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TÍTULO

Entre Sombras e Esperanças: como superei os abusos sexuais infantis e porque desisti do
suicídio

SUBTÍTULO
Descubra como é possível vencer o trauma de sofrer abuso sexual durante a infância, bem
como extrair crescimento e aprendizagem positiva quando mais nada na vida faz sentido.
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SUMÁRIO

TÍTULO.................................................................................................................................... 1
SUBTÍTULO.............................................................................................................................1
SUMÁRIO................................................................................................................................ 2
DEDICAÇÃO........................................................................................................................... 3
AGRADECIMENTOS...............................................................................................................5
PREFÁCIO...............................................................................................................................6
PRÓLOGO............................................................................................................................. 13
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 18
PERGUNTAS MAIS FREQUENTES..................................................................................... 22
1. FILA DO BANCO...............................................................................................................27
2. NASCIMENTO DAS PRISÕES..........................................................................................32
3. “SÓ UM BEIJO”................................................................................................................ 36
4. PERIGO DENTRO DE CASA............................................................................................ 48
5. LAR ÀS AVESSAS............................................................................................................ 54
6. SILÊNCIO ENSURDECEDOR...........................................................................................64
7. TRIBADIA.......................................................................................................................... 72
8. PRIMÓRDIOS DA DELINQUÊNCIA................................................................................. 85
9. COMPORTAMENTO DISRUPTIVO...................................................................................95
10. QUASE MORTE................................................................................................................ 1
11. ENFERMIDADES MISTERIOSAS..................................................................................... 1
12. PRIMEIROS LENTOS PASSOS COM DEUS................................................................... 1
13. “VAMOS VER SE ELA É MESMO UMA MENINA”.......................................................... 1
14. CASTRAÇÃO HUMANA.................................................................................................. 1
15. CONCLUSÃO.................................................................................................................... 1
16. POSFÁCIO........................................................................................................................ 1
P.S............................................................................................................................................ 1
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DEDICAÇÃO

Ao supremo Deus, o Todo-poderoso.

Aos meus pais N. J. S. e M. M. T. S.

Às minhas amigáveis avós, P. C. S. e C. M. T.

Aos meus familiares e amigos que sempre me mantiveram nas vossas orações e por nunca
terem desistido de mim. Cito especialmente:

● Família Reis (ES) ● Ana Emília (ES)


● Família Câmara (ES) ● Joyce D. S. (ES)
● Família Stein (ES) ● T. F. R. L.
● Família Cardoso (MG/ES) ● Família Guimarães
● Família Lugon-Moulin (ES) ● Família Piontkovsky
● J. T. S. (ES) ● Família Schettini
● K. C. (MG/ES) ● Eny (Brasília)
● M. D. (ES) ● Ciolin (Portugal)
● Pr Manoel e Zeny Z. (ES) ● Luciana (RJ/Portugal)l
● Pr Ronaldo (ES) ● Cíntia (RS/Portugal)
● Pr Oswaldo Jr (ES) ● Selma (SP)
● Pr Rogério e Julia N. (ES) ● Pb Antônio e Eliana Ortiz (SP)
● Eliane M. (ES) ● Luis C.C. (SP)
● Helvênia (ES) ● Daniel L. P. (SP)
● Agemiro (ES) ● Arnaldo Neto (mundo)
● Marta (ES) ● Kelli Angelini (SP)
● Jaci (ES)

Assim diz o Senhor Deus de Israel:


Escreve num livro todas as palavras que te tenho falado.
(Jeremias 30:2)
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AGRADECIMENTOS

Seria uma ingratidão imensurável se eu não demonstrasse meus sinceros agradecimentos


às pessoas que contribuíram para que tornasse possível o meu novo nascimento,
transformação do meu caráter e mudança da minha personalidade.

Por mais difícil e incompreensível que seja dizer isso, eu também não poderia deixar de
incluir nesta lista, as pessoas que me molestaram sexualmente durante a minha infância,
juventude e fase adulta, bem como àqueles que frequentemente me disseram “Ela não tem
jeito mesmo”. Se não houvesse a participação delas em minha vida, certamente eu não
teria amadurecido e nem conseguido encontrar a cura para as minhas feridas,
especialmente quanto à rejeição, discriminação e isolamento que sofri.

Também sou grata ao médico que extraiu determinados órgãos do meu corpo, cujas
consequências foram as mais terríveis que nunca imaginaria viver, as quais estão vívidas
mesmo após 17 anos. De qualquer forma, essa cirurgia também foi uma dos mecanismos
que eu usei para encontrar a cura para a minha mente, remodelação do meu carácter,
reconstrução da minha personalidade e ressignificação da minha vida.

Por fim, desejo expressar meus sinceros agradecimentos sobretudo e acima de qualquer
coisa ao Criador, o Deus todo-poderoso, que, se não fosse o seu amor, paciência e
insistência para comigo, eu jamais teria chegado ao patamar espiritual, comportamental e
emocional que eu me encontro. Graças dou ao Senhor porque:

[...] todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus,
daqueles que são chamados segundo o seu propósito. (Romanos 8:28)

“Deus, o Senhor me mostrou as maravilhas existentes nas situações mais


destrutivas que me sobrevieram. Tu és o meu maior referencial de completude”.
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PREFÁCIO

Estamos no início do ano de 2009 e Jaqueline tem 22 anos. Durante a juventude, a sua vida
se resumia basicamente em acordar às 5:40h ao som do despertador do celular e já se
apresentar meio emburrada por ter que levantar cedo da cama.

Em seguida vai ao banheiro, onde lava o seu rosto, urina e escova os dentes. Em seguida
ela troca de roupa em que sempre usa o mesmo tipo de peça: combinação de saia e blusa
ou um vestido. Afinal ela é evangélica de uma igreja relativamente rígida quanto aos usos e
costumes.

Depois, passa repelente nas pernas e braços, pois há muito mosquito na região onde seus
pais moram e um pouco de hidratante no rosto, pois tem a pele muito, na verdade,
extremamente ressecada. Afinal ela extraiu alguns órgãos do seu corpo, o que lhe causou
várias sequelas, dentre elas o envelhecimento precoce e pele extremamente desidratada e
flácida.

Após se aprontar vai correndo à igreja faltando um ou dois minutos para começar o culto
das 6h da manhã. Estão presentes alguns poucos membros, mas quase sempre os seus
pais e irmã mais velha marcam presença.

Após o término da cerimônia — cerca de 15 a 20min de duração —, Jaqueline volta para


casa com seu pai e sua mãe. Já sua irmã, se adiantou bem antes dos três para correr para
o seu serviço que começa às sete.

Jaqueline não toma café da manhã com seus pais, mas come apenas uma banana com um
pouco de água e vai à academia fazer musculação. Ela troca de roupa novamente, em que
tira a roupa mais comportada que estava usando e veste outras bem sensuais e coladas ao
corpo, mas para disfarçar as curvas dos seus quadris, ela vai de saia até a academia. Ela
anda aproximadamente 900 m e durante o trajeto ela vê que a sua vida não faz sentido
algum.

“De quê adianta ficar malhando o meu corpo e ter uma beleza que chama a atenção por
onde eu passo se nada na minha vida faz sentido algum!? Se eu morrer hoje, sei muito bem
que fogo e enxofre estarão à minha espera. Estou saturada desta vida que eu levo”,
frequentemente costuma Jaqueline pensar durante este trajeto enquanto caminha só.
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Ao chegar ao vestuário, ela tira a saia, guarda-a na mochila e coloca-a no guarda-volume.


Sobe as escadas empinando a sua bunda grande e cabelos longos soltos para que todos a
exaltem com seus olhares. Ela amarra os seus cabelos e inicia o seu aquecimento na
esteira para depois começar a puxar ferro nos aparelhos de musculação ao alto e bom som
de música eletrônica. Apesar de se considerar evangélica, no fundo Jaqueline gosta desse
estilo de música.

Durante as pausas, enquanto seca o suor da testa, ela aproveita para olhar o seu corpo
escultural e musculoso nos espelhos da academia e pensa ansiosamente no momento de
enfim se casar e poder perder a sua virgindade com a primeira relação sexual. Afinal ela é
crente e escolheu ter a sua primeira noite com um homem após casar-se.

Mas mesmo sendo virgem, Jaqueline guarda muitos segredos e podridões do passado
relacionados à sua vida sexual. Ela não sabe o que fazer com eles. Para ela, o melhor é
continuar a acobertá-los e tentar não lembrar de nenhum deles. Porém, mal imaginava ela
que nos próximos anos, todos os seus pecados viriam à tona.

Após finalizar os seus exercícios — cerca de uma hora depois —, volta ao vestuário para
colocar a sua saia. Ela percebe que os demais frequentadores consideram estranho o seu
hábito de entrar e sair da academia de saia, mas ela ignora todos. Afinal, Jaqueline é crente
e não podia jamais imaginar que alguém da igreja onde congrega a visse com roupas
indecentes. Seria um verdadeiro fiasco não só para ela como para a sua família.

Ela evita beber muita água quando está na rua, pois não quer correr o risco de urinar na
roupa e em local público, consequência de cirurgia que ela havia feito três anos atrás.
Inclusive tossir ou espirrar, tornou-se um pesadelo para ela, pois quase sempre lhe é
necessário pôr a mão nas suas partes e pressionar a sua uretra para não deixar escapar
um jato de urina.

Jaqueline retorna da academia por volta das nove horas. Ela toma banho, lava os seus
cabelos compridos, coloca uma bermuda, passa mais repelente e toma o café da manhã
com a sua mãe, sendo que esta come pela segunda vez, fazendo com que esteja um pouco
acima do peso.

Geralmente geralmente duas fatias de pão integral com queijo, leite com achocolatado e
uma fatia de bolo. Em seguida, ela mal fala com a sua mãe, pois se tranca no quarto.
Jaqueline está desempregada.
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Ela fez várias entrevistas, passou em várias etapas, mas acabou reprovando em todas. Ela
também tentou uma prova para o mestrado em engenharia ambiental na Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES), mas foi indeferida na entrevista. Ela está bem
desmotivada, uma vez que não possui nenhum tipo de meta ou objetivo em sua vida bem
definidos.

Mesmo porque ela ainda não superou o fato de terem extraído determinado órgãos dela,
causando-lhe sequelas que lhe causam dor em seu corpo, mas sobretudo em sua alma.
Jaqueline não tem amor a si mesmo e muito menos ao próximo, tanto que o desejo de
morte e até mesmo de tirar a própria vida não lhe saem da cabeça.

Por volta de meio-dia, ela ouve o barulho da moto e o portão da garagem se abrir: era o seu
pai chegando para almoçar. Jaqueline e seu pai se davam muito bem, apesar do mau
comportamento que ela sempre apresentou e também pelo fato de estar frequentando uma
academia. Isso porque seu pai deixou bem claro que ele reprova a decisão que ela tenha
tomado de malhar, mesmo que tenha sido por prescrição médica.

Geralmente, Jaqueline ajuda sua mãe a organizar a mesa para as refeições: coloca os
pratos virados para baixo para não cair nenhuma sujeira dentro, depois segue com a
arrumação dos talheres e descansos de panela. Almoçam juntos sempre os três: seus pais
e Jaqueline.

Trocam poucas palavras. Há tristeza no ar, mosquitos picando-os e muito calor em quase
todos os meses do ano. Eles representam um perfeito exemplo de família triste e desunida.
Mas são… crentes.

Ela gosta muito de comer verduras, saladas e um pedaço de carne, mas não liga para o
arroz e feijão feitos pela sua mãe, pois acha o sabor e modo como são preparados,
bastante sem graça.

Após a refeição, todos os três comem um pedaço de doce de leite. Jaqueline levanta da
mesa e quase nunca ajuda a sua mãe com nenhuma das atividades domésticas, o que
causa uma imensa tristeza a sua mãe por ter que fazer tudo praticamente sozinha.

Afinal, Jaqueline afirma consigo mesma que essa obrigação é da sua mãe e não dela. Pior,
Jaqueline afirma consigo mesma que não pediu para nascer e muito ter inúmeros
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problemas de saúde. “Quem dera se a minha mãe tivesse abortado quando ela sofreu
aquele acidente doméstico”, pensou Jaqueline enquanto escova os seus dentes.

Às treze horas, já com os dentes limpos, Jaqueline passa a tarde quase que inteiramente
vendo filmes inúteis e navegando na internet. Muitas vezes em silêncio ele fica ruminando a
raiva que sente por não ter um emprego, não ter um namorado, pelas consequências da
cirurgia ou mesmo no mínimo um ar condicionado em seu quarto.

Jaqueline também passa boa parte do seu tempo refletindo sobre o seu passado obscuro.
Não sabe o que fazer com ele. Volta e meia ela sente uma escuridão tomar conta do seu
quarto. Ela guarda muitos ressentimentos e segredos bastante perversos e sufocantes. Ela
está mergulhada numa profunda dor interna.

Ela odeia a sua mãe e irmã que juntas formam uma panelinha dentro de casa. Seu pai
sempre apoia Jaqueline, mas pelo fato dela sempre ter sido muito rebelde, seu pai sente
muita tristeza no coração por ter uma filha inclinada à prática do mal. Por isso, ele se tornou
um pai bastante calado.

Às três da tarde, sua mãe bate na porta do seu quarto e diz “Café?”. Ela responde: “Tô
indo”. Enquanto sua mãe espera o leite ferver e espera o café passar, Jaqueline coloca o
pão, biscoitos, canecas de porcelana e talheres sobre a mesa. Sua mãe apaga o fogo e
grita: “Pegou o descanso?".

Ela pega o descanso de panela e juntas tomam um pequeno café da tarde para guardar a
barriga para comer novamente quando o seu pai chegar do trabalho. Elas conversam muito
pouco.

Às seis da noite seu pai chega de moto e quase sempre pontualmente. Os três novamente
se reencontram na mesa das refeições e juntos tomam rapidamente o café do início da
noite para não chegarem atrasados ao culto das 19:30h. Caso a sua irmã se junte a eles,
Jaqueline se levanta e se tranca no seu quarto, pois acha a sua irmã falsa e bastante fria.

Isso porque Jaqueline e sua irmã não se falam há muitos anos. Para piorar, sua irmã
também não fala com seu pai, mas apenas com a sua mãe. Porém, na igreja onde
|Jaqueline e sua família congregam, sua irmã fala com todos mostrando ser o ideal de
jovem exemplar da congregação.
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Às sete da noite, Jaqueline toma outro banho, veste sua saia e se prepara para ir à igreja
com os seus pais. Jaqueline fica contando os minutos para voltar para casa, enquanto que
seus pais ficam mais um tempo para aguar as plantas do jardim e cuidar de outras
demandas da igreja.

Jaqueline retorna às 20:30h e já corre para o computador, mesmo porque ela encontrou
outra forma de se distrair além dos filmes e navegação pela internet. Ela tornou-se viciada
em conteúdo de pornografia, bem como pela masturbação que ela vem praticando no
banheiro com a ducha higiênica após memorizar as cenas bizarras de sexo que havia visto.

Pior, Jaqueline começou a conversar com um rapaz que conheceu pela internet. Eles estão
marcando de se encontrar em algum lugar. Ele disse que está afastado da igreja da igreja
evangélica onde congregava, mas que quer voltar. “Talvez se eu ajudá-lo a voltar para a
igreja, ele me aceite mesmo com os meus problemas de saúde”, pensou Jaqueline.

Por volta das nove, sua mãe bate na porta do quarto e diz “Suco?”. Ela abre a porta, pega o
copo e fecha-a novamente trancando-se em seu mundo. Às dez da noite, todos já foram
dormir, sendo que ela nem sabe da existência da sua irmã, afinal elas não trocam uma só
palavra há pelo menos 18 anos.

Jaqueline normalmente tem insônia por conta do calor e mosquitos que não lhe deixam em
paz. "Vocês são os únicos que nunca desistem de mim, né!?”, disse Jaqueline em
pensamento enquanto seus pais e irmã descansam no conforto do ar condicionado, mas ela
conta apenas com um ventilador de teto velho que faz mais barulho do que vento.

Nessas noites em claro, ela costuma ficar olhando para o céu contemplando a lua enquanto
se pergunta: “Porque eu nasci? Porque, Deus, o Senhor não permitiu que outro dentre os
milhões e milhões de espermatozoides do meu pai fecundasse o óvulo da minha mãe?
Porque tinha que ser logo eu? Porque eu sou o que sou? Por que você me trouxe para este
maldito mundo? Por favor, me mate! Mate-me hoje enquanto eu estiver dormindo, mesmo
porque eu já estou morta mesmo por dentro. Eu não te pedi para nascer! Eu definitivamente
cansei de existir…”.

Jaqueline sempre carregou muitas dúvidas e profunda raiva de si mesma, bem como de
tudo e de todos. Porém, apesar de ter passado por incontáveis situações catastróficas em
sua vida, ela teve a sua dor interna e crise existencial totalmente curados, porém de um
modo não esperado: pelo incremento de mais dor ainda.
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Nossa protagonista fez coisas talvez incompreensíveis e sem lógica alguma. Ela começou a
escrever sobre a sua vida em 2018 como uma forma de não esquecer as coisas ruins que
lhe sobrevieram, bem como aquelas que ela causou a si mesma e aos vários tipos de vida
humana e animal.

Mas desistiu. Relatou que estava sentindo a sua alma gritar e gemer ao redigir cada página,
uma vez que era como se estivesse revivendo cada um dos pesadelos do seu passado
obscuro.

Porém, três anos depois (2021), aos poucos e por vontade própria, ela voltou a escrever.
Algumas páginas ela retirou com receio de sofrer alguma retaliação na rua ou ser
reconhecida por aqueles a quem ela ofendeu. Porém, com o tempo ela viu que seria
necessário expôr a sua vida, por mais doloroso que fosse.

Ela chorou copiosamente e desesperadamente durante vários meses no decorrer dos anos
de 2021, 2022 e 2023. E, como forma de não esquecer as lágrimas que ela derramou diante
do seu Criador, ela passou a enxugar a sua face nas Sagradas Escrituras, conforme mostra
a imagem abaixo.

Atualmente, ela se encontra com outras enfermidades além daquelas que foram
descobertas assim que ela fez uma cirurgia um tanto traumatizante submetida no ano de
2006. Além disso, ela enfrenta vários problemas financeiros e familiares a ponto de ter que
comer daquilo que ela encontrava no lixo da pensão onde mora.
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Contudo, a palavra “suicídio” já não mais existe em seu repertório. Jaqueline recebeu a cura
para a sua alma no momento de maior dor, abandono e desespero. Ela teve um encontro
sobrenatural com Deus.
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PRÓLOGO

Meu nome é Jaqueline Teixeira e comecei de fato a organizar os capítulos deste livro no
início do ano de 2022 na metade dos meus 35 anos de idade, mas tenho reunido meus
primeiros manuscritos desde o ano de 2018.

A minha história não é nada bonitinha, agradável de se ouvir ou mesmo embrulhada num
lindo lacinho vermelho. Na verdade, os fatos aqui narrados possivelmente irão fazer você se
contorcer um pouco ou até mesmo se enojar.

Enquanto escrevo esta obra, moro numa pensão (também conhecida como república) no
Centro de São Paulo juntamente com quarenta e poucas outras mulheres de várias idades,
profissões, nível de educação, cultura e, principalmente, entonação de voz diferente.

Isso porque, tenho percebido que algumas precisam falar aos berros e a plenos pulmões
para conseguirem ser ouvidas e compreendidas e, pior, justamente num sábado e/ou
domingo pela manhã cedo que são os únicos dias que consigo dormir até mais tarde.

Para entender melhor a minha situação, ontem (10 de outubro de 2022) fui demitida do meu
melhor emprego que tive até hoje, uma multinacional japonesa. Para piorar, conto com uma
quantidade bem pequena de dinheiro na conta e insuficiente para sobreviver nos próximos
poucos meses na cidade mais cara do Brasil.

Além disso, estou totalmente falida financeiramente falando. Afinal, quebrei pela décima
segunda vez, pois levei um golpe no início do ano (2022) após fazer um investimento, que
neste caso foi a herança que eu havia recebido dos meus pais.

Não posso deixar de mencionar que ainda estou me recuperando do (segundo) divórcio. E,
para fechar com chave de latão enferrujado, possuo algumas enfermidades incuráveis. Na
verdade, volta e meia surgem novas dores e reações adversas em meu corpo, as quais
nem imagino o que devem ter ocasionado o seu surgimento.

De certa forma, nunca fui uma menina certinha, comportada, estudiosa ou exemplar. Pelo
contrário, sempre causei incontáveis prejuízos e preocupações aos meus pais e de um
modo surpreendente e sobre humano, tive um encontro com Deus. Hoje ando caminhos
cheios de espinhos misturados com pedregulhos e limo, sou bombardeada dia e noite por
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demônios e muitas vezes mal consigo descansar quando deito na cama para dormir, uma
vez que frequentemente enfrento insônias e/ou visitas do diabo.

Preciso ressaltar que nem tudo o que eu fiz durante a minha vida pregressa eu consegui de
fato relatar aqui neste livro, não por conta da dor que sinto ao redigir e nem mesmo porque
eu não quero, mas porque ainda não é o momento. Não gosto de falar sobre os horrores
que eu pratiquei, mas tudo sempre há um porquê e aprendizado por trás. Ainda carrego
culpa sobre o sangue que as minhas mãos derramaram. Mas Deus através do seu
misericordioso amor, tem gradativamente me libertado do meu tenebroso passado.

Eu jamais conseguirei explicar o que realmente havia dentro de mim para ter praticado
tamanha crueldade à obra criadora de Deus, sejam eles seres humanos, animais e qualquer
outro ser. Entretanto, até hoje colho frutos das minhas más escolhas e dos caminhos
tortuosos por onde eu segui.

Por vezes me perguntei: “Porque eu de fato eu não consegui apertar o gatilho quando por
três anos eu tive uma arma de fogo à minha disposição?”. Eu poderia ter feito o mesmo que
outras pessoas que estavam próximas a mim, fizeram quando não suportaram a dor da
alma que estavam enfrentando.

Ou seja, elas seguiram em frente apertando o gatilho que desferiu uma bala na própria
cabeça. “Porque eu não segui o mesmo caminho delas?”. Ou “Porque eu não me lancei da
janela do prédio onde eu morava?”. Aliás, “Porque eu não joguei do penhasco abaixo nas
inúmeras vezes que eu fiz trilhas, montanhismo ou arvorismo?”.

Alternativas para me suicidar não faltaram, mas porque eu desisti do suicídio? Eu tinha
vários motivos para tirar a minha própria vida. Talvez eu estava sentindo o mesmo que o rei
Davi estava experimentando:

Porque a minha alma está cheia de angústia, e a minha vida se aproxima da


sepultura. (Salmos 88:3)

Aos meus olhos, certamente essa seria a alternativa mais fácil para aquele momento, afinal
eu não tinha mais nada a perder. Não tinha saúde, estava divorciada, estava mal
financeiramente e não havia expectativa alguma de mudanças. Porém, eu estava
totalmente errada. O meu maior bem estava em jogo: o destino da minha alma.
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Graças às misericórdias de Deus, não segui com o plano de cometer suicídio, visto que eu
vivi um dos fatos mais inexplicáveis que uma pessoa pode ter: um verdadeiro e sobrenatural
encontro com Deus. Confesso que ainda passo por muitas situações que me causam pavor,
angústia, dor e desespero, conforme está citado em:

[…] fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal
que até da vida desesperamos. (2 Coríntios 1:8)

Mas apesar de todo o sofrimento, tenho plena consciência de que não sofro uma gota do
que realmente eu deveria passar, a saber a condenação da minha alma ao inferno. Além
disso, tive que aprender a aceitar o peso da palavra “resignação”, que significa aceitar todos
os sofrimentos, sem me revoltar, para que assim se cumprisse o que diz:

Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade. (Jó 11:6)

Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos recompensou segundo as
nossas iniquidades. Salmos 103:10

Portanto, procurei constantemente direcionar os meus pensamentos ao entendimento de


que eu não era digna nem mesmo de receber a tortura enviada por Deus. Mesmo porque a
dor causada pelas provações sempre são capazes nos tornar pessoas dignas e mais
próximas do Senhor, conforme está escrito:

[...] nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência,
E a paciência, a experiência, e a experiência a esperança. Romanos 5:3,4

Além disso, é necessário ressaltar que o nosso Criador é único ser capaz de nos
compreender com inteireza e calcular a dosagem certa da provação, visto que:

[...] ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó. Salmos 103:14

Que Deus te conceda experiências infinitamente mais profundas e maiores do que aquelas
que estão aqui descritas. Desejo que tanto os homens como as mulheres tenham maior
conhecimento sobre as experiências e guerras espirituais e que a sua intimidade com o
Criador seja estreitada.
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As minhas serviram para que esta obra fosse composta. Cada trauma que eu vivi me
inspirou a escrever todas as páginas e serviram-me como válvula de escape. Afinal de
contas, não houve outra saída para mim a não ser a de enfrentar cara a cara os meus
medos para que, assim, eu amadurecesse e pudesse desenvolver uma relação de pai e
filha com Deus.

O processo de cura apesar de estar em seu estágio inicial, já tem sido extremamente
inexplicável, pois até mesmo o meu caráter e personalidade foram modificados para melhor.
Mas ainda há muito chão a percorrer.

Escrever tornou-se um processo de descoberta incrível em minha vida, ainda que me


causasse bastante medo, agonia e dificuldade para encontrar as palavras adequadas para
descrever o que passei.

Eu mal podia esperar para começar a desenterrar outros horrores que eu enfrentei e causei
para que você pudesse entender as causas que desencadearam tantas desgraças durante
a minha vida. Para que, assim, você seja prevenido que os mesmo infortúnios cheguem até
você ou que você seja capaz de descobrir muitas das desgraças que possivelmente afloram
na história da sua existência.

Assim, eu pude entender que tudo tem um porquê, ainda que as peças do quebra-cabeça
da vida ainda não estejam encaixados. Para toda ação há uma reação. Todas as nossas
escolhas geram consequência. Toda a moeda possui dois lados. Nenhuma palavra (escrita
ou oral) volta vazia. Cedo ou tarde, um dia a conta chega.

Não sei explicar o motivo, mas eu sempre tive medo de quando chegasse a minha atual
idade — 36 anos —. Talvez seja porque estou colhendo os efeitos do meu passado. Estou
vivendo o clímax da minha dor e, ao mesmo tempo, do meu autoconhecimento. É
extremamente desesperador e paralelamente edificante. Como explicar esse paradoxo? Só
podia ser coisa de Deus!

Portanto, espero que você seja capaz e corajoso(a) de chegar até o fim da minha obra e
antes que sinta raiva, nojo e repulsa das coisas que eu fiz e até mesmo de mim. Por favor,
tente olhar com outros olhos: aprenda com os meus erros e impeça que o mal se perpetue
na sua vida, família e sociedade, mas sobretudo nas novas gerações.
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Bom, se você optou em seguir em frente, desejo-te um bom aprendizado com os meus
erros.

OBS: Acabei de voltar do culto de uma igreja abençoada onde atualmente congrego. Tive
que caminhar contraindo ao máximo o meu abdômen para suportar a fome. Não tenho nada
na gaveta da geladeira da pensão onde atualmente moro. Comi um sachê de milho verde
em conserva, mas meu estômago ainda arde de fome.

Tenho que aguentar até amanhã, pois não tenho dinheiro para comprar algo para comer
nesta noite. Fui demitida do meu então melhor emprego em uma multinacional. Eu comeria
uns dois espetinhos de carne e um de frango com molho e farofa. Que delícia seria!

Porventura, o Senhor olhará para a minha miséria e o Senhor me pagará com bem a
sua maldição deste dia. (2 Samuel 16:12)
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INTRODUÇÃO

Antes de começar a ler este livro quero alertá-lo, leitor, que escrevi cada página não
somente para descrever o que aconteceu na minha vida, mas também como uma forte
convicção que foi o próprio Criador quem me orientou a fazê-lo.

Este livro é totalmente fundamentado em conteúdo cristão e, portanto, haverá várias


citações das Santas Escrituras, a Bíblia. Se não te agrada, peço que mesmo assim encare
cada página como uma forma de prevenção de futuros danos a sua vida.

O propósito deste livro é mostrar como Satanás e seus demônios atuaram em minha vida e
no mundo ao meu redor e como você poderá, de forma segura, lutar contra e deixar de
submeter-se a eles. Não se trata, portanto, de uma ficção, pois se fosse sairia algo do tipo
“Batatinha quando nasce…”. Pelo contrário, cada palavra aqui inserida corresponde a fatos
vividos e/ou relacionados à trajetória da minha vida.

Caso comece a sentir-se estranho, ter sonolência, arrepios ou qualquer tipo de mal-estar ao
ler este livro, saiba que já era de se esperar, conforme está escrito:

O destruidor subiu contra ti. Guarda tu a fortaleza, vigia o caminho, fortalece os


lombos, reforça muito o teu poder. (Naum 2:1)

Isso porque para derrotar um inimigo é necessário conhecê-lo a fundo uma vez que parte
da nossa vitória consiste em não ignorar a sua astúcia e estratagemas que enganam a
quem quiser. Além disso, Satanás não quer que você tenha conhecimento dos seus
instrumentos de destruição que exponho em cada página.

Tomei a decisão, sob orientação do Espírito Santo, de me expor tanto diante da sociedade
e, sobretudo, perante o povo cristão como uma forma de desmascarar muitas afirmações
que são tidas como verdades absolutas quando de fato, podem ser consideradas
puramente mentiras de Satanás.

Consequentemente, isso gerou inúmeros tipos de perdas e sofrimentos em minha vida,


porém o Senhor Jesus venceu e continuará a vencer toda e qualquer uma das nossas
batalhas. Isso é uma certeza inquestionável.
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Esta obra é destinada especialmente às mulheres, sejam aquelas que estão se preparando
para se casar e as já casadas, com e sem filhos. Mas também aos homens que queiram se
prevenir de casar com mulheres endemoniadas ou problemáticas como era o meu caso.

Confesso que foi contra a minha vontade, porque primeiramente não gosto de expor a
minha vida. Segundo porque como eu citei aqui em cima, eu me encontro numa situação
bem delicada.

E, por último, porque tive que sacrificar minhas noites pós-trabalho, madrugadas de insônia,
feriados e finais de semana de descanso, mas para ficar horas e mais horas na frente do
notebook digitando cada palavra.

Aprenda com os meus erros e previna-se, pois eu hoje me considero uma mulher
inteligente, uma vez que busco continuamente amadurecer após as várias pancadas,
provações, lutas e privações. Ou seja, seja sábio e ressignifique a sua forma de enxergar e
encarar a vida (física e espiritual)!

Por fim, você pode estar se perguntando se eu encontrei a cura para a minha alma, se dei a
volta por cima de tudo o que eu enfrentei ou se me tornei milionária. A resposta é: não. Mas
encontrei o remédio que me trouxe a cura da alma.

Fiquei anos com dúvidas se realmente eu deveria escrever este livro, mas após contar
minha história “por alto” para alguns amigos todos unanimemente disseram que a minha
história “merece um livro”.

Mesmo assim, achei que eles estavam exagerando, afinal “Quem iria se interessar pelas
desgraças que eu sofri e como eu venci cada uma delas?” pensei. Mas ao participar da
venda de um curso com mentoria sobre como escrever e publicar um livro de autoria do
escritor Arnaldo Neto, tive a oportunidade de falar brevemente sobre a minha vida. Arnaldo
ouviu-me e falou de modo bastante enfático: “Você não tem que escrever sobre a sua dor,
você deve escrever!”.

Porém, eu não dispunha de recursos financeiros para adquirir o curso. Aceitei os fatos e
continuei a escrever por conta própria. Dez dias depois, quando eu menos esperava eu
recebi uma mensagem por um aplicativo de celular:
19

“Tudo bem Jaqueline? Tenho pra você uma ótima notícia. A Kelli Angelini, uma moça
que assistiu a gravação do nosso workshop, ela, enfim, viu todo o seu depoimento e
ficou sensibilizada em se responsabilizar pela sua entrada [no grupo]. Ela fez uma
oferta de pagar à vista caso eu pudesse colocar você e ela dentro [do grupo]. Então
você está dentro, tá? E eu queria que você soubesse que por mais que eu tenha
aceitado, tudo começa com a Kelli Angelini, uma moça que nem te conhece e que
quis te ajudar. Eu queria que você soubesse o quão abençoada você é por ter esses
sonhos em sua vida, tá bom? Então você está dentro, parabéns, bem-vinda! [...]”
Arnaldo Neto

Comecei a me dedicar disciplinadamente à escrita, estruturação deste livro e numa tarde de


sábado enquanto eu limpava a igreja onde atualmente eu congrego, subitamente as
seguintes frases vieram à minha mente:

Arnaldo Neto mostrou que o impossível pode ser possível.


Kelli Angelini tornou o impossível, possível.
Deus criou o impossível e o possível.

Portanto, antes de iniciar a leitura eu faço a seguinte oração:

“Ah! Quem me dera poder ser um instrumento de Deus para prevenir uniões
fracassas. Ah Senhor Jesus Cristo. Eu molho o meu rosto com lágrimas ao lembrar
das tantas feridas que eu causei nas pessoas que eu mais amo. Como eu me
arrependo! Quem me dera se esses homens fossem prevenidos de casarem-se com
tantas mulheres possessas que estão dentro das igrejas vestindo pele de cordeiro!
Quem me dera se os divórcios no meio cristão fossem reduzidos! Quem me dera se
as pessoas e casais que realmente se dizem cristão vivessem uma vida cristã!
Quem me dera se os homens, mulheres e filhos realmente cumprissem o seu papel
como cristão e cidadãos! Como é caótica a situação que estamos encarando.
Certamente essa é a pior geração de cristãos que já existiu. Senhor Cristo Jesus, se
nesse momento o Senhor destruir através da pior maneira toda a face de tudo e tudo
o que nela há, o Senhor estará sendo absolutamente correto, justo, maravilhoso,
tremendo e incomparável. É porque hoje eu entendo que o Senhor trás em pontos
isolados os diversos tipos de catástrofes naturais como tsunamis, fome, guerras,
pestes, doenças, terremotos e crises financeiras. Oh meu Pai! O Senhor é
completamente misericordioso e justo. Que grande amor! Eu mereço o pior tipo de
calabouço do inferno. Digo isso porque já presenciei por alguns poucos segundo
20

como é a atuação do maligno na terra. Senti as terríveis dores e despertei com os


meus gritos e desespero. Sim! O inferno é o lugar que eu mereço, mas o preço foi
pago por mim. E peço que a mesma misericórdia seja derramada aos leitores e toda
essa humanidade perversa e corrupta. Fico impressionada como eu sou inclinada a
praticar o mal! Oh grande Deus! Quem me dera se o Senhor quisesse nos dar mais
uma chance. Só mais uma, meu Pai. Sim, erramos tanto e o Senhor nos entregou às
nossas próprias concupiscências1 (Romanos 4.24). Eu sou uma verdadeira
vergonha aos meus pais e à sociedade. Sou menos que nada. Os meus pecados
estão continuamente diante da minha face, mas quem dera o Senhor quisesse
passar a precisa borracha chamada Sangue de Jesus Cristo. Pai, confesso que vai
ser bastante difícil declarar o que eu fiz ainda na minha meninice e ao longo da
minha vida nas fases de adolescentes, jovem e agora de adulta. Como eu me
arrependo. Tenho plena consciência de que pecar é algo inevitável, mas Pai, eu oro
neste momento para que através da força do teu amor, vidas sejam prevenidas de
pecarem voluntariamente seja qual nível for conforme eu pequei. Eu me estraguei
tanto! Como eu me arrependo! Mas eu assim como este leitor estamos vivos! Glórias
ao teu santo Nome por isso. E se estamos vivos então ainda há chance de nos
consertarmos diante de ti. Meu Deus! Agora eu estou entendendo! Sim, as coisas
estão mais claras. Acabei de lembrar que eu tenho um áudio2 guardado datado do
dia 3 de agosto de 2020 que me fez entender o motivo de eu estar escrevendo este
livro. Oh grande Deus! Sim, são dolorosos os motivos e circunstâncias em que me
encontro, mas que somente o teu querer e propósitos sejam cumpridos. Em nome
do Senhor Jesus Cristo, amém.
8 de janeiro de 2022 (sábado)”.

1
Termo utilizado para designar a cobiça ou apreço por bens materiais, assim como os prazeres sexuais e a
ganância por poder e/ou dinheiro.

2
No dia 3 de agosto de 2020 uma mulher chamada Dulce (esse não é o seu nome verdadeiro) disse que teve um
sonho profético comigo e com o meu então esposo Thomas (esse não é o seu nome verdadeiro) quando ainda
morávamos em Portugal. Estou reunindo forças para escrever o que ela relatou, pois de fato o que ela sonhou,
se cumpriu nos mínimos detalhes. E isso ainda tem me causado muita aflição e agonia, conforme está escrito
em “Palavra alguma falhou de todas as boas palavras que o Senhor falara à casa de Israel; tudo se cumpriu.
Josué 21:45”.
21

PERGUNTAS MAIS FREQUENTES

Possivelmente sua alma — ou de algum conhecido — esteja esvaindo em dor por conta dos
traumas vividos durante a sua infância sobretudo no que tange ao tema bastante delicado
relacionado ao abuso sexual ocorrido durante a sua infância. Sei muito bem o que você está
sentindo.

Passei por quatro abusos, sem contar as tentativas de estupro que sofri durante o trajeto de
ida e volta à faculdade por volta dos meus 23 anos. Sabendo disso, eu reuni algumas
perguntas que presumivelmente te ajudarão a entender mais sobre o assunto e qual
caminho seguir em sua vida.

1. Como identificar quando uma pessoa (criança ou adulto) já sofreu abuso sexual /
emocional?
Geralmente os sinais mais comuns são: insônia, pesadelos e terrores noturnos são um dos
sinais mais comuns, bem como ataques de ira, escutar vozes e dificuldade de relacionar-se
com outras pessoas de qualquer idade. Há também a presença de problemas
comportamentais, como atos agressivos, choros compulsivos sem motivo aparente,
irritabilidade e/ou birra excessiva, bem como insubordinação e desobediência aos pais e
professores.

Por fim, é frequente haver medo de lugares ou de pessoas, dificuldade de discernimento ou


ausência de noções de perigo, tendência à homosexualidade, interesse por assuntos
relacionados à sexualidade, masturbação, assim como tendência à automutilação e ao
suicídio.

2. Quais são as principais consequências que uma pessoa adulta sofre por conta do
abuso sexual que sofreu na infância?
Dificuldade de aprender, relacionar-se com outras pessoas, divórcio, ansiedade, insônia,
tendência ao desejo em ferir-se ou agredir outras pessoas de modo verbal e físico,
isolamento, depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), facilidade de desistir
de algo rapidamente — esporte, música, cursos em geral, por exemplo —, tendência a
culpar os outros pelos seus erros, exagerada falta de pontualidade, sempre ter desculpas
para as suas falhas e tendência ao suicídio.

3. Como extrair crescimento e aprendizagem positiva mesmo quando nada faz sentido
na vida?
22

Certa vez eu ouvi um homem conversar ao telefone com a sua esposa em ela estava
desabafando com sobre uma situação complicada que ela havia se envolvido. Então ele
respondeu: "Bom, agora já foi”. Mesmo assim ela continuou a insistir que havia errado numa
escala bem elevada. Então ele respondeu: “Sim, eu entendi. Mas o que você quer que eu
faça? Quer que eu me mate!?”, respondeu ele rispidamente elevando o seu tom de voz. De
certa forma, ele está coberto de razão.

A primeira forma de extrair crescimento e aprendizagem é aceitar que errou e jamais culpar
alguém pelas suas falhas como forma de alimentar o seu ego ou orgulho. Reconheça que
você errou, ainda que seja considerado grave e entenda que o Senhor Jesus Cristo é o
nosso fiel e justo advogado, o único capaz de contornar qualquer situação:

Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar,
temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo.(1 João 2:1)

Você errou porque é um ser vivo e enquanto, você e eu, estivermos neste mundo físico
cometeremos muitos deslizes na vida. O próximo passo é escutar as orientações de Deus,
recomeçar, não ter medo e aguentar firme, por mais dolorosas que sejam as consequências
dos nossos atos. Sempre haverá um novo amanhecer maravilhoso e agradável após uma
noite densa, escura e fria.

4. Porque eu não consigo lidar com ninguém?


Já pensou em ouvir mais e falar menos? Por experiência própria, percebi que as minhas
palavras e forma como eu as pronunciava, por vezes ofendiam o ouvinte. Pior, as minhas
palavras soavam meio que intimidadoras. Portanto,

Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio
para falar, tardio para se irar. Tiago 1:19

[...] pela tua boca te julgarei [...]. Lucas 19:22

5. Como restaurar a esperança após sofrer traumas sexuais?


A esperança não virá por conta de uma viagem, de um novo relacionamento, sexo, bolo de
chocolate, balada ou qualquer tipo de entretenimento, mas sim por meio das suas decisões.
Vou te dizer o que eu fiz: eu decidi parar de fugir daquele que me criou. Caso contrário eu
teria seguido com o suicídio. Eu escolhi a transformação. Eu optei por entregar a minha vida
23

àquele que morreu pelos meus pecados. Mas há um importante detalhe a ser destacado: é
extremamente necessário haver sinceridade.

6. Como eu posso me reerguer emocionalmente depois de ter perdido tudo?


Vou te dizer o que eu fiz. Mesmo enfrentando as piores circunstâncias, eu escolhi tentar
mais uma vez conforme está escrito em:

Ora, para o que acompanha com todos os vivos há esperança (porque melhor é o
cão vivo do que o leão morto). Eclesiastes 9:4

E há esperança quanto ao teu futuro, diz o Senhor [...] (Jeremias 31:17)

Saiba que em breve novas oportunidades surgirão na sua vida. Agarra-se a ela, bata as
suas asas e voe alto. Toda a tempestade tem prazo de validade. Ela passa e um novo
arco-celeste aparece. Essa é a ordem natural dos resultados das coisas e das nossas
preces. É sempre assim!

7. Como descobrir uma felicidade genuína mesmo depois de ter sido abusado sexual
ou emocionalmente?
Eu vou te dizer o que eu fiz e confesso que foi bastante difícil. Eu tinha duas escolhas:
continuar remoendo a dor em relação ao que fizeram comigo ou entregar isso nas mãos de
Deus. Eu entreguei nas mãos de Deus, mas volta e meia eu tomava de volta para mim.
Minha felicidade bateu na minha porta somente após passar por situações muito pesarosas.

Como válvula de escape, eu transformei sentimentos em letras as quais estão diante dos
seus olhos. Entendi durante esse processo doloroso que a maior felicidade não é ver os
abusadores pagarem pelo que fizeram, mas sim que se arrependam e tenham suas vidas
totalmente transformadas assim como a minha também foi.

8. Como tratar uma pessoa que sofreu abuso sexual infantil e como consequência
tornou-se extremamente difícil de conviver?
Na minha família há algumas pessoas que sofrem o mesmo tipo de trauma que o meu.
Posso dizer que é bastante difícil lidar com elas e até pouco tempo, comigo também. Sendo
assim, eu concluí que o modo mais comum que qualquer pessoa tende a se comportar
diante de uma vítima de abuso sexual ou outro tipo de trauma, é o afastamento.
24

Fizeram isso comigo e eu fiz o mesmo com elas. Isso porque as vítimas normalmente
tornam-se pessoas indesejáveis — falo por mim mesma. Ninguém queria ficar perto de
mim. Afinal, todos nós já temos problemas o suficiente para tornar a nossa cruz bastante
pesada.

Não caia na tentação de querer se afastar desse tipo de pessoa, visto que comumente ela
se torna uma pessoa bem complicada — para não dizer impossível — de conviver.
Confesso que eu muitas vezes nem eu mesma me aguentava, uma vez que eu me tornei
um ser detestável.

Ao me auto examinar o tipo de pessoa que eu era, digo que possivelmente essas seriam as
alternativas mais eficazes de lidar comigo: primeiramente, ore Deus, creia e insista que a
pessoa pode ser liberta e transformada. A libertação completa pode ocorrer de inúmeras
maneiras.

O segundo passo é continuar a ser exemplo e manter um diálogo maduro, paciente,


amoroso e contínuo — essa é a chave — com a parte agredida. Seja firme e nunca
alimente o vitimismo dela. Digo isso por mim, pois a vítima precisa tomar consciência de
que ela está criando um círculo de odiadores e afastando rapidamente todos que as amam.

A parte ofendida precisa sair do seu mundo de sofrimento e usar a sua dor como forma de
crescimento positivo. O fato aconteceu e não há como mudar o passado. Além disso, todos
estamos vulneráveis a passar pelos piores tipos de desastres desta vida.

Confesso que o processo de transformação é árduo e demorado, mas o resultado é


simplesmente inexplicável, incrível e, o mais importante, pode ser permanente. Portanto, é
necessário conscientizá-la de que ela é mais forte que o mal que lhe fizeram.

Enfim, certamente há inúmeros outros questionamentos em sua mente e forte desejo em


tirar a sua própria vida. Se estás convicto de tomar essa decisão, saiba que o lugar para
onde a sua alma será direcionada fará com que você considere a sua atual situação que
você vive, uma verdadeira colônia de férias.

Digo isso porque eu garanto que os sofrimentos eternos submetidos à alma condenada ao
inferno, estão fora da compreensão e mensuração da capacidade da mente humana. Talvez
eu possa te ajudar a sair das prisões da solidão e amargura de alma, pois eu já estive lá
também, mas num nível mais profundo.
25

Atualmente eu estou abaixo do fundo do poço e entendo perfeitamente o que você está
vivendo. E por mais paradoxal e incompreensível que seja, a minha cura veio após uma
dose ainda maior de sofrimento, pois eu tive que perder tudo e todos que Deus me deu e
colocou no meu caminho, para que aprendesse a dar valor à tudo o que Ele me dá.

Ainda sofro muito, mas estou de pé estendendo a minha mão para te fazer um convite:
gostaria de aceitar as minhas letras recheadas de lágrimas, sangue e suor?

Caso queira falar comigo sobre esse tema, estes são os meus contatos:
Whatsapp: + 55 11 93343 9996
Instagram: @jaqueline_aquelaquesupera

Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este


negócio perante todo o Israel e perante o sol.
(2 Samuel 12:12)
26

1. FILA DO BANCO

Eu, como mulher, sempre achei que havia algo de errado em relação ao curso da minha
existência, às pessoas que eu convivia e, sobretudo, aos meus comportamentos e às
decisões que eu tomei.

Porém, o que eu achava ser fruto do meu pensamento, tornou-se totalmente concreto
quando durante os meus 24 anos (ano de 2011), numa manhã, uma mulher tocou em meu
ombro enquanto eu estava na fila de um banco e disse:
— Desculpe, mas você é filha da…!? — perguntou citando o nome da minha mãe e da
minha avó materna enquanto me olhava fixamente de cima a baixo com os olhos
arregalados. Era uma mulher loura, baixa e um pouco acima do peso.
— Sim, sou eu. — respondi assustada tentando reconhecê-la, mas sem sucesso.

Assustada, respondi que sim. Ela colocou a mão na boca e subitamente começou a chorar
copiosamente. Eu fiquei olhando sem entender a cena e esperei que ela se acalmasse.
— Eu te conheço desde quando você era um bebê. — comentou com lágrimas pelo rosto
soluçando e com a voz falhando enquanto chorava.

Fiquei chocada olhando-a sem entender nada do que se passava ali dentro do banco. Senti
compaixão pela sua situação e não achei que ela poderia me fazer algum mal. Então eu
disse:
— Eu não te conheço e não sei se você é minha parente, mesmo porque a minha família é
muito grande. Tenho vários familiares que não conheço que moram aqui no estado do
Espírito Santo e em Minas Gerais. Posso te dar um abraço? — perguntei enquanto olhava
dentro dos seus olhos.

Ela acenou com a cabeça e quando eu a abracei, ela começou a se tremer e segurando
para não gritar dentro do banco de tanto que chorava. Fiquei mais assustada ainda. Até que
ela disse:
— Diga a sua mãe que meu nome é… E que sou filha da… — acrescentou a mulher.
— Está bem. Mas agora preciso ir. — respondi.

Ela acenou com a cabeça concordando e se foi chorando. Resolvi o que precisava ali no
banco e em seguida caminhei em direção ao ponto de ônibus. Quando entrei no ônibus de
volta à casa dos meus pais, fiquei refletindo sem entender absolutamente nada do que eu
havia presenciado naquela manhã.
27

Eu estava confusa e, ao mesmo tempo, angustiada, afinal eu carregava um anel de noivado


em meu dedo, me preparando para me casar com Wilson. Eu não queria que nada
estragasse aquele momento.

Ao chegar a casa dos meus pais, contei o fato que eu havia vivido no banco para minha
mãe. Assustada e com os olhos arregalados, disse:
— Eu conheço essa mulher. Além de macumbeira, é lésbica. Ela sempre ficou de olho em
você quando você ainda era um bebê. Quando me encontrava na rua, ela sempre
perguntava por você querendo saber cada detalhe da sua vida. O que me chamou a
atenção é que ela sempre se recordava apenas do seu nome, mas nunca com o da sua
irmã. — comentou a minha mãe.

Ouvi tudo com atenção e tremendamente assustada. E acrescentou:


— Sempre que ela me encontrava dizia: “Como está a Jaqueline?” Eu respondia que estava
tudo bem, mas quando ela se referia à sua irmã ela dizia: “E a outra?”. Ela não fazia
questão nenhuma em saber da sua irmã, pois o foco dela era saber unicamente sobre você.

Eu percebi que havia algo de estranho. Inclusive aquela boneca de cabelo azul que está no
seu quarto, foi ela quem te deu quando você tinha seis anos de idade. Aquela que está lá
na prateleira do seu quarto até hoje.

Fiquei de boca aberta e em estado de choque por alguns segundos. Incontáveis cenas de
horror e de destruição da minha alma vieram à minha mente naquele momento. Perguntas
que eu costumava me fazer, mas sempre sem respostas, começaram a fazer sentido. O
ódio contra aquela mulher do banco e contra a minha mãe tomaram os meus sentindo, até
que gritei:
— Como você pode fazer isso comigo!?

Minha mãe arregalou os olhos e ficou assustada com o meu tom de voz. Ela percebeu que
havia dor nas minhas palavras. Então eu continuei:
— Porque você permitiu que um objeto de macumba entrasse na nossa casa e ficasse no
quarto todos esses anos!? — falei com raiva e descontentamento contra minha mãe.

Meu sangue parecia que fervia dentro do meu corpo. Minha cabeça começou a doer. Sem
raciocinar muito, dei as costas para a minha mãe e corri para dentro do meu quarto. Peguei
a maldita boneca que ficava enfeitando a prateleira da parede, ou melhor, amaldiçoando a
28

minha vida e a da minha família. Em seguida fui à área de serviço e peguei um frasco de
álcool líquido. E, por fim, lancei mão de uma caixa de palitos de fósforos que ficava na
cozinha.

Chamei a minha mãe e disse para me acompanhar até o quintal. Joguei a maldição de
Satanás no chão, ensopei-a com álcool e risquei um fósforo, dizendo:
— Mãe, vamos fazer um clamor a Deus para que o Sangue de Jesus Cristo repreenda todo
o mal.

Ela concordou em silêncio acenando com a cabeça, mas a semente do mal já havia sido
plantada e geminada décadas atrás gerando os mais terríveis sofrimentos que ainda
perdurariam por longos anos à frente não somente na minha vida, como também em toda a
minha família. Tudo isso porque uma ordenança do Criador foi descumprida em relação ao
que está escrito em:

Não porás, pois, abominação em tua casa, para que não sejas anátema, assim
como ela; de todo a detestarás, e de todo a abominarás, porque anátema é.
(Deuteronômio 7:26).

Este momento foi um marco na minha vida, pois fez-me entender a possível causa dos
quatro abusos sexuais que sofri durante a minha infância, início ao lesbianismo e os
diversos horrores que vivi e ainda vivo por conta dos fatos ocorridos no meu passado os
quais refletem ainda nos meus dias atuais.

Tudo isso para que se cumprisse o que está escrito em:

Como ao pássaro o vaguear, como à andorinha o voar, assim a maldição sem causa
não virá. (Provérbios 26:2)

Isso porque, ao olhar para todas as áreas da minha vida, certamente eu me considero (de
acordo com o meu ponto de vista) uma pessoa não totalmente realizada. Uma vez que eu
não consegui atingir os meus objetivos profissionais, acadêmicos, matrimoniais, familiares,
financeiros e, logicamente, espirituais.

E você? Sente o mesmo? Eu imagino que sim. Mas qual seria a causa do nosso
descontentamento? Seria porque somos inferiores às demais pessoas? Será que fomos
29

desprovidos de algum tipo de inteligência que os maiores milionários, grandes pensadores


ou famílias felizes têm e nós não? Claro que não. Longe disso.

Possivelmente, a principal causa seria porque ao escolhermos um projeto e seus


respectivos planos e a programação de execução juntamente com uma boa dose de
motivação, ânimo e coragem, acabamos por não cumprir todas as etapas exigidas e,
consequentemente, não alcançamos o objetivo final, ou ao menos chegamos perto. E,
assim, o resultado foi um show de horrores com uma boa porção de vergonha.

Mas então o que foi que causou a nossa desistência dos nossos sonhos? Posso afirmar
com plena convicção que a principal está relacionada à passagem bíblica que diz:

Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o


SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.
Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois
assim dá ele aos seus amados o sono. (Salmos 127:1,2)

Assim como eu, tenho certeza que você já fez vários projetos ao longo da sua vida e não
alcançou grande parte deles. Independentemente das frustrações, traumas, dissabores e
toda sorte de horrores que você tenha passado, espero que você não desista de ler esse
livro até o fim.

Saiba que cada frase aqui descrita é fruto de uma grande porção de lágrimas, dor, angústia
e desespero. Demorei um pouco mais de cinco anos para concluir e ter coragem de publicar
esta obra.

Abri mão das minhas noites de sono, fui (e continuo sendo) bombardeada por intensos
dardos inflamados de Satanás a ponto de me fazer desejar tirar a minha própria vida. Pior,
eu tive que encarar vários fantasmas do meu passado a fim de prevenir que outras casas
também sejam assombradas.

Assim, meu objetivo neste livro é de comunicar o que recebi e aprendi com o Senhor nas
pequenas experiências do dia a dia e situações dolorosas do meu caminhar durante estes
anos após ter um encontro verdadeiro com o Criador. Que este manuscrito funcione, nem
que minimamente, como um manual sobre a vida espiritual.
30

Mesmo porque, após viver o divisor de águas em minha vida espiritual, preferi aprender
mais sobre Deus e provar de suas verdades por meio de experiências próprias, do que
contar fatos narrados por outras pessoas. Caso contrário, o que eu escreveria seriam
contos espirituais.
31

2. NASCIMENTO DAS PRISÕES

Desde o momento que havia ganhado a boneca da mulher aparentemente bondosa, passei
a ter, sem motivo aparente, uma mudança brusca de comportamento e transtornos
emocionais relacionados à irritabilidade, frustração, raiva excessivas, inquietação e
dificuldade de aprendizagem.

Isso porque, involuntariamente, sem que meus pais soubessem, eu comecei a ser
persuadida por forças malignas invisíveis as quais me conduziram a praticar diversos tipos
de imoralidades, sobretudo do ponto de vista sexual. Sempre guardei este segredo comigo.

Frequentemente, já nesta faixa de idade, comecei a ter meus primeiros desejos sexuais,
pois eu desenvolvi um hábito perverso de olhar para os lados para certificar-se que não
havia ninguém me observando, digo, meus pais, minha irmã ou a empregada doméstica.

Então eu procurava um lugar para me esconder, como por exemplo, atrás do sofá. Em
seguida, eu puxava a minha calcinha para o lado e esfregava o rosto da referida boneca
que havia ganhado, nas minhas partes genitais a fim de simular sexo oral e obter prazer
através da masturbação.

Ressalto que eu tinha apenas seis anos de idade, cujos os fatos que aqui eu descrevo,
ainda estão bastante nítidos e frescos em minha mente. E, sinceramente, causam arrepios
só de lembrar.

Relatar sobre estes fatos me causa bastante desconforto e pesar emocional, pois eu nunca
conheci uma criança desta mesma idade que tenha praticado tamanha aberração
comportamental, sem que tenha sofrido algum tipo de estímulo causado por terceiros.

Paro de escrever e dou várias goladas de água na caneca que comprei em Manaus. Em
seguida, vou ao banheiro liberar a minha bexiga para não urinar na roupa caso eu sinta
vontade de espirrar e coço a minha cabeça várias vezes.

Lembrar dessas cenas ainda me causa arrepio, pois uma criança por si só é naturalmente
pura e ingênua, porém eu já apresentava distorções abomináveis na minha conduta, seja do
ponto de vista comportamental ou mental.
32

Naturalmente eu sabia muito bem o que eu estava fazendo, pois eu estava à procura da
obtenção de prazer sexual às escondidas. Foi como se os meus olhos fossem abertos,
assim como os de Adão e Eva após desobedecerem à ordem de Deus de não comer do
fruto proibido.

Apesar de ser pequena e ingênua, eu sabia muito bem o que estava praticando, tanto que
eu tinha que me esconder para não ser vista por ninguém durante esses atos. Porém, mal
sabia eu, que essa despercebida brecha causaria diversos tipos de estragos horrendos nos
anos seguintes da minha vida, os quais repercutem até hoje.

Perceba que qualquer pessoa em sua sã consciência nota que este comportamento não é
absolutamente normal ou esperado para uma criança de apenas seis anos. Para que assim
se cumprisse o que está dito em:

Até a criança se dará a conhecer pelas suas ações, se a sua obra é pura e reta.
(Provérbios 20:11)

Não é por coincidência que naquele mesmo ano (1992) eu comecei a viver um dos
momentos mais traumatizantes na vida de uma criança: o primeiro de vários abusos
sexuais.

Enquanto escrevo essa autobiografia contando as terríveis desgraças que aconteceram


comigo, confesso que eu senti muita taquicardia, revolta, meses de sucessivas insônias e
nojo, não somente das pessoas que causaram tantos males, mas também de uma pessoa
que eu custei a perdoar e ter paz com ela: eu mesma.

Demorei meses para ter chegado até esta parte deste livro, pois tive que parar e retomar
este capítulo várias e várias vezes até concluí-lo. Não gosto de relembrar destes fatos, mas
posso te garantir que ainda há muitas coisas piores pela frente.

Note que se uma criança possui um comportamento fora do padrão cristão, ou seja, ela não
é serena, obediente aos pais e, principalmente, não é temente ao Criador, recomendo que
as causas desse tipo de conduta sejam investigadas o mais rápido possível.

Porém, de nada adiantará buscar socorro à criança se os próprios pais não possuem um
padrão de espiritualidade exemplar. Mesmo porque, o que se pode esperar dela se eles são
brutos e insensíveis à voz do Espírito Santo de Deus?
33

A título de exemplo, foi o que aconteceu com Isaque, uma criança de quatro anos que eu
conheci no dia 22 de dezembro de 2022. Ele possui um comportamento visivelmente
perturbado e modos marcados por serem extremamente agitados, pensamentos
desconexos, atitude dominadora, é mentiroso e manipulador. Tudo isso eu pude concluir
após uma hora e meia de interação.

Observei-o por vários minutos e fiz algumas perguntas (P) ao seu primo de 12 anos que o
acompanhava. Confira as respostas (R):
P: Quantas pessoas moram na sua casa?
R: Umas 10 pessoas.
P: Quem costuma dar banho em Isaque?
R: Normalmente sua mãe, eu e a irmã dele.
P: Somente essas pessoas dão banho nele?
R: Na verdade, outras pessoas o fazem, mas eu não sei dizer ao certo, pois quando
estou na escola eu sei o que acontece com ele.
P: Isaque tem o hábito de assistir televisão?
R: Sim, mas seu principal vício é o celular.
P: Notei que Isaque está acima do peso. Como é a alimentação do Isaque?
R: Ele toma muita mamadeira com suprimento para crianças.
P: Onde está o pai de Isaque?
R: Na Bahia. Ele não mora com a família aqui em São Paulo.

Enquanto eu fazia essas perguntas, Isaque tentava, com a ponta de um lápis, rasgar a
cadeira acolchoada sobre a qual estava sentado. Eu o encarei e o repreendi na autoridade
que há no nome do Senhor Jesus Cristo para que parasse de querer destruir não somente a
cadeira, mas também outros objetos que haviam ao redor, como a mesa e outros
brinquedos.

Neste mesmo momento, Isaque se jogou no chão, onde rolava e gritava durante boa parte
do tempo, sem contar os momentos que ele me desafiava quando eu pedia que ele ficasse
quietinho e em silêncio.

Novamente olhando-o fixamente eu dei uma voz de comando para que ele se sentasse e
ordenei sob a autoridade do nome do Senhor Jesus que ele ficasse comportado. Ele
sentou, mas quis levantar e sair correndo, porém acabou obedecendo.
34

Assim, antes que seu tio voltasse para levá-lo, Isaque e eu nos abraçamos. Nunca mais eu
reencontrei essa criança, mas somente este único contato foi o suficiente para que eu
ficasse bastante abalada emocionalmente ao imaginar o quanto meus pais sofreram ao
terem que criar essa criança problemática que fui.

Para finalizar, eu havia posto no lugar deste parágrafo uma imagem bastante similar à
boneca que eu fui presenteada, mas a fim de não denegrir a fabricante deste produto, achei
prudente da minha parte removê-la. Mesmo porque, não foi o objeto em si que me fez o
mal, mas sim o que havia por trás das intenções de quem me deu.

Contudo, quero deixar um importante alerta a todos que cumprem o papel de responsáveis
sobre alguma criança: se desfaçam de todo o tipo de bonecas, ursos e qualquer tipo de
bichinho de pelúcia que há na sua casa. Na verdade, queime tudo com fogo e nunca mais
compre esses objetos para suas crianças e nem mesmo para outras.

Digo isso, porque há inúmeros relatos de crianças e lares que são altamente bombardeados
pelas forças do mal por conta desses objetos aparentemente singelos e inocentes. Você
pode, ao invés de dar esses malditos brinquedos, presentear a criança com algumas horas
da sua rotina com brincadeiras saudáveis, como pular amarelinha, montar cavalinho e ler
livros cristãos didáticos.

Certamente, esse é o modo mais exigente do ponto de vista de doação de tempo e energia
por parte dos pais e tutores, porém a mais eficiente e segura.
35

3. “SÓ UM BEIJO”

Satanás escolheu a idade certa (e não aleatória) para iniciar o processo de destruição da
minha vida a fim preparar-me para ser a sua escrava. Isso porque, segundo especialistas
em comportamento, o caráter e a personalidade de uma pessoa são definidos
especialmente até entre os seus cinco a sete anos de idade.

Ou seja, as experiências vividas durante a infância de uma criança influenciam


consideravelmente e de forma permanente a sua personalidade na fase adulta. E foi
exatamente quando eu estava com seis anos de idade quando tudo começou a ser
efetivamente concretizado.

Aqui nesta foto, sou eu com apenas cinco anos de idade quando ainda era como um papel
em branco. Porém, poucos meses depois, quando eu completei seis anos de idade, minha
vida foi transformada em densas trevas, confusão mental e sequelas irreversíveis.

Não me lembro mais do seu rosto da mulher que encontrei no banco, mas os impactos que
as suas ações causaram em minha vida ainda doem bastante, não somente no meu corpo
mas, sobretudo, na minha alma e mente.

Eu não tinha ideia de que as tragédias da minha infância, a opressão satânica que me
rondava e a constante angústia de espírito que espreitava-me desde os meus seis anos de
idade, ocorreram por conta desta mulher que, por meio de uma única atitude simples e
aparentemente inocente, foi capaz de danificar e comprometer boa parte da minha
existência, do meu caráter, bem como da minha personalidade.
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O efeito devastador do maligno atingiu não somente a minha vida como também a da minha
família em todas as esferas: vida conjugal, profissional, financeira e a saúde também. Tanto
ainda hoje, mesmo depois de mais de três décadas de ter ganhado essa boneca, carrego
em mim diversos tipos de enfermidades incuráveis, bem como ainda não desenvolvi uma
profissão e carreira definidas ou levantei algum tipo de patrimônio.

E não para por aqui. Enfrentei mais de um divórcio e perdi todo o meu patrimônio:
apartamento, carro e até a minha bicicleta. E, como cereja do bolo, eu quebrei,
financeiramente falando, mais de 10 vezes, sendo que eu desisti de contar depois que
cheguei no número 12.

O primeiro abuso sexual aconteceu já no mesmo ano que ganhei a referida boneca. A então
empregada doméstica que trabalhava na casa dos meus pais me colocou sobre o peitoril da
janela da sala para olhar o movimento da rua.

A fim de garantir a minha “segurança”, me segurou contra o seu peito pelas minhas costas,
observou se não havia alguém olhando e em seguida ela enfiou a sua mão por dentro da
minha calcinha e começou a me masturbar o meu clítoris por alguns segundos.

Eu fiquei paralisada sem entender o que estava se passando. Ela me olhou de forma
maliciosa e perversa. Continuei incapaz de discernir os meus sentimentos, pois havia uma
mistura de prazer e medo. Apesar de eu estar com os meus sentimentos confundidos, eu
não reagi e pior, não contei para os meus pais. Eu apenas a abracei.

Eu tinha seis anos! Seis!

Essa empregada cerca de um ano depois essa cidadã teve uma pequena discussão com a
minha mãe, mas que culminou a sua demissão, para a minha felicidade. Eu já devia estar
com sete anos e não imaginava que iria passar por isso novamente.

Poucas semanas depois essa colaboradora entrou de férias e outra foi colocada em seu
lugar. Satanás entrou nessa mulher substituta a qual fez novamente a mesma coisa comigo:
certificou-se se não havia ninguém por perto, colocou sobre a mesa da varanda dos fundos
e começou a me masturbar.

Eu tinha sete anos! Sete!


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Porque ela fez isso comigo!? Ou não lhe deu motivos! Mas o pior de tudo é que eu sabia do
que se tratava, mas como a possessão demoníaca já havia tomado conta do meu corpo e
da minha mente, eu simplesmente aceitei e deixei que ela fizesse tal horrendo e covarde
ato. Fiquei imóvel.

Caro leitor, que é pai, mãe, tio(a), avô(ó) e qualquer outra pessoa que deseja o bem das
crianças. Peço que considerem pelo menos duas vezes e peçam a direção de Deus antes
de autorizar as suas crianças a pernoitar na casa de qualquer outra pessoa. Seja de um
parente, colega da escola, amigo ou vizinho.

Para o bem da criança seja no presente, no futuro e em sua salvação havendo dúvida, não
o permita. Nem mesmo deixe-as com a babá ou a empregada doméstica longe da sua vista.
Não confie.

De fato, Satã conseguiu ser bem-sucedido ao tentar destruir-me, pois eu tive uma infância
conturbada e uma adolescência marcada pela rebeldia, indisciplina, promiscuidade e
perversidade. E mesmo na fase adulta continuo a falhar — e muito — em outros erros
inaceitáveis.

Mas havia um fator que impedia a destruição completa da minha vida: sempre houve uma
igreja composta pela minha família e pelos meus irmãos em Cristo, que não desistia de
mim, a qual clamava constantemente pelas misericórdias de Deus, a fim de que eu fosse
salva, liberta e transformada.

Para finalizar, até alimentos atualmente me faltam, levando-me a ter que baixar o meu
orgulho ao ponto de ter que me submeter ao mais profundo nível de humilhação que já
passei as quais estão descritas nos próximos capítulos.

Mesmo assim, situações de aprendizagem mais importantes aconteceram somente nos


momentos de maior sofrimentos, para que se cumprisse o que está escrito em:

Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos. (Salmos
119:71)

Cerca de dois anos depois, quando eu tinha meus oito anos de idade, nem passava pela
minha cabeça que eu estava para viver o terceiro e mais brutal de abuso sexual da minha
vida e num local jamais esperado: na casa de familiares durante uma madrugada.
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Meus pais sempre tiveram o hábito de viajar do Espírito Santo a Mutum, interior de Minas
Gerais e cidade natal do meu pai. Nós íamos várias vezes durante o ano a esse local para
rever os familiares onde continuam a ir até hoje. Quase nunca perdemos uma festa sequer:
era casamento, festa de aniversário, bodas e até enterro.

Minha mãe nunca gostou de estar neste local, mas ela sempre procurou obedecer ao meu
pai, mesmo porque ele sempre se mostrou um homem agressivo para com ela não só do
ponto de vista físico, mas também emocional.

Nós quatro quase sempre ficávamos hospedados no mesmo lugar: na enorme e linda casa
de um primo chegado e amigo de infância do meu pai, o qual chamarei de Medeiros — este
não é o seu verdadeiro nome.

Meu pai e Medeiros sempre foram grandes amigos desde a infância e mantém contato até
hoje, tanto que o único filho homem desse familiar chegou a morar alguns anos na casa dos
meus pais em busca de emprego.

Durante nossa estada na casa do primo Medeiros, nós sempre dormíamos em locais
separados: meus pais pernoitavam na suíte do casal anfitrião, enquanto que minha irmã e
eu dormíamos na sala da frente perto dos quartos dos filhos.

Aparentemente tudo parecia estar na mais perfeita ordem, até que numa certa madrugada,
delicadamente eu senti alguém passar a sua mão em mim, tentando me despertar. Acordei
sem entender o que estava acontecendo e me virei para o lado.

Eu estava morta de sono após horas de estrada. Novamente a mesma mão me tocou. Eu
abri os meus olhos e, debruçada sobre mim, estava minha prima Karla (este não é o seu
verdadeiro nome).

Olhei para ela semicerrados e disse:


— Deixe eu dormir. — resmunguei e virei para o lado.
— Me dá um beijo. Só um beijo. — disse minha prima Karla.
— Pede pra minha irmã. — sussurrei grogue de sono.
— Eu já pedi, mas ela não quis. Me dá um beijo, só um beijo. — disse Karla.
— Tá bom. — respondi.
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Eu pensei que Karla iria me dar um beijo no meu rosto ou na minha testa e finalmente me
deixar em paz. Porém, ela começou a me beijar na boca e de língua. O gosto que senti ao
ter a saliva de uma menina na minha boca era algo desconexo. Eu estava com tanto sono
que eu não a impedi e muito menos entendi o que estava acontecendo. Mas quando ela
começou a tocar nas minhas partes íntimas, eu despertei imediatamente.

Eu deixei que ela continuasse, mesmo porque o meu corpo e sentimentos já haviam sido
perversa e previamente preparados por Satanás anos antes para que a ação dela não me
causasse estranheza.

Nessa época eu tinha oito anos e ela quase 15. Em nenhum momento ela me intimidou ou
ameaçou, mas de modo frio e afetivo ao mesmo tempo, conquistou minha confiança. Então
Karla sussurrou:
— Venha comigo.

Eu me levantei e a segui. Entramos em seu quarto e em seguida ela fechou a porta


delicadamente sem fazer nenhum barulho. A essa altura eu não sabia se a minha irmã, que
dormia ao lado, havia visto tudo isso. Mas se tivesse, pouco importava, afinal ela já não
falava direito mais comigo já nesta idade por conta do meu tratamento para com ela.

Karla e eu tiramos nossas roupas e tivemos relações sexuais por longas horas durante a
madrugada. Foi uma sensação nova e, ao mesmo tempo, bastante estranha e nojenta, pois
tocar nas partes íntimas de uma mulher tão cheia de pelos grossos, foi novidade para mim.

Mesmo porque, eu não tinha nenhum pelo pubiano ainda. Eu não sabia como me
comportar. Então ela me ensinou como masturbá-la e beijar o seu corpo. Foi algo muito
esquesito. Lembro de cada detalhe até hoje com pesar.

Pausa. Confesso que demorei vários meses para conseguir escrever essa parte do livro,
tanto que enquanto escrevo essa parte, sinto uma forte azia no estômago e queimação no
esôfago.

A causa por eu ainda ter dificuldade de comentar sobre este assunto consiste no fato de
que eu sabia que estava fazendo algo bastante perigoso. Não somente pelo medo e risco
dos meus pais nos descobrirem, mas também porque eu sabia que eu havia escolhido
avançar com essa prática pecaminosa que desagradava ao Senhor Jesus Cristo.
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Diante deste contexto, você que é pai, mãe ou responsável por alguma criança ou
adolescente, por acaso o assunto sexualidade tem sido abordado desde cedo com eles?
Suas crianças têm plena consciência de que qualquer ato de sexualidade fora do
casamento e dos costumes naturais impostos por Deus, bem como até mesmo um simples
beijo na boca entre relacionamentos heterossexuais fora do casamento também é uma
prática abominável aos olhos do Senhor? Quem dirá entre homossexuais…

No meu caso, pode parecer que a ação praticada pela minha prima e eu (uma adolescente
e uma criança), foi apenas um pequeno acidente de percurso realizado por duas pessoas
ingênuas. Afinal essa situação não é algo fora do comum, mas totalmente passível de
acontecer na sociedade.

Porém, os próximos capítulos revelarão consequências avassaladoras que aconteceram


não só no meu corpo, como também na minha mente. Pesarosamente, ainda hoje carrego
incontáveis sequelas por conta desse rumo que eu conduzi a minha vida. Caso eu tivesse
dito não para ela ou gritado pelos meus pais e pela ajuda de Deus, certamente o curso da
história da minha existência teria sido outro.

Sim, os resultados trouxeram-me muita dor, confusão mental e falta de sentido em


praticamente tudo que se seguiu na minha vida nas décadas seguintes. Estranhamente,
anos mais tarde aconteceu algo difícil de compreender, tanto que a medicina não me
concedeu respostas plausíveis para as causas de problemas de saúde que surgiram ao
longo dos anos.

Mas, no fundo, eu sei, e muito bem, o porquê de tudo o que irei contar. Basicamente, tudo
se resume às escolhas que eu fiz, sobretudo, por encobrir todos esses horríveis pecados e
acontecimentos listados acima e tantos outros que citarei nas próximas páginas. Tudo isso
para que se cumprisse o que está escrito em:

O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e


deixa, alcançará misericórdia. (Provérbios 28:13)

Todos aqueles que são tementes a Deus, bem como aos seus ensinamentos deixados nas
Sagradas Escrituras, sabem que todo o pecado praticado tanto pelo homem como pela
mulher, sempre gera consequências, mesmo após recebermos o perdão do Pai.
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Porém, quando se trata de assuntos relacionados ao desvio de conduta sexual, tais como
adultério, homosexualismo, pornografia, masturbação e qualquer outro tema do gênero, as
penalidades são ainda maiores.

Isso porque se trata de uma ofensa bastante sensível aos sentimentos de Deus, tanto que
há estudos que apontam a relação existente entre o consumo de pornografia e a regressão
do cérebro a um estágio infantil3, bem como pode causar danos morais e educacionais, em
relação a sua sexualidade, causando, inclusive, comprometimento no aprendizado em
geral4.

Além disso, percebi que devemos ter bastante cuidado em nossas atitudes, isso porque
Deus pode muito bem escolher em não querer mais nos perdoar, conforme está escrito em:

[...] por isso o Senhor não quis perdoar. (2 Reis 24:4)

Meu objetivo não é denegrir absolutamente a pessoa que desejou ser lésbica ou
homossexual, mesmo porque eu também já fui lésbica. Porém, tenha claro em sua mente
que à luz da Palavra da Deus, o lesbianismo acontece sempre quando o nível de
imoralidade chegou a um estágio pior do que a homossexualidade masculina, conforme
está escrito em:

Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres
mudaram o uso natural, no contrário à natureza. (Romanos 1:26)

Note que a palavra do Senhor usa a frase “até suas mulheres” que, segundo uma análise
mais crítica do discurso, o texto parece noticiar que é mais comum que o comportamento
homoafetivo aconteça mais comumente entre os homens.

Neste caso, quando a depravação sexual também atingiu as mulheres, isso pode ser um
sinal de que a situação tornou-se realmente muito crítica.

3
O consumo de pornografia fazo cérebro regredir a um estágioinfantil. Disponível em:
<https://www.semprefamilia.com.br/saude/o-consumo-de-pornografia-faz-o-cerebro-regredir-a-um-est
agio-infantil/>. Acesso em 20 de abril de 2023.
4
A pornografia pode causar danos graves na área do cérebro responsável pela função sexual ? Tem
como resolver ? Disponível em:<https://www.doctoralia.com.br/perguntas-respostas/a-pornografia-po
de-causar-danos-graves-na-area-do-cerebro-responsavel-pela-funcao-sexual-tem-como>. Acesso
em 22 de abril de 2023.
42

Isso porque, geralmente, os homens têm impulsos sexuais muito mais fortes do que as
mulheres e, com isso, são mais vulneráveis a desvios sexuais. Neste caso, quando as
mulheres cometem atos sexuais fora do costume natural, é um grande indicativo de que o
nível de imoralidade se tornou consideravelmente vergonhoso.

Ou seja, o lesbianismo é uma comprovação de que as pessoas entregaram-se “à impureza


sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a degradação dos seus
corpos entre si” (Romanos 1:24).

Há ainda outro ponto importante que merece ser destacado: apesar de aparentemente não
haver mal algum, a casa do primo Medeiros onde sempre pernoitávamos estava sob um
elevado grau de maldição.

Já aviso de antemão que caso não esteja emocionalmente preparado para ler os próximos
parágrafos, então é melhor continuar em outro dia, pois os próximos capítulos são ainda
piores.

No ano de 2021, eu tive o conhecimento de que Medeiros foi por muitas décadas adúltero a
sua esposa e descaradamente à vista de todos da sua família. Ele simplesmente pegava o
seu fusquinha numa sexta-feira e voltava no domingo à noite ou segunda-feira de manhã.

Seu destino era sempre o mesmo: uma roça que ele havia comprado juntamente com a sua
esposa onde ele se prostituía com uma moça bem mais jovem que ele. Hoje ao olhar para
trás, passei a recordar de fatos que antes eu não entendia, mas que agora fazem todo
sentido.

Certa vez eu estava indo ao quarto de Karla para nos prostituirmos e eu a vi conversando
com o seu pai sendo que ela estava com os seus à mostra, pois havia acabado de sair do
banho. Eu notei que seu pai olhava para ela de forma estranha, mas ela não esboçou
nenhum tipo de ação contrária. Inclusive neste dia eu a questionei dizendo:
— Seu pai tem o hábito de te ver pelada?
— Sim, não há problema nisso entre a gente. — respondeu Karla.

Fiquei chocada, pois, apesar dos defeitos do meu pai em relação às suas agressividades
com a minha mãe, ele absolutamente nunca me desrespeitou nesse sentido. Além disso, eu
me sentia bastante incomodada quando Medeiros me cumprimentava com abraços, pois ele
costumava me abraçar de modo muito próximo e apertado.
43

Na verdade, eu deveria ter ficado chocada com os meus atos libidinosos e sem caráter que
eu praticava. Para que se cumprisse o famoso e antigo provérbio, que diz “O roto falando do
esfarrapado!”.

Além do mais, também tive o conhecimento de que Medeiros costumava assediar uma tia
minha, esposa do irmão mais novo do meu pai, que tem idade para ser filha dele. Foi então
que eu concluí que possivelmente (repito, possivelmente) esse homem, apesar de ser
cristão, além de adúltero, era também um pedófilo incestuoso. Mas eu não sabia de nada
disso no tempo quando eu era criança.

Portanto, hoje eu tenho conhecimento de que o local onde frequentávamos interferiu


diretamente em todas as áreas não somente da minha vida, como também da casa dos
meus pais. Sobretudo durante à noite quando a nossa carne repousa e nosso espírito
encontra-se muito mais vulnerável aos ataques de espíritos malignos de toda a sorte.

Entretanto, não era somente Medeiros que tinha maus costumes. Além de Karla, ele tinha
outros dois filhos, um homem e uma mulher. São três ao todo. O rapaz, que sempre foi
caracterizado por ser muito bonito, também tinha hábitos libidinosos, assim como o seu pai.
Ele se casou, mas separou-se e contraiu um novo casamento que durou cerca de dois
anos. Teve alguns filhos nos dois casamentos.

E, por não aguentar a pressão dos inúmeros problemas emocionais que estava
enfrentando, causada pelas queixas das suas então esposas, ele acabou surtando e
sumindo pelo mundo afora. Ninguém mais teve notícias dele.

Já a filha mais velha de Medeiros, ao dar à luz ao terceiro filho, percebeu que a criança
apresentava alguns problemas de saúde cujos cuidados médicos não impediram que a
criança viesse à óbito.

Para finalizar os ciclos de tragédias, anos mais tarde Medeiros sofreu uma série de
acidentes nas estradas enquanto pilotava uma moto e não demorou muito e sofreu outro
acidente enquanto dirigia um carro.

Fora as brigas de famílias que quase resultaram em morte e várias outras complicações de
saúde como o risco de perder uma das suas visões e outras sequelas ainda seguem sobre
a vida dele.
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Veja, portanto, que as atitudes dos pais refletem diretamente nos filhos e vice-versa.
Frequentar a casa de alguém é o mesmo que adentrar na intimidade das pessoas e pactuar
com os seus hábitos, costumes e crenças.

Tanto que o mais brutal de todos os abusos sexuais que eu enfrentei durante a minha
infância aconteceu na casa de Medeiros. Veja que isso não foi nenhuma coincidência, mas
um fato. O meu corpo, alma e espírito já haviam sido previamente preparados para sofrer
mais esse episódio de horror. Contudo, este não foi o último abuso que eu sofri.

A propósito, eu não posso deixar de mencionar que um tio por parte de mãe, foi
diagnosticado com uma terrível doença cuja origem ainda é desconhecida pela medicina.
Chama-se ELA, ou melhor, Esclerose Lateral Amiotrófica.

Esse meu tio mesmo aos 60 anos sempre chamou muita atenção por onde passava. Não é
à toa que ele havia sido modelo quando jovem. Teve muitas mulheres e costumava humilhar
outros homens que, aos olhos dele, não eram bonitos. Hoje está cada vez mais definhando,
cujo fim não quero nem imaginar.

Mesmo assim eu oro constantemente por ele e por sua salvação, pois ele é conhecedor da
palavra de Deus e sabe qual é o destino da alma daqueles que morrem sem salvação.

Aproveito esse momento de desconforto e desespero que eu sinto neste momento, para
fazer a seguinte pergunta: vocês, pais, acham que realmente conhecem os seus filhos?
Pensam que podem controlar cada acesso que eles têm ao navegar nas redes sociais e na
internet afora?

Vocês têm plena certeza que seus filhos vão da escola direto para escola? Vocês deixam os
seus filhos pernoitar na casa de outras pessoas? Quais lares vocês e seus filhos têm o
hábito de frequentar?

Finalmente, voltamos para casa em Vila Velha, Espírito Santo. Eu pensava muito na Karla e
aguardava ansiosamente para retornar à Minas Gerais para satisfazer meus desejos
sexuais. O cerco de Satã contra a minha vida já havia surtido efeitos. Minha alma estava
presa nas gaiolas espirituais do mal.
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Aumentei ainda mais os ciclos de masturbações que eu fazia com a boneca que eu havia
ganhado. Consequentemente incontáveis novos espíritos malignos de indescritíveis
qualidades continuavam a entrar em mim.

O desejo pela obtenção do prazer sexual aumentou de tal forma, que eu acabei perdendo o
controle sobre os meus atos. Parecia que eu me tornei um animal irracional atrás de sexo e
eu só tinha oito anos de idade.

Porém, o que eu não entendi, ou pelo menos não queria reconhecer, era que eu já estava
sendo há um bom tempo habitada por Satanás. Sim, uma pequena criança de oito anos já
estava possessa, porém para a maioria das pessoas eu era apenas uma criança com déficit
de atenção, hiperatividade e impulsiva.

Ou seja, aos olhos da medicina, tratava-se de algo relacionado ao Transtorno do Déficit de


Atenção com Hiperatividade, mais conhecido como TDAH, de causas genéticas que
causam transtorno neurobiológico. Normalmente é diagnosticado na infância, mas pode
acompanhar o indivíduo por toda a vida, que foi o meu caso.

Contudo, você crendo ou não, concordando ou discordando, toda a pessoa que não pratica
ato sexual dentro dos preceitos determinados por Deus — o que vai muito além de ser fiel
ao seu cônjuge e sexo somente entre casados —, corre o risco de estar possessa, sem ao
menos suspeitar disso.

O tempo passou e voltamos a Mutum, mas desta vez meu pai escolheu a casa de outro
primo dele chamado Mateus — este não é o seu verdadeiro nome — para nos
hospedarmos.

Eu achava esse comportamento do meu pai simplesmente horroroso, para dizer o mínimo.
Se oferecer para comer, beber, dormir e usar o banheiro na casa de parentes, era
perturbador. Era totalmente nítido ver o grau de insatisfação nos rostos dos anfitriões, tanto
que suas filhas nem olhavam direito para a minha cara.

Após chegarmos de viagem e almoçarmos, meus pais, minha irmã e eu fomos à casa de
Medeiros à pé, há alguns metros da casa de Mateus, afinal a maioria dos parentes
moravam perto um do outro. Encontrei com a Karla, conversamos um pouco e combinamos
uma forma de ficarmos juntas. Meus pais e eu voltamos à casa de Mateus e quando chegou
à noite eu disse:
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— Mãe, posso dormir na casa da Karla esta noite?


— Porque lá e não aqui? — questionou minha mãe.
— Gosto de conversar com ela. — justifiquei meu pedido.
— Vou perguntar ao seu pai. — respondeu minha mãe.

Eles concordaram, então de pijamas e com um travesseiro debaixo do meu braço, subi
sozinha a ladeira que dava acesso à casa de Medeiros. Cheguei, bati na janela do quarto
da Karla e passamos a noite satisfazendo nossa carnalidade até de madrugada.

Caro leitor, veja que aparentemente não havia sinal algum de perigo no meu pedido de
passar a noite longe da vista dos seus pais para “conversar” com uma amiga. Mas por trás
de uma criança de aproximadamente oito anos e uma adolescente de 15, eu já arquitetava
terríveis planos sob orientação do meu do meu então tutor, Satanás.

Perguntou a você novamente: você realmente acha que seus filhos são santos? Acha que
eles te contam tudo sobre as suas vidas?
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4. PERIGO DENTRO DE CASA

No ano de 1996, eu completei dez anos de idade e já havia sofrido três abusos sexuais.
Não contei nada para os meus pais e nem para ninguém. Esses eventos favoreceram o
meu interesse em permanecer tendo relação sexual com mulheres e, assim, arruinasse
ainda mais a minha vida.

Ainda nesta faixa de idade, um senhor de aproximadamente 55 anos chamado Seu Jorge
(este não é o seu verdadeiro nome) e um dos seus filhos, um rapaz de 16 anos, foram
contratados pelo meu pai para ajudar na construção da casa projetada pelos meus pais.

Tanto minha irmã como eu, percebemos que esta entidade, digo, Seu Jorge, olhava-nos
muito estranhamente, porém ele observava ainda mais a minha irmã que na época tinha
seus 13 anos. Afinal, ela já havia se tornado mocinha e seu corpo estava apresentando os
primeiros sinais de mudança dos moldes de uma criança para o de uma mulher.

Então, um dia quando eu estava brincando no quintal, o referido rapaz — o cidadão filho do
Seu Jorge — após olhar para os lados e ter recebido um sinal “verde” do seu pai de que
não havia ninguém ao redor, agarrou-me brutalmente contra o seu corpo.

Esse indivíduo estava excitado. Ele esfregou o meu corpo no dele por alguns segundos
como se eu fosse um boneco ou pedaço de carne sem vida e sem sentimentos. Havia
outros homens por perto, além do endemoniado do Seu Jorge, mas ninguém fez nada!
Apenas trocaram risadas e piadinhas enquanto eu estava sendo abusada!

Eu tinha 10 anos! 10!

Ele me soltou e eu fiquei zonza sem entender o porquê daquilo. Saí correndo para dentro
da casa dos meus pais e guardei silêncio sobre esse episódio até o momento enquanto
escrevo essas palavras.

Mesmo sendo criança de dez anos eu já havia entendido o que havia se passado naquela
cena: o pai estava ensinando o que o seu mau comportamento para o seu filho. Tanto que o
momento que o jovem recebeu o sinal de ausência de perigo dos meus pais por perto ou
alguém que denunciasse o caso, ficou marcado na minha mente. Este foi o primeiro contato
com um homem e último abuso sexual que eu sofri.
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Durante muitos anos eu guardei muitas mágoas contra os meus pais, afinal de contas, onde
estavam aqueles que eu esperava proteção enquanto eu estava sendo abusada!?
Certamente, esses momentos de trauma e destruição causaram-me danos irreversíveis em
minha mente e corpo os quais eu fui obrigada a ressignificar e conviver diariamente.

Foram incontáveis as noites de insônia sentindo uma presença maligna rondando a minha
cama. Passei a ter um tipo comportamental ainda pior daquele que eu já apresentava. Eu
passei a não conseguir me relacionar absolutamente com ninguém de forma natural e
prazerosa. Na minha mente, todos ao meu redor tornaram-se pessoas suspeitas de
quererem me fazer algum mal.

Contudo, a situação não estava complicada somente para mim, mas também para a minha
irmã. Ela evitava, a qualquer custo, de ficar à vista do Seu Jorge, até que um dia já estado
se sentindo ameaçada, eu a ouvi dizer num tom de desespero para o meu pai dizendo:
— Pai! Esse homem está me olhando estranhamente!

Meu pai não deu muita importância, pois achou que talvez ela estivesse exagerando. Diante
disso, eu jamais comentei com o meu pai e nem com a minha mãe os quatro abusos que eu
havia sofrido. Afinal, se meu pai não acreditava na palavra da minha irmã de 13 anos, quem
dirá em mim com 10!

Portanto, pais, antes de descartar qualquer comentário dos seus filhos, por mais fantasioso
que possa parecer, procure ao menos certificar-se da sua veracidade. De qualquer forma,
todo o tipo de confissão de uma criança depende primeiramente do desenvolvimento de
uma confiança mútua entre pais e filhos.

Ou seja, pouca ajuda poderá ser dada à criança por parte dos seus pais, se previamente
não foi construído um lar em que os filhos se sentem protegidos, amados, respeitados,
ouvidos e disciplinados.

Para você entender o nível de gravidade do ambiente que eu vivi e cresci, no ano de 2021
chegou ao meu conhecimento várias notícias que ainda me trazem bastante desequilíbrio
emocional. Tanto que eu ainda estou no processo de ressignificação do que irei relatar a
seguir.

A primeira refere-se ao Seu Jorge que na época além de ser um velho safado e pedófilo,
esse cidadão tem um irmão chamado Seu Pierre (este não é o seu verdadeiro nome) que
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também era um adúltero e tinha o hábito não apenas de olhar estranhamento para mim e
para a minha irmã, como também constantemente incitava a minha mãe a ter um caso com
ele.

Detalhe: Seu Pierre além de ter idade para ser pai da minha mãe e antes de afastar-se dos
caminhos do Senhor, teve um elevado cargo na igreja onde meus pais e eu
congregávamos. Além disso, volta e meia eu ia à casa dele para pegar frutas nas árvores
do seu quintal.

Hoje ao relembrar os momentos que eu convivi com este cidadão, eu pude perceber e
entender perfeitamente que enquanto nós conversávamos sobre a Bíblia ou sobre as frutas
das suas árvores, ele tinha o hábito de olhar para os meus pequenos seios que estavam em
formação e, ao mesmo tempo, lambia os seus lábios ressecados.

É nítido perceber que todas as pessoas que após se afastarem dos caminhos do Senhor
Jesus, sempre — repito, sempre — acabam tendo as suas vidas destruídas. Isso é uma
regra. Sou prova disso.

Cito outro exemplo: meu avô materno era pastor e após se afastar de Deus (eu não disse
igreja), ele teve uma morte bastante triste: morreu sozinho, abandonado pela amante,
desnutrido e passando fome.

Nunca vi uma exceção para essa regra. Digo isso por mim mesma que apesar de estar
desviada mesmo estando dentro da igreja e indo aos cultos praticamente todos os dias,
seguia ao léu para onde o seu nariz apontava. Pior, escondia os meus pecados de todos.

Faço essa explanação porque tanto Seu Jorge como Seu Pedro apesar de sempre estarem
presentes na igreja, escolheram andar de acordo com os desejos da sua carne. Tanto que
mais tarde, no ano de 2021, o que minha irmã e eu sempre suspeitávamos do Seu Jorge
veio à tona: a vizinhança descobriu que ele era não somente um adúltero como pedófilo.

Uma das vizinhas do Seu Jorge o viu molestando uma menina de uns 12 anos. Não sei se
foi por conta disso, mas ele acabou se mudando para outro lugar, a uma distância de cerca
de 30 km de onde morava. Esse cidadão morava na rua de trás da antiga casa dos meus
pais onde eu cresci.
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Já Seu Pierre, mesmo sendo casado, começou a ter um caso com a própria empregada
doméstica, a qual passou a morar na própria casa do casal. Não demorou muito e a filha do
casal descobriu que estava com câncer de mama e a sua filha mais velha, uma criança de
poucos anos de vida, estava recebendo maus tratos da babá a ponto de fazer com que até
mesmo corresse risco de morte.

E você? Também tem pensado em se afastar dos caminhos do Senhor ou já o faz mesmo
sendo membros de alguma igreja e estando presentes nos cultos e participando das
atividades?

A segunda notícia que eu recebi no ano de 2021, ainda me causa arrepios só de lembrar.
Meu pai, como um bom mineiro, sempre teve o hábito de hospedar pessoas conhecidas
pelos da casa (minha mãe, minha irmã e eu) como no caso de familiares.

Mas também convidava desconhecidos para passar dias e até morar conosco, como no
caso de uma mãe que tinha um filho deficiente mental os quais vieram da Bahia para
tratamento de saúde. Ou no caso de amigos dos primos do meu pai que também ficavam
hospedados na casa dos meus pais e, logicamente, sempre dormindo no meu quarto.

Meu pai chegou a hospedar um homem amigo seu de infância quando minha irmã e eu
estávamos na fase de mocinha em que os primeiros sinais da puberdade estavam
aflorando. Isso é um prato cheio para qualquer psicopata ou pedófilos! Homens e uma
família inteira que eu nunca havia visto antes dormindo debaixo do mesmo teto! Era um
pesadelo ver aquele monte de gente roncando, babando e peidando no meu quarto e na
minha cama!

Mas para o meu pai isso era totalmente normal e cômodo. Ele sentia-se orgulhoso vendo
que estava contribuindo para a sociedade e para a sua família. Afinal ele saía para trabalhar
e deixava tudo e todos na conta da minha mãe, da minha irmã e na minha, lógico, desde as
refeições e recepção até a limpeza. Não tínhamos paz. Até meu travesseiro e roupas eu
tinha que ceder.

Eu tinha vontade de gritar e mandar todos irem embora! O medo de novamente ser
abusada sexualmente durante a noite me causava pavor. Mesmo porque eu era a única
pessoa até então de olho azul na família. Eu era o centro das atrações, como um pedaço de
carne na churrasqueira aguardando para ser devorado pelo primeiro lobo!
51

Era assim que enxergava aquele monte de gente estranha que eu nunca havia visto na
minha vida antes. Tinha repulsa a quase todos eles, salvo um ou outro que me tratavam
com respeito.

Não estou dizendo que isso é errado ou alguma prática reprovável, mas tudo tem um limite.
Meu pai fazia isso de forma totalmente exagerada e caso a minha mãe negasse, o olhar
dele e as consequências que a minha sofria, eram aterrorizantes.

O banheiro sempre ficava sujo e a casa desorganizada. Não havia privacidade nem mesmo
para eu tomar banho, pois quase sempre havia alguém usando o chuveiro. Fora as vezes
que abriam o meu guarda-roupas para fuçar as minhas coisas.

Certa vez, meu pai hospedou um dos seus primos que estava decidindo se iria se divorciar
ou não da sua mulher que havia ficado em Minas Gerais. Como de costume meu pai saía
para trabalhar e, pasmem, deixava a minha mãe, minha irmã e eu sozinhas com esse
homem!

Minha mãe me confessou que este cidadão continuamente assediava-a para irem para
cama. Hoje tudo faz sentido. Tanto que eu sempre notei um certo grau de malícia nesse
primo do meu pai. Diante desse pesado, minha mãe implorava o meu pai para retirar esse
cidadão de dentro da nossa casa, mas nunca dizia o real motivo.

Afinal, como a minha mãe poderia confiar no próprio marido que tinha o hábito de
desrespeitá-la e agredi-la? Ela jamais teve coragem de se abrir para o seu marido, mesmo
porque era de se esperar que ele dissesse que a minha mãe estaria mentindo ou
exagerando a ponto de partir para cima dela com tapas e socos.

Perceba, portanto, o tipo de vizinhança, família e pessoas que habitavam na casa dos meus
pais no qual eu convivi e cresci. Porém, essa dura realidade certamente não acabou na
minha infância, pois eu ainda posso estar vivendo. Não somente eu como você também,
pois mesmo sem eu saber, eu estava rodeada de pedófilos, adúlteros e fortes candidatos à
psicopatia.

Afirmo isso com plena certeza, porque até o início deste ano (2023) eu trabalhei numa
empresa aqui em São Paulo, no bairro Vila Olímpia — um dos centros empresariais do
estado —, cujo gestor e dono da empresa me assediava constantemente. Fora os abusos e
acúmulos de função, pois até banheiro eu limpava e cafezinho eu servia. Fora as roupas
52

dele que eu lavei e levei para a costureira lavar, sendo que eu havia sido contratada para
trabalhar na área de marketing e copyright.

Sobre este assunto eu ainda estou tentando reunir forças para um dia explanar. Chorei
várias vezes e perdi muitas mechas de cabelos — não somente fios — por conta dos
horrores que eu sofri com esta criatura.

Mas uma coisa eu preciso te perguntar: por acaso você está a par de como tem sido a
situação do clima organizacional dos seus filhos ou do seu cônjuge onde eles trabalham?
Talvez eles sofrem diversos tipos de situações complicadas, mas por não confiarem em
você, engolem os seus problemas sem ter com quem partilhar e desabafar. Seria esse o
tipo ideal de relacionamento familiar?
53

5. LAR ÀS AVESSAS

Lembro-me perfeitamente dos momentos de extrema dificuldade financeira que minha


família e eu vivíamos durante a minha infância. Nós morávamos numa casa de madeira cujo
telhado tinha goteira, onde mal havia leite na leiteira ou uma abóbora na fruteira.

A maioria das nossas roupas eram de doação e até água tivemos que pedir à vizinha para
podermos tomar banho de caneca. Minha mãe continuamente sentia dores de cabeça e
meu pai trabalhava na construção da casa após chegar do culto a noite mesmo já sendo
tarde ou embaixo do sereno.

Minha irmã sempre foi companheira da minha mãe. Ajudava-a em tudo. Já eu, só
atrapalhava. Subia em cima da geladeira, me pendurava na janela. Quebrava as poucas
coisas de dentro de casa. Eu era extremamente inquieta. Na verdade, eu tinha um
comportamento anormal.

Durante a noite enquanto todos já haviam dormido, eu ainda estava deitada tentando
aquecer-me do frio que fazia. Fiquei olhando para o teto furado e, inesperadamente, senti
uma força esmagadora sobre a minha cabeça e garganta tentando me sufocar até que eu
morresse.

Fiquei apavorada, mas eu não conseguia mover-me do lugar. Os únicos músculos que eu
consegui articular naquele momento foram os da minha pálpebra. Fechei os olhos e esperei
a morte me levar. Mas ainda não havia chegado o meu dia.

O telhado parecia que havia descido sobre mim e o chão tornou-se como uma gelatina. As
paredes de madeira começaram a se aproximar uma da outra como se fossem me
espremer. Senti como se fosse desmaiar.

Eu estava delirando por conta da dor e efeitos dos remédios por conta do início da primeira
de várias pneumonias e outras doenças que os médicos não conseguiam descobrir
exatamente do que se tratava. Era possível notar que havia algo de errado comigo.

Ao longo da minha infância, além de problemas respiratórios, fui acometida de catapora e


toxoplasmose. Mesmo assim, apesar de eu ter tido o privilégio de nascer num lar cristão,
não me recordo de nenhum momento dos meus pais ou mesmo algum pastor conversar
particularmente comigo, dizendo para eu lutar contra as doenças que surgiam em mim.
54

Ou até mesmo confiar no Senhor, bem como andar com Ele dia a dia, aprender a ouvi-lo em
meu espírito e seguir as suas orientações. Ou mesmo os meus pais fazerem uma oração de
libertação. Eu ouvi alguma coisa superficial nas aulas dominicais, mas direcionadas para
mim em particular, definitivamente não.

E vocês, pais, têm mostrado aos teus filhos como lutar contra as astutas artimanhas de
Satã? Vocês, pais, têm dado exemplo dentro de casa de como servir e buscar a Deus
diariamente e com constância? Vocês, pais, brigam na frente dos seus filhos? Todos vocês
ficam agarrados na frente do celular, computador e televisão ou dedicam-se à leitura e
estudos bíblicos, bem como em oração? Com o que vocês têm alimentado a sua alma?

É importante citar que, por meio da projeção astral, satanistas são capazes de elevar seus
corpos espirituais em direção ao alvo desejado, que no caso era a minha vida.
Frequentemente eu tinha pesadelos e pior, sofria de sonambulismo.

Ainda dormindo eu levantava da minha cama, passeava pela casa, abria armários, bem
como conversava de forma natural e de olhos abertos como se eu estivesse acordada. Era
bastante assustador.

Quando minha irmã e eu ainda dormíamos no mesmo quarto, frequentemente ela


confirmava que me ouvia falar enquanto eu dormia, fora as vezes que ela conversava
comigo, tentando extrair informações sobre o que eu estava dialogando. Inclusive, eu
mesma já acordei por ouvir a minha própria voz de tão alto que eu conversava.

Saiba que se a tua casa não estiver protegida pela presença do Senhor Jesus Cristo, você,
sua família e seus bens correm sérios riscos de serem destruídos de todas as formas,
sendo a pior delas, a falta de paz interna e de comunhão com Deus.

Era de se esperar que eu seguiria os caminhos de Deus por meio da via direta, ou seja,
fazendo o mesmo que os meus pais e a minha família sempre fizeram, que era frequentar
uma igreja cristã evangélica e seguir os preceitos do Senhor Jesus Cristo.

Entretanto, foi exatamente de forma bem indireta, justamente por conta dos absurdos que
eu vi e participei dentro da casa dos meus pais e em reuniões de família (aniversários,
almoços e casamentos, por exemplo) desde quando criança.
55

Meus pais enfrentaram muitos problemas financeiros e tiveram que fazer muitos tipos de
cortes de gastos para manter a família. Eu sempre ouvi a frase “Temos que economizar”,
mesmo assim lutavam para garantir um lar acolhedor, próspero e de princípios cristãos.

Além disso, sempre nossos pais não pouparam esforços para nos dar a oportunidade de
estudarmos em ótimas escolas e ter uma ótima alimentação. Mas ainda assim, falta algo
bastante importante entre nós: diálogo e exemplo dentro de casa.

Isso porque eu não entendia que, como eles mesmo sendo cristãos e guiando minha irmã e
eu nos caminhos de Deus, tínhamos um lar às avessas marcado por desunião, falta de
comunhão e convívio familiar? Leitor cristão, o teu lar também comporta-se desta forma?

Tanto que o casamento deles foi (e continua sendo) majoritariamente conturbado e marcado
por brigas, discussões e agressões físicas. Consequentemente, eu passei a ver a casa dos
meus pais não como um local acolhedor, base fundamental ou uma referência para a
formação do meu caráter e personalidade. Pelo contrário, passei a considerá-lo como um
lugar que eu tinha desprazer em permanecer.

Pior, começou a surgir em minha mente algum tipo de contradição causado pelo
comportamento de ambos que costumava ser de um tipo na igreja onde congregávamos e
de outro em casa. Isso porque, raramente se apresentavam como as mesmas pessoas.
Havia uma duplicidade de identidade por parte deles e, consequentemente, por mim
também.

Assim, formou-se em mim de modo natural e totalmente inevitável, a formação de um


caráter dicotômico, pois na igreja eu era uma santa, mas na escola e dentro da casa dos
meus pais, eu era uma criança claramente perturbada.

Talvez o que mais me doía não fosse o fato de ter passado por diversas doenças, acidentes
e abusos sexuais, mas ver o meu pai agredir a minha mãe. Paralelamente comigo, ele era
um verdadeiro paizão.

Nada disso fazia sentido algum na minha mente. Havia um verdadeiro descompasso e falta
de coerência nas atitudes do meu pai como marido da minha mãe e, consequentemente,
nas minhas também como filha e irmã.
56

Passei a fazer uma leitura errada da vida. Achava que os homens como maridos eram ruins
e como pai, poderiam ser aceitáveis. Por conta disso, passei a sentir desejo sexual por
mulheres e não por homens.

Nosso lar era marcado por um ciclo de agressões físicas e verbais. Isso porque meu pai
agredia a minha mãe, depois minha mãe descontava a sua raiva em mim, em seguida eu
desforrava meu ódio na minha irmã que sempre era protegida pela minha mãe.

Por fim, meu pai costumava dar uma surra em mim e, algumas vezes, na minha irmã por
conta das nossas brigas. Assim, rapidamente eu perdi a minha confiança não só em meus
pais como também a minha fé em Deus.

Além disso, eu buscava qualquer tipo de ocasião para descontar a minha raiva em alguém
da escola, da igreja ou nas crianças do bairro. Passei a ter prazer em arrumar brigas. Assim
como, a brutalidade esteve presente na casa dos meus pais por pelo menos longos 20 anos
na casa dos meus pais, passei a fazer o mesmo com as pessoas que eu convivia.

Esse efeito dominó maligno de escalada de surtos de raiva foram cientificamente


comprovados através de estudos sobre comportamento humano quando concluíram que a
raiva alimenta a raiva.

Isso porque quando o corpo já está previamente irritado com alguma situação, é bem
provável que qualquer outro episódio a seguir desencadeará em um novo evento de
desequilíbrio emocional, ira, cólera ou ansiedade ainda maior do aquele que originou.5

Por exemplo, era comum minha mãe usar a seguinte frase: “Se eu estou de nariz torcido
contra alguém, então eu torço o meu nariz contra todos”. Assim, certa vez sem eu saber
que meu pai havia agredido a minha mãe e eu cheguei até ela para perguntar alguma coisa,
mas naturalmente ela respondeu aos berros com bastante rispidez:
— O que é que você quer!? Vê se não me enche o saco!

Então eu saí correndo da frente dela e, involuntariamente, buscava alguma forma de tirar
essa tensão de sobre as minhas costas. Geralmente eu gritava de volta — logicamente
mantendo alguma distância, de modo que o seu chinelo ou mão não atingissem os meus

5
Goleman, Daniel (1999). Inteligência Emocional. Ed. Objetiva. p.74
57

dentes —, surrava algum dos nossos bichinhos de estimação, comia doces, me masturbava
ou subia no telhado da casa ou da copa da árvore.

Tudo porque um segundo sentimento carregado de energias malignas sempre é maior que
o primeiro que o originou, sendo que o resultado disso tudo acaba gerando mais e mais
episódios de raiva, xingamentos, bate-boca e, inevitavelmente, o chamamento de demônios
ainda piores àqueles que participaram da primeira situação.

Assim, facilmente ocorrem novos episódios de explosões de violência, como agressões de


maior intensidade e deferimento de palavras que causam feridas emocionais de difícil
cicatrização ou pecados imperdoáveis, que é o caso da blasfêmia contra o Espírito Santo.

Certa vez, num fim de tarde quando eu havia acabado de chegar da escola saltitante e feliz
porque eu poderia enfim voltar para casa e comer algo na companhia dos meus pais, minha
mãe disse olhando para mim:
— Pronto! Minha alegria acabou!

Parei de pular de alegria, abaixei meus ombros, peguei minha mochila e me tranquei no
meu quarto. Eu não disse nada, mas dentro de mim eu gritava, pois eu queria morrer
naquele dia. Queria nunca ter existido. Queria ter sofrido um acidente de trânsito e voltado a
casa dos meus pais dentro de um caixão a ter ouvido aquelas palavras.

Verdadeiramente, o lar dos meus pais foi um verdadeiro mar de despejo de raiva e, pior,
naturalmente eu repliquei grande parte do que eu aprendi e vivenciei nos relacionamentos
que eu tive no futuro. Infelizmente, isso foi inevitável. Por conseguinte, passei a odiar a
minha existência.

Era nítido observar que todos os membros da casa dos meus pais maquinavam alguma
forma de vingar-se em represália ao que havia sofrido. O ciclo vicioso de brigas girava da
seguinte forma: escondido da minha mãe, meu pai gastava dinheiro em várias situações
que mais tarde minha mãe soube que foi com as despesas de casa da ex-esposa do irmão
do meu pai que haviam se divorciado.

Entretanto, meu pai jamais gastava algum dinheiro com a minha mãe que fosse destinado à
saúde do casamento deles, como por exemplo, um jantar romântico ou uma viagem
somente entre os dois.
58

Consequentemente, minha mãe procurava fazer greve de sexo e nunca perdia a


oportunidade de ser ríspida com ele e, logicamente, comigo tambem. Ela mantinha amizade
somente com a minha irmã e com a cadela que tínhamos.

Já a minha irmã tratava tudo e todos com indiferença. Ela passou a se comunicar somente
com a minha mãe e não mais comigo e nem mesmo com o meu pai. Literalmente ela se
fechou em sua suíte lá nos fundos do segundo andar do fundo da casa e só saía para ir à
igreja, ao seu trabalho ou comer algo na cozinha.

Ela adotou um lema para com os da casa: falar menos que o necessário. Nada mais além
disso. Já no meu caso, continuei fazendo todos aqueles horrores descritos anteriormente,
progressivamente mostrava-me que eu me tornaria uma “pessoa” — se é que se pode
chamar de ser humano — sem solução.

Nós quatro parecíamos verdadeiros animais irracionais mergulhados num estado de


comportamento selvagem. Estávamos bem aquém do que pode ser considerado como
servos de Deus, pois até mesmo dois filhotes de gatos quando criados juntos, tornam-se
inseparáveis quando adultos.

Nem mesmo uma família de pinguins teria um comportamento autodestrutivo como o nosso,
uma vez que essa espécie de aves além de serem monogâmicas, os pais se revezam na
busca de alimentos de modo que os filhotes nunca fiquem sozinhos, à mercê de predadores
e das temperaturas muito abaixo de zero.

Um lar referência vai muito além das provisões de sobrevivência como alimentos, vestuário
e um teto sobre a cabeça. A formação de bons cidadãos reflete diretamente no tipo de
ambiente em que os filhos estão inseridos. De que adianta cuidar do corpo físico da criança,
se a mente dele está constantemente sendo bombardeada pelos horrores vividos dentro de
casa?

A contradição familiar existente na casa dos meus meus pais, tem origem naquilo que eles
viveram durante a sua infância na casa dos seus genitores. No caso da minha mãe, meus
avós maternos causaram tão grande rombo na alma dela, atos de violência de diversas
sortes eram quase diários, os quais são difíceis de descrever.

Minha mãe e seus irmãos apanhavam de seus pais por qualquer motivo: se o sol nascia ou
se punha, eles levavam uma surra (de chicote, na maioria das vezes). Apenas à título de
59

exemplo, quando minha tia materna estava por volta dos seus 13 anos, ela decidiu sentar
no peitoril da janela da sala para ver o movimento da rua.

Minha tia estava descansando após ter feito todas as atividades domésticas juntamente
com a minha mãe, dois anos mais velha que ela. Afinal, tal serviço foi-lhes imposto pela
minha avó materna desde que eram crianças, como uma obrigação que sempre deveria ser
rigorosamente cumprida.

Assim que meu avô materno viu a minha tia naquela posição, foi silenciosamente
caminhando em sua direção e, ao chegar por detrás dela, abraçou-a com toda a brutalidade
de um ser endemoniado cheio de ódio e rancor interno.

Em seguida ele desferiu-lhe pancadas e golpes sem qualquer aviso prévio do motivo da
surra, cujo ato causou a minha tia traumas o suficiente, de modo que ela não esqueceu
deste episódio, mesmo passados mais de 50 anos.

O horror e assombro sempre estiveram presentes na casa dos meus avós maternos, os
quais paradoxalmente procuravam ser assíduos a todos os cultos e atividades da igreja
evangélica onde frequentavam, uma vez que meu referido avô — sim, o pai da minha mãe
— era o principal dirigente desta igreja, ou seja, o pastor.

A situação tornava-se cada vez mais complexa, cruel e desumana na casa dos meus avós
maternos. Tanto que sem nenhuma justificativa plausível, meu avô ao ver que seus três
filhos homens estavam atrasados para culto por ficarem jogando bola rua com outros
meninos da mesma idade deles, correu apressadamente desferindo-lhes golpes, surras e
violência bem na frente de todos.

Foi uma verdadeira tarde marcada por memórias de dor emocional e física por conta do
show de horrores, humilhação e vexame proporcionado pelo meu avô. Até hoje é fácil notar
que tantos os olhos da minha tia e como os da minha mãe, transmitem claramente uma
mensagem de espanto e medo dos seres humanos. Inclusive os meus também.

Essa cena de humilhação foi o suficiente para que nenhum deles pisasse mais na igreja
onde (impositivamente) iam com a família. Além disso, como resultado, a maioria deles
(senão todos) tornou-se alcoólatra, violento, bruto e usuários de drogas.
60

Já o meu pai ficou órfão de seu pai durante a pré-adolescência sendo criado juntamente
com seus outros oito irmãos pela minha avó paterna que havia ficado viúva em seus 33
anos de vida.

Minha família paterna nunca foi de comentar absolutamente nada sobre meu falecido avô.
Porém, a única informação que tenho é que uma falecida irmã da minha avó paterna
comentou que meu avô era um homem de difícil convivência, violento com os filhos, mas
amável com os fora da família.

A conversa foi mais ou menos assim: minha mãe presenciou quando a minha avó paterna
comentou sobre seu falecido esposo dizendo que era um bom homem e que sente muito
pela sua partida principalmente por ter morrido tão jovem (um pouco mais de 40 anos). Mas
na mesma hora essa minha tia a interrompeu dizendo:
— Penina!? Como você pode falar que seu falecido marido era um homem bom!? —
exclamou indignada a minha tia avó.

Ou seja, tanto meu pai como minha mãe vieram de um lar que ao invés de ser acolhedor e
funcionar como refúgio, foi na verdade, um local que lhes causou feridas as quais prefiro
não entrar em detalhes (principalmente quanto à minha mãe) para não expô-los.

Várias foram as brechas abertas em mim para que eu estivesse exposta à entrada de
muitos demônios que mudariam a minha personalidade e futuro. Não somente causadas
pela referida boneca que ganhei, mas por uma palavra mal dita ou qualquer outro tipo de
trauma que fosse suficiente para ferir a minha alma.

Cuidadosamente tornei-me uma pessoa marcada e vigiada por Satanás. Eu passei a


sentir-me atraída por assuntos que invocam a presença de demônios como, por exemplo,
jogos sobrenaturais que envolvem o uso de copos e canetas. Assim, quanto mais eu crescia
mais eu notava que algo diferente e estranho crescia dentro de mim. Entretanto, não sabia
o que era.

Passei por vários anos de dor, solidão e rejeição. Dor, por conta das sucessivas doenças
que surgiam e acidentes que eu sofria; solidão porque não sabia me relacionar com
absolutamente ninguém, nem mesmo com minha irmã ou com meus pais; e rejeição porque
tinha péssimos hábitos comportamentais.
61

A morte passou diversas vezes perto de mim querendo tragar-me para o inferno, mas pela
imensa graça de Deus, nunca conseguiu. Minha mãe costumava dizer que ao meu redor
não havia somente um anjo da guarda, mas uma grande escolta de anjos.

E inclusive, reiterava a minha mãe, havia um anjo da guarda para o meu anjo da guarda.
Hoje eu entendo que sempre houve (e ainda há) uma proteção especial de Deus sobre mim
sobre cada um dos meus passos.

Entretanto, apesar desta proteção divina, eu fui uma criança muito doente durante longos
anos da minha vida, uma vez que Deus sempre tem um propósito muito bem calculado para
todas as coisas que nos sobrevém, conforme consta a passagem:

E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. (Romanos
8:28)

Naturalmente como em muitos outros casos de possessão demoníaca, o desejo por


vingança tornou-se algo normal em minha vida, bem como o de aprender qualquer tipo de
luta ou atividades de autodefesa para desforrar nas pessoas o ódio interior que sentia.
Passei a ter uma excessiva irritação a tudo que estava relacionado à palavra “ser humano”.

Contudo, como meus pais tinham uma situação financeira muito desfavorável (graças a
Deus por isso) e por não concordarem que eu me envolvesse em lutas, nunca concordaram
que eu praticasse isso. Mesmo porque a igreja onde congregávamos considerava (hoje não
mais) a prática de qualquer atividade esportiva ou lúdica como pecado.

Logo, passei a consumir vários filmes que passavam em canal aberto de televisão que
tratavam sobre quaisquer tipos de lutas. Eu ficava cerca de 6 a 8h diárias na frente da
televisão. Esta foi a alternativa mais cômoda, barata e rápida de me fazer ficar quieta por
seguidas horas do dia antes de ir e após voltar da escola.

Instintivamente, passei a interessar-me por filmes de superstições, terror e, principalmente,


que envolvesse pornografia. E assim, cumpriu-se em mim o texto sagrado que diz:

Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas
e as tuas vagas têm passado sobre mim. Salmos 42:7
62

Consequentemente tornei-me facilmente uma pessoa rude, grosseira, ríspida e, acima de


tudo, violenta com pessoas, com os objetos e com os animais. Tinha desejo e sentia prazer
em provocar ódio e dor nas pessoas quando enfrentava algo que discordasse da minha
opinião ou que a minha vontade não fosse cumprida.

Certa vez, uma das tantas brigas violentas entre minha irmã e eu, meu pai interviu na
situação sem querer saber quem de fato era a culpada. Ele simplesmente deu uma bela
surra, primeiramente, na minha irmã e, depois, em mim.

Só que, como quase sempre, a culpa era minha, porém, ele bateu tanto nela, como em
mim. Mas, neste momento, enquanto estávamos sendo corrigidas, algo trágico aconteceu.
Minha irmã tinha 12 anos e eu nove. Nunca mais minha irmã foi a mesma.

Pais, como vocês administram os atritos que surgem entre vocês e entre os seus filhos? Há
efeito dominó na sua casa assim como havia na casa dos meus pais?
63

6. SILÊNCIO ENSURDECEDOR

Desde criança — inclusive ainda na fase jovem —, eu sempre apresentei sinais graves de
violência contra a minha irmã através de socos, tapas, puxões de mechas de cabelo, bem
como às pessoas com quem eu convivia e aos inocentes animais de estimação.

Porém, dentre as tantas brigas cruéis que eu tive contra a minha irmã, houve uma que foi
um verdadeiro divisor de águas, uma vez que gerou um verdadeiro abismo desmedido entre
nós duas, o qual perdura até hoje, mesmo após mais de 28 anos.

Era perceptível que eu tinha força equivalente a de um menino da minha idade e que havia
um elevado nível de ódio habitando dentro de mim. Inclusive o hábito de praticar pequenos
furtos, masturbações e de usar palavras maldizentes eram verdadeiramente comuns no
meu dia a dia.

Percebi que causar dor em um ser vivente tornou-se algo comum na minha vida e,
comumente, às escondidas, eu invocava a presença de Satanás. Não satisfeita, comecei a
mutilar a minha coxa direita com a ponta meio enferrujada do compasso. Passei a sentir
satisfação em causar-me autoviolência.

Neste momento eu realmente preciso fazer a pergunta: vocês, pai e mãe, acham que
realmente conhecem mesmo os seus filhos? Vocês acreditam mesmo que eles estão salvos
somente pelo fato de acompanhá-los diariamente aos estudos bíblicos ou porque vão à
igreja?

Enfim, em relação à minha irmã, ela sempre se mostrou como uma menina estudiosa, doce,
meiga, de poucas palavras e disciplinada. Já eu era totalmente o oposto: ainda aos meus
10 anos de idade, eu não apresentava algum traço de delicadeza e feminilidade, pelo
contrário. A brutalidade e a força descomunal, eram visivelmente presentes em meus atos.

Durante aquela surra por conta de uma briga, logicamente, causada por mim, quando meu
pai pegou no braço dela e virou-a para dar-lhe chineladas na sua traseira, a sua saia
rodada, girou de tal forma que as suas partes íntimas inferiores frontais ficaram à mostra.

Imediatamente e minha irmã cobriu o seu rosto com suas duas mãos enquanto ele batia
nela. Jussara não reagiu, mas apenas escondeu o seu rosto com as palmas de suas mãos
e suportou tudo, não somente a dor física como a humilhação, totalmente calada.
64

Essa cena específica, esse momento de dor, esse grito sem som, seu silêncio por estar
sofrendo por algo que ela não havia feito, nunca saiu da minha mente. Eventualmente, esse
acontecimento ainda se repete nas minhas memórias de destruição sempre no modo slow
motion.

Isso foi o suficiente para que ela nunca mais tratasse o meu pai e a mim e da mesma forma.
Jussara passou a não mais olhar para o rosto do meu pai e, muito menos, para a minha
cara, mesmo quando dirigia alguma palavra para nós.

Absolutamente nunca mais eu a vi abraçá-lo, nem mesmo chamá-lo de “senhor” conforme


fomos educadas e instruídas por ele desde pequenas. Desta forma, ela passou a reportá-lo
por “Cê”:
— Pai, “cê” sabe onde está… “Cê” tem como me levar de carro até… “Cê” isso… “Cê”
aquilo…

Era perceptível que todas as vezes que a minha irmã reputava o nosso pai por “Cê”, ele
sentia-se mal de espírito, desgostoso com a vida e verdadeiramente desrespeitado. Tanto
que desde que houve esse incidente, meu pai passou a andar com o semblante
amargurado e com o sentimento de decepção.

E quanto a mim, Jussara manteve o completo e ensurdecedor silêncio. Simplesmente parou


de falar comigo. Passou a ignorar totalmente a minha presença ou mesmo a minha
existência. Para ela, como dizia a minha mãe: “Tanto faz, tanto fez”.

“Se a Jaqueline ainda está viva por conta das doenças e acidentes, ok”, mas “Se ela
morreu, ok também”. Afinal “A Jaqueline não fede e nem cheira”. Essas eram as frases que,
ao meu ver, se passavam na cabeça da minha irmã.

Infelizmente, a semente de destruição de Satanás já estava germinando e dando os frutos a


cem por um. A casa dos meus pais tornou-se dividida, fragilizada e destruída, mesmo sem
divórcio.

Desde então, nunca mais minha irmã foi a mesma. Nunca mais nossa família foi a mesma.
Nunca mais houve união entre nós. Nunca mais rimos juntos em uma mesa de jantar,
somente nós quatro. Nunca mais houve paz entre nós.
65

Antes que eu me esquecesse, após a surra que a minha irmã recebeu, foi a minha vez de
apanhar do meu pai. No outro dia de manhã após o meu pai ter saído para trabalhar, eu
estava deitada na minha cama ainda dormindo, quando subitamente minha mãe abriu a
porta do meu quarto com um cinto em sua mão vindo para cima de mim.

Seu rosto estava assustadoramente ameaçador. A cada palavra dita por ela, eu recebia
uma cintada em várias partes do meu corpo:
— Eu (paf!) já (pow!) falei (blef!)... — gritava a minha mãe durante a surra.

De modo involuntário, eu busquei proteger o meu corpo com as minhas mãos. Mesmo
assim a surra continuou. As veias dos meus dedos ficaram tão sensíveis e à flor da pele por
conta dos golpes, que quase acabaram estourando.

Uma das suas últimas palavras foi:


— Ontem você recebeu uma surra do seu pai, mas hoje eu estou te batendo por conta da
surra que sua irmã levou por sua culpa!

Fiquei largada na cama gemendo de dor e com o coração acelerado, mas eu não chorei.
Não senti nada além de dor física. Afinal, eu já estava planejando a minha morte mesmo.
Essas constantes surras e brigas familiares eram apenas uma despedida.

Os vizinhos que estavam ocupados com os seus afazeres, ficavam em total silêncio
acompanhando toda a cena, detalhe por detalhe. Que vexame... Uma família de crentes
violentos, cuja filha — eu, lógico — apresentava traços nítidos de anormalidade.

Esse tipo de situação infelizmente tornou-se recorrente. Eu era uma criatura tão complicada
e insuportável, que era comum eu apanhar dos meus pais quase toda a semana. Inclusive,
cheguei a levar três surras no mesmo dia! Uma de manhã, outra à tarde e outra assim que
chegamos do culto à noite.

Meus pais usavam da criatividade para me bater: vara de goiaba, cabo de vassoura, cabo
da faca, a mão grande e pesada deles, chinelo, pedaço de mangueira de jardinagem e por
aí vai. Não discordo em nada das surras que levei, mesmo porque a palavra de Deus diz:

A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma,


envergonha a sua mãe. (Provérbios 29:15)
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Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso
morrerá. Tu a fustigarás com a vara, e livrarás a sua alma do inferno. (Provérbios
23:13,14)

Além disso, por algumas vezes eu brinco dizendo: “Meus pais me bateram muito, mas
deveriam ter batido mais”. Afinal, eu fazia por merecer. Porém, estava totalmente claro que
apenas bater não é suficiente, pois a palavra de Deus afirma:

Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se
desviará dele. (Provérbios 22:6)

Porém, muito mais que ensinar, o exemplo é a melhor forma de ensinar algo à alguém,
sobretudo quando se trata de crianças. Na verdade, no fundo, a vivência tem me mostrado
que o exemplo não é a melhor forma de educar uma criança, mas a única. Concorda?

Apesar da dor e das marcas das surras pelo meu corpo, passei a não ligar, pois eu já havia
me acostumado a ser espancada. Porém, passei a alimentar um ódio sem medidas contra
os meus pais e à minha irmã, ainda que eu fosse a causa de quase todos os problemas da
nossa família.

Além de odiar, aprendi a julgar as pessoas antes de saber sobre a vida delas. Eu apenas a
olhava e já tinha uma opinião formada contra a sua pessoa, quando não era levada por
influência de terceiros sem mesmo conhecer de quem estavam falando mal pelas costas.

Ou seja, eu facilmente tomava partido das opiniões e influências dos outros. Mas não era de
se estranhar que isso acontecesse comigo, afinal de contas eu era uma pessoa — se é que
se pode chamar assim — totalmente sem caráter e personalidade indefinida.

Passei a adotar alguns paradigmas na minha vida, tais como: “A vida me bate e eu devolvo
em dobro, com mais força e com mais intensidade”. Inclusive, percebi que eu não era a
única a ter esse tipo de comportamento: tanto os meus pais como a minha irmã, também
eram pessoas bastante rancorosas e vingativas.

Passei a usar uma máscara com o intuito de esconder o monstro que habitava dentro de
mim, sem contar os novos ideais de qualidades personológicas que eu havia escolhido para
mim, a saber, rancor e vingança.
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Entretanto, ninguém pode viver uma mentira para sempre. Inclusive a verdade ela surge
quando menos se espera e do modo mais imprevisível, o que muitas vezes envolve dor,
perdas, exposição, constrangimentos e confusão de pensamentos.

A confusão na minha mente sobre o que era certo e errado intensificou-se. Sempre,
absolutamente sempre, eu me senti como um incômodo em qualquer lugar que eu
estivesse. A verdade era que eu, ainda que não reconhecesse, precisava de ajuda.

Sempre achei que eu não tinha importância alguma para as pessoas. A sensação que eu
tinha era a de que eu não tinha espaço na sociedade. Na minha mente, eu não passava de
um número na casa dos meus pais: a filha caçula.

Eu não tinha nada que fosse de mim mesma. Não havia genuinidade nas minhas ações. O
meu âmago não era próprio, mas sim totalmente insosso e incongruente. As coisas
horríveis que eu vivi na minha infância e a base familiar que eu recebi, não cabiam na
minha mente.

Era o mesmo que usar um calçado com um número bem acima do tamanho do meu pé. Era
impossível caminhar com aquele fardo. Porém, eu sempre acreditei que haveria algum tipo
de remédio para mim que me trouxesse cura e esperança. E isso viria por meio do suicídio.

Passei a afastar de mim as pessoas que mais me amavam: meus pais e família como um
todo. Queria vê-los longe de mim. Havia um ódio interno que me sufocava, porém eu não
estava chateada com os meus pais, mas sim com a verdade.

Era enlouquecedor conviver com certas frases dirigidas: “Jaqueline, você é um nada!”,
“Você é imprestável!”, “Ninguém gosta de você”, “Você nasceu pra viver e morrer sozinha!”,
“Nada do que você faz é bom!”, “Eu te rejeitei antes de você nascer!” e “A minha felicidade
acabou depois que você chegou”, “Eu queria ter um irmão e não você” e “Você é a causa
dos nossos problemas”.

Não satisfeita, eu continuei a envolver-me em situações embaraçosas que corroboram para


aumentar ainda mais o afastamento da minha irmã. Lembro de um fato bastante
perturbador que aconteceu no ano de 2002 entre minha irmã e eu.

Quando eu tinha por volta dos dezesseis anos, eu peguei um álbum de fotos antigas dos
meus pais e acabei encontrando algumas minhas de quando eu tinha aproximadamente
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quatro anos. Juntamente comigo, estava a vizinha dos fundos que também fazia parte da
igreja onde eu congregava.

Sem pensar duas vezes, eu retirei-as do álbum, coloquei-as dentro da minha bíblia e
quando foi a noite, levei-as comigo à igreja. Após o culto, eu mostrei para quem quisesse
ver as fotos que eu havia levado.

Não havia nada de errado nas fotos, exceto por um pequeno detalhe que me passou meio
despercebido: minha irmã também estava nas fotos. Pior: tanto a vizinha, como minha irmã
e eu estávamos somente de calcinha! Que fiasco…

Mas algo pior ainda em dose tripla aconteceu. Uma das pessoas que acabou vendo essas
fotos, foi o então namorado de Jussara. Sem pensar duas vezes, ele correu na mesma hora
até a minha e disse:
— Tua irmã está mostrando para todo mundo fotos suas de quando vocês eram crianças
usando somente calcinha!
— O quê!?

Na mesma hora Jussara veio até mim e disse com sangue nos olhos:
— Me dê essas fotos!
— Não! Porquê eu deveria? — perguntei.
— Porque eu estou nelas e você não tem o direito de mostrá-las sem a minha autorização!
— respondeu Jussara com muito ódio.

De fato, ela estava totalmente correta, mas eu fiz isso sem qualquer pretensão de ofendê-la
ou mesmo de mostrar a nossa nudez, mesmo porque éramos crianças inocentes nas fotos.
Repare o quão inconsequente eu era nas minhas escolhas.

Porém, como já havia mais de doze anos que minha irmã e eu vivíamos em pé de guerra,
um verdadeiro show infernal foi montado bem ali no jardim da igreja com uma quantidade
considerável de plateia.

Minha irmã deu as costas para mim e correu até o meu pai contando tudo o que havia
acontecido. Meu pai veio até mim ainda usando paletó e gravata, pois mal havia acabado o
culto e disse:
— Jaqueline! Me dê essas fotos!
— Mas por que pai? Eu estou apenas mostrando…
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Nem terminei de falar e meu pai tomou-as das minhas mãos e disse para eu voltar para
casa. Jussara já havia voltado para casa antes de mim, bufando de raiva. Mal sabia eu que
ela estava tramando algo contra mim assim que eu chegasse em casa.

Voltei com uma senhora que congregava conosco e que era vizinha dos meus pais. Eu me
despedi dela e inseri a chave no portão da rua. Fechei-a após mim e, em seguida, abri o
outro portão de acesso à entrada da copa.

Após isso, fechei-a novamente após mim. Mas quando eu abri a porta da copa para enfim
estar de fato dentro da casa dos meus pais, a mesma foi bruscamente fechada na minha
cara quase causando-me o nariz ou os dentes da frente quebrados.

“Jussara!”, pensei. Ela ficou vigiando meu retorno e esperou calmamente atrás da porta da
copa até que eu chegasse, de modo que forçosamente eu ficasse do lado de fora de casa
sozinha até que nossos pais chegassem.

Eu abri novamente a porta, mas apesar de ser menos forte do que eu, Jussara conseguiu
novamente fechar a porta na minha cara, pois ela estava em vantagem. Estrategicamente,
ela apoiou os seus pés num móvel bem pesado da copa que havia atrás de si.

Desta forma, mesmo eu sendo bem mais forte e mais alta que ela, Jussara conseguiu ter
mais força do que eu, garantindo, assim, que a porta permanecesse fechada e eu fosse
mantida do lado de fora.

Os demônios que habitavam começaram a agitar-se dentro de mim, incitando-me a fazer


alguma coisa contra a minha irmã. Pensei em escalar o portão dos fundos da casa e entrar
pela fresta que havia na grade onde eu ainda conseguia passar.

Chegando lá, eu iria agredir minha irmã, de modo que ela iria se arrepender por ter me
deixado do lado de fora de casa. Mas alguma coisa me impediu e por isso acabei desistindo
de adentrar à casa dos meus pais.

Fui até a vizinha que havia me trazido e lá fiquei até meus pais chegarem. Encontraram
somente a minha irmã dentro de casa e imediatamente ligaram para a vizinha perguntando
por mim.
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Ao chegar à casa da minha dos meus pais, minha irmã assistiu prazerosamente a bela
surra que nosso pai deu em mim. A cena que ela presenciou dele descarregando em
minhas pernas a sua robustez no uso do cinto que havia usado no culto à noite, foi como
um pequeno alívio frente à raiva que ela estava sentindo.

Segurei o choro e após entrar no meu quarto, comecei a traçar maneiras de sumir da casa
dos meus pais ou mesmo seguir em frente com o plano de tirar a minha própria vida.

Hoje eu agradeço por eu não ter conseguido entrar na casa dos meus pais, pois certamente
nós duas poderíamos ter nos envolvido numa briga que poderia até mesmo ser necessário
parar no pronto socorro por lesão corporal.

Queridos pais, como tem sido a convivência entre os seus filhos? Em caso de brigas, vocês
costumam ficar sempre do lado de algum deles? Quais têm sido as causas das brigas entre
eles?
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7. TRIBADIA

Minha mãe mantinha um segredo que jamais poderia ser praticado dentro de casa para que
o meu pai não fosse descoberto por conta do cheiro: apesar de sempre estar dentro da
igreja, era fumante e escondia isso de todos.

Para isso, ela ia à casa dos vizinhos que, em sua grande maioria, eram muito católicos. Eu
quase sempre acompanhava a minha mãe. Ela tocava o interfone enquanto olhava para os
lados certificando-se se havia alguém conhecido por perto, sobretudo se fosse o meu pai.

Em seguida, se identificava e depois entrávamos. Lá dentro ela cumprimentava o seu amigo


que era homosexual, ia até à copa, abria a porta da estante, pegava o seu maço, batia-o na
palma da mão até que aparecesse um pela abertura da caixinha do cigarro.

Ia até à beira do fogão e acendia-o na chama que estava acesa cozinhando alguma coisa
que estava na panela de pressão. Acho que era feijão. Ainda dentro da cozinha ela
escorava suas costas contra a parede e, com cuidado, deslizava-se até o chão tomando a
posição de cócoras de modo a não mostrar as suas partes íntimas, pois sempre usava saia.
Afinal, essa era uma exigência da igreja onde congregávamos.

Ela dava uma boa tragada soltando a fumaça pelo nariz enquanto músicas dos anos 80
tocavam na rádio Antena 1. Ela conversava e ria com o seu amigo. Eu observava tudo e
quando me enfadava, eu ia até o quintal comer uma das minhas frutas favoritas: jambo.

Pegava alguns frutos e me deliciava enquanto estava sentada em um dos troncos da copa
da árvore. Após descer eu observava cada uma das garrafas de bebidas alcoólicas vazias
que estavam milimetricamente organizadas e enfileiradas na prateleira. Esse amigo da
minha mãe tinha um bar.

Muitos dos rótulos das garrafas continham cenas pornográficas como no caso de um
marinheiro que segurava uma mulher seminua estirada em seu colo que parecia estar
embriagada. Aquelas imagens causavam ainda mais o meu desejo sexual.

Até que foram interrompidos com a voz da minha mãe dizendo:


— Jaqueline! Vamos! — gritou a minha mãe.
— Já vou! — respondi.
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Fui até a minha mãe.


— Bora? — perguntou ela.

Acenei com a cabeça concordando. Ela então pegou um cravo e mastigou para disfarçar o
cheiro do cigarro. Caminhamos em direção ao portão da rua. Ela abriu e olhou para os
lados. Não havia ninguém por perto. Atravessamos a rua e voltamos para casa como se
nada tivesse acontecido.

Essa cena repetiu-se por aproximadamente três anos, até que um dia ao voltarmos da casa
do vizinho, minha mãe adentrou à cozinha e meu pai apareceu de supetão interrogando-a
com autoridade alfa grau máximo:
— Onde você estava!? — perguntou encarando a minha mãe com um olhar totalmente
compenetrante.
— Na casa da vizinha. Fui pedir uma panela emprestada. — respondeu minha mãe pálida e
com a uma resposta da ponta da língua.

Ela mal respondeu e deu-lhe as costas dizendo enquanto correu para o banheiro para
escovar os dentes e trocar de blusa que usava para a fim de eliminar qualquer vestígio de
cheiro de cigarro.
— Jaqueline, coloque os pratos na mesa!

Todo esse paradoxo de valores e princípios não faziam sentido algum dentro da minha
mente. Todos esses acontecimentos ainda estão bastante vívidos no meu subconsciente. E
olha que eu estava com apenas sete anos de idade.

Eu fiquei olhando aquela cena em silêncio enquanto organizava a mesa para o almoço e
passei a ter algumas conclusões. Entendi que eu também poderia mentir, inventar cenas
que nunca existiram, esconder erros e ter dois ou mais tipos de cara.

Também concluí que meus pais não eram sinceros um com o outro e, por inferência, os
demais casais da sociedade também não. Pensei: “Se os adultos podem ter seus segredos
particulares e ocultar mentiras, então eu também posso!”

E olha que tem gente que pensa que as crianças não percebem tudo o que se passa no
mundo ao seu redor, sobretudo quanto ao que fazem os adultos. Quanto engano… Inclusive
confesso que por uma fração de milésimos de segundo eu me vi no passado vivendo esses
acontecimentos acima descritos.
73

O tempo passou e era nítido que a perversidade tornou-se tão elevada em mim, que passei
a provocar e a incentivar de forma sutil, algumas das minhas vizinhas com a idade próxima
à minha, a ter relações sexuais comigo.

Tal prática perpetuou-se até pelo menos aos meus 13 anos de idade. Eu tinha um forte
desejo sexual por homens e mulheres que eu estava a ponto de me entregar facilmente a
este tipo de prática.

O nome deste tipo de comportamento à luz da Bíblia, chama-se promiscuidade. Ou seja,


trata-se da falta de ordem comportamental causada pela imoralidade e pela prática de maus
costumes devido à constante troca de parceiros.

A situação estava tão favorável à perpetuação do lesbianismo em minha vida, que Seu
Jorge costumava levar sua neta Felícia (este não é o seu verdadeiro nome) para brincar
comigo. Afinal, tínhamos a mesma idade.

Rapidamente nós duas nos tornamos próximas. Subíamos nas árvores que havia no quintal
da casa dos meus pais, depois íamos ao telhado e assim gradativamente ficamos mais
unidas. Até que um dia eu lhe perguntei:
— Você tem namorado?
— Não tenho. E você? — ela perguntou.

Eu senti a minha genitália pulsar e tive um intenso e incontrolável desejo de ter relações
sexuais com ela. Essa vontade tornou-se tão forte dentro de mim que eu achei que iria
enlouquecer. Então eu respondi:
— Eu tenho uma namorada. — falei fitando-a.

Ela ficou em silêncio. Então eu continuei:


— Quer ser minha namorada?
— Quero! — ela respondeu prontamente.
— Venha comigo. — eu disse.

Nós descemos do pé de goiaba e levei-a ao quarto dos meus pais. Eu abri a porta do
guarda-roupas e nós duas entramos. Eu fechei a porta e pela primeira vez nos beijamos
prolongadamente. Senti um vazio inexplicável e sem tamanho dentro de mim. Eu sabia que
estava fazendo o que era errado. Pior, eu sabia que eu estava sendo observada ainda que
74

não houvesse a presença física de alguém. Mal sabia eu que nós duas estávamos sendo
assistidas por uma tão imensa quantidade de anjos e demônios, conforme está escrito em:

Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de
testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia [...].
(Hebreus 12:1)

Minha consciência sempre me acusava de estar fazendo o que não agradava ao Criador,
mesmo assim, o forte desejo sexual por mulheres estimulado dentro de mim por conta dos
demônios, era maior que a minha vontade de confessar e pedir perdão a Deus, bem como
me consertar dos meus maus caminhos.

Eu achava que esse e os demais pecados como os furtos, por exemplo, eram como nada
diante de Deus, afinal eu era uma criança. Achava que Deus tinha coisas mais importantes
para se preocupar e que os meus erros passariam despercebidos diante da sua face.

Quanto engano… Até hoje nos meus 36 anos, eu sofro amargamente as consequências
dos pecados que pratiquei na minha infância. Para que, assim, se cumprisse o que está
escrito em:

Por que dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao Senhor,
e o meu juízo passa despercebido ao meu Deus? (Isaías 40:27)

Confesso que escrever essa parte da história da minha vida ainda me corrói por dentro.
Mesmo porque ainda que a sociedade moderna defenda que não há nada de errado com o
safismo, ou seja, envolvimento afetivo e/ou sexual entre duas mulheres, Deus por meio das
Sagradas Escrituras, não somente o proíbe, como também o abomina.

Não gosto de comentar sobre esses fatos. Tive que fazer várias pausas ou me endireitar na
cadeira. Sinto nesse momento dores nas costas e coceira nos ouvidos. Porém, o mais
grave e terrível comportamento estava para ser realizado nos anos seguintes.

Assim, por meio das minhas escolhas, mais e mais eu me impurifiquei, me corrompi e me
perdi, conforme está escrito em:

Assim se contaminaram com as suas obras, e se corromperam com os seus feitos.


(Salmos 106:39)
75

Concomitantemente, comecei a me aproximar de alguns colegas da minha sala de aula da


escola, seja menino ou menina. Um dia quando a professora precisou se ausentar da sala
por alguns minutos, um dos colegas, mesmo sentado, abaixou a sua bermuda e mostrou as
suas partes íntimas.

Eu gostei e queria mais. Então eu pedi para ele mostrar novamente. E ele o fez, mas
felizmente não conseguimos avançar mais do isso porque a professora chegou. Então eu
comecei a me aproximar de uma das minhas colegas e incentivei-a a ir ao banheiro da
escola comigo.

Entramos e fechamos a porta. Eu havia colocado uma bola de meias na minha parte da
frente da minha genitália simulando que seria a genitália de um menino, pois eu queria
iniciar outro relacionamento lésbico. Eu disse:
— Pode tocar… — falei olhando-a com um semblante malicioso e visivelmente demoníaco.

Ela ficou em silêncio o tempo todo e aparentava estar assustada. Ela tocou rapidamente
apenas com a ponta do seu dedo e sem entender quais eram as minhas intenções, ela se
virou, abriu a porta e saiu.

Essa menina era crente e da mesma igreja que a minha, porém ela não quis avançar.
Percebi que ela era pura e eu suja, mas eu não me importava com isso, pois o que eu
queria mesmo era satisfazer os meus impulsos e desejos sexuais vorazes.

Não satisfeita, passei a furtar o lanche das demais crianças e comer gomas de mascar que
eu encontrava na rua sujas de areia. Assim, aos poucos, eu comecei a perder os bons
hábitos de higiene. Tanto que ao invés de me limpar com papel higiênico após fazer o
número dois, eu limpava-me com o tapete do banheiro.

Absolutamente, eu não sabia o porquê desse meu comportamento. Eu apenas fazia. Na


verdade, não havia outra resposta para essas atitudes, senão possessão demoníaca. E
quem mais sofreu com tudo isso, certamente foram os meus pais.

Pais, aqui fica um alerta: você está ocupado o bastante para não querer saber como foi o
dia do seu filho? Você não tem tempo para perguntar o que ele fez durante todo o dia
enquanto você esteve ausente de casa? Ou se alguém fez algo de estranho com ele na
76

escola? A falta de diálogo entre vocês gera, naturalmente, um distanciamento e


consequentemente a perda de confiança e ligação entre pais e filhos.

Enquanto, atualmente, escrevo esses acontecimentos, quero que você, caro leitor, saiba
que eu sinto bastante tristeza por ter me contaminado com as ofertas de Satanás neste
grau desde quando era criança.

Se você, mulher ou homem, está convicto de se tornar um homosexual, fique ciente de que
você está ingressando num caminho que não foi traçado por Deus e, por isso, você
certamente colherá consequências as mais terríveis aqui na terra.

Se não se arrepender através do Sangue do Senhor Jesus Cristo, um lugar inexplicável


estará te aguardando, conforme está escrito em:

Portanto o inferno grandemente se alargou, e se abriu a sua boca


desmesuradamente; e para lá descerão o seu esplendor, e a sua multidão, e a sua
pompa, e os que entre eles se alegram. (Isaías 5:14)

Naturalmente, os demônios e seus súditos que habitavam em mim, tornaram-me como um


boneco de marionete, pois o que ordenassem que eu fizesse, eu obedecia. Os encontros
sexuais com Fenícia tornaram-se mais recorrentes a ponto de levar-nos a praticar nossa
prostituição no local mais ofensivos a Deus: dentro do banheiro da igreja.

Foi questão de tempo para que nós duas avançássemos com a nossa intimidade ao ponto
de quase durante um ano inteiro praticássemos o que é chamado de tribadia, ou seja,
prática sexual caracterizada pelo atrito recíproco dos órgãos genitais de duas mulheres.

Nós tínhamos 11 anos e quase todos os dias nós íamos ao banheiro juntas, antes e/ou
depois do culto. Levantávamos as nossas saias, tirávamos as nossas calcinhas e, ela
estando deitada, eu ia por cima dela e, por alguns minutos, eu esfregava a minha vagina
sem pelos, na vagina lisa dela.

Apesar de sermos apenas duas crianças migrando para a fase da pré-adolescência, nós
duas tínhamos total consciência dos nossos atos e eu sabia que estava correndo o risco de
condenar a minha alma para o inferno caso o Senhor Jesus Cristo voltasse para buscar a
sua igreja ou mesmo se eu morresse naquele momento. Eu sabia que estava fazendo algo
que estava agredindo profundamente a santidade do Criador.
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Essa horrenda atitude agravada por ter sido realizada num local considerado sagrado por
Deus, fez com que eu colhesse terríveis frutos que repercutem até o dia de hoje os quais
causam dor não somente no meu corpo, como na minha alma.

Lembro-me perfeitamente do dia em que eu afrontei a majestade de Deus com uma oração
que eu fiz após Felícia e eu nos prostituir antes do culto começar. Essa foi, fatalmente, a
gota d’água para que Deus pesasse a sua mão sobre mim, fazendo com que eu vivesse
momentos torturantes até hoje.

Após nossa relação sexual, nós saímos do banheiro, caminhamos até aos bancos
destinados às crianças da igreja e sentamos uma ao lado da outra como se nada tivesse
acontecido. Poucos minutos depois, o varão que iria dirigir o culto, pediu que todos se
colocassem de joelhos para iniciarmos a adoração ao nome do Senhor.

Nesse momento que eu me coloquei de joelhos eu fiz a seguinte oração: “Senhor, por favor,
não me deixe engravidar”. Eu estava preocupada e, ao mesmo tempo, confusa, pois pensei
que eu poderia de fato estar grávida. Mas eu ri da situação e pensei “Será que eu sendo
uma criança, poderia engravidar de outra mulher?”.

Apesar de não saber nada sobre sexualidade entre uma mulher e um homem adulto, eu já
entendia na prática alguma coisa sobre relações sexuais entre mulheres. Além disso, o fato
de eu ter achado graça de estar grávida, foi a gota d’água para Deus. E de fato ele atendeu
ao meu pedido de não engravidar.

De qualquer forma, Deus ouviu a minha oração: nunca permitiu que eu engravidasse em
nenhum momento da minha vida enquanto escrevo esse livro. Pior, Deus permitiu que eu
vivesse algo aflitivo que perdura até hoje e que dói muito. Repito, muito!

Estou juntando forças para poder um dia conseguir explicar melhor esse assunto sobre
gravidez, pois há pouco mais de dois anos eu passei um baita problema em minha vida,
justamente por conta deste assunto de gravidez.

Para que se cumprisse o que está escrito em:

Por isso a sua destruição virá repentinamente; subitamente será quebrantado, sem
que haja cura. (Provérbios 6:15)
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Misteriosamente e sem qualquer motivo aparente, eu comecei a desenvolver um problema


de saúde que, do ponto de vista humano, não há cura. Tive bastante dificuldade para tratar
sobre essa doença. Demorei mais de um ano para começar a escrever sobre as desgraças
que aconteceram no meu corpo. E adivinhe onde que as doenças apareceram em mim? No
meu aparelho reprodutor.

Aproveito e deixo um alerta a qualquer adulto que tem sob a sua custódia alguma criança,
mesmo que por um curto período de tempo: nunca as deixe sozinhas com outras crianças e
até mesmo adultos os quais você não tenha sombra de dúvida quanto à sua índole.

Satanás não perde tempo em lançar as suas setas inflamadas destrutivas. Saiba que todas
as pessoas que se envolveram no homossexualismo — meu caso — sempre sofrem
consequências severas não somente do ponto de vista comportamental e psíquico, como
perdas econômicas, familiares e dificuldades na tomada de decisões.

Falo isso porque sou prova viva disso, pois mesmo depois de 28 anos do que eu fiz e
mesmo sendo criança, eu ainda sofro sequelas severas e irreversíveis. Além disso, o meu
caso era ainda mais grave, pois mesmo eu conhecendo os caminhos do Eterno, eu
pratiquei o lesbianismo conscientemente.

Com o passar do tempo, comecei a perder o contato com Felícia, mas a minha cede por
novas relações sexuais com mulheres estava transbordando dentro de mim. Foi então que
por volta dos meus 13 anos, uma senhora da igreja onde congregávamos começou a limpar
a casa dos meus pais.

Sua filha Gláucia (este não é o seu verdadeiro nome) e eu tínhamos quase a mesma idade.
Suas idas à casa dos meus pais, que costumavam ser esporádicas, tornaram-se
frequentes, pois Gláucia e eu já estávamos envolvidas num relacionamento perverso e
maligno aos olhos de Deus.

Tudo começou quando nós duas estávamos conversando normalmente quando eu


perguntei:
— Você já beijou uma mulher?
— Sim, a minha prima. — respondeu Gláucia.

Fiquei excitada na mesma hora. Então continuei:


79

— Você me daria um beijo?

Gláucia então se aproximou de mim e começamos a nos beijar prolongadamente. Em


seguida esse tipo de relacionamento começou a evoluir a ponto de começarmos a tomar
banho juntas e trocar toques nas partes íntimas. “Meu Deus do céu, me perdoe”, é o que eu
penso enquanto escrevo essas palavras.

Esses acontecimentos são pesarosamente retirados da minha mente. Até hoje eu lembro
desse dia como se tivesse acontecido hoje mais cedo. Sentir o gosto da saliva de outra
mulher e o toque dos pelos das suas partes íntimas verdadeiramente me causam arrepios.
Imagine então o que Deus deve ter sentido quando viu a sua obra criada — eu — cometer
tamanha abominação diante dos seus olhos!

Veja que todos os casos em que eu me envolvi no lesbianismo começou com uma simples
conversa quando Karla (minha prima) me pediu um beijo e depois da mesma forma fiz eu
com Felícia e Gláucia. Fora outros tantos casos que não citei. Isso te lembra qual passagem
da Bíblia? Jardim do Éden, quando a serpente conversou com Eva.

Minha índole estava mergulhada em ruínas. Meu aparelho reprodutor estava sendo
silenciosamente destruído por dentro sem que eu jamais sentisse nada. Até que chegou um
determinado momento que eu precisei fazer uma cirurgia radical. Não havia outra escolha.

Pais, nunca (nunca mesmo) deixe seus filhos mesmo que sejam do mesmo sexo, verem as
partes íntimas um do outro ou de outras crianças. Isso é uma brecha certeira que está
sendo escancarada para que Satã e seus súditos comecem a ter passagem livre para
iniciarem os seus trabalhos de destruição e escravização da alma.

“Ah, mas são apenas crianças, não tem nada a ver… Isso é uma opinião demasiadamente
exagerada da sua parte, pois as crianças são puras”, você deve ter pensado. Tudo bem, é a
sua opinião e fico na torcida para que realmente suas crianças não venham a sofrer nada
do que eu passei.

Porém, é lastimável esse seu tipo de pensamento, mesmo porque a própria palavra de
Deus já mostra que desde os tempos primórdios da civilização de Noé, a civilização já era
tomada de uma tão grande execração diante dos olhos de Deus. Tanto que o próprio
Criador disse que (e o fez) exterminaria tudo o que trouxe à existência, englobando não
80

somente o ser humano, como também todas as espécies de animais os quais são puros
como as crianças:

E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a
imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.
Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em
seu coração.
E disse o Senhor: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o
homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de
os haver feito. (Gênesis 6:5-7)

Tentei incentivar outra vizinha a praticar tribadia comigo. Mas, graças a Deus, sua mãe
estava nos observando do andar de cima enquanto estávamos na sua piscina trocando as
primeiras carícias. Na mesma hora do flagra, sua mãe nos interrompeu e disse para eu
voltar imediatamente para a casa dos meus pais.

Hoje vejo que se não fosse a mão de Deus, possivelmente eu teria me tornado uma
ninfomaníaca, atualmente conhecida como hipersexualidade feminina. Segundo a medicina,
trata-se de um transtorno psiquiátrico que acomete as mulheres causando um apetite
sexual descontrolado ou desejo obsessivo por sexo.

Ainda que não se conheça a causa específica, este tipo de distúrbio pode estar associado a
alterações dos neurotransmissores, mas também pode estar relacionada a doenças como
epilepsia ou demência. Todavia, ainda que eu não seja médica, o meu caso tratava-se
claramente de possessão demoníaca.

Eu sempre tive alguma suspeita que a minha família, tanto materna como parte, sofria de
algum tipo de descontrole ou impulsividade sexual, tanto que no dia 4 de janeiro de 2023 eu
recebi a triste notícia que duas primas minhas, as quais são irmãs e que eu havia ajudado a
cuidar delas quando ainda eram bebês, ambas tomaram um rumo inesperado.

A mais velha, que lembra a Branca de Neve, atualmente com aproximadamente 26 anos,
decidiu casar-se com outra moça. Está apenas aguardando que a sua parceira conclua sua
faculdade para que possam oficializar a união delas.

Já a sua irmã mais nova, que lembra uma Barbie, largou a faculdade de odontologia da
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e tornou-se uma prostituta de luxo. Tudo
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isso é um forte indício de que a minha família possui algum tipo de maldição hereditária,
pois tanto elas, como eu, fomos acometidas de um tão grande e terrível pecado diante de
Deus: promiscuidade e perversidade. Pior, pouco se fala sobre isso nas igrejas cristãs
evangélicas.

Possivelmente o que pode explicar o rumo que elas escolheram foi o comportamento dos
seus pais. Pois o pai delas sempre teve o hábito de praticar uma rotatividade muito grande
de mulheres, o que incluía adultério e suspeita de homosexualismo. Já a mãe delas, é
fortemente envolvida com terreiros de macumba.

É de perceber, portanto, que uma pessoa promíscua (meu antigo caso) comumente
apresenta barreiras emocionais, dificuldade de socializar-se, tanto que a relação com as
pessoas ao seu redor, quase sempre não geram vínculos sociais saudáveis, os quais
podem, inclusive, deixar marcas negativas nas pessoas com quem convive.

Além disso, a pessoa que apresenta o comportamento promíscuo geralmente tende a


desenvolver uma sexualidade disfuncional. Ou seja, a promiscuidade está relacionada
diretamente à prostituição, porém sem pagamento monetário por parte dos envolventes.

Tal comportamento já estava previsto na Bíblia, sendo logicamente totalmente condenável e


repetido por Deus em diversos versículos, principalmente no livro de Apocalipse. Destaco
alguns deles:

Mas a fornicação, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós,
como convém a santos; (Efésios 5:3)

Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e
aos que se prostituem, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a
sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte.
(Apocalipse 21:8)

Mas, ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas,


e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira. (Apocalipse 22:15)

Fugi da fornicação. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que
fornica peca contra o seu próprio corpo. (1 Coríntios 6:18)
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Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação,


impureza, lascívia,
Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões,
heresias,
Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca
das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não
herdarão o reino de Deus. (Gálatas 5:19-21)

Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da


fornicação; (1 Tessalonicenses 4:3)

Fatalmente, tornei-me uma pessoa pervertida, com um tipo de gênio e caráter ruim, com
fortes tendências para o mal, corrupção e depravação. Tornei-me indesejável. Não é à toa
que a Palavra de Deus mostra que Salomão foi pervertido através dos relacionamentos
amorosos pecaminosos que teve com várias de suas 700 mulheres:

E tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres


lhe perverteram o coração.
Porque sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe
perverteram o coração para seguir outros deuses; e o seu coração não era perfeito
para com o Senhor seu Deus, como o coração de Davi, seu pai, [...]. (1 Reis 11:3 e
4)

Assim, involuntariamente eu procurava, sempre que tinha oportunidade, tentar me


aproximar de alguma das minhas amigas de infância da escola, da igreja ou da vizinhança
com o inuito de termos relações sexuais.

Com os meninos, era bem mais difícil, mesmo porque meus pais impediam que eu tivesse
algum tipo de aproximação com eles, até mesmo para conversar. Porém, mal sabiam eles
que eu já tinha uma vida sexual ativa com mulheres desde os meus oito anos de idade.

Aos poucos minha irmã que já estava com quase 15 anos percebeu que eu tinha um caráter
perverso e que nossa família era não somente disfuncional como tóxica. Ela passou a se
trancar em seu quarto e mergulhar no mundo dos livros.

Sorrateiramente quando eu menos imaginava, nos tornamos estranhas uma à outra. Hoje,
no ano de 2023, estamos há quase 28 anos sem nos falar. As causas desses fatos e outros
83

descritos no capítulo “Silêncio Ensurdecedor” causaram consequências drásticas e penosas


que perduram até o dia de hoje, não somente entre minha irmã e eu como entre todos da
casa do meu pai.

Diante disso, como podemos impedir que todo este mal aconteça na nossa família? A
resposta é simples: mostrar e educar a criança que somente Deus pode nos resguardar das
armadilhas de Satã, conforme está escrito em:

Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se
desviará dele. (Provérbios 22:6)

Educar exige tempo, dedicação, paciência e resiliência. Vocês, pais, educam suas crianças
para andarem nos caminhos do Senhor ou delegam essa função à escola que elas estão
matriculadas ou, quando muito, à professora da escola dominical da igreja onde
frequentam?
84

8. PRIMÓRDIOS DA DELINQUÊNCIA

Não somente o lesbianismo tornou-se comum no meu dia a dia, como também pequenos
furtos, mentiras e falsificações da assinatura dos meus pais nos boletins, notas e papéis da
escola, bem como dos avisos de correção por falta disciplinar da escola.

Em relação aos furtos, comecei subtraindo um biscoito no supermercado. Porém, a minha


primeira vez marcou a minha vida, visto que eu fui descoberta pela minha mãe. Em uma
das vezes que eu a acompanhei ao supermercado, eu lhe pedi um determinado biscoito.
Como ela negou-me alegando não ter dinheiro suficiente, olhei para os lados e
simplesmente peguei e escondi-o na minha calcinha.

Ao chegar em casa, minha mãe notou que eu estava andando estranhamente. Mais que
depressa ela levantou a minha saia e disse:
— Onde você pegou esse biscoito? — perguntou minha mãe.
Fiquei em silêncio.
— Responde! — gritou minha mãe arregalando os olhos enquanto me encarava.

Permaneci em silêncio e olhando para baixo.


— Foi lá no supermercado, não foi?
— Sim, foi. — disse baixinho.
— Assim que seu pai chegar eu vou contar tudo para ele. — respondeu minha mãe com um
tom ameaçador.

Meu pai chegou do trabalho e, conforme havia dito, cumpriu. Ambos brigaram comigo, me
deram uma surra, mas não me fizeram devolvê-lo ao supermercado. Talvez se eles me
levassem ao dono do estabelecimento que eu lhe causei prejuízo e me obrigasse a
pedir-lhe desculpas, teria surtido mais efeito do que deixar minhas pernas marcadas do
cinto do meu pai.

Fiquei com tanta raiva deles que não demorou muito e passei a fazer novos furtos. Sempre
que eu encontrava uma oportunidade, eu pegava para mim algo que não me pertencia.
Simplesmente essa prática criminosa tornou-se um hábito para mim.

Pior, esse mau comportamento tornou-se totalmente irresistível e impossível de ser


controlado. Sempre que eu ia à casa de algum familiar ou de algum membro da igreja para
orar por ele, eu inventava de querer usar o banheiro e não perdia a oportunidade para
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revirar os armários e, sem qualquer peso na consciência ou juízo de valor, eu subtraía


aquilo que me agradasse e que, ao meu ver, não seria notada o seu sumiço. Lógico, eu
procurava nunca deixar pistas de que fui eu quem havia feito isso.

Porém, com o tempo, essa atitude tornou-se tão natural ao ponto de não mais pensar duas
vezes antes de agir, eu simplesmente levava comigo o que é que fosse agradável aos meus
olhos. Furtava desde um prendedor de cabelo à dinheiro dos meus pais. E assim eu me
tornei companheira do destruidor, conforme está escrito em:

O que rouba a seu próprio pai, ou a sua mãe, e diz: Não é transgressão,
companheiro é do homem destruidor. (Provérbios 28:24)

Furtava dos meus pais, dos supermercados, da casa dos meus tios, do mercadinho do
bairro, da casa dos irmãos da igreja, da quitanda da esquina ou usava perfumes e cremes
da casa das minhas avós sem lhes pedir autorização. Além disso, eu comprava fiado e
quase nunca pagava.

Sem contar as vezes que eu abria pacotes de doces em lojas, comia alguns e escondia o
resto no fundo da prateleira. Eu me tornei uma pessoa sem escrúpulos. Até que um dia eu
vi o dono do mercadinho revistando dois meninos que haviam furtado biscoitos da sua loja.

“Poderia ter sido eu…”, pensei. Mesmo assim, ao invés de decidir parar de manter esse
inaceitável hábito por conta do exemplo que aconteceu bem diante dos meus olhos,
procurei furtar em outros locais e de maneiras diversas para não gerar suspeitas.

Não satisfeita, passei a mentir e a inventar histórias e desculpas para todos os meus erros.
Sempre procurei ser a vítima da história e culpar alguém. Tornei-me uma pessoa sem
caráter e desonesta. Eu tinha prazer em fazer o que era considerado “fora da lei”.

Lembro perfeitamente quando eu tinha 12 anos quando eu tive a oportunidade de participar,


pela primeira vez, de uma pequena atividade em um laboratório de ensaios de química da
escola.

Esse dia foi marcante para mim, não por conta das experiências que participamos, mas dos
anéis folheados a ouro que eu consegui furtar que a professora havia deixado sobre a
bancada antes de colocar as luvas descartáveis.
86

Não só furtei, como dei-os de presente para a minha mãe, contribuindo, assim, para que
novas maldições fossem levadas para a casa dos meus pais, o que me fez lembrar da
passagem bíblica que diz:

E havia um homem da montanha de Efraim, cujo nome era Mica.


O qual disse à sua mãe: As mil e cem moedas de prata que te foram tiradas, por
cuja causa lançaste maldições, e de que também me falaste, eis que esse dinheiro
está comigo; eu o tomei. Então lhe disse sua mãe: Bendito do Senhor seja meu filho.
Assim restituiu as mil e cem moedas de prata à sua mãe; porém sua mãe disse:
Inteiramente tenho dedicado este dinheiro da minha mão ao Senhor, para meu filho
fazer uma imagem de escultura e uma de fundição; de sorte que agora to tornarei a
dar.
Porém ele restituiu aquele dinheiro à sua mãe; e sua mãe tomou duzentas moedas
de prata, e as deu ao ourives, o qual fez delas uma imagem de escultura e uma de
fundição, que ficaram em casa de Mica.
E teve este homem, Mica, uma casa de deuses; e fez um éfode e terafins, e
consagrou um de seus filhos, para que lhe fosse por sacerdote.
Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o que parecia bem aos seus
olhos. (Juízes 17:1-6)

Veja que o resultado dado às moedas que foram tomadas “...cuja causa lançaste
maldições…”: foram transformadas em um ídolo doméstico e mantido dentro da própria
casa de uma família que pertencia à tribo de Efraim.

Definitivamente eu não precisava fazer nada disso, uma vez que Deus, por meio do esforço
e sacrifícios dos meus pais, eu sempre tive o que me era necessário. Contudo, um dia eu
resolvi arriscar um pouco mais e calculei a possibilidade de, pela primeira vez, furtar uma
casa.

Certa vez, no ano de 2000, quando eu já estava com os meus 15 anos, eu percebi que o
meu desejo por mulheres foi se extinguindo. Eu estava afoita para ter minha primeira
relação sexual com um homem. Mesmo assim, não sei explicar o porquê, eu não tinha
coragem de perder a virgindade.

Além disso, eu tinha uma força e energia descomunal represada dentro de mim. Eu parecia
uma adolescente selvagem, pois continuava a subir nas árvores, muros e grades da casa
dos meus pais com um verdadeiro ímpeto. Cada vez mais eu estava musculosa.
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Eu tinha um verdadeiro perfil físico para me tornar uma forte candidata à categoria de
ginasta olímpica. Eu precisava fazer alguma coisa. O que eu tinha dentro de mim, precisava
ser colocado para fora. Sei lá, qualquer coisa. Eu não aguentava ficar parada. “Eu quero
sexo!”, pensei. Mas isso era-me proibido por conta dos preceitos da igreja onde eu
congregava.

Como eu não tinha nada do que eu queria, passei a descontar minhas ansiedades e
demandas na alimentação. Comia demasiadamente e mesmo assim eu não tinha
sobrepeso. Somados aos descontroles alimentares, eu continuei a manter a prática da
masturbação e consumo de pornografia. Porém, nada disso também me preenchia.

Eu precisava externalizar toda a energia que estava represada dentro de mim. Comecei a
catar guimbas6 de cigarro no chão da rua. Escondia-as no bolso, voltava à casa dos meus
pais, pegava a caixinha de fósforos da cozinha, voltava à copa da árvore e lá fumava
durante longos minutos sozinha.

Quando as bitucas acabavam, eu enrolava um pedaço de papel até que parecesse com o
formato de um cigarro e fumava-o enquanto eu me pendurava como uma macaca, em um
dos galhos do pé de carambola que havia no fundo do quintal da casa dos meus pais.

Foi então que em um desses dias que eu tragava, que passei a observar uma das minhas
vizinhas, inquilina do andar de cima da casa dos fundos. Como eu sempre estive ociosa,
sem muito o que fazer além de manter a droga dos estudos em dia, passei a vigiar cada
movimento dela.

Ela devia ter seus 25 anos e criava uma criança. Notei que ela não estava em sua casa.
Minha mãe possivelmente estava tirando o seu cochilo após assistir o Vídeo Show Miguel
Falabella. Sem pensar duas vezes eu já estava dentro do quintal da vizinha dos fundos.

Olhei para os lados e tudo estava silencioso. Não havia ninguém me observando. Como
uma aranha albina, eu subi as escadas que davam acesso à casa da inquilina, escalei as
grades da varanda, passei pelo telhado e finalmente cheguei até a janela da cozinha.
Estava semiaberta.

6
Também conhecidas como bitucas. Ou também, no caso de Portugal, beatas.
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Sentei no peitoril da janela com as mãos junto aos meus pés como uma macaca albina. Não
havia sinal de ninguém dentro da casa da inquilina. Entrei. Senti-me uma criminosa por
estar invadindo aquele espaço. Minha barriga gelou e minha respiração ficou ofegante.

Mesmo assim, procurei me controlar. Eu sabia que o que eu estava fazendo era errado,
mas havia em meu interior, uma força ainda maior do que a minha própria vontade que me
impulsionava a seguir em frente quanto à prática desses atos proibidos.

Hoje, claramente, eu sei que essa força representa o controle que Satã exercia sobre os
meus pensamentos fazendo com que eu fizesse escolhas que fugiam totalmente ao meu
controle.

Abri as gavetas da cômoda em busca de dinheiro. Ainda me lembro do cheiro das roupas.
Possivelmente a mulher não usava sabão em pó, mas sabão em barra, por ser mais barato.
Ela era bem pobre. Mesmo assim eu não tive dó dela.

Peguei uma mochila estilo reggae que estava sobre o cabideiro e, dentro, coloquei alguns
toppers femininos, shorts curtos, esmaltes e uma blusa. Coloquei-a nas costas e fugi.
Procurei não deixar nenhum rastro. Parecia que eu estava sendo vista por toda a
vizinhança. Mas não havia ninguém.

Passei novamente pela janela, andei pelo telhado, escalei o portão, desci rapidamente as
escadas, corri pelo quintal e, num impulso, escalei o muro da vizinha que dava acesso ao
muro da casa dos meus pais.

Rapidamente eu já estava de volta ao meu quarto. Nunca ninguém soube que eu havia
praticado esse crime. Mas aquele que habita nas mais altas nuvens sempre estava me
observando. Não somente Ele (o Eterno Deus), como também aquele que me incentivava a
praticar todos esses atos repulsivos.

Porém, a Palavra do Senhor claramente diz:

Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso
também ceifará. (Gálatas 6:7)

E assim, quando eu menos esperava, os meus pecados começaram a me achar, para que
se cumprisse os versículos que dizem:
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[...] eis que pecastes contra o Senhor; e sabei que o vosso pecado vos há de achar.
(Números 32:23)

[...] então este mal vos alcançará nos últimos dias, quando fizerdes mal aos olhos do
Senhor, para o provocar à ira com a obra das vossas mãos. (Deuteronômio 31:29)

Pouco a pouco a presença do Espírito Santo de Deus foi se afastando de mim, dando
espaço ainda mais para a atuação das setas do mal e de seus ardis. Consequentemente
outros problemas sociais graves começaram a aparecer, como ter dificuldades em me
relacionar com as pessoas, aumento do meu desejo por coisas promíscuas e pervertidas.

Notavelmente, tornei-me ainda mais indisciplinada, rebelde e desobediente não somente


aos meus pais, como a qualquer pessoa seja adulto, idoso, da minha idade, homem ou
mulher. Eu não conseguia respeitar ninguém. Não havia esse sentimento dentro de mim. Eu
passava por cima da autoridade de qualquer um.

Eu não conseguia manter nenhum tipo de amizade por mais de um mês sem que
terminasse com a sua destruição por causas relacionadas ao meu temperamento. Eu queria
mesmo que todos morressem!

Além disso, comecei a ter um novo e grave problema de saúde que eu nunca imaginaria
passar, o qual eu ainda carrego dolorosamente comigo. Tudo isso para que se sucedesse o
que está escrito em:

Um abismo chama outro abismo, ao ruído das tuas catadupas; todas as tuas ondas
e as tuas vagas têm passado sobre mim. (Salmos 42:7)

E, como era de esperar, tornei-me uma cleptomaníaca. Trata-se de uma doença rara
caracterizada por um desejo irresistível de roubar itens que possuem pouco valor ou
desnecessários à pessoa que pratica o furto.

As verdadeiras causas deste distúrbio ainda são desconhecidas. Porém, pode estar
relacionada ao histórico familiar ou outros transtornos de controle de impulsos, como o
frequente hábito de tomar pequenos goles de café, de fumar, de lavar as mãos, de limpeza
ou de organização dos objetos.
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É importante destacar que, segundo a ciência, uma criança que já possui esse tipo de
comportamento, também estará propensa a desenvolver durante a fase adulta as seguintes
consequências: facilidade em perder emprego, endividamento, divórcios, dificuldade em
manter um bom convívio social, bem como ter problemas com a lei.

Para piorar, segundo a medicina comportamental, este tipo de conduta não possui cura,
mas por meio do tratamento com psicoterapia e medicamentos, como antidepressivos,
pode, por exemplo, ajudar a interromper os ciclos de roubos compulsivos.

Dentre os furtos que eu realizei, certamente o pior de todos não foi na casa daquela mulher
inquilina da vizinha dos fundos, mas sim aqueles que pratiquei contra os meus próprios
pais.

Comecei furtando fichas telefônicas que ficavam guardadas no armário da copa na época
que esse tipo de moeda valia dinheiro. Também subtraí várias moedas na época do
Cruzeiro que mais tarde tornou-se Real que havia na gaveta de documentos dos meus pais.

Também peguei para mim, cédulas de alto valor que pai havia escondido dentro de um
caderno acima do armário da copo. Mas, como eu também tinha o mau hábito de mexer nas
coisas dos outros, acabei encontrando esse dinheiro e sem qualquer apreço, gastei boa
parte dele.

Eu quase sempre, era descoberta pelos meus pais, o que me causava uma tremenda
vergonha, mas mesmo assim eu voltava a praticar esse péssimo hábito. E, assim, me tornei
mais próxima de Satanás, conforme a passagem bíblica que diz:

O que rouba a seu próprio pai, ou a sua mãe, e diz: Não é transgressão,
companheiro é do homem destruidor. (Provérbios 28:24)

O que se passava na minha mente era a seguinte informação: “Não há nada de errado em
tomar essas decisões. Ninguém me verá”. Parecia que havia uma voz no meu
subconsciente comandando as minhas ações dizendo: “Continue a fazer o que você quiser.
Fique tranquila e ninguém jamais descobrirá os teus segredos”, de modo de cumpriu o que
está escrito:

Contudo dizem: O Senhor não o verá; nem para isso atenderá o Deus de Jacó.
Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis sábios?
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Aquele que fez o ouvido não ouvirá? E o que formou o olho, não verá? (Salmos
94:7-9)

Somado a tudo isso, meu pai tinha o hábito de “pedir” à minha mãe para carregar algum tipo
de peso bem acima da sua capacidade,como, por exemplo, encher vários carrinhos de mão
com areia durante a construção da casa que eles levantaram em Vila Velha.

Não só a minha mãe, mas minha irmã e eu também éramos obrigadas a cumprir
determinadas tarefas que certamente eram destinadas aos homens por conta da sua força
e robustez, como nas vezes que tive que ajudar a carregar troncos de árvore, telhado da
casa e passar fios telefônicos pelas tubulações.

Caso minha mãe, minha irmã e eu recusássemos, meu pai fechava a cara para nós e
devorava-a com os olhos. A minha mãe era a pessoa, entre nós três entre as mulheres, a
que mais sofria. Isso porque eu não sabia, mas ela sofria vários tipos de agressões quando
eles estavam entre quatro paredes.

Quase duas décadas depois eu presenciei fatos piores ainda que ele fazia com ela, cujas
cenas ainda ecoam na minha mente. No ano de 2010, nos meus 24 anos, inesperadamente
à noite, por volta das 21:50h, minha mãe entrou no quarto abruptamente.

Ela quase arrombou a porta do meu quarto. Eu olhei para ela assustada e perguntei.
— Aconteceu alguma coisa, mãe? — perguntei assustada com os meus olhos arregalados.

Minha mãe ficou em silêncio olhando para mim. Seus olhos estavam marejados. Então eu
disse:
— Mãe, não precisa me dizer. Eu já entendi. Fique aqui comigo. — comentei enquanto
fechava a porta do meu quarto.

Meu pai tinha acabado de forçá-la a ter relações sexuais com ele mesmo contra a sua
vontade. Ele havia cometido o que se chama estupro marital, ou seja, houve a falta de
consentimento da minha mãe mesmo não envolvendo violência física. Além disso, o estupro
conjugal é considerado uma forma de violência doméstica e abuso sexual.

Essa foi apenas uma das vezes que eu presenciei este caso, sem contar as demais que
não fiquei sabendo. Consequentemente, minha mãe desenvolveu inúmeros problemas de
saúde do ponto de vista neurológico, psicológico e na coluna.
92

Tudo era um grande absurdo, pois havia uma incógnita desmedida na minha cabeça: como
meu pai podia ser um chefe de família provedor, cristão, tratava-me bem, colocava-me nas
suas costas simulando que era um cavalinho, sempre foi um pai protetor, mas, ao mesmo
tempo, tão cruel para com a minha mãe?

Como eu pude mesmo vindo de dentro de um berço cristão, ter sido tão ruim contra os
meus pais, minha irmã e os nossos bichinhos de estimação? Porque eu desenvolvi uma
índole tão ruim e perversa?

Sem que passasse pela minha mente, continuamente novos demônios estavam sendo
incorporados na minha vida e na vida dos meus pais, cuja legalidade começou
possivelmente por conta do passado do meu pai como da minha mãe, sendo que a
continuidade das maldições certamente foram garantidas por mim.

Ajudei a trazer novas brechas não só em minha alma como na minha família. Porém,
apesar disso tudo, havia uma pessoa que nunca se corrompia, mas sempre se mantinha
constante: minha irmã.

Fico pensando hoje: como podem duas meninas terem nascido do mesmo útero, recebendo
os meus nutrientes, carinhos e terem sido educadas nas mesmas escolas, mas são
totalmente adversas quanto ao seu temperamento, vida espiritual, personalidade e caráter?

Jussara (este não é o seu verdadeiro nome), apesar de ter sido um pouco rebelde na
adolescência, sempre foi um exemplo de filha: era estudiosa, quietinha, muito doce, amável,
obediente aos pais, temente a Deus, mas o que mais era admirável nela é que Jussara
sempre foi e continua sendo uma pessoa confiável.

Ela nunca mexeu ou subtraiu aquilo que não era seu, nunca mentiu ou envolveu em
encrencas. Ou seja, ela sempre foi totalmente o contrário do que eu fui. Ela sempre foi luz e
eu trevas. Ela era santa e eu profana. Ela era justa e ímpia. Ela era limpa e eu imunda. Ela
era pura e eu impura. Ela era a fiel e eu a infiel. Ela era a inteligente e eu a burra.

O pavor e inveja contra a minha irmã tomou conta de mim de tal forma que eu desejei por
algumas vezes fazer o mesmo que Caim fez com seu irmão Abel: matá-la!
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Caros pais, como tem sido a relação entre os seus filhos? No caso de filho único, como tem
sido o seu relacionamento com as outras crianças ou adolescentes da mesma idade?
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9. COMPORTAMENTO DISRUPTIVO

Desde o primeiro momento que eu sofri o primeiro abuso sexual, percebi que,
principalmente durante a noite, forças ocultas invisíveis começaram a me vistar.
Gradativamente essa presença tornou-se mais frequente.

Pode parecer loucura, mas por algumas vezes eu pude sentir meu corpo levitar. Além disso,
continuamente eu sentia alguém revirar-me na cama e tocar-me enquanto eu dormia.
Durante a noite enquanto eu dormia, passei a levantar e caminhar pela casa.

Em uma dessas vezes eu abri o guarda-roupas, mexi nos itens que havia dentro e depois
caminhei até o banheiro e urinei sobre a tampa do vaso. Claramente eu sofria de
sonambulismo. Além disso, eram raras as noites que eu não conversava enquanto estava
num momento de profundo sono.

Durante essas vezes que eu era revirada, uma das posições que eu frequentemente
costumava ser colocado era a posição de quatro com o topo da minha cabeça tocando o
colchão como se estivesse prostrada diante de alguém.

Porém, de fato algo pior estava acontecendo, mas que eu só pude entender quase 28 anos
depois quando eu tive conhecimento sobre determinada casta de terríveis demônios
chamados incubus e succubus.

Até hoje tenho dificuldade para comentar sobre estes espíritos malignos, pois o que eles
fizeram comigo, é totalmente incompreensível à luz da mente humana. Ainda estou meio
reticente se comento ou não o que vivi numa futura publicação.

Inclusive, curiosamente, os fatos que aconteciam comigo enquanto eu dormia, ocorriam


durante a noite e não durante o dia caso eu tirasse um cochilo à tarde. Consequentemente,
eu passei a ter medo não só de escuridão, como também do período quando a noite se
aproximava.

Isso porque, claramente, é durante o período noturno que quando tudo parece estar normal
e silencioso, é o momento adequado para a atuação das trevas. E, assim, o sobrenatural de
Satã acontece.
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Aliás, porque o ser humano tem tanto medo do sobrenatural? Há quem não acredite, porém
saiba que há muitos que são fascinados por este assunto, uma vez que sabem que há
seres que se escondem na escuridão. A propósito, a curiosidade de ter contato com outra
dimensão pode levar a pessoa a trilhar caminhos obscuros e em sua grande maioria, sem
volta.

Anjos caídos e da parte Deus, habitam lugares paralelos à nossa realidade. Sabendo disso,
pessoas fazem de tudo para que consigam atravessar portais para ter contato com esses
seres ou abrir portais que permitam a vinda deles ao nosso mundo. Esses portais podem
ser abertos de maneiras simples como palavras ditas, músicas, rituais ou, como no meu
caso, por traumas não solucionados.

Sem eu saber, aquela boneca havia sido um portal que se abriu para mim, dando-me
legalidade para comunicar com demônios e sofrer aquilo que eles queriam que eu
padecesse. O mesmo acontecia comigo durante a minha infância enquanto eu dormia.
Sentia algo me tocar e movimentar o meu corpo na minha cama durante o sono profundo.

Para entender melhor o que se passava comigo, veja as imagens abaixo extraídas de uma
câmera escondida instalada dentro de um quarto:
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Na foto abaixo, é possível me ver, já nos primeiros anos da minha vida, em cima do telhado
de uma casa. Eu sempre senti prazer naquilo que era perigoso e capaz de arriscar a minha
própria vida.

Trago uma lembrança de uma situação que marcou a minha infância. Ainda nesta faixa de
idade — seis anos —, meu pai trouxe com muita alegria uma revistinha em quadrinhos para
minha irmã e outra para mim.

Tratava-se de um jogo de criança que é necessário usar uma lupa feita de um material
semelhante ao do plástico de raio X que mostrava certas palavras que estavam ocultas que
ajudariam a avançar para as próximas etapas.

Porém, pelo fato da minha irmã ser três anos mais velha do que eu e já saber ler e escrever,
ela conseguia entender do que se tratava e avançar as etapas, porém como eu não
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compreendia nada, compulsivamente tive um acesso de fúria tão grande que, com as
minhas mãos, eu destruí as duas revistinhas com facilidade.

Meus pais e minha irmã me olharam assustados com a cena presenciada. Eu, apesar de
ser uma criança, tinha entendimento o suficiente para compreender que aquele ato passou
dos limites. Porém, eu já dominada por demônios, simplesmente ignorei.

De igual modo, não muito distante deste dia, em uma determinada discussão qualquer que
tive com a minha irmã, eu fui repreendida pela minha mãe, uma vez que eu — como
sempre — estava errada.

Não me dei por satisfeita: fui até o meu quarto e quebrei quase todos os arquinhos de
cabeça que a minha mãe havia comprado com tanta dificuldade para mim e para minha
irmã, afinal meus pais tinham uma condição financeira bastante difícil.

Eu fiquei em estado de choque com o poder de destruição que havia nas minhas pequenas
mãos. Ver os arquinhos cheios de bordados, laços, tricos indo pendurados no cabideiro sem
mais nenhuma utilidade causou um nó na minha garganta e embrulho no meu estômago.

Quando minha mãe entrou no quarto e via a cena gritou:


— O que é isso aqui que você fez!? Porque você quebrou os arquinhos que compramos!?
Perguntou com olhos marejados.

Mantive o silêncio e cabisbaixa. Senti raiva de mim mesma.


— Você quebrou até os da sua irmã!? Por que você fez isso!? — Continuou a
questionar-me com um semblante de horror.

A voz de espanto e dor da minha mãe até hoje ecoam na minha mente o que causa aflição
e pesar. Após analisar todos os arquinhos, minha mãe viu que restaram dois que ainda
estavam inteiros. Eu continuei calada, então ela disse:
— Então eu vou te ajudar a quebrar os que ainda estão bons!

Crack! Crack!

— Pronto! — exclamou dando-me as costas após ter terminado de quebrar os arquivos que
ainda estavam inteiros.
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Fiquei atordoada por vários dias, pois apesar de ser uma criança, lembro-me perfeitamente
que eu ouvi uma voz de comando ou uma espécie de energia que me impulsionou a ter tido
essa atitude. Hoje eu sei quem foi que me incentivou a fazê-lo.

Assim, um forte desejo de vingança começou a crescer dia após dia no meu interior,
contrariando o que a palavra de Deus diz em:

Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a malícia sejam


tiradas dentre vós, (Efésios 4:31)
Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz
de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem. (Hebreus
12:15)

Consequentemente, comecei a sentir os primeiros desejos de buscar formas de destruir a


minha irmã e também a minha própria vida. Visivelmente eu não tinha consciência do meu
estado de espírito, pois eu simplesmente não pensava antes de agir e muito menos refletir
após as minhas ações.

E assim, comportamentos piores começaram a surgir, sobretudo na fase da adolescência. A


minha existência tornou-se um pesadelo que parecia não ter fim. Abrir os olhos a cada
manhã, era uma comprovação de que eu iria sofrer novos tipos de males.

Desde criança, meu pai sempre foi muito amoroso, mas muito severo também. Um simples
olhar dele já baixava a minha pressão. Quando ele tirava a soneca da tarde de sábado, que
quase sempre era acompanhada de um ronco alfa, ninguém podia dar um pio sequer.

Porém, vê-lo maltratar a minha mãe fazia com que eu perdesse grande parte do meu
respeito e consideração por ele. Pois, esse tipo de atitude para com ela causava conflitos
de sentido e sentimentos em minha mente.

Além disso, a minha vida era indefinida, uma vez que, ao mesmo tempo que eu frequentava
uma igreja cristã onde eu podia cantar, tocar violão e participar de inúmeras outras
atividades, costumava também praticar atos promíscuos, bem como frequentemente eu
mentia.

Além disso, eu tinha o hábito de envolver-me em diversos tipos de confusões e pancadarias


na escola, sem contar o forte desejo de prostituir-me e de experimentar as ofertas ilícitas e
100

perversas, que Satanás nos oferece, tais como drogas, festas mundanas, shows e
tatuagem. Eu estava completamente presa por Satã e, internamente, sentia-me
despedaçada.

As brigas entre minha irmã e eu intensificaram cada dia mais, o que resultava em mordidas
profundas no corpo da dela e perda de várias mechas da sua cabeça. Isso porque, durante
as nossas agressões, eu não media as minhas forças.

Pelo contrário, eu fazia uso ao máximo da minha musculatura que já começava a despontar,
juntamente com o apoio dos demônios que habitam em mim. Quando o assunto era
violência, eles sempre me davam uma forcinha.

Minha irmã quase sempre saía perdendo. Porém, nossas confusões quase sempre
resultaram numa bela surra do meu pai ou da minha mãe em mim. A casa dos meus pais
pegava fogo, mas não era do Espírito Santo de Deus, mas do inferno.

Segundo estudos psicológicos, “as interações ocorridas nos primeiros anos de vida
estabelecem um conjunto de lições elementares, baseadas na sintonia e perturbações dos
contatos entre a criança e os que cuidam dela7”.

Sabendo disso, Satanás criou situações para que os vínculos afetivos entre todos da casa
dos meus pais fossem fortemente bombardeados até serem rompidos. Infelizmente, eram
as forças do mal que prevaleciam na casa dos meus pais.

Veja, até hoje enquanto escrevo este livro, já se passaram mais de 28 anos e minha irmã
não fala comigo e muito menos com o meu pai. Não tivemos uma união familiar estável e
muito menos amorosa.

Apenas vivemos um dia de cada vez até que se chegasse nesse péssimo quadro que se
encontra hoje. “Como eu gostaria de conhecer os meus sobrinhos…”, penso com pesar aqui
no meu quarto da pensão.

Meu comportamento era tão atroz que aonde quer que eu fosse, as pessoas naturalmente
se afastavam de mim. Minha irmã já havia desistido de ter qualquer tipo de diálogo comigo.

7
Goleman, Daniel (1999). Inteligência Emocional. Ed. Objetiva. p.36
101

Minha mãe mesmo com muita dor física e abalo emocional sempre procurava manter as
atividades de casa em dia. Já meu pai passou a ficar ainda mais em silêncio e cabisbaixo.

A ruína da nossa família ia de vento e pompa. Na escola não era diferente: quase nada do
que era ensinado durante as aulas entrava na minha mente. Ficar sentada numa cadeira
por cerca de dois ou três minutos era uma missão quase impossível. Tudo me irritava.

Foi então que em uma das aulas quando a professora estava ensinando sobre acentuação
gráfica das palavras “bebê” versus “bebe” eu levantei minha mão e disse:
— Ainda continuo sem entender.
— Alguém mais não entendeu sobre essa parte da aula? — perguntou a professora
apresentando uma certa antipatia comigo. Afinal eu nunca parava quieta por mais de dez
minutos seguidos durante as aulas.

A sala ficou em silêncio prevendo que alguma coisa aconteceria. Como ninguém levantou a
mão, a professora caminhou até mim e, num ato de fúria, ela empurrou a minha cabeça
esfregando o meu rosto com violência contra os meus cadernos.

Eu tinha uns sete anos de idade. Levantei meu rosto com calma. A professora voltou à sua
mesa e disse:
— Eu vou sair da sala e quando eu voltar, quero que você responda a todos esses
exercícios que eu escrever aqui no quadro.

Ela saiu e eu caminhei até o quadro sem falar uma só palavra. Eu travei e não consegui
respondê-los. Por sorte, meus colegas me ajudaram e eu voltei a minha cadeira. Confesso
que até hoje tenho dificuldade em acentuação de modo geral, sobretudo quanto às palavras
que eu estava aprendendo naquele dia: bebê, bebe, coco, cocô. Volta e meia confundo uma
com a outra.

Essa história poderia ter sido uma invenção da minha cabeça, salvo pelo fato de a minha
irmã estar passando exatamente no momento quando eu estava sendo agredida.
Chegamos em casa e ela contou aos nossos pais o que havia acontecido comigo naquele
dia.

Infelizmente não sei qual foi a reação dos meus pais, porém no ano de 2004 quando eu
estava com dezoito anos, eu voltei a essa escola para recordar do local e dos professores.
Lá estava a mulher que me agrediu: a professora Geovana — este não é o seu verdadeiro
102

nome. Fiquei olhando para ela, mas preferi não tocar no assunto, mas no fundo aquela cena
ainda me doía bastante.
Diante deste contexto, pergunto a vocês, pais: vocês têm acompanhado a forma como os
professores têm tratado os seus filhos? Seus filhos apresentam algum sinal de violência?
Seus filhos confiam em vocês? Vocês e eles sabem lidar com frustrações?

Os anos seguintes me fizeram ter ainda mais raiva das pessoas e mesmo ainda sendo
criança eu já sentia o desejo de vingar contra alguém ou objetos o ódio que gradativamente
crescia dentro de mim.

Apesar de ter uma força acima do normal para uma criança da minha idade e gênero, eu
tinha uma desvantagem: eu era muito baixinha. Eu era uma tampinha parruda semelhante a
uma paçoca: baixa estatura e, ao mesmo tempo, socadinha por conta dos músculos que eu
já tinha.

Lembro-me de quando eu tinha doze anos de idade eu tive um desentendimento com uma
moça da minha sala durante o intervalo da aula. Ela me jogou no chão e em seguida chutou
a minha costela fazendo com que eu ficasse sem respirar alguns segundos.

Fiquei com tanto ódio dessa garota, mas não pude revidar porque ela era bem maior e mais
forte do que eu. Não me restou outra saída a não ser aguentar a dor em silêncio e me
afastar.

Hoje ao fazer uma retrospectiva dos meus pensamentos, lembro que um pouco antes de
sofrer essa agressão eu havia cometido algo semelhante. Certa vez em um dos encontros
de família, eu entrei sem motivo algum numa discussão com um primo que sempre foi muito
manso, obediente aos seus pais e temente a Deus. Coisas de criança, entende?

É normal haver esses desentendimentos, o problema era que eu sempre, via de regra,
queria partir para agressões, xingamentos e, muitas vezes, violência. Então eu dei-lhe um
soco no estômago fazendo que ele ficasse com o rosto pálido de tanta dor.

Ele se encolheu e quando estava prestes a cair no chão eu o segurei. Achei que eu tinha
matado-o. Essa cena ainda não saiu do reino dos meus pensamentos, tanto que eu ao vê-lo
atualmente com a sua esposa e uma linda filha bebezinho nos braços me dói
profundamente por ter causado aquele momento de sofrimento.
103

Por conta deste episódio, eu desenvolvi um bloqueio ainda maior para aprender qualquer
coisa. Além disso, nenhum assunto que envolvesse aprendizado em sala de aula
despertava o meu interesse, mas somente quando se tratava das aulas de educação física
e artística.

Inclusive, eu sempre aguardava ansiosamente o horário do recreio para poder subir nas
árvores, bater nos meninos, furtar o lanche das colegas e comer as gomas de mascar que
eu encontrava espalhadas no chão.

Eu não creio em absolutamente nada de que o homem é fruto da evolução do macaco, mas
um chimpanzé adestrado ganharia facilmente de mim quando o assunto era comportamento
e bons modos.

Lembro-me perfeitamente da prova de leitura de redação: cada aluno deveria se dirigir até
uma sala à parte e, de forma particular e individual, deveria ler um pequeno texto enquanto
era avaliado.

Esse teste sempre foi um verdadeiro terror para mim, mas para os meus colegas era
simplesmente tranquilo, tanto que a maioria tirava nota dez e jamais alguém reprovava. Mas
comigo tinha que ser diferente, pois eu ficava a nota necessária para passar, mas nunca era
a máxima.

Porém, um dia, por um milagre, eu tirei nota máxima. Fiquei tão feliz que voltei correndo
para a sala gritando e pulando de alegria com o resultado da minha nota. Ao chegar na
porta da sala eu escorreguei de tal forma que bati com as minhas costelas no chão e quase
feri minha cabeça. Os demais colegas me olharam com desdém, afinal tirar boa nota em
leitura era uma moleza para eles.

Consequentemente, passei a desenvolver uma imagem negativa de mim mesma, bem


como um comportamento disruptivo o qual é caracterizado por ter padrão persistente de má
conduta, violento ou até mesmo hostil em algumas situações.

Isso porque era visível que eu estava me tornando uma criança que facilmente colecionava
várias inimizades dentro do meu ciclo de convivência, cuja causa estava relacionada aos
meus atos de rudeza, grosseria e ausência de preocupação em estar ou não magoando os
outros.
104

Por conseguinte, constantemente eu ouvia a seguinte frase do meu pai: “se você não
aprender com os ensinamentos dos seus pais, fatalmente terá de aprender com a escola da
vida”.

Atualmente, aos meus 36 anos, eu confirmo, por experiência própria, que essa frase é
totalmente verdadeira. Aliás, sou prova disso. E digo mais: aprender com a vida, é muito
mais penoso do que com os pais, uma vez que não há escolha. Isso porque, eu
necessariamente tive que mudar o meu comportamento. Não havia outra opção.

Para piorar a situação, crianças com essas mudanças comportamentais costumam ser
desrespeitosas à pessoa que representa a autoridade daquele momento, podendo ser o pai,
a mãe, o irmão mais velho ou as pessoas cuidadoras, a professora ou pessoas mais velhas.

No meu caso, passei a odiar a todos, sobretudo minha mãe e minha irmã. Mas eu também
não perdia a oportunidade de envergonhar o meu pai. Onde eu chegava eu causava
discórdia e repelia as pessoas. Eu tinha o sutil hábito e prazer que eu tinha de criar uma
atmosfera de malevolência ao meu redor.

Aos onze anos de idade eu planejei fugir de casa. Peguei um pequeno pedaço de papel e
escrevi meu plano de fuga e o que levaria comigo. Decidi ficar na casa vazia dos vizinhos
que haviam se mudado para Brasília.

Comigo eu levaria cinco pacotes de macarrão instantâneo, três pacotes de biscoitos


recheados, seis blusas, quatro shorts, cinco calcinhas, cinco meias, um sabonete, xampu,
uma escova de dentes e um creme dental. Não precisava mais do que isso. Afinal, eu só
precisava ficar sozinha em meus pensamentos e ter paz.

Minha fuga aconteceria à noite enquanto meus pais estivessem dormindo. Por precaução,
eu pegaria os alimentos aos poucos da dispensa, de modo que a minha mãe não notasse a
ausência dos pacotes de macarrão e de biscoito.

Já as minhas roupas, eu poderia tirar do meu armário na noite da fuga. Tudo certo e tudo
arquitetado. Anotei tudo no papel e escondi-o na gaveta da minha escrivaninha. Porém, eu
havia esquecido de um detalhe: minha mãe tinha o hábito de vasculhar as minhas coisas à
procura de qualquer coisa que fosse de seu interesse.
105

Até que ela encontrou esse bilhete que, após lê-lo, imediatamente mostrou ao meu pai.
Cheguei da escola e ambos vieram conversar comigo em meu quarto a portas fechadas.

Então minha mãe disse dando gargalhadas sarcásticas:


— Você acha que encontrará um lugar melhor do que este para viver!? Muitas crianças
gostariam de estar em seu lugar!

Fiquei em silêncio ouvindo cada palavra dita pela minha mãe e bastante chateada pelo fato
dela ter o hábito de mexer nas minhas coisas durante o tempo que eu estava na escola. Eu
senti a minha privacidade ser invadida.

Já o meu pai analisou a situação com seriedade e me repreendeu com poucas palavras,
mesmo assim ele manteve-se ao lado da minha mãe em todo o momento. Após
admoestar-me, ambos saíram do meu quarto. Minha mãe saiu primeiro dando de ombros ao
que eu havia planejado e demonstrando que já havia considerado-a como um caso perdido.

Entretanto, enquanto o meu pai ainda estava de pé segurando a maçaneta da porta


preparando-se para fechá-la estando ainda de costas para mim, ele virou-se para a porta e
olhou para o papel que eu havia colado na minha porta.

Era um pequeno quadro de marcações que meu pai havia carinhosamente pedido para eu
fazer. Nele, meu pai anotava os dias que ele encontrava o meu quarto organizado. Em
troca, ele me dava uma pequena moeda como recompensa.

Porém, ele estendeu a sua mão e arrancou esse papel da minha porta. Girou a maçaneta e
fechou a porta atrás de si sem olhar para mim. O silêncio do meu pai e a ação de retirar o
quadro de controle de organização do meu quarto, doeu-me mais que as palavras da minha
mãe.

O som quase silencioso das pisadas do meu pai e a imagem dele girando delicadamente a
maçaneta do meu antigo quarto, ainda repercutem dolorosamente a minha mente até hoje.
Eu realmente estava sendo absurdamente ingrata aos meus pais por tudo o que eles me
proporcionaram.

Por que sou este tipo de ser vivente!? O que de fato faltava em mim ou havia em excesso
para que eu fosse esse monstro!? Por que raios eu nasci com essa natureza tão maligna!?
Que desgraça de vida! Eu odeio ser o que sou!
106

Por que eu sempre decepciono os meus pais e afasto aqueles que mais me ama!? Por que
os meus padrões de comportamento não são condizentes com os da realidade onde eu
estou inserida?

Será que além de ser diagnosticada com TDAH, eu também sou altista ou sofro da
Síndrome de Asperger? Eu realmente não consigo encontrar as causas subjacentes ou
maneiras de melhorar as minhas interações sociais.

Eu gostaria que meus pais se comunicassem abertamente comigo. Seria maravilhoso se


eles conversassem de modo honesto e sincero para que eu entendesse as suas
expectativas e preocupações em relação a mim.

Eu não importo que eles me batem de cinto, com vara de goiaba ou com o cabo de
vassoura. Fiquem à vontade em provocar a dor física, pois eu sei que mereço isso muito
mais, conforme está escrito em:

Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso
morrerá. (Provérbios 23:13)

O que realmente me dói, é o que está dentro de mim. Eu preciso de ajuda mas não consigo
externalizar os meus sentimentos. Eu gostaria de ser honesta consigo mesma e com seus
pais quanto aos meus objetivos e capacidades. Mas eu não consigo!

Eu cansei de viver. Preciso conseguir uma arma de fogo. Atirar na minha cabeça será um
alívio. Sim! É isso! Arma de fogo e em milésimos de segundo acabou a minha história. Não
vou atrapalhar a vida de ninguém.

Sinto muito pai e mãe pelo que fiz, mas tenho certeza que virar adubo vai ser um alívio para
vocês e para Jussara. Se não nascerem flores, pelo menos os fungos e minhocas serão
nutridos.

Por acaso vocês, pais, já tiveram uma conversa franca e honesta com seus filhos? Vocês
podem achar que sim, mas na cabeça da criança, é certo que não. Pois, sinceridade vai
muito além de palavras. Vocês escondem dos seus filhos suas reais intenções, emoções
ou pensamentos?
107

10. QUASE MORTE

Logo após o primeiro abuso sexual, ainda durante os seis anos de idade, eu sofri um trágico
acidente doméstico. Como eu sempre tive o hábito de estar no pé de carambola que havia
no quintal da casa dos meus pais, passei a me familiarizar com cada galho e tronco onde eu
pudesse me pendurar.

Eu costumava subir nessa árvore quase todos os dias, sendo que eu escalava-a numa
velocidade fora do comum para uma menina e desta idade. Além disso, eu procurava
encontrar novos galhos que eu ainda não havia desbravado.

Um dia eu avistei uma linda carambola ao longe. O curioso é que eu lembro que eu ouvi
uma voz me atraindo para pegá-la. Eu sabia que seria algo difícil, mas mesmo assim eu
estava disposta a correr os riscos.

Então, lentamente eu me aproximei dos galhos que davam acesso à fruta e, com cuidado,
finalmente consegui pegá-la. A única coisa que me recordo depois disso, é de ter acordado
no hospital. Logicamente, aquela maldita voz que eu estava ouvindo era a de Satanás
querendo me matar. E te digo, ele quase conseguiu.

Minha mãe, que sempre tinha o hábito de durante o dia gritar bem alto pelo meu nome
várias vezes durante o dia, sempre que eu estava fora do alcance da sua vista ou quando
não estivesse ouvindo a minha voz para saber se eu estava bem e segura, chamou-me uma
vez e não teve o meu retorno.

Chamou-me pela segunda vez, mas não houve resposta. Então ela foi ao quintal para saber
onde eu estava. Viu que eu deitada de bruços sobre um carrinho de mão que estava abaixo
do pé de carambola.

Achou muito estranha essa cena. Caminhou até mim e disse:


— Jaqueline? — perguntou minha mãe já tremendo por dentro tremendo o que poderia ter
acontecido comigo para que o meu corpo estivesse estirado sobre o carrinho de mão.

Eu não respondi e permaneci imóvel. Ela se aproximou ainda mais e viu que ao redor da
minha cabeça havia uma poça de sangue. Ao virar o meu corpo, viu que o meu rosto estava
bastante inchado como se alguém tivesse me espancado e o meu lábio superior estava
estraçalhado.
108

As pernas da minha mãe tremeram e os seus joelhos bateram um no outro. Mesmo assim,
como uma guerreira num campo de batalha cujos tiros estão sendo disparados por todos os
lados, ela enfrentou os seus próprios medos, barreiras e limitação física.

Ainda que ela não tivesse fôlego, gritou desesperadamente por socorro. Ainda que ela não
tivesse forças e tendo a sua coluna vertebral bastante danificada por conta de uma má
formação congênita, ela me pegou em seus braços, me acolheu em seu colo e me abraçou.

Prontamente a vizinha veio até nós duas e ambas em um só coro começaram a gritar pelo
meu nome para que eu reagisse e voltasse a respirar. Porém, como o impacto sobre o meu
crânio foi excessivamente forte, eu permaneci como morta.

Ambas me colocaram debaixo da água fria da torneira do tanque na tentativa de me acordar


do desmaio.
— Jaqueline! Acorda! — gritou a minha mãe desesperadamente enquanto limpava-me do
sangue que jorrava do meu rosto.
— Temos que levá-la agora mesmo ao hospital! — disse a vizinha. — Vou pedir ao Seu
Pierre para nos levar ao pronto socorro.

O cheiro do meu sangue estava nitidamente presente no ar. Minha mãe não sabia o que
fazer além de aguardar em Deus, pois possivelmente eu já estava morta. Eu vertia como
um boi sendo degolado no matadouro.

A essa altura, Satanás devia estar batendo palmas e rindo de toda a cena comemorando o
êxito do seu plano de liquidar a minha vida. Enquanto isso, o príncipe das trevas saboreava
cada gota do meu sangue que escorria pelo ralo do tanque.

Milagrosamente enquanto eu estava recebendo água fria sobre o meu rosto, eu abri os
olhos, mas novamente voltei a desmaiar. Nesse momento, Seu Pierre estacionou seu carro
na frente da casa dos meus pais.

Todos os três colocaram-me no carro e apressadamente conduziram-me ao hospital.


Fizeram uma cirurgia às pressas em meu lábio superior, realizaram vários exames e, sob
orientação médica, foi pedido que me observasse ininterruptamente, a fim de verificar
qualquer tipo de comportamento estranho como desmaios e convulsões.
109

Fiquei internada naquela noite e inexplicavelmente os exames não apontaram nenhum tipo
de traumatismo craniano ou outra consequência severa. No dia seguinte eu recebi alta, mas
qualquer sinal de anormalidade, eu deveria retornar imediatamente ao hospital.

O médico comentou que se, ao invés de ter caído com o rosto no carrinho mão, mas
diretamente no chão, no mínimo eu teria perdido alguns dentes, bem como comprometido
minha visão, sofrido traumatismo craniano ou qualquer outro tipo de mal pior.

Literalmente, Deus preparou todo o meu cenário de livramento ao despertar alguém para
deixar aquele item de construção civil exatamente no minuto e local estratégico onde eu iria
despencar do alto da árvore para baixo.

Como consequência, carrego até hoje em mim somente uma cicatriz nítida o bastante em
meu lábio superior, de modo que eu sempre lembre de mais um dos tantos livramentos que
Deus me concedeu.

Minha cicatriz lembra um pouco o resultado de uma cirurgia relacionada à correção de lábio
leporino, o que já causa más recordações. Porém, os sucessivos sustos que causei aos
meus pais e vizinhos referentes aos acidentes que eu sofri, não pararam por aqui.

Poucos meses depois, próximo de completar sete anos, enquanto eu estava na garupa da
bicicleta com a minha mãe que pedala após me buscar ao término de mais um dia de aula,
propositadamente eu coloquei o meu pé no aro do pneu para ver o que aconteceria.

Resultado: não só perdi parte do meu calcanhar, como também quebrei o tornozelo. Mais
uma vez, minha mãe correu comigo para o hospital para que eu fosse costurada e
engessada, de modo que o meu osso fosse recolocado em seu devido lugar.

Fiquei não apenas com uma bota ortopédica de gesso na perna, mas também com um
buraco na bota de gesso de modo que fosse possível trocar o curativo e mais tarde tirar os
pontos.

Por poucos milímetros, o meu tendão de aquiles não foi atingido, o que poderia
comprometer definitivamente os movimentos do meu pé e, consequentemente, do meu
caminhar.
110

Sem exagero, eu já havia me tornado uma figurinha carimbada pelos médicos e enfermeiros
plantonistas do hospital mais próximo da casa dos meus pais, chamado São Luiz, localizado
no bairro Ibes, Vila Velha, Espírito Santo.

Por conta do meu comportamento totalmente atípico, era nítido notar que eu vivia sob
influência do mal. Mesmo assim, a mão misericordiosa de Deus sempre estava posta sobre
a minha vida.

Como forma de não descumprir o meu cronograma de acidentes, poucos meses depois, eu
quase causei um novo infarto na minha mãe e na vizinha que havia se tornado minha
socorrista particular. Desta vez o fato lastimoso que eu vivi foi inspirado com uma boa dose
de criatividade de Satã.

Havia na casa dos meus pais uma cadeira de madeira que permitia ser aberta e fechada.
Estavam na varanda somente a minha irmã e eu tentando abrir a cadeira para sentarmos,
pois estávamos brincando de montar nossa casinha.

Como eu não havia percebido que o meu dedo estava entre duas ripas que compunham a
estrutura do assento da cadeira, assim que eu sentei, o meu dedo mínimo da mão esquerda
foi amputado ficando pendurado apenas por uma fina camada de pele.

O ruído angustiante emitido no momento que o meu osso estava sendo dilacerado, o gosto
perturbador de sangue na minha boca e o meu comportamento vil e irresponsável já na
tenra idade, ainda permanecem na minha mente.

Apesar de saber que eu havia me machucado, eu ignorei. Eu simplesmente não queria


acreditar que fosse verdade. Afinal, eu já estava num processo de me tornar uma pessoa
fria e sem sentimentos, tanto que nem dor eu senti quando o meu dedo foi decepado.

Descrever esses acontecimentos causam-me uma forte dor de cabeça, azia e sensação dos
meus nervos sendo repuxados, pois eu literalmente estava destruindo o templo do Espírito
Santo de Deus sem qualquer tipo de preocupação ou, no mínimo, algum remorso. Afinal de
contas, eu já odiava a minha existência.

Não demorou e uma poça de sangue formou-se ao meu redor denunciando o acidente.
Minha irmã apavorada disse:
— Jaqueline! Não olhe!
111

— Não olhar o quê!? — perguntei virando o meu rosto para olhar na mesma direção que ela
fitou o seu olhar.
—- Mããããããããããeeeee! Socorro! O dedo da Jaqueline! Mããããe! — gritou minha irmã
desesperadamente.

Jussara continuou a gritar pela nossa mãe até a sua vinda. Minha ao me ver sangrando
ficou em estado de choque. Mesmo tremendo, minha mãe me pegou em seu colo, desceu
as escadas cambaleando por conta do meu peso e fortes dores que sentia em sua coluna e
me levou até a cozinha.

Sem pensar duas vezes, ela enrolou o meu dedo num pano de prato e gritou por socorro
novamente à mesma vizinha. Nessas horas, Satanás certamente devia estar batendo
palmas diante de todo o sofrimento que minha família e eu estávamos vivendo naquele
momento.

Eu estava suja e usando uma roupa surrada, pois eu estava em casa num momento de
lazer como qualquer outra criança. Mesmo assim, minha mãe trocou a minha roupa de
baixo, colocando uma saia rosa que a minha avó materna havia costurado e me
presenteado.

Finalmente a vizinha chegou e nós três fomos levadas pelo vizinho motorista ao hospital.
Enquanto isso o maligno devia estar lambendo cada gota do sangue fresco que havia saído
do meu corpo.

Pela graça de Deus, o médico que estava de plantão naquele dia era um angiologista. Ou
seja, médico que cuida do tratamento clínico de doenças relacionadas a vasos sanguíneos
e vasos linfáticos.

Já havia uma pessoa na sala de cirurgias sedada e pronta para ser operada. Mesmo assim,
me colocaram em seu lugar, dando prioridade ao meu caso. Até hoje eu me recordo quando
eu entrei nesta sala e vi a paciente nua sendo retirada da mesa para que eu fosse posta em
seu lugar.

As várias luzes e as cabeças dos médicos e enfermeiros com máscaras ao meu redor
tentando, forçosamente, me sedar com um pano embebido com um produto contra o meu
rosto, ainda permanecem em minha mente.
112

Eu me debati violentamente. Gritava como um boi selvagem prevendo a própria morte


quando é levado ao matadouro. Eu impedia com todas as minhas forças que chegassem
perto de mim. Enquanto isso, o meu sangue continuava a verter do meu dedo rasgado.

Uma equipe de enfermeiros teve que ser acionada para agir rapidamente, a fim de
conseguirem me apagar para, finalmente, iniciar a cirurgia. Desmaiei e em seguida fui
anestesiada.

Quando enfim removeram o pano de prato, viram o osso exposto e que o meu dedo
decepado havia colado no pano de tal forma que se eu demorasse um pouco mais tempo
para chegar ao hospital, fatalmente eu teria perdido definitivamente o meu dedo.

Após acordar da sedação, lembro-me de ter saído da sala do pós-operatório e ir


caminhando lentamente pelo corredor do hospital ao lado de uma enfermeira em direção à
minha mãe.

Ela estava sentada no chão chorando e se recuperando do susto. Minha mãe conta que
quando me pegou no colo, ela teve que se escorar com as suas contas contra a parede,
pois involuntariamente perdeu as forças das pernas, fazendo com que deslizasse na parede
até desmaiar.

Definitivamente foi horrível viver tudo isso, mas principalmente a dor e o abalo que causei à
minha mãe. Certamente, minha mãe sofreu mais do que eu, pois tenho forte convicção que
ela desejava estar no meu lugar para que eu fosse poupada.

Veias tiveram que ser religadas e tecidos reconstituídos. Assim, graças a Deus eu não perdi
o meu dedo, mas até hoje carrego mais uma marca do histórico de horrores
comportamentais que eu tinha.

Meu dedo mínimo esquerdo tornou-se bastante diferente do que era, bem como em relação
ao dedo mínimo direito, seja pelo seu tamanho menor, deformidade na unha e uma enorme
cicatriz em formato oval.

Porém, o pior ainda estava por acontecer nos meus 19 anos, cujos fatos eu ainda eu ainda
tenho bastante dificuldade de comentar. Isso porque eu não tive precedentes de nenhuma
doença que causasse tal atrocidade que eu irei relatar com detalhes nos próximos
capítulos.
113

O que aconteceu em meu corpo aos 19 anos foi algo tão destrutivo, que até hoje eu colho
consequências irreversíveis e incuráveis. Falar sobre esse caso em específico é bastante
difícil e doloroso.

Mas os acidentes durante a minha infância não pararam por aqui. Vez ou outra, meus pais
eram surpreendidos com novas desgraças que advinham em minha vida. Claramente era
possível perceber que havia alguma coisa que interferia em meu comportamento.

Parecia que havia algum ser que queria, a qualquer custo, me matar. Pior, as minhas
atitudes mostravam que de fato era eu mesma quem buscava fazê-lo. Isso porque as
minhas escolhas eram voltadas quase sempre para os caminhos onde havia perigo.

Lembro-me perfeitamente do dia que eu estava no ensino fundamental, por volta dos oito
anos de idade. Eu estava sempre procurando brigar com alguns dos meninos e meninas,
pois eu tinha prazer em me envolver em luta corporal.

Assim, após cuspir na cara de um dos meninos da minha sala, eu corri dele como uma
louca desorientada para não ser apanhada e, por uma fração de segundos, tudo ficou
escuro. Só me lembro de ter acordado na enfermaria da escola.

Aconteceu que ao olhar para trás para saber a distância que o meu colega estava de mim,
eu não tinha percebido que havia na minha frente um tronco de uma árvore. Então quando
eu virei o meu rosto novamente para frente, eu simplesmente dei com a minha testa na
árvore.

O impacto foi tão grande ao bater na árvore, que eu fui arremessada para trás, como uma
bola de handebol contra a parede. Esse pequeno incidente causou-me um enorme galo no
lado direito da testa e, novamente, mais uma cicatriz que eu carrego até hoje para a minha
coleção de sinais no meu corpo.

É interessante notar que estudos mais recentes mostram que a área do lobo frontal (parte
localizada diretamente atrás da testa) é considerada como o centro de controle emocional e
comportamental, bem como é responsável pela manifestação da personalidade da pessoa.

Ou seja, trata-se de uma importante região que atua como gerenciador quanto à interação
familiar e social, pela memória de curto prazo, pela tomada de decisões e pelo
114

planejamento das nossas ações e planos. Logo, lesões nesta área possivelmente estão
ligadas às alterações no comportamento da pessoa8.

Os anos seguintes da minha vida após a recuperação dos sucessivos acidentes de


impactos cranianos, mostraram que o meu raciocínio moral, a minha capacidade de
interagir com as pessoas ao meu redor, como familiares, membros da igreja ou com
familiares, bem como a capacidade de resolver problemas diários, foram fortemente
prejudicados.

Isso porque, desde então, eu passei a desenvolver ainda mais surtos de ira, cólera,
brutalidade, agressividade, visível desrespeito às pessoas, falta de concentração e
desinteresse por quase tudo da vida cotidiana.

Porém, não me recordo de ter sido submetida a tratamentos ou uso de medicamentos, mas
apenas ouvi algumas poucas vezes minha mãe comentar que eu fui diagnosticada com
déficit de atenção e hiperatividade, mais comumente conhecido como TDAH.

Ambos tratam-se de doenças que começam na infância e comumente persistem até a vida
adulta. Pessoas acometidas por esse distúrbio desenvolvem baixa autoestima, envolvem-se
em relacionamentos problemáticos e possuem grande dificuldade de aprender e de
manter-se num trabalho.

Os tratamentos incluem medicamentos e psicoterapia. Porém, a essa altura, a minha


situação estava tão crítica que mal sabiam os meus pais ou qualquer outro adulto que as
únicas coisas que atraiam o meu interesse eram: ter relações sexuais com outra meninas,
comer descontroladamente, arriscar minha vida subindo em árvores e no telhado, perder
horas do dia na frente da televisão vendo pornografia, furtar objetos de terceiros, fumar
bituca de cigarro e me masturbar às escondidas.

Assim, eu me tornei uma pessoa bastante ociosa, ansiosa, impulsiva, inconsequente e


grandemente propensa a me envolver em situações que me metiam em apuros, sobretudo
na escola. Parecia que o sentido de tudo o que é proibido perdeu-se na minha mente.

Era como se não houvesse em minha mente algum tipo de sinalização para impedir-me de
fazer aquilo que desagrada a Deus. Para que se cumprisse o que está escrito em:

8
Fonte: https://agencia.fiocruz.br/traumatismo-craniano-revela-mecanismo-de-compensacao-cerebral
115

[...] tendo cauterizada a sua própria consciência; (1 Timóteo 4:2)

Eu já tinha consciência de que o meu autocontrole emocional era quase que totalmente
escasso, mas não fosse a incalculável graça de Deus, certamente eu poderia mais tarde
tornar-me no mínimo uma criminosa, alcoólatra e/ou garota de programa.

Tudo por conta dos abusos sexuais, acidentes e brigas entre os meus pais que eu vivenciei
na infância. Isso porque o desequilíbrio que eu mostrava por meio das minhas ações e
comportamento, era fruto do meu descontrole emocional que eu tentava esconder dentro de
mim.

Cada dia mais eu estava destruindo a minha vida, até que eu fiz algo que para mim é
bastante difícil de escrever ou de comentar sobre o assunto. Demorei mais de um ano para
decidir se deveria ou não inserir esse capítulo que já estava escrito, porém arquivado. É o
próximo capítulo.

A situação já estava tão crítica para o meu lado que se eu estivesse na casa dos meus pais
ou em um encontro familiar e se, por exemplo, um copo ou qualquer outro objeto quebrasse
ao deixarem cair no chão, intuitivamente alguém gritava “Só pode ter sido a Jaqueline!”.

Era um verdadeiro pesadelo. Eu me tornei alvo das chacotas da família e alvo de críticas e
fofocas. Passei a odiar estar perto de qualquer ser vivente, fosse ele humano ou animal.
Passei a acumular mais raiva e revolta interior.

E se fosse obra do mal que havia tramando algo contra mim, era impossível eu comprovar
que eu estava certa somente por meio da minha palavra, visto que eu não tinha crédito
algum.

Isso porque a minha palavra contra qualquer pessoa não tinha valor algum, afinal eu tinha o
péssimo hábito de mentir. Confiar em mim era o mesmo que acreditar que os porcos voam.
Mesmo porque eu era um ímã para encrencas.

Inclusive era comum fazerem piadinhas contra mim, como por exemplo: “Se a Jaqueline
fosse lavar as roupas em uma lavanderia e lesse o aviso ‘Quando a máquina apitar, retire
toda a roupa’, certamente após ela ouvir o apito, começaria a se despir”.
116

E, assim, debochavam e davam longas gargalhadas da minha cara até as suas barrigas
doerem e seus olhos lacrimejarem, segurando-se para não urinar na roupa. Passei a ser o
alvo das chacotas da família. Era um verdadeiro inferno!

Na sua casa também há alguém com o comportamento semelhante ao meu quando eu era
criança? Se sim, como você tem julgado essa criança? Já investigou qual poderia ser a
causa das suas atitudes serem essas?

Ou você se juntou ao time que, covardemente, levanta gracejos contra ela julgando-a sem
saber sobre o seu histórico de vida?
117

11. ENFERMIDADES MISTERIOSAS

Somados aos acidentes domésticos que constantemente eu sofria, também passei não por
um, dois ou três ciclos de pneumonia, mas cinco ao todo. Conjuntamente, desenvolvi
bronquite asmática.

A impressão que eu tinha era que havia uma atmosfera de ódio e frieza pairando no ar. Eu
senti que havia murmurações internas e lutas em todas as áreas da minha vida. Posso
dizer, que a minha infância, adolescência e juventude foi marcada e resumida por duas
palavras: confusão mental.

Isso porque quando eu tinha certeza absoluta que estava certa nas minhas escolhas,
grandes e terríveis consequências eu sofri. E quando eu achava que seria uma cilada, era,
na verdade, uma grande porta que havia sido aberta para mim. Porém eu já havia
rejeitada-a, não havia a possibilidade de retomá-la.

E, assim, cumpriu-se o que está dito em:

Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do Senhor teu Deus, para não
cuidares em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos, que hoje te
ordeno, então virão sobre ti todas estas maldições, e te alcançarão:
O Senhor te ferirá com loucura, e com cegueira, e com pasmo de coração;
(Deuteronômio 28:15 e 28)

Os sentimentos de opressão daquela atmosfera esmagadora e tirana sobre mim, fazia com
que eu delirasse não só por conta das enfermidades e efeitos dos fortes medicamentos,
mas sobretudo por conta da confusão mental que atingia a minha mente.

Eu tinha plena convicção de que eu estava sendo constantemente vigiada por algumas
pessoas influenciadas por espíritos malignos, a fim de me atrair para o satanismo através
do lançamento de diversas setas de destruição. A começar pela boneca que me foi dada de
presente aos seis anos de idade.

Inclusive, minha mãe comentou que quando eu tinha apenas alguns meses de vida, a moça
que havia sido contratada para ajudar a cuidar das tarefas de casa se descuidou enquanto
balançava o carrinho de bebê no qual eu estava dentro.
118

Consequentemente, ele acabou virando eu dei com a testa no chão. Felizmente eu não
precisei ser hospitalizada, mas certamente a pancada que eu levei na cabeça não só me
causou dor com algum tipo de trauma internamente.

É importante ressaltar que, normalmente, são cinco as principais ferramentas de destruição


usadas por Satanás, a saber, enfermidades, rejeição, acidentes, conflitos familiares e
abusos sexuais.

Isso porque todos esses problemas são de difícil reconhecimento, diagnóstico e tratamento
por parte dos profissionais da medicina, bem como por poderem causar uma morte lenta e
dolorosa tanto física como emocional à pessoa que foi alvo do poder das trevas.

Sabendo disso, o príncipe das trevas cria diversos tipos de doenças que muitas vezes são
impossíveis de serem identificadas somente por meio do conhecimento humano, visto que
trata-se de natureza totalmente espiritual. Veja a passagem abaixo:

E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já
dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se. (Lucas
13:11)

Note que a palavra do Senhor deixa claro que a enfermidade da mulher era causada por um
espírito de enfermidade e não por uma causa relacionada à natureza humana carnal. Além
disso, logo depois o Senhor Jesus reitera esse entendimento quando diz:

E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão, a qual há
dezoito anos Satanás tinha presa? (Lucas 13:11,16)

Ou seja, a causa da enfermidade da mulher tinha origem satânica. Por experiência própria,
posso afirmar que eu sofri todos esses cinco tipos de males citados acima, todos de ordem
espiritual, os quais iniciaram-se quando eu ainda estava dentro do útero materno.

Minha mãe comentou algumas vezes que se lembra perfeitamente de alguns fatos curiosos
do tempo quando estava grávida de mim. Ela sentia constantemente uma agitação em seu
ventre. Segundo ela, eu me mexia e chutava-a com frequência.
119

Parecia que eu lutava e fugia contra algo. Esse meu comportamento intra uterino já lhe
causa espanto, sendo que mesmo após eu nascer, a inquietação não só permaneceu
veemente em meu comportamento, como aumentou.

Certa vez, quando a minha mãe estava nas semanas finais para me dar à luz, ela estava
caminhando sozinha com a minha irmã de três anos no quintal da casa onde morava.
Abruptamente sem qualquer precedente, ela escorregou violentamente e foi lançada ao
chão.

O tombo foi tão grave, que ela não conseguiu se levantar sozinha, pois sua barriga já
estava muito grande e pesada. Ficou imóvel e estirada ao chão. Com muita dificuldade ela
abriu os seus olhos e viu que havia esfolado as suas pernas.

Sentindo fortes dores e com ferimentos pelo corpo, minha mãe conversou calmamente com
a minha irmã pedindo que fosse até a vizinha e pedisse ajuda. Minha irmã foi andando
sozinha entre as tábuas que serviam de apoio contra o terreno alado, afinal morávamos
num brejo, até chegar ao quintal da vizinha.

Minha irmã encontrou um senhora que congregava na mesma igreja dos meus pais e disse:
— Mamãe caiu. — disse a minha irmã docemente e olhando fixamente para a vizinha com
seus lindos olhos semelhantes a duas jabuticabas maduras. E continuou:
— Mamãe tá com dodói.
— Onde está a sua mamãe? — Perguntou a vizinha.

Minha irmã foi andando de volta em direção à nossa mãe e a vizinha a acompanhou até
encontrá-la estirada no chão gemendo de dor e tremendo medo de que houvesse abortado
ou que algum mal acontecesse com a minha irmã que foi pedir socorro.

Mas graças a Deus, tanto minha mãe como eu estávamos protegidas na concha das mãos
do Senhor. Interessante que essa senhora é exatamente a esposa do Seu Jorge. Aquele
que além de pedófilo, incentivou o seu filho a abusar sexualmente de mim.

Fazendo apenas um pequeno desabafo, eu sempre notei que essa referida senhora sempre
estava calada na igreja e nunca deixava de ir aos cultos. Eu olhava para ela e sabia que ela
sofria de modo calado.
120

Hoje tudo faz mais sentido. Pois, mal eu posso imaginar o que essa mulher passou por
conta do seu marido pedófilo e adúltero. Mas mesmo assim ela optou permanecer ao lado
de um homem que a agredia diariamente.

Chegou o dia do meu nascimento. Por meio de uma cesariana, fui tirada do útero da minha
mãe e levada para ser analisada e banhada. O médico que fez os dois partos da minha mãe
e vários outros da família, foi um primo dela que mais tarde também veio a me operar.

Minha avó paterna que acompanhava o meu nascimento no hospital, disse que viu o
médico apoiar a minha barriga em sua mão e, consequentemente, dei alguns pequenos
passos com uma certa velocidade. Uma das enfermeiras que estava ao lado, se assustou
quando viu a cena.

Porém, algo bastante pesado eu ouvi sair da boca da minha mãe quando eu era
adolescente. Suas palavras me custaram outros vinte anos para conseguir perdoá-la e não
mais lembrar com sofrimento. Hoje encontra-se como uma pequena cicatriz indolor.

Certa vez, quando eu tinha 13 anos, minha mãe estava resolvendo (aos berros) uma
questão com a minha irmã quando, involuntariamente, saiu da sua boca: “eu sempre te
protegi e rejeitei a Jaqueline isso desde quando eu estava grávida dela!”.

Quando eu recebi essa informação no formato de uma pancada no peito, fiquei imóvel e
sem saber como reagir. Desde então os pensamentos tornaram-se ainda perdidos.
Senti-me ainda mais rejeitada e extraviada.

Os sentimentos de rejeição e completo desapego à minha mãe duraram por pelo menos os
próximos 15 anos. Diante disso, inúmeras vezes eu me apegava com lágrimas ao versículo:

Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se
compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele,
contudo eu não me esquecerei de ti. (Isaías 49:15)

Passei involuntariamente a fazer exatamente o que Satanás esperava de toda essa


situação: que eu também rejeitasse a minha mãe. Consequentemente, passei a vê-la como
uma estranha para mim.
121

Continuei a tocar a vidinha que eu levava, aguardando ansiosamente pelo dia da minha
morte. Tracei alguns planos, mas sempre tendo plena certeza de que eu não os alcançaria,
mas que se viessem a conquistá-los, seria apenas um mero acidente de percurso.

Acostumei-me quase que totalmente ao poder cruel e misterioso que me circundava, o qual
me fascinava por conta da curiosidade sobre o assunto, mas, ao mesmo tempo, me
assustava.

O interesse por magia, druidismo, encantamentos e outros assuntos afins, foram


despertados por meio de filmes e desenhos animados que passavam num meio de
comunicação destruidor de famílias chamado televisão.

Isso porque, como eu passei boa parte da minha infância doente, eu era colocada
inocentemente de frente à televisão como alternativa de entretenimento e uma saída para
que eu ficasse quieta, afinal eu fui diagnosticada com TDAH.

Mesmo assim, ainda que o cenário de destruição já estivesse arquitetado, contribuindo para
a deturpação do meu caráter e influenciando a minha personalidade, havia uma igreja que
intercedia constantemente por mim.

Eu sempre sentia a presença maligna de Satanás ao meu lado, mas não sabia de onde
vinha e o porquê desse desejo ardente de me destruir, visto que eu era apenas uma
criança.

Nunca confessei a ninguém durante toda a minha infância, adolescência ou juventude a


opressão que havia sobre a minha vida. Mas hoje eu entendo o porquê de nunca ter tido
coragem de expor o que realmente se passava comigo.

A explicação é simples: como eu era habitada e rodeada pelo espírito da prostituição e


lesbianismo, espontaneamente eu era impedida de querer reconhecer o meu estado
deplorável de pecado.

Se eu o confessasse, este seria o passo inicial de pedir ajuda para consertar-me diante de
Deus. O que comprova o versículo abaixo:
122

Não querem ordenar as suas ações a fim de voltarem para o seu Deus, porque o
espírito das prostituições está no meio deles, e não conhecem ao Senhor. (Oséias
5:4)

Fato é que sempre tive a sensação de estar no caminho errado, uma vez que eu não tinha
paz, bem como eu sabia que era habitada e vigiada pelas trevas. Inclusive, por mais que eu
me esforçasse, eu não conseguia deixar de praticar o pecado.

Mas se eu tivesse feito conforme o versículo abaixo, certamente a minha vida teria sido
outra:

Fuja dos desejos malignos da juventude e siga a justiça, a fé, o amor e a paz, com
aqueles que, de coração puro, invocam o Senhor. (2 Timóteo 2:22)

Note que qualquer árvore não precisa se esforçar para gerar frutos, pois isto lhe acontece
de forma totalmente natural e espontânea. Da mesma forma era comigo, pois por eu ser
possuída por espíritos imundos, eu naturalmente produzia frutos de destruição, mesmo
porque é impossível que um pé de laranjas dê abacaxis.

É impossível que uma pessoa endemoniada, mesmo estando dentro de uma igreja cristã,
gere o fruto do Espírito Santo, a saber:

Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé,
mansidão, temperança. (Gálatas 5:22)

Porém, na minha mente, parecia que ninguém dava crédito ao que se passava comigo do
ponto de vista espiritual, pois focaram apenas na cura contra às doenças que se
manifestavam em meu corpo.

Não tenho dúvidas de que se um verdadeiro representante de Deus orasse por mim,
expulsando as forças do mal, certamente eu manifestaria uma possessão demoníaca
bastante severa. Mesmo assim, o Espírito Santo de Deus pela sua imensa misericórdia
despertou os membros intercessores da igreja e da família a sempre orar e jejuar pela
minha vida.
123

Quando eu era adolescente, sempre tive a convicção de que se eu colocasse os pés na


porta de uma igreja santa e separada pelo Senhor, certamente os demônios que habitavam
em mim, começariam a se debater em meu interior.

Portanto, caso você esteja passando por algum mal súbito, sem qualquer precedente em
sua vida, seja na saúde, no financeiro, na família, no matrimônio, nos estudos ou no
trabalho, é necessário verificar e investigar por meio do Espírito Santo de Deus qual é a sua
procedência.

Peça a Deus que te revele se tal acontecimento provém do Senhor Jesus Cristo ou se vem
de algum ataque maligno. Não considere o que você ou o que seus filhos estão passando,
apenas como simples circunstâncias da vida.

De modo geral, muitas igrejas e famílias cristãs negligenciam este tipo de assunto e é
exatamente isso que Satanás quer. Veja este exemplo: no mês de agosto de 2022 enquanto
conversava com o presbítero e sua esposa, eles me contaram sobre uma batalha espiritual
que haviam vivido recentemente numa cidade do interior de São Paulo.

Durante um determinado período de dias, eles se detiveram a orar e jejuar por um menino
que visivelmente estava possuído por Satanás. Além disso, essa criança sofria de
hanseníase (antigamente, chamada lepra).

A presença maligna sobre esse jovem era tão grande que seus pais chegavam a varrer do
chão cerca de 700g de pele do menino diariamente. Inclusive, essa criança apresentava
comportamentos anormais, agressivos, e mudanças drásticas de personalidade.

Quando estava se aproximando o momento final da total libertação dessa criança, além
dele emitir sons e uivos apavorantes, também chegou a levitar. Porém, após intensa
batalha, o garoto foi finalmente libertado e já no dia seguinte a pele se seu corpo tornou-se
como a de um bebê.

O pior de tudo é que esse menino e sua família são membros de uma igreja Pentecostal
muito antiga e conhecida por lutar em batalhas espirituais. Entretanto, atualmente sofreu
tantas alterações e esfriamento espiritual, a ponto de não mais acreditar nas manifestações
demoníacas como antes o faziam.
124

O mesmo aconteceu comigo trinta anos atrás. Pois, o foco estava voltado para a cura das
minhas enfermidades respiratórias, quando, na verdade, eu estava totalmente estragada
por dentro.

Contudo, apesar de eu não ter sido instruída ou mesmo preparada para lutar contra as
forças do mal, Deus usou minha avó através de poucas e simples palavras de fé, o que
garantiu-me uma cura instantânea e permanente.

Meus pais, após anos frequentando hospitais, clínicas, incontáveis sessões diárias de
nebulizações no pronto socorro, internações, medicamentos caros e dificuldades financeiras
(inclusive, chegaram a gastar um mês inteiro de salário do meu pai para comprar um
nebulizador importado do Paraguai) e, sem saber mais o que fazer, chegaram à exaustão
física e emocional.

Além disso, os médicos já estavam desenganados quanto à minha sobrevivência para os


próximos meses. Então minha avó materna disse para a minha mãe levar-me a sua casa,
para que meus pais descansassem por alguns poucos dias.

Minha mãe me deixou na porta da casa da minha avó juntamente com uma bolsa de roupas
e outra de medicamentos. Nós nos despedimos e minha mãe ligou o carro. Em seguida, nós
acenamos uma para outra e eu ainda estando com minha avó na calçada da rua, ela
certificou-se que a minha mãe não estava mais nos vendo.

Então minha avó apontou o dedo para mim e disse:


— Aqui nesta casa não entra gente doente. Seja curada agora em nome do Senhor Jesus!
Pode entrar.

Eu tinha aproximadamente oito anos de idade, mas essas palavras serviram de estabilidade
emocional, consolo espiritual e descanso físico. Desde então passei a ter uma melhora
repentina até ser totalmente curada contra qualquer tipo de problema respiratório, bem
como de qualquer alergia que também sofria.

Não há dúvidas que eu teria morrido não fossem as misericórdias do Senhor através do seu
insondável amor pela minha vida. Minha avó me devolveu aos meus pais totalmente curada.
Mas ainda assim, o meu interior permanecia mergulhado em trevas.
125

Aos nove anos de idade, sofri mais um acidente: tive outro dedo decepado, sendo desta vez
o dedo mínimo do pé esquerdo. Novamente, anos mais tarde, aos 16 anos, meu dedo
indicador também foi cerrado, performando, assim, a mão chifrada com os dois dedos
amputados.

Ainda nesta idade (16 anos), batizei em um tanque aceitando o Senhor Jesus Cristo como
meu único e suficiente salvador, porém ainda não sabia nada sobre relacionamento pessoal
com Ele.

Continuei frequentando a mesma denominação restrita e rigorosa, mas que devido a um


grande escândalo de desvio de milhões (talvez bilhões) de reais, boa parte dos membros
mudou-se para denominações semelhantes, enquanto que outros se desviaram para o
mundo afora. Sem contar os casos daqueles que caíram em depressão este fato.

Mesmo assim, eu dificilmente consegui manter uma amizade saudável e harmônica por
mais de um mês com qualquer pessoa que eu conhecesse, afinal dentro de mim, habitava o
espírito da inimizade.

À vista disso, eu era criticada e ridicularizada pelas pessoas da igreja, da escola, pelos
vizinhos, pela família e quaisquer outras pessoas que eu convivia. Isso causava-me ainda
mais o desenvolvimento da minha baixa autoestima e falta de confiança em si mesmo.

Consequentemente, me tornei bastante insegura ao interagir com os outros e acreditando


que eu não era digna de ter relacionamentos saudáveis. Além do mais, era totalmente
notável perceber que eu não tinha comunicação efetiva, escuta ativa, empatia ou mesmo
sabia lidar com a resolução de conflitos.

Os traumas passados dos episódios de abuso, bullying ou convivência do relacionamento


conturbado dos meus, afetaram significativamente a minha capacidade de confiar nas
pessoas. Inevitavelmente, eu criei barreiras emocionais no desenvolvimento de novos
relacionamentos.

Consequentemente, eu cresci de forma solitária odiando tudo e todos. Preferi a solidão ou


interações mais íntimas com um círculo seleto de pessoas, a saber as pessoas que eu
passei a conhecer na internet.
126

Fatalmente, passei a sentir-me desconfortável em situações sociais mais amplas e


dificuldade em compartilhar meus pertences. Além disso, passei a desenvolver falta de
interesse por atividades em comum.

Somado a tudo isso, eu era uma criança muito enferma que havia passado anos da minha
infância e adolescência ora em casa, ora no hospital não somente devido às doenças
respiratórias, como no caso de intoxicação alimentar e constantes acidentes domésticos
que sofria na casa dos meus pais.

Por cerca de 20 anos o mal influenciou-me de maneira cega a sentir raiva dos meus pais e
culpava-os por grande parte (senão todos) dos problemas que eu enfrentava. Porém, aos
poucos o Espírito Santo de Deus me mostrou que, na verdade, meus pais nunca pouparam
esforços para me guiar rumo aos caminhos do Senhor Jesus.

Eles queriam que eu tivesse a garantia de ter uma vida abundante e feliz. Hoje, depois de
muito sofrer e refletir sobre o monstro que eu fui, eu pude concluir que, via de regra, os
verdadeiros amigos de qualquer pessoa são os seus próprios pais.

Porém, sabendo que Satanás tomou conta dos meus pensamentos de tal forma, eu passei
a culpá-los absolutamente por tudo o que se passava comigo. Eu reprovava-os por
praticamente todos os seus atos errôneos. A semente do mal começou a brotar dentro de
mim e precocemente já estava gerando os seus frutos de destruição.

E assim, com ou sem o meu consentimento, eu era visitada pelas trevas a fim de tornar-me
gradativamente, parricida e matricida do poder das trevas, conforme cita a Bíblia em:

Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados,
para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e
matricidas, para os homicidas (1 Timóteo 1:9)

Eu sempre quis entender como todas as destruições ocorreram na minha vida sem que eu
tivesse um envolvimento físico e concreto com as obras das trevas. Finalmente, a resposta
veio no dia 19 de setembro de 2022 quando eu fui levada em espírito para 20 anos atrás.

Isso pode soar estranho ou impossível de se aceitar, mas, enfim, eu tive boa parte das
minhas dúvidas esclarecidas, as quais até então me acompanharam durante quase toda a
minha vida.
127

Foi assim: eu estava dormindo quando subitamente eu me vi com aproximadamente dois


anos de idade. Então uma mulher muito bonita e aparentemente ingênua de
aproximadamente 25 anos, me pegou em seus braços e me levou para tomar um banho de
rio.

Eu não estranhei o seu ato, pelo contrário, eu gostei tanto deste ato que eu ri a ponto de dar
gargalhadas. Eu me senti feliz e protegida em sua companhia. Ao perceber que havia
ganhado a minha confiança e tendo certeza que eu me sentia segura, ela delicadamente
começou a me masturbar.

Esse ato de masturbar-me enquanto eu estava em espírito subconscientemente dormindo,


perdurou até os meus 16 anos, até que eu me acostumar com tal prática diária. Ou seja,
dos seis aos 16 anos, essa mulher me visitou durante o meu sono profundo.

Após muitos anos aderindo à referida prática pecaminosa, eu comecei a participar, em


espírito, de rituais satânicos. Assim, eu, cuidadosamente, era colocada deitada e totalmente
nua sobre uma pedra lisa e gelada.

Em seguida começaram, durante vários minutos, a introduzir objetos não identificáveis em


meu corpo, mais especificamente, através da minha parte genital. Eu aceitava e concordava
com tudo o que estava sendo feito em mim.

Tanto que eu sentia prazer e sorria enquanto usavam e abusavam do meu corpo. Inclusive,
eu consegui ver o meu rosto o qual transmitia um semblante maligno. Não satisfeita, eu pedi
que trouxessem algum homem para ter relações sexuais, pois foi me dado o entendimento
para este arrebatamento de espírito que as pessoas que servem a Satã devem se dispor ter
relações sexuais de maneira descabida.

Então as pessoas que estavam ao meu redor ligaram para um jovem convidando-o para ter
relações sexuais comigo. Ele, porém, não pode atender ao chamado porque havia marcado
um compromisso. Então eu disse que não havia problema, pois eu poderia fazê-lo em outro
dia.

O ritual acabou e após isso eu me vi andando na rua em direção a igreja onde eu


congregava quando eu tinha essa idade (16 anos). Eu trilhei pelas ruas sozinha de forma
natural como se nada daquilo tivesse acontecido.
128

Então eu comecei a ouvir a voz de Deus e sentir a sua presença, ainda que invisível. Ele
havia observado cada uma das minhas ações e pensamentos. Eu dialoguei com Ele como
se estivesse conversando com alguém face a face.

Eu não o vi, mas sabia que estava bem próximo de mim, dizendo para eu me arrepender
dos meus pecados e parar de ter ânimo dobre, conforme está escrito em:

O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos. (Tiago 1:8)

Porém eu falei que ficaria somente por um tempo nesse tipo de vida e que depois eu iria me
arrepender, pois eu sabia que eu seria aceita por Deus. Inclusive falei com o Criador que eu
jamais negaria o seu nome.

Entretanto Deus me perguntou: “Você estaria preparada para suportar a sua pele ser
arrancada por amor ao meu nome?”. Eu simplesmente não respondi, pois no meu interior
eu sabia que não aguentaria tamanha dor e sofrimento.

Continuei a caminhar até que cheguei à igreja e participei do culto de forma mecânica e
falsa. Para que assim, se cumprisse o versículo que diz:

Maldito aquele que fizer a obra do Senhor fraudulosamente; e maldito aquele que
retém a sua espada do sangue. (Jeremias 48:10)

Hoje eu entendo o porquê de sofrer de insônia. A principal causa está ligada à necessidade
de orar durante as madrugadas a Deus e repreender por meio do precioso Sangue de
Jesus Cristo que eu seja visitada por esses demônios da classe incubus e succubus.

Diante disso, como é possível eu estar dentro da igreja e ser pertencente a um lar que diz
servir a Deus, mas na verdade, eu servia a Satã? A resposta é simples: eu tinha vários
pecados ocultos. Pior: eu já havia me acostumado a cada um deles.

Tanto que foi exatamente aos 16 anos de idade que eu recebi um “diagnóstico” que mudou
a minha vida permanentemente, cujas consequências repercutem não somente no meu
corpo físico, como no meu corpo espiritual.
129

Acontece que aos 16 anos de idade eu ainda não havia vivido a menarca (primeiro ciclo
menstrual) e após prolongados e sucessivo meses fazendo exames constrangedores como
ultrassom vaginal e outros mais complexos como ressonância magnética com uso de
contraste.

Não satisfeito, o médico que cuidava do meu caso solicitou exames de sangue para
contagem dos meus cromossomos, a fim de verificar a possibilidade da existência de uma
síndrome.

Também fiz uso de medicamentos fortes objetivando a estimulação dos meus órgãos
reprodutores, mas nenhum deles surtiu o efeito desejado. Até que eu recebi talvez a pior
notícia da minha vida.

Se a minha vida já estava em um nível hard de complicação, a situação piorou infinitamente


mais com que estava por vir. Fiz muitos questionamentos sobre o que se passava comigo.
O desejo de me matar aumentou ainda mais. Concluí que eu realmente precisava dar um
fim a tudo isso de forma rápida.

A resposta dos médicos que estavam cuidando do meu caso foi de que, sem uma
explicação médica plausível ou lógica, eu deveria remover todo o meu aparelho reprodutor
(útero, ovários e trompas) na chamada histerectomia radical (ou total).

Isso porque os meus órgãos simplesmente não se desenvolvem de forma normal, cuja
causa nunca foi descoberta. Além disso, caso eu não aceitasse retirá-los, haveria grandes
chances de eu desenvolver uma neoplasia maligna (câncer).

Segundo o médico que acompanhava o meu caso, se eu carregasse dentro do meu corpo
órgãos sem funcionalidade, isso acarretaria em possíveis complicações futuras. Mesmo
assim, fiquei insatisfeita com o diagnóstico e resolvi procurar outros profissionais.

Marquei uma consulta com uma médica cristã que inclusive frequentava a mesma igreja da
minha avó:
— Bom dia, em que posso te ajudar mocinha? — disse a doutora tentando lembrar de onde
me conhecia, pois ela sabia que eu lhe era familiar.
— Eu tenho 19 anos e os médicos querem remover todo o meu aparelho reprodutor. —
respondi apresentando todos os meus exames realizados.
130

— Qual o nome do médico que está te acompanhando neste caso? — respondeu a médica
bastante assustada com o meu caso.
— Dr A… — respondi.
— Bom, ele foi o meu professor na universidade de medicina. Creio que ele sabe, melhor do
que eu, o que está fazendo para ter dado esse diagnóstico. Sendo assim, entendo que fazer
essa cirurgia realmente será necessário para você.

Fiquei sem palavras e em estado de choque ao ver que eu não tinha outra escolha. Isso
mostra que Deus criou o universo de forma que, causa e efeito coexistem harmonicamente,
incluindo as obras do mal que eu pratiquei.

Plantei diversas sementes malignas cujas árvores enraizaram de tal forma, cresceram de
maneira forte e geraram frutos de destruição que até hoje, mesmo após mais de três
décadas, continuam a existir e produzindo novas sequelas.

Tudo isso para que se cumprisse o que está escrito em:

Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas, e das
tuas ovelhas.
Maldito serás ao entrares, e maldito serás ao saíres.
O Senhor mandará sobre ti a maldição; a confusão e a derrota em tudo em que
puseres a mão para fazer; até que sejas destruído, e até que repentinamente
pereças, por causa da maldade das tuas obras, pelas quais me deixaste.
(Deuteronômio 28:18-20)

Meu ventre — se é que se pode assim chamar o que tinha dentro de mim — era totalmente
infrutífero e misteriosamente degenerado. Não havia respostas médicas para o meu caso.
Nem mesmo os meus pais me diziam o que a junta médica falava de mim para eles.

Mas o pior de tudo era que Deus se calou para mim. Eu passei a clamar por ele e pedir por
respostas e a única “voz” que eu escutava era a brisa do vento. Nada além disso.
Consequentemente, eu não sabia nem mesmo quem eu era.

Que tipo de sementes você está plantando?


131

12. PRIMEIROS LENTOS PASSOS COM DEUS

Quando eu completei 15 anos de idade, vi que vários dos jovens da igreja onde eu
congregava estavam dando os seus nomes para batizarem nas águas. Fiz o mesmo, afinal
eu não queria me sentir diferente deles.

Além disso, eu não gostaria de ser mal vista pelos demais membros, visto que minha irmã
já havia se batizado e não ficaria nada legal para a filha do diácono — meu pai —, não
andar alinhada com as regras da igreja.

Ou seja, o meu pensamento e a minha conduta estavam absolutamente pautados quase


que inteiramente nas pessoas e no que elas pensavam de mim, do que propriamente no
Criador. Mesmo porque eu era religiosa e não sincera. E assim se cumpriu o que está
escrito em:

E fez o que era reto aos olhos do Senhor, porém não com inteireza de coração.
(2 Crônicas 25:2)

Dei meu nome juntamente com o de outros membros de várias idades e aguardamos a
permissão para descermos às águas. Aguardamos aproximadamente dois meses até
termos a aprovação ou não para batizarmos.

Então uma senhora me chamou em particular dizendo:


— Jaqueline, você poderá descer às águas. Nós consultamos ao Senhor e Ele autorizou.
— O Senhor mostrou algum dom, visão ou revelação, sobre a minha vida? — perguntei
curiosa.
— Até o momento não — respondeu a senhora.
— Nem um dom de dificuldade sobre a minha vida? — questionei.
— Não.

Eu realmente não entendi, pois eu não me sentia totalmente preparada para tomar essa
decisão, pois eu sabia que o nível de comprometimento aumentaria após este passo em
minha vida. O silêncio de Deus me angustiava. Pois, nem mesmo sobre a minha
esterilidade Ele se pronunciava.
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Mesmo assim achei por bem seguir em frente, justamente porque eu não queria ser alvo de
fofocas do tipo “Por que ela ainda não batizou?”, “Será que ela está em pecado?” ou “Mas
ela não é filha de diácono?". E por aí vai.

Poucos dias de me batizar, um dos diáconos me chamou em particular para conversar


sobre a necessidade de haver algumas mudanças que eu deveria adotar após o batismo:
— Irmã Jaqueline, o batismo significa um novo momento de compromisso com o Senhor
Jesus. E como é hábito da nossa igreja, as irmãs devem usar saias na altura dos joelhos
não somente dentro da igreja, mas em qualquer outro lugar — explicou o diácono.
— Tudo bem. — respondi concordando.
— Você tem alguma pergunta a fazer? — questionou o diácono.
— Por enquanto não. — respondi.

Semanas depois, faltando dois dias para eu completar 16 anos, num domingo de manhã, lá
estava eu na fila do batismo, vestida de uma beca totalmente branca e aguardando ser
chamada para entrar no tanque.

Subitamente caiu sobre mim um temor inexplicável que me fez cair em lágrimas. Chorei
sem parar. Não consegui me conter. As lembranças de tudo o que fizeram contra mim, o
mal que eu plantei e, agora, a notícia que eu era estéril, verdadeiramente me mataram por
dentro.

Com o rosto bastante vermelho e inchado, eu entrei nas águas geladas sem entender muito
bem o sentido daquilo tudo, mesmo porque eu carregava dentro de mim inúmeros pecados
não confessados aos homens e muito menos a Deus. Eu tinha consciência de que a minha
vida estava desalinhada diante dos caminhos do Senhor Jesus.

Caminhei lentamente em direção ao pastor que iria me ajudar a mergulhar. Estiquei o meu
braço direito e acariciei as águas geladas da piscina. O batistério onde eu batizei localiza-se
em Domingos Martins, Espírito Santo.

Cheguei ao pastor. Ele pediu que eu tapasse o meu nariz, em seguida fez o sinal da cruz
em meu tronco, orou em imposição de mãos sobre mim e me mergulhou. Assim que eu
retornei da submersão, eu já fui caminhando para sair do tanque, pois a fila de gente atrás
de mim ainda era grande.

Porém, uma mulher levantou a sua voz e disse para mim:


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— Assim que essa jovem entrou no tanque eu vi que as águas tornaram-se como fogo. E o
Senhor manda te dizer que Ele irá te curar da sua enfermidade.

Eu não sei como explicar, mas eu esqueci totalmente desta manifestação do Espírito Santo
e da promessa de cura, pois havia muita gente para ser batizada naquele dia. Isso porque
tudo ocorreu sincronicamente e de forma rápida.

Porém, naquele dia, além dos meus pais, estavam participando como ouvintes, um tio — o
que atualmente foi diagnosticado com ELA — e suas duas filhas: uma com
aproximadamente 10 anos e a outra com 5 anos. A mais velha, após cumprimentar-me,
comentou sobre a promessa de cura que eu recebi para a minha vida.

Repare que mesmo ela sendo uma criança que não teve grandes envolvimentos com o
meio cristão evangélico, Deus fez com que a minha prima se lembrasse dessa promessa de
cura enquanto eu estava sendo batizada.

Evidentemente, caso o Senhor não usasse a minha prima para me lembrar dessa
promessa, é bem certo que eu não teria guardado-a com muito carinho até o dia de hoje.
Afinal, receber de forma milagrosa um novo aparelho reprodutor com os devidos hormônios
funcionando em perfeita ordem, não é absolutamente nada difícil para Deus9.

Assim, passei a usar saias, na verdade, mini para ser mais exata, sempre que eu precisava
sair à rua para ir à padaria, à escola ou em encontros familiares, por exemplo. Minhas sais
além de curtas, eram bastante coladas e indecentes.

No fundo, eu tinha um ódio profundo por ter que usar saias. Eu queria mesmo era usar
calças, short e bermudas de todos os tipos, sobretudo os da moda surfista. Eu usava saias
como forma de obediência às regras da igreja onde eu congregava e também para evitar
discórdia com os meus pais.

No dia seguinte, segunda-feira, após o meu batismo, lembro-me perfeitamente quando


cheguei pela primeira vez de (quase mini) saia bem colada no antigo e extinto Colégio
Nacional (bairro Divino Espírito Santo, Vila Velha, Espírito Santo), no segundo ano do
ensino médio.

9
Já se passaram quase 21 anos que eu aguardo o cumprimento dessa promessa. Hoje, aos 37 anos
de idade, eu tenho entendimento de que quanto maior o tempo de espera, mais a minha fé está
exercitada. Louvado seja somente o nome do Senhor Jesus!
134

Os olhares de reprovação me cercaram. Foi um choque. Parecia que eu iria ser fuzilada por
cada um dos meus colegas. Houve um silêncio ensurdecedor na sala seguido de cochichos
e semblante de escárnio.

Continuei o meu passo, como se nada estivesse me afetando. Desejei bom dia aos colegas
que sentavam perto de mim e sentei na minha carteira escolar de sempre com toda a
naturalidade do mundo.

Até que uma das meninas da turma do fundão gritou:


— Crente da periquita10 quente!

Fiquei em silêncio com se não para mim. De igual modo, passei a ser bombardeada
diariamente por todos os lados e de todas as formas. Eu tentava não esboçar, mas por
dentro eu estava arrependida de estar usando aquela maldita saia. De fato, eu tinha
vergonha de ser crente.

Eu mal conseguia manter os modos e comumente acabava sentando de pernas abertas, o


que permitia que as minhas partes íntimas ficassem expostas. Consequentemente, como
era de se esperar, eu acabava sendo perseguida e ridicularizada por outras meninas que
não gostavam de crente.

Para piorar, os dias de educação física que eu tanto gostava, tornaram-se um dos piores
momentos da semana, pois eu tinha que ir correndo ao banheiro no intervalo de uma aula
para a outra para trocar a saia pela bermuda.

Depois, eu tinha que correr novamente para a sala e guardar a saia na mochila e voar para
a quadra de esportes antes que a chamada iniciasse. Isso porque a aula era dada por uma
professora que nitidamente não gostava de mim, pois eu era crente e ela lésbica.

Ao final da aula de educação física, a maratona de trocas de roupas se repetia. Era um


tormento. Assim, não demorou muito e os comentários e perguntas sobre a minha drástica
mudança de vestuário, foram inevitáveis:
— Porque você só está usando saias? É a sua igreja que te obriga? — uma colega me
questionou.

10
Termo pejorativo frequentemente usado nos anos 90 para se referir à parte genital feminina.
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Mas eu sempre respondia com a mesma frase pré-formada:


— Não me obrigaram a nada. Eu apenas, por contra própria, decidi usar somente saia —
respondi de forma insegura e calculista.
— Mas está muito frio nesta manhã! Não faz sentido algum usar saia. É só você quem está
destoando de toda a sala.

Fiquei em silêncio e sem argumentação. Eu me sentia mal todos os dias da minha vida. Eu
gostaria de ter alguém para compartilhar a minha dor. Tentei alguma aproximação com a
minha mãe, mas foi totalmente improdutiva.

Eu me sentia totalmente sozinha e deslocada do mundo. Nem mesmo com as meninas da


igreja com a mesma idade que a minha, eu conseguia me abrir como eu queria. Eu não
tinha refúgio, nem na casa dos meus pais, nem na igreja, nem nas amizades e nem com
ninguém.

Confesso que os momentos desde a pré-adolescência até a adolescência, foram os mais


conturbados e terríveis da minha vida. Afinal, foi nessa fase da minha vida que eu havia
recebido a informação que precisaria ser castrada radicalmente, pois eu estava correndo o
risco de desenvolver um câncer.

Consequentemente, eu nunca poderia engravidar e teria que tomar remédios pelo resto da
minha vida. A confusão de sentimentos dentro de mim era sufocante. Volta e meia eu me
pegava distraída olhando para o nada perdida em meus pensamentos.

Constantemente eu me perguntava: “Porque ainda não menstruei?”, “Porque meus seios


não se desenvolvem?”, “Porque meus pelos pubianos não crescem?”, “Porque Deus não
faz meus órgãos reprodutores reviverem?”, “Porque Deus não me ouve?”.

Até que no auge de dor e desespero eu disse: “Aonde o Senhor estava quando eu fui
molestada todas as quatro vezes? Onde o Senhor está agora? Pois eu não te vejo!”. Perdi a
paciência com tudo. Cansei!

Somadas às fofocas, cochichos e indagações das minhas colegas de sala contra mim,
poucas semanas após o meu batismo, comecei a ser perseguida por três garotas da minha
sala: Priscila, Cristiane e Thais — esses são os seus verdadeiros nomes —, sendo que esta
última era a que mais causava dores de cabeça.
136

Eu mal chegava na sala e Thais tinha o hábito de dizer às suas comparsas:


— Estão sentindo cheiro de fruta podre? É de jaca! Já caguei! — dizia isso rindo e
zombando de mim ao comparar meu nome “Jaqueline” com jaca e “já caguei”.

Porém, outras colegas começaram a me proteger, tanto que uma das minhas aliadas
virou-se para mim e disse enquanto alisava os seus cabelos:
— Não sei como você aguenta essas cobras.

Eu procurava permanecer calada e deixar que o Espírito Santo de Deus agisse a meu favor.
Não satisfeita, Thais passou a persuadir outros colegas a se juntarem a ela e ficarem contra
mim.

Lembro-me de quando um professor fez uma divisão de grupos na sala para um trabalho e
eu tive que me juntar a um garoto chamado André — este é o seu verdadeiro nome — que
eu nunca havia conversado com ele antes.

Ele já era fumante e bastante ligado às coisas do mundo. Claramente, ele não gostava de
pessoas como eu, ou seja, crente. Então tivemos que escolher um tema para um trabalho e
eu perguntei se poderia ser sobre o vestibular. Ele me esculachou na frente de todos:
— Porque vestibular!? Você não tem outra ideia melhor!? Que assunto idiota! — disse
André.

Mesmo assustada, mantive o silêncio. Então ele continuou:


— Nós vamos abordar o assunto “sonhos”.

André continuou a liderar o tema do nosso trabalho, até que o professor chegou ao nosso
grupo e perguntou:
— E então, qual vai o assunto de vocês?
— Sonhos! — disse André prontamente.
— Não acho que seria uma boa ideia. Pode gerar controvérsias. — respondeu o professor.
— O que o senhor acha do tema “vestibular”? — perguntei.
— É uma boa sugestão, mesmo porque vocês terão que enfrentá-lo no ano que vem. Sigam
em frente. — disse o professor, afastando-se de nós e indo para o outro grupo.
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André ficou furioso e eu permaneci em silêncio. Aos poucos eu percebi que Deus estava do
meu lado e, juntos, estávamos passando pelos obstáculos que surgiam no meu caminho.
Porém, eu ainda não conhecia Deus, mas apenas de ouvir falar (Jó 42.5).

Além disso, com o passar dos meses, Cristiane passou a conhecer de fato quem era Thais
e por isso rompeu a amizade com ela e se aliou a mim. Assim, Cristiane e eu ficamos mais
próximas até o término das aulas do ano letivo. Inclusive, chegamos a fazer o trabalho final
de conclusão exigido pela escola.

Além disso, dois anos depois, eu encontrei Priscila na rua a qual me pediu perdão por ter se
juntado à Thais para me perseguirem durante o período que estudamos juntas. Deus seja
louvado! Infelizmente nunca mais encontrei Thais, mas de qualquer eu não guardo nenhum
rancor contra ela.

Porém, como eu sempre tive problemas de TDAH, quando o assunto era aprender qualquer
coisa relacionada à escola, eu simplesmente tinha um certo bloqueio na minha mente e, por
isso, eu não conseguia ter disciplina e nem mesmo foco para estudar.

Infelizmente, eu não conseguia sentar por mais de duas horas na cadeira e estudar sozinha.
Eu me esforçava, chorava em cima dos livros e clamava por ajuda a Deus. Ainda assim, as
coisas não melhoraram para o meu lado.

Chegou um certo momento que eu desisti de me preparar para as provas e continuei a


manter um hábito ilegítimo que sempre faz parte de toda a minha vida escolar,
estendendo-se até mesmo na fase adulta, quando eu ingressei na faculdade.

Eu sempre arrumava um jeitinho para passar nas provas. Sem quaisquer escrúpulos, eu
“colava” em todos os testes. Até hoje eu me arrependo amargamente deste ato, pois além
de ser considerado uma atitude ilícita, eu estava fazendo algo mais perigoso ainda.

O ato de trapacear nas avaliações escolares frente aos meus colegas e professores, mas
sobretudo Àquele que tudo vê, configurava não somente mal testemunho, como também
blasfêmia contra o nome do Senhor Jesus Cristo.

Lembro-me do dia em que eu fui fazer a prova de Literatura, cujos assuntos dessa disciplina
nunca entraram na minha mente. Por conta disso, ao invés de seguir confiando no Senhor
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e, com honestidade, tirar notas baixas, mas tendo consciência limpa, eu peguei uma folha
em branco e escrevi todas as informações possíveis de serem cobradas nessa prova.

No dia da avaliação, fomos surpreendidos com a notícia de que a prova seria em dupla. Eu
me juntei a uma moça bastante católica, mas muito idônea e confiável. Esperei a professora
estar despercebida em relação à nós duas e, sem pensar duas vezes, peguei as anotações
e coloquei dentro no nosso caderno de provas. Na mesma hora, a minha dupla perguntou
assustada:
— O que você está fazendo?
— Eu anotei as principais informações desta prova neste papel. Vai nos ajudar. — respondi.

Ela me olhou assustada de tal forma, que até hoje eu não me esqueci do seu semblante de
decepção. Seu rosto mostrava claramente que ela estava abismada com a minha falta de
caráter e testemunho perante a fé que eu defendia.

Nesta hora, de que adiantava eu usar saias, até mesmo nos dias mais frios do inverno?
Colar especificamente naquela prova diante daquela colega, fez com que eu deturpasse o
nome do Senhor Jesus Cristo.

Ela era muito católica, fiel à sua fé e com um testemunho exemplar e muito superior ao
meu. Pude ler os seus pensamentos que diziam: “Como você sendo crente pode colar
descaradamente na prova!?”. Mal sabia ela, que foram poucas as provas escolares que eu
não colei durante toda a minha vida.

Pouco a pouco eu fui afastando a presença do Espírito Santo de Deus e as suas ricas,
variadas e sagradas bênçãos. Isso porque eu não gostava de ser crente, queria mesmo era
participar das baladas, dos rocks e festas noturnas.

Eu tinha vergonha de manifestar Cristo no meu modo de viver, vestir, falar, entrar e sair de
qualquer lugar. Tanto que eu usava maquiagem bem carregada, possuía uma vasta coleção
de joias e adereços escandalosos como cintos, bolsas e sapatos bem altos, bem como
roupas coladas, decotadas e curtas.

Eu queria me sentir sensual e atraente aos olhos de todos, tanto que até mesmo se eu
fosse a um supermercado, eu usava salto alto. Odiava quando me chamavam de beata. E
assim, cumpriu-se em mim o que está dito:
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Porque, qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se


envergonhará o Filho do homem, quando vier na sua glória, e na do Pai e dos
santos anjos. (Lucas 9:26)

Para entender melhor o que se passava dentro de mim, farei a seguinte analogia: imagine
um rebanho com várias ovelhas que não estão protegidas por um pastor. À noite elas são
deixadas no aprisco e o pastor vai para a sua casa descansar. Ao amanhecer, o pastor
observa uma certa agitação entre as suas ovelhas. Nota que há marcas de sangue
espalhadas pelo redil.

Ao andar pelas redondezas, encontra a carcaça de uma das suas ovelhas atrás de uma
árvore, a alguns metros do seu rebanho. O pastor entendeu que isso só poderia ser obra de
um predador e que suas demais ovelhas estavam correndo risco.

Assim, de modo inteligente, o pastor consegue colocar uma armadilha dentro do aprisco, a
fim de conseguir capturar o inimigo e proteger as demais ovelhas do seu rebanho.

No dia seguinte o pastor volta ao aprisco e, para a sua surpresa, encontra o predador
correndo ferozmente correndo de um lado para o outro dentro da jaula: era um lobo! A fim
de não derramar mais sangue, o pastor decide não matá-lo, mas deixa-o ali preso dentro do
aprisco junto com as ovelhas.

Perceba que no meio do aprisco passou a existir a figura de dois tipos de animais: o manso
que nasceu e morrerá como ovelha e o perverso que nunca deixará de ser lobo.

Eu, aos olhos humanos, era o lobo, pois eu apesar de estar sempre dentro de uma igreja,
participando de quase todos os cultos semanais e usando saia, eu, na verdade, tinha uma
índole perversa e um interior que destilava sangue inocente. Eu era notadamente um lobo
no meio do aprisco!

Mesmo assim, Deus ainda tinha um plano de salvação para mim. Isso porque, no ano de
2004, quando eu estava com 18 anos, dois anos após ser batizada nas águas, Deus
começou a me visitar profundamente através de sonhos.

Vi pela primeira vez, por meio de um arrebatamento de espírito, a forma como os anjos do
Senhor atuam dentro da igreja. Eles corriam apressadamente de um lado para o outro.
140

Levantavam os bancos da igreja, limpavam o chão e mudavam tudo de lugar conforme o


transcorrer do culto.

Inesperadamente, um dos anjos do Senhor parou bem à minha frente e deixou que eu visse
o seu rosto. Sua fronte era toda de prata, semelhante a uma armadura facial que os
guerreiros medievais usavam.

Porém, não era como um capacete que fazia parte da armadura de cabeça usada pelos
cavaleiros templários, mas o seu rosto era a própria armadura, tanto que até os olhos e
pálpebras eram de prata.

Mas o que mais me chamou a atenção, foi o seu semblante evidentemente sério. Preciso
salientar que não foi a beleza e a forma de atuação dos anjos, mas sim a seriedade que
havia no rosto daquele anjo.

Ele não era carrancudo e nem mal-humorado, mas sério. Ele transbordava temor ao Senhor
Deus, o Todo-Poderoso. Este de face prateada, parecia ter uma hierarquia maior que os
demais anjos, pois sempre estava observando cada um dos movimentos dos demais anjos
e membros da igreja.

Eu não sabia o que fazer com esta manifestação espiritual que eu havia recebido, tanto que
de forma errônea optei por ocultá-lo e não compartilhá-lo com outros irmãos. Mesmo assim,
não demorou muito e eu tive um segundo momento de visitação espiritual, porém ainda
mais profundo ainda.

Desta vez eu compartilhei somente com algumas pessoas, mas que também não deram
muita importância. Eu tive um sonho, mas não se tratava de um simples sonho. Tanto que
eu acordei preocupada, ansiosa e me sentindo mal.

Eu tinha consciência que eu estava dentro daquele sonho. Ou seja, não se tratava apenas
do fruto do meu imaginário. Somente anos mais tarde, eu entendi que Deus estava usando
o meu momento de descanso para retirar o meu espírito de dentro do meu corpo e deixar
que eu entrasse em outra dimensão, mas conhecida como o sobrenatural.

Tudo isso para que eu acertasse a minha vida diante Dele. Porém, novamente eu procurei
antes de qualquer coisa atender os meus próprios anseios e objetivos. De qualquer forma,
141

este primeiro arrebatamento de espíritos continua marcando a minha vida, mesmo após 19
anos decorridos.

Eu me vi dentro da antiga casa dos meus pais em Vila Velha, Espírito Santo, deitada na
minha cama, dormindo, até que acordei. Abri os meus olhos e percebi que o dia estava
claro, porém havia algo estranho no ar, mas eu não sabia entender o que era.

Parecia ser algo espiritual. A atmosfera estava sem vida. Senti um forte aperto misturado
com angústia no meu peito. A sensação era de que a essência da existência de qualquer
ser vivo havia sido removida da terra, restando apenas o exício.

Olhei para o céu que, apesar de estar todo branco e com claridade, não transmitia alegria
alguma. Levantei-me e caminhei até o quarto dos meus pais. Abri lentamente a porta,
estiquei o pescoço e disse:
— Pai? Mãe?

Silêncio total. Nenhuma resposta me foi dada. Engoli seco. Terminei de abrir a porta e vi
seus lençóis e suas roupas revirados sobre a cama como alguém que estava atrasado para
um compromisso.

Havia de errado, pois meus pais nunca me deixariam sozinha em casa sem que um ou
outro permanecesse. Ou se tivessem saído, eu sabia que deixariam algum bilhete e que
voltariam logo logo. Comecei a ficar preocupada.

O ambiente atordoante e quieto, foi quebrado com o barulho constante de marteladas que
vinham de longe. Eu não sabia exatamente de onde vinha esse ruído. Talvez fosse algum
dos vizinhos que resolveu fazer alguma reforma em sua casa.

Por alguns segundos de alegria, pensei que fosse o meu pai, pois ele costumava passar
horas do dia dentro da garagem trabalhando e organizando as suas incontáveis
ferramentas, principalmente no sábado de manhã.

Continuei a caminhar e fui em direção ao quintal, pois a garagem da antiga casa dos meus
pais ficava aos fundos. Andei devagar e abri a porta da cozinha que dava acesso ao fundo
da casa.
142

Percebi que o som das marteladas começou a aumentar e, que de fato, as marteladas
vinham da garagem. Caminhei, com medo, até este cômodo. Com cautela, eu adentrei e,
finalmente, vi quem de fato estava usando o martelo: era a minha irmã, Jussara.

Ela havia retirado o carro e todas as ferramentas do nosso pai de dentro da garagem. Havia
varrido e preparado madeiras para construir pequenos compartimentos que coubesse
apenas uma pessoa.

Olhei para aquilo tudo imaginando o que poderia ser, mas não querendo acreditar que fosse
verdade. Mas, no fundo, eu já podia imaginar do que se tratava. Até hoje sinto desespero ao
lembrar desses acontecimentos que vi no mundo espiritual.

Apesar de até aquele momento não ter ouvido uma só palavra ou escutar um só sussurro
da voz de um ser humano, a minha mente estava saturada de infinitas informações das
mais terríveis possíveis que alguém pode receber. Isso porque, eu suspeitava do que
realmente estava acontecendo, mas não queria acreditar que fosse verdade.

A atmosfera totalmente pálida e sem vida, denunciava com precisão o que eu já havia
concluído na minha mente, contudo eu resistia em acreditar que aquilo fosse verdade. O
que estava passando diante dos meus olhos, era verdadeiramente aterrorizante.

Então eu me virei para a minha irmã Jussara e exclamei com agonia:


— Jussara! O que você está fazendo!? Onde estão os nossos pais!? — exclamei olhando
fixamente para ela com a voz falha e grande aflição de espírito.
— Não vê que Jesus voltou e nós ficamos!? — afirmou Jussara com desdém e sem ao
menos olhar para a minha cara ou mesmo demonstrar muita preocupação em relação à
gravidade do assunto.

E continuou dizendo:
— Porque você acha que estou fazendo esses esconderijos para mim e para os meus
amigos? — perguntou Jussara com frieza.
— Não sei! São para quê!? — respondi com grande amargura e desespero de alma
segurando as lágrimas, mas prestes a desabar emocionalmente.
— Porque a besta está vindo aí! Então é melhor você se apressar a fazer o seu esconderijo
o quanto antes. — respondeu Jussara enquanto manuseava ferramentas e madeiras.
143

Fiquei em estado de choque e sem reação alguma. Não sabia se gritava ou chorava, pois à
quem eu poderia pedir ajuda se o próprio Espírito Santo de Deus já havia sido retirado da
terra?

Eu entrei no mais profundo compilado de sentimentos de aperto, desalento e desesperança,


uma vez que não havia mais solução. O pior estava para chegar a qualquer momento e ele
tem um nome: chama-se a besta do Apocalipse.

Eu não queria ver a imagem da besta, afinal o que esse Satanás faria comigo, com a minha
irmã e com todos os que não foram arrebatados em Cristo para o céu? O que aconteceria
dali para frente?

Os registros de destruição, de dor e de sofrimento sem a cura, bem como a morte eterna
que estão descritos no apocalipse, começaram a acontecer a partir daquele dia. Não havia
outra saída a não ser receber o castigo permanente.

Eu queria que isso não passasse de um sonho. Eu queria sair dali. Sabia que nenhuma das
minhas lágrimas, pranto ou pedido de socorro mudaria aquela situação. Um grito sem som
saía da minha garganta.

Nada mais poderia reverter aquelas circunstâncias. Não havia outra chance. Acabou. Então
eu acordei em estado de choque. Levantei da cama e fiquei dias atordoada por vários dias
pensando nas coisas que eu havia visto e sentido pós-volta do Senhor Jesus Cristo.

Note que, apesar deste sonho ter ocorrido em 2004 (19 anos atrás), os acontecimentos
continuam ecoando em minha mente de maneira fresca e saliente como se houvessem
ocorrido nesta noite.

Na verdade, não foi apenas uma mera projeção de pensamentos que ocorreram no meu
imaginário enquanto eu dormia. Eu realmente estava lá vivenciando cada um daqueles
fatos.

Ainda que isso não seja possível à sabedoria humana ou atenda aos fundamentos da
ciência, o meu espírito realmente saiu temporariamente do meu corpo e, de modo
inexplicável, eu fui conduzida à uma projeção de acontecimentos futuros referentes aos
eventos que sucederão na terra após a subida da igreja santa e imaculada, chamada noiva
do Senhor Jesus Cristo, aos céus.
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E assim se cumpriu o que está dito em:

Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora
do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu.
E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe)
Foi arrebatado ao paraíso; e ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito
falar. (2 Coríntios 12:2-4)

É impossível por meio de todo o meu repertório vocabular ou do meu conhecimento de


mundo, verdadeiramente conseguir externalizar com total clareza e exatidão, todo o pavor
que eu vivi.

Eu poderia ser um dicionário ou uma enciclopédia ambulante, mas eu jamais poderei


descrever o sentimento de desgraça e estado deplorável que eu vi cair sobre a minha vida e
sobre aqueles que não ouvirão o chamado abaixo:

Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado
desde a fundação do mundo; (Mateus 25:34)

Hoje, eu entendo que os sentimentos que eu estava vivendo dentro daquela projeção
espiritual, foi apenas uma pequena prova do que será pós-arrebatamento para aqueles que
não receberem a salvação, a qual se dá unicamente por meio do nosso Salvador Jesus
Cristo. Eu experimentei pela primeira vez a sensação do que aconteceria na terra após a
recolha da igreja para o céu.

Perceba que quando a essência da vida que é proveniente unicamente do Espírito Santo de
Deus for retirada da terra, restará apenas algo sem valor como o pó e as cinzas de um
pós-guerra, para dizer o mínimo.

Ou seja, Deus já estava me chamando para viver uma aventura sobrenatural com Ele, mas
eu não O busquei com devido fervor ou mesmo pedi orientação espiritual a alguém maduro
na fé. Apenas continuei a fazer o básico como ir à igreja, maneirar no uso de maquiagens,
tentar não xingar e sempre usar (mini) saias.

Mesmo assim, meses se passaram e, ainda no ano de 2004, e novamente, pela terceira
vez, eu fui visitada com outro arrebatamento de sentidos em que, mais uma vez, eu vi fatos
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do pós-arrebatamento. Foi tão real que eu ainda lembro dos fatos, como se eu os tivesse
visto na noite passada.

Foi assim: Eu me vi entrando na igreja que eu cresci onde meus pais congregam até hoje.
O céu estava estranho e, mais uma vez, a atmosfera estava sem vida. Passei pelo pátio e,
ao entrar no templo, vi pessoas em estado de desespero, pois, novamente, o Senhor Jesus
Cristo havia voltado e eu não subi com a igreja.

Então eu vi, em especial, uma irmã que sempre foi muito dedicada e ativa quanto às
atividades da igreja, bem como sempre apresentava bom testemunho. Fui até ela e falei
desesperadamente:
— Venha! Vamos fugir!
— Não tem como fugir. Apenas aceite a marca da besta! — ordenou ela com um semblante
maligno.

Comecei a gritar tentando encontrar alguma forma de fugir dessa irmã. Porém, mesmo
resistindo e gritando, a própria irmã e outros membros me seguraram pelos meus braços.
Então um monstro indescritível com vários tentáculos, a saber, a besta do Apocalipse, veio
até mim e arrancou uma parte do dorso de uma das minhas mãos, causando um buraco
profundo.

Desse modo, inevitavelmente, eu recebi a marca da besta, não somente eu como os


demais que não foram arrebatados. Novamente eu acordei deste “sonho” em estado de
pavor e preocupação. Mas guardei-o comigo.

Mesmo assim, Deus continuou mantendo o desejo de querer se aproximar de mim. Tanto
que no ano seguinte, em 2005, quando eu estava para iniciar a primeira semana de aula no
pré-vestibular no Colégio Darwin, em Vila Velha, Espírito Santo, eu pedi oração e um
diácono, que costumava ser usado em profecias da parte do Senhor, entregou o seguinte
recado para mim:
— Haverá uma perseguição de alguns garotos da sua sala de aula contra a sua vida. Vigie!
— frisou o homem de Deus.

Não demorou muitos dias e uns rapazes da minha sala, sem qualquer motivo, passaram a
atirar bolinhas de papéis e pedaços de borracha em mim. Eu ignorei a ação deles. Mas, a
perseguição deles perdurou quase o ano inteiro.
146

Aproximadamente dois anos depois, quando eu já estava na faculdade, encontrei um deles


dentro do ônibus, o qual reconheceu que havia me injuriado e por isso acabou me pedindo
desculpas. Deus seja louvado. Tudo ficou bem entre nós.

De qualquer modo, o sentimento que eu tinha ao procurar me afastar das coisas do mundo,
era de que eu era infeliz. Eu realmente não tinha plena alegria de estar servindo ao Senhor.
De fato, eu não tinha satisfação de espírito por estar salva. Negar os manjares de Satã
exigia um grande esforço da minha parte, mas eu ainda tinha muita ligação com o poder
das trevas.

Mesmo porque, falando de modo transparente, eu não era salva, pois eu apenas fingia que
servia a Deus mesmo indo praticamente todos os dias à igreja, tocando violão e sendo
usada em vários Dons do Espírito Santo.

Lembro de uma vez quando eu estava numa roda de conversa com as minhas primas,
todas pertencentes à mesma denominação que a minha. Foi então que surgiu o seguinte
assunto:
— Jaque, se você não estivesse na igreja, o que você gostaria de ser?
— Surfista! — respondi prontamente. — Acho lindo aquele cabelo meio loiro queimado de
sol, aquela pele bronzeada e as bermudas e shortinhos que as meninas usam. E você? O
que seria?
— Eu não me vejo fora da presença do Senhor. Se eu nascesse longe dos caminhos de
Deus, certamente eu teria vindo para a igreja de Cristo. — respondeu uma das minhas
primas.

Um grande temor caiu no meu coração, pois por meio da boca minha prima. Naquele eu
entendi que eu tinha acabado de ofender o Espírito Santo de Deus ao confessar que a
salvação que Deus havia depositado em mim, não era motivo de eu me alegrar, pelo
contrário, era um peso.

Poucos anos depois estas malditas palavras se concretizaram de maneira muito dolorosa,
cujas consequências perduram até hoje aos meus 36 anos enquanto escrevo essa
passagem. Tudo isso porque eu não quis que se cumprisse em mim o que está escrito em:

[...] porquanto me alegro na tua salvação.(1 Samuel 2:1)


147

A pior consequência que automaticamente recai sobre os que não querem reconhecer tão
grande bênção — refiro-me à salvação no Senhor Cristo Jesus — é somente uma: a morte
eterna.

Porém, em se tratando do meu caso, o agravamento do meu pecado era infinitamente maior
que daqueles que possuem uma vida secular, pois claramente eu estava dando coices no
altar de Deus, ao dizer que eu preferiria estar no mundo sendo uma surfista maconheira e
tendo relacionamentos pecaminosos, a estar nos caminhos do Senhor que envolvem
renúncia e dor, mas salvação eterna.

Tudo isso que saiu da minha boca se encaixa perfeitamente às passagens que dizem:

Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando, porém, o homem


contra o Senhor, quem rogará por ele? Mas não ouviram a voz de seu pai, porque o
Senhor os queria matar. (1 Samuel 2:25)

Sim! Deus tinha planos maravilhosos para a mim desde a minha tenra idade, mas devido ao
meu comportamento lascivo, tudo foi alterado para diversos tipos de humilhação, iniquidade
e escravidão nas mãos de Satã que eu mesma permiti que viessem sobre mim.

De fato, eu era filha do maligno mesmo estando frequentando a casa do Senhor todos os
dias. Sem contar o fato de eu ser neta de pastor, filha de um pai diácono e de uma mãe
professora da classe das crianças.

Ou mesmo por ter sido batizada nas águas, sendo usada nos Dons do Espírito Santo ou
mesmo tendo nascido num lar cristão. Tudo porque o problema residia dentro de cada um
de nós e pouco adiantava querer tratar o nosso lado externo.

Tudo isso para que se cumprisse o que está escrito em:

Portanto, diz o Senhor Deus de Israel: Na verdade tinha falado eu que a tua casa e a
casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém agora diz o Senhor:
Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me
desprezam serão desprezados. (1 Samuel 2:30)
148

Os anos se passaram e hoje eu vivo o resultado das manifestações das más obras que eu
não só pratiquei como muitas outras que eu escondi das pessoas. Mas de Deus nada se
pode esconder.

Aquela minha prima que disse que certamente buscaria habitar na casa do Senhor, caso os
seus pais não instruíssem e seguir os caminhos do Senhor, hoje vive uma linda vida de paz
espiritual e tranquilidade ao lado do seu esposo, médico, e de seus lindos dois filhos
saudáveis e com princípios bíblicos cristãos. Tudo isso porque se cumpriu na vida dela o
que está escrito em:

[...] o SENHOR estava com ele, e tudo o que fazia o SENHOR prosperava em sua
mão, [...] (Gênesis 39:3)

Note que a salvação não é para qualquer pessoa, mas somente para aqueles que querem
ter Deus como única e suficiente razão de viver. Mas isso não significa que
necessariamente teremos uma excelente condição financeira.

Pausa. Hoje, enquanto eu escrevo esta parte do livro — 21 de maio de 2023, domingo —, a
minha condição existencial está bastante crítica. Só me restam aproximadamente R$ 3 mil
na minha conta bancária, corro o risco de morar na rua e sobrevivo, há mais de um ano, do
lixo da pensão onde moro. Mesmo assim, tenho paz e sei para onde vou se eu partir hoje
desta terra.

Veja, que estar dentro de uma igreja, de nada vale, se você não é a própria Igreja de Cristo.
Eu sou a igreja e o meu noivo, Senhor Jesus, me despojou de tudo o que eu tinha para
viver na sua total dependência.

Há uma passagem bíblia que explica com precisão esse raciocínio. Quando os filisteus
estavam com a arca da aliança, que é o símbolo da salvação, mesmo assim várias
desgraças começaram a ser derramadas sobre eles.

Isso aconteceu, pois juntamente com a presença de Deus, havia o deus dos filisteus
chamado Dagom. Era exatamente o que eu vivia. Eu tinha a arca de Deus comigo — a
salvação em Jesus Cristo —, mas juntamente, havia outros deuses.

Consequentemente, a bênção que havia em mim, transformou-se em mãos, conforme está


escrito em:
149

Porém a mão do Senhor se agravou sobre os de Asdode, e os assolou; e os feriu


com hemorroidas, em Asdode e nos seus termos.
Vendo então os homens de Asdode que assim foi, disseram: Não fique conosco a
arca do Deus de Israel; pois a sua mão é dura sobre nós, e sobre Dagom, nosso
deus. (1 Samuel 5:6,7)

Ou seja, havendo idolatria na sua casa, automaticamente a presença de Deus será


afastada. E quanto você, caro leitor, há alguma estátua de Dagom em sua vida? Você
também gostaria de ser um surfista como eu desejava? Você sente a alegria da salvação ou
ela é um peso na sua vida assim como eu o considerava?
150

13. “VAMOS VER SE ELA É MESMO UMA MENINA”

Por volta dos meus 13 anos de idade, durante uma consulta, o pediatra que me
acompanhava desde que era um bebê, sempre teve o hábito de examinar o meu corpo
desde a minha cabeça até a planta dos meus pés.

Ele me olhou com um certa cara de espanto, coçou o queixo e disse:


— Mãe, preciso conversar com você a sós. — comentou o pediatra dando a entender que
eu deveria sair da sala do consultório e aguardar na recepção.

Eu me levantei e fiquei do lado de fora esperando o médico terminar de falar com a minha
mãe. Então o médico comentou:
— Sua filha possui algum tipo de atrofia em seus órgãos reprodutores. Ela ainda não
apresenta algum pelo pubiano, seja na genitália ou axilas. Pela idade dela, esses pelos já
deveriam ter despontado.

Não satisfeita, minha mãe me levou a um ginecologista para tirar prova se de fato isso tinha
fundamento. Fomos ao consultório desse especialista que para a minha surpresa, não havia
um médico, mas uma equipe de quatro, dentre ginecologistas e urologistas.

Todos estavam curiosos para saber o que havia de fato comigo, pois externamente eu não
apresentava absolutamente nenhum tipo de anormalidade como no caso da Síndrome de
Turner, cujas principais alterações consistem em esterilidade e presença de alguma prega
no músculo do trapézio formando o que denomina-se de “pescoço alado”.

Realmente, não havia nenhuma deformidade em meu pescoço, pelo contrário sou quase
uma filhote de girafa, de tão pescoçuda que sou. Inclusive, quando eu entrei na sala de
consulta, os olhos dos médicos voltaram todos para mim, enquanto observavam cada
detalhe do meu corpo.

Minha vontade nessa hora era de cavar um buraco, me enterrar nele e pôr uma tampa para
que ninguém me encontrasse. Eu senti vontade de gritar e sair correndo. Além de
parecerem ter mais de três metros de altura, pareciam lobos selvagens salivando frente ao
suculento filhote de uma presa. Parecia haver sangue nos olhos deles.
151

Para a minha surpresa, um dos médicos da junta era alguém familiar: era o primo da minha
mãe, ginecologista e obstetra, que havia feito parto do meu nascimento. Este em específico
disse:
— Jaqueline, por gentileza, vá ao banheiro aqui ao lado e retire toda a sua roupa.

Eu obedeci. Levantei, fui ao banheiro e voltei nua. Eles começaram a falar alto ao mesmo
tempo:
— Não! Não! Volta! Vista a bata branca.

Voltei correndo para o banheiro, pois na minha ingenuidade, eu saí do banheiro sem ter
vestido a bata. Ninguém me disse o que eu tinha que fazer. Eu queria que a minha mãe me
instruísse, mas ela ficou inerte o tempo todo.

Eu não sabia me comportar nesse tipo de ambiente destinado, em sua grande maioria, a
adultos. Eu sentia muita vergonha enquanto estava de volta ao banheiro. Encontrei uma
bata pendurada atrás da porta do banheiro.

Vesti-a, mas ela ficou bem grande em mim. Inclusive, ela estava com mal cheiro de suor e
odor de mulher que não tomou banho. Na verdade, nem sei quantas pessoas a usaram
antes de mim.

De qualquer forma, eu saí do banheiro trajando a bata fedorenta e fui direcionada para a
maca de exame ginecológico. Abri as minhas pernas e por vários minutos que mais
pareciam horas, fiquei sendo examinada. Foi simplesmente horrível ver a minha vagina ser
palco de observação de vários médicos com idade de serem meus pais ou tios mais novos.

— Faça força como se estivesse fazendo cocô! — disse um deles.


— É muito estranho… Realmente não vejo nada normal nisso… — comentou o outro
usando termos técnicos enquanto examinava minhas partes íntimas.

Enquanto eles apalparam o meu corpo e partes íntimas, usaram termos que me
machucaram por anos, tais como “atrofiados”, “disfuncionais”, “rudimentares” e “seios
infantis".

Eu queria, naquele momento, sair correndo daquele consultório e mandar todo para aquele
lugar. Eu estava ali nua na frente de vários homens bem mais velhos que eu os quais eu
nem sabia o nome. Até que um deles exclamou:
152

— Vamos realizar uma ultrassonografia pélvica. — disse um dos médicos desconhecidos.


— Jaqueline, vista a sua roupa, pois iremos até a outra sala onde iremos analisar o seu
útero, ovários e trompas. — disse o primo da minha mãe.

Minha mãe e eu fomos direcionadas à outra sala. Tive que beber muito líquido para ajudar
na captação das imagens do meu aparelho reprodutor. Fazer esses exames, causou um
desconforto muito grande, pois ele apertava o aparelho de ultra sonografia bem em cima da
minha bexiga que estava prestes a explodir de tão cheia.

— Não vejo nada… — comentou o médico enquanto pressionava sobre a minha bexiga.

O médico coçou a cabeça e pediu que eu levantasse as minhas pernas e começou a


esfregar aquele aparelho nojento e gelado na minha vagina em busca de ovários. Foi
horrível sentir aquele gel frio sendo esfregado nas minhas partes íntimas.

Porém, ele acabou desistindo de procurar mais informações através do ultrassom e, além
de pedir uma série de exames, me encaminhou a um geneticista para fazer a contagem
cromossômica do meu DNA, a fim de verificar se havia alguma síndrome oculta em mim.

Para piorar, eu tive que me submeter novamente a novos exames constrangedores durante
várias e várias vezes nos anos seguintes. Passei a odiar a palavra “médico”. Eu os
associava como verdadeiros carniceiros querendo encontrar alguma justificativa para me
sedar e me estuprar enquanto eu fosse examinada. Esse era o meu maior medo.

Consequentemente, eu pedia a Deus continuamente para que me matasse antes que isso
acontecesse, tanto que eu mal acordava após o descanso da noite e, automaticamente,
duas únicas palavras vinham à minha mente eram: “Quero morrer”.

Essas eram as impressões que eu, uma garotinha de 13 anos, tive ao ser submetida às
consultas e exames ginecológicos. Logicamente, nada disso era verdade. Eles estavam ali
para me ajudar e tentar encontrar uma resposta para o meu caso.

Tempos depois, no ano de 2021, com 15 anos, eu apresentei os resultados da contagem


dos meus cromossomos. Enquanto ele abria os envelopes dos meus exames, acabou
dizendo uma frase que causou uma repercussão bastante desgastante para mim e para os
meus pais. O médico disse:
153

— Bom. Vamos ver se ela é mesmo uma menina.

Ao ouvir essas palavras, meu chão se abriu. Minhas vísceras se contorceram. Minha saliva
amargou e parecia haver sangue no lugar da minha saliva. Eu me senti muito mal nesse
momento. Vários pensamentos desconexos vieram à minha mente, tais como “Será que sou
menino?” ou “Será que sou uma hermafrodita que nem uma minhoca?”.

Além disso, anos antes minha irmã havia feito algumas piadas bem sem graça dizendo que
fui adotada e que ela queria, na verdade, ter tido um irmão em meu lugar. Eu queria sumir
naquela hora enquanto o médico analisava a papelada. Eu não queria ver absolutamente
ninguém.

Minha mãe ficou tão revoltada com essa frase que contou em particular tudo para o meu pai
assim que chegamos em casa. Meu pai ficou ofendido de tal forma, que no dia seguinte ele
foi pessoalmente de encontro a esse médico em seu consultório. Quando o encontrou,
disse:
— Eu sou o pai da Jaqueline que consultou com o senhor ontem. Quero que saiba que o
senhor a desrespeitou gravemente. Fique sabendo, doutor, que ela é, sim, uma menina e
muito linda por sinal! Ela é uma princesa! E eu exijo que o senhor respeite a minha filha!

Não sei qual foi a reação do médico, mesmo porque eu só soube desta reação do meu pai
somente no ano de 2021, quando eu fui visitar uma senhora que durante muitos anos foi
vizinha dos fundos da casa dos meus pais e muito amiga da minha mãe, mas que havia se
mudado para outro bairro.

Minha mãe havia confidenciado essa informação para essa senhora, a qual ficou guardada
por quase 20 anos. Eu não sabia que meu pai havia me defendido desta forma. Senti um nó
na minha garganta. Lembrei dos momentos que desrespeitei e machuquei o meu
maravilhoso pai.

Certamente meus pais estavam sofrendo tanto ou mais do que eu, porém eu não percebia
isso neles, pois eles não conversavam quase nada sobre esse assunto comigo. Na
verdade, não havia um diálogo maduro, sincero entre nós quatro: meus pais, minha irmã e
eu.
154

A sensação era de que todos éramos estranhos um ao outro, esperando apenas o tempo
passar até que cada um fosse para um canto — como acontece atualmente — e, enfim, a
morte chegasse para levar um após o outro. E ponto final para a minha família.

Não tínhamos estudo ou leitura bíblica. Não orávamos juntos. Nós não sorríamos um para o
outro. Não havia um convívio ou momentos alegres em família. Cada um tocava a sua vida
da maneira como quisesse. Não havia compartilhamento de nada entre nós.

Cada um vivia no seu casulo e só saía basicamente para trabalhar, comer e ir à igreja.
Todos os dias eu tinha vontade de morrer. Porém, mal eu imaginava que um turbilhão de
problemas ainda maiores do que esses estava para bater na porta da minha vida.

Após sucessivos exames invasivos e uso de medicamentos, finalmente aos 16 anos eu


recebi uma notícia que mudou para sempre a minha existência. Minha mãe já sabia do
assunto e por isso calou-se.

Certamente ela estava sofrendo tal como eu. Meu pai emudeceu-se ainda mais. Eu estava
estranhando muito o comportamento deles. Até que minha mãe me disse que eu deveria
fazer mais uma nova consulta com o primo dela, o ginecologista.

Ela me colocou no carro e dirigiu até o consultório do médico. Confesso que dói bastante
falar sobre esse assunto. Bom, foi neste dia sentada ali na cadeira do consultório que o
médico disse:
— Jaqueline, infelizmente seus órgãos não reagiram positivamente aos hormônios. Pelos
quadros semelhantes aos teus, aconselha-se a remoção completa do teu aparelho
reprodutor.

Depois dessas palavras, fiquei meio surda. Já não ouvia e muito menos processava o que
ele terminou de dizer. Eu arregalei os meus olhos e instintivamente eu disse:
— Mas eu creio que Deus pode me curar.

Lembro-me perfeitamente da cara de desprezo que ele fez quando eu professei a minha fé.
Minha mãe, como sempre, permaneceu em silêncio. Saímos da consulta e voltamos para
casa. Entrei no meu quarto e minha mãe veio atrás de mim para tentar me consolar.
155

Esse talvez foi um dos poucos momentos que eu me lembro dela tocar no assunto de modo
mais sincero e amoroso. Porém, como eu estava morta por dentro, eu lhe disse as
seguintes palavras:
— Por favor, me deixe sozinha.

Meu pai continuou em silêncio. Completei 17 anos e continuei a negar-me a submeter-me à


castração, ou melhor, à cirurgia, afinal eu estava no meu último ano do ensino médio me
preparando para prestar vestibular e não tinha tempo nem para dormir, quem dirá ser
operada.

Porém, para a minha surpresa, um dia o pastor da igreja onde eu congregava, já sabendo
de tudo o que se passava comigo, me chamou para conversar juntamente com a minha
mãe.
— Filha, seus pais comentaram que você precisará fazer uma cirurgia. Mas parece que
você não quer fazê-la. Aconteceu alguma coisa para que você se recusasse a ser operada?
— Não quero fazer essa cirurgia porque eu creio num milagre. — respondi.

O pastor coçou a cabeça e disse:


— Filha, um tempo atrás eu precisei operar um dos meus rins e eu também disse a mesma
coisa que você. Posterguei a operação, um servo do Senhor que não sabia desse meu
problema de saúde, disse que havia tido uma visão da parte do Senhor. O homem de Deus
disse que um anjo de Deus veio até mim, me segurou pelas calças e me levou à força ao
hospital para ser operado.

Eu fiquei em silêncio, mas a minha vontade era de ter dito: “Essa experiência foi direcionada
para o senhor e não para mim”, mas acabei respondendo que iria pensar melhor no
assunto.

Na verdade, o que eu queria era sumir da vista de qualquer pessoa. Ou melhor, o que eu
mais desejava era morrer e ser enterrada. Por conta disso, comecei a planejar a minha
morte, mas de modo indolor.

Então, no ano de 2005 quando eu tinha 18 anos, aprendi uma técnica bem simples que
consiste em ligar o carro em um ambiente fechado e deixá-lo no ponto morto para que
escape bastante monóxido de carbono.
156

Após o ar estar saturado com este gás tóxico, basta inalá-lo, e é possível morrer dormindo.
Mas, antes de seguir com este plano, eu chamei o pastor que dirigia a igreja onde eu
congregava e disse que eu não queria mais viver e estava disposta a tirar a minha própria
vida.

Então ele me respondeu:


— Você quer mesmo tirar a sua vida!? Já pensou na quantidade de usuários de drogas que
vivem por aí nas ruas sem ter o que comer ou vestir! Você tem um pai e uma mãe que tanto
te amam e você quer tirar a sua vida!? Minha irmã Jaqueline, você realmente não conhece
o Senhor Jesus Cristo.

Fiquei em silêncio enquanto o pastor brigava comigo, porém mal sabia eu que o seu filho
que sempre foi criado nos caminho do Senhor, estava envolvido com drogas e mulheres.
Então este líder da minha igreja conversou com meu pai sobre o meu plano de tirar a minha
vida.

No dia seguinte, meu pai disse:


— Você quer tirar a sua vida!? É menina… Você é uma filha muito ingrata mesmo. Você
sabe, né, para onde você vai se você tomar essa decisão!

Continuei em silêncio e me fechei ainda mais em meu mundo. Fui até a garagem e observei
bem o carro dos meus pais. Fiquei imóvel na frente dele e não consegui avançar em direção
à sua ignição para verificar se as chaves estavam lá.

Olhei bem o fundo da garagem. Lá estavam dispostos vários rolos grandes e pesados de
fios e cabeamentos telefônicos que o meu pai arduamente usava-os para atender seus
clientes. Para isso, meu pai se deslocava com uma moto simples deslocando-se sob sol e
chuva para garantir o sustento para o lar.

Olhei para o carro e lembrei das incontáveis vezes que minha mãe correu comigo para o
pronto socorro quando eu já não respirava mais por conta das cinco pneumonias, bronquite
e acidentes domésticos que eu sofri.

Lembrei dos poucos momentos que meus pais, minha irmã e eu entramos nesse carro para
fazermos uma viagem em família a Ouro Preto, Mariana, Tiradentes e Belo Horizonte. Foi
simplesmente maravilhoso ter sentido aquele friozinho da manhã de inverno nessas cidades
157

históricas combinado com os primeiros raios de sol quente no rosto, acompanhado de um


delicioso cheiro de café fresco sendo coado.

Talvez, esses foram os poucos momentos que eu vi a minha irmã olhar nos meus olhos e
sorrir para mim, enquanto ouvíamos louvores cristãos gravados em fita cassete. Ela estava
sentada no volante e cantava alegremente:

Vou no trem das boas novas lá no céu


Que conduz à salvação
Vou no trilho certo e nunca voltarei
Ao lugar da perdição

Já tenho o passe, o sangue que Jesus


Deu por minha redenção
Vou no trilho certo e nunca voltarei
Ao lugar da perdição

Lembrei das vezes que ao voltar da igreja ou da casa de uma das avós eu acabei
adormecendo dentro do carro. Mesmo assim, sem conseguir aguentar mais o meu peso,
mesmo assim meus pais gentilmente me pegavam em colo e me colocavam na cama. E
com um beijo na testa, meu pai dizia: “Boa noite, meu chumbinho do coração”.

Pausa. Meus olhos estão ardendo. As lágrimas jorram dos meus olhos involuntariamente.
Que tipo de monstro eu pude ser? Afinal, este não é o sentido natural da vida. Ou seja, não
sou eu quem decido quando eu devo morrer.

Permaneci imóvel diante do carro. Foi este carro que ajudou a construir a história de vida da
minha família. E eu não poderia usá-lo para encerrar a minha existência na terra. Esse carro
não tem nada a ver com os meus problemas.

A única reação que eu tive foi sair imediatamente da garagem da casa dos meus pais da
casa que fica no bairro Nossa Senhora da Penha, Vila Velha, Espírito Santo. E, assim, eu
desisti da minha primeira tentativa de cometer suicídio por meio da inalação de monóxido
de carbono.

Contudo, comecei a entrar em salas virtuais de relacionamento, a fim de encontrar algum


rapaz para eu me relacionar, pois a carência e vazio que havia dentro de mim era enorme.
158

Conversei com vários caras que conheci ao longo do tempo, mas ainda me faltava coragem
para marcar um encontro presencial.

Em paralelo, continuei a estudar para o vestibular. Escolhi o curso de medicina, pois eu


queria estudar sobre a mente humana na especialização de psiquiatria. Mas, como era de
esperar, reprovei. Novidade…

No final do ano de 2004, em uma consulta de rotina com um otorrinolaringologista, o médico


me perguntou:
—- Jaqueline, você consegue respirar bem?
— Acho que sim, porque doutor? — perguntei.
— Porque suas vias aéreas são muito obstruídas devido ao desvio de septo e uma grossa
camada de pólipo. — informou o médico.
—- E o que isso significa? — perguntei preocupada.
— Significa que você precisará ser operada. — respondeu o doutor.

Fiquei sem chão. Eu estava correndo de uma cirurgia e apareceu outra. Agendei essa
operação e mesmo sem jeito disse para a minha irmã:
— Você poderia me acompanhar na minha cirurgia?

Ela ficou em silêncio e fingiu que não escutou. Nem sei porque eu fiz esse pedido a ela,
afinal nós já não nos falávamos há mais de oito anos. Talvez eu tenha tomado essa
iniciativa porque ela havia participado recentemente de outras cirurgias de entes da família.
Ou, como no caso das cirurgias da minha avó materna e até de uma amiga dela da igreja
que, recentemente, havia feito redução de seios.

De qualquer forma, eu agendei a cirurgia e no dia da minha da minha ida ao hospital, numa
manhã ensolarada e quente de janeiro de 2005, para a minha surpresa minha irmã desceu
as escadas do seu quarto que ficava no andar de cima e entrou no carro junto comigo e
com a minha mãe em direção ao Hospital Evangélico, Vila Velha, Espírito Santo.

Jussara não falou uma só palavra comigo. Na verdade, ela nem olhou para a minha cara.
Parecia que ela estava indo obrigada. De qualquer forma, era perceptível que havia
insatisfação em seu coração por eu ter lhe pedido para me acompanhar nessa operação.
159

Durante o trajeto havia um único pedido em meu coração: que ele simplesmente parasse
enquanto eu estivesse sendo operada e não acordasse mais. Entramos pelas portas do
hospital e enquanto aguardávamos na recepção, alguns fatos marcaram a minha memória.

Vi uma mãe abraçando o seu filho, um pouco mais novo que eu, o qual estava sendo
direcionado aos preparativos para ser operado. Essa mulher colocou a mão na cabeça do
seu filho, orou por ele e em seguida se abraçaram com muito amor e afeto. E assim, o
menino foi levado à sala de operação.

Em seguida, vi uma jovem de uns 25 anos entrar na recepção e informar que tinha uma
cirurgia plástica agendada. Ela estava só. Notei que ela era magra e bonita, mas com uns
pequenos pneuzinhos na cintura. Visivelmente ela não precisava de cirurgia. Mas, nessa
época, havia entre as mulheres uma febre pela palavra "lipoaspiração".

Por fim, aconteceu algo que ainda me dói bastante: inesperadamente o telefone de Jussara
toca. Ela atendeu e em seguida falou com a minha mãe:
— Preciso ir embora!
— O que aconteceu? — perguntou minha mãe assustada.
— Surgiu um imprevisto lá no meu serviço. Preciso estar lá o quanto antes. — respondeu
Jussara.
— Como nós vamos fazer? — perguntou minha mãe enquanto coçava a cabeça.
— Vou chamar um táxi. — disse Jussara já caminhando em direção à saída sem mesmo
olhar para a minha cara.

Fiquei horrorizada com a tamanha frieza e insensibilidade da minha irmã em relação à


minha situação. Aumentei ainda mais o meu pedido a Deus para me matar durante a
cirurgia. “Cansei disto que se pode chamar de família”. E assim, ela se foi.

Alguns minutos se passaram e eu fui chamada para ir à sala de preparo.


— Jaqueline?

Eu me levantei e economizei as minhas palavras. Preferi não gastar o meu latim.


— Por aqui, por favor. — disse a enfermeira.

Olhei para a minha mãe. Ela abriu os seus braços, me abraçou e disse:
— Vai ficar tudo bem. Daqui a pouco nos vemos.
160

Acenei com a cabeça e entrei sozinha pelos corredores brancos e com cheiro de morte no
ar. “Talvez hoje seja o meu dia de sumir desta terra”, pensei. Entrei numa sala e fui
orientada a retirar todas as minhas roupas.

Em seguida, deitei numa maca e fui conduzida à sala de cirurgia. Meu médico chegou até
mim e disse:
— Bom dia Jaqueline. Preparada?

“Se for para morrer, sim, totalmente”, pensei. Acenei com a cabeça confirmando um “sim”
frio e pálido. Então ele colocou uma máscara em meu rosto e disse em alto e bom tom:
— Jaqueline! Respire fundo!

Instantaneamente eu apaguei. Acordei horas depois, por volta das 15h. Eu abri meus olhos
e levantei a minha mão. Um homem, acho que um técnico de enfermagem, veio até mim e
disse:
— Está tudo bem Jaquelline?
— Eu estou com muito frio e sede. — respondi.
— Infelizmente água eu não posso te dar, pois você engoliu muito sangue e se beber algum
líquido, correrá o risco de vomitar. Mas vou te trazer uma cobertor. — informou o homem.
— Tudo bem, obrigada. — respondi.
— Aqui está. — disse o moço. — Daqui a pouco o médico chegará para te ver. —
acrescentou o rapaz.

Senti algo estranho dentro do meu nariz. Parecia haver uma espécie de osso dentro de
cada orifício. Olhei ao meu redor e notei que à minha frente havia uma pessoa se agitando
sobre a sua maca. Com bastante cuidado eu levantei um pouco a minha cabeça e
reconheci a pessoa: era a moça que havia feito a lipoaspiração.

Ela se debatia bruscamente na maca. Fiquei assustada com a cena. “Possivelmente ela
está sofrendo algum tipo de choque ou convulsão pós-cirúrgico”, pensei. Como eu estava
só, eu gritei:
— Médico! Médico! Ajuda!
— O que houve!? — perguntou uma mulher vestida de branco.
— Ali! Aquela paciente. Acho que ela está em perigo! — falei apontando o dedo em direção
à jovem.
161

A enfermeira mal olhou para a paciente e já correu atrás dos médicos. Imediatamente três
homens rodearam a maca da mulher. Ainda sob efeito da anestesia, eu compreendi poucas
palavras como “bolsa de sangue”.

Um homem pegou a maca onde repousava a jovem e correu com ela para outro lugar. Não
sei que fim ela teve, mas eu fiquei bastante grata a Deus por ter sido útil à alguém. “Valeu a
pena não ter morrido durante a cirurgia. Talvez eu não seja tão imprestável assim”, pensei.

Pela graça e misericórdia de Deus, me recuperei rapidamente e voltei às desesperadoras


aulas do pré-vestibular no ano de 2005. Porém, mal sabia eu que uma avalanche de
problemas, dores, outras cirurgias e toda a sorte de desespero estavam por vir nos
próximos anos.

Mesmo assim, por um milagre no ano de 2006, aos 19 anos passei no vestibular para o
curso superior de Tecnologia em Saneamento Ambiental no antigo CEFET-ES, hoje
chamado de IFES, isto é, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito
Santo.

Essa graduação nem existe mais e muito menos tive sucesso profissional na minha
graduação. Inclusive sofri preconceito durante quase toda a minha juventude por ter
escolhido estudar esse curso.

Eu fiquei muito feliz com a notícia da minha aprovação no vestibular, mesmo que não tenha
sido em medicina. Pois, finalmente, eu alcancei um objetivo de vida: ser aprovada em uma
universidade federal. Mas para a minha tristeza, algumas semanas após o resultado do
vestibular, o telefone da casa dos meus pais tocou:
— É para você. — disse a minha mãe.
— Quem é, mãe? — perguntei achando que seria alguém da família que estava ligando
para me parabenizar pela minha aprovação.
— Meu primo Dr A… — respondeu minha mãe.

Minha quinta vértebra gelou e minha pressão baixou. Peguei o telefone e disse:
— Oi, bom dia.
— Bom dia Jaqueline, como você está?
— Tudo bem. — respondi falsamente enquanto sentia minhas pernas bambearem e minhas
mãos ficarem frias.
162

— Filha, estou te ligando, pois você precisa fazer a remoção do seu aparelho reprodutor.
Quanto mais o tempo passa, maiores são as chances de evoluir para um possível câncer e
espalhar para os demais órgãos do seu corpo. Um dos médicos que fará parte da equipe da
sua cirurgia até entrou em contato comigo preocupado com você, pois ele disse que por
duas vezes você cancelou a data da sua cirurgia.

Fiquei com vontade de pegar uma faca e cortar o meu pescoço e sangrar até morrer ali do
lado da minha mãe, enquanto eu ouvia cada palavra espinhosa do médico que partia do fio
telefônico e atravessava os meus ouvidos. Eu realmente queria morrer.

O fato de nunca poder gerar, me consumiu. Eu ainda acreditava que Deus podia desfazer
toda essa situação lastimosa. “Quem iria querer se casar com uma mulher castrada?”,
pensei. Eu não queria passar novamente por uma cirurgia. O cheiro do hospital era
repugnante ao meu olfato.

— Sim, eu vou ver essa questão e te retorno. — respondi e em seguida me despedi porque
por dentro eu estava desesperada.

Para a minha surpresa, enquanto eu ainda estava decidindo se realmente iria ou não fazer
a cirurgia de remoção completa do meu reprodutor por completo, comecei a sentir um certo
incômodo em meus dentes e uma certa pressão no meu maxilar. Marquei uma consulta com
um dentista.

— Jaqueline, seus sisos estão nascendo. — disse o dentista. — Vou te pedir para fazer
uma panorâmica para vermos como eles estão posicionados na sua mandíbula e maxilar.
Retorne assim que o raio-x ficar pronto.

Alguns dias depois, lá estava eu na sala do dentista novamente. Entreguei os exames e,


enquanto o dentista coçava o queixo, disse:
— Seu caso é raro e mais grave do que eu imaginava. Teremos que extrair seus dentes
num hospital com o uso de anestesia geral. Terei que serrar o seu osso, abrir uma espécie
de “gaveta”, retirar cada dente juntamente com o seu nervo, devolver o nervo no lugar e
finalizar tudo fechando essa “gaveta”. Além disso, preciso te adiantar que possivelmente
você poderá ter uma leve paralisia facial, pois, como eu havia dito, o seu caso é bastante
complicado.
163

Olhei assustada para o dentista e eu achei que já tinha problemas o suficiente no auge dos
meus 19 anos. Então eu disse:
— Doutor, eu estou com uma questão bastante delicada que preciso conversar com o
senhor. Por indicação médica, terei que fazer uma cirurgia para extrair meu aparelho
reprodutor por completo, pois há grandes chances de haver a formação de algum tipo de
câncer nele.

O dentista ouviu-me atentamente, mas com um certo espanto. Então eu continuei:


— Haveria a possibilidade de que a sua cirurgia seja feita em conjunto com a histerectomia?

O cirurgião dentista respirou fundo e respondeu:


— Por mim tudo bem, mesmo porque eu ficarei restrito à sua cabeça, enquanto que o seu
médico cuidaria da sua parte genital. Veja, por favor, com ele e me avise para já marcarmos
a sua cirurgia, pois quanto mais demorar a fazer a extração, mais complicada ficará a sua
situação, pois seus sisos estão nascendo de modo atravessado e voltar a ter dentes
desalinhados, será o mínimo que te irá acontecer.

Eu me despedi do dentista e disse que retornaria assim que eu tivesse uma posição do
médico ginecologista, Dr A... Mais que depressa eu entrei em contato com médico primo da
minha mãe, o qual disse-me que não gostaria de fazer as duas cirurgias ao mesmo tempo e
que, inclusive, fossem realizadas com um espaço entre elas para que houvesse tempo do
meu corpo se recuperar da anestesia.

Pausa. Apenas a título de desabafo, por acaso você perguntou aos seus filhos e ao seu
cônjuge como anda a vida deles? Possivelmente, eles estão cheios de problemas e
procuram alguém para desabafar. Talvez, um abraço e um ombro amigo seja o que eles
estão precisando neste momento.
164

14. CASTRAÇÃO HUMANA

Não vi outra alternativa a não ser me submeter à castração. Comecei a fazer uma série de
exames exigidos pelo pré-operatório a fim garantir que eu tivesse um bom andamento da
cirurgia e da recuperação após o procedimento da extração dos meus órgãos reprodutores.
E, assim, marquei o dia para ser castrada: segunda semana de abril de 2006.

Novamente pedi o acompanhamento da minha irmã, mas como era de se esperar, ela se
recusou alegando que tinha compromissos inadiáveis e mais importantes. Novamente,
centralizei as minhas orações para que a minha morte ocorresse após ser anestesiada.

Como se estivesse caminhando rumo ao matadouro, eu entrei no carro e minha mãe, que
sempre me acompanhou nesse doloroso processo. Mantivemos silêncio, até que cheguei
ao hospital Santa Úrsula, Vitória, Espírito Santo.

Não lembro muitos dos detalhes antes da cirurgia, mas somente de quando eu fui acordada
por um homem que balançava os meus ombros chamando pelo meu nome:
— Jaqueline? Acorda? Jaqueline? Você me escuta?
— Sim, eu te escuto. — respondi ainda sob forte efeito da anestesia, enquanto abria com
dificuldade os meus olhos. Para a minha tristeza, eu ainda estava viva.
— O médico já está vindo para te ver. — respondeu o homem vestido de branco.

Eu mal acordei da cirurgia e o Dr A… já me colocou sentada sobre a maca. Mas, para isso,
ele me ensinou o método de me levantar sem que eu prejudicasse o corte da cirurgia. Tudo
começa por jogar as pernas para fora da cama gerando, assim, uma espécie de “pêndulo”
entre o tronco e os membros inferiores.

Em seguida, Dr A… disse para eu ficar de pé, pois era necessário que eu forçasse o meu
corpo a andar para os meus órgãos internos fossem realocados e, assim, liberar qualquer
acúmulo de gases.

Ainda que eu não quisesse me levantar, eu preferi obedecer para evitar qualquer problema
para o meu lado. Após voltar para a maca, eu levantei a minha bata e olhei para o local da
cirurgia: havia um corte do tamanho um pouco menor que um palmo. Foi horrível ter vivido
tudo isso. Escrever esses fatos me corroem por dentro.
165

Minha mãe sabia que possivelmente eu teria que passar pelo menos uma noite no hospital
para ser observada em caso de qualquer complicação. Contudo, ela chegou até mim e
disse:
— Vou para casa e amanhã eu te busco. Eu não sabia que você iria passar a noite no
hospital e como eu não trouxe roupas e outros itens pessoais, você terá que passar a noite
sozinha.

Não consegui olhar para seu rosto. Apenas acenei com a cabeça concordando e, assim, ela
se foi me deixando só na enfermaria ao lado de outras pacientes, cujo lugar mais se
assemelhava a um matadouro, mas não do meu corpo, mas dos meus sonhos.

Eu não sabia o que fazer. Apenas fiquei olhando para o teto e refletindo sobre toda essa
desgraça que havia sido despejada sobre mim. “Jamais poderei ser mãe biológica”, pensei,
enquanto sentia aquele cheiro forte de éter que é usado nos hospitais.

Durante a madrugada enquanto eu dormia, eu escutei algumas conversas de uma paciente


e de sua mãe que a acompanhava. Eu abri os meus olhos e ela pararam de conversar ao
perceberem que eu havia acordado. Então uma delas perguntou:
— Está tudo bem?
— Sim, está. — respondi enquanto virava a minha cabeça para tentar ver o rosto delas.
— Que cirurgia você fez? — perguntei.
— Cesariana. Tive um bebê. E você? — perguntou a paciente.

Engoli seco e disse:


— Eu estava com uma elevada chance de desenvolver um câncer no meu aparelho
reprodutor e por isso o médico achou por bem tirá-lo. — respondi de forma transparente.
— Quem está te acompanhando? — perguntou a mãe da paciente.
— Ninguém. Estou sozinha, mas minha mãe está para chegar assim que amanhecer —
respondi segurando para não chorar.
— Tomara que ela chegue logo, pois a enfermeira do dia é muito ruim. Ela me atendeu com
grosseria e foi bem bruta ao me ajudar a tomar banho e trocar os meus curativos. —
respondeu a paciente.

Meu coração disparou quando eu ouvi essas palavras. Procurei ficar alerta, mas não tive
como fugir. Um pouco antes de amanhecer a dita enfermeira se aproximou de mim com o
meu café da manhã e disse:
— Jaqueline, vamos acorde. Este é o seu café.
166

Eu já estava acordada e para que ela se afastasse de mim eu disse:


— Obrigada.
— Levante-se, pois assim que você terminar de comer, vou te dar banho.

Eu estremeci só de pensar em ela me tocar. Mesmo assim, eu me levantei conforme eu


havia aprendido no dia anterior e com bastante dificuldade eu comi alguma coisa.
Inesperadamente comecei a sentir ondas desesperadoras de calor.

Parecia que a minha garganta e peito estavam sendo abertos de tanto calor e mal estar.
Esses eram os primeiros sinais da menopausa precoce que eu estava começando a sentir
já na manhã seguinte após a cirurgia.

Fiquei desesperada. Porém, mal passava pela minha cabeça que outras sequelas piores do
que essa, por conta da castração, estavam para se desenvolver em minha vida.

— Já volto para te dar um banho. — disse a enfermeira carrasca.

Olhei para a paciente e sua mãe. Ambas me olhavam assustadas, pois sabiam dos maus
tratos que eu estava para sofrer. Mas para o meu alívio, minha mãe chegou. Não comentei
nada com ela sobre a enfermeira ou sobre as ondas de calor. Apenas disse que eu estava
bem.

Minha mãe me ajudou a tomar banho e em seguida o médico que me operou chegou
novamente. Dr A… sempre foi muito solícito, amoroso e compreensivo. Ele me forçou a
caminhar novamente e em seguida me deu alta do hospital. Entrei no carro e finalmente eu
estava dentro da casa dos meus. Tomei outro banho antes de me deitar.

Os dias passaram e eu já não aguentava mais ficar deitada naquele quarto. Não podia fazer
nada. Estava agoniada, afinal eu fui diagnosticada com hiperatividade. Então eu disse para
a minha mãe:
— Eu preciso voltar a frequentar os cultos. Não aguento mais ficar deitada sem fazer nada.
— Minha filha, o processo pós-cirúrgico é assim mesmo. Você precisa ter paciência. —
respondeu minha mãe.
— Já faz 15 dias que eu fui operada e eu estou ótima. — tentei me justificar.
167

— Infelizmente você terá que aguardar mais 15 dias, até totalizar 30. Além disso, você
ainda está com os pontos, os quais serão retirados após 30 dias da operação. — disse
minha mãe com carinho.
— Negativo, não aguento mais ficar parada. Já que eu não posso ir a nossa igreja, então
vou ficar com a minha avó. Afinal, daqui poucos dias minhas aulas começarão eu preciso
aproveitar esse período de férias.
— Você vai falar com sua avó sobre a sua cirurgia? — perguntou minha mãe.
— Claro que não, mesmo porque nosso combinado é que esse assunto ficaria somente
entre nós e o médico. — respondi.
— Eu ainda acho que você deveria ficar em casa em repouso. Inclusive, eu não vou te
levar, pois o médico disse que você precisa repousar por 30 dias. — alegou minha mãe.
— Bom, neste caso vou de ônibus, termino de me recuperar os demais 15 dias com a
minha avó e retiro os pontos enquanto eu estiver na casa dela. Afinal, o consultório do
médico que me operou é perto do apartamento dela.

Minha mãe viu que eu estava irredutível e por isso não disse mais nada. Liguei para a
minha avó materna — aquele que apontou o dedo para mim e disse que eu estava curada
contra a pneumonia e bronquite — e disse que me receberia com muita alegria. Arrumei
minha mochila, me despedi da minha mãe e entrei no ônibus.

Fazia calor nesse dia e fiquei assustada com o balançar do transporte público. Para piorar,
fiquei preocupada quando me deparei com a catraca do ônibus. Eu cocei a minha cabeça
enquanto eu calculava qual seria a melhor forma de passar sem que o meu corte fosse
tocado.

Pensei em falar com o motorista para eu pagar a passagem e entrar pela porta de trás. Mas
eu tinha certeza que ele se negaria. Infelizmente não teve jeito. Tive que passar pela
catraca enquanto eu a empurrei com a força da minha barriga.

Senti o local da cirurgia queimar, mas procurei seguir em frente sem esboçar qualquer sinal
de desespero. Ao chegar na casa da minha avó eu a cumprimentei e já corri ao banheiro
para verificar o corte. Percebi que um dos pontos havia rompido e aparentava estar
inflamado. "Certamente foi por conta da catraca do ônibus”, pensei.

Tratei os pontos com água oxigenada e pomada antibiótica. Fora os vários comprimidos
anti-inflamatórios que eu já estava tomando. Graças a Deus, a inflamação foi controlada.
168

Passei dias maravilhosos com a minha avó bordando roupas, indo à igreja e saindo para
caminhar no calçadão da Orla de Camburi.

Depois de poucos dias no apartamento com a minha avó, ela disse:


— Seu tio Marcelo nos chamou para almoçar na sua casa.

Eu gelei, pois o tio Marcelo — esse não é o seu verdadeiro nome — e sua esposa eram as
pessoas mais ricas e bem sucedidas não só família como os que já conheci na minha vida,
tanto que seus filhos completaram seus estudos do ensino médio nos Estados Unidos nos
anos 90.

Eu sempre me sentia deslocada na casa do tio Marcelo e perante os seus filhos que tinham
a mesma idade que eu. Eu não sabia nem como entrar, sair ou até mesmo permanecer.
Então arrumei uma desculpa:
— Ah sim. Muito bom. Mas eu vou ficar aqui enquanto a senhora almoça com eles.
— Ah, poxa. Mas por quê? — perguntou minha avó tristemente.
— Porque eu não trouxe roupa adequada. — tentei me justificar.
— Não tem problema. Eu te empresto! — respondeu minha doce avó toda sorridente.

Mesmo eu resistindo, não houve alternativa. Quando eu menos esperava lá estava eu


sentada numa cadeira branca confortável almoçando na varanda luxuosa da casa do tio
Marcelo e da sua esposa Telma localizada na Ilha do Boi, Vitória, Espírito Santo.

Enquanto eu engolia o delicioso buffet que havia sido servido, tia Telma me perguntou:
— Estou muito feliz que tenha sido aprovada no vestibular.
— Obrigada tia. — respondi.
— Mas me diga uma coisa: como anda a sua saúde? — perguntou tia Telma.
— Vai tudo bem. — respondi sem entender absolutamente nada.
— Você menstrua direitinho? — perguntou.

Arregalei os meus olhos e sem saber o que dizer fiquei em silêncio por alguns segundos. Eu
me perdi por dentro de mim mesma. Somente uma pessoa poderia ter contado este
segredo para os demais da família: minha mãe.

“Ela me traiu!”, pensei. Fiquei sem chão. “Como ela pode fazer isso comigo!?”. A inimizade
que eu tinha com a minha mãe intensificou-se ainda mais com essa conversa. Eu não
queria estar ali na casa dos meus tios e primos ricos. Minha avó não deveria ter insistido.
169

Eu me senti desprezível e absolutamente como um elefante numa casinha de vidro. Eu


respirei fundo, engoli a saliva amarga e disse:
— Sim, está tudo certo. — respondi mentindo.
— Que bom. — respondeu ela consertando na sua elegante cadeira branca.

Finalmente, voltamos ao apartamento da minha avó e nos dias seguintes eu retirei os


pontos. Especificamente no local do ponto que havia inflamado, formou-se um queloide,
mas todo o restante do corte estava bem cicatrizado.

Voltei à casa dos meus pais e, após me recuperar por completo da cirurgia, fisicamente
falando, eu participei de uma pequena festa de criança de uma família da igreja em um
salão de festas. Como qualquer comemoração infantil, havia bolo, balões e algo que eu
sempre gostei: cama elástica.

Apesar de a cama elástica ser destinada às crianças, até os jovens estavam se divertindo
nela, desde que estivessem com um short por baixo da saia. E também fiz o mesmo: corri
em casa, coloquei um short por baixo da minha saia e me juntei à brincadeira.

Entrei na cama elástica e após aquele terrível momento de dor, trauma e desespero da
histerectomia, finalmente eu estava me sentindo alegre. Porém, algo inesperado aconteceu
a cada vez que meus pés tocavam novamente a superfície da cama elástica me
impulsionando para cima: um jato de urina saía involuntariamente da minha uretra.

De modo surpreso, eu não tinha mais controle em segurar a urina na minha bexiga. Ao
perceber que eu havia molhado a cama elástica com a minha urina, eu saí o mais rápido
possível dali e corri para a casa dos meus pais para me lavar e trocar de roupa. Minha mãe
veio atrás de mim e perguntou:
— Aconteceu alguma coisa?
— Minha bexiga caiu. — eu respondi.

Caro leitor, preciso deixar claro que eu sei muito bem o porquê de todas essas catástrofes
terem acontecido comigo. A resposta é simples: eu estou apenas colhendo aquilo que eu
plantei.

Eu sinto arrepios na alma e um nó na garganta de tanta amargura referentes aos meus


atos, os quais eu encobri por quase toda a minha vida. Mas chegou o momento de
170

compartilhar a podridão dos meus mais abomináveis atos. E agora você está ciente de boa
parte deles.

Posso imaginar que se você tivesse uma pedra na mão, certamente você não perderia a
chance de atirá-la em mim. E eu a aceitaria, pois eu mereço. Tenho plena consciência dos
meus atos.

Espero que você tenha coragem de ler o que eu relatei no capítulo a seguir e que possa
atender um desejo meu: em nome da humanidade e bom convívio da criação de Deus, você
seria capaz de me perdoar pelo que eu fiz e que descreverei nas próximas páginas?
171

15. CONCLUSÃO

Muito do nosso eu, daquilo que somos constituídos, o que fazemos, das escolhas tomamos,
a forma de condução dos nossos relacionamentos, o tom de voz usamos, em que
investimos o nosso tempo, em que aplicamos o dinheiro, a que horas acordamos, o que
comemos, bem como o nosso vestuário, é consequência do ambiente onde estamos
inseridos e das influências externas que nos cercam.

Afinal, somos disputados por ideias, opiniões, pessoas, ideias, pensamentos, alimentação,
cheiros, cores e tantas outras formas de linguagem que condicionam minuciosamente o
nosso modo de viver. De alguma forma, todas essas influências induzem na nossa
existência.

Diante de todo esse assédio ininterrupto que sempre estamos rodeados, eu sempre me fiz e
continuo fazendo a seguinte pergunta: “O que fazer da minha vida?”. Precisamos saber com
precisão quais escolhas tomar e o que fazer da nossa (única) vida. Isso porque prestaremos
conta de todos os nossos atos, conforme está escrito em:

Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até tudo o que está encoberto, quer
seja bom, quer seja mau. (Eclesiastes 12:14)

Talvez o que explica a existência de tantas opções de convencimento despejadas sobre


nós, reside no fato de que naturalmente o homem, de modo geral, vive num ambiente sem
rumo definido e obrigatório de como viver.

Ou seja, cada um segue o caminho que é agradável aos seus olhos. Somos nós quem
fazemos as escolhas. Está nas nossas mãos o poder de decisão. Não é à toa que o profeta
Moisés confessa que também possui essa mesma incógnita quando diz:

Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações


sábios. (Salmos 90:12)

Perceba a importância de clamarmos ao Pai por sabedoria e direção de como conduzir


nossas escolhas, justamente porque apesar dele ter sido usado por Deus para anunciar a
vinda das dez pragas, para abrir o Mar Vermelho, fazer cair maná do céu, sair água da
rocha, receber os 10 mandamentos, conversar boca a boca com Deus e ser usado em
tantos outros prodígios não citados na bíblia, mas que ficaram registrados na memória do
172

povo daquele tempo, ele mesmo (Moisés) reconhece que não sabia como conduzir a sua
própria vida sozinho, a fim de desfrutar de forma coerente os preceitos do Criador.

Mesmo porque o nosso tempo na terra e neste corpo é muito breve, conforme está escrito
em:

Pois todos os nossos dias vão passando na tua indignação; passamos os nossos
anos como um conto que se conta.
Os dias da nossa vida chegam a setenta anos, e se alguns, pela sua robustez,
chegam a oitenta anos, o orgulho deles é canseira e enfado, pois cedo se corta e
vamos voando. (Salmos 90:9,10)

Ou seja, Deus, por meio da sua infinita grandeza e sabedoria, quer nos passar a seguinte
mensagem: “Saiba aproveitar muito bem o seu tempo e qual o curso que você dará à sua
vida, pois a sua passagem na terra é mais meteórica do que você imagina”.

Sendo assim, eu preciso esclarecer algo que eu concluí nos últimos anos durante o tempo
que eu estive de “parto” nascendo como uma nova mulher: todos nós possuímos um lado
bom e ruim dentro de nós.

Pode parecer estranho e incoerente essa afirmação, mas veja o que está escrito na
passagem abaixo:

O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o homem mau, do mau
tesouro do seu coração tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a
boca. (Lucas 6:45)

Ou seja, durante quase toda a minha vida, eu joguei a culpa dos meus atos malévolos e dos
meus problemas na conta dos meus pais e sobre os ombros das pessoas que abusaram
sexualmente de mim.

Porém, por mais que os meus meus pais tenham falhado na função de formadores de bons
cidadãos e cristãos — o que ninguém está isento disso —, eles erraram tentando acertar.
Sim, meu pai errou ao agredir minha mãe com palavras e fisicamente falando. Sim, minha
mãe errou por não dar bom exemplo como mãe e educadora cristã.
173

Mas quem é que não errou nessa vida? Será que meus pais mais erram do que acertaram?
É claro que não! Ao engolir o “remédio” chamado altruísmo, eu fui curada do vitimismo e
assim, finalmente, Deus me libertou do coitadismo.

Meu pai, por meio de exemplos, me ensinou a acordar bem cedo e encarar a vida por mais
que eu estivesse com sono, fome ou sentindo dor. Além disso, ele me ensinou a manter a
compostura mesmo que as portas estejam fechadas e o vento desfavorável.

Meu maravilhoso pai — aquele que eu tanto desrespeitei e que ficou órfão quando era
pré-adolescente — mostrou com exemplos concretos que eu preciso passar por cima das
adversidades externas e das dificuldades financeiras sem que a escassez abale a minha fé
em Cristo. Afinal, chorar não paga boletos.

Isso porque, segundo o meu pai, as lutas contribuem para o desenvolvimento das minhas
forças. Inclusive, foi exatamente quando eu atravessei as maiores dificuldades e decidi não
me render, que a força dentro de mim, foi desabrochada.

Foi o meu pai — aquele que eu julguei-o sem saber dos sofrimentos que passou em sua
infância — que foi pessoalmente à clínica onde eu me consultei com um médico para saber
quem foi o sujeito que me desrespeitou quando disse “Vamos ver se ela é mesmo uma
menina”.

Foi o meu pai — aquele que eu o odiei no meu coração por conta dos seus erros e defeitos
— que me levava quase todos os dias à igreja nos cultos das seis da manhã e em seguida
me dava a mão até à padaria e dizia:
— Filha, o que você quer escolher hoje? Apenas uma opção, combinado?
— Suspiro cor de rosa! — exclamei.

Lembro-me perfeitamente até hoje do gosto dessa guloseima. Eu me deliciava no caminho


de volta para casa enquanto meu pai cheirava os meu cabelos ao meu carregar em seus
braços11.

Chegando lá, meus pais e eu tomamos um delicioso café da manhã em família. Que
saudades dos meus pais que estão no Espírito Santo… Como sinto falta do abraço e do
cheiro deles.

11
Se eu comer esse mesmo doce hoje é bem capaz que eu tenha uma enxaqueca por no mínimo
dois dias.
174

Inclusive, quando a moça que havia sido contratada pelos meus pais para ajudar nas
atividades domésticas e cuidar da minha irmã e de mim, deixou o carrinho de bebê onde eu
estava dentro virar e eu me acidentar, meu pai protetor disse para minha mãe demiti-la
naquele mesmo dia. Caso contrário, meu maravilhoso pai não teria respondido por ele
mesmo quanto ao “tratamento especial” que certamente ele daria à colaboradora.

De igual modo, foi a minha mãe — aquela que eu tanto decepcionei com o meu
comportamento capcioso — que me nutriu com o seu leite ao me amamentar e lavou as
minhas fraldas de pano, pois não tinham condições de comprar fraldas descartáveis.

Inclusive, lembro-me perfeitamente da minha amável mãe me acordando de madrugada


para me colocar para urinar num penico, de modo que finalmente eu não mais molhasse o
colchão enquanto dormia.

Foi a minha mãe — aquela que eu causei-lhe muitas lágrimas — que lutou como uma
guerreira contra o seu próprio estado emocional ao me pegar em seus braços e correr
comigo ao pronto socorro quando eu sofri aquele terrível acidente doméstico ao despencar
do pé de carambola dando de cara no carrinho de mão.

Foi a minha mãe — aquela que maltratei e desprezei em meu coração — que novamente
lutou como uma leoa ao me levar ao pronto socorro quando o meu dedo mínimo esquerdo
da mão foi dilacerado na cadeira de praia.

Sim, foi a minha mãe — aquela que eu sempre julguei-a e tive-a como uma inimiga — que
foi como uma ursa ao meu colégio para saber que havia me agredido ao notar que eu
estava com hematomas em meu corpo. Por conta disso, já no dia seguinte ela foi atrás
desse garoto e, com poucas palavras, ele se tornou meu “amigo”, tamanho o medo que ele
ficou da minha mãe ursa.

Foi a minha mãe que esteve ao meu lado dando-me comida na boca quando eu me recusei
a comer por conta dos delírios causados pelos fortes medicamentos contra as pneumonias
e bronquite. Lembro-me até hoje do prato quentinho que ela segurava na mão: arroz, feijão,
abóbora, ovo frito e couve cortada fininha.
175

Meu coração dói e as lágrimas correm ao lembrar e escrever do momento em que a minha
mãezinha ficou segurando meu almoço na mão, sentada numa cadeira ao lado da minha
cama e esperando pacientemente eu terminar de fazer a birra do dia. Até que ela disse:
— Eu fiz com muito carinho esse prato de comida para que você sare logo e volte a brincar
com sua irmã. Veja, tem abóbora e ovo frito. Sei que você gosta muito dessa combinação.
— comentou com um sorriso meigo e doce no rosto.

Comi tudo até raspar o prato. Realmente estava uma delícia! Lembro perfeitamente desse
dia. Eu devia ter meus sete anos. E já havia sofrido dois abusos sexuais. Ainda morávamos
na casa de madeira que carinhosamente chamávamos de “barraco”. O chão depois de
encerado brilhava que nem espelho. Eu morria de medo da enceradeira.

Foram os meus pais que me acolheram quando eu passei semanas internada nos hospitais
por conta dos diversos problemas de saúde e acidentes domésticos que sofri. Ainda que eu
não tenha recordações, meus pais não deixaram de orar por mim em silêncio quando eu
estava à beira da morte.

Foram os meus pais que me disseram que as portas da casa deles estavam abertas
quando passei tanto pelo primeiro, como pelo segundo divórcio. Foram os meus pais que
sempre me ofereceram dinheiro mesmo quando eu não pedi.

Foram os meus pais que deram um apartamento e um carro que, mais tarde, eu os vendi
para fazer um investimento, mas acabei levando um golpe em abril de 2022 e outro em
janeiro de 2023. Acabei perdendo tudo, incluindo o meu nome. Nem imagino como vou
contar isso a eles, mas tenho certeza que não me abandonarão como fizeram meus
ex-cônjuges.

Inclusive, são os meus pais que continuamente me ligam perguntando se está tudo bem
comigo e quanto de dinheiro eu estou precisando. Mas eu sempre respondo “Obrigada, mas
no momento eu estou bem”.

De fato, graças a Deus, não tem faltado comida do lixo. Sempre encontro alimentos
gostosos, apesar de muitas vezes estarem misturados com fios de cabelo e papel higiênico
usado.

Hoje mesmo, 29 de maio de 2023 — 19 dias para o meu aniversário e lançamento deste
livro —, de manhã cedo quando eu estava terminando de calçar a minha bota para ir à
176

imobiliária, meu pai me ligou e disse: “Filha, você está precisando de dinheiro?”. |Engoli
seco e respondi que não, pois eu não mereço um só centavo dos meus pais.

Tenho certeza que se eu estivesse no lugar dos meus pais, eu não teria sido uma genitora
tão boa como eles foram comigo. Verdadeiramente, é um prazer ter sido escolhida por Deus
para ser filha dos meus pais.

Já a minha irmã, ela é uma inspiração para mim. Sempre focada, fiel, honesta e sábia.
Jussara nunca deu trabalho para os meus pais como eu o fiz e hoje desfruta de uma linda
família ao lado de seu esposo e casal de filhos.

Jussara cumpriu o versículo que diz:

as esposas sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo. (1 Timóteo


3:11)

Diante disso, eu quero ter o privilégio de poder ser, diante de Deus, digna de sofrer as
consequências desencadeadas pelos abusos sexuais e outros tipos de traumas, como os
acidentes de infância, cirurgia de remoção completa do meu aparelho reprodutor e dos dois
divórcios.

Eu compreendi que é necessário aceitar cada um dos males que me fizeram no passado,
como uma maneira surpreendentemente positiva de transcender essa situação difícil e
descobrir uma verdade confortante e preenchedora.

Desta forma, eu passei a ter o sagrado hábito de pedir perdão a Deus por todos os pecados
que pratiquei — a maioria deles listados aqui neste livro — e procurar não perder a
oportunidade de pedir perdão à pessoa que, de alguma forma, eu tornei a vida dela mais
complicada.

Hoje, após refletir sobre tudo o que vivi — há muitas situações bastante complicadas que
ainda lido neste ano de 2023, que ainda estou reunindo forças para escrever —, posso
afirmar que o meu maior desafio não é lutar contra o meu passado ou contra qualquer
pessoa que procurou fazer-me algum mal.

Na verdade, a minha maior dificuldade é a luta diária contra o meu próprio ego, o qual além
de insaciável, é irredutivelmente. Pois, eu o alimentei e tornei-o forte ao fazer sempre a
177

minha vontade. Luto contra mim mesma, ainda que eu tenha sido muito ferida, cujas dores
ainda estão em processo de cicatrização. Afinal o mundo não gira ao meu redor.

Percebi que todos os seres viventes — humanos e animais irracionais — possuem seus
problemas e cabe a mim não piorar a vida do outro. Gestos simples do meu dia a dia
tornaram-se um verdadeiro antídoto contra o meu ego.

Como no caso de dar passagem a quem está atrás de mim, andando na calçada a ponto de
quase me atropelar. Ou sempre ao dizer “bom dia” ao segurança desconhecido da portaria
do prédio onde eu trabalho, sorrir para o garçom ou ignorar a vizinha de quarto da pensão
onde eu moro que coloca música alta, mesmo depois que já pedi para baixar.

Procurei sorrir mesmo não estando de frente a uma câmera para tirar uma selfie, bem como
estender minha mão ao necessitado sem que ninguém esteja me vendo. Conversar com
alguém que não seja por celular ou mesmo amar sem ditar as condições e tento condições
emocionais, tornaram-se preciosidades em minha vida.

Ainda que o meu ego seja insistente, eu vejo uma mudança radical em meu
comportamento, pois trata-se de uma conquista interior. E entendi que nada pode tirar esse
novo nascimento de dentro de mim, até que eu dê o último suspiro.

É totalmente fácil encontrar sentido somente quando eu vi por três vezes meu nome na lista
dos aprovados no vestibular em instituições federais ou quando alcancei tantos outros
objetivos de vida que eu tanto desejei.

Porém, por mais difícil que seja entender este paradoxo, é crucial dizer que há também
sentido no fato de eu ter sofrido quatro abusos sexuais e, ainda por cima, ser estéril. Sim,
eu fui castrada e sofro consequências severas no meu corpo e na minha mente.

Isso porque o sofrimento não veio sobre mim apenas como consequências sobre os meus
atos e as minhas péssimas escolhas que eu tomei ao longo dos meus 36 anos, mas sim
para que eu aprendesse a banir o meu lado mau e desenvolver o que eu tenho de bom
dentro de mim.

Desta forma, tenho aprendido belíssimas e incontáveis lições que moldaram o meu caráter.
Afinal, Deus parou tudo o que estava fazendo apenas para me construir e determinar tudo o
que eu teria que ser e passar ao longo da trajetória da minha vida.
178

Não há ninguém na face da terra semelhante a mim. Sou única. Eu sou uma preciosidade
aos olhos dos meus pais e do meu Papai. E o mesmo vale para você, meu amado leitor.
Não vamos piorar as coisas. É Deus quem determina a porção não só da nossa alegria,
como também do nosso sofrimento.

Cada gota de dor que você e eu experimentamos, física e emocionalmente, é mensurada


pelo Dono da vida. Não foi fácil perdoar aqueles que abusaram de mim quando eu tinha
seis anos de idade. Entretanto, a recompensa tem sido enorme que tem vindo de acordo
com o meu esforço.

Entregar-se ao suicídio é o mesmo que ditar o fim à história da vida que não lhe pertence.
Afinal não foi você que se criou. Mas foi Deus quem te criou. Ou seja, porque você vai tocar
naquilo que não te pertence?

Não foi você quem te concebeu, nem mesmo a sua e a minha mãe. Elas não fizeram
esforço algum para que cada uma das suas células, tecidos, ossos, nervos e formato da
unha do dedo mínimo do seu pé fossem formados. Elas apenas tiveram que esperar. Todo o
trabalho ficou por conta do Pai, o Criador.

Entregue para Deus aquilo que lhe pertence: a vida que Ele te emprestou. Ela não é sua.
Em detrimento disso, Ele é o único que te entende, pois Deus com suas próprias mãos,
dispensou um tempo específico para te criar e determinar o curso da sua vida. Você é
único!

É totalmente compreensível estar em um nível em que perdoar é algo impossível. Porém,


temos que estar no patamar daqueles que desejam perdoar. Para isso, podemos pedir a
ajuda a Deus e dizer, "Senhor, por favor, amoleça meu coração e me permita perdoar e
amar essa pessoa"12.

Se o ódio for tão grande a ponto de nos impedir de fazer essa oração, então podemos pedir
a Deus: "Por favor, me dê a capacidade de querer perdoar". Sinceridade é o que conta
neste momento, conforme está escrito em:

[...] fui sincero perante ele; e guardei-me da minha iniqüidade.2 Samuel 22:24

12
Deleitando o Ódio, por Rav David Ashear
179

Eu entendi que perdoar abre caminhos para a recepção de incontáveis bênçãos e apaga
milhares de transgressões. Veja a seguinte situação: Você pode lançar um míssil em
Brasília e de nada adiantará, pois a praga da corrupção naturalmente nascerá como uma
peste incontrolável.

Se você se mudar do Brasil para a Suíça, país líder do ranking de Índice de


Desenvolvimento Huano onde possivelmente inexiste pobreza, você também encontrará
outros problemas como elevados índices de homosexualismo, lesbianismo, consumo de
drogas, pedofilia e, logicamente, de suicídio.

Se você for para uma ilha deserta, certamente sofrerá de depressão e solidão e,
provavelmente, você irá tirar a sua própria vida. Mesmo em Marte você encontrará
problemas.

O problema reside em nós e ele tem nome: chama-se pecado. Sabendo que hoje é o seu
último dia de vida, para onde você irá após ser enterrado e comido de bichos? Certamente
seu destino será — assim como o meu caso eu tivesse seguido com o meu suicídio —
receber os luminares das labaredas de fogo do inferno.

As faíscas da sua carne queimando no lago de fogo e estão serão, talvez, as únicas formas
de você conseguir enxergar alguma coisa diante das densas trevas que Satanás criou
especialmente para aqueles que não se arrependerem de seus pecados e que cometem
suicídio. Lembrando que essa condenação não é nada menos que uma eternidade.

Inclusive, mesmo quando, por três anos, eu tive a oportunidade de ter uma pistola Taurus
24/7 em minhas mãos, Deus impediu-me de atirar na minha cabeça, ainda que eu já
estivesse decidida a tirar a minha vida. Mas esse é um assunto para o próximo livro.

Dê uma chance a você mesmo. Aceite os braços daquele que mais entende sobre você. É
do grão de areia que nasce uma pérola. É no fogo que o ouro é forjado. Mas muito mais
resistente que o ouro ao fogo, é o barro.

Somos barro e para lá você e eu voltaremos, se o Senhor Jesus Cristo não voltar antes.
Essa é a nossa única certeza: a morte. Não defina o teu fim. Mas deixe o Criador
determinar o início do fim da sua existência aqui na terra.
180

É a partir do sofrimento que nos tornamos mais fortes. A violência interiorizada que você
sofreu, tem cura. Eu sou prova disso! Eu saí pelo mundo afora, viajei e tive muitos amores,
mas eu não conhecia a mim mesma. Afinal, eu estava morta por dentro.

Você não tem que aceitar ser a mesma pessoa de 10 meses atrás, da semana passada ou
mesmo de ontem. Pelo contrário, você tem toda a liberdade e direito de se tornar uma
pessoa melhor e seguir em frente com essa nova mudança.

Cada indivíduo, com a ajuda do Todo-Poderoso, é capaz e responsável por curar o seu
próprio íntimo e alcançar bons traços de caráter. Basta subir um degrau de melhoramento a
cada dia até atingir o grau de maturidade e sabedoria que Deus escolheu para você.

Nós somos capazes de aperfeiçoar o nosso espírito. Isole-se de tudo e de todos e


dediquemos alguns minutos diariamente à Deus e colha os sublimes frutos de paz interior,
bons relacionamentos, tranquilidade e alegria de viver!

Estou maravilhada por, finalmente, saber quem eu sou. Não desperdice a chance de você
também conhecer a si mesmo. Você é incrível! Você é totalmente único. Ninguém é igual ou
capaz de ser o que você é. Inclusive, eu quero um dia ter o prazer de te encontrar
pessoalmente e te cumprimentar, seja aqui na terra ou no céu. Eu te amo meu amado e
minha amada!

Aceite as minhas palavras e vamos juntos mergulhar na aventura e nos entregar à Deus.
Ele tem uma jornada linda e cheia de segredos para nos contar. Eu me entreguei a Ele no
dia 2 de dezembro de 2017, e estou amando essa nova história de vida.

Ou seja, foi nesta data que os desejos e planos pelo suicídio finalmente encerraram, cuja
narrativa terei que deixar para a próxima publicação, pois é uma longa história.

Então venha! Garanto que você também não vai se arrepender. O trem já está partindo.
Receba o bilhete de entrada. A sua libertação custou um alto preço e lhe é oferecida
gratuitamente! Pode entrar.
181

16. POSFÁCIO

Obrigada por ter tido coragem de ter lido todas as páginas que relatam a desastrosa
trajetória que eu escolhi conscientemente para seguir. Escrevi apenas algumas gotas da
cachoeira de situações problemáticas que eu vivi.

Agora, você tem pleno entendimento da importância de crescer num lar emocionalmente
estruturado, livre de qualquer tipo de abuso não somente o sexual, mas também daqueles
que podem ser imperceptíveis, tais os que envolvem humilhação, xingamentos e diminuição
da autoestima.

Caso continue pensando em tirar a sua vida, independentemente do motivo que seja, saiba
que eu estive em seu lugar. Porém, as alianças que eu celebrei por conta das atrocidades
que estão aqui descritas, foram totalmente desfeitas e lançadas no mar do esquecimento de
Deus.

Por favor, não siga com o suicídio. Eu ainda tenho coisas mais incríveis para compartilhar
com você. Mas, peço gentil e humildemente para não fazê-lo. Espere só mais um pouco.
Estou pedindo constantemente forças a Deus para terminar de escrever as demais obras,
ainda que isso cause dor na minha alma e no meu corpo.

Sinto fortes dores em toda a palma da minha mão, pulso, braço, cotovelo, antebraço e
ombro direito. Mas, o pior de tudo acontece quando o gigante do desespero está sentado
diariamente bem ao lado da minha cama pronto para me dar “bom dia” assim que eu abro
os olhos, após uma noite de insônia.
182

Mas mesmo assim eu encontrei a cura! Ela bateu bem na porta quando eu menos esperava
e tenho certeza que o mesmo acontecerá com você. Só peço um pouco mais de tempo para
te dizer como isso aconteceu.

Ontem mesmo (13 de abril de 2023) eu quase fui ao pronto socorro de tão doente que eu
estava, o que me impossibilitou de concluir mais uma parte deste livro. Mas Deus me
reergueu e me trouxe forças para continuar a escrever. Portanto, peço por favor, que espere
só mais um pouco.

Em contrapartida, caso você tenha algum filho que esteja te dando muitas dores de cabeça
quanto ao seu mau comportamento, independentemente da causa que gerou esse tipo de
atitude da sua parte, posso dizer que apenas dar-lhe estudos, comida, roupa limpa e um
teto para morar, não são garantias que ele mude e que reconheça o quanto, você pai e
mãe, fazem por ele.

No meu caso, possivelmente a minha vida poderia ter tido um rumo diferente se meus pais
tivessem mantido comigo um diálogo diário e constante, a fim de me conhecer e saber as
causas que estavam provocando o meu comportamento agressivo e perverso.

Veja este exemplo: quando eu tinha nove anos de idade, eu estava cansada de usar o
mesmo guarda-roupas velho, com cupim e bastante deteriorado de porta quebrada que
vinha usando desde o meu nascimento. Como eu já estava apresentando os primeiros
sinais de rebeldia e perversidade, então certa vez eu disse para o meu pai:
— Preciso de um guarda-roupas novo. O meu está ruim e quebrado! — disse eu com um
certo grau de arrogância.
— Então trate de arrumar um emprego e comprar um com o seu próprio esforço. Só assim
você aprenderá a dar valor ao que tem. — respondeu o meu pai.
— E se continuar a reclamar, vou te dar uma surra! — endossou minha mãe.

Talvez a resposta dos meus pais nesse diálogo poderia ser um pouco diferente. Veja:
— Filha, por favor sente-se aqui do meu lado.

Após eu me sentar, o meu pai olha dentro dos meus olhos e diz:
— Sua mãe e eu estamos enfrentando dificuldades financeiras e por isso, no momento, não
temos condições de presentear-te com um guarda-roupas novo.
— Mas eu quero e exijo. Eu não pedi para nascer! — essa é uma frase curinga que eu tinha
o hábito de falar, ou melhor, humilhar, os meus pais.
183

— Sim, você tem toda a razão. Nós não merecemos você como filha. Afinal você foi um dos
maiores presentes que Deus nos deu. Nós te amamos muito mais do que você imagina. Eu
daria a minha vida por você.

Nessa hora, eu já teria me desarmado de qualquer novo argumento agressivo contra os


meus pais. Então meu pai continua a se expressar dizendo:
— É exatamente por conta disso que sua mãe e eu já estamos juntando algum dinheiro
para quando estivermos velhos, possamos morar num asilo e ter alguém que cuide de nós.
Afinal, nós não queremos te dar esse trabalho. Você poderia nos ajudar a comprar um
guarda-roupas novo para você?
— Como eu poderia ajudá-los? — eu perguntaria com um nó na garganta.
— Tirando boas notas na escola. Assim, sua mãe e eu podemos ter bons argumentos para
pedir à secretaria um desconto na mensalidade que por sinal é bem cara. O que você me
diz?
— Acho uma excelente ideia. Inclusive, eu poderia vender doces na escola que a mãe sabe
fazer? — eu responderia.
— É uma ótima sugestão. Podemos pensar. Agora, vamos orar e apresentar essa causa
aos pés do nosso Salvador Senhor Jesus Cristo?

Eu acenaria com a cabeça concordando. Em seguida, minha mãe chamaria minha irmã e
juntos, nós quatro, de mãos dados, faríamos um momento de oração e adoração ao nome
do Criador. Para finalizar, encerraríamos este momento maravilhoso em família com um
abraço e um lanche de alegria, união e paz.

Como você, pai e mãe, tem reagido às rebeldias dos seus filhos? Vocês costumam falar
mais alto que eles? Pior, batem boca com seus filhos como se vocês e eles tivessem a
mesma idade? Vocês, pais, costumam brigar na frente dos seus filhos?

Hoje, já madura o bastante, eu percebi que não vale a pena julgar as pessoas e muito
menos culpá-las por nossos erros. Tanto que depois que eu soube como foi a infância e a
juventude dos meus pais, passei a amá-los e não mais julgá-los mais.

Isso porque apesar de terem falhado em alguns pontos da minha educação e construção do
meu caráter, minha forma de enxergá-los mudou totalmente quando eu tive o conhecimento
de que meu pai ficou órfão de pai quando tinha seus 14 anos de idade e que havia perdido
uma das vistas ao levar um coice de um cavalo ainda quando criança.
184

Meu pai passou por diversos problemas de falta de sustento e vários tipos de privações.
Mesmo assim, ele nunca comeu o pão da preguiça. Pelo contrário, sempre lutou para que
minha mãe, minha irmã e eu tivéssemos alimentos sobre a mesa, roupa para vestir, boa
educação, teto sobre as nossas cabeças e um bom plano de saúde.

Já minha mãe, ainda luta para suportar os traumas do passando relacionado ao abuso
sexual que sofreu por parte do próprio pai que era pastor. Não suficiente, seus próprios
irmãos também abusaram sexualmente, não só a minha mãe, como a sua irmã mais nova.

O turbilhão de memórias pesadas e impossíveis de serem apagadas, fez com que a minha
mãe me confessasse que pensou várias vezes em tirar a própria vida ao se jogar do prédio
onde mora atualmente. Fora as tantas vezes que fala e repete que sempre se considerou —
e continua a fazê-lo — como uma péssima mãe.

Sem contar a palavra que minha mãe e minha tia resumiram o tipo de convívio familiar que
elas e seus irmãos tiveram dentro da casa dos seus pais em relação aos maus tratos que
sofreram, agressões por parte do meu falecido avô e abandono de sua mãe. A melhor
adjetivação que ambas denominaram o seu passado em família chama-se holocausto.

Essas conclusões são tão verdadeiras e sinceras que quando eu estava concluindo os
últimos ajustes deste livro, no dia 8 de maio de 2023 (segunda-feira), minha mãe me
confessou por telefone algo bastante difícil de narrar.
— “Meu pai, pastor, andava de cueca dentro de casa com seu saco escrotal e o pênis à
mostra e de propósito na frente de duas meninas virgens! Com 12 anos de idade, minha
mãe mandava eu deitar com o meu pai. Então ele me abraçava e acariciava os meus seios.
Não satisfeito, ele fazia o mesmo com a sua tia. Eu estou revoltada, porque enquanto o meu
irmão foi diagnosticado com ELA, sua avó está preocupada por estar com queda de cabelo
e unhas fracas. Ela é uma verdadeira narcisista!”.

Esta é a minha família da qual a minha genética foi formada. Agora você, pai e mãe,
entende a importância de verificar os acontecimentos do passado da criança e até mesmo
de um adulto? Mesmo assim, eu sigo confiante na palavra de Deus que diz:

[...] porém o nosso Deus converteu a maldição em bênção. (Neemias 13:2)

Ou seja, talvez a melhor frase que possa resumir este livro e ter-me feito desistir de seguir
com o suicídio, foi quando Deus me convenceu a parar de me lamentar pelas pedras que
185

havia nos meus sapatos furados e apertados a partir do momento quando eu conheci
alguém que não tinha os seus pés.

Duas semanas depois, novamente por telefone, eu conversei com a minha mãe e, o que eu
demorei mais de 17 anos para entender, finalmente eu encontrei respostas para tantos
questionamentos sobre mim mesma:
— Mas mãe, eu não entendo porque a cirurgia de histerectomia não foi impedida. — eu
disse.
— Minha filha, segundo o Dra A…, não havia órgão reprodutor em seu ventre, mas uma
espécie de “massa”. Seu caso foi tão cheio de interrogações que a junta médica
responsável pelo seu caso, cogitou veementemente de te levar à Campinas, São Paulo, a
fim de investigar mais a fundo o que se passava com você. Mas antes disso, levaram todos
os meus exames para outra junta médica da Universidade Federal do Espírito Santo.
Inclusive, o Dra A… disse que resolver o seu caso, seria uma questão de honra para ele.
Assim, finalmente após muito estudar a tua situação, chegaram à conclusão de que ao
invés de 30% de chances de desenvolver câncer, você, Jaqueline, evoluiu para 70%.
Consequentemente, viram que não seria mais necessário que você fosse levada para
Campinas, mas que permanecesse aqui em Vila Velha, mas que fosse operada o mais
breve possível.
— Eu não sabia de nada disso. — respondi em estado de choque.
— Minha filha, quando eu recebi a notícia de que você estava com 70% de desenvolver
câncer no aparelho reprodutor, eu estava na clínica do Dr A…, sendo que ao sair do
estacionamento eu acabei batendo com o carro. Involuntariamente eu emagreci
assustadoramente. Várias pessoas da igreja e da família constantemente perguntavam o
que estava acontecendo comigo, mas eu guardei silêncio e não falei nada sobre o que
estava se passando com você. Tudo para preservar a sua privacidade. — desabafou minha
mãe.
— Oh mãe, porque você não me contou nada? Eu sempre precisei saber essas
informações. — eu comentei.
— Filha, naquela época, segundo o aconselhamento médico e psicológico que eu recebi, o
paciente não podia saber de nada o que passava com o seu quadro, mas atualmente tudo
mudou. Hoje o paciente tem que saber absolutamente o que está se passando com ele.
Inclusive, quando eu recebi a informação de que seria necessário retirar o seu aparelho
reprodutor, eu estava cuidando da sua avó, minha mãe, lá no Bairro Nossa Senhora que
recentemente havia feito uma cirurgia de queda de bexiga. Lembra disso? — disse a mãe.
— Sim, lembro, foi em 2002. — respondi.
— Exatamente! — confirmou minha mãe.
186

— Mãe, que alívio em saber essas informações. Você não tem ideia o quanto isso me fez
bem. Eu realmente precisava saber de tudo isso. — desabafei.
— Minha filha, eu estou há vários anos pedindo a Deus o momento certo para te dizer tudo
isso. E esse é o momento. Você não sofreu toda essa situação. Eu sofri junto com você. —
disse minha mãe.

Um pouco antes de finalizar a ligação, minha mãe disse:


— Seus tios Stein disseram que você havia comentado sobre a sua histerectomia uns dois
anos atrás. Eles me ligaram aos prantos, pois você sabe filha o quanto eles amam crianças
e sentem muito pela sua situação de ser estéril. Inclusive eles me perguntaram por que eu
nunca havia comentado nada sobre esse assunto com eles. Eu respondi que eu queria
preservar a sua vida de mais sofrimento. — disse a minha mãe.
— Mãe, eu te agradeço pelas palavras. Eu te amo e sou muito grata a Deus por ter nascido
do teu ventre. — falei mesmo com um nó na garganta.
— Eu também te amo, minha filha. — disse a minha mãe.

Ter essa conversa com a minha, mesmo que por telefone, foi um verdadeiro remédio para a
minha alma. Sinto-me mais leve apesar de estar passando por vários problemas
financeiros. Inclusive, o pão que eu comi hoje no café da manhã, foi um que eu encontrei no
lixo da pensão onde eu moro.

Ele estava dentro de um saquinho de papel misturado com papel higiênico usado por uma
das minhas vizinhas de quarto. Mesmo assim, eu o comi com muita satisfação e gratidão a
Deus. Pois, eu tenho certeza que o meu cativeiro há de mudar.

Por fim, preciso esclarecer o motivo pelo qual eu abandonei o lesbianismo. Ser lésbica é
uma orientação sexual, ou seja, é uma parte fundamental da identidade de uma pessoa e,
portante, é algo que pode ser totalmente escolhido.

Porém, segunda à luz das Santas Escrituras de Deus, eu inegavelmente não nasci lésbica.
Eu nasci uma linda mulher, mas por conta dos abusos sexuais que sofri, eu por vontade
própria e convicta que eu recebia constantes influências satânicas, decidi seguir o
lesbianismo.

O simples fato de você está sentindo atração por pessoas do mesmo sexo, não significa
necessariamente você é homosexual. Se você está procurando explorar sua sexualidade e
187

identidade, a melhor alternativa não é começar encontrando comunidades e recursos


LGBTQ+ em sua região.

Eu, Jaqueline, ex-lésbica, te aconselho a olhar para os céus e com toda a sinceridade do
seu coração, e converse sobre o assunto com Deus. O nosso Criador, o Senhor
Todo-Poderoso, terá imenso prazer em parar tudo o que está fazendo apenas para te ouvir,
conforme está escrito em:

Eu te invoquei, ó Deus, pois me queres ouvir; inclina para mim os teus ouvidos, e
escuta as minhas palavras. (Salmos 17:6)

É importante ressaltar que a identidade sexual de uma pessoa é algo pessoal e privado e
ninguém deve ser forçado ou pressionado a revelar sua orientação sexual para outras
pessoas. A escolha é sua.

Ninguém pegou a Bíblia e disse para mim: “Tome vergonha na sua cara e siga os caminhos
de Jesus! Você vai parar no inferno!”. Na verdade, eu apenas tomei uma decisão. Eu
escolhi entregar a minha vida a Cristo e, naturalmente, o desejo de ser lésbica foi retirado
de mim.

Se você está se sentindo inseguro ou precisando de apoio, recomendo que procure uma
pessoa madura e íntima de Deus que possa ajudá-lo a expôr os seus sentimentos e
orientá-lo a como lidar com os desafios que possam surgir.

Afinal, religião e a sexualidade são aspectos importantes da identidade de uma pessoa que
podem coexistir de maneira harmoniosa e saudável. Se você está buscando conciliar esses
aspectos em sua vida, não deixe de procurar um conselheiro ou líder religioso que possa
auxiliá-lo a esclarecer essas questões de um modo que respeite sua identidade e valores
pessoais.
188

P.S.13

Mensagem final para os meus pais:

Pai e mãe, perdoem-me por expor não só a minha vida como a dos senhores. Eu
realmente cansei de varrer a sujeira por baixo do tapete. Precisamos resolver as
pendências do passado. Mesmo porque nossa família já está em reúnas, conforme
está escrito em:

O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as


confessa e deixa, alcançará misericórdia. (Provérbios 28:13)

Em nenhum momento da escrita deste livro o meu objetivo foi de denegrir a imagem
e nome dos senhores, mas sim expor o quão importante é o exemplo que os pais
deixam para os seus filhos.

Porém, o maior erro não reside nas falhas que os senhores cometeram, mas em
mim que sempre focava nos erros das pessoas a ponto de sempre julgá-las e não
lembrar do seu lado bom. Eu realmente fui uma pessoa muito ruim.

Quem sabe, assim, ao expormos nossas transgressões, Deus se compadeça de nós


e, consequentemente, alcancemos as suas misericórdias e, finalmente,
prosperemos? Afinal, eu já estou mesmo abaixo do fundo do poço.

Mas confesso que tenho encontrado lindas e incontáveis pedras preciosas


chamadas amadurecimento, autoconhecimento, aceitação, inteligência e o mais
importante, sabedoria.

Nenhuma delas eu ainda coloquei no meu alforje, mas já estão localizadas e


identificadas neste poço escuro e solitário onde eu encontro. Agora só falta eu
terminar de cavar, voltar à superfície e correr para o hospital para curar os
ferimentos, pois estou bastante machucada por conta do processo de escavação.

13
Iniciais que em latim de post-scriptum (“escrita depois”)
189

Não vejo a hora de compartilhar as preciosidades que encontrei. Elas são


verdadeiramente lindas e de valor incalculável! Doeu muito para encontrá-las, mas
cada esforço valeu a pena.

E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem
pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.
(Apocalipse 21:4)

Perdoe-me por não dizer-lhes que estou passando necessidades a ponto de ter que comer
do lixo desde dezembro de 2021, quando cheguei a São Paulo (SP). Eu realmente preciso
passar por isso.
190

Você guarda dentro de si vários padrões de impossibilidade.

Dirigir um carro exige inúmeras habilidades e você o faz quase que involuntariamente. Até
pouco tempo atrás, antes de você tirar a sua carteira de habilitação, isso era possível, mas
hoje não mais!

Nunca se pensou que poderia ser criado um cilindro fino e compacto do tamanho de um
palmo que comportasse uma bola e tinta dentro dele. Assim surgiu a caneta esferográfica.

Treine o seu corpo para acordar bem cedo todos os dias.

Treine a sua rotina para ler uma página das Escrituras Sagradas todos os dias.

Treine ser uma pessoa que seja capaz de perdoar.

De hoje em diante, treine sua alma de que ela pode viver um lindo e maravilhoso caminho
feito exclusivamente por Deus.

Você pode odiar o processo de treinamento, mas certamente vai amar o resultado.

Treinamento é a chave.

Aliás, treinamento é um novo nome dado à fé.

Lembre-se: o sofrimento não destrói a fé, mas a fortalece.

"Eles tentaram me enterrar, mas não sabiam que eu era uma semente."
(Autor desconhecido)
191

Continua.

+ 55 11 93343 9996
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jaquelinesilva.aquelaquesupera@gmail.com

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