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_Cavinsio IX A INTERCOMUNHAO SOLIDARIA: DIMENSAO ECLESIAL DOS SACRAMENTOS © fato valorizado nos sacramentos sio 0s kairéi, 0s mo- smentos de afirmacio de vida & luz da meméria do Senhor. Sio, portanto, momentos decisivos da praxis libertadora no Senhor, reconbecidos como graca, a graga do seguimento de Jesus, aqui agora. A expressio signifcativa nos sacramentos € 0 gesto simbélico realizado em nome do Senhor. Ambos supSem e tém por base a incercomunhio solidéria da comunidade eclesial, ‘que € 0 Corpo do Senhor Ressuscitado. De fato, a praxis hist6- rica do seguimento s6 é reconhecida como graca a sercelebrada ‘em nome do Senhor pela comunidade eclesial. Fora da f€ da comunidade ndo é possivel valorizar os kairdi como momentos de graca, frutos da redencio operada em e por Cristo. Também (© gesto simbélico se torna significativo dos diversos kairéi por toda sua relagdo com a historia da salvacio manifesta em Cris to e referida a ele pela subestrutura narrativa subjacente 20s gestos sacramentais, Sendo assim, a intercomunhao solidéria da comunidade reunida em nome do Senhor é 0 ponto fulcral dos sacramentos.. Poderia ser comparada ao gonzo que articula a porta (seria a expressao significativa) eo batente (0 fato valorizado).E, pois, © elemento central e decisivo da festa. O acontecimento feste- jado € obviamente mais amplo que a festa, logicamente ante- 163 7 rior a ela. Para que se torne festa, é preciso uma comunidade {que o valorize. No caso dos sacramentos: uma comunidade que valori ruagao de Deus pelo Espirito do Ressuscitado. $6 na Igeeja € possivel dar-se essa valorizagio, A expressio signifcativa €, por si, ambigua: banhar-se pode significar muitas coisas na simbélica religiosa universal; 66 na comunidade crsta significa e recorda a participagao no mistério pascal de Cristo. Sem a Igreja, nao hé, portanto, saccamento. A intercomu- ‘nhio dos que professam visivel e solidariamente 2 fé no Se- hor Ressuscitado ¢ condicZo para haver sacramento. O tercei- +o elemento da festa, a intercomunhdo solidéria, exerce assim uma miltipla fun¢ao no conjunto da festa. Ela dé consisténci 05 dois elementos anteriores (no caso dos sacramentos: dé- -lhes consisténcia crist@). Ela medeia um ao outro ambos os clementos: € 2 mesma comunidade que dé tal valor a tais fatos ‘cexpressa esta valorizagao por tais gestos (no caso dos sacra ‘mentos: a dimensio cristica dos fatos e dos gestos). Por meio da comunidade que celebra, a festa € festa e € tal festa. Vale dizer ‘que a intercomunhao solidéria é o elemento formal da festa. O sacramento € sacramento, porque a Igrej2, comunidade dos que ‘creem no Senhor Ressuscitado, celebra 0 fato como agio € pre- senga de Deus em Cristo na historia humana por seu Es Como antropologicamente, sem comunidade no ha fes- ta, também teologicamente, sem Igreja ndo hé sacramento. Da ‘mesma forma vale o principio oposto: antropologicamente, sem. festa nao hé comunidade; teologicamente, sem sacramento no ha Igreja. A Igreja necessariamente deve celebrar sacramentos ‘como momentos de sua visiblidade de Corpo de Cristo e Povo de Deus. Eestes @ constroem como Igreja. Ambos os movimen- tos significam que a Igreja é sacramento-raiz 1.A lgreja faz 08 sacramentos Para haver festa (e, portanto, para festejar a préxis hist6ri- cca1no Senhor) nio basta valorizar um fato, acontecimento, nem 164 realizar um gesto simbélico qualquer. A valorizagio do fato € sua expressdo se d numa comunidade que se reine em inter comunhao solidaria. No caso dos sacramentos, a comunida: ue celebra € a Igreja, a “ek-klesia”, a astembleia convocada por parte de Deus. Ela valoriza o fato “no Senhor”, fazendo ‘meméria de Cristo. (ra, somente na Igreja, na comunhdo com os que nos pre cederain na f€ € com os que conosco aceitam a fé, € possivel a “meméria da paixdo ¢ da ressurreigio do Senhor”, porque a Ipteje nao é uma realidade extrinseca a0 mistério pascal de Cristo que se the acrescente posteriormente, quase como por acidente. Nao. A comunidade dos que creem no Ressuscitado & uma dimensdo intrinseca a ressusreigao de Jesus. Nao & sim- plesmente acess6rio& resurreigao de Jesus que haja Igreja. Sem Iereia, ndo ha ressurreigdo de Jesus, nfo tem sentido a ressurre- ‘Go, como vice-versa: sem a ressurceigio de Jesus nao ha Igrea. Ressuscitando a Jesus, o Pai dé origem A Igreja como Corpo do Ressuscitado, comunidade suscitada pelo Espirito, A ressurreigio veio confirmar, da parte de Deus, que 0 ca- minho de Jesus € 0 Gnico caminko para Deus, que a vida ¢ morte de Jesus revelam quem é Deus. A ressurreigio, portan- to, ndo importa s6 a Jesus que assim supera a morte. Importa igualmente a toda a humanidade, a que Deus desta forma ma- nifesta quem ele é 0 Deus dos pobres, e ndo © Deus do poder {celigioso ¢ politico) que condenou Jesus, considerando-o nio digno de viver. Ora, se ressurreigéo € autorrevelacio de Deus 4085 homens, se por ela Deus mostra quem ele é, de nada adian- tara Jesus ter ressurgido, se nenhuma pessoa humana tomasse conhecimento de sua ressurreigio. Suponhamos por absurdo que Jesus tivesse ressuscitado, ‘mas ninguém 0 tivesse encontrado nem crido nele. Nesse cas0, Deus nao se teria manifestado em Jesus, mas no Sinédrio e em Pilatos. Pois os judeus que condenaram Jesus & morte € 0 en- tregaram aos romanos diziam agir em nome de Deus. Conse- guindo acabar com Jesus que se pretendia Filho de Deus, estava fem questdo de que lado Deus estava: com 0 Sinédrio vitorioso 165 ‘ou com Jesus vencido, abandonado por Deus. Como ambos os lados se invocavam de Deus, a vitéria de um deles mostraria com quem Deus estava. Se ninguém ficasse sabendo da ressur reigio, Jesus teria ressusctado em vio, pois a conclusio l6gica dda historia de Jesus teria sido: € mais um idealista que morte ppor fanatismo. Ninguém hoje saberia nada de Jesus, a ndo ser algum pesquisador especializado em Oriente Proximo antigo. A ressureigdo de Jesus pertence, portanto, a existéncia de tes- temunhas ede quem aceite seu testemanho (ou sea: da comunidade de fé)e transmita esse testemunho as geragdes futuras," confor- ‘mando assim a “comunidade de narragao” da historia de Jesus. Se a constituigio da Igreja é momento intrinseco & ressur- riglo de Jesus, nto 6 na intercomunhao solidaria da Igreja é possivel fazer “meméria” de Jesus. Sacramento nao € coisa que se faca sozinho num canto, nem as pressas (quem festeja pode ter pressa). Sacramento quem faz éaIareia Agrejaé, portant, 0 sujeto atuante dos sacramentos. Mas seria superficial ver s6 a Igreja agindo, como mero aglomerado de pessoas. Por ela enela atua o proprio Senhor Ressuscitado, do {qual Igseja € 0 Corpo. Esse é 0 sentido mais profundo da afirma- «fo da presenca dinmica de Cristo nos sacramentos. Qualquet que seja a comunidade celebrante, qualquer que seja 0 ministro {que preside a comunidade na celebragao, é Cristo mesmo quem tua. Por isso 0 ministro pode ser indigno, nao viver 0 que 0s s2- ‘ramentos contém e anunciam ¢, no entanto,celebra-se verdadeiro sacramento. Pois © ministro no o preside como individuo, dotado ‘de méritos pessoas, mas como alguém com a funcio especiica de presidir a comunidade de £6. 0 ministro nfo atua por sua forca, ‘como tampouco a Igreja atua por propria forga, mas pela presen- «2 perene de Cristo que a cia e recria constantemente e assim a institui e com ela dé origem aos sacramentos (cf capitulo VI, 3). "Cr Rape, Kr Teabe, Yin hse —ytematck and exegefich. rob et, Wi Here? 1966, 38 Smee. Coe dem ain (200 Pui el seme et esr) ed Msi CR, 157,92 166 A presenca de Cristo na Igreja € obra do Espirito Santo (© Cristo ressuscitado € 0 Cristo vivificado pelo Espicito que ransmite 0 Espirito 2 seus discipulos. O dom do Espirito per- cence como momento interno a0 mistério pascal de Cristo. O Espirito suscita testemunhas, abre os olhos aos discipulos. Se hha uma comunidade de fé, resulta da agéo do Espirito Santo que desperta a fé. Nesse sentido a Igreja, Corpo do Ressusci= tado, € vivificada e animada pelo Espirito. Mais: ¢ sacramento do Espirito Santo, visibilizacdo do mesmo. Nela se manifesta 0 préprio da missio do Espirito: unir a pluralidade. sujeito dos sacramentos, aquele que os realiza é, pois, a Igceja, a comunidade toda em sua unidade ¢ pluralidade, onde cada um atua conforme a fungio que o Espirito Sanco the deu ‘Mas na Igeeja € por meio da Igreja é Cristo mesmo por seu Es- pirto que nos aproxima do Pai. Se a Igreja faz os sacramentos, eles se destinam aos que aderiram visivelmente a Cristo ¢ vivem assim sua fe, Excluem- -se, pois, do sacramento os que no queciram assumir 0 segui- mento de Jesus. Mas a exclusio dos sacramentos nao significa a exclusio da salvacio. Deus pode salvar e salva também os que do pertencem visivelmente a Igeeja. Dai pode nascer a divida sobre a necessidade dos sacramentos. Para que sacramentos, se a graca de Deus é mais ampla que sua visibilizacao eclesial? Jus- tamente essa questio permitird ver melhor a dimensio eclesial como caracteristica essencial dos sacramentos, Para dar conta da relaglo entre a salvagio dos que néo conhecem a Cristo ea dos que a ele aderiram na Igreja é preciso dlistinguir entre 0 processo da salvagio e a mediagao da salva- 402 O processo da salvacio € a hist6ria da salvacao univer- sal. Onde quer que alguém realize o bem, a justica, o amor, @ 5 an, Ka Helene Herz em: An, an: Xaver) ‘andar Parra BU ecb Bel Wie: Badr, 196 81 A ‘tesa eae poss «meio dasa € taal eng ene gars {oto mcrament = pac sneramonel A grace ¢ mae cine gu Son meta por ‘Sermon rosa de salapdo# mat ample que Si meio viel esi © ‘serumentl 167 fraternidade, enim os bens do Reino, esta Deus atuando sobre ‘com sua graca. Toda pessoa que aceita a salvacio que Deus assim lhe oferece, por meio de sua cor Ihantes, de sua cultura, de sua religiéo, ncia de seus seme- 5 dentro do processo da salvagdo, apropriou-re da salvagao ofeecda por Deus, quer essa pessoa conheca 2 Cristo, quer nio tenha jamais ouwido falar dele. Assim, toda praxis histéricalibercadora ~ mesmo no realizada explicamente “no Senhor” ~ ¢ frato da graa, presenca da salvagéo. E salvagéo como processoe em process, Nem por isso a Igreja ou os sacramentos se tornam supér- fuos. Estes so necessarios, tao necessérios como aquela. Para ‘quem considera a Igreja com olhos de f¢, no como mera orga- nizagio religiosa, mas como Corpo do Ressuscitado, dimensio intrinseca da propria ressurreicdo de Jesus, negar a necessidade dda Igreja para 2 salvacdo € negar a necessidade de Cristo e da revelacio de Deus. Pois s6 pela comunidade dos que creem no Ressuscitado, a vida e morte de Cristo revelam o Deus verda- deiro, A necessidade da Igreja, no entanto, nfo se situa no nivel do processo da salvacdo, mas no nivel da mediacdo da salva- lo. A mediacio da salvacdo designa a presenca da salvacio za dimensio histérica e palpivel da Igreja, no conhecimento € reconhecimento explicito de Cristo como Revelacio do Pai. ‘A mediagio da salvacio &, pois, mais restrita que 0 processo salvifico. O processo salvifco ¢, sim, mediado por Cristo, mas nem sempre as pessoas que nele estio envolvidas tomam co- nhecimento dessa mediacao ou a reconbecem. E, no entanto, cexplictar essa mediagao € 0 termo a que tende a salva¢ao como processo, pois o que se vive deve ser explicitado, exige ser expli- citado, para que se viva mais intensa e conscientemente, Os sacramentos so nevessérios como a celebragdo da Igreja, que, por sua vez, & necessiria, como Cristo é necessario a salvagdo. A necessidade salvifca dos sacramentos nao signi- fica que sem eles Deus nao se autocomunique ao ser humano fem graga, mas sim que os sacramentos so necessarios como celebragao explicta da gratuidade do dom de Deus em Cristo {que o Espirito faz presente em todo bem que qualquer pessoa 168 i faz. Os sete sacramentos o celebram na comunidade eclesial, Corpo vivo do Ressuscitada, mento funda A Igreja mental,’ porque todo sacramento, toda graca sacramental & ‘mediada pela Igreja. Nela se enraizam os sacramentes, pois $6 rela se podem valorizar os kairdi como manifestagao da graca de Deus atuando por Cristo no Espirito Santo na vida de cada pessoa. Nela se enraizam os sacramentos, porque s6 nela ¢s- ss kairdi como graga podem ser expressos signficativamente com gestos ¢ palavras do préprio Senhor. Enquanto sacramen- to-raiz, a Igreja constitu e faz os sacramentos. Dela brotam os sactamentos, como 0s ramos de um arbusto sio sustentados por sua raiz. Na mesma condico de sacramento-raiz a Igreje € feita pelos sacramentos, como a raiz necessita dos ramos para ter sentido e ser fonte de vida. 2..Os sacramentos fazem algreja A-expressio “sacramento-raiz” referda a Igreja ques tam- bém designar est segundo aspecto da relacio Igreja-sacramen- to. A raiz deixada na terra, sem tronco e sem ramos, perde seu sentido ¢ acaba apodrecendo. Se os ramos vivem da raiz, também é verdade que a raz vive dos ramos. Saccamento-aiz, a Tgreja precisa dos sacramentos que celebram a gratuidade do ser Igeia, para viver, para receber a cloroila da graca visibili- zada e como tal proclamada. Os sacramentos, portant, fazem a Ireja. O batismo © a confirmacio agrepam a Igseja. A peniténcia reconcilia 0 peca- dor com a Igieja. A ordem designa uma pessoa para o servigo dda comunidade ecesial. A ungio dos enfermos une o cristio "quando arent da teoogia rameat se eicobi j com acres, uoorse sexes (UabrementO,Semalth, Ka) Masta prt eva cots devia lees “tesco ea tanto dei come dpm Kae cis serps crt dare {Giniotromon) pa dsip Ig sel ofan sore 0 Cis. Prtrorment,R Schulte ptr otro “scrmemor par Sra © no ‘gid deo os samen 169 enfermo & Igreja por meio da intercessdo da comunidade. © ‘matrimOnio constitui homem e mulher em “eclesiola” domést 2, cria uma familia no seio da comunidade. A eucaristia torna visivel o que é ser Igreja: comunhdo fraterna em torno a0 Cristo presente ¢ a partir dele. Pelos sacramentos a Igreja se constréi ‘Ou melhor: € edificada por Cristo que atua nos sacramentos na forga do Espirito Santo. Novamente, no é possivel parar na Igreja, na comunidade ‘unida em intercomunhio solidi, se nfo se considera o misté- rio da Igreja até o fim como participago no mistério de Cristo, como Corpo do Senhor Ressuscitado, momento intrinseco da ressurreigio. A relagdo que os sacramentos estabelecem com a Igreja, criando-a e edificando-a, nio € seu sentido altimo. Os sacraments constroem a Igeja exatamente por serem agoes de Cristo, agdes cuja meta é sempre o relacionamento com 0 Se- thor no Espirito Santo. A relagio com a Igreja € de mediagios 0 ato terminal é a relagio com Gristo¢, por isso, os sacramentos fazem a Igreja, nao sao 86 feitos por ela. Descendo ao particular: — © batismofconfirmagio, introduzindo na Igrea, incorpora a Cristo; — a peniténcia, reconciliando com a Igreja, reconclia com Deus em Cristo; — aordem, dando uma fungao na Igeeja, assimila 6 ministeo 1 Cristo-cabega: — a ungo dos enfermos, fazendo o cristio enfermo unirse & Igreja,reconforta-o em Cristo; — 0 matriménio, constituindo dois em “eclesiola” domésti- «a, assimila-os a0 mistério da alianca de Deus com a hu- rmanidade em Cristo; — a eucaristia, tomando visivel a Igreja, une ao Cristo vivo, ressuscitado, dé a vida de Crist. o a A relagdo entre o efeito ecesial e o efeito cristco dos sa cramentos permite aprofundar o sentido ecesial dos sacramen- tos no contexto do todo da teologia sacramental Quando alguém se torna membro de um partido politico ou de uma associagao, ee assina um papel e recebe uma carte rinha. Papel, assinatura, carteira podem ser apreendidos pelos cinco sentidos. Mas a pessoa que age assim no tem em vista meramente receber mais um papel, Por essa formalidade ela se filia 20 partido ou a associacao. E também um dado da expe- rigncia. Mas nio redutivel & apreensio imediata pelos sentidos, E um dado da experiéncia social, inter-elacional, distinta da mera apreensio sensivel. O papel, a assinatura, a carteira indi ‘cam para além de si, para o fato social de esta pessoa ser mem- bo de tal partido ou associagio. Entretanto, tampouco aqui se atinge o nivel timo desse conjunto de fenémenos: a pessoa ‘us passar a participar do partido ou da associagio, porque ‘comunga com seus ideais, com suas metas ¢ fnalidades. O ser ‘membro do partido ou da associagaio mostra algo mais profun- do: a identificagao da pessoa com a agremiacio respectiva. Vale dizer: manifesta a identidade profunda, pessoal, e a0 mesmo tempo ajuda a edifics © exemplo permite descobrir diferentes niveis nesse fato a relagio maitua desses niveis. Ha uma série de significantes (papel, assinatura, carteira..) que expressam algo (um signi- ficado). O que eles expressam (o significado) € num primeiro ‘momento uma realidade também captivel pela experiéncia no vel da sociedade (a agregago a um partido ou a uma asso- ciagio). Mas ainda no é a realidade terminal. A pertenga 4 agremiagdo em pauta tem caréter de signficante com relagao & identidade pessoal que é 0 significado tltimo. m Bequematicamea siicame t papel, assinatura, carteira) liikado — spite t (peeng arming siieado (idensiicagdo com os objetvor ‘ds agremiagio) Devido a unidade intrinseca dos trés niveis, o esquema pode ser lido em duas diregdes: partindo do sensivel até chegar 4 identidade pessoal do sujeito (fecha 1); partindo desta até chegar Aquele (fecha 2}. No primeiro caso, temos uma leitura fenomenol6gica, uma interpretacio do significante: parte do imediatamente mais acessivel e progride até o menos acessivel, [No segundo caso, temos, por assim dizer, o processo ontol6gico de significagio, pois o significado € 0 decisivo, aquilo que diri- zg todo 0 movimento. O significado cria seu signiicente mais adequado, tende a se exprestar em significantes que manifestem sua realidade Esse esquema de niveis é conhecido pela teologia sacra: imental léssica na distinglo entre “res” ~ “reset sacramentumn” ~ “sacramentum tantum”, “Res” ou “res tantum” (lteralmen- te: a coisa, 96 a coisa, ou seja: 0 contetido) designa a graca, ‘mas considerada enquanto é tal graga e no enquanto trans- ‘itida por um sacramento. “Sacramentum tantum” é 0 mero sinal sacramental na sua exterioridade, na sua propriedade de ser apreendido pelos sentidos, creia-e ou nfo no seu conteido teolégico. Enquanto “res tantum” designa algo 96 invisivel e “sacramentum tantum” algo sO vsivel, “reset sacramencum” refere-se a0 aspecto do sacramento que, por um lado, participa TCE Anant, Mil Séilge et armen om Le Maon-Dien 4 (1973) 7.35, qu 32, m do carater visivel do “sacramentum”, mas, por outro lado, ja é em si presenga de graca Graficamente t t ee ee saceamentun” — signifendo — sigifcnte t set significado © que € significado e a0 mesmo tempo significante em todo sacramento ja é graca ¢, no entanto, participa da caracte- sistica de ser sinal. Tal & 0 nivel designado como “res et sacra- mentum”, No concreto da realidade sacramental seré preciso reconhecer que “res et sacramentum” é sempre, em todo sacra- mento, sua dimensio eclesial. De fato, a pertenga a Igreja par ‘icipa do caréter de significante por ser um dado da experiéncia interrelacional. A Igreja é visivel,agregarse a ea, relacionar-se com ela, também. Mas ao mesmo tempo associar-se & greja € pertencer @ comunidade escatolégica, a0 Povo de Deus, 20 Conpo de Cristo, ao Templo do Es simesmo cariter de salvacio. E significado. Mas, com relagdo a realidade e meta éltima da salvagdo, que € a unio com Deus, a pertenca & Igreja tem cardter de significante, porque ainda esté ‘no nivel da mediacio. Como significado-sgnificante, “es et sacramentam” € 0 feito logicamente primeiro do sacramento. Ou seja: 0 sacra- ‘mento produz ~ logicamente primeito ~ uma relagéo com a Igreja visivel. Esta significa e efetua o sentido dltimo do sacra- mento: a elagio com Deus. E 0 que foi determinado acima, quando 0 efeito eclesial dos sacramentos foi expeesso nua frase gerundiva: todo sacramento, relacionando a pessoa com a Igreja,relaciona-a com Deus. Identificando “res et sacramentum” como a dimensio cclesal dos sacramentos, compreende-se melhor a relacio en- 1 tre os trés elementos da festa. Eles so na realidade trésniveis, diversos mas integrados na totalidade do que € a celebrasio: expresso significative significance t — significado — significance t {aro valorizado - significado Jntercomunhio solidéia © primeiro e o terceiro niveis se relacionam por meio do segundo, Se nao se passa pela mediagao comunitéria, provoca- se um custo circuito e jé no hé celebracio. A comunidade faz a celebragio © circuito completo deve ser expresso assim nos sacra- Senhor Ressuscitado (“res”) cri por seu Espirito a co- munidade daqueles que testemunham a ressurreigio. Esta co- ‘munidade é 0 Corpo mesmo do Ressuscitado (“es ..”) como tal, évisivl, dé testemunho da ressurreigao do Senbor (*.. et sacramentum”). Incorporar-se a comunidade de fé se dé por determinados gestos (“sacramentum tantum”), cujo primeiro efeito, socialmente visivel, & a agregacdo & Igveja ("tes et sacta- mentum”) e assim ao mistério pascal de Cristo (“res”) A dimensio eclesial é, pois, o que distingue e caracteriza © sacramento, O Espirito Santo que atua 0 proceso salvifico universal, para além das Igrejas, das religides e das crengas, em soberana liberdade, € também quem pelos sacramentos anima (© Corpo de Cristo que é Igreja. O processo salvifico universal & afunilado na mediacdo salvifica da Igeeja. Os sacraments S40 ‘9 momento celebrativo dessa mediacio, pelos quais a propria Iagreja se atualiza, se aprofunda ¢ encontra sua identidade no nivel do afetivo e emocional, ou seja: sob a forma de festa. ‘Como toda festa, os sacramentos eriam e recriam a comu- nidade eclesial. Neles, em especial na eucaristia, o sacramento central, a Igreja encontra sta identidade: comunidade criada 174 pela presence do Senhor Ressuscitado que, na dferenciagio de suas fungées ¢ carismas, oferece ao Pai, unido a Cristo no Es- pirito Santo, o sacrificio de sua vida no seguimento de Jesus ‘Mas também em cada um dos outros sacramentos aparece a identidade da Igreja que vive ecresce pela conversio; que, santa « pecadora, sempre de novo precisa accitar a econciliagio ofe- recida pelo Pais que, a exemplo de Jesus, se volta aos enfermos ¢ fracos levandorlhes solidariedade e consolo; que manifesta 0 amor de Deus aos homens no amor conjugal; que se constitui na diferenca de fungSes dadas por Deus como graca Santa e pecedora, @Igreja nos sacramentos € confrontada ‘com a sua origem e o seu sentido, fazendo meméria do Senhor Ressuscitado, Nessa confrontagio, seu agir € questionado pelo Gristo presente e atuante que exige dela corresponda na vida a0 que celebra nos gestos. Ai ela enconta legitimagao para sua praxis histrica libertadora no Senhor: o exemplo ¢ a forga de Gristo atuante no sacramento renovam 0 animo para o segui- mento histbrico de Jesus ¢justficam a ousadia de pretender um relacionamento fraterno num mundo de édio e de construir © Reino no aqui e agora do pecado. Enfim, os sacramentos organizam a Igreja no plano da vie sibilidade como no plano espiritual. No primeiro caso, esto os sacramentos irrepetiveis; no segundo, os demais sacramentos, Para os primeiros € ébvia a afirmagio; para os segundos no € de imediato evidente. Mas as aticudes exigidas e criadas pelos ‘quatro sacramentos do segundo grupo sio principios funda- rmentais que dio espirito & estrutura da Igreja: a humilde ati- tude de constante conversio, 0 reconhecimento do pecado € 4 aceitagao do perdéo de Deus e dos irmaos; a acolhida ¢ 0 ‘amor preferencial 20 irmio enfermo, bem como a visiblizagio do vinculo entre 0 enfermo ¢ a comunidade eclesials 0 rec0- hecimento de que no amor mais profundamente humano, © amor conjugal, esté presente o sentido de todo amor: presenca 4do amor de Deus 2 humanidade;e principalmente 0 reconhe- cimento de que € na partlha, no dar a vida pelo outro, que ws 940 € toda autoridade. Tudo isso 0 de Jesus, se fundamenta toda org: reestrutura a Igreja no Es Se peniténcia, ungio dos ent tia manifestam 0 espirito a compenetrar toda e qualquer orga: nizagio eclesial, 0s trés outros sacramentos marcam a estrutura visivel da comunidade eclesal 3. Os sacramentosirrepetiveis: sacramentos constieuintes da lgrejavisivel (Os ts sacramentos irtepetiveis so também conhecidos ‘como saccamentos caracterizantes. A doutrina do cardter € um “teologiimenon” para explicar por que ndo se repetem esses tuds sacramentos.” A origem da doutrina do cardter esté em Agostinho, em sua luta contra o rebatismo dos que, batizados numa seita her tica, vam para o seio da Igreja catdica. Na discussio de Agost ‘nho com os rebatistas, ambos podem partir de um pressuposto comum: ninguém dé 0 que nao tem. Os hereges ndo podem dar o Espirito Santo, porque nao o tém. Surge entio a ques- to: Se o batismo dos hereges nao dé a vida do Espirito, por que a tradigio da Igreja nfo permite rebatizar? Para explicé-lo Agostinho recorre a metéfora do cardter, marca a ferro e fog feita nos soldados do Imperador. O “carater” (marca) era uma cexigéncia permanente a que 0 desertor voleasse a0 exército. AS- sim também o batismo nos marca com a exigéncia permanente de seguir a Cristo. Mesmo que o batismo dos hereges nao dé © Espirito Santo, ele dé o “cardter”, a exigéncia de pertenca a Cristo. © sentido de falar em “carder” era explicar por que determinados sacramentos nao eram repetiveis. ‘A Escoléstica assume a doutrina agostiniana ¢ trabalha ‘no contexto de sua sistematizagao. Os sacramento irrepetiveis, 5 ote care, of. Vasa, fxé R. Sacre don Epi extence humaine of thle cutn Pue:Bomcesne, 197 owen, bet ngs tp, (Rene Poa de Ltn (978) 1588S 176 dentro da explicagdo agostiniana, por um lado produzem certo efeito (0 carater), mas ndo seu efeito pleno. O caréter, por sua pela propria metafora que o sustém, possul a propriedade dd ser um sinal. Dat a qualificacdo de “ces et sacramentum’ dada ao cardter, Além disso, a metéfora, dentro do pensamento coisista da época, 86 pode ser entendida no sentido de que tais sactamen: os imprimem um sinal na alma. A propriedade dessa constr go nao € questionada. Nao ocorse perguntar, por exemplo, ‘como algo espiritual pode ser ainda chamado de sinal, Enfim, a mesma mentalidade coisista faz inverter o sentido dda metifora do cardter: de explicagao da irrepetibilidade dos tués sacramentos passa a fundamentar por que alguns sacra ‘mentos no podem ser repetidos. A relagio gnosiolégica entre inrepetibilidade e carater é perdida de vista e fica a relacio on~ tol6gica que, com base no cardter, afirma a icrepetibilidade.® Ao definir a questio contra os Reformadores, 0 Concilio de Trento descreve o cardter como “sinal espirieuale indelével” (DH 1609).” Tendo presente a reinterpretacio de “res et sa- cramentum” como a dimensio eclesial de todo sacramento," € ee tio & pe engi” egret de Trento sree einen {lear "ori a oder flrs De ft egies nce hse eologimenn em get, arin rec ir, it nesta: es came ‘opesonser-etond, oon car i peo" on) Ceo be “Teo cnt um standin om elo | pope om xp na “ne ener Cf Pe, et Wiing es scSg an caon oe! meen 1 Tine, em jig (171) 2-38 (oa 2931, A pred peerings Se insets ee os fru de dco se Conc qe ett is aa {ie ra crer ma snp da pads ov pre eee Sees ‘Peumen. CL vs Ant (Rem Plage de Lena 197) 1351. "FE Grane eo Copel Tet moo an ander (ga) sp eee” Nina sae © Consol (113) ous pr ue, ‘em oe e Toms de Ain. 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Na vida de cada um hi acontecimentos decisivos, fatos marcantes. Fatos que confor- ‘mam indelevelmente a personalidade, a hist6ria de quem o vi- vveu, Ele o carrega vivo por toda a vida, determinante para suas atitudes e decisées. Fatos que o deixam “marcado” perante a sociedade. Podem inclusive originar um apelido ou apodo que co zelembra pela vida afora TTais fatos constitem 0 novo termo de comparagio para compreender a irrepetibilidade de certos sacramentos € 0 c réter sacramental. HA sacramentos irrepetiveis, porque dio a0 sujeito uma fungio, uma posigéo determinada na constituigéo da Igreja, “Marcam” o sujeito para sua fungio na comunida- de. A “marca” ¢ invisivel, porque se df no nivel existencial ¢ intersubjetivo, No nivel existencial, porque sujeito pessoal- ‘mente (ow por meio dos pais e padrinhos, no batismo de crian- {¢88) aceitou assumir essa fungdo de membro ou de ministro, dda comunidade eclesial. No nivel intersubjetivo ou relacional, porque o fez diante de Deus e da comunidade, da Igreja ali presente na celebragdo sacramental. Uma realidade existencial ¢ relacional nao ¢ irreal ou menos real, como poderia parecer a uma mentalidade objetivista ou coisista. f tio real como a agio de Deus, a meméria do sujeito © a meméria historica da comunidade. E tio real como o proprio sujeito que num dado ‘momento foi determinantemente constituldo por esse fato. A pessoa que recebeu os sacramentos irrepetiveis esta numa tela go com 0s outros membros da Igreja que é especifica do sacra mento recebido. Essa relagdo “marca” a pessoa, ¢ “marca-a” no sentido de que 2 comunidade eclesial exige e espera dela uma determinada agao ¢ atirude. E um “sinal espirtual” 0 fato histérico, visivel, social de receber os sacramentos caracterizantes €, enquanto fato historico, irreversivel. © su- jeito pode arrepender-se de té-os recebido, pode voltar atrés fem suas atitudes, apostatar, mas ele sera sempre alguém que recebeu 0 sacramento em questo e, como tal, aquele fato 0 “marcou” indelevelmente, de maneira indestrutivel (“sinal es- piritual e indelével”). Mas isso acontece em qualquer fato hstrico, Nés carr szamos Sempre conosco tudo 0 que nos aconteces, ainda que seja nas profundezas do subconsciente edo inconsciente. A di ferengaesti‘em que o fato histrico de recebee wm sacramento irrepetivel é um compromisso assumido, Todo compromisso tem dimensio social, ¢ fente a outros, depende também dos ‘outros. Mesmo que alguém se desdiga do compromisso assumi- do com a Igrea num sacramento caracterzante, esse compro- misso continua a significa relagio com a lgrea est, em seu carter de realidade escatolégica, continuaré a exigir 0 exer cio daquela fungao. Os sacramentos caracterizantes so consti- tutivos da Igreja como comunidade (batismo e confirmagao) € como comunidade difereciada interamente por fungbes (or dem). Ora, como comunidade esatol6gica, Corpo do Ressis- citado, ela permanecerd para scmpre até ofim dos tempos. Por isso mesmo no pode abrir mio do compromisso daqueles que receberam um sacramento que Ihe € constiutvo © carter sacramental 6, pois, um selacionamento visivel « permanente com a Igreja. Ora, esta 6, no mais iatimo de seu ser, sacramento da graga. Por isso, 0 cardter nao exige s6 uma fungdo exterior, masa assimilagio pessoal diante de Deus des- sa fungio. De fato, uma Igrea, cujos membros nio vivessem no seguimento de Cristo, cabaria esboroando-se. Por iss, & 178 ; 479 promessa divina de indefectibilidade pertence a promessa de que sempre haverd batizados e crismados que vivam efetivamente no seguimento de Cristo. sto significa que a exigéncia propria a0 ccarater sacramental no é s6 externa, mas atinge toda a pessoa. Semelhantemente vale do sacramento (respectivamente, do carter) da ordem: Uma hierarquia que, em bloco, ado vives- se a f, nfo seguise a Cristo na vida, acabaria por destrui a Tereja, pois terminaria por alo ver mais sentido em presidir a tama comunidade reunida por uma Palavra em que ndo cré e visibilizada em sacramentos que considera vazios de sentido. Em consequéncia, deixaria de fazé-o. Ora, a Igreja€ constitu da pela Palavra e pelos sacramentos em vista do segulmento de (Cristo, Assim também o carster sacramental da ordem exige a vida toda do ministro, endo apenas o desempenho burocratico de determinadas fungées. ‘Como é proprio de “res et sacramentum”, o carter nfo tem sentido em si, mas naquilo que ele significa (ji que €simul- taneamente significado e signfcante). Vale dizer: o cardtersa- cramentaléessencialmente salufico, diz respeito & salvagio ou perdigio da pessoa na comunidade e por meio da comunidade © Espirito Santo, que pelo sacramento constitu osueito como ‘membro ou ministro da Igreja,€ 0 Espirito santificado, o fogo devorador que no quer apenas tostar aquele a quem atinge, ‘mas inflamé-lo totalmente. O cardter sacramental exige que se viva 6 acontecimento que nos “marcou”, Entretanto, mesmo que alguém receba um sacramento ca- sacterizante em contradiglo com sua vida, € membro/ministro da Igzejae assim, pela forca do sacramento, € provocado a que {aga sua vida corresponder a sua angio. Essa fungio ee possi, mesmo que a vida nio corresponda a ela: 0 membro pecador da Iereja nao precisa, a0 reconciliar-se, ser batizado ou crismado novamente; 0 ministco pecador nao precisa, 20 arrepender-se, ser reordenado. Mas o pecado no membro ou no ministo da Igrejaexté em contradigio com 0 cardter que recebeu e que leva pela vida afora. O cardter tem tendénciainerente a que se real- ze salvficamente, para a salvacio de quem recebeu o respectiv sacramento. Com o “ceologsimenon” carter expressa-se a exis ‘éncia de um pacto irrevogavel que se fundamenta na fidelidade do Deus vivo, na agéo de Deus pelo sacramento, mas que supe ‘eexige a resposta do homem. Nao por coacdo, ¢ sim por voca io e provocacio, é convidado a engajarse na propria obra de Gristo presente pelo Espirito Santo na Igreja. A Teja faz os sacramentos; os sacramentas fazem a Igre- ja. A reciprocidade dessa rlagio é o conteido da intercomu- hao solidaria nos sacramentos. Sempre que se interrompe 0 cireuito, deturpa-seo sacramento. A falta de intengéo de fazer © que a Igteja faz (ef. DH 1611) esvazia 0 sacramento, porque € a centativa de negar a primeira parte do principio. Querer fazer 0 sacramento fora da comunho com a Tgreja seria querer sex mediador de graga sem Cristo e fora de Cristo. Jé no ha sacramento. Mas também quando se fica s6 na primeira parte do principio, deturpa-se 0 sacramento. O sacramento que no constréi grea é, sim, sacramento (na terminologia tradicional ‘ecanénica: € valid), pois celebrado pela Tgreja. Mas nio chega 4 sua meta, nfo é frutuoso, porque alguém se isolou, se encap- sulou. A construsio da Igreja pelos sacramentos s6€ verdadeiea nna medida em que a efcécia sacramental transcende © momen- to da celebracio e se traduz em vida. Com isso se remete da cxlebragio & histéria. A aco histrica da Tgeeja na fdelidade 4 Cristo devolve ao sacramento sua atualidade e seu sentido Neste contexto, novamente se pode falar da Iereja como sacrartento. Ela & sacramento na globalidade de sua aruagio, ¢ ro $6 nos momentos de celebrar, como Cristo € sacramento do Pai ndo s6 quando opera milagres(“sinais”), mas por toda sua vida e obra (ef. capitulo VIL, 3). Os sete sacramentos tim de es- tar embutidos na totalidade da vida da Igreja-sacramento, cuja vocacio € ser em sua atuacio histérica transparente @ Crist. © que a Igeja vive ereaiza na histria,celebra eexalta como 11 a. & dom do Senhor por seu Espirito nos sete sacramentos. Por isso, 56 no conjunto da vida no seguimento de Jesus os sacramentos adquirem seu sentido. Eles visam a praxis e brotam da praxis, 182

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