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22-10-2014

Programa
A Geologia de Engenharia nos Túneis
e Obras Subterrâneas 1. Estudos geológicos e geotécnicos nas diferentes fases
do projecto ;
Susana Prada
2. Características geotécnicas dos maciços com
influência no planeamento e projecto de túneis;
3. Classificações Geomecânicas;
4. Zonamento Geotécnico e definição do tipo de
sustimento;
5. Cartografia geológica e geotécnica de túneis durante
a fase de construção
http://www.uma.pt/sprada/
Password: TOS

Bibliografia Geotecnia
Tem como objecto o estudo dos materiais
• L. González de Vallejo, M. Ferrer, L. Ortuño, C. Oteo geológicos da crosta terrestre
(2002) Ingenieria Geológica
• Costa Pereira, A.S., (1986) Noções de Geologia de =Mecânica dos Solos + Mecânica das Rochas
Engenharia – Obras Subterrâneas (aplicação dos princípios da mecânica e solução dos
• Rodrigues, C., Grov, E., Prada, S., (2002) Tunneling in problemas de estabilidade à custa de cálculos numéricos)
Volcanic Environment – Experiences from projects in
Madeira Island, Iceland and Faroe Islands.EUROCK2002 +
- International Symposium on Rock Engineering for Geologia de Engenharia (estudo das
Mountainous Regions. Publicações da Sociedade características geológicas que determinam os
Portuguesa de Geotecnia: 643-655. parâmetros numéricos e sua distribuição num maciço, o
zonamento geotécnico)

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A geologia de engenharia e os túneis A geologia de engenharia e os túneis

• Objectivo: Estudar as condições geológicas e 1. Na fase de planeamento: escolha do traçado face às


geotécnicas das formações interessadas de modo a características das formações geológicas
fornecer ao projectista os parâmetros geotécnicos interessadas;
que lhe permitam projectar um túnel seguro e nas 2. segue-se a elaboração do programa de prospecção e
melhores condições económicas. ensaios, o tratamento dos dados e fornecimento da
informação necessária ao projecto de acordo com as
• Metodologia: Os estudos geológicos e geotécnicos
condições do maciço; Zonamento geotécnico.
são programados por fases, utilizando métodos de
reconhecimento progressivamente mais sofisticados 3. na fase de obra: a cartografia geológica, indica as
e dispendiosos, acompanhando a execução do condições reais do maciço, que nem sempre são as
projecto; previstas, propondo alterações ao projecto.

Tipos de túneis e obras subterrâneas Metro de Lisboa

• Rodoviários
• Ferroviários
• Hidráulicos
• Galerias de captação de água
• Explorações mineiras
• Aproveitamentos hidroeléctricos
• Armazenamentos subterrâneos

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Túneis rodoviários Galeria da Fajã da Ama

Túneis hidráulicos dos Socorridos Galerias de captação de água e túneis produtivos na Madeira

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GALERIA DA FAJÃ DA AMA 100 l/s


TÚNEL DA LEVADA DO SEIXAL
200 l/s TÚNEL DO NORTE 80 l/s O Túnel de São Gotardo é um túnel ferroviário em construção na
Suíça (a junção Norte-Sul efectuou-se em 2010 depois de 4 anos de
escavação). Tem um comprimento de 57 km, ultrapassando o mais
longo túnel do mundo, o Túnel Seikan no Japão. Vai permitir
diminuir 1h no tempo actual da viagem entre Zurique (Suíça) e
Milão (Itália), 3h30m. O fim das obras está previsto para 2017.
GALERIA DAS FONTES
VERMELHAS 70 l/s

GALERIA DO
RABAÇAL 60 l/s

GALERIA DAS RABAÇAS


100 l/s
TÚNEL 4 DOS TORNOS 300 l/s GALERIA DO PORTO NOVO 90 l/s

Nomenclatura da secção tipo de um túnel Tarefas de geologia de engenharia em cada uma


das fases de um empreendimento
• Hasteais
Fase do Estudo Ante Projecto Construção Funcionamento
• Abóbada projecto Prévio Projecto

• Soleira Acompanhamento
Colaboração na
Estudos Campanha Campanha interpretação das
• Diâmetro (H e L) Geológicos Reconhe- preliminar complementar
da obra e
cartografia
medições com
e cimento de de prospecção equipamentos de
geológica, no caso
• Sobreescavação Geotécnicos prospecção e ensaios
de túneis
observação do
comportamento
• Recobrimento
(pequeno < 2,5 diâmetro) 1. Estudo Prévio ou Planeamento: RELATÓRIO PRELIMINAR
2. Anteprojecto: ZONAMENTO GEOTÉCNICO
• Emboquilhamento 3. Projecto ou projecto de execução: Pormenorização do Zonamento GEOT.
4. Construção: RELATÓRIO GEOLÓGICO/GEOTÉCNICO FINAL
5. Funcionamento ou Observação

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Metodologia dos estudos geológicos e geotécnicos para túneis

Fases e objectivos Tarefas Conteúdos Inventário de Túneis


ESTUDO PRÉVIO - Topografia, 1:25 000
- Carta geológica, 1:50 000 e notícia
Recolha de informação explicativa
• Tem por objectivo conhecer o comportamento dos
• Reconhecimento existente - Sismicidade túneis da região, escavados em materiais similares às
geológico geral do traçado - Relatórios de Túneis próximos
- Hidrologia e hidrogeologia do túnel em causa
• Identificação de riscos
• Pode advertir sobre problemas existentes e transmitir
geológicos para a Interpretação de - Fotografias a cores ou a preto e experiências
escavação do túnel fotografia aérea branco, escalas 1:10 000 e 1:15 000
• Dados a consultar: corte geológico, estrutura, nível
• Classificação geológico- - Geomorfologia e estabilidade de
geotécnica básica dos Reconhecimentos vertentes
freático, classificação geomecânica
geológicos de superfície - Litologias
materiais
- Falhas e estruturas tectónicas
• A informação está sujeita à acessibilidade e
- Dados hidrogeológicos disponibilidade dos dados
• Análise de alternativas
de traçados, face às Interpretação
características geológicas - elaboração de um corte geológico
geológico-geotécnica
interpretativo pelo eixo do túnel
preliminar

Corte geológico
• Escalas de estudos prévios 1:10 000 a 1:25 000
• O corte geológico pelo eixo do túnel é o principal
documento geológico
• Técnica relativamente económica, mas sujeita a
incertezas em função da complexidade geológica e
dos dados disponíveis

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Carta Geológica da Madeira, 2010


Túnel da Encumeada

Depósitos Sedimentos Recentes


Complexo Vulcânico Inferior:
Unidade dos Lameiros
Unidade do Porto da Cruz
Complexo Vulcânico Superior
Unidade do Funchal
Unidade dos Lombos

Complexo Vulcânico Intermédio


Unidade do Curral
Unidade da Penha d´Águia
Unidade da Encumeada

Complexo Vulcânico Inferior


Unidade dos Lameiros
Porto da Cruz

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Unidade dos Lameiros ≈ 7 Ma


Unidade do Porto da Cruz: aflora apenas no sítio dos Lameiros
Aflora no Porto da Cruz e em S. Vicente
Os seus materiais, escoadas submarinas, piroclastos, e
sedimentos, encontram-se bastante alterados – argilificados – com
comportamento geotécnico de solos

Complexo Vulcânico Intermédio (≈ 5,6Ma a 1,8Ma):


CVM3 Unidade do Curral Sedimentos grosseiros intercalados resultantes de episódios de
CVM2 Unidade da Penha d´Águia pluviosidade muito intensa: depósitos de enxurrada
CVM1 Unidade da Encumeada

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Complexo Vulcânico Intermédio:


Formações vulcânicas sucessivamente menos alteradas e menos Ponta da São Lourenço: actividade tectónica e
atravessadas por filões sísmica, falhas normais (tensões distensivas)

Complexo Vulcânico Superior (≈ 1,8Ma a 7000 anos): Complexo Vulcânico Superior:


Unidade do Funchal Morfologias conservadas e produtos vulcânicos em geral pouco
Unidade dos Lombos alterados

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Chão das Poças: dois arcos de cratera juntos


180 000 anos

Escoada originada numa das crateras do


Chão das Poças – contém tubos de lava
no interior, as grutas de S. Vicente

Sedimentos conglomeráticos contemporâneos do Fajã lávica do Seixal: resultou de uma erupção vulcânica no interior de
um vale com a foz suspensa
complexo vulcânico superior: Caniçal

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Lagoa do Santo da Serra: cratera de um vulcão recente GRUTAS DO CAVALUM

Comprimento total: 110m


Altura entrada: 3m
Altura máxima: 8m
Altura mínima: 0,6m

Depósitos freato ou hidromagmáticos: resultam de erupções


vulcânicas na presença de água (subterrânea ou do mar)

Fonte submarina

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ÚLTIMA ERUPÇÃO: há 6-7000 anos


Depósitos recentes não vulcânicos
dv, dm, a, cap, la
Cobertura piroclástica (cinzas vulcânicas) no Paul da Serra

Actualmente… 2º A existência de gases vulcânicos (CO2) expelidos


através de uma fractura, na galeria da Fajã da Ama
1º A ocorrência de águas termais e gasocarbónicas

30

25
Temperatura (ºC)

20

15

10
y = -0,0056x + 17,218
5 2
R = 0,73

0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
Cota (m)

3º O facto de a última erupção ter sido há 7000 anos


(a placa move-se a 1.2 cm/ano X 7000 anos = 84 m de
deslocação sobre a pluma)

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Leva-nos a considerar… Os meios insulares vulcânicos são


heterogéneos e anisótropos
• A ilha da Madeira é um sistema vulcânico potencialmente
activo!
• Apesar de reduzida, a probabilidade de uma nova erupção
acontecer, não é nula!
• Estamos a atravessar mais um período de inactividade
vulcânica…

Alteração de uma
escoada basáltica (tempo
e condições climáticas)

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Metodologia dos estudos geológicos e geotécnicos para túneis


Métodos de prospecção geotécnica utilizados na
Fases e objectivos Tarefas Conteúdos abertura de túneis
ANTE-PROJECTO E - Litoestratigrafia A densidade de prospecção depende da complexidade geológica
PROJECTO Cartografia - Estrutura
geológica-geotécnica - Estações geomecânicas
e é condicionada fortemente pelo recobrimento: Canal da
• Selecção do traçado e - Geomorfologia Mancha, Madeira
emboquilhamentos - Mapas à escala 1:500 a 1:2 000
Dados hidrológicos e - Regionais e locais • Prospecção geofísica: métodos sísmicos, métodos
• Estudo geológico-
geotécnico detalhado
hidrogeológicos - Estimativa de caudais e pressões eléctricos
- Métodos geofísicos
• Prospecção mecânica: sondagens, valas ou trincheiras,
• Avaliação dos problemas
geológico-geotécnicos e sua Prospecção - Sondagens poços e galerias
incidência na escavação geotécnica - Valas, poços e galerias
- Ensaios de laboratório • Ensaios in situ: de deformabilidade, de permeabilidade e
• Características - Ensaios in situ de resistência
geomecânicas dos materiais - Zonamento geotécnico • Ensaios em laboratório: Compressão uniaxial, triaxiais,
Interpretação - Classificações geomecânicas
• Recomendações para a geológica-geotécnica - Recomendações para a escavação resistência à tracção, desgaste em meio húmido (slake
escavação, suporte e e dimensionamento do suporte
tratamentos do terreno
durability test, indica a vulnerabilidade da rocha à erosão)

Prospecção geofísica Prospecção geofísica


• Necessita comparação de resultados com outros dados • Sísmica de refracção: contacto rocha sã/meteorizada,
de campo (sondagens, ensaios) e requerem uma ripabilidade, grau de fracturação
adequada interpretação geológica • Sísmica de reflexão: permite estudar a estrutura
• Métodos eléctricos: estudam a resposta do terreno à geológica em profundidade, falhas, dobras, contactos,
propagação de correntes eléctricas. Detecção de tem elevados custos
fracturas, aquíferos e contactos litológicos

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Prospecção mecânica Prospecção mecânica

• Valas, sanjas ou trincheiras: permite a observação • Sondagens: à rotação com coroa de tungsténio ou
local das formações e colheita de amostras. Não diamante. Permitem recolher amostragem
ultrapassam 2m de profundidade, sendo utilizados em
zonas de pequeno recobrimento e próximo dos
emboquilhamentos
• Poços e galerias: utilizados nas zonas de
emboquilhamento permitem o acesso directo ao
maciço, recolha de amostragem e a execução de
ensaios in situ. São utilizados em túneis de grande
comprimento e/ou complexidade. Grande custo e
demora

Sondagens LOCALIZAÇÃO: Emboquilhamentos, zonas


• Investigar problemas geológico/estruturais, zonas geologicamente complexas, e sistematicamente ao
longo do eixo do túnel
complexas ou mal conhecidas
QUANTIDADE: é função da complexidade, espessura de
• Obter dados de fracturação do maciço, cálculo do RQD recobrimentos, acessos, custos, etc. Como orientação:
e recolher registos
• 1 sondagem cada 50 a 100m de traçado em zonas
• Descrição pormenorizada do registo da sondagem geologicamente complexas ou de litologia variável
• Obter amostras para ensaios • 1 sondagem cada 100 a 200m em zonas mais
• Efectuar medições hidrogeológicas e ensaios uniformes
geotécnicos no seu interior • Nas zonas de emboquilhamento, mínimo de 2
• Custos altos, procedimento lento e os acessos podem sondagens
ser uma condicionante importante

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RQD: Indica a qualidade do maciço rochoso (grau de Ensaios in situ


alteração e fracturação)
• Permeabilidade em maciços rochosos
• Ensaio de Lugeon: realizado no interior de sondagens,
• É obtido a partir dos testemunhos de sondagens
a partir da injecção de água, radialmente, sob pressão
• Baseia-se na percentagem de recuperação de tarolos (mede-se o volume de água injectado àquela
com comprimento superior a 10 cm: somatório dos
tarolos / comprimento total furado numa manobra x pressão). Permite conhecer a condutividade hidráulica
100 do maciço.

Unidade: 1 Lugeon 1 Lugeon


Absorção de 1 Corresponde a um
L/min/metro de furo, valor de K entre 1x10-5
durante 10 min, com e 2x10-5 cm/s
a pressão de injecção Considera-se um
de água de 1 MPa maciço impermeável
quando K ≤ 1 Lugeon

Ensaios in situ Ensaios in situ


• Deformabilidade
• Resistência • Placa de carga (no interior de galerias em rocha,
• Martelo de Schmidt (permite calcular a resistência à medem-se os deslocamentos resultantes da aplicação
compressão simples da rocha, σc) de cargas conhecidas)
• Índice de carga pontual (Point Load Test), também para
determinar a resistência à compressão simples (σc= 23.
Is) de fragmentos de rocha

• Ensaio dilatométrico (dentro de sondagens, obtém-se


curvas tensão/deslocamento

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Factores com influência nas condições de


Características geotécnicas dos maciços estabilidade do túnel
com incidência no projecto de túneis
1. Geologia (litologia, grau de alteração, estrutura
geológica)
2. Descontinuidades do maciço rochoso
3. Condições hidrogeológicas
4. Características mecânicas do material rocha
5. Características mecânicas do maciço rochoso

1. GEOLOGIA Influência da litologia e do estado de alteração


do maciço na estabilidade do túnel
• A história geológica do maciço é o primeiro dado a obter
• A consulta dos elementos de carácter geológico e • A descrição das diversas unidades litológicas a
geotécnico existentes sobre a zona, seguido de um atravessar é importante na elaboração do projecto,
reconhecimento geológico de superfície levam à uma vez que dão indicações sobre as suas
elaboração de um corte geológico do traçado do túnel. características mecânicas;
• Dado que são elementos recolhidos à superfície e • Indicam a capacidade das rochas para se manterem
extrapolados para a profundidade, são susceptíveis de autoportantes;
conter imprecisões.
• Ajudam na avaliação do comportamento do maciço a
ser escavado, velocidade de avanço e custo da
escavação.

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Influência da litologia e grau de alteração do Relação entre o preço de escavação e o tipo


maciço nas velocidades de avanço litológico para um mesmo avanço e uma mesma
secção

Influência da estrutura geológica do maciço na


estabilidade do túnel

3. Desfavorável quer pela presença de água frequente,


concentrações de tensões no suporte e
1. Boa capacidade autoportante, salvo quando na sobreescavações no tecto.
abóbada ocorrem formações pouco resistentes 4. Desfavorável, principalmente se as camadas
que podem originar sobreescavações. inclinam para a boca do túnel (< 45°), e se houver
2. Favorável, desenvolvendo-se sobre o suporte uma alternância com estratos pouco resistentes e pela
tensão uniforme. O suporte depende da afluência de água ao túnel através de estratos
espessura dos estratos. Podem surgir nascentes permeáveis.

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7. Túnel instalado numa dobra com eixo paralelo ao


5. Situação análoga ao caso 3 mas mais desfavorável,
pela concentração de tensões num dos lados do eixo do túnel: são situações pouco frequentes e a
suporte, sobreescavações e afluência de água ao evitar. As dobras são zonas com concentrações de
túnel, assimétricas. tensões residuais e intensa fracturação associadas,
6. Situação complexa, gera-se sobre o suporte uma em geral, a caudais importantes.
distribuição tridimensional das tensões e uma
sobreescavação muito irregular. Do ponto de vista
hidrogeológico, há ocorrência de água assimétrica

2. DESCONTINUIDADES DOS MACIÇOS Em termos práticos uma descontinuidade é:


• As descontinuidades condicionam fortemente as • Qualquer entidade geológica que interrompe a
propriedades geotécnicas dos maciços rochosos e continuidade física de um dado maciço rochoso, que
terrosos rijos, conferindo-lhes um comportamento, em compartimenta o maciço rochoso;
termos de, deformabilidade, resistência ao corte e • Uma superfície natural em que a resistência é nula ou
permeabilidade substancialmente diferente do material muito baixa;
rocha que constitui esses maciços.

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Tipos de descontinuidades
A maioria dos problemas de estabilidade devem-se à intersecção
dos túneis com planos de descontinuidade

Falhas (são fracturas com movimento)

Diaclases (são fracturas sem movimento)


Túnel intersecta uma falha: Falhas activas devem ser
Planos de estratificação e contactos evitadas. A situação mais desfavorável é a falha
entre diferentes formações paralela ao eixo do túnel, pois este sofre a influência da
falha ao longo de grandes extensões.
Planos de xistosidade (nas rochas
metamórficas) Problemas: vias preferenciais para circulação de água e
ascensão de gases vulcânicos; abertura da caixa de falha
e natureza dos preenchimentos (argilas expansivas,
sedimentos finos saturados escorrem para o túnel, etc.)

Galeria da Fajã da Ama: CO2 na caixa de falha


Túnel do Norte: caudal de 80l/s na falha

Apesar de não intersectar a falha a sua presença na


proximidade pode influenciar a obra.
Falha abaixo do túnel é menos problemática.
Falha próxima da abóbada pode haver infiltração de
caudais importantes, concentração de tensões sobre o
suporte e sobreescavações.

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Métodos de Estudo das Descontinuidades 1. Atitude dos planos de descontinuidade


Sociedade Internacional de Mecânica das Rochas IRSM (1978) Define-se pela Direcção, medida em relação ao Norte,
de uma linha de nível do plano da descontinuidade, e
pela Inclinação, medida em relação à horizontal, da
1. Atitude ou orientação
linha de maior declive.
2. Espaçamento
3. Continuidade
4. Rugosidade
5. Abertura
6. Enchimento

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2. Espaçamento Espaçamento entre fracturas

Intervalo entre
Símbolos Designação
fracturas (cm)
F1 > 200 muito afastadas
• Distância média, medida na perpendicular, entre duas
descontinuidades consecutivas da mesma família. F2 60-200 afastadas
Define o tamanho dos blocos intactos do material-
F3 20-60 medianamente afastadas
rocha que constitui o maciço.
• Tem influência na resistência, na deformabilidade e na F4 6-20 próximas
permeabilidade do maciço. Um espaçamento pequeno
traduz-se por uma perda de “coesão” do maciço F5 <6 muito próximas
rochoso.

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3. Continuidade 4. Rugosidade
• A superfície das paredes das descontinuidades
• Define-se como a extensão ou comprimento do plano
apresentam, em geral, irregularidades: ondulações e
da descontinuidade
asperidades.
• Pode ser difícil de quantificar uma vez que pode ser
• A rugosidade é um factor com especial incidência na
maior do que o afloramento
resistência ao escorregamento de uma
Descrição da continuidade (ISRM, 1981): descontinuidade, especialmente se estas não estiverem
Continuidade Comprimento (m) preenchidas. A sua importância como factor favorável à
Muito pouco contínua <1 resistência diminui com o aumento da abertura e da
Pouco contínua 1–3 espessura do enchimento.
Medianamente contínua 3 – 10
• A resistência ao corte de uma descontinuidade pode ser
Contínua 10 – 20
determinada através de ensaios in situ e laboratoriais.
Muito contínua > 20

5. Abertura
• Define-se como a distância que separa as paredes da
descontinuidade. Pode ser medida com uma régua
• A abertura da descontinuidade tem grande influência
na permeabilidade, na deformabilidade e na resistência
ao corte dos maciços rochosos.
Designação Abertura (mm)
Muito fechadas < 0,1
Fechadas Fechadas 0,1 – 0,25
Parcialmente abertas 0,25 – 0,5
Abertas 0,5 – 2,5
Entreabertas
Largas 2,5 – 10
Muito largas 10 - 100
Abertas Extremamente largas 100 - 1000
Cavernosas > 1000

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6. Enchimento
3. CONDIÇÕES HIDROGEOLÓGICAS
• É o material que preenche o espaço entre as paredes
da descontinuidade: calcite, quartzo, argila, brechas A escavação de um túnel produz o efeito de um
de falha, etc. grande dreno através do qual a água flui dos
• O tipo de enchimento condiciona todos os parâmetros aquíferos interceptados, com as seguintes
geotécnicos do maciço: uma argila de elevada consequências:
deformabilidade, baixa resistência ao corte e 1. Diminuição da resistência do maciço
praticamente impermeável, terá um comportamento 2. Aumento das pressões sobre o revestimento
diferente de um preenchimento de quartzo ou sem
preenchimento. 3. Expansibilidade das argilas com aumento das
tensões sobre os suportes
• As caixas de falha podem funcionar como condutas
para ascensão de gases vulcânicos ou para circulação 4. Problemas de avanço da escavação
de água.

Estudos hidrogeológicos para túneis Principais parâmetros considerados nas


classificações geomecânicas
• Balanço hídrico da zona incluindo inventário de
nascentes e furos; Caudal (l/min)
• Níveis piezométricos e variações sazonais; por 10m de túnel Insignificante < 10 10 a 25 25 a 125 > 125
• Determinação dos parâmetros hidráulicos dos
aquíferos e estimativa dos caudais previstos; Condições Seco Húmido
Algumas Frequentes Abundantes
infiltrações infiltrações infiltrações
• Avaliação do impacto do túnel nos caudais das
nascentes e captações próximas.

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4. CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS DO MATERIAL Resistência do material rocha


ROCHA • A resistência à compressão simples (σc ) pode, também, ser
As características de resistência do maciço rochoso são estimada a partir do ensaio de carga pontual, PLT, onde se
essencialmente dependentes das descontinuidades, no determina o Índice de Resistência à carga pontual, Is, (σc = 23 Is)
entanto, a resistência do material rocha tem influência
no método de escavação, principalmente nas rochas de
baixa resistência

• Resistência: a determinação da resistência à


compressão uniaxial, σc , é feita no laboratório, a partir • A partir da determinação da dureza, com o martelo de Schmidt,
do ensaio de compressão uniaxial ou de compressão e a densidade da rocha, chega-se através do gráfico de Miller, à
simples, em que as tensões aplicadas ao cilindro de resistência à compressão simples (σc )
rocha são: σ1 ≠ 0, σ2 = 0 e σ3 = 0

5. CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS DO MACIÇO a) Resistência e Deformabilidade


ROCHOSO • Dependem essencialmente da litologia e dos estados de
alteração e de fracturação do maciço rochoso.
a) Resistência ao corte e deformabilidade: • Os ensaios in situ são demorados e muito dispendiosos,
determinação complexa devido à heterogeneidade levantando-se dúvidas sobre a representatividade dos
resultados, devido às dimensões dos volumes ensaiados.
e anisotropia dos maciços rochosos.
• A deformabilidade do maciço rochoso pode ser determinada, in
b) Estado de tensão situ, através de ensaios com o dilatómetro (BHD) ou com as
• Tensões naturais, iniciais, existentes no maciço almofadas grandes (LFJ), Rocha et al., (1970, 1977)
Vertical: σv • Os problemas de determinação da resistência do maciço são
ainda maiores, pelo que se opta pela realização de ensaios em
Horizontal: σh laboratório, ensaios triaxiais e de deslizamento de diaclases,
• Tensões induzidas com a escavação sobre amostras que se considerem representativas da rocha e
das diaclases.

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Determinação do estado de tensão através de cálculo


b) Estado de tensão
• Estima-se a tensão vertical, máxima, igual ao peso do
1. Os maciços encontram-se sujeitos a tensões naturais
maciço acima do túnel: σv = ρ g h (≈ 0,027 MPa/m)
que podem ter origem:
• Tectónica, a principal causa de tensões armazenadas • A tensão horizontal a partir dos 1000m de
profundidade pode considerar-se igual à vertical, no
• Tensões litostáticas, devido ao peso do material
sobrejacente entanto esta poderá ser inferior ou superior no caso
da existência de tensões tectónicas.
2. As tensões induzidas ou secundárias, correspondem à
redistribuição das tensões pré-existentes, à volta da • Critério empírico para avaliar a estabilidade em túneis
superfície escavada, em consequência da abertura do profundos em rochas de resistência elevada:
túnel. • σv /σc = 0,1: escavação estável
• Os túneis sujeitos a tensões muito elevadas correm • σv /σc = 0,2 a 0,3: risco de rotura
risco de colapso ou de explosões de rocha. • σv /σc > 0,5: risco de explosão de rochas
• σc resistência à compressão do material rocha

Metodologia dos estudos geológicos e geotécnicos para túneis


Cartografia Geológica de Túneis
Fases e objectivos Tarefas Conteúdos
CONSTRUÇÃO - Cartografia geológica e geotécnica
Controlo geológico- do interior do túnel
• Controlo geotécnico - Adaptação do projecto às
geológico/geotécnico e condições reais encontradas
auscultação
Auscultação - Instrumentação geotécnica
• Adequação do Controlo de qualidade - Ensaios de controlo do tratamento
projecto às condições do - Acompanhamento e controlo de
terreno Assistência técnica execução
- Soluções construtivas e
• Medidas de controlo tratamentos do terreno
de instabilidades,
percolações e
tratamentos do terreno

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• O estudo geológico e geotécnico visando informar o • A cartografia é efectuada entre a escavação e o


projecto de uma obra de túneis (estudo prévio e revestimento por um técnico habilitado, normalmente
anteprojecto) é baseado em informações ”pontuais” um geólogo familiarizado com geologia de engenharia.
(campanha de prospecção). • Deverão ser colocadas marcas com as distâncias à
• O projecto de execução só poderá ir sendo completado origem e lavadas as superfícies escavadas.
no decorrer da obra (fase de construção) a partir dos • Para que a informação recolhida possa ser actuante na
elementos obtidos e perante as situações que forem obra é necessário que ela atinja rapidamente os
sendo detectadas. O comportamento do maciço é circuitos de decisão em tempo de adaptar as soluções-
essencialmente função das características geológicas tipo às condições reais que vão sendo encontradas.
das formações atravessadas e daí a necessidade da
cartografia geológica adequada.

Representação das superfícies escavadas em


função da forma da secção do túnel

• Nos túneis em arco, os mais comuns, a representação


comporta três superfícies planas correspondendo a
central aos elementos observados na abóbada e as
laterais aos hasteais
• Nos túneis circulares ou em ferradura a
representação comporta duas superfícies planas
correspondentes, cada uma, à projecção das metades
projectadas a partir do centro da abóbada

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22-10-2014

Características geológicas a cartografar Outras características a registar

• Litologia e estrutura do maciço: tipo de rocha, grau • Comportamento do maciço após escavação,
de alteração e fracturação; atitude das camadas e dos sobretudo antes do suporte para ajuizar sobre o
filões. Poderá ser determinada a dureza Schmidt, comportamento deste e concluir sobre o acabamento
ensaio de carga pontual e no caso de solos o a dar à obra. Sobreescavações
penetrómetro de bolso. • Características dos suportes: descrição do
• Descontinuidades: as falhas devem ser tratadas revestimento ou suporte utilizados, deve referir-se o
individualmente, as diaclases serão caracterizadas por tipo de suporte provisório e definitivo (cambotas,
famílias. betão projectado, pregagens, etc.)
• Hidrogeologia: devem ser registadas todas as • Instrumentação: medições de convergência das
emergências, o caudal respectivo e feita referência à superfícies escavadas, reflexo das deformações do
permeabilidade do maciço. maciço

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