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Trajetória Da Política Ambiental Federal No Brasil
Trajetória Da Política Ambiental Federal No Brasil
1 INTRODUÇÃO
A política ambiental brasileira iniciou sua trajetória a partir da década de 1930,
quando foram dados os primeiros passos na elaboração de normativos pioneiros
afetos à gestão dos recursos naturais, tais como o Código de Águas e o Código
Florestal, ambos instituídos em 1934. Desde então, o país tem avançando
gradualmente tanto no estabelecimento de importantes marcos legais na temática,
como no processo de institucionalização das políticas públicas de meio ambiente.
Neste capítulo busca-se contribuir na reflexão sobre os caminhos escolhidos
nesta trajetória, com ênfase no período atual – correspondente aos últimos 10 anos.
O conceito de governança apoia a análise, considerando-se que um meio ambiente
saudável, como bem público, é de responsabilidade comum tanto dos governos
como da sociedade e de suas instituições. Nesse sentido, nossa Constituição Federal
reconhece a preservação do meio ambiente como uma questão pública, que não
depende apenas da atuação do Estado para seu equacionamento:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”
(Capítulo do Meio Ambiente, Art. 225, caput, grifo nosso).
A governança compreende a multiplicidade dos atores sociais, cujas categorias
são infinitas e abarcam, além dos governos e instituições formais que compõem o
Estado, organizações e grupos de indivíduos, tais como: setor privado, organizações
não governamentais (ONGs), instituições de financiamento e consumidores.
Os referenciais para a boa governança são complementares entre si e incluem, entre
outros: accountability (responsabilização, transparência e prestação de contas), lega-
lidade, equidade e inclusão, processo decisório participativo e a tríade (eficiência,
efetividade e eficácia). Estes princípios aplicam-se ao processo de governança das
capacidades estatais e das políticas públicas como um todo. Ou seja, o avanço em
cada um deles tende a se refletir de forma simultânea em todas as políticas públicas
e na responsividade por parte dos governos, isto é, na capacidade de dar resposta
aos problemas e prover os bens públicos necessários para a sociedade. Contudo,
o avanço pode ser assimétrico em cada política e apresentar especificidades, como
no caso das políticas ambientais (Brasil, 2012).
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1. As instituições ambientais criadas no âmbito federal serão abordadas mais detidamente na parte 3 deste capítulo,
que traz uma análise do arcabouço institucional atual.
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2. Substituído pela Lei no 4.771/1965 e, atualmente, revogada expressamente e substituída pela Lei no 12.651/2012.
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3. Na temática de qualidade ambiental, o Conama também instituiu neste período o Programa de Controle da Poluição
do Ar por Veículos Automotores (Proconve), por meio da Resolução no 18/1986, e o Programa Nacional de Controle da
Poluição do Ar, pela Resolução no 005/1989.
4. Essas atividades incluem proteção ao patrimônio biológico e aos processos ecológicos; exigência de estudo
prévio de impacto ambiental, no caso de implantação de empreendimentos potencialmente degradadores; controle da
produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida e o
meio ambiente; e educação ambiental (Ganen, 2013).
Trajetória da Política Ambiental Federal no Brasil | 17
Sisnama, em 1981, grande parte de nossa política ambiental ainda era concentrada
na esfera central de governo (Araújo, 2013). A partir da CF/88, ocorre uma
maior descentralização da política ambiental e uma consequente estruturação de
instituições estaduais e municipais de meio ambiente, com a criação de órgãos e/ou
secretarias, bem como de conselhos estaduais e municipais de meio ambiente,
resultado da definição da temática ambiental como competência executiva comum
entre União, estados e municípios.
A introdução do Capítulo de Meio Ambiente à CF coincidiu com a
intensificação, em nível internacional, dos debates sobre meio ambiente, uma vez
que ocorreu logo após a realização, pelo PNUMA, do Relatório Bruntland, mais
conhecido como Nosso Futuro Comum, em 1987, que estabeleceu o conceito de
desenvolvimento sustentável.5
Outro marco institucional importante no período foi a reestruturação dos
órgãos federais encarregados da questão ambiental, por meio do programa Nossa
Natureza, em 1989, com a unificação dos órgãos que tratavam a questão ambiental
setorialmente – Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (Sudepe),
Superintendência da Borracha (Sudhevea), IBDF (desenvolvimento florestal) e
a Sema – em torno de um único órgão federal: o Ibama – Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Lei no 7.735, de 22 de fevereiro de 1989).
Ainda em 1989 é criado o Fundo Nacional de Meio Ambiente – FNMA
(Lei no 7.797 de 10 de julho de 1989),6 atualmente uma unidade do Ministério do
Meio Ambiente (MMA), com a missão de contribuir, como agente financiador, por
meio da participação social, para a implementação da Política Nacional do Meio
Ambiente. A seleção de projetos para o fundo, por meio de editais, é feita por um
conselho deliberativo composto por representantes do governo e da sociedade civil.
5. O Relatório Brundtland foi realizado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em
1983, em decorrência da reunião de avaliação dos dez anos da Conferência de Estocolmo.
6. Até a criação do MMA, o FNMA era administrado pela Secretaria de Planejamento e Coordenação da Presidência da
República (Seplan/PR), e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
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Outro fator a se destacar é que a agenda de trabalho para o século XXI também
já havia sido estabelecida há 20 anos, na Rio-92.
A ausência de progresso foi sentida quando compromissos e medidas concretas
para operacionalizar as intenções (ou seja, recursos financeiros), entre as quais a
criação de um fundo verde para ajudar na transição de países emergentes e pobres
para um modelo de desenvolvimento sustentável, mais uma vez foram rejeitadas,
principalmente pelos países desenvolvidos, como os Estados Unidos. O próprio
secretariado-geral da ONU esperava que o encontro adotasse medidas mais firmes
para garantir que os mais pobres tivessem acesso à água, à energia e a alimentos.
No entanto, sua emblemática iniciativa Energia Sustentável para Todos foi apenas
citada no texto, em vez de receber apoio enfático dos líderes.
O que resultou como positivo na conferência foi a mostra de uma maior
consciência ambiental por parte da sociedade, o que significa que uma semente,
ou um “fermento” havia sido colocado na sociedade ao longo das últimas décadas,
levando a uma maior mobilização social. As iniciativas e declarações assinadas além
do Riocentro foram numerosas. Por exemplo, em paralelo às principais negociações
no Rio de Janeiro, empresas e governos firmaram mais de duzentos compromissos
de ações voluntárias em diferentes áreas, tais como energia, água e alimentos.
A iniciativa de contratação pública sustentável internacional se comprometeu com
critérios de compras públicas; o índice de riqueza inclusiva buscou ampliar o
sistema de contas para além do produto interno bruto (PIB); o princípio de seguro
sustentável foi o compromisso com a sustentabilidade assinado por 27 grandes
empresas seguradoras (área que maneja grandes recursos). A Cúpula dos Povos
também reuniu milhares de pessoas e deixou uma extensa lista de reivindicações
entregue à ONU.
Este movimento, que faz parte do conjunto que se chama de governança
ambiental, é visto de forma otimista por Dawbor (2012) como um impacto difuso
fundamental, pois “só quando se fortalecer bastante o movimento na base da socie-
dade haverá suficiente força política nas esferas superiores, governos, organizações
multilaterais e corporações mundiais”. No entanto, observa-se que este movimento
está, em geral, separado do poder político, visto que as reivindicações feitas são
raramente ouvidas e incorporadas na agenda decisória dos governos.
Apesar de o governo brasileiro não ter priorizado o evento em sua agenda
política – visto que não enfatizou a pauta em reuniões prévias bilaterais com outros
países que garantissem avanços e mesmo a presença de chefes de Estado importantes –
para o Brasil fica o mérito de, mais uma vez, ter aceitado o desafio de ser anfitrião
e organizador de uma conferência de porte, a qual fluiu sem maiores percalços
logísticos, e de oferecer uma plataforma de discussão. Oportunidade que, infe-
lizmente, não foi utilizada em todo o seu potencial pelos países participantes e
signatários do documento final.
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QUADRO 1
Evolução da legislação ambiental brasileira por períodos (1930-2015)10
Legislação Ementa
Período - décadas de 1930 a 1960
Decreto no 24.643/1934 Decreta o Código de Águas.
Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional.
Decreto-Lei no 25/1937
Inclui como patrimônio nacional os monumentos naturais, sítios e paisagens de valor notável.
Lei no 4.771/19651 Institui o novo Código Florestal.
Lei no 5.197/1967 Dispõe sobre a proteção à fauna e dá outras providências.
Período - década de 1970
Dispõe sobre discriminação, pelo Ministério da Agricultura, de regiões para execução
Lei no 6.225/1975
obrigatória de planos de proteção ao solo e de combate à erosão e dá outras providências.
Decreto-Lei no 1.413/1975 Dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais.
Decreto Legislativo no 56/1975 Aprova o Tratado da Antártida.
Dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares e a responsabilidade criminal
Lei n 6.453/1977
o
por atos relacionados com atividades nucleares e dá outras providências.
Período - década de 1980
Dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de
Lei no 6.803/1980
poluição, e dá outras providências.
Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação
Lei no 6.938/19812
e aplicação, e dá outras providências.
Dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental e dá outras
Lei no 6.902/1981
providências.
Lei no 7.661/1988 Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e dá outras providências.
Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio
Lei no 7.347/1985 ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico e dá outras providências.
Regulamenta as atividades garimpeiras, tornando obrigatória a licença ambiental prévia
Lei no 7.805/1989 e passíveis de suspensão as atividades de pesquisa ou lavra que causarem danos ao
meio ambiente.
Lei no 7.797/1989 Cria o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA).
Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o
transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização,
Lei no 7.802/1989 a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a
classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes
e afins, e dá outras providências.
Período - década de 1990
Dispõe sobre a política agrícola.
Lei no 8.171/1991
(inclui a proteção do meio ambiente entre seus objetivos e como um de seus instrumentos)
Lei n 8.723/1993
o
Dispõe sobre a redução de emissão de poluentes por veículos automotores.
Estabelece normas para a engenharia genética e organismos geneticamente modificados
Lei n 8.974/1995
o 3
(OGM) no país.
(Continua)
10. O quadro 1 busca destacar alguns dos principais marcos legais da legislação federal na temática ambiental.
Cabe mencionar, no entanto, que existem diversas outras normas sobre temas correlatos, como ordenamento urbano e
desenvolvimento regional, bem como sobre gestão de desastres naturais, com forte interface com a questão ambiental,
no que se refere ao uso do solo e à gestão do território.
Trajetória da Política Ambiental Federal no Brasil | 25
(Continuação)
Legislação Ementa
Período - década de 1990
Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento
Lei no 9.433/1997
de Recursos Hídricos.
Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
Lei no 9.605/19984
lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.
Lei no 9.795/1999 Dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental.
Período - 2000 a 2012
Lei no 9.985/2000 Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).
Dispõe sobre a prevenção, o controle e a fiscalização da poluição causada por lançamento
Lei no 9.966/2000
de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional.
Dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, a proteção e o acesso ao conhecimento
Medida Provisória
tradicional associado, a repartição de benefícios e o acesso à tecnologia e transferência
no 2.186-16/2001
de tecnologia para sua conservação e utilização.
Dispõe sobre o acesso público aos dados e às informações existentes nos órgãos e
Lei no 10.650/2003
entidades integrantes do Sisnama.
Estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que
envolvam OGMs e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS),
Lei no 11.105/2005
reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e dispõe sobre a
Política Nacional de Biossegurança (PNB).
Dispõe sobre a gestão de florestas públicas para a produção sustentável; institui, na
Lei no 11.284/2006 estrutura do MMA, o Serviço Florestal Brasileiro (SFB); cria o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Florestal (FNDF).
Lei no 11.428/2006 Dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica.
Dispõe sobre o plantio de organismos geneticamente modificados em unidades de
Lei no 11.460/2007
conservação (UCs).
Lei no 11.445/2007 Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico.
Lei no 11.794/2008 Estabelece procedimentos para o uso científico de animais.
Trata de medidas tributárias aplicáveis a doações destinadas a prevenção, monitoramento
Lei n 11.828/2008
o
e combate ao desmatamento.
Lei no 12.114/2009 Cria o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima.
Lei no 12.187/2009 Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).
Lei no 11.959/2009 Dispõe sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca.
Lei no 12.305/2010 Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Fixa normas para a cooperação entre a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios
Lei Complementar no 140/2011 nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativa à
proteção do meio ambiente.
Institui o Programa de Apoio à Conservação Ambiental e o Programa de Fomento às
Lei no 12.512/2011
Atividades Produtivas Rurais.
Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa
Lei no 12.651/2012
(revogou o antigo Código Florestal, Lei no 4.771/1965).
Institui a Política Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca
Lei no 13.153/2015
e seus instrumentos; prevê a criação da Comissão Nacional de Combate à Desertificação.
Elaboração da autora.
Notas: 1 A Lei no 4.771/1965 foi revogada expressamente e substituída pela Lei no 12.651/2012.
2
Regulamentada pelo Decreto no 99.274/1990.
3
Revogada pela Lei no 11.105, de 2005.
4
Regulamentada pelo Decreto no 6.514/2008.
26 | Governança Ambiental no Brasil: instituições, atores e políticas públicas
11. As competências estabelecidas pela CF de 1988 para os entes federativos podem ser, quanto à natureza, executivas,
administrativas ou legislativas. As administrativas, das quais trata a LC no 140/2011, incidem sobre os aspectos de
implementação e fiscalização das medidas relativas ao meio ambiente, tais como o caráter de polícia. As competências
executivas dizem respeito às diretrizes ou estratégias para exercer o poder relacionado ao meio ambiente; as legislativas,
por fim, tratam das possibilidades que cabem a cada ente de legislar sobre questões ambientais (Machado, 2012).
12. A LC também altera o Artigo 10 da Política Nacional de Meio Ambiente – Lei no 6.938/81, adequando-a às novas disposições.
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QUADRO 2
Instrumentos de cooperação entre os entes federativos
Consórcios públicos
Convênios e acordos de cooperação
Comissões Tripartites Estaduais (formadas pela União, estados e municípios) e a Bipartite do Distrito Federal (DF e União) – com o
objetivo de fomentar a gestão ambiental compartilhada e descentralizada entre esses entes federativos
Fundos públicos e privados e outros instrumentos econômicos
A possibilidade de delegação das atribuições e de execução de ações administrativas, desde que observados requisitos legais específicos
QUADRO 3
Ações administrativas em meio ambiente de responsabilidade da União
Atribuições da União
Política Nacional do Meio Ambiente
Formular, executar e fazer cumprir, em âmbito nacional, a Política Nacional do Meio Ambiente.
Exercer a gestão dos recursos ambientais no âmbito de suas atribuições.
Promover ações relacionadas à Política Nacional do Meio Ambiente nos âmbitos nacional e internacional.
Integração e articulação da PNMA
Promover a integração de programas e ações de órgãos e entidades da administração pública da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, relacionados à proteção e à gestão ambiental.
Articular a cooperação técnica, científica e financeira, em apoio à Política Nacional do Meio Ambiente.
Promover a articulação da Política Nacional do Meio Ambiente com as de Recursos Hídricos, Desenvolvimento Regional, Ordenamento
Territorial e outras.
Informação, educação, estudos e pesquisas
Promover o desenvolvimento de estudos e pesquisas direcionados à proteção e à gestão ambiental, divulgando os resultados obtidos.
Organizar e manter, com a colaboração dos órgãos e entidades da administração pública dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima).
Promover e orientar a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a proteção do meio ambiente.
(Continua)
28 | Governança Ambiental no Brasil: instituições, atores e políticas públicas
(Continuação)
Atribuições da União
Ordenamento territorial
Elaborar o zoneamento ambiental de âmbito nacional e regional.
Definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos.
Controle da qualidade ambiental
Controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente, na forma da lei.
Exercer o controle e fiscalizar as atividades e empreendimentos cuja atribuição para licenciar ou autorizar, ambientalmente, for
cometida à União.
Promover o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades em áreas de sua competência (tais como o que envolvam
empreendimentos binacionais ou em áreas de fronteiras, em terras indígenas, em UCs Federais (exceto APAs) e as que envolvam
dois ou mais Estados).
Gestão florestal
Aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de florestas e formações sucessoras em: florestas públicas federais, terras devolutas
federais ou unidades de conservação instituídas pela União, exceto em APAs; e atividades ou empreendimentos licenciados ou
autorizados, ambientalmente, pela União.
Proteção da biodiversidade (fauna e flora) e do patrimônio genético
Elaborar a relação de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção e de espécies sobre-explotadas no território nacional,
mediante laudos e estudos técnico-científicos, fomentando as atividades que conservem essas espécies in situ.
Controlar a introdução no País de espécies exóticas potencialmente invasoras que possam ameaçar os ecossistemas, habitats e
espécies nativas.
Aprovar a liberação de exemplares de espécie exótica da fauna e da flora em ecossistemas naturais frágeis ou protegidos.
Controlar a exportação de componentes da biodiversidade brasileira na forma de espécimes silvestres da flora, micro-organismos e
da fauna, partes ou produtos deles derivados.
Controlar a apanha de espécimes da fauna silvestre, ovos e larvas.
Proteger a fauna migratória e as espécies em extinção.
Exercer o controle ambiental da pesca em âmbito nacional ou regional.
Gerir o patrimônio genético e o acesso ao conhecimento tradicional associado, respeitadas as atribuições setoriais.
Controle do transporte de produtos perigosos
Exercer o controle ambiental sobre o transporte marítimo de produtos perigosos.
Exercer o controle ambiental sobre o transporte interestadual, fluvial ou terrestre, de produtos perigosos.
QUADRO 4
Estrutura do Sisnama
1. Conselho de Governo – órgão superior
2. Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) – órgão consultivo e deliberativo
3. MMA – órgão central
4. Ibama – órgão executor
5. Órgãos estaduais de meio ambiente – órgãos seccionais
6. Órgãos municipais de meio ambiente – órgãos locais
QUADRO 5
Arcabouço institucional de meio ambiente no nível federal
Instituição/criação Finalidade/missão Características
O Conselho de Governo, órgão superior do Sisnama,
Conselho de Assessorar o presidente da República na formulação integrante da Presidência da República, é constituído
Governo da política nacional e nas diretrizes governamentais por todos os ministros de Estado, pelos titulares
Criado pela Lei no para o meio ambiente e os recursos ambientais essenciais da Presidência da República e pelo Advogado
6.938/1981 (PNMA) (Lei no 9649/1998). Geral da União. Contudo, o mesmo está praticamente
inativo até a atualidade.
O Conama é o órgão colegiado de caráter deliberativo
e consultivo do Sisnama. O colegiado é um dos maiores
constituídos no nível federal, com o total de 108
Assessorar, estudar e propor ao conselho de governo conselheiros, distribuídos em cinco setores: governo
Conselho Nacional
e demais órgãos ambientais diretrizes e políticas federal, governos estaduais; governos municipais;
do Meio Ambiente –
governamentais para o meio ambiente e deliberar, entidades empresariais e entidades de trabalhadores
Conama1
no âmbito de suas competências, sobre normas e e da sociedade civil.
Criado pela Lei no padrões para um meio ambiente ecologicamente Suas competências abrangem a responsabilidade de
6.938/1981 (PNMA) equilibrado2 (Decreto no 3.942/2001). estabelecer critérios e padrões ambientais (normal-
mente expressos na forma de resoluções) e o papel
político-estratégico de articular as políticas ambientais
e promover os objetivos da PNMA.
As principais finalidades do MMA são a de planejar,
coordenar, supervisionar e controlar as ações relativas
ao meio ambiente, bem como formular e executar a
política nacional do meio ambiente, tendo em vista a
preservação, conservação e uso racional dos recursos
naturais renováveis (Lei no 8.746/1993).
Ministério do Meio Suas áreas de competência compreendem:
Ambiente (MMA)
a) política nacional do meio ambiente e dos recursos hídricos;
Criado pela Lei Alguns dos principais programas em andamento no
b) política de preservação, conservação e utilização
no 8.490/1992, MMA são apresentados no quadro 7.
sustentável de ecossistemas, e biodiversidade e florestas;
que transformou
a SEMAM/PR em c) proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos
MMA. econômicos e sociais para a melhoria da qualidade
ambiental e do uso sustentável dos recursos naturais;
d) políticas para integração do meio ambiente e produção;
e) políticas e programas ambientais para a Amazônia Legal;
f) zoneamento ecológico-econômico.
(Lei no 10.683/2003).
Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente
e dos Recursos Entre suas competências está a de executar e fazer A partir da criação do ICMBio, a atuação do Ibama
Naturais Renováveis executar a política nacional do meio ambiente, como se concentra, principalmente, nas ações de controle,
(Ibama) também, promover a preservação, a conservação, o monitoramento, fiscalização e licenciamento ambiental.
Autarquia federal uso racional, a fiscalização, o controle e o fomento É responsável, ainda, pela elaboração do Relatório de
vinculada ao MMA. dos recursos naturais. Qualidade do Meio Ambiente, entre outras atividades.
Criado pela Lei no
7732/1989.
Serviço Florestal O SFB tem a missão de promover o uso econômico Entre outras funções, gerencia o Fundo Nacional de
Brasileiro (SFB) e sustentável das florestas e atua exclusivamente na Desenvolvimento Florestal (FNDF), apoia programas
Criado pela Lei gestão das florestas públicas. de capacitação em atividades florestais, estimula a
no 11.284/2006 e prática de atividades florestais sustentáveis, promove
O órgão tem autonomia administrativa e financeira
aprovado na estrutura estudos de mercado para produtos florestais, propõe
assegurada por Contrato de Gestão.
regimental do MMA planos de produção florestal sustentável, mantém o
pelo Decreto Atua em parceria com os seus congêneres estaduais Sistema Nacional de Informações Florestais e gerencia
no 6.063/2007. e municipais. o Cadastro Nacional de Florestas Públicas.
(Continua)
32 | Governança Ambiental no Brasil: instituições, atores e políticas públicas
(Continuação)
Instituição/criação Finalidade/missão Características
Elaboração da autora.
Notas: 1 Para uma análise da atuação do Conama, ver capítulo 3, desta publicação.
2
Lei no 6.938/1981, regulamentada pelo Decreto no 99.274/1990, com alterações feitas pelo Decreto no 3.942/2001,
que disciplina as finalidades consultivas e deliberativas, bem como as competências do Conama
13. Fonte: MMA. Disponível em: <http://goo.gl/8Sj5Ez>. Acesso em: 20 maio 2014.
14. No formato do atual PPA, não existem órgãos responsáveis pelo Programa Temático, mas por cada um de seus objetivos.
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QUADRO 6
Programas temáticos do PPA 2016-2019 na área ambiental
Programa temático Valores globais (2016/2019)
Órgãos responsáveis
(código/descrição) (Em R$ mil)
2084 – Recursos Hídricos MMA, MI e MME 14.717.497
2050 – Mudança do Clima MCTI e MMA 2.559.400
2078 – Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade MMA 2.944.856
2083 – Qualidade Ambiental MMA e MTE 513.044
Total 20.734.797
15. Os programas mencionados não correspondem aos programas temáticos ambientais do PPA. São programas
desenvolvidos pelo MMA, que podem estar inseridos no PPA como ações.
34 | Governança Ambiental no Brasil: instituições, atores e políticas públicas
16. O SIGA Brasil é um sistema de informações sobre orçamento público mantido pelo Senado Federal, que permite
acesso amplo e facilitado ao Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) e a outras bases de dados sobre
planos e orçamentos públicos, por meio de uma única ferramenta de consulta.
Trajetória da Política Ambiental Federal no Brasil | 35
17. No MMA, a Coordenação de Planejamento Institucional do Departamento de Gestão Estratégica (DGE) é responsável
pela coordenação do processo de planejamento estratégico, bem como pelo monitoramento e avaliação das ações
executadas pelo órgão.
36 | Governança Ambiental no Brasil: instituições, atores e políticas públicas
18. No que se refere aos recursos disponíveis – o que impacta diretamente a questão da eficiência e da capacidade
de cumprir as metas propostas (eficácia) – estudos indicam que, apesar do agravamento dos problemas ambientais,
estes têm sido decrescentes, proporcionalmente, no orçamento federal destinado às políticas ambientais brasileiras
(Silva et al., 2013).
38 | Governança Ambiental no Brasil: instituições, atores e políticas públicas
19. Um exemplo prático de dificuldade neste sentido refere-se à gestão dos resíduos sólidos. É vantajoso, principalmente
para municípios pequenos, que equipamentos como aterros sanitários ou centrais de triagem de recicláveis sejam
construídos e operacionalizados de forma consorciada. Contudo, os municípios muitas vezes não conseguem entrar em
acordo para definir qual deles receberá os resíduos do outro, o que dificulta o estabelecimento deste tipo de consórcio.
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20. Desde 1940, o Brasil assinou 33 acordos multilaterais ambientais nos mais variados temas. É importante lembrar
que tais acordos não tratam apenas de aspectos ambientais, mas envolvem importantes questões da política externa
brasileira: comerciais, tecnológicas, estratégias e de segurança, entre outras (Barros, 2011).
21. O documento conclamava: “Temos que definir nosso próprio programa de ação. Se não conseguirmos avaliar
objetivamente os problemas e oportunidades apesentados pelo patrimônio natural da região, não saberemos estabelecer
as prioridades para a ação e certamente cometeremos erros no planejamento das estratégias que acreditamos capazes
de nos proporcionar o desenvolvimento sustentável” (Pnud, 1991, p. 5).
40 | Governança Ambiental no Brasil: instituições, atores e políticas públicas
REFERÊNCIAS
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