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Sinopse

Eu a vi primeiro.
Loira. Linda. Mal-humorada.
Eu fui cativado.
Mas não importava porque quando ela sai do quarto da meu melhor
amigo seminua, eu sei que perdi minha chance.
Agora somos colegas de quarto e brigamos constantemente sobre
nossos arranjos de vida. Embora discutamos sobre tudo, não consigo parar
de pensar nela de todas as maneiras erradas. Eu deveria me mudar para
que eu pudesse finalmente superá-la, mas a parte egoísta de mim não
posso deixar ir.
Quando ocorre uma tragédia, somos responsáveis por lidar com ela
juntos. Em vez de empurrá-la para longe, eu a puxo para mais perto.
Assim que chegamos a um acordo com nossa nova realidade, ela revela
um evento de mudança de vida que afeta a nós dois.
E eu tenho que tomar a decisão mais difícil da minha vida - permanecer
amigo ou confessar meus sentimentos e arriscar tudo.
Deite por mim, eu ainda me importo

Quando você precisar, deite por mim

Deite por mim, se você estiver aqui

Você ainda pode, deitar por mim

— Lay By Me—

-Ruben
Prologo
Hunter
tenho corrido atrás do bar, pegando cerveja para as
Nas últimas quatro horas,
pessoas e fazendo coquetéis sem parar. As férias de primavera significam
que o bar fica incrivelmente ocupado, especialmente com a California
State University a apenas dez minutos de distância.
— Cara, Hunter— Brandon grita. Olhando por cima do meu ombro, eu
o vejo parado no extremo oposto do bar. — Preciso de um refil, cara! —
Ele balança sua garrafa de cerveja vazia como se isso me encorajasse a me
apressar. Considerando que ele não dá gorjeta, seu lindo traseiro pode
esperar.

— Eu já vou! — Respondo, balançando a cabeça. Será a quinta cerveja


dele nas últimas horas, mas eu sei que ele está aproveitando ao máximo
nosso último semestre na faculdade. Em apenas alguns meses, nos
formaremos e estaremos no mundo real - espero que eu ainda não seja um
barman, embora. Estou me formando em engenharia e não pretendo usar
isso para fazer bebidas.

Brandon Locke é meu colega de quarto e um dos meus melhores


amigos. Apesar de nos odiarmos enquanto estávamos no ensino médio,
desde que ele era o kicker1 do time rival da minha escola, deixamos isso
no passado quando jogamos futebol juntos na CSU2 Sacramento. Ele é um
dos caras mais confiáveis que eu conheço, e embora tente acompanhar a
mim e aos nossos outros amigos, ele fica bêbado rapidamente. Esta noite,
no entanto, ele parece estar aguentando.
— Locke, você tem certeza que quer outra? — Eu pergunto quando
estou na frente dele.

— Não me faça pular sobre esse bar e dar um soco em você. — Ele
ameaça, depois coloca uma nota de cinco dólares encima do balcão, me
fazendo rir.

— Oh, grande gastador. Tudo bem. — Pego uma cerveja gelada no


refrigerador e deslizo para ele. Agarro os cinco dólares e coloco na gaveta.
— Mas não pense que estou prendendo seu cabelo quando você vomitar
mais tarde.

Brandon imediatamente se afasta enquanto segura o dedo do meio para


mim.

— Eu não preciso de uma babá, pai. Além disso, Mason e Liam


garantirão que eu chegue em casa com segurança.

Isso me faz bufar, e balanço minha cabeça.

— Eles não são muito melhores.

— Verdade. — Ele encolhe os ombros, não dando à mínima.

Este último semestre foi difícil para nós. Estes últimos meses antes da
formatura foram um jogo mental, pois nos concentramos no futuro e na
procura de emprego. Trabalhar como bartender paga as contas por
enquanto, e eu não me importo, mas em noites como essa, eu gostaria de
estar com meus amigos em vez de servi-los. Pelo menos ser o sóbrio me
mantém entretido porque eles são um bando de idiotas quando estão
bêbados.

— Manning! — Quando ouço meu sobrenome sendo gritado do outro


lado da sala, eu imediatamente sei que é Mason. Sendo o barulhento e
desagradável de nós quatro, ele está sempre pronto para uma
festa. Inferno, ele é a festa.

Ele abre caminho entre a multidão até ficar ao lado de Brandon. Seu
sorriso preguiçoso me diz exatamente o quão bêbado ele está.

— É melhor você diminuir a velocidade, Holt. Eu não vou tomar uma


multa por servir demais sua bunda. — Eu aviso, limpando um
derramamento de cerveja da pessoa em que ele esbarrou quando se
aproximou do bar.

— Cara, eu estou totalmente bem. Olha... — Ele me diz, apontando o


nariz com o dedo, mas erra a direção e acerta o olho. — Bem, eu não estou
dirigindo de qualquer maneira, então ajude seu irmão aqui.

Abro a porta do refrigerador, pego uma Pabst Blue Ribbon3 e a


entrego.

— Eu não sei como você bebe essa merda de PBR. — Eu pego o


dinheiro que ele colocou no bar. — Deveria cobrar um extra por me fazer
servi-la a você.

— Cale a boca, — ele grita. — Você simplesmente não sabe o que é


bom. — Mason dá um longo gole na cerveja.

Eu zombo, ignorando-o.

— Cheira desagradável pra caralho também. — Brandon se inclina e


faz uma careta. — Provavelmente é o por isso que ele gosta. Apenas o tipo
dele. — Acrescenta, e nós dois rimos.

— Onde está Evans? — Eu pergunto, percebendo que não vejo Liam há


um tempo enquanto olho para a multidão. Ele não é tão desordeiro quanto
Mason, mas é conhecido por ser expulso de uma festa ou duas. Meio
irônico, considerando que ele é um segurança aqui e, geralmente, aquele
que quebra brigas e chuta bêbados.

— Eu o vi indo em direção ao fundo do bar com uma ruiva. — Explica


Mason. Liam não está de plantão esta noite, então isso só pode significar
uma coisa: sexo no armário.

— Foda-se. — Murmuro, balançando a cabeça. Não estou prestes a


caçá-lo, apenas para ver algo que precisarei limpar da minha memória e
dos meus olhos. Não seria a primeira vez que ele fode uma garota no
trabalho e provavelmente não seria a última.

— Hunter! — Greg, o outro barman, grita e me dá uma olhada para


continuar servindo as pessoas na fila.

— Sim, sim. — Murmuro, acenando para ele. Ele está na casa dos
trinta e constantemente na minha bunda. Se eu não precisasse pagar
metade do aluguel e das contas, teria saído meses atrás.

— Tudo bem, cara. Vamos deixar você voltar ao trabalho. Volto para
um refil em breve. — Brandon me diz, batendo com os nós dos dedos no
bar. Ele arrasta Mason com ele, e eu volto a servir bebidas para as dezenas
de pessoas que esperam.

Enquanto pego cervejas e faço coquetéis, o bar continua a encher e


ficar mais barulhento. Música toca, casais dançam, e eu não ficaria
surpreso se uma roda-punk começasse.

— O que eu posso pegar pra você? — Pergunto a uma loira cujo cabelo
cobre metade do rosto. No momento em que ela olha para cima e vejo seus
olhos azuis, todo o ar é sugado dos meus pulmões. O sorriso dela se
amplia e ela inclina a cabeça levemente, como se estivesse me
examinando. Seu olhar lentamente percorre as tatuagens no meu braço
antes que ela encontre o meu novamente.

— O que você recomendaria? — A doçura da voz dela me faz lamber


os lábios e engolir em seco. Ela roubou meus pensamentos com uma
pergunta.

— Uh... hum... bem... — Eu gaguejo porque não consigo formar uma


frase coesa. Ela pisca para mim, esperando pacientemente. — Você está
com vontade de que? — Finalmente pergunto.

Ela aperta os lábios, movendo-os de um lado para o outro, como se


estivesse realmente pensando sobre isso. Então ela bate as pontas dos
dedos no bar. — Algo perigoso.

Bom Deus.

Considerando que eu trabalho em um bar onde as mulheres desfilam


suas bundas em saias curtas e blusas decotadas, vejo mulheres bonitas o
tempo todo. Mas essa mulher - a palavra bonita não parece suficiente para
descrevê-la. Uma luz hipnotizante a envolve e, por mais ridículo que
pareça, estou meio tentado a perguntar de onde diabos ela veio. Ela é
deslumbrante, e algo nela me faz querer conhecê-la - tudo nela.

— Tecnicamente, isso poderia representar noventa e cinco por cento do


que está por trás do balcão, então... — Eu tento não olhar, mas
honestamente, é impossível. Ela tem uma vibe doce e atraente, mas, ao
mesmo tempo, é misteriosa. — Você gosta de bebidas destiladas? —
Pergunto.

— Na verdade, eu gosto. — Ela responde com confiança.

Porra quente.
— Eu vou fazer uma coisa para você, querida. Espere um minuto. —
Aponto para ela, certificando-me de que ela não vá a lugar algum.

— Eu deveria estar preocupada? — Ela provoca, levantando uma


sobrancelha quando eu pego a garrafa de 1800 tequila.

— Sim, — eu digo a ela. — Sim, você deveria... — Eu permaneço,


esperando que ela me diga seu nome.

— Lennon, — ela anuncia. — Qual é o seu?

— Hunter. — Eu digo, apontando para onde está bordado no lado


esquerdo da minha camisa, porque o gerente insistiu em que exibíssemos
nossos nomes.

— Ah, sim. Eu vejo agora. — Lennon sorri largamente, e é puro céu. —


O que você está adicionando aí agora? — Ela se inclina um pouco quando
eu derramo um pouco de vodka, gin e rum. — Você está tentando me
embebedar?

Eu termino de misturar a bebida e coloco na frente dela. — Sim, eu


achei que era sua intenção. — Sorrio. — Espere. — Eu levanto um dedo
para que ela não tome um gole ainda. Agarrando um palito de cocktail,
apunhalo algumas cerejas nele e, em seguida, coloco-o delicadamente no
copo. — Tudo bem, agora.

Lennon sorri com uma sobrancelha arqueada. Ela toma um gole


hesitante e depois toma outro.

— Forte o suficiente para você? — Eu provoco quando ela faz uma


cara azeda.

— Sim, isso definitivamente faz o trabalho. — Ela pisca algumas


vezes. — Como se chama? — Ela pergunta, depois o traz de volta aos
lábios.

Meu sorriso se aprofunda. — O espalhador de pernas.

Lennon rapidamente cobre a boca antes de cuspir a bebida. Ela está


segurando uma risada, e é impossível não rir com ela.

— Você pediu algo perigoso. — Eu a lembro com um sorriso.

Ela engole e assente. — E você entregou.

Nos olhamos fixamente enquanto ela termina sua bebida sem vacilar,
com o licor extra que eu adicionei. Impressionante, para dizer o mínimo.

— Não esqueça suas cerejas. — Digo a ela, acenando com a cabeça em


direção ao palito.

Ela se levanta, colocando o copo no balcão e depois o agarra. — Eu não


ousaria. — Sua voz é sensual e sedutora, e se esse balcão estúpido não
estivesse no caminho, eu fecharia o espaço entre nós.

Depois que ela tira as cerejas do copo e as engole, Lennon dá um passo


para trás e depois para. — Obrigada pela bebida, Hunter.

— O prazer é meu. — Atiro para ela uma piscadela, e ela cora antes de
se virar e ir embora. Meu coração bate com o som do meu nome nos lábios
dela. Engulo em seco, tentando manter o foco, mas Lennon me derrubou.

Nas próximas horas, eu fico de olho nela enquanto ela e suas amigas
dançam ao redor do bar. Depois de um tempo, elas aparecem para fotos, e
eu felizmente as tiro. Ela é fofa e sedutora, e é tão difícil de me concentrar
quando ela está perto que eu quase me bato.

— Então, o que trouxe vocês aqui, garotas? — Pergunto quando ela e


uma amiga pedem outra rodada.
— Estamos em férias da primavera. — Responde a amiga.

— Oh, então vocês são de Sacramento? — Eu pergunto enquanto ajudo


Greg a fazer uma tonelada de margaritas, para não ficar encarando Lennon
sem parar.

— A poucas horas de distância, — responde Lennon. — Frequentamos


à CSU em Fresno.

Meu coração dói um pouco quando ouço que ela não é da região, mas
isso não me impede de querer levá-la para casa e beijar cada centímetro de
sua pele delicada. Algo fervilha entre nós, e eu sei que ela sente isso
também pelo modo como seus olhos me estudam. Ela é intensa e quente,
colocando meu coração rapidamente em chamas.

— Estamos aqui visitando amigas durante a semana, — acrescenta


ela. — Elas são aquelas seminuas na pista de dança com os caras que mal
conseguem ficar em pé. — Ela ri enquanto aponta para o centro do bar.

Quando olho por cima do ombro e vejo as garotas que ela descreveu
cercadas por Brandon, Mason e Liam, sorrio. Claro, porra. Não os servi na
última hora e me perguntei aonde diabos eles foram.

— Cuidado, — eu aviso, acenando em direção a eles. — Eles estão tão


bêbados quanto todas vocês, considerando que os servi a noite toda
também.

— Eu já chamei atenção do corpulento, — canta a amiga de Lennon. —


Espero que ele não consiga um ‘pau de uísque’, no entanto. — Ela deixa
escapar, e eu rio com o pensamento de Liam com um pau mole. Tenho
certeza que ele teria alguma piada idiota para isso.
— Eu acho que você está segura. Ele pode beber mais do que qualquer
pessoa. Ele é um segurança aqui, na verdade.

Seus olhos brilham como uma criança em uma loja de doces. —


Sério? Bem, então não se importe comigo... — Ela para antes de
lentamente se afastar e acenar para Lennon.

— Você quer outro? — Eu aceno em direção a seu copo vazio.

— Não, eu não deveria. — Ela coloca o copo no balcão, e eu


imediatamente o pego antes que seus dedos se soltem. A eletricidade vibra
na minha espinha no momento em que sinto sua pele contra a minha. Seus
olhos focam onde estamos nos tocando, e ela engole em seco. Eu me
afasto e quase vejo a perda imediata em seu rosto. Porra, essa mulher
poderia ter vindo direto dos meus sonhos.

— Preciso começar a limpar logo, mas você pode voltar daqui a trinta
minutos? As coisas vão desacelerar, e não vou ter que me apressar. —
Digo, esperando que ela entenda. Quero pedir o número dela ou, inferno,
apenas sentar e conversar com ela até o sol nascer.

— Claro. — Ela me dá um sorriso sexy. Enquanto se afasta, Lennon


olha por cima do ombro para mim e pisca antes de ir para as amigas. O
sorriso que preenche meu rosto pode ser permanente, e ela definitivamente
é a culpada.

Quarenta e cinco minutos passam e finalmente tenho tempo para


respirar. Olho em volta do lugar quase vazio, procurando por Lennon, mas
não a vejo em lugar nenhum. Meu coração cai ao perceber que ela se foi.

Foda-se.
O anúncio para a última rodada é feito, e os clientes remanescentes
pedem sua última bebida antes de sair. Não fechamos por mais quinze
minutos, então espero que ela reapareça antes disso.

***
Quando chego em casa, já passa das três da manhã. Estou chateado e
quase me sinto entorpecido por Lennon não ter voltado. Se foi a maneira
dela de me afastar ou se ela foi embora com outra pessoa - e as duas
opções fazem meu sangue ferver - estou chateado comigo mesmo por não
ter pedido o número dela quando tive a chance. Considerando que ela está
apenas visitando e não é daqui, talvez eu nunca tenha a oportunidade
novamente.

A lâmpada lança uma luz fraca na sala quando entro no


apartamento. Eu sei que estava desligado antes de sair para o trabalho,
então espero que isso signifique que Brandon chegou em casa com
segurança. No momento em que vejo seus sapatos jogados ao acaso no
chão, não me incomodo em checar porque é a confirmação de que ele fez.

Sempre levo um tempo para relaxar depois de um turno ocupado, ainda


mais hoje à noite, já que minha mente está cambaleando sobre Lennon. Ao
invés de ir para a cama imediatamente, tomo um banho e lavo a sujeira da
noite fora de mim. É difícil pensar direito quando o rosto dela é tudo o que
vejo e a voz dela é tudo o que ouço. Ela era algo especial, única e nenhuma
mulher jamais teve esse efeito em mim. Estou me chutando e me pergunto
se foi o melhor, considerando que ela não mora aqui. Ainda assim, não
consigo esquecer essa sensação, me roendo até os ossos.

Uma vez que estou limpo e na cama, fico agitado, revirando os


lençóis. Não consigo adormecer, mas não são os pensamentos dela me
mantendo acordado. Ao invés disso…

Thump. Thump.

Gemido.

Thump.

Que porra é essa?

— Sim! Sim Sim Sim!

— Oh, vamos lá. — Eu gemo para mim mesmo.

Brandon trouxe uma garota para casa, e agora eles estão transando às
quase quatro da manhã. Eu não daria à mínima, mas o quarto dele é bem
próximo ao meu, e eu posso literalmente ouvir cada maldita respiração e
movimento.

A cabeceira bate contra a parede que compartilhamos, e eu quero bater


com o punho contra ela e dizer a eles para fazerem silêncio, mas desde que
eu fiz o mesmo com ele, deixei para lá. Em vez disso, pego meus fones de
ouvido e ligo algumas músicas. Isso ajuda por cerca de trinta segundos até
a cama dele bater e bater com tanta força contra a parede, que tenho
certeza de que ela atravessará o drywall.

Eu gostaria de ter esperado para tomar um banho porque eu estaria no


banheiro agora. Tenho planos pela manhã e tenho que acordar em cinco
horas, então não posso perder tempo sem dormir.

Eu faço o meu melhor para abafar o barulho, mas as paredes são finas
como papel, então não adianta. Parte de mim quer cumprimentar ele por
agradar tão bem essa garota - se seus gritos são alguma indicação -, mas
considerando que ambos estão provavelmente bêbados, estou realmente
impressionado com quanto tempo isso continua. Acho que não vou chamá-
lo de — pau flácido— amanhã.

— Foda-se! — Depois de um último barulho alto contra a parede, o


apartamento fica em silêncio.

Estava na hora, porra.

Rolando, fecho os olhos e tento adormecer. Dez minutos se passam e eu


ainda estou inquieto.

— Foda-se. — Decido me levantar e pegar algo para beber. Talvez


beber três cervejas me ajude a desmaiar.

Sem acender as luzes, ando pelo corredor e vejo um vislumbre de luz


vindo da cozinha. Apaguei as lâmpadas depois do banho, então Brandon
deve ter se levantado e não o ouvi.

Entrando na cozinha, noto que a porta da geladeira está aberta com uma
bunda quase nua no ar. Ela está vestindo uma camiseta grande demais e
calcinha fina enquanto vasculha nossa comida.

Deus me ajude.

Aparentemente, o encontro de Brandon está invadindo nossa geladeira


agora. Bunda decente, no entanto.

Inclinando-me no balcão, cruzo os braços sobre o peito e limpo a


garganta. — O que você...

Antes de terminar minha frase, algo voa no ar em minha direção, e eu


não esquivo rápido o suficiente antes disso roçar minha noz direita.

— Filho da puta. — Eu mal consigo falar enquanto me debruço


rapidamente, segurando minhas bolas com a palma da mão.
— Oh meu Deus! — A menina grita. — Eu sinto muito! Você me
assustou!

Estou pronto para amaldiçoá-la, mas mal consigo respirar enquanto


aperto meus olhos com força, tentando ganhar compostura. — Você...
bateu... em mim! — Eu assobio entre as calças. — Isso é o que eu ganho
por estar com sede.

— Foi um acidente! — Ela se ajoelha, tentando me consolar quando


uma mecha de cabelo loiro cai no meu braço.

— Não me toque, — eu aviso. — Eu só... preciso de um minuto.

Eu ouço passos, depois o toque de um interruptor de luz.

— Jesus, o que diabos você fez com meu colega de quarto? — Brandon
pergunta.

— Joguei a garrafa de Reddi Whip4 em suas nozes. — Explica a


garota.

Porra.

Reddi Whip. É claro.

— Não foi intencional! Eu não o ouvi se aproximar, e então ouvi a voz


dele, e foi instintivo. — Ela divaga uma explicação ridícula que me fez ver
vermelho.

Brandon tenta abafar o riso, mas falha. — Você está bem, cara? — Ele
dá um tapinha no meu ombro e me oferece uma mão.

Inspiro profundamente e engulo a dor. Segurando a mão dele, levanto-


me e tento me orientar antes de mastigar essa garota.
— Me desculpe por isso. Ela estava com sede e queria alguns lanches.
— Ele explica como se eu fosse um idiota e apenas não ouvi toda a sua
sessão de foda.

— Seja como for, está tudo bem. — Aperto a ponte do meu nariz para
recuperar meu controle.

Minha visão finalmente clareia, e é então que vejo a mulher que está
entre os braços de Brandon, enquanto ele aperta sua bunda.

— Lennon, — resmungo, piscando, esperando estar imaginando-a na


minha frente, de pé na minha cozinha com meu melhor amigo. Meu
queixo aperta e minhas narinas se abrem ao vê-la pressionada contra ele. O
que diabos ela está fazendo aqui?

— Hunter. — Ela diz meu nome tão baixinho que quase não o ouço.

— Vocês se conhecem? — Brandon pergunta, puxando-a para mais


perto e olhando-a como se ela fosse a mulher mais bonita que ele já viu.

Porque ela é.

— Do bar. — Lennon explica rapidamente.

Não consigo formar palavras no momento. O ar da cozinha fica mais


denso, e eu gostaria que fossem apenas minhas bolas que se sentissem
dormentes agora. Olho entre eles, observando-os juntos, e sei lá no fundo
que Brandon não vai deixá-la ir depois desta noite. Ele não é o tipo de cara
de sexo sem compromisso. Ele a fodeu sem sentido e a reivindicou como
dele. Brandon tem a capacidade de dar a ela tudo o que ela pode precisar
ou querer, mas eu, por outro lado...

— Ele me fez uma bebida especial. — Acrescenta ela, me tirando dos


meus pensamentos depreciativos.
O espalhador de pernas.

Quão apropriado.

— Oh, certo. — Brandon sorri, sem ter ideia do que isso está fazendo
comigo. Claro que ele não tem ideia. Eu nem tive a chance de dizer nada
ou o fazer saber que eu estava atraído por ela. Mas isso responde à minha
pergunta de por que ela nunca voltou.

Foda-se a minha vida.

— Certamente ele faz para todas as moças bonitas bebidas especiais. É


assim que ele recebe as grandes gorjetas. — Brandon ri, inclinando o
queixo de Lennon até que seus lábios colidem. E eu estou fora.

— Eu preciso me levantar em algumas horas, então eu vou voltar para a


cama. — Digo casualmente, fingindo que meu coração não está sendo
estripado.

Eu me viro para ir embora quando Lennon chama meu nome.

— Hunter.

O som de sua voz faz meu queixo apertar e as minhas mãos se


transformarem em punhos.

Quando me viro, ela está atrás de mim e sorri quando nossos olhos se
encontram. Droga, por que ela tem que ser tão linda?

— Água? — Ela oferece como se estivesse tentando fazer as pazes.

Piscando, olho para baixo e vejo que ela está segurando uma garrafa.

— Você disse que estava com sede. — Ela confirma.


Enquanto eu a encaro, meus lábios se movem em uma linha firme, e eu
ignoro sua oferta. É possível que ela não tenha sentido o que eu fiz? Foi
tudo uma invenção da minha maldita imaginação? Ela veio ao bar pelo
menos meia dúzia de vezes, e eu nunca pedi o número dela. Maldito
idiota. Ela achou que eu não estava interessado e depois encontrou alguém
que deixou claro que estava? Meu colega de quarto, para ser exato.
Sem outra palavra, eu me viro e saio com minhas bolas machucadas e
meu pau derrotado entre as minhas pernas.
Capítulo Um
Lennon
Nos Dias de Hoje
2 Anos Depois
O zumbido irritante faz meus olhos se abrirem, e estendo a mão para
desligar o alarme no meu telefone. Meu namorado, Brandon, se mexe e me
puxa para perto de seu corpo quente. Nós nos encaixamos perfeitamente
como peças de quebra-cabeça, e mesmo depois de todo esse tempo, não
consigo me cansar dele. Se eu não tivesse uma reunião na escola com o
diretor esta manhã, ficaria na cama um pouco mais e apreciaria seu corpo
duro pressionado contra o meu. Ele cantarola no meu pescoço e eu
sorrio. Desde que me mudei, oito meses atrás, eu acordando cedo e ele
tentando me convencer a ficar mais tempo se tornou nossa rotina
matinal. Nunca há tempo suficiente.
Brandon me abraça mais, e eu estou tentada a ficar, mas ainda preciso
tomar banho e me vestir. Eu me viro e o encaro, roçando um beijo suave
em seus lábios enquanto ele joga um braço sobre mim. — Eu tenho que
me levantar. Não posso me atrasar para o trabalho. A diretora Maples vai
ficar no meu pé, e eu ainda estou tentando ficar no seu lado bom. —
Sussurro.

— Eu sei, eu sei. É só que você é tão quente e confortável. — Ele


brinca em um tom rouco antes que eu deslize do seu abraço com um
sorriso. Acordar ao lado dele é o melhor começo para o meu dia.

Inclino-me sobre a cama e dou outro beijo nos lábios de Brandon antes
de correr para o banheiro e ligar o chuveiro.
Um sorriso preenche meu rosto enquanto penso em quão longe
chegamos como casal nos últimos dois anos - bem, quase dois anos. É
difícil acreditar que já faz tanto tempo, mas, ao mesmo tempo, parece que
foi ontem que nos conhecemos.

Embora tudo tenha começado com um amistoso “olá” e com algumas


brincadeiras, eu soube instantaneamente que ele seria mais do que uma
conexão aleatória. Depois que dançamos algumas vezes, ele pediu meu
número, que eu voluntariamente lhe dei. Brandon sabia o que queria - eu -
e eu não podia negar que também o queria. Havia algo elétrico entre nós,
algo que me puxou para ele e fez meu coração disparar. Embora eu tenha
mostrado interesse em Hunter antes, a maneira como Brandon me deu toda
a sua atenção me atraiu para mais perto dele. Mulheres aleatórias se
aproximaram e tentaram roubá-lo, mas ele educadamente disse que não
estava interessado e nunca tirou os olhos de mim. A maneira como ele
olhou para mim naquela noite me fez sentir especial pra caramba.

Na manhã seguinte, tínhamos compartilhado tantos detalhes pessoais


sobre nós mesmos que senti como se o conhecesse a vida inteira. Ele me
entendeu em um nível mais profundo do que alguns dos meus amigos mais
próximos. Eu nunca senti uma conexão como essa com qualquer outro
homem antes, e Brandon ainda mantém esse recorde.

Embora não tivéssemos começado exatamente devagar, meus


sentimentos por ele foram quase imediatos e só ficaram mais fortes. Eu
não era o tipo de garota que ia para casa com um cara aleatório, e eu não
sou o material de uma noite, mas com Brandon, era diferente. Inferno, eu
só tive um relacionamento sério antes dele, e somos inseparáveis desde
então.
Como eu ainda tinha um ano de faculdade restante e morava a três
horas de distância, namorávamos à distância, permanecendo exclusivos e
revezando-nos em viagens sempre que possível. Durante meu semestre
final, me inscrevi em escolas primárias em Sacramento e em alguns dos
subúrbios. Eu queria não apenas estar perto dele, mas perto da minha irmã
mais velha que acabara de se mudar para cá também. Assim que me
ofereceram um contrato para ser a professora de música na Hillsong
Elementary, fui morar com ele e seu colega de quarto, Hunter. O
apartamento é pequeno e pitoresco, mas nos contentamos com o espaço,
pois está dentro de todos os nossos orçamentos. Eventualmente, Brandon e
eu conseguiremos nosso próprio lugar, mas até isso acontecer, sou forçada
a tolerar Hunter e todas as suas travessuras idiotas.

Entro no chuveiro e começo a lavar meu corpo e cabelo. Enquanto me


ensaboo, canto as músicas dos Beatles que cresci ouvindo. Considerando
que os Beatles lançaram mais de trezentas músicas, eu tenho um repertório
matinal quase ilimitado. Assim que termino o refrão de “I Want To Hold
Your Hand” 5, ouço uma forte batida na porta.

— Cale a boca, Lennon! E apresse-se! — Hunter grita, batendo com o


punho na porta, o que só me incentiva a cantar mais alto. Estou
praticamente gritando as palavras no momento em que lavo o
condicionador do meu cabelo. Sinceramente, não sei como Brandon dorme
com isso todas as manhãs, ou talvez ele esteja imune a isso. A esta altura,
Hunter e eu discutimos pior do que um irmão e uma irmã.

Depois que eu grito o grand finale digno da Broadway da minha


apresentação vocal, desligo a água e seguro minha risada. Hunter odeia
quando eu canto, especialmente de manhã cedo. Ele sempre é mal-
humorado antes das oito, e irritá-lo é divertido. É vingança por todas as
vezes que ele propositadamente me irrita. Eu canto no chuveiro desde que
eu era uma garotinha, então não vou mudar isso por ninguém,
especialmente por ele.

Saindo do chuveiro, pego uma toalha e me seco. Hunter bate na porta


novamente, me assustando, e exige que eu me apresse pela milésima
vez. Enquanto escovo os dentes, penso em quando nos conhecemos. A
maioria assume que nos conhecemos depois que Brandon e eu começamos
a namorar, mas esse não é o caso. Hunter trabalhava como bartender
naquela mesma noite, e nós compartilhamos um momento no bar antes de
Brandon e eu começarmos a conversar.

À primeira vista, ele me deu palpitações no coração, mas ele foi um


fofo, me deixando à vontade para fazer um pedido com ele. Lembro-me de
suas tatuagens e de como elas cobriam intrincadamente seu antebraço, e
me perguntei se ele tinha mais. Eu estava em uma cidade diferente nas
férias de primavera e queria me soltar e ser imprudente. Trocamos olhares
e sorrisos, e quando ele derramou diferentes bebidas no meu copo, eu não
consegui tirar os olhos dele. Assim como todas as outras mulheres no
bar. Alegria e nervosismo passaram por mim quando ele falou comigo. A
vibração carismática e encantadora de Hunter me atraiu direto para sua
teia.

Voltei para meus amigos e guardei o momento eletrizante para mim


mesma, enquanto tentava encontrar coragem para voltar ao bar e pegar o
número dele. Quando olhei para Hunter, ele estava cercado por um
punhado de mulheres disputando desesperadamente sua atenção. Ele
agradeceu alegremente, sorrindo e flertando com elas da mesma
forma. Elas eram lindas, inclinando-se sobre o balcão para tocar seus
braços musculosos e rindo como se ele tivesse contado a melhor
piada. Embora eu não tivesse muita experiência com homens, ainda queria
uma semana de diversão e espontaneidade. No entanto, minhas
inseguranças tiraram o melhor de mim, e eu sabia que não seria capaz de
satisfazer um cara assim, nem por uma noite.

Meus medos e inseguranças me impediram de voltar para o bar sozinha


pelo resto da noite. Eu não me arrisquei, permanecendo dentro da minha
zona de conforto, e mantendo minhas amigas por perto. Depois de ver a
maneira como ele brincava com outras mulheres e elas se agarravam a ele,
eu me convenci de que o que compartilhamos não foi nada além dele
trabalhando normalmente por seu salário. Considerando a atitude ruim e
os comentários rudes que ele continuava a lançar para mim, eu sabia com
certeza que não havia nada de especial entre nós naquela noite.

No primeiro verão depois que Brandon e eu começamos a namorar,


Hunter tinha uma mulher diferente a cada fim de semana que eu estava
lá. Ele não conseguia nem se lembrar do nome delas na metade do tempo e
não tinha escrúpulos em se gabar abertamente com seus amigos por poder
“pegar e transar” com qualquer garota que quisesse. Se ele não estivesse se
gabando de suas conquistas, ele continuaria falando sobre quão gostoso ou
quão forte ele era. Hunter é musculoso, não há como negar isso, porém seu
charme foi perdido depois de ouvi-lo falar sobre isso pela décima
vez. Como ele não trabalha mais no bar, o número de mulheres que ele
traz para casa diminuiu um pouco, embora ele ainda aja como um
prostituto e seja superficial. “Hunter, o bartender” não passava de uma
fachada, um cavalheiro inventado que minha imaginação criou. “O Hunter
da vida real” é um idiota espertinho que reclama do meu canto, vive como
um babaca e tem uma porta giratória no quarto.
Depois que meu cabelo está seco e estou feliz com minha aparência,
vou para o meu quarto, onde Brandon ainda está dormindo.

Olho através do armário e visto uma saia e uma blusa


confortável. Antes de sair, eu cuidadosamente me inclino sobre a cama
para dar um beijo de despedida em Brandon quando ele de repente me
agarra e me puxa em cima dele.

— Tem certeza que você não tem tempo para uma rapidinha? — Ele
pergunta brincando enquanto eu o monto, sentindo sua espessura debaixo
de mim. Brandon se senta, apalpa meu peito e solta um pequeno gemido
de desespero. Eu levemente balanço nele enquanto ele arqueia os quadris,
sentindo sua excitação, mas sabendo que não podemos começar algo
agora.

— Baby, se você me atrasar... — Eu começo quando ele move as mãos


para minha bunda e aperta, me empurrando com mais força contra ele.

— Então eu vou te foder pela próxima hora? — Ele arqueia uma


sobrancelha. O sol da manhã mal ilumina a sala, mas eu vejo seu sorriso
arrogante.

— Você é um provocador. Você sabe que eu vou pensar sobre isso o dia
todo agora. — Eu admito enquanto saio, apertando minhas pernas
juntas. Ele sabe muito bem que tenho que ir.

Brandon solta uma risada leve. — Tenha um bom dia, minha gatinha do
sexo. — Ele pisca.

— Cale a boca— Eu zombo antes de dizer adeus de verdade neste


momento.
Quando entro no corredor, vejo uma calcinha vermelha de renda no
chão que não é minha. Olho para ela e minhas narinas se abrem. Tento
ignorá-la até entrar na cozinha e encontrar armários abertos, garrafas de
cerveja meio cheias no balcão e pratos sujos empilhados no alto. Um
gemido alto sai da minha garganta quando vejo uma tigela na pia com
cereal seco no fundo.

— Que diabos? — Eu sussurro enquanto levo a água a uma temperatura


escaldante para pôr a tigela de molho. Ele sabe que eu odeio isso porque o
cereal fica duro como uma rocha e essencialmente super colado ao vidro, o
que torna quase impossível limpar sem esfregar. Hunter passa por mim
para colocar outra tigela imunda na pia, cheia do que parece ser macarrão
com queijo velho. Quando vejo o macarrão preso no fundo da tigela que
está claramente no quarto dele há dias, talvez até semanas, quase perco a
cabeça.

Eu me viro e olho para ele. Ele está sem camisa, vestindo calças que
pendem de seus quadris e com sua atitude normal de quem não se importa
com nada. Se não fosse um idiota, talvez ele pudesse encontrar uma
mulher para ajuda-lo a se cuidar, porque ele obviamente é incapaz de fazer
isso sozinho.

— Você está falando sério? — Eu pergunto, tentando manter o meu


tom de voz. — Você é incapaz de usar a máquina de lavar louça?

Ele encolhe os ombros, abre a geladeira e leva o galão de leite aos


lábios, bebendo direto do gargalo.

Meus olhos se arregalam e minha boca se abre enquanto eu


engasgo. Faço uma anotação mental para não tomar leite até comprarmos
mais ou talvez nunca. — Que porra é essa, Hunter? Você perdeu a cabeça?
Ele coloca o galão de volta na geladeira e bate a porta. Virando e me
encarando com profundos olhos castanhos, ele finalmente responde: — Eu
perdi a cabeça quando você se mudou.

Eu rosno, incapaz de manter minha frustração enterrada por dentro. —


Ugh! Você é um idiota!

Hunter se afasta e ouço a porta dele fechar. Meu coração galopa no meu
peito enquanto olho para a bagunça, e isso me irrita sem fim. Todas as
noites antes de dormir, limpo a cozinha, porque não suporto acordar em
uma casa suja. Todas as manhãs, sinto como se estivesse morando em uma
quinta dimensão, porque encontro diferentes artigos de roupas íntimas
femininas espalhadas pelo chão e louça suja enchendo a pia. Eu não sou
empregada ou babá de ninguém, especialmente não dele.

Mais garrafas de cerveja vazias e sacos de chips estão espalhados pela


mesa de café na sala de estar. As almofadas são jogadas ao acaso, o que eu
odeio. Parece que um furacão passou por aqui ontem à noite. Fecho os
olhos e respiro fundo, esperando encontrar forças para não entrar no quarto
de Hunter e estrangulá-lo até a morte, porque ele merece isso agora.

Antes de ir para o trabalho, apesar de não ter tempo para essa merda,
tenho que limpar a bagunça, ou isso vai me incomodar o dia todo. Eu
rapidamente jogo o lixo aleatoriamente fora, coloco as almofadas no sofá
e arrumo as coisas até que o local pareça seminormal. Hunter entra na
cozinha, completamente vestido dessa vez, e coloca duas fatias de pão na
torradeira.

— É um ano novo. Pense que você pode começar a limpar sua própria
bagunça? Novo ano, nova pessoa? — Pergunto esperançosa, mas ele não
perde o sarcasmo em meu tom.
— É para isso que mantemos você por perto. — Ele me lança um
sorriso sarcástico, e eu estou a dois segundos de dar um tapa em seu rosto
presunçoso.

Eu xingo, vendo vermelho. — Por que você é tão insistente em ser


assim? Não é à toa que você está solteiro. Ninguém pode suportar você
depois que suas roupas estão de volta ao lugar.

Hunter coloca a mão no peito sobre o coração e me dá um olhar falso e


irritado. — Oh, cara. Isso realmente doeu. O que eu vou fazer comigo
mesmo? — Ele faz um esforço extra para revirar os olhos com tanto
exagero que eu tenho medo que eles fiquem presos. — Tente novamente,
Lennon. Seus golpes tornaram-se tão velhos e desgastados quanto você.

Eu estreito meus olhos para ele. — Você vai ficar solteiro para sempre
e morrer sozinho.

— Melhor do que ficar preso com alguém mandão e constantemente


irritante como você. — Sua torrada aparece e ele a coloca no balcão sem
prato, espalhando as migalhas por toda parte enquanto espalha manteiga
de amendoim em ambos os pedaços.

— Você é absolutamente impossível! — Eu olho para a bagunça que


ele está fazendo, onde eu limpei. — Se você não fosse o melhor amigo de
Brandon...

— Continue. Diga— Hunter diz por cima do ombro, furioso. —


Eu te desafio.

Ignorando-o, pego um shake de proteína da geladeira. — Eu não


preciso, porque você já sabe o que eu ia dizer.
— Que você me expulsaria? — Ele solta uma risada maligna. — Como
se você tivesse algum poder sobre ele. Odeio dizer isso a você, pãezinhos,
mas Brandon faz o que ele quer. Só porque vocês dois estão fodendo, não
significa nada. Eu o conheço há mais tempo que você e o conheço melhor
do que você jamais conhecerá. Sua boceta mágica não será capaz de fazê-
lo se curvar à sua vontade para sempre, querida.

Soltei uma risada sarcástica, recusando-me a deixar suas palavras


chegarem a mim. — Você é tão vil e imaturo. Você realmente precisa
crescer. Agir assim aos 24 anos não é mais fofo.

— Oh, então você pensou que eu era fofo em algum momento? —


Hunter provoca e morde sua torrada, migalhas caindo em suas roupas e no
chão desta vez, mas ele não parece se importar.

Eu estreito meus olhos para ele. — Eu nunca pensei que você era fofo.

— Mentirosa, — diz ele com naturalidade, batendo nos lábios. — Eu


sei com certeza que você fez.

Meu sangue bombeia a um ritmo muito mais rápido, e eu sei que se não
for embora, direi algo de que me arrependo mais tarde. Então, eu escolho o
caminho certo, como qualquer adulto maduro faria. Se ao menos ele agisse
como um de vez em quando.

Embora isso realmente me doa, eu permito que ele tenha a palavra


final. Virando, pego minha bolsa e saio com a porta batendo atrás de
mim. Enquanto desço as escadas, tento respirar fundo, acalmando-me,
recusando a deixá-lo estragar o meu dia.

O ar frio escova minhas bochechas, e eu não consigo chegar ao meu


carro rápido o suficiente. O inverno na Califórnia é suportável e muito
diferente de Utah, onde eu cresci. Não há neve aqui, mas às vezes o ar frio
me arrepia até os ossos. Quando estou lá dentro, coloco minhas coisas no
banco do passageiro e respiro profundamente enquanto ligo o
carro. Apenas o pensamento de torradas no chão e no balcão me faz
tremer, então, antes de sair, envio uma mensagem para Hunter, incapaz de
deixá-lo fugir com isso.

Lennon: Por favor, se puder, limpe a cozinha antes de sair. Eu


realmente aprecio sua ajuda com isso.

Hunter: Novo número, quem é?

Lennon: Por que você insiste em me irritar o tempo todo?

Hunter: Não tenho certeza do que você está falando. E a resposta é


não, pãezinhos. Estou saindo pela porta e não posso me atrasar. Tenha
um bom dia.

Ugh! Ele sabe o quanto eu odeio esse apelido, porém ele continua me
chamando assim. Desde a primeira vez que fiz pãezinhos de canela para
Brandon, Hunter me chamou assim, mas sei que ele está sendo
condescendente pela maneira como me trata.

Digito uma mensagem rude, mas decido excluí-la. Lembrando a mim


mesma que sou a pessoa mais madura, enfio meu telefone na minha bolsa
e tento afastar os pensamentos dele. Hunter está decidido a me tratar como
um inconveniente desde a primeira noite em que cheguei em casa com
Brandon. Depois de oito meses morando juntos, não sei por que esperaria
que ele mudasse.

Suspirando, eu inverto o carro, viro em direção à estrada e dirijo para à


escola. Eu realmente odeio estar tão agitada de manhã e mal posso esperar
até que Brandon e eu consigamos nosso próprio lugar. Quando estivermos
mais estáveis financeiramente, nós o faremos. Só trabalho na escola desde
o outono e ainda não terminei meu primeiro ano. Brandon está no seu
trabalho desde que se formou, mas ele tem alguns empréstimos para pagar
porque sua bolsa de futebol não cobriu tudo. Mesmo que Hunter atue como
um idiota na maioria das vezes, eu posso aturar ele desde que eu viva com
meu amor e não tenha dificuldades para pagar as contas todos os
meses. Pequenos sacrifícios, suponho.

Dificilmente há tráfego na estrada a caminho do trabalho, o que é um


milagre. Dependendo do horário que eu saio de casa pela manhã, pode ser
um caminho tranquilo ou totalmente congestionado, outra razão pela qual
gosto de chegar cedo. Logo, estou estacionando e pegando minha bolsa,
depois atravessando o estacionamento. Vou até o escritório para encontrar
a diretora Maples. Ela é rígida e assustadora, como a maioria das crianças
imagina diretores, e trabalha na educação há mais de vinte e cinco
anos. Eu respeito muito ela, mas isso não me deixa menos nervosa quando
estamos conversando. Ela é o tipo de mulher que mastiga e cospe uma
pessoa com apenas algumas palavras.

— Sente-se. — Ela instrui, mal tirando os olhos dos papéis em sua mão
quando entro em seu escritório. Sento-me, largando minha bolsa pesada no
chão.

— Vejo que você enviou uma proposta de orçamento para o concerto da


primavera. — Diz ela, seus olhos escuros finalmente encontrando os meus.

Eu engulo em seco. — Sim, senhora. Eu gostaria de poder comprar


alguns microfones e instrumentos novos para as crianças tocarem no
show. Temos uma grande quantidade de gravadores, mas faltam vários
instrumentos de percussão, como bateria manual, claves e até um
bumbo. Os pandeiros também não estão em ótimas condições, como você
pode imaginar com as crianças batendo nelas. — Acrescento com um
pequeno sorriso.

— Lennon, isso deveria ter sido enviado antes do início do ano letivo.
— A severidade em sua voz é perceptível. Ela abaixa os papéis e percebo
que é uma cópia impressa do orçamento que fiz para mostrar onde o
dinheiro seria gasto. Foram necessárias semanas de pesquisa para esse
pedido durante as férias de inverno, e eu verifiquei se todos os números
eram precisos.

— Eu entendo e peço desculpas. Solicitei várias doações para comprar


o equipamento extra, porém não foram aceitos como eu esperava. Eu
pensei que as crianças pudessem fazer o programa da primavera com o que
tínhamos e, enquanto pudermos, acho que elas aprenderão mais se
conseguirmos comprar novos instrumentos de ritmo, — explico.

A diretora Maples olha para mim e não diz nada. Estou ficando mais
ansiosa a cada segundo que passa, e está tão silencioso que consigo ouvir o
toque do ponteiro dos segundos no relógio de parede. — Decidi aprovar
quinhentos dólares, o que está dentro dos meus limites de autoridade. Sei
que este é seu primeiro ano e você provavelmente não percebeu o que
precisaria, mas no próximo ano as propostas serão entregues antes do
primeiro dia de aula. Compreendido?

Concordo com a cabeça, meu coração batendo forte com a perspectiva


de renovar o meu contrato no próximo ano, o que é muito empolgante, mas
não permito que seja mostrado. — Sim, senhora. Muito obrigada. Eu
realmente aprecio isso. — Piscando para ela um sorriso agradecido,
acrescento: — Não vou decepcioná-la, prometo. Será o melhor concerto de
primavera que as crianças já fizeram.
— Gosto de você, Lennon, e gosto do seu jeito. Mantenha o bom
trabalho. Lembre-se deste primeiro ano de ensino e do quão apaixonada
você é. Espero que você nunca perca isso. Depois de anos de ensino,
muitos educadores perdem essa centelha e só trabalham para ganhar um
salário. — Ela me diz assim que o telefone toca.

— Eu vou. Absolutamente! Obrigada novamente. — Eu levanto, saio da


diretoria e caminho em direção à sala de música um pouco saltitante. Ela
não disse diretamente que meu contrato seria renovado, mas a diretora
Maples sempre escolhe suas palavras com cuidado.

Destrancando a porta da sala de aula, entro sentindo-me feliz por poder


ensinar coisas novas às crianças. Paro por um momento e olho ao redor da
sala. Registrando tudo, eu realmente me concentro no fogo para ensinar
música dentro de mim agora. As cadeiras do tamanho para crianças que
cercam o piano no centro da sala logo terão crianças ansiosas que querem
cantar e aprender sentadas nelas. Estou realmente vivendo meu sonho.

Olho para o relógio na parede para ver quanto tempo tenho até a
campainha tocar. Vinte minutos. Eu decido mandar uma mensagem para
Brandon sobre o pequeno truque sexy que ele fez esta manhã.

Antes de clicar em seu nome, vejo um texto não lido de Hunter. Abro e
encontro uma foto de nossa pia cheia de louça suja que está no quarto dele
há apenas Deus sabe quanto tempo.

Minhas narinas se alargam e, assim, estou irritada e furiosa novamente.


Desgraçado.
Capítulo Dois
Hunter
Não posso deixar de rir enquanto Lennon pisa forte por aí, bufando e
me xingando como ela faz todas as manhãs. É a nossa própria rotina
fodida, apenas sem o sexo depois da briga.
Quando nos conhecemos quase dois anos atrás, eu sabia que ela era
especial. Chame de instinto ou talvez destino - eu não sei o que era -, mas
senti em meus ossos que Lennon Corrigan deveria estar na minha vida. A
maneira como ela olhou para mim, nossas brincadeiras paqueradoras, a
eletricidade que pairava entre nós - tudo isso me fez sentir vivo. O fato de
eu nunca ter sentido uma química instantânea assim com alguém antes
dela me fez querer conhecê-la.

Imagine meu choque naquela noite quando a vi em pé na minha


cozinha depois de foder meu melhor amigo. Por mais que eu quisesse ser
feliz por Brandon, eu estava morrendo lentamente por dentro. Eu ainda
estou, e eu queria perguntar a ela por que tantas vezes.

Por que ele?

Por que não eu?

Por que ela não nos deu uma chance?

Concluí que o momento que compartilhamos no bar deve ter sido


unilateral. Ela flertava para tomar uma bebida grátis, e era só isso. Ela
apareceu mais algumas vezes com as amigas, mas nunca deixou claro que
havia sentido o que eu fazia. É claro que ela voltou para mais bebidas, mas
eu claramente construí na minha cabeça algo que não era real, o que fez de
mim um verdadeiro idiota.

Ela escolheu Brandon, e eu me recusei a ficar no caminho. No entanto,


isso não torna fácil vê-los juntos, mesmo agora. Você acha que eu teria
superado isso, considerando que nada realmente aconteceu entre nós,
porém quanto mais eu a via nos fins de semana e nos dias em que ela
dormia durante o verão, tornava impossível para eu esquecê-la. Nós
compartilhamos algo especial naquele bar, ou pelo menos meu coração
constantemente me alimentava com isso, mentindo sempre que ela estava
perto. Decidi rapidamente que a única maneira de lidar com a presença
constante dela era ficar sob sua pele e frustrá-la o máximo que pude,
porque foi isso que ela fez comigo.

Tudo era diversão e brincadeiras até oito meses atrás, quando Brandon
anunciou que ela iria morar conosco permanentemente. Lennon encontrou
um emprego em uma das escolas daqui, para que não tivessem mais que
namorar a longa distância. Era fácil ver como ele estava feliz com isso
também. Eu poderia ter dito não, discutido sobre como não havia espaço
para ela em nosso minúsculo apartamento, ou mesmo mencionado como
não aprovava o relacionamento deles. No entanto, eu nunca colocaria
nossa amizade em risco, fazendo-o escolher entre mim, seu melhor amigo,
e a mulher que ele amava.

Eu me recusei a ser esse cara. Se fosse o contrário, eu sabia que ele me


desejaria sorte e me daria sua bênção. Então foi o que eu fiz e continuo
fazendo.

Agora, ouvi-la cantar no chuveiro todas as manhãs, vê-la dançar na


cozinha enquanto toma café e vê-la praticar sua merda de yoga na sala de
estar, me torturam pelos últimos oito meses. Onde quer eu vá, lá está ela -
invadindo meu espaço e criando pensamentos sujos na minha cabeça que
estou constantemente afastando.

Tem sido um inferno.

A única maneira de apagar os pensamentos de Lennon da minha mente


é encontrando outra pessoa. Ou é o que continuo dizendo a mim mesmo,
pelo menos, porque tentei muitas vezes e falhei miseravelmente. Algo está
obviamente quebrado dentro de mim porque não importa o que eu faça,
esses sentimentos por ela não desaparecem. Eu sei que ela não os retribui,
e você pensaria que meu pau pegaria o memorando e pararia de ficar duro
a qualquer momento que eu a visse de saia justa ou blusa decotada. Você
pensaria que meu coração pararia de acelerar cada vez que ela estivesse
perto. Você pensaria que depois de ouvi-los fazer sexo e ela gritar o nome
dele, eu pararia de ficar obcecado com a namorada do meu melhor amigo.

Mas não.

Estou fodido pra caralho.

Nada na minha cabeça funciona direito quando se trata dela, e até


mesmo foder garotas aleatórias para apagar os pensamentos que me
assombram não funcionou até agora.

Embora isso não me impeça de tentar.

Depois que Lennon sai para o dia, batendo a porta atrás dela, solto um
suspiro de alívio. Ainda tenho trinta minutos antes de ir para o trabalho e,
como tomei banho na noite anterior, tomo meu café em silêncio, sem
distração.

Eu nem sempre tomava banho antes de dormir. Normalmente, eu fazia


isso antes do trabalho todas as manhãs ou depois da academia, mas então
Lennon me culpava por monopolizar o banheiro e atrasá-la para o
trabalho. Na verdade, agora prefiro tomar banho antes de dormir - comecei
a gostar disso -, mas o inferno que eu admitiria isso para qualquer um
deles. Durante os primeiros dias em que Lennon se mudou, brigamos por
quem tomava banho pela manhã, o que levou a muitos gritos e sabotagens
com a descarga do banheiro. Desnecessário dizer que Brandon me
implorou para que fizéssemos um acordo onde nós três pudéssemos viver
juntos em paz.

Pelo bem de meu melhor amigo, eu fiz, e mais uma vez Lennon
conseguiu o que queria - o banheiro é dela de manhã.

— Parece que vocês dois começaram com o pé direito hoje. — Diz


Brandon, lentamente caminhando para a cozinha. Com os olhos
semicerrados, ele pega uma caneca e se serve de café. Observo enquanto
ele adiciona creme e açúcar antes de me encontrar na mesa da cozinha.

— Não é minha culpa que ela é tão estressada, — eu digo no meu copo,
antes de tomar uma bebida. — Ela fica chateada com as menores coisas.

— Provavelmente não ajuda que você a provoque antes das oito da


manhã, — ele me lembra gentilmente como fez dezenas de vezes
antes. Ele toma um gole lento e solta um suspiro profundo. — Ela gosta de
rotina.

— Não significa que ela tem que forçar seus caminhos em todos, —
digo a ele. — Se meus pratos estiverem sujos, eu os lavarei quando me
apetecer. Ela fica louca com isso, só porque ela não me vê lavá-los. —
Temos a mesma conversa a cada poucas semanas, e você acha que ele já
deve saber que não vou mudar meu jeito por ninguém, especialmente
por ela.
— É o seu funeral, cara. Essa luta é entre vocês dois. — Ele encolhe os
ombros, se rendendo. Brandon sabe que este apartamento é tanto meu
quanto dele, e não pode me forçar a fazer nada, desde que eu pague minha
metade das contas e cumpra minhas tarefas. Eu odeio colocá-lo no meio
assim, mas se eu me curvar a cada exigência, ela nunca vai
parar. Considerando que eu já odeio ter que vê-la todos os dias e viver
nessa agonia, ela só terá que lidar comigo do jeito que eu a trato.

Antes de Lennon se mudar, limpávamos uma vez por semana, e isso


bastava. Entre trabalhar em período integral e pedir comida em geral, não
havia muito o que limpar. Agora, Lennon cozinha para Brandon todas as
noites, lava a roupa duas vezes por semana e me diz quando é a minha
hora de aspirar e tirar o pó do apartamento. Depois de insistir o suficiente,
eu faço as tarefas que ela atribui, mas apenas quando estou pronto para
isso.

No entanto, aspirar as calcinhas dela e o carregador do celular me deu


trinta minutos de bronca e uma lição sobre como checar o chão de
antemão. Então, quando ela descobriu que eu usei repelente de insetos em
vez de polimento de móveis para tirar o pó do apartamento, ela bateu o pé
e gritou comigo por ser um imbecil.

É seguro dizer que eu falei como me sentia em relação às “tarefas”


atribuídas por ela.

— Não, não se preocupe, cara, — eu o tranquilizo. — É como


mostramos carinho. — Eu rio e termino meu café. — Se ela odeia tanto,
talvez ela vá morar com uma de suas irmãs ou amigas ou algo assim, e
podemos recuperar nosso depósito de solteiro!
Fico de pé e vou até a pia onde coloco minha caneca vazia. Algumas
das minhas tigelas de cereal que Lennon embebeu em água e sabão ainda
estão lá, e eu balanço minha cabeça com a forma como ela tenta controlar
tudo.

— Se ela sair, você sabe que eu vou com ela, — Brandon me diz
suavemente. — Ela é o amor da minha vida, e você é meu melhor amigo,
então eu odiaria ter que escolher, mas ela é o meu futuro. No entanto, sair
é a última coisa que quero.

Suas palavras me fazem apertar minha mandíbula com o quão “pau


mandado” ele é. Eu sei que ele a ama, mas foda-se. Sinto falta dos dias em
que éramos apenas nós. Nós jogávamos videogame, pedíamos pizza e
depois saíamos para os bares. Na faculdade, estávamos tão sem dinheiro
que aproveitávamos todas as ofertas de happy-hour de 2 por 1, para que
tivéssemos dinheiro suficiente para comprar uma bebida para uma garota
ou duas. Mason e Liam sempre estariam lá para foder as coisas
também. Apesar dos altos e baixos, éramos sempre nós quatro, e havia
uma regra estrita de “sem garotas por perto”, até Lennon aparecer.

Brandon é um dos mocinhos e, no fundo, eu sei que ele merece ser


feliz, mas não posso deixar de sentir que ele roubou algo de mim. É
injusto dizer, considerando que ele não tinha ideia de como eu me sentia
sobre ela, e uma vez que eles se conheceram, eu sabia que nada disso
importava. Mesmo que não passasse de uma noite só, Lennon estaria
sempre fora dos limites. Código dos caras e toda essa merda. Você não
mergulha os dedos dos pés onde um amigo já esteve. No segundo em que
ele a reivindicou, minha chance foi perdida.

— Eu sei, cara. — Eu finalmente digo, pegando minhas tigelas e


esvaziando a água.
Eu não quero ter esses sentimentos por ela. Inferno, eu faria qualquer
coisa para não tê-los. A única coisa que parece funcionar, mesmo que
temporariamente, é irritá-la. Ela vai gritar, me dizer o quão imaturo e
irresponsável eu sou, me amaldiçoar até que ela fique vermelha no rosto, e
por uma fração de segundo, esses sentimentos de luxúria se dissipam.

Aproximadamente trinta segundos depois, ela fará algo adorável como


sacudir a bunda enquanto se afasta ou força um sorriso em minha direção
para fingir que não está fervendo, e esses sentimentos estúpidos
rapidamente voltam.

Indo para o meu quarto, pego as últimas coisas que preciso antes de
sair para o trabalho. Vejo mais três tigelas, um copo e talheres na minha
mesa e os levo para a pia.

Brandon já terminou o café e saiu da cozinha quando voltei. Sabendo


que isso vai irritar Lennon, eu os coloco ao lado dos outros pratos que
deixei para ela esta manhã, e um sorriso atinge meus lábios.

Meu celular emite um bipe e, assim que vejo o nome de Lennon


aparecer na tela, sei que será um comentário passivo-agressivo. Quando a
mensagem dela é exatamente o que eu pensei que seria, eu respondo como
sempre faço - com qualquer coisa para deixá-la ainda mais
irritada. Quando ela não responde ao meu último texto, tiro uma foto da
minha louça suja e a envio, sabendo que a deixará fumegante. Nada me
satisfaz mais.

Para ser sincero, não sei por que ela ainda tenta. Ela me envia uma
mensagem com um pedido simples, e eu sempre faço exatamente o oposto,
então você acha que ela teria aprendido até agora.

Suas mensagens são geralmente da mesma forma:


Vou fazer o jantar com Brandon hoje à noite, então não traga comida
para ele ou ele não sentirá fome mais tarde.

Ou…

Eu tenho que ficar até tarde no trabalho, e minhas irmãs estão vindo
logo depois. Você acha que poderia varrer a cozinha quando chegar em
casa, já que foi você quem fez a bagunça?

Ou…

É a sua vez de lavar a roupa. Não se esqueça das toalhas no banheiro


desta vez!

É claro que eu trouxe para casa um pacote de seis cervejas e duas


pizzas grandes. Em vez de varrer, andei com minhas botas de trabalho
cobertas de terra e pedras secas dos locais de trabalho. E lavei a roupa
naquela noite, mas não as toalhas dela. Ouvi-la gritar meu nome na manhã
seguinte, quando ela percebeu que o armário de roupas não tinha nenhuma,
valia totalmente a pena.

Você acha que ela entenderia que não pode me controlar como uma
criança. Eu não sou sua cadela, e ela está vivendo em meu apartamento,
então talvez eu deveria começar a dar-lhe uma lista de coisas a
fazer. Inferno, o contrato tem meu nome, não o dela.

Exceto que ela faz Brandon feliz. Essa é a única razão de eu tolerar a
merda dela.

Então, como se ela lesse minha mente, ela envia outro texto.

Antes de sair, verifico se tenho tudo o que preciso: telefone, chaves,


carteira. Eu visto um casaco, já que está um pouco frio, mesmo para a
Califórnia em fevereiro, porque hoje estarei visitando o canteiro de obras
para verificar o progresso e obter uma atualização de status dos
contratados. Grito para deixar Brandon saber que estou indo embora, mas
ele já está no chuveiro. Ele é um idiota sortudo que não precisa estar no
trabalho até as nove. Como contador, ele tem o cobiçado horário do
banqueiro. Enquanto isso, tenho de sair de casa às oito como gerente de
projeto de uma empresa de construção. Normalmente, faço muito do
trabalho sujo desde que me formei, há apenas dois anos, mas recentemente
recebi meu próprio projeto para supervisionar.

Estar no comando e garantir que fiquemos dentro do orçamento, dentro


do cronograma e que tenhamos erros limitados, apenas aumentam minha
lista de responsabilidades crescentes. Além de gerenciar um grande
projeto, tenho reuniões de negócios com proprietários, subcontratados e
membros da equipe, além de uma montanha de papéis. Viajo diariamente
entre o escritório e o local de trabalho e, embora seja ocupado e
estressante, adoro a complexidade. Engenharia e tecnologia sempre foram
o meu forte, e trabalhar no campo da construção durante o verão enquanto
eu estava no ensino médio ajudou a pavimentar o caminho para onde estou
agora.

Quando estou na caminhonete, coloco o Bluetooth no ouvido e começo


o dia. Liam e Mason gostam de falar merda da quantidade de porcaria de
coisas do trabalho que eu mantenho aqui, mas é o meu escritório móvel.

No momento em que estou na estrada, já estou em uma teleconferência


enquanto vou para o local da construção. Estão sendo construídas quatro
grandes unidades, com dezoito apartamentos no interior de casa uma
delas, além de garagens não acopladas. Fora isso, será adicionado um
centro recreativo comunitário com quadra de tênis e basquete. Estamos em
apenas quatro meses do projeto e temos mais seis meses até que seja
concluído. É claro que o proprietário quer que seja feito o mais rápido
possível para preenchê-lo com inquilinos, então ele já está no meu rabo
sobre ficar adiantando o cronograma.

— Hunter Manning. — Eu digo, respondendo a outra ligação.

— Onde diabos você está? — Meu chefe, Phil, assobia, e eu posso dizer
que ele já está de bom humor. — Estou pronto para analisar esses planos,
mas preciso de você aqui.

— Ok, estou a três minutos de distância. Eu já estou chegando aí.

Depois de desligar, pressiono o pé no acelerador e decolo. Após virar na


entrada de cascalho, estaciono. Agarrando minhas botas de trabalho por
trás, eu rapidamente as coloco junto com meu capacete e óculos de
segurança. Como tenho que estar no canteiro de obras em um minuto e em
uma reunião no próximo minuto, sempre me visto profissionalmente para
o trabalho, mas também troco de roupa e sapatos no carro.

— Bom dia, Phil. — Eu digo assim que o vejo.

— Hunter. — Ele responde categoricamente. Eu lhe lanço um sorriso


confiante, que ele ignora.

Depois de uma hora analisando os planos, percorrendo o local da obra e


provando a ele que estou no controle do projeto, estou a caminho do
escritório para acompanhar os e-mails. Tenho uma reunião às onze, depois
outra às duas e, depois disso, trabalharei no meu computador até ir para
casa.

Quando a noite chega, eu estou emocionalmente e mentalmente exausto


e mais do que pronto para ir para casa e relaxar. Quando finalmente chego
ao meu apartamento, estaciono no local designado e gemo quando vejo o
carro de Lennon próximo a ele. Tecnicamente, é de Brandon, mas no
momento em que ela se mudou, ele deu a ela e agora estaciona na
estrada. Boceta.

Meu telefone toca no momento em que pego minhas coisas no banco de


trás e, quando vejo que é meu irmão mais velho, Hayden, respondo
imediatamente.

— Ei, cara, — saúdo alegremente. Ele está tão ocupado quanto eu hoje
em dia, o que significa que não conseguimos conversar muito. Também
não ajuda que ele mora em Nova York agora, e nossos fusos horários são
diferentes. — O que está acontecendo?

— Não muito, — ele responde. — Só pensei em checar meu irmão


mais novo e ver se ele está ficando longe de problemas.

Rindo, pego o que preciso da minha caminhonete e fecho a porta. Olho


para o carro de Lennon e franzo a testa, irritado por ela já estar em casa.

— Sempre, — digo a Hayden. — Apenas chegando em casa, na


verdade. Quais são seus planos hoje à noite? Você e Sav estão bem?

Ele está namorando Savannah desde o verão passado e mudou-se para


estar com ela. Foi logo depois que Lennon se mudou, e minha vida piorou.

— Na verdade, é sobre isso que eu queria falar com você. — O


nervosismo em seu tom faz meu coração disparar.

— O que? Vocês dois terminam? — Eu entro em pânico, sabendo pelo


que eles passaram para voltarem a ficar juntos, após dez anos
separados. Eu ficaria arrasado por ele se fosse esse o caso.

— Não! De jeito nenhum. Eu não vou deixá-la sumir de vista. — Ele


diz rindo.
— Ufa. Me assustou por um segundo, cara.

— Na verdade, estou planejando propor a ela. Sempre soube que ela é a


pessoa certa para mim e quero fazê-la minha esposa.

Estou sorrindo tão grande com as notícias dele. — Claro que sim. Estou
tão feliz por você, Hayden. E honestamente, já estava na hora. — Eu soltei
uma risada enquanto ele suspira aliviado.

— Ainda não contei a nossos pais, mas projetei e encomendei o


anel. Eu queria que fosse único - assim como ela - então agora só preciso
encontrar o momento certo para fazer a pergunta. Ainda não está tudo
planejado, mas estou nervoso como o inferno. — Quase faço um
comentário sobre como ele é adorável, mas prefiro ver essa versão dele do
que a pessoa oca que ele era sem ela.

— Não fique. Você sabe qual será a resposta dela. E honestamente,


quem se importa com o que nossos pais ou qualquer outra pessoa
diz? Você sabe que isso está certo. Eu também. — E não estou nem um
pouco chocado. Subo os degraus dois de cada vez enquanto ouço os planos
de Hayden. Depois que entro no apartamento e deixo minha merda na
porta, ouço Lennon cantando na cozinha e caminho por ali.

Ela está com os fones de ouvido, balançando a cabeça para frente e para
trás e balançando os quadris. Ou ela ainda não me ouviu entrar ou está me
ignorando, então passo por ela, abro a geladeira e pego uma cerveja. Então
eu vejo um sanduíche no balcão.

— Você me fez um sanduíche de PB&J? — Eu provoco Lennon, depois


o pego no balcão antes que ela possa me parar. — Meu favorito! — Dou
uma mordida enorme e lanço um sorriso para ela.
— Hunter! — Ela grita, batendo a mão para baixo. — Esse foi o último
pão!

— Ainda bem que você está indo ao supermercado, —digo em torno da


boca, entrando no corredor.

— Porra, sério? — Ela está fervendo, o que me faz sorrir de orelha a


orelha antes de dar outra mordida. — Eu não estava indo ao supermercado
ainda!

— Acho que você tem uma desculpa agora, — eu respondo, sem olhar
por cima do ombro. Tenho certeza que ela está olhando para mim ou me
dando o dedo. Esse é o seu movimento habitual.

— Com quem você está falando? — Hayden pergunta.

— Satanás.

Ele ri imediatamente, sabendo exatamente a quem estou me referindo.

— Vocês dois ainda brigam como irmão e irmã?

— Pfft. Pior. — Entro no meu quarto e fecho a porta atrás de mim,


terminando seu sanduíche perfeitamente feito.

— Quando você vai superar seus sentimentos por ela? Você não acha
que fez de suas vidas um inferno por tempo suficiente? Aprenda com meus
erros, mano...

Hayden é apenas cinco anos mais velho que eu, mas juro que ele nasceu
com uma alma antiga. Somos os únicos dois filhos da família. Nossos pais
não se deram ao trabalho de tentar uma garota depois de mim, e não
ajudou que o relacionamento deles também não fosse exatamente
perfeito. Meu pai é uma merda, no entanto, aos olhos do público, ele age
como Pai do Ano. Como senador do estado da Califórnia, ele tem uma
imagem perfeita à zelar. Eu era a criança rebelde que o levou correndo ao
consultório médico, implorando por uma vasectomia. Embora, quando
fiquei mais velho, eu soube que ele realmente só queria ter certeza de que
não poderia engravidar nenhuma de suas amantes. Hayden era mais uma
figura paterna para mim do que nosso pai já foi, e ele tentou me manter de
castigo quando eu queria agir por atenção.

Desnecessário dizer que nunca afirmei ser uma pessoa fácil de


conviver, e Hayden sabe muito bem como eu fico. Não ajuda que Lennon
me mostre esse lado amargo, e eu quero tornar a vida dela um inferno por
me forçar a vê-la todos os dias. Eu não poderia dar a ela o que Brandon
pode, de qualquer maneira. Durante a maior parte da minha vida, nunca
atendi às expectativas de meu pai com minhas notas, esportes e escolhas, e
depois de morar aqui e ouvir suas constantes reclamações, sei que nunca
teria atendido as expectativas dela.

É mais do que óbvio que eu nunca seria do mesmo nível de Brandon,


com seu amor incondicional por ela desde o início. Eu perdi minha
oportunidade e não me mexi enquanto ele não pensou duas vezes sobre
isso. Minha hesitação voltou a me morder na bunda, e agora tenho que
viver com essa escolha todos os dias.

Brandon também quer uma família, e eu tenho meus próprios


problemas de compromisso para resolver, que só pioraram desde que
Lennon se mudou. Embora seja uma merda ela não me escolheu, é
provavelmente o melhor, ou pelo menos é isso que eu continuo me
dizendo. Poderia ter terminado mal comigo machucando-a, mas eu
gostaria de pensar que não teria. Ela é um lembrete constante de que não
sou bom o suficiente e como nunca serei.

— Não há sentimentos. — Mentiras.


— Sim, e Donny é meu parceiro secreto na vida, — ele responde,
gargalhando. — Você não está enganando ninguém, especialmente eu.

O melhor amigo gay de Savannah, Donny, insiste em me chamar de


Beefcake6. No começo, foi um insulto, mas agora sei que é um elogio
vindo dele.

— HUNTER! — Lennon bate com o punho na porta. — Você tem que


ser um idiota insensível?

— Oh, merda. — Hayden ri histericamente. — Você realmente a irritou


desta vez.

Reviro os olhos enquanto tomo um gole da minha cerveja. — Sério, o


que mais há de novo?

— Vou deixar você lidar com isso. Me ligue mais tarde.

— Sim, eu vou.

Nós dizemos adeus e desligamos. Abro a porta com um sorriso de


merda e espero que ela fale. Seu rosto está vermelho como beterraba, com
os olhos se estreitando em mim.

— Mataria você, apenas uma vez, ser um ser humano decente? Eu


estava morrendo de fome e queria aquele maldito sanduíche! — Ela está
fervendo, e foda-se se isso não me faz duro.

Tensa como sempre, tomo um gole da minha cerveja e a assisto por


cima da garrafa. — Oh, esse sanduíche era para você? — Franzo minhas
sobrancelhas como se estivesse genuinamente confuso. — Pensei que você
estivesse fazendo isso por mim. — Dou de ombros, sabendo o quão brava
ela já está, mas diabos, eu não me importo.
— Argh! Você é o pior literalmente, Hunter Manning! — Ela se vira,
com os quadris tremendo enquanto se afasta.

— Bem, fique à vontade para sair a qualquer momento. Não deixe a


porta bater na sua bunda na saída! — Eu grito minha resposta habitual
sempre que ela está surtando com alguma coisa. Um bom lembrete de que
ela ir embora a qualquer maldito tempo e que ninguém a detém.

— Você precisa amadurecer! — Ela grita depois que fechei a porta do


meu quarto. As paredes são finas, então ouço cada palavra que sai de seus
lábios. Ela está murmurando palavrões, me chamando de todos os nomes
sob o sol, e eu sorrio em vitória. Levá-la a se estressar é mais um passo
para tirá-la da minha maldita cabeça, embora às vezes quase pareçam
preliminares muito quentes.
Melhor estar sob sua pele do que fantasiar sobre ela estar em cima de
mim.
Capítulo Três
Lennon
Segunda e terça-feira voaram, mas hoje o dia se arrasta. Segundos
parecem minutos, minutos parecem horas, e tudo o que quero fazer é ir
para casa e ficar com Brandon. No almoço, olho para a minha salada, sem
sentir muita fome, enquanto penso em tudo o que resta a fazer para
completar o concerto da primavera em alguns meses.
Nos últimos dias, ensinei aos meus alunos duas novas músicas em suas
flautas, com as quais eles ficaram entusiasmados e pareceram gostar de
aprender. Eu quero que esse show aconteça sem problemas, porque é o
meu primeiro grande programa desde que me formei e me tornei
professora. Tanta coisa depende do sucesso desse concerto, podendo
determinar se meu contrato é renovado ou não, o que é uma grande
coisa. Tento não pensar muito à frente no futuro e viver o momento, mas é
difícil quando há muito que fazer em tão pouco tempo. Estar estressada
em casa por causa de Hunter, e a merda idiota que ele constantemente me
faz passar, também não ajuda.

Enquanto dou uma mordida na minha salada, penso em como todas as


séries do jardim de infância até a quarta se apresentarão juntas no
palco. Eu tenho que escolher as músicas para eles cantarem, assim como
as músicas para tocarem nos instrumentos, e preciso finalizá-las até o final
da semana. Depois que a diretora Maples aprovou meu aumento no
orçamento, pedi o equipamento de percussão para as crianças mais velhas
e, felizmente, ele será entregue até o final da próxima semana para que
possamos começar a praticar. Quando termino de comer, a campainha
toca, o que significa que o recreio acabou e minha sala de aula em breve
estará cheia de corpinhos. Enquanto ando pelo corredor, destranco meu
telefone e vejo uma mensagem de Brandon.

Brandon: Eu amo você, querida. Espero que você esteja tendo um


dia maravilhoso!

Sorrio instantaneamente e envio uma mensagem de volta.

Lennon: Também te amo, querido. Eu queria que você estivesse


aqui comigo para que eu pudesse roubar beijos seus.

Brandon: Mmm. Você está me fazendo sentir ainda mais sua falta
agora.

Lennon: Você não tem ideia do quanto eu gostaria que estivéssemos


em casa e na cama. Ou que você estivesse aqui, para que pudéssemos
batizar o armário de instrumentos. :)

Brandon: Então, a minha fantasia de professora impertinente pode


realmente se tornar realidade?

Lennon: Ha-ha! A aula está começando. Faltam apenas mais


algumas horas até o dia terminar! Te amo!

Logo após eu entrar na minha sala de aula, um grupo de crianças do


jardim de infância chega para a aula. Sorrio para a Sra. Jenson que os
acompanhou antes que ela acene e feche a porta.

A atenção deles é tão curta que eu tenho que trabalhar duro para mantê-
los ocupados durante o período da aula. Embora possa ser cansativo, eu
ainda amo. Eles me mantêm na ponta dos pés.

— Boa tarde, classe! — Saúdo com um sorriso largo.

— Olá, Srta. Corrigan. — Eles dizem em suas vozes fofinhas.


— Então o concerto da primavera é daqui a alguns meses. Vocês sabem
o que isso significa? — Pergunto, encontrando o olhar deles.

Alguns deles balançam a cabeça em negativa e outros acenam com a


cabeça, enquanto o resto está muito ocupado mexendo o nariz para se
importar que eu esteja falando.

— Isso significa que vamos nos apresentar para muitas pessoas,


incluindo seus pais. Este ano, o tema é a Disney!

Vários deles estão tão animados que ficam de pé e começam a dançar


como se eu lhes desse açúcar puro. Disney, para crianças, é uma palavra
instantânea, e é exatamente por isso que eu a escolhi.

— Jewel e Lacy, por favor, sentem-se, ok? Hoje, vamos aprender uma
nova música que muitos de vocês provavelmente já conhecem. Chama-se
'Zip-a-Dee-Doo-Dah'7 e vocês cantarão com a primeira e a segunda
série. Alguém já ouviu falar dessa música?

David se levanta e começa a cantar o refrão antes que eu possa impedi-


lo, mas ele tem uma família viciada em todas as coisas da Disney, o que eu
aprendi quando conheci sua mãe na noite de pais e professores. Cometi o
erro de comentar sobre sua adorável camiseta do Mickey Mouse e a ouvi
falar por dez minutos sobre as cinco viagens que realizavam a cada ano.

— Muito bom. — Digo a ele, e ele orgulhosamente se senta.

Eu fico de pé e faço alongamentos, depois passamos pelas escalas


musicais para aquecer suas vozes. Quando ficam prontos, ensino o refrão
principal da música. Cantamos devagar no começo, repetidamente, e
depois adiciono alguns movimentos com as mãos. A repetição é
fundamental para as crianças tão jovens, mas estou radiante de orgulho
quando vejo que a maioria delas tem o conceito básico. Eles são
aprendizes rápidos, e estou muito feliz que já estamos progredindo.

Depois que passamos por isso em uma velocidade regular, a campainha


toca e todos os pequenos corpos passam pela porta e seguem o professor
para fora da sala. Eu tenho apenas um minuto para respirar antes que os
alunos da primeira série cheguem e preencham as cadeiras. Depois que
todos se acomodam, eu anuncio o programa da primavera e eles ficam
ridiculamente animados com as notícias também. É oficial: a Disney é
uma vitória para as crianças.

Depois de distribuir as partituras, praticamos a música até o fim. Eles


aprendem muito mais rápido que as crianças do jardim de infância e,
pouco tempo depois, acrescento os movimentos das mãos para eles
acompanharem. Antes do término da aula, começamos do zero novamente,
e fico satisfeita quando eles aprendem a maioria das letras e
coreografias. Esse show vai ser tão fofo, e ideias para outras músicas
começam a surgir na minha cabeça.

— Bom trabalho! Vocês todos me deixam super orgulhosa. Teremos


mais músicas para aprender, então levem suas pastas de músicas com
vocês e pratiquem em casa. Mal posso esperar para ver como vocês
estarão ótimos da próxima vez! — Tento encorajá-los a cada chance que
tenho.

A segunda metade do dia passa rapidamente e, quando a campainha


final toca, eu estou mais do que pronta para voltar para casa e para
Brandon. Estar com ele derrete toda a minha preocupação e estresse.

Enquanto caminho para o meu carro, pego meu telefone do bolso e um


sorriso preenche meu rosto instantaneamente quando vejo uma mensagem
de texto não lida da minha irmãzinha Madelyn. Ela é quatro anos mais
nova do que eu, mas mudou-se de Utah para a Califórnia para ficar perto
de nossa irmã mais velha, Sophie, e de mim. Nós três sempre fomos
próximas, então estar a uma curta distância uma do outra é algo que
sempre desejamos.

Para Maddie, ficar com nossos pais durante o ensino médio foi difícil,
porque ela se sentia sozinha sem nós. Foi um novo ajuste quando Sophie
se mudou. Um ano depois, eu também me mudei, e Maddie era
basicamente uma filha única sem nós lá. Ela está aqui há um ano, apesar
de parecer que foi ontem, pois não conseguimos passar muito tempo juntas
devido aos nossos horários conflitantes. Ela é uma dançarina talentosa e
recebeu uma bolsa de estudos integral na CSU em Sacramento.

Sophie se mudou após o ensino médio para frequentar a CSU Fresno, e


é por isso que também me inscrevi lá. Após a formatura, ela passou a
morar em Sacramento, e então eu a segui no ano seguinte. Eu queria estar
perto dela e queria dar a meu relacionamento com Brandon uma chance
real, já que ele morava lá também. Durante o meu último semestre, me
candidatei para alguns empregos como professora e tive a sorte de
encontrar um bom na área.

Sophie agora toca violino na Sacramento Philharmonic & Opera e,


quando não está praticando, realiza shows paralelos para casamentos ou
eventos especiais. Ela costuma estar sempre ocupada, mas quando tem
tempo um tempo livre, ela ensina aulas de música por um dinheiro extra.

A música teve um papel importante em nossas vidas enquanto


crescíamos; era tudo o que sabíamos. Enraizada em nós desde o dia em
que nascemos, ela abriu o caminho para as carreiras que escolhemos. Eu
simplesmente amo que estamos aqui, juntas, e podemos sair o quanto
quisermos quando nossos horários não se chocam.

Destranco meu telefone e leio a mensagem dela.

Maddie: Irmã! Adivinha? Eu recebi um convite para uma audição


exclusiva em uma companhia de balé, para o show de verão
deles. Estou tão animada!

Ela dança desde que podia andar e é obcecada por balé e dança
lírica. Isso é um grande acontecimento, e eu sei o quanto é importante para
ela. Ela trabalhou duro ao longo dos anos para aperfeiçoar suas
habilidades, e estou muito emocionada por ela.

Lennon: Oh meu Deus! Isso é incrível! Quando é a audição?

Maddie: Em duas semanas, o que significa que vou ter que treinar
até lá.

Lennon: Você vai se sair bem! Você está pronta?

Maddie: Vou me certificar de que estarei pronta! Desculpe, eu sei


que você provavelmente está voltando do trabalho agora, mas tive que
contar a alguém antes de começar o ensaio. Te amo! Oh, diga ao
Brandon que mandei um “oi” !

Eu sorrio com sua última mensagem. Minhas irmãs amam tanto


Brandon. O apoio delas significa tudo, considerando que meus pais ainda
não sabem que vivemos juntos ou quão sérios somos. Minhas irmãs
conhecem meu segredo, e embora tenha sido difícil esconder de meus pais
desde que eu odeio mentir, sei que eles nunca aprovariam. Suas regras
eram sempre tão rigorosas quando se tratava de relacionamentos. Para
eles, os casais não vivem juntos antes do casamento, e certamente também
não fazem sexo, simples assim. Eu amo muito meus pais e sempre quis a
aprovação deles, então mentir dói mais do que eu gostaria de admitir.

Viver em uma casa religiosa e conservadora nem sempre foi fácil. Meu
pai é pastor de uma grande congregação em Park City e minha mãe
também é filha de um pastor.

Enquanto crescíamos, nós três cantamos no coro de louvor e


adoração. Quando ficamos mais velhas, Sophie e eu tocamos na orquestra
da igreja. Ela tocava violino e eu tocava o órgão, o que era sempre
divertido, mas consumia muito do nosso tempo quando tudo o que
queríamos fazer na adolescência era sair com nossos amigos.

Meus pais tinham regras severas em vigor até o dia em que partimos
para a faculdade. Tínhamos um toque de recolher às oito horas e
dedicávamos as noites de quarta e domingo de manhã ao serviço
religioso. O namoro nunca era permitido, e era esperado que tivéssemos
sempre um “A” 8 na escola. Embora fossem rigorosos, eles nos criaram
com valores íntegros e uma bússola moral distinta, e nos ensinaram
compaixão. Sabemos que eles nos amam de todo o coração, mas depois da
formatura do ensino médio, estávamos prontas para deixar o ninho e fazer
as coisas do nosso jeito.

Desapontá-los seria um dos meus maiores arrependimentos, e é por


isso que é importante para mim manter meu relacionamento com Brandon
em segredo. Embora eu nem sempre fique dentro das linhas que eles
traçaram, nunca admitirei isso para eles, porque os machucaria demais.

Estar mais próxima de Sophie me deu a liberdade que eu


desesperadamente ansiava. A maneira como ela falou sobre a Califórnia,
fez parecer que era o paraíso. Eu sabia desde o momento em que ela saiu
que era onde eu queria estar, assim como Maddie.

Lennon: Também te amo! Vou enviar a mensagem junto. Divirta-


se!

Depois de entrar no meu carro e colocar o cinto, saio do


estacionamento. Mal posso esperar para vestir roupas confortáveis e
começar o jantar antes de Brandon chegar em casa. Sophie me liga
enquanto dirige e me conta como as aulas particulares estão indo até
agora. Ela não queria ensinar, mas decidiu que era bom ganhar algum
dinheiro extra.

— Há uma aluna que se recusa a praticar em casa, e a única razão pela


qual ela faz aulas é porque sua mãe está vivendo indiretamente através
dela. — Sophie geme, soltando um suspiro frustrado.

Balanço a cabeça enquanto estaciono na minha vaga de


estacionamento. Na verdade, é de Brandon, mas depois que me mudei, ele
insistiu que eu ficasse com ela, e agora ele estaciona na rua.

— Bem, nem sempre queremos praticar música, mas mamãe e papai


conseguiram fazer disso uma coisa divertida, lembra? E agora veja. Você
toca profissionalmente, e eu sou professora de música.

— Ugh, sim. — Ela meio que ri da verdade. — Mas ainda assim, eu


não sei como você é paciente o suficiente para ensinar, — ela me diz. —
Eu amo crianças, mas seus pais podem ser demônios. Inferno, às vezes as
crianças também são demônios. — Ela ri, embora eu saiba que está
falando sério.

Rindo com ela, pego minha bolsa, saio do carro e caminho pela calçada
em direção ao apartamento. — Eu sei. Todas as manhãs, acordo e digo a
mim mesma que é um novo dia, e cada criança tem uma nova lousa. A
maioria deles não tem idade suficiente para saber realmente que estão
sendo pequenos idiotas.

— Você está certa. Sábia além da sua idade. — Eu posso dizer que ela
está sorrindo pelo seu tom. — Você já está em casa?

— Sim. Subindo as escadas agora. — Eu realmente preciso malhar


porque estou quase sem fôlego após subir dois lances de escada.

— Está bem! Eu vou falar com você amanhã. Diga a Brandon que eu
disse ‘ei torta de açúcar’.

— Torta de açúcar? — Eu pergunto com uma risadinha.

— Porque ele é um doce, — acrescenta Sophie antes de dizermos adeus


e desligar.

Abro a porta do apartamento, coloco minha bolsa no chão e vou para o


nosso quarto. Eu visto uma calça de yoga e uma camisa sem mangas,
depois vou para a cozinha, onde a louça suja está empilhada na pia. Claro,
porra.

— Idiota. — Murmuro, ligando a água quente e enchendo as tigelas que


têm comida grudada nelas. Como se os pratos sujos que ele me deixou na
segunda-feira não fossem ruins o suficiente, esses parecem ter meses e eu
estou tentada a jogá-los no lixo.

Feito isso, retiro os ingredientes para fazer espaguete e molho de


carne. Tentando afastar minhas frustrações, encho uma panela grande com
água e espero que ferva. Assim que coloco a carne do hambúrguer na
frigideira, a porta se abre e eu abro um sorriso que desaparece
imediatamente quando olho por cima do ombro e noto que é Hunter, e não
Brandon. Quando eu me concentro no fogão, a risada começa, apenas me
irritando ainda mais. Com o máximo de força de vontade que posso reunir,
eu o ignoro, o que é quase impossível quando o som estridente se torna
mais alto.

— O que diabos você está vestindo? — Ele pergunta no momento em


que entra na cozinha.

Eu levanto minha cabeça em direção a ele e vejo quando ele abre a


geladeira, depois pega uma cerveja. Ele tira a tampa e a joga no balcão,
independentemente da lata de lixo estar mais perto.

— Não é da sua conta. Mantenha seus comentários para si mesmo. —


Não tenho vontade de discutir, embora seja inevitável quando estamos na
mesma sala. Se eu não soubesse melhor, diria que ele tem uma queda por
meu namorado e está com ciúmes. O pensamento me faz rir por dentro.

Hunter se inclina contra o balcão, me observando atentamente. Mais do


que provável, ele está me julgando enquanto mexo a carne. Eu tenho
certeza que, pelos padrões dele, de alguma forma estou fazendo errado.

— Você não tem um lugar para estar ou alguém para encontrar? — Eu


pergunto, pensando na calcinha de renda vermelha que eu encontrei no
chão no início desta semana. Há veneno no meu tom, e eu me recuso a
olhar para ele.

Antes que Hunter possa abrir sua boca grande com uma resposta que
provavelmente seria rude como o inferno, eu ouço a porta se abrir
novamente. Quando olho por cima do ombro, fico aliviada e emocionada
ao ver que é Brandon. Ele está vestindo uma sexy camisa de botões, com
calça preta e me dá um sorriso no momento em que nossos olhos se
encontram, como se ele se lembrasse de nossa pequena conversa esta
manhã.

Ele imediatamente atravessa a sala em minha direção, me gira, envolve


seus braços em volta do meu corpo e me puxa para perto. Nossos lábios
colidem, e quando nos separamos, Hunter faz um som de engasgo antes de
ir embora. Eu faço uma careta. Brandon acha que é hilário, mas me irrita
ainda mais, se isso é possível. Eu gostaria que ele tivesse coragem de
enfrentar Hunter e dizer a ele para cuidar de seus próprios negócios, em
vez de rir disso.

— Não deixe ele chegar até você, baby. Ele provavelmente teve um dia
estressante no trabalho com seu projeto. — Brandon me lembra, apertando
minha bunda. Me causa arrepios na espinha sempre que ele faz isso,
fazendo-me sorrir, mesmo que um certo colega de quarto tenha causado o
meu humor azedo. Tento levar em consideração as palavras de Brandon
sobre o motivo de Hunter estar sendo mais idiota ultimamente.

Atrás de mim, ouço a carne chiando, então eu giro para mexê-la antes
que ela grude.

Quando está totalmente cozido, escorro a água e adiciono o molho.

— Você está me distraindo. — Eu provoco, quando suas mãos


serpenteiam em volta da minha cintura, e sinto sua boca no meu ombro,
pressionando beijos leves no meu pescoço. Brandon leva meu lóbulo da
orelha entre os dentes e rosna, fazendo-me gemer.

— Hmm, baby. Você é uma tentação usando essas calças justas que não
deixam nada para a imaginação, e eu tenho uma imaginação muito boa.

Seu comentário me faz rir, quase corando. Eu amo que ele não possa
tirar as mãos de mim e que ainda estamos na fase inicial da lua de
mel. Cubro a panela e coloco em fogo baixo.

— Eu as visto para você, querido. — Viro-me para encará-lo, passando


os braços em volta do seu pescoço para que possa puxá-lo para um
beijo. — Além disso, eu gosto de suas mãos em mim quando eu as uso. —
Eu sorrio contra seus lábios.

Sua cabeça cai quando ele solta um gemido animalesco. — E agora eu


preciso de um banho frio. — Brandon pressiona sua virilha na minha parte
inferior do estômago, deixando-me sentir seu pau duro. Sentir o quanto ele
me quer me faz querer pular o jantar e arrastá-lo para o nosso quarto.

— Será que... podemos tomar banho juntos? — Eu provoco, balançando


as sobrancelhas para ele. — Economiza água e tudo mais.

— Hmm... eu gosto do jeito que você pensa. — Ele dá um beijo rápido


no meu nariz. — Mas então o seu delicioso jantar seria desperdiçado, e
não podemos fazer isso.

Eu rio, sabendo que não duraremos muito mais depois que comermos
antes de saltarmos um no outro. — Eu vou trocar de roupa, e uh... cuidar
dessa situação aqui, — ele me diz com um gemido frustrado. — Cheira tão
malditamente bom.

— Sim, não é? — Digo, entusiasmada.

— Bem, eu estava falando de você. — Ele pisca, depois sai da cozinha,


mantendo o olhar em mim até chegar ao corredor. Meu coração palpita e
engulo em seco, desejando poder segui-lo até o quarto e tê-lo agora.

Depois de escorrer o macarrão, puxo os pratos do armário e coloco um


pedaço de pão de alho no forno. Minutos depois, Hunter entra na cozinha
com roupas esportivas e pega uma garrafa de água da geladeira. É claro
que ele não volta com sua garrafa de cerveja, o que significa que a
adicionou à coleção de lixo empilhado em seu quarto.

— Você quer comer conosco? — Eu pergunto a ele, não querendo ser


completamente rude, embora ele mereça, considerando a maneira como
ele me trata.

— Não. Estou indo para a academia. — Ele pega um pouco de água da


geladeira e depois se dirige para a porta. Eu a ouço fechar e solto um
suspiro de alívio. Pelo menos hoje à noite, Brandon e eu podemos comer
sozinhos sem nenhum de seus comentários sarcásticos. Momentos depois,
Brandon volta para a cozinha, vestindo uma camiseta e calças cinza. Eu
levo mais tempo do que o necessário para encarando-o porque, porra, eu o
amo nessas calças. Eles ficam baixas em seus quadris, e sua camisa está
apertada em volta da cintura. O timer do forno apita, me fazendo sair do
meu transe. Eu rapidamente puxo o pão de alho para fora enquanto
Brandon coloca a comida em nossos pratos.

— Você está com muita fome? — Ele pergunta.

— Em uma escala de um a dez? Dez. — Digo a ele enquanto corto o


pão. Ele ri e depois adiciona mais comida ao meu prato antes de colocá-los
na mesa.

Brandon puxa duas taças de vinho do armário e as enche com meu


Merlot9 favorito antes de tomarmos nossos lugares.

— Então, eu odeio trazer isso à tona novamente, mas a maneira como


ele está me tratando parece estar piorando, e eu realmente não sei por que
Hunter me odeia tanto, — eu digo, girando o garfo em volta do meu
prato. — Eu não fiz nada à ele, exceto pedir que ele limpe, e então ele age
como se eu estivesse pedindo demais. — Explico. Considerando como as
coisas estão ultimamente, não me sinto muito bem-vinda em minha
própria casa. Ele estava nervoso ao meu redor antes de eu me mudar,
desde a noite em que Brandon e eu ficamos juntos, mas meses despois,
ficou pior. Eu acho que ele vive para ser um idiota para mim.

— Ele não te odeia, — Brandon diz com certeza, depois sorri. — Isso
tem muito a ver com o trabalho dele e todo o estresse adicional que ele
estão colocando nele. Conhecendo Hunter, ele provavelmente acha
engraçado te irritar. Ele é um cara legal, mas sua infância o deixou um
pouco fodido. Sinceramente, acho que ele gosta de irritar você, porque é
muito fácil. Vocês dois brigam como irmão e irmã, e ele provavelmente a
vê como uma. — Brandon encolhe os ombros como se essa explicação me
fizesse sentir melhor. Não quero ser atormentada como um irmã mais
nova, considerando que sou uma mulher de 23 anos e que não sou sua
irmã.

— Tirar sarro de mim e agir como um idiota total são duas coisas
diferentes, — digo a ele, um pouco desanimada. — Não fico procurando
briga com ele só porque tenho muita coisa acontecendo na escola. Vir para
casa e encontrá-lo sendo um idiota é a última coisa que eu preciso. Estou
estressada demais.

Seus olhos encontram os meus, e ele solta um suspiro lento. — Eu


sei. Eu vou falar com ele. Quero que vocês se deem bem, porque eu amo
vocês e ele é meu melhor amigo. Hunter terá que resolver seus problemas
sem ser um idiota para você. Ele é como um irmão para mim, e se ele está
sendo um idiota, então eu chamarei a atenção dele por isso. Sei que ele
tem problemas de confiança e nunca teve um relacionamento de longo
prazo, mas também sei que ele tem um grande coração. Eu não seria o
melhor amigo de um idiota total.
Eu dou a ele um olhar aguçado, e nós dois rimos. — Eu só queria
entender o que faço para irritá-lo o tempo todo, — eu digo. — Exceto,
talvez, te afastar dele? Seja qual for o motivo, está criando tensão entre
nós, e eu odeio isso.

— Eu vou falar com ele. — Ele me diz, depois dá um pequeno


sorriso. Eu odeio colocá-lo no meio, porque Brandon é uma pessoa muito
doce, que não fica falando merda sobre seu amigo, mas eu gostaria que ele
colocasse alguma noção na cabeça de Hunter sobre como agir ao meu
redor.

— Então, como está indo à preparação dos shows da primavera até


agora? — Ele pergunta, mudando de assunto.

Eu fico feliz só de pensar sobre isso. — Ótimo. A Disney vai ser um


sucesso, assim como você disse que seria. As crianças ficaram
absolutamente emocionadas quando mencionei qual seria o tema.

— Eu não quero dizer ‘eu te disse’, mas... — Seus olhos castanhos


encontram os meus, e ele me dá um sorriso genuíno.

Eu tento falar com um bocado de macarrão na boca. — Eu amo você.


— Eu rio.

— Eu também te amo, baby. — Brandon olha para mim como se eu


fosse a mulher mais linda do planeta. Mesmo que meu cabelo esteja preso
em um nó bagunçado, minha maquiagem se desgastou e eu estou vestindo
roupas confortáveis, ele ainda consegue me fazer sentir bonita. Há algo de
especial em saber que estou com o homem com quem devo estar para
sempre.

Depois que terminamos de jantar, Brandon limpa a mesa e eu coloco a


comida restante em recipientes para o almoço amanhã. Eu até faço um
prato para Hunter e coloco na geladeira, embora eu saiba que ele não
ficará nem um pouco agradecido ou até mesmo que me dirá
“obrigado”. Infelizmente, me acostumei com isso nos últimos oito meses
que morei aqui, então não espero nada menos de Hunter. Às vezes, o que
faço é um trabalho ingrato.

Depois de limpar a mesa, as bancadas e colocar a louça suja na


máquina de lavar louça, Brandon e eu nos instalamos na sala e ligamos a
TV. Nós nem estamos assistindo o reality show que está passando, porque
no momento em que ele deita em cima de mim e nossas pernas se
entrelaçam, estamos interessados apenas um no outro.

— Continue assim, baby, e eu estou levando sua bunda para a cama


agora, — ele rosna contra os meus lábios, arqueando seus quadris contra
os meus, e eu sinto o quão duro e grosso ele está para mim.

Envolvendo minhas pernas em volta de sua cintura, eu gemo alto para


que ele saiba que eu quero exatamente isso. Eu quero devorar cada
centímetro dele.

— Hmmm. Eu gosto do som disso. — Admito, quando a porta da frente


se abre.

Minhas pernas caem da sua cintura, e Brandon se senta, me puxando


com ele. Nós olhamos para Hunter com expressão culpa em nossos rostos,
embora o meu rosto mostre principalmente aborrecimento. Ele olha para
nós como se estivesse enojado, o que parece ser sua aparência normal,
então não presto atenção nele. Eu deveria estar brava, considerando que
estou toda excitada agora e ele entrou no pior momento possível.

— E aí, B? — Hunter pergunta a Brandon e dá a ele um daqueles


acenos de cabeça viril, ignorando completamente a minha
existência. Parece que ele acabou de correr uma maratona pela quantidade
de suor que cobre seu corpo.

— Apenas assistindo TV, — responde Brandon, o que faz Hunter


zombar. Ele sabe muito bem que não estávamos apenas assistindo. — Há
sobras na geladeira, se você estiver com fome. — Brandon o
informa. Hunter reconhece com um encolher de ombros e depois se
afasta. Eu beijo Brandon, puxando-o de volta para mim, querendo retomar
exatamente de onde paramos antes de sermos rudemente interrompidos.

O som de pratos batendo na cozinha e a geladeira abrindo e fechando


ecoa por todo o apartamento. Hunter entra na sala e senta no sofá com uma
tigela de cereal na mão. Ele fede como se tivesse corrido uma maratona.

— O dia dos namorados é neste fim de semana, — Brandon me


lembra. — Eu tenho algo especial planejado para nós, então limpe sua
agenda. — Ele se inclina para a frente e coloca um beijo doce e persistente
nos meus lábios, não se importando que Hunter esteja comendo o mais
alto possível. Meu coração palpita com a menção do Dia dos Namorados,
sabendo que ele o tornará especial para nós.

— Oh Deus. — Hunter bufa, arruinando nosso momento mais uma vez.

Eu suspiro. Às vezes eu só quero dar um tapa nele. Não, na maioria das


vezes.

Brandon se vira para ele. — Você tem algum plano? Talvez encontre
uma dama de sorte? — O tom de Brandon está cheio de esperança e
encorajamento.

Revirando os olhos, Hunter balança a cabeça negativamente. —


Não. Dia dos Namorados é chato pra caralho. Ao menos que Lennon queira
compartilhar suas amigas comigo, eu estou passando-o sozinho. — Ele
força um sorriso largo e tonto para nós, claramente tirando sarro de todo o
conceito.

Solto um bocejo falso e me levanto. — Estou cansada. Acho que vou


encerrar a noite. — Anuncio, esperando que Brandon receba a
mensagem. Ele levanta uma sobrancelha e sorri, e isso é tudo que preciso
para saber que ele entendeu.

Como Hunter está constantemente tentando me irritar, eu olho


diretamente para ele e digo: — Certifique-se de colocar a tigela de molho,
ok? Isso significa adicionar água a ela. Acho que você pode lidar com isso,
ou eu devo desenhar um diagrama com pequenas figuras? — Eu provoco
com uma voz aguda, propositadamente falando com ele como com um dos
meus alunos de cinco anos de idade. Claro que ele não gosta, fazendo uma
careta e estreitando os olhos para mim. Se ele quiser ser tratado com
respeito, primeiro terá que demonstrar algum respeito.

— Eu não deixaria o seu emprego se fosse você. Suas piadas são muito
ruins. — Ele retruca, com a boca cheia.

— Infelizmente, para você, isso não foi uma piada, considerando que
você realmente não sabe colocar uma tigela de molho. — Eu lhe lanço um
sorriso — vá-para-o-inferno, — então saio.

Quando estou no quarto, acendo algumas das minhas velas perfumadas


favoritas que guardo na cômoda. O ambiente, com brilho quente das velas
sendo refletido nas paredes, define o clima certo. Alguns momentos
depois, Brandon entra e gravita em minha direção. Nossas bocas batem
juntas, e eu instantaneamente derreto em seu corpo quente. Sem perder o
ritmo, retiramos avidamente nossas roupas. Suas mãos fortes memorizam
meu corpo, cada curva, cada centímetro que pertence a ele. Momentos
depois, ele está me levantando no ar, e minhas pernas instintivamente o
envolvem. Sua pele está quente contra a minha quando tropeçamos na
cama, e ele me leva, tudo de mim. Preciso mais dele do que de ar, e sinto
como se nunca pudesse me cansar dele.

— Eu te amo, Lennon. — Ele murmura, arrastando beijos combinados


com mordidas na minha pele quente, que queima por mais de seu toque.
— Eu também te amo. Muito. — Sussurro. Quando nos perdemos um
no outro, sinto como se estivesse caindo no abismo com ele, e nunca mais
quero ser encontrada.
Capítulo Quatro
Hunter
O trabalho foi uma merda hoje. Depois de analisar as propostas para a
piscina, adicionadas pelo proprietário ontem, percebi que o projeto poderia
exceder o orçamento, o que ele não gostou de ouvir. Não é como se eu
pudesse fazer uma gruta como a que Hugh Hefner10 tem em sua mansão
aparecer magicamente; tudo custa dinheiro. Por causa do ataque que ele
deu, eu estava atrasado para duas reuniões diferentes e não tive a chance
de almoçar. Graças a Deus eu mantenho barras de proteína de merda no
meu caminhonete como reserva, porque sem elas eu teria morrido de fome
hoje. Embora pudesse ter sido melhor do que comer o a barra de proteína,
já que tinha gosto de massinha misturada com pedaços de chocolate de
borracha.
Dirijo pela cidade, fico no trânsito por quase 45 minutos e, quando
chego em casa, estou tão irritado que acho difícil me concentrar em
qualquer coisa. Hoje, o resultado final do dia, foi péssimo.

Depois de estacionar, pego meu laptop e vou para o


apartamento. Brandon está sentado no sofá com os pés apoiados na mesa
de café, bebendo uma cerveja e tocando no telefone. Ele sempre sai cedo
às sextas-feiras; a vida de um contador. Quem me dera. Ele me acena com
a cabeça e sorri quando entro.

— Ei, como foi o trabalho? — Ele pergunta.

— Cheio de idiotas de merda, — digo a ele. — Eu preciso de uma


bebida ou dez. — Eu vou para a geladeira e pego uma cerveja, depois me
junto a ele no sofá. Embora saiba que devo comer primeiro, não me
preocupo nesse momento.
— Onde está a sua outra metade? — Pergunto, imaginando onde está
Lennon, já que está anoitecendo.

Ele ri. — Ela está com Sophie e Maddie até as dez. — Ele levanta a
cerveja e depois a bebe. — Então, eu tenho um favor para te pedir.

Eu já tenho uma ideia do que ele vai dizer, mas eu arqueio uma
sobrancelha para ele enquanto bebo. — E aí?

— Você pode pegar um pouco mais leve com Lennon?

Eu estreito meus olhos, me perguntando o quão duro ele vai ser comigo
desta vez. Não que eu esteja um pouco chocado. Lennon parecia que estava
prestes a explodir uma junta ontem.

— Acho que você está realmente começando a magoar os sentimentos


dela, — continua ele. — Quero dizer, eu sei que você não gosta muito dela
morando aqui, mas ela está estressada com o trabalho, e você
constantemente a irritando torna as coisas miseráveis para ela. Além disso,
eu realmente quero que vocês se deem bem. Você é meu melhor amigo e
ela é minha namorada. Nós vamos estar na vida um do outro por um longo
tempo. Eu sei que são precisos dois para discutir, mas vocês brigam como
irmãos. Honestamente, vocês dois tem tanta coisa em comum, que é
realmente repugnante. Vocês provavelmente seriam realmente bons
amigos, se você desse a ela uma chance.

Adaga encontra coração.

Engulo em seco, percebendo que meu objetivo se concretizou. Eu


queria que ela sentisse o mesmo que eu, e agora ela sente.

— Tudo bem. — É tudo o que ofereço. Não nego meu ódio por ela,
embora o que sinto em meu coração esteja longe disso. O fato de ele dizer
que poderíamos ser amigos e ter coisas em comum é um soco direto no
meu estômago.

— Além disso, você está meio que matando minha vida sexual. — Ele
acrescenta com uma risada, tomando um grande gole de sua cerveja, quase
terminando ela toda.

Eu soltei uma risada abafada. — Duvido seriamente disso. Dividimos


uma parede, lembra? — Eu aceno em direção a sua cerveja quase vazia. —
Você vai ficar arrasado quando ela chegar em casa, se você continuar nesse
ritmo, e então será seu pau mole matando suas chances esta noite. —
Quero mudar de assunto, mas Brandon esvazia sua garrafa e a bate com
força na mesa de café e depois pega outra. — Pegue uma para mim
também, — eu grito, agradecido pelo momento de me recompor.

Ele volta e me entrega uma. Eu a abro e pressiono a garrafa nos meus


lábios. O líquido frio desce tão facilmente que termino minha segunda
cerveja em pouco tempo.

— Cara, — diz Brandon, rindo. — Lembra quando costumávamos fazer


algumas das coisas mais estúpidas durante a faculdade?

Eu rio de seu comentário aleatório. — Sim, como esgueirar-se para


dentro da casa das irmandades para roubar calcinha de meninas, para que
pudéssemos pendurá-las em um varal na festa da fraternidade.

— Porra! Eu esqueci disso. Estou surpreso por não termos sido


suspensos. — Ele balança a cabeça.

— Estou surpreso que nos formamos. — Eu rio de todas as memórias


que compartilhamos.

— Ah sim, eu quase esqueci. Então, sobre o dia dos namorados...


— Sim, o quê que tem? — Eu pergunto, pegando outra cerveja porque
vou precisar dela para esta conversa.

Apenas mais um dia de merda que é comercializado e muitas vezes


vêm com o preço de vender sua alma por flores que morrerão dentro de
uma semana. É um lembrete doentio de que estou sozinho e talvez nunca
tenha um relacionamento sólido.

Eu namorei bastante no passado, até tentei um aplicativo de namoro


estúpido depois que Lennon se mudou, porque eu estava cansado de não
apenas ouvi-los a noite toda, mas também de vê-la todos os dias. O
trabalho me mantém ocupado, então sair para conhecer garotas não é tão
fácil quanto era na faculdade; no entanto, esses encontros geralmente
terminavam em uma noite ou eu acordava me sentindo arrependido. Na
verdade, foi assim que passei a maioria dos fins de semana, desde quando
tentei esquecer Lennon e tirá-la da minha cabeça, mas isso não a
apagou. Cada segundo encontro que eu ia, terminava comigo evitando a
garota da vez logo depois. Se meu próprio pai poderia trair uma mulher
tão incrível quanto minha mãe, como eu era capaz de amar? Onde estava a
confiança? Qual era o sentido de entregar seu coração? Quando Hayden
perdeu o amor de sua vida, vi o que isso fez com ele. Isso despedaçou seu
coração, e eu me lembro daquele tempo sombrio como se fosse
ontem. Não o culpo, é claro - ele tinha apenas dezoito anos -, mas nunca
quero me colocar em posição de sentir esse tipo de dor. O risco não parece
valer a pena.

Até conhecer Lennon.

Você não pode fingir esse tipo de química, por mais instantâneo que
fosse, e eu juro que ela também sentiu, embora tenha tentado me
convencer de que era unilateral. Eu repeti isso dezenas de vezes na minha
cabeça, mas isso não importa. Brandon é como outro irmão para mim, e
sua felicidade importa mais para mim do que a minha. Fico feliz que ele
encontrou alguém que o faz feliz e que realmente se importa com ele, mas
não posso deixar de sentir um arrependimento, uma amargura por não ter
feito as coisas de maneira diferente.

Se eu pudesse voltar para aquela noite, teria perguntado a Lennon o


número dela imediatamente. Eu deveria ter empurrado minha dúvida para
longe e escutado meu coração. Nós compartilhamos algo especial, e eu
permiti que minhas inseguranças me parassem, deixando a bola em suas
mãos. Ela nunca voltou. Inferno, eu deveria ter perseguido ela.

Porém, isso ocorreu no passado, e tudo o que posso fazer agora é


aceitar como as coisas são e seguir em frente, mesmo que eu esteja
falhando miseravelmente nisso.

— Bem, — Brandon continua, e espero que ele me peça para sair


durante a noite para que possam passar o Dia dos Namorados juntos
sozinhos. — Eu meio que queria ter certeza de que tínhamos o lugar para
nós mesmos. Você sabe, não quero minha cabeceira batendo contra a
parede e interrompendo você ou algo assim. — Ele coloca a cerveja na
mesa e sorri, me dizendo exatamente o que eu previ.

Eu tusso uma risada dolorida, já farto dessa conversa. Esse lembrete de


que estou sozinho se repete na minha cabeça novamente. — Eu posso
desaparecer. Sem problemas.

— Obrigado, cara. Te devo uma. Deixe-me saber quando você quiser


que Lennon e eu lhe dêmos alguma privacidade, e vou garantir que isso
aconteça.

Eu concordo. — Eu posso aceitar isso em breve.


***
Eu acordo e imediatamente vou para a academia. Quando volto para
casa, Lennon está parada na cozinha, em short jeans apertados, cozinhando
para ela e Brandon um almoço tardio. Ela poderia muito bem estar sem
shorts pelo jeito que esses mostram suas nádegas. Suas pernas delgadas
são maravilhosas, e são perturbadoras pra caralho. É irritante como ela se
exibe por aqui como se eu não existisse.

Ontem à noite, fiquei acordado olhando para o teto, imaginando o que


eu poderia fazer hoje para ficar fora do apartamento para o estúpido
encontro especial do Dia dos Namorados. Assim como Brandon disse,
Lennon chegou em casa às dez. Ouvi sua voz abafada do outro lado da
parede e desejei que ela fosse embora. Fora da vista, fora da mente,
certo? Sei que morarmos juntos não durará para sempre, então vou lidar
com ela por enquanto, mesmo que isso me mate lentamente.

Eventualmente, eles sairão, ou eu vou, e seguiremos caminhos


separados. Talvez então eu consiga superar isso sem ter que vê-la ou
cheirar a doçura de sua pele. Tudo o que quero agora é que ela me
odeie; me odeie tanto que ela não vai olhar na minha cara ou falar
comigo. Pelo que Brandon disse ontem à noite, acho que estou no caminho
certo. Depois de oito meses empurrando-a ao limite, ela ainda é tão
implacável que é cansativo, mas eventualmente ela não vai mais aguentar.

Não dou outra olhada para ela enquanto ando pelo pequeno corredor
que leva ao meu quarto. Antes de tomar um banho, envio uma mensagem
para Liam e Mason e pergunto se eles querem me encontrar no bar.

Todo Dia dos Namorados é “noite de solteiros” e isso será a distração


perfeita. Vou tentar entrar no local com a mente aberta, o que quer que
aconteça, aconteceu.

Depois do banho, vejo que os dois mandaram mensagem me


respondendo e decidimos nos encontrar as cinco, antes do
jogo. Provavelmente vou sair mais cedo, porque não quero atrapalhar o
que diabos Brandon planejou.

Vou para o meu quarto com uma toalha enrolada na cintura e Lennon
para de caminhar em direção ao quarto quando me vê. Percebo a maneira
como os olhos dela permanecem no meu corpo, acompanhando minhas
tatuagens e meu abdômen, assim como fizeram naquela noite no bar, mas
a fantasia desaparece assim que ela revira os olhos para
mim. Perfeito. Ainda bem que posso obter esse tipo de reação dela. Torna
muito mais fácil estar por perto e morar com ela.

Fecho a porta do meu quarto e visto um jeans e uma bela


camisa. Quando entro no corredor, ouço Lennon e Brandon rindo na sala
de estar. Instintivamente, eu gemo.

— Estou saindo, — digo a eles, pegando minhas chaves e não olhando


na direção deles.

— Tem um encontro quente hoje à noite? — Brandon pergunta. Ele


parece um pouco esperançoso, considerando que eu não namoro ninguém
há anos. Pelo menos, nada sério.

Eu aceno com um sorriso e sinto os olhos de Lennon me perfurando,


mas não dou atenção a ela.

— Não espere por mim, — digo a ele com uma risada forçada enquanto
saio do apartamento e vou em direção a minha caminhonete. O bar do
centro fica em uma área de tráfego intenso, em um local cercado por
restaurantes e boates. Considerando que é um sábado e um feriado falso,
eu decido dirigir mais cedo e procurar por um estacionamento. Geralmente
é uma loucura, e hoje à noite será pior do que o normal.

Estaciono na rua a alguns quarteirões de distância e caminho até o bar


de esportes, onde encontrarei Liam e Mason em algumas horas. Vou ter
que me acalmar, apesar de tudo que quero fazer é perder o controle. Em
vez de mandar uma mensagem para os caras e avisá-los de que estou aqui,
entro e sento no bar. Como não comi mais cedo, peço comida e uma
cerveja. Bernie, o barman em serviço, trabalha aqui há tanto tempo quanto
me lembro.

— Não posso acreditar que você está aqui sozinho neste feriado
especial. — Diz ele, sarcasticamente, enquanto limpa a bancada. Ele tem
trinta e poucos anos e é tão solteiro quanto eu. Quando eu trabalhava no
clube a alguns edifícios de distância, eu costumava vir aqui para passar um
tempo antes dos meus turnos.

Eu soltei uma pequena risada. — Estou surpreso que você está


surpreso, honestamente.

— Mas com um histórico como o seu? — Ele sorri.

Reviro os olhos, querendo mudar de assunto. — Posso pegar outra


cerveja?

Bernie abre a tampa da garrafa e desliza-a através do bar. Ele pega meu
prato vazio e o leva para trás. Meu telefone vibra no meu bolso e, quando
o pego, vejo uma mensagem de Liam.

Liam: Estou indo em direção ao bar. Quer me encontrar mais cedo?

Eu sorrio e lhe envio uma foto da situação atual. Eu com minha


segunda cerveja.
Liam: Seu bastardo. Deveria ter me mandado uma mensagem.

Hunter: Eu tive que sair de casa para que Brandon e Lennon


pudessem foder em todas as superfícies planas que temos.

Liam: O visual... nojento. Eu estarei aí em quinze.

Quando termino minha cerveja, Liam entra pela porta com um sorriso
de merda. Ele se senta no banquinho ao meu lado e Bernie vem em nossa
direção carregando uma banheira de margarita. Mais três garçons chegam
para ajudar a preparar o turno ocupado que estão prestes a enfrentar. Eu
não os invejo. Embora meu trabalho possa ser estressante, prefiro fazê-lo a
qualquer hora do dia do que ser bartender.

— E aí cara. Duas doses de uísque. — Diz Liam.

Olho para ele, percebendo que está começando com uma bebida
destilada. — Esta noite vai ser interessante, não é?

Às vezes, quando ele e Mason bebem, ficam selvagens e


loucos. Deveríamos ser adultos maduros agora que nos formamos na
faculdade e temos empregos de verdade, mas não vejo isso acontecendo
tão cedo. Pelo menos, não até que estejamos estabilizados e, mesmo
assim, não tenho tanta certeza.

Quando os shots de uísque aparecem na nossa frente, Liam desliza um


para mim. — É sempre interessante quando nós três estamos
juntos. Mandei uma mensagem para Mason, e ele estará aqui dentro de
uma hora. — Liam e eu tomamos nossos shots, e isso desce
queimando. Considerando que eu era um barman em um dos clubes mais
quentes deste lado do estado, eu sei como é estúpido misturar álcool, mas
não consigo encontrar motivos para me importar com isso agora.
Olho para a hora no meu telefone. São apenas quatro da tarde e, em
poucas horas, seremos um trio desastroso pra caralho.

— Então, — diz Liam — Como está sendo morar com o casal feliz
hoje em dia?

Eu gemo. — Miserável como sempre.

Ele nos ordena outra rodada de doses. Nesse ritmo, não conseguiremos
aguentar até Mason aparecer. — Tenho certeza que não é tão ruim.

— Oh, é realmente ruim pra caralho. Lennon reclama o tempo todo


sobre cada coisinha. Sinto falta da vida simples quando éramos apenas
Brandon e eu. — Admito porque sinto.

— Você só precisa arrumar uma namorada e pedir a ela para morar com
vocês, também. — Ele mal termina sua frase antes de rir de suas próprias
palavras.

Balanço a cabeça. — O apartamento é pequeno demais. Eu


provavelmente sairia e deixaria que eles assumissem o contrato. Sinto que
as coisas estão ficando muito sérias entre eles, considerando a foda
constante que tenho que ouvir e os apelidos nojentos que eles têm um para
o outro. Mas quem sabe?

Nossa próxima rodada de shots aparece à nossa frente e ouvimos


nossos nomes sendo chamados atrás de nós enquanto os tomamos. Dessa
vez não queima, o que significa que eu oficialmente bebi demais e rápido
demais. Liam e eu nos viramos e vemos Mason. Percebo que ambos estão
vestidos com camisas de botão azuis escuras e jeans escuros.

— Olhe para vocês dois, vestidos como gêmeos. Vocês ligam um para o
outro e concordam em combinar de propósito? — Eu pergunto, dando a
eles o máximo de merda possível.

Mason olha para Liam e ri, embora Liam não pareça muito
impressionado.

— Quem sabe, talvez seus períodos menstruais também sejam


sincronizados este mês. — Digo a Liam enquanto Mason se senta do meu
outro lado. Eles são colegas de quarto há tanto tempo quanto Brandon e eu,
e basicamente podemos terminar as frases um do outro neste momento.

— Vocês dois idiotas já estão bêbados? — Mason pergunta antes de


pedir uma bebida para ele.

Liam encolhe os ombros. — Viajando em uma rua de mão única em


direção à cidade dos bêbados.

— Se você continuar assim, vai ter um ‘pau de uísque’ e começará a


chorar pedindo por sua mamãe. — Mason dá um gole na cerveja assim que
ela fica na frente dele.

Continuamos bebendo até escurecer, e eu não ri tanto há semanas. Sair


com eles é exatamente o que eu precisava. No momento em que saímos do
bar, nós bebemos tanto que somos essencialmente
invencíveis. Tropeçando, passamos por casais felizes enchendo o
restaurante e caminhamos alguns quarteirões até o clube, mas tudo em que
consigo pensar é em mijar.

A maioria das pessoas que trabalham no clube ainda conhecem Liam e


eu de quando trabalhamos aqui durante nossos anos de faculdade, por isso
não precisamos pagar a taxa de entrada e podemos passar direto. O clube
está lotado; Eu não ficaria surpreso se um policial aparecesse para
encerrar a festa. As pessoas se aglomeram ao redor do bar, e digo aos caras
que preciso fazer uma parada antes. Eu atravesso o clube, fazendo o meu
caminho através de hordas de corpos para o banheiro. Eu tenho que ficar
na fila, o que é chato como o inferno, mas graças a Deus não é tão longo
quanto o banheiro feminino.

Enquanto me encosto à parede, entro no Facebook e vejo fotos das


flores que Brandon recebeu para Lennon no Dia dos Namorados, junto
com o gigante coração de veludo vermelho cheio de
chocolates. Estupidamente, dou-lhe um emoji de cara feia e continuo
percorrendo meu feed para passar o tempo.

— Hunter? — Uma voz feminina chama meu nome.

Olho para cima e vejo Jenna Crosby vestindo uma camisa decotada que
não deixa espaço para a imaginação e uma saia tão apertada que parece
estar pintada. Eu lanço um sorriso encantador para ela.

— Ei, baby, — eu digo, e ela se inclina para a frente, me dando um


grande abraço. A fila se move e é minha vez de entrar. — Você pode
esperar um segundo? Estou prestes a me mijar.

Ela assente com uma risada. — Sim, eu vou esperar aqui por você.

Corro e vou, lavo as mãos e entro no corredor escuro, onde Jenna


espera pacientemente. Ela é uma garota bonita, com cabelos castanhos
escuros e olhos azuis. Quando trabalhei aqui, ela era uma garçonete que
servia coquetéis. Achei que ela tinha uma queda por mim pelo jeito que
flertava comigo, mas nunca permiti que a ideia passasse pela minha
cabeça. Ela tinha um namorado de qualquer maneira e, embora fosse
caloura na faculdade, eles pareciam bem sérios. Ela é alguns anos mais
nova do que eu, mas hoje à noite ela se parece com uma mulher que sabe
exatamente o que quer.
— Não te vejo desde que me demiti, — diz ela. — Como a vida está te
tratando depois da faculdade? Você já conseguiu o emprego dos sonhos
como gerente de projeto que queria?

Andamos pelo corredor e seguimos em direção à área do bar e


conversamos um pouco. A música alta significa que eu tenho que me
abaixar para ouvi-la.

— Deixe-me comprar uma bebida para você. — Ofereço, colocando


minha mão nas costas dela.

— Claro, vamos começar essa festa. — Jenna sorri, seus olhos focados
em mim.

Eu chamo a atenção do barman assim que chegamos ao final do balcão


em formato oval.

Com um sorriso, pergunto: — O que você gostaria?

— Tequila. — Ela responde com naturalidade.

Eu levanto uma sobrancelha para ela. — Tequila é problema.

— Eu também. — Ela provoca, e não tenho dúvidas sobre isso. Eu peço


nossas doses e, momentos depois, elas estão na nossa frente. Nós bebemos
e chupamos nossos limões.

— Como você está e qual é o nome dele? Era Chris? — Pergunto a ela
quando a queimadura se apaga.

— Craig, — ela responde revirando os olhos. — Nós terminamos, na


verdade. Ele é um bastardo traidor, então eu estou melhor sem isso na
minha vida. Eu me formei e fui contratada recentemente pelo hospital, por
isso estou focada no meu novo emprego, permanecendo ocupada com os
amigos e fazendo o que é melhor para mim pela primeira vez.
— Enfermagem, certo? — Meus olhos encontram os dela, e ela me dá
um sorriso doce e um aceno de cabeça. Tenho certeza de que ela não achou
que eu me lembraria, mas não sou um idiota completo, independentemente
do que Lennon pense.

— Quer dançar? — Jenna pergunta quando o clima na sala muda.

— Se você quiser. — Não tenho certeza se minha bunda bêbada pode


lidar com isso agora, mas eu vou tentar como o inferno.

Pelo olhar em seu rosto, dançar não é tudo o que está em sua mente
hoje à noite.

— Eu adoraria isso. — Ela me diz, e eu a pego pela mão. Somos apenas


duas pessoas solteiras em um mar de outras pessoas tentando não se sentir
tão sozinhas enquanto nos movemos juntos. Embora eu nunca tenha
sentido nada por Jenna, ela é a distração perfeita e exatamente o que eu
preciso. Coloco minhas mãos em sua cintura pequena e a puxo para mais
perto, permitindo que o álcool me leve e assuma o controle. Minhas
inibições diminuíram, e depois de mais algumas músicas, nossos lábios se
chocam. Estamos sem fôlego e, neste momento, eu a quero tanto quanto
ela me quer.

— Onde diabos você estava? — Liam pergunta atrás de mim,


interrompendo-nos. Meus amigos estão bêbados pra porra, dançando com
duas garotas bonitas.

— Elas são gêmeas. — Mason sussurra com uma risada bêbada


enquanto aponta para Liam e, com certeza, as garotas com quem eles estão
são idênticas. Eu rio e balanço a cabeça porque ele pensa que está sendo
discreto, mas não está totalmente, porque está praticamente gritando. Eu
acho que vestir a mesma roupa realmente jogou a seu favor, afinal.
A música muda, e Jenna coloca os dedos nos laços do meu jeans e me
puxa para mais perto. Seu peito sobe e desce, e o olhar em seus olhos a
denúncia. Eu sei o que ela quer.

De pé mais alto, ela puxa minha orelha para a boca e sussurra: — Quer
sair daqui?

O álcool facilita a decisão. — Foda-se, sim.

Jenna olha para mim e puxa meu lábio inferior em sua boca, depois fala
com confiança. — Eu sou uma loucura na cama.

— Como eu poderia esquecer esse boato? — Eu provoco quando ela


pega minha mão na dela e me leva através da multidão de pessoas. O
namorado dela, Craig, costumava sentar no bar e conversar sobre o quão
Jenna era flexível, e logo os rumores se espalharam entre os
funcionários. Depois de dançar com ela, acredito em cada palavra que o
homem já disse. Ela sabe como balançar os quadris e mover a bunda.

Embora o tempo tenha passado desde que trabalhamos juntos, eu


provavelmente não deveria fazer isso. É óbvio que ela sempre foi atraída
por mim, mas não quero lhe dar uma ideia errada, porque não somos dois
estranhos que se conheceram aleatoriamente. No entanto, eu vim aqui hoje
à noite por um motivo, e agora esse motivo é Jenna.
Quando saímos do bar, ela pede um carro, porque nenhum de nós está
sóbrio o suficiente para dirigir. Momentos depois, entramos na parte de
trás do carro e, quando vamos para o apartamento dela, não dou a mínima
para minha decisão.
Capítulo Cinco
Lennon
No ano passado, Brandon fez de tudo para tornar o Dia dos Namorados
especial para mim. Ele prova o quanto me ama todos os dias, e eu sei que
hoje à noite não será diferente; se duvidar, isso será amplificado.
Depois que saio do banho, seco e enrolo o cabelo, então visto um
vestido preto justo e salto altos. Aplico meticulosamente uma sombra
esfumaçada nos olhos e contorno o rosto. Eu sorrio no espelho quando
termino de me arrumar atrevidamente e finalizo com uma camada de
batom vermelho escuro.

Antes de ir para a sala, onde Brandon espera pacientemente por mim,


entro no quarto e tiro o colar de pérolas que ele me deu durante o primeiro
ano de namoro. Pego minha bolsa e enfio meu telefone dentro.

Assim que eu entro na sua linha de visão, Brandon se vira e


imediatamente vem em minha direção.

— Baaaaaby, — diz ele, correndo o olhar pelo meu corpo com um


sorriso. Colocando as mãos firmemente nas minhas bochechas, ele me
puxa para um beijo. — Você está tão linda.

Borboletas enxameiam dentro de mim, e eu coro, e a única coisa que


interrompe nosso olhar é o meu telefone vibrando na minha bolsa.

— Merda. Espere aí, — digo a ele e vejo que é uma ligação do


FaceTime dos meus pais. — Eu tenho que aceitar isso.

— Está bem. Temos tempo de sobra. — Ele golpeia minha bunda e


rouba outro beijo antes de eu responder.
Eu aceito a ligação e vejo meus pais sentados um ao lado do outro,
sorrindo largamente. — Feliz Dia dos Namorados, querida! — Mamãe
canta. Adoro esse feriado desde que me lembro. Sempre havia algo tão
divertido em levar cartões artesanais e doces para a escola e entregá-los
aos meus colegas e professores. Era o melhor dia de todo o ano letivo,
porque sempre havia uma festa com caixas de suco e cupcakes. Agora que
estou do lado oposto disso, mantive essa tradição com meus alunos,
mimando-os ontem.

— Feliz Dia dos Namorados! — Eu sorrio, e Brandon aparece para eles


quando fica atrás de mim.

— Brandon! — Ambos gritam. É doce o quanto eles o adoram. Eles


ainda não se conheceram pessoalmente, mas conversaram bastante no
FaceTime.

— Como você está? Vocês estão bonitos. Vocês vão a um encontro


especial hoje à noite? — Papai pergunta em sua voz profunda e dominante.

Nós dois estamos sorrindo de orelha a orelha. — Sim. Ele veio me


buscar e estamos prestes a sair.

— Que cavalheiro. Precisa haver mais homens no mundo que busquem


suas damas na porta, — elogia mamãe. — Você tem um protetor aí,
Lennon. — Eu me pergunto se ela pode ver o pulso no meu pescoço
disparar, como acontece toda vez que eu minto para eles sobre nós
morando juntos.

Brandon assente, seu sorriso nunca desaparecendo. — Sempre, — ele


diz aos meus pais. — Eu nunca estou atrasada também. — Eu seguro
minha risada, sabendo que ele está apenas tentando entrar em suas boas
graças enquanto brinca com a minha história.
— Ok, vamos deixar vocês dois saírem no seu encontro. Vou ligar para
Sophie e Madelyn e desejar-lhes uma noite incrível também. Nós amamos
vocês. — Papai diz.

— Amo você também.

Brandon acena. — Eu também amo vocês!

Eu me apresso e desligo, e colocando minha mão no peito, sobre o meu


coração. Virando-me para encará-lo, ele não sorri, mas me dá um olhar
aguçado.

— Por que você continua fazendo isso consigo mesma? Você é um


desastre nervoso toda vez que fala com eles. — Brandon observa meu
rosto enquanto minha respiração se firma.

Soltei um longo suspiro. — Papai é pastor, mamãe é filha de


pastor. Toca alguma campainha? — Pergunto divertida.

— Mas você não acha que seria mais fácil contar a verdade a eles,
considerando quanto tempo faz desde que você se mudou para cá? — Ele
passa os braços em volta de mim e me puxa contra seu peito.

Olho nos olhos dele e balanço minha cabeça. — Você sabe em que tipo
de família eu cresci, baby. Às vezes, e neste caso, o que eles não sabem
não os machuca. É a minha vida e quero viver como quero, mas eles não
veem dessa maneira e nunca verão.

Ele assente, torcendo um dos meus cachos entre os dedos. — Entendo


sua decisão, querida. Um dia, quero fazer de você minha esposa e quero
que seus pais estejam lá porque sei o quanto eles significam para você. O
que você achar melhor, ok?
Envolvo meus braços em seu pescoço e beijo sua bochecha. —
Obrigada.

— Por quê? — Ele ri.

— Por me entender. Por me amar. Por ser tudo o que eu sempre quis em
um homem. — Eu admito.

Ele se inclina para a frente e me beija, depois estica a mão e agarra um


punhado da minha bunda. — Eu deveria estar agradecendo-lhe por me dar
uma chance para provar o quão perfeito somos juntos.

Eu roço meus lábios nos dele e gemo em sua boca. — Se você


continuar me beijando e me tocando assim, nunca sairemos do
apartamento. — Eu rio.

— Ah, eu quase esqueci. — Diz ele, depois vai para a cozinha. Ele
volta com um enorme buquê de rosas vermelhas. Minha boca se abre.

— Flores? — Eu pergunto, pegando-as.

— E chocolate. — Diz ele, voltando e pegando a maior caixa de doces


que eu já vi.

— Você com certeza sabe como fazer uma garota se sentir especial. —
Eu sorrio, mordendo meu lábio inferior. — Muito obrigada. — Eu enterro
meu nariz nas pétalas e suspiro. — Eu amo o cheiro de flores frescas.

— Isso significa que eu estou tendo sorte hoje à noite? — Ele provoca,
sorrindo.

— Vamos ver. — Eu canto. Pegando um vaso em um dos armários da


cozinha, coloco-os sobre a mesa. A fragrância enche a sala. Eu tiro uma
foto rápida e publico no Facebook, marcando Brandon para que nossas
famílias possam ver.
Ele dá alguns passos à frente e segura minhas bochechas. — Você é tão
especial para mim, Lennon. Você é tudo para mim. — Puxando-me para
perto, ele desliza sua língua contra a minha. Estou perdida no momento e
não quero que ele pare. Eu tenho muita sorte.

No momento em que nos afastamos, estou completamente sob seu


feitiço. Rindo, ele verifica as horas. — Nós devemos ir, porque se não o
fizermos, eu vou te foder contra todas as paredes deste apartamento.

Eu levanto uma sobrancelha para ele e mordo meu lábio inferior. —


Isso pode não ser uma coisa ruim.

Brandon se ajusta e engole em seco. — Droga. Não me tente. — Ele


pisca, agarrando minha mão, depois me leva para fora.

— Talvez devêssemos pegar a moto? — Ele olha por cima do ombro e


sorri quando passamos por sua motocicleta.

— E bagunçar esse cabelo perfeito? De jeito nenhum. Além disso, estou


usando um vestido.

— Verdade. Eu não quero nenhum cara olhando para a bunda da minha


garota. Isso é só para mim. — Brandon grunhe, abrindo a porta do carro
para mim. — Sempre um cavalheiro. — Acrescenta, repetindo as palavras
da minha mãe.

— Cale a boca! — Eu rio, balançando a cabeça enquanto afivelo o cinto


de segurança, e ele senta no outro lado. Ele ama tanto essa moto que
aproveitaria todas as chances que tivesse, se pudesse. Eu vou com ele
ocasionalmente, mas isso me deixa nervosa com a forma como os outros
carros não nos veem. Sem mencionar, minha bunda fica dolorida, meu
rosto fica com queimaduras de vento e é uma droga ficar no
engarrafamento.
Atravessamos a cidade e logo noto que estamos deixando-a para
trás. Eu me viro e olho para ele. — Onde estamos indo?

— É uma surpresa que eu não estou deixando você estragar!

Ele dirige na estrada enquanto eu tento descobrir. Eventualmente,


pegamos a saída e seguimos em direção à baía. Ele estaciona no porto e,
quando vejo um pequeno iate iluminado por luzes, suspiro.

— Não! — Viro e olho para ele, e ele confirma com um aceno de


cabeça.

— Pensei em jantar na água hoje à noite. — Brandon pega minha mão e


beija meus dedos. — Vamos querida. Vamos. A menos que você prefira
batizar o banco de trás?

Caí na gargalhada, tonta sobre onde estamos. Estou tão empolgada que
não consigo encontrar o que dizer, enquanto Brandon me leva pelo
estacionamento. Felizmente, o tempo frio que estava há algumas semanas
atrás já passou e está a dezoito graus lá fora. Até agora, tudo está perfeito,
e eu sei que a noite apenas começou. Ele me leva até a rampa do iate e
depois para o convés superior, onde uma mesa com velas e mais flores
está montada.

— Você se superou completamente, baby. — Digo a ele enquanto nos


sentamos.

Ele está sorrindo, feliz por ter sido capaz de me surpreender. Um


homem vestido de smoking sobe, enche os copos vazios de vinho e nos
entrega dois menus. Apenas seis itens estão listados sem preços, então só
posso imaginar quanto custa algo assim.
— Bonjour, ma belle11, — o garçom cumprimenta com um forte
sotaque francês, e eu quase enlouqueço. Eu sorrio de orelha a orelha e olho
para Brandon que está me observando.

— Bem-vindo ao Navire D'Amour12. Por favor, dê uma olhada no


menu e eu voltarei para pegar seus pedidos em breve. — Ele se inclina
antes de se afastar.

Eu tenho que fechar minha boca antes que meu queixo caia no chão. —
Você está falando sério?

Uma risada escapa dele. — Então você está surpresa?

Concordo, incapaz de conter minha emoção. — Você poderia dizer isso.

O iate sai do porto e navegamos sobre águas calmas. Vou até Brandon e
sento no colo dele. Ele passa os braços em volta da minha cintura e me
beija profundamente, com tanta paixão que quase esqueço que estamos do
lado de fora em um barco. Nós nos separamos, e eu olho para o céu sem
lua e posso realmente ver estrelas, o que é algo que sinto falta na
cidade. Enquanto olhamos, uma estrela cadente aparece no céu, deixando
um rastro esverdeado atrás dela. Brandon me aperta mais forte.

— Faça um pedido. — Ele diz logo acima de um sussurro.

— Eu já fiz, e estou vivendo agora com você. — Eu me perco nos


lábios dele, mas antes que as coisas possam ir longe demais, somos
interrompidos por um pigarro. Nós nos separamos, e eu timidamente me
levanto e volto para o meu lugar.

— Peço desculpas pela interrupção, mas você já decidiu o que gostaria?


— Ele pergunta.

Brandon assente. — Escolha do chef.


Eu respiro fundo e decido arriscar. — Eu vou ter o mesmo.

— Escolha perfeita. O chef Ardoin não vai decepcioná-los. — Ele sorri,


pega os deliciosos menus de seda e desaparece.

O sorriso no meu rosto pode realmente ser permanente enquanto


saboreio o doce vinho tinto. O espaço da mesa entre nós parece muito
grande. Como se ele pudesse ler minha mente, ele se aproxima e segura
minhas mãos nas dele.

— Eu te amo tanto.

— Eu também te amo. Na verdade, eu te amo mais. — Acrescento com


um sorriso.

— De jeito nenhum. Nem mesmo é possível. — Ele me dá uma


piscadela, o que sempre envia um arrepio na minha espinha. O barco para
de se mover no meio da baía e ouço um passo atrás de mim. Eu me viro
para ver dois violinistas sentados em duas cadeiras vazias que eu não notei
quando caminhei até a mesa.

Eu me viro e olho para ele com os olhos arregalados. — Tem mais?

Brandon encolhe os ombros de brincadeira, então se levanta quando


eles começam a tocar. Ele estende a mão. — Quer dançar?

Eu aceno e depois agarro sua mão. Ele me abraça enquanto dançamos


sob o céu estrelado. Não tenho certeza do que fiz para merecer um homem
tão bom. Ele é diferente de qualquer pessoa que eu já conheci, e não há
dúvida em minha mente que ele é o único.

Eu descanso minha cabeça em seu ombro enquanto balançamos na


pequena pista de dança. Eu o quero tanto, mal posso suportar. Depois de
várias músicas, o garçom chega com dois pratos de prata com
comida. Brandon me leva de volta à mesa e sentamos. Quando o garçom
tira as cobertas, nós dois rimos quando somos servidos com as maiores
lagostas que já vimos.

— Se você precisar de mais alguma coisa, não hesite em nos informar,


— diz o homem, nos dando privacidade. Os violinos continuam a tocar
suavemente ao fundo, enquanto comemos lagosta amanteigada, brócolis
cozido no vapor e um prato sofisticado de batata. Não tenho certeza se é
queijo ou molho Alfredo, ou o que está por cima, mas eu poderia comer
todos os dias pelo resto da minha vida. É incrivelmente delicioso.

Depois que terminamos de comer e os pratos são limpos, Brandon pega


minha mão e me guia para a frente do convés superior. Ele tira o paletó e o
envolve em meus ombros enquanto o barco se move sem esforço na água
semelhante a vidro.

Ficamos em silêncio, olhando para as estrelas com meu corpo


pressionado contra o dele. Tudo nesta noite foi perfeito. Quando o iate
chega ao cais, estou quase triste por ter terminado, embora esteja mais do
que pronta para voltar para casa. Antes de sairmos, ele me puxa em seus
braços e me beija uma última vez, e quando eu o respiro, sei que nunca
vou me cansar desse homem.

— Feliz dia dos namorados, meu amor.

Envolvo meus braços em torno dele e aperto. — Obrigada. Eu amei


tudo. Você me mima demais.

— E eu vou pelo resto de nossas vidas. — Ele escova os cabelos soltos


atrás da minha orelha e pressiona um leve beijo nos meus lábios.

— Isso é uma promessa? — Pergunto com um sorriso esperançoso,


amando como ele fala sobre o para sempre comigo.
— É melhor você acreditar. — Ele pega minha mão na dele. Toda a
equipe nos agradece quando saímos do barco e seguimos em direção ao
carro. Sinto como se estivesse sonhando enquanto praticamente voamos
para o apartamento, mas culpo a garrafa de vinho que bebi. Assim que
subimos as escadas, Brandon abre a porta, depois me pega nos braços e me
leva para o quarto. Ele me deita na cama e remove cuidadosamente o
vestido preto que abraçou meu corpo a noite toda, e tudo em que posso
pensar agora é o quanto eu quero e preciso dele.

***

Na manhã seguinte, acordo nua, enredada nos lençóis. Brandon dorme


profundamente ao meu lado, e eu o assisto antes de me levantar. Os
domingos são nosso dia de descanso, e depois de nossa noite de amor,
preciso descansar, muito.

— Bom dia, linda. — Diz ele em sua voz sonolenta e sexy, me puxando
para seu peito.

— Bom dia, baby. Dormiu bem?

Seus olhos vagam para o meu peito exposto, e eu rio. — Você é


insaciável. Mas tenho que fazer xixi e estou com fome. Eu volto já.

Ele me observa enquanto eu rapidamente visto algumas roupas.

— Volte para mim.

Pisco para ele, depois corro para o banheiro para um doce alívio. Após
de lavar as mãos, olho no espelho e vejo como meus lábios estão
inchados. Nossa noite de paixão deixou meu cabelo bagunçado e minha
maquiagem manchada. Lavo meu rosto, vou para a cozinha e pego uma
garrafa de água. Quando eu giro o topo e tomo um gole enorme, a porta da
frente se abre e se fecha. Saindo da cozinha, faço contato visual com
Hunter, que está com cara de arrependimento. Parece que ele teve uma
noite difícil, o que me faz rir.

— Oh, olha quem está fazendo a caminhada da vergonha. — Eu


provoco, depois tomo outro gole de água.

No começo, ele me ignora, mas depois para e se vira, dando alguns


passos em minha direção e fechando o espaço entre nós. — Não é
diferente de quando você fez a caminhada da vergonha quase dois anos
atrás. Na verdade, é, porque eu morava aqui e você não. — O
aborrecimento em seu tom é espesso e severo. Ele quebra nosso contato
visual e caminha para seu quarto, batendo a porta com força. Às vezes, as
coisas que ele diz são dolorosas, e se eu não soubesse melhor, diria que ele
pode realmente me odiar, independentemente do que Brandon fala.

Balanço a cabeça e penso naquela noite que mudou minha vida para
sempre. Claro, eu falei com Hunter primeiro e senti atração por ele, mas
isso não importava.

Em retrospecto, acho que Hunter nunca mencionou isso porque não


significava nada para ele. Eu era apenas outra garota bonita em seu bar que
se recusava a ser mais uma de suas conquistas. Eu estava em um
relacionamento tóxico antes de conhecer Brandon. Meu ex me fez sentir
inferior, como se eu nunca fosse boa o suficiente para qualquer homem, e
muitas vezes eume sentia insegura. Afasto os pensamentos e pego outra
garrafa de água para Brandon, depois entro no quarto. Roncos suaves
preenchem o espaço, e eu rastejo de volta para a cama e envolvo meu
braço em volta de sua cintura.
— Eu te amo. — Eu sussurro em seu ouvido enquanto meus olhos se
fecham, e logo estou adormecendo novamente.
Capítulo Seis
Hunter
No momento em que acordo e sinto o cheiro da doçura que paira no ar,
sorrio. Que inferno.
Lennon faz os melhores pãezinhos caseiros de canela, e se eu não
estivesse tentando mantê-la à distância, entraria na cozinha e pegaria
um. Merda, eu poderia fazer isso mesmo assim.

Ela normalmente os faz nos fins de semana, mas então eu lembro que
hoje à noite é o começo da celebração do aniversário deles. O dia dos
namorados parece que foi ontem, e agora já estamos na metade de março.

Gemendo enquanto penso no fim de semana especial, deslizo da cama e


coloco uma calça cinza qualquer para poder encarar a realidade da minha
vida infeliz.

— Mmm, querida. Estes estão deliciosos. — Eu ouço Brandon


gemendo enquanto dou a volta no corredor para a cozinha.

— Oooh, obrigada, baby. — Eu zombo do seu tom doentiamente


doce. — Eu os fiz apenas para você, garotão.

Quando os dois se viram e me encaram, Brandon ri e Lennon me lança


o olhar mortal com o qual me acostumei. Eu lambo meu dedo, depois o
circulo em volta do meu mamilo, fazendo barulhos de beijinho. — Eu
tenho um lugar onde você pode colocar esse creme espesso. — Eu pisco
para Brandon, e ele empurra meu ombro, rindo e balançando a cabeça
enquanto se dirige para a mesa.
— O quê? — Pergunto a Lennon enquanto ela continua a fazer uma
careta. — Não é uma fã do creme, hein?

Ela revira os olhos, pega sua caneca de café e se afasta. — Cresça,


Hunter.

— Você primeiro, pãezinhos. — Eu lanço um sorriso por cima do


ombro bem a tempo de ela olhar para mim.

Sem perguntar, pego um dos rolos de canela e enfio metade na


boca. Tomo um copo de leite e inspiro a outra metade.

Eu ouço Brandon dizendo a Lennon que ele vai tomar um banho e vai
trabalhar. Então ele será capaz de sair mais cedo, para que possam ir a
qualquer lugar idiota que ele a esteja levando.

Quando me inclino contra o balcão para terminar meu segundo rolo de


canela, Lennon volta para a cozinha. Ela passa por mim para lavar os
pratos e colocá-los na máquina de lavar louça sem dizer uma palavra.

— Bem, pelo menos você não se deu ao trabalho de sujar um prato,


pois claramente não sabe como limpá-lo.

Ela adora ficar debaixo da minha maldita pele. Bom, porque eu amo
retribuir o favor.

— Porra, você é um boa padeira. Não é de admirar que Brandon a


mantenha por perto. Todo esse tempo eu pensei que era por causa de sua
doce boceta. Acho que estava errado. — Empurro o balcão para me afastar.

— O que você acabou de dizer? — A voz dela é venenosa, e eu estou


implorando por mais.

— Você me ouviu alto e claro.


— Não me faça dar um soco em você. Eu farei isso sem pensar duas
vezes, assim como fiz naquela primeira noite. — Ela ameaça, o que é
adorável, considerando que eu tenho o dobro do tamanho dela, mas aí ela
teve que mencionar a noite em que a encontrei nesta mesma cozinha
depois de foder meu melhor amigo.

Minha carranca se aprofunda. — Oh, não me ameace com diversão,


pãezinhos. — Atiro uma piscadela por cima do ombro e continuo andando.

Ela bate em alguns pratos e geme alto, me fazendo sorrir todo o


caminho de volta para o meu quarto.

Depois de me arrumar para o trabalho, ando pelo corredor para pegar


minhas chaves e imediatamente me arrependo de olhar para a sala de estar.

Que porra é essa?

Lennon está em suas roupas de yoga ou, melhor dizendo, em pedaços


de yoga, já que o que ela está vestindo não é considerado roupas. Um sutiã
esportivo e shorts elásticos apertados abraçam seu pequeno corpo. Ela está
no tapete estúpido em frente à janela e seus braços estão abertos como se
estivesse subindo ao vento.

Eu juro que ela faz isso apenas para enfiar na minha cara que ela não é
minha e nunca será.

— Que diabos você está fazendo? — Eu disparo, e ela quase pula.

— Você se importa? Eu estava na zona! — Ela retruca antes de mudar


de posição para uma onde sua bunda está ereta no ar. Apenas me mate já.

— Você não vai se atrasar para o trabalho? — Eu olho meu relógio, e


ela definitivamente não deveria estar aqui.
— Não que isso seja da sua conta, — ela diz num tom amargo, — mas
não há aula hoje. Não estrague meu ‘cachorro olhando para baixo’13.

Eu reviro meus olhos. Claro que não tem aula hoje.

Pelo menos os dois não estarão aqui quando chegar do trabalho hoje à
noite, eu me lembro.

Saio sem outra palavra e inspiro profundamente. Assim que estou no


meu caminhonete, já estou pensando em ter o apartamento só para mim
neste fim de semana. Faz um mês desde que eu e Jenna ficamos pela
primeira vez e, embora essas poucas vezes tenham sido divertidas, está
longe de ser algo sério. Considerando que ela estava em um
relacionamento de longo prazo não muito tempo atrás, espero que isso
signifique que ela não se importe em manter as coisas casuais.

Antes de dar ré no carro, decido mandar uma mensagem para Jenna e


mudar isso.

Hunter: Eu tenho o apartamento para mim esta noite. Quer vir


passar um tempo?

Os pontos, indicando que ela está escrevendo, aparecem imediatamente


e espero sua resposta antes de sair do estacionamento.

Jenna: Acontece que estou livre. Conte comigo.

***
— Oh meu Deus, — Jenna grita no momento em que entra. — Seu
lugar é tão bom.

Percebo que ela está carregando sacolas. Que diabos? Não pedi para ela
vir para um maldito jantar.
— Obrigado, — eu digo, fechando a porta atrás dela. — Não é
realmente por minha causa. — Dou de ombros. Era bem simples e sem
graça antes que Lennon se mudasse e espalhasse sua porcaria feminina
como pó de fada.

— Então, — diz Jenna, caminhando em direção à cozinha e


encontrando o caminho com facilidade. Ela deixa cair duas malas na mesa
e sorri para mim. — Eu trouxe chinês, o que espero que você goste, porque
se não, isso poderia realmente ser o fim de um de relacionamento para
mim.

Eu levanto minhas sobrancelhas, me perguntando exatamente o que ela


quer dizer com isso, mas tento ignorar.

— E, claro, cerveja, — ela continua, segurando um pacote de seis. —


Vou pegar alguns pratos e garfos. — Ela entra na cozinha como se fosse
dona do lugar, e eu observo enquanto ela abre alguns armários antes de
encontrar o que está procurando.

Quando diabos eu disse para trazer jantar e cerveja? Certo, eu não fiz.

No entanto, eu não quero ser um idiota com ela, considerando que é um


gesto legal, e estou morrendo de fome. Só estou preocupado que ela tenha
uma ideia errada sobre nós. Convidei-a para passar o tempo, não para
brincar de casinha.

— Então, como foi o seu dia? — Ela pergunta, colocando o prato na


minha frente e desembalando os recipientes de comida e os
pauzinhos. Antes que eu possa responder, ela continua. — O meu foi
doido. A única coisa que me fez suportar isso foi saber que iríamos sair
hoje à noite. — Jenna olha para mim e sorri genuinamente.
— O meu estava bem. Ocupado como sempre. — Dou de ombros,
dando-lhe o mínimo necessário. Normalmente, não compartilho meu dia
de trabalho com ninguém, exceto Brandon, e somente se ele pedir. Às
vezes digo a Mason e Liam se sairmos depois, mas trabalho é
trabalho. Adoro o meu trabalho, mas também adoro deixá-lo para trás
quando termino o dia.

Uma vez que nossos pratos são feitos, Jenna sugere que comamos no
sofá enquanto assistimos a um filme. Não discuto e deixo que ela escolha
algo no Netflix.

— Quem é Lennon? — Ela pergunta antes de clicar no meu nome.

— A namorada do meu colega de quarto. — respondo secamente antes


de tomar um gole da minha cerveja.

— Ela tem seu próprio perfil? — Ela pergunta, zombando como se


estivesse com ciúmes.

— Sim, ela mora aqui também.

— Oh. — Sua voz sobe uma oitava. — Isso faz mais sentido. Eu me
perguntei quem era o mestre da yoga. — Ela ri, acenando para o tapete que
Lennon deixou de fora esta manhã.

E foda-se, agora as imagens da bunda de Lennon enquanto ela praticava


a pose do cachorro olhando para baixo estão de volta na minha cabeça.

— Sim, irônico que ela deixou isso fora do lugar. — Murmuro para
mim mesmo. — Ela me enche por deixar algo fora do lugar, mas de
alguma forma — esquece— de deixar a merda dela de lado. Ela
provavelmente fez isso de propósito.
Mas você sentirá falta quando ela se for, uma voz na minha cabeça diz,
mas eu a sacudo.

— Então você disse que ela é a namorada do seu colega de quarto. Você
não a considera sua colega de quarto também? — Jenna pergunta,
felizmente me tirando dos meus pensamentos. Ela finalmente clica em um
show e coloca os pés debaixo da bunda, ficando mais confortável.

— Não. Ela se mudou para o quarto dele no verão passado. O nome


dela não está no contrato; no entanto, eu realmente não tinha muita opção
se não quisesse perder Brandon como meu colega de quarto, — digo
honestamente e dou de ombros. — É, tanto faz. Eu a ignoro a maior parte
do tempo de qualquer maneira.

— Você não gosta dela? Isso é uma vergonha. Ela fez o seu lugar
parecer tão fofo. — Ela diz com uma voz irritante de bebê enquanto
vasculha sua comida.

Eu gosto dela.

Esse é o maldito problema.

Eu gosto muito dela.

Me levantando, pego o tapete estúpido de Lennon e ando pelo corredor


até o quarto deles. Piscando a luz, olho em volta e vejo como parece
diferente. Eu realmente não estou aqui desde que ela se mudou, nem tinha
um motivo para estar, mas sei que Brandon não tinha uma planta de casa
no canto, velas em sua cômoda e toda essa merda de babados rosa em
todos os lugares.

Eu zombo com uma risada e coloco o tapete nas costas da cadeira da


mesa. Há uma colagem na parede de fotografias que eu nunca vi
antes. Todas as fotos de Lennon e Brandon saindo,
abraçando, beijando. Eles parecem muito felizes juntos.

Apagando a luz, volto para a sala e mergulho no prato de comida


chinesa, da qual não tenho mais apetite. Não sei por que ver essas fotos me
afetam tanto, considerando que vejo suas demonstrações de afeto sem
restrições, todos os dias. Brandon é como um irmão, e sua felicidade é
importante para mim, então talvez eu precise me esforçar mais para
superar meus sentimentos por sua namorada. Não posso me ressentir dele
só porque ele pegou a garota, independentemente de quanto isso me come
por dentro toda vez que os vejo juntos.

— Outra cerveja?

— Huh? — Olho para Jenna, percebendo que a ignorei o tempo todo


que ela esteve falando sobre esse filme.

— Você gostaria de outra cerveja? Eu estava prestes a pegar um refil.


— Ela sorri como se estivesse ansiosa para me servir.

Pego minha garrafa, tomo o resto e a entrego a ela. — Claro, isso seria
ótimo. Obrigado. — Eu sorrio para ela, mostrando meu apreço, mesmo
que convidá-la para hoje à noite fosse um movimento idiota. Claramente,
eu não estou com a cabeça no lugar certo, mas ela está pronta demais para
me dar o que eu quiser.

Porra, eu sou um idiota.

Jenna é uma garota decente. Não posso dizer que realmente sei muito
sobre ela, além do antigo boato do bar sobre ela e das poucas noites que
passamos juntos. Também não conversamos muito.
— Aqui está, baby, — Jenna me entrega a garrafa e contorna a mesa de
café, depois se aconchega ao meu lado. — Seus braços são enormes,
Hunter. Eles parecem tijolos quando eu deito em você. — Ela ri, e não
tenho certeza de que tipo de comentário seja esse, mas ignoro. Ela está
tentando, e eu deveria apreciar seus elogios, mas meu coração não está
aqui.

Depois de vinte minutos, ainda não sei do que se trata esse filme
estúpido. Não consigo me concentrar de jeito nenhum e sinto todo tipo de
merda por deixar Jenna na liderança. Enquanto parte de mim quer foder
meus sentimentos por Lennon, a outra parte sabe que isso não vai resolver
nada. Eu tenho tentado esquecê-la nos últimos dois anos e, se é possível,
ela está mais na minha cabeça do que antes. Ela está sob a minha pele, e
todos os dias que eu tenho que estar perto deles deixa-me mais perto de
encontrar meu próprio lugar e me mudar.

No entanto, a parte egoísta de mim não quer ir.

Este é o meu apartamento. Brandon e eu éramos amigos muito antes de


eles se conhecerem, e não há como deixar alguém ficar entre nós. Vou
continuar - ou melhor, tentar - afastar meus sentimentos. Eventualmente,
eles vão embora.

Eles precisam ir, certo?

— Se você não tem planos para amanhã, há uma grande feira de


agricultores no centro da cidade. Eu tento ir algumas vezes por mês. —
Jenna olha para mim quando eu não respondo, um vinco se formando entre
as sobrancelhas enquanto ela me estuda. — Você quer ir comigo?

Incapaz de reunir meus pensamentos, esfrego a mão no rosto e pisco


algumas vezes.
— Normalmente eu só pego um buquê fresco e alguns vegetais. — Ela
continua como se pensasse que isso vai me convencer.

— Uh, a que horas você está pensando? — Eu finalmente respondo.

— Começa as seis e termina às dez horas, mas podemos ir por volta das
nove? — Ela responde e toma um gole de cerveja. — Nós poderíamos
andar pelo centro depois. Há um ótimo café que serve os melhores donuts
caseiros e pãezinhos de canela.

Meus olhos se arregalam com a menção de rolos de canela. Foda-se.

— Vai ser um pouco frio, mas podemos usar nossos moletons e nos
aconchegar um ao outro. Aposto que você é como um forno com todo esse
músculo. — Jenna me olha daquele seu jeito e sei exatamente aonde ela
está indo com isso.

— Outra cerveja? — Ela se levanta, estendendo a mão para a minha


quase vazia antes que eu possa responder à sua pergunta anterior. Ela está
tão ansiosa para me agradar e passar um tempo comigo que é difícil ficar
irritado com isso.

— Sim, obrigado. — Eu dou a ela um meio sorriso, e ela empurra sua


bunda para a cozinha.

Uma hora depois, estamos sem cerveja, e ela está montada no meu
colo, sua boca fundida à minha. Jenna geme meu nome e, por um tempo,
estou perdido.

Perdido nos movimentos.

Perdido em nossos corpos.


Perdido em um mundo que faz sentido quando não estou
pensando nela.
Capítulo Sete
Lennon
A única palavra para descrever este fim de semana perfeito
é felicidade. Ter um tempo ininterrupto a sós com Brandon é exatamente o
que eu queria, o que nós dois precisávamos. Ficamos um no outro em um
nível diferente do que a maioria, e poder ter alguns dias sozinhos cimentou
isso.
— Este fim de semana foi um sonho, — digo a ele quando ele me
enjaula contra a porta do carro depois que eu saio. Envolvendo meus
braços em torno de seu pescoço, eu o puxo para um beijo sensual. — Eu
gostaria que não tivesse que acabar. — Eu faço beicinho, esticando meu
lábio inferior quando ele se inclina para trás para me estudar.

Brandon ri e mergulha para um rápido beijo. — Não se preocupe,


querida. Temos tempo de sobra para mais escapadas de aniversário.

Eu sorrio para ele. — Promete?

— Sim. — Ele pisca. — Agora vamos garantir que Hunter não queime
o lugar. — Ele estica a mão e aperta minha bunda, fazendo-me gritar.

À menção de seu nome, eu imediatamente franzo a testa. Com nossa


fuga oficialmente terminada, é hora de voltar ao mundo real.

No momento em que entramos no apartamento e sinto cheiro de bacon,


sei que Hunter não está sozinho. Ele é muito preguiçoso para cozinhar para
si mesmo.

— Cara, isso cheira bem. — Diz Brandon imediatamente.

— Nós apenas comemos. — Eu o lembro, rindo.


Ele gira, passando os braços em volta da minha cintura e me puxa para
seu peito. — Sim, e você estava deliciosa pra caralho.

O rosnado de Brandon me fez rir, e então ele faz cócegas no meu


pescoço com os lábios.

— Vocês devem ser os colegas de quarto! — Diz a voz de uma mulher,


e eu quero arranhar sua garganta por interromper nosso
momento. Grosseira.

Nós a encaramos, e Brandon engasga em um sorriso largo quando ele


vê a morena meio vestida. Eu sei que ele está acostumado com as ficantes
de fim de semana de Hunter, mas acho que é de mau gosto, considerando
que ele as ilude.

Duvido que ele realmente encontre a escolhida e se sossegue. Não


quando o desfile de mulheres que ele traz nunca é nada além de uma
aventura.

— Sim, na verdade somos. — Responde Brandon.

— Eu sou Jenna. — Ela passeia vestindo nada mais do que uma


camiseta e calcinha.

Espera.

— Essa é a minha camisa? — Eu deixo escapar sem pensar. Eu estreito


meus olhos enquanto ela levanta a bainha e a estica.

— Ai sim. Espero que você não se importe? — Ela traz seus olhos para
os meus. — As Camisas do Hunter são muito grandes para mim. As
mangas passaram pelas minhas mãos. — Ela ri como se fosse engraçado,
mas eu não estou rindo. Inferno, eu nem sequer sorrio. — Prometo lavar e
devolvê-la o mais rápido possível.
Reviro os olhos e ando em volta dela. — Não se preocupe com
isso. Fique com ela.

Ou queime.

Eu ando pelo corredor e entro no nosso quarto, largando minha bolsa no


chão. Aquele idiota. Suas convidadas andando em roupas íntimas é uma
coisa, mas permitir que ela vista minhas roupas é demais.

— Baby, — Brandon diz no momento em que entra no nosso quarto e


fecha a porta. — Por que você foi tão rude?

— Você está brincando comigo? — Eu estreito meus olhos para ele, me


perguntando se ele está falando sério. — Ela está vestindo minhas
roupas! Isso não é legal!

— Você está brava por uma camisa? Você nem usa mais
essa. Provavelmente por que Hunter a pegou. — Estou chocada que ele
seja tão casual sobre isso.

— Então isso é algo que vocês fizeram antes de eu aparecer? Suas


ficantes deixam as roupas por aí, e vocês as entregam para o próximo
sabor da semana? — Cruzo os braços sobre o peito.

Brandon se aproxima de mim com a mão estendida. Eu dou um passo


para trás, mantendo minha postura.

— Lennon, você não pode ficar chateada com isso. Ela provavelmente
não tinha mais nada para vestir. — Ele continua a avançar até que as costas
dos meus joelhos atingem a beira da cama e me puxa para o peito. — Você
está com ciúmes? — Ele pergunta com uma pitada de diversão.

— Ciúmes? — Minhas sobrancelhas se erguem e eu me afasto para


olhar para ele. Meu coração dispara de raiva. Claro que não tenho
ciúmes. — De quê? — Eu zombo.

— Ciúmes de Jenna... a vida de solteiro... conexões aleatórias. Você


quer ser o meu fim de semana? — Ele provoca, lambendo os lábios.

— Você é louco, — eu digo, rindo hesitante. — Eu não sou


ciumenta. Especialmente não dela. Ou da vida de solteira.

— Você tem certeza? — Ele aperta as minhas bochechas, moendo


nossos corpos juntos. — Você quer encenar, querida? Seja a garota
aleatória no bar onde eu vou buscá-la, levá-la para casa e ter meu caminho
com você? — Brandon se inclina para frente, levando meu lábio inferior
entre os dentes, e eu gemo pela maneira agressiva como ele lida com meu
corpo. Da mesma forma que ele lidou com isso durante todo o fim de
semana.

Eu rio de sua tentativa de me acalmar com sexo. — Tenho certeza que


isso já aconteceu. Dois anos atrás, para ser exata. — Sorrio com a
lembrança.

Merda.

Eu era Jenna há dois anos. Acordei nos braços de Brandon, de bom


grado vesti sua camiseta folgada durante o café da manhã e depois não
precisei dela durante a maior parte do dia enquanto estávamos em sua
cama.

— Sim, exceto que eu decidi que você era uma que eu deveria manter.
— Ele pisca, me fazendo bufar. Percebo como estou sendo injusta com
Jenna porque temos mais em comum do que quero admitir. Talvez Hunter
se apaixone loucamente e eles se mudem juntos.

Pensamento positivo.
Isso significava que Hunter teria que parar de passar por mulheres
como meias rasgadas e formar sentimentos por uma delas. Embora ela seja
o tipo dele - morena, magra e bonita - assim como todas as outras garotas
que ele trouxe para casa.

O plano de Brandon para me acalmar funcionou, como sempre. Não há


muitos casos em que eu me irrito, mas geralmente quando acontece é por
causa de Hunter e suas travessuras.

— Eu estava pensando em ligar para minhas irmãs para nos vermos


mais tarde. — Digo a ele quando começo a desfazer a mala.

— OK, querida. Vou verificar alguns e-mails de trabalho. Então talvez


possamos almoçar em um minuto?

— Parece bom. — Eu sorrio para ele enquanto empilho minha roupa


suja na cesta no armário. — Eu provavelmente deveria lavar muitas roupas
também durante a semana.

Entrando no corredor, ouço Jenna rindo na cozinha e, ao virar a


esquina, estou quase cega pelo torso nu de Hunter e pelos cabelos
bagunçados. Ele passa os dedos por ele e sorri para Jenna. É a primeira vez
que o vejo mostrar tanto interesse por uma garota, e isso me dá um nó no
estômago. Geralmente, ele as expulsa antes que o sol nasça.

— Oh, oi. — Jenna se vira e me encara, estalando o quadril. — Mais


uma vez, sinto muito por ter roubado sua camisa. Prometo lavá-la e nunca
mais acontecerá. Da próxima vez, vou guardar uma roupa extra na minha
bolsa. — Ela olha para Hunter e morde o lábio enquanto espera por uma
resposta dele. Ele dá uma piscadela brincalhona e aperta o quadril, o que a
faz sorrir mais. — De qualquer forma, temos muita comida se você estiver
com fome.
Eu pisco, sem graça pelo quão confortável ela está se sentindo em
minha casa. Na última vez que verifiquei, nem tínhamos bacon, o que
significa que ela o trouxe ou eles saíram para fazer compras juntos. Não
sei por que esse pensamento me incomoda tanto. Talvez seja porque
Hunter fez da minha vida um inferno nos últimos nove meses e agora ele
está deixando essa garota entrar como se fosse a dona do lugar. Hunter a
abraça e a puxa para perto. Percebo como as pontas dos dedos roçam
suavemente o braço dela e vejo como ela reage a ele.

— Oh, não, obrigada. Vamos sair para almoçar daqui a pouco, mas na
verdade Hunter... — Viro o olhar para ele com os lábios em uma linha
firme enquanto ele aperta sua bunda. Jenna grita e ri junto com ele, e eu
seguro um gemido irritado. — Vou lavar a roupa e me pergunto se você
tem toalhas no seu quarto? Provavelmente vou lavar um monte dessas
depois das minhas roupas.

— Oh, eu posso fazer isso. Há algumas no quarto dele deste fim de


semana— Jenna interrompe nosso olhar, rindo enquanto passa por mim até
o corredor. Por sua expressão diabólica, eles provavelmente também estão
rígidos como pranchas de todo o sexo selvagem. Ai, credo.

— Deixa pra lá. Você pode lavar sua própria roupa suja então. — Eu
gemo, revirando os olhos. No momento em que estou prestes a girar e me
afastar, Hunter agarra meu cotovelo e me puxa para trás.

— Pena que você não esteve aqui neste fim de semana para ouvir
minha cabeceira batendo contra a parede todas as noites. Nós poderíamos
ter tido uma competição. — Ele desenha suas palavras preguiçosamente e
termina com um sorriso lento de quem come merda.

— Você é nojento. — Eu assobio.


— Oh, nem finja ser uma puritana. — Hunter ri. — Nós
compartilhamos uma parede, lembra? Conheço todos os seus gemidos de
cor, pãezinhos.

Inspiro bruscamente, lembrando a mim mesma que ele só faz isso para
me irritar e depois me forço a sair da cozinha e voltar para o meu quarto
sem dar a ele a satisfação de uma resposta.

Depois de confirmar os planos de jantar com minhas irmãs, nos


encontramos no Bar Coliseu, que também serve de restaurante. É um lugar
divertido para sair, porque podemos sentar, comer e conversar na sala
principal e depois jogar dardos ou bilhar na sala lateral, onde normalmente
fica mais barulhento.

— Oh meu Deus, — Maddie grita no segundo em que ela nos vê e se


senta ao lado de Sophie no estande. — O motorista do Uber enlouqueceu e
eu pensei que ia morrer! — Ela solta um suspiro e depois ergue a bolsa. Eu
a pego, já que tenho espaço do meu lado.

— Por que você não me disse que precisava de uma carona? Pensei que
você tivesse dito que pegaria uma carona com seu colega de quarto. —
Pergunto, pegando um chip e mergulhando-o na salsa no meio da mesa.

— Porque ela me deixou na mão no último minuto, e eu não queria


incomodá-la em tão pouco tempo. — Diz ela, pegando o menu. Maddie
mora no campus, que é a única maneira de ela se dar ao luxo de se mudar
para cá depois que se formou no colegial.

Olho de um lado para o outro entre minhas irmãs - Sophie, a mais


velha, e Maddie, a mais nova - e vejo como seus traços são
semelhantes. Ambas têm cabelos escuros e uma estrutura esbelta. Eu sou a
única com cabelos loiros e, quando crianças, elas costumavam me
provocar e dizer que eu era adotada. Isso me faz rir agora, é claro, mas
quando criança, me irritava e machucava meus sentimentos. Se eu não
parecesse exatamente uma versão mais jovem da minha avó, eu poderia ter
acreditado nelas.

— Que diabos é isso? — Meus olhos se voltam para Sophie agarrando


o pulso de Maddie. — Você fez outra tatuagem?

Eu seguro uma risada porque Maddie já me enviou uma foto. Sou a


irmã que menos julga e não ajo como uma mãe, como Sophie. Nossos pais
nunca aprovariam, e tenho certeza que é por isso que ela faz coisas
rebeldes em primeiro lugar. Eu fiz tudo durante meus anos de faculdade -
festejei, bebi e me diverti antes de conhecer Brandon - mas Maddie é
super focada na dança, então ela atua em fases.

Como tatuagens, sabendo que nossos pais desaprovariam duzentos por


cento.

— É uma borboleta! — Maddie puxa o pulso para trás e sorri para


ela. — Não é fofa?

Sophie contrai os lábios, claramente não concordando. — Mamãe e


papai vão te matar.

Maddie zomba, depois ri. — Mamãe e papai não estão aqui, e a última
vez que verifiquei, é o meu corpo.

— Você vê isso? — Sophie me pergunta.

Eu dou de ombros, querendo ficar de fora. — É fofa.

— Você sabia. — Sophie acusa, pegando sua água com limão.

— Só depois do fato! — Eu confirmo. — Você e eu sabemos que


Maddie vai fazer o que diabos ela quiser, para que possamos apoiar suas
decisões.

— Espero que você tenha tétano. — Sophie geme, e felizmente para


Maddie, a garçonete aparece.

Todas fazemos nossos pedidos e continuo comendo salgadinhos e salsa.

— Alguém está com fome, — diz Sophie com uma risada. — Brandon
esqueceu de te alimentar neste fim de semana, ou vocês dois
estavam ocupados demais?

Os olhos de Maddie brilham com realização. — Ai sim! Conte-nos


tudo sobre o seu aniversário! Houve muito sexo?

— Maddie! — Sophie e eu simultaneamente a repreendemos, exceto


que eu estou rindo e Sophie se encolhendo.

— O quê? — O canto do lábio de Maddie se levanta. — Eu preciso


viver indiretamente através de você nesse departamento, para não poupar
nos detalhes.

Dou a elas a versão leve do nosso tempo juntos e como foi


perfeito. Elas desmaiam e me dizem como estão com ciúmes. Eu sorrio
orgulhosa, feliz por ser tão malditamente feliz. Logo estamos comendo e
rindo de outras coisas aleatórias. — Brandon vai nos encontrar daqui a
pouco. Quer pegar uma bebida e ir para a sala ao lado? Talvez me deixe
chutar suas bundas nos dardos? — Pergunto depois de pagarmos o cheque.

— Bem, vou tomar uma bebida, — Sophie começa. — Maddie pode ter
algo virgem. — Sophie vira a cabeça para não ser pega rindo.

— Realmente? Piadas sobre virgens? — Maddie ri, nem mesmo mais


incomodada com isso.
— Só estou dizendo! — Sophie encolhe os ombros. — Você não pode
beber álcool. Legalmente.

— A menos que minhas irmãs mais velhas me comprem uma bebida?


— Ela pergunta enquanto pegamos nossas coisas da mesa.

— Boa tentativa, Mads. — Sophie envolve um braço em volta do


ombro dela enquanto caminhamos para o lado do bar. — Você terá tempo
de sobra para experimentar vomitar a noite toda e acordar com ressacas
horríveis.

Eu bufo, e as duas se viram para mim. — Oh vamos lá. Como Soph já


fez essas coisas. Ela é boa e modesta. — Estendo meu braço e aceno a mão
em sua blusa. — Quero dizer... — Aponto para o suéter dela, a uma
polegada de distância de ser uma gola alta.

— Ei! Está frio, muito obrigada. — Sophie puxa o suéter contra seu
peito, e Maddie e eu rimos.

— Ponto feito. — Eu provoco.

— Eu estava muito ocupada praticando e ensinando para andar pela


cidade, ok? — Ela tenta se defender, mas eu amo que Sophie é assim. Ela
é a primogênita e sempre quis agradar nossos pais. Mesmo depois que ela
se afastou, ela precisava da aprovação deles. Não posso dizer que a culpo
realmente; uma parte de mim também quer isso, e é por isso que não digo
a verdade aos meus pais quando se trata de Brandon. O que eles não sabem
não os machucará, então eu só compartilho as coisas necessárias.

— Lennon foi para a faculdade e ensina, e eu estou constantemente


trabalhando e praticando minhas rotinas, então sua desculpa é inválida. —
Zomba Maddie, caminhando até o bar como se ela pudesse pedir.
— O que eu posso conseguir para vocês, senhoras? — Pergunta o
barman, colocando três guardanapos na nossa frente.

— Vou tomar uma dose de Jack and Coke14, ela vai tomar um tipo de
cerveja light. — Eu rio, apontando para Sophie, que me dá um olhar de
merda. — E ela vai tomar uma ginger ale. — Eu esbarro em Maddie que
faz uma careta.

— Caramba, mãe. — Maddie geme.

— Conheço suas restrições alimentares e tenho certeza de que não


inclui álcool, então pare de se queixar. Estou totalmente fazendo um favor
a você. — Torço o nariz e a provoco. Eu sei que Maddie tem um programa
para se preparar, e eu prefiro que ela coma suas calorias do que gaste-as
em bebidas.

— Eu pensei que me mudei para cá para fugir das regras. — Provoca


Maddie.

— Nós somos suas irmãs mais velhas, — Sophie interrompe. — Nós


sempre cuidaremos de você, mesmo quando você achar que não precisa.

Maddie sorri e finge estar irritada com um revirar os olhos. — Tudo


bem. — Ela pega sua bebida e empurra para fora do bar. — Prepare-se
para eu chicotear suas bundas nos dardos, já que eu serei a única sóbria.

Meia hora passa antes que Brandon finalmente chegue. Ele me pega
desprevenida e passa os braços em volta da minha cintura no momento em
que estou prestes a jogar um dardo, fazendo-me perder o alvo.

— Maldito seja, — eu digo, rindo contra seus lábios depois que ele me
gira e me puxa para perto. — Você deveria querer que eu ganhe!
— Baby, você já me tem. Você já ganhou. — Ele pisca, o que me faz rir
e gemer de brincadeira ao mesmo tempo.

— Isso foi tão brega, quase no limite do fofo. — Maddie interrompe


nosso momento com um “aww” exagerado.

— Deveria ouvir o que eu disse na primeira noite em que nos


conhecemos. — Brandon sorri, apertando seu abraço em mim. — Ela ama
todas as minhas cantadas bregas. Especialmente aquelas sobre ela caindo
direto do céu.

Maddie finge vomitar, mas ela está sorrindo. Ela só está lhe dando
merda, mas acho que ele gosta.

— Você está sozinho esta noite? — Sophie pergunta uma vez que ela
lança seu dardo e erra completamente o alvo. Ela é tão ruim nisso,
especialmente quando está distraída.

Eu me viro para encarar Maddie com um sorriso conhecedor e a


encontro sorrindo também. Sophie nunca admitiria, mas ela tem uma
queda por Mason. Desde que Brandon e eu começamos a namorar, Mason
e os caras saem várias vezes com minhas irmãs. Desde que me mudei com
Brandon, nosso grupo saiu mais, mas Sophie é muito tímida para
realmente dar em cima de Mason. Ela é amigável e extrovertida quando
precisa, mas quando se trata de relacionamentos, ela é tímida.

Outro efeito colateral de ter pais que não nos deixaram namorar.

— Na verdade, o resto dos caras está a caminho. Eu disse para eles


pararem de enrolação e arrastarem suas bundas idiotas até aqui. Talvez a
gente se divida em times para jogar sinuca. Vamos chutar seus traseiros.
— Brandon sorri, batendo na minha bunda. — Eu vou pegar uma cerveja.
Precisa de um refil, baby?
— Na verdade sim! — Maddie desliza com um olhar doce e inocente.

— Boa tentativa, Thinker Bell. — Ele a encara com um sorriso. —


Ficarei feliz em conseguir um Shirley Temple15 para você.

Os ombros dela caem. — Hilário. Mas, na verdade, sim, isso parece


bom. — Ela gira e eu estou morrendo de rir.

Momentos depois, Mason e Liam entram valsando como se


pertencessem à realeza. Você quase pode ouvi-los a uma milha de
distância com o quão alto e barulhento eles sempre são. O fato de eles
morarem juntos me diverte, porque eu só posso imaginar como é o lugar
deles, especialmente depois de um fim de semana de festa.

Sophie imediatamente se ilumina e fica amigável, o que me faz rir


internamente. Maddie está pronta para agradar qualquer um que lhe
compre uma bebida.

Olhando em volta, não posso deixar de sorrir como uma tola para as
pessoas ao meu redor. Minhas irmãs, namorado e dois de seus amigos, que
na verdade não me irritam em todas as chances que têm.

— Xeque-mate, idiotas. — Maddie grita vinte minutos depois na mesa


de sinuca enquanto jogamos caras contra garotas.

— Uh, jogo errado, Mads. — Diz Sophie, e eu bufo.

— Tanto faz. Ainda estamos chutando a bunda deles. — Ela diz,


ignorando. As mandíbulas de Mason e Liam caíram no chão com a
experiência de Maddie jogando. Dançar não é a única coisa em que ela é
talentosa.

— Tudo bem, Tinker Bell. Mostre-me o que você tem. — Brandon a


provoca, mas eu já sei que não adianta. Maddie vive para a competição.
— Só lamento não termos feito apostas. — Maddie esvazia o bolso da
mesa e olha para os caras com um sorriso diabólico. Ela angula o taco,
depois atira a bola sólida, e ela bate a bola oito no canto.

— Sim! — Sophie e eu imediatamente gritamos quando cai. Nós


jogamos nossos braços e bombardeamos Maddie com abraços. Ela é uma
profissional, porra.

— Agora quem está comprando bebidas? — Ela arqueia uma


sobrancelha para Liam e vive para torturá-lo com seu apelo sexual. Ele
finge estar irritado com as palhaçadas dela - já mencionou isso a Brandon
algumas vezes -, mas acho que ele secretamente gosta disso. Como a mais
nova, Maddie às vezes pode ser um pouco demais, mas ele gosta de agir
como se ela fosse desagradável demais para ele lidar. Eu acho que é a
maneira dele de afastá-la, mas se ele conhecesse Maddie, ele saberia que
isso apenas a encoraja.

— Vamos lá, Hulk? — Ela mostra uma sobrancelha para Liam, que ela
chama de Hulk porque ele é enorme e musculoso, semelhante a Hunter, na
verdade. Ele era um segurança no bar onde eu conheci Brandon, e eu soube
imediatamente por que ele teria um emprego assim. Ele é todo musculoso.

Liam grunhe, odiando o nome.

— Você ganhou de forma justa e honesta, então acho que ganhou. —


Mason intervém, desencostando da parede. Ele não parece se importar
com Maddie, ou apenas se sente mal por Liam a dispensar. De qualquer
maneira, acho que é bom ele agir como um irmão mais velho para ela.

— Sem álcool! — Eu grito, apontando meu dedo para ele enquanto ele
segue Maddie até o bar.
Ele assente e me acena. Olhando para Liam, vejo como seus olhos se
concentram em Mason envolvendo o braço em volta da cintura de Maddie
enquanto eles se afastam. Mason é fácil de fazer amizade e Maddie flerta
naturalmente; portanto, se o objetivo dela é deixar Liam com ciúmes ou
chamar sua atenção de alguma forma, está funcionando.

— Olhe para esses filhos da puta! — Meu corpo endurece no momento


em que ouço a voz de Hunter quando ele vira a esquina e passa por nós.

Ele caminha até Brandon e Liam, batendo nas costas dos dois enquanto
eles se abraçam. Então ele vai até Sophie, abraçando-a e dizendo como é
bom vê-la novamente. Que merda? Mason e Maddie voltam então, e é
claro que minha irmãzinha, que está desesperadamente tentando convencer
alguém a comprar uma bebida, nota a presença de Hunter.

Momentos depois, ele sai para o bar e eu agarro o braço de Maddie e a


puxo para o outro lado.

— Ow, que diabos? — Maddie esfrega o bíceps como se eu realmente a


machucasse, mas ela é praticamente feita de aço por dançar tanto.

— O que você está fazendo? — Eu pergunto, estreitando os olhos para


ela.

— Hum, sendo amigável. Qual é o seu problema? — Ela cruza os


braços sobre o peito, franzindo a testa.

— Hunter é um idiota que só está atrás de uma coisa, e como essa sua
coisa não está em jogo - especialmente para ele – você precisa ficar longe.
— Digo friamente. Hunter pode foder comigo tanto quanto quiser -
arruinar o meu dia e desfilar seus encontros de uma noite pelo
apartamento - mas não vou deixar que ele espalhe sua toxicidade para
minha irmã.
— Por que você acha que eu desistiria dele mesmo assim? — Ela espia
por cima do meu ombro e sorri. — Quero dizer, eu não seria contra...

Eu bato no ombro dela, trazendo sua atenção de volta para mim. —


Mads, não é engraçado. Ele não namora ou tem relacionamentos sérios. Eu
só o vi ter aventuras. De fato, a garota que ele teve neste fim de semana
enquanto estávamos fora estava andando de camisa e calcinha pelo
apartamento quando voltamos.

— Então? O apartamento também é dele. — Ela encolhe os


ombros, obviamente não entendendo a quantidade de ódio que Hunter e eu
temos um pelo outro.

— Primeiro, era a minha camisa. — Faço uma pausa quando ela


começa a rir. — Segundo, ele é um homem de merda, e você merece
melhor que isso. Entende?

Ela lentamente respira fundo antes de trazer seus olhos de volta para os
meus. — Acalme-se, ok? Eu nem sequer estou interessada nele dessa
maneira. Ele é divertido de paquerar e implorar por bebidas gratuitas. Ou
no meu caso chato, bebidas não alcoólicas. — Ela revira os olhos, o que
me faz rir. Tão ansiosa para crescer quando a vida não fica nada mais fácil.

— Apenas tenha cuidado, por favor. Hunter sabe como falar


gentilmente e ter seu caminho com as garotas. — Olho por cima do
ombro e vejo uma menina se aproximar dele, e ele a leva ao bar para
tomar uma bebida. — Vê?

Maddie ri. — Pare de se preocupar. Eu sou uma garota crescida. Além


disso, os caras geralmente fogem quando descobrem que não estão
conseguindo sexo de mim. — Ela encolhe os ombros e vejo o mesmo olhar
envergonhado em suas feições como antes.
— Esperar para experimentar com um cara que você realmente ama
torna muito mais especial. Confie em mim. — Eu a puxo para um abraço
lateral. — Além disso, nenhuma bebida ou sexo durante o treinamento.

— Algo que estou realmente dominando. — Nós duas rimos e voltamos


para o grupo.

Jogamos sinuca e dardos pelo resto da noite, e Hunter dança com sua
nova amiga. Eu decido, já que não tenho nada legal para dizer, não direi
nada. Além disso, ele faz questão de conversar com todos os seus amigos e
minhas irmãs, mas deliberadamente me ignora. Eu posso lidar com suas
observações idiotas e suas alfinetadas para mim, mas agir como se eu
fosse invisível de alguma forma me deixa ainda mais louca.

Hunter olha na minha direção uma vez, os lábios em uma linha firme,
os olhos imóveis, depois afasta o olhar muito rápido.
Seu silencioso “foda-se” faz meu queixo apertar, e eu estou mais do
que decidida a esquecer toda a sua existência.
Capítulo Oito
Hunter
Quase duas semanas se passaram desde aquela noite em que o grupo
jogava sinuca e dardos juntos. Não consigo esquecer o jeito que Lennon
me olhou com nojo, como se estivesse lendo meus pensamentos mais
pessoais sobre ela. Eu quero dormir o dia todo, mas estou acordado. Meus
olhos se abrem, eu me viro, olho para o meu telefone e vejo que são
apenas nove e meia, o que é tarde para mim em um sábado. Meu
despertador interno toca as sete todos os dias, pois tenho que acordar tão
cedo para o trabalho.
Saio da cama e imediatamente abro as cortinas, depois olho para a
grama verde e o céu azul sem nuvens. Não acredito que já é abril e, em um
piscar de olhos, será verão. Como estou fora a maior parte do dia no
trabalho, percebo o clima porque afeta tudo o que faço.

Depois de ir ao banheiro, entro na cozinha e decido fazer o café da


manhã. Quebro alguns ovos e começo a mexê-los quando Brandon vai à
geladeira e tira um galão de leite. Ele bebe direto do jarro, o que me faz
rir. Se Lennon o visse fazer isso, ela cagaria tijolos.

— Oh, você está me fazendo café da manhã também? — Ele limpa a


boca com as costas da mão e sorri.

Eu rio. — Não é para isso que sua mulher está por perto?

— Ela foi às compras com Maddie e Sophie hoje. Aparentemente, o


shopping tem alguma oferta, e eu não me interessei.

— Eu vou cozinhar para você, baby, — eu provoco. — Mas não estou


disponível. Ele começa a rir e puxa dois pratos do armário. Pego a
primeira porção para ele e depois pego mais ovos.

— Sem bacon? — Ele pergunta.

Eu reviro meus olhos. — Mendigos não podem escolher. — Começo a


quebrá-los em uma tigela e os misturo antes de derramar na frigideira.

Brandon abre a geladeira e olha para dentro, mas não encontra bacon
nem salsicha. Na verdade, não há carne aqui. Tudo o que temos agora é
atum enlatado.

— Graças a Deus, Lennon vai ao supermercado quando terminar de sair


com as irmãs. A geladeira está praticamente vazia. — Afirma.

— Você deu a ela uma lista? — Eu pergunto a ele, enquanto ele se


inclina contra o balcão e come sua comida.

— Ela sabe do que gostamos. — Diz ele em torno da boca cheia.

Alguns minutos depois, meus ovos estão prontos e eu desligo o fogão


antes de colocá-los no meu prato. Pego um garfo e vou até a
mesa. Brandon segue atrás de mim, e nós dois nos sentamos.

Ele olha para mim como se tivesse algo mais a dizer, mas hesita.

— O que houve? — Eu finalmente pergunto porque ele está sendo


estranho pra caralho.

Respirando fundo, ele passa os dedos pelos cabelos e puxa o telefone


do bolso. Espero que ele fale enquanto termino de comer.

— Eu quero falar com você sobre algo. — Ele começa, sua respiração
irregular e instável.

Meu coração bate forte, e espero que ele não esteja cansado de mim e
me peça para sair ou algo assim. A última vez que ele apareceu assim foi a
menos de um ano atrás, quando ele me disse que sua namorada estava se
mudando. Diferentes cenários passam pela minha mente.

— Quero propor a Lennon.

Adaga encontra coração.

Ele navega pelo telefone e o vira para me mostrar uma foto na tela. —
Este é o anel que eu escolhi. Você acha que ela vai gostar?

Minhas sobrancelhas se erguem, em choque. Olho para a foto e meus


olhos ficam impossivelmente maiores. — É impressionante. Ela vai
adorar. — Eu consigo falar sem engasgar.

— É um anel de diamante de lapidação princesa em um aro de ouro


branco. Exatamente o que ela quer, eu acho. — Ele diz nervosamente,
olhando para mim. Ele está esperando por algum tipo de aprovação, então
eu sorrio.

O ciúme toma conta de mim, mas eu o afasto, forçando esses


sentimentos a se afastarem, porque agora eu preciso apoiar meu melhor
amigo. — É perfeito.

Um sorriso largo preenche seu rosto, e a felicidade irradia dele. —


Obrigado, cara. Na verdade, estou realmente muito nervoso com isso. Mas
desde que comecei na empresa, tenho economizado dinheiro para poder
lhe dar o anel que ela realmente merece. Eu a amo tanto, e estou pronto
para levar nosso relacionamento para o próximo nível. Estar com ela nos
últimos dois anos foi... bem, tudo, e eu sei, sem dúvida, que ela é a
única. Você sabe quando apenas sente isso?

Eu aceno, meu coração se alojando na minha garganta. — Quando você


sabe, você apenas sabe.
— Aquela noite em que nos conhecemos no bar, foi especial. Nos
primeiros cinco minutos de conversa com ela, eu sabia que ela era a
mulher para mim. — Continua ele.

Esse sentimento familiar retorna. Como é possível que eu tenha me


sentido da mesma maneira com a mesma mulher na mesma maldita
noite? Mas Lennon fez sua escolha e, independentemente da química entre
nós, Brandon foi sua melhor escolha, é sua melhor escolha. Ele é um cara
legal. Eu sei que ele lhe dará o mundo e tudo o que ela sempre desejará. Às
vezes sou um bastardo egoísta, mas por mais difícil que seja, até sou
homem o suficiente para admitir que não posso dar a ela o que ela
precisa. E é isso que importa no final.

— Sim. — Isso é tudo que eu ofereço.

— Eu ia perguntar a ela no dia dos namorados, mas seus pais são


conservadores, então pensei que quando os visitarmos no fim de semana
de quatro de julho, vou fazer a pergunta. Acabamos de comemorar nosso
aniversário de dois anos e ainda não conheci os pais dela pessoalmente,
então acho que seria uma maneira muito legal de propor, para que sua
família pudesse se envolver. Eu também posso levar as irmãs dela porque
sei o quão próximas elas são e como Lennon as quer lá. A logística é um
pouco esmagadora, mas eu vou conseguir.

Brandon olha para a foto em seu telefone, sorri e depois a bloqueia. Eu


posso ver o brilho em seus olhos e entender o quão feliz ele ficaria o resto
de sua vida com Lennon. — Ainda não contei a ninguém, nem mesmo aos
meus pais, então você tem que prometer não contar isso para a Lennon.

Desde que a vi na minha cozinha naquela noite, sabia que isso não seria
fácil. Só não percebi que, com o passar do tempo, só ficaria mais difícil.
Eu sorrio e solto uma risada. — Eu não direi a ela. Vou levar seu
segredo para o túmulo. Além disso, se você precisar de ajuda com qualquer
coisa, ficarei feliz em fazer o que você precisar. Estou aqui por você. — É
uma resposta que é esperada, mesmo que eu só queira que essa conversa
termine para que eu possa afogar meus sentimentos em uma garrafa de
cerveja.

— Bem, eu também queria perguntar uma coisa. Sei que


provavelmente é cedo para isso, mas quero que você seja meu
padrinho. Você é meu melhor amigo. Você esteve comigo em tudo, e não
posso imaginar que você não fique de pé ao meu lado enquanto me caso
com a mulher dos meus sonhos. Imagino que demore um pouco para
planejar o casamento, e o mais cedo seria no próximo ano, mas...

— Eu ficaria honrado. — Eu o interrompo e engulo em seco.

Brandon se levanta, e eu também, e trocamos um abraço apertado. —


Estou feliz por você. Você merece isso, cara— Digo a ele, genuinamente
falando sério.

Quando nos separamos, pego meu prato e coloco na pia. Ele faz o
mesmo. — Obrigado. Aprecio isso. Agora, criar coragem, ajoelhar-se e
rezar para que ela diga que sim.

Eu rio. — Ela vai dizer sim automaticamente no momento em que


essas palavras saírem da sua boca. Nem deveria ser uma preocupação.

— Espero que você esteja certo. Eu nunca imaginei que encontraria


alguém como ela - linda, doce, com fortes valores - e que ela estaria
realmente interessada em um cara como eu. Nós nunca teríamos nos
conhecido se você não tivesse me obrigasse a sair naquela noite. Quando
penso nisso, ela é realmente o seu tipo. Bem, com base nas garotas que
você namorou na faculdade. Eu nunca sonhei que teria uma chance, mas
senti algo quase imediatamente, e não há nenhuma maneira de deixá-la ir
agora.

A faca no meu peito entra mais profundamente, como se isso fosse


possível. — Você não se dá crédito suficiente. Lennon queria você, ou ela
não estaria com você. Isso está claro desde o primeiro dia.

Brandon assente e me vê enxaguar os pratos. — Eu sei que vocês dois


têm essa coisa estranha de rivalidade entre irmãos, mas vocês dois terão
que aprender a gostar um do outro ou pelo menos se dar bem. Nós vamos
ser uma família grande e feliz, — ele diz, rindo. — O casamento, então
espero comprar uma casa e começar uma família. Vocês dois terão que
deixar suas diferenças de lado, para não perder a cabeça. Isso ou Lennon
acabará cortando suas bolas de uma vez por todas.

Pelo menos minha fachada é crível. A última coisa que ele precisa
saber é como me sinto - como sempre me senti - em relação à futura
esposa.

— Sim, — digo a ele, encolhendo-me com o pensamento. — Vai ficar


tudo bem. — Limpo minhas mãos em uma toalha.

Brandon ri, sabendo muito bem que não será tão fácil.

— Eu acho que vou para a academia, — digo a ele, precisando liberar o


peso da dor que borbulha no meu peito. Estou lutando contra um cabo de
guerra interno que sei que nunca vencerei.

— Legal, — diz ele. — Eu tenho que parar no escritório. Eu deixei meu


laptop lá ontem.
— Trabalhando no fim de semana? Droga. — Eu passo por ele,
forçando uma risada.

— Não farei parceria na próxima década se não mostrar iniciativa. —


Ele responde sarcasticamente.

Entro no meu quarto, me troco pela roupa de ginástica, pego minhas


chaves e digo tchau a Brandon antes de sair.

Quando estou dentro da minha caminhonete, fico sentado com o motor


em marcha lenta, tentando recuperar o fôlego enquanto seguro o volante
com as juntas brancas. Eu sabia que esse dia estava chegando. O
relacionamento deles sempre foi sério desde o primeiro dia, mas ainda
mais desde que Lennon se mudou. A parte do meu coração reservada para
ela sabia que isso era inevitável. O sentimento de afogamento toma conta
de mim, e a culpa de desejar que ela tivesse me escolhido em vez dele
praticamente me estrangula. Eu preciso trabalhar com meus demônios e
ser genuinamente feliz por ambos.

Eu dirijo para a academia, mas depois de estacionar, ligo para meu


irmão antes de entrar.

— Hayden. — Eu digo assim que ele responde.

— Está tudo bem? — Ele pergunta instantaneamente. Eu sei que não


estou no meu normal, porque certamente não me sinto o mesmo.

Tento encontrar minhas palavras porque não quero ser uma putinha
com isso, mas Hayden sabe a verdade - a história completa. Ele é o único
que sabe. — Brandon acabou de me dizer que vai propor a Lennon em
julho.
A linha fica quieta e tenho que olhar para a tela para garantir que nossa
ligação não seja interrompida. Aparentemente, a recepção de celular em
Nova York é péssima por causa de todos os edifícios.

— Uau, cara. Sinto muito. — Eu o ouço respirar fundo. Tenho certeza


de que essa era a última coisa que ele esperava que eu dissesse. — O que
você vai fazer?

Eu soltei uma risada sarcástica. — Ser o padrinho dele e dar todo o


apoio que eu puder. Eu nunca faria nada para arruinar o relacionamento
deles. Ela me odeia de qualquer maneira, o que propositalmente fiz
acontecer nos últimos dois anos, mas...

— Mas isso não machuca menos. — Diz ele sombriamente.

— Sim. — Eu nem sei o que dizer e não sei por que liguei para
ele. Sinto como se tivesse perdido a cabeça.

— Eu não tenho nenhum conselho de mudança de vida para você,


Hunter. Eu gostaria de ter algo a dizer que conserte tudo para você, mas
não tenho. Talvez seja hora de se mudar e fazer um esforço real para
superá-la para sempre. Talvez namorar alguém por mais de um fim de
semana? O que você me disse uma vez? Tenha uma noite de sono, acorde
na cama de alguém cujo nome você não lembra, tenha sexo no
banheiro? Sim, faça todas essas coisas. — Ele ri com a lembrança.

Penso nessa época em seu apartamento, no verão passado, quando ele


ainda estava preso na sua namorada da escola, Savannah. Mesmo depois
de dez anos, ele não tinha a superado. Eu respiro fundo e expiro. — Eu já
fiz essas coisas, lembra? — Eu recordo. — Isso fazia parte da minha lista
de sexo para superar Lennon em primeiro lugar. Mas inferno, talvez eu
precise de uma lista nova e melhorada. Uma que possa entorpecer a
maldita dor.

— Você sabe o que dizem. A única maneira de esquecer alguém é ficar


com alguém, certo? — Hayden está sendo muito encorajador agora.

— Como isso funcionou para você? — Eu pergunto, lembrando-o sobre


seu próprio passado. — Ok, isso foi uma coisa idiota a se dizer. Desculpe,
estou frustrado agora.

— Entendi. Não se preocupe com isso. Enfim, eu tenho que ir. Tenho
uma teleconferência em cinco minutos e quero estar preparado para lidar
com esses idiotas hoje.

Olho para a academia e todas as pessoas que passam o sábado nas


esteiras. — Bem. Ligo para você mais tarde, se precisar de um apoio.

— Parece bom. — Ele faz uma pausa e acrescenta: — Você tem muito
a oferecer a uma mulher, Hunter. Não desanime. Você a encontrará um dia.

Antes que eu possa argumentar que eu já a encontrei e a perdi, nos


despedimos e terminamos a ligação, e eu saio do caminhonete. Quando
entro na academia e encontro uma esteira, corro até meu peito queimar e
meus pulmões implorarem por ar. Não me dou tempo para descansar antes
de levantar pesos e mal posso me mover. Tudo o que quero fazer é quebrar
meu corpo porque não devo me sentir assim. Vou continuar forçando um
sorriso e sendo solidário, assim como Brandon faria por mim, porque eu
devo isso a ele. Se eu pudesse chutar minha bunda agora, eu faria porque
eu mereço.

Considerando que eu não trouxe um conjunto extra de roupas comigo,


eu dirijo para casa ensopado de suor. Assim que eu paro no apartamento,
vejo o carro de Lennon ao lado do meu. Percebo que ela está subindo
lentamente as escadas com várias sacolas plásticas em uma mão e uma
sacola de papel na outra, mas finjo que ela não existe enquanto passo por
ela.

— Sério mesmo? Você é um idiota! — Ela grita, e eu rio enquanto subo


as escadas duas de cada vez. Minhas pernas parecem que vão quebrar
quando eu dou o primeiro passo. Abro a porta, entro e chuto a porta atrás
de mim.

Quando estou no meu quarto, tiro a camisa, pego uma toalha limpa e a
coloco no banheiro. Pego uma garrafa de água da geladeira, sentindo a
desidratação se instalando. Momentos depois, Lennon entra, batendo a
porta atrás dela e depois joga as sacolas de compras no balcão. Suas mãos
vão para seus quadris, e ela olha para mim, mas então eu a pego estudando
meu corpo sem camisa. Eu arqueio uma sobrancelha, querendo dizer a ela
para manter os olhos para si mesma. Ela deve perceber o que está fazendo,
porque balança a cabeça e a carranca volta.

— Que porra é essa, Hunter? Você me viu lutando com as compras. O


mínimo que você poderia ter feito era me ajudar a trazer tudo para cima,
porque essa comida é para todos nós, não apenas para mim. Não sei ao
certo que bicho mordeu sua bunda nos últimos meses, mas talvez seja a
hora de amadurecer, porra?!

Meus olhos encontram os dela e eu dou de ombros. — Desculpe. Eu


não notei você lá fora. — Eu lhe lanço um sorriso irônico, o que a enfurece
ainda mais.

Ela geme tão alto que reverbera pelo apartamento. — Por que você me
odeia tanto? O que eu fiz para você para merecer ser tratada dessa
maneira? Eu moro aqui há quase um ano e ainda não conseguimos nos dar
bem. Por que você acha que isso acontece?

— Hmm. Essa é realmente uma ótima pergunta. — Finjo refletir sobre


isso antes de caminhar ao redor dela e ir ao banheiro. Eu fecho a porta e
me inclino contra a madeira fria, tentando sacudir a tristeza em seu rosto
que eu causei. É o melhor para todos. Fazê-la me odiar é mais fácil e do
jeito que tem que ser, especialmente agora que Brandon quer propor. Se eu
baixar minha guarda ao redor dela, não sei se poderia segurar meus
verdadeiros sentimentos. Ser amigo só machucaria ainda mais, então
talvez Hayden esteja certo - preciso fazer um esforço real para seguir em
frente. Mesmo que seja difícil.

Preciso deixar de lado como me sinto e parar de me torturar com o que


nunca terei. Eu preciso acordar e me recompor. Mesmo que pareça
impossível agora.

Eu pulo no chuveiro e lavo o suor do treino, esperando que um dia eu


consiga olhar para trás rir de como tudo isso é ridículo. Não posso decidir
se o destino é um anjo ou se é realmente o diabo, porque toda essa situação
é fodida.

Eu nunca acreditei em amor à primeira vista, mas Lennon mudou isso,


apenas para me atormentar com a presença dela todos os dias. Talvez eu só
esteja preso a ela porque não posso tê-la? Porra, eu sei que é mais do que
isso, mas vou dar uma desculpa para validar como me sinto.

Depois do banho, visto roupas limpas porque preciso sair desta casa
hoje à noite. Olho as mensagens de texto no meu telefone e noto uma não
respondida de Jenna. A última vez que ficamos juntos, ela ficou o fim de
semana inteiro, brincando de casinha e deixando óbvio o quanto ela
gostava de mim. Eu mantive as coisas casuais entre nós e deixei claro que
não estava procurando nada sério. Eu poderia dizer que ela estava
decepcionada, mas ela parecia entender na época.

Decidindo que é agora ou nunca, dou um mergulho e envio uma


mensagem a Jenna pedindo que ela saia comigo esta noite. Se vou
realmente tentar seguir em frente, preciso fazer um esforço real. Eu não
quero ter esses sentimentos não correspondidos por alguém que não é
minha, e talvez se eu não estivesse tão preso a Lennon, haveria espaço no
meu coração para uma mulher como Jenna.

Ela responde imediatamente, enviando-me emojis sorridentes e ícones


de coração. Jenna é uma garota linda e divertida, então talvez eu possa
tentar, dessa vez com alguém que me queira. Só espero poder retribuir
esses mesmos sentimentos.

***

Na manhã seguinte, acordo com uma grande dor de cabeça. O corpo de


Jenna pressionado contra o meu, seus braços serpenteando em volta da
minha cintura enquanto meu pau ganha vida. Ontem à noite, nos
encontramos em um bar, dançamos e bebemos até que todas as minhas
inibições acabassem, e eu acabei na cama dela. Eu quero sentir algo por
ela, algo mais. Concentrei minha atenção nela a noite toda, conversando de
verdade para conhecê-la em um nível mais profundo enquanto esperava
por essa faísca. Não há razão para eu não ter sentimentos por ela, mas
estaria mentindo se dissesse que tenho. Ela é uma morena linda - com
pernas bronzeadas e seios empinados - então qualquer homem teria sorte
de ter sua atenção. Eu a beijei na pista de dança como se minha vida
dependesse disso. Segurando o rosto dela, derramei tudo o que pude em
um beijo profundo e sensual que me deixou sentindo uma merda
absoluta. Enquanto ela gemia contra a minha boca, seus braços
envolveram minha cintura e nos puxaram para mais perto. Meu pau sentiu,
mas meu coração? Estava morto.

Cuidadosamente, deslizo por baixo dos lençóis e visto meu jeans e


camiseta. Cheira a cerveja e suor, mas não tenho outras opções no
momento. Sento na beira da cama e pego meus sapatos para colocá-
los. Jenna se vira e olha para mim, sorrindo com antecipação.

— A noite passada foi tão divertida, — ela ronrona. — Você deveria


ficar para o café da manhã. E então podemos fazer tudo de novo. — Ela
morde o lábio inferior e meu coração cai. Ela merece do melhor que isso –
melhor do que eu. Deveria ter parado quando as coisas pioraram ontem à
noite, mas fiquei esperando que algo brilhasse dentro de mim. Que eu
poderia deixar Jenna entrar e ter alguma resposta emocional além da nossa
conexão física. Mas agora percebo que isso não está nas cartas para
nós. Não posso continuar levando-a a pensar que seremos algo mais.

— Não, eu não posso, — digo a ela, de pé. — Não deveríamos ter feito
isso.

Seu rosto cai, e eu me sinto uma merda por machucá-la. Eu sei


exatamente como ela se sente também, porque sentir sentimentos por
alguém que não os devolve dói como o inferno. Eu não quero fazer isso
com ela.

— Você está me afastando de novo, certo? É assim que as coisas vão


ficar entre nós? — Ela se senta, puxando os lençóis sobre os seios nus. —
Você me manda uma mensagem quando quer um pouco e depois me deixa
no dia seguinte? Só nos encontramos quando é conveniente para você. —
Eu ouço a dor na voz dela, o que me faz sentir como o idiota que eu sou.

Eu olho para ela, meus olhos suavizando. — Gostaria de poder gostar


de você do jeito que você gosta de mim, Jenna. Não é você. Você é tudo,
todo o pacote, e eu não quero iludir você. Estou realmente fodido, e não é
justo com você. Tentei, pensei que poderia deixar você entrar, mas... —
Dou de ombros, me sentindo derrotado e até um pouco vulnerável por
estar compartilhando isso com ela.

Jenna franze a testa, lendo nas entrelinhas. — Quem é ela?

Sinto bile subir pela garganta porque não me achei tão


transparente. Aparentemente, eu estava errado. Balançando a cabeça,
recuso-me a reconhecer que Lennon é o motivo. — Ninguém.

— Sabe, se você continuar mentindo para si mesmo, acabará


machucado e sozinho. Se esse 'ninguém' não tem os mesmos sentimentos
por você, então por que você ainda está com ela? Estou aqui, pronta para
lhe dar tudo o que você precisa. Eu gosto de você, Hunter. Muito.

— Eu sei que você gosta, — eu admito, apertando a parte de trás do


meu pescoço porque a tensão está crescendo entre meus ombros. — É por
isso que quero ser sincero com você. Eu pensei que era capaz de me forçar
a seguir em frente, mas agora percebo que não posso. — Eu solto uma
respiração profunda, parcialmente aliviado por tirar isso do peito e
parcialmente aterrorizado.

— Deixe-me ajudá-lo a seguir em frente, — diz ela com uma seriedade


que me faz sentir como um pedaço de merda. — Se essa é a única maneira
que eu posso ter você, Hunter, então aceitarei até que você a
supere. OK? Eu estou bem com isso.
— Você merece mais do que isso, Jenna. Mais do que ser uma segunda
escolha. — A ironia de toda essa situação fodida não está perdida em mim.
— E neste momento, eu não tenho certeza se vou superá-la. — Eu admito,
honestamente, antes de sair. Programo um Uber e espero lá fora, pensando
em todas as maneiras pelas quais eu estou fodido. Jenna não desiste
facilmente, e eu gostaria de poder dar a ela o que ela quer e precisa, mas
estou cansado de fingir.
Penso de volta à minha lista de sexo sobre a qual contei a Hayden e me
pergunto se tudo isso me causou problemas em primeiro lugar. Eu não
posso transar por aí para superar meus sentimentos por Lennon, e eu fui
um tolo por achar que poderia.
Capítulo Nove
Lennon
— Mmm, por que você sempre cheira tão bem? — Brandon cantarola
enquanto enterra o nariz no meu cabelo. Seus braços envolvem minha
cintura e deslizam por baixo da minha camisa enquanto lavo a louça na
pia.

Eu arqueio meu pescoço, sorrindo quando a palma da sua mão agarra


meu peito e aperta. — Talvez porque nenhum dos meus alunos vomitou
hoje. — Um dos meus alunos está sempre doente, por isso considero uma
vitória para uma segunda-feira.

Ele ri contra a minha pele e pressiona um beijo suave debaixo da minha


orelha. — O que você diz sobre darmos um passeio hoje à noite? Vai ser
um boa noite. Talvez possamos subir à costa, jantar e assistir o pôr do sol?

— Brandon Jude Locke... — Eu canto, secando minhas mãos em uma


toalha. — Isso soa muito romântico. — Suspeita soa nos meus ouvidos.

Ele me gira e segura minhas bochechas. — Preciso de um motivo para


ser romântico para minha namorada incrível?

Eu levanto a mão na testa e escovo os cabelos do rosto. Com um sorriso


largo, eu puxo seus lábios nos meus. — Claro que não. Deixe-me mudar de
roupa rapidamente, e podemos dar uma volta.

Ele arqueia uma sobrancelha com um sorriso diabólico.

— Não é esse tipo de passeio. Se acalme, garoto. — Eu provoco,


deixando meus olhos caírem na sua virilha. Ele envolve um braço em volta
dos meus quadris e dá um tapa na minha bunda, depois pega um punhado
na palma da mão.

— Mas você torna isso tão difícil. — Ele pisca, e eu começo a rir.

— Você é implacável. — Eu o empurro um pouco, criando espaço entre


nós antes que seu cérebro cheio de sexo assuma o controle, e nunca
saíamos.

— Você gosta disso.

Deslizo para fora de seu aperto, rindo e caminho para o nosso


quarto. Troco de roupa para calça jeans, um suéter e calço meias e
botas. Pode ficar frio na traseira da motocicleta, principalmente quando o
sol se põe.

Quando estou prestes a dizer a Brandon que estou pronta para ir, recebo
um telefonema e vejo que é Sophie.

— Ei, o que houve? — Eu respondo.

— Lennon. — Sua voz falha, e eu instantaneamente sei que algo está


errado.

— Soph, o que é isso? Você está bem? — Eu imediatamente entro em


pânico.

— Sim, eu só estou tendo alguns problemas com colegas de


quarto. Imaginei que você era a melhor pessoa para conversar sobre isso.

Eu bufo, concordando, embora ela não possa me ver. Ela sabe tudo
sobre meus problemas com Hunter.

— Que tipo de problemas? Achei que você e Maria se davam muito


bem. — Elas foram colegas de quarto nos últimos anos, e ela nunca
reclamou dela.

— Nós somos, nós nos damos bem. É... bem, ela está pedindo ao
namorado para ir morar com ela. Com a gente. — Eu ouço a luta em sua
voz.

— Carter? — Eu pergunto, sabendo exatamente de quem ela está


falando. Ela se dá bem com ele, assim como eu, com Hunter.

— Sim. Não sei o que vou fazer. Ou se posso fazer algo melhor. O
contrato de locação está no nome dela. Ela me aceitou aqui, então não é
como se eu realmente pudesse dizer alguma coisa. Ele vai se mudar para
cá e tornar minha vida um inferno, e eu não tenho tempo para suas
besteiras. Estou repleta de aulas particulares e práticas com a orquestra. A
última coisa que quero é voltar para casa e lidar com sua bunda
preguiçosa.

— Parece muito familiar... — Eu gemo. — Que tal conseguir seu


próprio lugar?

— Eu não posso pagar agora, ou em um futuro próximo, por isso. Não


quando eles querem o aluguel do primeiro e do último mês, junto com o
depósito de segurança, adiantado. — Sua voz suaviza, e eu sei que ela se
sente derrotada.

— Quer que eu vá aí? Brandon e eu estávamos indo para um passeio


noturno, mas posso pedir que ele me deixe em seu lugar. Podemos beber
vinho e tomar sorvete.

Ela solta uma risada sufocada, o que me faz sorrir, porque eu esperava
que a sugestão pudesse elevar um pouco seu ânimo. — Eu não quero
estragar sua noite de encontro.
— Não, está tudo bem. Nós podemos fazer isso outra noite. Eu irei e
podemos conversar. — Eu insisto, e ela finalmente concorda. — Eu estarei
aí em vinte minutos.

Depois que explico a situação para Brandon, ele é compreensivo, como


sempre, e me diz que não há problema. Nós pulamos na moto, e ele nos
leva ao apartamento de Sophie. Quando chegamos lá, balanço minha perna
para fora e saio pelo fundo da moto. O motor continua a funcionar quando
tiro o capacete, amarro-o nas costas e dou um grande sorriso.

— Sophie vai me levar de volta para casa. Tenho a sensação de que


vamos conversar por um tempo, então talvez não esteja em casa até tarde.

Brandon tira o capacete e me puxa para perto, sorrindo contra os meus


lábios. — Vocês, meninas, se divirtam. Mas não muito. — Ele diz, dando-
me uma piscadela.

Inclino-me para a frente e roubo outro beijo. — Não se preocupe. Eu


preciso tirar sua mente de potenciais colegas de quarto idiotas, então serão
comédias românticas e junk food16, já que eu posso saber algo sobre isso.

Eu dou a ele um olhar aguçado, e ele ri. — Eu te amo, amor. Divirta-se.


— Ele passa a mão em volta do meu pescoço e me puxa para um último
beijo profundo.

— Eu também te amo. — Eu murmuro contra seus lábios. — Tenha


cuidado com isso. Vejo você quando chegar em casa— Digo a ele.

— Eu sempre tenho cuidado. — Ele pisca, depois coloca o capacete de


volta e acelera o motor. Eu aceno quando ele sai do estacionamento e o
vejo devagar voltando para a estrada.
Vou até o apartamento de Sophie e bato. Ela responde quase
imediatamente, parecendo derrotada, e me dá um grande abraço.

Momentos depois, estamos no sofá assistindo 10 Coisas que Eu Odeio


em Você com uma garrafa de Merlot e uma pilha de lanches.

— Então, as coisas ainda são como uma Terceira Guerra Mundial para
você? — Sophie pergunta após o nosso segundo copo de vinho.

Eu gemo alto para enfatizar meu argumento. — Sim. Todo santo


dia. Ele é um pateta, desrespeitoso, arrogante, egoísta e rude. Tudo isso.

Sophie ri e toma um gole de bebida. — Ainda me surpreende,


considerando que ele estava dando em cima de você na primeira noite em
que vocês se conheceram. — Ela balança as sobrancelhas para mim, e eu
de brincadeira empurro seu ombro.

— Pare. Não foi nada. Ele estava flertando com a metade do


bar. Brandon me encantou, e eu deveria estar com ele e estou feliz! — Eu a
asseguro.

— Eu sei que você está feliz, o que me faz feliz! Só não consigo deixar
de me perguntar: se você não tivesse namorado aquele idiota, que te traiu
na faculdade, você teria deixado suas inseguranças de lado e perseguido
Hunter? — Ela pergunta, e isso me pega de surpresa. — Você me contou
tudo sobre as férias de primavera uma semana depois e o mencionou, mas
acabou namorando seu colega de quarto. Quero dizer, foi por isso que você
escolheu Brandon, certo? Ele era o 'cara legal'?

— O quê? — Eu franzo minhas sobrancelhas. — Não! Quero dizer,


sim, Brandon é legal. Mas não foi assim. Nada aconteceu entre mim e
Hunter, então não é como se eu tivesse escolhido entre os dois. Hunter é o
clichê playboy, com a aparência de derreter as calcinhas, sabe exatamente
o que dizer para seduzi-la e flerta como se você fosse a única mulher no
mundo. Confie em mim, ele sabe exatamente o que fazer para encantar as
calcinhas de qualquer mulher e colocá-las em sua cama. Ele é um jogador,
e acho que meu coração sabia disso. Também sabia que Brandon era o
único.

Sophie ri. — Sempre uma romântica sem esperanças.

— Então, mesmo que meu ex não me traísse, eu não queria namorar um


cara assim. Não tinha nada a ver com a escolha entre os dois porque, no
momento em que Brandon e eu nos conhecemos, fiquei cativada. Sim, eu
fui atraída por Hunter, e nós tínhamos química, mas eu fui atraída por
outros caras antes. Sabe como minha mãe sempre dizia para encontrar um
cara com quem você pudesse ver um futuro? Como devemos
namorar com propósito? Foi o que vi em Brandon. — Meus pensamentos
estão por toda parte, e culpo o vinho por isso, mas continuo assim
mesmo. — Suas ridículas cantadas me fizeram rir, e era fácil ver que ele
era um cara genuíno. Isso me fez sentir que dar a ele meu coração era
certo, e que ele cuidaria disso e nunca o quebraria, se isso fizer sentido. —
Tomo outro drinque para me impedir de divagar.

— Estou muito feliz que deu certo, — diz Sophie, com um olhar
atordoado. — Ele olha para você como se você fosse o mundo inteiro, —
acrescenta ela com um sorriso bobo. — O que é meio doentio para nós no
clube feminino de solteiras.

— Ele realmente faz, — eu concordo, sorrindo. — Mesmo se eu tivesse


perseguido Hunter, posso garantir que já teria terminado em desgosto,
considerando a maneira como ele age. Eu não acho que eu poderia ter
lidado com suas mudanças de humor e atitude.
— Bem, quando um cara como Hunter parece que pode atravessar
paredes e levantar alguém sobre sua cabeça, ele deve chamar a atenção. —
Sophie diz com uma risada.

— Sim, jogar futebol durante todos esses anos e ir à academia


religiosamente ajudou a torná-lo tão musculoso, e ele sabe disso
também. Na verdade, estou surpresa que o cérebro dele não tenha
explodido pelo tamanho do ego dele.

Sophie e eu rimos, e logo estamos rindo tanto que começamos a


chorar. Continuamos bebendo e contando piadas, e pelo nosso quarto copo
de vinho, eu sei que ela não está mais preocupada com o namorado de
Maria se mudando. Embora ela não possa fazer muito sobre isso agora,
fico feliz por poder oferecer algum conforto e distraí-la, mesmo que
apenas temporariamente.

Sei que está ficando tarde e devo ir para casa, pois tenho que trabalhar
de manhã. — Meu primeiro show de primavera é nesta sexta-feira, então
eu preciso dormir um pouco, pois será outro dia agitado. Amanhã vamos
treinar no auditório e quinta-feira é o ensaio de palco. Estou super nervosa.

— Estou tão orgulhosa de você, Lennon. Tenho certeza de que


funcionará perfeitamente! — Ela me dá um sorriso sincero. — Eu gostaria
de poder ir assistir.

— Eu sei que você gostaria, mas você também está muito ocupada,
então nem se preocupe. — Eu me inclino e a abraço. — Vou ligar para o
Uber, já que você está um pouco embriagada.

Ela ri, concordando.

— Brandon provavelmente já desmaiou, então eu não quero incomodá-


lo. — Explico, abrindo o aplicativo, sabendo que ele não fica acordado até
mais tarde durante a semana. Coloco meus sapatos e jaqueta e digo adeus a
Sophie. — Conversaremos novamente em breve, ok? Se isso se tornar
insuportável, tenho certeza de que Brandon não se importaria de você
bater em nosso sofá enquanto procura outro lugar.

— Obrigada, mana. Duvido que recorra a isso, mas obrigado pela


oferta.

Trinta minutos depois, estou de volta ao apartamento e procuro


Brandon, mas vejo que a luz está apagada em nosso quarto.

— Você caiu em uma adega? Droga. — A voz alta de Hunter faz meus
ouvidos zumbirem. Eu me viro e o vejo descansando no sofá sem
camisa. Ugh. Por quê?

— Você pode abaixar a voz? Brandon está dormindo. — Minha cabeça


lateja, mas não admito isso para ele.

— Ele não está em casa. Eu pensei que ele estava com você.

As palavras de Hunter me congelaram. — Você tem certeza? Ele voltou


de moto há quatro horas. Ele me deixou na Sophie antes de decolar.

— Estou em casa desde as cinco, — ele me diz. — Você ligou para ele?

— Não, eu imaginei que ele já estivesse na cama. — Pego meu telefone


do bolso e ligo para ele. Toca cinco vezes e depois vai para o correio de
voz. — Sem resposta.

— Deixe-me tentar. — Diz ele, deslocando seu peso para um lado e


pegando o telefone.

— Você realmente acha que ele vai ignorar a minha ligação, mas
atender a sua? Ele provavelmente ainda está pilotando, perdeu a noção do
tempo e não sente o telefone vibrando. — Digo, mas espero assim mesmo
para ver se Hunter consegue ligar.

— Nada.

— Ele disse que queria assistir o pôr do sol, então provavelmente deu
uma volta mais longa. — Dou de ombros, caminhando pelo corredor até o
meu quarto. Eu visto uma calça de yoga e uma blusa e decido fazer algo
para comer, esperando que absorva o vinho.

— Vejo que você finalmente descobriu a máquina de lavar louça. —


Grito quando estou na cozinha e vejo que a pia não está cheia pela
primeira vez.

— Não, eu apenas coloco tudo de volta nos armários. — Ele


imediatamente responde.

— É melhor você estar brincando! — Eu repreendo, abrindo


instantaneamente as portas para ver se ele está blefando.

Eu ouço seus pés contra o chão enquanto ele caminha para a cozinha.
— Eu não sou completamente incompetente. Eu tive um encontro. Ela o
fez.

Eu bato a porta que deixei aberta e evito seu olhar. Não sei dizer se ele
está mexendo comigo, mas se os encontros dele querem fazer suas tarefas,
então eu sou a favor. — Bem, tanto faz.

Virando, ando em direção à geladeira e pego os ingredientes para fazer


um sanduíche. Penso na conversa que Sophie e eu tivemos sobre Brandon
e Hunter e como ela basicamente será Hunter em sua situação - a colega de
quarto e vela do casal.
Eu me sentiria mal por Hunter, mas ele é a razão pela qual as coisas são
tão tensas entre nós. Se ele não tornasse minha vida um inferno, talvez
ajudasse um pouco e parasse de ser um bastardo arrogante, nos daríamos
muito bem. Parte de mim se pergunta se ele age assim porque sente que eu
roubei seu melhor amigo. Ou que eu invadi o espaço dele. Seja qual for o
motivo, não é o suficiente para ele agir da maneira que faz comigo.

— Onde está o peito de peru fatiado? — Eu pergunto, olhando na


geladeira.

— Uh... — Hunter está bem atrás de mim, e considerando que ele é


quase um pé mais alto do que eu e sem camisa, não ouso me virar. — Na
minha barriga.

Olho por cima do ombro para fazer uma careta para ele quando ele
esfrega a mão sobre seu abdômen estúpido.

— Eu literalmente comprei dois quilos de peru na semana passada. —


Digo entre dentes cerrados, batendo a porta.

— Acho que você aprenderá a comprar em dobro na próxima vez. —


Diz ele, orgulhoso, mostrando um sorriso.

— Ugh! — Eu bato nele enquanto passo, mas isso nem o perturba. Mas
caramba, isso faz meu ombro doer.

— Eu não sei por que você está ficando tão irritada. Solte sua calcinha
e relaxe. — Ele volta para o sofá e senta, abrindo as pernas como um
animal.

— Porque eu estou com fome, e você está constantemente comendo


tudo! — Eu grito. — Talvez precisemos de nossas próprias prateleiras, e
você pode comprar sua própria comida, já que alguns de nós são crianças e
não sabem como compartilhar!

Sua risada só me irrita mais. Eu não ficaria tão irritada se não estivesse
morrendo de fome com uma garrafa de vinho girando no meu estômago
vazio.

— Foda-se, eu estou pedindo comida. — Murmuro principalmente para


mim mesma enquanto abro o aplicativo de entrega no meu telefone.

— Legal. De onde você está comprando? Eu poderia comer também.

Eu lentamente o encaro com tanta força que tenho certeza que meus
olhos vão sair do meu rosto. — Você está brincando?

Hunter levanta as mãos. — Tudo bem, nossa. Alguém precisa transar.


— Ele ri, abaixando os braços.

Sento-me na cadeira e tento ignorá-lo. Analisando minhas opções de


comida, finalmente pego algo e faço meu pedido. — Por falar em sexo,
meu encontro e eu estávamos naquela cadeira mais cedo.

Eu pulo tão rápido que quase perco o equilíbrio. — Você é um maldito


porco.

Ele está sentado do outro lado do sofá e, quando passo, bato na cabeça
dele e nem me sinto mal por isso.

— Por que você fez isso, porra? — Ele esfrega a cabeça como se
realmente o machucasse.

— Por fazer sexo na sala de estar! Você não tem decência? E se


Brandon ou eu entrássemos enquanto você estava nu e... — Estremeço,
incapaz de terminar minha frase e caminhar pelo corredor até o meu
quarto.
— Só para constar, eu não estava nu! Boquetes não exigem nudez. —
Ele grita.

Eu quero gritar, mas em vez disso, eu bato a porta do meu quarto


quando estou dentro. Eu não posso esperar até que Brandon e eu nos
mudemos, e se não for em algum momento em um futuro próximo, eu
posso realmente sufocar Hunter enquanto ele dorme. Inferno, conhecendo-
o, ele provavelmente pensaria que eram preliminares e se divertiria.

Trinta minutos depois, ouço a campainha e estou aliviada por minha


comida finalmente estar aqui. Estou com tanta fome que, se eu não comer,
Hunter estará no fim da minha ira.

— Nosso jantar está aqui. — Hunter canta, correndo em direção à porta


e me batendo lá.

— Foda-se. — Eu o empurro com meu quadril, e ele ri, afastando-se do


meu caminho.

— Vamos lá, você é quem disse que deveríamos compartilhar. — Ele


dá um sorriso infantil e eu faço uma careta.

— Eu não compartilharia com você, mesmo que fôssemos as duas


últimas pessoas vivas durante um apocalipse. — eu digo, fazendo uma
careta e agarrando a maçaneta da porta.

— Você sabe que eu iria te comer, — diz ele com naturalidade. — E


não do jeito de se comer boceta.

Revirando os olhos, murmuro: — Vá embora.

Quando finalmente abro a porta, fico surpresa ao ver dois policiais em


vez de um motorista de entrega.
— Olá, sou oficial Fisher, e este é meu parceiro, oficial
Schmitz. Estamos procurando a família de Brandon Locke. — Seu tom é
suave, e no segundo em que ele diz o nome do meu namorado, meu
coração para de bater.

— Nós somos colegas de quarto. — Hunter responde antes que eu


possa dizer alguma palavra. Eu nem tinha percebido que ele estava atrás
de mim.

— Eu sou namorada dele. — finalmente consegui responder. — O que


há de errado? Aconteceu alguma coisa com ele?
O policial olha brevemente para baixo antes de fazer contato visual
comigo. — Lamento informar isso senhorita, mas o Sr. Locke sofreu um
grave acidente de moto. Os paramédicos foram incapazes de salvá-lo.
Capítulo Dez
Hunter
Eu pego Lennon antes que ela caia no chão. Há um som alto e eu
percebo que é ela, gritando e soluçando. Estou de joelhos, segurando-a
quando as palavras do policial se repetem na minha cabeça. Eles não
parecem reais. Eles não podem ser. Eu o vi hoje de manhã antes do
trabalho e agora ele... se foi.
Minha garganta ameaça fechar, mas eu empurro o sentimento. Com
Lennon dobrada em meus braços, tento ser forte por ela quando ela se
desfaz.

— Lennon, respire. — Digo a ela, baixinho, enquanto ela respira


fundo. Ela vai desmaiar se não o fizer.

Depois de um momento, a respiração de Lennon se acalma, e sou capaz


de olhar para os dois homens.

— O que acontece agora? — Pergunto a eles. — Os pais dele? Eles


sabem?

— Ele foi transportado para o consultório médico e alguém lá


notificará seus parentes mais próximos. Eles vão discutir com eles o que
acontece a seguir.

— Espera. Eu deveria contar a eles. Eles são como uma família para
mim, e Brandon era seu único filho.

Os policiais se entreolham novamente, sem discutir. — Não podemos


dizer para você não ligar para eles, mas a equipe já deve ter feito isso. A
família precisará identificá-lo adequadamente e tomar providências a
partir daí.

Concordo com a cabeça, mas isso não vai me parar. Eles nos dão suas
sinceras desculpas e condolências antes de partir.

Lennon se curvou com as mãos no rosto. Consigo fechar a porta, depois


coloco um braço sob os joelhos dela, o outro atrás das costas, e a pego. Ela
envolve os braços em volta de mim, enterrando o rosto no meu pescoço
enquanto eu a carrego para o sofá e cuidadosamente a coloco no chão.

— Lennon... — Eu sussurro, afastando os cabelos loiros de seu rosto


para que eu possa olhar para ela. — Eu preciso do seu telefone para ligar
para eles. O meu não está carregado.

Depois de alguns segundos, ela se inclina para o lado e enfia a mão no


bolso de trás antes de entregá-lo. Ela abre e eu começo a procurar os
contatos dela, procurando o número do Sr. e da Sra. Locke. — Eu vou falar
com eles agora. Eles merecem saber imediatamente. — Digo baixinho. —
Você quer falar com eles depois?

Ela balança a cabeça, enquanto as lágrimas rolam continuamente por


suas bochechas. — Eu não posso. — Ela engasga.

— Está bem. Eu já volto. — Não quero deixá-la, mas também não


quero que ela ouça a conversa, então vou para o meu quarto, onde posso
falar com eles em particular.

Tudo dentro de mim está entorpecido, chocado, arrasado. Como isso


pôde acontecer? Por quê? O meu melhor amigo. Ele é jovem demais para
morrer. Ele tinha tantos sonhos e aspirações com uma vida plena pela
frente. Por que diabos ele tinha que ir? Foda-se.
Não sei como fazer essa ligação. Eu encontrei seus pais dezenas de
vezes em churrascos, celebrações e até participei de jantares em
família. Como diabos devo dizer a uma mãe que seu filho está morto? Eu
gostaria de poder, pelo menos, fazer isso pessoalmente, mas não posso
deixar Lennon agora, e o consultório médico legista pode estar ligando
para eles a qualquer momento.

Engasgando, eu tento o meu melhor para me acalmar antes de ligar. É


tarde, e eles saberão que algo está errado no momento em que perceberem
que sou eu e eu estou ligando do telefone de Lennon. Assim que eu consigo
controlar meus sentimentos, para que eu possa tocar no número deles, a
campainha toca novamente.

Supondo que seja o entregador, eu o ignoro. Ele pega a dica e deixa a


comida depois de um minuto. Mas então eu ouço gritos.

Lennon.

Merda.

Correndo para fora do meu quarto, eu avanço pelo corredor e


imediatamente envolvo meus braços na cintura de Lennon e a afasto. Ela
está gritando com o cara e dizendo que ele esqueceu o refrigerante e que
ele é um idiota. O pobre homem está congelado no lugar, e não tomo
tempo para explicar antes de pegar uma Lennon histérica e fechar a porta.

— Você pode acreditar nesse cara? — Ela diz no momento em que eu a


coloco de pé. Ela acena uma mão no ar e faz uma careta. — Quão difícil é
trazer o que eu pedi? Idiota.

Minhas sobrancelhas se erguem quando tento fazer contato visual com


ela. Ela está murmurando sobre seu pedido de comida momentos depois
que ela estava uma bagunça chorosa. Estou confuso como o inferno agora.
— Lennon... — Eu ando com cuidado. — Você está em choque. Vamos
sentar. — Pego a mão dela, mas ela a afasta.

— Você não foi legal comigo desde o dia em que nos conhecemos. Não
há necessidade de começar agora. — Ela sussurra, pegando sua bolsa de
comida e indo para a sala de estar.

Puta merda.

Escovo uma mão pelo meu cabelo, tentando descobrir o que


fazer. Antes que fique mais tarde, preciso ligar para os pais dele, e assim o
faço.

— Olá? — A mãe de Brandon responde com uma voz sonolenta. —


Lennon?

— Locke, é Hunter. Estou usando o telefone dela. — Explico.

— Oh, Hunter! Ei, garoto. Por que você está ligando tão tarde?

Ela não sabe que em cerca de três segundos minhas palavras mudarão
sua vida inteira. Não quero ser a pessoa a dar as notícias que nenhuma mãe
deveria ouvir, e isso vai me destruir. Brandon era um cara incrível, e ele
veio de pais incríveis, algo que sempre tive inveja. Nenhum deles merece
receber esse tipo de más notícias.

— É Brandon, — eu começo, inspirando profundamente para não


quebrar antes que eu fale as palavras. — Ele sofreu um acidente de moto.

Eu ouço a corrente de ar que ela aspira antes de responder. — Hunter,


por favor, diga-me que meu filho está bem. — Sua voz trêmula choca
através de mim, e eu ouço o medo em seu tom. — Por favor, Hunter. —
Ela implora, querendo ouvir notícias positivas que eu não posso entregar.
Eu fecho meus olhos com força. — Sinto muito, senhora Locke. Eu
queria poder.

Beliscando a ponte do meu nariz, forço minhas lágrimas para


dentro. Estou tentando ser forte pela mãe dele agora, mas não consigo
ouvir seus soluços de cortar o coração.

Fico em silêncio por alguns minutos e a ouço acordar o marido. Ela


chora que seu único filho se foi. Este momento entre eles é doloroso
quando ouço o Sr. Locke imediatamente engasgar. Não consigo encontrar
forças para encerrar a ligação, não querendo deixá-los nesse estado.

Quando ela volta ao telefone, digo que o consultório do legista entrará


em contato com eles para discutir os detalhes.

— Como está Lennon? — Ela pergunta logo depois, e posso dizer que
ela está tentando se recompor.

— Não tenho certeza. Descobrimos há menos de uma hora. Eu vou


cuidar dela, então, por favor, não se preocupe. — Mesmo que Lennon não
me queira por perto, não a deixarei me afastar quando souber que ela
precisará de mim tanto quanto eu preciso dela. Não conseguiremos superar
isso sozinhos ou discutir um com o outro.

— Eu aprecio que você tenha me dito o mais rápido possível, Hunter,


— diz ela entre fungando. — Assim que tiver notícias deles, informarei o
que descobrirmos.

Eu não consigo nem imaginar ter que assistir os pais da meu melhor
amigo enterrando seu filho. Isso não pode ser real.

— Eu apreciaria isso. Estou aqui para o que vocês precisarem, ok? Não
hesite. — Digo a ela, querendo dizer cada uma dessas palavras. Não será
fácil para nenhum de nós, mas precisamos permanecer juntos durante esse
período.

Quando a ligação termina, volto para a sala e encontro Lennon enrolada


em uma bola no sofá. Ela está chorando em um travesseiro. Nenhuma
palavra que eu possa oferecer a fará se sentir melhor, então, em vez disso,
pego um cobertor e a cubro. Mesmo que eu deva fazer algumas ligações,
não faço. Em vez disso, pego outro travesseiro e cobertor e deito no chão
ao lado do sofá para estar perto de Lennon. Seus gritos são o único som na
sala, e eu sei que hoje à noite será uma noite sem dormir.

Passa das duas da manhã quando Lennon para de tremer e seus soluços
ficam quietos. Pego a mão dela e esfrego o polegar sobre as juntas dos
dedos. O fato de ela não se afastar ou me dar um soco na cara me diz que
finalmente adormeceu.

***
Fiquei aqui nas últimas quatro horas com a mente agitada, enquanto
penso em quando conheci Brandon, e sou atingido pela realidade de nunca
mais vê-lo. Mason, Liam, Brandon e eu somos quatro amigos desde nosso
primeiro ano de faculdade, embora eu conhecesse Brandon desde o
colegial. Mason e Liam são do SoCal17, mas Brandon e eu nascemos e
crescemos em Sacramento. Seus pais se tornaram minha família e sempre
me receberam de braços abertos. Não perdi apenas meu melhor amigo; Eu
perdi um irmão.

Ao nascer do sol, decido me levantar e fazer um bule de café. Deus


sabe que vou precisar disso hoje. Inferno, eu deveria adicionar uma garrafa
de vodka também.
Sem saber por onde começar ou o que fazer, decido mandar uma
mensagem para Hayden para ver se ele está acordado. Como ele está na
costa leste, ele está três horas à minha frente e deve estar disponível. Eu
preciso ligar para Mason e Liam também. Mais ligações que eu não sei
como diabos fazer.

— Ei, o que foi, mano? — Hayden responde com um sorriso na voz


depois de me dizer que estava livre para conversar. — Você acordou
cedo. Ou uma garota te manteve acordado a noite toda? — Ele ri de sua
própria piada, e eu gostaria de poder rir com ele.

— É Brandon, — eu simplesmente respondo. Sai mais áspero do que


pretendo, mas não consigo esconder a emoção na minha voz. — Ele
morreu em um acidente de moto ontem à noite.

Apenas dizer as palavras em voz alta faz meu coração bater mais forte,
quase como se fosse sair do meu peito. Minha respiração acelera quando a
ansiedade do que isso realmente significa, e como minha vida será mudada
para sempre, me atinge.

— Oh, Hunter. Deus. Sinto muito. — Hayden responde suavemente. —


Porra, eu nem sei o que dizer. Eu posso voar neste fim de semana, se você
precisar.

— Talvez. Eu não sei. Ainda não tenho certeza de quando é o funeral ou


de nenhum dos detalhes. Eu tive que contar para a mãe dele por telefone e
ouvi-la desmoronar quase me fez chorar. — Eu digo a ele, com a voz
embargada. Eu tento manter minhas emoções sob controle por causa de
Lennon, porque sei que ela vai precisar de mim, mas sei que posso falar
com meu irmão sobre qualquer coisa sem julgamento. — Não acredito que
ele realmente se foi.
Hayden fica ao telefone comigo por mais de trinta minutos, me
ouvindo divagar e tirando os pensamentos incessáveis da minha
cabeça. Ele me lembra que ele está aqui para mim, e se eu precisar dele
perto, ele voará para casa a qualquer momento. Eu o aprecio muito. Mais
uma vez, ele provou ser o único relacionamento verdadeiro que tenho em
nossa família.

Depois de desligar, despejo uma xícara de café e sento à mesa da


cozinha. Minha mente está confusa demais para realmente pensar em
como vou lidar com tudo isso. Éramos tão próximos, passávamos o tempo
todo juntos, especialmente nos fins de semana, mas então as coisas
mudaram visivelmente quando Lennon se mudou. Sua felicidade era tudo
com o que eu me importava, então eu entendi quando ele abandonou
nossas noites masculinas por noites românticas. Não era como se eu não
encontrasse outra companhia para me manter ocupado.

Estou perdido em meus pensamentos até ouvir Lennon farfalhando na


sala de estar. Eu ando e a vejo arrastando os pés pelo corredor, depois entra
no banheiro. Ela bate a porta com força desnecessária, e eu vou para a sala
e vejo o telefone dela ainda na mesa de café.

Lembrando que preciso obter o número do trabalho de Brandon e


imaginando que suas irmãs também precisam saber para que possam estar
aqui por ela, eu pego o telefone e vou para o banheiro.

— Lennon, — eu chamo, batendo minhas juntas na porta. — Qual é o


código do seu telefone?

Ela não responde, mas um segundo depois, ela a abre e me olha com
uma expressão ilegível. — Para quê?
— Eu preciso do número do chefe de Brandon. Você deveria ligar para
Maddie e Sophie também, mas eu posso fazer isso por você, se quiser. —
Digo a ela.

Lennon estreita os olhos para mim, seu cabelo uma bagunça


selvagem. Sua pele está manchada e seus olhos estão vermelhos de tanto
chorar. Eu sinto um forte desejo de puxá-la para perto e abraçá-la, e deixá-
la saber que tudo vai ficar bem, mas eu não faço isso.

— É o seu número. — Ela afirma com naturalidade, passando por mim


e pelo corredor novamente.

— Huh? — Eu pergunto, completamente confuso. Ela vai para a


cozinha e serve café em uma caneca.

— 6-6-6. — Ela gira para me encarar inexpressivamente.

— Lennon. — Dou um passo em sua direção, mas ela levanta a mão


para me impedir de chegar mais perto.

— Como eu disse, — ela diz com forte ênfase, — você não é legal
comigo há dois anos, então não há razão para começar agora. Dê-me meu
telefone e encaminharei as informações de contato. Eu posso ligar
para minhas irmãs.

Lennon estende a palma da mão, e eu relutantemente coloco o telefone


nela. Eu não posso nem discutir com ela, especialmente agora. Eu tenho
sido um idiota de classe A para ela, não há como negar isso, mas ela não
entende as circunstâncias de por que eu tinha que ser - por que eu tive que
afastá-la.

Afasto-me sem responder, não querendo dizer nada do que me


arrependo mais tarde. Ela não vai me deixar entrar facilmente, mas,
independentemente disso, ela precisará de todo o apoio que puder obter
nas próximas semanas, meses, inferno, talvez até anos. Nós ainda
moramos juntos, afinal.

Depois de tomar banho e me vestir, decido que é hora de fazer o


inevitável e contar a Mason e Liam. Eles provavelmente estão
trabalhando, mas não posso deixar passar mais tempo sem que eles
saibam.

Hunter: Brandon sofreu um acidente de moto na noite


passada. Vocês podem vir hoje?

Não quero contar a eles por mensagem de texto ou por telefone, mas
também não quero contar pessoalmente. Vê-los arrasados será difícil.

Mason: Merda, cara. Ele está bem?

Liam: Eu disse aquele idiota que ele não podia andar com aquela
merda!

Hunter: Apenas venha, ok?

Mason: Eu posso estar lá dentro de uma hora.

Liam: O mesmo.

Engulo o nó apertado na minha garganta e já estou com medo do resto


deste dia de pesadelo.

Quando volto para a sala, vejo Sophie e Maddie sentadas no sofá com
Lennon. Ninguém está falando, mas as irmãs de Lennon sentam-se ao lado
dela, segurando-a. Eu me sinto melhor sabendo que ela está com a família
e estou feliz que elas possam lhe dar algum conforto.
Envio uma mensagem de texto para meu chefe por volta das sete, para
que ele saiba que não irei hoje, explico a situação atual e depois penso no
trabalho de Lennon. Ela é tão dedicada, e eu sei que não há como ela
conseguir trabalhar em seu estado emocional. Espero que ela não seja
teimosa e tire uma folga necessária para processar tudo. Eu ligo para o
chefe de Brandon em seguida e passo pela mesma montanha-russa
emocional mais uma vez. Ele me dá suas mais profundas desculpas e pede
que eu os informe quando e onde o funeral será realizado.

Por falar nisso, decido ligar para a Sra. Locke para ver se alguém já
entrou em contato com eles.

— Ele realmente se foi, — ela me diz com respirações irregulares


depois de confirmar com o médico legista e me contar os detalhes. — Eu
nem sei como sobreviver a isso.

Faço o possível para dizer a ela que vamos resolver isso juntos e que
estou aqui para o que ela precisar. Seus pais não deveriam planejar seu
funeral sozinhos, então me ofereço para encontrá-los amanhã na igreja,
para discutir os detalhes.

Logo depois que terminamos a ligação, alguém bate à porta e eu tenho


medo de contar aos meus outros dois melhores amigos. Abro a porta e os
deixo entrar. Eles olham para Lennon e suas irmãs e depois para mim.

— Cara, o que está acontecendo? Locke está bem? — Pergunta Mason.

— Onde ele está? No hospital? — Liam parece desconfortável.

Abro os olhos e balanço a cabeça. — Ele não... conseguiu, pessoal.

— O quê? — Ambos perguntam.


Estou suando quando olho para eles. — Morreu no local. Os policiais
chegaram tarde da noite para nos contar.

— Porra. Você está brincando?

— De jeito nenhum.

Eu franzo a testa. — Sério.

Os dois estão perturbados, e eu os levo à mesa da cozinha para sentar,


para não incomodar Lennon mais do que ela já está.

Após momentos de silêncio, Mason fala. — Sabe o que aconteceu?

— Sim, a Sra. Locke falou com o médico legista e o policial esta


manhã. Mas ontem à noite, tudo que eu sabia era o que Lennon me disse,
que foi que ele dar um passeio sozinho de moto.

Quando eu digo em voz alta, isso me atinge. Lennon me disse que eles
deveriam viajar juntos, e ela acabou mudando seus planos no último
minuto, quando foi à Sophie na noite passada. Puta merda.

Lennon não só está lidando com essa notícia, mas provavelmente


também está pensando em como deveria estar com ele. Inferno,
sinceramente não sei o que ela está pensando, mas só consigo imaginar a
tristeza e a raiva que ela está experimentando. As mesmas emoções correm
através de mim também.

Repito as informações que a mãe de Brandon me contou sobre como a


investigação ainda está em andamento, mas que uma caminhonete
semirreboque o atingiu a cem quilômetros por hora. O motorista alegou
que nem sequer o viu, e que Brandon voou da moto e caiu em uma
vala. Mesmo usando um capacete, nada poderia ter salvado sua vida a essa
velocidade. Ele estava morto antes dos paramédicos chegarem ao local.
Ele estava a apenas vinte minutos de casa.

O pensamento e a realização de tudo isso me fazem correr para a pia e


esvaziar meu estômago.

— Você está bem, cara? — Liam pergunta depois de um momento, me


entregando uma toalha.

— Foda-se, se eu souber. — Limpo minha boca e o suor frio da minha


testa. — Não acredito que ele se foi.

— Eu sei. — Mason bate a mão firmemente no meu ombro e aperta.

As irmãs de Lennon e os caras ficam a tarde toda, mas logo todos


precisam ir embora, deixando apenas nós dois em um apartamento
silencioso. Nenhum de nós comeu o dia todo, e eu sei que se não
comermos, perderemos nossas forças para superar isso.

Não me incomodo em perguntar a Lennon se ela está com fome, porque


eu já sei o que ela dirá. Então, peço comida caseira e, quando ela chega, eu
a coloco no prato e a levo para onde ela está deitada no sofá - o local de
onde ela não se mexeu o dia todo.

— Não, obrigada. — Ela murmura, olhando para o espaço.

— Você precisa de algo em seu estômago, Lennon. — Eu empurro mais


perto em sua direção.

— Você não sabe nada sobre o que eu preciso. — Diz ela, sua voz um
pouco mais alta dessa vez.

— Olha, eu sei que você está chateada. Eu sei que você está
sofrendo. Eu sei que você está com raiva. Entendi. Se você precisar me
usar como seu saco de pancadas emocionais, deixarei você. Mas não vou
deixar você morrer de fome— Digo firmemente.
Ela finalmente se vira e olha para mim, mas permanece em silêncio.

— Apenas tente comer um pouco, — eu digo mais suave desta vez. —


Eu pedi o seu favorito.

Lennon pisca, depois olha para o prato dela. — Como você sabia que
este é o meu favorito? — Ela olha o macarrão com queijo de lagosta e
camarão.

Eu engulo, olhando para o meu próprio prato da mesma coisa. Ela acha
que eu não escuto quando ela fala, mas está errada. Eu estou sempre
ouvindo, especialmente quando se trata dela. Não por qualquer motivo em
particular, mas ouço o que ela diz da mesma forma.

— Eu apenas sei. — Ofereço.

Ela se senta e pega o prato, colocando-o no colo. — Obrigada. — Ela


diz suavemente.

A TV esteve ligada o dia todo como ruído de fundo, mas nenhum de


nós fala ou assiste o que está passando. Sentamos em silêncio e comemos,
e embora eu não tenha apetite, eu o engulo. Lennon move a comida com o
garfo antes de finalmente dar uma mordida.

Nada que um de nós possa dizer fará o outro se sentir melhor ou mudar
as coisas. Por mais que Lennon queira me odiar, eu estou aqui para ficar e
para ajudá-la com isso - ajudar nós dois com isso. Mesmo que eu não
queira admitir, preciso dela tanto quanto ela precisa de mim. Ela é a única
pessoa que estava tão perto de Brandon quanto eu e pode entender
completamente a dor sem fim que estou sentindo. Sei que queria odiá-la e
tê-la me odiando o tempo todo, mas Brandon morrer colocou tudo em
perspectiva. A vida é muito curta e imprevisível para ser um idiota. Eu sei
que ele quer que eu cuide dela da melhor maneira que eu sei, mesmo que
ela prefira me afastar.

— Você terminou? — Pergunto quando ela abandona a comida que mal


comia e se deita.

Ela assente.

Me levantando, pego nossos pratos sujos e vou para a


cozinha. Enxaguei e coloquei na máquina de lavar louça, uma habilidade
que Lennon constantemente pensava que não conseguia adquirir. Exceto,
quem ela acha que os fez antes de se mudar? Porém, antes que ela
insistisse em comprar porcelana nova, usamos pratos de papel e um
conjunto diferente que compramos na loja de artigos usados.

Depois de limpar e colocar a comida restante na geladeira, volto para


Lennon e vejo os joelhos dela contra o peito, com os braços em volta das
pernas. Eu gostaria de poder tirar a dor dela, mesmo que eu nunca fosse
capaz.

— Indo para a cama? — Eu pergunto, pegando o controle remoto para


desligar a TV.

— Estou dormindo aqui, — diz ela. — Eu não consigo dormir lá. —


Lennon fecha os olhos com força e posso ver seu lábio tremendo
visualmente, para não pressioná-la.

— Ok. — Eu digo, colocando o controle remoto de volta e agarrando o


travesseiro e o cobertor. Coloco no chão ao lado dela, como na noite
passada.

— O que você está fazendo? — Ela pergunta suavemente, seus olhos


tristes encontrando os meus.
— Eu não vou deixar você ficar aqui sozinha, — digo a ela. — Quer
outro cobertor?

Ela pisca para mim. — Certo.

Depois que eu pego um, eu o coloco sobre seu corpo. Então apago a luz
da sala e me acomodo na minha cama improvisada. Lennon não
desmorona desde que suas irmãs saíram horas atrás, mas agora, quando o
silêncio e a escuridão nos cercam, ela tenta manter suas lágrimas e
emoções afastadas, mas não consegue.

Deus. Ouvir o choro dela está me arruinando. Se eu não fosse tão idiota
com ela nos últimos dois anos, ela confiaria em mim para confortá-la. A
dor que ela está sentindo está fadada a estar em um nível maior do que eu
consigo entender. Nós dois amávamos Brandon, mas ela
estava apaixonada por ele. Não posso começar a entender a perda do amor
da minha vida, e meu coração dói por ela, pelo que ela não tem mais, pelo
que perdeu - um bom homem, melhor amigo, até um futuro marido. A
última parte me dá um soco no estômago, quando me lembro da conversa
que tivemos, não há muito tempo atrás. Afasto os pensamentos, esperando
não colocar o jantar para fora, desde que me sinto tão doente por causa
disso que posso vomitar.

— Amanhã é um novo dia, Lennon. Nós vamos superar isso, ok? —


Digo, esperando que isso acalme um pouco, esperando que me acalme
também. Eu seguro o amanhã como uma vela na escuridão, uma luz que
nos guiará pela manhã enquanto fecho meus olhos e tento pensar em
nada. Somente o tempo pode curar essa dor, mas os segundos parecem
minutos e minutos, como horas, enquanto o dia anterior continua tocando
repetidamente na minha cabeça.
Nós vamos sobreviver a isso, não vamos? Eu me pergunto, e Lennon
fala como se ela tivesse lido minha mente, mas, na verdade, ela está
apenas respondendo ao meu último comentário.
— Nós precisamos, — ela finalmente diz depois de alguns momentos
de silêncio. — Não temos outra opção.
Capítulo Onze
Lennon
Estou vivendo no meu próprio inferno pessoal, um pesadelo do qual
não consigo acordar. Choque e ansiedade tornaram-se meus melhores
amigos e nunca saem do meu lado. Eles estão determinados a me engolir
inteira e me sufocar até que eu não esteja mais aqui. Um momento, eu
estou bem. No próximo, estou tão perdida e destruída que sinto como se
estivesse morrendo de dentro para fora. Meu coração dói, e o peso cai
sobre mim enquanto me afogo no vazio. Ninguém entende isso da minha
perspectiva. Como eles poderiam?

Chorei até dormir nas duas últimas noites com a realidade que nunca
mais o verei. Eu tento lembrar sua voz e pensar em como ele se
certificaria de me dizer “boa noite” antes de irmos para a cama. As últimas
manhãs foram as piores, no entanto, porque eu sonho com ele e acordo
para um novo dia sem ele. O cheiro de Brandon já está desaparecendo, e
apesar de apenas dois dias desde o acidente terem passado, eu já sinto
como se ele estivesse escorregando entre meus dedos. O pensamento de
meu amor se tornar nada mais do que uma lembrança faz com que as
lágrimas escorreguem pelas minhas pálpebras. Estou surpresa por ter
alguma coisa sobrando.

A última conversa que tive com ele se repete na minha mente. Uma das
últimas coisas que ele disse antes de ir embora foi o quanto ele me
amava. Toda chance que ele tinha, ele me disse o quanto eu significava
para ele, e eu só queria poder vê-lo, beijá-lo ou abraçá-lo novamente. Só
mais uma vez.
Sento-me no sofá, tomando cuidado para não pisar em Hunter. Ele não
saiu do meu lado porque não encontro coragem para dormir na minha
cama.

Brandon e eu deveríamos nos casar, ter filhos e envelhecer


juntos. Íamos ter um milhão de netos e estragá-los. Sonhávamos grande, e
nossos sonhos sempre se incluíam um ao outro. Eu acreditava com cada
fibra do meu ser que ele era o homem com quem eu ficaria pelo resto da
minha vida. Era para ser o começo bonito da nossa história de amor, não o
final do caralho. Não o fim.

Mas é o fim...

Eu suspiro, e sinto como se não pudesse respirar enquanto o peso de


tudo desaba novamente.

Lágrimas ameaçam cair, mas desta vez são acompanhadas de raiva. Eu


me forço a ficar de pé, ando pelo corpo de Hunter e depois vou ao
banheiro. Meus movimentos são robóticos como se eu estivesse no piloto
automático porque, essencialmente, eu estou. Eu como e respiro porque
preciso, não porque quero. A minha concha oca percorre os movimentos da
vida, mas não sei como vou passar disso.

A única coisa que me faz continuar é o fato de que meus alunos na


escola precisam de mim. Eu mantenho isso como um colete salva-vidas e,
no momento, está me salvando de me afogar.

Acendo a luz e olho no espelho uma versão zumbi de mim com olhos
inchados e nariz vermelho. Estou em constante estado de tristeza, mas de
alguma forma, me forço a tomar banho. Ligo a água o mais quente
possível, esperando que ela roube o lugar da dor constante que sinto dentro
do meu coração, mas não adianta. Pela primeira vez na minha vida, tomo
banho em silêncio. Inclino-me contra a parede e deixo o fluxo cair sobre
mim, para me tirar disso, mas não adianta.

A água esfria, o único indicador em que estou aqui há tempo suficiente,


saio do chuveiro e me seco. Coloquei um vestido e algumas sapatilhas,
uma roupa que usei para a aula meia dúzia de vezes. Depois de secar meu
cabelo, prendo-o de volta, para parecer um pouco arrumado. Embora eu
tente, nenhuma quantidade de corretivo cobrirá as olheiras sob os olhos ou
a vermelhidão no rosto, então desisto.

Entro na cozinha, vejo a caneca de Brandon no balcão e


instantaneamente começo a chorar. O sofrimento é uma merda e me dá um
tapa quando as memórias de nós tomando café juntos inundam minha
mente.

Tento segurar minhas lágrimas o melhor que posso, porque não quero
que Hunter me ouça. Irônico, considerando que ele me ouviu chorando nos
últimos dois dias. Ele é a única pessoa que entende um pouco a perda que
estou sentindo. Minhas irmãs vieram me confortar, mas eu não tinha nada
a dizer, então ficamos em um silêncio constrangedor. Nenhuma palavra
pode descrever como estou quebrada e perdida. Sinto como se não fosse
reparável.

Uma mão macia pousa no meu ombro e eu pulo. Virando-me, limpo as


lágrimas das minhas bochechas e tento secá-las, embora não adianta.

— Lennon, — Hunter diz suavemente. — Acho que você não está


pronta para voltar ao trabalho. Você precisa de tempo para curar, para
processar tudo. Tenho certeza de que a escola entenderia considerando o
que aconteceu. — Parece que ele também não dormiu. Foram dois dias
difíceis para nós dois. Eu posso dizer que ele também está
emocionalmente bravo, mas ele é melhor em esconder isso do que eu. Em
vez de chorar como eu, ele segura tudo, mas se ele não soltar logo, ele
acabará explodindo.

Engulo em seco, sabendo que assim que falar minha voz vai quebrar. —
Eu sei.

Lágrimas caem e eu as enxugo novamente. — Mas meus alunos


precisam de mim. O concerto é na sexta-feira, e eles trabalharam tanto
para isso. Só mais três dias e depois estarei nas férias de primavera e
posso processar tudo.

Eu posso dizer que ele está escolhendo suas palavras cuidadosamente


pela maneira como ele me olha. — Eu entendo, mas sei que ninguém te
culparia se você mudasse de ideia. Se você for e sentir que não pode fazê-
lo, não há problema em admitir. — Não sei quanto tempo Hunter planeja
sair do trabalho, mas sei que ele está se encontrando com os pais de
Brandon hoje para ajudar com os arranjos do funeral. Parte de mim está
feliz por não estar lá porque não ajudaria, mas também aprecio o fato de
ele ser forte e fazer isso, para que os pais de Brandon não precisem fazer
sozinhos.

Concordo, sentindo-me entorpecida, agradecida por ter esse show para


me manter seguindo em frente. Não sinto vontade de cantar e fingir ser
feliz, mas farei por meus alunos. Agarrando minha bolsa e chaves, vou
para o trabalho, esperando poder passar pelos próximos três dias sem
quebrar na frente de toda a escola. Eu tenho que ser forte por eles ou pelo
menos tentar ser.

***
O concerto da escola termina sem problemas. Foi a distração perfeita, e
as crianças cantaram seus pequenos corações. Muitos deles perguntaram o
que havia de errado, porque quando eles cantavam, eu chorava. Embora eu
não quisesse mentir, era mais fácil dizer que alguém com quem eu me
importava faleceu e explicar como eu estava orgulhosa deles. Tão
orgulhosa.

Após a apresentação, a diretora Maples me parabenizou por um


trabalho bem-feito e deu-me condolências. Eu acho que ela sabia que eu
estava em um estado mental frágil e deixei como estava, embora eu tenha
ouvido os sussurros sobre eu estar no trabalho tão triste. Na maior parte,
todos eram extremamente compreensivos ou pelo menos agiam como se
fossem. Mas agora já é domingo, o dia em que temi desde a semana
passada, porque hoje é o dia em que colocarei meu amor para descansar.

Algumas pessoas dizem que os funerais dão fechamento para a alma,


mas para mim, apenas torna real que Brandon nunca mais volte. Eu usava
o mesmo vestido preto que no dia dos namorados e não sei como voltarei a
usá-lo depois disso. Quando estou pronta, respiro fundo e sento no sofá,
desejando poder afundar dentro das almofadas e desaparecer.

Hunter entra na sala de estar, vestido com um elegante terno preto. —


Você quer ir comigo?

Eu o ouço falando, mas estou muito perdida em minha mente, pensando


neste funeral e no que significa quando acabar.

Ele caminha mais, para dentro da sala, e se ajoelha na minha frente,


então estamos no nível dos olhos. — Lennon. Você quer ir comigo?

Piscando, eu olho para ele, encontrando seu olhar. — Certo.


— Nós provavelmente deveríamos ir, então. — Diz ele, levantando-se e
depois se afastando. Mas não sei se estou pronta. Eu levanto e perco o
controle que pensei que tinha.

— Sinto muito. — Digo a ele. Tento parar de chorar, mas não consigo
encontrar a torneira para fechar as lágrimas.

Hunter dá alguns passos à frente, mas mantém alguma distância entre


nós. — Ei, ei. Não se desculpe.

Eu me sinto idiota cada vez que choro em torno dele. Eu sei que ele não
gosta de mim, e ele só está sendo legal porque eu estou muito emocional
agora. Por mais difícil e impossível que pareça, acabarei tendo que
encontrar meu próprio lugar e tentarei seguir em frente com minha vida.

Inspiro profundamente e limpo o rosto.

— Pronta? — Hunter levanta as sobrancelhas e me dá um pequeno


sorriso. A verdade é que não sei se posso fazer isso, mas sei que preciso.

Pego meu telefone e o enfio na bolsa, depois sigo Hunter para fora. Ele
caminha ao meu lado e nenhum de nós fala. Entramos no caminhonete e
atravessamos a cidade até a igreja em que Brandon cresceu. Depois de
estacionar, Hunter desliga o motor e nos sentamos e olhamos para as
portas duplas que levam para dentro. Seu peito sobe e desce, e olho para
ele e vejo lágrimas nos cantos dos olhos, mas elas não caem.

— Eu sempre imaginei que este seria o lugar em que nos casaríamos.


— Digo mais para mim mesma. Hunter para e uma respiração irregular
escapa dele.

— Nós provavelmente devemos entrar. — Ele finalmente fala depois


que o silêncio desajeitadamente se prolonga por muito tempo.
Concordo com a cabeça, saio do caminhonete e me forço a atravessar o
estacionamento e subir as escadas. Assim que entro, o cheiro de flores
frescas atinge meu nariz, me deixando enjoada. O cheiro de rosas
costumava me trazer tanta alegria, e agora o cheiro doce parece tão
pungente. Olho dentro da capela e vejo o caixão preto à frente. Meus pés
parecem colados ao chão, e por mais que eu queira me mover, não posso.

Liam e Mason se aproximam, dão um abraço em Hunter, depois em


mim também.

— Sinto muito, Lennon, — oferece Mason. — Se você precisar de


qualquer coisa…

Eu limpo as lágrimas do meu rosto e Liam me entrega um punhado de


lenços de papel. — Você pode precisar deles.

Soltei uma risada abafada e depois olhei para Hunter enquanto Liam e
Mason voltavam para dentro.

— Eu não posso fazer isso, — digo a ele. Está errado. Tudo isso parece
tão errado.

Seus olhos amolecem, e ele gentilmente coloca a mão no meu


ombro. — Vamos entrar juntos, ok? — Suas palavras são reconfortantes
quando ele pega minha mão.

Enfio meus lábios na boca e olho para o teto, tentando encontrar o


pouco de força que me resta. Lágrimas enchem meus olhos, e eu mal posso
ver enquanto passo pela entrada e pelo corredor. É demais, e quero que
acabe agora, para que eu possa ficar sozinha.

— Não precisamos subir lá se você não quiser. — Diz Hunter. Sei que
devo fazê-lo, embora não tenha certeza de que posso me controlar por
tempo suficiente para fazer isso.

Uma apresentação de slides é exibida na tela grande com a porra da


música mais triste que eu já ouvi, e quando vejo fotos de mim e Brandon
juntos, eu me torno uma bagunça completa. Em vez de andar, sento-me o
mais rápido que posso e deixo sair tudo, sem me importar com quem me
vê. Logo alguém se senta ao meu lado e passa os braços em volta de mim.
Quando olho para cima, vejo a mãe de Brandon, a Sra. Locke.

— Oh querida. Sinto muito. — Ela diz. Seguro-a com mais força e,


quando finalmente me afasto, peço desculpas quando noto que minhas
lágrimas caíram no ombro de seu vestido. Ela acena e me estuda,
perguntando com os olhos se estou bem, embora todos saibamos a resposta
para isso.

Eu fungo e limpo meu nariz com o lenço de papel que Liam me deu. —
Eu não sei como vou continuar sem ele, Sra. Locke.

Ela esfrega a mão nas minhas costas e me dá um pequeno sorriso. —


Você terá que fazer da mesma maneira que eu vou - um minuto, uma hora,
um dia de cada vez - e continuar a viver a vida que Brandon gostaria que
você vivesse. Ele te amava tanto, Lennon, e acima de tudo, ele gostaria
que você fosse feliz.

Abro a boca, mas nenhuma palavra sai, apenas um soluço irregular.

Hunter dá um abraço lateral na mãe de Brandon e depois se senta ao


meu lado. Ele não diz nada e apenas olha para a frente. Eventualmente, as
pessoas vêm falar com a mãe de Brandon, e ela me dá um último abraço e
vai embora. Olho para a apresentação de slides, vendo todas as fotos de
Brandon quando criança, fotos dele e Hunter, Liam e Mason e nós quando
começamos a namorar. Assim que termina, ele se repete e eu assisto mais
cinco vezes antes de sentir que posso respirar novamente.

— Estou pronta, — digo a Hunter. Ele assente quando eu fico de pé.

Meus sapatos parecem feitos de concreto enquanto caminho. O pai de


Brandon fica ao lado do caixão e fala com as pessoas depois que elas
prestam seus respeitos. Quando percebo que sou a próxima, meu coração
dispara e bate tão forte no peito que ouço nos ouvidos. Dou um passo à
frente e, quando vejo Brandon deitado lá, perco a cabeça.

Na última semana, tentei imaginar esse momento. Imaginei como seria


ver seu corpo sem vida e, quando olho para ele, não era como eu pensava
que seria. A maquiagem no rosto cobre os machucados e cortes do
capacete, mas ainda posso ver tudo. Eu ouvi Hunter falando com os caras
sobre a quantidade de sangue na cena, e só de pensar nisso faz meu
estômago revirar. Este não é ele. Este não é o meu amor deitado ali. Meu
coração dói, sem entender por que uma pessoa tão boa foi arrancada de
mim. Tudo o que posso esperar é que ele não tenha sentido dor, mas depois
de ver como ele está machucado, não tenho tanta certeza. Eu odeio saber
que ele estava sozinho quando morreu. Meu corpo começa a tremer e
tremer, e Hunter coloca a mão em volta dos meus ombros e aperta, me
trazendo contra seu corpo para conforto. Se eu pudesse rastejar para dentro
e ser enterrada com Brandon, eu faria.

Pela primeira vez na minha vida, eu realmente entendo como Romeu e


Julieta se sentiram, não querendo viver um sem o outro. E se eu tivesse me
juntado a ele naquele passeio, quem sabe qual seria meu destino ou se isso
teria acontecido. Enquanto beijo minhas pontas dos dedos e as coloco em
seus lábios, os lábios que beijei nos últimos dois anos, sei que nunca mais
serei a mesma. Pelo menos nós tivemos isso, mas quem disse que é melhor
amar e perder está errado.

— Eu te amo Brandon. Eu te amo muito. Guarde um lugar para mim lá


em cima, baby. — Sussurro, pensando em como isso é injusto. Sinto como
se estivesse sufocando quando de alguma forma me afasto dele, sabendo
que é realmente a última vez que o verei novamente.

O pai de Brandon me dá um abraço, e eu nem ouço as coisas que ele me


diz. Quando volto para o meu lugar, percebo que Hunter não está atrás de
mim e, quando me viro, vejo-o ainda no caixão com lágrimas caindo em
suas bochechas. É a primeira vez que o vejo desmoronar desde que
descobrimos, e percebo o quanto o está destruindo também. Ele tem um
rosto corajoso, mas agora está liberando tudo. Somos duas pessoas
quebradas que precisarão, de alguma forma, encontrar um novo normal,
embora não tenha certeza de que isso exista. Mason e Liam se juntam a
ele, e eles ficam lá juntos, dizendo adeus ao amigo.

Enquanto espero, ouço uma voz atrás de mim chamando meu nome, e é
quando vejo Maddie e Sophie caminhando em minha direção. Elas me
puxam para seus braços, e sou muito grata por minhas irmãs estarem
aqui. Meus pais queriam vir, mas papai teve que falar em um funeral para
um membro de longa data da igreja, então eu disse a eles que estava tudo
bem. Minhas irmãs me dizem o quanto elas me amam e estão aqui por
mim, e eu nunca quero deixá-las ir.

Maddie pega minha mão e vamos para um banco perto da frente. Elas
se sentam em cada lado de mim e me abraçam com força. Estar nesta sala
me faz querer sair da minha pele.
Logo o culto começa e se torna um borrão quando o pastor oficia. É um
serviço bonito, mas mal consigo me concentrar no que foi dito.

A mãe de Brandon me permite ficar com a família para me despedir,


mas eu mal me lembro, porque o choque toma conta de mim. Hunter,
Liam e Mason, junto com os primos e amigos de infância de Brandon,
foram convidados a carregar o caixão. Observo enquanto eles levantam o
caixão e o levam ao carro fúnebre. A mãe de Brandon me pede para andar
na limusine com eles até o túmulo, então eu faço. Durante a passagem,
olho pela janela, tentando processar tudo. O carro finalmente diminui a
velocidade e eu saio, seguindo a família de Brandon. Eles o carregam para
a tenda montada no local do enterro, e de alguma forma eu ando em
direção a ela.

É engraçado porque, neste momento, noto as nuvens se movendo no


céu azul brilhante e como o tempo continua correndo, independentemente
de eu sentir que meu mundo parou. Entrando na barraca, ouço soluços
escaparem da mãe de Brandon e sinto como se eu pudesse desmaiar, então
encontro uma cadeira vazia para sentar. O pastor prega enquanto eu encaro
a caixa preta brilhante na minha frente. Memórias de nós juntos vêm à
tona e, por um segundo, ouço sua voz na minha cabeça, me dizendo que
vai ficar tudo bem. Os minutos parecem horas e, em um piscar de olhos,
tudo acabou e todos são dispensados.

Pego uma única rosa do arranjo de flores pendurado sobre o caixão


antes de colocá-lo no chão. Uma colher de terra cai em cima da caixa e
depois outra até que meu Brandon esteja totalmente coberto. Então, assim,
acabou, e me resta pegar os pedaços do meu coração partido sozinha.

Maddie e Sophie se despedem. Abraço a família de Brandon e caminho


até a caminhonete de Hunter. Logo ele a destranca e subimos para
dentro. Voltamos para o apartamento em silêncio, o único som que o
motor roncava na rua. Paramos, subo as escadas e, uma vez lá dentro,
sento no sofá.
Enquanto olho para a televisão em branco, percebo que é assim que se
sente a verdadeira solidão. E acho que pode estar aqui para ficar.
Capítulo Doze
Hunter
A coisa mais difícil que já fiz na vida foi enterrar meu melhor
amigo. Nos últimos seis anos, desde que éramos calouros na faculdade,
fomos inseparáveis. De jogar futebol juntos, à depois nos tornar colegas de
quarto, ele tinha sido uma das únicas constantes na minha vida. Em
tempos difíceis, ele sempre me apoiou, assim como todas as minhas
decisões, mesmo que fossem estúpidas. A única coisa que poderia nos
separar era a própria morte; nada poderia ter atrapalhado nossa amizade.
Ao rolar da cama e desligar o alarme do telefone, penso em como estou
chateado com ele. Eu disse a ele para não comprar essa motocicleta, tantas
vezes, e ele fez assim mesmo. Eu gostaria de poder voltar no tempo e
enfatizar o quão ruim seria essa ideia. Não que ele tivesse me ouvido, mas
eu poderia ter tentado mais. Uma vez que Brandon decidisse alguma coisa,
nada poderia mudar sua decisão, mas eu deveria ter feito mais para
convencê-lo. A culpa sobre isso aperta minha mandíbula, a raiva
encontrando seu caminho de volta para mim.

Sento-me na beira da cama e esfrego as mãos no rosto. Ainda estou


entorpecido com o funeral de ontem e, embora não queira ir ao trabalho,
tenho que fazê-lo. Na semana passada, saí cedo alguns dias porque senti
como se estivesse caindo. Minha cabeça não está boa desde o dia em que
os policiais nos deram a notícia. Um pedaço de mim morreu com Brandon.

No começo, pensei que fosse um erro, mas, quando a realidade de que


ele se envolveu em um acidente se assentou em minha mente,
experimentei um turbilhão de emoções diferentes, e ver Lennon sofrer
com isso não ajudou. Eu tentei ajudá-la, embora ela realmente não tenha
pedido nada.

Desde que ela se mudou, eu a tratei como uma merda, e agora as coisas
estão estranhas entre a gente porque nenhum de nós sabe para onde ir a
partir daqui. Não sei do que falar, mas tento garantir que ela esteja
comendo e saia do sofá um pouco. O que mais me mata é como ela parou
de cantar desde o acidente. Eu costumava reclamar tanto disso, mas agora
é tudo o que quero. Ela não é ela mesma, e não tenho certeza de quando ela
voltará ao seu normal. Se é alguma vez voltará.

No entanto, admito que também não tenho sido eu mesmo


ultimamente. Sou rude com as pessoas no trabalho e não quero nada além
de ficar sozinho para processar meus pensamentos. Ainda não fiz isso de
verdade e não tenho certeza de quando poderei.

Eu me forço a ficar de pé e seguir minha rotina matinal. Depois de me


vestir, vou até a cozinha e acendo a luz enquanto preparo um café. Não
estou pronto para o dia ou para lidar com o vazio que me cobre. A cafeteira
emite um som, me afastando dos meus pensamentos e encho minha caneca
para a viagem. Quando fecho a tampa, sinto alguém atrás de mim. Eu me
viro e vejo Lennon e dou a ela um pequeno sorriso. Ela sorri de volta, mas
o sorriso não chega a seus olhos, da mesma maneira que costumava fazer.

— Você quer que eu faça um café da manhã para você? — Eu pergunto,


sabendo que não tenho tempo, mas vou me atrasar por ela, se isso significa
que ela está comendo alguma coisa.

— Obrigado, mas não estou com fome. — Ela abre a geladeira e pega
uma garrafa de água, depois sai da cozinha. Eu a sigo até a sala onde ela
está determinada a dormir todas as noites.
E a maior parte do dia.

— Lennon, se você precisar de alguma coisa enquanto estou no


trabalho, por favor, me ligue. — Ela se deita, puxa o cobertor sobre o
corpo e se vira de lado, olhando para longe de mim. Eu odeio que ela fique
sozinha assim, mas eu tenho que ir.

— Eu vou. — Ela murmura, e eu sei que a conversa acabou. É


basicamente como nos comunicamos ultimamente. Eu prefiro que ela me
xingue e me diga o quanto eu sou idiota do que vê-la assim.

Depois de verificar a hora, decido sair e pegar a estrada antes de ficar


preso no trânsito. Quando chego ao prédio, ligo para Sophie.

— Hunter? — Ela pergunta quando atende o telefone.

— Ei. Sim. Desculpe por ligar para você tão cedo, mas estou realmente
preocupado com Lennon. Se você tiver algum tempo livre durante a
semana, pode dar uma passada e garantir que ela esteja comendo, talvez
tirá-la de casa ou algo assim? Talvez Maddie possa ajudar também?

— Hum, sim, claro. Eu tenho tentado alcançá-la, mas ela não


respondeu as minhas chamadas. — Diz Sophie, derrotada.

— Eu sei. Ela tem sido assim com todo mundo ultimamente. Eu sei que
vai levar tempo, mas estou preocupado. E eu sei que se ela precisar de
alguma coisa, ela é teimosa demais para pedir a alguém, especialmente a
mim.

Ela ri. — Ela é. — A linha fica em silêncio por um momento. — Como


você está indo com tudo isso, Hunter? Você está bem?

— Tão bem quanto eu posso estar, considerando a situação. Mas, ei,


estou chegando ao trabalho, então tenho que ir. — Tento parar de falar
sobre mim mesmo e terminamos a ligação. Eu tenho o número das irmãs
dela, caso precise delas para coisas assim, que até agora foram úteis.

Depois da minha reunião da manhã, atualizo meu chefe sobre o projeto


do complexo de apartamentos. Passo as próximas horas ligando para
diferentes contratados para cumprir os próximos marcos e prazos, além de
aprovando pagamentos para o trabalho já concluído. Antes do almoço,
aviso a todos no escritório que eu estou indo para o local da obra para dar
uma olhada. Depois disso, eu paro em uma loja de tacos que Lennon adora
e pego seu burrito favorito.

Dirijo pela cidade até o apartamento e, quando entro, fico surpreso ao


ver que ela não está no sofá. A água do chuveiro está ligada, quando coloco
a comida na mesa, ela para. Momentos depois, ela está entrando de toalha
na sala secando o cabelo e, quando ela me vê, um grito assustador lhe
escapa.

Estendo minha mão. — Eu sinto muito. Pensei em te trazer o


almoço. Peguei seu burrito favorito no Taco Ranchero.

— Hunter. — Ela inclina a cabeça para mim enquanto tenta recuperar o


fôlego. — Você não precisa cuidar de mim, ok?

Meus olhos encontram os dela. — Eu sei disso, mas Brandon gostaria


que eu fizesse.

— Isso não me torna sua responsabilidade, — ela deixa escapar. Ela


para seus passos e engole em seco. — Eu sinto muito. Eu... — Ela balança
a cabeça, levando os dedos às têmporas, e eu gostaria de não ter dito isso
porque percebo o quanto isso a perturba, mesmo que seja parcialmente a
verdade. Eu quero cuidar dela por razões egoístas também. Eu odeio vê-la
tão perturbada, e considerando que não há nada que eu possa fazer sobre a
morte dele, eu posso estar aqui por ela de todas as maneiras possíveis.

— Não, me desculpe. Só sei que ele iria quer que eu tenha certeza de
que você está comendo e se cuidando, e isso é tudo que posso fazer
agora. Se eu estiver ultrapassando meus limites, me diga, e eu vou parar.

— Hunter... — Seu lábio inferior treme. — Você não precisa se


desculpar. Eu realmente aprecio tudo o que você fez por mim, mesmo que
eu não tenha mostrado. — Ela balança a cabeça. — Eu simplesmente não
me sinto como eu. Estou tão triste que não sei o que fazer ou como agir. O
tempo para, mas passa tão rápido, e eu sinto como se estivesse vivendo o
mesmo dia no inferno repetidas vezes. — Lágrimas escorrem pelo rosto
dela, e eu quero abraçá-la, dizer a ela que está tudo bem, e confortá-la,
mesmo que eu não saiba como. Mas, em vez disso, fico ali me sentindo a
maior merda do mundo.

— Lennon... — eu digo a ela. — Venha sentar. Está tudo bem. Eu não


deveria ter dito nada. Eu sei o que você está passando. Não é fácil, e
também não sei como vou superar isso. É a coisa mais difícil que já
experimentei, e a única pessoa que entende isso agora é você.

Ela se senta e eu pego a comida da bolsa e entrego-lhe alguns


guardanapos. Eu pedi a mesma coisa, porque é o meu burrito favorito
também.

Nós desembrulhamos nossa comida e nenhum de nós come


imediatamente. Antes que esfrie, dou uma mordida, e ela faz o
mesmo. Não tive apetite durante a semana passada e não tive vontade de ir
à academia, embora eu saiba que provavelmente seria bom para mim
liberar um pouco da minha raiva e frustração. Cada momento de vigília foi
gasto me preocupando com Lennon e certificando-me de que ela está
seguindo em frente, por mais difícil que seja. Ela é a única razão pela qual
consegui sair da cama de manhã.

— Isso é realmente muito bom, — diz ela, dando outra mordida e me


enviando um sorriso doce. — Sophie vem me buscar em trinta
minutos. Estamos fazendo as unhas dos pés e das mãos. Eu não queria ir,
mas ela é implacável, então concordei para calá-la. — Diz Lennon com
uma risada derrotada.

Meu coração quase explode de alegria ao ouvir isso, e estou tão feliz
que liguei para Sophie a caminho do trabalho.

Depois que comemos, há uma batida na porta e eu atendo. Sophie sorri


muito quando me vê, e eu sussurro um agradecimento a ela. Ela me dá um
pequeno aceno de cabeça e entra.

— Aí está minha irmã favorita! — Ela diz, caminhando até Lennon e


passando os braços em volta dela.

— Estou dizendo a Maddie que você falou isso. — Brinca Lennon.

— Está bem. Eu direi a ela que ela é a minha favorita também, para que
ela não acredite em você. — Sophie dá uma piscadela para Lennon, depois
se inclina e rouba uma mordida no burrito que mal foi tocado. — Oh, meu
Deus. — Ela geme em torno de um bocado, dando outra mordida.

— Ei! — Lennon diz, sorrindo genuinamente.

— Se você não terminar de comer isso, eu vou. — Sophie ameaça


bufando enquanto dá outra mordida.

Lennon balança a cabeça e se levanta. — Vou trocar de roupa muito


rápido e escovar os dentes. Me dê cinco minutos?
Sophie assente, e Lennon se afasta.

— Obrigado. — Digo novamente, sabendo que posso ir trabalhar sem


me preocupar com Lennon estando sozinha.

— A qualquer momento. Demorou um pouco para convencê-la, mas ela


finalmente cedeu quando eu lhe disse que estava vindo buscar sua bunda
teimosa, independentemente se ela quisesse ou não. — Sophie ri e olha em
volta do apartamento. A última vez que ela veio após o acidente, tudo
estava agitado, e sua atenção estava em Lennon.

— Minha irmã realmente decorou o lugar, não é? — Sophie se levanta


e bate-papo comigo. As fotos de Lennon e Brandon ainda estão penduradas
na parede, e ela as observa enquanto espera. A realidade de meu melhor
amigo desaparecer praticamente me dá um soco no estômago. A tristeza
surge inesperadamente quando uma memória é acionada. Felizmente,
Sophie não menciona as fotos espalhadas por todo o lugar, e quando
Lennon entra, ela se vira e coloca um sorriso enorme no rosto.

— Eu odeio o quão bonita você é, sem sequer tentar. — Sophie diz a


Lennon com um beicinho.

Eu rio e balanço minha cabeça. — Vocês duas têm os mesmos genes.

— Sim, mas ela conseguiu todos os genes bons. — Sophie brinca de


brinca.

Lennon revira os olhos. — Ok, bem, é isso que você ganha por me dizer
que fui adotada por todos esses anos. — Ela sorri. — Nós provavelmente
devemos ir.

Sophie vai em direção à porta e sai, e antes que Lennon a siga, ela para,
vira e olha para mim. — Obrigada, Hunter. Agora, você é minha única
salvação. E eu sei que você está deixando Brandon orgulhoso.

Embora o brilho nos olhos dela tenha desaparecido e o sorriso esteja


vazio em seu rosto, eu sei que ela fala sério, e isso é o suficiente para
mim. — De nada. — É tudo que consigo dizer antes que a porta se feche.

Coloco o burrito comido pela metade na geladeira e volto ao


trabalho. Eu ligo o rádio para abafar as memórias de Brandon inundando
minha mente. O que sempre aparece na minha cabeça é como ele queria
propor a Lennon, passar o resto de sua vida com ela, e não é justo que a
oportunidade tenha sido roubada dele. Embora o ciúme tenha me
consumido nos últimos dois anos, eu nunca quis isso. Se eu pudesse trocar
de lugar com ele, faria isso em um piscar de olhos. Ele tinha muito pelo
que viver.

Volto ao escritório e basicamente faço ligações pelo resto da tarde. É


chato ter que falar tanto ao telefone, mas estou gerenciando esse projeto e,
se algo der errado, é minha bunda na linha. Eu quero ir além e além, para
que eu possa provar a meu chefe. Muitas pessoas esperam que eu falhe,
por isso estou tentando manter o foco em concluir o trabalho de maneira
eficiente e eficaz, sem grandes contratempos ou desastres. Este projeto é a
única distração que tenho no momento, bem, e Lennon.

Logo, o dia acaba e, enquanto estou caminhando para a minha


caminhonete, meu telefone vibra no meu bolso. Considerando que eu disse
a Lennon para me ligar sempre que ela precisar de algo, eu me apresso e
puxo para fora apenas para ver que é Jenna. Engulo em seco, expiro e
rejeito. Quando ela descobriu que Brandon morreu, ela me mandou uma
mensagem de condolências e eu agradeci. Desde então, Ela me mandou
mensagens várias vezes, mas eu não tive forças ou estive com a cabeça
boa para responder. Eu deixei claro, na última vez que saímos, que eu não
podia dar a ela o que ela merecia e que seus sentimentos não eram
correspondidos, mas ela não desistiu. Mesmo que eu me sentisse da
mesma maneira, eu precisaria trabalhar comigo mesmo antes de entrar em
um relacionamento, porque agora, eu estou todo fodido, e isso vai levar
tempo.

Enquanto entro na caminhonete, meu telefone vibra e vejo que ela


decidiu me mandar uma mensagem.

Jenna: Eu sinto sua falta. Espero que você esteja bem.

Eu sei que ela está tentando ser legal, porém eu bloqueio meu telefone
e o jogo no banco do passageiro, em vez de responder. Não posso lidar
com a insistência dela agora. O caminho para casa é tranquilo, e quando
entro no apartamento e instantaneamente sinto o cheiro de baunilha no ar,
sei que é uma das velas de Lennon. Sempre que ela as acendia, eu
reclamava sobre como elas fediam, mas agora eu agradeço o cheiro.

Assim que eu coloco minha bolsa no chão, ela se vira e olha para mim
do sofá. — Bem-vindo.

Ela está animada, mas considerando como a dor funciona, eu sei que
pode durar pouco.

— Ei. — Dou-lhe um sorriso.

O telefone dela vibra na mesa de café e ela se inclina para frente para
olhar. Quando passo, vejo a foto dos pais dela na tela enquanto ela a
rejeita, mas não digo nada. Em vez disso, vou para o meu quarto, pego
algumas roupas limpas e tomo um banho. Tudo o que consigo pensar é
como Lennon terá que passar os próximos seis dias, sozinha no
apartamento, durante as férias de primavera. Embora ela tenha passado por
um dia, eu me pergunto como ela conseguirá superar os outros.
Depois de me secar e me vestir, volto para a sala e me sento no lado
oposto do sofá para assistir TV. É um reality show estúpido, mas ela
parece gostar disso. O telefone dela toca novamente, e noto que são os pais
dela de novo, mas, como antes, ela rejeita a chamada.

Eu olho para ela e falo baixinho. — Lennon.

— Não sinto vontade de conversar com ninguém. Eu já socializei o


suficiente hoje. — Ela diz antes que eu possa dizer outra palavra,
inclinando a cabeça para trás no sofá para encarar o teto.

— Você não pode evitá-los para sempre. Tenho certeza que eles estão
preocupados com você. — Digo a ela no final do intervalo comercial. Seus
olhos voltam para a TV, mas sei que ela não está prestando atenção.

Na terceira vez que o telefone dela toca, eu levanto e o agarro antes que
ela possa rejeitar a ligação. Sua boca se abre e seus olhos se arregalam
ainda mais quando eu atendo.

— Alô? — Pergunta uma mulher que suponho ser a mãe dela.

— Oi. — Eu digo, sorrindo para Lennon, que está franzindo a testa para
mim.

— É o telefone de Lennon? — Ela parece extremamente confusa.

— Sim, é. Mas eu queria responder para que você não precisasse


continuar se preocupando com ela. Meu nome é Hunter, e eu sou...

Lennon rapidamente gesticula, — Você não pode dizer companheiro de


quarto.

— Amigo dela. E eu tenho verificado ela para ter certeza de que ela
está bem. E ela está.
— Graças a Deus ela tem alguém cuidando dela além das irmãs. — Diz
a mãe dela, soltando um suspiro aliviado.

— Garanto que ela coma e saia do apartamento. Mas de qualquer


maneira, ela não pode atender ao telefone agora. Ela não está se sentindo
como ela mesma, mas eu não queria que você se preocupasse. — Sorrio,
esperando que ela possa ouvir minha sinceridade.

Sua mãe é muito grata e envia seu amor antes que eu termine a ligação.

Lennon está de pé com as duas mãos nos quadris. — Que porra é essa?
— Ela repreende no mesmo tom em que costumava me amaldiçoar.

Eu lanço um sorriso para ela, embora ela não esteja feliz.

— Você não tem ideia do que você poderia ter acabado de fazer. — Ela
pega seu telefone fora do meu alcance quando eu me sento.

Estou confuso com a declaração dela, então estreito meus olhos para
ela. — O que você quer dizer? E por que você não quer que eu diga que
sou seu colega de quarto? É o que somos.

Ela solta um suspiro e silencia a TV, depois se vira para mim. Quando
ela me olha com irritação e raiva no rosto, todo o ar na sala
evapora. Espero que ela me diga o que diabos está acontecendo e por que
isso é tão importante.

— Meus pais não sabiam que Brandon e eu morávamos juntos. — Diz


ela, fechando os olhos com força, depois os abre e olha para mim.

— Você nunca disse a eles? — Eu a estudo.

— Não. Você não entende como eles são, Hunter. Eles são
extremamente rigorosos e têm crenças muito ultrapassadas. Eu queria que
eles amassem Brandon tanto quanto eu, e se eles descobrissem que eu
estava morando com ele, eles não teriam aceitado nosso
relacionamento. Eles são extremamente religiosos, e um homem e uma
mulher não vivem juntos até que estejam casados. Além disso, ainda sou
virgem.

Caí na gargalhada, percebendo que ela não estava brincando.

— Eles realmente acreditam nisso? — Eu pergunto, ainda me


perguntando se ela está brincando, mas pelo olhar sério em seu rosto, eu
sei que ela não está.

— Às vezes é mais fácil não contar todos os detalhes da minha


vida. Suas opiniões não mudarão nada, então é melhor manter meus
segredos escondidos. Agora, acho que realmente não importa.

— Mas importa... porque nós ainda moramos juntos.

Ela assente. — Sim. Mas não estamos namorando.

Observo enquanto ela começa a se fechar, construindo seus muros


novamente, e sei que ela está pensando em Brandon.

— Minha mãe costuma fazer muitas perguntas. Eu já recebi tantas


ligações de pessoas da igreja enviando suas condolências, então agora eu
sei que sou o assunto da comunidade. Acho que é o que acontece quando
seu pai é pastor de uma igreja enorme. Do jeito que me sinto agora, é
melhor não conversar com meus pais. Não quero dizer algo de que me
arrependo ou criticá-los sem motivo. A última vez que falei com ela, ela
me disse para voltar para casa e voltar para Utah.

— Você vai? — Eu instintivamente pergunto.

Ela faz uma pausa por um momento e sorri. — De jeito


nenhum. Enquanto minhas irmãs estiverem aqui, eu estarei aqui. Não
desejo que me digam o que devo ou não fazer. Eu tive dezoito anos difíceis
com isso, e se eu voltasse, independentemente da minha idade,
continuaria, e simplesmente não posso aguentar. Além disso, eu amo meu
trabalho. A Califórnia é minha casa agora e não pretendo ir embora.

Meu coração bate forte no meu peito com as admissões dela. Saber que
ela não está fugindo, quando isso seria tão fácil, faz com que um sorriso
toque meus lábios. — Bom. — Eu digo.

— Tenho uma viagem planejada para vê-los daqui a alguns meses,


depois que a escola terminar. Os bilhetes de avião já foram
comprados. Brandon e eu estávamos indo juntos. — Ela faz uma pausa por
um momento. — Ele foi a única pessoa que eu já contei sobre o quão
rigoroso meus pais eram enquanto eu crescia. Ele me entendia
profundamente.

Quero alcançá-la, mas estou de um lado do sofá e ela do outro, e é


melhor que não o faça. Mas quando ela está nesse estado frágil, eu só
quero abraçá-la e mantê-la perto, para que ela não se quebre em um
milhão de pedaços. Meu único trabalho agora é ser a cola que a mantém
inteira, da melhor maneira possível. Eu quase contei a ela sobre minha
infância e como foi fodida, mas decido guardar para mim por
enquanto. Não foi fácil, então eu entendo.

— Eu sei. Eu também sinto falta dele— Ofereço. Sinto falta das


cervejas de sexta-feira à tarde e de toda a merda que ele me daria quando
eu estava sendo um idiota total. Ele me ouvia falar sobre coisas que nem
sequer importavam. Sinto-me culpado por nunca lhe dizer o quanto sua
amizade realmente significava para mim, embora, espero que depois de
todos esses anos ele soubesse.
Lennon tira a TV do mudo e continua assistindo esse programa
ridículo, mas quando olho na direção dela, percebo como estou feliz por
ela estar aqui. Nenhum de nós é a melhor companhia, já que somos
conchas vazias de nós mesmos, mas pelo menos temos um ao outro de
alguma maneira fodida.

Meu telefone vibra no meu bolso e vejo que é Jenna


novamente. Rejeito e ajo como se estivesse assistindo a coisa mais
interessante na TV e me perco nos pensamentos. Ele vibra novamente, e
Lennon olha para mim como se eu estivesse interrompendo essa merda
que ela está assistindo.
— Se você não atender, eu vou. — Ela sorri, mas posso dizer que ela
está falando sério. — Porque depois que você atendeu a ligação de minha
mãe, eu meio que te devo uma. — Ela brinca, mas o pensamento dela
falando com Jenna me faz puxar meus lábios em uma linha firme. Antes
que Jenna possa ligar novamente, porque ela liga, eu desligo o telefone e o
enfio no bolso da frente. Sinto Lennon olhando para mim, mas não ouso
encontrar seus olhos. Ela engole em seco, e eu gostaria de poder ler sua
mente.
Capítulo Treze
Lennon
Faz duas semanas desde a morte de Brandon, e estou tentando
encontrar meu novo normal sem ele. Prometi a todos que tiraria férias de
primavera para resolver o que aconteceu, mas não o fiz. Flutuei durante a
semana, sem noção do tempo. Os dias e as noites se misturavam e, em vez
de vinte e quatro horas, pareciam nunca terminar. Como se eu estivesse em
minha própria prisão pessoal. Estou em constante estado de tristeza e,
embora ainda surjam lágrimas aleatórias, consegui manter um pouco de
controle.

Conversei com a Sra. Locke na semana passada e relembramos todos os


bons momentos que Brandon e eu tivemos nos últimos dois anos. Ela fala
sobre ele como se ele estivesse aqui conosco e apenas saísse férias
prolongadas ou algo assim. Se eu não soubesse melhor, diria que ela está
em negação, mas entendo porque é quase mais fácil pensar dessa maneira.

Estou acordada antes que meu alarme toque como de costume. Minhas
costas doem de dormir no sofá, mas não posso deitar na nossa cama, a que
compartilhamos há quase um ano. Uma parte fodida de mim até quer
deixar suas roupas e sapatos sujos no chão, de quando ele trocou de roupa
para ir andar. Moedas soltas de seus bolsos estão espalhadas na mesa de
cabeceira, e tudo é quase exatamente igual como da última vez que ele
esteve aqui. É essencialmente uma cápsula do tempo da nossa vida juntos,
e não quero perturbá-la.
Nas últimas duas semanas, dormi no sofá. Eu só entro no nosso quarto
para pegar roupas, mas, caso contrário, evito o máximo possível.

O apartamento está escuro quando eu tropeço pelo corredor. Assim que


abro a porta do quarto, acendo as luzes e corro para pegar as coisas que
preciso antes de ir ao banheiro. Enquanto fico no chuveiro, sentindo a água
cair sobre mim, minhas emoções começam a borbulhar. Todas as manhãs,
eu cantava o mais alto possível para começar o meu dia; no entanto, não
me apetece ultimamente. Embora eu tenha certeza de que Hunter está feliz
com isso, porque ele odiava tanto. Cantar sempre me deixou muito feliz,
mas agora não há razão ser feliz.

Depois de me vestir, entro na sala e percebo quão cedo é. Me ocorre


que o apartamento está limpo também, o que é estranho, considerando que
eu não o limpei. Hunter sempre teve um desastre me esperando pela
manhã e agora ele está limpando a minha casa.

O sol ainda não nasceu, então pego meu telefone do chão onde o deixei
ontem à noite e vejo que são apenas seis e pouco. Em vez de ficar sentada
em um quarto escuro, decido pegar minha bolsa e ir trabalhar
cedo. Felizmente, hoje passará rápido, embora eu não tenha tido tanta
sorte.

Chego à escola uma hora e meia antes da minha primeira aula e me


mantenho ocupada reorganizando os instrumentos que usamos no
programa da primavera. A última vez que estive aqui foi pela
apresentação, então minha sala de aula é uma bagunça completa. Sou grata
por me manter ocupada até meus alunos chegarem. Como a escola
terminará nas próximas semanas e as férias de verão começarão, planejei
ensinar a eles a história de alguns dos maiores compositores que já
viveram como Mozart, Beethoven e Bach.
O dia passa rápido e, enquanto eu almoço, sinto os olhares dos outros
professores. Tudo o que posso fazer é fingir que nada está errado e
sorrir. Quando esquentei minhas sobras na sala dos professores, eu poderia
jurar que ouvi alguém falando de mim do lado de fora da porta, e por mais
que quisesse confrontar quem estava fofocando, decidi que não valia a
pena. Depois que termino de comer - ou tento, considerando que meu
apetite é inexistente - é hora da aula começar de novo.

Sinto como se estivesse no palco encenando uma peça para cada uma
das minhas aulas enquanto falamos sobre compositores do século 18, mas
sou grata por não ter que cantar agora, ou posso explodir em
lágrimas. Logo, o dia está terminando, e estou aliviada por estar perto do
apartamento. Depois de estacionar e subir as escadas, sento-me no mesmo
lugar em que tenho estado todo dia. Inclino a cabeça para trás e fecho os
olhos.

Por um momento, acho que ouço Brandon chamando meu nome. Meus
olhos se abrem e olho em volta. Meu sangue corre e bombeia pelo meu
corpo, e tento me acalmar, percebendo que devo ter cochilado porque
estou muito exausta, mas parecia tão real. Antes que eu possa me perder
demais em meus pensamentos, meu telefone toca e vejo que é Maddie.

Cada vez que ela me liga, uma foto nossa quando ela se mudou para a
Califórnia pisca na tela. Traz um pequeno sorriso no meu rosto, e corro e
atendo a ligação antes que ela seja enviada para o correio de voz. Não há
muitas pessoas com quem eu queira conversar agora, mas eu sempre
atenderei as ligações de minhas irmãs quando elas ligarem.

— Ei! — Ela está animada; Eu posso ouvir isso em seu tom.

— E ai, como vai?


Ela mal me deixa expressar minhas palavras antes que ela esteja
gritando no meu ouvido.

— Fui escolhida! EU PASSEI NA AUDIÇÃO! — Ela grita tão alto que


eu afasto o telefone por uma fração de segundo.

— Oh meu Deus, Maddie! — Eu grito junto com ela. — Eu estou tão


feliz por você! Sinto muito, esqueci completamente suas audições.

Ela zomba. — Lennon. Você teve muito em seu prato


ultimamente. Mas tive que lhe contar porque conversamos sobre isso há
não muito tempo.

— Uau, estou tão orgulhosa de você, Mads. Sério, você não tem
ideia. Se alguém merece isso, é você. Você está sempre se esforçando ao
máximo e ensaiando o tempo todo, e isso realmente vale a pena.

Enquanto ela continua falando, o sorriso em sua voz é tão contagioso, e


eu não consigo parar de sorrir junto com ela. Estou tão feliz por ela.

— E adivinha? Eles estão até me pagando!

Eu rio com a emoção dela. — Porque você é uma profissional! Estou


tão feliz por você. — Digo, e ela solta um grito de novo.

— Oh meu Deus. — Ela parece sem fôlego agora, o que me faz rir. —
Eu preciso ligar para Sophie. Então, mamãe e papai. Eu acho que preciso
comemorar. Talvez possamos sair em breve e fazer isso?

Eu sorrio — Definitivamente. Você conseguiu. Vou deixar você ir para


que você possa contar a todos. Te amo.

— Também te amo, Lennon. Tchau!


Encerro a ligação e é a primeira vez em quando que sinto verdadeira
felicidade, e quase parece estranho. Eventualmente, eu fecho meus olhos e
me vejo caindo no sono de novo, mas desta vez eu dou boas-vindas a ele.

Logo, uma mão forte no meu ombro gentilmente me pressiona para


acordar. — Brandon. — Eu sussurro meio adormecida, mas quando eu
lentamente pisco os olhos abertos, é Hunter a quem eu vejo, e há tristeza
em seu rosto.

— Sinto muito. — Eu sussurro, me sento e imediatamente sinto o


cheiro de comida italiana. Todos os dias, Hunter garante que eu esteja
comendo mesmo quando não estou com fome. Minha vida se tornou uma
rotina e hoje não é diferente. Ele gentilmente me traz comida, e eu mal
falo com ele, embora ele pareça estar bem apenas com a minha
companhia. Nunca em um milhão de anos eu jamais pensei que
poderíamos sentar na mesma sala sem nos estrangularmos, e agora
estamos fazendo refeições juntos.

— Tudo bem. Eu pedi o fettuccine de frango Alfredo e peguei alguns


daqueles pães que você ama. — Diz ele com um sorriso. Eu aprecio o quão
doce ele está sendo, mas me pergunto quando isso vai acabar, quando ele
vai cansar de mim e me afastar.

Sentamos um em frente ao outro e comemos em silêncio como de


costume.

Hunter toca no telefone, e eu percebo o quão estranho deve ser para ele
comer com a namorada de seu melhor amigo morto todas as noites.

— Sinto muito, eu não sou uma boa companhia. — Eu deixo escapar


sem pensar.
Ele pousa o telefone e depois olha para mim com a expressão mais
genuína. — Eu acho que sua companhia é perfeita. — Ele encolhe os
ombros, movendo o garfo em torno do prato. — Você não me força a falar
sobre o que aconteceu ou como eu me sinto. Você apenas me aceita como
eu sou e não faz ideia de como isso é refrescante. — Ele faz uma pausa
antes de acrescentar: — Ok, bem, talvez você tenha ideia.

Eu aceno com um meio sorriso e movo o frango no meu prato, sem


comer. — Só não quero que tudo isso seja fingido, Hunter. Que você está
se forçando a ser legal comigo quando realmente quer me dizer para dar o
fora e seguir em frente com a minha vida. — Minha voz falha, e eu respiro
fundo, tentando me controlar. — Sem Brandon aqui, não há razão para
você ter que morar comigo. Você não me escolheu como colega de quarto,
e eu não quero ser um fardo. Eu estava pensando em, antes do final do
verão, procurar um lugar para mim, já que este é o seu apartamento.

Ele abaixa seu garfo e, quando seus olhos encontram os meus, sinto
como se eles estivessem perfurando minha alma, vendo todas as minhas
verdades, meus defeitos e a versão crua e vulnerável de mim que oculto a
todos.

— Não há nenhuma maneira no inferno que isso esteja


acontecendo. Você vai ficar aqui, Lennon. Esta é a sua casa tanto quanto a
minha. E ouça-me com muito cuidado, — ele diz com firmeza, analisando
meu rosto. — Brandon era como um irmão para mim, e eu sabia tudo
sobre ele e provavelmente poderia terminar suas frases se realmente
quisesse. Nós éramos inseparáveis. Praticamente crescemos juntos durante
a faculdade. E o mínimo que posso fazer é o que ele iria querer, para
garantir que você seja cuidada. Ele queria que a gente se desse bem e me
pediu um milhão de vezes no ano passado para não continuar brigando
com você. Mas o mais importante, ele gostaria que nos apoiássemos
durante isso, porque ele era importante para nós dois. Perdi meu melhor
amigo, mas você também, ok? Ninguém, deixe-me repetir, ninguém está
me forçando a fazer nada que eu não queira. —

Suas palavras permanecem no ar, e meu coração ameaça sair do meu


peito enquanto eu processo suas palavras. Hunter é o tipo de homem que
diz exatamente o que ele quer dizer. Mas não posso deixar de me sentir um
fardo para ele, e talvez eu não seja um agora, mas serei quando ele estiver
pronto para seguir em frente. Nossa situação não é perfeita, mas é nossa, e
acho que atravessaremos a ponte quando chegarmos a ela. Sou grata por
ele não estar me chutando pra fora porque o pensamento de sair agora
parece impossível. É algo em que pensei durante as férias de primavera,
mesmo que eu não possa viver sozinha com o salário de professora.

Engulo em seco, mantendo o olhar dele. — Obrigada. Eu quero que a


gente se dê bem também. — Minha voz sai frágil e suave, mas não tenho
energia para me esforçar mais. Não sei mais o que dizer; minhas palavras
soam tão insignificantes em comparação às dele.

Ele me dá um sorriso aliviado. — Bom.

Depois que terminamos de comer, Hunter coloca o restante do meu


macarrão na geladeira, como faz todas as noites, então nos sentamos no
sofá e assistimos TV, embora eu não possa prestar atenção em nada que
esteja passando. Ele folheia os canais e, em breve, eu estou bocejando
repetidamente.

Hunter inclina a cabeça, me dando uma expressão preocupada. —


Lennon. — Sua voz está logo acima de um sussurro suave.
Quando ele me olha com uma gentileza nos olhos, isso me traz de volta
à primeira noite em que nos conhecemos no bar. O Hunter sentado ao meu
lado é o homem que conheci há dois anos, não o idiota com quem estive
vivendo no último ano.

— Você não pode continuar dormindo no sofá. Não é confortável, e eu


sei que você não está descansando. Você está constantemente cansada e vai
se esgotar. Você precisa de uma cama de verdade.

Balanço a cabeça para discutir. — Eu não posso... eu não consigo


dormir naquela cama, Hunter. Com o lado vazio. Está frio e vazio sem
ele. Os lençóis ainda cheiram a ele. Já é doloroso o suficiente entrar lá de
manhã. Eu…

Por um momento, ele me observa, depois respira fundo, como se


estivesse contemplando algo. Me pegando de surpresa, ele coloca a mão
em cima da minha e aperta. — Você pode ficar no meu quarto então. Você
precisa dormir um pouco.

Estou chocada que ele tenha oferecido isso, mas ele tem me
surpreendido muito ultimamente. — Eu não quero deitar na mesma cama
em que centenas de outras mulheres dormiram. — Eu digo, tentando
quebrar a tensão na sala enquanto sorrio.

Hunter remove a mão e levanta seu mindinho. — E se eu jurar colocar


lençóis limpos para você?

Torço o canto dos meus lábios, fingindo realmente pensar sobre isso. —
E virar o colchão? — Eu pergunto, com as sobrancelhas levantadas.

— Maldita garota, — diz ele com diversão, abaixando o braço. — Você


é uma negociadora dura.
Eu dou a ele grandes olhos de cachorrinho pidão e ele revira os olhos
para mim.

— Tudo bem, se é isso que você quer, Lennon. Vou até borrifar Lysol18
e acender uma de suas velas femininas, se é isso que é necessário para
você finalmente ter uma boa noite de sono.

Quando eu não respondo imediatamente, Hunter se levanta e cruza os


braços sobre o peito largo. — Bem? — Ele parece ainda maior quando se
eleva sobre mim, me fazendo sentir pequena e frágil. Embora eu tenha
certeza que é assim que a maioria das mulheres se sente ao seu redor. Seus
músculos sozinhos poderiam me esmagar se ele realmente quisesse.

Eu estudo sua expressão dura, percebendo que ele não aceita não como
resposta. Mordo o lábio inferior enquanto tento me imaginar no quarto de
Hunter. Na cama dele. Por mais estranho que seja, eu sei que ele está
certo. O sofá é uma merda. — OK.

— Graças a Deus. — Ele solta um suspiro aliviado, o que me faz


sorrir. Ele realmente se importa. — Nunca tive que convencer uma mulher
a ir para minha cama antes. Pensei que você fosse me fazer ficar de
joelhos e implorar por um minuto lá. — Ele brinca, o que imediatamente
diminui a tensão.

— E por um minuto, eu pensei que você estava sendo um cavalheiro.


— Eu atiro de volta, embora eu esteja rindo de seu alívio exagerado.

— Eu realmente estou. — Hunter pisca antes de sair pelo


corredor. Pego meu travesseiro e cobertor no sofá e o ouço realmente
virando o colchão, o que me faz rir.

Mais alguns momentos se passam antes que ele retorne. — É todo seu.
— Diz ele, acenando com a mão que eu ande na frente dele.
Quando chegamos ao quarto, abro a porta e olho em volta. Percebo que
nunca estive aqui mais tempo do que o necessário para jogar os sutiãs e
calcinhas aleatórios que encontrei espalhados pelo apartamento. Eu me
viro e olho para ele, e o alívio toma conta de mim com a expectativa de
descansar um pouco. Estou exausta de tentar superar tudo enquanto durmo
no sofá mais desconfortável da minha vida. Não que eu esteja
surpresa. Eles provavelmente compraram barato enquanto estavam na
faculdade, já que está aqui o tempo todo que conheço Brandon.

— Deixe-me saber se você precisar de mais alguma coisa. — Hunter se


vira com seu travesseiro e cobertor para se afastar, mas eu pego seu braço
e o paro.

— Obrigada, Hunter. — Eu digo genuinamente, esperando que ele veja


nos meus olhos o quanto eu estou agradecida.

Com um aceno de cabeça, ele me dá um sorriso. — Qualquer coisa por


você, Lennon. Boa noite.
Ele fecha a porta atrás dele. Eu abro meu cobertor em cima da cama
recém-feita, depois deslizo para baixo dos lençóis frios com meu
travesseiro. Pela primeira vez desde a morte de Brandon, relaxo o
suficiente para adormecer quase instantaneamente, o que é um milagre por
si só, e a única pessoa a quem tenho que agradecer é Hunter.
Capítulo Quatorze
Hunter
Nem sei como descrever esses dois últimos meses sem
Brandon. Nossas rotinas normais de sair nos fins de semana, ir às boates
ou apenas passar o tempo em casa, parecem uma memória distante agora,
mas, ao mesmo tempo, parece que foi ontem.
Agora, a realidade dele nunca mais voltar ou de vê-lo novamente me
bate repetidamente, todas as manhãs em que eu acordo em seu quarto. É
uma situação complicada, para dizer o mínimo, mas quando Lennon se
recusou a dormir na sua cama, mesmo após duas semanas, eu me neguei a
permitir que ela continuasse assim. Ofereci meu quarto em troca do sofá,
mas quando ela viu meus pés pendurados na borda, ela exigiu que eu
levasse sua cama. Tenho o dobro do tamanho de Lennon, mas queria
respeitar o espaço dela. Ela mal entrou no quarto que ela e Brandon
dividiam e manteve tudo igual por dentro. Se ficar no sofá fizesse com que
ela finalmente descansasse um pouco, eu dormia nele todas as noites.

No entanto, Lennon me entregou um conjunto limpo de lençóis e


recusou qualquer desculpa que eu dei a ela. Eu não tinha muita certeza de
que queria, considerando a quantidade infinita de sexo que eles tiveram lá,
mas eu estava meio sem opções. Durma no meio do sofá e acorde dolorido
todas as manhãs ou durma na cama com lençóis limpos. Após a primeira
semana, não foi tão complicado e rapidamente se tornou nossa nova rotina.

Todos os dias, vou ao meu quarto pegar roupas limpas, e ela faz o
mesmo. Então partimos como se não fosse estranho ou algo assim que
trocamos de quarto. Ela não está tão cansada de manhã, mas ainda a ouço
chorando às vezes tarde da noite. O desejo de confortá-la é tão forte que
muitas vezes me encontro do outro lado da porta, pronto para entrar. Mas
depois penso melhor e me forço a me afastar e deixá-la em paz.

Agora, Lennon está de férias de verão e está dormindo, então vou na


ponta dos pés para o meu quarto, pego minhas coisas e saio em
silêncio. Eu realmente deveria mudar minhas coisas, mas até que Lennon
esteja pronta, eu não vou. Não quero ultrapassar meus limites. Eu acho que
ela gosta de entrar nesta sala e ver as coisas dele onde ele as deixou, mas
ela não está pronta para ficar por mais de alguns minutos. Não consigo
imaginar como é doloroso.

— Bom dia. — Lennon me cumprimenta enquanto estou na cozinha. —


Café. Agora. — Ela murmura. A sonolência evidente em seu tom.

— Por que você acordou tão cedo? — Eu pergunto, enchendo a


cafeteira com água.

— Não consegui voltar a dormir depois que alguém me acordou. — Ela


diz, mas eu sei que ela está me provocando pelo jeito que está
sorrindo. Aperto o botão de fermentação e espero.

— Eu peço desculpa, mas não concordo! — Eu digo como se estivesse


ofendido com a acusação dela. — Eu estava sendo muito quieto.

Lennon olha para mim e depois para o chão. — Você tem pés
barulhentos, Hunter.

— Afinal, o que isso quer dizer? Pés barulhentos? — Eu torço o nariz,


caminhando até a geladeira para pegar a garrafa de creme para ela.

— Eu não sei, mas seus pés são enormes e batem forte contra o chão.
— Ela acena com a mão como se estivesse tentando pensar nas palavras
certas. — Pisam forte? Tanto faz. Você sabe o que eu quero dizer.

Ela fica toda perturbada, o que me faz rir. — OK, desculpe. Eu posso
pegar minhas roupas antes de dormir a partir de agora. A menos que você
queira que eu os mude para o meu quarto? Seu quarto. Quero dizer.

Eu estudo o rosto dela, esperando que não a chateie. — Está bem. Eu


estava apenas brincando. — O rosto dela fica inexpressivo quando ela
pega duas canecas e as coloca no balcão. — Acho que vou ler hoje.

— Ah, é? — Pergunto.

— Há um novo livro, que ouvi falar, que está sendo lançado hoje, então
espero que a Barnes & Noble19 o tenha em estoque.

Adoro ouvi-la falar sobre sair de casa sem que alguém a peça ou a
chame para sair.

— Qual é o nome do livro? — Eu pergunto, genuinamente interessado.

A cafeteira apita e Lennon enche minha caneca primeiro. Eu não uso


creme, então começo a soprar no meu imediatamente. Quando finalmente
tomo um gole, Lennon responde: — Snitches Get Stitches20.

Não afasto minha boca rápido o suficiente do café antes de cuspi-lo


pelos meus lábios. Ela começa a rir enquanto eu tento segurar o copo
longe do meu corpo. Eu não estava esperando essa resposta de jeito
nenhum.

— Você está bem? — Ela pergunta, embora ainda esteja rindo às


minhas custas.

— Hum... além de queimar a porra dos meus lábios, sim. — Coloco a


caneca no balcão e pego uma toalha de papel para limpar meu queixo e
camisa. — Esse é um título esquisito que eu não esperava. — Começo a rir
também.

— Eu sei, mas é isso que torna divertido. É um romance sobre um MC,


— ela admite.

— MC? — Minhas sobrancelhas se erguem quando penso


nisso. Espere. — Motocicleta?

— Clube de motocicleta. — Confirma. Ela se vira, se serve de uma


xícara, depois acrescenta creme.

— Lennon. — Ela olha para mim. — Você tem certeza de que é uma
boa ideia? Quero dizer, considerando o que aconteceu? — Estou chocado
que ela se interesse por isso por causa do acidente de Brandon.

Ela encolhe os ombros como se não tivesse certeza. — Eu acho que


será uma maneira de enfrentar meus medos ou algo assim. Eu li os outros
livros da série, então pelo menos sei o que esperar.

Lambendo meus lábios, sinto a ponta da minha língua queimada, e fico


em silêncio enquanto observo sua expressão. Ela quer minha aprovação,
para dizer a ela que não há problema em gostar de ler, mesmo que ela ache
que deveria estar infeliz pelo resto da vida.

— Então eu acho que você deveria tentar. — Eu sorrio para ela, apesar
de me sentir hesitante. A última coisa que ela precisa é descer novamente
para onde estava semanas atrás. Depois de finalmente fazer algum
progresso, eu odiaria vê-la ficar mal de novo. — Só se não incomodar
você.

Lennon toma um gole de café como se não fosse nada, provavelmente


porque é mais cremoso do que qualquer outra coisa, e me dá um
sorriso. — Não se preocupe. Se ficar demais, vou colocá-lo no freezer.

Franzo minhas sobrancelhas, me perguntando se ela está falando


sério. — Huh? — Pego minha caneca para viagem e despejo o resto do
meu café nela. Eu tenho que sair para trabalhar em breve.

— Você nunca assistiu Friends? — Seus olhos se arregalam com


julgamento.

— Quem nunca viu? — Eu sorrio.

— O episódio em que Joey e Rachel trocam livros. Ele coloca O


Iluminado no congelador, porque isso o assusta, — ela diz, rindo com o
pensamento. — Então ele lê o livro de Rachel, Little Women, e quando
uma delas fica doente, ele fica triste, e Rachel...

— Oferece para colocá-lo no freezer. — Termino por ela, agora rindo


ao me lembrar desse episódio.

— Sim! — Ela canta. — Melhor série de todos os tempos.

Dez minutos depois, estou pegando minhas coisas e me preparando


para sair para o trabalho. Saio um pouco mais tranquilo sabendo que
Lennon não ficará sozinha e se afundando. Ou ela guarda isso para quando
eu não estou em casa, ou ela está ficando melhor em lidar com suas
emoções. Eu odiaria pensar que ela está escondendo seus sentimentos por
mim e espero que ela esteja confortável o suficiente para se expressar
como ela precisa. Eu ainda peço as suas irmãs para checa-la quando eu não
estou aqui, e Liam e Mason até apareceram algumas vezes.

— Não se preocupe, eu vou ficar bem, — ela me tranquiliza antes de eu


sair pela porta. — Eu choro no chuveiro, evito fazer durante o dia e, em
seguida, geralmente fico bem até a hora de dormir.
A tristeza é evidente em seu rosto, embora seu tom seja leve. Eu olho
para ela, sabendo que não há nada que eu possa dizer para mudar isso.

— Devemos assistir Friends mais tarde, — eu simplesmente digo. —


Vou pedir o jantar e podemos rir a noite toda. — Acho que é uma série
segura para assistirmos. Nada excessivamente sexual ou triste. Temos
assistido - ou melhor, ela tem insistido - em seus reality shows de merda, e
na maioria das vezes, tenho permitido isso, mas é o suficiente. Um homem
só pode lidar com alguns dramas femininos causados pela auto sabotagem.

— Soa como um plano. Mas ainda estou no comando do controle


remoto. — Ela acrescenta com um sorriso.

Balanço a cabeça e rio. — Qual é a novidade?

Dirigindo para o trabalho, penso em Brandon e em nossa antiga rotina


diária. Antes de Lennon se mudar, nos encontrávamos pela manhã e depois
passávamos a noite toda juntos. Ele não a veria até os fins de semana, mas,
assim que ela se mudou, ela consumiu cada momento sempre que estava
perto. Ele a amava tanto, isso era óbvio.

Eu só queria que Lennon e eu pudéssemos nos dar bem em diferentes


circunstâncias. Sei que a maior parte do motivo pelo qual não o fizemos
foi por minha causa, e se eu pudesse voltar e mudar as coisas, eu o
faria. Lidar com meus sentimentos por ela é algo que nunca fui capaz de
processar completamente, mas consegui escondê-los, engoli-los da melhor
forma possível e continuar sendo o amigo de que ela precisa agora. A
culpa queima dentro de mim, sabendo como me senti sobre ela esse tempo
todo, mas tento me dar um tempo, considerando que nunca dei em cima
dela e nunca o faria. Lennon é o meu segredo mais bem guardado.

Quase ao meio dia, recebo uma mensagem de texto.


Mason: Eu ia passar e pegar almoço para Lennon. Você acha que
ela gosta o restaurante Del Taco?

Eu rio.

Hunter: Quem não? Ela gosta de burritos de carne e feijão.

Mason: É bom saber. Obrigado!

Hunter: Espere, ela falou sobre ir à livraria hoje. Deixe-me ver se


ela está em casa primeiro.

Pressiono o número dela antes de esperar por sua resposta. Toca duas
vezes antes que ela atenda.

— Ei. — Ela sussurra.

— Oi. Você está em casa? Mason queria levar o almoço para você. —
Digo a ela.

— Não, eu estarei em casa em cerca de quinze minutos, no


entanto. Apenas indo para o caixa. — Ela sussurra novamente.

— Por que você está sussurrando?

— Porque eu estou na Barnes e não quero ser rude quando as pessoas


estão comprando e lendo. — Diz ela em um tom condescendente e depois
ri.

— Ok, apenas perguntando. — Eu ri, balançando a cabeça. — Você


encontrou seu livro?

— Sim! Agarrei alguns outros também. Um de fantasia para jovens


adultos sobre reis perversos, um romance para jovens adultos que parece
algum tipo de competição malvada entre meninas e um livro de autoajuda
sobre o luto.
Eu não esperava esse último, mas também não posso dizer que estou
surpreso.

— Eles parecem... interessantes.

— Acho que vamos ver. — Ela respira. — Diga a Mason que voltarei
para casa em breve. Espera. Você sabe o que ele está me trazendo? Talvez
eu fique. — Ela pergunta com uma risada suave.

— Aproveitadora, — eu provoco. — Ele disse Del Taco.

— Muito bom. Ok, eu estarei em casa assim que eu sair.

Depois que desligamos, eu mando uma mensagem para Mason e dou a


ele a atualização. Ele envia um emoji de polegar para cima, e eu relaxo o
resto do dia sabendo que Lennon está lenta mas seguramente voltando ao
seu normal.

***
Só chego em casa depois das seis e estou realmente ansioso para comer
e assistir à TV como planejamos. Hoje foi a segunda-feira mais parecida
com terça-feira de sempre, e estou cansado.

Ver Lennon no sofá com um livro na cara me faz sorrir. Vejo os outros
dois livros que ela comprou na mesa de café e, pelo jeito que ela está
sorrindo, acho que ela não está lendo o livro de luto.

— Eu vou tomar um banho rápido, desde que fiquei no local de


trabalho a tarde toda. Você está bem em fazer o pedido do jantar depois?
— Eu pergunto enquanto tiro minhas botas.

— Claro, tudo bem. — Ela responde sem piscar para longe das
páginas. Isso me faz rir.
— Pense no que você quer comer enquanto estou lá, porque estou com
fome pra caralho, — eu digo, desabotoando minha camisa. — Acho que
tacos estão fora de questão, já que você comeu isso no almoço. — Tiro a
camisa e esfrego a mão na linha do queixo. Merda, eu preciso me barbear
também. A nuca está ficando um pouco grossa. — Qualquer coisa além de
sushi, no entanto. Talvez hambúrgueres? — Digo em voz alta, desfazendo
meu jeans. Estou muito longe de pensar em comida para ver Lennon me
encarando sobre o livro com as sobrancelhas erguidas. — O quê? — Eu
finalmente pergunto.

— Hum... — Ela limpa a garganta, piscando. — Não sabia que você


estava oferecendo jantar e um show. — Ela ri, estreitando os olhos.

— Huh? — Olho para baixo e percebo que estou com minhas


boxers. — Foda-se. — Pego minhas roupas do chão e me viro para
caminhar pelo corredor. — Desculpe! — Eu chamo.

Droga. Eu estava tão distraído e ansioso para tirar minhas roupas de


trabalho que nem estava pensando. Agora ela provavelmente pensa que sou
um pervertido. Eu já andei de cueca antes, geralmente enquanto escoltava
uma garota para fora da porta, mas isso foi como um show de strip
privado, completamente involuntário.

Eu tomo banho, pensando nos últimos dois meses e quanto tudo


mudou. Alguns dias são melhores que outros, mas Lennon e eu ainda
estamos aproveitando um dia de cada vez. A dor me atinge em momentos
aleatórios e geralmente é inesperada.

Não só sinto falta do meu melhor amigo mais do que jamais pensei ser
possível, como também fico impressionado sempre que olho para Lennon
e desejo poder beijar a tristeza fora do rosto dela. É uma merda, toda essa
situação é, mas o que aconteceu não apagou automaticamente os
sentimentos profundamente enraizados que eu tinha por ela. De qualquer
forma, eles se intensificaram a medida que nos aproximamos, e eu me
sinto um idiota por isso.

Além disso, eu não transo há mais de dois meses, o que significa que
foder garotas aleatórias para esquecê-la não é mais o meu mecanismo de
enfrentamento. Pelo menos quando eu estava com outra mulher eu podia
esconder esses sentimentos e enterrá-los em outra pessoa. Agora eles estão
todos presos e acumulados.

Meu pau fica duro só de pensar nisso, e eu sei que sou um idiota por
considerar minhas próprias necessidades em um momento como este. Não
seria a primeira vez que eu me masturbava pensando nela, mas agora
parece mais errado do que antes. Ainda assim, o desejo me atinge, e eu
acaricio meu comprimento, com força e rapidez até eu xingar e soltar um
grunhido profundo e animalesco. Eu me sinto um filho da puta depois, mas
nunca consigo cruzar essa linha com ela.

Lennon precisa de um amigo agora, alguém familiar que conhecia


Brandon tão bem quanto ela, e isso é tudo que eu pretendo
ser. Eventualmente, ela seguirá em frente, e como eu fiz desde o primeiro
dia, vou me afastar e deixá-la encontrar a felicidade novamente.

Porque ela merece toda a felicidade do mundo.

Esse dia estará aqui antes que eu perceba. Tudo isso será uma
lembrança distante, e será como se nossa amizade temporária nunca
tivesse existido. Por mais doloroso que seja pensar nisso, a única maneira
de me preparar totalmente para a destruição do meu coração é reconhecer
que vai acontecer e esperar por isso.
— Ei, — A voz de Lennon soa, me tirando dos meus pensamentos
sombrios.

Eu desligo a água e abro a cortina do chuveiro ao mesmo tempo em que


Lennon abre a porta do banheiro. Seus olhos se arregalam em choque
quando ela olha para o meu corpo como se ela fosse incapaz de desviar o
olhar. Pego rapidamente uma toalha e a enrolo na cintura, esfregando a
mão no rosto enquanto a água escorre pelo meu peito.

— Sinto muito, — ela gagueja, cobrindo os olhos e se virando. — Eu


pensei que você ainda estava tomando banho e não iria me ouvir, e eu
claramente não deveria ter entrado.

Um sorriso divide meu rosto com o quão perturbada ela está,


considerando os romances que ela está lendo. — Lennon, — eu digo o
nome dela, mas ela se recusa a se mexer. — Estou usando uma toalha
agora.

— Eu não vi nada. Quero dizer, eu vi você, mas não vi nada. Espere,


isso parece ruim. Quero dizer, eu vi, mas não estava olhando. Ou melhor,
eu não pretendia olhar. Como eu disse, não achei que você pudesse me
ouvir sobre a água e...

Estou rindo muito agora. — Lennon, está tudo bem. Desliguei a água
porque ouvi você e queria poder responder ao que você precisava.

— Não é engraçado. Pare de rir.

Coloquei as mãos no ombro dela e a fiz girar para me encarar. Inclino o


queixo para cima, mas ela aperta os olhos com tanta força que estou rindo
de novo. — Você vai olhar para mim?

Ela balança a cabeça. — Prefiro não.


Eu sorrio. — Ok, o que você precisa então?

Lennon engole, ainda insistindo em manter os olhos fechados. — Eu


iria sugerir comida chinesa e iria fazer o pedido, porque agora estou
morrendo de fome e não tinha certeza de quanto tempo você levaria no
banho, mas acho que isso é irrelevante agora.

Estudando suas características, noto as sardas no nariz e como elas são


adoráveis. Seus longos cabelos loiros caem por suas costas, e eu sei que
ela está escondendo olhos azuis atrás das pálpebras. Se ela joga o cabelo
para cima em um rabo de cavalo bagunçado ou o estiliza com vários
cachos, Lennon sempre fica linda sem nem tentar. E quando ela sorri,
ilumina toda a sala.

— Chinês parece ótimo, — digo a ela baixinho. — Vou querer o frango


e o brócolis com arroz frito.

— Ótimo. — Ela aperta os lábios com força. — Eu vou fazer o pedido.

Ela se vira rapidamente, depois sai correndo, fechando a porta atrás de


si.

Eu pisco, me perguntando se isso acabou de acontecer e se as coisas


vão ficar estranhas agora. A última coisa que quero é qualquer
constrangimento entre nós, então tento pensar em algo engraçado para
dizer quando estiver vestido e de volta à sala de estar.

— Em que temporada Chandler entrou no banheiro depois que Rachel


tomou banho e a viu nua? Ela ficou envergonhada durante todo o episódio
por ele ver seus peitos e tentou igualar as coisas, mas acabou vendo com
Joey nu, em vez disso. — Digo com uma risada, esperando aliviar o clima.
— Podemos, por favor, não falar sobre isso? Eu já estou envergonhada
e incapaz de olhar para você agora.

Lennon mantém a cabeça baixa e evita o contato visual.

— Muito cedo? — Eu brinco, então percebo o quão vermelha suas


bochechas ainda estão. — Você está envergonhada? — Eu pergunto com
diversão. — Acabei de sair de um banho quente, e o ar frio me atingiu
assim que você abriu a porta. — Sento-me do outro lado do sofá. — Eu
sou o único que deveria ter vergonha aqui. — Eu não tenho, mas ela não
precisa saber disso.

Isso faz Lennon rir e eu sorrio.

— O ar frio não é bom para o orgulho de um homem, a


propósito. Especialmente nu. — Acrescento, esperando que ela pare de se
sentir estranha.

— Eu sei que você está falando besteira para que eu me sinta menos
culpada, — acusa Lennon, finalmente olhando para cima e encontrando
meu olhar. — Mas obrigada. Eu me sinto horrível, no entanto. Eu deveria
ter esperado, mas meu estômago estava roncando. Depois que Mason
trouxe o almoço, eu me enterrei em um livro a tarde toda e não comi desde
então.

— Está tudo bem, Lennon, — digo honestamente. — Você fez o


pedido?

— Sim. Deve chegar aqui em trinta minutos. — Ela pega o controle


remoto da mesa de café e liga a Apple TV. — Comprei algumas
temporadas de Friends para que possamos começar do começo.
Passamos por um episódio e meio antes da campainha tocar. Levanto-
me e atendo a porta. Memórias da noite em que Brandon morreu correm
pela minha mente, e penso em como Lennon reagiu ao entregador. Olho
por cima do ombro e vejo os olhos dela colados na tela, então nem tenho
certeza se ela se lembra.

— Obrigado, — digo ao homem e trago nossa comida para


dentro. Colocando a sacola na mesa de café, vou pegar alguns pratos e
garfos. — Você precisa de uma bebida? — Eu chamo quando estou na
cozinha.

Não recebo resposta e, momentos depois, ouço Lennon correndo pelo


corredor e depois uma porta batendo. — Que diabos? — Eu murmuro,
seguindo o som. Do lado de fora da porta do banheiro, eu a passando mal.

Batendo meus dedos na madeira, eu chamo o nome dela. —


Lennon? Você está bem? Posso entrar?

Ela está esvaziando o estômago, que não estava cheio, e isso me


preocupa ainda mais. Não espero por uma resposta e entro para checá-la.

— Vá embora. — Ela parece derrotada enquanto se ajoelha ao lado do


vaso sanitário.

Revirando os olhos, eu ignoro o pedido e pego uma toalha. Depois de


entregá-la, envolvo minhas mãos em torno de seus ombros e seguro seus
cabelos, para que fique fora do caminho.

— Eu acho que terminei, — diz ela suavemente, sentando-se,


parecendo pálida. — Isso me atingiu do nada. Abri a sacola do chinês e,
assim que cheirei, a náusea me atingiu.
— Espero que você não esteja tendo um problema estomacal. — Eu
digo, meus olhos estreitando em preocupação.

— Eu não sei. Talvez. — Ela limpa a boca com a toalha, e eu estendo


minha mão para ajudá-la a se levantar. — Eu saí em público hoje, então
meu sistema provavelmente entrou em choque. — Ela ri de si mesma. —
Acho que vou ficar bem, mas talvez não coma o chinês.

— Provavelmente é uma aposta mais segura. — Eu sorrio em troca. —


Vou encontrar outra coisa para você. — Saímos do banheiro e voltamos
para a sala de estar. Pego o saco de comida e o trago para a cozinha,
colocando o dela na geladeira. Agarrando um pedaço de pão, faço-lhe duas
torradas com manteiga. Quer esteja gripada ou não, ela precisa comer
alguma coisa.

Depois de entregar a comida para ela, sentamos e assistimos


mais episódios de Friends. Fico de olho nela e pergunto se ela ainda está
se sentindo enjoada. Ofereço-me para trazer uma tigela por precaução,
mas ela me tranquiliza que a torrada está ajudando.

— Obrigado, Hunter. — Diz ela quando terminamos a noite. Eu tenho


que acordar cedo para o trabalho, mas o tempo voa quando estamos juntos
e não estamos nos afogando em tristeza.

— Pelo quê? — Eu pergunto, trancando a casa e apagando as luzes


principais.

Ela abaixa os olhos por um momento, depois os traz de volta para os


meus com um pequeno sorriso no rosto. — Por não me fazer passar por
isso sozinha. Sua companhia realmente me ajudou durante esse período, e
eu só queria que você soubesse que eu aprecio isso. Tenho certeza que
você tem uma dúzia de outras coisas que você preferiria estar fazendo.
Eu a estudo, me perguntando se ela realmente pensa isso. Andando em
direção a ela, fecho o espaço entre nós e envolvo meus braços em torno
dela. — Eu prometo, não há lugar que eu prefira estar, Lennon. — Eu me
afasto e olho para ela. — Você não é ruim de estar por perto quando não
está gritando comigo e ameaçando minhas bolas. — Atiro para ela uma
piscadela, o que a faz dar um tapa no meu peito.

— Você mereceu, — ela me lembra, antes que seu sorriso caia. —


Espero que um dia eu possa acordar sem esse peso de tristeza no peito. No
entanto, ajuda saber que não estou sofrendo sozinha. Eu sei que você
também se importava com ele.

Eu odeio ouvir a dor na voz dela. Ela não fala abertamente sobre seus
sentimentos, pelo menos não nas últimas semanas. Ela parece contente em
apenas enterrá-los, mas o fato de estar falando sobre isso agora sem cair
em lágrimas é um bom sinal.

— Um dia de cada vez, — eu a lembro. Antes que tenha tempo para


pensar melhor, eu a puxo de volta em meus braços e beijo o topo de sua
cabeça. — Tudo bem ficar triste, Lennon. Só não deixe que a tristeza a
consuma tanto que pare de viver.

— Eu sei, — ela diz suavemente. — Eu tento me lembrar disso


diariamente. Nem sempre venço, no entanto.

Eu dou um passo para trás, me distanciando dela. — E tudo


bem. Alguns dias são melhores do que outros.

Lennon me lança um sorriso sincero, depois me segue pelo corredor


onde nos dividimos em nossos novos quartos. Depois que fecho minha
porta, eu me inclino contra ela e fecho meus olhos com força. Ela não tem
ideia do quanto de restrição eu usei nos últimos dois anos, e o fato de ela
estar apoiada em mim agora, pois ambos sofremos nossa perda, torna
ainda mais difícil manter minhas emoções sob controle. Puxá-la para perto
de mim parecia certo. Não vou permitir que ela passe por isso
sozinha. Mesmo que doa mais e mais a cada dia, eu serei o que ela precisa,
continuando a fingir que meus sentimentos por ela nunca existiram.
Mesmo que isso me mate no final.
Capítulo Quinze
Lennon
Os dias não parecem tão longos e sair da cama de manhã não é tão
difícil. Ainda assim, a perda existe e me atinge sem aviso prévio. Algumas
noites atrás, depois que o cheiro de comida chinesa me deixou doente,
Hunter mostrou um lado carinhoso que eu não sabia que existia. Parte de
mim diz que ele está sendo legal porque eu era namorada de Brandon, mas
sei que ele está sendo genuíno agora. Hunter não passaria suas noites
comigo se realmente não quisesse, mas tenho um sentimento ansioso de
que as coisas acabarão mudando, e ele não irá me quer mais por perto.
Talvez seja porque eu tenha vivido em um apartamento que nunca me
pareceu realmente meu. Sempre foi apenas uma situação de vida
temporária até Brandon e eu nos mudarmos. Agora que eu não tenho
nenhuma razão real para estar aqui, estou esperando o momento que
Hunter estiver pronto para seguir em frente com sua vida, o qual não me
incluirá ao seu redor com a minha tristeza.

Ainda assim, ele continua me assegurando que não tem nenhum


problema comigo estando aqui. Eu nem me lembro da última vez que ele
trouxe um encontro para casa, o que é estranho, considerando os hábitos
anteriores de Hunter. Ele vai para o trabalho, chega em casa para fazer ou
pedir o jantar, depois saímos e passamos pelos canais até a hora de dormir.

— Lennon, você está limpando? — Maddie pergunta, olhando ao redor


do apartamento impecável. Sophie senta ao meu lado e começa a olhar em
volta também.

— Não. — Eu bufo. — O que há para limpar?


— Você conseguiu uma governanta? — Sophie pergunta, olhando da
sala para a cozinha.

— Não. — Eu digo, arrastando a palavra.

As duas me olham com expressões confusas no rosto.

— Aparentemente, Hunter sabe como limpar, afinal, — eu digo,


rindo. — Ou ele faz isso para manter sua mente ocupada. — Dou de
ombros, sem saber por que ele está mantendo o apartamento assim. Eu
estava uma bagunça naquelas primeiras semanas após a morte de Brandon
e mal saí do sofá. Hunter fez tudo. Inferno, ele ainda faz.

— Eu não consigo imaginar, — diz Maddie. — Ele é esse cara grande e


musculoso, e agora você está me dizendo que ele anda de avental,
espanando a poeira do lugar?

Sophie e eu começamos a rir dos exageros dela. — Eu não precisava


dessa imagem na minha cabeça. — Sophie ri.

— Eu nunca disse isso! — Estou rindo tanto que há lágrimas nos meus
olhos.

Mas agora minha mente divaga para o momento em que eu o encontrei


no banheiro. Eu poderia jurar que a água ainda estava ligada, e a última
coisa que esperava ver era um Hunter muito nu. Eu mordo meus lábios
para não deixar escapar meus pensamentos. Minhas irmãs são as últimas
pessoas que precisam saber o que aconteceu. Elas nunca me deixaram
passar por isso e provavelmente iriam querer todos os detalhes. Minhas
bochechas esquentam pensando nisso, e espero que elas não notem.

— Bem, de qualquer forma, ele está fazendo um bom trabalho. —


Elogia Maddie.
— Ele definitivamente está. É como se ele tivesse mudado de mega
idiota para mega doce. É estranho. — Eu admito.

— Provavelmente ele está apenas tentando facilitar as coisas para você.


— Sugere Sophie.

Dou de ombros novamente, sem saber o porquê, também.

— Então, além de ir à livraria na terça-feira, você saiu do apartamento?


— Sophie pergunta, mudando de assunto.

— Sim, muito obrigada. Eu lavei a roupa e peguei a correspondência.


— Digo presunçosamente, embora saiba que não será suficiente para
satisfazê-la.

— Oh, eu deveria ter sido mais específica, — Sophie diz


dramaticamente, revirando os olhos para mim. — Você deixou o local?

— Não. Pelo que? Estou de férias de verão! — Tento me defender.

— É isso aí, vamos sair hoje à noite! — Maddie anuncia muito alto. —
Noite das garotas. Nós vamos ficar na merda, fazer sexo nos banheiros dos
bares e dançar como se ninguém estivesse assistindo!

Sophie e eu a encaramos sem graça antes de começarmos a rir. — Você


precisa se controlar, mulher, — digo a ela. — E não estamos fazendo nada
disso porque é nojento.

— Quero dizer, não sou contra os dois primeiros. — Brinca Sophie.

— Ok, vou me contentar com o bar Coliseu, já que eles não vão chutar
minha bunda menor de idade. Nós podemos jogar sinuca, e eu ensino
vocês a jogar dardos. — Maddie está quase implorando, o que torna ainda
mais difícil dizer não.
— Eu não sei... — Eu hesito. Brandon e eu fomos muito lá, o que será
outro lembrete de que ele não está mais aqui. — Eu não sei se posso entrar
lá ainda.

Minhas irmãs me olham com simpatia nos olhos e provavelmente estão


se perguntando quando vou me permitir viver novamente. Faz apenas dois
meses, mas não importa se estou pronta para voltar à vida, o mundo se
move à minha volta. Eu sei que Brandon não gostaria que eu desperdiçasse
minha vida e não fizesse nada, mas perdê-lo ainda é muito recente.

— Deixe-me pensar sobre isso. — Digo a elas.

— Pensar no que? — A voz estrondosa de Hunter nos faz pular. Eu nem


ouvi a porta da frente abrir. Ele está em suas roupas de trabalho, que são
surpreendentemente legais. Sei que ele trabalha em canteiros de obras,
mas também está em seu escritório.

— Hunter, coloque um pouco de senso em sua colega de quarto e diga a


ela que é hora de sair e se divertir um pouco esta noite. — Maddie diz
antes que eu possa responder a ele.

Ele me lança um olhar, examinando meu rosto, depois pisca. — A


onde?

— O Coliseu, — Maddie responde. — Ela mal saiu do apartamento em


semanas. — Ela se vira para encarar Hunter. — Inferno, você deveria vir
também! Vocês dois poderiam usar uma noite divertida.

Eu mordo meu lábio inferior, ansiosa por ouvir sua resposta. Maddie é
boa em ser imprevisível e deixar escapar a primeira coisa que vem à sua
mente.
— De fato, vamos convidar Liam e Mason, e todos nós podemos sair!
— Ela bate as mãos juntas, como se sua ideia fosse puro brilho. — O que
você diz, Lennon?

Sophie olha para mim como se tivesse desistido de domar nossa


irmã. Hunter me estuda, imaginando se deveria dar sua opinião. Eu sei que
preciso sair de casa, mas não tenho certeza se estou pronta para sair com a
gangue sem Brandon.

Quando Hunter dá um passo à frente, ele deve sentir minha


preocupação. Ele se senta ao meu lado no sofá e encara minhas irmãs que
estão sentadas na mesa de café. — E se formos para o bar Home Base? Eu
conheço um cara que trabalha lá que vai deixar você entrar. — Ele diz,
virando-se para Maddie.

Ela pula, e então abraça Hunter. Eu rio com a maneira como ele franze
as sobrancelhas em confusão. — Inferno, sim! Vamos fazer isso! —
Maddie dá a Sophie um “toca aqui,” enquanto Sophie apenas balança a
cabeça para nossa irmãzinha.

Parte de mim está chocada por Hunter sugerir isso, já que eu sei como
ele e seus amigos amam o Coliseu, mas talvez ele não esteja pronto para
voltar para lá também. Tenho certeza que ele pôde ver a incerteza nos
meus olhos, mas estou realmente muito feliz por ele estar lá hoje à noite.

— Ótimo, nos encontraremos lá às nove? — Sophie sugere, levantando


e agarrando Maddie. — Eu preciso dar a este um gole de NyQuil21, para
que ela se acalme.

Isso me faz rir, assim como Hunter. Quando elas finalmente vão
embora, Hunter se vira para mim.
— Tem certeza que você quer sair hoje à noite? — Ele estuda meu
rosto, e sua preocupação me faz sentir segura. — Porque você não precisa
se não estiver pronta.

Concordo com a cabeça, abaixando os olhos antes de olhar para ele. —


Sim. Eu estava preocupada em ir ao Coliseu, então obrigado por sugerir
outro lugar. Pode ser divertido tentar um lugar novo.

Hunter bate a mão no meu joelho e assente antes de se levantar. — Eu


vou tomar um banho rápido. Você quer comer alguma coisa antes de
partirmos?

— Claro, eu estava realmente pensando em cozinhar.

Ele levanta as sobrancelhas para mim como se eu tivesse acabado de


admitir que estava apaixonada por um alienígena azul ou algo assim.

— Eu sei cozinhar, lembra? — Eu rio de sua expressão facial. — Além


disso, eu meio que devo a você.

Hunter sorri e depois encolhe os ombros. — Ok, apenas não me


envenene. — Ele pisca antes de se virar e caminhar pelo corredor.

Não é nada glamoroso, mas eu faço uma panela de espaguete assado


com muito queijo mussarela e uma torrada de alho. Assim que Hunter sai
do banho, todo vestido e pronto, ele elogia o quanto a comida cheira bem e
começa a comer.

A ansiedade, de como isso não parece estranho quanto deveria, me


atinge. Hunter e eu comendo juntos é o nosso novo normal, mas estou
esperando o tapete ser puxado de baixo de mim. Essa era a minha rotina
com Brandon e, sem ele aqui, sinto como se o tivesse substituído. Embora
eu saiba que não é o caso, não posso deixar de sentir. Depois do jantar, eu
limpo e vou para o meu quarto me vestir.

São quinze para as nove quando Hunter bate na porta e pergunta se


estou pronta. Não consigo decidir o que vestir, já que tudo me lembra
Brandon. Os vestidos e as camisas que eu usava em momentos ou datas
especiais são automaticamente eliminados. Não parece certo usá-los
agora.

— Espere. — Eu grito, puxando os cabides enquanto escovo meu


armário novamente. Eu não mudei minhas roupas para o meu “novo—
quarto, então ele provavelmente precisa entrar aqui agora.

— Lennon, se você mudou de ideia... — Sua voz é suave, mas quando


suas palavras param, eu olho para cima e vejo Hunter na porta. — Merda,
desculpe. — Ele fecha os olhos e gira. — Eu pensei que você já estaria
vestida agora.

Olho para baixo e percebo que estou em pé apenas no meu sutiã e calça
jeans. Depois de odiar a última camisa que vesti, tirei e joguei no chão.

— Considerando que eu entrei enquanto você estava nu, você


provavelmente estava apenas esperando para se vingar de mim. — Eu
provoco, embora eu saiba que ele não fez isso intencionalmente.

Os ombros de Hunter tremem enquanto ele ri do meu comentário. —


Não é verdade. Eu não sou Rachel, — diz ele, mencionando o episódio
de Friends com o qual brincamos da última vez. — Eu estava apenas
checando se você mudou de ideia. Se você não quer mais ir, tudo bem.

Inspiro profundamente e suspiro. — Não é isso. Eu simplesmente não


consigo descobrir o que vestir. Muitas das coisas que eu gosto me
lembram Brandon. — Digo honestamente.
Hunter abaixa a cabeça e assente, mantendo o corpo afastado do
meu. Acho isso engraçado e irônico, considerando que ele provavelmente
já viu dezenas de mulheres nuas em sua vida.

— E aquela camisa azul escura com os três botões de cima e seu jeans
preto? — Ele diz tão casualmente que eu estou lhe dando olhares confusos,
embora ele não possa me ver. — Eu juro que não tenho fuçado em seu
armário. — Ele ri para aliviar minha mente. — Só me lembro de como
eles ficaram bonitos em você na última vez que você os usou. — Suas
palavras estão saindo agitadas quase como se ele estivesse nervoso em
admitir isso.

— Essa é realmente uma boa combinação. — Eu procuro a camisa e o


jeans e digo a ele que sairei em cinco minutos. Hunter sai e eu me visto,
admirando como fico no espelho de corpo inteiro na parte de trás da
porta. Na verdade, as roupas estão um pouco folgadas em mim, porque eu
não comi muito nos últimos dois meses.

Quando o encontro na sala, noto que ele está vestido com jeans escuro e
uma bela camisa cinza. Embora, quando eu vejo o quão apertadas as
mangas estão em seus braços, começo a rir. Não posso deixar de olhar para
suas tatuagens quando olho para ele.

— O quê? — Ele me lança um olhar.

— Não dobre ou se mova porque tenho certeza de que a camisa vai


rasgar em pedaços. — Eu sorrio, pegando minha bolsa. Enfio meu telefone
lá dentro e deslizo nos sapatos.

Hunter olha para a camisa e flexiona o braço. — Essa coisa maldita


encolheu na lavagem.
— Eu tenho certeza. — Eu sorrio. — Você usa camisas justas desde que
eu te conheço.

— Bem, como você acha que eu recebi todas aquelas gorjetas? — Ele
me dá um sorriso e isso me traz de volta à primeira noite em que nos
conhecemos.

— Eu acho que é hora de aumentar um tamanho. — Eu o olho de cima


a baixo.

Ele pega a carteira e a coloca no bolso de trás antes de tirar as chaves


da mesa. — Aí está a Lennon mandona que eu estava sentindo falta. — Ele
provoca, abrindo a porta para mim.

— Eu nunca fui mandona. — Eu defendo.

Hunter trava e fecha a porta. — E eu sou virgem.

— Oh, veja. Hunter Rude está de volta. — Eu estreito meus olhos para
ele, repreendendo.

Ele ri, balançando a cabeça. — Não é verdade e você sabe disso.

Nós caminhamos para a caminhonete dele e entramos. Eu não entro


aqui desde o dia do funeral, e sou bombardeada de lembranças com força
total. Uma lágrima escorre pela minha bochecha, e não sou rápida o
suficiente para enxugá-la antes que Hunter perceba.

— Lennon. — Sua voz é suave e macia. — Nós não temos que ir.

Eu mantenho meus olhos presos nos meus pés, tentando encontrar a


força de vontade para fazer isso. Eu sei que não posso ficar presa no
apartamento o verão inteiro, mas isso parece um grande passo.

— Não, vamos lá. Todos estão nos esperando— Digo finalmente.


— Olhe para mim, — ele exige, e eu pisco para ele. — Eu não dou a
mínima se o próprio presidente está nos esperando. Se você não estiver
pronta, não vamos.

Hunter olha para mim como se eu fosse dele para proteger, dele para
cuidar. Não tenho certeza se ele está fazendo isso porque Brandon era seu
melhor amigo, mas eu preciso parar de ler tanto em suas ações. A
dinâmica do nosso relacionamento é diferente, e eu aprecio o quanto ele
está lá por mim.

— Eu estou bem. — Eu sorrio. — Vamos.

Dirigimos em silêncio até a Base, um bar esportivo semelhante ao


Coliseu. Tem um restaurante no interior com um bar completo. Assim que
entramos, meu humor melhora. A música é alta e as pessoas estão por toda
parte. Pelo tamanho da multidão, eu sei que é definitivamente uma noite
de sexta-feira. O cara na porta conhecia Hunter, exatamente como ele
disse, e informou-o que estava esperando mais duas pessoas. Sophie e
Maddie chegam alguns minutos depois, e assim que Maddie passa, ela
soca o ar.

— Sem bebidas, — eu a aviso, apontando. — Você está aqui para se


divertir.

— Soph já me deu a palestra. — Ela faz beicinho. — Mason e Liam já


estão aqui?

Hunter verifica seu telefone. — Devem demorar cinco minutos.

Caminhamos para uma das mesas do bar e todos sentamos, exceto


Hunter. Ele está de pé ao meu lado com o braço em volta das costas da
minha cadeira. — Você quer que eu pegue algo para você?
Eu me viro, e seu rosto está diretamente na minha frente. Recostando-
me um pouco, concordo e digo a ele para me surpreender. Ele então
pergunta a minhas irmãs o que elas querem e depois sai para receber nosso
pedido.

— Eu gosto deste lugar! — Maddie salta em seu assento. — Muita


carne fresca.

Sophie e eu rimos da maneira como ela está olhando para todos os


caras que passam.

— Você é como uma gata no cio. Pronta para montar a primeira coisa
que ronronar para você. — Eu provoco.

— Pior. É ela que ronrona, chamando um companheiro. — Acrescenta


Sophie, e nós rimos.

Maddie nos dá olhares mortais, mas não nega. — Vocês duas são
péssimas. Eu odeio vocês.

Um momento depois, Liam e Mason chegam, e Hunter retorna com


nossas bebidas.

— Onde está as nossas, imbecil? — Mason pergunta.

— Pegue sua própria merda, — Hunter diz a ele. — Eu não sou mais
sua vadia do bar.

Eu rio da brincadeira deles, sabendo que é tudo diversão inofensiva.

Nós seis sentamos e passamos um tempo juntos antes de uma música


começar, fazendo Maddie levantar de seu lugar, implorando para que um
de nós dançasse com ela.
— Hulk... — Ela arrasta o nome dele para provocá-lo. Ela sabe muito
bem que Liam a ignora em todas as chances que ele pode. — Vem
comigo?

Ele agarra o pescoço de sua cerveja e a leva à boca, balançando a


cabeça negativamente ao pedido dela. Ele raramente fala com ela, mas ela
tenta chamar a atenção dele independentemente. É esse jogo estranho
sobre quantas vezes ela pode dar em cima dele antes que ele finalmente
ceda à sua atração. Embora Liam finja estar irritado com ela, tenho certeza
de que vejo a luxúria em seus olhos.

— Eu vou com você, — Mason finalmente quebra a tensão e se


oferece. — Mas não rebole sua bunda para mim.

— Por que você tem que ser tão sem graça? — Eu a ouço perguntando
enquanto eles vão embora.

Liam respira fundo, e nós três voltamos nossa atenção à ele. — O quê?
— Ele pergunta como se não soubesse.

— Quando você vai parar de frescura e vai admitir que gosta dela? —
As palavras de Hunter saem ásperas como se tivessem tido essa conversa
antes, o que me pega de surpresa. Eu pensei que Soph e eu éramos as
únicas que sabíamos.

— Ela é demais para um cara como Liam. — Sophie sorri, segurando


uma risada.

Liam baixa os olhos para ela e atira adagas com seu olhar. — Quando
você vai parar de olhar para Mason como se você fosse um filhote de
cachorro perdido e convidá-lo para sair?
Eu quase cuspo minha bebida assim que tomo um gole do Jack e Coca
que Hunter pegou para mim.

O queixo de Sophie cai, os olhos se arregalando. Ela bate no peito dele,


o que me faz rir e Hunter segue.

— Eu não olho para ele assim, seu bastardo. — Sophie estreita os olhos
para Liam, carrancuda. — Ele nem reconhece minha existência.

— Sim, e isso te deixa louca. — Ele responde de volta com uma risada,
e eu sinto que estou perdendo alguma coisa.

— Alguém quer me atualizar? — Eu pergunto, depois termino o resto


da minha bebida.

— Eles estão saindo juntos, mas não como em encontros. — Hunter


preenche.

— O quê? — Eu suspiro. — Como é que ninguém me disse?

Sophie inclina a cabeça e seu silêncio é tudo que preciso saber. Não fui
exatamente a melhor companhia.

— Nós apenas os encontramos algumas vezes, — ela finalmente


explica. — Então saímos e nada demais. Nada, realmente.

Liam bufa. — Foi principalmente Sophie tentando conversar com


Mason, que depois conversou com todos, exceto ela. — Ele ri.

— Não, você quer dizer que era principalmente você tentando ignorar
Maddie sempre que um cara dava em cima dela. Você é um idiota. — Ela
empurra o ombro dele quando ele tenta se sentar mais perto. — Vá
embora, idiota.
— Soph, você não quis dizer isso. — Ele provoca, esticando o lábio
inferior.

Quando, diabos, eles ficaram tão próximos?

Não que eu esteja remotamente brava com isso. Estou triste que ela
sentiu que não podia me dizer.

— Então, — Hunter permanece, apontando sua cerveja quase vazia


para os dois em frente a nós. — Sophie quer transar com Mason, porém
ele a colocou na zona de amigos, e Liam quer deflorar Maddie, mas ele
tem medo de não ser homem o suficiente para o trabalho.

Comecei a rir quando Hunter deu de ombros e sorriu com seu próprio
resumo.

— Tudo bem, acho que estou bem informada agora. — Não consigo
parar de rir.

— Vocês dois são péssimos. Não, todos vocês. — Sophie franze a testa,
pegando a sua bebida e ingerindo-a.

— Para deixar claro, — Liam começa, olhando para mim, — eu não


acho isso. Estou bastante confiante.

Eu bufo. — Confie em mim, Liam. — Eu dou um tapinha em seu


ombro duro como uma pedra. — Nós sabemos.

Mason e Maddie estão dançando, e por um momento, eu sou trazida de


volta quando Brandon e eu costumávamos dançar juntos quando
saíamos. Nós nos divertiríamos muito. Ele me girava e balançava nossos
quadris ao ritmo da música, e ríamos a noite toda.

Um sentimento de entorpecimento me atinge, reconhecendo que a


última vez que dançamos juntos foi à última vez. Eu sempre presumi que
haveria outra hora em que sairíamos e nos divertiríamos. Sempre haveria
mais beijos e abraços, apertões de bunda, e nós acordaríamos próximos um
do outro todas as manhãs pelo resto de nossas vidas. Embora nós sempre
trocássemos — eu te amo— como se fosse a nossa última vez, eu sabia que
diríamos isso mais tarde. Nunca, em meus piores pesadelos, achei que não
conseguiria dizer isso a ele novamente.

— Lennon, você está bem? — A voz de Hunter me fez piscar para


longe da névoa. Eu vejo a preocupação em seu rosto. Com lábios franzidos
e sobrancelhas juntas, ele me estuda.

Eu engulo, balançando a cabeça levemente. — Sim, tudo bem. — Eu


forço um sorriso. — Alguém quer um refil? Próximas rodadas é por minha
conta.

— Sim, eu vou com você! — Sophie oferece. — Hulk, você precisa de


outra bebida? — Ela brinca.

Liam geme, entregando sua cerveja vazia. — Melhor ter cuidado,


mulher.

— Ou o que? Você vai realmente virar um homem? — Ela ri, pegando


a garrafa dele e caminhando comigo até o bar.

Não posso negar o quanto amo ouvir minhas irmãs rindo e se


divertindo. Eu sei que as duas trabalham tanto e isso coloca um pequeno
sorriso no meu rosto quando elas podem se soltar.

— Devemos ceder e pegar uma bebida para Maddie? — Eu pergunto,


meio brincando.

— Nós poderíamos comprar uma Coca-Cola de cereja para ela e dizer


que há álcool nela, e ela nunca saberia, — diz Sophie, rindo. — Vamos
fazer isso e ver se ela percebe ou finge estar embriagada.

— Nós estamos indo para o inferno das irmãs. — Eu brinco, rindo com
ela.

— É nosso dever obrigatório provocá-la. — Sophie encolhe os ombros,


então faz nossos pedidos.

Enquanto esperamos, Sophie me olha com uma expressão estranha no


rosto. Eu dou a ela um olhar confuso em troca.
— Então, você vai me dizer o que está acontecendo entre você e
Hunter?
Capítulo Dezesseis
Hunter
Observo Lennon e Sophie caminharem até o bar e penso em como foi
bom ouvi-la rir novamente. Ela está linda, como sempre, e eu estou
realmente chocado que ela tenha escolhido a roupa que eu sugeri. Eu tinha
certeza que ela me diria que era uma má escolha, mas no momento em que
a vi entrar na sala, tive que me lembrar de não reagir.

O fato de ela estar baixando a guarda me dá esperança de que um dia


ela possa seguir em frente e encontrar a felicidade novamente. É tudo que
eu sempre quis para ela. É tudo o que Brandon sempre quis também.

— Você sabe que ela sempre estará fora dos limites, certo? — As
palavras de Liam me fazem virar para ele em um instante.

— Do que diabos você está falando? — Eu pergunto bruscamente, sem


apreciar o tom acusador de suas palavras.

— Lennon, — ele esclarece, como se eu fosse um idiota. — Eu não sei


o que está acontecendo entre vocês dois, mas ela sempre será a garota de
Brandon. Não importa o que.

Engulo em seco, sem querer perder a calma com Liam. Porra, eu


gostaria de ter minha cerveja agora.

— Nada está acontecendo, — eu o tranquilizo. — Eu nunca cruzaria


essa fronteira, e você pensar o contrário é uma merda, cara.

— Olha, eu só estou falando sobre o que eu vejo. Vocês dois estão


ficando amigos, e eu sei o quão vulnerável ela deve estar agora.
— Perdemos alguém próximo de nós, — eu o lembro duramente. —
Ela mora no meu apartamento e mal sai, então sim, nos aproximamos nos
últimos dois meses. Não significa que eu vou transar com ela.

Liam encolhe os ombros. — Mas não significa que você não queira.

— Qual é o seu problema? — Estou quase perdendo a calma.

— Hunter, acalme-se. — Ele mantém os olhos fixos nos meus. — Você


é mais transparente do que pensa.

Minha mandíbula aperta. — O que isso deveria significar?

— Significa que Mason e eu sabíamos que você já tinha sentimentos


por ela antes. Se você continua ou não se sentindo assim, não tenho
certeza, mas agora que vocês dois estão se aproximando, estou apenas
lembrando que você não deve agir de acordo com esses sentimentos. Você
não pode.

Liam, o conselheiro amoroso. Pfft.

Quero perguntar como diabos eles sabiam sobre isso, sendo que eu
nunca contei a uma alma maldita, a não ser para Hayden. Eu não tornava
meus sentimentos óbvios até onde eu sabia, considerando que eu era um
idiota em todas as chances possíveis. Não importa se ele está certo, porque
eu não vou confirmar nada.

— Assim como você não está agindo de acordo com seus sentimentos
por Maddie? O que há com isso? — Troco o rumo da conversa, não
querendo mais falar sobre isso.

Ele zomba, depois ri. — Não mude de assunto.

— Então pare de falar sobre isso.


— Ok, então vamos falar sobre como você não está com uma garota há
dois meses. — Ele me dá um olhar que me desafia a provar que ele está
errado.

— Vamos pintar as unhas um do outro também? Ou talvez eu possa


trançar seu cabelo enquanto você manda fotos escandalosas de sua virilha?
— Eu brinco, virando-me para o bar, me perguntando onde estão as
garotas, quando vejo um cara parado ao lado de Lennon. Ele está muito
perto, e ela parece desconfortável pra caralho. Espero para ver se ela ou
Sophie vão mandá-lo se afastar ou não.

— Você ainda está namorando aquela garota Jenna? — Ele pergunta.

— Nós nunca namoramos. E não.

— Hmm. — Ele dá um sorriso, e eu estou pronto para bater em seu


rosto.

— Foda-se. — Digo a ele.

Mason e Maddie finalmente voltam, assim que Sophie e Lennon


retornam com bebidas.

— Qual é o meu? — Maddie pergunta.

— Este. Decidimos colocar uma coisinha para você. — Sophie entrega


um copo para ela.

— O que? Sério? — Maddie pega e bebe. Seus olhos se arregalam e ela


se ilumina. — Isso é delicioso!

Lennon bufa, obviamente segurando uma risada completa. Ela fica ao


meu lado enquanto continua distribuindo cervejas.
Quando ela me dá a minha, eu me inclino e sussurro: — O que vocês
duas fizeram?

— Nada. — Ela luta para conter o sorriso.

Inclino minha cabeça para ela e sorrio. — Mentirosa.

Dando de ombros, Lennon toma um gole de sua bebida. — Ela acha que
nós lhe demos álcool.

— Vocês deram? — Minhas sobrancelhas se animam.

— A menos que a granadina22 seja alcoólica. — Lennon começa a


sorrir. — Foi ideia da Sophie.

Eu balanço minha cabeça para ela, sorrindo sobre como ela finalmente
está se soltando. Sei que é apenas temporário, mas é assim que o luto
normalmente funciona - com altos e baixos constantes. Mas, por enquanto,
vou mergulhar nesses momentos.

— Você me esqueceu? — Mason pergunta com um beicinho.

Lennon olha em volta da mesa e nota duas cervejas na frente de Liam.

— Oh, uma dessas era para você? — Ele sorri, tomando um gole de
ambas as garrafas. — Foi mal.

— Seu filho da puta. — diz Mason.

— Liam! — Lennon ri. — Você está comprando a próxima rodada


agora. Espere, Mason. Eu vou pegar outra.

Dou uma olhada em Liam. Ele está sendo um grande idiota hoje à
noite.

— Semana difícil. — Ele oferece.


Eu o ignoro e tomo um gole da minha cerveja, olhando para Lennon. O
mesmo cara se move em sua direção, e eu vejo Lennon dar um passo para
longe, mas o filho da puta se aproxima.

Meus punhos cerram debaixo da mesa, e está levando toda a minha


força de vontade para não me envolver. Fico de pé, querendo ir até lá para
ouvir o que ele está dizendo. Os outros estão ocupados demais
conversando para me notar sair, então me aproximo do balcão lotado.

— Então, você está aqui sozinha hoje à noite, querida? — O cara


pergunta a ela com um desdém. Esse idiota está bêbado.

— Não, meus amigos estão aqui. — A resposta de Lennon é curta.

— Ah, ok, legal. Você quer ficar comigo um pouco? — O filho da puta
tem bolas de aço.

— Eu não quero abandonar meus amigos. — Lennon está sendo muito


legal para o seu próprio bem.

— Oh, sim, legal. Bem, você é solteira? Você poderia me dar seu
número, e poderíamos sair outra noite. — Meu queixo aperta, pronto para
entrar no rosto desse cara. Lennon não mostra sinais de que ela esteja
remotamente interessada, mas ele continua a pressionar.

Lennon congela, e eu sei que ela está perdida em sua cabeça agora. Ela
sempre foi capaz de dizer que tem um namorado, e eu aposto que ela está
se perguntando como responder à pergunta.

Quando Lennon não responde, eu sei que ela precisa sair dali, então eu
ligo o foda-se e caminho até o seu lado. — Você está bem? — Eu pergunto
a ela, propositalmente ignorando o outro cara.
Ela olha para mim com lágrimas nos olhos. Sim, eu sabia que ela
estava pensando em como está solteira, mas não por escolha prórpia e o
quanto isso dói.

O barman finalmente aparece e pede desculpas por demorar tanto. Bato


uma nota de cinco dólares e Lennon pega a cerveja. Ela se vira e
começamos a nos afastar quando o cara fala.

— Puta. — Ele quase grita.

Eu me viro e ando em direção a ele. — Que porra você acabou de falar


para ela?

— Eu acho que você me ouviu alto e claro. — Ele fica mais alto,
corajoso.

— É melhor você se afastar. — Eu o aviso.

— Eu estava convidando-a para sair, você vem, paga a cerveja dela, e


agora ela está disposta a ir para casa com você? — Ele zomba. — Então
sim, ela é uma prostituta. Uma das mais baratas, também.

Levo menos de um segundo para puxar meu braço para trás e enfiar
meu punho no nariz desse imbecil. Ele vira para trás e se agacha, cobrindo
o rosto com as duas mãos.

— Hunter! — Lennon grita, chamando minha atenção. — Ele não vale


a pena! Ele está bêbado. — Ela me diz. Ela nunca me viu brigar antes, o
que é algo sobre o qual não falo. Eu luto desde que era adolescente; não
que meu pai me tenha dado outra escolha.

O cara me empurra, o sangue escorrendo do nariz. — O que diabos foi


isso, seu viado!
As pessoas do bar se espalham, não querendo atrapalhar a briga. Eu
ouço vagamente o barman nos dizendo para dar o fora, mas no momento
em que essa porra a chamou de prostituta de novo, eu vejo vermelho e
perco a calma.

Eu balanço novamente, meu punho conectando com o rosto dele ainda


mais forte desta vez. Isso deve quebrar seu nariz com sucesso. — Você vai
se desculpar com ela, idiota. Tenha boas maneiras quando falar com uma
senhora da próxima vez.

Antes de eu receber uma resposta, Mason e Liam estão me afastando


enquanto o barman ameaça chamar a polícia. Eles me acompanham até a
porta e eu os empurro antes de sairmos.

— Eu posso andar sozinho. — Digo a eles. Estou tão agitado que posso
dar um soco em quem colocar as mãos em mim.

O ar fresco me bate quando chego à calçada e começo a andar. Não vou


embora sem Lennon, mas ela provavelmente está chateada comigo por
arruinar sua noite.

Eu me viro e espero que ela saia. Os caras me deixaram aqui para me


acalmar, para não ser preso, mas preciso garantir que Lennon esteja bem.

Momentos depois, ela sai correndo e me procura. Eu digo o nome dela,


e ela se apressa em minha direção. Estou em choque total quando ela corre
para a frente, passando os braços em volta de mim. Ela me abraça tão forte
que sinto cada centímetro do seu corpo. Envolvo um braço em volta dela e
a seguro com força. Ela se afasta um pouco e me inspeciona, procurando
ferimentos.

— Você está bem? — Sua voz treme.


— Lennon, eu estou bem. O cara mal me tocou.

Olho por cima da cabeça dela e vejo Liam e Mason. Eles estão me
encarando com desaprovação, mas foda-se o que pensam. Eles não têm
ideia de que eu me machuco todos os dias por ter sentimentos pela
namorada de Brandon. Eu tentei lutar contra isso, e nem eles sabem a dor
que isso me causa. Eu sei que ela nunca poderia ser mais do que uma
amiga. É tudo o que podemos ser. O fato de eu saber do plano de Brandon
para pedi-la em casamento, acaba comigo diariamente, mas não há nada
que eu possa fazer sobre isso. Dizer a ela apenas a machucaria, e ela
finalmente está se divertindo novamente.

Olhando para Lennon, vejo seus lábios tremerem. — Você está bem? —
Eu agarro seus ombros e forço seus olhos nos meus.

— Eu não posso acreditar que você fez isso, — diz ela, estudando meu
rosto. — Por que você entraria em uma briga por minha causa?

O fato de ela estar fazendo essas perguntas significa que ela não tem
ideia de como eu me sinto.

Amigos. Apenas Amigos.

— Porque aquele idiota chamou você de prostituta. Ele não conseguiu


lidar com a sua rejeição.

— Então isso merece acertá-lo na cara... várias vezes? — Não tenho


certeza se ela está repreendendo ou está pronta para me cumprimentar
sobre o feito.

Eu a solto e passo a mão pelo meu cabelo. — Lennon, ouça. — Faço


uma pausa, tentando esclarecer meus pensamentos.
— Obrigada, — ela diz antes que eu possa falar. Suas palavras me
pegam de surpresa, e não tenho certeza se a ouvi corretamente. —
Ninguém nunca me defendeu antes. Quando ele perguntou se eu estava
solteira, eu apenas... congelei. Era como se eu não pudesse expressar as
palavras. Eu não queria dizê-las.

— Eu sei, Lennon. — Dou-lhe um olhar sincero. — Espera. Você não


está brava comigo?

— Você está de brincadeira? Não. Quero dizer, eu normalmente não


incentivo brigas, mas diabos, esse cara não teria noção, mesmo que eu a
enfiasse na bunda dele.

Suas palavras me fazem rir e puxá-la para outro abraço, então eu beijo
o topo de sua cabeça. Foda-se, eu vou para o inferno de qualquer maneira
pelos pensamentos sujos que tive sobre ela.

— Ainda assim, eu deveria ter controlado meu temperamento, — digo,


nos separando. — Desculpe por estragar sua noite.

— Você não fez. — Ela balança a cabeça. — Obrigada por me proteger.

— Claro. Sempre, Lennon.

Seu rosto se contorce, e eu sei que provavelmente estou confundindo-a


pra porra agora. Ela não tem motivos para acreditar nessas palavras,
considerando como eu a tratei no passado, mas estou determinado a ser
exatamente o que ela precisa - um amigo, alguém em quem se apoiar e
alguém em quem possa confiar.

Nós vamos para o apartamento em silêncio, e nem é meia-noite quando


chegamos em casa. Lennon caminha para o seu quarto e, por um momento,
acho que ela vai dormir lá hoje à noite, mas depois sai com uma muda de
roupa.

— É cedo ainda. Quer assistir alguns episódios de Friends? Não estou


cansada o suficiente para dormir. — O olhar esperançoso em seus olhos
me faz concordar.

Mesmo que eu deva ir para a cama e me refrescar, não posso negar


Lennon. Ela não quer ficar sozinha, então eu farei o que ela precisar.

— Vou tirar essa maquiagem e trocar de roupa no banheiro, se você


quiser trocar de roupa.

— Sim, eu vou pegar uma. — Vou até o meu quarto e pego uma calça
de moletom cinza. Fico só de cueca boxer e depois visto a calça. Faz um
tempo desde que lavo roupa e agora não consigo encontrar minha camiseta
favorita da California State University.

— Ei, Lennon? — Bato nas juntas dos dedos na porta do banheiro. —


Deixei minha camisa preta da CSU aí, por acaso?

Ela abre a porta de pijama e fica na minha frente com uma escova de
dentes na boca. — Huh? — Seus olhos se arregalam no segundo em que
ela olha para mim. Seu olhar percorre meu peito, e eu arqueio uma
sobrancelha para o jeito que ela está me olhando.

Eu limpo minha garganta. — Minha camisa da CSU está aí? —


Pergunto, encostando-me ao batente da porta e cruzando os braços.

— Uh ... — Ela pisca e olha em volta. — Oh. — Ela levanta um dedo,


depois se vira para a pia e lava a boca antes de me encarar novamente. —
Eu peguei emprestada. Está no meu cesto de roupa suja.
Eu levanto minhas sobrancelhas, sem dizer nada. Ela estava
usando minha camisa? Não sei por que isso parece tão sexy, mas
rapidamente afasto os pensamentos.

— Fiquei com muito calor nas minhas leggings e blusa na outra noite e
tive medo de acordá-lo se eu viesse pegar um short, então peguei a
primeira coisa que encontrei. Sinto muito. — Sua voz soa tão baixa
quando ela pede desculpas, e isso me faz sorrir e rir.

— Não fique. Eu estava apenas procurando e não consegui encontrá-


la. Nada demais. Mas não pense que estamos trocando roupas agora. —
Faço uma piscadela para ela, e ela me empurra provocativamente.

— Engraçado. Agora vá vestir uma camisa.

— O que você está tentando dizer? Não gosta dos meus músculos e
tatuagens? É como o sonho molhado de toda garota. — Eu provoco,
recuando para o corredor em direção ao meu quarto.

— Confie em mim, eu sei. Eu conheci seu desfile de mulheres. — Ela


revira os olhos, mas sorri de brincadeira, então eu sei que ela não está
realmente tão irritada.

Dez minutos depois, estamos no sofá assistindo o episódio em que


Rachel e Ross brigam e dão um tempo. Durante todo o episódio, Lennon
sorri, e é difícil não sorrir junto com ela. É tão contagioso.

— Sério, — ela começa. — Quem briga com a namorada e


simplesmente pula na cama com a primeira garota que encontra? Ugh. Ele
é o meu personagem mais odiado neste programa. — Ela resmunga, o que
é adorável. Ela está ficando nervosa por um programa de TV quase tão
velho quanto nós.
— Mas eles tinham dado um tempo? — Eu digo presunçosamente.

Ela me empurra e chia. — Então? Ele não poderia sair uma noite sem
chamar a atenção de uma mulher? Oh, espere, olhe para quem estou
perguntando? — Ela brinca, me recompensando com um sorriso
brincalhão.

— Sério? — Eu sorrio com a provocação dela e coloco a mão sobre o


meu coração. — Eu quase briguei por você. — Brinco, e ela revira os
olhos.

— Eu posso dizer que foi um verdadeiro trabalhão. — Ela ri, seus olhos
percorrendo meu corpo, sabendo que não tenho machucados da batalha.

— Bem, agora eu posso ver por que Ross ficou louco. Meninas. — Eu
balanço minha cabeça, aquela sensação incômoda me atingindo com força
no estômago, exatamente como quando Liam e Mason me olhavam como
se soubessem o meu segredo. O qual eu tentei tanto esconder.

— Oh não. Ele poderia ter deixado seu pau nas calças. — Ela afirma
com naturalidade.

— Ei, ele estava tentando ser doce e romântico no aniversário deles, e


ela basicamente disse a ele que seu trabalho era mais importante. — Eu
tento defender o cara, mas é uma causa perdida. Eu já sei que ele é um
idiota por trair uma mulher como Rachel.

Oh meu Deus. Agora ela me faz pensar que esses personagens são
pessoas reais.

Foda-se a minha vida.

— Precisamos de algo mais para assistir. — Eu brinco. — Estou muito


envolvido.
Lennon bufa. — Há uma nova série que eu quero assistir. É baseado em
um livro e é sobre um perseguidor gostoso ou algo assim.

Eu a encaro com as duas sobrancelhas levantadas. — O que há de


errado com você? — Eu rio. — Ele é gostoso, então está tudo bem ele ser
um perseguidor?

Ela aperta os lábios e os rola de um lado para o outro, balançando a


cabeça. — Essencialmente. — Então ela encolhe os ombros. — Chama-
se YOU.

— Nunca ouvi falar disso.

— Vamos assistir ao primeiro episódio. — Ela sugere.

— A última vez que você disse isso, terminamos dez episódios


em Friends.

Ela suspira e olha para mim. — E veja como você está agora. —
Lennon sorri com orgulho, depois ri. — Ok, talvez você esteja certo. Eu
deveria ir para a cama de qualquer maneira. — Ela levanta os braços sobre
a cabeça e se estica, o tecido de sua camisa subindo um pouco.

Ela não se levanta, nem eu. Lennon olha para mim, mas não diz
nada. Ela mexe na barra da blusa e fica em silêncio.

— O que foi? — Eu pergunto, agarrando sua atenção. — Eu posso ver


que há algo em sua mente.

Lennon assente, depois se vira para mim. — Anteriormente, você disse


que deveria ter controlado seu temperamento.

Eu concordo.
— Isso sempre foi um problema para você ou é recente? — Ela
pergunta.

Porra. Eu não esperava que ela perguntasse algo assim. É uma parte do
meu passado que não falo muito com ninguém. Na verdade, nem Mason e
Liam sabem muito sobre minha família. Apenas Brandon sabia a feia
verdade.

— Eu acho que sempre foi um problema, desde o ensino médio. — Dou


de ombros, envergonhado em admitir.

— Por que isso? Alguma coisa o desencadeia? — Ela pergunta,


genuinamente curiosa.

— Bem, se você realmente quer saber, eu vou te dizer. — Eu começo e


engulo em seco.

Ela assente, mantendo os olhos fixos nos meus.

— Eu não tenho certeza do quanto Brandon disse a você sobre mim,


mas meu pai é um senador estadual.

Os olhos de Lennon se arregalam. — Oh meu Deus. Harris


Manning. Eu nunca coloquei dois e dois juntos. — Na verdade, estou
impressionado que ela o conheça pelo nome, considerando que qualquer
outra pessoa que eu contei ou falei sobre o governo não teve ideia. — Esse
é o seu pai? Que legal.

— Sim, infelizmente.

— Oh. Desculpe. Não é um bom relacionamento, hein? — Ela


pergunta.

— Não. Ele esteve na política a minha vida inteira. Começou no


conselho da cidade, concorreu e venceu como prefeito de Sacramento,
depois chegou a procurador-geral, então vice-governador da Califórnia, e
agora é senador. Ele sempre escolheu sua carreira em detrimento da
família, mas ainda teve tempo de pressionar meu irmão Hayden e eu a
jogar futebol durante todo o ensino fundamental, o ensino médio e depois
a faculdade.

— Eu pensei que você adorava jogar futebol?

— Não tive escolha. Eu acabei gostando. Principalmente porque eu fui


capaz de canalizar minha raiva por ele derrubando outras pessoas. — Eu
meio que ri, mas é verdade. — Eu coloquei toda a minha raiva no esporte.

— Então você não teve um bom relacionamento por causa de tudo isso?

— Não foi só isso. — Eu inspiro, pensando o quanto eu quero


compartilhar com ela. Decidindo ligar o foda-se, eu digo a verdade. — Ele
teve um caso durante anos, e a mídia descobriu. Seu dinheiro o encobriu
principalmente, depois ele colocou toda essa farsa sobre ter a família feliz
e perfeita. Dois filhos que jogavam futebol. Uma esposa leal. Ele se
vendeu como um homem de família para ser reeleito várias vezes e, por
mais ridículo que fosse, funcionou. Eu o odiava por isso. Eu odiava como
as pessoas se iludiam por isso, também.

— Oh Deus. — Ela respira fundo, seu olhar nunca vacilando no


meu. — Isso é horrível. Como ele pôde fazer isso?

— Ele está corrompido pelo dinheiro e por sua carreira. Fiquei tão
chateado quando descobri o que ele fez com minha mãe, mas ela o
deixou. Ainda não sei por que ela ficou ou continua com ele. Eu a amo,
mas desejo que ela saia dessa vida.

— Talvez ela sinta que não tem escolha, — ela sugere com um meio
encolher de ombros. — Muitas mulheres se sentem assim, principalmente
quando o homem é o responsável financeiramente. Talvez ela não quisesse
que você e Hayden tivessem um lar desfeito. Você já perguntou a ela?

— Eu perguntei, após o escândalo na mídia. Ela me disse que era um


mal-entendido. Claramente, ela estava em negação. — Eu gemo,
lembrando-me tão claramente. — Eu sabia que não tinha jeito. Havia
fotos.

— Eww. — Lennon torce o nariz. — Seu pai já conversou com vocês


sobre isso ou algo assim?

— Não. Ele teria que amadurecer e admitir o que fez, para depois
conversar conosco. Foi varrido para debaixo do tapete, como se nunca
tivesse acontecido. Ele desceu para tomar café da manhã, conversou
conosco sobre futebol e escola, depois foi trabalhar. Deixou-me tão
irritado. Foi quando as brigas começaram.

— Com quem?

Dou de ombros, pensando nos meus dias do ensino fundamental e


médio. — Com qualquer um e com todos. No ensino fundamental, eles me
criticavam por pertencer a uma família rica, embora eu nunca tivesse me
sentido assim, e me chamavam de esnobe rico. Eles pensaram que, como
meu pai estava na política, seria divertido mexer comigo. Depois de um
tempo, eu tive não aguentei mais e comecei a revidar. Quando as palavras
não foram suficientes para fazê-los recuar, usei meus punhos. No ensino
médio, outros jogadores da equipe que enchiam meu saco sobre a
reputação do meu pai foram derrubados no chão, mesmo quando não eram
meus alvos. Todos pensaram que eu não faria nada e assumiram que não
seria capaz de fazer, por causa do meu sobrenome, mas estavam errados,
porque eu não me importei. Eu não queria fazer parte de suas campanhas
ou de sua vida. Então, em vez de lidar com isso através de palavras,
briguei com as pessoas para expressar meus sentimentos.

— Uau... — ela diz, e eu percebo que provavelmente divaguei demais


em informações. — Eu realmente posso entender isso.

— Oh sim? — Eu rio. — Bem, você seria a primeira então.

— Era sua forma de se rebelar e liberar a raiva reprimida, que você não
sabia como expressar. Quero dizer, eu meio que fiz a mesma coisa.

— Você fez? — Eu pergunto.

— Sim! Eu namorei um cara no meu primeiro ano na faculdade. Ele foi


meu primeiro namorado de verdade, desde que meus pais eram muito
rígidos para me permitir namorar no ensino médio. Era um
relacionamento tóxico, para dizer o mínimo, mas eu não sabia nada sobre
isso. Ele me usou como um saco de pancadas emocional e, por um longo
tempo, eu deixei. Eu pensei que era assim que o amor era. Mas então eu vi
minhas amigas nesses relacionamentos amorosos, e seus namorados eram
tão doces e carinhosos. Comecei a me perguntar o que havia de errado
comigo porque o meu não era assim. Finalmente me ocorreu que não
era eu, era ele, e fiquei tão brava. Um dia, descobri que ele estava saindo
com outras três garotas, e me senti tão imunda. Eu deixei que ele fosse
meu primeiro em tudo, e estupidamente confiei nele. Tudo o que ele fez
comigo no passado, além de sua traição, me fez querer vingança. Eu não
queria apenas terminar com ele; Queria que ele sentisse o mesmo tipo de
dor que me causou.

— Estou com medo de perguntar o que você fez, Lennon. — Eu rio.

— Bem, nós estávamos em uma grande festa com todos os nossos


amigos, uma noite. Quando estava legal e cheio, eu disse a ele para ficar
no meio da sala comigo. Fiquei em uma cadeira, disse a todos para
ficarem quietos e depois disse: 'Malcolm, seu traidor de merda. Eu
terminei com você, com como você me trata, e com seu pau de sete
centímetros. E não é médio. Então você pode ir se foder, porque eu
terminei com você.’ Então eu pulei da cadeira, peguei um copo de cerveja
e...

— Por favor, diga-me que você jogou sobre a cabeça dele? — Eu


pergunto com diversão.

— Inferno, sim, eu fiz! — Ela ri. — Ele também mereceu


totalmente. Mas de qualquer maneira, eu nunca tinha feito algo assim em
toda a minha vida. Eu nunca tinha feito nada para me dar atenção extra ou
uma cena antes disso. No entanto, foi a percepção do que ele estava
fazendo comigo, me usando, por todos aqueles meses que finalmente me
irritaram. Eu estava pronta para revidar.

— Lennon, — eu digo com um sorriso orgulhoso. — Quem diria que


havia uma fodona embaixo dessas roupas de poliéster?

Ela ri tão alto que quase me faz pular. Eu amo tanto o som. Quero
embalá-lo e guardá-lo para que eu possa ouvi-lo a qualquer momento.

— Foi uma coisa que aconteceu uma só vez.

— Bem, estou feliz que você tenha se defendido. Aposto que esse cara
não transou por muito tempo.

Ela bufa. — Tenho certeza de que ele deixou a festa com seu pequeno
pau entre as pernas. Só o vi algumas vezes depois disso, na verdade.

— Eu também me esconderia de você depois disso.


— Ha! Eu não sou tão assustadora. Só não me irrite e não haverá
problema.

— Sim, eu aprendi isso da maneira mais difícil. — Digo como uma


piada, mas depois percebo que não sai dessa maneira.

Seus lábios imediatamente se tornam uma careta quando ela olha para
o colo. — Eu deveria ir para a cama. — Ela se levanta do sofá e começa a
se afastar. Sou rápido em seguir e agarrar seu ombro.

— Lennon, espere.

Ela se vira, mas não olha para mim.

— Eu não quis dizer isso.

— Claro que você quis, — diz ela, trazendo seus olhos para os
meus. — Tudo o que fizemos foi brigar até a noite em que Brandon
morreu, então não finja que não. Eu sei que você me odiava. Talvez você
ainda o faça. — Ela encolhe os ombros e eu posso ver as lágrimas se
formando em seus olhos.

Foda-se. Foda-se, foda-se, foda-se.

— Você tinha todo o direito de ficar chateada comigo na época, — digo


a ela. — Você tinha todo o direito de gritar comigo, confie em mim. Só
saiba que nunca te odiei. — Mesmo que eu quisesse que ela pensasse que
sim. — Fico feliz que você nunca tenha aceitado minha merda, Lennon. Eu
propositadamente apertei seus botões e você revidou. Estou feliz que você
não tenha tolerado isso.

Ela parece confusa como o inferno, não que eu esteja surpreso. Nunca
direi a ela por que agia daquela forma, porque meus sentimentos por ela
não importam. Eles nunca podem importar.
— Eu não entendo, Hunter.

— Eu sei. Só saiba que sinto muito, ok? Sinto muito pela forma como
te tratei, e não quero que voltemos a isso. Eu gostaria de poder explicar,
mas não posso. Apenas confie em mim.

Surpreendentemente, ela não pressiona mais. — OK.

— Bem, eu vou trancar a casa e desligar todas as luzes, — digo a ela,


precisando de algum espaço entre nós, antes que o desejo de empurrá-la
contra a parede e beijá-la torne-se forte demais para resistir.

— OK. Boa noite, Hunter. — Ela se afasta e depois para quando chega à
porta do quarto. Com a mão na maçaneta, ela olha por cima do ombro até
que nossos olhares se encontrem. — Obrigado novamente por hoje à noite.

— Claro. — Eu lanço a ela um pequeno sorriso. — Boa noite, Lennon.

Espero, até que ela esteja enfiada em segurança no quarto, antes de me


certificar de que a porta está trancada e as luzes apagadas. Eu ainda estou
agitado, ainda mais agora por causa de Lennon, e não sei quanto tempo
mais poderei me controlar antes de cair. Compartilhar meu passado com
ela não era algo que eu pretendia fazer, mas foi fácil conversar sobre
isso. Lennon não me julga. Ela tentou entender, e então, quando
compartilhou sua própria história sobre seu passado, esqueci por um
momento quem éramos.

Duas pessoas ligadas pela dor.

Duas pessoas que nunca podem ficar juntas.

Duas pessoas que precisam um do outro mais do que nunca.

Contanto que eu me lembre disso, eu posso fazer isso. Eu posso estar lá


para ela da maneira que ela precisa de mim. Amigos.
Antes de dormir, tomo um banho e me masturbo até meu pau ficar
quase esfolado. Não posso agir com base nesses sentimentos, mas posso
me permitir viver na fantasia por alguns minutos. Por mais errado que
seja, por apenas um momento, finjo que vivo em um mundo onde
poderíamos estar juntos - se ela me quisesse.
Capítulo Dezessete
Lennon
Eu acordo me sentindo uma merda absoluta. Não que seja diferente dos
últimos dois meses e meio, mas não é o mesmo. Depois da briga do bar no
último fim de semana, entre Hunter e aquele cara bêbado, fiquei feliz em
estar no apartamento. Aquilo foi socialização suficiente para mim por um
tempo.

Algo naquela noite nos deixou mais próximos, e sou genuinamente


grata por sua amizade. Eu não seria capaz de superar isso sem ele. Quando
o cara no bar perguntou se eu era solteira, eu não tinha ideia de como
responder. O que eu diria: — Tecnicamente, sim, já que ele está enterrado
a um metro e meio e ainda estou apaixonado por ele.

Fale sobre bagagem emocional.

Graças a Deus Hunter apareceu. Eu provavelmente teria caído em


lágrimas naquele momento.

Quero dizer, eu poderia ter saído dali sem ele ter que lutar por
mim. Mas foi um gesto agradável, considerando que o cara me chamou de
prostituta barata sem nenhuma razão.

Na semana passada, eu me enterrei em livros e até consegui fazer o


jantar algumas vezes. Eu sei que vou precisar fazer compras em breve,
porque estamos ficando sem comida de novo, e não é justo deixar Hunter
fazer tudo. Ele trabalha o dia inteiro enquanto eu estou fora, e eu
realmente deveria estar contribuindo mais, mesmo que eu esteja
desmotivada.
É como se Sophie lesse minha mente do outro lado da cidade e me
enviasse uma mensagem.

Sophie: Quer ir ao supermercado comigo e com Mads? Tenho


certeza que você precisa de suprimentos em sua caverna.

Eu bufei com a suposição dela, mas apenas porque ela está certa.

Lennon: Sim, mas Deus inventou a entrega do supermercado por


um motivo.

Estou brincando com ela, mas gosto de ver até onde posso empurrá-la.

Sophie: Tenho certeza que Deus diria: saia do sofá e vá ver suas
irmãs. Oh espera, ele está falando comigo agora. Sim, foi exatamente o
que ele disse. Pego você em 20 minutos. Dá tempo suficiente para
esfregar o fedor do sofá.

Reviro os olhos para a mensagem dela. Ela definitivamente


desempenha bem o papel de irmã mais velha.

Lennon: Rude pra caralho. Mas tudo bem. Me dê 30.

Tomo banho, me visto e estou realmente pronta antes que ela


chegue. Não demorou tanto tempo desde que eu apenas sequei meu cabelo
e não me preocupei em modelá-lo. Para o trabalho, eu sempre enrolava e
fazia com que parecesse agradável, mas enquanto estou de férias de verão,
não consigo encontrar um motivo para isso.

— Você está bonita, — diz Sophie assim que eu me sento no banco do


passageiro. — Cheira bem, também.

— Você tem uma maneira muito retrógrada de dizer que eu estava


cheirando a merda e parecendo um inferno. — Eu brinco.
Sophie me dá um sorriso e depois sai do estacionamento.

— Para o registro, eu não estou me sentindo muito bem, então não


estou desistindo ou algo assim. Eu me sinto exausta. Provavelmente vou
pegar a gripe de verão ou algo assim. — Eu gemo dramaticamente alto
enquanto me recosto no banco.

— Melhor comprar Lysol, então. Ninguém quer os seus sintomas


estranhos da gripe aviária. — Sophie diz, rindo de mim. Eu sei que ela
pensa que estou apenas dando desculpas, mas realmente me sinto mal.

— Enfim... — Eu limpo minha garganta em voz alta para enfatizar que


estou pronta para uma mudança de assunto. — Como está a situação do
companheiro de quarto? O namorado de Maria se mudou ou eles
terminaram de novo?

— Carter está se mudando neste fim de semana. Você não pode ver o
quanto estou animada por isso? — Ela estreita os olhos, franzindo a
testa. — Aparentemente, ele queria esperar que o contrato de seu
apartamento terminasse e tem lentamente trazido suas merdas.

— Você conversou com Maria sobre fazer, pelo menos, algumas regras
da casa? Resolver coisas como comida, limpeza, lavanderia. — Eu só
pergunto por que sei o que ela está prestes a passar. Sei que se o acidente
de Brandon nunca tivesse acontecido, Hunter e eu ainda nos odiaríamos, e
não quero isso para ela. É estressante como o inferno.

Sophie suspira, entrando na estrada. — Eu tentei, mas Maria está


apaixonada demais para perceber que isso vai mudar as coisas. Ela
basicamente disse que vamos descobrir o que faremos e que todos seremos
responsáveis por nossas próprias bagunças e comida. Exceto que aquele
idiota sempre come meus lanches quando ele acaba os dele. Carter nem
pergunta; ele apenas pega o que diabos ele quer.

— Talvez você deva comprar um frigobar para seu quarto? Pelo menos
assim, ele não entrará lá e pegará. — Sugiro.

— Provavelmente é uma boa ideia. De qualquer forma, vou precisar


que você me faça companhia e distraia-me quando não estiver no
trabalho. Felizmente, as coisas estão ocupadas agora, então não vou ficar
muito em casa.

Maddie nos encontra no supermercado com Erin, sua colega de quarto


da faculdade. Elas moram nos dormitórios, mas é mais como um
apartamento. Maddie tem seu próprio quarto e só compartilha a cozinha e
o espaço de convivência. Nós encontramos Erin algumas vezes e ela
parece muito gentil. Estou feliz que Maddie tenha alguém como ela para
contar, porque os dançarinos podem ser impiedosos e competitivos
durante a temporada de audições.

— Você tem toda a comida calórica no seu carrinho. — Eu bufo quando


olho para dentro. — O que aconteceu com suas restrições alimentares?

— Na verdade, vamos fazer uma viagem à praia neste fim de semana


com algumas outras pessoas, e estamos encarregadas pelos lanches, —
explica Maddie. — Além disso, são apenas alguns dias. Voltarei aos cubos
de gelo e oxigênio na segunda-feira. — Ela revira os olhos para mim,
mesmo sendo realmente disciplinada. Ela sempre teve uma constituição
esbelta, o corpo perfeito da dançarina, mas gostamos de dar a ela merda
sempre que podemos.

— Tenho certeza de que ganhei mais de quatro quilos só de olhar para


tudo isso, — acrescenta Sophie, com um sorriso falso. — Ah, por falar em
me sentir gorda, eu preciso comprar absorventes também.

Seu comentário me faz rir porque sempre me sinto super inchada antes
do meu ciclo começar também. Na verdade, meus períodos eram tão
pesados e dolorosos, que finalmente entrei no controle da natalidade na
faculdade apenas para regulá-los e aliviar as cólicas. No entanto, depois
que Brandon morreu, eu basicamente desisti de tudo e parei minhas
pílulas. Provavelmente preciso voltar a tomá-las para que meus períodos
não me matem da próxima vez.

— Lennon, você precisa de um pouco? — Sophie pergunta enquanto


alcança os que ela quer.

— Estou tão feliz que não preciso me preocupar com isso todo mês. —
Maddie canta. Desde que ela é dançarina há metade de sua vida e treinou
muito, ela se desenvolveu tarde. De fato, o treinamento afeta tanto seu
corpo que ela raramente fica menstruada.

— Na verdade não. Ainda estou abastecida desde a última vez.

— Você não comprou nenhum a última vez que fomos às compras. —


Ela responde, jogando duas caixas no carrinho.

Piscando, tento me lembrar de quando comprei absorventes pela última


vez. Eu só fui ao supermercado algumas vezes desde o acidente, porque
Hunter estava indo. — Deve ter sido antes disso então. — Dou de ombros,
levando o carrinho para o próximo corredor.

— Você tem certeza? Devo pegar uma caixa só por precaução? —


Sophie oferece. — Porque não há como você estocar por mais de dois
meses. Seu banheiro é pequeno demais para isso.
Isso é verdade. — Eu tenho uma caixa no armário embaixo da pia. —
Eu sei disso de fato, porque é onde eu mantenho toda a minha merda e a
vejo lá toda vez que pego meu secador de cabelo.

— Lennon. — Sophie se aproxima, abaixando a voz. — Quando foi a


última vez que você menstruou? Você não está tomando a pílula? Você
deveria menstruar a cada vinte e oito dias.

— Nossa, mãe. — Eu meio que rio. — Por que você se importa tanto?

— Porque você passou por muita merda, e isso pode afetar seu corpo,
assim como seus estados emocionais e mentais. Eu só estou preocupada
com você, isso é tudo. — Ela me lança um olhar genuíno de preocupação,
e agora me sinto mal por repreendê-la.

— O estresse também pode afetar sua menstruação, — eu a lembro. —


Não me lembro da última vez que tomei, mas parei de tomar a pílula após
o funeral. Principalmente porque eu esqueci. Eu estava perturbada demais
para comer.

Sophie pega o telefone e toca no aplicativo de calendário. — O que


você está fazendo?

— Contando as semanas.

— Por quê?

— Porque se você parou de tomar a pílula há mais de dois meses e


ainda não menstruou, isso significa que algo pode estar errado. — Ela
começa a levantar os dedos para contar quanto tempo faz.

— Voltarei a fazê-lo assim que menstruar e puder iniciar um novo


ciclo. Não sei por que você está pirando. — Continuo andando, olhando os
itens nas prateleiras.
— Você deve fazer um teste de gravidez. — Ela deixa escapar, o que
me faz parar imediatamente.

Ela vem até mim e eu me viro para encará-la. — Você perdeu a cabeça?
— Estou ficando com raiva agora. — Você sabe que eu não fiz sexo com
ninguém.

— Lennon, me desculpe. Eu não estou dizendo que você fez. Mas você
pode estar grávida. Brandon faleceu há menos de três meses. Você poderia
ter engravidado logo antes. — Eu ouço a sinceridade em seu tom e sei que
ela não está tentando me chatear, mas a realidade é que eu não quero
discutir isso agora no meio do supermercado.

— Isso me faria ter mais de dois meses de gravidez, Soph. Acho que já
deveria saber agora. — Zombei do pensamento insano.

— Nem sempre. Muitas mulheres não mostram barriga no primeiro


trimestre ou apresentam sintomas. Eu conhecia uma garota que não
descobriu até que ela estava basicamente dando à luz.

Eu torço o nariz com o pensamento. Isso parece impossível.

— Por que vocês estão demorando tanto? — Maddie interrompe,


caminhando atrás de nós. — Tendo uma conversa de irmãs sem mim? —
Ela caminha em volta do carrinho e nos encara. — O que há de errado?

Afastando-me de Sophie, respondo: — Ela acha que estou grávida.

— O quê? — Maddie imediatamente cobre a boca quando ela percebe o


quão alto ela diz. — Quero dizer, como?

Sophie e eu a olhamos.

— Não, bobas, eu sei como. Eu quis dizer, você não saberia agora se
estivesse? — Ela está pisando levemente, e eu aprecio o fato de ela não
assumir que eu já estou dormindo com outro cara.

— Em vez de brigar, vamos fazer um teste? — Sophie sugere.

— Eu não estou grávida. — Eu digo secamente.

— Você já teve algum sintoma? Por que Soph acha que você está
chateada? — Maddie pergunta.

Eu lanço um olhar para ela, estreitando os olhos diante de sua


franqueza.

— Ela não menstrua desde antes da morte de Brandon. — Diz Sophie.

— Puxa, por que não transmitimos apenas pelo alto-falante? — Eu


levanto meus braços, depois os deixo bater no meu lado.

— Bem, não é comum o seu corpo mudar durante um evento


traumático ou algo assim? — Ela pergunta.

— Viu? — Eu aponto a mão para Maddie. — Exatamente o que estou


dizendo. Sophie acha que estou me prostituindo.

— Eu nunca disse isso! — Ela faz uma careta. — Mas vamos


realmente pensar sobre isso. Além de não ter menstruado, você está
cansada, sem apetite e todos os seus hormônios estão acelerados. — Ela
levanta a mão para me impedir quando tento defender todas essas
coisas. — Esses podem ser sintomas de luto, não estou dizendo que não,
mas também pode ser devido à gravidez. Esses são todos sinais e, se você
não estivesse sofrendo, saberia cem por cento que algo estava
diferente. Então, basta fazer um teste e ter certeza. Para minha sanidade,
por favor?

Eu odeio que ela tenha razão, mesmo que eu esteja certa de que ela está
errada e apenas esteja fazendo disso um negócio muito maior do que
realmente é. Elas olham para mim, esperando.

— Bem. Vou fazer um teste se isso calar a boca de vocês duas!

— Ok, eu estava do seu lado até o último comentário, então agora sou
Team Gravidez. — Maddie diz com um sorriso presunçoso.

Eu não posso estar grávida. Tem que haver outra explicação para meu
período estar tão atrasado.

Eu parei de tomar minhas pílulas.

Meus ciclos estão acelerados por causa do estresse que tenho sentido
entre perder Brandon e trabalhar. Só que agora não voltarei ao trabalho por
mais alguns meses. Então, minha menstruação provavelmente aparecerá, e
tudo isso será uma total perda de tempo.

Não tenho apetite para comer, porque fiquei triste demais para me
importar com comida.

Ugh, mas foda-se. Se isso vai calá-las, vou fazer xixi no palito.

Vou até o corredor e olho para todas as caixas cor de rosa. Por que tem
que haver tantos? Quando não volto imediatamente, Sophie e Maddie vem
atrás de mim.

— O que há de errado? — Sophie pergunta.

— Eu não sei qual devo comprar. Resposta precoce? Linhas cor de


rosa? Linhas azuis? Por que existem tantos?

— Você nunca teve que comprar um teste de gravidez antes? — Erin


fala, e eu nem percebi que ela estava atrás de nós.

— Não. — Sophie, Maddie e eu respondemos ao mesmo tempo. Ter um


bebê antes de se casar estava sempre fora de questão. Nossos pais
perderiam a cabeça e nos deserdariam. É por isso que eu nunca poderia
contar a eles que Brandon e eu morávamos juntos. Eu os amo e quero tanto
a aprovação deles que mentir era uma opção melhor.

— Os com linhas rosa são melhores. — Ela sugere. — Eles dão


respostas melhores.

— Ótimo. — Pego uma caixa que diz 99,99% de precisão e tem dois
testes dentro. — Feliz agora? — Eu faço um show de jogá-lo no carrinho e
ir embora. Vai ser um desperdício de dez dólares.

Menos de uma hora depois, estamos de volta ao apartamento e só tenho


comida suficiente para a semana. Não tive tempo de perguntar a Hunter o
que ele queria, então só tenho o essencial por enquanto.

— Quer ajuda? — Sophie pergunta quando eu pego os dois sacos


plásticos e um galão de leite do porta-malas.

— Não. Eles não são tão pesados.

— Você quer ajuda para desempacotar tudo? — Ela pergunta, quase


saindo pela janela.

— Não... — Dou-lhe um olhar estranho, e então me dou conta. — Você


só quer vir e me obrigar a fazer xixi naquele teste estúpido.

— Duh! Estou curiosa. Além disso, você é minha irmã. Só estou


preocupada. — Ela me dá uma careta para que eu não possa ficar brava
com seu comportamento dominador.

— Quando eu beber o suficiente para ter coragem de fazer o teste, eu a


informarei.

— Você não pode beber! — Ela quase pula do carro.


— Oh meu Deus, eu estou brincando com você! — Eu rio. — Acalme-
se. Eu não sou tão estúpida. Eu sei os prós e contras básicos da gravidez.

— Por favor, me ligue quando fizer isso, ok? Eu só quero estar lá para
você e tudo mais.

— Eu sei. Obrigada.

Nos despedimos, eu entro no apartamento e começo a descarregar


tudo. Eu sempre organizo as coisas com antecedência, para que quando o
empacotador colocar meus itens nas sacolas, os produtos do freezer, da
despensa e os itens não alimentares estejam juntos. Estão todos deitados
no balcão quando ouço a porta se abrir.

— Lennon? — Eu ouço a voz de Hunter.

— Na cozinha. — Eu digo, colocando o leite na geladeira e movendo


algumas coisas para caber às carnes e iogurtes. — Você chegou em casa
cedo. A menos que você veio me trazer o almoço. — digo com uma
risada. Hunter nem sempre tem tempo para trazer algo como costumava
fazer, e tudo bem, porque eu odeio ser um fardo. Embora eu não possa
negar, apreciei quando ele o fez, porque eu não tinha desejo ou energia
para pensar em fazer algo para mim.

— Tenho uma reunião em uma hora do outro lado da cidade e esqueci


algumas coisas.

Eu me viro e o encaro, admirando seu olhar. Suas calças e camisa de


botões são tão apertadas que parecem pintadas em seu corpo. Tenho
certeza de que suas colegas de trabalho não se importam. — Mas eu trouxe
um sanduíche de peixe para você.
Assim que o cheiro me atinge, dou um passo para trás e cubro metade
do meu rosto. — Isso tem que ir. É demais. — Estou do outro lado da
cozinha quando Hunter entende.

— Oh, desculpe. Vou levar comigo. — Ele está fora da cozinha e eu


finalmente solto um suspiro.

Meus olhos se voltam para o balcão onde está a caixa de teste de


gravidez. Espero que ele não tenha visto e empurro para trás da cafeteira
para escondê-lo. Oh meu Deus.

Os cheiros.

A náusea.

O vômito.

Não, não, não e não.

Isso tem que ser uma coincidência estranha. Eu não posso estar
grávida.

— Quer que eu pegue outra coisa para você? — Hunter entra e


pergunta. Ele dá uma olhada no meu rosto e se aproxima. — Lennon. Você
está bem? Você parece muito pálida. — Hunter fecha a lacuna entre nós e
segura meu rosto e me estuda. — Você está doente?

Eu não sei o que dizer. Ele teve que me suportar aqui o tempo todo,
então não há como ele querer um bebê morando aqui também.

Inferno, não posso processar isso agora. Não quero contar nada a ele até
ter certeza.

— Só estou cansada, eu acho. Sophie e Maddie me arrastaram para o


supermercado com elas. Espero que me sinta melhor depois de uma
soneca.

Hunter estreita os olhos como se não acreditasse em mim, mas não


pressiona. Liberando-me, ele me diz para ligar se eu precisar de alguma
coisa. Ele pega suas coisas do trabalho e depois sai pela porta.

Pego a caixa rosa e vou para o banheiro. Eu nunca fiz um teste de


gravidez e tento ler rapidamente as instruções.

— Tudo bem, parece bem básico. Faça xixi no palito, espere dois
minutos, a vida muda para sempre. — Murmuro para mim mesma, minhas
mãos tremendo enquanto tiro a tampa. Como existem dois testes, decido
fazer xixi nos dois.

Quando termino, coloco-os no balcão e ando pelo pequeno piso do


banheiro. É então que eu realmente penso sobre o que isso poderia
significar se eu estiver grávida.

A última vez que Brandon e eu fizemos sexo foi na noite anterior à sua
morte. Isso foi há dois meses. Pelo que me lembro de aprender na escola,
uma gravidez é calculada desde o primeiro dia do seu último período, por
isso é como duas semanas antes da concepção. Isso significa que, se eu
estiver, já estaria grávida de dez semanas.

A realização me bate forte e rápido. Eu poderia estar com o bebê de


Brandon, e ele nem está aqui para experimentar isso comigo. Ele não vai
conhecer seu filho. Não terei um marido em quem confiar e com quem me
alegrar. Encostada na porta do banheiro, eu caio no chão. Não posso criar
esse bebê sozinha. Meus pais nunca vão aprovar. Portanto, meu bebê não
terá apenas um pai, mas também não terá avós.

Meu telefone toca, me dizendo que os dois minutos se passaram e é


hora de ter certeza. Minhas mãos estão suadas, e meu coração está batendo
tão forte que posso senti-lo por todo o corpo. Parte de mim já sabe o que
vou ver quando olhar para esses testes.

Rastejando até o balcão, pego as duas varas da pia e as abaixo. Aperto


meus olhos com força, tentando firmar minha respiração antes de abri-los
e olhar para as duas linhas na minha frente.

Positivo. Ambos.

Duas linhas brilhantemente rosa.

As lágrimas caem imediatamente quando me deparo com a realidade e


o que isso significa para o meu futuro.

Um futuro sem Brandon. A dor me atinge novamente.

Eu me enrolo em uma bola no chão, incapaz de encontrar forças para


me mover enquanto choro até dormir.

Uma batida forte na porta do banheiro me acorda e, quando eu abro


meus olhos, percebo que ainda estou no chão e não tenho ideia de quanto
tempo se passou. Não acredito que adormeci e agora meu corpo está
dolorido por estar deitado no azulejo. Quando me levanto, vejo os dois
testes ao meu lado e começo a chorar de novo.

— Lennon, você está bem? — Hunter bate novamente. — Cheguei em


casa há cerca de vinte minutos e estou começando a ficar preocupado com
você.

— Eu estou bem, — eu falo. — Sairei logo. — Merda. Ele acabou de


chegar em casa do trabalho, o que significa que estou aqui há horas.

De pé, enfio os dois testes no bolso de trás e me olho no espelho. Eu


estou uma bagunça. Meu rosto está manchado, meu cabelo ainda está
preso desde de manhã, e dá para dizer que eu estou chorando. Você
pensaria que todas as minhas lágrimas teriam secado após a morte de
Brandon.

Depois de lavar o rosto e arrumar o cabelo, saio do banheiro e entro na


sala de estar. Hunter está vasculhando sua bolsa e, quando me sento no
sofá, ele levanta a cabeça e me estuda.

— Merda, Lennon. Tem certeza de que está bem?

Balanço a cabeça, meu olhar encarando o nada. — Não. Eu não acho


que estou.

Hunter se move ao redor da mesa de café e entra na minha linha de


visão e, embora meus olhos não se concentrem nele, posso sentir seus
movimentos. Parte de mim se sente entorpecida. Como isso pode estar
acontecendo agora?

O que eu passei não foi suficiente?

Não sofri dor suficiente para durar a vida toda?

Estar grávida deveria ser um momento positivo e feliz na minha vida,


mas tudo o que faz é finalizar o fato de Brandon nunca mais voltar. E eu
estou sozinha. Sei que tenho minhas irmãs, pelo menos, mas não posso
esperar que elas reorganizem suas vidas por mim. Cada uma delas tem
sonhos que também estão perseguindo. Eu quase suspiro quando penso nos
meus pais e qual será a reação deles.

— Você está começando a me assustar, — diz Hunter. — Aconteceu


alguma coisa?

Eu aceno, finalmente piscando, e me viro para encará-lo. Não adianta


ficar zoando, então eu poderia muito bem arrancar o Band-Aid. — Estou
grávida.
Hunter olha para mim por um longo momento, e eu sei que ele está tão
chocado quanto eu. Quando tenho certeza de que ele não vai dizer nada,
abro a boca, mas depois ele fala primeiro.

— Uau... uh. Você tem certeza? — Ele passa a mão pelos cabelos como
se estivesse tentando processar tudo isso também.

Inclinando-me para o lado, pego os testes do meu bolso e os entrego a


ele.

— Bem, eu tenho 99,99% de certeza.

Ele olha para eles como se estivesse tentando ler um idioma diferente.

— Duas linhas significa positivo. — Digo a ele.

— Uh, sim. Eu descobri isso. Eu estou apenas...

— Não se preocupe. Não é sua responsabilidade, — eu deixo escapar,


preocupada que ele esteja pensando no pior cenário. Não contei a ele
porque esperava que ele fizesse alguma coisa, mas mais ainda por causa de
nossa nova amizade. — Só porque Brandon era seu melhor amigo, não
significa que agora você tem que cuidar de mim ou de nosso bebê. Então
vou começar a procurar outro lugar o mais rápido possível. — Eu me
levanto, mas Hunter agarra meus joelhos e gentilmente me empurra para
sentar de novo.

— Por que diabos você acha que é isso que eu estava pensando ou que
vou dizer? — Seu tom é duro, e meu coração bate rapidamente, minha
respiração aumentando com a mágoa que ele parece. — Não te provei nos
últimos dois meses que te quero aqui? Que este lugar é tão meu quanto
seu? Eu não lhe mostrei que estou ao seu lado, não importa o quê? — Seu
volume aumenta a cada pergunta como se ele estivesse chateado, o que me
confunde muito.

— Hunter, eu apenas assumi.

— Exatamente, — ele late. — Pedi desculpas várias vezes pelo modo


como te tratei. Eu sei que eu era um idiota, ok? Eu tenho tentado
compensar você, porque eu não queria que nenhum de nós sofresse
sozinho. — Seu tom mantém tanta sinceridade que faz meu coração doer
ao ver como ele se arrepende do passado.

— Hunter, não é isso, — tento tranquilizá-lo. — Mas isso é mais do


que apenas apoiar um ao outro durante um momento difícil. Isto é
um bebê. Eu nem sei como processar isso, muito menos espero que você o
faça. É fácil você dizer que quer estar aqui para mim, mas o que acontece
quando você estiver pronto para seguir em frente com sua vida? Como
você vai trazer uma garota para casa quando o bebê de sua colega de
quarto chora a noite toda? Por que você quer isso? Você está acostumado a
sair o tempo todo. Eu sei que você vai querer isso novamente. Você não
pode saber como isso vai mudar tudo, mas vai mudar. Isso muda tudo.

Em vez de revidar, como eu esperava, ele se levanta e vai


embora. Hunter não fez nada de errado, mas aqui estou eu, afastando-o. Eu
sei que é o melhor. Ele quer pensar que ainda podemos continuar assim
como dois companheiros de quarto, mas, eventualmente, ele vai querer sua
antiga vida de volta. E quando ele fizer isso, eu vou pegar os pedaços do
que sobrou.

Quando ele não volta para a sala, eu decido ir encontrá-lo. Eu odeio que
ele pense que eu não aprecio tudo o que ele fez porque eu aprecio
muito. Isso é mais do que apenas me alimentar e garantir uma boa noite de
sono. Este é um momento de mudança de vida, e ele não precisa se
responsabilizar por isso. Eu não espero que ele faça.

A porta do quarto está entreaberta, então suponho que ele esteja


lá. Provavelmente para arrumar minhas coisas e me empurrar para fora da
porta. Inferno, eu não o culparia se ele o fizesse.

— Hunter, eu estou... — Eu a abro para verificar se ele está lá, e meu


queixo cai quando o vejo parado apenas de cueca. Suas costas são
ridiculamente musculosas, assim como o resto, e as tatuagens envolvem a
lateral de seu corpo. Parte de mim sempre se perguntou o que elas
representam.

Ele não se vira com o som da minha voz, mas continua a vasculhar sua
cômoda. Ele pega uma calça de moletom e uma camiseta e depois gira e
me encara. — Estou mudando minhas roupas para o outro quarto, e você
deve fazer o mesmo. Este é maior, caberá um berço e o que mais você
precisar. Este é o seu quarto agora.

Eu solto um suspiro, chocada. — Hunter. — Eu começo, mas ele me


interrompe e fecha o espaço entre nós. Ele está a apenas alguns
centímetros de mim, e tenho certeza que ele pode ouvir as batidas rápidas
do meu coração acelerado.

— Nada que você possa dizer ou fazer me fará querer que você saia da
minha vida, Lennon. Você entendeu? Você não está indo embora. Eu não
vou embora. Esta é a nossa casa, e vamos fazê-la funcionar. Eu não dou a
mínima para o meu velho estilo de vida. Confie em mim. Não era do jeito
que você pensava, de qualquer forma, e não tenho vontade de voltar a
isso. Você pode gritar comigo, fazer suas suposições sobre mim e me
chamar de idiota o dia inteiro, mas eu ainda estarei aqui por você. Nada
vai mudar isso, então é melhor você se acostumar.

Mordo meus lábios com sua honestidade franca. É a última coisa que
eu esperava dele, mas se eu aprendi alguma coisa nas últimas semanas, é
que Hunter não é o que eu pensava. Ele é mais imprevisível e provou isso
para mim repetidamente.

— Sinto muito. — Eu engulo em seco. — Espero que você saiba o


quanto aprecio tudo o que você fez por mim. Isso não tem nada a ver com
o nosso passado difícil, Hunter. Agora é história antiga.

Ele assente, mantendo o olhar firme no meu. — Bom. Então você vai
ficar?

Não posso deixar de rir. — Sim. Vou ficar.


Hunter envolve seus braços grandes em volta de mim e beija o topo da
minha cabeça. — Você vai superar isso, Lennon. Você sempre faz.
Capítulo Dezoito
Hunter
Depois de descobrir sobre a gravidez de Lennon na noite passada,
experimentei um turbilhão de emoções: felicidade, raiva, excitação e até
amargura. A verdade é que não sei o que ou como sentir, porque estou em
choque total. Parte de mim está feliz por Brandon ter deixado um pedaço
de si mesmo para trás, mas também parte meu coração que ele nunca
saberá que ele e Lennon criaram um pequeno milagre. Ele ficaria muito
feliz com a notícia, tão feliz e orgulhoso. Não tenho dúvida de que ele
também seria um ótimo pai. Quando fecho meus olhos, quase consigo
imaginar sua reação exata, e tento encontrar paz nisso, embora seja apenas
mais um lembrete de que Lennon sempre será a garota de Brandon.
Meus pensamentos estão por toda parte quando me preparo para o
trabalho. Eu quis dizer cada palavra que eu disse a ela. Ela está ficando, e
eu vou ajudá-la da maneira que puder durante a gravidez e assim que o
bebê chegar. Não tenho ideia do que estou fazendo, assim como um novo
pai não faria, mas vou tentar me preparar o melhor que puder.

O apartamento está escuro e, como Lennon ainda está dormindo, tento


o meu melhor para ficar quieto. Enquanto despejo café na minha caneca,
penso nas notícias. Ela estar grávida faz muito sentido - as mudanças de
humor, perda de apetite, náusea. Combinado com o estresse e a tristeza de
perder Brandon, porém, não admira que ela não tenha notado. Mas isso
explica muito. Estou surpreso por não ter pensado na possibilidade antes.

Antes de ir para o trabalho, vou até o quarto dela e abro a porta para
checá-la. Ela está dormindo profundamente, e eu posso ouvir seus roncos
leves. Na mesa de cabeceira, vejo um de seus livros de romance, e isso me
faz sorrir sabendo que ela ainda está entretida com eles. Eu
silenciosamente fecho a porta e saio para o trabalho.

Passo a maior parte da manhã indo e voltando entre o local da obra e o


escritório. Finalmente estamos fazendo a terraplanagem para os
condomínios e ver a área de implantação dos edifícios me
surpreende. Claro, nós o mapeamos e eu estudei vários esquemas, mas na
verdade, ficar na frente desse projeto é quase inacreditável. Temos mais
quatro meses para começar a compilação e esse projeto
terminará. Enquanto não ocorrerem desastres, eu serei transferido para
outro. As horas passam rapidamente e, enquanto carrego merda na minha
bolsa, recebo uma mensagem de Lennon.

Lennon: Você tem planos hoje à noite? :)

O emoji sorridente está perfeitamente colocado no final, porque ela


sabe muito bem que meu mundo gira em torno dela agora.

Hunter: Apenas afogar o ganso.

Lennon: MEU DEUS! Você poderia fazer isso outro dia? Convidei
minhas irmãs para jantar. Eu preciso contar a elas as grandes
notícias. Não é algo que eu queira enviar ou falar por telefone. Você
poderia estar aqui comigo, por favor?

Um sorriso toca meus lábios, um que ela causa porque ela me quer lá
com ela. Se alguém me dissesse seis meses atrás que essa seria a minha
vida, eu os chamaria de mentirosos na cara deles.

Hunter: Eu ficaria honrado.

Lennon: Obrigada. Eu simplesmente não posso fazer isso sozinha,


sabe?
Hunter: Eu sempre estarei lá para você, Lennon. Não importa o
que.

E eu quero dizer cada palavra que eu mando para ela.

Lennon: Estou muito agradecida por você. Eu sei que Brandon


também estaria.

Outro soco direto no estômago.

Há tanta coisa que quero dizer a ela, mas, em vez disso, mantenho isso
breve. É melhor assim.

Hunter: :) Eu estarei em casa em breve.

Estou no meu escritório e passo os dedos pelos meus cabelos. É tão


fácil para mim viver neste mundo de faz de conta, onde Lennon
secretamente se sente da mesma maneira por mim, mas sei que não é esse
o caso. Não estou tentando entrar e roubá-la. Limites - eu tenho que criá-
los e não quebrá-los.

No caminho para casa, tento imaginar como Sophie e Maddie vão


reagir. Considerando que elas forçaram Lennon a comprar um teste de
gravidez, duvido que seja um choque completo. Aposto que Sophie dirá
que a avisou, sendo a irmã mais velha e tudo.

Quando chego ao apartamento, a ouço e sinto um cheiro muito


bom. Largo minha bolsa na porta e vou até a cozinha, onde Lennon dança
com aqueles malditos shorts jeans e uma camiseta regata, misturando algo
em uma tigela. Eu me inclino contra o batente da porta e a assisto,
absorvendo tudo isso e desejando que as coisas fossem diferentes para nós.

— Puta merda! — Ela grita, apontando a colher para mim com um


aperto mortal.
Caí na gargalhada. — Desculpe! Não queria interromper sua
apresentação de dança.

Ela coloca a mão no quadril. — Você quase me fez fazer xixi em mim,
o que aparentemente é outro sintoma delicioso que eu também tenho.

Balanço a cabeça e bufo, caminhando mais para dentro da cozinha. —


O que você está cozinhando para mim?

— Tortas caseiras de frango, — ela responde com um sorriso. —


Para todos. — Acrescenta ela. — Eu estava assistindo a Food Network23
hoje cedo e parecia bom. — Ela me mostra seu telefone onde está a
receita. — Então pensei em experimentar.

— Então você descobre que está grávida e se torna Betty Crocker24?


— Eu provoco. Ela sempre cozinhava, com exceção dos últimos dois
meses.

Isso me dá um sorriso. — Quando os desejos chamam, você os segue.


— Ela encolhe os ombros sem se desculpar.

Lennon tira a crosta de uma assadeira e a enfia em outra. Depois de


derramar o recheio, coloca cuidadosamente a segunda massa por cima e a
coloca no forno.

— Eu vou tomar um banho. Quanto tempo tenho? — Pergunto.

— Minhas irmãs estarão aqui em vinte minutos.

Eu concordo. — Vou levar dez.

Corro para o chuveiro e ligo a água. Eu disse a ela que levaria dez
minutos, mas tomo banho e me visto em oito minutos. Há tempo
suficiente para entrar na sala e me sentar no sofá antes de uma batida na
porta.

— Eu atendo. — Eu grito quando ela sai correndo da cozinha. Ela passa


do sofá quando o cronômetro toca no forno.

— Eu não troquei de roupa! — Ela olha para si mesma. — Merda! —


Ela volta para a cozinha, o temporizador para e eu ouço a porta do forno
abrir.

Soltei uma risada e atendi a porta. Assim que eu faço, Maddie e Sophie
entram correndo.

— Oooh, você cheira bem, — diz Maddie, fazendo um show de


inspiração no meu peito. Sophie se vira e bate no ombro dela.

— Não comece. — Diz ela com um sorriso, olhando para Maddie.

Maddie se senta na mesa da cozinha com um enorme sorriso no


rosto. — Lennon, por que você insistiu que o Buzz Killington25 também
viesse?

Sophie revira os olhos e se senta à mesa no momento em que Lennon


sai carregando a obra-prima que ela fez.

Os olhos de Maddie se arregalam. — Puta merda. Você fez isso?

Lennon sorri orgulhosamente e distribui os pratos e garfos. — Por que


todo mundo está tão chocado? Eu sei cozinhar!

— Porque enquanto crescíamos, cozinhar significava assar Pop-Tarts26


e usar uma lata de atum, — acrescenta Sophie ao golpe.

Quando caio na gargalhada, as três se viram e olham para mim, depois


voltam a falar merda uma para outra. Só posso imaginar como elas eram
quando moravam todas sob o mesmo teto.

O olhar suave de Lennon encontra o meu, e ela solta um suspiro


irregular. Suas irmãs não estão prestando atenção enquanto colocam
comida nos pratos, mas noto tudo sobre ela, mesmo que ela pense que não.

Depois que todos nos servimos e começamos a comer, Lennon limpa a


garganta e posso dizer que ela está nervosa. Eu olho para ela,
incentivando-a com um simples olhar.

— Tenho certeza que vocês duas estão se perguntando por que eu


convidei vocês. — Ela começa. Eu posso ver seu pulso latejando no
pescoço. Eu quase estendo a mão para segurar sua mão, para acalmá-la,
mas não o faço.

— Para nos dizer que você e Hunter finalmente são um casal? —


Maddie diz com um sorriso enorme.

O rosto de Lennon se contorce. — O que?

— Não. — Acrescento quase ao mesmo tempo, vendo como o rosto de


Lennon fica vermelho com as palavras de Maddie. Sophie dá a Maddie um
olhar mortal, e ela encolhe os ombros como se não fosse grande coisa. Eu
acho engraçado que Maddie seja constantemente repreendida por elas, mas
estou com muito medo de reagir porque não quero que Lennon veja meus
verdadeiros sentimentos.

— Eu realmente não sinto muito por dizer isso. Então não vou me
desculpar. — Maddie sorri de brincadeira. — Quero dizer, vamos lá! —
Ela agita os braços no ar, e é necessária toda a força de vontade do mundo
para não olhar para Lennon em busca de uma reação.
— Nós somos apenas amigos, Maddie. Pare com isso, você está me
envergonhando. — Lennon diz severamente, depois olha para mim com
olhos de desculpas, como se fosse algo ruim se fôssemos mais do que isso.

Sophie limpa a garganta, atuando como mediadora, depois coloca a


mão na de Lennon. — Você fez o teste sem me ligar primeiro. Você está
grávida, não está?

Lennon engole em seco e depois assente. — Você me deve vinte


dólares. — Sophie se vira para Maddie com uma risada.

As duas se levantam e correm para Lennon, abraçando-a, e eu me


inclino para trás e observo as três, vendo o amor que elas têm uma pelo
outra.

Sophie começa a chorar. — Eu estou tão feliz por você. Eu sei o quanto
você queria isso, queria uma família.

Meu coração parece que está sendo rasgado em um milhão de


pedaços. A qualquer momento, eu poderia explodir no ar como confetes
comemorativos. É oficial. Sou um bastardo por estar com ciúmes por não
ser o homem que lhe deu isso. Não estava no meu
destino, nunca pode estar.

— Ótimo, agora estou chorando também. — Diz Maddie, e então


Lennon começa.

— Pare! — Lennon funga com uma meia risada. — Você está me


deixando tão emocional.

Levanto-me e pego uma das caixas de lenços de papel da sala e passo-


a. É um momento feliz, que deve ser valorizado. Depois que elas trocaram
abraços e choraram lágrimas de alegria, sentamos e terminamos de
comer. A sala fica quieta, além dos sons de nossos talheres raspando contra
pratos.

— Então, — Sophie começa, — quando você vai contar para mamãe e


papai?

Lennon diz — Ainda não pensei nisso, mas assim que pensar, todos
vocês serão os primeiros a saber, porque vou ser deserdada.

— Eles vão superar isso, — Maddie diz com certeza, olhando para a
tatuagem em seu pulso, uma das muitas que ouvi falar. — E nós estaremos
aqui para você, não importa o quê.

Lennon sorri, mas posso dizer que ela está se perdendo na sua
cabeça. Eu gostaria de poder dizer o que quero, mas fico quieto. Minha
mente ainda está atenta ao que Maddie disse, e percebo que a única pessoa
que não vê como me sinto em relação a Lennon é Lennon.

Quando todos terminam de comer, e não resta uma migalha, pego os


pratos de todos e os trago para a cozinha. Ligo a água e lavo tudo antes de
colocá-los na máquina de lavar louça. Deixando-as sozinhas, tomo meu
tempo para limpar a bagunça que Lennon fez na cozinha. Quando tudo está
impecável como ela gosta, eu espio minha cabeça e digo que vou para a
cama.

— Já? — Lennon diz, me dando um sorriso.

— Sim, eu estou cansado. Dia longo— Digo a ela com um sorriso e as


deixo tendo um momento entre irmãs.

***
Uma semana se passou desde as grandes notícias. Lennon não quer
contar a mais ninguém além de suas irmãs e eu até ver seu
médico. Enquanto estamos sentados no sofá assistindo outro episódio
de Friends, ela começa a chorar.

— Lennon? — Eu pergunto, confuso com seu colapso repentino. —


Tudo certo?

Ela funga. — Desculpe. Só estou assustada com o amanhã e tenho que


ir sozinha a minha ginecologista. Sophie e Maddie não podem ir por causa
do trabalho e...

— Eu vou com você. — Eu deixo escapar sem pensar.

Ela enxuga as lágrimas das bochechas. — Realmente? Você faria isso


por mim?

Aproximo-me e ela se inclina para mim. Envolvo meu braço em torno


de seu pequeno corpo, e ela me abraça, derretendo completamente em
mim. É preciso tudo o que tenho para manter minhas emoções afastadas e
não puxá-la para o meu colo.

Coloco minha mão na parte de trás da cabeça dela. — Eu faria qualquer


coisa por você, Lennon. Que horas?

Ela respira fundo. — Dez. — Ela se afasta e olha para mim. — Você
tem certeza? E o seu trabalho?

— Absolutamente. Deixe que eu me preocupe com o trabalho. — Digo


a ela. — Além disso, eu não conheço ninguém que chorou durante um dos
episódios mais engraçados de Friends. — Eu enxugo uma lágrima que está
lutando para cair pelo seu rosto, e ela me observa. Se eu não estivesse
escondendo o maior segredo da minha vida, estaria beijando essas
lágrimas.
Soltando uma risada abafada, ela suspira. — Obrigado. Sinto que tudo
o que estou fazendo é agradecer a você ultimamente. E não parece
suficiente.

Eu dou um pequeno sorriso para ela. — É mais do que suficiente, —


digo a ela, me forçando a me afastar. — Quer assistir o próximo? Estamos
quase terminando a terceira temporada.

Lennon assente e se recosta no sofá. Sinto seus olhos em mim, mas


mantenho os meus voltados para a frente. Limites, eu me lembro.

***
A manhã seguinte vem rápida. Parece que meu alarme estava gritando
para eu acordar assim que fechei os olhos. Vou ao escritório e cuido de
alguns papéis antes de sair e pego Lennon para sua consulta. Ela me
encontra no estacionamento para economizar tempo.

— Estou tão nervosa. — Diz Lennon, com a perna tremendo em


antecipação, enquanto dirigimos para a clínica.

— Vai ficar tudo bem. Tenho certeza de que você também está um
pouco empolgada. — Estou tentando ser o mais favorável possível, porque
agora, mais do que nunca, ela precisa disso.

— Sim, estou animada, — diz ela, dando um meio sorriso. — Embora


triste também. — Acrescenta ela. Eu estava pensando quando ela
mencionaria isso.

Estendo a mão, agarro a mão dela e a aperto. Ela não se encolhe ou se


afasta, mas eu o faço antes que fique estranho. Coloco minha mão de volta
no volante, sem saber o que havia acontecido comigo. Parecia certo,
natural, e devia ser para ela também.
Quando entro no estacionamento, nós dois olhamos para o
prédio. Lennon solta um suspiro profundo e uma risada nervosa.

— Nós conseguimos fazer isso. — Digo a ela, então solto o cinto e abro
a porta. Ela segue minha liderança e nós entramos. Sentamos na sala de
espera enquanto ela preenche a papelada necessária e, longos vinte
minutos depois, eles finalmente chamam seu nome.

Por alguma razão, estou tão nervoso quanto ela. Não tenho ideia do que
esperar em uma visita como essa, então só posso imaginar a ansiedade que
ela está sentindo. Não quero que haja problemas com ela ou com o bebê
por razões óbvias, mas também porque ela não aguenta mais más notícias.

Seguimos a enfermeira até uma sala de exames onde eles a levam para
ver o seu peso e altura. A enfermeira faz mil perguntas com base em sua
papelada, mede sua pressão arterial e depois pergunta sobre seu último
período menstrual. Lennon não pode dar a data exata, mas ela fornece um
prazo estimado. Se falar sobre isso na minha frente é estranho como o
inferno para ela, ela não mostra. Lennon responde a todas as perguntas
sem esforço, descrevendo como ela está se sentindo e falando sobre sua
dieta. Depois que a enfermeira tem tudo o que precisa, somos informados
de que a Dra. Potter chegará em breve.

Quinze minutos depois, a médica entra com um arquivo na mão. — Aí


está o casal feliz! Parabéns pela sua gravidez. — Ela diz com um grande
sorriso, olhando para trás e para frente entre nós antes de se sentar na
pequena mesa.

— Oh, hum-— Eu começo, mas rapidamente paro quando Lennon fala.

— Não, ele não é o pai. — Explica ela, o lábio inferior tremendo.


Estendo a mão e agarro sua mão, apertando-a novamente, exatamente
como fiz na caminhonete. — Está tudo bem, Lennon.

— Sinto muito, — Dra. Potter imediatamente pede desculpas. — Eu


não deveria assumir as coisas.

Lennon assente, e eu me recosto na cadeira para que as duas possam


conversar. — O pai morreu em um acidente de moto há alguns meses. Este
é Hunter, seu melhor amigo. — Ela faz uma pausa e acrescenta: —
Meu melhor amigo.

Meu coração cai no meu estômago com a declaração dela. Eu sei que
não devo permitir que essas palavras me afetem, mas elas o fazem. Se ser
o melhor amigo dela é tudo o que posso ser, eu ainda morreria um homem
feliz apenas por estar na vida de Lennon.

Os olhos da médica suavizam e ela pede desculpas profusamente por


sua perda. A Dra. Potter repete basicamente tudo o que a enfermeira pediu,
o que é irritante porque Lennon precisa passar por isso duas vezes. Fala
sobre tomar suas vitaminas pré-natais diárias e depois discute quanto
tempo ela pode estar. Desde que o primeiro dia de seu último período foi
há mais de dois meses, a médica recomenda a realização de um
ultrassom. Ela explica que eles poderão obter as medidas do bebê e
estimar melhor sua data de nascimento.

Quando ela termina a consulta, somos enviados para outro andar para o
ultrassom. Uma técnica nos leva a uma sala escura e explica todo o
processo para Lennon, que deixa minha mente girando. Como ela
aparentemente está no final de seu primeiro trimestre, eles podem fazer
um ultrassom tradicional, seja lá o que isso signifique.
Assim que Lennon levanta a blusa, olho para longe para lhe dar um
pouco de privacidade. Momentos depois, a técnica do ultrassom fica mais
perto dela, então tomo isso como meu sinal de que tudo bem olhar. O jeans
de Lennon está mais baixo onde o aparelho desliza sobre sua barriga. A
tela chama minha atenção enquanto assistimos movimentos
estranhos. Não tenho ideia do que estou vendo, mas isso não importa,
porque em breve, a técnica explica em detalhes.

— Vê aquela pequena agitação aí? — Ela aponta para a tela, e Lennon e


eu olhamos para cima. — Esse é o batimento cardíaco do bebê. — Ela
sorri e eu mudo meu olhar para Lennon, cujos olhos estão
lacrimejando. Ela está sorrindo, e eu sei o quanto isso significa para
ela. — Parece que você tem um bebê ativo lá dentro.

Eu suspiro quando vejo uma forma de cavalo-marinho nadando de um


lado para o outro. — Isso não é legal? — Lennon me pergunta, trazendo
minha atenção de volta para ela.

— Você tem uma criatura dentro de você. — Eu provoco. Lennon torce


o nariz para mim e nós dois rimos.

A técnica continua com as medições, fazendo linhas de um lado para o


outro. Não posso deixar de encarar a tela e depois olhar rapidamente para
Lennon. Parece tão surreal estar experimentando isso com ela. Não posso
evitar a tristeza que toma conta, sabendo que Brandon nunca terá essa
oportunidade. Eu tomaria o lugar dele em um piscar de olhos só para que
ele pudesse ter sua família feliz.

— Tudo bem, você está pronta para algumas fotos? — A técnica


pergunta, e Lennon acende imediatamente. — Vamos ver se conseguimos
algumas boas. Ele ou ela está muito animado lá.
Lennon ri enquanto assiste a técnica congelar a tela e tirar fotos da
tela. — De acordo com as medidas, você tem onze semanas, o que faz com
que sua data de nascimento estimada seja 23 de dezembro. — Todo o rosto
da técnicase ilumina. — Oh, talvez você tenha um bebê de Natal.

— Um bebê para o Natal. Parece um filme da Hallmark27. — Lennon


bufa e sorri.

A técnica termina, entrega a Lennon uma toalha para se limpar e depois


lhe dá meia dúzia de fotos. Quando ela está pronta para ir, caminhamos até
a caminhonete e dirigimos em silêncio. Não sei o que dizer e também não
quero pressioná-la a falar sobre isso, então fico em silencio.

Lennon segura as fotografias como se fossem sua tábua de salvação,


quase como se desaparecessem se ela soltasse. Pegamos um pouco de
comida, levamos de volta para o apartamento e comemos. Em vez de
voltar ao trabalho, ligo para meu chefe e digo que vou tirar o resto do dia
de folga. Eu não quero deixar Lennon agora. Foi um dia grande e
emocionante para ela. Inferno, e para mim. Estou atolado até o pescoço, se
essa consulta médica me ensinou alguma coisa.

— Eu não posso acreditar nisso. — Ela finalmente fala quando nos


sentamos à mesa para comer.

Eu dou um pequeno sorriso. — Bem, é melhor você acreditar porque


está acontecendo.

Ela olha fixamente para a parede, paralisada. — Estou tendo um


bebê. Isso é irreal. Quero dizer, eu sempre quis filhos. Eu sabia que queria
uma grande família. Mas por que agora? — Ela pondera, mas é quase
como se estivesse pensando em voz alta e não esperava uma resposta. Eu
gostaria de ter respostas para ela, mas não tenho. — É como se Brandon
tivesse deixado um pedaço de si para trás, para que eu não ficasse sozinha
para sempre. — Diz ela.

Meus olhos amolecem e meu coração bate mais rápido. — Você não
ficará sozinha para sempre, Lennon.

— Bem, desde que você esteja comigo, — diz ela. — Pelo menos eu
vou ter você.

Suas palavras quase me fazem ofegar por ar e engasgar. Quando ela diz
coisas assim, eu sei que ela não está falando no sentido amoroso, mas
ainda me afeta. Desejo com tudo o que sou que ela pudesse dizer essas
palavras com o mesmo significado que eu as diria.

— E eu não vou a lugar nenhum. — Confirmo. Ela me recompensa com


um de seus doces sorrisos que sempre me transformam em mingau. Eu sou
um filhote de cachorro doente de amor, um chicoteado por isso, mas eu
nem me importo. Ela não é minha para reivindicar, mas é minha para
proteger agora.

Quando terminamos de comer, Lennon se levanta e limpa a bagunça,


depois vamos ao nosso lugar no sofá para assistir a nossa série. Ela boceja
várias vezes antes de finalmente dormir, e eu abro um cobertor em cima
dela. Como não estou nem um pouco cansado, decido tentar fazer algum
trabalho em casa.

Recebo e-mails e respondo a tantas pessoas quanto posso e, quando


olho para cima, está quase escuro lá fora. Em vez de pedir comida, jogo
uma pizza no forno, e o delicioso perfume de queijo acaba acordando
Lennon.

— Que cheiro é esse? — Ela pergunta com uma voz rouca e sonolenta.
— Pizza. — Digo a ela.

Cinco minutos depois, está pronta, e eu estou colocando pedaços em


pratos e levando nossas bebidas para a mesa de centro. Enquanto nos
sentamos e comemos, percebo o quão invejoso sou de Brandon por tudo o
que ele tinha. Tento não permitir que os pensamentos sombrios dominem,
mas não posso evitar. Eu tento afastá-los, não querendo tê-los.

— O que foi? — Lennon pergunta com preocupação em sua voz. Talvez


ela me note tanto quanto eu a noto.

— Nada. — Digo em torno de uma boca cheia da pizza mais triste que
já comi.

Ela me dá um sorriso fraco. — Você pode me dizer. Isso não vai me


chatear. Eu sei que era sobre Brandon.

Engulo em seco, me perguntando como diabos ela sabia


disso. Encolhendo os ombros, decido contar-lhe um pouco. — Apenas
odeio que ele não possa estar aqui para você. Que ele não sabe que está
tendo um filho. Que ele não pode comer essa pizza de merda com você.

A última parte a tem rindo. — Eu não ia dizer nada. Mas sim, nunca
mais comprarei essa marca. Foi um erro total da minha parte.

Ela não diz nada sobre minhas outras admissões, no entanto, e eu estou
feliz que ela não diga, porque eu sei que ela também se sente assim. É o
elefante na sala. Quando estamos cheios, Lennon se levanta e me avisa que
ela vai tomar um banho.

Ela normalmente toma banho de manhã, mas após a morte de Brandon,


ela usa o banheiro como uma fuga para chorar, então eu não a questiono
sobre isso.
Pego nossa bagunça e, assim que jogo o resto da pizza no lixo, ouço a
água cair. Então eu a ouço cantando.

Lentamente, ando pelo corredor e fico do lado de fora da porta do


banheiro para me certificar de que não estou imaginando coisas. Meus
olhos se fecham e eu descanso minha cabeça contra a porta, desejando
poder contar a ela todos os meus segredos e colocar meu coração em
risco. Sua voz suave e doce canta tão lindamente; Eu quase dou a ela uma
salva de palmas quando a água desliga. Entro no meu quarto e fecho a
porta. Sentado na beira da cama, esfrego a mão no rosto. É a primeira vez
que ela canta desde a morte de Brandon, e isso me deixa tão feliz que mal
consigo me recompor.

A porta do banheiro se abre e eu a ouço caminhar para o quarto e fechar


a porta, e momentos depois, ela bate na minha. Depois de um segundo, ela
gira a maçaneta.

— Hunter?

Eu endireito minha postura, e ela sorri. — Apenas checando você.

— Eu ouvi você cantando... — Eu a observo, avaliando sua reação.

O calor bate em suas bochechas. — Eu sinto muito...

— Eu senti falta disso, — eu a interrompo. Eu nunca quero que ela


peça desculpas por cantar novamente. — Parecia perfeito.

Observo seu sangue bombear com força no pescoço e ela parece


confusa. — Eu pensei que você odiava o meu canto. — Ela cruza os braços
sobre o peito enquanto ela faz uma careta para mim.

— Se eu dissesse que gostava, você realmente acha que teria


continuado? — Eu ri, lembrando-a de nossas travessuras.
Um sorriso brinca em seus lábios. — Você tem um ponto.

Ela entra no quarto e olha em volta do espaço que antes pertencia a ela
e Brandon, depois se senta na cama ao meu lado. — Era uma canção de
ninar que minha mãe costumava cantar para nós quando éramos
crianças. É uma música chamada 'Baby Mine'.

Ela cuidadosamente descansa a mão na barriga, e isso me quebra. Na


verdade, eu posso ver um pouquinho de arredondamento lá.

— Quando criança, a música era parte integrante da minha infância, e


quero compartilhar isso com meu bebê. A música conecta as pessoas de
uma maneira especial, e é uma maneira de nos unirmos.

— Uau, — eu sussurro, e a revelação do por que ela está cantando


novamente me atinge. — Um amor assim... é poderoso.

Ela olha para as mãos e eu a vejo mexendo na barra da blusa. Se eu não


soubesse melhor, diria que estar vulnerável ao meu redor a deixava
nervosa. Não querendo que fique estranho ou que meu último pedaço de
força de vontade se rompa, levanto e a vejo bocejando novamente.

— Você provavelmente deveria dormir um pouco.

— Você está certo. Este bebê me desgasta, e eu nem faço nada. — Ela
ri de si mesma. — Parece que não consigo me recuperar,
independentemente de quantos cochilos eu tiro. — Lennon se levanta e
passa por mim, e o cheiro de seu xampu e sabão assume minhas
inibições. Eu quase pego a mão dela, puxo-a para trás e beijo-a, mas em
vez disso, cerro minha mão em um punho. Em vez de segui-la, decido dar-
lhe espaço porque também preciso. Apenas o tempo suficiente para
entender a realidade.
Depois de uma hora passando o tempo no meu quarto, decido tentar
dormir. Olho para a escuridão por pelo menos uma hora quando ouço os
soluços silenciosos de Lennon no outro quarto. Agradeço às paredes finas
como papel por isso.

Fecho os olhos com força, sabendo que devo deixá-la, mas não
posso. Jogo o cobertor e vou para o corredor, depois fico do lado de fora
da porta e escuto. Eu não deveria bater na porta. Eu deveria lhe dar
privacidade. Eu preciso voltar para o meu quarto e deixá-la em paz. Em
vez de fazer essas coisas, porém, vou contra todos os meus sentidos e
lentamente abro a porta.

— Você está bem? — Eu pergunto baixinho.

— Não, — ela sussurra, enrolada em uma bola virada para longe da


porta. — Eu só preciso ser segurada. — Ela responde com sinceridade.

Foda-me.

Independentemente do que minha cabeça diga, sigo meu coração e vou


até ela. Para o inferno com isso. Não posso deixá-la chorar aqui
sozinha. Empurro o lençol para trás e deslizo por baixo dele. Sentindo o
frio de sua pele, envolvo meu braço sobre sua pequena estrutura e puxo
seu corpo para o meu.

Aperto meus olhos com força, tentando esconder minhas verdades


dela. Mesmo que eu queira dizer tantas palavras neste momento, permito
que o silêncio fale. Independentemente de quanto isso dói, de quanto estou
me machucando por dentro, farei qualquer coisa para confortá-la e ajudá-
la a se curar, mesmo que isso signifique que estou destruído no
processo. Os soluços silenciosos de Lennon diminuem, e eu sei que ela
finalmente está dormindo com a mudança de sua respiração.
Eu deveria sair daqui agora que ela está dormindo, mas sou um
bastardo egoísta que não pode desistir da oportunidade de abraçá-la assim,
imaginando que somos duas pessoas diferentes do que realmente somos.
Em outra vida, ela e o bebê são meus. Enquanto meus olhos ficam
pesados, sou sufocado pela verdade da nossa situação, mas me forço a
adormecer de qualquer maneira.
Capítulo Dezenove
Lennon
Lábios suaves traçam meu queixo, e eu ofego enquanto ele memoriza
cada centímetro do meu corpo. Neste momento, eu preciso dele como
preciso de ar, e imploro para que ele me leve, me foda e me faça dele,
porque eu sou. Sempre fui. Minha respiração aumenta quando os lábios
deslizam para o meu mamilo, depois beijos de penas no meu estômago
inchado. Enquanto ele paira sobre mim, eu abro minhas pernas, querendo
que ele me reivindique. Ele para por um momento, recosta-se e tira a
camisa. Quando olho para encontrar seu olhar, meus olhos se arregalam
em choque quando não vejo Brandon.

Eu vejo Hunter.

— Hunter? — O som da minha própria voz me acorda. Sento-me na


cama e surto quando percebo que ele está deitado ao meu lado. Eu aperto
minhas pernas juntas, sentindo a necessidade me dominar. Meu corpo
praticamente implora por ele, e eu estou tão confusa que não sei o que
fazer. Estou culpando os hormônios, porque é a única explicação para o
que estou sentindo.

— Huh? — Ele murmura, piscando acordado e apoiando-se no


cotovelo. Ele finalmente olha em volta com os olhos arregalados,
percebendo que está na minha cama. — Oh merda. — Ele sussurra.

Eu engulo, estudando seu rosto, o mesmo rosto que me arrancou do


sono, quando ele sai correndo do quarto. Estou tão perturbada e excitada e,
mais do que tudo, sexualmente frustrada. Por que diabos eu estaria tendo
sonhos como esse sobre Hunter?

A culpa imediatamente passa por mim enquanto penso em Brandon, e


parece que eu o traí. Eu nunca faria isso. Hunter e eu nos aproximamos,
então eu sei que é meu subconsciente pregando peças em mim. Fecho os
olhos com força, afastando cada pensamento da minha cabeça e culpo a
gravidez por tudo. É isso que está causando isso, certo?

Minha bexiga está prestes a estourar, então eu corro para o


banheiro. Depois de cuidar dos negócios e escovar os dentes, vou até a
cozinha, onde Hunter se move rapidamente enquanto toma o café da
manhã, sem camisa. Olho para as tatuagens em seu braço e não consigo
parar de encarar seus bíceps e como eles se flexionam quando ele quebra
ovos em uma panela.

— Com fome? — Ele pergunta, olhando por cima do ombro com um


sorriso de merda.

Ele não tem ideia do que estou com fome, mas guardo para mim. O
bastardo sabe exatamente como ele fica seminu, o que é realmente
ridículo. Eu já o vi sem camisa antes, e cada vez me tira o fôlego, embora
nunca tenha admitido isso antes.

— Morrendo de fome. — Digo, inclinando-me contra o batente da


porta para observá-lo. Aleatoriamente, ele olha para mim e me lança um
sorriso. Assim que a cafeteira apita, ele se serve uma xícara. Quando
descobri que estava grávida, parei de beber cafeína e isso pode acabar
sendo a minha morte.

— Eu tenho cerca de quinze minutos antes de ter que sair, — ele me


diz enquanto desliza um pouco de linguiça e ovos em dois pratos. — Você
está bem?

Droga, eu estou o encarando. — Uh, sim. Só queria poder beber um


pouco daquele café delicioso.

— Por quê? Você coloca creme no seu, de qualquer maneira. — Ele


brinca, e eu sou tentada a tirar aquele sorriso do rosto dele.

Eu me forço a me afastar e ir para a mesa.

— Li em um artigo sobre gravidez que as mulheres podem tomar até 30


gramas de café por dia sem que isso afete o bebê.

A mão que está segurando meu garfo congela no ar, chocada com as
palavras dele. — O quê? — Eu pergunto quando Hunter praticamente
engole sua comida. — Você está lendo artigos sobre gravidez agora? —
Não posso esconder a diversão no meu tom e sorrir largamente com a
admissão dele.

Ele encolhe os ombros como se não fosse grande coisa. — Bem, acabei
de encontrar um ou dois. Mas de qualquer maneira, dizia que era
perfeitamente seguro para o bebê, desde que você limite sua ingestão.

— Hmm... — Eu mastigo meu lábio inferior. — Parece tortura, no


entanto. O café é como uma lata de Pringles28. Não posso simplesmente
parar em uma.

Hunter ri e continua enchendo a boca com garfos de comida. Senhor,


você pensaria que ele não come há uma década. Mesmo que ele sempre
tenha sido assim, ainda me faz rir.

Um silêncio constrangedor permanece entre nós enquanto eu


lentamente como meu prato. Memórias da noite passada se desdobram e a
vergonha se infiltra.
Eu disse a ele que precisava ser segurada. Eu estava tão sozinha que
precisava sentir o calor de outra pessoa, mesmo que sejamos apenas
amigos. Eu estava muito perdida na minha cabeça sentindo falta de
Brandon, o que geralmente acontece quando estou na cama. Na escuridão,
meus pensamentos falam alto, e nada impede que minhas emoções
transbordem. Às vezes sou capaz de chorar até dormir, mas não estava
funcionando porque minhas emoções sobre o bebê assumiram o
controle. Hunter, sendo tão cuidadoso quanto tem sido desde o acidente,
foi me checar. Tenho certeza de que foi a última coisa que ele pensou que
eu diria e, embora ele provavelmente não quisesse me abraçar assim, ele
fez. Mais uma vez, devo muito a ele.

Estar sozinha e ficar sozinha são duas coisas diferentes, eu aprendi


rapidamente.

Hunter finalmente olha para cima do prato e olha para mim. — Sinto
muito pela noite passada. Eu estava tão cansado quando entrei e acabei
adormecendo. Ainda bem que você acordou porque eu esqueci o alarme
totalmente. — Ele admite com uma risada nervosa. Isso explica a reação
dele esta manhã pelo menos. Os cantos da boca dele se transformam em
um sorriso de menino, e eu não consigo parar de olhar para ele.

— Está tudo bem. — Eu digo. Ele realmente não tem motivos para se
desculpar, mas não consigo encontrar as palavras
certas. Obrigada? Desculpe, que eu sou um desastre emocional? Espero
não peidar enquanto durmo? Oh Deus.

Ele deve perceber o quão estranha eu estou sendo agora, porque ele
franze as sobrancelhas e me estuda. O sonho sexual se repete na minha
cabeça, e só de pensar nisso, meu coração dispara e meu rosto fica
vermelho.
— Você tem certeza de que está se sentindo bem? — Ele pergunta,
limpando o prato. — Você está sendo estranha. Suas bochechas estão
vermelhas. — Ele provavelmente pensa que estou prestes a vomitar tudo o
que ele acabou de me fazer, mas não se preocupe, só estou confusa como
as reações do meu próprio corpo. Eu quero revirar os olhos para mim
mesma por ser tão estúpida.

Em vez disso, soltei uma risada forçada. — Estou bem. Apenas


hormônios da gravidez chegando até mim. É só isso.

Pelo menos é o que eu digo a mim mesma. Sim.

Hunter me lança um sorriso cansado e se levanta, levando o prato para


a cozinha antes de ir pelo corredor.

Exalando um suspiro aliviado, termino minha salsicha e ovos, e


enquanto estou caminhando para a cozinha, ele sai vestindo calças
agradáveis e uma camisa polo que abraça seu corpo nos lugares
certos. Meus olhos encontram os dele, e eu imediatamente desvio o olhar
enquanto o calor corre através de mim. Rapidamente, coloco meu prato na
pia e me apoio no balcão, tentando controlar minhas emoções.

Hunter entra na cozinha, passando lentamente por mim para pegar sua
caneca e enchê-la de café. O cheiro disso me fez atirar punhais
nele. Hunter ri para si mesmo, e eu gemo.

— Você é assustadora pra caralho sem cafeína. — Ele segura um


sorriso, mas eu noto assim mesmo quando ele encaixa a tampa em sua
xícara. — Este sou eu andando sobre gelo fino, — ele provoca, saindo na
ponta dos pés da cozinha. — Se você precisar de alguma coisa, deixe-me
saber.

— Você sabe que eu vou. — Eu grito alto o suficiente para ele ouvir.
Sua risada ecoa pelo apartamento antes que a porta da frente se feche e
eu solto um suspiro profundo.

Que diabos? Eu estava olhando para ele como uma adolescente


apaixonada por causa daquele sonho estúpido.

Olho para o relógio no micro-ondas e vejo que são apenas oito e


meia. Embora eu tenha dormido divinamente na noite passada, com
Hunter enrolado ao meu lado, ainda estou exausta, então decido recuperar
o sono, na esperança de ficar longe da terra da fantasia.

As horas passam e eu acordo quando meu telefone toca. Eu o vejo na


mesa de cabeceira e, quando o pego, o nome de Sophie pisca na tela.

— Com fome? — Ela pergunta assim que eu murmuro um olá e ouço o


sorriso em sua voz.

— Que horas são? — Meu relógio interno está completamente


desativado nos dias de hoje, e eu já sei que vou ter um tempo infernal
voltando ao horário quando a escola começar de novo.

— É quase meio dia. Você já comeu?

— Eu não como desde o café da manhã. — Meus olhos se abrem, e eu


não posso acreditar que dormi metade do dia.

— Eu estou indo buscá-la. Estarei aí em dez minutos. — Ela desliga


sem me permitir dizer outra palavra.

Merda. Eu preciso me levantar e me tornar apresentável. Depois que


meus pés estão no chão, olho ao redor do quarto e penso no que precisa ser
feito antes da chegada do bebê, mas me sinto tão sobrecarregada com
tudo. Eu visto um vestido de verão e calço minhas sandálias. Quando estou
no banheiro, coloco meu cabelo em algum tipo de coque bagunçado e
decido ir com ele. Na hora certa, ouço uma batida e corro para a porta para
abri-la, onde Sophie está de pé com um sorriso malicioso.

Afasto-me para permitir que ela entre, mas ela balança a cabeça. — Vá
pegar sua bolsa. Estou seriamente com fome agora.

Eu rio dela, sabendo como ela fica quando não come, então eu pego
minhas coisas e a sigo para fora. Entramos no carro e logo estamos
acelerando na estrada em direção a cidade.

— Eu seriamente não consegui sair do meu apartamento rápido o


suficiente. Carter é um terror, Lennon. Sinto como se estivesse perdendo a
cabeça.

Concordo e simpatizo com ela, sabendo exatamente o que ela está


passando.

— Tudo o que você pode fazer é ignorá-lo ou sair. Na verdade, não


existem muitas opções. Mas eu entendo e sinto muito por você. — Ofereço
um sorriso e noto o quão tensa ela está segurando o volante quando
entramos no estacionamento da lanchonete.

Ela solta um bufo zangado antes de sairmos do carro e


entrarmos. Fazemos nossos pedidos e agarramos nossas bebidas, depois
sentamos à mesa junto à janela enquanto aguardamos nossa comida.

Sophie está furiosa e, assim que sentamos em nosso lugar, ela começa a
desabafar. — Carter é tão inconsciente. Fui ao banheiro hoje de manhã, vi
uma porcaria gigante no vaso sanitário e vomitei. Quem diabos caga e não
dá descarga? Nós somos adultos!

Eu tento segurar minha risada, mas ela me escapa antes que eu possa
parar. — Seriamente? Oh meu Deus, isso é nojento!
— Eu sei! Vou poupar-lhe os detalhes desagradáveis. Sem mencionar,
eu também o peguei usando minhas meias pretas no outro dia. Elas mal
cabiam em seus enormes tornozelos, e quase surtei vendo-as em seu
pé. Além do fato de que ele não me pediu, elas estarão todas esticadas e
fedorentas. Elas podem queimar no inferno, agora, assim como ele. — Ela
faz uma pausa, soltando um suspiro tenso. — Ah, e outro dia, uma lata de
Coca-Cola vazia foi deixada no meu teclado de treino no canto do
apartamento, como se fosse uma porra de uma montanha-russa! Maria
pode ser tão cega pelo amor que não vê como o namorado é chato? Ele é
um idiota e nem um pouco como Hunter, que fez isso de propósito para te
irritar. Não... Carter é o verdadeiro negócio. Ele vive como um guaxinim
que dorme em uma lixeira.

Ela está chateada e frustrada, e eu odeio não poder estalar os dedos e


mudar a situação dela. Estendo a mão sobre a mesa e pego a dela, tentando
acalmá-la. — Eu vou ajudá-la a encontrar outro lugar. Apenas fique lá até
não aguentar mais, e podemos descobrir algo. Eu ofereceria que você fosse
morar comigo e com Hunter, mas duvido que queira dividir uma cama
comigo todas as noites, e o sofá é péssimo. Confie em mim, minhas costas
ainda doem de dormir nele.

Ela força um sorriso através da tristeza em seu rosto. — Obrigada. E eu


sei que não há nada que alguém possa fazer. Estou meio tentada a ir morar
com Maddie nos dormitórios. — Ela ri, mas sei que ela se sente
derrotada. — É realmente péssimo, porque o que Maria e eu estávamos
fazendo estava funcionando tão bem.

Dando de ombros, ofereço a ela um sorriso fraco. — As coisas


mudam. Nada permanece o mesmo. Eu aprendi isso da pior maneira.
Sophie assente quando a comida chega. Minha boca enche de água em
antecipação ao envoltório de frango e sopa que eu pedi. Nós comemos, e
ela praticamente geme enquanto dá uma mordida no seu sanduíche.

— Então, como está a situação com o colega de quarto desde que


descobriu o bebê? — Ela pergunta com indiferença, mas vejo um brilho
em seus olhos.

Eu dou a ela um olhar aguçado, sentindo que isso é uma pegadinha. —


Bem. Bom, eu acho. Não mudou muita coisa. — Ah, exceto que eu
fantasiei com ele. Nada demais.

— Você acha? — Ela arqueia uma sobrancelha, desconfiada.

Solto um suspiro, sabendo que não posso mentir para ela. — Ontem à
noite... — Eu começo. Sophie se inclina para frente, esperando
ansiosamente pelas minhas próximas palavras, e eu divertidamente reviro
os olhos para ela. — Eu poderia ter pedido para ele dormir na minha cama
comigo.

— Uh... poderia ter?

— Cale-se. Não é assim— digo a ela. — Eu estava sentindo muita falta


de Brandon. Eu só precisava de um corpo quente ao meu lado.

Seus olhos suavizam quando ela me dá um olhar de pena. O que eu


absolutamente odeio.

— E assim ele fez. — Dou de ombros casualmente.

— Claro que sim, — ela diz como se não estivesse nem um pouco
surpresa. — Hunter é um cara legal. Ele faria qualquer coisa que você
pedir.
Meu coração palpita com as palavras dela, mas eu afasto. — Então,
adormeci e, quando acordei, fiquei completamente perturbada porque
estava no meio de um sonho sexual.

Ela ri de mim. — Sim? Foi bom? — Ela balança as sobrancelhas para


mim.

Eu gemo. — Foi Hunter no sonho, — confesso, e ela puxa os lábios na


boca, mas sei que ela provavelmente tem algo a dizer sobre isso. — Estou
perdendo a cabeça, Soph. Por que eu sonharia com ele assim? Eu não
conseguia parar de encará-lo esta manhã enquanto ele nos preparava o café
da manhã. Sem camisa. — Eu solto uma respiração frustrada, precisando
tirar essas imagens do meu cérebro. — Parecia tão real. E agora as coisas
estão estranhas porque é tudo em que consigo pensar. — Balanço a cabeça,
mas quando encontro seus olhos, ela está sorrindo.

Sophie se inclina para frente e fala apenas por um sussurro. — Talvez


você deva pensar em comprar um vibrador? Garota, seus hormônios estão
ficando loucos e você está recebendo alívio zero. Você deixou de foder
como um coelho e se tornou uma freira, — afirma ela, e rapidamente
acrescenta: — Obviamente não por opção, mas ainda assim.

Eu sei que meu rosto conta todos os meus segredos enquanto o calor
corre pelo meu corpo. Olho ao redor da sala, mas ninguém está prestando
atenção em nós.

— Não é nada para se envergonhar. — Diz ela com naturalidade.

— Oh meu Deus. — Realização me atinge. — Quantos deles você tem?


— Eu pergunto, imaginando sua mesa de cabeceira cheia de brinquedos
sexuais.

Ela torce os lábios. — Eu posso contar com as duas mãos.


Meus olhos se arregalam em choque. — Isso significa mais que cinco,
mas menos que dez. Sua gatinha do sexo!

— Ei, uma garota solteira tem que fazer o que tem que fazer. E você
sabe que eu não gosto daqueles caras que só querem foder. — Ela me dá
um olhar aguçado, o que me faz cair na gargalhada. Sophie é tão modesta
que eu nunca pensei que ela fosse adepta do prazer próprio. Parte de mim
quer falar sobre Mason, mas sei que ela já está no limite com sua nova
situação de colega de quarto. — Honestamente, porém, você tem estado
tão próxima de Hunter ultimamente, que até eu estou surpresa que eu não
estou tendo sonhos eróticos sobre ele. Ele é gostoso. Músculos grandes,
alto, olha para você como se ele pudesse ver dentro de sua alma... — Ela
está basicamente salivando agora, o que me faz rir com sua besteira.

— Cale a boca. — Eu bufo. — Ok, tudo bem, talvez você esteja


certa. Eu provavelmente só preciso de algum tipo de... liberação. Talvez
então os sonhos não voltem, e eu possa voltar a olhá-lo como meu amigo
em vez de... — Eu paro, pensando nele pairando sobre mim, pronto para
reivindicar minha boca e corpo.

Sophie limpa a garganta. — Deve ter sido muito bom. — Diversão pura
preenche seu tom, mas isso está fora da minha zona de conforto.

Eu franzo a testa. — Eu nunca faria isso, Soph. Não poderia. Sinto que
traí Brandon por ter esse sonho com Hunter. Eu gostaria que isso não
tivesse acontecido, honestamente. Não quero que as coisas mudem entre
nós, mas, eventualmente também irão, certo? Ele seguirá em frente e
encontrará alguém que não tenha bagagem. E quando ele o fizer, tenho
certeza de que a namorada dele não irá me querer por perto dele do jeito
que estou agora, ou pelo menos eu não o faria se as posições fossem
invertidas. Mas nos tornamos bons amigos, e acho que meu subconsciente
está apenas brincando comigo porque realmente me preocupo com ele.

Ela termina de comer e depois desliza o prato para longe. — Eu não


acho que ele vai a lugar algum, Lennon.

— Por que todo mundo continua falando assim? Nós somos apenas
amigos. Isso é tudo que sempre seremos. É tudo o que podemos ser. —
Soltei um suspiro irregular, me perguntando por que esse pensamento me
traz tristeza. — Esses malditos hormônios. — Eu sussurro, amaldiçoando
a morte deles.

Sophie deixa o assunto pra lá e não diz outra palavra sobre


isso. Conversamos sobre uma de suas alunas enquanto ela me leva de volta
ao meu apartamento. Antes de sair, trocamos um abraço, e prometo ligar
para ela se precisar de alguma coisa.

Depois que ela dá ré no estacionamento, ela para e rola a janela. —


Estou pedindo um presente para você. Estará à sua porta em dois dias. —
Ela me dá uma piscadela antes de ir embora, e eu fico lá com o meu
queixo no chão.

***
Faz pouco mais de um mês desde que descobri que estava grávida, e
toda vez que meus pais me ligam por chamada de vídeo, eu mantenho a
ligação curta, preocupada que minha mãe notará que eu ganhei quatro
quilos. O pensamento de contar a eles me dá ansiedade, porque eu sei qual
será a reação deles. Antes de desligarmos o telefone, enfatizo o quanto os
amo. Principalmente porque eu aprendi que você nunca sabe quando será a
última vez e porque eu quero que eles saibam que eles significam muito
para mim, independentemente de eu estar mentindo para eles. Se eles
decidirem que não querem nada comigo ou com o bebê, talvez eu nunca
possa dizer essas palavras novamente, e esse pensamento me deixa muito
triste.

A última ligação foi para confirmar que ainda vou para o feriado de
quatro de julho em menos de duas semanas. Eles sabem que estou uma
bagunça desde a morte de Brandon e estão ansiosos para me ver. Não falei
muito nem confirmei se vou ou não, mas agora que estou grávida, preciso
ser sincera.

Eu ainda tenho as passagens de avião. Embora tenha pensado em


cancelar a viagem várias vezes, não o fiz. Eu estive pensando em como dar
a notícia sobre o bebê e sobre eles serem avós. Contar pessoalmente é a
única opção lógica e respeitosa. Uma passagem ainda está em nome de
Brandon, e eu esperava que Sophie ou Maddie pudessem vir comigo, para
que eu não tivesse que fazer isso sozinha, mas os horários delas não
permitem. Provavelmente terei que cancelá-la em breve e ir sozinha.

Verificando o relógio, vejo que está quase na hora de Hunter chegar em


casa, e o pensamento me excita. Na verdade, passei a sentir falta dele
quando ele está trabalhando, porque fica solitário aqui.

No entanto, Sophie e Maddie estão vindo hoje à noite, e vamos dar uma
olhada nos livros de nomes de bebês. Tentamos nos reunir pelo menos uma
vez por semana e, embora possa ser difícil com a agenda de todas, de
alguma forma conseguimos fazer funcionar.

Pego a pilha de livros e sento no sofá. Enquanto folheio um deles,


começo a pensar nos meus pais novamente e qual será a reação deles. Uma
lágrima desliza pela minha bochecha quando a porta da frente se
abre. Hunter percebe imediatamente, e seu rosto se contorce.
— Está tudo bem? — Ele pergunta, colocando sua bolsa de trabalho no
chão. Ele vem e senta ao meu lado no sofá.

Dou de ombros e limpo minhas bochechas. — Sim, só estou pensando


nos meus pais e em viajar para Utah durante o quarto de julho. Estou tão
assustada com o que eles vão dizer ou fazer. — Minha voz falha no final,
mostrando o quão nervosa eu estou. — Mas eu sei que tem que ser feito.

Ele para enquanto me estuda.

— Eu vou com você, Lennon.

Espere o que? Estou quase chocado. — Hunter…

— Eu não quero que você tenha que contar a eles sozinha. Além disso,
tenho alguns dias de férias que posso tirar. — Ele encolhe os ombros como
se isso não fosse grande coisa, mas para mim é.

Balanço a cabeça. — Você nem sempre pode estar lá para mim, Hunter.

Ele me dá um sorriso suave. — Sim, eu posso, e vou.

Ficamos em silêncio por um momento, nós dois em nossas cabeças, até


que ele nota os livros empilhados. — Ainda está procurando nomes de
bebês hoje à noite com suas irmãs?

Caí na gargalhada. — Claro. Elas estarão aqui em trinta minutos.

— Se Sophie estiver dirigindo, serão quinze. — Ele se levanta, me


dando um sorriso. — Vou tomar um banho. Está quente pra caralho lá fora,
e estou suado.

— Bem, eu não ia dizer nada, mas... — Eu provoco, mesmo que ele


cheire tão bem como sempre para mim.
— Hilariante. — Ele caminha para trás, me dando um olhar
aguçado. — Apenas pense sobre isso, Lennon.

— Ok. — Eu digo a ele, então ele se vira e caminha em direção ao


banheiro.

Penso em como ele me daria a confiança de que preciso para enfrentar


meus pais. Ele me apoiou tanto que, quando ele está por perto, sinto como
se realmente pudesse fazer coisas assustadoras - como dizer a meus pais
que estou grávida fora do casamento.

Inclinando minha cabeça no sofá, ouço a água ligar e lembro de vê-lo


nu, que é a última coisa que eu deveria estar pensando agora. Aperto
minhas pernas juntas, tentando entender meus pensamentos, e sou muito
grata por Sophie e seu conhecimento sobre brinquedos sexuais. Ela me deu
esse vibrador de clitóris, e isso basicamente me fez cantar. Felizmente
para mim, também é à prova d'água.

Logo, minha atenção é puxada por uma batida na porta. Quando eu


atendo, vejo Maddie, que ainda está usando suas roupas de dança. Quando
olho para trás dela, vejo Sophie subindo as escadas, já que obviamente não
conseguiu acompanhá-la, e isso me faz rir um pouco.

— Essa é minha irmã favorita. — Diz Sophie, e Maddie se ilumina, as


duas entrando e ficando confortáveis.

— Eu amo ser sua favorita! — Eu brinco com Maddie, que estreita os


olhos para mim.

— Diga a ela, — Maddie exige. — Soph, você sabe que eu sempre fui
sua número um.

Sophie ri enquanto se entra na sala de estar. — Vocês duas são.


A porta do banheiro se abre e Hunter sai com uma toalha enrolada na
cintura antes de ir para o quarto. Nossos olhos se encontram, e a única
coisa que me afasta é o suspiro de Maddie.

— Oh. Minha. Droga. — Ela solta um suspiro como se estivesse


realmente afetada e depois olha para mim. — Como você nem se excita
com esse homem?

Reviro os olhos e olho para Sophie que, sem surpresa, concorda.

— É melhor vocês duas pararem com isso, — eu aviso, apontando para


elas para enfatizar o meu argumento. — E nenhuma de vocês tem
permissão de encará-lo.

— Porque ele é só seu para babar? — Maddie brinca, e eu estou meio


tentada a dar um tapa naquele sorriso bobo do rosto.

Sophie, sabendo que estou ficando irritada, leva Maddie ao sofá. —


Não comece com ela. Ela está hormonal e pode arrancar seus olhos.

— Exatamente. — Eu concordo com um olhar falso. Sento-me entre


elas e as duas imediatamente me atacam, esfregando as mãos na minha
barriga e tentando sentir o bebê.

— Vamos, baby, chute! — Maddie ordena.

— É muito cedo, sua esquisita. — Eu rio. — Ela é do tamanho de um


limão.

— Ela? — Sophie grita.

Olho para o meu estômago inchado e esfrego uma palma sobre ele. —
Acho que é, mas ainda não tenho certeza. Parece uma garota.
— Então é por isso que você está duplamente hormonal? — Maddie
racha de rir. Eu cutuco meu ombro com o dela e reclamo.

— Não se preocupe, baby, — Sophie murmura, batendo em um lado da


minha barriga. — Eu serei sua tia favorita que vai te amar, não importa o
quê.

— Ei, de jeito nenhum! — Maddie aperta a mão de Sophie, e logo elas


estão brigando por meu filho ainda não nascido.

— Vocês duas são loucas. — Eu rio, afastando as duas. — Nenhuma de


vocês será a favorita se não me ajudar a nomeá-la!

Pegamos os livros da mesa de café e começamos a folhear eles. Hunter


entra na sala e nos diz que está pedindo pizza, o que só faz meu estômago
roncar em antecipação. Agarrando sua bolsa, ele a leva para a mesa da
cozinha e pega seu laptop para começar a trabalhar. Ultimamente, ele tem
trabalhado muito duro em seu projeto, o que acho realmente admirável,
considerando o quanto ele já está fazendo por mim.

— Que tal você fazer uma lista de nomes de meninos e meninas que
você gosta e então você pode começar a diminuir a partir daí? — Maddie
sugere.

— É uma boa ideia, — acrescenta Sophie. — Temos muitos livros para


ler. — Ela olha para a pilha que eu pedi. Eu poderia ter exagerado um
pouco. Não vou descobrir o sexo até a minha consulta de ultrassom em
agosto, o que é emocionante, mas não me importarei com o sexo, de
qualquer maneira. Este bebê é um milagre.

— Se for um menino, estou me pensando em Brandon Jude Locke, Jr.


— Eu digo, um sorriso tocando meus lábios.
— Isso é perfeito. — Diz Hunter da mesa da cozinha, e Sophie e
Maddie concordam em uníssono.

Eu tenho pensado nisso por um tempo, e cada vez que me passa pela
cabeça, meu coração dispara. Embora Brandon não esteja aqui, vou
garantir que ele continue vivendo nossas memórias juntos. O bebê saberá o
grande homem que o pai dele era. Antes que eu seja sugada pela minha
cabeça e comece a ficar emocional, eu continuo.

— Então, talvez devêssemos olhar para nomes de meninas? — Inferno,


isso diminui nosso trabalho pela metade. Entrego a Sophie um livro tão
grosso quanto um dicionário. Abro o que está no meu colo e vejo um
número esmagador de nomes listados em ordem alfabética. A maioria das
quais nunca ouvi falar, como Athwenna e Aoife.

— Eu, pelo menos, quero que as pessoas possam dizer e soletrar o


nome dela corretamente. — Digo em voz alta depois de ler palavras que
nem sei pronunciar.

Maddie e Sophie jogam nomes fofos diferentes, e eu escrevo alguns no


meu aplicativo de telefone, mas outros que eu descarto. A pizza finalmente
chega, e deixamos os livros de lado enquanto nos movemos para a mesa da
cozinha. Enquanto comemos, conversando, Maddie finalmente cita nossos
pais.

— Você sabe quando vai contar a eles? — Ela olha para mim
exatamente como Sophie fez na semana passada quando perguntou. O
tempo acabará, todos sabemos, e eu tenho que decidir em breve.

— Bem, eu tenho pensado muito sobre isso, na verdade. Toda vez que
entro no chuveiro, vejo como minha barriga cresce e não vou conseguir
encobri-la por muito mais tempo. — Mesmo vivendo em estados
diferentes, eles não ficarão felizes. Eu a escondi e não disse a eles
imediatamente. Quanto mais eu esperar, mais decepcionados ficarão.

Hunter me dá um sorriso simpático, mas não interrompe.

— Decidi ir a minha viagem do quatro de julho, contar pessoalmente e


acabar logo com isso. Espero que não sejam insensíveis o suficiente para
me botar para fora, ainda mais grávida, não depois de tudo o que passei
este ano, mas isso não me surpreenderia. — Dói meu coração hormonal
pensar nisso, mas eu sei é algo que tem que ser feito. — Além disso, é
muito fácil desligar na cara de alguém se for feito por telefone. Pelo
menos eles terão dispensar a mim e ao bebê na minha cara— Continuo.

Depois que contar aos meus pais, toda a congregação da igreja saberá
em menos de um dia. Só posso imaginar as listas de orações às quais serei
adicionada.

— Isso não vai ser bom, Lennon. Você está louca? — Maddie pergunta.

— Eu sei que eles ficarão muito desapontados e não vão segurar o que
pensam sobre isso, mas eu sou filha deles. Eles me amam
incondicionalmente, certo? Eles nos ensinaram compaixão a vida toda. —
Faço uma pausa. — Honestamente, eu estou realmente com medo da
reação deles, porque não quero perdê-los. — Olho para Maddie e Sophie
com olhos tristes.

— Eu vou com você, — Hunter fala, seus olhos não deixando os


meus. — Eu não vou deixar você passar por isso sozinha. Eu sei que já
ofereci, mas não estou mais lhe dando uma escolha. Eu quero estar lá para
você. — Ele afirma com naturalidade, cruzando os braços sobre o peito
largo e mantendo a postura como se não estivesse me dando espaço para
discutir isso.
Minha boca se abre levemente. — Você é insano. Você não tem ideia de
como isso será estressante e constrangedor. — Eu balanço minha cabeça,
virando meu corpo levemente em sua direção. — Eu já estou me
preparando para o pior, e se você está sério sobre isso, também
precisará. No momento em que virem minha barriga e nenhum anel de
casamento, serei a ovelha negra da família. O que mais dói é saber o quão
decepcionados eles ficarão quando tudo que eu sempre quis é deixá-los
orgulhosos. Eles podem literalmente me dizer para sair e nunca mais
voltar. — Fiquei estressada e preocupada o suficiente com esta gravidez e,
embora seja um obstáculo gigante a atravessar, eles merecem saber que
serão avós. Além disso, não posso mentir para sempre. Eles acabariam
descobrindo. Minhas emoções tomam conta quando penso no que poderia
acontecer. Sophie e Maddie olham de um lado para o outro entre nós.

— Eu gostaria de poder ir com você. — Maddie pega minha mão. —


Eu não posso por causa do meu show. Eu sinto muito.

Eu limpo uma lágrima que transborda. Eu odeio estar chorando agora,


mas quanto mais penso nisso, mais chateada fico. Dizer a eles que serão
avós não deve me causar tanto estresse.

— Vou tentar sair do ensaio, Lennon. Se você quer que eu... — Sophie
começa, mas é interrompida.

— Vamos dizer a eles que somos casados e teremos um bebê. —


Hunter deixa escapar, chamando nossa atenção para ele. — Fomos pegos
de surpresa e você ficou grávida na lua de mel. — Hunter encolhe os
ombros, franzindo os lábios como se a ideia que ele tinha não fosse
completamente insana. — Pronto, problema resolvido. — Ele pega um
pedaço de pizza e morde enquanto engulo meu coração que está alojado no
fundo da minha garganta.
Meus olhos se arregalam e o de Sophie e Maddie também. Nós três o
encaramos como se tivesse crescido uma segunda cabeça nele. Eu pisco
duas vezes, tentando ter certeza de que o ouvi corretamente, e pelo sorriso
em seus lábios, eu sei que ouvi. Todos nós fizemos.
Capítulo Vinte
Hunter
Eu poderia literalmente chutar minha bunda por dizer isso na frente de
suas irmãs, porque eu sinto que elas veem através de mim. Às vezes, não
penso nas repercussões antes de falar ou em como isso fará Lennon se
sentir. Quando as três me olham como se tivesse crescido um terceiro olho
em mim, apenas sorrio porque é tudo o que posso fazer depois de me
colocar nessa situação.
Não vou permitir que ela passe por isso sem algum apoio, e se ela não
quiser que seus pais a descartem completamente, então qual é o problema
de contar uma mentira pequenininha? Por um momento, tento pensar por
que disse isso, quando a culpa me inunda. Estou fazendo isso por Brandon,
certo? Bem, eu estou, mas também para Lennon. Ela precisa de mim.

No entanto, ultimamente, as linhas ficaram borradas, mas


independentemente disso, eu quis dizer o que ofereci.

— Desculpe-me. O que você disse? — Lennon pergunta em um


sussurro, e quando encaro seus olhos, parece que suas irmãs desaparecem,
e somos apenas nós dois. Eu falo como se não fosse grande coisa, mesmo
que seja para mim. Eu faria qualquer coisa para mantê-la segura e feliz,
mesmo que isso signifique fingir ser seu marido, fingir que o bebê em sua
barriga é meu e mentir para seus pais. Se isso significa que ela conseguirá
passar por essa gravidez com mais facilidade, eu topo tudo. A única pessoa
que me preocupa é Lennon, porque ela já está em um estado vulnerável.

— Eu estava pensando que, se eles a deserdariam por isso, quando você


está tão feliz com a gravidez e os quer desesperadamente na sua vida e do
bebê, por que não contar outra mentira inofensiva? Você vem dizendo a
eles, por um ano, que mora em um apartamento sozinha, quando
obviamente não o faz. A parte de mim que é egoísta por você e pelo bebê
acha que mentir para protegê-lo seria o melhor plano. Se nós fomos para
Vegas e nos casamos, ter um filho é apenas o próximo passo no
relacionamento, certo? — Eu tiro meu foco dela e olho para Sophie e
Maddie sorridentes que estão concordando.

— Na verdade, é o plano perfeito, — acrescenta Sophie. — E nós


crescemos em Utah, Lennon. É quase normal que as pessoas se casem e
engravidem no mesmo mês.

Lennon abre a boca, mas Sophie continua. — Antes de você tentar


desmontar essa ideia da maneira que sempre faz, todos sabemos que
nossos pais vão ficar chateados por você não se casar na igreja e fugir. Mas
com isso dito, eles não a dispensariam, a expulsariam e fingiriam que você
nunca existiu. Eles provavelmente ficariam emocionados por serem avós
também, desde que você seja casada. — Sophie se vira para Lennon. —
Você sabe o que aconteceu com Shelby Greer.

Há uma longa pausa, e estou morrendo de vontade de ouvir isso, então


digo: foda-se e falo. — O que aconteceu?

Maddie ri e Lennon me lança um olhar aguçado.

— Os pais dela se recusaram a falar com ela. Os sussurros em torno de


nossa pequena cidade essencialmente a quebraram a ponto de ela se
afastar. Os rumores se espalharam como fogo, e sua mãe contou sua
história como se fosse uma lição para todos, — explica Lennon. — Ela era
uma desgraça para os pais e perdeu tudo. E eu estaria mentindo se dissesse
que não estava preocupada que a mesma coisa acontecerá comigo.
— O que diabos ela fez para merecer isso? — Eu zombei, horrorizado.

— Adultério. — Sophie responde. — Exceto que o cara nunca disse a


ela que ele era casado, mas isso não importava para eles. Ela cometeu o
pecado final.

— E então ela acabou grávida do bebê dele. Foi um golpe duplo. —


Acrescenta Maddie.

Meus olhos se arregalam com a realidade disso. Minha família não era
muito religiosa, mas fingíamos ser. Ou melhor, meus pais fizeram, e eu
tive que acompanhá-los, então acho que de certa forma eu entendo. Você
não quer decepcionar sua família porque é tudo o que você tem. Mesmo
com meu relacionamento tenso com meu pai, eu ficaria arrasado por
perder minha mãe ou irmão.

No entanto, o que aconteceu com o perdão e a compreensão? Quero


fazer mais perguntas, mas com as irmãs dela aqui, eu me seguro.

— Bem? — Eu encorajo.

— Hunter tem uma ideia muito boa. — Conclui Sophie.

— Eu concordo, — diz Maddie. — Além disso, o que sempre


dizemos? O que eles não sabem não os machucará, lembra? — Maddie, a
rebelde das três irmãs, arqueia as sobrancelhas.

— Estou vivendo em uma zona crepuscular enlouquecedora agora? —


Os olhos de Lennon procuram meu rosto, e então ela se vira para suas
irmãs. — Estamos falando de uma grande mentira aqui. Eu estava apenas
com Brandon, e agora devo me casar? Vocês acham que eles acreditariam?

Eu posso ver que ela está surtando, analisando tudo antes de realmente
nos sentarmos e conversarmos sobre isso, e não posso culpá-la. Essa é uma
ideia maluca, mas eu não a sugeriria se não tivesse certeza de que
conseguiríamos.

— Lennon. — Eu me afasto da mesa e vou me ajoelhar na frente


dela. Quero que ela veja o quanto eu me importo com ela e que isso alivie
algumas de suas preocupações, para que ela possa realmente aproveitar o
resto de sua gravidez enquanto permanece saudável. — Apenas me ouça,
ok? Sei que isso parece loucura, mas só quero protegê-la. Eu sei um pouco
sobre famílias bagunçadas. Não quero que você ou o bebê passem por um
estresse extra e sei que isso está afetando você. Eu sei o quanto isso
significa para você ter o apoio deles. Você já perdeu muito, e tudo isso é
evitável. — Digo suavemente. Embora eu esteja tentando agir o mais
calmo possível, meu coração martela no peito.

Lennon olha para as mãos dela por um segundo, contemplando minha


ideia. Quase posso ver e ouvir as rodas girando em sua cabeça. Só espero
que ela não tenha um colapso com a forma como seus hormônios estão
ultimamente. Ela está estranhamente quieta, o que começa a me
preocupar, então eu continuo falando sobre isso enquanto penso em mais
ideias para fazer isso funcionar.

— Eu não tenho tudo isso resolvido, mas quando eles nos fizerem
perguntas sobre o relacionamento, tudo o que temos a dizer é que nos
tornamos amigos através de Brandon, mas sempre tive sentimentos não
correspondidos por você. Começamos a nos apoiar e o lamentamos juntos,
o que nos fez ficar mais próximos e, eventualmente, meus sentimentos
foram recíprocos. Sua morte colocou em perspectiva que a vida é muito
curta para não ficarmos juntos, e uma vez que deixamos de lado a culpa,
não queremos nos separar. — Eu tenho que fazer uma pausa porque há
muita verdade em minhas palavras para que eu continue. Brandon vem à
mente e todas as conversas que tivemos sobre Lennon e o quanto ele a
amava e planejava pedir que ela se casasse com ele. Agora, aqui estou eu
de joelhos, implorando para ela fingir um casamento comigo.

Penso em como Brandon queria conhecer seus pais neste verão e propor
casamento em sua viagem. Uma viagem que ele nunca pôde fazer. O
pensamento de tudo isso quase me sufoca, e sinto que preciso ofegar por ar
enquanto sou consumido pela culpa.

Ele deveria ir com ela, não eu. Seu timing teria sido quase perfeito com
a gravidez. Penso no anel que ele comprou para ela e em como nunca
posso contar a ela - esse segredo terá que morrer comigo. Se ela
descobrisse a verdadeira razão dessa viagem, isso poderia potencialmente
destruí-la e a confiança que ela tinha em mim. Tudo que eu quero fazer é
mantê-la feliz depois de toda a tragédia que ela sofreu. Isso é tudo que
Brandon gostaria que eu fizesse também.

Eu puxo uma respiração irregular. Quando ela olha para mim,


esperando que eu continue, seu olhar penetra através de mim.

— Eu...— Lennon começa, depois para. Ela está em conflito, pelo que
não estou nem um pouco surpreso. Estou oferecendo muito aqui.

Em vez de esperar por ela, continuo vendendo a minha ideia. — Então


dizemos que dirigimos para Las Vegas e fomos pegos de surpresa. Eu sei
que parece loucura, mas as pessoas fazem isso o tempo todo, já que não há
período de espera. Diremos que você ficou grávida logo após o casamento,
antes mesmo de contarmos a alguém que fugimos. Eles não sabem de
quantos meses você está e não saberão a diferença se você voltar algumas
semanas. Você pode esconder sua barriga e, quando o bebê chegar,
diremos que ele ou ela chegou cedo. Tenho certeza de que não há nenhuma
novidade de ter um nascimento prematuro. — Digo a ela confiante
enquanto tento manter minha voz calma e calma.

— Aww. — Maddie interrompe o nosso momento, olhando de um lado


para o outro entre nós como se eu tivesse acabado de confessar meu amor
eterno a Lennon, e considerando minhas palavras, de alguma forma eu
fiz. Quero que Lennon diga alguma coisa, mas ela não diz. Enquanto isso,
Sophie sorri largamente, consumindo cada palavra.

— Isso realmente poderia funcionar, — Sophie confirma com um


aceno de cabeça, olhando para Lennon e eu. — É realmente muito
inteligente e quase infalível. Se você me dissesse isso, eu acreditaria cem
por cento. Além disso, você realmente não está mostrando barriga, pelo
menos nada que não possa esconder com algumas calças de yoga e uma
camiseta folgada, para que você possa fingir como se ainda estivesse no
seu primeiro trimestre ao invés de entrando no segundo.

Enquanto olho para Lennon, sei que ela está na cabeça dela, pensando,
e quero convencê-la a tomar essa decisão e dizer que estou aqui, que eu
sempre estive aqui e sempre estarei, mas ela sabe. Não posso permitir que
ela passe por isso sozinha; ela já perdeu muito. Perder os pais quase a
mataria, e eu sei que estresse não é saudável para o bebê. Embora ela fale
sobre o quão rigorosos eles eram, ela os ama com tudo o que é, isso é
certo.

— Lennon, — eu imploro, minha voz apenas um pouco acima de um


sussurro. — Fale comigo, por favor.

Pelo jeito que ela está olhando para mim, eu gostaria de não ter dito
nada com Sophie e Maddie por perto, mas foi um pensamento aleatório
que surgiu na minha cabeça, que realmente resolverá todos os seus
problemas. Suas irmãs teriam descoberto eventualmente se esse plano
prosseguisse, porque elas também teriam que participar. Enquanto eu
imploro com meus olhos para ela falar, o comportamento de Lennon muda
e ela balança a cabeça.

— Hunter, você ficou seriamente louco? — Ela descansa a mão sobre a


barriga como se estivesse precisando proteger o bebê, que é exatamente o
que estou tentando fazer.

Essa não era a resposta que eu estava esperando.

A boca de Maddie se abre em choque.

— Vocês todos perderam a cabeça? — Lennon atira de volta para


nós. — Vou ter que fingir que estou casada até o fim dos tempos. Eles
também não permitem o divórcio, e daí? Sempre que eu tiver que fazer
uma visita ou eles vierem aqui, vamos continuar fingindo? E se eu
encontrar alguém que realmente queira se casar comigo? Ou se você
encontrar alguém? — Ela aponta para mim. — Acha que ela vai me
emprestar você para o fim de semana, quando é hora de visitar meus pais?
— Ela levanta as sobrancelhas em uma pergunta zombeteira.

O pensamento de ela estar com outra pessoa é como uma adaga


rasgando através de mim. Eu não quero encontrar ninguém; esse é o
problema. Não tenho certeza de quando algum de nós estará pronto para
isso.

— Eu entendo, Lennon, — eu digo, pisando com cuidado. — Quando


isso acontecer, — a palavra quando é uma faca no meu coração - —
atravessaremos a ponte então. Se você precisar de um divórcio ou uma
saída, pode me culpar por tudo, apenas diga que eu fui infiel e te larguei
ou algo assim. — As palavras têm gosto de veneno quando saem da minha
boca. Sei que tudo isso é falso e, na pior das hipóteses, mas odeio pensar
em uma época em que Lennon não está na minha vida. — Tudo o que
estou sugerindo é uma opção que a deixará livre de estresse e manterá seus
pais felizes. — Digo simplesmente.

— Você faz parecer tão fácil, — diz ela mais suave, soando
derrotada. — Mentir para meus pais para encobrir outra mentira. Não vai
ser tão fácil quanto você pensa.

Concordo, entendendo suas preocupações. Eu sei que não será,


considerando meus verdadeiros sentimentos por ela, mas sei que ela
precisa de uma saída, e estou lhe oferecendo uma opção.

— Apenas pense sobre isso. Ainda temos tempo. Farei o que você
precisar ou quiser, Lennon. Você sabe disso, mas precisará decidir em
breve para que possamos nos preparar e esclarecer nossas histórias. — Eu
levanto, sabendo que ela provavelmente precisa de algum espaço. — De
qualquer maneira, eu vou com você para Utah porque você não vai
sozinha. — Digo a ela com naturalidade.

Antes que fique estranho e mais tenso, peço licença e vou para o meu
quarto, deixando a bola em sua quadra. Esta é, em última análise, uma
decisão dela, que ela terá que tomar sozinha. Sento-me na beira da cama e
esfrego as mãos sobre o rosto, respirando fundo. Sinto como se tivesse
traído meu melhor amigo por sugerir isso. Embora minhas intenções
sejam puras, meus sentimentos não são. Será uma tortura para mim
experimentar um vislumbre de algo que não posso ter e nunca terei -
Lennon como minha esposa.

Brandon iria querer que eu cuidasse dela, protegesse-a do mal, e é isso


que estou tentando fazer, independentemente de como isso me afetará
pessoalmente. Felizmente, seus pais estão a quilômetros de distância,
portanto, manter a fachada será fácil. Pelo menos ela não terá que mentir
sobre não viver mais com alguém.

Ainda posso ouvi-las conversando, mas não consigo entender o que elas
estão dizendo, e uma parte de mim não quer saber de qualquer
maneira. Deito na cama e olho para o teto até minha visão ficar
embaçada. Tudo o que eu disse foi verdade, mesmo que os sentimentos
que eu tenha sentido por ela todo esse tempo sejam unilaterais. Eu não vou
ter que fingir muito, então seria fácil para mim bancar o marido falso,
embora demonstrar afeto possa ser estranho no começo, já que eu me
treinei para manter distância por tanto tempo.

Soltando uma respiração profunda e conflitante, tento afastar


tudo. Talvez tenha sido uma ideia estúpida, afinal.

Fecho os olhos, exausto do meu dia de trabalho, e adormeço com a luz


acesa. Não estou sonhando com nada quando penso ouvir Lennon
chamando meu nome. Meus olhos se abrem e estou surpreso que ela esteja
no meu quarto, me observando dormir.

— Ei. — Eu digo, limpando a garganta e sentando na beira da cama.

Ela caminha em minha direção e senta-se ao meu lado, enquanto abaixa


a cabeça e afunda os ombros. — Minhas irmãs acabaram de sair.

Eu a estudo, tentando avaliar suas próximas palavras.

— Sinto muito pela maneira como agi. — Ela começa.

Antes que ela possa continuar, eu a paro. — Não sinta.

— Fiquei chocada. — Ela assente como se estivesse confirmando para


si mesma, depois muda seu corpo levemente para que fiquemos cara a
cara. — Mas quanto mais eu conversava com elas, mais eu percebia o
quanto você estava certo. Na verdade, é uma ideia brilhante, considerando
o quanto eu estou limitada em opções, e estou meio chateada comigo
mesma por não ter pensado nisso primeiro, — ela diz com uma risada e
me lança um sorriso brincalhão. — Sério, porém, acho que vai funcionar.

— Ahh, é bom estar certo. — Eu provoco, precisando aliviar um pouco


da tensão no ar.

Lennon ri, depois bate no meu braço.

— Eu sei que falei sobre um divórcio falso e tudo isso, mas


sinceramente, acho que posso ficar sozinha pelo resto da minha vida. Não
me vejo seguindo em frente.

Eu mudo meu corpo, e nossos rostos estão próximos o suficiente para


eu sentir seu hálito quente na minha bochecha. Agora, tudo o que preciso é
de alguma distância entre nós, porque o jeito que ela está olhando para
mim me faz querer beijar todas as suas preocupações. É quase como se ela
quisesse, mas eu me reposiciono, encontrando o espaço que preciso
desesperadamente antes de cruzar uma linha que sei que não deveria. Eu
sei que estou lendo sua linguagem corporal e expressões muito mais do
que deveria, mas às vezes é difícil me lembrar disso quando ela olha para
mim com tanta tristeza e desejo.

— Você seguirá em frente quando estiver pronta, mas eu prometo que


não ficará sozinha para sempre. Você é uma mulher bonita, Lennon. Eu
sempre pensei isso. Você é carinhosa, atenciosa e compassiva. Eu sei que
um dia você encontrará alguém que amará você e seu bebê. Pode não ser
breve, ou mesmo daqui a cinco anos, mas eventualmente. Isso eu sei com
certeza. — Engulo em seco, querendo dizer cada palavra, mas também
percebendo o quanto elas me machucam só em dizer.

Seus olhos encontram os meus, e por um segundo, eu estou perdido


neles, perdido no som de suas respirações irregulares enquanto seus lábios
se abrem ligeiramente. Tanta emoção e eletricidade fluem entre nós que
me forço a desviar o olhar para interromper a conversa silenciosa que
estávamos tendo.

— Você encontrará alguém também, Hunter. — Ela garante, e não sei


por que há um tom de tristeza em sua voz quando ela diz isso. Quero dizer
a ela que nunca quis ninguém além de ela - explicar que ela sempre foi a
pessoa certa para mim, a mulher em que penso quando fecho os olhos -
mas confessar que minhas verdades só tornará as coisas tensas entre nós,
por isso guardo para mim exatamente como nos últimos dois anos.

— Obrigado. — Digo, sem falar o que realmente quero, e ela me dá um


sorriso lateral.

— Bem, — diz ela, seu tom mudando. — Acho que está resolvido,
então. Teremos que elaborar um plano, transferir a passagem de avião para
o seu nome e começar a aprender tudo um sobre o outro, para que nosso
relacionamento falso seja acreditável, pelo menos, porque, confie em
mim, com minha família, você vai receber o interrogatório da sua vida. —
Ela se levanta, parecendo feliz por termos um plano.

— Sim, acho que sim. Agora você terá que me contar todos os seus
segredos. — Eu provoco, mas quando olho para a gaveta onde o anel de
noivado que Brandon comprou para ela está escondido, sei que nem tudo
pode ser discutido. Algumas coisas precisam ficar enterradas no fundo.
— Sou um livro aberto, mas amanhã tudo começa. Você pode não
querer ser meu amigo depois de aprender algumas coisas sobre mim. —
Ela brinca.

Eu rio, balançando a cabeça. — Impossível.

— Quando eu era criança, eu adorava comer sanduíches de açúcar e


manteiga. — Ela encolhe os ombros com uma risadinha.

— Isso é mais do que nojento. — Digo a ela, rindo. Ela não responde,
apenas sorri quando sai pela porta e depois vai para seu quarto dormir.
A palavra amigo permanece na minha cabeça e me traz de volta à
realidade. Eu tenho que me lembrar de que somos apenas amigos,
independentemente de quão próximos tenhamos ficado. Se é o único
caminho que podemos seguir, eu aceitarei egoisticamente, mesmo que isso
me destrua no final.
Capítulo Vinte e Um
Lennon
— Tire uma selfie comigo. — Eu digo, sentando no sofá ao lado dele,
tão perto que nossos ombros se tocam.

— Outra? — Ele pergunta com uma risada, olhando de lado para o


modo como meu corpo pressiona o dele.

Eu seguro meu telefone até que nossos rostos estejam emoldurados na


tela. — Você pode pelo menos parecer que está feliz em casar? — Eu
provoco, chegando ainda mais perto. — Coloque seu braço em volta de
mim ou algo assim. Devemos convencê-los de que somos recém-casados e
tudo mais.

Hunter limpa a garganta, esfrega as mãos nos jeans e depois passa o


braço em volta de mim. Ele cai no meu quadril para que eu possa me
inclinar contra ele, meu ombro descansando contra seu peito enquanto
minha testa pressiona contra sua bochecha. — Diga X!

Eu seguro meu telefone novamente e olhamos para a câmera. O sorriso


forçado de Hunter me faz rir. — Você pode pelo menos fingir que não
odeia fotos? Preciso postar em meu Instagram uma variedade de fotos
nossas. Meus pais e seus amigos intrometidos, sem dúvida, pedirão para
ver algumas.

Considerando que meus pais sempre quiseram que eu me casasse na


igreja, eles definitivamente suspeitarão. Então, criei uma conta falsa no
Instagram, comecei a carregar fotos com postagens excessivamente idiotas
e segui todos os tipos de contas aleatórias para que elas me seguissem de
volta. Eu tenho que torná-lo o mais acreditável possível.

— Vamos tentar mais um pouco. — Digo, examinando nossas outras


fotos. Faz mais de uma semana que Hunter sugeriu esse plano, e ainda
temos muito o que fazer antes de partirmos em dois dias.

Quando coloco minhas pernas sob minha bunda e coloco meu braço
sobre seu ombro, ele fica tenso. — O que? Isso não está bem? — Eu
pergunto, sentindo-me constrangida.

— Oh não, está tudo bem. — Ele limpa a garganta novamente como se


precisasse de um segundo. — Eu simplesmente não gosto de tirar fotos.

Franzo minhas sobrancelhas. — Sério? — Brandon e eu tirávamos


centenas. — Isso é demais para um homem viril? — Eu provoco, e ele
racha o menor dos sorrisos.

— Não, está tudo bem. Nós vamos tirar todas que você precisa. — Ele
diz, inclinando-se para perto de mim quando eu afasto meu telefone
novamente.

Eu tiro três seguidas, descansando nossas bochechas juntas como o


casal super extravagante que estamos fingindo ser. Parte de mim quer rir
da ironia, o fato de nunca ter visto Hunter com alguém sério e agora aqui
está ele tirando selfies comigo.

— Você se importa se eu beijar sua bochecha? — Eu pergunto, olhando


as fotos.

— O que?

Eu encaro os olhos dele quando as suas palavras saem rouca.


— Para uma foto, — eu confirmo, percebendo seu nervosismo. — Essa
foi sua ideia, lembra? — Eu ri, e seus ombros relaxam.

— Sim, eu sei... para você. — Ele reitera com um sorriso.

— Hunter, — eu digo baixinho. — Eu sei que você quer me ajudar, mas


se isso for muito desconfortável e desagradável, não ficarei chateada se
você quiser desistir. Eu sei que você provavelmente não tem muita
experiência com relacionamentos e talvez não tenha percebido tudo o que
teríamos que fazer para tornar isso real, então...

— Lennon, pare, — ele rosna, virando-se para mim. — Eu não estou


desistindo. Eu disse que faria o que você precisasse, então não tenha medo
de perguntar, ok? Eu posso lidar com isso. — Suas palavras saem
confiantes e, embora um toque de culpa apareça no que estamos fazendo,
eu sei que é o único caminho. Depois que confirmei minha visita com
minha mãe, ela ficou muito animada. Eu disse a ela que também tinha um
convidado surpresa, mas nunca disse quem. Ela vai ganhar genro e neto ao
mesmo tempo.

O canto dos meus lábios se inclina e eu aceno. — OK. Obrigada,


Hunter. — Sinto que estou constantemente agradecendo a ele ultimamente.

Eu me recoloco no sofá até estar praticamente no colo dele. Estivemos


nos interrogando a semana toda, compartilhando o máximo de detalhes
sobre nossa infância e passado quanto possível. Definitivamente, isso nos
tornou mais próximos, sabendo mais sobre ele e o que sua vida familiar
implicava. Então, mesmo que tudo dê errado e meus pais não comprem a
mentira, pelo menos uma coisa boa saiu disso, e isso seria o crescimento e
a força de nossa amizade.
Eu levanto meu telefone mais uma vez, então trago meus lábios para
sua bochecha e clico no botão. Quando me afasto, Hunter ri. — Eu acho
que pisquei.

Isso me faz rir. — Não deve ser tão difícil tirar uma foto. — Pressiono
meu aplicativo de fotos e olho. — Oh meu Deus, Hunter! — Eu o cutuco
com meu ombro.

Ele está enfiando a língua para fora e cruzando os olhos, sabotando a


foto de propósito. Não consigo parar de rir, porque é a cara de Hunter fazer
essas coisas. Sempre brincando comigo.

— Isso terá que servir por agora. Na verdade, eu meio que gosto. —
Dou de ombros, colocando um filtro nele e depois enviando-o para minha
conta falsa. Mas primeiro eu preciso de uma legenda super cafona.

Falando em voz alta enquanto digito, digo: — Todo dia é cheio de amor
e riso com esse cara! Dois corações vermelhos. Recém-casados hashtag,
hashtag amor da minha vida, hashtag vida casada. — Então clico em
postar e a foto é carregada.

Quando está no feed, viro meu telefone em direção a Hunter e mostro a


ele. — O que você acha? Somos o casal falso mais fofo de todos os tempos
ou o quê? — Eu ri, pensando no ridículo de tudo isso. Ele não tem ideia de
como as coisas ficarão intensas quando chegarmos. Considerando que
minhas irmãs não estarão lá, toda a atenção estará em mim. Alegria do
caralho.

Hunter estreita os olhos e percorre as dezenas de fotos que eu


postei. Tudo, desde os cafés da manhã até o café da manhã na cama e as
noites de cinema. Algumas são apenas fotos de nossas pernas enquanto nos
sentamos no sofá, mas eu sei que teremos que continuar assim mesmo
depois de voltarmos para casa. Minha mãe provavelmente fará com que
toda a congregação me siga para atualizações sobre nós e o bebê.

— A Sra. Manning. — Ele lê meu arroba do Instagram em voz


alta. Minha foto de perfil é de nós dois com meu nome de 'casada' abaixo
como — Lennon Manning.

— Sim. — Eu dou de ombros. — Eu achei fofo. E extravagante. —


Rindo, eu o estudo e vejo como sua respiração engata e mandíbula
aperta. Não tenho certeza de que tipo de resposta eu esperava, mas ele
realmente parece afetado. Talvez a realidade do que estamos fazendo
esteja se estabelecendo. Talvez ele pense que está traindo Brandon, ou
inferno, talvez ele perceba que sua vida nunca será a mesma depois que
fizermos isso.

Eu sei que esses pensamentos passaram pela minha cabeça. Mas sou eu
que não tenho opções. Ele ainda pode voltar atrás.

— Sim, parece legal. Tenho certeza que eles vão acreditar. — Ele
assente, devolvendo meu telefone.

Pego meu caderno da mesa de café e risco onde escrevi — Postagem


diária do Instagram— na coluna de sexta-feira. Desde que decidimos fazer
isso, comecei a fazer uma lista de tarefas diárias, para não esquecer
nada. Aprender nossas histórias, aprender tudo o que pudermos um sobre o
outro, tirar fotos e publicá-las nas mídias sociais, são algumas das tarefas
que listei. Se vamos conseguir isso, temos que fazer o que for preciso.

Falando nisso…

— Eu tenho um pedido estranho. — Começo, depois mordo meu lábio


inferior e espero por sua resposta. Hunter foi pegar uma cerveja para si e
uma garrafa de água para mim. Ele acha que eu preciso me hidratar 24
horas por dia, sete dias por semana e esquece que assim que bebo água,
tenho que correr para o banheiro para não fazer xixi nas calças. Eu tenho
me levantado pelo menos três vezes à noite, o que é realmente irritante
quando eu estou realmente quente e confortável na cama pela primeira
vez.

— Mais estranho do que fingir um casamento? — Ele zomba, tomando


um gole de cerveja e colocando minha água na mesa de café. Hunter se
abaixa no sofá, deixando espaço entre nós.

Eu decido deixar para lá, imaginando que Hunter está com um humor
estranho hoje à noite. Desde que compartilhamos mais detalhes um do
outro, acho que o deixou mais vulnerável do que o habitual, e não quero
insistir nisso.

Levanto-me, ignoro o comentário dele e vou para a mesa da cozinha,


onde havia arrumado alguns itens que ainda preciso colocar na minha
mala. Há uma pilha de cartões de anotações com coisas aleatórias sobre
nós, escritas nelas, além de alguns com nossas informações como um
“casal.” Eu sei que o nome de seu primeiro animal de estimação era
Reagan, em homenagem ao presidente. Seu primeiro beijo foi com uma
garota chamada Brittany na segunda série. O nome do irmão dele é
Hayden e ele mora em Nova York com a namorada, Savannah. O nome do
meio de Hunter é John, em homenagem a seu bisavô por parte de mãe. Seu
aniversário é 23 de novembro e cai no mesmo dia que o Dia de Ação de
Graças a cada seis anos. Seu feriado favorito é o Natal, porque quando era
criança, era o dia do ano em que sua família era “normal” e seu pai não
fazia do trabalho uma prioridade. Ele me contou histórias engraçadas de
seu tio se vestindo de Papai Noel e como descobriu a verdade no ano que
viu uma sacola de presentes na lavanderia.
Nós conversamos muito e cavamos algumas merdas profundas, parece
que já faz mais de uma semana desde que começamos a compartilhar
detalhes um do outro. Eu gosto de saber mais sobre ele. Faz-me sentir
confiante de que pareceremos um casal legítimo para minha família.

— Lennon. — A voz de Hunter me faz pular da minha pele.

Eu me viro com a mão sobre o meu coração acelerado. — Merda, você


me assustou. — Eu nem ouvi seus passos atrás de mim. Ele está segurando
sua cerveja em uma mão e traz minha garrafa de água que eu deixei na
sala de estar.

— Desculpe, eu já disse seu nome algumas vezes, mas você deve estar
perdida na sua cabeça novamente. — Ele me dá um sorriso e depois me
entrega a água. — Não tinha certeza se você queria isso ou não.

Meus ombros caem e eu sorrio. — Estou bem, mas obrigada. O bebê já


está usando minha bexiga como um trampolim.

Suas sobrancelhas disparam até a linha do cabelo, me fazendo cair na


gargalhada. — Você já pode sentir isso?

Eu dou de ombros, incerta. — Eu não sei, mas ultimamente tenho que


fazer xixi uma vez por hora.

— Será uma divertida viagem de avião para você. — Ele ri. — Ainda
bem que não é um voo longo.

— Certo. — Suspiro. A ansiedade de contar aos meus pais me


atinge. Felizmente, após a surpresa inicial, eles serão solidários e não
farão um milhão de perguntas, mesmo que estejamos nos preparando para
isso.
— Eu estarei muito nervosa, de qualquer maneira. — Eu admito,
abaixando os olhos, depois volto para as minhas listas e cartões.

— Bem, você não estará sozinha, então tente não se estressar muito. —
Ele me diz, e eu o sinto atrás de mim. Sinto a culpa sobre o que ele
concordou em fazer por mim crescer, no entanto, tento afastá-la. Hunter
não faria isso se ele não quisesse, mas porque ele está tão disposto, me faz
desejar que eu possa retribuir um dia pelo que ele está se sujeitando.

— Vou tentar— Digo suavemente.

Hunter volta para a cozinha, a porta da geladeira se abre e se fecha, e


então ele está ao meu lado novamente.

— Lennon.

— Hã?

— Você disse que tinha um pedido estranho antes, — ele me lembra. —


O que é?

— Oh, hum ... — Um rubor sobe nas minhas bochechas. — Não é


nada. Deixa pra lá.

— Vamos, — ele pede. — Você sabe que eu não vou dizer não.

Isso fez meus lábios se inclinarem um pouco. — É demais. Esqueça.

Hunter pousa a cerveja, agarra meus ombros e me faz encará-lo. Ele


olha nos meus olhos e me dá um olhar aguçado que me diz que não vai
desistir. — Me pergunte.

Minha respiração acelera e borboletas nervosas se formam no meu


estômago enquanto olho para o homem que será meu falso marido por
quem diabos sabe quanto tempo.
Respirando fundo, eu solto lentamente, depois aceno. — Ok, mas
você pode dizer não, se quiser.

Hunter abaixa os braços e os cruza sobre o peito. — Certo.

Seu tom me avisa que não será o caso.

— Eu não sei como perguntar isso, então eu vou dizer logo. — Digo a
ele, embora esteja tentando me convencer a fazê-lo.

— Por favor, faça. — Ele encoraja.

— Nós vamos precisar nos beijar, — eu finalmente deixo escapar e


engulo em seco enquanto espero por sua reação. Ele permanece firme, sem
se mexer ou falar. — Se quisermos convencer meus pais de que somos
recém-casados, que estamos grávidos, eles vão esperar que sejamos...
melosos. Apaixonados. Então, ao invés de ser esquisito na frente dos meus
pais, talvez devêssemos... praticar primeiro. — Minha voz falha no final e
sinto que sou uma adolescente inexperiente mais uma vez.

— Ok, eu não estava esperando isso, na verdade. — Hunter finalmente


responde, passando a mão pelos cabelos e depois por cima do queixo com
alguns dias de barba por fazer. Aprendi que é um sinal nervoso, o que me
faz sentir melhor sabendo que não serei a única que se sentirá
constrangida.

— Entendo perfeitamente se você dizer não. É pedir muito. Eu não


deveria ter mencionado isso. É estranho, né? Desculpe, esqueça. Não sei o
que eu estava...

— Lennon, — Hunter interrompe minhas divagações. — Eu não disse


não. Eu só não estava prevendo isso, mas você está certa. Precisamos agir
como se tivéssemos nos beijado uma ou duas vezes. — Ele ri o menor dos
sorrisos, o que relaxa um pouco a minha mente. — Provavelmente é uma
coisa boa, então não agimos como dois virgens na noite do baile.

Eu rio, a tensão diminuindo. — Bem, considerando que eles exigiram


que eu esperasse até a minha noite de núpcias para perder minha
virgindade, não é incomum os casais da minha igreja engravidarem
imediatamente. A maioria só se casa depois de namorar por um curto
período de tempo e anuncia que está tendo um bebê um mês depois. Casais
assim, que esperam até a noite de núpcias, ficam visivelmente mais
grudentos um com o outro porque se abstiveram muito antes.

— Então, atacá-la na frente de seus pais é uma obrigação. — Ele


brinca, dando um passo para trás quando tento bater em seu peito.

— Eles são realmente muito modestos, então, embora não se importem


de tocar e beijar, precisamos ser respeitosos em sua casa. — Dou de
ombros, realmente agradecida por essa regra específica.

— Parece bom. — Ele está na minha frente com uma expressão


ilegível. Enquanto ele me estuda, eu sei que ele provavelmente está
esperando que eu faça o primeiro movimento, mas merda. Não posso.

— Estou nervosa. — Admito com um meio sorriso.

— Não fique. Eu não mordo. — Ele pisca. — Bem, a menos que você
goste disso.

— Oh meu Deus, Hunter! — Coro com força. — Você não está


ajudando!

— Ok, desculpe, — diz ele com uma risada. — Não tenha


medo. Vamos começar devagar.
Meu peito sobe e desce, respirações pesadas saem das minhas narinas
enquanto tento ganhar algum controle. Não sei por que estou tão ansiosa,
mas beijar Hunter assim parece tão... calculado. Esquisito. Proibido.

— Ok. — Eu finalmente digo, sem me mexer.

Depois de alguns momentos silenciosos, ele abre um sorriso. — Você


vai me beijar?

Eu cubro meu rosto, curvando-me de vergonha. — Ugh. Não consigo


parar os nervos.

— Lennon. — Sua voz profunda me puxa dos meus pensamentos. —


Apenas relaxe, ok? — Ele pega minhas mãos e as coloca em sua cintura,
aproximando-nos. — Respire.

Eu solto uma respiração profunda e constante quando suas mãos


seguram meu rosto.

— Você confia em mim? — Quando seus olhos se fixaram nos meus,


sinto como se estivesse olhando nas profundezas de sua alma. Sei sem
dúvida que esse homem faria qualquer coisa por mim.

— Claro que sim. — Eu sussurro, apertando mais os seus quadris.

— Bom. — Ele me dá o sorriso mais doce. — Agora feche seus olhos.

Eu faço, e momentos depois, sinto sua boca em mim.

Lento e macio, ele pressiona seus lábios nos meus enquanto nos une em
perfeita harmonia. Ele se afasta um pouco, então sua língua traça meu
lábio inferior antes de nos aproximar ainda mais. Meu coração bate tão
forte, tenho certeza que ele pode sentir meu pulso em meu pescoço.
Hunter embala meu rosto como se eu fosse a coisa mais preciosa do
mundo. Gentilmente, ele esfrega o polegar contra a minha bochecha, e
quando ele desliza a língua entre os nossos lábios, o beijo se aprofunda, e
eu, sem querer, solto um gemido. Hunter se afasta um pouco e meus olhos
se abrem, olhando diretamente para ele. Pela expressão em seu rosto, ele
está pedindo permissão para continuar, e quando eu não me afasto, ele
junta nossas bocas.

Sua mão desliza pela minha garganta, pescoço e pelo meu lado,
enviando eletricidade para todos os lugares que ele toca. Aperto meus
dedos em sua camisa e arqueio minhas costas, nos forçando a ficar mais
juntos enquanto ele segura minha bunda. Estendendo a mão, envolvo meus
braços em seu pescoço, removendo o espaço restante entre nós. A outra
mão de Hunter cai do meu rosto e ele passa o braço pela minha cintura, me
segurando forte. O beijo se torna ansioso, mais rápido, desesperado.

Eu sinto seu beijo até o meu âmago. Eu sinto isso em todo lugar.

Sentimentos mistos surgem quando sua língua dança com a minha,


enviando borboletas ao meu estômago enquanto meu coração dispara com
ansiedade. Cada toque é quente contra a minha pele, e eu sou impotente
para impedi-lo.

Um gemido profundo sai de sua garganta, e quando sinto sua dureza


contra o meu estômago, percebo que isso está indo longe demais. Eu o
empurro rapidamente, dando um passo para trás para criar
distância. Aquele beijo foi muito quente e intenso para ser falso. Minha
respiração acelera e, quando vejo seu peito arfando, sei que isso o afetou
tanto quanto eu. Meu olhar cai para o seu pau visivelmente duro em seu
jeans. Isso é realmente grande.
Errado, errado, errado.

— Sinto muito, eu não deveria ter...

— Não, eu...

— Eu não quis dizer...

Parece que não conseguimos expressar as palavras. Nós dois estamos


perturbados e estou confusa.

Por que isso parecia tão bom?

Oh, certo. Hormonal pra caralho.

— Isso foi... — Faço uma pausa, observando-o lamber os lábios e


parecer tão conflituoso quanto eu. — Muito bom.

Hunter solta um suspiro curto e bufa. — Uh, obrigado? — Eu o estudo


enquanto ele limpa as mãos na calça jeans, um nervosismo que eu nunca vi
antes de me estabelecer com ele.

— Acho que não teremos problemas para convencê-los. — Digo a ele,


sem saber mais o que dizer. Meu coração está acelerado, dividido ao
pensar em Brandon - o homem que eu amava - e ver o homem na minha
frente que se importa comigo tão profundamente quanto.

— Acho que não. — Hunter responde casualmente.

Nós nos encaramos, sem falar ou saber o que fazer. O silêncio


permanece até o telefone tocar, nos afastando.

Hunter mexe no bolso até pegar o telefone e depois recusa a ligação.

— Você pode atender isso se precisar. — Digo a ele, pegando minha


água e me virando para a cozinha antes que ele possa responder.
Merda, eu realmente poderia usar uma dose de tequila agora. Se não
para apagar os pensamentos inapropriados do meu cérebro, pelo menos
para me dar a coragem de enfrentá-lo novamente. Eu respiro fundo,
precisando acalmar meu coração acelerado.

Apertando meus olhos com força, tento tirar as imagens dele duro e
excitado da minha mente. Isso não funciona. Enquanto estou bebendo
minha garrafa de água, sinto Hunter atrás de mim.

— Lennon, me desculpe. — Sua voz quase soa dolorida, o que eu


odeio. Eu sei que isso não pode ser fácil para ele, considerando que ele não
está com uma mulher desde o acidente. Ele provavelmente tem a mesma
quantidade de frustração sexual reprimida que eu e não pretendia levar
isso tão longe.

Eu me viro e o encaro. O olhar em seu rosto provoca uma careta em


mim. — Você não tem nada para se desculpar, — eu o asseguro. — Foi
minha ideia, lembra? Eu sei que isso não significa nada, e nós nos
perdemos no momento.

Sua mandíbula trava como se ele estivesse se segurando, mas eu não


lhe dou a chance de responder antes de tentar aliviar o clima. — Pelo lado
positivo, estou começando a ver o fascínio que outras meninas tiveram ao
longo dos anos.

Hunter revira os olhos com um pequeno sorriso. — Você me deixaria


pedir desculpas, por favor? Isso me faria sentir menos idiota.

Eu dou de ombros, cedendo. — Tudo bem, mas você não tem nada
para...

— Lennon. — Ele range os dentes.


— Tudo bem! — Eu levanto meus braços e os deixo de lado.

Ele respira profundamente, depois recua um pouco. — Sinto muito por


ter te beijado dessa maneira. Eu não deveria ter me deixado ir tão
longe. Isso nunca mais acontecerá, prometo. — Ele sinceramente pousa a
mão no peito sobre o coração, como se precisasse impedir que ele
explodisse em seu peito.

Nunca?

Engulo em suas palavras, odiando que ele sinta a necessidade de dizê-


las em primeiro lugar. Afinal, sou eu quem trouxe isso à tona.

— Tudo bem, desculpas aceitas. — Eu digo a ele o que ele quer


ouvir. — Mas podemos ter que praticar novamente amanhã. — Digo com
hesitação em minha voz.

Hunter levanta as sobrancelhas.

— Praticar beijos normais, — reitero. — Sem a possibilidade de dar a


meus pais um show. Ou um ataque cardíaco. — Dou de ombros, toda a
dignidade saindo pela porra da janela neste momento.

Balançando a cabeça lentamente, ele sorri e depois se afasta do balcão


em minha direção. — Como isso?
Ele não me dá um segundo para responder antes que seus lábios voltem
aos meus.
Capítulo Vinte e Dois
Hunter
TODO O OXIGÊNIO sai dos meus pulmões quando eu empurro o balcão e
vou para Lennon como um animal. Ela engasga na minha boca enquanto
eu trago nossos lábios, colidindo em uma batalha desesperada de querer
mais, mas não me deixando empolgar novamente.

Tenho certeza de que meu coração parou de bater no momento em que


ela me pediu para beijá-la. Inferno, acho que apaguei por um
segundo. Minha cabeça sabe que isso é falso - é tudo um espetáculo, um
ato, não é real - mas, porra, meu coração não se importa. Prová-la, um
desejo que tenho há mais de dois anos, traz de volta as memórias da noite
em que nos conhecemos.

Seu sorriso paquerador, voz sedutora e olhos persistentes estavam em


mim quando me movi para trás do bar para misturar sua bebida. Porra,
isso me deixa duro.

Então a realidade do que estou fazendo - o que estamos fazendo - me


atinge como uma tonelada de tijolos, e eu me culpo de novo. Eu a vi
primeiro. Mas isso não importava porque ela o escolheu, e Brandon era
meu melhor amigo. Eu nunca aceitaria o que não era meu, e ela claramente
tomou sua decisão naquela noite. No entanto, isso não mudou o jeito do
que eu senti por ela, e quando nossas bocas se tocam em um beijo suave e
sensual, é preciso todo o autocontrole do mundo para não ir mais longe.

Meus lábios roçam nos dela, leves e doces, com pressão suficiente para
quase roubar o fôlego. Temos que acreditar que estamos
apaixonados. Então, tão rapidamente quanto a agarrei, solto e recuo.

— Foi melhor? — Pergunto logo acima de um sussurro.

— Não, — diz ela, então abre os olhos. — Quero dizer


sim. Sim. Desculpe. Menos show de estrelas pornô, casal mais romântico.

Minhas sobrancelhas arqueiam. — Estrela pornô?

Lennon ri, o que se tornou meu som favorito no mundo, e golpeia meu
peito. — Você sabe o que eu quero dizer. Isso foi... perfeito.

Um rubor nas bochechas indica que ela gostou muito mais do que ela
gostaria de admitir. Eu senti cada fibra do seu corpo pressionando no meu
quando a beijei pela primeira vez. Ela estava implorando e precisando de
mais, pegando tudo o que eu tinha lhe dado.

Mas sei que ela se perdeu no faz de conta de tudo isso. Ela
provavelmente gostaria que fosse Brandon e não eu, e o fato de eu estar
com ciúmes do meu melhor amigo morto me afasta dela.

— Ok, bem, eu vou para a cama. Ou tomar um banho. Provavelmente


frio. — Ando para trás e ela ri às minhas custas. — Temos um dia agitado
amanhã, então você provavelmente deve dormir um pouco também.

— Eu vou resolver isso. — Ela zomba.

Lennon finge odiar o quanto eu cuido dela, certificando-se de que ela


está comendo o suficiente por dois, bebendo água e sem se estressar, mas
acho que no fundo ela gosta disso. Ela quase me deu um derrame quando a
vi fazendo yoga na semana passada com o corpo dobrado ao meio. Depois
que o pânico diminuiu, ela me garantiu que era perfeitamente seguro para
o bebê.
Não significa que não precisei beber uma cerveja depois disso para me
acalmar.

Se eu achava que Lennon era linda antes, ver sua barriga inchada
crescer está além de qualquer coisa que eu já imaginei. Ela está brilhando,
completamente deslumbrante e linda. Não consigo parar de olhar para ela,
observando-a, apreciando cada centímetro de seu corpo tentador. Suas
camisas cresceram um pouco, mostrando seus seios. Como seu corpo está
mudando, ela precisará de roupas maiores em breve, mas está sendo
teimosa quanto a isso.

Também haverá mais consultas médicas, as quais eu já garanti a ela que


iria. Eu não quero que ela fique sozinha com isso, e mesmo que eu diga
que é por Brandon, não sou muito egoísta para admitir que também quero
estar lá por mim. Essa criança vai estar na minha vida, e eu quero apoiar
Lennon a cada passo do caminho. Saber que meu melhor amigo está
perdendo um dos melhores momentos de sua vida deixa minhas emoções
sobrecarregadas.

Quando entro no banho frio, falo com ele. Digo a ele quão incrível
Lennon lidou com tudo até agora. Digo a ele o quanto nós dois sentimos
sua falta. Por fim, digo a ele como sinto muito por beijar a namorada
dele. Por estar apaixonado por sua namorada.

Não posso dizer com certeza se Brandon aprovaria um relacionamento


entre Lennon e eu, mas eu gostaria de pensar que ele confiaria em mim o
suficiente para cuidar dela e do filho deles. Eu nunca a
machucaria. Manter sua memória viva é algo que prometo sempre
fazer. Sinto tanto a falta dele às vezes que isso me sufoca vivo.
Quando estou na cama, olho para o teto e penso naquele
beijo. Falsificado ou não, me pareceu muito real. Seus seios pressionaram
meu peito, suas as costas arqueadas para aprofundar o beijo, e então ela
gemeu.

Porra, aquele gemido.

Meu pau fica duro só de pensar nisso.

Porque sou um idiota viciado em punição, coloco minha mão na


bermuda e acaricio meu pau. O banho frio não fez nada para diminuir meu
tesão, e eu revivo a maneira como ela respondeu aos meus toques. Penso
em como as coisas mudaram entre nós, quão próximos ficamos e quão
confortáveis estamos juntos. Lennon me faz sentir seguro conversando
com ela sobre coisas que guardo por dentro. Ela conseguiu fazer algo que
ninguém mais fez, e duvido que algum dia me sinta assim com alguém de
novo.

Meu pau cresce mais forte, meu punho apertando mais enquanto eu
aumento o ritmo. Lennon é tudo em que posso me concentrar - seu rosto
doce, seios gostosos, risada contagiosa. Porra, ela é o pacote
completo. Sempre foi.

Grunhindo, deslizo meu punho sobre a ponta, uma e outra vez, até
gozar, forte e rápido. Eu solto uma respiração áspera entre os dentes,
esperando que ela não possa me ouvir no quarto ao lado, mas merda isso
foi intenso. Uso minha camisa para me limpar e depois pego uma nova,
sentindo um alívio temporário.

Nos últimos meses, eu me masturbei tanto quanto quando era


adolescente, mas ter Lennon tão perto de mim todos os dias me deixa
nervoso. Não tenho vontade de sair nos fins de semana ou encontrar outra
pessoa. O simples pensamento disso me faz rir de mim mesmo. Todas
essas vezes eu provoquei Brandon por estar amarrado por uma boceta, e
aqui estou eu, amarrado sem a boceta.

Lennon invade cada parte de mim, mais do que nunca, e depois de


provar seus lábios, estou preocupado em perder meu autocontrole. Embora
eu não possa. As coisas não podem avançar, por mais que eu
queira. Lennon precisa de um amigo, alguém em quem possa confiar e se
apoiar.

Sem mencionar que eu sempre viveria com o remorso de trair meu


melhor amigo. Embora exista um segredo dele que pretendo levar para o
túmulo. Não posso mentir para Lennon, não se quero ficar na vida dela,
mas é uma coisa que prometi a Brandon. Ele não está mais aqui para
propor casamento, e eu não sei se inteirar-se sobre isso a machucaria ainda
mais ou daria a ela certo fechamento. Ela está de bom humor há algumas
semanas, mesmo eu sabendo que ela ainda está sofrendo. Com isso, agora
vamos fingir que estamos casados, então como diabos eu mencionarei que
Brandon comprou um anel de noivado para ela e estava pronto para pedir
que ela fosse sua esposa nessa mesma viagem?

Inferno, se eu pudesse, saberia o que fazer com o maldito anel que


queima um buraco na minha mesa de cabeceira.

Desde que encontrei o anel no quarto deles, voltei a pensar no que fazer
com ele. Dar para a mãe dele? Deixar ela decidir? Guardar para quando
Lennon estiver pronta para saber, se é que ela estará pronta para saber? Eu
odeio ter sido deixado para tomar essa decisão quando isso poderia
machucá-la, ou pior, fazê-la fugir de mim.

***
Em todas as noites da semana passada, sonhei com Lennon e nosso
casamento falso. Parece tão real que nem sei que estou sonhando. Ela olha
para mim como se eu fosse o único homem na sala e, assim que eu a
tocava, o rosto de Brandon aparecia. Toda maldita vez, acordo ofegante,
pronto para levar uma surra dele, porque é isso que eu mereço.

Eu estou tão fodido.

Lutar contra minhas emoções foi a parte mais difícil de aceitar esse
acordo. Eu nem levei um segundo para pensar em como esse plano me
afetaria antes de inventá-lo, mas não me arrependo. Eu faria isso
repetidamente se significasse mantê-la feliz e livre de estresse.

— Ei, dorminhoca. — Saúdo assim que ouço os pés de Lennon


entrarem na cozinha. Adoro poder dormir um pouco aos sábados, mas
nunca é muito. Depois que ligo a cafeteira, faço o café da manhã, sabendo
que Lennon precisa de comida para acordar completamente.

— Ugh. — Ela se inclina contra o balcão, seus cabelos loiros uma


bagunça no topo de sua cabeça. Ela parece adorável.

— Noite difícil? — Eu arqueio uma sobrancelha, olhando para ela por


cima do ombro enquanto cozinho uma omelete no fogão. — Parece que
você brigou com uma torradeira no chuveiro. — Eu sorrio quando ela olha
feio para mim.

— Não é justo que você literalmente acorde assim... — Ela balança o


braço para cima e para baixo, apontando para o meu corpo.

Eu rio. — É uma maldição.

Lennon bufa, se movendo ao meu redor para alcançar a geladeira. —


Eu tive dificuldade em adormecer. Meus nervos estão em chamas, sem
mencionar que está ficando desconfortável para dormir. Meus peitos estão
irritantes e sensíveis, e eu me sinto como uma baleia encalhada.

Eu lanço um olhar para ela, demoro-me sobre seus seios, depois movo
meu olhar para sua barriga. — Você tem uma protuberância pequenina.

Ela pega o jarro de suco de laranja e bate a porta. — Bem, não parece
pequeno quando estou tentando dormir.

Oh, ei, Lennon hormonal. Eu rio, seus olhares de morte sempre me


fazem rir.

— Ouvi dizer que um travesseiro corporal pode ajudar durante a


gravidez. Quer que eu encontre um para você? — Pergunto casualmente,
esperando ficar envergonhado por ler esse tipo de merda.

— Eu estava pensando sobre isso, na verdade. — Ela derrama suco em


um copo, depois toma um longo gole. — Espera. Como você sabe disso?
— Ela faz uma pausa e continua antes que eu possa responder. — Deixa
pra lá. Eu deveria saber a resposta para essa pergunta. — Lennon ri e me
dá um sorriso agradecido.

— Gosto de ler coisas, para ter mais conhecimento sobre o que você
está passando. Você sabe que eu não vou a lugar nenhum, então eu quero
me educar. — Eu viro a omelete mais uma vez.

— Bem, é o seu apartamento, então não é como se você fosse embora.


— Lennon se senta à mesa e eu a encaro antes de desligar o fogão.

— Você também, já que seu nome está no contrato. — Murmuro


baixinho, pegando dois pratos do armário.

— O quê? — Ela pergunta em voz alta.


— Coloquei seu nome no contrato, — repito, enfatizando cada
palavra. — Então não é só meu apartamento. Também é seu.

Ela me dá um olhar interrogativo, olhando para mim do seu copo. —


Quando você fez isso?

Coloco uma omelete em cada um dos pratos, pego dois garfos e os


trago para a mesa onde coloco um na frente dela e pego o outro. — Mais
ou menos um mês atrás.

Lennon olha para mim. — Você ia me contar?

Dou de ombros, sem ver por que ela está tão irritada com isso. — Eu
acho que o assunto só não surgiu até agora.

Cavando minha comida, dou uma mordida enorme, então tenho uma
desculpa para não falar. Os olhos de Lennon queimam na minha pele, e
depois de um minuto, não aguento mais e fico em pé para pegar um copo
de suco. Quando me sento, fico feliz em ver que Lennon comeu metade de
sua omelete.

— Hunter. — Seu tom de repreensão me faz trazer meus olhos aos


dela. — Você realmente adicionou meu nome ao contrato?

Pousei o garfo e dou a ela toda a minha atenção. — Sim. Por que não?

Ela olha em volta e pisca. — Bem, eu não sei. Parece meio


significativo.

— Eu já disse isso antes, e direi novamente, caso você esteja passando


por um esquecimento proveniente da gravidez, — começo, o que a faz
rir. — Você não vai a lugar nenhum, nem eu. Este lugar é tanto meu quanto
seu. Você e o bebê e eu... por mais estranho que seja, eu não dou a
mínima. Isso funciona.
Lennon franze a testa, o que é o oposto do que eu estava esperando. —
Esse é um grande compromisso para alguém que não pode se comprometer
com a mesma pizzaria.

— Isso é diferente, — digo a ela. — Sem mencionar que eu gosto de


uma variedade de pizza.

— E o que acontece quando você estiver pronto para uma mudança?

— Então eu peço comida chinesa.

— Hunter! — Ela começa a rir. — Você sabe o que eu quero dizer.

— Você confia em mim? — Pergunto novamente, exatamente como fiz


ontem à noite. Ela assente, mantendo os lábios apertados. — Se estamos
realizando um casamento falso, então você não acha que minha esposa
deveria estar no contrato de aluguel?

— Quem diabos vai verificar isso?

— Eu não sei, você me diz— Eu zombo.

— Pfft. É o meu apartamento, lembra? Então, na verdade,


adicionei você ao meu contrato quando nos casamos. — Ela ri. — Exceto
que você não pensou nesse plano até uma semana atrás.

— Lennon, — eu aviso. — Deixe isso pra lá.

Felizmente, ela faz, e voltamos a comer em silêncio. Quando termino,


lavo meu prato e coloco na máquina de lavar louça. Depois, faço uma
xícara de café e Lennon me encara.

— Você não pode me odiar por beber cafeína. — Eu provoco.

— Não, mas ainda posso fazer uma careta.


Eu sorrio enquanto tomo outro gole. — Você pode tomar uma xícara,
Lennon, — eu a lembro. — Se você quiser.

— Claro que quero, mas prefiro estar segura do que arrependida. A


última coisa que preciso é de uma criança hiperativa correndo em círculos
em volta de mim. — Ela coloca a mão em sua pequena barriga.

— Eu não acho que funciona dessa maneira, mas combina com você.
— Eu pisco. — Deixe-me saber quando estiver pronta para terminar esses
cartões.

Ela dá a última mordida e depois desliza o prato ao lado do meu. —


Obrigada pelo café da manhã. — Ela sorri para mim. — Eu vou tomar
banho, então eu vou estar pronta para brincar de casinha. — Ela geme,
revirando os olhos e franzindo a testa.

— Você com certeza sabe como fazer seu marido se sentir bem. — Eu
digo enquanto ela sai.

Lennon para antes de sair da cozinha. — Oh, desculpe, eu machuquei


seu ego inflado? Achei que era impossível. — Ela faz uma careta para
mim, depois caminha pelo corredor.

— Muito atrevida para uma mulher grávida! — Grito para que ela
possa me ouvir, mas não consigo parar de sorrir enquanto tomo meu café.

Decidindo que é melhor aproveitar esta oportunidade para ligar para


Hayden, uma vez que apenas enviamos mensagens aleatórias nos últimos
meses, pego meu telefone. Não o informei sobre o que está acontecendo
desde a morte de Brandon. Honestamente, nem sei por onde começar. Ele
me mandou uma mensagem há alguns dias, e escorregou totalmente minha
mente ligar para ele quando saí do trabalho. Espero até ouvir a água
correndo e Lennon cantando antes de discar o número dele.
— Ei, mano, — ele responde. — Eu estava me perguntando quando
teria notícias suas novamente.

— Merda, eu sei. Eu sinto muito. Muitas coisas acontecendo. — Digo a


ele, entrando na sala de estar.

— Eu aposto, — diz ele com insinuação em seu tom. Eu ignoro e


decido não chamar sua atenção sobre isso. — Bem, estou feliz que você
ligou de qualquer maneira. Eu tenho algumas noticias.

Faço uma pausa e espero. — Bem, você vai dizer, ou eu tenho que
adivinhar?

Hayden ri. — Sav e eu estamos oficialmente sendo amarrados! Eu


perguntei se ela queria casar comigo e ela disse que sim! — Ele anuncia
alto e orgulhoso.

— Eu disse que ela iria! — Eu estou sorrindo tão largo, minhas


bochechas doem. — Finalmente! Fiquei imaginando quando você faria
isso, considerando que você escolheu esse anel há dois meses.

Ele ri, e eu posso ouvir como ele está feliz. — Eu sei. Eu só queria que
a proposta e tudo mais fossem perfeitos e especiais para ela. Donny me
ajudou a planejar na verdade. Ainda é cedo, mas acho que vamos nos casar
na Califórnia no próximo verão para que todos possam fazer arranjos e
estar lá.

— Uau, tão rápido?

— Já faz mais de dez anos, Hunter. — Ele ri.

Reviro os olhos com o seu exagero. Eles não estão juntos há dez anos,
mas eles estão finalmente noivos após uma década em construção.
— Eu me casaria amanhã, mas ela quer seus pais lá e todo o grande
casamento branco, o que é compreensível. Então, farei o que ela quiser,
porque a felicidade dela é tudo o que importa para mim.

— Bem, estou animado pra caralho para vocês. Seriamente.

— Obrigado, cara. Se você tivesse me mandado uma mensagem de


volta, você saberia o dia em que aconteceu... — Ele não termina sua frase,
mas não precisa que eu saiba o que ele vai dizer.

— Eu sei. Eu estive preocupado. Eu sinto muito. Parabéns a vocês


dois! Estou realmente feliz que vocês dois finalmente vão dar o nó.

— Entendo. Eu realmente entendo, — Ele simpatiza. — E


obrigado. Sav está muito emocionada.

Como estamos conversando sobre nossas vidas, decido derramar


minhas próprias verdades. — Bem, então há algo que preciso lhe dizer,
mas você não pode me julgar.

— Hunter, o que você fez?

Reviro os olhos ao seu tom acusador.

— Nada. Mas...

— Então, marido ... você está pronto para fazer isso? — Lennon entra
na sala no pior momento possível.

Filha da puta.

Aperto o nariz, sabendo que Hayden a ouviu.

— Oh, desculpe, você está no telefone. Vou terminar de fazer as malas


para a nossa lua de mel enquanto você estiver conversando. — Ela ri para
si mesma e depois volta para o quarto.
— Você só pode estar brincando, Hunter! Que diabos?

Hayden morde minha bunda como eu imaginei. Na verdade, ele ruge.

— Você terminou? — Eu pergunto com indiferença.

— Não me faça pular em um avião só para ir aí chutar a sua bunda. —


Ele ameaça.

Acho que não.

— Não é o que você pensa. Porra, relaxe. — Inclino-me para a frente


no sofá, pegando minha caneca e bebendo o resto do meu café.

— Ouvi 'marido' e 'lua de mel'. Não tenho certeza de como isso pode
ser interpretado de outra maneira.

— Estamos fingindo. — Explico.

— Apenas quando eu pensei que você não poderia dizer nada mais
estúpido, você diz. Cristo, Hunter. O que diabos isso significa?

Inspirando profundamente, eu começo a dizer a ele. Desde Lennon


descobrindo que está grávida, até a história de seus pais e seus
antecedentes religiosos, até o plano que nos leva a voar para Utah para
fingir nosso casamento. Eu conto tudo para ele. Ele é a única pessoa em
quem confio na minha vida, então eu sei que ele não vai me decepcionar,
mas não há dúvida de que ele está me julgando bastante.

— Bem? — Pergunto depois que ele não diz nada.

— Hmm. Parte de mim quer dar-lhe um tapinha nas costas por ajudá-la
e fazer o que você acha melhor, enquanto a outra parte quer colocar algum
sentido em seu cérebro insignificante por até sugerir isso. Você sabe que
isso não vai acabar bem.
— Não terminaria bem de qualquer maneira, Hayden, — digo
honestamente. — Pelo menos desta maneira, seus pais não a deserdarão e
ela terá apoio para o bebê.

— Sim, e o que isso significa para você?

— Eu não estou preocupado comigo agora.

— Claramente. — Ele zomba. — Você está apaixonado por ela,


Hunter. Como diabos você pretende fingir? Quero dizer…

— Eu sei, — grito, não querendo dizer nada que Lennon possa ouvir. —
Eu devo a ela. Eu devo a Brandon. Isso não é sobre mim, eu prometo.

Depois de um momento de silêncio, ele suspira. — Ok, bem, desejo-lhe


o melhor. Só estou preocupado com você, mas você é um garoto grande,
então confio que você sabe o que está fazendo.

Eu sei o que estou fazendo? Cristo, eu espero que sim.

Conversamos por mais alguns minutos antes de encerrar a


ligação. Estou animado por ele e por Sav, mas parte de mim tem tanta
inveja que ele está com o amor de sua vida. Ele merece tudo, e mal posso
esperar pelo casamento. Quando eu era adolescente, vi-o se autodestruir
após o rompimento, e foi um sinal de alerta.

Não confie em mulheres.

Principalmente, eu não fiz. Foi-me provado uma e outra vez que elas te
mastigavam e cuspiam sem pensar duas vezes. Então Lennon entrou em
cena, e tudo mudou.

— Ei, se você tiver terminado, quero lhe mostrar uma coisa. — Lennon
chama do quarto.
— Sim, claro. — Eu grito.

Momentos depois, ela entra na sala usando um vestido na altura do


joelho que combina perfeitamente com ela. Eu não posso nem ver sua
barriga inchada por esse ângulo. Não, até que ela se vira para o lado que eu
realmente percebo que há uma elevação.

— O que você acha? Quero ter uma boa aparência, para que não me
façam cem perguntas sobre como me sinto sobre Brandon ou a
gravidez. Então, se eu parecer decente, eles assumirão que tudo está ótimo.
— Ela encolhe os ombros e vejo a tristeza em seus olhos.

Levantando-me, ando em direção a ela. Eu sorrio e aceno. — Você está


maravilhosa. Muito bom.

— Sim? Ok, obrigada. Eu preciso entrar no papel— Ela diz em um


gemido. — Agora que sou uma 'esposa' e tudo.

— Eu nem quero saber o que isso significa. — Eu balanço minha


cabeça, os nervos se estabelecendo sobre conhecer seus pais amanhã à
noite. Esta noite é a nossa última noite de normalidade - bem, normal para
nós - e então tudo vai mudar.

— Não, você não precisa, mas não esqueça de levar algumas roupas
elegantes. Você precisará deles para o jantar e para o que mais eles nos
arrastarem.

— Eu não vou.

— Ok, perfeito. Bem, vou trocar de roupa e usar roupas confortáveis,


para que possamos continuar olhando esses cartões e terminar de fazer as
malas.
Ela vai se afastar, depois para e se volta para mim. — Eu sei que já
disse isso um milhão de vezes, mas obrigada. — Lennon fecha o espaço
entre nós e passa os braços em volta de mim. Envolvo um em torno dela,
puxando-a para o meu peito e beijo o topo de sua cabeça.

— O que você precisar, Lennon. — Eu prometo.

— Oh, isso me lembra mais um favor... — Ela se afasta para que nossos
olhos se fixem e ela morde o lábio inferior.

Eu levanto minhas sobrancelhas, querendo que ela apenas diga. Neste


ponto, nada que ela pudesse dizer me chocaria.

— Vamos precisar dormir juntos hoje à noite.


Ok, exceto isso.
Capítulo Vinte e Três
Lennon
Hunter parece ter visto um fantasma. Ele dá um passo para trás,
passando a mão na nuca e apertando.
— Como?

Eu sei que ele me ouviu.

— Eu preciso que você durma comigo. Na cama. Juntos.

Sua garganta se move enquanto ele engole em seco. — Por quê?

Eu mastigo o interior da minha bochecha, torcendo meus lábios de um


lado para o outro. Eu odeio como estou constantemente pedindo merda a
ele.

— Versão rápida: espera-se que dormiremos na mesma cama na casa


dos meus pais.

Hunter estreita os olhos. — E eles vão estar olhando para ter certeza
disso? — Ele pergunta, sua voz nervosa.

— Pfft. Sério, não duvidaria disso, mas não. E a cama é apenas uma
full size29.

Seus olhos se arregalam, finalmente entendendo.

— Então, podemos querer uma noite de prática. — Puxo o ar para meus


pulmões. Ele me segurou naquela noite logo após a morte de Brandon, mas
isso foi diferente.
— Como diabos vamos caber em uma cama full size? — Hunter
levanta as sobrancelhas. Ele tem mais de um metro e oitenta de altura e o
dobro da minha constituição, então é uma pergunta muito boa.

— Uh, bem... estando muito, muito perto? — Eu faço uma careta,


encolhendo os ombros. — Eu diria que um de nós pode dormir no chão e
fazer um travesseiro extra, mas as portas não trancam para que eles
possam entrar a qualquer momento.

Ele inclina a cabeça, me estudando. — As portas não têm


fechaduras? Em que tipo de ambiente você cresceu?

Eu bato meus braços para cima e para baixo. — Eu te disse! Eles são
loucos! Eles queriam controlar tudo, o que significava falta de
privacidade.

— Isso é loucura, Lennon, — diz ele. — Existem câmeras no banheiro


que eu deveria saber também?

— Não! — Eu empurro seu braço. — Mas eu te avisei! Eu disse que


teríamos que fingir bem, porque eles se metem em tudo.

Ele pisca, dando um passo para trás. — Tudo bem, está tudo bem. Eu
farei o que for preciso. Mas se eu esmagar você e o bebê no meio da noite,
isso é com você. — Ele brinca.

— Ha-ha. Não vou pensar duas vezes em empurrar sua bunda da cama
— Aviso, brincando.

— Justo. — Seu tom é fraco, quase como se estivesse com dor. Eu


tenho pedido muito dele, mas assim que voltarmos desta viagem, as coisas
voltarão ao normal e poderemos esquecer que isso já aconteceu. Ou tentar.
Meu telefone toca no quarto, então eu digo para Hunter esperar e me
apresso para atender. Assim que vejo o nome de Sophie na tela, atendo
com um agradável olá.

— Você está bem? — Ela pergunta depois de um minuto.

— Sim, acho que sim. Estou ficando nervosa. Acho que quando
chegarmos e as notícias forem dadas, poderei relaxar um
pouquinho. Melhor ainda quando terminarmos. — Suspiro, afundando
meus ombros enquanto me sento na cama.

— Como está o Hunter? Vocês dois descobriram todos os detalhes? —


Ela quer mais informações, o que não me surpreende neste momento.

— Ah bem. Sim. — Hesito em dizer o que ela diz, mas ela é minha
irmã e eu conto quase tudo. — Nós praticamos o beijo.

— Sinto muito, o que você acabou de dizer? — Sophie quase sufoca as


palavras.

Reviro os olhos, sabendo muito bem que ela me ouviu. — Nós tivemos
que praticar! Temos que ser convincentes, o que significa agir e parecer
um casal de verdade.

Ela fica em silêncio por um instante, depois fala em um tom muito


alegre. — Com língua?

Riso me escapa e minhas bochechas esquentam. — Você é ridícula.

— Isso significa que sim, — diz ela com naturalidade. — Eu aposto


que ele também beija bem. — Ela suspira como se estivesse imaginando, o
que me faz rir. Hunter é um beijador fantástico. Foda-se a minha vida. —
Você gosta de Hunter? Porque eu não te culparia nem um pouco.
— Gosto de Hunter? — Eu repito, corando. — Estamos de volta ao
ensino médio? — Eu pergunto na defensiva.

— Isso não é uma resposta.

Eu gemo, não querendo ter essa conversa. As coisas estão ficando


complicadas, mesmo que eu não queira admitir. Na noite passada, depois
de irmos para a cama, tenho certeza de que ouvi Hunter se
masturbando. Parte de mim queria pressionar meu ouvido contra a parede
e ouvir, mas eu sabia que estaria errado. Ainda assim, isso não significava
que eu não estava intrigada, imaginando se ele estava pensando em mim
ou não.

E assim que esse pensamento passou pela minha cabeça, eu o empurrei.

— Não, claro que não. Tudo isso é fingimento, Soph.

— Hmm... mas é mesmo? — Ela pergunta em um tom


condescendente. — Eu vejo o jeito que ele olha para você. A maneira
como ele sempre olhou para você. Não há problema em admitir que você
está atraída por ele. Sei que você se sente culpada por causa de Brandon,
mas Hunter é um pedaço quente de carne de homem solteiro.

— Eww, — eu digo, rindo. — Por favor, nunca mais diga carne de


homem.

— Pare de se esquivar da pergunta, mana. — Eu ouço o sorriso em seu


tom sarcástico, mas não me permito pensar nessas coisas. Não posso.

— Gostar de Hunter, isso parece nome de uma campanha publicitária


para uma nova colônia masculina. — Eu bufo, esperando que ela deixe
isso pra lá.

— Inferno, deveria ser! — Ela ri. — O homem sempre cheira tão bem.
Tanta coisa para fazê-la esquecer o assunto.

— Bem, nós apenas estávamos passando por nossos cartões novamente,


e eu preciso terminar de fazer as malas. — Meu estômago ronca. — E
aparentemente o bebê está com fome de novo.

— OK, tudo bem. Vá alimentar minha sobrinha ou sobrinho e por favor


me mande uma mensagem quando puder. Vou ter um desastre nervoso
esperando ouvir de você. — Ela implora.

— Eu prometo! Está tudo bem por aí? — pergunto rapidamente. —


Você está evitando o furacão Carter?

— Sim e não. — Ela geme. — Estou pronta para dar um soco nele,
cortá-lo e depois servi-lo em uma bandeja para Maria.

— Isso é... bem gráfico. — Eu ri. — Bem, boa sorte. Se você quiser
ficar aqui enquanto estivermos fora, posso deixar uma chave para você.

— Ooh, talvez. Eu aviso você.

Minutos depois, encerramos a ligação, mas preciso de um momento


para me recompor antes de voltar para Hunter. As palavras de Sophie
permanecem na minha cabeça, meu coração dispara, e eu estou nervosa
por encará-lo depois do que ela disse.

Tudo isso é apenas fingimento, eu me lembro.

Quando estou bem, entro na sala com um sorriso estampado no


rosto. Pego os cartões da mesa da cozinha e sento no sofá ao lado dele,
esperando que ele não note o meu constrangimento.

— Onde eu cresci? — Eu pergunto, mantendo os olhos baixos.

Ele responde certo.


— De que escola eu me formei?

Certo novamente.

— Qual é o nome da igreja onde meu pai prega?

Certo mais uma vez.

Pergunto a ele pelo menos mais vinte - uma mistura de perguntas da


infância para coisas mais recentes - e ele responde tudo corretamente sem
pausa.

— Qual é a minha cor favorita? — Pergunto aleatoriamente, embora


não estivesse escrito nos cartões. Ele está tão bem jogo que quero jogar
um desafio para ele.

— Amarelo. — Ele responde, não tão confiante quanto antes.

— Por que você diz isso? — É uma pergunta complicada, já que eu não
tenho uma.

Hunter encolhe um ombro. — Você me faz lembrar os raios do sol,


então eu pensei que o amarelo era melhor para você.

— Eu faço? Como? — Pergunto, genuinamente interessada.

Ele balança a cabeça um pouco, torcendo os lábios quase como se


desejasse não ter dito nada, mas estou curiosa demais para deixá-lo fora do
gancho, então espero ansiosamente.

— Bem, quando você não estava zangada comigo, estava sempre rindo
e sorrindo, cantando e dançando. Você era o epítome de um raio de sol,
iluminando todos os cômodos em que entrava. Não foi difícil perceber, eu
acho. — Eu ouço a vulnerabilidade em seu tom enquanto nossos olhos
ficam trancados.
— Uau... — eu digo, piscando. — Acho que foi a coisa mais legal que
você já me disse. — Acho que o amarelo se tornou o meu favorito.

Antes que ele possa responder, meu estômago ronca... alto.

Suas sobrancelhas se apertam enquanto ele ri. — Esse som veio de


você?

— Sim. Aparentemente, o café da manhã não foi suficiente. — Eu coro.

— Bom momento para fazer uma pausa então. Acho que memorizei
seus cartões de qualquer maneira. — Hunter passa as mãos na calça jeans
e depois se levanta. — Quer que eu faça um almoço mais cedo para você?

— Que tal você me deixar fazer algo para variar? — Eu agarro seu
braço e o puxo de volta para me encarar. — Sério, eu posso.

— Uh, claro. Eu só estava tentando ajudar. — Ele enfiou as mãos nos


bolsos da frente. — Na verdade, não estou com muita fome, então vou
passar esse tempo. Vou para a academia por algumas horas, já que estou
cheio. — Hunter está tenso e gostaria de saber no que ele estava realmente
pensando.

— Oh, hum, tudo bem. Também estou quase terminando, então talvez
eu tire uma soneca depois de comer. —

Nós olhamos sem jeito um para o outro antes que ele se afaste e
caminhe para seu quarto.

Enquanto faço um sanduíche, penso em tudo o que preciso fazer


quando voltarmos da viagem. Ainda não contei aos pais de Brandon e não
tenho certeza de como fazer isso. A Sra. Locke me mandou uma
mensagem, me checando, o que eu aprecio. Espero que ela fique em êxtase
com as notícias, mas sinceramente, não sei. Ou ela ficará animada por ter
uma parte de Brandon conosco ou ficará muito triste e não quererá nada
comigo e com o bebê.

Enquanto estou sentada à mesa da cozinha, olhando por cima da pilha


de anotações que preciso memorizar, Hunter passeia vestindo suas roupas
de ginástica. Ele pega as chaves e a carteira e diz que voltará em algumas
horas. Nós dizemos adeus, e então ele sai.

Parece que chegamos ao estágio estranho de ter que fingir um


casamento e as coisas estão estranhas entre nós. Pedir a ele para praticar
beijos e dormir comigo provavelmente foi demais. Estou começando a me
preocupar com todos os meus pedidos.

A conversa com Sophie permanece na minha mente enquanto eu limpo


o apartamento. A culpa me consome ao pensar em quão próximos Hunter e
eu nos tornamos nos últimos meses, mas uma parte de mim acredita que
Brandon ficaria feliz por estarmos nos apoiando um no outro. Ele sempre
quis que a gente se desse bem, mas temo que tenhamos cruzado essas
linhas agora. Se Hunter e eu tivéssemos nos conhecido sob outras
circunstâncias - se ele fosse apenas o companheiro de quarto e não
tivéssemos compartilhado um momento no bar antes de conhecer Brandon
- todo o curso de nossa amizade teria sido diferente.

Hunter foi um idiota para mim porque ele pensou que eu roubei seu
melhor amigo? Ele ficou com raiva o tempo todo porque eu fiquei com
Brandon e não com ele?

Merda. Por que eu não tinha pensado nisso antes?

Hunter cuidando de mim, quase me implorando para ficar aqui,


sugerindo esse plano insano de ser meu marido falso...

E então me beijando assim.


Oh meu Deus.

A realização me bate com força total enquanto eu arrumo o


banheiro. Toda vez que ele me ouvia cantar, ele gritava para eu calar a
boca, e agora ele adora. Ele diz que Brandon gostaria que a gente se desse
bem, o que eu sei que é verdade, mas ele se esforçou para garantir que eu
esteja bem. Ele não trouxe uma garota para casa há meses ou sequer foi
aos bares sem mim.

Eu fui tão estúpida esse tempo todo?

***
Após Hunter chegar em casa da academia, três horas depois, ele toma
banho e passamos o resto da noite. Ele parece muito menos tenso, o que
facilita o constrangimento entre nós. Ele faz o jantar e conversamos sobre
os planos quando chegarmos a Utah. Eu disse aos meus pais que
alugaríamos um carro para que eles não tivessem que ir de carro para nos
pegar, mas isso era principalmente porque eu não queria fazer
apresentações no meio de um aeroporto movimentado.

— Então, se vamos dormir na mesma cama, você precisará usar oito


camadas de roupa. — Diz Hunter.

— Estou grávida de três meses e meio, então sim, isso não está
acontecendo, — provoco. — Eu sou um forno agora.

— Bem, eu não consigo dormir com roupas, então achei que um de nós
deveria.

Olho para ele no sofá, espaço suficiente entre nós para caber duas
outras pessoas. — Se for um problema, podemos pular isso. Quando
estivermos com meus pais, damos um jeito. — Eu me afasto para que eu
possa lavar meu rosto e me arrumar para dormir, mas Hunter segue atrás
de mim e pega minha mão antes que eu possa ir longe demais.

— Lennon, espere. — Ele me gira, então estamos nos encarando. —


Desculpe se eu estou sendo estranho sobre isso. É só que... — Ele faz uma
pausa e desvia o olhar por uma fração de segundo. — Você ainda é a
namorada de Brandon para mim, e estou tentando não cruzar nenhuma
linha.

Um pouco tarde para isso, quero dizer, mas penso melhor.

Concordo, querendo que ele saiba que eu entendo. — Acho que estamos
nesse ponto em que podemos admitir que as linhas ficaram borradas.

Seus olhos caem nos meus lábios, e então ele pisca como se não
pudesse se deixar ir até lá. Hunter, o colega de quarto idiota, já se foi, e eu
sei disso. Confio neste Hunter com a minha vida e posso ver que ele está
lutando consigo mesmo da mesma forma que eu.

Antes que ele responda, eu continuo. — As coisas estão prestes a ficar


muito complicadas por termos que estar mais perto e mostrar emoções um
pelo outro, e se colocarmos nosso passado em segundo plano, fingir que
ele não existe, e começar de novo como se só tivesse sido eu e você? — Eu
sei que isso soa horrível, e me sinto péssima até sugerindo, porque ainda
amo Brandon - sempre o amarei - mas essa é a minha nova
realidade. Desejo mais do que tudo que ele estivesse aqui para
experimentar isso comigo, mas ele não está, e eu tenho que fazer o que for
preciso para passar por isso.

— Você realmente quer isso? — Seus olhos perfuram através de mim,


me mostrando o quão difícil isso realmente é para ele, embora ele tenha
insistido em me ajudar.
Assentindo, eu respondo: — Sim. Eu acho que é a única maneira de
você e eu conseguirmos passar por isso sem sentir que está errado.

Sua garganta se move enquanto ele engole em seco. — Bom.

Quando eu estou pronta para dormir, aviso a Hunter para que ele possa
se juntar a mim no meu quarto. Ele entra vestindo calça de moletom e
camiseta, o que me faz abrir um sorriso. Eu sei com certeza que ele não
usa isso para dormir.

— Você vai morrer de calor com essas roupas. — Digo a ele,


deslizando sob as cobertas. Considerando que é início de julho, nós dois
vamos assar usando qualquer camada de roupa na cama.

— Eu vou ficar bem. — Ele caminha para o outro lado e move os


lençóis. Eu o sinto se movendo enquanto fico do meu lado, quase
abraçando a beira da cama, e encaro a parede como se essa não fosse a
festa do pijama mais estranha que já existiu.

Hunter se vira, afofando o travesseiro, depois para. — Uh... — Sua voz


permanece. — Lennon.

— O que?

Ele começa a rir, e quando eu me viro para encará-lo, meus olhos se


arregalam e meu coração cai.

— Oh meu Deus. — Minhas bochechas imediatamente ficam


vermelhas, igual beterraba e eu pego o vibrador de sua mão. — Isso não é
o que você pensa. Droga, Sophie!

Eu giro e empurro o brinquedo na minha mesa de cabeceira, esperando


como o inferno que ele não fale sobre isso. Eu me enterro de volta na
cama, fechando meus olhos com força.
— Esse é um bom massageador para costas que você tem. — Ele ri. —
Talvez queira encontrar um novo esconderijo, agora que sei onde fica.

— Ugh! — Eu bato meus braços sobre as cobertas e viro em direção a


ele. — O doce e carinhoso Hunter pode voltar agora, por favor? Isso é
constrangedor, e eu já estou nervosa por você estar aqui.

Seu rosto cai quando ele olha para mim. — Ok, me desculpe. — O
menor sorriso aparece em seu rosto, me fazendo revirar os olhos. Ele sabe
muito bem que era um vibrador, que eu tenho usado regularmente para
aliviar o estresse e a tensão.

Eu me inclino para a mesa de cabeceira e apago a lâmpada. — Boa


noite, Hunter.

Em algum momento no meio da noite, ouvi Hunter tirar suas


roupas. Eu ri, sabendo que estava certa. Ele volta e, minutos depois, seu
braço serpenteia em volta da minha cintura. Eu deveria afastá-lo, mas
quando ele fecha a lacuna entre nós e o calor de sua pele me atinge, não
posso negar o quão bom é ser segurada novamente.

Adormeço e, quando meus olhos se abrem ao som de um profundo


gemido agonizante, percebo a luz do sol espreitando através das
cortinas. É manhã.

Quando eu rolo, Hunter está enrolado em uma bola, assobiando por


entre os dentes.

Que diabos?

— Você está bem? — Eu pergunto, sentando-me. Estranhamente, me


sinto muito rejuvenescida. Hunter me segurou a maior parte da noite e, em
algum momento, nos mexemos, e eu descansei minha cabeça em seu
peito. Eu podia ouvir seu coração batendo e me senti protegida a noite
toda.

— Não. — Ele geme. — Seu joelho... — Ele arfa, piscando. — No meu


pau

— Eu fiz? — Eu suspiro, colocando a mão em seu ombro. — Oh meu


Deus. Eu sinto muito.

— Apenas... me dê um segundo. — Sua cabeça cai quando ele segura


sua virilha.

Deslizando para fora da cama, eu ando para o lado dele e assisto a


agonia tomar conta. Merda, me sinto horrível. Eu nunca chutei o pau do
Brandon antes, então não sei como consegui chutar o dele.

Depois de cinco minutos, ele finalmente relaxa e libera uma respiração


aliviado. — Eu pensei que ia morrer.

— Hunter, eu...

— Vai me matar? — Ele levanta as sobrancelhas, fingindo se divertir,


embora eu saiba que ele não está.

Eu brinco. — Eu sinto muito! Não sei como isso aconteceu. Acho que
me mexo um pouco no sono.

— Bem, eu estava tentando deslizar por baixo das suas pernas, e seu
joelho foi direto para o meu pau.

Meus olhos se arregalam, percebendo por que minha mira foi tão
boa. Nós nos aconchegamos a noite toda. Então eu percebo - madeira da
manhã. Eu me encolho, sabendo que tinha que doer como uma cadela.
Hunter se levanta, e eu o encaro, desejando que meus olhos fiquem
focados em seu rosto e não no fato de que ele está afim de usar sua
cueca. — Bem, é melhor eu arrumar uma xícara para o meu pau, para que
você não me machuque em Utah.

— Ok, agora você está apenas tentando me fazer sentir mal. — Eu rio,
seguindo-o pela porta.

— Temos que sair em duas horas, — ele me lembra. — Eu vou fazer


café da manhã e tomar banho, a menos que você queira ir primeiro?

Eu quero comentar o fato de que tomou banho ontem à noite após o


treino, mas eu não faço isso. Espero que dormir comigo não seja uma
tortura para ele, mas isso não significa que não estou pensando em levar
meu vibrador comigo para liberar toda a tensão acumulada.

Ugh. O pensamento me faz sentir culpada como o inferno.

Não, eu me lembro. Eu não posso deixar isso me consumir agora. A


amizade de Hunter e descobrir que eu estava grávida do bebê de Brandon
foram as únicas coisas que me mantiveram à tona. Tenho certeza de que já
teria me afogado de dor se o bebê não existisse. De certa forma, nosso
filho me salvou de cair em uma depressão profunda.

Além de machucar Hunter, dormir com ele parecia mais natural do que
eu previa. Talvez seja porque eu estava tão acostumada a ter Brandon perto
de mim que parecia certo ou que eu estava tão sozinha sem ele aqui. De
qualquer maneira, compartilhar uma cama pode não ser tão ruim quanto eu
pensava.

— Você tem tudo? — Hunter pergunta depois que tomamos banho e


terminamos de nos arrumar, puxando uma mala atrás dele. — Vou fazer
uma viagem até a caminhonete e colocar tudo na traseira. Então podemos
ir.

— Sim. Deixe-me pegar minhas malas.

— Malas? — Ele pergunta, arqueando as sobrancelhas. — Você sabe


que ficamos apenas três noites, certo?

— Sim, — eu digo. — Eu tive que pegar sapatos e algumas roupas


diferentes.

Balançando a cabeça, ele ri. — Mulheres.

Depois que ele carrega tudo, olho em volta para ter certeza de que não
esqueci nada, mas sei que uma parte de mim está apenas
hesitando. Quando deixarmos este apartamento, estaremos realmente
fazendo isso. Nós estaremos indo para Utah como um casal.

— Você está pronta? — Ele pergunta, parado na minha frente com um


sorriso.

Inspiro profundamente e sorrio. — Pronta como sempre estarei, eu


acho. — Dou de ombros, os nervos me atingindo com força.

Hunter levanta a mão, esfrega minha bochecha e enfia mechas de


cabelo atrás da minha orelha. — Eu estarei aqui por você, não importa o
quê. Você sabe disso, certo?

Meus olhos começam a lacrimejar porque eu sei. Assentindo, me


inclino em seu toque e expiro. Envolvo meus braços em volta de sua
cintura e o puxo para um abraço. O pego de surpresa, mas ele relaxa e me
abraça de volta.

— Obrigada. Não sei como vou te pagar por isso. Não posso agradecer
o suficiente por... apenas estar aqui. Me segurando. Sendo meu melhor
amigo.

Tento expressar o que estou sentindo, sabendo que as coisas estão


prestes a ficar realmente intensas, mas preciso que ele saiba que o aprecio
mais do que as palavras podem descrever. Muita coisa mudou nos últimos
três meses, e admitir que ele está sendo um dos melhores amigos que já
tive, deixa meu coração acelerado.

— Qualquer coisa, Lennon. — Ele me aperta antes de se afastar. — Eu


vou fazer qualquer coisa por você. Eu não estou indo a lugar
nenhum. Você, o bebê, eu. Seremos uma família improvisada e não me
importo com o que alguém diz sobre isso.

Eu sorrio para ele nos chamando de família. — Você sabe que eu estou
muito emocional agora? — Eu rio com lágrimas nos meus olhos quando
meu olhar cai em sua boca.

Ele ri da minha admissão, depois pressiona um doce beijo na minha


testa como se fosse selar sua promessa.

Uma batida na porta interrompe nosso momento. Com alguns minutos


de folga antes de sairmos, Hunter atende. Sophie e Maddie sabem que
estamos voando hoje, então duvido que sejam elas. Provavelmente é Liam
ou Mason. Ainda não tenho certeza se ele contou para eles ou não.

Seguindo-o, Hunter abre a porta e meu coração para quando vejo que é
a garota que passou o fim de semana com ele antes de Brandon
morrer. Aquela que usava minha maldita camisa. Ugh.

— Jenna. — O tom de Hunter implica que ele está tão surpreso em vê-
la quanto eu. — O que você está fazendo aqui?
A garota tem a coragem de olhar para mim e fazer uma careta. Essa
cadela pode ir se foder.

— Você não me deixou escolha, Hunter. Estou telefonando e mandando


mensagens para você há semanas sem resposta, — ela diz acusadoramente,
e minha mente volta às poucas vezes em que o vi recusando suas
ligações. — Nós precisamos conversar. Particularmente. — Seus olhos se
voltam para os meus por um segundo antes de voltar para Hunter.

Ele cruza os braços sobre o peito, sem se mexer. — Não tenho tempo
para isso. Estamos prestes a sair.

— Vai demorar dois minutos, — ela persiste. — Sozinhos.

— Ela não vai a lugar nenhum, — ele retruca. — Tudo o que você
precisa dizer é só dizer, porque realmente precisamos ir.

— Tudo bem, como queira. — Ela encolhe os ombros, deslocando o


corpo para o ângulo certo onde eu percebo o quão apertada sua blusa se
encaixa.

Oh meu Deus.

Sinto meu café da manhã subindo quando vejo seu estômago inchado.

— Estou grávida.
Todo o sangue escorre do meu rosto enquanto eu encaro sua barriga que
parece ser tão grande quanto a minha. Hunter acabou de nos chamar de
família, e agora... ele está tendo um bebê. Com ela.
Playlist
Noites de Malibu | LANY

Lay by Me | Ruben

Mina de bebê | Alison Krauss

Deusa Cobi

Fique bem | Dean Lewis

Você é a razão | Calum Scott

See You Again | Chalie Puth, Wiz Khalifa

Otário irmãos Jonas

Deveria ter sido nós | Travis Atreo


Aqui
Sobre as Autora
Brooke Cumberland e Lyra Parish são uma dupla de autoras de romance
que se uniram sob o pseudônimo do USA Today, Kennedy Fox. Elas
compartilham o amor de Você tem correio e férias. Quando não estão
ligadas a comédias românticas, gostam de debater novas idéias de
livros. Um dia, elas decidiram colaborar com um pseudônimo e se divertir
criando novos personagens que farão você corar e seu coração derreter. Se
você gosta de histórias de romance com machos alfa tatuados e sexy, e
mulheres inteligentes, peculiares e independentes, um livro da Kennedy
Fox é para você! Elas estão ansiosos para trazer a você muitas outras
histórias para se apaixonar!
Uma Nota da Autora
Ei pessoal, Brooke aqui!

Muito obrigado por iniciar esta jornada conosco e ler a história da


Hunter & Lennon! Tivemos um ótimo feedback sobre as primeiras críticas
e não podemos dizer o quanto estamos empolgados em apresentar o
restante da história em breve!

Eu queria lhe dar algumas dicas sobre o que escrever essa história
significou para mim. Você pode ouvir muitos autores falando sobre o que
os inspira e como é terapêutico. Definitivamente, posso lhe dizer que foi
uma jornada emocional para mim - como espero que também fosse para
você - e como isso me ajudou a resolver alguns problemas pessoais
difíceis.

Meu marido sofreu um terrível acidente de moto há oito anos. Abalou o


meu mundo e o da minha família, como você provavelmente pode
imaginar. Ele mal conseguiu sair vivo e acabou precisando amputar a
perna direita. Até hoje, ele sofre de dor fantasma crônica e não consegue
voltar ao trabalho. Temos uma filha de oito anos juntos e, embora ele não
possa ser fisicamente ativo, ele ainda está muito presente em nossas vidas,
e sou muito grata pelo hospital médico que salvou sua vida.

Com isso dito, evitei livros com motocicletas por anos. Eu não
conseguia pensar nisso na minha vida ficcional quando é a minha
realidade. Quando Lyra e eu conversamos sobre essa história e os eventos
que aconteceriam, sugeri bravamente que Brandon morresse em um
acidente de moto. Eu sabia que estava na hora; hora de parar de deixar que
a dor e o medo controlem esses sentimentos. Eu sabia que a única maneira
de fazer isso seria fazer o que eu sei melhor - escrever. Eu precisava
escrever esses capítulos, despejar esses sentimentos e ansiedade em mim
em um mundo fictício, para que parassem de me sobrecarregar no mundo
real.

O acidente de Brandon aconteceu semelhante ao do meu marido, exceto


que sua vida foi poupada. Meu marido foi atropelado por uma grande
caminhonete de trabalho que não o viu, voou da moto e caiu em uma
vala. Ele estava usando seu capacete, ele tem um metro e oitenta e dois
centímetros de altura (um cara grande, sim) e o lado direito do corpo
sofreu o impacto do golpe. Ele teria sangrado até a morte se uma mulher
que era enfermeira não parasse e aplicasse pressão em sua ferida no
pescoço. Sua perna estava sangrando, o tornozelo machucado ao entrar em
contato, e ele estava em choque - tentando insistir que podia se levantar e
andar e estava bem. (Choque é uma coisa engraçada assim).

Lembro-me tão vivamente do dia, porque era como qualquer outro


dia. Um domingo para ser exato, em meados de julho. Era uma tarde
quente e ensolarada. Levei nossa filha de oito meses para almoçar com um
amigo. Lembro que disse a ele que o amava - como sempre trocávamos -
antes que ele partisse para um passeio de alegria. Ele não iria embora por
mais de duas horas.

Era menos do que isso quando o xerife me encontrou em um


restaurante. Ele foi à minha casa e meu pai estava lá, que lhe disse onde eu
estava. Meu pai acelerou o caminho inteiro com o xerife nos calcanhares,
certificando-se de que ele não batesse no caminho para mim. Não éramos
casados na época, mas estávamos noivos. Nós estávamos juntos por 2,5
anos neste momento. Eu tinha 23 anos.
O xerife me disse: Ele sofreu um grave acidente de moto. Ainda não
conheço os detalhes extensos ... simplesmente perguntei se ele estava
vivo. Ele respondeu: Ele estava vivo quando o levaram para a vida
toda. Isso é tudo que eu sei.

Eu estava apavorada. Chocada. Meu corpo inteiro ficou dormente.

O hospital médico ficava a quarenta e cinco minutos. Meu pai me levou


enquanto minha tia assistia nossa filha. O tempo parou. Liguei para a
família dele, sem realmente saber nada, mas precisava me manter
ocupada. Eu precisava que eles soubessem, caso minha próxima ligação
fosse para ele que ele não conseguiu.

Eles estavam a momentos de levá-lo para a cirurgia quando cheguei. Eu


o vi por menos de cinco segundos, seu corpo brutalmente atacado. Mais
uma vez, fiquei em choque. Você nunca acha que isso vai acontecer com
você. Você nunca imagina em sua vida que isso será sua realidade. Meu
pai me disse para dizer que eu o amava, o que eu amava, mas não consegui
expressar as palavras. Assim que respirei, as lágrimas derramaram e eu
disse a ele que o amava antes que o levassem para a cirurgia.

Eu não descobriria nada por seis horas. Até então, a sala de espera
estava inundada de membros da família, todos eles dirigiam mais de 2
horas em pânico, sem saber. Eu não tinha nenhuma notícia para dar a eles,
exceto que eles estavam tentando reconectar o tornozelo. Seu pescoço
tinha um grande corte, eles foram capazes de parar o sangramento. Um de
seus pulmões entrou em colapso, ele quebrou a escápula direita, os
vertebrados C3 e L7 nas costas, e eles conseguiram recolocar o tornozelo,
mas 24 horas depois, não havia sangue no pé e tivemos que tomar a
decisão de amputar para prevenir qualquer infecção fatal. Ele ficou em
coma médico por dez dias. Foi o maior tempo que não fomos capazes de
falar um com o outro. Comemoramos os passos do bebê - um aperto de
mão, um olho se abrindo lentamente, suas estatísticas permanecendo
firmes. E então choramos durante os pontos baixos - não poder usar uma
perna protética, ser diagnosticado com diabetes, sabendo que não há cura
para a dor fantasma.

Como você pode ver, essa foi uma época da minha vida que moldou
meu futuro. Dois anos depois, comecei a ler romance novamente, o que me
levou ao meu amor por escrever. Eu precisava de uma tomada, algo para
evitar a realidade um pouco. Sempre gostei de escrever, muitas vezes
preenchi diários e cadernos, mas nunca tentei escrever um livro
antes. Sofri com ansiedade e depressão devido às consequências do
acidente de mudança de vida do meu marido. Ele continua a nos afetar
hoje, provavelmente para sempre. É tudo que minha filha sabe. Seu pai
não anda e ela entende isso desde tenra idade.

Embora ele tenha sido um dos sortudos e tenha sobrevivido, eu ainda


sofro. Lamentamos a vida que tivemos, a que deveríamos ter, a que não
conseguimos mais viver. O luto acontece de maneira diferente para todos e
Hunter & Lennon não são diferentes na maneira como lamentaram a morte
de Brandon. Encontrar consolo um no outro e as ondas de tristeza que os
atinge.

Então, por que estou despejando tudo isso para você? Porque eu
quero agradecer por me dar um lugar seguro para criar histórias, despejar
partes de mim e nelas por ler! Obrigado por me permitir usar este livro
como uma maneira terapêutica de contar partes de nossa história através
de um personagem fictício. Sei que as coisas podem ser piores, sei que
poderíamos tê-lo perdido para sempre e que minha filha teria que crescer
sem um pai. Sou muito grata pelo que temos e por ele estar aqui hoje. Ele
é seriamente meu maior fã e mais forte equipe de suporte, entendendo as
longas horas, meu rosto constantemente colado na tela do computador e
quando não posso começar o jantar até às sete da noite.

Para qualquer um dos nossos leitores que andam de moto ou têm


familiares e amigos que o fazem, esteja seguro lá fora. Muitos motoristas
não veem você (ele já teve alguns telefonemas antes mesmo do acidente) e
eu sei em primeira mão o quão devastador pode ser quando há notícias de
um acidente. Houve muitos na minha comunidade devido a motoristas
bêbados, direção imprudente e pontos cegos.

Lembre-se de sempre dizer aos seus entes queridos que você os


ama. Você nunca sabe quando pode ser a última vez.

Obrigado pela leitura!

-Brooke

Olá a todos!

É Court / Lyra / Fox. Veja o que eu fiz lá?

Muito obrigado por baixar o Baby Mine e nos arriscar. Somos


eternamente gratos. Seu apoio nos permite fazer o que mais amamos -
escrever. Veja, Brooke mencionou deixar uma nota no final do livro e,
honestamente, é um ato difícil de seguir. RI MUITO. E eu sempre quero
fazer piadas em vez de ser completamente séria ... estudo de caso 1.

Mas com isso dito, vou ser 100% honesta e dizer que este livro quase
me quebrou. Planejamos escrevê-lo em outubro de 2018, há 6 meses. Nós
nos esforçamos bastante para fazê-lo, pensávamos que estávamos
adiantadas pela primeira vez e depois tivemos duas longas semanas de
reescritas intensas e inesperadas. Foi um trabalho árduo, embora escrever
um livro seja sempre um trabalho árduo, mas essa história era
diferente. Foi especial. Foi pessoal. Há três anos, Brooke me disse que
nunca escreveríamos livros com motocicletas. Então, quando ela sugeriu
que escrevêssemos isso, eu concordei, sabendo que ela estava pronta. Era
importante para ela. Para nós.

Depois que a cena do acidente foi escrita, eu tive que escrever a cena
do funeral. Existem apenas dois livros dos 20 + que escrevi que me
fizeram chorar ao escrever ... este foi o segundo.

Morte e tristeza são uma coisa engraçada. Não sabemos quando isso
acontecerá. Nenhum de nós viverá para sempre, mas você nunca espera
perder alguém que significa o mundo para você. Isso deixa um buraco no
seu coração e há momentos em que a dor o atinge com tanta força que
você a perde completamente. A cena do funeral foi difícil de escrever,
porque recentemente perdi alguém com quem me importava muito e o
coração não esquece. Até hoje, ainda é muito difícil para mim sentir o
cheiro de flores frescas, porque isso me lembra de estar na funerária. Traz
de volta muitas memórias. Há partes de mim que curaram, mas outras
ainda estão cruas. Veja, este é o ponto em que quero começar a fazer
piadas, mas sei que estamos falando sério, então não vou. A realidade é
que, como escritores, costumamos escrever o que não sabemos, mas há
momentos em que nos aprofundamos e escrevemos coisas que são tão
pessoais para nós que o pensamento nos afasta do nosso eixo. Nós nos
permitimos sangrar na página e deixar tudo sair uma palavra de cada vez.
Baby Mine tem pepitas e capítulos completos de nós, de nossas lutas,
preocupações e tristezas. E não estamos dizendo isso por pena, é para que
você entenda melhor por que essas cenas são tão poderosas para ler, por
que elas atraem emoções tão profundas. É porque é pessoal para nós e
estamos muito agradecidas por você ter nos permitido compartilhar isso
com você. Eu nunca posso dizer obrigado o suficiente.

A garota com muitos nomes,

Court / Lyra
Notas

[←1]
É uma posição do futebol americano.
[←2]
California State University.
[←3]
Cerveja americana.
[←4]
Marca de chantilly.
[←5]
Música dos Beatles.
[←6]
Bolo de carne.
[←7]
Música do filme A Canção do Sul, produzido pela Disney.
[←8]
Similar a nota — 10— aqui no Brasil.
[←9]
Tipo de vinho.
[←10]
Fundador e editor-chefe da revista erótica Playboy.
[←11]
Olá, linda.
[←12]
Navio do amor.
[←13]
Um dos tipos de posições do yoga.
[←14]
Drinque composto por uísque Jack Daniel’s e Coca-Cola.
[←15]
É um coquetel não alcoólico, tradicionalmente feito com ginger ale (refrigerante), um
toque de groselha, e decorado com uma cereja marrasquino.
[←16]
Comida rica em calorias.
[←17]
Sul da Califórnia.
[←18]
Produto de limpeza.
[←19]
Maior livraria varejista dos EUA.
[←20]
Fofoqueiros se dão mal.
[←21]
Remédio para tosse que pode causar sono.
[←22]
Licor não alcoólico utilizado em coquetéis.
[←23]
Canal culinário.
[←24]
É uma marca e personagem fictício usado em campanhas publicitárias de alimentos e
receitas.
[←25]
Personagem do desenho — Family Guy— (Uma família da pesada). Seu nome é uma
piada com o termo “buzz kill” , que significa “ estraga-prazeres” .
[←26]
Biscoito recheado pré-cozido.
[←27]
Canal de TV.
[←28]
Batata frita vendida em um tubo cilíndrico.
[←29]
Cama apenas um pouco maior que a de solteiro.

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