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A
GLÓRIA
DA
SUA
GRAÇA
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Introdução
O alegre e glorioso Evangelho, proclamando tão grande salvação, a remissão dos
pecados e o perdão imerecido de um Deus contra quem transgredimos, enche o coração
de todos que já conhecem a redenção da escravidão do pecado. Esta mensagem
abençoada, cuja propagação foi confiada a homens e não a anjos, revela o coração de
―Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao
conhecimento da verdade‖ (I Tm 2:3-4). O Seu amor inefável, Sua justiça inescrutável,
Sua graça infinita e Seu poder ilimitado são revelados nesta mensagem. A sua
importância é enfatizada pelas últimas palavras de Cristo na Sua comissão aos Seus
discípulos antes de subir à glória: ―Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda
criatura‖ (Mc 16:15).
Assim, é a nossa incumbência pregar o Evangelho, ―a verdade‖, num mundo
tenebroso que está sendo cada vez mais enganado por uma multiplicidade de seitas
falsas e propaganda satânica. Que o Senhor nos dê mais fervor evangélico, para que no
final desta época singular da graça, possamos ter o gozo de ver nossos entes queridos e
nossos vizinhos gozando da bênção sublime de ter os seus pecados perdoados.
É importante que as doutrinas associadas com o Evangelho sejam preservadas
intactas, como reveladas na Palavra de Deus; não deve haver qualquer distorção, desvio
ou diluição que resultaria na pregação de ―outro evangelho, o qual não é outro …‖ (Gl
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1:6-7). Estas doutrinas são sagradas para nós, são ―fatos que entre nós se cumpriram‖
(Lc 1:1), e são gozadas, experimentalmente, por todos os que amam ―… o evangelho de
Deus … acerca de seu Filho … Jesus Cristo nosso Senhor‖ (Rm 1:1-4).
Os contribuintes deste proveitoso livro são irmãos bem conhecidos entre as igrejas
locais, e muitos deles estão ocupados na frequente proclamação desta mensagem
sublime. Nenhum deles diria que sua obra é uma consideração completa do assunto
tratado, mas a nossa oração é que, por este meio, os irmãos mais novos na fé possam
chegar a conhecer melhor as preciosas doutrinas do Evangelho, e que nosso amor por
estes maravilhosos temas possa nos inspirar a adorar melhor Aquele em cujo coração de
amor estas verdades estavam desde a eternidade passada, e amar melhor Aquele que,
pela Sua morte expiatória, permitiu que Deus seja ―justo, e justificador daquele que tem
fé em Jesus‖ (Rm 3:26).
Roy Reynolds, Irlanda do Norte.
Prefácio à edição em Português
Devido à ótima aceitação deste livro entre os cristãos que se reúnem ao nome do
Senhor Jesus Cristo no Reino Unido, os responsáveis pela revista Assembly
Testimony tiveram o desejo de ver este livro (e os demais desta série) traduzido para o
Português. Diversos irmãos e irmãs voluntariamente ofereceram seu tempo e talentos
para tornar este desejo uma realidade. Agradecemos a Deus pela oportunidade que Ele
nos deu, através dos Seus servos na Irlanda do Norte e no Brasil, de oferecer este livro
gratuitamente aos nossos irmãos e irmãs no Brasil, Portugal e Angola.
Nossa oração é que o estudo das verdades aqui apresentadas sirva para edificar os
salvos, ajudando-nos a conhecer melhor a glória da graça do nosso Salvador, e a
grandeza dos Seus propósitos para conosco. Na permissão do Senhor queremos também
publicar os demais livros desta série, que tratam da glória do Pai, do Filho, do Espírito
Santo e da igreja local. Escreva-nos se você tem interesse em receber estes livros.
Louvado seja Deus pela glória da Sua graça.
Pirassununga, Janeiro de 2011.
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Cap. 1 — Pecado
James Patterson Jnr., Escócia.
Introdução
Basicamente, o conceito bíblico de pecado é um relacionamento incorreto com Deus,
por causa de uma ofensa contra Ele. Qualquer coisa, seja um pensamento, uma palavra
ou uma ação, que interrompa o relacionamento do homem com Deus, é pecado. Este
relacionamento interrompido pode ser o resultado de transgressão voluntária, ou uma
falta de apreciação de Deus, deixando de aceitar a Sua salvação. Isso é enfatizado no
significado básico da palavra pecado: carecer, perder o alvo, como é traduzida mais ou
menos 200 vezes. O pecado é qualquer coisa que interrompe o nosso relacionamento
com Deus, por causa do nosso fracasso em atingir o padrão divino. O pecado é também
descrito como o desvio do homem dos caminhos de Deus. ―Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho …‖ (Is 53:6). O
caminho correto é aquele que tem Deus como seu centro e que conduz a Ele. O homem,
no seu estado natural como pecador, não consegue permanecer neste caminho e se
desvia para os seus próprios caminhos, e por isso sofre as consequências. ―Há um
caminho que parece direito ao homem, mas o seu fim são os caminhos da morte‖ (Pv
16:25). Nós podemos ver em Lúcifer, e também na tentação de Eva, que há a tentativa
de competir com Deus. Lúcifer queria um lugar para si mesmo (Is 14:13). Eva foi
tentada com a oferta de ter um conhecimento igual ao de Deus: ―E sereis como Deus,
sabendo o bem e o mal‖ (Gn 3:5).
A essência do pecado é vista na Palavra de Deus como a mente, o coração e a
vontade do homem, todos, colocados em rebelião ativa contra Deus. Jeremias 17:9
afirma: ―Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso‖, mostrando a
profunda e corruptível concentração do pecado. O Senhor Jesus disse: ―Porque do
coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos
testemunhos e blasfêmias‖ (Mt 15:19).
Nas Escrituras, isto é evidenciado no homem como:
• Andando contrariamente para com Deus (Lv 26:21);
• Rejeitando o Senhor (Nm 11:20);
• Negando a existência de Deus (Sl 14:1);
• Rebelando contra Deus (Is 1:2);
• Contendendo com seu Criador (Is 45:9);
• Levantando-se como inimigo de Deus (Mq 2:8);
• Resistindo a Deus (At 7:51);
• Aborrecendo a Deus (Rm 1:30);
• Blasfemando contra Deus (Tg 2:7).
O dr. C. Ryrie, citado por Lehman Strauss em The Doctrine of Sin, fornece uma lista
bem útil de palavras gregas e hebraicas que descrevem o pecado.
―No hebraico do Velho Testamento há pelo menos 8 palavras básicas usadas: ra, mau
(Gn 38:7); rasha, injusto (Êx 2:13); chata, pecar (Êx 20:20); avon, iniquidade (I Sm
3:13); pasha, transgressão (I Rs 8:50); taah, extraviar (Ez 48:11); shagag,
desencaminhar (Is 28:7); asham, culpado (Os 4:15).
No grego do Novo Testamento há 13 palavras básicas usadas para descrever o
pecado. Elas são: enochos, culpa (Mt 5:21); poneros, mau (Mt 5:45); agnoein, ser
ignorante (Rm 1:13); asebes, impiedade (Rm 1:18); parabates, ofensa (Rm
5:14); hamartia, destituídos (Rm 3:23); kakos, obras más (Rm 13:3); planan, pecar (I
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retendo o título de ―Príncipe das potestades do ar‖ (Ef 2:2). Lançado fora da presença de
Deus. Lançado abaixo para ―rodear a terra, e passear por ela‖ (Jó 1:7), para ser
amarrado por mil anos (Ap 20:2), solto por um pouco de tempo, mas finalmente lançado
dentro do lago de fogo para ser atormentado para sempre (Ap 20:10). ―O príncipe deste
mundo está julgado‖ (Jo 16:11). A sua destruição é o resultado daquele desejo
desenfreado, que se desenvolveu e se transformou na sua ambição resoluta: ―Eu serei‖.
Em Ezequiel 28 parece que há uma resposta de Deus para a vontade própria de
Lúcifer. Seis vezes Deus relata a Sua vontade em juízo contra Satanás, deixando-o,
finalmente, em cinzas sobre a terra.
―[Eu] Trarei sobre ti estrangeiros, os mais terríveis dentre as nações, os quais
desembainharão as suas espadas contra a formosura da tua sabedoria, e mancharão o
teu esplendor‖ (Ez 28:7).
―[Eu] te lançarei, profanado, do monte de Deus‖(v. 16, ARA).
―[Eu] te farei perecer, ó querubim cobridor‖(v. 16, ARA).
―por terra [Eu] te lancei‖ (v. 17).
―diante dos reis [Eu] te pus‖ (v. 17).
―[Eu] te tornei cinzas sobre a terra‖ (v. 18).
Junto com o poderoso Lúcifer havia, obviamente, um grupo de seres angelicais que
seguiram o seu exemplo ou se envolveram no pecado, o que fez com que Deus agisse.
―Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os
entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo‖ (II Pe 2:4). Judas
acrescenta: ―E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua
própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele
grande dia‖ (v. 6).
A entrada do pecado no mundo — “por um homem”
As atividades de Satanás, como ele mesmo as descreve em Jó 1:7 são quase como as
de alguém que faz a ronda da Terra. O uso da expressão ―em‖ ao invés de ―sobre‖ a
Terra é interessante, sugerindo o envolvimento de Satanás nos assuntos dos homens. É
na Terra, no jardim, que ele é mencionado pela primeira vez nas Escrituras.
Novamente, a cena é maravilhosa; perfeição, agora na Terra. Seis dias de criação
resultaram numa profusão de vida vegetal, numa abundância de animais do campo, o
potencial da raça humana no homem e na mulher, a aprovação de Deus de tudo, e Seu
dia de descanso. A perfeição seria estragada, o descanso despedaçado, a terra
amaldiçoada, o homem arruinado, o relacionamento destruído, a morte transmitida a
todos. Por que tal mudança catastrófica numa condição perfeita? A resposta é
encontrada novamente naquele que foi lançado fora, que apareceu no Jardim de Éden, e
que na sua sutileza começou uma obra de tentação que derrubaria e arruinaria o homem,
por causa do seu pecado de desobediência (Rm 5:12, 19). O pecado surge na Terra na
forma ostentadora de serpente.
Vale a pena observar que a queda do homem refuta as teorias de evolução propostas
pelos homens. Por exemplo, o Darwinismo teoriza que o homem começou de uma
forma inferior e foi evoluindo (de forma ascendente), mas as Escrituras mostram, em
Gênesis 1-3, que o homem começou em perfeição, direto da mão do Criador, e que ele
caiu (de forma descendente). Estes primeiros capítulos da história do homem também
mostram que não é o ambiente social do homem que causa o seu desvio, mas sim é o
seu pecado que causa a decadência no seu ambiente social. A narrativa bíblica é a única
explicação possível para a condição da raça humana. Nenhuma outra explicação poderia
ser apresentada para a universalidade do pecado quando, independentemente de cultura,
educação e orientação, lembramos, diariamente, que ―não há quem faça o bem‖ (Sl
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14:3). ―Pois não há homem que não peque‖ (I Rs 8:46). ―Não há homem justo sobre a
terra, que faça o bem, e nunca peque‖ (Ec 7:20). ―Todos se extraviaram, e juntamente se
fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só‖ (Rm 3:12).
Esta entrada do pecado no mundo está ligada diretamente a Satanás. Ele aproximou-
se da mulher, desmentiu a palavra de Deus, diluiu o mandamento de Deus e, em
efeito,duvidou da autoridade de Deus. Embora a palavra pecado não seja mencionada
no relato de Gênesis 3, o fato do pecado certamente é, como vemos em Romanos 5:12.
O resultado é um processo que aparece através de todas as eras, desde o ato inicial de
Eva.
Ela viu ―que aquela árvore era boa para se comer‖ (Gn 3:6). É interessante notar que
foi somente depois da sua conversa com Satanás que ―ela viu‖. Parece que a sutileza e o
engano de Satanás despertaram algo na sua mente inocente, fazendo-a questionar o que
ela já sabia, e fazendo germinar a semente da dúvida. Será que a sugestão da mesma
ambição de Satanás foi implantada na mente da mulher quando ela ouviu as palavras ―e
sereis como Deus‖ (v. 5)? Não havia nada inerentemente vil na árvore ou no fruto, mas
Deus havia dito: ―dela não comerás‖ (2:17). Embora ela conhecesse a Palavra de Deus e
poderia tê-la repetido a Satanás, houve uma alteração daquilo que ela ouviu diretamente
de Deus junto com seu marido, ou que foi repassado a ela depois pelo seu marido.
Vemos isso nas cinco alterações da palavra de Deus registrada em Gênesis 2:
i) Ela alterou a capacidade da provisão ao omitir ―toda‖ (3:2).
ii) Ela reduziu a condição da provisão ao omitir ―livremente‖ (3:2).
iii) Ela deslocou o centro do jardim — a árvore da Vida é que estava no centro
(2:9).
iv) Ela acrescentou à comunicação ao incluir ―nem nele tocareis‖ (3:3).
v) Ela diluiu a condenação ao omitir a palavra de Deus ―certamente morrerás‖
(2:17).
Mesmo sabendo o que Deus havia dito, ela não estava preparada para prender-se a
isso, e seu olhar fomentou um desejo — ―árvore desejável‖ (3:6). O seu desejo
transformou-se em ação — ―tomou … e comeu, e deu também a seu marido [primeira
menção de marido na Bíblia], e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de
ambos, e conheceram …‖ (3:6-7). Embora fosse a mulher quem foi tentada, Adão
voluntariamente compartilha com ela do fruto proibido. Há uma estranha qualidade
passiva no seu comportamento no v. 6 e também no v. 12. O pecado da cobiça é
manifestado, e ele sempre começa com um olhar, seguido por um desejo, depois
apropriação, e finalmente a morte. Este princípio é visto em todas as Escrituras
relacionadas com a cobiça. Para achar exemplos, o leitor deve considerar Ló, Acã e
Davi.
Adão comeu o fruto em desobediência total à instrução de Deus, e como resultado
começou a morrer. Quão trágico! Este é aquele que recebera o próprio sopro de Deus
quando era um objeto inanimado, e ―foi feito alma vivente‖ (Gn 2:7). Agora, entretanto,
com a entrada do pecado no homem, e consequentemente no mundo através da
descendência de Adão, rompeu-se aquele relacionamento e iniciou-se o processo da
morte. Adão se tornou o possuidor de uma natureza caída. Não somente ele se tornou
um pecador, mas cada um dos seus descendentes herdou a mesma natureza. Romanos
5:12 é claro: ―por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim
também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram‖.
Porém, alguns podem perguntar: ―Como poderia existir pecado quando a lei ainda
não fora dada?‖ No sentido exato da palavra, não poderia haver pecado individual até
que houvesse uma lei para ser quebrada, mesmo embora possamos ver evidências de
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consciência em Adão, e ele soube que seus atos tiveram consequências. Antes da
instituição da lei, a morte obviamente prevaleceu, e isto é a prova e a consequência da
presença do pecado. Assim, o pecado de Adão, como homem, trouxe a morte sobre toda
a humanidade, ―porque … todos morrem em Adão …‖ (I Co 15:22). O pecado que
então prevaleceu, com efeitos tão grandes e desastrosos, foi o de Adão.
Portanto, entendemos que, como diz Romanos 5:12: ―por isso que todos pecaram‖,
não é realmente o ato do pecador individual, mas a implicação de todos no pecado de
Adão. Paulo afirma em Romanos 5:15-19 que a universalidade do pecado e da morte é
devido ao pecado de um só homem. Como o representante da raça, o agente causador
nele foi distribuído a todos que o seguiram: ―assim também a morte passou a todos os
homens por isso que todos pecaram‖ (em Adão). Vemos a confirmação disso pelo fato
que crianças pequenas inocentes, que nunca pecaram conscientemente, também
morrem. Este é o resultado do pecado de Adão sendo imputado à sua descendência. O
efeito disso é mais graficamente descrito em outra Escritura: ―Alienam-se os ímpios
desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras‖ (Sl 58:3).
Também: ―e vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro
tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar,
do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós
também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos
pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também‖ (Ef 2:1-3).
Que descrição conclusiva do homem não regenerado! Esta condição não pode ser
mudada, o Senhor Jesus disse: ―o que é nascido da carne é carne‖ (Jo 3:6). Jó entendeu
o problema progressivo do pecado. ―Que é o homem, para que seja puro? E o que nasce
da mulher, para ser justo?‖ (Jó 15:14).
As boas novas que se desenvolvem deste assunto são que, embora um só ato
trouxesse o pecado e a morte sobre todos, o ato único do Redentor trouxe vida e graça
sobre todos os que crêem. ―Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos
foram feitos pecadores, assim pela obediência de um, muitos serão feitos justos‖ (Rm
5:19). O Redentor viria na Pessoa do Senhor Jesus Cristo, ―o qual se deu a si mesmo por
nós para nos remir de toda a iniquidade‖ (Tt 2:14).
O pecado no mundo não somente afeta o mundo dos homens, mas também é visto no
mundo físico, ou seja, na Terra em que estamos. A perfeição sumiu; a Terra está sob a
maldição (―maldita é a terra por causa de ti‖, Gn 3:17); os Céus estão impuros à vista de
Deus (―nem os céus são puros aos seus olhos‖, Jó 15:15); o melhor da humanidade é
vaidade (―todo homem, por mais firme que esteja, é totalmente vaidade‖, Sl 39:5); toda
a criação geme (―porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores
de parto até agora‖, Rm 8:22). Tudo isso é o efeito direito do pecado no mundo.
O efeito do pecado
O efeito do pecado no Soberano
A essência do pecado é maldade. É contrário à santidade de Deus, pois Deus é santo.
―Deus é luz, e não há nele trevas‖ (I Jo 1:5).
Sua santidade significa que Ele mesmo não pode pecar, e que Ele não é a causa do
pecado em qualquer outro. Ele não manda que o pecado seja cometido, pois isto seria
contrário à Sua natureza. Ele não aprova o pecado de ninguém; alias, Ele o odeia com
ódio santo. ―Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal‖ (Hc 1:13). O pecado,
portanto, é contra o próprio caráter de Deus e Sua santidade. Ele o odeia, e precisa
castigá-lo, portanto Ele o expulsa da Sua presença para sempre. Se não fosse pela obra
sacrificial de Cristo, Deus não poderia tratar com o homem pecador, a não ser para
expulsá-lo eternamente da Sua presença para o Lago de Fogo.
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primeira vez, que eram culpados de desobedecerem a Deus. A verdadeira culpa emana
do reconhecimento de violar as leis de Deus.
O pecado que mergulhou a humanidade no pecado foi o de desobediência. Isso
mostra que o homem não era capaz de decidir o que era bom e mal, mas precisava
confiar em Deus neste assunto.
Deus, como Criador, tem o direito de estabelecer leis, tanto espirituais como
materiais. Guardar ou quebrar estas leis é a escolha do homem, por causa do seu livre
arbítrio. Nesta primeira ocasião o homem escolheu desobedecer a Lei de Deus.
Portanto, ele precisa arcar com as consequências.
Imediatamente depois de pecar, o efeito do pecado foi evidenciado, primeiramente no
seu entendimento, depois na sua separação de Deus (Gn 3:8-10). Quando Deus veio, na
viração do dia como era Seu costume, o homem se escondeu. O efeito do pecado não foi
que Deus afastou a Sua presença do homem, mas sim que o homem se afastou de Deus.
―E temi, porque estava nu, e escondi-me‖ (Gn 3:10). O homem, é claro, não pode se
separar do seu Criador. O pecador perante a face de Deus está totalmente indefeso.
―Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros,
e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor
dos Exércitos‖ (Is 6:5).
O problema do pecado
Os resultados do pecado. Os resultados do pecado no mundo são vistos cedo na
história do homem. Em Gênesis cap. 3 temos a primeira menção de medo (v. 10); de
auto justificação (vs. 12-13); dos sofrimentos multiplicados à mulher ao dar à luz filhos
(v. 16); da sua sujeição ao seu marido decretada por Deus; da tristeza também para o
homem no seu trabalho na terra (vs. 17-19); do homem lançado fora do lindo jardim por
Deus (v. 24), e da resultante separação que durará não somente por todo o tempo, mas
também por toda a eternidade, se não houver reconciliação.
A revelação do pecado. O pecado é revelado pela mente, pela boca e pelo intento
moral do coração: ―Mas, o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o
homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios,
prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias‖ (Mt 15:18-19). De fato todas as
faculdades físicas do homem são usadas na prática do pecado. O homem pragueja com
sua boca, engana com suas ações, olha com concupiscência, tem orgulho no seu
coração, fecha seus ouvidos à Palavra de Deus, comete atos maus com suas mãos, anda
nos caminhos errados com seus pés. A descrição dada em Romanos 3:10-18 é
conclusiva: ―Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há
ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis.
Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com
as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios;
cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar
sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz.
Não há temor de Deus diante de seus olhos‖.
A repugnância causada pelo pecado. Vemos isto ao nosso redor no mundo inteiro.
Não precisamos entrar em detalhes aqui para descrever a natureza repugnante do pecado
praticado e gozado pelo homem no mundo. A falta de padrões morais no mundo é a
evidência do pecado desenfreado e da complacência do homem com tal condição. A
atitude desta era causa preocupação ao verdadeiro crente, mas quanto mais Deus sente
repulsa deste pecado ostensivo. Romanos 1:21-32 é suficientemente descritivo do
caráter degradado do homem, chegando ao seu clímax no v. 32: ―não somente as fazem,
mas também consentem aos que as fazem‖. Nada pode ultrapassar a enormidade desta
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essencial do Seu caráter. Como crentes em Jesus Cristo, nós somos feitos participantes
desta justiça providenciada por Deus.
Este versículo em II Coríntios 5 enfatiza a verdade da obra de Cristo como Substituto
―por nós‖, isto é em prol de nós, ou em nosso lugar. A verdade de substituição é: aquilo
que alguém faz no lugar de outro e que tem o mesmo valor como se fosse feito pelo
outro. Ele foi condenado para que pudéssemos ser justificados. Ele foi desamparado
para que pudéssemos ser perdoados. A bendita verdade é que o propósito de Deus, na
morte expiatória de Cristo, não foi somente para que os homens pudessem escapar do
juízo, mas que eles se tornassem justos.
Ó, ouça que penetrante brado! Quem entenderá tal clamor?
Deus Meu! Deus Meu! Porque Me desamparaste em Teu furor?
Foi porque sobre Ele Deus nosso pecado lançou;
Quem não podia pecar, pelos pecadores pecado Se tornou.
T. Haweis (tradução literal)
Ele levou nossos pecados
―Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que,
mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes
sarados‖ (I Pe 2:24).
Temos visto que o pecado está na natureza; contudo, a evidência de uma natureza
pecaminosa é revelada nos pecados na vida. Visto que a fonte é corrupta, segue-se que
tudo que procede daquela fonte estará manchado com aquela corrupção. Portanto, assim
como Cristo morreu para tratar da questão do pecado, Ele ―padeceu pelos pecados‖ (I
Pe 3:18), e ―os levou no madeiro‖ (I Pe 2:24). Esta afirmação explícita é uma das
verdades fundamentais do Evangelho. O fato que Cristo levou nossos pecados significa
que Deus atribuiu os nossos pecados a Ele e ―fez cair sobre Ele a iniquidade de nós
todos‖ (Is 53:6). ―Ele foi contado com os transgressores, mas ele levou sobre si o
pecado de muitos‖ (Is 53:12). O propósito de Cristo levar o nosso pecado foi para que
nós, tendo morrido para o pecado, pudéssemos viver para a justiça.
A verdade que Cristo levou nossos pecados é repetida em muitos lugares no Novo
Testamento: ―Assim, também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de
muitos‖ (Hb 9:28). ―Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por
nós‖ (Gl 3:13). Quão pessoal é a linguagem de I Pedro 2:24: ―Ele mesmo … em seu
corpo … nossos pecados‖. Tão certo como foi Cristo mesmo que sofreu na cruz, foram
também os nossos próprios pecados que Ele levou no Seu corpo no madeiro. Neste
versículo, parece que Pedro está lembrando seus leitores da maldição associada com o
castigo judicial pelo pecado em Deuteronômio 21:23: ―porquanto o pendurado é maldito
de Deus‖. A maldição daquele que levou o nosso pecado é enfatizada por Paulo:
―maldito todo aquele que for pendurado no madeiro‖ (Gl 3:13), e foi pregado por Pedro
em Atos 5:30, 10:39, 13:29.
Esta expiação é final e completa. Ele levou, mas não leva mais. O pecador e o Fiador
do pecador ambos estão livres. A lei foi vindicada. Deus está satisfeito. O sacrifício
substituinte foi consumido inteiramente. Ele terminou a Sua obra. O clamor ―está
consumado‖ (Jo 19:30) foi enfaticamente afirmado. O pecado foi tratado de uma vez
por todas.
Ele sofreu pelos pecados
―Também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-
nos a Deus‖ (I Pe 3:18). Seu sofrimento na cruz, pelos pecados, foi uma única vez.
Cristo sofreu para tratar da separação e alienação causadas pelo pecado, e assim nos
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conduzir a Deus. Este fato se torna ainda mais claro quando Pedro acrescenta ―o justo
pelos injustos‖. Sendo justo, Cristo não tinha culpa Sua a pagar, portanto Ele podia ser o
Substituto que morreu em nosso lugar, sofrendo o castigo que nós merecíamos.
Seu sofrimento pelos pecados é uma parte básica e essencial da nossa pregação,
como Paulo afirma: ―Expondo e demonstrando que convinha que o Cristo padecesse e
ressuscitasse dentre os mortos. E este Jesus, que vos anuncio, é o Cristo‖ (At 17:3). O
lugar do Seu sofrimento foi fora da cidade, isto é em separação total do mundo político,
e fora do arraial, isto é longe do mundo religioso — as duas esferas que O haviam
rejeitado. ―E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue,
padeceu fora da porta‖ (Hb 13:12).
O efeito benéfico do Seu sofrimento é repetido em I Pedro 2:24: ―e pelas suas feridas
fostes sarados‖. A palavra ―feridas‖ usada aqui e em Isaías 53:5 está no singular (no
original), enfatizando que Deus administrou juízo pelo pecado, durante o terrível
período de trevas, desde a hora sexta até a hora nona. Este juízo foi profetizado no
Velho Testamento: ―Todavia, ao Senhor agradou moê-lo‖ (Is 53:10). Pedro usa esta
idéia do efeito curativo da ferida em Isaías 53:5, e aplica a palavra no sentido moral:
pela ferida de Cristo nós fomos sarados do pecado. Aqui, de novo, temos a idéia do
castigo de um substituto. Cristo tomou sobre Si o castigo que nós merecíamos, e assim
nos fez, moral e espiritualmente, sadios.
A Sua espada Deus chamou;
Ó Cristo, contra Ti alçou!
Teu sangue sua lâmina banhou,
Teu coração bainha se tornou,
Tudo foi por mim, para me dar paz,
E a espada agora no sono jaz.
A. R. Cousin (tradução literal)
O efeito do pecado no salvo
Embora tenhamos o perdão dos pecados, somos justificados pela fé, reconciliados
com Deus, santificados, constituídos justos, e remidos pelo Seu precioso sangue, ainda
lutamos com o problema do pecado. Quanto ao pecado, gozamos do benefício da obra
judicial de Cristo, e por causa da Sua obra sacrificial, nunca seremos condenados, pois
―quem crê nele não é condenado‖ (Jo 3:18). ―Portanto, agora nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus‖ (Rm 8:1). Contudo, as Escrituras nos fazem lembrar
que o pecado ainda é um poder que temos que enfrentar na nossa vida, diariamente.
Paulo resume isto da seguinte maneira: ―Porque eu sei que em mim, isto é, na minha
carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo
realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.
Ora, se eu faço o que não quero já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim‖
(Rm 7:18-20).
Pecados confessados são pecados perdoados. ―Se confessamos os nossos pecados, ele
é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça‖ (I Jo 1:9).
O pecado na vida do salvo merece a mão disciplinadora de Deus, como explica
Hebreus 12:1-11. A falta de discernimento na Ceia do Senhor é pecado, e o seu juízo em
Corinto era que havia ―muitos fracos e doentes, e muitos que dormem‖ (I Co 11:30).
O pecado na vida de um salvo também precisa ser tratado na igreja local onde ele
reúne. Temos exemplos disto. Pecado moral (I Co 5:1-8); pecado doutrinário (Hb 3:12-
13); pecado pessoal (Mt 18:15-20).
Conclusão
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Cap. 2 — Arrependimento
Walter A Boyd, Irlanda do Norte.
Introdução
O Senhor Jesus colocou grande ênfase no assunto do arrependimento quando
afirmou: ―se não vos arrependeres, todos de igual modo perecereis‖ (Lc 13:3). Com a
mesma ênfase Paulo, pregando no Areópago, disse: ―Deus … anuncia agora a todos os
homens, e em todo lugar, que se arrependam‖ (At 17:30). De fato, no livro de Atos o
arrependimento é muito destacado na pregação de todos os servos do Senhor. Por causa
desta ênfase bíblica sobre este assunto, é importante que entendamos o que a Bíblia quer
dizer com a palavra arrepender-se, nas suas várias formas. Há opiniões diferentes sobre
o que o arrependimento significa, e isto acrescenta à confusão nas mentes daqueles que
procuram conhecer a verdade.
A doutrina bíblica do arrependimento forma uma ponte entre o pecado e o perdão.
Não existe outro caminho para se obter o perdão de pecados a não ser pelo
arrependimento. O pecado é um assunto muito popular; nenhum outro é mais discutido,
amado ou praticado pela raça humana. Transcende todas as barreiras conhecidas da
humanidade: raciais, geográficas, sociais, ou religiosas. Lamentavelmente, muitos
cometem pecado sem qualquer consideração do Santo Deus que coloca exigências sobre
Suas criaturas: eles não sentem qualquer responsabilidade para com Deus. Outros, que
são mais responsáveis, procuram exercer algum domínio moral nas suas vidas. Os que
lêem, ou têm algum conhecimento da Bíblia, conhecem, até certo ponto, o que Deus
chama de pecado. A única fonte confiável de informação sobre o pecado e suas
consequências é a Palavra de Deus. Se as pessoas não cometessem pecados, não
existiria necessidade de arrependimento. Contudo, estamos cercados, diariamente, pelo
pecado, e sem arrependimento não há livramento dos seus efeitos mortíferos. Cada
pecado, qualquer que for a sua magnitude, é uma afronta grave contra Deus. No entanto,
Deus, que é tão gravemente ofendido pelo nosso pecado, planejou um caminho pelo
qual pecados podem ser perdoados. É aqui que o arrependimento se encaixa no esquema
da bênção divina. O arrependimento é essencial para o perdão, portanto precisamos
aceitar a exigência que Deus faz dela e a sua definição na Bíblia.
O que é o arrependimento?
O arrependimento aparece tanto no Velho como no Novo Testamento, principalmente
nas seguintes palavras:
Velho Testamento:
Nachan (Êx 13:17) — suspirar, respirar profundamente. Significa lamentar ou
entristecer-se.
Shuwb (I Rs 8:47) — recuar, voltar atrás.
Novo Testamento:
Metanoia (Mt 3:8) — mudar de opinião.
Metanoeo (Mt 3:2) — pensar diferentemente depois.
Seja como substantivo ou como verbo, a idéia predominante no arrependimento
bíblico é pensar posteriormente, ou reconsiderar. Vale a pena notar que esta
reconsideração nem sempre é sobre o pecado, mas é às vezes uma mudança de mente
em relação a uma maneira de agir (Gn 6:6, Êx 13:17). Contudo, durante os séculos, uma
série de idéias e confusões sobre traduções levou à idéia subjetiva de tristeza, ou sentir
arrependimento pelos pecados cometidos. Os Pais Latinos
traduziram metanoia como paenitentia, que veio a significar penitência, ou atos de
penitência. Assim, a doutrina bíblica do arrependimento se tornou ofuscada e confusa, a
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tal ponto que chegou ao erro total, quando pecadores foram ensinados a sentir tristeza e
praticar atos de penitência para obter o perdão dos seus pecados. No verdadeiro
arrependimento há um elemento de remorso pelos pecados, que leva a uma mudança
definitiva de atitude e de ação. Mas a atividade associada ao arrependimento não é a
prática de um ato religioso para remediar os pecados. Antes, é uma mudança de opinião
sobre atos pecaminosos, parando de fazê-los imediatamente. O conceito fundamental do
Novo Testamento é que o arrependimento é uma mudança de opinião em relação aos
pecados. Esta mudança de opinião resultará num modo de vida em harmonia com a
atitude ao pecado vista em Mateus 3:8: ―Produzi, pois, frutos dignos de
arrependimento‖. Contudo, desviar-se do pecado não é o suficiente para a salvação; é
necessário aproximar-se de Cristo pela fé, como Paulo menciona em Atos 20:21:
―Testificando, tanto aos judeus como aos gregos, a conversão a Deus, e a fé em nosso
Senhor Jesus Cristo‖.
A prioridade do arrependimento no NT
Um leitor atento do Novo Testamento não pode deixar de ver a prioridade dada ao
assunto do arrependimento.
1. João Batista
Em Mateus 3:1-2 vemos que a mensagem de João dá prioridade ao arrependimento,
que é mencionado em primeiro lugar. ―E, naqueles dias, apareceu João o Batista
pregando no deserto da Judéia, e dizendo: Arrependei-vos porque é chegado o reino dos
céus‖. A pregação de João sobre o arrependimento era o cumprimento da promessa do
anjo, dada a Zacarias seu pai, antes do seu nascimento. ―Mas o anjo lhe disse: Zacarias
não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e
lhe porás o nome de João … E converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu
Deus‖ (Lc 1:13, 16). Seu ministério de converter muitos ao Senhor foi visto no
arrependimento deles; eles mudaram de opinião em relação ao seu pecado e às
exigências de Deus nas suas vidas.
2. O Senhor Jesus Cristo
―E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galiléia, pregando o
evangelho do reino de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está
próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho‖ (Mc 1:14). Devemos notar a grande
semelhança entre a pregação de João Batista e a do Senhor Jesus. Ambos ligaram o
arrependimento com o reino, mas o Senhor agora introduz o conceito adicional da fé,
com as palavras ―Arrependei-vos, e crede no evangelho‖. Atualmente há dois reinos; o
reino de Deus e o reino de Satanás. Um é caracterizado pela justiça, luz e Cristo; o outro
é caracterizado pelo mal, trevas e Satanás. A cidadania num reino é obtida por se nascer
nele. Nós nascemos no reino deste mundo, e por natureza o nosso caráter é mau e
injusto. Aqueles que são salvos nasceram no reino de Deus, e agora têm uma natureza
que manifesta luz e justiça. O novo nascimento é pelo Espírito Santo: ―na verdade, na
verdade, te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus‖ (Jo
3:3); e é, exclusivamente, o resultado da fé: ―para que todo aquele que nele crê, não
pereça, mas tenha a vida eterna‖ (Jo 3:15).
Devemos entender claramente que o arrependimento não é a entrada no reino de
Deus; é a renúncia, pelo pecador, do reino onde o pecado reina. Como cidadãos daquele
reino mau nós não temos condições de sermos súditos do reino da justiça; temos de
renunciar nossos pecados. O arrependimento do pecado e a fé em Cristo, como
Salvador, são coisas simultâneas. A fé e o arrependimento são dois lados da mesma
moeda, ou os dois pés no passo da conversão. Além de ser o primeiro tema na pregação
do Senhor Jesus, o arrependimento foi também o tema final na Sua pregação. Depois da
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Sua ressurreição Ele estava falando com Seus discípulos, e ―abriu-lhes o entendimento
para compreenderam as Escrituras. E lhes disse: Assim está escrito, e assim convinha
que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, e em seu nome
se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando
por Jerusalém‖ (Lc 24:45-47).
3. Os discípulos
Em Marcos 6:12 temos o relato dos doze enviados para pregar. ―E, saindo eles,
pregavam que se arrependessem‖. A prioridade da sua pregação foi exatamente aquela
do Senhor Jesus, que substituiu a pregação sobre o arrependimento feita pelo Seu
precursor João Batista. Eles seguiram os passos de todos os pregadores enviados por
Deus, com sua mensagem clara de arrependimento, que também estava ligada a uma
proclamação do reino: ―E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus‖ (Mt 10:7).
4. O apóstolo Pedro
No dia de Pentecostes, em Jerusalém, Pedro pregou a primeira mensagem desta
presente dispensação da graça. Sua mensagem foi simples, objetiva e no poder do
Espírito Santo, ao ponto de seus ouvintes serem compungidos em seus corações e
perguntarem: ―Que faremos, homens irmãos‖ (At 2:37). A resposta de Pedro começou
com a palavra toda importante,arrependei-vos. ―E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e
cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos pecados; e
recebereis o dom do Espírito Santo‖ (At 2:38). Mais tarde, quando Pedro e João foram
ao templo para orar, eles curaram um homem paralítico, e houve grande alvoroço entre
o povo. A sua curiosidade e admiração forneceu uma boa oportunidade para Pedro
pregar o Evangelho, e ao fazê-lo ele disse: ―Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para
que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela
presença do Senhor‖ (At 3:19). Perto do final do ministério de Pedro no Novo
Testamento, temos a sua última menção deste mesmo tema em II Pedro 3:9: ―O Senhor
não retarda a sua promessa; ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para
conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se‖.
Através de toda a sua vida de serviço útil como pregador do Evangelho a mensagem de
Pedro não mudou, e ela continuará a mesma até a consumação do século.
5. O apóstolo Paulo
Pregando no Areópago, Paulo manifesta a ignorância do coração do homem não
regenerado, e diz: ―Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia
agora a todos os homens, e em todo lugar, que se arrependam‖ (At 17:30). A reação dos
corações de alguns à sua mensagem foi uma reação de fé: ―todavia, chegando alguns
homens a ele, creram. Entre os quais foi Dionísio, areopagita, uma mulher por nome
Damaris, e com eles outros‖ (At 17:34). Mais tarde, quando Paulo chama os anciãos de
Éfeso a Mileto, ele relata a sua vida e ministério na Ásia, e ele lhes diz: ―Nada, que útil
seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas casas, testificando, tanto a
judeus como aos gregos, a conversão a Deus, e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo‖ (At
20:20-21). Em Romanos 2:3-4, Paulo escreve: ―E tu, ó homem, que julgas os que fazem
tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? Ou desprezas tu as
riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade
de Deus te leva ao arrependimento?‖ A bondade e benignidade de Deus deve fazer o
pecador reconsiderar a sua atitude para com Deus e para com o seu pecado contra Deus.
6. O apóstolo João
João não menciona o arrependimento no seu Evangelho ou nas suas epístolas, mas
em Apocalipse caps. 2 e 3 ele repassou a mensagem de arrependimento, enviada pelo
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Cristo ressurrecto, a cinco das sete igrejas locais. Para elas, o arrependimento não era
para obter entrada no reino, por meio da salvação, mas mesmo assim, era para o perdão
dos pecados. O perdão tanto para o incrédulo como para o salvo exige arrependimento e
o abandono do pecado.
O elo entre o arrependimento e a fé
Como é que o arrependimento e a fé estão ligados? Qual é mais importante? Será que
um produz o outro? Perguntas como estas têm ocupado a mente de ensinadores e
comentaristas durante séculos. Alguns têm colocado mais ênfase em um do que no
outro, causando confusão onde deveria haver clareza e convicção. Colocar um em
oposição ao outro, ou priorizar um mais que o outro, é falhar no ensino das Escrituras.
As duas verdades são inseparáveis na experiência da conversão. O verdadeiro
arrependimento está intimamente ligado à verdadeira fé — nenhum dos dois se mantém
sozinho. O pecador não pode deixar o pecado e voltar-se ao nada; isso não seria
verdadeiro arrependimento. Também, o pecador não pode voltar-se a Deus em
verdadeira fé sem mudar a sua opinião sobre o pecado, de outra forma não seria
verdadeira fé. É necessário voltar de para poder voltar para. Quando um pecador se
arrepende, ele vira as costas a si mesmo e ao pecado; e quando ele crê em Cristo, ele
confia inteiramente nEle como Salvador. Deixar o pecado sem confiar em Cristo seria
somente uma reforma; e chegar-se a Cristo sem arrependimento nada mais é do que
emoção religiosa.
Alguns versículos mencionam somente o arrependimento, ou somente a fé em Cristo.
Isso significa que o pecador é salvo somente pelo arrependimento sem fé em Cristo? Ou
será que alguns versículos ensinam que o pecador pode ser salvo somente pela fé em
Cristo, sem arrependimento? Se adotarmos este raciocínio, então a Bíblia apresenta dois
caminhos de salvação — um pela fé e outro pelo arrependimento! Mas não é assim, e
precisamos prestar atenção ao ensino completo das Escrituras sobre a salvação. As
palavras do Senhor: ―Arrependei-vos e crede no Evangelho‖ (Mc 1:15), e a afirmação
clássica de Paulo: ―Arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo‖
(At 20:21, ARA), colocam ambos os conceitos juntos, porque ambos são essenciais para
a salvação. Como já foi mencionado, são os dois pés necessários no passo único da
conversão que tira o pecador das trevas e o conduz à luz. Onde somente a fé é
mencionada, o contexto revela por que a verdade do arrependimento é omitida. Por
exemplo, em Atos 16: 30-31, o carcereiro tremulo perguntou: ―Que devo fazer para que
seja salvo?‖ Paulo e Silas responderam: ―Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo‖. Por
que eles não mencionaram o arrependimento? O apóstolo podia ver, claramente, que o
carcereiro estava convicto do seu pecado e não precisava ser instruído a deixá-lo. O
Espírito Santo já lhe havia revelado a corrupção do seu coração. Foi por isso que ele
clamou ―que devo fazer para que seja salvo?‖ Ele queria ser salvo da terrível
calamidade e castigo do seu pecado.
Algumas observações sobre o arrependimento
Visto que o verdadeiro arrependimento e a verdadeira fé são necessários para a
salvação, não nos surpreende ver que Satanás procura subverter aquele que
sinceramente busca a salvação. Ele é o mestre das falsificações, e tem conseguido iludir
muitos e levá-los a aceitar o erro em relação ao arrependimento. A maior tragédia
pessoal é crer em algum erro propagado por Satanás para a salvação eterna, portanto
vamos agora identificar, resumidamente, alguns dos erros comuns relacionados com o
arrependimento.
1. Reforma de vida não é arrependimento
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relação à sua atitude para com o pecado. No momento da conversão, um ato inicial de
arrependimento e fé em Cristo produz uma atitude contínua de fé e arrependimento.
Com alguns, parece haver uma repetição continua de arrependimento, sem nunca
estarem verdadeiramente arrependidos — eles continuam a voltar aos seus velhos
caminhos. O verdadeiro arrependimento exige uma mudança de atitude permanente,
uma completa mudança de direção, que se manifesta num novo estilo de vida.
5. Arrependimento significa abandonar o que sou e o que tenho feito
Depois de Natã, o profeta, ter confrontado Davi com o seu pecado, e depois dele
receber o perdão porque se arrependeu, Davi, no Salmo 51:3, 5, escreveu as seguintes
palavras: ―Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre
diante de mim … Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha
mãe‖. Davi sentiu profundamente o que ele era (v. 5) e o que ele fizera (v. 3). Por isso
ele clamou por misericórdia pelo que tinha feito: ―Purifica-me com hissope, e ficarei
puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve‖ (v. 7). Seus pecados precisavam de
purificação e perdão, que somente Deus podia dar. Sua convicção de pecado também o
levou a declarar o que ele era: ―Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em
mim um espírito reto‖ (v. 10). O fato dele ser pecador também precisava ser corrigido
por Deus; seu homem interior (―coração‖ e ―espírito‖) também precisava ser mudado.
Davi reconheceu que todo pecado é a expressão de uma natureza pecaminosa. O
verdadeiro arrependimento precisa ir além de reconhecer o que fiz; precisa também
incluir um reconhecimento do que sou — um pecador por nascimento e por natureza. O
arrependimento é ter novos pensamentos sobre a raiz e também sobre o fruto do pecado.
Eu não mais aprecio e amo os meus pecados; eu também odeio o que sou como uma
pessoa pecadora. Escondidos debaixo dos pecados estão as raízes do orgulho, egoísmo e
incredulidade. Estas raízes perniciosas produzem uma variedade de frutos venenosos, e
enquanto as raízes não forem tratadas em arrependimento perante Deus, elas produzirão
fruto em abundância. Este aspecto do arrependimento desafia o próprio cerne dos
pensamentos modernos sobre o homem. O homem não regenerado é enaltecido como o
exemplo perfeito de tudo que é bom e louvável, e deve pensar muito bem de si mesmo.
A maioria dos conselhos sobre como progredir na vida incluem muitos elogios de si
mesmo e maneiras de aumentar a auto estima, mas tudo isso é estranho ao conceito das
Santas Escrituras sobre o homem caído e em necessidade de perdão.
Evidências de arrependimento
Em II Coríntios 7 o apóstolo Paulo dá um relato analítico do verdadeiro
arrependimento da igreja em Corinto. Na sua primeira epístola ele identificou os seus
vários pecados, e apresentou como deveriam ser tratados. Ele diz, em II Coríntios 7:8-9,
que sua carta anterior causou-lhes tristeza, mas que ele estava satisfeito com isto:
―Porquanto, ainda que vos contristei com a minha carta, não me arrependo, embora já
me tivesse arrependido por ver que aquela carta vos contristou, ainda que por pouco
tempo. Agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para
arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não
padecestes dano em coisa alguma‖. Ele não estava contente pela tristeza que sentiram
quando foram convictos através da sua primeira epístola; mas ele estava alegre porque
sua tristeza produzira o arrependimento. Ele também mostra que há um tipo de tristeza
causada pelo pecado que é experimentado pelo mundo; mas que não é o resultado da
convicção do pecado. É simplesmente tristeza por causa das consequências do pecado, e
não por causa do pecado. Há uma grande diferença! Quer seja na salvação do pecador
ou na restauração do salvo desviado, é necessário haver arrependimento, e em ambos os
casos as evidências serão as mesmas. Há princípios fundamentais vistos em todo caso
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universal, ele continua, nos vs. 10-18, citando as Escrituras do Velho Testamento como
testemunha destas acusações: ―Como está escrito: Não há justo, nem um sequer. Não há
ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e
juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nenhum só. A sua
garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de
áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os
seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e
não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos‖.
Que lista de acusações! Elas são apresentadas ―para que toda boca esteja fechada e
todo o mundo seja condenável diante de Deus‖ (Rm 3:19). Quando o Espírito Santo
aplica estas verdades ao coração não regenerado, o resultado é convicção do pecado,
sem a qual não pode haver arrependimento.
2. É preciso haver contrição
Quando uma pessoa está profundamente convencida do seu pecado e da sua
necessidade de perdão, há contrição genuína perante Deus. Davi fala disto no Salmo
51:17: ―Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado
e contrito não desprezarás, ó Deus‖. Contrição é um sentimento de quebrantamento
perante Deus. É a ausência do orgulho e auto estima. Em Mateus 5:3 o Salvador fala de
contrição como um meio de bênção: ―bem aventurados os pobres de espírito, porque
deles é o reino dos céus‖. O verdadeiro arrependimento nunca será visto numa pessoa
que tem um sentimento de orgulho quando confrontada com os seus pecados.
3. É preciso haver um espírito humilde
A convicção do pecado produz contrição e a contrição produz humildade. ―A soberba
do homem o abaterá, mas a honra sustentará o humilde de espírito‖ (Pv 29:23). Não há
evidência de arrependimento no pecador orgulhoso que recusa se prostrar e chegar a
Deus com um espírito de humildade: ―Ainda que o Senhor é excelso, atenta todavia para
o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe‖ (Sl 138:6). ―Aquele que murmura do
seu próximo às escondidas, eu o destruirei; aquele que tem olhar altivo e coração
soberbo, não suportarei‖ (Sl 101:5). Provavelmente o orgulho é o maior obstáculo à
bênção e ao perdão, quer na salvação de pecadores ou na restauração dos salvos. Não
podemos obter misericórdia se não nos humilharmos perante Deus. A humildade é
obrigatória para o arrependimento e o perdão.
4. É preciso haver confissão
Através do Velho e do Novo Testamentos, há uma constante exigência de confissão
dos pecados para se obter o perdão. Quando o pecado entrou no jardim do Éden, as
perguntas de Deus a Adão e Eva pretendiam provocar confissão: ―Onde estás? Quem te
mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?‖
(Gn 3:9-11). Será que Deus não conhecia as respostas? Claro que sim! Ele estava, em
graça, confrontando-os com os seus pecados e dando-lhes uma oportunidade para
confessá-los. ―O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as
confessa e deixa, alcançará misericórdia‖ (Pv 28:13). Esta exigência de confissão se
aplica também ao salvo que pecou. Cometer pecados ocultos requer uma confissão
pessoal a Deus, depois da qual o perdão e purificação são dados: ―Se confessarmos os
nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a
injustiça‖ (I Jo 1:9). O pecado público precisa ser confessado, em primeiro lugar a Deus
e depois àqueles que foram prejudicados pelo nosso pecado: ―Confessai as vossas
culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis‖ (Tg 5:16). Tanto nos
casos de pecado pessoal ou público a retribuição precisa ser feita quando exigida, como
parte do ato de arrependimento. Vemos isso no caso de Zaqueu, quando ele disse:
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―Senhor, eis que eu dou aos pobres metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho
defraudado alguém, o restituo quadruplicado‖ (Lc 19:8). A confissão deve ser feita com
cuidado e consideração para não causar obstáculo a outros, e precisa ser completa e
total.
Uma parábola sobre arrependimento
Provavelmente a parábola tríplice em Lucas 15 é a mais bem conhecida de todas as
parábolas do Senhor. É também a mais extensa, e dá mais ensino detalhado do que
qualquer outra. É necessário incluí-la aqui, pois o seu tema principal é o
arrependimento. A parábola foi em resposta às murmurações dos escribas e fariseus: ―E
chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os
escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles‖. Eles
reclamavam da associação do Salvador com pecadores. Através de uma parábola, o
Senhor explicou que Ele tinha prazer em estar na companhia daqueles que os líderes
religiosos desprezavam. Há três casos no Evangelho de Lucas que falam da
murmuração dos escribas e fariseus. A reação do Senhor nestas três ocasiões nos
fornece o Seu ensino sobre o arrependimento.
Em 5:30 eles ―murmuravam contra seus discípulos, dizendo: por que comeis e bebeis
com publicanos e pecadores?‖. Jesus respondeu a esta murmuração dizendo que ―não
necessitam de médico os que estão sãos, mas, sim, os que estão enfermos. Eu não vim
para chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento‖. Em 15:2, a
murmuração é diretamente contra o Senhor Jesus mesmo, quando eles disseram: ―Este
recebe pecadores, e come com eles‖. O Senhor respondeu a esta reclamação explicando
novamente que Sua aceitação de pecadores é com base no seu arrependimento. No cap.
19, quando Zaqueu se arrependeu, novamente houve murmuração; mas aqui foi por
―todos‖ que ―vendo isto murmuravam‖ (v. 7). A murmuração dos líderes tinha, como o
fermento, se espalhado a todo o povo.
Em cada um destes três trechos há uma reclamação contra o Senhor e Seus
discípulos:
5:30 — ―Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?‖
15:2 — ―Este recebe pecadores e come com eles‖.
19:7 — ―… entrara para ser hóspede de um homem pecador‖.
Na Sua resposta a cada reclamação, há uma afirmação clara do Salvador para explicar
o ato de amor e misericórdia divina para com os que se arrependem.
5:32 — ―Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento‖.
15:7 — ―Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se
arrepende‖.
19:10 — ―Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido‖.
Em cada resposta o Senhor coloca uma ênfase diferente, mas todas falam sobre o
arrependimento. No cap. 5 Ele enfatiza a necessidade do pecador; no cap. 15 é a alegria
do pecador e do Pai; e no cap. 19 é a bênção do pecador.
Não há nenhuma outra parábola tão cheia de detalhes sobre a verdade evangélica
como esta parábola tríplice em Lucas 15. Seria além do alcance deste artigo expor tudo,
mas escolheremos os princípios salientes relacionados com o arrependimento. Não há
dúvida de que temos de interpretar a parábola como falando da salvação de um pecador,
e não da restauração de um salvo. Embora haja semelhanças no arrependimento de
ambos, o contexto e conteúdo aqui mostram que o ensino é sobre o arrependimento para
a salvação. A platéia nesta ocasião era composta de ―publicanos e pecadores‖ (15:1). O
pecado do filho o levou a uma terra distante onde ele é descrito como estando ―perdido
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e morto‖ (v. 32). Seu arrependimento o trouxe a um lugar de gozo e bênção onde ele foi
―achado e vivo‖ (v. 32). Estas descrições são apropriadas à salvação, e não à
restauração.
Ao tratar da ovelha perdida e da moeda de prata perdida, o Senhor não fala nada
sobre qualquer ação por parte do perdido; toda a atividade é dos donos enquanto buscam
o que é realmente seu. O pastor vai atrás da ovelha perdida, caso contrário ela morreria.
A mulher procura diligentemente até que encontra a moeda perdida, senão ela ficaria no
escuro. O ensino é claro: Se Deus não agir primeiro em misericórdia para com o
pecador perdido, não haverá salvação. Um pecador nunca se arrependerá, nem sentirá o
desejo de se arrepender, se Deus não começar a trabalhar no coração através do Espírito
Santo. Contudo, para completar o quadro, a ênfase muda na parábola do filho perdido.
Não é somente Deus que precisa trabalhar no coração em convicção, mas o pecador
precisa responder à convicção. Se o pecador não quiser se arrepender, não haverá
bênção. O filho era responsável pelos seus pecados, e também era responsável pelo seu
próprio arrependimento.
Os problemas do filho pródigo começaram com a sua cobiça, quando disse ―dá-me‖
(15:12). Os problemas da raça humana começaram quando uma cobiça semelhante
surgiu no coração de Adão e o levou a comer do fruto de uma árvore proibida por Deus.
Tanto para Adão como para o filho pródigo, o problema rapidamente os mergulhou em
trevas e desespero. Para o Pródigo não poderia haver bênção até que ele começasse a
desejar uma mudança. Na descrição do Salvador sobre os pensamentos do pródigo sobre
si mesmo, seu pecado, e seu pai, temos uma explicação do que é arrependimento.
O arrependimento do pecador é exatamente isso — uma mudança de pensamento
sobre si mesmo, sobre seu pecado, e sobre Deus. A mente do rapaz começou a funcionar
— ―tornando em si‖ (v. 17); ele mudou suas opiniões sobre suas escolhas passadas e
para onde o levaram. Sua memória começou a funcionar e ele se lembrou da casa do seu
pai (v. 17); ele mudou sua opinião sobre a grande provisão que havia na casa do pai.
Sua miséria começou a operar — ―eu aqui pereço de fome‖ (v. 17); ele mudou sua
opinião sobre a sua condição atual. Isso nos mostra onde começa o verdadeiro
arrependimento: na mente. Envolve uma mudança de mente. Mas, se ele não agisse em
relação aos seus novos pensamentos, ele teria morrido no campo; é preciso haver
também uma mudança de coração em relação ao seu pai. Ele resolveu se levantar e
voltar ao seu pai e confessar o seu pecado (v. 18). Que momento quando a mudança de
mente e do coração foi manifestada numa mudança de direção, e ―ele levantando-se, foi
para seu pai‖ (v. 20). No começo da história ele ―partiu para uma terra longínqua‖ (v.
13), mas agora ele está de volta. Ele resolveu ser honesto com seu pai sobre:
Suas obras — ―pequei …‖ (v. 13).
Seu valor — ―não sou digno de ser chamado teu filho‖ (v. 19).
Seu desejo — ―faze-me como um dos teus jornaleiros‖ (v. 19).
Entretanto, quando seu pai correu ao seu encontro, e o rapaz expressou sua confissão
sobre suas obras e indignidade (v. 21), a coisa parou por ali. Ele não teve oportunidade
de expressar seu desejo de ser um jornaleiro. Ele foi acolhido pelo abraço amoroso e
pela expressão de graça do seu pai. Há uma interrupção bendita do pai, no v. 22: ―Mas o
pai disse aos seus servos …‖. Este é o grande princípio da graça no perdão. O pai não
escutará propostas; a bênção não pode ser negociada ou trocada por penitência.
Semelhantemente, a bênção é nos termos de Deus, inteiramente: não é para o pecador
arrependido dizer a Deus o que ele está preparado a fazer para ser aceito. O
arrependimento traz o pecador da ―terra longínqua‖ para confessar aos pés do Pai, onde
a remissão é concedida sem retribuição, a graça é estendida sem relutância por Deus, e o
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Cap. 3 — Salvação
James B. Currie, Japão.
Se o pecado não tivesse contaminado o universo perfeito de Deus, e aparentemente o
fez duas vezes, a salvação nunca teria sido necessária. A primeira ocorrência de pecado
foi na revolta angelical relatada em Isaías 14, quando Lúcifer quis conquistar,
ilegalmente, o que o trono divino representava. É no contexto deste acontecimento
importante que Apocalipse 12 deve ser interpretado. A linguagem metafórica do
capítulo descreve como Satanás, chamado ―o dragão‖, levou com ―sua cauda‖ a terça
parte dos seres celestes para seus propósitos malignos. A resposta de Deus a esta
insurgência foi precipitar, imediatamente, os participantes para um estado onde estão
presos em ―cadeias da escuridão‖, esperando o juízo futuro, sem qualquer esperança de
salvação.
Em contraste com a decisão imutável, em relação à iniquidade de ―Satanás e seus
anjos‖, temos a revelação da infinita misericórdia de Deus para com o homem quando,
pela sua desobediência, o pecado invadiu o seu domínio. Apesar de Adão e Eva terem,
voluntariamente, escolhido um caminho de rebelião, naquela mesma ocasião Deus deu
evidências claras do Seu propósito para a restauração das Suas criaturas pecadoras. Este
processo, mencionado pela primeira vez no jardim do Éden, e que permeia todas as
Escrituras, é chamado, ―salvação‖. Enquanto os transgressores angelicais estão
reservados para o fogo eterno preparado para eles (Mt 25:41), a transbordante
benevolência de Deus (Tt 3:3-5) decretou um caminho pelo qual o homem pode ser
reconciliado com seu Criador e resgatado das consequências terríveis do pecado. Logo
vemos que a salvação, nos seus muitos aspectos, tem a ver com o pecado e o livramento
das suas consequências.
A palavra ―salvação‖ aparece na versão AV em inglês 163 vezes (118 vezes no VT e
45 vezes no NT). Este fato em si prova como este assunto é tão difundido na Palavra de
Deus. Em ambos os Testamentos a palavra significa a mesma coisa: resgate,
libertação, segurança e perseverança. Sem dúvida, é a mais compreensiva doutrina
das Escrituras da Verdade. Este assunto reúne todos os principais temas da Bíblia,
dando uma revelação extensiva da obra salvadora de Deus em prol da Sua criação
pecadora e perdida. A primeira e a última menção da palavra nas Escrituras são
significantes. Jacó, em Gênesis 49:18, diz: ―a tua salvação espero, ó Senhor‖. Sua
afirmação é feita no contexto do comportamento traiçoeiro de Dã. Lembrando que, no
começo, o Maligno assumiu a forma de uma serpente e que foi ele mesmo que inspirou
o mau comportamento de Dã, especialmente como é enfatizado no livro de Juízes, Jacó
mostra plena confiança na consumação final da salvação. A última menção da palavra é
em Apocalipse 19:1. A confiança de Jacó não foi mal colocada. O pecado já foi tratado
e as últimas etapas angustiosas da ira do Deus Todo Poderoso estão prestes a cair,
quando a ―salvação‖ com sua resultante ―glória, e honra, e poder‖ é atribuída ―ao
Senhor nosso Deus‖. Assim, este grande assunto de salvação pode ser chamado ―a pedra
angular‖ de todo o ensino bíblico.
Para que possamos considerar o assunto geral da salvação de uma maneira
sistemática, seguiremos o seguinte esboço:
1. Descobrindo a origem
a) As possibilidades limitadas
b) A importância singular
c) A doutrina inflexível
2. Definindo o propósito
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a) O significado admirável
b) A base justa
c) A motivação divina
3. Descrevendo a obra
a) O meio misericordioso
b) O alcance universal
c) Os termos incondicionais
4. Detalhando os resultados
a) A provisão maravilhosa
b) As exigências rigorosas
c) A consumação gloriosa
1. Descobrindo a origem
a) As possibilidades limitadas
A nossa primeira consideração precisa ser sobre a origem da salvação. Visto que o
Diabo e os espíritos maus associados com ele, por causa do seu caráter pernicioso, estão
empenhados na destruição de tudo o que é bom e santo, eles estão imediatamente fora
de qualquer consideração quanto à origem desta grande obra. Como é também evidente
que a libertação do homem das consequências do pecado não pode ser acidental, as
opções são claras. Se esta condição tão feliz pode ser experimentada, então o próprio
homem, ou Deus, ou uma associação de ambos, precisa ser o responsável por ela. Em
desacordo com a opinião mal orientada de muitos, é contrário tanto à história como à
experiência pessoal afirmar que o homem pode salvar-se a si mesmo. Paulo, falando da
escolha feita por Deus, a chama de ―a eleição da graça‖, e continua dizendo: ―se é por
graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas
obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra‖ (Rm 11:5-6). Na sua
carta a Tito, ele também afirma: ―não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas
segundo a sua misericórdia, nos salvou‖ (Tt 3:5). Os escritores do Velho Testamento
concordam com isto. Veja, por exemplo, Isaías 64:6: ―Mas todos nós somos como o
imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia, e todos nós murchamos
como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam‖. Não há nenhum
versículo nas Escrituras que, lido no seu contexto, pode ser usado para provar que a
libertação do homem pode ser efetuada pelo seu próprio esforço. Também, a obra da
salvação não pode ser considerada como um esforço corporativo, efetuado em parte por
Deus e em parte pelos homens. Aos olhos de um Deus santo o estado do homem é tão
ruim que somente o poder divino é capaz de efetuar a sua salvação. Como as palavras
de Romanos 11 (citadas acima) dizem, o bem estar espiritual do homem precisa ser
inteiramente da graça, ou inteiramente de obras. Não pode ser uma combinação de
ambos. Do ventre do grande peixe Jonas clamou: ―Do Senhor vem a salvação‖ (2:9).
Aqueles que seguem nas pegadas do profeta podem dizer com J. M. Gray:
Abandonando a vanglória, humilho meu orgulho;
Sou só um pecador salvo pela graça. (tradução literal)
Não podemos nem pensar em alguém a não ser Deus como sendo a origem, a fonte e
o consumador final da salvação, e de todos os seus resultados.
b) A importância singular
O autor da carta aos Hebreus escreve de ―tão grande salvação‖ (2:3). Tal é a grandeza
desta obra Divina que a participação intrínseca de todas as três Pessoas da Divindade é
especificamente mencionada na Palavra de Deus. A mesma epístola aos Hebreus, em
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9:14, liga a participação singular do Pai, do Filho e do Espírito Santo na realização desta
obra maravilhosa. O Senhor Jesus ofereceu-se a Si mesmo a Deus e operou com todo o
poder do ―Espírito eterno‖, uma referência ao Espírito Santo. O sacrifício do Senhor
Jesus para satisfazer as justas exigências do trono de Deus foi proposto na eternidade
passada, e naquele plano e no seu cumprimento o Espírito Santo estava incluído com
todo o Seu imenso poder. A salvação da qual falamos foi proposta pelo
Pai, providenciada pelo Filho e é perfeita pelo poder do Espírito Santo. O que o
Senhor Jesus conseguiu quando ―Se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus‖ foi a
vindicação da santidade de Deus. No mesmo tempo Ele lançou a base pela qual Deus
podia, em harmonia com Seu caráter justo, proclamar: ―Livra-o [a humanidade], para
que não desça à cova; já achei resgate‖ (Jó 33:24).
c) A doutrina inflexível
Em Atos 4, quando o sumo sacerdote e muitos do seu grupo estavam reunidos em
Jerusalém para interrogar Pedro e os outros apóstolos sobre a cura do homem paralítico,
Pedro testificou, categoricamente, sobre o fato que o homem fora curado ―em nome de
Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou
dentre os mortos‖ (v. 10). Em relação àquele Nome, ele também declarou: ―E em
nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há,
dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos‖ (v. 12). Com este testemunho
inflexível todos os outros escritores do Novo Testamento concordam, e o fazem de
maneiras diferentes. Num contexto completamente diferente, ao enfatizar o fato que
Deus, quanto ao Seu Ser essencial, é Um só, Paulo escreveu ―… Deus nosso Salvador,
que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade.
Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem,
o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos‖ (I Tm 2:3-6). Mas não
precisamos ir além da palavra do próprio Senhor Jesus para confirmar este fato. Ele
mesmo disse: ―Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por
mim‖ (Jo 14:6). Somente alguém sofrendo de um falso sentimento de grandeza faria tal
reivindicação se ela não fosse verdadeira, mas o que os quase 40 autores dos vários
livros da Bíblia fazem é confirmar esta reivindicação, de várias maneiras, e o fazem sem
uma única voz discordante.
Pelo que a Bíblia ensina deparamos com os seguintes fatos:
i) A salvação é exclusivamente a obra de Deus em prol de homens pecadores.
ii) Tal é a grandeza envolvida nesta obra que o Deus Triúno está interessado em
cada um dos seus aspectos.
iii) O único meio de Deus suprir tal salvação é o dom de Seu Filho, preordenado
para ―dar a Sua vida em resgate de muitos‖ (Mt 20:28).
2. Definindo o propósito
a) O significado admirável
Dizer que a salvação foi planejada pelo Pai, providenciada pelo Senhor Jesus
e aperfeiçoada pelo Espírito Santo é, talvez, limitar demais as respectivas atividades
das Pessoas da Divindade para providenciar a salvação. No entanto, sem dúvida alguma,
todas as três Pessoas da Trindade são participantes integrais no seu começo e sua
consumação. Sendo tal participação uma realidade, o desejo de procurar entender o
significado básico da salvação é não somente importante, mas muito importante, para
todos que querem conhecer a mente de Deus em relação a ela.
Nos tempos do Velho Testamento a palavra tinha um pano de fundo interessante.
Veio de uma raiz que significa ―largo ou espaçoso‖, em contraste com aquilo que é
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Marcos 10:45: ―O Filho do Homem veio … para dar a Sua vida em resgate de muitos‖.
Paulo esclarece mais, quando ele escreve: ―Fostes comprados por preço‖ (I Co 7:23).
Estes versículos, entre muitos, declaram que o resgate é inegavelmente essencial e além
de qualquer capacidade do homem; veja também o Salmo 49:7-8. Só Deus pode
resgatar. No assunto do pecado do homem, as palavras de Hanameel ao seu sobrinho
Jeremias: ―tens o direito de resgate para comprá-la‖ (Jr 32:7), só podem ser aplicadas a
Deus. A vastidão insuperável da dívida do homem e a Quem é devida, é ilustrada na
parábola dos devedores, proferida pelo Senhor em Mateus 18. O credor, na parábola, é
chamado de ―o Senhor do servo‖, que, ―movido de íntima compaixão, soltou-o e
perdoou-lhe a dívida‖ (v. 27). Tais palavras só podem ser aplicadas a Deus. É isso que o
Senhor Jesus faz quando Ele diz: ―Assim vos fará meu Pai celestial‖ (v. 35). O Deus
contra Quem o homem tem uma dívida é Aquele que ―quer que todos os homens se
salvem, e venham ao conhecimento da verdade‖. Neste mesmo contexto, é afirmado que
há ―um só Medidor entre Deus e o homem‖, que ―se deu a si mesmo em preço de
redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo‖ (I Tm 2:5-6). Obviamente,
então, a salvação, nos seus detalhes, inclui a idéia de um resgate sendo pago para
conseguir a libertação dos cativos do pecado. Ela mostra as portas da prisão do devedor
sendo abertas amplamente, para que todos que aceitam a oferta Divina possam sair de
graça (veja Is 61:1 e Lc 4:19).
c) A motivação divina
O pecado constitui o homem como um ―inimigo de Deus‖. Na epístola aos
Colossenses, Paulo, lamentando a influência maligna das ―filosofias, e vãs sutilezas,
segundo as tradições dos homens, segundo os rudimentos do mundo‖ (2:8), lembra os
salvos que ―vós também … noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento
pelas vossas obras más‖ (1:21). A inimizade natural dos homens contra Deus é o
resultado da natureza vil que herdamos do nosso primeiro antepassado. Isso é agravado
pela ―lei dos mandamentos‖ (Ef 2:15). Esta afirmação, no seu contexto, tem a ver com
as ordenanças que antes separavam os judeus dos gentios, mas que agora foram abolidas
por Cristo na Sua morte. No entanto temos muitas provas em outros lugares de que os
homens ―odeiam a luz‖, e temem as qualidades reveladoras da Palavra de Deus (Jo
3:20). Para gozar de um relacionamento correto e feliz, inimigos precisam ser
incondicionalmente reconciliados. Em dar o Seu Filho à morte de cruz Deus tem, em
infinito amor, providenciado os meios pelos quais ―não fique banido dele o seu
desterrado‖ (II Sm 14:14).
Devemos notar aqui que a causa da inimizade é encontrada na humanidade, e que a
atitude de Deus para com todos os homens está resumida na mensagem de
reconciliação. Esta mensagem, estendida aos povos de todos os tempos, climas, línguas
e classes é ―que vos reconcilieis com Deus‖ (II Co 5:20). Este é o apelo constante feito
pelos pregadores do Evangelho, motivados por um amor infinito. Por causa da obra da
reconciliação realizada pelo Senhor Jesus Cristo, todos os homens estão incluídos no
convite e têm a possibilidade de serem salvos. Infelizmente, por causa da incredulidade,
nem todos serão salvos. As palavras ―salvação‖ e ―reconciliação‖ são encontradas juntas
também em Romanos 5:9-10. Como pecadores crentes em Cristo, fomos ―justificados‖
pelo sangue de Cristo; ―seremos salvos da ira [futura] por Ele‖, e quando éramos
―inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte do Seu Filho‖. Este plano
misericordioso depende inteiramente do amor de Deus. ―Deus prova o seu amor para
conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores‖ (v. 8); e ―em amor‖
Ele ―nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito de sua vontade‖ (Ef. 1:4-5).
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(Rm 5:6), o contexto era sobre a afirmação legal de que ―não há justo, nem um sequer‖,
e ―todo o mundo … seja condenável diante de Deus‖ (Rm 3:10,19). Paulo não queria
dizer que Cristo morreu por alguns dos ímpios! Também, quando o Senhor Jesus
enviou Seus discípulos, a ordem foi: ―Ide a todo o mundo e pregai o Evangelho a toda
criatura‖ (Mc 16:15). É inacreditável que o Senhor daria esta comissão se Ele soubesse
que os benefícios da Sua morte recente não estavam disponíveis a todos a quem os
discípulos foram enviados.
Estas Escrituras, e muitas outras, afirmam que é necessário crer que o Evangelho, em
todo seu grande poder, é oferecido a todos, sem limite. A versão JND expressa esta
verdade com clareza: ―Mas, não será o ato de favor como foi a ofensa? Porque se pela
ofensa de um os muitos têm morrido, muito mais tem a graça de Deus, e o dom gratuito
em graça, que é pelo um Homem Jesus Cristo, abundado aos muitos … assim então
como foi por uma ofensa para a condenação de todos os homens, assim também por
uma justiça para todos os homens para a justificação de vida‖ (Rm 5:15, 18).
Embora reconheçamos que nem todos serão participantes da ―tão grande salvação‖,
temos que insistir que a salvação é oferecida e está ao alcance de todos os homens, sem
limite. É a vontade de Deus que a morte de Cristo deveria prover a salvação para todos
os homens e fornecer a salvação a todos os que crêem. A onisciência de Deus engloba
o fato que devido à incredulidade rebelde, muitos permanecem destituídos de todas as
bênçãos que a salvação traz. Concordando com isso, não por causa disso, o Senhor se
certifica de que alguns, ―compelidos‖ pela graça, virão a participar da grande ceia
preparada (Lc 14:16-24). Assim, ―o propósito de Deus, segundo a eleição‖, permanece
firme (Rm 9:11).
c) Os termos incondicionais
É tão comum, em muitos lugares, pensar que as boas obras são uma parte essencial
para se obter a salvação, que isto se torna aceito sem qualquer questionamento. Alguns
afirmam que é isto que as Escrituras ensinam, e dizem: ―As bênçãos eternas no Céu são
a recompensa pelas boas obras realizadas nesta Terra‖. Para apoiar esta crença falsa,
palavras das Escrituras que não estão relacionadas com a obra inicial da salvação da
alma são muitas vezes usadas — versículos como Filipenses 2:12 (―operai a vossa
salvação com temor e tremor‖) e Romanos 2:6-7 (―O qual recompensará cada um
segundo as suas obras; a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer o bem,
procuram glória, honra e incorrupção‖). Em vista das muitas Escrituras que
especificamente negam que obras, por si mesmas ou em conjunto como ritos e credos,
possam dar a salvação, continuar a crer nisto é aceitar que a Bíblia é um livro muito
inconsistente. No contexto exato onde Paulo insiste que é a graça de Deus que traz a
salvação a todos os homens, e que não é ―pelas obras de justiça que houvéssemos feito,
mas segundo a sua misericórdia‖, que Deus nos salvou, ele também enfatiza que tais
salvos são ―um povo especial [comprado], zeloso de boas obras‖ (Tt 2:13-3:5). É óbvio
que colocar boas obras como uma condição para se obter a salvação não se sustenta
debaixo de investigação, e que os textos oferecidos como provas devem ter outras
interpretações, como têm. Na igreja em Filipos surgiram problemas evidentemente de
natureza pessoal. O apóstolo, estando ausente naquele tempo, encoraja os crentes a
resolverem estas diferenças e colocar as coisas em ordem com temor e tremor. Como
crentes ele os chama, não a procurar merecer a salvação por meio de trabalho, mas a
imitar o grande exemplo do seu Senhor e Salvador, que Se humilhou e foi obediente até
a morte de cruz. Mais ou menos no mesmo tempo, escrevendo a Tito, o contexto da sua
exortação é o caráter moral dos cretenses, que deixava muito a desejar. Os habitantes da
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ilha de Creta, que creram em Cristo, pela fé, são lembrados de que se espera uma grande
mudança no comportamento de cada um deles.
―Crê no Senhor Jesus e serás salvo‖ (At 16:31); ―para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna‖ (Jo 3:15). Dezenas de Escrituras, todas afirmando
a mesma coisa, poderiam ser citadas aqui mostrando, sem medo de contradição, que a
salvação é obtida, simplesmente, plenamente e totalmente por uma única condição; isto
é, fé no Senhor Jesus Cristo como o único Salvador dos pecadores.
4. Detalhando os resultados
a) A provisão maravilhosa
De todos os temas interligados relacionados à salvação, os mais fundamentais são: o
arrependimento, o perdão dos pecados, a reconciliação e a justificação. Atos 20:21
revela quão intimamente o arrependimento está associado com a fé. O testemunho de
Paulo, tanto a judeus como a gregos, era ―o arrependimento para com Deus e a fé em
nosso Senhor Jesus Cristo‖. O arrependimento é uma mudança completa da mente em
relação a Deus, a si mesmo, ao pecado e ao juízo. É absolutamente necessário para a
salvação, como parte intrínseca da ―fé para com Deus‖. Realmente, um não pode
ocorrer sem o outro. O perdão dos pecados apresenta o pecador acusado e convicto com
uma ―cédula riscada‖ (Cl 2:14), enquanto a justificação lhe dá uma posição
completamente nova aos olhos de Deus. Na sua grande epístola judicial, a carta aos
Romanos, o apóstolo Paulo apresenta o homem como tendo rebelado contra a revelação
que Deus lhe deu, seja pela natureza ao seu redor, ou pela comunicação especial das
Santas Escrituras. Isso, por necessidade, contém também uma rejeição de uma das
principais afirmações divinas: ―Deus se manifestou em carne‖ (I Tm 3:16), na Pessoa do
Seu Filho, o Senhor Jesus. Na mesma carta aos Romanos ele também expôs o homem
como corrupto em pensamento, palavras e atos, e as raízes de tal comportamento voltam
até Adão, o primeiro homem. O veredicto do qual não se pode escapar é registrado, em
3:19, em palavras inegavelmente claras, e que já mencionamos: ―Toda a boca …
fechada, e todo o mundo seja [ou declarado] condenável diante de Deus‖. Temos que
enfatizar aqui também que a culpa do homem é tal que somente o perdão divino pode
limpar a conta. Embora isso seja visto nos escritos dos profetas, o Senhor mesmo se
manifestou como ―um Deus rico em perdoar‖ (Ne 9:17 e Is 55:7). O perdão dos pecados
não apaga o crime original. Isto é um fato histórico, mas o perdão cancela o registro
para que a responsabilidade final não seja mais imputada ao pecador. ―Outro‖ tomou o
seu lugar e assumiu aquela divida como se fosse dEle mesmo.
Da mesma forma, a justificação precisa ser considerada como parte indivisível do
processo da salvação. O perdão dos pecados, que acabamos de considerar, é o outro
lado da moeda. Se, por um lado, o homem é declarado inocente, por outro ele é
declarado como tendo uma posição justa diante de Deus, o que também lhe dá aceitação
com Deus. A justificação em si não torna o crente justo, mas o considera, ou julga,
assim. Antes de chegar à sua grande declaração em Romanos 5:1 (―tendo sido, pois,
justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo‖), Paulo usa a
expressão ―imputar‖ ou ―levar em conta‖, mais ou menos dez vezes (veja Rm 4:3-24).
Em cada uma destas ocasiões a expressão poderia ser traduzida: ―creditado‖. Este fato
enfatiza o que já foi afirmado. Este aspecto da salvação é uma afirmação jurídica de que
o pecador que creu teve todas as suas acusações quitadas, e agora ele é declarado
absolutamente justo pelo próprio Deus da Santidade. Por causa da morte do Senhor
Jesus Cristo em prol do pecador, Deus pode eternamente fechar a conta do pecado do
crente, e sem qualquer injustiça, declarar que Seus filhos, um e todos, são justos diante
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dEle. Esta é a bondosa e maravilhosa provisão que Deus fez para o pecador, ao entregar
o Seu Filho à morte de cruz.
b) As exigências rigorosas
A salvação é o dom gratuito de Deus, mas a salvação não é sem preço. Ela tem
exigências que não podem ser ignoradas. Não existe uma doutrina dizendo que podemos
continuar em pecado, para que a graça abunde, como lemos na pergunta retórica de
Paulo, e sua resposta, em Romanos 6:2. Isso pode ser entendido corretamente quando
lembramos que a salvação tem três aspectos, passado, presente e futuro. As Escrituras
apóiam esta bem conhecida verdade. Em pelo menos três ocasiões nas cartas aos
Coríntios, Paulo fala daqueles que já são salvos: ―a palavra da cruz … para nós
que somos salvos, é o poder de Deus‖; ―o evangelho … pelo qual sois salvos‖ (I Co
1:18; 15:2-3). ―Porque … somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam‖ (II Co
2:15). De igual modo a fase presente da salvação é mencionada até com mais
frequência. Encontramos um exemplo muito importante disto na carta aos Efésios, que é
uma carta que descreve a riqueza espiritual possuída por todos os crentes em Cristo.
Ligado às riquezas concedidas pela graça há muitas referências ao andar diário do salvo,
e neste contexto as palavras de 4:1 e 17 são notáveis: ―Rogo-vos … que andeis como é
digno da vocação com que fostes chamados‖, e ―digo isto, e testifico no Senhor, para
que não andeis mais como andam também os outros gentios‖. Também não faltam
palavras sobre o aspecto futuro e perfeito da salvação. Paulo estimula os santos romanos
a reconhecer ―que já é hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está
agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé‖ (Rm 13:11). Em relação às
recompensas para os servos de Deus notamos que infidelidade trará perda, mas o servo
―será salvo; todavia como pelo fogo‖ (I Co 3:15). A salvação, propriamente dita, é o
dom gratuito de Deus, a possessão da qual sempre produz uma mudança notável na vida
daquele que professa tê-la recebido. As exigências da salvação são tais que, onde a
evidência prática estiver ausente, esta profissão nada mais é do que uma anomalia. Nós
que pertencemos a Cristo pelo direito da redenção devemos andar de tal modo que a
imagem de Cristo seja refletida em nós. Salvação não é somente salvação da penalidade
do pecado, mas o salvo conhece também uma libertação progressiva do seu poder.
c) A consumação gloriosa
A obra da salvação é tão gloriosa que inclui todo o empreendimento remidor de Deus
para livrar os homens do seu estado pecaminoso e culpado e apresenta-los, finalmente,
―irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória‖ (Jd v. 24). Deus ainda não terminou
com Seu povo! Um dia radiante de glória ainda está por vir! No presente, estes nossos
corpos físicos estão constantemente sujeitos às táticas invasoras do pecado e,
lamentavelmente, tal é a nossa natureza fraca que frequentemente cedemos. O idoso
João disse que seu motivo em escrever sua primeira epístola era ―para que não pequeis‖
(2:1). Desde o novo nascimento e o recebimento do Espírito Santo, o salvo não tem
nenhum incentivo para pecar, no entanto ele ainda peca. Esta mesma carta nos traz à
memória que a nossa comunhão com Deus o Pai é mantida pelo sangue purificador do
Senhor Jesus e pela confissão e abandono do pecado. Temos um Advogado com o Pai,
nosso Senhor Jesus Cristo: ―E ele é a propiciação pelos nossos pecados‖ (2:1-2). Por
isso, o salvo tem mais razão ainda para almejar ardentemente o tempo quando ele terá
terminado para sempre com o pecado em todas as suas formas. Todos os salvos naquele
dia bendito serão trazidos ao completo ―conhecimento do Filho de Deus, a homem
perfeito, à medida da estatura completa de Cristo‖ (Ef 4:13). ―Esperamos o Salvador, o
Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido para ser conforme o seu
corpo glorioso [corpo de glória]‖ (Fp 3:20-21). Naquele tempo o Senhor Jesus
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―aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para salvação‖ (Hb 9:28). Por
enquanto toda a criação geme, esperando ser libertada da escravidão da corrupção
causada pelo pecado. ―E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do
Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do
nosso corpo. Porque em esperança fomos salvos‖ (Rm 8:20-24). Então se ouvirá ―uma
grande voz de uma grande multidão‖, trovejando em todo o universo e dizendo:
―Aleluia! Salvação, e glória, e honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus‖ (Ap
19:1).
Nós, que estamos gozando das bênçãos de ―tão grande salvação‖ acrescentamos as
nossas vozes àquele coro celestial, com as palavras do hino escrito por Muir:
Como amamos cantar do Senhor que morreu,
E Seu grande amor proclamar;
Falando de vida e paz pelo Crucificado,
E salvação pelo Seu nome.
Salvação! Salvação!
Vasta, plena, gratuita;
Pelo sangue precioso do Filho de Deus
Que foi morto no Calvário. (tradução literal)
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Cap. 4 — Justificação
James D. McColl, Austrália.
A justificação exigida judicialmente
―… para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de
Deus‖ (Rm 3:19). ―… para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em
Jesus‖ (Rm 3:26).
O ponto central da mensagem de Deus ao mundo, que revela o Seu propósito de
redenção, é a condenação e a justificação. Romanos 3:19 proclama, categoricamente, a
condenação universal, e Paulo usa a analogia de um tribunal judicial para ilustrar este
assunto.
Todos já foram julgados perante o tribunal da justiça Divina, e declarados culpados e
condenados. A mensagem de Deus também proclama alegremente a justificação para os
culpados, mas nesta ordem. Se o homem não é pecador, não há necessidade de
justificação. O pano de fundo da graça justificadora de Deus é a culpa da raça humana.
Em Romanos 1:18-3:31, Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, é visto como o advogado
oficial de acusação. Ele identifica três classes na humanidade, e isto inclui todos, sem
exceção. Cada membro da raça de Adão é acusado e achado culpado.
1. Ele acusa o pagão pervertido (Rm 1:18-32)
Deus revelou-Se a eles na criação, externamente, e nas suas consciências,
internamente. O homem, sendo um ser racional e moral, tem a responsabilidade e a
capacidade de responder à revelação de Deus na criação, e à voz de Deus na sua própria
consciência. Quer ouça ou não o Evangelho, aquela pessoa não tem desculpa e é
responsável perante Deus para aprovar o que é certo e rejeitar o que é errado. Os
pagãos, ao negligenciarem sua responsabilidade, se tornaram culpados de:
i) Perversão — ―que detêm a verdade em injustiça‖, literalmente, ―subjugam a
verdade em injustiça‖ (1:18).
ii) Irreverência — ―não O glorificam como Deus‖ (1:21).
iii) Orgulho — ―se desvaneceram e o seu coração insensato se obscureceu‖ (1:21b-
22).
iv) Idolatria — ―mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem
de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis … mudaram a
verdade de Deus em mentira‖ (1:23, 25).
v) Sensualidade — ―Deus os entregou às concupiscências … paixões infames …
sensualidade … sentimento perverso‖ (1:24, 26-28).
vi) Maldade — ―cheios de toda a iniquidade, prostituição, malícia, avareza,
maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade …‖ (1:29).
Paulo conclui em 1:32: ―… são dignos de morte os que tais coisas praticam‖. Ser
―dignos de morte‖ é o veredicto da penalidade de Deus sobre o pecado, e significa a
morte eterna.
2. Ele acusa o filósofo polido (Rm 2:1-16)
―Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te
condenas a ti mesmo naquilo em que julgas o outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo‖
(2:1).
Este grupo pode incluir o gentio culto e também o judeu religioso. Havia muitos
moralistas cultos e filósofos, na Grécia e em Roma, que não se afundaram nas condições
sórdidas mencionadas em Romanos 1, e cujos dons intelectuais eram usados para
exaltar sua mitologia pagã, que era realmente a adoração de demônios. Estes atos
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É pelo sangue, porque é necessário haver uma base justa sobre a qual Deus pode agir,
e uma que dará uma resposta indisputável ao universo. Esta resposta está no Seu
sangue: ―justificados pelo [em, no grego] seu sangue‖. Esta é a aplicação da Sua morte,
apropriada pela fé, reconhecendo que o Seu sangue foi o preço que foi pago.
3. Pela fé — seu meio
―Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus
Cristo‖ (Rm 5:1).
É pela fé, porque este é o princípio pelo qual todas as bênçãos são recebidas de Deus.
É a mão vazia estendida para receber o dom da justificação. Fé é descansar na Palavra
de Deus. É a certeza de que o que Ele prometeu, Ele fará.
A apresentação magistral de Paulo deste assunto da justificação, na Epístola aos
Romanos, tem suas origens na parábola contada pelo Senhor Jesus em Lucas 18:9-14. A
parábola do publicano e do fariseu foi dirigida aos ―que confiavam em si mesmos,
crendo que eram justos, e desprezavam os outros‖. A história revela que embora a
justificação esteja disponível a todos, uma atitude apropriada e correta é necessária. O
homem que ―desceu justificado para sua casa‖ foi aquele que reconheceu que era
pecador, e fez a sua súplica baseado em um sacrifício.
Considere:
a) A sua aproximação
Em contraste com o fariseu que se posicionou no átrio externo do templo, o
publicano ficou ―em pé, de longe‖. Ele percebeu a sua indignidade de estar entre os
adoradores, e de estar dentro dos limites sagrados. Ele sabia que, moralmente, ele estava
longe de Deus.
b) A sua atitude
Para ele, o Céu era tão santo que ele ―nem ainda queria levantar seus olhos‖ naquela
direção. Não era lugar para um homem como ele.
c) A sua ação
O publicano ―batia no peito‖ em auto condenação, estando inteiramente convicto dos
seus pecados. Em contraste, o fariseu exibia as suas aparentes virtudes e atos de piedade
—sua oração era egocêntrica, chamando atenção a si mesmo. Como Caim, ele trouxe a
Deus o produto das suas próprias mãos. Ele contou a Deus o que ele não era e o que ele
fazia, mas ele não disse o que ele era.
d) O seu apelo
―Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!‖ Este foi seu único pedido. Lá no átrio
estava o grande altar de bronze, onde o sacrifício era colocado. Suas palavras também
podem ser traduzidas: ―Ó Deus, sê propício a mim, pecador!‖ (ARA). O sangue da
propiciação é a única esperança para os culpados. O sacrifício perfeito do Senhor Jesus
deu a Deus a resposta para a culpa humana e o direito de justificar o culpado.
e) A absolvição e afirmação
―Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele‖. Que palavras
preciosas! O Deus que declarou todos culpados, pela virtude do infinito sacrifício do
Seu Filho, agora pode declarar o crente justo. O paralelo entre esta parábola em Lucas
18 e Romanos caps. 1-5 é de fato impressionante e muito precioso.
i) O publicano não tinha mérito pessoal, não ofereceu nenhuma obra, mas foi
justificado gratuitamente. Isso corresponde a ―justificados pela graça‖ (Rm 3:24).
ii) Sua única esperança era o sacrifício de propiciação. Isso corresponde a
―justificados pelo sangue‖ (Rm 5:9).
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iii) Aquele que confessou ser pecador, fazendo a sua petição, foi declarado justo.
Isso corresponde a ―justificados pela fé‖ (Rm 5:1).
A justificação decidida irrevogavelmente
Romanos 8:31-39 é a gloriosa consumação da parte doutrinária desta Epístola. O
escritor já destacou a justiça e graça de Deus em relação aos assuntos de condenação,
justificação, santificação e glorificação, de uma maneira magnífica. Os versículos finais
do capítulo são um resumo maravilhoso, salientando quatro perguntas e respostas
importantes.
1. Nenhuma refutação
―Se Deus é por nós, quem será contra nós?‖ (Rm 8:31,32)
a) A declaração
―Se (sendo que) Deus é por nós …‖. Que segurança maravilhosa! Os versículos
anteriores deixam este fato muito claro, mostrando que Ele está trabalhando para o bem
eterno do Seu povo: ―porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem
conformados à imagem de Seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes
também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou‖ (Rm 8:29-30).
―Conheceu … predestinou … chamou … justificou … glorificou. Estas palavras
descrevem o plano Divino em ação. Estes dois versículos (Rm 8:29-30) contêm uma
das mais abrangentes declarações da Bíblia, e contêm também algumas das palavras
mas importantes do vocabulário cristão, e abrangem uma vasta área dos fatos e
natureza da fé cristã. O v. 29 atribui toda a atividade do plano de Deus à Sua
presciência, enquanto que o v. 30 descreve como o próprio Deus está cumprindo este
plano no tempo. Foi Ele que conheceu; Ele predestinou, Ele chama; Ele justifica; Ele
glorifica. Mérito humano, ou justiça própria, ou realizações estão totalmente
excluídos.‖
b) A pergunta
―Quem será contra nós?‖ Isso não sugere a ausência de adversários, mas confirma
que nada no universo impedirá o cumprimento da vontade de Deus em assegurar o
eterno bem dos Seus santos.
c) A resposta
―Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós,
como nos não dará também com ele todas as coisas?‖ (8:32). A dádiva generosa de
Deus, dando Seu Filho singular, é a garantia de todos os outros benefícios. A
magnificência deste amor somente pode ser medida pela grandeza infinita dAquele que
é descrito como ―Seu próprio Filho‖. Isso significa que Deus não tem outro Filho igual,
e este relacionamento exclusivo com o Filho colocou-O separado de todos os outros no
vasto universo de Deus, sejam eles a humanidade redimida ou os anjos não caídos.
2. Nenhuma acusação
―Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica‖
(Rm 8:3).
Aqui temos uma referência clara ao desafio do perfeito Servo de Deus. ―Perto está o
que me justifica; quem contenderá comigo? … Quem é meu adversário? Chegue-se para
mim. Eis que o Senhor Deus me ajuda; quem há que me condene?‖ (Is 50:8-9). Quem
pode levar ao juízo aqueles que são os eleitos de Deus? Será que Deus os acusará depois
de tê-los declarado inocentes? Os primeiros capítulos de Romanos confirmaram que
nenhuma acusação será bem sucedida se Deus, que é o Juiz, os declara justos.
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3. Nenhuma condenação
―Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes, quem ressuscitou dentre
os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós‖ (Rm 8:34).
Neste versículo vemos quatro grandes fatos:
a) O fato da sua morte
A ênfase está na natureza da Pessoa que morreu. Deus silencia toda condenação
porque foi Cristo que morreu. Ele não era sujeito à penalidade de morte, mas pagou a
penalidade em prol de outros. Em II Coríntios 5:21, Paulo deixa isto muito claro:
―Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos
justiça de Deus‖. O crente no Senhor Jesus se torna tudo que Deus requer e o que ele
nunca poderia ser por si mesmo. É ―nEle‖ que somos considerados justos. A expressão
em Romanos 4:11: ―… a fim de que também a justiça lhes seja imputada‖ pode ser
traduzida: ―a fim de que sejam contados ou considerados justos‖. A palavra
grega logizomai, usada onze vezes em Romanos 4, é traduzida de maneiras diferentes:
―atribuído‖, ―tomar em conta‖, ―imputado‖. Significa levar em conta ou calcular. A fé
de Abraão foi imputada como justiça. Isso não significa ―a fim de ser justo‖, ou ―no
lugar da justiça‖. II Coríntios 5:21 está destacando o fato que o crente tem uma posição
perfeita no Senhor Jesus Cristo. A fé coloca o crente numa união fundamental com
Deusem Cristo.
b) O fato da sua ressurreição
―Quem ressuscitou dentre os mortos …‖. Paulo já mostrou este fato: ―o qual por
nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação‖ (Rm 4:25). As
preposições ―por‖ e ―para‖ neste versículo são traduções de dia (―por causa de‖); Cristo
foi entregue para fazer expiação pelos pecados e foi ressuscitado para garantir a
justificação deles.
c) O fato da sua ascensão
―O qual está à direita de Deus‖. A ressurreição do nosso Senhor Jesus provou,
conclusivamente, que Ele não estava preso à morte. A Sua ascensão à direita de Deus
complementa esse fato.
d) O fato da sua intercessão
―Também intercede por nós‖. Se o Senhor Jesus, a quem todo juízo foi dado, não
sentencia o acusado, mas antes intercede por ele, então não há mais ninguém que teria
uma razão válida para condená-lo.
4. Nenhuma separação
―Quem nos separará do amor de Cristo?‖ (Rm 8:35). Paulo agora lança o desafio, e
com eloquência notável torna o assunto incontestável. Ele nomeia sete poderes
ameaçadores, mas nenhum deles pode quebrar o vínculo, ou separar o crente do Senhor
Jesus Cristo. Este é o clímax da declaração de Paulo sobre a segurança eterna do salvo.
A justificação demonstrada pelas evidências
―Vedes então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé‖ (Tg
2:24).
Uma leitura superficial desta afirmação parece contradizer a grande doutrina bíblica
de justificação pela fé, que tem sido o tema central do nosso estudo. Paulo insiste:
―Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei‖ (Rm 3:28).
Se Paulo e Tiago estão em conflito, então o Novo Testamento todo está em ruínas, e
a autoridade e unidade das Escrituras estão destruídas. Martinho Lutero descreveu a
Epístola de Tiago como ―uma epístola de palha‖. Mas não há nenhuma contradição!
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Cap. 5 — Substituição
David E. West, Inglaterra
Substituição — a palavra e o conceito
De acordo com o Oxford English Dictionary (Dicionário Inglês Oxford), o
significado da palavra ―substituição‖ é ―a colocação de uma pessoa ou coisa no lugar
de outra‖.
Embora as palavras ―substituto‖ e ―substituição‖ não apareçam na Bíblia, a verdade
da substituição é fundamental e plenamente bíblica, e ―substituição‖ é um termo
teologicamente sadio. A essência da substituição é que um é colocado no lugar de outro.
A verdade que a palavra ―substituição‖ expressa é encontrada vez após vez nas
Escrituras. Assim, em Isaías 53 o conceito é encontrado mais ou menos dez vezes; só no
v. 5 quatro vezes: ―Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por
causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados‖.
Ilustrações de substituição
O Velho Testamento oferece várias ilustrações de substituição; vejamos alguns
exemplos:
i) Evidentemente Eva considerou Sete como um substituto de Abel, morto pelo seu
irmão, pois ela disse: ―Deus me deu outro filho em lugar de Abel, porquanto Caim o
matou‖ (Gn 4:25).
ii) A fé de Abraão foi provada até o limite, ao ponto de oferecer seu único filho,
Isaque, como holocausto. Contudo, o Senhor interveio no último momento e ―um
carneiro, travado pelos seus chifres, num mato‖, foi providenciado como substituto
de Isaque: ―e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em
lugar de seu filho‖ (Gn 22:13).
iii) Labão astutamente substituiu Rebeca, a quem Jacó amava, por Lia: ―Labão …
tomou Lia, sua filha, e trouxe-a a Jacó que a possuiu‖ (Gn 29:22-23).
iv) O primogênito de uma jumenta tinha de ser resgatado com um cordeiro; o
jumento escapava porque outro morria no seu lugar: ―todo o primogênito da jumenta
resgatarás com um cordeiro‖ (Êx 13:13).
v) No caso de um homicídio misterioso, Moisés decretou que os anciãos ―da cidade
mais próxima ao morto‖ deveriam em primeiro lugar declarar a sua própria
inocência, e então sacrificar uma novilha no lugar do homicida desconhecido: ―os
anciãos … lavarão suas mãos sobre a novilha degolada no vale‖ (Dt 21:3, 6).
vi) O profeta Miquéias evidentemente entendeu bem o conceito de substituição
quando disse: ―Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu
ventre pelo pecado da minha alma?‖ (Mq 6:7).
Propiciação versus substituição
Embora nosso assunto neste capítulo seja substituição, é difícil apresentar este
assunto sem mencionar a verdade da propiciação. O assunto de propiciação será tratado
separadamente no cap. 6.
As duas palavras (propiciação e substituição) expressam os dois grandes aspectos da
morte expiatória de Cristo. Embora sejam mutuamente complementares, é necessário
distinguir entre as duas doutrinas. Aqueles que entendem bem esta diferença podem
pregar o Evangelho com claridade e consistência.
Propiciação é o lado divino do sacrifício de Cristo; Deus está satisfeito com este
sacrifício. Para ter valor expiatório, o sacrifício tinha que satisfazer todas as exigências
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da santidade de Deus e do Seu trono justo, e vindica-lO inteiramente, como também ser
capaz de ajudar o pecador, removendo os seus pecados.
Quando a morte de Cristo é considerada no seu aspecto substitutivo, ela não está
sendo considerada do ponto de vista de Deus, mas do ponto de vista do pecador. A
consideração, portanto, não é como o sacrifício de Cristo satisfez o Credor, mas como
Ele interveio plenamente em favor dos devedores e da completa liberação que eles
receberam como consequência.
O fato da propiciação permite ao evangelista aproximar-se de qualquer homem e
dizer-lhe que Cristo morreu por ele e, consequentemente, o perdão de pecados é
oferecido a ele: ―por este se vos anuncia a remissão dos pecados‖ (At 13:38).
Entretanto, o perdão dos pecados é somente dado àqueles que crêem, porque inclui a
substituição. Em outras palavras, o perdão dos pecados pode ser pregado a todos os
homens, mas somente os que crêem são perdoados.
O Dia da Expiação
Podemos ver, com clareza, a dupla verdade de propiciação e substituição nos dois
bodes usados no Dia da Expiação: ―o bode sobre o qual cair a sorte pelo Senhor‖, e ―o
bode sobre que cair a sorte para ser bode emissário‖ (Lv 16:9-10).
Arão trazia o bode sobre o qual a sorte do Senhor havia caído e o oferecia como
oferta pelo pecado. O sangue era então levado para dentro do véu e aspergido sete vezes
sobre o propiciatório e perante o propiciatório. Este bode tipificava a morte de Cristo
como aquilo no qual Deus foi perfeitamente glorificado em relação ao pecado em geral.
A morte de Cristo vindicou plenamente a santidade e a justiça de Deus. Satisfez todas as
exigências do Seu trono divino. A propiciação foi efetuada.
O bode emissário, entretanto, tipifica Cristo levando os pecados reais do Seu povo
para nunca mais serem lembrados; para nunca mais serem lançados contra eles, para
sempre. Embora a oferta pelo pecado tenha sido sacrificada, e seu sangue levado para
dentro do lugar santíssimo e aspergido diante e sobre o propiciatório, o povo ainda
levava os seus pecados até que o sumo sacerdote pusesse suas mãos sobre a cabeça do
bode expiatório e colocasse nele todos os pecados do povo.
Provavelmente o bode expiatório, como um substituto, seja a figura mais perfeita em
todas as Escrituras da obra de Cristo como nosso substituto.
A preposição grega huper
em relação ao resgate de Cristo
Paulo escreve: ―há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus
Cristo Homem. O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir
de testemunho a seu tempo‖ (I Tm 2:5-6).
A palavra ―por‖ neste trecho é a tradução da preposição grega huper (que significa
―em prol de‖), e revela a única base sobre a qual alguém pode ser resgatado, e que a
obra redentora de Cristo foi suficiente para todos.
O contexto desta afirmação deve ser notado. Paulo está tratando do assunto de oração
pública na igreja local. ―Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações,
orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens‖ (I Tm 2:1). Este é o
campo de ação sugerido para as orações da igreja. Assim os irmãos nunca devem estar
sem saber pelo que devem orar na reunião de oração.
Esta exortação sobre oração é baseada no desejo de Deus, ―que quer que todos os
homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade‖ (I Tm 2:4). Este versículo
descreve a disposição de Deus; é uma expressão de boa vontade, não de determinação.
Que todos os homens sejam salvos é o desejo e atitude do coração de Deus.
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iii) ―Vai ao mar, lança o anzol, tira o primeiro peixe que subir, e abrindo-lhe a boca,
encontrarás um estáter; toma-o, e dá-o por mim e por ti‖ (Mt 17:27) — palavras do
Senhor Jesus a Pedro; aqui anti é usada para um pagamento exigido.
iv) ―Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente?‖ (Lc 11:11)
— o Senhor Jesus falando com Seus discípulos; a preposição é empregada aqui para
algo dado no lugar de outra coisa.
v) ―A ninguém torneis mal por mal‖ (Rm 12:17) — algo que não deve ser
devolvido no lugar de algo recebido.
vi) ―Olhando para Jesus … o qual pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a
cruz, desprezando a afronta‖ (Hb 12:2) — o Senhor Jesus colocando de lado uma
coisa por outra.
A preposição anti em
relação ao resgate de Cristo
A preposição anti é encontrada, duas vezes, ligada à morte de Cristo, em passagens
paralelas nos dois primeiros Evangelhos sinópticos:
i) ―Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para
dar a sua vida em resgate por [anti] muitos‖ (Mt 20:28).
ii) ―Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e
dar a sua vida em resgate de [anti] muitos‖ (Mc 10:45).
No contexto de cada uma destas passagens, o Senhor Jesus estava mostrando aos
Seus discípulos como a autoridade nas mãos de homens sempre produz domínio, mas
que Ele, pelo contrário, não exercia autoridade, antes servia, e isto produziu liberdade
(um pensamento incluído na palavra ―resgate‖). Ao usar-Se como exemplo, Ele estava
mostrando aos Seus discípulos o caminho da verdadeira grandeza.
A frase ―dar a sua vida‖, em si, pode significar simplesmente dedicar inteira devoção;
mas aqui a idéia de ―resgate‖ (o pagamento para livrar da escravidão) inclui a submissão
até à morte.
Estes dois versículos apresentam a verdade essencial de substituição, ―um resgate por
[no lugar de] muitos‖. Os ―muitos‖ são aqueles que, com base naquele resgate já pago
com sangue, no Calvário, realmente vêm e aproveitam desta bondosa provisão. Usando
assim esta preposição como um balanço feito (anti), o Senhor Jesus estava mostrando
que Sua própria morte seria aceita por Deus como uma substituição válida para, ou no
lugar de, ―muitos‖.
Os “muitos”
Devemos enfatizar que quando o assunto nas Escrituras é o de levar os pecados, a
linguagem usada não é ―todos‖, mas “muitos”.
O escritor aos Hebreus diz: ―E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez
… assim também Cristo, oferecendo-se uma vez para tirar os pecados de muitos‖ (Hb
9:27-28). Esta Escritura considera a Sua morte do ponto de vista da substituição. Assim,
como os homens morrem uma vez, por ordem divina, Cristo morreu uma vez — Ele
ofereceu-se ―para tirar os pecados de muitos‖. Isso nos lembra de Isaías 53:12: ―Ele
levou sobre si o pecado de muitos‖. De fato, no mesmo contexto, Isaías escreve: ―…
com o Seu conhecimento justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre
si‖ (Is 53:11).
No relato de Mateus sobre o que agora chamamos a Ceia do Senhor, o Senhor Jesus
diz: ―Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por
muitos, para remissão dos pecados‖ (Mt 26:28), e no evangelho de Marcos as palavras
são: ―Isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que por muitos é derramado‖
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(Mc 14:24). Marcos enfatiza a idéia de pessoas e apresenta o caráter da oferta pelo
pecado do sacrifício de Cristo, enquanto que Mateus enfatiza mais o caráter da oferta
pela culpa.
O uso da preposição huper
quando substituição está em vista
Vários versículos mostram o lugar que a substituição ocupa nas Escrituras, em
relação aos outros aspectos da morte de Cristo.
Foi por nossos pecados
i) ―Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras‖ (I Co 15:3). O uso
aqui do adjetivo possessivo ―nossos‖ indica que foi uma morte substitutiva; Ele
morreu em favor de nós. Foi uma morte expiatória, porque foi por causa dos nossos
pecados, visando a expiação deles.
ii) ―… nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por nossos pecados‖
(Gl 1:3-4). Ele ―se deu a si mesmo‖ — em toda a grandeza da Sua Pessoa — ―por
nossos pecados‖ — assim Ele Se ofereceu num sentido vicário e sacrificial, levando
o julgamento merecido por eles. Ele estava ali como nosso substituto. No contexto da
epístola aos Gálatas, se for assim, não há nenhuma necessidade de ser
complementada por guardar a lei. Se ―Ele se deu a si mesmo por nossos pecados‖,
então Deus está satisfeito.
Foi por aqueles que crêem
i) ―Isto é o meu corpo, que por vós é dado … Este cálice é o novo testamento no
meu sangue, que é derramado por vós‖. Estas são as primeiras afirmações claras
dadas aos seus (―por vós‖) de que Ele não somente iria sofrer e morrer, mas que Ele
iria morrer no lugar deles, como seu substituto.
ii) ―Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós,
sendo nós ainda pecadores‖ (Rm 5:8). Embora seja verdade que ―Cristo morreu a seu
tempo pelos ímpios‖ (Rm 5:6), no sentido geral que Ele morreu no lugar daqueles
que eram abertamente ímpios, todavia, Deus expressa e prova o Seu próprio amor
―para conosco‖ (o apóstolo aqui inclui a si mesmo), em que, ―sendo nós ainda
pecadores‖, não desejando nem merecendo Seu amor, ―Cristo morreu por nós‖.
iii) ―Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos
nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?‖ (Rm 8:32). O desafio
triunfante no versículo anterior (―Se Deus é por nós, quem será contra nós?‖) permite
que Paulo faça outra pergunta retórica e dê provas do interesse de Deus nos Seus. Se
Deus estava preparado para fazer a coisa mais difícil e entregar o Seu Filho, nunca
podemos duvidar do que Ele fará pelos Seus santos. Os ―todos nós‖ são chamados no
versículo seguinte de os ―escolhidos de Deus‖.
iv) ―Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós‖ (II Co 5:21). Embora
alguns tenham sugerido que Cristo foi feito uma oferta pelo pecado, parece-nos que a
expressão ―o fez pecado‖ não é adequadamente explicada pelo fato dEle ter sido feito
uma oferta pelo pecado. De fato, as palavras sugerem que, durante as três horas de
escuridão, na cruz, Ele foi tratado por Deus como se Ele fosse o próprio pecado.
Assim, na cruz, Cristo foi feito pecado e suportou o juízo como pecado, e isto ―por
nós‖.
v) ―Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós‖ (Gl
3:13). Realmente, ―nós‖ aqui se refere aos judeus que creram em Cristo. Cristo
tomou o lugar daqueles que tinham desobedecido a lei (Ele foi seu substituto), e
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levou a penalidade que eles mereciam, porém, Ele pessoalmente nunca tinha
quebrado a lei.
vi) ―… nosso Salvador Jesus Cristo; o qual se deu a si mesmo por nós‖ (Tt 2:13-
14). A morte de Cristo foi voluntária (―o qual se deu‖); também foi vicária (―por
nós‖); também foi intencional, negativamente (―para nos remir de toda a iniquidade‖)
e positivamente (―e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras‖).
Como é maravilhoso saber que cada salvo pode, junto com o apóstolo, falar do ―Filho
de Deus, o qual me amou, e entregou a si mesmo por mim‖ (Gl 2:20).
Conclusão
É uma bendita verdade que ―Jesus Cristo … se deu a si mesmo em preço de redenção
por todos‖ (I Tm 2:5-6); Ele morreu para abrir o caminho ao céu, para ―quem quiser‖.
Contudo, se dissermos que Cristo levou os pecados de todos, nós estamos indo além dos
limites das Escrituras. Se Cristo levou os pecados de todos, em geral, então do que os
perdidos serão julgados no grande trono branco? Apocalipse 20:12 ensina claramente
que ―os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as
suas obras‖.
Ao pregar para os descrentes, os apóstolos nunca disseram: ―os teus pecados foram
levados por Cristo‖. Mas Pedro, escrevendo aos seus irmãos salvos, podia dizer:
―levando Ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro‖ (I Pe 2:24).
Portanto, podemos cantar de coração:
Eis o Cordeiro, por pecadores oferecido!
Para de toda a mancha nos limpar
Seu sangue precioso foi vertido;
Ele tomou no madeiro nosso lugar;
Feito pecado, Ele sofreu nosso castigo,
Para os cativos culpados livrar,
Morrendo em nosso lugar.
G. W. Frazer (tradução literal)
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Cap. 6 — Propiciação
John M. Riddle
Leia Lc 18:9-14; Rm 3:9-26; Hb 2:17-18; I Jo 2:1-2; 4:9-10.
Na Sua parábola sobre os dois homens orando no templo (Lc 18:9-14) o Senhor Jesus
falou o seguinte: ―O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria
levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus tem misericórdia de mim,
pecador!‖ Ao contrário do fariseu, que pertencia a uma classe ―que confiava em si
mesmo que era justo‖, o publicano ―desceu justificado para sua casa‖.
Embora a grande doutrina bíblica da justificação pela fé tenha sido tratada no cap. 4
deste livro, e nenhum comentário detalhado seja necessário, a parábola do Senhor
enfatiza a base da justificação. O publicano, que ultrapassou muito o fariseu em
inteligência espiritual, estava convencido que a bênção que ele procurava, e que
encontrou, dependia de sangue derramado. Vemos isto nas suas palavras: ―Ó Deus, tem
misericórdia de mim pecador‖, onde a palavra traduzida ―misericórdia‖ (hilaskomai)
significa ―ser propício‖ (W. E. Vine), e ocorre também em Hebreus 2:17:
―para expiar os pecados do povo‖. O fato do Senhor Jesus Cristo, como
―misericordioso e fiel sacerdote naquilo que é de Deus‖, incumbir-Se deste trabalho,
claramente se refere ao Dia de Expiação, quando o sangue ―do bode da expiação, que
será pelo povo‖, era aspergido ―sobre o propiciatório, e perante a face do propiciatório‖
(Lv 16:15). Como C. I. Scofield comenta: ―o publicano, como um judeu instruído, está
pensando, não meramente na misericórdia, mas no sangue aspergido sobre o
propiciatório … Sua oração poderia ser parafraseada: ‗Seja para comigo como Tu és
quando olhas para o sangue expiador‘. A Bíblia não conhece perdão Divino sem um
sacrifício‖.
Como o publicano, nós compreendemos que nunca poderíamos esperar gozar de uma
sequer das bênçãos de Deus a menos que as exigências da Sua justiça fossem
plenamente satisfeitas. Assim cantamos:
O sangue de Cristo, Teu Cordeiro imaculado,
É, ó Deus, minha única confiança;
Nada mais meu pecado poderia expiar;
Em mim nenhuma virtude consigo achar
Que poderia trazer à Tua presença.
W. S. W. Pond (tradução literal)
O Oxford Pocket Dictionary (―Dicionário de Bolso Oxford‖) define ―propiciação‖
como: ―aplacar; um presente ou ato feito para ganhar o favor ou a tolerância de outro‖.
Conforme esta definição, o favor ou a tolerância tinha de ser conquistada. No Velho
Testamento, Jacó disse: ―Eu o [Esaú] aplacarei com o presente‖ (Gn 32:20). A idéia de
aplacar é ilustrada também em Provérbios 21:14: ―O presente dado em segredo aplaca a
ira, e a dádiva no regaço põe fim à maior indignação‖. Mas, embora o uso normal da
palavra ―propiciar‖, no grego, significa conciliar ou aplacar, este não é seu uso no Novo
Testamento. A idéia pagã de propiciação era que os deuses irados precisavam ser
aplacados antes de concederem algum favor aos seus devotos. O ensino da Bíblia é
diferente: o amor de Deus para com os homens pecadores providencia o próprio
sacrifício, por meio do qual seus pecados podem ser removidos com justiça: ―Nisto está
o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e
enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados‖ (I Jo 4:10). Propiciação não
significa que a ira de Deus foi trocada por uma disposição favorável para conosco, por
causa da morte de Seu Filho no Calvário, mas significa que Seu amor por nós
providenciou o sacrifício sobre o qual a nossa maior bênção pudesse ser assegurada.
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A morte do Senhor Jesus Cristo como ―a propiciação pelo nosso pecado‖ é o alicerce
da nossa salvação. O Salmista disse: ―Se forem destruídos os fundamentos, que poderá
fazer o justo?‖ (Sl 11:3), e os justos podem responder: ―Eu sei que tudo quanto Deus faz
durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar e nada se lhe deve tirar‖ (Ec 3:14).
Com isto em mente, é muito importante observar que as passagens do Novo
Testamento que falam de propiciação, fazem referência ao Dia de Expiação, mas há
uma grande diferença entre expiação e propiciação. ―Expiação‖ não é uma palavra do
Novo Testamento, e não é um assunto do Novo Testamento. É essencialmente uma
palavra do Velho Testamento, pois:
i) significa ―cobrir‖, e
ii) exigia repetição.
i) Pensando no significado de ―cobrir‖, devemos lembrar que em vista da morte de
Cristo, Deus passou por cima dos pecados do período do Velho Testamento: ―Ao
qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua
justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus‖ (Rm
3:25). O comentário de J. N. Darby aqui nos ajuda: ―Deus passou por cima e não
julgou os pecados dos crentes do Velho Testamento‖. Contudo, aqueles pecados
precisam ser julgados, e por isto o valor da morte de Cristo abrangeu tanto o passado
como o futuro. No Velho Testamento, Deus ―passou pelo‖ pecado, tendo em vista a
morte futura do Seu Filho. Ele agora julgou aqueles pecados exatamente da mesma
maneira como julgou os pecados de cada crente, hoje. Portanto, estritamente falando,
não é apropriado falar da ―morte expiatória de Cristo‖. As palavras usadas em alguns
hinos podem nos levar a pensar de maneira errada neste ponto, mas, em sua defesa,
temos de reconhecer que muitos dos escritores destes hinos usam expressões como ―a
única expiação‖ e ―a completa expiação‖.
ii) Pensando agora na repetição da expiação, necessária no Velho Testamento, o
Novo Testamento nos lembra que, ―nesses sacrifícios, porém, cada ano se faz
comemoração dos pecados‖ (Hb 10:3), mas agora ―uma só oblação aperfeiçoou para
sempre os que são santificados‖ (Hb 10:14). Deus pode declarar: ―jamais me
lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades‖ (Hb 10:17). Falando da morte de
Cristo, lemos: ―… nem também para a si mesmo se oferecer muitas vezes, como o
sumo sacerdote cada ano [no Dia da Expiação] entra no santuário com sangue alheio;
de outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do
mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou,
para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo‖ (Hb 9:25-26).
No Novo Testamento, o assunto da propiciação é apresentado de várias maneiras
complementares. A palavra ocorre seis vezes no texto grego original (Lc 18:13; Rm
3:25; Hb 2:17; Hb 9:5; I Jo 2:2; I Jo 4:10) e seria útil considerar estas passagens na
seguinte ordem cronológica, começando com a fonte da propiciação e concluindo com
as bênçãos conseguidas por meio da propiciação:
i) propiciação e o amor de Deus em Cristo;
ii) propiciação e o sangue de Cristo;
iii) propiciação e fé em Cristo;
iv) propiciação e o sacerdócio de Cristo;
v) propiciação e a advocacia de Cristo.
Robert McClurkin chama nossa atenção ao ―pano de fundo nas três epístolas onde a
palavra ‗propiciação‘ é encontrada — Romanos, Hebreus e I João. Três grandes
verdades são expostas nestes livros: justificação, santificação e o relacionamento
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Deus contra o nosso pecado. Tudo isto, por causa do amor de Deus para conosco, e isso
nos faz cantar:
Tão perdidos e sem esperança nós, pecadores, teríamos ficado,
Se Ele não nos tivesse amado até nos purificar do nosso pecado!
A. T. Pierson
Não podemos deixar este aspecto da propiciação sem destacar que a morte do Senhor
Jesus desta maneira não foi somente ―a grande expressão do amor de Deus para com o
homem‖; mas é também ―a razão pela qual os salvos devem amar uns aos outros‖ (W.
E. Vine). Vemos isso como uma exortação: ―amemo-nos uns aos outros‖ (I Jo 4:7);
como uma obrigação: ―nós devemos amar uns aos outros‖ (I Jo 4:11), e como um
mandamento: ―E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a
seu irmão‖ (I Jo 4:21). Visto que o amor de Deus é real e tangível, nosso amor uns para
com os outros deve ser ―por obra e em verdade‖ (I Jo 3:18).
A propiciação e o sangue de Cristo
―Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e
dos profetas; isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os
que crêem … sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em
Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para
demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de
Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e
justificador daquele que tem fé em Jesus‖ (Rm 3:21-26).
Se em I João 4 aprendemos que a propiciação tem sua origem no amor de Deus, aqui
em Romanos 3 aprendemos que a propiciação é demonstrada na presença de Deus, pelo
sangue de Cristo. Isso é evidente pelo fato que neste caso a palavra ―propiciação‖
(hilasterion) fala do propiciatório que cobria a arca da aliança. A mesma palavra ocorre
em Hebreus 9:5: ―E sobre a arca os querubins da glória, que faziam sombra no
propiciatório‖, e, segundo W. E. Vine, é também usada frequentemente do propiciatório
na Versão Septuaginta do Velho Testamento. Devemos lembrar que o propiciatório não
era o lugar exato onde a expiação de pecado era feita. Isso era feito no altar de bronze
(Lv 16:9), mas o sangue da vitima era aspergido sobre, e perante, o propiciatório para
demonstrar que a propiciação fora completa, assim prefigurando a apresentação da Obra
completa de Cristo na presença de Deus, pois ―nem por sangue de bodes e bezerros, mas
por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna
redenção‖ (Hb 9:12).
Não é apenas no sentido literal e físico que encontramos referências ao sangue. O
sangue representa a vida da vítima. O sangue de Cristo foi derramado por causa do juízo
Divino. Como W. E. Vine destaca, ―por metonímia, o ‗sangue‘ às vezes é usado
significando ‗morte‘; visto que a vida está no sangue (Lv 17:11), quando o sangue é
derramado, a vida termina‖. O princípio fundamental pelo qual Deus trata os pecadores
é expresso nas palavras: ―sem o derramamento de sangue [isto é, sem morte] não há
remissão‖ (Hb 9:22).
Três grandes palavras bíblicas aparecem em Romanos 3:24-25: ―… sendo justificado
gratuitamente, pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus
propôs para propiciação.‖ Se a redenção enfatiza o efeito da obra de Cristo para com
pecadores, então a propiciação enfatiza o efeito da obra de Cristo para com um Deus
justo e santo. O pecado tem um efeito duplo; em primeiro lugar desonra a Deus. ―O
pecado afrontou a Sua santidade, insultou a Sua majestade, e desafiou o Seu governo
justo‖ (W. R. Newell). Em segundo lugar, destrói o pecador. As exigências de Deus
precisam ser satisfeitas antes que pecadores possam ser libertos da culpa, e a morte do
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Senhor Jesus tornou isto possível. Como W. R. Newell observa: ―Devemos aprender
que a cruz não somente traz bênçãos eternas a nós, mas em primeiro lugar glorifica a
Deus!‖ Somos redimidos somente porque Deus foi propiciado e, como notamos acima,
Romanos 3 enfatiza o lugar onde a propiciação é manifestada.
É de suma importância lembrar que no Dia da Expiação, foi o sangue do bode ―sobre
o qual cair a sorte pelo Senhor‖ (Lv 16:9) que tornou o propiciatório eficaz. O sangue
não foi aspergido sobre o povo, foi todo aspergido na presença de Deus. Diferentemente
dos outros sacrifícios pelo pecado, neste sacrifício o pecado pessoal do ofertante não era
imputado à vítima. É por isto que é chamado ―o bode sobre o qual cair a sorte pelo
Senhor”. Este sacrifício não exigia fé para torná-lo eficaz. Não era aplicado sobre
qualquer homem, nem mesmo o sumo sacerdote. O sangue do bode morto testificava
que a morte tinha acontecido e que as exigências de Deus contra o pecado tinham sido
plenamente satisfeitas. Deus e o homem só podiam se encontrar no propiciatório quando
este tivesse sido aspergido com sangue derramado. Caso contrário, significava morte
instantânea a quem quer que se atrevesse a aproximar. Contudo, Deus tinha dito:
―E ali virei a ti, e falarei contigo de cima do propiciatório‖ (Êx 25:22), fazendo-nos
lembrar que Deus, e somente Ele, que conhecia as exigências da Sua própria justiça, as
tinha satisfeito através da morte do Seu Filho.
O Senhor Jesus se tornou o verdadeiro ―propiciatório‖, não somente pela Sua
encarnação, nem somente pela Sua vida, mas pela Sua morte. Assim lemos: ―Ao qual
Deus propôs para [ser] propiciação … no seu sangue‖ (Rm 3:25). Pelo Seu sangue
derramado Ele Se tornou o lugar de encontro entre Deus e o homem. Esta provisão é
ilimitada. Ninguém é excluído do benefício. ―Ele Se deu a si mesmo em preço de
redenção por todos” — quer aproveitem disto, quer não. Deus está numa posição para
salvar todos os homens. ―E Ele é a propiciação [hilasmos] pelos nossos pecados, e não
somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo‖ (I Jo 2:2).
Temos que enfatizar novamente que a morte do Senhor Jesus Cristo é a única base
sobre a qual Deus sempre tratou com o pecado humano. Em Romanos 3:25 Paulo
apresenta a posição dos homens e mulheres antes da Sua morte, e no v. 26 ele apresenta
a posição dos homens e mulheres depois da Sua morte.
i) A morte do Senhor Jesus declara a ―Sua justiça pela remissão [passar por cima]
dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus‖ (Rm 3:25). Mas isto não
significou que Deus tenha ―esquecido ou diminuído a Sua ira contra aquele pecado‖
(W. R. Newell). Aqueles pecados precisam ser castigados, mas Deus reteve o castigo
naquele tempo, e este foi plenamente satisfeito pelo Senhor Jesus. Deus agora
―demonstra‖ (esclarece) a base sobre a qual Ele tinha retido o juízo, e demonstra que
Ele foi perfeitamente justo em ―deixar impunes os pecados anteriormente cometidos‖
(ARA). Obviamente, o perdão gozado nos tempos do Velho Testamento não era
baseado nos sacrifícios de animais: ―Porque é impossível que o sangue dos touros e
dos bodes tire os pecados … sacrifício e ofertas não quiseste, nem te agradaram‖ (Hb
10:4-8). Os sacrifícios do Velho Testamento, incluindo os sacrifícios do Dia de
Expiação, não tinham valor intrínseco, mas tiveram um valor exterior, em que pelo
sacrifício exigido por Deus, as pessoas se colocavam numa posição onde poderiam
ser beneficiadas pela obra futura do Senhor Jesus Cristo.
ii) A morte do Senhor Jesus Cristo declara a ―Sua justiça, neste tempo presente,
para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus‖ (Rm 3:26).
Claramente, então, os pecados cometidos antes da cruz, e os pecados
cometidos depois da cruz, foram tratados na mesmíssima base: a morte do Senhor
Jesus no Calvário. A Sua morte permite a Deus tratar a questão do pecado com
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justiça. Sem a morte de Cristo, a justificação teria sido injusta e impossível. Mas, por
intermédio da morte do Senhor Jesus, ―Deus é [a] justo, e [b] o justificador daquele
que tem fé em Jesus‖. A fé no Senhor Jesus permite que Deus, por causa do sangue
derramado do Seu amado Filho, declare justo o pecador culpado. Diferente dos
tribunais humanos de hoje, onde às vezes há falhas e alterações, esta declaração
nunca pode ser desfeita. Deus é ―o Juiz de toda a terra‖ e Ele Se assenta no mais
elevado e justo Tribunal do universo.
A propiciação e a fé em Cristo
É importante compreender corretamente as palavras: ―Ao qual Deus propôs para
propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos
pecados dantes cometidos …‖ (Rm 3:25). O significado se torna mais claro quando
colocamos vírgulas antes e depois de ―pela fé‖: ―Ao qual Deus propôs para propiciação,
pela fé, no seu sangue …‖ Na versão ARA lemos: ―A quem Deus propôs, no seu
sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar sua justiça, por ter Deus, na
sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos‖. W. E. Vine
explica que a tradução ―fé no seu sangue‖ é incorreta, pois a fé sempre descansa numa
Pessoa viva, nunca no sangue. A fé é a maneira de tomar posse do perdão; o sangue é o
meio pelo qual o perdão é efetuado.
Todavia, é importante lembrar que é a fé no Senhor Jesus Cristo que nos introduz às
bênçãos da Sua obra no Calvário. As palavras ―pela fé‖ ocorrem aqui como parte da
ênfase na passagem sobre o meio da justificação. Já foi enfatizado que as palavras ―a
propiciação pelos nossos pecados‖ é a linguagem da fé, e que todos podem clamar: ―Ó
Deus, tem misericórdia de mim, pecador!‖
A propiciação e o sacerdócio de Cristo
―Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso
e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados [―fazer propiciação
pelos pecados‖, ARA] do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu,
pode socorrer aos que são tentados‖ (Hb 2:17-18). A palavra aqui traduzida ―expiação‖
na AT éhilaskomai, ―propiciação‖. A diferença entre ―reconciliação‖ e ―propiciação‖ é
que pessoas são reconciliadas e pecados são propiciados.
Se em Romanos 3 a propiciação é a base da nossa justificação, e em I João 2 ela é a
base da advocacia de Cristo, então em Hebreus 2 a propiciação é a base do Seu
sacerdócio. É importante lembrar que Hebreus apresenta dois aspectos da obra de Cristo
como sumo sacerdote, e ambos são mencionados aqui. O Senhor Jesus é ―um
misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus‖, em primeiro lugar para
―fazer propiciação pelos pecados do povo‖, e, em segundo lugar ―para socorrer aos que
são tentados‖. O primeiro é completo: a obra nunca será repetida. O segundo
é contínuo: a obra continua dia a dia. O significado da palavra ―socorrer‖ pode ser
ilustrado na referência ao ministério de Melquisedeque para com Abraão. Ele reanimou
e fortaleceu o guerreiro cansado e o ajudou a resistir o rei de Sodoma (Gn 14). No
Velho Testamento, o sumo sacerdote aspergia o sangue no Dia de Expiação, lançando
assim a base de aproximação a Deus, e com esta base, ele podia representá-los perante
Deus. A obra propiciatória do Senhor Jesus é a base do Seu ministério como sumo
sacerdote em nosso favor. Ele já tratou da questão do nosso pecado e injustiça, e por
isto, com razão, podemos cantar:
Jesus, Grande Sumo Sacerdote meu,
Ofereceu Seu sangue e morreu;
Minha consciência culpada nenhum outro sacrifício quer;
Seu sangue uma vez propiciou, e agora, ante o trono, vem interceder.
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O Senhor Jesus pode agir como nosso ―Advogado para com o Pai‖ porque, em
primeiro lugar, Ele é ―Jesus Cristo, o Justo‖ e, em segundo lugar, porque ―Ele é a
propiciação pelos nossos pecados‖. Nosso Advogado já esteve aqui, Sua justiça perfeita
já foi demonstrada num mundo pecaminoso, portanto Ele é perfeitamente qualificado
para agir em nosso favor. Ele faz isto, não apresentando circunstâncias atenuantes ou
desculpas vãs, mas como ―a propiciação pelos nossos pecados‖. Quem melhor para
interceder nossa causa perante o Pai do que Aquele que enfrentou a ira de Deus contra o
pecado? Ele apresenta a Sua própria morte como a base sobre a qual o Pai pode mostrar
misericórdia ao Seu filho errante. É muito importante notar que João não diz: ―Ele era o
propiciação pelo nosso pecado‖, mas ―Ele é a propiciação pelo nosso pecado‖. Isso
enfatiza a eficácia permanente da Sua Obra no Calvário. Como em 4:10, João usa a
palavra hilasmos, enfatizando que Cristo é, Ele mesmo, o sacrifício pelo qual Deus pode
mostrar misericórdia. Quando nós pecamos, o Senhor Jesus apresenta a Sua morte em
nosso favor como a base da restauração da nossa comunhão com o Pai.
Resumindo, podemos dizer que enquanto o sacerdócio do Senhor depende, entre
outras coisas, da Sua semelhança conosco, Sua advocacia depende da Sua falta de
semelhança conosco. Seu sacerdócio tem o propósito de nos fortalecer; o propósito da
Sua advocacia é nos restaurar.
Precisamos considerar mais um assunto de grande importância. Lemos em I João 2:2:
―Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também
pelos de todo o mundo‖; mas a tradução de J.N.D contém uma alteração importante:
―Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também
por todo o mundo‖; somente o salvo pode dizer, ―Ele é a propiciação pelos
meus pecados‖. Se Cristo é a propiciação ―pelos pecados de todo o mundo‖, então todo
o mundo é salvo e está caminhando para o céu. Mas não é isso que é afirmado aqui.
Antes, ―Ele é a propiciação … por todo o mundo‖. Isso é ilustrado com clareza quando
consideramos novamente o que acontecia no Dia da Expiação, relatado em Levítico 16.
Como já observamos, o primeiro dos dois bodes era ―do Senhor‖; era o bode sobre o
qual caiu a sorte ―pelo Senhor‖ (vs. 8-9). Seu sangue era aspergido ―sobre o
propiciatório, e perante a face do propiciatório‖ (v. 15). Nenhum pecado era confessado
sobre este bode; o sangue satisfez as exigências de Deus contra o pecado. Nenhum
pecado podia ser remido até que aquele sangue estivesse na presença de Deus
vindicando e honrando Seu nome. O sangue do Senhor Jesus satisfez perfeitamente as
exigências de Deus, e o servo de Deus pode ―rogar e suplicar, até aos Seus inimigos,
que se reconciliem com Deus‖ (W. Kelly). A propiciação é a base do Evangelho;
mostra-nos como Deus está numa posição para salvar ―todo aquele que invocar o nome
do Senhor‖. Ninguém é excluído do alcance desta mensagem. ―Ninguém é, por
predeterminação divina, excluído do alcance da misericórdia de Deus‖ (W. E. Vine). A
doutrina da ―expiação limitada‖ é totalmente estranha às Escrituras.
O Senhor Jesus não morreu somente em favor dos eleitos. Mas somente aqueles que
vem a Cristo, confessando os seus pecados, confiando nEle, pela fé, para a salvação,
podem dizer: ―Ele é a propiciação pelos meus pecados‖. Assim eles tomam a posição
descrita em relação ao segundo bode (o bode expiatório) em Levítico 16:21: ―E Arão
porá ambas as mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as
iniquidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, e todos os seus pecados; e
os porá sobre a cabeça do bode‖.
Nas palavras do Conde N. L. Von Zinzendorf:
Senhor, creio que Teu sangue expiatório,
Que diante do Divino propiciatório
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Cap. 7 — Redenção
James M. Flanigan, Irlanda do Norte
Uma ilustração
Em tempos passados, quando a escravidão era uma prática comum, o mercado de
escravos era bem conhecido. Nestes mercados, homens, mulheres e crianças eram
vendidos por meio de leilões, como animais são vendidos hoje em dia. O resultado disso
era geralmente uma vida de escravidão da qual era quase impossível escapar.
Imagine alguém, amável e bondoso, não familiarizado com o mercado de escravos,
passeando por ali com um amigo. A crueldade de tudo o deixa horrorizado e
escandalizado. Uma menininha, sozinha, infeliz, e com medo, esperando ser vendida a
um dono desconhecido, chama a sua atenção. O seu coração fica profundamente
sensibilizado quando pensa no futuro sem esperança e provavelmente cruel que a
espera. Ele pergunta ao seu companheiro: ―Será que nada pode ser feito para salvar esta
pequena criança desta triste situação?‖ A resposta vem: ―Sim! Você pode comprá-la, e
sendo sua, você teria o direito de libertá-la‖.
O leilão começa. Alguém faz um lance, e o homem faz um maior. Outros oferecem
ainda mais, mas cada vez o homem faz um lance maior, até que os lances cessam. O
lance do homem é aceito e a criança se torna sua propriedade. Com que medo e
incerteza sobre o futuro aquela criança olharia para seu novo dono. Mas não há
necessidade de medo. Longe do barulho daquele lugar, ele explica carinhosamente que
ele a comprou para deixá-la ir livre. Ele a comprou no mercado para tirá-la do mercado.
Ele pagou o preço do resgate e assim a remiu da escravidão. Ela não é mais uma
escrava. Ela está livre! Bem pode ser que ela olharia para o seu benfeitor e com amor
exclamaria: ―Meu redentor!‖ Ele pagou o preço exigido e, por intermédio dele, ela foi
emancipada da escravidão. Liberta! Redimida! E, bem pode ser que ela iria desejar
permanecer com ele e servir com gratidão alguém tão bondoso como ele.
Paulo compreendeu isto quando ele escreveu de si mesmo: ―vendido sob o pecado …
Miserável homem que eu sou! Quem me livrará?‖ Com alegria, ele acrescenta: ―Dou
graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor‖ (Rm 7:14, 24-25). Um Redentor pagou o
resgate, não com prata e ouro, mas com sangue precioso, como outro apóstolo explica
em I Pedro 1:18-19, e o pecador impotente está livre. Paulo também escreveu: ―fostes
comprados com preço‖ (I Co 6:20), e repete as mesmas palavras em I Coríntios 7:23.
Será que ele está pensando nisto quando ele diz: ―O qual se deu a si mesmo por nós para
nos remir …‖ (Tt 2:14)? Escrevendo também aos Gálatas ele diz: ―O Filho de Deus, o
qual me amou, e se deu a si mesmo por mim‖ (Gl 2:20). Entretanto, repare que tanto
Pedro como Paulo, mais tarde, sentem prazer em se chamar ―servos‖ de Jesus Cristo (II
Pe 1:1; Rm 1:1). Eles, e todos os que amam o Senhor Jesus, estão satisfeitos por estarem
em voluntária servidão de amor Àquele que os redimiu e os libertou.
Uma introdução
Há duas coisas muito interessantes no estudo da redenção. Uma é que um assunto
aparentemente tão lindo e simples pode se tornar tão complicado e difícil. A outra é que
um assunto tão complicado e difícil pode ser tão lindo e simples! A linda palavra
―redenção‖ ocorre quinze vezes na versão AT — quatro destas ocorrências estão no
Velho Testamento e onze estão no Novo Testamento. A redenção naturalmente exige
um redentor, e a palavra ―redentor‖ ocorre dezenove vezes no Velho Testamento, mas
nunca no Novo Testamento. A palavra cognata ―remir‖ ocorre mais de cinquenta vezes,
das quais somente duas estão no Novo Testamento (Gl 4:5 e Tt 2:14). A palavra
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associada ―remido‖ aparece mais de sessenta vezes, mas quase todas estão no Velho
Testamento, e somente sete no Novo Testamento.
Se tudo isto parece complicado, então para complicar o assunto mais um pouco,
temos que observar que estas palavras comuns realmente são traduções de várias
palavras hebraicas e gregas diferentes. A única palavra sempre traduzida da mesma
maneira é ―redentor‖, que é sempre a tradução da palavra hebraica goel, e isto será
explicado mais adiante. Também, devemos observar que estas palavras originais
hebraicas e gregas são frequentemente traduzidas por ainda outras palavras, como
―resgate‖, ―livramento‖, ―comprar‖ e ―comprado‖, etc.
Contudo, a complexidade desta grande variedade de palavras pode ser reduzida
quando notamos que há um elo entre todas elas. Citando as definições dos dicionários
Bíblicos bem conhecidos, as palavras simplesmente significam ―comprar de volta algo
que foi perdido, pelo pagamento de um resgate‖ (Easton). Ou, ―libertar ao pagar o preço
de resgate … especialmente na compra de um escravo, tendo em vista a sua liberdade‖
(W. E. Vine), como na nossa ilustração inicial. Todos irão concordar que uma
consideração detalhada de tão grande variedade de palavras nas línguas originais e suas
traduções seria uma tarefa enorme. Entretanto, será necessário considerarmos algumas
destas palavras, mas não seria proveitoso se um estudo acadêmico frio nos roubasse da
maravilha da nossa redenção e do gozo de conhecer a Cristo como nosso Redentor.
Todos os crentes no Senhor Jesus sabem que, embora a teologia e a doutrina tenham seu
lugar apropriado, a redenção está em uma Pessoa, um Redentor.
Pensando nisso, é interessante notar que a expressão ―meu Redentor‖ é encontrada
somente duas vezes na nossa Bíblia. Contudo, os salvos gostam de citar e falar sobre
isto, e como gostamos de cantar:
“Redentor”, Ó que beleza, nesse Nome Teu se vê!
Só Jesus, na Sua glória, de levá-lo, digno é.
Redentor meu! Redentor meu!
Que alegria seres meu!
H. e C. Nº 262 (Anônimo)
Como dissemos, ocorre somente duas vezes na Bíblia, em Jó 19:25 e Salmo 19:14. Jó
e Davi, na sua época, se uniram para exaltar este lindo título. Naquele Salmo Davi tinha
falado muito sobre o pecado. Houve pecados por ignorância. Houve pecados secretos.
Houve pecados de presunção e grandes transgressões. Para onde podia ele olhar para
obter ajuda? No versículo final do Salmo, ele eleva os seus olhos a Deus e exclama:
―Senhor, Rocha minha e Redentor meu!‖ Jó também tinha um problema, não tanto em
relação ao pecado, mas sobre sofrimento e tristeza, coisas que ele teve em abundância.
Ele tinha perdido a maior parte de sua família, suas riqueza e sua saúde. Aqueles que
eram presumidamente seus amigos nada mais eram do que ―consoladores molestos‖ (Jó
16:2), e até a sua esposa não o compreendera. Como Davi, ele desviou o olhar de tudo
isso, e disse: ―Eu sei que o meu Redentor vive‖. Quer seja em livrar do pecado ou
libertar da tristeza, estes santos do passado tinham encontrado a resposta — meu
Redentor! É nisto que os santos de hoje se regozijam. Em Cristo há uma libertação
presente do pecado, da sua penalidade, do seu poder e da sua escravidão. Um dia,
quando o Redentor vier, haverá libertação total da tristeza e do sofrimento da Terra.
Quão bom poder levantar os olhos, olhar para frente, e dizer com Davi e Jó: ―Meu
Redentor!‖
Uma explicação
Talvez a palavra hebraica mais conhecida em qualquer estudo acerca da Redenção
é goel, que ocorre mais de cem vezes no Velho Testamento. É traduzida de várias
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maneiras: ―vingador‖ (Nm 35:19, Dt 19:6); ―remidor‖ (Rt 3:12), ―redentor‖ (Jó 19:25),
etc. Na sua forma adjetiva, ―remidos‖, a encontramos em Isaías 35:9 e 51:10. Há muitas
outras ocorrências da palavra ―remido‖, e o estudante diligente deve consultar e
compará-las todas.
A primeira ocorrência de goel é em Gênesis 48:16. O patriarca Jacó estava velho e
morrendo, e José trouxe seus dois filhos para receberem a sua bênção. Jacó estendeu as
mãos sobre eles e disse: ―O anjo que me livrou [goel] de todo o mal, abençoe estes
rapazes‖. Isso tem criado um problema para alguns, visto que goel parece indicar um
relacionamento de parente remidor, como visto tantas vezes no livro de Rute, e assim
surge a pergunta: ―quem seria o Anjo que livrou Jacó de todo o mal?‖ Parece óbvio que
precisaria ser uma Pessoa divina, formando uma trindade com as outras duas menções
de Deus [Elohim] no versículo anterior. O Deus dos seus pais, o Deus que o tinha
sustentado durante toda a vida, é o Anjo que livrou o patriarca. Isso deve ser uma
―Cristofania‖, um ministério de Cristo antes da Sua encarnação. Antecipa Aquele que
voluntariamente iria tomar carne e sangue para ser nosso Parente Remidor. Há outras
referências ao Anjo do Senhor, como por exemplo: Gn 16:7; 22:15; 31:11; Êx 3:2. Estes
são somente alguns exemplos. Há mais de cinquenta outras referências, dez no livro de
Números, todas no cap. 22, e dezoito no livro de Juízes.
Entretanto, a palavra goel é mais proeminente no pequeno e lindo livro de Rute, onde
ocorre mais que vinte vezes nos quatro pequenos capítulos. W. E. Vine escreve: ―O
livro de Rute é um lindo relato do Parente Remidor. Sua responsabilidade é resumida
em 4:5: ―No dia em que comprares a terra da mão de Noemi, também a comprarás da
mão de Rute, a moabita, mulher do falecido, para suscitar o nome do falecido sobre a
sua herança‖.
Há três coisas necessárias num goel, ou parente remidor. Ele precisa ter o direito, a
capacidade e a vontade de cumprir o seu papel. O nosso Redentor tem todas estas
qualidades. Ele tem o direito, pois de fato é nosso parente. O milagre da encarnação
trouxe o Filho de Deus para nosso mundo como um Homem. Ele, na verdade, se tornou
um Homem entre homens. Com Sua humanidade, única e impecável, mas verdadeira,
Ele assumiu parentesco conosco e, portanto, tem o direito do Parente Remidor. Ele tem
também a capacidade e o poder, porque todos os recursos necessários para pagar o alto
preço do nosso resgate são Seus. O parente remidor anônimo no livro de Rute
possivelmente tinha o direito e a capacidade, mas por alguma razão ele não tinha a
vontade, e por isso seu direito passou a Boaz. Os privilégios e responsabilidades do
parente remidor são descritos em Deuteronômio 25 e também em Levítico 25, que diz:
―Portanto em toda a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois
vós sois estrangeiros e peregrinos comigo. Portanto em toda a terra da vossa possessão
dareis resgate à terra. Quando teu irmão empobrecer e vender alguma parte da sua
possessão, então virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que vendeu seu irmão.
E se alguém não tiver resgatador, porém conseguir o suficiente para o seu resgate, então
contarão os anos desde a sua venda, e o que ficar restituirá ao homem a quem vendeu, e
tornará à sua possessão. Mas se não conseguir o suficiente para restituir-lha, então a que
foi vendida ficará na mão do comprador até ao ano do jubileu; porém no ano do jubileu
sairá, e ele tornará à sua possessão‖ (Lv 25:24-28). Jeová ordenara que tanto pessoas
como propriedades podiam ser resgatadas, e isso era uma sombra do grande Parente
Remidor que viria para resgatar tudo que o primeiro homem perdera por causa de seu
pecado.
Tua esperança nossa é também,
Senhor, queremos ver
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Após trinta anos extraordinários, Ele foi morto. Pedro, que O conhecia muito bem,
escreve aos salvos cujas vidas tinham sido gastas nas cerimônias e rituais do judaísmo:
―Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes
resgatados … mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e
incontaminado, o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da
fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós; e por ele
credes em Deus, que o ressuscitou dentre os mortos, e lhe deu glória‖ (I Pe 1:18-21).
Paulo concorda com isto, dizendo: ―Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por
nós‖ (I Co 5:7).
Assim, a redenção de Israel da escravidão do Egito, comprada pelo sangue do
cordeiro e conseguida pelo braço do Senhor, é uma sombra eloquente da nossa redenção
pelo sangue do Senhor Jesus.
Um esclarecimento
Na versão inglesa (AV) do Novo Testamento a palavra ―redenção‖ ocorre onze vezes
e ―remido‖ ocorre sete vezes. ―Remir‖ ocorre somente duas vezes (Gl 4:5 e Tt 2:14), e
―remindo‖ ocorre também duas vezes (Ef 5:16 e Cl 4:5) na versão AV. Algumas destas
referências foram mencionadas na introdução deste capítulo. Como já foi mencionado, o
substantivo ―redentor‖ não é encontrado no Novo Testamento. Também, como no
Velho Testamento, estas palavras no Novo Testamento nem sempre são a tradução da
mesma palavra grega. Estas palavras, com seus diversos significados, precisam ser
consideradas e explicadas. Descobrimos que há quatro palavras usadas para traduzir as
seguintes palavras gregas, e o significado destas palavras nos ajudará muito a entender
melhor a grande verdade da redenção.
Agorazo
Esta palavra ocorre mais de trinta vezes no Novo Testamento, no grego. Seu
significado básico é ―comprar‖, e por isto quase sempre é traduzida ―comprar‖ ou
―comprado‖. É a palavra usada por Paulo em I Coríntios 6:20 e 7:23, onde escreve: ―…
porque fostes comprados por bom preço‖.
Vemos claramente destas referências que um preço foi pago para providenciar a
redenção gozada por tantos. Foi aquele preço que deu ao Senhor o direito de tomar o
livro da mão dAquele que estava sentado no trono em Apocalipse 5. Também comprou
o livramento de um futuro remanescente fiel de Israel, em Apocalipse 14:3, e o louvor e
a adoração deste remanescente, em Apocalipse 14:4.
Exagorazo
Esta palavra, como podemos ver, é uma combinação de agorazo, que acabamos de
considerar, e ex, que a precede. Ex é uma preposição que significa ―para fora de‖.
Assim, seagorazo significa ―comprar‖, então exagorazo significa ―comprar para fora
de‖. O comentário de W. E. Vine é muito útil; ele define exagorazo como uma
expressão mais forte do queagorazo, usada especialmente no sentido de comprar um
escravo da escravidão, para lhe dar liberdade. Como notamos na ilustração no início
deste capítulo, um escravo podia ser comprado por outro dono e continuar sendo
escravo, mas quão melhor seria ser comprado para fora do mercado, fora da escravidão,
emancipado, colocado em liberdade através do pagamento de um resgate. Remido!
Paulo usa esta palavra quatro vezes nas suas epístolas. Em duas destas ocorrências a
palavra não está ligada ao assunto de redenção que estamos considerando agora. Em
Efésios 5:16 e também em Colossenses 4:5, ele fala de ―remir o tempo‖. Com isto ele
quer dizer que, como os dias são maus, e porque os incrédulos estão sempre observando
a vida dos salvos, devemos, durante o tempo que nos resta aqui, comprar cada
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momento. Do tempo que Deus nos dá aqui na Terra, precisamos comprar tempo para
servir ao Senhor e para edificar um testemunho para Ele. Este tempo será comprado por
um preço. Este preço talvez seja renunciar eventos sociais para estar sozinho com o
Senhor, ou se ocupar no Seu serviço. Pode significar o sacrifício de outras coisas, que
em si mesmas são legítimas, para nos ocuparmos com o estudo da Sua Palavra. Pode
significar, como se diz, ―queimar o óleo da meia noite‖. De qualquer forma, um preço
precisa ser pago se quisermos remir o tempo, comprando momentos para Ele.
Em Gálatas 3:13; 4:5, esta palavra exagorazo deve ter sido especialmente preciosa
para os crentes judeus. Estes irmãos conheciam bem o que significava estar em
servidão. Como podiam regozijar-se e dizer com Paulo: ―Cristo nos resgatou
[exagorazo] da maldição da lei‖. Cada judeu sincero e zeloso teria vivido e trabalhado
debaixo deste pesado jugo. A lei exigia o que ele não podia dar — a perfeição — e
quem não podia satisfazer as suas exigências vivia debaixo da sua maldição. Mas Cristo
os tinha resgatado. Ele os tinha comprado para fora da esfera da servidão, e tinha lhes
concedido uma nova liberdade, para servirem a Deus por amor e gratidão pela sua
redenção.
Não devemos pensar que isso excluiu os gentios que também tinham sido remidos.
As palavras de Paulo em Gálatas provavelmente tinham uma aplicação primária aos
judeus convertidos, mas as palavras do Comentário Jamieson, Fausset, Brown sobre
Cristo nosso Redentor merecem ser mencionadas: ―A palavra ‗nós‘ aqui se refere
inicialmente aos judeus, a quem a lei pertencia, essencialmente, em contraste com os
gentios … Mas não está restrita somente aos judeus … pois este povo representa o
mundo em geral, e a sua lei mostra o que Deus exige do mundo todo‖. A maldição por
desobedecer a lei também afeta os gentios, através dos judeus, porque a lei representa a
justiça que Deus exige de todos e que, visto que os judeus falharam, os gentios também
não podem cumprir. ―Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da
maldição‖ (Gl 3:10) se refere claramente não somente aos judeus, mas a todos, até
mesmo aos gentios (como os gálatas) que procuravam a justificação através da lei. A lei
dos judeus representa a lei universal que também condena os gentios, embora com
menos consciência do seu pecado (Rm 2:1-29). A revelação da ira de Deus pela lei da
consciência preparou, até certo ponto, os gentios para poderem apreciar a redenção em
Cristo, quando esta foi revelada a eles. A maldição tinha que ser removida dos pagãos,
como dos judeus, para que ―a bênção por intermédio de Abraão pudesse chegar a eles‖.
Barnes concorda com isso, e escreve que é ―a maldição que a lei ameaçava, e que a
execução da lei infligiria — o castigo do pecado. Isso deve significar que Ele nos salvou
das consequências da transgressão no mundo de aflição. Ele nos salvou do castigo que
os nossos pecados mereciam. A palavra ‗nós‘ aqui se refere a todos que são remidos,
isto é, aos gentios como também aos judeus. A maldição da lei é uma maldição devida
ao pecado, e não pode ser considerada como aplicada especificamente a uma classe de
pessoas. Todos que violam a lei de Deus, não importa como a lei foi revelada, estão
expostos à sua penalidade‖. Ele acrescenta: ―O mundo está por natureza debaixo desta
maldição, e está correndo rapidamente para a sua ruína‖.
Romanos 3:19 confirma que as exigências da lei são reivindicadas de todos os
homens: ―Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz,
para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus‖.
Note a abrangência das afirmações, ―toda a boca fechada … todo o mundo seja
condenável‖. O judeu talvez seja mais privilegiado, e, portanto, mais responsável, mas
mesmo assim o pecador gentio está igualmente debaixo da maldição da lei, se não for
remido. ―O salário do pecado é a morte‖ é uma sentença universal, como também: ―a
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alma que pecar, essa morrerá‖ (Rm 6:23, Ez 18:4, 20). Todos os homens, portanto,
judeus e gentios, igualmente, precisam de um redentor.
O salvo pode dizer com Paulo: ―Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se
maldição por nós‖ (Gl 3:13). Ele nos comprou para fora da maldição de uma lei
desobedecida. Com que preço o Senhor Jesus Se tornou voluntariamente nosso
Redentor, tirando-nos daquela maldição! Ó, a vergonha de ser pendurado num madeiro
(Dt 21:23). Aquele que não conheceu pecado foi feito pecado por nós — este foi o
preço da nossa redenção (II Co 5:21). Ele foi contado com os transgressores, pendurado
num madeiro como os malfeitores ao Seu lado, e com a nossa iniquidade sobre Si (Is
53). O Cordeiro imaculado de Deus, eternamente santo como as antigas ofertas pelo
pecado (Lv 6:25, 29), foi desamparado por Deus como o substituto voluntário, pagando
o preço da nossa redenção.
Sua a maldição, as feridas, o fel,
Suas as chagas — tudo Ele suportou;
Seu o brado doloroso da morte,
Quando nossos pecados Ele carregou.
J. Cennick (tradução literal)
Foi com razão que o Salmista disse ―Pois a redenção da alma é caríssima‖ (Sl 49:8).
É tão preciosa como Aquele de quem está escrito: ―E assim para vós, os que credes, é
[pedra] preciosa‖ (I Pe 2:7).
Apolutrosis
Esta é a palavra normalmente traduzida ―redenção‖ no Novo Testamento. Nove vezes
é traduzida assim, e uma vez é traduzida ―livramento‖ (Hb 11:35), e isto nos ajuda a
entender seu significado básico. A definição de Thayer é: ―resgatar alguém, pagando o
preço; deixar alguém sair livre ao receber o pagamento do preço; uma libertação
efetuada pelo pagamento do resgate; redenção, libertação, liberação obtida pelo
pagamento de um resgate‖.
Como podíamos esperar, apolutrosis é frequentemente associada com a libertação do
salvo da penalidade do pecado, como em Romanos 3:24: ―Sendo justificados
gratuitamente pela sua graça, pela redenção [apolutrosis] que há em Cristo Jesus‖, e em
Efésios 1:7: ―Em quem temos a redenção [apolutrosis] pelo seu sangue, a remissão das
ofensas, segundo as riquezas da sua graça‖, e como num versículo semelhante em
Colossenses 1:14: ―Em quem temos a redenção [apolutrosis] pelo seu sangue, a saber, a
remissão dos pecados‖.
Há, entretanto, um outro uso interessante de apolutrosis. Enquanto gozamos agora da
nossa redenção por meio do sangue de Cristo, Sua obra de redenção por nós ainda não
está completa. Paulo fala do ―dia da redenção‖ como algo ainda futuro (Ef 4:30). Ele
escreve também da redenção do nosso corpo, dizendo: ―gememos em nós mesmos,
esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo‖ (Rm 8:23). Aquele dia final da
redenção trará ―a redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória‖ (Ef 1:14).
Muitos salvos ainda estão no corpo, vivendo e testemunhando num mundo perverso e
mau. Muitos sofrem no corpo pelo seu testemunho ao Salvador, e também muitos
sofrem as enfermidades e fraquezas comuns desta vida. Alguns sofrem as limitações e
enfermidades causadas pelos anos avançados, e quantos têm sofrido as tristezas e as
dores do luto. Enquanto estamos no corpo podemos esperar dificuldades de vários tipos.
Haverá tristezas e lágrimas, mas um dia o Redentor virá. Ele comprou a Sua igreja por
um preço muito elevado, e Ele virá para redimir a Sua possessão comprada. Ela é Seu
tesouro peculiar, e Ele virá buscá-la. Aquele dia será ―o dia da redenção‖ e a ―redenção
do nosso corpo‖.
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Alguns, porém, podem perguntar sobre nossos irmãos em Cristo que já faleceram e
nos precederam. Foi exatamente para esclarecer a posição destas pessoas, no dia da
redenção, que Paulo escreveu aos coríntios e aos tessalonicenses. Não devemos nos
entristecer por eles, como aqueles que não têm esperança se entristecem. Nós, que
estivermos vivos quando o Redentor chegar, não teremos precedência sobre nossos
irmãos falecidos. ―Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que
ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o
mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz do arcanjo, e com trombeta de
Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos
vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos
ares, e assim estaremos sempre com o Senhor … Eis que vos digo um mistério: Na
verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados. Num momento,
num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os
mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados‖ (I Ts 4:15-17, I Co
15:51-52). Aquele será o dia da redenção, quando seremos libertados destes corpos da
nossa humilhação, corpos em que nós temos sofrido e pecado. A nossa redenção então
será completa.
Em muitos sepulcros solitários podemos ler esta inscrição simples: ―Remido‖. A
palavra é retrospectiva e também esperançosa. Olhando para trás, o salvo sepultado foi
de fato remido, comprado fora do mercado da escravidão do pecado e unido, com todos
os seus pecados perdoados, a Cristo o Redentor. Por muitos anos alguns viveram no
gozo da sua redenção e dos pecados perdoados. Mas, olhando para frente e para cima,
com antecipação santa e inteligente, o melhor ainda está por vir. Os corpos de todos os
salvos que já morreram esperam o dia da redenção, quando serão ressuscitados e
arrebatados para a glória. Como é precioso antecipar a redenção do corpo! Não
pecaremos mais! Não sofreremos mais! Não nos cansaremos mais! Não sentiremos mais
a solidão! Seremos redimidos!
Já temos privilégio de, pela fé, prever.
A divinal herança que vamos receber.
A dor e o sofrimento jamais terão lugar
Quando Cristo triunfante aqui reinar.
D. W. Whittle (H. e C. Nº 290)
Lutroo; lutrosis
Estas são palavras cognatas de apolutrosis e provocam uma pergunta interessante em
relação à redenção, que devemos considerar. As definições resumidas de W. E. Vine
são:
lutroo: ―libertar ao receber um resgate‖ (semelhante a lutron, um resgate), é usada na
voz média (no grego), e significa ―libertar mediante o pagamento do preço do
resgate, remir‖.
lutrosis: ―uma redenção‖, usada no sentido geral de ―libertação‖.
A pergunta que surge é: ―Se há um preço a ser pago, a quem foi pago? Sendo que
algumas das palavras já mencionadas, como agorazo e lutron, parecem exigir o
pagamento de um resgate, para muitos parece ser razoável perguntar: quem recebeu o
resgate?‖ A pergunta é antiga, e como A. McCaig escreve na International Bible
Encyclopaedia: ―A pergunta ‗Quem recebe o resgate?‘ não aparece diretamente nas
Escrituras, mas é uma pergunta que surge naturalmente na mente, e os teólogos a têm
respondido de diversas maneiras.
i) Não Satanás. A idéia de alguns dos antigos, como Irineu e Origenis, era que o
resgate foi dado a Satanás, que é considerado como tendo, por causa do pecado do
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homem, algum direito justo sobre ele, que Cristo reconheceu e pagou. Esta sugestão é
absurda e sem qualquer base bíblica.
ii) A Justiça Divina. Entretanto, ao repudiar a primeira resposta, não devemos ir ao
extremo de negar que houve uma transação real de resgate. O que temos dito é para
mostrar que a afirmação, Cristo deu a ‗Sua vida em resgate‘ não é meramente uma
figura de retórica, mas uma tremenda realidade. Se nós precisamos saber a quem o
resgate foi pago, parece razoável pensar que foi à justiça de Deus, ou a Deus no Seu
caráter de Governador Moral, exigindo e recebendo-o‖.
Embora estas respostas possam ser interessantes e estimular nossas mentes, há certo
sentido em que a pergunta em si não é importante. Como W. E. Vine e outros explicam,
o tempo do verbo lutroo está na voz média (no grego), e portanto não necessita de outra
pessoa. Para ilustrar, imaginemos um homem que recebeu um conselho, mas o recusou;
depois ele diz: ―eu paguei o preço‖. Outro vê um aviso de perigo, mas o ignora e depois
diz: ―eu paguei o preço‖. Um homem recebe um medicamento para uma doença, mas
não o toma, e depois ao reconhecer a sua negligência ele diz: ―eu paguei o preço‖.
Sabemos que há um preço a ser pago para poder alcançar muitas das honras deste
mundo. Também, na esfera espiritual, homens como Paulo, e outros mártires que
vieram depois dele, pagaram o preço pela sua fidelidade. Mas, a quem foi pago este
preço? A pergunta realmente não é necessária.
Assim, o Senhor Jesus Se tornou nosso fiador e substituto, e pagou o preço.
Voluntariamente, ―Ele se deu a si mesmo em preço de redenção por todos‖ (I Tm 2:6).
No lugar chamado Gólgota, Ele pagou o preço, ao dar a Sua vida e derramar o Seu
sangue, e assim assegurou a nossa liberdade. Ele é nosso Redentor.
As implicações
Os que são descritos como ―os resgatados do Senhor‖ (Is 35:10) estão profundamente
gratos Àquele que os resgatou. Cristo não pediu nada, e eles nada contribuíram ao preço
da sua redenção. O Redentor pagou tudo. Contudo, tendo sido resgatados, agora há uma
responsabilidade solene sobre eles, de viver para Aquele que pagou o seu resgate. Isto
não deve ser como uma obrigação; pois não é um fardo pesado que é imposto, mas é um
privilégio agradável viver para Aquele que morreu por nós. Como disse um dos Seus
servos: ―Se Cristo é Deus, e se Ele morreu por mim, então não existe sacrifício grande
demais que eu possa fazer por Ele‖ (C. T. Studd).
―Não sois de vós mesmos‖, diz Paulo, ―fostes comprados por bom preço‖; depois ele
acrescenta: ―glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais
pertencem a Deus‖ (I Co 6:20). A implicação óbvia disto é que agora nós pertencemos
exclusivamente, e por direito, Àquele que nos comprou, e nossas vidas devem ser
vividas para a Sua glória. Lamentavelmente, havia muito entre os coríntios para
entristecer o Senhor. Havia erro doutrinário e moral, e havia também divisões sociais no
seu meio. Tudo isto era uma negação dos Seus direitos, a quem agora pertenciam.
Corpo, alma e espírito pertenciam ao Redentor. Eles deveriam estar, por causa dEle,
vivendo vidas santas. O resgate que Ele pagou merecia e exigia esta vida santa. Note
como Paulo usa a palavra ―pois‖. A sua santidade não era opcional: ―fostes comprados
por bom preço, glorificai, pois, a Deus‖.
Em outro lugar ele usa novamente a mesma expressão (―fostes comprados por bom
preço‖), e acrescenta: ―não vos façais servos de homens‖ (I Co 7:23). Adam Clarke
comenta: ―Alguns interpretam isto como sendo uma pergunta: Fostes comprados por
bom preço? Então, não voltem a ser escravos de homens‖. Todos irão concordar que a
nossa redenção não livra empregados das suas obrigações para com seus empregadores.
Também, naquele tempo, não livrou os escravos cristãos do serviço aos seus senhores,
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mesmo embora aquele sistema de escravidão fosse deplorável. Seja no emprego secular
normal, ou na escravidão daquele tempo, os salvos têm um dever de obedecer aos seus
senhores. A lembrança desta exortação de Paulo afetaria muito todo serviço, tanto dos
servos pagos como dos escravos: ―Porque o que é chamado do Senhor, sendo servo, é
liberto do Senhor; e da mesma maneira também o que é chamado sendo livre, servo é de
Cristo‖ (I Co 7:22). Note também a exortação de Paulo aos efésios: ―Vós, servos,
obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de
vosso coração, como a Cristo; não servindo à vista, como para agradar aos homens. Mas
como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus‖ (Ef 6:5-6). Aos
colossenses a sua exortação é a mesma: ―Vós, servos, obedecei em tudo a vossos
senhores segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens,
mas em simplicidade de coração, temendo a Deus. E tudo quanto fizerdes, fazei-o de
todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens‖ (Cl 3:22-24). O salvo, portanto,
deve servir de uma maneira aceitável e leal, lembrando sempre que ao servir os homens,
ele está servindo a Deus. Nunca podemos nos tornar escravos dos homens em assuntos
de religião, tradição, superstição, ou cerimonialismo. Nossa lealdade suprema é para
com o nosso Redentor. Nós pertencemos a Ele. Somos os ―remidos do Senhor‖ (Sl
107:2; Is 51:11; 62:12).
De todas estas considerações, portanto, é evidente que a redenção não é somente um
assunto da assim chamada ―teologia sistemática‖. É uma verdade e experiência cordial e
vibrante. Traz grande gozo e alegria ao coração do salvo, dá sentido à vida, decide o
passado e assegura o futuro, e, acima de tudo, traz glória ao Próprio Redentor, nosso
Senhor Jesus Cristo.
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Cap. 8 — Reconciliação
Thomas Bentley, Malásia
Um estimado expositor afirma: ―A palavra do Novo Testamento que descreve melhor
o propósito da expiação é reconciliação‖. Sir Robert Anderson diz: ―Reconciliação é um
passo além da redenção na sua plenitude ao incluir tanto a justiça como a santidade.
Reconciliação é … o cumprimento do propósito da redenção‖.
As ocorrências
O uso da palavra ―reconciliação‖ no Velho Testamento não ajuda muito na exegese
dos termos no Novo Testamento. Em Levítico 6:30; 8:15; 16:20; Ezequiel 45:15, 17,
20; Daniel 9:24, a palavra hebraica kaphar é traduzida ―reconciliação‖ na versão AV
(em inglês), mas nas versões RV e JND, esta palavra é traduzida ‗expiação‘, que melhor
transmite o significado da palavra original.
Há aqueles que usam de maneira errada esta tradução da palavra, nas passagens
mencionadas, pois eles pressupõem que os tradutores da King James entenderam
reconciliação como tendo um aspecto relacionado com Deus, sugerindo que Deus
necessitava ser reconciliado, uma interpretação que vamos contestar firmemente, mais
adiante.
Em II Crônicas 29:24 (ARC) onde ocorre a palavra ―reconciliação‖, ela é a tradução
de outra palavra hebraica. Aqui, novamente, a RV (em inglês) se adapta ao significado
geral da palavra hebraica e a traduz ―oferta pelo pecado‖, ou ―purificação‖ (JND). I
Samuel 29:4 é uma passagem onde ainda outra palavra hebraica é traduzida
―reconciliar‖. Infelizmente aqueles que propagam o fato que Deus precisava ser
reconciliado, como nós precisávamos, usam esta passagem para ilustrar o seu conceito
do assunto.
Embora nem todos vão concordar, é necessário mencionar aqui as seguintes
passagens da Apócrifa, porque é especialmente nestes versículos que muitos encontram
apoio para o seu argumento que Deus precisava ser reconciliado. As passagens são II
Macabeus 1:5; 5:20; 7:33; 8:29. O judaísmo não é diferente da religião helenística, nas
quais é sempre o ser humano que procura a restauração do favor do seu deus, através de
tudo quanto o respectivo sistema determina.
No Novo Testamento há duas passagens não-doutrinárias onde a palavra
―reconciliação‖ ocorre; uma em Mateus 5:24 e a outra em I Coríntios 7:11. Na
passagem onde Mateus escreve: ―vai reconciliar-te primeiro com teu irmão‖, temos uma
das ocorrências de uma de suas palavras-chave: ―primeiro‖. É uma tragédia da
comunhão o fato de que podemos falar com Deus e dar-Lhe adoração e ações de graças
e, ao mesmo tempo, termos relações cortadas com nossos irmãos. Em seguida temos
o teste da comunhão: ―vai reconciliar-te primeiro com teu irmão‖. Não importa quem é
o responsável pelo problema, eu ou meu irmão, é preciso obedecer a Palavra e a ordem
do Salvador e sermos reconciliados. Tendo feito isto, então os termos da
comunhão estarão verdadeiramente concretizados: ―depois, vem e apresenta a tua
oferta‖.
Na passagem em I Coríntios 7:11, Paulo usa a palavra chave relacionada com
reconciliação ao falar sobre a suposta situação de uma esposa que está separada do seu
marido, e é aconselhada a permanecer sem casar ou a reconciliar-se com seu marido.
Aqui, novamente, é o caso de obediência aos requisitos de Deus e da Sua Palavra que
levarão à situação desejada e aprovada por Deus, e Ele sempre supre a graça para
obedecer.
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expiava pecados específicos. Obviamente, nossa falha específica pode ser vista na nossa
negligência em pagar o que devemos e, pior do que isso, nossa incapacidade de fazê-lo.
Paulo reconhece o impacto de tudo isto em que nele, e em todos os reconciliados, Deus
―pôs a palavra (logos) da reconciliação‖. O verbo themenos (―pôs‖) indica uma
nomeação divina, demonstrando novamente a sabedoria e graça de Deus, para que esta
mensagem da graça reconciliadora de Deus possa ser anunciada deliberadamente,
universalmente e com autoridade a todos os homens.
v. 20 Responsabilidade digna ―embaixadores … de Cristo‖;
Ministério distinto ―Deus por nós rogasse‖;
Identificação divina ―Rogamos … da parte de Cristo‖.
Como Paulo, cada pessoa salva possui esta responsabilidade distinta e divina. Vamos
corresponder, dando ao mundo algo do caráter da nossa vocação digna, enquanto
anunciamos a palavra da reconciliação, sabendo que ninguém precisa
perecer, todos podem viver porque Cristo morreu. Não negligenciemos os termos
usados pelo Espírito Santo, como é especialmente essencial na palavra ―reconcilieis‖
neste versículo. O que é de valor essencial nesta palavra é que está na voz passiva;
portanto, não é que nós temos de nos reconciliar com Deus, mas temos que aceitar o que
Deus já realizou na obra do Seu Filho. Também, o verbo está no modo imperativo,
indicando como a mensagem que temos de anunciar e afirmar é vital e essencial. Este
versículo nos apresenta a dignidade, a realidade e o ministério da reconciliação. Amado
leitor, lembre-se de que a provisão é universal e que a necessidade é tão real quanto a
notícia é vital.
v. 21 A angústia da mensagem Ele ―O fez pecado por nós‖
Seu sacrifício redentor;
O alicerce da mensagem Ele ―não conheceu pecado‖
Sua santidade real;
O amor da mensagem ―fôssemos feitos justiça de Deus‖
Nosso status recebido.
Romanos 8:3 concorda com a verdade expressa no início deste versículo: ―Porquanto,
o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando
seu próprio Filho em semelhança da carne pecaminosa e no tocante ao pecado, e, com
efeito, condenou Deus, na carne, o pecado‖ (ARA). Compare também Isaías 53:10:
―Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser
por expiação do pecado ….‖. Certamente é isto que Paulo, pelo Espírito, está
afirmando: o Santo, impecável Filho de Deus Se tornou responsável, e pela Sua morte
pagou as nossas dívidas e limpou a nossa conta não paga (e, humanamente falando,
impossível de pagar) com Deus. ―Para que nele fôssemos feitos justiça de Deus‖
confirma a natureza objetiva da nossa posição, isto é, uma posição justa perante Deus.
b) Rm 5:10-11 — Sua paixão (“pela morte de Seu Filho”)
v. 10 Um epíteto acrescentado ―inimigos‖;
Um propósito realizado ―reconciliado com Deus‖;
Um preço reconhecido ―a morte do Seu Filho‖;
Um proveito reafirmado ―seremos salvos pela Sua vida‖
A palavra-chave que resume o tema dos versículos anteriores (vs. 1-9) é trocada, no
v. 10, de justificação para reconciliação. Esta mudança é necessária por causa do quarto
epíteto que Paulo acrescenta ao terminar a sequência que começou com a palavra
―fraco‖ no v. 6, afirmando a nossa impotência; em seguida temos ―ímpios‖ (v. 6), que
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O ministério ―reconciliasse‖;
O material ―todas as coisas‖;
A misericórdia ―havendo … feito a paz‖;
O meio ―pelo sangue da Sua cruz‖;
A medida ―por ele … coisas … na terra … nos céus‖.
Paulo está novamente enfatizando o trabalho do Salvador como Mediador. Ele é o
meio Divino pelo qual a obra da reconciliação, tão vasta e fundamental, é efetuada com
justiça. Como já mencionamos, a palavra aqui traduzida ―reconciliação‖ é a mesma que
Paulo usou em Efésios 2:16. É uma palavra profunda, e como W. E. Vine explica,
significa ―mudar de uma condição a outra, para assim remover toda a inimizade e não
ter nenhum impedimento à unidade e paz‖. Em Efésios 2 reconhecemos a natureza
étnica da reconciliação relacionada com pessoas, mas em Colossenses é a sua natureza
cósmica, por isso temos a expressão ―todas as coisas‖. A paz foi alcançada, mas a um
preço tremendo: o ―sangue da Sua cruz‖. Esta é uma de cinco menções que Paulo faz da
cruz nas suas epístolas de prisão. Estas cinco referências são:
Ef 2:16 — ―a cruz‖ sua distinção;
Fp 2:8 — ―a morte de cruz‖ sua dimensão;
Fp 3:18 — ―a cruz de Cristo‖sua dignidade;
Cl 1:20 — ―o sangue da Sua cruz‖ sua demanda;
Cl 2:14 — ―Sua cruz‖ sua devoção.
v. 21 O povo ―a vós‖;
O problema ―éreis estranhos e inimigos‖;
O processo ―agora, contudo vos reconciliou‖.
O apóstolo está afirmando que os colossenses compartilharam das bênçãos da
reconciliação quando receberam Cristo. A palavra ―estranhos‖ (apellotriomenous)
testifica da Queda. Quando Adão pecou, ele se afastou de Deus (compare Ef 2:12-13,
―separados‖). A palavra ―inimigos‖ expressa hostilidade (compare Mt 13:38 e Rm 8:7).
A mente (dianoia) é a fonte; as obras (ergois) a esfera, e o mal (ponerois) é a força.
Parece haver bastante autoridade textual para iniciar o v. 22 depois da palavra ―obras‖
(veja JND). Contudo, prontamente reconhecemos que Deus é o Reconciliador. A
palavra ―agora‖ indica que é o tempo presente da graça que está em vista. Não o exato
momento presente, mas a época presente, caracterizada pela graça salvadora de Deus,
constantemente apresentada no Evangelho.
v. 22 O canal da reconciliação ―no corpo da Sua carne‖;
O custo da reconciliação ―pela morte‖;
A consumação da reconciliação,
―apresentar-vos santos‖ além de contaminação;
―irrepreensíveis‖ além de crítica;
―inculpáveis‖ além de culpa;
A centralidade da reconciliação ―perante Ele‖.
Esta referência, com sua menção especial de ―corpo‖ e ―carne‖, cumpre um propósito
duplo:
i) Distingue entre o corpo físico de Cristo (como em Rm 7:4) e o corpo místico de
Colossenses 1:18.
ii) Combate o erro:
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Cap. 9 — Regeneração
Brian Currie, Irlanda do Norte
Introdução
A palavra ―regeneração‖ ocorre somente duas vezes na Bíblia. Estas duas referências
são:
i) ―E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na
regeneração, o Filho do homem se assentar no trono da sua glória, também vos
assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel‖ (Mt 19:38).
ii) ―Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua
misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito …‖
(Tt 3:5).
No evangelho de Mateus o assunto é nacional; tem a ver com a Criação e está
no futuro.
Na carta de Paulo a Tito é pessoal; tem a ver com cristãos e está no presente.
Definição
Há três termos que, embora intimamente ligados, precisam ser distinguidos. São
―vivificar‖, ―nascer de novo‖, e ―regeneração‖, que é o assunto deste capítulo.
As palavras ―vivificar‖, ―vivifica‖, ―vivificou‖, ―vivificarão‖, ―vivificante‖, e
―vivificado‖, ocorrem 26 vezes na Bíblia: 14 vezes no Velho Testamento e 12 no Novo
Testamento. A idéia central nesta palavra ―vivificar‖ é a imputação da vida divina.
Para que isso possa acontecer todo o poder divino, todas as Pessoas divinas e toda a
revelação divina estão envolvidos.
Das ocorrências no Velho Testamento, 11 estão no Salmo 119. Assim, há um vinculo
íntimo entre vivificar e a Palavra de Deus, que é o assunto principal daquele Salmo.
Não somente a Palavra está envolvida, mas também o Espírito de Deus. Assim
lemos: ―O Espírito é o que vivifica …‖ (Jo 6:63).
Notamos que o Filho de Deus está envolvido também, ―pois, assim como o Pai
ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer‖ (Jo
5:21).
Muitas referências provam que o próprio Pai está envolvido. ―E vos vivificou,
estando vós mortos em ofensas e pecados‖ (Ef 2:1); ―E, quando vós estáveis mortos nos
pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele,
perdoando-vos todas as ofensas‖ (Cl 2:13).
Estas referências provam o que já afirmamos, que vivificar tem a ver com a
imputação da vida. Romanos 4:17 e 8:11, que falam da ressurreição, também enfatizam
esta verdade. Vemos isto também na esfera da agricultura (I Co 15:36), e em relação ao
Senhor Jesus (I Pe 3:18).
Temos ilustrações bíblicas disto nas três ocasiões quando o Senhor Jesus ressuscitou
pessoas que tinham morrido: uma menina, um rapaz, e um homem. Dois eram jovens,
mas Lázaro já era homem maduro. Aprendemos que idade e gênero não importam,
porque todos precisam ser vivificados. A menina tinha acabado de morrer, o rapaz
estava a caminho do sepulcro e Lázaro estava morto já quatro dias e cheirava mal. Aqui
aprendemos que não importa a profundidade a que a pessoa tem-se afundado no pecado
— Ele pode vivificar a todos.
Em seguida, pensemos na expressão ―nascer de novo‖, que indica inclusão na
família.
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É quando nascemos que nos tornamos parte da família do nosso pai. Assim também é
espiritualmente. É somente quando ―nascemos de novo‖ que entramos na família de
Deus. Isso não acontece por meio de batismo, nem por relacionamentos naturais, ritos
religiosos ou qualquer outra coisa feita por ou sobre a pessoa, pessoalmente ou por
outra. O novo nascimento é de Deus. É por isso que o Senhor Jesus disse a Nicodemos:
―Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o
reino de Deus … Não te maravilhas de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo‖ (Jo
3:3, 7).
A palavra aqui traduzida ―de novo‖ é usada por João em três outros lugares no seu
evangelho:
i) 3:31 — ―Aquele que vem de cima é sobre todos‖;
ii) 19:11 — ―Nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado …‖;
iii) 19:23 — ―A túnica porém, tecida toda de alto a baixo, não tinha costura‖.
Assim, o novo nascimento é uma obra de Deus porque vem de cima. João confirma
isto na sua primeira epístola, onde ele nos lembra sete vezes que somos nascidos de
Deus ou nascidos dEle (veja 2:29; 3:9; 4:7; 5:1, 4, 18). Nunca lemos que somos
nascidos de Cristo.
Aprendemos de I Pedro 1:23 que o novo nascimento é produzido por Deus, usando a
Sua Palavra: ―Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível,
pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre‖. Para entendermos este
versículo corretamente, é necessário considerar as preposições usadas nele. Lendo o
versículo, literalmente, temos: ―Sendo de novo nascidos, não de [ek] semente
corruptível, mas da incorruptível, por intermédio [dia] da Palavra de Deus vivendo e
permanecendo para sempre‖. Assim, a palavra de Deus é o instrumento pelo qual a
semente incorruptível da vida divina é concedida à alma que crê.
Podemos ver uma ilustração bíblica disso na história de Naamã em II Reis 5, onde
lemos no v. 14: ―… sua carne tornou-se como a carne de um menino …‖.
Chegamos agora ao assunto deste capítulo, Regeneração, que significa a introdução
de uma nova condição.
Antes de expor este assunto, podemos considerar a ilustração bíblica que vemos no
gadareno endemoninhado. Ele encontrou o Senhor Jesus e foi totalmente mudado, sendo
introduzido a uma situação completamente nova. Assim, o encontramos ―vestido, e em
seu juízo, assentado aos pés de Jesus‖ (Lc 8:35). Houve uma mudança nos seus trajes,
ele estava ―vestido‖; houve uma mudança na sua atitude, estava ―em seu juízo‖; houve
uma mudança na sua posição, estava ―assentado aos pés de Jesus‖; e houve uma
mudança na suaapreciação, ―rogou-lhe que o deixasse estar com Ele‖ (v. 38).
Exposição
Já notamos que o assunto da Regeneração tem dois aspectos, que são:
a) Nacional, ligado à Criação, no futuro. Isto é Mateus 19:28: ―E Jesus disse-lhes:
Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando na regeneração, o Filho de
homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos,
para julgar as doze tribos de Israel.‖
b) Pessoal, ligado aos cristãos, no presente. Isto é Tito 3:5: ―Não pelas obras de
justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela
lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo…‖.
a. Nacional
Este aspecto, mencionado por Mateus, trata da nação de Israel e é profético. Com o
Arrebatamento da Igreja, a influência que tem refreado o avanço da rebeldia será
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Isaías 40:4-5: ―Todo o vale será exaltado, e todo o monte e todo o outeiro será
abatido, e o que é áspero se aplainará. E a glória do Senhor se manifestará, e toda a
carne juntamente a verá, pois a boca do Senhor o disse‖.
Zacarias 14:4, 10: ―E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras,
que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o monte das Oliveiras será fendido pelo
meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; e a metade do
monte se apartará para o norte, e a outra metade dele para o sul…Toda a terra em redor
se tornará em planície, desde Geba até Rimom, ao sul de Jerusalém.‖
iii) Botanicamente
As condições do Éden voltarão: Isaías 35:1-2: ―O deserto e o lugar solitário se
alegrarão disto; e o ermo exultará e florescerá como a rosa. Abundantemente florescerá,
e também jubilará de alegria e cantará‖.
Salmo 72:16, ―Haverá um punhado de trigo na terra sobre as cabeças dos montes; o
seu fruto se moverá como o Líbano‖.
iv) Zoologicamente
Isaías 11:6-8: ―E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se
deitará, e o bezerro, e o filho de leão e o animal cevado andarão juntos, e um menino
pequeno os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos, e o
leão comerá palha como o boi. E brincará a criança de peito sobre a toca da áspide, e a
desmamada colocará a sua mão na cova do basilisco‖.
Ezequiel 47:8-9: ―Estas águas saem para a região oriental, e descem ao deserto, e
entram no mar; e, sendo levadas ao mar, as águas tornar-se-ão saudáveis. E será que
toda a criatura vivente que passar por onde quer que entrarem estes rios viverá; e haverá
muitíssimo peixe, porque lá chegarão estas águas, e serão saudáveis, e viverá tudo por
onde quer que entrar este rio‖.
v) Naturalmente
Zacarias 14:6-7: ―E acontecerá que naquele dia, não haverá preciosa luz, nem espessa
escuridão. Mas, será um dia conhecido do Senhor; nem dia nem noite será; mas
acontecerá que ao cair da tarde haverá luz‖.
vi) Socialmente
Zacarias 14:11: ―E habitarão nela, e não haverá mais destruição, porque Jerusalém
habitará segura‖.
Isaías 2:4: ―e estes converterão suas espadas em foices; uma nação não levantará
espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerrear‖.
Miquéias 4:3-4: ―E julgará entre muitos povos, e castigará nações poderosas e
longínquas, e converterão as suas espadas em pás, e as suas lanças em foices; uma
nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra. Mas,
assentar-se-á cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira, e não haverá
quem os espante, porque a boca do Senhor dos Exércitos o disse‖.
vii) Nacionalmente
Deuteronômio 28:13: ―E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás
em cima, e não debaixo …‖.
Vindicação
Nós apreciamos todas estas mudanças e antecipamos estes dias com corações cheios
de gozo e devoção, porque haverá a vindicação do Senhor Jesus aqui na Terra, onde Ele
foi rejeitado.
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Note os contrastes entre a Sua posição quando rejeitado na Terra e durante estes dias
de Glória Milenar:
Na Terra No milênio
Humilhação Glória
Panos Envolto em glória
Uma jumenta Um cavalo branco
Derramou lágrimas Olhos como chama de fogo
Túnica de púrpura Vestes reais
Uma coroa de espinhos Muitos diademas
Uma cana de escárnio Uma vara de ferro
Poucos discípulos tímidos Os exércitos dos céus
Seu sangue O sangue dos Seus inimigos
Acima dEle: ―Rei dos Judeus‖ Na Sua coxa: ―Rei dos Reis e Senhor dos Senhores‖
Homens reunidos para Homens reunidos para serem condenados por Ele.
condená-lO
Sozinho na cruz Com todas as hostes celestes.
b. Pessoal
Muitos irmãos têm negligenciado a epístola de Paulo a Tito. Contudo nos seus 46
versículos temos muitas verdades doutrinárias. De fato, há três grandes passagens
doutrinárias na epístola:
i) 1:1-3. Aqui encontramos a grande verdade da eleição; acontecimentos antes da
criação do mundo; a fé; e a pregação. É uma miniatura da carta aos Efésios.
ii) 2:11-14. Estes versículos apresentam a chegada da graça; a mudança na vida
presente; a segunda vinda do Senhor Jesus. É uma miniatura da carta
aos Tessalonicenses.
iii) 3:4-7. Nesta parte aprendemos sobre a corrupção do homem; a justificação pela
graça; somos herdeiros; e temos uma esperança. É uma miniatura da carta
aos Romanos.
Nossa intenção agora é meditar sobre Tito 3, especialmente os vs. 1-7, que nos
apresentam o assunto da Regeneração e como isso afeta os cristãos, no presente.
Estes versículos podem ser compreendidos se fizermos, e respondermos, três
perguntas:
i) Por que a regeneração foi necessária? A resposta se encontra no v. 3.
ii) Como aconteceu a regeneração? A resposta se encontra nos vs. 4-6.
iii) Que diferença fez a regeneração? A resposta se encontra nos vs. 1 e 2, que se
relacionam com a nossa responsabilidade presente, e no v. 7 que se relaciona com
nossodestino futuro.
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vida pelas obras assim caracterizadas. Poderia ser descrita como ―bondade em ação‖
(W. E. Vine).
ii) ―Amor‖. Esta é a nossa palavra ―filantropia‖, que aqui significa o amor de Deus
para com o homem. Não pode ser explicado, somente desfrutado. Obviamente está
em grande contraste com a descrição ―odiosos e odiando-nos uns os outros‖. Quem
nos amou foi ―Deus nosso Salvador‖. Este título é característico das Epístolas
Pastorais, e revela o poder e a grandeza dAquele que salva. A salvação é uma obra
muito além da capacidade de qualquer homem, ou grupo de homens. Agora mais
uma explicação é dada, e para que não haja nenhuma dúvida, lemos como não
aconteceu, e como aconteceu. Como vemos na expressão no v. 5: ―não … mas‖,
temos o ensino negativo e também o positivo. ―Não pelas obras da justiça que
houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia Ele nos salvou, pela lavagem da
regeneração e da renovação do Espírito Santo‖ (3:5).
a) Negativamente. A primeira parte do versículo ensina a verdade fundamental que
as obras do homem não têm nenhuma parte na sua salvação. Literalmente diz: ―Não
de [ek] obras em [en] justiça‖. A fonte não é ―obras‖, e a esfera não é ―justiça‖. Deus
não nos salva por causa do que temos feito ou do que faremos; nossas boas obras não
influenciam Deus na Sua maneira de tratar com indivíduos. Neste grande assunto,
nosso esforço é inútil e sem valor. Este fato é constantemente enfatizado nos escritos
de Paulo, como podemos facilmente observar considerando as seguintes Escrituras:
Rm 3:28; 4:5; Gl 2:16; Ef 2:8,9; e II Tm 1:9.
b) Positivamente:
iii) ―Sua misericórdia‖. Esta é a origem desta grande bênção — vem dEle, como
resultado da Sua misericórdia. Misericórdia ―é a manifestação exterior de compaixão;
ela reconhece a necessidade de quem a recebe e reconhece que aquele que a
demonstra tem os recursos suficientes para suprir a necessidade‖ (W. E. Vine). É a
compaixão de Deus para com o afligido, com o desejo e a capacidade de ajudar. Nós
podemos visitar um hospital e ver ali pessoas em muito sofrimento. Podemos nos
sentir comovidos, mas não temos os recursos para suprir aquela necessidade.
Louvamos o Seu nome que Ele teve a capacidade para suprir o que a Sua compaixão
sentiu.
iv) ―Ele nos salvou‖. Isto é o que Ele realizou — a salvação completa. Estando no
tempo aoristo, indica que houve um momento quando isto aconteceu, e que naquela
ocasião o acontecimento foi completo em si mesmo. A salvação não é um processo, é
instantânea, no momento em que um pecador coloca a sua fé no Senhor Jesus Cristo
como seu Salvador. Nós não lemos: ―Ele nos ajudou‖. Ele fez tudo!
Já vimos acima que estávamos errados interiormente e exteriormente. Portanto, duas
coisas são necessárias.
Para o exterior há a lavagem;
Para o interior há a renovação.
Ambas estas coisas acontecem na conversão.
v) ―Lavagem da regeneração‖. Num certo sentido, isto é externo, e removeu toda a
contaminação e pecado. Em João 13, o Senhor estava para lavar os pés dos discípulos
e Pedro reclamou. Quando o Senhor explicou as consequências de não ter seus pés
lavados, Pedro queria ser lavado completamente. Lemos, no v. 10, que o Senhor lhe
disse: ―Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo
está limpo‖. Parece uma expressão estranha até que notamos que duas palavras
diferentes são usadas aqui, no grego, para ―lavar‖. A primeira significa banhar, uma
lavagem completa. A segunda significa lavar parte do corpo, e é usada em João 13:5,
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6, 8, 10, 12, 14. Assim há uma lavagem completa que não precisa ser repetida, e há
outra lavagem parcial, como dos pés, que precisa ser repetida. Esta primeira lavagem
completa é chamada, aqui em Tito 3, ―a lavagem da regeneração‖. Talvez uma
ilustração poderia ajudar nossa compreensão. No Velho Testamento os sacerdotes
estavam acostumados com várias lavagens. Entretanto, havia duas que eram
essenciais no seu serviço. Em Levítico 8:6, na sua consagração, lemos que ―Moisés
fez chegar a Arão e a seus filhos, e os lavou com água‖. Esta era uma lavagem que
acontecia uma única vez e era realizada por Moisés, agindo por Deus. Entretanto,
quando eles se aproximavam para servir, eles tinham que constantemente usar a bacia
para lavar suas mãos e seus pés. Isto eles faziam por si mesmos. A primeira destas
lavagens se compara com Tito 3, e a segunda com João 13. Note também Hebreus
10:22: ―Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os
corações purificados de má consciência e o corpo lavado com água limpa‖. Alguns
sugerem que esta lavagem é literal e que fala do batismo, mas se interpretarmos o
―corpo‖ literalmente, então precisamos também interpretar literalmente ―corações
purificados‖. Esta é outra referência à ―lavagem da regeneração‖. Outra Escritura
intimamente ligada com este assunto é João 3:5: ―… aquele que não nascer da água e
do Espírito, não pode entrar no reino de Deus‖. Para completar, devemos mencionar
que I Coríntios 6:11 é diferente. A palavra ali significa ―lavar embora‖ e, estando na
voz média significa ‗lavar-se a si mesmo‘. W. E. Vine diz que a palavra ―indica que
os convertidos em Corinto, pela sua obediência à fé, voluntariamente deram
testemunho da mudança completa que foi divinamente efetuada neles‖.
vi) ―e pela renovação do Espírito Santo‖. Isto é algo interno e inclui uma renovação
completa, uma mudança completa para o melhor. Como já descrito anteriormente, é
aintrodução de uma condição inteiramente nova. O Espírito Santo, que usa a Palavra
de Deus para atingir o pecador arrependido que crê, efetua esta renovação.
Encontramos o que temos exposto nos parágrafos v) e vi) em um só versículo, em II
Coríntios 5:17: ―Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas
já passaram [a lavagem]; eis que tudo se fez novo [a Renovação]‖ .
vii) ―Ele derramou sobre nos abundantemente‖. Este verbo ―derramar‖, estando no
tempo aoristo, não permite um processo contínuo. Assim como ―salvou‖, no v. 5, é
completo e não um processo, assim também este derramamento aconteceu somente
uma vez. Achamos a mesma expressão em Atos 2:33: ―… tendo recebido do Pai a
promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis‖. É a mesma
palavra que é usada para o derramamento das taças em Apocalipse 16. No dia de
Pentecostes (Atos 2) o Senhor Jesus derramou o Espírito Santo em rica profusão, e
Ele nunca foi retirado. Assim, não devemos esperar outro derramamento nos nossos
dias. O Espírito Santo é uma Pessoa Divina, não uma influência. Não podemos
imaginar uma parte desta Pessoa sendo derramada. Naquele grande dia Ele foi
derramado integralmente, e o Senhor Jesus disse: ―… para que fique convosco para
sempre‖ (Jo 14:16). Enquanto a Igreja estiver aqui, Ele também estará. Alguns
podem usar o fato que a mesma palavra é usada em Atos 10:45 como evidência de
que há um derramamento contínuo do Espírito Santo: ―maravilharam-se de que o
dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios‖. Devemos notar que
o tempo do verbo, aqui, não é o mesmo que em Atos 2:33, onde está no aoristo,
indicando uma ação completada naquele tempo. Em Atos 10:45 está no tempo
perfeito, significando que a ação é vista como tendo sido completada no passado, mas
com efeitos contínuos no presente. Assim, em Atos 10, os gentios entraram na
bênção do que aconteceu em Atos 2. Não houve um novo derramamento do Espírito
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depois de Atos 2. Hoje, quando alguém se torna cristão pela fé no Senhor Jesus
Cristo, naquele momento ele entra na bênção do acontecimento descrito em Atos 2.
3) Que diferença fez a regeneração?
A resposta está em 3:1-2 com respeito à nossa responsabilidade presente, e no v. 7
com respeito ao nosso destino futuro.
a) 3:1-2 — Responsabilidade presente
―Admoesta-os que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes obedeçam, e
estejam preparados para toda boa obra; que a ninguém infamem, nem sejam
contenciosos, mas modestos, mostrando toda a mansidão para com todos os homens‖.
Já que pertencemos a uma nova ordem de coisas, mudanças são esperadas. Nestes
versículos duas destas mudanças são enfatizadas:
i) 3:1 — nada de anarquia política;
ii) 3:2 — nada de antagonismo social.
3:1 —nada de anarquia política.
―Admoesta-os‖. Esta é uma ordem apostólica de Paulo a Tito. Ele deve
continuamente e constantemente lembrar os salvos desta responsabilidade.
―Que se sujeitem‖. Eles, e assim nós também, devemos submeter-nos, ou obedecer,
como fariam soldados à sua liderança militar. A mesma palavra já foi traduzida
―sujeitar‖ duas vezes nesta epístola, em 2:5, 9. Também é usada por Paulo no mesmo
contexto em Romanos 13:1: ―Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores‖.
―Que lhes obedeçam‖. As únicas outras menções desta palavra estão no livro de
Atos: 5:29, 32, traduzida ―obedecer‖, e 27:21, traduzida ―ouvido‖.
O ensino para nós é prático. A menos que esta sujeição impeça nossa obediência à
Palavra de Deus, devemos obedecer todo tipo de governo, local ou nacional. Não
importa se gostamos ou não das pessoas, não importa se concordamos ou não com as
leis estabelecidas ou se as consideramos injustas. Nós nos submetemos e pagamos as
taxas locais e nacionais, e vivemos a vida mais quieta possível.
O lembrete constante é necessário, porque quando surgem novas leis das quais não
gostamos, a tendência é esquecer nossa posição e nos envolver politicamente. Em I
Timóteo 2:1-2, aprendemos que nosso único ponto de contato com o mundo tenebroso
da política é em oração: ―Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações,
orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens; pelos reis, e por todos os
que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a
piedade e honestidade‖. Note que não oramos que certo partido prevaleça, mas oramos
para que aqueles em autoridade possam agir de tal maneira que possamos viver e assim
servir a Deus com tranquilidade e paz.
No Novo Testamento há muitos incentivos para sermos sujeitos às autoridades. Aqui
é a regeneração. Em Romanos 13:1 (―Toda a alma esteja sujeita às potestades
superiores‖), é baseado na justificação. Em I Pedro 2:13 (―Sujeitai-vos, pois, a toda a
ordenação humana por amor ao Senhor‖), tem como motivação o assunto da redenção.
3:2 — nada de antagonismo social.
―Que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando toda a
mansidão para com todos os homens‖.
―Ninguém infamem‖. Significa, literalmente, blasfemar, prejudicar com palavras,
injuriar, ultrajar. Os exemplos clássicos são achados no tribunal do Senhor Jesus e
quando Ele estava na cruz: Mateus 26:65 (―… blasfemou‖); 27:39 (―e os que passavam
blasfemavam dele …‖). Esta palavra já foi usada por Paulo nesta epístola em 2:5: ―a fim
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ele escreve em I Pedro 1:4, que temos ―uma herança incorruptível, incontaminável, e
que não se pode murchar, guardada nos céus para vós‖.
―Incorruptível‖ livre da morte sugere imortalidade;
―Incontaminável‖ livre de mancha sugere pureza;
―Não se pode murchar‖ livre de murchar sugere beleza;
―Guardada nos céus‖ livre de dissolução sugere certeza.
Isso deve produzir louvor e ações de graças que subirão a Deus dos nossos corações
enquanto O adoramos, como Paulo fez quando escreveu: ―Dando graças ao Pai que nos
fez idôneos para participar da herança dos santos na luz‖ (Cl 1:12).
Que este assunto da regeneração possa tocar nas nossas vidas de maneira prática,
para que possamos refletir mais do nosso Senhor Jesus até que O encontremos nos ares!
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Cap. 10 — Santificação
William M. Banks, Escócia
Introdução
A palavra grega hagiasmos é usada dez vezes no Novo Testamento e, na língua
portuguesa, é sempre traduzida ―santificação‖. As dez ocorrências são: Rm 6:19, 22; I
Co 1:30; I Ts 4:3, 4, 7; II Ts 2:13; I Tm 2:15; Hb 12:14 e I Pe 1:2. Há substantivos
cognatos usados também.
A nota de rodapé da tradução de Romanos 1:4 de JND, diante da palavra ―santidade‖
na expressão ―o espírito da santidade‖, vale a pena ser citada:
Hagiosunee, a natureza e qualidade em si mesma, como em II Coríntios 7:1 e I
Tessalonicenses 3:13 — diferente de hagiasmos, o efeito prático produzido, o caráter
em atividade, traduzido santificação [veja as referências acima]. Outra
palavra, hagiotes, é usada somente em Hb 12:10 [contudo Vine sugere que é usada
também em II Co 1:12].
A palavra na forma verbal, hagiazo, ocorre 26 vezes. Os escritores Hogg e Vine
mostram que esta palavra tem uma série de ligações interessantes.
O verbo correspondente hagiazo é traduzido ―santificado‖ em Mateus 6:9; Lucas
11:2; Apocalipse 22:11. É usado também para descrever:
a) o ouro que adorna o templo e a oferta colocada sobre o altar (Mt 23:17, 19);
b) alimento (I Tm 4:5);
c) a esposa descrente de um salvo (I Co 7:14);
d) a purificação cerimonial dos Israelitas (Hb 9:13);
e) o nome do Pai, (Lc 11:2);
f) a consagração do Filho pelo Pai (Jo 10:36);
g) o Senhor Jesus Se dedicando à redenção do Seu povo (Jo 17:19);
h) a separação do salvo para Deus (At 20:32, Rm 15:16).
i) o efeito da morte de Cristo no salvo (Hb 10:10, por Deus; Hb 2:11; 13:12, por
Cristo).
j) a separação do salvo do mundo no seu comportamento — pelo Pai por meio da
Palavra (Jo 17:17, 19);
k) o salvo que se afasta das coisas que desonram a Deus e Seu evangelho (II Tm
2:21);
l) o reconhecimento do Senhorio de Cristo (I Pe 3:15).
Destas considerações, fica claro que o assunto da santificação não é limitado a
pessoas. Isto também é visto no Velho Testamento onde, por exemplo, as vestes de
Arão eram santificadas (Êx 28:41 e Lv 8:30); também o azeite da santa unção (Êx
30:25) e o sétimo dia (Gn 2:3). Também fica claro que a palavra em si não indica,
necessariamente, um estado de impureza antes da santificação ser realizada. Isso é visto
especialmente no caso do Senhor Jesus, quando Ele diz em Jo 17:19: ―Me santifico a
mim mesmo‖.
Qual o significado da palavra?
Tudo que já escrevemos nos permite agora chegar a uma definição da santificação —
o que significa? Não resta dúvida que a idéia básica em santificação é ―separar para
Deus‖. Mas há mais que isso. Obviamente, há um propósito nisto, um alvo em vista.
Assim a definição deve ser estendida para incluir este propósito: ―separação para Deus
(de uma pessoa ou objeto) tendo em vista a realização de um propósito divino‖. No caso
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11:25). Está no aoristo, mas mesmo que a escolha fora selada num momento de
tempo, estava fora do tempo pois foi desde o princípio, no sentido mais amplo
daquele passado da eternidade. Também está no indicativo médio, Deus fazendo a
escolha para Si mesmo, indicando o propósito da escolha e não o tempo da escolha.
As palavras comuns para eleição são: exaireomai (como para a escolha de Israel no
Velho Testamento), proorizo (predestinados, escolhidos anteriormente),
e eklegomai (escolher, como em I Ts 1:4; Ef 1:4; Lc 10:42; At 6:5).
Não é nossa intenção divagarmos sobre o bendito assunto da eleição, pois não é uma
área para as nossas mentes finitas se envolverem; pelo contrário, é uma verdade a ser
crida. Entretanto, o apóstolo apresenta o equilíbrio perfeito do assunto nestas duas
epístolas, pois, ao passo que em I Tessalonicenses 2:13 ele dá graças a Deus
incessantemente por eles terem recebido a palavra (a responsabilidade do homem),
aqui ele dá graças a Deus por Sua escolha soberana.
A escolha foi ―desde o princípio‖ (ap’arches), um termo que Paulo não usa em
nenhum outro lugar, mas que, como João 1:1(en arche) e II Timóteo 1:9, nos leva de
volta à era ―de eternidade‖; veja também Mateus 19:4, I João 2:13. É obviamente
errado limitar a escolha soberana de Deus a um ponto de tempo, ou atribuí-la a algum
mérito por parte do objeto do Seu amor; (compare Ef 1:4; Ap 13:8; 17:8). … Além
disso, o versículo é expressivo de um princípio geral da operação de Deus… Isto é
enfatizado no propósito da escolha, pois foi ―para a (eis) salvação‖ (veja I Ts 1:4-5);
este é o alvo de Deus para aqueles que Ele escolheu em Sua soberania.
Há uma diferença que deve ser notada entre a primeira e a segunda epístolas, em
relação ao propósito da salvação; na primeira epístola é ―da‖ (ira), e na segunda
―para‖ (glória). Mesmo assim, há os que ainda considerariam a salvação, aqui, como
limitada à salvação da ira do dia do Senhor, como em I Ts 1:10 e, 5:9, e tal garantia
teria sido suficiente para os atribulados tessalonicenses. Entretanto, o contexto
imediato vai além, colocando a salvação em contraste com ―perecendo‖ (v. 10), e
―juízo‖ (v. 12), o terrível estado dos homens na sua classificação final como perdidos.
Aqui, temos a salvação planejada desde o princípio (isto é, desde a eternidade), e, no
v. 14, Paulo irá falar dela, primeiramente sendo efetuada no tempo através do
chamamento, e depois, da sua consumação futura ―para alcançardes a glória de nosso
Senhor Jesus Cristo‖. Assim, temos a salvação na sua esfera total, passada, presente e
futura, concebida no coração de Deus antes dos tempos, efetuada no tempo, e Sua
indescritível glória futura.
A operação da escolha de Deus sendo efetuada no tempo, é ―em (ou, por) santificação
do Espírito (genitivo subjetivo e, portanto, operado pelo Espírito), e fé da verdade‖. A
ausência do artigo sugere a força moral da verdade e não a verdade como tal, e sendo
um caso objetivo genitivo, indica ―crença, ou fé, na verdade‖. Em nenhum sentido
pode en, neste lugar, ser traduzido, com relação à santificação, por ―pela‖ (como na
ARA), ou por ―para‖, como alguns sugerem. Apesar da ausência do artigo antes de
Espírito, como em Rm 8:9; I Co 2:4 e I Pe 1:2 (onde em cada caso é evidente que se
refere ao Espírito Santo), as palavras aqui falam claramente da obra do Espírito Santo,
agora em separar para Deus os objetos do Seu amor, trazendo-lhes a palavra da
verdade para que creiam e continuem na fé. Este é o lado divino da obra de salvação,
da mesma forma que o crer na verdade (sua aceitação pela fé) descreve o lado
humano. É santificação posicional e não prática, embora os resultados práticos devam
sempre ser considerados (I Ts 4:3;7). É a energia do Espírito Santo em trazer a graça
de Deus aos homens, mortos em ofensas e pecados (veja I Ts 1:5), e é o prelúdio
essencial para fé na verdade.
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Assim, vemos que a ―santificação do Espírito é o Seu ato soberano pelo qual o crente,
o objeto da graça predestinadora de Deus, é separado para Deus; um ato que precedeu
até o seu ouvir do Evangelho; realmente sem data, pois, precedeu ‗a fundação do
mundo‘ (Ef 1:4)‖.
A santificação posicional
No exato momento em que colocamos nossa fé em Cristo, Deus nos dá a bênção da
santificação. Não é algo que obtemos pelo nosso esforço — é algo que temos. Além
disto, esta santificação inicial transforma cada salvo num santo. Como na justificação, é
efetuada com base na morte de Cristo. Hogg e Vine escrevem:
O efeito da morte de Cristo, no relacionamento do crente com um Deus Justo, é
justificá-lo (Rm 5:9); sendo removida a culpa do pecado, o pecador justificado se
apresenta diante do tribunal sem condenação (Rm 5:2). O efeito da morte de Cristo no
relacionamento do crente com um Deus Santo é santificá-lo (Hb 10:10; 13:12); sendo
removida a impureza do pecado, o pecador santificado entra no Santo dos Santos (Hb
10:19).
Portanto, lemos que Deus fez com que Cristo fosse ―justiça e santificação‖ para nós (I
Co 1:30). Como é evidente que não há graus de justificação, assim também não há
graus de santificação; uma coisa ou é separada para Deus ou não é, não há meio
termo; uma pessoa está em Cristo, justificada e santificada, ou está fora de Cristo nos
seus pecados e alienada de Deus. Embora não haja graus de santificação, é evidente
que pode e deve haver progresso nesta santificação; assim o salvo é exortado a
―seguir … a santificação‖, e é avisado que sem esta santificação ―ninguém verá a
Deus‖ (Hb 12:14).
O assunto da justificação é o tema principal da Epístola aos Romanos, enquanto que
o assunto da santificação neste contexto é o tema principal da Epístola aos Hebreus. A
cruz, certamente, é o centro de ambos. ―Temos sido santificados pela oblação do corpo
de Jesus Cristo, feita uma vez‖ (Hb 10:10); e ―com uma só oblação aperfeiçoou para
sempre os que são santificados‖ (Hb 10:14). Assim o Senhor Jesus é o Santificador e
nós somos os santificados (Hb 2:11). A idéia reaparece também mais tarde nesta
epístola. ―E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue,
padeceu fora da porta‖ (Hb 13:12).
Assim o direito do salvo de estar no Céu não depende nem do seu mérito nem do seu
esforço, mas daquilo que o Senhor efetuou ―com uma só oblação‖ — ―aperfeiçoando
para sempre‖.
A santificação prática
Não deve nos surpreender que esta santificação posicional precisa ser demonstrada
por nós no sentido prático. Isso nos traz às três ocorrências da palavra ―santificação‖ em
I Tessalonicenses 4:3, 4, 7. O apóstolo diz: ―Esta é a vontade de Deus, a vossa
santificação‖. Wilson tem um excelente comentário sobre estes versículos que merece
ser citado.
O mandamento de Paulo tinha sido entregue aos tessalonicenses quando ele estivera
entre eles (v. 2). Não foi meramente um conselho que ele deu, mas um mandamento
dado pela autoridade do Senhor Jesus Cristo, e ele esperava que fosse repassado de
um santo para outro. Eles deveriam ter sabido que o Senhor iria estabelecê-los
―irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo com todos os Seus santos‖ (3:13). Assim, como poderiam ficar
surpreendidos ao saber que a vontade de Deus para eles era a sua santificação
presente (v. 3)? Esta santificação foi explicada, aos leitores, pelo apóstolo em três
frases:
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Cap. 11 — Consagração
Thomas Wilson, Escócia
“A seguir-Te aqui, me consagro eu,
Constrangido pelo amor.”
(H. e C. nº 311; H. M. W.)
Estas palavras foram, muitas vezes, a oração de pessoas sinceras, desde que foram
escritas em 1875 como parte do famoso hino de Fanny Crosby. No entanto, a palavra
―consagrar‖ ocorre somente duas vezes no NT da versão AV, e ambas estas referências
estão em Hebreus, uma em relação ao próprio Senhor Jesus (―… constituiu o Filho
consagrado [ou aperfeiçoado] para sempre‖, Hb 7:28), e a outra sobre o caminho que
Ele consagrou: ―Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou‖ (Hb 10:20).
Contudo, quando usamos a palavra ―consagrar‖, geralmente não a usamos no sentido
destes versículos. Neste capítulo, vamos pensar principalmente no sentido normal em
que usamos a palavra ―consagração‖.
Consagração no Velho Testamento
No Velho Testamento, os tradutores da versão AV usaram o verbo ―consagrar‖ para
traduzir quatro grupos de palavras hebraicas, que juntas nos dão uma boa compreensão
do que está envolvido em consagração ao Senhor, algo que o Senhor Jesus espera de
cada filho de Deus.
1. Consagração exige santidade
Frequentemente usamos o verbo ―consagrar‖ quase como sinônimo de ―santificar,
tornar santo‖, e de fato os dicionários os dão como sinônimos. Uma das palavras
comuns do Velho Testamento para ―consagrar‖ é também traduzida ―santificar‖.
Salienta a necessidade de estar limpo ou de ser santo. É usada de Arão em Êxodo 30:30:
―… ungirás a Arão e seus filhos, e os santificarás [consagrarás] para me administrarem
o sacerdócio‖. O que isto significava para eles é explicado pelo contexto. O v. 29,
especificamente, fala dos objetos santos como a arca, a mesa, os altares, e a pia: ―assim
santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas‖. Sendo santíssimas elas estariam
em condições apropriadas para o lugar santo onde somente o sacerdote santificado podia
entrar, ou ao lugar santíssimo onde Jeová habitava entre os querubins. Nestes dois
versículos a palavra ―santificar‖ é a mesma palavra hebraica traduzida ―consagrar‖ em
outras partes do VT; e o adjetivo ―santo‖ que aparece duas vezes é também do mesmo
grupo de palavras. Obviamente, então, Arão e seus filhos deveriam estar limpos, ou
santos, como o padrão do santuário exigia. Embora não usando a mesma palavra
hebraica, as exigências de Isaías 52:11 são sobre a consagração: ―não toqueis coisa
imunda … purificai-vos, os que levais os vasos do Senhor‖. Aqueles homens, como
Arão e seus filhos, deveriam se manter separados de tudo que poderia contaminá-los.
Neste mundo perigoso, o cristão precisa estar cônscio de quanta coisa há que não é
santa. Não podemos ficar perto da impureza sem sermos contaminados. A nossa
companhia pode nos contaminar, como vemos em II Coríntios 6:17, onde Paulo cita
Isaías 52:11. A ordem para cada cristão é ser separado daqueles que contaminam: ―por
isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor‖. Não é somente no Velho
Testamento que Deus diz: ―sereis santos, porque eu sou santo‖ (Lv 11:44; 19:2; 20:7);
isto é citado também no Novo Testamento em I Pedro 1:16, ―Sede santos, porque eu sou
santo‖. Deus é o Deus de quem Maria disse: ―.. . o Poderoso; e santo é o seu nome‖ (Lc
1:49).
Nós temos o mais nobre dos motivos para obedecer a este requisito apresentado no
Velho e no Novo Testamentos: ―sede santos, porque eu sou santo‖. Sabemos que a Obra
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de Cristo nos santificou: ―E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu
próprio sangue, padeceu fora da porta‖ (Hb 13:12). Quando nosso coração é comovido
pelo sofrimento de Cristo para que nós pudéssemos ser santos, nosso amor responde
com desejos por santidade. É o amor que nos leva para fora do arraial a Cristo. O amor
sabe que haverá desprezo, mas o amor está preparado para pagar o preço para ser santo.
A verdadeira consagração é o fruto do amor profundo para com Cristo, que se manifesta
em santidade de vida num mundo escarnecedor. A consagração guarda o cristão fora
dos prédios mundanos de prazeres abastecidos pelo álcool, e da imoralidade que tão
frequentemente acompanha este estilo de vida dissoluto. Mesmo nos nossos dias, a
consagração exige santidade, e é somente quando o santo de Deus respira
profundamente do ambiente do lugar Santíssimo que ele será santo na sua vida, uma
necessidade para todos que querem ser consagrados ao Senhor.
2. Consagração é separação para o Senhor
Um segundo grupo de palavras é usado no Velho Testamento em relação à
consagração. Um homem, ou uma mulher, podia fazer um voto voluntário, chamado o
voto do Nazireu, para ser separado ao Senhor, de uma maneira especial (Nm 6:2). Eles
se absteriam, por um período, de certas coisas que poderiam contaminá-los. Mesmo
aproximar-se do cadáver de um parente chegado era proibido. Naquela sociedade era
normal beber vinho, mas eles não podiam beber ―alguma beberagem de uvas‖, nem
comer ―uvas frescas nem secas … desde os caroços até as cascas‖ (Nm 6:3-4). Este voto
também exigia que deixassem crescer os cabelos (v. 5), para que os outros soubessem
que estes não somente eram separados de coisas que talvez pudessem prejudicá-los,
como vinho ou a morte, mas também que eram separados para o Senhor. Se, por acaso,
o voto fosse quebrado quando, por exemplo, alguém morresse subitamente ao seu lado,
também isso seria conhecido pelos outros, porque a cabeça teria de ser rapada e
consagrada novamente (Nm 6:9, 11). O nazireado era rigoroso, e geralmente as pessoas
somente o podiam manter por pouco tempo. Mas corações devotos tinham esta
oportunidade de se separarem para o Senhor.
O Novo Testamento não encoraja este tipo de voto. No período contido em Atos,
vemos que embora os judeus abandonassem seus caminhos tradicionais de adoração,
algumas práticas somente foram abandonadas lentamente, e o voto era uma delas. De
fato, lemos de Paulo ―tendo rapado a cabeça em Cencréia, porque tinha voto‖ (At
18:18), e também dele estar associado com quatro homens que ―fizeram voto‖, quando
entraram no templo ―anunciando serem já cumpridos os dias da purificação‖ (At 21:23-
27). Ambas estas passagens parecem descrever o voto do Nazireu, cujo período mínimo
era de 30 dias. Todavia, é notável que o Novo Testamento não legisle, nem fala com
aprovação sobre votos. Nosso Senhor Jesus fala de alguns que fizeram votos, mas no
sentido de condená-los porque seu motivo era somente mostrar sua piedade, enquanto
negligenciavam os assuntos mais importantes da lei (Mt 15:4-6; Mc 7:10-13). Demorou
alguns anos, talvez, para os cristãos judeus deixarem de fazer votos, mas Deus não
desejou, e não deseja hoje, que Seu povo se prenda legalmente a votos. O que Deus
deseja é a nossa consagração, ao sermos separados a Ele e assim separados do mundo
corrompido ao nosso redor.
Todavia, no tempo de Moisés, o nazireado era ―uma expressão sincera e correta da
antiga fé hebraica‖. Aqueles que faziam este voto, homem ou mulher, deveriam ser
respeitados e seu exemplo de separação ao Senhor observado. De fato, Amós lamenta a
terrível decadência que existia em Israel nos seus dias. Ele considerava que cada
verdadeiro profeta e cada Nazireu era o resultado de uma obra profunda de Deus nas
suas almas, para que Ele pudesse produzir neles um exemplo daquilo que O honrava.
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Ele registra o que o Senhor tinha falado sobre eles: ―E dentre vossos filhos suscitei
profetas, e dentre vossos jovens nazireus‖. A nação, no entanto, mesmo sabendo que o
voto do Nazireu exigia abstinência total de vinho e de bebida forte e também de
qualquer coisa relacionada com o fruto da vinha, deliberadamente deu ―aos nazireus …
vinho a beber, e aos profetas ordenastes, dizendo: Não profetizareis‖ (Am 2:11-12). O
povo se esforçou para destruir o testemunho daqueles que Deus tinha levantado.
Aprendemos lições importantes nestas palavras de Amós:
i) Deus mesmo tocava nos corações dos Seus para tomarem voluntariamente o
voto do Nazireu (Nm 6:2).
ii) A disciplina evidente na vida do Nazireu teria um efeito nos outros; alguns se
oporiam, outros os apoiariam, até ao ponto de pagar o preço exigido do voto — o
custo dos sacrifícios — eles fariam ―por eles os gastos‖ (At 21:24).
iii) O voto traria prazer a Deus; seria ―ao Senhor‖ (Nm 6:2).
Os ritos de Números 6 pertencem a uma era que terminou com a morte de Cristo,
mas, como já notamos, houve um período de transição durante o qual alguns ainda se
apegavam a estes rituais antigos. Não obstante, o Senhor ainda deseja que nós O
agrademos com vidas, não temporariamente consagradas a Ele, mas caracterizadas por
esta mesma devoção, desde o momento da conversão em diante.
Até Cristo, somente poucos dos grandes homens e mulheres foram Nazireus. A
esposa de Manoá e seu filho Sansão (Jz 13:7, 14; 16:17), Samuel (I Sm 1:11) e João
Batista (Lc 1:15) eram Nazireus, e portanto separados ao Senhor. Mas, desde Cristo,
todos os grandes homens e mulheres são separados ao Senhor. Tendo nos dado a Sua
Palavra e o Espírito Santo que habita em nós, o Senhor tem providenciado tudo que é
necessário para que as nossas vidas sejam inteiramente consagradas a Ele. Ele não está
pedindo uma consagração periódica ou intermitente, e não ficará satisfeito com somente
um período de consagração. Ele exige ―nossos corações, nossas vidas, nosso tudo‖, para
o resto da nossa vida. Reconhecemos que poderá haver falhas nas nossas vidas, como
poderia acontecer na experiência do Nazireu (Nm 6:9-12), mas há provisão para nossa
recuperação, para que as nossas vidas possam ser, mais uma vez, caracterizadas por
consagração ao Senhor.
A separação do salvo precisa ser descrita tanto com negativos como positivos. Ele
(ou ela) absterá de tudo que estimula o mundo. O uso de álcool e drogas é parte disso,
mas o cristão inteligente também perceberá muitos outros estimulantes operando nas
vidas das pessoas ao seu redor. A imoralidade total é um vício de muitos, como também
a participação no ambiente social em eventos esportivos, cinema e teatro. Muitas outras
práticas também estimulam as pessoas mundanas. Estas coisas moldam a vida dos
incrédulos e continuamente mudam seus padrões mentais, até que toleram coisas que a
Palavra condena e, finalmente, estas coisas são aceitas como normais nas suas vidas.
Nenhuma geração precisou ouvir este chamado à separação mais claramente do que a
nossa geração presente.
Entretanto, o salvo consagrado saberá que há aspectos positivos também. O Senhor
deseja que a consagração seja expressa em pelo menos três maneiras distintas e
positivas:
• ―Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é
de Deus‖, João 7:17.
• ―Se alguém me ama, guardará a minha palavra‖, João 14:23;
• ―Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis
tudo o que quiserdes, e vos será feito‖, João 15:7.
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Que grande exemplo este tipo de vida seria para qualquer observador salvo, e como
convenceria a geração incrédula! A consagração é a separação para o Senhor e de tudo
que O desonra. Requer o exercício da vontade (Jo 7:17); a energia do amor (Jo 14:23),
e a eficácia da comunhão contínua com o Próprio Senhor (Jo 15:7). No dia privilegiado
em que vivemos, é a expressão sincera e correta da nossa fé. Publicamente, pode
começar com o batismo e com associação com o povo do Senhor na comunhão de uma
igreja local. A sua realidade interior será demonstrada através de outras evidências
externas. Consagração é separação ao Senhor que afeta, não somente o comportamento
externo que os outros observam, mas também o mais íntimo do nosso coração. Também
traz grande prazer ao coração de Cristo, pois é para Seu específico prazer.
3. Consagração é estar ocupado com a obra do Senhor
A lição franca que aprendemos do terceiro grupo de palavras é que pessoas
consagradas nunca são pessoas preguiçosas. Isso é ilustrado claramente em Arão e seus
filhos: ―… e os consagrarás … para que me administrem o sacerdócio‖ (Êx 28:41). Esta
palavra ―consagrarás‖ literalmente significa ―encher as mãos‖ ou ―estar ocupado com‖.
No caso daqueles sacerdotes, havia tempos quando, ministrando perante o Senhor, suas
mãos, literalmente, estariam cheias. O ―carneiro das consagrações‖ (Êx 29:22, 26),
literalmente encheria as suas mãos. Mas, num sentido mais completo, sua consagração,
e a nossa, deve significar ocupação com o serviço e os interesses do Senhor. Para cada
sacerdote, depois de Arão, esta consagração significava estar ―cada dia ministrando e
oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios‖ (Hb 10:11). Também era necessário ter
compaixão daqueles que eram ―ignorantes‖ e daqueles que estavam ―errados‖ (Hb 5:2).
Pelos estatutos, eles também tinham outras incumbências, como cuidar do candelabro
no santo lugar (Êx 27:21; 30:7). Lemos do sumo sacerdote com a estola sendo chamado
à presença de Davi para que ele pudesse indagar do Senhor (Êx 28:30; Nm 27:21; I Sm
23:2, 4, 6). Além disso, tinham a responsabilidade de ensinar o povo ―todos os estatutos
que o Senhor lhes‖ tinha falado ―por meio de Moisés‖ (Lv 10:11). Assim lemos o que
Malaquias escreveu 1.100 anos mais tarde: ―Porque os lábios do sacerdote devem
guardar o conhecimento‖ (Ml 2:7). De fato, se em Israel surgisse um caso ―difícil
demais em juízo‖ para os cidadãos da terra, eles deveriam ir aos sacerdotes para um
julgamento e seguir a sua sentença de juízo (Dt 17:9-11). Os sacerdotes tinham muito
que fazer para que o serviço de Jeová continuasse e Seu povo fosse apoiado e guiado,
corretamente. Literalmente, com o carneiro da consagração, e metaforicamente com
seus variados deveres, suas mãos estavam cheias. Assim, também devem as nossas
estar!
Igualmente as mãos dos apóstolos estavam cheias quando eles convocaram a
multidão dos discípulos e disseram: ―Não é razoável que nós deixemos a palavra de
Deus e sirvamos às mesas‖ (Atos 6:2). Eles não estavam negligenciando a
administração da distribuição do sustento às viúvas ligadas à igreja em Jerusalém; antes
foi para que pudessem se entregar ―à oração e ao ministério da palavra‖. Eles sabiam
que a oração e o ministério os ocupariam totalmente. Olhamos em tudo que foi
conseguido pelos apóstolos naquela geração. Se avaliarmos pelas distâncias que
viajaram para alcançar os pecadores perdidos; se avaliarmos pelo número de almas
salvas no período curto descrito nos Atos dos Apóstolos; se avaliarmos pelas muitas
igrejas estabelecidas; se avaliarmos pelas cartas que escreveram, que compõem o nosso
Novo Testamento, chegaremos a uma só conclusão — suas mãos estavam cheias, cheias
demais para estarem servindo às mesas.
O exemplo de Atos 6:2 nos dá um modelo que devemos seguir. Observamos que a
consagração não somente requererá mãos cheias na obra de Deus, mas que sob a direção
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não devemos considerar o que temos como nosso. Tudo que somos e temos deve ser
consagrado ao Senhor.
No momento da conversão várias coisas aconteceram simultaneamente. Naquele
momento recebemos o direito de nos alegrar porque nossos nomes foram escritos no céu
(Lc 10:20; Ap 20:15; 21:27); podíamos desfrutar da adoção como filhos (Ef 1:5); fomos
selados com o Espírito Santo da promessa (Ef 1:3); passamos a ser herdeiros de Deus e
co-herdeiros de Cristo (Rm 8:17), e recebemos muitas outras bênçãos. Naquele mesmo
momento também é verdade que cessamos de pertencer a nós mesmos, porque fomos
―comprados por preço‖ (I Co 6:19-20). Sabemos que nosso nome nunca será tirado do
livro da vida, e que nunca podemos anular a nossa adoção nem remover o selo do
Espírito Santo, nem nos deserdar a nós mesmos. Também, nunca podemos desfazer a
transação que nos fez irrevogavelmente a possessão de Deus e do Seu Cristo. Tudo que
somos e tudo que temos agora pertence a Outro, que nunca cederá os Seus direitos. No
momento da nossa conversão tudo foi consagrado a Deus. No contexto de I Coríntios 6,
isto significa que o nosso corpo, que poderia ser contaminado pela fornicação, agora
pertence a Deus como o templo do Espírito Santo. Neste contexto, os direitos exclusivos
que o Senhor adquiriu através da redenção, operam de tal modo que há práticas nas
quais o santo não ousa se ocupar. Sua consagração reconhece a necessidade de glorificar
o Senhor no seu corpo. Mas a consagração reconhece que estes direitos vão além do uso
do corpo.
Quando os apóstolos testemunhavam da ressurreição com grande poder, e em todos
eles havia abundante graça, lemos que ―ninguém dizia que coisa alguma do que possuía
era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns … não havia, pois, entre eles
necessitado algum‖ (At 4:31-35). A sua distribuição, para suprir cada necessidade dos
pobres entre eles, foi uma evidência de que reconheceram que seus bens materiais eram,
de fato, confiados a eles pelo seu Dono. Eles reconheceram que aquelas coisas eram
consagradas a Ele e, como despenseiros das Suas possessões, eles deveriam agir com
sabedoria e para a Sua glória, ao distribuir a provisão celestial aos necessitados. De fato,
quando dois deles agiram com hipocrisia para realçar a sua reputação entres os que
foram consagrados a Deus, Pedro expôs a sua mentira contra o Espírito Santo e os
lembrou: ―guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder?‖ (At
5:1-4). Pedro não os tratou de acordo com a sua profissão. Eles professaram reconhecer
os direitos do Senhor sobre tudo que anteriormente consideravam seu e que usavam
para o seu próprio bem. A sua ação foi uma negação da consagração exclusiva que
professavam. Eles não podiam dizer com verdade:
Toma minha prata e meu ouro,
Nem um centavo irei negar.
F. R. Havergal (tradução literal)
Deliberadamente, como parte do seu planejado acordo, Ananias e Safira ―retiveram
parte do preço‖. Não reconheceram que tudo que anteriormente consideravam seu agora
era consagrado exclusivamente ao Senhor. Mas nós, com razão, cantamos sobre nossa
consagração e nosso compromisso de nada reter. O filho pródigo, quando estava saindo
da casa do pai, disse: ―dá-me”. A alma redimida, tendo voltado do país distante,
observa que o Pai ainda dá, mas em resposta é capaz de dizer, como Naamã: ―… peço-te
que aceites uma bênção do teu servo‖ (II Rs 5:15).
A passagem em Miquéias 4:13 prevê os direitos do Senhor Jesus se estendendo além
desta dispensação. Revela o que acontecerá no dia em que Ele se levantar para julgar o
mundo, um acontecimento que não acontecerá até depois do Arrebatamento da Sua
Igreja e da Grande Tribulação, quando Ele derramará a Sua ira sobre esta Terra.
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Miquéias registra a gloriosa promessa a Israel sobre o poder que aquela nação exercerá
depois da vinda do Senhor em poder. Durante a Grande Tribulação o mundo vai pensar
que a exterminação da nação, que tem sido tão procurada por muitos, é inevitável. Mas
aquela nação esmiuçará os seus inimigos, diz Miquéias. Israel será como um touro
selvagem com chifres de ferro e unhas de bronze, para que os muitos que têm
esmiuçado a nação sejam esmiuçados por ela. O que acontecerá com os espólios
daquela vitória?
Quando Jericó caiu houve muito espólio. Tudo que havia na cidade seria
―consagrados ao Senhor‖ (Js 6:19), e ninguém deveria levar nada dela (Js 6:17; 7:1, 11-
26). Mas Acã pereceu por causa da sua desobediência à ordem do Senhor. Esta
desobediência revelou que ele não levou em conta o direito do Senhor da terra de fazer
o que Ele queria com Jericó e a sua riqueza.
Quando, no dia mencionado por Miquéias, o Senhor exercer Seus direitos exclusivos
em Israel, Ele agirá como ―o Senhor de toda a terra‖ (Mq 4:13). ―Desde que houve
nação‖ (Dn 12:1), os grandes têm acumulado para si riquezas, a maior parte da qual é
dedicada à glória dos seus líderes.
Estes andam pelos seus palácios orgulhosamente, gloriando-se em tudo que têm
construído com as riquezas das nações que saquearam. Eles assumiram o direito de
adquirir riquezas e demonstrar seu esplendor com ostentação, nunca pensando que o
―Senhor de toda a terra‖ talvez desaprove. Naquele dia, o Universo admirado aprenderá
que Deus de fato desaprova. Também aprenderão que, no Calvário, o Senhor pagou o
preço, não somente da nossa redenção, mas para adquirir o mundo, como Ele ensinou na
Sua parábola do tesouro escondido no campo. Como Ele tem direito sobre estas nossas
almas redimidas, direito esse que confessamos na nossa consagração, assim também Ele
tem direito sobre este mundo, e Ele aparecerá para exercer estes direitos exclusivos
depois do Arrebatamento. Naquele tempo Ele reivindicará das nações ímpias ―seu
ganho … e seu sustento‖.
Zacarias também testifica deste grande acontecimento, enfatizando este ―ganho e
sustento‖ dos quais Miquéias fala. Ele diz: ―E também Judá pelejará em Jerusalém, e as
riquezas de todos os gentios serão ajuntadas ao redor, ouro e prata e roupas em grande
abundância‖ (Zc 14:14). Tudo que pertence exclusivamente ao Senhor será arrancado
daquelas mãos gananciosas. Uma resistência como esta não deve ser vista em nós.
Devemos reconhecer a grandeza da vitória do Senhor e alegremente ceder a Ele o que
Ele tem colocado em nossas mãos.
Nada que tenho chamo meu,
Guardo tudo para Quem me deu:
Minha vida e força, e meu coração,
Tudo são dEle, e sempre serão.
J. G. Small
Sabemos que consagração significa entregar a Deus o que Ele tem confiado a nós.
Significa recusar aprovar a ilusão mundana de que é justo ou correto satisfazer nossas
inclinações egoístas. Significa descobrir o gozo de dar, aprendendo que ―mais bem
aventurada coisa é dar do que receber‖ (At 20:35).
Consagração no Novo Testamento
Os quatro grupos de palavras do Velho Testamento que já consideramos nos ajudam
muito no nosso entendimento de alguns dos aspectos incluídos no que chamamos de
―consagração‖. Vamos agora considerar as duas referências no Novo Testamento onde a
palavra ―consagrar‖ ocorre na versão AV.
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devemos notar que cada passo pode trazer bênção a outros. Olhando para Jesus, vemos
como Deus é capaz de realizar isto.
6. O caminho consagrado
A outra ocorrência da palavra ―consagrar‖ no Novo Testamento está em Hebreus
10:20: ―Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é pela sua
carne‖. A palavra traduzida aqui ―consagrou‖ é traduzida ―dedicou‖ na versão RV. De
fato, o mesmo verbo grego é traduzido ―dedicou‖ em Hebreus 9:18. Obviamente este
verbo não nos ajuda, diretamente, a compreender o que a Bíblia ensina sobre
consagração. Entretanto, sem este caminho aberto à presença imediata de Deus, nós não
poderíamos entrar na presença de Deus para adorar, uma parte importante do serviço de
cada coração consagrado. O novo caminho, pela morte de Cristo, nos encoraja a nos
aproximarmos de Deus com confiança tranquila, sabendo que a obra de Cristo abriu
aquele caminho ―para nós‖ e nos deu a posição que precisamos: ―a inteira certeza de fé
… tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa‖
(Hb 10:22). Estes privilégios que pertencem a cada pessoa salva eram o desejo, não
cumprido, de corações sinceros desde Moisés até Cristo. Nosso gozo neles é um
indicador da condição da nossa alma. Quem é consagrado ao Senhor conhecerá muito
da Sua presença. Terá muita comunhão com Cristo e terá prazer em louvar Àquele que
deu aos Seus a oportunidade de viver ―no tempo que vos resta na carne, não … mais
segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus‖ (I Pe 4:2).
Conclusão
A consagração realmente começou com Deus: era o desejo do Seu coração ter um
povo capaz de ter comunhão com Ele. Foi a obra de Cristo que nos comprou para Deus,
para que pudéssemos ser um povo peculiar, um povo para Seu exclusivo prazer. Como
temos observado, somos consagrados à vontade de Deus no momento da conversão.
Mas no sentido prático, seus efeitos são vistos nas nossas vidas somente quando
fazemos o que fizeram as igrejas da Macedônia — nos damos a nós mesmos ao Senhor
(II Co 8:5). Somente quando nos ocupamos em serviço santo, ativo e abnegado ao
Senhor, é que poderemos verdadeiramente cantar as palavras de Fanny Crosby:
“A seguir-Te aqui, me consagro eu,
Constrangido pelo amor.”
(H. e C. nº 311; H. M. W.)
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iii) É fácil ver por que os fariseus ficaram irados quando ouviram estas palavras do
povo. Seus corações ímpios ficaram perturbados ao ouvir o povo comum novamente
reconhecendo publicamente que Jesus era o Messias. Entretanto, os fariseus sabiam,
nos seus corações, que algo absolutamente milagroso tinha acontecido naquele dia. O
fato de atribuírem o milagre aos poderes do mal do mundo invisível deixa bem claro
que sabiam que o que acontecera naquele dia era uma obra além do poder do homem
mortal; só poderia ser Divino ou satânico. Suas mentes obstinadas recusaram
reconhecer a divindade de Jesus de Nazaré e, portanto, disseram: ―este não expulsa os
demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios‖ (v. 24). Quanta blasfêmia
contra Cristo! Eles estavam atribuindo a Satanás o poder que tinha sido demonstrado
pelo Filho de Deus; e, muito pior ainda, estavam em efeito dizendo que, longe de ser
o Messias da nação, nosso Senhor Jesus Cristo era um mero homem sob o poder e
controle de Satanás. Vindo dos assim chamados ―líderes espirituais‖, isto era
realmente pecado. Foi o pecado de rejeição, já mencionado.
A resposta de Cristo é muito instrutiva. Suas palavras revelam que a Onisciência, um
atributo divino, estava nEle: ―Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes
…‖ (v. 25). Ele sabia de tudo que tinham falado, e até mesmo o que estava em suas
mentes. Ele também sabia que o propósito Divino estava sendo cumprido em todas estas
circunstâncias, e que a Sua rejeição pela nação de Israel seria usada para trazer bênção
aos gentios, como também a Israel (veja vs. 18, 21). Suas palavras de repreensão aos
fariseus foram muito importantes: ―Todo o reino dividido contra si mesmo é devastado‖
(v. 25). Aqui o Senhor estava mostrando que os reinos deste mundo geralmente não
agem contra seus próprios interesses nacionais, e Satanás certamente nunca usaria os
poderes do mal da sua administração para agir contra seus próprios demônios. Isto seria
um divisor no seu reino mau, e deixa claro a tolice destas suas acusações. De fato, o
Senhor está dizendo que, se fosse assim, Satanás estaria expulsando Satanás e, portanto,
agindo contra si mesmo, para destruir o seu próprio reino (v. 26).
Além disso, Ele os lembrou dos ―vossos filhos‖ (v. 27). Isso, sem dúvida, se refere
àqueles judeus que ao invocar o nome do Deus Altíssimo, às vezes tinham expulsado
demônios. Esta atividade tinha sido, e estava sendo exercitada dentro da nação judaica.
Lemos de João dizendo ao Senhor Jesus: ―Mestre, vimos um que em teu nome
expulsava demônios, o qual não nos segue …‖ (Mc 9:38), e novamente o Senhor Jesus
disse: ―Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu
nome? E em teu nome não expulsamos demônios?‖ (Mt 7:22). Mais tarde lemos em
Atos 19:13: ―E alguns dos exorcistas judeus ambulantes tentavam invocar o nome do
Senhor sobre os que tinham espíritos malignos‖. Nestes casos, o Senhor não os proibiu,
e parece que também estavam livres da censura dos líderes judaicos. Assim, o Senhor
está dizendo, aqui: ―E se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam
então os vossos filhos?‖ (v. 27) O Senhor está, novamente, chamando atenção à
incoerência deles. Eles nunca tinham acusado seu próprio povo como estavam acusando
o Senhor. Este argumento é extenso, mas é muito importante ao nosso assunto ao
chegarmos mais perto da sua conclusão. Tendo exposto a fraqueza e a inexatidão das
suas reivindicações, o Senhor Jesus agora começa a aplicar a verdade que vem surgindo.
O reino de Deus foi revelado
―Mas, se eu expulso os demônios … logo é chegado a vós o reino de Deus‖ (v. 28).
Houve evidência clara de que o Messias, o Rei, estava no seu meio. Todo o ministério
no livro de Mateus conduzia a este ponto, mas aqueles líderes religiosos estavam
rejeitando-O, apesar da verdade das Suas reivindicações. Na vida de Cristo eles estavam
observando as condições exatas que haviam sido profetizadas sobre as características do
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reino. Anteriormente, João Batista, quando preso, tinha enviado seus discípulos a Cristo
com a pergunta: ―És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?‖ (Mt 11:2-6).
Realmente, ele estava perguntando: És tu o prometido Messias de Israel? À primeira
vista, parece estranho que o Senhor não lhe deu uma resposta direta, positiva ou
negativa; mas a resposta que Ele deu foi muito clara, quando considerada à luz do Velho
Testamento. Foi: ―Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: os cegos vêem, e
os coxos andam, os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são
ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho‖. João bem sabia que as profecias
do Velho Testamento continham promessas de que tais coisas acompanhariam o
ministério do Messias prometido (Is 35:5-6). Assim, aqui, Ele estava revelando aos
fariseus que o poder que Ele acabara de demonstrar sobre os espíritos maus que
habitavam no homem, era prova suficiente de que o Reino de Deus verdadeiramente
tinha chegado a eles.
O reino seria caracterizado pelo poder do Espírito Santo
―Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus … é chegado o reino de
Deus‖ (v. 28). Eles ainda pensavam que estavam tratando com um mero homem. É
neste ponto que o Espírito Santo é introduzido no trecho. As obras do Senhor não foram
feitas pelo poder de Satanás; antes, foram exercitadas no poder do Divino Espírito Santo
de Deus. Qualquer judeu que conhecia as Escrituras do Velho Testamento saberia que,
desde o princípio, o Espírito Santo tinha sido revelado como o poder ativo da Divindade
(Gn 1:2). Eles sabiam também que havia passagens que ensinavam que a presença e o
poder do Espírito Santo identificariam Aquele que viria (Is 11:1-2). Assim, havia
evidência de que a Divindade estava operando na Nação, no poder do Espírito Santo.
Muitos dos não salvos têm sido confundidos pelo ensino que diz que há aqueles que
não podem ser perdoados porque cometeram o pecado imperdoável. Isso não é verdade,
como veremos. E vemos, aqui, algo das diferentes formas de culpa que podem ser
descritas. Blasfêmia se refere à profanação e impiedade expressa pela boca de homens
ímpios. Quão grande a graça do nosso Deus, que, sendo intrinsecamente santo, perdoa
tais atos e palavras depravadas.
A blasfêmia contra o Filho do Homem
Devemos considerar as seguintes palavras: ―se qualquer disser alguma palavra contra
o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo,
não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro‖ (12:32). Embora o apóstolo
Paulo fosse um judeu piedoso antes da sua conversão, ele se chama de ―blasfemo,
perseguidor e injurioso‖ (I Tm 1:13). Na sua ignorância ele tinha falado e agido
perversamente e sem reverência, em relação a Jesus de Nazaré, o Filho do Homem. Isso
era semelhante ao pecado de ignorância, mencionado nos primeiros capítulos de
Levítico, e este pecado podia ser perdoado. Este era o pecado contra o Filho do Homem,
mencionado aqui em Mateus 12:32, e Paulo certamente tinha cometido este pecado,
porém mais tarde ele escreveu: ―alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na
incredulidade‖ (I Tm 1:13).
A blasfêmia contra o Espírito Santo
Tendo falado sobre estes pecados de ignorância, o Senhor volta ao assunto do Pecado
Imperdoável. Obviamente, este não poderia ser um pecado de ignorância; já vimos que
ele é atribuído a pessoas que receberam evidências claras e indisputáveis. Este pecado
não poderia ser perdoado daqueles com quem o Senhor falava naquele dia; também não
poderia ser perdoado ―no futuro‖. Os termos usados e o povo envolvido são
extremamente importantes na compreensão correta deste assunto. A expressão ―nos
séculos vindouros‖ (Ef 2:7) descreve a eternidade, mas ―o mundo futuro‖ (Hb 2:5) é um
tempo específico no futuro; descreve o período milenar vindouro.
Assim as palavras usadas pelo Senhor, aqui, não deixam nenhuma dúvida: ao falar
impiamente e condenar as obras e a pessoa do Espírito Santo, eles não estavam somente
blasfemando contra o Espírito Santo de um modo geral. Cada judeu bem instruído
saberia que o Espírito Santo é uma Pessoa Divina, e Ele era assim conhecido no Velho
Testamento. Aqui, o Senhor fala da ―blasfêmia contra o Espírito Santo‖. No contexto de
Mateus 12 a blasfêmia era o que eles tinham falando sobre o poder da vida e milagres
do nosso Senhor Jesus Cristo. A eles, todas as evidências anteriores tinham sido
apresentadas, e eles sabiam que Ele tinha realizado milagres sobrenaturais; eles sabiam
que Ele não era um homem qualquer, e no entanto eles atribuíam tudo isto ao poder
satânico. Estavam realmente dizendo que nosso bendito Senhor estava possuído e era
controlado por Satanás, e que Ele era, de fato, o Homem do Pecado! Este é o significado
de cometer o Pecado Imperdoável. Podemos ver, então, que este pecado somente
poderia ser praticado enquanto o Senhor Jesus estava aqui na Terra. Mas também
poderá ser cometido futuramente, no período do milênio, quando o nosso Senhor Jesus
estará novamente na Terra, fisicamente — o mundo futuro. No final daquele dia futuro,
aqueles que se revoltarem e falarem contra Cristo e o Seu ministério poderão, também,
cometer o pecado para o qual não há perdão.
O veredicto
A parte final da passagem (Mt 12:33-37) revela ainda que a evidência tinha sido dada
e rejeitada pelos líderes religiosos, os fariseus. A geração é má, a árvore é corrupta e o
homem mau tem tirado do seu mau tesouro coisas más. Palavras ociosas foram faladas e
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salvação. Não ficamos surpreendidos quando vemos ateus e agnósticos mostrando esta
oposição, mas é alarmante ver um aumento nos ataques verbais de entre os assim
chamados evangélicos. O ataque moderno contra esta doutrina fundamental não é novo,
mas recicla erros antigos e sofismas que prevaleciam no século XIX. Naquele tempo o
erro geralmente chamado ―a esperança maior‖ foi efetivamente combatido por muitos
escritores que reconheceram o perigo de diluir o que o Espírito de Deus fala sobre este
assunto, e durante muitas décadas as igrejas locais se beneficiaram da herança escrita
que foi deixada por autores como F. W. Grant, Sir R. Anderson e W. Hoste, cujas
publicações sobre este assunto merecem ser relidas.
Não é o propósito deste estudo falar sobre as doutrinas falsas. O nosso alvo é
investigar algumas das Escrituras que ratificam esta doutrina. Em livros teológicos este
assunto é chamado ―Escatologia Pessoal‖, isto é, a doutrina das últimas coisas que
pertencem ao destino pessoal — e não ao destino nacional.
Os erros sobre este assunto são muito antigos. De fato, o primeiro propagador foi o
próprio Satanás quando, falando com Eva, ele discordou de Deus e disse: ―Não
morrerás‖. A civilização antediluviana era caracterizada por uma atitude materialista
para com Deus e as coisas espirituais, e zombava das idéias de recompensa ou castigo
futuro (Gn 4:19-24; Jó 22:15-17). Mais tarde, no reino de Judá, havia uma cultura
hedonista reforçada pelos pseudo-profetas que proclamavam mensagens consoladoras
falsas de paz e imunidade contra castigo futuro (Jr 23:17, 38-40). Tais profetas são
avisados da vergonha e desgraça eterna que receberão, semelhante aos avisos finais em
Apocalipse 22, sobre os que tiram palavras das profecias de Juízo.
Os saduceus eram uma seita dos judeus muito influente no tempo do Novo
Testamento, que rejeitavam com veemência qualquer possibilidade de ressurreição.
Vamos considerar isto mais tarde. Quando Paulo visitou Atenas em Atos 17, ele
encontrou pessoas gentias intelectuais, algumas das quais consideravam esta verdade
sobre juízo futuro e ressurreição um assunto de zombaria. ―E, como ouviram da
ressurreição dos mortos, uns escarneciam‖ (At 17:32).
Principais referências no Velho Testamento
No Velho Testamento, o ensino sobre morte e a vida depois da morte é evidente,
embora os detalhes não sejam muitos nos primeiros livros. Não há dúvida que os mortos
ímpios não são simplesmente aniquilados ou colocados em algum tipo de ―sono da
alma‖. Um juízo futuro os espera, e até aquele tempo estão mantidos numa prisão, às
vezes chamado ―a cova‖, que pertence ao Seol (a palavra do Velho Testamento para
descrever o destino das almas depois da morte). Estas referências à prisão, no Velho
Testamento, devem ser levadas a sério, como afirmações exatas, porque esta linguagem
é aprovada pelo Novo Testamento.
Há evidência suficiente de que os salvos do Velho Testamento esperavam uma
ressurreição corporal, e enquanto esperavam estariam num lugar de conforto onde
teriam existência consciente — não um sono da alma. As advertências divinas contra a
prática proibida de necromancia (Dt 18:9-12) apresentam uma prova indireta, mas
importante, de que desde o começo de Israel havia uma crença firme na existência
consciente contínua dos seres humanos depois da morte. Aniquilação, ou sono da alma,
tornaria esta prática do oculto impossível, e o triste exemplo da consulta do rei Saul
com a feiticeira de Endor (I Sm 28:7) é uma prova impressionante da existência
consciente contínua das almas depois da morte. Para os injustos, a condição pós-morte
— mesmo para um gentio ímpio — era entendida como terrivelmente diferente daquela
dos justos, como a exclamação de Balaão demonstra: ―Que a minha alma morra a morte
dos justos, e seja o meu fim como o seu‖ (Nm 23:10). Esta exclamação seria
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desnecessária e sem sentido se fosse meramente uma referência à morte do corpo, que
era igualmente inevitável para o justo.
O cântico de Moisés faz uma ameaça terrível de castigo futuro sobre a parte incrédula
da nação de Israel, que é descrita como ―geração perversa, filhos em quem não há
lealdade‖. Parte do castigo é temporário, mas é importante notar a referência ao fogo do
inferno, que vai muito além do alcance de retribuição meramente terrena. ―Porque um
fogo se acendeu na minha ira, e arderá até ao mais profundo do inferno [seol]‖ (Dt
32:22). Esta é uma das primeiras alusões à idéia de que no Seol há divisão, e condições
diferentes para os mortos justos e ímpios.
A profecia de Isaías dá informações interessantes sobre as condições dos ímpios
depois da morte. O destino do rei da Babilônia é revelado nas palavras solenes: ―O
inferno desde o profundo se turbou por ti, para te sair ao encontro na tua vinda;
despertou por ti os mortos … Estes todos responderão, e te dirão: Tu também adoeceste
como nós, e foste semelhante a nós?‖ (Is 14:9-10). A existência consciente do indivíduo
— sua capacidade para lembrar e falar — são demonstradas nesta passagem. Não
podemos tentar escapar das realidades terríveis desta e de outras passagens semelhantes,
dizendo que a linguagem usada é hipérbole poética para o sepulcro, pois esta passagem
claramente exclui tal interpretação. ―Porém tu és lançado da sua sepultura, como um
renovo abominável … como um cadáver pisado‖ (Is 14:19). Assim, aqueles versículos
anteriores sobre as condições no Seol não podem ser somente uma figura poética sobre
o sepulcro, pois o rei da Babilônia compartilha Seol com estes outros, mesmo sem ser
sepultado. Outra passagem semelhante sobre a ruína de Tiro declara: ―Então te farei
descer com os que descem à cova, ao povo antigo, e ti farei habitar nas mais baixas
partes da terra, em lugares desertos antigos, com os que descem à cova‖ (Ez 26:20).
Aqui notamos que a cova já tem habitantes desde tempos imemoráveis, antes de
Ezequiel. Também é inaceitável considerar que esta passagem seja meramente outra
referência ao sepulcro.
O castigo futuro é uma doutrina explicitamente afirmada na seguinte passagem, que
combina exatamente com os acontecimentos profetizados mais detalhadamente em
Apocalipse 20: ―E será naquele dia que o Senhor castigará os exércitos do alto nas
alturas, e os reis da terra sobre a terra. E serão ajuntados como presos num cárcere; e
outra vez serão castigados depois de muitos dias‖ (Is 24:21-22).
Outra profecia sobre a ruína de um futuro líder ímpio chamado ―o rei‖ (considerado
corretamente como uma profecia sobre a ruína do Anticristo) nos diz: ―Porque Tofete já
há muito está preparada; sim, está preparada para o rei; ele a fez profunda e larga; a sua
pira é de fogo, e tem muita lenha; o assopro do Senhor como torrente de enxofre a
acenderá‖ (Is 30:33). Esta é a primeira referência ao que, no Novo Testamento, é
conhecido como o ―Lago de Fogo‖.
Estas três referências proféticas em Isaías 14, 24 e 30 tratam de líderes ímpios
futuros. Mas, e o futuro de pessoas comuns? O destino daqueles que seguem líderes
ímpios não é diferente. A lamentação futura da maioria ímpia em Israel também é
distintamente profetizada. Isso trata do tempo tempestuoso quando a aliança feita entre
Israel e o Anticristo se mostrará falsa, e um refúgio fútil de mentira. ―Os pecadores de
Sião se assombraram, o tremor surpreendeu os hipócritas. Quem dentre nós habitará
com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?‖ (Is
33:14).
Antigamente, os pregadores do Evangelho aplicavam este versículo, e outros
semelhantes, com grande efeito. O versículo avisa que não haverá escape e que o fogo é
eterno — algo que só de pensar é amedrontador. Destas passagens, vemos que os
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seguidores do Anticristo compartilharão neste seu destino terrível para sempre, um fato
que é repetido mais explicitamente no Novo Testamento.
A última passagem do Velho Testamento a ser considerada é Daniel 12:1-3. Aqui
temos uma explicação das mais claras possíveis sobre o futuro dos justos e dos ímpios.
Ambos experimentam a ressurreição corporal, e ambos entram numa condição eterna.
Enquanto os justos têm vida eterna, para os ímpios haverá vergonha e desprezo eterno.
O ―desprezo eterno‖ (―horror eterno‖, ARA) refere-se à condição repugnante dos ímpios
eternamente, e é a mesma palavra traduzida ―horror‖ em Isaías 66:26 — de fato, Daniel
12:3 provavelmente é uma alusão direta. A irreversibilidade desta terrível ruína nos
lembra que a condição do indivíduo é permanente. ―Quem é injusto, faça injustiça
ainda; e quem está sujo, suje-se ainda‖ (Ap 22:11). No estado eterno não haverá
melhora nem transformação.
Principais palavra bíblicas relacionadas ao inferno
Deixando o Velho Testamento vamos agora considerar as palavras principais usadas
no Novo Testamento sobre o destino de pessoas não salvas depois da sua morte.
Seol
Seol é a palavra principal do Velho Testamento. Na tradução grega do Velho
Testamento, a Septuaginta (LXX), Seol não é traduzida ―sepulcro‖, e também a palavra
hebraica para ―sepulcro‖ não é traduzida Hades. Para chegar a Seol é preciso descer. Era
o destino comum de todos os mortos. Entretanto, há indícios de que no Seol havia
diversidade nas condições dos justos e dos ímpios mortos. O fogo da ira de Deus é
ligado com o mais profundo Seol (Dt 32:22). Os justos e os ímpios são vistos como
totalmente distintos na ressurreição, em Daniel 12:2, pressupondo fortemente que se o
destino eterno é caracterizado por uma tão grande distinção, também haveria certamente
uma distinção semelhante no estado intermediário (Seol). Esta distinção é revelada em
Isaías 57: onde, em relação à morte do justo, aprendemos que ―entrará em paz;
descansarão nas suas camas, os que houverem andado na sua retidão‖ (v. 2). Não será
assim para os ímpios, pois o mesmo capítulo nos informa: ―não há paz para os ímpios,
diz meu Deus‖ (v. 21). Intimamente ligado com Seol está a palavra ―destruição‖
(Abaddon), que é uma palavra tão importante que é repetida tanto no hebraico como no
grego em Apocalipse 9:11, onde é usada para personificar o anjo do poço do abismo.
Também em Jó 31:12 está associada com fogo que consome até à perdição. Não
podemos dar aqui mais detalhes sobre as diferenças entre os justos e os ímpios no Seol.
Hades
Hades é a palavra grega usada na tradução Septuaginta para Seol, e é a palavra do
Novo Testamento que é geralmente traduzida ―inferno‖. Hades é o lugar onde o rico em
Lucas 16 se encontrava depois da sua morte, e os pecadores ficam ali até que a morte e
o inferno (hades) serão finalmente lançados para dentro do lago de fogo, depois do juízo
do Grande Trono Branco em Apocalipse 20 — um novo e permanente estado eterno
chamado a Segunda Morte. Assim, Hades é a habitação dos perdidos no ―estado
intermediário‖.
Geena e o Lago de Fogo
A palavra Geena é outra palavra para inferno, e ocorre 12 vezes no Novo
Testamento. Fora da referência em Tiago 3:6, é somente usada pelo Próprio Senhor
Jesus Cristo em Mateus, Marcos e Lucas. É a tradução grega de uma forma abreviada
do nome hebraico ―Vale de Hinom‖. O vale dos filhos de Hinom (também chamado
Tofete) ficava nos arrabaldes da antiga Jerusalém, e se tornou notório como centro de
idolatria depravada e de sacrifícios humanos a Moloque (veja Jr 7:31), inicialmente sob
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o reinado do mau rei Acaz, até que aquelas cerimônias vis foram eliminadas por Josias.
―Também profanou a Tofete, que está no vale dos filhos de Hinom, para que ninguém
fizesse passar seu filho, ou sua filha, pelo fogo a Moloque‖ (II Rs 23:10). Depois disto,
a idéia de contaminação e fogo sempre estava associada com aquele lugar que se tornou
o lixão municipal de Jerusalém. Entretanto, a palavraGeena nunca foi usada como um
endereço ou uma localização em Jerusalém. Sempre se referia ao destino final dos
ímpios. Pelo que o Senhor Jesus Cristo falou sobre ele, os ímpios vão para lá depois do
juízo final (Mt 23:33). Tanto o corpo como a alma vão para lá — diferentemente
do Hades, e assim os ímpios mortos serão ressuscitados antes de irem ao Geena (Mt
10:28 e Mc 9:42-49).
As condições no Geena são terríveis e assustadoras. ―Onde o seu bicho não morre, e
o fogo nunca apaga‖ é a descrição do tormento que sofrerão. O horror é aumentado pela
sua continuidade. Aqui vemos castigo irremediável. O Lago de Fogo mencionado em
Apocalipse é o mesmo Geena, o destino final dos perdidos. A Besta e o Falso Profeta
serão lançados vivos neste lugar depois da batalha final da Tribulação (Ap 19:20).
Depois de terminar o reino milenar de Cristo na Terra, e depois da grande rebelião de
Gogue e Magogue ser esmagada, o Diabo será ―lançado no lago de fogo e enxofre, onde
está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre‖
(Ap 20:10). Por mais de mil anos a besta e o falso profeta sofrem o tormento do lago de
fogo, antes de Satanás ser lançado ali. Este é um exemplo impressionante da
preservação dos mortos ímpios nas condições do Lago de Fogo. Foi dito, e com razão,
que se Deus preservou Sadraque e seus amigos no fogo da fornalha na Babilônia, então
Ele pode também preservar estes dois homens ímpios no fogo. As palavras ―cada um
será salgado com fogo‖ (Mc 9:49), parecem se referir a esta preservação no fogo eterno.
Os adoradores da Besta também estão destinados ao mesmo castigo: ―Se alguém
adorar a besta … também este beberá do vinho da ira de Deus … e será atormentado
com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E a fumaça do seu
tormento sobe para todo o sempre; e não tem repouso nem de dia nem de noite os que
adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome‖ (Ap 14:9-
11). Todos os mortos não salvos comparecerão perante o Grande Trono Branco (Ap
20:11-15) para receber um julgamento pessoal. A coisa que todos têm em comum e que
determina a sua ruína é que seus nomes não são achados escritos no livro da vida do
Cordeiro. Assim, são lançados no Lago de Fogo. O terrível caráter final disto é selado
pelo pronunciamento: ―E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a
segunda morte‖ (Ap 20:14).
Os que pregam que todos serão salvos (universalistas), os que pregam a aniquilação,
e outros falsos ensinadores, recusam aceitar a duração eterna e o caráter final deste
destino dos ímpios. Eles procuram forçar as palavras ―eterno‖ ou ―para sempre‖ a ter
um significado temporário. Eles lutam para fazer as palavras ―destruir‖, ―destruição‖ ou
―perecer‖ significar a cessação da existência. Tudo isso demonstra uma rebelião
fundamental em aceitar as palavras do Senhor Jesus como sendo verdadeiras e reais, e
torna os tais aptos a receberem as advertências solenes de Apocalipse contra aqueles
que procuram ―tirar quaisquer palavras do livro desta profecia‖ (Ap 22:19). Não há
espaço aqui para mostrar quão fútil e fraudulenta são estas manobras. As excelentes
obras de Sir R. Anderson e W. Hoste devem ser consultadas para obter mais detalhes.
Outra referência a Geena é ―as trevas exteriores‖ mencionadas em Mateus 8:12;
22:13; 25:30. Nestas três referências segue a expressão ―ali haverá pranto e ranger de
dentes‖. Estas são as mesmas trevas mencionadas por Pedro e Judas em II Pedro 2:17 e
Judas v. 13. Enfatiza o horror de ser totalmente cortado das bênçãos de Deus. O
sinônimo de Geena em Mateus 13:42, 50 é ―fornalha de fogo‖. ―Assim será na
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consumação dos séculos, virão os anjos, e separarão os maus de entre os justos, e lançá-
los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes‖ (vs. 49-50). Esta
separação dos ímpios de entre os justos é descrita detalhadamente na profecia do Senhor
sobre o julgamento das nações vivas (Mt 25:31-46). Parece que naquele juízo os ímpios
serão lançados diretamente no Geena. A expressão é muito solene: ―E irão estes para o
tormento eterno‖ (Mt 25:46). Parece indicar um recuo infinito a uma distância ainda
maior de Deus e todas as bênçãos do Céu. As várias referências ao ―choro e ranger de
dentes‖ nos relembram da tristeza e dor associadas com Geena. Contudo, os acusadores
de Estevão que ―rangiam seus dentes contra ele‖ faziam isto como sinal de grande ira, e
isto sugere que haverá também muita ira, especialmente daqueles que queriam gozar das
bênçãos do reino, mas foram lançados fora.
O estado intermediário
A expressão ―o estado intermediário‖ é usada para descrever a condição da alma
depois da morte, mas antes da ressurreição. Quando alguém morre a palavra ―sono‖ é
usada, mas isso somente se refere ao corpo. A alma não dorme, apesar dos esforços de
muitos falsos ensinadores para provar esta opinião enganosa. A existência consciente
entre a morte e a ressurreição é ensinada tanto no Velho como no Novo Testamentos,
como vimos nos vários textos já citados. A passagem que mais revela o estado
intermediário é Lucas 16. O testemunho da epístola de Judas também é muito
importante. Temos informações sobre o fim daqueles que perseguiam os salvos a quem
Judas escreveu, e contra quem eles deveriam combater severamente. ―Porque se
introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens
ímpios que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único
dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo‖ (Jd 4). A sua condenação é explicada no
restante da epístola, quando exemplos sucessivos do castigo de Deus sobre os ímpios,
no Velho Testamento, são mencionados. É importante notar que no primeiro grupo de
três exemplos, há um aspecto eterno desta ―condenação‖ em dois destes casos: ―E os
anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação,
reservou na escuridão e em prisões eternas até o juízo daquele grande dia. Assim como
Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, havendo-se entregue à fornicação
como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do
fogo eterno‖ (vs. 6-7). Os versículos que seguem dão mais características destes
indivíduos perigosos, ―para os quais está eternamente reservada a negrura das trevas‖
(v. 13).
A profecia de Enoque mostra que o patriarca antediluviano recebeu uma revelação
especial sobre o ―juízo do grande dia‖. Ele entendeu que o Senhor viria ―com milhares
de seus santos, para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por
todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras
palavras que ímpios pecadores disseram contra ele‖ (v. 15). Isso não pode simplesmente
se referir aos pecadores futuros que estarão vivos na Terra por ocasião da vinda do
Senhor. Todos os pecadores através das eras que têm cometido atos ímpios e falado
palavras duras, não somente serão julgados, mas serão condenados (convencidos) nesta
ocasião (compare Fp 2:10: ―se dobre todo joelho … e toda língua confesse que Jesus
Cristo é o Senhor …‖). Assim, segue que a profecia de Enoque pressupõe a existência
contínua de pecadores até este tempo de juízo. Deus executará juízo sobre ―todos‖, e a
morte não será obstáculo para isso.
Pedro nos diz que o Senhor sabe ―livrar da tentação os piedosos, e reservar os
injustos para o dia do juízo, para serem castigados‖ (II Pe 2:9). A frase ―para serem
castigados‖ está no tempo presente. Significa que agora mesmo, durante todo o período
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do estado intermediário até o dia do juízo, os injustos estão recebendo o castigo divino
contínuo.
O ensino do Senhor Jesus Cristo
O ensino do Senhor Jesus Cristo sobre este assunto com certeza é de máxima
importância, e a mais elevada autoridade para todos que confessam ser cristãos. Não
acharemos nada nos quatro evangelhos para ajudar aqueles que negam o castigo eterno.
Algumas das palavras mais pesadas usadas sobre este assunto foram proferidas pelo
Senhor. O próprio título deste capítulo, ―O castigo eterno‖, vem das palavras do Senhor,
no final do Seu discurso no Monte das Oliveiras: ―E irão estes para o castigo eterno‖
(Mt 25:46, ARA). A narrativa do homem rico e Lázaro nos dá um vislumbre singular do
estado depois da morte. Muitos dizem que este relato é uma parábola, e assim procuram
esquivar-se da sua força. Outros, com mais sutileza, afirmam que ―a linguagem é
parabólica‖ — sem oferecer uma definição do que querem dizer com isto. Para todos
que são suficientemente simples para aceitar que todas as parábolas do Senhor são
identificadas como parábolas, basta observar que não há nada em Lucas 16 para indicar
que a narrativa não seja uma narrativa solene de fatos. Além disso, devemos ter a
humildade de aceitar que o Senhor Jesus quer dizer exatamente o que Ele diz. Perguntas
racionalistas do tipo ―que tipo de água os espíritos bebem?‖, alimentam um espírito de
ceticismo, e não de fé. Deveríamos ser profundamente gratos que o próprio Senhor nos
deu esta informação, e procurar com a obediência da fé assimilar o que foi revelado na
Sua santa Palavra. Quando encontramos este tipo de curiosidade humana desnecessária,
é instrutivo lembrar da pergunta dos saduceus sobre a ressurreição. O Senhor Jesus não
respondeu diretamente à sua pergunta, mas lhes disse: ―Errais, não conhecendo as
Escrituras, nem o poder de Deus‖ (Mt 22:29; Mc 12:24). É muito solene o que o Senhor
acrescentou. Ele apresenta provas da existência continua e da futura ressurreição de
pessoas mortas há muito tempo, citando a experiência de Moisés perante a sarça
ardente. A auto-revelação de Deus para Moisés como o Deus de Abraão e Isaque e Jacó
é explicada pelo fato que ―Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos, porque para
ele vivem todos‖ (Lc 20:38). É surpreendente que o Senhor usou este incidente para
refutar a doutrina dos saduceus. Quando Moisés viu a sarça ardente ele tremeu. Por que
foi isto uma ―grande visão‖ para ele? A coisa surpreendente e alarmante foi que esta
planta comum estava ardendo e continuava a queimar sem ser consumida. Era tão
diferente do que normalmente acontecia. ―O crepitar dos espinhos debaixo de uma
panela‖ (Ec 7:6) sugere um surto repentino de fogo e depois algumas poucas brasas,
nada mais. Era isto que se esperava. Mas Moisés, sendo um homem espiritualmente
sintonizado e também, provavelmente, o mais sábio da sua geração quanto à ciência e
cultura humana (At 7:22), ficou admirado ao ver que esta planta podia violar todas as
leis da química, biologia e física ao não ser consumida pelo fogo. Como pode este
fenômeno ser explicado? A resposta está no poder de Deus. Este era o grande fato que
os saduceus propositalmente ignoravam. A menção específica, pelo Senhor, da sarça
ardente serviria para lembrar Seus ouvintes judeus, e os outros céticos que viriam
depois, que o Deus que demonstrou Seu poder maravilhoso na preservação da sarça
ardente no deserto, pode facilmente resolver o enigma de como o fogo do Geena e do
Lago de Fogo pode queimar os perdidos para sempre, sem que eles sejam aniquilados.
Não é de admirar que o apóstolo Paulo perdesse a paciência com aqueles que
sofismavam sobre a realidade da ressurreição futura e fizesse a pergunta: ―Como
ressuscitarão os mortos? E com que corpo virão?‖ (I Co 15:35). Ele os repreende
severamente: ―Insensatos!‖ (v. 36), é como ele começa sua resposta. Quanto à maneira
como uma pessoa pode sentir sensações físicas sem ter corpo (que é o argumento
principal dos céticos e racionalistas) não achamos necessário explicar, mas apontamos
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ao fato que o apóstolo Paulo, quando foi arrebatado para o terceiro céu, teve
experiências para as quais, normalmente, o corpo é necessário. No entanto, ele era
incapaz de afirmar se de fato estava no corpo ou fora do corpo (II Co 12:1-5). Assim,
obviamente, Paulo não tinha dificuldade nenhuma em crer que experiências sensoriais
são absolutamente possíveis, mesmo na ausência do corpo. Isto deve resolver o assunto
para qualquer um que sinceramente crê na Bíblia.
Os seguintes fatos são evidentes na narrativa do rico e Lázaro. Tanto os justos como
os ímpios (salvos e perdidos) estão conscientes depois da sua morte. Os salvos são
consolados e os perdidos são atormentados. O destino é irreversível, transferências são
impossíveis. Fogo (―esta chama‖) é um instrumento de tormento. Não há alívio deste
tormento, mesmo quando buscado de modo comovente. Apesar do ―grande abismo‖, é
possível falar através dele. A memória é preservada quanto às pessoas vivas na Terra
(seus irmãos) e quanto aos mortos (Lázaro). Quando a importância das Escrituras foi
mencionada, o rico nega a suficiência e supremacia da Palavra de Deus para a
conversão dos seus irmãos: ―E disse ele: Não, pai Abraão‖ (v. 30). Isso ilustra como os
pensamentos errados dos pecadores perdidos sobre as coisas divinas continuam mesmo
depois da morte. Mudança de pensamento (arrependimento) não ocorre na habitação dos
perdidos. Se, por acaso, o leitor ainda não é salvo, que estas considerações possam o
levar a crer na Palavra de Deus agora, acerca do único remédio para seu pecado e sua
penalidade. Não há escape para qualquer um que negligencia tão grande salvação —
veja Hebreus 2:1-4.
O juízo e o castigo eterno
As passagens já consideradas mostram que há um vínculo muito íntimo entre o
destino dos ímpios e o juízo de Deus. O juízo de Deus é um assunto grande demais para
ser tratado detalhadamente aqui. Deus é absolutamente justo e não temos a liberdade de
intrometer nossa curiosidade vã neste assunto. ―Não fará justiça o Juiz de toda a terra?‖
(Gn 18:25). O pecador não terá nada a dizer em sua própria defesa. Ele confessará que
reconhece perfeitamente que Deus está certo e que Jesus Cristo é o Senhor. O livro de
Eclesiastes termina com a afirmação que ―Deus há de trazer a juízo toda a obra, e até
tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau‖ (Ec 12:14). Paulo, falando no
contexto da culpa imperdoável dos gentios, fala do dia quando ―Deus há de julgar os
segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho‖ (Rm 2:16), que,
provavelmente, é uma alusão a Eclesiastes 12:14. Paulo falou sobre ―o juízo vindouro‖
com Félix, um oficial romano endurecido que tremeu perante ele (At 24:25). Ele avisou
a elite ateniense do fato que Deus tem ―determinado um dia em que com justiça há de
julgar o mundo, por meio do homem que destinou …‖ (At 17:31).
Ligações com outras doutrinas
Muitas outras doutrinas bíblicas são prejudicadas pelo erro associado com a doutrina
do castigo eterno. E. W. Rogers mostrou os problemas que aqueles que rejeitam o
castigo eterno têm que encarar em relação à doutrina da Pessoa do Senhor Jesus Cristo.
―Perguntamos aos que propagam aniquilação: nosso Senhor Jesus foi aniquilado quando
morreu? Ele era verdadeiramente homem. Perguntamos ao Universalista: Se todos os
homens, no final, serão salvos, por que Cristo morreu? O que fez a Sua morte
absolutamente necessária?‖
O valor infinito da propiciação é refutado quando a doutrina do castigo eterno é
negada. ―Já não resta mais sacrifício pelos pecados, mas certa expectação horrível de
juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários … De quanto maior castigo
cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano
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o sangue da aliança, com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?‖ (Hb
10:26-29).
A doutrina da justificação pela fé (veja o cap. 4 deste livro) está intimamente ligada
com as outras obras da justiça de Deus, como, por exemplo, o juízo final. Aquele que é
salvo ―não entrará em condenação [juízo], mas [já] passou da morte para a vida‖.
―Quem crê nele não é condenado [julgado]; mas quem não crê já está condenado,
porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus‖. Quanto ao incrédulo, ―a ira de
Deus sobre ele permanece‖ (Jo 5:24; 3:18, 36). Assim, a experiência futura da ira eterna
de Deus sobre o pecador incrédulo é realmente uma continuação da sua posição na
Terra. Mas, graças a Deus, o Evangelho nos informa que é possível para aqueles que
eram ―filhos da ira, como os outros também‖, serem salvos desta posição e introduzidos
à posição digna de concidadãos dos santos e da família de Deus.
A negação do castigo eterno
Devemos notar que quando a verdade do galardão eterno e do castigo eterno é
rejeitada ou desprezada, há sempre um acréscimo correspondente de manifestação
pública de pecado e rebeldia contra Deus, resultando no aumento visível da corrupção e
depravação na sociedade envolvida. Assim foi nos dias de Noé, e também será nos dias
da vinda do Filho do Homem. Os escarnecedores hoje em dia talvez sejam mais sutis na
sua negação desta doutrina do que foi Lameque com suas palavras frívolas (Gn 4:23-
24), mas os efeitos desta zombaria da Palavra de Deus são terríveis, e o juízo de Deus é
certo. Os caps. 2 e 3 de II Pedro e a carta de Judas devem ser lidas cuidadosamente para
nos relembrar da importância disso. As características dos nossos dias, com
governadores ―que ao mal chamam bem, e ao bem mal (Is 5:20), correspondem com as
condições morais que prevaleciam no final decadente do Reino de Judá — que são
denunciadas pelos profetas do Velho Testamento e também são projetadas para o
período da Tribulação. Condições contemporâneas combinam com o que o Senhor Jesus
disse que precederia a Sua vinda à terra (Mt 24), e são um assunto frequente das
profecias do Novo Testamento (I Ts 5, II Pe 3, Judas).
A vigilância contra o erro é necessária
Não devemos ficar surpreendidos que haja grande desvio das verdades que
antigamente eram respeitadas e valorizadas entre os ―evangélicos‖, mas devemos ficar
vigilantes contra a penetração desta contaminação entre os cristãos que até agora se
consideram fora do alcance deste tipo de mal. O clima crescente de sentimentalismo em
relação à doutrina e à interpretação bíblica já viu a aceitação, em larga escala, de idéias
novas e duvidosas sobre a Soberania Divina.Sentimentos humanos egoístas já
conceberam a idéia de que haverá uma segunda chance depois do Arrebatamento para
as pessoas que negligenciaram tão grande salvação durante esta dispensação da graça, e
que poderão aceitar o evangelho e rejeitar o Anticristo durante a Tribulação — apesar
do aviso claro, contrário a isto, em II Tessalonicenses 2. Uma vez que estes
pensamentos, centralizados no homem, penetram na teologia, logo em seguida surgirão
objeções à doutrina do castigo eterno, baseados nos apelos perigosos de que esta
doutrina terrível é incompatível com a verdade de que ―Deus é amor‖. ―Não posso ver
como o castigo eterno é amável ou justo … É uma doutrina que não sei pregar sem
negar a beleza e glória de Deus.‖ Esta citação é típica das vozes emocionais daqueles
que rejeitam esta doutrina. No século XVII, Francis Turretin aptamente chamou tais
pessoas de ―absurdamente misericordiosas‖. Fazemos bem em tirar das nossas mentes
todas as pressuposições humanísticas e obedecer às admoestações sábias de Eliú:
―Longe de Deus esteja o praticar a maldade e do Todo-Poderoso o cometer a
perversidade! Porque, segundo a obra do homem, ele lhe paga; e faz a cada um segundo
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o seu caminho‖. Ele também diz: ―ao meu Criador atribuirei a justiça‖, e ao reconhecer
a pobreza total do intelecto humano para analisar ou compreender a Deus, ele diz:
―Ensina-nos o que lhe diremos, porque nós nada poderemos pôr em boa ordem, por
causa das trevas‖ (Jó 34:10, 11; 36:3; 37:19).
Que nós, portadores do testemunho cristão, possamos preservar a pureza doutrinária
em relação a este assunto. Sua solenidade deve renovar em nós o louvor e a gratidão a
Deus pela libertação que Ele nos deu de tão terrível destino. Deve estimular também a
atividade evangélica, para ajudar outros a entrar no benefício de tão grande salvação.