privada de oxigênio? Eu pareço louco?

Eu sorri e balancei a cabeça. — Não. O que você está dizendo é a primeira


coisa racional que eu ouço. Acho que foi o Deus da Misericórdia sussurrando
para você.

Calder riu. — Então se tornou mais claro para mim que precisamos sair
daqui o mais rápido possível. E por isso... — Ele beijou meus lábios suavemente.
— ... Você não pode estar aqui.

Deixei escapar um suspiro. — Eu sei. Irei em um minuto. Eu só... Eu


preciso tanto de você, Calder. Eu quero você. Eu quero tudo de você. E quero
que você tenha tudo de mim. Eu quero você... Dentro de mim — Meus olhos se
arregalaram e assim fez o dele. — Talvez se você me tomasse e dissesse a
Hector... Ele nos deixaria.

— Shh, Eden — Disse, alisando meu cabelo. — Eu não estou tomando sua
virgindade quando tem alguma coisa a ver com Hector. E se Hector nos fizesse
sair hoje, nós teríamos que voltar implorando pela manhã — Seu maxilar
tensionou. — Quando formos embora, tem que ser para sempre.

Eu balancei a cabeça. Ele me pegou pela mão e me levou a um cobertor e


um travesseiro que estavam deitados no chão debaixo da janela. Dois cães vira-
latas excessivamente amigáveis não fizeram nada mais do que levantar a cabeça
e gemer baixinho, estavam em camas de cão na frente da grande máquina de
lavar roupa, a cama muito mais luxuosa do que a que foi dada a Calder.
Nos sentamos sobre o cobertor e Calder deitou, levando-me com ele,
assim, eu estava deitada contra seu peito nu e musculoso. Virei meu nariz em
sua pele e inalei.

— Eu sempre dormi no chão. Este não é um sofrimento para mim. Na


verdade, veja isso — Calder disse, apontando o dedo para fora da janela. —
Agora, eu tenho uma visão perfeita da lua e as luzes da cidade. Nunca dormi ao
lado de uma janela antes. Nunca tive ar frio que vinha diretamente de aberturas
no chão — Disse ele, apontando para o outro lado da sala. — Em breve, vamos
estar fora naquela cidade, sob essa mesma lua — Ele passou os braços em volta
de mim e me puxou com força contra ele. — E quando você voltar para o seu
quarto hoje à noite, eu sei que estou mais perto de você do que estava ontem, e
minha cama vai ter o seu cheiro por toda parte — Ele sorriu para mim, se
inclinou e beijou minha testa.

— No chão com os cães, ou em uma cama digna de um rei — Eu sussurrei


de volta — Eu escolheria você, Calder. Eu dormiria em uma cama de pregos, se
isso significava que eu estaria tocando em você.

— Não dê a Hector essas ideias.

Eu ri baixinho. — Eu quero dizer isso. Que eu faria — Apoiei-me no meu


cotovelo para que eu pudesse ver seu rosto melhor. — Você acha que há uma
vida lá fora, para nós?

Calder parou por alguns segundos, olhando para mim. — Eu vou fazer
uma vida para nós lá fora. Um lugar para você e para mim. E até lá, sim, vou
acreditar que existe.

Eu coloquei minha perna sobre a dele e me aconcheguei contra ele


novamente. — Algum dia, vamos dormir todas as noites assim — Inclinei a
cabeça, olhando para ele.

— Sim — Ele concordou. O olhar em seu rosto era tão sério quando ele
empurrou uma mecha de cabelo fora de meu rosto. — Eu te amo, Eden.

Eu pisquei para ele, meu coração voando. — Eu também te amo —


Sussurrei.

Ficamos ali deitados juntos, em silêncio, as palavras “eu te amo”


parecendo flutuar no ar acima de mim como uma música silenciosa. Depois de
alguns minutos, eu inclinei-me e olhei para ele com tristeza. — É melhor eu
voltar.

Ele acenou. — Se alguém a ver, diga-lhes que estava na cozinha. Eles


provavelmente não vão acreditar em você, mas...
Sentei-me em meus joelhos. — Eu não vou deixar ninguém me ver — Eu
hesitei por um segundo. — Eu odeio ver a forma como ele trata você.

Calder soltou um suspiro. — Está tudo bem. Ele está me usando para
provar um ponto para o resto das pessoas. Enquanto eu sei que você é forte,
posso fazer o seu jogo. Tenho que saber que você não está se preocupando
comigo, ok?

Eu balancei a cabeça. — Ok.

— Ok — Calder olhou para mim por um instante e franziu a testa. — Eu


não gosto que você saia daqui sem saber que você vai voltar para o seu quarto de
forma segura — Sentou-se e ficamos juntos. Calder se inclinou e me beijou
suavemente nos lábios. — Quando você voltar para o seu quarto, olhe pela janela
para a lua. Vou olhar para ela daqui — Ele alisou uma mecha de cabelo do meu
rosto. — Enquanto estivermos sob a mesma lua, vamos sempre encontrar o
caminho para o outro. O Deus da Misericórdia não teria nenhuma outra
maneira.

Deixei escapar um pequeno sorriso em um suspiro e inclinei-me e beijei-


lhe os lábios mais uma vez. — Boa noite.

— Boa noite, Glória da Manhã.

Eu abri a porta silenciosamente e deslizei por ela. Entrei silenciosamente


através da grande sala e subi as escadas. Quando cheguei ao topo, a porta de
Hector, de repente começou a abrir e eu abaixei rapidamente para o quarto do
outro lado do dele, um quarto vazio. Eu paralisei contra a parede, meu coração
batendo o triplo do tempo. Se Hector descesse o corredor para o meu quarto,
iria olhar para dentro e ver-me.

Eu apertei meus olhos fechados. Ouvi Hailey dizer alguma coisa de


dentro do quarto de Hector e sua voz respondendo quando ele moveu-se de
volta para dentro. Olhei pelo canto e vi que a porta ainda estava aberta. Eu, na
ponta dos pés, apressadamente passei por ele e pelo corredor até o meu quarto,
onde eu abri a porta e fechei-a silenciosamente atrás de mim, soltando a
respiração em um suspiro alto.

Eu joguei as cobertas para trás, tirei a colcha e entrei. Nem dois segundos
depois, a porta se abriu com a luz do corredor inundando. Eu abri um olho,
apenas o suficiente para ver a silhueta de Hector de pé na minha porta, me
olhando. Eu continuei fingindo dormir. Depois de um longo minuto, minha
porta se fechou e eu ouvi seus passos se afastando. Rolei de costas, tentando
fazer meu coração selvagem se controlar.

Hector tinha me verificado antes disso? Um calafrio desceu pela minha


espinha. Ainda assim, eu não poderia deixar de me sentir grata pela pequena
quantidade de tempo que tive com Calder. E grata que eu não fui capturada.
Virei-me na cama e olhei para fora da janela, meu coração desacelerando
em um ritmo calmo enquanto olhava para a lua cheia, sabendo que Calder
estava olhando também.
CAPÍTULO QUATORZE

Calder

Na manhã seguinte, acordei com o nascer do sol atingindo meus olhos


através da janela descoberta ao lado da minha cama. Ainda atordoado, caminhei
para fora pela porta de trás, onde o orvalho ainda estava brilhando no chão. Ele
ia queimar na próxima hora, e alguém que dormisse até depois das 5h30 jamais
saberia que tinha estado lá.

Eu fui para o rio, onde Hector ainda insistia para que eu tomasse banho.
Ajoelhei-me no banco, joguei água no meu rosto, e deixei escapar um grande
suspiro, fazendo com que as gotas de água voassem para longe de mim em todas
as direções, caindo de volta na água com uma centena de pequenos salpicos.
Inclinei-me e usei a mão para trazer a água sobre a minha cabeça e por trás do
meu pescoço e depois balancei a cabeça como um cachorro, enviando as gotas
de água no ar para pousar de volta na água, mais uma vez. Eu peguei minha
camisa para secar o restante da água do meu rosto e pescoço e, em seguida,
dirigi-me para o banheiro na parte de trás, onde as cabanas dos trabalhadores
ficavam cerca de quatrocentos metros de distância. Fiz uma pausa e olhei de
volta para o pavilhão principal atrás de mim. Ninguém estaria de pé por aqui
por pelo menos uma hora. Pelas regras de Hector, eu caminharia e voltaria para
o banheiro desde que eu me mudei para o pavilhão principal, mas quem saberia
se eu usasse o pequeno banheiro na parte de trás da casa?

Voltei para o pavilhão principal e caminhei tranquilamente para o


pequeno banheiro que eu só havia vislumbrado quando caminhava para a
lavanderia. Fechei a porta atrás de mim tão suavemente quanto possível e, em
seguida, olhei em volta. Não havia chuveiro aqui, apenas um vaso sanitário e
uma pia. Eu nunca tinha usado água encanada antes, mas foi fácil o suficiente
descobrir o que era o quê. Além disso, eu já tinha ouvido muitas vezes as coisas
que os outros que vieram da grande comunidade sentiam falta, uma vez que elas
estavam vivendo nas cabanas dos trabalhadores. Eu podia ver o porque.
Levantei o manípulo sobre a pia e água saiu fluindo. Eu me assustei um pouco e
pulei para trás e, em seguida, levantei mais um pouco, observando o fluxo de
água mais rápido. Eu a deixei correr por um minuto, apenas observando-a e me
maravilhando com o quanto mais fácil, algo parecido com isso, tornaria a vida
em geral. Enquanto eu observava o fluxo de água, pensei no sistema de irrigação
ridículo que eu tinha feito para regar as nossas plantações. Por mais que Hector
falasse sobre sacrifício e vida fora da terra, ele provavelmente estava rindo por
dentro com a simples estupidez do que eu tinha feito. De repente, esse sistema
de irrigação parecia absolutamente ridículo quando eu me imaginei na beira do
rio esvaziando as toras por meses e meses com meus músculos queimando e o
sol batendo na minha cabeça. Eu comecei a rir, o mais silenciosamente possível,
apoiando-me na pia quando percebi minha hilaridade. Eu estava rindo, mas eu
tinha que fazer. Era isso ou chorar de humilhação.

Quando comecei a me controlar, simplesmente observei o fluxo de água


por um minuto e depois calmamente desliguei-o.

A água corrente me fez perceber o quanto eu precisava esvaziar minha


bexiga, então usei o banheiro e depois pressionei a pequena alavanca prateada.
Água rodou e desceu pelo ralo e, em seguida, reencheu enquanto eu estava ali
olhando como um homem das cavernas que estava vendo o mundo moderno
pela primeira vez. O que, na realidade, era provavelmente verdade. Pressionei
novamente, maravilhado mais uma vez quando a água rodou e drenou.

Enquanto eu estava lá, percebi o que sair para a grande comunidade seria
para mim. Se eu estava incrédulo pelo funcionamento de um vaso sanitário e
pia, como seria quando eu visse todas as coisas novas e avassaladoras de uma
vez? Não seria o mesmo para Eden - ela tinha vivido com água encanada e
eletricidade, no mínimo, em toda a sua vida. E ia ser o meu trabalho cuidar dela,
protegê-la. Eu provavelmente iria parecer um idiota desastrado. A raiva corria
através de mim quando percebi o quão despreparado Hector nos tinha deixado
para fazer qualquer escolha para a nossa vida além de viver aqui, em Acadia,
para o resto de nossos dias.

Encostei-me na pia, retratando os olhos confiantes de Eden.


Determinação me encheu. Seria esmagador, sim, mas eu não iria deixar Hector
decidir o rumo da minha vida. Se as grandes inundações realmente viessem, eu
serei levado pela água, mas pelo menos eu seria levado tendo a posse da minha
própria liberdade e Eden seria levada com a dela também. E onde quer que a
gente acabasse - em Elysium ou no inferno - nós acabaríamos juntos.

Eu usei o sabão para lavar as mãos, esfregando o líquido sedoso entre as


palmas das mãos e observando a formação de bolhas. O único sabonete que eu
já tinha usado era uma mistura caseira de ervas e óleos, e nunca espumava
assim. Eu sequei minhas mãos lentamente enquanto me estudei no espelho. Nós
não tínhamos espelhos em nossa casa - vaidade era pecado, então eu raramente
tinha visto o meu próprio reflexo. Eu me observava agora, virando meu rosto em
ângulos diferentes, tocando a barba por fazer escura em meu queixo, e
aproximando-me para examinar os dentes. Eu cuidava bem dos meus dentes,
sempre limpando-os bem com um pano áspero e sal e mastigando folhas de
hortelã. Eu tive sorte que eles eram brancos e retos como os de Eden. Nem todo
mundo aqui em Acadia tinha a mesma sorte no departamento de dentes.
Eu abri a porta silenciosamente e depois a fechei atrás de mim. Quando
eu estava voltando, uma voz masculina disse: — Já quebrando as regras? Que
decepção.

Eu me virei e Clive Richter, um dos membros do conselho, estava ali, um


olhar presunçoso em seu pequeno rosto decadente. Eu particularmente não
gostava de qualquer um dos membros do conselho, embora eu tivesse pouco
contato pessoal com qualquer um deles, mas Clive parecia ser o mais
desagradável de todos eles. Sentava-se em frente ao Templo, semana após
semana, tentando esconder seus bocejos e verificando algo no bolso várias
vezes, ao olhar com desdém para os trabalhadores. Eu não sei se alguém
percebia, mas eu sim. Claramente Clive Richter tinha uma opinião muito
elevada de si mesmo e uma opinião muito baixa do resto de nós.

Eu respirei fundo e calmante. — Foi uma situação de emergência.

Clive riu ironicamente. — Você pode voltar para o seu próprio... Banheiro
e cuidar das suas emergências lá.

— No futuro, eu vou — Eu disse com firmeza e saí passando por ele.

Clive agarrou meu braço e eu parei de repente, movendo a cabeça


lentamente para olhar para sua pequena mão segurando firmemente o meu
antebraço. Eu olhei para ele, cerca de quinze centímetros mais baixo do que eu,
e a raiva que estava borbulhando, me encheu. Este homem, que provavelmente
em qualquer outra área na face da terra nunca se atreveria a me tocar, pensou
que poderia me dominar aqui.

Eu agarrei o braço dele e girei em volta dele, dobrando-o atrás das costas
como Xander e eu brincávamos de luta quando éramos crianças, só que eu não
estava brincando neste momento. Ele sufocou um som de dor e eu me inclinei
para falar diretamente contra seu ouvido. — Não faça isso. Nunca. Toque-me —
Inclinei-me ainda mais perto. — Nunca. Mais. Faça. Isso. Novamente.

Clive soltou um pequeno riso de dor, então eu dobrei seu braço um pouco
mais e ele gritou: — Ok, ok, deixe-me ir.

Empurrei-o mais ou menos longe de mim e quando ele se virou, seu rosto
estava vermelho de raiva. — Você vai se arrepender por tentar me fazer parecer
um idiota — Ele esbravejou.

— Provavelmente — Eu disse. — Mas mesmo se eu for castigado, valeu a


pena. E você era um idiota, muito antes de eu aparecer, de qualquer maneira —
Eu o empurrei de lado quando passei por ele e voltei para o “meu” quarto onde
esperei que Hector me chamasse como o cão que ele aparentemente pensava
que eu fosse.
A chuva começou a cair poucos minutos depois de ter retornado para o
meu quarto na lavanderia, gotas grandes respingavam na vidraça ao lado da
minha cama. Eu enfiei minhas mãos nos bolsos e olhei pela janela, pensando em
como iria proteger Eden da chuva, uma vez que deixasse esse lugar.

Meus pensamentos foram interrompidos quando de repente o som de um


alarme de lamentações começou a sair no alto-falante fora do pavilhão
principal.

Era um exercício de inundação.

Meu corpo ficou tenso e eu abri a porta e me movi para o corredor. As


pessoas já estavam saindo do pavilhão principal, todos os membros do conselho
e suas famílias estavam se dirigindo rapidamente para a porta da frente.

Hector ficou na grande sala principal, sorrindo serenamente e


tranquilizando as pessoas quando passavam por ele. — Não se preocupe. Os
deuses estão nos protegendo. Isto é apenas um exercício por isso estamos
preparados para quando vierem as inundações. Fiquem tranquilos, tenham
calma.

Procurei por Eden, mas não a vi em qualquer lugar. Talvez ela já tivesse
saído do alojamento. Fui para a porta quando a voz de Hector trovejou: —
Calder Raynes.

Eu apertei meu queixo e me virei lentamente.

— Eu preciso de seus serviços aqui, Portador da Água — Disse Hector.

Voltei para onde ele estava, as pessoas passando por mim quando a
última delas saiu pela porta, uma menina chorando nos braços da mãe.

— Sim, Pai? O que posso fazer por você?

— Você pode esperar aqui até que tenha certeza de que todos tenham
saído com segurança — Disse ele. — Eu preciso ir e tranquilizar minha futura
esposa. Ela deve estar com medo. Ela não gosta de espaços pequenos.

Eu fiz uma expressão vazia e não disse nada. Como se ele soubesse de
alguma uma coisa sobre Eden. Ele não sabia nada. Para ele, ela era só o que ele
queria que ela fosse: uma posse.

Mas eu ainda estava de pé e o observei enquanto ele se afastava. Ele


fechou a porta atrás dele, e eu andei muito rapidamente para a janela e olhei
para fora para vê-lo abrir um guarda-chuva e caminhar ao redor do pavilhão
principal para a porta que dava para o grande porão abaixo do solo.

Movi-me rapidamente para a ala do membro do conselho da casa e gritei:


— Alguém aqui? Treinamento de Inundação — Fiz uma pausa e só houve
silêncio e assim que eu abri a primeira porta espiei para dentro, chamando mais
uma vez. — Treinamento de Inundação — O silêncio me encontrou novamente e
então entrei na sala, olhando para trás mais uma vez.

Imediatamente, vi uma cômoda com uma carteira e fui até ela


rapidamente. Dentro da carteira havia dinheiro: três notas de vinte, duas de
cinco e sete de um. Eu hesitei por um momento, mas depois tirei duas notas de
vinte, uma nota de cinco e três das de um.

Meu coração batia duramente contra as minhas costelas e adrenalina


bombeava através de mim.

Ouvi passos fora da porta e girei. Duke, o maior dos dois vira-latas veio
trotando na sala, choramingando na minha mão por carinho. Eu exalei. — Hey
boy — Eu cocei sua cabeça por um minuto, esperando minha frequência
cardíaca voltar ao normal.

Enfiei o dinheiro no meu bolso e devolvi a carteira ao topo da cômoda e


saí do quarto, fechando a porta atrás de mim. Eu fiz uma pesquisa similar de
vários outros quartos, acabando com mais três notas de vinte, três notas de dez,
e mais doze de um.

Eu fui ousado no meu roubo, mas precisávamos sair deste lugar o mais
rápido possível. Eu estava disposto a arriscar alguém questionando a falta de
dinheiro se isso significasse que Eden, Xander e eu pudéssemos sair muito mais
cedo. Ninguém poderia provar que fui eu.

Quando eu estava passando pela cozinha, vi um saco plástico em cima do


balcão, com algumas bolachas. Eu joguei os biscoitos no lixo e coloquei o
dinheiro dentro do saco.

Eu comecei a ir em direção a porta da frente, quando notei que a porta do


escritório de Hector estava um pouco entreaberta. Eu hesitei por apenas alguns
segundos e, em seguida, virei-me e entrei na grande sala. Eu fui imediatamente
para a mesa de Hector e abri as gavetas uma a uma, à procura de dinheiro. Eu
não encontrei qualquer um e não toquei em nada. Tudo em suas gavetas eram
alinhados, assim como tudo em cima de sua mesa e eu não queria mover nada.
Ele ficava estranho quando as coisas dele não estavam em ordem.

Eu fui para o grande armário ao lado da janela e tentei abrir as gavetas.


Elas estavam trancadas, porém, todas, exceto a da parte inferior. Eu hesitei,
sentando-me e ouvindo, achando que poderia ter ouvido alguma coisa. Depois
de um minuto em silêncio, puxei a gaveta aberta e vi apenas os arquivos.
Inclinei a cabeça para ler as folhas e vi que o nome de cada membro do
conselho, todos os seis estavam enunciados. Eu fiz uma careta e comecei a
vasculhar a papelada. Na parte da frente de cada arquivo tinha um recorte de
jornal. Eu peguei o primeiro, membro do conselho Rodney Sarber. Olhei para o
artigo brevemente e vi que era sobre que Rodney dirigiu um grande ministério
em Kansas City, onde ele esteve aparentemente desviando dinheiro da sua
própria igreja. O artigo falava sobre o escândalo que se seguiu e mostrava uma
foto chorosa de Sarber sendo levado algemado. Eu coloquei o artigo de volta e
vasculhei as outras pastas, com a intenção de ler os outros artigos, quando ouvi
o mesmo barulho fora do escritório de Hector novamente. Fechei a gaveta em
silêncio e fui na ponta dos pés até a porta, onde abri e sai, como eu seu tivesse
todos os motivos para estar lá. O próprio homem, Rodney Sarber, estava fora do
escritório de Hector. Ele estreitou os olhos quando me viu.

— O que você está fazendo aqui?

— Hector me pediu para verificar o pavilhão para garantir que todos


estavam fora — Eu disse calmamente.

— Em seu escritório?

Abri a palma da mão, mostrando-lhe a chave do porão. — Hector


esqueceu isso — Expliquei. — Eu só quero ter certeza de que todos nós não
fiquemos trancados lá embaixo.

Rodney olhou da palma da mão para os meus olhos e acenou com uma
inclinação de cabeça rápida. — Vá em frente. Estarei atrás de você — Tenho
certeza que não vai estar, maldito covarde.

Eu saí pela porta da frente e coloquei o saquinho de dinheiro sob uma


rocha no lado da casa onde Xander e eu ficamos uma vez sentados esperando
para ver Eden pela primeira vez, há muitos anos atrás.

A pesada porta de concreto do porão guinchou aberta quando eu a puxei,


e desci os cinco degraus onde todos estavam esperando, corpos pressionados
contra corpos no espaço que não encaixam perfeitamente duas centenas de
pessoas. Trabalhadores eram segregados em uma seção, enquanto os membros
do conselho e suas famílias estavam perto de Hector, que estava em uma
pequena plataforma na parte de trás do espaço. Ao lado dele estava um depósito
que continha itens alimentares sendo preservados para o inverno.

Este espaço foi construído para que pudéssemos estar todos juntos
quando vierem as inundações para que nenhum de nós fosse levado pela água.
Nós todos daríamos as mãos quando a água finalmente rompesse o teto e
começasse a encher as salas abaixo do solo. Não deveríamos ter medo - o
paraíso nos esperava. Nós seríamos levados a Elysium por Hector e Eden, onde
todos nós olharíamos para baixo na terra assim que começasse de novo,
governados por novos seres humanos.

E eu não podia fazer nada agora, exceto esperar que tudo fosse uma
grande mentira. E mesmo assim, o pensamento disso não trouxe apenas
esperança, mas tristeza e raiva, também. Eu tinha acreditado uma vez, não
tinha? E agora a mentira cruel parecia intencional, destinada a prejudicar-me e
roubar-me uma vida.

Enquanto eu estava lá no meio da multidão de corpos, senti como se


estivesse girando. Os únicos sons eram de fora da chuva, às crianças inquietas e
alguns bebês chorando. Olhei em volta por Eden e finalmente a vi ao lado de
Hailey, à direita de Hector.

Eu era mais alto do que a maioria das pessoas ao meu redor, então
quando estiquei o pescoço, ela me viu e sorriu, olhando rapidamente por cima
na direção de Hector. Segui seu olhar e vi que Hector estava olhando para ela e
depois olhou para mim quando Eden o fez. Nós dois rapidamente desviamos o
olhar, e quando olhei de volta para Hector alguns minutos mais tarde, o seu
rosto de pedra ainda estava focado na minha direção.

Eu era mais alto, respondendo de uma forma instintiva para o que


parecia ser uma ameaça masculina mesmo do outro lado da sala lotada. Os
cabelos da minha nuca se eriçaram e eu me esforcei para manter minha
respiração em ordem. Assim, muitos corpos estavam entre Eden e eu. Eu não
teria nenhum jeito de chegar até ela se precisasse.

Olhei em volta para minha família, mas não podia vê-los no meio da
multidão. Isso não poderia ser bom para a saúde de Maya. Eu esperava, no
mínimo, que ela não estivesse com medo. Eu sempre estive ao lado dela durante
esses exercícios no passado, apertando sua mão por três vezes depois dela
apertar a minha.

Lá fora a chuva parecia aumentar de intensidade, como se grandes


lençóis de água estivessem caindo do céu. Os ruídos ao meu redor ficaram mais
silenciosos, todas as pessoas olhando para cima, como se o teto sobre nós desse
qualquer visão do que estava acontecendo lá fora.

— Os deuses estão simplesmente testando nossa paciência, nossa fé neles


— Hector gritou acima do barulho da chuva batendo. — Não tenham medo. Isto
é o que será quando as grandes inundações vierem! Todos nós juntos – nos
alegrando, porque estaremos prestes a ser conduzidos ao lugar mais glorioso
que se possa imaginar. Sabemos que isto é exercício, porque a minha abençoada
ainda não se tornou minha. Sem isso, não podemos ser levados a Elysium. Sem
isso, nós não estamos completos. Sem isso, nós ainda não estamos equilibrados.
Hector abaixou a cabeça e teceu ligeiramente um membro do conselho
para o lado dele estendendo a mão para mantê-lo estável. Hector apontou para
cima, para um canto do teto. — Lá. Lá é onde a água vai começar a gotejar — Ele
fechou os olhos novamente. — Isso se tornará um poderoso jato, muito
rapidamente, e a água vai começar a preencher este espaço — Ele levantou os
braços. — Mas não vamos temer, porque vamos sentir a presença dos deuses
entre nós! — Então ele deixou cair os braços e ficou em silêncio, parecendo
voltar a si quando simplesmente ficou esperando e olhando em volta com um
pequeno sorriso, satisfeito em seu rosto.

Depois do que pareceram horas e horas, mas foi provavelmente mais


como 30 minutos, o som da chuva que caia ficou fraco e parecia que todos nós
soltamos um suspiro coletivo.

— Você pode abrir a porta agora — Hector disse e um homem de pé ao


lado da escada subiu e empurrou a pesada porta.

As pessoas por trás me empurraram para a frente, e eu saí rapidamente e


movi-me para o lado. Todo mundo estava ansioso para sair ao ar livre e espaço
aberto.

Todo mundo começou a caminhar em direção ao Templo, porque Hector


que sempre dava um sermão depois de um exercício de inundação, e eu segui
atrás deles, sabendo que estaria perto de Eden em breve, mesmo que tivesse que
me sentar no chão.

Eu entrei no interior do Templo e fiquei no meu novo lugar, ajoelhando-


me ao lado das cadeiras dos membros do conselho.

Poucos minutos depois, Hector entrou com Eden em seu braço. Eu fiquei
tenso ao vê-lo tocá-la, repetindo na minha cabeça, não por muito tempo agora,
não muito tempo agora, de novo e de novo até que pudesse relaxar, imaginando
o dinheiro sob a rocha em frente ao pavilhão principal.

Hector andou com Eden para sua cadeira e ela sentou-se, e então ele
caminhou até o pódio, onde esperou até que todos houvessem entrado no
Templo.

— Meu povo — Ele começou. — Eu sei que o exercício de inundação não é


a experiência mais agradável, mas isso sempre me lembra que um dia, muito em
breve, todos nós vamos estar de pé em um espaço debaixo da terra, sabendo que
a verdadeira inundação está acima de nós e o mundo está sendo lavado,
purificado. Enche-me de humildade, pensar no fato de nós, todos nós aqui —
Ele acenou com a mão em volta. — Termos sido escolhidos pelos deuses. Somos
abençoados. E então esses exercícios me enchem de felicidade, orgulho e com
amor por todos vocês.
Hector olhou para baixo. Eu não podia ver bem a expressão em seu rosto
de onde eu estava sentado, mas eu imaginava que ele parecia pensativo, intenso.

— Os deuses me escolheram como pai, protetor e líder de vocês. Nada me


enche com mais gratidão e honra do que isso — Ele fez uma pausa novamente.
— E, no entanto, como qualquer bom pai, às vezes preciso corrigir as ações dos
meus filhos, minha família. Em qualquer grupo obediente, a disciplina deve
existir ou não há confiança, não há fé nas regras de como devemos viver. Ontem,
eu lhes disse sobre os deuses criando o rio manso e o mar turbulento. Hoje, eu
devo agir em nome dos deuses e ajudar um dos nossos a encontrar seu caminho
de volta para águas calmas. Infelizmente, um dos meus filhos se perdeu no
caminho, desviou do rumo que os deuses traçaram para ele. Calder Raynes —
Hector se virou para mim e eu olhei para ele, sem pestanejar. Eu olhei para a
plateia e a mão de minha mãe estava sobre a boca e a cabeça de Maya enterrada
no peito do meu pai. Fechei os olhos por alguns segundos, respirei fundo e
depois os abri novamente.

Hector continuou a manter contato visual comigo enquanto falava à


congregação. — Apesar do fato de seu batismo ter sido ontem, Calder Raynes
cometeu o pecado do egoísmo e desrespeitou um membro do conselho,
utilizando violência física contra ele.

Hector virou-se para a multidão. — Violência física é aceitável de um


povo abençoado pelos deuses?

— Não, Pai — O povo disse.

Hector olhou para baixo. — Não, não, não é. Será que todos nos sentimos
seguros aqui quando há uma pessoa indisciplinada vivendo entre nós?

— Não, Pai.

— Pecado e desobediência prejudicam todos nós?

— Sim, Pai.

— Sim, é verdade. E por isso me dói, parte o meu coração, mas Calder
deve ajoelhar-se no tapete de castigo pelo resto do meu sermão e depois ele deve
servir um dia na prisão subterrânea por suas transgressões. Isto me dói tanto
quanto vai doer em você, meu filho, meu Portador da Água, uma vez confiável.

Eu senti raiva e descrença. Eu senti como se pudesse avançar em Hector.

— Ou talvez — Hector continuou. — Você seja tão egoísta que teria


alguém tendo sua punição por você? Talvez — Ele acenou com o braço para fora
da multidão. — Talvez sua mãe?
Eu forcei para minha expressão ficar em branco. — Eu levo o meu castigo
feliz, Pai — Eu disse com a minha voz rouca, especialmente para os meus
próprios ouvidos.

Eu fiquei lá incrédulo, enquanto Clive Richter estava pegando o tapete,


atirando-me um olhar triunfante quando passou por mim, e em seguida,
colocou-a no chão, à direita de Hector, que era onde eu deveria me ajoelhar de
costas para o povo, em humilhação e vergonha. Senti-me triste por meus pais e
Maya terem que testemunhar isso e acreditarem nas acusações feitas contra
mim. Mas, eu não podia sentir vergonha no que eu tinha feito com Clive. Eu
disse que ia aceitar o meu castigo feliz e eu o faria.
CAPÍTULO QUINZE

Eden

Medo e horror tomaram conta de mim quando Calder levantou-se


lentamente, seu maxilar tenso e seus olhos ilegíveis. Ele caminhou até o tapete e
começou a ajoelhar-se sobre ele. Ele fez uma pausa em seu movimento,
estreitando os olhos em alguma coisa no tapete e um olhar confuso passou sobre
suas características. Mas eu não poderia dizer o que ele estava vendo de onde eu
estava. Seus olhos se moveram para Clive Richter e ele olhou para ele quando se
ajoelhou quando um flash muito breve de dor apareceu em seu rosto antes que
ele novamente ficasse em branco.

O que estava acontecendo? Eu não entendia.

Meu corpo se inclinou para a frente, querendo ir até ele por conta
própria, mas seus olhos me avisaram para ficar quieta. Eu apertei minhas mãos
no colo e desviei o olhar miseravelmente. Sua mensagem era clara: se eu
dissesse qualquer coisa, só iria piorar as coisas para ele e para mim. Eu estava
impotente. Eu queria gritar.

Quando eu olhei para ele novamente, meus olhos se arregalaram em


choque quando vi o acúmulo de sangue no metal sob os joelhos e canelas de
Calder. Esta forma de punição foi usada no Templo antes, mas sangramentos
nunca ocorreram. Alguma coisa estava errada. Alguma coisa foi feita no tapete
para fazer isso causar ferimentos. E, no entanto, Calder suportou, com as costas
retas e seu corpo imóvel, mas eu vi o suor escorrer pela lateral do seu rosto.
Estava levando um grande esforço se ajoelhar ali, sem mostrar sofrimento em
seu rosto. Eu não sabia se ele mantinha um olhar de indiferença fria no rosto,
para mim, para si, ou para as pessoas ao seu redor, mas claramente, era o que
lhe custava caro. Oh, Calder.

Durante a próxima hora, fiquei em silêncio, torturando-me por dentro,


enquanto Calder se ajoelhava na minha frente com o acúmulo de sangue
fugindo do metal e indo para o chão de mármore do palco como se estivesse em
câmera lenta, o sangue caindo gota por gota, ecoando através da sala durante os
momentos de silêncio. Hector pregava, citando principalmente seu Livro
Sagrado sobre o egoísmo e Satanás e aqueles que cometem pecado. Ouvi apenas
algumas palavras aqui e ali, como se eu dissesse minhas orações aos deuses para
ser misericordioso, para enviar forças para Calder, para fazer o tempo passar
mais rápido para ele.
Uma vez que sairmos daqui... Uma vez que estivermos a salvo, eu disse
para Calder em minha mente, vou olhar para as cicatrizes que certamente terá
sobre os joelhos e pernas, me recordando da coragem que demonstrou
enquanto as feridas estavam se formando, e eu não vou mais sentir tristeza.
Vou sentir só uma coisa. Orgulho.

Quando voltei a mim, Hector estava dizendo a oração final e a multidão


falando junto com ele. Olhei em volta para as pessoas e vi que muitas delas
estavam olhando desconfortavelmente para Calder enquanto o sangue rolava
lentamente pelo chão de mármore. Olhei para os homens - alguns deles muito
maiores e mais fortes do que Hector. Isso é errado, e nenhum de vocês está
fazendo nada, pensei. Nem um.

Eu encontrei a família de Calder no grupo e vi seu pai e sua mãe olhando


solenemente à frente, enquanto o rosto de Maya estava grudado no peito do seu
pai.

Achei Xander no grupo e um olhar de ódio flagrante estava em seu rosto


enquanto olhava para Hector. Eu chamei sua atenção, sua expressão se suavizou
ligeiramente, e ele acenou com a cabeça uma vez, como se dissesse: — Nós
temos um plano. Aguente firme.

Hector finalmente virou-se para Calder. — Você pode se levantar,


Portador da Água — Ele olhou para o sangue. — Os deuses acreditavam que
precisava de uma punição extra e dura para seus crimes. E quem somos nós
para discutir com eles? — Ele olhou para a multidão, aparentemente ninguém
acreditava que era alguém para discutir com eles.

— Mas o sangue para de escorrer e eventualmente e as feridas curam. Se


você aprendeu com suas ações, então a dor física valeu a pena. Valeu a pena,
Portador da Água?

— Sim, Pai — Calder disse com uma voz forte e inabalável.

Hector fez uma pausa. — Muito bem. Você pode se levantar e enfrentar
sua família. Por favor, oferecer-lhes um pedido de desculpas.

Calder permaneceu imóvel por um minuto, finalmente, inclinando-se e


colocando as mãos no chão antes de levantar um joelho e depois o outro, cada
um aderindo brevemente antes de puxar sua pele se soltado. Vi a agonia cruzar
suas feições antes que ele novamente escondesse sua expressão, e levantou-se
lentamente, esticando cada perna. Meus olhos, travados em seu rosto até então,
moveram-se para seus joelhos e eu levei minhas mãos até minha boca para não
gritar. A pele estava rasgada e mutilada como se cada parte do metal sobre o
tapete tivesse sido deixada com a finalidade de perfurar pelo metal pontiagudo.
Pequenos riachos de sangue corriam de cada ferida. Calder ficou em toda a sua
estatura e se virou para todos.
— Eu lhes ofereço minhas desculpas pelo meu comportamento egoísta e
sinto muito que vocês tiveram que suportar o que aconteceu aqui hoje. Vou
considerar minhas ações quando me estabelecer na cadeia.

— Agora vire e ofereça ao conselho um pedido de desculpas — Hector


instruiu.

Calder virou-se lentamente. Eu não olhei para suas pernas novamente.


Eu olhei apenas para o rosto dele. Ele não olhou para mim. Seus olhos estavam
sobre Clive Richter quando ele disse: — Eu lhe ofereço minhas desculpas, e
lamento a minha necessidade de provar que algumas pessoas neste mundo são
mais fortes do que outras. Minhas ações foram puramente egoístas.

Clive estreitou os olhos, mas permaneceu em silêncio. Hector acenou com


o braço indicando ao conselho que saísse do Templo. Cada um de nós se
levantou e saiu. Eu mantive minha cabeça erguida e não fiz contato visual com
ninguém enquanto saíamos do prédio.

Olhei para trás uma vez quando subi na carruagem que trazia a mim e
Hector para o Templo a cada semana e vi Calder andando pelo corredor, suas
pernas um borrão de vermelho, olhando para frente, como eu tinha feito.

Passei o resto do dia no meu quarto, sentada na minha cama enlutada. O


que Calder estava sentindo agora? Eles estavam fazendo curativos em suas
pernas ou ele estava sentado sozinho, sangrando e sem cuidados? Eu não sabia
como eu poderia suportar o não saber, mas a culpa me encheu com o
pensamento de estar sozinho. Calder era o único que estava sofrendo.

Uma hora antes do jantar, houve uma batida suave na minha porta e eu
me levantei para atender. Era Hailey.

— Você está bem? — Perguntou ela, pegando a minha mão na dela


quando nos sentamos na minha cama.

Eu não consegui esconder. As lágrimas vieram aos meus olhos e eu


balancei a cabeça, não.

— Eu vejo a maneira como você olha para ele, Eden. Todo mundo vê.

Meu rosto desmoronou e eu soltei: — Eu o amo, Hailey. Estou


apaixonada por ele — Eu não tinha pensado em dizer isso, mas o rosto
reconfortante de Hailey fez uma carência estremecer na minha espinha. Eu
estava desesperada por alguém com quem conversar.

O rosto de Hailey empalideceu. — Oh, Eden. Como você pôde? Como


você pôde deixar isso acontecer?

— Eu não pude evitar. Não havia nada que eu pudesse fazer para parar.

— Você poderia ter ficado longe dele.

Eu balancei minha cabeça. — Eu não quero. Eu não quero nada mais do


que estar com ele.

Hailey sentou-se mais ereta, apertando os lábios por um segundo. —


Então você foi egoísta. Você nos colocou em uma posição terrível. Você arriscou
o nosso futuro - nosso destino - seguindo o seu coração egoísta.

Senti um baque no meu espírito e um peso pressionado contra o meu


peito.

— Se eu conseguir um lugar no paraíso, ignorando os desejos do meu


coração, então rejeito o paraíso — Eu engasguei através das minhas lágrimas.

— E o resto de nós?

Levantei-me. — E o resto de vocês? Vocês todos dependem da minha


miséria para sua libertação? Você deseja que eu sacrifique o meu mais profundo
desejo do coração para que você possa governar com os deuses eternamente?
Isso não é egoísmo?

Hailey se levantou. — Você vai governar com os deuses eternamente,


também, Eden.

— Eu não quero governar com os deuses, se isso significa que tenho que
fazê-lo sem Calder. Prefiro queimar no inferno — Eu gritei.

Hailey parecia derrotada quando seus ombros caíram e ela olhou para a
minha esquerda, pela minha janela.

— Isto é em parte culpa minha. Eu lhe dei liberdade demais e olha o que
aconteceu.

Lágrimas invadiram meus olhos novamente. — Você foi a única gentil


comigo aqui... A única que alguma vez... Que já me mostrou qualquer amor —
Peguei a mão de Hailey, mas ela puxou-a para longe. — Por favor, Hailey, você
foi como uma mãe para mim quando eu precisava de alguém. Por favor, não me
odeie. Por favor, tente entender. Por favor, me ajude — Eu sussurrei a última
frase.

— E quem vai ajudar o resto de nós?


Eu pisquei para ela. — E se Hector estiver errado sobre a inundação? E
se... E se não acontecer?

Ela balançou a cabeça. — Isso vai. Hector, ele... Sabe das coisas. Seu
casamento com você e o prenúncio da inundação é a única coisa que nunca
mudou. Ele tem muita certeza e eu também.

Olhei para o chão, as lágrimas ainda rolando pelo meu rosto. — Sinto
muito — Eu não sabia mais o que dizer. Eu olhei de volta para ela. — Por favor,
por favor, não diga a Hector o que eu disse.

— Eu nunca diria a Hector. Ele nos puniria. E com razão.

Olhei para baixo envergonhada.

— Eu vou dizer a todos que você não está se sentindo bem e não vai estar
no jantar de hoje. Acho que é melhor assim — Disse ela.

— Tudo bem — Eu resmunguei, sabendo que ela estava dizendo que não
queria mais olhar para mim naquele dia.

Hailey se virou e saiu do quarto. Eu afundei de volta na minha cama e


coloquei meu rosto em minhas mãos e solucei. Eu estava tão feliz que Hailey e
seus meninos permaneceriam em nossa ala do pavilhão principal, mesmo
quando a mãe Miriam retornou. Mas agora Hailey estava irritada comigo,
também. Eu me sentia oprimida pela solidão e desespero.

Um pouco mais tarde, olhei pela janela para ver Xander caminhando
longe do pavilhão principal, olhando para trás por cima do ombro.

Eu me movi sorrateiramente no andar de baixo, em direção à sala de


jantar onde ouvi os sons de todos jantando. Abri a porta da frente em silêncio e
desci as escadas da frente, para as plantações abaixo. Olhei em volta e, em
seguida, enfiei a mão dentro do mato, removendo um pedaço de papel dobrado.
Coloquei-o no bolso da saia e voltei ao meu quarto, onde eu o desdobrei.

Eden,

Eu acho que você vai concordar, que depois do que aconteceu hoje,
precisamos sair daqui o mais rápido possível. Dois meses a partir de hoje, o
mais tardar. Quando você ouvir o apelo de uma coruja três vezes consecutivas,
pausa, e então duas vezes, você saberá que é hora de ir nos encontrar e na
nascente. Certifique-se de que ninguém a siga.

Entretanto, se você vir algum dinheiro sobrando, e se não for muito


arriscado pegá-lo, faça-o. Vamos precisar de tudo o que conseguirmos, cada
centavo.
Xander

Dois meses? Eu dei uma respiração profunda e trêmula. Dois meses


parecia um tempo insuportável para esperar; eu não tinha outra escolha a não
ser tentar ser paciente. Eu tentaria o meu melhor para não olhar para Calder
com o amor que eu sentia no meu coração. E rezaria para que os próximos dois
meses passassem sem incidentes.

Eu não coloquei essa carta com as outras que Calder tinha me dado, as
que eu não conseguia me separar. Em vez disso, eu acendi uma vela em minha
cômoda e segurei o papel pela borda enquanto queimava. Quando era apenas
uma pequena ponta queimada, eu a deixei cair no grande recipiente de vidro
que a vela estava. Eu soprei isso e voltei para a janela, fiquei simplesmente
olhando para fora, pensando em Calder e tentando nos imaginar longe, muito
longe.
CAPÍTULO DEZESSEIS

Calder

Sentei-me no interior da prisão na extremidade distante da área do


porão. Eu nunca estive aqui antes, mas tinha ouvido falar que era um pequeno
espaço frio, miserável, que arrepender-se rapidamente, era uma escolha fácil. O
que eu ouvi era verdade. Era pequeno e frio, um dreno enferrujado no canto
para urinar e um cheiro podre de mofo no ar. A única coisa para sentar era em
um banco de concreto estreito onde eu estava agora com as minhas pernas
latejando esticadas. Eu fiz uma careta enquanto ajustava-as, grato que não tinha
o elemento adicional em segurar a dor por dentro agora. Alguém tinha raspado
ou alterados as pontas daquele pedaço de metal e minha aposta era em Clive
Richter. Mas se ele achava que eu iria dar-lhe o prazer de ver a minha dor, ele
estava errado. Os buracos em minhas pernas iriam curar, não importa quão
sangrento parecia agora.

Ouvi a chave na fechadura da porta de metal grossa e olhei para cima


quando uma mulher pequena de cabelos brancos e crespos entrou, e em seguida
a porta foi fechada e trancada novamente.

— Mãe Willa — Eu disse, começando a ficar de pé.

Ela fez um som de impaciência, acenando com a mão para indicar que eu
deveria ficar sentado. Eu afundei de volta.

Ela abriu uma grande bolsa de crochê que tinha pendurada no ombro e
começou a tirar pequenas bolsas de tecido, e uma pequena tigela que parecia
que foi uma pedra de algum tipo. Então misturou vários itens, juntamente com
uma pequena quantidade de água em sua tigela e um cheiro herbal forte subiu
ao meu redor. Ela começou a esmagá-los e misturá-los até que fosse uma pasta
verde escura. Ela se aproximou de mim e colocou-a enquanto examinava
minhas pernas, fazendo sons de tsk tsk usando as mãos suavemente para
colocá-la em vários lugares.

— Os deuses não tiveram nada a ver com isso — Disse ela, quase como se
para si mesma. — Aqui, tome isso. Vai ajudar com a dor — Ela me entregou um
pequeno pacote de pó e um jarro de madeira que ela tinha aberto. — Beba tudo.

Eu derrubei o pacote de pó na minha boca e bebi do jarro, esvaziando-o.


Senti meu corpo imediatamente quente e o latejamento em minhas pernas
começaram a diminuir. Suspirei e encostei minha cabeça na parede. Senti algo
bom ser aplicado em minhas pernas, mas não olhei para baixo.

Depois de um minuto, Mãe Willa perguntou: — O que no mundo você fez


para desagradar Hector?

— Eu... Acho que o ameacei, desafiei-o — Eu disse com meus olhos ainda
fechados. Minha cabeça estava começando a flutuar, mas de um jeito bom.

Ela ficou em silêncio por um bom tempo. — Você deve ir embora logo. As
coisas só vão piorar para você.

Abri os olhos pesados e olhei para ela. Olhos azuis cristalinos


encontraram os meus e eu só olhei para eles durante alguns segundos. Sua pele
era curtida e enrugada com cabelos quebradiços e brancos, e ela tinha apenas
alguns dentes, mas eu vi em seus olhos que era tão jovem como uma menina.

— Eu vou deixar as coisas melhores — Eu disse.

Ela balançou a cabeça, aplicando a pasta fresca em minhas feridas.

— Você perturba permanentemente o equilíbrio. As coisas não podem


ficar melhores. Não. Você deve ir agora.

Eu balancei minha cabeça. — Há pessoas que eu amo aqui.

Ela assentiu, tirando uma pilha de tiras de linho branco. — Ainda mais
uma razão para você partir. Assim que for liberado daqui, comece a andar, e não
pare até que você esteja muito longe.

Eu balancei a cabeça de um lado para o outro de novo, o ar ao meu redor


parecendo brilhar. — Eu não posso fazer isso. Há pessoas aqui que eu tenho que
cuidar.

Mãe Willa suspirou alto. — Você fez o seu sacrifício nesta vida, Calder
Raynes — Ela aplicou uma tira de tecido em meu joelho e amarrou-o por trás —
Quer você saiba disso ou não.

— Eu não entendo — Disse confuso. Minha língua parecia grossa e eu me


esforçava para formar as palavras.

Seus olhos cristalinos encontraram os meus. — Você era muito jovem.


Não deve se lembrar de vir aqui.

Eu balancei a cabeça levemente, tentando entender. — Vir aqui? Não. Eu


e Maya, nascemos aqui.

Mãe Willa riu e balançou a cabeça. — Sim. Maya, sim. Não você, Calder.
Você não nasceu aqui. Mas você pertence a Hector mesmo assim. E agora você
cruzou com ele, ameaçou-o, e ele não vai acatar isso. Então, se você quer
proteger as pessoas que ama, saia daqui, está me ouvindo?

— Por quê? Quê? Eu não...

Mãe Willa assentiu e deu um tapinha no meu pé suavemente. — Um


presente para eles - isso é o que você era. Um menino perfeito, muito, muito
bonito, para equilibrar a imperfeição que eles receberam em sua irmã.

Parecia que um nevoeiro estava se movendo na minha cabeça, e eu não


poderia atravessar para entender meus próprios pensamentos, ou separar os
que importavam dos que não. Certamente essa mulher velha era louca, ou sofria
de algum tipo de demência.

— Você está muito velha — Eu de alguma forma consegui dizer, minhas


palavras enrolando.

Mãe Willa gargalhou alto e continuou enrolando tiras de material branco


nas minhas pernas.

— Um dia você vai ser, também.

Eu balancei minha cabeça. — Eu vou? Serei alguém?

— Acho que sim — Ela disse, parecendo um pouco confusa antes que sua
expressão desfizesse novamente. Ela assentiu. — Se certas coisas... Sim.

Eu não tinha ideia do que ela estava falando, mas não me importei. Nada
parecia importar, exceto o calor em minhas veias e a ausência de dor. Fechei os
olhos novamente.

— Você gosta daqui, Mãe Willa?

Ela levou um minuto para responder. — Eu suponho que sim. Há espaço


para mim aqui. E... — Ela inclinou a cabeça na direção das minhas pernas. — Eu
ganho meu sustento. Aqui eu sou útil.

Eu balancei a cabeça. Eu nunca recebi ajuda da Mãe Willa, mas eu tinha


ouvido das mulheres que deram à luz aqui cantando louvores a ela, e muitas
feridas teriam inflamado sem suas ervas, e, claro, como Hector sempre dizia, a
cura seria dos deuses. Só essa parte parecia questionável agora.

— Mas você, Calder, não há necessidade de um garoto como você se


esconder em um lugar como este.

— Esconder? É isso que as pessoas aqui fazem? — Minhas palavras


pareciam atropeladas.
— Sim. E às vezes tudo o que precisamos é de refúgio. Este mundo é
doloroso. Algumas pessoas procuram fazer parte — Ela balançou a cabeça. —
Mas não quando há uma etiqueta de preço em anexo.

Franzi minha testa, uma nova onda de calor correndo através do meu
sangue. — Qual é o preço de se refugiar aqui, Mãe?

Ela parou o que estava fazendo e olhou para mim, seus olhos claros
brilhando. — A morte — Disse ela tão simplesmente a palavra que quase não
entendi. — Muita morte.

O quarto pulsava ao meu redor. Tudo o que eu queria fazer era dormir. —
E se sairmos daqui? — Perguntei.

— A vida — Disse ela.

As palavras flutuaram ao redor em minha mente, juntando-se, em


seguida, se afastando novamente. Eu não poderia ligá-las, não podia aplicar o
significado. Em vez disso, eu fechei os olhos e descansei.

Depois do que pareceram alguns minutos, ela deu um tapinha no meu pé.
— Tudo feito. Isto irá manter a infecção longe. Mantenha-os, mesmo que eles
cocem - pelo menos enquanto você estiver aqui - então remova as bandagens,
limpe e reaplique. Se molharem, aplique outras novas e secas.

Meus olhos estavam pesados, mas abri-os de qualquer maneira e fiz


contato visual com ela. — Obrigado, Mãe Willa — Eu arrastei as palavras. —
Muito obrigado.

Ela assentiu, olhando-me com tristeza. E então ela murmurou, como se


para si mesma: — Eu tentei tanto ajudá-lo a compreender o seu presente, não
desperdice — A dor mudou suas feições, tornando-a, ainda que
impossivelmente, mais velha. Eu fiz uma careta enquanto ela arrumava suas
coisas na bolsa. Eu queria interrogá-la ainda mais, mas eu estava tão cansado.
Eu deixei meus olhos se fecharem novamente e desta vez, a escuridão me levou,
imagens parecendo vir para mim na escuridão da minha própria mente: grandes
serpentes cuspindo; Eden, arqueando as costas de prazer, seus lábios se
separaram enquanto ela gemia o meu nome; e correntes de água que se
transformaram de uma gota para uma inundação, arrastando-me para baixo, na
escuridão tão profunda, eu sabia que nunca, nunca novamente voltaria a
superfície.
Dormi naquela pequena caixa na maior parte daquele dia. Mãe Miriam,
amante da cara azeda de Hector, entregava minhas refeições. Ela colocava a
bandeja no chão, pegava a vazia e depois saia rapidamente. Eu não tentei
conversar com ela. Não havia nenhum ponto e ela deixou claro que não seria
receptiva a sutilezas, de qualquer maneira.

No dia seguinte, quando minha cabeça estava limpa das ervas que Mãe
Willa tinha me dado, Mãe Miriam também entregou uma cópia do Livro
Sagrado e colocou no chão junto com a minha refeição. Coloquei-o no banco,
mas nunca o abri.

Quando a porta foi aberta por um dos filhos do membro do conselho, na


tarde seguinte, saí para o sol, apertando os olhos e afastando o brilho luminoso
em volta de mim.

— Hector diz que você deve ir direto para os campos, depois que estiver
limpo.

Eu levei um minuto para ajustar meus olhos e depois simplesmente me


afastei do menino sem responder.

Sentei-me ao lado do rio, removendo as ataduras que Mãe Willa tinha


aplicado, protegendo a minhas feridas ainda sangrando. Lavei a sujeira do meu
cabelo e corpo, e em seguida reapliquei as bandagens que eu tinha deixado secar
ao sol na beira do rio.

No momento em que caminhava para os campos, o sol estava alto no céu


e batia em mim. Sentia-me bem. Estar limpo e na luz do sol me fazia sentir
humano novamente.

Quando passei por uma das cabanas, uma mão estendeu, me agarrou e
me puxou de costas por trás dela. Eu tropecei, xingando baixinho e depois olhei
para a expressão intensa de Xander.

— Você assustou o inferno fora de mim.

— Desculpe. Temos apenas alguns minutos. Não quero que ninguém nos
veja.

— Por que não? Somos amigos. Não seria estranho nos verem
conversando.

Xander fez uma pausa. — Você provavelmente está certo. Eu só acho que
é melhor se não chamar a atenção para esse fato. Vai torná-lo mais fácil as
pessoas não me observarem. Eles já estão de olho em você e não há como voltar
atrás nisso.

— Eu acho que é melhor se agirmos totalmente normais. Mais atenção


será atraída para você se não o fizermos.
Xander parecia impaciente. — Ok, tudo bem.

Eu balancei a cabeça. — Ok, então vamos caminhar. Não ficar


escondendo atrás de cabanas.

Xander olhou para as minhas pernas e então nós dois começamos a


caminhar em direção aos campos.

— Como você está?

— Eu estou bem. Dói, mas tudo bem.

— Ajoelhar no campo não vai ser fácil.

— Eu vou viver. Qual é o nosso próximo passo?

Xander passou a mão pelos cabelos e olhou em volta. — Kristi conseguiu


quinhentos dólares em dinheiro para nos emprestar. Ela não tem muito
dinheiro, só trabalha meio período no Posto Florestal, de modo que é o melhor
que podia fazer.

— Isso é incrível. Okay. Portanto, temos mais de seiscentos dólares. Até


onde isso vai nos levar?

— Não muito. Kristi ofereceu o espaço extra em seu apartamento para


nós, mas ela vai se mudar em breve, partindo para uma faculdade de quatro
anos, então ela terá ido embora se não sairmos dentro de alguns meses mais ou
menos. Ela disse que pode ter algumas sugestões acerca dos locais que podemos
ficar se levar mais tempo.

Eu balancei a cabeça. — Então você acha que vai demorar alguns meses
para estarmos prontos para sair?

— Sim, mas não mais do que isso. As coisas só vão piorar para você, e
para Eden. Além disso, os preparativos do casamento já começaram com os
trabalhadores. Eden terá dezoito anos em o que, três meses?

Deixei escapar um suspiro duro. — Um pouco menos.

Xander ficou em silêncio por um minuto. — Ok, então você pega o que
puder sem ser apanhado. Joias, dinheiro, tudo o que dê para vender. Quanto
mais tempo tivermos para encontrar um trabalho, melhor, porque nós vamos
ter que usar o nosso dinheiro para comer, até então — Ele olhou para mim. — E
não chegue perto de Eden. Nós não podemos arriscar.

Deixei escapar um suspiro e balancei a cabeça. — Precisamos contar a


Eden, também.

— Eu já contei. Espero que ela possa ter uma maneira de entrar no quarto
de Hector e ver o que pode encontrar lá de valor.
Eu apertei meu queixo, olhando para a frente. — Eu não a quero em
qualquer lugar perto do quarto de Hector.

Xander balançou a cabeça, olhando para mim e franzindo a testa. — É


para a nossa sobrevivência, Calder.

Eu balancei minha cabeça. — Não, em breve eu encontrarei uma maneira


de entrar no quarto, em vez de enviar Eden.

— Tudo bem. Vamos descobrir os detalhes. Como disse, eu já falei com


Eden. Disse-lhe para ter cuidado. Ela vai estar pronta para encontrar-nos na
nascente, assim que eu der o sinal.

Eu levantei uma sobrancelha. — Qual é o sinal?

Ele ergueu as mãos à boca e fez um som de coruja muito baixinho.

Eu ri, apesar da gravidade da situação. — Isso não é ruim. Apenas como é


que vamos ser capazes de dizer se é você ou uma coruja de verdade?

Xander piscou. — Eu sei. É praticamente indistinguível. Um homem tem


de praticar alguma coisa para manter sua mente ocupada quando ele está
andando sozinho horas por dia.

— Você é um homem de muitos talentos. Sério, como vamos saber que é


você?

Xander ficou sério. — Eu vou fazer isso três vezes seguida, pausa, e então
duas vezes.

Eu balancei a cabeça. — Tudo bem — Olhei para trás e em volta. — É


melhor eu ir.

— Sim.

Hesitei. — Xander, você acha que pode me ajudar com alguma coisa?
Preciso ver Eden uma última vez antes que eu não a veja durante alguns meses.

Xander bufou. — Não, Calder. Você precisa ficar longe de Eden. Nem
sequer olhe em sua direção...

— Eu sei. Eu vou. Apenas uma vez. Por favor. Isso será difícil nos
próximos meses. Prometo.

Xander olhou para baixo, claramente não estando feliz com o meu
pedido. — Tudo bem. Vamos fazê-la praticar uma única vez se esgueirando do
quarto e ir nos encontrar na nascente.

Eu balancei a cabeça. — Obrigado. Só que eu quero vê-la sozinha.


— Sim, eu meio que percebi que eu não fui convidado.

Eu sorri. — Obrigado.

Xander assentiu. — Agradeça-me quando estivermos saindo daqui.

— Eu vou. Precisamos nos encontrar novamente. Tenho algumas coisas


que quero falar com você. Mas eu preciso chegar aos campos agora antes que
sintam falta de mim e Hector me obrigue a dormir esta noite no metal
pontiagudo.

Xander se encolheu e balançou a cabeça. — Vamos sentar com os outros


como de costume no café da manhã e combinarmos um lugar para nos
encontrar.

Eu balancei a cabeça, sorri e comecei a me afastar em direção aos


campos. Xander o som de uma coruja baixinho atrás de mim e eu ri, balançando
a cabeça.

Xander era meu amigo há tanto tempo. Eu não podia imaginar a vida sem
ele. O nosso plano tinha que funcionar; tínhamos que sair daqui. A dor nas
pernas não era nada comparada ao do meu coração quando eu considerava ser
separado de Eden por mais alguns meses. O nosso plano tinha que dar certo,
isso tinha que funcionar.
CAPÍTULO DEZESSETE

Eden

Sentei-me na minha cama, com o Livro Sagrado de Hector em minhas


mãos, não lendo, apenas fazendo um jogo onde eu fazia perguntas sobre o
futuro e, em seguida, o abria em um lugar aleatório usando o dedo para apontar
cegamente uma palavra, então eu abria meus olhos e usava a palavra para
discernir a resposta.

Era um jogo que eu tinha feito com uma pergunta ou outra desde que eu
era jovem. Era imaturo, eu sabia, mas eu estava entediada.

— Será que Calder e eu viveremos felizes para sempre? — Eu sussurrei.

Abri o livro e fechei os olhos usando o dedo para apontar em um lugar na


página. Abri os olhos. A palavra exposta diretamente acima do meu dedo foi
“por acaso”.

— Por acaso? — Resmunguei em voz alta. — Sério? — Eu praguejei. — A


melhor escolha de três — Eu murmurei, começando abrir o livro em um local
aleatório, mais uma vez.

Uma batida na minha porta me assustou e eu me sentei de volta contra o


meu travesseiro e peguei o livro como se eu tivesse estudando-o. — Entre —
Respondi.

Mãe Miriam abriu a porta segurando algo branco e diáfano em suas


mãos. Ela colocou-o na ponta da minha cama. — O seu véu de noiva — Disse ela,
o mesmo desdém em sua voz que estava presente toda a minha vida.

— Oh — Eu disse com meu coração apertado. — Bem, obrigada.

Mãe Miriam assentiu. — A menina que trouxe, me pediu para lhe dizer
que o laço na parte inferior pode parecer pesado, mas é só porque pedras extras
foram usadas na ornamentação. Ela repetiu seis ou sete vezes. Acho que ela está
preocupada que você vai reclamar — Disse ela, revirando os olhos e balançando
a cabeça como se tivesse sofrido algum evento torturante em ter que ter uma
conversa com ela. Eu me encolhi um pouco. Eu daria qualquer coisa para falar
com Maya por apenas alguns momentos, conhecer a garota que amava Calder
tão ferozmente.
— Obrigada — Eu disse simplesmente, movendo-me para o final da cama
e brincando com o material delicado.

Mãe Miriam me olhou por um segundo e, em seguida, virou-se para sair.

— Por que você me odeia tanto? — Perguntei com naturalidade, ainda


olhando para o meu véu.

Mãe Miriam virou o rosto para mim de novo com pouca expressão em seu
rosto. — Perdão?

Eu olhei para os meus dedos sobre o véu branco e, em seguida, de volta


para ela, mantendo o contato visual. — É apenas... Nunca fiz nada para você. Eu
tentei tanto fazer você se sentir orgulhosa por ser melhor pianista que eu
poderia. Tentei ser educada e obediente. Eu... Tentei fazer você me amar. E você
nunca me mostrou um momento de ternura. Por quê? O que eu fiz para você
olhar para mim com tanto ódio?

Mãe Miriam ficou em silêncio por um segundo, parecendo decidir se me


responderia ou não. Finalmente, seus olhos pareceram escurecer. — Você o
levou para longe de mim — Ela disse simplesmente.

Franzi minhas sobrancelhas com a dor me preenchendo, embora eu


desejasse poder minimizar em ser ferida pela mãe Miriam há muito tempo.

— Eu era apenas uma menina — Eu disse.

Ela me olhou de cima a baixo. — Porém, você não é mais, não é?

Então ela se virou e saiu do meu quarto, fechando a porta


silenciosamente atrás dela.

Eu fiquei lá por um minuto, olhando para o lugar de onde ela tinha


acabado de sair, pensando na injustiça da vida e do amor. E me perguntando se
os deuses eram reais, por que eles não interviam em situações como esta, onde
eu amava Calder e Miriam amava Hector? Talvez se eles interferissem um
pouco, todos nós poderíamos ter o amor que queríamos.

Mas os deuses não estavam interessados em nossos problemas


insignificantes, eu supunha, não quando eles tinham problemas maiores para
lidar, como inundações e fomes, e como exatamente acabar com o mundo.

Meus olhos se voltaram para o véu colocado no final da minha cama e eu


toquei novamente, imaginando os dedos de Maya costurando o tecido para o
laço, anexando cada joia com o máximo de cuidado, montando o véu que me
levaria finalmente para longe do seu irmão.
Eu esfreguei o dedo sobre uma das pérolas maiores. Maya não tinha
chamado de joias. Ela as tinha chamado de pedras. Seis ou sete vezes, Miriam
tinha dito. Foram utilizadas pedras extras.

Olhei para o véu por mais alguns segundos, e então peguei e comecei a
mover os dedos ao longo da bainha, sentindo a renda e as joias, até que me
deparei com um lugar onde não havia pedras costuradas no exterior, mas um
nódulo duro que indicava que algo estava costurado entre a renda. Meu coração
acelerou. Parecia plana e dura e o tamanho de uma moeda. Eu coloquei meus
dentes no laço e rasguei. O que me importa? Era lindo, mas eu nunca usaria a
coisa.

Eu enfiei meu dedo no pequeno rasgo e abri mais. Meus dedos tocaram
algo suave e então virei o pedaço da barra de cabeça para baixo e uma pequena
pedra lisa do rio caiu no meu colo, quase perfeitamente redonda e lisa como
qualquer uma das pérolas que Maya tinha usado no meu véu. Eu respirei fundo
e trouxe a minha mão sobre a boca.

Ele peneira através de todas as pedras até que encontra a mais lisa que
consegue e dá a sua fêmea escolhida. Em seguida, ele apresenta a ela como um
símbolo de seu amor.

Peguei a pedra e trouxe-a para o meu peito, segurando-a lá por alguns


minutos, pois meu coração estava explodindo de felicidade.

Eu peguei a pedra e a coloquei debaixo do meu travesseiro, guardando-a


no meu “ninho”. — Sim — Eu sussurrei. — Eu aceito você. Mil vezes sim — E
então sorri para mim mesma quando coloquei o travesseiro sobre a minha
oferta de amor.

Peguei o véu de novo e cravei os dedos no local de onde eu tinha


removido a pedra. Depois de um segundo, senti dois pequenos pedaços de papel
e agarrei-os entre os meus dedos, trazendo-os para fora. O primeiro era
pequeno. Eu desdobrei rapidamente, minha respiração parando novamente.

No interior estava um desenho de nossa rocha na nascente e o número


doze escrito acima dele, dentro de uma lua cheia. Eu fiz uma careta, olhando
para o calendário na parede. Esta noite era uma lua cheia. Calder queria me
encontrar hoje à noite - meia-noite - em nossa nascente. Meu coração acelerou
de novo, praticamente tropeçando em si.

O segundo pedaço de papel era ainda menor e dizia: — Abra com cuidado
— Do lado de fora em letras minúsculas. Eu fiz e quando desdobrei o canto final,
eu vi uma pequena pilha de pó branco. Escrito por baixo estavam três “Zs” — Pó
para dormir? Para Hector?

Eu fiquei lá por mais um minuto, olhando para os itens, a minha mente


trabalhando. Eu sabia que não estávamos prontos para partir ainda, então ele só
queria me ver. E eu queria vê-lo - desesperadamente. E para fazê-lo com
segurança, eu precisava colocar este pó no chá da noite de Hector.

Eu faria o que fosse necessário. Eu faria qualquer coisa para ver Calder.

— Obrigada, Maya — Eu sussurrei. — Obrigada por ser tão corajosa — Eu


só queria poder dizer a ela em pessoa.

Mais tarde naquela noite, depois que eu cuidadosamente coloquei o pó


branco no chá de Hector e servi para ele quando estava em frente do fogo, ele
tinha tranquilamente subido as escadas para dormir, fui com cuidado para fora
da minha janela. Eu tinha pensado em sair pela porta da frente, mas vários
membros do conselho estavam em casa e seus olhos me seguiriam enquanto eu
caminhasse através do pavilhão principal. Retirei-me para o meu quarto logo
depois de Hector. Deixando uma pequena fresta aberta da minha janela, então
deslizei ao longo do telhado na minha parte dos fundos, com cuidado para não
fazer um único som, e então, quando cheguei para o outro lado da casa, contei
até três e dei um salto rápido para a única árvore alta o suficiente para pular.
Forcei-me para não gritar quando um galho forte atingiu minha lateral, e aquele
que eu tinha agarrado balançava precariamente sob o meu peso. Em vez disso,
eu me dei um segundo para me estabelecer e estendi a mão para outro galho, e
outro até que fosse seguro saltar para o chão.

Assim que aterrizei, faróis do carro se moveram em Acadia e eu respirei


fundo e me encolhi tanto quanto possível por trás do grande tronco da árvore,
fechando os olhos. Se eles saíssem do carro e olhassem com cuidado o
suficiente, seria fácil de me detectar.

Ouvi passos pesados à minha esquerda e fiquei congelada até que a porta
da frente abriu e fechou. Respirei profundamente e corri rapidamente em toda a
área aberta para o bosque de árvores que levava para o caminho até a nascente.

Meu corpo estava cheio de energia e entusiasmo quando finalmente


empurrei os galhos e me abaixei em nosso oásis, respirando pesadamente, quase
tonta.

Levantei-me e congelei.

Lá estava ele, em pé, banhado pelo luar e o brilho de dezenas de velas


colocadas ao redor com um pequeno sorriso em seus lábios. Olhei
descaradamente, sua beleza parecendo muito notável para ser real. Eu olhei
para baixo timidamente, sentindo o peso deste momento. Poderia ser o último
que teríamos antes de sairmos daqui.

Eu ergui meus olhos para ele e nós dois nos movemos de uma vez,
correndo em direção ao outro, até que ele me pegou e me girou. Eu inclinei
minha cabeça para trás e ri com o céu claro quando Calder enterrou seu rosto no
meu pescoço, seu sorriso crescendo contra a minha pele.

Depois de um minuto ele me colocou em pé. Calder levou a mão até meu
rosto quando eu me inclinei para ele, fechando os olhos.

— Você está bem? — Eu sussurrei finalmente. — Eu estava tão


preocupada. Suas pernas... — Eu não consegui me conter. Lágrimas brotaram
nos meus olhos com a lembrança de vê-lo suportar tal dor horrível.

Calder balançou a cabeça e usou o polegar para afastar a lágrima que


escapou. — Minhas pernas estão bem, Eden. Juro — Ele se inclinou para trás e
olhou para mim, dando um pequeno sorriso. — É meu coração que dói de
saudades de você.

Eu dei uma pequena meia risada, meio soluço. — Eu sinto sua falta,
também. Muito. Pensei que iria morrer vendo você sofrer.

Calder se inclinou para a frente e pegou meu rosto em suas mãos. — Shh,
acabou agora.

Eu balancei a cabeça, mas as comportas se abriram e agora as lágrimas


corriam pelo meu rosto.

— Eu não me preocupo com você, porque eu sei o quão forte você é.

Eu balancei minha cabeça. — Olhe para mim. Eu não sou tão forte.

Calder sorriu. — Sim, você é. Você é mais forte do que qualquer homem
que eu já conheci. Na verdade — Ele levantou uma sobrancelha, a diversão
dançando em seus olhos — Talvez você realmente seja um homem.

Eu ri, um som estrangulado no meio das minhas lágrimas. — Pare de


tentar me fazer rir. Sinto vontade de chorar agora.

Ele sorriu, mas seus olhos se moviam sobre o meu rosto. — Espere, não,
você é muito bonita para ser um homem. Mas talvez eu precise investigar mais
essa teoria — Ele se inclinou e me beijou suavemente, deslizando a língua pelos
meus lábios. — Mmm... E gosto muito doce para ser um homem — Ele
sussurrou, inclinando-se para longe de mim com seus olhos escurecendo.

Fechei meus olhos com minhas lágrimas cessando e um sorriso fazendo


os cantos da minha boca subir muito ligeiramente. — Você está tentando me
distrair.
Calder levantou uma sobrancelha. — E — Ele pegou uma mecha do meu
cabelo e levou-a ao nariz, fechando os olhos. — Você cheira melhor do que a
maioria dos homens.

Eu ri. Sentia-me bem.

Ele sorriu e então se inclinou e me beijou novamente. Nós exploramos a


boca um do outro por longos minutos, ambos suspirando de prazer.

Calder levou as mãos até meus seios e os segurou suavemente. Ele se


separou da minha boca, arrastando seus lábios no meu pescoço quando eu
inclinei minha cabeça para trás. — Não — Ele disse. — E conclusivo.
Definitivamente não é um homem.

Eu ri baixinho novamente, terminando com um suspiro. — De qualquer


forma — Disse eu, disposta a fazer o seu jogo agora. — Todas as mulheres são
tão fortes quanto os homens. Nós apenas temos que ficar quietas sobre isso para
que seus egos delicados não fiquem machucados.

Calder sorriu contra a minha pele. — Você provavelmente está certa sobre
isso — Ele murmurou.

— Hmm, hmm — Eu suspirei, calafrios saindo sobre a minha pele


enquanto ele continuava a acariciar e lamber meu pescoço. — Estou feliz que
você pode perceber.

Calder sorriu, tirando uma mecha do cabelo do meu rosto. — O pó de


adormecer...

— Eu o coloquei no chá de Hector. Foi fácil. Ele estava dormindo em sua


cadeira 20 minutos mais tarde. Mãe Miriam acompanhou-o até a cama.

Calder assentiu. — Eu pedi a Mãe Willa um pouco mais de pó que ela me


deu para a dor.

Eu não pude evitar a tristeza que passou por mim novamente. — A dor...

Calder colocou um dedo em meus lábios, sorrindo suavemente. — Não


vamos perder nosso tempo falando sobre isso. Temos tão pouco tempo. Nós não
podemos arriscar isso de novo. Eu só tinha que vê-la uma última vez antes de
estarmos separados novamente por um tempo. Nós não podemos desperdiçar
um segundo.

Eu balancei a cabeça lentamente. — Tudo bem, vou tentar — Eu


sussurrei.

Olhei para todas as velas tremeluzentes. — Está tão lindo — Eu disse. —


Obrigada. Amo luz de velas.
Calder sorriu. — Eu não posso dar-lhe muito agora, Glória da Manhã.
Mas luz de velas, isso é uma coisa que posso oferecer de sobra — Disse ele,
sorrindo.

Eu sorri e então fiquei séria. — Será que alguém está vigiando você?

Ele balançou a cabeça. — Não, por enquanto, acho que não. Estou
dormindo na cabana da cura e Xander trocou de lugar comigo esta noite. No
escuro, ninguém será capaz de dizer, mesmo se eles procurarem por mim.

Franzi minha testa. Nós estávamos arriscando tanto por esta noite. —
Tudo bem.

— Como você saiu de casa? — Perguntou ele.

— Eu saí pela janela e caminhei ao longo do telhado até que cheguei à


grande árvore ao lado do pavilhão.

Calder se inclinou para trás, parecendo chocado. — Eden, isso foi


perigoso. Pensei que com o pó de dormir, você poderia esgueirar-se pela porta
da frente.

Eu balancei minha cabeça. — Os membros do conselho estão todos me


observando. Sinto que Hector instruiu-os... Não sei, mas não podia correr esse
risco. Era mais seguro sair pela janela.

Calder parecia preocupado por um minuto, mas depois acenou, se


inclinou e me beijou. De repente, eu estava perdida para tudo, exceto todas as
coisas de Calder. Eu me sentia inebriada pelo sabor dele. Seu cheiro - água
limpa e algo que era só dele - dizia uma parte profunda e secreta minha. Trouxe-
me viva, de alguma forma essencial que eu nem sequer entendia.

Eu floresci sob seu toque como uma flor bebendo sob o sol quente, meus
mamilos franziram, minha coxas apertando e meu sexo começando a latejar.

Eu o senti endurecer contra minha barriga e gemi em sua boca, levando


minhas mãos para seu cabelo sedoso na nuca. Ele gemeu também, aquele lindo
som gutural vibrando na minha língua. A umidade encharcando entre as minhas
pernas, meu pulso batendo naquele lugar embaixo que pedia para ser
preenchido. Eu rompi com a boca de Calder e ele olhou para mim com os olhos
semicerrados.

— Faça amor comigo, Calder — Olhei para cima e disse: — Bem aqui, no
lugar que é só nosso. Sob esta lua.

A expressão de Calder foi terna quando ele se inclinou e me beijou


suavemente mais uma vez e depois se afastou. — Será que você aceitou minha
pedrinha? — Ele perguntou.
Eu sorri para ele e respondi: — Sim. Ela está escondida no meu ninho.
Isso significa que somos casados?

Calder sorriu. — Sim.

Eu sorri. — Eu acho que o Estado do Arizona não reconhece exatamente


as leis dos pinguins.

Calder riu baixinho. — Eu não me importo com o Estado do Arizona. Será


lei o resto da minha vida.

Eu sorri de volta para ele. — E seus votos? Quais são seus votos?

Ele pegou minhas mãos. Acima, a lua lançou seu brilho dourado em tudo
ao nosso redor, e o ar quente acariciava o meu rosto. Na minha frente estava o
homem mais bonito que eu já vi, o homem que eu amava tanto tempo quanto
conseguia lembrar, aquele que me amava de volta. Tudo ao meu redor, a noite
brilhava com milagres, grandes e pequenos.

Calder ficou quieto por um segundo, os olhos movendo-se sobre o meu


rosto com um sorriso gentil em seus lábios. — Eden, eu prometo isso. Meu
coração é seu. Minha vida é sua. Meu corpo é seu. Minha arte, meus sonhos.
Você já possui tudo e cada parte minha.

Deixei escapar um suspiro profundo, e meu coração parou no meu peito.


— E eu prometo isso. Calder, meu coração é seu, como é minha vida, meu corpo,
meus sonhos. Você já possui tudo e cada parte minha, nesta vida e qualquer
outra.

Calder sorriu para mim com ternura, inclinou-se e beijou meus lábios
suavemente, e então me puxou para ele, envolvendo os braços em volta da
minha cintura e me levantando a sua altura. Eu ri e beijei-o uma e outra vez,
plantando pequenos beijos por todo o seu rosto enquanto ele ria também.

— Eu te amo, Glória da Manhã.

— Eu também te amo, Caramelo — Eu disse, sorrindo.

Calder me colocou de volta no chão.

— Eu trouxe uma coisa — Eu disse.

— Mostre-me.

Fui até a bolsa de lona que eu tinha largado na entrada da pedra e trouxe-
a para a pequena área gramada. Abri-a e puxei o cobertor grande, branco, que
estava mantido no meu baú de casamento. Ele havia sido costurado
especialmente para minha noite de núpcias: uma bela combinação de lã,
algodão e linho com fios de prata tecidos por toda parte. Ele brilhava sob a luz
do luar. Eu espalhei-o na grama e, em seguida, olhei para Calder que se
aproximou de mim.

Eu desabotoei minha camisa lentamente e deixei cair de meus ombros.


Calder observou silenciosamente, seus lábios se abrindo um pouco quando os
nossos olhos se encontraram. Ele tirou a própria camisa, jogando-a de lado e se
aproximando até que ambos estavam apenas alguns centímetros de distância na
grama ao lado do cobertor.

A água espirrava baixinho, a folhagem sussurrava na brisa morna e para


mim, este momento parecia sagrado, quente, real e certo.

Nós removemos o resto de nossas roupas muito lentamente, até que


ambos estavam nus um diante do outro, seus olhos acariciando a minha pele,
meus mamilos duros enquanto seus olhos se moviam sobre cada parte minha.

— Você é como uma deusa — Calder disse suavemente.

Eu sorri com meus olhos movendo-se sobre ele descaradamente. Eu o


amava e não sentia vergonha. Admirava seus braços musculosos e ombros, o
abdômen bem definido e suave, e os recuos que formaram um “V” no interior de
cada osso ilíaco. Algo nessas linhas fez o meu corpo se apertar em reação ao vê-
los. Elas eram tão perfeitamente masculinas, insinuando a sua força. Meus
olhos continuaram sua jornada, viajando lentamente para baixo, sobre a trilha
escassa de pelo escuro que levava direto para sua masculinidade, de pé tesa,
rígida, se esticando em minha direção. Meus olhos subiram rapidamente em
Calder, ele olhava para mim indolentemente com sua expressão escura com
desejo.

Lembrei-me da instrução de Hailey e lentamente fui para ficar de joelhos


na frente dele. Calder respirou fundo e disse meu nome, sua voz rouca e
insegura.

Notei as bandagens ainda envoltas ao redor das suas pernas, mas não
disse nada. Eu sabia que ele não iria querer.

Eu coloquei minha bochecha contra seu estômago e, em seguida, virei o


rosto para a pele, inalando seu aroma e em seguida, deixando um rastro de
beijos lentos antes de me ajoelhar. A respiração de Calder ficou pesada e ele
entrelaçou seus dedos pelo meu cabelo.

Eu levei seu membro na minha mão e beijei a ponta, correndo minha


língua para fora para prová-lo. Ele gemeu e inchou ainda mais na minha mão e
eu me senti honrada de possuí-lo completamente naquele exato momento,
sentindo-me poderosa, bela e amada.

Coloquei a ponta dele na minha boca, chupei suavemente e Calder


engasgou meu nome, os dedos apertando no meu couro cabeludo. Ele se afastou
de mim e eu fiz um som de perda quando ele se ajoelhou - um pouco tenso, eu
percebi - tomou minha boca em um beijo profundo e sem fôlego. Quando ele
finalmente se afastou, parecia inebriado, com os olhos profundamente
dilatados, normalmente seus olhos eram castanhos e agora, estavam quase
pretos.

Calder olhou para o cobertor ao lado de nós e eu deslizei sobre ele, até
que fui capaz de deitar-me. Ele olhou para mim por apenas um segundo antes
de se mover em cima de mim e nós continuarmos nos beijando, sua pele
queimando a minha. Entre as minhas pernas, eu estava molhada, necessitada e
dolorida. — Calder — Eu gemi. — Eu preciso de você.

— Eu preciso de você, também, Glória da Manhã — Ele suspirou. — Mas


também, não quero que isso acabe — Ele se inclinou e beijou entre os meus
seios. — Eu quero que isso dure para sempre.

Eu inclinei minha cabeça para trás e arqueei as costas enquanto sua boca
quente se fechou sobre meu mamilo, sugando-o com cuidado. Eu senti o pulsar
do prazer entre as minhas pernas, enquanto lambia o pico endurecido e passava
a língua ao redor dele e, em seguida, mudou-se para o outro, onde a deliciosa
tortura continuou. Eu ofegava seu nome e envolvi minhas pernas ao redor dos
seus quadris, pressionando-me para cima, para o calor de sua dureza. Ele trouxe
sua boca até meu seio e arqueou o pescoço para trás, gemendo.

Calder rolou para o lado para que o seu peso estivesse no cobertor e levou
uma mão para baixo, separando minhas coxas. Eu gemi de novo, me abrindo
para ele, e quando o dedo mergulhou dentro de mim, uma faísca de prazer
atravessou meu sexo. — Oh! — Eu ofeguei, arqueando no cobertor. Calder
colocou sua boca de volta no meu seio e me explorou com os dedos, finalmente,
circulando o ponto que me fez gritar seu nome e mover minha cabeça de um
lado para o outro com um delicioso êxtase pulsando em mim.

Ele circulou o dedo ali até que a sensação era tão intensa que assumiu o
comando e mergulhei em um abismo de prazer luminoso. Quando meu corpo se
esticou e estremeceu, eu abri meus olhos e olhei para as estrelas, seu brilho
queimando nos meus olhos e a sensação de êxtase queimando em minha pele.
Isso iluminou de dentro para fora, de uma maneira que me fez sentir
transformada para sempre, como se, de alguma forma, um segundo ofuscante
de luz intensa tivesse chamuscado minhas próprias células.

O pensamento em si parecia dramático e fantástico, mas também parecia


verdadeiro e real.

Eu pisquei para Calder quando ele levantou a cabeça e beijou meus lábios
suavemente, movendo-se em cima de mim mais uma vez. Quando ele se afastou,
o olhar tenso em seu rosto era tão intenso que eu inclinei meus quadris para
cima, oferecendo-me a ele.
Meu coração se apertou com o amor. Nessa noite, eu estava dando a ele o
meu corpo, mas ele já possuía o meu coração e alma. Eu queria pertencer a este
belo homem em meus braços de todas as maneiras possíveis. E eu queria que ele
me pertencesse.

— Eu te amo, Eden — Disse Calder, antes de tomar a si mesmo em sua


mão e guiar seu pênis duro na minha abertura molhada. Seus olhos estavam nos
meus quando empurrou lentamente para dentro de mim. Seus lábios se
separaram, as pálpebras caíram por apenas um breve momento. Fechei os olhos
também, como quando empurrou mais longe. Senti-me excessivamente cheia,
muito apertada para acomodar o tamanho dele, e fiz uma careta ligeiramente,
desejando que o meu corpo relaxasse. Calder parou e meus olhos se abriram.

— Não, por favor, não pare — Eu disse.

— Eu estou machucando você — Calder disse sem fôlego.

Eu balancei a cabeça de um lado para o outro. — Só desta vez. Da


próxima vez não vai doer nada. Ou o tempo depois disso... Ou...

Calder olhou para mim por um instante e depois sorriu, o sorriso


deslumbrante. — Glória da Manhã — Ele murmurou com seu rosto sério quando
se inclinou e me beijou suavemente. Em seguida, em um só golpe, ele
mergulhou inteiro para dentro de mim, me separei de sua boca e arqueei o
corpo, gritando com a pontada de ardor, lacrimejando de dor. Calder parou por
apenas um segundo antes de começar a se mover dentro de mim bem devagar,
gemendo em meu pescoço. — Me desculpe. Você me faz sentir tão bem — Ele
ofegou. — Tão bom.

Eu olhei para o céu noturno enquanto Calder empurrava dentro e fora de


mim. A sensação de ardor permaneceu. Por alguns minutos, eu ainda me sentia
muito cheia, muito esticada, mas isso começou a diminuir o suficiente para ser
capaz de me concentrar em Calder acima de mim. Eu acariciava das suas costas
lisas até seu traseiro firme, os músculos contraindo enquanto trabalhava seu
corpo no meu.

Eu sabia que a coisa extasiante que tomou conta de mim quando ele me
tocou com os dedos não ia acontecer de novo, mas eu exultava com a sensação
dos seus músculos flexionando e o olhar de prazer em sua expressão. Ele
começou a se mover mais rapidamente e com menos delicadeza. Eu vi a guerra
em seu rosto entre ser gentil comigo e mover-se como o seu corpo estava lhe
dizendo. Eu estava inebriada com o conhecimento que estava fazendo isso com
ele; ele tinha perdido todo o controle por minha causa. Eu incentivei-o,
agarrando suas costas e empurrando-o para dentro de mim, no ritmo que eu
poderia dizer que ele mal estava se mantendo. Seus olhos estavam queimando e
depois se fecharam e eu envolvi minhas pernas em sua cintura, levando minhas
mãos até os braços para sentir os músculos flexionando enquanto ele segurava
seu peso sobre mim.

Calder se inclinou para a frente, trouxe sua boca na minha e moveu sua
língua na minha boca no mesmo ritmo que nossos corpos se moviam juntos.
Senti uma pequena faísca quando seu peito roçou meus mamilos e relaxei
completamente, gemendo em sua boca. Calder gemeu de volta e, em seguida,
suas estocadas ficaram espasmódicas enquanto ele soltava uma exalação de ar
com cada uma. E, de repente, ele saiu de mim e eu gritei baixinho com a perda
inesperada dele.

Eu senti algo quente e molhado na minha barriga e Calder gemeu ao lado


do meu pescoço, repetindo meu nome diversas vezes.

Corri minhas mãos para cima e para baixo em suas costas enquanto nos
deitamos ali, satisfeitos naquele momento, eu e ele, nossos membros
entrelaçados, nossos corações batendo como um só. Era tudo que sonhei e
muito mais. Um pico de simpatia percorreu-me por Hailey, por qualquer
mulher que não experimentou a beleza que eu tinha acabado de experimentar
com Calder.

Ele jogou o peso para o cobertor ao meu lado e inclinou-se para cima e
olhou para meu rosto. — Você é tão linda — Ele murmurou, inclinando-se e
beijando ambas as pálpebras, e depois o meu nariz, e, finalmente, os meus
lábios enquanto eu sorria e suspirava em felicidade.

— Você está bem? — Ele perguntou.

Eu balancei a cabeça. — Mais do que bem. Perfeita — Eu sorri. — Eles


podem ter Elysium. Eu vou ter esta noite.

Calder sorriu e suspirou.

— Realmente — Eu disse, levando minha mão até seu cabelo e correndo


os dedos por ele — Você não me machucou.

— Bem, você me destruiu — Disse Calder, sorrindo. — Eu nunca vou ser o


mesmo — O rosto de Calder era geralmente despreocupado, mas havia
momentos, como agora, onde ele inclinava a cabeça, seus olhos se fechavam um
pouco, e um pequeno vinco formava em sua testa. Eu pensei nisso como seu
rosto sério. Ele olhou para mim com aquela expressão melancólica, séria, mas
meu coração apertou no peito. Este homem é dono do meu coração.

Calder rolou para o lado e nós dois ficamos ali, olhando para o céu, a
brisa quente soprando em toda a nossa pele e a umidade na minha barriga
escorrendo fria.
Abaixei minha mão e toquei a substância pegajosa e depois me inclinei
para olhar, esfregando-a entre meus dedos.

— Eu não quero que você fique grávida — Disse Calder. — Pelo menos
não aqui, não agora.

Eu balancei a cabeça lentamente, corando. — Oh — Eu sussurrei,


percebendo como os bebês são feitos.

Calder sorriu para mim e, em seguida, rolou de costas, olhando para o


céu noturno. Eu rolei para o meu lado, colocando o cotovelo sobre o cobertor e
apoiando minha cabeça em minha mão quando sorri para ele. — Eu quero saber
toda a ciência disso... Eventualmente. Outra vez.

Calder se virou para mim, rindo baixinho. — Eu mencionei recentemente


que eu te amo? — Perguntou ele.

— Não recentemente o suficiente. Diga isso de novo.

— Eu te amo... Eu te amo... Eu te amo.

Eu sorri, me inclinei para a frente e o beijei. — Eu também te amo.

Eu comecei a rolar em direção a ele que ficou de costas. Deitei meu corpo
sobre o dele, enterrando meu rosto em seu pescoço e passando os braços para
cima e ao redor de seu pescoço. Ficamos deitados assim por alguns minutos até
que ele colocou as mãos até minha bunda e apertou suavemente. Eu ri e me
contorci em cima dele e ele gemeu baixinho.

Inclinei-me para cima e olhei para ele com diversão. — Vamos nos limpar
— Eu disse, rolando dele e ajoelhando-me. Olhei para o cobertor onde estive
deitada e calor subiu no meu rosto. Havia manchas de sangue estragando o
tecido branco perfeito. Olhei para Calder e ele estava olhando para o sangue,
também, com algo que parecia orgulho em sua expressão. Seus olhos
encontraram os meus, e ele piscou, parecendo perceber o que deveria estar em
seu rosto, enquanto as maçãs do meu rosto assumiam um tom de rosa, ele
estendeu a mão para mim. Segurei-a em silêncio e nós andamos de mãos dadas
até a nascente, onde entramos.

Quando a água estava até meu peito, eu parei e me virei em direção a


Calder. Ficamos ali, ao luar, a água espumante nos rodeando. A água sobre os
meus seios, meus mamilos franzindo com a umidade fria. Os olhos de Calder
permaneciam em mim e então mergulhei na água, molhando a cabeça e
voltando-me. Ele riu alto quando me levantei, cuspindo água e sorrindo para
ele. Calder ajoelhou-se no fundo da areia e me puxou para ele, onde me segurou
contra ele, então eu estava a sua altura. Nós nos beijamos e flutuamos por vários
minutos, aninhados na boca um do outro, Calder mordiscando meu lábio
inferior, brincando até que eu ri e joguei minha cabeça para trás. Ele riu,
também, e nós girávamos, a água fria como a seda deslizando contra a minha
pele nua.

Quando paramos, Calder me olhou pensativo por vários segundos.

— O quê? — Eu sussurrei.

— Eu estou memorizando cada detalhe do seu rosto — Ele disse


calmamente. — A próxima vez que eu olhar para você assim, nós vamos estar
longe daqui.

Meu coração acelerou e eu respirei fundo. — Quanto tempo?

— Dois meses, talvez menos.

— Isso vai passar tão lentamente — Disse eu, sentindo o peso do que seria
a nossa separação.

— Vai valer a pena — Disse ele. — Um pouco mais de sacrifício, e nós


vamos finalmente estar livres para ficarmos juntos, livres para viver a vida que
queremos viver.

Eu balancei a cabeça, apertando as mãos em volta do seu pescoço. —


Mais sacrifício — Eu disse. — Não quero sacrificar mais. Já tive o suficiente por
três vidas. Estou pronta para viver.

— Eu sei Glória da Manhã. Eu também. Só um pouco mais.

Calder me colocou no chão e nós lavamos um ao outro, lentamente, me


glorificando em sua pele lisa e do jeito que ele observava minhas mãos enquanto
corriam sobre as diferentes partes dele. Sua respiração acelerou quando minha
mão pegou seu membro. Ele já estava duro e escorregou facilmente entre meus
dedos na água fresca. — Eden — Calder gemeu.

Movi-me para mais perto dele e levantei-me na ponta dos pés para beijar
sua boca enquanto minha mão continuava a deslizar sobre ele, logo abaixo da
superfície.

— Eu adoro a forma como você me faz sentir — Eu murmurei em seus


lábios. — Tão diferente de mim.

— Eu adoro a forma como você me faz sentir — Disse ele, sorrindo e


trazendo as mãos até meus seios. Ele esfregou os dedos sobre os meus mamilos
e ambos vimos como eles endureceram sob seu toque.

— Mmm — Eu suspirei.

Calder empurrou e inchou na minha mão. — Eu quero você de novo —


Disse ele olhando nos meus olhos com sua voz soando rouca.
— Sim — Eu balancei a cabeça, sentindo o prazer do seu toque, que
enviou uma faísca elétrica entre as minhas pernas.

— Você está... Dolorida? Eu não...

Eu balancei a cabeça, parando suas palavras. — Não, eu não estou


dolorida — Eu estava dolorida, mas a verdade é que eu queria mais. Eu queria
sentir Calder entre minhas pernas cada vez que eu desse um passo pelos
próximos dois meses. Eu queria isso como um lembrete do meu sacrifício - que
tudo valeria a pena no final. No final, Calder e eu poderíamos fazer o que
estávamos fazendo a qualquer hora que quiséssemos, sem medo, sem vergonha,
sem ter que planejar e conspirar, e sem esgueirar-me para fora de janelas e
descer trilhas no meio da noite. Embora, no momento, eu não estava
reclamando. Por agora, eu faria qualquer coisa, no entanto, se eu pudesse, faria
tantas vezes quanto possível. Ele seria meu por esta noite.

Calder me pegou e me levou para fora da água enquanto eu ria. Ele me


deitou no cobertor e moveu-se entre as minhas pernas. Estávamos molhados e a
leve brisa me gelou, mas, em seguida, sua pele quente estava na minha e eu
suspirei em conforto. Calder me beijou, sua boca quente, úmida e deliciosa.
Depois de alguns minutos, nós dois estávamos gemendo e nos movendo um
contra o outro, tentando nos aproximar. Como Calder me fazia sentir meu corpo
pesado e cheio, mas muito vazio ao mesmo tempo? Em poucos minutos, eu
estava desesperada para tê-lo dentro de mim. Isso era normal? Era normal
Calder me encher com tal desespero inebriante? Eu não tinha como saber -
nenhuma comparação - ninguém que eu poderia perguntar que não fosse
Hailey, que não tinha ficado confortável falando sobre isso. Mas a sensação era
boa demais para não apreciá-la. Senti a necessidade de me perder nas sensações
que Calder trouxe. Será que os deuses criaram os nossos corpos para
experimentarmos tanto prazer que não quis nos dizer? Eu não pensava assim.
Eu não poderia imaginar que os deuses eram cruéis, não quando estávamos
expressando nosso amor um pelo outro desta forma. E eu o fiz - eu o amava. Eu
amava-o nas profundezas da minha alma.

Senti a ponta macia do seu membro na minha abertura e abri mais


minhas pernas, para acomodar seus quadris estreitos. Ele empurrou para
dentro de mim e nós dois gememos. Ele entrelaçou os dedos nos meus e
levantou meus dois braços sobre a minha cabeça e colocou sua boca na minha,
lambendo minha língua com a sua enquanto ele empurrava para dentro de mim.

Ele puxou sua boca da minha e sussurrou: — Estou indo devagar desta
vez. Nós vamos gravar cada beijo, cada toque e cada movimento em nossa pele
para até quando voltarmos, isso, então, será apenas passageiro. E enquanto
estivermos separados, vamos continuar mantendo isso aquecido — Ele sorriu
contra a minha boca e eu dei uma risada.
— Mmm — Eu murmurei.

Eu amava o jeito que ele estava segurando meus braços enquanto me


acariciava. Eu estava sendo pressionada, mas isso me fazia sentir segura e
protegida, porque me fazia perceber que eu confiava neste homem com tudo em
mim. Eu confiava nele com o meu corpo e meu coração. Eu confiava nele com a
minha vida. Sentia-me preciosa, amada.

O prazer foi construído quando Calder inclinou a cabeça para o lado e eu


ouvi e senti sua respiração em meu ouvido enquanto seu corpo deslizava
lentamente para dentro e para fora de mim, os músculos duros do seu peito
roçando meus seios. Eu coloquei as minhas pernas ao redor dos seus quadris e,
embora eu ainda o sentisse suavemente dentro de mim, ele deslizava e saia sem
problemas. Eu sentia pequenos pulsos de prazer cada vez que sua pélvis
conectava com a minha.

— Eu amo isso. Eu amo você, amo essa sensação, seu cheiro, somente
você — Calder ofegou. Eu sorri. Eu amei que as palavras começavam a derramar
da sua boca, várias vezes quando estávamos fisicamente íntimos. Era outra
maneira dele perder o controle e eu adorava. Empurrei para cima e suspirei de
felicidade.

Calder trouxe sua boca na minha, pressionando as costas das minhas


mãos para baixo, no cobertor e beijou-me profundamente, nossas línguas
girando e dançando juntas. Eu me submeti inteiramente, e apesar dos seus
movimentos serem lentos e lânguidos, a intensidade se construiu dentro de mim
até que caí sobre o limite, gritando na noite quando o prazer puro me
atravessava, fazendo-me arquear fora do cobertor, meu abdômen colado ao de
Calder e meus seios pressionando contra seu peito.

Quando abri os olhos, ele estava olhando para mim com olhos pesados de
paixão e lábios ligeiramente entreabertos. Eu o vi quando suas pálpebras se
fecharam e sua expressão tornou-se tensa com a luxúria mal controlada. Em
seguida, seus golpes aceleraram e ele empurrou para dentro de mim várias vezes
antes que saísse - a substância quente, pegajosa transbordando em minha
barriga de novo - seu rosto parecendo quase aflito, mas maravilhosamente bem.
Ele baixou a cabeça na curva do meu pescoço, gemeu, e depois soltou uma das
minhas mãos e segurou seu pênis enquanto esfregava a cabeça na minha
barriga, suspirando.

Eu soltei a outra mão e coloquei meus braços ao redor das suas costas,
raspando minhas unhas por seus braços. Ele se inclinou para cima e sorriu para
mim, seus olhos ainda sonolentos e beijou meus lábios docemente.

— Você é o homem mais bonito do mundo inteiro — Disse eu.

Calder sorriu, acariciando a pele no meu pescoço.


— Espere até chegarmos à grande comunidade. Você verá que realmente
eu sou um ogro. Não há muita concorrência aqui.

Eu ri quando Calder rolou de cima de mim e me levou com ele. Nós dois
estávamos ainda um pouco úmidos da água, e agora estávamos pegajosos e
suados de novo, mas eu não me importei. Eu ficaria deitada com ele nessa
bagunça durante toda a noite.

Inclinei-me para cima, colocando o queixo em seu peito e balancei a


cabeça. — Uh, uh. Lembro-me muito pouco sobre a grande sociedade, mas o que
eu sei é que você não é um ogro em qualquer lugar.

Calder sorriu e acariciou meu cabelo. Mordi o lábio e olhei para a


nascente.

— O quê? — Perguntou ele.

— Bem, o que acontece com as roupas e outras coisas? As pessoas não


usam o que vestimos aqui.

— Sim, eu sei. Vejo o que as pessoas chegam aqui vestindo. Vou descobrir
tudo isso. É por isso que precisamos de um pouco de tempo.

Eu balancei a cabeça, mordendo o lábio. — Você está com medo?

Calder ficou em silêncio por um minuto, olhando para o céu. — Às vezes.


Mas, principalmente, pela primeira vez na minha vida estou cheio de
entusiasmo pelo futuro — Ele olhou para mim. — Nós sempre vivemos com esta
grande inundação pairando sobre nossas cabeças, e, eu não sei, é difícil
imaginar um dia em que eu não use isso como uma bússola, pela forma que
passo a cada dia. Mas eu quero isso. Eu quero saber o que é sentir isso. Eu quero
saber o que é viver sem constantemente pensar em morrer.

— Mesmo que morrer deveria ser glorioso.

Calder assentiu. — Sim. E talvez seja. Mas — Ele passou a mão pelo
cabelo, olhando de volta para o céu. — Há coisas gloriosas bem aqui na terra,
também, e eu acho que elas foram feitas para serem apreciadas. Nós não fomos
criados para não notá-las... Nossos corações não foram feitos para não ter
alegria nas coisas que nos foram dadas aqui mesmo.

Eu me aconcheguei contra ele, sua pele me aquecendo, e puxei metade do


cobertor sobre meus ombros. Eu estava tão sonolenta. — Então você acredita
que a grande inundação... Não seja verdade? — Eu bocejei. Eu ainda não sabia
exatamente o que achava.

— Eu não sei — Disse Calder muito calmamente. — Eu costumava


acreditar em Hector tão fortemente. Mas ele não é o homem, o líder que eu
sempre vi. Ele não é um homem que eu quero seguir por mais tempo. Assim, se
as inundações vierem, eu vou pegar minhas chances com o resto das pessoas
que Hector considera pecadores. De qualquer maneira, estou certamente entre
eles em sua mente.

Eu balancei a cabeça, ficando mais sonolenta, muito quente e feliz com os


braços de Calder ao meu redor.

— Tudo o que sei com certeza — Eu ouvi o sussurro. — É que você


pertence a mim e eu vou te proteger. Vou fazer uma vida para nós. De alguma
forma.

E eu acreditei nele.

A próxima coisa que percebi era Calder me apertando suavemente. —


Acorde, Eden, nós temos que voltar.

Eu pisquei e olhei em volta, sentando-me quando Calder se afastou de


mim. Eu me orientei, de repente percebendo que eu estaria dizendo adeus a ele
por algum tempo. Eu estava. Minha respiração parou. Eu senti lágrimas se
formando, e meu peito doía. Eu não conhecia essa dor antes. — Eu vou sentir
tanto sua falta — Eu sussurrei.

Calder tinha pegado o cobertor, mas parou de dobrá-lo com minhas


palavras. Colocou-o no chão e se aproximou de mim, envolvendo-me em seus
braços. Ele já estava vestido e eu ainda nua. Ele me abraçou com força, com o
queixo apoiado no topo da minha cabeça. — Eu amo tanto você, Glória da
Manhã. Cada dia que estivermos separados, vou estar planejando a nossa vida.
Isso também vai acontecer comigo, lembre-se disso, também, quando ficar
difícil. Quando o plano de casamento estiver acontecendo ao seu redor, quando
você vir Hector me tratando como um cão, se lembre de que estou planejando a
nossa vida e fazendo tudo que puder para que isso aconteça. E eu juro para você,
nós vamos sair daqui.

Eu balancei a cabeça. — Está bem.

Calder inclinou meu queixo para cima com o dedo e olhou nos meus
olhos. — Minha menina corajosa — Ele sorriu. — Eu não vou me preocupar com
você, porque você é muito forte. Vou saber que você está bem.

Eu balancei a cabeça, me equilibrando. — Eu vou ficar bem. Vou ser forte


e esperar o chamado estúpido de Xander me dizendo para encontrá-lo aqui.

Calder riu e me puxou de volta para ele. — É um chamado de pássaro


estúpido. Bem humorado. Ele está muito orgulhoso disso.

Eu sorri contra seu peito e nós nos abraçamos por mais um minuto, até
que me afastei e comecei a colocar minhas roupas de volta.
Depois que eu estava vestida e o cobertor colocado de volta na bolsa, eu
quase o coloquei sobre meu ombro, mas pensei melhor e coloquei-o atrás de
mim entre as rochas, onde o bloco de notas ainda estava. Não havia nenhuma
razão para levá-lo comigo de volta até a árvore e por todo o telhado. Virei-me
para Calder e sorri para ele. — Eu vou vê-lo aqui em breve, muito em breve —
Eu sussurrei.

— Sim — Ele disse. — Muito em breve — Ele pegou meu rosto entre as
mãos e beijou meus lábios suavemente e, em seguida, esfregou o nariz ao longo
do meu com ternura. Beijei-o uma última vez e me virei para sair. Abaixei
através da abertura nas rochas e subi a trilha, sabendo que Calder estaria atrás
de mim em poucos minutos. Eu me perguntei se ele deixaria as velas apagadas
onde estavam ou as levaria de volta com ele. Eu imaginei alguém tropeçando em
nossa pequena nascente daqui a muitos anos, quando estivéssemos muito longe,
e se perguntando o que havia acontecido ali, o que tudo aquilo significava. Não
pude deixar de sorrir para mim. Só ele e eu conhecíamos a história. Era apenas
nossa.

Eu subi na árvore com facilidade e, em seguida, na ponta dos pés


suavemente em todo o telhado de volta para minha janela que eu tinha deixado
aberta apenas uma fresta. Empurrei-a devagar, parando quando ela rangeu
baixinho. Quando eu não ouvi outro som, abri-a toda e subi completamente.
Dois minutos mais tarde, eu estava trocada e na minha cama.

Na manhã seguinte, as únicas pistas que a bela noite na nascente com


Calder não tinha sido um sonho era o delicioso cheiro dele ainda na minha pele
e a dor gloriosa entre as minhas pernas.
CAPÍTULO DEZOITO

Calder

Na manhã depois que fiz amor com Eden em nossa nascente, sentei-me
ao lado de Xander na sala de jantar da comunidade.

— Expulso do alojamento dos cães? Isso é um golpe baixo — Disse


Xander, com a colher de ovos mexidos em sua boca.

Eu dei um riso sem humor. — Eu não sei ainda. Não é como se ele me
deixasse comer no salão principal, de qualquer maneira.

Xander assentiu, olhando-me e, em seguida, olhando de volta para o


prato vazio. Eu o conhecia, ele estava tentando decidir se falava.

— Você parece cansado — Eu disse, mordendo um pedaço de pão com


manteiga.

— Sim, eu não posso imaginar por que. Talvez porque eu virei na cama
durante toda a noite na cabana da cura, à espera de ser pego por me fazer passar
por você.

Eu mastiguei, olhando para baixo. Eu estava brincando, mas não tinha


percebido que Xander estaria tão nervoso que não iria dormir. Eu fui egoísta.
Depois que engoli, eu olhei de volta para Xander. — Eu sinto muito, e obrigado.
Devo-lhe uma.

Xander sorriu. — Sim, você me deve por cerca de uma centena de vidas.
Tenho feito a contagem. Você ainda estará pagando a sua dívida para mim em
Elysium.

Eu sorri. — Felizmente.

Xander riu, e em seguida bebeu o resto do seu suco de laranja. — Valeu a


pena o risco?

Imaginei a pele clara de Eden brilhando à luz da lua, os olhos cheios de


amor, paixão e confiança.

— Eu arriscaria minha vida para reviver a noite passada — Eu disse com


sinceridade.
Xander me estudou, um sorriso lento arrastando em seu rosto. — Tudo
bem, então — Seus olhos fizeram um levantamento lento da sala quase vazia e,
em seguida, voltou para mim. — Eu espero que você não a tenha engravidado.

Eu senti calor subir no meu rosto. — Eu sei — Disse. Nós dois ficamos em
silêncio por um minuto.

— Então — Eu finalmente disse, sorrindo ao redor da minha comida. —


Vamos pôr esses planos em andamento para que eu possa reviver a noite
passada.

Xander ficou em silêncio por um minuto enquanto olhava para trás de


mim. Quando ele olhou para o meu rosto, parecia tenso e eu sério, observando-
o.

— Deuses, Calder — Xander disse tenso. — Isto não é só sobre você e


Eden. Tenho meus próprios sonhos, também, você sabe. A vida não é tudo sobre
você.

Eu abaixei o meu copo, franzindo a testa. — Eu sei disso — Eu disse.


Estudei-o por alguns segundos. — Ei, eu sinto muito, fui egoísta. Isto é sobre
você, também. Eu gostaria de sair daqui se Eden existisse ou não. E eu sei que
você tem seus próprios sonhos. Eu quero você comigo, independentemente das
circunstâncias. Sinto muito se eu lhe dei qualquer outra impressão.

Xander exalou, fazendo contato visual comigo. Ele passou a mão pelo
cabelo que caiu em sua testa. — Eu sei. Droga, este lugar — Ele balançou a
cabeça. — Eu sei. Estou cansado.

— Escute Xander, estaríamos fazendo isso juntos de qualquer maneira.


Infelizmente, estamos em um limite de tempo, porque o aniversário de Eden
está se aproximando, por isso temos que fazê-lo mais cedo do que eu gostaria.
Sinto muito por isso.

Xander soltou um suspiro. — Não peça desculpas. É estressante.

Eu balancei a cabeça. — Eu sei. Obrigado.

— Não me agradeça. Estamos nisso juntos. O que for preciso...

— ...Você tem a metade — Terminei.

Xander assentiu, olhando em volta mais uma vez enquanto várias


famílias entraram pela porta da frente e outra para a fila de alimentos. — Então,
com isso em mente, temos 676 dólares incluindo o dinheiro que Kristi nos
emprestou.

Eu fiz as contas. — De onde o extra de vinte e seis vieram?


Xander olhou para baixo. — Eu o tinha em baixo do rodapé anos atrás.
Encontrei-o em uma carteira no Posto Florestal. Não sei de quem era...

— Ok — Eu interrompi, sabendo que Xander se sentia mal por roubar as


pessoas que acabaram por ser seus amigos. — Então, de forma realista, quanto é
o mínimo que precisamos para que possamos sair com segurança? Eu não quero
ficar aqui nem mais um segundo do que precisamos.

— Sim, eu sei. Vamos tentar obter dois mil. Inferno, vamos tentar obter
cada centavo que pudermos. Mas isso é o mínimo. Com isso, nós temos pelo
menos um mês. Nós só precisamos que um de nós tenha um emprego. Mesmo
que seja Eden.

Eu balancei minha cabeça. — Não, não Eden. Quero ver as coisas antes de
mandá-la para qualquer lugar sozinha.

Xander tomou um gole do seu café. — Você não pode mantê-la trancada
em algum lugar do mundo exterior como se ela estivesse trancada aqui.

Deixei escapar um grande suspiro. — Isso não é o que quero dizer. Eu


só... Que preciso protegê-la.

— Todos nós podemos precisar de proteção, irmão, de maneira que não


podemos sequer compreender ainda. Que tal se nós nos revezarmos nisso?

Eu balancei a cabeça, considerando a verdade em suas palavras. — Certo.

Xander acenou de volta. — Tudo bem, então pegue dinheiro sempre que
puder, quanto puder.

Eu balancei a cabeça. — Roupas?

— Eu tenho algumas para você e para mim.

Eu parei com a minha xícara de café no meio do caminho para os meus


lábios. — Como?

— Era para eu queimar as roupas de algumas pessoas que se juntaram a


nós ao longo dos anos. Lavei-as e as coloquei sob o assoalho — Ele olhou para
baixo envergonhado.

— Pelo amor dos deuses — Eu ri. — Você tem um grande problema.

Xander olhou para mim.

— Você é como um esquilo — Eu disse.

— Sim, sorte sua.


Eu ri. Era tão bom rir um pouco. Isso me deu um pouco de esperança, e
me fez sentir como antes por alguns minutos. Além disso, eu estava em êxtase
da minha noite com Eden. A vida parecia cheia de promessas, apesar das
minhas pernas doloridas. Eu tinha tomado o meu castigo como um homem, e
esperava que Hector tivesse acabado comigo. Talvez eu tenha tido excesso de
confiança por que já tinha passado, mas senti em meus ossos que isso ia
funcionar. Eu sentaria em um tapete de metal pontiagudo novamente se
precisasse, mas pelos deuses, isto ia dar certo.

— E quanto à roupa para Eden?

— Kristi vai emprestar algo dela para Eden.

Eu mastiguei e engoli. — Nós não poderíamos fazer nada disso sem


Kristi. Converse com alguém em Elysium...

— Kristi não acredita em Elysium.

Eu sorri. — Bom para nós — Eu falei sério. — Sério, você vai dizer o
quanto nós apreciamos isso?

— Eu falo. Todo o tempo. Você poderá dizer-lhe em breve.

Eu balancei a cabeça. — Então, a única coisa que realmente precisamos é


de dinheiro.

— Sim. Vou trabalhar os detalhes com Kristi, uma vez que estivermos
perto de ter o que você precisa.

Eu balancei a cabeça e ambos comemos em silêncio por um minuto. —


Hey, Xander. Quando eu estava na cadeia e Mãe Willa veio cuidar de mim, ela
disse algumas coisas estranhas.

Xander revirou os olhos. — Ela é louca e senil, Calder. Eu não iria perder
muito tempo tentando interpretar suas divagações — Ele olhou para cima
quando a porta se abriu. — Seu pai está caminhando para cá.

Olhei para trás para ver meu pai andando rapidamente em direção à
mesa onde eu estava sentado com Xander.

— Calder, Maya teve algum tipo de convulsão. Ela está na cabana da cura.

Meu coração disparou e eu me levantei rapidamente, deixando o meu


prato na mesa e o segui para fora, na frente do salão. Xander estava logo atrás
de mim.

Quando entramos no pequeno quarto, Maya estava deitada em uma das


camas debaixo de um cobertor pesado. Me movi para o lado dela e ajoelhei-me
no chão, pegando sua mão úmida na minha, e movendo a franja dos olhos. —
Maya, estou aqui. Você está bem?— Perguntei suavemente.

Os olhos dela se moveram para mim, mas eles se moviam lentamente e o


alarme encheu-me, fazendo-me notar o quanto ela estava doente. Olhei para
meu pai e minha mãe, de pé no final da cama, mamãe torcendo um lenço nas
mãos.

— Há quanto tempo ela está assim?

— Ela parecia estar bem esta manhã, apenas a mesma tosse — Meu pai
disse. — Ela teve uma convulsão... E então...

— Mamãe, vá buscar Mãe Willa — Eu interrompi.

— Mãe Willa? Eu não acho que Maya está com dor.

— Basta ir buscá-la! — Eu levantei minha voz, então fechei os olhos


momentaneamente com o olhar de dor que atravessou o rosto da minha mãe. —
Por favor. Talvez ela possa fazer alguma coisa... Algo.

Minha mãe concordou, mas foi meu pai que saiu do quarto para ir buscar
Mãe Willa.

Quinze minutos mais tarde, Mãe Willa entrou no pequeno quarto onde
todos nós esperávamos; eu ainda estava segurando a mão de Maya. Ela moveu-
se para o lado da cama e ficou ali, simplesmente olhando para Maya, a tristeza
em seu rosto.

— Essa criança não ficará muito tempo neste mundo — Ela disse
finalmente.

— O que é que isso quer dizer? — Eu exigi. — Nós não precisamos das
suas previsões; precisamos da sua ajuda. O que você pode fazer por ela?

Mãe Willa encontrou meus olhos. — Não há nada que eu possa fazer por
ela, rapaz. Seu coração está fraco. Ele sempre foi. Você tem sorte que teve esse
tempo com ela.

Eu gemi. Eu me senti atordoado e impotente. Como isso tinha acontecido


tão de repente? Eu não estava prestando atenção suficiente? Eu estava muito
preso no meu próprio mundo, focado em minhas necessidades e desejos com
cada pensamento em Eden?

— Afaste-se — Disse mãe Willa. — Eu posso pelo menos deixar a criança


mais confortável.

— Ela não é uma criança. Está sentindo dor, Maya? — Eu perguntei,


minha voz soando mais corajosa. Limpei a garganta.
Os olhos de Maya encontraram os meus e ela balançou a cabeça, em
negativa. — Estou com sono — Ela disse, piscando os olhos em um esforço para
mantê-los abertos.

Mãe Willa colocou a mão em seu peito e olhou para cima quando
respirou. Em seguida, ela colocou a mão sobre o peito de Maya. — Não há ar
suficiente — Ela finalmente disse. — Por causa do coração. Ela simplesmente vai
cair no sono.

Eu relaxei um pouco. — Ela só precisa dormir e vai ficar melhor?

Mãe Willa balançou a cabeça, a tristeza em sua expressão. Essa tristeza


me enfureceu e me fez sentir ainda mais desesperado. Puxei seu braço
suavemente e ela me seguiu nos afastando um pouco da cama de Maya, meus
pais tomaram o meu lugar na cabeceira.

— Diga-me o que está acontecendo com Maya, se souber.

— É como eu disse. Seu coração é fraco. Ele está falhando. Logo não será
capaz de fornecer oxigênio suficiente e ela vai cair no sono. Ela não vai acordar.

— Não — Eu balancei a cabeça, sacudindo a própria ideia. — Não, você


não está certa. Como você sabe isso de qualquer maneira? Só de olhar para ela?

— Sim. Vejo. Quando as coisas são iminentes, elas ficam muito claras —
Ela colocou a mão no meu braço. — Eu sinto muito. Eu vejo o seu amor por ela,
também. É como uma borboleta de cor viva.

Eu estudei seu rosto velho, aqueles olhos sem idade, sem saber o que
pensar, e depois me livrei do seu braço e caminhei de volta para Maya para me
sentar do outro lado da cama.

Eu apertei sua mão na minha e me sentei com ela enquanto minha mãe e
meu pai oravam. Enquanto ouvia as palavras do Livro Sagrado de Hector, o
quarto parecia balançar e borrar tudo ao meu redor. Quando pisquei, percebi
que era porque eu estava chorando. Endireitei as costas e olhei pela janela. Eu
não ia chorar. Maya ainda estava aqui, sua mão quente segurando a minha e um
pequeno sorriso, sereno no rosto.

Enquanto eu a olhava, ela abriu os olhos e olhou diretamente para mim, e


depois por cima do meu ombro. Ela sorriu um pouco mais. — Oh, Calder, é tão
bonito, tão simples — Sussurrou.

Franzi a testa, sem entender o que ela quis dizer. Ela encontrou meus
olhos novamente e sua mão apertou a minha com tanta delicadeza, três vezes.
Eu. Amo. Você. Eu apertei sua mão e seu sorriso alargou ainda mais. — Eu sei —
Ela sussurrou. E então fechou os olhos, um pequeno sopro de ar escapando da
sua boca, sua mão escorregando da minha.
— Maya? — Engasguei, colocando as duas mãos em seus ombros e
sacudindo-a um pouco. Ela permaneceu imóvel, os olhos fechados, o sorriso
ainda em seus lábios. Minha mãe começou a chorar e meu pai baixou a cabeça.
Olhei para cima e vi Mãe Willa em pé, parada no canto, com os olhos baixos,
enquanto seus lábios se moviam silenciosamente em algum tipo de oração.

Meu pai pegou o pulso de Maya e colocou o dedo em seu pulso e todos
vimos quando a dor atravessou seu rosto. Depois de um minuto, ele abaixou o
braço suavemente. — Ela se foi — Ele disse calmamente.

Levantei-me rapidamente, a cadeira embaixo de mim raspando contra o


chão. Sentia-me quente, com falta de ar como se toda a luz no quarto de repente
ficasse muito brilhante, penetrante. Eu precisava sair de lá, o corpo imóvel de
Maya e o sentimento aparentemente tangível de perda ao meu redor.

Eu tropecei em direção à porta quando Mãe Willa estendeu o braço e


apertou o meu. — Isso não é culpa sua — Disse ela.

Eu a olhei, sentindo-me como se estivesse cambaleando, como se meus


olhos fossem saltar da minha cabeça a qualquer momento. — De quem é a culpa
então? — Eu perguntei alto demais.

— Não há nenhum culpado aqui.

— Irmão... — Xander disse, dando um passo à frente do lado da porta


onde ele estava de pé, oferecendo suporte com a sua presença.

Eu olhei para longe dele, me soltei de mãe Willa e sai pela porta, meus
pés liderando o caminho, até que me encontrei na nascente minha e de Eden.
Eu fiquei ali olhando ao redor desorientadamente no local que só tinha me
trazido felicidade e alegria. Naquele momento, eu precisava estar lá. A tristeza
me envolvia. Como eu poderia continuar sem Maya? Eu a amava
profundamente. Eu nunca estive separado dela por um dia em toda a minha
vida. Eu caí de joelhos na grama e coloquei minha cabeça nas mãos e solucei,
deixando as lágrimas caírem por minha irmã mais velha.

O corpo de Maya foi sepultado no cemitério de Acadia, oitocentos metros


a oeste do rio. O chão era duro e pedregoso, e meu pai e eu levamos meio dia
para cavar a sepultura de Maya, enquanto minha mãe e várias outras mulheres
ungiam seu corpo com óleos e a vestia para o enterro.
Hector liderou o cortejo fúnebre através de flores silvestres do deserto
para a sepultura. O resto da nossa família veio para rezar pela viagem segura de
Maya para a vida após a morte. Eden ficou ao lado de Hector com um olhar de
tristeza absoluta em seu rosto. Olhei para ela uma vez, mas meu desejo por ela
era demais, e eu não podia olhar de volta novamente. Eu precisava dela
desesperadamente, que até mesmo olhá-la era muito doloroso e um lembrete de
que eu não poderia o que eu mais precisava: os braços amorosos de Eden ao
meu redor, seu calor, seu conforto. Eu vi que ela estava tentando chamar minha
atenção, e eu tinha certeza que estava confusa com a minha falta de atenção,
mas tive que permanecer estoico ou iria desmoronar. Era simples assim.

Fiquei ainda mais desesperado para deixar Acadia. Não havia nada para
mim aqui. Minha mãe e meu pai não iriam entender, mas eu tinha que viver
minha própria vida. E eles tinham um ao outro. Eles tiveram a vida que tinham
escolhido. Eles tinham Elysium.

Quando o cortejo fúnebre de Maya acabou e retornamos para a sala de


jantar principal, onde todos os trabalhadores e a família de Maya reuniam-se
para a comida e bebida, eu vi Hector levar Eden embora, de volta para o
pavilhão principal. Os outros membros do conselho, apenas dois que estavam lá,
seguiram atrás deles. Vi Eden olhar para trás várias vezes da minha visão
periférica, mas eu não olhei em sua direção. Eu não podia.

Enquanto eu estava sentado no canto da sala de jantar, assistindo a


reunião ao meu redor, falei com a minha irmã na minha mente. Maya, eu não
sei como tudo isso funciona, mas se você for capaz, nos ajude... Ajude-nos a
sair daqui com segurança.

Se Maya me ouviu, ela não deu nenhuma indicação. Eu me sentia


completamente sozinho, apesar de estar rodeado por pessoas que eu
considerava família.
CAPÍTULO DEZENOVE

Eden

Eu senti como se meu coração tivesse quebrado em um milhão de


pedaços irregulares. Não podia ir até Calder, não poderia oferecer conforto, não
poderia segurá-lo ou tirar nenhuma das suas tristezas. E sofri pela garota que
nunca conheceria, a garota que tinha um grande pedaço do coração de Calder.
Eu vi a miséria gritante estampada em seu rosto, um olhar de completa
devastação. No entanto, ele não olhou para mim. Eu não queria ser egoísta; isso
não era sobre mim. Mas não entendia por que Calder evitou meus olhos quando
tentei fazer com que ele olhasse para mim. Fiquei magoada e confusa, e me senti
completamente impotente.

Pensei em escrever um bilhete e deixá-lo no mato em frente ao pavilhão


principal para Xander, mas sabia que ele não iria procurá-lo e ficaria lá,
possivelmente correndo o risco de ser encontrado por alguém. E assim, eu
atravessava os dias - existindo da melhor maneira que poderia - orando para as
horas passarem mais rapidamente, para me deixar mais perto do dia em que
ouviria aquele chamado de coruja fora da minha janela.

Todas as manhãs eu tinha um momento de paz antes que o buraco dentro


de mim começasse a latejar e eu me lembraria de que embora Calder estivesse
perto, estava muito longe.

Hailey não tinha falado comigo desde a nossa conversa sobre eu estar
apaixonada por Calder. Isso instalou-se pesado no meu coração; tinha perdido
ela também. Apesar do que ela acreditava, eu a amava. Não totalmente como
uma mãe, mas como uma irmã mais velha ou uma tia e sua rejeição doeu.

Três semanas após o enterro de Maya, Hector me chamou no escritório


dele e bati silenciosamente.

— Entre — Falou com sua voz profunda e eu entrei na sala.

Hector me apontou uma cadeira na frente da sua mesa. Sentei-me e


cruzei as pernas na altura dos tornozelos com as mãos descansando no meu
colo. Eu não pude deixar de notar que Hector parecia mais desgrenhado do que
eu já tinha visto antes. Hector sempre foi meticuloso na sua aparência. Mas hoje
tinha o cabelo despenteado, a camisa um pouco para fora da calça e havia um
pequeno pedaço de comida no canto da boca.
Era tão incomum que isso me assustou.

Hector recostou-se na cadeira, olhando-me com um pequeno sorriso no


rosto. — Ouvi dizer que seu vestido de noiva está avançando agradavelmente.

Olhei para baixo. — Sim, meu véu está completo. É adorável. É claro, e
significa muito por eu ter algo feito à mão por Maya Raynes.

Hector ficou em silêncio por um minuto. — Sim, Maya Raynes — Olhou


pela janela, pensativo. — Mesmo os deuses cometem erros, às vezes. Cabe a nós
criar equilíbrio. Agradá-los. Fazer-nos dignos.

Meus olhos voaram para os seus. — Erros?

Hector levantou as sobrancelhas. — Certamente você notou o erro que


Maya Raynes era?

Eu pisquei para ele, tristeza e raiva crescendo em meu peito. — Não via
Maya como um erro — Eu disse. — Ela era uma menina bonita, talentosa.

Hector me olhou. — Você é muito generosa com o seu louvor, Eden, um


belo traço. Nunca deixa de me surpreender como você é pura.

Você não sabe nada sobre mim, pensei. Você é cego a quem eu sou.

Olhei para as minhas mãos, querendo nada mais do que deixar o


escritório de Hector. — O que posso fazer por você, Pai?

— Em primeiro lugar, pare de me chamar de Pai. Chame-me de Hector


agora, como já lhe pedi.

Limpei a garganta. — Sim, Hector.

— Bom. Agora falando de Maya Raynes, tenho algumas boas notícias. Seu
irmão, Calder Raynes vai se casar no Templo um pouco mais de um mês a partir
de agora. Iria planejar isso mais cedo, mas os trabalhadores precisam de um
pouco de tempo para preparar um bom casamento.

Meu coração caiu em meus pés e meus olhos voaram para Hector. — O
quê? — Murmurei.

Hector olhou para a esquerda, para fora da janela grande. — Você vai ser
minha esposa, Eden, nesta vida e aquela depois. Como o líder de Acadia, não
busco seu conselho. Mas é permitido a você saber as minhas razões, e,
especialmente, sobre este assunto, acho prudente que você o faça.

Fiquei em silêncio, ainda tentando envolver meu cérebro em torno do


que Hector tinha acabado de dizer. Certamente isso era algum tipo de erro,
engano? — Casar com quem, Pa — Hector? — Minha garganta parecia que
estava fechando.
— Hannah Jacobson. Ela nasceu aqui, assim como Calder. Ela tem
apenas dezessete anos, mas seu pai consentiu seu casamento.

Eu invoquei uma visão de Hannah... Uma menina pequena, cabelos


escuros, com o sorriso que me causou um momento de intenso ciúme no ano
anterior. Sentei-me reta. — E por que você está me contando isso? — Perguntei.
Hector nunca tinha me chamado ao seu escritório para me contar sobre os
acontecimentos dos trabalhadores antes.

Hector juntou os dedos e me olhou por um minuto. — Quando eu


construí Acadia, era a minha visão de que este fosse um lugar de paz e harmonia
para aqueles que optaram fazer daqui suas moradas. Os sortudos são aqueles
que não têm que se adaptar à vida aqui. É tudo o que eles já conheceram.
Contudo, o que eu deixei de considerar é que os jovens, principalmente,
precisam de um propósito contínuo. Tentei dar a Calder Raynes isso,
nomeando-o meu Portador de Água pessoal, mas isso não funcionou e o
dispensei dessa posição. Eu não costumo cometer erros, mas o vi ficar cada vez
mais insatisfeito com Acadia. Eu o vi desviar do nosso caminho. E se Calder, um
menino — Ele fez uma pausa. — Não, um homem agora, que muitos outros
respeitam, começar a desviar-se, o que faremos? Ele fará com que eles
considerem se afastar também. O equilíbrio aqui, a harmonia, deixará de
existir. Claramente, a nossa família não pode ter isso se quisermos permanecer
intactos, fortes e livres do pecado. Concorda, Eden?

Olhei para ele. Apertei minhas mãos no colo, tentando controlar o


tremor. — Eu só não entendo o que o casamento tem a ver com isso, Hector? —
Olhei para baixo.

— O casamento e a família, eles dão foco ao homem, dá-lhe propósito,


algo maior que si mesmo. Os deuses falaram para mim e eles deixaram claro que
é o que Calder Raynes precisa — Ele fez uma pausa, uma tempestade passando
sobre seu rosto. — Nele principalmente. Ele tem o pecado e o mal nele, Eden.
Você não tem ideia — Ele fez uma pausa, sua expressão tornando-se neutra
novamente. — É o meu trabalho cuidar da minha família e apesar de Calder me
desapontar, é meu dever ajudá-lo a voltar para o caminho correto. Eu acredito
que uma mulher vá fazer isso. Sugeri a ele, e ele concordou.

Engoli em seco. — Ele concordou? — Sussurrei.

— Sim, ele concordou, até mesmo com muito entusiasmo.

— Mas... Sua irmã acabou de morrer — Eu disse, sentindo a bile subir na


minha garganta. Por favor, não me deixe passar mal aqui. Isso não pode estar
certo. Isso tudo foi um engano. Calder estava me pegando e me levando daqui.
Ele não estaria se casando com outra pessoa. Calder me amava. A dúvida me
penetrou. A morte de Maya tinha feito algo com o compromisso de Calder de
partir daqui comigo? Medo estabeleceu-se na minha barriga, e um caroço
pesado se fez na minha garganta.

Hector balançou a cabeça, batendo as pontas de seus dedos. — Sim, mais


uma razão para dar-lhe o propósito que ele obviamente anseia... Ajudá-lo a
valorizar mais a sua família, ao invés dos seus próprios motivos egoístas —
Hector olhou pela janela novamente, estreitando os olhos e olhando para o céu,
e depois de volta para mim. — A morte da sua irmã pode ter sido simplesmente
algo que fez Calder perceber o quão longe ele se desviou do caminho — Hector
levantou-se. — Em todo caso, nós deveríamos nos encontrar mais vezes e falar
sobre os negócios de Acadia, meu amor. Isso vai nos aproximar, especialmente
com a inundação se aproximando — Então ele olhou para mim e sorriu. Olhei
para o pequeno pedaço de comida ao lado da sua boca sem piscar.

— Bem, então — Ele disse, claramente me dispensando.

Levantei-me com as pernas trêmulas. — Tenha um bom dia, Hector — Eu


disse, virando-me e saindo do seu escritório.

Eu mal conseguia andar. Mal podia respirar. Precisava falar com Calder
para saber o que ele estava pensando. Será que ele ainda me amava? Me
queria? Será que ele estava de alguma forma se culpando pela morte de Maya?
Oh, Calder. Eu preciso de você.

Assisti Calder prometer seus votos de noivado para Hannah Jacobson,


dois dias depois, quando todos em Acadia estavam no Templo. Senti como se
estivesse pairando apenas fora do meu corpo, um nó na garganta tão grande que
mal conseguia engolir. Mais uma vez, Calder não olhava para mim, embora meu
coração pulou com esperança quando vi a glória da manhã presa à sua camisa.
Ele tinha feito isso por mim? Eu não tinha como saber, e nenhum modo de falar
com ele. Ele estava seguindo com isso porque estava sendo forçado de alguma
forma? Por que ele não me enviou uma mensagem de algum tipo? Ele não sabia
que isso estava me matando por dentro? Ele tinha que saber.

O rosto de Calder estava branco. Não conseguia lê-lo. Mas Hannah


parecia serena e feliz, uma coroa de flores em seu cabelo. Observei-a enquanto
ela olhava repetidamente para Calder, um olhar tímido de agradecimento em
seu rosto. Claro. Quem não gostaria de olhar Calder?
Meu coração pulsava com ciúmes quando os observei juntos. Eles
realmente formavam um lindo casal, ambos com seus cabelos escuros,
brilhantes; ela era pequena e delicada e ele era alto e forte. Eu queria gritar.

Depois que Hector realizou a cerimônia de compromisso, Calder se


inclinou e beijou castamente Hannah em sua bochecha. Desviei o olhar, a
miséria encobrindo minha visão nublada.

Nós todos saímos do Templo, o resto das pessoas conversando e rindo,


prontos para a festa de comemoração. Hector pegou meu braço e começou a me
levar de volta para o pavilhão principal. Virei a cabeça e estiquei o pescoço,
tentando olhar para Calder uma última vez, mas havia tantas pessoas no meu
caminho, por todos os lados, que não podia vê-lo. Ele é meu, tudo dele, cada
parte, lembrei-me. Nós juramos isso um para o outro ao lado da nossa nascente,
sob a luz da lua cheia. De repente eu não conseguia suportar todas as pessoas,
nos limites estreitos do Templo. Raiva me encheu, e me libertei do braço de
Hector. Caminhei em frente por alguns passos antes de Hector me alcançar,
agarrando o meu braço.

Então virei-me e isso foi quando chamei a atenção de Calder, parado,


observando-me entre dois grupos de pessoas que estavam parados e
conversando. Por apenas um breve lampejo, vi o olhar selvagem em seus olhos
quando ele viu a mão de Hector no meu braço. Mas ele não se moveu. E então
Hannah foi para ficar ao seu lado e seus olhos romperam com os meus quando
ele olhou para ela e sorriu. A possessividade me atingiu. Seus sorrisos são para
mim. Eu não tinha muito, mas tinha aquilo. Eles eram o meu tudo.

— Não me sinto bem — Eu disse a Hector, ainda olhando para trás. — Eu


preciso me deitar.

Hector olhou para mim com um olhar de conhecimento vindo dos seus
olhos. — Sim, é claro que você vai. Vá descansar. Reequilibrar-se. Vejo você no
café da manhã amanhã de manhã.

Virei-me e fui embora, de volta para o pavilhão principal. Não pude


deixar de notar que em todos os anos que estava em Acadia, essa foi a primeira
vez que eu fui autorizada a andar para qualquer lugar sozinha. Supunha que era
não só porque Hector percebeu que precisava de um tempo para mim no meu
quarto, mas porque não havia outro lugar que eu poderia ir.

Matarei Hector em seu sono essa noite, pensei descontroladamente


enquanto corria até a pequena inclinação para o pavilhão principal. Cada
minuto de miséria na minha vida foi por causa dele. Mas quando cheguei lá
dentro e fechei a porta atrás de mim, fiquei respirando com dificuldade contra a
parede, a ideia parecia desesperada e estúpida. E eu achava que não tinha
coragem de matar alguém, nem mesmo Hector.
No meu quarto, me deitei na cama e enrolei em minha dor. Se Calder se
casasse, como era que as coisas funcionariam para nós? Mesmo se nós fôssemos
capazes de ir embora, Calder estaria casado com outra pessoa. Ele não teria o
dever de cuidar dela? Ele poderia simplesmente deixá-la aqui quando
partíssemos?

Se estivesse casada com Hector, porém, isso não iria me impedir de ir


embora. Calder estava fazendo o que tinha que fazer e eu tinha que confiar nele.
Seja forte, Glória da Manhã.

Eu pulei o jantar e fui para a cama cedo, tão emocionalmente exausta que
mal conseguia ficar de pé. Surpreendentemente, o sono me pegou facilmente e
afundei com gratidão em seu vazio escuro.

A próxima coisa que me dei conta foi o tamborilar suave da chuva que
estava acertando a minha janela. Rolei e tentei voltar a dormir, mas um ping
particularmente forte de uma gota em certa superfície me impediu de cair de
volta para o meu sonho. Gemi e coloquei o travesseiro sobre minha cabeça, mas
o pingo continuou de poucos em poucos segundos.

Por um minuto, deixei as memórias de ver Calder se comprometer com


alguém me atacar, sentindo o buraco no meu peito se abrir novamente. Agora
não voltaria a dormir. Deitaria aqui a noite toda imaginando Calder e Hannah
compartilhando a mesma cama... Eventualmente.

Ping!

Fiquei na cama por alguns minutos, ouvindo. O ping não parou, então
chutei meus cobertores, coloquei meus pés no chão, esfregando os olhos e fiquei
olhando para fora da janela. Assustei-me e apertei as mãos sobre minha boca
quando vi uma pessoa lá fora, olhando para mim. Quando meus olhos se
arregalaram, vi que era Calder. Pelo amor dos deuses!

Eu rapidamente abri minha janela e agarrei sua camisa, puxando-o para


dentro. Ele subiu por cima da minha mesa e pisou no chão, fazendo uma poça
abaixo dele.

— O que você está fazendo? — Eu murmurei fechando a janela.

— Eu tinha que te ver.

Eu me afastei. — Prometemos não arriscar isso.

Calder exalou. — Eu sei, mas Eden, depois de hoje, tinha que te ver. Você
sabe que eu não tinha escolha.

Meus ombros caíram. — O que ele fez com você?

Calder passou a mão pelo cabelo, gotas respingando ao seu redor.


— Ele me disse para ir embora ou casar com Hannah.

— Então por que você não foi embora? — Sussurrei miseravelmente. —


Talvez essa seria a melhor coisa a fazer. Você poderia ter ido em frente e
esperado por mim e Xander.

— Com cento e poucos dólares? Nem sequer conheço a garota que vai nos
ajudar — Ele se aproximou e segurou meu rosto em suas mãos. — Eu não posso
deixá-la aqui, Eden. Fiz o que tinha que fazer para ficar perto de você. E talvez
desta maneira — Ele desviou o olhar por um segundo e, em seguida, voltou para
mim. — A atenção de Hector se afaste de nós ainda mais. Eu fiz parecer como se
isso fosse uma boa ideia.

— Você nem olhou para mim — Eu disse, as lágrimas enchendo meus


olhos. — Nenhuma vez sequer olhou na minha direção.

— Eu não podia. Hector estava me observando como um falcão. E se


tivesse olhado para vocês, meus sentimentos teriam estado todo no meu rosto. E
eu sabia — Ele pegou meu queixo com os dedos e inclinou meu rosto para o
dele. — Eu sabia que você estava sendo forte, Glória da Manhã. Eu sabia que
você confiava que eu não estaria passando por nada disso se não fosse por nós.

— Isso me fez pensar... Me fez pensar, se você gostaria de saber como


seria... — Balancei a cabeça, exasperada comigo mesma por ser tão tímida.

Calder inclinou meu queixo para cima com o dedo indicador. — Então me
pergunte, Glória da Manhã. Tudo o que você tem a fazer é perguntar-me.

Meu coração sacudiu quando olhei para a beleza escura de seus olhos
com aqueles cílios ridiculamente longos. — Você gostaria de saber como seria
estar com outra mulher? — Perguntei.

— Não — Ele disse. — Eu nunca quis ninguém além de você. Nem por um
segundo, nunca.

Soltei um suspiro. — Obrigada. — Olhei para baixo, mordendo meu lábio.


Alívio inundou meu peito. Calder era mais forte do que lhe dei crédito. Quase
senti pena de Hannah. Ela não seria capaz de evitar amá-lo, mesmo que apenas
um pouco. Não queria desejar a sua dor, mas não poderia suportar que ela
estivesse com Calder de qualquer forma fisicamente. — Eu só... Tem de haver
algo que possamos fazer... Se você se casar.

Calder balançou a cabeça. — A única pessoa com quem vou me casar é


você.

Franzi minha testa. — Como você vai evitar isso? Podemos partir mais
cedo?
Ele ergueu a mão e massageou a parte de trás do seu pescoço. — Se for
preciso, sim. Não me faz sentir muito seguro em nosso plano. Mas sim, se for
preciso.

— Eu vou estar pronta a qualquer momento.

— Eu sei — Disse Calder, pegando a minha mão e me levando para a


cama. Lá fora a chuva caía com mais força.

— Será que Hector sempre verifica você?

Mordi o lábio. — Ele verificou-me uma vez, mas não acho que ele vem
mais. Hector colocou um cadeado do lado de fora da minha porta há alguns
dias. Não sei por que.

Calder me estudou por um segundo. — Barras vão subir em sua janela


uma vez que ele contemplar o fato de que você é corajosa o suficiente para
escalar o telhado.

Deixei escapar uma risada muito tranquila. — Ou que você é estúpido o


suficiente para escalar o telhado.

Calder sorriu. — Acho que ele simplesmente acredita que nós chamamos
a atenção um do outro, nada mais.

Assenti, mas não mencionei como tinha confiado em Hailey. Isso não foi
inteligente. Tinha apenas pensado que, por um breve momento, ela poderia nos
ajudar. Mas ela não o fez.

Calder me olhou sério. — Só o fato de que olhei para você o deixou louco,
Eden. Isto — Ele moveu seus os olhos em volta do meu quarto, indicando onde
estava. — É realmente estúpido. Eu simplesmente não podia suportar você não
saber o que eu estava pensando. Estava me matando.

— Você poderia ter enviado um bilhete de alguma forma... De qualquer


maneira.

— Sim, eu poderia. Teria sido mais inteligente — Ele olhou para mim,
seus olhos vagando sobre meu rosto como se tivesse esquecido como eu me
parecia no último mês.

— Sim — Concordei. Deveria fazê-lo sair. Mas ele estava na minha


frente, seu cabelo correndo por todo o caminho do seu lindo rosto, gotas ainda
brilhando em sua pele, e o cheiro masculino dele invadindo o ar ao meu redor,
me fazendo querer fechar os olhos e inspirar profundamente.

Entendi o sentimento frenético da necessidade de oferecer conforto para


a pessoa que você amava, contra toda razão, todo o pensamento racional.
Coloquei uma mão em seu rosto e ele fechou os olhos e se virou. — Sinto
muito, muito mesmo sobre Maya — Eu sussurrei, lágrimas imediatamente
enchendo meus olhos. — Queria desesperadamente chegar até você.

Um olhar de dor cruzou as características de Calder e ele permitiu-lhe


permanecer lá. Algo sobre isso me deixou feroz para protegê-lo. Ele amava e
confiava em mim o suficiente para passar sua dor para mim. Inclinei-me e
passei meus braços ao redor dele. Ele virou o rosto em meu pescoço e apenas
respirava enquanto eu esfregava suas costas e virei-me para beijar seu rosto de
novo e de novo.

Quando me inclinei, Calder disse: — Foi tão repentino. Não tive tempo
para me preparar — Ele se recostou. — Ainda não parece real. Gostaria de saber
se os deuses estavam me punindo pelo que fizemos.

Mordi o lábio. — Causando a morte de Maya? — Balancei minha cabeça.


— Os deuses são assim tão cruéis?

Calder suspirou. — Eu não penso assim, mas não tenho nenhuma prova.

Deixei escapar um suspiro e olhei para o meu colo coberto pela camisola.
— Quando sairmos daqui, encontrarei a prova. Vou estudar cada pedaço de
informação disponível até encontrá-la.

Calder deu um pequeno sorriso, triste. — Minha Glória da Manhã.

Olhamos um para o outro por um minuto até que os olhos de Calder


finalmente moveram descendo pelo meu corpo. — Então é assim que você
dorme?

Olhei para a camisola longa, branca e balancei a cabeça lentamente, de


repente me sentindo autoconsciente. — Vou usar algo mais agradável quando
dormirmos juntos — Eu disse, me sentindo como uma criança no pedaço
modesto, pouco atraente de roupa para dormir. Sabia que as mulheres do
mundo exterior mostravam a pele às vezes. Muito vagamente lembrei-me de
envolver meus braços ao redor das pernas nuas da minha mãe, a saia apenas
tocando os joelhos, enquanto ela sorria e olhava para mim. Parecia um sonho
agora.

Calder balançou a cabeça lentamente, um olhar quente vindo dos seus


olhos. — Não, eu adoro isso. Você é como um presente que tenho que
desembrulhar — Um lado de seus lábios se curvou. Lá estava ele. O meu sorriso.

— O que você usa para dormir? — Eu perguntei.

Calder sorriu. — Muito mais do que vou estar vestindo quando dormir
com você — Disse ele, sorrindo e inclinando-se para beijar meu pescoço. Eu
inclinei minha cabeça para trás, gemendo baixinho.
— Calder... — Comecei, olhando para trás na minha porta. — Nós
prometemos que seríamos cuidadosos até que possamos sair... Sacrifício será
tudo...

— Eu sei — Calder sussurrou contra a minha pele. — Vou sair em um


segundo. Só mais um pouco de você e eu vou.

— Mmm — Murmurei enquanto seus lábios arrastavam contra o meu


pescoço, enviando um raio de excitação direto entre as minhas pernas. — A
chuva está parando. Você precisa ir — Eu disse, correndo os dedos pelos cabelos
e puxando-o ligeiramente para trás.

Calder levantou a cabeça e me mostrou a sua beleza completa. Olhei em


seus olhos cheios de luxúria, os lábios quase separados. Tudo em mim, queria
beijar aqueles lábios até ficar tonta e sem fôlego. Mas Hector estava no final do
corredor, e se fôssemos pegos, isso poderia arruinar tudo.

Calder pegou minhas mãos, levantou-se, e me segurou contra ele com


força. — Eu odeio dizer adeus a você.

Acariciei meu rosto em seu peito e, em seguida, inclinei minha cabeça


para trás e olhei para ele. — Só me prometa que uma vez que sairmos daqui, nós
nunca iremos dizer adeus novamente.

— Eu prometo.

Ele se inclinou e beijou suavemente meus lábios, e então levei-o até a


janela. Estava apenas chuviscando agora. — Não escorregue — Eu disse,
preocupada, olhando para o telhado liso do lado de fora.

— Eu não vou — Ele me beijou uma última vez rapidamente, e em


seguida, saiu pela janela. Fechei-a um pouco, observando-o até que ele se moveu
ao torno do canto do telhado e desapareceu na chuva.

Enxuguei a água do chão com um cobertor dos pés da minha cama e, em


seguida, voltei para baixo das minhas cobertas, sentindo-me aliviada, mas ainda
instável. Fechei os olhos e fiz uma oração ao Deus da Misericórdia. Ele sempre
seria o meu favorito.
CAPÍTULO VINTE

Calder

Os alto-falantes apareceram na manhã seguinte que eu, furtivamente, fui


para o quarto de Eden. Doze deles no total, posicionados, portanto onde quer
você estava na Acadia, podia ouvir um dos sermões de Hector sendo
transmitido.

Eu vi alguns trabalhadores olhando uns para os outros com olhares


confusos enquanto os sermões tocavam sem parar, só acalmando com o pôr do
sol. Em seguida, parecia como um suspiro de alívio só ouvir seus próprios
pensamentos. Todos pareciam querer ficar no silêncio da sua própria cabeça
depois disso e a conversa habitual e risadas dos trabalhadores ao redor das
fogueiras construídas à noite cessaram. Se conversávamos, era em sussurros
silenciosos. O clima mudou e ninguém parecia saber o que fazer exatamente.
Meus pais, no entanto, pareciam estar aceitando calmamente. No Templo,
enquanto me sentava ao lado de Hannah, Hector não explicou o significado dos
seus sermões transmitidos. Em vez disso, ele repetiu alguns dos mesmos que já
tinha dado, mostrando tranquilidade aqui e ali, enquanto olhava para dentro do
espaço como se estivesse ouvindo alguém, antes de encontrar seu lugar
novamente e continuar.

Eu o vi me observando, seus olhos encontrando os meus e permanecendo


lá, olhando como se de repente ele não soubesse quem eu era e estava tentando
descobrir isso. Ele não olhava para mais ninguém assim. Agarrei a mão de
Hannah e segurei na minha e os olhos de Hector moveram para os nossos dedos
entrelaçados e finalmente se afastaram. Eu não consegui não exalar. Não sabia o
que estava acontecendo com Hector, mas algo não estava certo. Seu cabelo era
uma bagunça, parecia que ele tinha dormido com as mesmas roupas, e havia
bolsas sob os olhos. Precisávamos sair o mais rápido possível.

Hannah apertou minha mão na dela e uma pontada de culpa me


atravessou. Não apenas porque estava tocando uma mulher que não era Eden,
mas também porque Hannah era uma boa garota, e parecia feliz com o noivado.
Iria machucá-la, quando eu simplesmente desaparecesse. Mas não poderia
evitar. Hector tinha forçado minha mão e usado Hannah como um penhor.

Na frente do Templo, Eden desviou o olhar. Seja forte, Glória da Manhã,


sussurrei em minha mente.
Uma semana depois que os alto-falantes foram instalados, Hector
declarou que todos estariam participando das sessões especiais de oração três
vezes por dia no Templo. De fato, as sessões de oração eram uma bênção
tranquila. As paredes pesadas seguravam os sermões transmitidos, e todos nós
éramos capazes de ficar em silêncio durante uma hora em algum momento.

Não falei mais com os deuses. Em vez disso, conversei com Maya na
minha cabeça, dizendo-lhe sobre tudo o que tinha acontecido desde que ela
morreu. Disse a ela tudo sobre Eden, e as coisas que nunca tinha chegado a
dizer quando era viva: ela e Xander sempre foram meus melhores amigos,
estava tão orgulhoso dela e sentia falta dela todos os dias.

Xander e eu também usávamos as sessões de oração para atualizar


rapidamente um ao outro sobre o progresso da nossa situação financeira.
Xander conseguiu se esgueirar nos carros dos membros do conselho e pegou o
total de trinta e sete dólares em trocados e notas de um dólar. Ele pensou que
tinha deixado o suficiente para não fazer com que parecesse muito suspeito. Ele
ainda roubou uma corrente de ouro em um carro e um chaveiro de ouro em
outro. Aparentemente, o preço do ouro na cidade era bastante elevado, ou assim
Kristi havia dito e era comum as pessoas vendê-lo.

Ele guardou tudo sob o chão do assoalho em sua casa, tudo pronto para
agarrar, junto com as roupas que ele havia guardado.

O problema de estar no Templo durante o dia eram que as colheitas


estavam sendo negligenciadas sob o calor intenso do sol do Arizona, o descaso
começou a cobrar seu preço. Apenas algumas semanas depois, nosso feijão e
hortaliças murcharam e os frutos das árvores frutíferas amadureceram e caíram
no chão, onde os pássaros bicavam.

Se isso continuasse muito mais tempo, nós todos morreríamos de fome.


Hector tinha que saber disso.

Uma manhã tranquila no Templo, Hector caminhou para a frente e ficou


olhando para nós em silêncio por vários minutos antes que finalmente falasse.
— Há um ladrão entre nós.

Meu coração disparou e olhei muito rapidamente para Xander que


continuou a olhar para a frente em Hector, sem piscar.

Hector olhou para a multidão. — Um colar de ouro foi roubado de um dos


carros do membro do conselho. Alguém sabe alguma coisa disto?

Santo inferno.

Ninguém disse uma palavra. Você poderia ter ouvido um alfinete cair no
outro lado da sala.
— Ninguém? — Hector perguntou. Ele se inclinou para a frente no pódio
e esperou, olhando em volta mais uma vez, seus olhos pousaram em mim e
ficaram lá por várias batidas. Por fim, ele desviou o olhar.

— Eden, você dá um passo à frente, por favor?

Os olhos de Eden subiram para Hector, um olhar confuso sobre o rosto.


Ela se levantou e caminhou até ele.

— Se ninguém tem a coragem de levantar e confessar seu crime, um


inocente vai sofrer a punição. Meu verdadeiro amor vai sofrer a punição. Para
você ver — Ele parou de novo. — EU TE AMO TANTO, ESTOU DISPOSTO A
SACRIFICAR MINHA PRÓPRIA PELE PELOS SEUS PECADOS — Ele gritou.
Eden se assustou e recuou. — ESTRAGAREI A PELE PERFEITA DE MINHA
AMADA POR VOCÊ.

Meu corpo todo ficou tenso e fúria correu pela minha espinha. Vi Hannah
na minha visão periférica olhando para mim, mas não olhei de volta.

Comecei a dar um passo a frente quando a voz do Xander saiu. — Fui eu


Pai. Eu roubei o colar.

A cabeça de Hector girou para Xander e seus olhos se estreitaram sobre


ele. A multidão toda moveu-se nervosamente, olhando entre Xander e Hector.

Abri minha boca para dizer algo, mas depois fechei de novo. Se dissesse
algo, provavelmente faria isso pior para nós três. Todos os músculos do meu
corpo estavam tensos para a luta, e meu cérebro começou a elaborar um modo
em que eu pegaria Eden e como rapidamente eu poderia chegar lá.

Hector inclinou-se casualmente no pódio. — Xander Garen — Disse ele,


empurrando o seu, agora, excessivamente longo cabelo de seus olhos. — Onde
está esse colar?

Xander hesitou. — Vou recuperá-lo para você, Pai.

— Não, vou mandar alguém para recuperá-lo. Diga-me onde está.

Ah, não.

Fechei os olhos brevemente e em seguida, abri, olhando para baixo. Com


o canto do meu olho, podia ver Xander abrir a boca e fechar novamente. Ele foi
pego.

— A verdade é que, Pai, não poderia explicar exatamente. Eu precisaria


acompanhar a pessoa.

Hector olhou para Xander com os olhos apertados e prendi a respiração.


— Muito bem — Ele finalmente disse e eu expirei. Talvez se Xander fosse junto,
ele teria tempo para empurrar os outros itens fora do caminho. Alguma coisa.
Qualquer coisa. Se não, estaríamos de volta a estaca zero. Senti como se eu
pudesse vomitar.

— Clive — Hector vociferou. — Escolte o menino para recuperar seu bem


roubado.

Atrevi-me a olhar para Eden e seu rosto estava desprovido de todas as


cores, sua expressão chocada. Desviei o olhar.

Clive foi até Xander lentamente, agarrou-o pelo braço, e saíram do


Templo com o meu ritmo cardíaco triplicado. Minha mente corria também,
tentando descobrir o que poderia fazer. Olhei de volta para o palco e a mão de
Hector ainda estava em Eden. Se corresse atrás de Xander, fazendo um
espetáculo da minha desobediência, estaria deixando Eden sozinha com Hector.
Será que ele faria algo com ela para me punir? Algo estava perturbando sua
mente. Não queria nem pensar no que poderia ser.

Hector permaneceu com Eden no pódio, terminando seu sermão, embora


o que me concentrei soava desarticulado, Hector tropeçou em suas próprias
palavras várias vezes. Eden olhou para o chão, a cor quase voltando ao seu
rosto.

O que pareceu ser uma vida mais tarde, mas na realidade eram
provavelmente, apenas 20 minutos mais ou menos, Hector começou a oração
final. Quando todos nós ignoramos, notei as pessoas olhando uns aos outros
com as expressões interrogativas em seus rostos. Todo mundo sabia que algo
estava acontecendo em Acadia que ninguém conseguia explicar exatamente. E
todo mundo estava inquieto.

De repente, a visão de Xander, ajoelhado no chão com as mãos


amarradas ao redor de um poste veio à tona. Clive Richter estava atrás dele, com
fios compridos em suas mãos. Meu corpo inteiro ficou tenso e eu nem sequer
tive tempo para pensar antes de começar a correr em direção a eles. — Pegue-o!
— Ouvi Hector gritar e em algum lugar no fundo da minha mente, pensei que
ouvi Eden gritar.

Braços fortes me pegaram de lado e me puxaram de volta, e quando me


virei para lutar contra a pessoa em cima de mim, alguém me pegou de lado.
Membros do conselho, Garrett Shipley e Ken Wahl, me seguravam quando o
primeiro golpe do chicote soou. Isso me enfureceu, enviando adrenalina
correndo pelo meu sistema. Dei uma cotovelada em Ken no rosto e, em seguida,
usei meu braço livre para socar Garrett, mandando sangue pulverizado quando
ele gritou e levou as mãos até seu nariz quebrado. Quando ambos me soltaram,
eu corri para a frente novamente.
— Pare Calder — Xander gritou. Relutantemente, parei no caminho. Sua
cabeça estava pendurada e seu maxilar tenso, mas ele arregalou os olhos e
balançou a cabeça, instruindo-me a ficar para trás. Não sabia o que fazer. Tudo
em meu corpo estava gritando para lutar por meu amigo, mas ele estava me
pedindo para não fazê-lo. Levei minhas mãos em meu cabelo e passei os dedos
pelo meu couro cabeludo, querendo rugir de raiva.

Garrett e Ken vieram por trás de mim e agarraram meus braços


novamente. Eu não resisti, não olhei para eles.

Clive levou o chicote para trás e deixou voar novamente e desta vez assisti
bater nas costas nuas de Xander, abrindo sua pele em uma linha, muito
vermelha. Xander se sacudiu, mas permaneceu em silêncio. Oh, Xander. Meu
irmão, meu amigo. Eu fiz uma careta, fechando os olhos por alguns instantes.

Clive levantou o chicote novamente, a expressão em seu rosto cheia de


algum tipo de alegria nojenta, e deixou voar, criando um terceiro vergão na pele
de Xander.

Mais duas vezes o chicote voou e mais duas vezes Xander se sacudiu, mas
não emitiu nenhum som.

— Isso é o suficiente, Clive — Hector falou. Clive olhou para ele,


parecendo voltar a si, seu peito subindo e descendo em pesadas arfadas. — Eu
acho que a justiça foi feita pelo roubo. Conseguiu sua corrente de volta? Você se
sente vingado?

Clive pareceu considerar a pergunta, olhando de volta para Xander, que


estava curvado, as costas em uma confusão de sangue e feridas abertas. — Sim
— Disse ele, deixando cair o chicote no chão e virando-se para caminhar de volta
em direção ao pavilhão principal.

Hector assentiu para Garrett e Ken. — Deixe-o ir. Acho que isso serviu
como uma lição para ele, também. Você pode acompanhar o seu amigo para a
cabana da cura — Ouvi mulheres chorando perto de mim, mas não me virei para
olhar para alguém na multidão.

Meus braços foram soltos e corri direto para Xander, ajoelhando no chão
ao lado dele. — Ei, irmão — Eu disse suavemente. — Vamos sair daqui.

Xander fez uma careta quando comecei a desamarrar a corda presa em


seus pulsos. — Porra, dói, Calder — Xander resmungou. Ele deve ter estado em
uma dor excruciante, porque nunca o tinha ouvido usar obscenidades que
algumas pessoas que vieram da grande sociedade deixavam escapar de vez em
quando.

Deixei escapar um suspiro, trabalhando o nó tão delicadamente quanto


podia, e então movi Xander o mínimo possível. — Por que você não me deixou
puxá-lo de você? — Eu perguntei, não sendo capaz de manter a amargura na
minha voz.

— Ele teria batido em você também. E depois provavelmente


encarcerado.

— Eu teria aceitado isso.

— Eu sei — Disse Xander quando a corda se soltou e ele caiu para a


frente, usando as palmas das mãos para apoiar-se no chão. — Tudo o que eu
tenho.

— Está certo — Levantei Xander até seus pés, peguei em seu braço e
coloquei-o em meus ombros, para que ele pudesse se apoiar em mim para
andar.

— Ele tem o nosso dinheiro. Cada centavo dele — Disse Xander, a voz oca.
— A única coisa que fui capaz de empurrar para fora do caminho, quando me
aproximei, foi o saco de roupas. Disse a ele que havia um ninho de cobras que
viviam sob a nossa casa e que não conseguia lembrar-me que tábua do assoalho
era. Essa foi a única razão pela qual ele não se aproximou. Covarde. E hipócrita,
ele enfiou o resto do dinheiro no bolso. Duvido que ele vá mencioná-lo a Hector.

Meu coração caiu com a notícia de que o nosso dinheiro se foi. Mas falar
sobre isso era a última coisa que Xander precisava. — Existe um ninho de cobras
vivendo abaixo da sua casa? — Eu perguntei, tentando distraí-lo enquanto
fazíamos o nosso caminho para a cabana da cura.

Xander olhou para mim. — Não, Há alguns ratos, mas graças aos deuses
eles estavam se movendo ao redor quando Clive estava lá ou então ele teria
chegado a nossas roupas, também.

Eu não poderia evitar, eu ri. — O que vamos fazer com as roupas, sem o
dinheiro?

— Vamos sair daqui, isso sim.

Eu considerei isso. Pensei que poderíamos, considerando o quão perto a


data do meu casamento com Hannah estava, e agora que o nosso furto tinha
sido descoberto, estava longe de ser a maneira que nós tínhamos originalmente
planejado. Medo estabeleceu-se em meu estômago. Nós estaríamos partindo
com absolutamente nada, exceto as roupas no corpo - roupas que se
misturariam na sociedade normal, é verdade. Então, imaginei que era isso. Eu
senti como se eu pudesse passar mal.

Chegamos a cabana da cura e ajudei Xander chegar até uma cama limpa e
ele deitou de bruços. Havia um pequeno armário que eu conhecia por ter estado
lá com Maya ao longo dos anos que tinha curativos e suprimentos. Esperava que
Mãe Willa chegasse em breve com o medicamento de dor que ela tinha me dado
para as minhas pernas, mas por agora, tinha que fazer o que podia por Xander.

Enquanto lavava as feridas com um pano e água limpa, eu falava para


distraí-lo. Mesmo assim, cada vez que trazia a água em suas costas, ele
estremecia e fazia uma careta.

— Lembra-se daquela vez que você me passou catapora? — Perguntei.

Xander bufou. — Você me passou catapora — Ele deu um pequeno


sorriso, enquanto torcia o pano, a água ficando vermelha.

— E o pior de tudo — Ele continuou. — É que eu só tinha cerca de seis


marcas e você estava coberto, e fui eu quem ficou com uma cicatriz — Ele bateu
o dedo na pequena cicatriz redonda ao lado de sua sobrancelha.

Eu ri baixinho, levando o pano para suas costas. Ele fez uma careta.

— Assim que você estiver pronto para sair da cabana da cura — Eu disse.
— Você pode fazer aquela chamada de pássaro estúpida e vamos encontrar Eden
na nascente. Nós vamos ter que improvisar — Medo correu na minha espinha
por não ser capaz de garantir que poderia manter Eden segura e alimentada.

— Estúpida? — Os olhos de Xander começaram a fechar. — A chamada do


pássaro é a perfeição. Outras corujas não podem sequer dizer que eu não sou
uma delas.

Eu ri, passando nas costas de Xander um pano limpo e seco.

— Você pegará aquelas roupas, Calder? Meus pais estarão fora do


perímetro agora. Acho que devemos mantê-las aqui conosco para que não
tenhamos que voltar para lá — Uma nota triste entrou em sua voz quando ele
mencionou seus pais. Fiz uma careta. Éramos homens, mas nunca tínhamos
ficado afastados deles um dia em nossas vidas. E isso iria quebrar seus corações.
Mas com o que estava acontecendo em Acadia, eu tinha que acreditar que faria
bem a todos se partíssemos. É claro, Eden era outra história.

Meus pensamentos foram interrompidos quando Mãe Willa entrou pela


porta. Levantei-me. Ela olhou para mim e caminhou até a cama onde estava
Xander, agora cochilando. Acenei com a cabeça para ela. Ela, obviamente, não
precisava de qualquer instrução.

— Xander, vou até o banheiro. Eu já volto.

Xander fez um meio grunhido, meio-ronco suave.

Quando passei por ela, Mãe Willa agarrou meu braço. Seus olhos
pareciam enevoados, sem foco, e algo neles enviaram medo rodando na minha
barriga.
— Vá para longe, muito longe — Disse ela.

Eu balancei minha cabeça. — O quê?

— Vá para longe, muito longe — Disse ela novamente. — É o único lugar


onde você vai viver.

— Viver? Eu... Quê?

Ela me soltou e foi para Xander que ainda estava roncando.

Caminhei para fora e em vez de ir para o banheiro, fiz um rápido desvio


para a cabana de Xander, batendo na porta uma vez. Quando ninguém
respondeu, eu entrei, fechando a porta atrás de mim. Não tive que tentar
adivinhar qual tábua no assoalho que era. A única que Xander tinha usado como
local de armazenamento ainda estava fora do lugar. Ajoelhei-me ao lado dele e
estiquei meu braço para dentro. Algo deslizou pelo meu pulso e puxei minha
mão de volta, grunhindo de surpresa e desgosto. — Ratos. Apenas ratos —
Murmurei, esticando de volta para o interior.

Quando estava inclinado até meu ombro, minha mão atingiu o tecido e eu
agarrei-o e puxei-o. Era uma bolsa de lona, amarrado na parte superior com
uma corda, e, obviamente, cheio do que seria a nossa roupa de fuga. Não me
preocupei em colocar a tábua do assoalho de volta no lugar. Em vez disso,
mergulhei para fora da cabana com a bolsa por cima do ombro e caminhei
propositadamente em direção à cabana da cura. Quando eu estava quase lá,
alguém agarrou meu braço, deixando cair a bolsa, me virei, pronto para lutar
contra quem quer que fosse que estava em cima de mim.

Era Hannah. Ela parou na minha frente torcendo as mãos. Parecia que
estava chorando. — Hannah — Respirei.

— Calder, foi horrível — Ela deixou escapar um pequeno grito. — Por que
Xander fez isso? Ele está bem?

Peguei a bolsa e considerei responder. — Ele vai ficar bem. Preciso voltar
para vê-lo. Vá para casa, tudo bem?

Seus olhos castanhos preocupados piscaram para mim. — Estou com


medo, Calder — Ela sussurrou. — Alguma coisa está acontecendo aqui, e estou
confusa. Minha mãe e meu pai dizem que é só por causa da grande inundação
que está cada vez mais perto e mais se espera de nós, mas... Isso me assusta.

Fiz uma pausa, sem saber o que dizer a ela. Preocupava-me com Hannah.
Tinha crescido com ela. Tínhamos jogado juntos quando crianças. Eu não a
amava, não desse jeito. — Hannah, ouça, se alguma coisa... Acontecer comigo,
há, bem, você tem escolhas. Você não tem que viver aqui toda a sua vida se não
quiser.
Seus olhos se arregalaram. — Eu quero. Quero casar com você, Calder.
Quero ir para Elysium com você.

Deixei escapar um suspiro, sentindo-me culpado. — Tenho que entrar.


Só... Basta lembrar o que eu disse, ok?

Ela assentiu, parecendo confusa e a puxei para mim, beijando o topo de


sua cabeça. — Está bem.

Quando cheguei ao interior da cabana, Mãe Willa já tinha ido embora,


mas as costas de Xander estavam enfaixadas e ele estava roncando baixinho.

Enfiei o saco debaixo da minha própria cama e deitei ao lado de Xander


para descansar. Enganchei minhas mãos atrás da minha cabeça, morrendo por
dentro, porque não poderia ir para Eden agora. Eu tinha que acreditar que ela
estava trancada com segurança em seu quarto, longe de Hector. Em alguns dias,
nós a chamaríamos e faríamos nossa fuga. Imagens passaram pela minha
cabeça de Eden escalando sua janela, Hector esticando o braço para agarrá-la,
em seguida, Eden escalando o telhado, caindo, o som de ossos quebrados mal
abafados sob seus gritos. Acordei assustado e olhei ao redor freneticamente. Eu
tinha adormecido sem querer. — Apenas um sonho — Sussurrei, caindo de volta
para a cama.

Mas então ouvi o som que deveria ter me acordado pela primeira vez —
Um grito distante - somente isso era estranho e imperfeito, e na voz de uma
mulher. Eden.

Xander levantou a cabeça e olhou em volta atordoado, ainda deitado de


bruços, onde ele esteve dormido. Ele caiu de volta na cama, inconsciente.
Lembrei-me de como me senti depois que Mãe Willa tinha me dado o pó para
dor. Nem sabia o meu nome, vindo aqui e ali aos trancos e barrancos, incapaz de
me mover ou pensar com clareza.

Pulei fora da minha cama e puxei Xander tão delicadamente quanto


podia, tentando não tocar nas feridas de suas costas. Ele resmungou algumas
palavras arrastadas indistintamente, eu não conseguia entender e fiquei inerte.
Levantei-o sobre meu ombro e me abaixei para pegar o saco de roupas que eu
tinha escondido debaixo da cama.

Eden estava fazendo a chamada que precisávamos ir embora. O medo


percorreu meu corpo. Eden nunca correria o risco se não houvesse algo terrível,
horrivelmente errado.
CAPÍTULO VINTE E UM

Eden

A nascente estava iluminada pelo luar amarelo quando abri passagem no


meio do mato e fiquei arrastando o em pesadas arfadas, todo o meu corpo
tremendo. Por favor, permita que Calder e Xander ouçam o meu chamado.

Deixei cair a bolsa de lona que felizmente fui capaz de agarrar quando
escapei, e passei meus braços em volta de mim, esfregando as mãos para cima e
para baixo da minha pele arrepiada.

Eu estava tomando profundas e calmantes respirações, tentando adquirir


minhas emoções turbulentas sob controle. É seguro aqui. Quando ouvi os
passos que vinham do meio do mato, do outro lado da parede de rocha, gritei de
alívio, sabendo que só poderia ser Calder e Xander. Ninguém mais estaria vindo
em minha direção a este lugar secreto com tal direção e propósito.

Calder saiu do meio do mato, seus olhos selvagens, ofegante, Xander por
cima do ombro. Alarme me encheu. — Ele está bem?

— Ele está bem, apenas inconsciente.

Exalei pesadamente. Minha emoção explodiu na superfície e corri em


direção a ele. Ele deitou Xander suavemente na grama e me pegou em seus
braços enquanto eu soluçava seu nome.

— Shh, Eden, está tudo bem. Estou aqui. Conte-me o que aconteceu. Que
aconteceu, Glória da Manhã? O que ele fez com você? — Ele me segurou firme e
passou a mão na parte de trás do meu cabelo, sussurrando palavras suaves em
meu ouvido.

Tinha preocupação se arrastando no ar quando os soluços se levantaram


no meu peito, a histeria agora encontrando um lugar seguro para pousar nos
braços fortes de Calder. — Eu... Ele... — Puxei em um grande fôlego,
recompondo-me. Não ajudaria qualquer um de nós se eu ficasse totalmente
louca delirante. — Ele descobriu suas cartas, Calder — Eu me inclinei para trás,
olhando para o seu lindo rosto, preocupado com vergonha e arrependimento. —
Sinto muito — Balancei minha cabeça. — Não deveria tê-las guardado. Mas
queria levá-las comigo quando partíssemos. Eram minhas. Elas faziam parte de
nós e eu as queria — Mais lágrimas correram pelo meu rosto.
Calder olhou para mim com ternura e usou o polegar para enxugar as
lágrimas do meu rosto. — Estamos todos bem. O que ele fez para você? Diga-me.

Balancei minha cabeça novamente, tentando mover a lembrança. — Ele...


Enlouqueceu — Meus olhos se arregalaram quando imaginava o rosto vermelho
como beterraba de Hector, a veia saliente em sua têmpora, seus olhos
enlouquecidos. — Depois do que aconteceu com Xander, eu estava tão chateada
— Olhei para Xander, roncando baixinho no chão. — Sinto muito, Xander — Eu
disse baixinho, sabendo que ele não podia me ouvir, mas precisando dizer as
palavras de qualquer maneira. — Você pagou o preço por todos nós.

— Ele está bem, Eden. Realmente, ele está.

Fiz uma careta, olhando para Calder por algumas batidas. Duvidava que
ele estivesse realmente bem. Eu tinha visto sua pele aberta e o olhar em seu
rosto quando aquele chicote fez contato. Mas ele foi tão corajoso. Ele não havia
feito um único som. Mordi o lábio e ajeitei minha coluna. — Ajudei Hailey
colocar os meninos na cama e depois voltei para o meu quarto e ele estava lá,
sentado na minha cama lendo suas cartas — Arrepio encheu meu peito de novo,
exatamente como tinha quando eu entrei no meu quarto.

— Ele tocou em você? Ele machucou você? — Calder perguntou, seu


maxilar tenso e seus olhos se encheram de frieza.

— Não, ele só ficava dizendo, “Ele queima por você? Ele queima por você?
Vou lhe mostrar como ele queima por você” — Sufoquei um soluço,
estremecendo com a memória. — Ele queria matá-lo — Eu sussurrei. — E talvez
eu também.

— O que você fez? Como você saiu? — Calder perguntou friamente,


passando as mãos em cima de mim como se para provar a si mesmo que eu
estava inteira.

— Ele me trancou em seu escritório. Arrastei o armário na frente da porta


e, em seguida, quebrei uma janela com a pá da lareira. Eles estavam todos
batendo na porta quando eu escalei a parte externa. Um membro do conselho,
Ken Wahl, eu acho, não sei, chegou rapidamente do lado de fora, mas eu já
estava escondida e ele não me viu — Tremi novamente. Calder piscou para mim
e depois passou a mão pelos cabelos, sacudindo a cabeça lentamente com um
pequeno sorriso descrente em seus lábios.

— Glória da Manhã — Ele murmurou.

— Eu não tive escolha — Eu disse. — Era isso ou... Quem sabe o que.
Alguma coisa ruim — Olhei para Calder. — Sinto muito que temos que partir
antes que estejamos realmente prontos.
— Não, você fez a escolha certa, fez a coisa certa. E nós teríamos que
partir logo, de qualquer maneira. Supõe-se que meu casamento com Hannah se
realize na próxima semana — Calder levantou as mãos ao meu rosto, inclinando
meu rosto e olhando nos meus olhos. — E depois de hoje, Xander e eu já
tínhamos decidido partir mais cedo — Ele me estudou. — Você foi muito
corajosa.

Olhamos um para o outro por alguns segundos; eu tirei a força do rosto


que eu amava muito, muito mesmo. Sentia-me mais calma. Estávamos juntos.
Estávamos seguros - por enquanto.

— O único problema agora é que não temos um centavo com a gente —


Disse Calder.

— Oh — Eu disse, dando um passo para trás. — Não, isso não é verdade.


— Caminhei até a bolsa de lona que tinha escondido nos arbustos atrás do
pavilhão principal. Felizmente, eu fui capaz de me esgueirar e recuperá-la
rapidamente depois que pulei da janela do escritório de Hector. De lá escapei
para o bosque de árvores aproximadamente trinta metros da cabana da cura, fiz
a minha chamada de coruja três vezes, e em seguida, caminhei cuidadosamente
para a trilha que levava à nascente.

Eu me ajoelhei na grama e joguei para fora o conteúdo da minha bolsa,


todo o dinheiro solto que eu tinha roubado do pavilhão principal, e todas as
joias que tinha furtado dos membros do conselho e suas esposas. Tinha me
tornado especialmente descarada conforme o casamento de Calder e Hannah se
aproximava. Realmente, deveria ter sido eu a chicoteada hoje. Foi apenas má
sorte de Xander que a única coisa que notaram foi algo que ele tinha roubado.

Aproximei da bolsa e peguei todo o dinheiro trocado que tinha, em


seguida, olhei para Calder, de pé ao meu lado, com a boca entreaberta. Xander
rolou em direção ao som alto dos trocados no chão, com os olhos sonhadores,
meio abertos.

— Bem, santo inferno — Murmurou Xander.

— Pelo amor dos deuses. Ela é pior do que você — Disse Calder, olhando
para Xander.

— Onde você a encontrou? — Xander perguntou pronunciando arrastado.


— Eu acho que estou apaixonado.

Calder riu e olhou para mim com seus olhos escuros cheios de calor. —
Oh, eu a encontrei nesta bonita nascente uma vez...

Sorri para Calder e então Xander tentou um sorriso, mas rapidamente


desmaiou de novo com a cabeça caindo no chão. Calder olhou para Xander
roncando baixinho, de volta para mim e começou a rir, balançando a cabeça
como se toda a situação fosse meio ridícula, que na verdade, imaginei que era.

— Não é isso o que você queria que eu fizesse? — Perguntei, levantando


uma sobrancelha.

Calder parou de rir. — Claro que não — Disse ele. — Foi muito perigoso —
Ele soltou um suspiro, um lado do seu lábio curvando-se. — Mas, uma vez que
está feito, estou feliz por isso.

Sorri para ele enquanto se ajoelhava na grama ao meu lado e começou a


fazer um inventário do que tínhamos. Depois de alguns minutos, ele disse: —
Trezentos e oitenta e três dólares — Ele colocou as notas em uma pilha e, em
seguida, entregou-me para que pudesse colocá-lo de volta na bolsa.

— Não tenho ideia de quanto essas outras coisas poderiam valer — Disse
Calder, segurando um anel de ouro com uma pedra vermelha nele, talvez um
rubi. — Mas tem que valer alguma coisa, especialmente se é ouro verdadeiro.

Acenei e em seguida, embalamos tudo de volta na bolsa. Ele olhou para


mim. — Você fez muito bem, Eden — Disse ele. O olhar em seus olhos me
dizendo que não só ficou impressionado, mas agradecido e aliviado. Eu sorri
com orgulho.

— Então, agora a única coisa que temos a fazer é nos trocar e sair daqui —
Disse Calder. — Eden, você vai ter que me ajudar a trocar Xander.

Balancei a cabeça e, em seguida, fiz uma careta. — Se ele não pode vestir-
se, como é que vai andar?

— Ele não vai — Disse Calder. — Eu vou carregá-lo. E levá-lo em algum


lugar que ele possa se curar — Completou calmamente.

Calder pegou a bolsa que ele tinha deixado na entrada da nascente e


examinou os itens por alguns minutos, segurando-os e, em seguida, decidiu
quem deveria ter o que.

Calder e eu vestimos Xander com jeans e uma camisa de botão azul,


tentando o melhor para não machucar suas costas. Mas ele estava muito
inconsciente e não parecia sentir qualquer dor. Virei minha cabeça quando
estava em risco de ver algo muito pessoal e deixei Calder assumir.

Enquanto Calder estava se vestindo, arrumei tudo na bolsa e, em seguida,


me virei. Suspirei fundo. Calder estava vestindo calça jeans com uma camiseta
cinza clara que estava apenas um pouco apertada demais em seus músculos
firmes, mas de uma maneira que fez a minha boca secar. E estava usando um
boné com algum tipo de logotipo laranja que parecia um S e um F entrelaçados.
Sorri. — Você ficou bem — Meu sorriso desapareceu. — Mas o que devo
vestir?

— Nós íamos esperar Kristi para dar-lhe alguma coisa — Disse ele. —
Então, você vai ter que ir usando o que está vestindo agora. Esperamos que com
nós vestidos normalmente, você vai misturar-se.

Eu acenei com a cabeça. Não havia outra escolha. — Então, o que vamos
fazer?

— Podemos ir para longe daqui, e encontrarmos um hotel até que Xander


possa ligar para Kristi.

— Eu acho que estamos uns trinta quilômetros da cidade — Ele


continuou. — Talvez vinte e cinco. Acha que pode fazer isso?

Balancei a cabeça. Faria tudo o que precisasse para me distanciar, bem


longe de Hector e seus olhos selvagens. Andaria descalça, se fosse preciso. Olhei
para os nossos pés. Nós todos ainda estávamos com as mesmas sandálias
simples que sempre usávamos. Havia uma mulher que as fazia em Acadia, e sua
habilidade estava prestes a ser posta à prova.

— Mas Calder, você não pode andar trinta quilômetros, carregando


Xander — Eu sussurrei.

— Eu não tenho escolha — Disse Calder. — Tenho certeza de que não


posso deixá-lo aqui.

Meu coração se encheu de amor por meu bravo e forte garoto.

— Acho que é uma boa ideia manter a área deserta tanto quanto possível,
uma vez que Hector provavelmente enviou alguém, ou muitos, atrás de você —
Um calafrio percorreu minha espinha e considerei que estava reservado para
nós quando Calder pegou Xander devagar, suas coxas fortes flexionando através
de seu jeans quando ele se levantou e novamente coloco-o por cima do ombro.

Desejei desesperadamente que pudesse estalar os dedos e que nós


estivéssemos em um quarto em algum lugar no meio da cidade, seguros e
trancados atrás de uma porta. Mas, é claro, a vida nunca trabalhava dessa
maneira. Você tinha que viver cada minuto da parte mais difícil, a fim de chegar
à boa. Talvez isso deixasse tudo mais doce. Se você pudesse simplesmente pular
as partes ruins da vida, as partes boas começariam a parecer sem graça e sem
emoção. Naquele momento, porém, com medo e o tremor se movimentando
através do meu corpo, sem graça soou muito bem.

— Você está pronta, Eden? — Calder perguntou, olhando para mim e


parecendo me perguntar se eu estava pronta para mais do que apenas a
caminhada daqui. Eu estava pronta para uma nova vida? Uma vida diferente?
Talvez uma viagem muito longa e assustadora para chegar lá?

— Sim — Simplesmente respondi.

Calder olhou para mim, e depois assentiu.

— Beba água, tanto quanto possível — Calder instruiu. — Não temos nada
para transportá-la e pode demorar horas até que possamos encontrar mais. Dei
à Xander um pouco de água antes de ouvir a sua chamada, por isso ele deve
estar bem, especialmente porque vai ser o único que não vai se esforçar — Seus
lábios ficaram em uma linha sombria.

Debrucei-me sobre a lateral da nascente, e coloquei minha boca sob a


cachoeira escorrendo, e depois Calder fez o mesmo.

Era hora de ir embora.

Saímos através da pequena abertura entre duas grandes rochas no lado


mais distante da nossa nascente. Antes de sairmos, fiz questão de mover o mato
para a frente da abertura onde entramos, então estava completamente coberta e
não parecia fora do lugar. Não queria que ninguém encontrasse este lugar...
Não só porque eles saberiam para onde fugimos, mas também porque, para
mim, este lugar era sagrado. Eu não queria que ninguém mais invadisse, pelo
menos não antes de estarmos em um novo solo sagrado, o nosso próprio
pequeno pedaço de Elysium na terra.

À medida que andamos e subimos mais entre as rochas, ficamos em


silêncio para ver se escutávamos sons de outras pessoas. O único som que se
ouvia era a respiração de Calder, enquanto ele carregava Xander nas costas,
diretamente para cima. Não queria pensar muito sobre quem Hector teria
enviado atrás de mim, ou o sentimento de pavor viria novamente quando
imaginei seus olhos enlouquecidos. Em vez disso, pensei em Calder e como o
meu pequeno pedaço de paz se pareceria, uma vez que chegássemos onde
estávamos indo. Eu tinha um pequeno quadro de referência, então usei
principalmente as sensações que lembrava estando com minha família antes de
morrerem e até mesmo as coisas que amava no pavilhão principal.

Eu iria querer um quarto com uma enorme janela como aquela atrás do
pavilhão que dava para uma bela vista. Não do deserto, já que estaríamos longe,
mas talvez com água, árvores, ou uma floresta de algum tipo. Teria uma grande
cozinha para fazer o jantar para Calder todas as noites. Eu não tinha aprendido
a cozinhar, mas tinha visto Hailey na cozinha, tomando nota em minha mente
em como ela fazia pão que crescia perfeitamente e derretia na boca. Sabia todos
os fundamentos, não porque alguém me ensinou, mas porque eu tinha prestado
atenção. Sim, minha cozinha seria o coração da nossa casa.
E haveria bebês. Queria dez bebês e queria que cada um deles se
parecesse com Calder.

Calder olhou para mim e para Xander, e depois voltou para verificar a
minha expressão. Será que eu parecia com olhos sonhadores? Não pude evitar o
rubor que subiu em meu rosto e ampliei meus olhos para ele. Lá estava eu,
planejando toda a sua vida para ele em detalhes enquanto subíamos para longe
do perigo. Certamente, esse não era o foco adequado no momento. Mas não
podia deixar de sonhar. Foi-me negado sonhar por tanto tempo, com muito
medo de deixar os detalhes entrarem em foco, com muito medo que eles seriam
arrancados de mim. Mas agora, a cada passo, a cada posição, os meus sonhos
chegaram muito mais perto de tornar-se realidade. O mundo parecia quase
totalmente aberto para mim agora. Queria levantar os braços e rir para o céu.
Calder olhou para mim novamente e quando me chamou a atenção, desta vez,
ele sorriu e eu sorri de volta. Finalmente havia um vislumbre de esperança.
Podia ver que ele sentia isso também.

Quando chegamos a um lugar mais alto, ambos ficamos juntos e


recuperamos a respiração por alguns minutos.

— Você precisa descansar por um tempo? — Perguntei.

— Não — Ele disse e começou a andar novamente.

Olhei em volta, me orientando. Estávamos a cerca de oitocentos metros


de distância do pavilhão principal agora. Podia ver as luzes brilhantes das
janelas. Parecia que todas as luzes estavam acesas. Tremi um pouco e me
inclinei para Calder. Ele colocou o braço que não estava apoiando Xander em
volta de mim e me puxou para ele, olhando na mesma direção, perdido em seus
próprios pensamentos. Sobre o outro ombro, Xander roncava.

— Por esse caminho — Calder apontou. — Ele, eventualmente vai levar-


nos à estrada principal, mas parece que há muitas rochas para nos encobrir, no
caso de vermos ou ouvirmos um carro chegando — Calder me deu um aperto
rápido e começamos de novo, andando o mais rápido que pudemos.

— Se mantivermos essa velocidade — Calder murmurou. — Nós podemos


chegar a cidade antes do amanhecer. Esse é o objetivo, ok? — Ele olhou para
mim andando atrás dele e assenti.

Nós andamos por horas, o caminho nos forneceu uma maior cobertura,
mesmo que isso significasse caminhar em uma espécie de ziguezague
novamente. Cobertura era mais importante do que tempo, embora o tempo
fosse importante também. Vimos carros passando na estrada duas vezes, mas
sempre fomos alertados antes do tempo por causa do deserto preto da noite, e o
barulho do motor. Cada vez nos escondíamos atrás de pedras com segurança
enquanto os carros passavam lentamente.
— Preciso de água — Eu finalmente disse horas mais tarde, com sede e
incapaz de manter silêncio sobre a minha necessidade de saciar minha sede.
Calder parou de andar, parecendo tão sedento quanto eu.

— Acho que vejo as luzes das casas cerca de oitocentos metros de


distância — Ele apontou e apertei meus olhos para ver o que ele queria dizer. Eu
também via algumas luzes muito distantes, mas não sabia dizer o que eram.

Eu assenti. Começamos a andar novamente. Não conversamos. As


nuvens estavam baixas, portanto a luz das estrelas era inexpressiva e sem graça,
lançando luz suficiente para ver onde estávamos indo e o que imediatamente
nos cercava.

Cerca de dez minutos depois, fomos capazes de ver que, de fato, Calder
estava certo. Vimos algumas pequenas casas distantes umas das outras, e
estabelecidas fora da estrada. Segui Calder enquanto caminhava tranquilamente
para a casa, perto da lateral. Havia uma mangueira lá, enrolada contra a casa,
conectada a uma torneira. Eu respirei de alívio, praticamente capaz de provar a
umidade na minha boca seca e senti-la em meus lábios rachados. Calder olhou
em volta, parecendo nervoso. Estava com muita sede para estar nervosa.

Agachei-me e girei a torneira. Ela veio com um guincho e a mangueira se


encheu quando a água percorreu por ela, irrompendo no final onde eu a tinha
em meus lábios. Bebi com avidez por alguns segundos da água doce e deliciosa,
em seguida, entreguei a Calder que colocava Xander para baixo suavemente,
endireitou as costas, alongou, antes de pegar a mangueira e beber avidamente.

Uma vez que tivemos tanto quanto o necessário, Calder desligou a água e
ficou olhando para Xander novamente antes que ele o pegou de volta,
colocando-o por cima do ombro. Ele tinha que estar com dor. À medida que
começamos a caminhar até a frente da casa de novo, algo grande e escuro, de
repente se lançou para nós e eu gritei, tropeçando para trás contra Calder.

— Que diabos? — Ele explodiu, tropeçando para trás, também.

Um grande cão começou a latir e atirar-se contra nós novamente. Gritei


mais uma vez, até que percebi que o cão estava acorrentado e só estava se
lançando em nossa direção, tanto quanto poderia ir.

A porta da frente da pequena casa se abriu e a luz da varanda acendeu,


iluminando um homem segurando uma espingarda. — Quem está aí? — Ele
gritou. — Apareça!

— Corre — Disse Calder, tão baixo que eu quase não o ouvi. Ele puxou
minha mão e cambaleei atrás dele. Um tiro de espingarda soou atrás de nós e
deixei escapar um pequeno grito de novo e continuei correndo, segurando a mão
de Calder como se minha vida dependesse disso. Ouvi Xander pronunciar em
voz alta: “Que diabos?” enquanto corríamos. Quando tínhamos chegado a um
bosque de árvores, longe suficiente para saber que não estávamos sendo
seguidos paramos e eu coloquei minhas mãos em minhas coxas, respirando
pesadamente. Calder colocou Xander no chão e Xander se sentou lentamente,
esfregando uma mão sobre o rosto e olhando em volta confuso.

— Que diabos? — Ele perguntou de novo, em voz baixa.

— Você está bem, Eden? — Calder perguntou ofegante, passando as mãos


pelos meus braços.

Balancei a cabeça. — Eu estou bem. Meus pés estão destruídos, mas fora
isso... Sim, estou bem — Suguei o ar, também tentando controlar meu coração
batendo rapidamente e meus pulmões queimando.

Nós dois olhamos para nossos pés. Nossas sandálias estavam


penduradas, as tiras que cruzavam sobre nossos pés em grave perigo de ruptura
e as solas se soltando cada vez que batíamos contra o chão.

Calder olhou para trás e apontou. Virei-me e olhei através de um buraco


entre as árvores. A cidade parecia perto. A esperança surgiu em meu peito e me
virei para Calder, sorrindo. — Quão longe você acha? — Perguntei em palavras
corridas.

Calder coçou o queixo e olhou para Xander, que estava lentamente se


levantando. — Três horas, talvez?

Xander ficou olhando na direção da cidade e depois para Calder. — Você


me carregou até aqui? — Ele perguntou, com a voz muito calma.

— Sim — Disse Calder olhando para ele. — Você teria feito o mesmo por
mim.

Xander apenas estudou-o por um minuto, com os olhos cheios de


emoção. — Sim — Ele disse a palavra soando um pouco estrangulada. — Sim —
Ele olhou de novo para a cidade, parecendo obter suas emoções sobre controle.

— Como estão suas costas? — Perguntou Calder.

Xander se moveu um pouco, como se testando-a. — Ela parece valer um


milhão de dólares — Disse Xander. — Pena que não posso vendê-la por esse
preço.

Calder sorriu e, em seguida, sem falar nada, se virou e começou a andar


de novo. Eu estava exausta, quase caindo de cansaço antes que tivéssemos
encontrado as casas. Mas agora me sentia energizada. Estávamos tão perto.

Nós dissemos brevemente para Xander o que tinha acontecido com


Hector e por que eu tinha chamado. Seu maxilar estava rígido e ele disse: —
Você fez a coisa certa, Eden.
Depois disso, nós caminhamos em silêncio novamente, Calder liderando
o caminho e Xander na parte traseira, os únicos sons eram das nossas sandálias.
Quando olhei de volta para ele, Xander ainda parecia um pouco fora, como se
ele estivesse tentando limpar a névoa em sua cabeça. Mas suas pernas estavam
funcionando muito bem e estava grata que Calder não teria que suportar mais o
seu peso.

Mais uma vez, nos esgueiramos pelas áreas ao lado da estrada que
fornecia a maior parte da cobertura. Felizmente, embora as grandes pedras
fossem poucas e distantes entre si agora, a vegetação aumentou, então nos
movemos entre bosques de árvores e atrás do matagal onde podíamos.

Quando estávamos andando por algumas horas, vimos ao fundo luzes


brilhantes se aproximando e todos pararam e nos movemos para trás de alguns
arbustos grandes floridos. Luzes vermelhas e azuis em cima de um carro em
movimento rápido passaram por nós e observamos se afastarem, as luzes foram
desligadas, mas continuou seguindo na direção oposta. Soltei minha respiração.

— Polícia — Disse Xander.

Balancei a cabeça. — Estão indo em direção de Acadia. Você acha que


Hector chamou a polícia?

— Talvez — Disse Calder, levantando-se e pegando minha mão.

Cerca de quatro quilômetros da orla da cidade, as sandálias de Calder


arrebentaram. Ele fez um som irritado, frustrado e jogou as tiras quebradas em
alguns arbustos. Ele jogou a sola inútil no chão e se virou, colocando as duas
mãos na parte de trás do pescoço e olhou para o céu.

— Aqui — Eu disse, arrancando a barra da minha saia.

— Que diabos você está fazendo? — Perguntou Calder. Caminhando até


mim rapidamente para bloquear as minhas pernas repentinamente nuas de
Xander.

— Estou fazendo um sapato — Eu disse. — Minhas pernas não vão ficar


rasgadas na estrada por estarem nuas, mas seus pés sim.

Xander riu. — Ela está certa, Calder. Sente-se. Vou usar isso para anexar
a sola no seu pé para que possa andar. Nós estamos tão perto.

Calder sentou-se na estrada e deixou Xander amarrar a barra da minha


saia ao redor da sola do seu pé e no tornozelo. Quando ele se levantou e o testou,
encolheu os ombros. — Este aqui parece melhor do que aquele outro.

Eu sorri. — Bem, tenho saia o suficiente para andar pelo mundo a fora, se
precisarmos de mais.
— Oh não, você não — Disse Calder, com um lado dos seus lábios se
curvando para cima. Ele pegou minha mão e começamos a andar novamente.
Dar as mãos, não foi algo que podíamos fazer antes desse momento. Deixou a
sensação de liberdade muito mais doce.

A estrada de terra se transformou em uma rodovia e caminhamos por um


tempo, mantendo-nos o mais distante que podíamos, assim ficaríamos fora da
visão dos motoristas que passavam na rodovia atual. Caminhões muito grandes
passavam com diferentes nomes escritos nas laterais em letras brilhantes, seus
barulhentos motores expandindo e, em seguida, se afastando enquanto
passavam por nós no que parecia ser um flash.

Chegamos à periferia da cidade, assim como o sol da manhã no


horizonte, atirando raios dourados como se nos dando boas vindas. Andamos
toda a noite, mas tivemos bastante energia para sorrir um para o outro e segurar
as mãos firmemente quando nossos pés pisaram na primeira calçada, eu
caminhava desde que era uma criança pequena. Supunha que Xander e Calder
nunca tinham visto uma calçada, mas estava cansada demais para perguntar no
momento.

Depois de mais meia hora mais ou menos, Calder apontou. — Ali — Disse
ele. Eu segui o seu dedo para uma placa que dizia: “Holiday Inn” e a palavra
“Hotel” abaixo. Queria chorar de alívio e felicidade.

Paramos e Calder me puxou para dentro de uma grande porta e Xander


seguiu, gemendo baixinho como se de dor e recostando-se contra a parede.

— Ouça — Calder disse suavemente. — Eu acho que Xander deve entrar e


tentar comprar-nos um quarto. Ele sabe mais sobre dinheiro e conversar com as
pessoas. Além disso, ele está com roupas normais e suas sandálias parecem
melhores do que as nossas, uma vez que ele não andou por tanto tempo com
eles — Calder olhou para Xander. — Eden e eu vamos entrar daqui uns 20
minutos ou mais e você espera em algum lugar onde possamos vê-lo. Então
vamos segui-lo de lá.

Xander deu de ombros com o rosto pálido. — Soa como um plano tão
bom quanto outro qualquer.

Calder estudou-o por um minuto. — Deixe-me ver a suas costas.

Xander parecia que ia protestar, mas, em seguida, virou-se. Pequenos


pontos de sangue manchavam a parte de trás da sua camisa, fazendo o material
escuro mais escuro em alguns pontos. Eu respirei fundo. — Realmente não está
tão ruim assim — Disse Xander. — Acho que só precisa mudar os curativos.

Calder levantou a camisa de Xander e verificou as bordas dos curativos de


algodão. Não podia ver o que ele estava vendo de onde eu estava, mas Calder
franziu a testa e abaixou novamente a camisa. — Ok, vamos limpar você quando
chegarmos lá dentro — Ele empurrou Xander suavemente em direção ao hotel e
entregou-lhe a bolsa de lona, achei que ele parecia um viajante. — Deixe-me
orgulhoso — Ele disse, piscando.

Xander riu. — Não o deixo sempre? — Ele virou-se e caminhou de costas


por um segundo — Vinte minutos — Ele disse. Nós balançamos a cabeça, ele se
virou e caminhou rapidamente para a porta da frente enquanto observávamos.

Suspirei e encostei contra a porta da entrada assim como Xander tinha


acabado de fazer.

— Como você está Glória da Manhã? — Calder perguntou baixinho,


caminhando até mim, inclinando-se e envolvendo os braços ao redor do meu
pescoço.

Coloquei meus braços em volta da sua cintura e encostei-me a seu peito,


inalando seu cheiro reconfortante. Balancei a cabeça para cima e para baixo,
indicando que estava bem.

Virei a cabeça para o lado até que meu rosto estava descansando contra
sua camisa. — Você acha que ele está procurando por nós?

Calder ficou em silêncio por alguns segundos. — Eu não sei. Mas não
importa. Ele não vai encontrar-nos. Esta é uma grande cidade, e amanhã, vamos
ser apenas pessoas comuns, com roupas comuns, fazendo coisas comuns.

Balancei a cabeça, perguntando se já me sentia normal.

Inclinamo-nos um contra o outro em silêncio e depois de alguns minutos,


fechei os olhos e descansei contra ele. Depois do que pareceram apenas alguns
segundos, Calder me cutucou.

— Eu acho que já se passaram cerca de 20 minutos. Vamos.

Dei uma respiração profunda quando Calder se inclinou para trás e pegou
minha mão. — Fique um pouco atrás de mim e não faça contato visual com
ninguém. Mas não pareça nervosa também — Ele instruiu quando começamos a
caminhar.

Um minuto depois, estávamos abrindo as portas do Holiday Inn,


segurando a mão de Calder e andando um pouco atrás dele. O lobby estava bem
deserto, exceto por um homem mais velho usando um aspirador de pó no
tapete. Ele estava cantarolando baixinho enquanto trabalhava. Ele nem sequer
olhou para trás, em nós. Havia uma placa que dizia: “Check In” com uma seta
apontando no corredor. Deixei escapar um suspiro. Não teríamos que passar
por ninguém.
De repente, Xander saiu de um corredor. — Hey pessoal — Ele disse —
Subindo? — Ele piscou e caminhou em direção a uma placa que dizia: —
Elevadores.

Nós dois respiramos surpresos e o seguimos, meu coração pulando com


entusiasmo esperançoso. Calder apertou minha mão. Xander franziu a testa
para as portas de ambos os lados do corredor, enquanto olhava entre elas e o
cartão na mão. Inclinei-me para a frente e pressionei a seta para cima. Às vezes,
sabia alguma coisa e não conseguia me lembrar de como ou porquê - percebi
que tinha que ser algo que eu tinha aprendido no passado - mas as memórias
específicas de realmente fazê-los se foram.

Um segundo depois, as portas na nossa frente tiniram abertas e nós


olhamos para dentro, Xander entrou antes, Calder e eu seguimos atrás. Quando
estávamos dentro, Xander olhou para o cartão na mão de novo e disse: — Dez —
em voz baixa. Então ele olhou para os botões na parede e apertou o número dez.

As portas se fecharam e o elevador balançou. Calder respirou fundo e


colocou uma palma em cada parede, apoiando-se. Ri baixinho e Xander olhou
para ele e riu também, e, em seguida, o elevador estava subindo rapidamente.
Quando parou e as portas se abriram, Calder me agarrou e pulou, tropeçando
longe das portas abertas o mais rápido possível. Não pude deixar de sorrir.
Calder olhou para mim e balançou a cabeça. — Isso não pode ser natural.

Xander riu. — Você pode pegar as escadas amanhã — Ele apontou para
uma placa que dizia: “Escadas”.

Calder assentiu. — Eu vou — Ele olhou para a placa. — Pelo menos está
tudo etiquetado no mundo exterior — Inclinei a cabeça para Calder e ri
baixinho, levantando as sobrancelhas.

Seguimos mais placas para chegar até a porta com o número do cartão de
Xander, em seguida, levou alguns minutos para descobrir que abriríamos a
porta usando o cartão. Era como uma espécie de chave eletrônica.

Quando entramos no quarto escuro e fechamos a porta atrás de nós,


ficamos ali parados por um minuto, olhando ao redor. Estávamos realmente
aqui? Tínhamos feito isso? Alegria, rápida e completa encheu o meu corpo e eu
soltei um risinho e me lancei nos braços de Calder, rindo e chorando ao mesmo
tempo. Ele me pegou e riu em meu pescoço, apertando-me com força.

— Bem, obrigado por nada. Fui eu quem nos trouxe até aqui com meu
charme fácil e sorriso vencedor — Xander resmungou enquanto caminhava para
a cama perto da parede mais distante e colocando a bolsa que nós tínhamos
revezado carregando, uma vez que Xander podia andar.

Calder me pôs no chão e nós dois nos aproximamos dele. Puxei sua
camisa para que pudéssemos todos nos abraçar, embora Calder e eu fossemos
cuidadoso para não tocar em suas costas enquanto ele ria e dava um tapinha em
nossos ombros. — Fizemos isso, parceiros — Ele disse.

— Foi difícil? — Calder perguntou: — Conseguir este quarto, quero dizer?

— Não — Disse Xander. — Foi fácil, na verdade. O garoto da recepção


parecia que estava dormindo, provavelmente prestes a terminar o turno. Paguei
em dinheiro e assinei um termo e foi isso.

— Quanto custou? — Eu perguntei.

— Duzentos e quarenta dólares — Disse Xander. — Aluguei por duas


noites. Sei que é muito. Mas agora temos tempo para entrar em contato com
Kristi, pegar algumas roupas para você — Ele acenou para mim. — E tentar
penhorar o ouro — Balancei a cabeça, abafando um bocejo.

— Primeiro, porém — Calder disse. — Vamos nos limpar e dormir um


pouco. Xander, tome banho e depois vou reenfaixar suas costas.

— Okey, o cara da recepção disse que havia uma máquina de gelo em


cada andar. Talvez se eu colocar um pouco de gelo por um tempo, possa ajudar
com um pouco da dor, agora que as ervas mágicas estão passando — Xander
piscou, mas depois fez uma careta enquanto ajustava-se um pouco, e depois
começou a andar em direção ao banheiro.

Depois que ele fechou a porta, me virei para Calder. — Vocês já usaram
algum alívio para dor? Como Tylenol?

Calder olhou-me fixamente e balançou a cabeça. — Eu sei o que é. Essa é


uma das coisas que as pessoas que viviam fora antes de Acadia falavam que
sentiam falta, mas não, nunca usei.

Balancei a cabeça. — Precisamos conseguir algum para Xander.

Calder suspirou e passou a mão pelo cabelo. — Isso vai ter que esperar até
amanhã. Acho que todos nós precisamos descansar mais do que Xander precisa
de alívio para dor. Especialmente desde que ele passou a vida toda sem isso.

Balancei a cabeça e bocejei novamente. — Ok, vá buscar gelo e volte logo.

— Você acha que isso custa dinheiro?

Eu fiz uma careta. — Não sei. Leve algum dinheiro caso precise.

Calder balançou a cabeça e pegou a bolsa na cama de Xander tirou


algumas moedas e as colocou no bolso da calça jeans.

Calder me puxou em direção a ele, beijou meus lábios, e então se virou e


saiu pela porta.
Eu me afundei na outra cama e deitei, suspirando ao sentir o colchão
macio sob minhas costas. Comecei a adormecer e me forcei a sentar. Se eu
adormecesse, nunca iria acordar. E eu queria tomar banho e cuidar dos meus
pés que estavam praticamente pretos com crostas de sujeira e cheios de bolhas,
antes de dormir nessa cama limpa. Eu ia dormir em uma cama com Calder pela
primeira vez. A emoção deu um chute na minha espinha, apesar do meu estado
de exaustão. Sim, estávamos em um hotel e sim, Xander estaria dormindo bem
próximo de nós, mas ainda assim, eu estaria sob os cobertores com Calder.
Sentia-me tonta.

Deveria ter ido com ele buscar gelo. Teria me mantido acordada. Deixei o
quarto de hotel e sai para o corredor olhando para os dois lados. O andar estava
tranquilo, nem uma pessoa a vista. Virei a esquina e vi uma placa “gelo” e dei
um sorriso. Tudo era etiquetado no mundo exterior, felizmente. Segui a placa e
quando virei a esquina, vi Calder em pé na frente de uma máquina grande de
Coca-Cola. Ele virou e se assustou quando me viu e, em seguida, por alguma
razão, parecia envergonhado. — Eu consegui um pouco de comida para nós —
Disse ele, olhando para a máquina apenas um pouco abaixo do corredor.

Sorri para ele e inclinei a cabeça, olhando para a máquina de Coca-Cola.


— Refrigerante — Eu disse. — Você quer experimentar um?

Calder colocou as mãos nos bolsos. — Eu já bebi Coca-Cola antes — Disse


ele. — Do Posto Florestal.

— Ah — Estudei-o. — Vamos pegar um.

Ele balançou a cabeça. — Não, não, não devemos desperdiçar nosso


dinheiro com isso.

Ri baixinho. — Calder, é apenas um dólar. Vamos ostentar. Só dessa vez


— Pisquei para ele. Ele parecia tão dividido.

— Eu realmente não preciso disso — Ele disse.

Coloquei a mão no bolso da frente e peguei um punhado de moedas,


levantando uma sobrancelha para ele. — Vamos compartilhar. A propósito, não
tive a chance de dizer o quanto gosto de você de jeans.

Calder sorriu para mim enquanto eu caminhei para a máquina de Coca-


Cola e depositei quatro moedas de vinte e cinco centavos. O refrigerante caiu
ruidosamente, me abaixei e peguei, entregando-o a Calder. Ele pegou e estudou
como se fosse uma delicada peça de joias caras. Eu sorri para ele. — Acho que
você gosta de Coca?

— Coca? É assim que se chama?


Dei de ombros. — Sim, é como o nome abreviado. É como a maioria das
pessoas chama.

Ele balançou a cabeça, franzindo o cenho para a lata. — Sinto que há


tantas coisas para aprender, tantas coisas para pôr em dia. Sinto como se
acabasse de me mudar para outro planeta.

Deixei escapar uma risada ofegante. — Você meio que se mudou — Fiquei
quieta por um segundo, pensando. — Eu sei como você se sente. Eu sei que
experimentei mais no pavilhão principal, mas ainda tenho muito a descobrir,
também — Estendi minha mão. — Vamos descobrir isso juntos, ok?

Calder sorriu gentilmente para mim. — Sim — Ele segurou minha mão,
levou até seus lábios, beijou-a e depois roçou seus lábios suavemente.
Borboletas esvoaçavam entre as minhas costelas.

— É melhor voltarmos com o gelo — Ele sussurrou.

Eu balancei a cabeça. — Ok.

Viramos no corredor para o pequeno nicho com outra placa para o gelo.
Havia alguns recipientes pequenos próximos, Calder pegou um e começou a
enchê-lo com gelo. Olhei para trás e vi a pequena máquina na parede fixada com
Tylenol, Advil, produtos de proteção feminina e me aproximei, lendo o último
produto, preservativos Trojan. Não sabia o que eram e por isso olhei de esguelha
para o pequeno pacote. — Contraceptivo Ultrafino — Eu li.

Calder veio atrás de mim. — Oh, sorte. Tylenol.

Eu ri baixinho e depois deixei cair as moedas na máquina e peguei os dois


pacotes pequenos, quadrados de alívio para dor, colocando-os no bolso da saia.

Notei um armário. — Vamos ver se há algo lá para usar para os curativos


em Xander.

Calder abriu a porta e nós verificamos sobre as prateleiras de papel


higiênico e toalhas.

— Um kit de primeiros socorros — Eu disse, com entusiasmo, curvando-


me e pegando da prateleira mais baixa. — Perfeito. Haverá ataduras aqui.

— Bom — Disse Calder. — Vamos.

Quando estávamos saindo, duas meninas da nossa idade estavam


entrando e vi quando os olhos de ambas permaneceram em Calder.

Resisti ao impulso de enfiar o meu pé e fazer ambas tropeçarem. Em vez


disso, enfiei a mão vazia no bolso traseiro de Calder, olhei para elas e sorri
lindamente quando vi que elas estavam observando suas costas enquanto nos
afastávamos.

Calder riu baixinho.

Olhei para minha saia rasgada, e os meus pés sujos, mal contidos nas
sandálias arrebentadas e suspirei. Passei a mão pelo meu cabelo emaranhado. —
Essas meninas provavelmente pensam que você me resgatou de alguma sarjeta,
como algumas das mulheres que chegam a Acadia.

Calder se inclinou e sussurrou em meu ouvido. — Gosto de minha mulher


recém-tirada da sarjeta.

Revirei os olhos e bati de leve na porta do nosso quarto de hotel. Poucos


segundos depois, Xander a abriu, com apenas uma toalha enrolada na cintura.
— A água quente vem direto da torneira — Disse ele com entusiasmo.

Eu ri e assim o fez Calder, fechando a porta atrás de si.

— Aqui — Eu disse, entregando um pacote de Tylenol. — Tome isso e


Calder o enfaixará. Vou tomar um banho.

Fui para o banheiro quando Xander aproximou-se da cama. Arrepiei-me


quando vi o quão ruim suas costas ainda pareciam. Estamos muito longe de lá,
pensei. Estamos a salvo.

No banheiro, retirei minhas roupas, as enrolei e coloquei no lixo. Havia


um roupão na parte de trás da porta. Teria que usar isso até que Calder e
Xander pudessem sair e comprar algo para vestir. Minhas roupas eram farrapos
imundos. Deixei minhas sandálias no lixo também e me encolhi ante aos meus
pés. Lavei minha calcinha e sutiã na pia com água quente e sabão e, em seguida,
as pendurei para secar.

Liguei o chuveiro tão quente quanto poderia suportá-lo e, em seguida,


entrei debaixo do jato, suspirando com o calor em cascata sobre mim. Lavei o
cabelo duas vezes e condicionei e, em seguida sentei no chão da banheira e usei
uma toalha de rosto e uma barra de sabonete para limpar os pés. Uma vez que
eles estavam limpos, as bolhas eram mais visíveis, mas ainda pareciam cem
vezes melhor.

Enquanto estava ali sentada no chão da banheira do chuveiro, uma onda


de emoção, de repente tomou conta de mim. Imaginei Hailey e as quatro
crianças que eu tinha aprendido a amar. Nunca os veria novamente. Tão feliz
como eu estava por estar fora de Acadia, um sentimento de melancolia passou
por mim quando percebi que tudo o que eu conhecia e estava familiarizada não
era mais uma parte da minha vida.
Quando a cortina do chuveiro foi de repente puxada de lado, eu gritei e
me assustei, caindo para trás e batendo meu cóccix na lateral da banheira.

— Whoa, desculpe — Disse Calder, entrando no chuveiro comigo.


Coloquei uma mão no meu peito e limpei minhas lágrimas com a outra. Ele
estendeu a mão e me puxou para ele.

— Ei, Glória da Manhã — Ele disse baixinho, me puxando para seu peito.
— O que há de errado?

Balancei minha cabeça, um novo lote de lágrimas rolando pelo meu rosto.
— Nem mesmo sei — Eu chiei. — Só percebi que nunca verei Hailey
novamente... Nunca mais verei nossa nascente... Nós nos apaixonamos lá —
Olhei para ele com tristeza.

Calder sorriu gentilmente, limpando minhas lágrimas com o polegar. —


Nós vamos nos apaixonar mil vezes de novo — Ele sussurrou. — Em todos os
tipos de lugares novos.

Consegui um pequeno sorriso e funguei.

— Certo? — Ele perguntou, roçando seus lábios sobre os meus.

Eu balancei a cabeça. — Tudo bem — Sussurrei de volta.

Calder estudou meu rosto por alguns segundos. — Eu vou cuidar de você,
Glória da Manhã.

— Eu sei — Eu sussurrei. E essa era a coisa que eu mais gostava em


Calder. Ele não apenas me protegia de forma física. Ele protegia tudo de mim:
meu coração, meus sentimentos e meu estado de espírito. Eu o amava do fundo
da minha alma. — Eu vou cuidar de você, também.

Ele sorriu. — Eu sei.

Ele me beijou suavemente e quando nossas cabeças se moveram para


baixo do jato, ele me soltou e riu, colocou a mão para sentir a água. Este era o
seu primeiro banho.

Virei-nos ao contrário e assim ele ficou diretamente embaixo do chuveiro


e ele sorriu. Sua alegria era contagiante.

— Xander? — Perguntei, sentindo-me estranha que ele saberia que


estávamos no banho juntos.

— Ele caiu no sono de novo antes de eu sequer fazer um curativo nele.


Acho que o Tylenol começou a fazer efeito e o alívio emanou dele. Acho que ser
carregado nas costas de alguém por trinta quilômetros gasta com muita energia.
Ri baixinho e acenei, pegando o frasco de xampu e despejando um pouco
na minha mão. Estendi a mão para esfregá-lo em seu cabelo e ele se inclinou
para a frente para que eu pudesse alcançar.

Ensaboei o cabelo e passei as pontas dos meus dedos sobre o couro


cabeludo, trabalhando o xampu completamente. Ele gemia baixinho, fechando
os olhos. Sorri, passando os dedos atrás das orelhas e ao redor da parte de trás
do seu pescoço. — Incline para trás — Eu disse calmamente.

Uma vez que todo o xampu foi enxaguado do seu cabelo, peguei o
sabonete e disse: — Vire-se.

Calder se virou debaixo do chuveiro, ensaboei minhas mãos e passei


sobre os belos músculos das suas costas lisas, massageando seus ombros com o
sabonete escorrendo. Ele abaixou a cabeça e apoiou uma das mãos no azulejo na
sua frente e suspirou. Ele estava molhado, duro e grande. Corri minhas mãos
descendo em seu traseiro musculoso e limpei atrás das suas pernas. Quando
cheguei a seus pés, virei-me e peguei a tolha e fiz a mesma coisa para ele que eu
tinha feito para mim, lavando as horas e horas de sujeira da estrada dele,
tomando cuidado para não machucar as partes feridas dos seus pés.

Trabalhei meu caminho de volta até a frente das suas pernas, beijando a
curada, mas escoriada pele coberta de pelo escuro. Eu lentamente massageei
suas coxas musculosas e movi meus olhos para cima lentamente. Logo acima
das minhas mãos, ele estava duro e rígido, e quando inclinei minha cabeça para
trás e olhei para seu rosto, seus olhos estavam semicerrados e cheios de luxúria.
Engoli em seco, lentamente ficando em pé.

— Desculpe — Ele disse em voz baixa. — Não posso fazer nada. Suas mãos
me fazem sentir tão bem.

Ensaboei minhas mãos mais uma vez e deslizei sobre seu peito, os
músculos ficaram tensos sob o meu toque. Corri minhas mãos sobre os seus
braços e então puxei cada mão, limpando entre seus dedos lentamente. Seu
peito subia e descia enquanto sua respiração aumentava. Meu batimento
cardíaco acelerou também.

Olhei em seus olhos. Peguei um dedo, e trouxe para os meus lábios,


arrastando-o sobre eles antes de abrir e sugá-lo delicadamente em minha boca.
Ele respirou alto e empurrou seu dedo lentamente. Chupei-o novamente,
arrastando minha língua ao redor dele e fechando os olhos. Calder gemeu no
fundo de seu peito.

De repente, ele retirou o dedo da minha boca e pegou meu rosto em suas
mãos, trazendo sua boca para a minha. Ele mergulhou sua língua e eu o
encontrei com a minha, rodopiando e degustando, levantando meus braços
acima e ao redor de seu pescoço. Pressionei meu corpo molhado ao seu e ele
gemeu baixinho ao sentir meus mamilos esfregando contra o seu peito. Ao
nosso redor o vapor e a água espirravam contra o azulejo, bloqueando todos os
outros sons, exceto nossa respiração misturada e gemidos suaves.

Calder beijou meu pescoço quando pressionou aquela parte quente, dura
na minha barriga, movendo-a em círculos lentos. Inclinei minha cabeça para
trás e suspirei. A sensação de formigamento cresceu entre as minhas pernas e
meu coração começou a bater num ritmo lento e constante em meu interior. —
Eu quero você dentro de mim — Eu sussurrei. Esta era a nossa recompensa por
aquilo que tínhamos acabado de suportar. Merecemos isso, precisávamos disso.

A boca de Calder voltou para a minha enquanto ele andou comigo alguns
passos para trás até que eu estava pressionada contra a parede do chuveiro.
Coloquei uma perna em cima da pequena borda do canto da banheira e Calder
dobrou suas pernas e guiou-se na minha abertura. Nós rimos suavemente
quando ele levou várias tentativas para obter as coisas alinhadas corretamente.
Mas, finalmente, ele empurrou para dentro de mim e nós dois suspiramos de
felicidade. Calder se movia lentamente e deliberadamente. Tirei meus braços
que estavam em volta dele e usei minhas mãos atrás de mim para me manter
estável e fazer com que a minha pele parasse de bater no azulejo

— Você é tão gostosa, tão apertada — Calder arfou contra meu pescoço,
empurrando firmemente dentro de mim. Para mim, desta vez sentia-me muito
melhor do que a primeira vez e relaxei contra ele, gemendo baixinho quando eu
agarrei-o profundamente dentro de mim.

Calder levou seu polegar e abaixou, circulando-o lentamente em meu


clitóris sensível que me fizeram empurrar contra ele e expirar duramente. Meus
mamilos endureceram e inclinei minha cabeça para trás contra o azulejo,
tentando concentrar-me nas muitas sensações e sentimentos variados.

Quando senti sua boca quente e úmida cobrir um mamilo, ofeguei, o


prazer quente atirando dos meus seios e entre as minhas pernas, exatamente
onde o polegar de Calder circulava cada vez mais rápido. — Isso é... Oh, por
favor, não pare, é tão bom — Eu ofegava. Sentia em vez de ouvir o gemido de
Calder quando ele trocou de mamilo e arrastou-o profundamente em sua boca,
sugando suavemente.

Eu não tinha ideia de onde ele terminava e eu começava, só que nos


movíamos juntos, parecendo termo-nos fundido em um só. O calor do chuveiro
– dele - tinha chegado a minha cabeça, com certeza. Estava meio fora de
controle com a emoção, cansaço, amor e temor provocando prazer.

Aquela sensação de formigamento esmagador aumentou, e mais intensos,


quentes pontinhos de luz cresceram e estouraram, o puro prazer brilhando ao
meu redor quando apertei e estremeci, e depois gritei suavemente em seus
braços. Onda após onda de glorioso prazer me venceu. As estocadas de Calder
aumentaram curtas e superficiais, e o vi quando seus olhos se fecharam e seus
lábios se separaram, e ele parecia quase com dor. Nada neste mundo poderia ser
mais bonito. Meu próprio corpo se apertou novamente quando um tremor
passou por mim com a visão do seu prazer.

Certamente, se ele tivesse me pedido para andar mais trinta quilômetros,


com os pés descalços, desta vez, eu teria.

De repente, ele grunhiu, um som em algum lugar entre a felicidade e a


dor. Ele saiu de mim rapidamente, pressionando em meu estômago, e
desabando sobre mim, gemendo contra o meu pescoço. Senti seu fluído quente e
pegajoso escorrendo na minha pele.

Ele se afastou, ofegando fortemente e colocou a testa na minha, nós dois


apenas ficamos respiramos assim por um minuto. Nunca tinha me sentido mais
perto de Calder. Ser capaz de fazer amor sem sermos descobertos, somente
aumentava o prazer.

— Eu nunca, jamais esquecerei meu primeiro banho — Calder sussurrou.

Eu ri baixinho. — Apesar de já ter tomado tantos banhos, esse foi muito


bom para mim também.

Calder riu. Limpamo-nos rapidamente e, em seguida, desligamos a água e


saímos, secando um ao outro ternamente.

Calder usou a toalha para secar meu cabelo, até que ficou apenas
levemente úmido. Vesti o robe da parte de trás da porta e Calder amarrou uma
toalha na cintura.

Nós não tínhamos escovas de dente, mas usamos um pequeno frasco de


antisséptico bucal oferecido pelo hotel. Calder me observou enquanto
bochechava e em seguida cuspi no ralo, então depois, ele seguiu meu exemplo.
Nós teríamos que conseguir algumas coisas essenciais amanhã.

Apagamos a luz e entramos no quarto onde o ar condicionado estava


ligado, criando um zumbido constante e bloqueando qualquer ruído. Xander
estava deitado de bruços na cama perto da janela, roncando suavemente.

Era de manhã, mas as cortinas estavam bem fechadas e bloqueava quase


toda a luz.

Calder e eu entramos debaixo dos cobertores e nos viramos um para o


outro no quarto escuro. Calder empurrou meu cabelo do meu rosto. — Eu te
amo, Glória da Manhã — Ele sussurrou.

— Eu também te amo, Caramelo — Eu disse de volta, minhas pálpebras


pesadas fechando por vontade própria. O calor de Calder me cercou. Estava
finalmente dormindo em uma cama com ele. Alegria encheu meu coração.
Minutos depois, estava dormindo.

Quando acordei no final da tarde, desorientada e carregada de sono, o


cheiro de Calder ainda me rodeava, virei-me para ele, que não estava lá.

Sentei-me, trazendo os cobertores comigo, já que o meu robe tinha se


aberto durante o sono. Imediatamente vi o bilhete sobre o criado-mudo ao meu
lado e peguei.

Glória da Manhã,

Saímos para pegar algumas roupas, sapatos e outras necessidades.


Vamos trazer um pouco de comida, também.

Eu te amo. C.

P.S. Dormir em um colchão de verdade pela primeira vez ficou em


segundo lugar para dormir ao seu lado.

Eu sorri e coloquei o bilhete de volta para baixo, percebendo que ele tinha
deixado um saco de amendoins e a Coca-Cola ainda fechados sobre a mesa para
mim, também. Sua reflexão me fez sorrir. Estiquei-me e saí da cama. Depois de
usar o banheiro e refrescar-me, comi o saco de amendoins e bebi uma garrafa de
água que o hotel fornecia.

Caí de costas na cama, olhando para o teto, sentindo-me feliz, sentindo-


me segura e sentindo-me livre.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

Calder

Eu tinha acordado com a sensação de pele quente contra o meu rosto, o


cheiro de flores de maçã em volta de mim. Um sonho, pensei, um belo sonho.
Mas não era. Isso era real. Eu queria ficar envolto em seu calor durante todo o
dia, seu perfume delicado me embalando em sonhos pacíficos. Mas tinha que
cuidar dela. Havia coisas que ela precisava.

Então, agora Xander e eu estávamos andando pelos corredores de uma


loja chamada “Target” que o funcionário do hotel nos tinha indicado quando
dissemos o que precisávamos. “Nossas coisas foram roubadas”, Xander tinha
explicado. “Precisamos de tudo”. E então ele balançou a cabeça e deu de
ombros, como se dissesse: O que posso fazer? A condição do mundo é uma
lástima.

— Ainda bem que você não é apenas um ladrão talentoso, mas um


mentiroso consumado, também — Eu disse enquanto caminhávamos para a
porta do hotel.

— Não se esqueça de especialista em chamado de coruja — Ele piscou.


Seu rosto ficou sério. — Ainda estou muito decepcionado que nem cheguei a
usá-la.

Eu ri. Eu ainda usava uma grande faixa envolta completamente do pé, já


que não tinha sapatos. Esperávamos que se as pessoas notassem, elas apenas
pensariam que eu tinha uma lesão, não que eu estava usando-a para substituir
um sapato.

Atravessamos o grande estacionamento da loja e ambos demos um salto


para trás quando as portas duplas da frente abriram antes mesmo de nós as
tocarmos. — O que o...? — Xander disse baixinho enquanto nós dois olhamos ao
redor e na parte superior da porta. Nós a atravessamos timidamente e entramos
na enorme loja muito iluminada.

Nós andamos pelos corredores. Quando olhei para Xander, sua boca
estava aberta e seus olhos estavam cheios de temor. Eu tinha certeza que tinha o
mesmo olhar no meu rosto. Havia muito de... Tudo. E era tudo tão... Colorido.
Uma parte da loja tinha roupas e sapatos, e outra tinha sabonetes e produtos de
beleza, e uma seção enorme tinha até mesmo comida, todas embaladas com
imagens brilhantes nas caixas.
— Você já viu esse tipo de coisa? — Perguntei para Xander.

— Sim, alguns no Posto Florestal, mas nunca tantos assim — Ele olhou
em volta, maravilhado.

— Vamos pegar o que precisamos e voltar — Eu disse. — Nós


provavelmente parecemos ser alienígenas de outra galáxia, pela maneira que
nós estamos olhando ao redor.

— Sim, ou em algum tipo de drogas.

Eu ri.

Cada um de nós escolheu um par de sapatos e certificamos que eles se


encaixassem em nossos pés. Quando coloquei meu pé dentro do tênis
acolchoado e dei alguns passos sobre ele, gemi. — Uau, isso é bom — Eu disse,
balançando ligeiramente.

Xander riu. — Você parece um idiota.

— Olha quem está falando — Eu disse, pegando o sapato. — Você quer


sandálias.

Xander olhou para a botina de couro marrom em seu pé. — Essas não são
sandálias.

— Sim, são. É o que diz na etiqueta.

Xander virou a etiqueta no seu tornozelo e leu. Ele tirou a botina e


pendurou de volta na prateleira. — Eu sabia disso.

Eu ri.

— Ouça, só temos cerca de cento e quinze dólares, então vamos gastar o


mínimo possível.

Concordei, verificando as etiquetas de preço dos sapatos que havia


pegado. — Espero que possamos repor algum dinheiro com a joia.

— Sim, mas isso não é coisa certa ainda.

Balancei a cabeça. — É provável que tenhamos o suficiente em trocados


para comer até que possamos falar com Kristi.

— Sim, vou tentar mais tarde. Ela sai do Posto Florestal às oito horas.
Acho que ela vai estar em casa por volta das nove... Espero.

— Você sabe mesmo como usar um telefone?

— Vou descobrir isso. Enfim, Eden vai saber como.


— Oh, bem, ela vai. Falando em Eden, que tamanho de sapato que você
acha que ela usa?

— Pequeno.

— Não acho que sapatos se medem assim.

— Eu não sei, então. Pegue um que seja metade do seu tamanho. É


provavelmente o dela.

Peguei um par de sandálias que não tinha faixa atrás. Pensei que seria
mais complacente de tamanho, mesmo que estivesse um pouco fora.

Estávamos bem em matéria de roupas por enquanto, mas Eden precisava


de algo. Nós andamos através das roupas femininas, confusos.

— Posso te ajudar com alguma coisa?

Virei-me e uma menina com uma camisa vermelha estava atrás de mim.
Olhei para baixo e seu crachá dizia, “Ashleigh.” Seus olhos se arregalaram e ela
piscou para mim. Imaginei que eu parecia muito ruim. Não tinha feito a barba
em dois dias. Limpei a garganta.

— Oi, Ashleigh, uh, sim, preciso de alguma coisa para a minha namorada
e nunca escolhi roupas para garotas antes.

Ela tinha um olhar de decepção no rosto, e olhei para Xander,


perguntando se eu tinha dito algo errado.

— É claro. Bem, é para uma ocasião especial, ou apenas algo casual?

— Algo casual.

— Bem, um vestido sempre funciona. Que tal um desses? — Ela levantou


um vestido com brilhantes flores azuis e verdes que parecia que mal iria cobrir
os seios de Eden.

— Uh, algo mais... Coberto? — Perguntei.

Ashleigh suspirou. — Ela poderia colocar um suéter por cima — Ela


ergueu um suéter com mangas curtas. Olhei entre o vestido e o “suéter” não
gostando da ideia de Eden usando qualquer um.

— É isso que as meninas usam?

Ashleigh olhou para mim. — Bem... Sim.

— Parece bom. Vamos levá-lo — Disse Xander.

Ashleigh olhou para ele. — Qual tamanho é ela?


— Pequeno.

Ela assentiu e vasculhou as prateleiras, pegando outro do mesmo vestido


e suéter. Ela entregou-os para mim. E eu sorri.

— Obrigado por sua ajuda.

— Não tem problema. Obrigada por comprar na Target — Ela deu um


sorriso falso e foi embora.

Nós andamos de novo pelos corredores onde tínhamos visto sabonete e


escovas de dente, creme dental e uma escova para Eden. O hotel tinha todas as
outras coisas que precisávamos, e nós não queríamos gastar dinheiro
desnecessário.

Nossa última parada foi no departamento de alimentos. Olhamos em


volta, confusos sobre o que era tudo. Queria pegar as coisas e ler, mas não tinha
tempo agora e apesar de estar supostamente no departamento de alimentos,
metade das coisas não se parecia com comida. Finalmente, escolhemos pão, um
pouco de queijo e um saco de maçãs.

Voltamos para a frente da loja, onde tinha visto pessoas pagando as suas
compras e seguimos atrás de uma mãe com dois filhos sentados em seu
carrinho. Vimos que ela colocou tudo sobre o balcão e, em seguida, o balcão
moveu suas coisas direito para as mãos da funcionária.

— Uau! — Xander disse, arregalando os olhos quando olhou para mim.


Eu só balancei a cabeça, com os olhos arregalados também.

Olhei para a funcionária que tinha os olhos estreitados em nós enquanto


corria cada item em uma máquina que soava alto com cada item.

Quando chegou a nossa vez, fizemos o mesmo e vi como a funcionária


ensacava nossos itens, nossas cabeças se movendo de um lado para o outro
quando cada item era puxado para a frente.

— Cento e quatorze dólares e trinta e seis centavos — Disse a funcionária,


seus olhos se estreitaram em nós. Estávamos obviamente fazendo algo errado
novamente.

— Eu somei tudo em minha cabeça e pensei que só daria cento e cinco ou


menos — Disse Xander com o canto da boca.

— Imposto — Disse a funcionária, ouvindo-o.

— Oh — Disse Xander de volta. — Certo. Impostos. Sim, esqueci o


imposto.
— Nunca estivemos em uma Target antes — Expliquei. Xander suspirou e
balançou a cabeça.

A funcionária olhou para nós. — Vocês são Amish ou algo assim?

— Sim — Disse Xander, entregando o nosso dinheiro. Tínhamos acabado


de gastar praticamente cada centavo dele.

A funcionária assentiu com entendimento. — Eu imaginei, assisto a esses


programas — Ela pegou o nosso dinheiro e colocou na gaveta e pegou alguns
trocos.

— Oh, uh, isso é bom — Disse Xander, claramente confuso.

Eu ri. Não pude evitar.

— Vocês vão se sair bem — Disse ela, dando-nos um sorriso e entregando


a Xander o troco. — Garotos bonitos como vocês, simplesmente peçam ajuda se
precisarem, ok? — Ela piscou para nós.

— Obrigado — Disse Xander, olhando para ela por um minuto. — Oh,


estamos à procura de um lugar para penhorar joias. Pode nos dizer para onde
ir?

A funcionária franziu as sobrancelhas. — Bem, não posso dizer


exatamente, mas se você andar cerca de um quatrocentos metros nessa direção
— Ela apontou o dedo para fora das portas a nossa frente. — Você irá para um
bairro que tem provavelmente uma dúzia deles.

— Certo. Ok, obrigado.

Fora da loja, sentamos em um banco e abrimos a embalagem dos sapatos


e colocamos. A sensação de usá-los era incrível. Praticamente podia ouvir
minhas bolhas suspirando de felicidade.

Caminhamos na direção que a funcionária tinha nos apontado e cerca de


dez minutos depois, os prédios começaram a parecer mais degradados e grupos
de pessoas estavam nas esquinas, alguns rindo e outros apenas parecendo
andando por ai em uma confusão. Xander e eu não queríamos falar. Estávamos
tão ocupados olhando em volta, absorvendo tudo, tentando entender como
funcionava a grande sociedade que agora éramos uma parte. Eu pensei que
tinha entendido muito sobre o que das pessoas falavam da vida que eles viveram
antes de Acadia, mas estar nisso, era uma experiência completamente diferente.

— Olha — Xander disse, apontando o dedo do outro lado da rua. Virei a


cabeça para ver uma placa gigante que dizia: “LOJA DE PENHOR”. Não pude
deixar de rir baixinho. — Bem, não é fácil deixar passar. Vamos.
Atravessamos a rua, entramos na loja e fomos até o balcão. Um homem
saiu da parte dos fundos. — Posso ajudar?

Xander pegou a peça de joia que ele tirou do bolso e colocou em cima do
balcão. — Eu quero vender isso.

O homem pegou a corrente pesada e olhou, apertando os olhos e rolando


um pequeno palito em sua boca. Meu coração disparou. E se isso não funcionar?
Não teríamos basicamente nenhum dinheiro sobrando.

— Você tem identidade?

— Não, todas nossas coisas foram roubadas — Disse Xander.

O homem estudou-o. — Você precisa de uma identidade para penhorar


algo em minha loja.

Xander piscou para ele, abrindo a boca e, em seguida, fechou quando


olhou para a corrente na mão do homem.

— Mas se for comprá-lo de você, nenhuma identidade é necessária.

Eu não era tão estúpido para não ver que estávamos prestes a ser
enganados. — Quanto? — Perguntei.

— Quinhentos dólares.

Significava que provavelmente valia quatro vezes mais. — Nós vamos


aceitar — Disse Xander. Balancei a cabeça. Que escolha nós tínhamos? Além
disso, tivemos um pouco mais que isso. Talvez Kristi fosse nos ajudar na
próxima vez e teríamos um preço mais justo.

O cara acenou e foi para o fundo. Quando ele voltou, contou cinco notas
de cem dólares e colocou no balcão. — Foi um prazer negociar com vocês,
rapazes — Disse ele, olhando para o lado e arrotou.

Fiz uma careta e puxei o braço de Xander quando ele pegou o dinheiro.
Ele colocou-o no bolso e caminhamos até a porta. Continuei tendo a sensação de
que alguém ia chegar e nos puxar para trás, de modo que quando deixamos a
porta atrás de nós, soltei uma respiração de alívio.

— Vamos voltar — Eu disse, de repente, não gostando da sensação de


estar neste bairro. Xander parecia se sentir da mesma forma quando olhou em
volta nervosamente.

Voltamos para o hotel, andando tão rápido quanto possível.

Estando na cidade com carros correndo entre nós, ruídos repentinos com
que eu não estava familiarizado, grito de pessoas que eu não conhecia, olhos de
estranhos em mim, causou uma breve saudade de Acadia e tudo o que eu estava
acostumado. Era confuso, já que eu queria tanto conhecer o mundo lá fora e
agora aqui estava fazendo isso. Mas por dentro, ansiava pelas coisas e ambientes
familiares que me faziam sentir confiante e no controle, pelo modo de vida que
eu entendia.

Eden, eu precisava de Eden, o meu conforto, meu propósito, a outra


metade do meu coração. Ganhei velocidade e Xander correu para alcançar-me,
não fazendo nenhuma pergunta, parecendo entender por que estava com tanta
pressa.

Xander usou a chave para abrir a porta do quarto e eu praticamente


empurrei-o para o lado para passar. — Eden?

Todas as cortinas estavam abertas, mostrando o céu noturno. As camas


foram feitas e tudo parecia que tinha sido esticado. Mas onde estava Eden? —
Eden? — Chamei novamente.

Larguei todas as bolsas das minhas mãos sobre a cama com a minha
frequência cardíaca começando a aumentar.

— Aqui — E gritou, saindo do banheiro. Respirei, colocando a mão sobre


o peito.

Corri em direção a ela e peguei-a em meus braços, que riu enquanto eu a


apertava com força.

— Conseguiram? — Perguntou ela.

— Sim — Eu disse, enterrando meu nariz em seu pescoço perfumado. Eu


inalei o cheiro dela, sentindo-me em paz. — Temos dinheiro, roupas e comida.

Eden suspirou. — Ótimo. Deixe-me ver. Oh, e estou morrendo de fome.


Alimente-me.

Eu ri e a coloquei para baixo, inclinando-me para abrir a bolsa com a


comida dentro.

Quando tinha colocado toda a comida para fora, Eden voltou ao


banheiro. Quando ela saiu alguns minutos depois, usando o pequeno vestido e
blusa, parei o que estava fazendo e simplesmente a olhei. Suas pernas magras,
mas bem torneadas estavam completamente à vista, e o vestido de verão
mostrava suas curvas, seus seios suaves a vista na parte superior. Ergui os olhos
para olhar para seu rosto e ela estava mordendo o lábio, esperando que eu
falasse. — Você está linda — Eu disse. — Quase linda demais. Vou ter que me
acostumar com a maneira que as pessoas se vestem aqui.

Eden soltou um suspiro e sorriu, olhando para o tecido brilhante e


erguendo as sobrancelhas. — Eu também.

Olhei para Xander e ele estava olhando para Eden também, um pequeno
sorriso em seu rosto. — Uau — Disse ele. Quando ele me viu olhando para ele, o
sorriso desapareceu. — É verdade... Brilhante, isso é tudo.

Olhei para Eden e ela começou a rir primeiro, e não consegui evitar em
me juntar a ela.

Nós nos sentamos na cama e comemos pão, pedaços de queijo e maçãs.


Dissemos a Eden sobre nossas “aventuras” nos corredores da Target e da loja de
penhores.

Enquanto Eden e Xander riam e conversavam sobre alguma coisa, eu


comia minha maçã e os observava, com um pequeno sorriso em meu rosto. O
que aconteceria daqui em diante, qualquer que fosse o esforço, nunca esqueceria
esse momento. Por alguma razão, senti que era importante eu ter uma imagem
mental nesse exato momento. Balancei a cabeça ligeiramente, e me concentrei
novamente na conversa deles.

— Eu vou tentar ligar para Kristi agora — Disse Xander. — Eden, você vai
me ajudar com esta coisa de telefone?

Eden e Xander foram até o telefone na mesa de cabeceira, enquanto eu


limpava a comida.

Olhei para trás quando ouvi Xander dizer: — Kristi?

Eden veio e colocou os braços em volta de mim por trás e esfregou seu
rosto em minhas costas. Virei-me e apertei-a em meus braços, beijando o topo a
sua cabeça enquanto ouvia Xander dar a Kristi um breve resumo sobre o que
tinha acontecido desde ontem. Será que foi apenas ontem? Parecia
incompreensível que a vida tinha mudado tanto em 24 horas.

— Sim — Disse Xander. — Tudo bem... Certo. Meia hora? Ok, sim.

Olhei para ele interrogativamente sobre a cabeça de Eden.

Xander desligou o telefone e ficou ali por um segundo, olhando para a


parede. Finalmente, ele se virou para nós. — Kristi vai nos pegar em meia hora.
Ela disse que os policiais estavam por todo o Posto Florestal hoje perguntando
sobre Eden.

Pavor frio percorreu minha espinha.


— Ela disse que não estamos seguros em um hotel, especialmente um dos
primeiros na entrada da cidade.

Concordei e Eden ficou para trás. — Certo. Ok — Eu disse, começando a


recolher nossas coisas. — É seguro ir para a casa de Kristi?

— Provavelmente mais seguro do que aqui. Ela sugeriu que saíssemos da


cidade o mais rápido possível.

— Sair da cidade? — Eden perguntou colocando as coisas na bolsa de lona


que tínhamos trazido.

— Sim. Podemos perguntar a ela quando nos pegar.

— Podemos pegar o dinheiro de volta que pagamos pelo quarto? —


Perguntou Eden.

Xander balançou a cabeça. — Temos mil dólares agora com o dinheiro de


Kristi. Não acho que vale a pena chamar a atenção para nós.

Estávamos prontos em 10 minutos e observamos o relógio nos próximos


vinte. Fiquei andando enquanto Xander e Eden se sentaram na cama me
olhando. A polícia estava à procura de Eden, o que significava que Hector havia
chamado. Não sei por que tinha duvidado de que ele ligaria para as autoridades.
Verdade, Eden era menor de idade, por agora, mas não seria por muito tempo. E
Hector sempre parecia tão inflexível sobre manter nossa comunidade separada
da comunidade grande, operado por suas próprias leis. As leis dos deuses, como
falado por ele.

Poucos minutos depois, estávamos saindo para a rua. Um pequeno carro,


vermelho encostou-se ao meio-fio e uma mulher bonita, com o cabelo loiro
escuro puxado em um rabo de cavalo, estava saindo. Ela foi imediatamente para
Xander e deu-lhe um abraço.

— Kristi, estes são Calder e Eden — Xander disse, abrindo a porta de trás
para que pudéssemos entrar.

Os olhos de Kristi se arregalaram quando ela estendeu a mão para mim.


— Uau. Tudo bem — Disse ela, eu quase não ouvi. Fiz uma careta, confuso.
Depois ela virou-se para Eden e balançou a mão, sorrindo calorosamente para
ela.

Todos nós entramos no carro, e Kristi se virou e nos instruiu sobre como
fixar o cinto de segurança. Agarrei a mão de Eden.

Kristi virou o carro de novo para a estrada e eu parei, olhando


nervosamente para fora da janela enquanto os edifícios passavam rapidamente.
Meu coração pegou velocidade e apertei a mão de Eden. Ela apertou-a de volta e
me deu um sorriso tranquilizador.
— Então — Disse Kristi do banco da frente. — Vocês realmente fizeram
isso. Conseguiram escapar.

Xander riu no banco da frente. — Sim, nós meio que fomos forçados a
isso.

Kristi olhou para ele e franziu a testa. — Você fez a coisa certa, Xander.

— Deuses, espero que sim — Xander murmurou.

— Deus, singular — Kristi disse, sorrindo para ele.

— Certo — Ele olhou por cima do ombro para Eden e eu. — Esqueci de
mencionar a vocês, na grande sociedade, as pessoas oram a um Deus, no
singular. Não há Deuses no plural como em Acadia.

— Sim... Acho que me lembro — Eden disse. Seus olhos ficaram grandes.
— Qual deles? — Ela perguntou, sentando-se para a frente. Sorri para ela. Sabia
qual era aquele que ela estava esperando.

— Ah, você sabe, o criador do universo — Disse Kristi, olhando no


espelho para nós e dando de ombros. — Mas há também Jesus, Buda e Maomé...
Allah. Diferentes pessoas, diferentes religiões e culturas rezam para deuses
diferentes, profetas ou o que seja. Mas apenas um... Geralmente.

Eden recostou-se com um olhar insatisfeito em seu rosto. Eu olhei para


ela, sorri e apertei a sua mão novamente. Deuses, eu a amava. Deus, eu a amava.

— Então — Eu disse. — Xander mencionou que você acha que deveríamos


sair da cidade.

Kristi assentiu. — Se fosse eu, sairia. A polícia chegou ao Posto Florestal


hoje e disse que tinha uma fugitiva menor de idade, Eden, e estavam
procurando por você. Obviamente, não disse nada sobre ter visto nenhum de
vocês — Ela olhou para Xander. — Mas eu ficaria bem longe daqui, se eu fosse
vocês — Ela fez uma pausa. — Se você não decidir, conheço algumas pessoas que
tenho certeza que irão ajudá-los a começar aqui. Mas aconselho a irem para
longe.

— Para onde devemos ir? — Perguntou Xander.

— Bem, isso é com vocês. Você não conhece ninguém, afinal?

Todos nós balançamos nossas cabeças. — Ninguém, exceto você — Disse


Xander.

— O que, a propósito — Eu disse. — Não podemos agradecer o suficiente,


Kristi. Não sei onde estaríamos se Xander não tivesse te conhecido, e sem a sua
ajuda.
Kristi olhou no espelho para mim e parecia corar ligeiramente. — Ei, se
eu estivesse em seu lugar, esperaria que alguém pudesse me ajudar, também.

Balancei a cabeça, sem entender completamente o seu significado.

— Falando de ajuda, temos mais algumas joias e esperávamos que você


pudesse nos ajudar a vender — Disse Xander.

— Isso não é problema — Disse Kristi. — Já vendi ouro antes. É fácil. E há


muitos lugares respeitáveis.

— Sim — Xander disse. — Não acho que o lugar que fomos hoje era muito
respeitável.

Kristi olhou para Xander um pouco confusa e riu baixinho. — Você vai ter
que me contar sobre isso — Ela virou em um estacionamento, desligou o carro e
saiu. Seguimos com nossos escassos bens.

Andamos atrás de Kristi por um caminho e uma escada e vimos quando


ela pegou uma chave e abriu a porta que tinha “8C” pintado em dourado que
estava lascado.

Kristi fechou a porta atrás de nós e todos nós olhamos em volta para o
apartamento. Além das grandes peças de mobília, havia caixas empilhadas
contra uma parede.

— Eu sei que é pequeno — Disse Kristi, parecendo envergonhada. — E


vocês sabem que estou mudando em algumas semanas, então...

Olhei para Xander e nós dois começamos a rir.

— O quê? — Perguntou Kristi.

Sabia que era rude, mas não conseguia falar com o meu riso, e Xander,
aparentemente também não, nenhum dos dois conseguiu evitar se dobrar,
segurando os nossos estômagos. Era quase como se o estresse dos últimos dias
desintegrasse o nosso autocontrole.

— Não se preocupe com eles — Eu ouvi Eden dizer. — É só que os dois


cresceram em uma cabana inteira com cerca de um oitavo desse tamanho — Eu
ainda estava rindo, mas tinha que admitir que fiquei orgulhoso por ela ter usado
fração em uma conversa normal. Ensinei isso a ela.

Nós dois nos endireitamos. — Desculpe, desculpe — Eu disse, contendo-


me. — Kristi, para nós, este é um palácio, juro. Você não tem ideia.

Kristi sorriu também, revirando os olhos. — Ok, então, você vai ficar
muito animado com isso. Calder e Eden, tem um quarto inteiro para vocês aqui.
Xander, você fica no sofá.
— A história da minha vida — Disse Xander, jogando nossas coisas sobre
o grande pedaço marrom de mobília. Eu ri e empurrei-o um pouco, que levou
com bom humor.

— Portanto pessoal, sei que ainda é cedo — Disse Kristi. — Mas já vou,
porque eu tenho aula muito cedo e amanhã é o meu último dia de trabalho no
Posto Florestal — Ela bocejou. — Sirvam-se de qualquer coisa da cozinha e
vamos conversar mais amanhã sobre os seus planos. Uma coisa que vocês vão
precisar é identidade. Mas, vamos discutir isso. Além disso, Xander, deixe o
resto das joias na mesa de centro ali. Vou pegá-las na parte da manhã e parar
em uma loja de joias no caminho para o trabalho.

Balancei a cabeça. — Ei, obrigado novamente, Kristi, por tudo — Estendi


a mão para apertar a mão dela, sem saber exatamente o que fazer. Ela sorriu e
apertou a minha mão, corando ligeiramente.

Ela sorriu para Xander e Eden, que agradeceram também, e tudo o que
disse foi boa noite.

Peguei Eden pela mão e puxei-a para dentro do quarto que Kristi tinha
nos apontado. Não havia nada, exceto uma cama feita com lençóis e um
cobertor dobrado no final.

Coloquei minhas mãos no rosto de Eden e a beijei longo e profundo. Não


podia acreditar que estávamos em um quarto juntos, e poderíamos
simplesmente apreciar um ao outro tão livremente. A sensação era incrível.

— Sua cama é minha cama agora — Ela sussurrou.

— Para sempre. De hoje em diante, nunca vamos dormir separados


novamente.

Havia paz no sorriso de Eden. Eu adorava vê-la sorrir assim. Enquanto a


observava, ela cobriu a boca para esconder um bocejo. — Desculpe, não faço
ideia por que ainda estou tão cansada.

— Porque você passou por uma experiência realmente assustadora, e


depois andou 30 quilômetros, praticamente descalça — Eu levantei uma
sobrancelha. — Vamos ter uma boa noite de sono e depois vamos levantar cedo
e descobrir as coisas.

Eden assentiu, mordendo o lábio. — Você realmente acha que devemos


sair daqui imediatamente?

Pensei nisso por um segundo, tomando meu lábio inferior sob meus
dentes. — Sim, acho que sim.

— Seus pais... — Ela disse, olhando para mim com aqueles olhos azuis
cheios de confiança.
Meu peito se apertou e eu suspirei. — Algum dia... Talvez nós vamos
voltar... Por agora, tenho uma vida para construir para nós. Isso é o meu foco,
meu único foco.

Eden assentiu, ainda franzindo a testa ligeiramente.

Inclinei-me para a frente e beijei seus lábios suavemente novamente. —


Você vai usar o banheiro primeiro.

— Ok.

Eden levou seu tempo no banheiro, usando os produtos que compramos,


e então chegou a minha vez, usando pasta de dentes pela primeira vez na minha
vida. Era excessivamente doce e o gosto estranho para mim, mas depois que
tinha escovado, amei o sabor ligeiramente mentolado na minha boca.

Quando voltei para o quarto, Eden já estava debaixo das cobertas, meio
dormindo. Tirei minha roupa e me juntei a ela, pegando-a em meus braços,
sentindo seu calor me envolver, seu cheiro doce me cercar. Nossas mãos
começaram a percorrer, mas deveríamos estar muito cansados porque a
próxima coisa que notei, foram que os primeiros raios de sol estavam
atravessando as bordas das sombras nas janelas e ouvi os sons fracos de
pássaros cantando do lado de fora do vidro.

Um pouco mais tarde, na parte da manhã, depois de receber algumas


instruções rápidas de Kristi enquanto ela estava saindo porta afora, Xander e eu
saímos do apartamento para ver o que poderíamos fazer para conseguir uma
cópia das nossas certidões de nascimento para efeitos de identificação, e saber
mais sobre as passagens de ônibus. Deixei Eden encolhida na cama com seus
longos cabelos sobre o travesseiro e a respiração suave e uniforme. Tínhamos
combinado na noite anterior que ela ficaria na segurança do apartamento de
Kristi, enquanto Xander e eu sairíamos. Isso me fez respirar mais calmo. Além
disso, a única que estava sendo procurado era Eden. Xander e eu éramos
maiores de idade.

Nós voltamos para o apartamento às três e meia. — Eden? — Eu chamei,


Xander fechou a porta atrás de nós.

— Bem aqui — Ela falou em voz baixa. Eu não a tinha visto deitada em
uma cadeira do lado oposto do sofá com livros espalhados ao seu redor.
Um sorriso se espalhou pelo meu rosto, apesar do fato de que não tinha
notícias muito boas para lhe dar. Senti falta dela e me permiti sentir falta dela.
Nunca tinha feito isso antes, nunca estive seguro pra fazer isso, mas agora...
Agora tudo era diferente.

Eden começou a levantar-se com o rosto corado e os olhos brilhantes. Ela


parecia... Febril. Eu parei. — Você está bem?

Ela assentiu, pousou o livro que tinha em suas mãos e se aproximou de


mim, pegou minha mão e começou a caminhar em direção ao nosso quarto. —
Oi, Xander — Ela falou, me puxando.

Olhei para Xander, confuso e Xander deu de ombros, pegando um


pequeno controle preto e pressionou um botão. “Televisão”, ele falou atrás de
mim. — Assisti um pouco na noite passada. Você tem que ver isso.

— Ok, vamos sair daqui a pouco — Falei, fechando a porta atrás de nós.
Eden se virou para mim, levantando minha camiseta. — Opa, oi — Eu ri,
deixando-a puxar minha camiseta para cima, sobre a cabeça. Ela sorriu para
mim e depois ficou para trás, olhando para o meu peito.

— Você tem um corpo bonito, Calder. É... Tão viril, e... — Ela passou as
mãos subindo no meu peito. — Sexy — Ela se inclinou e beijou minha pele,
arrastando a língua ao redor de um mamilo.

Eu gemi, endurecendo. Uma coisa sobre o jeans - ele não permitia


muita... Expansão. — Uh, Eden, não que isso não seja bem-vindo, mas o que
exatamente você tem fez nas últimas horas?

Ela inclinou-se para trás e olhou para mim. — Estive lendo — Suspirou,
olhando em algum lugar atrás de mim. — Histórias bonitas de amor sobre
pessoas destinadas a ficarem juntas.

Eu levantei uma sobrancelha. — Pessoas? Que pessoas?

Eden deslizou as mãos pelos meus braços e, em seguida, começou a


desabotoar minha calça. Todos os pensamentos fugiram do meu cérebro. Quem
se importava com o que ela estava fazendo? Se este foi o resultado, queria que
ela fizesse mais do mesmo.

Ela puxou meu zíper para baixo, arrastado minhas calças para baixo do
meu quadril e deixando cair no chão. Chutei de lado e seus olhos foram para a
minha ereção, e pareciam crescer ainda mais quando ela estendeu a mão e
acariciou-me uma vez. Respirei fundo.

— Senhor Darkhaven e Lady Flowervale.

Tinha começado a inclinar-se para beijá-la e fiz uma pausa. — Senhor,


Lady quem?
Eden riu suavemente. — Lawrence e Elinor — Ela suspirou com um olhar
sonhador inundando seu rosto. Estava completamente perdido. Ela acariciou-
me novamente e eu gemi.

Inclinei-me para a frente, peguei o rosto dela entre as mãos e beijei seus
lábios. Ela imediatamente os separou e nossas línguas se encontraram, o doce
sabor fresco em toda a minha língua, enchendo minha boca. Ela gemeu e meu
corpo todo, meu coração, minha mente, eles estavam focados em uma coisa e
apenas uma coisa: Eden. Ela me beijou como se não tivesse me visto há décadas.
Ela me beijou como se eu tivesse acabado de chegar em casa da guerra,
inesperadamente vivo e ileso. Tudo o que eu tinha que fazer para manter essa
garota me beijando assim todos os dias da minha vida, eu faria, meu cérebro
enevoado com luxúria de alguma forma se controlou.

Eu andei de costas até a cama e nós dois fomos para baixo sobre ela,
minha boca saindo da dela enquanto ela ria. Eu sorri, também, e, em seguida,
comecei a beijar a pele perfumada e suave do seu pescoço, inalando flores de
maçã e primavera.

— Eu amo o amor — Ela gemeu. — Eu amo você. Adoro ser sua.

— Eu também te amo — Eu disse, entre beijos. — Eu amo ser seu.

Eden me empurrou e rolei sobre minhas costas e ela subiu em cima de


mim, aninhada à minha ereção contra seu núcleo. Meus pensamentos
começaram a escurecer novamente.

Ela se inclinou e beijou meu pescoço e, em seguida, estendeu a mão e


acariciou para cima e para baixo a minha ereção. — Isso é tão bom — Eu gemi.
— Não pare.

Ela acariciou-me por mais um minuto e depois inclinou-se um pouco


para trás e usou a outra mão para acariciar minhas bolas. Eu respirei fundo e
meus olhos se abriram. Os olhos de Eden encontraram os meus e alargaram-se,
como uma coloração rosa em suas bochechas. — Do que você gosta? — Ela
perguntou.

Minha boca se abriu, mas nenhum som saiu. Eu simplesmente assenti,


fazendo o que precisava para que ela não parasse.

Os olhos de Eden estavam focados em mim e o sorriso sonhador só me


deixou mais duro.

— Conte-me sobre o livro que você leu hoje — Eu disse com a minha voz
rouca. Estava pensando que, assim que encontrasse um emprego e estivesse
fazendo algum dinheiro, iria racionar minha comida para lhe comprar mais
desses livros.
Eden levantou-se e rapidamente tirou a roupa enquanto eu a observava.
Comecei a me sentar para que pudesse tocá-la, mas ela me empurrou para trás
suavemente. — Lawrence, senhor nobre e corajoso, forte, assim como você, com
cabelos escuros — Disse ela, enquanto subia em cima de mim e me pegava em
sua mão novamente. Caí de costas na cama, minha ereção pulsando em sua
mão.

— Eden... — Eu gemia.

— Eu sei — Ela disse. — Quero você, também. Quis você o dia todo. Estive
febril por isso, desde que o Senhor Darkhaven tirou a virgindade de Lady Elinor
na mesa da cozinha da casa de campo do criado.

— Virgindade? — Eu gemia.

Eden assentiu. — Lady Elinor estava escondida como uma criada do


malvado Duque de Wallington.

Ela parou um pouco e me guiou para sua abertura. Minha visão ficou
embaçada enquanto observava a ponta do meu pênis entrar lentamente. Ela
parou de se mexer e eu gemi, um som de desespero e necessidade.

Eden fechou os olhos e abaixou-se em mim, o calor úmido dela me


apertando com tanta força, que pensei que poderia facilmente desmaiar de
prazer. — Mmm — Ela murmurou e começou a se mover lentamente, com os
olhos ainda fechados e a cabeça inclinada para trás.

— Mas ele encontrou-a, de qualquer maneira, e capturou-a.

Tentei lembrar sobre o que estávamos falando, quem era “ele”, mas meus
pensamentos estavam todos embaçados, minhas células cerebrais não
funcionando corretamente.

Os mamilos de Eden ficaram tensos e ela gemeu, e a visão dela,


juntamente com a sensação do seu atrito molhado, era quase torturante. Segurei
seus quadris, mas resisti a guiando. Eu queria ver o que ela faria. Queria vê-la
mover-se da forma que dava mais prazer a ela.

Ela subia e descia em mim um pouco mais rápido, e cada vez que descia,
deixava escapar um pequeno suspiro de prazer. Ela estendeu suas mãos para
cima e tocou seus mamilos e eu tive que fechar meus olhos por um segundo para
não chegar ao clímax naquele momento. — Eden — Eu gemi. — Não posso...
Você está...

— É bom para você? — Ela perguntou em um suspiro com seus olhos


fechados vibrando e seus lábios cheios se separando. Ela era linda.

— Tudo é bom para mim, Eden. Neste momento, qualquer coisa que você
faz é bom. Mova-se do jeito que você gosta.
— Só um segundo... Oh você me faz sentir tão bem, também — Ela
suspirou. — Lady Elinor estava certa. Isto é muito bom — Minha visão ficou
turva ainda mais e senti meu clímax rodar em meu abdômen. Eu o prendi de
volta, rangendo os dentes. Então, graças aos Deuses, Eden começou a se mover
mais rápido, gritando o meu nome. Ela caiu para a frente em cima de mim,
ofegando uma última vez quando gemeu e se pressionou em mim.

Virei-a em um movimento rápido, para que ela ficasse de costas e


empurrei nela forte e profundo, meus dedos enrolando quando o êxtase
atravessou o meu corpo. O meu prazer me atingiu, duro e intenso, com estrelas
explodindo diante dos meus olhos quando empurrei e cresci dentro dela,
tirando apenas a tempo para que a minha semente derramasse em sua barriga.
Eu gemia em seu pescoço, revirando os quadris preguiçosamente, ordenhando o
último pedacinho do meu clímax. Mal podia esperar pelo dia que fosse seguro
gozar dentro dela. Mas, por agora, eu não podia correr esse risco.

Estávamos ali juntos, minha cabeça bem debaixo do queixo de Eden,


virada para o lado. — Mas o valente Senhor Darkhaven montou seu corcel
confiável sobre montanhas e vales, através da mais negra das noites para
resgatar Lady Flowervale. E mesmo que tudo fosse distorcido, eles descobriram
que o Senhor Darkhaven não era realmente um senhor, mas um pobre sem
dinheiro, sem um título ou um castelo, ou até mesmo um xelim em seu nome —
Eden passou a mão pelo meu cabelo enquanto minha cabeça clareava e minha
respiração desacelerava. — Lady Elinor o escolheu assim mesmo, porque ele era
o seu único e verdadeiro amor.

Ergui a cabeça e olhei para ela, meus olhos se arregalaram, enquanto as


lágrimas apareciam em seus olhos, uma escapando pelo seu rosto. — Lawrence
— Ela sussurrou, levando a outra mão ao seu peito. — Um senhor ou um
mendigo, um príncipe ou um garoto de rua, eu o venero e nenhum outro. Até
que não haja respiração no meu corpo e meus ossos tenham virado pó, você,
meu amor, você e nenhum outro.

Ela soltou um suspiro e sorriu para mim quando mais lágrimas desciam
pelo seu rosto. Eu estava completamente sem saber o que dizer para a linda
garota debaixo de mim, a quem eu amava imensamente e ainda estava
completamente confuso. Talvez houvesse uma boa razão para que Hector tivesse
proibido livros de ficção há tanto tempo.

— Sei que é apenas uma história — Disse Eden, limpando seu rosto. —
Mas isso me fez acreditar que as coisas podem acabar bem no final. Mesmo que
quando tudo parece ser uma bagunça e você não tem certeza de como ou por
que ou para onde ir, que com amor, tudo vai ficar bem, que nós estaremos bem.
Isso me deu esperança.
Deixei escapar um suspiro e sorri para ela. — Glória da Manhã — Eu
murmurei. — De onde você tira a sua força?

— De você — Ela sussurrou, correndo um dedo sobre meus lábios.

Nós rolamos para o lado, de modo que estávamos um na frente do outro


na cama, e passei a mão por seu cabelo longo, desembaraçando os emaranhados
que criamos.

— Fale-me do dia de hoje — Disse ela suavemente.

Deixei escapar um suspiro. — Sem sorte hoje. Parece não haver qualquer
registro dos nossos nascimentos. Kristi pensou que poderia haver, já que fomos
registrados na escola, mas, evidentemente, após o nosso nascimento em Acadia,
certidões de nascimento não foram obtidas. Não temos certeza de como tudo
funciona, estamos tentando descobrir isso. Mas até lá, não conseguiremos
trabalhar em qualquer lugar que exija a identidade, por isso não conseguiremos
em restaurantes ou lojas. Xander e eu temos algumas ideias, então quero que
você não se preocupe tudo bem?

Eden deu um sorriso gentil. — Não estou preocupada. Sei que as coisas
irão ficar bem.

Eu pisquei para ela. — Certo, Senhor Dark...

— Haven — Continuou ela. — Sim, Senhor Darkhaven — Ela sorriu. —


Imaginei que ele se parece com você, só que com o cabelo enrolado sobre o
colarinho, de uma forma libertina.

Eu ri. — Não sei o que uma “forma libertina” é exatamente, mas se meu
cabelo crescer e tivermos mais do que acabamos de fazer, então...

Eden riu. — Acho que sim — Ela colocou a cabeça de volta para baixo no
meu peito e eu a senti sorrindo contra a minha pele. Eu quase saltei com a onda
de protecionismo que senti quando levei a minha mão para correr pelo meu
cabelo. Às vezes meu amor por ela era quase muito para mim; isso me fazia
sentir que estava sangrando por dentro. Minha linda garota, eu dizia na minha
cabeça. Vou proteger o seu coração doce e esperançoso. Eu me comprometo a
protegê-la de qualquer coisa horrível neste mundo, e ser sempre o seu abrigo
na tempestade.

— O que devemos fazer para o jantar? — Perguntou Eden.

— Está com fome?

Ela assentiu. — Eu fico muito emotiva com fome.

Eu sorri novamente. Eu gostei de como ela tinha ficado com fome por
estar muito emotiva. — Então vamos pegar um pouco de comida. Kristi deve
estar em casa em breve, também. Espero que ela tenha conseguido vender o
nosso ouro — Fiz uma pausa. — Me sinto como um pirata cada vez que digo isso.

Eden riu. — Acho que Kristi tinha um livro de pirata lá fora. Essa vai ser a
minha próxima leitura da lista.

Eu sorri. — Apoio esse plano.

Ela riu de volta. Permanecemos ali apreciando a sensação de estarmos


nos braços um do outro, o silêncio em nossa volta, o conhecimento que ninguém
ia tentar separar-nos, e que iríamos dormir esta noite e todas as noites a partir
de hoje como esta.

Uma hora mais tarde, Eden, Xander e eu tínhamos tomado banho.


Xander estava mudando os canais da televisão, mostrando-nos como
funcionava. Estava com volume alto e era brilhante, parecia estar acontecendo
muita coisa para que eu me concentrasse. — Desligue isso — Eu disse, fazendo
uma careta e me afastando.

— Você não gosta? — Ele perguntou incrédulo, pressionando botões no


controle novamente.

— Não.

A porta se abriu e Kristi entrou, sorrindo alegremente para nós. — Ei


pessoal — Disse ela, fechando a porta atrás dela. — Boas notícias. Tenho
dinheiro para você. Mais de mil.

— Santo inferno. Está brincando — Xander exclamou, desligando a


televisão e ficando em pé.

— Não. Aqui está — Kristi sorriu, entregando o dinheiro para Xander.

— Bem, vamos comemorar — Disse Xander. — O jantar é por nossa conta.


— Seu rosto ficou sério. — Espera aí, quanto é o jantar?

Kristi riu. — Vamos para algum lugar muito acessível.

— Ok, e ei, nós não precisamos desse dinheiro agora.

— Bem, você está recebendo de qualquer jeito — Disse Kristi, piscando o


olho. — Eu só queria que pudesse dar-lhe mais. Deixe-me tomar um banho e
vamos indo.
Xander, Eden e eu sorrimos uns para os outros. As coisas estavam se
encaixando. — O que você acha, Lady Flowervale?

Eden sorriu. — Eu acho que nós vamos ficar bem, Senhor Darkhaven.

— Prontos? — Kristi perguntou, saindo do quarto.

— Sim — Eu disse, pegando a mão de Eden na minha.

Descemos as escadas de Kristi, conversando e rindo. Quando viramos a


esquina para o estacionamento, um carro da polícia passou lentamente até
parar. Um policial saiu do lado do passageiro, a nossa direita, com a mão sobre
a arma no cinto. Apertei a mão de Eden com mais força, adrenalina cruzando
meu sistema. — Está tudo bem — Eu sussurrei. — Basta seguir o meu exemplo.
Talvez eles nos ajudem.

Olhei para trás. Não havia nada, exceto, uma parede de concreto sólida.

Eden balançou a cabeça, os olhos cheios de terror.

Foi quando o policial dirigindo o carro saiu e virou-se para nós.

Era Clive Richter.


CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Eden

— Estamos procurando por você, Eden — Disse Clive, sorrindo. O sorriso


não chegava nem perto dos seus olhos frios.

— Clive — Calder disse, parecendo incrédulo, sua voz dura e áspera. —


Ela está bem. Ela não quer viver com Hector.

— Bem, infelizmente, filho, Hector é o tutor dela e ela não tem escolha —
Ele olhou para mim, descansando a mão sobre a arma em sua cintura, assim
como o outro policial. — Você, no entanto. Você é livre para fazer o que quiser.
Você tem dezoito anos. Hector não quer você de volta, de qualquer maneira.

Clive Richter era um policial! Tentei envolver minha mente ao redor do


que estava acontecendo.

— De jeito nenhum que vou deixá-la — Disse Calder, apertando minha


mão com mais força e me puxando contra ele. Meu cérebro vacilou. Meu corpo
balançava. Eu senti o vômito subir pela minha garganta. Como estávamos rindo
e brincando a poucos minutos atrás, e agora todo o meu mundo estava
desabando? Clive parecia satisfeito de alguma forma com as palavras de Calder.
Por quê? Era o que ele queria que ele dissesse.

— Você sabe que o homem para o qual você a está levando de volta é um
líder de culto? — Kristi disse, elevando a voz.

O outro policial baixou os óculos e olhou para ela. — Você chama isso de
culto, ele chama de religião — Disse ele. — E de qualquer maneira, ele ainda é
seu tutor.

Kristi balançou a cabeça, parecendo confusa. — O quê? Isso... — Mas ela


não parecia saber como continuar. Ele deveria estar certo.

— Você tem sorte que não prendemos você por abrigar uma fugitiva —
Disse ele e depois cuspiu no chão ao lado dele. — E nós realmente não queremos
atirar em você, mas vamos, se for preciso — Ele riu e tocou a arma novamente.
Eu não tinha ideia do que era engraçado.

— Entre — Disse Clive, com o rosto de pedra quando apontou para o


carro da polícia. — Não me faça ter que algemá-la.
— Calder...

Calder olhou para Xander, arregalou os olhos e Xander acenou uma vez.
Então Calder fez um movimento brusco, atirando-se na minha frente e de frente
para o oficial. Calder me empurrou para trás para Xander, que pegou minha
mão e começou a correr. Gritei, olhando para trás, quando o oficial mergulhou
em Calder.

E então fui empurrada para o chão, a respiração deixando meu corpo


quando bati na calçada. Gemi, tentando me orientar quando alguém me puxou
para cima. Clive estava na minha frente, respirando com dificuldade. Ele
colocou algemas em meus pulsos, com um selvagem olhar excitado em seus
olhos. — Pequena lutadora, eu gosto disso — Disse ele, rindo. Então, ele me
arrastou para trás, para o carro da polícia enquanto Xander praguejava atrás de
mim, Kristi correndo para seu lado.

Engoli em seco com o terror crescendo dentro de mim.

Calder estava sendo empurrado para dentro do carro da polícia e fui


empurrada depois dele. Os olhos de Calder eram selvagens, enquanto tentava
alcançar e tocar-me com as mãos algemadas. — Você está bem? Eden, você está
bem? — Ele fez um som de raiva e seus olhos voaram sobre mim.

— Estou bem, Calder. Estou bem — Eu o tranquilizei, mesmo que meu


coração batesse loucamente no peito e o medo bombeava em minhas veias.

Xander correu para a porta do carro, mas Clive o deteve. — Ele não quer
você — Disse Clive.

Calder inclinou-se em volta de mim e gritou para Xander. — Vou


encontrá-lo...

Xander se afastou com seu rosto uma máscara de choque e raiva. — Eu


sei onde, sei quando — Disse ele.

Eu não sabia o que eles tinham combinado, mas Calder balançou a


cabeça e sentou-se. — Vai ficar tudo bem. Eu prometo à você, vamos embora no
momento que pudermos. Nós temos um lugar para ir agora, temos dinheiro.

Balancei a cabeça ao lado dele, incapaz de falar.

Clive e o outro agente entraram no carro e afastamos do meio-fio. Olhei


pela janela de trás e vi Kristi e Xander ainda ali, um olhar de choque em seus
rostos enquanto ambos nos observavam afastar. Tudo tinha acontecido em
menos de cinco minutos. Como? Como tinham nos encontrado tão rápido?

Eu estava paralisada, chocada. Clive olhou por cima do ombro e riu


ironicamente. — Woo pequenina. Hector vai ficar feliz em tê-la de volta,
princesa. Tenho que dizer, ele perdeu um pouco do controle, mas isso deve
deixar as coisas bem de novo — Ele riu.

Ele se virou e vi seus olhos no espelho retrovisor olhando Calder. — Você


fez uma má escolha entrando neste carro com ela — Ele disse com os olhos
brilhando com uma diversão cruel. — Neste caso, o cavalheirismo foi a escolha
errada — E então ele riu ironicamente.

Calder e eu ficamos quietos, nos movendo tão próximos um do outro


quanto possível. Minhas mãos tinham ficado frias e úmidas e eu estava
tremendo.

Olhei pela janela enquanto dirigia pela estrada e depois, eventualmente


entramos na estrada de terra que levava a Acadia. Tínhamos realmente andado
todo esse caminho? Calder tinha carregado Xander nas suas costas por todo o
caminho nessa mesma estrada? Lágrimas queriam sair dos meus olhos e
pisquei para mantê-las escondidas. Nós estaríamos fazendo esta caminhada
novamente em breve, minha mente insistia. Nós estaríamos fugindo novamente
no momento que pudéssemos E então, iríamos embora. Seríamos mais
inteligentes, mais cautelosos. E eu teria dezoito anos em duas semanas e então,
Hector não poderia fazer nada, de qualquer maneira. Endireitei minhas costas e
levantei a cabeça. Ao meu lado, Calder estudou-me e um pequeno sorriso
inclinou seus lábios. — Essa é a minha Glória da Manhã forte e corajosa — Ele
disse muito discretamente.

Nós entramos em Acadia, o cascalho esmagava os pneus do carro da


polícia, e meu coração cambaleou para fora do meu peito. Parecia deserta.
Ninguém estava nos campos, ninguém estava cuidando dos animais, e ninguém
andava pelas estradas. O que estava acontecendo?

Clive deu a volta e abriu a porta para nós e eu saí, o som da voz de Hector
me rodeando. Virei-me em um círculo lento e vi que eram apenas os alto-
falantes com o volume máximo, explodindo através de Acadia.

Clive empurrou Calder e ele soltou minha mão e deu um passo para trás,
Um olhar de raiva surgiu nos olhos de Calder enquanto olhava a arma presa ao
cinto de Clive. Clive se esticou em sua estatura total com um brilho de diversão
fria em seus olhos. — Experimente Portador da Água — Ele riu com um som
estridente.

— Ei, vamos lá, Clive — O outro oficial disse. — Vamos entregá-los. E


voltar ao trabalho.

Clive manteve os olhos em Calder e cuspiu no chão ao lado dele.

Foi quando vi Hector, saindo da casa com Hailey ao lado dele, correndo
para acompanhá-lo.
O cabelo de Hector estava longo, a maneira como ele costumava usá-lo
quando eu era uma garotinha. Mas não estava puxado para trás agora. Estava
selvagem e pegajoso, e deixava mais evidente o quanto de cabelo que ele tinha
perdido no topo da sua cabeça. Ele havia perdido muito peso e seu rosto estava
magro, oco. E o olhar em seus olhos... O olhar em seus olhos quando ele se
aproximou. Era exatamente como na noite em que eu tinha fugido... Apenas...
Pior. Será que eu fugi apenas dois dias atrás? Hector parecia que tinha
envelhecido anos desde então.

Hailey parecia que estava chorando e quando ambos pararam na nossa


frente, ela olhou para baixo e juntou as mãos na frente dela. O sermão do alto
falante preencheu o silêncio.

Eu vi Clive Richter e o outro policial entrarem no carro da polícia para


fora da minha visão periférica, mas não virei a cabeça. O carro ligou e foi
embora.

Hector respirou fundo e sorriu. — Estou tão feliz por ter você de volta,
meu amor — Disse ele para mim.

Os olhos de Hailey correram até ele, para mim, e depois de volta para
baixo. Três homens que eu não conhecia saíram do pavilhão principal e ficaram
atrás de Hector, olhando para nós com os olhos estreitados.

— Hector, por favor — Eu disse. — Deixe-nos ir. Vamos. Se você me ama,


por favor, apenas, deixe-nos ir.

O olhar agradável no rosto de Hector não se alterou. — Deixá-los ir?


Deixá-los ir? — Ele colocou o dedo nos lábios e ficou ali olhando para o céu por
um minuto. Então seus olhos se encheram com uma raiva fria. — POR QUE
SATANÁS GEROU AQUI O QUE POSSUIU VOCÊ? — Ele sacudiu a cabeça para
Calder. — PARA QUE O RESTO DE NÓS POSSA APODRECER NO INFERNO
POR TODA A ETERNIDADE?

Eu me assustei e pulei para trás enquanto ele gritava as palavras para


mim, e Calder fez um movimento para vir na minha direção, mas os três
trabalhadores de repente saltaram para a frente e agarraram seus braços. Ele
olhou para eles, chocado, e disse: — O que diabos vocês estão fazendo? Vocês
me conhecem. Vocês me conhecem!

— Nós pensávamos que o conhecíamos — Disse o homem mais alto. Oh


deuses em Elysium, eu estava em um pesadelo. Por favor, faça isso parar, eu
queria chorar muito.

— Leve-o para o porão — Disse Hector, alisando o cabelo para trás e


mantendo-se em pé.
Calder recuou e deu um soco no rosto de um dos homens e o homem
cambaleou enquanto os outros dois lutaram com Calder para conseguir um bom
controle sobre seus braços. Comecei a chorar, levando minhas mãos até minha
boca.

De repente, Hector moveu atrás de mim e fui puxada próxima ao seu


peito, confusa, tentando entender o que estava acontecendo.

— Eu vou cortá-la — Disse Hector.

Tudo parou. Eu congelei. Calder congelou. Os homens que o seguravam


agarraram-no com força e pararam de se mover também. Hailey soltou um grito
agudo.

Hector tinha uma faca no meu pescoço, a lâmina já perfurando minha


pele.

— Há poder em seu sangue — Disse Hector. Encolhi-me e gritei quando


ele trouxe seu rosto para a frente e lambeu a gota rolando na minha garganta. —
Se ela se recusar ao prenúncio, existem outras maneira de levá-la conosco para
Elysium... Mesmo que seja só uma pequena parte viva dela — Mais uma vez, ele
lambeu uma gota de sangue na minha pele e apertei meus olhos já fechados.

— Você perdeu a maldita cabeça — Disse Calder com a voz embargada.

Hector levantou a cabeça para olhar para Calder. Senti sua respiração
quente no meu ouvido e sentia o fedor da urina nele. Ele pressionou a faca para
a minha pele novamente e eu gritei.

— Tudo bem, tudo bem — Disse Calder, levantando os braços para


mostrar a sua rendição. — Eu vou fazer o que você quiser. Por favor, por favor,
não a machuque — Os olhos de Calder eram piscinas profundas de medo,
enquanto observava Hector. Prendi um soluço.

A faca saiu da minha pele e ouvi Hector dar uma respiração profunda do
que parecia ser de satisfação. — Leve-o para o porão. Prendam-no — Disse ele.

Os olhos de Calder perfuraram os meus quando ele acenou uma vez.


Balancei a cabeça uma vez de volta, também. Ficaria tudo bem, ele estava me
dizendo.

Ele foi de boa vontade com os três homens, um deles agora sangrando
muito no rosto.

Hector soltou um suspiro e sorriu agradavelmente. — Vamos entrar?


Você vai tocar para mim, Eden?

Abri meus olhos bem arregalados quando capturei os olhos de Hailey,


mas ela desviou o olhar, andando atrás de Hector e eu.
Mais tarde, depois que eu toquei piano por horas e já estava inclinada
sobre as teclas em exaustão, Hector finalmente me dispensou, e fui rapidamente
para o meu quarto. Quando comecei a subir as escadas, Hector agarrou meu
braço. Engoli em seco e virei-me para ele.

— O prenúncio vai acontecer, meu amor. Não tenho ilusões de que isso
não acontecerá. E se você fizer qualquer coisa para tentar parar isso, eu vou
matá-lo. Você entende?

Senti meus olhos se arregalarem e o medo rodou na minha barriga, e


então ele me soltou e eu corri até as escadas.

Fechei a porta atrás de mim e ouvi colocarem a trava do outro lado. Olhei
através do quarto para a janela. Pesas barras de metal foram instaladas. Eu era
uma prisioneira em todos os sentidos da palavra. Deitei-me na cama e chorei.
Onde havia luz e esperança poucas horas antes, agora só havia escuridão e
desespero.

Durante as próximas duas semanas, raramente fui autorizada a deixar o


meu quarto. Mãe Miriam levava comida para mim, embora não havia muito. Os
campos não estavam sendo cuidados, comida estava apodrecendo e caindo no
chão, não sendo colhidas. Os animais estavam doentes e com fome também.
Podia ouvir as cabras berrando miseravelmente sempre que havia uma pausa na
transmissão de Hector. Pensei que eu iria enlouquecer. Tive que desligar as
minhas emoções da melhor maneira que pude, e viver com o pensamento que eu
mantinha passando pela minha cabeça. Gostaria de sair daqui... De alguma
forma, algum jeito. Nós iremos à primeira oportunidade.

Não sabia como Calder estava e isso me enchia de terror absoluto. Eles
estavam alimentando-o? Ele estava bem? Jurei ser a sua forte glória da manhã.
Jurei não desmoronar.

Na tarde do meu aniversário de dezoito anos, Hailey entrou no meu


quarto em silêncio e colocou um vestido branco no final da minha cama. Seus
olhos estavam cheios de tristeza quando ela olhou para mim sentada na minha
mesa, olhando pela janela.

Corri para ela e me joguei aos seus pés, abraçando as pernas dela e
soluçando. Suas mãos acariciaram meu cabelo. Quando olhei para ela, havia
lágrimas em seus olhos.
— Por favor, nos ajude — Eu implorei.

Ela balançou a cabeça. — Não há nada que eu possa fazer. Meus meninos.
Tenho quatro rapazes... Ele... Ele vai... — Ela chorou baixinho por um minuto.

Eu respirei fundo. — Calder. Você sabe como ele está? — Eu perguntei.

— Ele está vivo — Disse ela. — Ele está sendo alimentado e está tomando
água. Não tenho mais nenhum jeito de saber mais do que isso.

Lágrimas corriam pelo meu rosto. — Se eu casar com Hector hoje, nós
vamos embora amanhã — Eu sussurrei.

Hailey balançou a cabeça. — Ele não vai deixar você. Ele nunca vai deixar
você sair antes do prenúncio acontecer.

— O prenúncio não vai acontecer! — Eu gritei. Hailey se assustou e eu


respirei fundo. — Eu sinto muito, Hailey, mas... Você sabe disso, certo?

Ela não me respondeu de forma nenhuma, apenas ficou olhando para as


próprias mãos.

— Hailey, se eu casar com Hector hoje... E conseguir um momento para


tirar Calder daqui, você vai pelo menos distrair Hector?

Ela olhou para mim por um longo momento, mas depois acenou. Dei um
suspiro de alívio. Eu iria planejar algo. Eu pegaria Calder e nós iríamos fugir, e
desta vez, não seríamos pego.

Hailey se levantou. — Vista-se. Estarei de volta para fazer o seu cabelo.


Hector quer se casar com você em uma hora.

Medo atingiu a minha espinha. — Em uma hora? — Eu perguntei.


Comecei a tremer toda. Eu sentia como se estivesse passando mal. Uma hora?
Como ia passar por isso?

— Sim, todo mundo está esperando no Templo. O conselheiro Daniels


tem a autoridade legal para realizar a cerimônia — Desviei o olhar. Não confiava
no conselheiro Daniels, quase tanto como em Clive Richter. Eu me perguntei se
ele era um policial também. Talvez todos eles fossem. Eu não entendia nada
disso.

Deixei escapar um suspiro profundo e ajeitei minhas costas. — Vou estar


pronta.

Hailey balançou a cabeça e virou-se para sair do quarto.

— Hailey? — Ela parou e olhou para mim. — Você pode colher algumas
flores azuis que crescem em um arbusto pequeno, no lado oeste do campo? Eu
sempre quis usá-las no meu cabelo no dia do meu casamento.
Hailey parecia confusa, mas assentiu e fechou a porta atrás dela.

Caí de joelhos ao lado da minha cama. Oh meu Deus de Misericórdia, por


favor me ajude, eu orei.

Uma hora mais tarde, fui ao Templo na carruagem ao lado de Hector. Ele
usava um terno de cor branca, e eu usava o longo e esvoaçante vestido de
casamento que alguém tinha feito para mim. As glórias da manhã enfeitando
meu cabelo. A dor tomou conta do meu coração.

Nós dissemos nossos votos no Templo na frente das pessoas acadianas,


os olhos de Hector brilhando para mim com uma espécie de exaltação. Ele
parecia um louco. Tentei não fazer contato visual quando eu disse as palavras
que não queria. Os deuses conhecem o meu coração, pensei. O que os
denominados votos significam se não fossem verdadeiros?

Olhei para a plateia e vi os pais de Calder. Suas cabeças estavam curvadas


e eles estavam rezando com reverência. Eles ainda acreditavam.

Quando acabou, Hector virou-se para as pessoas e levantou os braços,


sua voz soando forte e segura: — Meus amados. Este é um dia glorioso. Eden é
agora a minha esposa legítima aos olhos do Estado e os Deuses como
testemunhas. E todos nós estamos um passo mais perto de cumprir o nosso
verdadeiro destino — Ele sorriu para eles, seus olhos exaltados e seu sorriso
largo. Todos olharam para ele, alguns parecendo felizes, outros parecendo
atordoados, conturbados e com fome. Várias crianças estavam chorando.

— A festa foi montada para vocês na sala de jantar principal. Por favor,
comam. Alegrai-vos. Este é um dia feito para alegria e celebração!

Hector olhou para a multidão. — Meus amados, a inundação se


aproxima. Os frutos do nosso sacrifício se aproximam. Agarrem-se a mim,
agarrem-se a sua mãe, Eden, agarrem-se a Acadia. Sabemos que somos
abençoados agora. Satanás tentará vocês em todos os tipos de formas quando o
nosso sofrimento ficar maior, já que o fim se aproxima. Mas não fique tentado.
Não se desamparem. Estamos muito perto do paraíso, meus amados. Agora, vão
celebrar.

Ele pegou minha mão e me levou até o corredor e de volta para fora na
carruagem que ele agarrou as rédeas e começou a voltar para o pavilhão
principal.

— Não podemos comemorar? — Eu perguntei com uma voz que parecia


morta, até mesmo para mim.

— Sim, nós vamos comemorar no meu quarto — Ele respondeu.


Olhei para a frente, tentando controlar a corrida do meu coração
dolorido. Eu estava muito infeliz. Olhei para a direita, onde a porta do porão
estava atrás do pavilhão principal. Oh Calder, meu amor. Estou fazendo isso por
nós. Não tenho escolha. Eu só espero que funcione.

Hector pegou minha mão e me levou através do pavilhão principal e


subiu as escadas para seu quarto. Eu estive aqui antes quando tinha roubado
algum dinheiro e algumas peças de joias. Meu coração se apertou de dor quando
pensei naquele momento na nascente, quando tinha mostrado para Calder e
Xander. Havia tanta esperança. Tive que empurrar isso de lado para que não
começasse a gritar.

Hector veio atrás de mim. Senti seu hálito quente no meu pescoço
enquanto ele puxou meu zíper para baixo lentamente. Eu me afastei dele e um
olhar de advertência entrou em seus olhos quando me virei para ele. — Por
favor, deixe-me despir para você — Eu disse, olhando para ele através dos meus
cílios.

Sua expressão era de entusiasmada surpresa quando ele recuou. Seu


olhar se moveu para baixo no meu corpo e sua mão moveu-se para a
protuberância crescendo em sua calça, acariciando-se. Bile subiu pela minha
garganta, mas engoli de volta e sorri agradavelmente.

Seja forte, Glória da Manhã.

Deslizei meus sapatos e desci meu vestido pelos meus ombros, deixando-
o cair em uma poça aos meus pés. Não usava nada por baixo. Eu estava diante
de Hector, nua, com a pequena ondulação da minha barriga completamente à
mostra.

Passei a mão para baixo com as mãos trêmulas. Isso só tinha se tornado
evidente nas últimas duas semanas, e ainda porque tinha perdido peso devido à
falta de alimentos na Acadia. No meu quarto sozinha, enquanto Calder ficava no
porão não mais do que 100 metros de mim, eu tinha descoberto um pequeno e
lindo segredo. Estava carregando um filho dele. Eu tinha concebido na nossa
nascente, na primeira vez que ele fez amor comigo, quase três meses antes. Eu
sabia que não seria capaz de esconder isso de Hector quando estivesse nua na
frene dele. Não tinha escolha a não ser implorar pelas nossas vidas.

— Vamos — Eu sussurrei. — Não é só o meu sangue que corre em minhas


veias agora. É o dele também. Ambos correm por minhas veias agora. E o bebê é
forte, tal como o seu pai.

Hector ficou congelado, e quando seus olhos subiram para os meus,


encheram-se com profunda confusão.

— Ele maculou você — Ele disse a questão quase com total naturalidade.
A esperança cresceu dentro de mim. Ele ia me fazer desistir agora?
Balancei a cabeça, implorando-lhe com meus olhos. — Sim, Hector. Eu
queria ser maculada. Deixe-nos ir. Você não me quer. Por Favor, deixo-nos ir.
Vamos fazer uma vida juntos. Estou grávida do seu filho. Estamos apaixonados.
Isso é tudo. É tão simples. Por favor — Eu caí de joelhos na frente dele. — Por
favor, deixe-nos ir — Implorei. — Tenha misericórdia.

— Saia — Ele disse as palavras com tanta calma que me assustou.

— Saia da minha presença enquanto você carrega esse Satanás. Eu


deveria saber o quão forte era Satanás, o quanto ele ia tentar impedir o
casamento — Ele olhou para cima e apertou os olhos como se ouvindo vozes no
ar ao seu redor. — Sim. Novamente, eu subestimei sua força, sua desonestidade
— Ele resmungou, parecendo quase perdido.

Eu me levantei rapidamente, recolhi meu vestido e coloquei-o, sem me


preocupar com os meus sapatos. Hector me pegou bruscamente pelo braço e me
levou para fora do seu quarto e no corredor para o meu onde ele praticamente
me jogou para dentro e fechou a porta atrás de mim, trancando-a. Sentei-me na
minha cama e passei a mão sobre minha barriga. — Está tudo bem — Eu disse,
acalmando-me mais do que qualquer coisa. — Está tudo bem. Nós vamos ficar
bem.

Peguei o anel de ouro do meu dedo e o coloquei na minha mesa de


cabeceira e passei meus braços em volta de mim, tentando controlar meu
tremor. Eu me permiti sentir o alívio por não ter tido que suportar o ato sexual
com Hector, mas temi ainda mais por Calder.

Na manhã seguinte, acordei e pisquei para a luz do sol fluindo através da


minha janela. Tinha me esquecido de fechar ontem à noite antes de adormecer.
Fiquei ali por alguns minutos, minha mão indo imediatamente para a pequena
ondulação da minha barriga e por apenas um segundo, senti que tudo ia ficar
bem. Não tinha nenhuma razão do por que sentir isso. Tudo era horrível - uma
confusão terrível. Um pesadelo. No entanto, por aqueles breves momentos entre
o sono e a vigília completa, uma paz estabeleceu-se em meu coração. Tudo ia
ficar bem... De alguma forma. Mas então a realidade veio à tona, preenchendo o
vazio, e os pêlos na parte de trás do meu pescoço se levantaram. Nada iria ficar
bem.

Ouvi uma chave na fechadura e sentei rapidamente, puxando o cobertor


sobre meus seios agora mais cheios.
Hailey entrou com a minha bandeja de café da manhã. Ela estava
olhando para baixo e imediatamente vi que ela tinha uma grande marca
vermelha no rosto. — Hailey — Comecei, jogando as cobertas para trás e saindo
da cama.

— Não, Eden, por favor — Ela disse, com a voz rouca. — Não há muita
comida, me desculpe. Nossa estabilidade é testada agora — Ela colocou a
bandeja na minha mesa de cabeceira e saiu, fechando a porta silenciosamente
atrás dela. Meu coração se apertou no peito.

Peguei meu chá e tomei um gole quando considerei do que poderia ser
feito. Hector tinha me rejeitado como sua esposa. Isso tinha que ser bom. Não
poderia desempenhar o papel em seu prenúncio agora. Era o fim. Ainda assim,
um calafrio percorreu minha espinha apesar do calor do líquido fazendo o seu
caminho para o meu corpo. Hector não ia desistir de mim. Eu sabia que ele não
ia. Eu tinha só algum tempo. E se meus instintos estivessem certos, não havia
muito tempo. Terminei meu chá e levantei da cama. Bati na minha porta e
alguns minutos mais tarde, Mãe Miriam veio e atendeu, usei o banheiro
enquanto ela esperava lá fora.

Verifiquei todas as gavetas do banheiro e tudo o que poderia ser usado


como uma arma potencial havia sido retirado. Encostei-me ao balcão, sentindo-
me derrotada. O problema não era tanto fugir sozinha. Provavelmente
conseguiria fazer isso. Mas como conseguiria Calder? E se eu não o fizesse, o
que Hector faria com ele? Senti-me sem esperança.

Quando abri a porta do banheiro, uma dor aguda veio do meu abdômen e
me dobrei, gritando com a intensidade repentina da cãibra.

— O que foi isso? — Mãe Miriam perguntou, vindo para o meu lado.

— Eu não sei — Eu disse sem fôlego, ainda segurando minha barriga.


Outra dor aguda me agrediu e eu agarrei a parede, dobrando mais uma vez. —
Estou grávida — Eu gritei. — Alguma coisa está errada!

Mãe Miriam recuou com o choque registrado em seu rosto. — Não — Ela
disse simplesmente.

— Ahhhh! — Gritei quando a dor rasgou minha barriga e eu inclinei e


vomitei no chão de madeira do corredor.

— Leve-a para a cabana da cura — Eu ouvi atrás de mim a voz profunda e


fria de Hector.

Mãe Miriam colocou o braço em volta de mim e me segurou na posição


vertical enquanto caminhávamos... Mancando pelo corredor até as escadas.
Suor escorria do meu rosto e tudo balançava ao meu redor. — O que você fez? —
Perguntei fracamente quando passamos por Hector. — O que você colocou no
meu chá? O que você fez para mim? — Gritei mais alto.

— Tinha que ser eliminado — Disse ele atrás de mim. — O que foi predito
não pode ser apagado ou desfeito, nem mesmo por Satanás.

— Ahhhh! — Gritei em horror e agonia, a dor rasgando meu corpo e a


minha alma. Mãe Miriam me agarrou com mais força e praticamente me
carregou para fora da porta do pavilhão principal.

Vomitei novamente na porta. — Ele está matando o meu bebê — Eu


soluçava. — Oh, Deus de Misericórdia, me ajude, me ajude, me ajude — Eu caí
de joelhos no meu próprio vômito, tremendo e suando e meio enlouquecida de
terror.

— Shh, criança — Mãe Miriam disse atrás de mim, me pegando de novo e


me arrastando para baixo das escadas. — Estou aqui.

— Você me odeia — Eu soluçava. — Você fez isso. Você fez isso, também!
— Bati levemente em seu braço, em volta da minha cintura, mas não tinha
energia para fazer qualquer coisa, apenas suportar a dor e doença.

— Eu nunca faria isso — Disse ela. — Eu perdi, também.

— Ahhhh! — Gritei novamente, abaixando no pátio e o vômito veio


novamente. O mundo piscou, tudo nadando em volta de mim enquanto eu
tentava ficar em pé. Algo quente e úmido estava correndo pela minha perna.

Ouvi meu nome em algum lugar muito longe e até mesmo no meu estado
delirante, eu sabia que era Calder. — Calder — Eu gritei. — Calder! — Minha voz
se quebrou em seu nome quando chamei uma segunda vez e, em seguida, dobrei
em um grito de gelar o sangue de novo, mais umidade pegajosa descia pela
minha perna. Tentei andar na direção de onde ele estava me chamando, mas
Mãe Miriam me puxou de volta. — Eu tenho que levá-la para a cabana da cura —
Disse ela. — Se você quer viver, tenho que chegar lá.

Eu fiquei mole em seus braços, quando outra dor rasgou através de mim,
não tinha forças nem para gritar neste momento.

O mundo escureceu ao meu redor, em seguida, entrou em foco mais uma


vez quando vi homens andando atrás de mim para onde eu estava tentando ir
para Calder.

A próxima coisa de que me lembro era em estar na cabana da cura,


deitada em uma cama, a dor ainda rasgando meu corpo enquanto suava,
chorava e gritava com a agonia.

Perdi a noção do tempo quando tudo entrava e saia de foco ao meu redor,
a luz do sol da manhã oblíqua através da janela em um segundo, e depois o céu
do início do crepúsculo da noite me cumprimentando. Durante todo aquele dia,
chorei e me contorcia, suportei a dor enquanto Mãe Miriam vinha e ia, cuidando
do meu corpo de maneira que não conseguia nem me concentrar.

— O pior já passou — Mãe Miriam disse baixinho da extremidade da


cama onde ela estava limpando as minhas coxas e entre as minhas pernas.

— É... É isso... Perdi? — Eu soluçava.

Ela ficou em silêncio por um minuto. — Sim, Eden, sinto muito. Seu bebê
se foi.

Se foi? Para onde? Onde estava o meu bebê agora? O pequeno ser que eu
estava simplesmente começando a amar tão ferozmente. O que faço com
aquele amor agora?

Caí na cama e chorei, lágrimas de dor e perda e horror. — Eu fiz isso —


Eu coloquei pra fora. — Disse a ele sobre o bebê. Isso é minha culpa. Isto é tudo
culpa minha.

— Não, isso não é culpa sua. E você vai ver o seu bebê novamente em
Elysium.

Eu chorava mais. — Eu vou matar Hector quando chegar lá — Eu cuspi. —


Eu vou caçá-lo e matá-lo! Não me importo se ele já vai estar morto! —
Engasguei com meu próprio choro.

— Não há ódio em Elysium, Eden.

Virei-me na cama, enrolando em uma bola e chorei na miséria.

— Calder tentou chegar até você quando ouviu seus gritos.

Virei-me e olhei para ela com os olhos inchados.

— Ele lutou como um guerreiro para chegar até você, filha — Disse ela em
voz baixa, esfregando uma toalha fria na minha testa. — Mas no final... Havia
muitos deles.

— Muitos? — Eu soltei. — Ele está...?

— Ele está vivo.

Mas entendi que ele poderia não estar por muito tempo. — Eles enviaram
a Mãe Willa para cuidar dele?

Mãe Miriam sacudiu a cabeça. — Mãe Willa morreu ontem à noite — Ela
disse simplesmente.

Empurrei-a tentando sair da cama.


Mãe Miriam me empurrou gentilmente de volta para baixo. — Não há
nada que você possa fazer Eden. Eles não vão deixar você perto dele.

— Por que você está deixando isso acontecer? — Eu falei.

Mãe Miriam franziu os lábios. — Em Elysium, todos os nossos sonhos se


tornam realidade. Em Elysium, seremos deuses e deusas. Em Elysium, vou ver
meus filhos novamente, também — Disse ela em voz baixa.

— Então vá para Elysium sozinha. Não nos faça ir com você — Eu gritei
quando outra cãibra forte de repente me fez apertar minha barriga e estremecer.

— Você vai ter dores depois. É normal. Você precisa descansar.

Ela se levantou e saiu da cabana da cura, dizendo alguma coisa para


alguém de fora da porta. A voz profunda e masculina respondeu de volta. Eles
colocaram um guarda do lado de fora.

Virei-me na cama e chorei. Tanta dor. Física. Emocional. Isto era uma
agonia. Eu não sabia se poderia suportar isso. Calder estou tentando ser a sua
Glória da Manhã forte, mas acho que não posso fazer isso sem você.

Depois de alguns minutos, a sala ficou mais escura de forma mensurável


e eu ergui minha cabeça e pisquei, me virando para a janela. Lá fora, tinha uma
visão perfeita da lua. A sombra estava se movendo através dela. Meu coração
acelerou no peito e eu agarrei os lençóis da cama em minhas mãos. Confusão e
descrença deslizaram lentamente pela minha espinha.

Era um eclipse.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Calder

Gritei de raiva e impotência, e afundei no chão, respirando com


dificuldade. Levantei minha camisa, comecei a limpar o sangue que podia sentir
correndo de meu lábio pelo meu queixo.

Depois de um tempo, andava na gaiola que eles me colocaram - a mesma


que eu estava andando em duas semanas - enquanto tentava imaginar uma
maneira de sair desta prisão subterrânea. A porta era feita de aço pesado, a
comida era trazida apenas ocasionalmente, sem um padrão regular. Racionava a
água que tinha colocado no canto de um dos grandes jarros que costumava
trazer da nascente. A nascente. Não, não pensaria nisso. Não agora.

Eles vieram quando comecei a gritar e gritar como um demônio depois


que tinha ouvido Eden gritar. E eu tinha conseguido passar pelos três primeiros,
mas depois, mais dez trabalhadores que eu nem sequer conhecia, todos eles na
minha loucura, vieram correndo pelas escadas e me ultrapassaram. Eles
lutaram como se eu fosse o próprio diabo. Eu falhei com ela. Eu lhe disse que
iria mantê-la segura, protegida, e ela confiou em mim. Caí para o pequeno
banco e coloquei minha cabeça nas mãos. O que ela teve que suportar? Ontem
foi o aniversário dela e ninguém pareceu aqui. Pensei que ficaria louco.

Eu tinha implorado na porta para que alguém me ajudasse, mas ninguém


veio.

Um pequeno som de raspagem veio do lado de fora e saltei a tempo de


ver um pequeno pedaço de papel deslizar debaixo da minha porta. — Ei — Eu
gritei. — Por favor, deixe-me sair! Quem está aí fora, por favor! — Os passos se
afastaram e, além disso, ouvi a porta bater.

Peguei o bilhete e abri.

“Ela é a esposa de Hector agora, apenas do nome. Hoje, o bebê foi


tirado dela. Ela suportou a dor com coragem. Ela vive.”

Horror escorria pela minha espinha e senti as palavras como um golpe.


Seu bebê foi tirado dela... Meu bebê? Tirado? Meu cérebro vacilou, tentando
compreender o significado das palavras na minha frente. Segurei o cabelo do
lado da minha cabeça e tentei acalmar meu coração acelerado. Eden estava
carregando o meu bebê? Ela parecia um pouco... Mais cheia e mais redonda no
último mês. Só não achava... Eu não achava... Meu peito se apertou e o som
abafado estranho estava vindo de mim. Ah, não, tentei ser tão cuidadoso. Não!
Eu caí de joelhos e soltei um gemido alto, levantando a cabeça para o teto e
gritando a minha raiva, minha dor e minha culpa implacável. Que dor ela tinha
sofrido por minha causa? Minha linda Glória da Manhã.

De repente, havia chaves na porta. Uma vez que estava abrindo, pulei
para trás e, em seguida, corri para a frente, uma vez que se abriu. Afastei-me
quando vi Clive Richter ali com uma arma apontada para mim. Poderia
sobreviver a um tiro? Poderia correr antes que ele tivesse uma chance de atirar?
Eu não tinha ideia de como as armas funcionavam. Não tinha ideia do que fazer
quando confrontado com uma. Adrenalina passou por mim, mas não seria bom
para Eden se eu estivesse morto.

Recuei um pouco, levantando as mãos para que ele soubesse que não eu
lutaria, não ainda, de qualquer maneira. Ele zombou de mim. — Vire-se e
coloque as mãos atrás das costas.

Virei-me lentamente, fazendo o que ele disse. Minha mente estava


trabalhando em um milhão de quilômetros por minuto. Só precisava sair daqui,
sair para um lugar onde poderia chegar até Eden. Eu poderia lutar, desde que
fosse justo. Poderia até mesmo lutar enquanto não era justo, assumindo os
homens que eu estava lutando não tivessem os mesmos desafios contra eles.
Mas, é claro, os homens aqui estavam lutando para serem Deuses. Que causa
maior que essa?

Saí da pequena cela com Clive me levando. Quando subimos as escadas e


saímos, esperava o sol me cegar por um minuto, mas o mundo estava escuro.
Olhei para cima e vi imediatamente o porque. Meu sangue bombeava
furiosamente nas minhas veias e agarrei minhas mãos nas algemas, testando
sua resistência. O sol estava se movendo na frente da lua. Era um eclipse. Deus
santo, era um eclipse.

Eu não sabia o que pensar, o que sentir, o que fazer.

Os dois membros do conselho, Garrett Shipley e Ken Wahl, que tinham


me segurado durante as chicotadas de Xander, se juntaram a nós, caminhando
ao lado de Clive e eu. O nariz de Garrett tinha uma pequena tala e os dois olhos
eram de um amarelo esverdeado, onde seus ferimentos estavam desaparecendo.
Ambos me olharam nervosamente. Eles deveriam ficar nervosos. Se tivesse a
chance, iria matá-los com minhas próprias mãos. Eu apreciaria isso.

Olharam para o céu quando escureceu mais. — Hector disse que ele
estava fora do prenúncio. Os deuses não disseram dois meses, seis dias. Eles
disseram dois dias, seis horas. Um desses equívocos lamentáveis — E então eles
começaram a rir como hienas de uma piada, que eu não tinha certeza se
entendia.

Enquanto caminhávamos após o final do sistema de irrigação, olhei para


trás, em direção ao rio e apertei os olhos. Alguém, provavelmente um dos
trabalhadores, tinha fixado as áreas que Hector tinha destruído.

A visão do sistema de irrigação, de repente me encheu de raiva. Isso


percorreu meu corpo, fazendo-me sentir enlouquecido, animalesco. Eu chutei
para fora com a minha perna e trouxe uma seção para baixo, gritando com tudo
em mim. Esse sistema era o símbolo de todas as minhas estúpidas, ridículas,
esperanças e sonhos ingênuos. Esse sistema foi construído quando ainda havia
um fogo em meu coração pelo o que a vida poderia ser para mim. Queria cair de
joelhos e chorar por aquele garoto idiota que não sabia de nada, percebia nada,
e era cego. Queria bater-lhe até perder o sentido, vencê-lo, matá-lo e torná-lo
irreconhecível. Eu odiava tudo nele. E o abandonava com todo o meu maldito
coração.

Quando voltei a mim, tinha destruído uma enorme parte disso e Clive,
Garrett, e Ken estavam de pé atrás rindo de mim. Fiquei ali, respirando com
dificuldade, cada parte do meu corpo doendo, do meu rosto até meus pés.

— Vamos lá — Disse Clive. — Hector vai deixar você ir.

Parei de andar, estreitando os olhos para ele. — Ele vai me deixar ir


embora? — Eu perguntei com meu coração cambaleando no peito. — Por quê?

— Não me interessa o porque — Ele disse ele.

— Por que estou algemado, então?

— Porque você está agindo como a porra de um animal que é, por isso.

— Eu não vou. Não vou, prometo — Eu implorei. — Apenas me solte, vou


pegar Eden e ir embora.

Clive sorriu. — Você não pode pegar Eden, seu tolo. Eden pertence a
Hector. Você não conseguiu nada além da sua liberdade. E você é sortudo por
isso.

Se pudesse pelo menos ter isso, poderia voltar para buscar Eden. Poderia
vir com um plano. Poderia pedir ajuda... Alguma coisa. Se não fosse livre, não
havia esperança. — Deixe-me ir, então. Vou sair daqui.

Clive riu. — Hector quer dizer adeus a você primeiro — Ele zombou.
Chegamos a um dos grandes postes de madeira que sustentavam um alto-
falante na parte superior. Clive instruiu Garrett para soltar as algemas e colocá-
los de volta uma vez que eu estivesse de costas contra o poste e meus braços
estavam ao redor disso por trás. Pânico passou por mim. Ah, não. Eu não iria
ser amarrado em um poste. Não. Algo ruim estava acontecendo. Não sabia o
que, mas não era bom. Eu levei a minha cabeça para a frente e bati no rosto de
Garrett, seu nariz esmagou novamente e sangue jorrou enquanto ele soltava um
som agudo e estridente de agonia. Trouxe meu joelho para cima e acertei a sua
virilha. Ele fez outro som que se assemelhava a um porco guinchando e se
dobrou.

Ouvi um tiro em algum lugar, mas não tinha ideia de onde.

E, de repente, parecia que mais de trinta homens estavam em mim e,


assim como no início do dia, quando tinha tentado chegar até Eden, havia
apenas muitos deles. Lutei com tantos quanto pude, mas finalmente, um
segurou meu braço e torceu, gritei quando ele libertou rapidamente e, em
seguida, levou-o ao redor do poste. Outra pessoa estava socando meu rosto de
novo e de novo quando deslizei para a terra e meu outro braço foi levado para
trás. Ouvi o clique das algemas de novo e isso me atingiu no estômago mais
forte do que todos os socos que tive até agora conectados com o meu corpo. Eu
rugi de raiva e agonia, meu corpo estava quebrado, o meu espírito destruído. O
sangue estava escorrendo em um olho, o outro fechado já inchado. Parecia que
meu braço tinha quebrado, uma dor aguda irradiava para o meu ombro. Caí no
chão, minhas pernas para fora na minha frente, minha cabeça pendurada.
Espancado. Quebrado. Sinto muito, Eden.

— Você pensou que era mais forte do que eu, Satanás? — A voz de Hector
estava muito perto. — Você acha que conseguiria fazer o seu caminho para a
minha comunidade com a sua beleza? Você enganou-me uma vez, há muito
tempo, mas de novo não. NUNCA MAIS!

Senti algo batendo no meu pé, mas não olhei para cima. A voz de Hector
andava ao meu redor e, em seguida, parou na minha frente. Eu olhei para ele.
Ele era uma grande sombra negra contra o céu escuro.

— Tentei ajudá-lo, tentei tanto purificá-lo, mas subestimei o seu poder.


Subestimei seus maus caminhos, sua capacidade de encantar minha abençoada
bem debaixo do meu nariz. E convidei você para ficar aqui. Esse foi o meu maior
erro. Eu o trouxe para Acadia. Deixei você entrar, Satanás, gerar a si mesmo.
Mas o bem sempre prevalecerá. O bem ganhará sempre. E o mal sempre vai
perder — Ele chegou perto do meu rosto. — Você queima por ela, não é,
Satanás? Hmm? Você queima pela minha propriedade, pela propriedade dos
deuses? Você queima por ela? Ah você vai queimar por ela. Você vai. E o mal
será finalmente destruído — Ele riu estridente, enlouquecido. E então olhei para
baixo e percebi o que ele estava fazendo. Ele estava construindo uma fogueira.
Ele iria me queimar.
Meus pés arranharam a terra e me levantei do poste, agora de pé e
respirando com dificuldade com o terror me atingindo quando Hector adicionou
as pilhas de paus que ele tinha colocado ao redor do poste, fora do alcance dos
meus pés.

— Pai, não. Por favor, não — Eu implorei. — Por favor, vou sair daqui.
Não vou voltar — Eu menti. — Você nunca vai me ver de novo. Por favor, não
faça isso. É assassinato, Pai. É um pecado. Você me ensinou isso. Você me
ensinou que tirar uma vida é um pecado contra os Deuses.

Ele deu mais risadas, parecendo um demônio.

— Que porra é essa, Hector? — Ken Wahl perguntou, em pé, esticando


um pouco suas costas. — Você vai queimá-lo até a morte? — Ele colocou as mãos
para cima, afastando-se. — Não vou fazer parte disso. Não foi para isso que me
inscrevi — Mas ele não foi embora.

— Ajude-me, por favor — Gritei, olhando para ele através do meu olho
bom, minha voz tão rouca que mal conseguia sair minhas palavras.

Clive fez o mesmo que Ken, ele parecia confuso, mas animado. Seus olhos
brilhantes se lançaram de um lado para o outro entre Hector e eu.

— Clive... Por favor — Eu disse, mas então, deixei minhas palavras


morrerem. Se ele fosse me ajudar em algum momento, já teria feito isso.

— Qualquer pessoa — Falei para as pessoas que estavam em um


amontoado no pátio do pavilhão principal, apenas trinta metros de distância. —
Ajude-me. Ele ficou louco. Se todos nos unirmos — E foi quando eu a vi sendo
levada em minha direção pela mãe Miriam. Seu rosto estava branco, e a saia
coberta de sangue. O sangue do nosso bebê. Eden. Cambaleei em direção a ela,
mas as algemas me prenderam e dor rasgou meu braço. Gritei e chutei no poste
com toda minha força, na esperança de tirá-lo do chão. Mas sabia que era em
vão. Eu vi os buracos que foram escavados para esses postes, o cimento que foi
derramado. Gritava em desespero e desgosto.

Quando olhei para cima novamente, Eden estava tentando correr para
mim, mas sendo segurada pela Mãe Miriam, que usava um olhar triste no rosto
delineado. Eden parecia muito fraca para lutar. Ela caiu contra Mãe Miriam e
soluçou. Eden, Eden, oh Eden, meu amor, a minha Glória da Manhã.

— Acenda o fogo, Abe — Hector pediu. Minha cabeça girou. Pânico e bile
subiram pela minha garganta quando meu pai caminhou lentamente para mim,
com uma caixa de fósforos na mão. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e suas
mãos tremiam.

— Papai. Oh, não, pai — Eu disse, a última palavra se quebrando, a peça


final do meu coração foi estilhaçado. Meu pai não olhou para mim, com as mãos
trêmulas e com soluços silenciosos sacudindo seu corpo. Ele estava rezando em
voz baixa. — Mãe — Eu gritei. — Mãe!

Um gemido alto levantou-se da multidão e vi minha mãe cair de joelhos,


mas ela não se mexeu para me ajudar.

— Os maiores sacrifícios machucam os mais prejudicados, Abe — Disse


Hector ao meu pai. — Sua recompensa será grande. Você será um Deus entre os
Deuses. Todo o sofrimento que sofreu nesta vida vai valer a pena.

Todas as pessoas juntaram as mãos e estavam recitando a admoestação


de Satanás do Hector, com calma, de olhos fechados e alguns chorando.

Ouvi Eden gemer e foquei meu olho embaçado nela. — Eden — Eu gritei,
tentando fazer minha voz mais forte possível. — Eden!

— Calder — Ela soluçou. — Oh Deus, Calder! — Ela tentou andar em


minha direção, mas dois dos homens com que eu havia lutado a seguraram de
volta. Ela parou de lutar. Ela parecia muito fraca e eles eram muito fortes. Ela
jogou a cabeça para trás para o céu e gritou.

Olhei para o meu pai e sua agitação era tanta que ele deixou cair o
primeiro fósforo, apagado, no chão e se curvou para pegá-lo.

— Eden. Pare. Apenas ouça. Por Favor — As lágrimas vieram correndo


pelo meu rosto. — Quando acender o fogo desvie o olhar. Não assista isso. Por
favor, não assista.

Ela balançou a cabeça violentamente de um lado para o outro. — Não, eu


não vou te deixar! Nem mesmo com os meus olhos. Não vou deixá-lo sozinho.
Estou com você. Estou aqui!

O segundo fósforo acendeu e meu pai gritou quando ele o deixou cair na
pilha de lenha próxima aos meus pés. Um pequeno fogo. Olhei de volta para
Eden.

— Por favor, Glória da Manhã. Por favor, não posso suportar saber que
você vai ficar com esta visão. Vou inalar a fumaça. Não vou sentir as chamas.
Mas tenho que saber que você olhou para outro lado. Por favor.

O fogo cresceu, saltando para outra pilha de paus. Senti o calor na parte
inferior do meu corpo.

Eden olhou para o céu novamente, seu peito subindo e descendo em


soluços pesados. Ela olhou para mim e gritou mais uma vez, lutava para se
soltar. Os homens a seguraram com mais força, cada um segurando em um
braço, afastaram-se dela apenas o suficiente para que ela não pudesse chutar em
qualquer lugar vital. Não importava de qualquer maneira. Ela não tinha a chave
das algemas que me mantinha preso.
Eden olhou para mim e balançou a cabeça, horror e desespero desolador
evidente em cada parte dela: sua expressão, sua postura, seus soluços. E eu não
podia fazer nada.

— Eu não sei o que vai acontecer depois disso, Eden, mas seja o que for,
seja corajosa, Glória da Manhã. E sei que há uma nascente em algum lugar em
Elysium. E eu estarei esperando por você, Eden. Estarei deitado em uma rocha
na água. Me imagine lá, sob a luz do sol. E quando chegar a hora, venha me
encontrar. Estarei esperando. Esperarei por muito tempo, Eden, mas saiba que
vou estar lá. Estarei te esperando, Glória da Manhã.

Eden jogou a cabeça para trás. Parecia que ela não tinha mais voz para
gritar. O rosto dela - seu lindo rosto. Ver a sua agonia desesperada me rasgou.
Senti-me impotente enquanto eu observava seu tormento e sofrimento. Todos.
Minha culpa. Enquanto as chamas saltaram, ela chorou em silêncio e virou a
cabeça. A fumaça começou a subir e me preparei para inalar grandes partes
disso. Medo, horror e raiva, e sim, amor - cada parte de quem era, naquele
momento, rodou como um furacão dentro de mim, movendo-se mais rápido,
ganhando velocidade, ganhando algum tipo de poder.

E quando inclinei a cabeça para o céu... Começou a chover.

Não era uma chuva que começou devagar, de repente, era chuva
torrencial que imediatamente caiam em lâminas. O fogo se apagou.

Hector se adiantou e fez um som de nojo e raiva. Ele pegou a caixa de


fósforos do meu pai, que se virou com seus ombros tremendo em soluços.
Hector tentou acender outro fósforo. Mas depois de várias tentativas, ele jogou a
caixa no chão e gritou: — ENTREM NO PORÃO! TODOS! A GRANDE
INUNDAÇÃO ESTÁ SOBRE NÓS! ENTREM NO PORÃO E TRAGAM A MINHA
ABENÇOADA.

Hector virou-se para Clive, que estava de pé atrás dele. — Solte-o e jogue
de volta na cela

— Ah, Jesus Cristo — Clive gritou. — É isso. Esta é a última coisa que faço
aqui.

Eden estava sendo arrastada para o porão. Meu coração batia forte no
peito quando Clive abriu minhas algemas e me empurrou longe do poste.
Tropecei, minha perna direita se dobrando abaixo de mim. Caí de joelhos nos
paus que foram espalhados em volta de mim e vi o buraco na minha coxa, o
sangue escorrendo lentamente. Levei um tiro? — Levante-se — Disse Clive
friamente.

— Eu não consigo — Eu disse, meu braço pendurado ao meu lado.


— Alguém, arraste-o para a cela — Clive falou. — Estou saindo daqui —
Então ele se virou e caminhou pela chuva, desaparecendo depois de mais ou
menos três passos.

— Eden — Eu disse fraco, rastejando na lama para ela o melhor que podia
com apenas uma perna e um braço ajudando.

Eu me senti sendo arrastado, e gritei com a agonia incandescente


atravessando o meu braço quebrado e minhas pernas desamparadas atrás de
mim.

Fui arrastado para baixo nas escadas, outras pessoas correndo atrás de
mim e fui jogado de volta na cela onde caí no chão. O mundo começou a
esmorecer e lutei para ficar consciente. — Eden — Engasguei fracamente. —
Eden — Então tudo ficou escuro.
CAPÍTULO VINTE E CINCO

Eden

A chuva batia no telhado enquanto eu era arrastada, chutando e gritando,


para o porão escuro já lotado. A luta levou tudo que tinha, mas eu tinha que
chegar até Calder. Ele parecia meio morto quando o arrastaram para longe.
Tinha que chegar até ele. Hector me segurou firme pela cintura e sua força era
muita para lutar contra ele. Ele tinha perdido peso e parecia magro e doente,
mas sua força parecia ser a de uma centena de homens. Ou talvez fosse apenas
que eu estava totalmente debilitada, meio morta de medo e tristeza. Eles iriam
queimá-lo até a morte. Horror me deixou tonta e eu respirei fundo.

Quando Hector levou sua mão para me manobrar para o canto do porão,
eu me inclinei para o lado e a mordi. Forte. Ele rugiu, e o gosto metálico do
sangue dele encheu minha boca. Eu cuspi isso no rosto dele.

Um olhar de raiva passou por sua expressão, antes que ele me


empurrasse duramente para dois homens ao nosso lado, homens trabalhadores
que eu não reconheci.

— Coloque-a no depósito de alimentos — Disse ele. — Ela ainda vai estar


aqui para a nossa viagem para Elysium — Disse ele enojado. — As células de
Satanás ainda estão escorrendo de você. Isso vai sair quando os deuses vierem
para nós — E então Hector levantou a pequena chave de prata da porta principal
do porão e engoliu-a com os olhos enlouquecidos.

Eu soluçava, e empurrei um dos homens, mas ele não se mexeu. Eles me


guiaram facilmente a curta distância até o pequeno quarto onde a comida era
geralmente armazenada, me empurraram para dentro, batendo a porta atrás de
mim. Ouvi alguma coisa pesada sendo empurrada na frente dela. Bati e bati
nela, mas a porta era grossa, o que quer que foi colocado em frente à porta
servia como mais uma barreira do som e a chuva batia forte no telhado. Eu
estava fraca. De qualquer maneira, ninguém iria me salvar.

Havia luz apenas o suficiente entrando por baixo da porta para ver o
quarto. Era principalmente uma sombra fraca. Eu podia ver as prateleiras
vazias, sem comida sobre elas agora e até o teto. Era um pouco maior aqui, uma
vez que sentei sob uma parte do pavilhão principal, enquanto as outras partes
do porão tinham apenas terra por cima. Não havia janelas, nem saída. Deslizei
para baixo enrolada em uma bola. Chorei. Sem esperanças. Calder já poderia
estar morto, ou no mínimo, morrendo. Não havia mais nada. Mais nada pelo
que esperar.

Talvez eu tenha dormido ou talvez tenha entrado e saído da consciência


novamente. Perdi a noção do tempo enquanto a chuva continuava batendo ao
meu redor, ou assim parecia. Eu ainda estava encharcada e estava tremendo.
Sonhos flutuaram pela minha mente, enevoados, meio-formados. Vi Calder
nadando na água em nossa nascente com um sorriso gentil no rosto. De repente,
a água era fogo, engolindo-o, e ele gritava e foi puxado para baixo, para as
chamas, para as profundezas de algum lugar que eu não conseguia entender. Ele
estava perdido para mim enquanto eu gritava e tentava chegar até ele, meus
próprios braços fazendo bolhas e ficando pretos quando mergulhei no fogo. Eu
acordei assustada com o grito ainda em meus lábios. Havia uma poça de água
abaixo de mim e eu ouvi os gritos das pessoas de fora da porta.

Eu dei um salto e fiquei em pé, cai contra a parede enquanto todo o


sangue corria para minha cabeça. Respirei fundo e coloquei o ouvido na parede.
Parecia que a água estava correndo de algum lugar e quando olhei para os meus
pés, a poça estava crescendo, a água fluía por baixo da porta. Meu coração
parou. Segundos depois, ele voltou em uma batida irregular em meu peito. Meu
sangue gelou e eu balançava.

O prenúncio estava se tornando realidade.

Quando a água entrou correndo mais rápido para onde eu estava, os


gritos das pessoas aumentaram em volume do outro lado da parede. Ouvi
Hector pregar em voz alta e outra pessoa, uma voz masculina, gritava para dar-
lhes a chave. Houve briga, mais gritos, e então a voz de Hector ressuscitou. Eu
só peguei porções, apenas algumas palavras através da parede. “Sem medo... Os
deuses... Destino...” Eu morreria com o resto deles. O quarto foi enchendo
rapidamente com água e não havia como escapar. Uma estranha sensação de
aceitação preencheu meu corpo - a estranha paz que eu só podia imaginar ser a
aceitação que não havia como sair desta situação. Eu me inclinei contra a parede
e tentei bloquear os sons dos gritos, as crianças chorando, os gritos profundos
dos homens. Os lamentos dos inocentes. Em algum lugar lá fora, Calder estava
entre eles.

— Uma vez um é um — Eu disse. — Uma vez dois é dois... — No momento


que eu tinha chegado a nove vezes nove, a água estava nos meus ombros. Eu
fechei os olhos e pensei em muitas coisas que Calder havia me ensinado em
nossa nascente, até mesmo as que eram acadêmicas. Fiz divisão na minha
cabeça enquanto a água subia até o meu queixo. Eu subi para a mais alta
prateleira no quarto, o que deixou minha cabeça com mais ou menos 1,80
metros do teto. Este era o lugar onde isso acabaria. Eu me perguntava se
Elysium seria semelhante. Será que acordaria imediatamente lá? Ou haveria
uma viagem? O que Calder fazia agora? Será que a água o engoliu? Será que ele
já esperava por mim na nascente? — Eu vou, meu amor — Eu sussurrei. — Eu
estarei lá em breve.

Quando a água chegou até meu queixo de novo, a luz por baixo da porta
apagou e os gritos viraram sussurros e soluços... A morte cuspindo. Eu soluçava
em silêncio até que a pulsação do meu coração batendo no peito me iludiu com
alguma espécie de calma vazia. Estava totalmente escuro e silencioso agora,
exceto pelo som da chuva, ainda caindo. O mundo inteiro estava debaixo
d'água? Os pinguins estavam flutuando? Observando como os céus escureceram
e o planeta tornou-se um vasto oceano sem fim? A água subiu mais no meu
nariz e eu fechei os olhos.

Posso ensinar-lhe uma maneira ainda melhor para não gastar energia
na água?

Meus olhos se abriram. Jurei que tinha ouvido a sua voz sussurrar no
meu ouvido.

Deixei a água levar o meu corpo com ela, uma vez que subi mais alto no
quarto. Respire fundo e deixe-se flutuar de modo que a parte de trás da sua
cabeça fique um pouco acima da água. Apenas deixe a água apoiá-la. Então,
quando eu tocar em seus braços, deixe-os flutuar em direção à superfície, com
os cotovelos dobrados. Você se lembra até agora?

Sim, sim, eu me lembro.

Eu flutuava no topo da água e fiz o que me foi ensinado a fazer, uma vez
sob a luz do sol, na água de uma nascente onde eu tinha me apaixonado com o
garoto mais bonito do mundo. E onde ele havia me amado de volta.

...Nunca se sabe quando um pequeno pedaço de conhecimento vai ser


útil ou talvez... Talvez até mesmo mudar sua vida.

Eu flutuava, somente isso, até que percebi que a água tinha parado de
subir. Senti que acima de mim tinha cerca de oito centímetros de ar na parte
superior do teto mais alto, oito centímetros que me mantinha viva. O resto do
porão tinha ficado completamente debaixo d’agua cerca de meia hora antes,
quando os gritos tinham parado. Estavam todos mortos. Todos, exceto eu, a
única que eles queriam levar com eles.

Seja forte, Glória da Manhã. Estarei esperando. Esperarei por muito


tempo, Eden, mas saiba que vou estar lá.

Desejo feroz me agrediu. Seria tão fácil me deixar afundar no chão e


sugar uma grande golfada de água. Mas e se o pecado de tirar minha própria
vida me levasse para outro lugar? E se essa fosse a coisa que me separaria de
Calder para sempre? Ele não estaria sozinho. Nosso bebê estaria com ele. Ele
saberia da sua existência lá. Ele saberia sobre ela imediatamente. Ele a ensinaria
a nadar na nascente. Ele a ensinaria a ser corajosa. Ele daria o amor que eu
senti. Assim como ele uma vez me ensinou.

Tinha ouvido dizer que quando você morre, sua vida passa diante de seus
olhos, cada momento dela. Mas, para mim, só havia Calder. Havia apenas ele.
Porque ele era a minha vida. Eu vi seu sorriso quando me virei para ele na nossa
nascente. Eu vi nós dois deitados sob as estrelas. Eu vi a expressão feroz de
Calder quando ele pegou meu rosto em suas mãos e colocou seus lábios nos
meus. Eu vi o prazer em seu rosto quando ele fez amor comigo. Eu vi o seu
sorriso repentino, como o sol, quando a água do chuveiro caiu em sua cabeça.
Cada momento feliz com ele flutuou pela minha mente em detalhes vívidos.
Fechei meus olhos e revivi cada momento, deixei me embalar, me confortar, me
trazer paz.

E eu flutuava. Durante toda aquela noite fria, sombria, escura como breu
com a chuva caindo suavemente sendo o único som que me rodeava. Eu flutuava
e vivia. E em algum momento, a água começou a recuar e a parte superior da
prateleira bateu no meu pé. Eu estava sobre ela, meio acordada, meio em um
lugar no fundo de minha mente onde tinha ido quando flutuava, em estado de
choque, sem acreditar, no sofrimento indizível.

A água recuou lentamente e no momento que eu estava de volta ao chão,


parecia que horas tinham se passado. Tateei ao longo da parede e quando
cheguei à porta, me empurrei contra ela e forcei-a a abrir apenas uma fresta. O
que quer que foi colocado na frente dela, deveria ter flutuado na água e voltado
para baixo um pouco longe de onde estava anteriormente. Com a pequena fresta
na porta, eu fui capaz de calçar o meu corpo nela e empurrar o suficiente para
passar. A água do outro lado ainda estava nas minhas coxas. Eu fiquei ali,
ofegando com o esforço de manter a porta aberta, tentando focar meus olhos na
luz muito, muito fraca que aparecia sob a porta que dava para fora.

A manhã tinha aparecido.

O porão entrou em foco quando pisquei e levei a minha mão até a boca
com o horror varrendo meu corpo. Corpos flutuando em todos os lugares.
Homens, mulheres e crianças. O filho da Hailey, Myles, flutuava, virei a cabeça e
chorei em silêncio, cobrindo meu rosto.

E foi quando ouvi, uma fragmentação seguida por um gemido profundo


de madeira cedendo. Uma parte do teto caiu do outro lado do porão, junto à
porta, à luz de um céu da manhã dourada jorrando como a chegada de milhares
de anjos. Não tive tempo de gritar. Só reagi, atravessei os corpos, empurrando-
os de lado enquanto me movia pela água, em direção a essa luz celestial. Outro
gemido alto de madeira, em seguida, outra parte do teto caiu, batendo ao meu
lado, esmagando os corpos que estavam flutuado ali. Olhei para a minha direita
e o rosto de Hector levantava-se da água, inchado, tingido de roxo, com um
olhar em seu rosto que estava sereno, calmo. Uma raiva profunda tomou conta
de mim. — Você fez isso — Eu sussurrei com ódio, sem saber se tinha realmente
falado em voz alta. — Você fez tudo isso — Sua expressão permaneceu tranquila,
seu corpo balançando na água. Não havia nada que pudesse fazer para puni-lo,
nada que pudesse fazer para me vingar. Soluçando em minhas mãos, passei por
ele. Eu fui para o lugar onde o teto tinha caído um minuto antes e subi nos
pedaços quebrados de madeiras e concreto caído, até que pude agarrar um
pedaço do telhado que permanecia intacto e me puxei para cima. Caí no chão,
ofegante e soluçando. Quando ouvi outro rangido alto, levantei e me arrastei
para o mais longe do telhado do porão possível.

Um minuto depois, todo o teto desabou em um alto e violento barulho,


que levou todo o peso do teto e no chão acima dele sobre os corpos que estavam
abaixo. Sob os destroços ainda era um lago de água rasa. Eu caí de joelhos e
gritei. Se eu tivesse alguma esperança que Calder estivesse vivo, eu sabia que
não havia esperança agora. Profundamente dentro de mim, senti minha alma se
aconchegar e calmamente morrer. Meu corpo estava completamente esgotado e
meu coração quebrado em um milhão de minúsculos fragmentos de completa
desolação. Fiquei olhando para o chão, entorpecida, agarrando um punhado de
lama e observando enquanto eu apertava entre meus dedos, uma e outra vez e
de novo. Todo sentimento parecia escorrer para fora do meu corpo,
simplesmente ficando vazio e pesado, com tristeza sombria logo abaixo da
superfície.

Finalmente, sentei-me devagar, olhando em volta sem nenhum interesse.


Um bando de pássaros voava pelo céu e eu podia ouvir os animais em nossos
campos fazendo seus sons de animais. Muito acima um avião voava quando eu
protegi meus olhos e olhei para o céu brilhante. O mundo inteiro não foi levado
pela água. Somente as pessoas de Hector, todas, exceto uma. Todas, exceto eu.

Levantei-me com as pernas trêmulas e fui até o pavilhão principal,


levantando um pé e depois o outro. Lá, me limpei do sangue e minhas roupas
com manchas de sujeira como se estivesse em transe e joguei no lixo. Vesti uma
saia limpa e camisa e lavei a sujeira do meu rosto e os braços na pia. Recusei-me
a olhar para o espelho. Eu estava morta e não poderia olhar para outro rosto
morto logo em seguida.

Voltei para o meu quarto e peguei as glórias da manhã prensadas e


envolvidas em um saco plástico e coloquei no bolso. Achei a pedrinha na minha
gaveta da mesa e coloquei no meu bolso também. Se Hector tinha encontrado
isso em algum momento, ele não sabia o que significava.

O quarto de Hector era o próximo. Mexi em suas gavetas, sem sentir


nada. A última vez que fiz isso, eu estava nervosa, com medo de ser pega.

Tinha algum dinheiro, mas eu não o contei, apenas enfiei-o no bolso. Em


outra gaveta havia parte de um medalhão de um colar. Eu não tinha visto isso
na primeira vez que eu vasculhei essas gavetas. Peguei-o e estudei, algo nisso fez
o meu coração morto pegar um ritmo. Eu reconhecia isso. Eu já o havia usado.
Virei-o em minha mão. Na parte de trás estava o nome de um joalheiro, e a
cidade, Cincinnati, Ohio. Eu o abri, mas não havia imagens dentro.

Eu coloquei o medalhão no bolso, também, e desci as escadas. Fiz uma


breve pesquisa nos quartos dos membros do conselho, mas não encontrei nada
de valor. Talvez eles tivessem descoberto meu roubo depois que eu tinha
escapado e tirado ou escondido seu dinheiro e joias. Fui embora do pavilhão
principal. E não olhei para trás.

Lembro-me de algumas caminhadas, mas não todas. Eu tinha feito a


mesma viagem antes, só que naquele momento estava com dois rapazes
corajosos. Desta vez eu estava sozinha. Quando os carros passavam na estrada,
eu me escondia atrás das pedras como tínhamos feito antes. Eu desabei atrás de
uma naquele início de tarde, e dormi. Quando acordei, já era noite.

Em algum momento, eu parei na mesma casa que tínhamos parado em


frente por água e bebi da mangueira e roubei roupas do seu varal, uma calça de
brim feminina, uma camiseta de manga comprida branca e uma jaqueta leve.
Mais uma vez, o cachorro latiu e puxou sua corda, mas eu ignorei. Ninguém veio
para a porta com uma espingarda neste momento. Eu me perguntava se eu
estava desapontada. Meu corpo estava vivo, mas minha alma estava muito
perturbada para me preocupar.

Em algum lugar dentro de mim, uma voz sussurrou, você sobreviveu, e


agora você tem que viver. Eu não sabia quem era, certamente não era minha.

Era de manhã novamente quando cheguei à cidade. Eu vaguei pelas ruas


por um longo tempo, tentando inexpressivamente detectar algo familiar. Em
algum lugar, Xander estava, mas eu não sabia onde, e não sabia como descobrir.
Kristi já tinha se mudado e Calder havia dito que Xander o encontraria em
algum lugar, mas eu não sabia onde. Kristi tinha dito que ela conhecia pessoas
que poderiam nos ajudar. Eu tinha que acreditar que Xander estava em um
lugar seguro. Eu precisava.

Um carro da polícia vinha pela rua e eu comecei a respirar com


dificuldade, empurrando-me em uma porta e pressionando contra a parede até
que ele tivesse passado. Clive ainda estava lá fora.
Andei por mais um tempo até que eu vi uma placa indicando para a
estação de ônibus. Olhei tristemente para ela e entrei, onde eu perguntei quanto
custaria para uma passagem para Cincinnati. Eu não conseguia pensar em outra
coisa a fazer, não que eu pudesse pensar muito claramente em algo. Eu tinha
dinheiro suficiente, então comprei a passagem e me sentei em uma cadeira de
plástico da estação de ônibus, olhando para a parede. Por fim, coloquei a mão
no meu bolso e tirei o medalhão, a única coisa que eu tinha de valor, a única
coisa que poderia me deixar em segurança. Estudei-o, virando-o mais e mais,
querendo saber se ele poderia me levar a alguém que se importasse comigo.
Suguei um soluço.

Eu embarquei no ônibus para Ohio meia hora depois. Eu sentei em um


banco perto de uma janela e fechei os olhos. E mais uma vez, eu dormi. Era a
única coisa que não doía.
Epílogo

Calder

Eu estava em Elysium. A luz era dourada e o ar estava quente e tinha uma


nascente para encontrar. Só que não era para ter tanta dor em Elysium. Se eu
estivesse no paraíso, por que cada parte do meu corpo gritava em agonia? E por
que isso cheirava a morte? Engoli o vômito tentando fazer o seu caminho até a
minha garganta.

— Tenho que agarrar seu braço — Ouvi Xander dizer. E eu gritei. — Sinto
muito, irmão. Sinto muito pra caralho — Por que ele estava chorando? Não era
para ter lágrimas em Elysium.

— Eu tenho que encontrar a nascente — Eu disse. Só que saiu: — Tnh


enctr nte — Meu rosto não parecia querer se mover.

— Shh — Disse Xander. — Não fale. Estou com você. Você sabia que eu ia
voltar para você, certo? — Ele sufocou o que soou como um soluço. — Sinto
muito que era muito tarde.

— Tnh enctr nte — Eu repeti, tentando fazê-lo entender.

Coisas barulhentas estavam caindo ao meu redor e senti mais calor na


minha pele, a luz de repente mais brilhante.

— Isso vai doer. Sinto muito, irmão — Xander engasgou mais uma vez,
mas não entendia o por quê.

Então a dor agonizante inundou meu corpo enquanto eu gritava de novo,


sentindo-me ser levantado. O mundo se apagou.

Continua em Finding Eden...


Agradecimentos

É preciso muitas pessoas para concluir um livro e eu sou tão abençoada


por ter a melhor equipe. Especiais, agradecimentos especiais do fundo do meu
coração para as minhas editoras de enredo: Angela Smith, que não só discutiu o
arranjo da história comigo até o ponto de exaustão, mas desde o vinho até apoio
emocional, muitas vezes e de forma incansável, e Larissa Kahle, que passou o
pouco tempo livre que tinha para me ajudar a subir até as emoções da minha
história e aperfeiçoar o desenvolvimento do caráter. Obrigada a minha editora
de desenvolvimento e linha, Marion Archer. Ela é nova no meu processo, mas
nunca vou escrever um livro sem ela de novo, nunca mais. Sua experiência e
entusiasmo, para não mencionar as pequenas notas que escreveu na margem do
meu manuscrito que me fizeram rir e desmaiar, não só me ensinaram coisas,
mas deixou a minha história rica e mais profunda. E para Karen Lawson cujos
olhos biônicos aperfeiçoaram o meu manuscrito ainda mais.

Eu também tenho a sorte de ter um grupo incrível de leitores beta que


forneceram feedbacks sobre a história de Calder e Eden, e torceram
ferrenhamente por mim quando eu mais precisava; Cat Bracht, Elena Eckmeyer,
Michelle Finkle, Natasha Gentile, Karin Hoffpauir Klein, Nikki Larazo, e Kim
Parr. E para minha autora beta, AL Jackson, que leu o primeiro rascunho do
meu manuscrito, quando tinha apenas trezentas páginas das minhas divagações
e antes que eu verificasse a ortografia. Seu feedback e garantias deu-me a
coragem para continuar.

Obrigada também a minha parceira maravilhosa de corrida, Jessica


Prince. Muitas destas palavras não teriam sido escritas se não fosse por suas
diligentes nove horas de textos que geralmente incluíam uma palavra: Corrida?

Um grande obrigado a minha formatadora incrível, Elle Chardou, por


salvar a minha sanidade e meu túnel do carpo.

Amor e gratidão ao meu marido por sua paciência com este processo e
por ser compreensivo durante toda noite por três meses, incluído o enredo da
conversa. Você fez tudo isso divertido - fez tudo isso possível.

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