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u | Pelo Major Pilav JOAO J. BRANDAO FERREIRA C Tem-se falado muito na evolucao da Sociedade civil e nos efeitos que esta tem na Sociedade militar. Sabe-se tam bem'que 0 25 de Abri Operou grandes modificagSes nas Forgas Armadas, ‘Algumas mudancas trouxeram dificl dades do relacionamento © questionaram Certos conceitos tidos como =dogma: Uma das afirmacoes que se ouve fre quentemente € a de que os mancebos foje em dia sao diferentes, que ja nao se pode trata-los como dantes, etc Efectivamente, ainda nao ha muitos anos alras era uso e costume fazer-se 3 coisas como determinadas, sem se ‘Querer saber porque. Quando tal acon- tecia, era normal ouvir-se, como res- posta, que era assim «poraue eu quero bu porque esta escritor @ pouco mals. Hoje em dia @ dado aceite que as pessoas trabalham melhor quando sabem © que fazem equal a sua importancia, ‘evendo, portanto, facultar-so-thes, sem= pre que possivel, tal informacao. E neste Emoto que nos propomos falar sobre a ontinencia, que ¢ das primeiras coisas Que se aprende quando se vem para a via militar, mas sobre a qual muito pouco Se diz. Fagamos entao um pouco de his- toria. Segundo um artigo publicado na revista GUION, pelo CAP. TOUCEDA FUNTENL, professor da Academia de Cavalaria Espanola, a continéncia teria surgido na sequéncia da historia que resumida- mente passamos a contar: ‘Certo dia uma jovem e beta rainha de Inglaterra fol passar revista a um Bata- hao. O comandante do Batalhao, com reosio de que alguns dos seus homens, ‘Que nao tinham ate ao momento rece- ido uma insirugao completa, pudessem ter uma alitude’ menos respeitosa para com a rainha, face a sua ostonteante beleza, mando publicar na ordem a Uni- dade uma directiva que mandava que cada militar levasse a sua mao direlta fos olhos, de modo a tapé-tos. E assim fectivamente aconteceu. A medida que @ soberana se aproximava de um sol- Gado, logo este, num movimento brusco, ‘mas decidido, lovantava 0 brago direlto e-com a mao tapava os olhos, impri- mindo a este acto um sentido exacto de disciplina com obediéncia perfeta das fordens publicadas. ’ inedita cerimonia resultou vistosa ‘, quando 0 comandante do Batalhao foi interpelado pelos seus superiores, exol- ‘cou que 0 gesto dos seus homens signi- ficava uma obediéncia cega por Sua Majestade, A estranha atitude foi intro- Suzida como norma no Batalhao, © dai Se espaihou por outros, passou fron- {eras © dagenerou, com'o tempo, num gosto identico, isto 6, levar @ mao a fronte. Esta versao nao @, no entanto, rigorosa~ mente historica, embora muitos a tenham consagrado. Existem, porém documentos ‘ue levam a crer que a continéncia tera Surgido dum simples acto de cortesia e respeito. 'Nalguns documentos Portugueses. do ‘Seculo XVI, nomeadamente no «MILICIA PRATICA E MANEJO DA INFANTARIA (1740) a -DISCURSOS SOBRE A DISCI- PLINA MILITAR» (1737), @. «0 CAPITAO DE INFANTARIA PORTUGUES» (1751) se pode ler, que o8 inferiores deveriam falar om 0 seu Superior, tendo 0 chapéu na mao o mesmo era valido para quando Se cruzassem na rua), querendo, com isto, significar o seu respelto e disponi- bilidade para fazer o que thes mandas- sem. A medida, porém, que os barretes se iam modificando, tornando-se mais pesados e difcels de manejar, como era, por exempio, os dos granadeiros, (0 estar farmado dificultava ainda mais @ opera- (940), {01-82 modificando o habito de reti- far 6 chapéu, pelo simples gesto de levar {mao direlta @ palatina do barrete. Este ‘gesto veio a generalizar-se com a intro- ‘ucao no plano de uniformes em 1806, de altas © emplumadas barretinas, 0 ‘que, de resto, ja tinha acontecido nou- tos paises da Europa, dando assim ori- ‘gem continéncia tal como @ conhece- mos hoje. Presentemente a continéncia usa-se, fundamentalmente, como: —Uma demonstracao exterior de dis ciplina, —Um cumprimento entre militares, ex primindo, simultaneamente, a dele- Fencia eo respeito que os menos Graduados tem pelos superiores, Como ultima reflexdo gostaria que reparassem como © scumprimento mili- tare difere da saudacao entre civis, Se ‘observarmos, dois ocidentais, arabes, indianos ou chineses, por exemplo, ape sar de todas as suas diferencas tém uma Goisa em comum: curvam-se um para o outro, tirando @ maloria das vezes os olhos'dos da pessoa que cumprimentam Velamos agora dois militares. cumprimen- tando-se:—a coluna fica direita, 0 queixo Tevantado, os olhas nos olhos, ja que 0 militar deve ser franco e leal, 0 seu espi- ‘ito aberto, nada tendo a esconder. =0 gosto 6 seco, enérgico e austero, ja que a indolencia é nociva @ con- digao militar. —No seu todo a contingncia nao deixa de ser um gesto elegante, cortés © erimonioso, como € proprio de um Cavalheiro, emprestando ainda um far marcial proprio da instituicao militar. A contingncia 6, pois, uma «praxis» militar que urge defender e preservar. ‘Assim todos 0 enlendamos

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