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LIVRO I.

DAS NORMAS GERAIS – CÂNON 891


Fábio Severino Silva
Isac Antonio Pereira Parente
Kennedy Amorim de Melo
Marconni José Barbosa da Silva2

“Can. 89 – Parochus aliique presbyteri aut diaconi a lege universali et particular


dispensare non valent, nisi haec potestas ipsis expresse concessa siti.” (SANTA SÉ. Acta
Apostolicae Sedis, vol.LXXV, Pars IL, p.12. Cidade do Vaticano, 1983)
|
Trad.:
“Cân. 89 – O pároco e os demais presbíteros ou os diáconos não podem dispensar da lei
universal e particular, a não ser que esta potestade lhes tenha sido concedida
expressamente.”3 (EDICIONES UNIVERSIDAD DE NAVARRA, S.A. Código de
Derecho Canónico – Edición bilingue y anotada, 6ª edição, p. 119. Pamplona, 2001)

Introdução

Sobre a dispensa:

Designa etimologicamente qualquer prudente administração. Em


sentido estritamente jurídico, e referida à lei, é a relaxação da mesma
em um caso particular. [...] a dispensa suspende os efeitos da
obrigatoriedade da lei, num caso particular, e gera nós dispensados, uma
autêntico direito a uma ação como se a norma não estivesse vigente para
eles. Isto pode ser observado a partir do princípio fundamental de que a
lei é para a pessoa e não a pessoa para a lei. Não se pode omitir, que não
são dispensáveis as leis que determinam os elementos essenciais dos
institutos ou atos jurídicos, e sobretudo a não dispensabilidade da lei
positiva divina, o que nem ao Sumo Pontífice, em virtude do seu poder
Vigário é dado fazer.
A dispensa pode ser considerada:
- para o foro externo, o foro social e em face da Igreja;
- para o foro interno, perante a consciência e Deus, mas sem efeitos
jurídicos.
Ainda pode ser dada: de forma comissária ou graciosa.
É competente para dispensar:
Os que tem poder executivo, dentro de sua competência (c. 85);
- O Romano Pontífice;
- A Sé Apostólica;

1
Trabalho para obtenção parcial de nota na Disciplina de Normais Gerais, ministrada pelo Prof. Dr. Pe.
Valdir Manuel dos Santos. Unicap, 2023.
2
Alunos do Mestrado em Direito Canônico pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
3
Livre tradução do autor (Espanhol – Português).
- Os Ordinários Locais. (SALVADOR, Carlos Corral; EMBIL, José
Maria Urtega. DICIONÁRIO DE DIREITO CANÔNICO, pp. 282-285.
Loyola, SP, 1996)
Em suma,

Dispensas que podem conceder os demais presbíteros ou os diáconos


(c. 89) – Este ministros sagrados carecem por si mesmos da potestade
para dispensar das leis, ainda em casos urgentes, salvo que se lhes
conceda expressamente essa faculdade, quer seja pelo próprio Direito-
por exemplos, aos párocos, o c. 1196 §1 e o c. 1245, aos presbíteros e
diáconos, o c. 1079 §2 -, ou por uma delegação para um caso
determinado4. (BIBLIOTECA DE AUTORES CRISTIANOS,
BAC. Derecho Canónico I – El derecho del Pueblo de Dio, pp.
149-150. Madrid, 2006)

1. Fontes e natureza
- Código Pio Beneditino de 1917, cân. 83:
“Os párocos não podem dispensar nem da lei geral nem da particular, se esta potestade
não lhes tenha sido expressamente concedida.” 5 (BIBLIOTECA DE AUTORES
CRISTIANOS, BAC. Código de Derecho Canónico 1917 – texto latino y versión
castellana, p. 46. España, 1945)

A Dispensa se diferencia:
- Das causas desculpantes e insentoras, porque essas não exigem a
intervenção positiva do Superior nos casos singulares: enquanto na
dispensa a cessação da obrigação vem feita ab extrínseco, da
intervenção do Superior: nesta causa a cessação da obrigação, ao invés,
provem ab intriseco;
- Da licença ou autorização, porque essa permite fazer uma coisa
conforme a lei, enquanto a dispensa fere a lei;
- Do privilégio: a dispensa, por sua própria natureza, não é perpétua e
não constitui um direito subjetivo; o privilégio, pelo contrário, por sua
própria natureza é perpétuo e concede um direito subjetivo. 6
(D’OSTILIO FRANCESCO. Prontuário del Codice di Diritto
Canonico, Ed. Urbaniana University Press, p. 80. Roma, 2018)

2.1. Finalidade do cân.89 e sua hermenêutica no Código de 1983


A potestade de dispensar forma parte da potestade executiva de regime.
Portanto, a disposição do cânon poderia ser deduzida das normas
restantes sobre a dispensa, já que quem não tem uma autentica potestade
de governo na Igreja, não goza tão pouco da potestade de dispensar.
Entretanto, a razão de ser deste cânon está em aclarar que tão
pouco nos casos extremos – que são precisamente os que postulam
uma dispensa -, nos quais é difícil recorrer à autoridade
competente, podem os ministros sagrados dispensar das leis. (...) De
todos os modos, não se exclui de que aos sujeitos mencionados se lhes

4
Ibid.
5
Ibid.
6
Ibid.
conceda, expressamente, a potestade de dispensar7. [...] (EDICIONES
UNIVERSIDAD DE NAVARRA, S.A. Comentario exegético al
Código de Derecho Canónico, vol. 1 - 3ª edição, p. 692. Pamplona,
2010)

2.2. Finalidade do cân.89 e sua hermenêutica no Código de 1917


O Código anterior falava apenas de párocos, ainda que o atual tenha
acrescentado a menção aos demais presbíteros ou diáconos. No caso
dos párocos, poderiam surgir, com efeito, algumas dúvidas, já que lhes
corresponde a cura de almas – como pastor próprio, mas sob a
autoridade do bispo diocesano – sobre a comunidade de fieis que lhe
tem sido confiada (cc. 515 §1 e 519), mas é pacífico considerar que sua
função não é potestativa. De todas as formas, a razão pela qual o
legislador fez esta alusão aos párocos e aos demais presbíteros é
sempre a mesma, quer dizer, em atenção a possíveis casos urgentes
que pudessem apresentar-se, principalmente no momento da
administração dos sacramentos, embora no caso dos diáconos seja
muito menos previsível.8 (Ibdem)

Práxis do cân. 89 – o campo da sua utilização

[...] A faculdade de dispensar neste suposto é sempre por concessão. Tal


concessão pode provir do mesmo Direito ou por delegação e, tanto em
um caso como no outro, a potestade há de interpretar-se estritamente, a
teor do c. 92, pois se trata de uma potestade concedida para um caso
determinado. O mesmo CIC concede ao pároco, ao ministro sagrado
devidamente delegado e ao sacerdote ou diácono que assistem ao
matrimônio de que trata o c. 1116 §2, em perigo de morte e se não
é possível acudir ao Ordinário do lugar, a faculdade de dispensar
da forma do matrimônio e de todos os impedimentos de Direito
eclesiástico exceto do que surgiu da ordem sagrada do presbiterado
(c. 1079 §§1 e 2); o §3 do c. 1079 estabelece que em perigo de morte
o confessor goza da potestade de dispensar no foro interno os
impedimentos ocultos. O c. 1080 concede também aos ministros
sagrados antes mencionados a potestade de dispensar de alguns
impedimentos no chamado ‘caso delicado’. Além das faculdades
reconhecidas nos cc. 1196 e 1203, de dispensar de votos e
juramentos, o c. 1245 outorga ao pároco a potestade – que haverá
de exercer segundo as prescrições do Bispo diocesano – de
dispensar da obrigação de guardar um dia de festa ou de penitência.
Em virtude da equiparação ao pároco, tem também esta faculdade o
quase-pároco (c. 516), o sacerdote de que trata o c. 517 §2, o
administrador paroquial (c. 540 §1), e o capelão militar (SMC, VII).
Ademais, o mesmo c. 1245 concede idêntica faculdade ao Superior de
um instituto religioso ou de uma sociedade de vida apostólica, se são
clericais de direito pontifício, a respeito de seus próprio súditos e a
outros que vivem dia e noite na casa.9 (Ibdem, p. 693)

7
Ibid.
8
Ibid.
9
Ibid.
Ademais,

[...] Quanto aos ordinários, podem dispensar:


1. Em circunstâncias ordinárias: nos trâmites normais do Matrimônio e
em sua preparação de forma normal, podendo dispensar de todos os
impedimentos de direito Eclesiástico, exceto os reservados á Sé
Apostólica.
2. Em circunstâncias extraordinárias: são duas: em perigo de morte: em
todos os impedimentos de direito Eclesiástico, exceto o do Sacerdócio,
incluídos os Párocos, Sacerdotes e equiparados; em caso urgente ou
perplexo: quando o impedimento se descobre (no caso do Matrimônio),
quando tudo está preparado e este não pode ser adiado sem grave
perigo. [...] (SALVADOR, Carlos Corral; EMBIL, José Maria Urtega.
DICIONÁRIO DE DIREITO CANÔNICO, pp. 534-539. Loyola, SP,
1996)

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